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Religiões Afro-Brasileiras: São consideradas Religiões Afro-Brasileiras, todas as religiões que tiveram origem nas religiões africanas, que foram trazidas para o Brasil pelos escravos. • Candomblé • Umbanda • Batuque • Catimbó • Culto aos Egungun • Culto de Ifá • Jurema sagrada • Quimbanda • Macumba • Tambor de Mina • Xangô do Nordeste • Xambá As Religiões Afro-Brasileiras são relacionadas com a Religião Yorubá e outras Religiões africanas, e diferentes das Religiões Afro-Caribenhas como a Santeria e o Vodu. A língua oficial nos cultos Kétu, Ègbá, Ifón e Ìjèsà, é o Yorùbá, que apesar disso é também muito utilizada nos cultos de origem Angola e Jeje, que são oriundos de países e culturas diferentes. A religião afro-brasileira, trazida por africanos ou originada de tradições culturais de povos que entraram no Brasil como escravos, nem sempre foi professada livremente. Sua

Religiões Afro

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Religiões Afro-Brasileiras:

São consideradas Religiões Afro-Brasileiras, todas as religiões que tiveram origem nas religiões africanas, que foram trazidas para o Brasil pelos escravos.

• Candomblé

• Umbanda

• Batuque

• Catimbó

• Culto aos Egungun

• Culto de Ifá

• Jurema sagrada

• Quimbanda

• Macumba

• Tambor de Mina

• Xangô do Nordeste

• Xambá

As Religiões Afro-Brasileiras são relacionadas com a Religião Yorubá e outras Religiões africanas, e diferentes das Religiões Afro-Caribenhas como a Santeria e o Vodu.

A língua oficial nos cultos Kétu, Ègbá, Ifón e Ìjèsà, é o Yorùbá, que apesar disso é também muito utilizada nos cultos de origem Angola e Jeje, que são oriundos de países e culturas diferentes.

A religião afro-brasileira, trazida por africanos ou originada de tradições culturais de povos que entraram no Brasil como escravos, nem sempre foi professada livremente. Sua organização e expressão foram impedidas no período colonial pela Inquisição, que atuou em Portugal de 1536 a 1820, punindo os "crimes contra a fé", e quando foi encarada como feitiçaria e prática diabólica. No Império, embora tenha havido mais liberdade, foi encarada como divertimento de negro, sujeito à autorização da autoridade, e a ser perseguido como feitiçaria e curandeirismo, objeto de penalidade em Códigos de Postura municipais, como os de São Luís (1866), Codó (1848) e Guimarães (1856), estabelecidos no reinado de D. Pedro II. Depois da proclamação da República, apesar da apregoada "liberdade de crença", os terreiros continuaram a ser considerados como casas de diversão (por causa da realização de festas,

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rituais com toque e dança etc), acusados da realização de práticas mágicas e curandeirismo, enquadrados como crime no Código Penal brasileiro de 1890 e posteriores, e passaram a ser também acusados de crimes contra a saúde pública, sendo encarados como centros geradores de loucura (em virtude de o transe ser visto por eles como uma alucinação, como um estado mórbido). Em decorrência disso, a religião afro-brasileira enfrentou por muitas décadas severo controle e perseguição da polícia e de órgãos governamentais. Hoje, apesar das conquistas realizadas, continua sendo encarada de forma preconceituosa, o que impede que os terreiros recebam do poder público o mesmo tratamento que é dispensado a outras religiões e tem levado muitos dos seus adeptos a negar a sua crença e a sua vinculação a terreiros. O preconceito contra a religião afro-brasileira encorajou também práticas discriminatórias de católicos (principalmente no passado), de espíritas (apesar de o espiritismo ter sido também enquadrado nos Códigos Penais brasileiros de 1890 a 1940) e de evangélicos (hoje principalmente pela Igreja Universal do Reino de Deus - IURD). Entre os fatores determinantes dessa situação enfrentada pela religião afro-brasileira têm sido apontados:

1) a sua associação à escravidão, que aparece como uma marca negativa irremovível e que tem justificado para muitos a sua "estigmatização"; e,

2) a falta de conscientização de seu caráter de religião por muitos dos seus ministros e adeptos que são também católicos praticantes, que os levam a considerar a religião afro-brasileira: uma obrigação séria e penosa, deixada por ancestrais a afrodescendentes; um culto às entidades espirituais que protegem especificamente os negros (vodus, orixás e outros encantados - os santos dos negros); e, às vezes, uma forma de afrodescendentes cultuarem santos católicos. O preconceito e a discriminação contra a religião afro-brasileira têm sido denunciados e combatidos em diferentes épocas, com estratégias diversas.

Candomblé:

Ilê Axé Iya Nassô Oká - Terreiro da Casa Branca - casa mais antiga de Salvador Bahia

Candomblé é uma das Religiões Afro-Brasileiras praticadas principalmente no Brasil mas também em países adjacentes como Uruguai, Argentina, e Venezuela.

A religião foi desenvolvida no Brasil com o conhecimento dos sacerdotes africanos que foram escravizados e trazidos da África para o Brasil, juntamente com seus Orixás/Inquices/ Voduns, sua cultura, e seus dialetos, entre 1549 e 1888.

Embora confinado originalmente à população de escravos, proibido pela igreja Católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. É agora uma das religiões principais estabelecidas, com seguidores de todas as classes sociais e dezenas de milhares de templos. Em levantamentos recentes, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população total) declararam o candomblé como sua religião. Na cidade de Salvador existem 2.230 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros. Entretanto, na

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cultura brasileira as religiões não são vistas mutuamente como exclusivas, e muitos povos de outras crenças religiosas — até 70 milhões, de acordo com algumas organizações culturais Afro-Brasileiras — participam em rituais do candomblé, regularmente ou ocasionalmente. Orixás do Candomblé, os rituais, e as festas são agora uma parte integrante da cultura e uma parte do folclore brasileiro.

O Candomblé não deve ser confundido com Umbanda e Macumba, duas outras religiões Afro-Brasileiras com similar origem; e com religiões Afro-derivadas similares em outros países do Novo Mundo, como o Voo doo Haitiano, a Santeira Cubana, e o Obeah, os quais foram desenvolvidos independentemente do Candomblé e são virtualmente desconhecidos no Brasil.

Nações

Os escravos brasileiros pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os Yoruba, os Ewe, os Fon, e os Bantu. Como a religião se tornou semi-independente em regiões diferentes do país, entre grupos étnicos diferentes, evoluíram diversas "divisões" ou nações, que se distinguem entre si principalmente pelo conjunto de divinda-des veneradas, o atabaque (música) e a língua sagrada usada nos rituais.

A lista seguinte é uma classificação pouco rigorosa das principais nações e sub-nações, de suas regiões de origem, e de suas línguas sagradas:

• Nagô ou Iorubá

• Ketu ou Queto (Bahia) e quase todos estados - Língua Yoruba (Iorubá ou Nagô em Português)

• Efan na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo

• Ijexá principalmente na Bahia

• Nagô Egbá ou Xangô do Nordeste no Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo

• Mina-nagô ou Tambor-de-Mina no Maranhão

• Xambá em Alagoas e Pernambuco (quase extinto).

• Bantu, Angola e Congo (Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Rio Grande do Sul), mistura de Bantu, Kikongo e Kimbundo línguas.

• Candomblé de Caboclo (entidades nativas índios)

• Jeje A palavra Jeje vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Nunca existiu nenhuma nação Jeje na África. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma pejorativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na

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verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Ashantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.(Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo) - língua Ewe e língua Fon (Jeje)

• Jeje Mina língua Mina São Luiz do Maranhão

• Babaçuê no Pará

Crenças

Candomblé não é uma religião politeísta, embora alguns defendam que cultua um deus principal (Olorum/Zambi/Mawu) e, na prática diária, outros deuses. Os Orixás/Inquices/Voduns recebem homenagens regulares, com oferendas, cânticos, danças e roupas especiais. Então, podemos dizer que o Candomblé é uma crença em diversas divindades, tendo um Deus maior e criador.

• os Orixás da Mitologia Yoruba foram criados por um deus supremo, Olorun (Olorum) dos Yoruba;

• os Voduns da Mitologia Fon ou Mitologia Ewe, foram criados por Mawu, o deus supremo dos Fon;

• os Inquices da Mitologia Bantu, foram criados por Zambi, Zambiapongo, deus supremo e criador.

O Candomblé cultua, entre todas as nações, umas cinquenta das centenas de deidades ainda cultuadas na África. Mas, na maioria dos terreiros das grandes cidades, são doze as mais cultuadas. O que acontece é que algumas divindades têm "qualidades", que podem ser cultuadas como um diferente Orixá/Inquice/Vodun em um ou outro terreiro. Então, a lista de divindades das diferentes nações é grande, e muitos Orixás do Ketu podem ser "identificados" com os Voduns do Jejé e Inquices dos Bantu em suas características, mas na realidade não são os mesmos; seus cultos, rituais e toques são totalmente diferentes.

Orixás têm individuais personalidades, habilidades e preferências rituais, e são conectados ao fenômeno natural específico (um conceito não muito diferente do Kami do japonês Xintoísmo). Toda pessoa é escolhida no nascimento por um ou vários "patronos" Orixá, que um babalorixá identificará. Alguns Orixás são "incorporados" por pessoas iniciadas durante o ritual do candomblé, outros Orixás não, apenas são cultuados em árvores pela coletividade. Alguns Orixás chamados Funfun (branco), que fizeram parte da criação do mundo, também não são incorporados.

Sincretismo

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No tempo das senzalas os negros para poderem cultuar seus Orixás, Inkices e Voduns usaram como camuflagem um altar com imagens de santos católicos e por baixo os assentamentos escondidos, segundo alguns pesquisadores este sincretismo já havia começado na África, induzida pelos próprios missionários para facilitar a conversão.

Depois da libertação dos escravos começaram a surgir as primeiras casas de candomblé, e é facto que o candomblé de séculos tenha incorporado muitos elementos do Cristianismo. Crucifixos e imagens eram exibidos nos templos, Orixás eram freqüen-temente identificados com Santos Católicos, algumas casas de candomblé também incorporam entidades caboclos, que eram consideradas pagans como os Orixás.

Mesmo usando imagens e crucificos inspiravam perseguições por autoridades e pela Igreja, que viam o candomblé como paganismo e bruxaria.

No últimos anos, tem aumentado um movimento "fundamentalista" em algumas casas de candomblé que rejeitam o sincretismo aos elementos Cristãos e procuram recriar um candomblé "mais puro" baseado exclusivamente nos elementos Africanos.

Rituais

O ritual do Candomblé (toque, festa) tem duas partes: a preparação, que começa uma semana antes de cada festa, com muita gente na casa lavando, passan-do, cozinhando, limpando e enfeitando, quando você entra no barracão e vê as bandei-rinhas no teto da cor do Orixá que está sendo homenageado, alguém teve que comprar, cortar e colar as bandeirinhas e colocá-las no lugar para que o barracão fique bonito. Durante a semana diversas obrigações são feitas, de acordo com a determina-ção do jogo de búzios, animais são sacrificados à Exús, Eguns e aos Orixás homena-geados. Os animais tem que ser limpos e preparados por alguém, pois será servido uma parte para os Orixás e outra parte para todos os presentes na festa. Na "parte pública" que é a festa, os filhos-de-santo (iniciados) dançam e entram em transe "incorporando" seu Orixá. O babalorixá evoca cantigas que lembram os feitos do Orixá e este executa uma dança simbólica recordando seus atributos. A cerimônia termina com um banquete.

A música do Candomblé é uma parte essencial do ritual; ela deriva da música africana e teve uma influência forte em outros estilos brasileiros (não religiosos) da música popular brasileira.

Templos

Os Templos de Candomblé são chamados de casas, roças ou Terreiros. As casas podem ser de linhagem matriarcal, patriarcal ou mista:

• Casas pequenas, que são independentes, possuídas e administradas pelo babalorixá ou ialorixá dono da casa e pelo Orixá principal respectivamente. Em caso de falecimento do dono, a sucessão na maioria das vezes é feita por parentes consanguineos, caso não tenha um

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sucessor interessado em continuar a casa é desativada. Não há nenhuma administração central.

• Casas grandes, que são organizadas tem uma hierarquia rígida, não é de propriedade do sacerdote, nem toda casa grande é tradicional, é uma Sociedade Civil ou Beneficente.

• Casas de linhagem matriarcal: (só mulheres) assumem a liderança da casa como Iyalorixá.

➢ Ilé Axé Iyá Nassô Oká - Casa Branca-Engenho Velho - considerada a primeira casa a ser aberta em Salvador, Bahia

➢ Ilé Iyá Omi Axé Iyámase do Gantois - Terreiro do Gantois - Salvador, Bahia

➢ Ilé Axé Opó Afonjá - Opó Afonjá - Salvador, Bahia

➢ Ilé Maroialaji - Terreiro do Alaketu - Salvador, Bahia

➢ Zoogodô Bogum Malê Rondó - Terreiro do Bogum - Salvador, Bahia

➢ Querebentan de Zomadônu - Casa das Minas - fundada +/- 1796 - São Luiz, Maranhão

➢ Terreiro São Jorge Filho da Goméia - Terreiro do Portão - Lauro de Freitas, Bahia

• Casas de linhagem patriarcal: (só homens) assumem a liderança da casa como Babalorixá no Culto aos Orixá ou Babaojé no Culto aos Egungun.

➢ Ilê Agboulá - Ilha de Itaparica

➢ Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Axipá - Ilê Axipá - Salvador, Bahia

• Casas de linhagem mista: tanto homens como mulheres podem assumir a liderança da casa.

➢ Ilé Axé Oxumarê - Casa de Oxumare - Salvador, Bahia

➢ Ilé Axé Odó Ogè - Terreiro Pilão de Prata - Salvador, Bahia

➢ Obá Ogunté - Sitio de Pai Adão - Recife, Pernambuco

➢ Kwe Ceja Undé - Roça do Ventura - Cachoeira e São Felix, Bahia

➢ Terreiro da Goméia

A progressão na hierarquia é condicionada ao aprendizado e ao desempenho dos rituais longos da iniciação. Em caso de morte de uma ialorixá, a sucessora é escolhida, geralmente entre suas filhas, na maioria das vezes por meio de um jogo divinatório Opele-Ifa ou jogo de búzios. Entretanto a sucessão pode ser disputada ou pode não encontrar um sucessor, e

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conduz frequentemente a rachar ou ao fechamento da casa. Há somente três ou quatro casas em Brasil que viram seu 100° aniversário.

Sacerdócio

Nas Religiões Afro-brasileiras o sacerdócio é dividido em:

• Babalorixá ou Iyalorixá - Sacerdotes de Orixás

• Doté ou Doné - Sacerdotes de Voduns

• Tateto e Mameto - Sacerdotes de Inkices

• Babalawo - Sacerdote de Orunmila-Ifa do Culto de Ifá

• Bokonon - Sacerdote do Vodun Fa

• Babalosaim - Sacerdote de Ossaim

• Babaojé - Sacerdote do Culto aos Egungun

• Lista sacerdotes do candomblé

Umbanda:

A Umbanda é uma religião, ou seja, é composta de elementos Divinos (Orixás e Guias); Doutrinários (linhas de atuação, reencarnação, lei do karma, atuação e direcio-namento dos médiuns, assistenciados e guias, é composta de princípios (amor, carida-de, respeito ao próximo, fé); tem rituais (abertura e encerramento das sessões, pontos cantados, feituras); tem elementos místicos (a forma de atuação dos Orixás e Guias); elementos divinatórios (jogo de búzios); e, de elementos Humanos (seus médiuns, Babás, Babalorixás, Sacerdotes).

Cabe salientar que esses elementos são variáveis e podem ser vistos com mais ou menos intensidade de acordo com a linha doutrinária da casa (Linhas doutrinárias ou Escolas Doutrinárias existentes na Umbanda). Como são muitas as ramificações e suas formas, isso torna difícil agrupá-las em suas peculiariedades, ritos, doutrina, fundamentos, filosofia,

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práticas. Pretendemos olhar de maneira geral os elementos mais comuns a cada ramificação dentro do possível.

A Umbanda é uma religião de cunho espiritualista (contato e/ou interferência de espíritos, manipulações magísticas, práticas de cura através dos espíritos e/ou ervas/poções/conjuros, utilização de elementos ou instrumentos místicos), é mediúnica (instrumento pelo qual a prática religiosa se faz presente, especificamente, a incorpo-ração) que agrega elementos de bases africanas (culto aos Orixás e ao espírito dos antepassados: Pretos-Velhos), indígenas (Caboclos), que recebeu influência oriental (indiana, inerente à reencarnação, o kharma e o dharma), e adquiriu elementos do cristianismo (judaísmo) como a caridade, o auxilio ao próximo e outros ditos por Jesus Cristo que no sincretismo religioso (associação dos Santos Católicos aos Orixás africanos) consideramos como o Orixá Oxalá. Também recebeu influências do Espiritismo, existindo ramificações que se baseiam nos escritos de Kardec sem serem, por isso, considerados autenticamente espíritas, livros doutrinários, como sendo seus livros de aconselhamento e doutrina.

Origem

Etimologia:

Segundo a Linha Doutrinária da Umbanda Esotérica: a maioria das línguas hoje faladas no mundo são heranças de uma língua mãe há muito perdida, onde o Sânscrito, o Hebraico e o Neengatu (Tupi), entre outras, são as suas mais antigas descendentes que conhecemos. Assim sendo, para a Umbanda Esotérica e outras Linhas Doutrinas Umbandistas, o termo Umbanda tem sua origem nesta antiga língua mãe, em que; AUM (UM por contração na transliteração do Sânscrito para o português, mas que representaria o som do mantra OM), significa Deus, ou, que vem de Deus, o Seu Verbo, o Som da Criação, o Ternário Divino; BAN significa Conjunto, e DA ou DAM ou ADM significa Lei ou Regra. Assim, AUMBANDAM ou UMBANDA, quer dizer CONJUNTO DAS LEIS DEUS ou LEI MAIOR DIVINA, a LEI MATER, é um Mantra, um Som Sagrado, pois a sua vibração sonora imprime no éter a idéia da manifestação de Deus e Suas Leis de Criação e Evolução, predispondo quem a pronuncia à sentir esta vibração e sintonizar-se com ela.

Ancestralidade Espiritual:

A ancestralidade espiritual dentro do conjunto religioso da Umbanda permeia várias visões dependendo da Linha Doutrinária.

