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João Barcellos MORGADO DE MATEUS Anotações Historiográficas sobre Luís António de Sousa Botelho Mourão, o governador da Capitania paulista que dá assentamento urbano à raça que gera o Brasil-nação. 2013

MORGADO DE MATEUS

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Anotações Historiográficas sobre Luís António de Sousa Botelho Mourão, o governador da Capitania paulista que dá assentamento urbano à raça que gera o Brasil-nação.

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João Barcellos

MORGADO DE

MATEUS

Anotações Historiográficas sobre Luís António de Sousa

Botelho Mourão, o governador da Capitania paulista que dá

assentamento urbano à raça que gera o Brasil-nação.

2013

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Expor os trabalhos políticos, administrativos, sociais e

militares, gizados e executados por Luís António de

Sousa Botelho Mourão, é dizer do Império Português,

sim, mas também é dizer de uma Nação

que começa a nascer do assentamento

colonial e da escravatura, porque já no tempo

desse fidalgo trasmontano da Casa de Mateus e

capitão-general da Sam Paolo dos Campu de Piratin,

emergia a noção de um Brasil voltado para si

mesmo...

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Parte 1

As Realizações

De Um Empreendedor

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Um Morgado na Casa

Bandeirante

LUÍS ANTÓNIO DE SOUSA BOTELHO MOURÃO

Morgado de Matheus

Por herança, o 4º morgado de Mateus, nasceu em 21 de Fevereiro de 1722,

em Vila Real, e aqui faleceu em 5 de Outubro de 1798. Filho de Joana Maria

de Sousa, senhora de Moroleiros, em Amarante, e de António José Botelho

Mourão, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, tenente-coronel

da Cavalaria, 3º morgado de Matheus, que serviu com distinção na guerra da

Grande Aliança, e aumentou consideravelmente o brilho de sua Casa, tendo

edificado em Vila Real, o Palácio de Mateus, residência dos Condes de Vila

Real, herdeiros do morgadio por sucessão direta. Casa Leonor Ana Luísa José

de Portugal [1722-1806], filha Rodrigo de Sousa Coutinho e Maria Antónia e

São Boaventura de Meneses Monteiro Paim.

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O Morgado e a Casa de Mateus

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Amigo do rei José I e do Marquês de Pombal,

o Morgado de Mateus é o político, o administrador e o militar de experiência feita para

reconstruir a Capitania de São Paulo.

É nomeado capitão-general da

recriada Capitania de São

Paulo, que havia sido extinta em

1748, e exerce o cargo de

governador de 1765 a 1775.

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o Morgado e a sua Capitania

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O que encontra o Morgado

naquela villa jesuítica acima da Serra do Mar?

Uma região que bebeu precária urbanização com as ações

do governador Francisco de Souza,

que chegou a despachar oficialmente das

minas de ferro do cerro Byraçoiaba, mas, ainda assim,

uma região que perde população para Sant´Anna de

Parnaíba e não tem infraestrutura sanitária

e comercial compatível com uma sede de Capitania,

apesar de ter sido o eixo da economia liberal liderada por

Affonso Sardinha (o Velho) e, depois, pelo jesuíta e

banqueiro Pompeo de Almeida, nos ramais do Piabiyu.

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entre o oeste paulista e o norte da colônia

A época em que o Morgado de Mateus dá início

à sua governação paulista, já o Império

português ocupa o norte e a região da Amazônia

com o assentamento de vilas e

fortes, porque só a ocupação

efetiva permite manter a posse

do espaço continental percorrido e

sinalizado por Antônio Raposo Tavares.

Aquém da Serra do Mar existe um continente,

ora, a colônia não é só beira-mar...

Page 13: MORGADO DE MATEUS

A bandeira de António Raposo

Tavares saiu da Vila de São Paulo

em 1647, atravessou limites

diplomáticos e passou pela

Amazônia; uma viagem

fantástica de 12.000 km,

reconhecida como a maior de

todas as expedições de

reconhecimento geográfico

realizadas no Brasil. O bandeirante

retornou a São Paulo em 1650,

sendo reconhecido apenas pelo

seu fiel cachorro...!

