Os fundamentos do ensino de

Geografia e a linguagem cartográfica

As especificidades e o papel da Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental

[...] o papel da Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental é o de alfabetizar os alunos na leitura do espaço geográfico, tendo em vista as diversas escalas e configurações que o compõem. Assim, compreende-se que não se alfabetiza somente em Português ou Matemática; alfabetização e um processo que ocorre também nas outras disciplinas escolares: em Geografia, Ciências, História, Arte, entre outras, pois cada uma destas disciplinas apresenta um conjunto de linguagens, códigos, procedimentos e conceitos próprios. Isso permite ao aluno realizar uma leitura do mundo com base em um conjunto de conhecimentos socialmente construídos. (GUERRERO, 2012, p.26). O espaço geográfico [...] a Geografia escolar deve ter o compromisso de promover a aprendizagem da leitura do espaço geográfico para que os alunos possam entender esse espaço e atuar nele [...] O pensar geográfico contribui, portanto, para a contextualização do aluno como cidadão do mundo e que se insere no mundo, que lhe pertence e no qual atua. Isso propicia o entendimento do espaço geográfico e de seu papel nas praticas sociais. (p. 27). O resgate da cartografia A cartografia é a área do conhecimento responsável pelo estudo pela produção e divulgação de documentos que representam a superfície terrestre ou partes dessa superfície. O documento cartográfico mais conhecido é o mapa. No entanto existem outros tipos, como as cartas, as plantas, os croquis, as anamorfoses, as imagens de satélite e de radar e as fotografias aéreas. P.31 O mapa define-se como sendo o material que representa determinada extensão do espaço terrestre de acordo com parâmetros e normais internacionais. A leitura do mapa e de outros matérias cartográfico passa, em primeiro lugar, pela aquisição de conceitos específicos para se compreender essa forma de comunicação. Por isso a geógrafa Maria Ramos Símielli, bem como outros pesquisadores da área da cartografia escolar, menciona esse processo como sendo a alfabetização cartográfica. P. 31.

Alfabetização cartográfica: evolução do conhecimento sobre a produção de mapas.

2. Os diferentes tipos de documentos cartográficos:

Os mapas não são o único tipo de documento cartográfico. Os nomes desses documentos são definidos em função da escala de representação cartográfica usada e de outros aspectos técnicos, como a delimitação da área representada e a metodologia empregada na confecção do documento. Definição de mapa: IBGE: mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos selecionados de uma área geográfica, podendo destinar-se aos mais variados usos: didáticos, ilustrativos, etc. UOL Educação: o mapa é uma imagem reduzida de uma determinada superfície. Essa redução – feita com o uso da escala- torna possível a manutenção da proporção do espaço representado. Wikipédia: um mapa é uma representação visual de uma região. Os mais conhecidos são representações bidimensionais de um espaço tridimensional. A ciência da concepção e fabricação de mapas designa-se cartografia. Entre os materiais cartográficos, destacamos as cartas, as plantas, os croquis e as maquetes. P.61.

Cartas, plantas, croquis e maquetes. Diferenciamos os principais tipos de materiais cartográficos que podem ser usados em

sala de aluna para promover o aprendizado de conceitos geográficos e a alfabetização cartográfica. As como os mapas, cada um desses materiais possui diferentes conceituações e seria interessante que você, professor, procurasse pesquisá-los. Carta: como o mapa, resulta de um levantamento preciso da superfície da Terra, mas geralmente em grande escala e, portanto, com algum nível de detalhamento. Planta: é um tipo de representação gráfica em grande escala, destinada a fornecer informações detalhadas de uma determinada área. Quando representa detalhadamente ruas, edificações e o perímetro urbano, entre outros aspectos, denomina-se planta cadastral. Croqui: é um esboço cuja elaboração não requer o rigor técnico dos mapas e cartas. Geralmente contém informações sobre uma pequena área, suprimindo a falta de uma representação cartográfica mais elaborada. P.63

A reconstrução do conhecimento geográfico

A aquisição e o desenvolvimento das noções mencionadas anteriormente compõem o processo de formação de alunos leitores críticos e mapeadores conscientes. Como usuários de mapas, os alunos trabalham com materiais cartográficos nos seguintes níveis: • Localização e análise: em que os alunos localizam e analisam determinados

fenômenos no mapa; • Correlação: em que os alunos correlacionam duas, três ou mais ocorrências; • Síntese: em que os alunos realizam análise e correlação de fenômenos de

determinado espaço geográfico e, posteriormente, fazem a síntese de tudo.

