Nettlau. História Da Anarquia

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    1/105

    Hls r( ')mA D A ANARQU IA

    -D A S OIUGENS A0

    ANABCO-COMUNISMO

    Uma grande rev0lu(;F10

    6

    (~0n10

    0

    rio da

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    2/105

    Auto:

    _

    .\l,\x \ l < 1 ' l I ‘ I ‘ . v \ l ‘

    Titulo

    _

    lhs'r

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    3/105

    Copyright

    _

    'I‘raduc;5o© _

    Agradecimentos _

    Dados

    _

    Enderego _

    Telefone/Fax

    _

    E-—mai1

    _

    Site

    _.

    Hvdra

    2008

    Plinio

    Augusto Coélho

    Fraxlk

    .\Iint'/.,

    por

    ter gentilmente

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    4/105

    M ax

    Heinrich Hermann

    Reinhardt Nettlau

    (Neuwaldegg,

    /\ust1'i11,

    1865—/hnsterdfi,

    1944)

    é

    considerado 0 prirneiro

    e talvez

    0 maior historiador do

    1111arqu1s1no.

    P 1 e u 1 1 i 1 1

    urna enorme

    q u 1 1 1 1 t 1 d 1 1 d e de

    m11teri111s

    iinpressos

    durante toda

    a su a

    existéncia,

    entre j0rn111s,

    1 1 1 1 1 1 1 1 1 e s l 0 s ,

    follivtos e car tazes , que deram origem

    11 0

    1 ‘ e 1 1 0 1 1 1 a 1 l o

    Institute Interiiaciolial de Histéria Social, de

    1 \ 1 1 1 s 1 . e r 1 l 1 i

    ( 1 1 5 1 1 ) .

    1 9 1 1 1 1 0

    do un 1 jardineiro da

    corte,

    estuda

    celta

    0

    galés 1 1 1 1

    1 1 1 1 i v e r s i 1 l 1 1 1 1 e

    de Vimia, periodo

    em

    que se interessa por

    1 1 1 0 v i1 1 1 1 > . 1 1 1 0 s s 1 1 c i 1 1 1 s

    e

    1 0 r 1 1 1 1 - s o 1 1 ' 1 c 1 1 1 b 1 ‘ 0 da

    liiga

    lnglesa

    Socialism (1885-1890). E 1 1 1

    I ,o11dres, trava

    amizade com

    K1'0p0Lk111 0 1 \ ' l 1 1 l 1 1 t e s t 1 1 , com quem

    mantém corresporldéncia

    peln resto

    do

      1 1 1 1

    vida.

    A

    partir

    dc

    1892, gragas

    a

    ulna

    heranga

    1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 , decide clodi r rar-so

    inLegr1111ne11te

    5 1

    llistéria do

    "

    anz1rq11is1110,

    0 p a r t / 1 1 ‘ 1 . 1 l 1 1 1 ' 1 1 1 1 e 1 1 t e

    £ 1 ligilra

    de Mikhail

    Bakunin,

    E

    “ passa 2 1

    v 1 1 1 j 1 1 r pela

    1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1

    prormra

    do

    pessoas

    que o

    c 0 1 1 1 1 e 1 : 1 v 1 1 1 1 1 1 . Ucsso ' l . 1 ' 1 1 b 1 1 1 1 1 0 r 0 s u 1 1 ; a 1 1 1

    uma

    biografia

    em

    5

    v0lu111vs (1896-1900) (1

    Ii1'/1/i0,1,r/ a;1/lie de Z ’ a 1 1 a r c h . L ' e

    (Bruxelas,

    1987 ) .

    C 0 1 1 1 0

    1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 Guer1‘11

    e suas

    economias

    a r m s 1 1 1 l 1 1 s pulos

    elbitos

    da

    1 1 1 l ‘ 1 1 1 1 _ , , 1 1 7 1 0 1 1 l e 1 1 1 1 1 ,

    passa

    a viver entfio em

    1 1 1 1 5 0 1 1 1 1 1 1 p r 1 * c 1 1 1 ' i e 1 l 1 1 < l 1 1 , 0 1 : 1 1 1 1955 so vé 0 1 : > 1 1 g a d 0

    a

    \-'e11der se u

    11c1:rv0. Em

    1938 .

    ( l 1 1 r 1 1 1 1 1 1 ~

    1 1

    1 1 1 1 r = x 1 1 g ; 5 0 da Austria pcla Aemanha.

    decide so 1 \ s t 11 1 1 1 : l1 > 1 ~ 1 * r 1 1 1 - 1 '1 1 1 1 t iv 1 1 1 1 1 1 = 1 1 1 0 1 1 1 1

    llolanda.

    Com

    a

    1 1 1 v 1 1 s 1 1 0 1 1 1 1 2 1 5 1 1 1 ,

    p 1 ' 1 1 s 1 1 1 1 1 ~ i 1 1 1 1

    1 1 1 ' 1 1 p 11 1 ; 1 i0 1 1 0

    lnstituto

    e

    0 0 0 1 1 1 1 5 0 0

    d1‘

      1 1 1 1

    1 ' 0 l1 * g 1 1 0 . l 1 1 1 '1 * 1 iz 1 1 ‘ 1 01 1 1 1 - ,

    1 1 1 1 0

    vive

    para

    ver

    a

    rcabertura

    do

    1 . 1 c 0 1 ' v 0 . 1 1 1 1 1 ‘ 1 : 1 - 1 1 1 1 1

    2'5 1 1 1 *

    julho 11 0 1944, vitima de um c 5 1 1 1 0 e r .

    l’lisl1')ria (la anaarquia

    10 1

    1 1 5 1 1 1 1 1 1 1 origi11al111c111.e 0 1 1 1

    alemiio.

    p L 1 1 1 l1 1 1 11 l 1 1 0 1 1 1 1 1 5 $ v 0 l 1 1 1 1 1 0 s 1 > 1 1 l . r 1 ~ 1925 P 1951, e

    c01np1eta111e11te

    r1-vista

    pvlo 11ut0r para

    1 1

    1 2 1 1 1 9 5 1 1 1 : s p 1 1 n 1 1 0 l 1 1 , La / l l11zr( /uia a

    traziés

    dc /a s

    1 i v n 1 ; ) 1 1 . 1

    ( 1 § 1 1 1 ' c 1 - 1 0 1 1 1 1 ,

    195-3). /\

    p r e s e 1 ‘ 1 1 . e

    1 2 1 1 1 9 5 0 , em dois

    v0lu1111-s, soguv

    1 1 v1-rsfio

    1 r 1 1 1 1 < ‘ c s 1 1 ,

    r o s t a 1 1 c | 1 * < r ' 1 1 1 a

    e

    a1npl iad11

    por

    1 < ‘ 1 1 1 1 1 k

    M 1 1 1 1 : / , . (ll ,1liLi011s 1 . 1 1 1 l ’ l § 1 1 1 i ' 1 > r s i 1 . 1 ' \ 1 :1 de 1’li11se1g11en1e111

    X l 0 1 l 1 * r 1 1 1 v , 1983 ) . l \ ' 1 v s 1 . 1 1 pri1110ir0 v 1 > l 1 1 1 ' 1 1 e ,

    Nettlall

    leva1'1ta

    0s

    1 1 s p 1 * 1 ' t 0 s

    1 1 1 1 1 . i z ~ s L 1 \ t i s t 1 1 s 1 : 1 1 1

    1 l n u 1 1 'i 1 1 1 1 s a 1 1 1 . 1 > 1 ' i0 r e s

    ao 1111arq11is1n0.

    1 1 p 1 0 s u 1 1 1 1 1

    1 1 1 1 1

    l011g0 p 1 1 1 1 0 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 s 1 1 1 6 1 1 1 5 1 l01n0 \ '11nen t0 1 1 0 $ E L ' 1 \

    0 1 7 1 1 1 p 1 1 1 s e s < > 1 1 1 0 p < * 1 1 s , 1 . - ( > 1 1 1 S P g l | 1 ( l é 1 trata da s idéias de Pl‘()LlCll10l1

    1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 . P 0 1

    1 1 1 1 1 ,

    1 - 5 1 - r 0 \ ' 1 ~ 1 1

    h 1 s 1 1 ' > r 1 1 1 clas principais ass0c1a§60s

    1 i 1 1 1 > 1 ' 1 1 ' 1 1 ' 1 1 1 s 1 - 0

    1 1 1 - 1 1 1 1 1 1 ‘

    1 - 1 1 1 1 1 ~ 1 - 1 1 1 s 1 2

    1 1

    1\ss01:1ag50 Internaciorlal dos

    ' l ‘1 1 11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 l 0 r1 ~ s . 1 1 0

    1 1 1 1 1 11 0

    s 1 ' \ 1 ‘ 1 1 l 0

    XIX.

    Frank Mintz , professor e

    historiador,

    é

    especialista em 111st('1ria

    da

    l \e v 0 l 1 1 g 1 1 0

    espai ihola e em

    autogestio.

    Mer nb ro (la reclagio

    da

    rcvista 7'en1;1s

    /Waud i zs , publicada

    pela CN T (Franga),

    traduziu e

    0 r g 1 1 1 1 1 ' / , 0 u

    i111'11neras

    coleténeas de

    autores

    como Malatcsta,

    K1 0p0t11i1'1, Nlax

    Nettlau,

    Bakunin, entre outros. autor

    de

    vérias

    ohms,

    dentre as quais Lhutogestion

    dzms

    l ’Espagrze

    ré1111/11/imzllai/ e

    (Bélibaste,

    19 7 0 )

    e

    Aut0 ,ges£ ior1 er

    anm1 ‘ / 10 .sym l i 1 :al isme : / 1 rzalyse et

    critique sur

    l ’E.1pagr1e de 1 9

    3:

    z i

    1990 ( l i l 1 1 i L ' 1 < 1 1 1 s ( INT , 19 9 9 ) . F01 responsével pela orgar1iz11§50 da s

    vcrsfies

    1 1 1 1 1 1 0 1 , - s 1 1 s

    dcsta

    obra, publicadas em 1971 e

    1985,

    que

    1 1 s s i 1 1 0 u

    0 0 1 1 1

    0 ps1*uc1611i1no de

    1 \ / 1 2 1 1 1 1 1 1 Zernliak.

    Plinio

    Augusto Coélho

    fundou em

    1 934

    a Novos Tempos E d i 1 . o 1 ' 1 1 ,

    0 1 1 1

    lirasilia, d 1 = 1 1 i c 1 1 c 1 a 2 1

    publicagfio

    de obras

    libertérias. E 1 1 1

    1989,

    1 r 1 1 1 1 s 1 ' 1 - * 1 1 = - s 1 -

    1 1 1 1 1 1 1 S5 0

    Paulo, 011de cria

    1 1 Editora lmag1111'1ri0,

    1

    1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 0

    a

    1 1 1 0 5 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 dc publlcagfies. Ia idealizador e

    1'0-11111r1111l0r1l0

    11ll.(l11sti111to de F.stu(l0sl,iber1z'1rios).

    ie listudus

    Liberl1'1ri0s:

    as obras reunidas nes ta série, em su a

    1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 i 1 11 ’ *d i 1 ,1 1 s 0 1 1 1

    lingua

    portuguesa, foram escritas pelos

    ox

    1 1 0 1 1 1 1 1 1 - s

    1 1 1 1

    1 . ' 0 1 1 ‘ e 1 1 t 1 1

    libc1 t1'1ria

    do

    socialismo.

    lmp0rta11t1

    base

    1 1 \ 1 ' 1 1 ' i < v 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

    1 1 1 1 1 > r p 1 ' 1 > 1 . a g ? 1 0

    da s

    grandes lutas sociais L 1 ‘ a v a d 1 1 s

    d 1 * s 1 l 1 * 1 1 s 1 : g 1 1 1 ' 1 d 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1

    do

    século X IX , exp li 1 :i t11n1 1 1

    e v o l 1 1 1 ; 1 ' 1 0 1 1 1 1

    1 1 1 6 1 1 1 1 1

    1 1 1 1

    1 ' x p 1 r 1 ' i 1 1 1 1 : 1 1 1 1 1 1 ; 5 1 0 1 i h e 1 ' L é 1 1 * 1 a s n os campos

    politico,

    social

    1 - 0 1 ' 0 1 1 1 ‘ > 1 1 1 i 1 : 0 , 1 '1

    l u ' / 1

    1 1 0 s

    principios

    federalista

    0

    1 1 u L 0 g e s 1 . 1 0 1 1 1 ' 1 r 1 0 .

