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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL RAFAEL ALVES DE ARAUJO CASTILHO PRÁTICAS SOCIAIS ORGANIZACIONAIS: a Gestão Social e os Relatórios de Sustentabilidade de acordo com a Global Reporting Initiative BELO HORIZONTE 2018

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

RAFAEL ALVES DE ARAUJO CASTILHO

PRÁTICAS SOCIAIS ORGANIZACIONAIS:

a Gestão Social e os Relatórios de Sustentabilidade de acordo com

a Global Reporting Initiative

BELO HORIZONTE 2018

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RAFAEL ALVES DE ARAUJO CASTILHO

PRÁTICAS SOCIAIS ORGANIZACIONAIS:

a Gestão Social e os Relatórios de Sustentabilidade de acordo com

a Global Reporting Initiative

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Área de Concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local

Linha de Pesquisa: Gestão Social e Desenvolvimento Local

Orientadora: Profª. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

BELO HORIZONTE 2018

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Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras – Bibliotecário Júlio Ferreira Gomes – CRB 6 – 3227.

C352p Castilho, Rafael Alves de Araujo.

Práticas sociais organizacionais: a gestão social e os relatórios de sustentabilidade de acordo com a global reporting initiative. / Rafael Alves de Araújo – 2018.

250 p.: il. Color.

Orientadora: Profa. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2018. Programa de

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Inclui bibliografias

1. Responsabilidade social da empresa. 2. Gestão social. 3. Desenvolvimento social. I. Vasconcelos, Fernanda Carla Wasner. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

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NOTA INTRODUTÓRIA

No Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, as dissertações de mestrado se orientam pelas seguintes normas aprovadas por seu Colegiado: Para os elementos textuais: 1. A introdução deve trazer o tema, problema, questão central da pesquisa, hipótese (facultativa), objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos; 2. O primeiro capítulo deve trazer uma revisão teórica na área temática da pesquisa, dentro de um recorte de tempo. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo de revisão, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, desenvolvimento, conclusão, referências, notas, anexos e apêndices; 3. O segundo capítulo deve trazer o relato da pesquisa realizada pelo mestrando. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo científico, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão teórica, metodologia, análise dos dados e/ou discussão dos resultados, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices; 4. O terceiro capítulo deve trazer o produto técnico derivado da revisão teórica e da pesquisa realizada pelo mestrando, sua proposta de intervenção na realidade. É esperado que contenha: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão para introduzir o produto técnico e contextualização, descrição detalhada do produto técnico, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices; 5. Por último, o mestrando deve trazer as considerações finais da dissertação; 6. Ficam mantidos os elementos pré-textuais e pós-textuais de praxe em dissertações e teses; 7. Alguma flexibilidade em relação a essa estrutura pode ser considerada, mas é indispensável que o/a mestrando/a apresente pelo menos uma das suas partes na forma de um artigo.

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AGRADECIMENTOS

Uma jornada como esta só foi possível devido às diversas mãos que estiveram comigo

em todo este percurso e para as quais quero exteriorizar os meus agradecimentos.

À Professora Dra. Fernanda Wasner, minha querida orientadora. É difícil encontrar

palavras para agradecer todo o seu apoio, carinho, orientação e suporte, sobretudo

nos desafios encontrados durante este percurso. A nossa pesquisa é fruto de uma

experiência singular de aprendizado e da relação harmônica entre mestre e aprendiz,

muito obrigado. Sou um afortunado em tê-la como minha mentora desde a graduação,

como uma grande parceira de projetos de trabalho e como amiga.

Agradeço ao Centro Universitário Una e ao Sindicato dos Professores do Estado de

Minas Gerais (Sinpro Minas) que por meio de suas políticas de valorização do

professor do ensino superior me propiciaram a bolsa de estudos parcial, que me

permitiu cursar este mestrado. Estendo os agradecimentos à Global Reporting

Initiative (GRI) por disponibilizar seu banco de dados para a pesquisa.

Agradeço à Professora Dra. Lúcia Afonso e ao Professor Dr. Frederico Figueiredo por

suas contribuições durante a banca de qualificação do projeto desta pesquisa. Seus

ensinamentos foram essenciais para a condução da pesquisa.

Obrigado a todo corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local, pelos seus ensinamentos, finalizo esta etapa

como um homem transformado.

Aos membros da banca de defesa, Professora Dra. Lúcia Afonso e ao Professor Dr.

Armindo Teodósio obrigado por terem aceito o convite e por suas contribuições.

Àqueles que me ajudaram na pesquisa, meus amigos Sebastião Diniz, Sthéfanni Lima

e Gabriel Fonseca, minha gratidão. Agradecimento estendido ao amigo Adieliton de

Freitas, que gentilmente apoiou-me no pré-teste do roteiro de entrevista.

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A um quarteto de alegria que formamos durante as aulas, agradeço o apoio dos

amigos Patrícia Costa, Luciana Freitas e Marco Antônio Morais. Agradeço também

aos amigos do mestrado Ari Gobira, Daniela Kangussu e Vagner Souza e estendo

meus agradecimentos aos demais colegas do curso.

Agradeço ao colega de mestrado Gabriel Perona por me mostrar os primeiros passos

desta trajetória e à colega Luana Braga por gentilmente me auxiliar nas dúvidas. À

minha amiga Virgínia Lima que sempre me estimulou e com a qual fiz a disciplina de

Inovação Social e Desenvolvimento Local, ponto de partida para iniciar este projeto.

Aproveito para agradecer aos queridos funcionários da secretaria do mestrado e aos

demais funcionários da Una pelo acolhimento e presteza.

Agradeço aos que de forma próxima ou à distância acompanharam esta trajetória.

Estejam certos de que todos foram importantes para que eu percorresse este

caminho, e agora é hora de buscar novos aprendizados e novas aventuras. Continuo

contando com o apoio de todos vocês.

Àqueles de quem tanto me orgulho e em quem me espelho, meus pais amados,

obrigado por me ensinarem a ser perseverante e me mostrarem os caminhos dos

estudos e dos bons valores. Aos outros pais que a vida deu, Teinha e Luiz, obrigado

por fazerem parte da minha história. À minha avó Divina e aos meus irmãos Raquel e

Raul.

Compartilho com meu marido Fábio esta conquista e lhe agradeço pelo apoio e

companheirismo incondicional durante nossos 11 anos de convivência e em especial

durante toda esta fase de aprendizado. Agradeço ao nosso filho Lucas, que chegou

de mansinho e encheu nossas vidas de alegria.

Enfim, todo este caminho foi transformador. Se perceber, se reinventar e se

transformar são iniciativas daqueles que perseguem a felicidade e compartilham suas

conquistas com aqueles que ama. Obrigado.

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“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.”

Leonardo da Vinci

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RESUMO

A evolução dos debates sobre o desenvolvimento sustentável (DS) estimularam a busca de compreensão da multidimensionalidade da sustentabilidade conforme os autores Sachs, Sartori, Latrônico e Campos, Lozano e Huisingh. Assim, a dimensão social é destacada por representar um ambiente de desafios vividos pela sociedade, como o da promoção da qualidade de vida e da garantia dos direitos humanos. Neste contexto, é fortalecida a importância do debate sobre as concepções de gestão social como discutidas por Dowbor, Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira, Cançado, Tenório e Pereira, no ambiente das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), utilizadas nos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos. Logo, o objetivo desta pesquisa foi analisar a correspondência entre os elementos característicos de uma gestão social e aqueles da categoria social das diretrizes da GRI – G4 e de Relatórios de Sustentabilidade de organizações brasileiras publicados no ano de 2015, buscando compreender as concepções e os conceitos aplicáveis às práticas sociais organizacionais divulgadas por meio dos RS. A metodologia apresenta abordagem qualitativa e quantitativa de cunho descritivo. Os procedimentos metodológicos incluíram a pesquisa documental de 12 RS selecionados a partir da base de dados disponibilizada pela GRI. Os indicadores do pilar social dos RS foram analisados pelo método de clusters de variáveis por ligação completa através de distâncias do coeficiente de correlação e, em seguida, por distâncias euclidianas; pelo teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis e pela comparação múltipla com correção de Bonferroni. Profissionais que trabalham com a elaboração desses relatórios foram entrevistados, os dados foram transcritos e realizada análise de conteúdo conforme Bardin, utilizando o software Iramuteq Como resultados, identificou-se a presença de alguns pressupostos de gestão social nos RS das organizações bem como nas percepções dos profissionais entrevistados. Entretanto, constatou-se que esses pressupostos ainda não são capazes de promover uma gestão social estruturada no ambiente das organizações. Oportunidades de melhoria foram observadas no processo de materialidade e de engajamento das partes interessadas nos RS. Além disso, foi percebido que as práticas de responsabilidade social das organizações podem ser aperfeiçoadas na perspectiva da gestão social, orientando a elaboração de um guia para avaliação de práticas sociais organizacionais à luz dos pressupostos da gestão social identificados nesta pesquisa e que fomentam premissas de inovação social, motivando ações para o desenvolvimento local. Palavras-chave: Sustentabilidade. Responsabilidade Social. Inovação Social. Desenvolvimento Local.

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ABSTRACT

The debates on sustainable development (DS) evolution encouraged the search for an understanding of the multidimensionality of sustainability according to Sachs, Sartori, Latrônico and Campos, Lozano and Huisingh. Thus, the social dimension is highlighted as representing a challenging environment faced by society, such as the promotion of quality of life and the guarantee of human rights. In this context, the importance of the debate on social management conceptions is strengthened as discussed by Dowbor, Mendonça, Gonçalves-Dias and Junqueira, Cançado, Tenório and Pereira, within the guidelines of the Global Reporting Initiative (GRI), used in the Sustainability Reports (RS) of public, private and non-profit organizations. Therefore, the objective of this research was to analyze the correspondence between the characteristic elements of a social management and those of the social category of GRI - G4 guidelines and of Brazilian organizations Sustainability Reports published in 2015, seeking to understand the conceptions and concepts applicable to organizational social practices released through Sustainability Reports. The methodology presents a qualitative and quantitative descriptive approach. The methodological procedures included the documental research of 12 Sustainability Reports selected from the database provided by GRI. The Sustainability Reports social pillar indicators were analyzed by the clusters method of variables by complete connection through distances of the correlation coefficient and then by Euclidean distances; by the Kruskal-Wallis non-parametric test and by the Bonferroni correction multiple comparison. Professionals working with the preparation of these reports were interviewed, data were transcribed and content analysis performed according to Bardin using the Iramuteq software. As results, we identified the presence of some social management assumptions in the Sustainability Reports of the organizations as well as in the perceptions of the professionals interviewed. However, it has been found that these assumptions are not yet capable of promoting structured social management in the organizations' environment. Opportunities for improvement were observed in the materiality process and concerned parties engagement in SR. In addition, it was noticed that the organizations social responsibility practices can be improved in the perspective of social management, guiding the development of a guide for the organizational social practices evaluation in light of the social management assumptions identified in this research and that promote social innovation premises, motivating actions for local development. Keywords: Sustainability. Social responsibility. Social Innovation. Local Development.

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LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS

LISTA DE FIGURAS

pág.

FIGURA 1 Sistematização da estrutura da dissertação ............................. 36

FIGURA 1.1 Consolidação dos dados de publicação de Relatórios de

Sustentabilidade no Brasil .........................................................

54

FIGURA 2.1 Visão geral do processo de definição dos aspectos materiais e

limites do RS .............................................................................

82

FIGURA 2.2 Classificação Hierárquica Descendente (CHD) ......................... 152

FIGURA 2.3 Nuvem de palavras do conteúdo das entrevistas ...................... 153

FIGURA 2.4 Dendograma resultante da Classificação Hierárquica

Descendente dos relatos das entrevistas ..................................

155

FIGURA 2.5 Representação das classes de palavras no corpus original do

texto ..........................................................................................

158

LISTA DE GRÁFICOS

pág.

GRÁFICO 2.1 Clusters dos indicadores reportados pelas organizações ........ 110

GRÁFICO 1.2 Agrupamento das organizações no Cluster 1 ........................... 116

GRÁFICO 2.3 Agrupamento das organizações no Cluster 2 ........................... 118

GRÁFICO 2.4 Agrupamento das organizações no Cluster 3 ........................... 122

GRÁFICO 2.5 Agrupamento das organizações no Cluster 4 ........................... 124

GRÁFICO 2.6 Agrupamento das organizações no Cluster 5 ........................... 127

GRÁFICO 2.7 Agrupamento das organizações no Cluster 6 ........................... 128

GRÁFICO 2.8 Agrupamento das organizações no Cluster 7 ........................... 130

GRÁFICO 2.9 Agrupamento das organizações no Cluster 8 ........................... 132

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LISTA DE QUADROS

pág. QUADRO 1.1 Caracterização das dimensões da Sustentabilidade ................ 45

QUADRO 1.2 Categorias, subcategorias e aspectos das diretrizes GRI - G4 56

QUADRO 1.3 Conceitos sobre Responsabilidade Social ................................ 62

QUADRO 1.4 Consolidação da análise sobre Gestão Social .......................... 66

QUADRO 2.1 Princípios estabelecidos pelas diretrizes GRI – G4 .................. 81

QUADRO 2.2 Evolução da Agenda de Direitos Humanos .............................. 84

QUADRO 2.3 Características comparativas de Gestão Social e

Sustentabilidade........................................................................

90

QUADRO 2.4 Critérios de tipicidade para definição das unidades de

pesquisa ...................................................................................

95

QUADRO 2.5 Tipicidade de Unidades de Pesquisa por similaridade da

maturidade em publicação de Relatórios de Sustentabilidade .

97

QUADRO 2.6 Composição dos Clusters dos indicadores reportados pelas

organizações ............................................................................

111

QUADRO 2.7 Informações sobre os entrevistados ......................................... 151

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LISTA DE TABELAS

pág.

TABELA 2.1 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 1 ...................................................

116

TABELA 2.2 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 2 ...................................................

119

TABELA 2.3 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 3 ...................................................

122

TABELA 2.4 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 4 ...................................................

125

TABELA 2.5 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 5 ...................................................

127

TABELA 2.6 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 6 ...................................................

129

TABELA 2.7 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 7 ...................................................

131

TABELA 2.8 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados

pelas organizações Cluster 8 ...................................................

133

TABELA 2.9 Teste Kruskal-Wallis comparando as categorias das

empresas .................................................................................

136

TABELA 2.10 Identificação das palavras nas classes .................................... 157

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

A - Nível de Aplicação A das diretrizes GRI

A+

AA

- Nível de Aplicação A das diretrizes GRI e assegurado

externamente

- AcountAbility

Abrang. - Abrangente

ACSP - Associação Comercial de São Paulo

AFD - Análise Pós-fatorial de Correspondência

A4 - Folha com dimensões de 210mm x 297mm

B - Nível de Aplicação B das diretrizes GRI

B+ - Nível de Aplicação B das diretrizes GRI e assegurado

externamente

BB - Banco do Brasil

C - Nível de Aplicação C das diretrizes GRI

C+ - Nível de Aplicação C das diretrizes GRI e assegurado

externamente

CAAE - Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CERES - Coalition for Environmentally Responsible Economies

CF/88 - Constituição Federal do Brasil (1988)

CHD - Classificação Hierárquica Descendente

CI

CMMAD

CNPJ

DNV

DS

- Content Index (Índice de Conteúdo)

- Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

- Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica

- Det Norske Veritas

- Desenvolvimento Sustentável

EMAS - Eco Management Audit Scheme

Essec. - Essencial

GRI - Global Reporting Initiative

GS - Gestão Social

G1

G2

- Geração 1

- Geração 2

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G3

G3.1

G4

- Geração 3

- Geração 3.1

- Geração 4

G4-DMA - Informações sobre a Forma de Gestão

IA - In Accordance (De acordo)

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IFC - International Finance Corporation (Corporação Financeira

Internacional)

inpEV - Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias

IOS - Instituto da Oportunidade Social

Iramuteq - Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes

et de Questionnaires

ISEA - Institute of Social and Ethical AccountAbility

ISO - International Organization for Standardization (Organização

Internacional de Normalização)

KPMG - Klynveld Peat Main Goerdeler

MG - Minas Gerais

mm - Milímetros

nº - Número

ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

OIT - Organização Internacional do Trabalho

ONG - Organização Não Governamental

ONU - Organização das Nações Unidas

PIB - Produto Interno Bruto

PPG-GSEDL - Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local

® - Marca Registrada

Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento

Sustentável

RS - Relatório de Sustentabilidade

SA

Scielo

- Social Accountability

- Scientific Eletronic Library Online

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Sd - Self declaration (Auto declaração)

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

U - Undeclared (Não declarado)

UCE - Unidades de Contexto Elementares

UNEP - United Nations Environmental Program

UNESCO

- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura

3p - Terceira parte

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 21

Justificativa ................................................................................................................ 28

Estrutura da dissertação ........................................................................................... 33

CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 37

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 38

1 DESENVOLVIMENTO .................................................................................... 40

1.1 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade .......................................... 40

1.2 Os Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI .............................. 49

1.3 Gestão Social e Responsabilidade Social ...................................................... 58

2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 68

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70

CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 74

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 75

2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 78

2.1 Compreendendo as diretrizes da GRI............................................................. 78

2.2 O pilar social dos Relatórios de Sustentabilidade ........................................... 83

3 METODOLOGIA ............................................................................................. 92

3.1 Procedimentos de pesquisa ............................................................................ 92

3.2 Cenário da pesquisa ....................................................................................... 93

3.2.1 Fontes da pesquisa documental ...................................................................... 93

3.2.2 Sujeitos da pesquisa de campo ....................................................................... 99

3.3 Instrumentos de coleta de dados .................................................................. 100

3.3.1 Coleta de Dados da Pesquisa Documental ................................................... 100

3.3.2 Coleta de Dados da Pesquisa de Campo ...................................................... 100

3.4 Análise de Dados da Pesquisa Documental ................................................. 101

3.5 Análise de Dados da Pesquisa de Campo .................................................... 102

3.6 Aspectos Éticos ............................................................................................ 103

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................... 105

4.1 Caracterização dos Relatórios de Sustentabilidade ..................................... 105

4.2 Pesquisa Documental: contexto, descritivos e análises ............................... 109

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4.3 Contexto da Pesquisa de Campo ................................................................. 149

4.3.1 Resultados da Análise de Conteúdo ............................................................. 151

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 167

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 170

CAPÍTULO 3 ........................................................................................................... 175

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 176

2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 179

2.1 Indicadores de Sustentabilidade .................................................................... 179

2.2 Inovação Social e o Desenvolvimento Local ................................................. 181

2.3 Descrição do produto técnico ........................................................................ 182

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 187

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 188

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 192

Implicações sociais e gerenciais ............................................................................. 198

Limitações da pesquisa ........................................................................................... 198

Recomendações para pesquisas futuras ................................................................ 200

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 202

APÊNDICE A – Autorização para Coleta de Dados ............................................ 205

APÊNDICE B – Termo de Compromisso de Cumprimento da Resolução Nº

466/2012 ................................................................................................................. 206

APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .......................... 207

APÊNDICE D – Termo de Compromisso de Coleta de Dados ........................... 209

APÊNDICE E – Roteiro de entrevista com os responsáveis pela compilação das

informações para o Relatório de Sustentabilidade ............................................ 210

APÊNDICE F – Composição de indicadores da categoria social do GRI

considerados nas análises da pesquisa ............................................................. 214

APÊNDICE G – Produto técnico: Guia para avaliação de práticas sociais ...... 221

ANEXO A – E-mail de disponibilização da lista de relatórios GRI para a pesquisa

................................................................................................................................. 245

ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário

Newton Paiva ......................................................................................................... 246

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21

INTRODUÇÃO

A abrangência e complexidade concernentes aos debates sobre o Desenvolvimento

Sustentável (DS) implicam em reestruturar e tornar tangíveis conceitos, métodos,

instrumentos e práticas capazes de promover as mudanças necessárias no modelo

de desenvolvimento vigente que orienta a sociedade e as organizações

Termos como sustentabilidade, desenvolvimento, inovação são elencados nas pautas

de discussão sobre DS não só pelas organizações, mas também pela sociedade.

Entretanto, essa discussão se torna complexa a partir das diferentes necessidades de

cada um dos grupos de organizações e da sociedade e das características sistêmicas

e transforamdoras propostas por meio dos conceitos e práticas do DS.

Observa-se que os debates sobre o Desenvolvimento Sustentável perpassam

inicialmente a sua delimitação conceitual, sendo a mais conhecida, aquela

apresentada no Relatório Nosso Futuro Comum1, da Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, que diz: “A humanidade é capaz de tornar o

desenvolvimento sustentável – de garantir que ele atenda às necessidades do

presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também

às suas.” (CMMAD, 1991, p. 9). Todavia, existe um conjunto de desafios e

oportunidades a serem estudados e solucionados entre a capacidade de se tornar o

modelo de desenvolvimento em um modelo sustentável e a habilidade de se promover

ações que contribuam no alcance desse desenvolvimento. Assim, é necessário

considerar o DS como um objetivo multidimensional, que contempla minimamente o

equilíbrio entre os pilares social, ambiental e econômico, conhecidos como triple

bottom line ou tripé da sustentabilidade (MENDES, 2009; SARTORI; LATRÔNICO;

CAMPOS, 2014).

Nesse contexto, Guimarães e Feichas (2009) destacam, apesar dos esforços no

desenvolvimento de instrumentos capazes de mensurar o progresso das iniciativas

que almejam o desenvolvimento sustentável, o nível de complexidade dos parâmetros

1 Tradução de Our Common Future, também conhecido como “Relatório de Brundtland”, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, publicado em 1987, que propõe o conceito de desenvolvimento sustentável.

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socioambientais envolvidos nessas análises não permitem que esses instrumentos

captem as relações de causalidade inerentes às questões socioambientais.

Em relação a essa reflexão sobre o DS, Dias (2004) amplia o debate apresentando o

termo desenvolvimento socialmente sustentável. O autor destaca a importância do

processo de participação, organização, educação e fortalecimento das pessoas para

que o desenvolvimento socialmente sustentável ocorra. Portanto, esses atores

constituem elemento central das preocupações relativas ao desenvolvimento e para

que esse desenvolvimento seja sustentável, sua abordagem deverá contemplar

recursos econômico-financeiros e ambientais, bem como os aspectos culturais,

históricos e os sistemas locais nos quais esses atores estão inseridos. Ademais,

resgatando o conceito de DS, proposto pelo Relatório Nosso Futuro Comum, os

protagonistas das preocupações referentes ao desenvolvimento são os mesmos

apresentados por Dias (2004), ou seja, a sociedade e seus grupos sociais.

Com o intuito de organizar e divulgar práticas consideradas sustentáveis, conforme

proposto pelo Relatório Nosso Futuro Comum, os Relatórios de Sustentabilidade (RS)

foram se consolidando nas organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos como

instrumentos de comunicação e de informações dessas práticas e dos resultados que

realmente contribuem com o DS, na perspectiva dos pilares social, ambiental e

econômico. Porém, tornaram-se necessários a estruturação e o aperfeiçoamento de

referenciais que orientassem a elaboração dos RS, de acordo com a evolução das

necessidades de informações a serem relatadas pelas organizações.

Assim, a utilização de modelos e relatórios que evidenciem adequadamente as

práticas de sustentabilidade adotadas pelas organizações estão se fortalecendo no

Brasil e no mundo. No contexto da América Latina, os resultados dos estudos de

Sierra-García, García-Benau e Zorio (2014) sobre a prática de elaboração de RS e a

credibilidade das informações prestadas nesses relatórios permitem tal afirmação,

destacando o Brasil como o país em posição de liderança na apresentação de

informações e de sua asseguração por auditoria. Logo, as diretrizes da Global

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Reporting Initiative2 (GRI) representam um dos modelos adotados mundialmente nos

RS, e é considerada uma organização de referência de procedimentos para

elaboração desses Relatórios, conforme os estudos de Oliveira et al. (2014)

sustentam.

Apesar dos RS representarem um instrumento de organização e divulgação de

práticas e resultados de sustentabilidade das organizações, existem críticas a esses

relatórios e às diretrizes da GRI. Para exemplificar essas críticas, os estudos de

Ferreira-Quilice e Caldana (2015) levantaram aspectos negativos dos relatórios e do

modelo da GRI na visão de organizações brasileiras. Dentre as críticas, destacam-se

um modelo de relatório pouco atraente, a não sinceridade de todas as organizações

ao reportarem as informações, a ausência de padrão para o modelo de relatório final,

o nível de classificação da aplicação do relatório pode gerar confusão com o nível de

desempenho em sustentabilidade da organização, a dificuldade no desenvolvimento

do processo de engajamento das partes interessadas por ausência de uma referência

objetiva para esse processo e a utilização do relatório como parte complementar de

análise por falta de informações financeiras que são de análise obrigatória.

Todavia, neste estudo compreende-se que a utilização das diretrizes da GRI, como

referência para a elaboração dos RS, viabiliza certa padronização e a comparabilidade

entre os relatórios, além de servir como orientação contínua para uma gestão

organizacional focada em requisitos que podem contribuir para o Desenvolvimento

Sustentável e para a divulgação dos resultados de desempenho da sustentabilidade

organizacional, conforme os manuais de diretrizes da GRI (2013; 2013a). Mesmo que

autores como Ferreira-Quilice e Caldana (2015) apresentem críticas sobre a real

viabilização da comparabilidade dos RS promovida pelas diretrizes da GRI, estas

trabalham com um conjunto de conteúdos, chamados de padrões específicos, que

precisam ser apresentados pelas organizações, na forma de programas, práticas,

2 Fundada em 1997, a GRI é uma organização sem fins lucrativos, com sede em Amsterdã, na Holanda. A criação da organização foi uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environmental Program – UNEP) e da Coalisão para Economias Ambientalmente Responsáveis (Coalition for Environmentally Responsible Economies – CERES) com o propósito de elaborar um documento de referência e orientador para a elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) e apresentação de suas informações e que pudessem ser utilizados voluntariamente pelas diferentes organizações no mundo.

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iniciativas ou de indicadores. Esses conteúdos são divididos nas categorias

econômica, ambiental e social, constituindo os três pilares da sustentabilidade,

reconhecidos objetivamente nas diretrizes da GRI. Diferentemente das categorias

econômica e ambiental, a categoria social ainda se divide nas subcategorias: (i)

práticas trabalhistas e trabalho decente, (ii) direitos humanos, (iii) sociedade e (iv)

responsabilidade pelo produto.

Em relação à evolução dessas diretrizes, os Relatórios de Sustentabilidade das

organizações que as utilizam e publicados a partir de 1999 foram estruturados com

base nas diferentes versões propostas pela GRI. A versão G1 foi publicada em 2000;

a versão G2, em 2002; a G3, em 2006; a G3.1, em 2011; a versão G4, em 2013,

conhecida como GRI – G4 (objeto desse estudo) e, em 2016, foram lançadas as

Normas GRI.

De acordo com Terreo (2014), a evolução das diretrizes da versão G1 para a G3

compreendeu mudanças em seu conteúdo que objetivaram maximizar a clareza

dessas diretrizes, permitindo maior compreensão das organizações em relação aos

princípios a serem adotados na elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade. De

maneira complementar, o aperfeiçoamento da versão G3 para a G4 consistiu em

melhoria da qualidade técnica dos indicadores e protocolos, estabelecimento de

requisitos prescritivos sobre a materialidade3 das informações apresentadas no RS e

sobre a cadeia de fornecedores das organizações. Em contrapartida, o lançamento

das Normas GRI contempla maior clareza dos elementos mandatórios e opcionais

para o relato, esclarecimentos conceituais e são distribuídos em trinta e seis (36)

documentos, divididos em normas universais e normas específicas das dimensões

sociais, econômicas e ambientais. Observa-se que as mudanças estruturais não

representam uma nova versão das diretrizes da GRI no que tange ao conteúdo.

Ademais, mesmo que as diretrizes da GRI estejam focadas nos três pilares principais

da sustentabilidade, ressalta-se, nas discussões propostas por autores como Sachs

(1993), outros pilares da sustentabilidade são contemplados, tais como, o político e o

3 A materialidade representa a relevância das informações apresentadas no RS definida com as partes interessadas, auxiliando-as nas análises e decisões sobre os desempenhos econômico, social e ambiental apresentados pela organização emissora do RS.

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cultural. Entretanto, apesar da relação entre estes pilares e os aspectos sociais, esse

estudo não os discutiu, pois não pertencem à estrutura apresentada pelas diretrizes

da GRI e não são contemplados de forma direta nos seus indicadores. Além disso, a

temática dessa pesquisa é a categoria social dos Relatórios de Sustentabilidade

baseados nas diretrizes da GRI, geração 4, pois o foco do estudo são as práticas

sociais das organizações. Ressaltando, que não é pretensão deste estudo analisar o

contexto de trajetória e inserção política, social e cultural dessas organizações e sim

os relatos de práticas registrados em seus RS.

A dedicação à análise do pilar social da sustentabilidade também é justificada, pois

nas diretrizes da GRI, a categoria social e suas subcategorias se destacam diante da

abrangência e do detalhamento quando comparados às categorias ambiental e

econômica. Este contexto gerou discussões sobre a relação do pilar social proposto

pela GRI com os constructos de Gestão Social da literatura específica.

Essa delimitação possibilita a identificação de possíveis restrições apresentadas no

modelo GRI e nos relatórios de sustentabilidade. Outro fator relevante de acordo com

as pesquisas de Cançado, Tenório e Pereira (2011) é que a gestão social no Brasil

representa um campo em desenvolvimento conceitual, conclusão pautada também

por outros autores como Perret et al. (2009) e Peres Jr. e Pereira (2014), o que atribui

a esta pesquisa possibilidades variadas de discussão. Nesse debate, não se pode

desconsiderar os questionamentos relativos às iniciativas de responsabilidade social,

que se limitam às ações concernentes aos interesses exclusivamente institucionais,

sem de fato buscarem a convergência de atendimento às demandas comuns entre a

organização e as partes interessadas4.

A utilização dessas referências não quer dizer que as organizações compreendam os

conceitos fundamentais dos seus requisitos e que as pessoas envolvidas na

elaboração desses Relatórios possuam o nível necessário de entendimento e de

conhecimento sobre sustentabilidade e seus pilares, que possibilitem a interpretação

correta dos modelos e dos instrumentos utilizados na elaboração adequada desses

4 Partes interessadas e stakeholders são considerados sinônimos. As partes interessadas podem ser internas, como é o caso dos empregados, e externas como os sindicatos, comunidades locais e outros.

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Relatórios. Portanto, a possibilidade de existirem lacunas conceituais ou de

compreensão das diretrizes utilizadas nos RS é que estimularam estudos como o

proposto nessa pesquisa, principalmente, quando se observa especificamente a

categoria social, que está associada a um processo de construção e debate conceitual

de seus construtos e pressupostos.

Nesse contexto, ao refletir sobre as iniciativas de sustentabilidade, na perspectiva da

evolução das organizações e na mudança sobre a questão social no decorrer do

tempo, Dowbor (1999) discute sobre a profunda transformação da área social e sua

relação com as questões econômicas: uma área que se transforma de uma posição

filantrópica e assistencialista, que representa uma tranquilidade às consciências

capitalistas, para uma visão de que a área social se tornou fundamental às atividades

econômicas. Essa mudança no tratamento das questões sociais nas organizações

ainda pode ser percebida uma vez que colocam em pauta elementos relevantes como

a qualidade de vida, a saúde, a educação, a cultura, o lazer e a informação.

Diante desse processo de transformação da área social e da necessidade de

compreender as concepções e os conceitos aplicáveis às práticas sociais

organizacionais divulgadas por meio dos Relatórios de Sustentabilidade, a questão

norteadora desta pesquisa é:

• Como as percepções e concepções sobre a gestão social das organizações e

das pessoas envolvidas na elaboração dos relatórios de sustentabilidade estão

descritas na categoria social das diretrizes da GRI e dos Relatórios de

Sustentabilidade?

O objetivo geral consistiu em analisar a correspondência entre os elementos

caracterizadores de uma gestão social e aqueles da categoria social das diretrizes da

Global Reporting Initiative GRI – G4 e de Relatórios de Sustentabilidade, no ano de

2015, tendo em vista o desenvolvimento de intervenção na área de gestão social com

características de inovação social e como potencializadora para o desenvolvimento

local. Logo, cabe salientar que a intervenção proposta como produto técnico desta

pesquisa foi orientada pela potencialidade de criação de valor para os grupos sociais

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e para as demais partes interessadas nas práticas sociais promovidas por

organizações e na difusão do conhecimento gerado da análise dessas práticas,

alinhado com os estudos de Bignetti (2011) sobre inovação social.

Foram três os objetivos específicos propostos:

I. Realizar revisão teórica sobre as temáticas: Desenvolvimento Sustentável,

Relatórios de Sustentabilidade, Diretrizes da GRI, Gestão Social e

Responsabilidade Social.

II. Identificar os pressupostos de Gestão Social em Relatórios de

Sustentabilidade 2015 de organizações brasileiras, elaborados à luz das

diretrizes da GRI.

III. Analisar as percepções de Gestão Social dos profissionais responsáveis

por Relatórios de Sustentabilidade de organizações brasileiras que utilizam

como referência as diretrizes da GRI.

IV. Elaborar um guia para avaliação das práticas sociais organizacionais para

a promoção da inovação social em prol da sustentabilidade e do

desenvolvimento local.

Nesse contexto, ao observar os RS elaborados conforme a GRI e a aplicação dos

conceitos de GS às organizações relatoras de RS foram elaboradas as seguintes

premissas para verificação por meio dessa pesquisa:

• A categoria social do GRI possui requisitos alinhados aos principais

constructos de gestão social.

• A categoria social nos Relatórios de Sustentabilidade analisados não

apresenta os constructos de gestão social em seu processo de elaboração

ou em sua estrutura.

• As pessoas envolvidas na elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade

não adotam os principais constructos de gestão social nesse processo.

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• Os Relatórios de Sustentabilidade de acordo com as diretrizes da GRI – G4

contribuem com o aperfeiçoamento das práticas relativas à gestão social.

• Os Relatórios de Sustentabilidade se restringem à descrição de práticas de

responsabilidade social.

• As práticas de responsabilidade social podem ser aperfeiçoadas na

perspectiva de gestão social.

Baseada nos resultados das análises estatísticas aplicadas à pesquisa documental e

dos resultados das análises de conteúdo da pesquisa de campo, a contribuição

técnica dessa dissertação é um guia para avaliação de práticas sociais

organizacionais de sustentabilidade, desenvolvido na perspectiva da gestão social

relacionada às diretrizes do GRI e dos desafios e, ou, lacunas de compreensão

conceitual e prática identificados na pesquisa. Assim, o guia servirá como fonte de

informações e aprendizado para a melhoria do desempenho organizacional,

contribuindo com a dimensão social do Desenvolvimento Sustentável.

Esse material será destinado aos profissionais que elaboram, contribuem ou avaliam

informações para os Relatórios de Sustentabilidade, estudantes, pesquisadores,

líderes que tenham contato com o pilar social da sustentabilidade ou que precisam

compreender melhor esse pilar para colocá-lo em prática, assim como para os

cidadãos que possuam interesse por essa temática. Este guia se aplica às práticas

sociais de organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos.

Justificativa

A proposta de estudar a categoria social dos Relatórios de Sustentabilidade baseados

nas diretrizes da GRI-G4, justifica-se pela correlação interdisciplinar e

interdependente entre as práticas elencadas na categoria social dos Relatórios de

Sustentabilidade, orientados pelas diretrizes da GRI e pelas discussões dos

constructos e pressupostos referentes à gestão social. Tal proposta propiciará

reflexões, ajustes ou, até mesmo, novos direcionamentos para as práticas sociais

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registradas pelas organizações, pois a gestão social (como um processo contínuo de

relação social entre as organizações e sociedade) pode ser promovida por práticas

sociais organizacionais, desde que estas consigam ultrapassar a abordagem

tecnicista e administrativa do termo gestão, conforme proposto pelas reflexões de

Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012).

A adequada compreensão das diretrizes da GRI e dos constructos de gestão social

nas organizações podem contribuir com o Desenvolvimento Sustentável e com a

integração sistêmica dos pilares da sustentabilidade, ao considerar que a

sustentabilidade é discutida inicialmente na relação entre sociedade, ambiente e fator

econômico, na perspectiva do desenvolvimento. O que inclui, no contexto das

organizações, a necessidade de amadurecimento das práticas reconhecidas como de

responsabilidade social para uma percepção ampliada das relações emancipatórias

sociais, como aquelas propostas por Maia (2005) e Cançado, Tenório e Pereira (2011)

em seus estudos.

Essas percepções são propícias às inovações sociais e ao desenvolvimento local,

uma vez que o amadurecimento das iniciativas, reconhecidas como de

responsabilidade social, pode se estruturar na perspectiva de ações promovidas e

promotoras de gestão social, maximizando os resultados de desenvolvimento para as

organizações e suas partes interessadas e para os territórios onde realizam suas

atividades.

Desta forma, a potencialidade de contribuição das práticas e dos resultados do pilar

social da sustentabilidade organizacional é maximizada e permite contribuição efetiva

aos objetivos propostos para um DS. Na perspectiva da gestão social, as adequações

não se limitam às práticas, mas também ao processo de gestão da sustentabilidade

organizacional, como um processo participativo, dialógico e democrático,

pressupostos de gestão social elencados por Maia (2005), Pimentel et al. (2011) e

Cançado, Tenório e Pereira (2011). Processo este que se alinha à necessidade

apresentada no documento O futuro que queremos5 da ONU (2012), resultante da

5 O futuro que queremos é o documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que apresenta as proposições acordadas entre as delegações dos Estados-Membros da ONU e demais especialistas envolvidos para um Desenvolvimento

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Rio+20, ao propor melhoria na integração dos aspectos econômicos, sociais e

ambientais em todos os níveis, sejam eles, internacionais, nacionais, regionais e

locais, e ainda nas organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos e na

sociedade.

É nesta necessidade de integração desses aspectos que se destacam as diretrizes

da GRI, como uma ferramenta reconhecida mundialmente por empresas, poder

público e organizações não govermentais (ONG), para o alinhamento e disseminação

da prática de elaboração de Relatórios de Sustentabilidade, que contribuem para a

melhoria da comunicação de informações de sustentabilidade para os públicos de

interesse permitindo, assim, a comparabilidade das informações prestadas e,

consequentemente, das ações desenvolvidas. As diretrizes da GRI ainda tornam

possível analisar as diferentes práticas, quando são compreendidos os elementos

ambiental, social e econômico em um processo contínuo de aperfeiçoamento.

Todavia, não se pode deixar de ressaltar que os RS que utilizam como referência as

diretrizes da GRI também possuem gargalos como os identificados pela pesquisa de

Oliveira et al. (2014), dos quais se destacam a apresentação de informações limitadas

em alguns RS; a ausência de demonstração das externalidades negativas das

organizações relatoras; o nível de subjetividade da seleção dos indicadores que serão

contemplados nos RS e, até mesmo, a padronização da apresentação das

informações entre as organizações, o que inclui a periodicidade das informações

relatadas.

Para a área de concentração do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local (PPG-GSEDL), Inovações Sociais e

Desenvolvimento Local, essa pesquisa possui relevância quando se percebe que as

diretrizes da GRI e os RS, objetos dessa análise, são considerados como

instrumentos ou iniciativas estratégicas de Desenvolvimento Sustentável e estimulam

a promoção de inovações nas organizações que os implementam.

Sustentável. Neste documento foi destacado que a erradicação da pobreza é o maior desafio global para o Desenvolvimento Sustentável.

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Ao observar os requisitos básicos definidos pela GRI, pode-se perceber o estímulo ao

processo de inovação, quando essas diretrizes definem como um dos seus princípios

de relato, a publicação da melhoria do desempenho dos seus indicadores e das

iniciativas organizacionais apresentadas nos seus RS, permitindo que as partes

interessadas consigam analisar mudanças no desempenho das organizações no

decorrer do tempo. Para isso, novas ações de aperfeiçoamento das práticas e

resultados sociais precisam ser tomadas em esfera local e com repercussão global, o

que representa um ambiente promissor para a inovação social no contexto do

desenvolvimento de parcerias, promoção e estímulo da participação social, geração

do conhecimento em rede e observância das reflexões propostas para o DS no

Relatório de Brundtland6.

Na linha de pesquisa, Gestão Social e Desenvolvimento Local, este estudo é

importante na perspectiva de que a implantação, avaliação e prestação de contas

sobre a sustentabilidade praticadas pelas organizações, do Primeiro, Segundo e

Terceiro Setores, podem contribuir com o Desenvolvimento Local e a partir deste,

caminhar para o alcance de um Desenvolvimento Sustentável. Neste contexto,

considera-se que as ações organizacionais que contribuem para o DS precisam ser

capazes de promover a transformação local com impactos socioambientais e

econômicos positivos que, no âmbito do Desenvolvimento Local, torna-se elemento

relevante para a proposta de Desenvolvimento Sustentável na dimensão global.

Assim, essas organizações buscam uma validação de sua gestão da e para a

sustentabilidade, orientada por diretrizes reconhecidas mundialmente, como as da

GRI, comunicando suas ações e resultados para as partes interessadas, o que

estimula a continuidade e a melhoria dessas práticas, seja na esfera social, seja na

ambiental, seja na econômica, conforme os atuais pilares adotados pela GRI.

Portanto, as reflexões de pesquisa orientadas pela Gestão Social e Desenvolvimento

Local ainda podem permitir suporte às práticas de sustentabilidade entre os diferentes

setores da sociedade, poder público, iniciativa privada e ONG. Além disso, tais

6 O Relatório de Brundtland é um documento elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em 1987 e nomeado de Our Common Future (Nosso Futuro Comum). Esse Relatório discute sobre os padrões de desenvolvimento pautados no consumo, destaca a concepção de desenvolvimento sustentável e elenca um conjunto de propostas necessárias para que esse desenvolvimento seja alcançado.

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reflexões podem promover, de forma efetiva, a mobilização dos sujeitos que possuem

interesse nessas organizações, resultante de um amadurecimento do conhecimento

dos pilares da sustentabilidade; no caso específico desse estudo, maior conhecimento

do pilar social. Esse amadurecimento contribuirá com os debates teóricos na área de

gestão social, assim como, contribuirá com a construção de soluções alternativas e

inovadoras para a gestão do Desenvolvimento Sustentável a partir de ações

promovidas no contexto do desenvolvimento local, reconhecendo que ao trabalhar

uma prática no âmbito social, ela irá contemplar os aspectos internos e externos das

organizações7, o que inclui as questões de desenvolvimento local e o protagonismo

dos sujeitos como cidadãos.

A trajetória acadêmica do pesquisador é pautada em uma formação com foco na

gestão da sustentabilidade. Já o percurso profissional possibilitou ao pesquisador a

implantação e manutenção de práticas e indicadores de sustentabilidade que

contribuíram para a elaboração de RS e processos de verificação e validação das

informações relatadas nesses documentos. Logo, este trabalho permitiu uma

avaliação crítica relacionada às práticas com as quais o pesquisador já teve e tem

contato em sua vida profissional, mas sob uma perspectiva diferenciada pelo nível de

detalhamento agregado à análise do pilar social e pelo debate estruturado dos temas

Desenvolvimento Sustentável, sustentabilidade organizacional, Gestão Social e

práticas socioambientais em uma posição de pesquisador e não mais como parte

envolvida no processo de elaboração dos RS.

Esta pesquisa ainda corroborou com a formação do pesquisador atribuindo estudos

interdisciplinares à sua formação, além de contribuir com o seu trabalho docente em

disciplinas nas áreas de gestão ambiental e gestão empresarial. Portanto, este

trabalho ampliou os conhecimentos sobre os modelos de sustentabilidade

desenvolvendo maior consistência técnica e crítica em relação às diretrizes e

instrumentos que têm como objetivo promover o Desenvolvimento Sustentável, a

partir da ação individual (organizacional) como preconiza o Relatório de Brundtland.

7 Os aspectos internos das organizações correspondem principalmente às questões relacionadas aos seus processos e controles internos, assim como relativos ao público interno da organização como os empregados, líderes e outros. Os aspectos externos estão vinculados às relações externas da organização as demais partes interessadas, como fornecedores, comunidades locais, poder público e outros, e também vinculado às ações externas ao contexto das operações da organização.

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Estrutura da dissertação

A dissertação está estruturada em três capítulos além desta Introdução e das

Considerações Finais. Cada parte possui informações que estão inter-relacionadas

pela lógica de desenvolvimento da pesquisa. Os capítulos possuem a estrutura de

artigos científicos que articulam cada etapa da pesquisa, conforme apresentado na

Nota Introdutória.

O primeiro capítulo apresenta uma revisão de literatura, resultante de estudos e

pesquisa bibliográfica sobre Desenvolvimento Sustentável e sustentabilidade,

Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI e, por fim, sobre Gestão Social

e Responsabilidade Social, no período de 1991 a 2017.

Neste capítulo, a revisão de literatura apresenta debates sobre o desenvolvimento e

Desenvolvimento Sustentável e, para este, buscou elementos que não se limitam à

abordagem ambiental do conceito. Nesta perspectiva, discutiu-se sobre as dimensões

do desenvolvimento: social, econômica, cultural, ecológica, política e territorial e a

apresentação de conceitos de sustentabilidade para que se consiga compreender a

amplitude do tema e a necessidade de sua delimitação para uma abordagem clara e

aplicada ao contexto desse estudo. Isto se tornou relevante, pois a pesquisa

contempla como objeto de estudo, organizações privadas, públicas e entidades da

sociedade civil sem fins lucrativos e a mitigação de vieses na compreensão de

sustentabilidade na realidade dessas organizações.

Este primeiro capítulo também se dedicou a apresentar a importância dos Relatórios

de Sustentabilidade na descrição das informações referentes às práticas e aos

resultados das organizações que contribuem para o DS. Logo, como as diretrizes da

GRI são referências mundiais para a elaboração desses relatórios, e também por

constituírem objeto dessa pesquisa, foram descritas a estrutura delas e sua

metodologia para o desenvolvimento dos relatos de sustentabilidade.

