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ISSN 2176-1396 METODOLOGIAS APLICADA AO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS. Flavia Cristina Coletti 1 - UNICENTRO Eixo Psicopedagogia, Educação Especial e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Analisando todo o processo histórico da educação especial, sendo inserida aos poucos na educação regular, verificamos que foi uma caminhada difícil, enfrentando várias barreiras até chegar a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares em um período bem recente. Destacando a inclusão de alunos surdos na rede Estadual de Educação que também é um processo recente. Com isso, se percebe a necessidade de orientação aos professores que os recebem, que juntamente com a família e demais profissionais da educação irão fazer dessa inclusão um processo natural e com sucesso. Para isso, o presente artigo pretende sugerir algumas atividades e metodologias que foram desenvolvidas em sala de aula pela professora de geografia e que podem ser trabalhadas nessa disciplina ou adaptadas facilmente para demais matérias, em salas com alunos surdos. Com isso, facilitando sua aprendizagem e dos demais colegas também. Nós professores precisamos desenvolver, atividades e metodologias que possam abranger a diversidade de alunos que encontramos em sala de aula atualmente, tentando atingir ao máximo deles de maneiras diferentes. Ressaltando que, para que nossos alunos explorem suas capacidades, além de um professor para orienta-lo, precisamos de seu interesse e dedicação dos pais nesse processo. Todas as atividades exemplificadas nesse trabalho foram desenvolvidas em sala de aula pela autora do trabalho e pelos alunos de algumas turmas do ensino fundamental e médio em uma escola da rede Estadual de ensino do Estado do Paraná. Espera-se colaborar no ensino- aprendizagem de demais colegas que vivem essa realidade e possam utilizar desse relato de experiência como sugestões para serem desenvolvidas em sala com seus educandos. Palavras-chave: Educação especial, surdez, metodologia e geografia. 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Senso Pós-Graduação em Geografia PPGG - Universidade do Centro Oeste do Paraná (UNICENTRO) Professora na rede Estadual de Educação do Estado do Paraná no ensino fundamental e médio. Especialização em Educação Especial. E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

METODOLOGIAS APLICADA AO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA

INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS.

Flavia Cristina Coletti1- UNICENTRO

Eixo – Psicopedagogia, Educação Especial e Inclusão

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Analisando todo o processo histórico da educação especial, sendo inserida aos poucos na

educação regular, verificamos que foi uma caminhada difícil, enfrentando várias barreiras até

chegar a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares

em um período bem recente. Destacando a inclusão de alunos surdos na rede Estadual de

Educação que também é um processo recente. Com isso, se percebe a necessidade de

orientação aos professores que os recebem, que juntamente com a família e demais

profissionais da educação irão fazer dessa inclusão um processo natural e com sucesso. Para

isso, o presente artigo pretende sugerir algumas atividades e metodologias que foram

desenvolvidas em sala de aula pela professora de geografia e que podem ser trabalhadas nessa

disciplina ou adaptadas facilmente para demais matérias, em salas com alunos surdos. Com

isso, facilitando sua aprendizagem e dos demais colegas também. Nós professores precisamos

desenvolver, atividades e metodologias que possam abranger a diversidade de alunos que

encontramos em sala de aula atualmente, tentando atingir ao máximo deles de maneiras

diferentes. Ressaltando que, para que nossos alunos explorem suas capacidades, além de um

professor para orienta-lo, precisamos de seu interesse e dedicação dos pais nesse processo.

Todas as atividades exemplificadas nesse trabalho foram desenvolvidas em sala de aula pela

autora do trabalho e pelos alunos de algumas turmas do ensino fundamental e médio em uma

escola da rede Estadual de ensino do Estado do Paraná. Espera-se colaborar no ensino-

aprendizagem de demais colegas que vivem essa realidade e possam utilizar desse relato de

experiência como sugestões para serem desenvolvidas em sala com seus educandos.

Palavras-chave: Educação especial, surdez, metodologia e geografia.

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Senso

Pós-Graduação em Geografia – PPGG - Universidade do Centro Oeste do Paraná (UNICENTRO)

Professora na rede Estadual de Educação do Estado do Paraná no ensino fundamental e médio. Especialização

em Educação Especial.