Na visão da Linha Doutrinária da Umbanda Esotérica e de outras escolas a ela relacionadas (que não representam uma visão do todo Umbandista, mas apenas uma parte desse todo religioso), dá a Umbanda origem nos primórdios da humanidade:

Em um passado muito distante, onde a história não conseguiu reunir elementos para registros, Escolas Iniciáticas alcançaram altos estudos sobre a natureza e suas manifestações,

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sobre os fundamentos da existência humana, compreendendo, através da Ciência do Verbo, a manifestação do Princípio Inteligente Absoluto. Dotados de uma maior sensibilidade psíquica, estudaram a Alma e sua natureza, a relação dos números com a Criação de Deus, reunindo Ciência, Religião, Filosofia e Arte em um só bloco, onde o esforço do conhecimento humano não se conflitava e nem se dispersava. Mas, devido ao fenômeno da transmigração das almas, o conhecimento transmitido foi sofrendo alterações em suas bases originais, chegando a um ponto de se ter a chave e não saber entrar. Personificava-se e dava-se aspecto teatral aos Princípios Divinos para que, aqueles que não compreendiam aquilo que precisava ser sentido em espírito, conseguissem digerir um conhecimento com um sabor mais agradável à sua capacida-de intelectiva. Ainda podemos ver alguma coisa desses esforços nas mitologias dos povos da Índia, da África, da Grécia e das Américas.

Nos tempos áureos da raça vermelha, estes conhecimentos fizeram a felicidade de muitas almas, a fonte jorrava e muitos puderam beber, saciando uma sede inerente ao ser humano. Negros, Brancos e Amarelos também tiveram acesso a esta fonte, contribuindo para a fragmentação de um conhecimento que deu suporte espiritual a existência de um povo por muitos e muitos anos.

O homem já atingiu por diversas vezes adiantados estágios de cultura e desen-volvimento espiritual, e a dificuldade de se comprovar estas conquistas deve-se a constantes alterações na geografia do planeta causadas por cataclismas periódicos que em geral apagam os vestígios das culturas anteriores aos mesmos, além da ignorância e do preconceito do homem, que destrói o que não conhecem. Mesmo assim muitos destes conhecimentos chegaram até nós nos dias de hoje, embora fragmentados, cabendo a nós o esforço de reunir estes fragmentos, redescobrir o que foi perdido e organizar o que nos for revelado.

A tradição religiosa do Oriente, da África e das Américas, contém fragmentos desta Ciência Mãe, e hoje, a Umbanda no Brasil, é solo fértil para o trabalho de reunir esses fragmentos, selecionando e organizando as verdadeiras peças que um dia fizeram parte da estrutura da Tradição Antiga do Saber Humano.

Atualmente, a Umbanda está encarregada de fazer esta corrente interpenetrar o campo astral e humano do Brasil, e UMBANDA foi a palavra de força que abriu os caminhos dos espíritos "ponta de lança", pois Ela expressa a síntese da Ciência Espiritual, levando a mensagem do Cristo aos terreiros, aos centros, as cabanas, etc., encontrando, de início, forte resistência por força de uma tradição religiosa, mas que aos poucos foi cedendo, dando espaço aos espíritos que foram arregimentados para o trabalho nesta corrente por questões de afinidades espirituais, provando que na seara do Cristo, todos tem oportunidade ao trabalho, onde não há discriminação e nem preconceito, onde permeia a humildade e a simplicidade , que exemplarmente Jesus viveu.

Surgimento no Brasil:

Existem algumas versões para origem da Umbanda no Brasil.

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Tentaremos mostrar uma face dessa origem, salientando que não importa as formas variáveis da origem, e sim, como ela atua e o que têm em comum: sua essência. (O início do movimento Umbandista se coloca entre a primeira e a segunda metade do século XIX, junto ao candomblé.) -- errado A Umbanda, uma religião 100 % brasileira, veio ao plano físico trazida pelo Caboclo Sete Encruzilhadas, através do medium Zelio de Moares, no distrito das Neves em Niteroi-RJ, em novembro de 1911. (Os negros nas senzalas cantavam e dançavam em louvor aos Orixás, embora aos olhos dos brancos eles estavam comemorando os Santos católicos. Em meio a essas comemorações eles começaram a incorporar espíritos ditos Pretos-Velhos (reconhecidos como espíritos de ancestrais, sejam de antigos Babalaôs, Babalorixás, Yalorixás e antigos "Pais e Mães de senzala": escravos mais velhos que sobreviveram à senzala e que, em vida, eram conselheiros e sabiam as antigas artes da religião da distante África) que iniciaram a ajuda espiritual e o alívio do sofrimento material, àqueles que estavam no cativeiro.)

Embora houvesse uma certa resistência por parte de alguns, pois consideravam os espíritos incorporados dos Pretos-Velhos como Eguns (espírito de pessoas que já morreram e não são cultuados no candomblé), também houve admiração e devoção.

Com os escravos foragidos, forros e libertados pelas leis do Ventre Livre, Sexagenário e posteriormente a Lei Áurea, começou-se a montagem das tendas, posteriormente terreiros.

Em alguns Candomblés também começaram a incorporar Caboclos (índios das terras brasileiras como Pajés e Caciques) que foram elevados à categoria de ancestral e passaram a ser louvados. O exemplo disso são os ditos "Candomblés de Caboclo". Muito comuns no norte e nordeste do Brasil até hoje.

No início do sec. XX surgiram as Macumbas no sudeste do Brasil, mas precisamente no Rio de Janeiro (sendo que também existiam em São Paulo) que mesclavam ritos Africanos, um sincretismo Afro-católico e outros mistos magísticos e influências espíritas (kardecistas). Isso era feito isoladamente, por indivíduos e seus guias, ou em grupamentos liderados pelo Umbanda ou embanda que era o chefe de ritual.

De certa forma, com o passar do tempo, tudo que envolvia algo que não se enquadrava no catolicismo, protestantismo, judaísmo ou no espiritismo, era considera-do macumba. Virou um termo pejorativo e as pessoas que a praticavam, o que podemos rotular como uma "Umbanda rudimentar", não estavam muito interessadas ou preocupadas em dar-lhe um nome. Porém, o termo Umbanda já era utilizado dentro de uma forma de culto ainda meio dispersa e sem uma organização precisa como vemos hoje.

A mais antiga referência literária e denotativa ao termo Umbanda é de Heli Chaterlain, Contos Populares de Angola, de 1889. Lá aparece a referência à palavra Umbanda.

UMBANDA: Banto - Kimbundo = arte de curar.

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Segundo Heli Chatelain, tem diversas acepções correlatas na África (ref.: Cultura Bantu):

1 - A faculdade, ciência, arte, profissão, negócio:

1a) de curar com medicina natural (remédios) ou sobrenatural (encantos);

1b) de adivinhar o desconhecido pela consulta à sombra dos mortos ou dos gênios, espíritos que não são humanos nem divinos;

1c) de induzir esses espíritos humanos que não são humanos a influenciar os homens e a natureza para o bem ou para o mal;

Com o passar do tempo a Umbanda foi se individualizando e se modificando em relação ao candomblé, ao Catolicismo e ao Espiritismo. Através dos Pretos-Velhos e Caboclos, que guiaram seus "cavalos" (médiuns), a Umbanda foi adquirindo forma e conteúdo próprios e característicos (identidade cultural e religiosa) e que a difencia daquela "Umbanda rudimentar" ou Macumba.

A incorporação de guias também ocorreu em outras religiões como no Candomblé de Caboclos ( desde de 1865 - as primeiras manifestações de Caboclos, Boiadeiros, Marinheiros, Crianças e Pretos-velhos aconteceram dentro do Candomblé de Caboclos ), no Catimbó, no Espiritismo. Em 1908 (outros relatos dizem 1920), na Federação Espírita, em Niterói, um jovem de 17 anos, Zélio Fernandino de Moraes, foi convidado a participar da Mesa Espírita. Ao serem iniciados os trabalhos, manifesta-ram-se em Zélio espíritos que diziam ser de índio e escravo. O dirigente da Mesa pediu que se retirassem, por acreditar que não passavam de espíritos atrasados (sem doutrina).

As entidades deram seus nomes como Caboclo das Sete encruzilhadas e Pai Antônio. No dia seguinte, as entidades começaram a atender na residência de Zélio todos àqueles que necessitavam, e, posteriormente, fundaram a Tenda espírita Nossa Senhora da Piedade.

Zélio foi o precursor de um "trabalho Umbandista Básico" (voltado à caridade, assistencial, sem cobrança e sem fazer o mal e priorisando o bem), uma forma "básica de culto" (muito simples), mas aberta à junção das formas já existentes (ao próprio Candomblé nos cultos Nagôs e Bantos, que deram origem às Umbandas mais africanas - Umbanda Omoloko, Umbanda de pretos-velhos-; ou aquelas formas mais vinculadas ao espiritismo - Umbanda Branca-; ou aquelas formas oriundas da Pajelança do índio brasileiro - Umbanda de Caboclo -; ou mesmo formas mescladas com o esoterismo de Papus - Gérard Anaclet Vincent Encausse -, esoterismo teosófico de Madame Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), de Joseph Alexandre Saint-Yves d´Alveydre - Umbanda Esotérica, Umbanda Iniciática, entre outras) que foram se mesclando e originando diversas correntes ou ramificações da Umbanda com suas próprias doutrinas, ritos, preceitos, cultura e características próprias dentro ou inerentes à prática de seus fundamentos.

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Hoje temos várias ramificações da Umbanda (Linhas Doutrinárias) que guardam raízes muito fortes das bases iniciais, e outras, que se absorveram características de outras religiões, mas que mantém a mesma essência nos objetivos de prestar a caridade, com humildade, respeito e fé.

Alguns exemplos dessas ramificações são:

• Umbanda Popular - Que era praticada antes de Zélio e conhecida como Macumbas ou Candomblés de Caboclos; onde podemos encontrar um forte sincretismo - Santos Católicos associados aos Orixas Africanos;

• Umbanda tradicional - Oriunda de Zélio Fernandino de Moraes;

• Umbanda Branca e/ou de Mesa - Com um cunho espírita - "kardecista" - muito expressivo. Nesse tipo de Umbanda, em grande parte, não encontramos elementos Africanos - Orixás -, nem o trabalho dos Exus e Pomba-giras, ou a utilização de elementos como atabaques, fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinaria se prende mais ao trabalho de guias como caboclos, pretos-velhos e crianças. Também podemos encontrar a utilização de livros espíritas como fonte doutrinária;

• Umbanda Omolokô - Trazida da África pelo Tatá Trancredo da Silva Pinto. Onde encontramos um misto entre o culto dos Orixás e o trabalho direcionado dos Guias;

• Umbanda Traçada ou Umbandomblé - Onde existe uma diferenciação entre Umbanda e Candomblé, mas o mesmo sacerdote ora vira para a Umbanda, ora vira para o candomblé em sessoes diferenciadas. Não é feito tudo ao mesmo tempo. As sessões são feitas em dias e horários diferentes;

• --200.103.116.18 23:06, 28 Agosto 2005 (UTC)

• Umbanda Esotérica - É diferenciada entre alguns segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e o W. W. da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a Aumbhandan: "conjunto de leis divinas";

• Umbanda Iniciática - É derivada da Umbanda Esotérica e foi fundamentada pelo Mestre Rivas Neto (Escola de Síntese conduzida por Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência doutrinária (sete ritos), e o alcance do Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese. Existe uma grande influência Oriental, principalmente em termos de mantras indianos e utilização do sanscrito;

• Umbanda de Caboclo - influência do cultura indígina brasileira com seu foco principal nos guias conhecidos como "Caboclos";

• Umbanda de pretos-velhos - influência da cultura Africana, onde podemos encontrar elementos sincréticos, o culto aos Orixás, e onde o comando e feito pelos pretos-velhos;

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Outras formas existem, mas não têm uma denominação apropriada. Se diferen-ciam das outras formas de Umbanda por diversos aspectos peculiares, mas que ainda não foram classificadas com um adjetivo apropriado para ser colocado depois da palavra Umbanda.

Os Fundamentos

A Umbanda se fundamenta nos seguintes conceitos:

Um Deus único e superior Zâmbi, Olorum ou simplesmente Deus - Em sua benevolên-cia e em sua força emanada através dos Orixás e dos Guias, auxiliando os homens em sua caminhada para a elevação espiritual e social.

Os Orixás

Os Orixás não são Deuses como muitas pessoas podem conceber como em outras religiões, mas sim Divindades criadas por um único Deus: Olorun (dentro da corrente Nagô) ou Zambi (dentro da corrente Bantu).

Na Umbanda Esotérica e Iniciática temos a seguinte interpretação:

Os Orixás são vibrações de Deus, vem Dele, mas não são Ele, são princípios irradiados da Suprema Inteligência, regem a Criação e a Evolução em todo o Cosmos. Sete são as vibrações, que imprime na natureza um ritmo setenário que pode ser visto nas cores, no som, nas formas, nos seres e em todos os elementos da natureza . São os Sete Espíritos de Deus, e os termos que o definem são os seguintes: ORIXALÁ, OGUM, YEMANJÁ, XANGÔ, OXOSI, YORI e YORIMÁ.

Na Umbanda (de uma maneira geral, pois existem variações referentes às diversas ramificações existentes), os Orixás são cultuados como divindades de um plano astral superior, ARUANDA, que na Terra representam às forças da natureza (muitas vezes confunde-se a força da natureza com o próprio Orixá):

Oxum as águas doces; Iemanjá as águas salgadas; Iansã os ventos, chuvas fortes, os relâmpagos; Xangô a força do trovão e o fogo provocado pelos relâmpagos etc.

A cada Orixá está associada uma personalidade e um comportamento diante do mundo e com seus filhos, os quais são seus protegidos e uma parte das emanações do Orixá presentes no Orí ou Camatuê (Camatua) desses filhos.

Orixá, dentro do culto Umbandista (de uma maneira geral) não são incorporados (não se incorpora o fogo de Xangô, os ventos de Iansã, as águas doces de Oxum). O que se vê dentro dos vários terreiros, centros, tendas etc, são os Falangeiros dos Orixás (ou também conhecidos como encantados); ou seja, espíritos (não reencarna-cionais) de grande luz espiritual que vêm trabalhar sob as Ordens de um determinado Orixá; de outro lado existem os capangueiros de

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Orixás que são Caboclos que trabalham em nome dos Orixás, como: Caboclo Ogum Beira-Mar, Caboclo Ogum Yara, etc. Em algumas casas existe uma confusão entre o que é o Orixá e o que é capangueiro, conundindo os capangueiros com os Orixás.

Existe a compreensão do trabalho dos Orixás na Umbanda em suas diversas Linhas Doutrinárias. Variando a forma como esse trabalho é feito e os Orixás que as compôem. Em algumas Linhas doutrinárias existe a crença em Sete Linhas de

Trabalho com os Orixás que seriam:

Concepções da Linha Doutrinária de Umbanda Popular:

Tipo I

▪ Linha de Oxalá ou Obatalá

▪ Linha de Ogum

▪ Linha de Yemanjá

▪ Linha de Xangô

▪ Linha de Oxossi

▪ Linha de Africana

▪ Linha de Oriental

Tipo II

▪ Linha de Oxalá ou Obatalá

▪ Linha de Ogum

▪ Linha de Oxum

▪ Linha de Xangô

▪ Linha de Oxossi

▪ Linha das Almas

▪ Linha de Obaluayê

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Tipo III

▪ Linha de Oxalá ou Obatalá

▪ Linha de Ogum

▪ Linha das Águas

▪ Linha de Xangô

▪ Linha de Oxossi

▪ Linha de São Cipriano

▪ Linha de Oriente

Seguindo a determinação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, os Orixás de Umbanda são:

• Oxalá

• Xangô

• Ogum

• Oxóssi

• Yemanjá

• Iansã

• Exú

Dentro do seguimento da Doutrina da Umbanda Esotérica, temos:

A partir da Vibração Original, cada Orixá expande-se para sete, e cada um dos sete para mais sete, num descenso vibratório setenário até chegar ao nosso plano de existência física, procedendo-se desta forma uma adaptação das forças divinas a nossa capacidade de absorver e suportar Sua irradiação.

• Linha de Orixalá

• Linha de Ogum

• Linha de Yemanjá

• Linha de Xangô

• Linha de Oxossi

• Linha de Yori*

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• Linha de Yorimá*

Na Umbanda Popular e em outras formas, os Orixás foram associados com santos católicos, como:

• Olorun ou Zambi (Deus/Adonai)

• Oxalá (Jesus Cristo)

• Yemanjá (Nossa Senhora da Glória)

• Ogum (São Jorge)

• Oxum (Nossa Senhora da Conceição)

• Xangô (São Jerônimo)

• Yansã (Santa Bárbara)

• Oxóssi (São Sebastião)

• Ibeiji (São Cosme e São Damião)

• Exu (Santo Antônio)

Obs.: * Yori e Yorimá são referências, respectivamente, ás Crianças e aos Pretos-Velhos. São termos lingüísticos próprios, oriundos, da Umbanda Esotérica, não encontrando similar lingüísticos no Yorubá, no Banto ou no Sânscrito. Também não existe correlação dentro do Culto Africano dos Orixás, ou seja, em África não existem os Orixás Yori e Yorimá.

Os Guias

Espíritos de Luz e plenitude que vêm à Terra para ensinar e ajudar todas as pessoas, encarnadas e desencarnadas.

Guias: Pretos-Velhos, Caboclos, Marinheiros, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Orientais, Exus ...

Os Espíritos (generalização)

Seres desencarnados que atuam de várias maneiras no mundo em que vivemos: maneiras positivas (são os Guias da Umbanda; os espíritos de Luz do Espiritismo - Kardecismo). Maneira negativa: espíritos maléficos ou perdidos (os Kiumbas - nome dado na Umbanda); obsessores

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ou espiritos sem Luz (nome dado no Espiritismo). Para estes espíritos maléficos também damos o nome de EGUNS.

A Reencarnação

Ato natural do cliclo de vida (vida - morte - renascimento); aperfeiçoamento do espírito e do proprío homem.

Consiste na crença de que várias existências são necessárias para se chegar ao equilíbrio evolutivo e aos diversos planos da espiritualidade.

A origem dessa crença é indiana e penetrou em várias religiões ao longo dos séculos: Religiões Hindus, Budismo, Umbanda, Candomblé, Espiritismo etc

O Kharma

Lei reencarnatória a qual todos estamos subordinados que dita a forma e os meios pelos quais será dado o retorno a um corpo material afim de resgatarmos nosso erros (de existências passadas) e fazer cumprir boas ações (na existência futura).

O Kharma, por vêzes, ultrapassa as barreiras temporais da materialidade fazendo com que o espírito cumpra sua passagem pela Terra não reencarnando, mas sim, como um Guia (Preto-Velho, Caboclo, etc; no caso da Umbanda). O qual tem como comprometimento, missão ou provação guiar e ajudar os seres humanos e outros espíritos.

Exemplo em termos genéricos do Kharma:

Uma pessoa A que por pura ganância e egoísmo prejudicou a vida de B colocando-a na sarjeta e levando-a a cometer atos espúrios e em conseqüência a morte, sendo que B morreu nutrindo um ódio muito grande por A que a prejudicou.

