Tese Carlos Cardoso Protegida

Embed Size (px)

DESCRIPTION

discalculia

Citation preview

  • Carlos Alberto de Almeida Cardoso

    As Percepes dos Professores face s Dificuldades de

    Aprendizagem Especficas: Que Prticas face

    Discalculia

    Orientador: Professor Doutor Horcio Saraiva

    Escola Superior de Educao Almeida Garret

    Lisboa

    2011

  • II

    Carlos Alberto de Almeida Cardoso

    As Percepes dos Professores face s Dificuldades de

    Aprendizagem Especficas: Que Prticas face

    Discalculia

    Escola Superior de Educao Almeida Garret

    Lisboa

    2011

    Dissertao apresentada para obteno do Grau

    de Mestre em Cincias da Educao no curso de

    Mestrado em Educao Especial, conferido pela

    Escola Superior de Educao Almeida Garret.

    Orientador: Professor Doutor Horcio Saraiva

  • Aos Meus Pais!

    Aos que me adoram!

    Aos meus colegas!

  • Agradecido a todos aqueles que de uma forma ou de outra,

    com os seus saberes e atitudes, me influencia(ra)m pela

    positiva, ajudando - me a vencer etapas e desafios!

  • V

    Resumo

    O constante insucesso na disciplina de matemtica tem preocupado os seus

    intervenientes, desde a tutela a toda a comunidade educativa, o que perfaz que os docentes da

    disciplina tenham mais responsabilidade e exposio meditica.

    Aliado a este insucesso, est tambm a problemtica das dificuldades de aprendizagem

    especficas, que tem sido fonte de preocupao por parte de docentes e investigadores. A

    escola tal como est revela ineficcia na forma como lida com as dificuldades manifestadas

    por alguns alunos, sobretudo os que revelam imensas dificuldades na aprendizagem das

    operaes matemticas e falhas no raciocino lgico-matemtico, derivadas de desordens de

    carcter neuro-processolgico, sendo que estes, em termos de inteligncia apresentam

    parmetros considerados normais, podendo at sobressair noutras reas. comum tambm,

    no revelarem problemas afectivos ou emocionais, no entanto, esta dificuldade pode estar

    associada tambm a outras como a dislexia, disfasia, dispraxia, podendo verificar-se tanto

    em crianas como nos adultos.

    Aos docentes, exige-se um constante estado de ateno face aos sinais de insucessos

    manifestados pelos alunos, sobretudo logo nos primeiros anos de escola, a fim de atenuar os

    transtornos destas crianas e fomentar um clima de sucesso educativo.

    Este estudo pretende aprofundar conhecimentos sobre alguns factores que causam

    dificuldades e ou transtornos na aprendizagem da matemtica, nomeadamente os ligados s

    dificuldades de aprendizagem, mais especificamente Discalculia. tambm uma vontade

    minha, perceber as percepes dos professores do ensino bsico que esto implicados na

    aprendizagem da disciplina relativamente ao seu grau de importncia, tendo estes concentrado

    as suas opinies nas opes muito importante e bastante importante. Quanto ao grau de

    frequncia com que os seus alunos desenvolvem os objectivos propostos no programa de

    matemtica para o ensino bsico, indicaram maior concentrao de respostas entre o algo

    frequente e o frequente. Pretendeu-se igualmente verificar as suas percepes sobre as DA e o

    perfil dos alunos com DA e se esto sensibilizados para identificar e/ ou orientar as crianas

    com estes problemas, usando estratgias educativas inclusivas. Tendo-se verificado que no

    existe uma ideia clara sobre a noo de DA, apesar de na noo de Discalculia na sua maioria

    terem optado pela opo correcta.

    Palavras chave: necessidades educativas especiais, dificuldades de aprendizagem,

    Discalculia, percepes dos professores, ensino/ aprendizagem.

  • VI

    ABSTRACT

    The constant failure in the discipline of mathematics has worried the actors from the

    Ministry of Education to the entire educational community, which makes the discipline that

    teachers have more responsibility and media exposure.

    Allied to this failure, there is also the issue of specific learning disabilities (LD), which

    has been a source of concern among teachers and researchers. School has revealed as being

    ineffective in the way it deals with the difficulties experienced by some students, especially

    those who show great difficulties in learning math and failure in logical-mathematical

    induction, derived from neurological disorders, although these students have normal

    parameters in terms of intelligence, and may even excel in other areas. It is also common not

    to reveal affective or emotional problems, however, this difficulty may be also associated to

    others such as dyslexia, dysphasia, dyspraxia, which can occur in both children and adults.

    From teachers, it is required a constant state of attention to the signs of failure

    expressed by students, especially in the first years of school in order to mitigate the

    inconvenience of these children and foster a climate of educational success.

    This study aims to increase the knowledge of some factors that can cause some

    difficulties and learning disorders and are considered the most serious ones related to special

    educational needs, which include Dyscalculia. It is also a goal to realize the perceptions of

    elementary school teachers who are involved in teaching the discipline in relation to their

    degree of significance. They concentrated their opinions on the options very important and

    most important. Concerning the degree of frequency with which students develop their skills

    in the mathematics program for primary education, its indicated a greater concentration of

    responses between less frequent and frequent.

    We also intend to investigate teachers perceptions of the LD and the profile of

    students with LD and whether or not they are sensitized to identify and / or guide the children

    with these problems, using inclusive education strategies. It was found that there is no clear

    idea about the notion of LD, although the notion of Dyscalculia has received mostly the

    correct options by the teachers.

    Key words: special educational needs, learning difficulties, Dyscalculia, perceptions of

    teachers, teaching / learning.

  • VII

    ndice Geral

    Dedicatria

    Agradecimentos

    Resumo

    Abstract .

    ndice geral..

    ndice de tabelas..

    Indice de grficos.

    ndice de figuras

    Parte I

    Introduo

    1.1- Importncia do estudo .

    1.2- Definio do problema..

    1.3- Objectivos do estudo.

    1.4- Justificao dos objectivos

    1.5- Limitaes do estudo

    Parte II Enquadramento terico

    2.1- Alunos com NEE..

    2.2- Tipos de NEE....

    2.3- A CIF, as NEE e as DA.....

    2.4- Dificuldades de Aprendizagem.

    2.5- Conceito de DAE..

    2.6- Classificao das DAE.

    2.7- Algumas das DAE mais frequentes..

    2.8- Dificuldades de aprendizagem na Matemtica..

    2.9- Os estdios de desenvolvimento de Piaget e as DA..

    2.10- DAE na matemtica: Acalculia/ Discalculia do desenvolvimento.

    2.11- Como se poder manifestar a Discalculia?................................................

    2.12- Como diagnosticar?.....................................................................................

    2.13- Estratgias para reabilitao...

    2.14- Ensino/ aprendizagem da matemtica..

    2.15- O Ensino/ aprendizagem da matemtica e o programa do ensino bsico............

    III

    IV

    V

    VI

    VII

    X

    XII

    XII

    1

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    11

    13

    16

    17

    18

    21

    24

    25

    27

    29

    31

    31

    33

    40

  • VIII

    2.16- A Influncia de factores intrnsecos e extrnsecos no desempenho escolar

    2.16.1- O contexto escolar...........

    2.16.2- O contexto familiar..

    2.16.3- O sexo..

    2.17- A motivao na aprendizagem

    2.18- As percepes dos professores

    Parte III Estudo emprico

    3- Metodologia.

    3.1- Inqurito por questionrio

    3.2- Procedimento.

    3.3- Hipteses e variveis.

    3.4- Participantes..

    4- Apresentao dos resultados

    4.1- Percepes dos docentes face utilidade da matemtica..

    4.2- Percepes dos docentes face ao modo como o ensino dever ser orientado

    4.3- Percepes docentes face aos objectivos alcanados pelos alunos fim de ciclo...

    4.4- Percepes dos docentes face ao perfil do aluno com DA..

    4.5- Hiptese 1.

    4.6- Hiptese 2.

    4.7- Hiptese 3.

    4.8- Correlaes entre o perfil de alunos com DA e utilidade da matemtica

    4.9- Hiptese 4.

    4.10- Percepes dos docentes face s respostas da educao especial..

    4.11- Hiptese 5

    4.12- Percepes dos docentes face h existncia de recursos suficientes..

    4.13- Hiptese 6

    4.14- Percepes sobre a definio de Discalculia..

    4.15- Hiptese 7

    4.16- Percepes dos docentes acerca das estratgias a utilizar face Discalculia..

    4.17- Percepes dos docentes face formao na rea da Discalculia...

    4.18- Hiptese 8...

    5-Discusso de resultados...

    5.1- Concluso.

    47

    47

    48

    48

    49

    50

    55

    55

    57

    58

    60

    68

    68

    69

    71

    72

    73

    75

    76

    77

    80

    81

    82

    82

    84

    86

    86

    87

    88

    90

    93

    99

  • IX

    5.2- Linhas futuras de investigao.

    6- Bibliografia

    7- Anexos

    101

    102

    107

  • X

    ndice Tabelas

    Tabela 1 Proposta de Classificao Internacional de Philip Wood....

    Tabela 2 - Categorizao das deficincias de Philip Wood...

    Tabela 3 - Caractersticas scio-demogrficas da amostra...

    Tabela 4 - Anlise de Componentes Principais escala Importncia das

    competncias a desenvolver na Matemtica..

    Tabela (Cf. Tabela 4)- Anlise da confiabilidade...

    Tabela 5 - Anlise de Componentes Principais escala que avalia as percepes

    sobre o nvel de conhecimentos que os alunos adquirem a Matemtica no final de

    cada ciclo do ensino bsico.....

    Tabelas 5.1- Anlise de Consistncia Interna escala

    Tabela 6- Anlise de Componentes Principais da escala que avalia as percepes dos

    professores acerca do perfil dos alunos com dificuldades de aprendizagem na

    Matemtica.....

    Tabela 7- Anlise da consistncia interna relativas s dimenses da aprendizagem

    (Linguagem, Ateno, memoria e integrao)..

    Tabela 8- Anlise de Componentes Principais da escala que avalia as percepes dos

    professores acerca do perfil dos alunos com dificuldades de aprendizagem na

    Matemtica.

    Tabela 9 - Importncia atribuda pelos professores do ensino bsico s competncias

    a desenvolver na Matemtica....

    Tabela 10 - Importncia atribuda pelos professores do ensino bsico aos modos

    como o ensino da Matemtica dever ser orientado..

    Tabela 11 Percepes dos docentes face aos objectivos alcanados pelos alunos no

    fim de ciclo..

    Tabela 11.1- Estatstica descritiva referente questo 9

    Tabela 12 - Estatstica descritiva referente questo 11

    Tabela 13 - Correlao de Spearman entre a experincia dos docentes e a percepo

    destes sobre o nvel de conhecimentos que os alunos adquirem a Matemtica no final

    de cada ciclo do ensino bsico..