    C l; f:\ '1

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    5/105

    S U M A R I O

    Introdugfio,

    por Frank Mintz 9

    Postscriptum 17

    HISTORIA D A ANARQUIA

    25

    A s

    concepgfies libertérias at é

    1789 27

    “Iluminados” e fourieristas 41

    Libertérios

    anglo-sax6es

    59

    Proudhon 75

    D e

    Max Stirner

    a

    Gustav

    Landauer 8;

    Primeiros anarquistas comunistas

    99

    Espanha,

    Itélia,

    Rfissia

    1 2 1

    Bakun in 1 3 9

    A s idéias

    libertérias 1 5 5

    As

    origens do anarquismo-comunista 17 1

    lndice geral 189 _

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    6/105

    I N T R O D U Q K O

    MAX

    NE' I ' I ‘LAU,

    freqiientemente denorninado 0 “Herodoto

    da Anarquia”, poderia parecer

    apenas

    um escrevinhador

    bibliofilo, minucioso

    ou

    r ne smo exigen te . Nes te caso, e le

    teria “sabiamente” se tornado um mandarim universiti-

    rio des t inado a

    preparar

    alguma

    tese

    mais ou m e n o s

    so-

    cial. N 50, Max N ettlau consagrou-se inteiramente ao tra-

    balho intermineivel

    a

    fim de

    extrair

    as idéias anarquistas

    do esquec imen to ,

    da

    calfinia ‘e da demagogia .  

    conver teu

    t o d g _ s

    os

    s e u s _

    b e 1 1 § _ } . 1 _ e § s o a i s

    c m _ uma

    Apequena

    renda,

    servindo-lhe

    para assegurar

    um minimovital

    para

    auas

    necessidades c o t _ i < _ i _ i a 1 1 _ 1 § § .

    Dedicou

    todo o

    se u tempo

    e

    su a

    e n e r gi a, c om te n ac id a de

    e

    paixfio, a essa

    tarefa

    que

    impunha a

    si

    mesmo. Além disso, colaborou por toda a

    vida co m a

    imp rensa

    libertéria

    de

    todos os

    paises.

    N a p re se n te obra,

    e le

    n 50 cessa

    de

    da r a conhecer

    su a

    opiniao, sem, contudo, esquecer

    de

    dar uma visao clara e

    objetiva do s acontecimentos. _d9_is_§g§rr1p_19s‘11_e_§s_al11c_i_~

    dez: de

    inicio,

    el e

    rejeita

    0

    antimarxismo gratuito:

    “Marx,

    corno

    0 prox/amnos

    tex tos gdi tados

    , r 1 1 _ 1 q 1 1 § l g - ; - _ 1 _ r _ 1 o r 1 , _ 1 e n t , 0 6 . 3 . 5

    carpas

    pobl icadas

    mais

    t ar de , e ra 150

    aptialernfio quar ito

    13a_kunin” . ‘ Em seguida, rejeita 0 sectar isrno

    de

    certas e s ~

    colas

    anarquistas e, em

    particular,

    ergue-se contra a im~

    portancia

    concedida

    aos atentados:

    Essas

    agfies nio

    deveriam

    ter assumido

    por

    tanto tempo 0 lugar

    mais

    importante e quase 1'1nico entre as atividades

    anarquistas, embora

    elas fossem inteiramente justificaveis (pois

    na

    rnaioria

    da s

    vezes so

    ‘ Cf. p. 1 71 desta

    edigz-30.

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    7/105

    1 0

    I N T R O D U Q K O

    foram reagoes

    contra a

    crueldade,

    e

    como tais, agoes de vinganga

    inexoraveis.“

    Max Nettlau apresenta-nos n ao

    so

    documen tos e

    des-

    crigoes

    inesperadas

    como, por exemplo, a

    grande

    influen-

    c ia

    das

    i dé ia s a n a rq u is t as n a Aemanha e

    n os

    Estados

    Uni-

    dos

    n os a n os 1 85 0,

    m as

    demonst ra

    que,

    em

    su a

    dispersao,

    nao

    ha mecanismo; que

    sua existéncia

    nao

    obedece

    a um

    “materialismo historico”

    adaptado as

    idéias soc iais. Além

    disso, bern amiode, ele da a impressao de tratar dos deba-

    te s

    sempre

    atuais.

    Censuraram-lhe muito injustamente, con tudo, se -

    gundo

    a minha opiniao, por ignorar a evolugfio econo-

    mica

    e social.’

    Ora,

    a apresentagao

    do s

    Estados Unidos

    e da Espanha é particularmente significativa do s

    dados

    historicos

    e

    economicos

    espec if icos que

    facilitaram a

    pe -

    net ragao

    das

    idéias

    libertarias. Diferentemente

    da

    moda

    atual , Nettlau n ao s en te a necessidade de exibir dados

    economicos que

    so

    tém

    uma

    vaga

    relagao

    co m

    o

    assunto

    tratado. E um

    militante que consegue escrever

    simulta-

    neamen te

    para

    seus camaradas

    e

    para os leitores mais

    objetivos.

    Se estabelecermos

    uma

    comparagao entre

    este

    estudo

    historico

    da

    anarqu ia , efetuado po r N

    ettlau ha

    mais de se -

    tenta

    anos ,

    e

    os

    trabalhos historicos

    posteriores

    do

    mesmo

    tipo,

    so podemos

    constatar que faltam

    singularmente

    a

    estes Liltimos conhecimento, e, mais ainda, recuo critico.

    As vezes ,

    inclusive, deixando de lado um

    plagio

    Inal dis-

    fargado

    deste

    livro, podemos

    constatar a

    auséncia de uma

    auténtica nova contribuigao no

    conjunto

    desses trabalhos.

    Esta observagao

    aplica-se,

    em graus diferentes,

    as

    obras

    2 Cf. segundo

    volume.

    5 Critica

    marxizante de

    Robert

    Paris

    em L2 Mouvemenz

    Social,

    n°56,

    1966,

    e anarquista de

    Marianne Enckell

    no

    Bulletin

    du

    CIRA,

    n°24-,

    1972

    FRANK

    MINTZ

    publ icadas

    po r

    Claude Harmel e Alain

    Sergen t ,

    George

    Woodcock e James . 1 0 1 1 . Por

    sinal, podemos

    ressaltar a

    inexisténcia

    na historiografia

    soviética

    de um

    estudo

    glo-

    bal sobre o anarquismo, fora

    de

    estudos biograficos sobre

    Bakunin e Kropotkin.

    Isso

    n ao impediu

    histor iadores so-

    viéticos

    de

    referir-se

    com

    respeito

    a Nettlau,

    como

    por

    exemplo,

    A. V. Gordon e E. V . Starostin na reedigao de

    La Grande Révolution Frangaise de Kropotkin (Moscou,

    1 9 7 9 » P - 5 4 6 1

    A idéia cle

    traduzir e

    publicar este

    livro, na

    Franga, nas-

    ceu no

    s eio d o grupo Noiret Rouge, a partir de sua publi-

    cagao em italiano por G . Ro se (Cesena,

    1964).

    Mas

    este

    oltimo texto era incompleto e, as

    vezes ,

    inexato, levando

    a primeira edigao

    francesa

    em

    1971

    a falhas,

    inclusive

    de

    revisao.

    Decidi,

    entao,

    retomar 0 texto

    servindo-me

    da

    versao espanhola que Nettlau havia espec ia lmen te prepa-

    rado. Em relagao a

    isso,

    ass ina l o que o s dois ou tros tex tos

    de

    Nettlau concernen tes

    ao

    m e s m o assunto:

    B reve historia

    de la anarquia e

    Otcherlii

    po

    istoria

    anarkhilcheskikh

    idei

    (editados respectivamente em Toulouse, em 1958, e em

    Detroit, em 1951)

    sao

    menos completos e

    sao interrompi-

    do s

    igualmente

    em

    19

    54-5 5. Ei's

    por

    que

    decidi

    acrescen-

    tar um posfacio prosseguindo 0

    estudo

    até estes ultimos

    anos ,

    cuja

    {mica

    pretensao era

    dar uma

    breve

    descrigao

    (com a mesma recusa da

    demagogia

    de Nettlau) da revo-

    lugao

    espanhola de 1956-59, de

    maio

    de 1 9 6 8 e da ultima

    evolugao da s

    idéias anarquistas contemporaneas.

    Trata-se, pois, de uma edigao

    sensivelmente revista

    e

    corrigida que trazemos ao leitor. No que concerne

    as

    ci-

    tagoes, relativamente

    pouco

    numerosas,

    de

    autores espa-

    nhois e

    franceses,

    as referéncias remetem

    ao s textos origi-

    nais.

    Enfim, 0

    breve bosquejo

    biografico

    de

    Max Nettlau

    e

    o postscr-iptum redigido

    por

    ele proprio tendem a

    mostrar

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    8/105

    I N T R O D U Q A O

    a

    vitalidade

    da obra

    desse grande

    historiador, da

    qual,

    in-

    felizmente, a maioria dos outros estudos

    a inda

    pe rmanece

    inédita

    em f rancés.

    Martin

    Zemliak,‘ janeiro d e 1 9 85 .

    BIOGRAFIA

    Max

    Nettlau nasceu em Neuwa ldegg , proxirno a Vi-

    ena,

    em 50 de abril de

    1865,

    e morreu em 25 de

    julho

    de

    1 9 4 . 4 . Seu pai, descendente de

    uma

    antiga familia prussi-

    ana, nao

    renunciou

    a sua

    nacionalidade, embora vivesse

    na Austria.

    Deu uma

    educagao muito liberal ao jovem

    Max que, apos os estudos

    secundarios

    e m V ie n a, e st ud ou

    filosofia

    ern

    diferentes

    cidades alemas.

    Ele

    obteve

    o

    dou-

    torado aos

    25 an os de i da de , c om uma

    tese

    sobre linguas

    celtas.

    Apa ixonado

    desde a adolescéncia pela luta dos revo-

    lucionarios r u ssos , ingressou no movimento socialista, e

    suas

    convicgoes anarqu is tas formaram-se

    s em q ue , cont ra -

    riamente aos

    outros libertarios alemaes,

    houvesse passado

    pela escola marxista.

    Bakunin entusiasrnava-0, e em 1880 concebeu a

    idéia

    de

    escrever

    sua

    biografia. Naquele

    momento so existiam

    alguns

    trabalhos

    fragmentarios ou subjet ivos sobre a vida

    do grande revolucionario. Atarefa a

    qual

    s e

    dedicava

    Net-

    tlau era

    da s

    mais

    vastas

    e, por su a propria arnplitude, de-

    terminousua vocagao de historiador. Langou-se com fer-

    vor em uma pesquisa metod ica de t odo documen to, infor-

    magao e

    t e s t emunho

    que

    envolvessem

    se u

    heroi. Esses es-

    tudos

    levaram-no a um conhecimento

    cada vez

    mais pro-

    fundo

    da s

    doutrinas libertarias

    antes

    e depois da época

    Pseudonimo

    de

    Frank Mintz.

