Mattoso Câmara - Princípios de Lingüística Geral

  • Upload
    neffer1

  • View
    226

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    1/17

    / rc.; 'A'y-jL ":,, It;J~ / \ . C)\,x->

    l" -tf "'"de:? ~ ~ ~ ~

    11 'Y1F f,. vc.. G Z A - ~

    ,c ' '), r ~ Y l I I~ - - . _.J Cj-l-t. \ "I rnCA U 1 ~ + \ j )t="u mC\(j.iYf)e- ("Yl'\- 0 (7 \ cJ lIP'Ij,IIII LINGOiSTICA: SED OBJETOI I. Linguagcm liurnana e l ingllagcm animal.! i Podc-se inicialmen te dizcr qu e a L1NciHsTICA C a ciencia da lingua

    gem. Mas a def inic.io c i.naproveitavel, enquanlO niio se dclirn it a 0 alcancedo seu segundo terrno. '

    Atribuindo it h7lgllagcm um a significac;ao.Jatissilll;\\ perclerarn-se naimprccisao mu it as cloutrinas Iilosof icas, e na o I ~ i r ' a ; a r n , po r isso, depre

    ender a neccssiclade de um a ciencia ni t ida qu e a tivesse para assunto. AL1.\;GdSTICA, hoje finaln:ente constitu ida, na o foi sCCJuer entrevista, po rexcrnplo, nas classif icacocs cornt iana e spenccriana das cicncias, como jaressah ou 0 l inguist a frances Albert Dauzat (Dauzat, ICJ32, 200).

    _J Cu m pre, antes de tudo, clissociar 0 conceito de linguagcm do da nossainterpretarfio cliantc clas coisas cla natureza. Pelo a d c n ~ ; p 1 C n l o das nuvensno ceu podemos chegar ao conhecimento de que vai.r mbruscnr-se ,0 ternpo, da rncsma sor te qu e 0 aspecto (las .irvores pede indicar-nos urna mudanra de estacao do ano. Niio h.i, enuetanto, como Ialar em lingnagemnurn ou noutro caso, porquc as nossas conclusocs decorrer.un exclusivamente de nos, As nuvens c as ~ n ' o r c s Iorarn objctos intcirumcute passivos: e, _ E a r a . _ b . a y . ~ r . 1 i n g u a g e m , c precise, ao contr.irio, uma atividadel 1 l ~ n J a l . \ a ' H 9 _ ! " ! o ..Ponto de part id a quanlo no ponto de c h c g a d ~ 1 : N o u t . ! " ~ s _ t e r ! n , ~ , ~ , 2 I ~ \ j ~ ( ) .gu,e,o.ll1anifcst3.',He tcnha tido a Jlllcll(' i ioAc 711a II ijcSl1It-sc.

    Co m isso, circunscrevc-se a nossa cicncia no tlmbilO UO reino animal.Dcve-se, porcm, da r um passo acliarue, c, distinguindo entre os brutes

    e 0 homern, restringir ,.,10 homcm 0 conccito daqucla lingnagem cujoestuclo e 0 objcto da lingiiislica.o mestre alcmfio, dos fins do scculo passado, Gcorg von dcr Gabelentzdepreendeu p:,ra esse fim os lres traces caracter isti cos da ling-nag-em humana. Ressaltou, antes de tudo, um PROPOS\TO r laro e definido (al. Absicluhc!l/(cil) como ponto de partida (las nOSS3S mani lcst.rcocs lingiiislicas. ?lIasnfio C tudo, Cada lI111a dclas sc aprcscnta a rna is com lima S J ( ; = " I F J C A ~ : , \ O I'ER~ I A = " I : : \ " r E (a1. rinr/ni l igl!rzl) iSIO C - idl'nril"a a si rucsma, possivcl de re

    i

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    2/17

    16 2 PRINCfPIOS DE LING"OfSTICA GERALpetir-se com a su a individualidade nitida em circunst;incias identicas. EIina lme nr e preslamse a DIV1S1BILIDADE na representacao (al. di e Zerlegungdc r i'orsteliu'/;c,) e, portanto, conseqi.it-ntemente na expressao vocal (Gabelen t z, 1001,2/3). ' .;

    Ora, 3 VOl e aos gestos dos animais irracionais se pode atribuir rnu itas vezes urn proposiro mais ou me nos preciso. Nao se lhes pode, contudo,atr ibu ir as duas outras propriedades, focalizadas po r Gabelentz, porquencles as repr esen t aroes sao essencialmente globais e nao tern um a correspondcncia constante com urn dado conjunto expressivo,

    A razao esui na impossibilidacIe cIe se elevarern a urn trabalho mentalcIe "coristruciio r e p r e s e n t a t i v ~ " dianre cIo mundo exterior e do mundo in.terior. Eo que muito bern frisou 0 fi16sofo alernao Ernst Cassirer (Cassirer,1933, 21). Baseando-se nas cousideracoes cIe J. von UexkUII sobre 0 conceitopsicn]("gico do ESP r\ ~ \'ITAL (al, Lebensraum), acentua -Cassirer como osbr u tos nfio \'ao alcm da "a

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    3/17

    198 3 PRINC!PIOS DE LINGtlfSTICA GERALA exteriorizacao psiquica tam bern se revela na voz dos anirnais: assim,

    o latido do cao manifesta tao nitidamente alegria.. ou raiva, ou dor fisica,ou desespero, qu e ha em portugues verbos distii1tos para caracteriza-laconforme 0 caso (latir, ladrar, ganir, uivar). Ne m se the pode negar muitas vezes urn proposiro de atuar sobre 0 proximo, seja este urn outro anima l ou 0 homem. 0 qu e Ihe falta substancialmente e a REPRESENTA/;:AO, nosentido de Buhler, da qual decorre a SIGNIFICA

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    4/17

    20 214 PRINC1P IOS DE LINGtlfSTICA GERALcertos elementos selecionados, localizados nas regiOes auditiva, motriz etc.,do cerebra e do sistema nervoso" ,(Sapir, 1921, 9) I.

