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Trabalhadores invisíveis

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Suplemento produzido para a disciplina de Jornalismo Impresso II, 2011, do curso de Jornalismo da Unesp, câmpus Bauru, sob a orientação do Prof. Dr. Angelo Sottovia Aranha

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Ver, reconhecer e valorizarMuitas vezes o próprio profissional não reconhece a importância de seu trabalho,

e se torna invisível para ele mesmo

Mariana Thomaz

Invisível é tudo aquilo que não se vê ou não pode ser visto. Logo, quando definimos uma classe de

trabalhadores como invisí-vel, temos que ter em mente esses dois aspectos. Existem aqueles que estão “camufla-dos” no ambiente, fazem parte da paisagem urbana e muitas vezes se passa por eles sem se dar conta de sua presença. Assim acontece com os garis, jardineiros, faxineiros, cartei-ros, gandulas, enfim, aqueles profissionais que são essen-ciais no funcionamento da sociedade, mas nem sempre são reconhecidos como tal.

Outro tipo de invisibili-dade é a daqueles trabalha-dores que não se pode ver, ou porque a profissão não possibilita essa aparição ou porque aparecer vai contra as regras do profissionalismo, como é o caso dos dublês, atendentes de telema-rketing, contra-regras, dubladores e locutores.

A pesquisa do psicólogo Fernando Braga, que se pas-sou por gari por oito anos para entender o tema da in-visibilidade social, é muito pertinente para que se en-tenda a realidade dos tra-balhadores invisíveis. É o que explica o professor e especialista em psico-logia do trabalho, Di-nael Corrêa de Campos: “essa pesquisa nos evi-dencia um outro aspecto, revela que devemos repensar as políticas dentro das organi-zações, as formas como as pes-soas são vistas e qual seu pa-pel no conjunto da empresa”.

Um dos problemas mais graves da invisibilidade é a banalização do pro-

fissional e conseqüente des-personalização. O professor Dinael cita o exemplo de uma universidade onde o uni-forme das faxineiras era da mesma cor do carpete dos corredores: “elas mesmas

ressaltaram esse pon-to quando uma equipe de alunos foi fazer um trabalho de psicologia

do trabalho, ou seja, elas consideravam seu traba-

lho tão insignificante quan-to o carpete, o que configura um problema muito grave na organização do trabalho”.

A invisibilidade está mui-to associada ao reconheci-

mento do trabalho, não só pelas outras pesso-

as, mas pelo

próprio profissional. “Acho que o principal fator do tra-balho invisível é fazer a pes-soa se enxergar como um trabalhador fundamental, e também o que nós podemos fazer para que essa pessoa va-lorize seu próprio trabalho. Os trabalhadores invisíveis não são vistos e eles, muitas vezes, também não conse-guem se ver”, explica Dinael.

Uma solução possível para minimizar os efeitos da desva-lorização e da falta de reconhe-cimento é abrir espaço para que o trabalhador se expresse, daí vem a necessidade de uma ação de desenvolvimento de pessoas. “Abrir o espaço da palavra, possibilitar interações entre os trabalhadores, fazer o acompanhamento constante e personalizado, são algumas das alternativas que fazem o

profissional se sentir útil, de ele próprio reconhe-cer a importância da sua atuação”, conclui o psicólogo Dinael.

Projeção que alegra a vida

Profissão e paixão se misturam por trás da telona.

Luciana Arraes

Já se passaram mais de cem anos desde a in-venção do cinema pelos irmãos Lumière e a séti-

ma arte continua apaixonan-do as pessoas pelo mundo.

O projetista de cinema Ri-cardo Aparecido Domingues, 33, diz que sua relação com o cinema foi amor à primeira vista. “Desde a primeira vez que eu entrei em uma sala

de cinema fiquei apaixonado, eu queria muito saber como e de onde vinha a imagem que aparecia na-

quela tela”, lembra o projetista.Hoje, com 14 anos de pro-

fissão, Ricardo agradece ao amigo que lhe deu a oportu-nidade de começar a apren-der a fazer aquilo que, desde então, é sua paixão e sustento. Ele aprendeu a manipular as máquinas com os antigos ope-radores do Cine Bauru. Para aprender a profissão hoje em dia, Ricardo afirma ser bem complicado. Só se aprende com os próprios projetistas, normalmente em final de car-reira, e eles permanecem em um mesmo cinema durante toda a vida, portanto as vagas

na área são escassas. “Por ser um serviço tranquilo, gostoso de fazer, os operadores enve-lhecem passando os filmes.

Quem começa é difícil pa-rar pra ir fazer outra coisa”, conta Ricardo, que muitas ve-zes só vê pedaços dos filmes, porque precisa verificar o an-damento das fitas em mais de uma sala. “A gente chega, coloca o filme, fica olhan-do pra ver se está rodando tudo certinho, depois vai ver se os das outras salas tam-bém estão rodando, aí, no fi-nal, rebobina. Dificilmente a gente consegue ver o filme inteiro, porque tem que pres-tar atenção em todos”, explica.

Ricardo já se acostumou com as crianças curiosas olhando, colocando a mão no vidro, querendo saber o que ele faz lá dentro, “isso faz parte da curiosidade delas, eu mesmo, quando era criança, tinha muita vontade de co-nhecer a projeção”, comenta. Ele ainda afirma gostar de não ter ninguém o vendo; “acho bacana isso de ficar escon-dido, lá é tranquilo, não tem

ninguém pegando no seu pé. Às vezes, ficamos muito sozi-nhos, mas eu gosto, e normal-mente trabalhamos em dois, então não tem esse problema”.

Os filmes em película che-gam ao cinema em sete rolos, ou até em dez quando é um fil-me de grande duração, como nos casos de Harry Potter e Se-nhor dos Anéis. Ao chegar um filme novo, o projetista junta todos os rolos trans-formando os sete em apenas um e o coloca na roda de projeção.

No caso de duas salas passarem o mesmo o filme ao mesmo tempo, é feito um corte na pelícu-la, “a gente tem que ficar prestando aten-ção pra trocar o rolo na hora exata e sair tudo certo”, afirma entusiasmado, “essa é a hora de maior adre-nalina”, completa.O projetista, fã do Jim Carrey e amante de comédia e de ação, teme o fim do ofício,

mas não agora. “Aqui no cine-ma só tem uma máquina to-talmente digital, que é a de 3D, todas as outras são de película e nós temos que operar. Mas o perigo da extinção não tá nem na digitalização, é que parece que o número de cinemas está diminuindo. Em Bauru, nós só temos no shopping e no Ala-meda, antigamente acho que tinha mais”, acredita Ricardo.

Projetor do cinema Multiplex Cine Araújo

Luciana Arraes

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Arriscando a vida sem serem reconhecidos

Duas profissões invisíveis, a dos cameramen, que tudo vêem e mostram, e a dos dublês, que aparecem em cena com outra identidade

Mariana Thomaz

Apesar de não ser necessária como pré-requisito, a coragem é fundamental no trabalho de Senna

Estar em frente às câ-meras e em cima dos palcos, para muitos, essa é a vida daqueles

que estão envolvidos no mun-do das artes, como os atores e grandes estrelas da TV. Mas, para que esse universo esteja cheio de sua mágica, há inúme-ros profissionais envolvidos, muitos dos quais, invisíveis. Por exemplo, nos espetácu-los teatrais, os contrarregras possibilitam as mudanças de cenários e as entradas de obje-tos no palco. já no cinema e na TV, os cameramen dão o olhar e a angulação que nós teremos ao assistir a obra audiovisual.

