NIETZSCHE, Friedrich. Da utilidade e desvantagem da história para a vida

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FRIEDRICI{

N IETZSCI.Iffi

tsRAS INCON4PLETASCtrP-Brasil. Catalogao-na-Publicao Cmara Brasileira do Livro, SP Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844-1900. Obras incompletas ,/ Friedrich Nietzsche ; seleo de textos de Grard Lebrun ; traduo e notas de Rubens Rodrigues So 3. ed. Torres Filho ; posfcio de Antnio Cndido.

N5Blo3.ed.

Paulo : dbril Cultural, 1983.

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Os pensadores

Inclui vida e obra de Nietzsche. Bibliografia. Filosofia alem2. Nietzsche, Friedrich Wilhelm, I. Lebrun, Grard, 1930 - II. Cndido, Antnio, l91B - XIL Ttulo. IV. Srie.tr.

...ir;;:..,,Seleo de textos de Grard I-ebrun

1844-1900

cDD-19383-0257

Traduo e notas de Rubens Rodrigues Torres Fitrho Posfcio de nmio Cndido

-190.92

l

ndices para catlogo sistemtico:

Alemanha; Filosofia

193

2. Filosofia alem 193 3. Filsofos alemes 193 4. F'ilsofos modernos : Biografia e obra 190.92 5. Nietzsche : Obras filosficas 193r

ffi1983

EDITOR.: VICTCIR. CWTIA

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T'tulos originais:

Die Geburt der Tragoedie aus dem Geist der Musik Die Philosophie im ragischen Zeitalter der Griechen Ueber Vlahrheit und Luege in aussermoralischen SinneUnze i t gemaesse B e t rac h tun g en

Menschliches Allzumenschliches (19 e 29 vot.)

MorgenroeteDie froehliche Wssenschoft (La Gayq Scienza) . Also sprach Zarathustra Jenseits von Gut und Boese ' Zur Genealogie der Moral Goetzen-Daemmerung Ecce Homo Die ewige Wederkunft "Dichters Berufung" - "Im Sueden" "Der Wanderer der Armut des Reichsten"

, '

Der Antichrist

NmffiTZSffiffiffiO Copyright Abril S.A. Cultural23 edio, 1978. e trndustrial, So Paulo, 1974.

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3l edio,

1983.

Artigo publicado sob licena de dntnio Cndido de Mello e Suza, So Paulo ("O Portador").Direitos exclusivos sobre "Nietzsche - Vida e Obra", Abril S.A. Cultura e Industrial, So Paulo. Direitos exclusivos sobre as tradues deste volume, Abril S.A, Cultural e Industrial, So Faulo.

VilDA F OtsRA

Pesquisa: @lgria Ctrnairn Ferez

Consultoria: Marilena de Souza Chau

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ONSIDERAES EXTEMPORNEAS

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rem confiantes: "Mas os prximos vinte sero os melhores"; so aqueles de quem David Hume zombeteiramente diz:

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DA UTILIDADE E DESVANTAGEM DA HISTR.IA PAR.A A VIDA( r 874)

Andfrom the dregs of life hope to receve, What thefirst sprightly runnng could not gve.2Vamos denomin-los homens histricos; o olhar ao passado os impele ao futuro, inflama seu nimo a ainda por mais tempo concorrer com a vida, acende a esperana de que a justia ainda vem, de que a felicidade est atrs da montanha em cuja direo eles caminham. Esses homens histricovacreditam que o sentido da existncia, no decorrer de seu processo, vir cadavez mais luz; ees s olham para trs paa, na considerao do process at agora, entenderem o presente e aprenderem a desejar com mais veemncia o futuro. No sabem quo a-historicamente, a despeito de toda a sua histria, eles pensam e agem, e como at mesmo sua ocupao com a histria no est a servio do conhecimento puro,mas da vida. Mas aquela pergunta, cuja primeira resposta ouvimos, pode tambm ser res pondida de outro modo. Decerto mais uma ve4 cor'n um No ! mas com um

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()Se uma feicidade, se uma ambio por uma nova felicidade-em um sentido qualquer, aquilo que rma o vivente na vida e o fora a viver, ento talvez nenhum lrlsofo tenha mais razo do que o cnico: pois a felicidade do animal, que o cnico perfeito, a prova viva da razo do cinismo. A menor das felicidades, se simplesmente ininterrupta e faz fehz ininterruptamente, sem comparao mais felicidade do que a maior delas, que venha somente como um episdio, por assim dizer como humor, como incidente extravagante, entre o purc desprazer, a avidez e a privao. Mas nas menores como nas maiores felicidades sempre o mesmo aquilo que faz da felicidade felicidade: o poder esquecer ou, dito mais eruditamente, a faculdade de, enquanto dura a feiicidade, sentr a-hstoricamente. Quem no se instala no limiar do instante, esquecendo todos os passados, quem no capaz de manter-se sobre um ponto como uma deusa de vitria, sem vertigem e medo, nunca saber o que felicidade e, pior ainda, nunca far algo que torne outros felizes. Fnsem o exemplo extremo, um homem que no possusse a fora de esquecer, que estivesse condenado a ver por toda parte um vir-a-ser: tal homem no acredita mais em seu prprio ser, no acredita inais em si, v tudo desmanchar-se em pontos mves e se perde nesse rio do vir-a-ser: finaimente, como o bom ciscpulo de Herclito, mal ousar levantar o dedo. Todo agir requer esquecimento: assim como a vida de tudo o que orgnico requer no somente luz, mas tambm escuro. Um homem que quisesse sempre sentir apenas historicamente seria semelhante quele que se forasse a abster-se de dormir, ou ao animal que tivesse de sobreviver apenas da ruminao e ruminao sempre repetida. Portanto: possvel viver quase sem lembrana, e mesmo viver feliz, como mostra o anima; mas inteiramente impossvei, sem esquecimento, simplesmenl-e viver. Ou, para explicar-me anda mais simplesmente sobre meu tema: h um grau de insna, de ruminao, de sentido histrico, no qual o viv'ente chega a sofrer dano porfim se at'runa, seja ele um homem ou ttm povo ou uma civilzao. (. . . ) Quem pergunta a seus conhecidos se desejariam viver mais uma vez os ltimos dez ou vinte anos perceber facilmente quem dentre eles est preparado para aquele ponto de vista supra-histrico: decrto todos respondero: No !, mas esse No!, cada um deles fundamentar diferentemente. Uns, talvez, por espera-

