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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo ALESSANDRA MARIA CERQUEIRA LIMA HORSCHUTZ Ocupação de Edifícios de Escritórios Corporativos em São Paulo O Caso do IBM Tutóia São Paulo 2007

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

ALESSANDRA MARIA CERQUEIRA LIMA HORSCHUTZ

Ocupação de Edifícios de Escritórios

Corporativos em São Paulo

O Caso do IBM Tutóia

São Paulo

2007

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Ficha catalográfica

H817o Horschutz, Alessandra Maria Cerqueira Lima

Ocupação de Edifícios de Escritórios Corporativos em São Paulo: O caso do edifício IBM Tutóia / Alessandra Maria Cerqueira Lima Horschutz – São Paulo, 2007. 251f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007. Bibliografia: f. 237-245. 1. Edifício de escritórios. 2. Ocupação de escritórios. 3. Ambiente de trabalho. I. Título.

CDD 725.23

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ALESSANDRA MARIA CERQUEIRA LIMA HORSCHUTZ

Ocupação de Edifícios de Escritórios

Corporativos em São Paulo:

O Caso do IBM Tutóia

Dissertação apresentada à Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre

em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovado em __ de ________ de 2007

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Wilson Florio

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª Drª Claudia Andrade

Universidade de São Paulo

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DEDICATÓRIA

Para Paulo e Misé.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Paulo e Misé, pelo amor, pela confiança, pelo forte incentivo a todas as

minhas escolhas e pela força do exemplo de família, união, dedicação e honestidade.

Ao Prof. Dr. Paulo Costa Lima, o tio Joinha que tanto admiro e que foi o grande incentivador

deste trabalho.

À querida tia Gaida, responsável por muitas alegrias, obrigada pelo carinho e pelos

excepcionais conselhos.

Ao Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone obrigada pela orientação, paciência, carinho,

amizade e por me ensinar a ter mais paixão na realização de qualquer trabalho.

À Profª. Drª. Claudia Miranda de Andrade pelo interesse e por compartilhar seu enorme

conhecimento sobre o assunto, o qual contribuiu muito para o esclarecimento dos conceitos

abordados.

Ao Prof. Dr. Wilson Flório pelo interesse, simpatia e curiosidade sobre este trabalho, além

da grande contribuição teórica e bibliográfica.

Ao Prof. Dr. José Geraldo Simões Junior pelo incentivo e esclarecimentos antes do início do

curso de Mestrado.

Aos demais professores do curso de Mestrado de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Presbiteriana Mackenzie pelas excelentes aulas e ensinamentos.

Ao Fabio Augusto Almada pelos esclarecimentos e apoio de sempre.

Ao Prof. Dr. Gian Carlo Gasperini pelos esclarecimentos sobre a história do nosso Estudo

de Caso, pelas palavras de incentivo e por nos ter presenteado com esse grande ícone da

arquitetura paulistana: o edifício IBM Tutóia.

Ao pessoal da A&G, em especial a Darcy, pela disponibilização do material histórico.

Ao pessoal da Escriba, em especial à atenção de Valerie Engelsberg e de Luiz Carlos

Batista, que disponibilizaram um ótimo material fotográfico.

A Margô Negro pela dedicação, correção dos textos e indicação de uma melhor forma de

escrita.

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AGRADECIMENTOS

Ao arquiteto Sergio de Faria Coelho de Sousa, responsável pelo meu ingresso neste

universo da arquitetura de escritórios e que acreditou e contribuiu com este trabalho desde o

início.

Aos funcionários da IBM, que de alguma forma me ajudaram nesta missão, entre eles a

arquiteta Fernanda Fujino, que me ajudou a conseguir um excelente material histórico e

fotográfico, e a Adriana Salvia pela revisão do texto em inglês.

À grande amiga Carla Basílio Marcelo, que sempre me acompanhou nesta jornada, mesmo

quando este projeto ainda era um sonho: sua amizade é única!

À mais nova e grande amiga Aline Nasrala Regino, uma maravilhosa surpresa do curso de

Mestrado que me ajudou demais... acima de tudo, obrigada pela amizade.

Aos amigos que torceram por mim de perto, em São Paulo, e aos amigos que torceram por

mim de longe, no Rio de Janeiro e em Salvador.

Aos meus queridíssimos irmãos, Paulinho e André, que mesmo sabendo pouco sobre este

trabalho sei que torcem muito por mim, sempre!

A Nossa Senhora!

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RESUMO

RESUMO

Este trabalho objetiva estudar as transformações dos conceitos de ocupação física

dos escritórios corporativos em diferentes épocas, ao apresentar como estudo de caso o

edifício IBM Tutóia, localizado na cidade de São Paulo, desde a sua inauguração em 1977

até o ano de 2005. Primeiramente será apresentado um panorama geral da evolução dos

conceitos de ocupação de escritórios, que se proliferaram nos Estados Unidos e na Europa,

e que foram base para os conceitos utilizados atualmente. Em seguida será observado um

breve histórico dos edifícios-sede de empresas em São Paulo e suas organizações internas,

observando os pólos de negócios que concetram os mesmos na cidade. Depois será

demonstrado como esses conceitos de ocupação foram empregados nos escritórios da IBM

norte-americanos e brasileiros, para posterior análise e melhor entendimento do estudo de

caso. Finalmente, o edifício IBM Tutóia será apresentado com destaque para sua

concepção, arquitetura, transformações da ocupação ao longo dos anos, aumento da

densidade populacional e suas consequências. Com o rápido surgimento de novas

tecnologias e as constantes mudanças na maneira de trabalhar, novas necessidades de

tipos de espaços aparecem a todo momento. Assim, o propósito deste trabalho é

estabelecer parâmetros para a análise futura da transformação de outros edifícios-sede de

escritórios.

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ABSTRACT

ABSTRACT

This research aims to study the corporate offices occupancy changes occurred

between different decades, considering as a case of study the IBM Tutóia building, located in

São Paulo, since its inauguration in 1977 until the year of 2005. First will be presented an

over view of the offices occupancy concepts evolution, which has proliferated in United

States and Europe, and that are the basis of the actual concepts. Following it will be

presented a short description of the corporate office buildings in São Paulo and its internal

arrangement, focusing on the business districts that concentrates these buildings in the city.

Following will be demonstrated how the occupancy concepts were implemented in the

American and Brazilian IBM offices, for further analysis and better understanding of the case

of study. Finally, the IBM Tutóia building will be presented emphasizing it conception,

architecture, occupancy changes throughout the years, population density increase and their

consequences. Due to the fast launching of new technology and the constant changes in the

way of working, new types of spaces are required all the time. In this manner, the purpose of

this research is to establish concepts for the analysis of the future corporate buildings

transformation.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO

Agradecimentos

Resumo

Abstract

Introdução ...................................................................................................... 8

1. Os Espaços de Escritórios ..................................................................... 15

1.1 Escritórios no Século XX e a Tecnologia .......................................... 15

1.2 Escritórios Tayloristas: de 1900 a 1940 ............................................ 22

1.3 Escritórios Panorâmicos e de Planta Livre: de 1950 a 1960 ............. 39

1.4 Escritórios das Décadas de 1970, 1980 e 1990 ................................ 53

1.5 Escritórios do Século XXI .................................................................. 59

2. Breve Histórico dos Edifícios de Escritórios em São Paulo ............... 65

2.1 O Centro da Cidade: Início do Século XX ......................................... 67

2.2 A Expansão do Centro: de 1950 a 1980 ........................................... 74

2.3 A Mudança dos Bairros Residenciais: de 1970 a 2000 ..................... 85

2.4 Os Escritórios Contemporâneos: Século XXI ................................... 95

3. Os Escritórios da IBM ........................................................................... 108

3.1 A Cultura da Empresa ..................................................................... 108

3.2 A IBM no Brasil ................................................................................ 112

3.3 Padrões de Espaço e Conceitos de Ocupação ............................... 122

3.3.1 Estação de Trabalho para Funcionário .................................. 128

3.3.2 Estação de Trabalho para Gerente ........................................ 130

3.3.3 Estação de Trabalho para Executivo ...................................... 132

3.3.4 Estação de Trabalho para Call Center ................................... 133

3.3.5 Estação de Trabalho para Mobility ......................................... 135

3.4 Edifícios da IBM nos Estados Unidos ............................................. 136

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SUMÁRIO

3.4.1 IBM North Castle .................................................................... 140

3.4.2 IBM Mount Pleasant ............................................................... 142

3.4.3 IBM Armonk ............................................................................ 144

3.5 Edifícios da IBM no Brasil ............................................................... 148

3.5.1 IBM Brasília ............................................................................ 149

3.5.2 IBM Belo Horizonte ................................................................. 152

3.5.3 IBM Pasteur ............................................................................ 156

3.5.4 IBM CENU .............................................................................. 158

3.5.5 IBM Água Branca ................................................................... 160

4. Estudo de Caso: O Edifício IBM Tutóia ............................................... 163

4.1 Ficha Técnica .................................................................................. 164

4.2 Concepção do Projeto ..................................................................... 165

4.3 A Arquitetura ................................................................................... 174

4.4 A Ocupação ..................................................................................... 178

4.4.1 Em 1970 e 1980 ..................................................................... 179

4.4.2 Em 1990 e 2005 ..................................................................... 187

4.5 O Aumento da Densidade e suas Conseqüências .......................... 216

Considerações Finais ............................................................................... 229

Bibliografia ................................................................................................. 237

Anexo: Entrevista com Gian Carlo Gasperini ........................................ 246

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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

Desenho do skyline de São Paulo e seus principais edifícios − 2002

Fonte: www.emporis.com/pt

São Paulo é a cidade que possui a maior diversidade de edifícios de escritórios

corporativos no Brasil, tornando-se, por esse motivo, bastante representativa para este setor

da arquitetura. Grande parte das empresas, brasileiras ou multinacionais, que possui

atividades no país instalaram suas sedes em edifícios localizados na cidade de São Paulo.

Um dos objetivos dessas empresas ao construírem edifícios para abrigar suas sedes é de

que essas construções e seus interiores representem e fixem sua marca empresarial através

da arquitetura, possibilitando, dessa forma, mais um veículo de divulgação. Para isso, essas

edificações precisam ser diferentes das demais, inovar para deixar claro ao público em geral

que a companhia que ali fixou seu endereço é uma empresa de ponta.

O espaço para a realização do trabalho intelectual é um ambiente que nos últimos

dois séculos passou por diversas mudanças, sendo resultado de um processo histórico,

conduzido pela força do capital e pelas necessidades tecnológicas, corporativas, sociais e

culturais, relativas a cada época e a cada empresa. É nos espaços de escritórios que as

empresas acontecem, e a ocupação e a organização desses espaços influenciam

diretamente na sua imagem corporativa e no quanto ela é uma organização produtiva e

competitiva no mercado em que atua. Como a imagem corporativa de cada empresa

também pode ser observada através dos aspectos visuais e organizacionais dos seus

escritórios, ela deve ser coerente com os valores da empresa e de sua cultura empresarial.

É fato que as mudanças na filosofia – ou seja, nos critérios e instruções que regem

os costumes e atitudes de cada empresa –, assim como as inovações tecnológicas foram os

fatores que mais determinaram algumas das transformações dos ambientes de escritórios.

O resultado dessas iniciativas empresariais e tecnológicas são construções e interiores de

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INTRODUÇÃO

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escritórios que se destacam na sociedade em que estão inseridos pela forma, imponência e

ambientes, que trazem conceitos organizacionais inovadores para a época em que são

implantados.

O objeto desta dissertação são as transformações pelas quais o edifício da IBM

Tutóia passou ao longo dos seus trinta anos de existência, ao avaliar e analisar a relação

entre o espaço interno do edifício de escritórios e sua ocupação física, dentro do universo

contemporâneo e corporativo dos edifícios de grandes empresas sediadas em São Paulo,

até este início de século XXI. Toda a pesquisa irá destacar edifícios de escritórios de uma

única empresa e seus espaços de produção, ou seja, ambientes de escritórios e espaços

necessários para suportar e auxiliar a realização das atividades nos escritórios. Os edifícios

de escritórios da IBM que serão apresentados são considerados um padrão de arquitetura e

de ocupação pelo mercado, alguns por terem sido publicados em periódicos e premiados, e

também pela empresa, pois são esses os escritórios das matrizes (americana, latino-

americana e brasileira) historicamente pioneiros na implantação de novos conceitos de

ocupação e organização de espaços, considerados dessa forma escritórios modelo.

O objetivo desta dissertação é estudar os conceitos de ocupação existentes a fim de

validar a necessidade de algumas premissas, tais como flexibilidade, funcionalidade,

integração dos ambientes, comunicação, padrões de ergonomia e bem-estar, baixos custos

das instalações, alta densidade e eficiência. Veremos como foram organizados os espaços

de produção dentro dos edifícios de escritórios corporativos paulistanos (edifícios ocupados

por uma únida empresa) através de exemplos e de citações de especialistas no assunto.

Observaremos as características dos escritórios contemporâneos para melhor identificar as

premissas utilizadas nesses projetos – flexibilidade, funcionalidade, integração,

comunicação etc. – e verificar quais os resultados positivos e negativos para as empresas e

seus funcionários. Este trabalho não tem como objetivo identificar o que é certo ou errado

nos padrões de espaço e conceitos de ocupação de uma empresa, principalmente porque

esses critérios dependem dos valores culturais e organizacionais de cada instituição.

Entretanto, pretendemos apresentar alguns exemplos de escritórios paradigmáticos e

mostrar o edifício IBM Tutóia como um modelo de arquitetura de escritórios bem-sucedido.

Assim, no estudo de caso do IBM Tutóia, objetiva-se apresentá-lo como um edifício de

escritórios construído há quase trinta anos com arquitetura moderna e brutalista1 que

1 Arquitetura Brutalista/ Brutalismo (1945-1960): estilo moderno intransigente, expressado por uma escala monumental e pelo uso de matérias-primas e materiais aparentes que enfatizam formas básicas. As edificações se distinguiam por seu peso, suas superfícies texturizadas e solidez e eram compostas principalmente por grandes áreas de concreto com desenhos. Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2006.

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INTRODUÇÃO

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conseguiu sustentar-se por décadas e com diversos tipos de ocupação, chegando aos dias

atuais com escritórios de características contemporâneas.