    Quer do ponto de vista ment'al,quer do ponto de vista vocal, naoha fugir 11 coricepcao da linguagem como um a especie de ARTE, elaboradapelo esforco criador do homem.4. A linguagem como aouisiciio cultural.

    Ora, em todas as criacoes humanas, a cujo conj un to se da 0 nome deCULTVRA (e se estuda na antropologia cultural, ou etnologia), se pode depreender 3 niveis, segundo 0 esquema do antropolopo norte-americanoKroeber (Kroeber, 1949, 279) 1:

    SUPERORGANICOORGANICO

    INORGANICO

    Ao mundo fisico se acrescenta, em nivel superior, urn mundo biologiCQ, ou organico, e dai parte a cria\ao humana, ou cultural, num terceiro11ivel superorganico,

    A linguagem, utilizando sons, que sao Ienomenos fisicos, assenta numsubstrate inorganico, a que se superp6e 0 Ienorneno biol6gico, ou organico,da sua prod ucao pelos nossos 6rgaos vocais: tra ta-se de sons (fen6menoinorganicoj plus vocais (Ienorneno organico). Mas os dois niveis conjugados ainda nao constituern linguagem. Esta so se realiza, quando os sonsvocais criam a comunica\ao no nfvel superorganico. Enrao 0 produto vocaladquire urn valor hurnano e e a Iinguagem.

    Estamos, assim, diante de um Ienomeno de cultura, como a conceituou Tylor e a sua inicial escola antropol6gica (Tylor, 18H, 11): a lin

    1 A ideia de que a fun

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    5/17

    22 5 PRINCfPIOS DE LINGttfSTICA GERALFinalmente as a q u i s i ~ o e s culturais sao ensinadas e transmitidas, emgrande parte, pel a lingua. Assim, um a lingua, em face do resto da cultura, C _ I) b seu resul

    tado, ou surnula, 2) 0 meio para ela operar, 3) a condicao para ela subsistir. E mais ainda: so existe para tanto. A sua Iuncao e englobar acultura, comuntca-Ia e transmiti-la atravcs das g e r a ~ 5 e s .

    Tuelo isto op5e a Iing-ua ao resto da cuI tura, ou cultura stricto sensu,e torna necessaria urna ciencia independente para estuda-Ia _ a L1NGiHsTICA,distinta cia ANTROPOLOGIA CULTURAL OU ETNOLOGIA, que estuda todas asoutras m a n i f e s t a ~ 5 e s culturais. Adrnite-se, entretanto, um estudo interrnediar io, qu e trata das relacoes entre a lingiiistica e a etnologia e e chama.da pelos norte.americanos ETNOLlNGUisTICA (d . Olmsted, 1950).5, A linguagem como trace essencinl do homem,

    Compreenele-se, portanro, qu e a linguagem esta indissoluvelmenteassoci ad a com a atividade mental humana, a qual so em virtude dela sepede firrnar a desenvolver.

    A filosofia moderna e unSnime em reconhecer que nao se trataapenas de urn recurso para expressar pensarnentos, e m o ~ 6 e s e volicoes.E, muito rna is qu e isso, 0 meio essencial para se chegar a esses estadosmentais, Sem isso, eles seriarn difusos e inconsistentes, como 0 dos brutes.qu e j;\ vimos enclausurados num e s p a ~ o vital de mera a ~ a o e eficiencia,A com preensao do mundo exterior e interior resurne-se numa construcaoe representacao desse mundo dentro do nosso espirito, atraves de urn trabalho mental que depende da Iinguagem como a march a animal dependedas pernas (Cassirer, 1933, 22). H;\ um a ADERENCIA ESSENCIAL do pensamente as palavras, expressa pOl' Cassirer, de acordo com Hoenigswald,pelo termo Worthaftigkeit.

    Se, portanto, a Iinguagem nao e um a f u n ~ a o natural, no sentidopuramente biol6gico, tornou-se tal para 0 ser humann. situado fora doambito da animalidade bruta. Toda a sua atividade mental assenta nessaf u n ~ a o .

    Eis ai, justamente, 0 qu e tern tornado precario e praticamente baldoo e s f o r ~ o para depreender a origem cia linguagem nas sociedades humanas. As primeiras e x p l i c a ~ 6 e s contentaramse, marginalmer1'te, em yen.tilar as possiveis maneiras pOl' qu e se firrnaram, coordenaram e consoli.daram os sons v o c ~ i s como sons da FALA: sugeriu-se a i m i t a ~ a o dos ruid05da natureza (teoria onomatopaica), a tomada cIe consciencia e organiza.

    5 LINGOtSTICA: SEU OBJETO ~

    ~ a dos gritos anirnais cspontaneos (teoria interjcit iva) ou clos sons vocaismecanicarnerue produzidos como acompanhamento de urn tr abalho manual (teoria do Iilosofo alemao Noire). Mais modernamen te, 0 lingili,i;1dina marques Ou o Jespersen propos para ponto de part ida os SOl]> ri t mados, nurna espccie de canto inarticulado, COi!1 qu e 0 homcm 1'1 im it ivoter ia esponraneamenre manifestado os seus est ados de cuf'oria (Je,pelsen,1928, 432 ss.).

    Ora, 0 grande problema c, ao corur.irio, ex plir ar como os SOilS \ (lId",quaisquer que eles Iossem, passaram a const it uir LlNGL'AGE:\I, isto t', scassociararn em sistema articulado e com significacocs pel ma nentes :1 nossavida mental, determinando a ader encia esscncial do pensamento :IS P:Ilavras de qu e nos Iala Hoenigswald.

    Isso pressupoe urn trabalho mental ja evolu iclo, quando, pOI" out rolado, sabemos como c imprescindivel a linguagcm l'dra qua lqucr t rn bnlho de tal ordem. Achamo-nos assirn nurna verclade ir a peti\ao de prillcipio.

