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Prática de Ensino Supervisionada em Educação Pré-Escolar Helena Umblina Afonso Relatório Final de Estágio apresentado à Escola Superior de Educação de Bragança para obtenção do Grau de Mestre em Educação Pré-Escolar Orientado por Professora Doutora Maria Angelina Sanches Bragança 2012

Prática de Ensino Supervisionada em Educação Pré-Escolar · Supervisionada do Mestrado em Educação Pré-escolar e integra como principal objetivo ... Figura 16 - Confeção

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  • Prtica de Ensino Supervisionada em Educao Pr-Escolar

    Helena Umblina Afonso

    Relatrio Final de Estgio apresentado Escola Superior de Educao de Bragana

    para obteno do Grau de Mestre em Educao Pr-Escolar

    Orientado por

    Professora Doutora Maria Angelina Sanches

    Bragana

    2012

  • Prtica de Ensino Supervisionada em Educao Pr-Escolar

    Helena Umblina Afonso

    Relatrio Final de Estgio apresentado Escola Superior de Educao de Bragana

    para obteno do Grau de Mestre em Educao Pr-Escolar

    Orientado por

    Professora Doutora Maria Angelina Sanches

    Bragana

    2012

  • I

    Dedicatria

    memria dos meus pais

    Ao meu filho e minha nora

    Ao Guilherme e Margarida.

  • AGRADECIMENTOS

    II

    Agradecimentos

    Antes de iniciar a apresentao deste relatrio, expresso o mais profundo

    agradecimento e considerao a todos aqueles que, pelo encorajamento e ajuda,

    contriburam para que a realizao deste trabalho fosse possvel.

    Agradeo especialmente minha orientadora, Professora Doutora Maria

    Angelina Sanches, pelo seu saber cientfico, pela sua amizade, incentivo e

    disponibilidade que demonstrou no decorrer deste trabalho.

    Ao jardim de infncia onde realizei o estgio e, em particular, educadora da

    sala em que me integrei, pela ajuda, disponibilidade e partilha de saberes, compreenso,

    incentivo e franca colaborao que, ao longo do ano, me deram para a concretizao da

    prtica profissional.

    s crianas pelos momentos de alegria e carinho que me proporcionaram e pelo

    que permitiram aprender, bem como aos seus pais pela ateno e colaborao prestadas

    ao longo desse percurso.

    Aos professores da Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de

    Bragana, por me terem transmitido conhecimentos, que contriburam para a minha

    formao.

    Santa Casa da Misericrdia, instituio onde trabalho, pelo apoio e pelas

    oportunidades criadas para que pudesse frequentar este curso.

    s minhas amigas, pela amizade, incentivos, presena e confiana que

    depositaram em mim, nos bons e maus momentos.

    Gostaria ainda de deixar um agradecimento especial ao meu filho e minha

    nora, pelo orgulho, fora, incentivo, confiana e compreenso que depositaram em mim

    nos momentos mais difceis deste percurso e, sobretudo, por terem acreditado neste meu

    sonho.

    A todos, muito obrigada!

  • RESUMO

    III

    Resumo

    O presente relatrio insere-se no mbito da unidade curricular de Prtica de Ensino

    Supervisionada do Mestrado em Educao Pr-escolar e integra como principal objetivo

    aprofundar a reflexo sobre a ao educativa que desenvolvemos ao longo do presente

    ano letivo, num jardim de infncia situado em contexto urbano.

    Nesse sentido, procedemos, num primeiro ponto, contextualizao da prtica

    educativa e explicitao das opes pedaggicas em que se apoiou.

    Num segundo ponto, procuramos descrever, analisar e interpretar algumas das

    experincias de aprendizagem que desenvolvemos e que englobaram, de forma

    integrada, as diferentes reas e domnios de contedo curricular. Ao longo do processo

    educativo, procurmos mobilizar saberes que nos permitissem ajudar as crianas a

    construrem aprendizagens significativas do ponto de vista da sua aprendizagem e

    desenvolvimento. Tentmos sustentar esse processo em princpios pedaggicos de

    natureza participativa, valorizando o papel ativo que as crianas assumem o seu prprio

    processo de aprendizagem, o direito de serem respeitadas como seres capazes de tomada

    de decises e o papel mediador que, nesse processo, o educador solicitado a assumir.

    Tommos em considerao os interesses, necessidades formativas e ideias prvias do

    grupo, bem como os espaos e recursos disponveis, quer ao nvel da sala de atividades,

    quer da instituio e do contexto local, valorizando-os enquanto meios potencialmente

    facilitadores de aprendizagem e bem-estar das crianas.

    Por ltimo, procedemos a uma reflexo sobre a ao e formao em que nos

    envolvemos, no sentido de melhor poder compreender e repensar esses processos, em

    ordem ao desenvolvimento de respostas educativas de qualidade.

    Em todo esse processo, foi fundamental procedermos ao alargamento de conhecimentos

    de natureza terica e prtica, com base na consulta de literatura cientfica e pedaggica

    no campo da educao de infncia e dos processos de aprendizagem e desenvolvimento

    humano e em dados que, no decurso da prtica profissional, nos foi possvel recolher e

    analisar.

    Palavras-Chaves: Educao pr-escolar, aprendizagens integradas, participao ativa,

    experincias de aprendizagem.

  • RESUMO

    IV

    Abstract

    This report falls within the course of Supervised Teaching Practice of the Pre-school

    Education Master and its main is to deepen the reflection on the educational activities

    that were developed throughout this school year, in a kindergarten located in urban

    context.

    Therefore, at first we made the contextualization of the educational practice and

    explained the pedagogical options in which it was supported.

    Then we described, analyzed and interpreted some of the learning experiences that were

    developed, that included, in an integrated way, different areas and domains of the

    curriculum content. Throughout the educational process, we tried to mobilize

    knowledge that would allow us help children build meaningful learning. We tried to

    sustain this process on pedagogical principles of participatory nature, emphasizing the

    active role that children assume in their own learning process, the right to be respected

    in their decisions and also valuing the role of mediator that the teacher is asked to take.

    We have taken into account the interests, training needs and the preconceived ideas of

    the group, as well as the spaces and resources available, not only of the activity room

    but also of the institution itself and the local context, regarding them as potential means

    of facilitating learning and promoting the childrens well-being.

    Finally, we proceeded to a discussion on the formation and action we engaged in, in

    order to be able to understand and rethink these processes and develop quality

    educational responses.

    Throughout this process it was crucial to broaden theoretical and practical knowledge

    through the consultation of scientific and pedagogical literature in the field of early

    childhood education, of the processes of learning and human development and of data

    that, in the course of the professional practice, we could collect and analyze.

    Keywords: Pre-school education, integrated learning, active participation, learning

    experiences.

  • NDICE GERAL

    V

    ndice Geral

    Dedicatria ................................................................................................................................I

    Agradecimentos ........................................................................................................................ II

    Resumo.................................................................................................................................... III

    Abstract .................................................................................................................................. IV

    ndice Geral ............................................................................................................................. V

    ndice de Figuras..................................................................................................................... VI

    ndice de Tabelas ................................................................................................................... VII

    Introduo................................................................................................................................. 1

    Captulo I Contextualizao da prtica de ensino supervisionada ............................................ 4

    1.1. Contexto institucional ................................................................................................ 4

    1.2. Caraterizao do grupo de crianas ............................................................................ 7

    1.3. Aspetos pedaggicos no funcionamento do grupo/sala ............................................. 10

    1.3.1. O Espao ............................................................................................................. 11

    1.3.2. O tempo educativo ............................................................................................... 15

    1.3.3. As interaes ....................................................................................................... 17

    1.4. Fundamentao das opes educativas ..................................................................... 18

    Captulo II Descrio, anlise e interpretao de experincias de aprendizagem desenvolvidas

    ............................................................................................................................................... 25

    2.1. Experincia de aprendizagem: (Re)organizao da rea da casa/faz-de-conta ............... 29

    2.2. Experincia de aprendizagem: descoberta de novos conhecimentos .......................... 31

    2.3. Experincia de aprendizagem: Observando para conhecer ............................................ 47

    2.4. Experincia de aprendizagem: Descobrindo outros espaos culturais ........................... 60

    2.5. Experincia de aprendizagem: descoberta dos padres ............................................. 65

    Captulo III - Reflexo Final ................................................................................................... 70

    Bibliografia ............................................................................................................................. 74

    Anexos ................................................................................................................................... 78

  • NDICE DE FIGURAS

    VI

    ndice de Figuras

    Figura 1 - Planta da Sala ......................................................................................................... 13

    Figura 2 - rea da casa/expresso dramtica ........................................................................... 14

    Figura 3 - Materiais ................................................................................................................. 14

    Figura 4 - Materiais ................................................................................................................. 14

    Figura 5 - rea da casa/faz-de-conta ....................................................................................... 30

    Figura 6 - rea da casa/faz-de-conta, aps a transformao: casa e floresta ............................. 31

    Figura 7 - Representao dos animais que entravam na histria ............................................... 34

    Figura 8 - Associao dos nomes/Descoberta das letras/Diversidade de animais ...................... 36

    Figura 9 - Descoberta de palavras que rimam .......................................................................... 38

    Figura 10 - Trabalhos realizados pelas crianas com barro e material de desperdcio ............... 39

    Figura 11 - Registo grfico da atividade de matemtica ........................................................... 41

    Figura 12 - O circo construdo pelas crianas .......................................................................... 41

    Figura 13 - Registo dos animais feitos pelas crianas ............................................................... 43

    Figura 14 - Criana a untar a forma com manteiga ................................................................... 44

    Figura 15 - Mistura dos ingredientes ....................................................................................... 44

    Figura 16 - Confeo do bolo de iogurte .................................................................................. 45

    Figura 17 - Registo da receita feita pelas crianas .................................................................... 46

    Figura 18 - Observao das caratersticas das sementes ........................................................... 48

    Figura 19 - Participao na organizao, concretizao e registo da atividade da sementeira .... 49

