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3 0 INTRODUÇÃO Um dos temas mais importantes e falados na Bíblia é sem dúvida o Reino de Deus e de igual modo, é um dos assuntos que tem gerado mais controvérsias e debates sobre si na atualidade, bem como ao longo da história. É imprescindível que aqueles que buscam viver no centro da vontade do Rei, conheçam os desígnios do Reino e se esforcem por cumprir o que está na oração modelo: “venha o teu reino, seja feita Tua vontade”. O Reino tem se desenvolvido através da História da humanidade com os mais diversos pensamentos e práticas, ora voltadas para o campo social ora voltadas para o campo tido como espiritual e até mesmo sendo confundido com a Igreja. Uma questão surge nesse ponto: Até onde a variedade de interpretações ao longo da História, serviu de forma benéfica para nossa compreensão de Reino hoje? A Igreja tem cumprido seu papel como súdita real? Devido a imensidão de interpretações, cada vez fica mais difícil conceituar o Reino em poucas palavras ou frases, talvez devido a sua grandeza ou devido a um certo descaso com

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INTRODUÇÃO

Um dos temas mais importantes e falados na Bíblia é sem dúvida o Reino de

Deus e de igual modo, é um dos assuntos que tem gerado mais controvérsias e

debates sobre si na atualidade, bem como ao longo da história. É imprescindível que

aqueles que buscam viver no centro da vontade do Rei, conheçam os desígnios do

Reino e se esforcem por cumprir o que está na oração modelo: “venha o teu reino,

seja feita Tua vontade”.

O Reino tem se desenvolvido através da História da humanidade com os mais

diversos pensamentos e práticas, ora voltadas para o campo social ora voltadas

para o campo tido como espiritual e até mesmo sendo confundido com a Igreja. Uma

questão surge nesse ponto: Até onde a variedade de interpretações ao longo da

História, serviu de forma benéfica para nossa compreensão de Reino hoje? A Igreja

tem cumprido seu papel como súdita real?

Devido a imensidão de interpretações, cada vez fica mais difícil conceituar o

Reino em poucas palavras ou frases, talvez devido a sua grandeza ou devido a um

certo descaso com a totalidade das áreas onde cabem ações do Reino é que exista

tanta dificuldade em conceituá-lo de forma abrangente e clara. Ainda há muito o que

se responder, como quem são os verdadeiros súditos? Onde estão os domínios

físicos desse Reino, se é que existem? O Reino é unicamente espiritual? E como

aplicar as verdades sobre o Reino como a semente de mostarda?

Uma outra verdade incontestável é que há uma diferença muito clara entre a

Igreja e o Reino de Deus, embora nem sempre essa diferença fosse percebida,

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devido a insistência de divulgar a igreja como sendo a totalidade do Reino. E

justamente por não ser bíblica essa limitação, torna-se necessário que o Reino

desenvolva frutos na sociedade a qual está inserida. A liberdade sempre foi e é um

fruto real onde quer que seja pregado o Evangelho do Reino e essa libertação vinha

através da pregação da Palavra (Espiritual) e do serviço (social). Acreditava-se que

mudando a forma de pensar hoje, as próximas gerações padeceriam menos.

Outra entre tantas faces do Reino é o futuro. O estabelecimento do reinado

terreno do Messias, o triunfo de Cristo, a derrota de Satanás, o arrebatamento, o

milênio, a Nova Jerusalém, novos céus e nova terra. A tensão entre o “já” e o “ainda

não”, o mundo caminhando como um todo para uma nova “plenitude dos tempos”,

onde Ele mesmo “enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não

haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Ap. 21).

Enfim, é fascinante buscar conhecer o Reino de Deus e Ele se revelará a todo

aquele que o buscar com sinceridade de espírito, coração quebrantado e disposto a

viver a vida totalmente para Ele, como se não houvesse amanhã.

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1. CONHECENDO O REINO

A oração modelo que Jesus ensinou tem em suas primeiras frases uma

em especial que é bastante interessante: “venha o teu reino”; tal frase tem

despertado em muitos o desejo de uma melhor compreensão acerca do Reino e sua

dinâmica.

No seu sentido amplo, o reino é um símbolo da vontade de Deus que

pode ser realizada em situações particulares através da obediência humilde, mas

que nunca é plenamente concretizada dentro das fronteiras da história por causa

das limitações humanas. O reino fala de uma tensão: como Cristo já veio ao mundo,

morreu e ressuscitou, há uma dimensão presente do reino. Como Cristo ainda não

voltou para pôr fim à realidade presente e instaurar os novos céus e terra, o reino é

também futuro. Assim sendo, o reino está presente em parte, mas a sua

manifestação final permanece uma esperança para o futuro. O cristão sabe que o

reino veio num novo sentido em Cristo, que ele pode vir na sua própria vida, mas

que ainda não veio plenamente. Desse modo, ele vive no mundo presente como um

cidadão obediente desse reino, ao mesmo tempo em que ora com esperança

confiante: “Venha o teu reino”.

Porque o reino é de Deus, ele não virá como resultado do esforço

humano. Não é sustentável a visão otimista de que o desenrolar da história está

trazendo os estágios finais do reino. Este não pode ser entendido como um conceito

evolutivo ou primariamente como um conceito moral e ético. Por outro lado, os

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cristãos sabem que devem orar e trabalhar para que o reino se faça cada vez mais

presente; eles sabem que, pelo menos em algumas áreas ou situações, a realidade

do reino pode se tornar mais palpável neste mundo caído. A proclamação da

presença do Reino é uma declaração de guerra contras as forças do maligno. O

Senhor Jesus "se manifestou... para destruir as obras do diabo"; Ele "andou fazendo

o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele". A

salvação, a libertação e a cura são atos de guerra contra as obras do inimigo, contra

seu reino. Estas obras confirmam a realidade do Evangelho, da proclamação da

presença do Reino de Deus. O Senhor Jesus explicou que Ele expulsava demônios

como prova do fato que Ele tinha vencido o "valente" Satanás e que o Reino de

Deus tinha chegado e a Sua justiça estava sendo estabelecida, trazendo consigo o

direito de uma nova vida e esperança aos filhos de Deus.

1.1 O REINO NA HISTÓRIA

Assim como nos dias de Jesus, ao longo da história da igreja o “reino de

Deus” tem sido objeto de diferentes entendimentos. Orígenes afirmou que o próprio

Jesus era o reino; alguns entendem que o reino se refere a um relacionamento

apropriado com Deus; outros o têm identificado com a igreja visível ou com uma

ordem social transformada; ainda outros têm insistido que Jesus se referia a uma

intervenção apocalíptica da parte de Deus. Esse conceito tem sido utilizado tanto

para sustentar o status quo quanto para inspirar ideais revolucionários e

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contestadores. Desde a época de Agostinho tem havido a tendência de

institucionalizar o conceito do reino identificando-o com a igreja. Embora o reino já

esteja presente no mundo, ele ficaria circunscrito à igreja. Outra posição vê o reino

como futuro, ainda que iminente. É o caso de movimentos apocalípticos como o

montanismo¹ do 2º século e muitos outros através dos séculos.

Nos Estados Unidos do final do século 19 e início do século 20 (1880-

1930), o chamado “evangelho social” deu grande ênfase ao conceito do “reino de

Deus”. Seu principal expoente foi Walter Rauschenbusch (1861-1918), um pastor

batista de origem alemã. Procurando responder aos problemas sociais das grandes

cidades norte-americanas num contexto de crescente industrialização, urbanização

e imigração, o movimento apregoou a “implantação do reino de Deus na terra” e a

necessidade de uma “sociedade redimida”. O reino de Deus passou a ser visto

exclusivamente em termos de transformação da sociedade e justiça social. Um livro

foi particularmente influente no sentido de popularizar as idéias do evangelho social:

Em Seus Passos que Faria Jesus (1897), de Charles Sheldon.

Em seu livro O Reino de Deus na América (1937), H. Richard Niebuhr

demonstrou que o tema do reino de Deus dominou o pensamento teológico

americano desde o início. Esse conceito teve diferentes sentidos ao longo do tempo,

desde a soberania de Deus na época dos puritanos² e de Jonathan Edwards,

passando pelo reino de Cristo na época dos avivamentos do século 19, até o reino

terreno de Deus no liberalismo do início do século 20. Para os liberais, o reino de

Deus “não era um reino celestial de outra vida muito distante e futura, e sim o reino

de amor e justiça nesta terra, tão completamente e tão rapidamente quanto

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possível”. A I Guerra Mundial (1914-1918), a quebra da bolsa de Nova York (1929) e

outros eventos negativos destruíram as esperanças otimistas dos liberais.

O Reino de Deus acontece no aquém, como reino terreno, ou é reino dos

céus no além? Os que conhecem apenas uma face do reino de Deus, afirmam que

ele acontece apenas no além, referem-se sempre de novo as palavras de Jesus: “o

meu reino não é deste mundo”(Jo. 18:36). Kraybill diz que “O reino não aponta para

o lugar de Deus, e, sim, para as atividades do governo de Deus”. A análise

exegética deste discurso de Jesus nos mostra que essa é uma expressão sobre a

origem e não sobre o lugar geográfico do reino. É claro que ele não é deste mundo,

mas de Deus, se não, não poderia curar este mundo doente. Mas em Jesus e por

seu intermédio ele está nesse mundo. Na oração do Pai nosso pedimos para que

venha a nós o teu reino “assim na terra como nos céus” e com o céus imaginamos

como parte da criação que está plenamente de acordo com Deus; e com a terra, a

parte da criação que ainda está restrita. O reino de Deus também é tão terreno

quanto o foi o próprio Jesus, e quem procura ver o seu final dirá: com a cruz de

Cristo, o Reino de Deus está definitivamente plantado nesta terra, não de forma

pleno e total, mas como um pré-estabelecimento do que está porvir.