    FRANK MINTZ

    de Bakunin.

    Logo

    s e tornou um especial is ta na

    mate -

    ria,

    como demonstraram

    seus

    primeiros art igos publica-

    do s em

    1890 na

    revista Frei/zeit [Liberdade],

    dirigida

    por

    Johann Most

    — 0

    primeiro

    desses artigos era um

    estudo

    so-

    br e Joseph Dé jacque , precursor

    do

    anarco-s ind ica l ismo, e

    o

    segundo

    artigo,

    o

    ensaio

    Sur

    l’hist0ire

    de

    l’anarc/lie.

    Em

    1895 , sob 0

    estimulo

    de Elisée Reclus, escreveu a Biblio-

    graphie

    de l’anarc/lie (1897), um volurne de 294. paginas,

    que

    era

    o

    inventario completo

    da literatura

    anarquista sur-

    gida até

    aquele momento

    n os d i fe ren tes

    paises, inclusive

    jornais e revistas.

    Tendo herdado de

    seu

    pai

    uma

    pequena fortuna,

    Net-

    tlau pode levar uma

    e x is t én c i a i n de p en d e n t e, a in d a

    que

    extremamente

    m o de s ta . C on s a gr av a 0

    essencia l

    de

    seus

    recursos

    a

    aquisigao

    de

    arquivos

    e as

    viagens

    ao

    estran-

    ge iro pa ra pesquisas em

    bibl iotecas

    e c on t a to c om os prin-

    cipais militantes do movimento.

    Em su a

    correspondénc ia ,

    informa-nos

    qu e el e

    proprio se

    encarregava

    das ma is

    hu-

    mildes tarefas domésticasz

    Meu

    modo

    de

    vida nao

    ultrapassa

    0 nivel

    minirno, minhas

    relagoes

    com

    0

    exterior reduzem-se as compras na

    charcutaria e

    na

    padaria,

    e a chegada do carteiro

    trazendo-me

    meu

    alimento espiritual

    so b

    forma de

    jornais

    e cartas.

    Afeito ao

    estudo

    de

    linguas

    es t range i ras , tornou-se

    um

    poliglota e dominou quase todas a s linguas europé ias cu jo

    conhec imen to era-lhe i nd ispensave l

    para

    suas pesquisas.

    Embora n ao fosse um homem de

    agao,

    n ao hesitava

    em emitir sua opiniao:

    Nunca participei do

    movimento

    de

    forga

    ativa, a nao ser por meio

    de

    artigos

    n os quais

    exprimi

    minhas opinioes.

    Minha

    vida

    foi in-

    teiramente consagrada a historia do movimento e todas as minhas

    opinioes

    encontram-se em meus escritos.

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    9/105

    1

    INTRODUQAO

    Entretanto, isso n ao o impedia de

    conduzir

    su a tarefa

    de

    historiador

    com

    uma imparcialidade

    e uma

    honest i -

    dade

    inalteraveis:

    ele

    so apresentava

    fatos e conclusoes

    embasadas, esclarecidas n os minimos detalhes do s quais

    sabia descobr ir a importancia.

    N u n c a

    considerava

    qua l -

    quer uma

    de

    suas

    obras

    concluida. Nunca

    deixou

    de

    completa-las

    e

    enriquecé-las

    a

    luz

    de

    novos documen-

    tos.

    Apenas uma parte

    de

    seus manuscritos foi eclitada

    enquan to estava vivo, pois

    poucos

    editores acei tavam

    assumir

    riscos, e

    muitos

    desses manuscritos

    ainda hoje

    permanecem

    inéditos.

    O

    ardor de Nettlau

    pelo trabalho

    era

    completamente desinteressado e jamais fraquejou

    malgrado a s

    vicissitudes e

    a s

    decepgoes

    que sofreu.

    Suas qualidades afetivas eram tao

    extraordinarias

    quanto

    aquelas

    de

    se u

    espir i to. Abateu-se

    sucess ivamente

    p e la i n st au r ag a o do fasc ismo em

    1925,

    do naz i smo em

    1955,

    pela

    derrota

    da republica espanho la em

    1959

    e pela

    1'11tima

    guerra

    mundial — 0 que m e n c io n a em uma carta

    de 1 955 como

    uma

    “seq i iénc ia ininterrupta de

    enfermi-

    clades

    causadas

    pelo

    horrivel envenenamento moral da

    humanidade desde 1914.”. A angost ia

    era

    sempre tem-

    perada pela fé no advento futuro do

    anarquismo. Dizia:

    “Trazemos

    em

    nossas ent ranhas 0

    século

    XIX. Ninguérn

    pode

    roubar-nos o

    passado

    nem

    0s

    sonhos

    de futuro”.

    Ascético e

    filosofo,

    sua aparéncia

    poderia

    fazer

    crer

    que

    se tratava de insensibilidade. Se u horror pela

    injustiga

    e pela violéncia era

    tal

    que ele nunca

    relia

    os

    relatos de

    guerra e de massacres:

    “Suportar

    isso uma vez

    me basta”.

    As manifestagoes desleais de

    anirnosidade

    revoltavam-no.

    Sem jamais renunciar a suas opinioes, defendia-as com

    tato e

    respeitava

    as

    opinioes

    inspiradas por intengoes ho-

    nes tas e sinceras.

    “Aquele que ataca

    a

    honra

    de um

    ho-

    mem

    prova

    ape nas

    que

    falta

    a

    s i

    mesmo

    o

    senso

    de

    honra

    e

    ignora

    o que é a

    dignidade humana.”

    FRANK

    MINTZ

    A

    profundidade

    de suas convicgoes aliada a uma como-

    ven te

    del icadeza de

    sen t imen tos fe z

    c om q ue esse homem

    solitario, sem familia, se sentisse

    unido

    no plano

    espiri-

    tual e afetivo

    as

    grandes figuras do passado anarquista.

    Acontecia-lhe

    de contar com ternura e humor anedotas

    da

    vida

    de

    Bakunin

    ou

    de

    Reclus, como

    se se

    tratasse

    de

    parentes

    proximos.

    U s libertarios

    de

    su a época com

    os

    quais tinha

    mais

    afinidades eram

    os da Espanha. Todo ano ia ao encontro

    desses

    camaradas espanhois a quem amava e admirava:

    Aqueles que, como e u , s ae m

    do deserto d os p a ise s europeus,

    sentem-

    se na Espanha como em uma

    floresta

    jovem e verdejante, n o meio

    de

    um povo que

    ainda

    nao esqueceu a liberdade e a digni1

    ad e

    humana

    (Carta da primavera

    de

    1952).

    O s

    camaradas espanhois

    viam-no

    como

    um

    de

    seus

    de-

    fensores m a is f ié is

    até

    o

    tragico

    advent0.5

    Nettlau

    langou

    apelos a todos o s

    seus

    amigos da Europa

    e

    da América para

    que

    divulgassem

    0 heroico passado do

    movimento

    opera-

    rio espanhol, as

    causas

    e as realidades da guerra

    civil

    e

    a

    urgéncia

    de uma

    ajuda

    ao s combatentes

    republicanos.

    Conservou

    esperangas

    até 0 ultimo momento, e os m e s e s

    terriveis

    que precederam a queda

    de

    Barcelona

    e de Ma-

    dri foram os mais

    arnargos de

    su a vida.

    Como

    fora trabalhar, em

    1958,

    no

    Instituto

    de

    Histo-

    ria Social de

    Ams te rda ,

    foi obr igado pelos acon tec imen -

    tos a pe rmanece r n a c id ad e.

    Muitos

    de seus documen tos

    ainda se encontravam em Viena, e a senhora A.

    Adam

    van Scheltema-Kleefstra, bibliotecaria do Instituto, foi

    de

    aviao

    a

    Austria

    e

    conseguiu,

    com a ajuda da

    Embaixada

    da Holanda, leva-los

    para Nettlau. F0 1 ela quem assistiu

    o velho

    homem

    até su a morte;

    Rocker inforrnou,

    em uma

    5

    A tornada do poder pelo general F. Franco em

    outubro

    de 1956

    (N.

    do

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    10/105

    I N T R O D U Q A O

    16 carta de 194.5, detalhes de

    su a

    vida em

    Amsterda

    e de

    su a

    morte, causada por um tumor, ocorr ida em 25 de julho de

    a

    Zgdgg aqugleg

    qug

    gg inferggsam pela

    1 9 4 4 -

    historia

    das idéias libertdrias

    S E E S T A E X P O S IQ Z O

    sumar ia do livro

    que

    l er ei s m o s t ra

    a

    extensao do tema e se m duvida a importancia da con-

    servagao

    do material, tanto em

    seu estado

    original,

    sob

    uma forma acess iv e l ( co legoes de impressos e documen -

    tos),

    como

    por um a

    descrigao

    minuciosa ,

    embasada em

    uma quantidade de materiais originais e o ut ra s f on t e s

    (tradigoes

    ou recordagoes coletadas ou

    vividas), entao

    tal-

    vez, meu esforgo

    nesse

    c am p o m e r e ga

    uma nota

    bibliogra-

    f ica.

    AHistéria geral

    da s i dé ias ana rqu is tas compreende

    os

    seguin tes

    volumes

    impressos:

    1 . Der Hnfriihling der

    Anarchie,

    Berlim, Der Syndi-

    cal is t,

    1925,

    255 pagi nas.

    2.

    Der./filrzarchismus van Proudhon zu Kropotkin (I859-

    1880),

    idem,

    1927, 512

    paginas.

    5. Anarclzisten

    und Socialrevolutioniire (I880-I886),

    idem, 1851, 4.09 paginas.

    E

    q u at ro v olu m e s m a n u sc rito s inéditos de

    Die

    erste

    Bliitezeit

    der

    Anarchie

    (1886-1894,)

    e outros volumes, seis

    aprox imadamente , semelhan tes ao volume de 1951.

    Se-

    ria p rec iso ac rescen ta r um

    sup lemen to

    con tendo inume-

    ras adigoes e corregoes aos trés

    livros

    impressos.

    Em

    relagao

    a

    temas h is tor icos pa r ti cu la r es ,

    deve-se

    acrescentar:

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    11/105

    POSTSCRIPTUM

    M

    AX

    NETTLAU

    1 '

    Bibliogmphie

    de Z1/inarchie’

    prefécio de

    Ehsée

    Re’ 1 .

    Supplémenta

    la biographie

    de

    Bakounine, escrito

    en-

    clus, Buxelas, 1897,

    X1—294 paginas.

    2. Mikhael

    Bakunin; eine Biographie, Londres, 1896-

    1 9 0 0 , 5

    volumes

    in-folio,

    policopiados

    em

    50 exem-

    plares.

    5.

    Michael Bakunim eine biographische

    Shizze,

    Ber-

    lim, 1901, 64. paginas, epilogo de Gustav Landauer.

    Tradugao espanhola: Miguel

    Bakunin.

    Un esbozo

    biografico,

    Mexico,

    1925, 52 péginas.

    Podemos encontrar um outro resumo e outros escritos

    relativos a Bakunin

    na

    edigao

    da s

    @'uvres (Paris, 1895 ,

    XI-

    527 péginas in-18) e nos prefécios histéricos

    as

    Obras,

    em

    5

    tomos,

    Buenos

    Aires,

    La

    Protesta,

    1925-1929

    e

    para

    um

    dos

    textos inéditos

    de

    Bakunin

    em

    La

    Société Nouve l le ,

    B ruxe las , 1894-1896 .

