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Anotações Historiográficas sobre Luís António de Sousa Botelho Mourão, o governador da Capitania paulista que dá assentamento urbano à raça que gera o Brasil-nação.
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João Barcellos
MORGADO DE
MATEUS
Anotações Historiográficas sobre Luís António de Sousa
Botelho Mourão, o governador da Capitania paulista que dá
assentamento urbano à raça que gera o Brasil-nação.
2013
Expor os trabalhos políticos, administrativos, sociais e
militares, gizados e executados por Luís António de
Sousa Botelho Mourão, é dizer do Império Português,
sim, mas também é dizer de uma Nação
que começa a nascer do assentamento
colonial e da escravatura, porque já no tempo
desse fidalgo trasmontano da Casa de Mateus e
capitão-general da Sam Paolo dos Campu de Piratin,
emergia a noção de um Brasil voltado para si
mesmo...
Parte 1
As Realizações
De Um Empreendedor
Um Morgado na Casa
Bandeirante
LUÍS ANTÓNIO DE SOUSA BOTELHO MOURÃO
Morgado de Matheus
Por herança, o 4º morgado de Mateus, nasceu em 21 de Fevereiro de 1722,
em Vila Real, e aqui faleceu em 5 de Outubro de 1798. Filho de Joana Maria
de Sousa, senhora de Moroleiros, em Amarante, e de António José Botelho
Mourão, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, tenente-coronel
da Cavalaria, 3º morgado de Matheus, que serviu com distinção na guerra da
Grande Aliança, e aumentou consideravelmente o brilho de sua Casa, tendo
edificado em Vila Real, o Palácio de Mateus, residência dos Condes de Vila
Real, herdeiros do morgadio por sucessão direta. Casa Leonor Ana Luísa José
de Portugal [1722-1806], filha Rodrigo de Sousa Coutinho e Maria Antónia e
São Boaventura de Meneses Monteiro Paim.
O Morgado e a Casa de Mateus
Amigo do rei José I e do Marquês de Pombal,
o Morgado de Mateus é o político, o administrador e o militar de experiência feita para
reconstruir a Capitania de São Paulo.
É nomeado capitão-general da
recriada Capitania de São
Paulo, que havia sido extinta em
1748, e exerce o cargo de
governador de 1765 a 1775.
o Morgado e a sua Capitania
O que encontra o Morgado
naquela villa jesuítica acima da Serra do Mar?
Uma região que bebeu precária urbanização com as ações
do governador Francisco de Souza,
que chegou a despachar oficialmente das
minas de ferro do cerro Byraçoiaba, mas, ainda assim,
uma região que perde população para Sant´Anna de
Parnaíba e não tem infraestrutura sanitária
e comercial compatível com uma sede de Capitania,
apesar de ter sido o eixo da economia liberal liderada por
Affonso Sardinha (o Velho) e, depois, pelo jesuíta e
banqueiro Pompeo de Almeida, nos ramais do Piabiyu.
entre o oeste paulista e o norte da colônia
A época em que o Morgado de Mateus dá início
à sua governação paulista, já o Império
português ocupa o norte e a região da Amazônia
com o assentamento de vilas e
fortes, porque só a ocupação
efetiva permite manter a posse
do espaço continental percorrido e
sinalizado por Antônio Raposo Tavares.
Aquém da Serra do Mar existe um continente,
ora, a colônia não é só beira-mar...
A bandeira de António Raposo
Tavares saiu da Vila de São Paulo
em 1647, atravessou limites
diplomáticos e passou pela
Amazônia; uma viagem
fantástica de 12.000 km,
reconhecida como a maior de
todas as expedições de
reconhecimento geográfico
realizadas no Brasil. O bandeirante
retornou a São Paulo em 1650,
sendo reconhecido apenas pelo
seu fiel cachorro...!
Das bandeiras e
entradas dos
paulistas, a de
Raposo Tavares
sinalizou outras
regiões e outras
gentes, além de
demarcar o Brasil
continental...
da Villa Jesuítica
à Villa de Barcellos
Cada vez mais cobiçada, a velha
e famosa Insulla Brasil é agora
um continente, e Portugal
empreende, com as ações
pombalinas [o Marquês de
Pombal é a sombra do rei José I
e o primeiro-ministro], o esforço de
consolidar fronteiras entre a
Villa Jesuítica e o Amazonas, e
aqui, levanta-se a Villa de
Barcellos, primeira capital
amazônica.
O Que Fazer?
