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Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários Dielo Truda (Causa Operária) 1926 Nestor Mhakno, Ida Mett, Piotr Archinov, Valevsky, Linsky Movimento de Solidariedade Operária adaptado por geocities.com/projetoperiferia www.struggle.ws/wsm Fev 2001 edição em PDF Prefácio Em 1926 um grupo de anarquistas russos exilados na França, o grupo Dielo Trouda (Causa Operária), publicou este panfleto. Não surgiu de nenhum estu- do teórico, mas de suas experiências na revolução rus- sa de 1917. Eles contribuiram para a desintegração da velha classe dirigente, paticiparam no flo- rescimento da autogestão dos trabalhadores e camponêses, compartilharam o otimismo existente acerca de um novo mundo socialista e livre . . . e vi- ram tudo isso ser subtituído pelo Capitalismo Esta- tal e pela ditadura do partido Bolchevique. O movimento anarquista russo exerceu um papel importante na revolução. Na época existiam cerca de 10.000 anarquistas ativos na Rússia, sem incluir o movimento liderado na Ucrânia por Nestor Makhno. Haviam pelo menos quatro anarquistas no Comitê Mili- tar Revolucionário (dominado pelos bolcheviques), que tomou o poder em outubro. E, mais importante que isso, os anarquistas estavam envolvidos nos comitês das fábricas que surgiram logo após a revolução de fevereiro. A base destes eram os locais de trabalho, eleitos por assembléias massivas de trabalhadores, e tinham como função supervisiona- rem as fábricas e coordenarem-se com outros locais de trabalho no mesmo ramo de indústria ou região. Os anarquistas foram particu- larmente influentes entre os mineiros, estivadores, padeiros e exer- ceram um importante papel na Conferência nas Comissões de Fá- brica por toda a Rússia, que se reuniram em Petrogrado quase ao final da revolução. Eram estes comitês os quais os anarquistas viam como base para o novo sistema autogestionário que se implantaria após a revolução.

Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários · justificar uma mescla de anarco-comunismo, anarco-sindicalismo e anarquismo individual. Junto a Molly Steirner, Fleshin, e

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Page 1: Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários · justificar uma mescla de anarco-comunismo, anarco-sindicalismo e anarquismo individual. Junto a Molly Steirner, Fleshin, e

Plataforma Organizacionaldos Comunistas Libertários

Dielo Truda (Causa Operária)1926Nestor Mhakno, Ida Mett, Piotr

Archinov, Valevsky, Linsky

Movimento deSolidariedade Operária

adaptado por geocities.com/projetoperiferia

www.struggle.ws/wsmFev 2001

edição em PDF

PrefácioEm 1926 um grupo de anarquistas russos exiladosna França, o grupo Dielo Trouda (Causa Operária),publicou este panfleto. Não surgiu de nenhum estu-do teórico, mas de suas experiências na revolução rus-sa de 1917. Eles contribuiram para a desintegraçãoda velha classe dirigente, paticiparam no flo-rescimento da autogestão dos trabalhadores ecamponêses, compartilharam o otimismo existenteacerca de um novo mundo socialista e livre . . . e vi-ram tudo isso ser subtituído pelo Capitalismo Esta-tal e pela ditadura do partido Bolchevique.

O movimento anarquista russo exerceu um papel importante narevolução. Na época existiam cerca de 10.000 anarquistas ativosna Rússia, sem incluir o movimento liderado na Ucrânia por NestorMakhno. Haviam pelo menos quatro anarquistas no Comitê Mili-tar Revolucionário (dominado pelos bolcheviques), que tomou opoder em outubro. E, mais importante que isso, os anarquistasestavam envolvidos nos comitês das fábricas que surgiram logoapós a revolução de fevereiro.

A base destes eram os locais de trabalho, eleitos por assembléiasmassivas de trabalhadores, e tinham como função supervisiona-rem as fábricas e coordenarem-se com outros locais de trabalho nomesmo ramo de indústria ou região. Os anarquistas foram particu-larmente influentes entre os mineiros, estivadores, padeiros e exer-ceram um importante papel na Conferência nas Comissões de Fá-brica por toda a Rússia, que se reuniram em Petrogrado quase aofinal da revolução. Eram estes comitês os quais os anarquistas viamcomo base para o novo sistema autogestionário que se implantariaapós a revolução.

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Sem embargo, o espírito revolucionário e aunidade de outubro não durou muito. Osbolcheviques ansiavam por suprimir todasaquelas forças da esquerda as quais viam comoum obstáculo para exercer o poder do “partidoúnico”. Os anarquistas e alguns outros naesquerda criam o que a classe trabalhadoraseria capaz de exercer o poder através de suaspróprias comunidades e sovietes (conselhosde delegados eleitos). Os bolcheviques não.Propuseram que os trabalhadores ainda nãopodiam tomar o controle de seu própriodestino, dessa forma os bolcheviquestomariam o poder como uma “medidaprovisória” durante o “período de transição”.Esta falta de confiança nas habilidades daspessoas comuns e a tomada autoritária dopoder conduziu à traição dos interesses daclasse trabalhadora, como também de todassuas esperanças e sonhos.

Em abril de 1918 os centros anarquistas deMoscou foram atacados, 600 anarquistasencarcerados e dezenas deles acabarammortos. A desculpa foi de que os anarquistaseram “incontroláveis”. Seja lá o que for quequeriam dizer com isso, o certo é quesimplesmente se negaram a obedecer aoslíderes bolcheviques.

A razão real foi a formação das GuardasNegras, que haviam sido criadas para lutarcontra as brutais provocações e abusos daCheka (predecessores da atual KGB).

Os anarquistas deveriam decidir o que fazer.Uma seção trabalhava com os bolcheviques,e se uniram a eles, todavia quando existiapreocupação quanto à eficiência e à unidadecontra a reação - Outra seção lutou duramentepara defender os avanços da revolução contraaqueles que seriam uma nova classedominante, como corretamentevislumbravam. O movimento Makhnovistana Ucrânia e o levante do Kronstadt foram asúltimas batalhas importantes. Em 1921, arevolução anti-autoritária, já estava morta. Suaderrota teria profundas e duradourasconseqüências para o movimentointernacional de trabalhadores.

Havia a esperança dos autores de que essedesastre não ocorresse novamente. Comocontribuição, eles escreveram o que ficouconhecido como “A Plataforma” . A qualenxerga as lições do movimento anarquistarusso, seu fracasso em constituir uma presençadentro do movimento da classe trabalhadora,suficientemente grande e efetivo para secontrapor a tendência bolchevique e outrosgrupos políticos em impor-se a si mesmossobre a classe trabalhadora. Constitui um guiaque a grosso modo sugere como os anarquistasdevem organizar-se, em resumo, comopodemos chegar a ser efetivos.

Trata-se de verdades bastante simples, éridículo uma organização composta porgrupos com definições contraditórias emutuamente antagonistas ao anarquismo. Énecessário estabelecer formalmente um

Introdução HistóricaNESTOR MAKHNO e PIOTR ARSHINOV juntamente com outros anarquistas russos eucranianos em Paris, publicaram a excelente Dielo Trouda bimensalmente a partir de1925, que consistia em uma revista anarco-comunista teórica de muito boa qualidade.Anos antes, quanto ambos estavam encarcerados na prisão Butirky em Moscou, tiverama idéia de publicar uma revista desse estilo. Agora a estavam colocando em prática. Makhnoescreveu um artigo em quase todos os números durante o curso de três anos. Em 1926 seuniu ao grupo IDA METT (autor da denúncia contra os bolcheviques chamada: "AComuna Kronstadt"), que a pouco tempo havia conhecido na Rússia. Naquele ano tam-bém viu a publicação de "Plataforma Organizacional".

A publicação da “Plataforma” foi encaradacom ferocidade e indignação por muitos nomovimento internacional anarquista. Oprimeiro a atacar foi o anarquista russo Voline,à época também na França, e fundador comSebastião Faure de “Síntese”, que buscavajustificar uma mescla de anarco-comunismo,anarco-sindicalismo e anarquismo individual.Junto a Molly Steirner, Fleshin, e outros,escreveu uma réplica dizendo que “sustentarque o anarquismo é apenas uma teoria declasses é limitá-lo a um único ponto de vista”.

Sem desanimar, o grupo Dielo Trouda fez em5 de fevereiro de 1927 um convite a uma“conferência internacional”, onde ocorreriauma reunião preliminar no dia 12 daquelemesmo mês. Estavam presentes nesta reunião- fora o grupo Dielo Trouda - um delegado daJuventude Anarquista francesa (Odeon); umBúlgaro, Pavel, enquanto indivíduo, umdelegado do agrupamento anarquista polaco,

Ranko, e outro polaco enquanto indivíduo,alguns militantes espanhóis, entre os quaisFernández, Carbo e Gibanel; um italiano, UgoFedeli; um chinês, Chen; e um francês,Dauphlin-Meunier, todos como indivíduos. Aprimeira reunião foi realizada em um pequenoquarto atrás de um café parisiense.

Foi criada uma comissão provisória, compostapor Makhno, Chen e Ranko. Uma circular foienviada a todos os grupos anarquistas em 22de fevereiro. Foi convocada uma conferênciainternacional que teve lugar em 20 de abril de1927, em Hay-les-Roses - perto de Paris - nocinema Les Roses.

Além dos que vieram na primeira reunião,havia um delegado italiano que apoiou a‘Plataforma’, Bifolchi, e outra delegaçãoitaliana do periódico ‘Pensiero e Volonta’,Fabbri, Camillo Berneri, e Ugo Fedeli. Osfranceses tiveram dois delegados, um de

acordo por meio de políticas expressas porescrito, o rol participantes, a necessidade deestabelecer comissões e métodos de trabalho;o tipo de estrutura que resulte em umaorganização democrática, grande e efetiva.

