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FÉ E RAZÃO CIÊNCIA E RELIGIÃO em debate: criação e evolução Pe. Leomar Brustolin (PUCRS)

Pe. Leomar Brustolin (PUCRS). Louis Pasteur 1822 - 1895

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FÉ E RAZÃOCIÊNCIA E RELIGIÃOem debate: criação e evolução

Pe. Leomar Brustolin (PUCRS)

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Um pouco de ciência distancia de Deus, mas muita reconduz a Ele.

Louis Pasteur 1822 - 1895

 

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Perguntas de sempreQual o origem do

universo? O que é o ser humano? O que é a realidade? Há um sentido para a

noção de mundo material?

Existe Alguém que ordena todo criado?

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Respostas Para responder há três caminhos: a religião, a filosofia e a ciência. A religião e a filosofia percorreram

muitas estradas na tentativa de encontrar respostas. Recentemente, entretanto, a ciência passou a dar sua contribuição nessa busca.

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ENSINAR A PENSAR

Infelizmente, a invasão do pensamento cientificista e racionalista produziram um estilo de vida atual no qual o filosofar perde a sua força na busca da verdade.

Pensa-se o sagrado e o científico como opostos e por isso não pode-se dialogar, apenas conviver nos paralelos da vida humana. Há muitos que até temem maior aproximação entre ambas.

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UM NOVO OLHAR

A virada ocorre com a física quântica. Suas descobertas têm-nos conduzido a novas noções de tempo, de espaço e de matéria.

Questiona-nos sobre a objetividade do mundo que parece só existir na consciência humana que lhes determina as propriedades.

É por isso que nossa constatação do universo se torna cada vez menos material, não visto mais como uma imensa estrutura que funciona como se fosse uma máquina.

Concebemos cada vez mais o universo a partir de um vasto pensamento. Percebemos que as informações, as ideias e os conceitos dependem mais do sujeito que as observa do que da realidade em si.

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O que é científico? No final do século XVIII emergiu uma nova dimensão do

pensamento, tratava-se de colher os fenômenos em tudo o que eles têm de

verificável, de mecânico e de calculável. Iniciou o domínio do pensamento lógico.

DESPREZO Da subjetividade Das emoções Da religião Da fé Do abstrato Do indemonstrável

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Limites

Hoje, descobre-se o limite do plano cartesiano, do pensamento lógico, da precisão científica e das ciências ditas exatas.

• Pois existem limites físicos ao conhecimento, há uma rede de fronteiras, identificadas cada vez mais como obstáculos que circundam acesso total à realidade.

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Teoria quântica

A experiência dos físicos quânticos permite concluir que a realidade não é cognoscível, pois é coberta de um véu e está destinada a permanecer assim. Acolhendo essas conclusões dizemos que há uma solução alternativa para a estranheza física: a estranheza lógica. Nada mais desconcertante do que isso: a teoria quântica revoluciona nossas certezas científicas e remete-nos para um campo inseguro onde há mais perguntas do que respostas.

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Nova cosmologia

Outra inquietação do estudo sobre a realidade é a existência de uma ordem no caos.

O que há em comum entre a água que corre num rio, uma relâmpago no céu e o cair de uma folha do galho da árvore?

São todos fenômenos caóticos, isto é, desordenados.

Aprofundando, porém, a teoria do caos, perceberemos que em tudo há uma ordem surpreendente e profunda.

Há uma entropia em todo universo e não somos capazes de calculá-la

Num cosmos totalmente guiado por movimentos desordenados e não concatenados, por qual razão e de que forma aparece uma ordem em tudo?

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Abertura ao Invisível

A nova epistemologia e nova cosmologia propõem uma mudança de paradigma e constata-se que atrás da ordem dos fenômenos,e além das aparências, existe uma abertura surpreendente ao Transcendente.

Tudo aponta para o limite do conhecimento adquirido até desembocar no enigma essencial que desafia o humano: a existência de um Ser transcendente causa e significado do grande universo.

Nesta caso fé e razão, ciência, religião e filosofia se encontram.

O invisível, o inefável, o transcendente passam a fazer parte do nosso mundo cada vez mais, por muito tempo tentou-se prescindi-lo, na busca de caminho mais lógicos.

