9
Rev. edl'C. comino CRMV·SP /COfltimIOIIS Educarioll Jourt/al CRMV·SP. Siio Paulo. \'olume 5. jascfculo 3. p. 259 - 267. 2002. ISSN 1516-3326 Intoxicações causadas por pesticidas em cães e gatos. Parte 11: amitraz, estricnina, fluoracetado de sódio e fluoracetamida, rodenticidas anticoagulantes e avermectinas Intoxications caused by pesticides in dogs and cats. Part 11: amitraz, strychnine, sodium fluoroacetate and jluoroacetamide, anticoagulant rodenticides and avermectins Intoxicaciones causadas por plaguicidas en perros y gatos. Parte 11: amitraz, estricnina, fluoracetato de sodio y fluoracetamida, rodenticidas anticoagulantes y avermectinas *Marília Martins Melo· - CRMV-MG - nO 2432 2 Neidejudith Faria de Oliveira - CRMV-MG - 5780 Luiz Alberto Lago3 - CRMV-MG - nO 2905 'Escola de Veterinária. UFMG. Ali. Antônio Cartas, 6627 - Caixa Postal 567. CEP: 31270- 001. FAX, (31)3499·2230. Email: [email protected] I Professora Adjunta do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária - Escola de Veterinária - UFMG. Z Doutoranda em Medicina Veterináriado Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária - Escola de Veterinária - UFMG. 3 Professor Assistente (Doutorando) do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária - Escola de Veterinária - UFMG. 259

Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

Rev. edl'C. comino CRMV·SP /COfltimIOIIS Educarioll Jourt/al CRMV·SP.

Siio Paulo. \'olume 5. jascfculo 3. p. 259 - 267. 2002.

ISSN 1516-3326

Intoxicações causadas porpesticidas em cães e gatos. Parte 11:amitraz, estricnina, fluoracetadode sódio e fluoracetamida,rodenticidas anticoagulantes eavermectinasIntoxications caused by pesticides in dogs and cats.Part 11: amitraz, strychnine, sodium fluoroacetateand jluoroacetamide, anticoagulant rodenticidesand avermectins

Intoxicaciones causadas porplaguicidas en perrosy gatos. Parte 11: amitraz, estricnina, fluoracetatode sodio y fluoracetamida, rodenticidasanticoagulantes y avermectinas

*Marília Martins Melo· - CRMV-MG - nO 24322

Neidejudith Faria de Oliveira - CRMV-MG - n° 5780Luiz Alberto Lago3 - CRMV-MG - nO 2905

'Escola de Veterinária. UFMG. Ali. AntônioCartas, 6627 - Caixa Postal 567. CEP: 31270­001. FAX, (31)3499·2230.Email: [email protected]

I Professora Adjunta do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária - Escola de Veterinária - UFMG.Z Doutoranda em Medicina Veterináriado Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária - Escola de Veterinária - UFMG.3 Professor Assistente (Doutorando) do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária - Escola de Veterinária - UFMG.

259

Page 2: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO. M. M.: OLIVEIRA. N. J. E: LAGO. L. A. Intoxicações causadas por pesticidas em cães e gatos. Parte 11: amitra1.. estricnina. fluoracetado de sódio e fluoracctamida, rodenticidasanlicoagulantes e avermectinas Ilmoxicariolls caused by pesricides in dogs o"d cars. Parr 1/: amitraz. srrycllllille. sodillltl fluoroacerate and jIuoroaceramide. a",icoagulamrodenticides wul al'tmllecti"s I Imoxicaciolles causadas por p/aguicidas en perros y gatos. Parte 1/: amirraz., esrricnina. fluoracerato de sodio y fluoraceramida. rodemicidaswlticoagu/atlles y ol'ermecrinas I Rev. educo contin. CRMV~SP I Continuous Education Journal CRMV-SP. São Paulo. volume 5. fascículo 3, p. 259 - 267, 2002.

RESUMO

Pesticidas são utilizados para causar intoxicação intencional em animais domésticos, mas intoxicaçõesacidentais podem ocorrer. Diversos fatores interferem na toxicidade dos pesticidas e os sinais clínicosdas intoxicações são variáveis, dependendo do composto envolvido. A maioria das intoxicações égrave e, rapidamente, deve ser dado suporte para manutenção das funções vitais, além do tratamentosintomático, para então proceder-se a pesquisa laboratorial do tóxico. Na maior parte dos casos oprognóstico é desfavorável em razão da superdosagem dos agentes tóxicos, comum nosenvenenamentos intencionais, da gravidade do quadro clinico, da ausência de antídotos e do tempodecorrido entre a intoxicação e o atendimento clínico. Pela relevância das intoxicações na clínica depequenos animais, este trabalho teve como objetivo a descrição da toxicologia dos compostos:arnitraz, estricnina, tluoracetado de sódio e fluoracetarnida, rodenticidas anticoagulantes e avermectinasem cães e gatos.

Palavras-chave: Pesticidas. Intoxicação. Cães. Gatos.

oAMITRAZ

amitraz é um pesticida formamidínico usadocontra ectoparasitas (ácaros e insetos) de animaisdomésticos. As intoxicações são acidentais namaioria das vezes, determinando sinais nervosos,- apesar de pouco estar elucidado a respeito do

mecanismo de ação deste pesticida, moderadamentetóxico (JONES, 1990; SAKADE; FLORIO;PALERMO NETO, 1992; WHITEHEAD, 2000).

A aplicação do amitraz é importante devido aresistência aos organofosforados e carbamatos,possivelmente existente em ectoparasitas (SAKADE;FLORIO; PALERMO ETO, 1992). A maioraplicabilidade deste pesticida é o tratamento das sarnasdemodécicas generalizadas em cães. Porém, reaçõesadversas e efeitos colaterais têm sido descritos (JONES,1990), e a dose letal oral para cães é deaproximadamente 100mg/kg de PV (SAKADE;FLORIO; PALERMO NETO, 1992).