    A unica solucao c a de conceber Ull l descnvolvimcnto p.u.Lu ino cparalelo da faculdade do pensamento e da faculdade da linguagcm. apartir de situacoes sociais rud imentares, qu e prepararam urn ronH,\o deaderencia entre uma e outra.

    Tais situacoes teriam sido, por exemplo, para Jespersen, as ,b s 111:1nifesiacoes tribais de triunfo, acornpanhadas de urn ca nt o rolet ivo quepassou a evocar e afinal denorninar 0 acoruecimenro (Jespersen, ] ~ ) : ! S , 440). Outros imaginaram aspectos de comunicarfio social cmbrion.iria.Assirn, 0 filosofo holandes G, Revesz parte dos SO:--;S DE COC'T,\CTO (al.Kontakt/aute), emitidos para exteriorizar sat isfaciio . em momentos decontacto social, pOl' animais de natureza greg:\ria (RC\ esz, 1916. 183ss_),]

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    6/17

    24 6 PRINCfPIOS DE LINGOfSTICA GERAL 6 LING01STICA: SED OBJETO 25tico. Nao Ihe cabe depreender que elementos mentais e qu e estirnuloscondicionaram para a humanidade urn rudimento de linguagem, qu e Ihepermitiu construir a represenraran fO seu mundo exterior e interior, edesenvolver uma e outro por meio dd auxilio m u t u ~ que se emprestaram %.

    Nern Ihe in teressa, a ri gor, a Iinguagem em si rnesrna, consideradacomo uma faculdade abstrata do homem. 0 seu objeto (ja aqui se Irisouantes) eo cstudo dos sistemas de Iinguagem, ou Ifnguas, as quais podemosassim definir: "conjunto de c o n v e n ~ 6 e s necessarias, adotadas pelo corposocial. a fim de permitir 0 exercicio da Iinguagem por parte do individuo" (Saussure, J922, 25).6. Lingua e Discurso.

    Eis ai urna circunstancia de monta, porquanto nos desloca para 0ambito dos sistema s socia is, ou i nstitu icoes, As Ifnguas Iigur arn entre elas,ao lado das relig6es ou do direito, po r exernplo, e a linguist ica, concentrando-se nelas, dcixa 0 estudo da faculdade da linguagem a Iilosofia(MeilIet, 1921, 17/8).E verdade que a lingua so existe como soma de multiplos atos vocaisindividuais, porern ncsses atos cada homem se serve de urn sistema deelementos vocais qu e recebeu da sociedade em qu e vive. Sob esse aspecto,falar e sempre urn ato social, mesmo quando eIe se executa sem qualquerobjetivo de intercambio social de ideias.

    Foi 0 reconhecimento dessa verdade qu e se cristalizou na doutrina,hoje classica, do rnestre su i ~ Ferdinand de Saussure: a LiNGUA (fr. lalangue) e urn sistema de elementos vocais comum a todos os membros deuma dada sociedade e qu e a todos se irnpoe como uma pauta ou normadefinida. A seu Iado, distingue Saussure a FALA, ou, mais precisarnente,o DlSCURSO (fr. la parole), qu e e a atividade lingiiistica nas multiplas einfjnd;iveis ocorrencias da v i d ~ do individuo I.

    % Entre as e l u c u b r a ~ 6 c s neste senlido vale citu 0 estudo de Charles Hr ."ell, lingiiista, e Robert Ascher, especializado em antropologia Hsica, wbre "" R evollJ

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    7/17

    276 7 PRINCiPIOS DE LINGOfSTICA GERAL

    ~ a pessoal, da automatizacao na f o r m u l a ~ a o lingiiistica 2; "Com a formaqu e falamos sucede quase 0 mesmo que co m a fofllla qu e vestirnos. A vidapratica nos imp6e 0 modelo. Ma s nosso gosto decide 0 corte e a cor"(Vossler, 1943, 41).

    Ter-se-a, destarre, ao lado da lingiiistica propriamente dita, ou cienci a da "lingua", uma lingiiistica do discurso, qu e sera a estilistica.

    7. A lingua como representariio.A divergencia entre Vossler e a doutrina saussuriana nao e, entre.

    tanto, inconciliavel. Provem do qu e ha de incompleto no conceito ex pl icito de LINGUA.

    Defi nern-na apenas, em regra, pOl' dois dos seus aspectos: e um anorma ou pauta, so b qu e se desdobram os discursos individuais - 1) sis.ternatica, 2) coletiva (d. Coseriu, 1952, 41). 0 primeiro aspecto vern' ase r a estrutura, 0 sistema ou 0 esquema, co n forme a denominacao qu eprefira urn dado Iinguista (d . 6, n. I); recenternente tarnbem se chamao codigo, oposto ao at o lingiiistico, qu e e a mensagem, aproveitandose anomenclatura da nova teoria rna tern at ica da comunicacao, desenvolvidana base das telecomunicaroes da engenharia (d . Miller, 1951, 249 ss.) I.o segundo aspecto e 0 qu e se intitula norma ou usa, e nele insistem asvezes demais, em detrimento do primeiro, os adeptos de Saussure, en tendendo pOl' LINGUA arenas 0 que usualmente se diz.

    t preciso, 300 contrario, na o s6 da r .a enfase ao primeiro aspecto, ma sa inda acrescentar qu e os elementos qrganizaclos qu e comp5em a "lingua",

    2 Para 0 filosofo ira liano Benedetto Croce.' que inspirou a teor ia linguistica deVossler. a "estctica" nao tern pa r assunro 0 "belo", mas a "func;ao exprcssiva" dohomern, a que corresponde a "manifesrarjlo psiquica" de Biihler (d . 12): "Uristi'm mais aptitude que oUlros, mais freqiiente disp",i,ao qllc outros [Xl '" expressdrplenamellte complex", estados de alma. A esses se chama anistas na linguagemcorrente; algumas exprcssoes por demais complicadas e diCiceis conseguem manifestar-secom eXGClcncia e se chamam obras de ane". Assim a cria,ao estctica. au expressi.-a,e geral e "lOda a diferenc;a e, pais. quantitativa e. como tal. sem interesse para .1filosofia, scientin qualitarulll" (Croce. 1926, 59). Cf. Vos.iler:. "Nao vale a pena examinar como pocsia a nosso falar cotidiano. Mas a menor /(Otinha idiomatica oe umcharla tao 1:. afinal de conlas. tao hoa agua de Hipouene como 0 inlenso oceano de urnGoethe au urn Shakespeare" (Vossler. 19-J3, 38).