    1 . Bakunin e l’Internazionale

    in

    Italia dal 1864 al 1872,

    prefacio de Errico Malatesta, Genebra,

    Risveglio,

    1929 , XXXI-597 paginas.

    2.

    Miguel Bakunin, la Internacionaly

    la

    Alianza en

    Espafia (1868-1872), Buenos

    Aires,

    La

    Protesta,

    1925,

    15 2

    paginas

    (reedigao

    em

    1 9 7 7 ) .

    5.

    Documentos inéditos sobre la Inzernacionaly la

    Ali-

    anza en

    Espafia,

    Buenos Aires,

    La

    Protesta, 1950,

    ,

    .

    210 pagnas.

    Eu redigi

    igualmente

    notas para a tradugfio francesa

    de

    Confessions

    (1851) de Bakunin (Paris, Rieder, 1952) e

    tarnbém

    escrevi muito sobre 0

    verdadeiro

    caréter desse

    documen to desde

    1921.

    Também tenho em

    manuscritos inéditosz

    tre 1 9 0 5 e

    1905 , 4

    volumes in-folio que

    re1 '1nem

    0s

    novos

    materiais

    (nao destinados 2 1

    publicagao).

    Michael

    Bakunin;

    eine

    Biographie,

    manuscrito iné-

    dito

    de

    1924-1927,

    levando em conta docurnentos

    entiio acessive is, que é urn resumo da biografia

    de

    1896-1900

    e

    de Supplement. Ele comporta 4 .

    v0-

    lumes

    de aproximadamente 550 paginas cada

    um,

    que, em caso de publicagao, seriam aumentados

    co m rnater ia is

    que

    possuo.

    Michel

    Bakounine, em

    francés, 1955 ,

    longo volume

    inédito.

    Avida de Malazes ta ,

    em edigfio

    italiana

    ( N o v a Y or k ,

    1922); a le m a ( m ais c om p le ta , Berlim, Der

    Synd i-

    calist,

    1922,

    17 7 péginas ) ; espanhola, igualmente

    aumentada

    (Buenos

    Aires, La

    Protesta,

    1925 , 264

    paginas).

    p rec iso ac rescen ta r art igos escritos

    em

    1952 apés a

    morte

    de Malatesta, do s quais dois pu-

    blieados

    em La Revista Blanca

    foram

    impressos em

    livro (texto

    revisto

    e prélogo de Federica Montseny,

    Barcelona, 19 55, 4.8 péginas). Esta 1'1l t ima obra

    completa e corrige as

    edigfies

    de 1 922

    e

    de

    1925.

    Elisée Reclus,

    Anarchist und

    Gelehter

    (Berlim, Der

    Syndicalist, 1928,

    545 péginas)

    tradugio espanhola

    Eliseo

    Reclus: La vida

    de un

    sabio justo y rebelde,

    Barcelona, Revista Blanca, 2 volumes,

    1928

    e

    1 929 ,

    294. e

    51 2 paginas.

    Reimpressao de

    Jours

    d’exil de Ernest

    Coeurderoy

    (1854.-1855)

    com

    uma

    biografia

    (Paris,

    1910-1911 ,

    5 volumes), bem como

    estudos

    biograficos

    e

    outros

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    12/105

    201

    PO S T S CRIPTUM

    documen tos

    historicos sobre

    o ana rqu i smo ern pe-

    riodicos

    e revistas

    como Freiheit, Freedom,

    Société

    Nouvelle, Dohumente

    de s Sozialismus, Archiv

    filr

    die Geschichte

    de s

    Sozialismus und

    der

    Arbe i tbewe—

    gang,

    Suplemento de

    la

    Protesta, La

    Revista

    Blanca

    etc.

    Tenho em manuscrito

    A

    histéria

    da

    Internacional

    e

    da Federagdo do s Trabalhadores da Regizio espanhola, de

    1868 a 1889, um volume de aproximadamente

    450

    pagi-

    n as im p re ss as , q u e dever ia

    se r

    revisto

    e

    t a lv e z r e e sc r it o

    em caso de

    publicagao.

    Ha

    também textos inéditos

    de

    Bakunin, em parte co-

    p iados , como os m a i s a n t ig os f ragrnentos

    conservados de

    1865;

    0s

    originais

    do s

    textos

    de

    1866

    publicados em

    ale-

    m ao em Gesammel te

    Pfizrke,

    Berlim, Der

    Syndikalist,

    5

    vo lumes ,

    dos

    q u ais c om p u s

    0

    terceiro (1924); escritos

    de

    1871-1872

    contra

    Mazzini; os escritos ao s jurassianos, a

    Lorenzo e a

    outros

    dos

    mesmos

    anos.

    Enfim, ha

    inumeras cartas da

    correspondéncia

    dos

    anarquistas alemaes J . Most e

    J .

    Neve preparadas para

    uma edigao comentada. Ha

    igualmente

    um longo

    traba-

    lho sob re ce rt as

    partes

    da historia das sociedades secretas

    apos

    1850

    at é

    a

    época

    de

    Bakunin. Enfim,

    ha

    uma

    g rande

    quantidade de documentos, cartas e souvenirs que me

    foram confiados, que poderiam esclarecer certas

    partes

    da

    historia socialista

    e

    anarqu is ta , se

    m e

    fosse

    possivel

    prepara- los e

    edita-los.

    Este volume foi editado

    gragas ao

    trabalho apaixonado

    de Renée Lambéret (Max Nettlau,

    La

    Premiere Interna-

    tionale en Espagne [1868-I888],

    Dordrecht,

    Reidel, 1 9 6 9 ,

    XXV I I — 6 8 5 paginas; quadros e mapas). Nessas

    condigoes,

    m e s m o

    n a

    situagao

    atual

    em

    que

    tenho

    acesso

    a s

    grandes

    bibliotecas de outros paises, e enquanto os velhos camara-

    MAX NETTLAU

    das

    mais

    be m informados morrem quase

    tod os ( se m q ue

    1

    eu possa coletar

    suas

    recordagfies

    e

    exp licagoes), nao m e

    falta d oc ur n e n ta ga o. P ud e publicar, principalmente gra-

    ga s

    as

    editoras Der Syndicalist, La Protesta, La Revista

    Blanca

    e

    IlRisveglio,

    de

    1922 a 1951,

    um bom

    numero

    de

    publicagoes

    e

    vo lumes .

    Mas agora, desde 1951, as possibilidades de edigfies de

    historia parecem desaparecer.

    Penso que, objet ivamente,

    é lamentavel,

    pois

    aqueles dentre

    meus

    amigos e nos-

    s o s

    camaradas

    que

    m e ajudaram durante longos anos a

    documentar-me, fizeram-no

    em grande

    parte, e

    ainda

    0

    fazem,

    estando

    convictos de que todos esses materiais ser-

    virdo para conservar

    a

    historia

    da

    anarquia depurada

    das

    inexatidoes

    e

    ponderadamente apresentada, elevando-se 0

    rndximo

    possivel

    acima da

    lenda, da

    retorica e

    do s

    concei-

    tos

    superfic ia is.

    Nem todos,

    se m d1'1vida, p reci sa rn conhe-

    ce r todos os detalhes que,

    de

    resto, a falta

    de espago

    sem-

    pre m e obrigou a reduzir muito. M as esse n ao é um m o-

    tivo para estimular, ou impor, uma caréncia que faria com

    que

    n os

    con te n ta ssemos semp re corn lendas e retor ica, en -

    quanto

    outra

    facgao

    que

    reivindica um passado

    historico

    fa z muito para

    aprofunda-lo.

    N e s te c am p o, 0 social ismo

    antigo

    e

    moderno

    ja esta explorado em

    proporgoes que

    quase

    todos

    ignoramos .

    M as

    con fo r rne

    sabemos,

    nessa

    imensa literatura

    social ista,

    a

    anarqu ia pesa

    sempre

    como

    uma aberragao, como um

    rarno

    morto, como 0 nada,

    do

    qual e s s e s autores anunciam amiude 0 comple to

    desapa-

    recimento e 0 triunfo integral se ja de seu bolchevismo,

    s eja de s eu reformisrno

    estatis ta-capita1is ta-social is ta. Eis

    o que dizia e diz a enorme propaganda do s autoritarios,

    que

    ja

    nao podemos

    ignorar

    assim como nao podem fazé-

    lo os livres-pensadores em

    relagao

    a

    imensa

    propaganda

    clerical.

    Aqueles que

    se

    interessam

    pela historia e olham

    para 0 passado

    poderao se

    dar conta

    do

    trabalho

    quefoi

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    13/105

    22|

    POSTSCRIPTUM

    necessario

    para salvar

    a mernéria de Bakunin

    e

    daAlianga

    de todas as pervers6es

    e

    falsidades marzistas.

    Enfim,

    de-

    fendo

    aqui

    uma

    causa

    que

    nenhum

    do s

    inumeros

    militan-

    te s

    que

    conheci contestou,

    e que

    encontraria,

    certamente,

    um

    apoio mais

    amplo se nossos meios de

    agao

    nao fossem

    tao

    limitados.

    Censuraram-me algumas

    vezes

    por ter escrito esses vo-

    lumes

    em alemao,

    que é a minha lingua materna. Eu os

    publiquei em alemao porque 0s camaradas de

    Der

    Syn-

    dicalist de Berlim

    foram

    em 1922 e 1924 os unicos na

    Europa que

    me

    ofereceram a

    possibilidade de publicar

    tais livros de

    historia

    e que 0 fizerarn. I sso nao impediu

    os

    camaradas

    Santillan

    e Qrobon

    Fernandez,

    que

    apren-

    deram essa lingua,

    de

    traduzir uma

    parte dessas obras:

    As

    vidas

    de

    Malatesta,

    de

    Elisée Reclus

    e

    varios

    capitu-

    los

    dos

    vo lumes h is tor icos. .. e

    a s

    editoras

    La

    Protesta

    e

    La R e v i s ta B la n c a sempre

    m e

    possibilitaram falar de his-

    toria em

    suas

    p ub li ca go es . V a r io s c am a r ad as

    de

    llngua

    italiana,

    o dr. Paolo Flores,

    Malatesta

    e

    Bertoni

    torna-

    ram

    possivel

    a edigao italiana do

    livro

    sobre Bakunin

    na

    ltalia (1928).

    Anteriormente, Elisée

    Beclus

    levou-me

    a

    publicar 0

    volume Oeuvres

    de Bakunin

    (1895)

    e

    a

    Biblio-

    graphie

    de

    l’Anarchie

    (1897).

    Foi

    para o

    periodico

    que vi-

    veu

    muito

    pouco

    tempo

    L’Ide'e

    anarchiste (Paris,

    por volta

    de 1925) que escrevi o primeiro texto muito breve do s vo-

    lumes historicos, esbogo rapidamente

    aumentado

    para o

    Suplemento de La

    Protesta,

    texto

    bastante

    extenso que La

    Revista Blanca

    reimprimiu.

    Se em

    1925 ou

    1924 me tives-

    sem

    proposto publicar esses

    volumes

    em francés

    ou

    em

    inglés,

    eu

    teria escrito

    nessas

    linguas todas as obras.

    Mas

    nunca alguém pensou

    nisso;

    nenhuma tradugao foi feita

    (salvo em espanhol)

    e nao é

    a mim que se deve censu-

    rar

    por

    nao

    terem

    sido publicadas outras tradugoes dessas

    obras.