O amitraz é uma base fraca, estável em pHalcalino, sensível aos ácidos, luminosidade e temperaturaelevada. Após ingestão, passa por hidrólise ácida noestômago e metabolismo oxidativo hepático, sendoexcretado pela bile e urina. A maior parte dosmetabólitos (53 a 85%) é excretada na urina após trêsdias, mas os efeitos de doses repetidas podem sercumulativos (SAKADE; FLORIO; PALERMO NErO,1992).

A exposição dermal por meio de banhosacaricidas é a fonte de intoxicação mais comum em cães,

260

mas podem ocorrer intoxicações também pela ingestãode água do banho carrapaticida/acaricida (JONES,1990).

Mecanismos de ação propostos, mas ai nda nãoe1ucidados completamente, são a inibição da atividadeda enzima monoarninoxidase (MAO) pelo amitraz, eefeito agonista alfa2-adrenérgico em vertebrados. Nosinvertebrados é inibido o receptor de octopamina,semelhante ao aifa2-adrenérgico, resultando na açãoinseticida. A inibição da MAO ocorre mais nas duasprimeiras horas após a intoxicação, interferindo com ometabolismo da adrenalina e outras catecolaminas,provocando aumento nos níveis de neurotransmissores,como a serotonina. Outro mecanismo proposto é a açãoalfa2-adrenérgica, provocando alterações no sistemanervoso autônomo. No sistema nervoso central (SNC)ocorre estimulação adrenérgica pós-sináptica resultandoem menor atividade simpática periférica, provocandohipotensão e sedação. Essa atividade no sistemanervoso autônomo causa inibição da liberação deacetilcolina, reduzindo os movimentos peristálticos, razãopela qual seu uso é contra-indicado em eqüinos, cujasensibilidade às cólicas é grande (JONES, 1990;SAKADE; FLORIO; PALERMO NETO, 1992).

Após o início dos sinais clínicos, o curso é agudocom duração de poucas horas, sendo observado vômito,anorexia, bradicardia, bradipnéia, ataxia, letargia,depressão, hipotensão arterial, vasoconstricçãoperiférica, hipoterrnia, sonolência, midríase, depressãorespiratória, poliúria e hiperglicemia. Podem ocorrerhipertensão e bradicardia devidas ao efeito agonista

Page 3: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO, M. M.; OLIVEIRA. N. J. F.; LAGO. L. A. Intoxicações causadas por pesticidas em cães e gatos. Parte LI: amilraz. estricnina, nuoracetado de sódio e fluomcel3lnida. rodenticidasanticoagulanles e avermectinas / Intoxications caused by pesticides in dogs anti cats. Part 11: amitraz., stryclllli1le, sodilll1l fllloroacetate anti fluoroacetamide. allticoaguloll(rodemicides alld allermeclins / Intoxicaciones causadas por plaguicidas en perros y gatos. Parte 11: omitraz. estricni"a, fllloracerato de sodio y fllloraceramida. rodellricidas(lIIticoaglllalltes y a\lermectinas / Rev. educo conlin. CRMV-SP I Continuous Educalion Journal CRMV-SP. São Paulo. volume 5, fascículo 3. p. 259·267,2002.

alfa2, que provoca redução no tônus simpáticoperiférico. Pode ainda aparecer uma fase transitória deexcitação antes da depressão nervosa, com presençade ataques convulsivos (JONES, 1990; SAKADE;FLORIO; PALERMO NETO, 1992). A aplicaçãotópica do dobro da dose normal de amitraz em cãesprovoca hiperglicemia e inibe a liberação de insulina(JONES, 1990).

Para o tratamento da intoxicação com amitrazo cloridrato de ioimbina pode ser utilizado para revertera bradicardia e a hipertensão mediadas por receptoralfa-2, mas, nesse caso, a atropina é contra-indicada.Agentes eméticos não devem ser administrados devidoao risco de aspiração de conteúdo estomacal, mas alavagem gástrica sempre é aconselhável. Os cãesintoxicados devem ser mantidos em ambiente tranqüilo,livre de estresses principalmente nas primeiras 24horas.Em caso de suspeita de contaminação dermal, o animaldeve ser banhado com água morna e sabão. Oprognóstico é reservado a bom, de acordo com aresposta nas primeiras horas da terapia (JONES, 1990).

ESTRICNINA

A estricnina é um alcalóide indol tóxicoconvulsivante, não depressor da consciência eoriginalmente presente nas sementes de StI)'chnos nuxvômica ou S. ignatti, que, no século XVI, começou aser usada na Europa para exterminar animais nocivos,como roedores e carnívoros silvestres. Comercializadana forma de iscas (0,5 a 1% de estricnina) ou pó comsabor amargo, que necessita ser misturado ao alimentopara não ser recusado. É altamente tóxica paramamíferos e parece ser o agente tóxico de escolhi' emenvenenamentos intencionais de animais de estimação (HATCH, 1992a,b; POPPENGA; BRASELTON IR.,1990).

Cães e gatos são particularmente susceptíveis àintoxicação por estricnina (HATCH, 1992b;POPPENGA; BRASELTON IR., 1990), que podeocorrer acidentalmente quando estes animais comemroedores mortos pelo veneno. Em gatos, a ocon'ênciade intoxicações por estricnina é menor, em razão damaior seletividade e resistência desses animais, além daquantidade ingerida, proporcionalmente menor que aingerida pelo cão (HATCH, 1992b).