E-mail: [email protected]

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20115

Introdução

Respeitando as diferenças que encontramos em nossas escolas, é necessário elaborar

um currículo flexível e que atenda a diversidade de nossos alunos, onde aprendem de

maneiras diferentes e em períodos de tempos que podem variar, sendo assim, nossas aulas

precisam ser dinâmicas e variadas, pois as pessoas são diferentes e é preciso respeitar isso.

Dessa maneira respeitando o direito a diferença e ao acesso à educação, oferecendo ao

educando a oportunidade de assimilar o conteúdo de maneira possível a ele e fazendo com

que a inclusão realmente ocorra.

A presente pesquisa tem como objetivo sugerir algumas atividades que podem ser

desenvolvidas em turmas com alunos surdos inseridos, nas escolas de ensino regular,

atendendo suas necessidades e respeitando a aprendizagem de todos, pois as mesmas

atividades podem ser desenvolvidas com os alunos surdos e ouvintes na mesma turma, apenas

respeitando o tempo de cada um e com pequenas adequações. Buscando ajudar na adaptação

curricular do professor com metodologia possível de ser aplicada, facilitando o dia a dia do

mesmo e dos alunos, tornando as aulas mais atrativas e de fácil compreensão para os

educandos.

A metodologia utilizada para elaboração do presente projeto foi empírica, observando

em uma determinada escola as dificuldades encontradas pelos alunos surdos para a

compreensão de alguns conteúdos de geografia. Fazendo, posteriormente, uma análise

bibliográfica sobre a surdez, como o histórico, a maneira com que os alunos surdos aprendem,

para aí sim desenvolver atividades, que tem como propósito facilitar a compreensão de vários

conteúdos pelos mesmos. A metodologia citada no presente trabalho pode ser adaptada e

aplicada em demais disciplinas.

Surdos no Brasil.

Em décadas passadas os surdos ficavam escondidos em casa, pois eram tidos como

vergonha por não seguirem os padrões ditos como “normais” pela sociedade. A única

comunicação deles era com seus familiares mais próximos e de maneira precária, onde os

mesmos não sabiam a Língua de Sinais, com isso os surdos sentiam-se isolados e

complexados.

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Existiam muitos preconceitos em relação a língua de sinais, por esse motivo a

construção da Identidade e Cultura Surda Brasileira foi lenta. Atualmente as associações de

surdos ainda lutam para garantir os direitos dos Surdos já previstos em lei, porém com

grandes avanços.

Monteiro (2006) relata que no Rio de Janeiro temos o Instituto Nacional de Educação

de Surdos (INES) que conta com uma comunidade surda que possui uma articulação política

representativa que lhes tem garantido um destaque em relação aos surdos do restante do país.

Atualmente o INES disponibiliza também o ensino superior para alunos surdos, além

deles poderem também cursar Universidades regulares tendo o direito ao interprete de

LIBRAS, assim como nas escolas regulares.

De acordo com Monteiro (2006) a primeira Associação Brasileira de Surdos Mudos

foi criada em 1930 a partir dos estudantes do INES que organizavam modalidades esportivas

e competiam com escolas de ouvintes, hoje desativada. Outra associação foi fundada em

1953, com ajuda de uma professora de surdos, Ivete Vasconcelos. Esses alunos surdos,

voltando para suas cidades de origem foram fundando dezenas de associações espalhadas pelo

Brasil.

Essas associações desenvolvem a participação da comunidade surda em atividades

esportivas e de lazer, como festas comemorativas, entre outras, que permitem aos surdos a

interação com os demais usuários da Língua de sinais, preservando assim a Identidade

Cultural Surda e a Língua de Sinais, assim fortalecendo a luta pelos seus direitos.

A Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS), fundada no

dia 16 de maio de 1987, e a Confederação Brasileira de Surdos (CBS), fundada em

2004, possuem uma representatividade mais ampla. São organizações filantrópicas

sem fins lucrativos que desenvolvem atividades políticas e educacionais, lutando

pelos direitos culturais, linguísticos, educacionais e sociais dos surdos do Brasil. São

entidades preocupadas com a integração entre os surdos. (MONTEIRO, 2006. Pag.

6).

