25
PAISAGENS E ECOSSISTEMAS Thiago Morato de Carvalho 1 Celso Morato de Carvalho 2 Sumário: 1. Introdução; 2. Feições Regionais: as áreas abertas de Roraima; 3. As Contribuições para o Entendimento de Paisagens em Roraima; 4. Modelos Atuais para o Entendimento de Paisagens; 5. Unidades Morfoestruturais de Roraima; 6. Formação de Paisagens; 7. Colinas, Lagos e Ilhas Fluviais; 8. As Dunas de Areias Brancas e Marrons; 9. Referências. 1 INTRODUÇÃO Quando olhamos atentamente para uma paisagem, nós podemos perceber que o cenário que estamos observando é composto por elementos diversificados, por exemplo, uma serra com rochas expostas, um lago cir- cundado por gramíneas e arbustos, pequenos conjuntos de arvoretas que se sobressaem em áreas abertas ou um rio com palmeiras nas margens e vegeta- ção arbustiva entre árvores mais encorpadas. É muito possível também que nós encontremos nesta paisagem picadas e caminhos os mais diferentes, di- versos tipos de construções para moradia e outros fins, isoladas ou formando conjuntos de comunidades, roças e plantações as mais diversas, animais ao redor de habitações quando domésticos, ou livres nos seus espaços naturais. O que vemos, então, pode ser sentido intuitivamente, como quando paramos para olhar um quadro que registrou o tempo em cores, mas também podemos olhar analiticamente o conjunto paisagístico que vemos, no sentido de procu- rarmos compreender como o homem se entende com a natureza, como tem seus comportamentos intrinsecamente associados aos ambientes imediatos 1 Laboratório de Métricas da Paisagem – MEPA, departamento de Geografia. Instituto de Geociências, Universidade Federal de Roraima. E-mail: [email protected]. 2 Coordenação de Biodiversidade. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

paisagens e ecossistemas.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 43

PAISAGENS E ECOSSISTEMAS

Thiago Morato de Carvalho1

Celso Morato de Carvalho2

Sumário: 1. Introdução; 2. Feições Regionais: as áreas abertas deRoraima; 3. As Contribuições para o Entendimento de Paisagens emRoraima; 4. Modelos Atuais para o Entendimento de Paisagens;5. Unidades Morfoestruturais de Roraima; 6. Formação de Paisagens;7. Colinas, Lagos e Ilhas Fluviais; 8. As Dunas de Areias Brancas eMarrons; 9. Referências.

1 INTRODUÇÃO

Quando olhamos atentamente para uma paisagem, nós podemosperceber que o cenário que estamos observando é composto por elementosdiversificados, por exemplo, uma serra com rochas expostas, um lago cir-cundado por gramíneas e arbustos, pequenos conjuntos de arvoretas que sesobressaem em áreas abertas ou um rio com palmeiras nas margens e vegeta-ção arbustiva entre árvores mais encorpadas. É muito possível também quenós encontremos nesta paisagem picadas e caminhos os mais diferentes, di-versos tipos de construções para moradia e outros fins, isoladas ou formandoconjuntos de comunidades, roças e plantações as mais diversas, animais aoredor de habitações quando domésticos, ou livres nos seus espaços naturais.O que vemos, então, pode ser sentido intuitivamente, como quando paramospara olhar um quadro que registrou o tempo em cores, mas também podemosolhar analiticamente o conjunto paisagístico que vemos, no sentido de procu-rarmos compreender como o homem se entende com a natureza, como temseus comportamentos intrinsecamente associados aos ambientes imediatos 1 Laboratório de Métricas da Paisagem – MEPA, departamento de Geografia. Instituto de

Geociências, Universidade Federal de Roraima. E-mail: [email protected] Coordenação de Biodiversidade. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia

Page 2: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho44

onde vive e como utiliza os bens naturais ao seu redor. Podemos ir ainda umpouco mais além e perceber que os humanos ao interferirem no seu ambientealteram-no em vários níveis, desde bucólicas transformações, até pesadasmodificações ambientais que refletem a mão ideológica de todo um sistemadominante que, amparado em leis específicas, exerce pressões de usurpaçãosobre o conhecimento das comunidades tradicionais e alteram as relaçõeshomem-ambiente (METZGER, 2001; MOREIRA, 2004; AB’SABER, 2003;WEIGEL, 2009:69; MORAIS & CARVALHO, 2013).

Além destas considerações, nós podemos ainda olhar paisagensde forma categórica, arranjando os elementos de modo a permitir com quepossam ser interpretados à luz da geografia e do direito, por exemplo, comrelação à gestão ambiental. Podemos ainda arriscar um enfoque mais aca-dêmico sobre a paisagem e sua biodiversidade, gerando conhecimentos quepodem ser utilizados como base para a geração de novos conhecimentos outer valor de uso imediato. Esses enfoques e interpretações trazem nos seusbojos vários receptores conceituais que são reconhecidos por outras disci-plinas, abrindo espaços para importantes discussões, por exemplo, sobreconservação dos ecossistemas e usos dos recursos naturais. Disciplinas quenão se enxergam quando isoladas; ao se reconhecerem, agrupam-se e for-mam um conjunto cujas propriedades são maiores do que a soma de suaspartes. Dentre estas disciplinas integradoras estão a biogeografia e a geo-morfologia, cujas variáveis são sensíveis aos níveis de amplitude de áreasadotados, daí termos conceitos envolvendo paisagens em diferentes escalasde grandeza, por exemplo, zonas e domínios abrangendo conceituações emescala subcontinental, e interpretações de feições regionais com base nosconceitos de geossistemas e fácies. São olhares dependentes da escala sim,mas indissociáveis entre si – o reconhecimento de uma feição regional só podeser feito dentro do contexto geral de uma zona ou domínio (AB’SABER,1967; VANZOLINI, 2011).