A estricnina é letal para mamíferos; a dose tóxicapela via oral é de 0,75 e 2mgfkg de PV, para cães egatos, respectivamente, e existem variações individuais.Em virtude da degradação parcial feita pela microbiotado trato gastrointestinal, a estricnina é de duas a dez

vezes mais tóxica quando administrada pela viaparenteral. As propriedades irritantes e amargasprovocam emese e um animal de estômago vazio podeeliminar mais eficientemente o tóxico, se conseguirvomitar, porém a repleção gástrica pode provocar maiorabsorção e aumento da toxicidade (HATCH, 1992a).

Após a ingestão, a estricnina é rapidamenteabsorvida e eliminada, não se acumulando muito emtecidos; portanto, quantidades mini mas podem nãocausar problemas graves. Parte do composto (20%) éexcretada na urina de forma inalterada nas primeiras24h após a intoxicação, o restante (80%) sofremetabolismo hepático (HATCH, 1992a).

A estricnina antagoniza seletivamente a inibiçãopós-sináptica no cérebro, mediada pelo GABA (ácidoy-aminobutírico) ou outro tipo de neurotransmissordepressor dependente de aminoácidos, como a glicina,que participa do mecanismo inibitório do neurôniomotor acoplado à med ula es pi nhal. Ocorreantagonismo competitivo e estereo-seletivo, pois aestricnina liga-se aos receptores da glicina ou doGABA e, como conseqüência, surgem atividadesreflexas difusas nos músculos estriados devidas àtransmissão não controlada dos estímulos nervosospara a periferia. A estricnina não permite que OCOITa ahiperpolarização dependente do fluxo iônico e assimnão ocorre a ini bição pós-sináptica do neurônio motor,provocando rigidez generalizada e simétrica, comcontrações musculares tônicas e morte por choquerespiratório associada a anóxia, resultante daincapacidade funcional dos músculos respiratórios emrigidez tônica (HATCH, 1992a).

Os efeitos da estricnina são agudos e os sinaisclínicos podem ser observados após um período de 30min a 2h em cães após a administração da dose letal.Inicialmente ocorre uma síndrome nervosa sem perdada consciência, com inquietação, dispnéia, contraçãodos músculos faciais ("sorriso"), rigidez cervical, orelhaseretas tendendo a ajuntar-se, tórax e abdômen tensos,convulsões, hiper-retlexia, midliase durante a convulsãoe extensão tônica dos membros, pois os músculosextensores apresentam força de contração maispronunciada que os flexores. As convulsões, dose­dependentes, são cada vez mais freqüentes e graves, àmedida que mais estricnina é absorvida pelo animal,causando opistótono, apnéia, anóxia cerebral, perda deconsciência e morte. Dependendo da dose OCOITeapenas um episódio convulsivo fatal em 20 a 30 minutosapós a ingestão da estricnina (HATCH, 1992a).

Lesões macro e microscópicas não sãocaracterísticas, sendo encontradas cianose, petéquias e

261

Page 4: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO, M. M.: OLIVEIRA. N. J. E: LAGO. L. A. Intoxicações causadas por pesticidas em cães e gatos. Parte 1.1: amitraz, estricnina, tluoracetadode sódio e fluoracetamida. rodenticidasanticoagulantes e avermeclinas / IlI1ox;catio1ls callsed by pesticides in dogs (lIld cals. Part 11: amitraz. slrycJmi"e, sodillm jllwroacelale alld fluoroacewmide. all/icoaglllalltrodell/icides aluI a"'ermeclills / Illtoxicaciones callsadas por p/aguicidas ell perros )' galos. Parte 11: amitra:.. estricnina, fllloraCetalo de sodio Y fllloracelllmitla, rodelllicidasaflticoaglllafltes Y lII'ermect;llos / Rev. educo contin. CRMV-SP I Conlinuous Education Journal CRMV~SP.São Paulo, volume 5. fascículo 3, p. 259 - 267.2002.

equimoses cardíacas e pulmonares, se as convulsõesforem prolongadas. Rápido desenvolvimento derigidez cadavérica e estômago repleto podem serachados sugestivos de intoxicação por estricnina,pois o glicogênio foi consumido nas convulsões e arepleção gástrica pode inibir o vômito e favorecer aabsorção do tóxico (HATCH, 1992a).

O diagnóstico diferencial deve ser feito entreenvenenamento por estricnina e intoxicação porinseticidas organoclorados e organofosforados,carbamatos, f1uoracetato, hipocalcemia, tétano eoutras desordens convulsivantes (HATCH, 1992a).O conteúdo estomacal, fígado, rim, urina e vômitosão espécimes de eleição para análise toxicológica,que devem ser enviados congelados (POPPENGA;BRASELTON JR., 1990).

O tratamento para intoxicação por estricninaé sintomático, visando a controlar as convulsões, afornecer suporte respiratório e a favorecer aeliminação eficiente do tóxico. Não devem seradministrados eméticos, pelo risco de aspiração deconteúdo e risco de maiores convulsões. Drogasanticonvulsivantes como barbitúricos ou diazepínicosdevem ser usadas. Para cães e gatos, usa-se oDiazepan na dose (0,5 mglkg de PV) ou Midazolan.Se o paciente não responder a terapia inicial pode­se fazer infusão contínua de Propofol, Tiopentalsódico ou mesmo uma associação de Fentanila comDiazepan, procedendo-se as medidas necessáriaspara o bom funcionamento respiratório ecirculatório. A lavagem gástrica deve ser feita comsolução de permanganato de potássio (112000),visando a oxidar a estricnina, e ácido tânico (I a2%) ou ácido clorídrico diluído, que podem reduzir­lhe sua absorção. O animal deve ser mantido emlocal tranqüilo e para forçar a excreção, administrarmanitol a 5%, diluído em cloreto de sódio (0,9%),na velocidade 6,6mlfkg/hora. Administrar vitaminaC (3000 UI), que promove acidificação da urina eaumenta a excreção da estricnina. Não utilizaropiáceos, pois estes inibem os centros respiratóriossuperiores e estimulam a medula espinhal.Quetamina é contra-indicada porque é estimulantecerebral, além da acepromazina, que não surtiu oefeito desejado em cães intoxicados por estricnina.A sedação deve ser leve, em virtude do risco mortepor coma anestésico, demandando reavaliaçãoconstante e reinstituição da terapia, conforme ocurso das convulsões e se o animal sobrevive asprimeiras 24h de intoxicação, o prognóstico éfavorável (HATCH, 1992a).