Ademais, o capítulo um (1) aborda a caracterização da Gestão Social e da

Responsabilidade Social, buscando revelar seus elementos de convergência e

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divergência além de se dedicar, de forma significativa, a definir quais são os

pressupostos de Gestão Social resultantes da análise da discussão de artigos como

Dowbor (1999), Tenório (2009) e Cançado, Tenório e Pereira (2011). Esta etapa de

caracterização da Gestão Social se consolida na definição desta pesquisa, e também

na definição dos construtos que serão utilizados como referência para as análises dos

resultados das pesquisas (documental e de campo) apresentadas no capítulo dois (2).

Assim, o segundo capítulo da dissertação dedica-se à análise documental dos doze

(12) Relatórios de Sustentabilidade selecionados como objeto de estudo. Para esses

relatórios, foram avaliadas e classificadas as informações da categoria social ao

agrupar o conjunto desses indicadores nas organizações analisadas. Neste capítulo,

também foram analisados os conteúdos obtidos nas entrevistas com profissionais

responsáveis pelos RS de quatro (4) das organizações estudadas. Nesta fase,

utilizou-se o software Iramuteq para a organização e classificação dos dados

coletados e foram relatadas as percepções sobre as categorias: (i) Gestão Social

aplicada à sustentabilidade organizacional; (ii) concepção e elaboração do RS; (iii)

partes interessadas e materialidade8 dos RS e (iv) práticas socioambientais para a

sustentabilidade organizacional.

Com base nesses resultados, foi possível identificar como as percepções e

concepções sobre a Gestão Social das organizações estão presentes nos Relatórios

de Sustentabilidade e quais constructos de Gestão Social foram encontrados nas

diretrizes da GRI, nos RS e nas percepções dos profissionais dessas organizações

que se dedicaram a elaboração desses relatórios.

Por fim, o terceiro capítulo aborda as reflexões relativas às inovações sociais e ao

desenvolvimento local e como essas se tornam referência para os debates sobre os

resultados alcançados das práticas de sustentabilidade nas organizações analisadas.

Logo, o capítulo três (3) congrega o conjunto de aprendizados oriundos dos estudos

do primeiro e segundo capítulos, tanto no desenvolvimento de práticas e alcance dos

resultados relacionados ao pilar social da sustentabilidade, quanto no

8 Também chamada de relevância. Constitui um item dos RS no modelo da GRI que fornece informações necessárias para subsidiar as partes interessadas em suas decisões sobre os desempenhos econômico, social e ambiental da organização relatora.

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aperfeiçoamento dos RS. O capítulo também apresenta um guia para avaliação de

práticas sociais organizacionais de sustentabilidade, composto por um modelo

estruturado de fatores concernentes à gestão social que podem contribuir para o

monitoramento de práticas sociais como as de responsabilidade social, assim como

fomentar o aperfeiçoamento dessas iniciativas. Espera-se neste capítulo demonstrar

que o produto técnico e de intervenção desenvolvido com base nesse estudo, possua

características de inovação social e que seja potencializador para o desenvolvimento

local conforme conceituações apresentadas no primeiro capítulo.

A Figura 1 ilustra a sistematização da estrutura desta dissertação e os elementos que

podem ser observados em cada uma das partes.

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Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 1 – Sistematização da estrutura da dissertação.

Capítulo 1

Capítulo 2

Artigo de relato de pesquisa sobre os RS e as diretrizes da GRI na perspectiva da Gestão Social, apresentando a metodologia de análise, os resultados e discussão desse estudo.

Capítulo 3

Artigo de apresentação do produto técnico com o objetivo de intervenção na realidade por meio de guia para avaliação de práticas sociais que possui como referência a aplicação dos conceitos de Gestão Social para o aperfeiçoamento de inicitativas de sustentabilidade das organizações e dos seus RS, no contexto da inovação social e do desenvolvimento local.

Introdução

Apresenta o tema, problema, questão central da pesquisa, hipóteses, objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos da dissertação.

A

B

Considerações finais

Apresenta as considerações finais da dissertação diante do conjunto de resultados e reflexões da pesquisa; as limitações da pesquisa e a sugestão para trabalhos futuros.

C

Referências

Apresenta as referências utilizadas nas partes de introdução e considerações finais, quando aplicáveis.

D

Apêndices e Anexos

Apresenta os apêndices e os anexos de todas as partes da dissertação. E

Artigo de revisão de literatura da pesquisa que dialoga sobre os temas:

• Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. • Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI. • Gestão Social e Reponsabilidade Social.

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CAPÍTULO 1

OS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE COMO INSTRUMENTOS DE

GESTÃO SOCIAL PARA AS ORGANIZAÇÕES

THE SUSTAINABILITY REPORTS AS INSTRUMENTS OF SOCIAL

MANAGEMENT FOR ORGANIZATIONS

Rafael Alves de Araujo Castilho9

Fernanda Carla Wasner Vasconcelos10

RESUMO O Relatório de Sustentabilidade (RS) tem se consolidado como um dos instrumentos utilizados pelas organizações para a comunicação das suas práticas e do seu desempenho em relação aos pilares do Desenvolvimento Sustentável (DS). Referenciais para a elaboração e aperfeiçoamento desses relatórios são necessários e as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) se despontam como um dos parâmetros utilizados em todo o mundo e também pelas organizações brasileiras, o que atribui materialidade e comparabilidade aos relatos. Logo, o objetivo deste artigo é identificar a convergência entre os conceitos de DS e Sustentabilidade e os constructos de Gestão Social no contexto das práticas de sustentabilidade organizacional e dos RS. A metodologia deste estudo apresenta abordagem qualitativa de cunho descritivo, com a utilização de procedimentos que incluem a realização de uma pesquisa bibliográfica para suporte teórico desenvolvido por meio de uma revisão de literatura sobre os temas: DS, Sustentabilidade, RS, GRI, Gestão Social e Responsabilidade Social. Como resultado, constatou-se que os desafios do DS fomentam os requisitos das diretrizes da GRI e consequentemente dos Relatórios de Sustentabilidade, contudo, observou-se que existe uma convergência teórica entre os pressupostos de Gestão Social e as potencialidades de aperfeiçoamento e inovação das práticas relacionadas ao pilar social da sustentabilidade organizacional, a partir das ações de responsabilidade social. Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Global Reporting Initiative. GRI. Sustentabilidade. Responsabilidade Social.

9 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. 10 Doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].

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ABSTRACT The Sustainability Reports (SR) has been consolidated as one of the instruments used by organizations for the communication of its practices and performances related to the Sustainable Development (SD) pillars. References for the elaboration and improvement of these reports are necessary and the guidelines of the Global Reporting Initiative (GRI) emerge as one of the parameters used throughout the world and also by the Brazilian organizations, attributing materiality and comparability to the reports. Therefore, the objective of this article is to identify the convergence between the concepts of SD and Sustainability and the Social Management constructs in the context of the practices of organizational sustainability and SR. This study methodology presents a descriptive qualitative approach, with the use of procedures that include the accomplishment of a bibliographic research for theoretical support developed through a literature review on the themes: SD, Sustainability, SR, GRI, Social Management and Social responsibility. As a result, it was found that the challenges of the SD promote the requirements of the GRI guidelines and consequently of the Sustainability Reports. However, it was observed that there is a theoretical convergence between the Social Management assumptions and the potential for improvement and innovation of practices related to the social pillar of organizational sustainability, based on social responsibility actions. Keywords: Sustainable Development. Global Reporting Initiative. GRI. Sustainability. Social Responsibility.

1 INTRODUÇÃO

O modelo de desenvolvimento, atualmente pautado no consumo e direcionado ao

crescimento econômico, não permitiu o alcance da esperada qualidade de vida das

comunidades nem a conservação dos ecossistemas naturais. Portanto, repensar este

modelo fomenta a avaliação das ações de sustentabilidade como aquelas promovidas

e divulgadas pelas organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos. Logo, para

uma avaliação estruturada dessas iniciativas, presentes nos Relatórios de

Sustentabilidade (RS), emergem os desafios de compreender e equilibrar os múltiplos

elementos que compõem a sustentabilidade e a necessidade de refletir sobre o que

representa um desenvolvimento realmente sustentável.

Segundo Pelicioni (1998), um novo paradigma é estabelecido pela sociedade atual,

pautado na necessidade de opções econômicas e tecnológicas diferentes daquelas já

utilizadas, que sejam capazes de sustentar o atendimento das demandas dos povos,

considerando as diversidades ecológicas, sociais e culturais.

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O objetivo dessa revisão teórica é identificar a convergência entre os conceitos de

Desenvolvimento Sustentável (DS) e Sustentabilidade e os constructos de Gestão

Social no contexto das práticas de sustentabilidade organizacional e dos RS. Para

isso, a metodologia adotada nesta seção apresenta natureza qualitativa e é descritiva

quanto aos fins. O procedimento inclui a realização de uma pesquisa bibliográfica,

com enfoque nos temas Desenvolvimento Sustentável, Sustentabilidade e seus

pilares, Relatórios de Sustentabilidade, Global Reporting Initiative (GRI), Gestão

Social e Responsabilidade Social, a partir de um levantamento realizado nos sites:

Google Acadêmico, IBICT e SCIELO, considerando publicações científicas, do

período de 1991 a 2017.

O referencial teórico deste trabalho dividiu os temas da pesquisa bibliográfica em três

blocos norteadores. O primeiro deles relaciona-se ao desenvolvimento sustentável

(DS) e sustentabilidade: conceitos e objetivos. O segundo se refere aos Relatórios de

Sustentabilidade (RS) como elemento fundamental para o aprimoramento das

organizações visto a divulgação de suas práticas ambientais, sociais e econômicas,

com ênfase no conceito e na caracterização das diretrizes propostas pela Global

Reporting Initiative (GRI). Por fim, são apresentados pressupostos e concepções de

gestão social aplicáveis às práticas de desenvolvimento sustentável, descritas nos

relatórios de sustentabilidade.

Assim, a investigação teórica sobre elementos conceituais desta revisão de literatura

buscou o resgate de significados e sentidos dos termos DS, Sustentabilidade e GS

para que, no desenvolver da pesquisa, fosse possível avaliar de forma estruturada as

iniciativas do pilar social da sustentabilidade apresentadas pelas organizações nos

seus RS. Entretanto, outros propósitos compuseram esta revisão, como esclarecer a

convergência e divergência entre a Responsabilidade Social e GS, consolidar as

percepções sobre os constructos de GS e compreender a origem e a estrutura das

diretrizes da GRI e dos RS.

Por conseguinte, a palavra sustentabilidade aplicada aos diversos contextos para os

quais não há uma significação precisa, implica na banalização do uso da palavra,

desconsiderando o seu propósito fomentador de iniciativas eficazes para um

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desenvolvimento considerado sustentável. O mesmo acontece com o termo gestão

social. Em ambos os casos, torna-se premente a análise aprofundada dos constructos

que permitam evidenciar o real propósito destes termos no sentido de não limitar o

uso das palavras social e sustentabilidade como adjetivos. Portanto, quando as

análises e o uso consciente da sustentabilidade e da GS são aplicados aos RS, estes

(análise e uso consciente) podem representar ferramentas úteis para o estudo de

práticas organizacionais e podem permitir o aperfeiçoamento destas por meio de uma

crítica consistente sobre o que pode torná-las ações concretas em prol do

desenvolvimento sustentável.

1 DESENVOLVIMENTO

1.1 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade

De acordo com Mendes (2009), o conceito de desenvolvimento se associou por um

longo período ao crescimento econômico, desconsiderando a diversidade dos

sistemas sociais, políticos e econômicos existentes, contexto também destacado nos

estudos de Pelicioni (1998). Este modelo de associação pautou-se na crença de que

a geração de riqueza por meio da industrialização fosse capaz de aumentar o bem-

estar social. Todavia, as externalidades socioambientais negativas resultantes dessa

relação desenvolvimento e crescimento, quase não eram observadas. Ratificando

essa mesma abordagem, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento relata que a limitação do uso do termo desenvolvimento foi resultado

do seu emprego contínuo em um processo necessário para o enriquecimento das

nações pobres (CMMAD, 1991).

Nesse contexto, Flores, Vieira e Xaubert (2012) abordam que a preocupação com a

postura de consumo do homem e o esgotamento dos recursos naturais representaram

elementos que incentivaram as discussões das diversas conferências mundiais sobre

esses temas. A partir delas, o debate e a evolução sobre a ciência ambiental foram

maximizados, surgindo novas categorias como o Desenvolvimento Sustentável e a

Governança Ambiental, sendo que a visão socioambiental não mais se limitava à

abordagem técnica do meio ambiente. Portanto, os autores resgatam o termo

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socioambientalismo apresentado por Guimarães (2001), termo que corresponde ao

dever das políticas públicas ambientais em incluir e envolver as comunidades locais,

considerando seus conhecimentos e práticas de manejo ambiental. Assim, um país

pobre e com tantas desigualdades sociais não pode se restringir à promoção da

sustentabilidade ambiental, mas sim colocar na agenda de a sustentabilidade social

como agente que promove valores como a justiça social e a equidade. Através da GS,

esse país deveria contribuir para a redução da pobreza e das desigualdades sociais,

considerar e valorizar a diversidade cultural e consolidar o processo democrático no

país por meio da ampla participação social na gestão ambiental.

Assim, é válido compreender a inter-relação entre pobreza, desigualdade e

degradação ambiental e que estas representam o desperdício de oportunidades e de

recursos, mas estimulam o propósito de mudanças sob a perspectiva econômica

integrada aos elementos socioambientais correlatos. Assumindo o compromisso de

se repensar o crescimento e seus efeitos, que se delimitou o conceito de DS, no

Relatório de Brundtland, em 1987. Todavia, a apresentação conceitual de DS nesse

documento, bem como as variáveis que precisam ser observadas para o seu alcance,

não possuem como propósito limitar os debates sobre o desenvolvimento, o

crescimento econômico, a influência humana e os impactos sociais e ambientais.

Neste interim, Dias (2004) ressalta que na Conferência de Estocolmo, em 1972, a

Declaração da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre o Meio Ambiente

Humano, cita que, para a garantia de uma vida e de um trabalho adequados ao

homem, é fundamental a criação de condições favoráveis à melhoria da qualidade de

vida no nosso Planeta e à promoção do desenvolvimento tanto no âmbito econômico

quanto no social.

Esclarecendo o breve relato anterior, em 1987, o Relatório Nosso Futuro Comum

conceitua Desenvolvimento Sustentável (DS) como um processo de mudança no qual

a relação entre as necessidades atuais e futuras definirá o perfil de exploração dos

recursos naturais e humanos, a orientação dos investimentos, os caminhos e objetivos

do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional. O Relatório afirma que: “A

humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável – de garantir que ele

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atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações

futuras antederem também às suas.”

A delimitação conceitual do DS, recortada do Relatório de Brundtland, destaca o

trecho referente à capacidade da humanidade em promover um novo perfil de

desenvolvimento. Este trecho geralmente é suprimido pelas pessoas ao divulgarem

tal conceito, o que permite uma interpretação isenta do sujeito responsável pela

mudança que se faz necessária. Portanto, a perspectiva de uma nova fase de

crescimento econômico, na qual as questões socioambientais atuais sejam

consideradas, assim como, as das futuras gerações, ainda é carente ou limitada por

questões tecnológicas e de organização social. Entretanto, o aperfeiçoamento da

relação homem-natureza está pautado na observância da resiliência do planeta diante

das ações antrópicas, na própria sensibilização em relação às responsabilidades

pelas mudanças, no atendimento às necessidades básicas das pessoas e na criação

de condições para melhoria da qualidade de vida que as pessoas desejarem

(CMMAD, 1991).

Gro Harlem Brundtland11 ressalta, no prefácio do relatório, a importância do homem e

do pilar social nas discussões sobre o Desenvolvimento Sustentável e aponta o

equívoco dessa Comissão em considerar a importância somente das questões

ambientais, visto que o meio ambiente não é um elemento desvinculado das ações,

das ambições e das necessidades humanas.

Portanto, quando a CMMAD (1991) destaca o atendimento às necessidades básicas

das pessoas, com ele estão abordadas questões fundamentais como a garantia da

equidade, assegurada por sistemas políticos que contemplem de forma estruturada a

participação cidadã e democrática no processo decisório em âmbito internacional, o

que neste momento, cabe salientar que ainda é um desafio promover este sistema em

nível nacional.

11 Gro Harlem Brundtland é uma médica norueguesa, líder internacional de assuntos referentes ao DS e saúde pública e foi nomeada Primeira Ministra da Noruega, em 1981. Possui atuação política, diplomática e no período de 1983 e 1987 presidiu a Comissão da ONU que levou seu nome, Comissão de Brundtland, que se dedicou aos estudos sobre a relação entre as questões ambientais e o progresso.

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Prosseguindo nessas reflexões, Sachs (1997) pondera que o desenvolvimento é

diferente e mais abrangente que o crescimento econômico, mas ainda não inclui, de

maneira suficiente e de forma sistêmica, as dimensões ética, política, social,

ecológica, econômica, cultural e territorial. Logo, o compromisso da Organização das

Nações Unidas (1995) com o conceito de desenvolvimento sustentável foi reafirmado

pela Declaração de Copenhague12 diante dos problemas globais da esfera social

(pobreza, desemprego e exclusão social), tais como, desigualdades inerentes aos

sistemas econômicos pautados em má distribuição da renda e privações de direitos

aos grandes grupos populacionais; inadequados padrões de utilização de recursos e

dos modelos de produção e consumo; priorização das pesquisas tecnológicas para

resultados que não objetivam a satisfação das necessidades básicas e da privação

das vidas humanas do direito de trabalhar, da vida decente e da oportunidade de

manifestar suas potencialidades humanas. (ALVES, 1997; SACHS, 1997;

CALEGARE; SILVA JÚNIOR, 2011; JACOBI; GIATTI, 2015).

Logo, é a partir do conhecimento do histórico dos debates sobre o DS e dos elementos

que o compõem que se fortalece a análise crítica sobre o comportamento individual e

coletivo, do modelo de consumo e das relações sociais, políticas e econômicas

estabelecidos pela sociedade, fomentando a necessidade de se compreender

conceitualmente a sustentabilidade e perceber o papel deste termo quando

relacionado ao DS.

Portanto, Veiga (2014, p. 19) traz uma reflexão que contribui com o debate da

sustentabilidade para esta pesquisa quando diz que no âmago da sustentabilidade

“está uma visão de mundo dinâmica, na qual transformação e adaptação são

inevitáveis, mas dependem de elevada consciência, sóbria precaução e muita

responsabilidade diante dos riscos e, principalmente, das incertezas”. A partir desta

conclusão, o autor invoca a importância de um avanço sobre uma governança global

e de cooperação de forma sinérgica.

12 Documento resultante da Cúpula Mundial da ONU realizada capital da Dinamarca, Copenhague, em 1995, cúpula que representou o primeiro encontro internacional sobre desenvolvimento social (ALVES, 1997).

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Conforme Sartori, Latrônico e Campos (2014), o conceito de sustentabilidade é

complexo e contínuo, com diferentes abordagens resultantes de um processo histórico

e da tomada de consciência sobre os aspectos ambientais, econômicos e sociais. As

autoras consideram a sustentabilidade como um princípio de interação com sistemas

abertos e dinâmicos como os industriais, sociais e naturais e naqueles em que há a

interação entre a sociedade e a natureza. As autoras ainda relatam que a

sustentabilidade é entendida, por alguns autores como objetivo final, e o

Desenvolvimento Sustentável como o processo para alcançá-la. Tal relação percebida

de forma inversa por outros autores.

Nessa perspectiva, Dovers e Handmer (199213 apud SARTORI; LATRÔNICO;

CAMPOS, 2014) conceituam a sustentabilidade como a resiliência de um sistema

humano, natural ou misto às alterações endógenas ou exógenas por tempo

indeterminado, considerando o DS como um caminho intencional e de melhoria deste

atributo do sistema para o atendimento das necessidades da população. Todavia,

para Elkington14 (199415 apud SARTORI; LATRÔNICO; CAMPOS, 2014), o que

representa o objetivo final é o DS, que deve ser alcançado pelo processo de

sustentabilidade, considerando que as empresas precisam contribuir com esse

processo para que tenham um ambiente de mercado estável e habilidades que

permitam realizar a transição do modelo de desenvolvimento vigente para o DS.

Entretanto, independentemente destas percepções da sustentabilidade como objetivo

final ou de processo, para compreendê-la conceitualmente é necessário conhecer

suas características e desafios.

Assim, nos estudos de Flores, Vieira e Xaubert (2012) constam que as necessidades

essenciais dos pobres do mundo e a noção das limitações do atual estágio da

tecnologia e da organização social impedem o atendimento à prerrogativa do DS que

é suprir as necessidades das presentes e futuras gerações. Esses autores reforçam

13 DOVERS, S.R.; HANDMER, J.W. Uncertainty, sustainability and change. Global Environmental Change, v. 2, n. 4, p. 262-276, 1992. 14 John Elkington foi o fundador da consultoria britânica SustainAbility e criou o termo Triple Botton Line, em português, Tripé da Sustentabilidade. O Triple Botton Line corresponde à inter-relação dos pilares People, Planet e Profits, correspondendo respectivamente aos resultados sociais, ambientais e econômicos de uma organização. 15 ELKINGTON, J. Towards the sustainable corporation: Win-win-win business strategies for sustainable development. California Management Review, v. 36, n. 2, p. 90-100, 1994.

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a abordagem da sustentabilidade para além dos elementos ambientais, sociais e

econômicos, considerando as demandas e os contextos socioculturais das

populações locais em sua diversidade e fomentando a participação da sociedade civil

nos processos decisórios e de gestão.

Portanto, são nos estudos de Mendes (2009) que respostas à ampliação de

abordagem da sustentabilidade destacadas por Flores, Vieira e Xaubert (2012) podem

ser esclarecidas, pois esses estudos vinculam a exigência de aplicações práticas

quando se trata de sustentabilidade. Tais práticas são: ações que estejam engajadas

na garantia do futuro de um determinado lugar; a promoção da qualidade de vida das

pessoas e a dignidade da vida humana; a preservação e a conservação ambiental e

o respeito às pessoas e à sua cultura. Assim, o autor caracteriza a sustentabilidade

como multidimensional, componente de um sistema complexo que insere o ser

humano, composta pela relação interdependente de várias dimensões, o que lhe

atribui a complexidade sistêmica.

Para essa revisão de literatura, serão consideradas como as principais dimensões que

compõem o sistema complexo da sustentabilidade: a sustentabilidade social, a

sustentabilidade ambiental ou ecológica, a sustentabilidade econômica, a

sustentabilidade espacial ou territorial, a sustentabilidade cultural, a sustentabilidade

política, conceitualmente caracterizadas no Quadro 1.1, conforme Sachs (1993),

Foladori (2002) e Mendes (2009).

Quadro 1.1 – Caracterização das dimensões da Sustentabilidade

Dimensões Características

Social

Atendimento às necessidades de recursos materiais e não-materiais da população para maior equidade na distribuição de renda, melhoria dos direitos e da qualidade de vida da população e igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais.

Ambiental ou Ecológica

Representa o equilíbrio, a conservação e a preservação dos ecossistemas, dos recursos abióticos e da integridade climática.

Econômica

Consiste no crescimento econômico pela gestão eficaz de recursos e dos fluxos de investimentos públicos e privados, que não se limita ao acúmulo de riquezas, promovendo a geração de trabalho digno, a distribuição de renda, o desenvolvimento local e suas potencialidades e a diversificação dos setores.

Espacial ou Territorial

Contempla a organização do espaço e a ocupação territorial capaz de recuperar a qualidade de vida e a biodiversidade.

Continua...

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... Continuação

Dimensões Características

Cultural Pautada no respeito à cultura local, promovendo e preservando o equilíbrio contínuo entre história, tradição, valores regionais e inovação.

Política

Baseada na democracia, na promoção dos direitos humanos e na concepção de parcerias e colaboração entre os setores público, privado, não governamental e comunitário, tanto no contexto nacional quando no internacional.

Fonte: Adaptado de Sachs (1993), Foladori (2002) e Mendes (2009).

Mendes (2009) conclui que o atual modelo focado na riqueza por acumulação de

capital não é a garantia da melhoria do bem-estar social e nem atende às

necessidades da sociedade. O autor ainda discute o desafio de estimular o equilíbrio

entre as diferentes dimensões da sustentabilidade, sobretudo perante o modelo

econômico vigente. Porém, em resposta a esses desafios, novas iniciativas são

propostas baseadas na participação da sociedade, na educação e na delimitação dos

parâmetros de desenvolvimento para as novas perspectivas, o que dialoga de forma

direta com a abordagem de Flores, Vieira e Xaubert (2012).

A importância das reflexões sobre os RS e das ações de sustentabilidade são

reforçadas por Mendes (2009), uma vez que as iniciativas de sustentabilidade

organizacionais públicas, privadas e da sociedade precisam ser objeto de

amadurecimento contínuo para a consolidação de um modelo de DS. Para atingir essa

maturidade, é necessário focar na sinergia entre as ações implantadas, na

democratização do processo decisório, na participação social ativa e consciente e no

benefício do bem-estar coletivo.

Contudo, Sachs (1997) considera que o desenvolvimento tem muitas facetas que, no

decorrer do tempo, demonstram a multiplicidade de adjetivos aplicados ao

desenvolvimento e à sustentabilidade. Logo, Sachs (1997) aproveita o debate que

promove sobre o desenvolvimento para introduzir o conceito de desenvolvimento

integral, sintetizando a consideração e a inter-relação dos diversos atributos e

dimensões do desenvolvimento de forma completa e sistêmica e que dialogam com

as dimensões de sustentabilidade apresentadas por Mendes (2009).

Ratificando sobre a multidimensionalidade da sustentabilidade, conforme Ipiranga,

Godoy e Brunstein (2011), os construtos de sustentabilidade merecem um olhar

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holístico e interdisciplinar no contexto das organizações, pois, assim, torna-se possível

materializar o conjunto de princípios que comportam a ideia de sustentabilidade,

ampliando as discussões sobre o assunto para a dimensão da gestão social nas

organizações, possibilitando a reflexão sobre temas como a diversidade, a

responsabilidade social interna, a garantia dos direitos humanos nos contextos interno

e externo à organização, o direito dos trabalhadores bem como os valores de

transparência e da ética e de ações que promovam a participação das partes

interessadas em projetos de cunho social. Todavia, os autores ponderam que, para

que esse olhar holístico e interdisciplinar ocorra em ações concretas, torna-se

necessária a participação dos múltiplos atores interessados neste processo de

mudança.

Além do desafio de participação dos diferentes atores nesse processo de mudança

para o DS, Sartori, Latrônico e Campos (2014) destacam outros desafios relacionados

à sustentabilidade, como a (i) necessidade de integração e equilíbrio nos pilares

propostos pelo Triple Bottom Line, incluindo (ii) a relação com as questões

institucionais na percepção dos impactos futuros das ações atuais, e (iii) a

necessidade de maximizar a conscientização e envolvimento da sociedade.

No que tange ao primeiro desafio relatado no parágrafo anterior, o relatório da Rio+20,

O futuro que queremos, emitido em 2012, destaca a necessidade de melhorar a

integração dos aspectos econômicos, sociais e ambientais em todos os níveis. Neste

Relatório, a ONU reafirma a necessidade de erradicação da pobreza, da mudança dos

modos de consumo e produção e da proteção e gestão dos recursos naturais como

objetivos fundamentais e requisitos essenciais para o DS (ONU, 2012). Ao elencar as

ações necessárias para a concretização do DS, esse documento se aproxima dos

resultados esperados nas práticas de Gestão Social. Assim,

Reafirmamos também que, para a realização do desenvolvimento sustentável, é necessário: promover o crescimento econômico sustentável, equitativo e inclusivo; criar maiores oportunidades para todos; reduzir as desigualdades; melhorar as condições básicas de vida; promover o desenvolvimento social equitativo para todos; e promover a gestão integrada e sustentável dos recursos naturais e dos ecossistemas, o que contribui notadamente com o desenvolvimento social e humano, sem negligenciar a proteção, a regeneração, a

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reconstituição e a resiliência dos ecossistemas diante dos desafios, sejam eles novos ou já existentes. (ONU, 2012, p. 3).

No contexto dos resultados das práticas de Gestão Social, Guimarães e Feichas

(2009) também destacam a necessidade de integração dos diferentes elementos na

mensuração da sustentabilidade para que esses instrumentos efetivamente

monitorem as iniciativas socioambientais em prol do desenvolvimento sustentável.

Assim,

mensurar diferentes dimensões de forma a apreender a complexidade dos fenômenos sociais; possibilitar a participação da sociedade no processo de definição do desenvolvimento; comunicar tendências, subsidiando o processo de tomada de decisões; e relacionar variáveis, já que a realidade não é linear nem unidimensional. (GUIMARÃES; FEICHAS, 2009, p. 310).

Logo, as reflexões apresentadas sobre os desafios relacionados aos resultados da

Gestão Social e de sua mensuração permitem a afirmação de que as organizações

precisam adotar iniciativas que observem de forma integrada o conjunto de dimensões

da sustentabilidade, mas também precisam ter ferramentas e instrumentos capazes

de auxiliar na promoção do equilíbrio entre estas dimensões e entre as diferentes

demandas das partes interessadas, sejam elas, sociedade, empregados, dirigentes e

outros (BRAGA et al., 2005; CAMPOS et al., 2013). Essas relações serão discutidas

posteriormente no item 2.3 deste capítulo.

Assim, a análise do comportamento institucional em prol do DS e do amadurecimento

organizacional em perceber que o homem e suas organizações possuem papel

essencial no processo de transformação desse modelo de desenvolvimento, tornou-

se relevante a divulgação das iniciativas de sustentabilidade promovidas pelas ações,

pelos programas bem como pelos resultados sociais, ambientais e econômicos. Um

dos instrumentos de divulgação utilizado é o RS e sua estrutura está usualmente

organizada com o objetivo de demonstrar de forma clara as informações sobre as

principais dimensões da sustentabilidade organizacional.

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1.2 Os Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI

Atualmente, os RS são um dos principais instrumentos que consolidam as

informações de sustentabilidade das organizações. Contudo Daub (2007) destaca que

estes foram precedidos de três outros tipos de Relatórios: (i) os Sociais, (ii) os

Ambientais e (iii) os Anuais. O primeiro deles, os Relatórios Sociais, foram resultantes

da necessidade de apresentação dos balanços sociais concernentes às atividades

das organizações na década de 1970. Sendo que ao fim da década de 1980, em

alguns casos, esses relatórios iniciaram a inclusão de informações referentes às

questões ambientais e às de saúde e segurança do trabalho, consolidando o que foi

reconhecido como Relatórios Ambientais. Em meados da década de 1990, as

questões éticas, sociais e ambientais relativas às atividades das organizações

começam a ser apresentadas nos relatórios, o que caracterizou os Relatórios Anuais.

No final da década de 1990, as informações se estruturam em uma apresentação

qualitativa e quantitativa das dimensões sociais, ambientais e econômicas da

sustentabilidade, originado os conhecidos Relatórios de Sustentabilidade (DAUB,

2007).

Lozano e Huisingh (2011) compararam as principais diretrizes para os RS,

observando o foco de cada uma delas, as suas vantagens e desvantagens. As

diretrizes objeto desse estudo foram a série de normas ISO 1400116 e EMAS17, a

norma SA 800018, a norma AA 100019 e as diretrizes da Global Reporting Initiative

(GRI), todas de uso voluntário e utilizadas mundialmente. Como conclusão de seus

estudos, os autores observaram que as diretrizes da GRI possuem o escopo mais

amplo e tendem a ser mais frequentemente utilizadas para o reporte da

sustentabilidade organizacional do que as demais diretrizes estudadas e ainda

16 A série de normas ISO 14001 corresponde a um conjunto de normas elaboradas pela International Organization for Standardization (ISO) referentes às diretrizes para a gestão ambiental das organizações. Os estudos de Lozano e Huisingh (2011) focaram, principalmente, a norma ISO 14031 que trata da Avaliação do Desempenho Ambiental. 17 O Eco Management and Audit Scheme (EMAS) é um regulamento de sistema de ecogestão e auditoria voluntário, desenvolvido pela União Européia, para organizações que desejam melhorar e avaliar seu comportamento ambiental. 18 A SA 8000 (Social Accountability 8000) é uma norma internacional certificável para orientar a implantação e auditoria de Sistemas de Gestão de Responsabilidade Social e foi desenvolvida observando as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outras convenções da ONU. 19 A AA 1000 (AccountAbility 1000) foi criada pelo Institute of Social and Ethical AccountAbility (ISEA) e é uma norma que busca assegurar a qualidade da contabilidade, auditoria e relato social ético.

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elencam a GRI como a melhor opção para a avaliação dos RS. Destacam também

como vantagem das diretrizes da GRI, a participação das múltiplas partes

interessadas, mas elenca como desvantagem, o grande número de indicadores que a

constituem o que dificulta a comparação longitudinal e o benchmarking20, podendo

tornar onerosa a coleta de informações para atender a todos os indicadores propostos.

Justificado pelos argumentos dos estudos de Lozano e Huisingh (2011), muitas

organizações, a partir do final da década de 1990, adotaram as diretrizes da GRI como

padrão para a apresentação do conteúdo e formato dos seus RS. Logo, Campos et

al. (2013) relatam que, de acordo com as tendências de mercado, o formato e o

conteúdo dos RS foram se adaptando e evoluindo com o tempo e que muitas

empresas utilizam esse formato como referência para seus relatórios, o padrão

estabelecido pelas GRI. Considerando a importância da GRI nesse processo de

amadurecimento dos RS, os autores ainda destacam que a sua missão consiste em

(i) fomentar a melhoria em qualidade e importância dos RS quando equiparados com

os relatórios financeiros das organizações; (ii) aperfeiçoar continuamente as diretrizes

de relatórios nas dimensões sociais, ambientais e econômicas; (iii) construir uma

instituição global e perene para a gerenciamento das diretrizes elaboradas.

Conforme Daub (2007), os RS representam uma designação para a forma de se

integrar os relatórios de desempenho econômico, ambiental e social, sendo

considerado, no sentido mais estrito do termo Relatório de Sustentabilidade, aqueles

que são públicos e que dizem ao leitor como a organização está cumprindo os

desafios da sustentabilidade corporativa, que pela amplitude desta pesquisa serão

considerados como desafios de sustentabilidade organizacional. O autor também

menciona que os RS precisam conter informações qualitativas e quantitativas que

evidenciam se a organização conseguiu melhorar sua eficácia e eficiência social,

ambiental e econômica, no período definido em seu relatório, além de integrar esses

aspectos à um sistema de gestão da sustentabilidade. O autor ainda reconhece a GRI

como uma instituição de referência mundial que define padrões para as organizações

elaborarem os seus RS.

20 O benchmarking é um processo de busca por melhores práticas de uma determinada organização e que colaboram com melhores resultados de desempenho.

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51

Na perspectiva voluntária da adesão em elaboração e publicação dos RS, Campos et

al. (2013) apresentam objetivos das organizações que optam por esse instrumento,

destacando o apoio e a facilitação na gestão das questões de sustentabilidade das

organizações de forma sistemática e a divulgação dos riscos e oportunidades. Além

disso, os autores ainda relatam que as informações prestadas pelas organizações por

meio dos RS podem atender às demandas emergentes da sociedade e cobranças das

partes interessadas sobre as suas ações de responsabilidade socioambientais bem

como da sua relação com o território na qual estão inseridas. Outros motivadores são

apresentados por Campos et al. (2013), pois as organizações têm percebido os

benefícios correlatos à construção de uma reputação mais transparente e íntegra

perante o desempenho de sustentabilidade, o que fomenta a elaboração de RS que

representam um estímulo para o aprimoramento de ações e, ou, práticas na relação

entre sociedade e meio ambiente.

Assim, as diretrizes da GRI têm sido utilizadas de forma contínua para orientar a

elaboração dos RS estimulando que as organizações pensem e reflitam sobre sua

gestão considerando os pilares da sustentabilidade e tornem tangíveis os resultados

alcançados neste contexto. Portanto, evidenciar uma gestão orientada pela

sustentabilidade, para o DS, torna-se premissa básica para as organizações

contemporâneas de qualquer setor que estejam sensibilizadas do seu papel perante

às mudanças no modelo de desenvolvimento vigente. Logo, ter uma referência para

a elaboração dos RS e para a estruturação dos debates internos sobre a

sustentabilidade organizacional representa um importante ponto de partida e de apoio

para a proposição e o aprimoramento das práticas adotadas pelas organizações. O

nível de padronização da estrutura de apresentação dos indicadores propostos nas

diretrizes da GRI também pode permitir suporte às práticas intersetoriais promovidas

pelas organizações e mobilizar sujeitos que se interessem pelas atividades e

resultados dessas organizações por ter acesso às informações de sustentabilidade de

forma clara e estruturada.

No decorrer das discussões propostas pelos estudos de Campos et al. (2013), vale

ressaltar o relato de outros autores que salientam o objetivo da GRI em harmonizar o

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numeroso conjunto de sistemas de informação utilizado pelas organizações. De forma

curiosa, é revelado que o modelo GRI foi pautado no sistema americano de

informações financeiras, ampliando-o em um formato de aplicação global e que

contemplasse as categorias social, econômica e ambiental e que ainda fosse flexível

na demanda de apresentação de informações qualitativas e quantitativas, além de

pensar na base de partes interessadas no modelo proposto pela GRI, tais como:

indústria, setor financeiro, sociedade civil, órgãos e instituições ambientais,

Organizações Não Governamentais (ONG) de direitos humanos, além de sindicatos,

entre outras. Campos et al. (2013) ainda ampliam a apresentação dos propósitos da

GRI com o objetivo de representarem uma plataforma de diálogo participativo da

sociedade sobre os debates de desempenho de sustentabilidade das organizações e

destacam que sua estrutura está pautada nos princípios da comparabilidade e da

flexibilidade, considerando as diferenças entre organizações e setores e aqueles que

possibilitam a comparação dessas informações entre as organizações além de

permitir essa sistematização de forma paralela aos relatórios financeiros.

Refletindo um pouco mais sobre os motivos pelos quais as organizações adotam as

diretrizes da GRI para a elaboração dos seus RS, Campos et al. (2013) destacaram a

correlação da legitimação das decisões e das ações de gestão das organizações com

as mudanças perante às demandas e exigências da sociedade, como aquelas

relativas à ética e à responsabilidade organizacional. Todavia, os autores também

apresentam uma crítica às diretrizes da GRI pela ausência de indicadores integrados

e pela limitação do conceito da sustentabilidade em somente três dimensões, não

observando a inter-relação entre as partes, elemento também destacado pelos

estudos de Lozano e Huisingh (2011). Esta crítica pode ainda ser relacionada às

percepções de Sachs (1993) sobre a necessidade de pensar a sustentabilidade de

forma integrada, em uma perspectiva de compreensão do DS em desenvolvimento

integral, diante da complexidade dos elementos que o compõem e da necessidade de

inter-relação contínua e consistente entre as dimensões social, ambiental, econômica,

cultural, política, ecológica e territorial.

Ademais, Lozano e Huisingh (2011) ainda fazem outra crítica: as diretrizes estudadas

quase não conseguem abordar a dimensão temporal além da comparação que as

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53

organizações efetuam de suas ações e resultados em relação ao ano anterior. E,

desta reflexão, os autores afirmam que as diretrizes utilizadas nos RS não abordam

adequadamente o que eles propõem como o Segundo Nível de Equilíbrio da

Sustentabilidade, chamado por eles de Two Tiered Sustainability Equilibria. Este

conceito pode contribuir de forma significativa com esta pesquisa, no que tange a

discussão sobre a perenidade das ações de sustentabilidade e da inovação social

esperada dessas práticas e dos resultados mencionados na categoria social dos RS.

Lozano (2008) explica que o Primeiro Nível de Equilíbrio da Sustentabilidade, First

Tiered Sustainability Equilibria, corresponde ao equilíbrio das dimensões social,

ambiental e econômica da sustentabilidade. Já o Segundo Nível do Equilíbrio de

Sustentabilidade atribui a dimensão temporal à análise de sustentabilidade,

correspondendo ao equilíbrio das dimensões social, ambiental e econômica ao longo

dos anos.

Por fim, Lozano e Huisingh (2011) concluem que a sustentabilidade é amplamente

abordada por meio da compartimentação de suas dimensões, pois as diretrizes

utilizadas como referências para a elaboração dos RS são baseadas em dimensões

únicas do tripé da sustentabilidade. Embora as diretrizes para os RS não forneçam

uma estrutura capaz de abordar ou informar sobre possíveis sinergias entre as

questões de sustentabilidade, é possível encontrar exemplos de organizações que

estão alcançando esses resultados, talvez de forma inconsciente e não pela estrutura

das diretrizes que os autores estudaram seja série ISO 14000 e EMAS, SA 8000, AA

1000 seja a GRI.

No contexto da evolução das diretrizes da GRI, na Figura 1.1, encontram-se

consolidadas as informações referentes ao número de Relatórios emitidos por

organizações brasileiras e comunicados à GRI, desde que iniciou a publicação de

suas diretrizes para o relato de sustentabilidade. Os quantitativos estão agrupados

por ano e por tipo de Relatório, apresentando o modelo de referência utilizado para a

elaboração. Essa consolidação permite a visualização do perfil de crescimento da

adoção das práticas de relatos de sustentabilidade, a partir das diretrizes da GRI

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54

utilizadas ou, até mesmo, da condição de serem Relatórios referenciados ou não no

modelo GRI.

Figura 1.1 – Consolidação dos dados de publicação de Relatórios de

Sustentabilidade no Brasil.

Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com GRI (2015; 2016). Nota: Non-GRI* – Relatórios nos quais a organização divulga informações sobre o seu desempenho econômico, ambiental, social e de governança, mas sem a referência de que se baseou nas Diretrizes da GRI. GRI-Ref.* – Relatórios que fazem referência explícita por serem baseados nas Diretrizes da GRI, mas sem o índice de conteúdo GRI.

Percebe-se, na Figura 1.1, o crescente número de publicações de Relatórios de

Sustentabilidade no Brasil e o uso das diretrizes da GRI como referência para esses

Relatórios. Em 2015, constatou-se o maior número de organizações que utilizaram

uma das versões das diretrizes da GRI em seus RS, neste caso a GRI - G4, que

reafirma a relevância do objeto de estudo e o crescimento da utilização dos Relatórios

como forma de divulgação de práticas e indicadores de sustentabilidade e da relação

com as partes interessadas. Percebe-se ainda a evolução das diretrizes da GRI

apresentada na Figura 1.1 e o acompanhamento desta evolução pelas organizações

brasileiras, que representam o amadurecimento da prática de publicação de

informações dos RS e, com isso, o aumento das possibilidades de alcance dos

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55

resultados esperados de sustentabilidade organizacional pelo incentivo contínuo de

apresentação das iniciativas, práticas e resultados dos indicadores de

sustentabilidade utilizados por essas organizações.

A evolução das diretrizes do GRI pode representar o acompanhamento do movimento

das organizações privadas de ultrapassarem a visão assistencialista para assumir as

responsabilidades do poder político que têm. Conforme apresentado por Dowbor

(1999), as empresas partem do marketing social para atuar na construção do interesse

público naquilo que a elas compete. O que nos permite interpretar que, nesse cenário,

se verifica a criação das diretrizes da GRI, sua evolução e o crescimento de

organizações que as utilizam na orientação de suas iniciativas e dos indicadores de

sustentabilidade apresentados em seus Relatórios.

Nesse contexto, o estudo possui relevância diante dos debates sobre inovações

sociais e desenvolvimento local quando se percebe que as diretrizes da GRI e os

Relatórios de Sustentabilidade são considerados estratégicos para o

Desenvolvimento Sustentável e podem promover inovações nas organizações que o

implementam, assim como, nas iniciativas de sustentabilidade adotadas por essas

organizações. Logo, as inovações sociais e ambientais são estimuladas pelo

desenvolvimento de parcerias estratégicas, da participação social e da construção de

conhecimentos em rede, na esfera local e global em consonância com o conceito

inicial de Desenvolvimento Sustentável proposto no Relatório de Brundtland (CMMAD,

1991) e relatados na perspectiva das diretrizes da GRI.

A geração G4 das diretrizes da GRI foi desenvolvida por um processo que contou com

a participação de relatores, pessoas que utilizam os relatórios e profissionais de

sustentabilidade de todo o mundo. Essa Geração mantém conteúdos e indicadores

acordados internacionalmente para que sejam possíveis o acesso e a

comparabilidade das informações prestadas pelas organizações e por aqueles que

possuírem interesse nelas. As diretrizes GRI - G4 também objetivam fomentar a

padronização do formato desse relato bem como a apresentação de informações

relevantes de sustentabilidade nos RS (GRI, 2013).

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Por esse motivo e considerando que as diretrizes da GRI são um dos objetos desta

pesquisa, o Quadro 1.2 mostra a sua estrutura para apresentação das informações

de sustentabilidade.

Quadro 1.2 – Categorias, subcategorias e aspectos das diretrizes GRI – G4

Categoria Subcategoria Aspectos

Econômica -

Desempenho Econômico Presença no Mercado Impactos Econômicos Indiretos Práticas de Compra

Ambiental -

Materiais Energia Água Biodiversidade Emissões Efluentes e Resíduos Produtos e Serviços Conformidade Transportes Geral Avaliação Ambiental de Fornecedores Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Impactos Ambientais

Social

Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente

Emprego Relações Trabalhistas Saúde e Segurança no Trabalho Treinamento e Educação Diversidade e Igualdade de Oportunidades Igualdade de Remuneração entre Homens e Mulheres Avaliação de Fornecedores em Práticas Trabalhistas Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Práticas Trabalhistas

Direitos Humanos

Investimento Não Discriminação Liberdade de Associação e Negociação Coletiva Trabalho Infantil Trabalho Forçado ou Análogo ao Escravo Práticas de Segurança Direitos Indígenas Avaliação Avaliação de Fornecedores em Direitos Humanos Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Direitos Humanos

Sociedade

Comunidades Locais Combate à Corrupção Políticas Públicas Concorrência Desleal Conformidade Avaliação de Fornecedores em Impactos na Sociedade Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Impactos na Sociedade

Continua...

