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i Nutrição e Futebol Nutrition and Soccer Tiago Nuno Fontes Dias Orientado por: José Alejandro Ribeiro dos Santos Monografia Porto, 2008

Nutrição e Futebol Nutrition and Soccer · viii Palavras-Chave: Futebol, Performance, Nutrição, Hidratos de Carbono, Glicogénio, Proteínas, Hidratação, Suplementação, Composição

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Nutrição e Futebol

Nutrition and Soccer

Tiago Nuno Fontes Dias

Orientado por: José Alejandro Ribeiro dos Santos

Monografia

Porto, 2008

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“Nem tudo o que pode ser contado conta,

e nem tudo o que conta pode ser contado.”

Albert Einstein

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Agradecimentos

Um sincero agradecimento ao Professor Victor Hugo Teixeira por todo o

apoio e pela forma inspiradora com que me ensinou e motivou a minha paixão por

Nutrição no Futebol. É um modelo como professor e como nutricionista. Muito

obrigado.

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Índice

Agradecimentos ................................................................................................iv

Resumo..............................................................................................................iv

Abstract ............................................................................................................ viii

Introdução .......................................................................................................... 1

1- Fisiologia do Futebol ...................................................................................... 1

1.1- Padrões de actividade física no jogo de futebol ................................ 2

1.2- Posição do futebolista ....................................................................... 3

1.3- Sistema muscular.............................................................................. 4

1.4- Produção de energia no futebol ........................................................ 5

1.5- Substratos energéticos...................................................................... 6

2- Fadiga ............................................................................................................ 7

3- Necessidades Nutricionais do Futebolista...................................................... 9

3.1- Necessidades Energéticas................................................................ 9

3.2- Necessidades de Hidratos de Carbono........................................... 10

3.2.1- Antes do exercício.............................................................. 11

3.2.2- Durante o exercício ............................................................ 11

3.2.3- Após o exercício................................................................. 12

3.3- Necessidades Proteicas.................................................................. 13

3.3.1- Momentos de ingestão ....................................................... 13

3.4- Gordura ........................................................................................... 14

3.5- Vitaminas e Minerais ....................................................................... 15

3.6- Hidratação e Electrólitos ................................................................. 16

3.6.1- Antes do exercício.............................................................. 17

3.6.2- Durante o exercício ............................................................ 18

3.6.3- Após o exercício................................................................. 19

4- Etanol e futebol ............................................................................................ 19

5- Suplementação ............................................................................................ 21

6- Composição Corporal .................................................................................. 24

6.1- Ganho de massa muscular ............................................................. 24

6.2- Perda de massa gorda .................................................................... 25

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7- O futebolista adolescente............................................................................. 26

8- O futebolista feminino................................................................................... 28

9- Aspectos nutricionais em ambientes específicos ......................................... 30

9.1- Altitude ............................................................................................ 30

9.2- Calor................................................................................................ 30

9.3- Frio .................................................................................................. 31

9.4- Jet lag.............................................................................................. 31

Análise Crítica e Conclusão.............................................................................. 32

Referências Bibliográficas ................................................................................ 34

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Resumo

Em função da sua duração, o futebol é um desporto principalmente

dependente do metabolismo aeróbio. No entanto, a capacidade de realizar

exercício de alta intensidade é cada vez mais o factor que separa os jogadores de

classe mundial dos de qualidade inferior, pelo que a taxa de metabolismo

anaeróbio é alta durante certos momentos de um jogo de futebol. Por

conseguinte, as reservas de glicogénio muscular podem esgotar-se em algumas

fibras nos momentos finais do jogo causando fadiga. Outras razões para a

diminuição da performance são perdas de potássio para o meio extracelular, a

seguir a períodos de alta intensidade, e a desidratação, especialmente em

ambientes quentes e húmidos. As necessidades energéticas diárias de um

futebolista rondam as 60 kcal por kg de massa magra. Um futebolista de alta

competição deve ingerir entre 7-10g.kg-1 por dia de hidratos de carbono e 1,4-

1,7g.kg-1 de proteínas, tendo em consideração as particularidades dos momentos

de ingestão. A ingestão de gordura não deve exceder os 30% do valor energético

total diário. Um futebolista deve iniciar as sessões de exercício euhidratado, evitar

níveis de desidratação superiores a 2% da massa corporal durante e repor fluidos

e electrólitos perdidos no suor depois, com especial atenção ao sódio. O consumo

de etanol é desaconselhado durante a época desportiva. De entre os suplementos

com suposto efeito ergogénico usados e permitidos no futebol a cafeína e a

creatina trazem benefícios comprovados para um futebolista. Ter uma

composição corporal adequada é determinante para o desempeno desportivo. É

também fundamental atentar as necessidades nutricionais particulares dos

futebolistas adolescentes e femininos, bem como às exigências em competição

em ambientes específicos, como a altitude, o calor e o frio.

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Palavras-Chave: Futebol, Performance, Nutrição, Hidratos de Carbono,

Glicogénio, Proteínas, Hidratação, Suplementação, Composição Corporal

Abstract

Soccer is a sport mainly dependent of aerobic metabolism. However, the

capacity to realize high intensity exercises is, more and more, the main factor that

differences top players from those with less quality, so the rate of anaerobic

metabolism is high at some parts of the game. Therefore, some muscular fibres

could run out of their glycogen reserves at the final part of the game, leading to

fatigue. Other causes of performance decrease are potassium losses to the

extracellular space, after high intensity periods, and dehydration, especially in hot

and humid environments. The daily energetic needs of a soccer player are 60 kcal

per kg of fat free mass. A competitive soccer player should reach an intake of

carbohydrates around 7-10g.kg.day-1 and an intake of protein of 1,4-1,7g.kg.day-1,

always considering the ideal time of ingestion of these macronutrients. Fat

ingestion shouldn’t exceed 30% of their total energy intake. A soccer player should

initiate the exercise sessions well hydrated; avoid levels of dehydration above 2%

of their body mass during and afterwards replace the electrolytes lost in the sweat,

particularly sodium. Alcohol consumption isn’t recommended during the sporting

season. Creatine and caffeine are proved and allowed ergogenic aids in some

exercise situations in soccer. An adequate body composition is determinant for a

soccer player‘s performance. It’s also essential to notice the particular nutritional

needs of the young and the female athlete, as well of soccer players performing in

specific environments as altitude, heat and cold.

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Keywords: Soccer, Performance, Nutrition, Carbohydrates, Glycogen, Proteins,

Hydration, Supplementation, Body Composition

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Introdução

O Futebol é o desporto mais popular no mundo (1) e é praticado por

homens e mulheres de diferentes idades. Muita da paixão que este desporto

suscita nos seus adeptos advém da incerteza que caracteriza uma partida de

futebol. Existem diversos factores que contribuem para a performance e sucesso

desportivo de um futebolista, entre eles aspectos técnicos, tácticos, físicos,

fisiológicos e mentais (1). A nutrição apenas tem um pequeno papel no meio das

características genéticas, do treino e da motivação de um atleta, mas numa

competição cada vez mais difícil, onde os clubes apresentam capacidades e

estruturas cada vez mais semelhantes, a nutrição pode fazer a vital diferença

entre uma vitória e uma derrota (2). Por outro lado, além de maximizar a sua

performance, um futebolista pode permanecer saudável e evitar lesões através da

adopção de hábitos alimentares adequados (3). Este trabalho fornece uma visão

geral sobre Nutrição no Futebol, desde as exigências fisiológicas deste desporto,

às necessidades nutricionais de um futebolista, passando por temas como os

momentos de ingestão, composição corporal, suplementação e particularidades

de populações e ambientes específicos.

