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Revista Plenitude 21

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Uma publicação inovadora em sua abordagem dos temas saúde e bem estar, e diferenciada na profundidade das informações e abordagens integradas.

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Sumário

Plenitude 21 tem um canal para você compartilhar suas opiniões sobre a revista e ex-periências ligadas a temas e reportagens apresentadas nesta edição. Envie um e-mail para [email protected] com elogios, comentários ou críticas ao conteúdo da revista. Na próxima edição seu comentário poderá ser publicado nesta seção.

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36Outro olhar: Novos Luxos pág. 28

Social: Auto estima em cena pág. 34

Vida e trabalho: Onde mora o equilíbrio? pág. 14

Em foco: Estresse nosso de cada dia pág. 22

Visão: Alexandre Padilha pág. 08

VisãoEntrevista com Alexandre Padilha,

Ministro da Saúde

Maria Uma mulher, três jornadas

TrabalhoVida e trabalho

Em focoO estresse nosso de cada dia

Outro olharOs novos luxos

ArtigoDireito de uma vida urbana

saudável

Coluna socialAutoestima em cena

OxigênioTempos muito modernos

Conexão

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Houve um tempo em que saúde se confundia com o culto a be-leza. Essa visão restrita mudou e nos anos recentes o conceito de bem estar tomou lugar. Hoje, sabe-se que é impossível estar bem sem bons hábitos alimentares, prática regular de esporte, atividades de lazer e recreação e respeito aos limites do corpo. Mas além disso, é necessário considerar outros fatores como justiça, inclusão, conservação ambiental, respeito ao limites do planeta para chegarmos próximo ao conceito de felicidade.

É com essa visão ampla que nasce Plenitude 21. Uma publica-ção inovadora em sua abordagem dos temas saúde, bem estar e sustentabilidade, e diferenciada na profundidade das informa-ções, no uso de linguagem simples e no design envolvente, que coloca esse veículo de saúde na vanguarda dos informativos segmentados.

Publicação mensal, Plenitude 21 tem compromisso com a melhor qualidade editorial e com um jornalismo sem sensacionalismo, reflexivo e fiel aos fatos. Prova disso, é que foi pensado e dese-nhado por uma equipe multiprofissional, formada por jornalistas, publicitários, designers e profissionais da área médica com o ob-jetivo de fugir da abordagem e formato convencionais.

Nas páginas seguintes, você encontrará reportagens que en-trelaçam questões relacionadas à construção de um modelo de mundo que o próprio homem dá sinais de não conseguir supor-tar. O desrespeito à vida, aos limites físicos, mentais e ambientes tem levado cada vez mais pessoas aos consultórios com queixa de estresse, ansiedade, doenças psicossomáticas.

Entre as matérias desta edição você encontrará uma entrevista com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ricas discussões sobre redução de jornada de trabalho, criação de novos modelos de desenvolvimento, impactos da rotina na saúde de mulheres e homens. Seções de cultura e lazer também terão espaço em Plenitude 21.

Essa abordagem ampla é essencial para um veículo que preten-de compartilhar com seus leitores o conhecimento necessário a uma vida saudável. Por isso, Plenitude 21 disponibilizará todo o seu conteúdo com a licença creative commons, ou seja, tudo poderá ser reproduzido e compartilhado desde que citada a fonte inicial.

Outro ponto que distingue Plenitude 21 é a gratuidade, porque seus idealizadores acreditam que o conhecimento deve ser transmitido ao maior número possível de pessoas e compartilha-do entre elas, para que de fato possam exercer o direito de se manter informados. Além da versão impressa, haverá pontos de contato com os leitores em site, blog e redes sociais. Plenitude já está nas novas plataforma de conteúdo digital, como tablets e celulares.

Esta nova publicação estará presente em 14 cidades da região de Campinas, onde vivem cerca de quatro milhões de pessoas. Conhecendo a responsabilidade que isso implica, Plenitude 21 já nasce com um novo olhar incorporado: o de contribuir para a construção de um mundo mais sustentável. Afinal, tratar saúde e bem estar requer uma visão sistêmica do que acontece no pla-neta.

Expediente

Coordenador editorialDavi Carvalho

Jornalistas FundadoresDavi CarvalhoMichelle Dovigo

EditorDavi Carvalho

RepórteresDavi Carvalho, Inaê Miranda

ColaboradoresMariana Schwartzmann, Fer-nanda Cruz Filha, Jarbas Ma-galhães, Carlos Eduardo Gzvi-tauski, Ricardo Young, Anna Coote, Rafael Moya, Elenice Areias, Arlei Medeiros

Projeto GráficoAtipo Design e Brandingwww.atipo.com.br

Jornalista ResponsávelDavi Carvalho MTB: 58.724

Coordenadora de PublicidadeMichelle DovigoContato: [19][email protected]

ImpressãoGráfica Marreco

Os artigos e textos opinativos escrito por colaboradores ex-pressam a visão de seus auto-res.

A REVISTA PLENITUDE 21 É IMPRESSA EM PAPEL CER-TIFICADO, PROVENIENTE DE REFLORESTAMENTOS CER-TIFICADOS PELO FSC DE ACORDO COM RIGOROSOS PADRÕES SOCIAIS E AM-BIENTAIS

PLENITUDE 21 ADERIU À LICENÇA CREATIVE COM-MONS. ASSIM, A REPRODU-ÇÃO DO CONTEÚDO É LIVRE - EXCETO IMAGENS - DESDE QUE SEJAM CITADOS COMO FONTES A PUBLICAÇÃO E O AUTOR.

EditorialPensando o século presente

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Cidadania

Começa acompanhamento do Bolsa Família

As equipes de saúde de todo o País estão em campo para a primeira visita de acompanhamento, deste ano, das contrapartidas dos beneficiários do Bolsa Família. Até 29 de junho, 260 mil profissionais farão o registro das in-formações de 10,6 milhões de famílias. As equipes vão observar se as famílias estão cumprindo o compromisso de acompanhar o cartão de vacinação e o crescimento e desenvolvimento das crianças menores de sete anos. As mulheres na faixa de 14 a 44 anos também devem fazer o acompanhamento e, se estiverem grávidas ou amamen-tando, precisam comparecer ao pré-natal e acompanhar sua saúde e a do bebê. Gestantes - O coordenador-geral de Acom-panhamento de Condicionalidades do Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome (MDS), Marcos Maia, aconselha as gestantes de famílias beneficiárias a não esperar a visita das equi-pes para informar a gravidez aos gestores do Bolsa Família. “Elas devem procurar os responsáveis pelo programa nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) o quanto antes, para agilizar a avaliação e, se for o caso, receber o benefício variável destina-do a gestantes e nutrizes”. Contrapartidas - O calendário de acompanhamento das contraparti-das é definido pelo MDS em conjunto com as áreas de saúde e educação. No caso da saúde, cada uma recebe a visita do técnico duas vezes por ano. Na educação, crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estar devidamente matriculados e com frequência escolar mensal mínima de 85% da carga horária. Já os estudantes de 16 e 17 anos devem freqüentar pelo menos 75% das aulas.

Pílulas

Direito de todos

Saúde Pública é tema da Campanha da

Fraternidade

Em 2012, a campanha da fraternidade, da Confederação Nacio-nal dos Bispos do Brasil (CNBB), tem como tema a “Fraternidade e Saúde Pública” e o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra”. O tema é um convite da CNBB para que os católicos do país reflitam e discutam sobre o assunto durante os 40 dias da quaresma. No lançamento, o ministro da saúde, Alexandre Padilha, citou os avanços na área da saúde pública, lem-brando que o Brasil é o único país com mais de 100 milhões de habitantes que assumiu o desafio de ter um sistema universal público e gratuito. “O SUS é hoje a única porta aberta na urgência e emergência para 145 milhões de brasileiros, sendo que uma população bem maior é beneficiada com ações de vigilância sanitária”, ressaltou. O texto da campanha da fraterni-dade enumera alguns desafios a serem enfrentados pelo sistema brasileiro, especialmente com relação ao acesso – com a melhoria no atendimento – e o financiamento da saúde. “São significativos as conquistas verificadas nas últimas décadas na área da saúde pública, como a redução da mortalida-de infantil, a erradicação de doenças infecto-parasitárias e o tratamento da AIDS, que conta com um sistema elogiado internacionalmente”, observou o secretário Geral da CNBB, bispo Leonardo Ulrich Steiner. Ele explicou que, com a campanha da fraternidade a Igreja quer sensibilizar a todos (socie-dade e autoridades) sobre os problemas que o setor ainda enfrenta para oferecer serviços de saúde de melhor qualidade aos cidadãos brasileiros.

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Mortalidade materna

Ministério da Saúde prevê redução recorde

No primeiro semestre do ano passado, foram notificados 705 óbitos por causas obstétricas, uma queda de 19% em relação ao mesmo período de 2010, quando foram registradas 870 mortes. É a maior redução dos últimos 10 anos. O avanço na redução reforça a tendência de queda ocorrida entre 1990 e 2010, quando a mortalidade caiu pela metade - de 141 para 68 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. A redução ocorreu em todas as causas dire-tas de mortalidade: hipertensão arterial (-66,1%); hemorragia (-69,2%); infecções pós-parto (-60,3%); aborto (-81,9%); e doenças do aparelho circulatório complicadas pela gravidez, parto ou puerpério (-42,7%). A meta, acertada entre o Brasil e a Organização das Nações Unidas (ONU), é de 35 mortes para cada 100 mil nascimentos em 2015.

Planos de saúde

Despesa hospitalar não pode ter limite

Os planos de saúde não podem estabelecer limite máximo de gastos com internações em hospitais nem prazo máximo de permanência do segurado. Os ministros da 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entenderam que esse tipo de cláusula é abusiva. Os mi-nistros analisavam o recurso da família de uma mulher que ficou dois meses internada em UTI devido a um câncer de útero. No 15º dia de internação, a seguradora queria suspender o pagamento alegando que havia sido atingido o limite do contrato de R$ 6.500. Uma liminar obrigou a empresa a arcar com os gastos até que a mulher morreu. Para o ministro Raul Araújo, a saúde humana não pode ficar sujeita a limites como acontece em um seguro de carro. Uma indenização de R$ 20 mil foi fixada por dano moral causado a paciente e à família.

Justo

Ministra quer licença maternidade de seis meses

A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, quer ampliar a licença-maternidade para seis meses obrigatórios e abrir o debate para discutir a ampliação da licença-paternidade no país. O Senado aprovou no ano passado a obrigatoriedade da licença-maternidade de seis meses. Mas o projeto está parado na Câmara dos Deputados, que estima em R$ 1,6 bilhão o impacto dessa ampliação aos cofres da previdência. Mas o valor não chega a 1% dos gastos da Previdência. Para os defensores da ideia, a licença aju-dará principalmente as mães mais pobres, que não têm como pagar creche. Hoje, a licença de seis meses já é realidade, mas é facultativa, cada empresa pode ou não adotar. Segundo a ministra, apenas uma em cada três empresas cumpre essa política.

Tabaco

Cinco milhões de mortos por ano

A Organização Mundial da Saúde divulgou este mês seu mais recente relatório sobre morta-lidade e tabaco. Usando dados de mortalidade de 2004, um ano antes da entrada em vigor da Convenção-quadro para o Controle do Tabaco, o relatório estima que cinco milhões de pessoas morram a cada ano por causas atribuídas ao tabaco. De acordo com o documento, “nas próximas duas décadas, o número anual de mortes por tabaco deverá aumentar para mais de 8 milhões, com mais de 80% dessas mortes nos países de baixa e média rendas. Se medidas eficazes não forem tomadas urgentemente, o tabaco pode matar mais de 1 bilhão de pessoas no século XXI, sem incluir as mortes provocadas pelo fumo passivo”. Ainda segundo o relatório, “o tabaco mata mais que tuberculose, a AIDS e a malária juntas”.

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Qual a sua avaliação so-bre o SUS? O que o senhor destacaria como avanços e limitações?