A comunidade surda estabeleceu o dia 26 de setembro como Dia Nacional do Surdo,

estabelecido pela lei nº 11.796/2008. Esse dia foi escolhido por ser a data de inauguração do

INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) em 1857 no Rio de Janeiro, sendo a

primeira escola para surdos. Nesse dia todo ano ocorrem festas para comemoração além de

passeatas em algumas cidades com objetivo de continuar lutando por seus direitos e mostrar

que estão ativos e participantes da vida social e política.

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20117

Em 2001 o Programa Nacional de Apoio à Educação do Surdo capacitou surdos e

ouvintes para trabalharem em apoio ao desenvolvimento da Educação Surda no Brasil.

Porém, a luta continua, pois, muitas escolas inclusivas não possuem o apoio e

capacitação necessária para a inserção desses alunos, como por exemplo, a falta de professor

interprete de LIBRAS.

Inclusão

Observamos que a inclusão é direito de nossos alunos com necessidades educativas

especiais, contudo ainda temos muito o que melhorar para que essa inclusão ocorra de

maneira eficiente garantindo realmente o aprendizado. Para isso, é necessário o compromisso

de toda a comunidade, seja os professores refletindo sobre suas práticas pedagógicas, da

família oferecendo todo apoio e suporte, dos agentes educacionais dando suporte aos alunos

nos momentos fora de sala por exemplo, reformulação do Projeto Político Pedagógico da

escola fazendo adaptações necessárias para atender as necessidades de cada indivíduo,

reformas nas estruturas da escola se necessários, entre outras várias adaptações.

Tudo isso só faz aumentar a qualidade da educação, onde encontramos uma

diversidade muito grande de alunado e que todos têm direito ao acesso à educação de

qualidade. Então devemos encarar a diversidade como oportunidade de aprendermos e

ampliar nossos olhares para a capacidade dessas pessoas em se desenvolver e interagir dentro

de suas capacidades.

Contudo, ainda existem muitas barreiras, pelas quais, aos poucos são superadas. O não

aceite da inclusão por alguns membros da sociedade é um desses problemas, mas devemos

levar a informação e o conhecimento para esses indivíduos e mostrar-lhes que essa ideia é

ultrapassada e que temos resultados de muito sucesso em várias escolas inclusivas. Além

disso, a ineficácia gestão governamental até a discriminação são barreiras presentes em nossa

sociedade. (MOREIRA, 2010)

Para conseguirmos atingir o aprendizado de nossos alunos, seja ele com necessidade

educacional especial ou não, nós professores devemos propor atividades diferenciadas

atendendo as várias formas de aprendizagem de cada indivíduo. Muitos de nossos alunos

ainda não sabem qual é a melhor maneira que ele individualmente aprende, porém, com o

passar do tempo, se lhe for oferecido formas distintas de aprendizagem, o mesmo irá observar

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20118

que em algumas metodologias expostas pelo professor ele consegue entender com mais

facilidade que outras. Da mesma forma, as avaliações também devem ser coerentes com a

capacidade de cada um.

De acordo com Fávero (2007) o aluno por si só deve individualizar seu aprendizado,

cabe a escola lhe oferecer oportunidade de emancipação e libertação para que possa pensar,

decidir e realizar suas tarefas de acordo com suas necessidades. O professor deve orientar e

apoiar seus alunos sem lhe tirar a condução de seu próprio processo educativo.

Analisando a Diretriz Curricular da Educação Especial do Paraná destaca-se que a

inclusão deve ser oferecida de maneira responsável e estar em constante avaliação de

qualidade, pois temos ainda muito que avançar, os profissionais da educação têm muitas

dúvidas a respeito do assunto, como por exemplo, relacionadas as práticas pedagógicas.

Alguns profissionais se especializam em determinadas áreas, contudo não sendo possível

dominar todas, dessa forma, se destaca a importância do trabalho em conjunto, não apenas

com os professores e funcionais das escolas, mas é de suma importância a participação ativa

dos familiares nesse processo.

O currículo, portanto, deve ser adaptado a realidade da escola e de seus alunos, além

de flexíveis e abertos comprometidos com as necessidades educacionais de cada indivíduo e

quando necessário, separado para alguns, não sendo excludente ou banal para esses, fazendo

um esvaziamento de conteúdo, por exemplo.

Adaptações nas Escolas de Ensino Fundamental e Médio Inclusiva para Pessoas com

Deficiência Auditiva.