No fundamentado de outro modo. Com o N do homem supra'histrico, queno v a salvao no processo, para quem o mundo em cada instante singular est pronto e acanou seu termo. O que poderiam ensinar dez novos anos, que os dezanos passados no loram c^pazes de ensinar ! Agora, se o sentido da doutrina felicidade ou resignao, virtude ou expiaquanto a isto os homens supra-histricos nunca estiveram de acordo entre si; o, mas, em contraposio a todos os modos histricos de considerar o que passou, chegam total unanimidade da proposio: o passado.e o presente so um e o nJesmo, ou seja, em toda diversidade so tipicamente iguais e, como onipresena

de tipos imperecveis, uma formao estvel de valor inalterado e significao eternamente igual. Assim como as centenas .de lnguas diferentes correspondem s nesmas necessidades tipicamente estveis dos homens, de tal modo que um queentendesse essas necessidades no poderia aprender, em todas as lnguas, nada de

novo: assim o pensador supra-histrico ilumina toda a histria dos povos e dos indivduos de dentro para fora, adivinhando com clarividncia o sentido primordial dos diferentes hierglifos e pouco a pouco afastando-se, cansado, at mesmo da escrita de signos que continua a jorrar sempre nova: pois como, na infinita profuso do acontecimento, no chegaria ele saciedade, saturao, e mesmo ao nojo ! De tal modo que o mais temerrio aabar, talvez, a ponto de dizer, comGiacomo Leopardi, a seu corao:

"Nada vive, que fosse digno De tuas emoes, e a Terra no merece um s suspiro. nada mais. Dor e tdio nosso ser e o mundo lodo Aquiela-te".

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"E

dos detritos da vida esperam arrecadar/O que o primeiro vivo

jorro no pode dar." (N.

do T.)

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'NInrzscHr:

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CONSIDERAES

EXTEMPORNEAS

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vlas deixemos o homem supra-histrico com seu nojo e sua sabedoria: hoje preferimos, por uma vez, alegrai-nos de corao com nossa falta de sabedoria e fazer para ns um bom dia, como se ssemos os ativos e em progresso' como oS nossa apreciao do histrico seja apenas um adoraores do processo.

preconceito oidental; contantoique, no interior desses preconceitos' pelo menos faamos progresso e no nos detenhamos ! Contanto que aprendamos cada vez / Ento ,ntno,. pieciiamente isso, a cultivar histria em funo dos hns da vida grado aos supra-histricos que eles possuem mais sabedoconcederemos de bom ria do que ns; caso pudermos,'simplesmente, estar seguros de possuir mais vida do que les: pois assim, em todo caso, nossa falta de sabedoria ter mais fruto do que a sabedria deles. E para que no subsista nenhuma dvida sobre o sentido que se conessa oposio entre vida sabdoria, recorrerei a um procedimento algumas teses' servou intacto atravs das idades; e estabelecerei diretamente Um fenmeno histrico, conhecido pura e completamente e resolvido em um fenmeno de conhecimento, , para aquele que o conhece, morto: pois ele conhesombrio ce:u nele a iluso, a injustia, a paixo cega, e em geral todo o horizonte e aO mcsmo tempo conheceu' preCisamente nisSo, sua e terrestre desse lenmeno potncia histrica. Agora, essa potncia tofnou-se para ele, o que sabe, impotente: talvez ainda no para ele, o que vive. A histria pensada como cincia pura e tornada soberana seria uma espcie pelo de encerramento e balano da vida para a humanidade. A cultura histrica, poderoso contrrio, s algo salutar e que promete luturo em decorrncia de um e nuo fluxo de vida, por exemplo, de uma civilizao vindo a ser, portanto ela somente quando domnada e'onduzida por uma fora superior e no est a servio da vida, est a servio de uma potncia a-histrica e por isso nun.u, nessa subordinao, poder e dever torat que grau nar-se cincia pura, como; digamos, a matemtica. Mas a questo: geral do servio da histria, uma das questes e cuidados precisa em mesma que domina e

Que

conduz.

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A istria, na medida em que

a vida mais alios no tocante sade cJe um homem, de um povo, de uma civilizao.

degenera, Pois, no caso de uma certa desmedida de histria, a vida desmorona e com essa degenerao, degenera tambm a prpria histria' e por fm,