Alexandre Padilha – Em primeiro lugar não pode exis-tir dúvida da parte de ninguém sobre o papel que o SUS teve na inclusão social de milhares de brasileiros. O SUS é uma conquista da sociedade brasi-leira, do movimento sanitário, dos movimentos populares, dos atores políticos que em um determinado momento com-preendiam que não era possí-vel que milhares de brasileiros ficassem totalmente excluídos de qualquer serviço de saúde. O processo de redemocratiza-ção do país foi acompanhado pela criação e consolidação do SUS, uma conquista so-cial que possibilitou a inclusão de milhares de brasileiros. Do processo de criação até a consolidação, ele tem outros ganhos. O SUS, com todas as críticas que possam existir, é referência para as demais po-líticas públicas na organização dos sistemas nacionais pú-blicos, que envolvam os três níveis da federação. O SUS e seu arranjo institucional, com o controle social, a pac-tuação programada entre os

Visão por Giovana Paula, da Revista do Conasens

Financiamento do SUS, uma demanda democrática

Alexandre Padilha, Ministro da Saúde

vários níveis, é uma idéia força que influenciou o conjunto dos demais sistemas nacionais de políticas públicas, que se au-torreferenciam o tempo todo no SUS. Um quarto valor emble-mático do SUS é a capacida-de de reunir, ao longo desses anos, uma coletânea de expe-riências, de práticas de cuida-do à saúde, exemplar, que tem ajudado a mudar inclusive a prática clínica, a relação dos profissionais de saúde com a sociedade. Eu diria que o SUS tem um componente contra-ditório muito interessante. Ao longo desses anos reuniu um conjunto de experiências mui-to concretas, serviços, equi-pamentos públicos e relações entre profissionais e usuários, que servem para mostrar que o SUS é capaz de mudar a for-ma como as práticas de saúde encaram e envolvem o usuário no cuidado à doença. Mas, ao mesmo tempo, ele é o princi-pal fator de estímulo à recria-ção permanente dele mesmo, na medida em que os serviços mostram os limites claros que o sistema tem.

E quais as limitações do sistema?

AP – Eu diria que hoje o principal limite do SUS, do

O ano de 2011 marcou o ressurgimento das dis-cussões sobre a necessidade de ampliar os recur-sos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Movimentos sociais, governadores de estados, par-tidos políticos e uma parcela da mídia reavivaram a discussão sobre novas fontes de financiamento.

Pensado nas décadas de 1970 e 1980 e projeta-do na constituição de 1988, o SUS passa por um in-tenso processo de ampliação e consolidação. Hoje, o sistema é o maior e mais abrangente sistema de saúde pública do planeta, disponível a 190 milhões de cidadãos e sem restrição na oferta de serviços.Além de uma conquista dos Brasileiros, o SUS é uma necessidade para que o Brasil enfrente seu pro-cesso de envelhecimento populacional que deverá se concretizar nas próximas décadas. Há a previsão de que em 2040 o país tenha mais de 30 milhões de seus cidadãos com mais de 65 anos. Para minimizar o impacto futuro o investimento em prevenção será fundamental. Por isso, a necessidade de mais recur-sos há muito tempo é sentida.

Em entrevista a Revista do Conasems, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ressalta que a criação do SUS representa um marco no processo de re-democratização do país, e que o financiamento da saúde não pode estar dissociado do aprimoramento dos gastos. Segundo Padilha, um dos grandes desa-fios para reduzir as desigualdades regionais é fixar profissionais em regiões de maior necessidade.

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setor saúde, é acompanhar e ir para o centro do projeto na-cional de desenvolvimento do país. Nos últimos sete anos, o Brasil vem vivendo o início de um ciclo de profundo processo de inclusão social, de redução das desigualdades sociais e regionais. Eu diria que o tema da saúde, por vários motivos - seja pela ação dos gestores, seja porque as vezes o setor saúde discute em si mesmo, muito internamente -, acabou se excluindo do centro do pro-jeto nacional do país. Acabou se excluindo da centralidade das grandes políticas públicas que ajudam a consolidar esse novo modelo de desenvolvi-mento do país, que é forte-mente pautado na redução da desigualdade social. Eu acho que o primeiro grande desa-fio do SUS e do setor saúde é voltar para o centro da política brasileira e para o centro da agenda nacional de desenvol-vimento.

De que forma?AP - Uma das questões

fundamentais é identificar como essas ações e esses serviços têm um papel decisivo na redução da desigualdade do país. Não é possível reduzir a pobreza, o déficit de educa-ção do país, as desigualdades regionais, sem o tema da saú-de no centro. Todas as políti-cas que têm impacto direto na redução da pobreza no Brasil hoje, seja transferência de renda, aumento do salário mí-nimo, ampliação da oferta de crédito para o setor produtivo rural ou para a micro e peque-na empresa na região urbana, combate à violência, têm inter-face permanente com o setor saúde. O tema da morte por violência, seja no trânsito, seja relacionada à segurança pú-blica, que é algo decisivo hoje para impedir que gerações de jovens sejam exterminadas no país, dialoga permanentemen-te com a saúde. Os equipa-mentos móveis como o SAMU tem condições de se tornar um verdadeiro observatório da vio-lência urbana. A partir dos da-dos epidemiológicos e das ca-racterísticas do setor saúde é

possível promover a mobiliza-ção das várias outras políticas públicas de combate à violên-cia urbana. Eu acho que a saú-de entra com um papel apenas acessório, quando poderia ter um papel central. Num outro tema, o combate às drogas, o setor da saúde pode ser o prin-cipal mobilizador da capacida-de criativa, do respeito ao usu-ário, utilizando a capilaridade e a capacidade de dialogar com o cidadão que as equipes de saúde da família têm. Toda po-lítica de transferência de renda passa necessariamente pelas condicionalidades, que exige a capilaridade do SUS de chegar na casa das pessoas. Para dar conta dessa agenda nacional de desenvolvimento precisa-mos enfrentar fortemente o déficit educacional do país. Só é possível enfrentá-lo se des-de o nascimento tivermos um processo de cuidado com as crianças, sobretudo aquelas mais vulneráveis.

O senhor defende, então, um protagonismo maior do setor saúde nessas grandes questões?

AP – Claro! Porque senão a saúde só vem para o cen-tro da agenda política do país como problema e como crise, enquanto ela poderia vir como solução. Acho que esse é o conteúdo fundamental. Nós não vamos dar conta de inten-sificar a política nacional de desenvolvimento, a questão da desigualdade, da pobreza, da inovação tecnológica, sem uma participação decisiva do

setor saúde.Mas existe o problema de financiamen-

to, que limita a capacidade de expansão do sistema.

AP – O tema do financiamento é outra con-tradição. Toda vez que se tentou falar em mais recursos para a saúde sem associar com o modo de investir melhor esses recursos, o se-tor saúde foi derrotado. O esforço político tem que ser combinado, até para surtir o efeito que todo mundo espera no sentido de melhorar os indicadores, atender melhor a população, dar conta dessa mudança demográfica que existe com o aumento dos idosos, da inovação tecno-lógica nas práticas médicas. Esta dissociação entre um sistema estatal e um sistema priva-do é outro problema que contradiz a lógica do SUS. O público precisa inclusive regular me-lhor o privado e ao mesmo tempo ter uma re-lação mais próxima com esse setor. Acho que não damos conta de intensificar a regionaliza-ção no país, reduzir as diferenças de acesso

Falta agora ao setor saúde assumir um papel de protagonista nas gran-des discussões da agenda nacional de desenvolvimento.

Valter Campanato / ABr

Pense + - O documentário “Sicko”, do cineasta estadu-nidense Michel Moore, ajuda

a refletir sobre a importân-cia de um sistema de saúde público e universal para um

país e seus cidadãos

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aos serviços, se não tivermos uma melhor relação entre o setor público e o setor privado no SUS. Não só de regulação, mas de parceria, de ação com-plementar. O tema do financia-mento também passa pela dis-cussão de qual é o modelo de remuneração dos serviços, de contratualização dos serviços entre os vários níveis da fe-deração no setor público e no setor privado. Precisamos ter muita clareza da batalha polí-tica que existiu no Congresso Nacional, quando fomos derro-tados por partidos de oposição que nem sequer tinham maio-ria. A proposta de prorrogação da CPMF foi aprovada na Câ-mara e no Senado por maio-ria, mas a minoria contrária foi suficiente para não garantir a votação por maioria absoluta. Necessariamente, o financia-mento da saúde vai passar por um debate da sociedade com o Congresso Nacional, com os atores políticos, para iden-tificar de onde vem a fonte de mais recursos para a saúde.

Na sua opinião, que fon-tes devem ser buscadas para melhorar o financia-mento da saúde?

AP – Eu acho que a CPMF era uma fonte muito adequada por ser um imposto universal, com uma base bastante am-pla, que facilitava inclusive o processo de fiscalização e de combate à sonegação, e tinha um índice de cumulatividade muito pequeno. Acho que ela é uma alternativa. A outra ques-tão que precisamos enfrentar é quanto os governos esta-duais investem na saúde. O processo de regulamentação da Emenda Constitucional 29 tem duas questões fundamen-tais. Uma é qual é a fonte de financiamento. Tem a proposta no Congresso da CSS (Contri-buição Social sobre a Saúde),

que acho interessante; existe também a proposta de tributar alguns setores com impacto maior na saúde, como o de be-bidas e cigarros. Acho que de onde vem a fonte o Congresso e a sociedade têm condições de identificar. Agora, uma ou-tra dimensão é de quanto os três níveis da federação inves-tem na saúde. Não dá para a União e os governos munici-pais assumirem a maior parte do setor saúde como estão assumindo hoje.

A municipalização não trouxe, segundo os gestores municipais, autonomia às gestões tanto do ponto de vista administrativo quan-to financeiro, já que houve retração dos investimentos por parte dos outros entes federativos. O senhor con-corda?

AP – Não só o SUS como nenhuma política pública nes-se país se consolida sem um pacto direto que fortaleça o papel dos municípios como entes autônomos e, no caso do SUS, como comando único do sistema no seu nível territo-rial. Além de todo o processo de capilarização do SUS, de inclusão social, ele ajudou a dotar os municípios de maior capacidade de gestão para coordenar as ações de saú-de no seu território. Precisa-mos ampliar cada vez mais a capacidade de autonomia da gestão no nível territorial, seja municipal, estadual ou micro regional, desde que ela venha acompanhada por compro-missos claros de resultados de saúde. Precisamos cada vez mais romper com a lógi-ca do repasse por caixinhas, por programas segmentados, acho que esse é um esforço fundamental. Outro esforço é apostar no processo de coo-peração entre os municípios do nível estadual para o muni-cipal. Nossa área foi a mento-

ra do projeto de lei dos consórcios públicos, aprovado no governo do presidente Lula. Achamos que ele é um instrumento fundamental de cooperação entre os vários níveis, a partir do território da rede de saúde. Apostar na idéia da regionalização, a partir das re-des que estão consolidadas de forma muito articulada com estados e municípios, é uma ação fundamental não só para melhorar a gestão do SUS como para fortalecer o papel dos governos municipais no proces-so de municipalização. Outra ação importante é ter um papel cada vez mais ativo dos governos estaduais no apoio técnico e no apoio à gestão dos governos municipais. Acho que essa é uma realidade que vem melhorando, temos atualmente uma geração de go-vernadores que assumiram para si um papel cada vez maior de apoio à gestão municipal, de coordenação do sistema a partir do território estadual.

O setor saúde tem dito que a proposta de re-forma tributária em discussão prejudica a seguri-dade social e em espacial a saúde. Que proposta o senhor defende?

AP – Eu defendo a proposta que o governo enca-minhou ao Congresso Nacional, que foi debatida com os governadores, os prefeitos, com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, com os líderes da base. É uma proposta que em nenhum momen-to mexe em conquistas da seguridade social, pelo contrário, ela tem como único propósito simplificar os impostos, unificar impostos federais, tentar ter uma mesma alíquota dos impostos estaduais, ter um novo ICMS com alíquotas menores e fundamentalmente fa-zer com que o ICMS, ao invés de ser cobrado na ori-gem, seja cobrado no destino. Isso é muito importante para reduzir as desigualdades regionais, favorecendo as regiões economicamente menos desenvolvidas. Essa é a proposta do governo que foi ao Congres-so e que eu defendo. Nós esperamos, inclusive, que melhore a capacidade de arrecadação do estado, que crie um fundo de desenvolvimento regional que vai ser repassado para os estados economicamente me-nos desenvolvidos, que fortaleça o setor público e ao fortalecer o setor público fortaleça a área da saúde.

Com relação ao modelo de administração pú-blica, há uma série de dificuldades como a Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita a contratação de profissionais. O que o senhor acha da proposta de reformulação desse modelo?

AP – Tem duas dimensões: a primeira é que precisamos de um forte modelo de apoio à gestão

Precisamos debater qual o com-promisso dos profissionais que se formam nas universidades públicas com o país.

Outra ação importante é ter um pa-pel cada vez mais ativo dos governos estaduais no apoio técnico e no apoio à gestão dos governos municipais. Acho que essa é uma realidade que vem melhorando, temos atualmente uma geração de governadores que assumi-ram para si um papel cada vez maior de apoio à gestão municipal.

