Odonto Legal - Monografia

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE CURSO DE GRADUAO EM ODONTOLOGIA

    RICO FRANCO FARIAS NEGREIROS

    A importncia da odontologia legal na identificao em desastres em massa.

    Joo Pessoa 2010

  • 2

    RICO FRANCO FARIAS NEGREIROS

    A importncia da odontologia legal na identificao em desastres em massa.

    Orientadora: Patrcia Moreira Rabello, Doutora

    Joo Pessoa 2010

    Trabalho de Concluso de Curso

    apresentado ao Curso de Graduao

    em Odontologia, da Universidade

    Federal da Paraiba em cumprimento

    s exigncias para concluso.

  • 3

    Dissertao aprovada em ____ / ____ / 2010

    _________________________________________

    Patrcia Moreira Rabello, Doutora

    Orientador UFPB

    _____________________________________

    Bianca Marques Santiago

    Examinador UFPB

    _____________________________________

    Maria do Socorro Dantas de Arajo

    Examinador GEMOL

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    meu pai Negreiros e minha me Marimar pela vida e pelo exemplo de

    pessoas que sempre foram para mim e meus irmos, sempre nos guiando e

    tentando mostrar o melhor caminho, querendo apenas nossa felicidade

    incondicionalmente.

    minha orientadora, Prof. Dr. Patrcia Moreira Rabello, pelo incentivo,

    ateno e colaborao nos momentos que precisei.

    Meus amigos da Universidade Federal da Paraiba, por todos os

    momentos de felicidade vividos, todos os sorrisos dados juntos, e apoio nos

    momentos de tristeza, por todos esses anos juntos nessa caminhada.

    Aos professores da Universidade Federal da Paraiba, por serem nossos

    mestres, e ajudarem a moldar nosso carter.

  • 5

    RESUMO

  • 6

    RESUMO

    Desde a antiguidade houve uma preocupao da sociedade em identificar seus mortos de maneira correta, desenvolvendo assim vrias tcnicas para individualizar as caractersticas humanas, e com isso se chegar a real identidade da vtima. Nos ltimos anos temos visto um aumento nos desastres em massa, tanto nas catstrofes naturais quanto os provocadas pelo homem, trazendo a tona uma enorme necessidade de mtodos de identificao forense, com o objetivo de acelerar o reconhecimento das vtimas fatais. A odontologia legal surgiu como um mtodo de identificao de fcil aplicabilidade, possuindo custo baixo em relao a outros mtodos de identificao, e resultados confiveis. Este estudo tem como objetivo realizar um levantamento bibliogrfico a respeito da histria da odontologia legal, os desastres em massa, bem como verificar os seus vrios mtodos de identificao. Foi realizado um levantamento bibliogrfico de 1966 a 2009, no portal de peridicos da CAPES e base de dados Medline, Lilacs, Scielo, Wikipedia e Google Academy, tendo como descritores: odontologia forense, percia odonto legal, desastre em massa, DNA dentrio. A odontologia forense se faz de forma comparativa, fazendo o confronto entre a documentao odontolgica ante mortem e post mortem, que no seria possvel se no houvesse uma documentao de boa qualidade, que esteja sempre atualizada, e em bom estado, com todos os procedimentos realizados anotados, o que numa catstrofe de grandes propores se faz de suma importncia, cada detalhe sendo comparado com a suposta vtima. Atravs de caractersticas da arcada dentria e do crnio, podemos estimar altura, idade, determinar o sexo, e as algumas vezes, como nos casos de pessoas carbonizadas, ou ento expostas muito tempo gua salgada, o nico lugar de onde se pode retirar material gentico para exame de DNA o dente, j que este, por ter o tecido mais duro do corpo humano, funciona como uma cmara de proteo para material gentico. Logo vemos que a odontologia legal se consolida cada vez mais, e a medida que h essa consolidao, h tambm a evoluo desses mtodos, resultando em benefcios para toda a sociedade, e assim podemos perceber que esta cincia se faz indispensvel. Palavras-chave: Odontologia Legal. Identificao Humana. Desastres.

  • 7

    ABSTRACT

  • 8

    ABSTRACT

    Since the antiquity, society has been preoccupied in identifying its corpses correctly and for it a great number of techniques have been developed in order to individualize human characteristics and so to achieve the real identity of a certain victim. Lately there has been an increase in mass disasters, such as natural ones and also the ones provoked by men, bringing to the surface an enormous need to recognize and identify fatal victims. Legal dentistry came out as an easy identifying method and its results are trustworthy. This study aims to analyze historical bibliography on legal dentistry specifically in pointing the various methods used in mass disasters. A bibliographic survey has been made from 1966 to 2009 in websites such as CAPES, Medline, Lilacs, Scielo, Wikipedia and Google Academy, using the following expressions: forensic dentistry, legal-dentistry inspection, dental DNA. Forensic dentistry is made comparatively trough a confrontation between the dental data ante mortem and post mortem. Nevertheless this comparison is possible only if there is in fact a good quality database, updated and also with the procedures taken note of. All these could be very useful in great proportions disasters, because each detail would be compared and contrasted with the victim. Though the dental arch an cranium characteristics, it is possible to estimate height, age, sex, an sometimes when victims are carbonized, or in long exposition to salty water, the only place where it is yet possible to extract genetic material for the DNA exam is the tooth, since it is the hardest tissue of human body, taking part as a protection chamber to genetic material. As a result legal dentistry is solidifying each time faster and its methods are also evolving which benefits all the society and like that it is perceptible that this science is indispensable.

    Key Words: fosensic dentistry, human identification, disaster.

  • 9

    LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 1 Caracterizao individual de rugas palatinas conforme Santos (1946).................................................................................................................36 QUADRO 2 Diferenas cranianas do sexo masculino e feminino.................39 QUADRO 3 Estgios de desenvolvimento dental desenvolvido por Nolla (1960).................................................................................................................42 QUADRO 4 Quadro para determinao da idade pelo ngulo mandibular segundo Ernestino Lopes..................................................................................46 TABELA 1 Faixa etria em meses da mineralizao dos dentes..................45

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 Estrutura tridimensional da molcula de DNA..............................30 FIGURA 2 Classificao dos 4 tipos diferentes da disposio das rugas no palato (CARREA, 1920).....................................................................................35 FIGURA 3 Imagens radiogrficas mostrando vrias fases de mineralizao de elementos dentrios......................................................................................42 FIGURA 4 Estgios de mineralizao de Nolla (1960)...................................43 FIGURA 5 Oito estgios de mineralizao dos dentes propostos por Nicodemo, Morais e Medici Filho (1974)...........................................................44 FIGURA 6 - Variaes do ngulo mandibular, conforme a idade: da esquerda pra direita, recm-nascido, adulto e velho.........................................................46 FIGURA 7 Desenho esquemtico do arco e da corda proposto na frmula de Carrea................................................................................................................48 FIGURA 8 Radiografia panormica................................................................51 FIGURA 9 - Confronto radiogrfico periapical e interproximal entre as radiografias produzidas em vida (2003- A e C) e as ps-morte (2006 B e D).......................................................................................................................52 FIGURA 10 - Odontograma proposto pela Interpol...........................................57

  • 11

    SUMRIO

    1.INTRODUO................................................................................................13 2.1.HISTRIA DA ODONTOLOGIA LEGAL....................................................16 2.1.2.ODONTOLOGIA LEGAL NO BRASIL.....................................................19 2.2.DESASTRES EM MASSA...........................................................................21 2.3.MTODOS DE IDENTIFICAO...............................................................26 2.3.1.DNA..........................................................................................................28 2.3.2.RUGOSCOPIA PALATINA......................................................................34 2.3.3.DETERMINAO DO SEXO PELAS CARACTERSTICAS CRANIANAS.....................................................................................................37 2.3.4.ESTIMATIVA DA IDADE.........................................................................40 2.3.5.ESTIMATIVA DA ALTURA USANDO OS DENTES...............................47 2.3.6.USO DA ARCADA DENTRIA NA IDENTIFICAO EM ODONTOLOGIA LEGAL..................................................................................49 2.4.IMPORTNCIA DA DOCUMENTAO ODONTOLGICA......................53 3.PROPOSIO...............................................................................................61 4.METODOLOGIA............................................................................................63 5.DISCUSSO..................................................................................................65 6.CONSIDERAES FINAIS...........................................................................70 7.REFERNCIAS..............................................................................................72

  • 12

    INTRODUO

  • 13

    1. INTRODUO.

    Desastres em massa so considerados grande acidentes coletivos que

    envolve um grande nmero de vtimas, fatais ou no, e que vem aumentando

    devido a evoluo natural do homem como a busca por meios de transportes

    mais rpidos e coletivos, ou at mesmo por desastres naturais que nas ultimas

    dcadas vem aumentando at mesmo pela destruio causada pelo homem.

    Desde a antiguidade o ser humano procura confirmar a identidade de seus

    mortos, e com isso houve um grande interesse em desenvolver melhores

    tcnicas de identificao post mortem, procurado as mais variadas formas de

    facilitar a individualizao de certas caractersticas que vo confirmar quem

    certo indivduo.

    A odontologia legal tem se tornado cada vez mais til durante as

    identificaes feitas em vtimas de desastres em massa, o que vem

    acontecendo muito nos ltimos tempos, de acordo com Frana (2007), estes

    desastres podem ocorrer de duas formas, as de foras naturais e as causadas

    pelo homem. As de ordem naturais so: terremotos, maremotos, enchentes,

    inundaes, erupes vulcnicas e ciclones, e as decorrentes do emprego

    humano como: incndios, intoxicaes coletivas, desabamentos, acidentes

    rodovirios, aerovirios e martimos, eletrocuo e at mesmo acidentes de

    irradiao ionizante (usina de energia atmica e outras radioativas).

    Segundo o dicionrio Aurelio (1994), a definio de identidade : Conjunto

    de caracteres prprios e exclusivos de uma pessoa (nome, idade, sexo, estado

    civil, filiao etc.) (BARROSO, 1994), logo, cada indivduo tem suas prprias

    caractersticas, mas para a identificao o que interessa so as caractersticas

    fsicas, onde tem algumas que so determinadas pelo fator gentico, e outras

    que vo aparecendo durante a vida, como tatuagens, cicatrizes, tratamentos

    dentrios e outras inmeras coisas, e isso tudo vai auxiliar na identificao

    individual caso seja necessrio algum dia.

    Outro significado para identificao que ela corresponde ao conjunto de

    procedimentos diversos para individualizar uma pessoa ou objeto. A

    identificao pessoal de suma importncia em medicina forense, tanto por

  • 14

    razes legais como humanitrias, sendo muito freqentemente iniciada antes

    mesmo de se determinar a causa da morte. Por intermdio da identificao, as

    pessoas podem preservar seus direitos, bem como terem cobrados os seus

    deveres, quer cveis, quer penais (CARVALHO. et al, 2009).

