Patologia das Glândulas Salivares e Patologia Oral - FMUPusers.med.up.pt/cc04-10/biopatseminario/18_PatologiaOral.pdf · 1/16 A patologia das glândulas salivares é relativamente

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    A patologia das glndulas salivares relativamente rara, mas bastante

    especfica, enquanto que a patologia oral muito frequente. Interessa sobretudo

    aos alunos de Medicina Dentria, mas no exclusivamente.

    CASO 1 Jovem de 17 anos com ndulo da gengiva

    junto da comissura labial (patologia muito

    frequente). O aspecto da leso o que se

    observa na figura 1. Qual o seu diagnstico?

    Vocs viram uma leso destas nas primeiras

    aulas prticas de Neoplasias quando discutimos

    hiperplasia (aula prtica n13).

    H uma expanso do tecido conjuntivo e um revestimento epitelial com

    hiperplasia papilfera.

    O diagnstico de fibroma da mucosa gengival ou, mais correctamente,

    hiperplasia fibroepitelial. No propriamente um tumor do tecido fibroso; uma

    hiperplasia reactiva quer do epitlio, quer do tecido conjuntivo. Resulta de

    traumatismo ou da utilizao de dentaduras.

    Qualquer traumatismo localizado e persistente da mucosa oral desperta uma

    resposta hiperplsica reactiva, resultando no aparecimento destes ndulos.

    CASO 2 As figuras 2 e 3 representam o aspecto macroscpico da face com uma

    leso sub-auricular e o aspecto histolgico de uma leso localizada na

    glndula salivar subjacente.

    FFaaccuullddaaddee ddee MMeeddiicciinnaa ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee ddoo PPoorrttoo

    1188 SSeemmiinnrriioo ddee BBiiooppaattoollooggiiaa

    Patologia das Glndulas Salivares e Patologia Oral

    Prof. Dra. Leonor David 1/3/2007

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    Est a ver um processo inflamatrio, degenerativo ou neoplsico?

    Poder ser mais do que um tipo de leso?

    A face apresenta na regio sub-auricular uma leso

    com um aspecto necrtico, amarelado e provavelmente

    existe um trajecto fistuloso. uma inflamao com

    supurao.

    Esta figura representa um ducto intercalar excretor

    de uma glndula salivar com material parcialmente

    calcificado. A isto chamamos litase da glndula salivar,

    sendo uma doena degenerativa.

    A litase das glndulas salivares tem vrias causas, nomeadamente:

    Obstruo dos ductos salivares com acumulao do produto de secreo

    que calcifica;

    Alteraes metablicas da prpria saliva que pode calcificar.

    De qualquer forma, uma doena degenerativa qual se associou uma

    complicao infecciosa que deu origem a um abcesso que supurou para a face.

    Portanto, temos dois tipos de leses (inflamatria e degenerativa) em que uma

    consequncia da outra.

    Qual ser a etiologia da leso?

    A etiologia a litase, cuja causa desconhecida (poder ter sido obstruo,

    mas s vezes no determinada), mas foi o fenmeno que originou o processo

    infeccioso. uma patologia que di imenso: cada vez que as pessoas produzem

    saliva sentem uma dor muito intensa.

    Qual o seu diagnstico para este caso?

    O diagnstico uma litase da glndula partida, sobrepondo-se, como

    consequncia, uma infeco secundria com um processo inflamatrio.

    CASO 3 Uma mulher de 45 anos queixa-se de ter boca seca (figura 4). O que

    que observa na imagem (isto , o que que esta lngua tem de anormal)?

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    A secura no de fcil visualizao, mas existem fissuraes

    avermelhadas, porque a lngua est seca devido a uma patologia das

    glndulas salivares subjacente.

    Foi removida uma glndula salivar que tinha o

    aspecto macroscpico documentado na figura 5.

    Qual (ou quais) a(s) doena(s) que (so) mais

    provvel(eis) neste contexto e com este aspecto

    macroscpico?

    O aspecto macroscpico tpico de uma glndula excrina seja pncreas, seja

    glndula salivar, de um tecido lobulado.

    Neste caso, a glndula deixou de ter a estrutura lobular. Tem um aspecto

    homogneo, compacto e esbranquiado, havendo o apagamento da sua estrutura

    original.

    Doenas em que as glndulas apresentam este aspecto macroscpico (informao

    adicionada de Robbins, 7 edio):

    Sndrome de Sjgren;

    Artrite reumatide;

    Lpus eritematoso sistmico;

    Polimiosite;

    Esclerodermia;

    Vasculite;

    Doena mista do tecido conjuntivo;

    Tireoidite.