2 FEIÇÕES REGIONAIS: AS ÁREAS ABERTAS DERORAIMA

Um bom exemplo dessas considerações de fácies regionais e suasinserções dentro de domínios são as paisagens encontradas numa parte da por-ção norte da Amazônia, uma região com cerca de 70.000 km² que abriga umadas maiores áreas abertas amazônicas, abrangendo a Venezuela, a Guiana e oBrasil, onde é maior a extensão destas áreas abertas, com 43.281 km² abran-gendo 19% da região – o lavrado roraimense (Figura 1).

Page 3: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 45

Figura 1 Áreas abertas ao norte da Amazônia: 1 – lavrado deRoraima, áreas abertas da Gran Sabana na Venezuela ecampos do Rupununi na Guiana, 2 – Campos do Paru doOeste e Marapi, Serra de Tumucumaque, Pará (02º48’N,60º39’W).

A literatura cita diversos nomes para estas paisagens abertas rorai-menses, por exemplo, campos do Rio Branco, savana, cerrado, bioma ouecorregião (OLIVEIRA, 1929; TAKEUSHI, 1960; BARBOSA et al., 2005;EITEN, 1977, 1992). Campo é termo genérico utilizado para muitas áreasabertas brasileiras. A área nuclear dos campos cerrados, por exemplo, está auma distância de pelo menos 2.500 km de Roraima, o domínio morfoclimáti-co do cerrado. As semelhanças do lavrado com o cerrado existem e são ape-nas fisionômicas (VANZOLINI & CARVALHO, 1991). O termo savana,utilizado para designar várias áreas abertas no mundo todo, juntamente comos termos bioma e ecorregião, ao se juntarem formam as condições para umenfoque muito genérico sobre fisionomias de vegetação, sem situá-las ade-quadamente num contexto geral. Isto pode gerar mais confusão do que clare-za geográfica e ecológica.

Quem quer que ande pelas áreas abertas de Roraima encontrará ter-ras indígenas, com as suas comunidades características, suas casas cobertasde palha de buriti, as paredes à moda de adobe, com janelas, cujas moradiassão semelhantes em tamanho e arquitetura. São comunidades tradicionaisque têm uma história, uma luta por suas terras, estilo de vida comunitária,modos característicos de se relacionarem com o ambiente imediato, com suasroças, religião, comportamentos sociais, comidas, e modo de criar os filhos.

Page 4: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho46

Evidentemente casam-se entre si e os filhos são indígenas. Ao perguntar aoshabitantes dessas comunidades o nome do ambiente em que vivem, eles vãodizer que é lavrado, o mesmo nome que seus pais e avós se referiam à regiãoe que os antigos moradores não indígenas davam para essas áreas abertas.Assim, esta paisagem é formada por cenários que incluem, numa parte, osfatores físicos e bióticos, e na outra parte as populações indígenas e todos osque habitam esta região, imprimindo indelevelmente nestes cenários as iden-tidades ecológica, geográfica e cultural que devem ser respeitadas. Lavrado éo nome dessa paisagem.

3 AS CONTRIBUIÇÕES PARA O ENTENDIMENTO DEPAISAGENS EM RORAIMA

Hoje clássicos da literatura, diversos autores deram o ponto de par-tida para o entendimento das paisagens roraimenses, formulando modelospartindo do pressuposto de que os ambientes de qualquer região podem serdescritos do ponto de vista estrutural ou mais amplo, através do reconheci-mento dos tipos gerais de vegetação, aberta ou fechada, relevo e hidrografia.Vamos ilustrar esta abordagem tomando como exemplo as conceituaçõessobre domínios morfoclimáticos brasileiros e a distribuição da biota (forma-ções vegetais e animais), mantendo um olho voltado para os aspectos sociaise antropológicos da ocupação dos ambientes pelas comunidades tradicionaise lavradores. Nós temos no Brasil os domínios da Amazônia, cerrado, caa-tinga e a floresta Atlântica, os quais podem ser caracterizados pela sobrepo-sição de feições da vegetação, clima, relevo, solos e hidrografia, com amplasfaixas intermediárias (AB’SABER, 2003).

Os pioneiros a integrarem a ideia de domínios morfoclimáticos deAb’Saber (1967) aos tipos de paisagem e as grandes formações vegetais foramdois herpetólogos, o brasileiro Paulo Emílio Vanzolini e seu colega norte--americano Ernst Williams, em 1970. A herpetologia é o ramo da zoologia queestuda os anfíbios e os répteis. O estudo clássico destes dois zoólogos foi a dife-renciação geográfica de lagartos do gênero Anolis, cuja interpretação baseou-seno modelo de domínios morfoclimáticos como critério geográfico. Tendocomo pontos de partidas as unidades geográficas e os padrões de distribuiçãodas formas deste gênero de lagarto Anolis, Vanzolini e seu colega Williamsinterpretaram as variações geográficas dos lagartos entre os domínios comosendo o resultado de expansões e retrações da floresta durante períodos secos(glaciais) e úmidos (interglaciais) nos últimos 20.000-10.000 anos. Essa dinâ-mica criou barreiras que levaram à interrupção do fluxo gênico entre popula-

Page 5: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 47

ções de animais antes intercruzantes, levando a formação de espécies distintas.O modelo tornou-se um clássico na biogeografia e é bem conhecido comomodelo de refúgios do Pleistoceno e teoria de refúgios, também elaboradopelo geólogo alemão Jürgen Haffer (VANZOLINI & WILLIAMS, 1970;VANZOLINI, 2011; HAFFER, 1969).

Há uma representação arqueológica que utiliza o modelo de domíni-os morfoclimáticos e as flutuações climáticas do Pleistoceno, das formas comoconceituados por Aziz Ab’Saber, Paulo Vanzolini e Ernest Williams, que nãodiz respeito diretamente às paisagens de Roraima, mas é um exemplo perti-nente no contexto amazônico. Trata-se dos estudos da arqueóloga norte--americana Betty Jane Meggers. Ela formulou entre as décadas de 1940 a 70hipóteses sobre a evolução dos povos pré-históricos da América do Sul combase nas adaptações climáticas e de solos – a cultura é determinada pelas rela-ções entre o ambiente e a tecnologia. Se o ambiente não é propício a tecnolo-gia falha e a cultura de um povo entra em decadência. Meggers é tida comocolonialista por alguns, em virtude do programa de arqueologia na América doSul financiado, na época, pelo governo norte-americano, mas, independentedisso, ela partiu da hipótese de que as diferentes condições do solo e do climadeterminam os aspectos sócio-políticos dos povos, tendo como exemplo asmigrações na Amazônia. As mudanças do Pleistoceno entram em cena paraexplicar como num período úmido (interglacial) há evidências de florescimentode sociedades pré-históricas amazônicas, mas durante o período seco (glacial)os solos empobrecem juntamente com os aspectos socioculturais de uma oumais civilizações (MEGGERS, 1954; MEGGERS & CLIFFORD, 1973).

