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Stalin e a luta pela reforma democratica Parte I
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Comunidade Josef Stalin
STALIN E A LUTA PELA REFORMA DEMOCRTICA
Parte I
Grover Furr
Enviado para Comunidade Josef Stalin por Lcio Jr
Fonte -http://clogic.eserver.org/2005/furr.html
Traduo: Lcio Jr.
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STALIN E A LUTA PELA REFORMA DEMOCRTICA
Grover Furr
Primeira parte
Introduo
1. Este artigo sublinha as tentativas de Stalin, desde os anos 30 at a sua morte, em
democratizar o governo da Unio Sovitica.
2. Esta afirmao, e o artigo, surprender a muitos, e escandalizar a alguns. De fato,
fiquei surpreso ante os resultados desta investigao, o que me levou a escrever este
artigo. Suspeitei durante muito tempo que a verso tipo "guerra fria" da histria
sovitica tinha importantes lacunas. Apesar disso, no estava preparado para a
magnitude das falsificaes de que tive conhecimento.
3. Esta histria bem conhecida pelos russos, onde o respeito e tambm a admirao
por Stlin comum. Yuri Zhukov, o principal historiador russo que avanou o
paradigma de "Stalin democrata", e cujos trabalhos so a principal fonte individual,
mas que no a nica, deste artigo, uma figura reconhecida, relacionada com a
Academia de Cincias. Os seus trabalhos so amplamente conhecidos.
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4. Porm, esta histria, assim como os feitos nos quais se assenta, virtualmente
desconhecida fora de Rssia, onde o paradigma da Guerra Fria "Stalin, malvado"
domina tanto a bibliografia que os trabalhos aqui citados so escassamente
nomeados. Por isto muitas das fontes utilizadas no artigo s so acessveis em russo
(1).
5. Este artigo no s informa aos leitores de novos fatos e das suas interpretaes
sobre a histria da URSS. Constitui uma tentativa de fazer chegar aos leitores no-
russos o resultado de novas investigaes, baseadas nos arquivos soviticos, sobre o
perodo de Stalin e sobre o mesmo Stalin. Os feitos discutidos neste artigo so
compatveis com uma determinada linha de paradigmas histricos soviticos, na
medida na que ajudam a desmistificar um determinado nmero de interpretaes.
Sero inaceitveis por completo (inclusive escandalosos) para aqueles cujas
perspectivas polticas e histricas se baseiam em certas noes erradas, baseadas na
Guerra Fria, sobre o "totalitarismo" sovitico e o "terror" stalinista.(2)
6. A interpretao khrucheviana de Stalin como um ser sedento de poder, traidor do
legado de Lenin, foi uma criao necessria para os interesses da nomenclatura do
Partido Comunista nos anos 50. No entanto, apresenta muitas semelhanas e
compartilha muitas premissas com o discurso cannico sobre Stalin herdado da Guerra
Fria, que esteve ao servio do desejo das elites capitalistas de apresentar as lutas pelo
comunismo, ou qualquer luta da classe operria pelo poder, como um caminho que
dirige necessariamente a algum tipo de horror.
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7. Ajusta-se tambm necessidade do trotskismo de argumentar que a derrota de
Trotsky, o "revolucionrio autntico", teve que ser obra de um ditador que dado
como certo que violou cada um dos princpios pelos que lutou a Revoluo.
Khruchevistas, anticomunistas da Guerra Fria, e os paradigmas trotskistas sobre a
histria sovitica so iguais na sua dependncia de uma demonizao de Stalin, de sua
liderana e da URSS durante o seu mandato.
8. A viso sobre Stalin apresentada neste ensaio compatvel com outros paradigmas
histricos contraditrios. As interpretaes comunistas anti-revisionistas e ps-
maostas da histria sovitica contemplam Stalin como un herdeiro lgico e criativo do
legado de Lenin, se bem que fracassado em certos aspectos. Igualmente muitos
nacionalistas russos, que difcilmente aprovariam os enganos de Stalin enquanto
comunista, respeitam sua figura como responsvel de fazer da Rsia uma potncia
industrial e militar. Stalin para todos eles uma figura essencial, se bem que a partir
de uma tica diferente.
9. Este trabalho no tenta "reabilitar" a Stalin. Estou de acordo con Yri Zhukov quando
escreve:
"Tenho que dizer, sinceramente, que me oponho reabilitao de Stalin, porque me
oponho s reabilitaes en geral. Nada nem ningum deve ser reabilitado, seno que
devemos descobrir a verdade, e d-la a conhecer. Porm, desde os tempos de
Khruchev as nicas vtimas das represses de Stalin das que ouvimos falar so aquelas
que tomaram parte nelas, ou que as facilitaram, e que no se opuseram a elas".
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Tampouco quero afirmar que, no caso de que Stalin conseguisse todas as
metas, estariam resolvidos os muitos e variados problemas da construo do
socialismo e do comunismo.
10. Durante o perodo analisado neste ensaio, a liderana de Stalin preocupou-se no
s em potencializar a democracia no governo do estado, seno em favorecer tambm
a democracia interna no Partido. Este ponto, importante e relacionado, precisa de um
estudo em separado, e no o ponto central deste trabalho. Apesar de ser conhecido
o conceito de "democracia", este tem um significado distinto no contexto de um
partido guiado pelo centralismo democrtico, formado por membros voluntrios, que
no contexto de um grande estado de cidados, no se podem dar por supostas bases
de consenso poltico.(3)
11. Este artigo baseou-se en fontes de primeira mo sempre que foi possvel. Ainda
que se baseie com maior fundamento nos trabalhos acadmicos de historiadores
russos que tm acesso a documentos no publicados, ou de mais recente publicao,
dos arquivos soviticos. Muitos documentos soviticos de grande importncia s esto
disposio de acadmicos com acesso privilegiado. Muitos outros permanecem
completamente sequestrados e "classificados", includos muitos do arquivo pessoal de
Stalin, os materiais da condenao e de investigao dos processos de Moscou de
1936-1938, os materiais de investigao sobre o caso Tukhachevski de 1937 e muitos
outros.
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12. Yuri Zhukov descreve a situao dos arquivos do seguinte jeito:
"Com o comeo da Perestroika, sendo um dos seus lemasglasnost..., o arquivo do Kremlin, antes fechado aosinvestigadores, foi fechado. Os seus contedos comearam atrasladar-se (a vrios arquivos pblicos G.F.). Este processocomeou, mas no chegou a ser finalizado. Sem publicidade ouexplicao, em 1996 os materiais mais importantes eessenciais foram reclassificados de novo e arquivados noarquivo do Presidente da Federao Russa. Foramprontamente evidentes as razes desta operao: permitir oressurgimento dos velhos e lamentveis mitos."
Zhukov est falando dos mitos "Stalin o malvado" e "Stalin o grande lder". S o
primeiro destes mitos familiar aos leitores da historiografia ocidental e
anticomunista. No entanto, as duas escolas esto bem representadas tanto na Rssia
como na Comunidade de Estados Independentes.
13. Uma das obras de Zhukov, fonte de muito do contido deste artigo, intitula-se Inoy
Stalin - Um Stalin diferente, "diferente" dos mitos, mais perto da verdade, baseado nos
recentemente documentos de arquivo recentemente classificados. A capa do livro de
Zhukov apresenta uma fotografia de Stalin e, frente a ela, a mesma fotografia em
negativo: o seu oposto. En poucas ocasies Zhukov utiliza fontes de segunda mo. Na
maior parte das vezes, ele cita documentos de arquivo no publicados, ou
recentemente classificados e publicados. A sua descrio da poltica do Politburo de
1934 a 1938 muito diferente de todo o que tenha a ver com os mitos que rejeita.
14. Zhukov arremata sua introduo com as seguintes palavras:
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"No presumo ter terminado a tarefa. Tento s evitar pontos de vistapreconcebidos, evitar os dois mitos; tentar reconstruir o passado, umavez muito conhecido, mas agora esquecido intencionalmente,
deliberadamente no nomeado, ignorado por todos".
Assim como Zhukov, este artigo tambm tenta manter-se margem dos dois
mitos.