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municipal. O governo fe-deral tem um conjunto de iniciativas, dos vários ministérios, nós inclusive coordenamos algumas delas, priorizando, so-bretudo os municípios do território da cidadania, aqueles com maior con-centração da pobreza ru-ral, com maior fragilidade institucional. Fizemos um esforço grande para man-ter um programa de apoio técnico e apoio à gestão municipal nesses territó-rios. A outra dimensão refere-se à reformulação das práticas do estado. O governo mandou um pro-jeto do novo direito de lici-tações, junto com o PAC, que é fundamental ser aprovado porque facilita a transparência, facilita o uso do pregão eletrônico, muda o ritmo e o proce-dimento do processo de

habilitação, seleção e contra-tação, facilitando e agilizando o processo de licitação. Eu sou

defensor de uma variedade maior de modelos de contrata-ção e gestão dos equipamen-tos públicos em geral. Existem experiências interessantes de fundação estatal nos moldes do SUS, ou seja, com controle público e processo seletivo, a serem analisadas. Acho que precisamos ter uma atitude mais ousada em relação à fi-xação de profissionais nas pe-riferias urbanas e nos cantos mais remotos do país. Precisa-mos debater não só formação profissional, não só interiori-zação das universidades, dos centros de formação, mas ter um pacto sobre qual o com-promisso dos profissionais que se formam nas universidades públicas com o país e como podemos remunerar e incenti-var a interiorização e a presen-ça maior desses profissionais nas periferias do país. Nesse debate sobre decreto da ad-ministração pública, temos visto como pode ser pensado um novo modelo de gestão e gerenciamento, não só dos tra-

O ministro Alexandre Padilha defende a cobrança de mais tributos sobre o cigarro, bebidas alcoólicas e au-tomóveis como nova fonte de recursos para progra-mas de saúde pública, devido ao impacto que esse produtos tem sobre o SUS.Em agosto do ano passado, o Governo Federal de-cidiu aumentar gradativamente o Imposto Sobre Pro-duto Industrializado (IPI) sobre o preço do cigarro. A partir de 1º de maio de 2012, o consumidor vai pagar 40% a mais pelo produto. Até 2015, a elevação chega-rá a 60% do valor pago pelos fumantes. Não há confir-mação se o aumento da arrecadação será destinado à saúde.Outras fontes de financiamento para o SUS foram apresentadas pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados que aprovou um

Clique Lá - Veja em “O SUS que não se vê”, reportagem da revista Radis, da Fio-Cruz, o quanto abrangente é o sistema brasileiro. http://www.ensp.fiocruz.br/radis/

sites/default/files/104/radis-104.pdf

Não é possivel reduzir a pobreza, o déficit de educa-ção do país, as desigualdades regionais, sem o tema da

saúde no centro

Tributos sobre bebidas, cigarro, automóveis e bancos

documento que sugere a cria-ção de novos tributos e aumen-to da taxação de bancos. Entre as propostas estão o Imposto sobre Grandes Movimenta-ções Financeiras (IGMF), o im-posto sobre grandes fortunas, o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) das instituições finan-ceiras e a tributação da remes-sa de lucros para o exterior. “Identificamos que há um subfinanciamento da saúde no país. E não é nem pela questão do desvio de recur-

sos. Hoje, o gasto público com saúde é de 3,5% do PIB. Na França, é de 11%, na Ingla-terra, 8%», afirmou o autor do relatório, deputado Rogério Carvalho (PT-SE). No entanto, a aprovação do relatório de 386 páginas não significa a aplicação imediata das suas sugestões. O texto aprovado passa a ser uma re-ferência na Câmara quando o assunto for gestão e financia-mento do SUS.

balhadores, mas também dos procedimentos administrativos dentro dos equipamentos pú-blicos federais. Eu acho que tem muita experiência interes-sante surgindo nos municípios e nos estados sobre isso e o governo federal tem que estar aberto a elas. O congresso na-cional pode colaborar e muito para encontrar novas iniciati-vas para a gestão administra-tiva na área da saúde.

O senhor é a favor do ser-viço civil obrigatório?

AP – Temos que pensar numa série de alternativas para levar os profissionais e mantê-los nas regiões econo-micamente menos favorecidas nas periferias, inclusive a mo-dalidade de serviço civil obri-gatório. Não acho que ela é su-ficiente, tem que acompanhar a qualificação, a interiorização dos centros de formação, a distribuição mais equânime dos equipamentos, dos recur-sos de custeio, mas inclusive pensar na alternativa do servi-ço civil obrigatório.

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Dona-de-casa, mãe e pro-fissional bem-sucedida. Para a executiva Carmem Gonzalez, de 42 anos, a tripla jornada tão familiar ao universo feminino começa às 6h da manhã. De-pois de levar o filho à escola, fazer ginástica e trabalhar até as 19h, Carmem ainda tem que cuidar da casa. O que pa-recia apenas fruto inevitável do papel da mulher no mundo moderno acabou lhe rendendo uma crise hipertensiva, noites sem dormir e apetite desre-gulado. O médico não teve dúvida quanto ao diagnóstico: estresse.

“Tenho que ser uma mãe exemplar, uma boa profissio-nal, dona-de-casa e ainda dar atenção ao meu marido. A mulher hoje tem que ser muito forte para conciliar isso tudo. Há um ano, eu estava estres-sada, me alimentava mal e não dormia bem. Minha pres-são estava muito alta” - conta a executiva.

Para o especialista em medicina preventiva, Gilberto Ururahy, hoje 35% dos lares no país são comandados por mulheres. Elas não têm tem-

po para se alimentar de forma equilibrada, não praticam es-portes, se automedicam para controlar o apetite ou o sono. Para Ururahy o pior inimigo da saúde feminina são os hábitos impostos pela rotina corrida.

Seguindo os conselhos de um médico, Carmem incorpo-rou hábitos mais saudáveis ao seu dia-a-dia. Começou a fa-zer exercícios físicos e a se ali-mentar melhor. Os efeitos das medidas simples foram logo sentidos pela executiva.

“Hoje minha pressão está regularizada, pois comecei a fazer ginástica e a me alimen-tar melhor. Agora tenho mais força e ânimo para enfrentar a rotina”, comemora.

Além do estresse, outros hábitos cada vez mais comuns entre as mulheres, como fumar e tomar anticoncepcionais, ajudam a transformá-las numa ‘’verdadeira bomba-relógio’’, de acordo com Ururahy: “A mulher moderna passou a fu-mar mais e a tomar anticon-cepcionais, que, somados ao sedentarismo e à má alimenta-ção, podem levar ao desenvol-vimento de doenças que antes eram tipicamente masculinas, como o câncer de pulmão”, alerta.

Maria por Michelle Carvalho, com informações do Ministério da Saúde

Uma mulher, três jornadasMulheres conquistaram espaço no mercado de trabalho e reconhecimento mas não conseguiram se desvencilhar de antigas tarefas, que foram somadas a novas atividades

Hoje, 35% dos lares no país são coman-dados por mulheres. Elas não têm tempo para se alimentar de forma equilibrada, não praticam esportes, se automedicam para controlar o apetite ou o sono.

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Uma mulher, três jornadas

Além da rotina tripla, a mulher enfrenta dezenas de outros problemas ligados ao seu organismo que podem se transformar em fatores es-tressores. Normalmente, são consideradas como estressan-tes atividades e situações que também são experimentadas pelo homem, como trânsito, excesso de trabalho, pouco tempo para esporte e lazer, mas, há outros fatores impor-tantes da saúde e desenvolvi-mento da mulher que podem causar sérios danos á saúde feminina que normalmente são ignorados.

O vice-presidente da As-sociação de Obstetrícia e Gi-necologia do Estado de São Paulo, Jarbas Magalhães, ex-plica que desde que a menina entra na puberdade ela passa a ter o estresse como compa-nheiro. Isso porque a mulher passa por modificações hor-monais que a acompanham a vida toda. Por exemplo, quan-do ocorre o desenvolvimento das características sexuais ou quando acontece a primeira menstruação. Mesmo sendo orientada pela família e pela

Segundo o diretor do Insti-tuto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras, Augusto Bozza, a médio prazo a mulher pode de-senvolver doenças coronaria-nas. Isso por que o excesso de preocupação diário provoca a liberação de adrenalina e corti-sona no organismo, que levam à diminuição do diâmetro dos vasos e ao espessamento do sangue.

“Na década de 70, de cada 10 pessoas que sofriam enfarte, nove eram homens. Em 2000, a proporção já ti-nha caído a 2,5 homens para cada mulher. O que aconteceu nesses 30 anos? Ela passou a ocupar o mercado de trabalho com funções de maior respon-sabilidade, o que acarretou várias outras mudanças nega-tivas, como na alimentação”, explica o cardiologista, para

quem o melhor remédio ainda é a prevenção.

Variação hormonal Doenças relacionadas ao

estresse atingem até três ve-zes mais as mulheres do que os homens, de acordo com o especialista, Alex Botsaris, au-tor do livro Complexo de Atlas, sobre a tensão na sociedade moderna. Para ele, que pes-quisou o assunto durante três anos, a explicação está no sistema límbico, localizado no cérebro e responsável pela ab-sorção do principal hormônio feminino, o estrogênio.

“O fator hormonal é deter-minante para desenvolver o estresse mental”, define o mé-dico. Botsaris diz que a sensi-bilidade das mulheres a esse tipo de estresse acontece de-vido à constante variação nos

níveis desse hormônio.“Os homens quase não têm variação

no sistema endócrino. Suas situações de estresse surgem a partir de sintomas físicos, como a hipertensão. No entanto, as mulheres têm a característica de so-matizarem psiquicamente a tensão, por isso, são mais suscetíveis ao estresse mental”, afirma o médico.

Existem vários sintomas do estresse mental continuado, que como o próprio nome diz, não se trata de uma simples crise de nervos. Irritação, memória curta, sonhar com situações de trabalho e co-mer por ansiedade são alguns dos sinto-mas que podem desencadear outras do-enças, como a depressão e a síndrome do pânico. Fator importante que também pode explicar a maior incidência desse tipo de distúrbio é a múltipla jornada a que as mulheres têm sido submetidas no cotidiano.

Estresse, o fiel companheiro

escola, se não for bem condu-zido, esse momento da vida da mulher pode ser bastante es-tressante.

“A menina vê a transforma-ção hormonal modificar o seu comportamento, o seu corpo e ela percebe que tem algo dife-rente dentro dela. Além disso, a forma como a família e os amigos tratam esse momento é importante. Depois ela pas-sa a sofre influência do circulo de amigos e sofre com a pres-são própria pela primeira rela-ção sexual. Às vezes ela nem quer, nem apareceu o momen-to adequado”.

Outros momentos da vida da mulher que podem ser bas-tante estressante estão rela-cionados com o surgimento de doenças, como endometrio-se, que causa dores agudas, chamadas de cólicas incapa-citantes, e que a impede de ir ao trabalho ou a escola, onde recebe cobrança ou é compa-rada com outras pessoas que não sofrem com o problema.

A gravidez na adolescência é outro momento de impacto, principalmente se a família não dá o apoio que a jovem neces-

sita e se o namorado não tem condições de assumir as responsabilidades de pai.

Magalhães destaca as mudanças sócio-culturais como fatores que contri-buem para o aumento da tensão nas mu-lheres. “A mulher quando saí da faculda-de busca independência financeira. Ela retarda o casamento e a gravidez, que vem depois dos 35 anos, o que aumen-ta a chance de haver uma gravidez de risco, que é extremamente estressante”, comenta Magalhães.

A chegada da menopausa é outro momento que mexe com a mulher. Se-gundo o ginecologista essa etapa da vida da mulher é carregada de muitos mitos que contribuem para manter a mu-lher em estado de tensão. “Há 30 anos, a menopausa significava o fim de tudo. Hoje há tratamentos e medicamentos que controlam isso, mas muitas mulhe-res temem falar sobre o assunto com medo das mudanças no corpo e com-portamento”, explica o médico.

O ginecologista afirma que cerca de 70% das queixas que chegam aos con-sultórios, hoje, estão relacionadas ao es-tresse e suas manifestações. Por isso, ele aconselha suas pacientes a apren-derem a dosar sua independência com outros fatores que são inerentes a elas.

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Plenitude2114

Vida e trabalho: onde mora o equilíbrio?

O trabalho cada vez mais se afasta da sua finalidade social de promover liberdade, dignidade e bem estar. É cada vez maior o número de pesso-as que procura os consultó-rios médicos com queixas de dores, desconforto, doenças e síndromes relacionadas a excesso de pressão, tensão, metas abusivas e assédio mo-ral no ambiente de trabalho. Também cresce a lista de pro-blemas que as universidades e profissionais médicos asso-ciam a infelicidade ligados à atividade profissional.

O paulistano Fernando Brito Martins, 52 anos, traba-lhou por mais de 22 anos na mesma empresa do ramo de finanças e negócios. Passou os 15 anos iniciais sem pro-blemas, mas em 2003, procu-

Trabalho por Davi Carvalho

Universidade propõe novo modelo econômico que valorize os trabalhos domésticos e a educação dos filhos com jornada de trabalho de 21 horas semanais.