    Figura 20 - Guio da atividade ................................................................................................ 50

    Figura 21 - Escolha das sementes ............................................................................................ 50

    Figura 22 - Guio de planificao em tabela de dupla entrada .................................................. 51

    Figura 23 - Observao das sementes ...................................................................................... 52

    Figura 24 - Registos feitos pelas crianas ................................................................................ 53

    Figura 25 - Observao e registo da experincia de alteraes da cor de cravos ....................... 56

    Figura 26 - Carta sobre o poema "A sementinha" .................................................................... 56

    Figura 27 - Atividade de solubilidade ...................................................................................... 58

    Figura 28 - Reproduo do tomateiro ...................................................................................... 59

    Figura 29 - A Cidade dos Prncipes - Nadir Afonso ................................................................. 61

    Figura 30 Produes das crianas ......................................................................................... 62

    Figura 31 Trabalhos realizados pelas crianas....................................................................... 64

    Figura 32 - Realizao de conjuntos e padres......................................................................... 66

    Figura 33 - Construo de colares seguindo um padro ........................................................... 67

    Figura 34 Registo dos padres realizados pelas crianas ....................................................... 68

    file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247891file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247892file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247893file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247894file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247895file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247896file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247897file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247898file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247899file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247903file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247904file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247905file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247906file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247907file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247908file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247910file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247911file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247914file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247917file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247918file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247919file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247920file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247921file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247922file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247923file:///F:/relatorio%2015%20Defendid_Entregar%20Dez.docx%23_Toc343247924

  • NDICE DE TABELAS

    VII

    ndice de Tabelas

    Tabela 1- Frequncia de idades ................................................................................................. 8

  • INTRODUO

    1

    Introduo

    A educao pr-escolar reconhecida, no nosso pas, como a primeira etapa da

    educao bsica no processo de aprendizagem ao longo da vida, a qual deve favorecer a

    formao e o desenvolvimento equilibrado da criana, tendo em vista a sua plena

    insero na sociedade como ser autnomo, livre e solidrio (Lei n 5/97, de 10 de

    Fevereiro). Requer-se que favorea o desenvolvimento global da criana,

    proporcionando-lhe um ambiente rico em experincias educativas, em que seja

    valorizada a participao das crianas, o exerccio ativo da sua cidadania e a igualdade

    de oportunidades de sucesso de todos, no quadro de uma aprendizagem e

    desenvolvimento ao longo da vida. A criana como ser ativo que , constri a sua

    aprendizagem atravs de atividades que projeta e desenvolve, e que, potencialmente, a

    leva a refletir e a aumentar a sua curiosidade e desejo de conhecer o mundo em que se

    integra.

    Tendo em conta esta linha de pensamento, o trabalho que aqui apresentamos

    norteou-se por uma abordagem integradora e participativa, de matriz socio-

    construtivista, atravs da qual nos foi possvel promover oportunidades para as crianas

    se desenvolverem de forma global. Por sua vez, as experincias de aprendizagem foram

    perspetivadas como meios facilitadores de expresso criativa das crianas, prazer na

    experimentao pela descoberta, participao ativa e incentivo livre iniciativa para

    intervir pelos seus prprios meios, enquanto cidados livres autnomos e solidrios.

    Neste sentido, as experincias de aprendizagem foram estruturadas de modo a

    favorecer o desenvolvimento integral das crianas, procurando responder aos seus

    interesses e necessidades formativas e s linhas de ao definidas no projeto curricular

    da sala/grupo. Procurmos apoiar o trabalho em princpios pedaggicos relevados nas

    Orientaes Curriculares para Educao Pr-Escolar1 (ME/DEB; 1997), nas brochuras

    de apoio operacionalizao destas nas diversas reas de contedo e nas Metas de

    Aprendizagem para a Educao Pr-escolar.

    O desenvolvimento da prtica de ensino supervisionada (PES) constituiu-se

    como uma etapa fundamental na nossa formao profissional, permitindo-nos

    familiarizar-nos com a realidade educativa que se desenvolve em contexto pr-escolar,

    nas diversas interfaces de ao e de relao que integra. Assim, o presente relatrio

    1 Considerando que, ao longo do texto, vamos utilizar vrias vezes a designao Orientaes Curriculares

    para a Educao Pr-escolar, passamos a utilizar apenas Orientaes Curriculares.

  • INTRODUO

    2

    procura dar conta do processo educativo em que nos envolvemos numa sala de jardim-

    de-infncia, situado em contexto urbano do concelho de Bragana, e com um grupo de

    crianas com idades compreendidas entre os quatro e os seis anos de idade.

    As experincias de aprendizagem que se apresentam incidem,

    predominantemente, na rea de Conhecimento do Mundo, mais especificamente sobre o

    envolvimento das crianas na descoberta e conhecimento de alguns animais. de

    sublinhar que, sendo esse o ponto de partida para o envolvimento das crianas em

    atividades de pesquisa, que nos propusemos promover, elas integraram uma abordagem

    transversal e integradora de diferentes reas de contedo.

    O trabalho encontra-se estruturado em trs captulos interligados, atravs dos

    quais procuramos fundamentar, caraterizar e interpretar a prtica profissional que

    desenvolvemos.

    No primeiro captulo, procede-se contextualizao da prtica de ensino

    supervisionada, caraterizando o contexto institucional, relativamente ao meio e rede da

    educao pr-escolar em que se integra, e tambm a equipa educativa e o grupo de

    crianas com o qual desenvolvemos a nossa interveno. Abordamos ainda, os aspetos

    pedaggicos relativos ao funcionamento do grupo/sala, no que diz respeito

    organizao do ambiente educativo, descrevendo o espao interior e exterior, bem como

    os materiais pedaggicos, a organizao do tempo e a natureza das interaes

    estabelecidas.

    As opes educativas merecem tambm referncia, efetuando uma breve

    descrio dos pressupostos tericos e metodolgicos em que procurmos apoiar a ao

    educativa, sublinhando a importncia do recurso a uma pedagogia centrada na

    participao ativa das crianas, no respeito por todas e na valorizao das suas

    potencialidades e na procura de superao das limitaes, relevando a ao mediadora

    que cabe ao educador desempenhar nesse processo.

    No segundo captulo, so descritas, analisadas e refletidas algumas experincias

    de aprendizagem, contemplando as vrias reas e domnios curriculares. Recorremos a

    uma metodologia descritiva dos processos realizados, utilizando como instrumentos de

    recolha de dados o dilogo, a observao direta, os registos e trabalhos das crianas, e

    fotografias que evidenciam as tarefas e processos de aprendizagem promovidos.

    Por fim, no terceiro captulo apresentada uma reflexo crtica, centrada na

    anlise de alguns aspetos entendidos como fundamentais para ajudar-nos a melhor

    compreender a ao educativa pr-escolar e para favorecer o nosso desenvolvimento

  • INTRODUO

    3

    profissional e pessoal. Assim, contemplamos nessa reflexo os processos de

    planificao, a ao do educador, como observador, promotor, guia e avaliador de

    aprendizagens integradoras e a progresso das crianas, a interao com as famlias e

    outros parceiros educativos, entre outros aspetos.

    So ainda apresentadas as referncias bibliogrficas consultadas para a

    elaborao deste trabalho.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    4

    Captulo I Contextualizao da prtica de ensino supervisionada

    Para melhor podermos compreender a ao educativa promovida, importa

    conhecermos o contexto institucional e o ambiente educativo em que decorreu,

    dimenses sobre as quais nos debruamos neste captulo

    1.1. Contexto institucional

    O presente trabalho foi desenvolvido num jardim de infncia da rede pblica de

    educao pr-escolar, enquadrado num Agrupamento de Escolas, e situado num

    contexto predominantemente urbano do nordeste transmontano.

    O jardim de infncia tinha capacidade para abranger cinco grupos de crianas e,

    conforme a legislao em vigor, um mximo de 25 crianas por sala. Todavia, esse

    nmero pode ser inferior, caso o grupo integre crianas com necessidades educativas

    especiais, como no caso do grupo de crianas com o qual desenvolvemos a nossa ao,

    como mais adiante explicitamos melhor.

    A instituio localiza-se numa rua com bastante afluncia de trnsito, devido

    principalmente proximidade de uma superfcie comercial. O meio que a envolve rico

    em servios educativos e sociais. Nas proximidades existe uma igreja, um

    estabelecimento prisional, o mercado municipal, os servios da Segurana Social, os

    bombeiros e a P.S.P., bem como uma zona de comrcio, cafs e restaurantes. Por isso,

    quer pela localizao, quer pela existncia de todas estas infraestruturas e recursos faz

    com que zona onde se integra a instituio seja bastante agradvel e de fcil acesso,

    podendo contribuir para que possa ser implementada uma ao educativa de qualidade.

    No que se refere s instalaes, trata-se de um edifcio de um s piso, ao nvel

    do rs-do-cho, construdo de raiz para a funo educativa pr-escolar. Apresenta, em

    nosso entender, uma planta bem estruturada e funcional, bem como boas condies e

    equipamentos para desenvolver a ao educativa nas vrias reas e domnios que

    engloba.

    O espao interior composto por cinco salas de atividades, um gabinete de

    apoio s atividades pedaggicas, que inclui uma biblioteca para as crianas, um gabinete

    de coordenao, uma cozinha que utilizada como local de realizao de atividades de

    culinria e atividades de expresso plstica, possuindo uma despensa destinada

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    5

    arrumao dos materiais. Existem, ainda, quatro casas de banho, duas para adultos e

    duas para as crianas e um salo polivalente, no qual so desenvolvidas atividades de

    expresso motora, atividades diversas em grande grupo e festividades. , ainda,

    utilizado como espao de recreio interior e para concretizao das atividades

    promovidas ao nvel da componente de apoio famlia. Est equipado com diversos

    recursos, como colches, televiso e vdeo, mesas, cadeiras, escorrega e casa para

    poderem brincar ao faz de conta. Os corredores ligam todas as divises da instituio,

    nos quais se encontram cabides que se destinam ao arrumo do vesturio e objetos das

    crianas. Nas paredes destes corredores existem placares que servem para afixao dos

    trabalhos realizados pelas crianas, podendo assim os pais visualizarem os trabalhos dos

    seus filhos quando os vm buscar escola.