A escolha do tema deve-se ao fato da constatação de que o momento atual é de

forte transformação na arquitetura de interiores de escritórios. A produção de novos espaços

de escritórios na cidade de São Paulo é grande, basta olhar, por exemplo, o bairro de Vila

Olímpia e a região da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini e constatar a quantidade de

novas construções que surgem a cada ano (LOBO, 2005). Também se percebe que além

dos fatores sociais e econômicos as gestões empresariais e as novidades em equipamentos

tecnológicos vêm contribuindo muito para essas transformações. Há a necessidade de

conhecer esse processo, quase espontâneo, para incorporá-lo na melhoria dos projetos de

escritórios corporativos, a fim de conceber uma arquitetura coerente com a atualidade.

Segundo Tomás Berlanga, as empresas corporativas atualmente têm como objetivo

principal aumentar sua produtividade e alcançar um bom desempenho, através da redução

de custos de instalações e racionalização dos espaços. Independentemente de onde

estejam localizadas, para isso é importante observar que:

“para que tenhamos este resultado final, o comportamento

dos espaços deve ser adequado às qualidades ou características de

cada tribo. Isso aparece, ou ressurge, na antropologia do trabalho.

Profissionais estão se dedicando a estudar o que acontece dentro

dos espaços de trabalho sob o ponto de vista da arquitetura, de

planejamento, dos aspectos de facility, mas outras caisas estão

surgindo. Ainda não no Brasil, mas já está sendo exigido dos space

planners e dos facilities que tenham profundo conhecimento de

gestão empresarial. Isso significa que não é mais possível projetar

um espaço sem o conhecimento do que acontece na empresa”.

(BERLANGA, 2000, p.9)

Ao longo da história, algumas empresas construíram suas sedes em edifícios e

regiões específicas, determinadas principalmente por motivos financeiros e econômicos; e

fizeram dessa necessidade a oportunidade de melhorar o ambiente de trabalho e chamarem

a atenção para si. Outras empresas, apesar de não mudarem de endereço, renovam

constantemente seus espaços de escritórios e a infra-estrutura de seus edifícios, a fim de

continuarem na direção do crescimento constante – como é o caso do IBM Tutóia.

Não é por acaso que vamos observar que no Brasil, especialmente em São Paulo,

muitos edifícios construídos para serem sedes locais de empresas multinacionais trouxeram

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INTRODUÇÃO

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mudanças na forma de organização interna de escritórios nacionais; mudanças essas que

geraram tendências e que foram seguidas pela mesma ou por outras empresas. As

organizações pretendem, através de sua imagem, inclusive arquitetônica, fixar sua marca,

tanto para seus clientes quanto para seus funcionários. Hoje a organização interna possui

uma relevância enorme (talvez até maior que a arquitetura do edifício em si) na capacidade

das empresas de se adaptarem às mudanças de mercado.

Para atingir o máximo de produtividade e eficiência, a melhor forma de empregar o

capital financeiro é na valorização de espaços mais humanos e, é claro, na remuneração e

investimento do conhecimento de seus recursos humanos. Ao mesmo tempo, os interesses

das empresas e o surgimento de novas tecnologias geram novas necessidades de trabalho

e influenciam na construção e no dinamismo dos edifícios de escritórios. O profissional que

se propõe a projetar o espaço corporativo precisa ter conhecimento da gestão empresarial e

estudar cada caso. Com a análise destes aspectos do espaço construído, pretende-se

entender a situação brasileira dos escritórios contemporâneos e identificar uma linha de

pensamento que está sendo seguida para projetos de interiores de escritórios, na qual

vamos observar as principais características: alta densidade de funcionários, baixo custo

das instalações, flexibilidade, integração, comunicação e alta tecnologia. Ao fim, esta

pesquisa pretende fornecer dados para melhorar a qualidade dos ambientes de trabalho e

dos projetos de arquitetura de interiores para espaços corporativos, já que vamos

apresentar informações específicas deste setor, algumas provavelmente nunca antes

publicadas, como é o caso de algumas características do nosso estudo de caso. Estima-se

que estes dados possam servir de base para outras pesquisas acadêmicas, além de auxiliar

profissionais da área no desenvolvimento de novos projetos ou no exercício diário de suas

funções dentro das empresas.

A transformação dos escritórios descrita acima “...é reveladora do esforço

permanente da sociedade em criar formas de organização do trabalho capazes de

assegurar com máxima eficiência a gestão de problemas econômicos e sociais cada vez

mais complexos e dinâmicos”. (CALDEIRA, nº9, p.1) Para compreender melhor a arquitetura

de escritórios, onde e por que ela surgiu, como chegamos à situação atual dos edifícios de

escritórios corporativos em São Paulo e observarmos novas tendências, vamos voltar a

esse processo histórico e estudar a evolução interna do escritório, como foi influenciada

pelas revoluções sociais e trabalhistas, pela técnica e pelas gestões empresariais.

No capítulo 1 vamos estudar os principais conceitos de organização interna dos

espaços de escritórios no mundo, onde, como e por que surgiram, a fim de aplicá-los ao

longo deste trabalho. Inicialmente vamos fazer um breve resumo de como surgiram os

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INTRODUÇÃO

12

escritórios do século XX e os aspectos tecnológicos que os influenciaram. Em seguida serão

destacados conceitos de ocupação dos escritórios, passando pelo taylorismo, escritórios

panorâmicos ou de planta livre, até chegarmos ao final do século e percebermos em que

cenário começamos o século XXI e como os conceitos de ocupação se adaptaram à

realidade empresarial. Com base na compreensão do surgimento de alguns conceitos de

ocupação, principalmente nos Estados Unidos e um pouco na Europa, destacaremos

exemplos de edifícios de escritórios destinados a uma única empresa, ou que de alguma

forma influenciaram a concepção de edifícios de escritórios corporativos em São Paulo.

Com foco na ocupação dos espaços de escritórios de ambientes corporativos de edifício

ocupados integralmente por uma mesma empresa e por considerar que as corporações

investem e determinam objetivos nos ambientes de seus funcionários de acordo com suas

necessidades, vamos verificar o que está acontecendo na atualidade dentro desses

escritórios e como os conceitos apresentados influenciaram os escritórios atuais.

No capítulo 2 daremos ênfase ao surgimento de edifícios de escritórios de uma única

empresa na cidade de São Paulo, que foi escolhida para o estudo comparativo da história

desses edifícios devido à rápida expansão econômica e comercial ao longo do século XX, o

que a transformou em pioneira na implantação neste tipo de edificação no Brasil, sendo que

até hoje a cidade se mantém como o grande centro de negócios do país. Para apresentar a

trajetória da construção dos edifícios de escritórios corporativos, dividiremos a cidade em

sete regiões − Centro, avenida Paulista, avenida Faria Lima, Chácara Santo Antônio,

avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, Vila Olímpia e Marginal Pinheiros −, consideradas

pólos de negócio que surgiram ao longo das décadas em função de conceitos históricos que

observaremos nesse capítulo. Caso a caso, vamos observar como surgiram e se

proliferaram em São Paulo os edifícios de escritórios ocupados por uma única empresa,

mostrando alguns exemplares, seus aspectos empresariais e históricos, assim como alguns

conceitos de ocupação que influenciaram essas construções, a fim inserir o edifício no

estudo de caso no contexto regional.

No capítulo 3, para entender os critérios que IBM utilizou em suas construções,

demonstraremos a importância que a cultura da empresa2 confere ao design e à arquitetura

do ambiente de trabalho3. Será apresentado um relato da história da empresa no Brasil com

foco na construção de seus edifícios, nos padrões de espaço e os conceitos de ocupação

2 Cultura da empresa: são os valores e padrões de comportamento que a instituição determina como corretos e que devem ser seguidos por seus funcionários.

3 Ambiente de trabalho: lugar onde são exercidas funções relacionadas ao trabalho; área destinada ao uso de escritórios no edifício.

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INTRODUÇÃO

13

que ela adotou e ainda adota. Na seqüência veremos exemplares de edifícios

paradigmáticos da empresa nos Estados Unidos e no Brasil, a fim de explicar e exemplificar

seus os padrões de organização de espaço. Vamos também destacar os aspectos

relacionados à ocupação destes edifícios que do ponto de vista corporativo representaram

inovações para a sua época e que, de alguma forma, foram seguidos no Brasil.

No capítulo 4 temos como estudo de caso o edifício de escritórios corporativos e

sede da IBM no Brasil, o edifício IBM Tutóia. Vamos analisá-lo desde a concepção do

projeto até os dias atuais, observar alguns critérios arquitetônicos e organizacionais

utilizados na época da construção pelo arquiteto e pela empresa, apresentar a distribuição

de espaços internos e sua ocupação através de fotos e layouts, especialmente em dois

períodos de maiores mudanças: primeiro entre as décadas de 1970 e 1980 e depois na

década de 1990 a 2005. Serão empregados os conceitos históricos da época em que o

edifício foi projetado e construído, a fim de identificar quais eram os critérios norteadores

daquela década e da empresa para sua construção e ocupação. Por fim, observaremos as

conseqüências do aumento da densidade na edificação e descreveremos as principais

mudanças pelas quais o edifício passou.

Com o rápido surgimento de novas tecnologias e com as mudanças na forma de

trabalhar, novas necessidades de tipos de espaços aparecem a todo momento. Hoje

podemos trabalhar de qualquer lugar acessando uma rede de dados através de um

microcomputador portátil sem fio (já que a bateria destes equipamentos suporta uma carga

para manter o equipamento ligado cada vez mais tempo). O ambiente de trabalho pode ser

em qualquer lugar, e hoje mais do que nunca as relações sociais e empresariais, a

ergonomia do mobiliário, o espaço adaptado para todos e qualquer um são itens que se

tornaram premissas para se projetar um escritório. Não podemos prever o futuro, mas ao

entender a história recente, estudar suas influências e documentá-la podemos contribuir

para o aprimoramento de projetos futuros.

Apesar da localização estratégica e de em muitas referências ser chamado de marco

arquitetônico e imponente, ao longo desta pesquisa observamos que especificamente o

edifício IBM Tutóia foi um projeto pouco publicado: os dados existentes em revistas e livros

se restringem a fotos externas, pouquíssimas do lobby4 de entrada, planta e corte

esquemático. A apresentação mais detalhada da arquitetura, da distribuição do layout no

edifício ao longo dos anos e as transformações pelas quais passou nos mostrará um ótimo

4 Lobby: espaço amplo e coberto correspondente à entrada principal do edifício onde geralmente estão localizadas a recepção, área de estar, acesso controlado etc.

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INTRODUÇÃO

14

exemplo do que podemos realizar nesta área de arquitetura de interiores de escritórios.

Pretende-se concluir que uma boa arquitetura de escritórios é aquela que possui

flexibilidade suficiente para se manter durante três décadas de mudanças tecnológicas,

empresariais, políticas, econômicas etc.

Para o desenvolvimento desta dissertação foi realizada uma pesquisa bibliográfica e

iconográfica: da história de interiores dos escritórios no mundo e da história dos edifícios de

escritórios corporativos em São Paulo que foram construídos para serem sede de uma única

empresa − ou que sua ocupação principal foi abrigar escritórios de uma mesma empresa.

Esta pesquisa foi feita através de livros e revistas especializados em arquitetura de

escritórios, dissertações de mestrado sobre o mesmo tema, artigos, periódicos, sites da

internet, visitas aos edifícios exemplificados e depoimentos de alguns profissionais que

trabalharam nestes projetos.

Especificamente para o estudo de caso do edifício da IBM Tutóia, foi realizado um

levantamento histórico e iconográfico do projeto do edifício através de fontes existentes no

arquivo do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos Associados, de depoimentos de

funcionários da IBM que trabalharam na época do projeto e construção do edifício, de

depoimentos de funcionários da empresa representantes do Departamento de Imóveis e

Construções e do acesso às documentações do arquivo da empresa. Ao falarmos sobre

algumas transformações ocorridas no espaço construído, os desenhos e algumas fotos

atuais do edifício foram executados pela autora da dissertação.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

“SCRIPTORIUM – Lugar onde eram escritos e iluminados os

manuscritos, num mosteiro ou catedral.” (Dicionário de Termos de

Arte e Arquitectura, 2005)

Segundo o Dicionário Aurélio, escritório é o lugar onde se faz o expediente relativo a

qualquer administração, obra etc., se tratam negócios, se recebem clientes etc. É nesse

espaço que o homem exerce funções de leitura e escrita a fim de realizar alguma atividade.

O ambiente de trabalho é, portanto, o lugar onde são exercidas funções relacionadas a

qualquer empreendimento, que, no caso dos escritórios, é o trabalho administrativo.

Empresas de todo o mundo e de todos os ramos de atividade investem na

organização espacial de seus escritórios para que seus funcionários produzam mais e

melhor. Para entender a arquitetura dos escritórios, vamos descrever os principais conceitos

de organização interna desses espaços, onde, como e por que surgiram, a fim de aplicá-los

nesse trabalho e entender como eles influenciaram os escritórios contemporâneos e se

continuarão a influenciar nestes espaços no futuro.

Alguns exemplos significativos de edifícios de escritórios destinados a uma única

empresa, ou que de alguma forma possam ter influenciado o trabalho do estudo de caso,

serão aqui apresentados. Para isso, vamos fazer um breve resumo de como surgiram os

escritórios do século XX e os aspectos tecnológicos que os influenciaram.

1.1 ESCRITÓRIOS DO SÉCULO XX E A TECNOLOGIA

As primeiras salas de trabalho escritural coletivas correspondiam aos scriptorium das

bibliotecas dos mosteiros, onde os monges se dedicavam a leitura, cópia e tradução de

manuscritos.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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O escritório existe, então, desde que o homem criou o móvel de escrivaninha5,

quando esse espaço ainda era bastante individualizado e não havia relação alguma entre o

ambiente e a pessoa que o ocupava.

“O termo escritório, assim como bureau, na língua francesa,

designa em sua origem etimológica um tipo de móvel – a

escrivaninha – inerente a certas atividades ainda hoje ditas “de

gabinetes”: atividades de leitura, de escrita, de contabilidade, de

cálculo de projeto.” (CALDEIRA, nº9, p.1)

Aos poucos, o homem foi construindo ambientes e edifícios inteiros destinados à

função do trabalho administrativo sempre que surgia a necessidade de mudar ou ampliar os

espaços em razão de algum fator externo. Na grande maioria das vezes este fator era uma

nova ferramenta de trabalho.

No século XIX, as ferramentas que haviam nos escritórios eram, na sua maioria,

papéis, canetas, tinteiros e pastas. Os espaços eram caracterizados por grandes mesas

escuras onde todos, funcionários ou donos da empresa – somente homens nessa época –

trabalhavam no mesmo ambiente. Na medida em que foram surgindo máquinas para auxiliar

o trabalho administrativo, os escritórios passaram a sofrer alterações espaciais para receber

as novas tecnologias. Primeiro apareceu a calculadora6, mas a grande mudança nos

equipamentos de escritório aconteceu com o surgimento do telefone (1876) e da máquina

de escrever7.