Esse processo de alfabetização constitui a etapa fundamental no ensino e na aprendizagem da Geografia. Todos os outros conceitos e conteúdos da disciplina passam pela alfabetização cartográfica. P. 35

A linguagem cartográfica: alfabetização e letramento cartográfico na escola.

A alfabetização cartográfica consiste em uma linha de estudo e pesquisa da cartográfica voltada ao ensino. Caracteriza-se como uma linguagem diversa daquela utilizada pela Língua Portuguesa e pela Matemática. Portanto, a cartografia apresenta um sistema de conceitos próprios, cuja aprendizagem requer a alfabetização. Essa alfabetização tem por objetivo desenvolver a capacidade de leitura e de comunicação oral e escrita por fotos, desenhos, planas, maquetes e mapas e assim permitir ao aluno a percepção e o domínio do espaço. A educação nos anos iniciais do Ensino Fundamental tem como atribuição principal alfabetizar os alunos. Esse processo de alfabetização tem início na Educação Infantil, por meio de desenhos, leitura, representação de histórias e outras atividades lúdicas. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, segundo Simielli, a alfabetização se dá: em Língua Portuguesa, por meio do letramento; em Matemática, pelos estudos dos números e das operações matemáticas básicas; e, em Geografia, pela alfabetização cartográfica e pelo desenvolvimento de noções espaciais elementares, projetivas e euclidianas. Simielli, denomina alfabetização cartográfica o processo que supõe, a aquisição e o desenvolvimento dos conceitos de : 1. Visão vertical e visão obliqua; 2. Imagem bidimensional e imagem tridimensional ; 3. Alfabeto cartográfico: ponto, linha, área; 4. Legenda; 5. Proporção e escala; 6. Lateralidade, ponto de referência, orientação. P. 38

A linguagem cartográfica no ensino da Geográfica.

Os materiais cartográficos apresentam especificidades e são confeccionados padrões rígidos de produção. Para que nós, professores, consigamos formar alunos capazes de decodificar e interpretar os signos e símbolos contidos nesses materiais, é essencial que lhes forneçamos um repertório conceitual e procedimental adequado à linguagem dos mapas. Somente dessa maneira eles serão alfabetizados cartograficamente e terão condições cognitivas de se tornarem leitores críticos e mapeadores conscientes. P.71 [...] o processo de alfabetização cartográfica depende da conquista de habilidades cognitivas, conceituais procedimentais. O domínio dos elementos que compõem as legendas, nas quais são representados os símbolos e as convenções cartográficas, a aquisição e o aprimoramento das capacidades de localizar, analisar, correlacionar e sintetizar informações a partir dos mapas integram o processo de formação dos leitores críticos. Por outro lado, mas não desvinculado do primeiro processo, representar espacialmente a realidade usando a criatividade, a percepção individual e as habilidades de raciocínio promove a formação de mapeadores conscientes, capazes até de intervir nos materiais cartográficos produzidos por outros mapeadores. Os conceitos envolvidos no processo de alfabetização cartográfica podem ser trabalhados com os alunos desde o início da educação formal, diferenciando-se, ao longo das etapas de estudo, em aprofundamento e em generalização. Deste modo, o conceito de legenda, por exemplo, pode ser ensinado desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, tornando-se mais complexo até ao final do Ensino Médio. P.72.