Como cada necessidade especial tem suas adaptações especificas, vamos destacar a

inclusão dos alunos com deficiência auditiva em escola de ensino fundamental e médio. Nas

escolas com alunos surdos deve-se encontrar o serviço de interprete/tradutor de língua de

sinais, sendo considerado o português como segunda língua desses alunos e a LIBRAS como

língua materna.

LEI da LIBRAS (refiro-me, aqui, à lei n° 10.436 de 24 de abril de 2002) e o decreto

n° 5626 de 22 de dezembro de 200: o decreto 5.626/2005 torna obrigatórios o

ensino da Língua Brasileira de Sinais nos cursos de formação de professores e a

educação bilíngue nas escolas onde estejam matriculados alunos com deficiência

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auditiva. Ele também obriga os órgãos públicos a terem intérpretes de Libras para

facilitar o atendimento aos cidadãos surdos. (MONTEIRO, 2006. P.297).

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) destaca-se a necessidade de adequar o

currículo para atender a todos respeitando as diferenças de cada um, para isso devem ser feitas

adaptações no projeto pedagógico, currículo de classe quanto ao acesso, individualidade e

elementos dos mesmos. Podendo esse aluno participar da dinâmica escolar regular, tendo

exceções caso não tenha condições de ser integrado no sistema regular, podendo aí sim,

participar de instituições especiais.

Com essas adaptações, os alunos com surdez conseguem acompanhar o ensino regular

não deixando de frequentar o Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contra turno,

por exemplo, pois o mesmo servira de apoio no seu desenvolvimento, estimulando seu

potencial cognitivo, linguístico, social, entre outros.

O presente trabalho vem destacar a importância de todas essas adaptações para que a

aprendizagem do aluno com deficiência auditiva realmente ocorra, caso contrário o mesmo

fica excluído e não incluso. Devemos além de adaptar, também respeitar sua cultura e

identidade, para que eles se sintam valorizado, respeitado e fazendo parte do meio social.

A abordagem educacional por meio do bilinguismo é a mais indicada para alunos

surdos, onde aborda a língua de sinais e a língua da comunidade local. Contudo ainda existem

muitas dificuldades para que isso ocorra de maneira geral nos estabelecimentos de ensino,

começando pela falta de professores de português para alunos surdos e até mesmo a falta de

interpretes de LIBRAS.

O conhecimento da língua de sinais pelos demais professores da escola que tenham

alunos surdos é de grande valia, pois os mesmo se sentem ainda mais integrados ao meio que

estão e percebem o interesse da comunidade em interagir com eles, sentindo-se mais

valorizados e interessados.

O apoio da família é fundamental para o desenvolvimento e sucesso dos alunos com

deficiência auditiva, pois são eles que irão incentivar e apoiar para que não desistam e sempre

sigam em frente apesar de todos os obstáculos que encontraram. Essa influência varia de uma

família para outra de acordo com os recursos disponibilizados a elas, como por exemplo, os

recursos, o apoio, a cultura e a educação que essa família possui.

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Fundamentos da Geografia

O objetivo do ensino na disciplina de geografia é a compreensão de seu objeto de

estudo, nesse caso, o espaço geográfico (espaço produzido e apropriado pela sociedade e a

relação entre sociedade e natureza SANTOS, 1996), além de seus conceitos básicos:

paisagem, lugar, região, território, natureza e sociedade.

Nesse contexto, trabalhamos a geografia física e humana de maneira integrada, onde

de acordo com as Diretrizes Curriculares de Geografia, algumas perguntas são chaves nesse

estudo, para orientar e refletir sobre o espaço e o ensino de geografia:

Onde? Como é este lugar? Por que este lugar é assim? Por que aqui e não em outro

lugar? Por que as coisas estão dispostas desta maneira no espaço geográfico? Qual o

significado deste ordenamento espacial? Quais as consequências deste ordenamento espacial?

Por que e como esses ordenamentos se distinguem de outros?

Encaminhamentos Metodológicos de Geografia com inclusão de Alunos Surdos.

A metodologia de ensino de geografia deve permitir que os alunos se apropriem dos

conceitos fundamentais da disciplina e compreendam o processo de produção e transformação

do espaço geográfico. Para isso, os conteúdos da Geografia devem ser trabalhados de forma

crítica e dinâmica, interligados com a realidade próxima e distante dos alunos.