Quando foi publicada pela primeira vezrecebeu o ataque das personalidades maisconhecidas na época, tais como EnricoMalatesta e Alexander Berkman. Foramacusados de estar “a um só passo dosbolcheviques” e de inventarem um“anarquismo bolchevique”. Esta reaçãoexagerada deveu-se em parte à proposição decriar uma União Geral de Anarquistas. Osautores não explicaram claramente como seriaa relação entre esta organização e os outrosgrupos de anarquistas fora dela, nem que nadaimpedia que organizações anarquistasdistintas trabalhassem juntas em publicaçõesque compartilhassem posições e estratégiascomuns.

Não consiste, como tem sido colocado tantopor seus detratores como por alguns de seusadeptos ultimamente, em um programa para“afastar-se do anarquismo em direção aocomunismo libertário”. Os dois termos sãocompletamente interrelacionados. Foi escritopara ressaltar o fracasso dos anarquistas russosem sua confusão teórica; tanto quanto em suafalta de coordenação a nível nacional,desorganização e incerteza política. Em outraspalavras, carecia de efetividade. Em

suma, longe de fazer um compromisso compolíticas autoritárias, buscava a necessidadevital de criar uma organização que combinasseum efetivo ativismo revolu-cionário com osprincípios fundamentais do anarquismo.

Não é agora um programa perfeito, etampouco o foi em 1926. Tem debilidades.Não explica algumas de suas idéias comsuficiente profundidade, pode-se argüir quenão cobre em absoluto alguns tópicosimportantes. É bom não esquecer que o do-cumento é um pequeno panfleto e não umaenciclopédia de 26 volumes. Os autoresdeixam bastante claro em sua introdução quenão se trata de nenhum tipo de “Bíblia” . Nãoé uma análise ou programa completo, é umacontribuição ao necessário debate - um bomponto de partida.

Para que não reste qualquer tipo de dúvida desua relevância hoje em dia, deve ser dito queas idéias básicas de “A Plataforma” sãopreponderantes entre as idéias do movimentoanarquista internacionalmente. Os anarquistasbuscam mudar o mundo para melhor, e estepanfleto nos leva em uma direção ondepodemos encontrar algumas das ferramentasnecessárias para cumprir esta tarefa.

Alan MacSimoin, 1989

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Makhno e membros do comando do exército insurgente

Odeon, favorável à 'Plataforma', e SeverinFerandel.

Foi colocada a seguinte proposta:

1. Reconhecer a luta de classes como o as-pecto mais importante da idéia anarquista;

2. Reconhecer o Anarco-Comunismo comoa base do movimento;

3. Reconhecer o sindicalismo como o prin-cipal método de luta;

4. Reconhecer a necessidade de uma 'UniãoGeral de Anarquistas', baseado na unidadetática e ideológica, e na responsabilidadecoletiva;

5. Reconhecer a necessidade de um progra-ma positivo para realizar a revolução soci-al.

Depois de uma grande discussão algumasmodificações foram agregadas à propostaoriginal. Todavia, não deu tempo de fazer maisnada pois a policia invadiu o local, prendendotodos os presentes. Makhno quase foideportado, só não o foi graças a umacampanha iniciada por anarquistas franceses.A proposta de criar uma ‘FederaçãoInternacional de Anarco-ComunistasRevolucionários’ havia sido desbaratada,mesmo alguns daqueles que participaram nadita conferencia recusaram dar-lhe algumaautoridade.

Outros ataques à ‘Plataforma’ vieram deFabbri, Berneri, do historiador anarquista MaxNettlau, seguidos de Malatesta, o conhecidoanarquista italiano. O grupo Dielo Troudareplicou com “Uma Resposta aosConfusionistas do Anarquismo”, seguido deuma declaração de Arshinov sobre a‘Plataforma’ em 1929. Arshinov,decepcionado pela maneira com que se reagiuà idéia da ‘Plataforma’, voltou à URSS em1933. Foi acusado de “tentar restaurar oAnarquismo na Rússia”, sendo executadoem 1937, durante as purgas estalinistas.

A Plataforma falhou em estabelecer-se emnível internacional, mas afetou algunsmovimentos:

Na França, a situação foi marcada por umaserie de divisões e fusões, os‘Plataformistas’ por algumas vezeschegaram a controlar o movimentoanarquista, enquanto que em outras ocasiõesse viram forçados a dispersar-se e formarseus próprios agrupamentos. Na Itália, ossimpatizantes da Plataforma criaram opequeno “Sindicato Anarco ComunistaItaliano” , o qual rapidamente entrou emcolapso. Na Bulgária, a discussão sobreformas de organizar-se provocou areconstrução da Federação AnarquistaBúlgara (F.A.C.B.) sobre uma “plataformaconcreta” “para uma organização

anarquista específica, permanente eestruturada” “baseada nos princípios etáticas do comunismo libertário”. Todavia,os ‘Plataformistas’ da linha dura se negarama reconhecer a nova organização e adenunciaram em seu periódico semanal“Prouboujdane”, antes dela entrar em colapsopouco tempo depois.

De forma similar na Polônia, a FederaçãoAnarquista da Polônia (AFP) reconheceu quese há de derrubar o capitalismo e o estadoatravés da luta de classes e da revolução social,criando uma nova sociedade baseada emconselhos de trabalhadores e camponeses, euma organização construída sobre a unidadeteórica, embora negando a Plataforma aoconsiderar que tinha tendências autoritárias.Na Espanha, ocorreu, conforme Juan GómezCasas descreve em ‘Organización Anarquista- La Historia de la F.A.I.’: “O anarquismoespanhol estava preocupado em comoresgatar e incrementar a influencia que tevedesde que a Internacional chegou àEspanha”. Os anarquistas espanhóis nãotinham naquela época preocupações sobre sairdo isolamento, ou de competir com osbolcheviques. Na Espanha, a influenciabolchevique era ainda pequena. A Plataformadificilmente poderia afetar o movimentoespanhol. Quando se criou a ‘FederaçãoAnarquista Ibérica’ em 1927, a Plataformanão pode ser discutida mesmo estando naagenda, pois não haviam sido traduzidas suaspropostas. J. Manuel Molinas, à épocaSecretário dos Grupos Anarquistas de falahispânica na França, escreveu mais tarde parao Casas: “A plataforma de Arshinov e outrosanarquistas russos exerceu muito poucainfluencia no movimento no exílio e dentrodo país... ‘A Plataforma’ foi uma tentativa derenovar, de dar mais caráter e capacidade aomovimento anarquista à luz da RevoluçãoRussa. Hoje, ao longo de toda nossaexperiência, me parece que esse esforço nãofoi totalmente apreciado.”

A Guerra Mundial interrompeu odesenvolvimento das organizaçõesanarquistas, mas a controvérsia sobre aPlataforma reapareceu com a fundação da‘Federation Comuniste Libertaire’ na França,e do ‘Gruppi Anarchici di Azione Proletária’na Itália no principio dos anos 50. Ambosusaram a ‘Plataforma’ como ponto dereferência (houve também uma pequena‘Federación Comunista Libertaria’ deespanhóis no exílio.) Isto foi seguido em finaisdos anos 60 e começos dos anos 70 pelosurgimento de grupos tais como ‘Organisationof Revolutionary Anarchists’ na Inglaterra e a‘Organisation Revo-lutionnaire Anarchiste’ naFrança.

A Plataforma continua sendo uma valiosareferência histórica para os anarquistas da lutade classes, na busca por maior efetividade epela saída do isolamento político, dainatividade e da confusão, buscando respostasaos problemas que enfrentam.

Nick Heath, 1989

Nota:

Com o rápido crescimento do anarquismo,principalmente depois da queda do muro deBerlim, a Plataforma tornou-se novamente umimportante documento para grupos e indivíduosna busca pela superação das tendências anti-organisacionais de uma parcela do anarquismo.Em fevereiro de 2001 a Plataforma revelou-semais influente do que nunca com traduções empolonês, turco, sueco, francês, hebreu, espanhol,português, holandês e italiano pela internet.Totalmente vinculados às idéias centrais daPlataforma, 'reinventadas' antes mesmo dedescobrirem seu texto histórico, a todoinstante novos grupos emergem na EuropaOriental e América do Sul. Existem gruposanarquistas na França, Itália, Uruguai, Líbano,Suíça, Inglaterra, Polônia, Irlanda, Brasil,Argentina, Chile, EUA, Canadá e na RepúblicaCheca cuja base de organização repousa emalgumas idéias da Plataforma.

Andrew Flood - Fev 2001

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IntroduçãoÉ muito significativo que, apesar da força e do caráter indiscutivelmentepositivo das idéias libertárias, da nitidez e da integridade das posiçõesanarquistas diante da revolução social; enfim, do heroísmo e dos inúmerossacrifícios realizados pelos anarquistas na luta pelo comunismo libertário,o movimento anarquista continue fraco, e com freqüência tem figurado, nahistória das luta da classe operária, como um evento menor, um episódio, enão como um fator importante.

Essa contradição, entre o fundamento positi-vo e incontestável das idéias libertárias e oestado miserável em que vegeta o movimentoanarquista, explica-se por uma série de cau-sas, das quais a mais importante, a principal,é a ausência de princípios e práticasorganizacionais no movimento anarquista.

Em todos os países, o movimento anarquistaé representado por algumas organizações lo-cais, que defendem teorias e práticas contra-ditórias. Não têm qualquer perspectiva de fu-turo nem de continuidade da ação militante,habitualmente desaparecem sem deixar omenor traço de sua passagem.

A situação do anarquismo revolucionário é talque, se a tomarmos em seu conjunto, só podeser qualificada como uma “desorganizaçãogeral crônica”.

Como a febre amarela, a doença da desorga-nização apossou-se do organismo do movi-mento anarquista e o vem minando há deze-nas de anos.

Sem dúvida, essa desorganização deriva dealguns defeitos da teoria: notadamente, numafalsa interpretação do princípio da individua-lidade no anarquismo; este princípio tem sidocom muita freqüência confundido com a to-tal ausência de responsabilidade. Os amantesda auto-afirmação, que visam unicamente oprazer pessoal, agarram-se obstinadamente aesse estado caótico do movimento anarquistareferindo-se, para defendê-lo, aos princípiosimutáveis do anarquismo e seus mestres.

Ora, os princípios imutáveis e os mestres de-monstram justamente o contrário.