Com o telefone, a comunicação a distancia se tornou possível, aumentando

conseqüentemente a produtividade nos escritórios, porém as primeiras ligações telefônicas

em escritórios ocorreram somente no início do século XX.

5 Escrivaninha: secretária de gavetas secretas com tampo inclinado em forma de carteira. Este móvel é sobretudo flamengo e holandês. Fonte: Dicionário de Termos de Arte e Arquitectura, 2005.

6 Calculadora: instrumento ou dispositivo que realiza cálculos matemáticos.

7 Máquina de escrever: instrumento ou dispositivo mecânico por meio do qual é possível produzir textos em papéis com caracteres semelhantes aos dos textos impressos.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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(1) (2) (3)

Modelos de telefone: (1) Primeira central telefônica – 1917 (2) Magneto de parede – década de1920

(3) Telefone de mesa automático modelo padrão CTB – década de 1940

Fonte: www.anatel.gov.br/BIBLIOTECA/PUBLICACAO/MUSEU_TELEFONE/historia.asp

(4) (5) (6)

Modelos de telefone: (4) Diavox fabricado pela Ericsson – década de 1970

(5) Aparelho de fax fabricado pela Canon – 1988 (6) Telefone celular – 2000

Fontes: (4) e (6) www.anatel.gov.br/BIBLIOTECA/PUBLICACAO/MUSEU_TELEFONE/historia.asp

(5) OFFICE: 2001, p.72

As primeiras máquinas de escrever começaram a ser fabricadas pela Remington

(1873) e poucos anos depois (1884) o estatístico Herman Hollerith (1860-1929) inventou a

Tabuladora Hollerith, “considerada a primeira máquina de processamento de dados8 a ser

utilizada para analisar e comparar grandes volumes de informações”. (IBM, 1997, p.3)

Com a máquina de escrever, os trabalhos administrativos passaram a ser realizados

de forma mais rápida, ampliando a possibilidade de um trabalhador realizar mais atividades.

Isso aumentou a quantidade de profissionais e o fluxo de papéis dentro dos escritórios,

8 Máquina de processamento de dados: equipamento capaz de guardar informações ou dados que lhe eram atribuídos. Mais tarde, o computador se tornou a grande máquina de processamento de dados, além de exercer outras funções.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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abrindo caminho para a contratação de mulheres para exercer, a princípio, funções

operacionais – enquanto os homens continuavam a desempenhar funções de chefia.

A IBM foi, e ainda é, uma das grandes fabricantes de máquinas de automação de

trabalhos em escritórios. Foi ela que produziu a primeira máquina de escrever elétrica,

chamada IBM450, e posteriormente a IBM72, considerada a mais famosa máquina de

escrever, devido ao então inovador sistema de esferas, o qual oferecia velocidade na escrita

e permitia que documentos fossem datilografados com diferentes tipos de letras.

“A máquina elétrica de contabilidade – a IBM Type 450 –, cuja

inovação foi o controle programado de operações, representou, por

sua vez, mais um passo na evolução dos equipamentos de

escritório.” (IBM, 1997: p.24) “Mas a mais famosa máquina de

escrever foi a máquina IBM72, a primeira no mundo a utilizar a esfera

de tipos como elemento único de impressão.” (IBM, 1997, p.55)

(1) (2)

Modelos de máquinas de escrever elétricas IBM: (1) Modelo fabricado em 1947 (2) Modelo 12 – 1957

Fonte: Fotos da autora – Máquinas expostas na IBM no espaço Thomas Watson

(3) (4)

Modelos de máquinas de escrever elétricas IBM: (3) Modelo 72 – 1972 (4) Modelo 82 – 1973

Fonte: Fotos da autora – Máquinas expostas na IBM no espaço Thomas Watson

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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Estes foram os primeiros instrumentos mecânicos utilizados no trabalho e em

ambientes administrativos do século XX. Com a intenção de mecanizar suas atividades para

tornar sua produção mais rápida, as empresas sentiram imediatamente a necessidade de

fazer uso desses equipamentos. E a primeira grande conseqüência do surgimento desses

instrumentos foi a disposição dos ambientes de trabalho, que começaram a se modificar: o

espaço necessário para exercer funções administrativas tornou-se menor, assim como o

espaço para arquivamento de papéis.

O uso generalizado destas máquinas (especialmente da máquina de escrever)

ocorre no início do século XX, quando principalmente depois da Primeira Guerra Mundial

vários fatores contribuíram para o crescimento da força de trabalho administrativo e para o

fluxo crescente de papéis. Entre estes fatores destacam-se a Revolução Industrial, com a

divisão internacional do trabalho e a conseqüente expansão do setor de serviços; o

incremento do comércio e a mudança na escala de produção; o surgimento de novas

tecnologias, de novos transportes e novas formas de comunicação; o aumento da

concorrência entre as empresas; e por último, mas não menos importante, a inserção

definitiva do trabalho feminino nos escritórios, que aumentaram muito a disponibilidade de

mão-de-obra trabalhista.

Os primeiros computadores surgiram na década de 1940 nos Estados Unidos e se

desenvolveram na década de 1950. Eram grandes processadores de dados, os primeiros

eram mecânicos e depois foram se tornando eletrônicos. Entre eles estão os computadores

da IBM650, de tamanho mediano para época, e o RAMAC305 (1953), também da IBM, que

possuía capacidade de armazenamento de dados muito maior que os demais da mesma

época. Ambos ocupavam grandes espaços em áreas fechadas dos edifícios de escritórios.

(1) (2)

Primeiros computadores IBM: (1) Modelo IBM650 – 1953 (2) Modelo RAMAC305 – 1957

Fonte: (1) IBM, 1997, p.49 (2) IBM, 1997, p.50

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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A tecnologia de informação mudou bastante durante todo o século XX,

especialmente nas décadas de 1980 e 1990, quando a informática teve seu apogeu. O

desktop9 disseminou-se na década de 1980 e a internet começou a se popularizar na

década de 1990 (IBM, 1997); as grandes corporações passaram a requerer redes de

computadores para realizar desde os trabalhos mais usuais até os mais complexos.

(1) (2)

Microcomputadores IBM: (1) PC Junior – 1985 (2) PC PS/1 modelo 2011 – 1991

Fonte: Fotos da autora – Máquinas expostas na IBM no espaço Thomas Watson

(3) (4)

Microcomputadores IBM: (3) Laptop PS/2 modelo 8543 L40 SX – 1992 (4) Thinkpad 701 modelo Butterfly – 1995

–- em exposição permanente no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) pelo design

Fonte: Fotos da autora – Máquinas expostas na IBM no espaço Thomas Watson

Como conseqüência das constantes transformações da tecnologia, os escritórios

sempre precisaram acompanhar as novas tendências, modificando-se, transformando-se

para própria sobrevivência das empresas.

9 Desktop: computador pessoal de mesa. Também é chamado de PC - Personal Computer (Computador Pessoal).

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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Equipamentos como telefones, computadores, fax, impressoras etc. são amplamente

utilizados em escritórios, e, ao surgirem no mercado, foi preciso adaptar o ambiente de

trabalho para recebê-los. Excetuando-se os eletrodomésticos, praticamente todos os outros

equipamentos de uso individual são ou podem ser utilizados nos escritórios.

Alguns desses equipamentos trouxeram modificações significativas e definitivas nos

ambientes de trabalho, como foi o caso da máquina de escrever e agora do

microcomputador.

As novas tecnologias de comunicação também acabaram alterando o local de

trabalho, como foi o caso do acesso à internet, à rede de celular, ao acesso à rede de

comunicações e telefônica sem fio etc.

(1) (2)

Novas tecnologias: (1) Aparelho telefônico Cisco – 2005 (2) Notebook IBM modelo X41 tablet conversível – 2006

Fontes: (1) Foto da autora (2) www.ibm.com.br

Com todas essas mudanças e com o crescimento populacional nas grandes cidades,

o homem começou a sentir a necessidade de se organizar melhor. Inicia-se aí uma certa

autonomia entre o desenho da construção de um edifício e o desenho do seu interior,

especialmente quando falamos de edifícios de escritórios. Surgem então “doutrinas voltadas

para a racionalização e o aumento da eficiência no trabalho fabril e no administrativo”.

(CALDEIRA, n°9, p.3)

Por trás de cada forma de organização espacial dos escritórios existe uma forte

tendência administrativa temporal. A seguir observaremos alguns conceitos para

administração dos espaços de escritórios, de acordo com a época em que surgiram. Ao

analisar esses conceitos entenderemos melhor como chegamos aos espaços de escritórios

que conhecemos hoje.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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1.2 ESCRITÓRIOS TAYLORISTAS: DE 1900 A 1940

Frederick Winslow Taylor10 (1856-1915) foi um engenheiro norte-americano

considerado o “Pai da Organização Científica do Trabalho” (TAYLOR, 1990, p.9) por ter

contribuído significativamente para o desenvolvimento industrial do século XX ao ter

publicado em 1911 o livro Os Princípios de Administração Científica (HARVEY, 1989, p.36).

A partir de estudos baseados na sua vivência em fábricas, Taylor descreve nesse livro o

conceito para Teoria da Administração Científica, que passou a ser chamado simplesmente

de taylorismo.

Através de métodos científicos de observação e experimentação, o taylorismo

determinou princípios que previam melhores condições de rendimento do trabalho através

do aumento da produtividade dos operários. Para isso era essencial executar o

planejamento do trabalho a fim de separá-lo entre funções a serem exercidas e determinar:

qual a tarefa a ser executada, como e onde seria realizada, quem exerceria cada função e

por fim qual a finalidade de cada trabalho e de cada função.

A importância dessa obra é citada por diversos autores. Entre eles Pavel Gerencer

descreve a “Vida e Obra de Taylor” no prefácio da edição brasileira e cita que:

“Com a obra de Taylor, a produção econômica recebe uma base

nova. Tentou reduzir cada arte manual, ou ofício, a movimentos

elementares que pudessem ser exatamente cronometrados,

descritos e ensinados a qualquer pessoa”. (TAYLOR, 1990, p.16)

Já David Harvey define Os Princípios de Administração Científica da seguinte forma:

“(...) um influente tratado que descrevia como a produtividade do

trabalho podia ser radicalmente aumentada através da

decomposição de cada processo de trabalho em movimentos

componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas

segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento”.

(HARVEY, 1989, p.121)

10 Frederick Winslow Taylor: nasceu em 1856 na cidade de Germantown, subúrbio da Filadélfia, Pensilvânia,EUA. Aos 18 anos começou a trabalhar em oficina mecânica e depois em oficinas de construção de máquinas. Em 1885 formou-se em Engenharia pelo Stevens Institute. Em 1896 aperfeiçoou os métodos administrativos dos diversos setores da fábrica Bethlehem Steel Works. Em 1911 publicou o livro Os Princípios de Administração Científica, que poucos anos depois adquiriu fama mundial. Faleceu em 1915.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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De acordo com o arquiteto brasileiro Vasco Caldeira, o taylorismo se tornou o

principal conceito que norteou a organização do trabalho durante quase meio século. Para

Caldeira, esta concepção define um tipo de escritório de grande porte, localizado em um

ambiente separado da fábrica e com critérios de organização espacial bastante rígidos que

lembram uma linha de montagem industrial como: a segregação espacial para reafirmar a

hierarquia, a padronização do mobiliário e a rigidez dos layouts para assegurar disciplina e

um processo de trabalho linear.

“Os funcionários formam equipes cujos membros cooperam na

execução de uma tarefa global. Não há lugar para a iniciativa

individual e os procedimentos de trabalho começam a ser

padronizados. Definem-se os tempos ideais para a execução não

apenas de cada tarefa, mas de cada gesto: datilografar uma letra,

escrever um algarismo, abrir pasta, levantar-se da cadeira, abrir

gaveta etc. É instituído o relógio de ponto.” (CALDEIRA, nº 9, p.3)

Naquela época – início do século XX – as empresas já eram formadas por

organismos burocráticos, ou seja, eram administradas por funcionários sujeitos a hierarquia,

rotina e regulamentos inflexíveis. Segundo Cláudio Amaral, o taylorismo aumenta a

burocracia, e monta um esquema hierárquico rígido e autoritário:

“O funcionário é desqualificado tecnicamente, sua função é

tarefista, executa ordens, operacionaliza ordens superiores. Não

existe a preocupação quanto à qualidade do ambiente de trabalho

para o funcionário (...). O gerente é ausente do recinto, isolado numa

sala fechada, atuando como único ser pensante do departamento.

Os supervisores atuam como fiscais, que policiam a velocidade

preestabelecida pela gerência ao andamento do trabalho.”

(AMARAL,1987, p.243)

Na mesma época em que o taylorismo surgiu, outros importantes estudos e

conceitos de administração começaram a aparecer e a provocar grandes transformações

socioeconômicas, além de modificar a forma de organização espacial das indústrias e das

empresas com escritórios administrativos. Entre eles vamos destacar dois, em ordem

cronológica.

O primeiro foi um estudo que J. William Schulze iniciou em 1913 (CALDEIRA, nº10,

p.1) e que incorporava os fluxos de trabalho: com base na execução de um determinado

produto – ou serviço –, determinava qual a trajetória que esse faria dentro da empresa até

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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sua finalização, quais as etapas e quais empregados executariam cada função em cada

fase. Schulze observou o desenho do fluxo, a duração das etapas de trabalho, as

ferramentas utilizadas e as funções necessárias. Através desse estudo ele institui a noção

de módulo espacial11 no ambiente do escritório, considerando também as primeiras bases

do conceito de ergonomia (muito diferente do que é hoje). A padronização do layout era

sinônimo de eficiência no trabalho: um escritório que fosse planejado com uma coordenação

modular seria mais facilmente implantado, e esta modulação espacial seria condição

fundamental para a industrialização da produção dos itens do escritório. Pela primeira vez o

ambiente e o mobiliário eram pensados e dispostos de acordo com a escala humana12,

levando em consideração: padrões ergonômicos, dimensões dos móveis e salas, disposição

dos equipamentos e utensílios de trabalho, disposição de peças decorativas (luminárias,

ventiladores etc.) e das peças arquitetônicas (janelas, portas etc.), cores de acabamentos e

materiais de revestimento e tudo mais que pudesse ser padronizado.