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57

... Continuação

Categoria Subcategoria Aspectos

Social

Responsabilidade pelo Produto

Saúde e Segurança do Cliente Rotulagem de Produtos e Serviços Comunicações de Marketing Privacidade do Cliente Conformidade

Fonte: GRI (2013). Nota: A descrição dos indicadores que compõem cada um dos aspectos está apresentada no Apêndice F.

A estrutura das diretrizes da GRI tem como base os pilares econômico, ambiental e

social. As subcategorias e os aspectos correlacionados representam informações

qualitativas e quantitativas que precisam ser apresentadas pelas organizações ao

optarem por elaborar seus RS de acordo com a GRI. Essas informações solicitadas

são chamadas de indicadores.

Das informações apresentadas no Quadro 1.2, destacam-se aquelas da categoria

social, que é a única dividida em subcategorias que representam blocos de

informações específicas tanto em abordagens relacionadas aos públicos internos,

como no caso das Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente. Além dessas

informaçõoes, destaca-se o bloco de Direitos Humanos, quanto em abordagens com

foco maior nas relações com públicos externos como em Sociedade e a

Responsabilidade pelo Produto. O conteúdo dessa categoria será detalhado no

Capítulo 2.

Ainda sobre o pilar social relacionado aos RS, Daub (2007) destaca que as

expectativas específicas podem variar de acordo com cada um dos diferentes grupos

de partes interessadas, sejam internas como os funcionários, sejam externas como o

poder público e as ONG. Nesse contexto, Daub (2007) traduz esta realidade como o

papel das partes interessadas em influenciar as organizações a lutarem pela

legitimidade social para garantir suas licenças para operar. Esse desafio é conhecido

como eficiência social quando comparado ao termo ecoeficiência, pois mede o grau

em que o impacto negativo das atividades de uma organização na sociedade é

reduzido e os impactos positivos são aumentados.

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Ao observar a estrutura proposta para a categoria social nas diretrizes GRI - G4,

abordando sobre a perenidade do desenvolvimento que satisfaça a simetria entre a

solidariedade com as futuras gerações concomitantemente à solidariedade em

relação às atuais gerações, Sachs (1997) enfatiza a necessidade de primar as

questões sociais no estabelecimento dos objetivos de desenvolvimento. Todavia, de

acordo com Bittencourt e Carrieri (2005), existe uma hegemonia do discurso da

responsabilidade social, no contexto das empresas, focado no desempenho social

dessas organizações mensurado por balanços e reportados por relatórios como os

RS que permitem institucionalizar práticas e políticas de marketing, valorizando

imagens e representações, e não necessariamente a relevância social das práticas

implementadas pelas organizações.

Na convergência dos debates sobre os elementos da gestão social com a

apresentação desses elementos nos requisitos da categoria social da GRI e nas

descrições de práticas e resultados dos Relatórios de Sustentabilidade serão

desenvolvidas as discussões conceituais e aplicadas deste estudo, que buscam de

forma contextualizada o aperfeiçoamento desse modelo e dos RS.

1.3 Gestão Social e Responsabilidade Social

Quando ressaltada a necessidade de mudança institucional para que o crescimento

sob a perspectiva do Desenvolvimento Sustentável (DS) aconteça, é inevitável a

análise do modelo de desenvolvimento vigente. Portanto, Dowbor (1999) relata a

capacidade do capitalismo em organizar a produção na esfera microeconômica, mas

o seu péssimo desempenho como distribuidor e empregador. Além disso, o autor

caracteriza o capitalismo como um grande explorador dos recursos naturais e

destruidor do meio ambiente. Essa abordagem se alinha às considerações propostas

no Relatório Nosso Futuro Comum, no qual a desigualdade e a pobreza representam

um limitador do DS (CMMAD, 1991).

Novamente, percebe-se o papel social do ser humano e suas questões nos debates

sobre sustentabilidade e na mudança de modelo de desenvolvimento, o que

representa a necessidade de investimento no ser humano defendido por Dowbor

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(1999), tanto em sua formação quanto nos aspectos relacionados à saúde, cultura,

lazer e informação. Portanto, o autor destaca que, no desenvolvimento sustentável, a

dimensão social não constitui uma categoria acessória, visto seu caráter humanitário

que a torna elemento essencial ao conjunto de transformação social, por estar

relativamente externa aos processos econômicos centrais.

Logo, Sachs (2010) reforça que não se pode minimizar o desenvolvimento apenas ao

crescimento econômico, e assim, torna-se necessário considerar duas ópticas

simultâneas, a saber:

(...) de um lado, o enfoque pelo crescimento, que nos remete ao crescimento do PIB, à acumulação de capital, ao progresso técnico, à produtividade crescente do capital, e, de outro, o enfoque que utiliza como porta de entrada o emprego e o autoemprego, e observa em que medida o processo de desenvolvimento favorece a inserção social pelo trabalho decente de todos os que sentem a necessidade e o desejo de trabalhar. Essas duas ópticas não são exclusivas uma da outra. Ao contrário, é indispensável articulá-las, combiná-las e conciliá-las graças ao planejamento flexível. (SACHS, 2010, p. 33-34).

Sachs (2010) também evidencia que o desenvolvimento na perspectiva do

crescimento está no núcleo modernizador e o desenvolvimento com foco no emprego

e no autoemprego está relacionado à rede de serviços sociais e sua universalização,

pois são serviços capazes de promover o bem-estar da população. Entretanto, o autor

pondera que, ao invés de aguardar o enriquecimento para posteriormente reproduzir,

o Estado provedor do bem-estar social deve aproveitar a situação de baixo nível dos

salários médios para desenvolver os serviços sociais, em especial, os que são

intensivos em pessoal, aproveitando as oportunidades de crescimento estimuladas

pelo emprego.

Nesse contexto é fundamental a discussão sobre os modelos de gestão na

perspectiva da sustentabilidade, pois considerando os pressupostos de gestão social,

essa visão sobre o desenvolvimento apresentada por Sachs (2010) pode ser

contraposta com os argumentos críticos de Tenório (2009) sobre uma gestão

estratégica cujas ações estão orientadas para o mercado e não para a sociedade.

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Sachs (2010) estabelece como premissas do desenvolvimento, a acumulação do

capital e o uso das condições de desenvolvimento para a prestação dos serviços

sociais. Em contrapartida, Tenório (1998) infere que a gestão estratégica na lógica de

mercado tem direcionado o discurso e a prática da gestão social ao invés dessas

serem orientadas pelas questões de natureza social e que na esfera pública, buscam

atender ao bem comum da sociedade, e não a concorrência como é o caso da gestão

estratégica na esfera privada.

Ao considerar as questões sociais no contexto da gestão estratégica, Tenório (1998)

evidencia que o processo de gestão social ocorre na ação comunicativa e dialógica

na qual a ação social é validada pelos seus participantes em acordo racional,

resultante do debate crítico e da apreciação intersubjetiva. Em contrapartida,

menciona que o processo de gestão estratégica ocorre de forma relacional com as

ações estratégicas e é monológico, pois se baseia na influência de uma pessoa sobre

as outras, para a continuidade intencional de uma determinada interação, em que a

ação comunicativa, racionalmente, busca motivar os demais envolvidos a

concordarem com essa pessoa.

Essa mudança do tratamento das questões sociais nas organizações ainda pode ser

percebida uma vez que enfocam a qualidade de vida, saúde, educação, cultura, lazer

e informação. Entretanto, esses elementos deveriam ser desenvolvidos pelos

objetivos sociais primários, necessários para uma sociedade justa e não somente no

âmbito organizacional, pois “a atividade econômica é um meio, o bem-estar social é o

fim” conforme destaca Dowbor (1999).

Complementarmente às percepções apresentadas, Campos et al. (2013) inferem que

a elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade se associa justamente à

apresentação de um balanço social, que atribua transparência à gestão da

organização, evidenciando os desempenhos econômico, social e ambiental no que

tange às iniciativas consideradas relevantes para a sociedade. Talvez essa evolução

da percepção ou do propósito de estimular as mudanças no âmbito institucional possa

justificar o nível de abrangência da categoria social da GRI, transformando-o em um

bloco de informações significativas para os Relatórios de Sustentabilidade, por tratar

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de assuntos relacionados às Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente, aos Direitos

Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto.

Tanto a evolução das diretrizes da GRI como a percepção do bem-estar social como

um objetivo a ser almejado pelas organizações estão relacionadas ao

amadurecimento da Responsabilidade Social. De acordo com Morcelli e Ávila (2016),

o conceito de Responsabilidade Social tem sido modificado continuamente no

decorrer dos anos. Criado em 1953, o termo Social Responsabilities of the

Businessman ou Responsabilidade Social Corporativa, definido por Howard21, referia-

se ao fato que as organizações deveriam ter orientações, decisões e ações que

estivessem alinhadas com os objetivos e valores da sociedade. Os autores ainda

citam como principal premissa da Responsabilidade Social, o desenvolvimento de

políticas e práticas organizacionais integradas e comunicadas, mas não omitem a

existência inicial de uma visão economista que tem como foco principal o atendimento

das expectativas dos acionistas. Entretanto, observa-se que atualmente essas

políticas e práticas contemplam as necessidades e expectativas de outros públicos de

interesse na/da organização.

Os estudos de Dowbor (1999) ilustram essa evolução quando discorrem sobre o

movimento de parcerias entre os setores público, privado e o não governamental. O

autor ainda aponta, no caso do setor privado, a importância das responsabilidades

social e ambiental e, no caso do Terceiro Setor, uma potencial alternativa de articular

com o Estado e de assegurar a participação cidadã. Esse processo de mudança

representa o conceito do Desenvolvimento Sustentável proposto no Relatório de

Brundtland, em 1987 (CMMAD, 1991).

Outro fator importante é citado por Tenório (1998) que acredita ser na cidadania o

espaço onde o sujeito expressa o exercício dos seus direitos como pessoa e também

os direitos relativos à coletividade. É como uma ação política deliberativa que o autor

relaciona esse perfil de cidadania com a gestão social, na promoção da democracia

social para com os indivíduos nas mais diversas esferas e papeis da sociedade, na

21 Howard R. Bowen (1908-1989) foi um economista americano, autor de 14 livros e mais de 300 artigos e definiu um dos termos utilizados como referência para o pilar socil das empresas, a Responsabilidade Social Corporativa.

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qual sua autodeterminação é efetivada pela igualdade política e decisória e que

posteriormente foi proposto no relatório da Rio+20, O futuro que queremos (ONU,

2012).

A cidadania deliberativa, como pressuposto da gestão social, no contexto da relação

trabalho-capital, ocorre quando o trabalhador se conscientiza do protagonismo de seu

papel social nas ações do trabalho, incluindo em suas reivindicações a efetiva

participação no processo de tomada de decisão do sistema-empresa e não se

limitando às reivindicações salariais e/ou de melhores condições de trabalho

(TENÓRIO, 1998). Essa abordagem sobre a cidadania deliberativa dialoga de forma

objetiva com as subcategorias de Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente e a de

Direitos Humanos da categoria social da GRI (2013a). Logo, nessas subcategorias, é

possível observar aspectos da relação trabalho-capital nas Relações Trabalhistas, nos

Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Práticas de Trabalhistas e

na de Direitos Humanos, assim como, a Liberdade de Associação e Negociação

Coletiva e a Avaliação de Fornecedores em Direitos Humanos, estas transcendendo

até os limites físicos da organização.

Complementarmente, Morcelli e Ávila (2016) apresentam uma consolidação de

conceitos de Responsabilidade Social que podem ratificar a importância das

subcategorias e aspectos elencados na categoria social das diretrizes da GRI – G4.

Logo, o Quadro 1.3 apresenta a relação conceitual elaborada por esses autores.

Quadro 1.3 – Conceitos sobre Responsabilidade Social

Autores Definições

Drucker (1984) A responsabilidade social ocorre em razão de a organização ser bem-sucedida, inserida num mercado em que cresce a necessidade de ser socialmente responsável, visando minimizar os problemas sociais.

Srour (1998)

A responsabilidade social “reflete tanto um sentido de realidade quanto um olhar para o futuro... a responsabilidade social reflete em síntese a constituição de uma cidadania organizacional no âmbito interno da empresa e a implementação de direitos sociais no âmbito externo.”

Garcia (1999)

A responsabilidade social corporativa envolve, por exemplo, tratar com dignidade seus funcionários, fabricar produtos ou prestar serviços com qualidade, veicular propaganda verdadeira, realizar limpeza no ambiente de trabalho, não sujar ruas ou dificultar o trânsito, colaborar com as causas da comunidade, não explorar mão de obra infantil, escrava ou incapaz de se defender.

Continua...

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63

... Continuação

Autores Definições

Ashley (2002)

A responsabilidade social é definida como o compromisso que uma organização tem com a sociedade, expressa por meio de atitudes que a afetem positiva e coerentemente no que se refere ao seu papel específico na sociedade e à sua prestação de contas para com ela.

Oliveira (2002)

A responsabilidade social pode ser entendida como “o objetivo social da empresa somando a sua atuação econômica. É a inserção da organização na sociedade como agente social e não somente econômico... é ser uma empresa cidadã que se preocupa com a qualidade de vida do homem na sua totalidade.”

Fonte: Morcelli e Ávila (2016, p.19).

Os elementos conceituais de Responsabilidade Social apresentados no Quadro 1.3

são também encontrados nas diretrizes da GRI e podem ser evidenciados nos

Relatórios de Sustentabilidade. Porém, quando são comparados os pressupostos

conceituais de Responsabilidade Social e de Gestão Social, é possível identificar que

a Gestão Social atribui maior protagonismo aos atores sociais por meio da

participação, da cidadania deliberativa e maximiza o diálogo entre as partes. Por sua

vez a Responsabilidade Social possui um perfil de reflexão sobre o modelo de atuação

das organizações perante a sociedade, promovendo e defendendo direitos sociais

internos e externos, ou seja, elencando como protagonista, a organização.

Essa relação território e problemáticas sociais também foi mencionada por Carroll

(1999) ao elencar as quatro dimensões da Responsabilidade Social: (i) econômica, (ii)

legal, (iii) ética e (iv) filantrópica. Dimensões que compreendem as expectativas

sociais das partes interessadas em relação às organizações. Porém, essas

dimensões se restringem à obtenção do lucro, ao cumprimento dos requisitos legais,

em ser justo e, por fim, ao promover o bem-estar humano, o que permite perceber

suas limitações diante dos conceitos de Gestão Social apresentados, que ampliam

essas dimensões para outros elementos como o diálogo e a cidadania.

Essa dicotomia entre a Responsabilidade Social e Gestão Social pode ser reafirmada

quando as considerações apresentadas por Tenório (1998) permitem destacar como

pressupostos da gestão social, resultante da mudança das relações entre o

trabalhador e o capital e a sociedade e o Estado, a dialogicidade, a democracia social,

a intersubjetividade e o exercício da cidadania, na esfera privada ou pública. Essa

abordagem reforça e contextualiza a importância da participação, da organização, da

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educação e do fortalecimento das pessoas para que o Desenvolvimento Sustentável

de fato alcance os resultados esperados e que as mudanças necessárias sejam

realizadas para que a nova era do crescimento aconteça, na perspectiva das

inovações sociais e do desenvolvimento local.

Assim, Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012) consideram que a gestão

social se constitui de interesses sociais, políticos, humanos, ambientais e econômicos,

ou seja, os interesses da esfera pública e que se contrapõem à realidade da gestão

empresarial na qual se prioriza os interesses privados: produtividade, desempenho e

controle.

O sentido do termo gestão social é discutido por Mendonça, Gonçalves-Dias e

Junqueira (2012), que destacam a necessidade de ultrapassar a abordagem das

ciências administrativas sobre o elemento gestão, que o restringe à produtividade, ao

desempenho e ao controle. Logo, considerando o sentido do termo gestão social,

Tenório (2005, p. 102) discorre que “o adjetivo social qualificando o substantivo gestão

será entendido como o espaço privilegiado de relações sociais em que todos têm o

direito à fala, sem nenhum tipo de coação”. As considerações desses autores trazem

ao debate teórico, a ampliação conceitual com a qual a gestão social precisa ser

tratada, fato reforçado por Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira, quando

apresentam que

adjetivar a gestão como social pode parecer uma redundância desnecessária, no entanto, foi uma escolha consciente de um grupo de pesquisadores que buscava desconstruir e destacar algumas noções acerca do que vem a ser o ato de gerir. Desconstruir, em primeiro lugar, uma noção que estava restrita a certos espaços e tipos de organizações (França Filho, 2008), e destacar algumas “novidades” acerca da gestão e seus desafios para atuar em prol de transformações sociais, que se materializam no contexto de democratização e ampliação dos atores que lidam e participam diretamente da discussão e da atuação social, seja em políticas públicas, em iniciativas de organizações da sociedade civil, ou em iniciativas do mercado. (MENDONÇA; GONÇALVES-DIAS; JUNQUEIRA, 2012, p. 1.405).

A viabilidade da discussão de gestão social no cenário do Desenvolvimento

Sustentável é reforçada quando Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012, p.

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1392) afirmam que, os pesquisadores em Gestão Social “tem como objeto de estudo

a gestão de problemáticas sociais e ambientais que necessitam de uma visão

intersetorial e interorganizacional”, pois essas problemáticas ocorrem em um

determinado território no qual diversos atores compartilham seus interesses e ações,

fortalecendo o processo democrático.

Portanto, nesta pesquisa, compreende-se como Gestão Social, o processo de gestão

orientado para a sociedade que busca soluções de forma democrática e participativa

para os problemas sociais e ambientais de um território no qual se pratica a cidadania

deliberativa. Nesse território, os diversos atores sociais compartilham seus interesses

e ações em prol de transformações sociais, sendo que a efetiva participação no

processo de tomada de decisão seja realizada de forma comunicativa e dialógica, e

validada em acordo racional resultante do debate crítico a partir da apreciação

intersubjetiva desses atores sociais.

Cançado, Tenório e Pereira (2011) dizem sobre a construção do conceito de Gestão

Social no reforço da importância da sociedade e do trabalho como protagonistas da

relação sociedade-Estado e trabalho-capital, relações usualmente apresentadas de

forma invertida como, Estado-sociedade e capital-trabalho. Essa discussão de

protagonismo é expandida pelos autores para a relação sociedade-mercado.

Para a contextualização teórica de suas reflexões, Cançado, Tenório e Pereira (2011)

apresentam uma compilação das análises sobre Gestão Social realizadas por Maia

(2005) e Pimentel et al. (2011) e destacam a proximidade entre as categorizações

utilizadas para atribuir significado à Gestão Social. Portanto, o Quadro 1.4 consolida

a análise de Cançado, Tenório e Pereira (2011) selecionando os elementos

necessários para a construção dos pressupostos de Gestão Social que serão

utilizados neste trabalho.

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Quadro 1.4 – Consolidação da análise sobre Gestão Social

Categorias Descrição

Propósito Viabilizar o desenvolvimento da sociedade pautado no interesse coletivo de caráter público.

Valores Democracia, cidadania e interesse público.

Agentes Conjunto composto pela Sociedade Civil organizada, Estado e mercado.

Operacionalização Processo social, desenvolvimento de parcerias e de redes intersetoriais.

Espaços Organizações (Estado, mercado e Sociedade Civil), políticas públicas, redes, interorganizações e espaço local.

Características

Processo de afirmação ou transformação do desenvolvimento com novos referenciais. Comunicação dialógica, com pouca ou nenhuma restrição ao direito de fala. Processo decisório descentralizado, emergente, participativo, como construção coletiva. Não há coerção, todos têm iguais condições de participação.

Fonte: Adaptado de Cançado, Tenório e Pereira, 2011.

Cançado, Tenório e Pereira (2011) constataram que a Gestão Social está baseada no

agir comunicativo, capaz de gerar um acordo resultante da apreciação intersubjetiva

dos indivíduos envolvidos e da discussão crítica realizada entre eles, promovendo

dialogicidade no processo gerencial no qual os participantes compartilham entre eles

a autoridade da decisão.

Considerando o conjunto de pesquisas e reflexões sobre Gestão Social apresentadas

pelos autores Dowbor (1999); Maia (2005); Cançado, Tenório e Pereira (2011);

Pimentel et al. (2011); Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), foram

elencados os doze pressupostos adotados nesse estudo, como elementos

caracterizadores de Gestão Social e que subsidiarão o debate sobre o pilar social da

sustentabilidade:

I. Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter

público e orientado pelas questões de natureza social.

II. Processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos.

III. Agentes e espaços relacionados às organizações (Estado, Mercado e

Sociedade Civil).

IV. Gestão democrática e igualdade política.

V. Gestão participativa, participação social cidadã.

VI. Cidadania deliberativa e igualdade decisória.

VII. Apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação social.

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VIII. Desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e gerenciais-

econômicas.

IX. Promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia dos direitos

humanos.

X. Promoção da geração de trabalho e distribuição de renda.

XI. Promoção do Desenvolvimento Local.

XII. Transformações sociais, inovação social e construção paradigmática.

Após elencar os pressupostos de Gestão Social a serem utilizados como referência

para esta pesquisa, cabe salientar que a promoção da qualidade de vida, do bem-

estar, da garantia dos direitos humanos, da geração de trabalho e distribuição de

renda, das transformações e inovações sociais e do Desenvolvimento Local são

compreendidas como resultados da Gestão Social e não como componentes desse

processo.

Conforme Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), a atribuição do termo social

à gestão implica em destacar desafios na sua atuação para transformações sociais e

a sua materialização na ampliação do debate e da atuação social para a promoção

dessas transformações no contexto das políticas públicas e das iniciativas da

Sociedade Civil e, ou, do mercado. É interessante salientar que os autores não limitam

o objeto de estudo da Gestão Social à problemática social, mas contemplam as

questões ambientais e a necessidade da visão intersetorial e intergovernamental de

múltiplos atores, interesses, visões e ações relacionados a um determinado território.

De acordo com Ometto, Bulgacov e May (2015), existe um debate dicotômico sobre a

Responsabilidade Social, no qual algumas percepções se pautam em práticas com

propósitos instrumentais e estratégicos e não nos valores pessoais daqueles que

compõem as organizações. Outras mostram que a Responsabilidade Social está

relacionada às questões valorativas, mesmo que seja por uma decisão estratégica,

esta é influenciada pelas características dos indivíduos daquela organização. Os

autores ainda argumentam sobre o importante papel da sensibilização dos indivíduos

para o sucesso da Responsabilidade Social, principalmente, quando esta

sensibilização permite o contato direto ou indireto com as condições sociais adversas,

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constatando que o indivíduo esteja suficientemente sensível aos problemas e

predisposto a agir em prol da melhoria da situação.

Desse modo, quando a democracia, a boa governança e o Estado de Direito são

reconhecidos pelos indivíduos, reforçam-se as crenças presentes no relatório (O

futuro que queremos) como elementos essenciais para o Desenvolvimento

Sustentável, potencial contexto de convergência entre as iniciativas de

Responsabilidade Social e a Gestão Social. Assim, há o fortalecimento da ideia de

que a gestão democrática e participativa da Gestão Social fornece um ambiente

promissor para a promoção do DS e, no contexto das organizações, o

aperfeiçoamento das práticas de Responsabilidade Social contribui para esse

desenvolvimento. Desenvolvimento esse orientado pelos interesses de natureza

social e coletiva, em um processo dialógico entre os participantes em que as decisões

tomadas consideram de forma democrática os diversos anseios das partes

interessadas (TENÓRIO, 2005; MENDES, 2009; ONU, 2012).

2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O debate sobre DS estimula reflexões sobre os comportamentos individuais e

coletivos e sua relação com um novo modelo de desenvolvimento que consiga

atender, de forma equilibrada, ao conjunto de demandas sociais, ambientais e

econômicas da sociedade. Todavia, a dialogicidade entre os setores público e privado,

as ONG e a sociedade civil ainda é um desafio para o alcance do consenso sobre

esse modelo de desenvolvimento realmente desejado.

A revisão de literatura apresentou a discussão sobre a multidimensionalidade da

sustentabilidade, termo que se diferencia de DS quando se relata sobre a relação

entre o objetivo final e o processo para sua realização. Neste caso, optou-se por

ratificar as percepções dos autores como Sartori, Latrônico e Campos (2014) que

entendem o DS como objetivo e a sustentabilidade como como um processo,

tangibilizando-a em iniciativas, ações e práticas para se chegar a um modelo de

desenvolvimento que realmente seja sustentável.

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Para as reflexões de sustentabilidade, a atribuição da temporalidade de Lozano (2008)

amplia as análises relativas às iniciativas de sustentabilidade reportadas pelas

organizações por meio de indicadores qualitativos e, ou, quantitativos como aqueles

previstos nas diretrizes da GRI e reconhecidos mundialmente como referência para a

elaboração de RS. A aplicação da análise tridimensional dos pilares da

sustentabilidade no processo de avaliação da efetividade das práticas e resultados de

iniciativas organizacionais reforçam a importância da elaboração dos RS, reforçam a

utilização das diretrizes da GRI pelas organizações e a apresentação das informações

referentes aos indicadores, assim como, a melhoria dos seus desempenhos.

Foi possível perceber que o DS está intimamente relacionado à garantia de direitos

humanos, à qualidade de vida, às condições dignas e justas de trabalho, à equidade

e ao equilíbrio do atendimento dessas necessidades com a utilização racional e

consciente de recursos naturais, preservando-os e conservando-os para o

atendimento perene das demandas humanas e dos demais ecossistemas,

observando o equilíbrio econômico capaz de sustentar e ser sustentado por este

sistema complexo. Apesar de se tratar do tripé fundamental da sustentabilidade, não

obstante, também são fundamentais o equilíbrio dos demais pilares como o político, o

cultural e o territorial, conforme Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993). Todos

esses pilares perpassam por um elemento, destacado nesta pesquisa, que é o ser

humano e, com este elemento, toda a complexidade da Gestão Social que o

acompanha.

A relevância das questões sociais, quando se fala em sustentabilidade, congrega um

conjunto de elementos fundamentais para uma mudança de paradigma em prol do

DS, pois são nessas questões sociais que o fator humano e todas as suas demandas

individuais estão presentes. Logo, percebe-se que os pressupostos de Gestão Social

convergem e podem contribuir para o aperfeiçoamento de práticas classificadas como

sustentáveis e de responsabilidade social, sobretudo no contexto das organizações.

Ainda há um amplo debate sobre iniciativas e resultados de Responsabilidade Social

no contexto da sustentabilidade. Contudo, a aplicação dos constructos de Gestão

Social no processo de elaboração dos RS também pode colaborar com as potenciais

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inovações sociais aplicáveis às organizações e isso poderá suscitar o

desenvolvimento local.

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CAPÍTULO 2

O PILAR SOCIAL NOS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE À LUZ DAS

DIRETRIZES DA GRI-G4

THE SOCIAL PILLAR IN THE SUSTAINABILITY REPORTS BY THE LIGHT OF

THE GUIDELINES OF GRI-G4

Rafael Alves de Araujo Castilho22

Fernanda Carla Wasner Vasconcelos23

RESUMO Os Relatórios Sustentabilidade (RS) representam os esforços organizacionais para a divulgação de informações das iniciativas e resultados referentes aos pilares social, ambiental e econômico da sustentabilidade de organizações privadas, públicas e sem fins lucrativos. Contudo, a efetiva compreensão sobre desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade ainda constituem desafios maximizados pela multidimensionalidade de seus pilares. Este artigo pretende analisar as concepções de Gestão Social presentes em Relatórios de Sustentabilidade de organizações brasileiras no ano de 2015, e as percepções de Gestão Social dos profissionais responsáveis por esses relatórios, à luz das diretrizes da GRI-G4. Este é um estudo de abordagem qualitativa e quantitativa de cunho descritivo. Os procedimentos metodológicos incluíram a realização de pesquisa documental em 12 RS de organizações de diferentes segmentos e a realização de entrevistas, com realização de análises estatística por clusters e de conteúdo respectivamente. A existência de alguns pressupostos de gestão social nos RS das organizações estudadas e nas percepções dos profissionais entrevistados foi constatada nesse estudo. Todavia, de forma isolada, estes pressupostos não garantem uma Gestão Social estruturada. Logo, foram identificados desafios da sustentabilidade no que tange as questões do pilar social e encontradas oportunidades de melhoria em processos, inclusive na elaboração dos RS que podem contribuir para uma Gestão Social real no contexto das organizações, como é o caso da materialidade dos RS. Palavras-chave: Gestão Social. Global Reporting Initiative. Indicadores de Sustentabilidade. Materialidade. Partes interessadas.

22 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. 23 Doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].

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ABSTRACT The Sustainability Reports (SR) represent the organizational efforts for the information disclosure of initiatives and results concerned to social, environmental, and economic pillars of sustainability of private, public and organizational companies with nonprofit purposes. However, the effective understanding about sustainable development and sustainability still represents maximized challenges by the multidimentionality of its pillars. This article intends to analyze the conceptions of Social Management presented in Sustainability Reports of Brazilian organizations in 2015, and the perceptions of Social Management of professionals responsible for these reports, in the lights of the GRI directives– G4. This is a qualitative and quantitative approach study of descriptive nature. The methodological procedures include the realization of documental research in 12 SR of different lines of organizations and the performance of interviews including statistical analyses by clusters and content respectively. The existences of some Social Managements assumptions in the related organization SR and in the interviewed professional’s perception were verified in this study. However, dealt in an isolated form, these assumptions do not guarantee a structural Social Management. Therefore, sustainability challenges were identified concerning social pillar issues and improvement opportunities in processes, which can contribute to Social Management in the context of the organizations, such as the materiality of SR. Keywords: Social Management. Global Reporting Initiative. Indicators of Sustainability. Materiality. Stakeholders. 1 INTRODUÇÃO

Considerando as demandas atuais de relacionamento com os diversos sujeitos da

sociedade, e as demandas de estabelecimento de responsabilidades desses sujeitos

com o Desenvolvimento Sustentável (DS), as organizações dos setores público,

privado e as não governamentais (ONG) têm incorporado, às suas estratégias, as

dimensões social e ambiental correlatas à sua atuação e realizado a comunicação das

práticas implementadas e seus resultados por meio dos Relatórios de

Sustentabilidade (RS) divulgados para suas partes interessadas.

Todavia, limitando-se ao tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômico),

percebe-se que, a cada um desses pilares, é atribuída a palavra gestão. Isso se deve

à necessidade de desenvolvimento e implementação, de forma eficaz, das práticas

pertinentes a cada um deles possibilitando assim alcançar os resultados esperados.

Logo, é comum encontrar no contexto das organizações, o uso de termos como gestão

ambiental e gestão econômico-financeira.Todavia, a utilização do termo gestão social

não é tão comum como os demais. Este fato pode ser motivado pela dificuldade de se

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compreender, de forma sistêmica, a gestão social ou motivado também pela

inexistência de um consenso sobre uma definição que seja clara o suficiente para ser

aplicada às organizações. Portanto, a utilização do termo Responsabilidade Social

(RS) é mais usual para as organizações, apesar de suas limitações quando diante da

Gestão Social (GS).

Prosseguindo nessas reflexões, pode-se inferir que, ao se tratar da gestão aplicada

às questões ambientais ou econômico-financeiras das organizações, tem-se um

espaço mais consolidado de práticas, ferramentas e instrumentos. O primeiro item

está focado na mitigação de impactos ambientais adversos, maximização da

conformidade legal ambiental e, até mesmo, iniciativas de certificações ambientais,

ecoeficiência, produção mais limpa, logística reversa, análise de ciclo de vida, dentre

outras práticas. No segundo item, tem-se o conjunto de práticas relacionadas ao

gerenciamento e controle econômico-financeiro das organizações, como balanços

patrimoniais, planejamento orçamentário, demonstração do resultado do exercício,

gestão de custos, controle de taxas de retorno de investimento, entre outros.

Independentemente do nível de complexidade que ambos os pilares possuem,

ambiental e econômico, tanto os objetos quanto os objetivos destes pilares são mais

evidentes e direcionados do que aqueles relacionados ao pilar social.

Assim, ao analisar o pilar social, com o intuito de definir quais os objetos a serem

gerenciados por ele, encontra-se uma multiplicidade de sujeitos a serem

contemplados por essa gestão social e cada sujeito com suas demandas a serem

desenvolvidas, seja o público interno das organizações, como os trabalhadores,

servidores públicos e voluntários, seja o público externo, composto pela comunidade

de entorno, a sociedade civil, os órgãos reguladores, os sindicatos, os conselhos de

classe e os diversos representantes das demais partes interessadas em uma

determinada organização, pública, privada ou sem fins lucrativos. Contudo, essa

mesma multiplicidade de objetos e sujeitos também implica em uma diversidade de

objetivos da gestão social aplicáveis a uma organização, objetivos que nem sempre

são comuns e que podem apresentar compreensões distintas de acordo com o sujeito

interessado em cada um desses objetivos.

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Por conseguinte, existem dificuldades nesse debate, pois em alguns casos, ainda não

se encontram conceitos ou delimitações, definidos para a Gestão Social como

acontece com a gestão ambiental, pois conforme Machado e Quaresma (2014), a

consolidação conceitual e metodológica da gestão social é um processo que está em

fase de desenvolvimento. Entretanto, existem questões desafiadoras que necessitam

de respostas como aquelas relativas à participação social, à distribuição de renda, às

oportunidades de emprego e à geração de trabalho. As autoras ainda destacam a

maximização desses desafios quando se torna necessária a mediação da participação

dos sujeitos que possuem interesses no desenvolvimento resultante das ações de

gestão social propostas. Logo, Cançado (2011, p. 205) propõe uma síntese da

delimitação conceitual de Gestão Social como "um processo dialético de organização

social próprio da esfera pública, fundado no interesse bem compreendido, e que tem

por finalidade a emancipação do homem". Elementos esses que, juntamente com as

reflexões dos estudos sobre Gestão Social de outros autores como Cançado, Tenório

e Pereira (2005), Dowbor (1999), Maia (2005), Mendonça, Gonçalves-Dias e

Junqueira (2012), se tornam norteadores para os diálogos necessários para esta

pesquisa, uma vez que as proposições teóricas sobre Gestão Social desses autores

representam desafios para os requisitos da categoria social propostos pelas diretrizes

da GRI.

Portanto, o objetivo deste capítulo da análise de dados e resultados de pesquisa é

analisar as concepções de Gestão Social presentes em Relatórios de

Sustentabilidade, de organizações brasileiras do ano de 2015, e as percepções de

Gestão Social dos profissionais responsáveis por esses relatórios, à luz das diretrizes

da GRI - G4. Escolheu-se a geração 4 das diretrizes da GRI pelo fato dela ter sido

publicada em 2013 e, principalmente, pelo seu nível de consolidação e uso pelas

organizações, esta foi utilizada nas reflexões deste estudo. Entretanto, não se

pretende analisar o contexto político, social e cultural das organizações estudadas

nessa pesquisa.

Logo, com base no contexto apresentado, torna-se mais fácil compreender o desafio

da Gestão Social e justificam-se a dicotomia desse tema e as inúmeras reflexões

teóricas necessárias para integrar teoria e prática no âmbito dos desafios, percepções

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e proposições necessárias para uma efetiva Gestão Social no contexto das

organizações preocupadas com a sustentabilidade e com o aperfeiçoamento da

responsabilidade social organizacional.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Percebe-se que a evolução dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) está relacionada

à adaptação às tendências e demandas de mercado, como é o caso das organizações

privadas, e que se inicia um ciclo de utilização desses relatórios por outras

organizações que não sejam empresas e que possuem o interesse em divulgar e

prestar contas sobre suas práticas organizacionais.

Na análise realizada por Lozano e Huisingh (2011), das diferentes diretrizes para os

RS, eles observaram que, na maioria dos casos, existe uma tendência de

compartimentalização das dimensões do tripé da sustentabilidade, o que negligencia

possíveis sinergias entre as dimensões, sejam elas positivas sejam negativas.

Consideração que corrobora com as conclusões de Campos et al. (2013) sobre a

compartimentalização da sustentabilidade.

Todavia, a compreensão global e sistêmica da sustentabilidade só consegue ser

realizada se existir maturidade de entendimento das dimensões específicas que a

compõem. E, a partir dessa compreensão, perceber os elementos que se inter-

relacionam, se interferem e se complementam. Portanto, não é propósito deste estudo

compartimentar ainda mais as dimensões da sustentabilidade, mas sim compreender

de forma estruturada o pilar social, diante de sua importância, suas vertentes,

possibilidades e potencialidades.

2.1 Compreendendo as diretrizes da GRI

A partir da fundação da Global Reporting Initiative (GRI), em 1997, as organizações

iniciaram a utilização de suas diretrizes para a elaboração e publicação de seus RS.

As diretrizes da GRI foram aperfeiçoadas com o decorrer do tempo, sendo sua

primeira geração publicada nos anos 2000, conhecida como G1; dois anos depois, em

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2002, a segunda versão ou G2 foi divulgada. Em 2006, a versão G3 é apresentada

para as organizações e, em 2011, essa versão é atualizada, sendo nomeada de G3.1.

A geração G4 surgiu em 2013 e, em 2016, as Normas da GRI são publicadas e ainda

estão em processo de estudos e de implantação pelas organizações.

As diretrizes da GRI solicitam a apresentação de informações qualitativas e

quantitativas que precisam ser relatadas e são nomeadas de conteúdos padrão gerais

e conteúdos padrão específicos. As organizações respondem tanto aos conteúdos

padrão gerais quanto aos específicos por meio do relato sobre seus programas,

práticas, iniciativas e resultados de indicadores. Os conteúdos da GRI são divididos

nas categorias social, ambiental e econômica, coerentes com o tripé da

sustentabilidade proposto por Elkington (1994)24. Assim, a categoria social da GRI

está subdividida ainda em subcategorias como Práticas Trabalhistas e Trabalho

Decente, Direitos Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto conforme

descrito no Quadro 1.2. Todavia, as diretrizes da GRI não contemplam outras

dimensões da sustentabilidade como a política, cultural, territorial e outras propostas

por Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993), apesar de em alguns casos serem

tratadas indiretamente pelo pilar social.

Logo, ao se tratar da categoria social da GRI e sua estrutura para apresentação das

informações organizacionais no relato das práticas e indicadores que evidenciam os

conteúdos padrão gerais e conteúdos padrão específicos, percebe-se que as

diretrizes buscam ultrapassar o processo de gestão estratégica corroborando com as

argumentações dos estudos de Tenório (2009). Essa afirmação é possível quando

observados os princípios para a definição do conteúdo do Relatório de acordo com a

GRI (2013a), dos quais se destacam a inclusão das partes interessadas ou público de

interesse, o contexto da sustentabilidade, a materialidade e a completude dos

conteúdos.

Conforme a GRI (2013), as opções de critérios utilizados pelas organizações no

preparo dos Relatórios de Sustentabilidade são a Essencial (focada em estabelecer

24 ELKINGTON, J. Towards the sustainable corporation: Win-win-win business strategies for sustainable development. California Management Review, v. 36, n. 2, p. 90-100, 1994.

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uma referência para que a organização relate os impactos do seu desempenho

econômico, social e de governança) ou a Abrangente (que solicita informações

adicionais àquelas solicitadas na opção Essencial). As informações complementares

solicitadas pela opção Abrangente são relativas às estratégias, análise, governança,

ética e integridade da organização e a organização ainda precisa comunicar seu

desempenho de forma mais ampla, relatando todos os indicadores referentes aos

aspectos que foram indicados em seu processo de materialidade. Uma outra opção

utilizada por algumas organizações é a não declarada, que pode ser aplicada na

inexistência de uma declaração explícita de uma das opções anteriores, mas o RS

possui um índice de conteúdo GRI - G4 completo.

A GRI (2013) destaca que as opções não estão relacionadas à qualidade do relatório

ou ao desempenho de sustentabilidade da organização, mas à sua conformidade com

os critérios ´propostos pelas diretrizes da GRI, ao atendimento às necessidades de

comunicação da organização e à satisfação das necessidades de informações

solicitadas pelas partes interessadas. É importante ressaltar que “ambas as opções

enfocam o processo de identificação de Aspectos materiais. Aspectos materiais são

aqueles que refletem os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da

organização ou influenciam substancialmente as avaliações e decisões de

stakeholders.” (GRI, 2013, p. 11).

A GRI (2013) enfatiza que o processo de amadurecimento das diretrizes da GRI é

devido ao foco nos itens materiais para as atividades organizacionais e para as partes

interessadas como direcionador dos RS. Logo, compreender a materialidade é

perceber a atribuição de relevância, confiabilidade e compreensibilidade das

informações apresentadas nos RS, o que atribui maior transparência, consistência e

confiabilidade das informações prestadas pelas organizações nesses documentos.

As informações relevantes, confiáveis e compreensíveis são úteis para as partes

interessadas e para os processos de tomada de decisão pelas organizações.

Portanto, a adesão pela utilização das diretrizes da GRI pelos mais diversos tipos e

portes das organizações é explicado pelo fato da GRI servir de referência estruturada

para o processo de concepção, elaboração e formatação dos RS e por ainda permitir

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comparabilidade das informações, considerando os indicadores qualitativos e

quantitativos definidos nas diretrizes.

Como orientadores propostos pela GRI, os princípios estabelecidos pelas diretrizes

devem ser observados nos conteúdos a serem apresentados nos RS. O Quadro 2.1

apresenta tais princípios que são classificados por atributos com os quais contribuem.

Quadro 2.1 - Princípios estabelecidos pelas diretrizes GRI – G4

Atributo Princípio Descrição

Definição do Conteúdo do

Relatório

Inclusão de stakeholders25

A organização deve identificar seus stakeholders e explicar no relatório as medidas adotadas para responder às expectativas e interesses razoáveis dessas partes.

Contexto da sustentabilidade

O relatório deve descrever o desempenho da organização no contexto mais amplo da sustentabilidade.

Materialidade

O relatório deve abordar Aspectos que reflitam os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da organização; ou possam influenciar, substantivamente, nas avaliações e decisões de stakeholders.

Completude

A cobertura de Aspectos materiais e seus limites deve ser suficientemente ampla para refletir impactos econômicos, ambientais e sociais significativos e permitir que os stakeholders avaliem o desempenho da organização no período analisado.

Assegurar a Qualidade do

Relatório

Equilíbrio O relatório deve refletir Aspectos positivos e negativos do desempenho da organização, de modo a permitir uma avaliação equilibrada do seu desempenho geral.

Comparabilidade

A organização deve selecionar, compilar e relatar as informações de forma consistente. As informações relatadas devem ser apresentadas de modo que os stakeholders possam analisar mudanças no desempenho da organização ao longo do tempo e subsidiar análises relacionadas a outras organizações.

Exatidão As informações devem ser suficientemente precisas e detalhadas para que os stakeholders possam avaliar o desempenho da organização relatora.

Tempestividade A organização deve publicar o relatório regularmente e disponibilizar as informações a tempo para que os stakeholders tomem decisões fundamentadas.

Clareza A organização deve disponibilizar as informações de forma compreensível e acessível aos stakeholders que usam o relatório.

Confiabilidade

A organização deve coletar, registrar, compilar, analisar e divulgar as informações e processos usados na elaboração do relatório, permitindo sua revisão e estabelecendo a qualidade e materialidade das informações.

Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com Global Reporting Initiative (GRI, 2013).

25 Stakeholders e partes interessadas são considerados sinônimos. De acordo com a GRI (2013, p. 93), “refere-se a entidades ou indivíduos que tendem a ser significativamente afetados pelas atividades, produtos e serviços da organização ou cujas ações tendem afetar a capacidade da organização de implementar suas estratégias e atingir seus objetivos com sucesso. O termo inclui organizações ou indivíduos cujos direitos nos termos da lei ou de convenções internacionais lhes conferem legitimidade de reivindicação perante a organização.” As partes interessadas podem ser internas como é o caso dos empregados e externas como os sindicatos, comunidades locais e outros.

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Portanto, os princípios abordados no Quadro 2.1 devem ser observados durante todo

o processo de elaboração e publicação dos RS que compreende as etapas previstas

na Figura 2.1. Esse processo apresentado pela GRI é importante para que os

aspectos materiais e limites de informações dos RS das organizações sejam definidos

GRI (2013, p. 91).

Figura 2.1 – Visão geral do processo de definição dos aspectos materiais e limites

do RS

Fonte: GRI (2013, p. 91).

Diante da Figura 2.1, cabe salientar o papel da percepção do contexto da

sustentabilidade para cada uma das organizações e a inclusão das partes

interessadas no processo de elaboração dos relatórios, fortalecendo a premissa de

que as partes interessadas (internas e externas à organização) precisam ser

envolvidas na identificação e na seleção daquelas informações relevantes a serem

reportadas nos RS, reforçando o papel social dessas partes interessadas.

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2.2 O pilar social dos Relatórios de Sustentabilidade

A Declaração do Rio26 reforça o papel central do ser humano e menciona a

erradicação da pobreza como condição fundamental para o desenvolvimento

(DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, 1992). Em 1995, a Declaração de

Copenhague proclama o direito ao desenvolvimento como parte integrante dos

direitos humanos fundamentais (ONU, 1995), corroborado pelos estudos de Sachs

(1997). Esses debates estão relacionados com as discussões sobre a Gestão Social

no contexto dos Relatórios de Sustentabilidade. Entretanto, estes tendem a ser

compreendidos como publicações de assuntos ambientais e não de um relato

integrado de práticas ambiental, social e econômica cujos resultados estão

associados ao tripé da sustentabilidade. Nesse contexto,

uma maneira de reconceitualizar o desenvolvimento poderia consistir em considerá-lo em termos de universalizar a apropriação efetiva de todos os direitos humanos – civis, políticos, mas também sociais, econômicos e culturais. Tal abordagem parece oferecer vantagens teóricas e operacionais: permite escapar do estreito economicismo e, ao mesmo tempo, oferece um arcabouço para a avaliação concreta do progresso (ou regressão) obtido no árduo caminho do mal desenvolvimento ao desenvolvimento. (SACHS, 1997, p. 219).

Conforme a GRI (2016 a, p. 10-11), assim como todas as áreas da sustentabilidade,

os direitos humanos rapidamente evoluíram nas últimas décadas. Portanto, o Quadro

2.2 ilustra os marcos específicos e a evolução dos Direitos Humanos em várias

instituições, como a ONU e a GRI.