A dispersão e o desmembramento: eis a ruí-na. A união estreita é sinal de vida e de desen-volvimento. Esta lei da luta social aplica-setanto às classes quanto aos partidos.

O anarquismo não é uma bela utopia,tampouco uma abstração filosófica, é ummovimento social das massas trabalhadoras.Por este motivo, deve juntar suas forças numaorganização geral continuamente ativa, comoé exigido pela realidade e a estratégia da lutade classes.

“Estamos convencidos”, disse Kropotkin, “deque a formação de uma organização anar-

quista na Rússia, longe de ser prejudicial paraa tarefa revolucionária, é, pelo contrário, de-sejável e útil no mais alto grau.”[prefácio ao texto “A Comuna de Paris”, deBakunin, edição de 1892].

Bakunin nunca se opôs à idéia de uma organi-zação anarquista geral. Pelo contrário, suas as-pirações quanto à organização, assim como suaatividade na primeira internacional, nos dãotodo o direito de vê-lo precisamente como umpartidário ativo de uma tal organização.

Em geral, a maioria dos militantes ativos doanarquismo combateu toda ação dispersa, e so-nhou com um movimento anarquista firme-mente ligado pela unidade do objetivo e dosmeios.

Durante a revolução russa de 1917, a necessi-dade de uma organização geral se fez sentirainda mais intensa e urgentemente. No decor-rer dessa revolução, o movimento libertáriomanifestou o mais alto grau dedesmembramento e de confusão. A ausênciade uma organização geral fez com que muitosmilitantes anarquistas atuassem nas fileiras dosbolcheviques. Essa ausência é também a cau-sa de muitos outros militantes, hoje em dia,manterem-se passivos, impedindo todo o usode suas forças, cuja importância é bastante con-siderável.

É vital nossa necessidade de uma organizaçãoque, reunindo a maioria dos participantes domovimento anarquista, estabelecerá noanarquismo uma linha geral tática e políticaque servirá como guia para todo o movimen-to.

Já é tempo de o anarquismo sair do pântanoda desorganização, colocar um ponto final nasinfindáveis vacilações sobre as questões teó-ricas e táticas mais importantes, de caminharresolutamente para o objetivo claramente iden-tificado e realizar uma prática coletivamenteorganizada.

Não basta, porém, constatar a necessidade vi-tal dessa organização. É necessário, também,estabelecer o método de sua criação.

Rejeitamos, como prática e teoricamente ab-surda, a idéia de criar uma organização con-forme a receita da “Síntese”, isto é: reunindoos representantes das diferentes tendências do

anarquismo. Tal organização, tendo incorpo-rado elementos práticos e teóricos heterogê-neos, seria apenas um agregado mecânico deindivíduos, cada qual tendo um conceito di-ferente de todas as questões do movimentoanarquista, um agregado que inevitavelmen-te se desintegraria ao entrar em contato coma realidade.

O método anarco-sindicalista não resolve oproblema de organização do anarquismo,porque não dá prioridade a esse problema,interessando-se unicamente em sua penetra-ção e reforço nos meios operários.

Contudo, quando não existe uma organiza-ção anarquista geral, não se pode fazer gran-de coisa nesses meios, mesmo tendo algumainserção neles.

O único método que soluciona o problemada organização geral, no nosso ponto de vis-ta, é reunir militantes ativos do anarquismonuma base de posições precisas: teóricas, tá-ticas e organizacionais, ou seja: uma basemais ou menos acabada de um programa ho-mogêneo.

A elaboração de tal programa é uma das prin-cipais tarefas que a luta social dos últimosanos impôs aos anarquistas. É para a realiza-ção desta tarefa que o grupo de anarquistasrussos no exílio dedica uma parte importantede seus esforços.

A “Plataforma Organizacional” publicadaabaixo representa, em linhas gerais, o esbo-ço de tal programa. Deve ser um primeiropasso na reunião das forças libertárias numaúnica coletividade revolucionária ativa capazde lutar: a União Geral dos Anarquistas.

Não nos iludimos, há lacunas na presentePlataforma. Sem dúvida, ela tem limitaçõescomo toda e qualquer prática nova de algu-ma importância. É possível que algumas po-sições essenciais tenham sido omitidas e ou-tras insuficientemente tratadas ou, então,muito detalhadas ou repetitivas. Tudo isso épossível, mas não é o mais importante. O queimporta é lançar os fundamentos de uma or-ganização geral. Este é o objetivo que alcan-çamos, em certa medida, através dessa Plata-forma. São tarefas da coletividade, da UniãoGeral dos Anarquistas: aumentá-la,aprofundá-la e, mais tarde, fazer dela um pro-grama definitivo para todo o movimento anar-quista.

Noutro plano, também, não nos iludimos. Éprevisível que vários representantes do auto-denominado individualismo e do anarquismocaótico nos atacarão, espumando de ódio enos acusando de trair os princípios anarquis-tas.

Mas nós sabemos que os elementos indivi-dualistas e caóticos confundem “princípiosanarquistas” com “danem-se todos”. A ne-gligência e a total falta de responsabilidade

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em nosso movimento têm causado feridasquase incuráveis. É contra isso que estamoslutando, com toda nossa energia e paixão. Eiso motivo de ignorarmos calmamente os ata-ques vindos desse campo.

Baseamos nossa esperança em outros militan-tes: naqueles que se mantém fiéis aoanarquismo, que tendo vivido e sofrido a tra-gédia do movimento anarquista, procuramdolorosamente uma solução.

Ademais, temos grandes esperanças na juven-tude libertária que, nascida no sopro da revo-lução russa e situada, desde o começo, no cír-culo das realidades concretas, exigirá certa-mente a realização dos princípiosorganizacionais e construtivos do anarquismo.

Parte GeralNão existe humanidade unidaExiste a humanidade dividida em classes:escravos e senhores

Convidamos todas as organizações anarquis-tas russas, dispersas em vários países do mun-do, e também os militantes isolados doanarquismo, a se unirem sobre a base de umaPlataforma comum de organização.

Que esta Plataforma sirva de palavra de or-dem revolucionária e ponto de união para to-dos os militantes do movimento anarquistarusso! Que sirva para lançar os fundamentosda União Geral dos Anarquistas!Viva a Revolução Social dos Trabalhadoresdo Mundo!

DIELO TRUDA, Paris 20/06/1926.

1. Luta de classes, seu papel e signifi-cado

Como todas as que a precederam, a socieda-de capitalista e burguesa de nossos tempos nãoé unida. Ela está dividida em dois campos dis-tintos, diferenciados socialmente por suas res-pectivas situações e funções: o proletariado(no sentido mais extenso da palavra) e a bur-guesia.

O destino do proletariado é, e tem sido há sé-culos, carregar o fardo do trabalho físico epenoso, cujos frutos são colhidos por umaoutra classe que possui a propriedade, a auto-ridade e os produtos da cultura burguesa (ci-ência, educação, arte, etc.). A escravizaçãosocial e a exploração das massas trabalhado-ras formam a base sobre a qual a sociedademoderna, se apóia e sem a qual não poderiaexistir.

Este fato gera uma luta de classes secular, queassume um caráter aberto e violento ou umaaparência de progresso lento e imperceptível,mas orientada sempre, essencialmente, para atransformação da sociedade atual numa soci-edade que satisfará às aspirações, necessida-des, e ao conceito de justiça dos trabalhado-res.

Toda a história da humanidade representa, nodomínio social, uma cadeia ininterrupta delutas que as massas trabalhadoras travam porseus direitos, por sua liberdade e por uma vidamelhor. Esta luta de classes sempre foi o prin-cipal fator determinante da forma e da estru-tura das sociedades.

O regime social e político de todos os países

é, antes de tudo, produto da luta de classes. Aestrutura de uma sociedade nos mostra a faseem que se encontra a luta de classes. A di-mensão geral, universal e o sentido da luta declasses na vida das sociedades de classes é talque a mínima alteração no curso da luta declasses, na relação de forças entre as classesem luta contínua, engendra mudanças no te-cido e na estrutura da sociedade como umtodo.

2. A necessidade de uma violentarevolução social

O princípio de opressão e exploração dasmassas pela violência constitui a base da so-ciedade moderna. Todas as manifestações desua existência: a economia, a política, as rela-ções sociais. . . baseiam-se na violência declasse, cujos instrumentos são: a autoridade,a polícia, o exército, os tribunais. Tudo nestasociedade, desde a empresa tomada isolada-mente até o conjunto dos aparatos estatais sãobaluartes na defesa e manutenção do capita-lismo. Além de serem pontos de observaçãopermanente dos trabalhadores, servem para tersempre ao alcance da mão as forças destina-das a reprimir os trabalhadores que ameaçamos fundamentos ou mesmo a tranqüilidade dasociedade atual.

Ao mesmo tempo, o sistema capitalista man-tém deliberadamente as massas trabalhadorasnum estado de ignorância e estagnação men-tal, impedindo pela força a elevação de seunível intelectual e moral, para mais facilmen-te ludibriá-las. O progresso da sociedade mo-derna, a evolução técnica do capital e o aper-feiçoamento de seu regime político, fortale-

cem o poder da classe dominante e dificultamainda mais a luta contra ela, adiando o mo-mento decisivo da emancipação dos trabalha-dores.A análise da sociedade moderna nos leva àconclusão de que a revolução social violentaé a única via para transformar a sociedadecapitalista numa sociedade de trabalhadoreslivres.

3. O anarquismo e o comunismolibertário

A luta de classes criada pela escravidão dostrabalhadores e suas aspirações de liberdadefez nascer, entre os oprimidos, a idéia doanarquismo: a idéia da negação do sistemasocial baseado nos princípios de classes e doEstado, e sua substituição por uma sociedadelivre e sem estado, autogerida pelos trabalha-dores.

Portanto, o anarquismo não deriva das refle-xões abstratas de um intelectual ou filósofo,mas da luta direta dos trabalhadores contra ocapital, das aspirações e necessidades dos tra-balhadores, de seus desejos de liberdade eigualdade, os quais se tornam particularmen-te vivos no melhor período heróico da vida eda luta das massas trabalhadoras.