A palavra “trabalho” tem sua origem no vocábulo latino “tripaliu” (três paus), usado para nomear um instrumento de tortura semelhante ao que conhecemos por cavalete. As vítimas do “tripaliu” eram escravos e pobres que não podiam pagar seus impostos. Essa definição foi usada até o século XIV, mas em algumas organizações e em alguns setores essa ideia parece revigorada.

rou um gastroenterologista relatando dores estomacais e sobrepeso. Foi diagnosti-cado com gastrite, que pode ter sido causada devido ao excesso de trabalho. “Eu não vivia. Não tinha tempo para minha família, diversão nem lazer. Meu médico me disse que se eu quisesse melhorar teria que fazer escolha. Tratei com psicólogos, psiquiatra, arrumei minha alimentação, mas ainda assim não tive re-sultado. Tive que abandonar o trabalho para voltar a viver”, justifica.

Martins não foi uma exce-ção. Em 2011, o Instituto Na-cional da Seguridade Social (INSS) sentiu um aumento atípico na concessão de au-xílio doença para casos de transtornos mentais e com-

Fotos: Steve Johnson

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Avançar rumo a uma semana de tra-balho mais curta ajudaria a quebrar o ciclo de viver para trabalhar, trabalhar

para ganhar e ganhar para consumir.A redução da jornada de

trabalho tem sido apresenta-da como uma das alternativas para conter os efeitos dos ex-cessos corporativos sobre a saúde, a falta de tempo para a família e atividades lúdicas e até como indutora de uma economia de baixo carbono. Em janeiro, a New Economics Foundation (NEF), de Londres, divulgou o estudo “21 hours” (21 horas) em que defende a redução da jornada de traba-lho legal das atuais 35 ou 40 horas semanais para 21 horas por semana.

Segundo o estudo, avançar rumo a uma semana de traba-lho mais curta ajudaria a que-brar o ciclo de viver para tra-balhar, trabalhar para ganhar e ganhar para consumir. As pessoas poderiam tornar-se menos apegadas ao consumo intensivo em carbono se va-lorizassem mais os relaciona-mentos, hobbies e programas que promovam o bem estar em detrimento do consumo. Isso ajudaria a sociedade a sobre-viver sem um crescimento ba-seado tão intensivamente no carbono, a liberar tempo para as pessoas viverem de forma mais sustentável e reduzir a emissão de gases do efeito estufa.

Para Anna Coote, econo-mista chefe do estudo, uma

semana de trabalho de 21 horas poderia ajudar a distri-buir o trabalho remunerado de forma mais homogênea entre a população, reduzindo o mal estar associado ao de-semprego, às longas jornadas de trabalho e à falta de con-trole sobre o tempo. “Tornaria possível que o trabalho remu-nerado e o não-remunerado fossem distribuídos de forma mais equilibrada entre homens e mulheres; que os pais e mães pudessem passar mais tempo com os seus filhos e que esse tempo fosse despen-dido de forma diferente; que as pessoas pudessem retardar a sua aposentadoria, se assim quisessem, e que se tivesse mais tempo para cuidar dos outros, para participar de ati-vidades locais e desenvolver outras atividades de sua esco-lha”, afirma Anna.

A proposta foi apresentada como uma contribuição para minimizar os impactos da crise econômica que assola a Eu-ropa e caminhar em direção a um novo modelo de desen-volvimento, mais sustentável, que culminaria também com a redução do estresse no am-biente de trabalho proveniente do malabarismo de conciliar trabalho remunerado com os afazeres do lar. O argumento é mostrar que a produtividade é mais interessante que o núme-ro de horas trabalhadas.

O diretor do Instituto De-mocracia e Sustentabilidade (IDS), Ricardo Young, concor-da que o mundo caminha para a emergência de uma nova

economia que requer novos modelos de gestão, mais transparente, com participação coletiva na tomada de decisões, que estimule a inovação e respeite os limites físicos e mentais dos traba-lhadores. “Tem que barrar o estresse, que é ex-tremamente tóxico para a qualidade de vida das pessoas. Vincular bônus financeiro a metas des-trói as pessoas. Ninguém agüenta. Empresa que sobrecarregam o funcionário perde talentos, que podem buscar melhor qualidade de vida, porque têm outras oportunidades.”

Inteligência ColetivaO autoritarismo organizacional implanta e

legitima práticas pouco sustentáveis com o uso de metas e cobranças abusivas, muitas vezes impossíveis de serem alcançadas por falta de condições adequadas de trabalho. A ausência de critérios objetivos na escolha e promoção de funcionários também mexe com a motivação e capacidade dos trabalhadores.

A motivação é imprescindível para um am-biente de trabalho saudável. Para que as pesso-as tenham prazer em fazer parte do quadro de funcionários é preciso que se crie um ambiente em que o trabalhador se sintam melhor dentro da empresa do que no seu convívio social.

Para Young o principal problema é a falta de confiança e diálogo dentro das companhias, que as obriga a serem autoritárias. As empresas de-verão se adequar à nova realidade e isso passa, inevitavelmente, por instituir políticas que facili-tem o diálogo, uma inteligência coletiva. “A falta de transparência e de canais de diálogo alimenta a desconfiança mútua entre empresa e emprega-dos. A gestão só é autoritária quando não tem a confiança dos empregados”.

portamentais. O número cres-ceu 19,6% nos primeiros seis meses de 2011 em relação ao mesmo período de 2010.

Mais produtividade

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Plenitude2116

O Departamento Intersin-dical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) rebate as justificativas das entidades empresarias e ar-gumenta que o custo com sa-lários no Brasil é muito baixo quando comparado com ou-tros países. Assim, a redução da jornada de trabalho não tra-ria prejuízos à competitividade

Problemas da transiçãoSe uma semana de traba-

lho mais curta e com mais tem-po para atividades lúdicas é desejável, por outro lado, essa transição não deve se dar sem atritos entre empregadores, trabalhadores e governos.

A proposta da NEF consi-dera que a mudança para as 21 horas semanais precisa ser vista em termos de uma am-pla e gradual transição para a sustentabilidade social, eco-nômica e ambiental. Entre os problemas que podem surgir no decorrer desta transição es-tão o risco do aumento da po-breza resultante da redução do poder aquisitivo daqueles com salários baixos; poucas novas vagas de emprego, já que as pessoas que já possuem em-prego aceitariam fazer mais horas extras; uma resistência

dos empregadores devido ao aumento dos custos e da falta de empregados qualificados; e resistência dos trabalhadores e sindicatos devido ao impacto sobre os salários em todos os níveis de renda.

Visão curtaA semana de trabalho

como a atual, no Brasil, come-çou em 1907, quando uma gre-ve geral reivindicou a redução da jornada de 12 a 15 horas di-árias para as atuais oito horas. A conquista dos trabalhadores foi consolidada gradativamen-te por estados e setores.

A reivindicação tinha como base a divisão do dia em três partes de oito horas: uma para o trabalho remunerado; ou-tra para o não remunerado; e outra para descanso. Hoje, essa divisão é questionada por entidades de defesa dos tra-

balhadores, devido ao avanço tecnológico que favorece o aumento da produtividade e os pro-blemas estruturais das grandes cidades.

Para Arlei Medeiros, secretário geral da Fe-deração dos Químicos do Estado de São Paulo, essa divisão já não é mais válida, principalmente nas grandes cidades, onde o tempo gasto com deslocamento e transporte consomem horas do período lúdico e do descanso. “A tecnologia que temos hoje é mais que suficiente para dar conta de produzir o que precisamos. Uma jornada de seis ou quatro horas libera tempo para outras atividades. Quantos empregos não seriam gera-dos em escolas, cursos, academias, nas áreas de cultura e lazer se as pessoas tivessem tempo para dedicar-se a novas atividades”, questiona o sindicalista.

A economista da NEF, Anna Coote, define como curta a visão dos setores contrários a uma semana de trabalho menor. “Esses setores medem sucesso em termos de dinheiro, produ-tividade e crescimento. Nós precisamos medir o retorno econômico e social dos investimentos. Além disso, espalhar empregos mais uniforme-mente para a população por meio de jornadas semanais menores ajuda a desenvolver uma

das empresas brasileiras nem causaria desemprego.

Em nota enviada à mídia o departamento explica que a redução da jornada de traba-lho sem redução de salários contribuiria para a melhora da distribuição de renda no país, pois os trabalhadores pode-riam se apropriar dos ganhos de produtividade.

Conforme o texto, a dura-ção da jornada efetivamente

trabalhada no Brasil é uma das maiores do mun-do. Soma-se a isso ainda a falta de limitação semanal, mensal ou anual para a realização de horas extras. Em diversos países, como Argen-tina, Uruguai, Alemanha, França, há limitação anual para a realização de horas extras que ficam entre 200 e 280 horas/ano, em torno de quatro horas extras por semana. O fim das ho-ras extras teria um potencial para gerar cerca de um milhão de postos de trabalho. Por esta razão, é necessário combinar a redução da jor-nada com mecanismos que coíbam e limitem a utilização das horas extras.

Trabalho barato

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Entrevista

Anna Coote, economista da New Economics Foundation

1 – Menos horas trabalhadas não pode aprofundar a desigualdade de gênero no ambiente de trabalho?

É importante que tanto homens quanto mulheres tenham tempo para o que lhes inte-ressa. A distribuição desigual de tempo pagos e não pagos é a maior contribuição para as desigualdades de gênero nas oportunidades de trabalho e na renda.

2 - No Brasil, os setores empresariais ar-gumentam que uma redução na jornada poderia causar queda de competitividade e desemprego. Como enfrentar esse pro-blema?

Nesses setores, sucesso é normalmente medido em termos de dinheiro, produtividade e crescimento. Mas isso não mensura, ver-dadeiramente, os resultados positivos. Nós precisamos medir o retorno econômico e so-cial dos investimentos. Além disso, é possível notar que pessoas que trabalham menos ho-

Clique lá: A New Economics Foundation (NEF) é uma entidade britânica que defen-de uma economia que leve em conta as pessoas e o planeta e propõe, por exemplo, uma semana de trabalho mais curta como forma de dividir melhor os empregos dis-poníveis e, por conseqüência, a renda.

ras tendem a ser mais produtivas; excesso de trabalho e as longas jornadas podem ser ruins para os negócios quando os trabalhadores fi-cam doentes. Além disso, distribuir os empre-gos uniformemente, por meio de jornadas se-manais menores, ajuda a criar uma sociedade mais igual.

3 – Um dia de trabalho baseado no docu-mento “21 horas” é aplicável a economias como a brasileira? Mudanças serão neces-sárias? É possível um país em desenvolvi-mento pensar na saúde e bem estar de seus cidadãos é não apenas no crescimento eco-nômico? Isto é desejável?

Sim! Há um grande risco de os países em desenvolvimento copiarem os modelos de de-senvolvimento dos países ricos. É importante que os países do BRIC assumam a liderança em encontrar modos sustentáveis para de-senvolver-se e fazer crescer suas economias. Distribuindo o aumento da produtividade com os trabalhadores, com o tempo, mais do que renda isso será um importante passo na dire-ção correta.

Pense +: O estudo pode ser baixado na página www.neweconomics.org/publications/21-hours

sociedade mais igual, o que pode por sua vez, fazer a eco-nomia florescer”, explica Anna.

Para os setores empresa-riais está em jogo o tamanho da margem de lucro. Reduzir a jornada de oito para seis ou quatro horas diárias implica a necessidade de contratar no-vos funcionários ou pagar por horas extras de trabalhadores já empregados. Investimentos em tecnologia também devem ser somados, já que é uma maneira de manter ou aumen-tar a produtividade.

O presidente da Federa-ção das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Skaf, defende que a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais aumentará custos, reduzirá a competitividade de setores da indústria, principal-mente das pequenas e médias, e pode provocar demissões. “A maior parte das grandes em-presas já reduziram para 40 ou 36 horas. Mas setores mais sensíveis, como o calçadista, podem não suportar. Tem que haver compensação [tributária

e fiscal] para recuperar a competitividade das empresas senão corre-se o risco de aumentar o desemprego”, defende Skaf.

Para a FIESP a redução não deve ser im-posta por uma legislação, mas precisa ser negociada em cada setor industrial separa-damente. O sindicalista Arlei Medeiros rebate essa tese e afirma que essa discussão deve ser uma política de Estado. “Só vale negociar setor a setor se tivermos sindicatos fortes. Não é o que acontece no Brasil, onde poucos seto-res têm um movimento sindical bem articulado e forte. Por isso tem que ter normalização do governo”, justifica Medeiros.