Alemanha; como ele haveria de se sentir fortalecido, ao perceber que a civilizao do Renascimento ergueu-se Sobre os ombros de um tal grupo de cem homens. para, nesse mesmo exemplo, aprender ainda ago de novo E, no entanto quo fluida e oscilante, quo inexata, seria essa comparao ! Quantas dife-, renas preciso negligenciar, para que elafaa aquele efeito fortifiante, com que violncia preciso meter a individualidade do passado dentro de uma forma universal e quebra em todos os ngulos agudos e linhas' em beneficio da concordncia ! No fundo, alis, aquilo que loi possvel uma vez s poderia comparecer pela segunda vez como possvel se os pitagricos tivessem azo en acreditar que, quando ocorre a mesma constelao dos corpos celestes. tambm sobre a Terra tem de se repetir o msmo, e isso at os mnimos pormenores: de tal modo que sempre, se os outros tm uma certa disposio entre si, um estico pode aliarSe Outra Vez COm um epicurista e assassinar Csar, e sempre' em uma outra Conjuntura, Colombo descobrir outra vez a Amrica. Somente se a Terra iniciasse sempre de novo Sua pea de teatro depois do quinto ato, se estivesse frmemente estabelecido que o mesmo n de motivos, o mesmo deus ex machna, mesma catstrofe, etornassem a inti'valos determinados, poderia o forte desejar a histria monumental em toda a sua veraciddde icnica, isto , cada fato precisamente descrito em sua especificidade e singularidade: provavelmente, portanto' no antes que os astrnomos se tenham tornado outra vez astrlogos. At ento, a histria -'monumental no poder usar daquela veracidade total: sempre aproximar, universalizar e por fim igualar o desigual; sempre depreciar a dilerena dos motivos e das ocasies, para, custa das causas, monumentalizar oS effectus, ou Seja' apresent-los como modelares e dignos de imitao: de tal modo que' porque ela prescinde o mais possvel das causas, poderamos denomin-la, com pouco exagero, uma coletnea de "efeitos em Si", de acontecimentos que em todos os tempos laro efeito. Aquilo que celebrado nas festas populares, nos dias comemorativos religiosos ou guerreiros, propriamente um tal l'efeito em si": ele que no deixa dormir os ambiciosos, que est guardado como um amuleto no corao dos empreendedores, e no a conexo verdadeiramente histrica de causas e efeitos que, completamente conhecida, s provaria que nunca sair de novo um resultado exatamente igual no jogo de dados do futuro e do acaso.

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.n qu", ento, til ao homem do presente a considerao monumental do passado, o ocupar-se com os lssicos e oS aros de tempos antigos? Ele aprende iom isso que a grandeza, que existiu uma vez' foi, em todo caso,possvelumavez ei-por isso, pode ser que ja possvel mais uma vez; segue com nimo sua marcha, pois ag-ora a dvida, que o assalta em loras mais fracas, de pensar que talvez queira o impossvel eliminada. Admitamos que algum acredite que no seria

preciso mais do que cem homens produtivos, educados e atuantes em urn novo sprito, para dar cabo do eruditismo que precisamente agoa se tornou moda na

pela cinca, pela exigncia de que a histconstelao efetivamente se alterou ria seja'cincta. Agora no mais Somente a vida que rege e refreia o sabr em que era torno do passado: todas as estacas de limite foram arrancadas e tudo o o homem. At onde houve um vir-a-ser, at l se deslouma vez precipita,se sobre caram, para tis, ao infinito, todas as perspectivas. Nenhuma gerao viu ainda a hisum espetculo to inabarcvel como o que a cincia do vir-a-ser universal,

(. . . ) certamente um tal astro, um astro luminoso e soberbo, se interps,

a

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NIETZSCHEdemasiado distante

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ONSIDERAES EXTEMPORNEASrefiro-me justamente aos gregos

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tria, mostra agora: certo, porm, que ela o mostra com a perigosa audcia dolema que escolheu:y'at verits, pereat vta.3

F'ormemos agora uma imagem do evento espiritual que se produziu, com isso, na alma do homem moderno. O saber histrico jorra de fontes inexaurveis, sempre de novo e cada vez mais; o que estrangeiro e desconexo entre si se agomra; a memria abre todas as suas portas e no entanto ainda no est suficiente-

-, si, no perodo de sua mxima fora, um sentido a-histrico; se um homem contemporneo tivesse de retornar, por magia,, quele mundo, provavelmente

havia preservado em

mente aberta;

a

atufeza se esfora ao extremo para acolher esses hspedes

estrangeiros, orden-los e honr-los, mas estes mesmos esto em conrbate entre si, e parece neCessrio dominar e vencer todos eles, para no perecer' ela mesma' nesse combate entre eles. O hbito a uma tal vida domstica desordenada, tempestuosa e combatente, torna-Se pouco a pouco uma Segunda natureza, embora esteja fora de questo que eSSa Segunda anreza muito mais fraca, muito mais intran-

acharia os gregos muito "incultos", com o que ento o segredo to meticulosamente oculto da cultura moderna seria descoberto, para a zambaria pblica: pois, de ns mesmos, ns modernos no temos nada; somente por nos enchermos e abarrotarmos com tempos, costumes, artes, filosofias e reiigies alheios que nos tornamos algo digno de ateno, ou seja, enciclopdias ambulantes, e como tais, talvez, um heleno antigo extraviado em nosso tempo nos dirigisse a palavra.

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qila e em tudo menos sadia do que a primeira. O homem moderno acaba porarrastar consigo, por toda parte, uma quantidade descomunal de indigestas pedras de saber, que ainda, ocasionalmente, roncam na barriga, como se diz no,conto. Com esses ioncos denuncia-se a propriedade mais prpria desse homem moderno: a notvel oposio entre um interior, a que no corresponde nenhum exterior, e um exterior, a que no corresponde nenhum interior, oposio que os povos antigos no conhecem. o saber, que absorvido em desmedida sem fome, e mesmo contra a necessidade, j no atua mais como motivo transformador, que impele para fora, e permanece escondido em um certo mundo interior catico, que esse homem moderno, com curioso orgulho, designa como a "interioridade" que lhe prpria. certo que se diz, ento, que se tem o contedo e que falta somente a forma; mas, em todo vivente, esta uma oposio completamente indevida. Nossa cultura moderna, por.isso mesmo, no nada de vivo, porque, sem aquela oposialgum uma culo, absolutamente no pode ser concebida, isto : no de modo em torn6 da cultura; fica no tura efetiva, rnas apenas uma espcie de saber pensamento-de-cultuia, no Sentimento-de-cultura, dela no resulta nenhuma deciso-de-cuitura. Em contrapartida, aquilo que efetivamente motivo e que'