    Todo o espao interior se encontra devidamente equipado com um sistema de

    aquecimento central, que permite suportar as baixas condies meteorolgicas que se

    fazem sentir em meses mais frios e apresenta boa luminosidade. No que respeita s

    condies de segurana, est equipado com extintores de incndio e as sadas que

    permitem uma fcil evacuao.

    No que respeita ao espao exterior, podemos consider-lo amplo, agradvel e

    favorvel prtica das mais diversas experincias de aprendizagem por iniciativa das

    crianas ou orientadas pelos adultos. Encontra-se delimitado por um muro com grades,

    de forma a favorecer a proteo e segurana das crianas. O pavimento constitudo por

    paralelos, relva, areia e terra, permitindo s crianas explorar diferentes pisos e

    atividades. O espao de recreio est equipado com parque infantil, adequado faixa

    etria das crianas, facilitando o desenvolvimento da motricidade global e as interaes

    entre as crianas. Dispe de um escorrega, barras e cordas para trepar, um apoio com

    dois baloios, dois cavalinhos tendo uma mola na base, o jogo da macaca e um pequeno

    campo de futebol. Segundo Hohmann e Weikart (2009) o espao exterior permite s

    crianas brincarem juntas, inventar os seus prprios jogos e regras e familiarizarem-se

    com os ambientes naturais (p. 231), dada a amplitude do mesmo, este era facilitador de

    atividades de jogos e brincadeiras.

    Este deve ser considerado um local privilegiado de recreio, onde as crianas tm

    possibilidade de explorar e recriar o espao, possibilitando assim a vivncia de situaes

    do quotidiano e deve tambm ser visto como um espao educativo, um prolongamento

    do espao interior, proporcionando momentos educativos intencionais, planeados no s

    pelo educador, mas tambm pelas crianas.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    6

    No que se refere ao funcionamento o jardim de infncia segue o calendrio

    escolar da rede pblica. Para responder s necessidades educativas dos pais, para alm

    das cinco horas letivas diria, inclui a componente de apoio famlia nos tempos do

    incio da manh, hora de almoo e do fim da tarde, estando a instituio aberta por um

    perodo alargado que vai das 8 s 19 horas

    A instituio, como j referimos anteriormente, insere-se num Agrupamento de

    Escolas, que engloba diferentes nveis educativos, o que, como alertam as Orientaes

    Curriculares (ME/DEB, 1997), permite tirar proveito de outros recursos materiais e

    humanos e partilhar de um projeto educativo comum, podendo tambm favorecer a

    continuidade educativa.

    A equipa educativa assume um importante papel na organizao do

    funcionamento da instituio, no sentido de pens-la de modo a responder aos interesses

    as necessidades formativas das crianas bem como das suas famlias, num quadro de

    uma educao e cuidado de qualidade. Por isso, importa que, corroborando as ideias de

    Hohmann e Weikart (2009), os membros da equipa partilhem idntico

    comprometimento ao nvel da abordagem educacional e que partilhem informaes,

    planeiem e avaliem, em conjunto, estratgias curriculares.

    A equipa educativa da instituio, em que realizmos o estgio e que vimos a

    caraterizar, era constituda por:

    Cinco educadoras pertencentes ao quadro do Agrupamento de Escolas,

    em que se inclui o jardim de infncia, estando uma delas sem grupo por

    se encontrar a exercer funes de coordenao de departamento;

    Uma educadora que integra a equipa de educao especial;

    Uma Terapeuta da Fala;

    Uma educadora do quadro de outro Agrupamento de Escolas, em

    condies especficas, mas que colaborava nas atividades em

    desenvolvimento na instituio.

    Colaboram com esta equipa, o pessoal no docente, integrando sete assistentes

    operacionais que apoiavam a componente no letiva e a componente de apoio famlia.

    Importa sublinhar a preocupao manifestada pela equipa educativa em

    promover e apoiar o desenvolvimento de projetos e atividades que encorajem as

    crianas a tornarem-se participantes ativos, observadores atentos do mundo em que nos

    integramos e capazes de formular juzos crticos. Tambm a preocupao em que as

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    7

    crianas usufruam de experincias educativas com continuidade, mas diferenciando-se

    das promovidas pela componente educativa e pela componente de apoio famlia.

    O grupo de crianas proporciona o contexto imediato de interao que importa

    ter tambm em considerao, pois como sublinham as Orientaes Curriculares (idem)

    constitui a base do processo educativo (p. 34).

    1.2. Caraterizao do grupo de crianas

    A informao apresentada sobre as caratersticas do grupo de crianas decorre da

    observao direta efetuada, de registos feitos pelas crianas, de dilogos atravs dos

    quais era possvel identificar os seus interesses e necessidades formativas e de dilogos

    com a educadora e outros intervenientes implicados na sua educao e cuidado.

    Como referem Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997):

    Observar cada criana e o grupo para conhecer as suas capacidades,

    interesses e dificuldades, recolher as informaes sobre o contexto familiar

    e o meio em que as crianas vivem, so prticas necessrias para

    compreender melhor as caractersticas das crianas e adequar o processo

    educativo s suas necessidades (p. 25).

    Nesta linha de orientao importa caraterizar o grupo de crianas com o qual

    trabalhmos, nas suas diferentes dimenses, para melhor podermos ponderar quais as

    metodologias e estratgias mais adequadas para favorecer a sua aprendizagem, num

    quadro de bem-estar e de facilitao do seu desenvolvimento.

    As crianas manifestavam-se, de um modo geral, muito ativas, predispostas a

    aprender e aderiam com motivao e interesse s experincias de aprendizagem

    promovidas, relativamente a todas as reas de contedo contempladas nas Orientaes

    Curriculares.

    O grupo era constitudo por vinte crianas, com idade compreendidas entre 4 e

    os 6 anos. A heterogeneidade etria do grupo pode entender-se como uma mais-valia

    formativa, pois, como sublinham as Orientaes Curriculares (idem) sabe-se () que a

    interao entre crianas em momentos diferentes de desenvolvimento e com saberes

    diversos, facilitadora do processo de desenvolvimento e da aprendizagem (p. 35).

    Nesta linha de pensamento, torna-se importante favorecer o trabalho entre pares ou em

    pequenos grupos, no sentido de as crianas poderem partilhar e comparar os seus pontos

    de vista com os de outros e de colaborar na resoluo de problemas e realizao de

    tarefas.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    8

    As crianas provinham de diferentes zonas da cidade e de famlias com origens

    sociais e culturais diferenciadas e com rendimentos econmicos tambm diferentes.

    Ao nvel da distribuio etria, o grupo integrava maioritariamente crianas de

    quatro anos, isto , de um total de 20 que integravam o grupo, 14 tinham quatro anos, 4

    crianas tinham cinco anos, uma 3 anos e outra 6 anos, apresentando esta necessidades

    educativas especiais (NEE).

    Ao nvel do grupo sexual de pertena, observava-se uma organizao

    equilibrada, sendo que de um total de 20 crianas, 50% eram do sexo feminino (10) e

    50% do sexo masculino (10), como os dados da tabela 1 permitem observar.

    Ao nvel do tempo de frequncia da instituio, a maioria das crianas (14)

    frequenta pela segunda vez a instituio. Apenas uma criana frequenta pela primeira

    vez, quatro frequentam pela terceira vez e uma criana frequenta pela quarta vez, sendo

    portadora de NEE.

    Tabela 1- Frequncia de idades

    Frequncia

    por idade

    1 Vez 2 Vez 3 Vez 4 Vez Total por

    idades e sexo

    M F M F M F M F M F

    4 Anos 0 1 8 6 0 0 0 0 8 7

    5 Anos 0 0 0 0 2 2 0 0 2 2

    6 Anos 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1

    Total parcial 0 1 8 6 2 2 0 1 10 10

    TOTAL 1 14 4 1 20

    A criana com NEE apresentava limitaes graves ao nvel cognitivo, algumas

    dificuldades na oralidade, utilizando frequentemente frases simples, distraia-se com

    muita facilidade e demonstrava pouco controlo ao nvel psicomotor. Apesar das

    dificuldades possudas, ao longo do ano, revelou progressos nos domnios referidos.

    De forma a adequar o processo de ensino-aprendizagem para dar resposta s

    necessidades desta criana, foram aplicadas, de acordo com o Decreto-Lei n.3/2008, de

    7 de Janeiro, as seguintes medidas educativas: Apoio pedaggico personalizado (Artigo

    17); Adequaes curriculares individuais (Artigo 18) e Adequaes no processo de

    avaliao (Artigo 20).

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    9

    Esta criana beneficiava de apoio em terapia da fala e era, ainda, apoiada, 4

    horas por semana, por uma educadora com formao especializada em Educao

    Especial.

    O grupo era recetivo a novas experincias de aprendizagem, predisposto a levar

    a cabo tanto as atividades propostas como as que surgiam por iniciativa prpria,

    revelando uma atitude de questionamento e desejo de conhecer o mundo que nos rodeia.

    As crianas manifestavam gostar de se envolver em atividades diversificadas e

    dinmicas, demonstrando grande empenho em concretizar as tarefas propostas.

    Parece-nos poder considerar, que se tratava de um grupo bastante ativo,

    determinado a realizar diferentes atividades, manifestando grande desejo em explorar e

    tirar partido dos materiais e espaos existentes e em questionar os adultos, no sentido de

    satisfazer a sua curiosidade. Essa manipulao constante dos objetos estimulava o seu

    sentido de criatividade e desenvolvimento psicomotor.