José Américo Nicolin é hoje técnico de áudio nos laboratórios de Rádio da Unesp-Bauru, mas atuou como cameraman por mui-tos anos nessa universida-de. Érico, como é conhecido, diz que a “invisibilidade” é parte da profissão, e foi essa característica que o atraiu: “Eu sempre fui tímido, então quando escolhi trabalhar em TV, nunca foi para aparecer, mas sim estar na organização, produção, edição e filmagem”.

Apesar de nunca ser vis-to, e sim ser o olhar por trás da imagem, o profissional das câmeras é valorizado pe-los “artistas” com quem tra-balha e também apresentado aos telespectadores. “Todo cinegrafista é creditado nas matérias, então o profissional tem o nome dele envolvido com o projeto, e isso permite que ele seja muito valoriza-do, muitas vezes até mais que um editor de imagem”, acres-centa Érico. Nicolin também ressalta o relacionamento do cinegrafista com os repórte-res: “o cameraman é 50% da reportagem, ele é responsá-vel por passar para o público, com imagens, o que o repór-ter está pensando e falando, por isso é muito importante que esses dois profissionais conversem antes de fazerem a

matéria, que eles estejam em sintonia”. “Angulação, enqua-dramento, o câmera tem que ter o feeling da imagem que vai ser usada”, conclui Érico.

Outra profissão artística que está ligada à invisibilidade é a dos dublês. Apesar desses profissionais serem vistos, sua identidade não pode ser reco-nhecida, sempre que eles apa-recem em cena, é para subs-tituir outra pessoa, como nas cenas perigosas, ou em qual-quer outro caso em que o ar-tista não pode executar a cena.

Airton Senna é consultor de segurança e dono de uma empresa carioca de dublês que tem mais de 20 anos de ex-periência no mercado. Senna afirma que não é necessário nenhum pré-requisito para atuar na profissão: “é preciso gostar muito de ação e enten-der que a perfeição só che-ga com muito treinamento”.

Senna diz que as empre-sas valorizam o profissional, reconhece os perigos da pro-fissão. E explica: “em muitas cenas, o dublê, sim, aparece, mas ele está ali substituindo um ator ou uma atriz. Quan-to mais discreta e sutil for sua participação e quanto mais verdade o dublê passar em cena, melhor será o resulta-do. É justamente essa sutileza e o fato de passar desperce-bido que proporcionam o re-conhecimento e a valoriza-ção do trabalho de um dublê.

Senna afirma que o pú-blico não reconhece o traba-lho do dublê, já que a essên-cia de seu trabalho é não ser visto ou reconhecido. “O pú-blico não reconhece o nosso trabalho, simplesmente por-que não nos reconhecem em cena. Em cena, o que vêem são os atores ou atrizes. É isso o que me deixa mais feliz, é ter a certeza de que conse-guimos nos passar pelos ato-res principais, de que conse-guimos deixar imperceptível nossa participação”, conclui.

divulgação: Senna em cena

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Telemarketing ganha espaço nas empresas

Simpatia, calma e raciocínio rápido são essenciais para quem atua na profissão

O mercado de tra-balho na área de te l e m a r k e t i ng passou por um

crescimento bastante ace-lerado e ainda está em pro-cesso expansão. O aumento da competitividade faz com que as empresas invistam em serviços cada vez mais personalizados e eficazes, e para isso os operadores de telemarketing necessitam de maior preparo, atuali-zação constante e especia-lização para se destacarem.

O operador de telema-rketing pode atuar em qual-quer área, estabelecendo a comunicação entre a em-presa e o cliente. As funções também variam. O opera-dor oferece um produto ou serviço, consolida vendas, registra e fornece informa-ções, sana dúvidas, resolve problemas e recebe críticas ou elogios. Sua função é es-sencial à boa imagem da empresa. O telemarketing é feito por empresas especiali-zadas de divulgação e orien-tação aos clientes, em espa-ços chamados de call centers

Para Anaid Alvarez, que foi atendente de telemarke-ting por dois anos e meio, a maior satisfação em seu trabalho era conviver com pessoas, estabelecer rela-ções com elas e ajudá-las. Anaid afirma que chegava a falar com oitenta, noven-ta pessoas por dia. Como seu trabalho era no ramo de eletricidade, o movimento era ainda maior em dias de chuva forte ou tempestade. “É gratificante poder ajudar as pessoas, ainda que elas não estejam me vendo, e eu não saiba mais do que seus nomes. É uma ação que não espera nada em troca, não há reconhecimento pesso-

al, mas faz você se sentir bem”, explica Anaid.

Para ingres-sar na carreira, Anaid enfren-

tou um mês de treinamento específico sobre atendimen-to e detalhes sobre o funcio-namento da empresa. Sua carga horária de trabalho era de oito horas, durante cinco dias por semana. Se-gundo ela, as qualidades in-dispensáveis para um ope-rador de telemarketing são simpatia, raciocínio rápido e paciência. Esta última é fundamental, visto que na profissão é necessário lidar com problemas de compor-tamento humano, o fator número um para o desenvol-vimento do estresse; “mui-tas vezes o cliente se irrita e acaba gritando com você, e você precisa manter a calma para não discutir com ele. Saber lidar com situações adversas é essencial para quem trabalha nessa área”.

O jeito de falar de desconhecidos mexe muito com nossos sentidos e imaginação. Digo isso, porque diariamente nós criamos personagens em nos-

sa mente a partir da fala de um atendente de telemarketing, um locutor de rádio ou até mesmo de uma pessoa que ligou por engano. Existem muitos profissionais que são conhe-cidos apenas por sua fala. Quem nunca imaginou o rosto e as expressões de uma voz que nos presta algum serviço?

No dia 19 de setembro, pude conhecer uma pessoa que havia visto somente pela fala. Fiquei encarregada de pro-curar o locutor Pedro Norberto Nascimento e a primei-ra etapa foi ligar para marcar uma entrevista. Aguardei na linha enquanto o jovem que atendeu o chamava (su-pus ser jovem pela voz que escutei). Em menos de um mi-nuto, uma voz grave e pausada entrou na linha e marcou uma conversa comigo. Quando desliguei o telefone, eu já sabia como era o Pedro Norberto. Ou achava que sabia...

Não tive vontade de procurar a foto do locutor na In-ternet. Queria ver pessoalmente se a imagem que eu havia criado estava correta. Cheguei ao local combinado e fui surpreendida. O homem barrigudo, de estatura mediana e cabelos grisalhos que eu esperava encontrar era na ver-dade alto, magro, com cabelos castanhos escuros e ócu-los discretos. Iniciamos a entrevista e descobri que Pedro

Norberto nasceu na cidade de Arealva e veio para Bauru com um ano e meio de idade. Ele prestou dois vestibula-res para Medicina antes de optar pelo Jornalismo. Acredi-tava que “como médico poderia ajudar mais as pessoas”.

Seu primeiro registro de trabalho foi em 1973 na Rá-dio Auri Verde, onde permaneceu por 20 anos. Trabalhou 11 anos na antiga Rede Globo Oeste Paulista Bauru (a atual TVTem) e ajudou a fundar a Rádio 94FM e a Rádio Unesp FM. Pedro também trabalhou em impresso e televisão, mas foi no rádio que encontrou estabilidade e o gosto pela lo-cução. Ele disse que no começo as pessoas não acreditavam que ele seria um bom locutor, mas eu tinha certeza que es-tava ouvindo uma voz que naturalmente poderia me infor-mar as notícias da cidade, a previsão do tempo e qual time havia ganhado o jogo do dia anterior. “Foram a prática e o exercício que fizeram com que eu me aperfeiçoasse”, revelou.