Outra forma mais simples de entendermos a paisagem é olharmospara as fisionomias regionais da vegetação (VANZOLINI & CARVALHO,1991; EITEN, 1977; TAKEUSHI, 1960). Se tomarmos o lavrado como exem-plo, nós podemos observar as seguintes fisionomias na paisagem geral destasáreas abertas roraimenses: i) as matas das margens dos rios de pequeno por-te, que ao atravessarem o lavrado têm o nome de matas de galeria, ii) os bu-ritizais, formados por buritis Mauritia flexuosa, iii) as ilhas de mata, que sãomanchas de vegetação mais densa e mais alta, iv) os arbustos agrupados ouisolados, onde são frequentes o caimbé Curatella americana e os muricisByrsonima spp., v) as ciperáceas Bulbostylis spp. e várias espécies de gramí-neas, uma delas predominando, dependendo dos solos, vi) as áreas fran-camente abertas de lavrado, com poucos arbustos, vii) os lagos do lavrado,viii) presença de cactáceas, por exemplo, o mandacaru Cereus sp., geral-mente associadas a áreas de cupinzeiros Cornitermes, os quais também ocor-rem onde os cactos não estão presentes, ix) as serras em várias regiões dolavrado, onde estão presentes no entorno árvores baixas, arvoretas e arbustos,geralmente com a presença de cactáceas, gêneros Cereus e Melocactus.

Page 6: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho48

Podemos citar também relatos sobre as profícuas relações entre geo-morfologia e a biogeografia tendo como pano de fundo as paisagens do la-vrado roraimense (CARVALHO, 2009B; VANZOLINI, 2011; CARVALHO& CARVALHO, 2012a,b). Essas considerações são baseadas nas caracterís-ticas geomorfológicas das áreas abertas do nordeste de Roraima, como osafloramentos graníticos presentes nas regiões de morros, hogbacks, in-selbergs, matacões e tors esparsos de diferentes tamanhos. Do ponto de vistabiogeográfico, estas unidades podem ser vistas como hábitats e microhábitatspara diferentes espécies da fauna do lavrado. Fraturas e disjunções nestasrochas constituem um complexo de microhábitats, com água, areia e vegeta-ção, que são ocupados por muitos vertebrados e invertebrados. Algumas es-pécies são fiéis a estas formações, portanto não ocorrem em todo o lavrado,só onde houver estes hábitats. Reconhecer estas fisionomias é o campo dageomorfologia e interpretar a distribuição dos animais nestes ambientes é ocampo da biogeografia, aliada à zoologia, botânica e ecologia.

Outros modelos sobre descrições de paisagens de Roraima já foramtambém apresentados, por exemplo, os trabalhos do Radambrasil (1975), umprojeto em nível nacional ligado ao Ministério das Minas e Energia; os relató-rios do Ministério do Interior, com úteis informações paisagísticas do la-vrado e outras áreas (ACAR, 1973); e os relatos sobre a geografia e históriade Roraima, elaborados por Antonio Ferreira de Souza (1969). Na Folha nú-mero 8 do Radambrasil, dedicada a Roraima, é possível obter detalhadas in-formações sobre a geologia, geomorfologia, botânica e usos dos recursos natu-rais desta região, a qual, parte do Planalto das Guianas, é formada por regiõesserranas nos limites setentrionais, por exemplo, as serras Parima, Imeniaris,Pacaraima e Uafaranda, e pelo Planalto Norte Amazônico, com altitudes me-nores do que 800 metros, cobertas por florestas. Nestas formações estão situa-dos os Planaltos ou Platôs Residuais Norte Amazônicos. São regiões antigas,dispostas sobre terrenos sedimentares e cristalinos, onde ocorrem as várzeas dosrios, os tesos e terraços fluviais (VELOSO et al., 1975; AB’SABER, 1997,2003; VANZOLINI & CARVALHO, 1991). Muitas destas descrições de paisa-gens do Radambrasil foram feitas através das informações obtidas por reambu-ladores, que iam de toda forma até áreas inacessíveis, com a ajuda dos antigosrelatos sobre a vegetação de Roraima (e.g. TAKEUSHI, 1960; BEIGBEDER,1959; BARBOSA & RAMOS, 1959; OLIVEIRA, 1929).

Os relatos feitos por Sebastião Pereira do Nascimento, um estudio-so da fauna de Roraima e também das relações humanas e a natureza, especi-ficamente indígenas e o meio ambiente, são de fundamental importância paraconhecermos as paisagens do lavrado. Nascimento está entre os que maistêm contribuído para o entendimento das paisagens roraimenses, ao lado doantropólogo Paulo José Brando Santilli, defensor da cultura e dos direitos

Page 7: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 49

dos povos indígenas de Roraima. Os relatos de Nádia Farage sobre os povosindígenas da região e processos de colonização também muito contribuempara entendimento das paisagens da região. Dentre outros estudiosos quevoltaram os olhos para estas paisagens, vários já citados, merecem destaque oszoólogos Paulo Emílio Vanzolini e Ronald Heyer, e o geógrafo Aziz NacibAb’Saber, que fazem minuciosos relatos sobre viagens e estudos realizadospor vários autores nesta região (NASCIMENTO, 1998, 2000; NASCIMENTOet al., 2012; SANTILLI, 1994, 2001; AB’SABER, 1997; 2003; VANZOLINI& CARVALHO, 1991; HEYER, 1989; FARAGE, 1991).

