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Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo2006 maio-ago; 18(2)135-142

RECUPERAÇÃO DE CANDIDA ALBICANS DA CAVIDADE BUCAL DE RATAS OVARIECTOMIZADAS

RECOVERY OF CANDIDA ALBICANS FROM THE ORAL CAVITY OF OVARIECTOMIZED RATS

Joyce da Silva Martins *

Patrícia Monteiro Ribeiro **Juliana Campos Junqueira ***

Carlos Eduardo Dias Colombo ****Antonio Olavo Cardoso Jorge *****

RESUMOIntrodução: Este trabalho tem por objetivo estudar a recuperação de Candida albicans na cavidade bucal de ratas ovariectomizadas e controles após inoculação de levedura. Métodos: Vinte ratas não portadoras do gênero Candida na cavidade bucal foram distribuídas em grupos-controle e ovariectomizadas. As ra-tas receberam 3 inoculações bucais de C. albicans. Após a última inoculação, foram coletadas amostras da cavidade bucal em intervalos de tempo de 1, 2, 5, 7 dias e a cada 15 dias até a obtenção de duas culturas negativas para leveduras. As amostras foram semeadas em ágar Sabouraud dextrose e incubadas a 37oC por 48 horas. A seguir, foi realizada a contagem de unidades formadoras de colônias por ml (ufc/ml) e os dados submetidos ao teste “t” de Student. Para confirmação da espécie recuperada, os isolados foram identificados de acordo com a formação de tubo germinativo, formação de hifas e clamidoconídeos, fermentação e assimilação de carboidratos, e verificação do fator Killer. Resultados: Todas as amostras recuperadas eram C. albicans biotipo killer 111, o mesmo da espécie inoculada. C. albicans foi recuperada da cavidade bucal dos animais do grupo-controle até 67 dias após a última inoculação e do grupo ova-riectomizado por apenas 22 dias. Além disso, a média das ufc/ml de C. albicans recuperadas da cavidade bucal foi menor nos animais ovariectomizados do que nos controles. Conclusão: A colonização por C. albicans foi menor no grupo ovariectomizado em relação ao controle.DESCRITORES: Candida albicans - Candidíase

ABSTRACTIntroduction: The purpose of this work is to study the colonization of Candida albicans in the oral cavity of control and ovariectomized rats. Methods: Twenty rats negative for the Candida spp in the oral cavity were distribuided into groups control and ovariectomized. The rats received 3 inoculations of C. albicans. After the last inoculation of C. albicans, samples were collected from the oral cavity of the animals after 1, 2, 5, 7 days and then once every 15 days until two negative cultures of yeasts were obtained. The sam-ples were cultured in Sabouraud dextrose agar for 48 hours at 37ºC. After that, the colony forming units of C. albicans (cfu/mL) were counted and the results were submitted to t-Student test. To confirm of the species recovered, the isolated were identified by observing the germinative tubes, the presence of hyphae and chlamydospores, carbohydrate fermentation and assimilation and of phenomenon killer verification. Results: All sample recovered were C. albicans biotic killer 111, the identical as inoculated. C. albicans was recovery from the oral cavity of control group for 67 days after the last inoculation and in the ovariecto-mized group up to only 22 days. In addition, the mean of the number of cfu/mL of C. albicans recovered from the oral cavity was lower for the ovariectomized animals than for the sham-ovariectomized in every observation period. Conclusion: The recovery of C. albicans in the oral cavity of rats were lower in the ovariectomized group in relation to control group.

DESCRIPTORS: Candida albicans – Candidiasis

* Graduanda da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos/UNESP. E-mail: [email protected] ** Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biopatologia Bucal da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos/UNESP. E-mail: patricia-

[email protected] *** Professora Doutora do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos/UNESP. E-mail:

[email protected] **** Professor Doutor do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté/UNITAU e da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Vale

do Paraíba/UNIVAP. E-mail: [email protected]***** Professor Titular do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos/UNESP e do Departa-

mento de Odontologia da Universidade de Taubaté/UNITAU. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃOLeveduras do gênero Candida são normalmente iso-

ladas da cavidade bucal de indivíduos saudáveis, sendo Candida albicans a espécie mais patogênica (Cannon et al.5, 1995; Mc Cullough et al.15, 1996; Webb et al.27, 1998; Samaranayake e Samaranayake20 2001). Outras espécies consideradas importantes patógenos humanos são C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei, C. kefyr, C. gla-brata, C. guilhermondii e C. dubliniensis (Cannon et al.6, 1995; Samaranayake e Samaranayake20, 2001).