Perguntei sobre o anonimato do locutor, se as pesso-as tinham vontade de conhecer a voz que ouviam pelo rá-dio e se ele gostava do contato com o público. Pedro res-pondeu: “Acho que o bonito do rádio é que a pessoa ouve, imagina alguém. Mas muitas vezes ela se engana”. Foi o meu caso. Para ele, o interesse do público em conhecê-lo é gra-tificante, mostra que o seu trabalho desperta a atenção do ouvinte e está sendo bem executado. “Não gosto de ser fo-tografado”, me disse em seguida com um sorriso contido.

Finalizei a entrevista perguntando se tinha valido a pena seguir a carreira de jornalista e locutor, se ele se arrependia de não ter se tornado médico. Pedro Norberto afirmou que o rádio permite fazer uma ponte de ligação entre as pesso-as e ajudá-las a resolver seus problemas, como ele acredita-va ser possível com a Medicina. “O rádio é uma porta que você pode abrir e contribuir muito em favor das causas da sociedade. Criticando, sendo intermediário de um ouvin-te...Você sempre tem uma oportunidade de contribuir para que haja justiça social”, concluiu. Agradeci a atenção e nos despedimos. Foi bom conhecer a verdadeira face da voz.

Beatriz Haga

C r ô n i c a

Faces de uma voz

Mariana Duré

Mariana D

uré

Atendentes de telemarketing usam sua voz para convencer clientes

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Você já ouviu falar em Lia Wyler? E em J. K. Rowling? Se você só re-

conhece a escritora da saga Harry Potter, saiba que as aventuras do bruxo só chega-ram até você graças a Wyler, a tradutora oficial dos livros de Rowling para o português.

“As pessoas falam ‘ah, mas traduzir é só pegar o dicioná-rio, é rapidinho’. Acham que realmente é pegar um dicio-nário e transcrever, copiar e colar”, critica Alexandre Ca-chucho, professor de inglês, tradutor e defensor do traba-lho duro que os especialistas em traduzir de uma língua para outra encaram todos os dias para permitir que o bra-sileiro leia, assista e compre-enda materiais estrangeiros.

Por trás de toda tradução existe muita pesquisa e estu-do, por isso muitos escolhem a graduação em Tradução para apreender a técnica. Alexan-dre, se formou em 2009 pela Universidade do Sagrado Co-ração em Bauru, e escolheu a carreira por causa da sua pai-xão pela Língua Inglesa. Ape-sar disso, Alexandre vê muitas dificuldades na profissição, por causa do desconhecimen-

to das pessoas sobre a com-plexidade de uma tradução. O trabalho do tradutor é passar para outra língua o mesmo sentido e emoção do autor, ser fiel ao original acima de tudo. Se for um texto literário, tem que ler sobre o autor, suas obras e descobrir qual é o seu estilo; se é algo audiovisual, como um filme, ele deve assis-tir mais de uma vez para cap-tar a idéia central e escrever a legenda. “Muitos falam que ‘a legenda está errada, não tem nada a ver com o que o perso-nagem está falando’, mas você só pode colocar 66 caracteres em duas linhas, que só podem ficar na tela por seis segundos. Então você tem 33 caracteres e 3 segundos para condensar aquela fala”, explica Alexandre.

Acreditando que ser algo simples, o cliente muitas ve-zes não aceita o valor cobrado. Para Alexandre, o maior pro-blema são outros profissionais que sabem falar outro idioma e fazem traduções por preços mais em conta. Mas defen-de que “o curso de tradução é recente e também existem pessoas que traduzem há mais de 30 anos; a prática os fez profissionais. Se você for bom, sempre vai ter trabalho”.

Os tradutores podem tra-balhar por conta própria ou serem agenciados por empre-sas especializadas em tradu-ção. Trabalhando como autô-nomo, o ganho é maior, afinal não se divide o valor recebido com a empresa, mas cons-truir um nome leva tempo.

A parte mais complicada da área é a tradução simultâ-nea de eventos ao vivo, como as transmissões do Oscar, considera Alexandre. Como muita coisa é improvisada, o tradutor tem que ter um óti-mo raciocínio para traduzir com rapidez, e em casos de trocadilhos ou piadas, tem que pensar em algo equivalen-te na outra língua para tradu-zir e alcançar o mesmo efeito de humor. Além disso, encara diferentes tons de vozes, rit-mos de fala e sotaques. “O tradutor precisa estar muito focado e ter uma habilidade cognitiva alta, porque ele está usando duas línguas ao mes-mo tempo”, explica Alexandre.

Ficando em segundo pla-no, o tradutor é um trabalha-dor invisível muitas vezes por opção própria. “Em alguns momentos, ele não pode apa-rentar sua participação. Se eu pego um livro escrito pela

Agatha Christie, eu quero ler Agatha Christie, quero acredi-tar que estou lendo coisas pe-culiares dela que encontrarei em todos os seus livros”, diz Alexandre. Uma das regras da tradução é não deixar que as opiniões e convicções do tradutor apareçam em seu tra-balho final. Para manter essa distância muitos preferem ser invisíveis. Além disso, é finan-ceiramente mais interessante para a editora pagar apenas uma vez por uma tradução e não em todas as re-edições. Se você for uma Lia Wyler, pode definir nos seus termos uma porcentagem para cada re-edição. Mas sendo ape-

nas o tradutor, a pressão das editoras é grande: “esse é o contrato, você quer? Se você não quiser, outros aceitam”.

Alexandre lista as carac-terísticas que fazem um bom tradutor: ter proficiência das línguas que fala, inclusive da materna, ser persistente e ter jogo de cintura, tanto para li-dar com o cliente quanto para escolher as melhores palavras em uma tradução; ser auda-cioso e gostar muito de ler so-bre qualquer assunto. “O tra-dutor tem que saber de tudo um pouco, pois no momento em que ele começa a escre-ver precisa entender do que vai falar”, garante Alexandre.

Oh, no! Eu no falar portuguese!Graças ao tradutor, filmes e livros podem ser apreciados por quem não fala a

língua do autorRegiane Folter

Stephenie Meyer ou Ryta Vinagre? J.R. R. Token ou Almiro Pisetta? O tradutor é invisível, mas os escritores não

Ao andarmos pelas aveni-das dos centros urbanos, ficamos tão abalados com

a grande quantidade de informa-ção vinda de todos os lados que, dificilmente, paramos e repara-mos. Precisa-se muito para cha-mar a atenção da população atual-mente. É no meio desse ambiente que algumas pessoas aceitam tra-balhar como cartazes humanos.

São diversos os motivos que le-vam o cidadão a submeter-se a fazer parte da paisagem. Maria José Silva Basto, de 52 anos trabalha como cartaz humano há mais de 10 anos.

Maria aceitou seguir essa car-reira por gostar de trabalhar com o público. Ela passa o dia andando pela rua com um cartaz que a cobre quase que completamente e tenta chamar a atenção dos que passam, relatando os benefícios que o con-tratante oferece. Segundo Maria, a procura dá resultado: “As pes-soas vêm conversar comigo e me perguntam aonde é o dentista e eu trago eles aqui. É constante isso.

Acontece bastante. Diariamente”.

A cada resultado positivo, Ma-ria ganha sua comissão. Este é normalmente um trabalho tem-porário, feito através de contratos entre empregador e empregado.

A procura pelos cartazes hu-manos aumentu após a aprova-ção da lei que proibe a fixação de outdoors para combater a polui-ção visual. Com isso, a utilização de pessoas se tornou uma saída. Mais cara, porém com resultados.

Além do dentista, Maria trabalha também com cartazes que divulgam letristas, cabeleireiros e até em shop-pings nos finais de semana, fazendo propaganda de joalherias, perfuma-rias, lojas de bijuterias e de celula-res. Enquanto algumas pessoas de-monstram interesse pelo conteúdo do cartaz, outras preferem ignorar.