    Funcionava como um todo, independentemente de ser um grupo heterogneo,

    participando todas as crianas na planificao e reviso/reflexo das atividades.

    Manifestavam interesses semelhantes, gostavam muito de se envolver em atividades

    ldicas nas diferentes reas da sala, nomeadamente: faz de conta/dramatizao;

    construes; jogos; expresso plstica, que inclua o desenho, pintura, recorte, colagem

    e modelagem. Manifestavam tambm interesse pela expresso oral, atravs da leitura e

    audio de histrias, que contribuam para a criao de um mundo de fico e, atravs

    deste, para o conhecimento da realidade. Demonstravam ainda interesse pela rea da

    biblioteca e pela utilizao das novas tecnologias.

    As crianas mostravam interesse em aprender, implicando-se com empenho na

    realizao de atividades de natureza diversa, mas em particular, nas que lhes

    possibilitavam acompanhar com gestos e movimento, manipular e explorar materiais, o

    que nos parece reforar a ideia que a curiosidade natural das crianas e seu desejo de

    aprender podem ser fomentados e alargados atravs das oportunidades de contacto,

    descoberta e explorao do mundo que a educao pr-escolar lhes possibilita

    experienciar (ME/DEB, 1997).

    As regras e normas de convivncia em contexto de sala eram j conhecidas das

    crianas, o que lhes proporcionava uma maior autonomia no domnio da rotina diria da

    sala, embora, por vezes se observassem dificuldades em cumpri-las, sobretudo, no que

    se refere a respeitar a vez de falar de cada um, nos tempos de trabalho em grande grupo.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    10

    Ao nvel das interaes que estabeleciam com pares, por vezes, surgiam

    conflitos, mas prevalecia a entreajuda e o respeito pelos direitos de cada um. Em suma,

    as crianas manifestavam-se carinhosas, ativas, criativas e procuravam agir com

    autonomia.

    O conhecimento do nvel profissional e sociocultural dos pais das crianas

    revela-se tambm importante, na medida em que influencia o ambiente sistmico da

    criana. Pelos dados a que nos foi possvel aceder, parece-nos poder entender que o

    grupo dos pais/famlias se apresentava heterogneo, sendo-nos sobretudo possvel

    observar a existncia de diferentes graus de habilitao acadmica, profisses, faixas

    etrias e organizao da estrutura familiar. Respeitando e valorizando essas

    caratersticas, foi nossa preocupao solicitar e acolher os contributos de todas as

    famlias para o desenvolvimento do projeto curricular que nos propusemos desenvolver

    e ir partilhando com elas informaes que permitissem compreender e apoiar a

    aprendizagem e desenvolvimento das crianas, procurando criar relaes de bom

    entendimento e mtua confiana e favorecer a complementaridade definida na Lei

    Quadro da Educao Pr-escolar (Lei n 5/97, de 10 Fevereiro).

    Neste mbito, de considerar a ideia apontada por Hohmann e Weikart (2009),

    em que alertam que uma das formas possveis que podem levar construo de

    relaes confiantes o levar a ver-se, a si prprio e aos outros, como membros de uma

    mesma famlia: a famlia da humanidade (p. 120) e, ao que ns acrescentamos, a olhar

    a tarefa educativa das crianas como uma responsabilidade partilhada, pelo que a

    partilha de (in)formaes se torna necessria.

    1.3. Aspetos pedaggicos no funcionamento do grupo/sala

    Pretendendo que a educao pr-escolar se apresente com um contexto

    facilitador do desenvolvimento global das crianas, este deve ser organizado de modo a

    proporcionar s crianas o necessrio bem-estar e incentivo explorao e descoberta.

    Por conseguinte, torna-se importante proceder a uma organizao cuidada dos espaos e

    dos tempos que facilitem s crianas envolver-se em diferentes nveis de interao, em

    situaes educativas de natureza diversa e que integrem uma progressiva complexidade.

    O processo educativo em que nos envolvemos foi organizado tendo em conta as

    intencionalidades do projeto curricular de grupo/sala e a planificao semanal das

    atividades, sendo orientado segundo perspetiva curricular holstica e integradora.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    11

    Como referem as Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997) cabe ao educador

    planear situaes de aprendizagem que sejam suficientemente desafiadoras, de modo a

    interessar e a estimular cada criana, apoiando-a para que chegue a nveis de realizao

    que no chegaria por si s (p. 26).

    A planificao um importante suporte para a ao e avaliao educativas,

    entendendo-se como devendo integrar suficiente flexibilidade para integrar as alteraes

    e sugestes que se considerem pertinentes para responder a interesses e necessidades

    formativas diferenciadas e, por conseguinte, possibilitar uma ao que favorea a

    progresso de todas as crianas.

    Neste sentido, procurmos planificar a ao educativa de modo a englobar

    experincias de aprendizagem que permitissem s crianas desenvolver competncias

    de natureza diversa e criar oportunidades para que, as suas opinies e intenes de

    trabalho, pudessem ser apresentadas e integradas na planificao. Instaurar esta

    dinmica no foi uma tarefa fcil, mas que, procurmos promover, contando com a

    cooperao daqueles que acompanhavam e supervisionavam a nossa ao,

    reconhecendo a longa caminhada que importa percorrer.

    Nesse processo, procurmos ter presente a importncia de proporcionar s

    crianas experincias de aprendizagem em que pudessem assumir um papel ativo e

    progredir com vista aos desenvolvimento de competncias que facilitassem a sua plena

    insero na sociedade como seres autnomos, livres e solidrios (Lei n 5/97, 10 de

    fevereiro).

    1.3.1. O Espao

    Como preconizam as Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997), importa ter em

    conta que Os espaos de educao podem ser diversos, mas a organizao e o tipo de

    equipamento, e os materiais existentes e a forma como esto dispostos condicionam, em

    grande parte o que as crianas podem fazer e aprender (p.37).

    Como alerta Gandini (1999), importa tornar os espaos mais do que apenas um

    local til e seguro, pois, devem refletir a cultura e a histria de cada instituio. As

    crianas necessitam sentir que no s um contexto agradvel e acolhedor, como

    espao de construo de conhecimento e de desenvolvimento da cultura das pessoas.

    No que se refere sala onde desenvolvemos a ao educativa, esta integrava

    uma forma hexagonal, com cerca de 42 m2de rea, boa luminosidade e fcil arejamento.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    12

    A sua organizao foi concebida como um espao flexvel, aberto s mudanas,

    de modo a dar resposta a necessidades e interesses emergentes e a fomentar a autonomia

    e a independncia das crianas. Como alertam as Orientaes Curriculares (1997):

    A organizao e a utilizao do espao so expresso das intenes

    educativas e da dinmica do grupo, sendo indispensvel que o educador se

    interrogue sobre a funo e finalidades educativas dos materiais de modo a

    planear e fundamentar as razes dessa organizao (p.37)

    Entendemos ser essencial que as crianas compreendam como o espao

    organizado e como pode ser utilizado, participando dessa organizao e nas decises

    sobre as mudanas a introduzir-lhe. Aspeto que procurmos ter em conta, colaborando

    com a educadora responsvel pelo grupo, para tornar efetiva essa dimenso. Assim, e

    sendo a sala de atividades um espao destinado ao desenvolvimento de atividades

    educativas, que podem ocorrer em grande ou pequenos grupos e a nvel individual,

    essas dimenses foram levadas em considerao na sua organizao e envolvidas as

    crianas nesse processo.

    A organizao das reas de trabalho dava possibilidade ao adulto de visualizar

    todas as crianas, proporcionando assim o acompanhamento das atividades que

    realizavam e os grupos de interao que constituam.

    No centro da sala existia um espao amplo, que era utilizado como rea de

    trabalho em grande grupo, sentando-se as crianas em cadeiras dispostas em crculo.

    Esse espao era utilizado como zona de acolhimento e para planear, fazer e rever as

    atividades, dialogar sobre tpicos do interesse do grupo, organizao do trabalho e

    desenvolvimento de atividades diversas, como leitura de histrias, entoao de canes,

    jogos e dramatizaes.

    No que se refere organizao das restantes reas de trabalho da sala, num

    primeiro momento encontravam-se em funcionamento: a rea da casa/faz de conta,

    construes; jogos, expresso plstica e biblioteca. As crianas participaram na

    identificao e organizao dessas reas e dos materiais nelas includas, o que permitiu

    a realizao de atividades de classificao, atendendo a caratersticas como cor, forma,

    tamanho, organizao de sequncias, padres entre outras experincias educativas.

    Como sugerem as Orientaes Curriculares (1997), a reflexo permanente

    sobre a funcionalidade e adequao do espao e as potencialidades educativas dos

    materiais permite que a sua organizao v sendo modificada de acordo com as

    necessidades e evoluo do grupo (p.38).

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    13

    Nesta linha de pensamento e procurando promover novas oportunidades de

    aprendizagem e de desenvolvimento das crianas, sentimos necessidade de reestruturar

    algumas reas de aprendizagem, como ao longo da descrio das mesmas, teremos

    ocasio de referir.

    Na figura que se segue apresenta-se a planta da sala, que d conta da

    organizao obtida aps essa transformao.

    A rea da casa das bonecas est bem equipada, no espao de cozinha tem lava-

    loia, fogo, mesa, quatro cadeiras e vrios utenslios de cozinha, tudo em pequenas

    dimenses. O espao do quarto tem cama, bonecos, guarda-fatos, arca com roupa,

    calado e adornos diversos, que permitem s crianas a explorao de diferentes

    possibilidades de faz-de-conta e de experimentao de vrios papis sociais, e

    familiarizar-se com diferentes culturas. O uso de materiais em tamanho real acaba por

    ser pertinente, pois so objetos com os quais podem contactar em casa e que as crianas

    podem utilizar. Na rea de faz-de-conta (ver figura 2) onde se observam maiores

    interaes, revelando as crianas necessidades de assumir e reproduzir papis e

    situaes de natureza diversa.

