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FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ ENGENHARIA CIVIL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES Anílson Capello Erick Leonardo Barros Rocha Ivo Felipe Souza Rafael Melato Sabrina R.G.G.Scarelli

PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

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Page 1: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ

ENGENHARIA CIVIL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

Anílson Capello

Erick Leonardo Barros Rocha

Ivo Felipe Souza

Rafael Melato

Sabrina R.G.G.Scarelli

JUNDIAÍ

2010

Page 2: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Anílson Capello

Erick Leonardo Barros Rocha

Ivo Felipe Souza

Rafael Melato Pereira

Sabrina Rodrigues Gonçalves Garcia Scarelli

PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso Engenharia Civil da Faculdade Anhanguera de Jundiaí, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Engenheiro Civil

Orientador: Prof.ª Maria Alice Amado Gouveia Venturini

JUNDIAÍ

2010

Page 3: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ

ENGENHARIA CIVIL

Anílson Capello

Erick Leonardo Barros Rocha

Ivo Felipe Souza

Rafael Melato Pereira

Sabrina Rodrigues Gonçalves Garcia Scarelli

PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

APROVADO EM ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________

MARIA ALICE AMADO GOUVEIA VENTURINI – ORIENTADORA

______________________________________________________________

NOME DO PROFESSOR – EXAMINADOR

______________________________________________________________

NOME DO PROFESSOR – EXAMINADOR

Page 4: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Dedicamos este trabalho aos nossos pais e

familiares que sempre estiveram conosco nos

encorajando a fazer o nosso melhor, mesmo

dentre as dificuldades encontradas no

desenvolvimento e elaboração deste trabalho.

Page 5: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Prof.ª Maria Alice pela atenção e orientação dada ao nosso trabalho,

pelo total empenho em fornecer todas as informações necessárias ao

desenvolvimento de nossa pesquisa.

Nossos agradecimentos também às empresas as quais trabalhamos, que sempre

que necessário nos orientava a respeito do tema abordado e disponibilizando-nos

tempo para a elaboração do trabalho.

Também agradecemos a todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente

para o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso e não foram aqui

citadas.

Page 6: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

A razão pela qual algumas pessoas acham tão

difícil serem felizes é porque estão sempre a

julgar o passado melhor do que foi, o presente

pior do que é e o futuro melhor do que será.

Marcel Pagnol

Page 7: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

CAPELLO, AnÍlson; ROCHA, Erick Leonardo Barros; SOUZA, Ivo Felipe; PEREIRA,

Rafael M.; SCARELLI, Sabrina Rodrigues Gonçalves Garcia. Patologia das

Fundações. Jundiaí-SP: Curso de Engenharia Civil. Faculdade Anhanguera de

Jundiaí, 2010. 116 p. Trabalho de Conclusão de Curso.

RESUMO

Identificar as patologias das fundações nem sempre é possível no momento do

projeto, devido a falhas diversificadas que vão desde a investigação do subsolo ao

uso de material inadequado àquele tipo de edificação. Porém, a identificação destas

patologias precedente a execução das fundações é fundamental para o seu

desempenho, segurança e durabilidade da edificação que está interagindo com a

fundação. As situações em que aparecem as patologias das fundações evidenciam

a falta de controle, falhas diversificadas e projetos e investigações inadequados.

Com isto, se observou a necessidade de maior atenção nesta fase da construção

devido às situações de risco que podem submeter às edificações e alto custo de

manutenção corretiva. Os trabalhos nessa área ainda são muito restritos e

confidenciais, pois geralmente são ligados a falhas construtivas, portanto tem-se o

receio de divulgá-los. Este trabalho tem por objetivo demonstrar as principais causas

relacionadas às patologias de fundações, assim como demonstrar como podem ser

evitadas, reduzindo o custo final da obra e aumentando sua confiabilidade.

Palavras chave: PATOLOGIA, FUNDAÇÃO, FALHA.

Page 8: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

ABSTRACT

Identify pathologies of foundations is not always possible at the time of the project

due to failure varied ranging from the investigation of the use of subsoil material

inappropriate for the type of building. However, identifying these conditions in

advance to the implementation of the foundations is critical to the performance,

safety and durability of the building that is interacting with the foundation. Situations

that appear in the foundations pathologies show that the lack of control failures,

diverse projects and investigations are inadequate. Because of this, is noted that

there is a need of a higher attention in the phase of construction due to the risk

situations that may refer to buildings and high cost of corrective maintenance. The

works in this area are very restricted and confidential because they generally are

linked to construction faults, so there is the precaution to not turn them public. This

paper aims to demonstrate the main causes of the pathologies in the foundations, as

well as demonstrate how they can be avoided by reducing the final cost of the work

and increasing their reliability.

Keywords: PATHOLOGIE, FOUNDATION, FAILURE

Page 9: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Fluxograma das etapas do projeto e possíveis causas de

patologias 21

FIGURA 2 – Sobreposição de tensões – fundações superficiais 24

FIGURA 3 - Estacas danificadas no momento da cravação 31

FIGURA 4 – O concreto com baixa trabalhabilidade causou a descontinuidade

da seção em estaca Strauss 33

FIGURA 5 - Influência da permeabilidade do concreto no fator a/c 35

FIGURA 6 – Exemplos de estaca de concreto com degradação relacionada a

ataque de sulfato 39

FIGURA 7 – Taxas de corrosão de zonas de estacas de aço em ambiente

marinho

FIGURA 8 – Exemplo de aplicação de estaca metálica parcialmente cravada,

em água doce muito poluída

41

42

FIGURA 9 - a) Estrutura provisória retirada, com estacas de madeira à vista; b)

casa em região ribeirinha 43

FIGURA 10 – Estacas de uma antiga ponte de madeira, com danos causados

pela degradação 44

FIGURA 11 – Influência das condições locais na degradação e ataque à

estacas 45

FIGURA 12 – Fissuras tipicamente causadas por recalques de pilares internos 45

Page 10: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

FIGURA 13 – Fissuras causadas por recalque de fundação dos pilares das

extremidades 46

FIGURA 14 – A profundidade da investigação foi insuficiente para determinar o

tipo correto e fundação 47

FIGURA 15 – Trincas ocasionadas pela presença de raízes no solo 48

FIGURA 16 – Extravasamento de água em solos porosos colapsíveis com

recalque em reservatório sobre fundações superficiais (Carazinho-RS); a)

desenho esquemático; b) fotos 49

FIGURA 17 – Ocorrência de matacão, apoiando a estaca de forma insegura 50

FIGURA 18 – Comprimento excepcional de estacas esbeltas causadas pelo

desvio de verticalidade; a) ocorrência de matacões; b) ocorrência de horizonte

de rocha inclinado 50

FIGURA 19 – Níveis diferentes de carregamento sem juntas de dilatação 51

FIGURA 20 – Esforços não equilibrados 52

FIGURA 21 – Armadura de espera para bloco de fundação insuficiente 53

FIGURA 22 – Estacas apoiadas em solo resistente sobre solo mole 69

FIGURA 23 – Fundação submetida a esforços horizontais 70

FIGURA 24 – Atrito negativo 70

FIGURA 25 – Condições geométricas do terreno 71

FIGURA 26 – Modelo de cone de arrancamento 71

FIGURA 27 – Tração de grupo de estacas 72

Page 11: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

FIGURA 28 – Flambagem de estacas 72

FIGURA 29 – Comprimento de flambagem real 72

FIGURA 30 – Bloco de uma fundação 76

FIGURA 31 – Bloco tronco de cone e escalonado 77

FIGURA 32 - Transferência das cargas da estrutura ao bloco de fundação 77

FIGURA 33 - Sapata isolada 78

FIGURA 34 - Sapata corrida 79

FIGURA 35 - Sapata associada 79

FIGURA 36 - Sapata alavancada 80

FIGURA 37 - Transferência das cargas da estrutura para fundação em radier

FIGURA 38 – Escavação mecânica de tubulão a céu aberto 81

FIGURA 39 - Execução de um tubulão a ar comprimido com camisa de

concreto 83

FIGURA 40 - Cravação de estaca pré-moldada em concreto armado com bate-

estaca 85

FIGURA 41 - Estacas pré-moldadas utilizadas como elemento de fundação 85

FIGURA 42 - Cravação de estacas de madeira 86

86

Page 12: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

FIGURA 43 – a)Trilhos como elementos de fundação – peças simples; b)

Trilhos como elementos de fundação – peças compostas

FIGURA 44 – Execução de estacas tipo Franki 88

FIGURA 45 – Execução de estacas hélice contínua 89

FIGURA 46 – Equipamento utilizado na execução de estacas hélice contínua 90

FIGURA 47 – 4,5 m fora do prumo 97

FIGURA 48 - Edifício 2,10 m fora de prumo 98

FIGURA 49 - Camisa metálica utilizada para execução das estacas. 99

FIGURA 50 - Macacos hidráulicos 100

FIGURA 51 - Locais onde ocorreram rachaduras, trincas e fissuras 105

FIGURA 52 - Rachadura devido à dilatação térmica de materiais não

homogêneos (Prédio principal e muro), bem como giro no sentido horário, do

prédio em relação ao muro. 105

FIGURA 53 - Trinca inclinada devido ao recalque diferencial entre os pilares nº

14 e 16. 106

FIGURA 54 - Trinca no piso devido ao fundamento do pilar n° 14. 106

FIGURA 55 - Trinca na escada, devido ao afundamento do piso 106

FIGURA 56 - Trinca devido a recalques 107

FIGURA 57 - Trinca devido ao recalque do pilar n° 10. 107

FIGURA 58 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição dos 107

Page 13: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

pilares 02 e 03

FIGURA 59 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição do pilar

03 108

FIGURA 60 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca na posição do

pilar 03 108

FIGURA 61 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca na posição do

pilar 03 108

FIGURA 62 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca na posição do

pilar 03 109

FIGURA 63 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição do pilar

04 109

FIGURA 64 - Rachadura inclinada devido ao recalque da estaca na posição do

pilar 05 109

FIGURA 65 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição do pilar

04 110

FIGURA 66 - Recalque no piso junto à linha dos pilares 07 e 09 110

FIGURA 67 - Base do pilar 07 – Observa-se trincas no piso devido aos

recalques 110

FIGURA 68 - Rachaduras, tendo em vista o recalque diferencial entre as

estacas

FIGURA 69 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca do pilar 07

111

111

Page 14: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

FIGURA 70 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca do pilar 07 111

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Potencial de colapso do solo23

TABELA 2 – Redução na permeabilidade da pasta de cimento (relação a/c =

0,7) com evolução da hidratação36

TABELA 3 – Agressividade natural37

TABELA 4 – Classificação da agressividade do ambiente na durabilidade

concreto37

TABELA 5 – Correspondência entre classes de agressividade e qualidade do

concreto38

TABELA 6 - Corrosão (em milímetros) de estacas metálicas em solos, acima

e abaixo do lençol freático40

TABELA 7 - Corrosão (em milímetros) de estacas metálicas em água doce e

água do mar41

TABELA 8 – Patologias típicas causadas pela ausência de investigação

geotécnica56

TABELA 9 - Fatores condicionantes para o sistema solo fundação63

TABELA 10 - Interação meio ambiente e fundação65

TABELA 11 – Modelagem de interação solo estrutura67

Page 15: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

TABELA 12 – Métodos de estudo do sistema solo estrutura67

TABELA 13 – Danos causados devido a recalques74

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 17

2. PATOLOGIA ..................................................................................................... 19

2.1 Definição ......................................................................................................... 19

2.2 Origem ............................................................................................................. 20

2.3 Causas ............................................................................................................ 21

2.3.1 Causas relativas ao solo ........................................................................ 21

2.3.2 Causas relativas a mecanismos ............................................................. 24

2.3.3 Causas relativas ao desconhecimento do comportamento real das

fundações .............................................................................................................. 25

2.3.4 Causas relativas à estrutura de fundação .............................................. 26

2.3.5 Causas relativas à especificação construtiva ......................................... 26

2.3.6 Causas relativas a fundações sobre aterros .......................................... 27

2.3.6.1 Deformações do corpo do aterro por causa do peso

próprio ...............

2.3.6.2 Deformação do solo natural abaixo do aterro, devido acréscimo de

tensões do peso próprio do aterro e pelas cargas da

estrutura .............................

2.3.6.3 Assentamento do aterro sobre lixões ou aterros sanitários .................

2.3.7 Causas relativas à execução das fundações .........................................

27

28

28

28

2.3.8 Causas relativas à degradação dos materiais ....................................... 34

2.4 Efeitos ............................................................................................................. 45

2.4.1 Efeitos relativos ao solo ......................................................................... 46

2.4.2 Efeitos envolvendo mecanismos ............................................................ 50

2.4.3 Efeitos envolvendo o desconhecimento do comportamento real das

fundações .............................................................................................................. 51

3. INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA ...................................................................... 54

3.1 Métodos de investigação ................................................................................. 54

3.1.1 Ensaio SPT ............................................................................................ 54

Page 16: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

3.2 Geofísica ......................................................................................................... 55

3.3 Patologia na investigação do subsolo ............................................................. 55

3.3.1 Ausência de investigação geotécnica .................................................... 56

3.3.2 Investigação insuficiente ........................................................................ 56

3.3.3 Invesgação com falhas ........................................................................... 56

3.3.4 Análise inadequada dos dados da sondagem ....................................... 57

4. ANÁLISE E PROJETO ..................................................................................... 59

4.1 Definição ......................................................................................................... 59

4.2 Análise de cargas na fundação ....................................................................... 60

4.3 Análise do solo ................................................................................................ 61

4.3.1 Investigação em Campo ......................................................................... 62

4.3.2 Investigação em Laboratório .................................................................. 62

4.4 Interação solo-estrutura .................................................................................. 63

4.4.1 – Variáveis do sistema solo fundação .................................................... 63

4.4.2 – Metodologias de estudo da interação solo-estrutura .......................... 67

4.4.3 – Funcionamento da interação solo estrutura ........................................

4.4.4 – Interação solo estrutura nos recalques e nas cargas ..........................

68

68

4.4.5 – Problemas na interação solo estrutura ................................................ 69

4.4.6 – Efeitos da interação solo estrutura nos danos .................................... 73

5. EXECUÇÃO DE FUNDAÇÃO .......................................................................... 75

5.1 Definição ......................................................................................................... 75

5.2 Tipos de fundação ........................................................................................... 76

5.2.1 Fundação Superficial .............................................................................. 76

5.2.1.1 Bloco ................................................................................................... 76

5.2.1.2 Sapata ................................................................................................. 77

5.2.1.2.1 Sapata Isolada ................................................................................. 78

5.2.1.2.2 Sapata Corrida ................................................................................. 78

5.2.1.2.3 Sapata Associada ............................................................................ 79

5.2.1.2.4 Sapata Alavancada .......................................................................... 79

5.2.1.3 Radier .................................................................................................. 80

5.2.2 Fundação profunda ................................................................................. 80

Page 17: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

5.2.2.1 Tubulões ..............................................................................................

5.2.2.1.1 Tubulão a céu aberto ........................................................................

5.2.2.1.2 Tubulão a ar comprimido ................................................................

5.2.2.2 Caixões ................................................................................................

5.2.2.3 Estacas ................................................................................................

5.2.2.3.1 Estacas de deslocamento .................................................................

5.2.2.3.1.1 Estacas pré-moldadas ..................................................................

5.2.2.3.1.2 Estacas de madeira .......................................................................

5.2.2.3.1.3 Estacas metálicas ..........................................................................

5.2.2.3.1.4 Estacas Franki ...............................................................................

5.2.2.3.2 Estacas Escavadas ...........................................................................

5.2.2.3.2.1 Estacas Strauss .............................................................................

5.2.2.3.2.2 Estacas Hélice Contínua ..............................................................

6. EFEITOS PÓS CONCLUSÃO ..........................................................................

80

81

82

83

83

84

84

85

86

87

88

88

89

91

6.1 Metodologia ..................................................................................................... 91

6.1.1 Levantamento de dados ......................................................................... 91

6.1.2 Diagnóstico da situação ......................................................................... 92

6.1.3 A definição da conduta ........................................................................... 93

6.2 A tomada da decisão ....................................................................................... 94

6.3 Registro de caso ............................................................................................. 96

6.4 Soluções para patologias em fundações ........................................................ 96

6.4.1 Torre de Pisa .......................................................................................... 96

6.4.2 Edifícios da Orla Santista ...................................................................... 97

6.5 Decisão por manter ou demolir ....................................................................... 100

7. ESTUDO DE CASO .......................................................................................... 102

7.1 O imóvel .......................................................................................................... 102

7.2 Primeiro laudo ................................................................................................. 102

7.3 Segundo laudo ................................................................................................ 104

7.4 Conclusão ....................................................................................................... 112

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 114

Page 18: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

1 - INTRODUÇÃO

A patologia das edificações se resume ao estudo da identificação das causas

e dos efeitos dos problemas encontrados nas mesmas, elaborando seu diagnóstico

e correção. Um diagnóstico adequado de uma manifestação patológica deve indicar

em que etapa do processo construtivo teve origem o fenômeno que desencadeou o

problema. Os problemas patológicos podem ter origem em qualquer fase e/ou etapa

envolvida no processo construtivo de um edifício, onde muitas vezes estas podem

ser atribuídas a um conjunto de fatores e não somente a uma falha em etapa

isolada. A origem pode decorrer:

Da falha de projeto,

Da má qualidade dos materiais empregados na construção,

Da falha na etapa de construção,

E da falha na etapa de utilização da edificação por uso inadequado ou falta de

manutenção

As causas das manifestações patológicas estão relacionadas a vários

fenômenos que influenciam no surgimento das anomalias. Merecem destaque:

Cargas excessivas;

Variação de umidades;

Variações térmicas;

Agentes biológicos;

Incompatibilidade de materiais;

Agentes atmosféricos entre outros.