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Fé e Razão

O universo é por demais vasto e complexo para esgotar a pesquisa científica. Entre as luzes que descobrimos, percebemos muitas sombras que nos cercam.

Sobre essa relação escreve o Papa João Paulo II nas sua encíclica Fides et Ratio: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”.

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A CRIAÇÃO sob suspeita

No século XIX, a pesquisa histórica emergiu com grande força e contestou as verdades dogmáticas. Além disso, a ideia da Evolução tornou-se o eixo da investigação científica apoiada por um novo sistema filosófico. O evolucionismo foi entendido dentro de um processo histórico, a partir do desenvolvimento da razão. O tema da Criação, a este ponto, era muito mais de domínio filosófico que teológico.

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Evolução

do latim evolutione – é ‘ação de desenrolar’, dando a entender um movimento de passagens sucessivas ou deslocamentos graduais e progressivos a partir de uma situação inicial.

Cada novo elemento é em parte determinado ou condicionado pelo anterior.

Em Biologia, usa-se a denominação Evolução filogenética, quando o termo refere-se ao processo de surgimento de novas espécies a partir de espécies anteriores, desde o aparecimento da vida na Terra até a situação atual.

Por Evolução ontogenética entende-se o desenvolvimento do indivíduo desde as primeiras células até a fase adulta, senilidade e morte.

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Diferentes conceitos

Entre os mecanismos que impulsionam a evolução encontram-se as mutações, a seleção natural e o isolamento que integram as diversas hipóteses e teorias que deram corpo ao Evolucionismo.

Transformismo indica mudanças em escala orgânica e filogenética. É usado como correspondente à evolução quando apresenta uma sucessão cronológica de desenvolvimento dos seres (como o lamarkismo e o darwinismo).

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Evolucionismo

é um conceito mais contemporâneo, ultrapassa o campo biológico abarcando a realidade de modo mais total; não considera possível a existência de uma direção definida para a história do mundo.

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Lamark

A obra Filosofia Zoológica, de J.B. Monet, Cavalheiro de Lamark (1809), marca o início do evolucionismo moderno. Lamark afirmava que as transformações das espécies se dão pela adaptação ao ambiente devido ao uso ou falta de determinados órgãos, que seriam transmitidos por geração, quando comuns a ambos os sexos.

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Darwin

Charles Darwin e Alfred Russel Wallace (1823-1913) descobriram o princípio de seleção natural, independentemente. Em 1858, após terem feito uma apresentação conjunta, Darwin publica o livro A origem das espécies (1859), onde fundamenta a Evolução no princípio da luta pela vida e seleção natural

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Teoria de Darwin afirma que todas as espécies têm potencial para crescerem

geometricamente, embora isso na realidade não aconteça. Entre os indivíduos de uma mesma geração de cada espécie, ocorre sempre uma competição pela sobrevivência até a época da reprodução, quando, em muitas espécies animais, os machos disputam entre si a posse das fêmeas. Na luta pela vida, ocorrem variações favoráveis e nocivas aos organismos, advindas principalmente do uso e desuso dos órgãos, cujas causas ainda não são completamente compreendidas. Desse modo, os organismos que tiverem variações favoráveis têm mais chance de sobreviver e de se reproduzir, enquanto os que apresentam variações nocivas serão forçosamente extintos. Eis, então, a seleção natural, pela qual as variedades criadas tendem a acentuar as diferenças entre si: quanto mais diferentes forem, melhor explorarão os diversos recursos do ambiente. Pela divergência sempre maior entre as variedades, surgem as espécies. O isolamento, apesar de ajudar, não é imprescindível para a formação delas. Esses princípios se aplicam tanto ao ser humano quanto às outras espécies.

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Neodarwinismo

rejeita a influência do ambiente e busca sua causa no germoplasma – linha celular germinal que leva à formação dos gametas.

A primeira prova de hereditariedade transmitida por essa linha germinal (e não mais pela herança de caracteres adquiridos), foi obtida por A. Wiesemann (1817-1914), considerado o pai do primeiro neodarwinismo.

No mesmo período G. Mendel publica Recherches sur dês hybrides végéteaux (1865) onde apresenta os resultados de suas experiências de cruzamentos com ervilhas.