()Em que situaes desnaturadas, artificiais e, em todo caso, indignas h de cair, em um tempo que sofre de cultura gerl, a mais verdadeira de todas as cincias, a honrada deusa nua, a filosoha. Em um tal mundo da uniformidade exterior forada, ela permanece monlogo erudito do passeador solitrio, fortuita presa de caa do indivduo, oculto segredo de gabinete ou inofensiva tagarelice entre ancios acadmicos e crianas. Ningum pode ousar cumprir a lei da losofia em si mesmo, ningum vive filosoicamente, com aquela lealdade simples, que obrigava um antigo, onde quer que estivesse, o que quer que fizesse, a portar-se como estico, caso tivesse uma vez jurado fidelidade ao Prtico. Todo hlosofar moderno est poltica e policialmente limitado aparncia erudit,a, por governos, igrejas, academias, costumes e covardias dos homens; ele permanece no suspiro: o'mas se. ..", o no reconhecimento: "era uma vez". A flosofia, no interior da cultura histrica, no tem direitos, caso queira ser mais do que u saber interiormente recolhido, sem efeito; se, pelo menos, o homem moderno fosse corajoso e decidido, ele no seria, tambm em suas inimizades, apenas um,ser interior: ele a baniria; agora, contenta-se em revestir envergonhadamente sua nudez. Sim, penat a tudo sa-se, escreve-se, impime-se, fala-se, ensina-se hiosoamente permitido; somente no agir, na assim chamada vida, diferente: ali o permitido sempre um s, e todo o resto simplesmente impossvel: assim o quer,a cultura pergunta-se ento ou talvez apenas mquinas histrica. So homens aindade pensar, de escrever e de falar?

como ato, se torna visvel na exterioridade, muitas Vezes no significa, ento, muito mais do que uma conveno indiferente, uma deplorvel imitao oumesmo um grotesco esgar. na interioridade que repousa ento a sensao' igual cobra que engoliu coelhos inteiros e em seguida, quieta e serena, se deita ao sol e evita todos os movimentos, alm dos mais necessrios. O processo interno: tal , agora a coisa mesma, tal propriamente a "cultura". Todo aquele que passa por que uma tal cultura no morra de indigesto. Que se ali tem um nico desejo grego passando diante de uma tal cultura: ele perceberia pense, por exemplo, um .que paA os homens modernos Se "culto" e ter uma "Cultura hiStrica" parecem

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-,

to soliclrios como se fossem um s e Somente se distinguissem pelo nmero das 'paiavas. Se ento ele pronunciasse sua frase: algum pode Se muito culto e no entanto no ter nenhuma cultur histrica, acreditafiam no ter ouvido bem e scudirim a cabea. Aquele pequeno povo bem conhecido, de um passado no3Ha.la a verdade. perea a vida. (N. do E.)

Goethe diz uma vez de Shakespeare: "Ningum mais que ee desprezou o traje material; ele conhece muito bem o traje humano interior, e a todos so iguais. Diz-se que ele mostrou com perfeio os romanos; no acho, so puros ingleses encarnados, mas, sem dvida, homens so homens desde o fundo, e aos quais se adapta perfeitamente tambm a toga romana". Agora pergunto eu se seria sequer possvel apresentar nossos literatos, homens do povo, funcionrios, polticos de hoje, coiho romanos; isso no pode ser, porque estes no so homens, mas apenas compndios encarnados e, por assim dizer, abstraes concretas. Se que tm carter e modoprprio, isso to est to profundamente oculto que no

6,1

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CONSIDERAESNtrETZSCHE

EXTEMPORNEAS

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pode desentranhar-se luz do dia: se que so homens, s o so, no entanto, para

aquete "que examina as entranhas". Para todos os OUITOS So algO OutrO, no hmens, no animais, mas formaes culturais hitricas, unicamente cultura, formao, imagem, forma sem contedo demonstrvel, infelizmente apenas m, forma e, alm disso, uniforme. 1 E possa ser assim entendida e ponderada minha proposio: a histria s pode ser suportada por personalidades fortes, asracas Lh-e*ttgu, totalmente.Isso vem de que ela confunde o sentimento e asensao, quando estes no so suhcientemente fortes para servirem de medida ao passado' para sentir, pede conQuem no ousa mais confiar e111 Si, mas involuntar:iamente, por selho junto histria: "Como devo sentir aqui?, este se torna pouco a pouco' papel, no mais das vezes at muitos pusilanimidade, espectador, e desempenha um papis, e justamente por isso desempenha cada um deles to mal e superficialmente. Pouco a pouco falta toda congruncia entre o homem e seu domnio histrico; so pequenos rapazoias petulantes que vemos tratar com oS romanoS' como e se estes fossem seus iguais: e nos restos mortais de poetas gregos eles revolvem tambm estes corpora estivessem jazendo prontos para sua discavam, como se seco e fossem vilia, como seus prprios corpora literrios poderiam ser. Admitino que um deles se ocupe com Demcrito, est sempre em meus lbios a pergunta: mas por que justo Demcrito? For que no Herclito? Ou Filon? Ou e assim por diante, vontade. E, em seguida: mas por acon? Ou Descartes? - que no um poeta, um orador? E: por que em geral um que justo um hlsofo? Por g..gt, po. que no um ingls, um turco? O passado no suficientemente grande pur q.t. n.l. ,. encontre algo junto ao qual vs mesmos no ficsseis to ridiculamente gratuitos? Mas, como'foi dito, uma gerao de eunucos;para o eunuco utu n-uih.l. como a outra, precisamente apenas uma mulher, a mulher em

agir sobre elas; pode acontecer seja o que for de bom ejusto, como ato' como poesia, como msica: logo o oco homem-de-cultura olha para alm da obra e pergunta pela histria do autor.

(...)