A importância do estudo de Schulze está principalmente na introdução do módulo

espacial com base na escala humana. Segundo Harvey “quanto mais unificado o espaço,

tanto mais importantes se tornam as qualidades das fragmentações para a identidade e a

ação sociais”. (HARVEY, 1989, p.246)

O segundo conceito de administração é o fordismo, que foi baseado em inovações

tecnológicas e organizacionais conseqüentes das mudanças que Henry Ford13 (1863-1947)

introduziu em suas linhas de produção na indústria automobilística em Dearbon, Michigan,

EUA – o que ocorreu dois anos após Taylor publicar seu mais famoso livro (HARVEY, 1989,

p.36) – e fundamentadas em tendências bem estabelecidas na época. Em 1914, Henry Ford

estipulou: o dia de oito horas de trabalho a seus operários (HARVEY, 1989, p.121); várias

etapas de fabricação foram distribuídas na linha de montagem e cada empregado teria uma

função específica. O trabalho que se tornou repetitivo e cansativo também era bem

remunerado.

11 Módulo espacial: no escritório é a unidade dimensional padrão na qual se baseiam as dimensões de todos os elementos do escritório. Exemplo: o quadrado de 1,25m x 1,25m é o módulo dimensional mais adotado atualmente, e por isso luminárias, forros, esquadrias, entre outros elementos, possuem dimensões compatíveis com esta medida.

12 Escala humana: tamanho e proporção de um elemento de edificação ou um espaço, artigo ou móvel em relação às dimensões estruturais ou funcionais do corpo humano. Fonte: Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2006.

13 Henry Ford: nasceu em 1863, em Greenfield Township, Michigan, EUA. Começou a carreira como mecânico, engenheiro e mais tarde se tornou um grande empresário, dono de um enorme patrimônio de empresas. Faleceu em 1947 em Dearborn, Michigan, EUA.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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Os avanços oferecidos pelo fordismo foram seguidos pelas empresas concorrentes,

o que causou um avanço nos setores diretamente relacionados com a fabricação de

automóveis: fornecedores de peças, de revendedores e oficinas de reparos; postos de

gasolina e estradas asfaltadas se multiplicaram. Para Ford, a espacialização do tempo podia

acelerar processos sociais e aumentar as forças produtivas, principalmente quando

houvesse uma organização racional do espaço e do tempo. Segundo Harvey, o fordismo

“(...) fragmentou tarefas e as distribuiu no espaço, a fim de

maximizar a eficiência e minimizar a fricção do fluxo produtivo. Com

efeito, ele usou certa forma de organização espacial para acelerar o

tempo de giro do capital produtivo”. (HARVEY, 1989, p.242)

Mas foi o taylorismo que trouxe as maiores mudanças e avanços nas formas como o

espaço era planejado dentro das fábricas e dos escritórios: através da divisão do trabalho

em funções – gerência, executores, controladores etc. – foi preciso que cada trabalhador

ocupasse um determinado espaço para exercer sua função. Por esse motivo, a seguir

vamos destacar as principais características dos escritórios tayloristas.

1. Existe uma clara divisão espacial entre o trabalho manual – aquele que demanda

esforço físico do trabalhador – e o trabalho intelectual – aquele que demanda esforço do

raciocínio e da inteligência do trabalhador.

2. A hierarquia também é facilmente observada no espaço: funcionários com funções

gerenciais ocupam espaços fechados e individuais, enquanto funcionários dos escalões

inferiores ocupam um espaço único e conjunto.

3. O espaço do gerente é isolado dentro de quatro paredes, para poder ter privacidade de

planejar e policiar o trabalho de seus funcionários.

4. O espaço destinado aos funcionários é organizado com mesas individuais e idênticas,

dispostas como salas de aula.

5. No mesmo espaço destinado aos funcionários existem mesas de supervisores dispostas

conforme a mesa de um professor em sala de aula e em locais onde fosse possível

vigiar as tarefas dos demais.

6. Para incentivar a competitividade entre funcionários (não importa o nível hierárquico),

cada local de trabalho destinado a uma função específica é totalmente racionalizado.

7. O arquivamento é centralizado, geralmente no perímetro das instalações.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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Para os escalões superiores houve duas vertentes regionalistas. No modelo norte-

americano, os chefes ocupavam salas semi-envidraçadas e privativas dispostas ao longo do

perímetro do grande salão taylorista, onde estavam os funcionários. Já no modelo europeu,

o grande salão dos funcionários encontrava-se totalmente separado dos corredores que

abrigavam as pequenas salas individuais dos chefes. As demais características se repetem

nos dois modelos, norte-americano e europeu, inclusive e principalmente com relação aos

privilégios espaciais oferecidos à gerência e à alta gerência, que sempre ocupam os

pavimentos superiores dos edifícios e os locais com melhor vista da paisagem.

Foi nos escritórios tayloristas que pela primeira vez se pensou e foram implantadas

nas áreas auxiliares aos escritórios alguns espaços de suporte, como banheiros privativos,

salas de reuniões, elevadores e controles de acesso de pessoas aos escritórios. Alguns

desses espaços foram conseqüência não só do taylorismo, mas principalmente do avanço

tecnológico das edificações da época.

“Existência de facilidades privativas (banheiros, elevadores, salas

de reuniões) e do controle do acesso de pessoas são expedientes

atualíssimos de um sistema de premiação hierárquica originado nos

primórdios do escritório taylorista, e contemporâneo da

especialização funcional e do advento dos organogramas.”

(CALDEIRA, nº 9, p.3)

(1) (2)

(1) Interior de escritório como extensão da planta industrial (2) Escritórios com administração taylorista

Fontes: (1) CALDEIRA, n°9, p.4 (2) AMARAL, 1987, p. 243

Há mais de um século, o taylorismo foi precursor de concepções que existem até

hoje nos escritórios, mas obviamente que os conceitos foram adaptados às necessidades

atuais. Além das mudanças no interior dos escritórios, o final do século XIX também deixou

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

27

importantes heranças que refletiram na arquitetura dos edifícios e que tiveram

conseqüências para os interiores dos escritórios. Nesta época, a história da cidade de

Chicago, nos Estados Unidos, possuía grandes exemplos que contribuíram

significativamente para as mudanças e novos conceitos de construção de edifícios.

Em 1871 (FRAMPTON, 1997, p.54) Chicago perdeu várias de suas construções em

um grande incêndio e teve que ser reconstruída; como conseqüência profissionais da

construção civil aprimoraram as técnicas de construção dos diversos edifícios. Por isso, no

final do século XIX arquitetos de Chicago, como Louis Henry Sullivan (1856-1924) e

Dankmar Adler (1844-1900), “não tinham outra escolha senão dominar modos de

construção avançados, se quisessem continuar ativos” (FRAMPTON, 1997, p.54). A cidade

aos poucos foi sendo reconstruída e com ela surgiram novas técnicas de construção e

novas invenções; e como decorrência aparecem os primeiros edifícios altos em estrutura de

aço e de concreto armado.

Após a Revolução Industrial, o final do século XIX fica marcado por diversas

invenções que facilitaram o surgimento dos arranha-céus e permitiram o funcionamento dos

escritórios como os conhecemos hoje em dia. Entre elas estão: a difusão do aço (1856), que

permitiu construir novas máquinas mais eficientes; a utilização da eletricidade como força

motriz (1869); as invenções do telefone (1876), da lâmpada elétrica (1879) e do elevador

(1887). (BENEVOLO, 2003, p.615-616)

”O edifício comercial de grande altura surgiu da pressão do preço

dos terrenos; o preço dos terrenos da pressão populacional; a

pressão populacional, da pressão externa... Mas um edifício de

escritórios não podia erguer-se além da altura praticável por escada

sem um meio de transporte vertical. Assim a pressão chegou ao

cérebro do engenheiro mecânico, cuja imaginação criadora e cujo

esforço diligente criaram o elevador de passageiros...” Texto de Louis

Sullivan em The Autobiography of an Idea (A Autobiografia de uma

Idéia), de 1926. (FRAMPTON, 1997, p.54)

Veremos que o surgimento de algumas dessas tecnologias possibilitaram

determinados avanços nas construções: que se tornaram mais altas, com fachadas livres da

função estrutural, ampliaram o vão de abertura para maior entrada de iluminação natural nos

ambientes internos, aumentaram a área útil da laje etc.

Em março de 1896, Louis Sullivan escreveu um texto chamado The Tall Office

Building Artistically Considered (O Mais Alto Edifício de Escritório Artisticamente

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

28

Considerado), que reflete como o surgimento do edifício de escritórios foi inevitável naquela

época em Chicago, e que de lá até os dias atuais eles são essenciais por se tratar de

lugares indispensáveis para transações e atividades de negócios. Até então, a arquitetura

era considerada uma arte para edificar residências.

“The architects of this land and generation are now brought face

to face with something new under the sun – namely, that evolution

and integration of social conditions, that special grouping of them,

that results in a demand for the erection of tall office buildings (…) the

design of the tall office building must be recognized and confronted at

the outset as a problem to be solved.” (SULLIVAN, 1896). (Os

arquitetos dessa terra e dessa geração são trazidos agora, cara a

cara, para alguma coisa nova sob o sol – a saber, que a evolução e a

integração das circunstâncias sociais, especialmente agrupadas,

resultam em uma demanda para o erguimento de edifícios de

escritório altos (...) o projeto do edifício de escritório alto deve ser

reconhecido e encarado como um problema a ser resolvido.)

O engenheiro William Le Baron Jenney (1832-1907), formado pela Escola Politécnica

de Paris, foi o primeiro a utilizar o aço nas estruturas dos edifícios de Chicago, e por isso foi

um dos pioneiros na construção de arranha-céus (FRAMPTON, 1997, p.53). Ele

desenvolveu um processo que permitiu aumentar a altura do edifício sem sobrecarregar os

pilares inferiores, além de possibilitar a abertura de amplas janelas que viriam a trazer mais

iluminação aos ambientes internos.

De acordo com Eduardo Fares Borges, Jenney foi autor do primeiro arranha-céu da

história, construído em Illinois, Chicago, em 1879, chamado de Leiter Building (BORGES,

1999, p.53). O Leiter Building foi considerado em 1885 por Benevolo como um dos primeiros

arranha-céus da história, entretanto não foi encontrada nenhuma outra citação que

determinasse que esse realmente tenha sido o primeiro edifício inteiro de escritórios.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

29

(1)

(1) Edifício Leiter, Chicago – 1885 – Fachada

Fonte: (1) BENEVOLO, 2003, p.617

Em 1900 Frank Lloyd Wright14 (1867-1959) já havia se firmado como arquiteto de

residências. Entretanto, de acordo com Kenneth Frampton, ao projetar o edifício de

escritórios Larkin Building entre 1902 e 1906 (WESTON, 2003, p.26), localizado em Buffalo,

Nova York, para Darwin D. Martin, dono da companhia postal Larkin Mail Order Co., Wright

surge com um estilo mais maduro.

Segundo Frampton, Wright inovou em diversas etapas no projeto do edifício Larkin:

utilizando articulações quadriculadas em volta de um vazio central, o que permite que o

edifício tenha um só espaço interno com iluminação superior e galerias servidas de escadas

em cada canto; foi um dos primeiros edifícios de escritórios com ar-condicionado que

esfriava e aquecia o ambiente – sistema central de renovação e climatização de ar com

dutos embutidos na alvenaria e grelhas de insuflação e retorno; nos cantos do edifício,

quatro torres solucionaram as circulações verticais e outros serviços e facilidades; foi o

primeiro projeto a utilizar shafts contendo as instalações elétricas e hidráulicas.

Sobre sua ocupação, a inovação do projeto Larkin é igualmente grande: a arquitetura

do edifício permitia que todos os funcionários trabalhassem juntos em um só ambiente, sem

espaços privados ou fechados. No centro do edifício, no pavimento térreo, ficavam os

funcionários do baixo escalão, e ao redor, nos quatro pavimentos superiores que formavam

as galerias abertas para o vão central no térreo, localizavam-se as salas privativas dos

funcionários do alto escalão. Essa inovação arquitetônica é totalmente baseada no modelo

de escritórios taylorista, com espaços rígidos que privilegiam a hierarquia.

14 Frank Lloyd Wright: nasceu em 8 de junho de 1867 na cidade de Richland, em Wisconsin, EUA. Entre 1885 e 1887 estudou na Escola de Engenharia da Universidade de Wisconsin. Trabalhou em Chicago com importantes arquitetos de seu tempo, como Adler e Louis Sullivan, na construção de grandes edifícios. Tornou-se um dos maiores nomes da arquitetura moderna e inovou nas formas construtivas, na utilização de espaços e nos desenhos orgânicos. Faleceu em 1959 em Phoenix, Arizona, EUA.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

30

Wright desenhou não somente o edifício, mas todo o mobiliário, que foi feito de aço

especialmente para esses escritórios. As mesas e as cadeiras foram desenhadas levando-

se em consideração a função exercida pelo profissional que iria utilizá-las. O arquivamento

era feito em armários, também de aço, dispostos lado a lado e localizados no perímetro da

construção.

“Os armários para arquivos, por exemplo, foram erguidos do piso

– para facilitar a limpeza e não interromper a continuidade do espaço

– e embutidos nas paredes sob as aberturas voltadas para o átrio e

sob as janelas que davam para o exterior.” (WESTON, 2003, p.26)

Foi o primeiro exemplo fora de Chicago que integrou projeto de arquitetura, design

de ambientes e instrumentos de trabalho.

“Seu objetivo, como o de muitos de seus contemporâneos

europeus, era a consumação de um ambiente total, abrangendo e

afetando toda a sociedade. (...) Isso em parte também explica a

decepção de Wright quando, tendo desenhado o mobiliário do

escritório de Larkin, não lhe foi permitido redesenhar os telefones. É

essa mesma intenção que embeleza a entrada do edifício (...). O

mesmo espírito idealista se manifesta no desgosto de Wright diante

das mudanças feitas no Larkin Building ao longo de seu uso

cotidiano.” (FRAMPTON, 1997, p.66)

(1) (2)

Edifício Larking, Buffalo – 1902-1906 (1) Fachada (2) Interior: vazio central com funcionários trabalhando

Fontes: (1) WETSON, 2003, p.26 (2) DUFFY, 1997, p.20

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

31

(3)

Edifício Larking, Buffalo – 1902-1906 (3) Cópia da planta tipo com layout

Fonte: ZEVI, 1995, p.64

(4)

Edifício Larking, Buffalo – 1902-1906 (4) Planta baixa do pavimento térreo

Fonte: WETSON, 2003, p.27

(5)

Edifício Larking, Buffalo – 1902-1906 (5) Planta baixa do 1º pavimento

Fonte: WETSON, 2003, p.27

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

32

(6)

Edifício Larking, Buffalo – 1902-1906 (6) Planta baixa do 2º pavimento

Fonte: WETSON, 2003, p.27

(1) (2)

Edifício Larking, Buffalo – 1902-1906 – Mobiliário de aço especialmente desenhado para esses escritórios

(1) Escritório de diretores (2) Área de escritórios no pavimento térreo

Fonte: (1) e (2) TASCHEN, 1994, p.60

A obra de Wright, além de inovadora, serviu de exemplo e influenciou muitos outros

arquitetos.