15. Sob estas condies qualquer concluso tem que ter o carter de tentativa.
Esforcei-me por utilizar sensatamente todos os materiais, j foram de primeira ou
segunda mo. Com a condio de no interromper o texto coloquei as fontes
referenciais ao final de cada parte.
16. A investigao que este artigo resume tem importantes consequncias para
aqueles de ns que queremos levar adiante uma anlise de classe da histria, includa
a histria da Unio Sovitica.
17. Um dos mellores investigadores do periodo de Stalin na URSS, J. Arch Getty,
denominou a investigao histrica realizada durante o perodo da Guerra Fria como
"produto propagandstico", "investigao" que no merece nem crtica nem emenda,
seno que tem que ser feita de novo desde o comeo.(4) Minha opinio coincide com
a de Getty, ainda que acrescentaria que esta investigao tendenciosa, "poltica" e
desonesta continua hoje en dia.
18. O paradigma Guerra Fria-Khruchevista foi o ponto de vista dominante da histria
dos "anos de Stalin". A presente investigao pode dar luz sobre a matria, "um
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princpio desde o mesmo princpio". A verdade que surge ter tambm un grande
significado para o projeto marxista de compreender o mundo para transform-lo, da
construo de uma sociedade sem classes, uma sociedade con justia econmica e
social.
19. Na seo final do ensaio sublinhei algumas reas para uma posterior investigao
apontadas pelos resultados deste artigo.
Uma nova Constituio
20. Em dezembro de 1930, o VIII Congresso Extraordinrio dos Sovietes aprovou o
rascunho da nova constituio sovitica. Convocou uma votao secreta e eleies
abertas. (Zhukov, Inoy 307-9)
21. Admitiram-se candidatos no s do Partido Bolchevique -chamado ento Partido
Comunista da Unio (bolchevique)(5)- seno tambm dois grupos de cidados
baseados na zona de residncia, filiao (como grupos religiosos), ou organizaes dos
centros de trabalho. Isto nunca foi levado prtica. Nunca houve eleies abertas.
22. Os aspectos democrticos da Constituio foram includos ante a expressa
insistncia de Stalin. Junto aos seus mais chegados colaboradores no Politburo do
Partido Bolchevique, Stalin lutou para manter este projeto (Getty, "State"). Ele, e eles,
cederam somente quando enfrentaram com a rejeio total do Comit Central do
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Partido, e ante o pnico que criou o descobrimento de srias conspiraes para
derrocar o governo sovitico com a colaborao do fascismo alemo e japons.
23. En janeiro de 1935, o Politburo iniciou o trabalho de desenhar os contedos de
uma nova constituio a Avel Ynukidze(6) quem, meses mais tarde, voltou com a ideia
de eleies abertas. Quase imediatamente, a 25 de janeiro de 1935, Stalin expressou o
seu desacordo com a proposta de Yenukidze, insistindo nas eleies secretas (Zhukov,
Inoy 116-21).
24. Stlin fez pblico este desacordo de forma muito notria em maro de 1936,
durante uma entrevista com o magnata da imprensa americana Roy Howard. Stalin
declarou que todas as votaes seriam secretas. O voto teria uma base de igualdade,
tendo o mesmo valor o voto de um campons que o voto de um operrio(7); uma base
territorial, como no Ocidente, assim como seria baseada no status, como na poca
czarista. O voto seria direto: todos os Sovietes serian eleitos pelos cidados, no por
representantes indiretos. (Stalin-Howard Interview; Zhukov, "Repressii" 5-6). Disse
Stlin:
Stalin: "Adotaremos a nossa nova constituio provavelmenteno final deste ano. A comisso encarregada de redigi-la estatrabalhando e finalizar em breve o seu traballo. Como j seanunciou, de acordo com a nova constituio, o sufrgio seruniversal, igual, direto e secreto". (Entrevista Stalin-Howard)
25. E o mais importante: Stalin declarou que en todas as eleies participariam
diferentes foras polticas:
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"Voc est confundido polo feito de que s um partido seapresentar s eleies. E no pode ver como pode ter lugaruma contenda eleitoral nestas condies. Evidentemente, oscandidatos sero apresentados no s pelo Partido Comunista,seno por toda clase de organizaes pblicas, alheias aoPartido. E temos centenas. No temos partidos, mas que namedida na que temos uma classe capitalista en luta com umaclasse traballadora que explorada pelos capitalistas. A nossasociedade consiste exclusivamente en trabalhadores livres docampo e da cidade; trabalhadores, camponeses e intelectuais.Cada uma destes segmentos tem os seus especiais interesses,intereses expressos atravs das numerosas organizaes queexistem.
Diferentes organizaes cidads apresentariam candidatos que competiriam
com oss candidatos do Partido Comunista. Stalin declarou a Howard que os cidados
marcariam os nomes de todos os candidatos ou assinalariam aqueles em quem
votassem.
26. Tambm salientou a importncia de eleies nas quais a competncia surgiria
como forma de lutar contra a burocracia:
"Voc poderia pensar que no haver eleies. Mas, sim,havero e vejo campanhas muito agitadas. No so poucas asinstituies no nosso pas que funcionam mal. Do-se casosnos que este ou aquele governo local no so quem deveria
satisfazer esta ou aquela das variadas e crecentesnecessidades dos trabalhadores da cidade e do campo.Edificou-se uma boa escola ou no? Melhoraram as condiesde vida? Voc um burocrata? Ajudou voc a facer mais eficazo nosso trabalho e a fazer as nosas vidas mais civilizadas?Assim sero os critrios com que milhes de eleitores mediroas propostas dos candidatos, rejeitaro os no aptos,suprimiro os seus nomes das listas de candidatos efavorecero e elegero os melhores. Sim, as campanhaseleitorais sero disputadas, e estaro centradas em numerosos
e agudos problemas, sobretudo de natureza prtica, deprimeira importncia para o povo. O noso novo sistema
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eleitoral reforzar todas as institucins e organizacins, que severn obrigadas a mellorar o seu traballo. O sufrxio universal,igualitrio, direto e secreto ser un ltego nas mans do povocontra os rgaos governamentais que funcionen mal. Naminha opinio, a nova constitucin sovitica ser aconstitucin mis democrtica do mundo".
27. A partir desse ponto de vista, Stalin e os membros do Politburo mais prximo dele,
Vyacheslav Molotov e Andrei Zhdanov, apiam as eleies abertas e secretas em todos
os debates dentro do Partido. (Zhukov, Inoy, 207-10; Entrevista Stalin-Howard)
28. Stalin tambm insiste no fato de que muitos cidados soviticos, que foram
privados dos seus direitos, agora os recuperariam. Isto inclua membros das clases
exploradoras, como os grandes proprietrios, e aqueles que lutaram contra os
bolcheviques durante a Guerra civil de 1918-1921, os conhecidos como "guardas
brancos", asim como aqueles condenados por crimes (como hoje nos USA). Os grupos
mais importantes e provavelmente mais numerosos entre os lishentsy(expropriados)
foram dois: os kulaks, os principais visados durante a coletivizao, e os que violaram a
"lei dos tres ouvidos"(8) (roubar propriestades estatais, assim como cereais, s vezes
simplesmente para combater a fome). (Zhukov, Inoy 187)
29. Estas reformas eleitorais seriam desnecessrias, a no ser que a direo sovitica
quisesse mudar a forma de governo da Unio Sovitica. O que perseguiam era expulsar
o Partido Comunista da direo direta da Unio Sovitica.
30. Durante a Revoluo Russa e os crticos anos que seguiram, a URSS foi governada
por uma hierarquia eleita de sovietes, desde o nvel local ao nacional, com os Sovietes
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Supremos como rgos legislativo, o Conselho de Comissrios do Povo, como o poder
executivo, e o Secretrio deste Conselho como cabea do Estado. Mas na prtica, em
todos os nveis, a eleio destes estava nas mos do Partido Bolchevique. Houve
eleies, mas a nomeao direta por parte dos lderes do Partido, denominado
"cooptao" era tambm habitual. Inclusive as eleioes foram controladas pelo
Partido, j que ningum podia candidatar-se sem a aprovao dos dirigentes do
Partido.