    A odontologia legal se apresenta como um timo mtodo de identificao

    por possuir caractersticas fundamentais que so vistas como vantagens em

    relao a outros mtodos de identificao, essas caractersticas segundo Silva

    et al (2008) se d pelo baixo custo, facilidade e rapidez na aplicao da tcnica

    e a confiabilidade dos resultados obtidos.

    A identificao odonto legal se faz de forma comparativa, sendo

    extremamente importante a documentao odontolgica ante-mortem, o que

    auxiliar na identificao atravs do confronto entre os procedimentos

    realizados pelo Cirurgio-Dentista, onde qualquer caracterstica vai ser de

    suma importncia, como tratamentos endodnticos, prteses, anomalias

    dentrias, e tambm restauraes pela sua grande resistncia at mesmo a

    grande temperaturas como evidenciou Spadcio (2007) no seu trabalho

    quando verificou os materiais dentrios expostos a diferentes temperaturas.

    No nosso dia a dia podemos perceber a crescente necessidade pelas

    melhoras nos mtodos de identificao, principalmente nas grandes catstrofes

    onde importante que a identificao seja feita da forma mais rpida possvel

    at porque no h local preparado para uma identificao em massa de

    corpos, principalmente quando estes so achados muitas vezes apenas em

    partes e tambm carbonizados, e o ideal que uma equipe de identificao

    seja reunida, e o perito odonto legal essencial nesse meio.

    Diante do exposto, este estudo tem como objetivo realizar um

    levantamento bibliogrfico a respeito da histria da odontologia legal, os

    desastres em massa, bem como verificar os seus vrios mtodos de

    identificao.

  • 15

    REVISO DELITERATURA

  • 16

    2.1 HISTRIA DA ODONTOLOGIA LEGAL

    O mais antigo relato de ordem legal referindo dentes encontra-se no

    Cdigo de Hamurabi, dois mil anos antes de Cristo, na Babilnia. Samico

    (1953) relata que nos pargrafos 200 e 201 desse cdigo estavam

    taxativamente previstos que se algum romper um dente a um homem, seu

    prprio dente dever ser rompido: e quando ele for um homem livre, dever

    pagar de uma a trs minas de prata. Visto portanto que dessa forma este

    soberano legislador dava seu grau de importncia aos dentes(CARVALHO,

    2009).

    Ainda em 1962, Leite, na Bahia, no segundo captulo de sua obra

    Odontologia Legal entitulado Resumo histrico da odontologia legal, cita o

    outro antigo documento que faz referncia aos dentes, a Bblia Sagrada, que

    tem em Moiss, o legislador dos hebreus, determinou que ao agente de leses

    mortais em mulher grvida seria aplicada a severa pena de vida "olho por olho,

    dente por dente, mo por mo, p por p, queimadura por queimadura, ferida

    por ferida, pisadura por pisadura"(CARVALHO, 2009).

    Baker (1992), em Arbor, realizou estudo da histria da Odontologia Legal

    coletando inmeras anotaes envolvendo a aplicao da odontologia em

    relao a casos histricos no s com possibilidade de obter uma chave do

    passado e uma explanao do presente, mas tornar melhor o preparo para o

    futuro. Assim relatou que a primeira evidncia de Odontologia como profisso

    foi encontrada na pirmidede Giza, no Egito. Um esqueleto de

    aproximadamente 2500 anos a.C., foi encontrado com linha de ouro

    envolvendo dois molares juntos.

    Vzquez (2005) relata o caso de Lollia Paulina, no ano 49 d. C., na antiga

    Roma. Agrippina, me de Nero, ento com 12 anos, aps matrimnio com

    Claudio, imperador de Roma temia que a rica divorciada Lollia Paulina poderia

    ser uma rival na ateno de seu marido. Assim, ordenou que matassem Lollia,

    trazendo-lhe para confirmar sua morte, a cabea de Paulina, mas com o clima

  • 17

    e a grande distncia que os soldados tiveram que percorrer, a cabea chegou

    em estado de putrefao, ento, ela no reconheceu a cabea da mulher que a

    trouxeram, mas lembrou uma m posio dos dentes que era caracterstica de

    Lollia, abriu com sua mo a boca e inspecionou os dentes que tinham certas

    peculiaridades, confirmando desta maneira, que a cabea era de Lollia Paulina.

    Um caso descrito por Keiser-Nielsen, considerado como um dos mais

    conhecidos, o caso de Carlos, o temerrio, Duque de Borgonha, em 1477,

    morreu na batalha de Nancy. As circuntncias de sua identificao foram

    relatadas, segundo Keiser-Nielsen, por Jean de Troyes, que escreveu um

    original em 1620, relatando que o corpo de Carlos o Temerrio estava

    irreconhecvel, sendo identificado primeiramente por um nmero de dentes

    superiores faltantes perdidos em vida, numa queda (CARVALHO, 2009).

    Hofmann (1882) apresentou o processo de identificao de 284

    cadveres carbonizados de um total de 449 que morreram no incndio do

    teatro em Viena que ocorreu em 8/12/1871. O autor em vista ao desastre e

    sem condies dos meios e processos de identificao solicitou aos familiares

    das vtimas que fizessem uma descrio sumria das condies dentrias das

    mesmas e depois as comparou com as caractersticas dos cadveres a serem

    identificados. Hofmann estimou ainda a idade das vtimas e aps isto realizou o

    reconhecimento, auxiliado pelos familiares (SPADCIO, 2007).

    O primeiro caso de identificao Odonto-legal em Desastre em Massa foi

    relatado pela literatura em 04 de maio de 1897 em Paris, mais precisamente no

    Bazar da Caridade, local onde a burguesia estava reunida em torno de leiles

    benemritos. Houve um incndio com quase 200 mortos, dos quais 40

    restaram sem identificao, dentre eles a Duqueza de DAleman e a Condessa

    Villeneuve. Por sugesto do cnsul do Paraguai Dr. Albert Hans, os Dentistas

    daquelas personalidades foram chamados para identificar, atravs dos restos

    carbonizados, seus supostos pacientes, o que tornou possvel a identificao

    das citadas pessoas dentre outras que tambm pereceram na tragdia

    (RADICCHI, 2005).

    Amoedo (1898) apresentou o processo de identificao realizado junto s

    126 vtimas do incndio do Bazar da Caridade de Paris em 04 de maio de

  • 18

    1897. Segundo o autor os 126 cadveres carbonizados e alguns calcinados

    foram acondicionados em pranchas de madeira alinhados no cho do Palcio

    da Indstria existente nesta cidade. O processo inicial de reconhecimento

    adotado pelo autor se deu inicialmente com o reconhecimento por parte dos

    parentes das vtimas junto aos cadveres. Restaram somente 30 corpos no

    identificados e para promover o estabelecimento da identidade, solicitou a

    colaborao dos Cirurgies-Dentista das vtimas, para que ajudassem no

    reconhecimento dos corpos remanescentes (SPADCIO, 2007).

    Os trabalhos foram coordenados por Oscar Amoendo. Este realizou

    minucioso exame da cavidade bucal, descrevendo cuidadosamente as

    caractersticas encontradas nos cadveres e as comparou com as anotaes

    oferecidas pelos CDs de 11 das vtimas. Com este exame pode identificar oito

    cadveres. Segundo o autor trs documentaes enviadas forneciam

    informaes parciais as quais no permitiram o estabelecimento da identidade

    (SPADCIO, 2007).

    Vanrell (2002) citou mais um fato histrico que ocorreu em 1909, houve

    um incndio de incio duvidoso no Consulado da Legao Alem no Chile, e

    ento os bombeiros procederam com a procura em meio as runas do

    Consulado, e foi encontrado restos de um corpo carbonizado que acreditavam

    pertencer ao Secretrio do Consulado Willy Guillermo Becker que estava at

    ento desaparecido. O Cirurgio-Dentista Germn Basterrica foi chamado para

    proceder a identificao do corpo, j que aps vrias tentativas no tiveram

    xito na confirmao de quem seria os restos mortais.

    Foram realizados profundos exames por Germn, que provou

    cientificamente que o corpo encontrado no se tratava do Secretrio do

    Consulado, e sim do porteiro da Representao Diplomtica, Ezequiel Tapia. A

    partir desse momento se procedeu a procura pelo Secretrio que foi

    encontrado tentando atravessar a fronteira Chile-Argentina disfarado de

    Padre, e com os bons resultados conseguidos na identificao atravs da

    odontologia, foi concedido ao Dr. Germn Basterrica como recompensa a

    aprovao do projeto de criao de uma Escola de Odontologia no Chile

    (VANRELL, 2002).

  • 19

    2.1.2 ODONTOLOGIA LEGAL NO BRASIL.

    Segundo Arbenz (1959) no Brasil, o estudo da Odontologia Legal

    comeou muito antes da criao da disciplina, Tanner de Abreu, em 3 de

    setembro de 1920, inaugurou o curso de Medicina Legal aplicada Arte

    Dentria, para os estudantes de Odontologia da faculdade de Medicina do Rio

    de Janeiro. No entanto, de acordo com Leite (1962), bem verdade que,

    apesar disso, a contribuio odontolgica s questes mdico forenses no era

    de grande vulto, razo porque, passada a onda de entusiasmo pelo papel dos

    dentistas na determinao das identidades das vtimas das catstrofes do

    Bazar da Caridade, em Paris, e da Legao Alem, em Santiago, o

    pensamento rotineiro continuou a dominar os espritos, no se verificando uma

    mudana, nem rpida nem radical, nos velhos preconceitos

    (CARVALHO,2009).

    Rodrigues (1970) descreveu aps a revoluo de 1930, pelo fato de o

    exerccio da Odontologia ser privativo dos cirurgies-dentistas, vinham-se

    elevando de nulidade as percias odontolgicas elaboradas por mdicos,

    embora legistas; e os odontlogos, por sua vez, no estavam capacitados para

    diligncias de tal responsabilidade, porque no tinham formao para

    perito.Assim, como relata Arbenz (1959), de fato, o ensino da Odontologia

    Legal foi institudo no Brasil em 1931, junto ao de Higiene, por fora dos artigos

    218, 219 e 311 do decreto no 19.852, de 11 de abril. Samico (1953) diz que

    aps o decreto no 23.512, de 28 de novembro de 1933, a cadeira de Higiene e

    Odontologia Legal teve como seu primeiro catedrtico o professor Henrique

    Tanner de Abreu (CARVALHO,2009).

    A unio da Odontologia Legal com a Higiene atrasou o progresso de

    ambas, como citou Leite (1962), porm, segundo o mesmo, as disciplinas

    fizeram grande progressos, a ponto de impor, em quase todas as nossas

    faculdades, a separao, para fins curriculares, do ensino de ambos. Rodrigues

    (1970) relatou que a partir de 1951 (lei no 1.314) ficou a cargo dos cirurgies-

  • 20

    dentistas a percia odonto-legal em qualquer foro, mantida a regra no inciso IV,

    do artigo 6, da atual lei no 5.081, de 24 de agosto de 1966. Com isso, os

    programas da disciplina tiveram de ainda mais se especializarem nos temas

    odontolgicos, e de estabelecer, de vez, os pontos de relao da Odontologia

    Legal, com todos os ramos do Direito (CARVALHO,2009).