    Tabela 14 - Correlaes de Spearman entre a percepo dos docentes sobre o nvel

    8

    9

    60

    62

    63

    63

    64

    65

    66

    67

    68

    70

    71

    71

    72

    74

  • XI

    de conhecimentos que os alunos adquirem a Matemtica no final de cada ciclo do

    ensino bsico e a importncia da Matemtica

    Tabela 15 - Correlao de Pearson entre a escala total das percepes dos docentes

    sobre o nvel de conhecimentos que os alunos adquirem a Matemtica no final de

    cada ciclo do ensino bsico e a importncia da Matemtica..

    Tabela 16 Percepes acerca da definio das dificuldades de aprendizagem.

    Tabela 17 - Correlao de Spearman entre a experincia dos docentes e as

    percepes destes sobre o perfil dos alunos com dificuldades de aprendizagem na

    Matemtica..

    Tabela 18 - Correlaes de Spearman entre as percepes dos professores acerca do

    perfil dos alunos com dificuldades de aprendizagem na Matemtica e a importncia

    da Matemtica.

    Tabela 19 - Correlao de Pearson a escala total e subescalas das percepes dos

    professores acerca do perfil dos alunos com dificuldades de aprendizagem na

    Matemtica e a importncia da Matemtica

    Tabela 20 Percepes sobre as respostas por parte da educao especial

    Tabela 21- Percepes sobre a existncia de recursos humano e pedaggicos.

    Tabela 22- Percepes sobre os recursos considerados em falta...

    Tabela 23- Percepes sobre o conceito de Discalculia...

    Tabela 24 Percepes do conceito de Discalculia por ciclo de ensino.

    Tabela 25 - Percepes sobre as trs principais estratgias que utilizaram ou

    utilizariam perante alunos com Discalculia.....

    Tabela 26 Estatstica sobre o gosto de frequentar formao na rea

    Tabela 27- Estatstica sobre a frequncia de formao na rea....

    Tabela 28- Percepes sobre os motivos de fazer formao na rea.

    Tabela 29 - Mdia, Desvio-Padro e Teste de diferena de mdias, ao nvel da

    importncia que os professores atribuem s competncias a desenvolver na

    Matemtica e as percepes que tm sobre o nvel de conhecimentos que os alunos

    adquirem a Matemtica no final de cada ciclo do ensino bsico e do perfil dos alunos

    com DA na Matemtica, em funo do gnero.....

    Tabela 30 - Mdia, Desvio-Padro e Teste de diferena de mdias ao nvel da

    importncia que os professores atribuem s competncias a desenvolver na

    Matemtica e as percepes que tm sobre o nvel de conhecimentos que os alunos

    75

    75

    76

    76

    79

    80

    81

    83

    83

    86

    87

    88

    89

    89

    89

    90

  • XII

    adquirem a Matemtica no final de cada ciclo do ensino bsico e do perfil dos alunos

    com DA na Matemtica, em funo do tempo de servio..

    Tabela 31 - Teste de Tukey s diferenas ao nvel das percepes que os professores

    tm sobre o nvel de conhecimentos que os alunos adquirem a Matemtica no final de

    cada ciclo do ensino bsico, em funo do tempo de servio

    Tabela 32 - Mdia, Desvio-Padro e Teste de diferena de mdias ao nvel da

    importncia que os professores atribuem s competncias a desenvolver na

    Matemtica e as percepes que tm sobre o nvel de conhecimentos que os alunos

    adquirem a Matemtica no final de cada ciclo do ensino bsico e do perfil dos alunos

    com DA na Matemtica, em funo do ciclo de ensino....

    Tabela 33 - Teste de Tukey s diferenas ao nvel das percepes que os professores

    tm sobre o nvel de conhecimentos que os alunos adquirem a Matemtica no final de

    cada ciclo do ensino bsico, em funo do ciclo de ensino

    ndice de grficos

    Grfico 1- Tempo de servio e modo como os docentes encaminham os alunos que

    apresentam Dificuldades de Aprendizagem...

    Grfico 2 - Nvel de qualificao e percepo que os docentes possuem

    relativamente s respostas da Educao Especial....

    Grfico 3 - Tempo de servio e percepo da existncia de recursos humanos

    suficientes...

    Grfico 4 - Habilitaes Acadmicas e percepo da existncia de recursos humanos

    suficientes...

    Grfico 5 - Ciclo de Ensino e percepo da existncia de recursos humanos

    suficientes..

    ndice de Figuras

    Figura 1- Classificao das dificuldades de aprendizagem em Matemtica

    91

    91

    92

    92

    81

    82

    84

    85

    85

    24

  • 1

    Introduo

    Nos dias de hoje exige-se escola respostas a um conjunto de aprendizagens no

    apenas ao nvel curricular, mas tambm ao nvel das atitudes, valores, desenvolvendo nos

    alunos competncias para que se sintam capazes de participar de forma activa na sociedade

    em que esto inseridos, mas tambm mais tarde no mercado de trabalho sejam inovadores e

    capazes de cumprir as suas tarefas.

    Deste modo, os professores so os principais agentes a quem cabe por em prtica

    diversas estratgias e ferramentas para desenvolver o sucesso educativo dos seus alunos,

    incluindo os alunos com Necessidades Educativos Especiais (NEE) e Dificuldades de

    Aprendizagem (DA).

    Apesar de alguma preocupao, continuam a verificar-se prticas educativas pouco

    consentneas face s dificuldades e especificidades que os alunos apresentam, existindo casos

    onde estes so ignorados e excludos do sucesso educativo.

    Segundo Correia, estima-se que entre 3 a 6% dos alunos tenham dificuldades

    especficas de aprendizagem, fundamentando a sua projeco em diversos autores

    estrangeiros, onde os pases disponibilizam os respectivos dados. Por c, no nosso pas, esta

    ausncia de dados impossibilita que se saiba mais pormenorizadamente o nmero exacto ou

    aproximado do nmero de alunos, com estas dificuldades.

    Estas crianas em termos de capacidades, so consideradas com um perfil mdio,

    podendo at haver as que se destacam numas reas, e no possuem qualquer tipo de

    perturbaes, quer visuais, auditivas, ou emocionais,

    Este trabalho de investigao alm de abordar alguns aspectos do ensino

    aprendizagem da matemtica, pretende acima de tudo analisar as dificuldades de

    aprendizagem especficas que se reflectem na disciplina, nomeadamente a Discalculia por ser

    uma desordem neurolgica e este curso incidir sobre a educao especial. Para isso, efectuou-

    se um levantamento, junto de professores do ensino bsico, nomeadamente do 1 Ciclo e dos

    grupos 230 e 500 do 2 e 3 Ciclos, por serem estes os professores a quem cabe o papel de

    ensinar a aprendizagem da matemtica. Junto desta amostra que de convenincia, pretende-

    se averiguar as percepes dos docentes relativamente ao grau de importncia relacionada

  • 2

    com as competncias a desenvolver na disciplina e o modo como o seu ensino dever ser

    orientado. Questiona igualmente os inquiridos sobre o grau de frequncia com estes atingem

    os objectivos previstos no programa para o final de cada ciclo de ensino bem como, as suas

    percepes relacionadas com o perfil dos alunos com dificuldades de aprendizagem, o seu

    significado, a quem pedem uma avaliao quando tem presentes alunos com estas

    caractersticas, e que principais estratgias utilizariam face a alunos com esta problemtica.

    O trabalho encontra-se dividido em trs partes. Na primeira parte encontra-se a

    introduo e os aspectos relacionados com a importncia do estudo, a definio do problema

    em estudo, os seus objectivos e justificao, terminando com as limitaes.

    Na parte II Enquadramento terico, faz-se referncia educao especial, tendo em

    conta a proposta da classificao internacional e categorizao de Philip Wood, focando o

    contributo dos movimentos de incluso para adopo do termo de NEE e a problemtica

    existente na sua definio, fazendo-se aluso aos tipos de NEE de carcter permanente e NEE

    de carcter temporrio. De seguida, abordam-se as dificuldades de aprendizagem, efectuando-

    se uma breve referncia evoluo do conceito nas ltimas dcadas, abordando-se o conceito

    e classificao das Dificuldades de Aprendizagem Especificas (DAE), nomeadamente a

    Discalculia de acordo com a perspectiva de alguns autores, sem esquecer as dificuldades na

    rea da Matemtica. Ainda de acordo com a problemtica em estudo, focar-se-o os sintomas

    mais frequentes, o modo como se poder diagnosticar e as estratgias a aplicar para a sua

    reabilitao.

    tambm, analisado o ensino da matemtica tendo em conta os principais temas a

    desenvolver nos primeiros anos de escola, bem como o ensino/ aprendizagem da disciplina de

    acordo com o novo programa para o ensino bsico que foi publicado em 2007 e est a ser

    implementado gradualmente. A influncia de factores intrnsecos e extrnsecos tambm

    focado dada a sua influncia no desempenho escolar dos alunos, bem como a motivao.

    A finalizar este ponto tratam-se as percepes dos professores, contemplando a

    construo de uma determinada realidade social e que resulta das representaes sociais que

    se constroem sobre determinados fenmenos, influenciando a forma como se entende e se

    interage, acabando por exercer influencia nos alunos e nos prprios professores e vo se

    reflectir no sucesso dos alunos, j que todos ns como produto influenciado criamos as nossas

    representaes se percepes acerca do que nos envolve.

  • 3

    A parte III- Estudo emprico, destina-se ao estudo emprico, apresentando-se na

    metodologia o inqurito por questionrio, o procedimento as Hipteses de estudo e as

    variveis, e participantes da amostra. Os resultados dos questionrios recolhidos, encontram-

    se expostos no ponto 4, onde se analisaro os dados com a ajuda do programa IPSS, tendo em

    conta as respostas mais significativas.

    Por fim sero realizadas as concluses do estudo e as possveis propostas para futuros

    trabalhos de investigao relacionados com o tema.

    1.1- Importncia do estudo

    notria a preocupao dos docentes, comunidade educativa e tutela, relativamente ao

    insucesso educativo, nomeadamente no que se refere rea de matemtica. Este devido a

    questes de natureza diversa, entre as quais, perturbaes fsicas, motoras, sensoriais,

    intelectuais, privao cultural ou tambm derivado de desordens que se manifestam sobretudo

    na aquisio e uso de aptides, que se englobam nas Dificuldades de Aprendizagem.