Também contribuem para o entendimento destas paisagens o Mi-nistério Público Estadual, que faz permanente defesa dos direitos indígenas,através do Procurador de Justiça Edson Damas da Silveira, o Ibama e oICMBio que trabalham em várias áreas da região, pesquisadores das univer-sidades federal e estadual de Roraima, do Inpa e IBGE, além de órgãos esta-duais, como o Iacti, o Museu Integrado de Roraima e a Seplan, órgãos esta-duais que coordenaram o Zoneamento Ecológico Econômico de Roraima em2014, liderados por Daniel Gianluppi e sua equipe do Iacti. Atualmente, paraconhecermos em detalhes os componentes paisagísticos das regiões são em-pregadas técnicas de geoprocessamento através do Sistema de InformaçõesGeográficas, com a criação de bancos de dados ambientais e sociais. Sãoinformações úteis para conhecermos as paisagens e os elementos estruturaisque as compõem. Aqui na nossa região temos dois exemplos onde estas in-formações são geradas: na Universidade Federal de Roraima, através do la-boratório de Métricas da Paisagem e na Seplan, através do Sistema de GestãoTerritorial de Roraima, que tem um excelente modelo de geoprocessamento,implantado por Haroldo Henrique Amoras dos Santos.

4 MODELOS ATUAIS PARA ENTENDIMENTO DEPAISAGENS

No presente, há várias ferramentas que nos permitem analisar emdetalhes a paisagem e seus elementos físicos e biológicos constitutivos,como o relevo, a drenagem, vegetação e solos. Uma destas ferramentas im-prescindíveis hoje em dia são as imagens de satélites, assim como o foramnum passado recente as imagens de radar e mais anterior um pouco as foto-grafias aéreas (RADAMBRASIL, 1975; Figura 11-A). Por exemplo, no pre-sente exercício sobre paisagens de Roraima é fundamental identificarmos asformas de relevo elaboradas por dois processos: i) denudação, relacionado àdegradação e desgaste do relevo – como exemplo temos os níveis de superfí-cies de aplainamento, os morros e tesos (colinas baixas), ii) agradação, rela-

Page 8: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho50

cionado à acumulação de sedimentos – como exemplo temos as paisagensformadas pelas planícies aluviais, acumulação de areias brancas, áreas alaga-das e lagos (CHRISTOFOLETTI, 1999).

As imagens que permitem identificar processos agradacionais podemser obtidas de diversas fontes (CARVALHO, 2009a) – nós utilizamos para esteexercício as Landsat 7 (produto Geocover 2000). Para processos denudacionais,é muito útil o modelo de elevação da SRTM (radar interferométrico). E paraprocessar imagens, pode ser utilizado o programa Envi 4.3, por exemplo. Asimagens Landsat 7 podem ser obtidas através do produto Geocover 2000(zulu.ssc.nasa.gov) e o modelo digital de elevação através da Shuttle RadarTopography Mission (SRTM) e corrigidos hidrologicamente (relevobr.cnpm.embrapa.br). Aqui na nossa região estas imagens e informações de paisagens eprocessos geomorfológicos podem ser obtidas através do Laboratório de Mé-tricas da Paisagem da Universidade Federal de Roraima (http:/ufrr.br/mepa),que utiliza e desenvolve técnicas derivadas de geoprocessamento e sensoria-mento remoto com base em imagens como as da séria Landsat.

5 UNIDADES MORFOESTRUTURAIS DE RORAIMA

Uma pergunta é pertinente no presente contexto: como situar dentrodas paisagens amazônicas os ambientes de Roraima? Embora possamos utilizaratualmente de geotécnicas para caracterizar paisagens, nós podemos reconhecerquatro unidades morfoestruturais em Roraima, descritas nos clássicos relatosque descrevem o antigo Território Federal do Rio Branco (e.g. BARBOSA &RAMOS, OLIVEIRA, 1959; OLIVEIRA, 1929, GUERRA, 1957; RADAM-BRASIL, 1975; TAKEUSHI, 1960): i) áreas florestadas de vários tipos ao sul eoeste; ii) lavrado – áreas abertas com arbustos, gramíneas e ciperáceas, ilhas demata e buritizais formando matas galerias juntamente com as matas dos rios eigarapés, a nordeste de Roraima; iii) áreas alagáveis – formações abertas comburitizais, palmáceas e herbáceas em sistemas de paleocanais, com predomi-nância de depósitos aluvionares permanentemente alagáveis compostos porareias brancas que ocorrem no centro da região para o sul, iv) áreas montanho-sas e serras baixas nas fronteiras, ao norte com a Venezuela, em ambientes flo-restados no geral mesclados com áreas abertas, e a leste com a Guiana, em am-bientes de áreas abertas do lavrado (Figuras 2 e 3).

Essas unidades compõem feições muito específicas dentro do domí-nio morfoclimático amazônico. Específicas porque dentro da grande área flo-restada da Hiléia ocorrem áreas abertas, por exemplo, os campos de Humaitáno rio Madeira no Amazonas, os campos do Ariramba no rio Trombetas no

Page 9: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 51

Pará, as áreas abertas de Alter do Chão no rio Tapajós no Pará, as campinas ecampinaranas do rio Negro no Amazonas, os campos do Puciari em Rondônia(EGLER, 1960; VANZOLINI, 1992; AB’SABER, 1967). Roraima é umadestas áreas abertas. Específicas também porque cada área aberta destas temuma identidade cultural, geográfica e ecológica próprias, com a presença deanimais endêmicos ou com distribuição restrita (CARVALHO, 2009b). Espe-cífica também, por outro foco, porque estimula uma velha questão sobre ex-pansões e retrações da floresta, hipótese que trás muitas consequências para abiota e para o entendimento das migrações humanas – sob um clima úmido afloresta se expande, em clima seco (glacial nos pólos e áreas próximas) o arfica seco e a floresta se retrai, promovendo processos de especiação da fauna eflora, e a retração ou expansão também de culturas humanas (VANZOLINI &WILLIAMS, 1970; MEGGERS, 1954, 1973). E específica também, esta áreado lavrado roraimense, porque corrobora com a conceituação de Ab’Saber dosdomínios morfoclimáticos, uma área de extensão subcontinental, que tem fei-ções próprias de relevo, vegetação, clima, solos e hidrografia. Roraima nãotem extensão subcontinental, mas contempla a parte da conceituação de domí-nios no que diz respeito a presença enclaves (ou encraves) de vegetação dentroda grande formação vegetal, por exemplo as manchas de cerrado dentro dacaatinga. Assim, a grande área abrangida pelo domínio morfoclimático daAmazônia, com áreas predominantemente florestadas, apresenta áreas abertasdentro do domínio, as quais podem representar relíquitos de vegetação quedominou há 20.000-10.000 anos atrás, vegetação de cerrado, por exemplo, quepode ter adentrado na Amazônia durante climas mais secos quando as florestasregrediram (AB’SABER, 2003; VANZOLINI, 1986).