Embora o gênero Candida esteja na cavidade bucal em condições anfibiônticas, estabelecendo um estado de equilíbrio ecológico na microbiota bucal (Arendorf e Walker4, 1980; Budtz-Jõrgensen5, 1990), modificações desse equilíbrio favorecem o desenvolvimento de condi-ções patológicas, denominadas candidíase ou candido-se (Samaranayake e MacFarlane19, 1999; Allen2, 1994; Cannon et al.6, 1995; Webb et al.27,1998).

Os fatores que modificam esse equilíbrio podem ser de ordem local ou sistêmica. Entre os fatores locais destacam-se: xerostomia, uso de antibióticos e corticos-teróides, dieta rica em carboidratos, câncer bucal, uso de próteses e aparelhos ortodônticos, associação com outras doenças bucais e hábito de fumar. Entre os fato-res sistêmicos incluem-se: comprometimento do sistema imunológico como a Síndrome da Imunodeficiência Ad-quirida (AIDS), desordens endócrinas como, diabetes, hipertiroidismo e deficiências nutricionais (Budtz-Jör-gensen5, 1990; Oksala16, 1990; Stenderup22, 1990, Al-len1, 1992).

Jorge et al.11 (1993) avaliaram o efeito da xerostomia, provocada pela remoção cirúrgica das glândulas salivares maiores, na recuperação de C. albicans da cavidade bucal de ratos. Após 5 semanas da inoculação desse microrga-nismo, leveduras foram recuperadas em 50% dos ratos normais e em 100% dos animais sialoadenectomizados.

Totti et al.26 (1996) analisaram a persistência de di-ferentes espécies de Candida na boca de ratos normais e sialoadenectomizados durante 30 dias. Grupos de 6 animais foram inoculados com diferentes espécies, in-cluindo C. albicans, C. parapsilosis, C. tropicalis, C. gui-lhermondii e C. krusei. Tanto nos animais-controle como nos xerostômicos, C. albicans foi a única espécie recupe-rada em grandes quantidades e em todos os períodos. Os autores concluíram que a sialoadenectomia favoreceu a implantação de C. albicans e não influenciou a coloniza-ção das outras espécies.

Vários estudos demostraram que a infecção por C. albicans também é influenciada pelos níveis de hormô-nios ovarianos. Lanchares e Hernández13(2000) descre-veram que a candidose vulvovaginal é rara em meninas pré-menarca e em mulheres pós-menopausa, entretanto é muito comum durante a gestação, fase secretora do ciclo menstrual e em mulheres submetidas a reposição hormonal, quando os níveis de estrógeno e progesterona estão elevados.

Segundo Ferrer8 (2000), altos níveis de estrógeno fa-voreceram o acúmulo de glicogênio nas células epiteliais da vagina, aumentando a fonte de carboidratos para o crescimento e germinação de Candida.

Theaker et al.24 (1993) observaram a influência do ciclo menstrual na aderência de Candida às células epi-teliais da boca. A aderência de C. albicans foi significa-tivamente maior nas células coletadas no quinto dia do ciclo menstrual quando comparadas aos dias 15, 22 e 28, sugerindo que os hormônios ovarianos também po-dem estar associados com candidose bucal.

White e Larsen28 (1997) analisaram os efeitos do es-trógeno na morfogênese de três isolados clínicos de C. albicans in vitro. A adição de doses farmacológicas de es-tradiol (1µM) promoveu pequeno aumento no número de germinações. Concentrações cem vezes menores desse hormônio, semelhante aos níveis fisiológicos, provoca-ram grande indução de germinação. Os autores conclu-íram que o estradiol foi um forte indutor morfogênico nos três isolados clínicos de C. albicans, quando admi-nistrado em doses similares aos níveis fisiológicos.