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2. CONCEITUANDO O REINO DE DEUS

Durante muito tempo, o tema do Reino não foi discutido com

profundidade dentro da Igreja, isto se deve as mais diversas interpretações ou

mesmo reduções da verdade bíblica. O Reino é uma iniciativa própria de Deus em

favor da humanidade. Kraybill diz: “Deus não ficou apenas sentado em uma grande

cadeira de balanço teológica a filosofar sobre como se deve amar o mundo. Deus

agiu.”

Para conseguirmos formular alguma idéia acerca do Reino façamos uma

análise semântica do que significa Reino. A língua judaica freqüentemente colocava

um termo apropriado no lugar do nome da Deidade. Elwell afirma que o termo

geralmente usado era malekuth ha-elohym, “reino de Deus”, ou malekuth ha-

shamaym, “reino dos céus”. O Novo Testamento grego usa os termos βασιλεια του

Θεου (reino de Deus) e βασιλεια του ουρανον (reino dos céus). Mas analisaremos o

conceito hebraico por duas razões: Jesus não pregou em grego, e sim em aramaico,

língua assemelhada ao hebraico, e seus universos, cultural e lingüístico, eram

hebraicos. Fiquemos com o hebraico, portanto. Jesus era um hebreu, e não um

grego.Sobre esse assunto, diz Isaltino Gomes Coelho Filho [s.d]:

Malekuth é uma palavra preciosa, do ponto de vista de conteúdo. Seu significado é mais abstrato do que concreto. Ou seja, é mais um conceito que uma realidade concreta, visível a tangível. Geralmente, quando o autor de

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Crônicas fala do reinado de alguém, a frase é “no tal ano do

malekuth de....”.

A palavra é usada significando mais o reinado, o governo, do que a instituição

monárquica. Em Daniel 2.37, 4.34 e 7.14 isto se torna mais acentuado porque a

palavra é associada com conceitos abstratos como poder, força, domínio, glória. Em

outras palavras, não é, nem primeira nem necessariamente, uma instituição física. É

conceitual.

O desejo de Deus era que ele reinaria sobre Israel. O diálogo entre os

homens de Israel e Gideão mostra que este, pelo menos, entendeu bem o propósito

divino: “Então os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre nós, assim tu,

como teu filho, e o filho de teu filho; porquanto nos livraste da mão de Midiã. Gideão,

porém, lhes respondeu: Nem eu dominarei sobre vós, nem meu filho, mas o Senhor

sobre vós dominará” (Jz 8.23-24). A proposta deles vê-se na possível

hereditariedade de domínio, era de uma monarquia, embora a palavra não apareça.

O domínio deveria ser do Senhor, segundo Gideão.

O conceito de reino para nós se liga a uma instituição política. O conceito

veterotestamentário é diferente. Numa alentada obra sobre os ensinos de Jesus, o

teólogo Conner, após rastrear a idéia de “reino de Deus”, fundamentando-o no

direito de Deus como Criador e como libertador de Israel do cativeiro egípcio, entra

na área das definições de sua pesquisa. Diz ele, em certo momento:

“A idéia geral de reino de Deus é o governo ou

reinado de Deus. Como já vimos, sua soberania se estende

sobre todo o universo. Como Criador e Sustentador do

mundo, sua soberania se estende sobre todas as coisas. Isto

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se aplica ao homem em sua ordem moral. Sendo o homem

um ser racional e moral não pode ser regido apenas pelas leis

físicas e mecânicas. Sua obediência a Deus deve ser por

escolha. Mas mesmo que o homem escolha desobedecer,

mesmo assim está debaixo da lei moral. Não pode libertar-se

de suas exigências. Neste sentido, todos os homens são

súditos de Deus.”

Todos os homens são súditos porque Deus é Criador e Rei sobre tudo e

sobre todos. Isto tem respaldo na área da semântica, porque todas as vezes que

malekuth é empregado com referência a Deus, o que está em foco é sua autoridade

ou seu governo como rei do universo. A propósito, podemos ver aqui as passagens

de Salmo 22.28 (“Porque o domínio é do Senhor, e ele reina sobre as nações”),

103.19 (“O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre

tudo”), 145.11-13 (“Falarão da glória do teu reino, e relatarão o teu poder, para que

façam saber aos filhos dos homens os teus feitos poderosos e a glória do esplendor

do teu reino. O teu reino é um reino eterno; o teu domínio dura por todas as

gerações”), Obadias 21 (“Subirão salvadores ao monte de Sião para julgarem o

monte de Esaú; e o reino será do Senhor”) e Daniel 6.26 (“Com isto faço um decreto,

pelo qual em todo o domínio do meu reino os homens tremam e temam perante o

Deus de Daniel; porque ele é o Deus vivo, e permanece para sempre; e o seu reino

nunca será destruído; o seu domínio durará até o fim”). A presença do conceito

nestes três livros é significativa. Salmos trata de liturgia, o texto de Obadias é

profético, vindicativo, e o de Daniel põe a afirmação na boca de um pagão. Por todo

o Antigo Testamento o que está em tela é o domínio de Deus, tanto sobre Israel,

como sobre a história e sobre o mundo. Não importa o estilo literário, a unidade

teológica permanece.

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2.1 INTERPRETAÇÕES HISTÓRICAS DO REINO:

O Reino esteve sujeito as mais variadas interpretações e aplicações e com

isso mudando de “forma” a cada novo lugar e época em que era vivido. Vejamos

alguns exemplos dessas interpretações e mudanças.

a) Patrística - Os pais da Igreja foram muito influenciados pela filosofia grega,

eles tentavam fazer uma ponte entra a fé cristã e o pensamento grego. Eles

conceituaram o Reino somente em categorias espirituais. O governo de Deus

era espiritual.

b) Romana - O Reino é identificado com a Igreja. Este era o pensamento da

igreja medieval, muito influenciada por Agostinho.

c) Evangélica - Para muitos evangélicos o Reino é identificado ao novo

nascimento, quando Deus assume o governo sobre a vida do crente. Um

reinado individualista, talvez influenciado pelo movimento Pietista da

Alemanha e o Puritanismo Inglês.

d) Liberal - Os liberais identificam o Reino com uma nova ordem social. Talvez

influenciados pela perspectiva escatológica do pós-milenismo.

e) Apocaliptíca - O reino de Deus é concebido em categorias futuristas. Albert

Schweitzer defende esta corrente, para ele Jesus foi um mestre apocalíptico,

esperava o estabelecimento do Reino em um futuro imediato, o Reino não

chegou e Jesus morreu desiludido.

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f) Carismática - os carismáticos identificam o Reino com o poder de salvar,

libertar o pecador aqui e agora. Para eles o Reino é presente e atua com

poder nos nossos dias.

g) Neo-pentecostalismo – Identificam o Reino com o bem-estar na vida terrena.

Viver o reino é ser próspero, sem doenças ou males nessa vida.

Como vimos o Reino de Deus é uma realidade difícil de ser definida, até

porque não há um consenso entre os variados grupos que alegam ter parte no

Reino de Deus. Para uns é uma realidade futura, para outros ela já se estabeleceu,

para outros ainda, o Reino está sendo estabelecido. Tentaremos conceituar o

Reino de Deus seguindo o pensamento, que hoje é consenso ao menos entre os

eruditos, que o Reino de Deus é tanto uma realidade presente, como uma

esperança futura. A tensão do "já" e do "ainda não". Segundo as Escrituras o Reino

de Deus já chegou com poder através de Jesus Cristo, ele se manifestou durante

seu ministério, e se estabeleceu derrubando o reino do mal que controlava a

existência humana. Mas ele ainda não chegou com toda plenitude. O governo de

Deus ainda não alcançou toda a extensão da terra. Os homens ainda são rebeldes

ao projeto eterno de Deus.

2.2 OS DOMÍNIOS DO REINO

Em todo ambiente onde Deus reina, aí está o Reino de Deus. Onde a

vontade de Deus está sendo cumprida, aí está o Reino de Deus. Podemos conceber

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o inferno como um reino de muitas vontades, mas, no Reino de Deus só há lugar

para uma vontade: a do Rei. O Reino de Deus, que é revelado na pessoa de Cristo,

deve estar manifesto em cada aspecto da vida de um “cidadão” do Reino. Na vida

devocional, na comunhão, no trabalho, no mercado público, na escola, na

universidade, no lazer, na família. Paulo orientou a Igreja de Corinto, em sua

primeira carta, no capítulo 10, versículo 31: “Portanto, quer comais quer bebais, ou

façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” O Reino de Deus

santifica aquilo que é comum, o ordinário. Se não fosse a pessoa de Cristo, não

teríamos como fazer parte desse Reino. Para entrar nele, precisamos deixar que

Cristo entre em nós e ali estabeleça Seu Reino.

No livro do Profeta Daniel, encontramos algumas menções sobre as

características do Reino de Deus: grandes são os seus sinais, e quão poderosas as

suas maravilhas! O seu reino é um reino sempiterno, e o seu domínio de geração

em geração. Após o milagre da fornalha de fogo ardente, no capítulo 3, do livro do

Profeta Daniel, um monarca até pouco tempo pagão, Nabucodonosor, mas que

recebia influência do Profeta Daniel, manda aos povos uma mensagem onde, de

início, já reconhece que grandes eram os milagres de Deus, bem como que o seu

Reino é eterno, que Deus estará sobre Ele para todo o sempre.