Eminentes anarquistas, Bakunin, Kropotkine outros apenas fizeram uso de sua capacida-de intelectual e conhecimentos quando espe-cificaram e divulgaram a idéia de anarquismo,não a inventaram, mas a descobriram nasmassas.

O anarquismo não é o resultado de obras pes-soais nem objeto de pesquisas individuais.Similarmente, o anarquismo não é produto deaspirações humanitárias. A humanidade “uni-da” não existe. Qualquer tentativa de fazer doanarquismo um atributo da humanidade atu-al, de atribuir-lhe um caráter genericamentehumanitário seria uma mentira histórica e so-cial que conduziria inevitavelmente à justifi-cação da ordem atual e de uma nova forma deexploração.

O anarquismo em termos gerais é humanitá-rio apenas no sentido de que os ideais dasmassas trabalhadoras tendem a aperfeiçoar asvidas de todos os homens, e pelo fato de queo destino da humanidade de hoje ou de ama-nhã é inseparável do destino do trabalho ex-plorado. Se as massas trabalhadoras vence-rem, toda a humanidade renascerá. Se não,violência, exploração, escravização e opres-são reinarão como nunca antes no mundo...

O nascimento, o desenvolvimento e a realiza-ção das idéias anarquistas tem suas origensna vida e na luta das massas trabalhadoras, eestão inseparavelmente ligadas à sua sorte.

O anarquismo quer transformar a sociedadecapitalista numa sociedade nova em que ostrabalhadores tenham garantido o produto desua atividade, a liberdade, a independência, e

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a igualdade social e política. Esta nova socie-dade será o comunismo libertário. É no co-munismo libertário que terão plena expansãoa solidariedade social e a livre individualida-de, onde essas duas idéias se desenvolverãoem perfeita harmonia.

O comunismo libertário avalia que a únicacoisa que realmente gera valor na sociedade éo trabalho físico e intelectual.Consequentemente, só os trabalhadores têmo direito de administrar a vida social e econô-mica. É por isso que ele não justifica nemadmite a existência de classes não trabalha-doras.

Enquanto tiver que coexistir com tais classes,o comunismo libertário não reconhecerá qual-quer obrigação em relação a elas, exceto se asclasses não trabalhadoras se decidirem a pro-duzir e quiserem viver na sociedade comu-nista, sob as mesmas condições de todos osoutros, os membros livres da sociedade, go-zando dos mesmos direitos e obrigações detodos os membros produtivos.

O comunismo libertário quer suprimir todaexploração e violência, seja contra o indiví-duo ou as massas trabalhadoras. Para tanto,estabelece uma base econômica e social queunifica, num conjunto harmonioso, toda a vidaeconômica e social do país, assegurando atodo indivíduo uma situação igual a dos ou-tros e dando a cada um o máximo bem-estar.Esta base é a apropriação, sob a forma de so-cialização, de todos os meios e instrumentosde produção (indústria, transporte, terra, ma-térias-primas, etc.) e a construção de organis-mos econômicos sob os princípios da igual-dade e autogestão dos trabalhadores.

Nos limites desta sociedade autogerida pelostrabalhadores, o comunismo libertário esta-belece o princípio da igualdade de valor e dosdireitos de cada indivíduo (não a individuali-dade “em geral”, nem a individualidade “mís-tica” ou o conceito de individualidade, mas oindivíduo concreto).

4. A negação da democracia

Democracia é uma das formas da sociedadecapitalista.

A democracia se baseia na manutenção dasduas classes antagônicas da sociedade moder-na: a do trabalho e a do capital, e sua colabo-ração fundada sobre a propriedade privada ca-pitalista. A expressão dessa colaboração é oparlamento e o governo nacional representa-tivo.

Formalmente, a democracia proclama a liber-dade de opinião, de imprensa, de associação,enquanto não ameacem os interesses da clas-se dominante, ou seja, a burguesia.

A democracia mantém intacto o princípio dapropriedade privada capitalista. Portanto, dáa burguesia o direito de controlar toda a eco-

nomia do país, toda a imprensa, educação,ciência, arte, o que de fato, torna a burguesiadona absoluta do país. Possuindo o monopó-lio da vida econômica, a burguesia pode esta-belecer seu poder ilimitado também na esferapolítica. Efetivamente, o governo representa-tivo e o parlamento nada mais são, nas demo-cracias, do que os órgãos executivos da bur-guesia.

Consequentemente, a democracia é apenas umdos aspectos da ditadura burguesa, camufla-da pelas fórmulas ilusórias das liberdades po-líticas e garantias democráticas fictícias.

5. A negação da autoridade

Os ideólogos da burguesia definem o Estadocomo o órgão que regula as complexas rela-ções políticas e sociais entre os homens nasociedade moderna, protegendo a lei e a or-dem. Os anarquistas estão em perfeito acordocom esta definição, mas a completam, afir-mando que as bases dessa lei e dessa ordem éa escravidão da maioria da população por umaminoria insignificante, e que para tal serve oEstado.

O Estado é, simultaneamente, a violência or-ganizada da burguesia contra os trabalhado-res e o sistema de seus órgãos executivos.

Os socialistas de esquerda e, em particular,os bolcheviques, também consideram a auto-ridade e o Estado burguês como lacaios docapital. Mas sustentam que a autoridade e oEstado podem se tornar, nas mãos dos parti-dos socialistas, um meio poderoso na luta pelaemancipação do proletariado. Por este moti-vo, esses partidos são a favor de uma autori-dade socialista e um Estado proletário. Algunsquerem conquistar o poder pacificamente,através do parlamento (os social-democratas);outros, por meios revolucionários (osbolcheviques, os socialistas-revolucionáriosde esquerda).

O anarquismo considera-os, ambos, funda-mentalmente equivocados, nocivos para a ta-refa de emancipação do trabalho.

A autoridade está sempre ligada à exploraçãoe à submissão das massas populares. Ela nas-ce da exploração ou surge no interesse da ex-ploração. A autoridade sem violência e semexploração perde toda a razão de ser.

O Estado e a autoridade retiram das massastoda iniciativa, matam o espírito criador e alivre atividade, cultivam a psicologia da sub-missão: a expectativa, a esperança de ascen-der na hierarquia social, a estúpida confiançanos dirigentes, e a ilusão de ser parte da auto-ridade...

Ora, a emancipação dos trabalhadores só épossível mediante o processo de luta revolu-cionária direta das massas trabalhadoras e suasorganizações de classe contra o sistema capi-talista.

A conquista do poder pelos partidos sociais-democratas, por meios pacíficos e sob as con-dições da ordem atual, não fará avançar umsó passo a tarefa de emancipação do trabalho,pelo simples motivo de que o poder real,consequentemente a autoridade real, perma-necerá com a burguesia que controla a econo-mia e a política do país. O papel da autorida-de socialista se reduzirá a fazer reformas, amelhorar o regime. (Exemplos: RamsayMacDonald, os partidos sociais-democratasda Alemanha, Suécia, Bélgica, que assumi-ram o poder na sociedade capitalista.)

Tomar o poder mediante a violência e organi-zar o autodenominado "Estado proletário"também de nada adianta para uma autênticaemancipação do trabalho. O Estado,construído supostamente para a defesa da re-volução, termina fatalmente distorcido porsuas necessidades e características peculiares,torna-se o objetivo em si mesmo, produz cas-tas específicas e privilegiadas sobre as quaisse apóia. Deste modo, submete as massas pelaforça e consequentemente restabelece as ba-ses da autoridade capitalista e do Estado ca-pitalista: a opressão e a exploração das mas-sas pela violência. (Exemplo: "oEstadooperário e camponês" dosbolcheviques.)

6. O papel das massas e o dos anarquistas na

luta e na revolução social

As principais forças da revolução social são aclasse operária urbana, as massas campone-sas e um setor dos trabalhadores intelectuais.

Nota: enquanto classe explorada e oprimida,da mesma forma que os proletários urbanos erurais, os trabalhadores intelectuais são rela-tivamente mais desunidos do que os operári-os e camponeses, graças aos privilégios eco-nômicos concedidos pela burguesia a algunsde seus elementos. Eis por que, no começoda revolução social, apenas a parcela maisdesfavorecida dos intelectuais participou ati-vamente.

A concepção anarquista do papel das massasna revolução social e na construção do socia-lismo difere, de maneira típica, daquela dospartidos estatistas. Enquanto o bolchevismoe as tendências que lhe são afins consideramque as massas trabalhadoras possuem apenasinstintos revolucionários destrutivos, sendoincapazes de uma atividade revolucionáriacriativa e construtiva – razão pela qual essaatividade deve se concentrar nas mãos doshomens que formam o governo do Estado e oComitê Central do partido – os anarquistas,pelo contrário, não apenas acreditam que asmassas têm imensas possibilidades criativase construtivas, como também trabalham pelasupressão dos obstáculos que impedem a ma-nifestação dessas possibilidades.

Os anarquistas consideram o Estado como seuprincipal obstáculo, usurpando os direitos das

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massas e apropriando-se de todas as funçõesda vida econômica e social. O Estado deveperecer, não "um dia", na sociedade futura,mas agora. Ele deve ser destruído no primei-ro dia da vitória dos trabalhadores, e não deveser reconstituído de forma alguma. Ele serásubstituído por um sistema federalista de or-ganizações de produção e consumo dos tra-balhadores federativamente unidos e auto-ad-ministrados. Este sistema exclui tanto a orga-nização da autoridade como a ditadura de umpartido, não importa qual seja ele.

A revolução Russa de 1917 revela precisamen-te essa orientação do processo de emancipa-ção social, na criação de um sistema de con-selhos operários e camponeses e comitês defábrica. Seu lamentável erro foi não ter liqui-dado, no momento oportuno, a organizaçãodo poder estatal: no começo do governo pro-visório, antes, e o poder bolchevique, depois.Os bolcheviques, aproveitando-se da confi-ança dos operários e camponeses, reorgani-zaram o estado burguês de acordo com as cir-cunstâncias do momento e, em seguida, coma ajuda do estado, mataram a atividade criati-va das massas, sufocando os sovietes livres eos comitês de fábrica, que representaram oprimeiro passo na construção de uma socie-dade não estatal, socialista.