    1 Os tennos c6digo, para a sistema da lingua, e mCT15agem, para a aLa lingiiistico.estao enLrando francamente no nomenclatura lingi'lhtica. depois que uma autoridaoecomo Roman ]akobson as aprovou e a"otou (Jakobson, 1%3. 145). Para uma rapidan0ENTATIVA no seruido de Buhler e sen-empara uma cornunicacao inrelecuva.

    Ora, quando ut i lizamos os elementos da lingua n urn dado disr urso.raramente 0 Iazemos paJa uuia cornunicacao iruclect iva pura. Ha a i t arnbern, subsidi.ir ia, concorrutante au predominarucmenre. a carga ernot iva ,qu e carreia uma MANIFESTA(.AO I'SiQlIlCA ou urn APELO (sempre no sent idode Buhler) (cf. Camara. J953 B).

    Nestas condicoes. a ling-ilislica pr opriamemc dira. au cstudo daLi:\Gl'A na aceprrc-amcricanos m a i ~ apro[llllllolla conceilo de lL>tOLl:TO. disringlle a rigor 3 aspeClc" da lingua: I) IDiOt 1''1'0. '1\1e cle ddinebcha\'iofislicamcntC" como "0 rcpcfulrio total de hfll)ilOS ling-l'lio;;ricO"'i dc 11111 indl\ itlllnnum pcqucno pcriodo de tempo" (admilindo quc () illdl\iduo Illuda ('m P:U[C' t\.\t'Sh ~ b i l O S com 0 currer da vida c novas cxprrj('ncias): 3) A:'\f:\(;{) t:OMl'\1 (ing, ((}/ l l l1lullc n r ~ ) , que f: 0 collinnto coleti\'o oe h:'dlito.' igllais nos nJl'lItiplns memhro, de umasociedade e faz lC"mbrar 0 conceilo da "lingua" dc SJl1ssurc como norllla flU 1 I ~ ( ) {\"t'racima); 3) rADR/\O (;I:RAL ( i n ~ , Olll'Tall pallfTll) . que i a "lingua" como sislcrna, iSlO C,o esquema co!etivo deprecnsi\'c] dos IllUlliplos discnrsos individnai.'. Cf. \ocg-c1in,.'ie[)Cok.1%3, 40 ~ s Cf. ainda Devoto. 1955, 7 r 2{.

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    8/17

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    9/17

    310 8 PRINCfPlOS DE LINGDfSTICA GERALCo m efeito, a ciencia moderna afirma, a proposito, com Karl Buhler

    (Biihler, 1933, 102), que nao existe um campo onornotopaico coerente nalinguagem. A onornaropcia e um dos esforcos dohomem para um contacto direto com a realidade sensivel. Em vez de explicar a linguagem,explica-se, ao contrar io, po r urna iolcrdncia da linguagem, qu e assimadmite, esporadicamcnte, em seu ambito um processo estranho aos seusprincipios clirctorcs.

    Tanto isso c vcrdadc, qu e 0 vodbulo Iorrnado pa r cfeito imitarivopcrdc, nao raro, muito cedo essa relacao s6nica com a rcal idade ambiente,quando se integra definitivamente no lexico geral da lingua, como com.provam as mudancas de pronuncia qu e passa a sofrer. Ta l foi 0 caso,entre rnuitos outros, do fr. pigeon, saido da onornatopcia latino pipio.Saussure 0 cita, particularmente, para mostrar como vocabulos dcssesperdem "alguma coisa do seu cara ter primeiro, a fim de revestir 0 doSIGNO lingiiistico geral, qu e e irnotivado" (Saussur e, 1922, 102).

    Comprccnderemo-, ainda melhor, 0 exernplo frances de Saussure c :a tcse de Buhler, sc arentarmos para a circunstancia cle qu e a onornatopcia n ao e urn elemento Jingulstico integrado na Iuncao reprcsentativa,a unica de que cogita a lingua no sent ido saussuriano. 56 serve, como j.ivimos, para as f u n ~ 6 e s da exter iorizacao psiquica e do apelo. Ora, 0 carater arbitrar io do simbolo lingiiistico Ioi depreendido da LiNGUA comosistema Ieito para a f u n ~ a o representativa. Ao contrario, como procureiressalvar alhures, "urn est aclo de alma tende a um contacto int im o com 0objeto do seu estimulo, e cria-se um a harmonizat;"ao de qu e a manifestat;"aolinguistica resultante apresenta os vestigios" (CamaraJ 1953 B, 29).t natural, ponamo, que, utilizada para a exteriorizat;"ao psiquica oupara 0 apelo, transude da lingua um ~ s f o r ~ o para coordenar-se sensorialmente com as coisas qu e representa J. A onomatopeia C a a p r o x i m a ~ a o maior neste sentido. Mas na o passa de aproximat;"ao. H j sempre na onomatopeia um fundo de c o n v e n ~ a o , desde qu e ela se cria com os sons vocais padronizados da lingua, combinados de acordo com as normas que nalingua vigoram (assim, a onomatopeia para a "chuva" no telhado epim-pam, em portugues, com as nossas vogais nasais, mas em chines cping-pong co m um liil velar, consoante qu e na n po.deriamos utilizar,pois nao figura em nossa lingua).