    Atualmente, seguindo a lei 5.081, atravs da Consolidao das Normas

    para Procedimentos nos Conselhos de Odontologia, aprovada pela resoluo

    CFO 063/05, possui no seu quadro de especialidades a Odontologia Legal, que

    no artigo 63, refere que a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de

    fenmenos psquicos, fsicos, qumicos e biolgicos que podem atingir ou ter

    atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestgios,

    resultando leses parciais ou totais reversveis ou irreversveis, definindo

    tambm suas reas de competncia e atuao. (CARVALHO,2009)

    As atribuies do Cirurgio Dentista foram definidas pela lei 5.081 de

    1966, inclusive na rea pericial, e tambm regula o exerccio da odontologia em

    todo o territrio nacional (Brasil, 1966).

    A presente lei assim se expressa no seu artigo 6: IV- Proceder percia odonto-legal em foro cvel, criminal, trabalhista e em sede administrativa. IX- Utilizar, no exerccio da funo de Perito-Odontlogo, em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoo e da cabea. Mantendo sua importncia em ascenso, no dia 26 de abril de 1993, o Conselho Federal de Odontologia, na Seo IV, da Resoluo n 185, no artigo 54, define os objetivos da especialidade: Art.54. Odontologia Legal a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenmenos psquicos, fsicos, qumicos e biolgicos que podem atingir ou ter atingido o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestgios, resultando leses parciais ou totais reversveis ou irreversveis. Pargrafo nico. A atuao da Odontologia Legal restringe-se a anlise, percia, e avaliao de eventos relacionados com a rea de competncia do Cirurgio-Dentista podendo, se as circunstncias o exigirem, estender-se a outras reas, se disso defender a busca da verdade, no estrito interesse da justia e da administrao.

  • 21

    A odontologia legal serve de excelente suporte jurdico em casos de

    acidentes, incndios, estupros com achados de marcas de mordidas,

    realizao de percia em tratamentos odontolgicos, dentre outros (REIS Jr, et

    al. 2007).

    Desde os primrdios, antes de qualquer estudo sobre odontologia, j tinha

    se percebido a utilidade do uso dos dentes na identificao humana, tanto em

    crimes como para identificao ps morte, tendo grande embasamento atravs

    de vrios autores em todo o mundo.

    2.2 DESASTRES EM MASSA.

    A percia odontolgica legal indispensvel para auxiliar nos mtodos de

    identificao aps a ocorrncia de uma catstrofe de grandes propores que

    envolvam um grande nmero de vtimas, e aqui vo ser citados alguns

    desastres em massa.

    EUA, NOVA IORQUE, 11 de Setembro de 2001:

    s 8h45 da manh do dia 11 de Setembro de 2001, o World Trade Center

    se envolveu no maior atentado terrorista da histria, quando a Torre Norte foi

    atingida por um Boeing 767 da American Airlines. Imediatamente aps o

    choque, as pessoas que trabalhavam na Torre Sul receberam os avisos de

    emergncia para descer. Quando chegaram ao lobby, foram informados pelos

    seguranas do WTC que afirmavam que o predio estava seguro e que todos

    podiam voltar para seu servio. At ento se acreditava que a coliso havia

    sido acidental e apenas o WTC 1 corria perigo.

    A maioria voltou para seus escritrios esperando um novo chamado;

    muitos deles ligaram para seus familiares afirmando que iriam continuar na

    Torre Sul e que ela estava segura. No entanto, s 9h03 da manh, o Boeing

    767 da United Airlines chocou-se com a Torre Sul, atingindo do 78 andar ao

    83 andar. s 9h10, o servio de segurana de Nova Iorque ordenou a

  • 22

    evacuao total de todo o complexo. Muitas pessoas na Torre Sul morreram,

    pois acreditavam que seriam resgatados nos seus prprios escritrios.

    Todas as pessoas que ficaram nos andares acima da zona do impacto da

    Torre Norte morreram, e, na Torre Sul, sobreviveram apenas dezoito pessoas,

    pois acharam uma escada intacta que levava at o lobby do prdio momentos

    antes do colapso de ambas as torres. O atentado resultou em 2.750 mortes

    (WIKIPEDIA, 2010).

    ESPANHA, MADRID, 11 de Maro de 2004:

    Trata-se do mais grave atentado cometido em Espanha at atualidade,

    com 10 exploses quase simultneas em quatro comboios as 8:00 horas da

    manh. Mais tarde foram detonadas pela polcia duas bombas adicionais que

    no tinham explodido e foi desativada uma terceira, que permitiu identificar os

    responsveis. As bombas estavam no interior de mochilas carregadas com

    TNT (trinitrotolueno).

    Morreram 191 pessoas e mais de 1.700 ficaram feridas. O comando

    terrorista foi encontrado e cercado pela polcia espanhola poucas semanas

    depois em Legans. Os seus membros cometeram suicdio fazendo explodir o

    apartamento em que se tinham entrincheirado, quando os GEO iniciaram o

    assalto. Nesta aco morreram todos os membros presentes da clula

    islamista e um agente do grupo policial (WIKIPEDIA, 2010).

    SUMATRA, 26 de Dezembro de 2004:

    Nesta data ocorreu uma catstrofe natural de propores gigantescas,

    houve um terremoto de 9,4 pontos na escala Richter que atingiu o norte da ilha

    de Sumatra, localizada na indonsia, causando um grande tsunami, as ondas

    atingiram 6 provncias, ocasionando a morte de 5.395 pessoas, tambm

    houveram 8.457 feridos e 2.991 desaparecidos.

  • 23

    Vrios corpos foram identificados por parentes de forma visual e at

    mesmo pelas suas vestimentas, logo depois a equipe de identificao resolveu

    juntamente com a Interpol usar o protocolo de identificao de vtimas usado

    pela prpria Interpol, que inclui exames externos, fotografias, caractersticas

    pessoais, exame dental, exame patolgico forense, e DNA extrado dos dentes

    e dos ossos.

    Foi criado uma equipe tailandesa de identificao de vtimas de tsunami,

    que era composto pela Interpol e especialistas de vrios pases, entre eles uma

    equipe de especialistas em odontologia legal, e 7 meses aps o desastre, em

    25 de Julho de 2005 esta equipe identificou 2.010 vtimas, faltando ainda a

    identificao de 1.800 cadveres. Das vtimas identificadas, cerca de 61% foi

    por exames dentrios, 19% pela datiloscopia, 1,3% pelo exame de DNA, 0,3%

    por evidncias fsicas, e cerca de 18% dos casos por mais de um tipo de

    evidncia (RAI, 2007).

    BRASIL, 29 de Setembro de 2006:

    Em 29 de setembro de 2006 um Boeing 737-800 SFP (Short Field

    Performance) da companhia brasileira Gol Transportes Areos, prefixo PR-

    GTD, com 154 pessoas a bordo, desapareceu dos radares areos s

    16 h 48 min enquanto cumpria a etapa de Manaus (MAO) a Braslia (BSB) do

    voo 1907.

    Os destroos do avio foram encontrados no dia seguinte, 30 de setembro, em

    uma rea densa de floresta amaznica na Serra do Cachimbo, a duzentos

    quilmetros de Peixoto de Azevedo, na regio norte do estado de Mato Grosso.

    No houve sobreviventes, o que o classifica como o segundo maior acidente

    areo do Brasil, ultrapassando a tragdia do vo Vasp 168, em 1982, em que

    morreram 137 pessoas no estado do Cear; e sendo ultrapassado mais tarde

    pelo Voo TAM 3054, em Julho de 2007, onde morreram 199 pessoas em So

    Paulo.

    153 corpos foram encontrados, desse total 127 foram identificados pelo

    exame de datiloscopia, 16 antropologia forense (sendo 2 de forma indireta e 2

  • 24

    por DNA), 9 por DNA, 1 foi encontrado apenas 40 dias depois, e 1 apenas

    fragmentos (GALVO.M.F, comunicao pessoal, 3 de Setembro, 2009) .

    BRASIL, 17 de Julho de 2007:

    A aeronave Airbus A320 da TAM, vo 3054, saiu do Aeroporto

    Internacional Salgado Filho em Porto Alegre s 17h16 com destino ao

    Aeroporto Internacional de Congonhas em So Paulo. J era noite quando a

    aeronave pousou na pista 35L, s 18h51. Com dificuldades na frenagem, fez

    uma curva para esquerda e saiu da pista em seu tero final, percorrendo por

    sobre parte de um gramado. Aps cruzar sobrevoando a avenida Washington

    Lus, que ladeia o aeroporto, a aeronave atingiu parte da cobertura de um

    posto de gasolina e em seguida chocou-se contra um prdio da TAM Express

    (servio de carga da prpria TAM), situados no lado oposto da avenida. Ao

    cruzar a avenida Washington Lus, o avio atingiu ainda a parte superior de

    alguns automveis.

    Estavam no aparelho 187 pessoas; no houve sobreviventes. Houve

    outras 12 mortes. Destes um total de 79 corpos foram identificados pela

    odontologia legal, representando cerca de 40,5% de todos os corpos

    (GOMES.E. comunicao pessoal, 14 de Outubro, 2008).

    BRASIL, SANTA CATARINA, 2008:

    As enchentes em Santa Catarina em 2008 ocorreram depois do perodo

    de grandes chuvas durante o ms de novembro de 2008, afetando em torno de

    60 cidades e mais de 1,5 milhes de pessoas no estado de Santa Catarina,

    Brasil. 135 pessoas morreram, 2 esto desaparecidas, 9.390 habitantes foram

    forados a sair de suas casas para que no houvesse mais vtimas e 5.617

    desabrigados.Um nmero de 150.000 habitantes ficaram sem eletricidade e

    ainda houve racionamento de gua que estava sendo levada por caminhes

    em pelo menos uma cidade devido a problemas na purificao.

  • 25

    Vrias cidades na regio ficaram sem acesso devido as enchentes,

    escombros e deslizamentos de terra.Em 25 de novembro de 2008, o Prefeito

    de Blumenau, Joo Paulo Kleinbing, declarou estado de calamidade pblica

    na cidade, assim como feito em outros treze municpios. Alm disso, sessenta

    cidades no estado se encontraram sob estado de emergncia. Durante as

    cheias, o Porto de Itaja teve grande parte dos beros de atracao destrudos.

    O nvel de gua no Vale do Itaja chegou a subir 11,52 m acima do nvel

    normal.

    Os terrenos que receberam chuva equivalente a mil litros de gua por m,

    demoraram pelo menos seis meses para se estabilizar. Enquanto isso, o solo

    permaneceu instvel e sujeito a novos deslizamentos.As enchentes levaram a

    criao de um grupo tcnico cientfico a fim de promover estudos para a

    preveno contra novos desastres naturais no estado (WIKIPEDIA, 2010).