Os professores precisam criar situações problemas, instigantes e provocativas,

estimulando o raciocínio, a reflexão e a crítica e relacionando a realidade vivida do alunado,

fazendo com que o mesmo participe de maneira ativa das aulas, questionando e criticando.

Toda essa metodologia levando em consideração a diversidade que nossos alunos possuem ao

assimilar o conhecimento, dessa maneira as aulas devem possuir instrumentos metodológicos

variados, a fim de atingir a todos.

Sugestões de Atividades para ser trabalhada em sala do Ensino Regular com Inclusão de

Alunos Surdos.

A inclusão dos alunos com surdes do ensino regular deve ser desenvolvido com o

auxílio de um interprete de LIBRAS, ou seja, um ambiente bilíngue e em contra turno o

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atendimento educacional especializado, com isso o aluno terá todo o suporte para seu

desenvolvimento e assimilação do conteúdo de maneira clara.

Além disso, se faz necessário uma adaptação curricular desenvolvida pelo professor da

disciplina, o qual deve fazer algumas alterações, tornando a compreensão facilitada, a seguir

temos algumas sugestões de metodologias que podem ser adotadas nessas turmas.

Essas adaptações devem dar ênfase ao uso de imagens visuais, por exemplo, elaborar

slides demonstrando o que está sendo explicado. Levando em consideração o ensino da

Geografia, vamos citar como exemplo o conteúdo formas de relevo, o qual podem ser

recolhidas imagens das diversas formas de relevo e mostradas aos alunos. Sempre que

possível, essas imagens podem ser do local que eles conhecem, ficando ainda mais atrativo e

de fácil assimilação, pois ele poderá relacionar o conteúdo com sua atividade cotidiana.

As informações descritivas devem ser, sempre que possível, curtas, sucintas e diretas,

de maneira que eles possam associar as imagens ás palavras. Com essa metodologia se pode

utilizar uma ampla variedade de conteúdo.

O mesmo conteúdo pode ser trabalhado com a confecção de maquetes, conforme

abaixo, onde estas, foram confeccionadas em uma turma de 6º ano, em que temos a inclusão

de alunos surdos. Primeiramente, foi feito um embasamento teórico em sala com a utilização

de imagens, conforme mostrado anteriormente, juntamente com a explicação oral do professor

da disciplina de geografia. As maquetes exibidas nas figuras 1 e 2 que representam formas de

relevo, foram confeccionadas pelos próprios alunos em sala, utilizando isopor, argila, tinta,

pincel, areia, vegetação, entre outros materiais, ficando os alunos, livres para criar as formas

de relevo que haviam observado nas imagens.

Figura 1. Maquete formas de relevo Figura 2. Maquete formas de relevo

Fonte: Flavia Cristina Coletti Fonte: Flavia Coletti

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Na aula posterior, foi trabalhado com visualização de vídeos, mostrando regiões do

mundo e as mais variadas formas de relevo que existem em nosso planeta, nesse caso um

vídeo para sugestão foi :https://www.youtube.com/watch?v=N2Yms9rwK2M 22/09/16.

Para concluir o conteúdo, foi utilizado uma metodologia conhecida em geografia como

aula de campo, onde os alunos saíram nas proximidades da escola, em um ponto mais elevado

do relevo e observaram as formas que ali se encontravam, chegando em sala, os alunos

desenharam o que viram, conforme exemplificado na figura 3, que um aluno desenhou as

formas de relevo que observou e um campo.

Figura 3. Desenho de aluno do 6º ano (conteúdo: formas de relevo)

Fonte: Flavia Cristina Coletti

As maquetes são uma ferramenta avaliativa e podem ser utilizadas como metodologia

para ilustrar os mais diversos conteúdos, que terá grande sucesso no aprendizado dos alunos

surdos ou ouvintes. Como por exemplo, para trabalharmos as diferentes vegetações que

existem no Brasil, em uma turma de 7º ano, o professor descreve oralmente como é uma

caatinga, por exemplo, um lugar que a maioria não conhece, sejam os alunos surdos ou

ouvintes, irão imaginar cada um de uma maneira diferente, sendo ela correta e talvez não.