Ao ser indagada sobre o que di-ria àqueles que a ignoram, Maria responde: “a essas pessoas que me ignoram eu peço desculpas. Eu fico aqui falando ‘dentista, orçamento grátis’. ‘Temos aparelhos e orçamen-tos grátis’. Algumas pessoas falam que eu estou gritando muito no

ouvido delas. É difícil lidar com o público, com os seres humanos em geral. São pessoas muito diferen-tes, cada um tem uma personalida-de. Temos que gostar das pessoas como elas são e não com a gente gostaria que fossem. Temos que res-peitar o lado delas. Mas acredito que o público deveria nos respei-tar mais. Uns vêm com gracinha, outros como piadas. Eles não vêm isso como trabalho. Se você entre-ga o cartão, eles jogam na rua. Eu acabo tendo que catar. A rua é um lugar publico, não podemos sujar”.

Se tornar uma mulher-cartaz não foi sua primeira escolha. Maria era enfermeira. Trabalhou em um hospital em Marília especializado em casos com psicóticos e depen-dentes químicos. Maria desistiu des-se ramo devido a um incidente: “Um dia estava na cozinha servindo o al-moço para os pacientes e eles jogaram uma ban-deja em minha direção. Tive que levar pontos na cabeça e acabei pegando trauma”, conta Maria.Daniela Chiba

Daniela C

hiba

Mariana D

uré

Page 6: Trabalhadores invisíveis

dos motoristas são gratos a eles. “Eu estava em um bar perto de casa e um ra-paz me falou que pagaria meia dúzia de bebidas para mim. Perguntei por que e ele disse: ‘foi você quem socorreu o meu bebê que estava nascendo de ma-drugada, no frio, agora ela já está grande e saudá-vel’, foi muito legal”, conta.

Experiências de um resgate

Alisson Fernando Sil-va Lopes foi resgatado pelo SAMU depois de sofrer um acidente em um jogo de futebol. Alisson teve os dois braços machucados e também o rosto. Segundo ele, a experiência é deses-peradora e agonizante, mas diz ter sido bem atendido:

“Quanto ao tratamento tenho apenas elogios, além de tomarem todos os procedimentos cabí-veis naquele momento uma das enfermeiras procurava me acalmar, conversando e expli-

cando que minha situ-ação não era tão séria”.

Os motoristas da vidaEles levam auxílio e socorrem, mas nem sempre condutores de ambulâncias

são reconhecidos

Lidar com a vida no trabalho diário não é uma atividade fá-cil. E não só médicos

e enfermeiros passam por isso, os motoristas das via-turas do SAMU e ambulân-cias também vivem envolvi-dos nesse “jogo” de vida ou morte. É comum se associar a imagem e o som das sire-nes do SAMU a médicos, enfermeiros e paramédicos. Muitos esquecem que sem motorista nenhuma viatura chega ao local do socorro.

Os motoristas de ambu-lância, ou do SAMU, têm de prestar concurso públi-co para exercerem a pro-fissão. Além disso, fazem atividades relacionadas ao socorro, cursos de primei-ros-socorros e provas, que avaliam seus conhecimen-tos sobre técnicas de salva-mento. Wilson Rodrigues Manso e Cláudio Soares dos Santos são motoristas do SAMU em Bauru. Wil-son exerce a atividade há 26 anos e Cláudio, há três. “Me candidatei para prestar o concurso público, comecei a trabalhar na ambulân-cia e gostei”, conta Wilson.

Segundo os dois moto-ristas, a atividade do SAMU é muito variável, podendo atender de 12 a 13 casos em um dia e em outro não passar de três. Wilson e Cláudio declaram: “é corrido, mas é ótimo, é gratificante traba-lhar socorrendo vidas”.

A profissão de mo-torista de ambulância, muitas vezes, não é reconhecida, as pes-soas acreditam que são os próprios mé-dicos quem dirigem os carros de socorro e por isso acabam por ignorar a im-portância do profis-sional. “Acredito que

falta sim um pouco de re-conhecimento”, declara Cláudio.

“Não somos apenas motoristas, somos mo-toristas socorristas. Aju-damos em muitos casos, quando precisa imobili-zar o paciente, pegamos as bolsas de socorros dentro da viatura, a gente auxilia bastante”, define Wilson.

O SAMU conta com dois tipos de viaturas: em caso de chamados simples, eles mandam a viatura própria para esses chamados, a Su-porte Básico, e dentro dela vai o motorista e, no máxi-mo, dois enfermeiros; em caso de acidentes mais gra-ves, é enviada outra viatura mais complexa, com equi-pamentos como desfibrila-dores, de respiração, entre outros e, além do motorista e dos enfermeiros, vão os médicos. “Caso a gente vá atender um chamado sim-ples, e quando chegamos no local nos deparamos com algo mais grave, a gente liga e o médico vai na ou-tra viatura”, conta Wilson.

Parteiros ocasionais

“Já socorri acidente de colega meu, do meu filho em acidente de moto. Nesses casos é complicado, a gen-te fica meio

baqueado, estraga o dia”, relata o motorista Wilson.

Eles não só atendem ca-sos de acidentes, mas tam-bém partos e o Cláudio conta que chegaram em situações em que o bebê já estava pres-tes a nascer e não deu tem-po de chegar no hospital, o parto foi dentro da viatura. “Já fizemos um parto em um

banco dentro de uma igre-ja. Também teve um caso em que a moça demorou

tanto para se encaminhar ao hospital que, ao subir na viatura, o bebê começou a nascer”, recorda-se Cláudio.

O reencontro com o resgatado

Mesmo com a falta de reconhe-cimento por mui-tos, aqueles que

têm suas vidas ou a de fami-

liares salvas pela ativi-

d a -de

Ana Beatrice Lesur

Sede do SAMU em Bauru, na rua Engenheiro Luiz Edmundo Carrijo Coube.

Ana Beatrice Lesur

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Mortes não explicadas são fonte de trabalho para auxiliar de necropsia

Policial de jaleco e bisturi

A morte é um tema comum, acontece todos os dias, mas nem sempre se está preparado para sua chegada. Arrumar o cadáver e limpar os rastros dei-xados pela morte é um trabalho complexo e pouco se sabe sobre os que cumprem essa tarefa.

Bruno Martinez, de 24 anos, começou a trabalhar no ano passado num grupo fu-nerário chamado Gayosso, no México, que vende pacotes funerários incluindo urnas, serviço funerário, transporte, flores, crematório e salas.

Para ele, antes de trabalhar nesse lugar, a morte só significava o começo de outro caminho que se deve percorrer, mas agora observa a morte de um jeito mais próximo e se dá conta de que está em todo lugar, é algo natural e que se deve aceitar.

“O mais esquisito eram os movimentos involuntários dos mortos diante dos meus olhos devido ao rigor mortis. Numa ocasião, tive que trabalhar como auxiliar de em-balsamador e o corpo puxou meu braço. Ao sentir sua frieza, quase morri de medo, mas são coisas naturais que acontecem nesse trabalho”, confessa Bruno.

Bruno considera que seu trabalho é tão importante quanto os demais, já que ele é encarregado pela última visão de um ser amado frente a sua família. É ele quem ajuda para que a morte não seja tão triste, e não fique a lembrança de uma imagem grotesca. Seu trabalho é fazer com que a pessoa pareça estar dormindo.

Embora poucos conheçam a importância do trabalhador numa funerária, a profissão é tão indispensável como outra qualquer. No México, o pagamen-to por esse trabalho é considerável, cerca de 25 mil pesos mexicanos por mês (mais de 3000 reais).