    O aspecto histolgico da leso documentada

    na figura 6 compatvel com a sua hiptese de

    diagnstico? Como se chama a estrutura

    assinalada com a seta? E a estrutura assinalada

    com uma estrela?

    H um imenso infiltrado inflamatrio linfocitrio na glndula salivar.

    A seta representa o centro germinativo de um folculo linfide.

    A estrela assinala um ducto salivar que tem no prprio epitlio uma infiltrao

    por linfcitos.

    O diagnstico desta doena Sndrome de Sjgren. o exemplo de uma

    inflamao da glndula salivar de causa auto-imune.

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    O que vimos antes foi um exemplo de uma inflamao por bactrias, causando

    sialadenite bacteriana secundria a sialolitase.

    Uma das formas mais frequentes de inflamao das glndulas salivares

    provocada por uma infeco vrica a papeira, sendo causada pelo paramixovrus.

    A complicao desta patologia na vida adulta a infertilidade.

    CASO 4 As figuras 7, 8, 9 e 10 representam imagens de neoplasias das

    glndulas salivares. Uma um adenoma pleomrfico, outra um

    carcinoma mucoepidermide, outra um carcinoma adenide cstico e

    outra um tumor de Warthin. Qual qual?

    O que que se v assinalado com uma estrela na figura 9?

    Analisando a nomenclatura dos tumores, esperaramos que, numa glndula

    salivar, um tumor benigno fosse um adenoma e um tumor maligno fosse um

    adenocarcinoma; o que temos visto nos rgos glandulares.

    No entanto, nestes casos, estes quatro nomes no correspondem aquilo que

    esperaramos numa glndula. H adenoma, mas tem uma adjectivao:

    pleomrfico, porque especial. O tumor de Warthin uma entidade que s aparece

    nas glndulas salivares. Depois h dois carcinomas: mucoepidermide e adenide

    cstico

    Isto quer dizer que nas glndulas salivares h neoplasias que no so os

    prottipos daquelas dos rgos glandulares.

    Adenoma pleomrfico

    Esta diferenciao queratinizada faz lembrar um tumor mucinoso do clon cheio

    de lagos de muco, mas isto no muco: so protenas da matriz tambm muito

    glicosiladas, mas no so mucinas. Descrevemos isto, no como mucide, mas

    Ndulo bem limitado (tumor)

    Cartilagem

    Diferenciao queratinizada

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    como ninhos epiteliais que produzem muita matriz extracelular de aspecto mixide

    ( um tumor com estruturas epiteliais, mas tambm tem aspectos estranhos que

    so do tipo mesenquimatoso).

    uma leso muito caracterstica das glndulas salivares e h alguma evidncia

    de que a clula de origem seja de tipo mioepitelial. O mioepitlio tem

    caractersticas de msculo e de epitlio, ou seja, por exemplo, tem actina e

    queratina. So as clulas que esto volta das glndulas e que contraem para a

    excreo de muco.

    Tumor de Warthin

    Mais uma vez, uma neoplasia que no surge noutro local para alm das

    glndulas salivares, mas podem surgir tumores semelhantes.

    O componente epitelial tem um aspecto muito caracterstico que j foi visto na

    tiride: clulas ricas em mitocndrias com um citoplasma abundante e muito

    eosinfilo tireoidite de Hashimoto.

    O tecido linfide, provavelmente, chamado por alguma caracterstica das

    clulas epiteliais que estimulante para os linfcitos.

    Carcinoma adenide cstico

    Tumor bem delimitado

    Componente epitelial Grande quantidade de linfcitos

    Leso localizada no

    palato

    Aspecto de um crivo; as clulas tm pouca atipia e poucas mitoses

    Tronco nervoso; a neoplasia est a invadir o perineuro

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    O sufixo -ide significa parecido com e adenoma designa glndula. Isto so

    estruturas que parecem glndulas, mas no h clulas volta a produzirem muco

    como esperaramos de uma glndula autntica.

    cstico porque forma microcistos.

    Carcinoma mucoepidermide

    Portanto, so quatro neoplasias:

    Mais frequentes das glndulas salivares;

    Diferentes das que encontramos na maior parte dos rgos glandulares;

    Com nomes incomuns.

    Qual(ais) destas (so) neoplasia(s) benigna(s) e qual(ais) (so)

    maligna(s)? Qual(ais) destas (so) mais frequente(s) em glndulas

    salivares minor e qual(ais) destas (so) mais frequente(s) em glndulas

    salivares major?