    BRASIL, 31 de Maio de 2009:

    O vo Air France 447 era um voo regular de longo curso, operado pela

    companhia francesa Air France, entre Rio de Janeiro e Paris. Tornou-se

    conhecido pelo acidente areo ocorrido durante o voo da noite de 31 de maio

    para 1 de junho de 2009, efectuado pelo Airbus A330-203, quando a aeronave

    despenhou-se no Oceano Atlntico com 228 pessoas a bordo. Apenas 50

    corpos foram encontrados, destes 11 foram indentificados pela datiloscopia, 10

    pelo DNA, e 20 pela odontologia legal.

    Dos 50 corpos, 17 foram identificados pelo exame de DNA, 6 por

    papiloscopia, 9 por odontologia, e outros corpos foram identificados por mais

    de uma caracterstica, 1 por papiloscopia mais DNA, 11 por odontologia mais

    DNA, e 6 por papiloscopia mais odontologia (MACHADO.C.E.P, comunicao

    pessoal, 4 de Outubro de 2009).

  • 26

    BRASIL, RIO DE JANEIRO, ANGRA DOS REIS, 01 de Janeiro de 2010:

    Angra dos Reis Destino concorrido das frias de vero com suas 365

    ilhas e mais de 2 000 praias, o municpio da Costa Verde entrou em 2010 sob

    um rastro de destruio indito em sua histria. Dois dias de chuvas

    intermitentes provocaram 48 deslizamentos de terra e 52 mortes. O mais letal

    deles aconteceu na Enseada do Bananal, em Ilha Grande, e vitimou 31

    pessoas de sete casas atingidas entre elas a Pousada Sankay. Sessenta e

    cinco hspedes se salvaram, mas a filha dos donos do estabelecimento, Yumi

    Faraci, de 18 anos, morreu junto com dois amigos.

    Na parte continental, o cenrio era de terra arrasada, com morros

    rachados por lnguas de terra, postes derrubados, crateras pelas ruas, estradas

    interditadas e falta de energia, que em algumas partes s foi restabelecida

    quatro dias depois. Um deslizamento no Morro da Carioca, no centro da

    cidade, foi fatal para 21 moradores (MEDINA; BRAZ; MORAES, 2010).

    Logo podemos ver a importncia da Odontologia legal nos casos, o que

    ajudou na identificao de uma grande maioria dos corpos, e num tempo mais

    rpido, o que de extrema importncia em um acidente de grandes

    propores, porque nenhum lugar tem a capacidade de receber uma grande

    quantidade de vtimas de uma vez.

    2.3 METODOS DE IDENTIFICAO.

    Sopher (1972) destacou a importncia da Odontologia Legal quando em

    situaes de desastres onde se faa necessrio a identificao humana. Para o

    autor em situaes de desastres, deve-se proceder a datiloscopia e enquanto

    se aguarda a informao da identidade, deve-se realizar exames Odontolegais

    e Mdicolegais, tais como o exame antropolgico visando estabelecer, o sexo,

    a idade, a raa, a estatura, e claro procurar evidenciar a causa da morte, para

    tanto, pode-se usar de estudos sorolgicos, tricolgicos (plos) (SPADCIO,

    2007).

  • 27

    Spadcio (2007) ressaltou a importncia do estabelecimento da

    identidade pelo estudo dos caracteres sinalticos presentes nos dentes, devido

    principalmente s inmeras combinaes de restauraes, prteses, ausncias

    dentrias, crie, entre outros, que podem envolver 160 superfcies dentrias.

    Alm disso deve-se ainda ter em conta a forma das restauraes, os

    tratamentos endodnticos, as caractersticas anatmicas dos dentes e dos

    tecidos periodontais, alm do exame radiogrfico odontolgico. Este autor

    alertou aos leitores sobre a importncia da qualidade do registro dos

    odontogramas em vida e afirmou que o Cirurgio-Dentista deve manter o

    pronturio atualizado diariamente e sem rasuras.

    Martins Filho (2006), cita que para que um processo de identificao

    seja aplicvel, ele deve preencher cinco requisitos tcnicos elementares:

    1. Unicidade, individualidade ou variabilidade: a condio que no

    se v repetido em outro indivduo o conjunto de caracteres pessoais,

    isto , apenas um nico indivduo pode t-los. Das trs denominaes

    parece melhor a primeira, pois faz referncia expressa sobre o fato de

    que cada indivduo apresenta imprsses diferentes das dos demais.

    No existem duas impresses iguais, nem mesmo nos diversos dedos

    de uma mesma pessoa.

    2. Imutabilidade: condio de inalterabilidade dos caracteres por toda a

    existncia; ou seja, so caracteres que no mudam com o passar do

    tempo. Os desenhos, com todas as suas particularidades,

    permanecem sempre iguais, no so modificados em hiptese

    alguma, a nica possibilidade a perturbao de um desenho por

    cicatriz.

    3. Perenidade ( Persistncia): a capacidade de certos elementos de

    resistir ao do tempo. Por exemplo, as cristas papilares e,

    consequentemente os desenhos, aparecem antes do indivduo nascer

  • 28

    (sexto ms de vida intra-uterina) e s desaparece com a

    decomposio cadavrica. Tambm as rugosidades palatinas, que

    aparecem por volta do terceiro ms de vida intra-uterina, so

    absolutamente perenes.

    4. Praticabilidade: a condio que torna o processo aplicvel na rotina

    pericial. , enfim, a qualidade que permite que certos requisitos sejam

    utilizados, como: custo, facilidade de obteno, facilidade de registro,

    etc. A tomada das impresses digitais de um indivduo simples,

    rpida e exige um mnimo de instrumentos. No caso das rugosidades

    palatinas, a utilizao facilitada pelo baixo custo e pela facilidade de

    coleta.

    5. Classificabilidade: a condio que torna possvel guardar e achar,

    quando preciso, os conjuntos de caracteres que so prprios e

    identificadores das pessoas. Isto , a possibilidade de classificao

    para facilitar o arquivamento e a rapidez de localizao em arquivos. A

    propriedade anterior decorre at certo ponto desta ltima. Realmente,

    de que valeria a tcnica utilizada para a identificao apresentar

    persistncia, imutabilidade, individualidade, se no fosse possvel

    classificar as figuras? Tanto as impresses digitais como as

    rugoscopias palatinas so passveis de classificao, pois esta

    classificao permite a localizao racional desses dados em

    arquivos.

    2.3.1 DNA

    Com o aumento do nmero de desastres em massas devidos a fatores

    ambientais e tambm fatores da prpria evoluo da tecnologia voltada para

    facilitar a vida humana, como desastres areos, tem que se lanar cada vez

  • 29

    mais mo de recursos para auxiliar a identificao de cadveres, visto que

    muitas vezes h uma dificuldade que essa identificao seja feita de forma

    visual, como por exemplo o corpos carbonizados, e tambm as vezes so

    achados apenas partes de cadveres, dificultando a afirmao de quem seria

    realmente aquele indivduo, e por isso um recurso confivel que pode ser

    utilizado o uso do DNA, que dependendo do grau de degradao do corpo

    ainda pode ser recolhido e comparado.

    A evidncia em DNA tem se tornado uma tcnica forense padro para a

    investigao e a resoluo de um grande espectro de crimes que variam de

    crimes propriedades privadas a crimes de natureza mais grave como

    estupros e assassinatos, fazendo com que o tempo de resoluo de um crime,

    em mdia, reduza de 89 a 45 dias entre identificao e acusao de um

    suspeito (BOND et al., 2008. apud SANTOS, 2009).

    Quando impresses digitais, exame de arcos dentrios e exames

    antropomtricos j estabelecidos so inviveis de serem realizados para

    proceder-se a identificao humana; pode-se utilizar a tipagem de DNA para tal

    processo. Por estarem sujeitos a decomposio, fragmentao, incinerao, ou

    inexistncia de dados comparativos antemortem, os mtodos antropomtricos

    tradicionais muitas vezes tm sua utilizao limitada ou at mesmo

    impossibilitada. Na presena das caractersticas acima mencionadas, a anlise

    do DNA apresenta bons resultados, pois um fragmento de tecido,

    principalmente tecidos duros como o osso e dente, pode ser potencialmente

    identificado (WEEDEN; SWARNER, 1999. apud REMUALDO, 2004)

    A estrutura tridimensional da molcula de DNA - a dupla hlice (Figura 1) -

    foi descoberta em 1953, por Francis Crick, James Watson e Maurice Wilkins,

    quando trabalhavam em Cambridge, no Reino Unido. Eles construram

    modelos de cartolina e arame para entender e descrever o DNA, e o resultado

    foi publicado em duas pginas da revista Nature, em 25 de abril de 1953, h

    pouco mais de 50 anos. O texto de 900 palavras era acompanhado de um

    esboo simples da famosa dupla hlice e atraiu pouca ateno da comunidade

    cientfica. O estudo s ganhou destaque em 1957, quando cientistas

    demonstraram que o DNA se auto-replica, como os dois autores haviam

  • 30

    previsto. O prmio Nobel lhes foi outorgado em 1962. A descoberta de Crick

    (falecido em julho de 2004), Watson e Wilkins abriu uma nova era para a

    cincia e, desde ento, vem causando uma verdadeira revoluo na

    investigao cientfica ligada s cincias da vida, o DNA responsvel pela

    transmisso das caractersticas hereditrias de cada ser vivo. (Rev. Assoc.

    Med. Bras. 2005).

    Figura 1: Estrutura tridimensional da molcula de DNA. FONTE: http://www.ocf.berkeley.edu/~bsj/images/dna.gif

    Segundo Moura Neto (1998), a tipagem molecular de material gentico

    foi utilizada oficialmente pela primeira vez por Jeffereys, Brookfild, Semeor

    (1995), na Inglaterra, para a resoluo de um problema de imigrao. E um ano

    aps elucidado esse caso, em 1985, Jeffereys (Jeferreys e cols., 1985)

    coletou esperma com uma sonda elaborada por ele mesmo num caso de

    estupro seguido de morte que tambm aconteceu na Inglaterra. Depois da,

    repetiu o exame com amostras coletadas dos moradores de um pequeno

    condado ingls e comparou os resultados com a anlise gentica do esperma

    antes coletado chegando a priso do culpado (SILVA, 1997). A partir deste

    caso, a Criminalstica e a Odontologia Legal ganharam novo flego e tm

    empregado a tcnica de tipagem molecular de DNA como potente arma no

    esclarecimento de diversos delitos e na identificao humana (MOURA NETO,

    1998).

    Nos casos de carbonizao humana, usualmente h uma limitao do

    emprego dos remanescentes biolgicos para estudo. Nestes casos, tem-se

  • 31

    usado, por eleio, dentes para anlises forenses, j que sua constituio

    anatmica proporciona proteo ao material gentico. Quando impresses

    digitais, verificao de marcas de mordida, do sexo, exames antropomtricos j

    estabelecidos so inviveis para proceder-se identificao humana; pode-se,

    ento, utilizar-se a tipagem de um DNA para tal processo (REIS Jr, et al. 2007).