Regiane Folter

Autores da última impressãoAgentes funerários preparam os cadáveres para

sua despedida

Quando se fala que a polícia desco-briu a causa da morte de algum

assassinato, muitos pensam em um policial de farda, arma e distintivo. Apesar de todos os que trabalham na Superintendência da Polí-cia Técnica Científica serem policiais, eles preferem trab-alhar de jaleco e seu princi-pal equipamento é o bisturi. E é esse policial científico que descobre a causa mortis de todos os corpos encon-trados de forma suspeita. No IML, o médico legista e o auxiliar de necropsia abrem os corpos, retiram material para exame, como tecidos, sangue e urina, e definem se foi homicídio, suicídio, morte acidental ou, em pou-cos casos, morte natural.

O bem-humorado e alegre Wanderley Cerigatto nem parece que lida todos os dias com algo tão triste como a morte. O auxiliar de necropsia do Instituto Médico Legal (IML) de Bau-ru encara sua profissão com muito interesse e fascínio, e não deixa que influencie sua vida de forma negativa.

Em Bauru, a equipe do IML fica a postos 24 horas e realiza cerca de 40 necrop-sias por mês. Wanderley, que é formado em Biomedicina, passou no concurso e ficou quatro meses na Academia de Polícia para assumir o cargo de auxiliar de nec-ropsia. Wanderley garante que, depois das experiências com cadáveres na faculdade e na Academia, não teve ne-nhum trauma ao trabalhar com um corpo pela primeira vez e, depois de 10 anos na profissão, não se sente mais frio. “É o seu trabalho, você está focado no corpo, na-quilo que você tem que en-contrar. Você não fica mais duro. Imagine ver um pai conversar com o corpo do filho de 18 anos. Eu tenho que respirar muito fundo, dar uma volta, pra não de-sabar junto com a pessoa, para sustentá-la”, afirma ele.

Depois que um crime

acontece, a polícia guarda o local até a chegada do perito, que é responsável por liberar o corpo para o IML, mas ele primeiro precisa examinar toda a cena e escrever seu relatório. Além de esperar pelo perito, a equipe do IML também precisa da requi-sição do delegado para re-alizar a necropsia. Passado o tempo definido por lei, de seis horas depois de constatada a hora da morte, para se asse-gurar que a pessoa está real-mente morta e não passando por uma hibernação do cor-po conhecida por catalepsia, aí sim o médico e o auxiliar começam a trabalhar. Geral-mente, uma necropsia pode demorar de 30 minutos, em casos mais fáceis de identi-ficar a causa mortis, como uma mutilação ou uma fra-tura exposta, a três horas e meia para situações mais complicadas, como homicí-dio com arma de fogo, pois, quanto maior o número de perfurações, mais difícil en-contrar os projéteis e desco-brir qual causou a morte.

Apesar de não ter pen-sado em trabalhar com isso quando começou a facul-dade, Wanderley adora o que faz. “Graças a estar aqui na Polícia Científica é que pude fazer meu mestrado, por causa da carga horária que me permite ter todo o tempo para estudar. Além de ter o corpo humano para estudar”, afirma ele. Wan-derley também vê outros pontos positivos, como o salário e o fato de que “o pa-ciente não reclama, já vem anestesiado”. O único incon-veniente é quando se está de plantão e é chamado às vezes de madrugada, no meio da chuva, para realizar uma necropsia. “De resto, é fasci-nante ajudar na descoberta de um crime”, garante ele.

O auxiliar de necropsia acredita que seu trabalho se torna invisível para as pessoas que têm pressa de retirar o corpo de seu ente querido do IML. “Envolve muita emoção, dor, triste-za, perda, então as pessoas

querem passar logo por aq-uilo e esquecer. Algumas pessoas, são poucas, agra-decem pelo trabalho, pela liberação do corpo”, diz ele.

Gostar de anatomia e não

ter nojo são essenciais para quem quer seguir a carreira. E ser curioso. “Chega aqui um afogado: ele foi afogado? Se afogou sozinho? Joga-ram ele desmaiado na água?

Pelas técnicas a gente con-segue diferenciar os tipos de morte. É apaixonante. Se você perguntar no IML, to-dos gostam do que fazem”, diz o sorridente Wanderley.

No IML, médico legista e auxiliar de neucropsia trabalham juntos para desvendar mortes suspeitas

Regiane Folter

Mayra Arellano

Page 8: Trabalhadores invisíveis

Trabalhadores da Unesp também sentem a indiferença de alunos e

professores

Bárbara Belan

A invisibilidade não está somente em profissões distan-tes do nosso coti-

diano, como as dos criadores de softwares ou dubles de fil-mes de ação. Alguns profis-sionais que trabalham pelo bem estar dos alunos e pro-fessores da Unesp também se sentem invisíveis, e gostariam de ser melhor reconhecidos.

É o caso da faxineira Ro-sana de Fatima E. da Silva. Ela trabalha na Unesp há três anos e reclama da indiferença: “os alunos que cumprimen-tam a gente são raros, porque pisa em cima e faz de conta que a gente não existe, parece que a vassoura varre sozinha”.

Ela destaca também que os alunos fazem mais sujeira do que o normal e, mesmo com tantas lixeiras espalhadas pelo câmpus, na maioria das vezes os alunos jogam o lixo no chão, dificultando o trabalho das faxineiras. “Acho que tem ba-nheiro público que é mais lim-po que sala de aula. A UNESP disponibiliza tantas lixeiras que a cada três passos que você dá tem uma, mas eles fazem questão de jogar tudo na sala de aula, derrubar copo, é uma imundice”, reclama Rosana.

Rosana conta que traba-lha das seis e meia da manhã até as três e meia da tarde. Ao todo, o grupo conta com 56 faxineiras e é dividido em dois turnos. Sua rotina diária é limpar as salas de aula, os banheiros e os departamentos.

Nos departamentos, a fa-xineira afirma se sentir mui-to bem, pois os professores e funcionários reconhecem o trabalho dela. “Os professores sim nos valorizam, são mara-

vilhosos, gente boa, nos tratam muito bem”, afirma Rosana, di-zendo se magoar com a indife-rença e a falta de educação dos alunos. Ela finaliza a entrevista com uma frase que atesta seu sentimento de invisibilidade: “eles deveriam ver quanto di-nheiro a UNESP gasta, que sai do nosso bolso, pra comprar um monte de lixeiras. Muitas vezes, a gente está varrendo do lado e eles têm a capaci-dade de jogar lixo no chão”.

Diferentemente da faxinei-ra Rosana, o jardineiro Silvano Corrêa diz ter uma boa relação com a maioria dos estudantes. “Da parte dos alunos, na gran-de maioria, a gente tem uma relação muito boa, eles reco-nhecem o trabalho da gente e alguns até admiram e apóiam”, orgulha-se Silvano. Ele traba-lha na Unesp há 24 anos das oito da manhã ás cinco e meia da tarde. Afirma gostar da sua rotina e muitas vezes fazer coi-sas por iniciativa própria nos jardins, quando a direção não aponta o que deve ser feito.

Silvano fala da profis-são com carinho e diz que o que mais gosta é o convívio com as pessoas: “o trabalho da gente é cuidar das plan-tas, da terra, da natureza, e isso faz bem para todo mun-do, então tudo é gratificante, não tenho o que falar mal”.

Quanto ao tratamento por parte dos professores, Silvano tem uma reclamação: “a gen-te percebe que tem docentes que pensam que funcionário técnico administrativo não é gente e não faz parte do meio deles. Eles dependem muito de nós, funcionários, mas tem docente que pen-sa que é dono do mundo”.