1. Visões horizontal, oblíqua e vertical; O conceito de VISÃO está baseado na ideia de que representamos

cartograficamente uma paisagem a partir de um ponto de vista, ou seja, do posicionamento de um observador em relação à paisagem representada. Desse modo, conhecemos três tipos de visão ( ou posição) capazes de subsidiar o trabalho cartográfico: 1. Visão frontal ou horizontal: é a que temos quando olhamos um objeto de

frente; 2. Visão obliqua: é a visão que temos de um objeto ou de uma paisagem quando

os olhamos de cima e de lado, ou seja, quando estamos na posição inclinada e em perspectiva;

3. Visão vertical: e a visão dos objetos em 90°, ou seja, a que temos de cima para baixo, como em um sobrevoo. P.74

Visão frontal ou horizontal

Visão vertical

Visão obliqua:

Exemplo de atividade

2. Imagem bidimensional e imagem tridimensional

Na cartografia, distinguimos dois tipos de imagens:

• Imagens bidimensionais ou planas – compostas apenas por duas dimensões espaciais,

a largura e o comprimento, e que podem ser impressas ou digitais, a cujo conjunto

estão relacionados materiais como imagens de satélites, mapas, plantas e croquis;

• Imagens tridimensionais – compostas por três dimensões espaciais: largura,

comprimento e altura, em cujo conjunto se entram as maquetes, que representam

partes da superfície terrestre em 3D.

A distinção e compreensão da natureza e das características das imagens bidimensionais são elementos fundamentais no processo de alfabetização cartográfica. Com o domínio desses conceitos, os alunos terão melhores condições de se apropriarem dos conceitos representados nos documentos cartográficos, reconhecendo seus elementos estruturais. Também terão condições de selecionar o melhor tipo de material cartográfico para representar uma determinada área de estudo quando esse tipo de capacidade for requisitado.p.84

Bidimensional

Tridimensional

3. Alfabeto cartográfico: ponto, linha, área;

Os elementos da paisagem e os fenômenos socioespaciais são representados nos materiais cartográfico de modo simbólico. A cartografia utiliza símbolos, como formas geométricas, pictogramas, textura e cores para representar os fenômenos geográficos nos mapas. A principal função desses símbolos, quando colocados nos mapas, é favorecer ou melhorar a assimilação da informação representada pelo receptor. Isso significa que os símbolos são selecionados pelos criadores de mapas para melhorar a comunicação entre os usuários e o próprio mapa. Diversas categorias de símbolos: 1. Sinais convencionais: são esquemas gráficos localizados com base na posição real do objeto ou

elemento representado, que permitem que este seja identificado mesmo que sua superfície, na escala, seja muito pequena.

2. Sinais simbólicos: são signos que trazem à lembrança o objeto real, localizados ou suja posição é facilmente determinável.

3. Pictogramas: são símbolos figurativos facilmente reconhecíveis. 4. Ideogramas: constitui um pictograma representativo de um conceito, uma ideia. 5. Símbolo regular: é um conjunto constituído pela repetição regular de um elemento gráfico sobre

uma superfície delimitada. 6. Símbolo proporcional: é um símbolo que representa quantidade, cujo tamanho varia de acordo

com o valor do que está sendo representado.

Os símbolos podem ser agrupados em dois conjuntos: 1. Qualitativos - que correspondem àqueles que representam atributos nominais,

ou seja, devem permitir ao leitor do mapa distinguir, por exemplo, um rio de uma estrada, de uma edificação ou de um floresta;

2. Quantitativos – que representam a noção de ordem, de sequência e de hierarquia. 85, 86, 87.

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3.1 . Legenda

Todos os símbolos e cores usados na produção de um mapa devem ser representados de modo sistemático e organizado em uma legenda. A legenda do mapa tem a função de explicar para o leitor do documento cartográfico o significado de cada ponto, linha, textura ou cor usado no mapa. P.94 É utilizada rara descodificar o significado dos símbolos e/ou das cores representados no mapa. •As cores e os símbolos obedecem às convenções cartográficas e são classificados em duas ordens: planimétricos e altimétricos. •A representação planimétrica compreende os elementos que cobrem a superfície do solo: físicos ou naturais (hidrografia e vegetação) e culturais ou artificiais (ocupação humana, sistema viário, construções, limite político ou administrativo etc). •A representação altimétrica refere-se à cor que esta representa, ou seja, um terreno, por exemplo, é representado pela cor sépia. Os areais são representados por meio de um pontilhado irregular, também na cor sépia.