31. Para os bolcheviques isto era lgico. Era a forma que tomava a ditadura do
proletariado nas condies histricas especficas na Unio Sovitica revolucionria e
ps-revolucionria. Sob a Nova Poltica Econmica, ou NEP(9), o trabalho e as
capacidades dos exploradores foram necessrias. Ainda que s quando estivessem ao
servio da ditadura do proletariado, do socialismo. No se deixou que reconstruissen
as relaes capitalistas alm de certos limites, nem que recuperassem poder poltico.
32. Durante os anos 20 e princpios dos 30, o Partido Bolchevique recrutou membros
entre a classe trabalhadora de forma intensa. No final dos anos 20, a maioria dos
membros do Partido eram trabalhadores e uma alta porcentagem dos trabalhadores
estava no Partido. Este recrutamento massivo e os grandes projetos de educao
poltica coincidiram com as enormes tenses do primeiro Plano Quinquenal, a
industrializao com marchas foradas, e a colectivizao, normalmente forada, das
propriedades individuais (pasando a constituir fazendas colectivas -kolkhoz-, ou
soviticas -sovkhoz). A direo bolchevique foi to sincera na sua tentativa de
proletarizar o Partido como exitosa nos seus resultados. (Rigby, 167-8;184;199)
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33. Stalin e os seus seguidores dentro do Politburo deram determinados motivos para
apoiar a sua vontade de democratizar a Unio Sovitica. Essas razes reforaram a
ideia dessa direo de que comeara um novo estgio do socialismo.
34. A maior parte dos camponeses estava em fazendas coletivas. Com a progressiva
diminuio de fazendas individuais, a direo sovitica pensou que, objetivamente, os
camponeses j no constituam uma classe scio-econmica independente. As
semelhanas entre camponeses e trabalhadores eran maiores que as diferenas.
35. Stalin argumentava que, com o rpido crescimento da indstria coletiva e,
sobretudo, com a classe operria controlando o poder poltico atravs do Partido
Bolchevique, o termo "proletrio" j no era apropriada. "Proletariado", declarou
Stalin, define a classe traballadora sob a explorao capitalista, ou trabalhando sob
relaes capitalistas de produo, como as que existiam durante os primeiros anos da
Unio Sovitica, especialmente durante a NEP. Mas uma vez abolida a explorao
direta dos trabalhadores pelos capitalistas, a clase trabalhadora no deveria ser
chamada de "proletariado".
36. Segundo essa anlise, os exploradores do trabalho alheio j no existiam. Os
trabalhadores, que agora dirigiam o pas no seu prprio interesse atravs do Partido
Bolchevique, j no eram o clssico proletariado. Ento, a "ditadura do proletariado" j
no era um conceito pertinente. Esas novas condies supunhan um novo tipo de
estado. (Zhukov, Inoy, 231;292; Stalin, "Draft" 800-1).
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A Luta contra a burocracia
37. Os lderes do Partido tambm estavam preocupados com o papel do Partido neste
novo estgio do socialismo. Stalin enfrontou a luta contra o "burocratismo" j desde
janeiro de 1934, no seu Informe ao XVII Congreso do Partido.(10) Stalin, Molotov e
outros dirigentes denominaram o novo sistema eleitoral como "arma contra a
burocratizao".
38. Os lderes do Partido controlavam o governo, tanto decidindo quem entrava nos
Sovietes como exercendo diversas formas de fiscalizao sobre eles. Molotov,
dirigindo-se ao VII Congresso dos Sovietes, o 6 de fevreiro de 1935, afirmou que as
eleies secretas "golpearo con grande fora aos elementos burocrticos,
propiciando-lhes um til toque de ateno". O informe de Yenukidze no
recomendava, nen indicava, eleies secretas nem a ampliao dos direitos civis.
(Stalin, Informe ao XVII Congreso do P.C.; Zhukov, Inoy 124)
39. Os ministros e os seus colaboradores tinhan que conhecer os assuntos dos que se
encarregavam se queriam ser eficazes na produo. Isto significava educao, e
tambm conhecimentos tcnicos no seu campo. Mas os lderes do Partido fizeram aos
poucos as suas carreiras s atravs da ascenso aos altos escales do Partido. No se
precisava muito conhecimento tcnico para esse tipo de ascenso. E bem eram
necesrios critrios polticos. Estes funcionrios do Partido exerceram o controle,
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ainda que lhes faltassem os conhecimentos prticos que, teoricamente, lhes
facilitariam uma tima superviso. (Stalin-Howard Entrevista, Zhukov, Inoy, 305;
Zhukov, "Represii" 6)
40. Isto era, aparentemente, o que a direo de Stalin entendia por "burocratismo".
Era algo visto como perigoso -no que coincidiam todas as correntes marxistas- mas no
era considerado inevitvel. Cuidaram que podia ser derrotado modificando o papel do
Partido numa sociedade socialista.
41. O conceito de democracia que Stalin e os seus seguidores na direo do Partido
desejavam aplicar na Unio Sovitica inclua uma mudana qualitativa no papel do
Partido Bolchevique no seio da sociedade.
Os documentos postos disposio dos investigadores permitem compreender que j
nos finais da dcada dos 30, houve intentos de separar o Partido e o Estado, e de
limitar o papel do Partido na vida do pas. (Zhukov, Tayny 8)
Stalin e os seus continuaram a luta com a oposio de outros elementos no Partido
Bolchevique, com resoluo, ainda que com cada vez menos posibilidades de vitria,
at a morte de Stalin en 1953. A deciso de Lavrentii Beria de continuar esta luta talvez
seja autntica causa da sua morte nas mos de Khruchev e os seus colaboradores, se
bem que de forma judicial, atravs de um processo baseado en acusaes inventadas
em dezembro de 1953, ou bem -como muitas provas indicam- mediante o simples
assassinato, em junho desse mesmo ano.
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42. O Artigo 3 da Constituio de 1936 manifesta: "Na URSS todo o poder pertence aos
trabalhadores da cidade e do campo, representado polos Sovietes de Deputados
Operrios". O Partido Comunista menciona-se no Artigo 126 como "a vanguarda da
classe operria na luta por reforar e desenvolver o sistema socialista, o partido o
ncleo dirigente de todas as organizaes de trabalhadores, tanto estatais como
pblicas". Noutras palavras, o Partido dirigia "organizaes", mas no os rgos
legislativos ou executivos do Estado. (Constitucin de 1936; Zhukov, Tayny 29-30)
43. Parece que Stalin cuidou que, uma vez separado o Partido do controle direto sobre
a sociedade, o seu papel debia limitar-se agitao e propaganda, e a participao
na seleo de quadros. Que significaria isto? Talvez algo como o seguinte:
- O Partido regressaria sua funo essencial de ganhar o povo para os ideais do
comunismo.
- Isto significaria o fim dos trabalhos cmodos, e o regreso ao estilo de trabalho duro
que caracterizou aos bolcheviques durante o Czarismo, a Revoluo, a Guerra Civil, o
perodo da NEP e a no menos dura etapa dos planos de industrializao e
colectivizao. Era algo necessrio para conseguir uma base real entre as massas
(Zhukov, KP Nov. 13 02; Mukhin, Ubiytvo).
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44. Stalin insistia em que os comunistas tinhan que ser gente afeita ao trabalho duro,
cultos, capazes de fazer uma contribuio positiva produo e criao da sociedade
comunista. O prprio Stalin foi um incansvel estudioso.(11)
45. Resumindo, as provas indicam que Stalin considerava o novo sistema eleitoral
apropriado para cumprir os seguintes objetivos:
- Assegurar que a direo da produo, e de toda a sociedade sovitica, estivessem nas
mos de gente tecnicamente preparada.
- Deter a degenerao do Partido Bolchevique, e fazer regressar aos militantes do
Partido, especialmente aos seus lderes, s suas funes primrias: protagonizar a
liderana na poltica e na moral, mediante o exemplo e a persuaso do resto da
sociedade.
- Reforar o trabalho do Partido entre as massas.
- Granjear o apoio dos cidados para o governo.
- Criar as bases para uma sociedade sem classes e comunista.