    A polpa dental um dos poucos materiais orgnicos disponveis para

    anlise do DNA, em alguns casos especiais, como acidentes areos e corpos

    carbonizados ou putrefatos (POTSCH et al., 1992, apud REIS Jr, et al. 2007).

    Willems (2000), relatou que pelo fato de o esmalte dentrio ser a substncia

    mais dura do corpo humano, no surpresa que os dentes e estruturas dentais

    frequentemente resistem a eventos post mortem que provocam a destruio de

    outros tecidos E ainda segundo Reis Jr et al (2007), a dureza do esmalte da a

    capacidade do dente de agir como uma cpsula protetora das clulas

    nucleadas da polpa dentria, de onde se extrai o material gentico para esta

    anlise. Silva (1997) relata que pelo grande grau de dureza dos dentes, so

    conferidos a eles um alto poder de preservao da identidade gentica

    individual, sendo portanto grande fonte de informao.

    EXTRAO DO DNA DENTRIO:

    Vanrell (2002) ressalta que extrair material dentrio para o estudo de DNA

    no difcil, mas preciso ter certos cuidados, como:

    Trabalhar em ambiente estril, de modo a preservar o material contra as

    contaminaes;

    Usar parmetro cirrgico completo;

    Trabalhar, preferencialmente, em cmera estril, com presso positiva

    (ambiente adiabtico);

    Manter a cmara no laboratrio de gentica que realiza os

    procedimentos de exame de DNA;

  • 32

    Evitar a remessa ou envio de materiais entre o local de coleta e o

    processamento preparatrio e at o laboratrio em que se processar o

    exame de DNA.

    Silva (1997) ainda frisa que preferencialmente so utilizados dentes

    grandes, como molares, ntegros e sem restaurao, e em seu Compndio de

    Odontologia Legal d o protocolo elaborado pelo FBI em 1994 para a extrao

    de DNA de elemento dentrio, segue abaixo o protocolo proposto:

    1. Limpar a superfcie externa do dente com lcool.

    2. Utilizando o motor de baixa rotao com um disco de corte novo, cortar

    o dente no sentido horizontal, na regio da juno do cemento e do

    esmalte. No caso de tratar-se de dente restaurado, esta regio deve ser

    evitada.

    3. (a). Se houver tecido pulpar presente na cmara pulpar, remover

    cuidadosamente este tecido, utilizando instrumental endodntico.

    Colocar o tecido removido em tubo Eppendorf 1,5ml, adicionar 300 l de

    soluo-tampo de extrao stain e 7,5 l de soluo de proteinase K.

    Fechar imediatamente o tubo.

    Ou

    (b). Se o tecido pulpar no estiver preservado, utilizar motor de baixa

    rotao para fazer um corte fino de seco horizontal, partindo da

    poro apical at encontrar o primeiro corte (item 2).

    Utilizar motor de baixa rotao com disco de lixa para tornar lisa a

    superfcie exterior da seco, ficando ela assim livre da impregnao de

    fragmentos ou fibras.

    Transferir a seco do dente lixada para um pulverizador de tecido

    Bessman e seu pilo. Com um martelo, bater continuadamente, at

    que a pea seja pulverizada.

    Colocar 0,02 a 0,05 g desse p em tubo Eppendorf 1,5 ml.

    Adicionar amostra 300 l de soluo-tampo de extrao stain e 7,5 l

    de soluo de proteinase K. Fechar rapidamente o tubo.

  • 33

    Obs.: As etapas 1, 2, e 3 devem ser executadas em ambiente estril, de

    preferncia sob fluxo laminar.

    4. Submeter o tubo a vrtex em baixa velocidade, para evitar perdas, por

    um segundo, seguido de microcentrifugao por dois segundos,

    assegurando que toda a quantidade de p de dente esteja em contato

    com a soluo de extrao.

    5. Incubar o tubo a 56C por, pelo menos, duas horas ou at, no mximo,

    24 horas.

    6. Centrifugar o tubo em microcentrifuga por 2 minutos, at que o resduo

    se condense no fundo do tubo.

    7. Adicionar 300 l de fenol / Clorofrmio / lcool isoamlico soluo de

    extrao. Submeter brevemente a mistura vrtex, a baixa velocidade,

    para que se obtenha a emulsificao. Centrifugar o tubo em

    microcentrifuga por trs minutos, objetivando a separao do resduo e

    do material gentico sob anlise.

    8. A um concentrador Micrcon 100, adicionar 100 l de TE-4 e transferir,

    com auxlio de uma pipeta, a fase aquosa obtida na etapa anterior,

    evitando o transporte do solvente orgnico (lquida).

    9. Com o concentrador adequadamente tampado e devidamente

    rosqueado, centrifugar em microcentrfuga a 500 x g19 por 10 minutos.

    10. Remover cuidadosamente a unidade do concentrador e descartar o

    fluido presente no copo filtrador. Retornar o concentrador posio

    anterior.

    11. Adicionar 200l de TE-4 ao concentrador, repetindo a etapa 9.

    12. Medir o volume de TE-4, que deve estar entre 40 e 200 l. Remover o

    concentrador do copo filtrador e, cuidadosamente, invert-lo no copo de

    reteno previamente identificado. Descartar o copo filtrador.

    13. Centrifugar em microcentrifuga a 500 x g por 5 minutos;

  • 34

    14. Descartar o concentrador e tampar o copo retentor.

    15. Estimar a quantidade de DNA em cada amostra por hibridizao de slot

    blot (Aparelho que realiza quantificao do DNA extrado).

    16. Neste ponto DNA da amostra pode ser submetido amplificao.

    O matrial deve ser guardado a 4C ou em freezer. Antes de a amostra

    estocada ser utilizada, submet-la a vrtex brevemente e

    centrifugao por 5 minutos.

    2.3.2 RUGOSCOPIA PALATINA.

    A Rugoscopia Palatina foi proposta pelo pesquisador espanhol Trobo

    Hermosa em 1932, e foi melhor estudada pelo pesquisador argentino Ubaldo

    Carrea em 1937, que estabeleceu os critrios da "rugoestenografia palatal". A

    mucosa oral em sua maior parte se apresenta lisa para facilitar sua prpria

    funo, e a poro que reveste o tero anterior do palato fixa e corrugada por

    um verdadeiro sistema de pregas ou de rugas, fortemente aderidas ao plano

    sseo subjacente, sendo originrias do tecido conjuntivo denso da submucosa,

    fortemente fibroso, que reveste o osso, confundindo-se com o peristeo, sendo

    certo que esta pregas conjuntivas, so apenas recobertas pelo epitlio

    estratificado (VANRELL, 2002).

    Silveira (2009) relata que a identificao rupopalatinoscpica, tambm

    chamada rugoscopia palatina e rugopalatinoscopia, consiste na observao da

    abbada palatina, onde logo atrs dos incisivos centrais, na linha mediana,

    encontramos uma zona saliente, cuja forma e dimenses variam de pessoa

    pessoa, denominada papila, palatina ou papila incisiva. Na abbada palatina,

    nota-se uma linha aparecendo, saliente, que corresponde rafe, palatina, zona

    correspondente soldadura dos maxilares superiores. No tero anterior da

    rafe palatina partem de cada lado da linha mediana, uma srie de cristas, cuja

    forma e tamanho so variveis e que recebem o nome de placas palatinas,

    dobras palatinas, rugas palatinas ou pregas palatinas. Essas rugas so

  • 35

    devidas rugosidades sseas, que aparecem por ser a mucosa que as recobre

    muito fina. Essas rugas aparecem durante a vida intra-uterina e so

    individuais, perenes e inalterveis.

    Silva (1997) considera a rugoscopia como um meio auxiliar de

    identificao, que tem por base a anlise das cristas, dobras e pregas, ou

    ainda, das chamadas plicas, encontradas na abbada palatina, sendo de

    grande valia nos casos em que o estudo dactiloscpico no possa ser utilizado.

    Carrea, que foi citado por Brion em 1983, fez uma classificao em 4

    tipos diferentes da disposio das rugas no palato (Figura 2) (VANRELL, 2002):

    Tipo I - com rugas direcionadas medialmente (dos lados para o centro) e

    discretamente de trs para frente (covergindo no rafe palatino);

    Tipo II - com rugas direcionadas perpendicularmente linha mediana;

    Tipo III - com rugas direcionadas medialmente (dos lados para o centro)

    e discretamente da frente para trs (covergindo no rafe palatino);

    Tipo IV - com rugas direcionadas em sentidos variados.

    Figura 2 - Classificao dos 4 tipos diferentes da disposio das rugas no palato proposto por Carrea. FONTE: http://www.pericias-forenses.com.br/irugosodo.htm

    Santos em 1946, fez uma proposta que facilita a caracterizao

    individual rugoscpica de um indivduo, ao dividir as rugas palatinas,

    conforme a sua localizao, em (SILVA, 1997):

    Inicial, correspondente ruga palatina mais anterior, direita, sendo

    sempre representada por uma letra maiscula;

  • 36

    Complementar, corresponde s demais rugas, direita, sendo certo que

    cada papila assinalada por um nmero;

    Subinicial, correspondente ruga palatina mais anterior, esquerda

    sendo representada, tambm por uma letra de forma maiscula;

    Subcomplementar corresponde s demais rugas, esquerda, em

    seqncia subinicial, sendo cada papila assinalada por um nmero.

    Assim, as configuraes das cristas que aparecem no palato, para fins

    de classificao, se dividem em dez formas fundamentais que se designam

    pelas letras iniciais das figuras (P, R, C, A, Cf, S, B, T, Q, An) quando se

    encontram na primeira posio, e por nmeros (de 0 a 9), quando se

    encontram em qualquer outra posio (Quadro 1).

    TIPO DE RUGA LETRA DA RUGA

    N. DA RUGA DESENHO ESQUEMATICO

    PONTO P 0

    RETA R 1

    CURVA C 2

    ANGULO AGUDO

    AA 3 <

    ANGULO RETO AR 3

    ANGULO OBTUSO

    AO 3 \__

    CURVA FECHADA

    CF 4

    SINUOSA S 5

    BIFURCADA B 6 Y

    TRIFURCADA T 7 E

    QUEBRADA Q 8 /\/\/\/\

    ANMALA NA 9

    Quadro 1 - Caracterizao individual das rugas palatinas, conforme Santos (1946).

    FONTE: http://ube-167.pop.com.br/repositorio/7421/meusite/

  • 37

    Vanrell (2002) relata que a colheita das amostras tanto pode ser

    feita atravs de moldagem de preciso, com alginato ou com silicone, como

    por fotografia do palato com auxlio de um espelho, e uma forma de confirmar

    a identidade de uma pessoa poderia ser feita simplesmente com a

    comparao entre os modelos dos indivduos e a fotografia arquivada do

    indivduo, e ainda cita que a viabilidade desse processo de identificao to

    bom que o Ministrio da Aeronutica exige a identificao da rugoscopia

    palatina dos pilotos, como forma de facilitar a sua identificao em casos de

    acidentes areos.