1- Fisiologia do Futebol

Um jogo de futebol tem uma duração oficial de 90 minutos, podendo

estender-se por mais 30 minutos de prolongamento, e é realizado a uma

intensidade muito elevada de forma intermitente e com sequências aleatórias de

fases de esforço e de repouso (4). Compreender a fisiologia do futebolista torna-se

fundamental para a adequação da estratégia nutricional a aplicar em função das

características individuais.

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1.1- Padrões de actividade física no jogo de futebol

Um futebolista faz cerca de 1000-1400 movimentos numa partida, entre

eles corridas, “sprints”, cortes, cabeceamentos, passes, remates, lançamentos…

Ao mais alto nível, um jogador de campo percorre cerca de 10-13 km (5). Os

“sprints” acontecem aproximadamente a cada 90 segundos e correspondem 1 a

11% da distância percorrida num jogo (1). Um sprint numa partida de futebol pode

atingir uma velocidade de 32 km.h-1 e quando acontecem durante mais de 30

metros obrigam um maior tempo de recuperação do que um sprint médio (10-15

metros) num jogo (5). O número de cortes de um jogador numa partida pode

chegar a 27, enquanto que pode saltar até 36 vezes durante os 90 minutos (5). A

impulsão de um futebolista (com movimento livre de braços) é na ordem dos 47,8

a 60,1 cm. Um futebolista executa e recebe cerca de 30 passes num jogo e um

remate tem uma velocidade média entre os 60 e os 100km.h-1. As equipas de

sucesso fazem 16-30 ataques e 7-10 remates à baliza por jogo (6).

É consensual que a quantidade de exercícios de alta intensidade é o factor

que separa os jogadores de classe mundial dos de qualidade inferior. Um estudo

demonstrou que jogadores internacionais realizam mais 28% de corrida a alta

intensidade e mais 58% de sprints que jogadores profissionais de menor categoria

(7). Em sprints de 10 metros, os futebolistas mais rápidos ganham, em média,

cerca de 1 metro aos mais lentos (1). Estes aspectos podem ser decisivos no que

diz respeito ao resultado final de um jogo.

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1.2- Posição do futebolista

São muito diferentes as exigências físicas a que cada jogador é submetido,

variando conforme a sua forma, as suas posições em campo e o seu papel táctico

específico (5).

Os guarda-redes são quem tem os níveis de impulsão mais elevados e

percorrem cerca de 4km numa partida (1). Os guarda-redes com melhor forma

física têm a capacidade de mergulhar com maior rapidez do que os menos

habilitados (6). Os defesas centrais cobrem uma menor distância no relvado e

realizam menos corridas de alta intensidade que os jogadores das outras

posições de campo (5). Os defesas laterais percorrem uma extensão considerável

em corrida de alta intensidade e sprint, no entanto realizam menos cortes e

cabeceamentos que defesas centrais, médios e atacantes (5). Os jogadores do

meio campo percorrem maiores distâncias do que os outros jogadores de campo.

Os meio-campistas têm, por outro lado, menor impulsão que os restantes

jogadores de campo. Os atacantes são quem realizam mais movimentos de sprint

e corrida a alta intensidade (5). No entanto, dentro de cada posição em campo

existe uma variação nas exigências físicas dependendo na função táctica e

capacidade física dos jogadores. Também é constatada uma variação na

performance física ao longo da época (7). Assim, devem-se considerar as

diferenças individuais no estilo de jogo e aptidão física de cada jogador aquando

do planeamento do treino e estratégia nutricional.

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1.3- Sistema muscular

O músculo-esquelético é o tecido responsável pela geração de força

requerida para o movimento durante o exercício. Esta capacidade de produzir

força é influenciada pela área total, tipo de fibras, número de unidades motoras

activas, frequência de “disparos” dos neurónios motores, comprimento do

músculo e velocidade de contracção (8).

Existem dois tipos de fibras musculares: fibras lentas (Slow Twitch – ST) e

fibras rápidas (Fast Twitch – FT). As ST têm como base o metabolismo oxidativo

e são bem fornecidas pelo sistema capilar, sendo resistentes à fadiga. Estão

associadas a exercícios prolongados de baixa Intensidade. As FT dividem-se em

FTa (fibras rápidas oxidativo-glicolíticas) e FTb (fibras rápidas glicolíticas). Têm

maior capacidade glicolítica (FTb > FTa), menor capacidade oxidativa (FTa > FTb)

e atingem a fadiga mais rapidamente em relação às ST (8). Por exemplo, o

músculo vasto lateral, importante para o gesto técnico de remate, é constituído

por 50-60% de fibras rápidas, já no gastrocnémio, importante para a locomoção,

56% são fibras lentas, 40% são fibras rápidas oxidativo-glicoliticas e 4% fibras

rápidas glicolíticas (6).

De um modo geral, podemos dividir a contracção muscular em contracções

concêntricas (dinâmicas, onde o músculo diminui o seu comprimento, encurtando-

se), excêntricas (dinâmicas, mais agressivas para o músculo, onde as

extremidades do músculo afastam-se) e isométricas (estáticas, o músculo

mantém as suas dimensões) (4). Aumentando a força de contracção muscular em

músculos ou grupos de músculos apropriados pode ser melhorada a capacidade

de aceleração e velocidade em movimentos determinantes no futebol como uma

mudança de direcção, um sprint e uma mudança de velocidade (1).

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1.4- Produção de energia no futebol

Em função da sua duração, o futebol é principalmente dependente do

metabolismo aeróbio (1). Neste tipo de sistema a produção de energia para a

contracção muscular provem principalmente da oxidação de glicose e ácidos

gordos, gerando cerca de 1 mole de ATP (trifosfato de adenosina) por minuto (8).

A frequência cardíaca média durante um jogo (160-170 batimentos por minuto)

sugere que a média de consumo de oxigénio é cerca de 70-75% VO2max

(consumo máximo de oxigénio em mL.kg.minuto-1) (5). Mais importante para a

performance do que a média de consumo de oxigénio durante um jogo é a subida

de consumo de oxigénio durante as diversas acções curtas e intensas. A corrente

sanguínea para um músculo em exercício é continuamente superior do que em

repouso, o que significa que o fornecimento de oxigénio nestas alturas é, também,

maior (5).

Os futebolistas de elite realizam 150-250 acções intensas de curta duração

durante um jogo (5) o que indica que a taxa metabolismo anaeróbio é alta durante

certas alturas. Em exercícios como “sprints”, saltos, cortes e duelos físicos, a

energia para a contracção muscular provém principalmente do fosfato de creatina

(geração de 4 moles de ATP por minuto) e da glicose/glicogénio muscular

(gerando 2,5 moles de ATP por minuto). Assim, existe uma quebra das

concentrações de fosfato de creatina durante o exercício intenso, que em certa

extensão é ressintetizada em alturas do jogo de menor intensidade. Por outro

lado, as concentrações podem baixar até 30% do valor em repouso, durante

partes do jogo em que repetidas acções intensas são realizadas com pequenos

períodos de recuperação (5). O mesmo acontece com a acumulação de lactato em

consequência da glicolise. É fisiologicamente impossível manter uma intensidade

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muito elevada durante um período elevado de tempo devido à acumulação de

lactato no sangue. Assim, os futebolistas precisam de períodos de acções de

menor intensidade para a remoção do lactato dos músculos em exercício (5). É

importante notar que jogadores com um VO2max superior apresentam menores

concentrações de lactato no sangue devido a uma maior capacidade de

recuperação de exercícios de alta intensidade, através do aumento da resposta

aeróbia, maior capacidade de remoção de lactato e melhor capacidade de

regeneração de fosfato de creatina.