    Os alunos com DA fazem parte dos grandes desafios que se colocam escola. Correia

    (2008), afirma que existem cerca de 5% de alunos nas escolas portugueses que revelam DAE

    e no obtm as respostas devidas. A agravar esta situao, o normativo 3/ 2008 no d

    respostas aos alunos com este tipo de problemtica, tais como a discalculia, dislexia

    levando estes alunos a ser abrangidos por outras medidas, como os planos de recuperao,

    contrariando a classificao de Correia (2003), onde insere a discalculia nas NEE

    Permanentes, uma vez que, se trata de uma desordem de carcter processolgico, mais

    conhecido por DAE.

    Na parte prtica, achamos importante averiguar as percepes dos docentes sobre o

    ensino da matemtica e as dificuldades de aprendizagem, tendo em conta os novos programas

    de matemtica para o ensino bsico e o perfil dos alunos com dificuldades de aprendizagem.

    Pretende-se tambm apurar se os docentes que leccionam matemtica esto preparados para

    lidar diariamente com a diversidade de situaes que causam dificuldades de aprendizagem e

    o modo como do resposta s dificuldades apresentadas por alunos que apresentam DAE,

    neste caso a discalculia.

  • 4

    So vrias as questes que se colocam perante esta problemtica e para as quais vamos

    tentar encontrar respostas.

    Ser que a idade, o gnero e outras variveis como o tempo de servio dos docentes ou

    o nvel de ensino influenciam as percepes que os professores do Ensino Bsico tm acerca

    do ensino da matemtica e das dificuldades de aprendizagem?

    Foi com base nestas questes que nos pareceu fundamental o estudo das percepes

    dos docentes face s dificuldades de aprendizagem: que prticas face Discalculia.

    Para levar a cabo a referida investigao, formulmos o problema a analisar e com

    base no mesmo, definimos os objectivos a alcanar, o instrumento e os sujeitos que integram

    este estudo.

    1.2- Definio do problema

    A melhor forma de comearmos um trabalho de investigao em cincias sociais

    consiste em esforar-se por enunciar o projecto sob a forma de uma pergunta de partida a

    pergunta de partida servir de primeiro fio condutor de investigao (Quivy & Campenhoult,

    2008, p.44).

    Com a reviso da literatura efectuada, e em funo dos objectivos traados para este

    estudo e aps algumas reflexes, chegmos ao problema que a seguir se descreve:

    - Quais as Percepes dos professores do ensino bsico face ao ensino da matemtica e

    s Dificuldades de Aprendizagem?

    - Que estratgias podero adoptar os docentes em contexto de ensino-aprendizagem

    face a uma criana com discalculia?

  • 5

    1.3- Objectivos do estudo

    Tendo em conta as questes enunciadas no ponto anterior, procurmos definir os

    objectivos que fundamentam a realizao deste trabalho.

    Os objectivos so:

    - Verificar a importncia que os docentes do ensino bsico atribuem s competncias a

    desenvolver na Matemtica.

    - Estudar as percepes dos docentes sobre as aprendizagens que os alunos adquirem a

    Matemtica no final de cada ciclo do ensino bsico.

    - Averiguar se os docentes tm ou no uma ideia correcta sobre as dificuldades de

    aprendizagem.

    - Indagar as percepes que os docentes possuem acerca das caractersticas reveladas

    pelos alunos com dificuldades de aprendizagem e analis-las.

    - Identificar os procedimentos/ encaminhamento utilizados pelos docentes na presena

    de alunos com DA.

    - Identificar as percepes que os docentes possuem relativamente s respostas da

    educao especial.

    - Apurar se os docentes consideram os recursos humanos e ou pedaggicos so

    suficientes para dar resposta s dificuldades de aprendizagem e verificar quais os recursos em

    falta enumerados pelos inquiridos.

    - Averiguar se os docentes tm ou no uma ideia correcta sobre o conceito de

    Discalculia.

    - Identificar as estratgias mais comuns utilizadas pelos docentes na presena de

    alunos com Discalculia.

    - Averiguar a importncia dada pelos docentes formao na rea da Discalculia e

    quais as razes da sua importncia.

  • 6

    1.5- Justificao dos objectivos

    A aprendizagem do clculo e o desenvolvimento do raciocnio so das mais

    importantes conquistas que as crianas conquistam, permitindo-lhe o sucesso nas futuras

    aprendizagens da Matemtica.

    Correia (2008, p.20) afirma, que frequente no 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico,

    encontrarem-se alunos com bastantes dificuldades de aprendizagem e com uma idade superior

    normal face ao ano que esto a frequentar. Neste sentido, cabe aos professores saber lidar

    com a diversidade de situaes que derivam de dificuldades de aprendizagem, que lhe

    ocorrem no dia-a-dia. ento, necessrio que os docentes se mantenham informados, tendo

    para isso uma postura aberta aprendizagem e formao, de modo a mudar aperfeioar as

    suas prticas educativas, proporcionando situaes de aprendizagem que dem resposta s

    especificidades educativas que cada aluno apresenta, sobretudo aqueles que apresentam

    dificuldades de aprendizagem.

    Para compreender melhor as DA na Matemtica ser importante conhecer as

    percepes dos professores, para tentar perceber as suas prticas profissionais face

    problemtica em estudo. Importa portanto, averiguar as caractersticas das percepes dos

    docentes e se so comuns a todos ou variam de acordo com as variveis independentes

    (questes scio-demogrficas). Quanto mais partilhada for uma representao, mais slida e

    permite compreender melhor a problemtica das dificuldades de aprendizagem. Neste sentido,

    as opinies dos docentes so de extrema importncia para se poder intervir de forma geral,

    caso se verifique muita percentagem de respostas no sentido de ser necessrio, ou se estas

    forem homogneas facilitaro as concluses sobre a problemtica em estudo, assim como a

    sua utilizao para estudos posteriores que queiram aprofundar mais o assunto, ajudando o

    prximo investigador que se debruar sobre este assunto a estabelecer outros horizontes.

    Por outro lado, entendemos que saber a noo de discalculia, permite aos docentes

    detectar possveis sinais deste tipo de DA, capacitando-os para tomar medidas adequadas e

    necessrias que vo de encontro igualdade de acesso ao sucesso educativo.

    No entanto, caso se detectem ideias erradas relacionadas com o assunto em estudo e

    caso se descubra, sempre se pode sugerir formao, para que os docentes fiquem o

  • 7

    suficientemente informados, para corrigir as suas prticas educativas e se sintam mais

    capacitados para contribuir para o sucesso de milhares de jovens, caminhando deste modo

    para uma sociedade melhor, onde todos estejam integrados com sucesso.

    Limitaes do estudo

    Tal como qualquer investigao por mais credvel, pertinente, inovador, exigente e

    ambicioso, que seja o investigador, esta h-de pecar sempre por algumas limitaes, pois s

    assim se realizam as devidas reflexes, que fazem partir para novas linhas de investigao,

    que se vo abrindo, medida que se descobre o caminho de novas coisas.

    Neste caso concreto, penso que o prprio questionrio, poderia eventualmente ser mais

    simplicado, dada a recusa de alguns inquiridos em participar tendo-se mesmo verificado,

    sobretudo nas questes abertas, muitos inquritos por preencher. No entanto, importa referir

    que o questionrio foi elaborado a partir da reviso da literatura realizada.

    A prpria amostra de convenincia no permite extrapolar as concluses para todos os

    docentes e apesar de j ser um pouco significativa, melhores resultados se retirariam se

    abrangesse mais elementos, no entanto nem sempre a disponibilidade por parte dos colegas

    foi a melhor, uma vez que dos questionrios em formato de papel que foram distribudos,

    apenas consegui recolher cerca 70, o que equivale a menos de metade. A internet atravs do

    Google Docs permitiu-me abrir a porta para a recolha dos restantes e que sem dvida foi

    muito importante. Pode-se considerar esta forma de recolha de boa, claro que tambm ter os

    seus problemas com a sinceridade das respostas que podem no reflectir os conhecimentos no

    momento do inquirido e assim, socorrer-se numa pesquisa para dar a sua opinio.

    Uma outra questo, muito importante, trata-se com a anlise dos dados o domnio por

    parte do investigador nas tcnicas de anlise de dados, no brilhante, da que possivelmente

    se poderiam tirar outras concluses dadas as diversas funcionalidades que o programa de

    anlise estatstica SPSS possibilita. O domnio destas tcnicas permite aquando da construo

    do questionrio adaptar determinadas questes sem por em causa os objectivos do estudo, de

    modo a facilitar a anlise estatstica e consequentemente a recolha de concluses.

  • 8

    Parte II Enquadramento terico

    2.1. Alunos com Necessidades Educativas Especiais

    O conceito de Necessidades Educativas Especiais teve a sua difuso a partir de 1978,

    aps a adopo do Relatrio Warnock Report. Este, surgiu dos resultados do 1 Comit

    Britnico, que visou reavaliar o atendimento aos deficientes. Os resultados, revelaram que

    vinte por cento das crianas apresenta NEE em algum perodo da sua vida escolar. A partir

    destes dados, o relatrio prope o conceito de NEE, englobando todos alunos que exijam

    recursos ou adaptaes especiais no processo de ensino e aprendizagem.

    Em 1980, Philip Wood, definiu para a Organizao Mundial de Sade (OMS) e para a

    International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF), trs nveis de

    caracterizao das pessoas portadoras de deficincias, representadas na tabela 1.

    Proposta de Classificao Internacional de Philip Wood

    Deficincia

    Toda a alterao do corpo ou da aparncia fsica, de um rgo ou de uma funo

    qualquer que ela seja. Em termos gerais, reflectem perturbaes ao nvel do

    rgo.

    Incapacidade

    Consequncias das deficincias em termos de desempenho e actividade funcional

    do indivduo. Representam perturbaes ao nvel da prpria pessoa.

    Desvantagem

    (handicap)

    Prejuzos sofridos pelo indivduo devido deficincia ou incapacidade. Inclui

    aspectos referentes adaptao do indivduo na sua interaco com o meio.

    Tabela1: Proposta de Philip Wod (adaptado de Wood, 1980; in Necessidades educativas especiais e conceitos)

    Ainda segundo Wood (1980), podemos encontrar as categorias principais de cada um

    dos nveis na tabela 2.

  • 9

    Categorizao das deficincias de Philip Wood

    Categorias

    principais de

    Deficincia

    1- Deficincias intelectuais.

    2- Outras deficincias intelectuais.

    3- Deficincias da linguagem.

    4- Deficincia da audio.

    5- Deficincia da viso.

    6- Deficincia dos outros rgos.

    7- Incapacidade face a situaes.

    8- Incapacidades referentes a aptides particulares.

    9- outras restries da actividade.

    Categorias

    principais de

    Incapacidade

    1- Incapacidades no comportamento.

    2- Incapacidades na comunicao.

    3- Incapacidades no cuidado pessoal.

    4- Incapacidades na locomoo.