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A prática freqüente de es-porte ajuda a diminuir a ansie-dade e a descarregar as ten-sões do dia-a-dia. Mas o abuso das atividades físicas pode levar a efeitos indesejáveis. O excesso de exercícios pro-move liberação prolongada de hormônios causadores de es-tresse na corrente sanguínea, o que pode levar a redução das defesas do corpo, fraturas e cansaço. Por isso, pratican-tes de exercícios devem estar atentos e preocupados com alimentação e dieta balancea-da, bom sono e hidratação.

Dependendo da idade do praticante, a liberação prolon-gada de hormônios do estres-se pode ter outras conseqüên-cias negativas, como atraso no desenvolvimento das crianças, Muitas ginastas, por exem-plo, sofrem com o excesso de treinamento e a conseqüente liberação intensa de cortisol. Isso pode causar fraturas de estresse e prejudicar o cresci-mento, já que a maioria delas ainda não atingiu a maturidade óssea, além de retardar a pri-meira menstruação.

Do ponto de vista médi-co, qualquer exercício físico é útil. Inúmeras pesquisas pelo mundo comprovaram que pelo menos 30 minutos por dia de atividade leve ou moderada, ou seja, caminhadas um pou-co aceleradas (100 metros por minuto) na maioria dos dias da semana (quatro dias) resulta

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MÚSCULOS

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Além dosem enorme benefício para o coração. A diminuição do ris-co de um ataque cardíaco se aproximou dos 35% após cin-co anos de exercícios modera-dos, feitos regularmente.

O andar lento das pessoas com mais de 65 anos muda completamente a qualidade e até a quantidade de vida do idoso. Uma pesquisa que du-rou 20 anos, feita no Hawaí, comparou pessoas com mais de 75 anos ativas com as se-dentárias e concluiu que as ativas viviam muito mais e me-lhor.

Desde o ano de 2000 a Fe-deração Mundial de Cardiolo-gia determinou que fosse esti-mulada a simples “caminhada” para toda população mundial, porque ela não exige treina-mento, técnica, equipamentos ou instrutores.

Quanto ao correr, desde que esteja em boas condi-ções médicas para a sua pra-tica, poderá ser recomendada. Seus benefícios cardiovascu-lares são os mesmos da ca-minhada e são sentidos em menor prazo, porém os riscos de problemas ortopédicos e cardiovasculares aumentarão.

Tão importante quanto o treinamento é o repouso. É no tempo de descanso que se ad-quire possibilidade de respos-tas mais intensas aos treinos.

Mas, atenção, os benefí-cios para a saúde adquiridos na pratica da atividade física

MÚSCULOSregular de qualquer modalidade, só serão mantidos caso ela não seja abandonada. Não existe “poupança de benefícios do exercício físico” para o futuro. Esportistas jovens que depois se tornaram sedentá-rios tiveram a mesma porcentagem de doenças cardiovasculares dos nossos cri-ticados sedentários, os que nunca haviam praticado um esporte antes.

Bem estarpor Michelle Carvalho

Satisfação

Você já deve ter ouvido que praticar um esporte como a corrida pode ajudar na melhora física e mental. Já deve ter ouvido também que a atividade física dá aquela sensação de bem-estar logo após a sua prática. Isso tudo tem explicação científica. Trata-se da endorfina, um hormônio produzido pelo próprio corpo e que causa efeitos como o aumento de disposição física e mental, melhora no sistema imunológico, sen-sação de bem estar, melhora do humor e alívio de dores.

Depois que começam a correr, muitos atletas dizem que não conseguem mais parar. E ainda vão além, se dizem “viciados” pela atividade. Isso é natural, já que uma vez que o organismo se acostuma com as boas sensações geradas, isso gera uma espécie de dependência, ou seja, o corpo sente falta das substâncias liberadas pelo exercício, como a própria endorfina.

A falta do exercício físico por alguns dias, quando se está em um treinamento, pode levar à sensação de desconforto, mau-humor e cansaço. Prontamente as boas sensações retornam após reiniciar o programa de treinamento.

De acordo com pesquisas feitas pelo cardiologis-ta americano Herbet Benson, fundador do Instituto Mente e Corpo da Universidade de Harvard (EUA), praticar esporte fortalece o sistema imunológico.

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Plenitude2122

Diferente do que muitos pensam o estresse não é uma doença, mas um conjunto de sinais do corpo que se exagerados em intensidade ou duração po-dem levar a um desequilíbrio no organismo e gerar doenças muito variadas em inúmeros órgãos.

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Em nossos ancestrais o mecanismo da ansiedade e estresse era destinado à sobre-vivência diante dos perigos concretos da luta pela vida. Era o caso, por exemplo, das ame-aças de animais ferozes, das guerras tribais, das catástrofes do tempo, da busca pelo ali-mento, da luta pelo espaço geográfico. No ser humano moderno, apesar dessas ameaças não mais existirem, esse armamento biológico continua existindo.

Causado por diversos fatores, o estresse é uma reação do organismo que apresenta sintomas quando submetido a grandes cargas emocionais ou físicas. Diferente do que muitos pensam o estresse não é uma doença, mas um conjunto de sinais do corpo que se exage-rados em intensidade ou duração podem levar a um desequilíbrio no organismo e gerar doen-ças muito variadas em inúmeros órgãos.

Especialistas descrevem o estresse em três etapas: alarme, resistência e esgotamen-to.

O tempo de passagem de uma fase para outra varia entre as pessoas, dependendo de fatores profissionais, familiares e afetivos. Atualmente, as rotinas extenuantes, às vezes, com dupla jornada de trabalho ou estudo, os traumas ligados à vida afetiva e a insatisfação no emprego têm levado muitas pessoas de to-das as idades aos consultórios.

Crianças em idade pré-escolar, estudan-

tes, jovens, adultos ou idosos sofrem cada vez mais com sin-tomas ou doenças relaciona-das ao estresse.

A psicóloga e doutora em saúde mental pela Unicamp, Elenice Areias, explica que é impossível ter uma emoção sem ter alteração fisiológica, por isso, todos passam por si-tuações estressantes e podem adoecer. “O estresse não é uma doença, mas pode fragi-lizar física e emocionalmente e levar à doença dependendo da intensidade e da frequência. Mesmo na primeira fase o es-tresse, se ocorre várias vezes, pode fragilizar o organismo”, explana.

Se é difícil fugir do estres-se a alternativa é equilibrar as atividades estressoras com as que dão prazer e satisfação pessoal. “A saúde mental do indivíduo depende dos fatores de apoio e dos fatores de es-tresse no trabalho, no social e na família. Por exemplo, no trabalho, as condições de tra-balho, as cobranças, a chefia

Em focopor Davi Carvalho

“O estresse é o resultado de o homem criar uma civilização que ele, o próprio homem, não mais consegue suportar”, Dr. Vladimir Bernik, médico psiquiatra

são fatores de estresse, por outro lado se você gosta do que faz, é reconhecido pelo que faz e tem prazer nisso, é fator de apoio. E essa balança está presente em casa e na vida social”, esclarece a psicó-loga.

Esse equilíbrio é desejável em todos os círculos de convi-vência, porque o risco de ado-ecer é muito maior quando os pontos de apoio são menores ou inexistem para contraba-lancear os efeitos maléficos do estresse freqüente.

O mecanismo do estresse é uma defesa que acompanha o ser humano desde as caver-nas. Quando o organismo se depara com fatores estressan-tes ele continua a se preparar para atender as necessidades de sobrevivência do indivíduo. Uma série de modificações acontecem rapidamente no corpo, que estreita os vasos sanguíneos para assegurar o sangue que o cérebro e o co-ração precisam para manter Fo

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Plenitude2124

O estresse e os problemas decorrentes são limitantes das capacidades, da criatividade e inovação. É uma espécia de corrente que amarra e impede que os talentos aflorem.

a pessoa preparada para a ação. O problema, hoje, é que muitas vezes o inimigo é o pró-prio indivíduo.

Diante de ocasiões estres-santes o organismo libera uma grande quantidade de adre-nalina (hormônio produzido pelo corpo com a intenção de defesa), o que causa significa-tivas mudanças no organismo que podem se manifestar de inúmeras maneiras, podendo causar problemas físicos, psí-quicos ou sociais. Todos os órgãos do corpo humano es-tão propensos a sofrer algum tipo de impacto por causa do estresse. O gastroenterologis-ta Carlos Eduardo Gzvitauski explica que o sistema digesti-vo é um dos sistemas do cor-po humano mais afetado pelo estresse e sofre com reações instantâneas quando a pessoa é submetida a um estresse agudo. “A liberação de hormô-nios causam, de imediato, per-da de apetite, pode ter vômito e alteração do hábito intestinal. No caso das pessoas submeti-das a estresse crônico [intenso

Na fase de esgotamento o organismo rende-se aos efeitos do estresse, momento que o corpo já se apresenta fragili-zado e muitas vezes doentio, o que faz crescer as possibilida-des de instalação de doenças físicas ou psíquicas.

Crianças em idade pré-escolar, estudantes, jovens, adultos ou idosos sofrem cada vez mais com sintomas ou doenças relacionados ao estresse.

e por longo período] podem sofrer com o surgimento de doenças que afetam da boca ao ânus”, destaca o gastro.

Doenças pré-existentes também podem sofrer altera-ções com o estresse. É o caso da gastrite, doenças inflama-tórias intestinais, doença do refluxo e queimação gástri-ca. Isso porque a pessoa sob pressão ou estressada produz mais hormônios que são maté-rias-primas para vários ácidos gástricos que, em excesso, po-dem causar danos nos tecidos dos órgãos e causar descon-forto e dores. Segundo Gzvi-tauski, as mulheres na faixa de 30 a 50 anos são as que mais sofrem com doenças gástricas relacionadas ao estresse.

Tratamento complexoA complexidade dos tra-

tamentos de doenças relacio-nadas a estresse, pressão e ansiedade tem acelerado uma mudança nos tratamentos mé-dicos. Cada vez mais o pa-ciente tem que ser tratado por uma equipe multiprofissional,

sempre com o apoio de psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e terapias alternativas, como acu-puntura, regressão de memória, artes marciais, ioga e hipnose. Isso porque, nem sempre o trata-mento com medicamentos é eficaz contra essas doenças.

“A acupuntura, medicina tradicional chinesa, não visa apenas curar a doença, mas buscar equilibrar o organismo como um todo. Assim, as pessoas conseguem diminuir muitos dos sinto-mas que apresentam. Mas, se a pessoa permi-tir que os fatores estressantes voltem, voltam os sintomas”, justifica o gastroenterologista sobre sua preferência pela técnica oriental.

A complexidade dos tratamentos tem ganha-do espaço também devido ao aumento da im-portância das questões pessoais e sociais como causadoras de doenças. Um exemplo é a perso-nalidade do indivíduo, que é responsável, cada vez mais, pela reprodução de comportamentos que funcionam como uma máquina de produzir estresse diariamente.

Pessoas que se cobram excessivamente, que são exigentes demais ou fazem várias coisas ao mesmo tempo e não conseguem dizer não, quan-do necessário, tendem a sofrer mais com rotinas estressantes.

A doutora em saúde mental, Elenice Areias, lembra de outra característica destruidora, muito em voga: o consumismo. “Esse é um fator deter-minante para a deterioração da saúde mental. Afinal, você não é o que você é, mas aquilo que

Na fase de alarme os estímulos estressores começam a agir. Nosso cérebro e hormônios reagem rapidamente e percebe--se os seus efeitos, mas, geral-mente, o ser humano é incapaz de notar o trabalho silencioso do estresse.

Na resistência começam a aparecer as primeiras conse-qüências mentais, emocionais e físicas do estresse. Perda de concentração, instabilidade emocional, depressão, palpita-ções cardíacas, suores frios, dores musculares ou dores de cabeça

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25Plenitude21

O corpo reconhece o estressor e ativa o sistema neuroendócrino

organismo repara danos causados pela reação de alarme, reduzindo níveis hormonais

O agente estressor não de-saparece. Os mecanismos de adaptação falham e falta energia en

o estresse torna este sistema superativo, resultando no desen-cadeamento ou no agravamento de doenças autoimunes

Estudos indicam que o nível de estresse e o estilo de vida da pessoa determinam

das doençasdos brasileiros economicamente ativos sofrem de estresse

sofrem da Síndrome Burnout

desses,

No sitema imunológico, o hormônio do estresse (ACTH) produz sensações de an-siedade e fracasso iminente. Os derivados do hormônio cortisol agem como sedativos, causando sensação constante de depressão. O exccesso do cortisol pode causar distúrbios de sono, perda da libido e do apetite.

No sistema cardiovascular, aumenta a frequência card[iaca, a contraçaõ do coração, o débito cardíaco, a pressão arterial e os níveis de gordura no sangue (triglicerídeos e colesterol). A adrenalina - hormônio respon-sável por acelerar o nosso organismo - é liberada pelo corpo, provocando taquicardia e sudorese.