Entre corredores

Repositores preenchem os vazios que os clientes deixam nas prateleiras

O corredor é o lugar onde as pes-soas passam, olham, exami-nam e escolhem o que lhes interessa. E é nessa hora que

os repositores acabam passando desperce-bidos, como se não existissem nos super-mercados. Mas, são eles os responsáveis por deixar tudo em seu devido lugar para que o consumidor ache com facilidade.

“Chego, bato cartão, subo até lá em cima antes, como de praxe, confiro o que chegou de novo no estoque, desço até meu corredor e anoto o que está precisando no meu setor, volto e pego o carrinho, separo tudo o que falta, levo para as prateleiras e arrumo tudo certinho”. Essa é a rotina de Gustavo Almei-da, atual repositor do corredor de massas do supermercado Confiança Flex, em Bauru.

Manter um supermercado arrumado é uma tarefa constante, começa quando o mercado abre e termina depois que ele fe-cha. Além de deixar os produtos alinhados

e à disposição do consumidor, o repositor confere os prazos de validade e os preços. Também é ele quem coloca as etiquetas promocionais nos produtos com

desconto, num trabalho que demanda o dia inteiro, embora muitos clientes não dêem o devido valor. Gustavo comenta que mui-tas vezes as pessoas trocam os produtos de lugar, tiram de uma gôndola e colocam em outra; “às vezes vem um cliente, vê que tá tudo arrumado e fica trocando as coisas de lugar a troco de nada. E a gente não pode fa-lar nada, afinal, nosso trabalho é arrumar”.

Jonathan Freitas, repositor da área de grãos, comenta que nem todos os clientes são iguais: “alguns são bons, eles param e conversam, perguntam, brincam. Outros não, apenas caminham no corredor e igno-ram que eu esteja aqui. Às vezes reclamam que falta algum produto e são grossos”.

Os repositores trabalham seis dias da se-mana e folgam um, têm direito a uma hora de almoço e piso salarial de R$770,00. Cada um tem um setor fixo no supermercado, mas, devido às folgas, há um rodízio em um dia da semana para suprir todos os corredores. Jo-nathan confessa que gostaria de trabalhar em outra área, na qual tivesse mais visibilidade e reconhecimento. “Eu gosto mais ou menos daqui. Mas como é meu primeiro emprego, a gente não pode escolher muito”, finaliza.

Lívia Neves

A invisibilidade está em todo

canto

Clientes dão mais atenção aos produtos do que aos funcionários

Lívia Neves

Page 9: Trabalhadores invisíveis

Reinaldo Moraes prova ser possível lucrar fazendo o bem

para o planeta

Mariana Duré

Reinaldo da Silva Moraes é catador de lixo há sete anos na praia de Ma-resias. Ele sustenta cinco filhos e a mulher apenas com esse trabalho,

além de fazer sua parte na preservação do meio ambiente. Por meio da separação do lixo que co-leta e envia para empresas com padrões de reci-clagem, ele garante um destino útil aos resíduos. Reinaldo conta que começou a trabalhar com

coleta de lixo por motivações financeiras, depois de ter sofrido um golpe e adquirido uma série de dívidas. Ele teve a ideia ao pas-sar pela porta de um condomínio e ver uma pilha de papelão jogado na beira da calçada. Conseguiu uma bicicleta de três rodas para transportar o papelão. Começou a vender o que encontrava no lixo para grandes em-presas que reciclam e reutilizam o material, como a Compel, Metalsul e Planeta Azul.

Por conta de seu trabalho, Reinaldo sofreu preconceito tanto de conhecidos como de familiares. “Quando eu comecei, a crian-çada toda tirava sarro do meu moleque na es-cola. Meu irmão dizia que se alguém me visse catando lixo na rua, que eu não dissesse que

era seu parente”, relata Reinaldo. Segun-do ele, hoje em dia, as pessoas encaram seu trabalho de maneira diferente. É ad-mirado por fazer um bem à natureza. O trabalho de Reinaldo colabora, e mui-to, para a conservação do meio ambiente,

mas será que alguém sabe que é ele que está por trás desse importante processo? O cata-dor de lixo afirma que o reconhecimento não é sua prioridade. Para ele, a maior satisfação é ter encontrado um trabalho rentável e que ao

mesmo tempo colabore com a preservação do planeta. Ele afirma que a maior parte do que é descartado tem retorno, basta as pessoas se conscientizarem e fazerem sua parte na separa-ção e destino do lixo. “A nova geração só quer

saber de aproveitar a vida. Eles precisam entender que o lixo que jogam no chão não afeta só o planeta, afeta também a sua pró-pria qualidade de vida”, afirma Reinaldo. E quando questionado a respeito de suas projeções futuras, Reinaldo conta, orgu-lhoso, que não pretende desistir, porque aprendeu a amar o que faz. “O que quer que você faça, tem que fazer com gosto, e não só pelo dinheiro.

Sei que estou dando o meu melhor, e quando você espalha o bem, só coisas boas retornam para você”.

Coletando o sustento

Rainhas da RuaEster, gari há quase 3 anos, conta o dia-a-dia de

quem limpa as ruas para a população pisar

Cheguei no alojamento do Setor de Varreção Feminina às 7 horas da manhã, quando o grupo toma-va café para sair trabalhar. Logo

que sentei para esperar que tivessem um tempinho para me dar entrevista, Ester sen-tou -se ao meu lado para terminar de tomar seu café. Iniciei uma conversa e ela educa-damente me convidou a lanchar com elas.

Após alguns minutos, o grupo compos-to por 30 funcionárias começou a se levan-tar para pegar o material de trabalho, tudo com muita falação, brincadeiras e cantoria. Luis Antônio Amorin, chefe da Varreção Feminina, disse que eu podia acompanhar as garis que iriam para a Rodrigues Al-ves e fui andando e conversando com elas.

Não se intimidaram com a mi-nha presença e já começaram as brin-cadeiras. “Aqui só tem famosa, a Es-ter já até saiu no jornal semana passada. Somos rainhas que desfilam pelas ruas var-rendo”, disse uma gari que se intitula Beyonce.

Ester Ribeiro Miranda, a mesma do café, estava junto e continuamos o nosso papo. Ela trabalha como gari há 2 anos e 10 meses, e já tem algumas experiências para contar. “O dia começa cedo, chegamos ao alojamento, coloca-mos uniforme, tomamos café, pegamos o ma-

terial de trabalho, que são sacos, vassoura, car-rinho, e aí vai cada uma pro seu setor, que deve ser fechado até o final do dia. A gente trabalha das 7 da manhã às 5 da tarde”, detalha Ester.

Para Ester, a melhor parte de trabalhar como gari é a liberdade de estar na rua, co-nhecer e conversar com as pessoas. “Encon-tramos pessoas muito boas, educadas, que pa-ram, cumprimentam, oferecem água e nos dão atenção”, reconhece. Mas ela também ressalta que tem pessoas que parecem não enxergar seu trabalho, o que causa desgosto. Para ela essa é a pior parte da sua profissão: “você per-cebe o descaso com o seu trabalho, as pessoas não conservam limpo, mas a gente vive disso”.

Quanto à conservação das ruas, Ester faz uma reclamação: “às vezes acontece de você limpar uma rua e no momento seguinte já está toda suja com coisas que as pessoas jo-gam no chão. Aqui na região central isso é co-mum. No calçadão acontece muito isso, é um lugar que é limpo duas vezes por dia devido ao fluxo de pessoas e a quantidade de lixo”.