    NEOPLASIA CLASSIFICAO GLNDULAS SALIVARES

    Adenoma pleomrfico* Benigno Major

    Tumor de Warthin Benigno Major

    Carcinoma adenide cstico*1 Maligno Minor

    Carcinoma mucoepidermide Maligno Minor

    * O adenoma pleomrfico benigno, embora seja um tumor que recidiva com

    muita facilidade porque frequentemente rodeado por microndulos, apesar de ser

    Diferenciao pavimentosa escamosa

    Grande quantidade de muco produzido no interior

    de glndulas ou para grandes lagos de muco

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    bem delimitado. uma leso de indivduos novos e afecta a glndula partida que

    um rgo glandular de cirurgia difcil j que tem o nervo facial na sua substncia.

    *1 Os carcinomas adenides csticos so muito pequenos e, geralmente, esto

    numa glndula salivar minor. Se no forem completamente removidos, recidivam e

    metastizam.

    GLNDULAS NEOPLASIAS

    Partida Benignas (mais frequentes):

    Submaxilar Adenoma pleomrfico

    Minor Tumor de Warthin

    GLNDULAS NEOPLASIAS

    Partida Benignas

    Submaxilar

    Minor Malignas

    Um tumor numa glndula salivar minor est espalhado: pode estar no palato,

    na bochecha, no pavimento da boca, etc. Se virem uma tumefaco situada no

    local de uma glndula salivar minor tm que saber que o mais provvel que seja

    maligno. Isto importante e no raro.

    CASO 5 A figura 5 mostra o aspecto macroscpico de uma

    leso do lbio e respectivo aspecto histolgico. Que

    tipo de leso que est a observar (inflamatria,

    degenerativa, neoplsica,)?

    uma leso com um componente inflamatrio formado

    por muitos linfcitos. Tem outro constituinte que no

    inflamatrio, degenerativo ou neoplsico, mas sim

    hiperplsico: h uma hiperplasia muito acentuada da mucosa

    com produo de uma camada crnea denominada

    paraqueratose (camada queratinizada com clulas nucleadas). Portanto, vemos

    hiperplasia da mucosa com alguma inflamao.

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    Qual a etiologia mais provvel?

    Tabaco;

    Queimaduras de cachimbo;

    Traumatismos.

    Que atitude deveria tomar?

    O que que dissemos, em geral, do risco de malignizao de uma hiperplasia?

    Era baixo.

    Na maior parte dos casos, estas hiperplasias vo regredir se houver uma causa

    traumtica, mas noutros isso no acontece. De certa forma, podemos dizer que

    estas hiperplasias da mucosa oral so potencialmente mais perigosas, porque

    nestas leses j h algumas alteraes genticas.

    A atitude depende da possibilidade de remover a causa do traumatismo, como

    no caso do tabaco, caso seja identificada.

    CASO 6 Um homem de 60 anos apresenta uma lcera

    da lngua h 15 dias. Na figura 12 esto

    documentados os aspectos macroscpico e

    histolgico da leso. Qual o seu diagnstico?

    Aqui tm a neoplasia que esperamos: vemos um

    epitlio pavimentoso e nestes casos as neoplasias

    denominam-se por carcinomas epidermides.

    Uma chamada de ateno: os carcinomas da boca no so raros. Muitas vezes

    manifestam-se como lceras e inaceitvel que deixem andar uma lcera na

    mucosa oral durante muito tempo sem a tratarem, isto , os 15 dias so um tempo

    limite. Todos j tiveram aftas (lceras da mucosa oral) que so, na maior parte, de

    causa imunolgica associada a perturbaes digestivas ou outras respostas

    imunolgicas localizadas, mas passa ao fim de 1,5 semanas. Se tiverem um doente

    com uma lcera da mucosa oral que no passou ao fim de 15 dias, faam uma

    interveno sria. Toda a cirurgia da face extremamente deformante. Por isso,

    no podem esperar muito tempo para intervir. Estas neoplasias tm uma

    capacidade de disseminao enorme.

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    A figura 13 mostra a expresso imunocitoqumica anormal para a

    protena p53 observada nas clulas tumorais. Acha que esta alterao

    pode ser a causa da neoplasia?