Inúmeras são as manifestações patológicas nas obras civis. Entre elas,

destacam-se as patologias de fundações.

Entre as prováveis causas de patologias em fundações podemos relacionar

como exemplo, ausência, insuficiência ou má qualidade das investigações

geotécnicas; má interpretação dos resultados da investigação geotécnica; avaliação

errada dos valores dos esforços provenientes da estrutura; adoção inadequada da

tensão admissível do solo ou da cota de apoio da fundação; modelos inconvenientes

de cálculo das fundações; má execução por imperícia ou má fé do construtor ou

mão-de-obra, seqüência construtiva inadequada, má qualidade dos materiais

Page 19: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

empregados; influências externas como, por exemplo, escavações e deslizamentos

imprevisíveis, agressividade ambiental, enchentes ou construções vizinhas;

modificação do carregamento devido a mudanças no tipo de utilização da estrutura

A ocorrência dessa patologia gera danos arquitetônicos, estéticos, funcionais

e estruturais. Causando desconforto, transtornos, prejuízos financeiros e ate mesmo

colocando vidas em risco.

Considerando os inconvenientes gerados pelo aparecimento da patologia,

ficando clara a importância de serem evitadas, esse trabalho procura, de forma

objetiva, contribuir com os profissionais da área, agregando conhecimento e

informação sobre o assunto.

Page 20: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

2. PATOLOGIA

2.1 Definição

Remonta à antiguidade a história da técnica das fundações, formando

conceitos empíricos para formas construtivas. Nos antigos impérios, os terrenos que

recebiam as construções maiores e mais pesadas em geral cediam e as construções

maiores e mais pesadas, em geral cediam e as construções ruíam ou eram

demolidas (SOARES, 2003).

Na sua extraordinária capacidade de adaptação a novas situações, talvez até

a intensificação de falhas, o homem passou a analisá-las com maior cuidado,

valendo-se cada vez mais dos princípios da ciência dos materiais, estabilidade das

estruturas, mecânica de solos, da física e química. Criou-se assim uma nova ciência

designada “Patologia das Construções”, retirando da medicina diversos de seus

termos que são amplamente utilizados na construção civil e citados por Thomaz (

1990).

Patologia: falha, disfunção, defeito que prejudica a estética ou o

desempenho da edificação ou de qualquer uma de suas partes;

Patologia das Construções: “ciência” que procura estudar os defeitos dos

materiais, componentes, elementos ou da edificação como um todo,

diagnosticando suas causas e estabelecendo mecanismos de evolução,

formas de manifestação, medidas de prevenção e recuperação;

Diagnóstico: determinação das causas, dos mecanismos de formação e da

gravidade potencial de um problema patológico, com base na observação

dos sintomas (formas de manifestação) e na eventual realização de

estudos específicos;

Prognóstico: avaliações ou conjecturas, baseadas no diagnóstico, acerca

da duração, evolução ou término do problema;

Terapia: conjunto de medidas (reformas, recuperações, reforços)

destinado a sanar um problema patológico;

Agente: causa imediata que deu origem ao problema patológico (recalque,

movimentações de solo, sobrecarga etc.).

Ao contrário da medicina, entretanto, onde os casos de patologia clínica e os

avanços científicos na área eram rapidamente divulgados, os casos de patologia

Page 21: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Eram rapidamente divulgados, os casos de patologia das construções eram

tratados com muita reserva, pois na maioria das vezes encontravam-se associados

à falhas de projeto, erros de concepção, desconhecimento de propriedades dos

solos e dos materiais de construção, fiscalização deficiente dos serviços etc. Esse

fato, aliado em geral a falta de acompanhamento da obra concluída por parte de

seus projetistas e consultores e a própria ausência de um sistema de catalogação de

problemas patológicos (ocorrência, incidência, gravidade, medidas corretivas

adotadas, etc.) fez com que o avanço da “ciência” patologia das construções

ocorresse de maneira muito lenta, deixando de realimentar o meio técnico com

informações preciosas que poderiam ter evitado a repetição de um grande e

sucessivo número de erros.

2.2 Origem

Considerando que a fundação é um elemento de transição entre a estrutura e

o solo, seu comportamento está intimamente ligado ao que acontece com o solo,

quando submetido a carregamento através dos elementos estruturais das fundações

(Milititsky, 2008).

O conhecimento de todas as possibilidades de patologias deve permitir uma

ação mais qualificada dos diferentes atuantes na vida das fundações, desde os

profissionais participantes das etapas de investigação, projeto, contratação,

fornecimento de materiais, execução e fiscalização do trabalho, até os envolvidos

com atividades pós-construção, utilizando a boa prática, normalização vigente,

empresas qualificadas, evitando assim o surgimento de problemas.

A análise de um problema de fundações ocorre a partir da determinação das

solicitações ou cargas de projeto e da adoção de um modelo de subsolo, obtido

através de investigação geotécnica. Essas informações são interpretadas pelo

conhecimento estabelecido sobre o comportamento do solo sob carga, ou

transmissão de esforços à massa solo. Erros na determinação das cargas (como a

desconsideração de momentos fletores e/ou cargas horizontais) podem acarretar a

ruptura de fundações (Velloso et al. 1998).

Na definição da solução aos problemas de fundação, são considerados vários

fatores, como adoção de valores típicos para projeto, normas vigentes, uso da

experiência, uso de mesma solução em situações consideradas idênticas e uso de

Page 22: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

correlações empíricas. Ultrapassada esta etapa, o elemento de fundações é

dimensionado estruturalmente, sendo então elaborada planta executiva.

Dentre os problemas que poderão ocorrer nesta fase, poderão ser

classificados como: relativos ao solo, relativos a mecanismos, relativos ao

desconhecimento do comportamento real das fundações, relativos à estrutura de

fundação, relativos às especificações construtivas ou sua ausência, intrínsecos ao

projeto de fundação em aterros, relativas à execução das fundações, relativa a

degradação dos materiais.

2.3 Causas

Como orientação dos tópicos de causas, referente às etapas do projeto que

serão descritas, segue figura 1 abaixo:

Figura 1 – Fluxograma das etapas do projeto e possíveis causas de patologias.

(Milititsky, 2008)

2.3.1 Causas relativas ao solo

Page 23: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Como causas de patologias relativas ao solo, podemos citar:

- identificação incorreta ou não identificação dos movimentos do solo, tais

quais recalques totais, recalques diferenciais, rotações relativas, distorções

angulares, etc.

- ausência de investigação do subsolo, comum em obras de pequeno e médio

porte;

- investigações insuficientes, sendo casos típicos deste grupo:

a) número insuficiente de sondagens ou ensaios para áreas extensas ou de

subsolo variado;

b) profundidade de investigação insuficiente, não caracterizando camadas de

comportamento distinto;

c) propriedades de comportamento não determinadas por necessitar ensaios

especiais;

d) situações com grande variação de propriedades, ocorrência localizada e

anomalia ou situação não identificada;

e) investigação com falhas (erro na localização do sítio da obra; localização

incompleta; adoção de procedimentos indevidos ou ensaio não padronizado; uso de

equipamento com defeito ou fora de especificação; falta de nivelamento dos furos

em relação à referência bem identificada e permanente, etc.);

f) interpretação inadequada dos dados do programa de investigação;

- casos especiais:

• influência da vegetação existente, por interferência física das raízes e/ou

modificação no teor de umidade do solo;

• colapsibilidade do solo. O colapso ocorre por um rearranjo nas partículas do

solo, causado pelo aumento do grau de saturação do solo, sendo dependente das

seguintes condições (Bardn et al., 1973), a estrutura do solo parcialmente saturado;

tensões existentes para desenvolver o colapso; rompimento dos agentes

cimentantes.

O potencial de colapso pode ser calculado a partir de resultados de

adensamento pela relação:

PC = e / 1 + e

Onde PC é o potencial de colapso, e é a variação de índice de vazios com a

inundação e é o índice de vazios anterior à inundação.

Page 24: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Segundo Jennings e Knight (1975) o potencial de colapso, associado ao grau

de patologia pode ser classificado em:

PC em % Severidade do problema

0 – 1 Nenhum problema

1 – 5 Problema moderado

5 – 10 Problemático

10 – 20 Muito problemático

que

20

Excepcionalmente

problemático

Tabela 1 – Potencial de colapso do solo

c) expansibilidade do solo;

d) zonas de mineração, criando zonas de instabilidade;

e) zonas cársticas (compostas por rochas calcáreas ou dolomíticas, estas se

distinguem das demais pela solubilidade em água produzindo porosidade);

f) ocorrência de matacões, dando ao analista falsa impressão de ocorrência

de perfil de rocha contínua;

g) adoção do perfil de projeto otimista (superestimativa do comportamento do

solo);

h) representação inadequada do comportamento do solo por relações

empíricas ou semi-empíricas;

i) erros na estimativa das propriedades de comportamento do solo pela

extrapolação indevida. Dois exemplos característicos são:

- estimativa incorreta de resistência ao cisalhamento. Os valores medidos de

penetração não devem ser diretamente utilizados na resistência ao

cisalhamento não drenada;

- extrapolação da penetração dos ensaios SPT em rocha alteradas para

estimativa de tensões.

j) usos indevidos de resultados para estimativa de propriedades dos solos não

correlacionavam com a solicitação;

l) adoção de fundações inadequadas face ao comportamento específico do

solo;

m) remoção de crosta pré-adensada existente.

Page 25: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

2.3.2 Causas relativas a mecanismos

Classificam-se como causas relativas a mecanismos (Milititsky, 2008):

esforços sobrepostos originados na obra sendo projetada ou pela implantação

posterior de edificação junto à estrutura já existente. Na figura 2 as

construções realizadas não possuíam distanciamento suficiente para que o

bulbo de tensões gerado pelas fundações não se afetassem, causando

esforços não previstos para os mesmos;

Figura 2 - Sobreposição de tensões – fundações superficiais (Milititsky, 2008)

grupos de estacas apoiadas sobre camadas pouco espessas;

estimativa de tensões admissíveis com base em resultados de placa, sendo

estas extrapoladas para grandes áreas carregadas, como a base de silos ou

tanques;

fundação direta adjacente à escavação reaterrada (Socotec, 1999);

estacas para pilares adjacentes muito próximas, sem consideração de

sobreposição de efeitos ou redução de eficiência;

desconsideração da ocorrência do atrito negativo em estacas;

situação de atrito negativo ou solos em adensamento, sobre estacas

inclinadas provocando flexões não dimensionadas nos elementos de

fundação;

existência de aterro, provocando o aparecimento de esforços horizontais

atuantes nas estacas em profundidade;

uso de modelos simplificados indevidos (ex.: cálculo do cone de

arrancamento para fundações profundas);

Page 26: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

cálculo de tração do grupo de estacas a partir da soma das cargas de ruptura

de cada estaca considerada individualmente, resultando valores superiores

ao real;

falta de travamento nas duas direções no topo de estacas isoladas esbeltas

na presença de solos das camadas superficiais de baixa resistência;

utilização de cargas nominais de trabalho sem verificação de flambagem de

estacas muito esbeltas em solos moles (trilhos e perfis).

2.3.3 Causas relativas ao desconhecimento do comportamento real das

fundações

Em relação a problemas referentes ao desconhecimento do comportamento

real das fundações, podemos citar:

adoção de sistemas de fundações diferentes na mesma estrutura, em

razão de variação de cargas, de profundidade das camadas resistentes

do subsolo ou condições locais estritas de acesso;

obtenção por correlações com ensaios de penetração, de valores de

capacidade de carga de fundações profundas sem observar limites de

atrito lateral e resistência de ponta, pela extrapolação de valores

elevados ou profundidades impossíveis de serem atingidos;

adoção de fundações profundas para as cargas da estrutura de

pavilhões, com presença de aterros compactados assentes sobre

camadas de solos compressíveis;

desconhecimento do mecanismo de mobilização da resistência de

ponta;

níveis muito desiguais de carregamento numa mesma estrutura;

uso de elemento de fundação como reforço, sem avaliação do possível

efeito no conjunto do novo elemento executado;

uso de fundações de comportamento diferenciado e má avaliação dos

efeitos de carregamento especial.

2.3.4 Causas relativas à estrutura de fundação

Page 27: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Sobre as principais causas de patologias na estrutura de fundação, podemos

citar:

o erro na determinação do cálculo das cargas atuantes nas fundações;

o fundação projetada apenas para a carga final atuante, desconsiderando

etapas construtivas e outras condições intermediárias que são mais

críticas para fundações (ex.: estruturas pré-moldadas);

o erros decorrentes de indicação apenas de cargas máximas em casos de

fundações em estacas com solicitações de compressão e momentos

atuantes;

o erro no dimensionamento de elementos estruturais de fundação (ex.: vigas

de equilíbrio);

o armaduras de estacas de concreto armado tracionadas, calculadas sem

previsão da fissuração do concreto;

o uso de emendas padrão para estacas metálicas, sem a verificação do

carregamento de tração;

o adoção de solução estrutural na qual os esforços horizontais não são

equilibrados pelas fundações;

o carência de detalhes estruturais adequados;

o uso de armaduras muito densas no projeto, dificultando a execução;

o ausência do exame da situação “como construído” ou as build das

fundações;

o uso das solicitações obtidas ao nível do terreno para o dimensionamento

de fundações enterradas;

o erro na determinação das cargas atuantes em situações especiais

(estruturas pré-moldadas, obras de arte, indústrias, silos, submissão a

efeitos dinâmicos ou choques).

2.3.5 Causas relativas a especificações construtivas

As especificações construtivas devem atender a critérios de projetos de

fundações diretas e profundas. Considerando as principais causas relativas a

especificações construtivas, para:

a) Fundações diretas:

Page 28: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

- ausência de indicações precisas com relação à cota de arrasamento; tipo e

características do solo a ser encontrado e onde as fundações deverão ser

assentadas; ordem de execução no caso de elementos adjacentes em cotas

diferentes; tensão admissível do solo adotada sem identificação do solo que deve

estar abaixo do elemento de fundação; características do concreto.

b) Fundações profundas:

- ausência de indicações referentes a profundidades mínimas de projeto;

peso mínimo ou características do martelo de cravação e nega nas estacas

cravadas; características mínimas do equipamento de execução; tensões e

características dos materiais das estacas; detalhamento de emendas

(principalmente para elementos submetidos à tração; exigência de controle no

comportamento de estacas; proteção contra erosão em locais específicos.

c) Geral:

- falta de indicação das cargas consideradas em projeto e suas origens;

- ausência de indicação da referência e localização das sondagens ou

ensaios nos quais o projeto se baseou.

2.3.6 Causas relativas a fundações sobre aterros

A fundação sobre aterros ou solos criados é fonte significativa de problemas,

estes não considerados no projeto por desconhecimento dos mecanismos

envolvidos. Fundações apoiadas sobre aterros têm aspectos muito particulares,

além dos demais aspectos verificados nas demais fundações. Os recalques destas

fundações apoiadas sobre aterros são classificadas em três tipos:

2.3.6.1 Deformações do corpo do aterro por causa do peso próprio

Ocorrem normalmente nos seguintes casos:

- material disposto sem compactação ou vibração; disposição de solo por

aterros hidráulicos; execução de aterros com compactação deficiente; execução de

aterros com materiais inadequados (deve-se evitar uso de solos com materiais

orgânicos – raízes, turfas, argilas - em sua composição); execução de aterros com

materiais heterogêneos.

Page 29: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

2.3.6.2 Deformação do solo natural abaixo do aterro, devido acréscimo de

tensões do peso próprio do aterro e pelas cargas da estrutura

Aterros construídos sobre solos moles podem ter seus desempenhos

comprometidos, apresentando desempenho inadequado na forma de ruptura ou

magnitude dos recalques. As patologias decorrentes de recalques, neste caso, são

geradas por adensamento, gerando um acréscimo de tensão resultante (poro-

pressão), excesso este que vai se dissipando ocasionando um acréscimo de tensão

efetiva e o seu tempo de duração é medido em anos. Este efeito tem ações

contínuas e prolongadas, gerando a necessidade de controle periódico.