No Evangelho escrito para os Romanos, por Marcos, no capítulo 1º,

versículo 15, são registradas as palavras de Jesus: O tempo está cumprido, e é

chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho. Jesus começou a

proclamar as boas-novas de Deus, afirmando que já passara o tempo da esperança

em relação ao cumprimento da promessa de que o Messias viria, e que já havia

chegado o desejado e esperado Reino de Deus. Dizia Cristo que era necessário que

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todos os homens se arrependessem e cressem. Dessa forma, Jesus estava dizendo

que a nossa responsabilidade dentro do Reino se expressa dessa forma: o governo

divino no coração humano e na sociedade.

O Reino se estabelece dentro de nós para, em seguida, brotar como uma

fonte de água viva; não é interrompido, suspenso, paralizado, estacionado, não é

estancado, é contínuo. João 4. 14 “mas aquele que beber da água que eu lhe der

nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de

água que jorre para a vida eterna.” Impossível conceber uma fonte que não jorra de

dentro para fora. É preciso que haja um manancial, uma considerável quantidade de

água que brote do chão para que um determinado local possa ser conhecido como

fonte. De uma forma muito simples sabemos que ninguém pode dar aquilo que não

tem. Por isso é preciso que o Reino primeiro se estabeleça em nós.

2.3 OS SÚDITOS DO REINO

Não existe uma fórmula mágica para entrar no Reino de Deus. É comum

muitos afirmarem que alguém se torna participante do Reino quando é batizado,

tornando-se assim membro de uma denominação, porém, o Reino de Deus age na

vida dos homens de uma forma não-denominacionalista. Se pudessemos descrever

o desenvolvimento do Reino na vida de uma pessoa, uma sequência lógica poderia

ser verificada, como por exemplo:

1) Ele avança em nossos corações;

2) Transforma nossas vidas;

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3) Transforma Famílias;

4) A nossa própria história.

O Reino precisa ser estabelecido em nós a ponto de afirmarmos o que

Paulo disse: Gálatas 2. 20a “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu,

mas Cristo vive em mim;” Quando formos crucificados com Cristo e Ele tiver

passado a viver soberanamente em nós, então, de uma forma absolutamente

natural, o Reino de Deus poderá ser percebido em nossas vidas brotando pelos

nossos poros, sendo percebido até no aroma que brotará de nossos corpos, pois

onde ele se estabelece, ali ele é visto;

Mateus 5. 14 diz: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma

cidade situada sobre um monte;” O que aconteceria às nossas vidas, famílias,

comunidades e nações se, num piscar de olhos, o Reino de Deus se manifestasse

em toda sua plenitude? Pessoas se converteriam a Ele e passariam a conhecer o

Deus verdadeiro. Relacionamentos seriam restaurados. A prostituição e a violência

acabariam. Haveria provisão para todos. Enfermos seriam curados. A poluição teria

fim. Justiça e paz reinariam sobre a terra. Inimaginável, pensar em tão grande

construção, edificação, milagre, sendo exaltada, mas não sendo percebida. Nós

fomos chamados para passarmos das trevas para sermos a luz que ilumina o mundo

inteiro. Como Igreja de Jesus na terra, encarregados que somos da implantação de

um Reino abrangente, capaz de contemplar todas as áreas da existência humana,

precisamos de um ministério também abrangente, que não pensa pequeno, que não

gasta tempo com questões pequenas e sem valor. Como o Reino pode ser visto em

sua vida ? Ele já foi estabelecido ? Se nossa vida não está sob a direção, a

orientação, o comando de Deus, de forma permanente, talvez seja por isso que o

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Reino de Deus seja tão pouco visto em nossas igrejas e em nossas vidas, porque

ele ainda não se estabeleceu. Se ele estivesse aí, seria impossível não vê-lo.

2.4 O REINO NO ANTIGO TESTAMENTO

O conceito do reinado ou senhorio de Deus era familiar aos ouvintes de

Jesus, estando presente no Antigo Testamento. Desde o início, Deus deixou claro

que ele era o verdadeiro rei de Israel. Quando o povo pediu um rei humano, o

Senhor manifestou o seu desagrado (1 Sm 8.5-7). A idéia de Deus como rei está

presente em todas as Escrituras Hebraicas (Dt 33.5; Jz 8.23; Is 43.15; 52.7), em

especial nos Salmos (10.16; 22.28; 24.7-10; 47.2,7-8; 93.1; 97.1; 99.1,4; 103.19;

145.11-13). Algumas passagens identificam o reino de Deus com o reino de Davi (1

Cr 17.14; 28.5; 29.11; Jr 23.5; 33.17). Esse reino será eterno e só alcançará a sua

consumação em um tempo futuro, assumindo feições escatológicas (Dn 2.44).

Nos tempos de Jesus, a idéia de um messias guerreiro estava sendo

cultivada com vigor. Isto não aconteceu por acaso. Na seita essênia de Qumram, por

exemplo, a expectativa de um messias-rei-guerreiro era intensa. Parece, segundo

Schelke, que o livro de Hebreus tem como motivo secundário, combater o

messianismo de Qumram, mostrando que todas as expectativas messiânicas se

cumpriram em Jesus. Não há outro messias por vir. Comparando a pregação de

Jesus com os ensinos essênios e zelotes, diz Schelke:

“O messianismo de Jesus é diferente do que prega o messias

da guerra santa. Jesus rejeita mesmo absolutamente a guerra

santa, tanto na forma imediata dos zelotes, como na derivada

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da expectativa de Qumram, escolhendo o caminho e o

serviço do sofredor servo de Deus”

O que ocasionou esta mudança foi a frustração que tomou conta dos

judeus após a derrota para Babilônia, em 587 a. C., com o fim de Judá e a

interrupção da dinastia de Davi, como já apontado. No cativeiro esta frustração foi

transformada num processo de reformulação da teologia israelita. A expectativa

messiânica se ampliou porque nos momentos de crise se procura por um salvador.

É aqui, no retorno do cativeiro, que vai nascer o judaísmo. O judaísmo é diferente do

hebraísmo sacerdotalista de antes do cativeiro. É uma religião normatizada por um

livro. O seu nascedouro tem sido identificado em Neemias 8. Uma classe nova vai

surgir, a dos intérpretes da Torah.

Neste período, o do cativeiro e o retorno, floresce a idéia de messias nos

moldes de um rei secular. Parece que a teologia popular se tornou muito forte. O

modelo é Davi, como se pode ler bem em Ezequiel 34.23-24. não é de se estranhar,

porque Ezequiel parece ter sido um líder popular, entre os cativos. Volto a citar o

texto: “E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi.

Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o

meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”. O que alguns

teólogos do Antigo Testamento chamam de “davidismo” começa aqui. Não apenas a

idéia de que o messias será descendente de Davi, mas a própria espera de um rei

nos moldes de Davi, não se esperava o retorno de Davi, mas um novo Davi. A

primeira declaração de Mateus, que é a primeira declaração do Novo Testamento, é

exatamente esta: “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi...” (Mt 1.1).

Esperar-se um messias guerreiro, portanto, não era algo fora de propósito. Tanto

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que foi preciso que Mateus, escrevendo seu evangelho para os judeus, precisasse

dizer que o filho de Davi era Jesus. E foi por isto que ele, Jesus, premeditadamente,

entrou em Jerusalém montado em um jumentinho. Mostrou que sua montaria era um

animal pacífico, e não um alazão, como os guerreiros macabeus usavam.

Ele não era um guerreiro libertador. Era o Príncipe da Paz. Jesus era um

homem que encarnava o Antigo Testamento. Isto nos adverte para um perigo ao

qual nós também estamos sujeitos: submeter as Escrituras às nossas expectativas.

Não podemos projetar nossos anseios para dentro da interpretação bíblica, fazendo

deles um eixo hermenêutico.

2.5 O REINO NO NOVO TESTAMENTO

Há algo intrinsecamente subversivo sobre o Reino de Deus, que vem

invadindo este mundo tenebroso, derrotando as forças de Satanás e trazendo a

justiça e a presença dos Céus aqui na terra. O Senhor Jesus descreveu o Reino

como sendo "o grão de mostarda que... cresceu e fez-se árvore" e o "fermento que

uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou"

(Lc 13.19-21). O profeta Daniel o viu como sendo "uma pedra que... encheu toda a

terra", "um reino que não será jamais destruído... mas esmiuçará e consumirá todos

estes reinos, e será estabelecido para sempre" (Dn 2. 35,44).

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Quando adentramos o Novo Testamento, observamos que o conceito já

sofreu uma mudança. A perturbação de Herodes, em Mateus 2.3, mostra que ele

entendera que o menino que nascera era postulante ao reino político de Israel.

Herodes não era judeu. Era edomita, mas como todos os edomitas era aparentado

com os judeus e imerso naquela cultura. Assim já nutria o conceito de um reino

político. Em João 6.15, a multidão pretende tornar Jesus um rei político. E em João

18.36 ele faz questão de dizer que seu reino não é deste mundo. Para combater o

conceito já popularizado, ele precisou retornar aos fundamentos do Antigo

Testamento. Contribuiu para este conceito equivocado o fato de que há muito tempo

Israel era dominado por potência estrangeira. Tanto que no dia da sua ascensão, os

discípulos perguntam se era naquele momento que ele iria restaurar o reino a Israel

(At 1.6). Evidentemente, o passado histórico, de uma monarquia institucionalizada,

contribuiu para isto. Mas não foi o único motivo. A fermentação política no tempo de

Jesus levava os judeus a sonharem com a reinstituição da monarquia, mais

particularmente com os tempos de Davi. Aliás, este se tornara um tipo do Messias, a

ponto de, em Ezequiel 34.23-34, Davi ser sinônimo do Messias. Diz o texto: “E

suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as

apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu

servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”. Não era de se

estranhar. Davi foi o maior rei que Israel conhecera. Desta maneira, o Messias

deveria ser um novo Davi. Esta fermentação política acabou produzindo seitas

estranhas no judaísmo. Se os zelotes eram mesmo revolucionários, um dos

discípulos de Jesus, Simão, provavelmente foi atraído pelo ministério de Jesus,

vendo-o como o possível rei político.