262

FLUORACETADO DE SÓDIO EFLUORACETAMIDA

Fluoracetato de sódio e f1uoracetamida,chamados de composto 1080 e 1081, respectivamente,são pesticidas classicamente utilizados no controle deroedores, mas a última foi utilizada como arma quúnica.São muito tóxicos, incolores, inodoros, insípidos ehidrossolúveis, presentes na planta tóxica popularmentechamada de erva-de-rato (Palicourea marcgravii) eem outras plantas do gênero existentes no Brasil, Áfricae Austrália. Possuem ação em cadeia; roedores ou avesmortos pelo veneno podem provocar o óbito de umcão de médio porte quando ingeridos (HATCH, 1992a;OMARA; SISODIA, 1990).

A dose letal aguda varia entre 0,05 a 1,0 e 0,3a 0,55 mgfkg de PV, respectivamente em cães e gatos,mas ainda não foram determinados os motivos dessavariação entre as espécies, sendo possível a ocorrênciade condensação do veneno com o oxaloacetato emgraus diversos nas diferentes espécies e a toxicidadeser variável (HATCH, I992a; OMARA; SISODIA,1990).

O tluoracetato é facilmente absorvido pelo tratogastrointestinal, pulmões e pele lesada, sendo aintoxicação oral e inalatória mais comum. O mecanismode ação, semelhante para os dois compostos, envolveinibição do ciclo do ácido cítrico, pois o fluoracetatocondensa com o oxaloacetato formando fluorcitrato,impedindo a conversão enzimática do citrato a isocitrato,decorrente da competição pela enzima aconitase. Ocitrato acumula nas células e ocorre parada darespiração celular oxidativa em todo o organismo. Osprimeiros efeitos são manifestados pelo sistema nervosoe coração, devidos à falta de energia e acúmulo deamônia na circulação (HATCH, 1992a; OMARA;SISODIA, 1990). Ocorre ainda quelação do cálciosangüíneo devida ao excesso de citrato presente nosangue (OMARA; SISODIA, 1990).

Sintomas de intoxicação por f1uoracetato etluoracetamida são agudos, em 30 minutos a duas horas,com a morte ocorrendo em 12h. Nos cães, os sintomasnervosos mais evidentes são excitação, irritabilidade,náuseas, vômito, diarréia, micção freqüente, corridafrenética em linha reta, prejudicando ainda mais o sistemacardiovascular, convulsões, rigidez dos músculosextensores e com a progressão do quadro, as convulsõessão mais fracas, devido a exaustão energética muscular.Nos gatos, a síndrome é nervosa e cardíaca, entretanto,a desorientação parece ser menor (HATCH, 1992a).

Achados de necropsia são cianose de mucosas,

Page 5: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO, M. M.: OLIVEIRA. N. J. E: LAGO, L. A. Intoxicações causadas por pesticidas em cães e gatos. Parte 11: amitraz. estricnina. nuoracetado de sódio e nuoracetamida. rodenticidasanticoagulantes e avemlectinas / Intoxications caflsed by pesticides in dog~' muI cats. Part 1/: amitraz. stryclmille. sodiunJ jIlloroacetate alld jIuoroacetamide, (lnticoagulalltrodenticides lllld ol'ermectins / Imoxicac:iones ctlllsadas por plagllicidas en paros y gatos. Parte 1/: amitraz. estricnina, fluoraceul1o de .\'odio y fl/toraceramida. rodemicidaslllllicoagllfanles y avennecti"as / Rev. educo contin. CRMV~SI)I Conlinuous Educalion Journal CRMV-SP. São Paulo, volume 5, fascículo 3. p, 259 - 267. 2002,

congestão hepatorrenal, hemorragias agônicas e enterite,provocada pelo efeito irritante local do f1uoracetato.Lesões são ausentes quando a morte ocorre porfibriJação ventricular aguda (HATCH, 1992a). Em ratosfoi descrita opacidade de córnea (OMARA; SISODlA,1990). O exame histológico pode revelar edema cerebrale infiltração leucocitária perivascular no espaço deVirchow-Robin (HATCH, 1992a).

No diagnóstico devem ser consideradoshistórico e sintomatologia do paciente, sendo importanteincluir na chave diferencial estricnina, hipocalcemia,organoclorados, encefalopatias hepáticas e outrasencefaJites graves em cães e gatos (HATCH, 1992a).

O prognóstico é desfavorável, pois a morte érápida, sendo recomendado tratamento sintomático comdiazepínicos e barbitúricos, em doses sedativas.Assistência respiratória, lavagem gástrica, administraçãode leite e monoacetato de glicerila (O, I a 0,5mg/kg dePV), via intramuscular a cada hora, totalizando 2 a 4mg/kg de PV, visando regenerar a enzima aconitase, parapossibilitar a entrada do citrato novamente no ciclo,podem ser eficazes para redução da toxicidade. O citratoé contra-indicado para competir com o tóxico, poisprovoca quelação do cálcio plasmático e hipocalcernia(HATCH, 1992a). Pesquisas demonstraram que ratosintoxicados por f1uoracetato de sódio e tratados comsuccinato de sódio associado a gluconato de cálcioapresentaram melhor recuperação, mas são necessáriosmaiores estudos em outras espécies para determinarantídotos para esta intoxicação (OMARA; SISODIA,1990).