A Derrota de Stalin
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46. Durante 1935, sob o mandato de Andrei Vyshinski, Fiscal chefe da URSS, muitos
cidados que foran exilados, que foram encarcerados e -o fundamental para o noso
estudo- foram privados do direito ao voto, recuperaram os seus direitos. Centenas de
milhares de antigos kulaks, fazendeiros ricos que foram vtimas da colectivizacin, e
aqueles que foran encarcerados ou expulsos do pas por se opor colectivizao,
foram liberados. Vyshinski critiou duramente o NKVD (Comisariado Popular para
Asuntos Internos) pela "enorme quantidade de erros e equvocos" na deportao de
quase 12.000 pessoas de Leningrado aps o assassinato de Kirov en dezembro de
1934. Declarou que en adiante o NKVD no poderia prender ningum sem autorizao
prvia do fiscal. Ento, centenas de milhares de pessoas tiveram motivos para pensar
que o Estado e o Partido foram injustos com eles. (Thurston 6-9; Zhukov, KP Nov 14. 19
02 Zhukov, Inoy 187; Zhukov, "Represii" 7)
47. Originalmente, entre as intenes de Stalin para a nova Constituio estava a da
participao de todas as foras polticas. Declarou isso na sua entrevista con Roy
Howard em 1 de marzo de 1936. No Pleno do Comit Central de junho de 1937,
Yakovlev -um dos membros do Comit Central que, junto con Stalin, mais trabalhara
no desenho da nova Constituio (Zhukov, Inoy 223)- afirmou que a ideia de eleies
abertas fora feita por Stalin. Esta sugesto encontrou uma ampla oposio por parte
dos lderes regionais do Partido, dos Primeiros Secretrios, ou a "partitocracia", como
Zhukov os denominava. Aps a entrevista com Howard no teve nem mesmo sequer
um apoio nominal declarao de Stalin sobre eleies abertas nos principais jornais,
a maioria sob o controle direto do Politburo. O Pravda publicou to s um artigo, o 10
de maro, e no mencionou o tema das eleies.
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48. De tudo isto, Zhukov deduz:
"Isto s podia significar uma coisa. No s a "ampla liderana" (osPrimeiros Secretrios regionais) seno quando menos de uma partedo aparelho do Comit Central, no aceitaram as inovaes deStalin, e no quisera aprovar, nem sequer de forma meramentenominal, as eleies, um perigo para muitos que, como se deduziadas palavras de Stalin que o Pravda sublinhou, ameaava a posio eo poder dos Primeiros Secretrios, os Comits Centrais dos partidoscomunistas das nacionalidades, e os comits regionais de cidade ede outras reas. (Inoy, 211)
49. Os Primeiros Secretrios mantinham os cargos, sem poder ser expulsos em
nenhuma eleio. O imenso poder do que gozavam procedia do controle do Partido
sobre cada um dos aparelhos econmicos e estatais: kolkhoses, fbricas, educao,
exrcito... O novo sistema eleitoral privaria aos Primeiros Secretrios da sua condio
de delegados nos Sovietes, e impediria que pudessen eleger delegados ao seu gosto.
Uma derrota deles, ou dos seus "candidatos" (os candidatos do Partido) nas eleies
aos Sovietes seria uma chamada de ateno sobre o seu trabalho. Um Secretrio cujos
candidatos no fizessem frente aos candidatos no pertencentes ao Partido
evidenciaria a sua fraca ligao com as massas. Durante as campanhas, os candidatos
opositores centrariam as suas crticas em temas centrais como a corrupo, o
autoritarismo ou a incompetncia dos candidatos do Partido. Os candidatos
derrotados mostrariam suas fraquezas como comunistas, o que conduziria
provavelmente sua remoo no posto (Zhukov KP Nov. 13 02; Inoy 226; cf. Getty,
"Excesses" 122-3)
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50. Os lderes veteranos do Partido acumulavam muitos anos de militncia, veteranos
dos perigosos dias do czarismo, da Revoluo, da Guerra Civil e da coletivizao,
quando ser comunista significava numerosos perigos e dificuldades. Muitos deles
tinham uma pobre formao acadmica. Diferente de Stalin, Kirov ou Beria, a maior
parte deles ou no tinham vontade ou no podiam "desenvolver a si mesmos" atravs
da auto-educaco. (Mukhin, Ubiystvo 37; Dimitrov 33-4; Stalin, Zastol'nye 235-6)
51. Todos estes militantes eram desde sempre os defensores das polticas de Stalin.
Foram os que levaram adiante a dura coletivizao do campesinato, na qual que
centenas de milhares foram deportados. Durante os anos 1932 e 1933, muita gente,
talvez trs milhes de pessoas, morreram de fome, uma fome originada por causas
naturais e no humanas que fez ainda mais dura a expropriao e a coletivizao do
cereal para o campesinato, ou morreram nos levantes armados dos camponeses (que
tambm causaram muitas vtimas entre os bolcheviques). Estes lderes do Partido
estiveram de acordo com a industrializao acelerada, que se deu em pobres
condies de vida (poucos alimentos, pssimas casas, pauprrimos cuidados mdicos,
salrios baixos, etc.).
52. Agora, as eleies nas que podiam participar aqueles que at esse momento
estavam privados do direito ao voto por terem combatido as polticas soviticas, era
provvel que muitos militantes veteranos temessem que estes novos eleitores
votassen contra os seus candidatos ou qualquer outro candidato bolchevique. A
derrota dos seus candidatos punha en perigo o poder e os privilgios com que
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contavam. (Zhukov, KP Nov. 13 02; 1936 Const., Ch. X; cf. Getty, "Excesses" 125, sobre
a importncia do sentimento religioso no pas)
Julgamentos, Conspiraes, Represso
53. Os planos para a nova Constituio e as eleies foram tratadas pelo Pleno do
Comit Central de junho de 1936. Os delegados aprovaram por unanimidade o
rascunho constitucional. Mas ningum disse nada em prol do mesmo. Este fracasso em
dar ao menos um apoio ritual a uma proposta de Stalin indicava certamente uma
"oposio latente da direo ampliada", uma "evidente falha de compromisso"
(Zhukov, Inoy 232, 236; "Repressii" 10-11)
54. Durante o VIII Congresso dos Sovietes de toda Rssia, nos meses de novembro e
decembro de 1936, Stalin e Molotov insistiram de novo na importncia de ampliar o
direito ao voto e de eleies secretas e abertas. Na linha do esprito da entrevista de
Stalin con Howard, Molotov sentiu os efeitos benficos, para o Partido, de permitir
candidatos no comunistas aos Sovietes:
"Este sistema... no pode fazer outras coisas que golpear a quem semove no burocratismo, facilitando a promoo de novas foras...tem-se que potencializar para mudar os elementos mais atrasadosou burocratizados. Sob essa nova forma de eleies, possvel aeleio de elementos inimigos. Mas tambm este perigo, em ltimainstncia, tem que ajudar-nos, j que servir de chicote para aquelasorganizaes que o precisem, e para os trabalhadores (do Partido)que ficaron adormecidos." (Zhukov, "Repressii" 15)
55. O prprio Stalin foi mais alm:
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"Alguns dizem que isto perigoso, j que os elementos hostis aopoder sovitico poderiam chegar aos nveis mais altos, alguns dosantigos guardas brancos, kulaks, sacerdotes, etc. Mais, que h quetemer? Se tens medo dos lobos, no caminhes no bosque. Por umlado, no todos os antigos kulaks, guardas brancos e padres so hostis
ao poder sovitico. Por outra, se o povo se deixa levar ali ou aqui porforas hostis, isto significar que o nosso trabalho de agitao est
pobremente organizado, e que merecemos esta desgraa. (Zhukov,Inoy 293; Stalin, "Draft")
56. Novamente, os primeiros secretrios demostraram uma tcita hostilidade. O Pleno
do Comit Central de dezembro de 1936, cujas sesses coincidiram com as do
Congresso, reuniu-se o 4 de dezembro. Mas no houve nenhuma discusso do
primeiro ponto da ordem do dia, o rascunho da Constituio. O informe de Yezhov,
"Sobre as organizaes antissoviticas de direita e trotskistas" estava muito mais perto
das preocupaes dos membros do Comit Central. ("Fragmenty 4-5; Zhukov, Inoy
310-11)
57. O 5 de dezembro de 1936 o Congresso aprovou o rascunho da nova Constituio,
ainda que no tenha ocorrido realmente discusso. Contra essa discusso, os
delegados (lderes do Partido) enfatizaram as ameaas dos inimigos exteriores e
interiores. Mais que discursos de aprovao da Constituio, (tema principal sobre o
qual tratou Stalin) os delegados Molotov, Zhdanov, Litvinov e Vyshinsky ignoraram
virtualmente o tema da Constituio. Nomeou-se uma comisso para o posterior
estudo do rascunho constitucional, sem decidir nada sobre as eleies abertas.