    Legenda

    Placares 1-rea dos jogos

    Janelas 2-rea das construes

    Armrios de documentao e

    apoio

    3-rea da biblioteca

    Armrio de apoio aos

    materiais

    4, 5, 6, 7 - rea de expresso

    plstica: modelagem, recorte e

    colagem, pintura e desenho

    8- rea da casa da casa/ faz-de-

    conta

    Portas

    Kidsmart

    Figura 1 - Planta da Sala

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    14

    A rea da casa das bonecas integrou algumas alteraes, ao longo do ano, tendo

    sido envolvidas as crianas nesse processo, no sentido de melhor puderem compreender

    a importncia que assume um espao bem organizado. Este espao foi transformado,

    integrando materiais que pudessem ajudar a imaginar e recriar um espao que as

    crianas denominaram e passaram a explorar como sendo uma floresta, onde havia

    diferentes seres vivos, como mais adiante poderemos ver.

    Na sala encontravam-se materiais diversificados, estando identificados, de modo

    a facilitar o acesso das crianas aos mesmos.

    Estes apresentavam diferentes tamanhos,

    formas, bem como diferentes possibilidades de

    utilizao.

    Ao longo da prtica, para alm de

    termos procurado introduzir nas reas diversos

    materiais, tentmos tambm promover

    aprendizagens ativas, fomentando a interao

    entre e com as crianas e apoiando-as sempre

    que necessrio. Era dada liberdade para as crianas trabalharem por si, usufruindo de

    oportunidades para se expressarem e auxiliando-as quando necessrio.

    Nas paredes da sala havia grandes placares, servindo um deles para apoio

    pintura e os outros facilitavam a exposio/afixao das produes das crianas,

    realizadas ao longo do ano, refletindo aprendizagens realizadas e permitindo dar e

    receber feedback em relao ao trabalho desenvolvido.

    Existiam ainda quadros que ajudavam a regular o funcionamento do grupo, entre

    os quais destacamos o quadro da rotina diria, o quadro das presenas e o quadro das

    regras. Tambm a organizao e o funcionamento desses quadros foram partilhados e

    Figura 4 - Materiais

    Figura 2 - rea da casa/expresso dramtica

    Figura 3 - Materiais

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    15

    explorados com as crianas, o que levou a que as normas previstas pudessem ser

    compreendidas e aceites.

    1.3.2. O tempo educativo

    A sala onde decorreu a prtica pedaggica estava organizada em torno de uma

    rotina diria, que procurava ir ao encontro dos interesses e necessidades formativas e de

    desenvolvimento das crianas. Importa considerar que, como referem as Orientaes

    Curriculares (1997) a rotina diria pr-escolar educativa porque intencionalmente

    planeada pelo educador e porque conhecida pelas crianas que sabem o que podem

    fazer nos vrios momentos e prever a sua sucesso, tendo a liberdade de propor

    modificaes (p. 40).

    A organizao de tempo oferece segurana e confiana s crianas, na medida

    em que lhes permite prever e entender alguns acontecimentos. Da que, e corroborando

    a ideia expressa pelas Orientaes Curriculares (idem), se procurasse organizar uma

    rotina que contemplasse de forma equilibrada diversos ritmos, tipos de atividade e

    situaes, designadamente a nvel individual, em pequenos e em grande grupo, e

    permitisse criar oportunidades diversificadas de aprendizagem.

    Nesta linha de pensamento, tornou-se importante prever e organizar um tempo

    estruturado, flexvel e, sobretudo, que tivesse sentido para as crianas. Esse tempo pode

    entender-se, ainda, como contribuindo para a promoo da autoiniciativa na realizao

    de escolhas e na tomada de decises, da criatividade e resoluo de problemas.

    Esse tempo educacional era, por vezes, desestabilizado quando as crianas

    acompanhadas dos pais chegavam atrasadas.

    A rotina diria praticada no grupo/sala em que nos integrmos, era a que a seguir

    descrevemos. No que se refere rotina da manh: Acolhimento; Tempo de trabalho em

    grande grupo; Tempo de lanche; Tempo de recreio; Tempo de trabalho em pequeno

    grupo; Interrupo para o almoo. A rotina da tarde integrava: Relaxamento; Tempo de

    planear; Tempo de trabalho; Tempo de rever; Lanche (leite) e Tempo de recreio.

    Assim, existiam diferentes momentos de trabalho e interao entre as crianas

    e entre estas e os adultos. No momento de acolhimento, de manh, quando as crianas

    entravam na sala, sentavam-se em cadeiras, formando um crculo para cantar a cano

    dos bons dias, conversavam um pouco entre si e com os adultos sobre vivncias, saberes

    e observaes diversas.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    16

    No tempo de trabalho em grande grupo, eram criadas oportunidades de

    envolvimento das crianas em experincias de aprendizagem nos diferentes domnios,

    tal como explorar histrias, poesias, lengalengas, canes, jogos de linguagem e de

    movimento, entre outros.

    O tempo de lanche/recreio tornava-se um tempo de liberdade de ao, de

    movimento e convvio entre grupos de todas as salas. Quando o tempo climatrico

    permitia as crianas usufruam do espao exterior, caso contrrio, recorria-se ao salo

    polivalente.

    O tempo de trabalho em pequeno grupo era um tempo destinado

    experimentao e explorao dos materiais por parte das crianas. Como referem

    Hohmann e Weikart (2009) o tempo de pequeno grupo quando planeado tem em vista

    os interesses das crianas, encorajam-nas a fazer coisas de que so capazes e que

    gostam de realizar (p. 375). As crianas dispem de liberdade face utilizao dos

    materiais e na descrio das suas produes, recorrendo linguagem oral e abordagem

    escrita. O tempo de arrumar destinava-se a arrumar os materiais utilizados e dos

    espaos frequentados. No almoo, algumas crianas iam almoar cantina de uma

    instituio que tambm se enquadra no Agrupamento de Escolas e onde ele tinha a sua

    sede, as restantes iam almoar a casa com a famlia.

    O relaxamento era um momento de concentrao e de ouvir msica, decorria em

    grande grupo e permitia preparar as crianas para as atividades que iriam desenvolver.

    Seguia-se o tempo de planear em que as crianas e adultos se juntavam com vista a

    planear as diversas atividades a concretizar pelas crianas.

    No tempo de trabalho em pequenos grupos (da tarde), as crianas concretizavam

    as atividades previamente planeadas.

    Por fim, no tempo de reviso procedia-se sistematizao das experincias de

    aprendizagem desenvolvidas, atravs do dilogo em grande grupo, escutando e

    partilhando opinies.

    Pode considerar-se, corroborando a opinio de Hohmann e Weikart (2009), que

    ao fazer planos dirios, ao segui-los e, depois, ao relembrar aquilo que fizeram, as

    crianas pequenas aprendem a articular as suas intenes e a refletir sobre as suas

    aes (p. 247).

    Pretendeu-se criar uma sequncia regular de acontecimentos que define, de

    forma flexvel, o uso do espao e a forma como adultos e crianas interagem durante o

    tempo em que esto juntas (Hohmann & Weikart, 2009, p. 226). Cada criana foi

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    17

    conquistando uma forma particular de viver cada um desses tempos, aumentando a sua

    curiosidade e o interesse de explorar diferentes materiais e desencadeando novas

    experincias de aprendizagem.

    Aos adultos a rotina diria facilitou-lhes a observao das crianas em ao e a

    possibilidade de dar um maior apoio extenso da sua ao, podendo planificar de

    acordo com as necessidades e interesses do grupo de crianas. Como refere Oliveira-

    Formosinho (2007),

    a rotina diria e o ambiente educacional so um organizador duplo da ao do

    educador, porque, por um lado, requerem uma iniciativa docente pr-ativa e por

    outro criam condies estruturais para a criana ser independente, ativa,

    autnoma, numa utilizao cooperativa do poder (p.70) .

    Nesta linha de pensamento, podemos dizer que a organizao do tempo se

    constituiu como uma rotina flexvel e aberta, que proporcionou momentos diversos de

    interao, de aprendizagem e de participao ativa de todos.

    1.3.3. As interaes

    As interaes so um importante meio de aprendizagem e o modo como estas se

    apresentam permite compreender o tipo de perspetiva pedaggica em que esse processo

    apoiado. As crianas e os adultos so seres ativos e interativos (Hohmann & Weikart,

    2009). Pode entender-se que as crianas so ativas na escolha dos materiais, atividades e

    colegas de brincadeira. Por sua vez, os adultos assumem um papel ativo ao apoiar e

    participar nas experincias de aprendizagem iniciadas pelas crianas, bem como, ao

    planificar as experincias de grupo e ao promover a sua concretizao, incentivando e

    apoiando cada criana descoberta. Por outro lado, crianas e adultos so interativos

    nas iniciativas que tomam juntos e quando respondem s iniciativas uns dos outros. So

    interaes desta natureza que facilitam a aprendizagem.

    Como tal, torna-se importante criar um ambiente educativo que promova o

    desenvolvimento de aprendizagens, dando oportunidades s crianas de participarem

    ativamente na construo do seu conhecimento, atravs da realizao de experincias de

    aprendizagem nas diferentes reas de contedo.

    Na sala em que nos integrmos, existiam regras, direitos e deveres que todos

    procuraram ter em conta. As crianas conheciam-nos, no entanto, quando algum no os

    cumpria, era alertado por colegas ou adultos, procurando criar-se um ambiente de

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    18

    respeito por todos e de responsabilidade pessoal pelo cuidado e preservao dos espaos

    e dos materiais que so pertena de todos.

    Durante a prtica pedaggica procurou-se favorecer o envolvimento de todos os

    intervenientes no processo educativo (educadoras, pais, crianas e parceiros da

    comunidade), o que possibilitou vivenciar experincias de aprendizagem estimulantes,

    bem como conhecer outros espaos educativos da cidade, alargando por isso o campo de

    interao.