RODENTICIDAS ANTlCOAGULANTES

Rodenticidas anticoagulante são antagonistascompetitivos da vitamina K (vil. K), de grandeimportância toxicológica na Medicina Veterinária(ADAMS, 1992; DROBATZ, 1994). São usados comorodenticidas, principalmente no ambiente doméstico eforam sintetizados da dicumarina ou dicumarol, presenteem leguminosas colonizadas por fungos. Os principaissão warfarin, tomorin, racumin, brumoline, difenacoum,coumatetraW, brodrracoum e compostos relacionadosa idandiona (pindona, clorfacinona, bromadiolona edifacinona), (DORMAN, 1990; HATCH, 1992b;WHITEHEAD,2000).

Rodenticidas anticoagulantes comerciais sãovendidos como pós inodoros e insípidos ou, ainda comoiscas prontas, nas quais geralmente se associa asulfonarnida, para inibir a síntese rnicrobiana de vil. Kno trato gastrointestinal do roedor. A toxicidade é

semelhante para cães e gatos, que podem ingerirdiretamente as iscas ou os ratos mortos com o veneno(DORMAN, 1990; HATCH, 1992b). O warfarin éconsiderado o rodenticida anticoagulante maisamplamente difundido, sendo utilizado para controle deesquilos na Inglaterra e no País de Gales, medianteautorização legal (WHITEHEAD, 2000).

A ação toxicológica é lenta e ocorre emaproximadamente uma semana nos roedores, quecarregam as iscas para os ninhos. As doses tóxicasvariam de acordo com o período de exposição e ocomposto utilizado. Em cães, 5mg/kg de PV, durante 5a 15 dias e, em gatos, lmg/kg de PV, por 5 dias, sãocapazes de provocar alterações graves, portanto, aintoxicação é subaguda. A dose letal de warfarin variaentre 5 a 30mg/kg de PV, respectivamente, para cãese gatos, em exposições de sete a dez dias (DORMAN,1990).

Fatores que aumentam a toxicidade são adeficiência de vil. K, que causa intoxicação mais rápida,grave e provocada com menores doses; hepatopatias,pois o fígado sintetiza os fatores de coagulação; drogas,como fenilbutazona, difenilhidantoína e salicilatos, quedeslocam o rodenticida da albumina plasmática;hom1ônio adrenocorticotrófico, esteróides e tirox.ina, poisaumentam a afinidade dos receptores hepáticos doanticoagulante, e nefropatias, que resultam em perdade proteínas e debilitam o animal (DORMAN, 1990;HATCH,1992b).

Os rodenticidas anticoaguJantes são absorvidoslentamente pelo trato gastrointestinal, porém a absorçãoé total, sendo transportados pelas proteínas plasmáticasaté o fígado, onde geralmente a degradação ocorre emdois a quatro dias, se a dose for única (HATCH, 1992b).Warfarin é detectado no sangue circulante em 2h apósa ingestão, mas a maior parte está presente no sangue,ligado à albumina, sendo metabolizado lentamente em2 a 4 dias (HATCH, 1992c). Os derivadosdicumarínicos são considerados anticoagulantes indiretosquando administrados por via oral (ADAMS, 1992),porque interferem na síntese de fatores da coagulação,ligando ao epóxido da vil. K, impedem a regeneraçãodesta e sua atuação como cofator na carboxilação doácido glutâmico, essencial para a síntese dos fatores dacoagulação. O efeito hemorrágico é resultante da nãoformação do complexo protrombina-trombina e doaumento da fragilidade capilar, provocado porcumarinas e idandionas. Ocorre depressão dos fatoresda coagulação 11, VII, IX e X (vil. K-dependentes) enecrose hepática como seqüela anóxica (DORMAN,1990; HATCH, 1992c). Desta forma, ficam

263

Page 6: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO. M. M.: OLIVEIRA. N. J. F; LAGO. L. A. Intoxicações causadas por pesticidas em càes e galos. Parte 11: amitraz.. estricnina. fluoracetado de sódio e fluoracelamida. rodenticidasanticoagulantes e avermectinas / !lltoxicat;o1lS caused by pest;cides ;11 dogs muI cats. Part 11: amitraz. strychnine, sodium fllloroacetate and j1uoroacetamide. allticoagll/amrodelllicides muI al'ermectifls / Illloxicaciones causadas por plaguicidas en perros y garos. Parte 11: amitraz, esrricnina. fluortlcetllto de sodio y jllloraceUlmida. rodellticidasanticoagu!alltes y llI'ermectillas / Rev. educo contin. CRMV-SP I Continuous Education JOllrnal CRMV-SP, São Paulo. volume 5, fascícu.l0 3, p. 259 - 267. 2002.

comprometidos as vias intrínseca, extrínseca e comumda cascata da coagulação (DORMAN, 1990).

A sintomatologia clínica inclui vômito com ousem sangue, hematúria, taquicardia, hemorragias,anemia, fraqueza, mucosas pálidas, depressão, epistaxe,melena, ataxia, estertores pulmonares úmidos(hemOITagia pulmonar), dispnéia, hematomas externose icterícia, se o curso prolongar, podendo ocorrer mortesúbita decorrente das hemorragias maciças emcavidades naturais (DORMAN, 1990; DROBATZ,1994; RATCR, 1992c).

Provas de coagulação alteradas são osprincipais achados de patologia clínica, aumento dotempo de coagulação, redução da agregação plaquetária,aumento do tempo de protrombina, além de diminuiçãodo hematócrito (DORMAN, 1990).