Diante de uma urgente urbanização e defesa do Império tropical, a
visão empreendedora e o objetivismo militar de Luís António de
Sousa Botelho determina 3 focos:
1- Demonstrar que o mando é político e não religioso, pelo que
desobriga o representante do bispo do Rio de Janeiro do recebimento
de taxas e funções administrativas.
2- O mapeamento e o censo da região para assegurar o
assentamento de novas povoações, além de fortificações na defesa
das fronteiras contra as investidas castelhanas.
3- Dar continuidade à mineração de ferro, ouro, prata e cata de
esmeraldas.
determinação e risco
no mando político e militar
Reconhecida a aventura de Raposo Tavares e sabendo-
se da imensidão territorial, cabe à Capitania paulista o
principal esforço de reordenação fundiária, povoamento e
urbanização, abertura de hidrovias e novos campos para
produção agropecuária e hortifrutigranjeira, enquanto se
reabre a mina e fundição de ferro no Cerro Byraçoiaba
e se acerta uma mineração tecnicamente adequada no
centro-oeste para as lavras auríferas e diamantinas.
Tal desempenho não é possível a um homem só, e o
Morgado de Mateus sabe da herança negativa deixada
pelos sonhos do governador Francisco de Souza.
É possível sonhar...
realizando!
Na sua equipe, o capitão-general tem
um homem que já revira tudo para que
a Capitania possa ser reconstruída: o
engenheiro-militar José
Custódio de Sá e
Faria. A sua cartografia, o seu
registro pictórico, a sua visão
urbanística, fornecem ao Morgado de
Mateus a via tecnológica para fazer de
São Paulo o polo do desenvolvimento
sul-americano.
o relato das dificuldades de um
engº-militar
"Na Vila de Curitiba falhei vários dias. Saí para a serra de
Paranaguá correndo para leste e sul até o alto da serra
que desce para Paranaguá, onde está o sítio dos padres
da Companhia, junto ao Palmital [ou Canguirí, hoje Iraí]. Aí
há uma das cabeceiras do rio de Curitiba [Iguaçu], muito
feroz, levando água. O Caminho é despenhado e
barrancoso, muito perigoso. Daqui não passei."
José Custódio de Sá e Faria
Desenhos do Engº-militar José Custódio de Sá
e Faria, uma das mais importantes figuras da urbanização
brasileira e, no entanto, ainda desconhecida.
o Morgado de Mateus e
a fundação de cidades e fortes
A fantástica expedição
cartográfica e
urbanística de José
Custódio de Sá e Faria
resulta numa
observação óbvia para o
capitão-general: é
preciso “semear” gente
para assegurar a posse
das terras.
Primeiro Passo:
Censo Demográfico / 1765
“[...] 899 fogos com 1748 homens e 2090 mulheres para a freguesia de São Paulo. A
cidade propriamente dita compreendia 392 fogos com 648 homens e 867 mulheres. Os
bairros eram os do Pari, cujos moradores quase todos eram gente bastarda (mestiços de
brancos e índios), Embujaçava, Pirajuçava, Pinheiros, Nossa Senhora do Ó, Santana ,
Penha, Tremembé até a Cachoeira (inclusive), Jaguará, Caguaçu, Tatuapé, Aricanduva.
Mais afastados, São Bernardo, Borda do Campo, Mercês, São Caetano. O
recenseamento ordenado pelo Morgado de Mateus arrolou apenas 26 mercadores, 10
vendeiros, 3 boticários. Maior número de artífices devia existir na cidade, embora muitos
não aparecessem nos róis por serem escravos. As padeiras, por exemplo, eram quase
todas cativas.
Na discriminação dos cabedais, encontramos 204 referências aos bens dos chefes de
famílias dos 392 fogos da cidade e 212 para os dos 507 fogos dos bairros. A fortuna de
realce arrolada era de 28 contos de réis e a modesta de 25 mil e 600 réis. Distribuíam-se
as fortunas do seguinte modo: acima de 25 contos de réis, uma; entre 20 e 25 contos de
réis, uma; entre 10 e 20 contos de réis, uma; entre 5 e 10 contos de réis, cinco; entre 1 e
5 contos de réis, trinta e três; entre 500 mil réis e um conto de réis, quarenta e cinco;
entre 100 e 500 mil-réis, duzentos..." [Gilberto Leite de Barros, 1967]
CAMPINAS um exemplo
Entre as várias cidades fundadas ao longo da
administração do Morgado de Mateus está Campinas...