NEGATIVO: é o estresse em excesso

Pessoa ultrapassa seus limites e esgota a capacidade de adaptação. o organismo fica sem nutrientes (o que pode causar doenças) e a energia mental fica reduzida, prejudicando a produtividade

POSITIVO: é o estresse em fase inicial

O organismo produz adrenalina que dá ânimo e energia, fazendo a pessoa pro-duzir mais e ser mais criativa. É consid-erada a fase da produtividade

Veja os principais efeitos que ele provoca no corpoESTRESSE

ALARME

ADAPTAÇÃO

EXAUSTÃO

Estresse em excesso pode

causar infarto

Respostas ao stress

No sitema imunológico,

Reação do organismo com componentes psicológicos, físicos, mentais e hormo-

nais. É uma adaptação grande a um evento ou situ-

ação de importância

O que é?

FONTE International Stress Management Association Isma

70%%

%

30% 60%

As principais doenças associadas ao stresse

são diabetes, depressão, enxaqueca, dislipdemias (como distúrbio do coles-terol e do triglicerídeos)

FONTE Dr. Luiz Vicente Rizzo, infectologista do Einstein, Dr. João Radvany, neurologista do Einstein, Dr. Marcos Knobel, cardiologista do Einstein

Page 26: Revista Plenitude 21

Plenitude2126

Um estudo feito pelo De-partamento de Estudos Clí-nicos da Universidade La Sapienza de Roma em colabo-ração com a Associação Italia-na Contra o Estresse (AISIC) mostrou que 78% das mortes são causadas por doenças li-gadas ao estresse.

A AISIC explicou que as doenças geradas pelo estres-se são crônico-degenerativas e incluem patologias cardio-vasculares, tumores, broncop-neumonia obstrutiva crônica, cirrose hepática e males intes-tinais, que juntas constituem 70% das causas de mortes.

Pessoas que se cobram excessivamente, que são exigentes demais ou fazem várias coisas ao mesmo tempo e não conseguem dizer não, quando neces-sário, tendem a sofrer mais com rotinas estressantes.

As mulheres na faixa de 30 a 50 anos são as que mais sofrem com doenças gástricas relacionadas ao estresse.

representa. A manipulação que sofremos pelas estraté-gias de vendas também são fatores estressores. Por exem-plo, uma mulher que vai ao shopping e vê loja com 70% de desconto o coração acele-ra, a pupila dilata. Ela não tem noção de que está sendo indu-zida a comprar”, explica.

As ferramentas de comuni-cação utilizada pelo mercado para legitimar o “eu sou o que eu tenho” tem gerado a cobiça e a inveja, que fazem as pes-soas se sentirem inferiores. “As pessoas ficam infelizes com o que têm. A auto-estima fica vinculada ao ter e passa--se a dar valor a coisas que

Doenças causadas pelo estresse causam 70% das mortes

Os dados justificam o aler-ta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirma: “em 2020 os tumores e a broncop-neumonia obstrutiva crônica serão o terceiro maior motivo de óbitos”.

O estresse também cau-sa hipertensão -- doença que atinge 25% da população em geral e 50% dos maiores de 65 anos. A depressão, tam-bém consequente do estresse, e que atinge de 15% a 20% das pessoas, tem destaque no documento como responsável por um número significativo de mortes todos os anos. O es-tresse também é uma possível causa de ansiedade, desajuste

social, alcoolismo e abuso de remédios.Em junho, o Ministério da Saúde divulgou

uma pesquisa que mostra algo preocupante. O medicamento Rivotril, usado contra ansieda-de, vendido apenas com retenção de receita, se tornou o medicamento mais receitado no Brasil. Esse remédio tem 35 anos de mercado, mas nos últimos cinco escalou rapidamente o ranking dos mais vendidos até chegar ao pri-meiro lugar. Em terceiro lugar está o famoso Lexotan, indicado para o tratamento de distúr-bios de ansiedade, também de uso controlado.

Em 2010, os brasileiros compraram nas far-mácias 14 milhões de caixinhas de ansiolíticos. O Rivotril bate remédios de uso corriqueiro. Vende mais que o anticoncepcional Microvlar, a pomada contra assaduras Hipoglós, o anal-gésico Tylenol e outros produtos que os consu-midores colocam na cesta sem saber se algum dia vai usar.

não são, verdadeiramente, importantes. Falta às pessoas a percepção de que esse ex-cesso de consumo não lhes traz saúde mental”, destaca a psicóloga, que afirma ser co-mum pessoas com vazio inter-no, solidão ou frustração tentar solucionar esses problemas comprando ou comendo, ativi-dades que não resolvem essas condições.

Por isso tudo, hoje, o es-tresse também é tido como um problema sócio-econômico, pois é uma preocupação de saúde pública, uma vez que adoece pessoas em idade produtiva, imobilizando e inva-lidando parte da força de tra-

balho do país.Apesar de parecer inevitável, é possível ter

uma vida menos doentia. Isso passa por esco-lhas e muita reflexão sobre o futuro desejado. Para evitar ou minimizar os efeitos do estresse os especialistas indicam atividades que dêem prazer, como ler um livro, ver um filme, fazer uma viagem, reservar tempo para família, ami-gos e praticar atividades esportivas. Mas as limitações de tempo e dinheiro impedem que essas escolhas sejam simples, o que aponta para a necessidade de uma reflexão da socie-dade, de empresas e governos para mensurar os riscos que uma sociedade doentia pode apresentar no futuro.

Page 27: Revista Plenitude 21

27Plenitude21

Super diagnóstico

A palavra estresse é usada, cada vez mais, para descrever generica-mente diversos sentimentos, sensações e sintomas físicos e emocionais relacionados a ansiedade, pressão, medo e angústias. A psicóloga espe-cialista em adolescentes, Mariana Schwartzmann, destaca que as pessoas têm perdido a capacidade de expressar sentimentos, não sabem lidar com o tempo e recorrem ao termo banalizado para explicar suas condições.

Esse quadro em que um número crescente de pessoas afirmam so-frerem de um mesmo mal é chamado de “super diagnóstico” na medicina. Para Mariana as pessoas têm dificuldades de identificar as causas de suas angústias e ansiedade, o que torna os casos mais complexos e únicos. “Grande parte das queixas de “estresse” que chegam ao consultório, de-pois de várias conversas, se desdobram em quatro ou cinco outras quei-xas, o que mostra que as pessoas não conseguem definir o que sentem”, comenta a psicóloga.

Outro fato relevante é que não há receita sobre o que é certo ou errado. O que é pressão para um pode ser felicidade para outros. Por exemplo, um executivo que vive viajando e não tem tempo para a família e amigos. Para uns pode ser uma agenda doentia, mas para outros pode gerar satisfação. “As pessoas têm limites e gostos diferentes”, explica Mariana.

Entre os pacientes atendidos pela psicóloga o principal problema dis-farçado de estresse é a angústia nos relacionamentos interpessoais, que incluem convívio com amigos, companheiros de trabalho e relacionamento amoroso.

“o principal problema disfarçado de estresse é a angústia nos rela-cionamentos interpessoais”

Foto: Angie Garret

Page 28: Revista Plenitude 21

Plenitude2128

Não é apenas pelo tempo que se passa nos caminhos entupidos de automóveis nem pelo excesso de trabalho até as 10 da noite. Faz também toda a diferença a maneira como o volume de informações e a própria busca por estar 24 horas on-line influenciam a hu-manidade e o seu tempo livre. “Percebi que havia algo errado quando saí para jantar com seis amigos e em determinado momento todos nós substituí-mos o bate-papo na mesa pela troca de mensagens em nos-sos smartphones”, diz o desig-ner Marcelo Bohrer, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Mas o despertar para al-gum tipo de mudança em sua vida ocorreu somente depois de Bohrer ter sentido na pró-pria saúde os impactos do es-tresse. Assim, em 2006, ele criou o Clube do Nadismo, que já conta com mais de 7 mil só-cios no Brasil e em oito países. “Se você quiser identificar um objetivo na prática do nadismo

Os novos luxos

Outro olhar por Eduardo Shor

Na cidade grande, estender uma rede entre uma árvore e outra para tirar um cochilo pode ser considerado um luxo. Mesmo porque, se você pedir uma rede a alguém, é possível que a pessoa lhe indique o ponto mais próximo de conexão à internet. Mais difícil, porém, do que conseguir a rede certa, talvez seja encontrar uma hora para descansar. Afinal, pode olhar na agenda: hoje, mais do que nunca – além das árvores e do cochilo – o tempo livre também tornou-se uma raridade.

Tempo livre é um dos artigos raros diante de conexões, informações e outros excessos

é a melhora da qualidade de vida, mas o verdadeiro objeti-vo é simplesmente passar um tempo sem fazer nada”, expli-ca o designer.

Para praticar o nadismo, o fundador do clube diz que o ideal é procurar um lugar mais tranqüilo e próximo à natureza, como um parque ou uma pra-ça, embora o ambiente urbano não seja um empecilho. Não vale ler, escrever, conversar, checar e-mails nem falar ao te-lefone. Apenas caminhar e ob-servar ao redor. Como orienta o manifesto nadista, “é algo para ser absolutamente sem utilidade, não produtivo, sem expectativas, sem controle. Simplesmente relaxar e dei-xar acontecer”. O tempo para isso, inclusive, é bem flexível. O recomendado para que a mente relaxe, no entanto, é reservar à prática pelo menos entre 10 e 15 minutos do dia.

Para quem se assustou, vale destacar que Bohrer tam-pouco é um líder radical do clu-

be, entendendo que cada um tem o seu ritmo para se adaptar e deixar de realizar as tarefas por certo tempo. O designer observa ainda que a maior di-ficuldade das pessoas que tentam seguir o nadis-mo não é nem se permitir parar uns instantes, mas confundir a interrupção das atividades com perda de tempo. Desse modo, a dica é tentar reduzir a sensação de culpa. Daí, aliás, a importância de não fazer absolutamente nada, em vez de se dar o privilégio de seguir com pequenas atribuições. “Ao não fazer nada, você entende que isso também pode ser produtivo”, justifica.

Se ainda está difícil encontrar pretexto para se dar ao luxo de não fazer nada, o Clube do Nadismo organiza também atividades para ajudar as pesso-as a quebrarem essa barreira de achar que isso tudo é um tempo jogado fora. Uma vez por mês são realizados encontros em parques para, diga-mos, uma boa pausa. “Em grupo e com menos inibições, a pessoa se motiva a praticar”, afirma Bohrer. As reuniões costumam durar 45 minutos nos parques.

De acordo com ele, esta época do ano é tam-bém uma das melhores para tentar se desligar. A explicação está na corrida para as compras de Na-tal, quando, com as buscas incessantes das pes-soas por preços baixos e sonhos de consumo, os shoppings centers, abertos por períodos mais lon-gos e extensas filas, há sérios picos de estresse na população, em todas as idades.

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29Plenitude21

COOL HUNTERSA professora Janiene Santos, mestre em Ci-

ências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), é também coordenadora do curso de Cool Hunters do Instituto Europeo Di De-sign (IED). Por meio de técnicas que envolvem a análise de pesquisas, a observação nas ruas e o debate de profissionais das mais diversas áreas do conhecimento humano, os cool hunters são capazes de identificar diferentes tendências na sociedade.

E, desta vez, não faz parte de qualquer sen-timento saudosista. Sem dúvida, a especialista atesta que, diante das transformações tecnológi-cas e no modo de vida urbano, sim, tem faltado mais tempo livre do que jamais faltou em outras décadas. No fim das contas, acesso rápido, au-tomatização, industrialização e informação não trouxeram a felicidade e a tranquilidade que to-dos almejavam. Em excesso, esses fatores aca-baram criando outras dores de cabeça, sendo a falta de tempo livre uma delas. Evidentemente, isso acaba se refletindo no comportamento e no consumo de diversas pessoas.

“Há vezes em que, inconscientemente, os produtos feitos à mão remetem a um passado romantizado, quando se tinha tempo e energia para confeccionar um belo objeto. Eles hoje se tornam luxo e são mais caros porque se trata de raridades que não estão na linha de montagem das fábricas, mas têm o toque pessoal e o esfor-ço de quem os fez”, exemplifica Janiene.

Segundo a professora, outro hábito que faz referência a uma época menos atribulada e por isso conquista cada vez mais adeptos são as hor-tas – que na cidade ganham versões compactas com vasos na área de serviço ou na própria jane-la dos apartamentos, onde se veem pimentinhas, orégano, cebolinha e salsa, entre outros. “O culti-vo de hortas é um hábito de nossos avós que, por estar associado ao campo, tem a ver com a vida mais calma e em contato com a natureza, na qual as pessoas colhiam seus próprios alimentos”, analisa. Além do apelo saudável, nessa mesma linha segue o consumo dos produtos orgânicos, livre dos males e do dinamismo da industrializa-ção.