A hidrografia regional atua como um importante sistema modeladordestes ambientes paisagísticos de Roraima, dissecando o relevo na direçãopredominante norte-sul e pode ser caracterizada como autóctone no geral – osrios do domínio amazônico, no geral, são predominantemente alóctones. Osistema fluvial roraimense é influenciado ao norte e noroeste pelas serrasParima e Pacaraima, divisoras de águas que drenam para o rio Orinoco. Porexemplo, o rio Orinoco nasce na Serra Parima, parte situada a noroeste deRoraima, e se desenvolve na Venezuela; os rios Maú, Cotingo, Panari e Uailannascem na região das serras do Monte Roraima e drenam para os rios Tacutu eBranco. Na porção noroeste, nas proximidades das Serras Parima e Imeniaris,nascem os rios Parima e Auari, os quais formam o rio Uraricoera, na SerraUafaranda. O Uraricoera corre para leste e se junta ao rio Tacutu (fronteiraBrasil-Guiana em quase toda a sua extensão), o qual nasce na região da SerraWamuriaktawa na Guiana e corre de sul para norte numa fossa tectônica(graben). Ambos os rios vão formar o rio Branco, que corre para o sul e seune ao rio Negro na sua margem esquerda.

Page 10: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho52

6 FORMAÇÃO DE PAISAGENS

Os padrões de dissecação do terreno nos informam sobre a gênesedas paisagens, e através das imagens de satélite, nós podemos observar emRoraima os processos agradacionais e denudacionais (Figuras 3-6 e 8) – asúltimas compreendem 135.000 km² da região (cerca de 60%); os relevosagradacionais estão encaixados em 90.000 km² das paisagens roraimenses,incluindo os lagos do lavrado (Figuras 6 e 8). Como exemplos regionais derelevo do tipo denudacional nós temos os sistemas erosivos, escarpados, docomplexo Parima-Pacaraima, com forte controle estrutural e de dissecação.Outras regiões da paisagem roraimense que ilustram este processo por denu-dação são: região do Monte Roraima (05°11’N, 60°49’W) com dissecaçãomoderada, Serra do Marari (04°16’N, 60°46’W) fracamente dissecado e Ser-ra da Lua (02°27’N, 60°28’W) fortemente dissecada, localizada nas proxi-midades da Guiana, com relevo de transição com morfologias agradacionaise denudacionais (Figura 5). Nas áreas formadas por terras baixas e arrasadaspor intemperismo químico profundo (etchplanação), nós podemos observaras planícies fluviais bem desenvolvidas, do tipo agradacionais.

Os ambientes agradacionais roraimenses caracterizam-se por apre-sentarem planícies fluviais bem desenvolvidas, onde os principais rios for-mam, pelo menos, 17.500 km² de área úmida por onde fluem os rios quecortam os lavrados em parte, como o Uraricoera, Tacutu, Branco, Surumu,Parimé, Cauamé e o Cotingo. Nessas planícies fluviais ocorrem morfologiastípicas de unidades agradacionais, por exemplo, as barras de areia e ilhasanexadas à planície, que estão em constante dinâmica. Os rios, predominan-temente aluviais, formam praias durante a estiagem e lagos de paleocanais,com unidades onde ocorrem processos erosivos evidenciados pelos barran-cos íngremes e ilhas em processo de erosão. Também fazem parte das paisa-gens agradacionais as formações lacustres, fluviais ou desconexas destes,formando ambientes periodicamente alagáveis, no lavrado e na porção sul deRoraima. No lavrado, esse sistema hidrogeomorfológico interconectado porcampos e veredas tem cerca de 11.000 km² de extensão, em morfologias típi-cas de sistemas deposicionais. As áreas periódicas e permanentemente ala-gáveis do centro-sul de Roraima ocupam cerca de 8.000 km². Estas áreasúmidas em Roraima – considerando somente os rios com planícies fluviaisdesenvolvidas, campos com sistemas lacustres, e áreas de influência de buri-tizais – ocupam uma área de aproximadamente 20.750 km².

Nós podemos também associar as formas de dissecação do terrenocom as altitudes. Então, identificamos, através das técnicas de geoprocessa-mento, um compartimento com cotas acima de 800 metros na região frontei-riça com a Venezuela, o sistema de montanhas Parima-Pacaraima. Neste

Page 11: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 53

compartimento serrano predominam as morfologias tipicamente denudacio-nais, com dissecação forte e controle estrutural, vales encaixados, serrasformando hogbacks, inselbergs e formações tabulares (tepuys), as quais estãoassociadas a antigas superfícies regionais de aplainamento. Um exemplodesta morfologia é o Monte Roraima. Um segundo compartimento, interme-diário, tem as cotas entre 200 a 800 metros, intercalado por morfologias típicasdenudacionais e agradacionais, prevalecendo a primeira. O sistema Parima--Pacaraima caracteriza-se por ser uma região instável do ponto de vista evo-lutivo da paisagem, atuando como frente de recuo de escarpa, rebaixando orelevo (dissecando-o) por atividade modeladora dos sistemas de drenagem,formando um complexo sistema de serras e morros, o que explica a origemdos inselbergs (morros testemunhos) desta região e dos tepuys. King (1956)e Latrubesse & Carvalho (2006) relatam este processo para a região de Goiás,descrevendo-o como zona de erosão recuante. Ocorrem também neste com-partimento intermediário as planícies fluviais incipientes, as quais têm suavecaimento em direção ao rio Branco. Um terceiro compartimento, agora compredominância de feições agradacionais, é caracterizado então pelos sistemaslacustres do lavrado e por algumas áreas abertas ao sul da região, que apre-sentam depósitos aluvionares e planícies fluviais bem desenvolvidas. Estasáreas ao sul atuam em cotas inferiores a 200 metros e são regiões estáveis,com dissecação fraca, caracterizadas por superfície aplainada pelas redes dedrenagens fluviais: Branco, Xeruini, Catrimani, Jufari e Jauaperi – os três úl-timos são rios que formam extensos terraços meandriformes (Figura 9).