    J 0 lingiiisla csloveno 1. M. Korinek chCJja a u m so)u

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    10/17

    32 9 PRLNC1P10S DE LINGutSTICA GEnALPo r outro lado, a lingua, como meio coletivo de representacfo e co

    municac;1io, traduz um "pensamento socializado" (Blondel, 1934,93); tem-seentao urn ato mental coletivo em '1eu amago, fen6meno qu e e estudadona psicologia coletiva au social. 'J

    A lingiiistica nao se confunde, porem, com qualquer desses rarnos da ciencia psicol6gica, porque estuda os processes de linguagem, depreendendo as tecnicas pelas quais a humanidade cria a representacao e a cornunic a ~ 1 i o intelectiva, pela "lingua", e a e x t e r i o r i z a ~ a o e c o m u n i c a ~ 1 i o ernotiva,pelo "estilo".

    Ela nao apela, como a psicologia, para urn exame interpretativo do qu e se passa na mente do Ialante.

    Como muito bern estabelece 0 lingiiista dinarnarques L. Hjelrnslev,deve-se distinguir nitidamente 0 ambito da lingiiistica, qu e estuda a atividade pela qual se comunica urn conteudo de consciencia de urn individuoa ou tr o, e a psicologia, que, como a 16gica, se ocupa em examinar 0 pr6prioco nteudo da consciencia humana" (Hjelmslev, 1928, 24). -Uma expressaolingiiistica e "urn at e objetivo, do qual os Ialanres na o tern absolutamentenecessidade de ter consciencia, e do qual alguns deles podem ter umacorisciencia justa e outros uma consciencia defeituosa ou deficiente"(Hjelmslev, 19.35, 88).

    Po r isso, a i n t e r p r e t a ~ a o de um Iato lingiiistico deve assentar _ niiodiretamente no sentirnento qu e dele tern urn dado falante ou os Ialanres 1em geral - mas sirn no qu e se depreende da sua estr utura, E 0 primeiro tmerodo pode entrar em conflito com 0 segundo. fAssim, em portugues, um a frase como - "fala-se de urn crime" e sen !t ida po r muita gente qomo tendo su jeito indeterminado (as pessoas em . fgeral), compar ivel ao fro on e equivalente ao port. "Ialarn de urn crime".:'lIas em - "t r ata-se de urn crime" ja na o hi , absolutamente, 0 mesrno sentimento. Na o obstante, a estrutura das duas frases e identica: verbo invariavel na .3. a pes. sing., conjugado com a particula se e acompanhado deurn complemento regido da preposiC;ao de. E 6bvio, para 0 lingiiista, qu eum a interpretac;ao asseme na expressao lingiiistica tern de abranger asduas frases (d . 99, n. I).

    A lingiiistica cabe, portanto, servir-se de tecnicas pr6prias, qu e na o seconfundem com as da psicologia 1.

    1 Desde 0 tempo do psic61ogo alem30 Wundt e 5eU livro s6bre A L j n g u a g ~ l n ha a tend'mcia crn muito' linKuista, em panir da analise psirol6gica; tem.se ai 0psicologismo oposto ao ~ s l r u t l J r a l i s m o . (d. 16).

    10 LlNG01ST1CA: SEU OBJETO 33Na depreensao dessas tecnicas ha dois metodos, grosso modo, a seguir:

    I) relacionar 0 fato lingiiistico com os estados mentais respect ivos ou comas concepcoes mentais coletivas (metodo mental ista): 2) Iazer abstracao docorueudo mental, tal como se concreriza nos Ia tos l.inguisticos. e apenasestudar a tecnica formal que 0 sistema lingiiistico criou (rnetodo mecanicista).o rnentalismo estabelece um a associacao entre a pesquisa lingu isricae a psicol6gica, de sorte qu e a psicologia serve de background para a lingiiistica e a lingiiistica Iornece urn largo subsidio a psicologia. Dai decorreum a disriplina especial, qu e e a psicologia da linguagem, ou a P S I C O L I ~ G i . i i s -TICA, segundo a ,nova denorninacao norte-americana'; podemos dizer qu eela trata d as relacoes entre as comu nicacoes lingiiisricas e os traces psiquicos dos individuos qu e as enunciam, como falantes, ou as interprerarn,como ouvintes (d. Osgood-Sebeok, 1954, 4).o mecanicismo, ao contrar io, isola as duas disriplinas - linguist icae psicologia, - po r assirn dizer, em compartimentos estanques.

    Assim.vo mcntalismo, destacando nos Homes portugueses 0 connasrede genero entre masculino e Ieminino, procura chcgar as concepcoesmentais qu e sen-em de base a esta divisao. 0 mecan icismo ressalrara apenas a existencia do contrasre lingiiistico neste particular, nfio indo alcrnda su a constatacao na ex pr essao formal (d . S 57).10. Sumdrio.

    A linguagem hurua na se distingue dalinguagem animal, porque econstitu ida de segrnentos articulados entre si e com ur na significac; ao permanente. 0 seu objetivo essencial e a representarflo, isto e, uma estruturaciio da ex per icncja, a qual se torna compreensivcl e comun ir.ivcl: mashi os objet ivos correlates de manifestar est ados de alma, sern intento tiec o m u n i c a ~ a o , c< de empolgar emocionalrncnte 0 pn'Jxirno.

    Ela e vocal, fundamentada em sons produzido, por urn conjunto tie6rgaos qu e constituem 0 aparelho fonador. Nao e, entretanto, inerenteao organismo humano, mas ao contnirio urn "fata de cultura", con eretizando-se em sistemas' "arbitrarios" de comunicac;ao vocal, ou linguas,qu e cabe a lingiiistica e,tudar em seus principios diretores. Em relac;ao acultura integral de uma comunidade humana, a lingua e uma de suasm a n i f e s t a ~ 6 e s , mas dela sc destaca como um microcosmos cultural, quea engloba e comunica. Assim, a lingiiistica se aproxima e ,e distingue, aomesmo tempo, da antropologia cultural, ou etnologia, e da psicologia;

    c

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    11/17

    34 10 PRINc1PIOS DE LINGtHSTICA GERALe as relaroes, destarte existentes, condicionam disciplinas intermediarias- a etnolingiiistica e a psicolingiiistica. A Iingufstica parte do aspecto,a rigor coletivo, da lingua; divide-se em Iingutstica stricto sensu e estilistica, 0 que corresponde a lingua, como sistema representative, e ao estilo,como processo de exteriorizacao psiquica e apelo.Leituras subsidiaries.