    5- Incapacidades no posicionamento do corpo.

    6- Incapacidades da destreza.

    7- Incapacidades face a situaes.

    8- Incapacidades referentes a aptides particulares.

    9- Outras restries da actividade.

    Categorias

    principais de

    Desvantagem

    1- Desvantagem na orientao (capacidade do sujeito para receber os sinais do meio,

    assimil-los e dar-lhes resposta adequada)

    2- Desvantagem na independncia fsica (capacidade da pessoa se deslocar no meio).

    3- Desvantagem na mobilidade (capacidade da pessoa se deslocar no meio).

    4- Desvantagem na capacidade de ocupao (capacidade da pessoa para usar o seu

    tempo de uma forma normal, de acordo com o seu sexo, idade e cultura).

    5- Desvantagem na integrao social (capacidade da pessoa para estabelecer e manter

    relaes sociais).

    6- Desvantagem na independncia econmica (capacidade da pessoa para manter uma

    independncia econmica normal, considerando o sexo, idade e cultura)

    7- Outras desvantagens.

    Tabela 2: Categorizao das deficincias (adaptado de Wood, 1980; in Necessidades educativas especiais e

    conceitos).

  • 10

    O movimento da Incluso que apareceu por volta dos anos 80 criou, desde logo, um

    conjunto de expectativas que se centravam no direito dos alunos com NEE frequentarem as

    escolas das suas residncias e de, a, poderem receber todos os servios adequados s suas

    necessidades, sempre que possvel nas classes regulares dessas mesmas escolas.

    No entanto, o conceito de NEE, s foi adoptado e redefinido em 1994 na Declarao

    de Salamanca (UNESCO, 1994), passando a abranger todas as crianas e jovens cujas

    necessidades envolvam deficincias ou dificuldades de aprendizagem. Inclui tanto crianas

    em desvantagem como as chamadas sobredotadas ou superdotadas, bem como as crianas de

    rua, as que trabalham, as de populaes remotas ou nmadas, crianas pertencentes a minorias

    tnicas ou culturais e crianas desfavorecidas ou marginais, bem como as que apresentam

    problemas de conduta ou de ordem emocional.

    O conceito de NEE, no rene consenso em torno da sua definio, entre os agentes

    envolvidos: professores, pais, tcnicos, especialistas, mdicos,

    No entanto, Correia (2003, p. 16) a fim de clarificar os conceitos, inseridos na

    legislao, que oriente a educao dos alunos com NEE, define os alunos com Necessidades

    Educativas Especiais como:

    so aqueles que, por exibirem determinadas condies especficas, podem necessitar de servios e apoios de educao especial durante parte ou todo o seu percurso escolar, de forma a

    facilitar o seu desenvolvimento o seu desenvolvimento acadmico, pessoal e socioemocional.

    As condies especficas, entende-se como o conjunto de problemticas relacionadas

    com o autismo, a surdo-cegueira, a deficincia auditiva, a deficincia visual, a deficincia

    mental, os problemas motores, as perturbaes emocionais ou de comportamento, as

    dificuldades de aprendizagem especficas, os problemas de comunicao, o traumatismo

    craniano, a multideficincia e outros problemas de sade. (Correia, 2003).

    Entende-se como servios de Educao Especial o conjunto de servios e apoios

    especializados, destinados a responder s necessidades especiais do aluno com base nas suas

    capacidades e necessidades e com o fim de maximizar o seu potencial.

    De acordo com Correia (2003) as problemticas associadas s Necessidades

    Educativas Especiais podero ser: fsicas, sensoriais, intelectuais, emocionais e dificuldades

  • 11

    de aprendizagem. Para este autor, o conceito de NEE abrange portanto, crianas e

    adolescentes com aprendizagens atpicas, ou seja, aqueles que no conseguem acompanhar

    um currculo normal, devendo-se proceder s respectivas Adaptaes Curriculares de

    acordo com a problemtica que a criana ou o adolescente apresenta. Este tipo de

    procedimento pressupe o direito a um programa de educao pblico, adequado e gratuito

    num meio de aprendizagem o mais apropriado possvel, dando resposta s necessidades

    educativas dessa criana ou adolescente. Para que isso acontea a escola dever estar

    preparada para dar uma resposta eficaz problemtica do aluno em causa.

    2.2- Tipos de Necessidades Educativas Especiais

    Tendo em conta o tipo de problemtica referidas anteriormente, associada a cada

    criana com NEE e s adaptaes curriculares deveremos considerar tambm o grau de

    modificao curricular, pois este varivel em funo da problemtica. Para Correia (2003)

    podemos dividi-las em dois grupos grandes: NEE de carcter permanente e NEE de carcter

    temporrio.

    Ainda segundo este autor, as NEE de carcter permanente devero ser classificadas,

    quando: exigem adaptaes generalizadas do currculo, adaptando-o s caractersticas do

    aluno, mantendo-se essas adaptaes durante parte ou todo o percurso escolar do aluno. A

    avaliao dever ser sistemtica, dinmica e sequencial tendo em conta os progressos dos

    alunos durante o seu percurso escolar. Neste grupo consideram-se as seguintes tipo de

    desordens:

    - NEE de carcter intelectual: crianas e adolescentes com deficincia mental (ligeira,

    moderada, severa ou profunda), que devido aos problemas ao nvel do funcionamento

    intelectual e comportamento adaptativo lhes causa problemas globais nas aprendizagens

    (acadmicas e/ ou sociais). Nesta categoria esto includas os dotados e os sobredotados cujo

    funcionamento intelectual e potencial de aprendizagem superior mdia, podendo estes

    experimentar o insucesso caso os programas no estejam de acordo com as suas

    caractersticas.

  • 12

    - NEE de carcter emocional: incluem-se os indivduos cujas perturbaes so de tal

    ordem graves que pem em causa quer o sucesso escolar, quer a segurana deles e dos que os

    rodeiam. Incluem-se as psicoses e quaisquer outros problemas graves de comportamento.

    - NEE de carcter motor: inserem-se neste grupo a paralisia cerebral, espinha bfida,

    distrofia muscular ou seja, indivduos cujas capacidades fsicas foram alteradas por

    qualquer problema de origem orgnica ou ambiental, que lhe veio a provocar incapacidades

    do tipo manual e/ ou de mobilidade.

    - NEE de Carcter Sensorial: incluem-se os alunos cujas capacidades visuais ou

    auditivas estejam afectadas.

    - NEE com problemas de sade; incluem-se as crianas e adolescentes com: diabetes,

    asma, hemofilia, cancro, sida, epilepsia,

    - NEE com traumatismo cranianos: apresentam problemas derivados de acidentes que

    lhe causaram traumatismo craniano, eram associados s categorias de Deficincia Mental,

    Perturbaes Emocionais e Dificuldades de aprendizagem.

    - NEE com perturbaes do espectro do Autismo: crianas que durante os trs

    primeiros anos de vida manifestam um determinado tipo de caractersticas, sendo

    classificados de autistas.

    - NEE da carcter processolgico ou seja dificuldades de aprendizagem: implica

    dificuldades ao nvel da recepo, organizao e expresso da informao. Apresentam

    geralmente uma discrepncia acentuada entre o estimado e a sua realizao acadmica que

    abaixo da mdia numa ou mais reas acadmicas. (Correia, 1999, p. 49-52).

    As NEE de carcter temporrio so aquelas em que as adaptaes do currculo

    escolar parcial e se realiza de acordo com as caractersticas do aluno, num momento do seu

    percurso escolar (Correia, 1999, p. 52).

    Ainda segundo o mesmo autor, podemos ter neste grupo, crianas com problemas

    ligeiros ao nvel das funes superiores e problemas ligeiros relacionados com a

    aprendizagem da leitura, da escrita e do clculo. Estes alunos vo requerer uma ateno mais

    especfica e maiores recursos educacionais do que os geralmente necessrios para os restantes

    colegas da mesma faixa etria, tais como professores, tcnicos especializados, estratgias

  • 13

    diversificadas e materiais didcticos adaptados, que respondam s suas dificuldades mas,

    acima de tudo, s suas potencialidades.

    Correia (1999), apresentou em percentagem o nmero de alunos com NEE existentes

    na populao educativa, por categoria: - 48% alunos com dificuldades de aprendizagem; -

    22% alunos com problemas de comunicao; - 14% deficincia mental; - 10% alunos com

    perturbaes emocionais e problemas de comportamento; - 6% outros tipos. Segundo o autor,

    numa turma regular poderemos sempre encontrar um aluno com dificuldades de

    aprendizagem.

    Ao compararmos os dados apresentados por Correia em 1999, com os dados

    apresentados pela Direco Geral de Inovao e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC,

    2004, p.13) podemos encontrar diferenas significativas na organizao dos dados, mas

    tambm a ausncia das dificuldades de aprendizagem, por parte dos dados da DGIDC. Estes

    dados, estariam relacionados com a justificao do documento apresentado em finais de 2006,

    intitulado Avaliao e Interveno na reas das NEE, onde foi apresentado uma nova

    definio do conceito de NEE.

    Consideram-se alunos com necessidades educativas especiais de carcter prolongado aqueles que experienciam graves dificuldades no processo de aprendizagem e participao no contexto

    escolar, familiar e comunitrio, decorrentes da interaco entre factores ambientais (fsicos,

    sociais e atitudinais) e limitaes de grau acentuado ao nvel do seu funcionamento num ou mais

    dos seguintes domnios: sensorial (viso e audio); motor; cognitivo; comunicao, linguagem e

    fala; emocional e personalidade. (DGCDI, s/d, p. 13)

    Este conceito surge na sequncia da publicao dos Decretos Lei n 6 e n7 de 2001,

    com base no novo Sistema de Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e

    Sade (CIF) da Organizao Mundial de Sade (2001).

  • 14

    2.3- A CIF, as NEE e as DA

    A verso para crianas e jovens da CIF (CIF-CJ) que foi publicada pela OMS em

    2007 prev a modalidade de educao especial aos alunos com NEE de carcter prolongado.

    Esta definio insere-se j num modelo dinmico de interaco pessoa/ ambiente, segundo o

    qual o grau de envolvimento e nvel de desempenho nas actividades de cada indivduo resulta

    das interaces e influncias mtuas (DGIDC, 2006, p.13)

    A sua estrutura e objectivos permitem classificar no apenas os nveis de

    funcionalidade e incapacidade do indivduo, como tambm os factores ambientais que podem

    funcionar como barreiras ou facilitadores dessa funcionalidade, implicando o envolvimento e

    o contributo de profissionais de diferentes reas (DGIDC, 2006, p.4).

    A CIF est dividida em duas partes, cada uma com duas componentes. Cada

    componente contm vrios captulos e domnios. Em cada domnio h vrias categorias e

    subcategorias que constituem as unidades de classificao. (DGIDC, 2006, p.5).