A ação dos anarquistas pode ser dividida emdois períodos: um antes e outro durante a re-volução. Em ambos, os anarquistas só pode-rão cumprir seu papel como uma força orga-nizada tendo uma concepção clara dos objeti-vos da luta e dos meios que levam à realiza-ção desses objetivos.

A tarefa fundamental da União Geral dosAnarquistas, no período pré-revolucionário,deve ser a preparação dos operários e campo-neses para a revolução social.

Negando a democracia formal (burguesa), aautoridade e o Estado, proclamando a com-pleta emancipação do trabalho, o anarquismodestaca ao máximo os princípios rigorosos daluta de classes. Isto desperta e desenvolve nasmassas uma consciência de classe e aintransigência revolucionária da classe.

É precisamente através da intransigência declasse, do antidemocratismo, dos ideais docomunismo anarquista que a educaçãolibertária das massas deve ser feita. Mas aeducação somente não basta. É necessária,também, uma certa organização anarquista dasmassas.Para realizar isso, é preciso atuar em duas di-reções: de um lado, selecionar e agrupar asforças revolucionárias de operários e campo-neses numa base teórica comunista libertária(organizações específicas comunistaslibertárias); do outro, reagrupar operários ecamponeses revolucionários numa base eco-

nômica de produção e consumo (organizaçãoprodutiva dos operários e camponeses revo-lucionários, cooperativas de operários e cam-poneses livres etc.). Os operários e campone-ses, organizados numa base de produção econsumo, influenciados pelas posições anar-quistas revolucionárias, serão o primeiro pon-to de apoio da revolução social.

Quanto mais se tornarem conscientes e orga-nizados à maneira anarquista, desde já, maisos operários e camponeses manifestarão avontade intransigente e a criatividade libertáriano momento da revolução.

Quanto à classe operária na Rússia: é claroque oito anos de ditadura bolchevique, apri-sionando as necessidades naturais das mas-sas e sua atividade livre, demonstram, melhordo que qualquer coisa, a verdadeira naturezade todo poder. Mas a classe operária russadesenvolveu enormes possibilidades para aformação de um movimento anarquista demassas. Os militantes anarquistas organiza-dos devem ir imediatamente, com todas for-ças de que dispõem, ao encontro dessas ne-cessidades e possibilidades, para que não de-generem em reformismo (menchevismo).

Com a mesma urgência, os anarquistas devemaplicar todas as suas forças na organizaçãodos camponeses pobres, esmagados pelo po-der estatal, buscando uma saída e desenvol-vendo seu imenso potencial revolucionário.

O papel dos anarquistas, no período revoluci-onário, não pode se limitar à propagação depalavras de ordem e de idéias libertárias. Avida aparece como a arena não só da propa-gação desta ou daquela concepção, mas, tam-bém, no mesmo grau, a arena da luta, da es-tratégia e das aspirações dessas concepções àdireção econômica e social.

Mais do que qualquer outra concepção, oanarquismo deve se tornar a concepção diri-gente da revolução social, porque apenas coma base teórica do anarquismo a revolução so-cial poderá conduzir à completa emancipaçãodo trabalho.

A posição dirigente das idéias anarquistas narevolução significa uma orientação anarquis-ta dos eventos. Contudo, não se deve confun-dir essa força motriz teórica com a liderançapolítica dos partidos estatistas que levam fi-nalmente ao Poder do Estado.

O anarquismo não aspira nem à conquista dopoder político, nem à ditadura. Sua principalaspiração é ajudar as massas a trilhar a autên-tica via da revolução social e da construçãosocialista. Mas não basta que sigam a via darevolução social. Também é necessário man-ter esta orientação da revolução e seus objeti-vos: substituição da sociedade capitalista pela

dos trabalhadores livres. Como a experiênciada revolução Russa em 1917 nos mostrou, estaúltima tarefa está longe de ser fácil, sobretu-do por causa dos inúmeros partidos que ten-tam orientar o movimento numa direção opos-ta à da revolução social.

Ainda que as massas se expressem profunda-mente nos movimentos sociais, pelas tendên-cias e princípios anarquistas, essas tendênci-as e princípios permanecem dispersos, se nãoforem coordenados, e consequen-tementeqnão conduzem à organização da potênciamotriz das idéias libertárias que é necessáriapara manter, na revolução social, a orienta-ção e os objetivos anarquistas. Esta forçamotriz teórica pode ser expressa apenas porum coletivo especialmente criado pelas mas-sas para tal fim. Os elementos anarquistas or-ganizados constituem exatamente esse cole-tivo. Os deveres teóricos e práticos, no mo-mento da revolução, são consideráveis.

Ele deve tomar iniciativas e deflagrar umaparticipação total em todos os domínios darevolução social: na orientação e no carátergeral da revolução; nas tarefas positivas darevolução na nova produção, na guerra civil ena defesa da revolução, no consumo, na ques-tão agrária etc.

Sobre todas essas questões e numerosas ou-tras, as massas exigem dos anarquistas umaresposta clara e precisa. E, a partir do mo-mento em que os anarquistas proclamam umaconcepção da revolução e da estrutura da so-ciedade, eles são obrigados a dar respostasclaras para todas essas questões, a ligar as res-postas a uma concepção geral do comunismolibertário e, por fim, dedicar-se totalmente àsua efetiva realização.

Desta forma, a União Geral dos Anarquistase o movimento anarquista assumem comple-tamente sua função teórica motriz na revolu-ção social.

Insurgentes makhnovistas naestatção ferroviária

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7. O Período Transitório

Os partidos políticos entendem, pela expres-são "período transitório", uma fase determi-nada na vida de um povo cujas característicassão: ruptura com a velha ordem de coisas einstauração de um novo sistema econômico esocial, um sistema que, contudo, ainda nãorepresenta a completa emancipação dos tra-balhadores. Neste sentido, todos os progra-mas mínimos dos partidos políticos socialis-tas - por exemplo, o programa democráticodos oportunistas socialistas ou o programa da"ditadura do proletariado", dos bolcheviques- são programas do período de transição.

O traço essencial desses programas é que to-dos consideram impossível, para o momento,a completa realização dos ideais dos traba-lhadores: sua independência, sua liberdade eigualdade, e consequentemente preservamtoda uma série de instituições do sistema ca-pitalista: o princípio da coerção estatista, pro-priedade privada dos meios e instrumentos deprodução, o trabalho assalariado e diversosoutros, de acordo com os objetivos do pro-grama de cada partido.

Os anarquistas sempre foram inimigos de taisprogramas, considerando que a construção desistemas transitórios, que mantém os princí-pios de exploração e coerção das massas, levanecessariamente a um novo crescimento daescravidão.

Ao invés de estabelecer programas políticosmínimos, os anarquistas sempre defenderama idéia de uma revolução social imediata, quedespoja a classe capitalista de seus privilégi-os econômicos e sociais, e coloca os meios einstrumentos de produção, assim como todasas funções da vida econômica e social, nas mãosdos trabalhadores.

Até agora, os anarquistas têm mantido estaposição.

A idéia de um período transitório, segundo aqual a revolução social deve conduzir não auma sociedade comunista, mas a um sistemaX, conservando elementos do velho sistema,é anti-social em sua essência. Essa idéia ame-aça produzir o reforço e o desenvolvimentodesses elementos às suas dimensões prévias,e faz retroagir os eventos.

Um exemplo flagrante disso é o regime de"ditadura do proletariado", estabelecido pe-los bolcheviques na Rússia.

De acordo com eles, esse regime deveria seruma etapa transitória para o comunismo to-tal.

Na realidade, essa etapa produziu a restaura-ção da sociedade de classes, onde estão, sub-jugados como antes, os operários e os cam-poneses pobres.O centro da gravidade na construção de uma

sociedade comunista não consiste na possibi-lidade de assegurar a cada indivíduo, desde oprimeiro dia da revolução, a liberdade ilimi-tada para satisfazer suas necessidades; mas seafirma na conquista da base social dessa soci-edade comunista, estabelecendo os princípi-os de relações igualitárias entre os indivídu-os. Quanto à questão da maior ou menor abun-dância de bens, não é formulada em nível deprincípio, mas como um problema técnico.

O princípio fundamental sobre o qual a novasociedade será erguida, sobre o qual perma-necerá e não deve ser limitado de forma algu-ma, é o da igualdade das relações, da liberda-de e independência dos trabalhadores. Esteprincípio representa a exigência prioritária efundamental das massas, exigência pela qualse sublevam e fazem a revolução social.

De duas, uma:

a) A revolução social terminará com a derrotados trabalhadores. Neste caso, devemos co-meçar de novo a preparar a luta, uma novaofensiva contra o sistema capitalista.

b) Ou, então, conduzirá à vitória dos traba-lhadores. Neste caso, os trabalhadores se apos-sarão dos meios que lhes permitem sua auto-administração: a terra, a produção e as fun-ções sociais, e começarão a construir umasociedade livre.

Eis o que caracteriza o início da construçãode uma sociedade comunista, que, uma veziniciada, seguirá então continuamente o cur-so de seu desenvolvimento, fortalecendo-se ese aperfeiçoando sem cessar.

Dessa maneira, a tomada das funções produ-tivas e sociais pelos trabalhadores traçará umalinha demarcatória entre as épocas estatal enão-estatal.

Se quiser se tornar o porta-voz das massas emluta, a bandeira de toda uma época de revolu-ção social, o anarquismo não deve assimilar,em seu programa, os resíduos da velha ordem,as tendências oportunistas dos sistemas e pe-ríodos de transição, nem, tampouco, ocultarseus princípios fundamentais, mas, ao con-trário, desenvolvê-los e aplicá-los ao máxi-mo.

8. Anarquismo e Sindicalismo

Consideramos artificial, privada de todo fun-damento e de todo sentido, a tendência a oporo comunismo libertário ao sindicalismo e vice-versa.