    Para 0 conceito de articulacao: Porzig, 1950, 46-88. Para 0 conceitode cultura e suas re!a)oes com a lingliistica: Sapir, 1921, 221-235; Id.,1949, 7-32. Para 0 papel representative da lingua: Sapir, 1921, 1-23;Cass irer , 1933, 18-44: Id., 1945, 205-254. Para lingua e discurso: Saussure,1922, 23-32, 36-39; Coseriu, 1952; Sapir, 1949, 533-566; Devoto, 1955, 310,24. Para 0 conceito de estilistica: Bally 1926; Camara, 1953 B, 2-40.Para a conciliacao entre a expressao individual e 0 carater coletivo dalingua: Pagliaro, 1930, 99-101. Para a natureza da onornatopeia: Buhler.1933, 101-119. Para os com plexos aspectos do principio da arbi trariedadedo signo lingliistico: Porzig, 1950, 7-45; Korinek, 1939. Para a caracteri2a)ao da linguagern humana em face da animal: Hockett, 1958, 569585;Spirkin 1958, 10-37,

    II

    LlNGOfSTICA: SUAS MOD.\LIDADESII . Lingua e euoluctio.

    Vimos ( 4) que a lingua nfio tern Iinalidade em si mesrna, sendosua Iuncao expressar a cultura para permitir a cornunicarao social, como que ela se torna 0 acompanharnento de cada fato cultural, dando-lheum aditamento 1ll1gliistico e, pois, propiciando a atuacao uns com osoutros dos mernbros participantes de uma arividade coletiva.

    Vimos, por outro lado ( 8), qu e a lii1gua e arbitriria em relac;aoao mundo fisico, ao contrario de outros Iatos culturais, como a industria.a arte, que dependern em parte do clima e recurso s nat urais, ou como areligiao, por exernplo, ligada as condicoes da vida e as roncepcocs menraisda i resultantes.

    Estas duas circunstancias atuam no sent ido de Inzer da lingua umainstituicao eminenremente mutavel no tempo.

    De urn lado, 0 seu emprego. generalizado e consta nte, Ieito peloshomens com a atcncao fixada muito mais no assunto da cornunicacaodo que na forma lingliistica, a expoe a multiplos aciclentes quando elae urilizada no que, com Saussure, chamarnos 0 D1SCUR50 ( 6). De outrelado, qualquer modificacao c teoricamente aceitavel, dado 0 cara ter arbitrario daquilo que vigora.

    As Iorcas de estabilidade estao, alhures, no peso da tradicao coletivae nas liga)Oes dos proprios elementos lingiiisticos, que formam entre siuma estrutura coesa, Dai, em primeiro lugar, 0 sentimento da CORR

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    12/17

    3736 12 PRINC1PIOS DE LINGtl1STICA GERALporque a for ca conservadora e a resistencia da estrutura nu nca e nenhures conseguern de ter a m u d a n ~ a .

    A Iinguistica firmou-se, no se2ulo passado, na base do reconhecirnentoida rnudanca continua da lingua. Opos-se de chofre e radicalmenre a

    c o n c e p ~ a o est at ica da gramatica dos seculos anter iores, qu e se deixarailud ir por uma fixidez aparente.A muda nca lingliistica, assirn Iocalizada, foi logo entendida dentro

    do conceito de EVOLU

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    13/17

    38 12 PRINCfPIOS DE LINGtifSTICA GERAL

    A capacidade comparativa, para ofere eel' um minimo de segurancacientifica, tern afina!, porem, um limite, e pOl' essejmetodo na o parece quese esboca a possibil idade de vermes convergir, entre si, todas as linguas doglobo a um so pOnto de partida, qu e seria a lingua matriz propriamentedita, como adianta em incerta hipotese a teoria MONOGENISTICA do Iinguisraitaliano Alfredo Trombetti (Trornbetri, 1923) 3.

    A grarnatica comparariva, com a recorist ituicao das linhas gerais deu ma protolingua e a classificacao de variadas linguas ou familias na basede um a origem comum dita CLASSIFICA9AO GENETlCA (d. cap. XIX), tern sidoalvo ultirnamenre de cer ta desconfianca pOl' parte de diversos linguistas emvirtude de se tel' com provado urna possibilidade de influencia, pOl' contacto, entre Iinguas geneticamente separadas, maior do qu e em seus primordios a lingiiistica admitia, Ao depreender um paralelismo de form as,o pesquisador pode interprctar como indice de origem comum 0 que eapenas resultado da dif usao de um elemento l ingulstico em outros arnbitos,qu e dcsta sorte tomaram de EMPRESTIMO (d. cap. XVI-XVIIi). .

    A atitude geral dos linguistas continua, entretanto, imune desse cepticismo, Podemos dizer, com Greenberg, qu e "a grande maioria das linguas nao apresenta um a tom ada de em pr estimos em massa, e, quandoisso ocorre, e facilmente percebido" (Greenberg, A, 1957, 40).

    Mesmo no vocabulo, os terrnos fundamentais para a vida hurnana,em seus aspectos mais gerais e simples (partes do corpo, como "cabeca","mao"; coisas da natureza, como "sol", "pedra"; atos simples, como"andar", "heber": etc.), resistem aos efeitos cia difusao, c se perdem e saosubstituidos muito lentamente atraves do tempo. Chegou-se ate a verificar qu e ha para tanto uma velocidade praticamente constante, e, nabase dessa observarao, criou-se, dentro do cornparativismo Iingilistico, aGLOTOcRONOLOGIA, au ESTATISTICA LEXICA, que perrnire datal' aproximadamente a fase comum das Iinguas de um. bloco e as diversas fases emque elas vao' surgindo e diferenciando-se, pela c o m p a r a ~ a o do vocabulario basico qu e subsiste em cada uma. "Isto contrasta com os metodoslingiiisticos anteriores, que, em bora capazes de construir ate ceno ponto

    ramo. Subltituindo a escala tradicional pela nova, teremos - 11 familia. rom,nlca ougermanica, au eslava etc., 0 tronco illdo-europeu, e urn filo, se conseguirmos associaro indo-europeu corn 0 camito-semftico, por exemplo.