2.3.6.3 Assentamento do aterro sobre lixões ou aterros sanitários

Projetos geotécnicos nesses materiais requerem o estudo do comportamento

reológico de rejeitos, considerando os recalques em razão da degradação do

material existente no aterro. Segundo Tomlinson (1996), a degradação destes

materiais pode gerar gás metano, que pode ser potencialmente explosivo. Projeto

sobre aterros sanitários requer:

- análise do atrito negativo em razão do recalque causado pela decomposição

dos resíduos;

- garantia da integridade da estaca, realizando-se pré-furos para estacas

cravadas;

- verificação da continuidade de estacas escavadas, por meio da exposição

do fuste;

- avaliação do impacto de substâncias líquidas formadas pela decomposição

dos materiais existentes no aterro sanitário / lixão (cloretos, ácidos e sulfatos);

- garantia da estanqueidade de selante de fundo de aterros na instalação de

estacas com uso de revestimentos que penetrem no selante.

2.3.7 Causas relativas execução das fundações

As falhas de execução correspondem ao segundo maior fator de patologias

em fundações. Para que a fundação seja realizada de forma adequada, deverão ser

especificados de forma precisa e detalhada, também os materiais e procedimentos

Page 30: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

em conformidade com a boa prática, uso de processos construtivos apropriados,

equipamentos adequados, supervisão e controle construtivo rigoroso.

Em casos especiais, existe a necessidade de ensaios complementares para

comprovação da adequação e segurança.

As principais patologias encontradas são:

Fundações superficiais:

problemas envolvendo o solo: construção de elementos sobre solos

de diferentes comportamentos; amolgamento de solo no fundo da

vala provocando recalques incompatíveis com o projeto; sobre-

escavação preliminar e aterros mal executados; substituição de

solo por material não apropriado; sapatas executadas em cotas

diferentes com desmoronamento ou alívio da fundação.

envolvendo elementos estruturais da fundação: qualidade

inadequada do concreto; ausência de concreto magro no fundo da

cava; execução de elementos com geometria e dimensões

incorretas; presença de água na cava; adensamento deficiente e

vibração inadequada; falta de recobrimento de armadura;

diminuição de seção de pilares em razão de armadura densa,

estribos mal posicionados, concretos de trabalhabilidade

inadequada ou falta de limpeza interna da forma e desforma para

inspeção; armaduras mal posicionadas ou insuficientes; junta de

dilatação mal executada.

Fundações profundas em geral:

erros de locação; erros ou desvios de execução na presença de

obstruções; erros de diâmetro ou lado do elemento; substituição no

canteiro de obras da estaca por elementos não-equivalentes,

quando ausência de material ou ferramenta; inclinação final

executada em desacordo com o projeto; falta de limpeza adequada

da cabeça da estaca para vinculação com o bloco; ausência ou

posição incorreta da armadura de fretagem; cota de arrasamento

incorreta; características do concreto inadequadas; falta de energia

de cravação, peso insuficiente do martelo, baixa energia do

sistema; excesso de energia de cravação, uso de martelos muito

mais pesados, altura de queda excessiva; compactação do solo;

Page 31: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

levantamento de elementos já cravados pela execução de novos

elementos; falsa nega; flexão dos elementos cravados; elevação da

pressão neutra e amolgamento de solos argilosos saturados;

influência do uso do jato de água ou da pré-perfuração na

capacidade de carga em função da resistência lateral.

Estacas de madeiras:

uso de material inadequado; falta de proteção na cabeça da estaca;

danos na ponta da estaca provenientes de obstruções e cravação

enérgica; emendas inadequadas.

Estacas metálicas (trilhos, perfis e tubos):

problemas de solda dos elementos; emenda de estacas com

problemas de dimensionamento; elementos muito esbeltos que

desviam durante a cravação; elementos e-sbeltos em solos moles

causando flambagem e instabilidade; presença de obstruções,

excesso de energia de cravação, excentricidade do choque do

martelo na estaca.

Estacas pré-fabricadas:

estacas com concreto de baixa resistência; danos no manuseio da

estaca, carga e descarga; falta de proteção na cabeça da estaca

durante a cravação, causando um efeito de falsa nega; choques

excêntricos do martelo, danificando a cabeça da estaca; estacas

com armaduras inadequadas ao longo do fuste; estacas muito

esbeltas e longas, flambando ou fissurando no momento em que

atinge a camada inicial do subsolo; uso de emendas inadequadas,

não resistindo à cravação.

Na figura 3 são apresentados exemplos típicos de excesso de energia no

momento de cravação e, mesmo com o estudo correto do solo e resistência correta

da estaca, a execução incorreta da cravação da estaca causou sua ruptura.

Page 32: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 3 – Estacas danificadas no momento da cravação (Milititsky, 2008).

Estacas moldadas in situ – Franki:

estrangulamento do fuste na concretagem; injeção de volume

menor que o projetado de material na base alargada da estaca;

problema de integridade causado por incorreto levantamento do

tubo; danos causados na estaca recém executada pelo efeito de

cravação de elemento próximo; baixa resistência estrutura causada

pelo uso de materiais inertes contaminados, cimento em processo

de hidratação, mistura inadequada dos agregados e cimento; falta

de ancoragem na armadura de base.

Estacas Ômega:

equipamento sem capacidade para atingir a profundidade de

projeto; concreto inadequado; descontinuidade causada por

execução sem controle; impossibilidade de colocação da armadura.

Estacas Mega (utilizadas em processo de reforço de fundações):

falta de resistência do elemento estrutural no qual a estaca está

sendo apoiada; má vinculação entre elementos macaqueados,

resultando em elementos não contínuos.

Estacas Escavadas (com retirada do solo para execução):

problemas de integridade ou continuidade; dosagem do concreto

pobre em cimento; demora na concretagem; presença de armadura

pesada ou mal posicionada; limpeza da base inadequada; presença

de água na perfuração, por concretagem sem emprego de lama

betonítica; desmoronamento das paredes de escavação não

protegidas; execução de estaca próxima a elemento recém

Page 33: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

concretado em solos instáveis ou pouco resistentes; variação do

diâmetro da estaca em função de solos moles; presença de

artesianismo; redução de resistência lateral causada pelo

amolgamento na colocação do revestimento; amolgamento ou

recobrimento de parte do fuste da estaca por solo transportado de

camada muito mole pela ferramenta de escavação ou problemas de

execução da estaca.

1 Brocas (executadas com trado manual ou mecânico):

má qualidade do sistema; mão-de-obra não especializada; uso

indevido do sistema em terrenos instáveis ou com a presença do nível

d’água; prática de execução de várias perfurações para posterior

concretagem, ocasionando desmoronamentos; mistura inadequada do

concreto, que, devido ao pequeno volume envolvido é geralmente

misturado a mão.

2 Estacas Strauss:

concreto inadequado ao sistema (slump inferior a 10 cm ou material

seco); concreto não homogêneo; instabilidade das paredes, sem uso

de revestimento; uso de revestimento de comprimento pequeno e o

restante com a ferramenta de corte (sonda). Na figura 4 a utilização de

concreto com abatimento (slump) abaixo das especificações de

projeto, ou seja, concreto mais “seco”, causou descontinuidade da

seção devido o não preenchimento de toda seção a ser concretada.

Esta situação pode ser detectada pelo ensaio PIT (Pile Integrity

Testing).

Page 34: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 4 – O concreto com baixa trabalhabilidade causou a descontinuidade da

seção em estaca Strauss (Milititsky, 2008)

Escavadas Mecanicamente:

uso de equipamento sem a capacidade de escavação necessária;

concreto com trabalhabilidade inadequada; contaminação do concreto

na cabeça da estaca e execução do bloco sem a correção necessária;

revestimento para escavação colocado tardiamente; instabilidade do

solo após a retirada do revestimento, causando redução de seção ou

seccionamento da estaca; interrupção da concretagem por falta de

concreto, reiniciando posteriormente; demora na concretagem de

elementos escavados, reduzindo a resistência lateral.

Escavadas com auxílio de lama:

início do uso da lama somente após a ocorrência de instabilidade; falta

de controle na posição do tubo tremie (tremonha); parada e reinício da

concretagem; falta de verificação na densidade da lama; uso de

concreto sem o consumo mínimo de cimento indicado (400 kg/m³) e

fluidez (slump 22 ± 2).

Estacas injetadas de pequeno diâmetro (Raiz):

problema de emenda da armadura nas estacas tracionadas;

estrangulamento do fuste devido à armadura, injeção ou balhabilidade

inadequada da argamassa; descontinuidade do fuste causada pela

retirada incorreta do revestimento; efeito de artesianismo; uso de

material inadequado; ausência de pressurização em elemento

projetado para tal situação.

Page 35: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Hélice contínua:

remoção do solo aliviando tensões horizontais, reduzindo a resistência

lateral; equipamento sem capacidade de atingir a profundidade

necessária (torque baixo ou haste curta); concreto inadequado, com

agregado graúdo inadequado ao bombeamento, sem o consumo

mínimo de cimento indicado (400 kg/m³) e fluidez (slump 22 ± 2);

descontinuidade causada pela velocidade de subida do trado sem

controle; dificuldade ou impossibilidade de colocação da armadura;

colocação de armadura de forma inadequada; execução de

concretagem não pressurizada.

Tubulões:

material da base do tubulão não compatível com a tensão de projeto

adotada; dimensões e geometria incorretas; instabilidade do solo

durante a execução; presença de água durante a concretagem; mau

adensamento do concreto; armaduras mal posicionadas ou

insuficientes; qualidade inadequada do concreto; colocação de

“pedras-de mão” no fuste para reduzir custos; ausência ou colocação

de armadura de fretagem no topo dos tubulões, causando problemas

estruturais.

Existem algumas formas de detecção de anomalias, uma delas é o controle

do volume empregado na peça, comparando o volume teórico ao volume real

empregado. Outra opção é a realização de ensaios de integridade da peça e provas

de carga.

Os ensaios de integridade tipo PIT (Pile Integrity Testing) são de baixo custo

e permitem verificar descontinuidades, anomalias ou conformidades nas fundações

profundas. As provas de carga podem ser dinâmicas ou estáticas, sendo as provas

de carga dinâmicas de menor custo e reduzido prazo de duração, podendo ser

determinado o comportamento real das fundações empregadas.

2.3.8 Causas relativas à degradação dos materiais

A ação de elementos da natureza sobre os materiais constituintes das

fundações indica a necessidade de verificação da existência ou não de materiais

agressivos e seus possíveis efeitos, cuja avaliação deve ser prevista nas etapas de

Page 36: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

investigação do solo. Um ambiente agressivo pode ser identificado pela

resistividade do solo, pH, teor de sulfatos e cloretos. Quando ocorre a presença de

rejeitos industriais, locais de depósitos de componentes potencialmente agressivos,

ou de natureza desconhecida, se torna necessária uma avaliação abrangente de

substâncias agressivas. A seguir, identificam-se casos típicos de deterioração em

cada material.

A durabilidade do concreto é definida pela sua capacidade de resistir à ação

de intempéries, ataques químicos, ou outros processos potencialmente agressivos.

Sendo um veículo utilizado par o transporte de íons agressivos, a água pode

ser fonte de processos químicos de degradação. Fenômenos físico-químicos podem

ocorrer pela capilaridade do sólido por onde a água infiltra, podendo ser combatida

pela redução da permeabilidade do concreto, como descrito na figura 5. Com esta

medida, pode-se defender o concreto contra qualquer processo físico-químico de

deterioração. Menores índices de permeabilidade e porosidade diminuem a

probabilidade de deterioração, tendo-se neste caso, satisfazer a no mínimo duas

condições: reduzida relação água/cimento e maior tempo possível de cura.

Figura 5 – Influência da permeabilidade do concreto no fator a/c (Milititsky,

2008)

Causas químicas de deterioração do concreto podem ser reações de origem

expansiva, como: reação álcalis-agregados que resulta na interação entre sílica

reativa de alguns agregados e os íons álcalis (Na+ e K+) presentes nos cimentos e

liberados durante a hidratação. Esta reação causa sólidos a mais em meio fechado,

Page 37: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

causando fissuras. Embora a reação álcalis-agregados seja importante, o mais

significativo agressor do concreto em fundações é o sulfato, que ocorre naturalmente

em solos e em suas águas. Podem ser citados como fatores que influenciam o

ataque por sulfatos:

a) concentração e origem do sulfato presente;

b) nível da água e sazonalidade;

c) fluxo da água subterrânea e nível de porosidade do solo;

d) forma construtiva;

e) qualidade do concreto (cimento utilizado, reação água/cimento, agregado

utilizado)

IDADE (dias)COEFICIENTE DE

PERMEABILIDADE (cm/s x 10 ֿ¹¹)

Fresca 4.000

5 1.000

6 1.000

8 400

13 50

24 10

Final 6

Tabela 2 – Redução na permeabilidade da pasta de cimento (relação a/c = 0,7) com

evolução da hidratação (Mehta e Monteiro, 1994)

Na tabela 2 fica definida que, quanto maior o tempo de cura do concreto,

menor o coeficiente de permeabilidade do mesmo, sendo prudente aguardar a cura

final da peça para expor a mesma aos elementos externos (nível de água, contato

com sulfatos, etc.).

Com base nas informações, elementos de fundação que se encontram abaixo

do nível d’água têm menor probabilidade de ataque por sulfatos. Reações causadas

pela pasta de cimento também podem causar expansão e desintegração do

concreto, em combinação com sulfatos presentes no solo e dissolvidos em água. A

determinação das condições de agressividade do subsolo é importante para todas

as construções subsuperficiais. Abaixo, tabela 3 de determinação de agressividade

segundo a norma DIN 4030 (1998):

Page 38: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

ASPECTO AVALIADO GRAU DE SEVERIDADE

  LEVE SEVERO

MUITO

SEVERO

pH 6,5 - 5,5 5,5 – 4,5 < 4,5

Dissolução do óxido de cálcio

(CaO) em anídrico carbônico

(CO2), em mg/l 15 – 30 30 - 60 > 60

Amônia (NH4) em mg/l 15 – 30 30 - 60 >60

Magnésio (Mg) em mg/l 100 - 300 300 - 1.500 > 1.500

Sulfato (SO4) em mg/l 200 - 600 600 - 3.000 > 3.000

Tabela 3 – Agressividade natural segundo DIN 4030 (1998)

Em relação à correspondência entre a relação a/c e

resistência à compressão do concreto e sua durabilidade,

são permitidos os valores mínimos no dimensionamento

nesta relação, segundo a norma ABNT NBR 6118/2003, tais

como expressos nas tabelas 4 e 5 a seguir:

Classe de

agressividad

e

pH

CO2

Agressivo

em mg/l

Amônia

(NH4)

em mg/l

Magnésio

(Mg) em

mg/l

Sulfato

(SO4)

em mg/l

Sólidos

dissolvidos

em mg/l

I >5,9 <20 <10 <150 <400 >150

II 5,9 - 5,0 20 - 30

100 -

150 150 - 250

400 –

700 150 - 50

III 5,0 - 4,5 30 - 100

150 -

250 250 - 500

700 -

1.500 <500

IV <4,5 >100 >250 >500 >1.500 <50

Tabela 4 – Classificação da agressividade do ambiente na durabilidade concreto

(Comitê Euro-Internacional du Beton, 1993).

Page 39: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Na tabela 4 estão expostos os principais agressores do

concreto e verificado que quanto menor o pH apresentado,

maior a agressividade, necessitando de atenções

específicas em cada caso.

CONCRETO TIPO

CLASSE DE AGRESSIVIDADE (segundo

a tabela anterior)

    I II III IV

Relação a/c

em massa

Concreto

armado ≤ 0,65 ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,45

Concreto

protendido ≤ 0,60 ≤ 0,55 ≤ 0,50 ≤ 0,45

Tabela 5 – Correspondência entre classes de agressividade e qualidade do concreto

(Ibracon, 2003).

Na tabela 5 são apresentados os fatores a/c necessários para classe de

agressividade, verificando-se também o tipo de armadura utilizado em determinada

peça. Observa-se que quanto maior o grau de agressividade torna-se necessária a

diminuição do fator água-cimento.

Classificação da exposição ao sulfato em quatro graus de severidade, de

acordo com o ACI BUILDING CODE 318-83 (1993):

o ataque desprezível: conteúdo de sulfato abaixo de 0,1% no solo ou

abaixo de 150 mg/l na água. Sem restrições ao tipo de cimento ou

relação a/c;

o ataque moderado: conteúdo de sulfato entre 0,1 e 0,2% no solo ou de

150 a 1500 mg/l na água. Utilização de cimentos Pozolânico ou

cimento Portland de Alto-forno com relação a/c menor que 0,5;

o ataque severo: conteúdo de sulfato de 0,2 a 2,0% no solo ou de 1500 a

10000 mg/l na água. Utilização de cimento Portland com menos de 5%

de C3A (aluminato tricálcico) com relação a/c menor que 0,45.

o ataque muito severo: conteúdo de sulfato acima de 2,0% no solo ou

acima de 10000 mg/l na água. Utilização de cimento Portland contendo

Page 40: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

menos de 5% de C3A (aluminato tricálcico) e adição de pozolana, com

uma relação água cimento menor que 0,45.

Casos onde utilizam-se agregados leves a resistência mínima a compressão

aos 28 dias é de 28 MPa para ataques de sulfatos severo ou muito severo.