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30

2.6 NAS PARÁBOLAS

2.6.1 O REINO: UMA SEMENTE PLANTADA

“Disse ainda: O Reino é assim como se um homem lançasse a semente à terra;

depois dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e

crescesse, não sabendo ele como. A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva,

depois a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga. E, quando o fruto já está

maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa.”

Marcos 4.26-29

O Reino de Deus esteve sempre presente na boca de Jesus, só em

Mateus, por exemplo, esse termo aparece pelo menos 53 vezes, indicando ser no

mínimo um assunto de grande valor para Cristo. O reino de Deus representa a

salvação para o homem, salvação essa que põe fim a toda forma de vida terrena. E

esta salvação é a única da qual se poderia falar, por isso ela exige do ser humano a

decisão, não se trata de algo que se possa ter ao lado de outros bens ou de algo

alcançável por esforço ou mérito próprio. Bultmann diz:

“O reinado de Deus não constitui um “bem supremo” em

termos éticos. Ele não é um bem ao qual se volta o querer e o

agir humanos, nem uma grandeza a ser concretizada de

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alguma forma pela atitude humana, que de alguma forma

necessitasse dos seres humanos para ganhar existência

própria.”

A parábola citada pressupõe justamente que e crescimento e a maturação

da semente não é algo “natural”, algo de que o ser humano pode dispor, mas que se

trata de algo extraordinário. A vinda do Reino de Deus é algo tão extraordinário

quanto o fato de a semente germinar e crescer sem qualquer auxílio ou

compreensão da parte do ser humano.

Nessa linha de pensamento não devemos imaginar que o reino de Deus

deve ser imaginado como uma grandeza que possa ter sido ou vir a ser concretizada

em uma comunidade histórico-mundana. Ainda citando Bultmann:

“O “reino de Deus” não é uma grandeza que está se

realizando na história humana; jamais se fala, nem é possível

falar, de sua fundação, de sua edificação, de sua conclusão;

fala-se apenas de sua “aproximação”, de sua “vinda”, de seu

“surgimento”. Trata-se de uma grandeza supranatural, não

mundana; e ainda que as pessoas possam “receber” sua

salvação ou entrar nela, não são elas que mediante sua

comunhão e atuação, constituem o reino, apenas, e

unicamente, a ação de Deus é quem faz isso.”

Tal pressuposto demonstra que de modo algum, o que é apresentado é

o crescimento “natural” do reino de Deus e sim visa mostrar a força impetuosa com

que o reinado de Deus viria, sem que ninguém imaginasse ou soubesse como

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ocorreu. É esse fator que torna o reinado completamente de Deus, sua soberania

em agir.

O que cabe lembrar agora é que esse reino age hoje, agora mesmo está

agindo, seja de forma clara e aberta ou em secreto, o que importa é que ele está se

movendo, se preparando para algo maior, para um acontecimento inédito e único, de

certo modo inesperado, mas iminente, por isso encontramos tantas parábolas

apontando para a necessidade de vigilância, pois não se pode determinar quando o

Senhor desse reino retornará; a única certeza a se ter é que a semente está

crescendo e as espigas começam a surgir, em breve virá o tempo da ceifa. Em parte

é consolador saber disso, pois seria arriscado entregar completamente nas mãos

dos homens a dependência desse reino. É confortante saber que apesar de tudo o

vemos nos jornais, que as noticias com as quais nos deparamos não mostram a

impossibilidade de instauração do reino (nesse caso, o reino futuro), pelo contrário, é

através disso que podemos, como uma vanguarda, sonhar, orar, clamar e aguardar,

pois uma coisa é certa, o REI está voltando!!!

2.6.2 O REINO: UM GRÃO DE MOSTARDA

“O Reino de Deus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e

plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e,

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crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu

vem aninhar-se nos seus ramos”

Mateus 13.31-32

Quando se fala em grão de mostarda, alguns pensamentos vem a nossa

mente, como por exemplo: Como uma semente tão pequena, insignificante aos

nossos olhos, pode representar o reino de Deus? O que ela tem de tão especial que

nós ainda não descobrimos? Porque Ele não comparou o reino com algo maior,

como o Império Romano, o mar Mediterrâneo?

Os versos de Mateus 13.31-32 na verdade são a resposta para duas

perguntas feitas por Jesus: Com que se parece o reino de Deus? e Com que

compararei o Reino de Deus? (Lucas 13.18,20) Neste ponto nos ocuparemos com a

primeira pergunta que tem sua resposta no grão de mostarda. O grão de mostarda

era a menor de todas as sementes da Palestina, tão pequena que era difícil

enxergar uma sozinha, porque tinha o tamanho aproximado da cabeça de um

alfinete, contudo, uma única sementinha dessas poderia amadurecer, crescer e se

tornar uma das maiores árvores conhecidas, onde as aves viriam em busca de

repouso e abrigo. A compreensão lógica desse fato nos é prejudicada, porque às

vezes preferimos falar acerca do reino como um grande exército com seu General

Jesus e isso pressupõe uma grandeza estrondosa, mas mesmo esse exemplo tem a

ver com a semente de mostarda, pois exército algum começa grande, sempre tem

seu início “acanhado”, pequeno e depois explode em crescimento, por isso o

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processo intermediário é tão importante, uma vez que o resultado é um mundo

transformado.

Apesar de ser uma das grandes verdades da pregação de Cristo, essa

comparação teve um efeito psicológico muito bom nos discípulos que viriam a ser

apóstolos mais tarde. Eles deixaram família e emprego para seguir a Jesus e o que

ganharam em troca foi hostilidade dos líderes religiosos judeus, o ódio dos romanos

entre outros resultados “negativos”. Na verdade, o que eles imaginavam quando se

falava acerca de Reino é que Jesus seria um grande líder militar, que marcharia

sobre Jerusalém e derrotaria a opressão romana, sentimento esse que habitava em

vários corações, não apenas nos Doze. Isso nos é mostrado em Atos 1.6, quando

questionam Jesus dizendo: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a

Israel? Era preciso tratar essa questão, pois o reino do qual Jesus falava era muito

maior do que o reino de Israel, o que não cabia em suas cabeças. Como poderiam

pensar em algo mundial quando ao olharem para si mesmos viam apenas

pescadores, homens simples, que chance teriam contra o Império Romano inteiro?

Talvez isso os tenha levado a pensar tão “pequeno”, não conseguiram vem em si

mesmos pessoas capazes de mudar a história. De um ponto de vista militar, político

e até mesmo “religioso”, o começo do Colégio Apostólico foi insignificante, pequeno

e começos humanamente insignificantes tendem a nos arrefecer os ânimos. Sobre

começos “insignificantes” Carter diz:

“Talvez você esteja servindo a Deus num canteiro

pequenino da vinha dEle. Talvez sua Igreja não tenha

condições de manter um pastor de tempo integral ou, quem

sabe, seu grupo de estudo bíblico tem só um pouquinho de

pessoas. Você pode se perguntar se seu trabalho para

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Cristo faz alguma diferença no Reino de Deus. Não se

esqueça da semente de mostarda! O trabalho sempre

começa pequeno, e sua importância não provém do

tamanho, mas de sua vida intrínseca”.

É simples ver esse fator, mesmo em Jesus, nasceu em uma pequena

cidade, não foi muito longe de sua terra natal, não deixou nada escrito de cunho

pessoal, foi rejeitado como líder e Messias pela própria família, sua equipe tinha

apenas 12 pessoas. Mas o sepultamento de Cristo foi como a semeadura de um

grão de mostarda, primeiro teve que morrer, depois a vida brotou e nos séculos

seguintes a tudo isso as pessoas se arrebanharam ao seu redor com fé, como os

pássaros nos galhos dar árvores. Voltando aos discípulos, vem a pergunta: Como

apenas 12 homens fizeram discípulos de todas as nações? Os mesmos que pouco

tempo antes haviam sido chamados de pequeno rebanho.

Mais um fator interessante acerca da semente de mostarda que

amadurece, a Bíblia fala que as aves do céu se aninham nos galhos (Mt 13.32),

alguns compreendem que isto fala sobre a entrada dos gentios no Reino de Deus.

Intrigante é que no Céu uma canção diz que Cristo comprou com o seu sangue

indivíduos “de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap. 5.9), por isso não cabe na Igreja

qualquer forma de acepção, de segregação, nenhum de nós pode determinar que

outros se vistam como nós física ou teológicamente ou que pratiquem o nosso

método pessoal de adoração. O Reino é grande o suficiente para todos e tal como a

graça, é inconfinável. Philip Yancey diz:

“De fato, o reino de Deus crescerá na terra quando

a Igreja criar uma sociedade alternativa, demonstrando

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que o mundo não é, mas um dia será... uma sociedade

que recebe pessoas de todas as raças e de todas as

classes sociais, que se caracteriza pelo amor e não pela

polarização, que se interessa mais pelos seus membros

mais fracos, que defende a justiça e o direito num mundo

apaixonado pelo egoísmo e pela decadência, uma

sociedade na qual os membros competem pelo privilégio

de servir uns aos outros – é o que Jesus quis dizer com

reino de Deus.”