O Kharma que A poderia ter seria vir (reencarnar) como mãe de B. E B, por sua vez, poderia aceitar um Kharma de vir como filho deficiente de A, para que ambas pudessem cumprir seus Kharmas e evoluir e aprenderem juntas o sentido da solidariedade e do amor.

O Dharma

De várias modos os Umbandistas, em geral, vêem o Dharma embutido dentro do Kharma e, por vêzes, fazem referências ao Dharma em formas de Kharma e vice-versa. Por isso, eu preferi fazer a referência ao Dharma em separado, mas resaltando que não há o Dharma sem o Kharma, mas que ambos têm seu próprio significado.

Lei de conduta na qual o espírito já encarnado, ou não, tangem sua existência, afim de cumprir seus Kharmas. Quando há a quebra do Dharma ou sua deturpação caímos em novos Kharmas.

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Exemplo genêrico do Dharma:

Utilizando o exemplo acima, teríamos como Dharma de A o cuidado materno que ele teria que dar a B como seu filho, o comprometimento e a atenção.

Já o Dharma de B seria o respeito, a atenção e o carinho que ele teria que dar a A como sua mãe.

A Mediunidade

É a qualidade que algumas pessoas têm para poder interagir com os Espíritos (mortos).

Essa interação pode ser vista como um instrumento; quando essas pessoas se dão como meio para a ação dos Espíritos (Espíritos no Espiritismo; Guias na Umbanda). em que o médium podera interagir com os Espíritos pela incorporação, pela psicografia, pela visão, pela audição e por outros meios. Mas pode ser vista como um incômodo, um desconforto e como um infortúneo, quando a pessoa é de uma religião em que essa qualidade não é bem vista, ou sendo uma forma "diabólica" de ação de seres demoníacos.

A PES (Percepção Extra Sensorial) não é mediunidade, pois, para assim o ser, deverá haver intereção da pessoa com os Espíritos. A PES também é uma qualidade, uma qualidade psíquica, que só pode ser considerada mediunidade se houver interação com os Espíritos, caso contrário, a pessoa é apenas um paranormal. Por exemplo:

Ver ET´s e falar com eles não é mediunidade; Materializar objetos ou os desmaterializá-los não é mediunidade, a não ser, que tenha um Espírito envolvido.

Algumas pessoas dizem que mediunidade é um Dom, um Dom inato, como tocar instrumentos musicias sem conhecimento prévio, ou saber escrever sem ter ido a escola ou coisas parecidas, mas não existe base cientíca para o Dom, só o acreditar, o crer e a fé. E para quem assim sente, é realmente um Dom. Se ele é dado por Deus ou é apenas uma casualidade genética, ainda não sabemos.

O Caminho

Os Umbandistas crêem na caridade, no amor e na fé, como os elementos básicos na evolução espiritual e material do Homem em seus vários estágios no Ciclo da vida.

A relação do Kharma e do Dharma na caminhada espiritual pode direta os indireta, pois cada um está sujeito a reveses do kharma, mas também têm suas próprias escolhes diante desses kharmas.

A Umbanda não discrimina nenhuma religião, visto que todas, desde que alicersadas pelas mão divinas (e não por interesses econômicos e/ou mesquinhos e materialistas), são válidas na caminhada ao encontro da fé.

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Cada pessoa, cada ser humano, deve procurar a Religião que mais o complete; com a qual se identifique nos seus fundamentos, preceitos, doutrina e rituais, ou meramente nos aspectos filosóficos e científicos.

Referências

Africanas, Indígenas, Européias e Indianas. A Umbanda é uma junção de elementos Africanos (Orixás e culto aos antepassados), Indígenas (culto aos antepas-sados e elementos da natureza), Brancos (o europeu que trouxe seus Santos e a doutrina cristã que foram siscretizados pelos Negros Africanos) e de uma doutrina Indiana de reencarnação, Kharma e Dharma, associada a concepção de espírito empregada nas três Raças que se fundiram (Negro, Branco e Índio).

A Umbanda prega a existência pacífica e o respeito ao ser humano, a natureza e a Deus. Respeitando todas as manifestações de fé, independentes da religião.

A máxima dentro da Umbanda é "Dê de graça, o que de graça recebestes: com amor, humildade, caridade e fé".

O culto umbandista

A Umbanda tem como lugar de culto o templo, terreiro ou Centro, que é o local onde os Umbandistas se encontram para realização de suas giras, sessões.

O chefe do culto no Centro é o Sacerdote (a Bá, ou Iyalorixá, ou a Diretora de culto, ou Mestra, ou a Mãe de Santo - para o Sacerdote feminino; ou o Babá, Babalorixá, os Diretor de culto, ou o Mestre, ou o Pai de Santo - para o Sacerdote masculino) ] que é quem coordena as sessões/giras e que irá incorporar o guia chefe que comandará a espiritualidade e a materialidade do local dos trabalhos. Normalmente esse guia, que comanda, é um Preto-Velho ou Caboclo (varia de casa para casa, de Linha Doutrinária para Linha Doutrinária).

Os templos onde os "comandantes" são Pretos-Velhos seguem a corrente africana e os que têm os Caboclos como "comandantes" seguem a linha indígena. Mas, isso não é regra e pode variar de templo para templo.

As pessoas que recebem, incorporam entidades dentro dos terreiros, são ditos médiuns, cavalos ou "burros". Pessoas que têm o Dom de incorporar os Orixás e Guias.

"As entidades" que são incorporadas pelos médiuns podem ser divididas entre:

Orixás: Xangô, Ogum, Exu, Oxum, Nanã, Iemanjá, Iansã, Obaluayê, Oxumaré, entre outros.

Guias: Pretos- velhos, Caboclos, Boiadeiros, Crianças, Exus, Marinheiros e Orientais.

Kiumbas, espíritos sem luz: esses, normalmente, são incorporados quando se está fazendo algum descarrego ou quando existe algum obsediado no local.

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As sessões

O culto nos terreiros é dividido em sessões, normalmente de desenvolvimento e de consulta, e essas, são sub-divididas em giras.

Os dias da semana que acontecem as sessões variam de Centro para Centro. No nosso, elas se dão as segundas-feiras e as sextas-feiras.

Nas segundas, são feitas as sessões de consulta com Pretos-Velhos, onde as pessoas conversam com nossas entidades, afim de obter ajuda e conselhos para suas vidas, curas, desobsessões e para resolver problemas espirituais diversos.

As ocorrências mais comuns nestas sessões são o passe e o descarrego. No passe, os Pretos-Velhos, rezam a pessoa energizando-a e retirando toda a parte negativa que nela possa estar. O descarrego, é feito com o auxílio de um médium de descarrego, o qual, irá incorporar o obsessor, ou captar a energia negativa da pessoa. Então, o Preto-Velho faz com que essa energia seja deslocada para o astral. Caso seja um obsessor, o espírito obsediador é retirado e encaminhado para a luz ou para um lugar mais adequado no astral inferior; caso ele não aceite a luz que lhe é dada. Nesses casos pode-se pedir a presença de um ou mais Exus para auxiliar o Preto-Velho.

Nas sextas-feiras, ocorrem as giras de Caboclos, Boiadeiros, Orixás, Marinhei-ros, Pretos-Velhos, Crianças e Exus. Nessas giras são feitos os desenvolvimentos dos médiuns do terreiro. Nelas, são cantados os pontos e tocados os atabaques. As giras de Marinheiros e Exus são festivas, e, além de serem feitos os desenvolvimentos dos médiuns, são realizadas consultas com esses guias. Existem terreiros onde, além dos Pretos-Velhos, Marinheiros e Exus, também os Caboclos e Boiadeiros dão consultas e trabalham com o descarrego e a desobsessão.

Os dias de Consulta e/ou Desenvolvimento podem variar de casa para casa, de Linha Doutrinária para Linha Doutrinária. Normalmente são feitos as segundas-feiras e nas sextas-feiras, mas isso não é regra.

MÉDIUNS

Médium é toda pessoa que têm a qualidade de incorporar espíritos, ou de escutar (audição) espíritos, ou de falar com os espíritos, ou de escrever movido pelos espíritos, ou de ver espíritos, entre outros.

O médium tem como grande responsabilidade na vida ser um instrumento nas mãos dos guias e Orixás. Ele deve ter e seguir em sua vida, os conceitos de elevação moral e espiritual, aprendizagem, respeito 'a hierarquia de sua casa, o respeito aos guias e Orixás, ter assiduidade e compromisso com sua casa, ter caridade em seu coração, amor e fé em sua mente e espírito, e saber que a Umbanda é prática, mas também estudo.

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Para muitos é dado a entender que o médium sofre, mas também se alegra em seu trabalho por estar dando uma parte se sí aos guias e Orixás. Recebendo os benefícios desse trabalha pelo seus méritos e comprometimento, sem nada querer em troca.

Ser médium na concepção maior, não é dor e sim provação. Pode-se dizer que a vida de quem é médium 24 horas por dia, 7 dias na semana, realmente não é fácil, mas não chega a ser castigo, como algumas pessoas entendem, e sim, como se pode dar em benefício do próximo, encarnado ou desencarnado.

Mas, existem médiuns que sofrem muito, realmente sofrem muito: por sua própria culpa, por sua própria ignorância, porque acham que os guias devem-lhes dar de tudo, ou se envaidecem, ou agem de maneira errada e leviana em suas vidas, ou não levam a sério a vida espiritual, ou por ignorância sentem vergonha da forma como se dá a incorporação e "prendem os Guias". Esses médiuns acabam sendo recrimina-dos pelos seus Guias e Orixás, como alguns dizem: "tomando uma surra".

Existem aqueles médiuns que são como "pára-raios" das forças negativas, basta estar uma pessoa muito carregada no terreiro ou passar por perto de alguém que esteja com alguma demanda ou obsessor para começar a passar mal. Mas esses, com o tempo, vão aprendendo a se controlar com a ajuda dos Guias e acabam resolvendo o problema.

O médium deve tangir sua vida como um mensageiro de Deus, dos Orixás e Guias. Ter um comportamento moral e profissional dígnos, ser honesto e íntegro em suas atitudes. Nos dias de hoje, é difícil ser tudo isso, mas vale a pena e pode ser feito.

As pessoas que são médiuns devem levar sempre a sério suas missões e ter muito amor e dar valor ao que fazem, ter sempre boa vontade nos trabalhos de seu terreiro e na vida do dia a dia.

O médium deve tomar, sempre que necessário, os banhos de descarrego adequados aos seus Orixás e Guias, estar pontualmente no terreiro com sua roupa sempre limpa, conversar sempre com o chefe espiritual do terreiro quando estiver com alguma dúvida, problema espiritual ou material.

"Deve deixar, na medida do possível, seus problemas materias sempre do lado de fora do terreiro", ou seja, tentar entrar no terreiro com a cabeça mais arejada e limpa, fazendo com que haja uma divisão entre o material e o espiritual, embora eu saiba que deixar os problemas lá fora seja difícil, mas não é impossível.

O médium deve estar sempre atento as obrigações que ele deve fazer, todos os anos, para seu Orixá de cabeça (Orixá que rege sua vida e sua coroa, mente, do médium). Essa obrigação deve ser passada pelo Guia chefe do terreiro ou pela Babá do Centro.

Outra consideração importante com relação a mediunidade, e, ao terreiro, é que o médium deve abster-se de relações sexuais no dia das sessões. Pois isso, além de enfraquecer a energia psíquica, pode levar a falta de concentração e à dispersão no decorrer das sessões.

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Hino da Umbanda

Refletiu a luz divina

Com todo o seu esplendor

É do reino de Oxalá

Onde há paz e amor

Luz que refletiu na terra

Luz que refletiu no mar

Luz que veio de Aruanda

Para tudo iluminar

A Umbanda é paz e amor

Um mundo cheio de luz

É a força que nos dá vida

É a grandeza nos conduz

Avante filhos de fé

Com a nossa lei não há

Levando ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá

Levando ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá.

Hino da Umbanda.

Autor: J. M. Alves - 1960

Batuque:

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Batuque é uma Religião Afro-brasileira de culto aos Orixás encontrada principalmente no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, de onde se estendeu para os países vizinhos tais como Uruguai e Argentina.

Batuque é fruto de religiões dos povos da Costa da Guiné e da Nigéria, com as nações Jêje, Ijexá, Oyó, Cabinda e Nagô.

História

A estruturação do Batuque no estado do Rio Grande do Sul deu-se no inicio do século XIX, entre os anos de 1833 e 1859 (Correa, 1988 a:69). Tudo indica que os primeiros terreiros foram fundados na região de Rio Grande e Pelotas. Tem-se notícias, em jornais desta região, matérias sobre cultos de origem africana datadas de abril de 1878, (jornal do comércio, Pelotas). Já em Porto Alegre, as noticias relativas ao Batuque, datam da segunda metade do século XIX, quando ocorreu a migração de escravos e ex-escravos da região de pelotas e Rio Grande para Capital.

Os rituais do Batuque seguem fundamentos, principalmente das raízes da nação Ijexá, proveniente da Nigéria, e dá lastro as outras nações como o Jêje do Daomé, hoje Benim, Cabinda (enclave Angolano) e Oyó, também, da região da Nigéria. O Batuque surgiu como diversas religiões afro-brasileiras praticadas no Brasil, tem as suas raízes na África, tendo sido criado e adaptado pelos negros no tempo da escravidão. Um dos principais fundadores do Batuque foi o Príncipe Custódio de Xapanã. O nome batuque era dado pelos brancos, sendo que os negros o chamavam de Pará. É da Junção de todas estas nações que se originou esta cultura conhecida como Batuque, e os nomes mais expressivos da antiguidade, que de uma maneira ou de outra contribuíram para a continuidade dos rituais foram:

• Ijexá — Paulino de Oxalá Efan, Maria Antonia de Assis (Mãe Antonia de Bará), Manoel Matias (Pai Manoelzinho de Xapanã), e Pai Idalino de Ogum entre outros.

• Oyó — Mãe Andrezza Ferreira da Silva, Pai Antoninho da Oxum, Mãe Moça de Oxum e Tim de Ogum, entre outros.

• Jêje — Mãe Chininha de Xangô, Príncipe Custódio de Xapanã, João Correa de Lima (Joãozinho de Bará) responsável pela expansão do Batuque no Uruguai e Argentina.

• Cabinda — Waldemar Antônio dos Santos de Xangô Kamuká; Maria Madalena Aurélio da Silva de Oxum, Palmira Torres de Oxum, Pai Henrique de Oxum, entre outros.

As entidades cultuadas são as mesmas em quase todos terreiros, os assentamentos tem rituais e rezas muito parecidos, as diferenças entre as nações é basicamente em respeito as tradições próprias de cada raiz ancestral, como no preparo de alimentos e oferendas sagradas.

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O Ijexá é atualmente a nação predominante, encontra-se associado aos rituais de todas nações.

Crenças

O batuque é uma religião onde se cultuam vários Orixás, oriundos de várias partes da África, e suas forças estão em parte dentro dos terreiros, onde permanecem seus assentamentos e na maior parte na natureza: rios, lagos, matas, mar, pedreiras, cachoeiras etc., onde também invocamos as vibrações de nossos Orixás.

Todo ser humano nasce sob a influencia de um Orixá, e em sua vida terá as vibrações e a proteção deste Orixá que está naturalmente vinculado e rege seu destino, com características individuais, em que o Orixá exige sua dedicação, onde este poderá ser um simples colaborador nos cultos, ou até mesmo se tornar um Babalorixá ou Iyalorixá.

Orixás

O culto, no Batuque, é feito exclusivamente aos Orixás, sendo o Bará o primeiro a ser homenageado antes de qualquer outro, e encontra-se seu assentamento em todos os terreiros, no Candomblé o chamam de Exú.

Entre os Orixás não há hierarquia, um não é mais importante do que o outro, eles simplesmente se completam cada um com determinadas funções dentro do culto. Os principais Orixás cultuados são: Bará, Ogum, Oiá-Iansã, Xangô, Ibeji (que tem seu ritual ligado ao culto de Xangô e Oxum), Odé, Otim, Oba, Ossain, Xapanã, Oxum, Iemanjá, Oxalá e Orunmilá (ligado ao culto de Oxalá).

E há também divindades que nem todas nações cultuam como: Exú Elegbara, Gama (ligada ao culto de Xapanã), Zína, Zambirá e Xanguín (qualidade rara de Bará) que só os mais antigos tem conhecimentos suficientes para fazer seus rituais.

Templos

No Rio grande do Sul a área de conservação das religiões africanas vai de Viamão à fronteira do Uruguai, com os dois grandes centros de Pelotas e de Porto Alegre.

No batuque, os templos terreiros são quase que em sua totalidade vinculados as casas de moradia. É destinado um cômodo, geralmente na parte da frente da construção onde são colocados os assentamentos dos Orixás. Neste local são feitos todos os fundamentos de matanças e trabalhos determinados, oferendas para os Orixás, e o local é considerado sagrado, pessoas vestidas de preto, mulheres em dias de menstruação não entram. Junto à esta parte da casa, chamada de quarto de Santo ou Peji, há o salão onde são realizadas as festas para os orixás.

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O estado do Rio Grande do Sul foi o maior responsável pela exportação dos rituais africanos para outros países da América do Sul, entre eles Uruguai e Argentina, que também procuram seguir a maneira de cultuar os Orixás; e a construção dos templos seguem exemplos dos seus sacerdotes.

Todos os Orixás são montados com ferramentas, Okutás (pedras) etc. e permanecem dentro da mesma casa, com exceção do Bará Lodê e do Ogum Avagãn, que tem seus assentamentos numa casa separada, ficando à frente do templo onde recebem suas oferendas e sacrifícios. A casa dos Eguns também tem lugar definido, é uma construção separada da casa principal, na parte dos fundos do terreiro, onde são feitos diversos rituais.

Em caso de falecimento do Babalorixá ou Yalorixá, dono do terreiro, fica a crité-rio da família o destino do templo, geralmente não tendo um familiar que possa suceder o morto o templo é fechado. Na maioria dos casos na morte de um sacerdote, todas as obrigações são despachadas num ritual especifico chamado de Erissum (Axexê), por este motivo é muito difícil encontrar ilês com mais de 60 anos, são muito poucos os sacerdotes que destinam seus axés à um sucessor, para dar prosseguimento à raiz.

Rituais

Os rituais são próprios e originais e embora tenha alguma semelhança com o "Xangô de Pernambuco", é muito diferente do Candomblé da Bahia.

Os rituais de Jêje tem suas rezas próprias (fon), e ainda se vê este belo ritual em dois grandes terreiros na cidade de Porto Alegre, as danças são executadas de par, um de frente para o outro. Há também muitas casas que seguem os fundamentos da nação Oyó que se aproxima muito do ijexá, já que, estas duas provem de regiões próximas na Nigéria.

A principal característica do ritual do Batuque é o fato do iniciado não poder saber em hipótese alguma que foi possuído pelo seu Orixa, sob pena de ficar louco.