    Parte 1- Funcionalidade e Incapacidade

    a) Funes e Estruturas do Corpo.

    b) Actividades e Participao.

    Parte 2- Factores Contextuais

    a) Factores Ambientais

    b) Factores Pessoais.

    A resposta educativa para aluno com NEE de carcter prolongado, deve ser

    encarada no mbito de uma gesto curricular flexvel que permita uma progressiva

    adequao do currculo nacional ao contexto de cada escola, de cada turma e de cada aluno

    em particular (DGIDC, 2006, p. 22).

    A Aplicao da modalidade de educao especial passa a ter como base os seguintes

    aspectos:

    - Dificuldades acentuadas do aluno em aceder ao estabelecido no projecto curricular

    de turma;

  • 15

    - Necessidade de interveno de profissionais especializados, nomeadamente,

    docentes de educao especial;

    - Necessidade de aprendizagem de tcnicas ou contedos curriculares especficos

    (ex: Braille; Lngua Gestual Portuguesa; Competncias scio-cognitivas);

    - Necessidade de alteraes das condies de frequncia e de avaliao;

    - Necessidade de reduo do nmero de alunos na turma. (DGIDC, 2006, p. 24)

    Neste modelo reforada a importncia do docente de educao especial uma vez

    que tem como principal funo participar na organizao, gesto e implementao de

    recursos e medidas diferenciadas a introduzir no processo de ensino e de aprendizagem de

    crianas e jovens com NEE de carcter prolongado (DGIDC, 2006, p. 26). Atendendo aos

    seus conhecimentos este docente encontra-se numa posio privilegiada para participar

    activamente no processo de identificao e implementao de respostas educativas

    diferenciadas em contextos integrados e promissores de uma efectiva aprendizagem e

    participao de todos os alunos (DGIDC, 2006, p. 27).

    No entanto, j em 2004, Correia entrevistado por Costa e Silva, relativamente

    Proposta de Lei para a educao Especial, referiu que esta tem uma falha gravssima e que

    o facto de continuar a no incluir alunos com dificuldades de aprendizagem (e no na

    aprendizagem) . Com a utilizao da classificao proposta pela CIF, muitos alunos

    deixaram de ser apoiados no seu percurso escolar. Muitas das dificuldades de aprendizagem

    reflectem-se ao nvel da leitura, escrita e clculo. Por isso, a sua aplicao continua a ser alvo

    de muitas crticas, devido percentagem elevada de alunos que foram deixados sem qualquer

    tipo de apoio, tendo sido estes, simplesmente empurrados para outras medidas como os Planos

    de Recuperao, que pouco ou nada tem ajudado na resposta s dificuldades de aprendizagem

    e consequentemente, aquisio de competncias necessrias a uma verdadeira Incluso.

  • 16

    2.4- Dificuldades de Aprendizagem - Perspectiva histrica

    De acordo com Gonzlez, 2004 comeou-se a falar de dificuldades de aprendizagem

    no sculo XIX, relacionadas com danos, leses ou disfunes a nvel do crebro. As

    intervenes nessa altura eram orientadas para desenvolver as habilidades perceptivas e

    motoras.

    Em meados do sculo XX, comea a dar-se mais valor perspectiva psicolgica e

    educativa. Da primeira surge a perspectiva dos processos psicolgicos bsicos, atribuindo ao

    atraso ou alterao de alguns processos perceptivos (auditivos e visuais). A segunda ligada

    aos processos lingusticos, como os causadores das dificuldades de aprendizagem.

    Estas duas correntes do estudo das dificuldades de aprendizagem, baseiam a causa das

    dificuldades de aprendizagem, no prprio ser (Sternberg & Grigorenko, 2003, p. 34) e no

    levam em conta factores que no dependem do individuo como os ambientais.

    De acordo com Correia (2008, p. 24) o termo das DAE comeou a ser usado

    frequentemente no incio dos anos 60, tendo sido inserido por Samuel Kirk em 1963

    aquando da terceira fase de integrao, para expressar as dificuldades de aprendizagem, mas

    percebida como essncia de diagnstico global (Vidal & Manjn, 2001), que engloba diversos

    problemas que esto ligados s dificuldades sentidas pelas crianas no processo de

    aprendizagem.

    Para Casas (1994), o modelo de Kirk restringe os critrios para classificar as DAE,

    pois considerava as crianas como portadores de uma disparidade entre a sua capacidade de

    aprendizagem e de concretizao, no resultando de deficincias sensoriais os problemas

    verificados no processo de aprendizagem de alunos que no aprenderam atravs dos mtodos

    de ensino habituais, e que precisavam de outros mtodos de ensino tendo em conta o nvel

    sociocultural e o construtivismo, que serviram de base actuao em capacidades sociais e

    dilemas afectivo-motivacionais.

    Na fase actual designada de contempornea, Casas (1994) e Rebelo (2003), entendem

    que os desenvolvimentos torico-prticos da maioria dos autores relacionam-se com um

    estudo do comportamento em cada actividade, com o modo como se trabalha a informao e

    com o neuropsicolgico.

  • 17

    2.5- Conceito de DAE

    Segundo Nielson (2003) os alunos com dificuldades de aprendizagem, apresentam um

    factor em comum: o seu QI situa-se dentro da mdia, ou at mesmo acima, registando-se uma

    discrepncia entre a capacidade intelectual e os resultados obtidos em uma ou mais reas

    acadmicas.

    Deste modo, as crianas com DA no possuem nenhuma perturbao global da

    inteligncia, da personalidade, nem nenhum problema a nvel sensorial ou motor (Bateman,

    2007, in Dias, 2007) nem so privadas culturalmente (Casas, 1994).

    No entanto dada a complexidade em classificar as DA, Correia (1999, p. 55), entende

    que uma definio que recebeu maior consenso, a da Lei Pblica Americana, que refere:

    uma perturbao num ou mais dos processos psicolgicos bsicos envolvidos na compreenso ou utilizao da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se numa aptido

    imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar, ou fazer clculos matemticos. O termo

    inclui condies como deficincias perceptivas, leso cerebral, disfuno cerebral mnima,

    dislexia, e afasia de desenvolvimento

    Tambm estamos perante este tipo de dificuldades quando um aluno no atingir numa

    ou mais reas especficas uma aprendizagem adequada ao seu nvel de idade e capacidade. Ou

    apresentar divergncias significativas entre o desempenho escolar e a sua capacidade

    intelectual, numa ou mais das reas seguintes: a) expresso oral; b) compreenso auditiva; c)

    expresso escrita; d) capacidade bsica de leitura; e) compreenso da leitura; f) clculos

    matemticos; g) raciocnio matemtico (Correia 1999, citando Federal Registar, 1977).

    As dificuldades de Aprendizagem (DA) de uma forma geral, so vistas como um

    problema que origina perturbaes na adaptao escola, e que normalmente se estende ao

    longo da vida nas diversas interaces dos indivduos com a sociedade, apesar das grandes e

    rpidas mudanas operadas na fundamentao terica; da exploso incomensurvel da

    investigao produzida nas ltimas dcadas () as DA continuam a gerar inmeras

    controvrsias (Correia, 2008, p.9).

    As definies de DA tm sido diversas, no entanto, a que gerou maior concordncia,

    apresentada pelo NJCLD foi revista em 1988, devido importncia que pode ter para pais,

    professores, investigadores e administradores. Ela diz:

  • 18

    Dificuldade de aprendizagem um termo genrico que diz respeito a um grupo heterogneo de desordens manifestadas por problemas significativos na aquisio e uso das capacidades de

    escuta, fala, leitura, escrita, raciocnio ou matemticas. Estas desordens, presumivelmente

    devidas a uma disfuno do sistema nervoso central, so intrnsecas ao indivduo e podem

    ocorrer durante toda a sua vida. Problemas nos comportamentos auto reguladores, na percepo

    social e nas interaces sociais podem coexistir com as DA, mas no constituem por si s uma

    dificuldade de aprendizagem.

    Embora as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras

    condies de discapacidade (por exemplo, privao sensorial, perturbao emocional grave) ou

    com influncias extrnsecas (tal como diferenas culturais, ensino inadequado ou insuficiente),

    elas no so devidas a tais condies ou influncias. (NJCLD, 1994, pp. 61-64 in Correia, 2008, p. 33).

    No sentido de contribuir para um definio portuguesa, Correia (2008), tenta dar uma

    definio de DA, onde acrescenta o termo especificas, designando-a de DAE, e refere o

    seguinte:

    As dificuldades de aprendizagem especficas dizem respeito forma como um indivduo processa a informao a recebe, a integra, a retm e a exprime - , tendo em conta as suas capacidades e o conjunto das suas realizaes. As dificuldades de aprendizagem especficas

    podem, assim, manifestar-se nas reas da fala, da leitura, da escrita, da matemtica e/ ou da

    resoluo de problemas, envolvendo dfices que implicam problemas de memria, perceptivos,

    motores, de linguagem, de pensamento e/ ou metacognitivos. Estas dificuldades, que no

    resultam de privaes sensoriais, deficincia mental, problemas motores, dfice de ateno,

    perturbaes emocionais ou sociais, embora exista a possibilidade de estes ocorrerem em

    concomitncia com elas, podem, ainda, alterar o modo como o indivduo interage com o meio

    envolvente. (Correia, 2005 in Correia, 2008, p. 46,47).

    As DA, podem ser vistas como um conjunto diversificado de desordens manifestadas atravs

    de problemas essencialmente de ordem lingustica e matemtica, distrbios estes, que so intrnsecos

    aos indivduos, originados essencialmente por disfunes neurolgicas (leso cerebral, disfuno

    cerebral mnima), podendo ou no ocorrer em simultneo com outras deficincias ou com factores

    extrnsecos.

  • 19

    2.6- Classificao das DAE

    Tendo em conta a existncia de diversas classificaes para as dificuldades de

    aprendizagem propostas pelos autores que se debruam sobre esta problemtica, passaremos a

    utilizar a que consta no DSM-V-TR, proposta pela APA (Associao de Psiquiatras

    Americanos) em 2006.

    Assim, as DAE ao serem analisadas de acordo com a nomenclatura do DSM-IV-TR,

    so vistas como perturbaes que se verificam na aprendizagem, quando existe uma

    discrepncia entre o desempenho obtido nas provas habituais de leitura, aritmtica ou

    escrita (APA, 2006, p. 49) e o desempenho esperado para a idade, para o nvel de

    escolaridade, ou para o nvel intelectual (idem), resultando deste modo uma distribuio por

    quatro grupos:

    1 Perturbao da leitura, vista tambm como uma dificuldade de aprendizagem na

    leitura, designada por dislexia, que inclui alunos com uma leitura lenta e com erros, bem

    como distores, trocas ou omisses quando l oralmente (APA, 2006). quase sempre

    diagnosticada nos primeiros anos de escola, quando se obtm as competncias para a leitura.