1.5- Substratos energéticos

Como se percebe, após a compreensão dos sistemas de produção de

energia, o glicogénio é o substrato mais importante para um jogador de futebol. A

depleção de glicogénio nas fibras musculares mais frequentemente recrutadas no

exercício é uma das principais causas do desenvolvimento de fadiga (6). A análise

de fibras musculares após um jogo revelou que um número significativo se

encontrava totalmente ou parcialmente em depleção no fim da partida (9). Essa

condição parece explicar a redução da capacidade de sprint, quer

temporariamente, quer no final de um jogo de futebol (9).

As concentrações de insulina baixam enquanto as de catecolaminas

aumentam progressivamente durante uma partida de futebol, o que estimula uma

maior taxa de lipólise e a libertação de ácidos gordos livres para o sangue. Os

períodos de repouso e de exercício de baixa intensidade num jogo permitem uma

expressiva circulação sanguínea no tecido adiposo, o que também promove a

libertação de ácidos gordos livres. A alteração na concentração destes ácidos

gordos origina a sua maior captação e oxidação nos músculos. Em adição, o

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aumento da concentração de catecolaminas faz aumentar a utilização dos

triacilgliceróis musculares. Ambos os processos poderão ser mecanismos

compensatórios da perda progressiva de glicogénio muscular e favorecem a

manutenção de altas concentrações de glicose no sangue (5).

A oxidação de proteínas contribui com menos de 10% do total de produção

de energia durante um jogo de futebol (10).

2- Fadiga

Uma questão fundamental para o rendimento desportivo é quando a fadiga

ocorre num jogo de futebol e quais as suas causas. A fadiga ou decréscimo de

performance ocorre em três momentos de um jogo: após curtos períodos de alta

intensidade em ambas as partes, na fase inicial da segunda parte e na fase final

do jogo (11). São muitos os estudos que demonstram que a capacidade de um

futebolista realizar exercícios de alta intensidade diminui à medida que se avança

para o final de um jogo, nomeadamente uma diminuição na quantidade de sprints,

corridas de alta intensidade e distância percorrida nas segundas partes de jogos

de futebol (5, 12). É fundamental que um jogador de futebol mantenha a sua

performance até os 15 minutos finais de um encontro, já que a probabilidade de

marcar um golo se encontra aumentada (6). Está também demonstrado um

decréscimo na performance física e técnica entre a primeira e a segunda parte

(12).

Apesar de ainda ser pouco claro o mecanismo por detrás da diminuição da

performance no final do jogo e da fadiga temporária, os principais factores

responsáveis deverão passar por distúrbios iónicos, acoplamento

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excitação/contracção prejudicado, acumulação de metabolitos e depleção de

substratos (8).

Um dos principais candidatos é a depleção das reservas de glicogénio (11).

A elevação das reservas de glicogénio antes de exercícios intermitentes

prolongados, através de um regime alimentar rico em hidratos de carbono,

demonstrou um aumento da performance no exercício em questão (5).

Também a desidratação e hipertermia parecem estar associadas ao

desenvolvimento de fadiga. Foi observada uma diminuição nos tempos de sprints

de 5 e 10 metros apresentando os atletas perdas de fluidos na ordem dos 2,7%

da massa corporal. Futebolistas podem perder 3 litros de fluidos durante os jogos

em climas temperados e até 5 litros em ambientes quentes e húmidos (5). No

entanto, a perda de fluidos parece nem sempre ser um factor que prejudica a

performance quando se aproxima o final de uma partida, já que a mesma redução

na velocidade de um sprint foi verificada em atletas com perdas hídricas apenas

na ordem de 1% da massa corporal (5).

Outra condição verificada em análise de partidas de futebol é a fadiga

temporária, onde a performance é reduzida após um período de exercício intenso.

Exclui-se a hipótese de resultar de uma variação natural na intensidade do jogo

devida a factores tácticos e fisiológicos, do aumento das concentrações de lactato

no músculo, da descida de pH (cerca de 6,8), de alterações no fosfato de creatina

muscular na fase final de exercícios intensos, ou do baixo nível de ATP (9, 11, 13, 14).

É sugerido que o desenvolvimento de fadiga durante exercícios de alta

intensidade esteja relacionado com uma acumulação de potássio no interstício do

músculo e consequente despolarização do potencial da membrana muscular que

reduz marcadamente a capacidade de desenvolvimento de força (5).

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A fadiga também é influenciada por eventos ocorridos no sistema nervoso

central e periférico. A hipótese da fadiga central é baseada na assumpção que a

síntese e o metabolismo das monoaminas centrais é influenciado por exercícios

prolongados, afectando consequentemente a sensação subjectiva de letargia e

cansaço, causando uma impressão de esforço, desconforto e até falta de

motivação para a continuação do exercício. Apesar de não parecer influenciar a

performance física, a ingestão de tirosina pode contribuir para o sucesso da

execução de certos movimentos de um futebolista já que contribui para percepção

e performance mental, melhorando a função cognitiva nas fases finais de uma

partida de futebol (15). A ingestão de ácidos aminados de cadeia ramificada não

parece trazer vantagens para a performance de um futebolista (15).

Mais estudos são necessários para revelar o que causa fadiga durante

partidas de futebol e o sucesso de intervenções nutricionais para a combater.

3- Necessidades Nutricionais do Futebolista

O regime alimentar que promove a melhor performance de um futebolista

está em plena consonância com as recomendações de uma alimentação

saudável. As particularidades da alimentação dos futebolistas passam por

maiores necessidades energéticas, um elevado consumo de hidratos de carbono,

a fim de maximizar as reservas de glicogénio, uma especial importância da

hidratação e especificidades dos momentos de ingestão e composição das

refeições antes, durante e após o exercício.

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3.1- Necessidades Energéticas

O gasto energético total de um futebolista é um somatório da sua taxa de

metabolismo basal, efeito térmico dos alimentos, do exercício e, em certos casos,

do seu crescimento. A ingestão energética de um atleta deverá rondar as 60 kcal

por kg de massa magra por dia, a quantidade necessária para fornecer

combustíveis metabólicos para todos os processos fisiológicos (16). Em relação ao

futebol, um jogador despende 10 kcal.kg.h-1, durante o jogo e 7 kcal.kg.h-1, num

treino. O gasto energético diário de um futebolista ronda as 3500 e 4000 kcal (6, 17-

19). Apesar de ser difícil concluir sobre as práticas alimentares de um futebolista

contemporâneo, a ingestão de energia diária de um futebolista adulto do sexo

masculino rondará as 3107 e 3824 kcal (16). Muitos jogadores, quer masculinos,

quer femininos, não têm uma ingestão energética adequada, o que se pode

traduzir numa instalação mais precoce de fadiga e numa ingestão pobre de

nutrientes (20).