Cada Babalorixá ou Iyalorixá tem autonomia na prática de seus rituais, não existem nomenclaturas de cargos como tem no Candomblé, exercem plenos poderes em seus ilês. Os filhos de santo se revezam nos cumprimentos das obrigações.

No mínimo uma vez por ano são feitos homenagens com toques para os Orixás, mas as festas grandes são de quatro em quatro anos. Chamamos de festa grande a obrigação que tem ebó, ou seja quando há sacrifícios de animais de quatro patas aos Orixás, cabritos, cabras, carneiros, porcos, ovelhas, acompanhados de aves como galos, galinhas e pombos.

Esta obrigação serve para homenagear o Orixá "dono da casa" e dos filhos que ainda não possuem seu próprio templo. A data é geralmente a mesma que aquele sacerdote teve assentado seu Orixá, a data de sua feitura. As festas têm um ciclo ritual longo, que antigamente duravam 32 dias de obrigações, hoje diante das dificuldades duram no máximo 16. O começo de tudo são as limpezas de corpo e da casa, para descarregar totalmente o ambiente e as pessoas, de toda e qualquer negatividade; em seguida são preparados as

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oferendas e sacrifícios ao Bará. A partir deste momento, os iniciados já ficam confinados ao templo, esquecendo então o cotidiano e passam a viver para os Orixás por inteiro até o final dos rituais. No dia do serão (dia da obrigação de matança), todos Orixás recebem sacrifícios de animais. Os cabritos e aves são preparados com diversos temperos e servidos a todos que participarem dos rituais, tudo é aproveitado, inclusive o couro dos animais, que sevem para fazer os tambores usados nos dias de toques.

No dia da festa o salão é enfeitado com as cores dos Orixás homenageados. A abertura se dá com a chamada (invocação aos Orixás), feita pelo sacerdote em frente ao peji (quarto de santo), usando a sineta (adjá), saudando todos Orixás. Ao som dos tambores, as pessoas formam uma roda de dança em louvor aos Orixás, a cada um com coreografias especiais de acordo com suas características.

No final das cerimônias são distribuídos os mercados, (bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás como: acarajé, axoxó (milho cozido e fatias de coco), farofa de aves, carnes de cabritos (cozidas ou assadas), frutas, fatias de bolos etc.), alguns consomem ali mesmo, outros levam para comer em casa.

Durante a semana são feitos outros rituais de fundamentos para os Orixás, inclusive a matança de peixe, que para os batuqueiros significa fartura e prosperidade, os peixes oferecidos são da qualidade Jundiá e Pintado; estes são trazidos vivos do cais do porto ou do mercado público, onde o comércio de artigos religiosos é intenso.

No sábado seguinte é feito o encerramento das obrigações, com mesa de Ibejes e toque, novamente em homenagem aos Orixás, neste dia são distribuídos mercados com iguarias e o peixe frito, significando a divisão da fartura e prosperidade com os participantes das homenagens aos Orixás. Após o encerramento, o sacerdote leva os filhos que estavam de obrigações ao rio, à igreja, ao mercado público e à casa de alguns sacerdotes, que fazem parte da família religiosa, para baterem cabeça em sinal de respeito e agradecimento; este passeio faz parte do cumprimento dos rituais. Após o passeio todos estão liberados para seguirem normalmente o cotidiano de suas vidas.

Egun

No Batuque também temos a parte dos rituais destinados ao culto dos Eguns. Este é um ritual cheio de magia e segredos onde poucos sacerdotes têm o completo domínio.

A casa dos Eguns (espíritos dos mortos) fica numa construção separada da casa principal, nos fundos do terreno, onde são feitos diversas obrigações em determinadas datas e quando morre alguém ligado ao terreiro; este local é denominado Balê.

Aos Eguns também são oferecidos sacrifícios de animais, e comidas diversas que fazem parte somente deste ritual, não podendo ser usados em outras ocasiões.

Os Eguns, assim como os Orixás, tem suas rezas (cânticos) próprias, feitos na linguagem yorubá, e em dias de obrigações recebem toques ao som de tambores frouxos e sem o

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acompanhamento de agê (instrumento feito com uma cabaça inteira trançada com cordão e contas diversas).

Cada nação tem rituais diferentes para este tipo de obrigação.

Sacerdócio

O babalorixá ou Iyalorixá tem a responsabilidade de formar novos sacerdotes, que darão continuidade aos rituais. Para isto é preciso preparar novos filhos de santo, que durante um certo período de tempo aprenderão todos os rituais para preservação dos cultos.

O sacerdote chefe deve passar aos futuros Pais ou Mães de Santo, todos os segredos referente aos rituais tais como: uso das folhas (folhas sagradas), execução de trabalhos e oferendas, interpretação do jogo de búzios, e até mesmo como preparar um novo sacerdote.

Geralmente o futuro sacerdote já nasce no meio religioso, onde conviverá acompanhando todos os diversos rituais que darão suporte a seus afazeres dentro do culto, e terá pleno conhecimento de todos os tipos de situações que enfrentará em seu futuro templo.

O tempo de aprendizado é longo, não se forma um verdadeiro sacerdote de Orixás com menos de sete anos de feitura, e os ensinamentos são passados de acordo com a evolução da capacidade de aprendizado que o noviço tem, já que os ensinamentos são feitos oralmente, não há livros para ensinar os rituais, a melhor maneira de aprender tudo é conviver desde cedo dentro dos terreiros.

A partir do momento que um noviço se torna um sacerdote de Orixá, terá as mesmas responsabilidades daquele que lhe passou os ensinamentos.

Catimbó:

Catimbó - Magia e misticismo no Nordeste Brasileiro

O Catimbó é uma prática de magia baseada no Cristianismo, onde apóia toda a sua doutrina religiosa. O Catimbó não inventa deuses ou os importa da África porque não faz parte das religiões afro-brasileiras. O Catimbó não é afro, não é Umbanda e muito menos Candomblé.

O Catimbó não é uma religião mas pode ser classificado como uma seita derivada do catolicismo, por mais imprecisa que possa parecer esta definição. Apesar de católico é uma prática espírita porque trabalha com a incorporação de almas de pessoas já falecidas e é neste sentido que se afasta da religião base. O Catimbó se apóia totalmente na religião católica, apesar de guardar um pouco das práticas pagãs, vindas da bruxaria européia.

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Ele pode se parecer um pouco com a Umbanda, mas, nem um pouco com o Candomblé. A semelhança com a Umbanda é devido ao trabalho com entidades incorporadas. Entretanto, os Mestres do Catimbó possuem uma teatralidade de incorporação muito típica e discreta, e o Catimbó esta longe do trabalho de palco da Umbanda. Outra infeliz coincidência é a presença da entidade Zé Pelintra que no Catimbó é dito como mestre e na Umbanda é muito cultuado como Exu e malandro. Catimbó não é Umbanda!

O Catimbó tem uma raiz índia que foi se perdendo com o tempo. Não há dúvida que o Catimbó é xamanista com muita práticas de pajelança, mas, não é baseados em Caboclos e sim em Mestres, apesar de os Caboclos também terem participação. O Catimbó não é muito diferente ou melhor do que estes cultos que citamos, não podemos dizer inclusive que suas entidades sejam de nível superior, pelo contrário, sob o ponto de vista espírita-kardecista são ainda entidades de baixa energia e que guardam muitas referências com a última vida que tiveram em "terra fria".

No Catimbó faz se o bem, através de curas, problemas sentimentais, mas, também o mal, dependendo da cabeça de que o dirige, infelizmente, como em outras práticas. O Catimbó é influenciado pela feitiçaria européia de onde adotou várias práticas.

O Catimbó é uma reunião alegre e festiva quando em sua forma de roda (ou gira), mas, pela falta da corrente doutrinaria formal vários formatos serão encontrados, dependendo da “ ciência”, vidência, maturidade e ética de quem o dirige e realiza, podendo ser práticas bem soturnas.

O Catimbó e as religiões Afro-Brasileiras

O Catimbó não está ligado aos Orixás africanos. No Catimbó trabalham os Mestres, que foram pessoas que viveram e ao morrerem se "encantaram". Geralmente os mestres são ex-Catimbozeiros. O Catimbó não era cultuado na África e o Catimbó não cultua os Orixás das nações, de forma que os Mestres não lhes fazem ou devem obediência hierárquica. É claro que se o consulente ou o discípulo já for do Povo de Santo então existe um enredo, fundamento maior que o Catimbó, que deve ser respeitado devido ao nível espiritual maior dos Orixás.

Catimbó não é umbanda e se desenvolveu de forma paralela e independente. E encontrou a umbanda nos grandes centros e ao receber pessoas que se desenvolveram na Umbanda, estas podem passar a receber suas entidades também no Catimbó, principalmente os Caboclos e Exus de Umbanda. Pelo mesmo processo no qual as pessoas que atuam na Umbanda vão agregando ao seu ritual prática de outros que eles encontram, o Catimbó foi confundido com a Umbanda.

De fato existem algumas similaridades na forma entre um e outro, mas a essência é outra. Considerar o Catimbó uma forma de umbanda, pode ser uma simplificação grosseira ou até mesmo um preconceito. O Catimbó é uma manifestação puramente Brasileira sem a importação de africanismos.

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Mas até certo ponto esta confusão é justificável, ainda mais partindo da base de quem escreve sobre estas manifestações é de grandes centros e nestes locais vai encontrar muitas vezes os mestres misturados com os cablocos e exus de Umbanda.

Mas o Catimbó é bem diferente das religiões afro-brasileiras. Todo o trabalho e a força esta na Fumaça, e nas ervas, sendo o fumo, especialmente preparado, a sua forma primária de trabalho. O Catimbó não "arria" trabalho no chão de a sua magia vai pelo ar, no tempo, junto com sua fumaça. Muitos tem, com razão o que temer do Catimbó, mas, pessoas do bem nunca devem temer a ninguém.

No Catimbó São Pedro é São Pedro e não Xangô. Santo Antônio é Santo Antônio, Santa Terezinha é Santa Terezinha e assim por diante.

O Catimbó cultua ervas, símbolos e santos católicos, mas se tivermos que caracterizar qual é o principal objeto de culto não ha dúvida que são as ervas. O Catimbó tem como principal elemento a árvore da Jurema e todos os Mestres tem um erva de fundamento.

É claro que podem dizer que o Candomblé também é fundamentado em ervas e sem erva não se faz santo, mas, observe que apesar de importante as ervas (Ewé) no Candomblé, estas são um dos elementos que compõe o fundamento de cada Orixá. No Catimbó este é “o elemento” principal.

O Catimbó é o culto à Jurema

O Catimbó é o culto a árvore da Jurema. A jurema é uma árvore que floresce no agreste e na caatinga nordestina. Da casca de seu tronco e de suas raízes faz-se uma bebida mágico sagrada que alimenta e dá força aos “ encantados do outro mundo”.

Acredita-se também que é essa bebida que permite aos homens entrar em contato com o mundo espiritual e os seres que lá residem, mas o Catimbó existe sem que seja necessário fazer ou beber a Jurema, Catimbó não é Santo Daime. Tal árvore é símbolo e núcleo de várias práticas mágico-religiosas de origem ameríndia. De fato, entre os diversos povos indígenas que habitaram o Nordeste, se fazia e em alguns deles ainda se faz o uso ritual desta bebida.

Este culto se difundiu dos sertões e agrestes nordestinos em direção às grandes cidades do litoral, onde elementos das outras matrizes étnicas entraram em cena. Desse modo, o símbolo da árvore que liga o mundo terreno ao além, embora amarga (muito amarga...), dá sapiência aos que dela se alimentam, ganha novos significados, surgindo um mito com traços cristãos. Neste sentido a Jurema surge como a árvore que escondeu a “ sagrada família” dos soldados de Herodes, durante a fuga para o Egito, ganhando desde então suas propriedades mágico religiosas.

Onde Jesus descansou, que dá força e “ ciência”, A jurema é um pau sagrado, ao bom Mestre curador.

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Ainda nessa perspectiva, juntaram-se na constituição desta forma de religiosidade popular outros elementos de origem européia como a magia e o culto aos santos do catolicismo popular.

Apesar de encontrarmos nos pontos de umbanda a referência a jurema é o catimbó que tem a jurema como o centro e principal elemento de seu culto.

O que é afinal o Catimbó

O Mito, o preconceito e o erro na definição

Entre muitos que freqüentam terreiros de Umbanda e Candomblé, Catimbó é sinônimo da prática ou seja da macumba em sí. Para outros, de Umbanda, trabalhar no Catimbó está associado ao uso de forças e energias de esquerda ou negativa. Esta é uma visão equivocada. Qualquer prática mágica pode ser usada com qualquer finalidade, mas, o objetivo do Catimbó é a evolução dos seus Mestres através do bem e da cura. Se o mal é feito, isto pode ocorrer pelo erro do medium ou pela necessidade de justiça a quem pede.

Catimbó é de base religiosa catolica e não afro-brasileiro

O Catimbó é uma prática ritualista mágica com base na religião católica de onde busca os seus santos, óleos, agua benta e outros objetos litúrgicos. É também uma prática espirita que trabalha com a incorporação de espíritos de ex-vivos (eguns ou egunguns) chamados Mestres e é através deles que se trabalha principalmente para cura, mas também para a solução de alguns problemas materiais (como a Umbanda) e amorosos, mas, é importante destacar que a prática da cura é a principal finalidade.

Não se encontra no Catimbó, nas suas práticas e liturgias os elementos das nações africanas de forma que classificar o Catimbós como uma seita afro-brasileira é um erro. Mestres não se subordinam a Orixá e fora o aspecto de que certamente ele é, também, praticado por Negros não existe outra relação direta com a religião africana.

Para aqueles que consideram o Catimbó afro-brasileiro eu apenas pergunto: Onde estão os elementos Afro-brasileiro?

De fato a mitologia e teogonia do Candomblé é rica e complexa, a do Catimbó é pobre e incipiente, seja porque a antiga mitologia indígena perdeu-se na desintegração das tribos primitivas, na passagem da cultura local para a cultura dos brancos, que estavam dispostos a aceitar os ritos, porém não os dogmas pagãos, na sua fidelidade ao catolicismo – seja porque o Catimbó foi, mais, concebido como magia do que como religião propriamente dita, devido sobretudo aos elementos perigosos e temíveis e às perseguições primeiro da igreja e depois da polícia.

Além dos dogmas da religião católica o Catimbó incorpora componentes europeus como o uso do caldeirão e rituais de magia muito próximos das praticas Wiccanas. Tanto dos europeus

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como dos brasileiros o uso de ervas e raízes é básico e fundamental nos rituais. Cada Mestre se especializa em determinada erva ou raiz.

Não existe Catimbó sem santo católico, sem terço, sem agua benta, sem reza, sem fumaça de cachimbo e sem bebida, que pode nem sempre ser a Jurema (como eu disse Catimbó não é o Santo Daime).

Mediunidade e incorporação

Sob o ponto de vista espiritualista a incorporação mediúnica pode ser considerada de baixa energia, no sentido de não ser profunda, mas, não que falte qualidade. Os Mestres são entidades que guardam muito os reflexos, comportamento e personalidade de sua última vida de forma que os torna muito caracterizados e ligados na caracterização física.

O uso de bebida e fumo é comum e difundido, não existe Catimbó sem isso. Entretanto esta ligação fortemente carnal, faz dos Mestres entidades muito alegres, naturais e expontâneos, muito diferentes das entidades fortemente, às vezes grotescamente, teatralizadas da Umbanda.

Não existem Mestres do bem ou do mal. Os Mestres tanto podem trabalhar para o bem como para o mal, diferente a Umbanda que especializa as entidades. Os feitiços do Catimbó são mais temidos do que a Quimbanda, mas, não quero aqui iniciar uma polêmica, porque isso é de importância menor. A magia negra é uma corrruptela da magia e pode ser praticado por qualquer um. Não existe necessidade de se estar na Umbanda ou no Catimbó para se fazer magia negra. Ela existe desde o início dos tempos e está associada a índole de quem a faz. Assim dependo da orientação da casa e do medium os mestres poderão trabalhar para o mal, para a reparação, para a vingança ou para a justiça, como se queira denotar. Quem faz o mal precisa apenas de um motivo ou justificativa qualquer. Mas os Mestres são pau para toda a obra.

Eventualmente a presença no Catimbó de ex-Umbandistas vai trazer com estes as suas entidades de Umbanda que irão trabalhar dentro do Catimbó, mas, isso não faz do Catimbó uma Umbanda, como também não se vai impedir que entidades de Umbanda que já pertençam aos médiuns trabalhem nas rodas de Catimbó. O Catimbó existe sem a Umbanda apesar de como estas ir se incorporando, eventualmente, de entidades e práticas.

É importante compreender que diferente da Umbanda e do Candomblé os Mestres não respondem a Orixás ou falangeiros. A Jurema tem sua própria hierarquia e Mestres respeitam outros Mestres maiores e mais fortes.

Considerar Catimbó uma Umbanda é dar uma conotação preconceituosa, como se tudo o que fosse espiritita fosse Umbanda ou tudo o que envolvesse negros e mulatos ou então gente simples fosse macumba ou afro-brasileiro.

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Dito isto, reafirmo, Catimbó não é Umbanda! Os Umbandistas que fiquem com ela. Também não tem nada haver com o Candomblé. Nunca foi ou será Kardecista. Catimbó é Catimbó!

Finalmente não existe padrão para o Catimbó. Cada um tem o seu.

Origem do Catimbó

O Catimbó é, sem duvida nenhuma, de origem índia. Sem voltar às descrições antigas da pajelança e aos primeiros contatos entre o catolicismo e a religião dos índios, inclusive àqueles fenômenos de “santidade” que conhecemos tão bem através das informações do Tribunal do Santo Ofício, sem tentar traçar a genealogia histórica do Catimbó, encontramos ainda hoje entre o puro índio e o homem do Nordeste toda a gradação que nos conduz pouca a pouco do paganismo do Catimbó.

O Catimbó de hoje é o resultado desta fusão da prática pagã inicial dos índios com o catolicismo sobre o qual construiu a base da “ religião” . É impossível dissociar o Catimbó do catolicismo e de outras tradições européias, provavelmente adquiridas dos holandeses, mesmo após as influências que recebeu do Candomblé e do kardecismo.

Podemos considerar que a mesma falta de força étnica que fez com que os índios fossem antropologicamente sobrepujados por outras culturas fez com que o Catimbó perde-se a sua identidade índia original (pajelança) e adquirisse os rituais importados de outras práticas religiosas mais “fortes”. Neste caso contribuiu muito a falta da cultura escrita que fez com que na medida em que os próprios índios eram extintos a prática religiosas Xamanista fosse sendo perdida ou diluída.

Entretanto do Xamanismo original foram preservadas as ervas e raízes nativas como base de todos os trabalhos e na prática da fumigação com fumaça de cachimbos e fumos especialmente preparados o elemento mágico de difusão.

Para o índio, o fumo é a planta sagrada e é a sua fumaça que cura as doenças, proporcionando e êxtase, dá poderes sobrenaturais, põe o pajé em comunicação com os espíritos.