Ao desenharmos um simples rascunho no quadro já fica um pouco mais claro, pois

você pode acrescentar alguns detalhes que talvez eles não houvessem incluído em sua

imaginação. Para melhorar um pouco, o professor pode lhes mostrar uma foto da vegetação

ou um vídeo, demostrando de maneira mais clara as cores, a intensidade do sol, entre outras

características.

Uma visita há um parque da cidade seria perfeito para conhecerem a vegetação nativa

da região que vivem, conhecer espécies, tocar e visualizar ainda mais detalhes e para encerrar

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o conteúdo confeccionar maquetes em grupos, onde cada grupo fica responsável por

demostrar um tipo de vegetação que existem nas diferentes regiões de nosso país. Nas figuras

4, 5 e 6, temos algumas imagens de maquetes, representando algumas vegetações brasileiras,

desenvolvidas em colégio Estadual em uma turma de 7º ano com inclusão de alunos surdos.

Figuras 4, 5 e 6. Maquetes vegetações brasileira

Fonte: Flavia Cristina Coletti

Maquetes também são bem utilizadas para trabalhar escala gráfica, as fotos abaixo são

de trabalhos feitos por alunos no 1º ano do Ensino Médio, onde os alunos mediram alguns

ambientes da escola calcularam a escala e confeccionaram seus trabalhos em grupos com

diversos materiais, com detalhes que aproximasse ao máximo da realidade. Nas figuras 7, 8 e

9 temos representados alguns desses trabalhos desenvolvidos em sala.

Figura 7, 8 e 9. Maquetes escala

Fonte: Flavia Cristina Coletti

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20124

Nas atividades desenvolvidas utilizando a interpretação de texto deve-se evitar textos

muito extensos nos anos iniciais do ensino fundamental, sendo que essa capacidade eles

adquirem com o aprendizado e dedicação dos mesmos, de seus familiares e professores. A

produção de texto ocorre inicialmente com ausência de conjunções, porém devemos avaliar a

ideia principal da produção, se tem relação e sentido com o conteúdo proposto e com o passar

do tempo, após orientações e instruções essas dificuldades podem ser superadas.

Conclusão

Ao término do trabalho se verifica que a aprendizagem dos alunos surdos através de

uma metodologia que utiliza o visual, é muito proveitosa, eles conseguem compreender e

assimilar o conteúdo com mais facilidade. Além disso, os demais alunos, ouvintes, também

acabam tendo, em sua maioria, um maior entendimento do assunto com essas práticas.

Atividades diferenciadas em sala, tornam as aulas mais atrativas e interessantes,

chamando e prendendo a atenção de nossos alunos, mais dedicados eles acabam tendo o

conhecimento adquirido de maneira natural e prazerosa.

Dessa maneira, a inclusão ocorre realmente, pois se disponibiliza a esses alunos, a

possibilidade e o acesso aprendizagem, tornando a educação mais rica e de qualidade para

nossos educandos.

Com o presente relato de experiencia espera-se contribuir com ideias de metodologias

diferenciadas que possam contribuir para os professores desenvolverem aulas mais dinâmicas

e trazendo significado para o aprendizado de nossos alunos. Essas atividades sendo mais

visuais, com isso respeitando as dificuldades dos alunos surdos inseridos em sala de aula.

REFERÊNCIAS

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Geografia – Secretaria de Estado

da Educação do Paraná. 2008. Disponível em:

<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_geo.pdf> acesso

23/03/17

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Educação Especial – Secretaria

de Estado da Educação do Paraná. 2008. Disponível em:

<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_edespecial.pdf>

acesso: 23/03/2017

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Teresa Eglér. "Aspectos legais e orientação pedagógica." São Paulo: MEC/Seesp (2007).

FÁVERO, E. A. G. 1969 – Aspectos Legais e Orientação Pedagógica /Eugênia Augusta

Gonzaga Fávero, Luísa de Marillac P. Pantoja, Maria Teresa Eglér Mantoan. – São Paulo:

MEC/SEESP, 2007.

MONTEIRO, Myrna Salerno: História dos movimentos dos surdos e o reconhecimento da

Libras no Brasil. In: ETD - Educação Temática Digital 7 (2006), 2, pp. 295-305.

MOREIRA, Laura Ceretta. Caderno de Educação Inclusiva. Curitiba 2010 UFPR.

SANTOS, Milton. "A natureza do espaço." São Paulo: Hucitec (1996).