“Frank Lloyd Wright propõe uma nova forma de unidade entre o

espaço interior e o aspecto geral do edifício, ao estabelecer a

realidade vivencial (uso e valor simbólico) dos ambientes como ponto

de partida de seus projetos. (...) os materiais locais são incorporados

à decoração e ao próprio mobiliário, buscando estabelecer, com o

meio, vínculos funcionais e significantes.“ (CALDEIRA, nº8, p.4).

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

33

Segundo Weston e Frampton, o arranjo de armários em baixo das janelas utilizado

no projeto do edifício Larkin foi o precedente para Mies van der Rohe15 (1886-1969) ao

projetar o Edifício de Concreto para Escritórios em Berlim em 1922. Neste projeto, uma

estrutura de concreto, executada em balanço, rodeava cada pavimento e formava uma

cavidade interna que era utilizada como espaço para arquivos e armários. Na parte de cima

desta estrutura uma parede de vidro circulava cada pavimento, e os pilares foram inseridos

a 4m da fachada, permitindo a entrada de iluminação natural em todo os pavimentos dos

escritórios.

Nessa mesma época, em 1921, Mies havia participado de um concurso na

Friedrichstrasse, em Berlim, com o projeto de um edifício de escritórios que utilizou somente

o vidro como revestimento da fachada e, segundo Frampton, de forma “ondulada e

convexa”. Era a primeira vez que o vidro era utilizado dessa forma. Segundo o próprio autor:

“Coloquei as paredes de vidro separadas por um ligeiro ângulo

para evitar a monotonia das superfícies de vidro de grandes

dimensões. (...) À primeira vista, o traçado curvo do projeto parece

arbitrário. Essas curvas, porém, foram determinadas por três fatores:

iluminação suficiente do interior, massa do edifício a partir da rua e,

por último, o jogo dos reflexos.” (FRAMPTON, 1997, p.194-195).

(1) (2)

(1) Edifício de Concreto para Escritórios, Berlim – 1922 – Desenho em carvão da fachada

(2) Projeto para prédio de escritórios na Friedrichstrasse, Berlim – 1921

Fontes: (1) BLASER, 1996, p.16-17 (2) FRAMPTON, 1997, p.194

15 Ludwig Mies van der Rohe: nasceu em 29 de março de 1886 em Aachen, na Alemanhã. Trabalhou muito em Berlim e foi um dos mais importantes arquitetos modernistas europeus. Projetou diversos edifícios de escritóriose foi responsável por influenciar arquitetos na forma de projetar esses edifícios em todo o mundo. Foi diretor de escolas de arquitetura e da Bauhaus entre 1930 e 1933. Faleceu em 17 de agosto de 1969 em Chicago, EUA.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

34

A obra de Mies van der Rohe sofreu forte influência de Frank Lloyd Wright após 1923

(FRAMPTON, 1997, p.195). Entretanto, a grande diferença entre as obras desses dois

grandes arquitetos ao projetarem espaços de escritórios está na utilização da iluminação

nos ambientes internos.

Mies cada vez mais utiliza o vidro como acabamento externo de toda a construção e

elimina o pilar marcante na fachada, proporcionando uma grande claridade natural ao

ambiente de trabalho.

“O edifício de escritórios é uma casa de trabalho (...) de

organização, claridade e economia. Salas de trabalho luminosas,

amplas, fáceis de supervisionar, divididas apenas da maneira que o

exijam as funções específicas. O máximo efeito com o mínimo

dispêndio de meios. Os materiais são concreto, ferro e vidro.” (Mies

Van der Rohe, in FRAMPTON, 1997, p.195)

Enquanto isso, Wright cria ambientes herméticos, com recursos de iluminação

artificial bastante marcantes.

“Frank Lloyd Wright propõe uma nova forma de unidade entre o

espaço interior e o aspecto geral do edifício ao estabelecer a

realidade vivencial (uso e valor simbólico) dos ambientes como ponto

de partida de seus projetos. (...) os materiais locais são incorporados

à decoração e ao próprio mobiliário, buscando estabelecer, com o

meio, vínculos funcionais e significantes.“ (CALDEIRA, nº8, p.4)

Wright continua durante muitos anos sendo um inovador na arquitetura de

escritórios. Entre 1936 e 1939 ele projeta o Edifício Administrativo da Johnson Wax

(WESTON, 2003, p.82), em Racine, no estado de Wiscounsin, nos EUA, onde continua

adotando um partido similar ao edifício Larkin, que também está calcado no conceito

taylorista.

O edifício possui um grande átrio central para funcionários com pé-direito alto e

maior área útil no piso, ao redor do átrio central estão dispostas salas individuais para os

chefes, e todo o interior do edifício forma um único ambiente – onde Wright aproveitou para

projetar um único sistema de ar-condicionado. Nesse ambiente o destaque está nos

enormes pilares circulares (ocos para descida de água da chuva), que possuem capitel,

também circular, e bastante marcantes pela dimensão bem maior que a base e o corpo.

Entre o capitel e o teto uma linha de iluminação artificial é formada por uma membrana de

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

35

vidro, o que proporciona claridade a todo o ambiente dos escritórios. Segundo Weston, este

foi um dos primeiros edifícios de escritórios a possuir algumas instalações comunitárias,

como a quadra de esportes e o auditório para 250 lugares.

“Planejado, provavelmente, para reuniões, palestras e exibição

de filmes, o auditório foi colocado no nível do mezanino e, para

marcar sua importância social, ocupava uma posição axial central em

relação à ‘catedral’ do trabalho adjacente.” (WESTON, 2003, p.82).

Segundo Frampton, nesse projeto Wright utiliza muito as formas orgânicas,

observadas na forma do edifício, nas colunas com capitel e em todo o mobiliário.

Ainda em fase de projeto, em 1937, Wright se uniu à empresa Steelcase16, de

móveis para escritórios, e idealizou todo o mobiliário para o edifício Johnson Wax, incluindo

a mesa metálica com cantos arredondados, chamada de oval shaped desk (mesa em forma

oval). Novamente o mobiliário é disposto de forma rígida em fileiras, conforme determinava

o taylorismo.

(1) (2)

Edifício Administrativo Jonhson Wax, Racine – 1936-1939 (1) Fachada (2) Interior do átrio central e mezanino

Fonte: (1) e (2) WESTON, 2003, p.82

16 Steelcase: empresa de fabricação de mobiliário para escritórios. Fundada em 1912, em Grand Rapids, Michigan, EUA, com o nome de The Metal Office Furniture Company (Companhia de Mobiliário Metálico para Escritórios), em 1954 passou a ser chamada de Steelcase. Sua especialidade era a fabricação de armários e cofres, mas em 1915, pela primeira vez, vendeu 200 mesas metálicas para o edifício de escritórios Custom House Tower, em Boston, EUA. Fonte: www.steelcase.com

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

36

(3) (4)

Edifício Administrativo Jonhson Wax, Racine – 1936-1939

(3) Detalhe da iluminação no forro (4) Saguão de entrada e hall de elevadores

Fontes: (3) www.greatbuildings.com (4) TASCHEN, 1994, p.142

(5)

Edifício Administrativo Jonhson Wax, Racine – 1936-1939

(5) Layout com a disposição original das estações de trabalho

Fonte: (5) DUFFY, 1997, p.25

(6) (7)

Edifício Administrativo Jonhson Wax, Racine – 1936-1939

(6) Planta baixa pavimento térreo (7) Planta baixa mezanino

Fonte: (6) e (7) WESTON, 2003, p.83

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

37

(8) (9)

Edifício Administrativo Jonhson Wax, Racine – 1936-1939 (8) Oval shaped desk (9) Sala de reunião

Fontes: (8) www.steelcase.com (9) TASCHEN, 1994, p.144

Segundo Amaral, após a Primeira Guerra Mundial, o modelo taylorista entra em crise

devido ao aumento da produção de maquinário fabril e de escritórios, o que exige que o

funcionário do escritório opere uma máquina, o que o transforma “em controlador da

produção, ao invés de produtor direto”. (AMARAL, 1987, p.243) Tem início, então, a

automatização das empresas e com isso elas começam a utilizar mecanismos automáticos,

quase sem nenhuma interferência do homem para controlar seus negócios.

Para operar as novas tecnologias, as empresas necessitavam de maior interação

entre funcionários de diferentes níveis hierárquicos e de maior qualificação técnica. A

conseqüência dessa automação é que as empresas não conseguem mais manter a

hierarquia linear do taylorismo, com toda sua rigidez no fluxo de informações.

“A era pós-industrial, período que se segue após a Primeira

Guerra, inaugura uma fase de abundância e alta produtividade,

levando a mudanças nas formas administrativas. É o princípio da

automação nas fábricas e escritórios.” (AMARAL, 1987, p.243)

A primeira crítica ao taylorismo é feita por Elton Mayo (CALDEIRA, nº10, p.1), que,

baseado em um trabalho realizado com grupos de funcionários, inicia o movimento chamado

Escola das Relações Humanas (AMARAL, 1987, p.243), que tinha como objetivo alcançar

maior eficiência das empresas, com ênfase nas relações e aspirações do fator humano na

organização. Suas teorias modificam o esquema administrativo das empresas e passam a

tratá-la como um conjunto de equipes. Nelas permanecem a burocracia e a hierarquia, mas

as equipes de funcionários “trabalham havendo uma participação sobre as decisões

administrativas”. (AMARAL, 1987, p.243)

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

38

Segundo Amaral, a Escola das Relações Humanas influenciou bastante o surgimento

de novas tendências administrativas, incluindo o trabalho do behaviorista17 Douglas

McGregor iniciado em “1957 e culmina com o livro O Lado Humano da Empresa” (AMARAL,

1987, p.243) – que também é mais uma crítica ao modelo taylorista. McGregor estimula: o

trabalho em equipe, a participação criativa, a auto-satisfação de seus funcionários como

estímulo ao trabalho e à responsabilidade. Ele procura

“por intermédio de estímulos, adaptar o indivíduo ao meio, sem

transformar o meio. O escritório é um desses estímulos, na medida

em que ele dá suporte operacional a essa nova fórmula gerencial. Ao

se tirar o gerente da sala fechada e localizá-lo no meio de seus

funcionários, está se pretendendo adotar uma postura democrática,

onde o poder hierárquico fica diluído. Os funcionários ficam dispostos

em formação de equipes, respeitando a conotação de que o trabalho

é grupal e não individual”. (AMARAL, 1987, p.244)

Essa forma de pensar a administração impulsiona o aparecimento de uma nova

forma de organização espacial: o escritório panorâmico.

1.3 ESCRITÓRIOS PANORÂMICOS E DE PLANTA LIVRE: DE 1 950 A 1960

Em meio ao cenário da crise do modelo taylorista, juntamente com uma nova

psicologia social, nas décadas de 1950 e 1960 começa-se a ouvir falar no escritório

landscape, ou open office18, ou ainda escritórios panorâmicos. Esse conceito é a base do

conceito de escritório que conhecemos hoje, e foi a partir daí que os espaços internos dos

edifícios de escritório passaram a receber maior atenção – antes as preocupações maiores

estavam voltadas para a solução de problemas técnicos e para o surgimento de novas

formas arquitetônicas.

Alguns defensores do escritório panorâmico identificavam a seguir quatro aspectos

inovadores, em comparação às formas de ocupação anteriores:

17 Behaviorista: indivíduo que pratica o behaviorismo, teoria que restringe a psicologia ao estudo do comportamento.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

39

1. “era um trabalho em equipe que atendia às exigências e à crença do movimento

behaviorista;

2. era uma forma de fazer frente às necessidades futuras, já que muitas mudanças

estavam acontecendo no contexto social e econômico;

3. acreditavam que possibilitaria melhoras organizacionais e no próprio desenho do

edifício;

4. acreditavam que poderiam criar regras concretas para o desenho do edifício,

baseadas nas modernas teorias organizacionais”. (SAMPAIO, 2003, p.48)

O escritório panorâmico foi pela primeira vez apresentado em Hamburgo, na

Alemanha, pelos irmãos Eberhard e Wolfgang Schenelle da empresa de consultoria

administrativa Quickborner Team. Vários estudos foram realizados antes de implementá-lo e

para isso se basearam na Escola das Relações Humanas de Elton Mayo. O objetivo do

escritório alemão era aliar tecnologia aplicada à concepção dos edifícios, introduzindo

sistemas e mobiliário que permitissem ambientes de escritórios mais confortáveis,

integrados e adequados à produção intelectual. Posteriormente surgiu nos Estados Unidos o

sistema de mobiliário integrado para escritórios, através da empresa moveleira Herman

Miller19 (veremos mais detalhes à frente).

Os layouts eram formados por mais de um tipo de local de trabalho, distribuídos de

forma modular e “segundo uma malha hexagonal que permitia a configuração de células

semi-isoladas à imagem de colméia”. (CALDEIRA, nº9, p.7). Nesse tipo de ocupação

espacial, os departamentos funcionam como equipes de trabalho e a disposição final do

mobiliário no espaço está diretamente relacionada com o fluxo de informações, por essa

razão esse é um layout tipicamente orgânico – que às vezes chega a parecer caótico.

A seguir vamos destacar as principais características dos layouts dos escritórios

panorâmicos:

18 Landscape: é o escritório paisagem. Open office é o escritório aberto. Ambos são termos em inglês que significam e nomeiam o escritório panorâmico.