3.2 . Proporção e escala

Escala é um dos conceitos que mais geram dificuldades no trabalho com mapas e no processo de alfabetização cartográfica. Por um lado, há a falta de domínio conceitual e metodologia de parte do professor no uso da escala cartográfica como um dos elementos fundamentais na compreensão dos mapas. Por outro, há o despreparo dos alunos para relacionar a linguagem matemática à representação dos mapas. O conhecimento das escalas cartográficas começa com o domínio do raciocínio matemático, especialmente no que se refere às proporções dos objetos e à sua relação com o espaço. A escala é responsável por indicar a relação proporcional entre os tamanhos reais dos objetos e os de sua representação no papel. Quando falamos de escala cartográfica, devemos nos lembrar de que estamos tratando de uma relação proporcional de redução de tamanhos. P.97 A Cartografia e a Geografia trabalham com fenômenos de grandes dimensões, e sua representação só pode ocorrer mediante a redução dos tamanhos para que os fenômenos espaciais possam ser representados nos papel.

A escala cartográfica indica uma redução linear do tamanho do objeto. Os elementos geométricos que integram essa noção são o comprimento, a largura e a altura. Portanto, q quando um cartografo reduz um espaço geográfico para representar em mapa, significa que o terreno representado teve suas dimensões horizontal e vertical reduzidas. A redução foi feita, então, ao quadrado. Há duas maneira de representar a escala de uma mapa: a escala gráfica e a escala numérica. P. 98

4. Orientação e localização espacial

A orientação espacial é a maneira desenvolvida pela sociedade para localizar objetos uns em relação

aos outros.

A aprendizagem sobre os conceitos de orientação e localização está diretamente ligada ao domínio de

capacidades cognitivas como a descentrarão, a lateralidade, a reversibilidade e projeção espacial.

As direções relativas do espaço terrestre são representadas na rosa dos ventos.

A localização dos objetos no espaço terrestre deve ser ensina no processo de alfabetização

cartográfica. Para isso, os alunos precisam aprender os conceitos de linhas imaginárias, paralelas,

meridianos, coordenadas geográficas, latitude, longitude e hemisfério. (Obs. Esses conceitos serão

apresentados em por meio de vídeos)

A localização absoluta de qualquer ponto ou local na sua superfície terrestre é importante para

conhecermos nossa posição geográfica na Terra, bem como as posições de outros objetos. Um barco,

por exemplo, só consegue se localizar na imensidão de um oceano quando dispõe de um sistema de

localização específico que utiliza coordenadas geográfica. Essas linhas imaginárias, que só existem nas

representações cartográficas, formam uma rede de linhas sobre a superfície do planeta. No

cruzamento dessas linhas conseguimos localizar qualquer ponto da Terra.p.109

5. Projeções cartográficas

Devido à forma esférica do planeta, a representação do espaço terrestre num plano bidimensional sempre foi uma das grandes questões da cartografia. As projeções cartográficas são usadas como uma forma de resolver parcialmente as distorções geradas nos documentos cartográficos a partir das deturpações na forma de uma área e outras. P.113

Entende-se, portanto, que na comunicação cartográfica, a mensagem é passada a partir

de um conjunto de signos previamente organizados para representar o espaço

geográfico. O leitor precisa ter estruturas de pensamento que o permita entender e

estabelecer raciocínios analíticos para a elaboração de explicações sobre os fenômenos

representados. Por isso, autores como Francischett (2001), Almeida (2006), Pissinati e

Archela (2007), Almeida e Nogueira (2009), defendem que, para a leitura eficiente de

mapas, torna-se imperativo a alfabetização cartográfica .

Na próxima etapa apresentaremos sugestões de atividades para se trabalhar os conceitos: Visão vertical e visão obliqua; Imagem bidimensional e imagem tridimensional ; Alfabeto cartográfico: ponto, linha, área; Legenda; Proporção e escala; Lateralidade, ponto de referência, orientação

Referências

LISBOA, Severina S. A IMPORTÂNCIA DOS CONCEITOS DA GEOGRAFIA PARA A APRENDIZAGEM DE CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS ESCOLARES . Universidade Federal de Viçosa– Viçosa – MG Revista Ponto de Vista – Vol.4 Acesso em: 13 abril, 2014. Disponível em < http://www.coluni.ufv.br/revista/docs/volume04/importanciaConceitosGeografia.pdf> Acesso em: 15 abril 2014.

GUERRERO, Ana Lúcia. Alfabetização e letramento cartográficos na Geografia escolar. 1ª Ed. São Paulo: Edições SM, 2012.