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Das bandeiras e

entradas dos

paulistas, a de

Raposo Tavares

sinalizou outras

regiões e outras

gentes, além de

demarcar o Brasil

continental...

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da Villa Jesuítica

à Villa de Barcellos

Cada vez mais cobiçada, a velha

e famosa Insulla Brasil é agora

um continente, e Portugal

empreende, com as ações

pombalinas [o Marquês de

Pombal é a sombra do rei José I

e o primeiro-ministro], o esforço de

consolidar fronteiras entre a

Villa Jesuítica e o Amazonas, e

aqui, levanta-se a Villa de

Barcellos, primeira capital

amazônica.

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O Que Fazer?

Diante de uma urgente urbanização e defesa do Império tropical, a

visão empreendedora e o objetivismo militar de Luís António de

Sousa Botelho determina 3 focos:

1- Demonstrar que o mando é político e não religioso, pelo que

desobriga o representante do bispo do Rio de Janeiro do recebimento

de taxas e funções administrativas.

2- O mapeamento e o censo da região para assegurar o

assentamento de novas povoações, além de fortificações na defesa

das fronteiras contra as investidas castelhanas.

3- Dar continuidade à mineração de ferro, ouro, prata e cata de

esmeraldas.

Page 17: MORGADO DE MATEUS

determinação e risco

no mando político e militar

Reconhecida a aventura de Raposo Tavares e sabendo-

se da imensidão territorial, cabe à Capitania paulista o

principal esforço de reordenação fundiária, povoamento e

urbanização, abertura de hidrovias e novos campos para

produção agropecuária e hortifrutigranjeira, enquanto se

reabre a mina e fundição de ferro no Cerro Byraçoiaba

e se acerta uma mineração tecnicamente adequada no

centro-oeste para as lavras auríferas e diamantinas.

Tal desempenho não é possível a um homem só, e o

Morgado de Mateus sabe da herança negativa deixada

pelos sonhos do governador Francisco de Souza.

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É possível sonhar...

realizando!

Na sua equipe, o capitão-general tem

um homem que já revira tudo para que

a Capitania possa ser reconstruída: o

engenheiro-militar José

Custódio de Sá e

Faria. A sua cartografia, o seu

registro pictórico, a sua visão

urbanística, fornecem ao Morgado de

Mateus a via tecnológica para fazer de

São Paulo o polo do desenvolvimento

sul-americano.

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o relato das dificuldades de um

engº-militar

"Na Vila de Curitiba falhei vários dias. Saí para a serra de

Paranaguá correndo para leste e sul até o alto da serra

que desce para Paranaguá, onde está o sítio dos padres

da Companhia, junto ao Palmital [ou Canguirí, hoje Iraí]. Aí

há uma das cabeceiras do rio de Curitiba [Iguaçu], muito

feroz, levando água. O Caminho é despenhado e

barrancoso, muito perigoso. Daqui não passei."

José Custódio de Sá e Faria

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Desenhos do Engº-militar José Custódio de Sá

e Faria, uma das mais importantes figuras da urbanização

brasileira e, no entanto, ainda desconhecida.

Page 21: MORGADO DE MATEUS

o Morgado de Mateus e

a fundação de cidades e fortes

A fantástica expedição

cartográfica e

urbanística de José

Custódio de Sá e Faria

resulta numa

observação óbvia para o

capitão-general: é

preciso “semear” gente

para assegurar a posse

das terras.

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Primeiro Passo:

Censo Demográfico / 1765

“[...] 899 fogos com 1748 homens e 2090 mulheres para a freguesia de São Paulo. A

cidade propriamente dita compreendia 392 fogos com 648 homens e 867 mulheres. Os

bairros eram os do Pari, cujos moradores quase todos eram gente bastarda (mestiços de

brancos e índios), Embujaçava, Pirajuçava, Pinheiros, Nossa Senhora do Ó, Santana ,

Penha, Tremembé até a Cachoeira (inclusive), Jaguará, Caguaçu, Tatuapé, Aricanduva.