Vários ácidos são perigosos para o concreto, sejam inorgânicos (clorídrico,

sulfúrico, sulfídrico, nítrico, carbônico) ou orgânicos (acético, lático). Sendo assim,

fundações de obras industriais com dejetos muito agressivos, devem ter tratamento

especial como acompanhamento técnico dos químicos desde o início, para detecção

de soluções e prevenção de problemas futuros.

A corrosão das armaduras nas estruturas de concreto armado, tem natureza

eletroquímica, podendo ser aumentado por agentes agressivos externos (ineficiente

proteção do concreto, alta permeabilidade e porosidade, recobrimento insuficiente,

má execução) ou internos (incorporados ao concreto).

Cloretos no concreto, adicionados a partir da

utilização de aditivos aceleradores de pega, de agregados

e de águas contaminadas, potencia o processo de

corrosão das armaduras. Estruturas de concreto utilizadas

em ambiente marinho devem ter recobrimentos de

armadura maiores de 50mm e baixa relação a/c,

contribuindo assim com a redução da permeabilidade ao

mínimo. Fissuras causadas por variações de temperatura e

redução volumétrica por perda de água são menos

prováveis em fundações profundas, uma vez que a

variação térmica é pequena e umidade é relativamente

constante.

Page 41: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 6 – Exemplos de estaca de concreto com degradação relacionada a ataque

de sulfato

Adaptado do site www.ufsc.com.br

As estacas metálicas executadas em solos naturais, em contato com água e

ar estão sujeitas a corrosão e devem ser projetadas adequadamente. Neste caso

enquadram-se o contato com solos contendo materiais agressivos ou aterros, se

localizados em ambiente marinho ou expostos aos efeitos de variação de nível

d’água. A ação da corrosão está de acordo com a temperatura ambiente, pH, acesso

ao oxigênio e da química do ambiente em torno do elemento de fundação.

Corrosão de estacas de aço em solos não perturbados torna-se irrelevante

devido ao baixo nível de oxigênio, devendo-se adotar uma taxa de corrosão de

0,015mm/face/ano. Em aterros contaminados, zonas industriais, com efluentes

agressivos ou ocorrência de corrente elétrica aumentam o risco, cabendo estudo

específico do material por especialista metalúrgico. Adota-se uma taxa de corrosão

de 0,035mm/face/ano em caso de exposição a condições atmosféricas. Taxas de

corrosão utilizadas estão dispostas nas tabelas 6 e 7, onde estão expostas médias

de dados coletados em diversas obras, com valores em mm/face/ano:

VIDA ÚTIL5

anos

25

anos

50

anos

75

anos

100

anos

Solos naturais não perturbados zero 0,30 0,60 0,90 1,20

Solos poluídos e com contaminação

industrial

0,15 0,75 2,25 3,00

Page 42: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

1,50

Solos naturais agressivos (pantanosos,

turfosos)0,20 1,00 1,75 2,50 3,25

Aterros de solos não compactados 0,18 0,70 1,20 1,70 2,20

Aterros de materiais agressivos (cinzas,

resíduos) não compactados.0,50 2,00 3,25 4,50 5,75

Os valores para 5 e 25 anos são baseados em medidas, as demais em

extrapolações.

Tabela 6 - Corrosão (mm) de estacas metálicas em solos, acima e abaixo do lençol

freático (European Standard EM 1993-5,2003)

Estruturas de fundação metálica em casos marinhos (cais, plataformas,

pontes) ou ambientes fluviais devem ter as seguintes regiões consideradas

- zona atmosférica: acima do contato com a água, inclusive respingos;

- zona de variação: exposto a flutuação de contato;

- zona de imersão: abaixo do nível mínimo de variação de água.

Figura 7 – Taxas de corrosão de zonas de estacas de aço em ambiente

marinho (Milititsky, 2008)

Page 43: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Na figura 7 nota-se que as zonas de maior corrosão em ambientes marinhos

estão as zonas de respingo, zonas de variação de maré e zonas de maré baixa,

locais onde a oxidação, causada pela variação do nível de água e o contato com o

oxigênio, ocorre com maior intensidade.

VIDA ÚTIL5

anos

25

anos

50

anos

75

anos

100

anos

Água doce (rios, canais) na zona de alto

ataque (linha de água)0,15 0,55 0,90 1,15 1,40

Água doce muito poluída (efluentes

industriais, esgoto) na zona de alto ataque

(linha de água)

0,30 1,30 2,30 3,30 4,30

Água do mar em clima temperado nas

zonas de alto ataque (zonas de maré baixa

e respingo)

0,55 1,90 3,75 5,60 7,50

Água do mar em clima temperado nas

zonas de imersão permanente ou de

variação de maré

0,25 0,90 1,75 2,60 3,50

Os valores para 5 e 25 anos são baseados em medidas, as demais em

extrapolações.

Tabela 7 - Corrosão (mm) de estacas metálicas em água doce e água do mar

(European Standard EM 1993-5,2003)

Segundo a ABNT NBR 6122/1996, quando a estaca estiver inteiramente

enterrada em solo natural, é dispensável o tratamento especial, independente da

posição do lençol freático. No caso de trecho desenterrado ou em aterro com

materiais que ataquem o aço, é obrigatória a proteção por meio de encamisamento

de concreto ou recurso equivalente adequado (pintura, proteção catódica).

Page 44: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 8 – Exemplo de aplicação de estaca metálica parcialmente cravada,

em água doce muito poluída. Adaptado do site www.scribb.com

Na figura 8 verifica-se que as partes que foram expostas a variação do nível

de água e contato com oxigênio tiveram sua superfície oxidada, podendo acelerar o

processo de degradação da peça.

As estacas de madeira são utilizadas no Brasil como fundações de estruturas

provisórias e em certas regiões e circunstâncias têm uso como elementos de

suporte permanente. Na figura 9.a é possível observar uma demolição na qual

ficaram expostas as estacas de madeira executadas para a construção provisória ali

realizada. Entretanto, na figura 9.b apresenta um tipo comum de construções no

Norte do Brasil, onde em regiões ribeirinhas são melhores aproveitadas como

fundações permanentes.

Figura 9.a: Estrutura provisória retirada, com estacas de madeira à vista.

Page 45: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 9.b: Casa em região ribeirinha.

Adaptado do site www.ufsc.com.br

Estacas de madeira totalmente enterradas em solo podem ser afetadas pela

variação do nível de água, que induz ao apodrecimento e degradação do material,

além dos ataques biológicos de insetos ou moluscos (encontrados no solo e na água

respectivamente).

Com a degradação da madeira, ocorrem mudanças físicas e químicas,

podendo apresentar mudança na coloração, amolecimento, variação de densidade,

redução do módulo de elasticidade e resistência, redução significativa de seção ou

perda total de integridade. A inspeção visual externa simples pode não revelar a

presença de ataque biológico, apresentando mesma coloração e serem

aparentemente íntegras, com danos internos extremos. Na figura 10 é visível a

degradação do material: apodrecimento da madeira provavelmente causado pela

variação das marés, provocando a descontinuidade da seção e escurecimento

devido ao ataque biológico de fungos.

Page 46: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 10 – Estacas de uma antiga ponte de madeira, com danos causados

pela degradação. Adaptado do site www.scribb.com

As estacas que tiveram degradação biológica causada por variação de lençol

freático, têm necessidade de execução de reforço para garantir a estabilidade

estrutural.

Em estruturas fluviais e ambientes marinhos, sofrem ataque biológico

acelerado e devem ter proteção especial para evitar sua degradação. Estacas para

estruturas marinhas são cravadas até profundidades adequadas, ficando parte

enterrada no solo, parte na água e parte no ar, tendo ampliada à agressão devido à

variação do nível da água.

Assim como nas estacas metálicas, a figura 11 apresenta os níveis de

degradação das estacas em madeira, onde se pode observar que, na zona de

variação do nível de água no solo e, acima do nível do mar, ocorre agressão média

causada por fungos. No mar, a zona de ataque mais significativo está entre o nível

do mar e o solo, onde sofre ataques de moluscos marinhos.

Figura 11 – Influência das condições locais na degradação e ataque a

estacas (Milititsky, 2008)

2.4 Efeitos

Page 47: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

As manifestações mais comuns de movimentações nas fundações são

aparecimentos de fissuras nos elementos estruturais aparentes. Toda vez que a

resistência dos componentes da edificação ou conexão for superada pelas tensões

geradas pela movimentação, ocorrerão fissuras. Na figuras 12 e 13 são

apresentados tipos de trincas típicas quando ocorrem problemas nas fundações de

pilares internos e de pilares nas extremidades, nestes casos, as fundações

executadas moveram a construção para baixo, causando momento naquela seção.

Figura 12 – Fissuras tipicamente causadas por recalques de pilares internos

(Milititsky, 2008)

Figura 13 – Fissuras causadas por recalque de fundação dos pilares das

extremidades (Milititsky, 2008)

Assim como no item anterior, os efeitos das patologias poderão ser:

- relativos ao solo;

Page 48: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

- relativos a mecanismos;

- relativos ao desconhecimento do comportamento real das fundações;

- relativos à estrutura de fundação;

- relativos às especificações construtivas ou sua ausência;

- intrínsecos ao projeto de fundação em aterros;

- relativas à execução das fundações.

2.4.1 Efeitos relativos ao solo

Dentre os efeitos relativos ao solo podemos considerar os seguintes efeitos:

a) Pela ausência de investigação do subsolo:

- para fundações diretas: recalques inadmissíveis ou ruptura, recalques

diferenciais, grandes deformações de solos compressíveis, grandes deslocamentos

ou ruptura das fundações quando existirem fundações apoiadas em crosta dura

sobre solos moles.

- para fundações profundas: mau comportamento do solo devido ao tipo

inadequado de estacas empregadas, recalques incompatíveis com a obra,

ocorrência de atrito negativo não previsto, com redução da carga admissível nominal

adotada para a estaca.

b) Investigação insuficiente ou com falhas:

demonstração de um perfil geológico incorreto acarreta em apoio da

fundação em solos não adequados as cargas de projeto, tendo efeito

direto sobre a estabilidade e segurança da estrutura; estacas com

comprimento menor do que o descrito em projeto; utilização de estacas

de tipo inadequado ao solo. Na figura 14, a investigação previu que as

tensões causadas pelo tanque de grande diâmetro afetariam somente

10m de profundidade,quando, no corte apresentado, afetaram

camadas não investigadas, comprometendo a estabilidade do tanque,

pelo fato das tensões estarem distribuídas em solo inadequado.

Page 49: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 14 – A profundidade da investigação foi insuficiente para determinar o

tipo correto e fundação (Milititsky, 2008)

c) Influência da vegetação:

solos argilosos com a presença de raízes têm variação do teor de

umidade, modificando assim seu volume. Tendo como exemplo a

figura 15, qualquer estrutura localizada nas proximidades da área

afetada terá recalques localizados, recalques progressivos ou

expansão progressiva, no caso de retirada posterior da vegetação.

Figura 15 – Trincas ocasionadas pela presença de raízes no solo. (Milititsky, 2008)

Page 50: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

c) Colapsibilidade:

os efeitos de solos colapsíveis são recalques significativos e fissura ou

ruptura da fundação devida movimentação abrupta da mesma.

d) Expansibilidade:

este tipo de comportamento provoca problemas principalmente em

fundações superficiais, danificando-as. Para reduzir ou evitar estes

efeitos, deve-se isolar a estrutura dos materiais expansivos, reforçar a

estrutura para resistir aos esforços e eliminar os efeitos de

expansibilidade

e) Zonas de mineração:

causa instabilidade das escavações subterrâneas e subsidência devido

colapso.

f) Zonas cársticas:

causa ruptura da rocha calcárea ou dolomítica quando submetido à

umidade e pressões, deslocamentos de fundações, variação do

comprimento das fundações, causando inclinações, arrancamento das

fundações e deslocamento das mesmas.

Na figura 16 o excesso de água no solo devido ao extravasamento de água

do reservatório causou a ruptura do solo colapsível, quando submetido à pressão do

próprio reservatório.

Page 51: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 16 – Extravasamento de água em solos porosos colapsíveis com

recalque em reservatório sobre fundações superficiais (Carazinho-RS); a) desenho

esquemático b) fotos (Milititsky, 2008)

g) Ocorrência de matacões:

interferência nos processos construtivos de fundações superficiais e

profundas, dificultando a solução e execução de fundações em obras

de qualquer porte, resultando elementos apoiados de forma não-

segura, pode dificultar ou impedir a execução de estacas.

A figura 17 apresenta fundação superficial apoiada sobre matacão,

provavelmente entendida na sondagem como sendo rocha ou solo resistente,

causando a instabilidade da fundação.

Figura 17 – Ocorrência de matacão, apoiando a estaca de forma insegura (Milititsky,

2008)

Na figura 18.a apresenta o comprimento exagerado das estacas metálicas

esbeltas, deslocadas por matacões e na figura 18.b o comprimento exagerado é

causado pelo horizonte de rocha inclinado, podendo o desvio de verticalidade fazer

com que a estaca trabalhe de modo inadequado aos esforços solicitados.

Page 52: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 18 – Comprimento excepcional de estacas esbeltas causadas pelo desvio de

verticalidade; (Milititsky, 2008)

2.4.2 Efeitos envolvendo mecanismos

A existência de outra fundação próxima à fundação realizada, com alterações

de tensão no solo; ruptura das estacas concretadas em grupo sobre camadas pouco

espessas, recalques incompatíveis com a estrutura devido acréscimo de tensões

causados pelo grupo de estacas; resultados inadequados pelo comportamento

distinto do caso real; submissão da estaca a esforços horizontais não projetados;

atrito negativo no caso de solos moles não considerados em projeto podendo

comprometer a estrutura; solicitações de flexão no caso de solos em adensamento

que não foram dimensionados em projeto; comprimentos de flambagem maiores que

os considerados para os pilares induzindo instabilidade estrutural; instabilidade por

flambagem;

2.4.3 Efeitos envolvendo desconhecimento do comportamento real das

fundações

Recalques diferenciais e danos na estrutura quando adotadas fundações

diferentes na mesma estrutura ou níveis muito desiguais de carregamento;

fundações submetidas a cargas superiores as que podem ser transferidas ao solo

devido à extrapolação em correlações de ensaios de penetração sem a verificação

do atrito lateral e resistência de ponta; recalques em todas as instalações realizadas

Page 53: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

nos aterros, deformações do piso, paredes e estruturas apoiadas devido a

fundações profundas com presença de aterros sobre camadas compressíveis.

Na figura 19 existem diversos tipos de agravantes: tipos diferentes de

fundações (sapatas e estacas), níveis diferentes de carregamento e ausência de

junta de dilatação adequada podem ocasionar danos consideráveis à estrutura.

Figura 19 – Níveis diferentes de carregamento sem juntas de dilatação

(Milititsky, 2008)

2.4.3 Efeitos envolvendo a estrutura de fundação

Excesso de carga transferida a cada elemento de fundação devido ao erro na

determinação de cargas atuantes; submissão a efeitos críticos de carga atuante

onde não se considerou cargas acidentais de vento e subpressão; falta de cálculos

de máximo e mínimo para cargas atuantes, acarretando em resultantes negativas

podendo ocorrer situações de arrancamento (tração); solicitações mal distribuídas

devido ao dimensionamento incorreto de elementos estruturais (ex.: vigas de

equilíbrio); abertura de fissuras onde não são previstas fissuração do concreto por

tração; instabilidade global da estrutura onde os esforços horizontais no cálculo

estrutural não foram verificados; ausência de transferência de cargas às fundações,

degradação da armadura, dano ao desempenho em longo prazo e falhas no

recobrimento devido à falta de detalhamento estrutural adequado; falha nos

elementos ou suscetibilidade em ambiente agressivo devido à armadura muito

densa; excentricidades significativas e alteração nas solicitações devido à ausência

Page 54: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

do exame de situação. Na figura 20, os esforços previstos à esquerda em projeto

(esforços horizontais e verticais) quando a situação real requer um cálculo

diferenciado (esforços horizontais, verticais e momento) podendo ocasionar

instabilidade de toda a estrutura.

Figura 20 – Esforços não equilibrados (Milititsky, 2008)

Na figura 21 a carência de detalhes estruturais ocasionou a ausência de

transferência de cargas aos blocos de fundação e recobrimento insuficientes. Neste

caso, o comprimento da armadura de espera para o bloco foi insuficiente, a espera

necessária para este bloco está em projeção.

Figura 21 – armadura de espera para bloco de fundação insuficiente (Milititsky,

2008)

Page 55: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

3 - Investigação Geotécnica

A primeira etapa para elaboração de um projeto de fundação consiste na

investigação geotécnica. Na investigação geotécnica definiram-se todos os

parâmetros para a definição do tipo de fundação tais como:

Capacidade de carga do solo

Nível de água (N. A.)

Tipo de solo

Profundidade da fundação

Definição do tipo de fundação.

3.1 - Métodos de investigação

3.1.1 – Ensaio SPT (Standard Penetration Test )

Este ensaio originou-se nos estados unidos, e hoje é um dos mais utilizados.