26 A Declaração do Rio ou a Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento foi aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, conferência conhecida como Eco-92. Essa declaração ratificou a declaração da Conferência de Estocolmo, realizada em 1972. Nela foram estabelecidos 27 princípios para o DS, incluindo princípios sobre a dignidade humana, as questões ambientais e o papel do Estado diante dos direitos relacionados ao meio ambiente e à garantia da qualidade de vida das pessoas. (DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, 1992).

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Quadro 2.2 - Evolução da Agenda de Direitos Humanos

Ano Marcos específicos e evolução

1946

A Comissão de Direitos Humanos da ONU foi estabelecida para prover uma estrutura legal internacional para proteger os direitos fundamentais e liberdades.

A Declaração Universal de Direitos Humanos foi publicada pela Assembleia Geral da ONU.

1959 A Assembleia Geral da ONU adotou a Declaração de Direitos da Criança na qual definem-se a proteção, educação, saúde, moradia e boa nutrição como direitos das crianças.

1966

A Assembleia Geral da ONU adotou o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos no qual incluem-se o direito ao voto, liberdade de associação, julgamento justo, privacidade e liberdade religiosa bem como o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais que inclui o direito a um adequado padrão de vida, educação, trabalho, saúde e previdência social.

1977

A OIT adotou a Declaração Tripartite sobre os Princípios relativos às Empresas Multinacionais e às Práticas Sociais que provia orientações de políticas sociais e de inclusão às empresas, assim como, práticas responsáveis e sustentáveis no local de trabalho. A Declaração foi alterada em 2000 e 2006.

1993

O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos foi lançado para liderar os esforços de Direitos Humanos da ONU.

Os Princípios de Paris foram adotados como um conjunto de padrões internacionais que estabelecem e orientam o trabalho dos Institutos Nacionais de Direitos Humanos.

1997 A GRI foi criada.

1999 O Pacto Global da ONU foi lançado e chamou as companhias para alinhar estratégias e operações com os princípios universais de Direitos Humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.

2002

A GRI lançou as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade G2, incluindo na estratégia e gestão tópicos de Direitos Humanos, tais como, não discriminação, liberdade de associação e negociação coletiva, trabalho infantil, trabalho forçado e compulsório, práticas disciplinares, práticas de segurança e direitos indígenas.

2005 O Mandato sobre Empresas e Direitos Humanos foi estabelecido pela Comissão de Direitos Humanos da ONU.

2006

O Conselho de Direitos Humanos que substituiu a Comissão de Direitos Humanos da ONU realizou sua primeira sessão. O Conselho é uma estrutura intergovernamental dentro do sistema das Nações Unidas responsável por fortalecer a promoção e a proteção dos direitos humanos em todo o mundo.

A GRI lançou a terceira geração das Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (GRI-G3), na qual adicionou práticas de investimento e compras à dimensão de Direitos Humanos em suas diretrizes.

2008 A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências entra em vigor.

Foi publicado o livro “Quando negócios não são apenas negócios” de John Ruggie.

2010

A Assembleia Geral da ONU criou a ONU Mulheres, para se concentrar na igualdade de gênero e empoderamento das mulheres.

A ISO 26000 de Responsabilidade Social é divulgada e inclui os Direitos Humanos como um dos seus sete temas principais.

Continua...

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... Continuação

Ano Marcos específicos e evolução

2011

Divulgados os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU, um conjunto de diretrizes para os Estados e empresas para prevenir, abordar e remediar os abusos dos Direitos Humanos cometidos em operações empresariais.

Grupo de Trabalho sobre Empresas e Direitos Humanos foi estabelecido para promover a divulgação e a implementação dos Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU.

A GRI divulgou as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (G3.1), expandindo as orientações para o relato de desempenho em relação a gênero, comunidade e Direitos Humanos, assim como avaliação de impacto relativos aos Direitos Humanos e a remediação de queixas sobre Direitos Humanos.

2013 A GRI divulga as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (G4) que incluem temas e divulgações sobre os Direitos Humanos, trabalho, os impactos ambientais e sociais na cadeia de suprimentos.

2015

A GRI publicou o documento “Linking G4 and the UN Guinding Principles" para ajudar as organizações a entenderem o vínculo entre as Diretrizes GRI e os Princípios Orientadores da ONU.

A SHIFT27 publica o Guia de estrutura para relatório de princípios da ONU, que fornece orientação para relatos de Direitos Humanos.

2016 A GRI publica as Normas GRI para Relatórios de Sustentabilidade.

Fonte: Adaptado de GRI (2016 a, p. 10-11).

Conforme observado no Quadro 2.2 e afirmado pela GRI (2016a), os direitos humanos

representam um tema integrante das suas diretrizes desde a sua origem, e as novas

Normas GRI publicadas no final do ano de 2016, além de reforçarem o papel

importante do relato sobre direitos humanos nos RS, ainda trazem referências diretas

de ferramentas internacionais e instrumentos para a promoção de ações relativas à

garantia dos direitos humanos. Destacando a contínua evolução e crescimento

gradual dos relatos sobre direitos humanos nos RS, a GRI (2016a) reconhece o longo

caminho ainda a percorrer sobre o tema, mas destaca que as organizações estão

investindo em processos de due diligence, compromissos públicos sobre direitos

humanos e na implantação de ferramentas de gerenciamento e sistemas de

monitoramento para garantir os resultados correlatos a esse relevante componente

das diretrizes da GRI.

É no contexto da importância da gestão e do monitoramento como fomentadores da

melhoria do desempenho organizacional perante as questões relativas aos direitos

27 Organização não governamental presidida John Ruggie, Representante Especial do Secretário-Geral da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, e liderada por antigos membros da equipe dele.

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humanos e demais fatores sociais, que Herculano (2000) destaca o papel dos

indicadores na consolidação, simplificação e quantificação de variáveis complexas

como aquelas relacionadas à esfera social e a viabilização de uma comunicação clara

o suficiente para se permitir a comparabilidade dos resultados e a tomada de decisão.

O autor ainda fala que os indicadores sociais também representam um incentivo para

a mobilização social afim de pressionar aqueles que tomam as decisões. O que no

âmbito da gestão social poderia ser ampliado pelos entendimentos de Tenório (2009)

no qual a tomada de decisão, na perspectiva da gestão social é compreendida como

um processo dialógico de gestão no qual há o compartilhamento da autoridade

decisória, logo, a mobilização social não se restringiria ao pressionar os que tomam

decisão e, sim, dialogicamente gerenciar o compartilhamento do processo e da

autoridade nas decisões.

Logo, essas reflexões estabelecem um percurso que esclarece a relevância dos RS

na disseminação e fomento da garantia dos direitos humanos no contexto das

organizações, e esclarece também o papel dos indicadores como instrumentos de

comunicação e a gestão social como fomentadora de uma nova perspectiva da

mobilização social. Contudo, a gestão social como um processo gerencial dialógico

destacado nos estudos de Tenório (2009) converge com as percepções de Dowbor

(2005) de que os processos democráticos são o caminho para a qualidade de vida e

o DS.

De acordo com Herculano (2000), a avaliação sobre qualidade de vida tem sido

proposta ou pelo exame da efetiva capacidade de um grupo social alcançar a

satisfação de suas necessidades ou pela avaliação das necessidades sob os

parâmetros da satisfação e dos patamares almejados. Ou seja, o primeiro se

concentra na avaliação dos recursos disponíveis enquanto o segundo observa as

necessidades. Dowbor (2005) afirma que a mensuração da qualidade de vida se

reduziu ao nível da renda per capita, como é o exemplo da referência utilizada pelo

Banco Mundial. Porém, o autor elenca como referência de indicadores básicos de

qualidade de vida, os de educação, emprego, energia, meio ambiente, saúde, direitos

humanos, renda, infraestrutura, seguridade social, segurança pública, entretenimento

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e habitação, os quais exemplificam indicadores de recursos e de necessidades, e dos

quais observa-se um conjunto significativo correlacionado de forma direta com a

esfera social dos RS e contemplado nas diretrizes da GRI, como é o caso dos

indicadores relacionados aos direitos humanos, aqui como uma dimensão da

qualidade de vida.

Ao enfatizar os debates sobre o pilar social dos RS, não é possível desconsiderar os

debates a respeito da qualidade de vida, caracterizada pelos indicadores

apresentados por Dowbor (2005), pois essa é compreendida como um dos elementos

das iniciativas promovidas pela Gestão Social. Nesse contexto, Herculano (2000),

após analisar as considerações dos autores Allardt, Erikson, Sen e as premissas

utilizadas em indicadores sociais escandinavos, consolida a convergência entre as

referências de que o bem-estar, fator integrante à qualidade de vida, possui como

elementos básicos: a possibilidade de influenciar nas decisões relativas à coletividade

e de participar na vida comunitária, sob uma perspectiva política, além de beneficiar

com as ações do passado e do presente da coletividade, o que possui relevância

quando se analisa as diretrizes da GRI e os RS que são orientados por elas, pois

estes trabalham com informações da esfera social com foco nos processos decisórios

e nos benefícios gerados pelas iniciativas socioambientais promovidas pelas

organizações.

Herculano (2000) ainda contextualiza a qualidade de vida, agregando a questão

ambiental aos demais itens mensurados pelo IDH (expectativa de vida, taxa de

alfabetização, anos de escolaridade e PIB per capita), propondo que qualidade de vida

representa:

a soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção e ao consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a existência de mecanismos de comunicação, de informação, de participação e de influência nos destinos coletivos, através da gestão territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade de espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação de ecossistemas naturais (HERCULANO, 2000, p. 22).

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Ademais, complementando os elementos teóricos relativos ao debate conceitual de

qualidade de vida, é possível vinculá-la ao atendimento das necessidades básicas dos

cidadãos em uma concepção política razoável de justiça, considerados por Weber

(2013, p. 207) como bens necessários primários para o exercício dos direitos e

liberdades dos cidadãos. O autor destaca os direitos e liberdades fundamentais, as

liberdades de movimento e livre escolha de ocupação, os poderes e prerrogativas de

cargos e posições de responsabilidade, renda e riqueza e as bases sociais do auto-

respeito.

É válido ressaltar que o autor desenvolve o conceito de justiça como equidade e

discorre sobre o conceito de dignidade da pessoa humana vinculada à satisfação dos

bens necessários mínimos para que, de fato, o indivíduo seja capaz de exercer a

cidadania. Portanto, os elementos aqui apresentados podem contribuir para a análise

sobre a qualidade de vida aplicada aos RS, partindo da premissa de que a qualidade

de vida é condição indissociável ao atendimento das necessidades básicas dos

cidadãos, como fator de cooperação na sociedade em que vive.

A delimitação de qualidade de vida apresentada por Herculano (2000) e sua relação

com os pressupostos apresentados por Weber (2013) maximizam o diálogo entre os

elementos gestão social, qualidade de vida e a sustentabilidade. Portanto, em

andamento ao diálogo teórico até aqui realizado, nos requisitos propostos na

Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF/88), verifica-se o delineamento dos

direitos sociais dos cidadãos brasileiros e que para este estudo tornam-se importantes

alguns recortes que serão discorridos a seguir.

Objetivamente, a CF/88 define como seus princípios fundamentais a cidadania, a

dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

dentre outros, e também estabelece como um dos objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil, a erradicação da pobreza e da marginalização e a

redução das desigualdades sociais e regionais, objetivo este que possui grande

relação com esta pesquisa.

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Para esse estudo é importante ressaltar que no artigo 5º, inciso XIII da CF/88 é

apresentado o direito de liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou

profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (BRASIL,

1988), condição diretamente relacionada aos indicadores da subcategoria Práticas

Trabalhistas e Trabalho Decente, das diretrizes da GRI e reportados pelas

organizações em seus RS.

A CF/88 também destaca no seu artigo 6º que "são direitos sociais a educação, a

saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados, na forma desta Constituição." (BRASIL, 1988). Em seguida, no artigo

7º, a CF/88 apresenta a relação de direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além

de outros que visam melhoras em sua condição social evidenciando os direitos sociais

que devem ser garantidos a eles. A proposta desses artigos concretiza o preconizado

pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que em seu artigo 25

estabelece que

todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle (UNESCO, 1998, p. 5).

Na perspectiva apresentada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,

verifica-se o alinhamento brasileiro como país comprometido com esta causa, o que

é evidenciado no artigo 79, da CF/88, em que é instituído o Fundo de Combate e

Erradicação da Pobreza, que tem como objetivo viabilizar o acesso a níveis dignos de

subsistência a todos os brasileiros, com a aplicação de "ações suplementares de

nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda familiar e outros programas

de relevante interesse social voltados para melhoria da qualidade de vida."

Contudo, ainda é necessário observar, nas iniciativas de sustentabilidade

organizacional, a existência ou não de práticas consistentes e coerentes de promoção

da emancipação social, do conjunto de sujeitos interessados nos resultados da

sustentabilidade organizacional, considerando que a emancipação social, de acordo

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com Lima e Pereira (2015), seria um dos objetivos principais da gestão social e que,

neste caso, busca-se observar a sua aplicação em um contexto organizacional

estimulado pelas diretrizes da GRI e que precisam estar devidamente relatadas em

seus RS.

Um olhar crítico sobre sustentabilidade é apresentado por Abramovay (2012) que

destaca a necessidade de pensar em um novo modelo de governança, com foco no

gerenciamento dos limites no uso de recursos naturais e nos seus impactos,

enfrentando as desigualdades de distribuição e do uso desses recursos e lutando

contra a pobreza na economia global e no interior dos diferentes países. O autor afirma

que o desafio da governança contemporânea está na gestão dos excessos das

desigualdades e esta deve estar no âmago das decisões econômicas públicas e

privadas, o que reforça o propósito deste estudo ao observar as potencialidades da

relação da Gestão Social e a Sustentabilidade.

Ademais, apresenta-se no Quadro 2.3, uma compilação comparativa das

características de Gestão Social e de Sustentabilidade aplicáveis a essa pesquisa ao

contribuírem com a reflexão sobre as concepções de gestão social presentes nas

diretrizes da GRI, dos relatórios de sustentabilidade e das pessoas que os elaboram.

Quadro 2.3 – Características comparativas de Gestão Social e Sustentabilidade

Elementos de Gestão Social Pilar Social da Sustentabilidade

Papel central do ser humano para as mudanças sociais (participação).

Papel central do ser humano para as mudanças do modelo de desenvolvimento.

Foco na qualidade de vida, saúde, educação, cultura, lazer e informação (Direitos Humanos).

Desempenho econômico, social e ambiental.

Orientada pelas questões de natureza social. Objetiva o bem-estar social.

Debate crítico e apreciação intersubjetiva para validação da ação social.

Governança e atuação na construção da ação social de interesse público.

Cidadania deliberativa, igualdade política e decisória (democracia).

Cidadania crítica para a construção e operacionalização da nova era do desenvolvimento que objetiva a qualidade de vida e o bem-estar socioambiental.

Fonte: Elaborado pelos autores.

O propósito da apresentação e inter-relacionamento dessas características é delimitar

parâmetros mínimos sobre as potencialidades da sustentabilidade organizacional

orientada pela gestão social, e evidenciar que ações e indicadores relativos à

qualidade de vida, bem-estar socioambiental e garantia dos direitos humanos são

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91

objetos essenciais dessa relação e da sua orientação para o DS. Logo, o Quadro 2.3

ainda justifica o subsídio do arcabouço legal, apresentado anteriormente, às

condições de diálogo entre os elementos de gestão social, qualidade de vida e a

sustentabilidade propostos por Weber (2013).

Segundo essa perspectiva, de que a Gestão Social pode ser efetivada de acordo com

que a qualidade de vida seja promovida em relação à garantia dos direitos

fundamentais, dos direitos humanos e dos bens mínimos necessários para sustentar

os direitos à cidadania, pois estes também viabilizarão os outros elementos da gestão

social, como a apreciação intersubjetiva e a igualdade decisória discutidas por Tenório

(2009) e Cançado, Tenório, Pereira (2011).

Portanto, desta discussão emerge o propósito desta pesquisa no que tange ao

fomento à mudança do paradigma existente sobre o pilar social no contexto das

organizações, paradigma arraigado nas iniciativas pontuais em relação à sociedade,

em alguns casos inclusive assistencialistas e filantrópicas, e em ações de

cumprimento legal relativa às relações de trabalho. Propósito genuíno quando

observada a argumentação de Tenório (2009) relativa à necessidade de se

estabelecer um novo marco conceitual sobre gestão social, capaz de sensibilizar os

gestores das organizações na perspectiva de que as ações organizacionais precisam

ter como fator determinante a sociedade e não o mercado. Esta é uma premissa

discutida por Dowbor (1999) que também critica a limitação do social tratado por uma

gestão de visão puramente estratégica, de cunho filantrópico e assistencialista.

Diante do paradigma discutido, Morcelli e Ávila (2016) afirmam, sobre a mudança

gradual do perfil das iniciativas de responsabilidade social nas organizações da

responsabilidade social no decorrer do tempo, que implica na inferência de um campo

aberto a ser debatido, no qual existem possibilidades de avanços como os propostos

nesta pesquisa, considerando a gestão social como uma referência plausível e

adequada para as inovações sociais concernentes à maximização dos resultados das

iniciativas de responsabilidade social e do amadurecimento de todo o processo de

gestão no contexto do pilar social da sustentabilidade organizacional.

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92

3 METODOLOGIA

3.1 Procedimentos de pesquisa

Este estudo apresenta abordagem qualitativa e quantitativa de cunho descritivo. Os

procedimentos incluíram a realização de pesquisa documental com análise estatística

de correlação dos resultados (clusters) e, para a pesquisa de campo, foram realizadas

entrevistas, cujos dados coletados foram submetidos à análise de conteúdo proposta

por Bardin.

A pesquisa analítica documental foi realizada por exame de dados secundários de

Relatórios de Sustentabilidade das organizações públicas, privadas e sem fins

lucrativos selecionadas por critérios objetivos. Os Relatórios foram selecionados da

base de dados disponibilizada pela GRI, na Lista de Relatórios GRI (2016), que

apresenta os endereços eletrônicos nos quais as organizações disponibilizam

publicamente seus Relatórios de Sustentabilidade.

As orientações para utilização da base de dados estão na publicação Legenda de

dados (GRI, 2015) do Banco de Dados de Sustentabilidade da GRI (2016). Estes

Relatórios, juntamente com as orientações das Diretrizes da GRI – G4, correspondem

às fontes da pesquisa ou unidades de análise, que de acordo com Alves-Mazotti e

Gewandsznajder (1998), constituem a forma de organização dos dados para a

realização da análise.

As informações referentes aos Relatórios de Sustentabilidade foram observadas e

tabuladas no que tange a existência de conteúdo sobre cada um dos 78 indicadores

da categoria social das diretrizes da GRI e a realização de verificação externa,

independente destes conteúdos, conhecida como asseguração externa, o que atribui

maior confiabilidade às informações prestadas. O resultado desta pesquisa

documental foi objeto de uma análise estatística de correlação entre os itens e

reagrupamento dos indicadores do pilar social por clusters (agrupamentos), com maior

perfil de similaridade na perspectiva de apresentação do conteúdo e de sua

verificação externa.

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93

A pesquisa de campo buscou informações através de pessoas responsáveis pelo

processo de consolidação e elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade das

organizações selecionadas na etapa da pesquisa documental. Estas pessoas

usualmente possuem uma visão ampliada sobre os Relatórios da organização na qual

trabalham e esclareceriam as questões relativas à utilização das diretrizes da GRI, as

ações e indicadores de sustentabilidade e os procedimentos utilizados para a

elaboração e divulgação do Relatório de Sustentabilidade das organizações

selecionadas. Após a coleta de dados pelas entrevistas, a análise de conteúdo das

informações prestadas foi realizada com o auxílio do programa Iramuteq e dos

métodos propostos por Bardin (2011).

3.2 Cenário da pesquisa

Em relação ao cenário dos RS disponíveis para análise, de acordo com a Lista de

Relatórios GRI (2016), no ano de 2015, no Brasil, foram publicados 262 Relatórios,

dos quais 157 já utilizaram a geração 4 das diretrizes GRI e, desses, 24 utilizaram a

opção “Abrangente” de Relatório previsto nas diretrizes da GRI–G4. Com base em

critérios de inclusão e exclusão preestabelecidos, descritos no item 4.2.1, esta

pesquisa analisou 12 RS28 e contemplou as declarações dos 4 responsáveis pela

elaboração dos RS de suas organizações que se disponibilizaram a participar das

entrevistas.

3.2.1 Fontes da pesquisa documental

Diante do cenário de pesquisa apresentado, o levantamento documental dos RS foi

realizado por amostra não probabilística, que conforme Richardson (2012), as

unidades de pesquisa foram selecionadas por meio de critérios estabelecidos pela

intencionalidade da escolha. Logo, foram utilizados, como referência para a seleção

dos RS, os seguintes critérios de inclusão e exclusão e suas justificativas:

28 Associação Comercial de São Paulo (ACSP); Banco do Brasil; Bunge Alimentos Brasil; Caixa Econômica Federal; Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV); Instituto da Oportunidade Social (IOS); Itaipu Binacional; Santander – Brasil; Sírio Libanês Hospital; Tractebel Energia (atual Engie Brasil Energia); Unimed Cuiabá; Unimed Sorocaba.

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94

• Emitidos por organizações brasileiras: pela similaridade cultural, espacial e

política, mesmo considerando os regionalismos existentes, e por estarem

submetidas aos mesmos parâmetros normativos e legais que as regulam.

• Utilizarem a geração 4 das diretrizes da GRI, publicada em 2013, que

contempla o resultado dos debates sobre sustentabilidade das organizações e

dos especialistas de todo o mundo, envolvidos no processo de revisão.

• Relatórios publicados em 2015, pois é o ano com a relação de RS já

consolidada na Lista de Relatórios GRI (2016) disponibilizada.

• Utilização da opção “Abrangente”29 desses Relatórios prevista nas diretrizes da

GRI – G4: existem três classificações de formato dos Relatórios de

Sustentabilidade, o de acordo “Essencial”, o “Abrangente” ou o “Não

declarado”, que designam o conteúdo a ser incluído no Relatório, e a opção

“Abrangente” amplia a quantidade de informações disponíveis para a análise

na pesquisa.

• Organizações de atuação em setores distintos, pois isso permite que, na

análise dos dados, seja possível a comparação das percepções sobre gestão

social nas diferentes esferas de atuação, uma vez que possuem escopos de

atuação distintos, seja mais próximo ou não dos interesses sociais ou privados.

De acordo com Marconi e Lakatos (2010), a técnica de amostragem não probabilística

por tipicidade atribui ao pesquisador a busca por uma amostra representativa diante

das características da pesquisa que o impedem de utilizar uma amostra probabilística.

Essa técnica de amostragem não probabilística tornou-se aplicável a este estudo,

sendo uma das opções, a definição de um subgrupo que tenha propriedades típicas

da publicação dos Relatórios de Sustentabilidade, inferindo que os componentes

desse subgrupo também possuam características típicas relativas à apresentação das

suas práticas e indicadores da categoria social em seus Relatórios. Portanto, para a

pesquisa documental, foram utilizados os critérios de tipicidade relacionados como

critérios de inclusão e exclusão e são apresentados no Quadro 2.4 para a seleção do

29 De acordo com a GRI (2015, p. 11), os Relatórios elaborados conforme a GRI – G4 podem ser classificados em “De acordo – Essencial”, “De acordo – Abrangente” ou “Não declarado”, sendo este quando não há explicitado a opção “de acordo”, mas segue todo índice de conteúdo GRI.

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95

subgrupo de Relatórios de Sustentabilidade que serão utilizados na pesquisa a partir

da Lista de Relatórios GRI (2016).

Quadro 2.4 – Critérios de tipicidade para definição das unidades de pesquisa

Critérios Universo da pesquisa

documental Cenário da pesquisa

documental Unidades de pesquisa

Ano de publicação

1999 – 2015 2015 5609

País 100 países Brasil 262

Tipo de Relatórios

• Non – GRI

• GRI – Referenced

• GRI – G1

• GRI – G2

• GRI – G3

• GRI – G3.1

• GRI – G4

• GRI – G4

157

Tipo de organização30

• Instituição Pública

• Empresa Estatal

• Empresa Privada

• Subsidiária

• Parceria Cooperativa

• Organização Sem Fins Lucrativos

• Instituição Pública

• Empresa Estatal

• Empresa Privada, Subsidiária, Parceria

• Cooperativa

• Organização Sem Fins Lucrativos

InexistenteA

8 131

8 A

6 A

Nível de aderência

• De acordo – Abrangente

• De acordo – Essencial

• Não declarado

• De acordo – Abrangente para Empresas Estatais, Empresas Privadas, Subsidiárias, Parcerias e Cooperativas

• De acordo – Essencial para Organizações Sem

Fins LucrativosB

Empresa Estatal - 3 Empresa Privada, Subsidiária, Parceria –

17C

Cooperativa - 2 Organização Sem Fins Lucrativos - 4

Fonte: Elaborado pelos autores. Notas: A Ao analisar o resultado dos critérios aplicados à Lista de Relatórios GRI (2016), verificou-se que a organização listada como Instituição Pública de fato é uma Cooperativa, assim como duas organizações que foram classificadas como Organizações sem Fins Lucrativos. Uma das organizações classificadas como Cooperativa é uma Empresa Privada. Essa verificação foi realizada no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) disponibilizado na internet pela Receita Federal Brasileira, por consulta da descrição de natureza jurídica dessas organizações. Considerando a inexistência de informações complementares que justifiquem a alocação das organizações citadas em outra categoria da Lista de Relatórios GRI (2016), essas foram desconsideradas como objetos de análise e não constam na tabela. B Não consta, em 2015, Relatório de Sustentabilidade com nível de aderência “De acordo – Abrangente”, publicado por alguma Organização Sem Fins Lucrativos no Brasil (GRI, 2016). C Ao se filtrar as Empresas Privadas, Subsidiárias e Parcerias, com Relatórios “De acordo – Abrangente” GRI – G4 em 2015, foi identificado que uma delas é uma Organização Sem Fins

30 De acordo com o GRI (2015, p. 16), a empresa estatal corresponde a uma entidade jurídica criada por um governo, a fim de realizar atividades comerciais em nome do governo. As empresas subsidiárias são aquelas controladas por uma outra empresa por meio da posse de 50% ou mais do seu capital e a parceria corresponde a uma formação de empresas ou indivíduos com o propósito de avançar os seus interesses comerciais.

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96

Lucrativos, logo, também foi desconsiderada na análise. Das 17 empresas, serão definidas aqueles que serão objeto desse estudo.

Para a definição de quais das 17 Empresas Privadas, Subsidiárias e/ou Parcerias

terão seus Relatórios analisados, foi aplicada uma avaliação qualitativa do histórico

de publicações da Lista de Relatórios GRI (2016) para que fossem selecionadas

aquelas organizações com maior homogeneidade referente à maturidade de

elaboração dos seus Relatórios.

O primeiro filtro para a seleção dessas empresas foi ter iniciado a publicação de seus

Relatórios, no mínimo no ano de 2011, ano de publicação da versão GRI – G3.1,

geração anterior à GRI – G4. Aplicando tal critério, foi realizada a análise qualitativa

da versão das diretrizes utilizadas nos Relatórios e, com referência a elas, verificar o

melhor nível de aderência e o status de 13 empresas, priorizando como objeto de

estudo aquelas empresas que demonstrem maturidade de publicação pela quantidade

de itens de melhor parâmetro dentre àqueles disponíveis pelas diretrizes da GRI.

Para compilação e uso desses critérios de seleção das organizações que tiveram seus

Relatórios 2015 analisados, foi utilizada a Lista de Relatórios disponibilizada pela GRI

para a realização desta pesquisa, que contempla o banco de dados de Relatórios de

1999 a 01 de agosto de 2016. Foram aplicados na planilha correspondente ao ano de

2015, os filtros descritos no Quadro 2.4, após essa seleção, as organizações foram

buscadas na planilha Overview, que consiste em uma compilação que demonstra o

histórico de publicações por empresa. Desta última planilha foram selecionadas as

organizações classificadas como Empresas Privadas, considerando aquelas que

possuem o maior número de publicações de Relatórios de Sustentabilidade com

melhor classificação de maturidade, como apresentado no Quadro 2.5.

Esclarecendo os parâmetros utilizados, de forma decrescente de maturidade,

conforme a GRI (2015, p. 11-12), tem-se:

• Relatórios GRI – G4: De acordo – Abrangente (IA – Abrang.), De acordo –

Essencial (IA – Essec.) ou Não declarado (U).

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97

• Relatórios GRI – G3 e GRI – G3.1: A+, A, B+, B, C+, C ou Não declarado (U).

A classificação A, B ou C refere-se ao nível de aplicação da estrutura de

Relatórios da GRI, sendo respectivamente iniciantes, intermediários e

avançados. O símbolo + indica que o Relatório passou por verificação externa

e inclui uma declaração de verificação externa. Para os Relatórios dessas

versões, ainda foi verificado o seu status, sendo: Verificado pela GRI (GRI) ou

Terceira parte (3p), ou Auto declaração (Sd).

• Relatórios GRI–G2: De acordo (IA) ou somente o Índice de Conteúdo (CI).

Para a demonstração dessa similaridade, foram destacados no Quadro 2.5 os

parâmetros de maturidade elencados de acordo com os requisitos estabelecidos pela

GRI (2015) na publicação intitulada Legenda de dados, que deve ser utilizada

juntamente com o Banco de Dados de Sustentabilidade da GRI (2016).

Quadro 2.5 – Tipicidade de Unidades de Pesquisa por similaridade da maturidade

em publicação de Relatórios de Sustentabilidade

Org

an

iza

çã

o Ano

Ma

turi

dad

e

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

A 0 0 0 0 G3 C

GRI

G3 B 3p

G3 B 3p

G3.1 A 3p

G3 A 3p

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

2

B G2 CI

G2 CI

G3 A+ 3p

G3 A+ 3p

G3 A+ 3p

G3 A+ 3p

G3 A+ 3p

G3 A+ 3p

G3 A+ 3p

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

9

C 0 0 G3 B+ Sd

G3 B+ 3p

G3 B+ 3p

G3 A+ 3p

G3 A+ 3p

G3.1 A+ 3p

G3 A+ 3p

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

6

D 0 0 0 0 0 G3 C Sd

0 G3 A

Sd

G3 A

Sd

G3 A

Sd

G4 IA – Abrang.

1

E 0 0 0 0 0 G3 C Sd

G3.1 B

GRI

G3.1 A

GRI

G3.1 A

GRI

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

2

Continua...

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98

... Continuação

F 0 0 0 G3 C Sd

G3 B

Sd

G3 B

Sd

G3 B

Sd

G3 B

Sd

G3.1 B

Sd

G3.1 B

Sd

G4 IA – Abrang.

1

G 0 0 0 0 0 G3 B+ 3p

G3 B+ 3p

G3.1 A+ 3p

G3.1 A+ 3p

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

4

H 0 0 0 0 0 G3 C

GRI

G3 B

GRI

G3.1 A+ GRI

G3.1 A+ GRI

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

4

I 0 0 0 G3 B

Sd

G3 A

Sd

G3 A

Sd

G3 A

GRI

G3 A

GRI

G3 A

GRI

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

2

J 0 0 0 0 0 0 G3.1 A+ 3p

0 G3.1

B Sd

G4 IA – Essec.

G4 IA – Abrang.

2

L 0 0 0 0 G3 B

Sd

G3 B

Sd 0

G3 B

Sd

G3 B

Sd

G3.1 U

G4 IA – Abrang.

1

M 0 0 G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

0 G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

G4 U

G4 IA – Abrang.

7

N 0 0 0 G3 C

GRI

G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

G3 A+ GRI

G4 IA – Abrang.

G4 IA – Abrang.

7

Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com GRI (2016). Nota: As células coloridas correspondem àqueles parâmetros de maior maturidade e foram contabilizados na última coluna.

De acordo com as informações apresentadas no Quadro 2.5, foram objeto de estudo

aquelas empresas que apresentaram de 7 a 9 itens classificados como os melhores

parâmetros de publicação. Portanto, mais três Empresas Privadas, Subsidiárias ou

Parcerias também foram objeto desta pesquisa, juntamente com as organizações já

definidas, totalizando 12 RS. Logo, os 12 Relatórios de Sustentabilidade fontes da

pesquisa documental foram:

• 3 (três) de Empresas Estatais: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e

Itaipu Binacional.

• 3 (três) de Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias: Bunge Alimentos

Brasil, Santander – Brasil e Tractebel Energia (atual Engie Brasil Energia).

• 2 (duas) Cooperativas: Unimed Cuiabá e Unimed Sorocaba.

• 4 (quatro) Organização Sem Fins Lucrativos: Associação Comercial de São

Paulo (ACSP), Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias

(inpEV), Instituto da Oportunidade Social (IOS) e Sírio Libanês Hospital.

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Em 2015, não foram publicados Relatórios de organizações sem fins lucrativos na

categoria “Abrangente”, logo, devido à importância deste grupo de organizações para

a pesquisa, os seus Relatórios que serão analisados são da categoria “De acordo –

Essencial”. Por fim, ressalta-se que esses dados foram organizados a partir da

planilha disponibilizada pelo escritório central da GRI, por e-mail, conforme solicitado

pelos pesquisadores (ANEXO A), e os RS estão disponíveis no site da GRI bem como

nos sites das respectivas organizações. O Anexo A apresenta o e-mail de

disponibilização da planilha e a autorização da GRI para o seu uso nesta pesquisa.

3.2.2 Sujeitos da pesquisa de campo

Na etapa de pesquisa de campo, realizaram-se entrevistas com profissionais

envolvidos na compilação e elaboração dos RS. As entrevistas foram orientadas por

roteiro semiestrurado apresentado no Apêndice E. Todas as 12 organizações

selecionadas na etapa da pesquisa documental foram convidadas por e-mails e por

contatos telefônicos para participarem das entrevistas, e tiveram livre escolha em

contribuir com essa pesquisa, conforme os aspectos éticos orientadores deste estudo

e discorridos no item 4.6. Nesse contexto, as organizações participantes forneceram

anuência para a realização das entrevistas (APÊNDICE A) e os entrevistados

assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) apresentados no

Apêndice C.

Os profissionais entrevistados foram selecionados pelos seguintes critérios:

• Terem envolvimento direto na coordenação, elaboração e revisão dos

Relatórios de Sustentabilidade das organizações objeto de estudo, com

conhecimento sistêmico sobre a estrutura e conteúdo dos relatórios. Serem

empregados próprios dessas organizações.

• Serem indicados pelas organizações mediante a apresentação dos dois

critérios anteriores.

O processo de realização dos contatos, esclarecimentos sobre a pesquisa e a

realização das entrevistas ocorreram no período de janeiro a julho de 2017. As

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100

entrevistas subsidiaram a compreensão sobre a categoria social desses sujeitos no

contexto de suas organizações e também sobre as concepções de gestão social

presentes nos RS estudados nessa pesquisa.

3.3 Instrumentos de coleta de dados

3.3.1 Coleta de Dados da Pesquisa Documental

Como as fontes da pesquisa documental foram os RS das organizações já definidas,

o levantamento documental para esse estudo foi realizado com o download dos

Relatórios de Sustentabilidade das organizações selecionadas e publicados em 2015,

além das diretrizes da GRI – G4. Os Relatórios de Sustentabilidade estavam

relacionados na Lista de Relatórios GRI (2016), que incluem o endereço eletrônico

desses Relatórios. Destes Relatórios foram extraídos os dados e as informações e

organizados em planilha eletrônica Microsoft Excel® para que fosse possível a

realização posterior da análise estatística realizada pelo programa Minitab®.

3.3.2 Coleta de Dados da Pesquisa de Campo

Como instrumentos de coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas

que foram gravadas e, posteriormente, transcritas utilizando-se o Microsoft Word® e

os corpus textuais preparados conforme os requisitos do programa de análise de

conteúdo Iramuteq. Este tipo de abordagem permitiu uma percepção qualitativa que

pode não ter sido coletada, ou mesmo, apresentada nos dados presentes nos

Relatórios analisados.

O roteiro de entrevista está descrito no Apêndice E, devido à distância ou às

dificuldades de realização das entrevistas de forma presencial, estas foram realizadas

por teleconferência e conferência virtual, em datas e horários pré-agendados com os

entrevistados. Os TCLE foram encaminhados aos entrevistados para assinatura e

retornaram ao pesquisador antes das entrevistas, assim como, as autorizações para

coleta de dados, conforme o Apêndice C, foram emitidas pelos responsáveis

pertinentes das organizações. Os critérios éticos foram cumpridos tanto na solicitação

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101

de anuência das organizações para realização das entrevistas bem como para cada

um dos entrevistados.

3.4 Análise de Dados da Pesquisa Documental

Como primeira etapa da análise de dados da pesquisa documental, verificou-se a

apresentação dos 78 indicadores da categoria social das diretrizes da GRI, no

Sumário de conteúdo da GRI - G4, dos 12 RS. A existência dessas informações dos

sumários foi confirmada no decorrer do relatório. Também fez parte da primeira etapa

da análise de dados, a identificação das informações dos indicadores que foram

verificadas externamente por empresa independente, processo também conhecido

como auditoria externa ou asseguração externa do Relatório de Sustentabilidade.

Esse conjunto de informações foi tabulado em planilha Microsoft Excel®, utilizando

códigos numéricos, em formato de níveis de qualidade de dados, sendo:

• 0 – Informação não contemplada no sumário;

• 1 – Informação não apresentada;

• 2 – Informação parcialmente apresentada sem verificação externa;

• 3 – Informação parcialmente apresentada com verificação externa;

• 4 – Informação apresentada sem verificação externa;

• 5 – Informação apresentada com verificação externa.

Para melhor operacionalização das variáveis, cada indicador recebeu um código

alfanumérico para as representações gráficas e estão apresentados nas legendas no

decorrer da apresentação dos resultados.

Após a tabulação dos dados referente à pesquisa documental, utilizando as

funcionalidades do programa computacional Minitab®, versão 18, foi realizada a

análise de cluster de variáveis para obter um agrupamento dos 78 indicadores da

categoria social reportados pelas 12 organizações, com maior similaridade entre si e

de acordo com os níveis de qualidade de dados definidos e descritos anteriormente.

O método utilizado para determinação das similaridades foi o de ligação completa

através de distâncias do coeficiente de correlação e resultou em oito clusters.

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102

Após a definição dos clusters de variáveis, cada um dos agrupamentos foi analisado

no que tange à composição pelos indicadores da categoria social e, por conseguinte,

foram classificados qualitativamente. Após essa etapa, foi realizada uma análise de

cluster das 12 organizações pesquisadas, para cada um dos oito clusters

estabelecidos, verificando, desta forma, o comportamento do perfil organizacional em

relação a cada agrupamento de indicadores. Nesta segunda análise de cluster foi

utilizado o método de ligação completa através de distâncias euclidianas para a

determinação das similaridades entre as organizações.

Para descrever o perfil das empresas pelas categorias nas quais elas são

classificadas (estatais, privadas, cooperativas e sem fins lucrativos), em relação aos

oito clusters de variáveis, foi utilizado o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis e a

comparação múltipla com correção de Bonferroni.

3.5 Análise de Dados da Pesquisa de Campo

Para a análise de dados da pesquisa de campo, foi utilizada a técnica de análise de

conteúdo por categorias e análise da enunciação conforme Bardin (2011). Segundo a

autora, a análise de conteúdo se difere da análise documental ao se atribuir a

inferência ao processo da análise categórica temática. Ainda cabe destacar que a

análise de conteúdo trabalha com as mensagens e sua manipulação, com o propósito

de esclarecer o conteúdo e a expressão desse conteúdo que pode demonstrar os

indicadores capazes de permitir a inferência de outra realidade que não se limitando

àquela descrita na mensagem.

No caso específico da análise da enunciação, Bardin (2011) destaca que este tipo de

análise se apoia na perspectiva da comunicação como um processo de elaboração,

comportando contradições, incoerências e imperfeições e, no contexto de uma análise

lógica da enunciação, tem-se também o conhecimento sobre o arranjo do discurso.

Logo, considerando que os entrevistados possuem seus posicionamentos

espontâneos e os constrangimentos relacionados aos relatos focados nas instituições

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103

que representam, este tipo de análise representou um método promissor para essa

pesquisa.

Ainda segundo Bardin (2011), a organização da análise de conteúdo é realizada em

três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados,

inferência e interpretação. Na pré-análise, as ideias são sistematizadas e

operacionalizadas para tornar preciso o desenvolvimento das ações. Nessa etapa, as

entrevistas a serem analisadas foram consolidadas, os objetivos e hipóteses definidos

e os indicadores, para fundamentar a interpretação final, foram elaborados.

Na exploração do material, as decisões tomadas na etapa de pré-análise foram

sistematizadas e aplicadas. Logo, no contexto desta pesquisa, essa etapa foi

realizada manualmente, utilizando, respectivamente, o texto transcrito em Microsoft

Word®, para compilação das informações, e o software Iramuteq, para as

codificações, decomposição e enumeração pertinentes. Por fim, a etapa de tratamento

dos resultados obtidos, inferência e interpretação corresponderam à fase de

tratamento da significância e validação dos resultados brutos alcançados na etapa

anterior (BARDIN, 2011).

Cabe destacar que a técnica utilizada na análise de conteúdo também contemplou a

análise da enunciação do conteúdo. Esta, de acordo com Bardin (2011), se desvia

das estruturas e dos elementos formais, assim como percebe a comunicação como

um processo e, não, como um conjunto de dados. Essa percepção ampliada do

conteúdo das entrevistas realizadas contribui com a busca da compreensão conceitual

presente no processo de elaboração dos RS.

3.6 Aspectos Éticos

Considerando que a pesquisa utilizou entrevistas como instrumento de coleta de

dados, os aspectos éticos foram contemplados em seu desenvolvimento. Após o

exame de qualificação em outubro de 2016, este projeto foi cadastrado na Plataforma

Brasil, que o enviou ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Newton

Paiva, observando os requisitos da Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de

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104

Saúde, que estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas

envolvendo seres humanos no Brasil, de acordo com o Termo de Compromisso

apresentado no Apêndice B, para análise de viabilidade. Os requisitos sobre os

aspectos éticos das pesquisas em ciências humanas e sociais também foram

observados, conforme os requisitos da Resolução nº 510/2016, do Conselho Nacional

de Saúde.

O projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil pelo registro CAAE

62865616.0.00005097 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro

Universitário Newton Paiva, pelo parecer nº 1.892.159 que foi emitido em 17 de janeiro

de 2017 (ANEXO B).

Os entrevistados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APÊNDICE C), emitido em duas vias, sendo que uma delas ficou com a pessoa

entrevistada. Para as entrevistas realizadas, também foi solicitada a Autorização para

Coleta de Dados emitida pela organização, conforme o Apêndice A. Ressalta-se que

esse procedimento ocorreu após a anuência das respectivas organizações para

realização dessas entrevistas visto que os relatórios são disponibilizados para o

público em geral tanto no site da GRI quanto nos sites organizacionais, de acordo com

o termo de compromisso apresentado no Apêndice D.

Neste interim, salienta-se que as conclusões e interpretações, resultantes das

análises das informações coletadas pelas entrevistas realizadas e contidas neste

estudo, não representam, necessariamente, a posição das organizações

participantes.

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105

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Caracterização dos Relatórios de Sustentabilidade

De acordo com o GRI (2016), dentre as 12 organizações, objeto desse estudo, duas

delas são classificadas como pequenas e médias organizações, sendo elas o Instituto

Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) e o Instituto da

Oportunidade Social (IOS). Todas as demais são classificadas como grandes

organizações, sendo elas: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaipu

Binacional, Bunge Alimentos Brasil, Santander – Brasil, Tractebel Energia (atual Engie

Brasil Energia), Unimed Cuiabá, Unimed Sorocaba, Associação Comercial de São

Paulo (ACSP) e Sírio Libanês Hospital. As organizações classificadas como grandes,

o Santander – Brasil e a Tractebel Energia (atual Engie Brasil Energia) são empresas

privadas com ações listadas em bolsa de valores, assim como o Banco do Brasil, que

possui uma parte de ações sem propriedade governamental e negociadas em bolsa

de valores.

Em relação aos setores de atuação, as organizações selecionadas estão classificadas

na lista do GRI (2016) como três organizações de serviços financeiros (Banco do

Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander – Brasil); três organizações de serviços

de saúde (Unimed Cuiabá, Unimed Sorocaba e Sírio Libanês Hospital); duas

organizações de energia (Itaipu Binacional e Tractebel Energia); duas organizações

de serviços sem fins lucrativos (IOS e ACSP), uma de alimentos e bebidas (Bunge

Alimentos Brasil) e uma de agricultura (inpEV).

A maioria dos Relatórios de Sustentabilidade foram publicados no segundo semestre

de 2015 e, apenas dois deles, no primeiro semestre de 2016, conforme a lista do GRI

(2016). Ressalta-se que esses relatórios apresentam informações consolidadas do

ano de 2014.

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106

Dos 12 relatórios analisados, as organizações inpEV, Santander – Brasil e Sírio

Libanês Hospital utilizaram o serviço de divulgação de materialidade da GRI31 e duas

organizações utilizaram o serviço de índice de conteúdo (CI) da GRI32, Itaipu

Binacional e Unimed Sorocaba.

Das organizações analisadas nesta pesquisa, quatro não tiveram verificação externa

ou asseguração externa por auditores independentes, sendo elas a ACSP, Bunge

Alimentos Brasil, inpEV e Unimed Sorocaba. Das demais, de oito organizações que

tiveram as informações dos seus relatórios asseguradas externamente por auditores

independentes, duas delas foram auditadas pela KPMG, sendo elas o Banco do Brasil

e Itaipu Binacional (ambas em asseguração limitada33); duas auditadas pela

PricewaterhouseCoopers, foram elas, IOS (auditoria das informações contábeis) e

Tractebel Energia (asseguração limitada); a Caixa Econômica Federal foi auditada

pela Ernst & Young (asseguração limitada e não contemplou os indicadores da

categoria social como G4-HR4, G4-HR8, G4-HR11, G4-SO2, G4-PR4 e G4-PR8,

descritos no Apêndice F), o Santander – Brasil foi auditado pela Deloitte (asseguração

limitada), o Sírio Libanês Hospital foi auditado pela DNV (asseguração limitada), e a

Unimed Cuiabá verificada pela consultoria M. de Menezes Consultoria no seu

relatório, como foco no acompanhamento e verificação das informações prestadas.