3.2- Necessidades de Hidratos de Carbono

A ingestão de hidratos de carbono tem como principal objectivo manipular o

conteúdo muscular de glicogénio. Desde que a ingestão energética seja a

adequada, o aumento da ingestão diária de hidratos de carbono promove um

aumento das reservas de glicogénio muscular de forma continuada até estabilizar

a ingestões de 10g.kg.dia-1. Cada jogador deve adequar esta ingestão às

características do seu programa de treino e exigências competitivas. Atletas com

uma carga de treino moderada com um papel em campo menos móvel deverão

ter uma ingestão na ordem dos 5 a 7g.kg.dia-1. Jogadores mais móveis e sujeitos

a treinos mais intensos, como duas sessões diárias ou no dia a seguir ao jogo,

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deverão ingerir 7 a 10g.kg.dia-1 (16). A ingestão de hidratos de carbono por parte

de futebolistas é, de modo geral, deficitária, tendo sido reportadas ingestões entre

os 44% e os 57% do valor energético diário total (17, 21-24).

3.2.1- Antes do exercício

A ingestão de uma refeição rica em hidratos de carbono (contendo 200-

300g de hidratos de carbono) 3 a 4 horas antes do exercício mostra-se vantajosa

no aumento das reservas de glicogénio muscular e hepático e,

consequentemente, no aumento da performance física (25). É recomendada a

ingestão de aproximadamente 100g de hidratos de carbono 1 hora antes do início

do exercício, desde que não provoque desconforto gastrointestinal, fornecendo

uma quantidade de glicose que fica disponível para ser usada durante o exercício

(25).

O consumo de hidratos de carbono de baixo índice glicémico (IG) antes do

exercício parece trazer mais vantagens para a performance quando comparados

com os de alto IG. Uma refeição contendo alimentos com baixo IG resulta em

níveis de glicose no sangue mais estáveis e maior sensação de saciedade

durante o exercício (26). Estas concentrações mais estáveis de glicose sanguínea

podem contribuir para atrasar a fadiga não só por disponibilizarem substrato ao

músculo, mas também por um efeito positivo no sistema nervoso central,

particularmente no cérebro. O consumo de hidratos de carbono de baixo IG

também contribui para uma maior utilização de ácidos gordos livres como

substrato energético, acompanhada por uma redução da taxa de degradação de

glicogénio, poupando assim as reservas de glicogénio muscular (26). No entanto,

garantindo uma ingestão de hidratos de carbono quantitativamente satisfatória no

período pré-competitivo, o seu IG tem pouco relevo na performance (27).

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3.2.2- Durante o exercício

A ingestão de uma solução com hidratos de carbono e electrólitos durante

o jogo de futebol em conjunto com um bom aporte de hidratos de carbono anterior

ao jogo será uma estratégia muito vantajosa para o futebolista, especialmente em

casos que o jogo vá a prolongamento (26). Além de poupar o glicogénio muscular

durante o exercício, esta ingestão de hidratos de carbono mostrou aumentar a

performance física, aumentando a distância percorrida num jogo em 1km (16) e em

5-6% a capacidade de efectuar múltiplos sprints na segunda parte do jogo (28) e

fazendo com que o futebolista tenha uma menor sensação de esforço (29);

aumentar a performance técnica, diminuindo os erros e atenuando a perda de

qualidade de passe, drible e remate durante o jogo (30) e melhorar a performance

mental, beneficiando a capacidade de decidir jogadas (15). É recomendada a

ingestão de 30 a 60g.h-1 de hidratos de carbono de absorção rápida durante o

exercício (31).

3.2.3- Após o exercício

A maior taxa de armazenamento de glicogénio por parte do músculo

acontece na primeira hora após o exercício, já que há um melhor fornecimento de

glicose, uma actividade enzimática acrescida no músculo (16) e maiores

concentrações dos transportadores de glicose para as células musculares (GLUT-

4) (32). Alimentos ricos em hidratos de carbono com IG moderado a alto aparentam

ser mais vantajosos do que os com baixo IG na promoção da síntese de

glicogénio (16). Assim, a manipulação do momento de ingestão e do tipo de

hidratos de carbono traz vantagens metabólicas na recuperação após o exercício.

Esta ingestão imediatamente após o exercício, que fornece substrato às células

musculares para o início de uma recuperação efectiva, é particularmente valiosa

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quando o tempo entre sessões é limitado, o que acontece quando uma equipa

tem treinos bi-diários. Uma rápida recuperação das reservas de glicogénio

durante as primeiras horas de recuperação pode ser atingida por uma ingestão

total de hidratos de carbono de 1,0-1,2g.kg.h-1 nas primeiras 4h, talvez em

pequenas merendas a cada 15-30 minutos. Estudos recentes sugerem que um

músculo bem treinado pode normalizar ou até super-compensar as reservas de

glicogénio nas 24-36h seguintes à última sessão de exercício (16).

3.3- Necessidades Proteicas

Apesar das proteínas não contribuírem muito significativamente como

substrato energético no futebol, a ingestão proteica é fundamental para optimizar

muitas das adaptações que acontecem músculo em resposta quer ao treino de

endurance quer ao treino de resistência. As recomendações apontam para uma

ingestão proteica por parte de um futebolista na ordem dos 1,4-1,7g.kg.dia-1 (10).

Os futebolistas parecem ingerir proteína em quantidades suficientes, variando

entre os 14% e os 18% do valor energético total diário (17, 21, 22, 24, 33).

3.3.1- Momentos de ingestão

Uma ingestão de proteínas juntamente com hidratos de carbono (cerca de

10-20g de proteína) (2) antes, durante ou logo após o exercício aumenta a

disponibilidade e transporte de ácidos aminados para o músculo, favorecendo a

síntese proteica enquanto que a o seu catabolismo é atenuado, resultando num

balanço proteico positivo (34). Neste sentido bebidas como o leite magro, ou o leite

chocolatado têm sido apontadas como boas opções no sentido da rehidratação e

recuperação do exercício (35, 36).

Uma ingestão aguda de proteínas perto do início do exercício parece

apresentar um maior impacto na adaptação ao treino. Assim, a síntese proteica

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parece ser superior quando uma solução de hidratos de carbono e ácidos

aminados é consumida antes da realização de exercícios do que quando

consumida após (34).

A co-ingestão de proteínas e hidratos de carbono imediatamente após o

treino atenua o dano muscular e a sensação de dor. Este consumo também

contribui para a recuperação do exercício, ao estimular a libertação de insulina e a

ressintese de glicogénio muscular (37). A quantidade de ácidos aminados

essenciais necessária após o exercício para estimular a síntese proteica parece

ser modesta (� 6g) (34).

3.4- Gordura

A gordura é um componente necessário de um regime alimentar,

fornecendo energia e elementos essenciais às membranas celulares e nutrientes

associados como as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K).

Como já foi referido anteriormente, a gordura e os hidratos de carbono são

as principais fontes de energia durante o exercício. Um atleta masculino tem em

média cerca de 9kg de gordura corporal, o correspondente a 80543 kcal, o que

forneceria energia suficiente para caminhar durante mais de 10 dias consecutivos

(38). Assim, um regime alimentar rico em gordura não trás vantagens competitivas

a um futebolista (ver capítulo da composição corporal) e de acordo com alguns

autores, o consumo de 30-35% do valor energético total em gordura está

associados a uma redução da geração de força em alguns desportos (21).

Assim, a ingestão de gordura deve ser inferior a 30% do valor energético

total diário (39), tendo em conta que também não deve ser muito baixa, pois

ingestões abaixo dos 15% podem prejudicar a performance por diminuir os

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triacilgliceróis intra-musculares, ter efeitos negativos nas lipoproteínas e restringir

o aporte de ácidos gordos essenciais e de vitaminas lipossolúveis (40). Existem

evidências que mostram que ingestão de gordura por parte de futebolistas parece

exceder as recomendações, variando entre os 30% e 40% (17, 21, 22, 33).