O grão de mostarda se encaixa na classe de fator de crescimento externo

do Reino de Deus.

2.6.3 O REINO: FERMENTO NA MASSA

“Disse mais: A que compararei o reino de Deus? É semelhante ao fermento que uma

mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até tudo ficar levedado.”

Lucas 13.20-21

Essa comparação acerca do Reino de Deus se enquadra como o fator

interno de crescimento do reino, onde se mostra a capacidade de transformar a

sociedade de dentro para fora.

No nascimento de Cristo, foi como se Deus misturasse uma porção

minúscula de fermento na massa da humanidade. O resultado não é difícil de achar,

até mesmo hoje. O fermento celeste operou uma transformação radical na vida dos

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discípulos e estes não ficaram inertes, pelo contrário, viraram o resto do mundo de

cabeça para baixo (Atos 17.6 – BV).

De forma individual, poderíamos dizer que Deus mistura o fermento do

Espírito Santo na massa do coração dos novos convertidos e começa a transformar

cada parte deles. Assim casamentos são restaurados, viciados são libertos, famílias

inteiras abençoadas, pois da mesma forma que o fermento torna a mistura de

farinha em massa fervilhante, o Espírito Santo, plantado no coração dos cristãos,

põe fim aos atos pecaminosos. A influência do fermento celeste tem início no

caráter pessoal do crente e este quando fermentado, é chamado por Deus para ser

o fermento dEle no mundo através de testemunhos, de ações, de palavras, de

atitudes, enfim, agindo como legítimos representantes de Cristo na terra, fazendo

aquilo que Ele faria.

Algo extraordinário é que nesse caminho, somos usados por Deus para

tocar vidas e às vezes nem imaginamos que estamos servindo para tal utilidade, por

isso devemos estar atentos para sempre estar disponível ao agir de Deus, seja para

ser transformado, seja para levar fermento celeste a outros corações que ouvem de

nós o Evangelho, pois em certas ocasiões podemos, devido a motivações erradas,

perder a capacidade fermentativa, influenciadora.

Saber que o fermento celeste age internamente na Igreja, no Reino, no

mundo, deve nos tranqüilizar e abrir nossos olhos para ver se não estamos sendo

tratados e compreender quando outros estão sendo tratados, porém, mais uma vez

sem querer confinar os métodos do Espírito para isso. O Reino é dEle, e Ele tratará

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com ele da forma que for devida, não necessariamente pelo método que nos parecer

mais lógico.

3. O REINO E A IGREJA

O Reino não é formado apenas pela Igreja, e esta na verdade constitui

apenas uma parte do Reino, pois se assim fosse, Deus estaria governando a Terra

através da igreja, o que não acontece. Existem muitas distinções entre o Reino e a

igreja. Os termos “Reino” e “igreja” nunca são intercambiáveis na Escritura, como

acontece com os termos “Reino de Deus” e “Reino dos Céus”. A igreja é o conjunto

daqueles que crêem em Cristo e que se associam uns aos outros por causa da sua

fé comum. À luz das Escrituras, a igreja é uma realidade essencialmente

corporativa, comunitária. Ela é descrita como o corpo de Cristo, a família da fé, o

povo de Deus, um rebanho, um edifício e outras figuras que acentuam o seu caráter

de comunidade e solidariedade e seus propósitos da igreja são basicamente cinco:

adoração, comunhão (koinonía), edificação, proclamação (kégygma), serviço

(diakonía). Esses propósitos apontam para três dimensões essenciais da vida da

igreja: seu relacionamento com Deus, seus relacionamentos internos e seu

relacionamento com o mundo. A missão da igreja se relaciona principalmente com

os dois últimos aspectos: proclamação e serviço. Nas 113 ocorrências do termo

“igreja” (ekklesia, no Grego), ele jamais é usado como sendo o Reino. Esse Reino

vai chegar, quando o Rei estiver presente, literalmente, para governar, o que nos

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remete à Sua Segunda Vinda, quando haverá o julgamento das nações.  É claro que

os apóstolos pregaram o Reino de Deus (Atos 8:12; 19:8; 28:23), mas não podemos

substituir “igreja” por “Reino”, nestas passagens. Contudo, existe uma relação entre

ambos. A igreja é constituída de pessoas nascidas de novo, as quais se submetem

ao governo de Cristo em suas vidas, tornando-se, imediatamente,  parte do Seu

Reino, sendo-lhes assegurada a participação no (futuro)  Reino de Deus, quando

Cristo regressar.

O Novo Testamento não identifica a igreja com o reino de Deus. Obviamente

há uma relação entre ambos, mas não uma coincidência plena. A igreja tem limites

claros, assume formas institucionais, tem líderes humanos. Nada disso se aplica ao

reino de Deus, que é mais intangível, impalpável. Este é uma realidade que

transcende os limites da igreja e que pode não estar presente em todos os aspectos

da vida da igreja. É como dois círculos que se sobrepõem em parte e que se

afastam em parte. Historicamente, a igreja por vezes tem se harmonizado com o

reino, outras vezes tem estado em contradição com ele. Todavia, dada a

importância da igreja no propósito de Deus, ela é chamada para expressar a

realidade do reino, para ser o principal agente do reino de Deus no mundo. Para que

isso aconteça, a igreja e seus membros precisam manifestar os sinais do reino, ser

instrumentos do reino na vida das pessoas, da sociedade, do mundo. Sempre que a

igreja busca em primeiro lugar a glória de Deus, fazer a vontade de Deus, viver uma

vida se humildade, amor, abnegação, altruísmo, solidariedade, etc., ela se torna

agente e instrumento do reino.

O reino pode se manifestar, e com freqüência se manifesta, fora dos limites

institucionais da igreja. Quando isso ocorre, a igreja deve se regozijar com essas

manifestações, apoiá-las e incentivá-las. Todavia, existem aspectos do reino que só

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a igreja pode evidenciar, principalmente a proclamação do evangelho, das boas

novas do amor de Deus revelado em Cristo. A oração do Senhor é um bom ponto de

partida para se refletir sobre o reino de Deus. Nessa oração, Jesus coloca Deus em

primeiro lugar, como o centro dos nossos interesses e afeições, e relaciona isso com

o reino. “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu

reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9-10). O reino de

Deus torna-se presente quando os crentes se unem para invocar a Deus como Pai,

quando reconhecem a sua soberania sobre suas vidas, quando o reverenciam e se

submetem a ele, quando procuram fazer a sua vontade na terra como ela é feita no

céu.

Para que a igreja seja uma verdadeira agente do reino, primeiramente ela

precisa refletir sobre a sua relação com Deus, fazer disso a sua prioridade máxima,

identificar-se com os seus propósitos, associar-se a ele em sua obra de restauração

da criação. A igreja precisa ser teocêntrica, a começar do seu culto. Quando o culto

e a vida da igreja são voltados em primeiro lugar para a satisfação de necessidades

humanas, e não para a glória e o louvor de Deus, a igreja deixa de ser teocêntrica, e

em assim fazendo, não pode ser agente do reino de Deus no mundo. Ao mesmo

tempo em que cultiva a sua vida com Deus, a igreja deve ser um lugar de

relacionamentos interpessoais transformados. Uma igreja teocêntrica será também

um lugar de companheirismo, solidariedade e edificação mútua. Essa é uma das

grandes ênfases do Novo Testamento. Assim como Deus nos amou e nos perdoou

em Cristo, também devemos amar, aceitar e ministrar uns aos outros. Daí o grande

número de exortações em que aparecem as palavras “mutuamente” ou “uns aos

outros”.

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Como corpo de Cristo, a igreja deve reconhecer, respeitar e até celebrar

certas diferenças; ao mesmo tempo, deve transcender essas diferenças, cultivando

uma vida de união e fraternidade (Rm 10.12; 1 Co 12.12-27; Gl 3.28). Isso fica

especialmente claro no que diz respeito aos dons (capacitações para testemunho e

serviço), que são sempre discutidos em conexão com o corpo de Cristo (Rm 12.3-8;

1 Co 12.1-12; Ef 4.11-12). Os dons espirituais só têm razão de ser quando são

exercidos, não para proveito e exaltação pessoal, mas para a edificação dos irmãos,

para a realização do ministério da igreja. Um dos argumentos que Paulo usa em

favor da tolerância na igreja é o fato de que não se deve fazer perecer “o irmão por

quem Cristo morreu” (ver Rm 14.15; 1 Co 8.11).

Em ordem de prioridade, a relação da igreja com o mundo está em terceiro

lugar, o que não significa que seja algo opcional, secundário. Assim como aconteceu

com Israel, a igreja foi formada para realizar uma missão. Se ela ignorar essa

missão, nega a sua razão de ser e está sujeita ao juízo de Deus, como aconteceu

com Israel. A missão primordial da igreja no que diz respeito ao mundo é a

proclamação do “evangelho do reino”, assim como fizeram Jesus e os seus

discípulos. Corretamente entendido, esse evangelho inclui muitas coisas

importantes. Em primeiro lugar, esse evangelho é um convite a indivíduos, famílias e

comunidades para se reconciliarem com Deus mediante o arrependimento e a fé em

Cristo. Todavia, o evangelho são as boas novas de Deus para todos os aspectos da

vida, pessoal e coletiva. Assim sendo, a legítima proclamação do evangelho não vai

se limitar ao aspecto religioso e à dimensão individual (experiência de conversão

pessoal), mas vai mostrar o senhorio de Cristo sobre todos os aspectos da

existência. Além disso, essa proclamação não ficará restrita ao aspecto verbal, mas

incluirá ações concretas que expressem a amor de Deus pelas pessoas (Tg 2.14-17;

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1 Jo 3.16-18). Aí podem ser incluídas muitas iniciativas, que vão desde o socorro a

necessidades imediatas até a luta por mudanças estruturais que irão produzir maior

justiça na sociedade. Aqui a Igreja encontra razões para trabalhar em áreas como o

auxílio financeiro a pessoas e instituições, trabalho voluntário, mobilização para a

criação de leis justas, luta pela ética na vida pública, participação em projetos

comuns com outras igrejas e instituições, etc.