    Eu sempre disse

    que para

    qualquer

    tradugao eu

    MAX NETTLAU

    revisaria e aumentaria

    os

    volumes, assim como

    fiz

    para

    as biografias de Malatesta e de

    Beclus n as

    edigoes

    espa-

    nholas.

    O que

    eu

    poderia fazer além disso?

    Mas

    faltou a

    geragao

    desses anos o interesse, que

    nao

    vejo em

    nenhum

    lugar, exceto nos meios de lingua

    espanhola

    e naqueles

    (completamente

    paralisados

    desde

    1955)

    de

    lingua

    alema.

    Com

    freqiiéncia

    fiz a sugestao a camaradas de

    diferen-

    te s

    paises para que eles e seus grupos

    tornassem

    possivel

    a

    publicagao do s volumes

    inéditos

    subscrevendo

    um nu-

    mero

    de exemplares do s livros em

    alemao,

    que

    eles

    incor-

    porariam n as

    bibliotecas. lsso teria

    incitado

    os

    editores

    alemaes para acelerar a publicagao desses livros. Nada foi

    feito e,

    assim,

    todos os livros nao-vendidos

    foram

    confisca-

    do s em 1955 em Berlim,

    impossibilitando

    que

    fossem

    en-

    contrados

    no

    estrangeiro.

    solugao

    satisfatoria

    ver

    tudo

    desaparecer e n ao s e ocupar de

    nada?

    N 50

    posso

    mudar

    nada disso; penso apenas

    em

    um

    pequeno

    detalhe

    que

    m e

    da prazer: é

    que Malates ta ,

    que

    conhecia 0 inglés,

    teve

    0

    trabalho

    de familiarizar-se

    com

    a

    leitura

    do alemao e

    pode

    ler

    esses

    volumes

    de historia, conforme me contou por es -

    crito. Esse esforgo seria impossivel

    aos mais

    jovens e

    nao

    a ele? Quantos idiornas

    tive

    de consultar para

    reunir

    os

    materiais

    dessa

    historia verdadeiramente internacional?

    N50 se i realmente

    o

    que

    fazer

    com todo

    esse material,

    e s s e s m a n u s c r it os a in d a i nacabados que

    s e

    esforgam para

    conservar a historia

    da s idéias

    anarquistas, tarefa

    que

    in-

    teressava ainda

    em 1924, mas em

    1954 nao

    vejo

    nada

    de

    semelhante. Em 1954

    os camaradas

    da

    “Guilda

    de

    Ami-

    go s del

    Lbro”

    na

    Espanha tornaram

    possivel

    a publicagao

    deste

    resumo — escrito de inicio para La Protesta de

    Bue-

    nos Aires — e agradego-lhes por

    seu

    corajoso esforgo.

    Barcelona, 6

    de julho

    de 1 954

    e 25

    de maio d e 1 955 .

    23

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    14/105

    H I S T ( ' ) R I A D A

    A N A R Q U I A

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    15/105

    aw

    A S C O N C E P Q O E S 1

    L I B E R T A R I A S

    A T E 1789

    UMA

    HISTOR IA

    da

    idéia anarquista é inseparavel da histo-

    ria

    de todas as

    evolugoes

    progressivas e da s

    aspiragoes

    a

    liberdade. preciso, pois, procurar estudar 0 momento

    historico favoravel em

    que

    surge essa

    consciéncia

    de

    uma

    existéncia livre pregada pelos anarquistas, cuja garantia

    so intervém apos a supressao

    completa

    do s fundamentos

    autoritarios, e so b a condigao de que,

    paralelamente,

    os

    sen t imen tos sociais de so l idar iedade, rec iproc idade,

    abne-

    gagao e tc .,

    tenham

    s e

    desenvo lv ido 0

    su f ic ien te , adqui-

    rindo a mais

    ampla expansfio.

    Essa consc iénc ia

    man i fes ta-se

    de d if e ren t e s mane i r a s

    na

    vida

    individual

    e

    na

    vida coletiva do s individuos e do s

    grupos, e em primeiro lugar na familia, sem a qual a

    coexis téncia

    humana

    n ao

    teria

    s ido possivel . A o m esm o

    tempo, a autoridade-radicional,

    habitual,

    legal, arbitra-

    ria.

    .. -, quando a humanizagao

    do s

    animais

    que

    forma-

    vam

    a

    espécie

    humana

    real izou-se,

    exerceu

    su a

    influen-

    cia

    sobre inumeras

    inter-relagoes

    -prova de uma anima-

    lidade a inda

    mais

    ant iga -,

    e

    de

    tal modo que a

    marcha

    rumo ao progresso,

    que prossegue com seguranga

    ao

    longo

    dos

    séculos, foi e é uma luta

    continua

    para destruir as ca -

    deias

    e os obstaculos autoritarios.

    Essa luta teve vic iss i tudes t ao d ive rsas , e la é ta o

    dura

    e

    ta o cruel, que

    relativarnente poucos

    h om e n s c o n s eg u ir am

    alcangar uma consc iénc ia anarqu is ta

    tal

    como a descreve-

    mos.

    Esses

    mesmos que

    combateram por

    liberdades

    limi-

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    16/105

    2s|

    A S c o N c E 1 > g o E s L IB E R T A R I A S A r i i z 1 7 89

    tadas compreenderam

    rara

    e insuficientemente

    sua essen -

    cia, pois

    tentaram conciliar

    a nova liberdade

    com a ma-

    nu tencao

    da ant iga auto r idade, seja

    pe rmanecendo

    pro-

    ximos do autoritarismo,

    seja

    considerando a autoridade

    util, porque ela poderia defender essa nova liberdade. Na

    época

    atual ,

    eles

    sao

    partidarios

    da

    liberdade constituci0-

    nal ou democratica, isto é, de uma liberdade sob controle

    governamental.

    Por outro lado, no

    plano

    social,

    esse erro

    engendrou o culto do Estado social,

    quer

    dizer,

    urn

    socia-

    lismo imposto

    e,

    assim,

    desprovido

    de tudo

    0

    que,

    segundo

    os anarquistas, constitui su a verdadeira vitalidade; solida-

    riedade,

    reciprocidade, generosidade,

    que florescem

    ape-

    n as

    num mundo libertario.

    Outrora,

    a dorn inagao

    da autor idade

    foi geral , e os e s-

    forgos

    ambiguos, complexos

    (a

    liberdade

    através

    da

    au-

    toridade) foram r ar os m a s con t inuos , e

    uma consc iénc ia

    anarqu is ta parcial, e até m e s m o c om p le ta , deve ter sido

    muito rara ,

    seja

    porque exigia condigoes

    favoraveis

    para

    n asce r, se ja porque

    foi

    imp iedosamente perseguida

    e eli-

    minada pela forga

    ou bem

    usada

    e absorvida

    pela

    rotina.

    Entretanto,

    se, da promiscu idade tribal

    chegou-se a

    uma

    vida individual

    relativamente respeitada,

    nao

    foi

    apenas

    gragas a s causas economicas,

    foi

    também

    0 primeiro

    passo

    de uma

    evolugao

    d o e st ad o de tutela rumo

    a

    emanc ipa -

    950,

    e

    os homens da

    antigiiidade caminharam para

    isso,

    co m

    sen t imen tos

    semelhan tes

    aqueles que

    encon t ramos

    n o ant ies ta t ismo dos

    homens

    de hoje. A desobediénc ia, a

    desconfianga

    da

    tirania

    e a rebeliao levaram muitos

    indi-

    viduos enérgicos

    a

    se

    dar

    uma i ndependénc ia

    que

    soube-

    ram

    de fende r

    e pela

    qua l

    morreram. O u t ros consegu iram

    subtrair-se a autoridade por

    sua

    inteligéncia,

    por suas

    ca -

    pacidades e

    seus dons pessoais ,

    e se , em urn certo periodo,

    os homens passaram

    da

    nao-propriedade

    (livre a ce ss o a to-

    dos)

    e

    da

    propriedade cole t iva

    (d a

    tribo

    ou

    dos

    habitantes

    \

    MAX NETTLAU

    de um m e s m o lugar) a propr iedade privada,

    eles

    n ao fo -

    ram

    apenas levados

    a isso pela cupidez

    mas

    também pela

    necessidade

    e pela

    vontade

    de assegurar-se

    s ua

    indepen-

    déncia.

    O s

    pensadores anarqu is tas comple tos ,

    s e eles existirarn

    no

    passado,

    sao-nos

    desconhecidos.

    Todavia,

    é

    caracteris-

    tico que todas as

    mitologias

    tenham

    conservado

    a lem-

    branga de revol tas

    e,

    inclusive,

    de

    lu tas n u n c a acabadas

    de uma raga rebelde cont ra os deuses mais poderosos. D os

    Titas, que

    assaltaram 0

    Olimpo, a Prometeu, que

    desa-

    fiou Zeus,

    da s forgas

    misteriosas que,

    na

    mitologia e sc an -

    d inava , p rovocaram 0

    “crepiisculos dos

    deuses”, ao diabo

    — esse

    Lucifer

    rebelde que Bakunin tanto respeitava —

    que,

    n a mitologia c ris ta , n u n c a

    cede

    e s e m p re c om b a te

    0

    bom

    Deus em

    cada

    individuo. Se

    os

    padres, que

    rema-

    ne javam essas narrativas tendenc iosas

    por

    i n te re sses con -

    se rvadores, nao

    silenciaram

    em relagao a esses atentados

    perigosos para a onipoténcia

    de seus deuses ,

    é porque os

    exemplos

    contidos nessas narrativas deviam estar

    ta o

    en -

    ra izados

    n a

    alma popular que eles

    n ao ousaram oculta-los .

    Con ten taram-se

    em

    desnaturar os

    fatos

    ultrajando

    os

    re -

    b el de s , o u,

    entao,

    limitaram-se, em

    seguida, a

    propagar

    i n te rp re tagoes fan tas ti cas pa ra

    intimidar

    os

    cren tes .

    A

    mi-

    tologia

    crista

    apresentou particularmente as idéias

    de

    pe-

    cado original,

    queda do

    homem,

    redengao

    e juizo final:

    a

    consagragao

    e a apologia

    da

    escravidao

    dos

    homens e

    das prerrogat ivas dos

    padres

    como

    mediadores , e o deslo-

    camen to

    das

    reivindicagoes

    da

    jus t iga

    ao ultimo momento

    imaginavel:

    ao

    fim do

    m un do. c laro que, se

    n ao

    t ives-

    sem sempre existido rebeldes

    audaciosos

    e

    heréticos

    inte-

    l igen tes , os p ad re s n a o teriarn

    s e

    obrigado a tal

    esforgo.

    N os tempos

    idos,

    a luta pe la ex is ténc ia e 0 apoio mu-

    tuo

    estavam t a lve z es t re i tamen te l igados.

    O

    que é 0 apoio

    mutuo

    senao a luta

    pela

    existéncia coletiva, protegendo

    9

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    17/105

    3

    A S

    C O N C E P Q O E S

    L I B E R T A R I A S

    A T 1 5 : 1 7 89

    uma coletividade do s perigos que esmagaria os isolados?

    O que é a luta pela vida se nao

    um

    individuo que

    detém

    forga e capacidades superiores a s de um outro?

    O

    pro-

    gresso

    desenvolve-se gragas

    a

    autonomia nascida numa

    atmosfera social

    relativamente

    segura

    e

    elevada. O s

    gran-

    de s

    despotismos

    orientais

    nao

    permitiram

    autenticos

    pro-

    gressos intelectuais,

    ao

    passo que na ambiencia do mundo

    grego, onde

    existiam

    autonomias

    locais, deu-se o primeiro

    desenvolvimento

    do

    pensamento

    livre

    que conheciamos,

    a filosofia grega, que pede, no transcurso do s séculos, ter

    conhec imen to do

    pensamen to

    de

    alguns

    autores

    hindus e

    chineses,

    e fazer

    antes

    de tudo uma obra de independen-

    cia.