3.5- Vitaminas e Minerais

Os micronutrientes desempenham um papel importante na produção de

energia, síntese da hemoglobina, manutenção da estrutura óssea, conservação

da função imunitária e protecção dos danos provocados pelo stress oxidativo nos

tecidos. Também são necessários para construir e reparar o tecido muscular após

o exercício. É assumido que as actuais recomendações de ingestão de

micronutrientes para a população em geral elaboradas por organizações de

referência (Food and Nutrition Board) são adequadas para atletas e, tendo isto em

conta, parece que os futebolistas apresentam uma ingestão adequada de

micronutrientes (21, 24, 33). No entanto, a suplementação em vitaminas e minerais

pode ser necessária em casos em que futebolistas se apresentem num estado de

deficiência ou carência de vitaminas ou minerais. Os comportamentos mais

susceptíveis de causarem este estado são restrição da ingestão de energia ou

práticas severas de perda de peso, eliminação de certos grupos de alimentos do

regime alimentar ou consumo de uma alimentação muito rica em hidratos de

carbono e pobre em alimentos com alta densidade nutricional em micronutrientes

(40).

Os nutrientes antioxidantes, como vitaminas E e C, beta caroteno e selénio,

desempenham um papel importante na protecção das membranas celulares dos

danos oxidativos (40). O exercício tem sido implicado no aumento da produção de

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16

espécies reactivas de oxigénio até um ponto que excede as defesas antioxidantes

provocando stress oxidativo. O stress oxidativo tem sido relacionado com a

patogenicidade de muitas doenças crónicas e foi implicado a danos musculares e

redução da função imunitária, que podem afectar a performance física (41). Por

outro lado, os futebolistas que treinam frequentemente parecem exibir um melhor

estado antioxidante e protecção contra o stress oxidativo em relação a indivíduos

sedentários saudáveis (42). No entanto, estas adaptações parecem não ser

suficientes para corresponder em absoluto ao aumento de eventos pró-oxidantes

consequentes de exercícios físicos muito intensos. Continua a ser controverso

considerar que o exercício induz um aumento das necessidades dos nutrientes

antioxidantes, mas parece que uma ingestão destes micronutrientes superior às

recomendações para a população geral pode melhorar o estado antioxidante de

um jogador de futebol (42).

3.6- Hidratação e Electrólitos

As exigências de um jogo de futebol originam elevações na temperatura

corporal e o início da sudação de modo a promover a perda de calor por

evaporação, mesmo em ambientes frios. Isto, por sua vez, leva a uma perda de

água corporal e electrólitos que, se acontecer numa magnitude suficiente, pode

originar um decréscimo da performance mental e física, com implicações

consequentes para o desfecho de uma partida de futebol (43). A performance num

exercício está prejudicada quando a desidratação excede os 2% da massa

corporal antes do exercício, partindo do pressuposto que 1kg de massa perdido é

equivalente a 1 litro de perdas de suor (44, 45). Já foram relatados défices de fluidos

na ordem dos 3 a 5% em futebolistas (2). A reposição de fluidos deve ser

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proporcional à intensidade do exercício, às condições climatéricas e adaptações

do atleta ao clima, à forma física e às características fisiológicas e biomecânicas

dos atletas (46). A cor e o volume da urina são bons indicadores do estado de

hidratação, devendo esta ser clara e inodora.

O sódio é o principal electrólito perdido pelo suor, existindo uma grande

variabilidade entre os futebolistas nestas perdas devido a diferentes taxas de

transpiração e concentrações em electrólitos do suor. As perdas de sal pelo suor

variam entre menos de 1g até 10g (2). As suas perdas são mais difíceis de avaliar

que as hídricas, havendo contudo formas mais empíricas (manchas brancas no

equipamento desportivo, sensação de ardor nos olhos ou sabor do suor) ou

elaboradas (colocação de pensos para colheita de electrólitos em certas zonas do

corpo) (47).

3.6.1- Antes de exercício

Algumas tácticas podem ser utilizadas para evitar a desidratação como a

hiperhidratação e a aclimatização do atleta. A hiperhidratação pode ser alcançada

com uma alta ingestão de água juntamente com um agente que a “segure” no

organismo, como soluções de sódio e glicerol (48). Esta estratégia não parece

trazer grandes vantagens em termos de termorregulação, mas pode atrasar o

estado de desidratação (48). Um esquema de treinos de 1 a 4 horas durante 5 a 15

dias contribui para que o corpo de um futebolista se ajuste a climas mais quentes.

Esta aclimatização contribui para uma diminuição da temperatura corporal de

repouso e durante o exercício, reduz a frequência cardíaca durante o exercício e

aumenta da taxa de transpiração (46). No entanto, os calendários da época

desportiva no futebol, com os atletas a competirem frequentemente duas vezes

por semana, tornam essa prática pouco exequível.

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Para garantir uma correcta hidratação durante treino e jogos, recomenda-

se a ingestão de 5-7ml por kg de massa corporal, de água, sumos ou bebidas

desportivas 4 horas antes do início da sessão. Assim, a água necessária para o

organismo é retida e o excesso é excretado pela urina neste período. Se o atleta

não produzir urina, ou esta esteja escura e muito concentrada, deve beber mais

líquidos (3-5ml por kg de massa corporal) cerca de 2h antes do exercício (48).

Caso a bebida seja água recomenda-se o consumo de alimentos sólidos, os quais

vão fornecer electrólitos, particularmente sódio, que irá reter a água consumida

(44).

3.6.2- Durante o exercício

Um futebolista deve ingerir bebidas durante os treinos e jogos sempre que

possível e limitar a perdas pelo suor para valores inferiores aos 2% da massa

corporal. A ingestão de fluidos por futebolistas durante o exercício normalmente

não compensa as perdas pelo suor (47), seja em ambientes quentes (49), seja em

frios, sendo a ingestão menor a temperaturas mais baixas (50). Em geral, a

reposição de fluidos corresponde a apenas 50% das perdas (46).

As bebidas desportivas são opções vantajosas para ser consumidas

durante o exercício, já que para além de promoverem a hidratação, repõem os

electrólitos perdidos pelo suor. A reposição de sódio contribui para a prevenção

de cãibras (47) e para uma hidratação e re-hidratação mais eficientes (51). A alta

intensidade com que se disputa um jogo de futebol muitas vezes não permite que

os jogadores ingiram bebidas durante as partidas. Assim, a ingestão de bebidas

desportivas no intervalo torna-se particularmente importante. Estas bebidas

devem ter 20-30 mEq.L-1 de sódio, 2-5 mEq.L-1 de potássio (48) e 6-8% de hidratos

de carbono (46) e devem ser fornecidas a uma temperatura entre 15-20º C, a cada

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15-20 minutos, num volume de 150-300ml (46). As bebidas desportivas disponíveis

no mercado têm geralmente uma composição adequada que vai de encontro às

necessidades dos atletas (52).

3.6.3- Após o exercício

A reposição de água e electrólitos após o exercício é uma etapa

fundamental para o processo de recuperação, sendo o principal objectivo repor as

perdas de fluidos para que na próxima sessão de exercício o futebolista se

encontre euhidratado. Assim, após o exercício um jogador deve ingerir uma

bebida rica em electrólitos e hidratos de carbono, devendo conter sódio, e a

ingestão deve ser 150% das perdas pelo suor (48). A ingestão de água simples

nesta fase contribui para um decréscimo da concentração de sódio e

osmolaridade plasmática, o que irá interferir com uma correcta hidratação por

baixar a sensação de sede e aumentar a eliminação pela urina. As bebidas

alcoólicas e que contenham cafeína devem ser evitadas durante o período de re-

hidratação, já que têm um efeito diurético (46).