    Ao longo deste processo, promovemos atividades que pudessem contribuir para

    ajudar as crianas a desenvolverem os seus planos e ideias. Assumindo o papel de

    observador, fizemos perguntas, comunicmos com as crianas, procurmos escutar as

    suas ideias e sugestes, motiv-las para a concretizao de jogos e brincadeiras,

    estimulando-as para a partilha e a cooperao com os outros, no sentido de cada um

    poder crescer, ser bem-sucedido e agir com progressiva autonomia. No sentido, de

    melhor poder compreender-se os fundamentos em que todo esse processo foi apoiado,

    importa que aprofundemos a reflexo sobre as opes educativas levadas em

    considerao.

    1.4. Fundamentao das opes educativas

    Vrios autores e organizaes2 tm, nas ltimas dcadas, vindo a alertar para a

    importncia de promover respostas educativas pr-escolares de qualidade, constituindo,

    por isso, um importante suporte para ajudar-nos a pensar a nossa ao educativa.

    As Orientaes Curriculares3 apresentam um conjunto de princpios que visam

    apoiar os educadores no processo educativo a desenvolver com as crianas, sublinhando

    a importncia da sua interveno ao nvel da organizao do ambiente educativo e do

    desenvolvimento de experincias educativas tendo em conta as seguintes reas e

    domnios de contedo: rea de formao pessoal e social; rea de

    expresso/comunicao, contemplando o domnio de expresses (plstica, musical e

    dramtica), o domnio da linguagem e abordagem escrita e o domnio da matemtica;

    e a rea de conhecimento do mundo.

    Segundo as Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997),

    2 Entre os autores sublinhamos os contributos de Piaget, Bruner, Vygotsky e Dewey e entre as

    organizaes os contributos da OCDE, promovendo esta organizao estudos e relatrios com

    recomendaes e sugestes a ter em conta para a melhoria dos servios de educao de infncia. 3 Despacho n5220/97, de 4 de Agosto; Ministrio da Educao/Departamento de Educao Bsica (1997).

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    19

    no se pretende que a educao pr-escolar se organize em funo de uma

    preparao para a escolaridade obrigatria, mas que se perspetive no sentido

    da educao ao longo da vida, devendo, contudo, a criana ter condies

    para abordar com sucesso a etapa seguinte (p. 17).

    Pretende-se, sobretudo, que a educao pr-escolar crie as condies necessrias

    para que todas as crianas possam aprender e criar gosto em conhecer e em continuar a

    instruir-se ao longo da vida, para o que se requer que promova a sua autoestima e

    autoconfiana e o desenvolvimento de competncias que lhes permitam reconhecer as

    suas possibilidades e progressos, e ter sucesso (idem).

    Ao nvel da nossa interveno educativa procurmos promover experincias de

    aprendizagem que tivessem como base de sustentao as Orientaes Curriculares, as

    metas de aprendizagem, e o projeto curricular da sala/grupo, favorecendo uma

    abordagem globalizante e integrada.

    Nesta perspetiva, a intencionalidade que carateriza a ao profissional que

    desenvolvemos passa pela tomada em considerao de vrias dimenses da interveno

    que se prendem com observar, planear, agir, avaliar, comunicar e articular, como

    sugerem as Orientaes Curriculares (idem, pp.27,28).

    Recorremos a uma metodologia descritiva dos processos realizados e utilizmos

    como instrumentos de recolha de dados, os dilogos, os registos feitos pelas crianas, os

    registos da observao que realizvamos e fotografias relativas ao processo de ensino-

    aprendizagem.

    Tomando como ponto de partida os interesses, necessidades formativas e ideias

    prvias das crianas, procurmos explorar contedos das diferentes reas curriculares,

    mas merecendo particular relevo a rea do Conhecimento do Mundo, com incidncia

    nos tpicos a floresta e os seres vivos, mais especificamente os animais.

    Pretendendo orientar esse processo segundo uma perspetiva de aprendizagem de

    natureza socioconstrutivista, procurmos, como sugere Bruner, de acordo com

    Kishimoto (2007), promover uma aprendizagem por descoberta e valorizando a

    participao das crianas, com vista a promover aprendizagens significativas.

    Todavia, no se trata de um processo fcil, confrontando-nos com a necessidade,

    de, em simultneo, responder a solicitaes diversificadas, o que nos levou a sentir

    desanimadas, mas sem que perdssemos a firme deciso de ir em frente e caminhar, no

    sentido de todos podermos enriquecer-nos e ajudar-nos mutuamente a progredir.

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    20

    Para que melhor pudssemos fundamentar e orientar esse processo procurmos

    aprofundar os nossos saberes em torno dos modelos curriculares mais conhecidos, no

    nosso pas, e reconhecidos como podendo apoiar o desenvolvimento de prticas de

    qualidade. Entre esses modelos situam-se o modelo curricular High Scope, o modelo

    curricular do Movimento Escola Moderna e o modelo pedaggico de Reggio Emilia.

    Estes modelos apontam para a adoo de uma pedagogia diferenciada, transversal e

    flexvel.

    Assim, importa retomar as ideias de Formosinho (2011), que considera que:

    os modelos curriculares incorporam uma viso integradora dos fins da

    educao e das fontes do currculo, dos objetivos e dos mtodos de ensino,

    dos mtodos e da organizao do espao e do tempo escolar.

    Consubstanciam uma viso sistmica da educao para a cidadania e da

    prtica da sala de aula, dos princpios curriculares e da formao contnua

    de educadores congruentes com esses princpios. Assim, os modelos

    curriculares so um poderoso instrumento de mediao da teoria e da prtica

    (p. 11).

    Passamos a debruar-nos sobre as linhas de ao em que se apoia cada um

    desses modelos, no sentido da procura de contributos que nos permitam fundamentar e

    melhor concretizar a prtica profissional.

    O Modelo Reggio Emlia, de acordo com Lino (2007), acentua a importncia

    da interao, da participao e da colaborao, bem como do ambiente fsico,

    considerando que todos os espaos e materiais devam ser cuidadosamente planeados e

    organizados de forma a criar um ambiente educativo, onde educadores, pais e crianas

    se sintam bem. Existe uma preocupao particular com a beleza e harmonia dos

    espaos, no sentido de assegurar s crianas um ambiente que lhes proporcione a

    realizao de experincias diversas e que responda aos seus interesses e necessidades

    formativas. Entende-se que a organizao do espao fsico e o desenvolvimento do

    processo de aprendizagem das crianas resultam de um trabalho de cooperao e

    colaborao entre todos os intervenientes no processo, educadores, crianas, pais e a

    comunidade em geral.

    O tempo dirio organizado de modo a possibilitar momentos de trabalho e

    reflexo entre crianas e adultos. Esse tempo no regulado exaustivamente, de modo a

    dar tempo para estabelecer interaes e atender a ritmos diferenciados de trabalho e de

    aprendizagem das crianas.

    Neste modelo acredita-se na competncia da criana e acentua-se uma imagem

    de sujeito com direitos, rico em recursos e interesses, e capaz de continuamente

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    21

    construir e testar teorias acerca de si prprio e do mundo que o rodeia (Lino, 2007).

    Acredita-se, ainda, que a colaborao um elemento fundamental e que marca a

    diferena no processo educativo, sendo importante reconhecer a sua riqueza e vantagens

    na construo do conhecimento. Por isso, como sublinha Lino (2007, retomando ideias

    de Malaguzzi, 1998), o papel dos pares e o trabalho de pequeno e grande grupo so

    considerados como essenciais e necessrios ao desenvolvimento cognitivo das crianas.

    Entende-se como importante encorajar as crianas ao dilogo, a emitir juzos crticos,

    comparar, negociar levantar hipteses e resolver problemas no mbito do grupo (idem).

    O papel do educador tambm relevado, considerando a importncia de

    escutar as crianas, observar e registar os diferentes momentos da sua ao, incentiv-

    las resoluo de problemas, favorecer a construo de um ambiente educativo rico e

    estimulante, partilhar ideias e sugestes e promover experincias de aprendizagens

    diversificadas.

    Neste sentido, os projetos surgem em contextos de investigao e de

    experincias em grupo, onde no seu planeamento so traados objetivos e formuladas

    hipteses, tendo em conta os interesses e necessidades formativas das crianas.

    A documentao pedaggica das experincias e atividades realizadas,

    merecem, tambm, grande ateno nas prticas inscritas neste modelo, recorrendo a

    formas diversificadas de registo: escritos; registos em vdeo, udio e fotogrfico e

    amostras de trabalhos das crianas. O recurso aos espaos verticais para dar a conhecer

    e promover a reflexo sobre as produes das crianas tambm uma dimenso

    considerada neste modelo.

    O modelo curricular High-Scope alicera-se numa perspetiva de

    aprendizagem pela aco (Hohmann & Weikart, 2009), relevando princpios bsicos

    que dizem respeito interao adulto-criana, ao ambiente de aprendizagem, rotina

    diria e avaliao.

    Segundo Oliveira-Formosinho (2007), o currculo High-Scope () no

    acredita na diretividade das aprendizagens pr-estruturadas, mas tambm no acredita

    em situaes totalmente desestruturadas em que meros acessos de energia da criana

    sugerem, no momento, cursos de ao, ao educador (p. 68). Como refere a autora

    (idem), num contexto educacional High-Scope, a estruturao da situao emerge dos

    contributos dos adultos e das crianas.

    Os defensores deste modelo consideram que as crianas aprendem mais atravs

    da interao com as pessoas e os materiais que existem sua disposio. Assim, e no

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    22

    que refere ao papel do adulto, Oliveira-Formosinho (2007) sublinha que deve ser o de

    criar situaes que desafiem o pensamento atual da criana e, assim, provoquem

    conflito cognitivo (p. 71), no sentido de favorecer a sua aprendizagem e

    desenvolvimento. Todavia, no pode deixar de se considerar que o empenhamento

    ativo e individual da criana que constitui o motor de construo do seu conhecimento,

    mas tambm que com a colaborao do adulto renova esse empenhamento e, por

    conseguinte, crie oportunidades de aprendizagem.