A igreja (instituição humana) pode vir a se tornar um entrave para os

interesses do reino de Deus em várias situações: quando está mais preocupada com

a sua própria sobrevivência, prestígio e poder; quando não consegue abrir mão de

suas peculiaridades a fim de poder dialogar com outras igrejas e grupos; quando

não procura “seguir a verdade em amor” (Ef 4.15); quando se retrai do mundo com

medo de perder a sua identidade ou quando se identifica com o mundo com medo

do escândalo da cruz. O cristão experimenta uma série de paradoxos: o reino já

veio, mas ainda não veio em sua plenitude; vivendo no mundo, ele experimenta as

realidades do reino de Deus e do império das trevas; na própria igreja, existe trigo e

joio, pecado e graça.

Quando mencionamos hoje a expansão do Reino de Deus, estamos falando

do Reino espiritual. Em Grego, a palavra “Reino” é “Basiléia”, significando:

soberania, poder real e domínio. Também se refere ao território ou povo sobre o

qual o rei governa. Desse modo, “reino” é uma designação tanto de poder como de

forma de governo e, no porvir, designará  o território e o governo - o reino e o

reinado. A significação básica de “reino” envolve três coisas: um governante, um

povo que é governado e um território, no qual o povo é governado.

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4. A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO REINO

Um Reino bem estabelecido produz ações práticas na tentativa de gerar

qualidade de vida aos súditos e quando se trata de Reino de Deus, algo maior

permanece como pano de fundo para essas ações, o amor e o valor a vida humana,

sem distinção de cor, classe ou raça. E outro fator importante na vida do Reino é

que busca gerar ações que tragam mudanças reais na vida das pessoas, pois se

suas mentes não mudarem, sua vida tão pouco mudará.

Há muito o que se falar sobre essa área de atuação do Reino, porém nos

deteremos em apenas duas, que tem alcançado um destaque maior ao longo dos

tempos: o auxílio aos pobres e a educação para todos.

4.1 O REINO E O AUXÍLIO AOS POBRES

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A pobreza sempre fez parte da vida terrena e esforços tem sido

desempenhados no intento de diminuir seu impacto e é fato que nenhum grupo tem

feito mais ações nessa questão que os súditos do Reino e assim estabelecendo um

padrão de assistência que é copiado em todo o mundo. Dos orfanatos do terceiro

mundo a missões de salvação, as necessidades humanas sempre foram alvo do

Reino de Deus.

Estudiosos de todo mundo são unânimes ao afirmar que a Antiguidade não

produziu ou deixou traços de nenhum esforço organizado a favor da caridade.

Escrevendo sobre a Roma antiga, conhecida como o apogeu das civilizações

antigas, Will Durant diz:

A caridade teve pouco alcançe nessa vida mesquinha. A hospitalidade sobreviveu como uma conveniência mútua em um tempo em que as tabernas eram pobres e distantes. Mas o compassivo Políbio relata que “em Roma, ninguém jamais dá nada para alguém sem um propósito” – sem dúvida um exagero.

Surge então na História a pessoa de Jesus e com Ele um grande exemplo de

ajuda aos pobres e oprimidos, bem como do cuidado para com aqueles que sofriam

com a pobreza. Uma de suas parábolas mais conhecidas é a do bom samaritano

(Lucas 10.25-37), onde um homem para e cuida de um estranho, quando nem o

sacerdote ou o levita pararam. Essa parábola causou impacto na civilização

ocidental. No Reino a generosidade com os pobres é incentivada, e em alguns

casos, pessoas eram convidadas a dar tudo o que tinham aos pobres.

No Reino o motivo das doações também era novo. Kennedy diz: “A doação

era feita por amor a Jesus, pois o ensinamento cristão é que Jesus era rico, mas

tornou-se pobre por nós, por isso nos tornamos ricos”. O apoio às viúvas era

enfatizado, bem como aos orfãos, deficientes e enfermos ou para com aqueles que

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por abraçarem a fé no cristianismo perderam seus empregos ou eram presos. Na

teoria e na prática, a comunidade do Reino de Deus era unida pelo amor, na qual o

auxílio material recíproco era a lei.

Uma inovação no trabalho com os necessitados é que este não era limitado

aos membros de uma igreja. Tanto que o Imperador Juliano, o Apóstata, último

imperador romano a tentar aniquilar a fé dos cristãos, maravilhou-se ao ver como

estes amavam até os pagãos, mesmo sendo seus inimigos. Em um de seus escritos,

o Imperador Juliano disse: “É vergonhoso que os ímpios galileus (cristãos)

sustentem seus pobres e os nossos também, e sabe-se que nenhum judeu jamais

precisou pedir esmola. Todos verão que nosso povo não recebe nosso auxílio”.

Robin Lane Foz citado por Kennedy diz:

Os cristãos auxiliavam os pobres, as viúvas e os orfãos, assim como faziam as comunidades das sinagogas, suas predecessoras. Esse “amor fraternal” em razão de as pessoas irem à Igreja, como se apenas os que fossem membros pudessem conhece-lo. Na verdade esse amor fraternal era facilmente reconhecido. Quando os cristãos eram presos, outros irmãos na fé reuniam-se para levar a eles alimento e consolo. Luciano o pagão conhecia bem essa prática. Segundo Tertuliano, quando os cristãos eram levados para morrer na arena, a multidão gritava: “Vejam como esses cristãos amam uns aos outros”. O “amor” cristão era conhecido publicamente e deve ter desempenhado seu papel em atrair não-convertidos a fé.

O testemunho dos cristãos no auxílio aos necessitados no decorrer dos

séculos ficará gravado para sempre. Entre os Puritanos havia poucos pobres. O Dr.

Leland Ryken em “Santos no Mundo”, afirma:

O que os Puritanos realmente fizeram para ajudar aos pobres? O teólogo anglicano Lancelot Andrews observou em 1558 que as igrejas calvinistas de refugiados, em Londres foram capazes de “fazer tanto bem, nenhum dos seus pobres é visto nas ruas a pedir” [...] W. K. Jordan reuniu uma enorme quantidade de dados sobre padrões de filantropia da Inglaterra

durante a época da Reforma [...] “Uma vasta porção (dos doadores) eram puritanos”, conclui e menciona como um dos “grandes impulsos condutores”

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por trás do crescimento da caridade voluntária “a emergência da ética protestante”.

A caridade do Reino continuou além da Revolução Industrial. Inúmeros

exemplos de cristãos do século XIX que ajudavam os necessitados são conhecidos,

entre eles:

George Muller e seus famosos orfanatos na Inglaterra;

A Associação Cristã de Moços (1844) e Moças (1855);

Lord Shaftesbury e Anthony Ashley Cooper, que fizeram muito pelos pobres

da Inglaterra;

E a lista continua de forma crescente. Porém, o que entristece nos dias de

hoje quando se fala em termos de serviço social para com o Reino, parece que já

não há tanta importância, como se não fosse missão inerente àqueles que

seguem ao Rei Jesus. Kraybill sobre isso afirma:

“Nos círculos religiosos, o termo “espiritual” ocupa o alto da escada sagrada. Em contraste, a palavra “social” por muitas vezes fica relegada ao degrau mais baixo. As realidades espirituais, conforme prossegue essa lógica, procedem de Deus. Elas são santas. O esforço humano, por outra parte, impulsiona as questões sociais. Estando longe do coração de Deus, as realidades sociais são suspeitas. Espiritual é melhor que social. Esperamos que uma atividade da Igreja não se reduza a “mero evento social” – o que subentende que não teria qualquer significado espiritual”.

Infelizmente a história tem mudado e instituições que não seguem ao Rei

Jesus tem claramente feito muito mais em favor dos pobres que os súditos do Reino

Celeste.

4.2 MUDANÇA DE VIDA: EDUCAÇÃO PARA TODOS

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Não se pode negar que exista um número grande de pessoas que vivem em

situação sofrível de vida. Quando questiona-se o que fazer para mudar essa

situação, é impossível dissociar uma mudança de mentalidade das pessoas, pois

com um novo pensamento é mais fácil alguém decidir de alguma forma buscar uma

nova vida. Uma dessas maneiras de mudar a mentalidade de grupos é através da

educação, pois ela abre os horizontes do ser humano e justamente por isso é que

ela é também responsabilidade do Reino onde quer que ele chegue.

Um fato inegável é que o Cristianismo é a base para o fenômeno de

educação das massas populares, mesmo porque em suas raízes está o ensino. Diz

sobre essa vertente o Dr. J. D. Douglas:

Desde o início, a religião da Bíblia passou de mão em mão por intermédio de ensinamentos [...] O Cristianismo é por excelência uma religião passível de ser ensinada, e a história de seu crescimento é muito pedagógica [...] Á medida que o cristianismo difundiu-se, foram desenvolvidos padrões educacionais mais formais.