U. De Vries (1848-1935) ‘redescobre’ esses trabalhos cerca de trinta anos depois e formula uma Teoria da Evolução por saltos ou mutações (e não por seleção natural): toda espécie em um determinado momento e em condições adequadas (não identificadas) sofre mutações dando origem a indivíduos com novas características

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DNA

Um grande progresso ocorreu com a descoberta da macromolécula do DNA (ácido desoxirribonucléico), por O. T. Avery (1944);

L. Pauling aclarou o mecanismo de transmissão dos caracteres hereditários

Seguiu-se a descoberta do RNA, outro tipo de ácido nucléico, com a função de ativar o mecanismo de transmissão genética.

Em 2006, o Prêmio Nobel da Medicina e Fisiologia foi dado a Andrew Z. Fire e Craig C. Mello, dois cientistas norte-americanos, por terem descoberto o mecanismo de controle dos fluxos de informação genética determinado pela interferência do RNA.

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Vida

A Genética desenvolveu-se de modo acentuado tentando aprofundar os mecanismos mais íntimos das células e da sua reprodução. No entanto, os desenvolvimentos históricos não respondem ao questionamento sobre ‘o que é a vida’.

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A Teoria da Evolução,

como modelo científico, continua seu processo de desenvolvimento. Ela não responde sobre a origem definitiva da vida  sobre a Terra, porém, ocupa-se dos processos de transformação da vida; também não teoriza sobre a cosmologia e a astronomia, omitindo-se, inclusive, em questões referentes à formação do universo

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E a fé judaico-cristã?

Alguns estão firmes em afirmar o criacionismo: Deus criou tudo que existe exatamente como está literalmente descrito na Bíblia.

Outros afirma o evolucionismo: negando toda e qualquer afirmação sobre as origens do relato do Gênesis

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E a Igreja? O que pensa?

As reações também foram “evoluindo”

Em linhas gerais delineiam-se quatro etapas no caminho de entendimento e diálogo feito entre a teologia e a ciência

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confronto aberto (1860-1914) marcado pelas reações nos ambientes católicos

contra a Teoria da Evolução de Darwin. Estas oposições se articulavam em três níveis: científico (as provas não são dignas de

credibilidade), filosófico (pela contradição dos princípios

fundamentais de causalidade) e teológico (as narrativas do Gênesis sobre a

criação impunham uma visão fixista do universo). Todavia, a Igreja católica nunca condenou o evolucionismo de forma explícita em seus documentos.

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trégua armada (1914-1941) – período marcado por uma crescente clareza

científica e uma concepção cultural mais dinâmica da realidade.

Sem polêmicas particulares, não se fala mais de heresia ou oposição à fé, mesmo se a maioria dos teólogos permanece contrária à evolução.

As mudanças começam a surgir pelos aportes de Teilhard de Chardin, que trouxe uma nova compreensão das noções de criação e ação de Deus na história, e principalmente por sua visão unitária da fé cristã ‘centrada’ na evolução.

Apesar da pressão vinda dos teólogos, Pio XI não condenou a evolução declarando que bastava um “caso Galileu” na história da Igreja.

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armistício (1941-1969)

fase assinalada pela abertura do Magistério e dos teólogos em relação à evolução.

Estes afinam os seus instrumentos conceituais com as novas compreensões oferecidas pelas ciências e pelo estudo dos gêneros literários bíblicos.

A publicação da Encíclica Humani generis, pelo Papa Pio XII, em 1950, foi decisiva, enquanto o Concílio Vaticano II não tocou diretamente no problema da evolução.

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paz e diálogo (desde 1970)

sem assumir a Teoria da Evolução, que permanece uma teoria científica, a teologia vem repensando os conteúdos da fé, reformulando-os de modo essencial para o homem de hoje.

Na Encíclica Humani Generis (1950), o Papa Pio XII afirma que “a Teoria da Evolução é uma hipótese possível”, mas precisa ser bem entendida. Seus argumentos devem ser examinados e julgados com seriedade, moderação e temperança. Elucida:

O Magistério da Igreja não proíbe que a teoria da “Evolução”, enquanto indaga a origem do corpo humano a partir de uma matéria já existente e viva, seja objeto, no estado atual das ciências e da sagrada teologia, de pesquisa e discussões entre especialistas de um e de outro lado (porque quanto à alma, a Fé católica nos manda crer que as almas são criadas imediatamente por Deus – animas enim a Deo immediate creari catholica fides nos retinere iubet).