Os primeiro elementos do Catimbó que devemos lembrar é o uso da defumação para curar doenças, o emprego do fumo para entrar em estado de transe, a idéia do mundo dos espíritos entre os quais a alma viaja durante o êxtase, onde há casa e cidades análogas às nossas. A grande diferença é que a fumaça na pajelança é absorvida, enquanto no Catimbó ela é expelida. O poder intoxicante do fumo é substituído aqui pela ação da jurema.

O Catimbó se desenvolveu diferentemente no interior e no litoral, nas capitais. As influências de outras práticas religiosas mais fortes em cada um deste locais acabam determinando o formato do Catimbó. Podemos dizer que quanto mais para o interior mais simples ele será devido a menor influência das religiões africanas.

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Catimbó não é macumba nem candomblé

No Catimbó não há promessas, votos, unidade do protocolo sagrado. É um consultório tendendo, cada vez mais, para a simplificação ritual. Não há festas votivas, não há corpo de filhos-de-santo para louvor divino dos Orixás nem preparação obediente de laôs.

De instrumentos musicais resta a marca-Mestre, cabacinha na ponta de uma vareta, com que o Mestre divide o compasso das linhas. Contudo os Catimbós absorveram facilmente os atabaques da umbanda trazendo o seu ritmo e musicalidade. Não há cores formais, vestidos , contas (apesar de existirem fios-de-conta de Catimbó, feitos com a cabaça e lágrimas de Nossa Senhora), enfeites especiais nem alimentos privativos, fetiches de representação.

Catimbó não é Macumba nem Candomblé, permanece isolado, diverso, distinto. No Catimbó, os que acostam são catimbozeiros falecidos. Não há um só Mestre que não tenha vivido na Terra. Nas Macumbas e Candomblés passa o sopro alucinante das potestades africanas, deuses nascidos misteriosamente, com poderes espantosos.

No Catimbó não se louvam orixás africanos e raro são trabalhos de chão. As coisas no Catimbó são simples e baratas feitas para serem acessíveis à população que o Catimbó serve. O Catimbó se serve de uma vela, fitas, cascas, folhas, fumo e bebida para realizar os seus trabalhos. Normalmente as coisas são resolvidas na própria roda de Catimbó.

Os caboclos podem ser vistos no Catimbó, mas, não são eles a base ou o objetivo principal. Catimbó trabalha através de Mestres.

Como já citado o fato de entidades típicas de Umbanda aparecerem no Catimbó devido a origem do mediuns e ao fato de existir uma entidade comum chamada de Zé Pelintra faz com que se imagine que Catimbó seja uma forma de Umbanda no Nordeste. Como é explicado neste sítio, não é. Muito se tem pesquisado sobre a origem do Zé Pelintra da Umbanda no Catimbó, uma vez que esta é uma entidade urbana que nada tem com a origem dos mestres.

Tudo no Catimbó se faz com a linha de licença, onde se fala, sisudamente: “Com o poder de Jesus Cristo, vamos trabalhar”. Das centenas canções recolhidas no arquivos catimbozeiro, nenhuma alude a um encantado e infalivelmente a Deus, Santíssima Trindade, Santos, às almas. Só encontrei duas que se dirigiam às estrelas e ao sol. O espírito é religioso, formalístico, disciplinado, respeitoso da hierarquia celestial. Ninguém numa Macumba ou terreiro de Candomblé, admite licença de Jesus Cristo para Xangô, nem santo católico atende ao chamamento insistente dos tambores.

Catimbó não tem Exu e não tem Orixá sincretizado em Santo. No Catimbó Santo é Santo e Mestre é Mestre. Mestre trabalha na direita e a esquerda, faz e desfaz

Liturgias do Catimbó

Abertura de trabalhos

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A abertura da mesa é uma liturgia simples, mas significativa e bonita. Lidamos com uma pratica ritual pouco elaborada de forma que algumas poucas coisas podem ser destacadas como de beleza própria.

A abertura de mesa deve ser um ritual importante e solene. É claro que cada jurema é uma jurema e cada um pode ter sua forma de trabalhar com o mundo espiritual, mas a solenidade da abertura da mesas é sempre tocante.

Deve-se louvar o nosso senhor Jesus Cristo, pedindo licença para abrir a mesa e exaltando a força da Jurema. Podem ser recitadas preces como a de Cáritas e entoados cantos de abertura como o seguinte:

Bate asa e canta o galo dizendo cristo nasceu cantão os anjos nas alturas Rei nuino Gloria no céus se deu.

Gloria nos céu se deu nas portas do Juremá abre e de licença Santa Tereza para os mestres trabalhar.

Oh minha Santa Tereza pelo amor de meu Jesus abre a mesa e de licença Santa Tereza pelo irmão João da Cruz

Por deus eu te chamo por Deus eu mandei chamar [ mestre tal ] da Jurema para vir trabalhar. Depois disso inicia-se as cantigas em roda, sempre alegres e animadas e os mestres virão um a um se acostar para trabalhar.

Iniciação

A iniciação no Catimbó se faz com rituais simples porém com muita significação. O primeiro ritual que passa um discípulo é a jura no qual ele deve se confirmar como um discípulo da Jurema. Com o passar do tempo e sua evolução ele irá receber o seu cachimbo que será consagrado por um Mestre. Será através deste cachimbo que ele fará os seus trabalhos. Finalmente após alguns anos ele deverá realizar o tombo onde se confirmará como um Mestre em vida do Catimbó.

Tombo

O tombo de jurema constitui-se no processo pelo qual muitos dos Mestres que hoje estão no mundo espiritual passaram para ganhar ciência. Tombam no pé da jurema e ao acordar estão prontos para trabalhar. Foi o caso do Mestre Carlos, famoso por seu dom de cura nas mesas de jurema de todo o Nordeste.

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Contudo nos terreiros o rito foi tornado bem mais complexo que sua referência mística. O tombamento consiste então no oferecimento de alimentos e sacrifícios às correntes espirituais do iniciante. Nele comem o caboclo, o Mestre, a mestra, o exu e a pombagira do iniciante. Acontece ainda a juremação com a implantação da semente através do corte na pele e a viagem espiritual. A viagem deve acontecer no período que se intercala entre a oferta dos sacrifícios ao caboclo e a preparação das comidas oferecidas em banquete ritual. Ainda durante o sacrifício o iniciante é levado durante o transe para correr as cidades espirituais. O interessante e singular neste transe é que os adeptos acreditam que enquanto a pessoa é levada para realizar a viagem espiritual, o caboclo permanece no corpo do iniciante.

Concluído o sacrifício passa-se à preparação das carnes dos animais e à partição das frutas e alimentos oferecidos aos encantados. O caboclo é alimentado com uma pequena porção de tudo que foi oferecido. Findo o banquete, o caboclo é então mandado de volta a sua cidade e o filho deverá contar ao seu iniciador o que viu. Se a viagem for considerada válida seguem-se os sacrifícios às demais entidades: o Mestre, a mestra, o exu e a pombagira.

No dia posterior, em animada festa o caboclo vestido a caráter deverá como na iniciação do candomblé gritar o seu nome e também cantar a sua toada (cantiga). O iniciante também poderá vestir as demais entidades quem deu de comer. A riqueza deste ritual completa está intrinsecamente ligada às condições financeiras do iniciante. Sem dúvida este ritual segue o formato do Candomblé.

Juremação

Muitos juremeiros dizem que “um bom Mestre ja nasce feito”; contudo, alguns ritos são utilizados para fortificar as correntes e dar mais conhecimento mágico-espiritual aos discípulos. O ritual mais simples, porém de muita ciência, é o conhecido como juremação, implantação da semente ou ciência da jurema. Este ritual consiste em plantar no corpo do discípulo, por baixo de sua pele, uma semente da arvore sagrada.

Existem 3 procedimentos para a juremação dos discípulos. No primeiro, o próprio Mestre espiritual é o responsável pela implantação da semente. Esse Mestre promete ao discípulo e após algum tempo, misteriosamente, surge a semente em uma parte qualquer do corpo. O segundo procedimento é aquele em que o líder religioso, o juremeiro, realiza um ritual especial, em que dá a seus afilhados a semente e a bebida de jurema para beber. Após este rito, o iniciante deve abster-se de relações sexuais por sete dias consecutivos, período em que todas as noites ele devrá ser levado em sonhos, por seus guias espirituais, para conhecer as cidades e aldeias onde aqueles residem. Ao final deste período, a semente ingerida deverá reaparecer embaixo de sua pele. Caberá ainda ao iniciante contar ao seu iniciador o que viu em sonho para que este reconheça ou não a validade de viagens espirituais e por conseguinte da juremação. Em um terceiro procedimento o juremeiro implanta a semente da jurema através de um corte realizado na pelo do braço. piru

Mestres do Catimbó

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Quem são os mestres do Catimbó

O termo Mestre é de origem portuguesa, onde tinha o sentido tradicional de médico, ou segundo Câmara Cascudo, de feiticeiro. Este é o primeiro elemento de ligação do Catimbó com tradições européias, provavelmente cabalistas e mostra também nestes 2 significados a expressão semântica do trabalho do Mestre, a cura e a magia.

De forma geral os Mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça, que em suma é a característica dos habitantes das regiões onde o Catimbó floresce, mas que não deve ser tratado como um dogma. Dizem os juremeiros que os Mestres foram pessoas que quando em vida trabalharam nas lavouras e possuíam conhecimentos de ervas e plantas curativas Po outro lado algo trágico teria acontecido e eles teriam se passado, isto é, morrido, encantando-se, podendo assim voltar a acudir os que ficaram “ neste vale de lágrimas”.

Não existe Mestre do bem ou do mal. O Mestre é uma entidade que pode fazer o bem ou o mal de acordo com a sua conveniência, a ordem da casa e a ocasião.

A função dos Mestres e do Catimbó

Nesta generalização podemos entender muito bem o como e porque do culto do Catimbó. Em uma região dominada pela pobreza e falta de assistência a população carece de assistência médica sendo a doença um temor presente e terrível. Neste sentido os Mestres se apresentam como enviados para socorrer e aliviar o sofrimento dos desasistidos oferecendo a tradição da medicina fitoterápica, herdade dos índios para assistir a população. Por outro lado em regiões de pessoas simples mas que são submetidas a poderosos, violentos e jagunços onde falta a justiça do homem e a única proteção que todos podem contar é a misericórdia divina, os Mestres são como anjos vingadores que, apesar de ainda fortemente influenciados por suas manias e imperfeições humanas, se colocam assim mesmo como protetores e defensores de gente desasistida.

Desta maneira podemos entender que os caminhos de Deus são inúmeros e que a espiritualidade se manifesta da forma como é necessária para garantir uma vida justa e decente aos habitantes desta terra fria. É neste contexto que o Catimbó se insere, absorvendo a tradição religiosa de gente simples e adicionando a esta base espiritual fortemente calçada em princípios de ética, bondade e misericórdia do cristianismo a necessidade do dias a dia introduzindo os ritos mágicos de trabalho e o trabalho dos espíritos acostados.

Mestres são entidades alegres, brincalhonas que guardam muito do comporta-mento de vida. Eles trabalham nas seções com simplicidade, conversando com as pessoas na língua que todos falam deixando todos à vontade. Eles não tem que se parecer pomposos ou importantes e vão sempre deixar todos muito à vontade. Suas cantigas são alegres e suas danças iguais as que todos dançam.

Seria muito mais difícil se o Catimbó trouxesse uma doutrina religiosa própria. Na realidade seria até mesmo impróprio ou desnecessário. Trata-se de gente muito simples que aprendeu e

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passou a vida toda aprendendo so conceitos e ensinamentos católicos estando possivelmente muito acostumados e doutrinados nesta verdadeira fé.

Os próprios Mestres que foram seres humanos provavelmente passaram a vida mergulhados nesta fé de maneira que não ha necessidade de substituir esta catequese por novos conceitos para suprir a mesma finalidade, de forma que diferente das religiões afro que impõe uma nova teogonia que tanta confusão causa nas cabeças mais fracas ou humildes que por vezes passam a vida em terreiros se entender de verdade o que fazem ficando a vida toda dependente de outros (o que provavelmente pode ser a finalidade de alguns ).

Pior ainda na Umbanda que pena pela total desordem em função de ser uma prática que facilmente agrega qualquer tendência mística e espírita fazendo uma mistura inexplicável de pratica religiosa e mágica. A Umbanda se comporta como um consumidor curioso em um supermercado que vai passando pelas gondolas e colocando em seu carrinho as novidades e os produtos de embalagem mais bonita.

Já o Catimbó, que não tem a pompa das religiões africanas ou a teatralidade das entidades de Umbanda se apresenta com a doutrina Católica fortemente apoiada pelos Santos de devoção e seus Mestres se apresentam com simplicidade.

Como estamos fazendo comparações com as religiões e doutrinas africanas é importante observar que os Mestres não trabalham subordinados aos Orixás de umbanda ou das nações Nagô. Diferente dos falangeiros da Umbanda, que não são os Orixás das nações, (apesar de os Umbandistas mal informados assim os considera-rem, seja porque são ignorantes no assunto ou seja porque esta comparação errada lhes é conveniente), que são subordinados a linhas, os Mestres respondem ao Mestre principal da casa. Não tem também a obrigação de pertencer a uma “cabeça” ou “coroa”. Eles podem estar e depois não estar mais.

Para as pessoas que trabalham no Catimbó e são de nação ou de Umbanda os Mestres vão respeitar os Orixás ou guias devido a energia maior destes, mas não por subordinação. Devemos atentar para o fato de que pela própria característica de os Mestres serem ex-viventes (os chamados Eguns da nação) ele se incorporam nos médiuns com uma energia mais fraca. Os espíritas tem uma classificação para este tipo de incorporação de baixa energia.Não que isto prejudique o medium ou os torne inferiores, mas, é apenas uma constatação real e característica dos Mestres.

Mestres e o Catimbó

No panteão juremista existem vários Mestres e mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos diversos campos da existência humana (cura de doenças, trabalho, amor...). Há ainda aqueles responsáveis por fazer trabalhos contra os inimigos. Nas mesas e rodas as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas, geralmente possuindo o “estado completo” e a jurema plantada; em especial a do Mestre da casa, aquele que incorpora o juremeiro, faz consultas e inicia os afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso este Mestre é carinhosamente chamado de “meu padrinho”

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Aliás esta característica de independência dos Mestres é que os tornam muito eficazes e temidos. São entidades que trabalham com magia direita e esquerda e não estão contidos por critérios ligados a Orixás

Não que os Mestres sejam desprovidos de justiça e bon senso, ou mesmo superiores a outras entidades e Orixás, mas o seu trabalho não depende de hierarquias complexas de serem atendidas.

Os Mestres são guias, orixás sem culto, acostando espontaneamente ou invocados para servir. Cada um possui fisionomia própria, gestos, vozes, manias e predileções. Sâo muito ligados a sua última vida e às coisas terrenas por isso fazem questão de algumas peças de indumentária, mas, não tem a teatralidade exagerada das entidades de umbanda. A fisionomia é uma forma muito característica de se reconhecer um Mestre. Com um pouco de experiência pode-se reconhecer um Mestre pelos ademanes, trejeitos, posição das mãos, da boca e forma de andar.

Cada Mestre tem sua linha, um canto ou cantiga, de melodia simples. Há Mestres que não tem linha, como Mestre Antonio Tirano e Malunginho, ambos ferozes. Essa linha era cantada como uma invocação ao Mestre. Sem canto não ha encanto. Todo feitiço é feito musicalmente. Alinha é o anuncio e o pregão característico do Mestre.

Cada Mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de ciência (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados à fauna nordestina. Para os Mestres relacionados a uma planta que não a jurema, são estas plantas que têm seus troncos plantados nas mesas dos discípulos.

Por exemplo, a cidade do Mestre angico deve ser plantada em um tronco da arvore do mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em troncos de imburana de cheiro. No caso dos Mestres que têm relação com vegetais, são daquelas espécies que tiram a força e a ciência para trabalhar. Os que têm relação com animais, acredita-se que eles possam encantar-se em animais das espécies referidas, aparecendo em sonhos, visagens e, muitas vezes, assim metamorfoseados quando incorporados em seus discípulos.

Como oferendas, os Mestres recebem a cachaça, o fumo – seja nos charutos ou cachimbos -, alimentos próprios de cada um e a jurema, bebida feita com o sumo vermelho retirado da casca e da raiz da jurema e que pode receber outras ervas e componentes (cachaça, melado, canela, gengibre e outras à gosto).

Nos terreiros que sofreram maior influência dos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios de galos vermelhos, bodes e muitas vezes de novilhos, mas isto é uma deturpação do culto da jurema que por suas origens indígenas (caboclos) e católicas não tem a tradição ou necessidade de sacrifícios em suas liturgias. Não que isto seja errado ou negativo, mas apenas que não faz parte de suas bases sendo mais um fenômeno de Umbandização.

O símbolo dos Mestres masculinos pe o cachimbo ou marca, cujo poder está na fumaça que tanto mata como cura, dependendo se a fumaçada é às esquerdas ou às direitas. Essa relação

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com a magia da fumaça está expressa nos assentamentos dos Mestres, em que, sempre encontram-se presentes “rodias” de fumo de rolo e cachimbos, e nas toadas:

Setenta anos, passei dentro da jurema, discípulo não tenha pena de quem algum dia lhe fez mal quando eu me zango toco fogo em um rochedo meu cachimbo é um segredo que eu vou mandar pra lá.

Quando em terra, incorporados, os Mestres já chegam embriagados, tombando de lado a lado e falando embolado. São brincalhões chamam palavrões, mas o que falam é respeitado por todos.

Quanto às mestras, reconhecem-se seus assentamentos pela presença de leques, bijuterias, piteiras, cigarros e cigarrilhas. Como no caso dos Mestres, existe uma infinidade destas entidades, com atributos e especialidades nas questões mundanas e espirituais. Algumas casas fazem um distinção entre as mestras que trabalham nas esquerdas e nas direitas. Nesta última categoria, encontram-se mestras como Gertrudes e Lorinda, ambas parteiras na vida material, que hoje ajudam as mulheres a darem a luz mais um ser vivente.

Algumas mestras morreram virgens, por isso ganharam o estatuto de princesas quando ingressaram nas moradas d além. Vale lembrar os nomes de algumas princesas como a Mestre marianinha a princesa catarina e a princesa rosa vermelha.

As mais comuns são as chamadas mestras das esquerdas, entidades que na vida material foram mulheres de vida fácil; mulheres das ruas e dos cabarés nordestinos. Tais mestras são peritas nos assuntos do coração, são elas que dão conselhos às moças e aos rapazes que queiram casar-se, que realizam as amarrações amorosas, que fazem e desfazem casamentos.