Achados de necropsia incluem hemorragiasgeneralizadas, coração arredondado e flácido, devidoà dilatação por excesso de esforço compensatório, alémde necrose hepática determinada por hipóxia,hemopelicárdio e hemoperitônio (HATCH, 1992c).

O diagnóstico, feito em conteúdo estomacal efragmentos de órgãos internos, muitas vezes émascarado, pois o curso da intoxicação geralmente duramais que dois a quatro dias após a ingestão dorodenticida anticoagulante, o qual não estaria maispresente no estômago. Materiais de eleição para odiagnóstico são fígado, rim, conteúdo gástrico e sangue.Aliado à sintomatologia, a determinação dos fatores decoagulação, o tempo de coagulação e a resposta aotratamento são essenciais para conftrmação da suspeitae o diagnóstico presuntivo (POPPENGA;BRASELTON JR., 1990). A intoxicação deve serdiferenciada de aflatoxicose, leptospirose, acidenteofídico, trombocitopenias e envenenamento porhidrocarbonetos. Por serem compostos normalmenteausentes nos tecidos, os rodenticidas anticoagulantespresentes em qualquer concentração nestes fornecemdiagnóstico positivo seguro. Na cromatografia emcamada delgada após revelação, os rodenticidasanticoagulantes apresentam fluorescência azul (HATCH,I992c).

Para o tratamento de intoxicações comdicumarínicos, é indicada a administração de vil. K I95mg/kg de PV, por 3 dias, no cão), mas tratamentomuito prolongado pode provocar nefrose. É essencialo fomecimento de fatores da coagulação pela transfusãode sangue (20ml/kg de PV), administrados lentamente,moni torando o ani mal para evi tar choque ou transfusãode plasma. O sulfato de estradiona (Premarin), na dose5 a 20mg/kg de PV (IM ou EV), pode favorecer o

264

restabelecimento do animal. Expansores plasmáticos,hidratação, administração de carvão ativado emanutenção do mínimo de estímulos para o animalpermanecer quieto, sedando, se necessário, são boasmedidas protetoras para evitar traumas e controlar ashemorragias (DORMAN, 1990; DROBATZ, 1994;HATCH, 1992c). Quando administrada oralmente, avil. K1, associada a alimentos com maior quantidadede lípides, é absorvida mais eficientemente(DORMAN,1990).

Em outros protocolos, a vil. Kl é mais usadapara tratamento de envenenamento por anticoagulantesna dosagem de 4mglkg/dia, durante cinco dias. Em dosesmais elevadas pode provocar aparecimento decorpúsculos de Heinz no esfregaço sangüíneo(HOUSTON; MYERS, 1993). A dose de vitaminaKI indicada é de 3 a 5mg/kg/dia, pelas vias oral ousubcutânea, durante uma a quatro semanas, dependendodo tipo de intoxicação (DROBATZ, 1994).

AVERMEOINAS

As avermectinas são lactonas macrocíclicas,derivadas da fermentação do microrganismoStreptomyces avermitilis e estão incluídas neste grupoavermectina, abamectina, ivermectina e doramectin,entre muitos outros compostos, todos sensíveis adegradação pela luz ultravioleta (MUNIZ, 1996).

Apesar de serem consideradas anti parasitáriosde amplo espectro, menos tóxicos e mais eficazes, asivermectinas têm causado intoxicações em cães dasraças Collie, Old English Sheepdog, Pastor de Shetland,Pastor Alemão, Poodle e Labrador, além dos efeitosadversos, que ocorrem principalmente pelo poderfilaricida do agente (LOVELL, 1990).

A ivermectina é um derivado semi-sintético doabamectin, composto por duas diidroavelmectinas (80%de B 1 e 20% de B2), ati va contra nematóides eartrópodes (LOVELL, 1990; MUNIZ, 1996). Aavermectina B I aumenta a condutância ao cloro,mediada pelo ácido gama amino-butírico (GABA) eparece bloquear a transmissão de impulsos para oneurônio motor nos nematóides, além de aumentar aliberação pré-sináptica do GABA e sua ligação pós­sináptica. Este mediador aumenta a condutância ao cloroe provoca inibição neuronal devida à hiperpolarizaçãocausada pelos elevados níveis de cloro. Os efeitos doGABA seriam normalmente compensados pelaacetilcolina, que aumenta a condutância ao sódio. Emmamíferos, neurônios mediados por GABA sãoencontrados apenas no SNC e a ivermectina não

Page 7: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO, M. M.; OLIVEIRA, N. J. F.; LAGO, L. A. Intoxicações causadas por pesticidas em cães e gatos. Parte 11: amilr3Z, estricnina, Ouoracelado de sódio e Ouoracetamida, rodenticidasanticoagulantes e avermectinas /llItox;cat;olls caused by pest;cides in dogs alld cms. Part 1/: am;rraz, strycl",ine. sodiuTII jluoroacetale alld jluoroacetamide, ollticoagulalllrodenticides alld avenneclins / IlItoxicacio"es causadas por plagu;c;das eu perros )' gatos. Parte 1/: amilraz.. estricnina, fluoracelalo de sodio y j1uoraceta11/ida, rode",icidasanlicOllgulOll1es y avermeclillas / Rev. educo contin. CRMV-SP I Continuous Education Journal CRMV·SP, São Paulo. volume 5, fascículo 3, p. 259 - 267, 2002.

atravessa a barreira hematoencefálica em condiçõesnormais (LOVELL, 1990).

Após administração intravenosa em cães, aivermectina tem distribuição curta e meia-vida de 1,8dias. Após administração oral o nível plasmático máximofoi obtido em 3h e o resultado em cães sensíveis daraça Collie foi semelhante ao dos animais resistentes,após administração de 100 mglkg de ivermectina. Apóso metabolismo hepático, ocorre a excreçãoprincipalmente hepatobiliar e pequena quantidade édetectada na urina (LOVELL, 1990).