O ensaio consiste na penetração do amostrador através do impacto de um martelo

de 65 kg caindo de uma altura de 75 cm, erguido por corda. A sondagem deve ser

executada a cada metro, sendo medido o número de golpes necessários para

penetração do amostrador a profundidade de 45 cm em três segmentos 15 cm. Para

cada metro o avanço da escavação (55 cm) deve ser feito com trado ou com trépano

e circulação de água.

O índice de resistência à penetração (NSPT) consiste no número de golpes

necessários para a cravação dos 30 cm finais do amostrado.

Em abordagem recente, Ranzini (1988) sugeriu procedimentos adicionais ao

ensaio, com a medição de torque após a execução do SPT para a obtenção de um

valor de atrito lateral. Não significa uma modificação, mas sim um prosseguimento

do ensaio após o seu termino, não alterando o procedimento e obtenção do índice

de resistência a penetração (N).

Algumas considerações apenas devem ser levadas em conta a respeito de

alguns dos elementos a execução do SPT T (Sondagens de simples reconhecimento

com medida de torque), como por exemplo, a “cabeça de bater”.

Page 56: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Ela deve conter um chanfro quadrado no furo central para possibilitar o

encaixe do adaptador sem a retirada da cabeça de bater uma vez que esse

procedimento pode acarretar uma rotação no conjunto haste-amostrador, alterando

assim o valor do torque. Para facilitar a medida do torque máximo é preferível a

utilização de torquímetro com ponteiro de arraste.

O torquímetro deve ser calibrado periodicamente e sempre que, por acidente,

sofra algum impacto ou exceda à capacidade máxima durante o ensaio. A altura final

do conjunto haste-amostrador em relação ao sondador que efetuará a medida do

torque deve ser observada, pois depois de cravado o amostrador para determinação

do SPT, a cabeça de bater deverá estar na altura do cotovelo do operador para

facilitar a rotação com o torquímetro na horizontal.

Terminada a operação para obtenção de N, instala-se o adaptado rpara

encaixe do torquímetro, o qual deve ser girado sem interrupções e sem solavancos

para obtenção da leitura do torque máximo, prosseguindo-se com a rotação até a

estabilização da leitura que fornecerá o torque residual (mínimo). Torque máximo

(Tmáx) momento de torção máximo necessário à rotação do amostrador, obtida logo

após a cravação do mesmo. Torque residual (Tres) momento de torção residual que

permanece constante após o rompimento do atrito lateral entre o solo e o

amostrador. Essa medida é obtida durante a rotação ininterrupta do torquímetro,

quando o torque permanecer constante.

Ainda de acordo com Peixoto (2001), o ensaio SPT – T mostrou-se como boa

ferramenta para o calculo da previsão de capacidade de carga de estacas.

3.2 - Geofísica

A Geofísica envolve o estudo daquelas partes profundas da Terra que não

podemos ver através de observações diretas, medindo suas propriedades físicas

com instrumentos sofisticados e apropriados, geralmente colocados na superfície.

Também inclui a interpretação dessas medidas para se obter informações úteis

sobre a estrutura e sobre a composição daquelas zonas inacessíveis de grandes

profundidades.

3.3 – Patologia na investigação do subsolo

Page 57: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

3.3.1 – Ausência de investigação Geotécnica

Ocorre principalmente em obras de pequeno e médio porte devido ao custo

do processo e o orçamento da obra, é uma pratica inaceitável onde o construtor

assume o risco de ocorrências de patologias na execução da obra. A ausência

completa da investigação é o motivo da aplicação de soluções inadequadas para a

fundação, como mostra a tabela 8 abaixo.

Tipo de fundação Patologias típicas

Fundação direta Tensões de contato muito elevadas,

incompatibilidade com as

características do solo, recalques

inadmissíveis,

Fundações profundas Tipo de estaca inadequado,

resultando em um comportamento

diferente do previsto, comprimento,

diâmetro e geometria inadequada,

Tabela 8 – Patologias típicas causadas pela ausência de investigação geotécnica

3.3.2 – Investigação insuficiente

Mesmo executando a sondagem, a mesma pode ser insuficientes e

inadequadas para diagnosticar problemas que possam afetar a fundação e

conseqüentemente a estrutura por completa. Existem casos típicos:

Número insuficiente de sondagem para grandes áreas eu com variação de

subsolo variado;

Profundidade de investigação insuficiente;

Características de comportamento não identificadas por necessidades de

ensaios especiais;

3.3.3 – Investigação com falhas

Page 58: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Durante o processo de sondagem pode ocorrer anomalias que comprometem

os resultados obtidos e sendo utilizados para elaboração do projeto. Na realização

da sondagem, alguns erros são considerados comuns:

Erro na localização do local

Localização incompleta

Execução com métodos inadequados

Utilização de equipamento com defeito ou fora da especificação

Falta de nivelamento dos furos em relação a um ponto referencial

Erro na analise das características do solo

Procedimentos fraudulentos

Essas falhas provocam problemas durante a execução da fundação devido à

diferença entre a diferença do estimado e da realidade observada durante a

execução. Danos críticos podem ser observados em casos que os dados

representativos não foram considerados em projeto, para evitar esse tipo de

problema é recomendada a contratação de empresas idôneas e não dispensado o

acompanhamento na execução da sondagem. Alguns indicadores de possível

problema na execução da sondagem são:

Alta produtividade das equipes de sondagem, com furos profundos e

tempos reduzidos.

Semelhança na comparação dos resultados entre furos de sondagem.

Em casos de sondagem mista é comum à utilização de equipamentos

rotativos depois da primeira ocorrência de solo ou material mais resistente, mesmo

nos casos que abaixo do solo ou material mais resistente existe solo que precisa ser

analisado com equipamento de percussão para que possibilite analise de resistência

e características.

3.3.4 – Análise inadequada dos dados da sondagem

A consideração de valores inadequados mais representativos pode provocar

um resultado inadequado nas fundações.

Page 59: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

As ocorrências desse tipo podem ser analisadas no Capítulo 4 –

Análise e Projeto, no qual as adoções de parâmetros errôneos podem comprometer

a estrutura por completo.

Page 60: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

4. ANÁLISE E PROJETO

4.1 Definições

Os elementos necessários para o desenvolvimento de um projeto de

fundação são:

Topografia da Área

- Levantamento topográfico (planialtimétrico);

- Dados sobre taludes e encostas no terreno (ou que possam, no caso de

acidente, atingir o terreno).

Dados geológico-geotécnicos

- Investigação do subsolo (preferencialmente em 2 etapas: preliminar e

complementar);

- Outros dados geológicos e geotécnicos (mapas, fotos aéreas e

levantamentos aerofotográficos, artigos sobre experiência anteriores na área

etc.).

Dados da estrutura a construir

- Tipo e uso que terá a nova obra;

- Sistema estrutural;

- Cargas (ações na fundação).

Dados sobre construções vizinhas

- Tipo de estrutura e fundação;

- Número de pavimentos, carga média por pavimento;

- Desempenho das fundações;

- Existência de subsolo;

- Possíveis conseqüências de escavações e vibrações provocadas pela nova

obra.

Page 61: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

O conjuntos de dados 1, 2, e 4 devem ser cuidadosamente avaliado pelo

projetista em uma visita ao local de construção.

4.2 Análise de cargas nas fundações

As solicitações a que uma estrutura esta sujeita podem ser classificadas de

diferentes maneiras. No exterior é comum separá-las em dois grandes grupos:

1) Cargas vivas, separadas em:

- Cargas operacionais (ocupação, armazenamento, passagem de veículos,

frenagens etc.);

- Cargas ambientais (ventos, correntes etc.);

- Cargas acidentais (colisão, explosão, fogo etc.).

2) Cargas mortas ou permanentes (peso próprio, empuxo de terras e

águas etc.).

Já no Brasil, a norma NBR 8681/84(“Ações e Segurança nas Estruturas”)

classifica as ações nas estruturas em:

A- Ações permanentes: as que ocorrem com valores constantes durante

praticamente toda a vida da obra (peso próprio da construção e de equipamentos

fixos, empuxo esforços devido a recalque de apoios);

B- Ações variáveis: as que ocorrem com valores que apresentam

variações significativas em torno da média (ações devidas ao uso da obra,

tipicamente);

C- Ações excepcionais: as que têm duração extremamente curta e muito

baixa probabilidade de ocorrência durante a vida da obra, mas que precisam ser

consideradas no projeto de determinadas estruturas (explosões, colisões, incêndios,

enchentes, sismos)

Page 62: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

A norma NBR 8681/84 estabelece critérios para combinações destas ações

na verificação dos estados-limites de uma estrutura:

a- Estados - limites últimos (associados a colapsos parciais ou totais da obra)

b- Estados - limites de utilização (quando ocorrem deformações, fissuras, etc.

que comprometem o uso da obra).

4.3 Análise do Solo

Segundo Vargas (1998), quanto a sua origem todo tipo de solo provem da

decomposição das rochas, decorridas pela ação das intempéries. Caso o solo

permaneça no local ao qual se deu o fenômeno de decomposição, ele é denominado

como solo residual. Quando o solo for carreado por ações das chuvas, rios e ventos,

denomina-se solo do tipo transportado.

Devido as diversas distinções dos tipos de solos existentes e suas

respectivas variações, tais como:

Partículas

Constituição mineralógica

Granulometria

Umidade

Índice de vazios

Tensão admissível

Compactação

Classificação

Ao longo do tempo o estudo do solo e suas propriedades tem sido cada vez

mais profundo, a engenharia tem buscado o entendimento especifico de cada tipo e

seu comportamento quando estão submetidos as tensões transmitidas pelos

elementos de fundação.

Segundo NBR 6122 (1996), a análise do solo para fins de projeto ou

execução de um determinado tipo de fundação, deve proceder através das

seguintes investigações:

Em Campo

Em Laboratório

Page 63: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

4.3.1 Investigação em Campo

As investigações em campo têm como objetivo verificar quais os tipos de

solos existentes nas camadas do subsolo do terreno, buscando um conhecimento

detalhado quanto à classificação do solo existente e suas propriedades.

Segundo Quaresma, Décourt, Filho, Almeida, Danziger (1998), para

identificar e classificar os solos, há necessidade de executar ensaios “in situ”. A

determinação das propriedades podem ser determinadas tanto em ensaios de

campo quanto a ensaios em laboratório. Alguns dos ensaios de campo que mais se

destacam são:

Standard Penetration Test - SPT

Standard Penetration Test com medidas de torque – SPT-T

Ensaio de Penetração de Cone – CPT

Ensaio de Penetração do Cone com medida das pressões neutras –

CPT – U

Ensaio da Palheta

Pressiômetros

Dilatômetro de Marchetti

Ensaio de Carregamento de Provas de Cargas

Ensaios Geofisicos

4.3.2 Investigação em Laboratório

Segundo Quaresma, Décourt, Filho, Almeida e Danziger (1998), as

investigações em laboratório são restritas a poucos casos, sendo direcionado

principalmente a casos especiais em solos coesivos.

Segundo NBR 6122 (1996), as investigações em laboratório, tanto para

amostras indeformadas ou deformadas, devem ser representativas quanto as

condições das amostras tais como:

Caracterização

Resistência

Deformabilidade

Permeabilidade

Page 64: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Colapsibilidade

Expansibilidade

4.4 Interação solo-estrutura

Uma edificação pode ser dividida em três partes: superestrutura, infra-

estrutura ou fundação e maciços de solo ou rocha.

A superestrutura é constituída por lajes, pilares, vigas e elementos de

fachadas e divisões internas. A infra-estrutura engloba toda parte dos elementos

enterrados ou abaixo do nível zero do terreno, referendo-se a cintas e fundações

onde é submetida a receberem todas as cargas da edificação.

A interação solo-estrutura é um mecanismo cujo controle é feito pela

interação dessas três partes. A compatibilidade da interação solo-estrutura tem

como desempenho unificar recalques, a depender do conjunto solo-estrutura. Essa

compatibilidade diminui a curvatura da deformada de recalques, diminuindo danos

por fissuração.

4.4.1 – Variáveis do sistema solo fundação

Existem quatro variáveis no sistema solo fundação: superestrutura, infra-

estrutura, solo de fundação e espaço ambiental. Cada um apresenta uma série de

fatores condicionantes que são próprios e respondem pela importância de um

sistema conforme descrito Na tabela 9 abaixo:

Variante Descrição Fatores

condicionantes

Super estrutura Sistema estrutural Estruturas em vigas,

pilares e lajes, arco,

pórtico treliça. Estruturas

enterradas atirantadas

ou ancoradas

Material construtivo Concreto, concreto

armado, concreto

Page 65: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

protendido, aço, madeira

Detalhe construtivo Definições de juntas,

subsolo, execução da

obra

Tipo de carregamento Peso próprio,

sobrecarga móvel e

dinâmica, vento, água

Infra-estrutura

Tipo de fundação Fundações profundas

(estacas , tubulões)

fundações rasas (blocos

e sapatas)

Geometria Dimensões e

profundidade

Material Aço, madeira, concreto.

Processo executivo Escavada manual ou

mecanicamente,

cravada pré moldada,

tubulões a céu aberto ou

ar comprimido,

escoramento,

rebaixamento do N.A.

Detalhe construtivo Seqüência de execução,

cotas, estaqueamento,

perfuração.

Solo de fundação Tipo de solo Areia, argila, silte, rocha,

turfa.

Geométrica Espessuras das

camadas, profundidade,

posicionamento do N.A.

Dados Geotécnicos Caracterização do solo,

resistência,

granulométrica, tipo,

mineralogia.

Otimização do terreno Remoção, Substituição

Page 66: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

de solo, compactação

de solo, sistema de

drenagem.

Alteração Colapso, Erosão interna.

Espaço ambiental

Espaço físico Vizinhos, encostas, rio,

lagos, falhas

geotécnicas.

Geometria Inclinação do talude,

distância.

Processo geológico Erosão, cheia,

Cavernas, instabilidade

de taludes, avanço do

mar.

Atividade biológica Microorganismos de

madeira, cupins,

formigas.

Tabela 9 - Fatores condicionantes para o sistema solo fundação

Meio ambiente Sistema solo fundação estrutura

Origem Elemento

interativo

Estrutura Fundação solo

Patrimônio

Natural

Ar

Carregamento do

vento e ataque

químico dos

materiais pela

poluição

Oxidação de

estacas

metálicas

expostas,

poluição

sonora devido

a cravação das

estacas

Erosão eólica

Água -infiltração com

deterioração dos

elementos

construtivos

Ataque

químico em

função de

águas

agressivas no

Percolação

causando erosão

interna, alteração

do grau de

umidade do solo

Page 67: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

subsolo causando recalque

em solo não

saturado,

expansão em solos

expansivos.

Colapso em solos

colapsáveis,Erosão

marinha, fluvial.

Relevo

Empuxo das

terras nos cortes

sobre estruturas

Redução da

capacidade de

carga em solos

inclinados

Movimentação e

deslizamentos de

terra

Organismos Ataques químicos

com deterioração

e redução de vida

útil

Ataques em

estacas de

madeira acima

do N.A.

Redução da

umidade do terreno

por sucção das

plantas, cupins e

formigas.

Patrimônio

criado

Obras

existentes

Bulbos de

tensões

atingindo

estruturas

vizinhas

Técnicas de

construções que

atinjam os

vizinhos,

percolação devido

a vazamentos e

erosões.

Tabela 10 - Interação meio ambiente e fundação

4.4.2 – Metodologias de estudo da interação solo-estrutura

Os projetos de estrutura convencional são baseados nas transmissões de

cargas da super estrutura para a infra estrutura através de conceitos de apoios

móveis. Já a infra-estrutura é baseada somente nas cargas dos apoios e nas

propriedades dos terrenos.

Em alguns estudos são analisados parâmetros sofisticados para os processos

de um projeto e ao mesmo tempo bastante simples para os problemas nas

Page 68: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

avaliações do sistema de interação solo estrutura. São consideradas as cargas

completas antes da ocorrência de carregamentos, mesmo as cargas sendo aplicada

gradativamente ao longo da execução do edifício. Essas limitações comprometem

as análises dos resultados de medições praticas em prédios sendo construídos. A

tabela 11 descreve algumas dificuldades de modelagem da interação solo estrutura:

Variáveis Dificuldades

Super estrutura Seqüência de construção,

carregamentos externos

Infra-estrutura Execução e transferência de cargas

para o solo

Tabela 11 - Modelagem de interação solo-estrutura

Existem alguns métodos de estudos do sistema de interação solo estrutura,

dependendo da variável escolhida, conforme tabela 12 abaixo.

Variável Método de análise

Super estrutura Análise dos esforços devido a

movimentação da fundação

Infra-estrutura Análise das forças transmitidas para o

solo

Terreno de fundação Análise de recalques devido a

carregamentos transmitidos pela

fundação

Sistema global Análise e estudos de previsão de

desempenho

Tabela 12 - Métodos de estudo do sistema de interação solo estrutura

4.4.3 – Funcionamento da interação solo estrutura

Com o recalque dos apoios, provoca-se uma redistribuição de esforços entre

os elementos estruturais, em especial nas cargas de pilares, podendo provocar

danos na edificação. Com isso, há uma transferência de cargas dos apois que

tendem a recalcar mais para os apoios que tendem a recalcar menos.