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Salto ontológico

Entre o último primata e o homo sapiens, há um hiato.

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Academia das Ciências

Em 1603 (Roma), foi fundada a Pontifícia Academia das Ciências. Atualmente, conta com cerca de 80 cientistas nomeados pelo Papa e provenientes do mundo inteiro. São especialistas em várias disciplinas, alguns Prêmio Nobel, que professam diferentes credos ou que não possuem fé religiosa.

No texto de abertura das atividades da Pontifícia, em 1996, João Paulo II falou do trabalho destes cientistas que se reúnem “para servir à verdade e informar a Santa Sé, com toda liberdade, dos progressos da pesquisa científica” a fim de ajudá-la em suas reflexões, num “diálogo confiante e fecundo entre a Igreja e o Mundo Científico”.

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Concílio Vaticano II No século XX, a situação cultural mudou. A própria Ciência tem compreendido que não consegue

resolver sozinha todos os questionamentos a respeito da vida, dos valores, principalmente quando se referem à dor e à morte.

Por outro lado, a experiência da fé ganhou muito com o aprofundamento dos estudos sobre a Bíblia.

Em 1965, o Concílio Vaticano II, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes (n. 36), afirma a justa autonomia das realidades terrenas:

As coisas criadas e as mesmas sociedades gozam de leis e valores próprios a serem conhecidos [...] gradativamente pelo homem [...]

Pela própria condição da Criação, todas as coisas são dotadas de fundamento próprio, verdade, bondade, leis e ordens específicas. O homem deve respeitar tudo isso, reconhecendo os métodos próprios de cada Ciência e arte. Portanto, se a pesquisa metódica, em todas as Ciências, proceder de maneira verdadeiramente científica e segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se do mesmo Deus

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Revendo conceitos

é preciso renovar o conceito teológico tradicional de criação, assim como o conceito de ciência natural clássica. Logo, é preciso rever tanto a imagem do ser humano no “Dominai a terra” como também a sua imagem na ciência natural cartesiana.

O questionamento paira sobre a de identificação de “natureza” com “utilidade” e “exatidão”, sem levar em consideração a complexidade de sistemas relacionais destas com o ser humano que a subjuga.

Para conseguirmos uma relação de convergência entre fé na criação e ciências naturais, será preciso, rever o conceito de criação utilizado pela teologia e o conceito de natureza concebido pela ciência.

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Criação, sistema aberto A teologia sempre iniciou com a

representação da criação do mundo e finalizou com a ideia de sua redenção .

O final seria tal como foi o começo. PARAÍSO Ou seja, a redenção não seria mais do que o

restabelecimento da boa criação original. A história entre a criação e a redenção não

poderia trazer nada de novo. O próprio termo ‘criação’, teologicamente, é

pensado, involuntariamente, como um estado primevo do mundo onde tudo estaria concluído, pronto e perfeito.

Por causa do pecado, os primeiros humanos foram expulsos desse estado perfeito.

Pelas interpretações tradicionais, a criação original é a-histórica.

A imagem projetada pela criação é a de um sistema fechado, perfeito em si e auto-suficiente .

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Ver a criação perfectível

Israel tinha uma “compreensão soteriológica da obra da criação” .

A criação não significa um estado primevo salvo, mas a pré-história para a história da salvação.

As experiências do êxodo, da Aliança e da Posse da Terra provocaram uma reflexão sobre o Deus que cria e sustenta a sua criação agindo no tempo e no espaço criados.

Se com a criação começa o tempo, ela também, é mutável e aberta ao tempo.

Ou seja, a estrutura do tempo não é simétrica, mas assimétrica por ser aberta ao futuro: não precisa ser o retorno do início.

Assim, a teologia deve falar da criação com o olhar voltado para o processo total do criar divino: criar inicial, o criar histórico e a consumação escatológica.

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O criador é o libertadornatureza e históriacriação e evolução

O Deus de Israel é percebido como criador porque possibilitou a liberdade.

Sua ação criadora chamou todas as coisas do não-ser para à existência.

Sua intervenção na história não ocorre somente após a queda do pecado original, mas desde o princípio.