Toxicidade aguda e subaguda de ivermectinatem sido documentada em cães da raça Collie e de outrasraças, apesar da ampla margem de segurança, pois 2500mglkg de PV provocou apenas midriase em cães, apósdose oral única. Pela via subcutânea, 9400 mg/kg dePV provocaram midríase, salivação, ataxia, depressãoe morte. Não foram observadas alterações causadaspela ivermectina na dose de 500 mg/kg de PV ao dia,PO, durante 14 semanas (LOVELL, 1990).

Nos animais da raça Collie, a toxicose causadapela ivermectina (doses de 100 a 500 mg/kg de PV) éaguda, aparecendo os primeiros sinais após 4h,possivelmente resultantes de sua maior penetraçãoatravés da barreira hematoencefálica. Nem todos osindivíduos da raça são sensíveis a intoxicação porivermectina, que não é relacionada ao sexo, pelagem,ou anomalias oculares. Em gatos, doses de 200 a 1330mg/kg de PV foram bem toleradas em administraçõesorais e subcutâneas (LOVELL, 1990; SOLL et aI.,1991).

A toxicose por ivermectina deve ser levantadaem cães e gatos que apresentam um ou mais dos sinaisa seguir, dentro de 24h depois de uma administraçãomaior que 1000 mglkg: ataxia, comportamento anormal,tremores, midríase, letargia, fraqueza, decúbito, cegueira,salivação, coma. Além dos sinais anteriores, em cãesda raça Colhe foi descrita depressão, convulsões,bradicardia, bradipnéia, falta de resposta a estímulossonoros. Um cão Old English Sheepdog com toxicosecausada pela ivermectina, apresentou ataxia dosmembros posteriores, salivação, taquipnéia; bradicardia,decúbito, miose, estrabismo ventromedial eventrolateral, ausência de resposta a estímulos e

períodos de sono profundo (LOVELL, 1990).Em gatos, doses elevadas de ivermectina

provocam vocalização, ataxia, desorientação, anorexia,demência (choro, mordidas, arranhões), tremores,midríase, cegueira, andar em círculos, pressão da cabeçacontra obstáculos, perda de reflexos, reflexo pupilarlento e incompleto, bradicardia, bradipnéia, hipotermia,mucosas pálidas, coma e morte (LOVELL, 1990),

O diagnóstico de intoxicação por ivermectinadeve ser feito associando o histórico (intervalo de ocor­rência, dose aplicada, raça) e os sinais clínicos do ani­mal, pois a necropsia revela lesões inespecíficas. Mate­riais como plasma, fígado, gordura e cérebro podemser enviados ao laboratório para confLrmação da expo­sição; devem ser analisadas, inclusive, a comida e águade bebida. No cérebro, concentrações de ivermectinaiguais ou superiores a looppb são associadas à toxicoseem cães da raça Collie (LOVELL, 1990).

Sinais de choque, edema pulmonar, dispnéia e/ou vômito em até 24h, mas geralmente oCOlTendo emaproximadamente 10h após a administração de menosque 200 mglkg de PV de ivermectina, podem ser atri­buídos trombose causada pela morte de filárias, sendofacilmente confinnada pela necropsia (LOVELL, 1990).

O tratamento das intoxicações causadas pelaivermectina requer supOlte e fluidoterapia, para retornodo animal às condições normais, pois o paciente podeficar por semanas em coma. Administrar doses seria­das de carvão ativado e uma ou duas doses de catárticossalinos podem aumentar a eliminação da ivermectina,excretada principalmente pela via fecal. Emese é indi­cado apenas se a contaminação for oral e recente (até3h depois) e se não existirem contra-indicações. Admi­nistrar alimentação parenteral ou por sonda oral e pre­venir ou controlar úlceras de decúbito são medidas ge­rais para manutenção do animal. Picrotoxina (antago­nista GABA) administrada pela via intravenosa, na dosede lmg/min, durante oito minutos reverteu a depressãosevera causada pela ivem1ectina em cães da raça Collie,mas ocorreram convulsões violentas após 30min. dotratamento e em ratos não foi eficaz como antídoto. Afisostigmina, estimulante do SNC, deve ser administra­da apenas em animais com ausência de reflexos(LOVELL, 1990).

265

Page 8: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO, M. M.: OLIVEIRA. N.J. E: LAGO. L. A. Inloxicaçõescausadas por pesticidas em cães e gatos. Parte 11: amitraz, estricnina. nuoracetado de sódio e nuoraceHlmida. rodenticidasanticoagulantcs e avermectinas I 11IIQxications caused by pesricides in dogs and cars. Part 1/: amitraz, strycll1line, sodillm fluoroacetate and fluoroacetamide, (wricoaglllantrodellficides (lIul ll\'ermectins / Imoxicaciolles causadas por plagllicidas en perros )' gatos. Parre 1/: amitraz., estricni"a, jIlIoraceuuo de sodio )' jIuoraceUlmida. rodemicidasamicoaglllames y {I\'ermecti,Uls I Rev. educo contin. CRMV-SP I Continuous Education Journal CRMV-SP, São Paulo. volume 5, fascículo 3, p. 259 - 267. 2002.

SUMMARY

Though pesticides are often used in the intentional poisoning ofdomestic animals, accidental toxicitiescan also occur. Because clinicaI signs can depend on the compound, pesticide toxicity is oftendifficult to detect. Most toxicities are severe, demanding the immediate use ofvital sign support andsymptomatic treatment. Only then should the laboratory tests be done to determine the pesticideinvolved. Prognosis is poor in most cases due to the following: the high dose oftoxic agents found inintentional poisonings, the severity of clinicai situations, the absence ofantidotes, and the lirnitedamount of time between the toxicity and clinicai management. Due to the frequency oftoxicity casesin small animal practices, the objective ofthis study is to describe the toxicology ofthe followingcompounds: arnitraz, strychnine, soclium fluoroacetate and fluoroacetarnide, anticoagulant rodenticidesand avermectines in dogs and cats.