    Em

    seguida, os romanos, avidos

    por se

    instruirem n as

    fontes

    da

    civilizagao grega, nao

    puderam compreende-la

    e

    continua-Ia,

    e

    m e n o s

    ainda

    o

    mundo

    inculto

    dos

    séculos

    medievais.

    O

    que

    s e

    denominoufilosofia foi um

    conjunto de

    consi-

    deragfies i n dependen tes

    ao maximo da

    t radigao

    re l ig iosa,

    conquanto feitas por

    individuos

    formados por ela, e ex-

    traidas

    da s observagoes mais diretas,

    da s

    quais algumas

    decorrem

    da

    experiencia.

    Tratava-se,

    por exemplo, de re-

    f lexoes sobre a

    origem

    e a

    esséncia dos

    m u n d o s e

    das

    coi-

    s a s (cosrnogonia); o cornpor tamento do individuo

    e

    suas

    aspiragoes

    superiores

    (moral); a conduta colet iva civica e

    social

    (politica

    social); um mundo melhor e os meios de

    realiza-lo (0 ideal f i losofico,

    que

    é uma utopia decorren te

    das concepgoes

    que os

    pensadores

    s e f izerarn

    do

    passado,

    do

    presen te

    e do sen t ido da evolugao sobre a qual tinham

    meditado ou q ue

    consideravarn

    util e desejavel).

    As religifies tinham se formado antes de modo

    apro-

    ximadamente semelhante, embora em condigfies gerais

    mais

    prirnitivas, e

    a teocracia do s sacerdotes, assim como o

    despotismo do s reis

    e

    do s chefes, derivava

    de urn processo

    analogo. O povo grego -do continente e da s ilhas -que

    MAX

    NETTLAU

    se

    mantinha afastado

    do

    despotismo do s povos

    vizinhos,

    criando

    uma vida social, autonomias

    e

    federagoes,

    e ali-

    mentando

    alguns pequenos

    f ocos de

    cultura,

    também pro-

    duziu

    f i losofos

    que s e elevaram

    n o

    passado,

    buscaram

    se r

    1'1teis a

    suas pequenas

    patrias

    republicanas,

    e conceberam

    sonhos

    de

    progresso

    e felicidade universal

    (sem,

    evidente-

    m e n t e , a rr is c ar -s e o u tentar lutar

    cont ra

    a esc ravidao ex is-

    ten te : o que demonst ra 0 quan to é

    dificil

    elevar-se ac ima

    de s eu

    proprio

    meio).

    Dessa época datarn o governamentalismo

    deforma

    apa-

    rentemente mais rnoderna e a

    politica

    que

    assumiram

    o

    lugar do

    despotismo

    de tipo asiatico

    e

    do arbitrario, se m

    contudo substitui-los totalmente.

    Foi urn

    progresso seme-

    lhante aquele

    da

    Revolugao

    Francesa

    e aquele do século

    X IX

    em

    relagao

    ao

    absolut ismo

    do século XVI I I ,

    que

    susci-

    to u

    o social ismo integral e a concepgao anarqu is ta .

    A0

    lado

    da

    massa

    dos f i losofos

    e

    dos

    homens

    de

    Estado gregos

    moderados e conservadores, existiram

    pensadores

    intrépi-

    do s que ja conceberam naquele momento idéias socialis-

    ta s comple tas ou

    idéias anarqu is tas ,

    0

    que

    foi cer tamente

    0 c as o para uma minoria dentre eles . Esses homens

    deixa-

    ram uma influencia

    que

    a historia n ao pode apagar, ainda

    que as rivalidades de escolas , as perseguigoes e a

    negli-

    genc ia

    da s

    geragoes

    tenham

    feito

    desaparecer

    seus

    escritos.

    Res tam-nos

    deles

    sobretudo

    citagoes

    que

    os

    fazem

    autores

    mais conhecidos.

    Nessas pequenas republ icas

    sempre

    ameagadas, po r

    sua

    vez ,

    ambiciosas

    e

    agressivas,

    existia um profundo

    culto pelo civismo

    e

    pelo patriotismo.

    Por

    outro lado,

    houve

    lutas entre facgoes,

    a demagogia e a

    sede do poder

    que resultaram num

    co m u n i s m o

    muito sumar io .

    Isso pro-

    vocava

    em

    muitos

    uma aversao em relagao a democrac ia e

    o

    desejo

    de um governo constituido pelos mais prudentes,

    mais sabios,

    os

    anciaos, tal como sonhava Platao.

    Mas

    isso

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    18/105

    3

    A S

    coNcEPcoEs L I B E R T A R I A S A T E

    1 7 89

    também provocava uma aversao

    pelo Estado,

    Estado que

    se podia dispensar, assim como professava

    Aristipo. As

    idéias libertarias

    de

    Antifon e sobretudo a g ra n d e ob ra

    de Zenao

    (555—264

    a.C.),

    fundador

    da

    escola

    estoica,

    que

    excluia todo constrangimento externo e

    proclamava

    0

    impulso moral,

    proprio ao individuo,

    como

    regra

    de

    agao

    unica e suficiente para cada um e para a comun idade.

    Foi uma primeira e clara expressao

    da

    liberdade humana

    sentindo-se

    adulta

    e

    l iberando-se

    dos

    lagos autoritarios.

    E

    n ao

    devernos

    n os

    surp reender que esse trabalho tenha

    sido

    antes de tudo

    f reado

    pelas geragoes

    segu in tes , e em

    seguida tenha se perdido.

    Entretanto, assim

    como as religioes levaram as

    aspira-

    goes a jus t iga e a

    igualdade

    a um “céu” ficticio, os f i loso-

    fos

    e

    alguns

    juristas

    transmitiram 0

    ideal

    de

    urn

    direito

    verdadeiramente

    eqiiitativo embasado n as premissas

    for-

    muladas por Zenao e pelos

    estoicos.

    Foi 0 pretenso direito

    natural

    que, ac

    modo

    das concepgoes

    ideais da religiao —

    a religiao

    natural

    -, iluminou fracamente muitos séculos

    de crue ldade e ignorancia e cu jo esp lendo r

    ajudava os

    es -

    piritos. A

    tentativa

    de dar uma real idade

    a

    esses

    ideais

    abstratos

    foi

    a maior

    contribuigao que a idéia libertaria

    de u

    a humanidade. Esse ideal,

    ta o

    diametralmente oposto

    aquele

    de

    urn reinado

    sup remo

    e definitivo

    da

    autor idade,

    foi, em seguida,

    absorvido

    durante mais de dois mil anos,

    e

    p e rm a n e c e u e n r ai z ad o

    n o

    coragao de todo homem ho -

    nesto,

    perfeitamente

    consc ien te de que isso era necessar io,

    a despei to de se u

    cetic ismo,

    de su a

    ignorancia ou

    de sua

    oposigao

    a

    possibi l idade proxima de

    realizagao.

    Compreende-se

    facilmente por que a autor idade — Es -

    tado,

    propriedade,

    Igreja — impediu a

    divu lgagao dessas

    idéias, e sabe-se

    de

    que

    maneira

    a

    republ iea,

    0 Império

    r omano

    e a R o m a

    dos Papas,

    até 0

    século XV , impuseram

    ao mundo ocidental

    um

    fasc ismo intelectual absoluto, as -

    MAX NETTLAU

    s im como 0 despotismo oriental renascente entre os bi-

    zantinos e os turcos, e

    do

    mesmo modo 0 czarismo russo

    (0 qual,

    virtualmente, continua no bolchevismo). Ate o

    século X V , e, inclusive, depois (Servet, Bruno, Vanini),‘ o

    livre

    pensamento

    foi proibido

    so b

    pena

    de

    morte

    e so pode

    se r

    transmitido

    secretamente

    por

    alguns homens

    de

    cien-

    cia

    e

    seus d i sc ipu los , ta lvez n o circulo muito restrito de

    algumas sociedades

    secre tas. Ele

    so

    pode

    aparecer

    aber-

    tamente quando, no fanatismo e no misticismo

    da s seitas

    religiosas, nao

    causava

    mais nenhum

    temor, sendo

    levado

    ao

    sacrificio

    e

    sabendo-se consag rado ou s e consagrando

    alegremente a morte. As

    fontes

    autenticas

    foram cuida-

    dosamente destruidas, e so conhecemos isso pelos rela-

    tos

    dos

    delatores,

    dos

    difamadores e ,

    i nc lus ive , dos

    carras-

    cos.

    Assim,

    Carpocrates,

    da escola

    gnostica, preconizou,

    n o s éc u lo

    II ,

    n o Egito, um livre comun i smo ,

    e

    ate

    m e s m o

    a

    concepgao s u st en t ad a n o

    N o v o T e s ta rn e n t o

    (Paulo aos

    galatas):

    “se sois conduz idos

    pelo

    espirito,

    n ao

    estais em

    absoluto sob a lei” parece

    prestar-se

    a interpretagao de

    uma existencia fora do Estado,

    sem

    leis nem amos.’

    O s s eis

    ultimos

    sécu los da Idade

    Média foram a época

    das

    lutas pelas au tonom ias loca is (cidades e regioes de -

    sejando federar-se),

    m as também po r grandes

    territorios

    que foram

    unif icados

    em

    grandes Estados

    modernos , uni-

    dades

    politicas e

    economicas.

    Se as

    pequenas

    unidades

    fos-

    se m

    cent ros de

    civi l izagao e

    t ivessem podido prosperar

    a

    partir de

    seu

    trabalho produtivo, por

    federagoes

    servindo

    a

    seus

    in teresses e p e la r iq u e z a adquirida

    a s custas dos ter-

    ritorios agricolas

    pobres

    e da s cidades

    menos

    afortunadas,

    ‘ Michel Server

    (1511-1555),

    teologo

    e médico

    espanhol que intuiu

    a circu-

    lagao do sangue.

    Combateu o

    dogma da

    Trindade.

    Calvino

    rnandou queima-

    lo vivo em Genebra. (N. do O.)

    Ver

    0 artigo “Anarchie

    et

    Christianisme”

    de Jacques

    Ellul

    na revista

    Con-

    lrepoinl,

    1974. (N. do O.)

    | 2 s s

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    19/105

    3

    A S

    C O N C E P Q O E S L I B E R T A R I A S

    A T E 1789

    0 resultado

    final

    teria

    sido

    a

    consagragao dessas

    vantagens

    e a

    inferioridade

    crescente da s unidades desfavorecidas.

    Sera mais

    importante que

    a lgumas

    cidades livres

    -

    a is

    como

    Florenga, Veneza ,

    Genova ,

    Hamburgo, Nuremberg,

    B r e m e n ,

    G a n d , B ru ge s

    e outras

    -en r i quegam

    ou que

    as

    regioes

    inteiras

    onde

    e la s es tao

    si tuadas sejam

    beneficia-

    das

    do pon to de vista do bem-estar, da educagao etc? A

    historia,

    ao menos até 1919 ,

    decidiu

    no

    sentido

    da s

    gran-

    des

    un idades

    economic:-is, e as autonomias foram reduzi-

    da s

    ou se decompuseram. O autoritarismo e 0

    desejo

    de

    conquistas e dominagao

    eram

    evidentemente comuns as

    grandes

    e

    a s pequenas nagoes,

    e a liberdade

    servia

    de

    pre-

    texto: as primeiras

    impuseram

    o poder

    das cidades e

    de

    seus

    aliados ( l igas), a s segundas,

    o

    poder

    dos

    reis ou

    de

    seus

    Estados.