$7 O sentido histrico, quando rena irrefreado e traz todas as suas conseqncias, erradica o futuro, porque destri as iluses e retira s coisas sua atmosfera,

construtivo, Qundo por trs do impulso histrico no atua nenhum impulso que um futuro j vivo na qanao no t. est destruindo e limpando tcrreno para esperana construa sua casa Sobre o cho desimpedido, quando a justia reina rorinhu. ento o instinto criador despojado de sua lora e de seu nimo. Jma religio, .por exemplo, que seja transposta em saber histrico, sob a regncia da pura justia, uma religio que em todo e por tudo seja conhecida cientilcamente, u fint desse caminho estar aniquilada. O lundamento disso est em que, no cmputo histrio, sempre vem luz tanto de falso, grosseiro, desumano, absurdo, violento, que a piedosa disposio iluso, somente na qual pode viver tudo o que quer viver, necessariamente desbaratada: Somente no amor, porm,Somente envolto em sombras pela iluso do amor, o homem cria, ou Seja, somente na crena incondicional na perfeio e na justia. A todo aquele que obrigaram a no mais amar incondicionalmente, cortaram aS razes de sua fora: ele tem de se tornar rido, ou seja, desonesto. Nesses efeitos, a histria o oposto da arte: e somente quando a histria suporta ser transformada em.obra de arte e; portanto' tornar-se pura forma artstica, ela pode. talvez. onservar instintos ou mesmo despertii los. Uma tal historiografia, porm, estaria em total contradio com o trao analtico e inartstico de nosso tempo , e at mesmo ser sentida por ele como falsificao. Histria, porm, que apenas destri, sem que a conduza um impulso construtivo interior, torna, com o tempo, sofisticados e desnaturados seus insrumentos: pois tais homens destroem iluses e "quem destri a iluso em si mesmo e nos outros, a n+tureza, como o mais rigoroso tirano-, o-castiga". Por um bom tempo possvel ocupa-se com a histria em toda inocncia e despreocupaqualquer outra; em particular' a o, como ," iorr" uma ocupao to boa como nova teologia parece ter-se deixado envolver com a histria por pura inocncia, e ainda agora mal quer notar que cm isso, provavelmente muito contra a vontade, est a srvio do crasez voltairiano. Que ningum suponha' por trs disso, novos e vigorosos instintos construtivos; nesse caso seria preciso tomar a assim chamajurista Floltda asociao protestante por matriz de uma nova religio e talvez o prelaciador da ainda mais assim chamada Bblia protestante) zendorf (o editor e por Joo no rio Joro. Poi algum tempo, talvez a ilosoha hegeliana' ainda fumepor exem.111 cabeas mais idosas, ajude a propagao daquela inocncia,

somente na qual elas podem viver. d justia histrica, mesmo quando exercida efetivamente e em inteno pura, uma virtude pavorosa' porque sempre solapa o que vivo e o faz cair.. seu julgamento sempre uma ondenao morte.

si, o

eternamente inacessvel e assim indiferente o que fazeis, justamente contanto que a prpria histria fque guardada, lindamente "objetiva", eterno femipor aqueis que nunca podem, ele mesmos, fazer histria. E como o nino nunau vos atrair para Si, vs o rebaixais at vs e, sendo neutros' tomais a tambm a histria como algo neutro. Mas, para que no se crela que comparo eterno,feminino' quero antes enunciar claramente que a srio a histria com o considero, pelo contrrio, como eterno masculino: s que para aqueles que cm tudo e por iudo tm "cultura histrica"' h de ser devidamente indiferente que eia sequer Seja um ou outro: eles msmos, de fato, no so homem nem mulher, nem

comuns-de-dois, mas Sempre apenaS neutros ou, numa expresso mais culta, apenas os eternamente-objetivos. {.Jma vez esvaziadas as subjetividades da maneira descrita, at chegarem eterna despersonalizao ou, como se diz, objetividade' nada mais capaz deohne nachweistexto: (...) sond.ern historischetFildungsgebilde' ganz und gar Btldung' Bild' Form a presena Inhalt,eder nur schlechte Form,,und berdies Unform. A dificuldade consiste em ressaltar do verbo bild.en (formr, moldar e, em sentido figurado, educar) e do substantivo Sild(ima' do radical bitd -nos rermos: Btdun'g (eiltura), Gebitde (rotmao, estrutura) e Bild' Impossivel reconstituir o gem, cpia) "iogo'r.nnti.o - do texto (por exemplo, ro parentesco entre cultura e imagem). Em todo caso, a traduo de Form (propriamente Gbilde por,,formao" antecipa .1ogo-qu" o texto laz em seguida com a palavra ''[orma"). (N. do T.)

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NIETZSCTIE

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CONSIDERAES

EXTEMPORNEAS

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'rrlo, quando distinguem a "Idia do cristiansmo" de suas "formas de manifestao" diversamente imperfeitas e quando se dizem que o "diletantiso da ldia" revelar-se em formas cada vez mais puras, e por fim, ou seja, na forma certamente

mais pura de todas, mais transparente e mesmo quase invisvel, no crebro do arual theologus lberalis vulgaris. Mas, ao ouvir esses cristianismos mais puros de todos se pronunciarem sobre os anteriores cristianismos impuros, o ouvinte imparcial tem freqentemente a impresso de que no se trata absolutamente do cristianismo, mas sim de... mas em que devemos pensar? se encontramos o cristianismo designado pelo "maior teogo do sculo" como - religio que permia te "sentir-se integrado em todas as religies efetivas e ainda em algumas outras meramente possveis", e se a "verdadeira igreja" deve ser aquela que ..se torna massa fluida, onde no h contornos, onde cada parte se encontra ora aqui, ora ali, e tudo se mistura pacificamente entre si". Mais uma vez, em que devemospensar?