Mesmo durante a Idade das Trevas, na qual a maioria das pessoas era

analfabeta, eram padres e monges que mantinham o conhecimento vivo. Muitos

idiomas foram transcritos pela primeira vez por missionários cristãos, para que as

pessoas pudessem ler a Bíblia. Para esse processo os missionários aprendiam o

idioma e traduziam a Bíblia para a lingua nativa. Fornecendo a Bíblia no idioma do

povo, os súditos do Rei estavam automaticamente promovendo a alfabetização em

todo o mundo.

A idéia de educação para todos veio diretamente da Reforma, apesar de

tentativas de uma reforma educacional antes do século XVI. Um caso notável

aconteceu no reinado de Carlos Magno, na França do século IX, que contratou

professores para levar a educação ao máximo de pessoas no Império Romano,

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porém, após sua morte todo empenho extinguiu-se. Quando a Bíblia tornou-se

novamente o foco do cristianismo é que a educação para as massas surgiu.

O proeminente educador americano e autor, Dr. Samuel Blumenfeld declara

que as raízes do ensino das massas remetem à Reforma e, especialmente a

Calvino. Os reformadores acreditavam que a única forma de manter a Reforma

protestante e consequentemente a liberdade por ela alcançada, seria fazendo com

que as pessoas lessem a Bíblia. Citando Blumenfeld:

A idéia moderna de ensino popular, ou seja, de ensino para todos, surgiu primeiramente na Europa durante a Reforma protestante, quando a autoridade papal foi substituida pela autoridade bíblica. Como a rebelião protestante contra Roma originou-se em parte como resultado do estudo e da interpretação da Bìblia, tornou-se óbvio para os leitores protestantes que se eles quisessem que o movimento da Reforma sobrevivesse e florescesse, seria absolutamente indispensável a divulgação da literatura bíblica em todas as camadas da sociedade.

Calvino deixou-nos um enorme legado com suas teorias de ensino e suas

aplicações práticas, as quais podem ser encontradas na Academia de Genebra, que

era modelo para muitos colégios e universidades antigas, fundadas pelos Puritanos

e seus sucessores. Ele também defendia que o propósito da educação é tornar

Deus conhecido entre as pessoas e ensiná-las a glorificá-lo como Deus e acreditava

que deviamos também estudar as verdades de Deus no seu “segundo livro”, a

natureza.

Em Genebra estimulou a educação para todos, que se tornou um modelo

para nossos dias em todo o mundo. Tudo era feito de acordo com as Escrituras, e

este era o legado da Reforma.

Calvino também tinha opiniões contundentes acerca de quem deveria educar

as crianças. Afirmava que a Bíblia deixa claro que a responsabilidade final não

compete ao Estado nem a Igreja, mas aos pais, que aliados aos demais fatores de

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educação podem produzir uma sociedade capacitada para mudar sua realidade

presente e futura.

O cristianismo não somente contribuiu para a educação no Ocidente, mas,

nos dois últimos séculos, missionários cristãos foram os que primeiramente

educaram milhões de pessoas no terceiro mundo. Fundaram escolas nas selvas,

criaram a escrita de linguas e alfabetizaram inúmeras pessoas. Um missionário

americano que serviu nas Filipinas, Frank Laubach (1884 – 1970), desenvolveu um

método de ensino que até hoje é usado na alfabetização e estima-se que mais de

cem milhões de pessoas aprenderam a ler pelo método Laubach em pelo menos

duzentos países.

Se realmente quisermos gerar mudança de vida em uma sociedade, pelo

menos dois caminhos devem ser seguidos, o da Palavra pregada e o da Educação,

pois assim o homem será liberto em duas esferas, a espiritual e a intelectual. Onde o

Reino de Deus chegou trouxe consigo educação para o povo e, infelizmente essa

vertente tem sido abandonada ou pelo menos trocada por meros movimentos

“espirituais”. Precisamos urgentemente voltar as veredas antigas, mas que davam

certo.

Somente pela multiforme graça de Deus, as vidas serão mudadas, não com

um processo mágico, mas com esforço e dedicação. A libertação começará nas

mentes e alcançará toda sociedade.

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5. A RELAÇÃO FUTURO – PRESENTE

“...em sua coxa estava escrito Rei dos reis e Senhor dos senhores”

Apocalipse 19.16

Existe um eterno conflito entre o “já” do reino e o “ainda não”, ambos

gerando debates e posturas opostas dentro da Igreja. É claro por demais o fato de

que o Reino de Deus é algo existente no presente, porém, afetado por aquilo que

acontecerá no futuro, ou seja, o mundo caminha como um todo para uma nova

“plenitude dos tempos”. Mas assim sendo, que postura deveríamos ter diante do

mundo no qual vivemos? Devemos agir como uma vanguarda conformada com a

situação, que espera e sonha com a instauração desse reino ou tentar agir como

agentes de transformação histórica, colocando algumas de nossas esperanças

ainda neste mundo?

O próprio Jesus pareceu ter uma postura quanto a isso quando Pilatos, o

governador romano, perguntou a Jesus sem rodeios se ele era o rei dos Judeus, ele

respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se fosse, os meus súditos

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combateriam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas agora o meu reino

não é daqui”. Fidelidade a um reino “não deste mundo” também tem estimulado os

mártires cristãos que, desde a morte de seu fundador, têm encontrado a resistência

dos reinos deste mundo. Crentes desarmados utilizaram-se desse texto contra seus

perseguidores romanos no Coliseu. Quando Jesus afirma isso está falando de um

reino que é imanente, que transcende as fronteiras e às vezes as leis de nações e

impérios. Em outra ocasião, Jesus foi interrogado pelos fariseus sobre quando viria o

reino de Deus. Ele respondeu: “O reino de Deus não vem com aparência visível.

Nem dirão: Ei-lo aqui! ou Ei-lo ali! porque o reino de Deus está dentro de vós!”.

Visivelmente, o reino de Deus opera por um conjunto de regras diferentes

de qualquer reino do mundo, age de um modo transformador, modificador na vida

das pessoas. Mais uma vez citando Kraybill: “Abalos radicais acompanhariam o

Reino. Caminhos antigos seriam alterados a ponto de se tornarem irreconhecíveis” e

“Os que jogam no Reino seguem regras novas. Dão ouvidos a outro treinador”.

O reino de Deus não tem fronteiras geográficas, nem capital, nem sede

de parlamento, nem adornos reais visíveis. Seus súditos vivem bem no meio de

seus inimigos, não separados deles por uma cerca ou muro divisório. Ele vive e

cresce dentro dos seres humanos. Na verdade, os problemas parecem surgir

quando a igreja se torna demasiado externa e fica excessivamente acomodada com

o governo. Temos de continuamente nos perguntar: Nosso alvo principal é mudar

nosso governo ou ver vidas transformadas para Cristo dentro e fora do governo? É

nosso alvo primordial mudar o reino externo, político ou promover o reino

transcendente de Deus? Numa nação como o Brasil, os dois facilmente se

confundem. Cada vez que surge uma eleição, os cristãos debatem se este ou

aquele candidato é o “homem de Deus” para o cargo. Tenho dificuldade em imaginar

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Jesus pensando se Tibério, Otávio ou Júlio César eram os “homens de Deus” para

o Império. Os políticos de Roma eram quase irrelevantes para o reino de Deus. O

ponto em questão para aqueles que vivem em confronto pessoal com a idéia acerca

do reino e a atual situação do mundo poderia ser retratado na pergunta: Como

poderia um verdadeiro Messias permitir que tal mundo continuasse existindo? A

única explicação possível encontra-se nos ensinamentos de Jesus de que o reino de

Deus vem em estágios. É “agora” e também “ainda não”, presente e também futuro.

Às vezes Jesus enfatizava o aspecto presente, como quando disse que o reino está

“próximo” ou “dentro de vós”. Em outras ocasiões disse que o reino jaz no futuro,

como quando ensinou seus discípulos a orar: “Venha o teu reino, seja feita a tua

vontade, assim na terra como no céu”. Essa parte do Pai Nosso mostra que a

vontade de Deus não está aparentemente sendo feita na terra como é feita no céu.

Sob alguns aspectos importantes, o reino ainda não veio completamente. Durante

um período de tempo, o reino de Deus deve existir junto com uma rebelião ativa

contra Deus. O reino de Deus avança lentamente, humildemente, com a aparência

de um exército secreto de invasão atuando dentro dos reinos governados por

Satanás. Como C.S. Lewis expressou:

“Por que Deus está aterrissando disfarçado

neste mundo ocupado pelo inimigo e dando início a uma

espécie de sociedade secreta para solapar o diabo? Por que

não está aterrissando com força, invadindo-o? Será que não

é suficientemente forte? Bem, os cristãos pensam que Ele vai

aterrissar com força; não sabemos quando. Mas podemos

imaginar por que está demorando: quer dar-nos a oportu-

nidade de nos juntarmos a Ele livremente [...] Deus vai

invadir. Mas fico imaginando se as pessoas que pedem que

Deus interfira abertamente em nosso mundo entendem bem

como será quando o fizer. Quando isso acontecer, será o fim

do mundo. Quando o autor caminha pelo palco, a peça

acabou.”

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Os discípulos mais íntimos de Jesus tiveram dificuldade em captar essa

visão dupla do reino. Depois de sua morte e ressurreição, quando compreenderam

finalmente que o Messias viera não como rei conquistador, mas revestido de

humildade e de fraqueza, mesmo então um pensamento os atormentava: “Senhor,

restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?”. Sem dúvida estavam pensando num

reino visível para substituir o governo de Roma. Jesus repeliu a pergunta e ordenou

que levassem a sua palavra até os confins da terra.