Zhang et al.30 (2000) estudaram os efeitos do estradiol no crescimento de C. albicans e na resistência desse mi-crorganismo a temperaturas elevadas. Foram preparadas culturas de células de três isolados clínicos de C. albicans, nas quais foi adicionado estradiol ou apenas o solvente desse hormônio (grupo-controle). Maior número de cé-lulas viáveis de C. albicans foi encontrado nas culturas que continham estradiol, e o percentual de crescimento, após incubação em temperatura elevada (48ºC), foi su-perior a 45% no grupo com estrógeno e inferior a 15% no grupo-controle. Além disso, o estradiol foi capaz de estimular os genes cdr1 (Candida Drug Resistence) e hsp90 (Heat Stress Protein), que estão envolvidos com a virulência desse microrganismo.

Até o momento, os efeitos do estrógeno na candidose bucal foi pouco discutido. Assim, este trabalho teve por objetivo estudar a colonização de C. albicans na cavidade

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bucal de ratas ovariectomizadas e controles, após inocu-lação da levedura.

MÉTODOSForam utilizadas 20 ratas não portadoras do gênero

Candida na cavidade bucal (Rattus norvegicus, Albinus, Wistar) com peso inicial de 270 a 300g, provenientes do Biotério da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos/UNESP, sendo 10 ovariectomizadas e 10 con-troles. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa desta faculdade sob protocolo 001/2003.

OvariectomiaPara realização da cirurgia de ovariectomia, as ratas

foram anestesiadas com solução de Rompun (Bayer) e Francotar (Virbac) na proporção de 1: 0,5 ml, na dose de 0,1 ml/100g de peso corporal, via intramuscular. Após depilação da região abdominal lateral e assepsia com álcool iodado, a pele e a musculatura foram incisadas longitudinalmente, na região próxima ao nível dos rins e abaixo da última costela. O ovário foi identificado e exposto, sendo realizada a hemostasia, através da ligação da parte superior da trompa com fio de seda no4 (Ethi-con/Johnson & Johnson). O ovário juntamente com a gordura circundante, o oviduto e uma pequena porção do útero foram excisados. As camadas musculares foram suturadas com fio de sutura absorvível Catgut no4 (Ci-rumédica) e a pele com fio de seda no4 (Ethicon/ Jo-hnson & Johnson), sendo esse procedimento realizado bilateralmente. Os animais-controles foram submetidos à mesma cirurgia, porém seus ovários não foram excisa-dos.

Preparo da suspensão de C. albicansFoi preparada uma suspensão de C. albicans a partir

da cepa padrão (F-72), proveniente do laboratório de Microbiologia da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - UNESP, isolada de paciente que apresen-tava estomatite por prótese total. Essa amostra apresenta alta letalidade para camundongos e é produtora de pro-teinase, hialuronidase, condroitin-sulfatase e fosfatase (Almeida3, 1991), sendo caracterizada através de toxinas killer como biotipo 111 (Totti25, 1998).

Para obtenção da suspensão com número conheci-do de microrganismos, a amostra foi semeada em Ágar Sabouraud dextrose (Difco, Detroit, USA) e incubada a 37ºC por 48 horas. O crescimento foi suspenso em

5ml de solução fisiológica esterilizada e centrifugado a 2500Xg durante 10 minutos, desprezando-se o sobre-nadante. Esse procedimento foi repetido novamente e o sedimento ressuspenso em 5ml de solução fisiológica esterilizada.

A contagem do número de células viáveis da suspen-são foi feita em câmara de Neubauer, após prévia colora-ção com azul de metileno a 0,05% (Reed et al18., 1990). A suspensão foi padronizada de forma a obter-se 5 X 108 células viáveis/mL.