As noções de anarquismo e sindicalismo per-tencem a dois planos diferentes. Enquanto ocomunismo, isto é, a sociedade de trabalha-dores livres e iguais, é o objetivo da luta anar-quista, o sindicalismo, isto é, o movimentooperário revolucionário por profissão, é ape-nas uma das formas da luta revolucionária.Unindo os operários nos locais de produção,

o sindicalismo revolucionário, como todo gru-po profissional, não possui uma teoria deter-minada, uma concepção do mundo que res-ponda a todas as complexas questões sociaise políticas da realidade atual. Ele reflete sem-pre a ideologia de diversos grupos políticos,notadamente aqueles que militam mais inten-samente nos sindicatos.

Nossa atitude em relação ao sindicalismo de-riva do que já dissemos. Sem nos preocuparaqui em resolver com antecedência a questãodo papel dos sindicatos revolucionários de-pois da revolução, ou seja, se eles serão osorganizadores de toda a nova produção ou seeles deixarão esse papel para os conselhos detrabalhadores ou, ainda, os comitês de fábri-ca, nós entendemos que os anarquistas devemparticipar no sindicalismo revolucionáriocomo uma das formas do movimento operá-rio revolucionário.

Porém, a questão que se coloca hoje não é seos anarquistas devem ou não participar nosindicalismo revolucionário, mas sim como ecom que fim devem participar.

Nós consideramos todo o período anterior, atéo dia de hoje, quando os anarquistas entra-ram no movimento sindicalista na qualidadede militantes e propagandistas individuais,como um período de relações artesanais como movimento operário profissional.

O anarco-sindicalismo, tentando forçar a in-trodução das idéias libertárias na ala esquer-da do sindicalismo revolucionário, como meiocujo fim é criar sindicatos de tipo anarquista,representa, sob este aspecto, um passo adian-te. Mas não vai além do método empírico.

Porque o anarco-sindicalismo não liga neces-sariamente a tarefa de "anarquização" do mo-vimento sindical com a tarefa de organizaçãodas forças anarquistas fora do movimento.

Ora, é apenas mediante tal ligação que é pos-sível "anarquizar" o sindicalismo revolucio-nário e impedi-lo de descambar para o opor-tunismo e o reformismo.

Considerando o sindicalismo apenas como ummovimento profissional de trabalhadores, semuma teoria social e política determinada, e,portanto, incapaz de resolver por si mesmo aquestão social, entendemos que a tarefa dosanarquistas no movimento consiste em desen-volver as idéias libertárias, orientando-o numsentido libertário, para transformá-lo numaforça ativa da revolução social. É importantenunca esquecermos que, se o sindicalismo nãoencontrar apoio na teoria anarquista, ele seapoiará, então, concordemos ou não com isto,na ideologia de um partido político estatistaqualquer.

A título de exemplo, aliás chocante, podemoscitar o sindicalismo francês. Este, no qualbrilhavam as táticas e palavras de ordem anar-quistas, logo sucumbiu à influência dos

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bolcheviques, por um lado, e, sobretudo, poroutro, à influência dos socialistas oportunis-tas de direita.

Mas a tarefa dos anarquistas nas fileiras domovimento operário revolucionário não po-derá ser cumprida, a não ser que seja estreita-mente ligada e conciliada com a atividade daorganização anarquista fora do sindicato. Re-sumindo, devemos entrar nos sindicatos comouma força organizada, responsável pela atua-ção no sindicato perante a organização geralanarquista e orientados por ela.

Sem nos limitar à criação de sindicatos anar-quistas, devemos tentar exercer nossa influ-

Parte Construtiva

ência teórica sobre o sindicalismo revolucio-nário como um todo e em todas as suas for-mas (a IWW, os sindicatos russos...). Só atin-giremos este objetivo, agindo como coletivoanarquista rigorosamente organizado, jamaisem pequenos grupos empíricos, que não pos-suem ligação organizacional nem convergên-cia teórica.

Grupos anarquistas em fábricas e empresas,preocupados em criar sindicatos anarquistas,lutando nos sindicatos revolucionários pelapreponderância das idéias libertárias no mo-vimento, grupos orientados em sua ação poruma organização geral anarquista: tais sãoossentidos e as formas da atitude dos anarquis-tas em sua relação com o sindicalismo.

O objetivo fundamental dos trabalhadores em luta é a fundação, por meio da revolução,de uma sociedade comunista livre e igualitária, baseada no princípio: "De cada um se-gundo suas possibilidades, para cada um segundo suas necessidades."

Contudo, essa sociedade não se realizará porsi mesma, só pelo poder de uma sublevaçãosocial. Sua realização será um processo soci-al-revolucionário, mais ou menos longo, con-duzido num determinado caminho pelas for-ças organizadas do proletariado vitorioso.

Nossa tarefa é, desde já, indicar esse caminhoe antecipar os problemas positivos e concre-tos que os trabalhadores enfrentarão desde oprimeiro dia da revolução social, cujasorte dependerá de sua justa solução.

É óbvio que a construção da nova sociedadeserá possível apenas depois da vitória dos tra-balhadores sobre o capitalismo e seus repre-sentantes. Não é possível começar aconstrução de uma nova economia e de novasrelações sociais enquanto o poder do estadoque defende o regime de escravização não ti-ver sido esmagado, enquanto os operários ecamponeses não tiverem tomado em suasmãos, durante a revolução, a economia indus-trial e agrária do país.

Portanto, a primeira tarefa da revolução soci-al é destruir o estado capitalista, expropriar aburguesia e, de modo geral, todos os elemen-tos socialmente privilegiados, dos meios dopoder, e implantar, em toda parte, a vontadedo proletariado revoltado, expressa nos prin-cípios fundamentais da revolução social. Esteaspecto destrutivo e combativo darevolução nada mais fará do que desobstruiro caminho para as tarefas positivas que cons-tituem o sentido e a essência da revoluçãosocial-

As tarefas são as seguintes:

1. A solução, no sentido comunistalibertário, do problema da produção indus-trial do país.

2. A solução similar em relação ao proble-ma agrário.

3. A solução do problema de consumo.

Produção

Levando em conta o fato de que a indústriado país é o resultado dos esforços de inúme-ras gerações de trabalhadores e que os diver-sos ramos da indústria são estreitamente in-terligados, consideramos toda a função pro-dutiva atual como uma só oficina de produto-res, pertencendo totalmente ao conjunto dostrabalhadores, e a ninguém em particular.

O mecanismo produtivo do país é global epertence a toda a classe operária. Esta tesedetermina o caráter e a forma da nova produ-ção. Ela será também global, comum, no sen-tido de que os produtos pertencerão a todos.Tais produtos, quaisquer que sejam, consti-tuirão o fundo geral de provisões dos traba-lhadores, do qual todo participante na novaprodução receberá tudo que necessita, numabase igual para todos.

O novo sistema de produção suprimirá total-mente o trabalho assalariado e a exploração,sob todas as suas formas, e estabelecerá emseu lugar o princípio da colaboração fraternae solidária dos trabalhadores.

A classe média, que na sociedade capitalistamoderna, exerce funções intermediárias eimprodutivas – comércio e outras - assimcomo a burguesia, deve participar na novaprodução, nas mesmas condições de todos osoutros trabalhadores. Caso contrário, essasclasses se excluirão da sociedade trabalhado-ra.

Não haverá patrões, sejam empresários, pro-prietários privados ou burocratas estatais(como no estado bolchevique). As funçõesorganizadoras passarão, na nova produção,para os órgãos administrativos especialmentecriados pelas massas operárias: conselhos de

operários, comitês de fábrica ou gestão ope-rária das fábricas e empresas. Esses órgãos,interligados na comuna, no distrito e, logoapós, em todo o país, formarão as instituiçõesdas comunas, dos distritos, em suma, as insti-tuições gerais e federais de gestão da produ-ção. Designados pelas s massas e sempre sobseu controle e influência, todos esses órgãosserão constantemente renovados e realizarãoassim a idéia da autogestão pelas massas.

A produção unificada, cujos meios e produ-tos pertencem a todos, tendo substituído o tra-balho assalariado pelo princípio da colabora-ção fraternal e tendo estabelecido a igualdadede direitos para todos os produtores; a produ-ção dirigida pelos órgãos de gestão operária,eleitos pelas massas; tal é o primeiro passono caminho para a realização do comunismolibertário.

Consumo

Esse problema surgirá na revolução sob umduplo aspecto:

1. O princípio da busca dos bens de consu-mo.

2. O princípio de sua distribuição.

No que diz respeito à distribuição dos bensde consumo, as soluções dependerão, sobre-tudo, da quantidade de produtos disponíveise do princípio da conformidade com oobjetivo etc.

A revolução social, encarregando-se da re-construção de toda ordem social, assume aobrigação de satisfazer as necessidades vitaisde todas as pessoas. A única exceção é o gru-po dos não-trabalhadores - aqueles que se re-cusam a tomar parte na nova produção pormotivos contra-revolucionários. Mas, em ge-ral, excetuando estes, a satisfação das neces-sidades de toda a população do território darevolução social é assegurada pela reservageral de consumo. Se houver escassez, os bensserão divididos de acordo com os princípiosda maior urgência: isto é, em primeiro lugaras crianças, os enfermos e as famílias operá-rias.

Um problema muito mais difícil é o da orga-nização do próprio fundo de consumo.

Sem dúvida, desde o primeiro dia da revolu-ção, as cidades não disporão de todos osprodutos necessários para a vida da popula-ção. Ao mesmo tempo, os camponeses terãoem abundância os produtos que faltam às ci-dades.

Os comunistas libertários não têm qualquerdúvida quanto ao caráter mútuo das relaçõesentre os trabalhadores da cidade e do campo.

Entendemos que a revolução social só podeser realizada pelos esforços comuns de ope-rários e camponeses. Em conseqüência, a so-lução do problema de consumo na revoluçãosó pode ser possível mediante a estreita cola-boração revolucionária entre essas duas cate-gorias de trabalhadores.