que a crena crist de modo nenhum esprava do homem, mas do ..hlho do homem"? Outrora esse memenlo mori,5 clamado humanidade assim como ao indivduo, er um aguilho sempre torturante e como que o pice do saber e daconscincia medievais. A palavra do tempo moderno, clamada em oposio a ele: memento vvere, soa, para falar abertamente, ainda bastante intimidada, no vem a plenos pulmes e tem, quase, algo de desonesto. Pois a humanidade ainda est f,rrmemente assentada sobre o memento mori e denuncia isso pela sua universal necessidade histricar o saber, a despeito de seu mais poderoso bater de asas, ainda no pde arrancar para o ar livre, restou um profundo sentimento de desesper.ana, que assumiu aquela colorao histrica de que agora esto soturnamente envoltas toda educao e cultura superiores. uma religio que, de todas as horas de uma vida humana, considera a ltima como a mais importante,. que piediz uma concluso da vida terrestre em geral e condena tudo o que vive a viver no quinto ato da tragdia excita, com certeza, as foras mais profundas e mais nobres, mas hostil a toda nova implantao, tentativa audaciosa, desejo livre; resise contra todo vo ao desconhecido, porque ali no ama, no espera: somente contra a vontade deixa impor-se a ela o que vem a ser, paia, no devido tempo, repudi-lo ou sacrific-lo como um aliciador existncia, como um mentiroso sobre o valor da existncia. Aquilo que fizeram os florentinos quando, sob o impacto das prdicas de penitncia de Savonarola, promoveram aquela clebre queima sacrificial de quadros, manuscritos, espelhos, mscaras, o cristianismo gostaria de fazer com toda cultura que estimule continuao do esforo e traga aquele memento vvere como lema, e se no possvel faz-lo em linha reta, ou seja, por prepotncia, ele

-

Aquilo que se pode aprender com o cristianismo, isto , que ele, sob o efeito de um tratamento historicizante, se tornou sof,rsticado e desnaturado, at que finalmente um tratamento completamente histrico, isto , justo, o dissolve em puro saber em torno do cristianismo, e com isso o aniquila, isso se pode estudar em tudo o que tem vida: que cessa de viver quando dissecado t o fim e vive dolorosa e doentiamente quando se comeam a praticar sobre ele exerccios dedissecao histrica.

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(. .) A cultura histrica tambm , efetivamente, uma espcie de encanecimento inato, e aqueles que trazem em si seus sinais desde a infncia tm de cfregar crena instintiva na velhice da humanidade: velhce. porm, convm agora uma ocupao senil, ou seja, olhar para trs, fazer as contas, concluir, proburar consolo no que foi por meio de recordaes, em suma, cultura histrica. A espcie humana, porm, uma coisa lenaz e persistente, e no quer aps milnios, nem mesmo aps centenas de milhares de anos, ser observada em seus passos para diante e para trs isto , no quer, de modo nenhum, ser observada como um -, todo por esse pontinho de tomo infinitamente pequeno, o indiduo humano. O que querem dizer alguns milnios (ou expresso de outro modo: o espao de tempo de trinta e quatro vidas humanas consecutivas, calcqladas em sessenta anos), para que no incio de um tal tempo se possa ainda falar em'Juventude" e na concluso j em "velhice da humanidade" ! No se aloja, em vez disso, nessa crena paraliQ.ante em uma humanidade j em fenecimento, o mal-entendido de uma representao cristiano-teoigica herdada da ldade Mdia, o pensamento da proximidade do fim do mundo, do julgamento esperado com temor? Transveste-se ssa representao na crescente necessidade histrica de juiz, como se nosso tempo, o ltimo. dos possveis, estivesse ele mesmo autorizado a promover esse Juizo universal,

alcana igualmente seu alvo quando se alia com a cultura histrica, o mais das vezes at mesmo sua revelia, e ento, falando a partir dela, recusa,

dando de ombros, tudo o que vem a ser, e esprai4. sobre ele o sentimento do tardio e do epigonal, em suma, o encanecimento inato. A considerao amarga e profundamente sria sobre o desvalor de todo o acontecido, sobre o estar-maduro-parao-julgamento do mundo, liquefez-se na conscincia ctica de que, em todo caso, bom saber todo o acontecido, poque tarde demais para fazer algo de melhor. Assim, o sentido histrico torna seus servidores passivos e retrospectivos;equase que somente por esquecirnento momentneo, precisamente na intermitncia desse sentido, o doente de febre histrica se torna atio','para, to logo a ao tenha passado, dissecar seu ato, impedir por meio da considerao analtica a continuao de seu efeito e, finalmente, ressequi-lo em "histri". Nesse sentido vivemos ainda na ldade Mdia, a histria sempre ainda uma teologia embuada: como, do mesmo modo, o terror sagrado com que o leigo no-cienfico trata a casta cientfca um terror s.agrado herdado do clerg. Aquilo que se dava outrora igreja d-se agora, embora com mais parcimnia, cincia: mas, se se d, isso foi obra da igreja em outros tempos e no, somente agora, obra do esprito moderno, que,s Lembrate que hs de morrer. (N. do E.)

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NtrETZSCHE

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ONSIDERAES EXTEMPORNEAS

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pelo contrrio, ao lado de suas,outras boas quaidades, tem sabidamente algo de ayateza e desconhece a nobre arte da generosidade.