19 Herman Miller: empresa de fabricação de mobiliário para escritórios. Fundada em 1923, em Michigan, EUA, sua especialidade era a fabricação de tradicionais móveis residenciais. Em 1942 começou a produzir móveis para escritório, e nessa época criou mobiliário EOG, precursor do sistema de mobiliário integrado. Fonte: www.hermanmiller.com

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

40

1. os espaços de trabalho são totalmente abertos, sem barreiras visuais e físicas (paredes,

circulações etc.) entre diferentes departamentos ou entre chefes e subordinados;

2. a segregação hierárquica permanece de forma sutil, apesar de parecer diluída pelo

convívio em um mesmo espaço de chefes e chefiados;

3. o espaço dos funcionários é organizado em ilhas multifuncionais20, de acordo com a

complementaridade de suas tarefas e com a necessidade de trabalharem em equipe;

4. o espaço do gerente é localizado junto ao de seus subordinados;

5. o arquivamento é diferenciado entre os modelos europeu e norte-americano: no

esquema alemão os armários são centralizados e no norte-americano os armários são

distribuídos no espaço vertical dos painéis e dentro de cada departamento;

6. era usual a existência de áreas destinadas ao uso comum, como salas de estar isoladas

e salas de reuniões (fechadas ou integradas no espaço aberto);

7. a utilização de plantas ornamentais e obras de arte eram comuns e deixavam o

ambiente mais humano e informal.

O conceito foi amplamente difundido na Alemanha, porém em outros países

europeus ainda predominava a rigidez hierárquica do taylorismo. Especificamente no

modelo europeu a típica distribuição do layout era organizada da seguinte forma:

1. as ilhas multifuncionais possuíam mobiliário composto por mesas autoportantes

retangulares, ou em forma de “L”, dispostas conforme a necessidade do fluxo de

informações;

2. os painéis eram utilizados como biombos que dividiam os departamentos;

3. dentro dos departamentos não existiam divisórias separatórias entre funcionários;

4. os gerentes utilizavam salas fechadas para a gerência (principalmente até a década de

1970);

20 Ilha multifuncional: conjunto de estações de trabalho para funcionários que exercem a mesma função.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

41

5. o arquivamento era centralizado, os armários de cada departamento estavam todos

juntos e localizados próximo ao departamento.

Já nos Estados Unidos o mobiliário era considerado integrado, ou seja, ele era

pensado como um sistema composto por partes distintas, onde os painéis são o principal

componente.

O painel é modular tanto na largura quanto na altura de acordo com o grau de

privacidade requerido no local de trabalho; ele suporta a superfície de trabalho, armários e

diversos tipos de acessório (como prateleiras, porta-canetas etc.); era feito em material

metálico e revestido em laminado ou tecido, pois interferia bastante na acústica do ambiente

de trabalho; pelo seu interior passavam fiações elétricas e de telefonia (para alimentação

dos equipamentos de trabalho como computadores e telefones).

Juntas, todas essas partes e painéis do mobiliário integrado formam um conjunto e

possuem uma unidade visual denominada estação de trabalho, que é o local onde

atividades individuais são desenvolvidas e o funcionário tem ao alcance das mãos todas as

ferramentas necessárias à execução de suas atividades. Quando agrupadas, delimitam um

departamento ou área. O escritório panorâmico norte-americano é formado por estações de

trabalho e pela composição desse tipo de estrutura modular. Segundo a distribuição do

layout norte-americano:

1. as ilhas multifuncionais possuíam mobiliário integrado, dispostas conforme a

necessidade do fluxo de informações;

2. os painéis acumulavam duas funções: dividir os espaços de trabalho (entre

departamentos e entre funcionários de uma mesma equipe) e suportar verticalmente as

demais partes do mobiliário;

3. os gerentes e supervisores utilizavam espaços como os dos funcionários, porém cada

estação de trabalho possuía uma dimensão diferente, de acordo com a posição

hierárquica: quanto mais alto o cargo, maior o espaço da estação de trabalho;

4. o arquivamento era distribuído pelas estações de trabalho: cada estação possuía

armários suspensos pelos painéis divisores.

Ao compararmos os dois modelos, verificamos que o modelo europeu tinha maior

flexibilidade na disposição do mobiliário entre funcionários e equipes, já que era muito mais

fácil mudar a localização de mesas e armários do que de estações de trabalho inteiras.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

42

Por outro lado, o layout europeu era menos denso, pois provocava um tipo de

organização espacial em que o aproveitamento do espaço existente era bem menor,

principalmente porque precisava de espaço horizontal para colocar armários, enquanto os

norte-americanos utilizavam o espaço vertical nas divisórias do mobiliário. Segundo Rita

Sampaio, o modelo norte-americano gerava uma economia de espaço que chegava a 30%

em relação ao modelo europeu (SAMPAIO, 2003, p.54), como mostra a comparação

realizada por ela entre os dois tipos: no escritório europeu o espaço utilizado para cada

módulo de estação de trabalho era de 8,40m², enquanto no escritório norte-americano de

mobiliário integrado esse espaço ocupava 6m².

Espaços necessários para cada estação de trabalho (1) Estação de trabalho convencional utilizada no escritório

europeu (2) Estação de trabalho de sistema integrado empregada no escritório norte-americano

Fonte: SAMPAIO, 2003, p.55

Tanto na Europa como nos Estados Unidos o resultado são layouts orgânicos, que

seguem a geometria dos fluxos de circulação e de comunicação, e não mais da arquitetura

do edifício, e sugerem uma integração e comunicação maiores entre as diversas áreas da

empresa. Essas semelhanças e diferenças podem ser observadas nas plantas e fotos a

seguir apresentadas por Cláudio Amaral em 1987.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

43

(1) (2)

(1) Sede da BMW na Alemanha – Planta baixa com layout típico de escritório panorâmico alemão

(2) Planta baixa com layout típico de escritório panorâmico norte-americano

Fonte: (1) e (2) AMARAL, 1987, p.242

(3) (4)

(3) Foto do escritório panorâmico modelo alemão

(4) Foto do escritório panorâmico modelo norte-americano com sistema integrado

Fonte: (1) e (2) AMARAL, 1987, p.242

Com o tempo, os layouts de escritórios panorâmicos que passaram a utilizar o

mobiliário integrado norte-americano começam a ser mais lineares, menos orgânicos, com

circulações bem definidas, pois as estações de trabalho formavam cubículos através de

seus painéis. Esses escritórios passam também a ser chamados simplesmente de open

office, ou planta livre.

O mobiliário integrado foi desenvolvido e empregado pela primeira vez pela indústria

moveleira norte-americana Herman Miller, que em 1964 lançou comercialmente o primeiro

sistema de mobiliário integrado: a linha Action Office (HERMAN MILLER, 2004), que

possuía todas as características mencionadas acima.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

44

De acordo com Caldeira, a linha Action Office foi desenvolvida para ser instalada nos

escritórios da empresa JFN Associates de Chicago (CALDEIRA, nº 9, p.7), uma empresa

norte-americana de designers de espaço.

Segundo informações da própria Herman Miller, o designer e então presidente da

empresa, Robert Prost, inventor da linha Action Office, percebeu os rumos que a

organização de escritórios estava tomando e criou o seu próprio centro de pesquisa. Nele foi

desenvolvido um sistema de componentes que formavam a estação de trabalho e que

poderiam ser montados e remontados várias vezes; assim, se o layout do escritório

precisasse ser modificado para atender à demanda de fluxos de trabalho, o mobiliário

acompanharia essa mudança. (HERMAN MILLER: 2004)

Até hoje a Herman Miller fabrica e vende a linha Action Office, com base no mesmo

conceito original e com o mesmo nome, mas com outros detalhes, acabamentos e

atendimento às necessidades mais atuais, desenvolvidas ao longo dos anos.

(1) (2)

Linha Action Office da Herman Miller (1) Estação de trabalho (2) Elementos que compõem a estação de trabalho

Fonte: (1) e (2) Herman Miller, 2004, Catálogo de propaganda de produtos

(3) (4)

Linha Action Office da Herman Miller (3) Estação de trabalho humanizada (4) Estações de trabalho agrupadas

Fonte: (3) e (4) Herman Miller, 2004, Catálogo de propaganda de produtos

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

45

O mobiliário integrado teve como princípios básicos:

1. melhor aproveitamento de espaço ao delimitar a área da estação de trabalho e ao

distribuir as estações em forma de malha;

2. maior flexibilidade de layout ao considerar que os elementos poderiam ser montados,

desmontados e remontados de novas formas;

3. maior organização, pois os componentes da estação de trabalho eram modulares;

4. maior diversidade de acabamentos para estruturas, painéis, superfícies etc.;

5. padronização de móveis, facilitando a organização e inventário dos elementos;

6. economia de instalações, pois era mais duradouro.

Paralelamente, outras empresas de mobiliário também desenvolviam seus produtos,

já que a arquitetura de interiores de escritórios vinha se tornando

“um campo fértil para a racionalização e a industrialização do

mobiliário e dos materiais de acabamento. A busca da melhoria dos

ambientes de trabalho, baseada na crença moderna de que a

satisfação do funcionário sob esse aspecto aumenta a sua

produtividade, tem incentivado grandes avanços do ponto de vista da

ergonomia, da luminotécnica, do conforto termoacústico”.

(CALDEIRA, nº8: p.6)

Desde 1953, a Steelcase já industrializava mobiliários para escritório coloridos

através da linha metálica Sunshine Styling. Apesar do pioneirismo nos acabamentos dos

móveis, somente após o lançamento da Action Office, influenciado pela concorrência, em

1968 a empresa lança a linha Mobiles, que foi a base do sistema de mobiliário integrado

dentro da Steelcase. Três anos depois, em 1971, a Steelcase produz a linha Movable Walls,

a primeira de mobiliário integrado realmente considerada pela empresa. Logo depois, em

1972, as empresas começam a utilizar outros materiais de acabamento diversificados para

produção do mobiliário, como, por exemplo, a madeira, que foi altamente usada no Brasil.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

46

(1) (2)

Mobiliário Steelcase (1) Linha Mobiles – 1968 (2) Linha Movable Walls – 1971

Fonte: (1) e (2) www.steelcase.com

Os escritórios de planta livre continuaram sendo utilizados por muitos anos,

principalmente nos Estados Unidos – e nos países influenciados pela cultura norte-

americana através de suas multinacionais que se instalaram nesses países – e foram se

adaptando às mudanças dos tempos, às exigências de mercado e à intensificação do uso

de tecnologia da informação nos escritórios.

A princípio era difícil implantar os layouts panorâmicos nas plantas ortogonais da

grande maioria dos edifícios de escritórios. A rigidez das instalações na época ia de

encontro à flexibilidade que o novo layout exigia. Cláudio Amaral faz uma citação sobre os

edifícios nas décadas de 1950 e 1960:

“somente os prédios projetados sob encomenda para uma única

empresa e em que desde o início fosse prevista a adoção de um

esquema do tipo landscape office é que conseguiam essa perfeita

sincronia”. (CALDEIRA, nº9, p.7)

As plantas dos escritórios panorâmicos eram tipicamente profundas, com grandes

distâncias internas entre janelas, e por isso precisavam: de sistemas de ar-condicionado e

de iluminação mais eficientes (para atender a áreas bem maiores) e de materiais de

revestimento acústicos tanto no mobiliário como no forro e no piso (já que as grandes áreas

de trabalho abertas aumentavam o nível de ruído no ambiente).

Acontecia no mundo uma revolução que atingia “todos os setores industriais, o que

alavancou a produção de elementos construtivos em série”. (SAMPAIO, 2003, p.52) Essas

mudanças possibilitaram os avanços tecnológicos que auxiliaram bastante o surgimento dos

edifícios com plantas que abrigariam os escritórios panorâmicos, como exemplifica a citação

a seguir:

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

47

“Os estudos relativos à concepção de edifícios corporativos

passam a ser mais detalhados devido a vários fatores, entre eles a

crença na tecnologia e no progresso, além da crescente demanda

por áreas destinadas a escritórios”. (SAMPAIO, 2003, p.52)

Uma das mais importantes empresas de arquitetura que executou diversos projetos

de edifícios de escritórios é a Skidmore, Owings & Merrill (SOM)21, que, segundo Weston,

“foi uma pioneira dos fundamentos do trabalho em equipe e

introduziu muitos outros conceitos, ligados aos métodos do mundo

dos negócios americanos, que iriam transformar a prática da

arquitetura”. (WESTON, 2003, p.102)

Ao longo de sua história, a SOM executou diversos trabalhos importantes, como o do

edifício Lever projetado entre 1950 e 1952 (WESTON, 2003, p.102), na cidade de Nova

York. Essa construção é formada por dois elementos: um embasamento e uma torre de

escritórios de 21 andares.

No embasamento, mais largo e com pé-direito duplo, estão localizados espaços

públicos, restaurante, pátio etc. Na torre de escritório, os pilares de aço foram colocados no

interior (sem aparecerem na fachada) e dentro das paredes internas. As escadas, shafts de

elevadores, sanitários e demais áreas de suporte estão localizados juntos e na extremidade

dos pavimentos, mas não apresentam volume na fachada. Diferentemente das demais

construções da época, essa foi toda revestida de vidro verde, com o objetivo de reduzir a

carga do sistema de ar-condicionado interno, além de proporcionar maior iluminação natural

para os ambientes de trabalho, que, junto com a distribuição interna dos pilares e áreas de

suporte, proporcionou uma planta mais ampla.

Esse modelo, com dois volumes e suas respectivas funções e com acabamentos em

vidro da fachada, foi posteriormente copiado por muitos profissionais responsáveis pela

construção de edifícios corporativos em todo o mundo, inclusive no Brasil. Entretanto,

muitos desses profissionais não se preocuparam com o clima e a cultura diferentes ao

projetarem os edifícios em outros países. Segundo Weston, “este tipo de edifício acabou se

tornando um símbolo das deficiências da arquitetura corporativa internacional”. (WESTON,

21 SOM: fundada em 1936 em Chicago, Skidmore, Owings & Merrill é uma empresa norte-americana de projetos de arquitetura, urbanismo, engenharia e interiores. Realizou importantes projetos de escritórios corporativos para diversas empresas em todo o mundo e se tornou um dos maiores escritórios de arquitetura mundiais. Atualmente a empresa mantém escritórios em Chicago, Nova York, San Francisco, Washington DC, Los Angeles, Londres, Hong Kong e Shanghai.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

48

2003, p.102). Por outro lado, a importância que o edifício Lever teve na época de sua

construção e ao seu redor não pode ser diminuída, principalmente pela inovação na

utilização de acabamentos leves e pela disposição interna dos compartimentos, além da

beleza da construção.