Inoculação da suspensão de C. albicans na cavida-de bucal das ratas

Para inoculação da suspensão de C. albicans, os ani-mais foram sedados com solução de Rompun (Bayer) e Francotar (Virbac), na proporção de 1/0,5ml, na dose de 0,05ml/100g de peso corporal, via intramuscular. As ratas receberam um inóculo contendo 5 x 108 células vi-áveis de C. albicans/mL em 3 dias consecutivos. A ino-culação foi realizada colocando-se 0,2ml da suspensão de C. albicans na boca dos animais anestesiados, com auxílio de seringa de 1ml e agulha 30 X 8mm com ponta romba. Imediatamente após a inoculação, o material foi espalhado uniformemente pela mucosa do dorso da lín-gua, com auxílio de um swab previamente esterilizado e embebido na suspensão.

Recuperação e Contagem de C. albicans da cavi-dade bucal das ratas

Após administração dos inóculos, foi feita a recupera-ção de Candida na cavidade bucal das ratas em intervalos de tempo de 1, 2, 5 e 7 dias e a seguir, posteriormente em intervalos regulares de 15 dias até se obter duas cul-turas negativas para levedura em cada animal.

Foram coletadas amostras da cavidade bucal dos ani-mais com swab, girando-se o mesmo na boca dos ratos durante 60 segundos, procurando-se preferencialmente coletar material da língua e palato. O swab foi imedia-tamente colocado em tubo contendo 0,95ml de solução fisiológica esterilizada e o mesmo foi agitado durante 2 minutos, considerando-se a diluição como sendo 10-2. Foram realizadas diluições até 10-4 e 0,1 ml de cada di-luição foi semeado em duplicata na superfície de Ágar Sabouraud dextrose (Difco, Detroit, USA) com cloran-fenicol (Carlo Erba, Rio de Janeiro, Brazil; 0,1mg/ml). As placas foram incubadas a 37ºC por 48 horas e a se-guir por mais 5 dias à temperatura ambiente.

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Após período de incubação, colônias típicas de Can-dida foram contadas em placas que exibiram entre 30 a 300 colônias. Placas com número de colônias inferior a 30 na diluição 10-2 foram consideradas como 10-1 colô-nias de Candida.

Identificação dos isoladosA cada coleta, foram escolhidas aleatoriamente uma

placa com colônias características de Candida, de um animal ovariectomizado e um controle, para obtenção de culturas puras, identificação e confirmação da espécie recuperada.

As cepas isoladas foram identificadas de acordo com as seguintes provas: formação de tubo germinativo em soro estéril de coelho, observação de hifas e clamidoco-nídeo em Corn Meal Agar (Difco, Detroit, USA) adicio-nado de 1% de Tween 80, e fermentação e assimilação de carboidratos (Williams e Lewis29, 2000). Além disso, as cepas isoladas foram caracterizadas fenotipicamente através da verificação do fenômeno Killer (Polonelli et al17, 1983).

Análise estatísticaPara comparação entre as médias obtidas para ratas

ovariectomizadas e controles foi utilizado o teste “t” de Student, considerando-se nível de significância de 5%.

RESULTADOSNo grupo-controle, C. albicans foi recuperada de to-

dos os animais nos períodos de um, dois, cinco, sete e 22 dias após a inoculação. A seguir, houve um declínio no número de ratas positivas para leveduras, para oito após 37 dias (80%), para quatro após 52 dias (40%) e uma após 67 dias (10%) das inoculações. No período de 82 dias, C. albicans não foi mais recuperada.

No grupo ovariectomizado, a recuperação ocorreu em todos os animais após um, dois, cinco e sete dias da inoculação, decaindo a seguir para cinco após 22 dias (50%). No período de 37 dias, leveduras não foram mais recuperadas.

A média do logaritmo do número das ufc/ml de C. albicans, recuperadas da cavidade bucal, foi menor nos animais ovariectomizados do que nos controles, em to-dos os tempos de observação, conforme pode ser obser-vado na Tabela 1 e Figura 1.

A cada recuperação de leveduras da cavidade bucal das ratas, uma amostra de um animal-controle e de um ovariectomizado foi isolada, identificada a nível de es-pécie e caracterizada através da verificação do fator killer. Todas as amostras eram C. albicans biotipo killer 111, o mesmo biotipo da amostra que foi inoculada, confir-mando, portanto, que a amostra recuperada foi a mes-ma utilizada para inoculação.