()Essa histria entendida hegelianamente foi chamada com escrnio a perambulao de Deus sobre a Terra, Deus este que entretanto, por seu lado, s feito pela histria. Esse Deus porm tornou-se, no interior da caixa craniana de Hegel, transparente e inteligvel para si mesmo e j galgou os degraus dialticos possveis de seu vir-a-ser, at chegar a essa auto-revelao: de tal modo que para Hegel o ponto culminante e o ponto nal do processo universal coincidiam em sua prpria existncia berlinense. Alis, eli teria mesmo de dizer que todas as coisas que viriam depois dela s devem ser avaliadas, propriamente e, como a coda musical de um rond da histria universal ou, ainda mais propriamente, como suprfluas. Isso ele no disse: em compensao, implantou nas geraes fermentadas por ele aquela admirao diante da ipotncia da histria" que praticamente converte todos os instantes em admirao do sucedido e conduz idolatria do fatual: culto ste para o qual, agora, aprendeu-se universalmente a usar a lormulao muito mitolgica e alm disso bern alem: "levar em conta os fatos". Mas quem aprendeu antes a curvar as costas e inclinar a cabea diante da "potncia da histria" acaba por acenar mecanicame.te, chinesa, seu "sim" a toda potncia, seja esta

um governo ou uma opinio pblica ou uma maioria numrica, e movimenta seus membros precisamente no ritmo em que alguma "potncia" puxa os fios. Se todo sucedido contm em si urna necessidade racional, se todo acontecimento o triunsn[[s, depressa, todos de joelhos, e percorrei ajoefo do lgico ou da "Idia" -., lhados toda a esada dos "sucedidos" ! Como, no haveria mais mitologias reinantes? Como, as religies etariam morte? Vede simplesmente a religio da potncia histrica, prestai. ateno nos padres da mitologia das ldias e em seus joelhos esfolados I No esto at mesmo todas as virtudes no squito dessa nova crena? Ou no abnegao quando o homem histrico se deixa reduzir a um espelho objetivo? No granQeza renunciar a toda potncia no cu ou sobre a Terra, adorando em cada potncia a potncia em si? No justia ter sempre nas mos os pratos de balana das potncias e observar com finura qual delas, sendo mais forte e mais pesada, se inlina? E que escola de bom-tom uma tal considerao da histria ! Tomar tudo objetivamente, no se zangat com nada, no amar nada, compreender tudo, como isso torna brando e malevel; e mesmo quando um educado nessa escola alguma u3z sezanga publicamente e se irrita, isso causa alegria, pois bem se sabe que a inteno apenas artstica, ra e studium e, no entanto, inteiramente sine ira et studo.6 , Que pensamentos antiquados contra um tal complexo de mitologia e virtude tenho no corao! Mas algumaveztere de po-los para fora, por mais que riam. t.,u diria, ento: a histria sempre carimba: "era uma vez", a moral: 'ono deveis" ou "no deveis". Assim a histria se torna um compndio de amoralidade fatual. Quo gravemente erraria aqufle que visse a histria, ao mesmo tempo, como juluSem ira e dedicao.'(N. do

gadora dessa amoraidade fatual ! Ofende a moral, por exemplo, que um Rafael tenha tido de morrer com trinta e seis anos de idade: um tal ser no deveria morrer. Se agora quereis vir em auxlio da histria, como apologista do fatual, direis: ele enunciou tudo o que estava nee, se vivesse mais s teria podido criar beleza como beleza igual, no como beleza nova, e coisas semelhantes. Assim sois os advogados do diabo, ejustamente por fazerdes do sucedido, do fato, vosso dolo: enquanto o fato sempre estpido e em todos os tempos sempre teve aspecto mais semelhante a um bezerro do que a um deus. Como apologistas da histria insuflavos, alm disto, a ignorncia, pois somente por no saberdes o que uma natura naturans 7 tal como Rafael no ficais acalorados ao perceber que ele foi e no ser mais. Sobre Goethe, algum quis recentemente ensinar-nos que ele, com seus oitenta e dois anos, havia sobrevivido a si mesmo;e no entanto, por alguns anos do Goethe "sobrevivido", eu daria de bom grado vages inteiros cheios de frescas vidas ultramodernas, para ainda tomar parte em conversaes tais como Goethe as teve com Eckermann, e para, dessa maneira, Icar protegido de todos os ensinamentos contemporneos dos legionrios do instante. Quo poucos vivos tm, em geral, contrapostos a tais mortos, o direito de viver ! Se muitos vivem e aqueles poucos no vivem mais, isso no passa de uma verdade brutal, isto , de uma estupidez incorrigvel, de um rude 'oassim " contraposto moral "no deveria ser assim". Sim, contraposto moral ! Fois que se fale de qual virtude se queipor toda ra, da justia, grandeza, bravura, da sabedoria e da paixo do homem parte ele 'rirtuoso por levantar-se contra aquela cega potncia dos fatos, contra a tirania do efetivo, e por submeter-se a ieis que no so as leis daquelas flutuaes histricas. Ele sempre nada contra a correnteza da histria, seja quando combate suas paixes como a mais prxima fatuaidade estpida de sua existnia ou quando assume o dever da honestidade, enquanto a mentira urde ao seu redor sua rede cintilante. Se, de modo geral, a histria no fosse nada mais do que o "sistema universal da paixo e do erro", o homem teria de ler nela assim como Goethe aconselha que se leia o Werthef.' como se ela clamasse, "s um homem e no me sigas l" Por felicidade, porm, ela guarda tambm a memria dos grandes que combateam contra a histra, isto , contra a potncia cega do efetivo, e coloca a si mesma no cadafalso, ao destacar precisamente aqueles como as naturezas propriamente histricas, que pouco se afligem com o "assim ", para, em vez disso, com sereno orgulho, seguirem seu "assim deve ser". No levar sua gerao ao mulo, mas fundar dma nova gerao isto que os impele incaniavelmente para diante: e se eles mesmos nasceram como retardatrios h um modo de viver que faz esquecer isto as geraes vindouras s os conhecero como -, primcias.

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(. . .) De fato, est mais que no tempo de avanar contra os descaminhos do sentido histrico, contra o desmedido gosto pelo processo, em detrimento do sertNatureza naturante (Deus como causa). (N. do E.)

E.)