7 COLINAS, LAGOS E ILHAS FLUVIAIS

No lavrado ocorre uma interessante feição geomorfológica comextensa superfície de aplainamento nas cotas entre 50-200 metros (74% dolavrado), formadas por colinas dissecadas – os tesos – originadas pela disse-cação da drenagem em torno dos sistemas lacustres interconectados por iga-rapés. A declividade destas áreas varia entre 0º-5º em relevo plano com baixaenergia, favorecendo o aporte de material sedimentar, basicamente arenoso,proveniente das áreas adjacentes elevadas e favorece a formação de lagos(Figura 10). A formação destes lagos está associada às águas pluviais e aolençol freático; em sua maioria são cabeceiras de canais de primeira ordemque dão origem aos buritizais. Predominantemente sazonais, esses lagos sãorasos (1-3 metros de profundidade) e influenciados pelas chuvas, que nestaregião é em torno de 1600 mm/ano, assim distribuídas: i) no período chu-voso (abril-setembro, no geral) é cerca de 1400 mm ao ano e 280 mm pormês, ii) no período seco (outubro-março, no geral) é em torno de 270 mm aoano e 45 mm por mês. É justamente no período chuvoso que se forma no

Page 12: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho54

lavrado um formidável sistema interconectando entre si lagos, igarapés erios, por uma área cerca de 800 km². Durante a estiagem a área dos lagos temcerca 130 km². Recentemente nós contabilizamos cerca de 840 lagos só aolongo da planície fluvial do rio Branco – aproximadamente 110 destes nocurso alto, 80 no trecho médio e 650 no curso baixo.

As ilhas fazem parte deste sistema e nós identificamos recente-mente 148 ilhas ao longo do rio Branco, através de imagens de satélite e ex-cursões de campo. Como os rios são dinâmicos, em 1975 havia 129 ilhas aolongo deste rio, portanto, um acréscimo de 19 ilhas em 38 anos. Um casointeressante é o complexo formado pelas ilhas Canhapucari na Praia Grandee São Pedro e São Bento no igarapé Surrão, em frente à cidade de Boa Vista.Este complexo com 7,76 km² está sendo anexado à margem esquerda do rioBranco a uma taxa de 16.705 m²/ano. No caso particular da ilha Canhapucari,esta tem se desenvolvido longitudinalmente, com perda lateral. Em 71 anoshouve um ganho de 155.240 m² de sedimentos, acréscimo de 25,75% de suaárea a uma taxa anual de 2,18 m² (Figura 11A-B).

Cabe aqui um comentário a respeito de ordem temporal de mudançasda paisagem. Esta interessante paisagem do sistema fluvial do rio Branco, en-volvendo as ilhas defronte a cidade de Boa Vista, é uma das mais dinâmicas deRoraima e está em constante mudança em escala anual. Algumas outras mudan-ças na paisagem estão na ordem de décadas, como as áreas urbanas, povoados, eseus entornos. Outras transformações paisagísticas são da ordem de milhares deanos, como as mudanças naturais da cobertura vegetal e feições do relevo.

8 AS DUNAS DE AREIAS BRANCAS E MARRONS

Essas formações dunares em Roraima ocorrem nos rios Xeruini,Catrimani e Água Boa do Univini, e também em diversas áreas de lavrado(Figura 12). No rio Xeruini, as dunas compõem a paisagem como depósitosinativos, aluvionares de paleomeandros no seu terraço, bem como depósitosativos da planície fluvial do rio. Nas regiões dos rios Catrimani e Univiniocorrem dunas parabólicas inativas, provavelmente originadas de antigosdepósitos aluvionares dos terraços remodelados pelo vento na direção NE-SW.Estes depósitos que formam dunas abrangem cerca de 730 km². Em algumasregiões de tesos do lavrado ocorrem também depósitos ativos arenosos – asareias marrons – dando aspecto de dunas modeladas por ação do fluxosuperficial de água, escoamento laminar, lembrando feições do tipo ripples,que são pequenas ondulações modeladas pelo fluxo lento em superfície rasasde água (Figura 12 D).

Page 13: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 55

A litologia do substrato rochoso e a topografia do relevo são essen-ciais para a formação de areias brancas (podzolização). A origem das areiasbrancas, sejam autóctones ou alóctones, é associada ao intemperismo (sapró-lito) de rochas cristalinas ou de arenitos. Estas rochas foram lixiviadas du-rante fases paleoclimáticas secas (glaciais), formando depósitos residuais dequartzo e feldspato, os quais podem ficar no local ou ser transportados paraoutros lugares. Processos eólicos também podem atuar na formação dos de-pósitos arenosos, por exemplo, nas campinas e campinaranas do rio Negro.São feições remodeladas pelo vento, formando dunas do tipo parabólica, cujaorientação geral é NE-SW. Alguns estudos como os de Ab’Saber (1982),Iriondo & Latrubesse (1994) e Carneiro-Filho et al. (2003) dão ênfase a essasfeições dunares e ocorrências das areias brancas.

Figura 2 Padrões de vegetação das áreas abertas ao norte daAmazônia: A – fronteira com a Venezuela, contato lavra-do com floresta (04°2’N, 61°03’W), B – vegetação daGran Sabana venezuelana, serras e morros, processosde ravinamento (04°50’N, 60°57’W), C – Serra da Memó-ria, vegetação arbustiva sobre campos com matacões etors (04°10’N, 60°57’W), D – ilhas de mata, igarapés comburitizais e lagos do lavrado (03°12’N, 60°57’W).