    Havia nesta neoplasia (e em muitas outras da boca)

    expresso anormal da p53. A p53 est a marcar o

    ncleo onde funciona como factor de transcrio. H

    um grande aumento da p53 que pode ser devido a

    vrias razes, por exemplo:

    H uma alterao estrutural do gene que faz

    com que a transcrio da protena respectiva seja muito aumentada. Por

    exemplo, discutimos o modelo das translocaes nos linfomas onde h um

    gene que translocado para a regio promotora das imunoglobulinas,

    havendo uma transcrio anormal. Ento, tm aumento da protena, porque

    h uma mutao do gene que a estabiliza. Consequentemente, a protena

    no degradada ao ritmo normal alterao por mecanismo gentico;

    O HPV destri a p53 usando um mecanismo diferente. As protenas do

    prprio vrus inactiva a protena sem que haja mutao inactivao

    epigentica.

    No caso da p53, a situao mais frequente para haver um aumento da sua

    expresso nas clulas a mutao de um alelo (1 hit) e perda do segundo alelo

    (2 hit). Assim, a mutao resulta no aumento da quantidade de protena, porque

    estabiliza-a, no sendo degradada a ritmo normal.

    Neste caso foi encontrada uma mutao no gene da p53, que gera uma

    substituio no aminocido 273.

    Na figura 14 esto representadas

    as frequncias das mutaes

    conhecidas. Como interpreta a

    importncia da mutao

    observada neste caso?

    H uma substituio no

    aminocido 273 do domnio 5 que

    a regio das sequncias da p53 que

    promove a ligao da protena ao

    DNA.

    Se a funo principal da p53

    deslocar-se para o ncleo, ligar-se ao DNA e promover uma srie de mecanismos

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    de proteco celular, quando h leses que tornam o domnio de ligao ao DNA

    inoperacional, surgem mutaes lesivas do papel normal da protena. As mutaes

    que surgem noutras regies da protena so menos relevantes.

    Na figura 15 pode ver a

    frequncia de mutaes da

    p53 em diversos tipos de

    cancro. Como explica que o

    pulmo, clon, cabea e

    pescoo, ovrio, bexiga e pele

    sejam os rgos mais

    frequentemente afectados por

    mutaes?

    So os rgos mais expostos

    aos carcinognios indutores das

    mutaes da p53, com excepo do ovrio (a prof. Leonor referiu que no encontrou uma

    explicao para a elevada incidncia de cancro neste rgo).

    A inactivao da p53 no colo do tero, como j vimos, especial. Est

    envolvida, no por um mecanismo estrutural do gene, mas por uma inactivao

    mediada por protenas do HPV.

    O papel da p53 na manuteno da integridade do genoma

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    Robbins & Cotran, Patologia, 7 edio:

    As principais actividades funcionais da protena p53 so a paragem do

    ciclo celular e o incio da apoptose em resposta leso do DNA. A p53

    chamada para aplicar traves de emergncia quando o DNA lesado pela

    radiao, luz UV ou agentes qumicos mutagnicos e tambm em resposta a

    alteraes no potencial celular de oxirreduo, hipxia, senescncia e outras

    condies de stress que podem no atingir directamente o DNA. Seguindo-se a

    leso do DNA, existe um rpido aumento dos nveis de p53. Ao mesmo tempo,

    cnases como a protena cnase dependente do DNA e ATM (ataxia-telangiectasia

    modificada) so activadas em resposta leso do DNA. Estas enzimas fosforilam a

    p53 e a protena activada, sendo capaz de se ligar ao DNA para se tornar um

    factor de transcrio activo. A p53 estimula a transcrio de diversos genes que

    medeiam a paragem do ciclo celular e a apoptose. A paragem do ciclo celular

    induzida pela p53 ocorre tardiamente na fase G1 e causada pela transcrio

    dependente de p53 do CDK inibidor p21. Esta pausa no ciclo celular bem-vinda

    porque d s clulas tempo suficiente para reparar a leso do DNA induzida pelo

    agente mutagnico. Sob condies fisiolgicas, a p53 apresenta uma semi-vida

    curta (cerca de 20 minutos) devido protelise mediada pela ubiquitina; portanto,

    ao contrrio do RB, ela no vigilante do ciclo celular normal. A p53 tambm

    auxilia directamente no processo de reparao ao induzir a transcrio de GADD45

    (paragem do crescimento e leso do DNA), que codifica uma protena envolvida na

    reparao do DNA. Se a leso do DNA for reparada com xito, com perspiccia, a

    p53 activa a MDM2, cujo produto liga-se p53 e degrada-a, suspendendo deste

    modo o bloqueio celular. Se durante a pausa na diviso celular, a leso do DNA no

    puder ser reparada com sucesso, a p53 normal, talvez como ltimo esforo, elimina

    a clula atravs da activao dos genes indutores da apoptose, tais como o BAX.