    No DSM-IV-TR, constam ainda os critrios de diagnstico, p. 53.

    2 Perturbao da escrita, ou dificuldade de aprendizagem da escrita de difcil

    diagnstico quando o aluno possui apenas esta dificuldade na aprendizagem separada de

    outras, sendo designada por disgrafia e disortografia. Alunos com estas perturbaes

    constroem textos com erros a nvel da ortografia, gramtica e pontuao, organizao de

    pargrafos e grafia pobres. No basta dar erros ortogrficos e possuir uma caligrafia horrvel

    para ser diagnosticado com esta perturbao. No DSM-IV-TR, constam ainda os critrios de

    diagnstico, p. 56.

    3 Perturbao do clculo, podendo ou no estar associada s perturbaes referidas,

    podendo ser designada tambm como dificuldade de aprendizagem da matemtica ou

    discalculia.

  • 20

    Geralmente detectada nos primeiros anos da escola. Os indivduos podem apresentar

    dfices a nvel da leitura de sinais aritmticos ou smbolos numricos, na associao de

    objectos aos grupos, na transcrio de nmeros, observao dos sinais das operaes e no

    transporte de um lado para o outro de unidades, bem como na contagem e sequencializao

    (APA, 2006).

    No DSM-IV-TR, constam os seguintes critrios de diagnstico:

    A- A capacidade para o clculo, medida atravs de provas normalizadas, aplicadas individualmente, situa-se substancialmente abaixo do nvel esperado para a idade

    cronolgica do sujeito, quociente de inteligncia e escolaridade prpria para a sua idade.

    B- A perturbao do Critrio A interfere significativamente com o rendimento escolar ou actividades da vida quotidiana que requerem capacidades para o clculo.

    C- Se estiver presente um dfice sensorial, as dificuldades na capacidade de clculo so excessivas em relao s que lhe estariam habitualmente associadas (APA, 2006, p.54).

    4 Perturbao de aprendizagem sem outra especificao, quando os critrios

    anteriores no se vislumbram, podendo verificar-se problemas a nvel da leitura, escrita e

    matemtica, mesmo que os resultados esperados no se encontrem abaixo do esperado, tendo

    em conta a sua idade, o nvel de escolaridade e a capacidade intelectual do indivduo (APA,

    2006).

  • 21

    2.7- Algumas das mais frequentes DAE

    Estudar as dificuldades que se reflectem na leitura e na escrita, em geral, e mais

    concretamente na dislexia, tem desde h muito suscitado o interesse e preocupao quer de

    docentes quer de psiclogos, pediatras e outros tcnicos profissionais que esto ligados

    investigao das causas dos factores que esto por de trs do sucesso/ insucesso educativo. A

    dislexia, apesar de uma maior consciencializao por parte dos agentes educativos, continua a

    revelar-se como quebra-cabeas, reflectindo-se em imensos problemas nas aprendizagens dos

    alunos.

    As competncias que se desenvolvem e adquirem atravs da leitura e escrita so

    consideradas como objectivos essenciais para o sucesso educativo. A leitura e a escrita fazem

    parte das aprendizagens bsicas e encontram-se intrinsecamente ligadas a todas as restantes

    aprendizagens. Desta forma, uma criana com dificuldades nestes campos dificilmente

    revelar sucesso noutras reas, isto porque as suas lacunas nesta rea acabam por ser

    transversais s restantes disciplinas e contedos, originando um desinteresse que se propaga

    em espiral a vrias situaes do dia-a-dia, podendo desenvolver-se uma diminuio da auto-

    estima e consequentemente uma inadaptao integrao.

    Existem vrias definies para esta problemtica, no entanto as que mais tem sido

    aceites, so as que vou enumerar.

    Na perspectiva da World federation of Neurology, trata-se de uma perturbao que se

    manifesta pela dificuldade na aprendizagem da leitura, apesar de uma educao convencional,

    uma adequada inteligncia e oportunidades scio-culturais;

    Fonseca (1999, in Portal da dislexia) refere que uma dificuldade duradoura da

    aprendizagem da leitura e aquisio do seu mecanismo, em crianas inteligentes,

    escolarizadas, sem qualquer perturbao sensorial e psquica j existente.

    Para o Comittee on Dyslexia of the Health Council of the Netherlands, a dislexia est

    presente quando a automatizao da identificao das palavras (leitura) e/ ou da escrita de

    palavras no se desenvolve, ou desenvolve-se de uma forma muito incompleta, ou com grande

    dificuldade (Portal da dislexia).

    Esta dificuldade na leitura e na escrita, demasiadas vezes vista de um modo errado,

    como um problema ligado a um nvel de capacidade intelectual baixo. No entanto, os

  • 22

    investigadores tm revelado que muitos indivduos a quem foi diagnosticado problemas de

    dislexia, conseguem sobressair em determinadas reas e at em determinados momentos com

    um desempenho mais elevado do que os considerados mdios para a sua idade. Neste sentido,

    para se poder diagnosticar uma dislexia nas crianas, implica que estas revelem uma

    capacidade intelectual que se englobe nos parmetros normativos (Portal da Dislexia).

    A dislexia est muitas vezes associada a outros termos e perturbaes, como os casos

    da:

    - A Disortografia vista como uma perturbao ao nvel da produo escrita, quando

    estamos perante casos de alunos que cometem muitos erros a nvel da ortografia, para

    escreverem de forma correcta as palavras. Por vezes, os indivduos que apresentam este tipo

    de problema, podem no revelar os problemas relacionados com a dislexia, no entanto,

    quando se est na presena de um diagnstico de dislexia, esta tem como efeito uma

    disortografia mais ou menos evidente.

    - A Disgrafia caracterizada por problemas a nvel neurolgico relacionado com as

    afasias e tambm como uma perturbao a nvel funcional da disgrafia, que afecta a qualidade

    da escrita, qualificada por uma dificuldade na grafia, no traado e na forma das letras e

    palavras, aparecendo estas com a forma irregular, disforme e rasurada. (Citoller, 1996, in

    Torres e Fernndez, 2001).

    Citoller (1996) divide a disgrafia em dois tipos, disgrafias adquiridas e disgrafias

    evolutivas ou de desenvolvimento:

    - Nas primeiras englobam-se os indivduos que depois de terem aprendido a escrever

    de forma correcta, deixam de o fazer em consequncia de uma leso neurolgica. Este autor

    divide-a em disgrafia adquirida central, quando as vias de acesso lxico se encontram

    afectadas, podendo ser uma ou ambas as vias afectadas causando problemas na elaborao

    escrita das palavras. As outras, disgrafias adquiridas perifricas, esto relacionadas com

    problemas de motricidade da escrita.

    -Nas segundas disgrafias de desenvolvimento, so as que esto mais ligadas com as

    dificuldades de aprendizagem especficas, relacionadas com as dificuldades que se

    manifestam no incio da aprendizagem da escrita, sem nenhuma razo aparente e objectiva

  • 23

    para o sucedido. Para Torres e Fernndez (2001, in Citoller, 1996, in Cruz, 2009) os alunos

    podem ter a capacidade intelectual normal, bom ambiente familiar e um bom

    desenvolvimento emocional sem quaisquer problemas perceptivo ou motor no seu

    desenvolvimento e apresentar dificuldades ao nvel da escrita.

    A Discalculia, passo a descrever aqui, apenas de uma forma muito resumida, uma vez

    que ela muitas vezes est ligada a outras dificuldades de aprendizagem, sendo mais

    desenvolvida o assunto referente a esta problemtica mais frente.

    O termo Discalculia, surge do grego dis = difcil, dificuldade; e do latin calculare =

    clculo. Contudo as abordagens discalculia referem dificuldades em matemtica e/ou

    aritemtica.

    Para Cruz (1999), discalculia significa uma disfuno neuropsicolgica, qualificada

    por dificuldades no mtodo de aprendizagem do clculo, ocorrendo em indivduos com um

    grau de inteligncia mdio, mas que apresentam incapacidade na realizao das operaes

    matemticas e falhas no raciocnio lgico matemtico.

    O termo comum utilizar-se para referir a inabilidade em executar operaes

    matemticas, mas de acordo com alguns investigadores referido como uma inabilidade mais

    fundamental para conceptualizar nmeros.

    Alm das j referidas, comum tambm surgirem outras DAE, tais como:

    - Problemas de percepo auditiva: Problemas na capacidade para perceber as diferenas entre os sons da fala e para sequencia-los em palavras escritas; uma componente essencial no

    que respeita ao uso correcto da linguagem e descodificao da leitura.

    - Problemas de percepo visual: Problemas na capacidade para observar pormenores

    importantes e dar significado ao que visto; uma componente crtica no processo de leitura e

    de escrita.

    - Problemas de memria (de curto e longo prazo): Dificuldades em armazenar e/ou recuperar

    ideias e factos, como, por exemplo, quando se apela lembrana de nmeros telefnicos, de

    endereos e/ou de instrues para realizar uma tarefa. (NCDL, 1997, in Correia, 2008, p.40).

    Para finalizar, relembrar apenas, uma vez que j foi referido, num indivduo com

    discalculia, comum encontrar-se outras dificuldades associadas como a dislexia, uma vez

    que as dificuldades com o processamento da linguagem e sequncias so tambm

    caractersticas da dislexia.

  • 24

    Causas de dificuldades de Matemtica

    Neurolgica No neurolgica

    Primria Secundria

    - Acalculia

    - Discalculia do

    desenvolvimento

    - Deficincia mental

    - Epilepsia

    - Sndrome de Turner

    - Fenilcetonria tratada

    - Portadores de sndrome

    do X frgil

    - Sndrome fetal alcolica

    - Baixo peso

    - TDAH

    - Dislexia

    - Disfasia

    - Outros

    - Factores escolares

    - Factores sociais

    - Ansiedade para a

    matemtica

    2.8- Dificuldades de aprendizagem na Matemtica

    As dificuldades de aprendizagem na matemtica (DAM) podem derivar de problemas

    ao nvel da aritmtica, lgebra, e geometria, mas como cada uma destas reas possui outras

    sub-reas, torna-se extremamente difcil perceber o funcionamento das competncias bsicas,

    podendo surgir tambm DAM.