Page 69: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Outro fato relevante são as ligações entre os elementos estruturais, sendo

esses consideravelmente rígidos, restringindo as movimentações entre os apoios

ocasionando recalques ocasionais menores que os estimados.

Vários estudos mostram que com a diminuição do recalque diferencial devido

ao aumento da rigidez relativa solo estrutura, o recalque absoluto médio é

praticamente independente, ou seja, a distribuição dos recalques e indicada pelo

sistema de interação solo estrutura.

Considerando a seqüência de execução da construção, facilita o

entendimento deste mecanismo. Grande parte dos estudos sobre interação solo

estrutura considera não haver carregamento durante a execução da edificação.

Como a rigidez é muito influenciada pela altura a seqüência construtiva assume

importante influencia sobre o sistema de interação solo estrutura. Na execução, a

carga média dos pilares cresce, com isso o recalque médio também cresce. Com

uma maior rigidez na estrutura, faz com que haja uma uniformidade dos recalques,

sendo observada uma diminuição no coeficiente de variação. Com o aumento da

altura a edificação passa a não contribuir no aumento da rigidez do conjunto solo

estrutura, havendo uma rigidez limite quando os recalques passam a ser em função

apenas das cargas.

4.4.4 – Interação solo estrutura nos recalques e nas cargas

A importância da deformação dos recalques para o entendimento do sistema

de interação solo cimento, a analise é feita através do uso da curva de freqüência ou

da distribuição de recalques medidos em um determinado estagio de carregamento

da edificação, obtendo-se três grandezas : recalque médio , recalque mínimo e

recalque Maximo com determinação do desvio padrão.

O coeficiente de variação que é a relação entre o desvio padrão e o recalque

médio é um índice de não uniformidade nos recalques naquele índice de

carregamento. Ao decorrer da execução da edificação, devido ao aumento da rigidez

o coeficiente de variação reduz.

Com o recalque absoluto conseguimos avaliar os efeitos das distribuições de

cargas, indicando qual pilar obteve ganho ou perca de carga, se o valor do recalque

absoluto for menor que um, o pilar teve redução na sua carga e se maior que um

obteve ganho na sua carga.

Page 70: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Nas cargas, podemos considerar como efeito mais importante é a distribuição

das cargas nos pilares. Como nos recalques, para cada nível da obra há um

aumento na rigidez na estrutura e nas cargas da fundação. Para cada etapa de

execução da edificação há um diferente nível de equilíbrio no sistema solo estrutura,

onde gera uma deformação nos recalques e redistribuindo as cargas dos pilares.

Essa redistribuição se da na transferência das cargas maiores para os pilares

periféricos e menor carga nos pilares internos no caso de uma deformação côncava

de recalques.

4.4.5 – Problemas na interação solo estrutura.

Quando a fundação transfere cargas para o solo e essa transferência

é considerada isolada, se existir outra fundação aplicando outra tensão no solo

causando a sobreposição de bulbos de tensões (vide figura 2);

Quando um conjunto de estacas está apoiado em camadas pouco

espessa, sobrepostas a camadas argilosas moles pode romper se não estiver sido

analisada as camadas abaixo da ponta da estaca, ou seja, a análise da capacidade

de carga da camada compressível abaixo da ponta da estaca;

Figura 22 - Estacas apoiadas em solos resistentes sobre solo mole – livro patologia

das fundações

Fundação direta ao lado de escavações aterradas submetida a

esforços horizontais não previstos;

Page 71: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 23 - Fundação submetida a esforços horizontais – livro patologia das

fundações

Desconsideração de atrito negativo nas estacas, ocasionadas em

maior intensidade em solos provenientes de aterro sobre solos moles, rebaixamento

do lençol freático. O deslocamento das camadas de solo em relação ao corpo da

estaca provoca um carregamento na fundação e não de resistência às cargas do

solo.

Figura 24 - Atrito negativo – livro patologia das fundações

Existência de aterros em diferentes cotas sobre solos moles,

submetendo as estacas a esforços horizontais, se essas cargas não forem

consideradas nos cálculos causara danos na fundação.

Page 72: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 25 - Condições geométricas do terreno – livro patologia das fundações

Utilização de modelos simplificados de cálculos como a verificação pelo

método do cone de arrancamento usados em fundações superficiais em fundações

profundas, resultando valores superiores aos reais na cinemática de ruptura;

Figura 26 - Modelo de cone de arrancamento – livro patologia das fundações

Consideração individual nos cálculos de grupo de estacas pela soma

das cargas de ruptura, resultando em valores superiores ao real. Na consideração

das cargas individuais ao invés de ser considerada em grupo gera um valor superior

aos da analise da ruptura em grupo.

Page 73: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 27 - Tração em grupo de estacas – livro patologia das fundações

Não verificação de flambagem em estacas esbeltas em solos moles

ocasionando flambagem não previstas.

Figura 28 - Flambagem de estaca – livro patologia das fundações

Falta de travamento nas duas direções em estacas isoladas das

estacas esbeltas em solos onde as camadas de baixa resistência resultando

Page 74: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

comprimento de flambagem maiores do que os considerados em cálculos para os

pilares.

Figura 29 - Comprimento de flambagem real – livro patologia das fundações

4.4.6 – Efeitos da interação solo estrutura nos danos

A interação solo estrutura tem grande influência nos danos e lesões causados

por recalque nas edificações. As principais análises são os comparativos entre os

movimentos estimados da fundação com os valores máximos admissíveis. Os danos

causados devido ao recalque podem ser divididos em 3 tipos: aparentes , funcionais

e estabilidade conforme tabela 13 abaixo:

Tipo Característica Exemplo

Aparência Danos aparentes que

não afetam a estrutura

da edificação

Fissuras nas paredes

estruturadas

aporticadas, pequena

inclinação do corpo

rígido.

Funcionais Danos que afetam as

funções de utilização da

edificação

Dificuldade de abertura

de janelas e portas,

mudança de fluxo do

sistema de drenagem,

irregularidade nos pisos

Page 75: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

e nos trilhos do

elevador.

Estabilidade Danos que afetam o

sistema estrutural

podendo causar colapso

na estrutura

Fissuração em pilares,

vigas e alvenaria

estrutural.

Tabela 13 – Danos causados devido a recalques

Com os recalques podem aparecer esforços secundários no sistema

estrutural, afetando diretamente pilares, vigas e paredes. Podendo aparecer fissuras

nas paredes em 45 graus que é a direção de maior tensão de tração, que são

comuns aparecer sobre a argamassa de ligação da alvenaria.

Page 76: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

5. EXECUÇÃO DE FUNDAÇÃO

Devido aos diversos tipos de solo e suas respectivas classificações, fez-se

necessário ao longo do tempo o desenvolvimento de determinados elementos de

fundação, que atendam a tensão admissível de suporte para cada tipo específico de

solo, encontrado em uma determinada região, onde o mesmo possa receber uma

determinada edificação, sendo está uma ponte, edifício ou demais estruturas. Com

isso os engenheiros procuraram desenvolver métodos mais eficazes no processo de

execução de fundação, sendo tanto para execução de fundações rasas como

profundas. No Brasil criou-se como referência através da Associação Brasileira de

Normas Técnicas – ABNT, a Norma Brasileira Regulamentadora - NBR 6122 (1994)

Projeto e Execução de Fundações, como referência técnica na execução de

qualquer tipo ou elemento de fundação.

5.1 Definição

As fundações são elementos estruturais que tem como objetivo transferir as

cargas de uma determinada estrutura ao terreno onde a mesma se apóia. Está

tende a garantir, de acordo com as condições a qual foi projetada, o devido suporte

as tensões transmitidas pelos esforços da estrutura.

Segundo Alonso (1991), as fundações devem ser projetadas e executadas,

tendo como garantia mínima as condições de segurança exigidas pelas normas

técnicas, funcionalidade como garantia de deslocamentos com determinados tipos e

função a que se destinam as estruturas e por fim a durabilidade que deverá

apresentar tempo de vida útil no mínimo igual ao da estrutura existente.

Velloso e Lopes (1998), definem as fundações como sendo divididas em 2

grupos, sendo a 1° do grupo, definida como superficial ou direta, estas tendem a

distribuir as cargas no solo pela superfície do terreno ou a pequenas profundidades,

a 2° define-se como fundação profunda, onde o mecanismo de ruptura não distribui

as cargas na superfície do terreno, más sim a no mínimo 3m de profundidade,

também pode-se acrescentar um 3° grupo definido como fundação mista onde se

associam as fundações superficiais e profundas em um único elemento de fundação.

Teixeira e Godoy (1998), atribuem as fundações rasas ou diretas como

Page 77: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

sendo assim chamadas por se apoiarem sobre o solo a pequenas profundidades,

em relação ao solo local. Utilizando essa definição, considera-se que um elemento

de fundação para um prédio a ser construído com dois subsolos, será considerada

rasa ou direta mesmo se apoiando a alguns metros do nível da rua.

NBR 6122 (1996) define como fundação profunda, o elemento que transmite

as cargas da estrutura ao terreno pela sua base, pela superfície lateral ou pela

combinação das duas citadas, devendo está ser considerada no mínimo com 3m de

profundidade. Os tipos aos quais se adéquam as fundações profundas são os

tubulões, estacas e os caixões.

5.2 Tipos de Fundação

5.2.1 Fundação Superficial

As fundações superficiais dividem-se em tipos específicos sendo estes

destacados como bloco, sapatas e radier.

5.2.1.1 Bloco

Bloco de uma fundação é definido como o elemento de apoio que tende a

distribuir as cargas pontuais recebidas pelos pilares da edificação diretamente ao

solo. Conforme figura 30 nota-se um pilar distribuindo a carga pontual a um bloco de

fundação.

Figura 30 – Bloco de uma fundação

A altura do bloco utilizado como elemento de fundação é relativamente

grande, e o mesmo têm a função de atender aos esforços de compressão, sendo

construído em concreto simples e podendo assumir a forma de um bloco, tronco de

Page 78: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

cone ou escalonado conforme figura 31.

Figura 31 – Bloco tronco de cone e escalonado

Através da figura 32 nota-se a transferência das cargas da estrutura ao

elemento de fundação, sendo estas transmitidas pelo bloco ao solo.

Figura 32 – Transferência das cargas da estrutura ao bloco de fundação

5.2.1.2 Sapata

As sapatas são consideradas um elemento de fundação em concreto

armado, de modo que o concreto atenda as tensões de compressão e o aço as

tensões de tração. Sua altura é menor do comparada a de um bloco e sua base vista

Page 79: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

em planta pode ser quadrada, trapezoidal ou retangular. Os tipos mais utilizados

são:

Sapata Isolada

Sapata Corrida

Sapata Associada

Sapata Alavancada

5.2.1.2.1 Sapata Isolada

Sapatas isoladas não têm nenhum tipo de associação com outro elemento

de fundação, a mesma é dimensionada de acordo com a carga pontual, transmitida

diretamente pelos esforços de um pilar, podendo ser interligadas por vigas

baldrames. Este tipo de fundação é feita em concreto armado e sua geometria é

semelhante a de uma pirâmide conforme figura 33.

Figura 33 – Sapata Isolada

5.2.1.2.2 Sapata Corrida

As sapatas corridas diferentemente das isoladas, estão sujeitas a cargas que

se distribuem linearmente, sendo esta utilizada normalmente como apoio das

paredes conforme demonstra a figura 34. Também pode ser utilizada como apoio a

muros e pilares alinhados e se dividem em dois tipos, sendo o primeiro do tipo

simples, com o uso de concreto e sem a utilização de aço, e o segundo do tipo

concreto armado, sendo este o tipo de sapata corrida mais utilizado nas edificações.

Page 80: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 34 – Sapata corrida

5.2.1.2.3 Sapata Associada

As sapatas associadas são utilizadas quando os pilares de uma edificação

estão próximos ou se sobreponham e quando as cargas de um ou mais pilares da

estrutura são elevadas. A sapata associada deve estar centrada no centro de

gravidade dos pilares, onde receberá as cargas e as distribuirá uniformemente ao

solo através de sua viga de rigidez, conforme apresentado na figura 35.

Figura 35 – Sapata Associada

5.2.1.2.4 Sapata Alavancada

Sapatas alavancadas se diferem dos outros tipos de fundações rasas, no

que se refere aos pilares de divisa de uma determinada estrutura, ou onde o centro

de gravidade do pilar não distribua as cargas no centro de gravidade da sapata.

Este tipo de sapata é utilizada para compensação da excentricidade dos

esforços ou cargas distribuídas, onde parte dos esforços e das cargas são

transferidas para uma sapata próxima por meio de uma viga alavanca conforme

demonstrado na figura 36.

Page 81: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 36 – Sapata Alavancada

5.2.1.3 Radier

Segundo Teixeira e Godoy (1998), a estrutura de fundação do tipo radier é

utilizada quando uma determinada estrutura e seus respectivos pilares transmitem

suas cargas a uma sapata, conforme figura 37.

Figura 37 - Transferência das cargas da estrutura para fundação em radier

O radier é considerado um elemento de fundação de difícil execução, devido

ao seu grande volume de concreto armado, por isso é pouco utilizado, ele deve

resistir aos momentos vindos dos esforços transmitidos pelos pilares, devendo

transmiti-los diretamente ao solo, quanto a execução das instalações hidráulicas e

demais serviços enterrados abaixo a estrutura, devem ser realizadas com

antecedência.

5.2.2 Fundação Profunda

As fundações profundas são os elementos de fundação que transmitem as

cargas da estrutura ao terreno seja pela base, superfície lateral ou pelo uso das

duas combinações.

5.2.2.1 Tubulões

Page 82: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

A NBR 6122/1996, define os tubulões como sendo o elemento de fundação

profunda em formato cilíndrico, onde é necessário na sua execução final a descida

de um operário. Podendo ser dois tipos, tubulão a céu aberto e tubulão a ar

comprimido.

Segundo Alonso e Golombek (1998), os tubulões são definidos como os

elementos estruturais de fundação profunda, que são construídos de modo à

concretar um poço, sendo ele revestido ou não, geralmente tem sua base alargada.

São divididos em dois tipos básicos, tubulões a céu aberto, utilizado na maioria das

vezes sem revestimento, e a ar comprimido, este utilizado com revestimentos,

podendo ser revestido com uma camisa de concreto armado ou por uma camisa de

aço.

Segundo Albiero e Cintra (1998), os tubulões são utilizados para transferir ao

solo, as cargas verticais, sendo elas de tração ou compressão, e até mesmo as

cargas horizontais.

5.2.2.1.1 Tubulão a Céu Aberto

Os tubulões a céu aberto podem ser considerados como o elemento de

fundação profunda, que são escavados manualmente, através de operários, ou

escavados mecanicamente com a utilização de equipamentos mecânicos para

perfurar o fuste do tubulão conforme figura 38. Más tanto na escavação manual

quanto na mecânica, há necessidade da descida de operários para execução do

alargamento de base ou limpeza do fundo do fuste.

Figura 38 – Escavação mecânica de tubulão a céu aberto

Este tipo de fundação tem suas cargas transmitidas ao solo por meio de sua

Page 83: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

base, sendo esta em formato circular ou de falsa elipse. O diâmetro utilizado no

fuste é de no mínimo 70cm, para permitir o acesso de operários.

Os tubulões a céu aberto devem ser executados acima ou até mesmo

embaixo do lençol freático, desde que o solo mantenha-se estável evitando assim

possíveis desmoronamentos e controlando a água em seu interior.

Segundo Alonso e Golombek (1998), a base do tubulão a céu aberto deve

ser dimensionada com altura inferior a 2m, sendo que em casos justificados, podem

ser admitidas alturas superiores. Caso as características do solo indicar que o

alargamento da base seja problemático são aconselháveis o uso de aplicações

superficiais de cimento, e escoramentos para evitar o desmoronamento da base.

5.2.2.1.2 Tubulão a Ar Comprimido

Segundo Alonso e Golombek (1998), os tubulões a ar comprimido são

utilizados em solos saturados, onde não seja possível retirar a água acumulada

devido ao perigo de desmoronamento do solo ao redor do fuste. Os tubulões deste

tipo podem ser em camisa de concreto executado manualmente, ou de aço,

cravadas por martelos vibratórios ou por percussão, no perímetro do fuste.

A camisa é utilizada como uma forma de prevenir o operário contra os riscos

de desmoronamento e como apoio a campânula, utilizada para compressão do ar,

tornando possível o trabalho de escavação manual em solos saturados, conforme

apresentado na figura 39.

Page 84: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 39 - Execução de um tubulão a ar comprimido com camisa de concreto

Devido à necessidade de efetuar escavações em solos saturados e tornar

possível a execução de um tubulão, injeta-se ar comprimido com uma pressão

compatível á pressão da água existente no solo, sendo que nos solos arenosos a

pressão existente deve ser maior, com o intuito de suprir as perdas de carga e

consequentemente às perdas de ar, tornando favorável a estabilidade durante a

execução, segundo Albiero e Cintra (1998).