Mais afastados, São Bernardo, Borda do Campo, Mercês, São Caetano. O

recenseamento ordenado pelo Morgado de Mateus arrolou apenas 26 mercadores, 10

vendeiros, 3 boticários. Maior número de artífices devia existir na cidade, embora muitos

não aparecessem nos róis por serem escravos. As padeiras, por exemplo, eram quase

todas cativas.

Na discriminação dos cabedais, encontramos 204 referências aos bens dos chefes de

famílias dos 392 fogos da cidade e 212 para os dos 507 fogos dos bairros. A fortuna de

realce arrolada era de 28 contos de réis e a modesta de 25 mil e 600 réis. Distribuíam-se

as fortunas do seguinte modo: acima de 25 contos de réis, uma; entre 20 e 25 contos de

réis, uma; entre 10 e 20 contos de réis, uma; entre 5 e 10 contos de réis, cinco; entre 1 e

5 contos de réis, trinta e três; entre 500 mil réis e um conto de réis, quarenta e cinco;

entre 100 e 500 mil-réis, duzentos..." [Gilberto Leite de Barros, 1967]

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CAMPINAS um exemplo

Entre as várias cidades fundadas ao longo da

administração do Morgado de Mateus está Campinas...

Se a região de Sorocaba é um importante entroncamento

entre o Cerro Byraçoiaba e o Caminho dos Goyazes

[Serra de Botucatu], eis que Campinas surge como polo

de assentamento urbano e de produção rural bem na

medida política e econômica traçada pelo capitão-general

e pinçada nas observações técnicas do Engº Sá e Faria.

Com infraestrutura adequada, as cidades emergem no

sertão que foi sesmaria jesuítica e dão sustentação

econômica à Capital.

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SOROCABA UM EXEMPLO DE DESENVOLVIMENTO

Quando, em 1733, o gaúcho Cristóvão Pereira de

Abreu ´rasgou´ as ruazinhas de Sorocaba com a

sua tropa de muares, deu início que seria chamado

o Ciclo do Tropeirismo.

Mas, o ´ciclo´ só tem sucesso e atinge o pico

mercantil e social depois que a reformulação

fundiária do Morgado de Mateus assenta e renova

povoações na linha de Viamão – e, assim é que

Sorocaba se estrutura e instala uma indústria

artesanal e têxtil reconhecida na Capitania e na

Colônia.

Entre as vilas de Viamão e Curitiba, a de Sorocaba

passa de mero ponto de passagem a ponto de

produção e negociação. E, perto, o mesmo

Morgado de Mateus reinventa a siderurgia da

Família Sardinha no cerro Byraçoiaba para, mais

aquém, continuar a minerar ouro no Byturuna.

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FORTES a defesa da posse portuguesa

Após 60, anos sob

domínio da Coroa

castelhana, Portugal

precisa mostrar a sua

competência

estratégica na defesa

dos seus territórios

ultramarinos. Luís

António de Sousa

Botelho e Mourão é o

homem certo no lugar

certo...

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Forte Ygatemy do dilema à transformação

O Forte de Nossa Senhora dos

Prazeres do Ygatemy é erguido

entre 1765 e 1770 com uma força-

tarefa com mais de 300 homens do

Regimento de Dragões lotados na

Capitania paulista. Localiza-se na

margem esquerda do rio Ygatemy,

a poucas milhas da sua

confluência com o rio Paraná,

próximo à foz do rio das Bagas, no

Mato Grosso do Sul.

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Pelas demarcações do Tratado de Madrid (1750),

que substitui o fantasmagórico Tratado de

Tordesilhas no que à linha tropical diz respeito, a

Coroa portuguesa percebe a urgência em a

fronteira entre Mato Grosso e Paraguay. Uma

linha ao sul do curso dos rios por onde se fizeram

as monções, de Araritaguaba [Porto Feliz] a

Cuiabá pelos rios Anhamby [Tietê] e Paraná e as

contra-vertentes do rio Paraguay.