Se a região de Sorocaba é um importante entroncamento
entre o Cerro Byraçoiaba e o Caminho dos Goyazes
[Serra de Botucatu], eis que Campinas surge como polo
de assentamento urbano e de produção rural bem na
medida política e econômica traçada pelo capitão-general
e pinçada nas observações técnicas do Engº Sá e Faria.
Com infraestrutura adequada, as cidades emergem no
sertão que foi sesmaria jesuítica e dão sustentação
econômica à Capital.
SOROCABA UM EXEMPLO DE DESENVOLVIMENTO
Quando, em 1733, o gaúcho Cristóvão Pereira de
Abreu ´rasgou´ as ruazinhas de Sorocaba com a
sua tropa de muares, deu início que seria chamado
o Ciclo do Tropeirismo.
Mas, o ´ciclo´ só tem sucesso e atinge o pico
mercantil e social depois que a reformulação
fundiária do Morgado de Mateus assenta e renova
povoações na linha de Viamão – e, assim é que
Sorocaba se estrutura e instala uma indústria
artesanal e têxtil reconhecida na Capitania e na
Colônia.
Entre as vilas de Viamão e Curitiba, a de Sorocaba
passa de mero ponto de passagem a ponto de
produção e negociação. E, perto, o mesmo
Morgado de Mateus reinventa a siderurgia da
Família Sardinha no cerro Byraçoiaba para, mais
aquém, continuar a minerar ouro no Byturuna.
FORTES a defesa da posse portuguesa
Após 60, anos sob
domínio da Coroa
castelhana, Portugal
precisa mostrar a sua
competência
estratégica na defesa
dos seus territórios
ultramarinos. Luís
António de Sousa
Botelho e Mourão é o
homem certo no lugar
certo...
Forte Ygatemy do dilema à transformação
O Forte de Nossa Senhora dos
Prazeres do Ygatemy é erguido
entre 1765 e 1770 com uma força-
tarefa com mais de 300 homens do
Regimento de Dragões lotados na
Capitania paulista. Localiza-se na
margem esquerda do rio Ygatemy,
a poucas milhas da sua
confluência com o rio Paraná,
próximo à foz do rio das Bagas, no
Mato Grosso do Sul.
Pelas demarcações do Tratado de Madrid (1750),
que substitui o fantasmagórico Tratado de
Tordesilhas no que à linha tropical diz respeito, a
Coroa portuguesa percebe a urgência em a
fronteira entre Mato Grosso e Paraguay. Uma
linha ao sul do curso dos rios por onde se fizeram
as monções, de Araritaguaba [Porto Feliz] a
Cuiabá pelos rios Anhamby [Tietê] e Paraná e as
contra-vertentes do rio Paraguay.
Sem um ponto estratégico de defesa junto das
possessões castelhanas Portugal não pode
assegurar a sua soberania.
Estar em terra, em cursos fluviais ou no mar, é desafiar
monções e com elas partilhar a aventura de um novo olhar.
[mapa das monções]
E é no engenho administrativo e político e militar do
Morgado de Mateus que a Coroa portuguesa se socorre,
pois, os recursos da Capitania do Mato Grosso são
irrisórios e o acesso fluvial norte-sul precário. O capitão-
general opta pelo rio Ygatemi para a instalação de uma
colônia militar: Forte de Nossa Senhora dos Prazeres do
Ygatemi. Contra muitas opiniões, o Morgado de Mateus
entende que o que está em jogo é a
soberania portuguesa e não princípios de
passagem colonial, por isso obtém o aval de José I
e do Marquês de Pombal. É preciso defender e povoar a
região para impedir quaisquer reclamações castelhanas,
mesmo que através da Igreja católica, como lhes é
habitual.
Os atos militar e político são gigantescos e têm um custo
social de centenas e centenas de pessoas deslocadas
para a região e a morte de muitas delas.
Qual é o dilema?
A resposta, para quem não entende de
estratégia de defesa e expansão territorial é
dada pela ação do Morgado de Mateus: ou
Portugal se assenta com o que quer [a
defesa e expansão] ou abandona o sul da
Capitania nas mãos castelhanas. Um
desafio político e um dilema. O notável
fidalgo português rejeita o dilema e ousa a
construção de uma estrutura que sustenta
Portugal e fixa, de uma vez, o território
continental sinalizado na expedição de
dezenas de aventureiros, religiosos e
bandeirantes. Por isso, a Capitania paulista
torna-se o eixo do desenvolvimento e da
segurança da Colônia que logo se torna
Nação na mesma malha do Piabiyu, como
que a assegurar a linha entre o ancestral e o
novo.