(1) (2) (3)

Edifício Lever, Nova York – 1950-52 (1) Fachada (2) Planta baixa do 3º pavimento localizado no embasamento

(3) Planta baixa do pavimento tipo de escritórios

Fontes: (1) GÖSSEL, 1996, p.228 (2) e (3) WATSON, 2003, p.103

O primeiro edifício que utilizou o uso misto – comercial e residencial – foi projeto de

Frank Lloyd Wright. Entre 1952 e 1956 ele projetou o edifício Price Tower, em Bartlesville,

Oklahoma, EUA (PRICE, 2006), para Harold C. Price, fundador da H.C. Price Company. O

edifício possui espaços de escritórios para empresa, lojas e residências que seriam

alugadas para pagar o custo da construção.

Esse era o projeto mais alto de Wright: dezenove andares com 67m de altura e

estrutura de concreto armado. Como o perímetro do edifício não tinha colunas de

sustentação, este é um dos poucos projetos que Wright utiliza uma fachada de vidros verdes

que permite a iluminação natural em todo o pavimento de escritório, que possuía 743m². Os

detalhes dos acabamentos eram abundantes, e Wright ainda desenhou todo o mobiliário

para o edifício: mesas em metal com bordas de alumínio e cadeiras iguais para os espaços

de escritórios e para os apartamentos.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

49

(1) (2)

Edifício Price Tower, Bartlesville – 1956 (1) Fachada (2) Escritório executivo

Fonte: (1) e (2) PRICE, 2006

Apenas seis anos após a construção do edifício Lever, no terreno diagonal ao do

edifício Lever, Mies van der Rohe projetou entre 1954 e 1958 o edifício Seagram em Nova

York, que marcou definitivamente a contribuição de Mies para arquitetura de edifícios de

escritórios e que, posteriormente, influenciou a arquitetura desses edifícios em todo o

mundo. (FRAMPTON, 1997, p.288)

A torre de escritórios de 39 andares localizada no centro do terreno possibilitava que

todas as fachadas fossem de vidro e que os espaços internos fossem bem iluminados.

Como no edifício Lever, os pilares no pavimento tipo (que é modular) são internos, assim

como o núcleo de serviços. Toda a construção foi coberta com perfis de aço aparentes e

vidro na cor bronze. A construção é simétrica e a repetição de itens construtivos – uma

característica marcante da obra de Mies e também considerada uma inovação por muitos

autores – foi bastante utilizada dessa vez. Segundo Weston: “No Edifício Seagram, Mies

levou a repetição ao limite e conseguiu com isso algo que beirava o sublime”. (WESTON,

2003, p.118)

Segundo Francis Duffy, o mobiliário instalado no edifício trouxe características do

que viria a ser o mobiliário do sistema integrado norte-americano. As mesas já eram

dispostas de acordo com o fluxo de comunicação no espaço aberto e grandes salas

fechadas e individuais eram utilizadas pelos chefes, de acordo com os interesses dos

dirigentes administrativos da empresa.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

50

(1) (2)

Edifício Seagram, Nova York – 1954-58 (1) Fachada (2) Planta baixa do pavimento tipo de escritórios

Fontes: (1) GÖSSEL, 1996, p.230 (2) WATSON, 2003, p.119

(3) (4)

Edifício Seagram, Nova York – 1954-58 (3) Sala de gerente individual (4) Área de escritórios

Fonte: (3) e (4) DUFFY, 1997, p.27

Desde as décadas de 1920 e 1930 Mies van der Rohe já produzia projetos para

áreas administrativas que desenvolviam uma nova forma de pensar a arquitetura. O

arquiteto declarou em 1926 que a arquitetura é “a vontade da época produzida para o

espaço”. (FRAMPTON, 1997, p.282) Assim ele se tornou autor de uma arquitetura

facilmente identificável como sendo sua, principalmente por causa das características

marcantes que são repetidas nos edifícios de escritórios até os dias de hoje. Entre elas

estão:

1. volumes simétricos, com linhas retas e sem arcos;

2. apoios estruturais aparentes, com perfis de aço padronizados para acabamento;

3. transparência, principalmente através do revestimento de vidro;

4. repetição de elementos celulares na estrutura e nas plantas;

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

51

5. plantas modulares, livres de pilares sempre que possível (com estrutura integrada às

paredes na fachada e no interior), áreas de serviço passavam despercebidas e com

completa isenção de ornamentos.

Devido a essas características, é comum a arquitetura influenciada por ele ser

chamada de miesiana. (Dicionário Ilustrado de Arquitetura, 2006)

“... podemos alegar que, ao longo da história, não houve

‘mestres’ da arquitetura mais mal compreendidos por seus discípulos

e seguidores imediatos do que Mies e Kahn. Mies foi plenamente

gratificado por seu sucesso ao formular a modalidade normativa do

edifício corporativo norte-americano de 1950 a 1975, e o formato

miesiano padronizou-se para um certo setor do desenvolvimento no

mundo do pós-guerra...”. (FRAMPTON, 1997, p.371)

Veremos mais à frente que os arquitetos que projetaram o estudo de caso deste

trabalho possuíam fortes influências miesianas.

Em 1957 o escritório SOM inaugurou o projeto do edifício Union Carbide em Nova

York e inova em conceitos que seriam seguidos posteriormente. Bastante influenciados pela

obra de Mies van der Rohe, o SOM projetou uma torre de escritórios em vidro, com

dimensões em planta totalmente modulada e que utilizava a estação de trabalho como

módulo principal. O mobiliário de cada estação foi desenhado em forma de “L” e toda essa

modulação trouxe flexibilidade para mudanças de layout. Os elementos construtivos também

foram projetados para proporcionar vãos livres onde o módulo – da estação de trabalho –

pudesse ser utilizado da melhor forma, assim como a fachada de vidro dava maior

iluminação natural no interior dos escritórios.

Segundo Claudia Andrade, “o edifício foi considerado na época o Rolls-Royce dos

edifícios de escritórios, graças às inúmeras inovações existentes nele”. (ANDRADE, 2000,

p.24). Ainda de acordo com ela, foi a primeira vez que toda uma instalação de escritório

utilizou carpete e forro modulado, o que permitiu a instalação uniforme de iluminação

fluorescente.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

52

(1) (2)

Edifício Union Carbide Corp., Nova York – 1957 (1) Fachada (2) Pavimento tipo de escritórios

Fonte: (1) AU, 2002, n° 386, p.48 (2) AU, 2002, n° 386, p.51

Na década de 1960 surgiam edifícios de escritórios cada vez mais modulares, como

o edifício John Handcock Center (1968), em Chicago (AU, 2002, n°386, p.39), projetado pelo

escritório SOM e que de acordo com Adrian Smith (arquiteto responsável pelos projetos do

SOM em Chicago) era mais um marco arquitetônico nos Estados Unidos.

Com sete pavimentos de escritórios, o projeto é totalmente simétrico e modular. Na

fachada, pilares e vigas são fortemente demarcados e sobressaltados; a planta em formato

quadrado segue a mesma modulação da fachada. Ao observarmos os demais projetos do

escritório SOM na época, verificamos que esse é um dos primeiros em que o núcleo de

elevadores, escadas e serviços é totalmente central, proporcionando o máximo de

iluminação natural ao interior e uma planta livre de pilares. Como conseqüência, a

flexibilidade para instalações de estações de trabalho com mobiliário integrado é totalmente

favorecida.

(1) (2)

Edifício John Handcock Center, Chicago – 1961 (1) Fachada (2) Pavimento tipo de escritórios

Fonte: (1) AU, 2002, n° 386, p.48 (2) AU, 2002, n° 386, p.51

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

53

1.4 ESCRITÓRIOS DAS DÉCADAS DE 1970, 1980 E 1990

Gradativamente a partir dos modelos norte-americano e europeu implantados na

década de 1960, o conceito da planta livre se consolidou durante o final do século XX. Nos

anos 1970, os sistemas de mobiliário integrados se desenvolveram e se disseminaram,

enquanto nos anos 1980 estes sistemas se focaram na estética e na revisão de conceitos

hierárquicos.

Segundo Claudia Andrade, as características das estações de trabalho foram sendo

alteradas em razão de três fatores:

1. “a flexibilização das organizações, com a redução do número de funcionários em

salas fechadas e a preferência pela integração de equipes;

2. os custos imobiliários que levaram a uma redução no tamanho das estações de

trabalho e à conseqüente redução de espaço/custo;

3. o uso de tecnologia de informação, que alterou as necessidades relativas ao

mobiliário”. (ANDRADE, 2000, p.24)

A flexibilização em particular vem acompanhada da necessidade de integração entre

funcionários e superiores, a relação entre funcionários de diferentes níveis é menos

hierárquica e mais informal. As empresas nestas décadas sofreram diversas mudanças,

fusões, algumas cresceram, outras diminuíram, e a cada mudança precisavam readequar o

layout de seus escritórios. Quanto maior a flexibilidade do mobiliário, melhor e mais rápida

era a adaptação às mudanças; conseqüentemente, menor eram os custos de implantação e

de modificação de layouts.

Em 1985, a Herman Miller lança mais um sistema de mobiliário integrado, o

Ethospace, ao perceber “que seu produto Action Office não mais representava uma posição

de vanguarda para os administradores”. (AMARAL, 1987, p.245) Baseado na administração

da Teoria do Sistema, em que a hierarquia do escritório não é expressa pelo tipo de

mobiliário que o funcionário utiliza, nele são minimizadas as diferenças de tamanho de

estações de trabalho, recursos técnicos e acabamentos entre as distintas peças de

mobiliário dos diferentes níveis hierárquicos.

Esse produto é idealizado como um módulo de estação de trabalho composto por:

uma mesa de trabalho, que em uma das extremidades possui uma conexão em semicírculo

para reuniões e na outra extremidade possui uma mesa de trabalho em formato de “L”. Ao

redor desse conjunto estão os painéis, onde pela primeira vez foi possível combinar

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

54

diferentes alturas de divisórias do mobiliário e tipos de acabamento (mais humanizados,

evocando elementos arquitetônicos como paredes, janelas, tijolos etc.). Esse módulo de

estação de trabalho se amplia conforme o grau hierárquico, mas irá sempre possuir os

mesmos acabamentos e recursos.

(1) (2)

Linha Ethospace da Herman Miller

(1) e (2) Estações de trabalho com diferentes alturas de painéis e acabamentos

Fonte: (1) e (2) Herman Miller, 2005, Catálogo de propaganda de produtos

Paralelamente, os edifícios de escritórios foram se modernizando, passaram a ser

projetados com novas tecnologias construtivas (materiais mais resistentes) e a oferecer uma

infra-estrutura predial mais moderna e uma arquitetura diferenciada que demonstrasse

status: tudo isso resultou no aumento dos custos imobiliários. É claro que a competitividade

neste mercado é grande, pois a quantidade de espaços de escritórios disponíveis é alta, o

que levaria o custo para baixo; mas as características construtivas, arquitetônicas e

tecnológicas mudam tanto e tão rápido que em pouco tempo tudo que no prédio era

moderno passa a ser antigo.

As empresas começaram a se preocupar mais do que nunca com a imagem

institucional, que engloba tanto o aspecto interior quanto exterior do edifício. No seu interior,

a identidade visual em seus ambientes de escritórios é destacada: todos os escritórios de

uma empresa devem possuir os mesmos acabamentos, ser compostos pelo mesmo

mobiliário; dessa forma não importa em qual cidade ou local estejam localizados eles

sempre serão identificados por fazer parte de uma mesma empresa através da aparência de

seus escritórios. Esses aspectos, acoplados a uma arquitetura diferenciada, moderna ou

contemporânea, demonstram qual o perfil de cada empresa.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

55

No final da década de 1960 na Europa a questão da participação do usuário no

ambiente arquitetônico se tornou uma preocupação central. Por isso alguns arquitetos

entendiam que não se deveria fornecer uma solução completamente resolvida para um

programa. Era como pensava o arquiteto Herman Hertzberger:

“... o arquiteto deveria criar uma estrutura forte, mas que fosse,

em termos de uso, relativamente neutra para ser interpretada e

completada de diversas maneiras pelos usuários”. (WESTON, 2003,

p.164)

Ao projetar os escritórios para uma companhia de seguros chamada Centraal Beheer

em Appeldoorn, nos Países Baixos (1970-1972), para mais de 1.000 funcionários,

Hertzberger se baseou em um módulo tridimensional de base quadrada e executou um

edifício bastante complexo de quatro andares.

Cada módulo podia ser dividido em quatro áreas de trabalho separadas por uma

circulação em forma de cruz. Quando agrupados lado a lado, os módulos se interligavam

através de estreitas passarelas, formando um tipo de planta “xadrez”. A iluminação foi feita

através de janelas localizadas nos cantos dos módulos ou pelo teto das passarelas. A

interferência dos usuários pode ser vista nas áreas coletivas existentes no centro de cada

pavimento, nas passarelas onde foram colocadas plantas e sofás e nos próprios locais de

trabalho que os funcionários enfeitaram com plantas, pôsteres e outros materiais

personalizados que delimitavam cada espaço de trabalho. Apesar de toda linearidade, a

ocupação é de escritório panorâmico: há grande comunicação e integração entre os

departamentos.

O projeto foi uma tentativa de no início da década de 1970 diminuir ao máximo a

hierarquia ainda resistente dos edifícios de escritórios tradicionais, e por esse motivo muitos

críticos consideraram o projeto deficiente. Mesmo assim a citação a seguir demonstra a sua

importância para a época e para a arquitetura de escritórios.

“... por mais que o edifício Centraal Beheer pareça agora um

modelo antiquado e, por mais que a rejeição às regras tradicionais da

forma arquitetônica esteja fora de moda; este prédio continua sendo

(...) uma das poucas tentativas, genuinamente radicais e humanas,

de repensar um tema predominantemente no século XX, o prédio de

escritórios”. (WESTON, 2003, p.164)

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

56

(1) (2)

Edifício Centraal Beheer, Appeldoorn – 1972 (1) Fachada (2) Vista dos escritórios

Fonte: (1) e (2) WESTON, 2003, p.164

(3) (4)

Edifício Centraal Beheer, Appeldoorn – 1972 (3) Planta baixa (4) Vista parcial da planta

Fontes: (3) WESTON, 2003, p.165 (4) DUFFY, 1997, p.82

Um dos exemplos mais significativos de edifício de escritórios da década de 1980 é o

Lloyds Bank (1986). Projetado pelo arquiteto italiano Richard Rogers e equipe (DUFFY,

1997, p.32), o prédio localizado em Londres é feito com estrutura de ferro, acabamento em

alumínio e vidro. O projeto foi resultado de um concurso que teve como princípio a

flexibilidade das instalações e o atendimento das necessidades do banco, entre elas:

triplicar a área que ele ocupava na época em outro edifício, dar continuidade aos negócios

sem interrupções por conta da mudança, garantir espaços para atividades conjuntas dos

funcionários, facilitar a expansão futura e prover um edifício de qualidade e imponência.