A primeira vinda de Jesus não resolveu o problema do planeta Terra,

antes apresentou uma visão do reino de Deus para ajudar a quebrar a maldição

terrestre da ilusão. Apenas na segunda vinda de Cristo o reino de Deus aparecerá

em toda a sua plenitude. Até lá trabalhamos por um futuro melhor, sempre olhando

para trás, para os evangelhos, para o modelo de como será o futuro. Quando Jesus

vivia na terra fez os cegos verem e os aleijados andarem; ele vai voltar para

governar num reino que não terá enfermidades nem incapacidades. Na terra ele

morreu e ressuscitou; na sua volta, a morte não existirá mais. Na terra ele expulsou

demônios; na sua volta, ele destruirá o maligno. Na terra ele veio como um bebê

nascido numa manjedoura; ele vai voltar na figura deslumbrante descrita no livro do

Apocalipse. O reino que ele iniciou na terra não foi o fim, apenas o começo do fim.

Nós, na igreja, os sucessores de Jesus, fomos deixados com a tarefa de

apresentar os sinais do reino de Deus, e o mundo que observa vai julgar os méritos

do reino por nós. Vivemos num período de transição — uma transição da morte para

a vida, da injustiça humana para a justiça divina, do velho para o novo —

tragicamente incompleto, mas marcado aqui e ali, num momento ou noutro, com

indicações do que Deus vai um dia realizar em perfeição. O reino de Deus está

irrompendo no mundo, e podemos ouvir seus arautos.

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CONCLUSÃO

O Reino de Deus teria muito mais a ser falado, muito mais a ser admirado e

muito mais a ser vivido por nós. Podemos aprender durante a história o quanto o

reino é apaixonante, cativante e desejado e devemos com sinceridade, perceber que

ainda muita coisa pode e deve ser feita, mas também compreender que a maior

realização do reino somente deve ser aguardado, não com nostalgia, mas com

fervor e esperança. A melhor parte de tudo isso é ter a convicção de que esse reino

não é utopia, não é mais uma fantasia da Disney que o ser humano aceita com tanta

facilidade.

Não deve ter sido fácil para os grandes homens de Deus ao longo da história

aguardar a chegada desse reino, pois como cristãos, sempre desejamos uma

melhora social para a situação do mundo presente e nem sempre esperar sem

poder “fazer nada” é algo tão simples. Se questionássemos a várias pessoas sobre

o que poderia ser feito para mudar, haveriam as mais diversas respostas, desde

ações políticas conjuntas às religiosas, ações intercessórias da Igreja, trabalho

comunitário e muito mais, porém, haverá um ponto que só nos restará confiar em

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Deus e aguardar Sua ação no momento determinado por Ele.

No nível eclesiástico atual do reino é muito bom saber que o Reino é bem

maior que as denominações e que um dia veremos barreiras denominacionais

derrubadas, inexistência de preconceitos com determinado grupo por práticas

peculiares. Como seria bom se os súditos do reino presente-vindouro trabalhassem

em união em nossos dias. Enfim, a verdadeira e multiforme graça através do reino,

uma vez mais mostrando-se inconfinável.

Fica a lição de que o reino é bem mais prático e maior do que muitos pensam

e este requer mais ação e menos teoria e um desafio, um chamado a viver o

evangelho do Reino em sua plenitude, onde literalmente “convém que Ele cresça e

que eu diminua” (João 3.30).

E por fim, enquanto o reino não chega na sua totalidade devemos buscar

contribuir o máximo possível para que se cumpra ainda em nossos tempos, mesmo

que em escala bem menor que na futura o que a Bíblia fala em Filipenses 2.10-11

que diz: “para que ao nome de Jesus, se dobre todo joelho, nos céus, na terra e

debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de

Deus Pai.”

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BIBLIOGRAFIA

Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e

Sociedade Bíblica do Brasil, 1999

BULTMANN, Rudolf, 1884-1976. Jesus. Editora Teológica,São Paulo 2005

CARTER, Tom. 13 perguntas cruciais que Jesus quer fazer a você. São

Paulo: Editora Vida 2003

CONNER, Walter. Las Enseñanzas Del Señor Jesús. El Paso: Casa Bautista

de Publicaciones,

YANCEY, Philip. O Jesus que eu nunca conheci. São Paulo: Editora

Vida.2004

KRAYBILL, Donalb B., O Reino de Ponta Cabeça, Editora Cristã Unida, 1993,

Campinas-SP.

ELWELL, Walter (ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. S.

Paulo: Edições Vida Nova,1990, 3º vol.

SCHELKE, Herman. A Comunidade de Qumram e a Igreja do Novo

Testamento. S. Paulo: Edições Paulinas, 1972.

Santos no Mundo: os puritanos como realmente eram, S. J. dos Campos: Fiel,

1992.

DOUGLAS, J. D. Novo Dicionário Internacional da Igreja Cristã

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BLUMENFELD, Samuel. O ensino público é necessário? Boise. Editora

Paradigma, 1985.

COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Palestra sobre O Reino de Deus no Antigo

Testamento, Escola de Pastores, 2002 - Niterói

ANEXOS

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ANEXO I

TERMOS UTILIZADOS NA MONOGRAFIA

1. Montanismo é um movimento cristão do segundo século fundado por Montano.

Os montanistas declaravam-se possuídos pelo Espírito Santo e, por isso,

profetizavam. Segundo estas profecias, uma outra era cristã se iniciava com a

chegada da nova revelação concedida a eles. Esse movimento surgiu na Frígia

(Ásia Menor Romana, hoje Turquia), pelos anos 170 d.C. Havia duas mulheres,

Priscila e Maximila, que eram as porta-vozes proféticas de Montano e dizia que o

Espírito Santo falava através delas. Fez muitas predições proféticas enganosas,

pois jamais foram cumpridas, como a de que a aldeia de Pepuza, na Frígia, seria a

Nova Jerusalém. Proibia certos alimentos, exigia jejuns prolongados e não permitia

o casamento de viúvas, como também negava o perdão de pecados graves ao novo

convertido, mesmo após o batismo (com confissão e arrependimento). Montano

queria fundar uma nova ordem e reivindicar seu movimento como sendo um

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movimento especial na história da salvação. O principal motivo de Montano era lutar

contra a paralisia e o intelectualismo estéril da maioria das igrejas organizadas na

época. Infelizmente, ele também caiu em extremos enganosos.

Esse movimento foi condenado várias vezes por vários sínodos de bispos, tanto

na Ásia Menor como em outros lugares encontrou fortes oposições, destacando-se

entre elas a de Apolinário, Bispo de Hierápolis. Foi submetido ao crivo de Roma

(177), quando os confessores de Lião intervieram junto a Eleutério. Seu

alastramento na Ásia e outras partes (193-196) suscitou novas refutações, como a

de Apolônio e de Serapião de Antioquia e levantou violentas oposições nos meios

romanos.A Igreja montanista se espalhou pela Ásia Menor, chegou a Roma e ao

norte da África. Seu adepto mais famoso foi, sem dúvida, Tertuliano - o maior

teólogo de então.

2. PURITANISMO - foram os “Peregrinos”, nos anos 1620. Eles foram seguidos por

milhares de Puritanos nos anos 1630 e estes deixaram suas fortes marcas em sua

nova terra, tornando-se a mais dinâmica força nas colônias Americanas.

Reportando-nos à Inglaterra, os Puritanos foram influentes pessoas na vida política

do país, até que o Rei Charles não tolerou mais suas tentativas de reformar a Igreja

da Inglaterra. Estava montada a perseguição. Veio então a idéia de que a única

esperança seria deixar o país. Quem sabe na América eles poderiam estabelecer

uma colônia cujo governo, sociedade e igreja fosse totalmente baseadas na Bíblia.

A “Nova Inglaterra” poderia vir a ser a velha Inglaterra sem todos os defeitos de

incredulidade e corrupção. “Puritanos” foi um termo ridiculamente usado durante o

reinado da Rainha Elizabeth.

Eles eram os cristãos que desejavam uma Igreja da Inglaterra isenta de qualquer

liturgia, cerimônia ou práticas que não estivessem absolutamente com base bíblica.

A Bíblia era sua única autoridade, e eles defendiam que deveria ser usada em todos

os níveis e áreas da vida. Os Puritanos defendiam tenazmente que o Senhor e o

Seu culto eram importantes o suficientemente para que fosse reservado um dia

inteiro na semana para total dedicação ao Senhor. E os Puritanos dedicavam

seriamente o domingo ao Senhor. Os sermões tinham importância vital para a vida

intelectual dos Puritanos e eles raramente gastavam menos do que uma hora nas

exposições. Os instantes de oração podiam ser igualmente longos. A princípio não

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havia cânticos de hinos nos cultos dos Puritanos. Apenas os Salmos ou textos

parafraseados da Bíblia eram cantados. O primeiro livro impresso na América foi o

“Livro Geral dos Salmos”, uma versão métrica dos Salmos de Davi, impresso em

1640. A família era a instituição básica mais importante da sociedade Puritana, e

funcionava como uma igreja em miniatura. Estabelecida por Deus antes de qualquer

outra instituição e antes da queda do homem, a família era considerada o

fundamento de toda vida civil, social e eclesiástica. Todos os dias, pela manha e a

noite, a família se reunia para cultuar, a aos domingos se alegravam em poder

cultuar junto com outras famílias.