(Zhukov, Inoy 294; 298; 309)
58. A situao era efetivamente muito tensa. A vitria dos fascistas na Guerra Civil do
Estado espanhol era s questo de tempo. A Unio Sovitica estava rodeada por
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potncias hostis. Na segunda metade da dcada dos anos 30, absolutamente todos
esses pases eran regimes abertamente autoritrios, militaristas, anticomunistas e
antissoviticos. En outubro de 1936, a Finlndia disparou contra a fronteira sovitica.
Esse mesmo ms nasce o eixo Berlin-Roma, entre Hitler e Mussolini. Un mes mais
tarde, Japn une as suas foras Alemanha nazi e fascista Itlia para formar o Pacto
Anti-Komintern. Os esforoos soviticos para formar alianas militares contra a
Alemanha nazi encontrou rejeio das capitais ocidentais. (Zhukov, Inoy 285-309)
59. Na poca na que o Congresso tratava da nova Constituio, tiveram lugar os dois
principais julgamentos de Moscou. Zinoviev e Kamenev foram julgados junto a outros
en Agosto de 1936. O segundo julgamento, en janeiro de 1937, afetava alguns dos
principais seguidores de Trotsky, dirigidos por Yuri Piatakov, que at havia bem pouco
fora o Comisrio Delegado de Indstria Pesada. (12)
60. A plenria do Comit Central de fevereiro-maro de 1937 trouxe prontamente as
contradies dentro da direo do Partido: a luta contra os inimigos internos, e a
necessidade de preparar eleies abertas e secretas sob a nova Constituio para final
do ano. A descoberta paulatina de mais e mais grupos conspirando para derrubar o
governo sovitico demandou um aumento da vigilncia interna. Mas a preparao de
eleies autenticamente democrticas, e a melhora na democracia interior do Partido
(tema continuamente apoiado pelos mais prximos de Stalin dentro do Politburo)
requeria precisamente o contrrio: impulso crtica e autocrtica, eleies secretas
dos lderes do Partido e acabar com a "cooptao" por parte dos Primeiros Secretrios.
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61. Essa plenria, a mais longa na histria da URSS, prolongou-se duas semanas. Mas
nada disto soubemos at 1992, quando a volumosa transcrio dessa plenria
comeou ser publicada no Voprosy Istorri, publicao que se prolongou durante quatro
anos.
62. O informe de Yezhov para continuar as investigaces sobre as conspiraes no pas
foi posto na sombra por Nikolai Bukharin, quem, atravs de eloquentes confisses de
pasadas deslealdades, tentava distanciar-se dos seus antigos aliados, assegurando o
seu compromisso com o governo sovitico, mais que s lhe valeu para culpar si mesmo
posteriormente. (Thurston, 40-42; Getty e Naumov confirman este ponto.563)
63. Trs dias despois, Zhadanov falou da necesidade duma maior democracia tanto no
pas como no Partido, invocando a luta contra a burocracia e a necessidade de laos
mais fortes com as massas.
"O novo sistema eleitoral dar un poderoso impulso para a melhorano trabalho dos organismos soviticos, a liquidao de instituesburocrticas, a eliminao de defeitos burocrticos e a deformaono trabalho das organizaes soviticas. Esses defeitos, como vocsabe, so muito importantes. Os organismos do noso Partido devemestar preparados para a luta eleitoral. Nas eleies teremos quetratar com a agitao dos inimigos e com candidatos inimigos."(Zhukov, Inoy 343)
64. No h dvida, como porta-voz da direo estalinista, previa disputas eleitorais
com candidatos no pertencentes ao Partido e opostos aos processos que se davam na
Unio Sovitica. S este fato j derruba as verses da Guerra Fria e as explicaes
khruchevistas.
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65. Zhdanov tambm repetiu durante longo tempo a necesidade de desenvolver
normas democrticas dentro do mesmo partido bolchevique.
"Se queremos o respeito dos trabalhadores soviticos e do Partido s nossas leis, das
massas Constituio sovitica, temos que garantir a renovao do Partido sobre a
base do estabelecimento das bases da democracia interna, como se reflete nos
regulamentos do nosso Partido.
"Enumero a continuao das medidas essenciais, j contidas noprojeto de resoluo do seu informe: a eliminao da cooptao, aproibio das votaes abertas; garantir o direito ilimitado dosmembros do Partido a afastar os candidatos eleitos e o direito
ilimitado para criticar a estes candidatos". (Zhukov, Inoy 345)
66. O informe de Zhdanov perdeu-se, porm, entre as discusses de outros pontos da
ordem do dia, principalmente discusses sobre os "inimigos". Certo nmero de
Primeiros Secretrios ficou alarmado com o fato de que alguns dos candidatos que se
preparavam ou se supunha que se preparavam para as eleies soviticas eram
contrrios ao poder sovitico: social-revolucionrios, padres e outros "inimigos". (12)
67. Molotov replicou ressaltando, mais uma vez, "o desenvolvimento e o reforo da
autocrtica", opondo-se diretamente "busca de inimigos":
"No tem sentido buscar culpados, camaradas. Se quiseres, todossomos culpados, comeando pelos rgaos centrais do Partido e
acabando pelas organizaes de base". (Zhukov, Inoy 349)
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68. Mas as posteriores intervenes ignoraram o seu informe, teimando na procura de
"inimigos", na denncia de "sabotadores", e a luta contra a "sabotagem". Na seguinte
interveno de Molotov, este fala da no ateno fundamental sua interveno, que
voltou a repetir, aps resumir o que se estava fazendo contra dos inimigos internos.
69. O discurso de Stalin do 3 de maro envolvia realar a necesidade de melhorar o
trabalho do Partido, suprimindo aos incapazes, buscando novos camaradas. Como o de
Molotov, o discurso de Stalin foi virtualmente ignorado.
Desde o comeo das discusses, os temores de Stalin foram compreensveis.
Parecia estar ilhado por uma parede surda de incompreenso, de m vontade dos
membros do Comit Central que ouviram do informe to somente o que queriam
ouvir, e discutiram s o que queriam discutir. Das 24 pessoas que participaram nas
discusses, 15 falaram principalmente sobre os "inimigos do povo", ou seja, pode-se
dizer, os trotskistas. Falaram com convico, com agressividade, como o fizeram antes
os informes de Zhdanov e Molotov. Reduziram todos os problemas a um: a necessria
busca de "inimigos". E ningum retomou o principal ponto de Stalin, sobre o mau
funcionamento do trabalho nas organizaes do Partido e a preparao para as
eleies do Soviete Supremo (Zhukov, Inoy, 357).
71. No seu discurso final do 5 de maro, ltimo dia da plenria, Stalin minimizou a
necessidade de procurar inimigos, inclusive trotskistas, muitos dos quais, segundo
afirmou, regressaram ao Partido. O seu ponto principal foi a necesidade de impedir aos
funcionrios do Partido dirigir todos e cada um dos aspectos econmicos, combater a
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burocracia e elevar o nvel poltico. Pode-se dizer, Stalin apostou por elevar o nvel de
crtica aos Secretrios.
"Alguns camaradas pensan que sendo eles Comissrios Populares,sabem tudo que h que saber. Cuidam que o posto, por si mesmo,garante grandes e infinitos conhecimentos. Ou bem pensam: "se souum membro do Comit Central, no o sou por acidente, j que logo,
significa que sei tudo". Isso no assim. (Stalin, Zakliuchitel'noe;Zhukov, Inoy 360-1)
72. Algo que soava ameaador para todos os dirigentes do Partido, incluindo os
Primeiros Secretrios, foi a afirmao de Stalin de que deveriam eleger dois quadros
para substitu-los para que participassem do curso de educao poltica que teria lugar
durante seis meses. Esta substituio era perigosa para os Secretrios do Partido, que
temiam que durante esse espao de tempo fossem destinados a outros lugares,
rachando deste jeito a estrutura do seu "cl" (outros dirigentes ao seu servio), uma
das primeiras causas da burocracia. (Zhukov, Inoy 362)
73. Thurston define o discurso de Stalin como "notavelmente suave", defendendo "a
necessidade de aprender das massas, e de emprestar ateno s crticas de baixo".