    2.3.3 DETERMINAO DO SEXO PELAS CARACTERSTICAS

    CRANIANAS.

    Nos desastres em massa por vezes so encontrados apenas partes de

    corpos, as vezes sendo encontrados a cabea, e por isso devemos ter o

    conhecimento da anatomia craniana a fundo para poder distinguir o crnio de

    um indivduo do sexo masculino e um do sexo feminino, e essa diferenciao

    tambm pode ser pelas diferenas anatmicas dos elementos dentrios.

    O esqueleto exibe diferenas que comeam ser perceptveis a partir da

    puberdade, e que nos permite fazer o diagnstico diferencial do sexo. Calcula-

    se que no esqueleto completo, este diagnstico possa ser feito em cerca de

    95% dos casos. Os ossos da mulher, em geral, so menores e mais leves. As

    rugosidades que marcam as inseres musculares no sexo masculino so

    mais pronunciadas; as extremidades articulares no sexo feminino tm

    dimenses menores,porm os segmentos que maiores subsdios fornecem so

    o crnio, o trax e a bacia (SILVEIRA, 2009).

    Silva (1997), relata que o crnio feminino se caracteriza por um

    desenvolvimento menor de suas estruturas. Todas as protuberncias sseas,

    cristas e apfises so menores e mais lisas, sendo isto verdadeiro no que diz

    respeito apfise mastide, linhas occipital e temporal, eminncia occipital

    externa e o modelado do ngulo mandibular, sendo tambm menos

    desenvolvidas as cristas supra-orbitrias, por vezes totalmente inexistentes, o

  • 38

    osso malar sendo spero e irregular no seu bordo inferior, e o autor

    tambm denota o menos desenvolvimento das estruturas frontal e occipital,

    tornando-se assim uma forma de identificao do crnio feminino.

    No sexo masculino o contorno partindo da raiz do nariz para cima e para

    traz e, em seguida, para baixo, em direo eminncia occipital, forma uma

    curva bastante suave e regular, interrompida apenas por depresses

    inconstantes atrs da sutura frontoparietal e acima do osso occipital. O

    contorno do crnio feminino mais angular, sendo o frontal mais pronunciado

    que no homem, e a linha do perfil volta-se ento mais abruptamente para o

    plano horizontal (SILVA, 1997).

    As colocaes de Moacyr da Silva em seu Compndio de Odontologia

    Legal de 1997 so reforados pelas colocaes de Silveira (2009) que

    relata que os principais elementos para o diagnstico atravs do crnio so:

    No homem a fronte a mais inclinada para trs e mais vertical na mulher. A

    glabela mais pronunciada no sexo masculino. Arcos superciliares mais

    salientes no sexo masculino. Bordas superciliares rombas no sexo masculino e

    cortantes no sexo feminino. Mandbula mais fortes no sexo masculino.

    Cndilos mandibulares mais robustos no homem.

    Atravs de uma quadro simples mostrada por Silva (1997) da para

    analisar de forma singela as diferenas cranianas do sexo masculino e

    feminino, como poderemos ver a seguir (Quadro 2):

  • 39

    Crnio/ Estrutura Sexo Masculino Sexo Feminino

    FRONTE

    Mais inclinada Mais vertical

    GLABELA

    Mais pronunciada Menos pronunciada

    ARCOS SUPERCILIARES

    Mais salientes Menos salientes

    ARTICULAO FRONTONASAL

    Angulosa Curva

    REBORDO SUPRA-ORBITRIO

    Rombo Cortante

    APFISE MASTIDE

    Mais robusta Menos robusta

    APFISE ESTILIDE

    Mais longa e mais grossa

    Mais curta e mais fina

    CNDILOS OCCIPITAIS

    Mais longos e mais estreitos

    Mais curtos e mais largos

    CNDILOS MANDIBULARES

    Mais robustos Mais delicados

    Quadro 2 - Diferenas cranianas do sexo masculino e feminino. FONTE: Silva, 1997.

    Vanrell (2002) menciona que cerca de 77% dos casos de diagnstico

    diferencial do sexo pode ser feito utilizando os elementos que fornece a

    inspeo do crnio e da mandbula apenas. Tambm citado que h diferena

    tambm na morfologia dos dentes, verifica-se que os incisivos superiores so

    as peas dentrias que exibem o maior dimorfismo sexual, se apresentando

    mais volumosos nos indivduos do sexo masculino, mas essas diferenas

    sendo milimtricas.

    Tambm h diferena morfolgica na relao entere o dimetro

    mesodistal do incisivo central, e aquele do incisivo lateral do maxilar superior,

    sendo menor na mulher, umas vez que os dentes da mulher tem uma

    regularidade maior que no homem, sendo mais semelhantes ente si. H ainda

    a afirmao que a dentio permanente na mulher mais precoce que no

    homem, sendo essa diferena entre ambos de aproximadamente 4 (quatro)

    meses (VANRELL, 2002).

  • 40

    2.3.4 ESTIMATIVA DA IDADE.

    DETERMINAO DA IDADE PELOS DENTES.

    Silva (1997) destaca que o ideal para se chegar na idade aproximada

    seria a soma de vrios fatores, como: estatura, peso, presena de rugas,

    presena e colorao de plos, etc. Tambm ressaltado que quanto mais

    jovem a pessoa, mais fcil de se fazer a estimativa de idade, explanando que

    tem dois mtodos de se fazer o exame, o mtodo direto realizado atravs de

    exame clnico, observando o nmero de dentes irrompidos, a seqncia

    eruptiva, a cronologia de erupo e o estado geral dos elementos dentrios,

    como cries, abrases, exodontias, desgastes, restauraes etc. E o indireto,

    que realizado por meio da anlise de radiografias intra e extra-bucais,

    observando-se, principalmente, a mineralizao dentria, tendo um melhor

    resultado se os dois mtodos forem aplicados juntos.

    Dentro da rea da Odontologia Legal, vrios estudos tm mostrado que

    os elementos dentrios so uma tima alternativa orgnica para fornecerem os

    melhores resultados para a estimativa de idade por sofrerem menos

    interferncias de fatores sistmicos e de desnutrio, que afetam de

    sobremaneira a maturidade orgnica e o desenvolvimento sseo. H tambm o

    estudo da evoluo dentria que comea seu desenvolvimento da vida fetal,

    at os 21 anos de idade, e at mesmo h fenmenos involutivos tanto na

    dentio decdua, como na permanente, somando tudo isso, temos uma tima

    quantidade de dados, melhorando a anlise para a obteno da idade

    aproximada de um indivduo (SILVA, 1997).

    Sabemos que os elementos dentrios, sejam eles da dentio decdua ou

    da permanente, sofrem alteraes relativas ao seu desenvolvimento e tambm

    de involuo. Quanto mais jovem o indivduo, maior o nmero de informaes,

    em razo do maior nmero de dentes em formao. Conforme a maturao

    dentria vai se completando, diminui a quantidade de informaes, at

    restringir-se unicamente aos ltimos dentes a se desenvolverem, que so os

    terceiros molares (GONALVES; ANTUNES, 1999)

  • 41

    Vanrell (2002) mostra a importncia do estudo da cronologia da erupo

    dentria da dentio temporria, a qual da uma estimativa de idade muito mais

    precisa que a dentio definitiva, mas ainda chama ateno para a freqncia

    de irregularidades na erupo, resultantes de causas diversas, como:

    alimentao, deficincias e carncias alimentares, agentes ambientais,

    transtornos do crescimento, doenas metablicas, etc. E ainda citado os

    prazos de erupo infantil pois que a lactao artificial pode chegar a atrasar a

    erupo dos dentes em meses.

    Porm h outros autores que afirmam que a erupo sofre interferncia

    de inmeros fatores. Dentre os de ordem geral, podemos mencionar o sexo (as

    meninas tm a erupo mais precoce do que os meninos), arco (dentes da

    mandbula erupcionam mais cedo do que os da maxila), bitipo (os longilnios e

    magros tm a erupo mais precoce), alimentao (a desnutrio grave atrasa

    a erupo), clima (temperaturas quentes adiantam a erupo), flor (atrasa a

    erupo) etc. Quanto aos patolgicos, temos o hipo e hipertireoidismo,

    anodontias, perdas precoces dos dentes decduos, Diabetes melitus, alm da

    prpria herana gentica (Brauer e Bahador, 1942; Demisch e Wartmman,

    1957; Eveleth, 1959; Fanning, 1962; Garn et al., 1965; Likins et al., 1964; Silva,

    1997. apud GONALVES; ANTUNES, 1999).

    No geral, os dentes podem servir como estimadores de idade, mesmo em

    crianas desnutridas. provvel que exista um mecanismo central de

    maturao da criana como um todo, mas h, tambm, independncia entre os

    diversos setores e da os distintos tempos de maturidade (cerebral, dentria,

    esqueltica e outros). O fenmenos ligados erupo dos dentes podem

    ocorrer precoce ou tardiamente por fora de vrios fatores, embora os estudos

    das influncias das condies patolgicas sobre a odontognese demonstrem

    serem estes menos afetados que o esqueleto. Os dentes no so muitos

    afetados pelas deficincias nutritivas, o que no acontece com os ossos, pois a

    idade cronolgica compatvel com a idade dentria mesmo em crianas

    subnutridas, fato que no se observa no tecido esqueltico (COSTA, 2001).

    As radiografias podem contribuir com o trabalho da odontologia legal,

    ajudando na identificao da idade, mostrando as fases de mineralizao de

  • 42

    elementos dentrios (Figura 3). Nolla (1960) analisou radiografias anuais de

    cinquenta crianas (vinte e cinco de cada sexo) visando avaliar

    detalhadamente a mineralizao dos dentes o que o levou a estabelecer 10

    fases de desenvolvimento, e afirmou que os dentes esto aptos a erupcionar

    quando suas coroas esto totalmente formadas e as razes no incio da

    formao.

    Figura 3 - Imagens radiogrficas mostrando vrias fases de mineralizao de elementos dentrios. FONTE: Costa, 2001.

    Nolla (1960) ainda destacou que os dentes comeavam a irromper na

    cavidade bucal no estgio 7, quando um tero da raiz dentria estava formada,

    segue abaixo o quadro 3 e a figura 4 com os estgios de Nolla:

    Estgio Desenvolvimento Dental

    0 Ausncia de cripta

    1 Presena de cripta

    2 Calcificao inicial

    3 Um tero da coroa completa

    4 Dois teros da coroa completa

    5 Coroa quase completa

    6 Coroa completa

    7 UM TERO DA RAIZ COMPLETA

    8 Dois teros da raiz completa

    9 Raiz quase completa, pice aberto

    10 pice radicular completo Quadro 3 - Estgios de desenvolvimento dentrio desenvolvido por Nolla (1960). FONTE: Costa, 2001.

  • 43

    Desenho esquemtico das fases de mineralizao de Nolla:

    Figura 4 - Estgios de mineralizao de Nolla (1960). FONTE: Costa,2001.