    Este liga-se e antagoniza a protena inibidora da apoptose, a BCL-2; assim, o BAX

    promove a morte celular.

    Em resumo, a p53 liga a leso celular com o reparo do DNA, com a paragem do

    ciclo celular e com a apoptose. Em resposta leso do DNA, ela fosforilada por

    genes que percebem a leso e esto envolvidos na reparao do DNA. A p53 ajuda

    na reparao do DNA por causar uma paragem em G1 porque induz os genes de

    reparao do DNA. Uma clula com DNA danificado que no pode ser corrigido

    dirigida pela p53 para a apoptose. Tendo em vista estas actividades, a p53 foi

    adequadamente denominada por guardio do genoma. Com uma perda

    homozigtica da p53, a leso do DNA no corrigida, as mutaes fixam-se nas

    clulas em diviso e a clula transforma-se numa via que leva inevitavelmente

    transformao maligna.

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    CASO 7 Num outro caso clnico, de um homem de 73 anos, fumador de 40

    cigarros/dia, alcolico, observou-se uma leso do lbio documentada na

    figura 16. Como se designa

    esta leso?

    O nome desta leso displasia

    da mucosa oral. H uma perda da

    maturao (diferenciao) do

    epitlio com aparecimento de

    ncleos grandes, algumas mitoses

    e est associado a muita

    inflamao. uma leso pr-

    neoplsica e muitas vezes j

    neoplsica (com alteraes genticas importantes), mas est confinada mucosa.

    Em geral, no originam leses brancas, mas sim vermelhas, porque a mucosa

    fica mais fina e h imensa inflamao com angiognese. Portanto, tm que se

    preocupar mais com as leses vermelhas eritroplasia - da mucosa oral do que

    com as brancas leucoplasia.

    A leso foi retirada na totalidade. Dois anos depois o mesmo doente

    tem uma leso de displasia na bochecha. Acha que este tipo de situao

    frequente? Acha que se trata de uma recidiva da mesma leso?

    Esta situao muito frequente. Uma pessoa que tenha uma leso neoplsica

    da mucosa oral (displasia ou carcinoma in situ) tem 3-7% de probabilidade de

    sofrer uma segunda neoplasia em cada ano que passa. Poderia ser uma recidiva

    distncia, ou seja, a mucosa estaria toda cancerinizada, sendo uma segunda

    neoplasia.

    Esta pessoa que tem uma displasia, um cancro da boca, deve-se ao seu

    ambiente: se fuma muito, bebe abundantemente e abusa dos enchidos h uma

    agresso de todo o campo oral.

    s vezes h leses destas com o mesmo tipo de comportamento, mas no

    detectamos na histria clnica uma agresso bvia. Esse sujeito foi provavelmente

    submetido, numa fase precoce da sua vida, num momento em que j no

    conseguimos localizar, a uma forte agresso daquela mucosa. Portanto, acontece

    em muitos daquela mucosa alteraes genticas que so susceptibilizantes para o

    aparecimento de segundas e terceiras alteraes, levando a uma nova neoplasia.

    Este tipo de situao frequente.

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    Uma pessoa que tenha uma leso de displasia ou de neoplasia da cabea e

    pescoo tem que ser seguida anualmente para que se faa um screening e um

    diagnstico precoce de outras neoplasias. Em termos prticos, isto uma

    mensagem muito importante.

    Neste caso, provavelmente, no uma recidiva, mas uma segunda leso que

    resulta do chamado field-defect de carcinognese que aquele indivduo foi sujeito.

    Isto tambm fcil de perceber com o caso da bexiga: se a urina tem txicos,

    toda a sua mucosa est submetida a um efeito importante.

    CASO 8 Doente do sexo masculino de 14 anos, apresenta mltiplos cistos

    maxilares que esto documentados macroscopicamente na figura 17A e

    histologicamente na figura 17B. Qual o seu diagnstico?

    Situao destrutiva da maxila Cavidades revestidas por um epitlio com uma

    queratinizao superficial

    O diagnstico de queratocisto, tendo duas origens fundamentais:

    A mais frequente de causa inflamatria. Quando existem cries

    inflamadas, a inflamao dissemina-se pelos canais dos dentes at raiz

    onde existem vestgios embrionrios do epitlio odontognico.