Muito vaidosas, quando incorporadas elas travestem os seus discípulos de forma a melhor aclimatar a matéria as performances femininas. Quando entre seus afilhados e discípulos no mundo material, bebem cerveja, cidra e espumantes, embora não rejeitem outras bebidas que se lhes ofereçam. Gostam de comer peixe assado que é depositado em suas princesas para lhes dar força para trabalhar.

O mestre é uma sobrevivência do feiticeiro europeu e não um colega do babalorixá, babalaô, ou pai-de-terreiro banto ou sudanês. Catimbó não é sinônimo de Candomblé, Macumba, Xangô, grupo de Umbanda, Casa de Mina, Tambor de crioulo.

É uma presença da velha feitiçaria, deturpada, diluída, misturada, bastarda, mas reconhecível e perfeitamente identificável. A Discoteca Pública de São Paulo publicou extensa e preciosa documentação colhida no Nordeste e Norte do Brasil. Catimbó, São Paulo, 1949.

Culto aos Egungun:

Culto aos Egungun é uma das mais importantes instituições, tem por finalidade preservar e assegurar a continuidade do processo civilizatório africano no Brasil, é o culto aos ancestrais

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masculinos, originário de Oyo, capital do império Nagô, que foi implantado no Brasil no inicio do século XIX.

O culto principal aos Egungun é praticado na Ilha de Itaparica no Estado da Bahia mas existem casas em outros Estados.

Quanto ao aspecto físico, um terreiro de Egun apresenta basicamente as seguintes unidade:

• um espaço público, que pode ser freqüentado por qualquer pessoa, e que selocaliza numa parte do barracão de festas;

• uma outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar os iniciadores, e para onde os Egun vêm quando são chamados, para se mostrar publicamente;

• uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé (ou Ilê Awô - a casa do segrêdo), onde também se encontra um montículo de terra preparado e consagrado, que é o assentamento de Onilé;

• um espaço privado ao qual só têm acesso os iniciados da mais alta hierarquia, onde fica o Ilê Awô, com os assentamentos coletivo, e onde se guardam todos os instrumentos e paramentos rituais, como os Isan pronuncia-se (ixan), longas varas com as quais os Ojé invocam (batendo no chão) e controlam os Egungun.

História

O Culto à Egun ou Egungun veio da África junto com os Orixás trazidos pelos escravos. Era um culto muito fechado, secreto mesmo, mais que o dos Orixás por cultuarem os mortos.

A primeira referência do Culto de Egun no Brasil segundo Juana Elbein dos Santos foram duas linhas escritas por Nina Rodrigues, refere-se a 1896, mas existem evidências de terreiros de Egun fundados por africanos no começo do século XIX.

Os Terreiros de Egun mais famosos foram:

• Terreiro de Vera Cruz, fundado +/- 1820 por um africano chamado Tio Serafim, em Vera Cruz, Ilha de Itaparica. Ele trouxe da África o Egun de seu pai, invocado até hoje como Egun Okulelê, faleceu com mais de cem anos.

• Terreiro de Mocambo, fundado +/- 1830 por um africano chamado Marcos-o-Velho para distingui-lo do seu filho, na plantação de Mocambo, Ilha de Itaparica. Teria comprado sua carta de alforria, anos mais tarde teria voltado à Àfrica junto com seu filho Marcos Teodoro Pimentel, lá permanecendo por muitos anos aperfeiçoando seus conhecimentos litúrgicos,

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onde também seu filho foi iniciado. Quando voltaram trouxeram com eles o assento do Baba Egun Olukotun, considerado o Olori Egun, o ancestre primordial da nação nagô.

• Terreiro de Encarnação, fundado +/- 1840 por um filho do Tio Serafim, chamado João-Dois-Metros por causa de sua altura, no povoado de Encarnação. Foi nesse terreiro que se invocou pela primeira vez no Brasil o Egun Baba Agboula, um dos patriarcas do povo Nagô.

• Terreiro de Tuntun, fundado +/- 1850 pelo filho de Marcos-o-Velho, chamado Tio Marcos, num velho povoado de africanos denominado Tuntun, Ilha de Itaparica. Marcos possuiu o título de Alapini, Ipekun Ojé, Sacerdote Supremo do Culto aos Egungun, na tradição histórica Nagô, o Alapini representa os terreiros de Egun ao afin, palácio real. Marcos, Alapini, faleceu por volta de 1935, e com sua morte desapareceu o terreiro do Tuntun, porém a tradição do culto a Baba Olokotun continuou através de seu sobrinho Arsênio Ferreira dos Santos, que possuia o título de Alagba, este migrou para o Rio de Janeiro levando o assento de Baba Olokotun para o municipio de São Gonçalo. Depois do falecimento de Arsênio, oa assentos dos Baba retornaram para Bahia, através do atual Alapini, Deoscoredes M. dos Santos, conhecido como Mestre Didi Axipá, presidente da Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Axipá. Mestre Didi foi iniciado na tradição do culto aos Egungun por Marcos e Arsênio.

• Terreiro do Corta-Braço, na Estrada das Boiadas, ponto de reunião de praticantes da capoeira, atualmente bairro da Liberdade, cujo chefe era um africano conhecido como Tio Opê. Um dos Ojé, sacerdotes do culto aos Egungun, conhecido como João Boa Fama, iniciou alguns jovens na Ilha de Itaparica, que se juntariam com os descendentes de Tio Serafim e Tio Marcos para fundarem o Ilê Agboula, no bairro Vermelho, próximo à Ponta de Areia.

• Outros terreiros de Egungun foram registrados no final do século XIX, um localizado em Quitandinha do Capim, que cultuava os Egun Olu-Apelê e Olojá Orum, o de Tio Agostinho, em Matatu que se tornou ponto de concentração de vários Ojés de outras casas inclusive o Alapini Tio Marcos, o terreiro da Preguiça, ao lado da igreja da Conceição da Praia.

• Ilê Agboulá, Localizado em Ponta de Areia, na Ilha de Itaparica, o Ilê Agboulá é, hoje, no Brasil, um dos poucos lugares dedicados exclusivamente ao culto dos Egun. Sua fundação remonta ao primeiro quarto do século XX, mas a comunidade que lhe deu origem e que lhe mantém os fundamentos está estabelecida na Ilha, como já vimos há cerca de duzentos anos. Essa comunidade se constitui de mais ou menos cem famílias que vivem da pesca, da coleta e venda de frutos e, hoje, de pequenos empregos propiciados pela indústria turística que se expande na Ilha de uns dez anos para cá. Mas apesar de toda a transformação que os novos tempos ocasionaram em Itaparica, a comunidade do Ilê Agboulá se mantém coesa. Tanto que, mesmo os que por qualquer contingência não moram mais na Ilha, para lá retornam sempre que há oportunidade, nas ocasiões de festas e obrigações, reatando os laços que os unem à sua ancestralidade.

• Ilê Axipá

Hierarquia

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Nas casas de Egungun a hierarquia é patriarcal, só homens podem ser iniciados no cargo de Ojé ou Babá Ojé como são chamados, essa hierarquia é muito rígida, apesar de existirem cargos femininos para outras funções, uma mulher jamais será iniciada para esse cargo.

• Masculinos: Alapini (Sacerdote Supremo, Chefe dos alagbás), Alagbá (Chefe de um terreiro), Atokun (guia de Egum), Ojê agbá (ojê ancião), Ojê (iniciado com ritos completos), Amuixan (iniciado com ritos incompletos), Alagbê (tocador de atabaque). Alguns oiê dos ojê agbá: Baxorun, Ojê ladê, Exorun, Faboun, Ojé labi, Alaran, Ojenira, Akere, Ogogo, Olopondá.

• Femininos: Iyalode (responde pelo grupo feminino perante os homens), Iyá egbé (cabeça de todas as mulheres), Iyá monde (comanda as ató e fala com os Babá), Iyá erelu (cabeça das cantadoras), erelu (cantadora), Iyá agan (recruta e ensina as ató), ató (adoradora de Egun). Outros oiê: Iyale alabá, Iyá kekere, Iyá monyoyó, Iyá elemaxó, Iyá moro.

Ritual

Tanto a tradição Nagô como a Jeje e a Congo-Angola cultuam os ancestrais. Para os Nagôs existem no Brasil três formas de cultuar os ancestrais, os Esa, os Egungun e as Iya-mi Agba.

Os terreiros de Candomblé possuem um local apropriado de adoração do espirito de seus mortos ilustres, esse local é denominado de Ilê ibo aku, casa de adoração aos mortos, enfim todos iniciados no culto aos Orixás.

Os Esa são considerados os ancestrais coletivos dos afro-brasileiros. Seu culto se refere à comunidade em geral. O que destaca o Esa é o fato dele ter-se destacado em vida por servir a comunidade e de continuar atuando em outro plano, contribuindo para o bom desenvolvimento do destino dos fiéis e da casa. O Ilê ibo aku onde são assentados e cultuados os Esa é afastado do templo onde são cultuados os Orixás.

Os sacerdotes que são iniciados especialmente para cuidar do Ilê ibo aku não são adoxu, isso é, não manifestam Orixá. Os ancestrais cultuados no Ilê ibo aku são diferentes dos cultuados no Culto aos Egungun, no primeiro são os espíritos dos falecidos da casa de Candomblé e o segundo são os ara-orun em geral e aos espíritos dos Ojé africanos ou brasileiros.

Os Esa são invocados e cultuados em diversas situações, especialmente no padê, e no axexê quando é constituído o assentamento de um adoxu ou dignatário ilustre falecido. O assento de Esa se caracteriza pela representação da existência genérica, e o Egungun pela representação do espírito individualizado, o Egungun se caracteriza pela aparição no aiyê. Os Esa e os Egun são invocados no padê.

Calendário Litúrgico

Calendário Litúrgico do Ilê Agboulá (obtido do Projeto Egungun)

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As festas e obrigações obedecem, no Ilê Agboulá, a um bem elaborado calendário litúrgico. E durante essas festas podem ocorrer rituais não periódicos e não obrigatoriamente integrados no calendário, como iniciação de novos Amuixan ou de novos Ojé, ou mesmo obrigações e oferendas de outros titulados da comunidade. Mas o calendário, mesmo, obedece ao seguinte:

➢ Janeiro - Em janeiro, por ocasião do Ano Novo, as obrigações transcorrem até o dia nove. Esses rituais começam com uma obrigação para Onilê seguida de outra para Babá Olukotun. Junto com esta são celebradas as cerimônias anuais em homenagem a Babá Alapalá e Babá Ologbojô.

➢ Fevereiro - em fevereiro, começando no dia 2 e se estendendo por duas semanas, ocorre uma festa muito especial, principalmente porque a comunidade de Itaparica vive do mar e para o mar. É a festa de Yemanjá e Oxum, deusas das águas, e de Oxalá, o deus da criação.

➢ Junho - em junho, na época do São João, realiza-se as festas de Babá Erin, que é o Egun do Sr. Eduardo Daniel de Paula, fundador da Casa. As festas se realizam por ocasião do ciclo de Xangô, que era o orixá do Sr. Eduardo. E atingem grande brilhantismo porque entre a comunidade do Ilê Agboulá, que é descendente do povo de Oyó, a veneração a Xangô é muito forte.

➢ Setembro - De 7 a 17 de setembro ocorrem as festas de Babá Agboulá. Por essa época é que é feita a colheita dos primeiros frutos na Ilha de Itaparica, sob a proteção de Babá. E isto é muito importante pelo fato de até bem pouco tempo a Ilha de Itaparica ter sido o grande fornecedor de frutas para a cidade de Salvador.

Culto de Ifá:

Culto de Ifá na África é o culto específico ao Orixá Orunmila-Ifa, seu sacerdote é o babalawo.

Jurema Sagrada:

Jurema sagrada como tradição "mágica" religiosa, ainda é um assunto pouco estudado. É uma tradição nordestina que sofre influências da feitiçaria européia, da pajelança indígena e das religiões africanas, além de estabelecer as diferenças entre as práticas de umbanda e do catimbó .

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Culto

O culto da Jurema está para a Paraíba, assim como o Iroko está para a Bahia. Esta arvore tipicamente paraibana, apesar de existir também em outros estados do nordeste, era venerada pelos índios potiguares e tabajaras, muitos séculos antes da descoberta Brasil. Aqui em Pernambuco, existe um município como descrito acima, que se chama Jurema devido a grande quantidade destas árvores que ali se encontra. A jurema (mimosa hostilis) depois de crescida é uma frondosa árvore que vive mais de 200 anos. Todas as partes dessa arvore são aproveitadas: a raiz, a casca, as folhas e as sementes. Sendo utilizadas em banhos de limpeza, infusões, ungüentos, bebidas e para fins ritualísticos. Os devotos iniciados nos rituais do culto são chamados de “Juremeiros”. Foi na cidade de Alhandra, município à poucos quilômetros de João Pessoa, que esse culto teve suas origens e apogeu. Quando duas grandes tribos indígenas, os tupis e os cariris também chamados de tapuias. Os tupis se dividiam em tabajaras e potiguares, que eram inimigos entre si. Na época da fundação da Paraíba, os tabajaras formavam um grupo de aproximadamente cinco mil índios. Eles ocupavam o litoral e fundaram as aldeias Alhandra e a de Taquara.

Origens

A jurema sagrada é remanescente da tradição religiosa dos índios que habitavam o litoral da Paraíba e dos seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios do além, plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indígenas, e através desse contato, os africanos trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os índios. Pôr isso até hoje, os grandes mestres juremeiros conhecidos, são sempre mestiços com sangue índio e negro. Os africanos contribuíram com o seu conhecimento sobre o culto dos mortos egun e das divindades da natureza os orixás voduns e inkices. Os índios, estes contribuíram com o conhecimento de invocações dos espíritos de antigos pajés e dos trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. Daí a jurema se compor de duas grandes linhas de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados.

A influência européia se fez presente através do selo de Salomão, este consiste de dois triângulos entrelaçados cuja origem atribui-se aos antigos persas. Diz à lenda que o símbolo era usado para invocar o rei Salomão e assim aprisionar os djins (gênios) sem vasos. Na Índia o mesmo símbolo é chamado de “Signo de Vishnu” e é desenhado nas portas das casas com um talismã contra o mal. No nordeste este costume ainda existe e na linguagem típica é chamado "Sino Salomão".

Quimbanda:

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Quimbanda é uma das duas partes aonde se dividem as crenças de alguns povos africanos, Herdando estas crenças dos antigos escravos vindos da África, aqui é confundido com macumba, mas existem algumas diferenças entre os dois grupos em que se dividem as crenças africanas. A Kimbanda é apenas uma delas, e trata do negativo da energia, equilibrar o lado negativo é tão importante quanto o lado positivo, existe também a Humbanda, que são as magias da "macumba" focando o bem.

Macumba:

A primeira definição de Macumba que se encontra em qualquer dicionário é de Instrumento musical africano (de percussão), que dá um som de rapa;

No Rio de Janeiro, as nações do candomblé se fundiram umas nas outras, deixando-se também penetrar profundamente por influências exteriores, ameríndias, católicas, espíritas, dando nascimento a uma religião essencialmente sincrética, a Macumba. João do Rio, As Religiões do Rio, 13-52

O mesmo que candomblé, correspondente ao xangô pernambucano.

Diz-se mais comumente macumba que candomblé, no Rio de Janeiro, e mais candomblé do que macumba, na Bahia.

Macumba, na acepção popular do vocábulo, é mais ligada ao emprego do ebó, feitiço, coisa-feita, mironga, mandinga, muamba, mais reunião de bruxaria que ato religioso como candomblé.

Palavra usada no sentido pejorativo para se referir ao candomblé do Rio de Janeiro

palavra usada para definir a mistura de umbanda, kimbanda, voodoo, candomblé, feitiçaria e bruxaria.

Palavra utilizada para se referir aos despachos depositados em encruzilhadas.

Macumba, como a palavra é conhecida no Rio de Janeiro, é o mesmo que "Ebó", como é conhecida na Bahia (Candomblé).

Tambor-de-Mina:

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Tambor de Mina é a denominação mais difundida das religiões Afro-brasileiras no Maranhão e na Amazônia. A palavra tambor deriva da importância do instrumento nos rituais de culto. Mina deriva de negro da Costa da Mina, denominação dada aos escravos procedentes da “costa situada a leste do Castelo de São Jorge de Mina” (Verger, 1987: 12) , no atual República do Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas do Togo, Benin e da Nigéria, que eram conhecidos principalmente como negros mina-jejes e mina-nagôs.

O Maranhão foi importante núcleo atração de mão de obra africana, sobretudo durante o último século do trafico de escravos para o Brasil (1750-1850), e que se concentrou na Capital, no Vale do Itapecuru e na Baixada Maranhense, regiões onde havia grandes plantações de algodão e cana-de-açúcar, que contribuíram para tornar São Luís e Alcântara cidades famosas entre outros aspectos, pela grandiosidade dos sobradões coloniais, construídos com mão de obra escrava e pela harmonia, beleza e coreografia das musicas de origem africana.

Como as demais religiões de origem africana no Brasil (Candomblé, Umbanda, Xangô, Xambá, Batuque, Jarê e outras), o tambor de mina se caracteriza por ser religião iniciática e de transe ou possessão. No tambor de mina mais tradicional a iniciação é demorada, não havendo cerimônias públicas de saída, sendo realizada com grande discrição no recinto dos terreiros e poucas pessoas recebem os graus mais elevados ou a iniciação completa. A discrição no transe e no comportamento em geral é uma características marcante do tambor de mina, considerado por muitos como uma “maçonaria de negros”, pois apresenta características de sociedades secretas. Nos recintos mais sagrados do culto (peji em nagô, ou côme em jeje), penetram apenas os iniciados mais graduados. O transe no tambor de mina é muito discreto e as vezes percebível apenas por pequenos detalhes da vestimenta. Em muitas casas, no início do transe, a entidade dá muitas voltas ao redor de si mesmo, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, talvez para firmar o transe, numa dança de bonito efeito visual. Normalmente a pessoa quando entra em transe recebe um símbolo, como uma toalha branca amarrada na cintura ou um lenço, denominado pana, enrolado na mão ou no braço.

No Tambor de Mina cerca de noventa por cento dos participantes do culto são do sexo feminino e por isso, alguns falam num matriarcado nesta religião. Os homens desempenham principalmente a função de tocadores de tambores ou abatazeiros e também se encarregam de certas atividades do culto, como matança de animais de 4 patas e do transporte de certas obrigações para o local em que devem ser depositados. Algumas casas são dirigidas por homens e possuem maior presença de homens, que podem ser encontrados inclusive na roda de dançantes.

Existem dois modelos principais de tambor de mina no Maranhão: mina jeje e mina nagô. O primeiro parece ser o mais antigo e se estabeleceu em torno da Casa grande das Minas Jeje (Querebentan de Zomadônu), o terreiro mais antigo, que deve ter sido fundado em São Luís na década de 1840. O outro, que lhe é quase contempo-râneo e que também se continua até hoje é o da Casa de Nagô, localizada no mesmo bairro (São Pantaleão) a uma quadra de distância.