Desconhecer que o Forte Ygatemy tem o mesmo
nível de desenvolvimento projetado no Cerro
Byraçoiaba pela visão de Luís António de
Sousa Botelho Mourão é desconhecer a realidade histórica
que projetou neste Outro Portugal a mãe d´água política que faz brotar
o Povo brasileiro...!
Eis o retrato das ações de povoação e defesa...
Defesa e povoamento do caminho do Viamão na rota terrestre para as
expedições militares que combatem os castelhanos no Rio Grande; ocupação
e defesa do litoral sul nos sertões do Tibagi e dos Campos de Guarapuava,
e aqui, destacam-se Faxina [Itapeva], Itapetininga, Santo António das
Minas do Piaí [ou Apiaí], Santo António do Registro [Lapa], Nossa Senhora
dos Prazeres de Lages, Santa Ana do Ipó [Castro]. Na linha litorânea,
Araripa, próxima a Cananéia, Vila Nova de São Luís de Guaratuba e
Sabaúna.
Ao norte, com a política de proteção das fronteiras com as Minas Gerais e
de proteção do caminho para Goyáz, funda ou eleva a vila São João
Baptista de Atibaia, São José de Mogi-Mirim, Nossa Senhora da Escada
[Guararema], Botucatu, São João do Atibaia [Atibaia], Piracicaba e
Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato
Grosso de Jundiaí [Campinas].
No vale do Paraíba, ações estratégicas nas povoações de São José do
Paraíba [São José dos Campos], Nossa Senhora da Escada [Guararema], São
Luís do Paraitinga, Caraguatatuba e Santo António de Paraibuna.
Parte 2
Os Tratados
Não é possível uma análise criteriosa sobre os
assuntos diplomáticos e militares da
colonização portuguesa na e às margens
da Linha de Tordesilhas sem se conhecer os
meandros dos diversos tratados.
Tratado de Tordesilhas Assinado na Galícia em 7 de Junho de
1494 pelo rei João II e a rainha Izabel de
Castela, para dividir as terras
"descobertas e por descobrir" por ambas
as Coroas fora da Europa. O tratado
define uma linha de demarcação no
meridiano 370 léguas a oeste da Ilha de
St Antão no arquipélago de Cabo Verde, a
meio-caminho entre estas ilhas (então
portuguesas) e as ilhas das caraíbas
descobertas por Colombo, no tratado
referidas como Cipango e Antília por
desconhecimento cartográfico do
genovês. Os territórios a leste deste
meridiano pertencem a Portugal e os
territórios a oeste à Espanha.
Tratado de Madrid Assinado em 1750, concedia
algumas vantagens maiores à
Portugal, mas foi anulado em
1761 pelo Tratado de El Pardo.
Os numerosos tratados assinados
não costumam obter êxito nos
trabalhos de demarcação, e
Portugal mantem a posse dos
territórios na América do Sul,
como a região dos Sete Povos
das Missões, conquistadas
poucos anos mais tarde pelos
gaúchos Manuel dos Santos
Pedroso e José Borges do Canto.
Tratado de Santo Ildefonso Assinado entre Portugal e Espanha em 1777, para acabar
com a disputa pela posse da Colônia de Sacramento e
outras regiões. A Inglaterra e a França incentivam o
tratado, porque têm interesse político e econômico.
O tratado leva o nome de Santo Ildefonso ao ser assinado
na vila de mesmo na província de Segóvia. Aqui mesmo,
são assinados outros dois tratados entre a Espanha e a
França, levando também o nome do primeiro.
Assinado em 01 de Outubro de 1777, o primeiro Tratado
de Santo Ildefonso definiu que a colônia de Sacramento
e a ilha de São Gabriel, do Uruguai, e a região dos Sete
Povos das Missões, oeste do estado do Rio Grande do
Sul, ficam de posse da Espanha, e Portugal exerce a
posse sobre a margem esquerda do rio da Prata e
novamente sobre a Ilha de Sta Catarina, que tinha sido
ocupada pelos espanhóis.
Com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, que
restabelece algumas linhas gerais do Tratado de Madrid,
defendida por Alexandre de Gusmão, o território de São
Pedro do Rio Grande fica cortado ao meio, no sentido
longitudinal, próximo a Santa Maria, no Rio Grande do
Sul.