Sem um ponto estratégico de defesa junto das

possessões castelhanas Portugal não pode

assegurar a sua soberania.

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Estar em terra, em cursos fluviais ou no mar, é desafiar

monções e com elas partilhar a aventura de um novo olhar.

[mapa das monções]

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E é no engenho administrativo e político e militar do

Morgado de Mateus que a Coroa portuguesa se socorre,

pois, os recursos da Capitania do Mato Grosso são

irrisórios e o acesso fluvial norte-sul precário. O capitão-

general opta pelo rio Ygatemi para a instalação de uma

colônia militar: Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do

Ygatemi. Contra muitas opiniões, o Morgado de Mateus

entende que o que está em jogo é a

soberania portuguesa e não princípios de

passagem colonial, por isso obtém o aval de José I

e do Marquês de Pombal. É preciso defender e povoar a

região para impedir quaisquer reclamações castelhanas,

mesmo que através da Igreja católica, como lhes é

habitual.

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Os atos militar e político são gigantescos e têm um custo

social de centenas e centenas de pessoas deslocadas

para a região e a morte de muitas delas.

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Qual é o dilema?

A resposta, para quem não entende de

estratégia de defesa e expansão territorial é

dada pela ação do Morgado de Mateus: ou

Portugal se assenta com o que quer [a

defesa e expansão] ou abandona o sul da

Capitania nas mãos castelhanas. Um

desafio político e um dilema. O notável

fidalgo português rejeita o dilema e ousa a

construção de uma estrutura que sustenta

Portugal e fixa, de uma vez, o território

continental sinalizado na expedição de

dezenas de aventureiros, religiosos e

bandeirantes. Por isso, a Capitania paulista

torna-se o eixo do desenvolvimento e da

segurança da Colônia que logo se torna

Nação na mesma malha do Piabiyu, como

que a assegurar a linha entre o ancestral e o

novo.

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Desconhecer que o Forte Ygatemy tem o mesmo

nível de desenvolvimento projetado no Cerro

Byraçoiaba pela visão de Luís António de

Sousa Botelho Mourão é desconhecer a realidade histórica

que projetou neste Outro Portugal a mãe d´água política que faz brotar

o Povo brasileiro...!

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Eis o retrato das ações de povoação e defesa...

Defesa e povoamento do caminho do Viamão na rota terrestre para as

expedições militares que combatem os castelhanos no Rio Grande; ocupação

e defesa do litoral sul nos sertões do Tibagi e dos Campos de Guarapuava,

e aqui, destacam-se Faxina [Itapeva], Itapetininga, Santo António das

Minas do Piaí [ou Apiaí], Santo António do Registro [Lapa], Nossa Senhora

dos Prazeres de Lages, Santa Ana do Ipó [Castro]. Na linha litorânea,

Araripa, próxima a Cananéia, Vila Nova de São Luís de Guaratuba e

Sabaúna.

Ao norte, com a política de proteção das fronteiras com as Minas Gerais e

de proteção do caminho para Goyáz, funda ou eleva a vila São João

Baptista de Atibaia, São José de Mogi-Mirim, Nossa Senhora da Escada

[Guararema], Botucatu, São João do Atibaia [Atibaia], Piracicaba e

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato

Grosso de Jundiaí [Campinas].

No vale do Paraíba, ações estratégicas nas povoações de São José do

Paraíba [São José dos Campos], Nossa Senhora da Escada [Guararema], São

Luís do Paraitinga, Caraguatatuba e Santo António de Paraibuna.

Page 37: MORGADO DE MATEUS

Parte 2

Os Tratados

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Não é possível uma análise criteriosa sobre os

assuntos diplomáticos e militares da

colonização portuguesa na e às margens

da Linha de Tordesilhas sem se conhecer os

meandros dos diversos tratados.