4- Etanol e futebol

As bebidas alcoólicas estão intimamente associadas ao desporto,

particularmente ao futebol, sendo o caso mais visível o patrocínio a diversos

clubes e selecções nacionais por marcas de bebidas alcoólicas. O seu consumo é

particularmente associado à celebração, mas esta ingestão também pode estar

relacionada a comportamentos compensatórios em resposta ao fracasso (53).

O consumo moderado, usualmente definido como ingestão entre 10-40g de

etanol por dia para homens e 10-20g para as mulheres, não é genericamente

considerado como prejudicial para a saúde, estando até relacionado com

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20

menores taxas de mortalidade em comparação com consumos superiores ou à

abstenção. No entanto, a ingestão excessiva de etanol é comum no futebol,

existindo o hábito de muitos jogadores se absterem da ingestão de bebidas

alcoólicas durante os dias de treino, mas beberem quantidades copiosas após os

jogos (53).

Existem razões para acreditar que uma ingestão aguda de bebidas

alcoólicas pode prejudicar a performance de endurance; por efeitos na função

metabólica, cardiovascular e termorregulatória, e a performance técnica; por

efeitos no tempo de reacção, controlo fino de movimentos, níveis de alerta e

capacidade de decisão de um futebolista (53).

Além destes efeitos na performance, o etanol tem um efeito bem

reconhecido como diurético, estando associada um excesso de produção de 10ml

de urina por cada grama de etanol ingerido (53).

A ingestão de etanol também parece estar associada a um maior risco de

hipoglicemia devido ao efeito supressor da produção de glicose no fígado. Apesar

de não existir um efeito metabólico directo do etanol nas reservas de glicogénio

quando a ingestão de hidratos de carbono é alta, é provável que jogadores que

ingiram grandes quantidades de bebidas alcoólicas durante o período de

recuperação após treinos e jogos tenham um consumo reduzido de hidratos de

carbono, principalmente como resultado da incapacidade de seguir as estratégias

alimentares recomendadas nestes períodos (53).

A ingestão de etanol, normalmente, relaciona-se com comportamentos e

outros processos que podem influenciar o risco de lesões e o processo de

recuperação das mesmas. O consumo de etanol parece aumentar o risco de

lesões relacionadas com o futebol, com uma prevalência de lesões de 59% em

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futebolistas que consumem etanol, comparada com 17% em atletas que não

consomem (54). Lesões mais graves ou intervenções cirúrgicas resultam em

maiores tempos de paragem competitiva nos futebolistas, períodos mais

tentadores para o consumo excessivo de etanol, talvez por o jogador não sentir

necessidade para se preparar para jogos ou se sentir mais deprimido pelo seu

afastamento dos jogos e da rotina de treinos. Este comportamento pode resultar

em ganho de peso indesejado, além dos potenciais efeitos negativos nos

processos de reparação do músculo e outros tecidos (53).

5- Suplementação

No futebol, é prática comum a administração de suplementos desportivos,

muitas vezes promovida por preparadores físicos, treinadores e até pais dos

atletas mais jovens. O facto é que a eficácia da maioria dos suplementos

disponíveis no mercado não está provada e, mais grave do que esta ineficácia, é

o facto desta ingestão quando feita inconscientemente, poder apresentar

possíveis efeitos negativos para a saúde. Além disso, pode originar análises

positivas em controlos anti-doping, já que em muitos casos as indicações dos

rótulos podem não corresponder à verdadeira composição do produto. Segundo o

Comité Olímpico Internacional, 15% dos suplementos estão “contaminados” (55).

Outra questão que fica em aberto é a falta de conhecimento dos efeitos do

consumo de suplementos a longo prazo (37).

No entanto, a ingestão apropriada de certos suplementos conjuntamente

com treino adequado pode contribuir para uma melhor performance no futebol.

Este efeito ergogénico é geralmente pequeno e provavelmente apenas se faz

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notar em futebolistas de topo onde a competição é tão igual e pequenos detalhes

podem ser a diferença entre a vitória e a derrota.

De seguida serão abordadas as substâncias que trazem ou poderão trazer

benefícios à performance de um futebolista. As vantagens dos suplementos que

poderão ajudar um atleta a atingir objectivos nutricionais específicos, como

aumento da ingestão de hidratos de carbono e proteína, e a suplementação em

antioxidantes, já foram abordadas anteriormente.

A cafeína aumenta a performance de endurance, melhora o tempo de

reacção, a atenção mental e o processamento visual numa partida de futebol (37).

Os seus mecanismos de acção são apenas em parte conhecidos. A cafeína

estimula a lipólise e a taxa de oxidação de gordura do músculo, poupando assim

a utilização de glicogénio muscular como substrato energético. Todavia a sua

acção na performance passará principalmente pela redução da percepção de

fadiga, acção estimulante mental, aumento do recrutamento de fibras musculares

e aumento da circulação sanguínea. A ingestão no aquecimento que antecede um

jogo de futebol faz com que o efeito na performance se prolongue por todo o

desafio, mesmo que este tenha tempo-extra, sendo mais eficaz a ingestão da

mesma dose de cafeína na sua forma pura do que sobre a forma de café (37). Uma

sobredose prejudica o tempo de reacção e atenção mental pelo que idealmente

se aconselha um consumo diário moderado e 3-6mg.kg-1 de massa corporal para

jogadores de campo e 1-2mg.kg-1 para guarda-redes durante o aquecimento

anterior ao jogo (o efeito diurético destas doses é negligenciável) (37).

A creatina contribui para melhorar a recuperação após o exercício, estimula

o poder e força muscular e aumenta o volume do músculo. A ingestão conjunta de

uma dieta rica em hidratos de carbono e creatina pode aumentar a reposição de

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glicogénio muscular após o exercício, o que é muito vantajoso especialmente

quando o tempo de recuperação entre jogos é limitado (37). A degradação de ATP

é poupada durante contracções musculares de alta intensidade quando as

concentrações musculares de creatina estão aumentadas pela ingestão desta.

Por outro lado, a estimulação da ressíntese da fosfocreatina muscular contribui

para a recuperação após exercícios máximos de curta duração. Estes, até a data,

parecem ser os principais mecanismos por detrás da maior capacidade de

produzir força por parte do músculo. O regime clássico de ingestão de creatina

recomenda numa fase inicial de 4-7 dias a ingestão de 15-20g por dia, seguida

por uma dose de manutenção de 2,5g por dia. No entanto, é sugerido que o efeito

da suplementação de creatina diminui após 2 meses (37). Também tem sido

demonstrado que a suplementação em creatina facilita a recuperação do volume

muscular e da capacidade funcional do músculo durante treinos de reabilitação

após um episódio de atrofia muscular devia a imobilização das pernas, sendo

uma opção a ter em conta para a recuperação após lesões no futebol (37).

�-hidroxi-metilbutirato (HMB) é um metabolito natural da leucina, ácido

aminado de cadeia ramificada. Tem sido sugerido que o HMB está associado ao

anabolismo muscular, ao mediar o efeito anti-catabólico que a leucina exerce

sobre a proteína muscular. No entanto, as provas do efeito ergogénico do HMB

são fracas, sendo necessários mais estudos (37).