Tratado de Badajoz Cria um acordo de paz
entre as duas nações, mas sem consolidar o
Tratado de Santo Ildefonso.
Em 1801 a fronteira é fixada na linha entre as
cidades de Quaraí, Jaguarão e Chuí, e
restabelece a divisão traçada no Tratado de Madri,
meio século antes.
Ressalte-se, a partir do Tratado de Madrid, uma figura que alterou
positiva e profissionalmente os atos diplomáticos: Alexandre
de Gusmão. Depois dele, a diplomacia tornou-se
definitivamente um ofício político com ciência própria.
Parte 3
As Consequências
De Um Sonho Realizado
"A administração de D. Luiz Antônio de Souza, o Morgado de Mateus, na
governança da Capitania de São Paulo, que se estendeu de 1765 a 1775,
marcou o início de um novo ciclo da história paulista. Ciclo de trabalho
fecundo, de progresso, de organização social, econômica e política. Período
no qual fortaleceu-se sobremaneira o incipiente sistema patriarcal paulista, tão
esmaecido nos dois primeiros séculos da colonização. Nesta auspiciosa etapa
da história de São Paulo principiou o povo paulista a tomar consciência de si
mesmo, conhecendo-se e conhecendo também, palmo a palmo, o território da
Capitania. Fixaram-se, desde então, os limites com as demais, foram-se
definindo os pontos de equilíbrio econômico da região planaltina, enquanto
que entrou a cidade nobreguense a consolidar sua hegemonia sobre os
conglomerados urbanos ao seu derredor", afirma o historiador Gilberto Leite
de Barros, no livro "A Cidade e o Planalto", de 1967.
Mobilidade Socio-Cultural
& Desenvolvimento
“No momento em que as pessoas viam paus firmado no
solo e logo cobertos com baeta preta já diziam ´vamos ter
ópera´, e isso alterou muito o comportamento fugidio das
gentes paulistas do setecentos que, entre a igreja e a
ópera também já tinham onde aprender a ler e escrever e
conquistar um ofício”, escreveu J. C. Macedo, em 1992.
A chamada Casa da Ópera é, entre o
quinhentos e o oitocentos luso-americano, o Teatro,
onde se apresenta música, dramaturgia e, em algumas
das salas, cursos de alfabetização e ofício. Fora das vilas,
a Casa da Ópera é um toldo de baeta erguido no átrio
da capela ou na praça. É o tempo vicentino...
“Por tratar de várias faces artísticas, o Teatro do
poeta-dramaturgo Gil Vicente incentiva o molde
operístico em que surge a Casa da Ópera, mas
uma peça vicentina é um auto de crítica cívica e
política, e a atividade operística é um espaço de
encenação, música, ensino e representação do
poder, que vai do prédio à barraca de baeta” [Barcellos,
2003].
E é com a governação do Morgado de Mateus que
a Villa bandeirante, e não mais a Villa jesuítica,
torna-se polo de iniciativas socioculturais que
passam pelo teatro, a música, os saraus e, é claro, a
encenação sacra e a encenação dos atos do
próprio poder.
Ele adapta as instalações do antigo Colégio jesuítico
e aqui instala a Casa da Ópera e Escola de Ofícios.
A visão e ação mundana de Luís António de
Sousa Botelho Mourão fazem da Villa paulista a
capital da virada sociocultural.
Os bons ofícios do morgado e fidalgo Luís António de Sousa Botelho
Mourão surgem ao fim de 3 anos de administração pública na Capitania
paulista, e, pode-se dizer, é um morgado e fidalgo na Casa bandeirante.
Agropecuária e hortifrutigranjeiros, algodão e tecelagem, mineração e
artesanato, matadouros e mercados públicos, fontes d´água, praças e
arruamentos, linhas fortificadas de defesa para as fronteiras e os novos
povoados, mala-posta (correios), atividade artística e intelectual, educação
científica fora dos padrões jesuíticos, eis aqui a mobilidade
sociocultural que gerou o desenvolvimento
econômico e recolocou a São Paulo dos
Campos de Piratininga como eixo do Poder
colonial português na América do Sul. E mais: ao
prestigiar a Monarquia com o Saber iluminista, o Morgado de Mateus abriu
caminhos para o espírito republicano que já havia sido aflorado nos
primeiros tempos das Câmaras Municipais na capitania vicentina.