5.2.2.2 Caixões

Também a NBR 6122/ 1996 define os caixões como o elemento de fundação

profunda que tem sua forma prismática. Sua concretagem deve ser feita na

superfície e sua instalação deve ser feita por escavação, podendo ser utilizado ar

comprimido em sua execução e também ter sua base alargada.

Segundo Albiero e Cintra (1998), caixões são as peças que tem sua seção

quadrada e retangular, sendo suas paredes laterais pré-moldadas. O processo de

escavação interna do solo é necessário para a implantação do caixão no subsolo,

até alcançar a profundidade ideal para seu apoio.

5.2.2.3 Estacas

Page 85: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

As estacas são consideradas como o elemento de fundação, executado por

ferramentas e equipamentos, sem que seja necessária a descida de operário no

subsolo. Os materiais utilizados para este tipo de fundação profunda pode ser de

madeira, aço, concreto moldado in loco, concreto pré-moldado ou misto, (NBR 6122/

1996).

Segundo Décourt (1998), as estacas utilizadas como elemento de fundação

podem ser classificadas em dois tipos:

Estacas de Deslocamento

Estacas Escavadas

5.2.2.3.1 Estacas de Deslocamento

Segundo Décourt (1998), as estacas de deslocamento são introduzidas no

solo sem a necessidade de remoção do mesmo durante a sua execução, as

principais estacas de deslocamento são:

Estacas de Pré-moldadas

Estacas de Madeira

Estacas Metálicas

Estacas Tipo Franki

5.2.2.3.1.1 Estacas Pré-moldadas

Segundo Alonso (1998), as estacas pré-moldadas têm como sua principal

característica, ser cravada no terreno por prensagem, percussão sendo esta

executada com o uso de bate estaca, conforme demonstrado na figura 40, ou

vibração. Este tipo de estaca pode ser constituído por um elemento estrutural

podendo este ser de madeira, aço, concreto protendido ou armado.

Page 86: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 40 - Cravação de estaca pré-moldada em concreto armado com bate-estaca

O método mais indicado para a cravação no solo, deste tipo de fundação é a

cravação com equipamento automático, pois este tipo de equipamento permite a

avaliação das características do solo e seu controle eletrônico. A figura 41 mostra

quatro estacas pré-moldadas após sua cravação no solo, sendo utilizada como

elemento de fundação de uma passarela para pedestres.

Figura 41 - Estacas pré-moldadas utilizadas como elemento de fundação

5.2.2.3.1.2 Estacas de Madeira

Segundo Alonso (1998), as estacas de madeira sempre foram utilizadas

desde as civilizações antigas até os dias de hoje. Más devido as dificuldades de se

obter madeira de boa qualidade hoje em dia, seu uso está reduzido. As estacas de

madeira podem ser definidas, como os troncos de árvores esbeltos e com poucas

ondulações em sua estrutura. Este tipo de estaca é geralmente cravado por

percussão, através de pilões que são soltos em queda livre cravando assim a estaca

no solo, conforme demonstra a figura 42. Sua durabilidade é praticamente ilimitada

quando submetida totalmente abaixo do nível de água, caso seja submetida a

Page 87: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

variações do nível da água e tenha contato com o ar, este tipo de estaca pode

apodrecer por ações de micróbios e fungos, prejudicando sua estrutura como

elemento de fundação.

Figura 42 - Cravação de estacas de madeira

5.2.2.3.1.3 Estacas Metálicas

Segundo Alonso (1998), as estacas metálicas são consideradas um elemento

de fundação constituído por aço soldado ou laminado, sendo os perfis mais

utilizados em sua seção, H ou I, também pode ser considerado as chapas dobradas,

formando uma seção circular. Neste tipo de fundação o que tem sido aproveitado

são os trilhos de linhas férreas antigas, que são perdidos com o tempo por ação do

desgaste das mesmas. Conforme figura 43.a nota-se que os trilhos são utilizados

como elemento de fundação em sua forma simples, quanto na figura 43.b pode ser

utilizado como composição de alguns elementos metálicos, formando peças

compostas.

Figura 43.a – Trilhos como elementos de fundação – peças simples

Page 88: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 43.b – Trilhos como elementos de fundação – peças compostas

5.2.2.3.1.4 Estacas Franki

Segundo NBR 6122/1996, as estacas tipo Franki são caracterizadas por ter

sua base alargada, através da introdução no subsolo de concreto ou material

granular, este processo é feito através de golpes de pilão.

De acordo com Maia (1998), as estacas do tipo Franki podem ser definidas

como uma estaca executada em concreto armado moldada no subsolo, nesta é

utilizado um tubo de revestimento, onde o mesmo é cravado no solo com a ponta

fechada e com o uso de uma bucha, e ao ser concretada a estaca, o tubo de

revestimento é recuperado, a figura 44 detalha as 6 fases principais para a execução

da estaca tipo Franki, desde o posicionamento do tubo de revestimento, até a

concretagem do fuste deste elemento de fundação.

Page 89: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 44 – Execução de estacas tipo Franki

5.2.2.3.2 Estacas Escavadas

Segundo Décourt (1998), as estacas escavadas se diferenciam das estacas

de deslocamento devido ao seu método executivo, que é feito através da perfuração

do terreno removendo o material existente, e não por introdução no solo. As mais

utilizadas são:

Estacas Tipo Strauss

Estacas Tipo Hélice Contínua

5.2.2.3.2.1 Estacas Tipo Strauss

As estacas tipo Strauss são definidas como o elemento de fundação profunda

executada por perfuração, utilizando um balde de sonda conhecida como piteira,

podendo seu revestimento ter recuperação total ou parcial e posterior concretagem,

NBR 6122/1996.

Segundo Falconi, Filho e Fígaro (1998), as estacas Strauss são definidas

como estacas apiloadas, mais conhecidas como estacas pilão ou soquetão, devido

ao seu método executivo que consiste na queda de um soquete, abrindo um furo no

Page 90: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

solo e sendo preenchido posteriormente com concreto.

5.2.2.3.2.2 Estacas Tipo Hélice Contínua

Segundo Antunes e Tarozzo (1998), o elemento de fundação profunda do tipo

Hélice Contínua deve ter sua injeção de concreto no subsolo sob pressão

controlada, tendo uma ação simultânea da retirada do trado com a injeção do

concreto. A figura 45 demonstra a seqüência executiva deste tipo de estaca, onde

sua execução pode ser dividida em três fases, perfuração, concretagem e colocação

da armação.

Figura 45 – Execução de estacas hélice contínua

Segundo NBR 6122/1996, as estacas tipo Hélice Contínua são moldadas in

loco, sendo executada através de trado contínuo e pela injeção de concreto no

subsolo pela haste do trado. A figura 46 mostra o equipamento usual, com esteiras,

hélice e o tubo de concretagem utilizados na execução deste elemento de fundação.

Page 91: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 46 – Equipamento utilizado na execução de estacas hélice contínua

Page 92: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

6 EFEITOS PÓS-CONCLUSÃO

6.1 Metodologia

Uma enorme quantidade de construções apresenta problemas relacionados

a um desempenho insatisfatório. Uma grande parte desses problemas pode ser

solucionada. Muitas vezes a análise desses problemas caracteriza-se pela falta de

uma metodologia e as intuições pessoais fundamentadas na experiência e

habilidades prevalecem no lugar do método. No entanto, sempre que puder

ser substituída pelo método, deve ser deixada de lado a habilidade pessoal intuitiva

que naturalmente pode levar ao engano muitas vezes.

“Ainda que a Patologia não deva basear somente nas intuições pessoais, a eficiência na resolução dos problemas e função da vivência do técnico envolvido. Um patologista não se caracteriza por ter um intelecto que, como um receptáculo vazio, somente recolhe da experiência alheia tudo que possa colher. O sucesso na resolução dos problemas depende do alcance, da abertura e plenitude da capacidade do técnico de perceber e vivenciar a própria experiência.” (Lichtenstein, 1985).

O responsável pela resolução de uma patologia deve possuir uma

conceituação firme do método a ser empregado e de cada uma de suas etapas que

são basicamente divididos em três partes:

- Levantamento de dados

- Diagnóstico da situação

- Definição da conduta

6.1.1 Levantamento de dados

O primeiro passo no levantamento de dados é a vistoria do local onde o

técnico direciona a realização do exame utilizando os seus sentidos e determinados

instrumento específicos. Neste primeiro passo, em algumas situações, já se pode

fazer um diagnóstico com o resultado do exame inicial. O problema pode ser mais

precisamente levantado durante uma inspeção periódica, num contexto da

manutenção rotineira do edifício onde devem ser analisados alguns itens como a

Page 93: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

gravidade do problema, definições da extensão e alcance do problema,

caracterização dos materiais e da patologia, isto considerando a utilização dos

sentidos humanos e instrumentos para no final fazer os registros dos resultados.

Alguns aparelhos podem ser úteis para examinar a maioria dos problemas

como:

- Régua de nível

- Fio de Prumo

- Trena precisa

- Macromedidor

- Dilatômetro

- Endoscópio

- Lupa graduada

Uma fase que tem grande relevância é a anamnese do caso, isto é, fazer

uma recordação desde o inicio da construção. Fazer uma investigação das pessoas

envolvidas na construção tais como vizinhos, projetistas, engenheiros, mestre-de-

obras, fabricantes etc. Comparar o projeto “como projetado” e o projeto “como

construído”, pois a maioria das construções apresenta mudanças em relação ao

projeto e estas não são registradas. Analisar os documentos de obra tais como

diário de obras, relatórios dos controles de qualidade, notas fiscais de materiais,

contratos de mão-de-obra, cronograma físico-financeiro previsto e o realizado,

registros de manutenções na construção. Também se faz necessário o levantamento

do histórico como as variações climáticas, escavações, vibrações, rebaixamento de

lençol freático etc.

Após a obtenção destes dados na vistoria do local e na anamnese do caso e,

estes se mostrarem insuficientes para elaboração de um diagnóstico, deve-se

complementar fazendo análises e ensaios em laboratórios que estão em constante

evolução, apresentam alto custo e muitas vezes uma considerável demora, onde

amostras são coletadas “in loco” para avaliação do seu desempenho e são muito

úteis e em alguns casos imprescindíveis. Estes ensaios não podem ser pensados

como uma forma de substituição à vistoria no local.

6.1.2 Diagnóstico da situação

Page 94: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

A elaboração de um diagnóstico tem início a partir do momento em que

começam os estudos referentes ao caso em análise e tem como objetivo o

entendimento de todo o desenvolvimento do problema patológico e não

simplesmente da situação instantânea.

Neste período, é realizada uma interpretação de cada elemento levantado,

compondo progressivamente um quadro cronológico de entendimento de como a

estrutura funciona, como e quando foi construída, qual sua reação aos agentes

agressivos, como, porque e quando surgiram as patologias, etc. Todos estes dados

geram orientações e direcionamentos para a procura de novas informações.

Para Lapa, (2008) “O patologista elabora hipóteses para avaliação da situação e, então, compara-as com os modelos existentes no quadro sintomatológico geral, fazendo uso de seus conhecimentos sobre as patologias, diminuindo as incertezas, até que se encontre uma correlação satisfatória. Porém, uma parcela de dúvida sempre haverá, pois enfermidades diferentes podem manifestar-se de formas parecidas, e muitas podem ser tratadas com o mesmo “remédio”, dificultando a elaboração de um esquema de diagnóstico” .

Nos casos onde os dados não são suficientes para a elaboração do

diagnóstico preciso e definitivo, elabora-se uma análise provisória até a obtenção de

novas informações significativas e conclusivas, com menores riscos de erros dos

resultados, isto é, objetiva-se obter um diagnóstico com grandes possibilidades de

estar correto.

O patologista pode aplicar teorias probabilísticas para a formulação do

diagnóstico, desejando obter as probabilidades de ocorrência de cada hipótese

formulada com base no quadro de sintomas por ele conhecido, onde se pode citar a

aplicação do Teorema de Bayes que mostra a relação entre uma probabilidade

condicional e a sua inversa; por exemplo, a probabilidade de uma hipótese dada à

observação de uma evidência e a probabilidade da evidência dada pela hipótese.

Esse teorema representa uma das primeiras tentativas de modelar de forma

matemática a inferencia estatística, feita por Thomas Bayes, citado por Lichtenstein

(1985).

6.1.3 A definição de conduta

Page 95: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Depois de constituído o diagnóstico da enfermidade em questão, passa-se

para a definição da atitude a ser seguida, isto é, a determinação da medida adotada

para o caso. Porém, antes que se realize qualquer decisão, é necessário que seja

feito um levantamento das hipóteses de evolução futura do problema, isto é, o

prognóstico do caso.

Para a composição do prognóstico, o técnico irá analisar e estudar o

problema, baseando-se em determinados parâmetros, ao longo do tempo, para

alcançar possíveis alternativas de desenvolvimento da patologia. Alguns dos

parâmetros a serem considerados são, por exemplo, o quadro de evolução natural

do problema, as condições de exposição a que a construção se apresenta, o tipo de

terreno em que está localizada, a tipologia do problema, etc.

Este estudo é importante, não só para casos simples de diagnósticos e

reparos, mas principalmente, para problemas complexos, complicados de serem

solucionados, pois, em diversos casos, entende-se que a possibilidade de resolução

total de um determinado problema é praticamente nula, procurando desenvolver

medidas apenas de controle da situação para que esta não venha a piorar. Em

algumas situações, através do prognóstico, percebe-se que a intervenção não será

um procedimento completo e/ou com alto custo/benefício, pois a evolução

desfavorável do caso é um fator inevitável, constituindo-se um prognóstico

pessimista.

Estabelecido o prognóstico, parte-se para a tomada de decisão sobre o que

realizar, analisando-se as possíveis alternativas de interferências frente aos

problemas patológicos. Esta etapa exigirá do profissional grande sensibilidade e

criatividade, além de amplo conhecimento no assunto.

6.2 A tomada de decisão

Esta fase constitui a escolha sobre como atuar às manifestações patológicas,

onde será tomada a decisão dentre as possíveis maneiras de se intervir no caso,

desejando diminuir ou excluir ao máximo o desvio existente entre o desempenho

real e o exigido para a estrutura.

Page 96: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Neste ato, sobre o que fazer todas as soluções imaginadas para tal devem

ser colocadas em uma escala conforme suas possíveis conseqüências, de forma

que a escolha deverá ser feita baseando-se no preenchimento de critérios

constituídos, tais como a relação custo/benefício de cada alternativa, obedecendo

um desempenho final mínimo solicitado. No caso de nenhuma alternativa enquadrar-

se satisfatoriamente aos quesitos, é recomendável o retorno à fase de diagnóstico

para o estudo de novas possibilidades. Assim como o diagnóstico, a tomada de

decisão também envolve incertezas quanto aos resultados dos procedimentos

escolhidos, estando envolvida por um universo probabilístico.

Para que a melhor escolha seja feita, três parâmetros devem ser

considerados e avaliados: o grau de incerteza sobre os efeitos, a relação

custo/benefício e a disponibilidade de tecnologia para a execução dos serviços.

Como já visto, qualquer alternativa a qual for escolhida virá acompanhada de

um grau de incerteza quanto aos efeitos. A probabilidade de sucesso de uma

intervenção frente a um problema patológico está relacionada à ocorrência de um

conhecido quadro de sintomas e pode ser calculada através de fórmulas

probabilísticas.

Os custos de reparação de um problema patológico, segundo estudos

realizados pelo Building Research Establishment (BRE) citado por Lichtenstein

(1985), são aproximadamente, cinco vezes maiores do que a economia inicial obtida

pelo não cumprimento de normas e especificações, sendo, muitas vezes, da mesma

ordem de grandeza da parte do edifício em estudo. Logo, cada alternativa de

intervenção deve ser analisada, havendo um comparativo entre os custos e os

benefícios gerados pela terapia, tanto no período atual, como no restante da vida útil

da edificação.

A disponibilidade de tecnologia para a execução dos serviços também se

constitui um fator importante a ser considerado na escolha da melhor alternativa de

intervenção, englobando tanto equipamentos, materiais e recursos tecnológicos,

como técnica e mão-de-obra qualificada para tal. Este fator deve ser levado em

consideração tendo em vista à localidade da edificação, os recursos da região, a

classe social dos usuários, dentre outros.

Aliando todos estes fatores, idealiza-se chegar a uma solução apropriada

para o problema, mesmo que esta seja a decisão pela demolição da estrutura, caso

todas as alternativas planejadas sejam inviáveis.

Page 97: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

6.3 Registro de Caso

Enfrentado o problema patológico, é necessário partir, então, para o processo

de registro do caso, isso é, a contribuição para a retroalimentação do processo. Esta

fase, inúmeras vezes, é deixada de lado pelo fato das pessoas não perceberem a

sua devida importância, onde o arquivamento de informações já estudadas irá servir

como material de consulta para novos casos de patologias, constituindo-se um

documento formalizado de histórias e soluções de problemas patológicos, podendo

ajudar e aperfeiçoar decisões futuras.

Ocorre que, em muitos casos, não existe uma metodologia científica e

individualizada no tratamento das enfermidades a qual torne possível um registro

formal do processo, além disso, é comum que as pessoas não queiram ficar

expostas a críticas, correndo riscos de expor os próprios erros, ou ainda desvalorizar

as edificações as quais foram sujeitas a reparos.