    Este modelo d grande importncia planificao da organizao dos espaos

    e dos materiais, de modo a tornarem-se facilitadores de uma aprendizagem ativa, dando

    s crianas oportunidades de escolha e deciso. O espao da sala de atividades ,

    normalmente, organizado por reas diferenciadas que possibilitam que as crianas

    realizem diferentes aprendizagens curriculares. Essa organizao pode ir integrando

    alteraes ao longo do ano, em funo das necessidades formativas e interesses que o

    desenrolar do jogo quotidiano das crianas vai permitindo identificar. As reas devem

    conter materiais visveis, acessveis e etiquetados (Oliveira-Formosinho, 2007;

    Hohmann & Weikart, 2009) o que permite s crianas a vivncia de um quotidiano

    ordenado e conquista de autonomia em poder escolher, usar e arrumar sozinho os

    materiais de que necessita.

    A avaliao implica que os profissionais levem a cabo tarefas diversas para

    observar as crianas, interagir com elas e planear para elas. Segundo Hohmann e

    Weikart (idem), neste modelo avaliar significa trabalhar em equipa para construir e

    apoiar o trabalho nos interesses e competncias de cada criana (p. 9).

    O Movimento da Escola Moderna (MEM), segundo Niza (2007), assenta num

    Projecto Democrtico de autoformao cooperada de docentes, que transfere, por

    analogia, essa estrutura de procedimentos para o modelo de cooperao educativa nas

    escolas (p. 125). A escola entendida como um espao de iniciao vida

    democrtica, em que valorizada a organizao participada e a criao de um clima de

    livre de expresso, reforado pela valorizao e partilha das suas experincias de vida,

    das suas opinies e ideias.

    Segundo Niza (2007), uma primeira condio em que se fundamenta o MEM

    a da constituio dos grupos de crianas, no por nveis etrios, mas, de

    forma vertical, integrando de preferncia as vrias idades para que se possa

    assegurar a heterogeneidade geracional e cultural que melhor garanta o

    respeito pelas diferenas individuais no exerccio da interajuda e

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    23

    colaborao formativas que pressupe este projecto de enriquecimento

    cognitivo e sociocultural (p. 131).

    , ainda, defendido que as crianas devem usufruir de tempo ldico para que

    possam explorar ideias e materiais ou documentos, e se interroguem sobre eles, no

    sentido de suscitar projetos de pesquisa iniciados pelo educador ou pelas crianas. A

    partilha de responsabilidade so pilares da organizao do trabalho e do exerccio do

    poder, o que implica o envolvimento de educadores e educandos no planeamento e

    avaliao das atividades curriculares. Preconiza-se uma prtica partilhada com sentido

    social, de modo a garantir o exerccio ativo da cidadania, assente em valores de respeito,

    de autonomizao e de solidariedade.

    Neste sentido, como sublinha Niza (2007), os educadores assumem-se como:

    promotores da organizao participada; dinamizadores da cooperao; animadores

    cvicos e morais do treino democrtico; auditores ativos para provocarem a livre

    expresso e a atitude crtica (p. 139).

    As crianas participam ativamente na tomada de decises e assumem

    responsabilidades na distribuio de tarefas necessrias dinmica do grupo, ou outras,

    como as que se referem participao na resoluo de situaes de conflito, marcao e

    verificao de presenas.

    valorizada a interao com a comunidade e a articulao com as famlias,

    referindo Niza (2007), que:

    conta-se com o envolvimento e implicao das famlias e da comunidade,

    quer para resolver problemas do quotidiano de organizao, quer para que o

    jardim-de-infncia possa cumprir o seu papel de mediador e de promotor

    das expresses culturais das populaes que serve (p. 40).

    A famlia e a comunidade so convidadas a participar nas sesses de animao e

    em diversas atividades, valorizando-os como fontes de conhecimento e de (in)

    formao.

    Na linha de pensamento que temos vindo a desenvolver, importa sublinhar que,

    no decurso da nossa ao, sentimos necessidade de organizar o ambiente educativo,

    entendendo a criana como agente ativo na construo da sua aprendizagem e

    procurando cultivar a sua curiosidade e criatividade, desempenhando o papel de

    mediadores desse processo.

    Assim, corroborando a opinio de Hohmann e Weikart (2009), foi tambm nossa

    preocupao encorajar as crianas a uma aprendizagem ativa, no dizendo s crianas o

    que aprender ou como aprender, mas em vez disso, proporcionar-lhes oportunidades de

  • CONTEXTUALIZAO DA PRTICA

    24

    terem controlo sobre a sua prpria aprendizagem. Por outro, tal como indicam as

    Orientaes Curriculares (ME/DEB), criar condies favorveis para poderem aprender

    e desenvolver-se. Criar um ambiente onde a criana pudesse ser possuidora de voz

    prpria, envolver-se em dilogos e tomada de decises, onde a criana se sentisse com

    liberdade de expresso para poder expandir informaes e ideias, nas suas diferentes

    formas de expresso oral, escrita ou artstica.

    Procurmos, assim, que o nosso papel fosse o de apoiar e guiar as crianas nas

    diferentes aventuras ldicas e experincias de aprendizagem em que procurmos

    envolv-las, reconhecendo que a explorao uma das formas mais importantes da

    aprendizagem.

    A planificao das atividades e a reflexo com as crianas sobre as aes

    desenvolvidas; o registo dos comentrios das crianas, em cada tempo da rotina, foram

    uma mais-valia para melhor compreender e orientar o processo de ensino-

    aprendizagem. Procurmos, ainda, que as crianas valorizassem e acedessem a

    instrumentos culturais que lhe fossem teis para aprender e para continuar a aprender ao

    longo da vida.

  • EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM

    25

    Captulo II Descrio, anlise e interpretao de experincias de

    aprendizagem desenvolvidas

    Neste captulo pretendemos explicitar, analisar e interpretar algumas das

    experincias de aprendizagem desenvolvidas, tendo em conta as diferentes reas e

    domnios curriculares previstos nas Orientaes Curriculares. Referem-se no apenas a

    momentos de ao, mas tambm de formao, uma vez que contriburam no s para a

    aprendizagem e desenvolvimento das crianas e para a nossa prpria aprendizagem e

    desenvolvimento pessoal e profissional.

    Procurmos favorecer o desenvolvimento de aprendizagens integradoras, de

    natureza diversificada, que promovessem a participao ativa da criana e que

    abrangessem as diferentes reas de contedo curricular previstas na Orientaes

    Curriculares, embora, como j antes referimos, nem sempre essa tarefa se nos

    apresentou fcil de concretizar.

    Como referem as Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997):

    se a criana aprende a partir da ao, as reas de contedo so mais do que reas

    de atividades pois implicam que a ao seja ocasio de descobrir relaes

    consigo prprio, com os outros e com os objetos, o que significa pensar e

    compreender (pp.47-48).

    Nesta linha de pensamento, procurmos promover experincias educativas que

    levassem em conta o desenvolvimento e a espontaneidade das crianas, no sentido de

    estimular o seu desejo de descobrir e favorecer a sua criatividade, progresso e insero

    na sociedade como ser autnomo, livre e solidrio.

    No que se refere rea do Conhecimento do mundo, importa lembrar que est

    relacionada com a introduo s cincias, conhecimento do meio prximo e outros

    meios e culturas. Trata-se de uma rea que pressupe despertar a curiosidade natural da

    criana e desejo de saber, abrangendo saberes sociais, mtodo cientfico, observao e

    registo, construo de conceitos, educao para a sade e ambiente. Assim,

    promovemos vrias atividades com o objetivo de desenvolver conhecimentos sobre o

    meio envolvente e realizao de experincias, proporcionando s crianas a

    oportunidade de formular e testar hipteses, observar e partilhar ideias e, assim, ampliar

    os seus conhecimentos.

    No que se refere rea de Formao Pessoal e Social, uma rea transversal,

    sendo por isso considerada uma rea integradora que enquadra e d suporte a todas as

  • EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM

    26

    outras (ME/DEB, 1997, p.51). Assenta no conhecimento de si, do outro e na relao

    com os outros. Pode, portanto, dizer-se que o desenvolvimento pessoal e social se apoia

    na construo de um ambiente relacional em que as crianas sejam e se sintam

    escutadas e valorizadas, em ordem ao desenvolvimento da autoestima, autoconfiana e

    independncia, aprendendo a saber ser, a saber relacionar-se e a saber fazer. Estas

    atitudes favorecem a autonomia e socializao, a conscincia de diferentes valores

    sociais e a aquisio de um esprito crtico, promovendo a aprendizagem da cidadania.

    Trata-se de dimenses que procurmos ter em conta nas diferentes atividades e projetos

    desenvolvidos.

    No que diz respeito rea de expresso e comunicao, procurmos ter em

    conta, tal como sugerem as Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997), as

    aprendizagens relacionadas com o crescimento psicomotor e simblico as quais

    determinam a compreenso e o progressivo domnio de diferentes formas de

    linguagem (p. 56). Esta rea integra vrios domnios, designadamente: o domnio das

    expresses motora, dramtica, plstica e musical, que tendo vertentes prprias se

    complementam; o domnio da linguagem oral e abordagem escrita e o domnio da

    matemtica.

    Todos esses domnios devem entender-se relacionados entre si, porque, como

    afirmam as Orientaes Curriculares (idem) se referem aquisio e aprendizagem

    de cdigos que so meios de relao com os outros, de recolha de informao e

    sensibilizao esttica, indispensveis para a criana representar o seu mundo interior e

    o mundo que a rodeia (p.56).