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Tratado de Tordesilhas Assinado na Galícia em 7 de Junho de

1494 pelo rei João II e a rainha Izabel de

Castela, para dividir as terras

"descobertas e por descobrir" por ambas

as Coroas fora da Europa. O tratado

define uma linha de demarcação no

meridiano 370 léguas a oeste da Ilha de

St Antão no arquipélago de Cabo Verde, a

meio-caminho entre estas ilhas (então

portuguesas) e as ilhas das caraíbas

descobertas por Colombo, no tratado

referidas como Cipango e Antília por

desconhecimento cartográfico do

genovês. Os territórios a leste deste

meridiano pertencem a Portugal e os

territórios a oeste à Espanha.

Page 40: MORGADO DE MATEUS

Tratado de Madrid Assinado em 1750, concedia

algumas vantagens maiores à

Portugal, mas foi anulado em

1761 pelo Tratado de El Pardo.

Os numerosos tratados assinados

não costumam obter êxito nos

trabalhos de demarcação, e

Portugal mantem a posse dos

territórios na América do Sul,

como a região dos Sete Povos

das Missões, conquistadas

poucos anos mais tarde pelos

gaúchos Manuel dos Santos

Pedroso e José Borges do Canto.

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Tratado de Santo Ildefonso Assinado entre Portugal e Espanha em 1777, para acabar

com a disputa pela posse da Colônia de Sacramento e

outras regiões. A Inglaterra e a França incentivam o

tratado, porque têm interesse político e econômico.

O tratado leva o nome de Santo Ildefonso ao ser assinado

na vila de mesmo na província de Segóvia. Aqui mesmo,

são assinados outros dois tratados entre a Espanha e a

França, levando também o nome do primeiro.

Assinado em 01 de Outubro de 1777, o primeiro Tratado

de Santo Ildefonso definiu que a colônia de Sacramento

e a ilha de São Gabriel, do Uruguai, e a região dos Sete

Povos das Missões, oeste do estado do Rio Grande do

Sul, ficam de posse da Espanha, e Portugal exerce a

posse sobre a margem esquerda do rio da Prata e

novamente sobre a Ilha de Sta Catarina, que tinha sido

ocupada pelos espanhóis.

Com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, que

restabelece algumas linhas gerais do Tratado de Madrid,

defendida por Alexandre de Gusmão, o território de São

Pedro do Rio Grande fica cortado ao meio, no sentido

longitudinal, próximo a Santa Maria, no Rio Grande do

Sul.

Page 42: MORGADO DE MATEUS

Tratado de Badajoz Cria um acordo de paz

entre as duas nações, mas sem consolidar o

Tratado de Santo Ildefonso.

Em 1801 a fronteira é fixada na linha entre as

cidades de Quaraí, Jaguarão e Chuí, e

restabelece a divisão traçada no Tratado de Madri,

meio século antes.

Page 43: MORGADO DE MATEUS

Ressalte-se, a partir do Tratado de Madrid, uma figura que alterou

positiva e profissionalmente os atos diplomáticos: Alexandre

de Gusmão. Depois dele, a diplomacia tornou-se

definitivamente um ofício político com ciência própria.

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Parte 3

As Consequências

De Um Sonho Realizado

Page 45: MORGADO DE MATEUS

"A administração de D. Luiz Antônio de Souza, o Morgado de Mateus, na

governança da Capitania de São Paulo, que se estendeu de 1765 a 1775,

marcou o início de um novo ciclo da história paulista. Ciclo de trabalho

fecundo, de progresso, de organização social, econômica e política. Período

no qual fortaleceu-se sobremaneira o incipiente sistema patriarcal paulista, tão

esmaecido nos dois primeiros séculos da colonização. Nesta auspiciosa etapa

da história de São Paulo principiou o povo paulista a tomar consciência de si

mesmo, conhecendo-se e conhecendo também, palmo a palmo, o território da

Capitania. Fixaram-se, desde então, os limites com as demais, foram-se

definindo os pontos de equilíbrio econômico da região planaltina, enquanto

que entrou a cidade nobreguense a consolidar sua hegemonia sobre os

conglomerados urbanos ao seu derredor", afirma o historiador Gilberto Leite

de Barros, no livro "A Cidade e o Planalto", de 1967.