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Para estabelecer essa colaboração, a classeoperária urbana, tendo assumido a gestão daprodução, deve imediatamente suprir as ne-cessidades vitais do campo e se esforçar parafornecer os produtos do consumo diário, osmeios e instrumentos para a agricultura cole-tiva. As medidas de solidariedade tomadaspelos trabalhadores, ao atender as necessida-des dos camponeses, suscitará nestes a reci-procidade, enviando coletivamente seus pro-dutos, em primeiro lugar os alimentícios, paraas cidades.

Cooperativas de operários e camponeses se-rão os primeiros órgãos a assegurar as neces-sidades de alimentação e de provisões para ascidades e os campos. Mais tarde, responsá-veis por funções mais importantes e perma-nentes, notadamente de suprir o que for ne-cessário para manter e desenvolver a vida eco-nômica e social dos operários e camponeses,essas cooperativas serão transformadas em ór-gãos permanentes de suprimento das cidadese do campo.

A solução do problema de suprimento per-manente permitirá ao proletariado criar umestoque permanente, o que produzirá um efei-to favorável e decisivo no resultado de toda anova produção.

A terra

Consideramos como principais forças revo-lucionárias e criadoras na solução da questãoagrária os camponeses trabalhadores - aque-les que não exploram o trabalho de outras pes-soas - e o proletariado rural. Sua tarefa é fazera redistribuição da terra, para estabelecer ousufruto coletivo da terra sob princípios co-munistas.

Assim como a indústria, a terra, explorada ecultivada por sucessivas gerações de trabalha-dores, é o resultado de seus esforços comuns.Ela pertence a todos os trabalhadores e a nin-guém em particular. Enquanto propriedadecomum e inalienável dos trabalhadores, a ter-ra não poderá ser comprada ou vendida, nemalugada; portanto, ela não poderá servir comomeio de exploração do trabalho de outros.

A terra também é uma espécie de oficina po-pular e comunitária, onde as pessoas produ-zem seus meios de vida. Mas é uma espéciede oficina onde cada trabalhador (camponês)se acostumou, graças a certas condições his-tóricas, a realizar o seu trabalho sozinho, in-dependente dos outros produtores. Se, na in-dústria, o método coletivo de trabalho é es-sencial e o único possível, na agricultura, amaioria dos camponeses trabalha com seuspróprios meios.

Consequentemente, quando a terra e os mei-os de sua exploração são tomados pelos cam-poneses, sem possibilidade de venda nem dealuguel, a questão das formas de seu usufrutoe dos métodos para sua exploração (comunalou familiar) não encontrará uma solução com-pleta e definitiva, como no setor industrial.No começo, provavelmente, serão utilizadosos dois métodos.

Os camponeses revolucionários estabelecerãoa forma definitiva de exploração e de usufru-to da terra. Nenhuma pressão externa éadmissível nesta questão.

Entretanto, considerando que: apenas a soci-edade comunista, em cujo nome será feita arevolução social, isenta os trabalhadores desua condição de escravos e explorados, dan-do-lhes completa liberdade e igualdade; queos camponeses são a esmagadora maioria dapopulação (quase 85% na Rússia, no períodoem discussão) e que, consequentemente, oregime agrário que eles estabelecerem será umfator decisivo no destino da revolução; que,enfim, a economia privada na agricultura, as-sim como na indústria, leva ao comércio, àacumulação, à propriedade privada e à res-tauração do capital - é nosso dever, desde já,fazer tudo que for necessário para facilitar asolução da questão agrária, num sentido co-letivo.

Para tal fim, devemos nos empenhar numaintensa propaganda, entre os camponeses, afavor da economia agrária coletiva. A funda-ção de uma União Camponesa libertária es-pecífica facilitará consideravelmente esta ta-refa.

Em função disso, o progresso técnico teráenorme importância, acelerando a evoluçãoda agricultura e a realização do comunismonas cidades, sobretudo nas indústrias. Se, emsuas relações com os camponeses, os operá-rios agirem, não individualmente ou em gru-pos separados, mas como um imenso coleti-vo comunista, abrangendo todos os ramosindustriais; se, além disso, atenderem as ne-cessidades vitais do campo e se, ao mesmotempo, abastecerem cada aldeia com os itensde uso diário, ferramentas e máquinas para aexploração coletiva das terras, certamenteatrairão os camponeses para o comunismo naagricultura.

A defesa da revolução

A questão da defesa da revolução está ligadaao problema do "primeiro dia". Basicamente,o modo mais eficaz de defesa da revolução éencontrar uma solução feliz para os proble-mas mais urgentes: a produção, o consumo ea terra. Se esses problemas forem soluciona-dos a contento, nenhuma força contra-revo-lucionária será capaz de alterar ou desequili-brar a sociedade livre dos trabalhadores. Con-tudo, os trabalhadores terão que lutar dura-mente contra os inimigos da revolução, paradefender e manter sua existência concreta.

A revolução social, que ameaça os privilégi-os e a existência das classes não-trabalhado-ras da sociedade, provocará inevitavelmente,da parte dessas classes, uma resistência de-sesperada que tomará a forma de uma ferozguerra civil.

Como a experiência russa mostrou, tal guerracivil durará alguns anos.

Por mais felizes que sejam os primeiros pas-sos dos trabalhadores, no início da revolução,

a classe dominante será capaz de resistir porum longo tempo. Durante muitos anos, eladesencadeará ofensivas contra a revolução,tentará reconquistar o poder e os privilégiosque lhe foram arrebatados.

Um enorme exército, estratégia e técnicasmilitares, capital - tudo será lançado contraos trabalhadores vitoriosos.

Para preservar as conquistas da revolução, ostrabalhadores devem criar órgãos de defesada revolução, contrapondo-se à ofensiva dareação com uma força combatente à altura datarefa. Nos primeiros dias da revolução, estaforça será constituída por todos os operáriose camponeses armados. Mas essa força arma-da espontânea será eficiente apenas duranteos primeiros dias, quando a guerra civil aindanão alcançou seu clímax e as duas partes emluta não criaram organizações militares regu-larmente constituídas.

Na revolução social, o momento mais críticonão é o da supressão da autoridade, mas oseguinte, quando as forças do regime derro-tado lançam uma ofensiva geral contra os tra-balhadores. Nesse momento, a principal coi-sa a fazer é salvaguardar as conquistasalcançadas. O caráter dessa ofensiva, assimcomo a técnica e o desenvolvimento da guer-ra civil, obrigarão os trabalhadores a criar con-tingentes revolucionários militares determina-dos.

A essência e os princípios fundamentais des-sas formações devem ser decididos antecipa-damente. Negando os métodos estatistas eautoritários para governar as massas, tambémrechaçamos o método estatista de organizaras forças militares dos trabalhadores, ou seja,o princípio de um exército estatista, fundadosobre o serviço militar obrigatório.

É o princípio do voluntariado, de acordo comas posições fundamentais do comunismolibertário, que deve ser a base das formaçõesmilitares dos trabalhadores. Os destacamen-tos de guerrilheiros insurgentes, operários ecamponeses, que conduziram a ação militarna revolução russa, podem ser citados comoexemplos de tais formações.

Porém, o voluntariado e a ação guerrilheiranão devem ser compreendidos estritamente,ou seja, como uma luta de destacamentos ope-rários e camponeses contra o inimigo local,devem estar coordenados por um plano geralde operação onde cada um age por sua contae risco. A ação e as táticas dos guerrilheirosdeverão ser orientadas, no contexto geral, poruma estratégia revolucionária comum.

Como em todas as guerras, a guerra civil nãopode ser levada a cabo com sucesso pelos tra-balhadores sem que eles apliquem os doisprincípios fundamentais de toda ação militar:unidade do plano de operações e unidade decomando. O momento mais crítico da revolu-ção será quando a burguesia lançar contra arevolução suas forças organizadas.

Então, os trabalhadores deverão adotar essesprincípios de estratégia militar.

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Desta maneira, tendo em vista as necessida-des da estratégia militar e a estratégia dos con-tra-revolucionários, as forças armadas da re-volução deverão fundir-se num exército re-volucionário geral, tendo um comando e umplano de operações comuns.

Os princípios abaixo formam a base desseexército:

(a) caráter de classe do exército;

(b) voluntariado (toda coerção será comple-tamente excluída da tarefa de defesa da revo-lução);

(c) livre disciplina (autodisciplina) revoluci-onária: o voluntariado e a autodisciplina

revolucionária são totalmente compatíveis, etornarão o exército da revolução moralmentemais forte do que qualquer exército estatal;

(d) total submissão do exército revolucioná-rio às massas operárias e camponesas repre-sentadas pelas organizações de operários ecamponeses de todo o país, concebidas pelasmassas para direção da vida econômica e so-cial.

Dito de outra maneira: o órgão de defesa darevolução encarregado de combater a contra-revolução, nas frentes militares externas as-sim como na guerra civil (conspirações bur-guesas, preparativos de ações contra-revolu-cionárias) será totalmente controlado pelasorganizações produtivas de operários e cam-

poneses, às quais se submeterá e das quaisreceberá a orientação política.

Nota: Totalmente construído conforme prin-cípios comunistas libertários claramente de-lineados, esse exército não estará alheio a es-tes princípios. Ele nada mais é do que aaplicação da estratégia militar na revolução,uma medida estratégica adotada pelos traba-lhadores por causa do processo da guerra ci-vil. Esta medida desde já exige atenção, deveser cuidadosamente estudada para evitar pro-blemas futuros na execução das tarefas de pro-teção e defesa da revolução, ou seja: toda de-mora provoca danos irreparáveis, taishesitações durante a guerra civil podem serdesastrosas para a revolução social.

Parte OrganizacionalAs posições gerais construtivas, abaixo expostas, constituem a plataforma de organiza-ção das forças revolucionárias do anarquismo.

Esta plataforma, contendo uma orientação te-órica e tática definitiva, aparece como o míni-mo necessário e urgente para todos os mili-tantes do movimento anarquista organizado.

Sua tarefa é agrupar, em torno de si, todos oselementos saudáveis do movimento anarquistanuma só organização geral, permanentemen-te ativa: a União Geral dos Anarquistas. Asforças de todos os militantes ativos doanarquismo deverá ser orientada para a cria-ção desta organização.