Tempo após inoculaçãoControle (n = 10) Ovariectomizada (n = 10)

(dias) Ratas positivas Mediana Ratas positivas Mediana

1 10 4,67 10 1,74

2 10 4,19 10 3,87

5 10 4,39 10 3,64

7 10 2,00 10 1,93

22 10 2,16 5 0,50

37 8 1,3 0 -

52 4 0 0 -

67 1 0 - -

82 0 - - -

97 0 - - -

Tabela 1 - Número de ratas positivas para leveduras e mediana do logaritmo do número das unidades formadoras de colônias (ufc/ml) de C. albicans na cavidade bucal de ratas controles e ovariectomizadas nos diferentes períodos de recupera-ção

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DISCUSSÃOAlém dos dilemas éticos associados com a pesqui-

sa em seres humanos, os mesmos apresentam variações em relação à raça, cultura, dieta, hábitos sociais,resposta imunológica e fisiologia bucal. Esses fatores, associados à dificuldade de se estabelecer a etiologia e patogênese de doenças oportunistas, como a candidose, indicam a ne-cessidade da utilização de modelos animais experimen-tais. O modelo animal possibilita maior padronização dos fatores envolvidos na candidose e subseqüentes com-parações dos resultados observados em diversos estudos (Samaranayake e Samaranayake20, 2001).

O rato, como modelo experimental, tem sido muito utilizado para a compreensão dos mecanismos envolvi-dos na menopausa, durante a qual se observa diminuição dos níveis de estrógeno e progesterona, que são hormô-nios sexuais femininos produzidos principalmente nos ovários (McCance14,1998). A deficiência de estrógeno e progesterona observada na menopausa pode ser induzida em animais experimentais, através da cirurgia de ovariec-tomia (Castro7, 2000).

Neste trabalho, C. albicans foi recuperada da cavida-de bucal de 100% dos ratos do grupo-controle no perí-odo de 22 dias após a última inoculação. Esse resultado foi superior aos de Fisker et al.10 (1982) e Jorge et al.11 (1993), que encontraram, respectivamente, 33% e 50% de ratos positivos para C. albicans na cavidade bucal após 35 dias da inoculação desse microrganismo.

Em relação à quantidade de leveduras recuperadas da cavidade bucal dos ratos-controles, observou-se que as médias de ufc/ml (Log) nos períodos de recuperação de 1, 2 e 5 dias foram respectivamente de 4,69, 4,28 e 4,38. Entretanto, Totti et al25, (1996) encontraram médias de ufc/ml (Log) de 3,65, 3,35 e 3,49 para os mesmos perí-odos de recuperação.

A sedação dos animais realizada no momento da ino-culação de C. albicans pode justificar o maior número de leveduras recuperadas da cavidade bucal dos ratos nesse trabalho em relação aos estudos anteriomente citados, (Fisker et al.10, 1982; Jorge et al.11, 1993 e Totti et al.26, 1996), que não utilizaram sedativos para inoculação de C. albicans.

Takakura et al.23, (2003) inocularam suspensão de C. albicans na cavidade bucal de camundongos previamente sedados. A sedação foi feita através da inalação de éter ou injeções intramusculares de clorpromazina nas doses de 2, 10 e 50 mg/kg, que proporcionaram um período de sedação, respectivamente, de 5min, 1,5h, 3h e 24h. Du-

rante sete dias após a inoculação de C. albicans, foram re-alizadas recuperações de leveduras da cavidade bucal. O grau de infecção aumentou conforme o tempo de seda-ção, indicando que 10mg/kg (3h) de clorpromazina foi a dose ideal para esse modelo de candidose experimental. Esses autores sugerem que a sedação dos animais evita a deglutição da suspensão de C. albicans, favorecendo a instalação das leveduras na cavidade bucal.