Inclusive a resoluo no informe de Stalin tocava s superficialmente o tema dos
"inimigos", tratando principalmente dos erros na organizao do Partido e na sua
direo. Segundo Zhukov, que menciona esta resoluo no publicada, nem um s dos
seus 25 pontos estava relacionado principalmente com os "inimigos". (Thurston, 48-9;
Zhukov, Inoy 362-4)(14)
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74. Aps a plenria, os Primeiros Secretrios protagonizaram virtualmente uma
rebelio. Primeiro Stalin, e depois o Politburo, emitiron mensagens lembrando a
necessidade de efetuar votaes secretas no seio do Partido, opor-se conduta de
cooptao favorecendo as eleies, e a necessidade de generalizar a democracia
interna no Partido. Os Primeiros Secretrios continuaram a fazer as coisas como antes,
independentemente das resolues da plenria.
75. Nos meses posteriores, Stalin e os seus colaboradores mais chegados tentaram que
a casa dos "inimigos" no fosse a principal preocupao dos membros do Comit
Central, insistindo na luta contra a burocracia no Partido, e em preparar as eleies ao
Soviete. Entretanto "os lderes locais do Partido fizeram tudo o que a disciplina do
Partido lhes permitia, e s vezes um pouco mais, para suspender ou retardar as
eleies". (Getty, "Excesses" 126; Zhukov, Inoy 367-71)
76. O repentino descobrimento, en abril, maio e primeiros dias de junho de 1937, do
que aparentemente era um amplo compl militar e policial fez crescer o pnico no
governo de Stalin. Genrikh Yagoda, director da seguridade e Ministro de Interior, foi
preso no final de maro de 1937, comeando a confessar em abril. Em maio e
princpios de 1937, militares de alta patente confessaron a sua conspirao com o
comando alemo para derrotar o Exrcito Vermelho no caso duma invaso por parte
de Alemanha e dos seus aliados. Tambm confessou as suas relaes de natureza
conspirativa com polticos, includos muitos que ocupavam posies destacadas.
(Getty, "Excesses" 115, 135; Thurston, 70, 90, 101-2; Genrikh IAgoda)(15)
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recentemente descobertas(16) como "limitadas", e encerradas com grande xito.
Tambm, na plenria de fevereiro-maro, ele e os seus apoios no Politburo
minimizaram as amplificadas preocupaes dos Primeiros Secretrios sobre os
"inimigos internos". Mais, como sublinha Zhukov, a situao "lenta, mas decisivamente
ia escapando das suas mos (de Stalin)". (Stalin, "Vystuplenie"; Zhukov, Inoy Ch. 16,
passim; 411)
80. A plenria do Comit Central de junho de 1937 (17) comeou com as propostas de
reprovao, en primeiro lugar, de sete integrantes do Comit Central e candidatos por
"falta de confiana poltica", e depois com as de 19 mais por "traio e atividades
contrarrevolucionrias". Estes 19 foram presos pelo NKVD. Outros dez membros mais
do Comit Central foram expulsos por acusaes da mesma natureza.
81. Yakovlev e Molotov criticaram o fracasso dos dirigentes do Partido em organizar
eleies independentes dos Sovietes. Molotov defendou inclusive a medida de afastar
do caminho os revolucionrios que evidentemente no estavam preparados para as
tarefas do momento. Insistiu em que os dirigentes dos Sovietes no eram
"trabalhadores de segunda categoria". Evidentemente, os dirigentes do Partido
estavam tratando-os desse modo.
82. Yakovlev argumentou e criticou o fracasso dos Primeiros Secretrios hora de
efetuar eleies secretas para os postos do Partido, apoiando-se, por estar contra , nos
nomeamentos ("cooptao"). Destacou a necessidade de que os membros do Partido
eleitos nos Sovietes no estivessem s ordens de grupos do Partido, fora dos Sovietes,
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que condicionavam as suas posies. Que o seu voto no fosse o assinalado pelos seus
superiores no Partido, como os Primeiros Secretrios. Tinham que ser independentes.
Yakovlev utilizou os termos mais duros para se referir necessidade de "botar a mo
na mais rica reserva dos novos quadros para subtituir aqueles corrompidos ou
burocratizados". Todas estas afirmaes constituem um ataque explcito aos Primeiros
Secretrios.(Zhukov, Inoy 424-7; Tayny, 39-40, citando documentos de arquivo)
83. A Constituio foi finalmente completada, fixando-se o 12 de decembro de 1937
como data das primeiras eleies. Os dirigentes chegados a Stalin argumentaram, mais
uma vez, as vantagens da luta contra a burocracia e de criar laos com as massas.
Porm, todo isto foi posterior expulso sumria e sem precedentes dos 26 membros
do Comit Central da que falamos no ponto 80. (Zhukov, Inoy 430)
84. Talvez o mais revelador seja a seguinte observao de Stalin, comentada por
Zhukov:
"Finalizando as discusses, quando o tema era a busca de um mtodo mais confivel
para a recontagem dos votos, (Stalin) comentou que no Ocidente, graas a un sistema
multipartidrio, este problema no existia. Imediatamente despois, murmurou uma
frase bastante rara para um encontro desse tipo: "Ns no temos partidos polticos
diferentes. Afortunada ou desafortunadamente temos s um partido." (Subliado por
Zhukov) Para passar a propor, ainda que s provisoriamente, utilizar para o reconto e
superviso de membros de todas as organizaes sociais existentes, menos as do
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Partido Bolchevique... O desafio autocracia do Partido estava sobre a mesa" (Zhukov,
Inoy 430-1; Tayny 3)
85. O Partido Bolchevique padecia de uma grave crise, sendo impossvel pensar que as
coisas se desenvolveriam com suavidade. Era a pior situao possvel para organizar
eleies democrticas (secretas, universais, abertas). A ideia de Stalin de reformar o
governo sovitico e o papel do Partido Bolchevique nessa mesma reforma estava
condenada.
86. Finalizando essa plenria, Robert Eikhe, Primeiro Secretrio da regio do Krai, no
oeste siberiano, falou em particular com Stalin, como tambm o fizeram outros
Primeiros Secretrios. Provavelmente, solicitaram os poderes que pouco depois
obtiveram: a autorizao para formar troikas, grupos de trs dirigentes organizados
para combater a possibilidade de conspiraes contra o governo sovitico nas suas
regies. (Estas troikas receberam o poder de execuo sem apelao. Impuseram-se
limites no nmero de executados e prisioneiros baseando-se no poder destas troikas.
Quando estes limites foram esgotados, os Primeiros Secretrios solicitaram limites
superiores, petio que foi concedida. Zhukov pensa que Eihke podia estar
representando um grupo informal de Primeiros Secretrios (Getty, "Excesses" 129;
Zhukov, Inoy 435).
87. Quem foram os visados desses draconianos julgamentos por parte destas troikas?
Zhokov pensa que foram os lishentsy, aqueles cujos direitos de cidadania, incluindo o
direito a voto, foram recentemente restaurados, e que supunhan potencialmente o
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que tudo foi uma montagem. E mais, as anotaes de Stalin nestes documentos
reafirmam o fato de que pensava que eram certas. (Getty, "Excesses" 131-4; Lubianka
B)
90. Getty resume esta contradio da seguinte maneira:
Stalin ainda no era partidrio de retirar as eleies, e em 2 de julho de 1937 o
Pravda desautorizou claramente aos secretrios regionais publicando o primeiro
decreto das novas regras eleitorais, animando e apoiando as eleies secretas e
universais. Mas Stalin lanou um compromisso. No mesmo dia que se publicou a lei
eleitoral, o Politburo aprovou uma campanha massiva contra, precisamente, os
elementos de que se queixaram os lderes locais, e horas mais tarde, Stalin enviou un
telegrama aos lderes internos do Partido ordenando a Operao Kulak (contra os
lishentsy, G.F.). difcil evitar a concluso de que ao contrrio de obrigar aos lderes
locais do Partido a participar nas eleies, Stalin decidiu ajud-los a ganhar dando-lhes
licena para eliminar ou deportar a centenares de milhares de "elementos perigosos".