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NIETZSCHEe da vida, contra o insensato desocamento de todas as perspectivas, com todo o batalho de maldades satricas; e deve ser sempre dito em louvor do autor d,a Fito' safia do Inconscientes que ele foi o primeiro a conseguir sentir agudamente o ridculo da representao'do "processo universal" e, pela curiosa seriedade da sua exposio, fazer com que ele fosse sentido ainda mais agudamente. Para que est isso por enquanto no'deve a o "mundo", pra que est a a ''humanidade"

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nos afligir, a no ser que queiramos fazer uma-piada: pois o atrevimento do pequeno verme humano o que h de mais jocoso e de mais hilariante sobre opalco terrestre; mas para que tu, indivduo, ests a? isso te pergunto, e, se ningum te pode diz-lo, tenta apenas uma vez legitimar o sentido de tua existncia como que a posteror, propondo tu a ti mesmo um m, um alvo, um "para qu", no conheo nenhuma nalidade um alto e nobre "para qu". Morre por ele melhor para a vida do que morrer pelo grandioso e pelo impossvel, animae tnagnae prodigus.t Se, em contrapartida, as doutrinas do vir-a-ser soberano, da fluidez de todos os conceitos, tipos e espcies, da falta de toda diferena cardeal entre homem e animal doutrinas que considero como verdadeiras, ms como morno furor - instruo agora costumeiro, forem lanados ao povo inda de tais -, durante uma gerao, ningum deve admirar-se se o povo naufragar iro egoisticamente pequeno e msero, na ossificao e no amor-prprio, ou seja, se se desagregar e deixar de ser povo: em lugar disso, ento, talvez sistemas de egosmos individuais, irmandades para f,rns de pilhagem contra os no-irmos, e semelhantes criaes de vulgaridade utilitria entraro em cena no palco do futuro. Para pieparar o caminho a essas criaes, basta que se continue a escrever a histria do ponto de vista das massas e a procurar nela aquelas leis que podem ser derivadas das necessidades das massas, portanto as leis de movimento das mais baixas camadas de lama e de argila da sociedade. Somente sob trs perspectivas as massas me parecem merecer um olhar: uma vez, como cpias esmaecidas dos grandes homens, impressas em mau papel e'com chapas gastas, em seguida como obstculo contra os grandes e, enhm, como instrumentos dos grandes; de resto,. leve-a o'diabo e a estatstica! Como, a estatstca prova que h leis na histria? Leis? Sim, ela prova como comum e repugnantemente uniforme a massa: devemos chamar de leis o efeilo dessas foras de gravidade que so a estupidez, o arremedo, o amor e a fome? Ora, vamos admitio, mas com isso tambm se estabelece a proposio: enquanto h leis na histria, as leis no valem nada e a histria no vale nada. Mas precisamente aquela espcie de histria que est agora universalrnente em apreo, aquela que toma os grandes impulsos de massas como o mais importante e o principal na histria e considera todos os grandes homens apenas como a expresso mais ntida, por assim dizer como as bolhas que se tornam visvis sobre a torrente das guas.

-.:- SCFIOPENFIAUER COMO EDUCADOR.( r 874)

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a Edward von Harmann,proslito de Hegel, que Nietzsche apresenta aqui, ironicamente, como um genil paodista que, nos crictos enunciados de sua "Spass-Philosophie", nunca perde a cornpostura de uma verdadeira -"Ernst-Philosophie". (N. do T.) ! 'Que sacrifica a sua vida. (N. do E.)

Esse foi o primeiro perigo sombra do qual Schopenhauer cresceu: isolamento. O segundo : desespero da verdade. Este perigo acompanh todo pensador que ioma seu caminho a partir da filosofia kantiana, pressuposto que seja um homem vigoroso e inteiro no sofrer e desejar, eano apenas uma sacolejante mquina de pensar e de calcular. Mas sabemos tods muito bem que vergonhosa a situao, precisamente quanto a esse pressuposto; e at mesmo me paece, de modo geral, que somente em pouqussimos homens Kant atuou vivamente e transformou sangue e seivas. Alis, como se pode ler por toda parte, desde o feito desse tranqilo erudito deveria ter irrompido uma revolqo em todos os domnios do esprito; mas no posso acreditar nisso, Pois no o vejo claramente em homens que antes de tudo teriam de ser eles mesmos revolucionados, antes que quaisquer domnios inteiros pudssem s-lo..Mas, to logo Kant comece a exercer um efeito popular, ns o perceberemos na forma de um corrosivo e demolidor ceticismo e relativismo; e somente nos espritos mais ativos e mais nobres, que nunca agentaram permanecer na dvida, apareceria, no lugar dela, aquele abalo e desespero de toda verdade, que foi vivido, por exemplo, por Heinrich von Kleist, como ef,eito da filosofia kantiana. "H pouco", escreve ele, certa vez, a seu modo cativante, "travei conhecimento com a filosofia kantiana, e a1ora tenho de comunicar-te um pensamento tirado dela, pois no posso temer que ele te abalar to profunda, to dolorosamente quanto a mim. No podemos decidir se aquilo que denominamos verdade verdadeiramente verdade ou se':apenas nos parece assim. Se este ltimo, ento a verdade que juntamos aqui no mais nada depois da morte e todo esforo para adquirir um bem que nos siga at mesmo no mulo vo. Se a ponta desse pensamento no atinge teu corao, no sorrias de um outro que se sente profundamente ferido por ele, em seu ratimo mais sagrado. Meu nico, meu supremo alvo foi a pique, e no tenho mais nenhum." Sim, quando voltaro os homens a sentir dessa forma kleistiana, natural, quando reaprendero a medir o sentido de uma filosoia em seu "ntimo mas sagrado"? E no entanto isso necessrio antes que se possa avaliar o que pode ser, para ns, depois de Kant, precisamente Schopenhauer ou seja, o guia que conduz, da caverna do des-" nimo ctico ou da abstinncia crtica altur'da considerao tigica, o cu