    Encontram-se adormecidos e, quando coexiste uma inflamao, h uma

    induo pelas citocinas do processo inflamatrio que fazem crescer

    aquele epitlio e do origem a um cisto. Ento, a maior parte dos cistos

    da maxila associam-se a dentes doentes, tendo designaes de acordo

    com a sua localizao: periapicais ( volta do pice), residuais (no local

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    onde previamente havia um dente podre), etc. A nvel histolgico, tm

    imensa inflamao e um epitlio muito fino e pouco evidente;

    H cistos que no necessitam de um estmulo inflamatrio para crescer.

    So restos embrionrios do epitlio que se encontram na maxila que, por

    estmulos intrnsecos, comeam a crescer. Um deles, e o mais

    importante, o queratocisto uma vez que ocasiona leses destrutivas.

    Nesta situao no temos cistos espordicos e isolados; so cistos que

    surgem num contexto de um sndrome: sndrome de Gorlin,

    caracterizado por mltiplos cistos do tipo queratocisto associados a

    outros gneros de tumores, sobretudo carcinomas da pele. H quem

    diga que isto um tumor cstico em vez de um cisto. Os queratocistos

    so muitas vezes leses isoladas, mas quando so mltiplos devemos

    pensar em quadros geneticamente condicionados com outras

    manifestaes associadas.

    Quando vemos aquilo que parece ser um cisto na maxila, devemos pensar

    primeiro que um cisto, mas no podemos excluir que se trata de um tumor cstico.

    muito semelhante a um cisto banal, mas surge, em algumas zonas, uma

    proliferao epitelial especial que tem caractersticas do epitlio que forma os

    dentes, ou seja, epitlio ameloblstico. Sendo uma situao muito tranquila,

    suficientemente distinta do epitlio do cisto banal para chamarmos de

    ameloblastoma (tumor de ameloblastos) que pode recidivar, pode destruir a maxila.

    CASO 9 Leso mal delimitada, electron-densa, associada a dente molar incluso

    em rapaz de 13 anos. O aspecto macroscpico

    da leso est documentado na figura 18. Qual

    o diagnstico mais provvel?

    Isto um odontoma que um tipo de

    hamartoma, pois forma estruturas fora do stio

    habitual e mal organizadas.

    Observamos um macio de vrios dentes, cada

    um deles com um aspecto quase perfeito e, histologicamente, muito semelhante

    a um dente normal: tem folculos dentrios, epitlio ameloblstico, dentina, polpa

    dentria,

    uma leso mal formativa que induziu a produo de dentes de um modo

    desorganizado.

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    O ameloblastoma e o odontoma so as leses tumorais mais frequentes da

    maxila. H muitas mais, mas so raras.

    TERMOS DO GLOSSRIO RELACIONADOS COM O SEMINRIO Organelos/Clulas/Tecidos/rgos/Localizaes Anatomia normal

    Boca;

    Glndulas salivares;

    Lbio.

    Microrganismos/Outros agentes agressores

    lcool;

    Carcinognios;

    HPV (Human Papilloma Virus);

    Tabaco.

    Mecanismos/Leses/Mediadores dos processos degenerativos,

    inflamatrios e neoplsicos

    Apoptose;

    Calcificao;

    Carcinognese;

    Expresso aumentada (overexpression);

    Fosforilao;

    Hiperplasia;

    Infeco(es);

    Leso degenerativa;

    Leso inflamatria;

    Leso neoplsica;

    Metastizao;

    Mutao(es);

    Restrio em G1.

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    Genes/Produtos de genes/Bloqueadores de genes/Marcadores

    celulares e extracelulares

    ATM (Ataxia Telangiectasia Mutated);

    BAX;

    BCL-2 (B Cell Lymphoma);

    Factor(es) de transcrio;

    Gene(s) supressor(es) tumoral(ais);

    Mdm2;

    p53;

    p53 mutado(a).

    Neoplasias/Leses neoplasiformes/Leses precursoras/Leses pr-

    malignas

    Adenoma pleomrfico;

    Carcinoma adenide cstico;

    Carcinoma mucoepidermide;

    Cisto(s);

    Displasia;

    Fibroma;

    Hiperplasia;

    Leucoplasia;

    Neoplasia benigna;

    Neoplasia maligna;

    Tumor de Warthin.

    Doenas/Sndromes

    Doena auto-imune;

    Doena neoplsica;

    Sndrome de Sjgren.

    Snia Marina Rocha

    Turma 4