Na opinião da gari, o que falta para a população bauruense é educação e cons-ciência de onde vai o lixo e que pode cair em bueiros e entupí-los. E reforça: “não seriam necessárias tantas campa-nhas se todos tivessem mais consciência”.

Bárbara Belan

Bárbara Belan

Page 10: Trabalhadores invisíveis

Amo muito tudo issoHá vida por trás do balcão do McDonald’s

Pães, tortas, bolos e salgados. Essas são algumas das “perdi-ções” que enfeitam

as prateleiras das padarias e fazem os clientes salivarem. Os responsáveis por combinar ingredientes simples e trans-formá-los em produtos cobi-çados são os gastrônomos, os invisíveis padeiros, confeitei-ros e cozinheiros. A profissão pode ser exercida sem forma-ção superior, mas atualmente

há uma grande demanda por p r o f i s s i o n a i s graduados. No país, a graduação em Gastrono-

mia existe há apenas 18 anos. O coordenador e professor

do curso de Gastronomia da Universidade do Sagrado Co-ração (USC) de Bauru, Paulo Frederico, afirma que a for-mação permite ao estudante conhecer as questões técnicas e culturais da profissão; “eu percebo que as pessoas que já trabalham na área e não têm uma formação começam a se preocupar, procuram al-gum tipo de especialização”. Além das matérias práticas, a grade curricular inclui dis-ciplinas teóricas sobre mate-riais usados na alimentação, gestão, planejamento, higie-ne e organização na cozinha.

A qualificação é uma das exigências do mercado, mas muitas vezes os gradu-ados não são reconhecidos.

“Tem hora que o diploma atrapalha mais do que ajuda. É uma área que paga mal e o que não falta é funcionário sem es-

tudo, mas que cozinha muito bem. Então, por que vão que-rer pegar um aluno de Gas-tronomia que vai exigir um salário à altura?”, questiona a tecnóloga em Gastronomia, Letícia Rodrigues Maurício. Cansada de trabalhar para ou-tros chefs que não aceitavam suas ideias, Letícia abriu sua própria confeitaria online e recebe encomendas pelo site. Para ela, a liberdade e a criati-vidade são os fatores mais im-portantes. “Hoje é o que con-ta. O básico todo mundo sabe fazer. As pessoas querem coi-sas novas e diferentes”, afirma.

O gosto pela culinária muitas vezes vem de família.

É o caso do padeiro bauruense Itacir da Silva Júnior, filho, ir-mão, primo e tio de profissio-nais da área. “Fui incentivado pelos meus pais a seguir a pro-fissão, mas nunca pensei em fazer outra coisa”, comenta.

O padeiro não é formado em Gastronomia, mas partici-pa de cursos para aperfeiçoar o que aprendeu em casa. Passa a maior parte do seu expedien-te na cozinha e muitos clien-tes não conhecem o criador do produto que saboreiam. “Acho que 20% dos clientes têm curiosidade de ver o que eu faço. É bom você ter conta-to com eles e sentir o reconhe-cimento”, considera Júnior.

Luciana Arraes

Gastronomia é bom, mas não é tudo Muitos cozinheiros talentosos não fizeram curso superior

Para começar a trabalhar na em-presa não é preciso ter experiên-cia. Você só precisa ter cursado ou estar cursando o ensino médio.

Com essa política, o McDonald’s tornou--se uma das organizações que mais ofere-cem o primeiro emprego aos jovens. Foi o que aconteceu com Fábio Vieira, ele con-seguiu seu primeiro registro em carteira pela empresa e desde então continua lá.

Fábio trabalha na lanchonete há um ano e onze meses, foi promovido duas vezes nesse período e hoje é instrutor. De acordo com ele, há uma alta rotativi-dade de funcionários e isso acontece, em grande parte das vezes, porque as pessoas veem a empresa apenas como uma porta de entrada para o mercado de trabalho. Entram no Mc Donald’s já pensando que será um emprego temporário, ou com uma idéia errada do que seja realmente o serviço que realizará. “Tem muita gente que entra com o pensamento de que vai ser um ‘Mc Escravo’, mas não é bem as-sim. Lá dentro você aprende a fazer de tudo e terá que fazer por merecer para ser reconhecido, como em qualquer ou-tro trabalho”, explica Fábio. Ele também conta que é possível fazer carreira na lan-chonete: “o gerente da loja onde traba-lho já está na empresa há quase 25 anos”.

Ao ser questionado sobre o que acha da sua relação com os clientes, Fábio afirma que na maioria das vezes não se sente invisível para eles, mas que um

pouco mais de compreensão seria bem vinda. “Em alguns dias parece que você é invisível, mas, pra mim, na maio-ria das vezes, não é. Acho que é porque eu gosto do que faço. Às vezes, em dia de muito movimento, é mais compli-cado. As pessoas não conseguem espe-rar nem um pouco pra gente conseguir dar conta de todo o serviço”, confessa.

Com quase dois anos de experiên-cia na rede de fastfood, o instrutor do McDonald’s conta um pouco sobre as di-ferentes pessoas com quem lida ao longo do dia; “tem gente que entra com muita pressa, então só quer saber de pegar o lanche e ir embo-ra. Mas também tem gente que tá indo passear com os filhos, esses param e conver-sam com você, se importam mais. E ainda tem alguns clientes que sempre vão, e com esses, querendo ou não, a gente acaba criando um vínculo de amizade, diga-mos assim, não é mais toda aquela formalidade, você já se permite dizer um oi, ser um pouco mais você e isso é mútuo”. Mesmo por trás de um uniforme que vai do tê-nis ao boné, Fábio demons-tra que ainda consegue manter sua individualida-de frente aos clientes cativos.

Beatriz Haga

Cerca de 67% dos atendentes do McDonald’s tiveram na empre-sa sua primeira oportunidade

profissional.

Aproximadamente 98% dos fun-cionários da empresa têm entre

16 e 35 anos.

No Brasil mais da metade dos gerentes das lojas começaram nas organizações como aten-

dentes.

Escala hierárquica do McDonald’s:

1. Atendente ou trainee (passa por um período de treinamento antes

de chegar ao restaurante)

2. Treinador ou Instrutor

3. Coordenador de equipe

4. Trainee de gerente (é necessário ensino superior completo)

5. Segundo assistente

6. Primeiro assistente

7. Gerente (Ao atingir esse posto, o funcionário pode continuar sua ascensão assumindo outros cargos na empresa, na área de operações

como consultor de um grupo de restauran-tes ou atuando em outras áreas)

* Em todas as etapas são ministrados cursos de especialização

Uniformes mudam conforme a função

site do McD

onald’s

“Nunca

pensei em

fazer outra

coisa ”

Page 11: Trabalhadores invisíveis

O segredo é não ser invisívelEronides Falcino, do moto-táxi Camélias, diz que simpatia é fundamental

Daniela Chiba

Chamar um moto--táxi é muito co-mum em Bauru. Facilidade e bom

preço atraem quem quer chegar a algum lugar de ma-neira rápida e prática. Nor-malmente se chama aqueles da redondeza, ou acha-se um número de telefone pintado na calçada. Combina-se um preço e em questão de mi-nutos já se está onde é preci-so estar. Mas quem são eles?

Eronides Aparecido Falci-no, 47, mais conhecido como Eron, trabalha como moto--taxista desde 2002. Está lá na sede do Camélias a semana inteira, de segunda a segun-da, das 8h às 20h30. Antiga-mente trabalhava mais, entra-va às 6h e já chegou a sair às 10h da noite. Hoje, Eron tem uma vida economicamente estável e acredita que isso se deve a sua garra e simpatia.