Nessa esfera, cresce ainda entre alguns gru-pos a valorização da vida mais simples e rústica de outras épocas, quando os objetos eram feitos de modo artesanal e o ser humano tinha tempo

A maior dificuldade das pessoas que tentam seguir o na-dismo não é nem se permitir parar uns instantes, mas con-

fundir a interrupção das atividades com perda de tempo.

Fotos: SXC.hu

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Plenitude2130

Reportagem publicada originalmente na revista Página 22 (www.pagina22.com.br), do Cen-tro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), da Fundação Getúlio Vargas.

de experimentar o mundo de diversas ma-neiras. Assim, conforme Janiene consta-ta, hoje até o presente do aniversário de casamento muda com maior frequência.

Em determinadas situações, é comum, em vez de ganhar uma joia, a esposa pre-ferir viajar com o marido para uma praia, onde poderá calmamente ver a chuva cair e pisar descalça a areia. “Ainda que o casal fique em um hotel cinco-estrelas, isso é a troca de um símbolo concreto da riqueza e da eternidade por um presente que tem a ver com a experiência rara de colocar a mão na massa”, compara a pro-fessora, que também dá aula no curso de Joias e Acessórios do IED.

Nessa mesma linha, ganham pontos hábitos como deixar o carro em casa e ir para o trabalho de bicicleta, e preparar o jantar para os amigos, em vez de ir ao restaurante. “Cozinhar em casa e ter as pessoas de que gostamos ao redor do fogão e da mesa é uma cena que fortale-ce os laços afetivos”, interpreta Janiene, diante de um mundo povoado de relações superficiais.

Assim, passam a ser bem-vistas tam-bém as atividades que envolvem o com-partilhamento de informações, como as empresas que desenvolvem produtos com base nas sugestões dos próprios consumidores. “Um hábito que vem ga-nhando popularidade são os noivos que preferem encomendar a aliança no ateliê de um ourives a comprar os anéis pron-tos. Mais do que tudo, é uma experiência compartilhada, misturada ao caráter arte-sanal do produto”, diz.

Janiene destaca, porém, que a so-ciedade assiste a um emaranhado de tendências, claro. Enquanto há pessoas que convivem com a necessidade de de-sacelerar de alguma forma, outras nutrem ansiedade sem igual por adquirir as maio-res novidades da tecnologia e acelerar o ritmo.

Se você faz parte do primeiro grupo, eis uma boa notícia: nos EUA, já existem hotéis que propõem uma desintoxicação digital. O hóspede guarda seus apetre-chos eletrônicos na portaria e fica livre para desfrutar da vida sem conexão, pelo menos até o fim das férias.

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31Plenitude21

A sensação de que a cada dia temos acesso a tecnolo-gias que facilitam nossa vida, tecnologias que nos aproxi-mam, ao menos teoricamente, de pessoas que estariam dis-tantes, recorrentemente é con-traposta a certa percepção de que nossa qualidade de vida se esvai com o tempo. Há cer-to saudosismo com outros pe-ríodos, onde podíamos nadar em rios dentro das cidades, não havia tantas enchentes, não havia trânsito, não havia violência. O restante destas percepções o leitor conhece bem. Nossas tragédias urba-nas tem se ampliado: agora temos bueiros que explodem e até prédios que desabam.

Muitas pessoas têm se de-bruçado nos problemas advin-dos desta urbanização caótica que vivenciamos. Segundo o geógrafo inglês David Harvey o meio ambiente urbano é o meio ambiente criado pelo homem e no qual ele está condenado a viver. Assim, a cidade está intimamente liga-da à humanidade, portanto, transformar as cidades signi-fica também transformar os seres humanos e, transformar os seres humanos significa transformar as cidades. O pio-neiro na discussão do direito à cidade foi Henri Lefebvre, em sua obra-manifesto Le droit à la ville, publicada meses an-tes do famoso maio de 1968 na França. Lefebvre defende que os problemas da socie-dade não podem ser todos re-duzidos a questões espaciais e critica também a arrogância dos técnicos, afirmando que os problemas urbanos não po-dem ser resolvidos apenas em uma prancheta de um arqui-teto. Para ele lutar pelo direi-to à cidade seria romper com a sociedade da indiferença e caminhar para um modo dife-rente de produção do espaço urbano, marcado pelo flores-cimento e interação igualitária

“Lutar pelo direito à cidade seria rom-per com a sociedade da indiferença e

caminhar para um modo diferente de produção do espaço urbano”

O Direito a uma vida urbana saudável por Rafael Moya *

de diversos ritmos de vida, ex-pressão das diferentes formas de apropriação do espaço.

Sempre quando conver-so sobre o desenvolvimento das cidades, as pessoas se encantam com cidades eu-ropéias como Madri, Paris, ou até mesmo nossa vizinha Buenos Aires. Estas cidades, ainda que tenham problemas, foram construídas ou recons-truídas sob um forte planeja-mento. A grande maioria das cidades brasileiras não passou por esse planejamento. Até hoje continuamos na mesma. O crescimento de nossas cida-des foi (e ainda é) subordinado aos interesses de construtores que não tinham, e não têm, a preocupação com a cidade como um todo. Tal descontrole nos leva a graves problemas.

Como exemplo, o leitor há de convir comigo que o trânsito é uma das questões que mais nos aflige. No século XIX e começo do século XX os movi-mentos operários que lutavam pela redução da jornada de trabalho, defendiam uma jor-nada de trabalho de 8 horas di-ária. O argumento era: 8 horas para o trabalho, 8 horas para o lazer, 8 horas para o descan-so. Depois de muita luta esse direito foi conquistado. Hoje, uma pessoa que perde três, quatro horas no trânsito para ir e voltar do trabalho não pode descontar este tempo de sua jornada de trabalho. Portanto, descansamos menos e temos menos lazer.

Quando abrimos mão do planejamento urbano demo-crático e damos espaço ao jogo do mercado, estamos per-mitindo que a cidade cresça de maneira desordenada. A prin-cípio, um parque, uma área de lazer qualquer, não está no horizonte de alguém que está interessado em vender lotes. Esta tarefa deve ser do Poder Público e, conseqüentemente, nossa enquanto cidadãos. As-

*Rafael Moya é advogado, consultor e mes-trando em Engenharia Urbana.

sim, uma pessoa é obrigada a morar a dezenas de quilômetros de distância de seu trabalho por não ter condições de morar próximo do seu emprego. Some-se a isso a falta de política pública de transporte público e o incentivo ao transporte individual e teremos uma bomba--relógio.

Temos uma legislação razoável que garan-te instrumentos para que o poder público pro-mova um excelente planejamento urbano com a participação da sociedade civil. No ritmo que estamos a única coisa que democratizamos é o caos. Hoje, detemos tecnologias que nos pos-sibilitariam viver muito melhor. Segundo David Harvey “ O direito à cidade não é simplesmente o direito ao que já existe na cidade, mas é o direito de transformar a cidade em algo radical-mente diferente.” Uma vida urbana saudável é possível, toda jornada começa com um passo.

Foto

: SXC

.hu

Page 32: Revista Plenitude 21

Plenitude2132

Estudos realizados por cientistas americanos, fran-ceses e ingleses trouxeram esperança para milhões de pacientes portadores de cân-cer de mama, alzheimer ou diabetes, três doenças que têm apresentado rápido cres-cimento nas últimas décadas.

Nos Estados Unidos, pes-quisadores anunciaram o de-senvolvimento de uma vacina contra o câncer de mama. Os primeiros testes devem co-meçar dentro de um ano. Em ratos, a vacina já mostrou que impede o desenvolvimento de tumores na mama.

Se os testes em mulheres derem certo, os pesquisadores acreditam que poderão reduzir os casos de câncer de mama em cerca de 70%, mas eles ainda precisarão de dez anos para concluir os estudos. A va-cina tem o potencial de atingir tecidos cancerosos sem atacar tecidos saudáveis, como os atuais tratamentos quimioterá-picos.

Já na Europa, cientistas do Reino Unido e da França deram um passo importante nas pesquisas sobre o mal de alzheimer. Eles identificaram três novos genes relacionados à doença. Os pesquisadores asseguraram que se as ativi-dades dos genes descobertos forem neutralizadas, poderiam prevenir novos casos da doen-ça neurogenerativa, que se de-senvolve em idade mais avan-çada. Os genes descobertos seriam responsáveis pela ati-vidade protetora do cérebro

e por uma proteína potencial-mente destrutiva.

A novidade é que, segun-do o estudo, esses genes também ajudam a reduzir as inflamações que danificam o cérebro, causadas por uma excessiva resposta do sistema imunológico.

Poder interagir com estes genes abre as portas para tra-tamentos novos e mais efica-zes.

DiabetesUm estudo publicado nas

revistas científicas Diabetes e Dr. Nick revela que uma única injeção da vacina atrasou sig-nificativamente a evolução da diabetes recente em ratos e oito injeções consecutivas re-verteram a doença.

Estudos similares em ratos estabeleceram que a taxa alta de açúcar no sangue mostrou que duas injeções da vacina por semana, por não mais de 25 dias, poderiam reverter a hiperglicemia e manter níveis normais de açúcar no sangue, mesmo após a vacina ser in-terrompida.

A vacina para a “cura do diabetes” será testada, para que seja verificada sua segu-rança, em voluntários com dia-betes tipo 1, o que completará os estudos preliminares já em progresso. Assim que a sua segurança for confirmada será testada a habilidade da vacina em reverter diabetes recente-mente diagnosticada e a anu-lação de sua evolução.

Pegue leve no trabalhoEstudo realizado em Londres, envolvendo

mil pessoas com 32 anos de idade, mostrou que 45% dos novos casos de depressão ou ansiedade surgidos entre os integrantes do grupo tinham relação com a pressão sofrida no trabalho. Para os pesquisadores, o traba-lho estressante é aquele em que o profissional não tem controle sobre a sua rotina, trabalha longas horas com prazos inegociáveis e gran-de volume de tarefas. Uma das conclusões é que as pessoas precisam trabalhar com mais flexibilidade, tirando vantagem da tecnologia em vez de ficarem no escritório por longas horas.

Nada de bilu-biluAquela coisa de falar com a criança pa-

recendo bobo, como se dependesse disso o entendimento da criança provoca justamente o efeito contrário. Segundo Débora Lopes, professora de fonoaudiologia da Universidade de São Paulo (USP), os pais não devem falar nem fácil nem difícil, mas naturalmente para que a criança adquira tons e palavras corretas no desenvolvimento do próprio vocabulário. Nada contra fazer voz de brinquedos em mo-mentos lúdicos, contudo usar minimalismos e voz alterada durante todo o dia é condenável. O assunto não é brincadeira.

Depressão diminui o olfatoPara descobrir o porquê da depressão afe-

tar o olfato, pesquisadores da Universidade de Dresde, na Alemanha, expuseram 20 voluntá-rios com depressão severa e 20 voluntários normais a um químico de cheiro forte. No iní-cio do estudo, a concentração do químico era baixa e os depressivos não conseguiam sentir o cheiro. Ela foi aumentando gradualmente até que eles perceberam o odor. Usando res-sonância magnética os cientistas descobriram que os bulbos olfatórios das pessoas com depressão eram 15% menores. Quanto mais grave era a depressão do voluntário, menor era essa parte do cérebro.

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Plenitude2134

É dia de espetáculo. Crian-ças e jovens se preparam para aperfeiçoar suas habilidades na arte circense. Antes de entrar no picadeiro colocam o sorriso no rosto e estão pron-tos para o trabalho interativo e coletivo que as atividades de malabares, acrobacias e jogo de bolas exigem. O mais surpreendente é que eles não estão dentro de um circo tra-dicional. Eles fazem parte do Projeto ICA, uma organização não governamental (ONG) que atua em Mogi Mirim, auxiliando pais e escolas na formação de 250 crianças e adolescentes com atividades no turno con-trário a escola.

A atividade busca traba-lhar e desenvolver habilidades como fala, articulação, conver-sa em grupo, trabalho em equi-pe, confiança e autoestima nos alunos do Projeto que moram em bairros da periferia da cida-de, onde o risco social é maior e faltam políticas públicas que dêem conta de absorver o nú-mero de jovens e crianças em projetos de cultura, esporte e educação.

O adolescente Erik Rober-to Rebechi, 16, está no ICA há sete anos e é um exemplo emblemático do trabalho rea-lizado. Ele entrou como aluno para atividades de reforço es-colar, mas com o passar do tempo teve contato com a mú-

Coluna social por Davi Carvalho

Organização atua como complementação de políticas públicas oferecendo um projeto inovador com base em arte, educação e cultura para jovens da periferia de Mogi Mirim

Autoestima em cena

Temos várias opções que não tínhamos fora daqui. Dá para escolher o que a gente quiser: seguir com arte, música e educação ou se aprender uma profissão e buscar emprego.

sica, teatro, informática e circo e virou monitor, que auxilia os educadores nas atividades. “Minha mãe chorou ao ver um vídeo da minha apresentação no circo. Ela vê que eu melho-rei. Ela tinha que trabalhar e não tinha com quem me dei-xar. O choro da minha mãe me emociona porque prova que ela sente que estou em um bom caminho”, desabafa Erik.