    Mas tambm houveram estudos com relao as fases de erupo dos

    brasileiros, Nicodemo, Moraes e Medici Filho (1998) elaboraram uma tabela de

    fases de mineralizao dentria que seria mais adequada se aplicada na

    estimativa de idade dos brasileiros, essa tabela de certa forma uma variao

    da tabela de Nolla (1960), so que sendo dividida em oito estgios de

    mineralizao como podemos conferir na figura 5 a seguir:

  • 44

    Figura 5 Oito estgios de mineralizao dos dentes propostos por Nicodemo, Moraes e Medici (1998). FONTE: Batista, 2009.

    A tabela de Nicodemo, Moraes e Medici (1998) foi um marco para o

    estudo da estimativa de idade no brasleiro, mostrando de forma simples a

    quantidade mnima e mxima em meses para que um certo dente pudesse

    irromper na cavidade oral, dando um embasamento maior do perito em

    odontologia legal no Brasil para que ele pudesse realizar seu trabalho com

    confiabilidade e facilidade como pudemos observar (tabela 1) a seguir:

  • 45

    Tabela 1 Faixa etria em meses da mineralizao dentria proposta por Nicodemo, Moraes e Medici (1998). FONTE: http://www.fo.usp.br/departamentos/social/legal/metodos_eimineralizacao.htm

    Infelizmente, para a idade de 18 anos, aquela em que a estimativa da

    idade pelo exame dos dentes de solicitao freqente, a situao de anlise

    bastante pobre, uma vez que somente os terceiros molares permitem a coleta

    de informes no que se refere evoluo da mineralizao, bem como da

    erupo, alm do fato de que os referidos elementos dentrios nem sempre

    esto presentes nos arcos dentrios.Nessas condies, aconselha-se que o

    perito proceda a exame minucioso da cavidade bucal, com vistas busca de

    informaes de ordem clnica que possam auxiliar no esclarecimento da

    questo em exame (SILVA, 1997).

    DETERMINAO DA IDADE PELO NGULO MANDIBULAR.

    Tambm podemos usar a angulao da mandbula para auxiliar na

    determinao da idade segundo Vanrell (2002), que relata que na mandbula

    pode interessar o gnio, ngulo mandibular ou ngulo goniaco, que aquele

  • 46

    formado pelo ngulo ascendente (Figura 6) e pelo ramo horizontal (crvico-

    facial) da mandbula. Vanrell (2002) ainda relata que a simplicidade e

    praticidade desse mtodo faz com que alguns autores prefiram us-lo no vivo,

    em vez de empregar medidas e tcnicas mais complexas. Ernestino Lopes

    elaborou um quadro relacionando o ngulo mandibular e a idade em anos

    (Quadro 4)

    Mnimo Mximo Mdio Idade (anos)

    110 135 130 5 a 10

    110 130 125 11 a 15

    110 125 120 16 a 20

    110 120 115 21 a 25

    105 120 110 26 a 35

    105 120 110 36 a 45 Quadro 4 Quadro para a determinao da idade pelo ngulo mandibular segundo Enestino Lopes. FONTE: Vanrell, 2002.

    Figura 6 - Variaes do ngulo mandibular, conforme a idade: da esquerda pra direita, recm-nascido, adulto e velho. FONTE: Vanrell, 2002.

    Como antes abordado, a determinao de idade no deve ser feita

    apenas se baseando um dado, um melhor resultado deve ser alcanado se

    houver a soma de outros fatores para que esta estimativa se torne a mais

    aproximada possvel.

  • 47

    2.3.5 ESTIMATIVA DA ALTURA USANDO OS DENTES.

    Com o aumento dos desastres em massa procuramos cada vez mais

    consolidar a eficcia dos mtodos de identificao tanto na Odontologia Legal,

    quanto na Medicina Legal, e com a grande destruio aos corpos ocasionados

    pelos desastres em massa, a identificao atravs da arcada dentria uma

    tima opo para o perito.

    A identificao pelos dentes s possvel de ser verificada graas

    comprovada alta resistncia da estrutura dentria s condies mais

    desfavorveis, tais como impactos, corroses, exposio a produtos qumicos e

    at mesmo altas temperaturas, fornecendo para o odontolegista inmeros

    caracteres potencialmente viveis para se chegar identidade do indivduo,

    entre eles a idade, o gnero, a etnia e a estatura (CAVALCANTI, et al 2007).

    A carbonizao foi bem estudada por Tardieu, Hofmann, Brouardel. A

    carbonizao tem como efeito geral a condensao dos tecidos, reduzindo o

    seu volume de tal maneira que cada membro, cada rgo, tomados

    isoladamente se apresentam diminudos e o conjunto do corpo se apresenta

    reduzido propores singulares. A cabea e o corpo de um adulto de

    estatura normal parecem de uma criana de 12 anos. Os dentes e os ossos

    resistem muito a ao do calor, porm podem ser parcialmente destrudos ou

    apresentarem-se quebradios. O corpo toma uma atitude semelhante a dos

    boxeadores, com os membros superiores fletidos e os dedos em guerra

    (SILVEIRA, 2009).

    Foi pensando na diminuio da estatura do indivduo frente a certos

    desastres como incndios que Carrea (1920) desenvolveu uma frmula para

    que pudesse ser aplicada usando a arcada dentria, mais precisamente os

    incisivos centrais, incisivos laterais e os caninos inferiores, atestando que

    atravs de um clculo simples daria para determinar uma altura mnima e a

    altura mxima de um certo indivduo, apenas por esses elementos.

  • 48

    O mtodo matemtico de Carrea (1920) que permite o clculo da altura

    do indivduo a partir das dimenses dos dentes fundamentado pelo fato de

    que existe proporcionalidade os dimetros dos dentes e a altura do indivduo.

    Mede-se, em milmetros o "arco" de circunferncia, constitudo pela somatria,

    no arco inferior, dos dimetros meso-distais do incisivo central, do incisivo

    lateral e do canino inferiores (31-32-33 ou 41-42-43, como mostrado na figura

    7). A "corda" deste "arco", geometricamente falando, medida traando a linha

    reta entre os pontos inicial e final - (borda mesial do incisivo central at a borda

    distal do canino ipsilateral) - do "arco". A altura humana deve encontrar-se

    entre estas duas medidas, que ho de ser consideradas proporcionais, uma

    mxima, medida do arco, e outra mnima, proporcional medida do "raio-

    corda inferior". (VANRELL, 2002).

    A frmula criada por Carrea esta a seguir:

    1. Altura mxima (em mm) = arco X 6 X 10 X 3,1416

    2

    2. Altura mnima (em mm) = raio-corda X 6 X 10 X 3,1416

    2

    Figura 7 Desenho esquemtico do arco e da corda proposto na frmula de Carrea (1920). FONTE: http://www.pericias-forenses.com.br/identesodo.htm

    Cavalcanti, Porto e Melo (2007) fizeram um estudo com cinquenta

    estudantes que foram selecionados e submetidos mensurao

    antropomtrica e moldagem do arco inferior para obteno do modelo de

    estudo, nos quais foram aplicadas as frmulas de Carrea para a obteno da

    estatura estimada de cada um, utilizando-se o mtodo de Carrea, com

  • 49

    paqumetro e fita milimetrada, e o mtodo modificado pelos autores, com

    compasso de ponta seca e rgua. Foram mensurados os incisivos central e

    lateral e o canino inferior de ambos os lados, direito e esquerdo. No mtodo de

    Carrea s coincidiu 36% para o lado direito e 48% para o esquerdo, e em seu

    mtodo a coincidncia foi de 96% para ambos os lados, mostrando que o

    mtodo modificado teve uma eficcia maior que o de Carrea.

    2.3.6 USO DA ARCADA DENTRIA NA IDENTIFICAO EM

    ODONTOLOGIA LEGAL.

    Rodrigues e Malfate (2009) esclarecem que no houve, no h e no

    haver duas pessoas com arcadas dentrias iguais, pois sua configurao

    absolutamente singular; construda concomitantemente ao desenvolvimento

    fsico, emocional e mental. Exatamente porque cada arcada dentria uma

    fotografia deste desenvolvimento individual. Diante disto que nos permitimos

    afirmar que quando observamos uma arcada dentria, como se estivssemos

    assistindo a revelao do filme da vida do indivduo ao qual ela pertence.

    Spadcio(2007) realizou um trabalho para verificar a resistncia dos

    materiais dentrios restauradores ao do fogo e sua importncia na

    identificao forense, chegando a concluso de que os dentes, juntamente com

    os materiais restauradores, aps serem expostos ao calor ainda se fazem um

    timo meio de identificao devido a alta durabilidade desses materiais e dos

    elementos dentrios, e ainda relata que os dados obtidos so muito

    semelhantes aos encontrados em arcos dentrios de indivduos carbonizados e

    permitem ao perito por comparao a determinao do tipo de material

    restaurador utilizado. Tal informao associada com os dados do confronto da

    documentao produzidas em vida permitir o estabelecimento da identidade

    do cadver.

    A odontologia legal pode fazer uso das imagens radiolgicas nos

    processos de identificao. Assim, a anlise de registros dentrios

    acompanhados de radiografias ante-mortem e post-mortem tornou-se uma

  • 50

    ferramenta fundamental nos processos de identificao em odontologia legal.

    Alm disso, a partir de segunda metade da dcada de 1980, com o grande

    avano da informtica e, por conseguinte, com o surgimento da radiologia

    computadorizada, houve um refinamento da tcnica, oferecendo maior

    acuidade nas identificaes, mesmo em indivduos desdentados, e tambm

    uma maior preciso na determinao da idade (GRUBER, 2001. apud

    CARVALHO et al, 2009).

    Os seguintes detalhes anatmicos podem ser usados como parmetros:

    forma dos dentes e razes, dentes perdidos e presentes, razes residuais,

    dentes supranumerrios, atrito ou abraso, fraturas coronrias, degrau de

    reabsoro de osso decorrente de doena periodontal, leses sseas,

    diastemas, formas e linhas das cavidades, cries dentrias, tratamento

    endodntico, pinos intrarradiculares e intracoronrios e prteses dentrias

    (CARVALHO et al, 2009).

    A comparao feita entre as placas de raios X feitas pelo dentista do

    suposto falecido e placas dos dentes do cadver tiradas exatamente do mesmo

    ngulo. Essas imagens so sobrepostas em computador para aferir

    semelhanas no formato dos dentes e eventuais trabalhos odontolgicos, como

    restauraes, canais, coroas e prteses. Intervenes como essas so

    especialmente indicadas para a identificao, pois costumam possuir um

    desenho geomtrico bem definido e diferenciado afirma o mdico forense

    Malthus Fonseca Galvo, do Laboratrio de Antropologia Forense do Instituto

    Mdico Legal de Braslia. De uma maneira geral, qualquer informao na ficha

    odontolgica da pessoa pode ajudar nessa comparao principalmente

    irregularidades como dentes tortos, encavalados ou espaados. Outra

    alternativa usar uma foto em que o indivduo aparea sorrindo ou mostrando

    os dentes de alguma outra forma. Essa imagem ampliada e sobreposta a

    uma filmagem frontal do crnio do cadver, tambm para comparao do

    formato dos dentes (FOGAA, 2009).