    Entretanto, m e s m o

    em tal

    situagao, as cidades

    favore-

    ceram, a s vezes,

    o

    pensamen to independents

    e a

    pesquisa

    cientifica, e permitiram

    aos

    dissidentes e

    aos heréticos

    ba -

    nidos de nelas encontrar um asilo momen taneo .

    sobre-

    tudo n as municipalidades

    romanas

    que s e encon t ravarn

    sobre

    as vias de t rafego comercial, e e m ou tr as

    cidades

    prosperas

    e

    numerosas naquele momento,

    que

    existiam

    focos dessa i ndependénc ia

    intelectual:

    de

    Valenc ia

    e Bar-

    celona

    até

    a Alta Italia e a Toscana, a Alsacia,

    a

    Suiga,

    a

    Aemanha do Sul

    e a

    Boemia;

    de Paris at é

    Bouches-du-

    R h o n e , F la n d r es , Paises

    Baixos

    ou 0 litoral ger rnan ico

    (a s

    cidades

    hanseat icas), tal foi a extensao

    de

    territorio seme-

    a do de foc os d e l iberdade.

    A supremac ia

    dos g randes Es ta -

    dos

    foi também determinada pelas

    guerras

    da

    Italia,

    pela

    c ruzada

    dos

    alb igenses e

    pela cen t ra l izagao

    real n a F r an g a ,

    principalmente sob

    Luis

    X I, pe la sup rernac ia de Castela n a

    Espanha,

    pela

    luta

    dos Estados cont ra

    as

    cidades

    do norte

    e do su l da

    Aemanha

    feita pelos duques

    de

    Borgonha.

    Entre as seitas cristas,

    é

    preciso

    mencionar particular-

    MAX NETTLAU

    mente aquelas dos

    “Irmaos

    e irmas do

    espirito

    livre”, cu -

    jos

    membros praticavarn um comunismo

    total.

    Forma-

    das provavelmente n a F ra n ga ,

    d e s tr u id a s p e la p e rs e g u i-

    9 50 , s u as tradigoes

    sobreviveram

    sobretudo na

    I-lolanda e

    em Flandres , e os Klornpdraggers n o

    século

    XVI , os adeptos

    de

    Eligius

    Praystinck, os

    “libertinos”

    de

    Antuérpia

    no

    sé-

    culo

    X V I

    (o s loistas) parecem derivar dessa primeira

    seita.

    Na Boemia, apos os discipulos de Huss, Peter Chelchicki

    pregou

    uma

    conduta moral

    e

    s oc ia l q u e se aproxima

    das

    teorias de

    Tolstoi. Ai

    tarnbém

    encontramos seitas

    de

    pra-

    t i can tes

    denom inados

    “libertinos

    diretos”, ent re

    os quais,

    sobretudo,

    os “adarnitas”. Conhecernos particularrnente

    alguns escritos

    de Chelchicki

    (cu jos adeptos mais

    modera-

    dos

    foram em

    segu ida conhec idos sob

    0 n o m e

    de “Irmaos

    moravios”).

    Mas

    os

    dados

    relativos as

    seitas

    mais

    avan§a-

    das

    limitam-se aos piores libelos redigidos pelos persegui -

    dores mais zelosos. E

    dificil,

    ou mesmo i rnpossi ve l ,

    saber

    em q ue medida se u desa fio langado aos Estados e a s

    leis

    foi

    um

    ato antiautoritario consciente,

    pois

    nao

    se

    deve esque-

    c er q ue essas seitas d izem-se

    autorizadas

    a agir em n o m e

    de D e u s , que é, por consequencia, se u senhor supremo.

    A

    Idade Média

    nao pode dar

    origem a um

    liberta-

    rismo

    racional

    e integral. Foi a redescoberta do

    paga-

    nismo grego e romano , 0

    humanismo

    do

    Renasc imen to ,

    que

    fo rneceu

    a

    numerosos

    estudiosos

    meios

    de

    compara-

    gao e critica. Aguns desses eruditos, observando

    em dife-

    ren tes

    mitologias

    uma

    “perfeigao”

    seme lhan te aquela do

    cristianismo, e levados a c re r e m todas ou e m nenhuma,

    emanc ipa ram-se

    a partir

    dela. O titulo de um curto es -

    crito de origern desconhecida — De tribus

    impostoribus

    (os

    t res

    i rnpos to res : Mo i sés , Cris to e

    Maomé)5 -essal ta

    pre-

    cisamente essa

    tendencia.

    Mais

    tarde,

    um padre fran-

    cés,

    Franco is Rabela is,

    escrevera

    as

    palavras

    l iberadoras:

    Texto por muito tempo

    atribuido ao

    filosofo

    Espinosa. (N. do

    5

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    20/105

    3

    A S coNcEPgoEs

    L I B E R T A R I A S A T E 17

    89

    faz o que

    quiseres,

    enquanto um jovem jurista,

    Etienne

    de la Boétie, legar-nos-a

    sua famosa obra:

    Da servidiio

    voluntaria.

    Essas

    pesquisas

    historicas ensinam-nos a

    se r modera-

    do s em nossas esperangas. Nao é dificil encontrar os elo-

    gios

    mais

    perspicazes

    da

    liberdade,

    do

    heroismo

    do s tira-

    nicidas

    e

    outros rebeldes,

    e

    da s revoltas sociais. E,

    em

    contrapartida, dificil encontrar a

    consciéncia do

    mal ine-

    ren te ao autoritarismo e a fé total

    na l ibe rdade.

    As mani-

    fes tagoes de pensamento acima mencionadas sao como as

    primeiras tentativas

    intelectuais

    e morais para progredir

    sem deuses

    tutelares e

    sem cadeias

    coercitivas.

    (Isso pa-

    rece

    pouco,

    mas é

    um

    pouco

    que nao foi esquecido.)

    Ante

    os trés irnpostores eleva-se,

    enfim, a

    ciencia,

    a

    razao livre,

    a pesquisa aprofundada,

    a

    observagao

    experimental e

    a

    experiencia

    real.

    A

    abadia

    de

    Théleme nao

    foi a

    primeira

    das

    i lhas

    fe l izes

    imaginarias

    (também

    n ao

    foi a ultima,

    com

    as

    utopias

    autoritarias,

    que representavam 0s novos

    grandes

    Estados

    centralizadores),

    sonhos

    de

    vida idilica,

    inocente, amavel, repleta de

    respeito

    pela liberdade, e afir-

    mou

    sua

    necessidade

    nesses séculos (X V I, X V II e

    XVIII)

    de

    guerras

    de conquistas,

    de religioes,

    de lutas comerciais

    e

    diplomaticas,

    nesse periodo de

    cruel

    colonizagao do Novo

    Cont inen te .

    Aservidao voluntaria também

    encon t rava , a lgu rnas

    ve -

    zes,

    a forga

    de por

    fim a

    si

    mesma, como na

    guerra

    do s Pai-

    s e s

    Baixos

    e cont ra

    o poder

    real dos

    Stuarts

    n os

    séculos

    X V I

    e

    X V I I , ou entao,

    na

    luta da s

    colonias

    americanas

    contra

    a

    Inglaterra

    no século XVIII

    e

    na

    emancipagao

    da

    America

    Latina no comeco

    do

    século X I X .

    A

    rebeliao fez, entao, sua

    entrada

    na

    vida

    politica e social; o mesmo

    no

    que con-

    cerne ao sentimento da assoc iac ao

    voluntaria

    nos projetos

    e

    n as tentat ivas de cooperagao industrial n a Europa

    desde

    MAX

    NETTLAU

    0 século

    X V I I ;

    0 mesmo no que diz respeito a vida pratica

    da s

    organizagoes

    mais ou menos

    autonomas e autogover-

    nadas

    na America

    do

    Norte

    antes

    e

    depois da separagao da

    Inglaterra. la os ultimos sécu lo s da Idade Média haviam

    conhecido 0 desafio

    da

    Suiga central ao Império germa-

    nico e

    seu

    triunfo,

    as

    grandes

    revoltas

    do s

    camponeses

    e

    as violentas

    afirmagoes de

    independencia local

    de diversas

    regioes da peninsula ibérica. Paris

    opos-se firmemente

    ao

    poder real e m v a ri as

    ocasioes desde o século

    XV I I

    e

    de

    novo

    em 1 7 8 9 .

    Bem se i que 0

    fermento

    libertario

    ainda

    era bastante

    limitado e

    que os rebeldes de um dia encontravam-se no

    dia seguinte prisioneiros de uma nova autoridade. Ainda

    é possivel fazer os

    povos

    rnatarem-se em nome de tal ou

    qual

    religiao,

    e tanto

    mais

    se

    lhes

    foram

    inculcadas

    as

    re-

    ligioes emanadas da Reforma ou

    se

    forarn submetidos a

    tutela e ao

    agoite

    dos

    jesuitas. Por

    outro

    lado,

    a Europa

    estava submetida a burocracia, a policia, ao s exércitos per-

    manentes, a aristocracia da s cortes e do s

    principes,

    per-

    manecendo assim

    sutilmente

    governada pelos magnatas

    do

    comércio e da finanga. Raros foram os homens que

    entreviram, as vezes , solugoes libertarias e as abordaram

    em

    seus escritos,

    como

    p or e xe m p lo

    Gabriel Faigny ;

    As

    aventuras de

    Jacques

    Sadeur na descoberta e na viagem da

    Terra austral

    (1676) . Outros

    utilizavam a ficgao

    dos

    sel-

    vagens que nao conheciam a vida refinada do s Estados

    policiados, como, por exemplo, Nicolas

    Gueudeville

    em

    Conversagoes entre um selvagem e 0 barao de Hontan, ou

    Diderot no famoso Suplemento a Viagem de Bougainville.

    Houve uma

    tentativa

    de agao

    direta

    pela

    tomada

    da

    liberdade

    em

    164,9, apos a

    queda

    da

    monarquia

    inglesa,

    feita por Gerard Winstanley (the Digger); os projetos

    d6

    social ismo voluntario

    por meio da associagao

    proposta

    37

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    21/105

    3

    A S C O N C E P Q O E S L I B E R T A R I A S A T E

    17

    89

    pelo

    holandes P.C.

    Plockboy ( 16 5 8) , J oh n Bel lers

    (1695)

    e o escoces Robert Wallace ( 1791 ) , bem

    como

    o frances

    Restif

    de

    la Bre tonne .

    Aguns

    filosofos

    clarividentes analisaram 0 esta t i smo,

    como

    Edmund

    Burke em A

    Vindication

    cfNatural Soci-

    ety,

    e

    Diderot

    fez

    dedugoes

    tipicamente

    anarquistas.

    Al-

    guns

    outros

    criticaram a lei e a autoridade, tal

    como

    Wil-

    liam Harris, da reg iao de Rhode Island (Estados Unidos)

    n o

    século XVI I ; Mathias

    K n u t s e n , do Holstein,

    n o

    m e s m o

    século;

    o

    beneditino Dom Deschamps,

    na Franga, no sé-

    cu lo XVI I I , num manuscrito abandonado e reencont rado

    em 1865.

    A.F .

    Doni, Montesquieu

    (o s

    trogloditas), G . F.

    Rebmann (1794), Dulaurens

    (1766,

    em algumas passa-

    gens

    de seu Compadre Mathieu) imaginaram

    pequenos

    paises

    e

    fe l izes

    oasis

    se m

    propr iedade

    e

    s em le is .