Pensa-se que a glicosamina e condroitina promovem a integridade

estrutural e resiliência da cartilagem óssea, contribuindo para a manutenção da

saúde das articulações (37). A sua suplementação pode ser vantajosa em

futebolistas, já que contribuirá para prevenir lesões e dores articulares tão comuns

no futebol. No entanto, esta prática será ainda prematura já que ainda não

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existem evidências deste efeito da glicosamina e condroitina em futebolistas

saudáveis (37). Indivíduos com alergias a marisco devem abster-se do consumo de

glicosamina.

Em suma, a suplementação de certas substâncias pode realmente trazer

vantagens para a performance desportiva, no entanto o seu consumo apenas

deve ser efectuado sobre aconselhamento de um profissional qualificado da

nutrição desportiva.

6- Composição Corporal

Uma composição corporal ideal varia conforme o estilo de jogo e posição

do futebolista. No entanto, é dado certo que as características fisiológicas

desempenham um papel fundamental na performance no futebol e os futebolistas

das equipas melhor classificadas se encontram em melhores condições físicas

em comparação com jogadores de equipas com menor ranking (56). O tecido

adiposo actua como peso morto em actividade em que a massa corporal tem que

ser carregada repetidamente contra a gravidade (57). Dados de futebolistas adultos

de alto nível sugerem valores de percentagem de massa gorda na ordem dos 8,2-

13% (16).

A melhor altura para a manipulação da composição corporal de um

futebolista é no seu período de férias da competição e pré-época, sendo

necessária uma combinação da manipulação quer do treino, quer do regime

alimentar, para optimizar a massa magra e massa gorda (16).

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6.1- Ganho de massa muscular

Um aumento da ingestão energética, de maneira a se atingir um balanço

energético positivo, é importante para promover ganhos com o treino de força. É

uma evidência crescente que a ingestão de hidratos de carbono e proteína antes

e após esse tipo de treino contribui para maximizar seu aproveitamento (58).

Assim, uma ingestão de proteína antes e após o treino contribui para um balanço

proteico positivo, que origina o anabolismo e hipertrofia muscular, não existindo

uma dose ideal de ingestão de ácidos aminados (59). Um regime de treino de força

com um aumento da força muscular também se mostra vantajoso na redução de

50% no número de lesões (1).

6.2- Perda de massa gorda

A redução da massa gorda corporal é alcançada pela manipulação do

regime alimentar e treino de modo a criar um balanço energético negativo. No

entanto, esta restrição de energia deve ser sustentada e moderada,

principalmente no momento competitivo, de modo a não prejudicar o rendimento e

a saúde do futebolista. A disponibilidade energética, isto é o total da ingestão

energética menos os gastos com o exercício, não deve ser inferior a 30 kcal por

kg de massa magra. Uma baixa disponibilidade energética causa distúrbios

hormonais, metabólicos e na função imunitária. Um plano alimentar pobre em

hidratos de carbono não é adequado para um programa de perda de massa gorda

num futebolista activo, já que também pode perturbar as funções metabólicas do

organismo. Assim as escolhas alimentares devem ir no sentido da manutenção de

uma ingestão adequada de combustível e nutrientes e evitar a sensação de fome,

optando para tal por um regime alimentar moderado em gordura, particularmente

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em gorduras saturadas, e alimentos de baixa densidade energética, alta

densidade nutricional e alta capacidade de saciação (16). Geralmente, os

futebolistas de topo perdem massa gorda ao longo da época, estando estas

reduções associadas a tempos mais rápidos de “sprints” (57).

7- O futebolista adolescente

Os jogadores adolescentes têm exigências físicas únicas para o seu

crescimento e desenvolvimento que tornam o papel da nutrição mais importante

do que apenas ser o fornecedor de combustível para o desporto (60). Em relação

ao futebolista adulto, as crianças e adolescentes têm os ossos mais porosos e

cartilaginosos, menor volume cardíaco, menores taxas de respiração e de

batimento cardíaco, maior consumo de oxigénio por kg de massa corporal, menor

capacidade de utilização de glicogénio e menor capacidade anaeróbia, produzem

mais calor corporal, suam menos e têm menor capacidade de aclimatização (20). O

treino intenso que muitas vezes os atletas jovens estão sujeitos pode ter impacto

negativo no seu crescimento natural, caso não exista uma combinação ideal entre

a intensidade do exercício e a ingestão de energia e nutrientes.

As alterações antropométricas que ocorrem nestas idades vão ser

determinantes para a performance desportiva futura, podendo a ingestão

nutricional neste período ser decisiva para a futura carreira desportiva de um

futebolista (61). Estudos realizados em futebolistas entre os 13 e 21 anos apontam

para que a média de percentagem de gordura corporal se situem entre os 9,6% e

os 15,9% (61-66).

A ingestão energética dos futebolistas jovens varia grandemente. Estudos

recentes acerca da ingestão nutricional de futebolistas adolescentes mostram

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uma ingestão energética entre 2352 e 3478 kcal (61-65). Por outro lado, o gasto de

energia foi reportado variar entre 2820 e 2983 (62, 67). Durante a adolescência é

desejável um balanço energético positivo, o que muitas vezes não acontece ao

analisar os diversos estudos realizados acerca da ingestão alimentar de

futebolistas adolescentes.

Estes mesmos estudos indicam que o consumo de hidratos de carbono é

frequentemente deficitário, entre 45%-56% do valor energético consumido por dia,

sendo a recomendação de 55 a 60% do valor energético total (61-65). Em média,

um futebolista nestas idades ingere entre 1,3 a 2,3g de proteína por kg de peso

(61-65). As recomendações apontam para uma ingestão proteica diária na ordem

dos 1,4g.kg-1 (67). O contributo da ingestão de gordura para o valor energético total

é geralmente elevado em futebolistas nos escalões de formação, variando entre

29%-39% (61-65).

Poucos estudos foram realizados acerca do estado de hidratação de

futebolistas antes da idade adulta. No entanto, jogadores jovens hiperhidratados

parecem ter maior capacidade de regulação da temperatura corporal, durante um

jogo de futebol, não sendo encontrados, todavia, efeitos na performance

desportiva (60).

Actualmente, o uso de suplementos ergogénicos em atletas adolescentes é

um fenómeno que tem vindo a aumentar no mundo desporto. Muitas destas

substâncias mais populares têm uma eficácia no mínimo duvidosa e acarretam

múltiplos riscos para os atletas (68). A creatina é um dos meios ergogénicos mais

utilizados, tendo sido reportado o seu consumo em crianças desde os 12 anos. O

consumo de creatina não é recomendado para indivíduos com idade inferior a 18

anos (60).

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8- O Futebolista Feminino

A FIFA estima que em 2010 irão existir mais mulheres que homens a

praticar futebol (60), no entanto, o seu jogo está em geral menos desenvolvido do

que o dos homens. Isto quererá dizer que no futebol feminino existe menos

ênfase a aspectos do jogo, como o treino e a nutrição da atleta, o que significa

que uma futebolista verdadeiramente dedicada tem mais margem de evolução,

aproveitando e desenvolvendo estes aspectos do jogo (69).

Apesar de não existir muita informação acerca da composição corporal das

futebolistas, os estudos feitos apontam para uma percentagem de massa gorda

na ordem dos 19 a 22% (23, 70, 71).

A informação acerca dos aspectos nutricionais das futebolistas é também

limitada, mas têm sido reportadas ingestões médias diárias de energia entre as

1778-2290 kcal. Muitas atletas apresentam ingestões energéticas inferiores às

recomendações, que sugerem uma ingestão superior às 47 kcal.kg.dia-1 (72). Um

défice de ingestão energética prolongado pode resultar em atraso na recuperação

do exercício, prejuízo na adaptação ao estímulo do treino, supressão da função

imunitária e distúrbios na função reprodutiva (69).