    Fig. 1-Classificao das dificuldades de aprendizagem em Matemtica, in Transtornos da Aprendizagem, p. 203)

    Geary (1999, in Cruz 2009, p. 208) refere que as crianas com DAM formam um

    grupo heterogneo, pois manifestam diferentes padres de conhecimento, bem como reas

    fortes e fracas que derivam muito de aluno para aluno, tornando as DAM muito complexas,

    porque podem resultar de um conjunto de dificuldades interligadas. As dificuldades mais

    frequentes so:

  • 25

    - Dificuldades no domnio dos factos bsicos acerca dos nmeros;

    - Dificuldades no domnio da linguagem matemtica;

    - Dificuldades na realizao de operaes ou clculos;

    - Dificuldades em representar (simblica ou visualmente) e em recordar factos aritmticos;

    - Dificuldades em memorizar e sequencializar;

    - Dificuldades no processamento visual (confuses visuo-espaciais);

    - Dificuldades de processamento da linguagem;

    - Elevada frequncia de erros processuais;

    - Ansiedade atipicamente elevada em relao tarefa.(Cruz, 2009, p.209).

    2.9 Os estdios de desenvolvimento de Piaget e as DA

    Segundo Piaget o desenvolvimento do ser humano obedece a certos estgio

    hierrquicos, que ocorrem desde o nascimento at se consolidarem por volta dos dezasseis

    anos. Cada um destes estdios caracterizado por formas diferentes de organizao mental

    que possibilitam as diferentes maneiras do indivduo relacionar-se com a realidade que o

    rodeia. De uma forma geral, todos os indivduos vivenciam estes quatro estdios na mesma

    sequncia, porm o incio e o trmino de cada um deles pode sofrer variaes em funo das

    caractersticas da estrutura biolgica de cada indivduo e da riqueza (ou no) dos estmulos

    proporcionados pelo meio ambiente, na qual os indivduos estejam inseridos.

    Os quatro estdios de desenvolvimento propostos por Piaget so:

    - Estdio Sensrio-motor, do nascimento at aos 2 anos, baseia-se na experincia

    imediata, atravs dos sentidos. A actividade intelectual fundamental consiste na interaco

    com o meio, atravs dos sentidos, sendo uma actividade prtica.

    - Estdio Pr-operatrio ou intuitivo, dos dois aos 7 anos, o pensamento sofre uma

    transformao qualitativa, no estando limitado ao seu meio sensorial imediato. A sua

    capacidade de armazenamento de imagens aumenta tremendamente.

    - Estdio Operatrio-concreto, dos 7 aos 11 anos, representa outra reorganizao

    fundamental da estrutura cognitiva (relativamente ao estdio anterior). As crianas so

  • 26

    positivistas lgicos infantis que compreendem as relaes funcionais, porque so especficas e

    porque podem testar os problemas.

    - Estdio Operatrio-formal, dos 11 aos 16 anos, o pensamento alargado: ao

    domnio do possvel; ao mundo das ideias , para alm da realidade concreta abrange a

    perspectiva dos outros, para alm de si prprio. Durante a resoluo de problemas, este ocorre

    de acordo com um plano de testagem de hipteses. (Sprinthall e Spinthall, 1994).

    Cada estdio bastante extenso, tendo cada um subcategorias. O estdio principal

    um sistema de pensamento qualitativamente diferente do antecedente, constituindo uma

    transformao fundamental dos processos de pensamento, em comparao com o anterior, ou

    seja, um importante avano para o conhecimento. De acordo com Piaget (in Sprinthall e

    Sprinthall, 1994) cada criana deve atravessar cada estdio segundo uma sequncia regular,

    sendo impossvel saltar um estdio de desenvolvimento, uma vez que estes, seguem uma

    sequncia invarivel.

    As crianas no podem superar um atraso de desenvolvimento, nem acelerar o seu

    movimento de um estdio para o seguinte, pois nesta concepo, a aprendizagem s ocorre

    mediante a consolidao das estruturas de pensamento, portanto d-se sempre aps a

    consolidao do esquema que a suporta, da mesma forma, a passagem de um estdio para o

    outro estar dependente da consolidao e superao do anterior.

    Investigaes posteriores confirmam a sequncia proposta por Piaget, embora o

    perodo de tempo dos estdios possa variar e os perodos de transio, entre os mesmo, sejam

    mais longos e flexveis do que o previsto. Cada estdio apesar de ter esquemas dominantes

    que descrevem consistentemente a forma como a criana processa a experincia, esta

    manifesta elementos cognitivos do estgio seguinte como do precedente.

    Ao termos em conta a noo de discalculia supramencionada e a descrio feita por

    Piaget em relao ao Estdio Operatrio-concreto, poderemos facilmente relacion-los, uma

    vez que, neste estdio que as crianas constroem o conceito de nmero e quantidade. Apesar

    do seu pensamento lgico estar ligado a conceitos concretos, este fundamental para o

    desenvolvimento da capacidade aritmtica. Se uma criana apresentar dificuldades em termos

    de Discalculia ter muitas dificuldades na resoluo de problemas aritmticos, estando o seu

    problema acadmico comprometido.

  • 27

    2.10- DAE na Matemtica: Acalculia/ Discalculia do desenvolvimento

    A matemtica utiliza um sistema de linguagem prpria alm da lngua materna dos

    indivduos. Esta linguagem utiliza smbolos prprios, algarismos e at letras. No entanto

    existem algumas semelhanas no modo como se processa a leitura e a aritmtica, uma vez que

    ambos substituem conceitos e obedecem a regras para uma devida utilizao (Kirk, 1993, in

    Citoller, 1996). Neste sentido, um aluno que manifeste dificuldades a nvel da linguagem,

    poder tambm revelar igualmente dificuldades na matemtica, a nvel do clculo e no s.

    O objectivo principal na matemtica, a nvel do 1 ciclo, trata-se de desenvolver as

    capacidades das crianas para a resoluo de problemas e utilizao correcta dos seus

    conceitos de modo a desenvolver nos alunos capacidades para se tornarem cidados activos

    no seu quotidiano. Para isso necessrio que os alunos aprendam a efectuar clculos com as

    quatro operaes, entendam as noes geomtricas e as unidades de medida, visto que estas

    competncias bsicas, so um suporte necessrio posterior aquisio de novos

    conhecimentos mais complicados (Citoller, 1996).

    Desta forma constata-se que a aprendizagem da matemtica ocorre de uma forma lenta

    e progressiva, de modo a que os conhecimentos se integrem de uma forma parcial e gradual

    permitindo aos alunos adquirirem uma competncia global. Mas esta aquisio nem sempre

    conseguida, por diversos motivos. Algumas crianas assim que entram na escola, revelam

    problemas de aprendizagem na matemtica, relacionadas desde logo com o clculo,

    utilizando-se o termo Discalculia em situaes muito graves.

    De acordo com diversos autores, sabe-se que, desde que nascemos o crebro humano

    est preparado para realizar operaes bsicas de matemtica. No entanto, alguns indivduos

    logo nascena, podem manifestar dificuldades nessa capacidade, ou ento poder a vir sofrer

    leses cerebrais.

    Para OHare (1991) (citado por Bastos in, Transtornos da Aprendizagem, p.203) os

    hemisfrios quando comprometidos desencadeiam quadros clnicos diferentes. Assim no:

    - Hemisfrio direito inabilidade em conceituar quantidades numricas, preservar o reconhecimento e produo dos smbolos numricos, podendo haver associao com

    incoordenao da mo esquerda, dispraxia construtiva, pobre orientao espacial e perda da

    melodia normal da fala (disprosdia).

  • 28

    - Hemisfrio esquerdo- inabilidade para reconhecer e produzir nmeros e smbolos

    operacionais, preservando o conceito de quantidade numrica. Existe comprometimento em

    clculo, consequente falta de habilidade em montar sequncias de nmeros, memria auditiva

    de curto prazo comprometida, podendo ainda apresentar desorientao direita-esquerda, agnosia

    para dedos e dislexia.

    No entanto, se um indivduo adquire a tcnica de executar clculos e desenvolver o

    raciocnio aritmtico e acaba por a perder, devido a leso, diz-se que estamos perante uma

    acalculia. Hecaen (1961) (in Transtornos da aprendizagem), divide esta dificuldade em trs

    tipos:

    Alexia e agrafia para os nmeros dificuldade na leitura e escrita de quantidades, originado por comprometimento do hemisfrio cerebral esquerdo;

    Acalculia espacial- dificuldade na orientao espacial, sendo impossvel colocar os nmeros

    nas posies adequadas para realizar as operaes, originado por comprometimento do

    hemisfrio direito;

    Anaritmia uma acalculia primria, que implica uma inabilidade em conduzir operaes aritmticas, resultante das leses de ambos os hemisfrios.

    Por seu lado, a discalculia, deriva de uma evoluo ou desenvolvimento, e est ligada

    s dificuldades de aprendizagem da matemtica (Deao, 2000; Garca, 1995 in Cruz, 2009,

    p.208).

    Na perspectiva da Academia Americana de Psiquiatria (in Bastos, 2006, in

    Transtornos da Aprendizagem, p. 202), a discalculia do desenvolvimento, uma:

    Dificuldade na aprendizagem da matemtica, com falhas para adquirir proficincia adequada neste domnio cognitivo, a despeito da inteligncia normal, oportunidade escolar, estabilidade

    emocional e motivao necessria.

    Cruz (2009, p. 210), sintetizando vrias definies ocorridas ao logo dos anos,

    menciona que:

    discalculia ou discalculia de desenvolvimento, se refere a um transtorno estrutural (ou seja, disfuno neurolgica) de maturao das habilidades das matemticas, que est presente,

    sobretudo, nas crianas e que se manifesta por dificuldades na realizao do processamento dos

    nmeros, no clculo aritmtico e na resoluo de problemas.

  • 29

    Monedero (1989, in Cruz, 2009) afirma que existem diversos tipos de discalculias, de

    acordo com as alteraes que acontecem e comprometem os meios neuropsicolgicos com as

    vrias aces numricas. Ou seja, causas que derivam de dfices de: leitura, imaginao

    espacial, neurolgicas,

    Deste modo, existem vrias classificaes para a discalculia, sendo a mais tradicional

    a de Kosc (1974, in Garcia, 1995, in Cruz, 2009, p.211), assentando em seis subtipos que

    podem surgir em separado ou em conjunto:

    - Discalculia verbal descreve uma dificuldade em entender conceitos matemticos e relaes apresentadas oralmente e para nomear as quantidades, os nmeros, os termos, os smbolos e as

    relaes matemticas;

    - Discalculia practognsica um transtorno que cria dificuldades na enumerao, comparao (tamanho, quantidade, etc) e manipulao de objectos matemticos, reais ou em

    imagens;

    - Discalculia lxica descreve as dificuldades em ler nmeros ou smbolos matemticos;

    - Discalculia grfica descreve as dificuldades em escrever smbolos matemticos, ou seja, a criana no capaz de copiar nmeros ou de escrever nmeros ditados;

    - Discalculia ideognsica refere-se s dificuldades na compreenso dos conceitos matemticos e das suas relaes, bem como para fazer clculos (operaes) mentais;

    - Discalculia operacional descreve as dificuldades em realizar as operaes matemticas e os clculos numricos requeridos.