Logo, informações valiosas e com fonte segura para a obtenção de dados

como estatísticas das manifestações, incidência dos problemas patológicos e

eficiência dos tipos de tratamento, acabam por se perder, fazendo com que o

desenvolvimento de estudos no ramo da patologia não se desenvolva como poderia

ocorrer. Isto é, o desenvolvimento acumulativo de conhecimento empírico da

patologia da construção torna-se um difícil procedimento devido à falta de

divulgação dos resultados de intervenções.

6.4 Soluções para patologias em fundações

6.4.1 Torre de Pisa

O caso mais famoso de recalque de apoio é sem dúvida o da Torre de Pisa.

Sua construção foi iniciada em 1173, e terminada em 1350; desde o início, a torre

apresentou recalques maiores de um lado que de outro, que a levaram a inclinar-se.

Muitas tentativas foram realizadas para solucionar o problema no curso da

história, nunca com sucesso. Em 1990, porém, estando  o topo da torre com mais de

4,5 m fora do prumo e continuando, conforme ilustrado na figura 6.1. A torre possui

58,5 m de altura,  a inclinar-se a uma taxa de 1,2 mm por ano, foi constituída mais

Page 98: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

uma comissão de especialistas para salvá-la. A solução proposta por esta comissão

e executada a partir de 1997, foi o de utilizando sondas especiais, retirar solo

debaixo do trecho do bloco que havia recalcado menos, fazendo com que apenas

esta região viesse a afundar e assim a inclinação da torre viesse a diminuir.

Este procedimento foi coroado com êxito, e, em junho de 2001, o desaprumo

do topo da torre já havia diminuído em 40 cm. Em dezembro de 2001, a Torre de

Pisa, que, por razões de segurança havia sido fechada à visitação pública em 1990,

pôde ser reaberta para visitas.  

Figura 47 - 4,5 m fora do prumo

6.4.2 Edifícios da Orla Santista

No Brasil há também um grande exemplo do problema de recalques de apoio:

os prédios da orla santista. Quem já foi para Santos ou viu alguma foto dos edifícios

inclinados tem uma boa idéia de como o deslocamento dos apoios pode afetar uma

estrutura. Décadas se passaram com os prédios a se inclinarem, e, assim como com

a Torre de Pisa, várias propostas de correção foram feitas para reverter essa

situação. Sabe-se que a origem do problema é a deficiência do solo de Santos,

formado por uma camada superficial de areia que, por sua vez, recobre uma extensa

camada de solo argiloso, muito compressível. Tal formação do solo não suporta  a

fundação direta de prédios com mais de dez andares. Nas décadas de 1950 e 1960

Page 99: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

foram construídos, na orla santista, inúmeros edifícios com mais de dez andares

apoiados em fundações diretas. Muitos destes prédios passaram a inclinar-se, e

hoje há cerca de 100 edifícios inclinados em toda a orla Santos.

Várias propostas para a correção deste problema vêm sendo  feitas

recentemente. Um grande exemplo é a solução aplicada em um dos prédios mais

famosos de Santos, o Núncio Malzoni.

Construído em 1967, com 17 andares e 55 m de altura, o Núncio Malzoni teve

suas fundações diretas apoiadas em uma camada de areia fina e compacta com 12

m de espessura apoiada sobre uma camada de 30 m de argila mole. Os recalques

ocorridos neste edifício levaram-no a sair 2,10 m do prumo como se pode observar

na figura 48.

Figura 48 - Edifício 2,10 m fora de prumo

O projeto de reaprumo do prédio foi desenvolvido pelos professores Carlos

Eduardo Moreira Maffei, Heloísa Helena Silva Gonçalves e  Paulo de Mattos

Pimenta, do Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações da Escola

Politécnica da USP, considerado inédito no mundo, foi visitado por engenheiros de

diversos países como México, Canadá e Japão, e até por um dos engenheiros

Page 100: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

responsáveis pela solução adotada na Torre de Pisa, que veio conhecer a técnica

utilizada.

Hoje em dia, o prédio está totalmente reaprumado. O projeto que conseguiu

esse feito foi realizado em três etapas:

1a etapa: implantação de fundações profundas com a execução de oito

estacas de cada lado do edifício. Com diâmetro variando de 1,0 a

1,4m, estas estacas têm uma profundidade média de 57,0 m e

atingem um solo residual resistente e seguro situado abaixo da

camada de argila mole. Na figura 6.3 pode-se observar a camisa

metálica utilizada para conter o solo durante a execução das estacas.

Figura 49 - Camisa metálica utilizada para execução das estacas.

2a etapa: foram executadas oito vigas de transição com cerca de 4,5 m de

altura para receber os esforços dos pilares e transmiti-los às novas

fundações.

3a etapa: quatorze macacos hidráulicos acionados por seis bombas,

instalados entre as vigas de transição e os novos blocos de fundação, foram

utilizados para reaprumar o edifício conforme ilustrado na figura 50.

Page 101: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 50 - Macacos hidráulicos

Os vãos em que estavam os macacos foram preenchidos com calços

metálicos e posteriormente concretados. A fachada lateral esquerda do edifício foi

levantada 45 cm e a fachada posterior, 25 cm, levando o prédio a ficar novamente

no prumo. Reaprumado, o Núncio Malzoni repousa hoje sobre as novas estacas,

que transmitem 6500 tf ao solo residual situado a cerca de 60 m de profundidade.

Preocupada com o problema de recalque nas fundações dos edifícios da orla

a Secretaria de Obras e Serviços Públicos da Prefeitura de Santos divulgou que irá

encaminhar à Câmara Municipal um projeto de lei que estabelece normas para o

monitoramento dos prédios com inclinação e exigências para a recuperação das

edificações comprometidas. "Cada prédio tem uma inclinação perigosa, e para cada

inclinação existe uma solução específica", afirma Maffei (2001).

6.5 Decisão por manter ou demolir

Deparando-se com uma estrutura comprometida, deve-se analisar a

viabilidade e a necessidade de se preservar este elemento, tendo em vista que ele

necessitará de um projeto de reforço e que o custo-benefício de tal procedimento

pode não trazer resultados satisfatórios.

Portanto, após todo o processo de inspeção da estrutura e de posse de um

diagnóstico conclusivo, deve-se avaliar, baseado no laudo obtido e respectivo

tratamento indicado, se, realmente, é válida a intervenção para a conservação da

Page 102: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

estrutura no local, levando em consideração os dados estatísticos quanto as

probabilidades de reaparecimento do problema futuramente.

Page 103: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

7. ESTUDO DE CASO

Nesse tópico veremos que, após uma edificação apresentar anomalias e

serem realizadas duas vistorias técnicas, os profissionais contratados emitem laudos

divergindo sobre as origens das patologias constatadas.

7.1 O imóvel

Trata-se de edificação comercial, localizada na cidade de Várzea Paulista no

estado de São Paulo, com dois pavimentos na parte frontal (escritório) e um

pavimento no galpão, com cobertura em estrutura metálica, fechamento em

alvenaria e fundações em estacas pré-moldadas de concreto.

7.2 Primeiro laudo

O Eng° Carlos, responsável pela empresa IPR (Indústria de pré-fabricados

Rafard Ltda.), empresa qual realizou os serviços de estaqueamento, solicitou e

acompanhou a vistoria técnica realizado pela empresa Kerr Engenharia e

Fundações S/C Ltda., representada pelo Eng° Carlos C. Kerr, no sentido de analisar

e vistoriar as trincas existentes no imóvel referido.

Segue abaixo transcrição do laudo emitido pela empresa Kerr Engenharia e

Fundações S/C Ltda.:

“2 - CONSIDERAÇÕES GERAIS:

Trata-se de uma construção em estrutura metálica e fundações em estacas pré-

moldadas de concreto que apresentou algumas trincas e fissuras nas alvenarias,

decorrentes de recalques diferenciais específicos.

Em solos constituídos de argila ou aterros argilosos ocorre normalmente um

fenômeno conhecido, em Mecânica dos Solos, como Adensamento.

Este adensamento pode ocorrer simplesmente pelo acréscimo das pressões nas

camadas superiores do terreno, por exemplo, uma laje de piso ou pela infiltração

e escoamento muito rápido do lençol freático.

Pela análise da sondagem executada pela CIVILSOLO as fundações deveriam

estar assentadas entre as cotas -12,00 e -16,00 e pelo relatório de cravação das

estacas pela IPR as mesmas tiveram comprimentos entre 14 e 16 m com “nega”

Page 104: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

adequada e estão de acordo com as especificações de estacas da Norma

Brasileira NBR-6122.

3 - FENÔMENOS OBSERVADOS:

Foram observados os seguintes problemas:

Trinca inclinada à 45º na parede dos fundos do galpão.

Trinca inclinada à 45º nas paredes laterais.

Trincas horizontais na alvenaria da escada.

4 - CAUSAS DOS FENÔMENOS OBSERVADOS:

Podemos atribuir às seguintes causas aos fenômenos observados:

As trincas à 45º (as do fundo e das laterais do prédio) têm como causa,

recalques diferenciais específicos entre pilares ocasionado pela falta da

execução dos 3 três pilares estruturais.

As trincas horizontais têm como causa as deformações devido a variações de

temperatura.

A não execução dos pilares na parede dos fundos sobrecarregou os pilares

dos cantos em seus esforços horizontais.

5 - RECOMENDAÇÕES:

Recomendamos as seguintes providências:

Executar os três pilares que foram suprimidos.

Colocação de selos de vidro, perpendiculares às trincas à 45º para verificação

da estabilização dos recalques.

Reconstituir as trincas e alvenarias após a estabilização dos recalques.

6 - CONCLUSÃO:

Concluímos que os recalques e trincas observadas pela nossa vistoria se

devem a não execução correta da estrutura conforme projeto,

comprometendo as estacas executadas.

Salientamos ainda que o imóvel apresenta risco da sua alvenaria dos fundos

quanto a sua segurança, podendo esta alvenaria ruir.”

7.3 Segundo laudo

Page 105: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Atendendo a solicitação da empresa responsável pela construção da

edificação, o perito Eng° Reinaldo Pacanaro, realizou uma vistoria técnica no imóvel,

objetivando constatar as condições estruturais, estabilidade e de habitabilidade da

edificação, tendo em vista alegações que a mesma possuía diversas anomalias;

Através das vistorias realizadas, ele constatou diversas anomalias

caracterizadas por rachaduras, trincas e fissuras, devido a recalque de fundação, e

estas estavam espalhadas em toda a edificação.

Segue abaixo transcrição de trecho descritivo da constatação das anomalias:

“...Observamos tais ocorrências nas paredes da lateral esquerda, de quem a

Avenida olha o imóvel, e na parede dos fundos, em grau elevado e em pequeno

grau na parede lateral direita.

De acordo com as orientações das rachaduras, trincas e fissuras, se constata

que houve afundamento das estacas dos pilares:

01, 02, 03, 04, 07, 08, 09, 10, 14, 16, 17, 18, estas influenciando diretamente nas

alvenarias.

Com o afundamento das estacas, surgiram os recalques diferenciais,

provocando as rachaduras, trincas e fissuras.

A de se destacar que o piso também encontra-se em processo de recalque, devido o

adensamento do solo de suporte.

Não constatamos a existência dos pilares 02, 03 e 04.

No entanto a ausência de tais pilares, não tem como foco as anomalias

existentes na edificação.

A existência dos citados pilares somente iria alterar o posicionamento das

trincas, como ocorreu na parede lateral esquerda, que as trincas ficaram inseridas

entre pilares”.

Através do croqui abaixo o perito demonstra as áreas em que se constataram

anomalias e posteriormente essas partes destas áreas será demonstradas através

de fotografia.

As regiões assinaladas em vermelho na figura 51, caracterizam as alvenarias

em que houve ocorrência de rachaduras, trincas e fissuras, devido a recalque de

fundações.

Page 106: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 51 - Locais onde ocorreram rachaduras, trincas e fissuras.

Figura 52 - Rachadura devido à dilatação térmica de materiais não homogêneos

(Prédio principal e muro), bem como giro no sentido horário, do prédio em relação ao

muro.

Page 107: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 53 - Trinca inclinada devido ao recalque diferencial entre os pilares nº 14 e 16.

Figura 54 - Trinca no piso devido ao fundamento do pilar n° 14.

Figura 55 - Trinca na escada, devido ao afundamento do piso

Page 108: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 56 - Trinca devido a recalques.

Figura 57 - Trinca devido ao recalque do pilar n° 10.

Figura 58 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição dos pilares 02 e 03.

Page 109: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 59 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição do pilar 03.

Figura 60 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca na posição do pilar 03.

Figura 61 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca na posição do pilar 03.

Page 110: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 62 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca na posição do pilar 03

Figura 63 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição do pilar 04.

Figura 64 - Rachadura inclinada devido ao recalque da estaca na posição do pilar 05.

Page 111: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 65 - Trinca inclinada devido ao recalque da estaca na posição do pilar 04.

Figura 66 - Recalque no piso junto à linha dos pilares 07 e 09.

Figura 67- Base do pilar 07 – Observa-se trincas no piso devido aos recalques.

Page 112: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

Figura 68 - Rachaduras, tendo em vista o recalque diferencial entre as estacas.

Figura 69 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca do pilar 07.

Figura 70 - Trinca inclinada 45°, devido ao recalque da estaca do pilar 07

O Eng°. Reinaldo Pacanaro conclui que as anomalias existentes na edificação

se caracterizam em sua maioria devido a recalques diferencias das fundações e que

para a estabilidade da estrutura se faz necessário o reforço das fundações, com 32

Page 113: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

estacas, sugerindo que a mesma seja executada através de estacas de reação, com

capacidade individual de 20 ton.

7.4 Conclusão

Nesse tópico podemos observar que dois profissionais capacitados divergem

sobre a origem das causas da patologia apresentada no imóvel em estudo e

conseqüentemente sugerem diferentes tipos de remedição para correção do

problema.

No primeiro laudo o profissional responsável conclui que o principal motivo

que gerou um recalque diferencial na fundação foi à ausência de três pilares

conforme o projeto inicial, sobrecarregando os demais pilares, gerando cargas

excessivas comprometendo as estacas executadas. E para estabilizar a edificação

sugere a execução dos pilares suprimidos do projeto e reconstituição das trincas e

alvenaria.

Já no segundo laudo o profissional responsável conclui que houve o

afundamento das estacas dos pilares causando recalque diferencial da fundação e

que a ausências dos pilares citados no laudo anterior não influenciaram no

fenômeno observado e que a existência dos mesmos somente iria alterar o

posicionamento das trincas apresentadas. Para a estabilidade da edificação sugere

a execução de estacas de reação para o reforço das fundações e demolição e

reconstrução das paredes que apresentam rachaduras e reconstituição das trincas a

fissuras.

Com o impasse sobre a origem da patologia apresentada no imóvel em

estudo, concluímos que mesmos profissionais com experiência podem se

equivocam sobre as origens e causas das patologias de fundação, dando uma

importância ainda maior ao tema em estudo. Pareceres errôneos sobre o tema

geram maiores transtornos e gastos aos proprietários dos imóveis que aprestam

esse tipo de patologia.

Page 114: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As patologias das fundações têm sido detectadas desde as grandes

construções antigas, onde eram verificados recalques devido ao peso excessivo dos

materiais empregados naquela época. Com ao avanço da tecnologia e com o

acúmulo de fatos empíricos foram descobertos que, dependendo do tipo de

construção, poderia ser feito ou não em certo tipo de terreno. Atualmente, não é

prudente executar qualquer tipo de edificação sem o estudo preliminar do solo com

empresa idônea, no qual presta um serviço confiável e de qualidade. Mesmo com a

sondagem adequada do subsolo, podem ocorrer interferências de diversos tipos,

dependendo da profundidade da sondagem executada e locais de perfuração.

Infelizmente, ainda existem empresas que não prestam este serviço em

conformidade com as normas ou entregam relatórios não-confiáveis, além de

também existirem profissionais que apostam na própria experiência e dispensa este

tipo de serviço, fato imprudente e causa diversos transtornos e prejuízos

inestimáveis.

Outrossim, a execução das fundações devem ter controle de qualidade

adequado, acompanhamento de profissional qualificado, atendimento às normas

vigentes e mão-de-obra qualificada para a execução das mesmas. No projeto, deve-

se prever também a interação solo-estrutura, pois este conjunto determina o

comportamento real da fundação empregada. Embora necessário, na construção

civil ainda não é possível englobar todos estes itens, ocorrendo falhas executivas de

diversas naturezas, que podem ser detectadas através de ensaios pós execução

que estão disponíveis hoje no mercado.

Com a conclusão deste trabalho nos remete a crer que, embora existam

empresas idôneas, que prestam serviços de qualidade, de acordo com as normas

vigentes, profissionais qualificados e método de execução de fundações bem

diversificadas, um controle de qualidade ideal e efetivo aumenta muito o custo de

execução da obra, em muitas vezes inviabilizando a execução de alguns tipos de

obras em determinadas regiões.

Page 115: PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES TCC

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