C. albicans foi recuperada da cavidade bucal dos ani-mais do grupo-controle até 67 dias após a inoculação e do grupo ovariectomizado por 22 dias. Além disso, a média de ufc/ml de C. albicans recuperada da cavidade bucal foi menor no grupo ovariectomizado em relação ao controle, em todos os períodos de observação.

Esses resultados concordam com outros estudos em animais experimentais que mostram a importância da presença do estrógeno para o desenvolvimento de candi-dose (Sobel et al21, 1985; Kinsman e Collard12, 1986).

Sobel et al.21 (1985) avaliaram os efeitos da adminis-tração de estradiol na candidose vaginal de ratas ova-riectomizadas tratadas com estrógeno e ratas-controle. Em vários períodos subseqüentes da inoculação de C. albicans, foram realizadas lavagens vaginais para quanti-ficação de leveduras. Após três semanas, 13 das 14 ratas tratadas com estrógeno apresentavam Candida no fluido vaginal, com média de 4ufc(Log)/ml. Entretanto, ape-nas nove das 14 ratas-controle estavam infectadas, com média de 2,7ufc(Log)/ml. Além disso, a persistência de C. albicans após cinco semanas foi observada em dez ani-mais tratados com estrógeno e em apenas uma rata do grupo-controle.

Para avaliar os efeitos dos hormônios ovarianos na infecção vaginal por C. albicans, Kinsman e Collard12 (1986) inocularam uma suspensão de leveduras, conten-do 5 x 108 células por ml, em ratas ovariectomizadas e tratadas com estrógeno e progesterona. Utilizando-se de enxagües vaginais, observaram persistência de C. albicans por 32 dias em ratas tratadas com estrógeno e somente por sete dias em animais tratados com progesterona. Além disso, os resultados da citologia esfoliativa revelaram que o estrógeno manteve a infecção, com crescimento de hi-fas entre as células epiteliais queratinizadas. Entretanto, nos ratos injetados com progesterona, as leveduras foram eliminadas antes da formação de hifas. Os autores con-cluíram que a administração de estrógeno, mas não de progesterona, predispôs à infecção por Candida.

Fidel Júnior et al.9 (2000) estudaram os efeitos dos hormônios ovarianos na candidose vaginal experimen-

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tal em camundongos, induzida pela inoculação de sus-pensão de C. albicans. Os animais foram divididos em quatro grupos de acordo com o tratamento: estrógeno (Grupo I), progesterona (Grupo II), estrógeno e proges-terona (Grupo III) e placebo (Grupo IV). Os Grupos I e III apresentaram alta quantidade de leveduras recupe-radas da vagina dos camundongos, durante os 21 dias de observação. Por outro lado, os Grupos II e IV mos-traram um curto tempo de infecção (7 dias), sugerindo que apenas o estrógeno é importante na susceptibilidade à infecção vaginal por C. albicans.

A maior parte dos trabalhos encontrados na literatura referem-se à importância do estrógeno e da progesterona

na candidose vulvovaginal. Neste trabalho, verificou-se que os níveis de hormônios ovarianos, também, podem apresentar efeitos na candidose bucal. Assim, torna-se necessária a elaboração de estudos mais detalhados sobre a influência do estrógeno e da progesterona na coloniza-ção por C. albicans e no desenvolvimento de candidose na cavidade bucal.

CONCLUSÂOConcluiu-se que a colonização por C. albicans foi

menor no grupo ovariectomizado em relação ao contro-le, em todos os períodos de observação.

0

1

2

3

4

5

*

***

675237227521

Controle Ovariectomizado

Log

ufc/

mL

Tempo após inoculação (dias)

Figura 1 - Médias e desvios-padrão dos dados (em log) de ufc/ml de C. albicans, recuperadas da cavidade bucal das ratas nos vários períodos de observação. *Diferenças estatisticamente significantes (Teste t de Student, α = 5%) entre os grupos controle e ovariectomizado, nos tempos de 1 dia (p = 0,00), 2 dias (p = 0,04), 5 dias (p = 0,001) e 22 dias (p = 0,00

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Recebido em: 10/06/2005Aceito em: 18/10/2005