("Excesses" 126)
91. Independentemente de qual fosse a histria destes expurgos, execues extra-
judiciais e deportaes, parece que Stalin pensava que se estavam criando as
condies para as eleies livres e abertas. Porm, estas aes minaram qualquer
possibilidade de eleies de qualquer tipo.
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92. O Politburo tentou nun primeiro momento limitar a campanha de represso
ordenando que parasse dentro de cinco dias. Ainda no sabemos a razo, se foi por
convencimento ou por ver-se obrigados, o certo que o NKVD teve permisso para
ampliar este perodo em quatro meses, de agosto a dezembro. Foi pelo alto nmero
de detidos? Pelo convencimento da existncia de numerosas conspiraes que
constituam uma grande ameaa interna? No conhecemos os detalhes dessa
represso massiva.
93. Este era precisamente o perodo no que ia ter lugar a campanha eleitoral. Passo a
que o Politburo continuou a organizar estas eleies, regulamentando o sistema de
votao e informando aos funcionrios como tinham que agir, os chefes locais
controlavam a represso. Assim, estes podiam determinar que oposio ao Partido (a
eles mesmos) se podia considerar "leal" e qual era merecedora de represso. (Getty,
"Excesses," passim.; Zhukov, Inoy 435)
94. Existem documentos originais que demostram que Stalin e seu grupo no Politburo
estavam convencidos de que os conspiradores antissoviticos estavam ativos, e de que
tinham de enfrent-los. Isto foi o que afirmaram os lderes regionais do Partido
durante plenria de fevereiro-maro. Nestas datas, a direo de Stalin minimizava o
perigo, e mantinha a ateno na Constituio, na necessidade de preparar eleies e a
troca da burocratizada e velha liderana por outra formada por novos lderes.
95. Para a plenria de junho, os secretrios regionais estavam numa posio desde a
que podiam dzier: "Estava avisado. Tnhamos razo, e ainda a temos; h perigosos
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conspiradores ativos, prontos para utilizar a campanha eleitoral com o propsito de
provocar revoltas contra o governo sovitico". Foi assim que sucederam as coisas?
Parece possvel, mas no podemos estar seguros.
96. Stalin e a direo central no conheciam a extenso destas conspiraes. No
sabiam o que podiam fazer os nazis alemes e os fascistas japoneses. No dia 2 de
junho, no Encontro ampliado do Soviete Militar, Stalin afirmou que o grupo de
Tukhachevsky entregara ao Alto Comando alemo os planos operativos do Exrcito
Vermelho. Isto significava que os japoneses, unidos por uma aliana militar (o Eixo) e
uma aliana poltica anticomunista (o Pacto Anti-Komintern na realidade, era um pacto
antissovitico) com a Itlia fascista e a Alemanha nazi, tambm os teriam.
97. Stalin disse aos lderes militares que os conspiradores queriam converter URSS
noutro Estado espanhol, ou seja, uma Quinta Coluna coordenada com um exrcito
fascista invasor. Dado este terrvel perigo, a direo sovitica estava decidida a reagir
com uma determinao brutal. (Stalin, "Vystuplenie")
98. Ao mesmo tempo, muitas provas apontam a que o comando central (Stalin) queria
reduzir a represso das troikas impulsada pelos Secretrios regionais e continuar
integrando as eleies na nova Constituio. Do 5 ao 11 de julho a maioria dos
Secretrios copiou a iniciativa de Eikhe de comunicar cifras precisas dos presos,
mediante execuo (categoria 1) ou encarceramento (categoria 2). De incio, em 12 de
junho, o Comissrio delegado do NKVD, Frinovskii, enviou un telegrama urgente a
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todas as oficinas da polcia local: "No iniciem operaes de represso contra antigos
kulaks, Repito, no as iniciem". (Getty, "Excesses" 127)
99. Depois de que os chefes locais do NKVD foram chamados a Moscou para
conversar, foi emitida a ordem nmero 447. Esta longa e detalhada instruo ampliava
o campo de represso (basicamente padres com histrico de oposio ao sistema
sovitico e criminosos), ainda que, de modo geral "diminua os limites e as cifras
requeridas polos secretrios das provncias".(19) Todas estes vacilos fazem pensar em
desacordos e lutas entre o "centro" -Stalin e o seu grupo no Politburo- e os Secretrios
das provncias. No h dvida de que Stalin no tinha o comando ( Order No. 00447;
Getty, "Excesses" 126-9).
100. A plenria do Comit Central de outubro de 1937 foi o da suspenso definitiva do
projeto para umas eleies abertas. Um modelo de candidaturas, com diversos
candidatos, fora j desenhada. Conservam-se bastantes em diferentes arquivos.(20)
Como substituio estabeleceu-se que, para as eleies aos Sovietes de dezembro de
1937, os candidatos do Partido compartilhavam as listas com uma porcentagem de
candidatos alheios ao Partido de entre o 20 e o 25%. Zhukov localizou nos arquivos o
documento original no que Molotov, o 11 de outubro s seis da tarde, cancelava as
eleies abertas. Isto representou uma derrota para Stalin e os seus seguidores no
Politburo (Zhukov, KP 19 Nov. 02; Zhukov, Tayny. 41; Inoy 443).
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101. Foi tambm na Plenria do Comit Central quando se pronunciou o primeira
protesto contra a represso massiva, por parte do Primeiro Secretrio de Kursk,
Peskarov:
"Eles (o NKVD?, as troikas? G.F.) condenam pessoas pormincias...ilegalmente, e quando ns levamos a questo ao ComitCentral, recebemos o decidido apoio dos camaradas Stalin e Molotov,que enviaram uma brigada de funcionrios da Corte Suprema e daOficina do Fiscal para revisar estes casos... O resultado foi que, apstrs semanas de trabalho desta brigada, o resultado foi que 56%destas sentenas em 16 regies foram consideradas ilegais. Aindamais, em 45% destas sentenas no existiram provas de que se
cometera nenhum delito". (Zhukov, Tayny, 43)
102. Na plenria de janeiro de 1938, Makenkov apresentou uma pungente crtica da
grande quantidade de membros do Partido expulsos e de cidados julgados, na maior
parte inclusive sem proporcionar listas de nomes, seno somente indicando o nmero
de expulsos. Postyshev, Primeiro Secretrio de Kuybyshev, foi eliminado como
candidato ao Politburo por dizer que "no havia nenhum elemento honrado" entre
todos os funcionrios do Partido.
103. Parece que o NKVD funcionava independentemente, ao menos em algumas
zonas. Sem dvida, os Primeiros Secretrios tambm faziam assim. (Zhukov, KP 19
Nov. 02; Tayny, pp. 47-51; Thurston 101-2; 112) Porm, a preocupao dos lderes do
Politburo era a existncia de conspiradores. A magnitude dos abusos do NKVD no foi
reconhecida. Como indica Zhukov, o informe de Malenkov (culpando aos arrivistas no
interior do Partido das expulses massivas e detenes) foi continuado por Kaganovich
e Zhadanov, quen seguiram insistindo na luta contra os inimigos e emprestaram s
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uma ligeira ateno "ingenuidade e ignorncia" no trabalho dos "bolcheviques
honrados".
104. O Pravda, baixo controlo dos seguidores de Stalin, fazia ainda chamadas para
afastar o Partido do manejo direto dos assuntos econmicos, e a necessidade de
promover os no-militantes aos postos de liderana.(Zhukov, Tayny 51-2) Enquanto
que Nikita Khrushev, que em 1937 exigira autorizao para poder executar a 20.000
persoas quando era do Partido en Moscou, foi trasladado Ucrnia, onde, no prazo de
um ms, reclamou poderes para reprimir a 30.000 pessoas. (Zhukov, Tayny 64, ver n.
23)
105. Parece que Nicolai Yezhov, substituto de Genrikh Yagoda em 1936 no mando do
NKVD, estava estreitamente relacionado aos Primeiros Secretrios.(21) A massiva
represso dos anos 1937-1938 esteve to ligada ao seu nome que ainda se conhece
como a "Yezhovshchina". Yezhov deixou o seu posto a 23 de setembro de 1938 (22),
sendo substitudo en novembro desse ano por Lavrentii Beria.