Prosseguindo no processo de caracterização das organizações e dos RS, o Banco do

Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Itaipu Binacional, o Santander – Brasil e a

Tractebel Energia indicam referência ou uso objetivo dos princípios do Pacto Global

das Nações Unidas34. A seguir, um relato que ilustra esse compromisso no cenário do

31 Serviço prestado pela GRI que verifica as informações que a organização forneceu sobre seu processo de materialidade utilizado para a elaboração do RS, avaliando se esse processo está de acordo com as diretrizes da GRI no que tange ao envolvimento e engajamento das partes interessadas, aos métodos de definição e limites do conteúdo presente no RS. 32 Serviço prestado pela GRI que auxilia a melhoria da precisão e usabilidade do índice de conteúdo do RS, avaliando se esse índice está de acordo com as diretrizes da GRI. 33 Trabalho realizado por auditor independente no qual o risco do trabalho foi reduzido a um nível aceitável nas circunstâncias apresentadas pelas organizações em seus RS. 34 O Pacto Global é uma iniciativa da ONU que tem como propósito a mobilização das empresas para a adoção dos seus dez princípios universais, dos quais as organizações podem se tornar signatárias. No contexto dos RS, a conexão dos princípios do Pacto Global com as diretrizes da GRI está relacionada às práticas e resultados das organizações no que tange os direitos humanos, as comunidades locais, as relações entre trabalhadores e empregadores, a liberdade de associação e negociação coletiva, as questões referentes ao trabalho forçado ou análogo ao escravo, assim como o

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107

Santander – Brasil e o desdobramento deste compromisso em ações e metas para o

banco e sua relação com a importância dessas ações para as partes interessadas.

A sustentabilidade faz parte da estratégia de negócios do Santander. Alinhado à agenda de desenvolvimento do País e aos compromissos empresariais assumidos – que estimulam as práticas de responsabilidade socioambiental, como o Pacto Global, foram estabelecidas metas vinculadas aos temas de alta materialidade, apontados como relevantes pelos públicos de relacionamento do Santander. As metas estão organizadas a partir dos eixos estratégicos de atuação: Inclusão Social e Financeira, Educação e Negócios Socioambientais. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 65).

Todavia, a única organização de serviços financeiros que relata a adoção dos padrões

da International Finance Corporation (IFC)35 é o Banco do Brasil, no sentido de

assegurar que investimentos possuam resultados de desenvolvimento social de forma

responsável além de outros objetivos.

Os projetos avaliados pelo BB são enquadrados em uma matriz de risco socioambiental, que identifica impactos e riscos relevantes e medidas de gestão. (BANCO DO BRASIL, 2015, p. 92).

De acordo com a categoria de financiamento, a IFC exige do cliente o

desenvolvimento ou manutenção de um sistema de gestão ambiental e social. Em

caso de situações específicas de alto risco, o banco pode solicitar ao cliente a

complementação de sua documentação de avaliação com uma due diligence36 com

objeto específico sobre questões relacionadas aos direitos humanos ou uma avaliação

social ou ambiental de escopo específico, realizada como uma auditoria.

Dos relatórios pesquisados, a Tractebel Energia foi a única que fez referência à

utilização das recomendações da ISO 2600037 no conteúdo das avaliações de

trabalho infantil, as iniciativas sobre a não discriminação, os aspectos ambientais, o combate à corrupção e ações vinculadas às políticas públicas (GRI, 2013). 35 A International Finance Corporation, em português, a Corporação Financeira Internacional representa uma instituição que realiza a análise de riscos para assegurar que os financiamentos promovidos por uma organização contribuam com o desenvolvimento social e que as melhores práticas de gestão ambiental estão sendo implementadas nos empreendimentos financiados. 36 Processo de investigação e auditoria para confimação de informações prestadas com o intuito de avaliar os potenciais riscos envolvidos no processo. 37 Norma Internacional ISO publicada em 2010 e que estabelece as diretrizes sobre Responsabilidade Social.

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108

melhoria contínua de sua governança corporativa. Esta prática é destacada pela

Tractebel Energia como um dos diferenciais adotados para a melhoria contínua do

seu processo de Governança Corporativa.

Recomendações como as do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), do ISE, do Guia ISO 26000 e da Global Reporting Initiative (GRI) são consideradas pela Companhia nas avaliações de melhoria contínua de sua governança corporativa. Desde 2007, a Tractebel Energia publica seus relatórios de sustentabilidade alinhados às diretrizes da GRI e a partir de 2013, passou a adotar a versão G4, na opção Comprehensive (TRACTEBEL ENERGIA, 2015, p. 31).

Constata-se que outras referências, além das diretrizes da GRI, são utilizadas pelas

organizações para a melhoria da qualidade do seu processo de gestão da

sustentabilidade e, consequentemente, para o alcance de um melhor desempenho

nos itens que são considerados relevantes ou material na linguagem dos RS, para as

partes interessadas. A aproximação de referenciais como o IFC, Pacto Global, ISO

26000, dentre outros das práticas de sustentabilidade relatadas nos RS é estimulada

pela GRI, que em suas diretrizes, vinculam os indicadores com esses referenciais, por

meio de marcadores. Como exemplo, cita-se o aspecto Comunidades Locais da GRI

(2013a) que possui indicadores que solicitam informações referentes aos programas

de engajamento da comunidade local, e a avaliação de impactos e desenvolvimento

local. Neste aspecto, a própria GRI indica que existem conexões com os dez princípios

do Pacto Global das Nações Unidas e destacam como uma das referências a serem

observadas, a publicação sobre os padrões de desempenho socioambiental da

sustentabilidade emitido pela IFC.

Essas referências, como a IFC, ISO 26000, Pacto Global e outras utilizadas pelas

organizações, se constituem em iniciativas que tratam elementos específicos da

sustentabilidade organizacional, e que juntas permitem um trabalho ampliado de

controles e melhorias que corroboram com o objetivo comum de todas elas, o DS por

meio das ações promovidas pelas organizações. Portanto, nesse âmbito, se fortalece

o papel das diretrizes da GRI também como estimuladoras e consolidadoras do relato

das inciativas relacionadas às demais referências, o que maximiza o potencial

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109

resultado da sustentabilidade nas organizações e traz a público outras informações

que podem ser consideradas relevantes para as partes interessadas.

4.2 Pesquisa Documental: contexto, descritivos e análises

O propósito da análise dos Relatórios no contexto das diretrizes da GRI é a

identificação dos elementos que permitam a exemplificação da compreensão da

Gestão Social tanto na categoria social das diretrizes da GRI, quanto nas práticas e

resultados reportados pelas organizações para essa categoria. Pelas diretrizes da

GRI, a categoria social é dividida em quatro subcategorias que são ampliadas para 30

aspectos dos conteúdos padrão específicos, que são desdobrados em 78 indicadores

que consistem em informações qualitativas ou quantitativas que precisam ser

apresentadas pelas organizações, de acordo com os aspectos que foram

considerados materiais a serem reportados,ou seja, informações relevantes no

contexto de atuação da organização. Para entendimento da composição dessas

subcategorias, aspectos e indicadores vide o Apêndice F.

Verificou-se, nos RS das organizações, cada um dos 78 indicadores previstos nas

diretrizes da GRI, cabendo salientar que todos os aspectos possuem como primeiro

indicador a solicitação de informações sobre a forma de gestão daquele item (G4-

DMA). No caso desse primeiro indicador, comum a todos os aspectos, as diretrizes

da GRI (2013) solicitam que as organizações relatem a justificativa daquele

determinado aspecto ter sido considerado material, importante para serem relatados

pela empresa de acordo com a avaliação e necessidades das partes interessadas,

apresentando os impactos que o atribuíram materialidade, além de ser necessário o

relato dos modos pelos quais o aspecto material e seus impactos são gerenciados

pela organização e como é avaliada a abordagem de gestão, no que tange à sua

eficácia, resultados e ajustes.

A análise documental pretende contribuir com o objetivo da pesquisa de verificar se

as diretrizes G4 da GRI e os Relatórios de Sustentabilidade podem ser considerados

instrumentos de Gestão Social pela presença de seus pressupostos. Para isso,

verificou-se, em cada um dos 12 RS, se foram apresentados:

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110

• os conteúdos padrão específicos solicitados em cada um dos 78

indicadores previstos nas diretrizes da GRI;

• se foi realizada verificação externa nas informações de todos os

indicadores relatados e,

• se havia a presença de pressupostos de Gestão Social no decorrer do

relato.

Logo, com o intuito de reduzir o número de variáveis a serem analisadas, que neste

momento representam os indicadores da categoria social, foi utilizada a análise de

cluster de variáveis para obter um agrupamento dos itens em clusters. No final dessa

análise, foi possível identificar um total de 8 clusters, como indicado no Gráfico 2.1. O

maior cluster ficou com 15 variáveis e o menor com apenas duas. O método utilizado

para determinação das similaridades foi o de ligação completa utilizando as distâncias

do coeficiente de correlação.

Gráfico 2.1 – Clusters dos indicadores reportados pelas organizações

Fonte: Dados da pesquisa, Software MINITAB, 2017. Nota: Os indicadores do pilar social da GRI conforme os códigos apresentados no Apêndice F estão apresentados em sequência conforme o gráfico: Cluster azul ou cluster 1 – EMP1, TED1, INV1, NDI1, LAN1, TFA1, DPI1, AVA1, SHR1, MQH1, LCO1, COS1, PSL1, COP1 e COP2. Cluster verde ou cluster 3 – LMR1, OHS1, OHS5, DEO1, DEO2, ERWM1, ERWM2, INV2, LAN2, PDS1, PDS2, MQS1, MQS2, CPR1 e CPR2. Cluster azul marinho ou cluster 7 – ACO2, PSL2 e PSL3. Cluster vermelho ou cluster 2 – EMP2, EMP3, EMP4, OHS2, OHS3, OHS4, TED3, TED4, INV3, NDI2, LCO3 e PSL4.

CHS3

CHS2

CHS1

MCO2

LCO2CD

E2CDE1

SHR3

PPU 2

SALP3

SHR2

SALP2

MQH2

TFA2

ACO4ACO3

TIN2

DPI2

AVA2LM

R2CO

S2AFI1

ACO1TIN

1AFI3

AFI2

MQ

L2

MCO3

PPU1

MQL1

MCO1

SALP1

TED2LCO3

NDI2IN

V3

OHS4

OHS3

OHS2

PSL4

EMP4

TED4TED3

EMP3

EMP2

PSL3PSL2

ACO2PD

S2DEO2

INV2

OHS5

CPR1PDS1

DEO1OHS1

MQ

S2M

QS1

ERWM2

ERWM

1CPR2

LAN2LM

R1

COP2CO

P1COS1

MQH1

SHR1

TFA1D PI1

AVA1LAN1

LCO1TED1

NDI1

INV1

PSL1EM

P1

9,95

39,97

69,98

100,00

Itens de indicadores

Sim

ilarid

ade

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias do Coeficiente de Correlação

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111

Cluster cinza ou cluster 5 – TED2, SALP1, MQL1, MQL2, TIN1, ACO1, PPU1, COS2, AFI1, AFI2, AFI3, MCO1 e MCO3. Cluster roxo ou cluster 4 – LMR2, SALP2, SALP3, TIN2, TFA2, DPI2, AVA2, SHR2, SHR3, MQH2, ACO3, ACO4, PPU2, CDE1. Cluster marrom ou cluster 8– CHS1, CHS2 e CHS3.

Devido ao grande número de variáveis, o Quadro 2.6 representa de forma adequada

o agrupamento dos indicadores (qualitativos e quantitativos) para cada um dos

clusters. Lembrando que a correlação entre eles está estatisticamente relacionada ao

perfil da apresentação dessas informações no que tange aos critérios de existência

da informação e se essas foram verificadas externamente, conforme critérios

apresentados no item 4.4. Os códigos apresentados no Quadro 2.6 podem ser

consultados no Apêndice F, juntamente com a descrição do indicador solicitado pela

GRI.

Quadro 2.6 – Composição dos Clusters dos indicadores reportados pelas

organizações

Cluster 11º

Cluster 24º

Cluster 32º

Cluster 46º

Cluster 55º

Cluster 67º

Cluster 73º

Cluster 88º

Variáveis relativas

aos indicadores

EMP1 EMP2 LMR1 LMR2 TED2 LCO2 ACO2 CHS1

TED1 EMP3 OHS1 SALP2 SALP1 MCO2 PSL2 CHS2

INV1 EMP4 OHS5 SALP3 MQL1 PSL3 CHS3

NDI1 OHS2 DEO1 TIN2 MQL2

LAN1 OHS3 DEO2 TFA2 TIN1

TFA1 OHS4 ERWM1 DPI2 ACO1

DPI1 TED3 ERWM2 AVA2 PPU1

AVA1 TED4 INV2 SHR2 COS2

SHR1 INV3 LAN2 SHR3 AFI1

MQH1 NDI2 PDS1 MQH2 AFI2

LCO1 LCO3 PDS2 ACO3 AFI3

COS1 PSL4 MQS1 ACO4 MCO1

PSL1 MQS2 PPU2 MCO3

COP1 CPR1 CDE1

COP2 CPR2 CDE2 Fonte: Dados da pesquisa, Software MINITAB, 2017.

Nota: As cores das variáveis correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.1, os números ordinais sobrescritos correspondem à sequência dos clusters apresentada no dendograma. Salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

Os indicadores agrupados nos clusters foram analisados em relação aos seus temas

e a eles foi definido um ou mais pressupostos de Gestão Social que podem ser melhor

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112

caracterizados por aquele conjunto de indicadores. Portanto, antes de apresentar a

análise dos clusters das variáveis que correspondem aos 78 indicadores da categoria

social da GRI apresentados nos RS, a seguir serão enumerados os pressupostos ou

constructos de gestão social que foram utilizados como referência para a análise

desses 8 clusters e do grupo de indicadores que os compõem. Os pressupostos são

frutos da revisão de literatura sobre gestão social apresentada no capítulo 1 desta

dissertação, e correspondem à consolidação dos elementos capazes de caracterizar

a gestão social no contexto da sustentabilidade organizacional, propostos por

Cançado, Tenório e Pereira (2011), Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012),

Tenório (1998; 2005; 2009), Dowbor (1999), Maia (2005) e Pimentel et al. (2011),

sendo eles:

a) Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter

público e orientado pelas questões de natureza social.

b) Processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos.

c) Agentes e espaços relacionados às organizações (Estado, Mercado e

Sociedade Civil).

d) Gestão democrática e igualdade política.

e) Gestão participativa, participação social cidadã.

f) Cidadania deliberativa e igualdade decisória.

g) Apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação social.

h) Desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e gerenciais-

econômicas.

i) Promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia dos direitos

humanos.

j) Promoção da geração de trabalho e distribuição de renda.

k) Promoção do Desenvolvimento Local.

l) Transformações sociais, inovação social e construção paradigmática.

Revisitados, o que se compreende nesta pesquisa por pressupostos de gestão social,

os oito clusters apresentados no gráfico 2.1 serão analisados a seguir em relação aos

indicadores que os compõem, o que permitirá a próxima etapa, que corresponde o

vínculo aos constructos de gestão social já apresentados.

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113

I. Cluster 1 – Dos 15 indicadores agrupados neste cluster, 14 deles solicitam

informação da forma com a qual são gerenciadas as práticas sociais e

resultados, conhecidos como indicadores G4 - DMA, e o único que não se

difere do grupo corresponde a não conformidades legais referentes aos

produtos e serviços.

II. Cluster 2 – Os 12 indicadores deste cluster se referem a práticas

trabalhistas, trabalho decente, benefícios, capacitação dos empregados em

direitos humanos, controle de casos de discriminação, operações com

impactos locais e a satisfação dos clientes.

III. Cluster 3 – Com 15 indicadores, estes tratam de um universo de

especificidades, como questões sociais de fornecedores, reclamações

formais da sociedade, saúde e segurança, governança das questões sociais

internas como as relativas à discriminação e às minorias, acordos e

contratos celebrados contendo quesitos de direitos humanos.

IV. Cluster 4 – Também possui 15 indicadores que tratam principalmente de

direitos humanos, comunicação relativa aos produtos ou serviços, direitos

de povos indígenas e tradicionais, trabalho infantil, trabalho forçado ou

análogo ao escravo, combate à corrupção e práticas trabalhistas de

fornecedores.

V. Cluster 5 – Agrupa 13 indicadores, concernentes à capacitação de

empregados, comunicação, reclamações formais sobre práticas trabalhistas

e impactos de fornecedores na sociedade.

VI. Cluster 6 – Possui dois indicadores, um deles sobre engajamento da

comunidade local e, o outro, sobre venda de produtos proibidos ou

contestados.

VII. Cluster 7 – Com dois indicadores que tratam de informações e conformidade

de produtos e serviços e avaliação de riscos das operações.

VIII. Cluster 8 – Possui três indicadores, referentes aos produtos e serviços no

que tange o gerenciamento das questões de saúde e segurança.

Com o estabelecimento objetivo dos pressupostos de Gestão Social que são

orientadores desta pesquisa e com a análise dos temas de indicadores que

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114

compuseram cada um dos clusters, revelam-se as seguintes inferências de relação

entre os clusters e os pressupostos de Gestão Social:

I. Cluster 1 – Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo

de caráter público e orientado pelas questões de natureza social.

II. Cluster 2 – Promoção da geração de trabalho e distribuição de renda;

Transformações sociais, inovação social e construção paradigmática.

III. Cluster 3 – Desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e

gerenciais-econômicas.

IV. Cluster 4 – Promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da

garantia dos direitos humanos; Processo de gestão (social e governança)

do interesse coletivo de caráter público e orientado pelas questões de

natureza social – foco na conformidade legal e ações anticorrupção.

V. Cluster 5 – Processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos;

Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter

público e orientado pelas questões de natureza social – foco em

fornecedores e seus impactos na sociedade.

VI. Cluster 6 – Agentes e espaços relacionados às organizações (Estado,

Mercado e Sociedade Civil).

VII. Cluster 7 – Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo

de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na

conformidade de produtos ou serviços e avaliação de riscos.

VIII. Cluster 8 – Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo

de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na

saúde e segurança relacionadas aos produtos ou serviços.

Portanto, pode-se dizer que os indicadores de sustentabilidade propostos pelas

diretrizes da GRI e reportados pelas organizações objeto de estudo conseguem

evidenciar alguns dos pressupostos da Gestão Social, principalmente no que tange à

apresentação de informações orientadas para as questões de natureza social internas

e externas e aos processos de gestão relacionados a estas questões. Contudo, os

pressupostos relacionados diretamente ao processo de Gestão Social, como a gestão

democrática e a igualdade política; a gestão participativa e a participação social

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115

cidadã; a cidadania deliberativa e igualdade decisória; a apreciação intersubjetiva e o

debate crítico para validação da ação social e, até mesmo, a promoção do

desenvolvimento local não conseguiram ser observados por meio da avaliação restrita

às informações relativas aos conteúdos padrão específicos da categoria social dos

RS analisados.

Após a análise de cluster das variáveis, para cada um dos oito clusters definidos

anteriormente, foi realizada uma nova análise de cluster entre as 12 organizações

pesquisadas definindo o agrupamento das organizações com perfis similares de

apresentação de informações relatadas nos RS. Esta segunda análise de cluster será

nomeada de análise de agrupamento para maior clareza da apresentação dos

resultados.

Neste momento, foram utilizadas as médias do conjunto de variáveis analisadas no

cluster para cada uma das organizações, e que estas médias se referem à

classificação realizada na tabulação dos dados sobre os indicadores dos RS

analisados, obtidos na análise documental, conforme critérios de 0 a 5 apresentados

no item 4.4.

Logo, para o Cluster 1 que representa o processo de gestão (social e governança) do

interesse coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social,

obteve-se o dendograma apresentado no Gráfico 2.2, com 4 agrupamentos.

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116

Gráfico 2.2 – Agrupamento das organizações no Cluster 1

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

A relação da composição dos 4 agrupamentos apresentados no dendograma e o

ranqueamento das médias das organizações estão sintetizadas na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 4,93 1

6 Tractebel Energia Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

4,07 1

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 3,80 1

5 Santander – Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

3,33 3

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 2,40 4

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

2,00 4

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

1,60 2

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

1,33 2

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 1,27 2

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

0,27 2

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 0,27 2

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 2

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.2, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

128109117435621

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilarid

ade

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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117

Com os resultados da Tabela 2.1, percebe-se que a apresentação de informações

qualitativas e quantitativas referentes aos processos de gestão preocupados com o

interesse coletivo e orientado pelas questões de natureza social é maduro para o

conjunto de empresas classificadas como públicas e privadas e presentes

principalmente no agrupamento 1, Caixa Econômica Federal (4,93), Tractebel Energia

(4,07) e Banco do Brasil (3,80) e no agrupamento 3, Santander – Brasil (3,33). Como

evidência deste resultado, apresenta-se:

Promoção da diversidade. Desde 2005, o Programa CAIXA de diversidade desenvolve ações de estímulo, inclusão e conscientização em quatro pilares: gênero; raça/ etnia; orientação sexual e identidade de gênero; e pessoas com deficiência. Balizada por essa ação, a Instituição tem investido na mudança cultural interna e externa, por meio da valorização da multiplicidade de perfis de colaboradores, de adaptações em infraestrutura e de compromissos setoriais e públicos. Outro pilar importante é o combate à discriminação e o estímulo a práticas que permitam oportunidades iguais para homens e mulheres e acessibilidade para clientes e colaboradores com deficiência. Para isso, a Empresa conta com o apoio de 16 Comissões Regionais de Diversidade, espalhadas por todo o País. A CAIXA é signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU e integra o Comitê de Articulação e Monitoramento do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, além do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, da Secretaria de Políticas para Mulheres – no qual, em 2014, foi assinado novo termo de compromisso. A equidade de gênero ainda é um desafio para o Banco, mas melhorias têm sido registradas. Hoje, 63,40% das mulheres exercem função gratificada, das quais 31,92% ocupam funções gerenciais. No aspecto de inclusão de pessoas com deficiência, ao fim do ano 1,29% dos empregados CAIXA tinham algum tipo de deficiência. Destes, 48,31% exercem função gratificada. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2015, p. 26).

O trecho destacado do RS da Caixa Econômica Federal possui orientação pelas

questões de natureza social sobre diversidade de interesse coletivo para o público

interno e, de forma complementar, apresenta-se um trecho do RS do Santander –

Brasil com foco em interesses coletivos de partes interessadas externas.

No Santander Brasil, 100% dos fornecedores são selecionados com base em critérios socioambientais (incluindo questões trabalhistas, direitos humanos, impactos na sociedade) e são submetidos a uma “Análise Técnica” durante a homologação. Aqueles classificados na categoria “Alto Impacto” passam por uma avaliação mais detalhada sobre os aspectos operacionais, administrativos financeiros, fiscais,

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118

legais, de governança, sociais e ambientais. Baseada nos princípios do Pacto Global da ONU, esta etapa inclui uma visita para verificar as evidências e respostas fornecidas durante a avaliação. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 111).

Ambos os trechos destacam o cunho social das práticas que são oriundas de um

interesse coletivo específico ou do público interno, no que tange às questões de

discriminação e oportunidades relacionadas ao trabalho; ou do público externo, no

que tange a questões relativas aos fornecedores, às condições de trabalho de seus

empregados e aos impactos desses fornecedores na sociedade. As práticas dos

trechos apresentados são aderentes à perspectiva de busca de novos resultados

capazes de promover efetivamente um DS que observe questões relativas à

satisfação das necessidades básicas das pessoas, o direito de trabalhar e a

oportunidade de manifestar suas potencialidades humanas. Perspectiva considerada

pelos estudos de Jacobi e Giatti (2015) e de Calegare e Silva Júnior (2011).

O Cluster 2 da análise das variáveis que indica iniciativas de promoção da geração de

trabalho e distribuição de renda, assim como, as ações que contribuem para as

transformações sociais, inovação social e construção paradigmática, alcançou os

resultados apresentados no Gráfico 2.3 e na Tabela 2.2.

Gráfico 2.3 – Agrupamento das organizações no Cluster 2

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

109115387126241

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilarid

ade

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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119

A seguir, a relação da composição dos 4 agrupamentos apresentados no dendograma

e o ranqueamento das médias das organizações (TABELA 2.2).

Tabela 2.2 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

5,00 1

6 Tractebel Energia Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

4,83 1

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 4,67 1

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 4,00 1

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 4,00 1

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 4,00 1

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 3,92 1

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

3,25 1

5 Santander – Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

2,58 2

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

2,08 3

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

1,67 2

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 4

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.3, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma

Diferentemente do dendograma anterior, a análise relativa ao Cluster 2 está

relacionada à esfera das ações e resultados e não da gestão. Logo, pode-se obter

dos resultados apresentados no Gráfico 2.3 e da Tabela 2.2. que um número maior

de organizações possui média superior à 3,25 e este universo contempla empresas

estatais, Caixa Econômica Federal (4,67), Banco do Brasil (4,0) e Itaipu Binacional

(3,92); empresas privadas, Tractebel Energia (4,83) e Bunge Alimentos Brasil (3,25);

as duas cooperativas, Unimed Sorocaba (4,00) e Unimed Cuiabá (4,00) e somente

uma organização sem fins lucrativos, o Sírio Libanês Hospital (5,0). Esse resultado

permite afirmar que 66,66% das organizações analisadas possuem um perfil de

resposta médio que corresponde a ter apresentado todas as informações solicitadas

pelos doze indicadores que compõem este cluster, inclusive, a maioria delas

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120

apresenta médias superiores a 4,00, as informações ainda foram verificadas por

empresa externa independente.

Das organizações que se destacaram neste cluster, o Sírio Libanês Hospital

apresentou informações e verificou externamente todos os indicadores deste cluster,

por isso, sua média foi igual à 5,00. Neste caso, essa organização pode ser

considerada de referência no que tange aos pressupostos de gestão social

relacionados à promoção da geração de trabalho e distribuição de renda, assim como,

às ações que contribuem com as transformações sociais, inovação social e

construção paradigmática, alinhando-se aos debates teóricos de Cançado, Tenório e

Pereira (2011), para os quais destacam-se os trechos do seu RS.

Faz parte do projeto de expansão a contratação e capacitação de novos colaboradores. Em 2014, 1.456 novos colaboradores foram contratados em São Paulo, número 34% superior às admissões de 2013 (1.079). Em Brasília, 53 novos colaboradores foram admitidos, dobrando o número de admissões em comparação com 2013. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 45). Existe ainda a Rede Social Bela Vista, fundada em 2005 com apoio do hospital, que reúne pessoas e instituições para construção de propostas que beneficiem a vida da comunidade. Mais de 50 ações e projetos de desenvolvimento comunitário já foram implementados, sendo um dos mais importantes o Plano de Bairro Bela Vista 2020, que busca o desenvolvimento local por meio da integração com a comunidade residente, o poder público e a iniciativa privada (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 36).

O resultado apresentado na tabela 2.2 atribui às outras três organizações sem fins

lucrativos médias inferiores a 2,08, assim como, ao banco privado, Santander – Brasil

(2,58). Este resultado pode ser motivado pela menor apresentação de indicadores das

organizações sem fins lucrativos, uma vez que seus relatórios são da categoria de

acordo Essencial. No caso do Banco Santander – Brasil, mesmo tendo tido uma média

de 2,58, o que o coloca em posição mais favorável em relação às demais

organizações que não estão no agrupamento 1, isso ainda lhe atribui oportunidades

de melhoria, assim como para as organizações, Associação Comercial de São Paulo

(2,08), Instituto da Oportunidade Social (1,67) e Instituto Nacional de Processamento

de Embalagens Vazias (0,00), no que tange à promoção de iniciativas que contribuam

com a geração de trabalho e distribuição de renda e ações que colaborem nas

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121

transformações sociais, inovação social, o que não quer dizer que essas organizações

não as façam, mas cabe a atenção sobre o tema e sobre como os indicadores que

compõem este cluster estão sendo reportados.

No caso das organizações sem fins lucrativos como a ACSP, IOS e inpEV, cabe

salientar que pode ser importante uma análise daquilo que foi estabelecido como

material para os indicadores previstos neste cluster, principalmente, os atributos

relacionados à transformação social e à inovação social para o contexto da

sustentabilidade dessas organizações.

Esta sugestão orienta-se pela compreensão de que, na oportunidade das

organizações sem fins lucrativos aperfeiçoarem sua atuação no contexto da Gestão

Social, observa-se que a inovação social seria um fator relevante para viabilizar essa

transformação. Logo, de acordo com Bignetti (2011), a inovação social possui

finalidade, estratégia, local de aplicação, processo de desenvolvimento e da difusão

do conhecimento diferente da inovação tecnológica, pois se pauta, na relevância

social desses processos. Isso pode contribuir com essas organizações sem fins

lucrativos, uma vez que estas possuem seu objeto social em atendimento às

necessidades de grupos sociais específicos.

Quando observado o Cluster 3, relativo ao desenvolvimento de ações e políticas

públicas sociais e gerenciais-econômicas, têm-se os seguintes agrupamentos

apresentados no Gráfico 2.4.

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122

Gráfico 2.4 – Agrupamento das organizações no Cluster 3

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

A Tabela 2.3 apresenta as médias das organizações representadas nos

agrupamentos do dendograma e o seu ranqueamento.

Tabela 2.3 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 4,33 1

6 Tractebel Energia Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

3,53 1

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 3,47 1

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

3,47 1

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 3,00 2

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 2,60 1

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 2,13 3

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias

0,93 3

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

0,53 4

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

0,33 4

Continua...

101211574239861

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilari

dad

e

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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123

... Continuação.

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

0,00 4

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 4

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.4, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

Pode-se observar no que tange às informações relativas ao pressuposto de Gestão

Social de desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e gerenciais-

econômica, o Cluster 3 apresenta média superior a 2,6, um misto de organizações

representantes dos diferentes setores: público, privado e terceiro setor, o que permite

a afirmação da contribuição dos diferentes setores representados na promoção de

políticas públicas e de governança interna, no contexto dos 12 indicadores que

compõem este cluster.

Ao considerar o pressuposto de gestão social de desenvolvimento de ações e políticas

públicas sociais e gerenciais-econômicas, resgatam-se os estudos de Mendonça,

Gonçalves-Dias e Junqueira (2012) que destacam o papel da Gestão Social na

ampliação do debate e da atuação da Sociedade Civil e do mercado para as

transformações sociais vinculadas às políticas públicas e às suas iniciativas. E os

autores ainda reforçam a necessidade da visão intersetorial e intergovernamental de

múltiplos atores, para a promoção das transformações sociais aplicáveis, o que

corrobora com os resultados alcançados neste cluster pela diversidade de tipos de

organizações que compuseram os agrupamentos com média superior a 2,6 e

evidenciados com os trechos dos RS a seguir.

COMPROMISSOS DE SUSTENTABILIDADE [...] Buscar por parcerias com o poder público, organizações não governamentais e empresas privadas, com o objetivo de promover uma atuação socioambiental voltada às questões globais da sociedade. (UNIMED SOROCABA, 2015, p. 17-18). O relacionamento com as diferentes esferas governamentais se dá no âmbito de compromissos legais e institucionais e de convênios de finalidade específica e direcionados ao desenvolvimento sustentável de comunidades e regiões onde atua. Não há política formal para prática de lobby e/ou atuação em políticas públicas, mas a Companhia

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124

mantém diálogo com instituições governamentais e tem como prática colaborar para o aprimoramento técnico e regulatório do modelo setorial, em geral por meio das Audiências e Consultas Públicas organizadas pelos órgãos institucionais do setor elétrico, tais como Ministério de Minas e Energia (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A colaboração se dá de forma individual ou por meio de associações, dentre as quais se destacam: Apine, Abrage, Abraceel e ABDIB. (TRACTEBEL ENERGIA, 2015, p. 84).

Logo, as iniciativas organizacionais de sustentabilidade no que tange à sua

contribuição para as políticas públicas, puderam ser ilustradas pelos trechos

apresentados e fortalecer o papel organizacional nos debates intersetoriais e

intergovernamentais como proposto por Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira

(2012).

Por conseguinte, o Cluster 4 está intimamente relacionado aos resultados esperados

da Gestão Social e tangibilizados pela promoção de qualidade de vida, do bem-estar

social e da garantia dos direitos humanos e, no processo de gestão, com foco na

conformidade legal e ações anticorrupção. A seguir, o Gráfico 2.5 apresenta os

agrupamentos de organizações para o Cluster de variáveis 4.

Gráfico 2.5 – Agrupamento das organizações no Cluster 4

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

912101183276541

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilari

dad

e

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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125

A relação da composição dos agrupamentos apresentados no dendograma e o

ranqueamento das médias das organizações (TABELA 2.4).

Tabela 2.4 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

4,60 3

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 3,73 3

5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

3,33 1

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

3,13 1

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 3,07 1

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 2,73 2

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 2,33 2

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

1,60 4

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 0,80 4

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

0,53 4

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 4

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 4

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.5, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

Neste item, verifica-se principalmente o protagonismo das empresas privadas, como

é o caso da Tractebel Energia com média de 4,60, mas também enumera a

cooperativa Unimed Cuiabá, neste conjunto de organizações, com a média de 3,73.

O Banco do Brasil também está no grupo de organizações de melhor média (3,07). As

organizações listadas com valor da média superior à 3,00 possuem ambientes de

atuação regulados, o que pode permitir maior estímulo aos controles relativos ao

processo de gestão com foco na conformidade legal e ações anticorrupção.

Com isso, evidenciam-se ações estruturadas para garantir os direitos humanos,

relacionadas à conformidade legal, no contexto das organizações, bem como, as

questões de qualidade de vida nos ambientes internos para os empregados dessas

organizações.

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126

A Unimed Cuiabá apresenta o seu Código de conduta da cooperativa como prática

orientadora e em colaboração com os 15 indicadores deste cluster que tratam de

direitos humanos, comunicação relativa aos produtos ou serviços, direitos de povos

indígenas e tradicionais, trabalho infantil, trabalho forçado ou análogo ao escravo,

combate à corrupção e práticas trabalhistas de fornecedores. Logo, é apresentado o

trecho que trata das questões relativas aos direitos humanos no RS da Unimed

Cuiabá.

O tema é abordado no Código de conduta da cooperativa. O código foi entregue a todos os colaboradores em workshop e aos novos colaboradores o código é entregue durante o momento de integração; é amplamente discutido durante o Fórum do Fornecedor, realizado anualmente e destinado aos fornecedores, parceiros e prestadores de serviço; e é abordado em reuniões, cursos, treinamentos e atendimento ao cooperado. Proibição aos atos discriminatórios, dignidade e direitos iguais a todos, respeito da integridade e contra a corrupção, respeito a segurança e qualidade de vida dos colaboradores, liberdade de associação a sindicatos, respeito a privacidade e individualidade; Equilíbrio trabalho e família. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 31).

A garantia dos direitos humanos se tornou um ponto alto da discussão teórica desta

pesquisa, uma vez que eles perpassam grande parte das dimensões da Gestão Social

e por representarem os interesses que garantem o mínimo de dignidade aos

indivíduos. A relevância do tema é destacada nas diretrizes da GRI (2013; 2013a),

assim como, na publicação específica sobre os direitos humanos da GRI (2016a). As

proposições de Weber (2013) podem ser incorporadas a essas reflexões, quando este

autor atribui à promoção da qualidade de vida a garantia dos direitos fundamentais,

dos direitos humanos e dos bens mínimos necessários para sustentar os direitos à

cidadania. Com os resultados da pesquisa, percebe-se que isto pode ser viabilizado

por uma Gestão Social estruturada no contexto das organizações

As reflexões pertinentes ao Cluster 5 estão vinculadas aos pressupostos relacionados

ao processo comunicativo e de dialogicidade entre os envolvidos e, também, ao

processo de gestão social com foco em fornecedores e seus impactos na sociedade,

estando os resultados alcançados descritos no Gráfico 2.6.

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127

Gráfico 2.6 – Agrupamento das organizações no Cluster 5

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

A seguir, a composição dos agrupamentos do dendograma (TABELA 2.5).

Tabela 2.5 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

4,92 1

6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

4,38 1

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 3,77 1

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 3,08 3

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 2,15 3

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 1,85 3

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 1,38 2

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

1,38 4

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

0,92 4

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

0,62 4

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

0,38 4

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

0,31 4

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

783912111042651

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilari

dad

e

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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128

Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.6, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

O resultado alcançado novamente destaca as empresas privadas e estatais, talvez

pela maturidade do Santander – Brasil (4,92), da Tractebel Energia (4,38) e do Banco

do Brasil (3,77) em elaborar os RS, o que inclui processos estruturados de

comunicação com as partes interessadas e, a preocupação dos seus impactos, em

relação à cadeia de fornecimento e à sociedade.

A promoção e a garantia dos Direitos Humanos e Práticas Trabalhistas é fundamental para o Santander Brasil. Para isso, o Banco conta com mecanismos de queixas que são o canal de contato dos públicos com que se relaciona e que querem manifestar suas insatisfações. Para clientes, investidores e comunidade em geral, os canais disponíveis são SAC e Ouvidoria; já funcionários e fornecedores utilizam o Canal de Denúncias. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 115).

No Cluster 6, foram agrupados indicadores que se correlacionavam com o constructo

de Gestão Social referente aos agentes e espaços relacionados às organizações,

sejam eles: o Estado, o mercado e a Sociedade Civil, ou seja, onde ocorre e quem

promove a Gestão Social. Logo, no Gráfico 2.7 estão representados o perfil das

empresas diante deste constructo.

Gráfico 2.7 – Agrupamento das organizações no Cluster 6

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

511731084126291

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilarid

ade

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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129

Na Tabela 2.6, encontra-se o ranqueamento das médias das organizações em relação

ao cluster de variáveis 6.

Tabela 2.6 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 4,50 3

5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

4,00 3

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 4,00 3

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

4,00 3

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 2,50 2

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

2,50 4

6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

2,50 2

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

2,50 2

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 2,00 4

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

2,00 4

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 0,50 1

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 1

Fonte: Dados da pesquisa, Software MINITAB, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.7, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

Neste cluster, pode-se observar um representante de cada um dos tipos de

organização no agrupamento de com média igual e superior a 4. Este comportamento

refere-se à consciência dessas organizações no que tange ao seu papel para a

promoção da Gestão Social e o reconhecimento de locos no qual a Gestão Social

ocorre, corroborando com as reflexões dos estudos de Maia (2005).

Como neste cluster um dos indicadores avaliados foi o engajamento da comunidade

local, a seguir são apresentados trechos dos RS das organizações do agrupamento

1, concernentes a esse tema.

A atuação em prol das comunidades de Foz do Iguaçu, onde a usina está instalada, bem como da área de influência atinge o engajamento de 100% dos envolvidos em programas e projetos voluntários, patrocínios, termos de cooperação e convênios firmados com

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130

instituições que apoiam o desenvolvimento de ações e articulação institucional, visando atrair investimentos e empreendimentos para a região. [...] A comunidade é envolvida nas decisões, por meio dos comitês gestores e diversos documentos nacionais e internacionais são adotados como referência, tanto na elaboração quanto na execução dos programas e projetos. No mês de agosto, a região recebeu uma iniciativa inovadora, que tem como objetivo acelerar e multiplicar o desenvolvimento econômico de 54 municípios. Trata-se do Programa Oeste em Desenvolvimento, fruto de uma parceria entre diversas instituições públicas e privadas, incluindo a Itaipu. (ITAIPU BINACIONAL, 2015, p. 72).

Prosseguindo as análises realizadas até aqui, o processo de gestão social e de

governança baseado na conformidade de produtos ou serviços e avaliação de riscos,

atribuídos ao Cluster 7, está representado no Gráfico 2.8.

Gráfico 2.8 – Agrupamento das organizações no Cluster 7

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

A seguir, a relação da composição dos agrupamentos apresentados no dendograma

e o ranqueamento das médias das organizações (TABELA 2.7).

116121039852741

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilarid

ade

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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Tabela 2.7 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

5,00 1

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 4,67 1

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 4,33 1

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

4,00 1

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 4,00 1

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 3,00 3

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

3,00 4

6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

1,33 2

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

1,33 2

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 0,33 2

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 2

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 2

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.8, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

O comportamento deste agrupamento novamente destaca as organizações privadas

e estatais e inclui a cooperativa Unimed Cuiabá (4,0). Sendo menos restritivo, também

pode-se considerar a cooperativa Unimed Sorocaba e a organização sem fins

lucrativos ACSP, ambas com média igual a 3,00. Um dos indicadores considerados

neste cluster é o número total e percentual de operações submetidas a avaliações de

riscos relacionados à corrupção e os riscos significativos identificados. Logoeste será

o indicador para o qual foram buscadas informações nos RS. Devido à Unimed Cuiabá

ser a única cooperativa do agrupamento 1, a título de ilustração será apresentada a

prática concernente ao indicador selecionado.

[...] monitora os riscos relacionados à corrupção através de auditorias internas, em processos de compras, controle de contrato de fornecedores e prestadores, reajuste e venda de planos empresariais, individuais e outros. A cooperativa não faz avaliações de riscos relacionados a corrupção. Os riscos identificados e relatados compreendem também os impactos reais e potenciais nas comunidades de atuação da Unimed Cuiabá. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 84).

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Portanto, verifica-se que a possibilidade de descrição qualitativa dos indicadores

apresentada pelas diretrizes da GRI atribui maior possibilidade de adaptabilidade

desses indicadores às realidades organizacionais. Neste caso, a Unimed Cuiabá se

destaca porque monitora os riscos de corrupção, mas não possui uma prática de

avaliação deste tipo de risco. Esta reflexão da cooperativa representa a sua

compreensão dos requisitos solicitados pelo indicador GRI (2013) e gera

potencialidade de melhoria no que tange a implantação de uma prática de avaliação

de riscos de corrupção.

Enfim, o Gráfico 2.9 apresenta o Cluster 8, destacando as organizações com processo

de gestão social e de governança com foco na saúde e segurança relacionadas aos

produtos ou serviços.

Gráfico 2.9 – Agrupamento das organizações no Cluster 8

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.

A Tabela 2.8 apresenta a relação da composição dos agrupamentos do dendograma.

129874116532101

0,00

33,33

66,67

100,00

Organizações

Sim

ilarid

ade

DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas

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Tabela 2.8 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas

organizações

ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento

12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos

5,00 4

8 Unimed Sorocaba Cooperativas 4,00 4

9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos

4,00 4

4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

2,67 3

7 Unimed Cuiabá Cooperativas 2,67 3

10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)

Organizações Sem Fins Lucrativos

2,67 1

1 Banco do Brasil Empresas Estatais 2,00 1

2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 0,00 2

3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 0,00 2

5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

0,00 2

6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias

0,00 2

11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos

0,00 2

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna Agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.9, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.

Diferentemente de todos os demais resultados dos clusters de variáveis, este é

liderado por duas organizações sem fins lucrativos (Sírio Libanês Hospital e

Associação Comercial de São Paulo) e por uma cooperativa (Unimed Sorocaba) com

médias 5, 4 e 4 respectivamente. Fato que pode ser explicado pela característica dos

serviços que prestam o Sírio Libanês Hospital e a Unimed Sorocaba. Ambos são da

área de saúde, o que implica em uma maior compreensão sobre os riscos

relacionados aos seus serviços e sobre as questões de segurança correlatas.

Todavia, a presença da ACSP neste grupo pode ser explicada pelo baixo nível de

complexidade das exigências relacionadas à saúde e segurança aplicável às suas

atividades.

Os relatos deste cluster focam principalmente na parte interessada, clientes das

organizações como observado no trecho do RS do Sírio Libanês Hospital que

apresenta as inovações tecnológicas que estão sendo implantadas na organização

que contribuem com a maximização da saúde e segurança de seus pacientes.

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Investindo em novas tecnologias para obter maior qualidade na assistência, o Hospital Sírio-Libanês trouxe avanços na gestão de sistemas de informação. Em 2014, em continuidade ao projeto de informatização de processos, foi iniciada a informatização da nova torre (bloco D), com a implantação de novos módulos do Sistema de Informação Hospitalar (SIH) na Unidade Coronariana, no 7º andar. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 18).

Para o mesmo indicador do Sírio Libanês Hospital, o RS da Unimed Sorocaba

apresentou a seguinte prática relativa à saúde e segurança dos serviços prestados.

Unimed Sorocaba dispõe do Núcleo ANS, setor responsável por acompanhar, analisar e controlar as regulamentações estabelecidas pela ANS. Em 2014, 25 novos regulamentos foram publicados. O Núcleo tem a função de fazer a gestão e garantir a aplicação de tais regulamentações. Além das determinações da ANS, a Unimed Sorocaba desempenha um papel proativo no cumprimento das legislações vigentes no país. As lideranças das áreas estão orientadas e capacitadas nesse sentido e a alta gestão é atualizada sobre as novas demandas para que sejam traçados os planos de ação, objetivando o cumprimento das mesmas. (UNIMED SOROCABA, 2015, p. 62).

Pode-se perceber os níveis diferentes de maturidade da prática referente à saúde e

segurança dos serviços prestados, pois o Sírio Libanês Hospital, encontra-se em um

patamar de inovação tecnológica e, no caso da Unimed Sorocaba, no perfil de

cumprimento dos requisitos legais. Todavia, no RS da Unimed Sorocaba existe um

relato de melhorias que seriam implantadas em 2015, em relação aos prontuários

eletrônicos.

Observa-se que a Unimed Cuiabá não pertence ao mesmo agrupamento do Sírio

Libanês Hospital e da Unimed Sorocaba o que pode ser explicado pelo perfil de

informação apresentada para esse conjunto de indicadores. Mas ao se verificarem as

informações do RS, percebe-se que a Unimed Cuiabá prioriza os controles dos

processos internos de forma geral e a satisfação dos pacientes, representado pelo

seguinte trecho do RS, “Nosso sistema, fluxos de atendimento e capacitação de

colaboradores tem sempre a preocupação com a segurança do cliente” (UNIMED

CUIABÁ, 2015, p. 99).