    3 "I-!:\ uma coisa certa: a m u d a n ~ a se opera COrn muita lentidao em algunsgrupos e quase vertiginosamente em outros. Devemos levar isso em conta ao avaliaros paralelismos de TromJ.jetti. A quest.1o da origem cornum das multiplas linguas dahumanidade deve ser posta de lauo ate se ter melhor conhecimento de suas fo rm asprimevas; e isso pode sigllificar urn - jamais". (Schlauch, 1955. 74)

    3913-14 LINGtifSTICA; SUAS MODALIDADESa histor ia de um a lingua, sao incapazes de estabelecer datas alcrn dosdocumentos histor icos escritos" (Gudschinsky, 1956, Ii i ). Assirn, 0 compararivismo l i n g ~ i s t i c o adquiriu recenrernerue uma nova tecnica de pesquisas, muito uti! especialmcnte para linguas que - como as dos indiosamericanos - nao propiciarn registros de epocas anteriores.13. Lingiiistica historica,

    o desenvolvimento da gramatJca com par at iva indo-europeia t rou xeit luz certos principios diretores da cvolucao linguistica.

    Criou-se, pois, urn corpo de doutr ina para explical a f o r m a ~ ' a o e aevolucao das Iinguas. Constituiu-se assim a lingutstica sera! - e vo lu ti va ,ou histor ica, ao lado da gramatica comparariva. Firmaram-na. essa doutrina, embora em moldes excessivamente "geometricos" (como dir iaPascal), os chamados neograrnaricos (Iiteralmente, jovens f,ramritiros) 1dos fins do seculo passado, em obras como especialrnente a de HermannPaul (Paul, 1920).

    Eles contra punham esse estudo cien rifico grama tica descri t iva, q lieherdamos da civilizacao greco-latina e que, com os seus preceitos pra t iros,convencionais, . incoerentes, aproximados e ale falsos, se lhes afigura\'aum a distor cao da realidade, pressupondo um a Iixidez da lingua, que cornprovadamente nao existe. Da i afirmar Hermann Paul "que n.io h.i outr oestudo cienufico da lingua senao 0 historico" (Paul, 1920, 20). "0 que seeruende pOl' esrudo nao-historico, se bern cienttfiro, das linguas" - ressalva ele - "nao e mais, em suma, do que deficiencia hist6rica, pol' culpa,em parte, do observador e, em parte, de urn materia! Ialho" (ibid.).

    . A lingua aparece, pois, como inst ituicao dinarnica em movimcnto ternporal incessante. E a rarefa exclusiva geral ficou scndo, durante muitotempo, a de elaborar, concatenar, aprofundar e cornprovar as linhas diretr izes que regulam esse movim'ento.H. Li71giiistica descritiva.

    Hoje reconhece-se, porem, qu e a fixidez aparente da lingua, senclo umaREALIDADE SOCIAL, e que a pen:p.ite o p ~ r a r nOs grupos humanos, como meio

    1 as

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    14/17

    40 14 PRINCfPIOS DE LINGOfSTI

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    15/17

    42 15 PRINCfPIOS DE LINGtHSTICA GERALmeio de representa;;:ao mental e comun icacao social. Sentirarn-no in t ui t ivarnente os antigos gramaticos hindus. quando d ~ n o m i n a r a m tryakarana aexposicao gramatical: composto da raiz sanscrira verbal , tk r "[azer'v OJ ""3nominalizada, co m um a arnpliacao vocalica, ou guna (d. 36, n. 2). pelosufixo dos abstratos neutros -ana - e 0 prefixo ui-, idein de separacao.

    Volra-se destarre ao conceiro dire to r da gramatica classica, ma s desvencilhado das condi;;:6es qu e viciavam e deformavam a su a aplicacao.

    Co m efeito, a grarnarica - tal como se estabeleceu na filosofia grecolatina e con rinuou a vigorar nos tempos modern os - procura firmar urnmodelo de falar bern, por uma tr adicao do uso das classes cultas, restritano tempo e no espa

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    16/17

    44 16 PRINCfPIOS DE LINGtlfSTICA GERAL(jej, je:/) e a vogal de altura maxima (jij); 4) uma oposicao equivalenrenas vogais posteriores: 5) nas vogais medias anteriores, uma ultima oposicao em virtu de de maior ou menor elevacao media da lingua (vogalfechada je:j e aberra je/); 6) uma o p o s i ~ a o ~ q u i v a l e n t e nas vogais medias posteriores (vogal fechada jo:j, abena jo/).

    Nas c o n j u g a ~ 6 e s verbais portuguesas, e analogamenre Iacil opor al.a c o n j u g a ~ a o a urn grupo constituido pela 2.a e 3.a (amar: tem er, i inir]em virtude de terrninacoes comuns as duas ult imas (d. - amava : temia,tinia; amado: tem ido, tin ida; ame: tema, tina), para em seguida decompor-se 0 segundo mernbro numa c o n j u g a ~ a o em -e- oposta a um a em -i-,

    Em linguas qu e possuem mais de dois generos para os nomes, comomasculino, feminino e neutro, depreende-se, numa e s t r u t u r a ~ a o binariasu cesxiva, urn grupo masculino-feminino oposto ao neutro (assim, emingles, "pessoas" em oposicao a "coisas"], cabendo ao primeiro membro(em Ingles com a marca da natureza pessoal) um a subdivisao em masculino e Iern in irio.