Key words: Pesticides. Toxicity. Dogs. Cats.

RESUMEN

Los plaguicidas se utilizan para causar una intoxicación intencional en los animales domésticos,aunque pueden ocurrir intoxicaciones accidentales. Diversos factores son los que interfieren en latoxicidad de los plaguicidas y los síntomas clínicos de las intoxicaciones son variables, dependiendodei compuesto en cuestión. La mayoría de las intoxicaciones es grave y, rápidamente debe dárseleeJ soporte necesario para mantener las funciones vitales además deI tratarniento sintomático, paraluego proceder a la investigación laboratorial deI tóxico. En la mayor parte de los casos la prognosises desfavorable debido un exceso en la dosis de los agentes tóxicos, común en los envenenamientosintencionales, gravedad deI estado clínico, ausencia de antídotos y aI tiempo transcurrido entre laintoxicación y la atención clínica. Debido a la relevancia de las intoxicaciones en la clínica de pequefiosanimales, este trabajo tuvo como objetivo describir la toxicología de los compuestos: amitraz,estricnina, fluoracetato de sodio e fluoracetarnida, rodenticidas anticoagulantes y avetmectinas enperros y gatos.

Palabras clave: Plaguicidas. Intoxicación. PeITOS. Gatos.

REFERÊNCIAS

ADAMS, R. Drogas hemostáticas e anticoagulantes. In:BOOTH, N. H.; McDONALD, L. E. Farmacologia e terapêuticaem veterinária. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1992.p.382-392.

DORMAN, D. C. Anticoagulant, cholecalciferol andbromethalin-based rodenticides. Veterinary Clinics NorthAmerica: Small Animal Practice, v. 20, n. 2, p. 339-352, 1990.

266

DROBATZ, K. J. Clinicai approach to toxicities. VeterinaryClinics North America: Small Animal Practice, v. 24, n. 6, p.1123-1138,1994.

HATCH, R. Venenos causadores de estimulação ou depressãonervosa. In: BOOTH, N. H.; McDONALD, L. E. Farmacologia eterapêutica em veterinária. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara­Koogan, 1992b. p. 854-927.

Page 9: Rev. edl'C. comino CRMV·SP/COfltimIOIIS Educarioll Jourt

MELO. M. M.; OLIVEIRA. N. J. F.; LAGO. L. A. Intoxicações causadas por pesticidas em cães e gatos. Parte n: amitraz. estricnina, Ouoracelado de sódio e nuoracetamida, rodenticidasanticoagulantes e avermectinas / Intoxicarions ctlused by pesticides in dogs al/d cats. Part 11: alllitraz. strychnine. sodium j7/loroacewte and fllloroacetamide. anficoagulalltrodenticides and avermecti"s / JI/toxicaciones causad(u por plagLlicidas ell perros y gatos. Parte 11.' amitraz. estric"ina, j7uoracewfO de sodio .v j7l1oracetamida. rode"licidasanricoagllltll1tes .y avemlectinas / Rev. educo contin. CRMV-SP I Continuous Education Journal CRMV·SP. São Paulo. volume 5. fascículo 3. p. 259 - 267.2002.

HATCH, R. Agentes usados para eutanásia. In: BOOTH, N. H.;McDONALD, L. E. Fannacologia e terapêutica em veterinária.6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, I992b. p. 816-853.

HATCH, R. Venenos causadores de insuficiência respiratória.In: BOOTH, N. H.; McDONALD, L. E. Farmacologia eterapêutica em veterinária. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara­Koogan, 1992c. p. 816-853.

HOUSTON, D. A.; MYERS, S. L. A review ofHeinz-body anemiain the dog induced by toxins. Veterinary and Ruman Toxicology,v. 35, n. 2, p. 158-161,1993.

JONES, R. D. Xylenelamitraz: a pharmacologic review and profile.Veterinary and Ruman Toxicology, v. 35, n. 5, p. 446-448,1990.

LOVELL, R. A.lvermectin and piperazine toxicosis in dogs andcats. Veterinary Clinics North America: Small AnimalPractice, v. 20, n. 2, p. 453-467, 1990.

MUNIZ, R. A. Diferenças entre doramectin e ivennectin. In:

SIMPÓSIO DECTOMAX, 1996. Anais... p. 7-9.

OMARA, E; SISODIA, C. S. EvaJuation of potential antidotesfor sodium monof!uoracetate in mice. Veterinary and RumanToxicology, v. 32, n. 5, p. 427-431, 1990.

POPPENGA, R. H.; BRASELTON Jr., W. E. Effective use ofanalyticallaboratories for the diagnosis of toxicologic problems

in small animal practice. Veterinary Clinics North America:Small Animal Practice, v. 20, n. 2, p. 293-306, 1990.

SAKATE, M.; FLORIO, J. c.; PALERMO NETO, J. Efeitostóxicos do praguicida amitraz: uma revisão. ComunicaçõesCientíficas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecniada Universidade de São Paulo, v. 16, n. 1/2, p. 45-5 1,1992.

SOLL, M. D. et a!. Field safety, efficacy, and acceptability ofivennectin in a chewable formulation for dogs. Canine Practice,v. 16, n. 3, p. 5-8, 1991.

WH1TEHEAD, R. CEd.). The UK pesticide guide 2000. Oxon:CABI Publishing, 2000. 591 p.

267