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Portanto, de uma forma consolidada, a partir da análise do perfil das médias das

organizações, perante aos clusters que representavam os constructos de Gestão

Social, consegue-se inferir uma maturidade das organizações estatais e privadas no

relato das suas iniciativas da categoria social do RS para os clusters 1, 2, 3, 4 e 5 o

que é justificável por representarem o grupo de organizações que já trabalham com o

desenvolvimento de RS, utilizando as diretrizes da GRI há mais de 8 anos, de acordo

com a lista de informações da GRI (2016).

Os clusters 6, 7 e 8 possuem um comportamento diferente, no qual as cooperativas

mudam de patamar e as composições dos agrupamentos se estruturam de forma mais

diversa, o que é resultado do menor número de indicadores que compõem estes

clusters, sendo respectivamente, 2, 2 e 3 indicadores. Essas conclusões serão

validadas pela apresentação das análises do teste Kruskal-Wallis a seguir.

Pode-se também identificar que as cooperativas estão entre os clusters de maior

média e de menor média. Mas, esta posição pode ser justificada pelo fato da

elaboração de RS ainda não ser uma prática muito usual no contexto das

cooperativas, o que é reforçado inclusive pela diferença de abordagem entre a Unimed

Sorocaba e Unimed Cuiabá para os mesmos indicadores do cluster 8. Todavia, a sua

posição entre os agrupamentos pode estar vinculada à proximidade do processo de

gestão dessas cooperativas da área de saúde estarem bem próximas à realidade das

organizações privadas.

Ademais, existe um grupo de organizações, as organizações sem fins lucrativos, para

as quais o ambiente de relato da sustentabilidade é razoavelmente novo o que implica

em oportunidades de melhoria no processo de relato que pode se originar na própria

compreensão das diretrizes, no desafio de interpretar os requisitos em uma linguagem

adequada ao terceiro setor e, até mesmo, na prática de elaboração dos RS. Contudo,

cabe também uma reflexão de que essas organizações geralmente possuem

propósito na esfera social, logo, os resultados alcançados servem de reflexão para o

aperfeiçoamento das práticas relacionadas aos indicadores sociais dessas

organizações e de provocações sobre o papel dessas organizações no contexto da

Gestão Social.

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136

Enfim, as análises estatísticas realizadas foram validadas pelo teste não-paramétrico

de Kruskal-Wallis e a comparação múltipla com correção de Bonferroni, comparando

as diferentes categorias das empresas em cada um dos clusters definidos

anteriormente. Logo, a Tabela 2.9 apresenta o comparativo entres as categorias das

empresas nos oito clusters.

Tabela 2.9 – Teste Kruskal-Wallis comparando as categorias das empresas

Médias dos Itens dos Clusters

Categoria das Organizações Estatísticas

Cooperativas Empresas Estatais

Empresas Privadas,

Subsidiárias ou Parcerias

Organizações Sem Fins Lucrativos

Teste Kruskal-Wallis

Valor-p

Cluster 1 1,33a,c 3,33b 2,56a,b 1,23c 28,92 0,000 Cluster 2 4,00a 4,19a 3,56a 2,19b 20,24 0,000 Cluster 3 2,80a 3,31a 1,49b 1,08b 38,42 0,000 Cluster 4 2,27a 2,71a,b 3,69b 0,53c 62,99 0,000 Cluster 5 2,00a 2,74a,b 3,41b 0,67c 44,88 0,000 Cluster 6 3,00a 2,50a 3,00a 2,13a 0,86 0,835 Cluster 7 3,50a,b 3,11a,b 3,44a 1,08b 9,70 0,021 Cluster 8 3,33a,b 0,67a 0,89a,b 2,92b 9,73 0,021

Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: Observação: os valores na mesma linha e subtabela que não compartilham a mesma letra subscrita são bastante diferentes em relação ao p < 0,05 no teste de igualdade bilateral para médias de coluna. As células sem nenhum subscrito não são incluídas no teste. Os testes consideram variâncias iguais1. 1 Os testes são ajustados para todas as comparações de pares em uma linha de cada subtabela mais interna com o uso da correção Bonferroni.

O teste Kruskal-Wallis, por meio da análise da significância da diferença de resultado

alcançado entre os tipos de organizações (Empresas Estatais; Empresas Privadas,

Subsidiárias ou Parcerias; Cooperativas; e Organizações Sem Fins Lucrativos) para

cada um dos oito clusters de variáveis, permite que seja realizada a verificação

daquele grupo com maior média, que se destaca naquele cluster analisado. A

comparação múltipla com correção de Bonferroni, compara a diferença do perfil das

médias das respostas aos indicadores que compõem aquele cluster entre de cada tipo

de organizações.

Para melhor compreensão da análise dos dados, os 78 indicadores verificados em

cada um 12 RS foram classificados de 0 a 5, sendo: 0 – Informação não contemplada

no sumário; 1 – Informação não apresentada; 2 – Informação parcialmente

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apresentada sem verificação externa; 3 – Informação parcialmente apresentada com

verificação externa; 4 – Informação apresentada sem verificação externa; e 5 –

Informação apresentada com verificação externa. Essa escala serve como uma

referência qualitativa para as médias apresentadas no teste de Kruskal-Wallis.

Logo, esse teste permite afirmar que sete dos oito clusters possuem diferença

significativa entre os tipos de organização, nos quais o p encontrado é inferior à 0,05,

o que atribui consistência à conclusão sobre o tipo de organização que se destaca em

média nos clusters de variáveis 1, 2, 3, 4, 5, 7 e 8 e aos seus respectivos pressupostos,

contribuindo na validação da análise quantitativa e qualitativa de cada um dos clusters,

a saber.

No cluster 1, a melhor média é de 3,33 obtida pelas empresas estatais relacionados

ao processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter público

e orientado pelas questões de natureza social. No cluster 2, de promoção da geração

de trabalho e distribuição de renda; e das transformações sociais, inovação social e

construção paradigmática, a melhor média é das empresas estatais (4,19). O mesmo

acontece no Cluster 3, referente ao desenvolvimento de ações e políticas públicas

sociais e gerenciais-econômicas, no qual as empresas estatais possuem média de

3,31.

As empresas privadas, subsidiárias ou parcerias possuem melhor média nos clusters

4 e 5, alcançando respectivamente os valores de 3,69 e 3,41. O pressuposto atribuído

ao cluster 4 é o de promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia

dos direitos humanos, e o processo de gestão (social e governança) do interesse

coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na

conformidade legal e ações anticorrupção. O cluster 5 se relaciona ao constructo da

gestão social, processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos e processo

de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter público e orientado

pelas questões de natureza social – foco em fornecedores e seus impactos na

sociedade.

O cluster 6 foi o único que indicou diferença não significativa, com p=0,835, superior

à 0,05. Ao verificar a Tabela 2.9, pode-se perceber uma proximidade das médias entre

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os quatro tipos de organizações e que estas ainda compartilham da letra sobrescrita

atribuída pela correção de Bonferroni. Esse cluster representa o pressuposto da

Gestão Social de agentes e espaços relacionados às organizações (Estado, mercado

e Sociedade Civil) e corresponde a somente dois indicadores: (i) programas de

engajamento das comunidades locais e (ii) sobre venda de produtos proibidos ou

contestados. Assim, o indicador i é atendido por 83,33% das organizações como

informação apresentada com ou sem verificação externa e o indicador ii é classificado

como informação não contemplada no sumário ou informação não apresentada por

66,66% das organizações. Esses comportamentos de respostas das organizações

nos seus RS justificam a média 3,00 para as organizações do tipo cooperativas e

empresas privadas, mas que pela correção de Bonferroni possui diferença não

significativa dos demais tipos de organizações.

No caso do cluster 7, referente ao processo de gestão (social e governança) do

interesse coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social –

foco na conformidade de produtos ou serviços e avaliação de riscos, se destacaram

com a média 3,50, as cooperativas. Situação semelhante foi observada no cluster 8,

com média de 3,33, para o processo de gestão (social e governança) do interesse

coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na

saúde e segurança relacionadas aos produtos ou serviços.

Os resultados apresentados na Tabela 2.9 e os tipos de organização de maior média

por cluster, que possuem resultados igual ou superior a 3,00, correspondem àquelas

organizações de destaque em cada um dos clusters e que apresentam no mínimo, as

informações de forma parcial e realizam a verificação externa dessas informações.

Ainda sobre os resultados concernentes ao teste Kruskal-Wallis, é possível identificar

outros tipos de organização com as quais houve menor diferença entre eles:

• no Cluster 1 – as empresas privadas poderiam ser consideradas juntamente

com aquelas que tiveram a maior média que são as empresas estatais;

• no Cluster 2 – as empresas estatais (4,19), as cooperativas (4,00) e as

empresas privadas (3,56) podem ser consideradas com diferença menos

significativa e possuem comportamentos similares;

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• no Cluster 3 – a diferença menos significativa está entre as empresas estatais

(3,31) e as cooperativas (2,80);

• no Cluster 4 – as empresas privadas (3,69) possuem a diferença menos

significativa com as empresas estatais (2,71);

• no Cluster 5 – novamente as empresas privadas possuem a diferença menos

significativa com as empresas estatais (3,41) e as cooperativas (2,74),

• no Cluster 6 – as cooperativas (4,00) e as Empresas Privadas, Subsidiárias ou

Parcerias (3,56) possuem comportamentos similares em seus RS;

• no Cluster 7 – apesar das diferenças menos significativas se correlacionarem

de uma forma mais ampla, será considerado que as cooperativas (3,50)

compartilham uma correlação de mesmos subscritos com as empresas

estatais (3,11); e

• no Cluster 8 – a situação é semelhante à do Cluster 7, porém o

compartilhamento de mesmos subscritos acontece entre as cooperativas

(3,33) e as empresas privadas (0,89).

Com base nos resultados do teste de Kruskal-Wallis, é possível afirmar que as

empresas estatais e privadas disputam um perfil mais maduro em seus RS no que

tange à apresentação de informações solicitadas pelos indicadores e a verificação

externa seguidas das cooperativas. Entretanto, verifica-se que os relatórios das

organizações sem fins lucrativos, mesmo sendo estes da opção de acordo Essencial,

essas organizações ainda precisam evoluir no que tange à materialidade e

consequente apresentação das informações nos seus relatórios e em sua verificação

externa.

Ainda considerando o levantamento realizado nos documentos, observou-se, no início

da tabulação dos dados analisados estatisticamente, que as informações sobre as

questões sociais das organizações não se limitavam ao item da categoria social, nem

às suas subcategorias e aspectos sumarizados nos Relatórios de Sustentabilidade,

nos 78 indicadores presentes nessa análise documental. Logo, identificou-se que

informações sobre o pilar social, na perspectiva da Gestão Social, também estavam

presentes em outras partes do relatório como no bloco de conteúdos padrão gerais

que contempla o Perfil Organizacional, Aspectos Materiais e Limites Identificados,

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Engajamento de Stakeholders, Governança, Ética e Integridade. A seguir, um

exemplo sobre uma parte da informação de engajamento de partes interessadas da

Bunge Alimentos Brasil.

A Matriz de Materialidade é essencial para que este Relatório aborde os impactos da empresa, de forma concreta. Mas, independentemente disso, promovemos ações contínuas de engajamento com colaboradores, clientes e consumidores, organizações não governamentais, instituições financeiras, fornecedores, associações de classe e entidades ligadas ao Governo. Temos canais de comunicação, como e-mails e telefone 0800, realizamos reuniões técnicas e consultas diretas aos stakeholders, participamos em eventos do setor, além de pesquisa contínua disponibilizada nas páginas corporativas de sustentabilidade localizadas na internet em http://www.bunge.com.br/sustentabilidade/Nossos_Principios.aspx. (BUNGE ALIMENTOS BRASIL, 2015, s.p.).

Esta informação está relacionada aos constructos de gestão social como os propostos

por Cançado, Tenório e Pereira (2011) e não está descrita na parte do relatório da

Bunge Alimentos Brasil que trata dos indicadores da categoria social na parte de

conteúdo padrão geral que fala sobre a matriz de materialidade da Bunge e os

processos correlatos a ela. Este resultado de pesquisa evidencia a distribuição de

elementos que contribuem para a perspectiva da Gestão Social no contexto das

organizações e das diretrizes da GRI, sendo necessário um maior esforço para

encontrar os pressupostos de Gestão Social ao analisar os Relatórios de

Sustentabilidade, pois esses pressupostos não estão alocados apenas nos descritos

dos indicadores da categoria social dos Relatórios e são encontrados dispersos pelo

RS.

Esta descoberta corrobora com a situação de que nem todos os pressupostos de GS

conseguiram ser representados pelos Clusters das variáveis relativos aos conteúdos

padrão específicos, dos indicadores da categoria social desses relatórios.

Exemplificando esse contexto, um dos elementos de Gestão Social, que se refere à

participação das partes interessadas, está relacionado ao item de Aspectos Materiais

Identificados e Limites dos relatórios que é apresentado na primeira parte dos RS,

chamada de Conteúdos Padrões Gerais. Entretanto, de acordo com a lista de

informações da GRI (2016), a única organização que realizou um painel de partes

interessadas foi o Banco do Brasil. No RS do Banco do Brasil, destaca-se:

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A avaliação com os públicos ocorreu no Painel de Stakeholders 2014 do BB, realizado em setembro em São Paulo. O evento reuniu representantes funcionários, fornecedores, clientes, sociedade civil, investidores/acionistas e especialistas em sustentabilidade, que, organizados em mesas, avaliaram cada um dos desafios individualmente e em grupos. As notas dadas por esses públicos foram posteriormente ponderadas de acordo com o mapa de stakeholders prioritários do Banco, previamente definido e aprovado pelos executivos do BB. (BANCO DO BRASIL, 2015, p. 4).

Todavia, apesar de não estar relatado na lista de informações da GRI (2016), foi

identificado que o Sírio Libanês Hospital também realizou um painel com as partes

interessadas.

A priorização de temas ocorreu a partir dos resultados de um painel realizado em 2014, que contou com a participação de membros da comunidade do entorno e fornecedores, das respostas ao questionário online enviado para gestores, corpo clínico, colaboradores, terceiros e pacientes e de entrevistas com especialistas. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 4).

Logo, pode-se constatar que a prática de painel com as partes interessadas se alinha

com alguns pressupostos da Gestão Social. Todavia não é uma realidade para todas

as organizações estudadas, pelo menos com o perfil de estrutura de participação

promovida pelo Banco do Brasil e pelo Sírio Libanês Hospital.

Dentre os pressupostos de GS aplicável à prática do painel, destacam-se o processo

comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos; a gestão participativa e gestão

social cidadã e a apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação

social em consonância com os estudos de Cançado, Tenório e Pereira (2011),

Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Tenório (1998; 2005; 2009), Dowbor

(1999), Maia (2005) e Pimentel et al. (2011) Porém existem oportunidades de melhoria

nessa prática ao promover a cidadania deliberativa e a igualdade decisória nas

questões de sustentabilidade diretamente relacionadas às partes interessadas, pois

as duas práticas relatadas estão vinculadas a temas mais importantes e que deveriam

ser considerados nos RS e, não, uma avaliação das práticas sociais das

organizações. Entretanto, sob uma perspectiva crítica, como a apresentada por

Barnajee (2008), não se acredita que surgirá uma radical revisão de direitos de

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responsabilidade social nas organizações, pela característica de que esse tema está

em níveis elevados da política econômica. Logo, as mudanças no contexto das

organizações chegariam a resultados limitados, pois torna-se necessária uma crítica

sobre teoria da organização e as discussões precisam romper o debate sobre a

sustentabilidade ecológica e social das organizações e alcançar a política econômica

para que haja uma mudança de pensamentos em um nível macro.

Porém, é importante ressaltar que, apesar do painel com partes interessadas

pressupor elementos de dialigicidade, não foi possível pelo relato analisar criticamente

se este processo dialógico esteja de fato acontecendo. Apesar das demais

organizações não terem realizado uma prática de painel com as partes interessadas,

considerada uma iniciativa de referência e de alta complexidade, todas as demais

organizações, dentro dos seus contextos e propósitos de trabalho com a

sustentabilidade, apresentaram nos RS como realizam seus processos de

materialidade para o RS.

Buscando atender as novas diretrizes da GRI - G4, a Unimed Cuiabá estabeleceu uma metodologia para identificação dos temas relevantes para a sustentabilidade da cooperativa. Primeiramente, todos os temas levantados pela Global Reporting Initiative (GRI) foram considerados. Trabalhou-se a visão interna da Unimed Cuiabá por meio de sua direção e gerencia através do preenchimento de questionário e entrevistas individuais. E posteriormente foi realizada pesquisa eletrônica com 444 questionários respondidos por colaboradores, cooperados, clientes, fornecedores, prestadores de saúde, comunidade, governo e imprensa. [...] Os temas considerados de maior relevância para a gestão da cooperativa confrontados com os dos públicos consultados, foram selecionados para a elaboração da matriz de materialidade. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 28).

A seguir são apresentados trechos retirados dos RS das organizações analisadas com

o propósito de identificar os demais pressupostos de Gestão Social que não

conseguiram ser revelados de forma objetiva por meio dos indicadores apresentados

e analisados estatisticamente pelos clusters e estão descritos no Apêndice F. Dentre

os pressupostos a serem verificados nesta fase estão, principalmente, aqueles

referentes à (i) gestão democrática e igualdade política; (ii) gestão participativa,

participação social cidadã; (iii) a cidadania deliberativa e igualdade decisória; (iv)

apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação social; e, (v)

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promoção do Desenvolvimento Local. Assim, este debate será iniciado com a

apresentação dos temas considerados como materiais para as organizações e suas

partes interessadas.

Verificou-se que o Banco do Brasil destaca em seu RS, os seus desafios prioritários

de acordo com a materialidade. Desses desafios destacam-se aqueles que possuem

uma relação direta com a Gestão Social, a saber:

i. Aprimorar a estrutura de governança em sustentabilidade envolvendo a Alta Administração (Conselho de Administração, Conselho Diretor e Diretoria Executiva), reforçando o compromisso do Banco com o tema.

ii. [...] Estabelecer mecanismos que reforcem o compromisso dos funcionários com o cumprimento do Código de Ética e das Normas de Conduta.

iii. [...] Aprimorar a gestão do risco socioambiental tendo como base o previsto na Resolução CMN nº 4.327/2014.

iv. Aprimorar a relação entre o Investimento Social Privado e a estratégia de negócios.

v. Aprimorar o sistema de remuneração variável dos funcionários, inclusive da Alta Administração, contemplando o desempenho individual.

vi. Aumentar o índice de satisfação dos funcionários. vii. Manter e expandir o papel do Banco como um agente indutor do

desenvolvimento sustentável por meio da inclusão financeira e dos negócios sociais (Microcrédito Produtivo Orientado – MPO, Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior – Fies, Minha Casa Minha Vida, BB Crédito Acessibilidade, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, entre outros), integrando programas e políticas públicas, parcerias com o setor privado e estratégias de desenvolvimento sustentável do BB (investimento social privado, voluntariado, inclusão digital, desenvolvimento regional sustentável, modelo de atuação integrada em desenvolvimento sustentável, entre outros) [...]. (BANCO DO BRASIL, 2015, p. 5).

O Sírio Libanês Hospital elencou como temas materiais que podem ser relacionados

ao contexto social desta pesquisa a saber:

i. Foco nos Pacientes - Transparência no processo de cuidar - empoderamento do paciente - Saúde e segurança do paciente; Rotulagem de produtos e serviços.

ii. Foco nos colaboradores e corpo clínico - Retenção de colaboradores, redução da rotatividade, clima e plano de carreira - Emprego; Saúde e segurança dos colaboradores - Saúde e segurança no trabalho; Desenvolvimento profissional de médicos e colaboradores - Treinamento e educação.

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iii. Foco na governança - Transparência na prestação de contas e combate à corrupção - Desempenho econômico; Combate a todas as formas de discriminação** - Direitos Humanos.

iv. Foco na sociedade - Projetos e iniciativas próprias para assistência às comunidades do entorno - Direitos humanos; Atuação na formação de profissionais da saúde, pesquisas e parceria para a melhoria do SUS - Impactos econômicos indiretos.

**O tema foi considerado transversal, em termos de impacto e necessidade de gestão, pela empresa, portanto, inserido junto com os demais temas relacionados à governança. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 5).

O IOS destaca que os temas mais relevantes para o seu público de relacionamento e

que possuem relação com os objetivos desta pesquisa são:

i. Gestão de parcerias com as empresas para apoiar a empregabilidade dos beneficiários.

ii. Capacitação do quadro de funcionários da Organização, incluindo professores, para garantir a qualidade dos cursos.

iii. Processo para formular, comunicar e implementar campanhas de conscientização pública.

iv. Processos para garantir ética na captação e destinação de recursos.

v. Capacitação/Sensibilização das empresas, para receber os beneficiários. (IOS, 2015, p. 11).

Dentre os temas materiais destacados pelo inpEV, aqueles correlatos ao pilar social

são:

i. Atuação do inpEV em conscientização e educação. ii. Papel do SCL como referência para outros setores. iii. Visibilidade das informações do Sistema – Conformidade

(sociedade). iv. Atendimento à legislação. (inpEV, 2015, p. 39).

A Unimed Sorocaba elencou os indicadores de maior importância, diferentemente das

informações das demais organizações já apresentadas que elencaram temas.

Conforme o RS da Unimed Sorocaba (2015, p. 14), destacam-se os seguintes

indicadores do pilar social: Emprego, Combate à corrupção, Saúde e Segurança do

cliente, Saúde e Segurança no trabalho, Trabalho infantil, Igualdade de remuneração

entre mulheres e homens, Práticas de segurança, Não discriminação, Rotulagem de

produtos e serviços, Conformidade legal (leis e regulamentos), Diversidade e

igualdade de oportunidades, Avaliação de fornecedores em impactos na sociedade,

Mecanismos de queixas e reclamações relacionados aos impactos na sociedade e

nas comunidades locais.

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145

Os temas do pilar social destacados pelas partes interessadas da Unimed Cuiabá

foram:

i. Clientes: privacidade dos dados do cliente e acesso a tratamento médico de qualidade.

ii. Colaborador: privacidade dos dados do cliente e acesso a tratamento médico de qualidade e desempenho econômico.

iii. Cooperado: acesso a tratamento de qualidade, qualidade no atendimento e controle de doenças.

iv. Fornecedores: Treinamento e educação, saúde e segurança no trabalho, consumo de materiais, prática de direitos humanos.

v. Comunidade: Energia e água. vi. Prestadores: Consumo de materiais, Impactos econômicos

indiretos, geração de emprego. vii. Governo: Transparência nos preços e coberturas dos planos,

Energia, água, práticas de direitos humanos, acesso a tratamento médico de qualidade.

viii. Imprensa: Transparência nos preços e coberturas dos planos, desempenho econômico, Energia, Água, Geração de emprego, acesso a tratamento médico de qualidade, privacidade de dados do cliente, comunicação de marketing. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 28).

Logo, foram considerados como materiais pela Unimed Cuiabá (2015), os seguintes

temas do pilar social da GRI: Geração de Emprego, Saúde e Segurança, Treinamento

e Educação, Diversidade e Igualdade de Oportunidades, Práticas de Direitos

Humanos, Não Discriminação, Liberdade de Associação e acordo de negociação

coletiva, Trabalho Infantil, Trabalho Forçado, Comunidade (gestão dos impactos das

operações nas comunidades), Corrupção, Políticas Públicas, Controle de doenças,

Concorrência desleal, Saúde e segurança do beneficiário, Acesso a tratamentos

médicos de qualidade, Qualidade no atendimento, Privacidade de dados do cliente,

Inovação, Medicina Preventiva, Comunicação de Marketing, Desempenho do Plano

(ex. pedidos que foram negados, taxa de reclamação).

Para a Tractebel Energia (2015, p. 18-19), os temas sociais materiais que foram

relatados:

i. [...] Gestão da carteira de clientes - Rotulagem de produtos e serviços.

ii. [...] Aumento da capacidade de geração (investimentos, licenciamentos e perspectivas) - Investimentos; Avaliação de impactos relacionados a direitos humanos.

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iii. [...] Emprego e relações de trabalho – Emprego; Relações trabalhistas; Não discriminação; Liberdade de associação.

iv. [...] Saúde e Segurança no Trabalho (empregados próprios e terceirizados) - Saúde e segurança no trabalho.

v. Relacionamento com a comunidade (engajamento local e canais de relacionamento, denúncia, resolução de problemas e queixas) - Mecanismos de queixas e reclamações relativas a impactos ambientais; Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a práticas trabalhistas; Direitos dos povos indígenas e tradicionais; Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a direitos humanos; Comunidades locais; Comunidades locais (setorial); Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a impactos na sociedade; Biodiversidade e Emissões. (TRACTEBEL ENERGIA, 2015, p. 18-19).

O Santander – Brasil apresentou como temas e aspectos sociais materiais, os

seguintes:

i. [...] Gestão de Pessoas - Treinamento e educação; Emprego. ii. Relações com clientes e consumidores - Rotulagem de produtos e

serviços; Comunicações de marketing. iii. Combate à Corrupção e conformidade com leis, normas e políticas

internas - Combate à corrupção; Mecanismos de queixas e reclamações (Práticas Trabalhistas e Direitos Humanos); Conformidade (produtos e sociedade); Auditoria; Políticas Públicas.

iv. Impactos positivos do banco na sociedade - Impactos econômicos indiretos; Comunidades locais.

v. Avaliação da cadeia de fornecedores - Avaliação de fornecedores em práticas; trabalhistas, ambientais, DH e sociedade.

vi. Estratégia da Sustentabilidade. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 69).

A Caixa Econômica Federal apresentou os seguintes temas e aspectos sociais

essenciais:

i. Sociedade – Posicionamento quanto à corrupção e combate à corrupção na Instituição - Combate à corrupção.; Conformidade (Sociedade).

ii. Serviços bancários – Iniciativas de educação para o uso responsável do crédito - Rotulagem de produtos e serviços.

iii. Economia – Atuação da CAIXA como agente financeiro de programas governamentais (Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família etc.) - Portfólio de produtos.

iv. Serviços bancários – Qualidade e satisfação dos clientes - Rotulagem de produtos e serviços; Privacidade do cliente; Conformidade (Responsabilidade pelo produto).

v. Sociedade – Inclusão e acessibilidade de clientes - Portfólio de produtos FS6; Comunidades locais.

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vi. Direitos humanos – Respeito aos direitos fundamentais - Investimentos; Não discriminação; Liberdade de associação e negociação coletiva; Trabalho infantil; Trabalho forçado ou análogo ao escravo; Práticas de segurança; Direitos indígenas; Avaliação; Avaliação de fornecedores em direitos humanos; Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a direitos humanos.

vii. [...] Trabalho – Segurança e proteção de empregados - Saúde e segurança no trabalho.

viii. Trabalho – Geração de oportunidades e postos de trabalho - Desempenho econômico; Presença no mercado; Emprego; Treinamento e educação.

ix. [...] Sociedade – Engajamento com comunidades locais Comunidades locais. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2015, p. 52).

Os relatos da Itaipu Binacional (2015, p. 9) destacam os seguintes temas do pilar

social considerados como materiais: Relacionamento com a Comunidade,

Treinamento e Educação, Impactos Econômicos Indiretos/Desenvolvimento Regional,

Direitos Humanos, Práticas de Governança, Práticas Anticorrupção, Pesquisa e

Desenvolvimento Tecnológico, Diversidade e Igualdade de Oportunidades e Gestão

de Recursos Humanos.

De acordo com a ACSP (2015, p. 7), os temas de maior relevância e selecionados na

perspectiva social são:

i. Defesa dos interesses institucionais - Aspectos: Governança,

Engajamento com stakeholders e Compromissos e iniciativas - Atualização do estatuto e demais documentos da governança corporativa contribui para o processo de transparência e gestão da entidade.

ii. Direitos humanos - Aspectos: Não-discriminação, Liberdade de associação e negociação coletiva, Trabalho infantil, Trabalho forçado ou análogo ao trabalho escravo, Práticas de segurança e Avaliação de fornecedores em práticas de direitos humanos - Respeitar integralmente a legislação vigente e combater ações de preconceito e desrespeito aos direitos humanos, tendo práticas estabelecidas na Política Interna da entidade.

iii. Ambiente de trabalho - Aspectos: Emprego, Saúde e segurança no trabalho e Diversidade e igualdade de oportunidades - Desenvolver um ambiente de trabalho propício ao desenvolvimento dos colaboradores e que contribua com a melhoria do clima organizacional.

iv. Desenvolvimento profissional - Aspectos: Treinamento e educação - Aprimorar as lideranças internas para que tenham condições técnicas de corresponder às expectativas da entidade e de atender sua missão e visão; Engajamento com fornecedores - Aspectos: Avaliação Fornecedores-práticas trabalhistas, Avaliação Fornecedores - impacto na sociedade,

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Avaliação fornecedores - direitos humanos e Avaliação fornecedores - impacto no meio ambiente - Desenvolver um canal de comunicação com os fornecedores e aproximá-los das práticas já existentes na ACSP. (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO, 2015, p. 7).

Dentre os temas considerados principais pela matriz de materialidade, pela Bunge

Alimentos Brasil (2015), destacam-se aqueles com maior relação ao pilar social:

Governança, estratégia e compliance, segurança alimentar e saúde do consumidor,

responsabilidade pelo produto, investimento social, engajamento, apresentando como

principais assuntos: cumprimento com leis, normas e regulamentos; ética e conduta;

transparência; direitos humanos e condições de trabalho na cadeia de suprimentos e

segurança e qualidade dos produtos.

Assim, foi possível perceber que elementos de orientação para a sociedade são

apresentados pelos RS como previsto por Tenório (2009). Essa orientação é

fortalecida pela apresentação por parte das organizações de informações e

indicadores correlatos às subcategorias de Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente,

Direitos Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto, conteúdos da

categoria social da GRI.

Esses conteúdos exemplificam o objeto de estudo da Gestão Social apresentado por

Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), ou seja, as problemáticas sociais e

ambientais ocorrem em um determinado território no qual os interesses e ações de

diversos atores são compartilhados. Assim, as organizações podem representar tais

territórios, as suas partes interessadas, esses atores, e os Relatórios de

Sustentabilidade como instrumentos para a divulgação das ações e dos interesses do

público envolvido e, orientador, para as inovações sociais e mudanças que promovam

o desenvolvimento local no contexto da sustentabilidade.

Os aspectos que precisam ser apresentados pelas organizações para a subcategoria

Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente das diretrizes G4 da GRI se correlacionam

diretamente às reflexões de Sachs (2010) sobre o desenvolvimento includente,

pautado nos conceitos de trabalho decente conforme Organização Internacional do

Trabalho (OIT). Portanto, Sachs (2010, p. 33) conceitua trabalho decente como “um

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trabalho convenientemente remunerado, levando-se em conta o nível de

desenvolvimento do país, que se faz em condições de salubridade também aceitáveis

e dá lugar a relações humanas que respeitam a dignidade do trabalhador”. Assim, as

diretrizes da GRI corroboram com o estímulo a esse modelo de desenvolvimento

includente quando solicita informações qualitativas e quantitativas das organizações

na subcategoria Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente, com o relato a respeito dos

aspectos de Emprego, Relações trabalhistas, Saúde e segurança no trabalho,

Treinamento e educação, Diversidade e igualdade de oportunidades, Igualdade de

remuneração entre homens e mulheres, Avaliação de fornecedores em práticas

trabalhistas e Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a práticas

trabalhistas. O autor ainda destaca que não é suficiente multiplicar as oportunidades

de trabalho se este não possui condições decentes às relações humanas.

Percebendo o papel da GRI fomentando as organizações para contribuírem com o

Desenvolvimento Sustentável, existe uma alta correlação entre os indicadores da

categoria social com os compromissos reafirmados no relatório da Rio+20. Dentre

estes compromissos, relatados pela ONU (2012, p. 10), destacam-se “a importância

da participação dos trabalhadores e dos sindicatos para a promoção do

desenvolvimento sustentável”. O relatório ainda apresenta como elementos

fundamentais para o fortalecimento da capacidade de trabalhadores e sindicados em

apoiarem o Desenvolvimento Sustentável, a informação, a educação e a

sustentabilidade em todos os níveis, o que inclui o local de trabalho.

4.3 Contexto da Pesquisa de Campo

Nesta pesquisa ainda foram utilizadas, como instrumento de coleta de dados,

entrevistas semiestruturadas com profissionais responsáveis pela consolidação de

informações e elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) das organizações

selecionadas na pesquisa documental, com o objetivo de identificar o conhecimento e

as concepções de Gestão Social (GS) desses indivíduos, no contexto de suas

organizações, e ter parâmetros de comparabilidade com os resultados alcançados na

etapa da pesquisa documental. A análise de conteúdo dessas entrevistas ainda

buscou conhecer as percepções sobre Gestão Social para verificar se as diretrizes G4

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da GRI e os Relatórios de Sustentabilidade representam instrumentos de Gestão

Social nas diferentes organizações.

Após os contatos realizados com as 12 organizações selecionadas para esse estudo,

somente quatro delas concordaram em participar da pesquisa por meio de realização

das entrevistas. Além dessas quatro organizações, uma delas preferiu responder as

perguntas do roteiro semiestruturado (APÊNDICE E) de forma escrita. Todavia, essa

resposta não foi considerada na análise de conteúdo, pois se optou por trabalhar com

um grupo homogêneo quanto ao método de aplicação do instrumento de coleta de

dados.

Cabe salientar que, em todos os casos, os contatos iniciais com as organizações

foram realizados por meio dos canais para informações de sustentabilidade

disponibilizados nos RS. Todavia, nem todos os canais permitiram contato direto para

viabilização das entrevistas, o que representa uma oportunidade de melhoria para as

organizações pesquisadas.

Das empresas públicas, privadas, cooperativas e organizações sem fins lucrativos,

somente um tipo de organização não conseguiu ser contemplada nessas quatro

entrevistas realizadas e as informações coletadas foram suficientes para a saturação

dos dados, o que permitiu a análise de conteúdo apresentada a seguir. A identidade

dos entrevistados e de suas organizações serão mantidas em sigilo, logo, serão

nomeados no decorrer do texto como: Entrevistado 1, 2, 3 ou 4 e seu perfil está

relacionado no Quadro 2.7.

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Quadro 2.7 – Informações sobre os entrevistados

Entrevistados 1 2 3 4

Sexo feminino feminino masculino feminino

Idade 34 anos 34 anos 36 anos 31 anos

Cor auto atribuída

branca branca branca amarela

Função

Coordenadora da área de

Empregabilidade e de

Comunicação

Coordenadora de

Comunicação e Educação

Analista de Responsabilidade

Social ou Sustentabilidade

Supervisora de Responsabilidade

Social

Tempo na função

dois anos quatro anos seis anos um ano

Tempo na Organização

três anos quatro anos 10 anos oito anos

Tempo que participa da elaboração dos RS

três anos dois anos seis anos seis anos

Fonte: Dados da pesquisa.

Todos as autorizações e termos referentes às questões éticas de realização das

entrevistas estão devidamente assinados e mantidos pelo pesquisador.

4.3.1 Resultados da Análise de Conteúdo

O conteúdo das entrevistas realizadas nas quatro organizações que aceitaram

participar da pesquisa foi tratado para sua inserção no software Iramuteq. Os corpus

textuais foram revisados, suprimindo-se expressões que representavam vício de

linguagem dos entrevistados e demais elementos estranhos ao conteúdo das

entrevistas, observando-se a manutenção da coesão e coerência do texto.

Após os ajustes nos corpus textuais, a análise de conteúdo realizada pelo software

contemplou quatro textos, estratificados pelo programa em 402 segmentos de textos,

2.128 formas, com 14.297 ocorrências, 1.405 lemas, 1.291 formas ativas, 108 formas

suplementares, 509 formas ativas com frequências ≥ 3, média das formas por

segmento de 35,564677, conforme Figura 2.2.

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152

Figura 2.2 - Classificação Hierárquica Descendente (CHD)

Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017.

Orientando-se pelas considerações de Camargo e Justo (2013), com o método da

Classificação Hierárquica Descendente (CHD), o software identificou e reformatou as

unidades de texto, transformando-as em quatro classes de Unidades de Contexto

Elementares (UCE). Como evidenciado na Figura 2.2, dos 402 segmentos de textos,

332 foram classificados, correspondendo a 82,59% dos segmentos. O número de

hapax foi de 609, ou seja, 4,26% das ocorrências e 43,35% das formas (lemas). A

média de ocorrências por texto foi de 3574,35.

Em um primeiro cenário de resultado alcançado com a utilização do software Iramuteq

é apresentado na Figura 2.3, o agrupamento e a organização gráfica em nuvem das

palavras das entrevistas em relação à sua frequência.

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153

Figura 2.3 – Nuvem de palavras do conteúdo das entrevistas

Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017.

Conforme Camargo e Justo (2013), a nuvem de palavras representa uma análise

lexical simples, porém, esta consegue ilustrar os elementos preliminares dos

resultados desta pesquisa, na qual a palavra gente se destaca como elemento central

e de maior frequência, revelando, das informações coletadas nas entrevistas, a

importância das pessoas quando se trata das questões sociais no contexto dos

relatórios e práticas de sustentabilidade organizacional.

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154

O destaque ao termo gente na nuvem de palavras é reconhecido na publicação, O

futuro que queremos, elaborada pela ONU (2012, p.3) quando esta relata:

Reconhecemos que os povos estão no centro do desenvolvimento sustentável e, nesse sentido, trabalhamos por um mundo justo e equitativo para todos, e nos comprometemos a trabalhar juntos, por um crescimento econômico sustentável que beneficie a todos, pelo desenvolvimento social e pela proteção do ambiente favorecendo o interesse de todos. (ONU, 2012, p. 3).

Outras palavras também são destacadas na nuvem como: não, também, público,

indicador, questão, porque, como e Relatório de Sustentabilidade. Ao observar as

transcrições das entrevistas é possível identificar que essas palavras podem ser

agrupadas em aquelas que:

i. buscam explicar, conectar e complementar informações, como é o caso das

palavras porque, como e também.

- “Eu acho, eu acredito que para a coordenação a gente consegue ter uma visão ampla de todas as áreas, porque quando a gente lê o relatório de sustentabilidade, elas conseguem enxergar o que está acontecendo no financeiro, o que está acontecendo no RH, a gente consegue enxergar todas as áreas de uma maneira, em um relatório de sustentabilidade único.” (Entrevistado 1).

ii. buscam esclarecer o real sentido das informações, como a palavra não;

- “Eu acredito que é uma organização socialmente responsável é aquela que controla esses indicadores propostos pela GRI, por exemplo, o tempo inteiro e não para fazer o relatório de sustentabilidade, mas que ela tenha uma visão para o futuro.” (Entrevistado 1).

iii. buscam apresentar os elementos relacionados à sustentabilidade

organizacional, representadas por público, indicador, questão e Relatório de

Sustentabilidade.

- “Por ordem de relevância também, nós classificamos as partes interessadas, fizemos um estudo com a consultoria e foram selecionados pela relevância que nosso público demonstrou em querer saber, em que eles têm interesse.” (Entrevistado 2).

Portanto, a ocorrência das palavras apresentadas na nuvem evidencia a coleta de

informações relativas à sustentabilidade organizacional com foco central na discussão

do pilar social. Informações prestadas pelos entrevistados buscando a exemplificação,

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complementariedade e preocupação em apresentar o real sentido do que estava

sendo relatado, o que indica a aplicabilidade das informações coletadas para o

alcance dos objetivos propostos por esta pesquisa.

Ao realizar a Classificação Hierárquica Descendente dos relatos obtidos pelas

entrevistas, as classes relacionadas ao conteúdo são formadas pela aproximação dos

sentidos e relevância das palavras, tendo como referência a análise estatística do X²

(qui-quadrado) em relação à frequência dos radicais das palavras em cada segmento

de texto e o conjunto de texto que representa o corpus textual. Assim, a Figura 2.4

representa o dendograma resultante da CHD com a apresentação das respectivas

classes do conteúdo analisado e as palavras que foram significativas em cada uma

dessas classes.

Figura 2.4 - Dendograma resultante da Classificação Hierárquica Descendente dos

relatos das entrevistas

Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017.

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156

As palavras em cada uma das categorias da Figura 2.4 estão apresentadas de forma

decrescente em relação ao X² de associação à categoria, sendo consideradas

significativas aquelas com X² ≥ 3,84. Logo, a partir da definição das classes (termo

atribuído pelo Iramuteq), torna-se relevante analisar o conjunto de palavras e relatos

de cada uma dessas classes e nomear as categorias, nomenclatura utilizada por

Bardin (2011), que cada conjunto de palavras representa. Portanto, as categorias

ficaram assim definidas:

a) Categoria 1 (classe 1) – Gestão Social aplicada à sustentabilidade

organizacional.

b) Categoria 2 (classe 2) – Concepção e elaboração do Relatório de

Sustentabilidade.

c) Categoria 3 (classe 3) – Partes interessadas e materialidade dos Relatórios de

Sustentabilidade.

d) Categoria 4 (classe 4) – Práticas socioambientais para a sustentabilidade

organizacional.

De uma forma bastante coerente, percebe-se que as categorias 2 e 3 estão

diretamente relacionadas no dendograma da Figura 2.4 e representam categorias que

relatam a concepção e elaboração dos RS. Considerando que o mapeamento das

partes interessadas e o processo de materialidade para os relatórios são etapas

indissociáveis da concepção e elaboração dos RS, esta correlação se demonstra

adequada e corresponde à 52,1% das falas dos entrevistados.

Na Tabela 2.10, estão descritas as classes semânticas que foram separadas pela

relação lexical por variável definida nesta pesquisa, que corresponde às organizações

respondentes. As principais palavras dos segmentos de texto típicos são

apresentadas na tabela e justificam a criação das respectivas 4 classes.

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Tabela 2.10 – Identificação das palavras nas classes

Classe/Categoria Palavras EFF.

St EFF. Tot

% tot. X²

1 – Gestão Social aplicada à sustentabilidade organizacional

Pensar 21 25 84,00 40,60 Gestão Social 15 16 93,75 34,91 Social 22 34 64,71 24,16 Direitos Humanos 9 9 100,00 23,08 Econômico 8 8 100,00 20,45

2 – Concepção e elaboração do Relatório de Sustentabilidade

Relatório de Sustentabilidade

42 63 66,67 38,59

Área 19 20 95,00 36,25 Começar 15 16 93,75 27,48 Processo 13 14 92,86 23,19

Ano 17 22 77,27 20,35

3 – Partes interessadas e materialidade dos Relatórios de Sustentabilidade

Missão 7 7 100,00 31,14 Matriz 7 7 100,00 31,14 Consulta 7 7 100,00 31,14 Aluno 11 15 73,33 30,90 Público 23 51 45,10 27,70

4 – Práticas socioambientais para a sustentabilidade organizacional

Embalagem 15 16 93,75 59,91 Educação Ambiental 8 8 100,00 34,33 Educação 9 10 90,00 33,14 Campo 7 7 100,00 29,94 Agricultor 7 7 100,00 29,94

Fonte: Dados da pesquisa, 2017. Nota: EFF.St representa o número de UCE que contém a palavra na Classe; EFF. Tot. representa o número de UCE do corpus textual que contém a palavra; e X² é igual ao Qui-quadrado relativo à associação da palavra com a respectiva Classe.

Como exemplo, os dados apresentados na Tabela 2.10, foram interpretados da

seguinte forma, a palavra Pensar, surgiu 25 vezes no texto sendo que em 21 das

vezes ela estava na Classe 1, que corresponde à Gestão Social aplicada à

sustentabilidade organizacional. Logo, este perfil de ocorrência da palavra Pensar na

Classe 1 representou 84% do total de vezes que ela apareceu no texto, o que equivale

a um X² = 40,60. Esse valor do X² em cada palavra servirá de referência para se definir

quais os outros termos que apresentam maior representatividade em cada uma das

classes, e quanto maior for o seu valor, maior será o seu destaque naquela classe,

caracterizando cada uma delas.

Foi também possível, obter do software uma análise pós-fatorial de correspondência

(AFD) a partir da CHD, conforme Figura 2.5. Nesta análise, as palavras e variáveis

associadas a cada uma das quatro classes da CHD são representadas em um plano

cartesiano, permitindo o resgate de segmentos de textos do corpus original, que

viabiliza a compreensão do contexto das palavras estatisticamente significativas.

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Figura 2.5 – Representação das classes de palavras no corpus original do texto

Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017. Nota: Variáveis ativas - coordenadas - 30 pontos por classe. A posição dos pontos pode não ser exata.

A representação gráfica da Figura 2.5 reforça a relação entre as categorias 2 e 3,

inclusive compondo praticamente o mesmo quadrante. Nessa mesma perspectiva,

compreende-se, na análise deste gráfico, que as palavras mais próximas ao eixo

horizontal representam elementos comuns entre as classes. Logo, pode-se perceber

que a categoria 2 possui como palavras de maior relevância em seu contexto, os

Relatório de Sustentabilidade, Área, Começar, Processo e Ano e a categoria 3,

apresenta como palavras de destaque Missão, Matriz, Consulta, Aluno e Público.

Ambas possuem um conjunto de palavras convergentes no propósito de que a

elaboração do Relatório de Sustentabilidade só é possível com a consideração e

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participação efetiva das partes interessadas e de um processo de materialidade

estruturado.

Para a categoria 3, as palavras Missão, Matriz e Consulta possuem o mesmo X² de

31,14 que representa o maior valor nesta classe e que se destacam quando se infere

que a missão da elaboração de um Relatório de Sustentabilidade (X²=38,59 na classe

1) depende de um processo de materialidade no qual se constrói a matriz de temas

materiais para as partes interessadas, processo no qual é inerente a consulta a estas

partes. Processo destacado com trechos dos RS na análise de cluster realizado nos

RS das organizações.