Page 46: MORGADO DE MATEUS

Mobilidade Socio-Cultural

& Desenvolvimento

“No momento em que as pessoas viam paus firmado no

solo e logo cobertos com baeta preta já diziam ´vamos ter

ópera´, e isso alterou muito o comportamento fugidio das

gentes paulistas do setecentos que, entre a igreja e a

ópera também já tinham onde aprender a ler e escrever e

conquistar um ofício”, escreveu J. C. Macedo, em 1992.

A chamada Casa da Ópera é, entre o

quinhentos e o oitocentos luso-americano, o Teatro,

onde se apresenta música, dramaturgia e, em algumas

das salas, cursos de alfabetização e ofício. Fora das vilas,

a Casa da Ópera é um toldo de baeta erguido no átrio

da capela ou na praça. É o tempo vicentino...

Page 47: MORGADO DE MATEUS

“Por tratar de várias faces artísticas, o Teatro do

poeta-dramaturgo Gil Vicente incentiva o molde

operístico em que surge a Casa da Ópera, mas

uma peça vicentina é um auto de crítica cívica e

política, e a atividade operística é um espaço de

encenação, música, ensino e representação do

poder, que vai do prédio à barraca de baeta” [Barcellos,

2003].

E é com a governação do Morgado de Mateus que

a Villa bandeirante, e não mais a Villa jesuítica,

torna-se polo de iniciativas socioculturais que

passam pelo teatro, a música, os saraus e, é claro, a

encenação sacra e a encenação dos atos do

próprio poder.

Ele adapta as instalações do antigo Colégio jesuítico

e aqui instala a Casa da Ópera e Escola de Ofícios.

A visão e ação mundana de Luís António de

Sousa Botelho Mourão fazem da Villa paulista a

capital da virada sociocultural.

Page 48: MORGADO DE MATEUS

Os bons ofícios do morgado e fidalgo Luís António de Sousa Botelho

Mourão surgem ao fim de 3 anos de administração pública na Capitania

paulista, e, pode-se dizer, é um morgado e fidalgo na Casa bandeirante.

Agropecuária e hortifrutigranjeiros, algodão e tecelagem, mineração e

artesanato, matadouros e mercados públicos, fontes d´água, praças e

arruamentos, linhas fortificadas de defesa para as fronteiras e os novos

povoados, mala-posta (correios), atividade artística e intelectual, educação

científica fora dos padrões jesuíticos, eis aqui a mobilidade

sociocultural que gerou o desenvolvimento

econômico e recolocou a São Paulo dos

Campos de Piratininga como eixo do Poder

colonial português na América do Sul. E mais: ao

prestigiar a Monarquia com o Saber iluminista, o Morgado de Mateus abriu

caminhos para o espírito republicano que já havia sido aflorado nos

primeiros tempos das Câmaras Municipais na capitania vicentina.

Page 49: MORGADO DE MATEUS

A luso-brasilidade setecentista é já uma

luz brasileira pela autenticidade do

sentimento de um Outro

Portugal, a terra nova

que no Brasil se faz

Mátria e gera outro Povo

– o Brasileiro. E na geração

deste Povo tem o Morgado de Mateus

papel importante ao gerenciar na

Capitania paulista os meandros políticos e

administrativos que a faz centro

econômico do Brasil e América do Sul.

Page 50: MORGADO DE MATEUS

Notas & Bibliografia

• Obs. 1 – Todo o estudo historiográfico sobre a pessoa e o governo de Luís António

de Sousa Botelho Mourão [o morgado de Matheus] é uma contribuição para a

formação da memória luso-americana e, principalmente, uma contribuição para

memória que deve embasar a mente brasileira, nacional e independente.