Page 14: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho56

Figura 3 Exemplos de unidades morfoestruturais de Roraima:1 – lavrado, 2 – matas altas, 3 – planícies de areiasbrancas.

Page 15: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 57

Figura 4 Tipos de planícies fluviais de Roraima: A – planície fluvialsobre relevo aplainado do lavrado, confluência dos riosUraricoera e Tacutu (03°1’N, 60°29’W), B – planície fluvialsobre relevo aplainado do lavrado, rio Mucajaí (02°36’N,60°54’W), C – planície fluvial pouco desenvolvida, rio Co-tingo (04°17’N, 60°32’W), D – planície fluvial pouco des-envolvida em relevo com forte controle estrutural, rio me-andriforme com sistemas lacustres de meandros abando-nados tipo oxbowls (04°56’N, 61°14’W).

Page 16: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho58

Figura 5 Padrões morfológicos de sistemas denudacionais e agra-dacionais: 1 – região do Monte Roraima, com dissecaçãomoderada (05°11’, N 60°49’W), 2 – forte dissecação econtrole estrutural, Serra Marari, norte de Roraima(04°16’N, 60°46’W), 3 – rio Uraricoera, dissecação fracacom predominância de morfologias agradacionais(03°19’N, 60°25’W), 4 – Serra da Lua, dissecação médiae forte, com controle estrutural, transição de morfologiasagradacionais e denudacionais (02°27’N, 60°28’W).

Page 17: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 59

Figura 6 Sistemas lacustres no lavrado: acima rio Surumu, abaixorio Tacutu.

Page 18: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho60

Figura 7 Classes altimétricas do relevo de Roraima.

Page 19: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 61

Figura 8 Sistemas geomorfológicos denudacionais e agradacionaise unidades associadas às áreas úmidas de Roraima.

Page 20: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho62

Figura 9 Perfis topográficos dos três compartimentos do relevo deRoraima: i) A a-a’ – borda norte do lavrado e áreas dosistema Parima, até a Venezuela, ii-iii) B b-b’, C c-c’- re-giões centrais do lavrado até a fronteira da Venezuela, in-cluindo áreas de mata, iv) D d’- corte do lavrado até asáreas abertas da Gran Sabana venezuelana.

Page 21: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 63

Figura 10 Lavrado: 1 – tesos, morfologias convexas, 2 – lagos cir-culares, 3 – igarapés associados a buritizais.

Figura 11 Complexo Surrão-Praia Grande, processo de soldamentoa montante, acreção lateral – planície de inundação (es-tabilização de barra arenosa: A) fotografia aérea do go-verno norte-americano obtida em 1943 e depositadas nabiblioteca do Inpa, B) imagem GeoEye obtida em 2011.

Page 22: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho64

Figura 12 Depósitos de areias brancas modelados por ação eólica efluvial em Roraima:A – Depósito inativo, aluvionar de paleomeandro, terraço

do rio Xeruini.B – Dunas parabólicas inativas, provável origem de anti-

gos depósitos aluvionares remodelados pelo vento(NE-SW), campos de dunas dos rios Catrimani-Univini.

C – Depósitos ativos na planície fluvial do rio Xeruini.D – Depósitos ativos arenosos (areias marrons) do lavra-

do, tesos, aspectos de dunas modeladas por açãoeólica em conjunto com fluxo superficial de água (po-lifásica).

9 REFERÊNCIAS

AB’SABER, A. N. A formação Boa Vista: significado geomorfológico e geoecoló-gico no contexto do relevo de Roraima. In: BARBOSA, R. I.; FERREIRA E. J. G.;CASTELLÓN, E. G. (Eds.). Homem, ambiente e ecologia no Estado de Roraima.Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia , 1997._____. Domínios morfoclimáticos e províncias fitogeográficas do Brasil. Orienta-ção, Universidade de São Paulo, Departamento de Geografia 3, 1967.

Page 23: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 65

_____. Os domínios de natureza no Brasil. Potencialidades paisagísticas. SãoPaulo: Ateliê Editorial, 2003._____. The paleoclimate and paleoecology of Brazilian Amazônia. In: PRANCE,G. T. (Ed.). Biological diversification in the tropics. New York, Columbia Uni-versity Press, 1982.ACAR, 1973. Território Federal de Roraima. Diagnóstico sócio econômico pre-liminar. Associação de Crédito e Assistência Rural do Território Federal de Rorai-ma – Serviço de Extensão Rural, Ministério do Interior.BARBOSA, O.; RAMOS, J. R. A. 1959. Território do Rio Branco. Aspectosprincipais da geomorfologia, da geologia e das possibilidades minerais de suazona setentrional. Departamento Nacional da Produção Mineral, Divisão de Geolo-gia e Mineralogia, Boletim 196, Rio de Janeiro 47p.BARBOSA, R. I.; NASCIMENTO, S. P.; AMORIM, P. F., SILVA, R.F. 2005. No-tas sobre a composição arbóreo-arbustiva de uma fisionomia das savanas de Roraima,Amazônia Brasileira. Acta Botanica Brasilica 19(2):323-329.BEIGBEDER, Y. 1959. La région moyenne du haut rio Branco (Brésil): Étudegeomorphologique. Université de Paris, Institut National de Recherches deL’Amazonie 254p. + Cartes.CARNEIRO-FILHO, A.; TATUMI, S. H.; YEE, M. 2003. Dunas fósseis naAmazônia. Ciência Hoje 32(191): 24-29.CARVALHO, C. M. 2009b. O lavrado da serra da lua em Roraima e perspectivaspara estudos da herpetofauna na região. Revista Geográfica Acadêmica 3(1):5-11.CARVALHO, T. M. Parâmetros geomorfométricos para descrição do relevo da Re-serva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, Manaus, Amazonas p. 3-17. In:Biotupé: Meio Físico, Diversidade Biológica e Sociocultural do Baixo Rio Negro,Amazônia Central. (Santos-Silva, E. N. & V. V. Scudeller, Orgs.). v. 2, Editora daUniversidade Estadual do Amazonas, Manaus, Amazonas, 2009a._____; CARVALHO, C. M. Interrelation of geomorphology and fauna of Lavradoregion in Roraima, Brazil – suggestions for future studies. Quaternary ScienceJournal 61(2):146-155, 2012b._____. Sistemas de informações geográficas aplicadas à descrição de habitats. ActaScientiarum 34:79-90, 2012a.CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1980.EGLER, W. A. Contribuição ao conhecimento dos campos da Amazônia. I. Os cam-pos do Ariramba. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi (Nova Série Botâni-ca), 4:1-36, 1960.EITEN, G. Delimitação do conceito de cerrado. Arquivos do Jardim Botânico doRio de Janeiro, 21:125-134, 1977._____. Natural Brazilian vegetation types and their causes. Anais da AcademiaBrasileira de Ciências, 64:35-65, 1992.FARAGE, N. As muralhas dos sertões: os povos indígenas no rio Branco e acolonização. São Paulo e Anpocs: Paz e Terra, 1991.