A Casa das Minas é única, não possui casas que lhe sejam filiadas, daí porque nenhuma outra siga completamente seu estilo. Nesta casa os cânticos são em língua jeje (Ewê-Fon) e só se recebem divindades denominadas de voduns, mas apesar dela não ter casas filiadas, o modelo do culto do Tambor de Mina é grandemente influenciado pela Casa das Minas.

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Os voduns da Casa das Minas, de quem se conhecem os nomes de aproximadamente sessenta, agrupam-se em três famílias principais e duas que são hóspedes da casa, a saber: a família real de Davice, a que pertence o vodum dono da casa, Zomadônu e outros, que como ele são relacionados com a família real do Daomé, como: Dadarrô, Docú, Bedigá, Sepazin, Agongônu, Toçá, Tocé, Jogorobossú; a família de Quevioçô (dos voduns chamados nagôs), como Badé, Sobô, Lôco, Liçá, Averequête, Abê e outros; a família de Dambirá (que cura a peste e outras doenças), chefiada por Acossi Sakpatá e que incluí entre outros Azíli, Azônce, Polibojí, Lepon, Alôgue, Ewá, Bôça e Boçucó. Existem ainda voduns agrupados na família de Aladanu, hóspedes de Quevioçô, como Ajaúto e Avrejó e da família de Savaluno, hóspede de Zomadônu, como Agongonu e Jotim. Cada família ocupa uma parte específica da casa e tem cânticos, comportamentos e atividades próprias. Na Casa das Minas as vodunsis só recebem um vodum e só dançam quando estão com ele. Durante o transe os voduns não comem, não bebem, não satisfazem necessidades fisiológicas, cantam e dançam com os olhos abertos, conversam entre si e com devotos, dão conselhos e alguns gostam de fumar.

Na mina-jeje os toques são realizados por três tambores com couro numa só boca (hum, humpli e gumpli), batidos com a mão e com aguidaví. São também acompanhados pelo ferro (gã) e por cabaças pequenas revestidas de contas coloridas. Nas festas as vodunsis em transe, usam saias lisas na mesma cor ou estampada, blusa branca rendada, toalha branca bordada amarrada no seio ou na cintura, guias e rosários de miçangas pequenas coloridas em que predominam o marrom (gonjeva), carregam na mão um lenço branco pequeno e usam sandália. Algumas usam símbolo do seu vodum, como bengala, rebenque, guizos, lenço colorido no ombro e cabelos soltos.

Na Casa de Nagô as vestimentas são semelhantes as da mina-jeje, bem como características gerais da iniciação e de discrição no culto. Nos toques canta-se em nagô para voduns jejes (Doçu, Averequete, Ewá, Nanaburuku, Légo Xapanã) e orixás nagôs (Ogum, Xangô, Badé, Lôco, Iemanjá) e em português para as entidades gentis e caboclos (Dom Luís, Dom João, Dom Sebastião, Toi Zezinho; Rei da Turquia, Caboclo Velho, Princesa D’ Oro, Guerreiro, Mariana, Manuelzinho, João da Mata e muitos outros).

Nas demais casas de tambor de mina do Maranhão, difundiu-se o modelo da Casa de Nagô. Cultuam-se voduns, orixás e caboclos. Cantam-se em nagô e também em português. As vodunsis recebem um ou dois voduns principais e vários caboclos. Os toques são sobre dois tambores (abatás) com couro nas duas bocas, deitados sobre cavaletes, acompanhados pelo ferro, uma cabaça grande e várias pequenas.

Nos terreiros de tambor de mina é comum a realização de festas e folguedos da cultura popular maranhense que as vezes são solicitadas por entidades espirituais que gostam delas, como a do Divino Espírito Santo, o Bumba-Meu-Boi, o Tambor de Crioula e outras. É comum também outros grupos que organizam tais atividades irem dançar nos terreiros de mina para homenagear o dono da casa, as vodunsis e para pedir proteção às entidades espirituais para suas brincadeiras.

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Xangô do Nordeste:

Xangô do Nordeste também conhecido como Xangô do Recife, Xangô de Pernambuco ou Nagô Egbá.

Em todo o Nordeste da Paraíba à Bahia, a influência dos Yoruba prevalece a dos Daomé. Esta é a zona mais conhecida quanto às religiões africanas, a que deu lugar a maior número de pesquisas e de trabalhos. Se encontra duas palavras para designá-las, a de Xangô em Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, e de Candomblé na Bahia, esta dualidade de nomes, que não são nomes dados pelos negros, mas sim pelos brancos em virtude da popularidade e importância de Xangô nessa região, e Candomblé por designar toda dança dos negros, tanto profanas como religiosas.

Xambá:

A Nação Xambá está ainda bem viva e ativa em Olinda, Pernambuco. Apesar de alguns autores como: Olga Caciatore (Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 3ª Edição, 1988) e Reginaldo Prandi (Candomblés de São Paulo. São Paulo, HUCITEC, 1991) afirmarem que culto Xambá no Brasil está praticamente extinto. O Xambá de Pernambuco ainda permanecerá vivo por muitas e muitas gerações, mantendo seus ritos, mitos e tradição.

Historia

Com o falecimento da grande Iyalorixá do Xambá, Severina Paraíso da Silva “Mãe Biu”, como era mais conhecida em 1993, o herdeiro do trono do Xambá é o Babalorixá Adeildo Paraíso. Conhecido popularmente e pelos que fazem parte daquele terreiro como Ivo do Xambá, que convocou seus filhos de Santo: Profs. Antonio Albino, Hildo Leal e João Monteiro, para elaborarem um projeto arrojado e inovador, para o terreiro do Portão do Gelo, que seria o Memorial do Xambá, onde seriam reunidos e preservados documentos fotográficos e objetos ligados à vida e a atuação da grande líder religiosa, bem como da memória do “Terreiro Santa Bárbara Nação Xambá".

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Fugindo de Maceió, capital do estado de Alagoas, no inicio da década de 20 do século XX, o babalorixá Artur Rosendo Pereira, de acordo com a “Cartilha da Nação Xambá” (Hildo Leal Rosa,2000), devido à perseguição política às religiões Afro-brasileiras da época, se estabelece no Recife, mais exatamente na Rua da Regeneração, no bairro de Água Fria. Antes mesmo de fugir da repressão política e ainda residindo em Maceió, o babalorixá Artur Rosendo viaja à Costa da África onde permanece por quatro anos e com Tio Antonio, que trabalhava no mercado de Dakar, no Senegal vendendo panelas, segundo René Ribeiro. E por volta de 1923, seguindo as tradições da Nação Xambá, e já em Recife, reinicia suas atividades de zelador de Orixás.

O babalorixá Artur Rosendo iniciou muitos filhos de santo, tendo muitos deles aberto terreiro.

Uma de suas filhas mais notáveis foi Maria das Dores da Silva “Maria Oyá” iniciada em 1928. A saída de iyawó de Maria Oyá foi realizada sem toque dos tambores e cantada em voz baixa por causa da perseguição. Logo após a iniciação de Maria Oyá, Artur Rosendo volta para Maceió.

Em 1930, Maria Oyá inaugura seu terreiro na rua da Mangueira no bairro de Campo Grande em Recife. Com a conclusão de sua iniciação em 13 de dezembro de 1932, recebe então as folhas, a faca e a espada das mãos de seu babalorixá que realizou ao meio dia o ritual de coroação de Oyá no trono. Cerimônia belíssima que ate hoje é repetida mantendo a tradição Xambá de Pernambuco.

Em 1932 Maria Oyá tira seu primeiro barco de três iyawôs. Ainda em 1932 ela inicia seu segundo barco de iyawôs, este maior e iniciando principalmente Donatila Paraíso do Nascimento que em 1933 assume o cargo de Mãe Pequena do terreiro Santa Bárbara vindo a falecer em 2003 aos 92 anos e passando 60 anos de sua vida no cargo sendo mais conhecida como Tia Tila, uma outra filha ilustre foi Lídia Alves da Silva (Talabi).

Daí em diante a sucessão de iniciações crescem, o Xambá passa a brilhar ainda mais. Quando em junho de 1935 Maria Oyá inicia nos ritos a sua mais primorosa filha, a que lhe sucederá, Severina Paraíso da Silva, “Mãe Biu”.

Com o passar dos anos e com a violência policial do Estado Novo cada vez mais rígida. Em 1938 Maria Oyá é obrigada a fechar seu terreiro. Terreiro esse que não mais abrira suas portas guiado por aquela que pela mãos de Artur Rosendo Pereira trouxe o Xambá para Pernambuco. Pois em 1939 Maria Oyá se despede de sua vida terrena, deixando o Xambá órfão. É ainda nesse duro período de perseguições que juntamente com as outras nações de candomblé cultuadas em Pernambuco que todos os terreiros são fechados e seus fieis tolhidos, durante 12 longos anos até 1950, daquilo que lhes é mais precioso, do culto de seus Orixás, Inkices e Voduns.

Porém, como depois de uma guerreira de Oyá há de vir uma outra guerreira para continuar a luta por seus ideais, pela conservação dos ritos e mitos de uma tradição, Mãe Biu de Oyá Megué reabre o terreiro Xambá em 1950 na Estrada do Cumbe, 1012 no bairro de Santa Clara na cidade do Recife. Tendo como seu babalorixa o Sr. Manoel Mariano da Silva, como Iyalorixá

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D. Eudoxia, como padrinho o Sr. Luiz da Guia e madrinha D. Severina. Tendo permanecido nesse endereço por apenas dez meses, no dia 07 de abril de 1951 o terreiro se muda para o atual endereço na antiga rua Albino Neves de Andrade, hoje em homenagem a sua grande Mãe Biu, rua Severina Paraíso da Silva, 65 na localidade do Portão do Gelo, bairro de São Benedito – Olinda – Pernambuco.

Com o falecimento de Mãe Biu, que durante 54 anos dirigiu o Terreiro Xambá, auxiliada por sua fiel e inseparável irmã e amiga Tia Tila que então assume o cargo de Iyalorixá do Xambá por um período de 10 anos, tendo como babalorixá seu sobrinho carnal Adeildo Paraíso, filho carnal de Mãe Biu. Hoje em 2004 com o falecimento de Tia Tila, assume o Trono do Xambá a Iyalorixá Maria de Lourdes da Silva de Iemanjá, iniciada por Mãe Biu em 18 de maio de 1958.

A jovem guarda do Xambá de Pernambuco orgulha-se de seu terreiro, do seu povo, de sua simplicidade sem invenções modernas, sem sequer mudar uma linha do que lhes deixou seu propulsor e suas grandes e humildes mães de santo. O terreiro Xambá está lá no Portão do Gelo, preservado, conservado e servindo de exemplo pra muitos terreiros tradicionais. O Memorial do Xambá foi criado de acordo com a solicitação de seu babalorixá aos seus filhos, para contar a historia de um povo aguerrido e ordeiro.

Orixás

Apesar dos Orixás serem praticamente os mesmos do Candomblé, existe bastante diferença na forma de culto.

Orixás cultuados na tradição Xambá:

01 – Exú, 02 – Ogum, 03 – Odé, 04 – Bêji, 05 – Nanã, 06 – Obaluaiê, 07 – Ewá, 08 – Xangô, 09 – Oyá, 10 – Obá, 11 – Afrekete, 12 – Oxum, 13 – Yemanjá, 14 – Orixalá

Orixá:

• Olorun é o Deus supremo do povo Yoruba, que criou as divindades chamadas Orixá para representar todos os seus domínios aqui na terra, mas não são considerados deuses.

• Exu, Orixá guardião dos templos, casas, cidades e das pessoas, mensageiro divino dos oráculos.

• Ogum, Orixá do ferro, guerra, fogo, e tecnologia.

• Oxóssi, Orixá da caça e da fartura.

• Logunedé, Orixá jovem da caça e da pesca

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• Xangô, Orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.

• Obaluaiyê, Orixá das doenças epidérmicas e pragas.

• Oxumaré, Orixá da chuva e do arco-íris.

• Ossaim, Orixá dos remédios, conhece o segredo de todas as folhas.

• Oyá ou Iansã, Orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestade, e do Rio Niger

• Oxum, Orixá feminino dos rios, do ouro, jogo de búzios, e amor.

• Iemanjá, Orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade, mãe de muitos Orixás.

• Nanã, Orixá feminino dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiê.

• Ewá, Orixá feminino do Rio Ewá.

• Obá, Orixá feminino do Rio Oba, uma das esposas de Xangô

• Axabó, Orixá feminino da família de Xangô

• Ibeji, Orixá dos gêmeos

• Irôco, Orixá da árvore sagrada, (gameleira branca no Brasil).

• Egungun, Ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.

• Onilé, Orixá do culto de Egungun

• Omolu, Orixá da terra e da saúde

• Oxalá, é um nome genérico para vários Orixás Funfun (branco)

• OrixaNlá ou Obatalá, o mais respeitado, o pai de quase todos orixás, criador do mundo e dos corpos humanos

• Ifá ou Orunmila-Ifa, Ifá é o porta-voz de Orunmila, Orixá da Adivinhação e do destino.

• Odudua, Orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.

• Oranian, Orixá filho mais novo de Odudua

• Baiani, Orixá também chamado Dadá Ajaká

• Olokun, Orixá divindade do mar

• Oxalufon, Orixá velho e sábio

• Oxaguian, Orixá jovem e guerreiro

• Orixá Oko, Orixá da agricultura

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Na África cada Orixá estava ligado originalmente a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais. Sàngó em Oyó, Yemoja na região de Egbá, Iyewa em Egbado, Ogún em Ekiti e Ondô, Òssun em Ijexá e Ijebu, Erinlé em Ilobu, Lógunnède em Ilexá, Otin em Inixá, Osàálà-Obàtálá em Ifé, subdivididos em Osàlúfon em Ifan e Òságiyan em Ejigbô

No Brasil, em cada templo religioso são cultuados todos os Orixás, diferenciando que nas casas grandes tem um quarto separado para cada Orixá, nas casas menores são cultuados em um único quarto de santo (termo usado para designar o quarto onde são cultuados os Orixás).

Olorun

Na Mitologia Yoruba, Olorun, ou Olorum, é o Dono do Orun céu e Criador do Orun e do Aiye, o céu e a terra. É associado fortemente com a cor branca, e controla tudo. É o Deus Pai Criador de tudo e de todos. Embora reconhecido e louvado como Único e Soberano, não existe templo individual para Ele. De acordo com um dos mitos da criação iorubá, ele delegou os poderes de criação do Aiye para seu primeiro e mais velho filho Orisanla ou Obatalá

Exú

Orixá africano conhecido como: Exu, Esu, Eshu, Bara, Elegbá, Elegbara.

Exu é o orixá da comunicação. Fiscalizador do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano, conforme tarefa a ela atribuída por Olodumare ou Olorum. Ele que deve receber as oferendas em primeiro lugar afim de assegurar que tudo corra bem e de garantir que sua função de mensageiro entre o Orun e o Aiye, mundo material e espiritual, seja plenamente realizada. Por ser provocador, indecente, astucioso e sensual é comumente confundido com a figura de Satanás, o que é absurdo dentro da construção teológica yorubá, posto que não está em oposição a Deus, muito menos é considerado uma personificação do Mal. Recebe diversos nomes de acordo com a função que exerce ou com a qualidade: Odara, Akesan, Lalu, Ijelu, Ibarabo, Yangi, Baraketu (guardião das porteiras), Lonan (guardião dos caminhos), Ian (reverenciado na cerimônia do padê).

Não deve ser confundido com a entidade Exu, da umbanda.

Suas cores são o vermelho e o preto; seu símbolo é o ogó (bastão com cabaças que representa o falo); suas contas e cores são o preto e o vermelho; sacrifica-se-lhe bode, cabrito, galo, galinha d´angola e pato; oferece-se-lhe farofa com dendê, acaçá, akará, obi, feijão, inhame, água, aguardente. Sua saudação é "Laroiê Exu!" que significa o bem falante e comunicador.

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Ogum

Ogum ou Ogun é um Orixá africano, foi o filho mais velho de Odudua, o fundador de Ifé.

Era um temível guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos e, entre suas gloriosas vitórias, conquistou cidades como Ará, onde entronou o seu filho, e Ire, usando aí, ele mesmo, o título de Onirê (senhor da cidade de Irê).

Como orixá, é a divindade do ferro e protetor de todos que trabalham com esse metal: ferreiros, agricultores, escultores, mecânicos etc. e dos militares.

Oxóssi

Oxóssí é um Orixá africano, considerado rei da nação Ketu, deus da caça e da fartura.

Seu habitat é a floresta. Teve várias esposas, mas a sua predileta foi Oxum.

A curiosidade e a observação são características das pessoas consideradas filhos de Oxóssi, orixá também da alegria, que gosta de agir à noite, como os caçadores.

Seus instrumentos de culto são o ofá (arco e flecha), lanças, facas e demais objetos de caça.

No Brasil chamado de Ibualama ou Inlè é uma qualidade de Oxóssi, marido de Oxum. Como os demais Oxóssis é caçador, rei de Ketu, usa ofá (arco e flecha) e chapéu de couro. Come tudo que é caça e seu dia é quinta-feira.

Um Oxóssi azul, Otin! Usa capanga e lança. Vive no mato a caçar. Come toda espécie de caça mas gosta muito de búfalo.

Logunedé

Logunedé é um Orixá africano, filho de Oxum Iponda e Erinlé, vive seis meses nas matas caçando e seis meses nos rios pescando, é da nação Ijexá como sua mãe.

Mal interpretado, Logunedé é confundido com a dualidade sexual. Em alguns mitos aparece 6 meses homem e 6 meses mulher, o que não é o correto de afirmar. No entanto, podemos afirmar que Logunedé é um Orixá andrógino. Um ser que caminha livremente sem o aspecto sexual (coisa absolutamente animal, não pertencendo aos Orixás). Existem diferentes vertentes acerca de sua filiação. Em alguns mitos (a maioria deles) Logunedé aparece como filho de Oxum e Oxosse. Outros, raros, dizem ser ele filho de Ogun e Yansã. E ainda histórias da

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cultura oral contam a lenda de Logunedé sendo filho dos quatro Orixás. E que Logunedé não é nada mais nada menos que os Orixás Gêmeos: Ibeji. Revestido de uma nova mitologia.

Xangô

Xangô é um Orixá africano, filho de Oranian, teve várias esposas sendo as mais conhecidas: Oyá, Oxum e Obá. Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Sua ferramenta é o Oxê machado de dois gumes.

Obaluaiyê

Obaluaiyê, Obaluaê, Xapanã, Sakpatá, são alguns dos nomes como é conhecido esse Orixá-Vodun africano.

Xapanã nasceu em Empê, no território Tapa, também chamado, Nupê.

Era um guerreiro terrível que, seguido de suas tropas, percorria o céu e os quatro cantos do mundo. Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem. Seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste.