106. Sob o mando de Bria, muitos dos mandos do NKVD e Primeiros Secretrios
responsveis por milhares de execues e deportaes foram julgados, e muitas vezes
deles mesmos executados por levar morte a gente inocente e facer uso da tortura
contra os detidos. As transcries dos julgamentos de alguns dos funcionrios policiais
que utilizaram a tortura foram publicadas. Numerosos presos e acusados, deportados
ou enviados aos campos de trabalho foram liberados. O prprio Bria manifestou que
a sua misso era "acabar com a Yezhovshchina". Stalin disse ao engenheiro
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aeronutico Yakovlev que Yezohv foi executado por assassinar milhares de inocentes.
(Lubianka B, Nos. 344; 363; 375; Mukhin, Ubiystvo 637; Yakovlev)
107. Foi feito um incalculvel dano sociedade sovitica, ao governo sovitico e ao
Partido Bolchevique. H muito tempo que sabemos isto, evidentemente. O que no
sabiamos at agora que a implantao das troikas e as cotas de execues e
deportaes se deviam insistncia dos Primeiros Secretrios, e no a Stalin. Zhukov
pensa que a estreita relaco entre isto e a ameaa de eleies abertas, e o fato de que
o Comit Central conseguira forar direo de Stalin e os seus colaboradores a
cancelar esas eleies, indica que a forma de evitar essa "ameaa eleitoral" foram as
detenes massivas e as execues da "Yezhovshchina". (23) (Zhukov, KP)
m108. Ningum pode absolver a Stalin e aos que o apoiara, das amplas
responsabilidades que tiveram nas execuees, que foram de bastantes centenas de
milhares.(24) Se as vtimas fossen encarceradas ao invs de executadas a maioria teria
sobrevivido. Muitos verian revisados os seus casos, e liberados. Para os nossos
objetivos neste trabalho, a pergunta chave :
Por que cedeu Stalin ante as demandas dos Primeiros Secretrios, demandas que lhes
concediam o destino de milhares de pessoas? Pode ser que no existam desculpas,
podem existir razes.
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109. Nenhum outro governo est preparado para traies simultneas por parte de
altos mandos militares, figuras de primeira fila do governo nacional e de governos
regionais, e da direo da polcia secreta e de fronteiras.
110. Un grave conjunto de conspiraes, que inclua tanto lderes do Partido atuais e
anteriores, con ligaes com todo o pas, acabava de ser descoberto. O mis
ameaador era a participao de destacados militares dos nveis mais altos, com a
revelao dos planos secretos militares aos inimigos fascistas. A conspirao militar
tinha contactos em toda a URSS, e nela estavam tambm os principais comandantes
do NKVD, incluindo a Genrikh Yagoda, que era quem dirigia este organismo entre os
anos 1934 e 1936. Pode-se dizer, no se podia saber a amplitude da conspirao e
quanta gente estava implicada. O caminho prudente era pensar o pior.(25)
111. O Politburo e Stalin estavam no cume de duas amplas hierarquias, a do Partido e
a governamental. O que sabiam sobre o estado das coisas no pas era o que os seus
subordinados lhes diziam. No transcurso dos seguintes doze meses reprimiram a
muitos dos Primeiros Secretrios, indo a parar ao crcere a metade deles. Na maioria
dos casos, os cargos concretos e as transcries dos seus interrogatrios continuaram
sem ser publicados, inclusive na Rssia ps-sovitica e anticomunista. Mas agora
contamos con bastantes provas das investigaes que efetuaram Stalin e o Politburo
para fazer uma ideia da alarmante situao que enfrentavam. (Lubianka B)
112. O Partido Bolchevique guiava-se pelo centralismo democrtico. Malgrado a sua
popularidade em toda a URSS, Stalin (como qualquer outro lder do partido) podia ser
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derrotado por uma maioria do Comit Central. No estava em situao de ignorar
presses e urgncias por parte de um amplo nmero de membros do Comit Central.
113. Como ilustrao da incapacidade de Stalin para impedir que os Primeiros
Secretrios burlassem os princpios que inspiravam as eleies democrticas, Zhukov
menciona um incidente que teve lugar numa plenria do Comit Central de outubro de
1937. Kravtsov, Primeiro Secretrio do Kraikom (Comit Rexional G.F.) de Krasnodar foi
o nico que reconheceu o que os seus colegas fizeram secretamente nas semanas
anteriores. Fixou um perfil da seleo daqueles candidatos a deputados do Soviete
Supremo que se ajustavam aos intereses da "liderana ampla".
"Apresentamos os nossos candidatos ao Soviet Supremo", manifestou com sinceridade
Kravtsov.
"Quem so estes camaradas? Oito so membros do Partido, dois no so membros
nem do Partido nem do Komsomol. Assim cumprimos com a porcentagem de
candidatos no membros do Partido que aprovou o Comit Central. Por sua ocupao,
estes camaradas classificam-se en: quatro empregados do Partido, dois empregados
no Soviete, um secretrio de Kolkhoz, un condutor, un tratorista, un trabalhador do
setor do combustvel...
Stalin: Quem so?
Kravtsov: Entre os dez est Yakovlev, Primeiro Secretrio do Kraikom e secretrio do
Comit Executivo do Krai.
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Stalin: Quen te aconselhou isso?
Kravtsov: Tenho que dizer, camarada Stalin, que fui aconselhado aqui, no Comit
Central.
Stalin: Quem?
Kravtsov: Aqui, no Comit Central, designamos o noso secretrio do Comit Executivo
do Krai, o camarada Simochkin, e contou com a aprovao do Comit Central.
Stalin: De quem?
Kravtsov: No sei, no posso dizer quem.
Stalin: uma pena mgoa que no possas dizer quem, porque te informaram muito
mal." (Zhukov, Inoy 486-7)
114. Evidentemente, todos os Primeiros Secretrios estavam fazendo o que s
Kravtsov afirmou, ignorar o princpio de eleies secretas ao Soviete, princpio que eles
votaram numa plenria anterior, mas que nunca aceitaram na prtica. Isto assinala a
derrota definitiva de Stalin neste tema, as reformas constitucionais e eleitorais que ele
e outros lderes centrais encabearam durante dois anos.
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115. A reforma democrtica foi derrotada, e o antigo sistema poltico manteve o seu
lugar. O plano de Stalin para eleies abertas desapareceu para sempre: "Deste jeito, a
tentativa de Stalin e do seu grupo de reformar o sistema poltico da Unio Sovitica
rematou nun rotundo fracasso". (Zhukov, Inoy 491)
116. Zhukov pensa, se Stlin rejeitasse as exigncias de poderes extraordinrios por
parte dos Primeiros Secretrios, seria provvel que este fosse destitudo, detido por
contrarrevolucionrio e executado"... Hoje Stalin estaria entre as vtimas da represso
de 1937, e o "Memorial" e a comisso de A. N. Yakovlev estaria desde h muito tempo
reclamando a sua reabilitao". (Zhukov, KP 16 Nov. 02)
117. En Novembro de 1938, Lavrentii Beria assumiu o posto de Yezhov como chefe do
NKVD. As "troikas" foron abolidas. As execues extrajudiciais acabaram e os
responsveis pelos terrveis excessos foram julgados e executados ou
encarcerados.(26) Mais a guerra estava perto. O governo francs negou-se a continuar
com a j muito fraca aliana franco-sovitica (A URSS desejava uma muito mais forte).
Os aliados cederon Tchecoslovquia a Hitler e aos fascistas polacos, sem nenhum tipo
de luta. A Alemaa nazi conseguiu um acordo e umaa aliana com o governo fascista
da Polnia, com a ideia de invadir a URSS. No Estado espanhol, o bando republicano, a
quem os Soviets tanto ajudaram, estava beira de perder a guerra. Itlia invadiu a
Etiopia, sem que a Liga de Naes fizesse nada. Frana e Inglaterra, com o apoio da
maioria da Europa ocidental, animava descaradamente Hitler para que invadisse a
URSS. (Lubianka B, No. 365; Leibowitz)
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