Na categoria 1, referente à gestão social aplicada à sustentabilidade organizacional,

as palavras, Pensar (X²=40,60), Gestão Social (X²=34,91) e Social (X²=24,16) são as

de maior ocorrência e destaque e apesar de estarem horizontalmente mais próximas

às categorias 2 e 3, relativas ao Relatório de Sustentabilidade em si, se encontram

em outro quadrante na perspectiva vertical e o núcleo de palavras Pensar, Gestão

Social e Social ainda estão distantes do núcleo das principais palavras presentes nas

categorias 2 e 3. Esta disposição espacial no gráfico permite inferir que, apesar de

uma relação da categoria 1 com as categorias 2 e 3, essas palavras da categoria 1

ainda são pensadas pelos profissionais que elaboram os RS como um elemento

específico e não considerado no processo de elaboração dos RS.

Situação semelhante acontece com as palavras da categoria 4, Embalagem

(X²=59,91), Educação Ambiental (X²=34,33) e Educação (X²=33,14), que estão

relacionadas às práticas socioambientais das organizações, mas que não são

compreendidas no mesmo contexto da elaboração e da materialidade dos RS. Neste

ponto, ressalta-se ainda que a Gestão Social no contexto da sustentabilidade

organizacional ainda não é compreendida como um orientador de práticas

socioambientais, o que inclui as caracterizadas como de Responsabilidade Social.

Todavia, percebe-se que as categorias 1 e 4 se distanciam das demais categorias e

entre si, inclusive assumindo quadrantes opostos e que pode representar um

descolamento ou divergência entre as percepções de Gestão Social aplicada à

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sustentabilidade (categoria 1) e das práticas socioambientais para a sustentabilidade

organizacional (categoria 4). Este resultado se alinha às percepções também

observadas na análise documental, uma vez que se identificou que as práticas

organizacionais relacionadas às questões sociais foram apresentadas nos

indicadores dos conteúdos padrão específicos e os elementos mais próximos aos

pressupostos do processo de Gestão Social estão em outras partes dos RS,

correspondentes aos padrões de conteúdos gerais.

Com os resultados da análise de conteúdo realizada com o auxílio do Iramuteq, as

categorias definidas foram analisadas pelo método de enunciação proposto por Bardin

(2011), com o propósito de explorar o conteúdo dos relatos de entrevistas e destacar

aqueles trechos que possuem correlação com os pressupostos de Gestão Social

aplicada ao contexto da sustentabilidade organizacional.

Logo, para a categoria, Gestão Social aplicada à sustentabilidade organizacional,

pode-se perceber por meio dos trechos de entrevistas transcritos que ainda há um

caminho a ser percorrido na compreensão da Gestão Social no contexto

organizacional e sua contribuição com a sustentabilidade.

- “[...] mas também acho que está dentro das suas palavrinhas, gestão social, prestação de contas, transformação social, gestão democrática e participativa... pode ser também, geração de trabalho, distribuição de renda, responsabilidade social; [...] eu gostei desse termo que você colocou de cidadania organizacional, mas eu não conseguiria refletir sobre ele ainda. É... eu acho que impacto social, de novo, esse, inovação social, talvez seja um sonho, eu não sei, se eu pensaria em outra palavra agora; [...] talvez uma coisa engajamento, porque assim, para fazer o relatório de sustentabilidade, nós temos que ter o engajamento das partes interessadas, talvez o engajamento das pessoas para a gestão social seja bem interessante, estou pensando; [...] interesses dos grupos sociais e comunidade, orientação para o valor social, novas soluções para grupos sociais e esse, mecanismos de difusão replicação e abstenção”. (ENTREVISTADO 1).

Esses trechos de resposta do Entrevistado 1 foram classificados exatamente na

categoria de Gestão Social aplicada à sustentabilidade e evidenciam as reflexões

ainda não precisas sobre a aplicação da Gestão Social no contexto organizacional.

Todavia, demonstra também uma coerência de percepção do entrevistado no que

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tange os pressupostos de GS, apesar de ele não ter conhecimento prévio sobre o

tema. Em contrapartida, no trecho de resposta do Entrevistado 2, encontra-se uma

outra realidade de compreensão da GS, uma visão limitada a ações pontuais e não

sistêmicas.

- “[...] a gestão social ela parte do princípio de que a gente atende a legislação com relação a funcionários e disso tem os demais, se for falar de sistema tem 500 indiretamente, existe um fator social também apesar de nosso foco ser ambiental; [...] a gente tem essa questão da proximidade com a comunidade com os estudantes acho que é por aí o que é gestão social; [...] hoje, no Brasil, nós temos uma legislação trabalhista boa acredito que uma gestão social satisfatória é uma empresa que atenda essa legislação trabalhista e obviamente se ela puder oferecer benefícios que não são previstos em lei.” (ENTREVISTADO 2).

O Entrevistado 3 percebe o tema Gestão Social aplicada à organização da seguinte

maneira:

- “[...] as características são assim basicamente aquelas que de alguma forma vão trazer algum impacto positivo para os públicos com os quais a se relaciona, não apenas a comunidade que é um olhar que gera muita confusão ao achar que a gestão social é apenas para o público externo e não é bem assim, a gente também tem o público interno, empregado ou contratado de empresas terceirizadas; [...] são basicamente ações que trazem algum impacto ou benefícios para esses públicos, isso é um dos pontos interessantes que nós já observamos que merece atenção e ser aprimorado; [...] a questão social é tratada um pouco distante do que a GRI propõe, ela gostaria pela GRI, gostaria que houvesse uma gestão desses aspectos uma gestão dos indicadores em si.” (ENTREVISTADO 3).

No caso apresentado pelo Entrevistado 3, constata-se uma relação com as

considerações do Entrevistado 1, porém em um perfil mais preciso e delimitado com

o vínculo às diretrizes da GRI. No mesmo interim, corroborando com as considerações

dos Entrevistados 1 e 3, o Entrevistado 4 ainda destaca:

- “[...] a gestão social, quando a gente fala em social, a gente pensa em só uma comunidade, mas não é somente a comunidade, igual quando a gente falou da gestão corporativa; [...] não é somente minha obrigação social com todos os stakeholders e nossos públicos, porque eu acho que quando a gente fala de social não tem como deixar de fora isso, não tem como abordar sem falar em justiça social, desenvolvimento tecnológico, interesse dos grupos sociais na comunidade, orientação para o valor social, participação de

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cooperação, novas soluções para grupos sociais, responsabilidade social e sustentabilidade. Eu acho que está bem explicado e esqueci de falar, mudança gestacional porque para funcionar a gente tem que estar sempre aberto para mudanças, para coisas novas”. (ENTREVISTADO 4).

A abordagem do entrevistado 4 ainda realiza uma conexão com a inovação social e

os processos transformadores relacionados à Gestão Social. Cabendo salientar, que

alguns termos que são utilizados pelos entrevistados, estão relacionados em fichas

que lhes foram apresentadas durante a entrevista, uma vez que estes não tinham o

contato com o termo Gestão Social e, assim, ter-se-ia um norteador para os

encaminhamentos das questões. Essas fichas podem ser observadas nos quadros

azuis do roteiro semiestruturado de entrevista, no Apêndice E.

Em continuidade, observando os trechos dos relatos concernentes à categoria 2,

Concepção e elaboração do RS, foram recortados trechos enunciados da entrevista

que foram classificados nessa categoria e que a representam.

- “[...] a consultoria faz a entrevista com os coordenadores e com a gestora; [...] mas a gente sempre abre caso ela precise conversar com alguém, a gente define quem vai dar as entrevistas, a gente oferece as entrevistas para a consultoria que começa a escrever o relatório de sustentabilidade; [...] e a área de comunicação é a que puxa toda a gestão desse cronograma, toda a gestão desse projeto, e a gente começa para cada área, assim, olha seus indicadores serão esses, vocês precisam me dar as respostas até o fim de dezembro e tal, às vezes, é um pouco complicado; [...] na primeira edição, a gente fez um workshop com todo mundo junto com a consultoria, para que todo mundo soubesse para que serve o relatório de sustentabilidade e quais os tipos de indicadores que cada um tem que colocar e envolver todo mundo; [...] eu acho que o relatório de sustentabilidade é sempre difícil para quebrar a barreira com todo mundo, mas depois disso já vai ficando fácil de fazer, todo mundo já está acostumado já sabe a importância.” (ENTREVISTADO 1).

Para o Entrevistado 2, a concepção e elaboração do RS consistem em:

- “[...] e a gente, o público interno, desculpa, o público envolvido obviamente no relatório de sustentabilidade é o público interno, que são as pessoas responsáveis em alimentar esses indicadores para a gente publicar no final do ano no começo do ano;

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[...] com relação aos demais, com a publicação pronta, a gente manda para essas pessoas envolvidas. Antes disso, a gente tem a aprovação do conselho diretor sobre os números que a gente publica, sobre as informações que a gente responde; [...] a gente fecha o relatório de sustentabilidade, esse relatório de sustentabilidade vai para editora, ele é aprovado ou não, pode voltar pelo diretor, do que é representante dos associados e volta para a gente fazer a versão oficial; [...] acredito que a melhor coisa com a publicação do relatório de sustentabilidade é a questão do relacionamento mesmo, essa aproximação. Ele como um documento de comunicação, ele é ótimo para o relacionamento, mas não tem uma utilização administrativa.” (ENTREVISTADO 2).

Destaca-se do relato do Entrevistado 2, o papel do processo de elaboração do

relatório na promoção do relacionamento entre as pessoas envolvidas neste processo,

potencial indício de uma comunicação intersubjetiva, constructo da Gestão Social. Os

trechos destacados foram:

- “[...] outra coisa que a gente repara também é que durante o processo do relatório de sustentabilidade tem sempre um período, uma oportunidade bem no início dos trabalhos, antes das informações serem fornecidas, que a gente faz umas oficinas; [...] já não mais com a instituição de ensino ou um consultor específico para treinamentos. É uma etapa de um projeto grande que é contratado a consultoria, que vence a licitação ou que é contratada, ela tem que proporcionar essa oficina, essa oportunidade de capacitação; [...] nos últimos relatórios de sustentabilidade você vai ver que a gente só vai atualizando a matriz de materialidade com base em conversas internas, porque a contribuição do público externo não foi enriquecedora não; [...] mas a gente dá sempre oportunidade, claro inclusive usa os canais de público interno que tem a proposta de alguma contribuição que a gente possa aproveitar. O processo é bem amplo mesmo.” (ENTREVISTADO 3).

Verifica-se que, apesar do Entrevistado 3 ainda complementar a questão da

comunicação, com a qualificação das pessoas, é relatado que o processo de

materialidade não tem contribuído para a elaboração dos RS das organizações, o que

pode representar uma oportunidade de melhoria para o aperfeiçoamento do método

utilizado ou a não compreensão da importância do processo em si, como instrumento

de participação cidadã das partes interessadas e contribuição no processo decisório.

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Assim como os demais, o Entrevistado 4 reforça o processo de envolver as áreas

internas da organização para a elaboração do RS. Mas, neste caso, o entrevistado

não detalha o processo como os demais entrevistados, considerando que este trecho

foi obtido da seleção da categoria, Concepção e elaboração do RS, resultante das

análises do Iramuteq.

- “[...] as informações a gente já têm a base que é feita pelo GRI e a gente passa as informações que a gente precisa de cada área correspondente, e cada área fornece as informações e a gente faz uma junção para constar no relatório de sustentabilidade.” (ENTREVISTADO 4).

Ademais, quando analisada a categoria referente às Partes interessadas e

Materialidade dos RS, o Entrevistado 1 ressalta que a decisão de elaboração da matriz

de materialidade é tomada de forma subjetiva a cada ano:

- “[...] normalmente em setembro a gente define se a gente vai fazer uma matriz de materialidade ou não, se a gente vai fazer questionário ou não com os públicos, com as partes interessadas. Define como que a gente vai fazer isso e um cronograma de projetos.” (ENTREVISTADO 1).

O Entrevistado 2 evidencia os motivos pelos quais a organização elabora a matriz de

materialidade, a saber:

- “[...] é para entender quais eram as inquietações, digamos que era para a gente responder os indicadores que atenderem a essa demanda do nosso público, os principais públicos que o relatório de sustentabilidade contempla. Nós fizemos essa matriz de materialidade para entender quais são os indicadores; [...] a gente tem essa questão da possibilidade, têm a realização da matriz de materialidade. A gente mandou, fez uma pesquisa em todos esses públicos que eu comentei. Entre os indicadores de GRI, quais eram o posicionamento, o que eles queriam saber nesse relato público que é o relatório de sustentabilidade? [...] todos os indicadores, eles estão dentro da matriz, a gente faz um levantamento do que é relevante e o que não é relevante a gente faz outra seleção; [...] depois a gente com base na matriz de materialidade e interesse dos nossos públicos, a gente responde aquele indicador e conta o que acontece e o que a gente faz e tudo mais.” (ENTREVISTADO 2).

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O Entrevistado 3 reforça a prática de teste de materialidade com as partes

interessadas na organização e discorre sobre a prática.

- “[...] também fazemos o teste de materialidade com nossos públicos de interesse e a partir do resultado dessa materialidade a gente consegue definir quais são os indicadores e os conteúdos que a gente precisará relatar [...] a gente por não ter uma tecnologia refinada de engajamento a gente trata com todos os públicos de interesse da... a gente faz convite público, avisa que estamos fazendo o relatório de sustentabilidade para todas as partes interessadas.” (ENTREVISTADO 3).

Esse entrevistado destaca um elemento relevante no processo de participação que é

o engajamento. Em alguns relatos apresentados pelos entrevistados sobre o processo

de materialidade, pode-se identificar que os dificultadores estão ou no método

utilizado para este processo ou no engajamento das partes interessadas com este

processo. Refletir sobre o que influencia este engajamento das partes interessadas

pode ser um campo promissor para outros estudos.

Por fim, o trecho utilizado do relato do Entrevistado 4, classificado para esta categoria,

está relacionado ao tratamento das informações, que também corresponde ao

processo de Concepção e elaboração dos RS e vinculado ao controle social das

inciativas organizacionais.

- “[...] todas as informações sociais que constam no relatório de sustentabilidade são finalizados e tabulados pelo programa de ação social. Esses indicadores são selecionados e acompanhados pelo programa de ação social, isso por várias questões.” (ENTREVISTADO 4).

No que tange à categoria de Práticas socioambientais para a sustentabilidade

organizacional, os trechos utilizados trabalham desde a caracterização de práticas

socioambientais, como a apresentação de argumentos sobre sua importância até as

percepções sobre uma organização sustentável. Logo, o Entrevistado 1 menciona

que:

- “[...] eu acredito em desenvolvimento de produtos e serviços que vão fazer sentido para as pessoas e que eu consiga prestar um serviço de atendimento onde eu vá. Conseguir me importar com o que aquilo vai influenciar na vida da pessoa de verdade, não só criar um produto por

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criar; [...] você ter serviços que pensam no meio ambiente, pois como você desenvolveu aquele produto, tomar cuidado com as populações daqueles locais de onde você extrair matéria prima e etc.”. (ENTREVISTADO 1).

As percepções do Entrevistado 1 se alinham de forma estruturada com elementos

para a promoção do DS conforme a ONU (2012) e, neste contexto, os Entrevistado 2,

3 e 4 prosseguem e complementam as conceituações do Entrevistado 1 e

caracterizam o que consideram como uma organização sustentável.

- “[...] uma empresa socioambiental economicamente e socialmente responsável é aquela que vai levar em consideração não somente o papel do lucro, tanto atender a sociedade de consumo quanto atender a sociedade, o papel de gerar emprego.” (ENTREVISTADO 2).

- “[...] seria fazer uma gestão que quando planejar um pensamento para se produzir ou se prestar um serviço, que trace esses impactos que afetem a comunidade e também meio ambiente.” (ENTREVISTADO 3).

- “[...] tudo aquilo que podemos para agregar valor aos nossos clientes, essa gestão é socialmente justa. É cuidar de toda localidade no qual está inserido, é se preocupar e poder priorizar também os produtores da comunidade local.” (ENTREVISTADO 4).

Apesar de uma abordagem ainda pouco sistêmica para a sustentabilidade, perto da

multidimensionalidade proposta pelos estudos de Flores, Vieira e Xaubert (2012),

Mendes (2009), Foladori (2002) e Sachs (1993), é importante ressaltar que, no trecho

apresentado pelo Entrevistado 4, aparece a percepção da dimensão territorial da

sustentabilidade no que tange a preocupação com o desenvolvimento local, assim

como, o Entrevistado 2 destaca a relação de uma organização sustentável e a geração

de trabalho e renda, que é um dos constructos de Gestão Social e premissas do

alcance do DS.

A percepção obtida pela categorização do conteúdo das entrevistas e a enunciação

dos resultados obtidos pela categorização demonstraram que os profissionais que

elaboram os RS compreendem a importância do processo de materialidade para a

concepção e elaboração dos RS e reconhecem que as práticas socioambientais

implementadas pelas suas organizações são importantes para as partes interessadas

e contribuem com a sustentabilidade organizacional, todavia, o conhecimento e

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percepção sobre Gestão Social ainda precisa ser melhor esclarecido para esses

profissionais. Esta compreensão da Gestão Social relacionada às responsabilidades

sociais da empresa faz com que esta não seja uma promotora de mudanças que

contribuam com o desenvolvimento local, como é esperado dos processos

relacionados à inovação social conforme Bignetti (2011). Este fato também é

percebido no relato das práticas de sustentabilidade e destacadas durante as

entrevistas que fortalecem as percepções de Sartori, Latrônico e Campos (2014) em

relação às publicações de sustentabilidade, das quais se destacam a necessidade de

reconhecimento da sustentabilidade social, a cooperação entre as partes

interessadas, governos e sociedade civil, o equilíbrio entre os pilares da

sustentabilidade e a participação pública no planejamento das práticas de

sustentabilidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando analisada a presença dos pressupostos de Gestão Social nos Relatórios de

Sustentabilidade das organizações, observou-se que as informações sobre suas

questões sociais não se limitavam ao item da categoria social dos seus Relatórios,

previsto nos conteúdos padrão específicos do pilar social conforme as diretrizes da

GRI (2013; 2013a). Logo, identificou-se que informações sobre o pilar social, na

perspectiva da Gestão Social, também estavam presentes em outras partes do

Relatório como no Perfil Organizacional; Aspectos Materiais e Limites Identificados;

Engajamento de Stakeholders; Governança, Ética e Integridade. Estas seções dos

relatórios apresentavam informações que exemplificavam pressupostos de Gestão

Social, como a participação das partes interessadas no processo de seleção daqueles

aspectos considerados materiais a serem apresentados pelas organizações e foram

considerados nos resultados desta pesquisa.

Porém, verificou-se que a participação efetiva dos grupos interessados e o adequado

monitoramento dos resultados sociais alcançados ainda são desafios da inovação

social para as organizações pesquisadas, pois estas compreendem a necessidade do

processo de materialidade, porém com foco na promoção de um processo

comunicativo, o que pode permitir a dialogicidade entre os envolvidos. Portanto, ainda

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não compreendem outros objetivos do processo de materialidade na perspectiva da

Gestão Social, objetivos que possam promover uma gestão democrática e igualdade

decisória na validação das informações prestadas nos RS e, principalmente, nas

ações de responsabilidade social implantadas pelas organizações.

No contexto das análises quantitativas, pode-se perceber que as empresas estatais e

privadas demonstraram maior maturidade de apresentação das informações

solicitadas pelos indicadores da GRI (2013; 2013a) e em relação à abrangência da

verificação externa dos indicadores apresentados em seus RS. Posteriormente, em

nível de maturidade, estão as cooperativas que, neste estudo, possuem uma gestão

próxima a de uma empresa privada. Entretanto, verificou-se a oportunidade de

melhoria dos relatórios das organizações sem fins lucrativos em relação à

apresentação das informações e de sua verificação externa. Atualmente, essas

organizações utilizam a opção de acordo essencial das diretrizes da GRI, mas pode-

se observar que a ampliação do seu relato pode lhes auxiliar na melhoria da gestão

no âmbito da sustentabilidade.

De acordo com as análises realizadas, os RS podem ser considerados campo fértil

para uma apreciação crítica de ações da esfera social promovidas pelas organizações

e instrumentos pelos quais outros debates referentes à Gestão Social podem ser

desenvolvidos. Pois, foi possível identificar a presença de alguns constructos de

Gestão Social nas iniciativas apresentadas nos indicadores dos RS analisados e nos

conteúdos das entrevistas realizadas, como o desenvolvimento de ações relacionadas

à qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia dos direitos humanos e a

promoção da geração de trabalho e distribuição de renda.

Portanto, no que tange aos objetivos desta seção da dissertação, foi possível analisar

as concepções de Gestão Social presentes nos Relatórios de Sustentabilidade

analisados e tomando como referência os constructos resultantes dos estudos dos

autores Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Dowbor (1999), Cançado,

Tenório e Pereira (2011), Mendes (2009) e Tenório (2005). Nesse contexto, pode-se

perceber que existem elementos relatados nos RS que exemplificam os constructos

de cunho da prática da gestão social, mas que ainda há um caminho a ser percorrido

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em busca de um processo decisório deliberativo com as partes interessadas. Todavia,

as iniciativas de engajamento das partes interessadas e o processo de materialidade

são pontos iniciais que podem contribuir com este amadurecimento das organizações.

Contudo, em relação ao objetivo de se conhecer as percepções de Gestão Social dos

profissionais responsáveis por esses relatórios, não se pode afirmar que as pessoas

que trabalharam na elaboração dos RS analisados estão familiarizadas com o termo

Gestão Social e compreendem, de forma clara, suas vertentes conceituais. Esse

resultado já era esperado e reforça a necessidade de se trabalhar o tema no ambiente

organizacional, na perspectiva de aperfeiçoamento das práticas sociais

organizacionais. Esta percepção não se limita às organizações privadas, pois esta

limitação da compreensão da Gestão Social também se aplicou às organizações sem

fins lucrativos e das cooperativas, que pelos objetos sociais poderia gerar a inferência

de um conhecimento maior sobre o tema. Porém, verificou-se uma compreensão e

consciência da maioria dos entrevistados em relação às questões de sustentabilidade

e esta ambiência pode servir como um pilar estruturador de ações para o

aperfeiçoamento da sustentabilidade organizacional

Por conseguinte, os resultados do estudo indicam que o aperfeiçoamento do

monitoramento da categoria social das organizações analisadas e o amadurecimento

contínuo dos indicadores de sustentabilidade, qualitativos e quantitativos, tipificam

uma inovação social. Portanto, os indicadores da Global Reporting Initiative se

evidenciam como inovação social em função de sua finalidade de buscar a criação de

valor voltada aos interesses dos grupos sociais e da comunidade e pelo propósito de

difusão do conhecimento pela replicabilidade dos indicadores propostos e pela

disseminação dos Relatórios de Sustentabilidade. Contudo, a compreensão da

Gestão Social pelas organizações pode contribuir para o aperfeiçoamento das atuais

práticas de Responsabilidade Social e ainda mais no processo relativo às questões

da esfera social das organizações.

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CAPÍTULO 3

AVALIAÇÃO DE PRÁTICAS SOCIAIS PUBLICADAS EM RELATÓRIOS DE

SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO DA GESTÃO SOCIAL

EVALUATION OF SOCIAL PRACTICES PUBLISHED IN SUSTAINABILITY

REPORTS IN THE CONTEXT OF SOCIAL MANAGEMENT

Rafael Alves de Araujo Castilho38

Fernanda Carla Wasner Vasconcelos39

RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar um guia para a avaliação de práticas sociais de organizações públicas, privadas ou sem fins lucrativos à luz dos pressupostos da Gestão Social. A metodologia usada inclui abordagem qualitativa de cunho descritivo para a apresentação do produto técnico e dos resultados almejados da sua aplicação pelas organizações e suas partes interessadas. O guia proposto foi estruturado com base nas potencialidades dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de organizações brasileiras e nas diretrizes da Global Reporting Initiative como instrumentos de Gestão Social. Os resultados indicaram que as práticas de Responsabilidade Social das organizações podem ser aperfeiçoadas na perspectiva da Gestão Social, o que permite a viabilização da inovação social e do desenvolvimento local que promovam impactos positivos para o conjunto de partes interessadas e que contribuam para o Desenvolvimento Sustentável (DS). Todavia, ainda é um desafio para as organizações a compreensão da Gestão Social aplicada às suas práticas de sustentabilidade e essa pode maximizar os resultados em prol do DS. Por isso, o guia proposto estabelece um modelo de avaliação de práticas sociais publicadas em RS, utilizando os pressupostos de Gestão Social como critérios para avaliação objetiva dessas práticas. O modelo é composto por nove fatores de avaliação relacionados a três dimensões da Gestão Social e possui formato que busca facilitar a compreensão das pessoas em relação à sua utilização e aplicação, assim como estimular uma análise crítica estruturada das iniciativas sociais promovidas pelas organizações e das inovações sociais que podem ser alcançadas por meio do aperfeiçoamento dessas ações sociais. Palavras-chave: Inovação Social. Desenvolvimento Sustentável. Desenvolvimento Local. Global Reporting Initiative. Indicadores Sociais.

38 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. 39 Doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].

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ABSTRACT

This article aims to present a guideline for the evaluation of public, private or nonprofit organizations social practices in the light of the Social Management assumptions. The methodology used includes a descriptive qualitative approach for the presentation of the technical product and the desired results of its application by organizations and their concerned parties. The proposed guide was structured based on the potential of the Sustainability Reports (SR) of Brazilian organizations and the guidelines of the Global Reporting Initiative as instruments of Social Management. The results indicated that the organizations' Social Responsibility practices can be improved from a Social Management perspective, which allows the viability of social innovation and local development that promote positive impacts for all concerned parties and contribute to Sustainable Development (SD). However, it is still a challenge for organizations to understand the social management applied to their sustainability practices and this can maximize the results in favor of DS. Therefore, the guide has been published in SR, using management assumptions to evaluate practical issues. The model is composed of nine evaluation factors related to three dimensions of Social Management and has a format that seeks to facilitate people's understanding of their use and application, as well as stimulate a structured analysis of the social initiatives promoted by organizations and innovations that can be achieved through the improvement of these social actions. Keywords: Social Innovation. Sustainable Development. Local Development. Global Reporting Initiative. Social Indicators.

1 INTRODUÇÃO

Pensar em um desenvolvimento que possa ser considerado sustentável é assumir a

premência de um debate crítico sobre as ações que estão sendo tomadas em prol

desse objetivo. É assim que as conferências mundiais sobre o desenvolvimento

sustentável (DS) têm estabelecido suas pautas. Além disso, tais conferências

congregam Estados, organizações, sociedade civil e especialistas, com o propósito

de buscar soluções plausíveis para a mitigação dos impactos socioambientais (por

meio de novas tecnologias, inclusive as sociais), possibilitando a adoção de práticas

e promoção de novos comportamentos. Essas práticas e comportamentos se fazem

no sentido de favorecer a mudança de paradigma necessária em prol de um novo

modelo de desenvolvimento que atenda às necessidades das novas gerações,

permitindo a todos uma vida digna.

Atualmente, no contexto mundial, a referência do debate sobre o DS são os Objetivos

de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os ODS, também conhecidos como Agenda

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2030, foram publicados pela ONU, em 2015, e representam os 17 objetivos40 e 169

metas a serem alcançados até 2030 e que possuem como propósito o estímulo de

ações em áreas essenciais para a humanidade e para o planeta (ONU, 2015). Porém,

as perguntas (como viabilizar tais objetivos e seu extenso desdobramento de metas;

como operacionalizar o conjunto de agendas intersetoriais e ainda gerenciar e

controlar as inúmeras iniciativas capilarizadas em todo o mundo) são constantes. Tais

perguntas também permeiam as ideias e ações daqueles que estudam e trabalham

com esse assunto

Perante a esses questionamentos, um fato a ser observado no contexto dos ODS é a

erradicação da pobreza elencada como o maior desafio global pela ONU (2015). Esse

fato da esfera social é ratificado de forma direta ou indireta pelos estudos de autores

como Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Mendes (2009), Tenório (2005;

2009) e Sachs (2010), que debatem sobre os temas desenvolvimento,

sustentabilidade e gestão social, diante da importância destas para a Agenda de DS.

Não obstante aos conceitos de DS e de sustentabilidade, a gestão social também é

um termo complexo, imbricado de noções em contínuo debate, conforme

argumentado por Machado e Quaresma (2014). Porém, dentre as dimensões

atribuídas à sustentabilidade, apresentadas pelos autores Flores, Vieira e Xaubert

(2012), Sachs (1993), Foladori (2002) e Mendes (2009), verifica-se não só o tripé

básico pautado nas questões sociais, ambientais e econômicas, mas também

associação com outros pilares como o político, o territorial e o cultural. A gestão social

pode ser considerada um potencial fomentador de ações capazes de perpassar

transversalmente por todas essas dimensões e na qual usualmente está a origem do

debate de sustentabilidade, a relação do homem com a natureza e do homem com os

processos que regem a vida.

40 Os ODS ratificam e aperfeiçoam os Objetivos do Milênio, publicados pela ONU em 2000 para a agenda de sustentabilidade até 2015. Os 17 objetivos que o compõem os ODS tratam dos seguintes temas: Objetivo 1 – Erradicação da pobreza; Objetivo 2 – Erradicação da fome; Objetivo 3 – Saúde de qualidade; Objetivo 4 – Educação de qualidade; Objetivo 5 – Igualdade de gênero; Objetivo 6 – Água limpa e saneamento; Objetivo 7 – Energias renováveis; Objetivo 8 – Empregos dignos e crescimento econômico; Objetivos 9 – Inovação e infraestrutura; Objetivo 10 – Redução das desigualdades; Objetivo 11 – Cidades e comunidades sustentáveis; Objetivo 12 – Consumo responsável; Objetivo 13 – Combate às mudanças climáticas; Objetivo 14 – Vida debaixo da água; Objetivo 15 – Vida sobre a terra; Objetivo 16 – Paz e justiça; e Objetivo 17 – Parcerias pelas metas (ONU, 2015).

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Assim, os fundamentos da gestão social podem contribuir de forma eficaz com o DS,

no sentido de aperfeiçoar práticas sociais das organizações atribuindo argumentos e

significados aos processos de gestão dessas iniciativas de sustentabilidade,

potencializando novas descobertas de aplicação da gestão social, relacionadas aos

objetivos e metas propostos pelos ODS. Por isso, este artigo tem como objetivo

apresentar um guia para a avaliação de práticas sociais de organizações públicas,

privadas ou sem fins lucrativos à luz dos pressupostos da Gestão Social.

Esse guia constitui o produto técnico da pesquisa intitulada “Os Relatórios de

Sustentabilidade e as diretrizes da Global Reporting Initiative como instrumentos para

práticas de gestão social”, realizada no período de 2015 a 2017 sobre as

potencialidades dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de organizações brasileiras

e das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) como instrumentos de Gestão

Social. Os resultados dessa pesquisa indicaram que a Gestão Social pode contribuir

para o aperfeiçoamento das práticas de Responsabilidade Social das organizações,

buscando a promoção da inovação social e do desenvolvimento local nos territórios

onde essas organizações atuam. Nesta pesquisa, também foi identificado que as

organizações ainda possuem dificuldades e, até mesmo, desconhecimento sobre a

GS e suas potencialidades ao ser aplicada às práticas de sustentabilidade. Porém,

alguns dos pressupostos de Gestão Social foram encontrados nos RS e nos relatos

das entrevistas, o que indica um ambiente favorável para o debate sobre o tema e

para a implantação de novas abordagens para as iniciativas de sustentabilidade.

Para o desenvolvimento deste artigo, os procedimentos metodológicos possuem

abordagem qualitativa de cunho descritivo, por meio da realização de uma revisão de

literatura sobre inovação social, indicadores de sustentabilidade e gestão social e de

uma apresentação sobre a concepção do modelo e dos critérios para avaliação de

práticas sociais.

Este modelo e seus critérios foram tangibilizados na elaboração do produto técnico ao

definir uma estrutura que permitisse melhor comunicação e aplicação do conteúdo

proposto pelo guia e que viabilizasse a sua utilização não só pelas organizações, mas

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também por estudantes, pesquisadores, líderes que tenham contato com o pilar social

da sustentabilidade ou que precisam compreender melhor esse pilar para colocá-lo

em prática, assim como, cidadãos que possuam interesse por essa temática. O guia

está apresentado no Apêndice G e as informações de sua concepção e estrutura estão

descritas no decorrer deste artigo.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Indicadores de Sustentabilidade

Sartori, Latrônico e Campos (2014) apresentam um histórico da trajetória dos estudos

relacionados à sustentabilidade no qual relatam que, até a década de 1990, esses

estudos a relacionavam ao desenvolvimento, ao planejamento ambiental, urbano e

regional, aos impactos das ações antrópicas sobre os recursos naturais e às

mudanças ambientais. Na década de 1990, encontra-se o fortalecimento dos debates

acadêmicos sobre o DS e a sustentabilidade e, no final desta década, surgem as

dimensões da sustentabilidade para caracterizá-la. A partir deste momento, final da

década de 1990 e primeiras décadas dos anos 2000, a sustentabilidade é introduzida

no meio organizacional, principalmente, empresarial e surge a necessidade de avaliá-

la quantitativamente.

Essa avaliação da sustentabilidade ocorre por meio de indicadores, índices,

ferramentas ambientais e modelos para análise organizacional. Neste contexto,

Guimarães e Feichas (2009) destacam que o entendimento sobre a sustentabilidade

pode assumir diferentes percepções que impactam diretamente na imparcialidade da

construção desses indicadores. Isso fortalece a necessidade de debates sobre a sua

compreensão conceitual, no que tange à promoção da inovação social, das iniciativas

socioambientais monitoradas por esses indicadores e, até mesmo, o processo de

desenvolvimento desses indicadores.

Os indicadores de sustentabilidade estão principalmente relacionados ao

monitoramento de iniciativas correlatas aos pilares social, econômico e ambiental da

sustentabilidade, contudo ainda existem indicadores classificados como de impacto e

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que se destinam ao monitoramento de ações de um universo específico, focado nos

resultados sociais das organizações. De acordo com Buvinich (1999), os indicadores

de efeito e impacto possuem como propósito a mensuração da qualidade e quantidade

dos resultados das iniciativas, promotoras de bens ou serviços, que tratem de

demandas sociais concernentes à qualidade de vida, como saúde, emprego e renda,

dentre outros. Convergentemente a essa percepção, Jannuzzi (2005, p. 144)

conceitua os indicadores de impacto como aqueles que se referem “aos efeitos e

desdobramentos mais gerais, antecipados ou não, positivos ou não, que decorrem da

implantação dos programas”. Portanto, a necessidade de discussão sobre os

indicadores de sustentabilidade e impacto, aplicáveis no contexto da inovação social,

se fortalece no ambiente em que seus pressupostos se alinham.

Campos et al. (2013) ainda ressaltam a importância da GRI em estimular a concepção

dos indicadores de desempenho das organizações, baseada no tripé da

sustentabilidade e em reconhecer a necessidade de desenvolvimento de garantias

externas, realizadas por meio de auditorias que possuam como propósito verificar a

conformidade da organização em relação às diretrizes da GRI e a exatidão das

informações prestadas, garantindo-lhes maior confiabilidade. Portanto, Silveira,

Alberton e Vicente (2017) afirmam que o aumento da divulgação das informações

pelos RS acompanha os interesses das partes interessadas e a garantia externa

busca oferecer aos usuários credibilidade, mesmo que de forma limitada, em relação

às informações dos RS.

Logo, no contexto deste artigo, é importante perceber uma proposta de ampliação do

conceito de indicador de sustentabilidade, na perspectiva de que é um instrumento de

comunicação e divulgação de informações, que pode apresentar dados qualitativos e,

ou, quantitativos e que possui relação com um conjunto de práticas de

sustentabilidade promovidas pelas organizações e com a intenção de monitorar e

controlar os resultados alcançados por essas práticas. Essa percepção ampliada é

ratificada pelos requisitos e instruções das diretrizes da GRI (2013) assim como pelas

expectativas do ONU (2015) ao estabelecer os ODS e suas metas, e é nesse interim

que se destaca a importância dos indicadores e de suas informações no processo de

inovação social e de promoção do desenvolvimento local.

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2.2 Inovação Social e o Desenvolvimento Local

Considerando como premissa o debate sobre os indicadores de sustentabilidade e

impacto e a promoção da inovação social, conforme Bignetti (2011), a inovação social

se distingue da inovação tecnológica principalmente em função de sua finalidade,

estratégia, local de aplicação, processo de desenvolvimento e da difusão do

conhecimento. Para caracterizar estas diferentes funções, que distinguem a inovação

social da tecnológica, o autor apresenta que a finalidade da inovação tecnológica trata

da apropriação de valor, enquanto a inovação social se volta para a criação de valor.

Assim, a primeira possui uma orientação para os fatores econômicos enquanto a

segunda está voltada para os interesses dos grupos sociais e da comunidade. Ao

refletir sobre essa finalidade é que se pôde estruturar o desenvolvimento de um

produto técnico relacionado à avaliação das práticas sociais para as organizações.

Ademais, Bignetti (2011) evidencia as diferenças de difusão do conhecimento, tendo

as inovações tecnológicas formas blindadas, de modo a desenvolver fatores

essenciais à competitividade e as inovações sociais seguem mecanismos de difusão

que favorecem a replicação e a expansão dos resultados a outras comunidades. Essa

replicação e expansão de resultados tornam-se possíveis no ambiente em que os

instrumentos de relato das inovações, nesse caso, os Relatórios de Sustentabilidade,

consigam alcançar sua capacidade de garantir os esforços e os resultados da gestão

social aplicados à iniciativa socioambiental das organizações. Essa análise é

fortalecida por Boullosa e Schommer (2010, p. 1) no contexto em que a inovação pode

“representar um modo especial de problematizar e gerir realidades sociointeracionais

complexas”, objetos da gestão social.

Portanto, este estudo e seu produto técnico buscam estimular as reflexões sobre a

promoção de inovações sociais e sua contribuição para o desenvolvimento nos locais

onde as ações das organizações públicas, privadas ou sem fins lucrativos são

implantadas. A elaboração desse produto técnico considerou o debate conceitual, a

prática de relato de ações e resultados de sustentabilidade organizacional e a

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necessidade de aperfeiçoamento de práticas de responsabilidade social à luz dos

pressupostos de gestão social.

Destaca-se que o próprio amadurecimento dos modelos de referência como as

diretrizes da GRI ou dos RS e seus indicadores também podem representar elementos

de inovação social aplicados ao processo de gestão social, nas iniciativas que buscam

a sustentabilidade. Sustentabilidade que possui direcionamentos concretos como os

ODS publicados pela ONU (2015), os quais se relacionam diretamente com o desafio

do amadurecimento das práticas socais e com as potencialidades que a Gestão Social

possui em contribuir de forma significativa com esses objetivos. Essa potencialidade

da Gestão Social no contexto do DS pode ser observada nas reflexões de Mendonça,

Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Mendes (2009) e Tenório (2005; 2009) e foram

exploradas no decorrer deste trabalho.

2.3 Descrição do produto técnico

A premência da necessidade de inovações sociais para o desenvolvimento local é

reforçada pela ONU (2012) com a renovação do compromisso político para reafirmar

os princípios da Declaração do Rio41 e com os planos de ações anteriores, em que há

o reconhecimento de um progresso desigual no que se refere ao Desenvolvimento

Sustentável e à erradicação da pobreza. Assim, é invocada a necessidade dos países,

principalmente, os em desenvolvimento, participarem de forma efetiva na tomada de

decisões em nível mundial, considerando a diversidade de atores e das partes

interessadas envolvidas na busca do desenvolvimento sustentável e permitindo uma

gestão participativa em nível global. Fato este que justifica a necessidade de se pensar

também na gestão participativa das partes interessadas em nível local, que constitui

pressuposto de Gestão Social e prática fundamental para a elaboração dos Relatórios

de Sustentabilidade no âmbito das organizações públicas, privadas e sem fins

lucrativos.

41 A Declaração do Rio ou a Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento foi aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, conferência conhecida como Eco-92 (DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, 1992). Os compromissos da Declaração do Rio foram renovados na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 2012, conhecida como Rio+20 (ONU, 2012).

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A importância dessas iniciativas preocupadas com o desenvolvimento local pode ser

justificada quando estimadas pelo reconhecimento da ONU (2012) de que é essencial

a geração de empregos decentes e renda que busquem a minimização das

desigualdades das condições de vida das pessoas (DOWBOR, 2005; SARTORI;

LATRÔNICO; CAMPOS, 2014) e a promoção de meios de subsistência e práticas

sustentáveis (FOLADORI, 2002; JACOBI; GIATTI, 2015) que garantam o uso racional

dos recursos naturais e dos ecossistemas em consonância com os objetivos e metas

dos ODS propostos pela ONU (2015). Pois várias pessoas dependem diretamente

desses ecossistemas para a sua subsistência e seu bem-estar econômico, social,

físico e, até mesmo, a preservação do seu patrimônio cultural.

Considerando o compromisso de uma formação que estimula a aplicabilidade

profissional relacionada à pesquisa e à disseminação de resultados capazes de

contribuir efetivamente com a sociedade e as organizações que a compõem, esta

pesquisa foi desenvolvida vinculada a um Programa de Pós-Graduação Profissional.

O guia elaborado é um produto técnico que representa um elemento relevante para a

formação proposta pelo curso de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação

e Desenvolvimento Local, do Centro Universitário Una e está alinhado aos requisitos

previstos na Portaria Normativa n.º 389, de 23 de março de 2017 que trata das

questões relativas aos mestrados e doutorados profissionais, no âmbito da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (BRASIL,

2017).

O guia desenvolvido e a pesquisa de mestrado da qual foi originado contemplam a

área de concentração, Inovação Social e Desenvolvimento Local e a linha de pesquisa

em Gestão Social e Desenvolvimento Local. Portanto, o conjunto de proposições,

reflexões e percepções deste artigo e do seu produto técnico buscam um debate

direcionado e estruturado sobre a Gestão Social no contexto das organizações e suas

relações com as partes interessadas. Além disso, o guia apresenta as potencialidades

de promoção da Inovação Social e do Desenvolvimento Local, por meio da avaliação

sistêmica das iniciativas já implantadas de sustentabilidade organizacional, como é

caso daquelas concernentes à responsabilidade social.

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O produto técnico foi intitulado Guia para Avaliação de Práticas Sociais: Gestão Social

e Desenvolvimento Local, apresentado no Apêndice G, e tem como objetivo geral

colaborar com o processo de avaliação de práticas sociais e servir de referência para

aperfeiçoar as iniciativas de responsabilidade social das organizações. Portanto, o seu

público alvo são as organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos que

possuem práticas de responsabilidade social implantadas e comunicadas para suas

partes interessadas por meio dos RS. O guia possui 22 páginas orientadas no estilo

retrato e em formato A4.

O guia desenvolvido é considerado como uma produção tecnológica de acordo com a

CAPES (BRASIL, 2009) e a qualidade desse produto técnico foi observada no que

tange à sua aplicabilidade, inovação e complexidade.

Para o primeiro quesito, aplicabilidade, conforme a GRI (2016) cabe salientar que no

Brasil foram publicados 262 RS, no ano de 2015. Esse universo de organizações que

elaboram e publicam seus RS representa o principal público desse produto técnico.

Todavia, existe um outro universo de organizações que possui ações de

responsabilidade social no contexto interno e externo de suas atividades e que não

elaboram RS, mas para as quais o modelo de avaliação de práticas sociais também é

aplicável. Como os critérios de avaliação estão pautados em constructos da gestão

social e não nos formatos de práticas sociais ou das organizações, o modelo proposto

possui alta replicabilidade nos diferentes setores.

Ainda sobre a aplicabilidade, o formato dos critérios de avaliação desenvolvido buscou

a simplificação da linguagem dos pressupostos de gestão social e a sua garantia em

ações específicas que permitam o desenvolvimento desses pressupostos. Logo, para

auxiliar o usuário na aplicação do modelo de avaliação proposta pelo guia, o processo

foi dividido em três etapas:

(i) caracterização qualitativa da organização promotora da iniciativa;

(ii) caracterização qualitativa da prática social; e

(iii) avaliação objetiva da prática.

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As duas primeiras etapas possuem como propósito consolidar dados essenciais sobre

a prática para que o usuário tenha informações basilares suficientes para a aplicação

das questões específicas da GS propostas na terceira etapa.

As etapas de caracterização qualitativa da organização promotora da iniciativa da

prática social são compostas por um conjunto de itens a ser coletado e compilado para

que se compreenda o contexto no qual a organização se encontra, suas partes

interessadas e no que consiste a prática. Neste ponto, vale destacar que em alguns

casos, as práticas são representadas por informações quantitativas, logo, o processo

de caracterização contribui na busca da origem daquele resultado que está sendo

apresentado e, a partir deste momento, possibilitar uma avaliação da prática em si e

não só do seu desempenho mensurado.

Caracterizadas a organização e sua prática, a etapa de avaliação está apresentada

no formato de roteiro estruturado, com 5 alternativas que respondem, em nível de

maturidade, a uma pergunta que consolida um conjunto de pressupostos da gestão

social e sua aplicação às iniciativas de sustentabilidade, principalmente, as do pilar

social.

No modelo de avaliação proposto, o nível de maturidade ou a qualidade da prática

social está relacionada à adequação da prática aos requisitos da pergunta do fator de

avaliação e da existência de asseguração ou verificação externa desta prática por

profissional independente. Portanto, o formato proposto pelo modelo de avaliação do

guia atribui facilidade e clareza ao usuário, na utilização desses critérios por meio de

uma tangibilização objetiva dos complexos constructos da gestão social.

Para o quesito inovação, há de se destacar duas vertentes relacionadas a este critério.

A primeira diz respeito à inovação relacionada ao modelo de avaliação proposto; a

segunda mostra a inovação social que pode ser alcançada com a análise crítica dos

resultados da avaliação das práticas sociais organizacionais, no âmbito da

sustentabilidade.