Page 24: paisagens e ecossistemas.pdf

Thiago Morato de Carvalho e Celso Morato de Carvalho66

GUERRA, A. T. Estudo geográfico do Território do Rio Branco. IBGE, Rio deJaneiro, 1957.HAFFER, J. Speciation in Amazonian forest birds. Science165:131-137, 1969.HEYER, W. R. Hyla benitzi (Amphia:Anura:Hylidae): First record for Brazil and itsbiogeographical significance. Journal Herpetology 28(4): 497-499, 1994.IRIONDO, M.; LATRUBESSE, E. A probable scenario for a dry climate in CentralAmazônia during the late Quaternary. Quaternary International 21:121-128, 1994.KING, L. C. Geomorfologia do Brasil Oriental. Revista Brasileira de Geografia18(2):1-147, 1956.LATRUBESSE, E.; CARVALHO, T. M. Geomorfologia. Goiás e Distrito Fede-ral. Superintendência de Geologia e Mineração – Série Geologia e Mineração 2,Governo do Estado de Goiás – Secretaria de Indústria e Comércio, 2006.MEGGERS, B. J. Environmental limitation on the development of culture. AmericanAnthropologist 56(3):801-824, 1954._____; CLIFFORD, E. A reconstituição da pré-história amazônica: algumas consi-derações teóricas. Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi 20:51-69, 1973.METZGER, J. P. O que é ecologia de paisagens. Biota Neotropica 1(1):1-9,2001.MORAIS, R. P.; CARVALHO, T. M. Cobertura da Terra e Parâmetros da Paisagemno Munícipio de Caracaraí – Roraima. Revista Geográfica Acadêmica 7(1):46-59,2013.MOREIRA, R. Marxismo e geografia: a geograficidade e o diálogo das ontologias.Geographia 6(11):21-37, 2004.NASCIMENTO, S. P. Aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos ocorridos noEstado de Roraima, Brasil, entre 1992 e 1998. Cadernos de Saúde Pública16(1):271-276, 2000._____. Ocorrência de lagartos no lavrado de Roraima (Sauria: Teiidae: Gekkonidae:Iguanidae: Polychrotidae: Tropiduridae: Scincidae e Amphisbaenidae), Brasil. Bo-letim do Museu Integrado de Roraima 4: 39-49, 1998._____; CARVALHO, C. M.; FARIAS, R. E. S. Os quelônios de Roraima. BiologiaGeral e Experimental 12(1):1-48, 2012.OLIVEIRA, A. I. Bacia do Rio Branco. Estado do Amazonas. Boletim do ServiçoGeológico e Mineralógico do Brasil 37:1-71, 1929.SANTILLI, P. Fronteiras da República: história e política entre os Macuxi no valedo rio Branco. Núcleo de História Indígena e do Indigenismo, Universidade de SãoPaulo-Fapesp, 1994._____. Pemongon Patá: território Macuxi, rotas de conflito. Unesp, 2001.SOUZA, A. F. Noções da geografia e história de Roraima. Gráfica Palácio Real,Manaus, Amazonas, 1969.TAKEUSHI, M. A estrutura da vegetação na amazônia. II. As savanas do norte daAmazônia. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, 7:1-14. 1960.

Page 25: paisagens e ecossistemas.pdf

Socioambientalismo de Fronteiras – v. III 67

VANZOLINI, P. E. Paleoclimas e especiação em animais da América do Sul tropi-cal. Estudos Avançados (6)15:41-65. 1992._____. Zoologia sistemática, geografia e a origem das espécies, pp214-238. In: Aevolução ao nível de espécie: répteis da América do Sul (Opera Omnia Paulo E.Vanzolini). Editora Beca – Fundação de Amparo do Estado de São Paulo, 2011.(Originalmente publicado por P. E. V. em 1970, Universidade de São Paulo, Insti-tuto de Geografia, Série Teses e Monografias 3:1-56)._____; CARVALHO, C. M. Two sibling and sympatric species of Gymnophthalmusin Roraima, Brasil (Sauria:Teiidae). Papéis Avulsos de Zoologia 37: 173-226. 1991._____; WILLIAMS,E. E. South American anoles: the geographic differentiation andevolution of the Anolis chrisolepis species group (Sauria, Iguanidae). Arquivos deZoologia 19(1-4):1-298. 1970.VELOSO, H. P.; GÓES-FILHO, L.; LEITE, P. F.; BARROS-SILVA, S.; FERREIRA,H. C.; LOUREIRO R. L.; TEREZO, E. F. M. IV – Vegetação – As regiões fitoeco-lógicas, sua natureza e seus recursos econômicos – Estudo fitogeográfico. In: Proje-to Radambrasil – Folha NA.20 Boa Vista e parte das folhas NA.21 Tumucumaque,NB.20 Roraima e NB.21 – DNPM, Rio de Janeiro, 1975.WEIGEL, P. Educação para que ambiente? Desafios teóricos para a educaçãoambiental na Amazônia. Inpa, 2009.