    Alm de serem a estrutura mais resistente do corpo, capazes de resistir

    carbonizao em temperaturas de at 800C, os dentes apresentam outra

    vantagem: neles que fica preservado por mais tempo o material gentico de

  • 51

    uma ossada. Os peritos, porm, costumam deixar esse tipo de anlise em

    segundo plano, devido ao alto custo e dificuldade da extrao do DNA dos

    dentes mas isso no prejudica seu trabalho. Consideramos a identificao

    pela arcada dentria to confivel quanto a feita pelo DNA, afirma Malthus

    (FOGAA, 2009).

    Silva et al (2008) descreve um caso de identificao que ocorreu em

    Agosto de 2006, onde um indivduo carbonizado do sexo masculino foi

    encontrado no interior de um automvel, se procedeu com todos os cuidados

    forenses com o cadver, e aps uma investigao policial, se chegou a uma

    provvel vtima. A famlia dessa provvel vtima foi orientada a procurar

    qualquer tipo de documento mdico e odontolgico que pudesse ajudar na

    identificao, sendo usando o pronturio odontolgico do paciente que tinha

    feito tratamento ortodntico, e nesse pronturio havia uma radiografia

    panormica (figura 8) datada de 1999, e quatro radiografias interproximais, e

    uma periapical, datadas de 2003 (Figura 9).

    Figura 8 Radiografia Panormica. FONTE: Silva et al, 2008.

  • 52

    Figura 9 - Confronto radiogrfico periapical e interproximal entre as radiografias produzidas em vida (2003- A e C) e as ps-morte (2006 B e D). FONTE: Silva et al, 2008.

    Aps as comparaes radiogrficas, foi concludo que o cadver

    encontrado carbonizado realmente pertencia ao indivduo o qual foi comparado

    o pronturio odontolgico.

  • 53

    2.4 IMPORTNCIA DA DOCUMENTAO ODONTOLGICA.

    A identificao de cadveres se faz de forma comparativa, sendo ento

    extremamente importante um correto e adequado armazenamento do

    pronturio odontolgico com todos os cuidados para prolongar tal documento,

    no s para a importncia da identificao, mas tambm para um controle e at

    mesmo planejamento ideal do procedimentos que so e sero realizados pelo

    profissional no paciente.

    O cdigo do processo tico odontolgico no seu Art. 4 Inc VI diz:

    Constituem deveres fundamentais dos profissionais inscritos: ...elaborar

    as fichas clnicas dos pacientes, conservando-as em arquivo prprio; (Cdigo

    de tica Odontolgico, 1998).

    O Cdigo de Defesa do Consumidor em seu Art. 27 Prescreve em 5

    (conco) anos a pretenso reparao de danos causados por fato do produto

    ou do servio..., iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do

    dano e de sua autoria. E o mesmo cdigo no seu Art. 177 diz As aes

    pessoais prescrevem ordinariamente em vinte anos, se reais em dez entre

    presentes e, entre ausentes, em quinze, contados da data em que poderiam ter

    tido propostas. Isso porque quem no tem conhecimento do defeito no pode

    acionar a outrem para a reparao do dano (VANRELL, 2002)

    No cdigo de defesa do consumidor, o Odontlogo visto como um

    prestador de servio, e o paciente um consumidor, com a inverso do nus da

    prova, se houver qualquer acusao contra o profissional, no o paciente que

    vai ter que provar que esta certo, so os profissionais que vo ter que provar

    que no erraram, mostrando assim a importncia de manter uma

    documentao sempre atualizada e bem guardada a respeito do nosso

    atendimento.

    A seguir exposto o modelo preconizado pelo Conselho Federal de

    Odontologia de como deveria ser o pronturio odontolgico (Conselho Federal

    de Odontologia, 2004):

  • 54

    O QUE DEVE CONSTAR NO PRONTURIO ODONTOLGICO.

    Considerando que os registros dentrios devem ser suficientemente

    abrangentes para envolver os critrios de avaliao, diagnsticos, plano de

    tratamento e tratamento efetuado, com todos os informes que devero

    acompanhar a vida do paciente no que concerne aos cuidados odontolgicos,

    constituindo-se em verdadeiro pronturio, sugere esta Comisso, a

    denominao PRONTURIO ODONTOLGICO , em substituio

    designao simples de FICHA CLNICA, que no mais atende as atuais

    necessidades pelos motivos expostos.

    Embora registros bem documentados no assegurem a adequao do

    tratamento dentrio, proporcionam, contudo, uma oportunidade de avali-lo.

    Pronturios com registros fidedignos so essenciais para fornecer dados

    relativos ao controle de qualidade, porque a validade e credibilidade de

    quaisquer procedimentos, dependem da preciso dos dados registrados.

    Com o objetivo de possibilitar o controle de qualidade, a Comisso

    constatou que, por documentar todos os aspectos no que tange aos cuidados

    dispensados ao paciente, o pronturio odontolgico encontra sua grande

    utilidade na resposta s questes que se seguem:

    1 - As informaes do diagnstico eram adequadas para identificar todos os

    problemas clnicos significativamente?

    2 - Foram corretos os diagnsticos, baseados nas informaes disponveis?

    3 - O plano de tratamento foi bem fundamentado, baseado nas informaes de

    diagnstico e avaliao dos problemas?

    4 - Foi o tratamento adequadamente priorizado e executado na sequncia

    apropriada?

    5 - Foi o cuidado integral do paciente, apropriado e adequado?

  • 55

    Considerando as necessidades constatadas, a Comisso sugere neste

    relatrio, o seguinte contedo mnimo para o Pronturio Odontolgico:

    I - IDENTIFICAO DO PACIENTE

    II - HISTRIA CLNICA

    III- EXAME CLNICO

    IV- PLANO DE TRATAMENTO

    V- EVOLUO DO TRATAMENTO OU TRAT. PROPRIAMENTE DITO

    VI- EXAMES COMPLEMENTARES

    Visando expor o contedo do Pronturio Odontolgico ora sugerido,

    desenvolvemos, a seguir, cada um dos itens propostos:

    IDENTIFICAO DO PACIENTE.

    Constar do nome completo, naturalidade, estado civil, sexo, data e local

    de nascimento, profisso, endereo residencial completo e endereo

    profissional completo.

    Quando se tratar de paciente menor ou incapaz, devero constar tambm

    os dados do seu responsvel.

    Este item deve conter ainda, o nome dos cirurgies-dentistas que

    atenderam o paciente anteriormente com anotao do local e poca do

    atendimento. Tal procedimento visa facilitar o acesso a esses profissionais,

    caso exista alguma dvida sobre o tratamento efetuado, possibilitando dirimi-

    las.

  • 56

    HISTRIA CLNICA.

    Consiste na queixa principal, histria da doena atual, histria pregressa,

    histria familiar, histria pessoal e social, reviso dos sistemas e questionrio

    de sade e sua interpretao, de acordo com as normas preconizadas pela

    semiologia.

    Considerando que os princpios e os fundamentos do exame do paciente

    seguem as mesmas normas entre as cincias de sade, ao cirurgio-dentista

    clnico ou de qualquer especialidade, tambm compete a observao do

    paciente como um todo e no apenas a procura de uma alterao dentria

    isolada. Desta forma, especialista ou no, o profissional da odontologia deve

    ter uma viso global, humanstica e ser capaz de compreender e executar um

    exame completo do paciente, dentro de seu campo de ao, principalmente

    para diagnosticar as possveis alteraes patolgicas, objetivando a preveno

    e ou a cura.

    EXAME CLNICO.

    O exame clnico do paciente constitui uma srie de observaes que o

    examinador realiza especialmente pelos rgos do sentido. O cirurgio-dentista

    utiliza de forma particular, a viso, o tato, a audio e ocasionalmente a

    olfao.

    Em odontologia, o exame clnico deve permitir o reconhecimento dos

    sinais ou sintomas objetivos das alteraes buco-maxilo-faciais, e ao mesmo

    tempo, deve tambm conduzir o examinador obteno de dados para a

    observao das condies gerais de sade do paciente.

    Devem ser anotadas as restauraes dentrias existentes e faces

    envolvidas, com descrio da cor e tipo de material restaurador empregado,

    assim como, as prteses devem ser minuciosamente descritas no que tange

  • 57

    sua classificao, se fixa ou removvel se parcial ou total, e materiais utilizados

    e elementos substitudos.

    Visando metodizar o procedimento, as restauraes existentes devero

    ainda ser registradas em odontograma especfico, com a maior preciso

    possvel, no que tange ao contorno e dimenses. Tal conduta fornece dados

    relevantes no caso de apurao de responsabilidade profissional, sendo de

    importncia fundamental na identificao pelas caractersticas dentrias.

    O modelo de odontogramas sugerido a seguir o utilizado pela Interpol,

    que apresenta as cinco faces coronrias, permitindo visualizao integral das

    restauraes.

    Figura 10 Odontograma proposto pela Interpol. FONTE: Conselho Federal de Odontologia, 2004.

    MODELO DE ODONTOGRAMA PROPOSTO.

    Devero ainda ser anotadas e sempre que possvel registradas no

    odontograma, as patologias existentes, ausncia de elementos dentrios,

    prteses, tratamentos endodnticos, tipo de ocluso e outros dados e critrio

    do cirurgio-dentista.

    O sistema adotado para a identificao dos elementos dentrios ser o

    SISTEMA DECIMAL DA FEDERAO DENTRIA INTERNACIONAL.

  • 58

    PLANO DE TRATAMENTO.

    Consiste no registro detalhado da proposta de tratamento de que

    necessita o paciente. Devero ser anotados os procedimentos propostos, com

    descrio minuciosa dos materiais a serem utilizados e dos elementos

    dentrios e regies orais envolvidas.

    EVOLUO DO TRATAMENTO OU TRATAMENTO PROPRIAMENTE

    DITO.

    a execuo do plano de tratamento proposto. Devero ser

    minuciosamente anotados todos os procedimentos realizados, com descrio

    precisa dos elementos dentrios e faces coronrias ou regies envolvidas,

    materiais utilizados e data de execuo dos procedimentos .

    Visando metodizar o procedimento, as restauraes executadas devero

    ainda ser registradas em odontograma especfico destinado exclusivamente

    aos trabalhos executados, com a maior preciso possvel no que tange ao

    contorno e dimenses das restauraes. para tal propsito sugerimos a

    utilizao de um odontograma semelhante ao proposto no item referente ao

    exame clinico.

    Quando o prestador de servios odontolgicos se tratar de pessoa

    jurdica, ser obrigatrio constar, alm daqueles dados, o nome e o nmero de

    inscrio no CRO do cirurgio-dentista que executou o procedimento.

    EXAMES COMPLEMENTARES.

    Os exames complementares podem muitas vezes ser necessrios como

    recursos auxiliares, confirmando ou no o diagnstico clnico.

  • 59

    Os testes de laboratrio, em sua quase totalid