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186

Para o primeiro caso, os estudos se dedicaram às reflexões da caracterização da

gestão social, ao campo de conhecimento, às aplicações de seus conceitos, como as

pesquisas de Maia (2005), Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012) e Cançado,

Tenório e Pereira (2011). Assim, o modelo de avaliação consolida, de forma aplicada,

o conjunto de reflexões teóricas e os resultados empíricos relativos aos pressupostos

de gestão social. Além disso, transforma um conjunto qualitativo de pressupostos de

gestão social em um modelo estruturado por fatores de avaliação e dimensões que

consolidam de forma objetiva, qualitativa e quantitativamente, o nível de maturidade

de uma prática social organizacional. Isso atribui ao guia um método inédito capaz de

promover mudanças nos processos de avaliação das iniciativas sociais.

Na segunda perspectiva do requisito de inovação, relacionada à inovação promovida

pelo produto técnico, a proposta de elaboração do guia tem como origem o resultado

da pesquisa de mestrado de que existe potencial de aperfeiçoamento de práticas de

responsabilidade social organizacional à luz dos pressupostos de gestão social. Logo,

a própria aplicação dos fatores de avaliação e a apresentação do gráfico radar

resultante do processo de avaliação proposto no guia, permitem uma visualização do

perfil de aderência da prática social aos constructos da gestão social e às lacunas

destacadas pelas pontuações referentes à menor maturidade ou qualidade do fator

avaliado. Tais premissas são claras oportunidades de melhorias que permitem a

inovação, no contexto da transformação social e, consequentemente, no

favorecimento das partes interessadas correlacionadas à prática social, objeto de

aperfeiçoamento e do desenvolvimento local, quando a prática está vinculada a algum

elemento relevante do desenvolvimento do território.

Enfim, destaca-se que uma das dimensões propostas pelo modelo de avaliação

apresentado nesse guia é a dimensão de Resultados da Gestão Social e, vinculados

a esta dimensão, estão os fatores de avaliação sobre o nível de inovação social, de

desenvolvimento local e de qualidade de vida decorrentes dos resultados dessas

práticas. Logo, o próprio modelo de avaliação fomenta a inovação social e o

desenvolvimento local.

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187

Por fim, ao se debater sobre o critério de complexidade do produto técnico, este se

embasa inicialmente nos desafios da aplicação da gestão social e também do alcance

de resultados eficazes em prol do DS. A gestão social por si só já representaria campo

de alta complexidade de análise pelo número de variáveis que a compõe. Porém,

buscar um critério de avaliação de práticas sociais aplicável a diferentes realidades

atribuiu maior desafio à tarefa de confecção deste material. Contudo, a referenciação

nos fatores imparciais e consensados sobre a gestão social e nos objetivos concretos

do DS permitiram uma solução plausível, concretizada no modelo de avaliação

proposto neste guia. Cabe ressaltar que este ainda considera como fundamental a

compreensão de quais as partes interessadas relacionadas às práticas sociais, quais

são suas necessidades e expectativas e instiga as organizações a promoverem,

conforme Cançado, Tenório e Pereira (2011), um processo participativo, dialógico,

democrático e contínuo, para um novo paradigma, proposto para a categoria social

das iniciativas de sustentabilidade organizacional. Paradigma pautado em práticas

que transformem as realidades sociais, ambientais, políticas e econômicas e que

gerem resultados que trilhe o caminho de um desenvolvimento sustentável.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conclusão de que as práticas de responsabilidade social das organizações públicas,

privadas e sem fins lucrativos, assim como, as demais iniciativas de cunho social

podem ser aperfeiçoadas considerando os elementos estruturantes de uma Gestão

Social foram suficientes para estimular uma proposta de solução referente à definição

de critérios que auxiliem a avaliação dessas práticas e iniciativas.

Logo, o guia elaborado como produto técnico e modelo estruturado para a avalição

das práticas sociais poderá contribuir para as organizações e suas partes

interessadas com o estabelecimento de uma referência sobre a maturidade e

qualidade das práticas analisadas, subsidiando-as para a promoção de ações

corretivas, melhorias e inovações. Fato este que corrobora com as asserções sobre

inovação social de Bignetti (2011), pois a finalidade deste produto consiste na criação

de valor para partes interessadas em práticas sociais organizacionais. Outra finalidade

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deste produto consite no fortalecimento dos RS como instrumentos de difusão das

iniciativas sociais das organizações e de suas melhorias no decorrer do tempo.

O aperfeiçoamento dos indicadores de sustentabilidade, fomentado pela melhoria das

práticas sociais é um efeito colateral positivo da utilização deste guia. Um processo

estruturado para a avaliação de práticas sociais pode estimular reflexões que

transcendem os próprios resultados alcançados, como o desenvolvimento de um olhar

crítico em relação às concepções das práticas sociais, seu controle e gestão. Logo, a

iniciativa proposta pelo guia corrobora com o rompimento de alguns desafios da

sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável citados por Sartori, Latrônico e

Campos (2014) como a cooperação entre as partes interessadas para o bem coletivo

e o uso de novos indicadores que permitam avaliações complementares, como a

avaliação apresentada pelo produto técnico elaborado. A abordagem sistêmica do

modelo de avaliação das práticas sociais, proposta no guia, também colabora com a

sustentabilidade conforme Sartori, Latrônico e Campos (2014).

O foco principal deste produto técnico, e de toda a pesquisa que o subsidiou, se

encontra na contribuição para a promoção de inovação social capaz de promover a

melhoria da qualidade de vida das pessoas, para a melhoria das relações entre

organização e partes interessadas, para a garantia da dignidade humana e dos

direitos humanos e maximização da sensibilização e do engajamento das pessoas em

relação ao alcance dos ODS. Tudo isso a partir da aplicação do conceito de gestão

social e da identificação dos constructos/pressupostos de GS nas práticas de

sustentabilidade desenvolvidas pelas organizações com o intuito de fortalecer o pilar

social no novo modelo de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de modelos e instrumentos usados como referência para relatar e avaliar

uma gestão sustentável, nas diferentes organizações, tem assumido posição

importante no debate sobre os pilares da sustentabilidade no mundo, destacando os

pilares ambientais, sociais, econômicos, políticos e culturais. Esta afirmação se

reforça no contexto em que a implantação, a avaliação e a prestação de contas sobre

essas iniciativas organizacionais são fundamentais para o Desenvolvimento Local

(DL) e para o alcance dos objetivos correlacionados ao Desenvolvimento Sustentável

(DS). A GRI foi selecionada para este estudo, visto que seus modelos para orientação

e elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) são reconhecidos

mundialmente.

Essa pesquisa teve como questão norteadora a investigação das concepções de

gestão social no ambiente organizacional e como essas concepções são percebidas

pelos profissionais que foram entrevistados e são responsáveis pelos RS nas

organizações. Essa investigação foi feita por meio de pesquisa documental nos RS e

também por meio de entrevistas no sentido de buscar como as pessoas envolvidas

na elaboração desses relatórios compreendem as concepções de gestão Social.

Assim, os objetivos, geral e específicos, propostos para este estudo foram alcançados

pelas as análises quantitativas e qualitativas dos dados coletados. Os resultados

encontrados levaram ao entendimento de que ainda há um percurso a ser adotado

pelas organizações e pelas pessoas responsáveis pelos RS no sentido de

compreender a gestão social em toda sua amplitude. Compreendeu-se também o

pontencial atribuído a essa gestão para o aperfeiçoamento da sustentabilidade

organizacional, pois pelas informações analisadas, ainda se percebe um íntimo

vínculo entre a concepção de gestão social e a Responsabilidade Social.

Para atingir a percepção acima citada (que atende a um dos objetivos específicos

desta pesquisa) foi realizada, durante a revisão de literatura, uma discussão teórica

sobre as dimensões da sustentabilidade e os pressupostos da gestão social. Para tal,

através da compilação teórica levantada, buscou-se um consenso entre as diversas

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compreensões sobre sustentabilidade e sobre gestão social. Esse consenso permitiu

uma evolução das reflexões teóricas quando aplicadas às práticas de sustentabilidade

organizacionais e quanto às análises realizadas nos RS.

No âmbito das discussões sobre a sustentabilidade, as reflexões sobre o

desenvolvimento promovidas pelos autores como Jacobi e Giatti (2015), Calegare e

Silva Júnior (2011), Sachs (1997) e Alves (1997) e as caracterizações sobre

sustentabilidade utilizando os autores Sartori, Latrônico e Campos (2014), Flores,

Vieira e Xaubert (2012), Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993) permitiram

esclarecer a diferença entre o DS e a sustentabilidade, atribuindo a esta o papel de

elemento processual e àquele o papel de objetivo final.

No âmbito social, a conceituação da responsabilidade social destacada por Morcelli e

Ávila (2016), Ometto, Bulgacov e May (2015) e Carroll (1999) e os debates promovidos

sobre a gestão social por Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Dowbor

(1999), Cançado, Tenório e Pereira (2011), Mendes (2009) e Tenório (2005)

evidenciaram a correlação entre ambos. A conclusão é que existe um limite de

atuação, e também que os resultados da responsabilidade social podem ser

potencializados pela gestão social, uma vez que este tipo de gestão trabalha o

processo social no sentido de atender às demandas sociais e envolver, de forma

cidadã e democrática, os sujeitos. Por sua vez, a responsabilidade social está na

operacionalização de uma prática de característica social.

Apesar das conclusões conceituais terem sido alcançadas pelos estudos do primeiro

capítulo desta dissertação, foi por meio delas que se tornou possível a validação da

hipótese de que as informações da categoria social dos RS e da GRI não contemplam

todos os pressupostos de GS. Isso representa uma oportunidade de melhoria tanto

para os RS quanto para as diretrizes da GRI.

A responsabilidade social organizacional foi identificada como um limitador do papel

social relacionado à sustentabilidade, no qual somente pressupostos de cunho

operacional da gestão social foram observados na categoria social dos RS, o que

limita as suas potencialidades e restringe um extenso número de indicadores

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referentes às ações específicas focadas em um resultado que responda a um dos

requisitos das diretrizes da GRI. Ou seja, a restrição dos RS em relatar somente

iniciativas de responsabilidade social na categoria social, inibe ações capazes de

mudar comportamentos e de promover o fortalecimento das partes interessadas.

Consequentemente, essas restrições limitam a promoção da melhoria da qualidade

de vida interna e externa à organização e seu incentivo ao desenvolvimento local.

Porém, ao ampliar a análise dos RS para a descrição dos conteúdos padrão gerais,

foi possível observar indícios de características de gestão social nos processos de

materialidade e de engajamento das pessoas.

De acordo com as diretrizes GRI – G4, contribuições com o aperfeiçoamento das

práticas de gestão social nas organizações não foram identificadas nos RS, pois estas

práticas ainda não constituem realidade nesse ambiente. Porém, nesse contexto, a

gestão social demonstrou ser um instrumento útil para o aperfeiçoamento das

iniciativas de cunho social das organizações. Esta conclusão trata de uma hipótese

desta pesquisa e foi apresentada pelas organizações de maneira incipiente. Essa

hipótese está diretamente relacionada ao título desta dissertação, portanto, após a

realização dos estudos pode-se afirmar que os RS e as diretrizes da GRI não são

instrumentos de gestão social e, sim, o inverso. Porém, este comportamento de

causalidade pode ser temporário, de acordo com o amadurecimento dos RS e das

diretrizes da GRI perante às questões sociais. Esse amadurecimento está

principalmente relacionado à evolução do contexto do processo de gestão das

iniciativas sociais, processo que precisa se tornar efetivamente dialógico, participativo

e democrático no que tange à igualdade na tomada de decisões de interesse público

e coletivo.

É possível reconhecer, com esta pesquisa, que o amadurecimento da gestão social

deverá contemplar a promoção do conhecimento dos profissionais que trabalham com

sustentabilidade no contexto das organizações. Assim, é necessário saber o que é a

gestão social e diferenciá-la da responsabilidade social. Igualmente necessário é o

aprofundamento nos requisitos que correspondem aos direitos humanos, ao

engajamento das pessoas, à inovação social, pois, durante as entrevistas, constatou-

se ainda uma falta de compreensão adequada desses termos. Isso implicou em

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concepções ou relatos de ações de maneira equivocadas, ou mesmo, fragilizadas no

contexto da Gestão Social.

Consolidando as conclusões alcançadas pela pesquisa e que respondem aos

objetivos e hipóteses propostos, foi possível identificar que as organizações e as

pessoas que trabalham com os RS não reconhecem suas práticas sociais como sendo

de gestão social. Isso explica a não divulgação e a não utilização do termo gestão

social nas organizações pesquisadas.

Devido à relação da gestão social com a garantia dos direitos humanos, destaca-se

que as percepções obtidas nas entrevistas, relacionadas aos direitos humanos, ainda

são incipientes para os entrevistados, pois eles mencionaram que tal relação ocorre

apenas para atender aos requisitos legais, ao referirem às questões referentes ao

trabalho infantil e escravo. Embora não seja possível afirmar que tal descrição

corresponda ao entendimento da organização sobre o pilar social, este se torna um

ponto de destaque a ser relatado nas conclusões desse trabalho.

Existem pressupostos referentes à gestão social que não estão apresentados nos

aspectos da categoria social dos RS. Eles são encontrados na primeira parte dos RS

e das diretrizes da GRI que tratam das questões de governança e processo de

elaboração dos RS. Dentre esses elementos que se relacionam diretamente com os

pressupostos da gestão social, estão o processo de materialidade que se pauta na

participação e decisão das partes interessadas em relação ao conteúdo de

informações a serem apresentadas no relatório e também o processo de engajamento

das partes interessadas que precisam ser continuamente envolvidas no processo de

elaboração dos RS e estimuladas a participarem de forma ativa deste processo.

Outra consideração feita é que o vínculo da categoria social da sustentabilidade às

práticas de responsabilidade social limita as potencialidades de desenvolvimento

social e sustentável das organizações. Logo, existe um grande potencial de

aperfeiçoamento das questões sociais das organizações com o uso da gestão social,

o que pode promover inovação social. Porém, os RS e as diretrizes da GRI só

conseguirão representar de forma efetiva um instrumento de gestão social se

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paradigmas limitantes como o da responsabilidade social forem rompidos, e a gestão

social se tornar um termo debatido nas organizações com práticas concebidas,

estruturadas, implementadas e avaliadas.

Para isso, o processo de materialidade e de engajamento das partes interessadas

representa tanto um ponto de referência como o início do debate de gestão social para

as organizações (e nas organizações). Contudo, os processos de materialidade e de

engajamento propostos pelas diretrizes da GRI e realizados pelas organizações

promovem a participação das partes interessadas, mas se limitam à definição de quais

informações são relevantes, em detrimento de decisões que realmente poderiam

interferir na prática social e seus resultados.

A utilização apenas dos requisitos da categoria social das diretrizes da GRI - G4 e dos

RS analisados foram insuficientes para perceber os constructos da GS, pois estes

estão relacionados aos processos que são descritos em outras partes das diretrizes e

dos RS. Logo, se a análise se restringisse à categoria social, algumas respostas às

hipóteses desta pesquisa não seriam alcançadas ou teriam resultados restritos, como

é o caso da hipótese de que a categoria social, nos Relatórios de Sustentabilidade

analisados, apresentaria os constructos de gestão social em seu processo de

elaboração ou em sua estrutura, ou o caso daquela que diz que as pessoas envolvidas

na elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade adotavam os principais constructos

de gestão social.

Os indicadores da GRI podem ser considerados como inovação social em função de

sua finalidade que é a de buscar a criação de valor para os interesses dos grupos

sociais e da comunidade. A criação desse valor se dá pelo propósito de difusão do

conhecimento, pela replicabilidade dos indicadores propostos pela GRI bem como

pela disseminação dos Relatórios de Sustentabilidade. Porém, verificou-se que a

participação efetiva dos grupos interessados e o adequado monitoramento dos

resultados sociais alcançados ainda são desafios da inovação social para as

organizações pesquisadas.

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Pelas análises quantitativas dos RS, pode-se perceber que as empresas classificadas

como estatais e privadas apresentaram maior maturidade na divulgação das

informações solicitadas pelos indicadores da GRI (2013; 2013a) e na realização da

prática de asseguração externa das informações prestadas. As cooperativas

analisadas, por terem o escopo de atuação que implica em uma gestão próxima à

realidade das empresas privadas, apresentaram um perfil de qualidade de relatório

intermediário entre o grupo de empresas estatais e privadas e o grupo das

organizações sem fins lucrativos.

As organizações sem fins lucrativos podem melhorar seus relatórios no que tange à

ampliação da sua opção de relatório conforme as diretrizes da GRI (2013; 2013a). O

trabalho com a opção abrangente trará novas reflexões pelo maior número de

indicadores a serem apresentados, além de promover inovações no contexto social e

nas demais dimensões da sustentabilidade das organizações.

Na expectativa de contribuir com as organizações e suas partes interessadas em

relação às oportunidades de melhoria observadas nos resultados desta pesquisa, foi

desenvolvido um modelo para a avaliação de práticas sociais organizacionais à luz

dos pressupostos da gestão social. Para viabilizar a disseminação deste modelo, um

guia foi elaborado que poderá ser utilizado no processo de avaliação das práticas

sociais. Esse guia busca instrumentalizar e auxiliar as pessoas no diagnóstico de

elementos a serem aperfeiçoados nas iniciativas de responsabilidade social

organizacionais, incluindo no ambiente de debate crítico dessas iniciativas, o seu

potencial de inovação social e de desenvolvimento local.

Esse produto técnico representa uma contribuição da pesquisa em relação ao

resultado que identificou a potencialidade de aperfeiçoamento das práticas de

responsabilidade social. Ele foi estruturado de forma inovadora pelo seu ineditismo

metodológico, considerando em seu desenvolvimento: permitir a facilidade de uso,

mesmo diante da complexidade da gestão social e viabilizar a sua aplicabilidade a um

universo significativo de organizações que possuem iniciativas de cunho social e que

elaboram RS.

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Implicações sociais e gerenciais

Por meio deste estudo, compreendeu-se que a dimensão social da GRI, nos RS, pode

promover uma nova percepção sobre a Responsabilidade Social quando esta se

baseia nos constructos da Gestão Social (no contexto da sustentabilidade). Este

estudo também aponta para a abertura de um campo promissor no que se refere às

melhorias nas iniciativas e nos indicadores de sustentabilidade organizacionais. Essas

melhorias representam inovações sociais conforme destaca Bignetti (2011), pois

buscam a criação de valor para as partes interessadas e estão direcionadas para os

interesses dos grupos sociais e da comunidade, neste estudo, chamados partes

interessadas, internas ou externas.

Desta forma, o estudo ainda contribui com elementos do desenvolvimento local, no

fomento da efetivação do potencial inerente às práticas de sustentabilidade uma vez

que as organizações se apropriem dos pressupostos da Gestão Social, e contribuam

com os grupos sociais beneficiados pelas melhorias e inovações sociais provenientes

do aprendizado e resultados disseminados por este estudo.

Essa expectativa de implicação social reforça a necessidade das decisões serem

tomadas na esfera local e com repercussão global, pautadas no fortalecimento de

parcerias entre as organizações e a sociedade. Dessa forma pode ser consolidada

uma rede de cooperação orientada pelos debates e pelas iniciativas de interesse

público coletivo no sentido de permitir a disseminação de conhecimentos e

aprendizados, gerados no ambiente interno ou externo das organizações, capazes de

promover o desenvolvimento local e contribuir com o DS.

Limitações da pesquisa

São elencados como principais fatores limitantes desta pesquisa: o nível de

complexidade do tema, principalmente em relação aos aspectos conceituais; a

dispersão dos dados e de informações a serem tratados e analisados nos RS; e o

acesso às organizações. Isso porque a maioria das empresas elencadas como objeto

dessa pesquisa, apesar de se disponibilizarem junto à GRI e aos usuários de seus RS

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para esclarecerem dúvidas ou complementarem informações sobre seus RS para o

público em geral, a maioria das empresas não se dispôs a participar da pesquisa.

Um dos limitadores da pesquisa está na quantidade de RS analisados, pois em 2015,

foram publicados 262 RS no Brasil (GRI, 2016) logo, a ampliação da amostragem

poderia contribuir com novos resultados para esta pesquisa. Entretanto, os relatórios

selecionados foram classificados de forma qualitativa e de forma amostral não

probabilística, buscando maior homogeneidade dos objetos de estudo cuja proposta

inicial era uma análise de caráter qualitativo. A ampliação de RS como objeto de

estudo contribuiria para a extrapolação dos resultados no contexto do Brasil. Porém

os resultados alcançados foram validados estatisticamente no que tange as

informações que conseguiram ser extraídas desses relatórios.

Outro ponto a ser destacado foi o acesso aos profissionais que são responsáveis pela

elaboração dos RS para a coleta de dados por meio das entrevistas. Apesar de

metodologicamente ter-se conseguido a saturação dos dados coletados pelas

entrevistas realizadas, somente 4 organizações se dispuseram a fornecer informações

relacionadas à sustentabilidade organizacional conforme os métodos de pesquisa

estabelecidos. Algumas delas gostariam de responder em formato de questionário,

outras não se sentiram confortáveis em prestar as informações e algumas não

viabilizaram a resposta sobre a participação ou não na pesquisa, apesar dos contatos

realizados. Logo, um outro formato para a coleta dos dados poderia ser pensado,

mesmo que este perdesse, de certa forma, a percepção dos momentos do processo

de elaboração do discurso que a análise de conteúdo por enunciação observa,

conforme considera Bardin (2011). Logo, em pesquisas futuras, pode-se ampliar a

amostragem de dados relacionados às percepções sobre gestão social dos

profissionais envolvidos na elaboração dos RS, incluindo, por exemplo, profissionais

que trabalham nas empresas de consultoria que apoiam as organizações na

elaboração de seus relatórios.

No propósito de analisar as percepções sobre gestão social das organizações, a

pesquisa ficou restrita àquelas informações dos RS e dos profissionais responsáveis

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200

pela elaboração do RS, logo, a percepção de gestão social das outras partes

interessadas não foi objeto de estudo.

Recomendações para pesquisas futuras

O objetivo principal desta pesquisa foi a análise do conjunto de indicadores

quantitativos e qualitativos da categoria social dos RS orientados pelas diretrizes da

GRI-G4. Todavia, percebeu-se que ampliar a análise para outras partes dos relatórios

era necessário no sentido de perceber elementos importantes que se

correlacionassem com a percepção dos constructos de gestão social das

organizações, sobretudo os processos de materialidade e de engajamento das partes

interessadas. Logo, pesquisas futuras poderiam ampliar a análise do conjunto de

partes dos relatórios, assim como, realizar a comparação qualitativa entre as práticas

sociais apresentadas pelas organizações. Neste mesmo contexto, a busca pelas

concepções de gestão social de outras partes interessadas poderia apresentar

informações comparativas entre as diferentes percepções dos grupos distintos de

partes interessadas na sustentabilidade organizacional.

Ademais, estudos de caso sobre a aplicação do modelo de avaliação das práticas

sociais, propostos nessa dissertação, poderão contribuir com o aperfeiçoamento do

instrumento elaborado e proposto nesta pesquisa. Além disso, o estudo de sua

aplicabilidade em outras realidades, como as de organizações que não elaboram

relatórios de sustentabilidade, pode maximizar exponencialmente a abrangência de

utilização desse guia.

Não se poderia deixar de destacar que existe ainda um longo caminho para se

tangibilizar os pressupostos das diversas dimensões da sustentabilidade conforme

apresentadas por Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993). Portanto, esta

pesquisa limitou-se à dimensão social da GRI-G4 e dos Relatórios de Sustentabilidade

analisados permitindo uma referência metodológica para novas pesquisas que

busquem tratar as outras dimensões, assim como, os construtos conceituais

aplicáveis a elas. Ou seja, discutir os constructos dos pilares ambiental, econômico,

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201

cultural, político e territorial representam campo fértil e útil para a qualificação de ações

concernentes à promoção do DS.

Tendo em vista o conjunto de considerações dos resultados da pesquisa, algumas

provocações são elencadas para o fomento de novos estudos:

• As organizações estão preparadas e dispostas a compartilharem o processo

decisório de suas ações internas e externas que possuam origem no interesse

público e coletivo?

• O pensamento atual dominante do modelo de relação das organizações com

as suas partes interessadas permite o compartilhamento do processo

decisório?

Por meio desta pesquisa, acredita-se que é neste ponto em que se encontra um dos

maiores desafios da gestão social nas organizações. Portanto, as possibilidades de

se debater estes temas, assim como, outros relacionados por essas recomendações

para novas pesquisas, poderão permitir contribuições para a efetivação da gestão

social no contexto organizacional. A partir disso, a efetivação das transformações

sociais necessárias para a promoção do desenvolvimento local no qual as

organizações atuam.

Por fim, considera-se que o Desenvolvimento Sustentável só pode ser concretizado

pela compreensão efetiva dos diversos elementos que o compõem e do

amadurecimento da aplicação desses elementos de forma sistêmica, equilibrada e

contínua. A partir do esforço de cada reflexão, estudo e aplicação, sustentar as

mudanças de paradigmas necessárias para a preservação da qualidade de vida em

todas as suas manifestações.

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202

REFERÊNCIAS

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205

APÊNDICE A – Autorização para Coleta de Dados

Eu, _________________________________________________, ocupante do cargo

de _____________________________ do (a) ______________________________

AUTORIZO a coleta de dados do projeto: “OS RELATÓRIOS DE

SUSTENTABILIDADE E AS DIRETRIZES DA GRI COMO INSTRUMENTOS PARA

PRÁTICAS DE GESTÃO SOCIAL” realizado pelo pesquisador Rafael Alves de

Araujo Castilho, sob a orientação da Professora Dra. Fernanda Carla Wasner

Vasconcelos, para fins de pesquisa do Mestrado Profissional em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local, nas instalações físicas da

___________________________________________________ após a aprovação do

referido projeto pelo CEP do Centro Universitário Newton Paiva.

______________________, ______ de ____________________ de ______.

______________________________________________ Assinatura e carimbo do (a) responsável da organização

Nome do (a) responsável da organização

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206

APÊNDICE B – Termo de Compromisso de Cumprimento da Resolução Nº

466/2012

Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF sob o número

XXX.XXX.XXX-XX, e Rafael Alves de Araujo Castilho, inscrito no CPF sob o número

XXX.XXX.XXX-XX, responsáveis pela pesquisa intitulada “OS RELATÓRIOS DE

SUSTENTABILIDADE E AS DIRETRIZES DA GRI COMO INSTRUMENTOS PARA

PRÁTICAS DE GESTÃO SOCIAL” declaramos que:

• Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das

informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da

pesquisa;

• Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho

serão utilizados para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;

• O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a

nossa responsabilidade;

• Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos

e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a

privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo

qualquer acordo restritivo à divulgação;

• Assumimos o compromisso de suspender a entrevista imediatamente ao

perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos

sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de consentimento.

• O CEP do Centro Universitário Newton Paiva será comunicado da suspensão

ou do encerramento da pesquisa, por meio de relatório apresentado

anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa;

• As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da

pesquisa.

Belo Horizonte, ____ de ________ de 2016.

___________________________________ Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX __________________________________

Rafael Alves de Araujo Castilho CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX

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APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Programa: Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una, Belo Horizonte/MG. Título da pesquisa: Os Relatórios de Sustentabilidade e as Diretrizes da GRI como instrumentos para práticas de Gestão Social. Nome da pesquisadora orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Nome do pesquisador aluno: Rafael Alves de Araujo Castilho 1. Natureza da pesquisa: o sr.(sra.) está sendo convidado(a) a participar dessa

pesquisa que tem como finalidade analisar a categoria social das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) e dos Relatórios de Sustentabilidade na perspectiva das concepções de gestão social das organizações e das pessoas envolvidas na elaboração desses relatórios. Para isso serão realizadas pesquisa documental e entrevistas.

2. Participantes da pesquisa: participarão dessa pesquisa24 (vinte e quatro) entrevistados, responsáveis pela elaboração e divulgação de Relatórios de Sustentabilidade, de organizações de diferentes setores, selecionadas por critérios específicos como o de maturidade em publicação desses Relatórios.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar desse estudo, o sr. (sra) permitirá que o pesquisador Rafael Alves de Araujo Castilho utilize na pesquisa as informações prestadas durante a entrevista, salvaguardando a confidencialidade da identidade daqueles que prestaram as informações. Tem ainda a liberdade de se recusar a participar ou a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para si. Sempre que quiser, poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do pesquisador do projeto e, se necessário, através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

4. Sobre as entrevistas: serão realizadas presencialmente nas instalações da organização na qual trabalha ou em local adequado para sua realização acordado entre o entrevistado e o pesquisador. Em caso específico, ainda poderá ser realizada de telefone ou conferência virtual.

5. Riscos e desconforto: a participação nessa pesquisa não traz complicações legais. Durante a entrevista os riscos e/ou desconfortos potenciais identificados são o constrangimento e a preocupação de cunho institucional sobre as informações prestadas durante as entrevistas. Os procedimentos adotados obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

6. Confidencialidade: todas as informações coletadas nesse estudo são estritamente confidenciais. Somente o pesquisador e a orientadora terão conhecimento da identidade das pessoas que prestaram as informações e o seu sigilo será mantido.

7. Forma de acompanhamento e assistência: em caso de constrangimento e preocupação de cunho institucional, a entrevista será suspensa até que possa ser continuada por anuência do entrevistado.

8. Benefícios: ao participar dessa pesquisa, o(a) sr.(sra.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que esse estudo traga informações importantes sobre a sustentabilidade organizacional, com contribuições para a melhoria das diretrizes de referência para elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade, assim como a promoção de uma ambiência minimizadora dos riscos e impactos

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socioambientais, observada no aperfeiçoamento dos programas, ações e indicadores utilizados pelas organizações, diante do conhecimento dos resultados conceituais identificados pela pesquisa, potencializando as iniciativas de inovação social e desenvolvimento local. O estudo ainda permitirá a socialização de informações que colaborem com a capacitação de pessoas que elaboram, avaliam, utilizam e estudam Relatórios de Sustentabilidade de acordo com as diretrizes da GRI, assim como pessoas interessadas no assunto. Logo, o pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos, de forma que o conhecimento que será construído possa amadurecer os debates a respeito da Gestão Social com as organizações e pessoas envolvidas no processo de relato da sustentabilidade organizacional.

9. Pagamento: o(a) sr.(sra.) não terá nenhum tipo de despesa para participar dessa pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.

Após esses esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre

para participar da referida pesquisa. Portanto, preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs.: Não assine este termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,

manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

____________________, ______ de ___________ de________.

__________________________________ Assinatura do(a) participante da pesquisa

Nome do(a) participante da pesquisa

__________________________________ Rafael Alves de Araujo Castilho

___________________________________

Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Pesquisador Aluno: Rafael Alves de Araujo Castilho. Telefone (XX) XXXX-XXXX. Pesquisadora Orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos. Telefone (XX) XXXX-XXXX. Comitê de Ética em Pesquisado Centro Universitário Newton Paiva: Avenida Carlos Luz, 987, Caiçara. Belo Horizonte. CEP 31.230-070. Telefone (31) 3516-2547. E-mail: [email protected]. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP): Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, Sala 104B. Brasília. CEP 70.058-900. Telefone (61) 3315-2150 / 3315-2151 / 3315-3566.E-mail: [email protected].

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209

APÊNDICE D – Termo de Compromisso de Coleta de Dados

Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF sob o número

876.491.956-00, e Rafael Alves de Araujo Castilho, inscrito no CPF sob o número

060.238.976-30, responsáveis pela pesquisa intitulada “OS RELATÓRIOS DE

SUSTENTABILIDADE E AS DIRETRIZES DA GRI COMO INSTRUMENTOS PARA

PRÁTICAS DE GESTÃO SOCIAL” declaramos estarmos cientes que as entrevistas

da pesquisa somente poderão ser realizadas após a anuência das empresas

participantes.

Belo Horizonte, ____ de ________ de 2017.

___________________________________ Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX

__________________________________ Rafael Alves de Araujo Castilho

CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX

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APÊNDICE E – Roteiro de entrevista com os responsáveis pela compilação das

informações para o Relatório de Sustentabilidade

Nome: ______________________________________________________________

Idade: _________

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

Cor auto atribuída: _______________

Função do entrevistado (a): _____________________________________________

Tempo na organização: ________________________________________________

Tempo na atual função: ________________________________________________

Tempo de participação na construção do Relatório de Sustentabilidade da

organização: ________________________________________________

1. Como você define Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade

Organizacional?

2. O que é para você uma organização socialmente responsável?

3. Quais são as partes interessadas no Relatório de Sustentabilidade de sua

organização?

4. Como as partes interessadas são envolvidas no processo de elaboração e de

divulgação do Relatório?

5. Como as informações de sustentabilidade são selecionadas para atender o

princípio de materialidade do Relatório de Sustentabilidade?

6. Como é o processo de elaboração do Relatório de Sustentabilidade?

7. Quais são as facilidades encontradas no processo de elaboração dos Relatórios de

Sustentabilidade?

8. Quais são as dificuldades encontradas no processo de elaboração dos Relatórios

de Sustentabilidade?

9. Como as pessoas são orientadas e capacitadas para responder ou prestar as

informações necessárias para o Relatório de Sustentabilidade?

10. Quais são as principais características de uma informação social da organização

para que ela seja apresentada no Relatório de Sustentabilidade?

11. Como os indicadores relacionados à categoria social da sustentabilidade são

definidos pela organização?

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12. Na sua percepção, por que a organização na qual você trabalha elabora e publica

os relatórios de sustentabilidade?

13. Por que a organização optou por elaborar um Relatório de Sustentabilidade

utilizando como referência as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI)?

14. Quais foram os ganhos organizacionais tangíveis conquistados pela instituição por

publicar Relatórios de Sustentabilidade?

15. Quais foram os ganhos organizacionais intangíveis conquistados pela instituição

por publicar Relatórios de Sustentabilidade?

16. Na sua percepção, como a gestão social é contemplada no Relatório de

Sustentabilidade?

17. O que é gestão social em práticas trabalhistas e trabalho descente?

18. O que é gestão social em direitos humanos?

19. O que é gestão social em produtos e serviços que afetam as partes interessadas

e clientes?

20. O que é gestão social nos impactos gerados na sociedade e nas comunidades

locais?

21. Como as iniciativas relacionadas à categoria social da GRI–G4 (Práticas

Trabalhistas e Trabalho Decente, Direitos Humanos, Sociedade, Responsabilidade

pelo Produto) são desenvolvidas pela organização?

22. Em sua opinião, quais destas palavras ou expressões melhor explicam a

sustentabilidade no contexto da sua organização?

Viabilidade econômica

Justiça socialAceitação cultural

Bem-estar social

Conformidade e qualidade ambiental

GovernançaCrescimento econômico

Modelo de desenvolviment

o

Qualidade de vida

Responsabilidade social

Ética e transparência

EquidadeDesenvolvimen

to LocalMarketing

socioambientalInovação social

Direitos humanos

Educação Ambiental

Economia circular

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23. Para representar a sustentabilidade, quais outras palavras/expressões você

citaria? Por que?

24. Em sua opinião, quais palavras melhor explicam a gestão social no contexto da

sua organização?

25. Para representar a gestão social, quais outras palavras/expressões você citaria?

Por que?

26. Em sua opinião, quais destas palavras melhor explicam a inovação social no

contexto da sua organização?

27. Para representar a inovação social, quais outras palavras/expressões você citaria?

Por que?

Iniciativas filantrópicas e

assistencialistas

Qualidade de vida

Bem-estar social

Marketing social

Participação social cidadã

Cidadania organizacional

Prestação de contas

Agente socialGestão

democrática e participativa

Transformações sociais

Inovação socialDesenvolvimen

to localGeração de

trabalhoDistribuição de

rendaGestão

ambiental

Educação ambiental

Responsabilidade social

Economia circular

Desenvolvimento tecnológico

Mudança institucional

Interesses dos grupos sociais e

comunidade

Orientação para fatores

econômicos

CompetitividadeMecanismos de

difusão (replicação e expansão)

Orientação para o valor social

Práticas colaborativas de

governança

Participação e cooperação

Novas soluções para grupos

sociais

Responsabilidade social

Economia circular

Educação ambiental

Sustentabilidade

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28. Como são medidos os resultados e impactos das ações do pilar social divulgados

no Relatório de Sustentabilidade?

Projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro

Universitário Newton Paiva, CAAE 62865616.0.0000.5097, Parecer nº 1.892.159.

Os dados serão coletados por meio de entrevista gravada com a anuência dos

entrevistados e de suas organizações por meio da assinatura dos formulários: TCLE -

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, Termo de Autorização de Uso de Imagem

e Depoimentos e Termo de Autorização para Coleta de Dados.

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APÊNDICE F – Composição de indicadores da categoria social do GRI

considerados nas análises da pesquisa

QUADRO – Subcategorias, aspectos e indicadores da categoria social das diretrizes GRI – G4

Subcategoria Aspecto Código da Variável

Estatística

Código da GRI

Descrição

Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente

Emprego

EMP1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

EMP2 G4-LA1

Número total e taxas de novas contratações de empregados e rotatividade de empregados por faixa etária, gênero e região

EMP3 G4-LA2

Benefícios concedidos a empregados de tempo integral que não são oferecidos a empregados temporários ou em regime de meio período, discriminados por unidades operacionais importantes da organização

EMP4 G4-LA3

Taxas de retorno ao trabalho e retenção após uma licença maternidade/paternidade, discriminadas por gênero

Relações Trabalhistas

LMR1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

LMR2 G4-LA4

Prazo mínimo de notificação sobre mudanças operacionais e se elas são especificadas em acordos de negociação coletiva

Saúde e Segurança no Trabalho

OHS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

OHS2 G4-LA5

Percentual da força de trabalho representada em comitês formais de saúde e segurança, compostos por empregados de diferentes níveis hierárquicos, que ajudam a monitorar e orientar programas de saúde e segurança no trabalho

OHS3 G4-LA6

Tipos e taxas de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e número de óbitos relacionados ao trabalho, discriminados por região e gênero

OHS4 G4-LA7 Empregados com alta incidência ou alto risco de doenças relacionadas à sua ocupação

Continua...

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... Continuação

Subcategoria Aspecto Código da Variável

Estatística

Código da GRI

Descrição

Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente

Saúde e Segurança no Trabalho

OHS5 G4-LA8 Tópicos relativos à saúde e segurança cobertos por acordos formais com sindicatos

Treinamento e Educação

TED1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

TED2 G4-LA9

Número médio de horas de treinamento por ano por empregado, discriminado por gênero e categoria funcional

TED3 G4-LA10

Programas de gestão de competências e aprendizagem contínua que contribuem para a continuidade da empregabilidade dos empregados em período de preparação para a aposentadoria

TED4 G4-LA11

Percentual de empregados que recebem regularmente análises de desempenho e de desenvolvimento de carreira, discriminado por gênero e categoria funcional

Diversidade e Igualdade de Oportunidades

DEO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

DEO2 G4-LA12

Composição dos grupos responsáveis pela governança e discriminação de empregados por categoria funcional, de acordo com gênero, faixa etária, minorias e outros indicadores de diversidade

Igualdade de Remuneração entre Mulheres e Homens

ERWM1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

ERWM2 G4-LA13

Razão matemática do salário e remuneração entre mulheres e homens, discriminada por categoria funcional e unidades operacionais relevantes

Avaliação de Fornecedores em Práticas Trabalhistas

SALP1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

SALP2 G4-LA14 Percentual de novos fornecedores selecionados com base em critérios relativos a práticas trabalhistas

SALP3 G4-LA15

Impactos negativos significativos reais e potenciais para as práticas trabalhistas na cadeia de fornecedores e medidas tomadas a esse respeito

Continua...

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... Continuação

Subcategoria Aspecto Código da Variável

Estatística

Código da GRI

Descrição

Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente

Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Práticas Trabalhistas

MQL1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

MQL2 G4-LA16

Número de queixas e reclamações relacionadas a práticas trabalhistas registradas, processadas e solucionadas por meio de mecanismo formal

Direitos Humanos

Investimentos

INV1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

INV2 G4-HR1

Número total e percentual de acordos e contratos de investimentos significativos que incluem cláusulas de direitos humanos ou que foram submetidos à avaliação referente a direitos humanos

INV3 G4-HR2

Número total de horas de treinamento de empregados em políticas de direitos humanos ou procedimentos relacionados a Aspectos dos direitos humanos relevantes para as operações da organização, incluindo o percentual de empregados treinados

Não discriminação

NDI1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

NDI2 G4-HR3 Número total de casos de discriminação e medidas corretivas tomadas

Liberdade de Associação e Negociação Coletiva

LAN1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

LAN2 G4-HR4

Operações e fornecedores identificados em que o direito de exercer a liberdade de associação e a negociação coletiva possa estar sendo violado ou haja risco significativo e as medidas tomadas para apoiar esse direito

Trabalho Infantil

TIN1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

TIN2 G4-HR5

Operações e fornecedores identificados como de risco para a ocorrência de casos de trabalho infantil e medidas tomadas para contribuir para a efetiva erradicação do trabalho infantil

Continua...

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Subcategoria Aspecto Código da Variável

Estatística

Código da GRI

Descrição

Direitos Humanos

Trabalho Forçado ou Análogo ao Escravo

TFA1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

TFA2 G4-HR6

Operações e fornecedores identificados como de risco significativo para a ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo e medidas tomadas para contribuir para a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou análogo ao escravo

Práticas de Segurança

PDS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

PDS2 G4-HR7

Percentual do pessoal de segurança que recebeu treinamento nas políticas ou procedimentos da organização relativos a direitos humanos que sejam relevantes às operações

Direitos Indígenas

DPI1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

DPI2 G4-HR8

Número total de casos de violação de direitos de povos indígenas e tradicionais e medidas tomadas a esse respeito

Avaliação

AVA1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

AVA2 G4-HR9

Número total e percentual de operações submetidas a análises ou avaliações de direitos humanos de impactos relacionados a direitos humanos

Avaliação de Fornecedores em Direitos Humanos

SHR1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

SHR2 G4-HR10 Percentual de novos fornecedores selecionados com base em critérios relacionados a direitos humanos

SHR3 G4-HR11

Impactos negativos significativos reais e potenciais em direitos humanos na cadeia de fornecedores e medidas tomadas a esse respeito

Continua...

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... Continuação

Subcategoria Aspecto Código da Variável

Estatística

Código da GRI

Descrição

Direitos Humanos

Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Direitos Humanos

MQH1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

MQH2 G4-HR12

Número de queixas e reclamações relacionadas a impactos em direitos humanos registradas, processadas e solucionadas por meio de mecanismo formal

Sociedade

Comunidades Locais

LCO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

LCO2 G4-SO1

Percentual de operações com programas implementados de engajamento da comunidade local, avaliação de impactos e desenvolvimento local

LCO3 G4-SO2 Operações com impactos negativos significativos reais e potenciais nas comunidades locais

Combate à Corrupção

ACO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

ACO2 G4-SO3

Número total e percentual de operações submetidas a avaliações de riscos relacionados à corrupção e os riscos significativos identificados

ACO3 G4-SO4 Comunicação e treinamento em políticas e procedimentos de combate à corrupção

ACO4 G4-SO5 Casos confirmados de corrupção e medidas tomadas

Políticas Públicas

PPU1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

PPU2 G4-SO6

Valor total de contribuições para partidos políticos e políticos, discriminado por país e destinatário/beneficiário

Concorrência Desleal

CDE1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

CDE2 G4-SO7

Número total de ações judiciais movidas por concorrência desleal, práticas de truste e monopólio e seus resultados

Conformidade COS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

Continua...

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Subcategoria Aspecto Código da Variável

Estatística

Código da GRI

Descrição

Sociedade

Conformidade COS2 G4-SO8

Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não monetárias aplicadas em decorrência da não conformidade com leis e regulamentos

Avaliação de Fornecedores em Impactos na Sociedade

AFI1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

AFI2 G4-SO9 Percentual de novos fornecedores selecionados com base em critérios relativos a impactos na sociedade

AFI3 G4-SO10

Impactos negativos significativos reais e potenciais da cadeia de fornecedores na sociedade e medidas tomadas a esse respeito

Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Impactos na Sociedade

MQS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

MQS2 G4-SO11

Número de queixas e reclamações relacionadas a impactos na sociedade registradas, processadas e solucionadas por meio de mecanismo formal

Responsabilidade pelo Produto

Saúde e Segurança do Cliente

CHS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

CHS2 G4-PR1

Percentual de categorias de produtos e serviços significativas para as quais são avaliados impactos na saúde e segurança buscando melhorias

CHS3 G4-PR2

Número total de casos de não conformidade com regulamentos e códigos voluntários relacionados aos impactos causados por produtos e serviços na saúde e segurança durante seu ciclo de vida, discriminados por tipo de resultado

Rotulagem de Produtos e Serviços

PSL1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

PSL2 G4-PR3

Tipo de informações sobre produtos e serviços exigidas pelos procedimentos da organização referentes a informações e rotulagem de produtos e serviços e percentual de categorias significativas sujeitas a essas exigências

Continua...

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... Continuação

Subcategoria Aspecto Código da Variável

Estatística

Código da GRI

Descrição

Responsabilidade pelo Produto

Rotulagem de Produtos e Serviços

PSL3 G4-PR4

Número total de casos de não conformidade com regulamentos e códigos voluntários relativos a informações e rotulagem de produtos e serviços, discriminados por tipo de resultados

PSL4 G4-PR5 Resultados de pesquisas de satisfação do cliente

Responsabilidade pelo Produto

Comunicações de Marketing

MCO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

MCO2 G4-PR6 Venda de produtos proibidos ou contestados

MCO3 G4-PR7

Número total de casos de não conformidade com regulamentos e códigos voluntários relativos a comunicações de marketing, incluindo publicidade, promoção e patrocínio, discriminados por tipo de resultados

Privacidade do cliente

CPR1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

CPR2 G4-PR8

Número total de queixas comprovadas relativas à violação de privacidade e perda de dados de clientes

Conformidade

COP1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão

COP2 G4-PR9

Valor monetário de multas significativas aplicadas em razão de não conformidade com leis e regulamentos relativos ao fornecimento e uso de produtos e serviços

Fonte: Dados da pesquisa, adaptado de GRI (2013).

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APÊNDICE G – Produto técnico: Guia para avaliação de práticas sociais

organizacionais

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ANEXO A – E-mail de disponibilização da lista de relatórios GRI para a

pesquisa

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ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário

Newton Paiva

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