    No mbito da expresso dramtica, surge o jogo simblico e dramtico, como

    forma de descoberta de si e do outro, afirmao de si prprio e a interao com outras

    crianas em pleno contexto das atividades. O educador deve favorecer a ampliao do

    jogo simblico atravs de iniciativas que alarguem as propostas das crianas, criando

    novas situaes de comunicao. Corroboramos a ideia de que a expresso dramtica

    de extrema importncia para o crescimento das crianas, pois atravs das

    representaes simblicas que tomam conscincia das suas reaes e do seu poder sobre

    a realidade, e o dos outros, usufruindo de oportunidades de comunicao de uns com os

    outros. Para fomentar o jogo simblico recorremos a fantoches e a peluches de animais,

    entre outros tipos de materiais colocados disposio das crianas.

    A expresso plstica um domnio bastante trabalhado, como meio de

    representao e comunicao. Est intimamente relacionada com a expresso motora,

  • EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM

    27

    pois implica o controlo da motricidade fina, atravs do manuseamento de materiais,

    instrumentos e tcnicas que vo desde o desenho, pintura, modelagem, recorte e

    colagem. Procurmos promover o contacto com materiais diversificados, para que as

    crianas os experimentassem e realizassem as suas produes e criaes, respeitando-as.

    Para alargar conhecimentos e despertar a curiosidade das crianas em relao

    expresso artstica organizmos uma visita de estudo ao Museu Abade Baal para ver as

    obras do pintor Nadir Afonso, pois consideramos que o contacto com a pintura, a

    escultura e a arte promovem o enriquecimento cultural das crianas e ampliam o seu

    conhecimento e desenvolvimento esttico do mundo em que nos integramos.

    A expresso musical foi bastante trabalhada, possibilitando s crianas envolver-

    se em diversas atividades que lhe permitiam aprender a escutar, cantar, tocar, produzir e

    explorar ritmos e sons e, por vezes, danar.

    Em relao expresso motora, foram proporcionadas atividades e materiais que

    proporcionaram s crianas sentir, utilizar e exercitar o seu corpo. Neste sentido, foram

    realizadas atividades de expresso motora no salo polivalente e no exterior, bem como

    vrios jogos, incluindo os tradicionais, entre outros, que surgiam por iniciativa das

    crianas ou dos adultos. Essas atividades permitiram ainda, como sugerem as

    Orientaes Curriculares (ME/DEB, 1997), ajudar a uma progressiva interiorizao do

    esquema corporal e tambm a tomada de conscincia do seu corpo em relao ao

    exterior - esquerda, direita, em cima, em baixo, etc. (p. 58). Neste sentido, merece

    considerar que situando o seu prprio corpo que a criana apreende as relaes no

    espao relacionadas com a matemtica (idem).

    No que se refere ao domnio da matemtica, importa relevar que o quotidiano do

    jardim-de-infncia oferece s crianas mltiplas oportunidades de realizarem

    aprendizagens matemticas, cabendo ao educador a criao de momentos de

    consolidao e sistematizao dessas aprendizagens. atravs da vivncia do espao e

    do tempo que as crianas constroem muitas noes matemticas, como as que decorrem

    da tomada de conscincia da sua posio e deslocao no espao e da relao e

    manipulao de objetos que ocupam espao, permitindo-lhes aprender, por exemplo, o

    que est longe e perto, dentro, fora e entre, aberto e fechado, em cima e em baixo

    (ME/DEB, 1997, p. 73). Permite-lhes, ainda, descobrir princpios lgicos que lhe

    proporcionam classificar, seriar e ordenar objetos. Cabe ao educador a importante tarefa

    de promover experincias diversificadas, incentivar e apoiar a reflexo das crianas, que

    lhe permitam ampliar a construo de noes matemticas (idem).

  • EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM

    28

    Deste modo, procurmos desenvolver vrias experincias de aprendizagem do

    domnio matemtico, surgindo algumas atividades espontneas e outras de atividades

    propostas pelo adulto. Para uma melhor compreenso dos conceitos a explorar,

    recorremos a materiais diversificados, alguns levados pelo adulto e outros que existiam

    na sala, como por exemplo, legos, domins e lpis, entre outros. Esses materiais

    ajudaram-nos a explorar semelhanas e diferenas, utilizando, por vezes, a

    correspondncia, a quantidade e o algarismo. Tambm, procurmos proporcionar o

    contacto com outros materiais, explorando noes como, por exemplo, as unidades de

    medida, em que disponibilizamos diferentes recipientes para que as crianas pudessem

    experimentar, comparar e testar capacidades e volumes.

    Quanto ao domnio da linguagem oral e abordagem escrita foram criadas

    formas variadas de representao, procurando criar um clima de comunicao que

    favorecesse o enriquecimento do seu vocabulrio. Nesta perspetiva, proporcionmos

    momentos de contacto livre e direto com diferentes tipos de cdigos simblicos e

    manuscritos, explorando, com carter ldico, imagens, gravuras e texto, para que as

    crianas sentissem interesse e prazer pela leitura e pela escrita e, pela comunicao

    verbal e no-verbal. Indo, assim, ao encontro das Orientaes Curriculares (ME/DEB,

    1997), quando afirmam que:

    cabe ao educador alargar intencionalmente as situaes de comunicao, em

    diferentes contextos, com diversos interlocutores, contedos e intenes que

    permitam s crianas dominar progressivamente a comunicao como

    emissores e receptores (p. 68).

    Pretendemos promover momentos que potencializassem a emergncia da escrita

    e a aquisio de um maior domnio da linguagem oral, promovendo a leitura de

    diferentes textos, recorrendo leitura e narrao de histrias, poesias, trava-lngua,

    lengalengas e explorao de rimas, diviso silbica e jogos de natureza diversa.

    Empenhmo-nos em criar, em conjunto com a educadora e as crianas, um ambiente

    agradvel e promotor de oportunidades de comunicar. Neste sentido, partilhamos da

    opinio de Sim-Sim, Silva e Nunes (2008), defendendo as autoras que

    Para que a criana possa aprender a comunicar usando a lngua do seu grupo

    social, precisa de estar imersa num ambiente onde oua falar e tenha

    oportunidade para falar com falantes da sua lngua materna. Para alm do

    contexto familiar, o ambiente educativo do jardim-de-infncia constitui um

    dos contextos privilegiados para o desenvolvimento das capacidades

    comunicativas e lingusticas da criana (p. 11)

  • EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM

    29

    Quanto rea de Conhecimento do mundo, entendemos ser fundamental

    procurar conhecer o meio envolvente para fortalecer a sua curiosidade e compreenso

    do mundo em que nos integramos. Neste sentido, foram promovidas vrias sadas ao

    exterior, no sentido de favorecer ocasies de descoberta e de interao com a

    comunidade prxima, mas aproveitando outras oportunidades para conhecer modos de

    vida e recursos culturais de outros contextos mais distantes, para o que recorremos a

    meios como a televiso, internet e livros. Promovemos ainda algumas atividades

    experimentais, comeando por conhecer as ideias prvias das crianas, de forma a

    proporcionar-lhes a ajuda necessria para enriquecerem os seus conhecimentos. Como

    referem Martins et al. (2009): cabe ao(s) educadores(as) conceber e dinamizar

    atividades promotoras de literacia cientfica, com vista ao desenvolvimento de cidados

    mais competentes nas suas dimenses pessoal, interpessoal, social e profissional (p. 15).

    Tendo em conta as diferentes reas de contedos atrs referidas, apresentam-se,

    de seguida, algumas das experincias de aprendizagem que desenvolvemos e que

    ajudam a melhor compreender o modo como decorreu a nossa interveno educativa.

    2.1. Experincia de aprendizagem: (Re)organizao da rea da

    casa/faz-de-conta

    A rea da casa/faz-de-conta encontrava-se organizada por dois espaos, um de

    cozinha e o outro de quarto, onde as crianas se envolviam em atividades de explorao,

    imitao e faz-de-conta, representando situaes relacionadas com a confeo de

    refeies, o cuidar da casa e o desempenho de papis familiares diversos, bem como, de

    explorao de tpicos que emergiam de atividades e projetos desenvolvidos na sala ou

    de acontecimentos que experienciavam ou ouviam falar. A imitao de animais e a

    procura de adereos que as ajudassem a representar esse papel, faziam parte de algumas

    das atividades ldicas que a realizavam.

    Refletindo sobre as potencialidades formativas que essa rea poderia oferecer e

    os interesses ldicos que as crianas revelavam, pareceu-nos importante repensar a sua

    organizao, no sentido de alargar oportunidades de representao e aprendizagem que

    proporcionava. Assim, e para melhor nos assegurarmos da necessidade dessa

    transformao e as linhas em que orient-la, recorremos a fontes diversas de recolha de

    informao, incluindo a escuta das crianas e observao de vrias situaes de faz de

    conta que a eram desenvolvidas nos tempos de trabalho nas reas.

  • EXPERINCIAS DE APRENDIZAGEM

    30

    Da leitura desses dados, entendemos que essa rea poderia ser tornada no s

    mais atrativa e funcional, como integrar novas e diferentes oportunidades de interao e

    de explorao de objetos e materiais, enriquecendo a atividade ldica das crianas e, por

    conseguinte, as suas possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento. As imagens

    que a seguir se apresentam do conta da forma como a rea se encontrava organizada.

    Foi nosso objetivo que as crianas participassem na reorganizao desse espao,

    de modo a que melhor compreendessem a importncia que assume um espao bem

    organizado. Assim, estabelecemos um dilogo, em grande grupo, para a recolha de

    opinies e sugestes das crianas sobre o que poderiam e gostariam de poder fazer

    naquela rea, e que materiais ou equipamentos seria interessante arranjar para equip-la.

    A intencionalidade principal incidiu em criar um espao que assumisse uma

    nova dinmica (in)formativa e recreativa, considerando que, como alertam Castro e

    Rodrigues (2008):

    uma das funes do jardim-de-infncia criar ambientes de aprendizagem ricos,

    em que as crianas se possam desenvolver como seres de mltiplas facetas,

    construindo percees e bases onde alicerar aprendizagens, que se refletiro ao

    longo da vida, quer nas aprendizagens, quer na socializao e mesmo no

    reconhecimento de algumas regras e pr