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Todos os fatos são fictícios e não representam a realidade. REPÚBLICA DO ELDORADO Toni Martin

República do El Dorado

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No reinado do El Dorado a Rainha prepara-se para a coroar o Principe Salvador, nada devem eles temer a não se as suas conciências do dever deixado de lado pois a cobiça do Diabo emergiu a um tempo nos campos do cerrado.

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T o d o s   o s   f a t o s   s ã o   f i c t í c i o s   e   n ã o   r e p r e s e n t a m   a   r e a l i d a d e .  

REPÚBLICA DO ELDORADO Toni  Martin              

08  Fall  

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Disse um dia o Noel: "O povo já pergunta com maldade, Onde está a honestidade, Onde está a honestidade". Era um dia muito quente, Luz entrando no palácio Muita gente na soleira, E o povo chegando Pela praça das ladeiras. O capeta que tomei Madrugada raiando me deixou alucinado: Deveria ter ficado na República Das Bananas, Lá pelo menos a gente come bem. Bendito dia que mãe, Me fez nascer Na terra do futuro! Do palácio a Rainha gritou: Quem mudou o tempo do verbo? Não vale mudar o jogo, Não vale! Assim vou chorar! Hoje sou a bola da vez! Onde está a honestidade? Ai meu Deus, O que é Honestidade? Nunca mais qualquer bebida Para entender a “Cleptocracia” Do Estado de Direito Lúcido ei-de-estar, Cadê o Príncipe que roubou O meu sonho delicioso? Lá vem eles, Descendo a rampa, Os donos da terra, Bem vestidos para a posse, O Príncipe abatido Pede a Deus perdão: "Pai essa Gente não sabe o que faz". Enganaste ao povo, bandido! Vergonha! Vergonha!

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Grita uma voz no canto Do palácio, Os súditos se levantam Para matar o insolente. Neste instante minha criança Guardada no peito se rebelou: E meu sonho que devoraste? Cadê o mundo mais justo, O terreiro dos Orixás! Te advirto Cangaceiro, La se foi a tua chance... Não tiveste o cuidado De entender tua missão Tua chamada é divina, Tua voz rouca uma bença, Mas o Diabo lambeu teu coração. A cobiça do bichano é voraz Meu Caro Beato Sebastião, Só lhes resta o fogo duro Do Antônio da Justiça, Da República Curitibana Do pinhão e quentão, Gente fria e alinhada. Jararacas inundaram A praça do poder, Mas quem não teme sua mordida É um tolo ou sonhador, Outras cobras Também se escondem Em terreiros nada feios, De carrão e avião, Das finanças deste povo Dos guardiões do dinheiro, Que lhes rouba sua sina, Maltratando sem mordida O povo carente de amor. Pois lhes digo meus amigos, Fumando Puros cubanos, e o Bom Whisky escocês Bateu fraqueza na consciência Dos banqueiros, Os institutos das artes Nasceram a salvar o Que restou da cultura, Bemfeitores se fizeram

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dos desenhos do Glauber, Di, E tantos outros valentes, Conservar em seus gabinetes a cultura nobre do Povo guerreiro. Onde está a honestidade Onde está a honestidade Meu caro cantador! Retornando a posse Real Do príncipe dengoso... Vi ele dizer:

"Creio em Deus em primeiro lugar Creio nos critérios da minha mente, No caráter que não tenho, Creio ainda na felicidade Creio no povo que me ama, Creio no desejo de ser lembrado, O grande líder que não sou, O grande homem que não fui O grande Ser que nunca acreditei"

Nestes instante, o firmamento Se abriu por inteiro, Um clarão rugiu sua magoa, Do Céu foi mandado por Deus, O Antônio, Vingador da Justiça. Desce ele a escada Retornando das brumas secas, Da caatinga bendita, Antônio, Dispara sua presença Desde longe para avisar, Sua arma preferida, As mensagens dos que condena As falas que tanto gravou. O príncipe sem trono Irado retruca:

Quem autorizou, Matador de Cangaceiro, A meter sua mão no meu limoeiro? Porra! Antônio querido, Entenda bem:

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Sou o escolhido desta terra, O messias dos operários O salvador dos descamisados, Dos que temem a larica da madrugada Gente do bem.