• Obs. 2 – Não se pode fazer um estudo completo da governação de Luís António de

Sousa Botelho Mourão [o morgado de Matheus] sem o identificar totalmente com

a contribuição cartográfica e política desenvolvida por José Custódio de Sá e Faria,

engenheiro-militar responsável por grande parte das abordagens geossociais a

oeste e sul da Capitania paulista e das quais resultaram avaliações que permitiram a

recriação político-administrativa da região.

• Obs. 3 – Em ambos os casos, a documentação arquivada na Torre do Tombo

[Lisboa] e na Biblioteca Nacional [Rio de Janeiro] é de grande valia, particularmente

as mapotecas, que revelam a identidade primária da capitania assumida pelo

Morgado de Matheus e vasculhada pelo engº Sá e Faria. Obviamente, a

documentação da governança do capitão-general é um retrato fidedigno da

urbanização conduzida por ele e que logo se espalhou como que a determinar a

identidade de uma grande Nação no bojo de uma colonização que para tal já

apontava.

Page 51: MORGADO DE MATEUS

• BARCELLOS, João – Morgado de Matheus, O grande Governador de São Paulo. Editora Pannartz Ltda,

1992; com 2ª Ediç em 1996, pela Ed Edicon.

• – Entre a Baeta e a Carroça: o Teatro Vicentino em Operística Crítica Social na Colônia

Tropical. Palestra. Grupo Granja. Embu das Artes, br., 2003.

• – Do Fabuloso Araçoiaba Ao Brasil Industrial. Centro de Estudos do Humanismo Crítico

[Portugal] e Edicon [Brasil], 2011.

• – Um Morgado No Imaginário De Um Marquês. Novela. Centro de Estudos do Humanismo

Crítico [Portugal] e Edicon [Brasil], 2013.

• FERRAZ, Antônio Leôncio Pereira – Memória sobre as Fortificações de Mato Grosso (Separata da Revista do

Instituto Histórico e Geográfico do Brasil). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1930.

• MACEDO, J. C. – Sá e Faria, Engº Militar & Reynol. In Palavras Essenciais [Humanismo, Educação & Justiça

Histórica...], Vol.5. Centro de Estudos do Humanismo Crítico [Portugal] e Edicon [Brasil], 2011.

• – Entre Morros e Rios, um Engº Militar & Reynol refez o Assentamento Colonial Luso-

Católico. Palestra. Florianópolis/SC-Brasil, 1991.

• – Aspectos Culturais No Espaço-Tempo da Representação Política Colonial / Sécs XVI a

XVIII. Palestra. Paraty-Rj/Br., 1992.

• SALGADO, Ivone – Fundação de Freguesias, Elevação de Vilas e Fortificação de Praças na Capitania de

São Paulo (1765-1775) – a gestão restauradora do Morgado de Mateus. CEATEC / PUC Campinas-SP.

• SOUZA, Augusto Fausto de – Fortificações no Brazil, in Revista Trimestral do Instituto Histórico, Geográfico e

Ethnographico do Brazil. Tomo XLVIII. Typographia

• Universal de Laemmert & C., 1885.

• TONERA, Roberto – O Sistema Defensivo da Ilha de Santa Catarina – Brasil: Criação, Abandono e

Recuperação, in Seminário Regional de Ciudades Fortificadas. UFCS, 2005.

Page 52: MORGADO DE MATEUS

BARCELLOS, João

Escritor, jornalista (em conteúdos

técnicos para Comunicação Visual e

Estamparia Digital, Política e

Educação), pesquisador de história e

conferencista, dedica-se a estudos

luso-afro-brasileiros desde 1975,

quando leu, na Torre do Tombo, os

arquivos intitulados Papeis do Brasil

nos quais ´conheceu´ Affonso Sardinha

(o Velho)...

[email protected]

www.noetica.com.br

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Do Autor

Page 54: MORGADO DE MATEUS

Apoio Cultural

Centro de Estudos do Humanismo Crítico

CEHC / Portugal e América Latina

Grupo de Estudos Noética