    Assirn se deduz 0 que se chama a estrutun interna de uma lingua,que se estuda em PARADIGMAS, e a conviccao de qu e ha essa estruturacorresponde ao ESTRUTURALISMO LINGUisTlco.

    Rest a depreender rarnbern a a r t i c u l a ~ a o dos elementos lingiiisticosnum contexte, on de se sucedem linearmente ou em SINTAGMA. Ai se criaa OPOSlyAO FUNClONAL, pela corijugacao das Iuncoes distintas qu e cabernaos elementos em sequencia.

    Uma vogal ji j em port ugues, por exemplo, em. j i r j .e jrij se opoea consoante jr j, como centro de silaba, ou silibico (d . ,34), mas ji emjpaij se opoe ao sile bico jaj como vogal modificadora, em f u n ~ a o con.sonantal. Analogamehte, a Iuncao do jr j em ji r e jrij e distinta, poisse opoe a vogal, respectivamente, como consoante pr e-vocalica e consoantepos-vocalica. Po r isso, nu m vodbulo dado, as o p o s i ~ 6 e s contextuais dasvogais e consoantes sao outras que as o p o s i ~ 6 e s estruturais ha poucoconsideradas_

    Em cada e n u n c i a ~ a o , portanto, ha, alem das oposir;6es estruturaisimplicitas, o p o s i ~ 6 e s funcionais explicitas, como em - amava, entre am.,raiz, e -ava, sufixo flexional, ou em - ele amava, entre ele, sujeito, eamava predicado (distintas das oposir;6es, fora do contexto, entre -ava,em amava, e -ia, em temia, ou entre de , masculino, e da , feminino, ouainda entre amava e odiava).

    A com preensao de uma enunciar;ao decone dos dois tipos de opos i ~ 6 e s ; "como sempre alhures, a estrutura na linguagem esta a servir;o do

    17-18 LINGtHSTICA: SUAS MODALIDADES 45funcionalismo" (Mikus, 1957, 176) e, na concepcao nova da gramaticC\"funcionalismo e estrururalisrno caminharn lado a lado" (Marriner.1948, 39).17. Lingiiistica paneroniea.

    Alguns linguistas con temporaneos poeru em duvida, como de infciofizera Jespersen em face da doutrina de Saus sure Uesper sen, 19'!6), aconveniencia e as razoes cientificas para separar radicalmente 0 estudolingiiistico evolutivo e 0 descritivo. Mas a grande e predominante ten dencia e neste sentido de assim separa-los, como mostraram os debates doSexto Congresso Internacional de Lingiiis tas em 1948 (ASCIL) .

    Isto nao importa em considera-los duas disciplinas isoladas.Deve-se, ao contrario, admitir com Wartburg (Wartburg, 1946, 123)

    qu e eles se combinam para constituir uma linguistica pancronica, ondea verdade sincronica e a verdade diacronica, a maneira da oposicao entre"tese" e ' ~ a n t i t e s e " da dialectica hegeliana, confluem numa "slntese"ampla: "todo fato lingiiistico deve ser considerado no sistema de que eparte, e na sua hist6ria, que e a historia do pr6prio sistema" (Pagliaro,1930, 176). Assim, voltando aos exemplos portugueses, citados, de lobose por ( 14), ternos: I) lobos se forma de lobo acrescido da desinencia deplural -s (verdade sincronica), 2) Iobos provern do lat. lapos (verdade diacronica), 3) lobos, como 0 seu etimo liipos e por causa dele, se decornpoenum elemento lobo e nurn indice de plural -s (verdade pancronica): damesm,a sorre que por eda 2.a conjugarao ( c o n ~ t a . t , a ~ a o s i n c r o n i c a ) por terperdido na evolucao lingiiistica a vogal ternatica -e-, a qual logo 0 evidenciar ia.

    A inrerdependcncia das duas disciplinas permitiu uma nova com preensao da evolucao lingiiistica na base do conceito de estado lingiiistico.Ela ficou send6 apreciada como a passagem de urn estado a outro, explicando-se pel a analise das c o n d i ~ O e s de estrutura de urn estado linguisticoantigo, qu e ja por si mesmas pressupOem reajustanientos evolutivos (d .capitulo XIII).18. Sumario.

    A lingua e eminentemente muta,el no tempo e 0 seu movimento dem u d a n ~ a tern 0 carater de uma e v o l u ~ a o , isto e, urn processo dinamico,gradual e coerente.

    Ul

  • 8/8/2019 Mattoso Cmara - Princpios de Lingstica Geral

    17/17

    46 18 PRINC1Pl0S DE UNGUfST1CA GERALEst a venbdc foi depreendida no s ~ c . XIX, quando a bern dizcr se cons

    t itu iu a linguistica. Fo i a rr incir io a cicncia, ~ s s i m estabelccida, uma gra.rntit ica comparativa, 0 qu e C urn mciodo de 'cornparar os elcmentos delinguas distintas para depreender.lhes a origem comurn e r eronsrit ui r oslineamentox cia prorohngun de qu e essas lingl;as sa irarn. 0 morlclo melhorde>se tr a ba ll:o foi gramat ic a cornparativa indo.europcia; 0 metodo ternl ido rnu ito, apcrfcic;oamcnlOs, e urn a de suas inovacoes rccentes e agIo .tocronologia.

    l ra pcsqui,a cornpar ativa cmergill J. lingiiistica evolut ivn, al l hisu',rir;l,qu e e urn cor po de clouuina paLl cx plir.rr a Ior mar.io e evolur.io (h sl inguas.

    .\0 sell l.ulo, consti t u iu-sc nia is rcccntcmcnre a 1ingiiistica dcson iva.(IUC ruo stra como os elementos cIe um a l ingua se cst ru t uram e fl,ne ional11nos co m cxtos de CnllJ11 i;u;;io, P;l1'il a c O l n \ l n i ( ; I ~ ' ; l o social. A [.;r:lJn:itic\ grcll).lati na n.io corrcspl)ndia a esse objei ivo, porfluc er a lie fins norm.u ivos ebascacla num a OhSCI'I:I