Como é fácil viver assim Em jatinhos alugados Pelo povo do El Dorado Dessa acovardada justiça, Que late mas não morde, Dessa gente boa que Acredita no Saci, em mim, E também no Pererê de mingau, Na alegria do Samba, No molejo da bola, Gente simples e do bem!“

Lá, Dentro no palácio, O clima se amedronta, O Príncipe sem remorsos Acredita na sua luta, Dos pobres contra os ricos, do roubo honesto Do Lampião abençoado. Lá, Ele resmunga sorrateiro:

”Cadê o Estado de Direito! Paguei pela diversão, Sou Servente dos que tem dinheiro, Sou Benfeitor dos que nada tem. Tive um sonho, Queria dar tudo a minha Dona, Meus filhos e netos, Paguei bem a minha felicidade Meu caráter é republicano Dos que acreditam no malandro Tradição do esperto, safo, De se dar bem, de fazer o pé de meia, Pra tempos de ventania, Aguentar a turbulência, Com o dinheiro alheio, Do povo, Que nada tem,

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E agora... querem-me Roubar o amor do povo!”

Oh lacaios, invejosos Do bando de lá! Falam de minhas posses, Pois lhes digo: A choupana na praia tem três lajes, e pequena é, Para que tanta escadaria? Mais valeria uma fazenda, de muitos bois e pasto verde.

A plebe então gritou: Você merece! Você merece!

”Deixa disso Queridos, meu jeito é do povo, Porra! Quero hoje minha terrinha, Um sítio com jardim, Para Dona plantar. Não entendo esta gente, Tanta enveja e maldade, Eita! povo Avarento! A república do El Dorado Ainda haverá de vencer!”

Mas ai, O tal do Antônio da Justiça, Justiceiro, Corta-cabeças Sem dó na consciência Chegou na praça do poder, Verdugo de faca amolada Desceu para não voltar, Seu fúsil defumado, Enfurece o Reinado. Me engana por favor, Que isto é coisa do demônio, Nosso tempo é vergonhoso O que dirão nossos vizinhos e a galera lá do Norte? Que vergonha minha gente Ser manchete no mundão Tenho pena da diplomacia, Qual desculpa criarão Nos salões de etiqueta Do Whisky e esturjão?

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Oras! Querido Embaixador, Apenas recitarás elegante: A culpa é do sol, da praia Do carnaval, Da corte portuguesa Que não levou esta terra A sério, Da santa do pau oco, Da corrupção e da preguiça Da Santa inquisição, Da cigarra que ri da formiga, Do ensino que criou as cartilhas do Bom ladrão, dos matadores de índios, Da perversa escravidão Da dor, eterna dor celestial. Enquanto viajo Em pensamentos Minha rainha Ainda reclama das Escutas proibidas, Reveladas a este povo sonolento, Chorou a noite toda, Eita! cruel traição:

”Deixe-me nomear o meu Principe! O que fiz de errado minha gente? Vamos à luta, Ninguém tomará nosso poder! Viva o El Dorado! Viva a República!“

...A noite chegou, Peço trégua, Me emociono com a novela Chico Velho, Vem sonhar comigo? Me convida, Assim não sentirás, A podridão do gado moribundo, Pois viver nesta terra Requer treino de malandro Dos que sabem o jeitinho E gritam ”me dei bem” Já que nada é mais certo

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Que pedir a Deus licença Para Roubar o irmão, O João, A Maria, O Mário Aquele que sumiu no armário... Enfim, já dizia Noel,

”Achas nas ruas diariamente Anéis, dinheiro e felicidade”,

O que esperas minha gente Viver na Republica é emoção, Felicidade é dinheiro no bolso, O resto Deus ajuda, E nossa mãezinha também! Mas, nada de golpe, por favor.      

Santos,  21/3/2006