A luso-brasilidade setecentista é já uma
luz brasileira pela autenticidade do
sentimento de um Outro
Portugal, a terra nova
que no Brasil se faz
Mátria e gera outro Povo
– o Brasileiro. E na geração
deste Povo tem o Morgado de Mateus
papel importante ao gerenciar na
Capitania paulista os meandros políticos e
administrativos que a faz centro
econômico do Brasil e América do Sul.
Notas & Bibliografia
• Obs. 1 – Todo o estudo historiográfico sobre a pessoa e o governo de Luís António
de Sousa Botelho Mourão [o morgado de Matheus] é uma contribuição para a
formação da memória luso-americana e, principalmente, uma contribuição para
memória que deve embasar a mente brasileira, nacional e independente.
•
• Obs. 2 – Não se pode fazer um estudo completo da governação de Luís António de
Sousa Botelho Mourão [o morgado de Matheus] sem o identificar totalmente com
a contribuição cartográfica e política desenvolvida por José Custódio de Sá e Faria,
engenheiro-militar responsável por grande parte das abordagens geossociais a
oeste e sul da Capitania paulista e das quais resultaram avaliações que permitiram a
recriação político-administrativa da região.
•
• Obs. 3 – Em ambos os casos, a documentação arquivada na Torre do Tombo
[Lisboa] e na Biblioteca Nacional [Rio de Janeiro] é de grande valia, particularmente
as mapotecas, que revelam a identidade primária da capitania assumida pelo
Morgado de Matheus e vasculhada pelo engº Sá e Faria. Obviamente, a
documentação da governança do capitão-general é um retrato fidedigno da
urbanização conduzida por ele e que logo se espalhou como que a determinar a
identidade de uma grande Nação no bojo de uma colonização que para tal já
apontava.
• BARCELLOS, João – Morgado de Matheus, O grande Governador de São Paulo. Editora Pannartz Ltda,
1992; com 2ª Ediç em 1996, pela Ed Edicon.
• – Entre a Baeta e a Carroça: o Teatro Vicentino em Operística Crítica Social na Colônia
Tropical. Palestra. Grupo Granja. Embu das Artes, br., 2003.
• – Do Fabuloso Araçoiaba Ao Brasil Industrial. Centro de Estudos do Humanismo Crítico
[Portugal] e Edicon [Brasil], 2011.
• – Um Morgado No Imaginário De Um Marquês. Novela. Centro de Estudos do Humanismo
Crítico [Portugal] e Edicon [Brasil], 2013.
• FERRAZ, Antônio Leôncio Pereira – Memória sobre as Fortificações de Mato Grosso (Separata da Revista do
Instituto Histórico e Geográfico do Brasil). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1930.
•
• MACEDO, J. C. – Sá e Faria, Engº Militar & Reynol. In Palavras Essenciais [Humanismo, Educação & Justiça
Histórica...], Vol.5. Centro de Estudos do Humanismo Crítico [Portugal] e Edicon [Brasil], 2011.
• – Entre Morros e Rios, um Engº Militar & Reynol refez o Assentamento Colonial Luso-
Católico. Palestra. Florianópolis/SC-Brasil, 1991.
• – Aspectos Culturais No Espaço-Tempo da Representação Política Colonial / Sécs XVI a
XVIII. Palestra. Paraty-Rj/Br., 1992.
• SALGADO, Ivone – Fundação de Freguesias, Elevação de Vilas e Fortificação de Praças na Capitania de
São Paulo (1765-1775) – a gestão restauradora do Morgado de Mateus. CEATEC / PUC Campinas-SP.
•
• SOUZA, Augusto Fausto de – Fortificações no Brazil, in Revista Trimestral do Instituto Histórico, Geográfico e
Ethnographico do Brazil. Tomo XLVIII. Typographia
• Universal de Laemmert & C., 1885.
•
• TONERA, Roberto – O Sistema Defensivo da Ilha de Santa Catarina – Brasil: Criação, Abandono e
Recuperação, in Seminário Regional de Ciudades Fortificadas. UFCS, 2005.
BARCELLOS, João
Escritor, jornalista (em conteúdos
técnicos para Comunicação Visual e
Estamparia Digital, Política e
Educação), pesquisador de história e
conferencista, dedica-se a estudos
luso-afro-brasileiros desde 1975,
quando leu, na Torre do Tombo, os
arquivos intitulados Papeis do Brasil
nos quais ´conheceu´ Affonso Sardinha
(o Velho)...
www.noetica.com.br
Do Autor
Apoio Cultural
Centro de Estudos do Humanismo Crítico
CEHC / Portugal e América Latina
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