Oxumarê

Òsùmàrè na África É a serpente-arco-íris em nagô, é a mobilidade, a atividade, uma de suas funções é a de dirigir as forças que dirigem o movimento. Ele é o senhor de tudo que é alongado. O cordão umbilical que está sob o seu controle, é enterrado, geralmente com a placenta, sob uma palmeira que se torna propriedade do recém-nascido, cuja saúde dependerá da boa conservação dessa árvore.

Ele representa também a riqueza e a fortuna, um dos benefícios mais apreciados no mundo dos iorubás. Em alguns pontos se confunde com o Vodun Dan da região de Mahi..

É o símbolo da continuidade e da permanência, algumas vezes, é representado por uma serpente que morde a própria cauda. É ao mesmo tempo macho e fêmea. Enrola-se em volta da terra para impedí-la de se desagregar. Rege o príncipio da multiplicidade da vida, transcurso de múltiplos e variados destinos.

De múltiplas funções, diz-se que é um servidor de Xangô, que seria encarregado de levar as águas da chuva de volta para as nuvens.

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É o segundo filho de Nanã, irmão de Obaluaiyê, que são vinculados ao mistério da morte e do renascimento. Seus filhos usam colares de búzios entrelaçados formando as escamas de uma serpente que tem o nome de Brajá, usam também o Lagdigbá como Nanã e Obaluaiyê.

Oxumarê no Brasil:

Oxumarê ou Oxumaré apresenta as mesmas características notadas entre os yoruba, além do Brajá e Lagdigbá usam fios-de-contas amarelas e verde intercaladas ou de miçangas rajadas. Quando dança leva nas mãos pequenas serpentes de metal, apontam o dedo indicador para o céu e para a terra num ininterrupto movimento.

Era um adivinho (Babalawo). O adivinho do rei Oni segundo um de seus Orikis. Sua única ocupação era ir ao palácio real no dia do segredo; dia que dá início à semana, de quatro dias, dos iorubás.

Ossaim

Na África Osanyin é a entidade das folhas medicinais e litúrgicas. Sua importância é primordial. Nenhuma cerimônia pode ser realizada sem sua interferência.

É o detentor do ase (força, poder, vitalidade), de que nem mesmo os Orixás podem privar-se. Esse ase encontra-se em folhas e ervas específicas. O nome dessas folhas e o seu emprego é a parte mais secreta do ritual do culto dos Orisa, Vodun e Inkice.

O símbolo de Osanyin é uma haste de ferro de cuja extremidade superior partem sete pontas dirigidas para o alto. A do centro é encimada pela imagem de um pássaro.

Osanyin é o companheiro constante de Ifa. É representado por uma sineta de ferro forjado, terminada por uma haste pontuda enfiada em uma grande semente. A haste é fincada no chão, ao lado do osun (o asen dos fon) do babalawo. Por sua presença, Osanyin traz a influência das folhas para as operações da adivinhação.

No Brasil Ossaim ou Ossain (em português). É um Orixá que vive nas florestas e conhece os segredos das folhas.

Cada Orixá tem a sua folha, mas só Ossaim detém seus segredos. E sem as folhas e seus segredos não há axé, portanto sem ele nenhuma cerimônia é possivel.

Oyá

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Oyá, ou Iansã, é um Orixá africano. Orixá dos raios, ventos e tempestades. Sua comida favorita é o acarajé.

Oxum

Oxum, Osun, ou Oshun, é um Orixá africano, é a divindade do rio de mesmo nome que corre na Nigéria, em Ijexá e Ijebu. As mulheres que desejam ter filhos dirigem-se a Oxum que controla a fecundidade, graças aos laços mantidos com as Iyami-Ajé ("Minha Mãe Feiticeira") e o poder da gestação, protege as mulheres durante a gravidez.

Abebé é um leque em forma circular, usado por Oxum quando confecionado de latão ou dourado, alguns podem trazer um espelho no centro, e usado por Iemanjá quando prateado, normalmente trazem desenhos simbólicos.

Iemanjá

Iemanjá, Yemanjá, Yemaya, Iemoja, ou Yemoja, cujo nome deriva de Yèyé omo ejá ("Mãe cujos filhos são peixes"),

No Brasil é o Orixá mais popular e mais reverenciado no Candomblé, Batuque, Xambá, Xangô do Nordeste, Umbanda e mesmo por pessoas de outras religiões.

A maior comemoração de oferendas à Iemanjá é no último dia do ano. Tem queima de fogos em quase todo litoral brasileiro na passagem do ano à meia-noite, e todos que queiram fazem oferendas de flores e presentes à Rainha do Mar.

A Festa de Iemanjá na Bahia, a Festa do Rio Vermelho é no dia 2 de Fevereiro. Nesta mesma data é cultuada em várias praias brasileira, que que lhe são ofertas velas e flores, lançadas ao mar em pequenos barcos artesanais.

Uma outra festa é feita nas praias, Festa da Conceição da Praia. O dia 8 de Dezembro é dedicado à padroeira da Bahia, sendo feriado municipal em Salvador. A festa religiosa acontece na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Cidade Baixa.

No dia 8 de Dezembro os terreiros de Umbanda fazem divisões cercadas com cordas, fitas e flores, delimitando os terreiros que realizam seus trabalhos nas praias em todo o litoral brasileiro.

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Iemanjá no Brasil representa a mãe que protege os filhos a qualquer custo, a mãe de vários filhos, que adora cuidar de crianças.

Yemayá como é chamada em Cuba tem as mesmas cores azul e branca, é a rainha do mar, é negra e assume o nome cristão de La Virgen de la Regla, e é santa padroeira nos portos de Havana.

Nanã Buruku

Nanã Buruku é um vodun, segundo alguns pesquisadores, originário de Dassa Zumê, é uma velha divindade das águas. Pierre Verger encontrou um Templo Dassa Zume e o sacerdote do seu culto. A área que abrange seu culto é muito vasta e parece estender-se de leste, além do rio Níger, até a região Tapá, a oeste, além do rio Volta, nas regiões dos guang, ao nordeste dos Ashanti.

Entre os fon e mahi ela é considerada uma divindade hermafrodita, anterior a Mawu e Lissá, aos quais teria dado origem em associação com a "serpente do Universo" Dan Aido Hwedo. Para os ewes e minas, ela é às vezes vista como um vodun masculino (Nana Densu), esposo da grande mãe das águas Mami Wata.

No Brasil é cultuada no Candomblé Jeje como um vodun e no Candomblé Ketu como um orixá das águas paradas, mangue, terra molhada, lama e considerada a mãe dos orixás Obaluaiyê, Irôco, Ossaim e Oxumarê. Nanã chamada é carinhosamente de "Avó", por ser usualmente imaginada como uma anciã. É cultuada em todo o Brasil nas Religiões Afro-brasileiras, seu emblema é o Ibiri caracteriza sua relação com os espíritos ancestrais. Como Mãe-Terra Primordial dos grãos e dos mortos, Nanã Buruku poderia ser equiparada à deusa greco-romana Deméter-Ceres-Cíbele. No sincretismo afro-católico ela é equiparada à Sant'Ana, mãe da Virgem Maria e avó de Jesus Cristo.

A existência do culto de Nanã Buruku é atribuída a tempos remotos, anteriores à descoberta do ferro, por isso, em seus rituais, não costumam ser utilizados objetos cortantes de metal.

O baobá (Adansonia digitata L., em iorubá ossê e em Fon akpassatin) é sua árvore sagrada.

Ewá

Ewá, Euá, Yewa, Orixá africano, é a divindade do rio Yewa. Na Bahia é cultuada somente em três casas antigas, devido à complexidade de seu ritual.

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Obá

Obá, Orixá africano do Rio Obá. Esposa de Xangô. Guerreira, veste vermelho e branco, usa escudo e lança.

Axabó

Axabó é um Orixá feminino africano, cultuado na Bahia, mas pouco conhecido, é da família de Xangô.

Ibeji

Ìbejì é o Òrìsà dos gêmeos. Da-se o nome de Taiwo ao Primeiro gêmeo gerado e o de Kehinde ao último. Os Yorùbá acreditam que era Kehinde quem mandava Taiwo supervisionar o mundo, donde a hipótese de ser aquele o irmão mais velho.

Cada gêmeo é representado por uma imagem. Os Yorùbá colocam alimentos sobre suas imagens para invocar a benevolência de Ìbejì. Os pais de gêmeos costumam fazer sacrifícios a cada oito dias em honra ao Òrìsà .

Conta uma lenda que os Ibejis são filhos paridos por Iansã e jogados nas águas. Osun os abraçou e os criou como se fosse seus filhos.

O animal tradicionalmente associado a Ìbejì é o macaco colobo, um cercopiteco endêmico nas florestas da África Equatorial. A espécie em questão é o colobus polykomos, ou "colobo real", que é acompanhado de uma grande mística entre os povos africanos. Eles possuem coloração preta, com detalhes brancos, e pelas manhãs eles ficam acordados em silêncio no alto das árvores, como se estivessem em oração ou contemplação, daí eles serem considerados por vários povos como mensageiros dos deuses, ou tendo a habilidade de escutar os deuses. A mãe colobo quando vai parir, afasta-se do bando e volta apenas no dia seguinte das profundezas da floresta trazendo seu filhote (que nasce totalmente branco) nas costas. O colobo é chamado em Yorùbá de edun oròòkun, e seus filhotes são considerados a reencarnação dos gêmeos que morrem, cujos espíritos são encontrados vagando na floresta e resgatado pelas mães colobos pelo seu comportamento peculiar.

Irôco

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Irôco, também conhecido como Rôco, Iroko e Loko, é um orixá, cultuado no candomblé do Brasil pela nação Ketu e, como Loko, pela nação Jeje. Corresponderia ao Inkice Tempo na Angola.

Citações de pesquisadores:

Bosman, em 1698 - "Ele era considerado o segundo "fetiche" em importância em Ouidah"

Le Hérissé, em 1910, deu indicações mais pertinentes sobre essa devoção. Uma das principais árvores cultuadas era Loko (Chlorophora excelsa, Moraceae), que em si, não é uma árvore sagrada, apenas o sendo quando serve de assento a uma divindade. Seu nome no Daomé está sempre ligado ao do Vodun que lhe deu este caráter.

Bosman, p.394 - Existem, entre eles, três Divindades principais conhecidas em todo o país...a segunda são árvores (as outras duas são as serpentes e o mar) extraordinariamente altas e que parecem ser a obra-prima da natureza. Contentam-se em fazer-lhes oferendas em caso de doenças e, sobretudo, nas ocasiões em que há febres.

Padre Labat, t.II: 163 - Não custa tanto (ver sacrifícios ao mar) totnar favoráveis as árvores, que são as divindades da segunda espécie. Habitualmente são os doentes que recorrem a elas. Seu poder, como todo homem de bom senso percebe facilmente, é bem pequeno ou, melhor , não é nenhum, mas cura-se a imaginação oferecendo-lhes um sacrifício.. Como, frequentemente, a imaginação é a sede da doença, a partir do momento que esta é curada, é inevitável que o doente se sinta melhor. Sacrificam-se às árvores apenas pães de milhete, de milho ou arroz; o Marabu coloca-os ao pé da árvore para com a qual o doente tem devoção e ali os deixa durante algum tempo. Leva-os embora em seguida, a menos que o doente se entenda com ele para abandonar ali as oferendas, até que os cachorros, aves e porcos a comam.

Guillaume Smith, p. 141 - "Suas divindades de segunda ordem são as árvores muito velhas, pelas quais eles tem grande veneração"... Pruneau Pommegorge, p.197 - "Grandes árvores, que são árvores fetiches; o povo as reverencia e ninguém ousaria cortá-las, sem temer as piores desgraças para o país".

Richard Burton, [1], t. 4:92 - O segundo deus (após a serpente) é representado por árvores soberbas, em cuja formação a Mãe Natureza parece ter exprimido sua grande arte. Fazem-lhe orações e oferendas nas épocas de doença e, sobretudo, de febres. As mais reverenciadas são a Hun-tin ou paineira (Ceiba petandra, Bombaca-ceae), cujas mulheres, a ela dedicadas, igualam em número as mulheres da serpente, e o Loko, o ordálio Edum, árvore venenosa, bem conhecida na Costa Ocidental Africana. Esta última tem poucas Loko-si ou mulheres de Loko, mas, de outro lado, possui seus próprios potes-fetiche, que podem ser adquiridos em qualquer mercado.

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Skertchely, p.467 - A próxima divindade em importância é Atin-bodun cuja forma terrestre é a de diversas árvores, enquanto sua morada se situa em alguns espécimens curiosos das artes e da cerâmica, como por exemplo, uma panela vermelha, com vários orifícios, enterreda no chão e emborcada, com o fundo aparecendo, em um pequeno degrau de terra, aos pés de algum arbusto ou árvore nova, que cresce na porta de uma casa. À direita encontra-se um recipiente em forma de cabaça, com garganta e geralmente pintado de branco na parte exterior. O culto à Atin-bodun consiste na fé em seu poder de prevenção e cura das doenças, sobretudo a febre, e em oferendas de água derramada no pote. Desnecessário dizer que ele é o patrono de todos os médicos. Considera-se que qualquer árvore de grande porte é habitada por essa divindade, mas, para eles, são especialmente sagrados o Hun ou cincho, e o Lokoou árvore do veneno. Uma infusão de suas folhas é usado como ordálio para detectar todo crime oculto.

Ellis, [1], p.49 - Copia com muita exatidão as informações de Burton e acrescenta: As árvores que são as moradas especiais desses deuses - pois não são todas as árvores dessas duas variedades (Huntin e Loko) que são honradas - são cingidas por uma guirlanda de folhas de palmeira...

Uma árvore rodeada por uma guirlanda de folhas de palmeira não pode ser cortada ou maltratada de forma alguma e até mesmo os "cinchos e Odum" que não são animados por Huntin e Loko não podem ser abatidos sem que certas cerimônias sejam realizadas. Considera-se que pertencem ao deus em algum grau ou estão sob sua proteção. Um negro que deseje cortar uma dessas árvores deve, antes de mais nada, oferecer um sacrifício de frangos e de azeite-de-dendê.

Le Hérissé - Escreve ele (p.114): "Loko ou Roco - Existem tantas lendas sobre Roco quanto sobre os Vodun, sob cujo nome aparece esta árvore: Adanloko, Atanloko, Lokozoun etc. " .

Melville Herskovits, [1], t.II:108 situa seu estudo particularmente em Abomé e encara Loko sob o estrito ponto de vista dos integrantes do "Panteão do céu" , onde, diz ele:

...este deus é importante para a compreensão da religião daomeana, na medida em que oferece uma visão das inter-relações dos diversos cultos no Daomé. Entre as divindades do céu, Loko é encarregado de cuidar das árvores que se encontram na terra e suas funções são de tal modo significativasque ele tem como assistente seu jovem irmão , Medje.

As árvores têm alma e são associadas aos espíritos denominados Aziza, que, por um lado, dão a magia aos homens, por outro, são associados ao culto dos antepassados.

Que Loko seja o deus das árvores e que as árvores tenham uma alma explica a importância do emprego das folhas na prática medicinal e religiosa no Daomé e estabelece a declaração de um informante, sacerdote: "Se alguém souber o nome e a história de todas as folhas da mata, saberá tudo o que existe para saber a respeito da religião daomeana".

Alexandre Adandê [1], indica que no bairro de Tenji, em Abomé, Alantan Loko seria o Orísa Oko dos yoruba.

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Pierre Verger - Não pude apurar muita coisa sobre os cultos realizados pelos fon aos Vodun cujo nome é associado ao de Loko, a não ser o fato de que eles parecem desempenhar um papél secundário, acompanhando um Vodun mais importante, ao mesmo título que Legba, Gun ou Dan e dos quais trazem o nome, seguido de Loko. Iroko, até certo ponto, parece estar ligado a Esu Elegba. Cantigas para Esu fazem alusão a Iroko e à sua ação calmante". No entanto, não sei muitas coisas mais.

Nina Rodrigues, [1], p.53, no Brasil, diz que: A fitolatria africana na Bahia parece ter duplo sentido. A árvore pode ser um verdadeiro fetiche animado ou, ao contrário, mal representa a morada ou altar de um santo. A gameleira branca (Chlorofora excelsa), árvore abundante neste Estado, é o tipo da planta deus. Com o nome de Iroco é objeto de um culto fervoroso. Mais de uma mãe de terreiro exortou-me a jamais permitir que se abatesse uma gameleira em um terreiro de minha propriedade, pois tal sacrilégio foi causa de grandes infortúnios para muita gente...

Egungun

Egungun ou Egun, espírito ancestral de pessoa importante, homenageado no Culto aos Egungun, esse culto é feito em casas separadas das casas de Orixá. No Brasil o culto principal à Egungun é praticado na Ilha de Itaparica no Estado da Bahia mas existem casas em outros Estados.

Êssa nome dos ancestrais fundadores do Aramefá de Oxóssi (conselho de Oxóssi, composto de seis pessoas).

Esa espírito dos adoxu e dignatários do egbe (casa).

(informação obtida do Projeto Egungun)

Os nagôs, então, cultuam os espíritos dos "mais velhos" de diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para serem invocados e materializados é que recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo especial.

Porque o objetivo principal do cultos dos Egun é tornar visível os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito controle

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das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência). Assim, os Babá trazem para seus descendentes e fiéis suas bênçãos e seus conselhos mas não podem ser tocados, e ficam sempre isolados dos vivos. Suas presença é rigorosamente controlada pelos Ojé (sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles.

Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas, com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá-Egun ou Egun-Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estar cobertos de búzios, espelhos e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado Abalá, além de uma espécie de avental chamado Bantê, e por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina. Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em vida.

Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte. Neste último caso, o Egungun representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os Egungun, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo.

No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da transformação de um ser deste-mundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.

Onilé

Onilé é um Orixá que se caracteriza por ser o princípio e representação coletiva dos Egungun. Ele é o primeiro a receber as oferendas e a ser evocado nos ritos de Egun.

Todo terreiro de Egun possui um Onilé assentado.

Omolu

Obaluayê, também conhecido como "O dono da Terra, o Senhor da Terra" é o Orixá das doenças. Também é considerado como o senhor dos mortos, pois uma lenda reza que Obaluayê foi o único Orixá que dominou a morte, Iku.

Omulu é aquele que tira a doença, mas também é aquele que dá a doença.

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Oxalá

Oxalá, Obatalá, Orixalá, Orisainlá

Oxalá é um nome genérico de vários Orixas Funfun , é como são chamados diversos Orixás africanos no Brasil relacionados com a cor branca e a criação do mundo. Na África Obatalá, Osala, Osalufon, Osagiyam e Osa-Popo, todos eles denominados Òrìsà funfun (branco), devido a cor que os simboliza, a cor branca. Orisa-Nla é o primeiro Orisa Funfun nascido diretamente de Olorun (DEUS).

Obatalá e Odudua são associados de diversas maneiras nos mitos da criação