As recomendações de macronutrientes são semelhantes para o futebolista

masculino e feminino. Estudos realizados acerca da ingestão nutricional de

futebolistas femininas apontam para um défice de ingestão de hidratos de

carbono e um aporte proteico suficiente em relação às recomendações (23, 70, 71, 73).

As taxas de transpiração e de ingestão de líquidos durante o treino e jogo

tendem a ser inferiores no futebol feminino em comparação com o masculino. Isto

é consequência das menores taxas de produção metabólica de calor nas

mulheres. Em ambos os sexos a ingestão de líquidos não compensa as perdas

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por transpiração. As perdas de electrólitos parecem menores em futebolistas

femininas pelo menor volume de suor, já que as concentrações de sódio no suor

são semelhantes (69).

Como nos atletas masculinos, as deficiências em micronutrientes são

raras, caso as atletas não adoptem comportamentos atrás referidos que

aumentem a susceptibilidade de causar carências. No entanto, existem dois

minerais em que as mulheres em geral, sem excepção nas futebolistas, estão

mais susceptíveis a carência; o ferro e o cálcio (69). O ferro é um componente

chave da hemoglobina, a proteína responsável pelo transporte de oxigénio dos

pulmões para os tecidos activos. Apesar de uma deficiência em ferro sem anemia

ter pouco efeito na performance no exercício pode ser um prelúdio de um

decréscimo nas concentrações de hemoglobina circulante e originar uma perda

da capacidade aeróbia. Nos casos de anemia por deficiência em ferro pode ser

vantajosa a suplementação em ferro e a adopção de certas estratégias

nutricionais de modo a maximizar o consumo e absorção deste mineral. A maioria

das reservas corporais de cálcio encontra-se nos ossos, sendo que o pico de

deposição de fosfato de cálcio acontece no início da adolescência e decresce daí

para a frente. O estrogénio tem um papel fundamental na homeostasia do cálcio

nas mulheres, pelo que uma menarca tardia e uma menopausa precoce

aumentam o risco de desenvolvimento de osteoporose e associado

enfraquecimento da estrutura óssea. Torna-se fundamental uma ingestão

adequada de cálcio e vitamina D para a saúde dos ossos das futebolistas (69).

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9- Aspectos nutricionais em ambientes específicos

Factores ambientais influenciam frequentemente a performance física e

mental de futebolistas. Assim, podem-se tornar fundamentais as intervenções

nutricionais que contribuem para minimizar a desidratação, hipertermia,

hipotermia, hipoxia, deficiência de substratos, perda de sono e dessincronização

do “relógio biológico” causadas por ambientes frios ou quentes, altitude e

diferenças de fuso horário.

9.1- Altitude

A altitude tem um impacto negativo na performance fisiológica (74). Nestas

condições existe uma menor capacidade de endurance, menor coordenação,

aumento das necessidade de hidratos de carbono e água, alterações no apetite e

preferências alimentares, menor performance cognitiva e aumento da fadiga e

stress oxidativo. As intervenções nutricionais específicas passarão pelo consumo

de líquidos e sólidos ricos em hidratos de carbono, garantir que a ingestão diária

recomendada de ferro é cumprida e suplementar o consumo de vitamina C e E e

outros antioxidantes, se a exposição for prolongada. O consumo de tirosina

mostrou reduzir o défice cognitivo, doenças causadas pela altitude e défices na

performance (28).

9.2- Calor

Em ambientes em que as temperaturas são muito elevadas há um aumento

do metabolismo anaeróbio, maior taxa de depleção de glicogénio, maiores perdas

de fluidos e electrólitos e aumento da taxa de metabolismo basal. Isso significa

que em termos nutricionais deve existir principalmente um alto consumo de

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hidratos de carbono, água e electrólitos, com especial atenção à reposição de

sódio (28). Os atletas jovens devem ter cuidados redobrados, já que se encontram

mais susceptíveis à exaustão por calor (6).

9.3- Frio

Por outro lado, em temperatura muito baixas, os maiores risco para um

futebolista são a hipotermia e desenvolvimento de potenciais lesões (a força

muscular baixa quando a temperatura do músculo é muito reduzida) (6). O frio

também pode reduzir a performance em exercícios de endurance por baixar a

utilização de ácidos gordos livres e aumentar a utilização de glicose plasmática e

glicogénio muscular. Uma menor sensação de sede em ambientes frios potencia

uma possível desidratação à qual se junta um aumento da diurese provocado

pelas baixas temperaturas. As necessidades energéticas encontram-se

aumentadas devido à termorregulação (28).

9.4- Jet lag

Viajar entre países com diferentes fusos horários é outra situação muito

frequente no futebol. O jet lag reflecte a dessincronização temporária do “relógio

biológico” do viajante, baseado no ponto de partida e hora local no destino. Esta

ocorrência normalmente origina cansaço periódico durante o dia,

desconcentração, aumento da irritabilidade, alteração da função gastrointestinal e

distúrbios no sono durante a noite. Uma adaptação prévia ao horário e

particularidades do país de destino antes da viagem, adoptando hábitos, horários,

tipos e composição das refeições ajuda a reduzir os efeitos negativos do jet lag.

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Um consumo moderado de cafeína reverte temporariamente a sonolência e

défices cognitivos da privação de sono (28).

Análise Crítica e Conclusão

A alimentação de muitos futebolistas é inadequada, sendo caracterizada

por um défice de ingestão de hidratos de carbono aliado a um excesso de

consumo de gordura. É determinante que haja uma crescente consciencialização

dos futebolistas acerca da importância que aspectos como a alimentação têm no

seu rendimento. Muitos mitos e crenças erradas sobre a alimentação

acompanham jogadores, treinadores e até médicos no futebol. É fundamental

educar equipas técnicas e particularmente equipas médicas dos clubes para as

particularidades da nutrição de um futebolista. Felizmente, com o

desenvolvimento da ciência aliada ao deporto, os grandes clubes vão começando

a reconhecer a importância de ter nutricionistas responsáveis pela alimentação

dos seus atletas. Isto é tão importante para as equipas seniores como para os

escalões de formação, onde a alimentação além de contribuir para a performance,

é determinante para um correcto crescimento e desenvolvimento dos jovens

futebolistas. Graças ao esforço e à competência de alguns nutricionistas

especializados no desporto do nosso país, esta profissão começa a ter destaque

no futebol português, o que irá certamente contribuir para engrandecer e

potenciar a qualidade dos nossos jogadores e clubes.

A nutrição e alimentação, em conjunto com outros factores, são

determinantes para o desempenho desportivo de um futebolista. Aspectos

preciosos, como atrasar a sensação de fadiga, evitando a perda de qualidades

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técnicas e físicas durante treinos e jogos; tirar o máximo proveito das adaptações

ao treino; prevenir lesões e doenças e obter uma composição corporal ideal, são

demasiado determinantes para serem ignorados pelos grandes clubes de futebol.

Neste desporto colectivo, que tantas paixões despoleta, a competitividade e

rivalidade existentes entre os clubes pouca margem de manobra deixam para

erros. Assim, é fundamental que a alimentação de um futebolista seja

direccionada para as suas necessidades específicas, de modo a que este possa

tirar o máximo proveito das suas características e do seu potencial genético

enquanto jogador de futebol.

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