Erik também fez um cur-so profissionalizante de metal mecânica através de uma par-ceria entre o ICA, uma escola técnica da cidade e empresas regionais. “Temos várias op-ções que não tínhamos fora daqui. Dá para escolher o que a gente quiser: seguir com arte, música e educação ou aprender uma profissão e bus-car emprego nas empresas parceiras do projeto”, explica o monitor.

Transformando realidadeAs explicações são sempre

as mesmas quando os jovens são questionados sobre expe-riências anteriores ao ICA em educação, cultura e arte. Elas, quase sempre, inexistiam. A educadora Daniela Alessan-dra dos Santos, 22 anos, está

no ICA há 12 anos, onde começou nas aulas de reforço escolar e teve a oportunidade se qualificar e hoje é educadora do projeto e cur-sa pedagogia. “Aqui descobri meu dom para ensinar. Fazendo pedagogia quero dar aulas em Educação de Jovens e Adultos (EJA), para levar minha mãe e meu irmão de volta para a escola”, comenta Daniela.

Ela lembra que quando entrou no Proje-to ICA as atividades eram diferentes. Tricô, bordado, caratê, sapateado, artesanato e re-forço escolar tudo era feito pela menina que sonhava em ser atriz, mas que nunca tinha tido acesso a aulas de teatro. “Com a opor-tunidade de conhecer o teatro e o circo eu me encontrei. Aprendi a pensar, ser crítica, a falar, respeitar, ouvir os outros. A minha pri-meira atividade foi com as três bolinhas [jo-gadas simultaneamente ao ar]. Essa simples atividade requer muita concentração, foco, confiança e para quem nunca tinha visto é algo emocionante perceber que a gente pode e consegue”, fala a jovem.

Nos últimos dois anos Daniela se especia-lizou em circo, com o apoio do Grupo Circus da Faculdade de Educação Física da Uni-versidade de Campinas (Unicamp), que, em 2011, desenvolveu um projeto de formação sobre “pedagogia das atividades circenses” e capacitou educadores e monitores do proje-to. “Escolhi o circo porque ele encanta. Nele tem espaço para todo mundo. Se não for bem em uma atividade pode se destacar em outra. Requer trabalho em grupo, tem alegria, músi-ca e você está em cena. Tem que viver o circo

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35Plenitude21

Casa de Ícaros O crescimento do número de alunos atendidos e de proje-

tos oferecidos a eles criaram uma necessidade de buscar re-cursos para a construção de uma nova sede, com capacidade para beneficiar mais estudantes e expandir a arte-educação para famílias. A organização conta com o apoio de governos, empresas e da sociedade civil para arrecadar recursos para investir na conclusão da Nova Sede ICA. As modalidades de doação são três: destinação de parte do ICMS; Lei Rouanet; e apoio direto. Conheça o projeto. Clique lá! www.projetoica.org.br

Reconhecimento Em 2011, o Projeto ICA venceu o prê-mio Itaú-Unicef oferecido a organizações sem fins lucrativos que complementam políticas públicas, articulando educação, cultura e assistência social.

Reconhecimento Em 2011, o Projeto ICA venceu o prêmio Itaú-Unicef oferecido a organizações sem fins lucrativos que complementam polí-

ticas públicas, articulando educação, cultura e assistência social.

para sentir o quanto ele mexe com todos. E educa. Tem a disciplina, foco, persistência, troca de saberes. Um precisa do outro”, explica Daniela.

No primeiro ano, os 250 alunos têm contato com todas as atividades oferecidas. A partir do segundo ano no pro-jeto eles têm a liberdade de optar por duas atividades liga-das ao circo, ao teatro, a mú-sica, dança, incentivo a leitura ou formação profissional.

ProtagonistasUma dos diferenciais do

projeto é que as crianças e jovens podem se aperfeiçoar dentro do projeto e passar a ensinar e participar diretamen-te da gestão do projeto. Tanto Erik quanto Daniela passaram por um processo parecido, de conhecimento dos trabalhos, formação e hoje transmitem o que aprenderam como mo-nitores e educadores, dentro e fora dos limites da sede do ICA.

Eles já trabalham a próxi-ma etapa da proposta peda-

gógica da organização que pretende levar a ideia “arte-educação” para dois Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), na periferia de Mogi Mirim, e escolas pú-blicas. O objetivo é irra-diar a expertise obtida nos anos de projeto e benefi-ciar pessoas que estejam fora dos muros da sede do ICA.

Segundo a coordena-dora geral, Maria Isabel Somme, o ICA atende diferentes necessidades dos alunos. “O jovem pre-cisa ser estimulado para o potencial ser desenvol-vido para ele melhorar a autoestima, para ajudá-lo a mudar o olhar sobre si mesmo e ser mais crítico em relação ao mundo. Como não tiveram opor-tunidades chegam aqui sem saber para o quê têm talento. Aqui eles desco-brem que são capazes”.

Fotos: Nato studio

Page 36: Revista Plenitude 21

Plenitude2136

O filme Tempos Modernos, do magnífico diretor Charles Chaplin, caracterizou de forma brilhante um período histórico marcado pelo desemprego em massa, o empobrecimento da população estadunidense, de-clínio da produção industrial e dos preços, após a grande cri-se de 1929.

O filme tem como protago-nista o conhecido Carlitos que, ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma--se em líder grevista, que de-fende o operário “escravo” dos mecanismos do capitalismo que reproduz injustiças e ado-ece os trabalhadores.

A invenção de uma máqui-na alimentadora é uma cena que marca o filme, porque tem a finalidade de diminuir o tempo dos operários enquanto almoçam, aumentando a pro-dução em detrimento do bem estar dos funcionários.

O filme se revela como uma grande crítica ao modo da produção capitalista e a

Clássico

Tempos muito modernos“Amor por contrato”

O filme estrelado por David Duchovny e Demi Moore é uma sátira arredia ao con-sumismo americano. Steve (Duchovny) e Kate (Moore) formam um casal perfeito. Eles e seus filhos, Mick (Ben Hollingswor-th) e Jen (Amber Heard), mudam-se para um bairro com renda média anual de U$ 100 mil e tornam-se referência na vizi-nhança. O detalhe aí é que eles são pagos para fazer isso. E não são uma família de verdade. São todos vendedores alinhados por uma companhia de marketing para promover os produtos de seus clientes na vizinhança abastada. Os Joneses são, em uma avaliação preliminar, um estilo de vida a ser cobiçado. O american way of life em seu supra sumo familiar.

As incidências dramáticas ensejadas pelo roteiro ganham força no clímax do filme e, além de ceder a um moralismo desviante, o vigor da fita acaba deformado pelo simplismo da realização.

Amor por contrato traz em seu cerne uma ideia tão boa que dá pano para manga mesmo com um filme que se encolhe ante a própria premissa. Isso não quer dizer que Amor por contrato seja um filme ruim. Lon-ge disso. É tônico, quase sempre sarcásti-co e deliciosamente irônico. Argumenta-se apenas que poderia ser memorável.

sociedade burguesa, com foco na dificuldade do proletariado encontrar a felicidade.

Em diversos momentos, o filme mostra o trabalhador como um mero apertador de parafusos, especialização característica do modelo de produção conhecido como for-dismo que ainda continua pre-sente em empresas e mentes.

Ao trabalhador não é per-mitido saber qual o produto que está produzindo, tão logo, é transformado em robô huma-no e tendo sua inteligência en-gessada pela especialização produtiva.

Esta semelhança faz de Tempos Modernos uma obra que nunca perde sua atualida-de. Afinal, ainda hoje, empre-sas exaurem as forças de seus trabalhadores, sem respeitar limites e impondo famigeradas metas e gestões pouco trans-parentes e autoritárias, o que desestimula o uso da capaci-dade inteligível e criativa. Esse é um filme que merece ser vis-to com regularidade, para não perder a capacidade de refletir no mundo em que vivemos.

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O Memorial da América Latina abriga a exposição de painéis do artista brasileiro, pintados a pedido do governo brasileiro, para presentear a Organização das Nações Uni-das (ONU), onde os quadros permaneceram por 54 anos até retornarem ao Brasil, em 2011.

A exposição apresenta os dois últimos e maiores murais criados por Cândido Portinari (1903 - 1962), após restaura-ção realizada entre fevereiro e maio de 2011, que trouxe de

A cidade ilhada, Milton Hatoum

As sementes das histórias de Hatoum não poderiam ser mais diversas: a primeira visita a um bordel em “Varandas da Eva”; uma passagem de Euclides da Cunha em “Uma carta de Bancroft»; a vida de exilados em «Bárbara no inverno» ou «Encontros na península»; o amor platônico por uma inglesinha em «Uma estrangeira da nossa rua». Com mão discreta e madura, Hatoum trabalha esses fragmentos da memória até que adquiram outro caráter: frutos do acaso e da biografia pessoal, eles afinal se mostram como imagens exemplares do curso de nossos desejos e fracassos.

volta às obras o cromatismo intenso que caracteriza o tra-balho do pintor de Brodowski.

Os monumentais murais estarão expostos junto a cerca de 100 dos estudos originais preparatórios para Guerra e Paz, além de uma centena de documentos históricos, entre cartas e fotos, que contam, em detalhes, toda a trajetória de criação das obras. Serão exibi-dos continuamente documen-tários sobre a vida e a obra do pintor.

Entre 1952 e 1956, Candi-

do Portinari trabalhou sofrega-mente para atender o pedido do governo brasileiro. Apesar da recomendação médica que evitasse o uso de tinta a óleo, já que apresentava sintomas de intoxicação pelo chumbo presente no composto, Por-tinari encarou a encomenda como missão e criou um dos mais belos e impactantes tes-temunhos da loucura huma-na. Portinari retratou a guerra não por meio de soldados ou equipamento bélico, mas por meio das suas vítimas, espe-

A metamorfose, Franz Kafka

A obra de 1915 aborda a vida de Gregor Samsa, personagem principal, que se sente oprimido pelo trabalho e pelo desprezo da própria família. Gregor Samsa é um caixeiro--viajante que se sente sobrecarregado pela profissão e desmotivado pelo dia a dia cansativo das atividades laborais que cumpre rigorosamente, sente-se reduzido a um inseto. Mantém-se no emprego para pagar as dívidas dos pais, sentindo-se oprimido pelo trabalho e pela família. O trabalho o toma mentalmente e está acima de suas próprias condições humanas. Numa manhã não encontra forças para se colocar de pé e pronto à encarar as pessoas e as obrigações do trabalho.

Liberdade, Jonathan Franzen

Um estudante idealista e meio nerd, uma jogadora de basquete com carreira promis-sora e um roqueiro rebelde metido a poeta se conhecem no fim dos anos 1970, na Universidade de Minnesota. No despertar do novo milênio, eles têm a impressão de já terem vivido tudo. Mas é somente agora, numa época em que a liberdade lhes pare-ce tão onipresente quanto fugidia, que as coisas começam realmente a se complicar. Poderoso painel da vida contemporânea, povoado de personagens tão reconhecíveis quanto surpreendentes, Liberdade reatesta a posição de Jonathan Franzen como um dos grandes autores americanos da atualidade.

Oxigêniopor Michelle Carvalho

cialmente aquela que sofre a dor maior: a mãe que perdeu o filho.

Com informações de Fun-dação Memorial

Local: Memorial da Amé-rica Latina, Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda.

Horários: De terça a do-mingo, das 9h às 18h. De 7 de fevereiro a 21 de abril, das 9h às 18h. Acesso gratuito.

Exposição

Guerra e Paz, de Portinari

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Retrato Social

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria a sério.Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida, claro que tive momentos de alegria.

Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas. Se voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo

da primavera e continuaria assim até o fim do outono.Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,

se tivesse outra vez uma vida pela frente.Mas já viram, tenho oitenta e cinco anos e sei que estou morrendo.

(Jorge Luís Borges)

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Cada brasileiro consome em média5,2 litros de agrotóxicos por anoAté quando vamos engolir isso?

Secretaria Operativa [email protected] (11) 7181-9737 skype contraosagrotoxicos

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CAMPANHA PERMANENTE CONTRA OS AGROTÓXICOS E PELA VIDASegundo dados do Sindicato Nacional para Produtos de Defesa Agrícola (Sindage), em 2009, foram comerciados legalmente 1 bilhão de litros. Distribuindo a quantidade de veneno utilizado chegamos à média de 5,2 litros de agrotóxicos por habitante ao longo do ano.

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