    Algu-

    mas décadas antes da Revolugao

    F

    rancesa, o

    parisiense

    Sylvain

    Maréchal formulou

    um ana rqu i smo

    muito

    clara-

    mente elaborado, embo ra

    sob a

    f icgao da

    vida

    feliz

    de um

    estado

    pastoral arcaico,

    em A

    Era

    de

    Ou ro , col etanea

    de

    contos pastorais pelo

    Pastor

    S)/lvain (1782),

    e

    em Lvro

    es -

    capado do diluvio

    ou

    Salmos recém-descobertos (1784). O

    mesmo Maréchal fez uma propaganda atéia da s mais

    reso-

    lutas e, em seus ApologosModernospara

    us o

    de um Deljim

    (1788),

    ja

    mostrava

    reis

    deportados para uma ilha deserta

    onde acabavam po r s e destruir

    mutuamente, e esbogava

    as

    linhas

    de

    uma greve gera l p e la q u a l os produtores, que r di-

    zer,

    os

    t res

    quartos

    da

    populagao,

    criavam

    a

    sociedade

    livre.

    Durante a Revolugao

    Francesa, Maréchal

    f icou impressi-

    onado

    e fascinado

    pelo

    terrorismo

    revolucionario,

    e

    é a

    ele que se devem

    em

    OManifesto

    do s

    Iguais, do s partida-

    rios de Babeuf, as seguintes

    palavras:

    “desaparecei repug-

    nantes diferengas entre governantes e governados , que

    foram, em

    seguida, completamente

    condenadas , durante

    MAX NETTLAU

    seu processo,

    pelos

    social istas

    autoritarios

    e

    pelo

    proprio

    Buonarroti.

    I d éi as a n a rq u is ta s sao assim claramente exprimidas

    por Less ing ,

    o

    “Diderot”

    alemao

    do

    século XVI I I ; os f i loso-

    fos

    Fichte e Krause,

    assim como

    por

    Wilhelm von Hum-

    boldt

    (1792

    irmao

    de

    Alexandre)

    em alguns

    de

    seus

    escritos sao favoraveis aos libertarios. Igualmente o jo-

    vem poeta ingles Coleridge e seus

    amigos

    da época de

    su a “Pantisocracy”.

    Uma

    primeira aplicagao dessas idéias

    encontra-se na reforma da

    pedagogia,

    entrevista no século

    X V I I

    por Amos

    Comenius,

    estimulada por J.-J.

    Rousseau

    so b a influencia

    de

    todas

    as idéias

    hurnanitarias e

    igualita-

    rias do século

    XVIII,

    e

    difundida

    particularmente

    na Suiga

    (Pesta lozzi)

    e

    n a

    Alemanha

    onde

    o

    proprio

    Goethe

    de u

    sua

    contribuigao.

    Nesse circulo

    mais

    restrito

    do s

    [lumina-

    do s alemaes (Weishaupt), a sociedade

    sem

    autoridade foi

    reconhec ida como 0 objetivo final; Fran z Baader, n a Bavi-

    era,

    ficou muito impressionado com a leitura de Enquiry

    on Political Justice

    de Godwin, que havia sido publicado

    em

    alemao

    (s o

    a

    primeira

    parte, em

    1805,

    em Wiirzburg);

    por outro

    lado, Georg Forster, homem

    de

    ciencia

    e

    revo-

    lucionario alemao, leu esse

    livro ern Paris em

    1795 ,

    mas

    morreu

    alguns

    meses m a i s t ar d e,

    em

    janeiro d e 1 79 4, se m

    ter

    podido da r

    publicamente

    su a

    opiniao

    sobre

    essa

    obra

    que o f as ci na ra (ca rta

    de

    25 de julho d e 1 7 9 5) .

    As fontes a s quais n os

    n os

    reportamos n ao sao muito

    numerosas

    m as

    bastante notorias. Todo

    mundo

    conhece

    Rabela is e , po r

    Montaigne,

    chegamos semp re

    a

    La

    Boétie.

    A

    utopia

    de

    Gabriel

    Faigny

    foi

    bem

    conhec ida

    e in1'1me-

    ra s vezes re impressa e traduzida: a s novas idéias de Burke

    foram observadas, e Sylvain Maréchal fez com que se fa-

    lasse

    muito

    dele. Diderot

    e Less ing

    sao classicos.

    Eis

    po r

    que

    suas

    concepgoes

    profundamente

    antiauto-

    |s9

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    22/105

    40{

    A s

    C O N C E P Q O E S

    L I B E R T A R I A S A T E

    1 7

    89

    ritarias, suas

    criticas, sua

    recusa

    da

    idéia governamental

    e suas tentativas para

    restringir,

    e até mesmo negar o pa-

    pe l da autor idade

    n a

    educagao,

    n as

    relacoes

    sexuais, n a

    vida religiosa,

    nos negocios publicos;

    tudo isso

    nao passou

    desapercebido

    no mundo avangado

    do

    século XV I I I . En-

    quanto ideal

    supremo,

    ele nao

    foi

    combatida

    se nao

    por

    reacionarios, considerado para sempre

    irrealizavel

    pelos

    pensadores

    moderados.

    Através do direito

    natural,

    da

    reli-

    giao natural e

    da

    concepgao

    materialista

    de Holbach

    (Sis-

    tema a'a

    Natureza, 1770 ) ,

    e

    de

    La Mettrie

    pela

    progressao

    a mais ou m en os aper fe igoamen to

    das

    sociedades secre-

    tas,

    todos os

    humanis tas dos

    diversos

    paises d o s éc u lo ca -

    minharam intelectualmente para a

    concepgao

    de um go-

    verno minimo, completamente ausente para

    os

    homens

    livres.‘

    O s Herder, os

    Condorcet, Mary Wollstonecraft

    e, inclusive

    -pouco

    tempo

    depois - jovem Shelley , todos cornpreenderam qu e o

    fumm

    ia n o Sen.

    tido da humanizagao

    do s

    homens, 0

    que

    tornava inevitavelmente supérfluo

    o governamentallsmo. Tal

    era

    a

    situagao

    as vésperas da

    Revolugao

    Fran-

    cesa, quando

    ainda eram ignoradas

    todas

    as

    forcas que deve;-iam

    desferir

    um golpe decisivo ao

    antigo regime.

    Em toda

    a parte

    se

    viam

    05 insole-mes

    aproveitadores da autoridade e su as vitimas seculares, mas os homens

    capa.

    d <   , . .

    es e proporcionar um

    progresso queriam

    0 maximo

    de

    liberdade e eram

    d

    t

    '

    -

    .

    ,

    . . .

    a do s d e

    discemimento

    e

    esperanga.

    A

    longa noi te

    da

    er a

    autoritana

    I na ,

    enfim, terminar. . . (N. do A.)

    “ ILUMINADos ” E

    F O U R I E R I S T A S

    4 1

    UMA

    G R A N D E

    REVOLUQAO

    é como

    0 rio

    da

    evolugao trans-

    formado bruscamente em

    torrente

    que desemboca em cas-

    cata,

    fora do controle

    de

    seus

    navegantes.

    Nele se perdem

    ou

    morrem

    quase todos, e com

    as

    mudangas de

    condi-

    goes

    sendo alteradas,

    o trabalho realizado

    e

    levado

    sem-

    pre mais a frente por s e us s u ces s or e s. Aqueles que con-

    seguem sobreviver

    numa

    época

    revolucionaria perecem

    igualmente

    ou sao

    transformados,

    de sorte que, apos a

    tor-

    menta,

    quase ninguém consegue influir na nova evolugao

     

    de

    m o d o a ti vo e salutar. Em

    outros

    termos , a revolugao, as -

    s im como a guerra ,

    destro i, consome ou

    muda os

    homens ,

    f azendo deles

    déspotas

    i ndependen te de qual tenha

    sido

    sua posigao

    precedente, e

    torna-os

    pouco

    aptos, depois

    de

    tais experiencias, a defender a liberdade.

    So aqueles que permaneceram fiéis a

    revolugao,

    aque-

    les que

    extrairam

    do s erros da

    autoridade um

    novo

    ensina-

    men to , e

    aqueles

    que detem um impeto revolucionario

    de

    forga excepc iona l podem atravessar i ndenes as

    revolugoes.

    Elisee Beclus, Louise Michel e Bakunin sa o tres exemplos

    disso

    -

    enquanto todos

    os outros

    sao

    fatalmente

    influen-

    ciados pelo autoritarismo, ainda inseparavel da s grandes

    agitagoes populares.

    Foi assim que, apos

    um periodo

    inicial

    de poucos m e s e s

    — na Franga em 1789, na Russia em 1917 -, o

    autoritarismo

    impos-se. O

    periodo

    de mais de

    quarenta

    anos

    anterior

    a

    17 8 9 ,

    quer

    dizer, a época

    luminosa

    do s Enciclopedistas, e

    da

    critica simultaneamente liberal, e as

    vezes

    libertaria,

    de

    todas

    as

    idéias

    e

    instituigoes

    passadas,

    o

    século

    de

    lutas

    “ ILUMINADOS” E

    F O U R I E R I S T A S

    MAX

    NETTLAU

  • 8/18/2019 Nettlau. História Da Anarquia

    23/105

    42)

    politicas e s oc ia is q u e precede 1917,

    foi

    va o e se m valor

    frente a mais rude

    das

    lutas pela defesa

    dos

    in teresses e

    pe la conqu is ta do pode r, a ditadura.

    Trata-se

    de um

    f en o m e n o i n c on t e s ta v e l

    cujas ra izes

    devem-se

    ao enorme prestigio da autor idade sobre

    0

    es -

    pirito do s

    homens

    e

    ao s

    imensos interesses

    postos

    em jogo

    quando os privilégios

    e

    os monopolios sa o ameagadosz é o

    momento

    de uma luta

    mortal

    e , num mundo autoritario,

    essa

    luta s e

    fa z

    com a s a rmas

    mais

    mortiferas.

    N a

    Franga ,

    desde

    os primeiros

    me s e s

    de

    1789, quando foram

    convo-

    cados o s

    Estados

    Gera is , e

    m a is t ar de , co m a

    tomada da

    Bastilha,

    houve

    horas e

    dias

    de

    imensa alegria,

    de solidari-

    edade s ince ra e gene rosa , que o mundo inteiro partilhava.

    N o m e s m o momento a con t ra- revo lugao ja

    conspirava

    e

    foi

    comba tida aber tamen te

    ou n ao

    durante

    todo o

    periodo

    seguinte.

    Foi

    por isso que

    os espiritos avangados so

    obti-

    veram

    be m pouca

    coisa apos

    o 1 4

    de julho, s e levarmos

    em conta a

    aquiescencia

    geral, 0 sentimento favoravel e a

    generosidade p op u la r. T u do

    foi

    feito durante a s jornadas

    revolucionarias

    gragas a um

    forte

    impulso dado

    po r mi-

    litantes

    exper imentados e

    a supremac ia

    do

    aparelho go -

    vernarnental

    nesse

    momento

    bem re fo rgada n o

    interior

    pela ditadura central do s Comites e pela ditadura local

    das

    segoes -que , depo is

    de s e t er , a ss im , imposto n o inte-

    rior,

    teve

    seu

    centro

    de

    gravidade

    n o

    exército

    de

    onde

    saiu

    a ditadura

    do chefe de um dos

    exérci tos, 0

    de

    Napo leao

    Bonapar te ,

    do

    Consu lado, depo is do Império

    que impoe

    su a

    ditadura

    sobre o continente europeu.

    A a r is toc rac ia logo s e metarnor foseou ern “exército”

    branco

    dos

    Emigrados .

    O s

    camponeses , para

    protegerem-

    se

    contra

    um retorno

    do fe