    2.11- Como se poder manifestar a Discalculia?

    De acordo com Bastos, J. (2006, in Transtornos da aprendizagem, p.202) os sintomas

    mais frequentes so:

    1- Erro na formao dos nmeros, invertendo-os;

    2- Dislexia (mas nem todos os dislxicos tem discalculia);

    3- Dificuldade em operar com somas simples;

    4- Dificuldade em reconhecer os sinais das operaes e usar as separaes lineares;

    5- Dificuldade na leitura correcta de nmeros com diversos dgitos;

    6- Memria pobre para fatos numricos bsicos;

    7- Dificuldades em transportar nmeros para o local adequado na realizao de clculos;

    8- Ordenao e espaamentos inapropriados nas multiplicaes e divises.

  • 30

    Casas (1988, in Cruz 2009, p.212-214) afirma que nos alunos com Discalculia

    poderemos encontrar os seguintes problemas:

    - Dificuldades na identificao de nmeros - relacionado com a parte visual (reconhecer e discriminar vrias formas, de modo a ter uma ideia do objecto e entender a sua orientao no

    espao) e a parte auditiva (relacionar o smbolo ao respectivo som, que se ouve ou se pronuncia)

    Os nmeros que geram mais confuses na leitura so: o 2 e o 5, o 6 e o 9; na escrita so: o 2, o 3o 4, o 5, o 6 e o 7;

    - Incapacidade para estabelecer uma correspondncia recproca dificuldade na contagem de objectos e relacion-los com o respectivo smbolo numrico, isto associar o smbolo

    respectiva quantidade e vice versa.

    - Escassa habilidade para contar de modo compreensivo os dfices de memria originam problemas na contagem e na colocao dos nmeros na ordem correcta, ou no se lembram de

    todos e saltam nmeros, ou na mudana de uma dezena para a outra, ou na ordem que os

    elementos ocupam num conjunto, no associando a posio com uma ordem.

    - Dificuldades na compreenso de conjuntos perceber o conceito de conjunto implica dominar os conceitos: grande, pequeno, mais, menos, e que para se pertencer a um grupo tem que ter caractersticas comuns. A propriedade de nmeros implica saber comparar dois ou mais conjuntos, percebendo se tem o mesmo nmero de elementos, sendo equivalentes ou se no

    tm um ser maior que outro.

    - Dificuldades na conservao perceber que o valor de uma quantidade se mantm, mesmo que mude a forma ou disposio; ex: 8 tem o mesmo valor que 5+3 ou 6+2. A nvel da adio ou

    multiplicao importante perceber que estas so comutativas, isto , se alterarmos a ordem s

    parcelas ou aos factores o resultado mantm-se.

    - Dificuldades em entender o valor segundo a ubiquao de um nmero perceber que os algarismos podem ocupar ordens diferentes dentro de uma classe, mas isso altera o valor dos

    nmeros, tornando-os diferentes. Ex. 657, 765, 567,

    - Dificuldades na compreenso do conceito de medida cria obstculos na realizao de estimativas.

    - Dificuldades nos clculos os dfices que apresentam os discalclicos, tornam a aprendizagem dos clculos difceis. comum verificar erros ao nvel da direco e no espao

    entre os nmeros, cpia de enunciados,

    - Dificuldades em aprender a dizer a hora estas dificuldades resultam da distino entre os ponteiros das horas e dos minutos, outras s conseguem dizer as horas certas e as meias horas,

    mas tm imensa dificuldade nas horas intermdias.

    - Dificuldades na compreenso do valor das moedas ligadas conservao da quantidade, ex: 5 moedas de 2 cntimos igual a 10 cntimos).

    - Dificuldades em compreender a linguagem matemtica e dos smbolos Ex: -, +, x, , ,

    - Dificuldades na resoluo de problemas orais derivam de dfices de descodificao e compreenso do processo de leitura originando incorreces ao nvel da interpretao. Tambm

    o uso frequente de dados desnecessrios, a linguagem muito elaborada, so apontados como barreiras para a aprendizagem dos alunos.

  • 31

    2.12- Como diagnosticar?

    Em primeiro lugar ter que se mudar a perspectiva dos professores e dar-lhes

    formao na rea das dificuldades de aprendizagem em matemtica, no sentido de se verificar,

    que nem sempre, as dificuldades que os alunos manifestam em aprender matemtica, esto

    relacionadas com a falta de empenho dos alunos e ou acompanhamento destes, da parte dos

    encarregados de educao. Segundo ser igualmente importante efectuar um diagnstico, por

    parte de uma equipa multidisciplinar. Este diagnstico no dever ser aplicado a alunos com

    dificuldades de aprendizagem ligadas deficincia mental, problemas emocionais, e outros

    problemas mdicos. (Bastos, 2006, p.204, in Transtornos da Aprendizagem).

    2.13- Estratgias para reabilitao

    A distino de O`Hare permite definir diferentes solues para cada caso, ao nvel da

    reabilitao. Nas dificuldades relacionadas com o hemisfrio direito deve-se usar actividades

    como grficos e treinos de orientao espacial e o software Maths Magic disponvel na

    internet. Para as dificuldades do hemisfrio cerebral esquerdo sugere actividades com reforo

    verbal e o software Maths Talk.

    Wilson (1996, in Transtornos da Aprendizagem, p.204) no seu estudo demonstrou que

    apesar da ajuda do software, os resultados dos alunos so superiores quando h interveno do

    professor.

    Casas (1998, in Cruz 2009, p.216-217) defende duas directivas a proceder: Um plano

    teraputico que v de encontro aos resultados do diagnstico, com os objectivos e instrues

    adequados ao nvel de desempenho de cada aluno, valorizando as reas fortes e fracas.

    Nos objectivos e instrues, devem estar implcitos, o modo como e quando se

    atingem, devendo por isso conter trs requisitos:

    - As aces/ actividades que se devero realizar para atingir os objectivos;

    - A circunstncia em que se pode realizar os elementos anteriores;

    - Os critrios de avaliao a seguir para as execues.

  • 32

    O outro aspecto a valorizar verificar quais as sub-habilidades necessrias para

    realizar uma funo, permitindo uma interveno mais precisa nas habilidades bsicas que

    originam as falhas aos alunos. Como exemplo para a soma de dois nmeros so necessrias

    seis habilidades:

    - Saber dizer os nmeros automaticamente;

    - Fazer contagem at 9, a partir de qualquer nmero;

    - Saber o valor numrico de qualquer numeral (e.g., II = 2);

    - Determinar/ identificar a correspondncia entre os nmeros e o seu

    nome (e.g., quatro = 4);

    - Calcular a soma de uma coluna de nmeros com um algarismo;

    - Denominar e inserir na resposta o numeral correcto.

    Se na tarefa analisarmos as habilidades de aprendizagem desenvolvimentais,

    permitir transmitir estratgias mais adequadas na transmisso dos novos contedos e

    identificar os meios que possam vir a facilitar as aprendizagens.

    Para Bastos (2006, p. 204, in Transtornos da Aprendizagem), uma interveno

    correcta em discalculia implica que os alunos tenham:

    uma noo de nmero elementar de 0 a 9 (habilidade lxica); a produo de novos nmeros (habilidade sintctica); noes de ordem, tamanho, espao, distncia, hierarquia; clculos com as

    quatro operaes e o raciocnio matemtico forem trabalhados, primeiramente como experincias

    no verbais significativas

    Os alunos s tero sucesso aritmtico mental depois te terem ultrapassado todas as

    etapas anteriormente enumeradas.

    Para as actividades de percepo visoespacial necessrio trabalhar a percepo de

    figuras e formas, observar detalhes, semelhanas e diferenas e relacionar com o seu

    quotidiano, como os factos, imagens, tamanho, largura e espessura, s depois trabalhar com

    nmeros, letras e figuras geomtricas.

    Para finalizar, referir que igualmente importante a orientao do processo educativo,

    iniciando as aulas relembrando os contedos abordados anteriormente, propor actividades

    ligadas ao quotidiano dos alunos, que os levem a procurar solues, explorar padres, e

  • 33

    formular conjecturas (Schoenfel, 1992 in Cruz 2009, p. 218), com orientaes do professor

    sempre que surjam dificuldades, pensando em voz alta sobre os passos a dar e a justific-los,

    evitando deste modo os exerccios rotineiros de memorizao.

    2.14- Ensino/ aprendizagem da matemtica

    De acordo com Citoler, (1996), a ensino-aprendizagem da matemtica organiza-se em

    torno de sete concepes:

    - a) Conhecimentos prvios.

    Os conhecimentos que os alunos possuem sobre determinado assunto, so muito

    importantes uma vez que facilitam a aquisio e compreenso de novos conhecimentos. Os

    contedos a ensinar devero partir das vivncias e experincias que os alunos j possuem e

    depois relaciona-los aos conhecimentos que se pretendem transmitir aos alunos.

    - b) Aquisio de conhecimentos matemticos.

    Os alunos s conseguem adquirir conhecimentos se beneficiarem duma aprendizagem

    activa e no apenas passiva. Cabe ao aluno interagir sucessivamente na fase da aprendizagem,

    efectuando elaboraes e reestruturaes de modo a conseguir desenvolver representaes

    cognitivas para a percepo e interiorizao dos conhecimentos.

    - c) Identificao de diferentes tipos de conhecimento.

    O Conhecimento Informativo transmite os conceitos matemticos, desenvolvendo a

    memorizao.

    O Conhecimento Processual, permite desenvolver as capacidades que levam os alunos

    a adquirir e aplicar estratgias necessrias de resoluo.

  • 34

    - d) Domnio dos procedimentos.

    Possuir a capacidade de aplicar os procedimentos necessrios adequados s situaes,

    permite uma boa consolidao de competncias, no entanto, necessrio tal como acontece

    nas operaes matemticas bsicas, libertar recursos cognitivos que sero utilizadas nas

    operaes de ordem superior, como acontece na leitura e na escrita.

    - e) Aquisio de competncias matemticas.

    Possuir as competncias matemticas facilita o desenvolvimento de estratgias

    adequadas numa grande diversidade de contextos e situaes, possuindo assim uma estrutura

    de conhecimentos funcionais e interrelacionados.

    -f) Aspectos metacognitivos.

    Os aspectos metacognitivos facilitam a orientao e o autodomnio da actividade, da

    que sejam processos cognitivos de muita importncia.

    - g) Anlise dos erros sistemticos.

    uma anlise muito importante na compreenso dos processos e estratgias de

    pensamentos dos alunos, pois quando as regras ou estratgias esto incorrectas e originam

    m