Os princípios fundamentais de organização daUnião Geral dos Anarquistas serão os seguin-tes:

1. Unidade Teórica

A teoria representa a força que dirige a ativi-dade das pessoas e das organizações por umcaminho definido e para um objetivo deter-minado.

Naturalmente, a teoria deve ser comum paratodas as pessoas e organizações que aderiremà União Geral. Toda atividade da União Ge-ral Anarquista, tanto em caráter geral comoem particular, deve estar em perfeito acordocom os princípios teóricos da União.

2. Unidade Tática ou MétodoColetivo de Ação

Os métodos táticos empregados por membrose grupos da União também devem ser unitári-os, ou seja, estar rigorosamente de acordoentre si e com a teoria e tática geral da União.

Uma linha tática comum no movimento temimportância decisiva para a existência da or-ganização e de todo o movimento, prevenin-

do-o contra os efeitos nefastos de várias táti-cas que se neutralizam mutuamente, e con-centrando todas as suas forças, orienta-o numadireção comum que conduz a um objetivodeterminado.

3. Responsabilidade Coletiva

A prática que consiste em agir em nome daresponsabilidade pessoal deve ser condenadae rejeitada no movimento anarquista.

Os domínios da vida revolucionária, social epolítica, são antes de tudo coletivos por suanatureza. A atividade social revolucionária nãopode se basear na responsabilidade pessoaldos militantes isolados.

O órgão executivo do movimento geral anar-quista, a União Anarquista, contrapondo-sedecisivamente à tática irresponsável do indi-vidualismo, introduz em suas fileiras o prin-cípio da responsabilidade coletiva: toda aUnião deverá ser responsável pela atividaderevolucionária e política de cada membro; damesma forma, cada membro será responsávelpela atividade revolucionária e política daUnião como um todo.

4. Federalismo

O Anarquismo sempre negou a organizaçãocentralizada, na vida social das massas quan-to e em sua ação política. O sistema de cen-tralização atrofia o espírito crítico, a iniciati-va e a independência de cada indivíduo, e pro-move a cega submissão das massas ao 'cen-tro'. As conseqüências, naturais e inevitáveis,desse sistema são a escravidão e a mecaniza-ção da vida social e da vida dos grupos.

Contra o centralismo, o anarquismo sempre

professou e defendeu o princípio do federa-lismo, que harmoniza a independência e a ini-ciativa dos indivíduos ou da organização como interesse da causa comum.

Conciliando a idéia de independência e a ple-nitude dos direitos de cada indivíduo com osinteresses e necessidades sociais, o federalis-mo incentiva toda manifestação saudável dasfaculdades de cada indivíduo.

Mas, com freqüência, o princípio federalistatem sido deformado nas fileiras anarquistas:tem sido compreendido como o direito, so-bretudo, da manifestação do 'ego', sem aobrigação de cumprir seus deveres na organi-zação.

Essa interpretação falsa desorganizou nossomovimento no passado. É tempo de acabarcom isso, de modo forte e irreversível.

Federalismo significa livre entendimento, en-tre indivíduos e organizações, na ação coleti-va orientada para o objetivo comum.

Ora, tal entendimento e a união federativabaseada nela se tornarão realidade, em vez deficção e ilusão, somente na indispensável con-dição de que todos os que participam do en-tendimento e na União cumpram os deveresassumidos, em conformidade com as decisõestomadas em comum.

Numa construção social, por mais vasta quesejam as bases federalistas sobre as quais sefunda, não poderá haver direitos sem obriga-ções, nem decisões sem a respectiva execu-ção.

Isto é ainda menos admissível numa organi-zação anarquista, que assume exclusivamen-teobrigações quanto aos trabalhadores e a re-volução social.

Por conseguinte, o tipo federalista de organi-zação anarquista, reconhecendo os direitos(quais sejam: independência, opinião livre,

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iniciativa e liberdade individual) de cada mem-bro, exige que cada membro cumpra seus de-veres organizacionais determinados, assimcomo a rigorosa execução das decisões toma-das em comum.

Unicamente sob esta condição, o princípiofederalista viverá, e a organização anarquistafuncionará corretamente, dirigindo-se para umobjetivo definido.

A idéia da União Geral dos Anarquistas põeo problema da coordenação e da aprovaçãodas atividades de todas as forças do movimen-to anarquista.

Cada organização aderente à União represen-ta uma célula vital, parte de um organismocomum. Cada célula terá seu secretariado, exe-cutando e orientando teoricamente sua pró-pria atividade política e técnica.

Tendo em vista a coordenação da atividadede todas as organizações aderentes à União,um órgão especial será criado: o Comitê Exe-cutivo da União. Este último será responsá-vel pelas seguintes funções: execução das de-cisões tomadas pela União; orientação teóri-ca e organizacional da atividade das organi-zações isoladas, de acordo com as opiniõesteóricas e a linha tática geral da União; super-visão do estado geral do movimento; manu-

tenção das ligações práticas e organizacionaisentre todas as organizações na União, e comoutras organizações.

Os direitos e obrigações, as tarefas práticasdo comitê executivo são fixadas pelo Congres-so da União.

A União Geral dos Anarquistas possui umobjetivo determinado e concreto. Em nomedo sucesso da revolução social, ela deve an-tes de tudo se apoiar sobre os elementos maisrevolucionários e radicais dentre os operáriose camponeses, assimilando-os.

Proclamando a revolução social e, além dis-so, sendo uma organização antiautoritária queluta pela abolição imediata da sociedade declasses, a União Geral dos Anarquistas seapóia igualmente sobre duas classes funda-mentais da sociedade atual: os operários e oscamponeses. A União se empenhará de modoigual na luta pela emancipação dessas duasclasses.

Quanto aos sindicatos, às organizações ope-rárias e revolucionárias nas cidades, a UniãoGeral dos Anarquistas intensificará seus es-forços para se tornar seu destacamento de van-guarda e guia teórico.

Ela assumirá as mesmas tarefas na relação com

as massas camponesas exploradas. Como pon-tos de apoio, desempenhando o papel dos sin-dicatos revolucionários para os operários, aUnião se esforçará para criar uma rede de or-ganizações econômicas camponesas revolu-cionárias e, além disso, um sindicato de cam-poneses específico, fundado sobre princípiosantiautoritários.

Nascida do coração da massa trabalhadora, aUnião Geral dos Anarquistas deve participarde todas as manifestações de sua vida, contri-buindo, por toda a parte e sempre, com o es-pírito de organização, perseverança, ativida-de e ofensiva.

Somente assim, ela cumprirá sua tarefa, suamissão teórica e histórica na revolução socialdos trabalhadores, e se tornar a iniciativa or-ganizada de seu processo emancipador.

Nestor Makhno, Ida Mett, Piotr Archinov,Valevsky, Linsky - 1927

tradução:Biblioteca Virtual Revolucionáriageocities.com/autonomiabvr

adaptação:Coletivo Periferiageocities.com/projetoperiferia

Nós nos identificamos como anarquistas e com atradição ‘Plataformista’ dentro do anarquismo queinclui grupos e publicações tais como “APlataforma Organizacional dos ComunistasLibertários”, os “Amigos de Durruti”, e o“Manifesto Comunista Libertário”. Identiicamo-nos amplamente com a prática organizacionaldefendida por esta tradição mas nãonecessariamente com tudo aquilo que foi feito oudito. Ela é um ponto de partida para nossa políticae não um ponto de chegada.

Identificamo-nos com as idéias fundamentais destatradição, como, por exemplo, a necessidade dodesenvolvimento de organizações anarquistas.

• Unidade Teórica;• Unidade Tática• Ação Coletiva e Disciplina• Federalismo

O Anarquismo será criado pela luta de classes entrea vasta maioria de sociedade (o proletariado) e aminúscula minoria que atualmente governa. Umarevolução vitoriosa exigirá que as idéiasanarquistas prevaleçam dentro do proletariado. Oque não ocorrerá espontaneamente. Nosso papel éfazer com que as idéias anarquistas tornem-se asidéias principais, ou como às vezes se diz, a “idéiafundamental”.

Na medida do possível, atuamos dentro dossindicatos enquanto um foco importante paranossas atividades. Contudo, rejeitamos visões quese esgotam em atividades sindicais. Lutamos dentro

dos sindicatos para a adoção das estruturasdemocráticas tipicamente anarco-sindicalistascomo a da CNT de 1930. Porém, os sindicatos,por mais revolucionários que sejam, jamais poderãosubstituir a necessidade de uma organizaçãopolítica anarquista ou várias sob a mesma baseteórica e tática, organizadas federativamente.

Entendemos como vital a participação também naslutas que acontecem fora dos sindicatos e dos locaisde trabalho. Inclusive nas lutas contra determinadaopressão, contra o imperialismo e especialmentenas lutas do proletariado por uma habitação segurae decente em um meio ambiente onde possa vivercom dignidade. Em termos gerais nossa,aproximação com os sindicatos, visa umenvolvimento maior com as pessoas do movimentono sentido de promover métodos anarquistas deorganização que deságüem na democracia direta.

Opomo-nos fortemente a toda manifestaçãopreconceituosa dentro do movimento detrabalhadores. Identificamo-nos atuando ao ladodaqueles que lutam contra o racismo, sexismo,sectarismo [religioso] e homophobia como umaprioridade. Entendemos que o sucesso da revoluçãoestá intimamente ligado ao sucesso na eliminaçãodestas opressões antes, durante e depois do períodorevolucionário.

Colocamos o anarquismo em primeiro plano comouma meta alternativa ao nacionalismo.Defendemos os movimentos anti-imperialistasgrassroots que defendem a estratégia anarquista e

rejeitam o nacionalismo.

Identificamo-nos com aqueles que reconhecem anecessidade de organizações anarquistas e queconcordam com estes princípios para que se possafederar em uma base internacional. Porém cremosque o grau de federação possível e a quantia deesforço colocada nessa empreitada deve serdeterminada pelo sucesso na construção deorganizações nacionais capazes de fabricar talinternacional trabalhe mais dentro da realidade doque simplesmente divulgar slogans. Defenda aPlataforma Anarquista.

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