Ele cria. O que foi criado não é divino, nem é o “corpo” de

Deus, mas suas criaturas. Esta dessacralização que abriu espaço para a

intervenção científica não significou entregar a natureza ao aniquilamento ecológico pela civilização moderna.

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Deus criou...

No princípio Deus criou. Esta é uma indicação de que a criação e o tempo são

criados juntos. Mas se a criação no princípio dá inicio também ao

tempo que passa, que muda, deve-se, portanto, entender como a criação também sofre as mutações.

Por isso ela não pode ser concebida como um sistema fechado, mas somente como um sistema aberto.

Porque o tempo criado também não tem um estrutura simétrica, pois ele é aberto ao futuro e não retorna.

Desta forma, a criação no tempo, tende a um futuro aberto, porque o tempo passa e a criação muda, ela avança e não retorna mais para trás.

Esta determinação para o fim que já é colocada no início pode ser assim concebida: Ao início corresponde o fim, à criação, a consumação, o que é muito bom aqui, ao totalmente glorioso lá.

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A criação Aberta: como era no Princípio

A criação não é perfeita, mas perfectível, pois é aberta para a história da danação e da salvação e aberta para a corrupção e a consumação .

No início ela é a criação das condições para as possibilidades de sua história . A criação inicial a partir do caos é também uma criação no caos.

O íon do átomo ora é onda e ora é matéria. O caos permite a ordem... Deus conserva o mundo com todas as suas

contradições, sem ser um autocrata ou um ditador, que não permite a liberdade. Sua presença paciente e silenciosa permite às criaturas espaço para o desdobramento, tempo para o desenvolvimento e foca para seus próprios movimentos .

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A criação na plenitude: no fim, o início

A atual forma de existência do universo, com sua história, de milhões de anos, assim como teve um início, irá conhecer um fim. Confirmam esta posição as teorias científicas sobre a origem e destino do universo.

A nova criação não prescinde, mas supõe a original. É preciso rejeitar e superar o dualismo que avalia de forma pessimista o tempo e o mundo presente, afirmando que é digno de ser destruído e prospectando uma visão catastrófica sobre o futuro da história.

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Cuidar da criação

O novo céu e a nova terra devem refletir também a obra humanizadora de Deus e assim a imagem humana nelas impressa será o máximo da glória.

Daí a necessidade de uma nova consciência. Nova, porque não limita-se a preservação de espécies em extinção, mas de todo meio ambiente; nova porque inclui o ser humano como protagonista da defesa e vítima do desequilíbrio; nova, enfim, porque é a exigência humana diante da oferta divina sobre a glória vindoura. Importa denunciar o imediatismo, o cientificismo e a falta de uma esperança que transcende a realidade deste mundo.

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Progresso?

Apesar da necessidade de preservar este mundo, não dá para ignorar a descontinuidade entre o progresso humano e o advento do Reino de Deus.

A chegada dos novos céus e da nova terra pressupõe a intervenção de um novo ato criador divino.

Sem esta nova intervenção de Deus o mundo não chegará ao seu cumprimento total.

Uma das causas que suscita a intervenção divina é a própria ideia de progresso humano que muitas vezes é ambígua.

Nem toda forma de ação humana é verdadeiramente uma humanização da história.

Existe também uma história de pecado, onde o domínio técnico-científico, marcado pelo materialismo e guiado pelo jogo do poder e do mercado, deturpa a obra criadora de Deus e afeta a imagem de ser humano, alienada nas estruturas do mal.

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Esperança Apesar das ameaças

que se aproximam, a fé cristã há de proclamar sua confiança no Deus fiel que não abandona a sua criação. Assumir a responsabilidade ecológica não significa fazer alarde ou prever infortúnios, mas alertar pedagogicamente sobre os riscos que corremos, para tomar uma nova posição: evitar a violência científica sobre a natureza e buscar um novo paradigma de convivência pacífica e de coexistência.

Contra a acelerada exploração dos recursos naturais, a fé no futuro da criação tem uma dimensão terapêutica para o planeta. A mensagem de Jesus se converte em convite à reconciliação universal. Segundo Cl 1, 15-20, Cristo é o fundamento de todas as coisas . E todas as coisas são acessíveis à sua redenção cósmica.