A laje nervurada do edifício é aparente: não é utilizado forro e a iluminação artificial é

feita através de luminárias aparentes embutidas nos vãos quadrados da laje (a iluminação

natural é zenital através do átrio e feita pelas janelas do perímetro). Essa mesma laje

nervurada do teto pode ser vista no piso, o que proporciona um contrapiso oco por onde

passam as instalações elétrica e de telecomunicações. O piso acabado acima da laje é feito

de placas finas e encaixadas na própria laje.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

57

A planta do Lloyds possui um partido diferente da grande maioria dos edifícios da

época: há um grande retângulo para distribuição dos escritórios com um átrio central, e

todos os espaços de serviços, sanitários, escadas e elevadores, estão localizados fora

desse retângulo, facilmente acessíveis para manutenção. Essa diferença fez com que o

edifício proporcionasse uma grande integração entre os ambientes de escritórios. O salão

único no térreo (com pé-direito duplo) está interligado aos demais pavimentos através de um

átrio central, onde estão localizadas escadas rolantes para acesso aos quatro pavimentos

logo acima. Sua ocupação é um exemplo de escritório panorâmico europeu: mesas de

trabalho em espaço aberto nos andares inferiores e salas fechadas para chefes e diretoria

nos andares superiores. Áreas de recepção, reuniões informais e troca de informações do

banco estão localizadas no centro do pavimento térreo (na área correspondente ao centro

do átrio).

(1) (2)

Edifício Lloyds Bank, Londres – 1986 (1) Fachada (2) Esquema da planta do pavimento tipo

Fontes: (1) www.lloyds.com (2) SAMPAIO, 2003, p.64

(3) (4)

Edifício Lloyds Bank, Londres – 1986 (3) Átrio central e escadas rolantes

(4) Área de escritórios no segundo pavimento com vista parcial das escadas rolantes e do átrio central

Fonte: (3) e (4) www.lloyds.com

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

58

(5) (6)

Edifício Lloyds Bank, Londres – 1986 (5) Área de escritórios no pavimento térreo

(6) Detalhe da área de escritórios no pavimento térreo com destaque para o teto e o piso

Fonte: (5) e (6) www.lloyds.com

Na década de 1980, o escritório SOM produziu mais de 20 importantes projetos de

edifícios de escritórios corporativos construídos e na década de 1990 mais dezoito

importantes projetos.

Mas o design moderno vulgariza-se através da produção industrial em alta escala

dos seus mais diversos componentes, incluindo o mobiliário, devido principalmente ao

desenvolvimento dos meios de comunicação e às novas necessidades de identidade visual

por parte das empresas. Ao mesmo tempo, as necessidades de seguir padrões

ergonômicos (regidos por normas de dimensões de mobiliário) e de conforto ambiental

(regidos por normas de iluminação nos ambientes, controles de qualidade de ar etc.) se

tornam cada vez mais evidentes, fazendo o mercado repensar a fabricação de mobiliário

com novos materiais, novas tecnologias e oferecendo uma variedade maior de formas,

funções e acabamentos.

A década de 1990 prioriza a contenção econômica, a simplificação e a flexibilidade

dos produtos. É quando se estabelece no mercado a modulação de diversos produtos que

fazem parte do ambiente interno dos escritórios (desde sistemas integrados de móveis e

divisórias a forros e luminárias) e também das edificações, que precisam estar preparadas

para receber esses produtos. As dimensões dos espaços arquitetônicos e dos componentes

do escritório (como peças de mobiliário, forro, luminárias, piso elevado etc.) seguem os

mesmos módulos, com larguras mínimas e padronagens iguais. Isso permite que o mercado

ofereça uma maior variedade de soluções para espaços e componentes dos escritórios, com

custos acessíveis (compra-se menos e precisa-se de menos itens em estoque) e em

pequenos prazos (pode-se utilizar itens existentes para modificar facilmente os espaços).

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

59

“Em termos de tipologia de layout a tendência atual é para os

sistemas combinados, que resgatam as salas individuais ou para

pequenos grupos, situadas junto às faces ensolaradas, deixando o

miolo do pavimento livre para ser organizado segundo uma das

múltipla variantes dos sistema do tipo Action Office ou panorâmico

disponível hoje em dia no mercado. Nota-se forte tendência para as

divisória fixas incorporarem grandes painéis de vidro

complementados por persianas verticais e horizontais, cortinas

sanfonadas ou de enrolar que dão ao conjunto um aspecto de maior

leveza e integração, ao mesmo tempo em que permite criar uma

maior privacidade quando desejado.” (CALDEIRA, nº10, p.4)

1.5 ESCRITÓRIOS DO SÉCULO XXI

O novo século nasce com a realização de várias experiências nos ambientes

corporativos, que têm como objetivo desenvolver novas formas de projetar e ocupar o

escritório. As estações de trabalho incorporam novos materiais em sua estrutura e nos

acabamentos, apresentam novos acessórios, possuem novas facilidades para informática e

comunicações.

Segundo Vasco Caldeira, existem três aspectos em particular que sempre guiaram

as transformações dos escritórios nas últimas décadas do século XX:

1. a qualidade total – dos bens e serviços oferecidos pelas empresas;

2. a redução do seu custo – das instalações e o custo final ao consumidor;

3. a consolidação de imagens corporativas. (CALDEIRA, nº10, p.1)

Caldeira acredita que para acompanhar essas necessidades, no novo século as

empresas e profissionais que trabalham no ramo de escritórios precisam observar os

seguintes fatores respectivamente:

1. maior apuro com as áreas de trabalho administrativo;

2. otimização do uso do espaço;

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

60

3. adoção de padrões estéticos coerentes.

A fim de alcançar os três fatores levantados por Caldeira, a globalização22 exige

eficiência e padronização nos ambientes administrativos, já que é através deste processo

que é estabelecida uma integração entre os países e as pessoas do mundo todo: as

pessoas, os governos e as empresas trocam idéias, realizam transações financeiras e

comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro cantos do planeta. A redução dos

espaços de escritórios a fim de baixar os custos das instalações aguça a competição entre

diversas comunidades globais, e, segundo Harvey, isso resulta no surgimento de novas

“estratégias competitivas localizadas e um sentido ampliado de consciência daquilo que

torna um lugar especial e lhe dá vantagem competitiva”. (HARVEY, 1989, p.247)

Para atender a essa padronização e enfrentar a competição, cada componente do

escritório deve ser pensado para a obtenção de um ambiente de trabalho com conforto físico

e visual, de acordo com a imagem que a empresa quer passar. A agilidade do funcionário,

necessária dentro do ambiente de trabalho, é para operar mudanças de ritmo, crescimento

ou encolhimento rápido e mudança no perfil das atividades da empresa. A flexibilidade do

espaço no ambiente de trabalho é a palavra-chave dos escritórios neste início de século.

Para alcançar essa flexibilidade, todos os componentes do escritório devem ser

integrados. Isso significa que as plantas devem ser livres de estruturas e barreiras físicas, a

fim de acomodar mais de um tipo de layout e acabamento. Entre os acabamentos, os forros

suspensos, as divisórias piso-teto, as grelhas de ar- condicionado e luminárias são alguns

exemplos de componentes que precisam ser projetados em conjunto com o layout

mobiliário, e que ao “conversarem” e seguirem um mesmo módulo dimensional podem ter

flexibilidade suficiente para acomodar futuras mudanças do layout.

O forro em especial, se tiver um módulo coordenado com a esquadria da fachada,

poderá determinar o módulo dimensional a ser utilizado no escritório. Atualmente a

dimensão mais comum na modulação dos escritórios é de 1,25m x 1,25m, ou subdivisões e

multiplicações deste módulo.

A otimização do uso do espaço aumenta a densidade de pessoas por m² e, assim,

revestimentos de forro e piso são elementos importantes para auxiliar na acústica dos

ambientes internos.

22 Globalização: processo de integração entre as economias e sociedades dos vários países, especialmente no que se refere à produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros e à difusão de informações. Fonte: Dicionário Aurélio, 2004.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

61

Novas tecnologias continuam surgindo cada vez mais rápido e novas redes de dados

e novas formas de conectividade auxiliam no trabalho. Um novo e importante avanço

tecnológico é conexão VOIP23, onde a infra-estrutura necessária para atendê-la requer

metade da infra-estrutura utilizada anteriormente (que era dividida entre rede de dados e de

telefonia).

A utilização de laptops24 no lugar de desktops é muito maior atualmente. Esses

microcomputadores portáteis possuem baterias que suportam até cinco horas sem

necessidade de ligação elétrica, e essa característica unida à possibilidade de a rede de

comunicação utilizada no escritório ser wireless25 faz com que a estação de trabalho do

século XXI se torne independente da conexão elétrica ou de dados fixos. Ao mesmo tempo

que aumenta a mobilidade do funcionário, permite ampla flexibilidade do ambiente interno.

Esses sistemas precisam estar ao alcance de todos no escritório. Na infra-estrutura,

sistemas de racionalização de energia, de controle de iluminação e de automação de ar-

condicionado são premissas para a construção de edifícios inteligentes.

No mobiliário, a versatilidade de combinação entre os poucos componentes é

primordial para o layout poder ser modificado, substituído ou acrescido de novos

componentes. Muitas vezes é necessário que exista a possibilidade de que pelo menos

parte dessas modificações possa ser realizada pelos próprios profissionais que trabalham

no escritório (como, por exemplo, acontece no caso de gaveteiros com rodízios ou mesas

fáceis de serem movimentadas).

As dinâmicas do mercado imobiliário de escritórios e das atividades das próprias

empresas, aliadas aos novos parâmetros da economia globalizada e do desenvolvimento da

informática, estão forçando o surgimento de um novo desenho de escritórios.

De acordo com a revista norte-americana Time, em 2006 nos Estados Unidos 70%

dos trabalhadores de escritórios ficam em estações de trabalho abertas (TIME, 2006, p.42).

Com a virada do milênio, observamos que algumas estações de trabalho possuem alguns

inconvenientes para as necessidades atuais, como divisórias muito altas; paredes que

23 VOIP: rede de comunicação de dados fixa na qual informações de voz e de dados são transmitidas por um único ponto de rede, formado pelo conector e pelo cabo.

24 Laptop: microcomputador portátil, dotado de bateria, monitor plano e teclado. Fonte: Dicionário Aurélio, 2004.

25 Wireless: radiotransmissor ou sem fio. Ou seja, rede de comunicação que emite ondas de rádio para transmissão de dados.

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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deixam o espaço muito isolado; mobiliário projetado para trabalho com papéis e não para

laptops; e queixa de alguns funcionários que acreditam que ocupam muito espaço.

“A typical workstation in the 1970’s measured 12 ft. by 12ft.,

according to the American Society of Interior Designers. By 1995 it

had strunk to 10ft. by 10ft. Today’s cubicles average 6ft. by 8.ft, and

space planners say they can cut an additional 21% without affecting

productivity-or increase.” (Uma típica estação de trabalho nos anos

1970 media 3,65m x 3,65m , de acordo com a Sociedade Americana

de Design de Interiores. Em 1995 a estação chegou a atingir 3m x

3m. Os cubículos de hoje possuem em média 1,80m x 2,40m , e os

projetistas de espaço dizem que podem cortar 21% deste espaço

sem afetar a produtividade.” (TIME, 2006, p.44)

Uma das linhas mais atuais de estações de trabalho da Herman Miller é chamada de

My Studio que, segundo seu criador Douglas Ball, tem como princípio que o funcionário seja

o centro de toda estação de trabalho e que tenha privacidade (www.herman miller.com).

Com dimensões de 1,80m x 2,40m, o funcionário pode ter uma reunião em seu local de

trabalho com mais duas outras pessoas; o acabamento é em alumínio opaco, plástico e

acrílico (de acordo com o fabricante, 28% dos itens desta estação são feitos de produtos

reciclados e 74% de toda a estação é reciclável); as mesas são separadas por divisórias,

ainda altas, mas em acrílico transparente, que oferece interação entre os postos e ao

mesmo tempo privacidade acústica; na entrada da estação existe uma leve porta de correr

para oferecer privacidade ao funcionário; a capacidade de arquivamento diminuiu e está

somente em baixo da mesa; as conexões estão na altura do tampo e há um shaft para

manutenção.

(1) (2)

Linha My Studio da Herman Miller (1) Vista superior da estação completa (2) Vista superior de quatro estações

Fonte: (1) e (2) www.hermanmiller.com

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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(3)

Linha My Studio da Herman Miller (3) Vista frontal das quatro estações

Fonte: (3) www.hermanmiller.com

Desde a criação do Action Office viemos diminuindo o espaço individual da estação

de trabalho, reduzindo as barreiras entre os funcionários e aumentando a densidade dos

escritórios. Agora, em paralelo à necessidade de redução de custos de instalações,

precisamos de mais privacidade. Uma pesquisa da Knoll revelou que 45% dos funcionários

produzem mais e melhor sem precisar dividir o espaço de trabalho (TIME, 2006, p.44) e que

as maiores reclamações são sobre conversas nos corredores e toques e conversas em

celulares.

Para juntar todas essas características no mesmo ambiente de escritório –

privacidade, custos reduzidos, alta densidade –, as empresas estão criando pequenos

espaços adjacentes (não muito distantes da estação de trabalho), para que o funcionário

possa se deslocar rapidamente para exercer alguma função que, no seu local de trabalho,

atrapalharia os demais colegas ao seu redor. Funções como atender ao celular ou ter

pequenas conversas ou reuniões informais podem ser realizadas nestes espaços informais,

como, por exemplo, lofts, que são locais com mesas de reunião pequenas, cell cell, que são

células para falar ao telefone criada pela Steelcase, áreas confortáveis de conversação etc.

(1) (2) (3)

Exemplos de espaços informais (1) Lofts para reuniões informais (2) Cell Cell da Steelcase

(3) Cubículos confortáveis de conversação criados pela Steelcase

Fonte: (1), (2) e (3) TIME, 2006, p.42-43

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CAPÍTULO 1: OS ESPAÇOS DE ESCRITÓRIOS

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O ambiente de trabalho do século XXI precisa ter qualidade e ser agradável para que

o profissional se sinta estimulado a trabalhar em um espaço reduzido e com baixo custo de

implantação e manutenção. Para isso, é fundamental ter: conhecimento do mercado em que

a empresa atua, agilidade na implantação dos escritórios e flexibilidade para mudanças

rápidas. Somente assim é possível enfrentar a competição entre as empresas.