Moto-taxista é um traba-lho autônomo, porém exige regularização. Assim como alguns de seus colegas, Eron é cadastrado na Transurb e exerce seu trabalho de manei-ra legalizada. Deve-se tomar o maior cuidado possível, afinal, é considerado um trabalho perigoso. Além de se respon-sabilizar pela vida de outro ser humano, Eron já foi assaltado a mão armada e acabou per-dendo sua moto. Ter cautela com a moto e com as pessoas que se carrega é complicado.

Ao combinar uma cor-rida com um moto-taxista, é fundamental que o passa-geiro também tome alguns cuidados. Essa atitude pode livrá-los de problemas incon-venientes que possam surgir. Primeiro, deve-se sempre ve-rificar se o motoqueiro é regu-larizado. Para isso, basta che-car a placa de sua moto. Se ela for vermelha, significa que ele realmente é cadastrado. Já se for cinza, não é recomendado embarcar nele. Se o pararem e ele estiver portando algo in-devido, o passageiro também será indiciado por ser consi-derado cúmplice do crime.

Alguns moto-taxistas prestam serviços de moto-boys, fazendo pagamentos bancários, entregas de docu-

mentos e pacotes em geral. Muitas vezes, essas viagens geram mais lucro que as cor-ridas (levar pessoas). Eron costuma fazer entregas dentro e fora de Bauru e já chegou a percorrer 1300 km em um só dia. “Eu já fui viajante (vendia calçados). Se me dão um en-dereço e um número, eu vou a qualquer cidade, em qual-quer lugar”, diz Eron. Nesse caso, ele ressalta que se deve

tomar algumas precauções. Antes de aceitar fazer uma entrega, é bom se assegurar do que está sendo levan-do, carregar pacotes com conteúdos ilícitos pode prejudicar drasticamente o taxista. Segundo Eron, os ensinamentos que a vida oferece devem ser levados em conta, afinal, são essas experiências que o fazem prosperar.

Antes de ser mo-toqueiro, Eron vendia calçados. Era um trabalho esporádico e muito instável. Agora, como moto-taxista, ele faz seu salário de acordo com o quanto trabalha. Ele chega a ganhar de 30 reais até 500 reais por dia; “eu já via-

jei pra São Paulo ganhando duas viagens, cada uma de um cliente. Com isso faturei ao todo 800 reais. O contato é o essencial de tudo”. Segun-do ele, trabalhar como moto--táxi é como qualquer outro emprego. Se o motoqueiro se empenhar em fazer conta-tos e realizar um bom traba-lho, sempre respeitando seu cliente, ele vai ser valorizado.

Apesar disso, muitos mo-

toqueiros, alguns com mais de 20 anos de carreira, não sabem lidar com o trabalho. Ao invés

de correrem atrás de mais ser-viços, ficam esperando a pró-xima corrida e não aprovei-tam seu tempo livre. Diferente deles, quando não tinha cor-rida, Eron saia com sua moto atrás de contatos. “Se eu tenho

bons contatos, um bom ge-renciamento da minha parte - que é o meu celular -, é con-sequência do que eu faço”, co-menta, lembrando que se um serviço é bom, ele se espalha. Boa parte dos serviços presta-dos por Eron deve-se a indi-cações de clientes satisfeitos.

Eron explica que não se deve ter uma relação fria de pura prestação de serviços. Ao realizar uma corrida, é preci-

so andar devagar, pois ao cor-rer, estará colocando a cliente em perigo. Em suas corridas,

Eron faz questão de per-guntar como foi o dia do passageiro e gosta de ir conversando ao longo do caminho. Segundo ele, isso faz com que o motoqueiro não seja só mais um, e sim um co-nhecido que é tratado pelo nome; “ser tratado pelo nome demonstra dignidade”. Se em todo

o serviço que o motoqueiro for fazer, tiver essa postura, ele conseguirá êxito, acredita.

Nesse ramo, tudo depende da maneira como se trabalha. É fundamental ter simpa-tia, ao contrário ninguém se

manterá estável. Eron con-ta com clientes tão fiéis que chegam a esperar até que ele esteja desocupado para que ele possa lhes ajudar. Clientes que confiam grandes quantias de dinheiro, pois sabem que Eron irá fazer seu trabalho corretamente. Isso mostra o quanto o lado invisível da vida pode mudar uma realidade.

“Tudo que a gente faz com carinho e vontade, a gente

consegue. Já fui empacotador de supermercado; fiquei nes-sa empresa durante 15 anos e sai de lá como encarregado do departamento pessoal”, re-corda-se. Eron tem o segundo grau completo e gostaria de ter feito faculdade de Direito, mas não teve condições finan-ceiras. Ele conta que entrou nessa vida por acaso, quando trabalhava como vendedor e não estava dando certo: “eu tinha uma moto velha em casa e corri atrás. A vida é as-sim, se você não correr atrás, você não conse-gue nada”. Hoje Eron é dono do Moto-táxi Camé-lias junto de seu colega, Marcos.

Deixar de ser invisível pode mudar uma realidade. São ganhos de ambos os lados

Daniela C

hiba

“Chego a ganhar de 30 a 500 reais por dia”

Page 12: Trabalhadores invisíveis

Por trás das tecnologias, à frente dos computadores

Profissionais da tecnologia da informação fazem grandes avanços, mas não são reconhecidos de fato

Mariana Thomaz

Num mundo cada vez mais d e p e n d e n -te da tecno-

logia, onde avanços e mu-danças surgem diariamente, muitas vezes não pensamos em quem está por trás des-se universo digital. Recente-mente, a equipe do Facebook promoveu mudanças em seu site de relacionamentos, mas quem são as pessoas respon-sáveis por essas mudanças? Como é feito o planejamento desses novos mecanismos?

Na UNESP, câmpus de Bau-ru, o Laboratórios de Tecnolo-gia da Informação Aplicada (LTIA) desenvolve pesquisas, softwares e novas ferramen-tas informacionais. Além de participar de competições tecnológicas, como a Imagine Cup, organizada pela Micro-soft, o grupo do LTIA produz ferramentas para empresas e para a própria universidade.

A invisibilidade desses

profissionais não é resultado da falta de reconhecimento do trabalho deles, mas sim da grande especialização ne-cessária para se trabalhar nessa área. Pedro Cavalca é um dos integrantes do gru-po e explica: “só quando as pessoas precisam de algum serviço nosso é que elas vêm nos procurar e ficam sabendo do trabalho que a gente faz. Na área de jornalismo, por exemplo, quem está envolvido com TV Digital, ou quando trabalha com várias mídias

interligadas, conhece o tra-balho do LTIA, mas são pou-cos os que realmente sabem o que estamos fazendo aqui”.

A tecnologia da informa-ção está presente nas mais diferentes áreas do cotidiano, como transportes, comuni-cação, design, produção de bens e até produção musical. Cavalca acrescenta que “hoje em dia, a computação está em tudo, desde o carro quando é

ligado, existe a partida eletrô-nica, até na hora de esquentar a comida no microondas. Sem-pre tem um profissional de tecnologia da informação por trás, tem algum engenheiro da computação que desenvolveu aquilo. Acho que o maior pro-blema de se estar nessa cate-goria dos trabalhadores invi-síveis é as pessoas subjugarem nosso serviço, não reconhe-cerem o tempo e a mão-de--obra necessários para desen-volver essas pequenas coisas”.Danilo Balzac é coordenador

dos projetos no LTIA, e reco-nhece que a maioria das pes-soas só tem acesso aos resul-tados finais do trabalho dos profissionais da computação, e acredita na invisibilidade da profissão: “a gente percebe esse aspecto da “invisibilidade”, principalmente quando mos-tramos o que estamos desen-volvendo. Só quem sabe, quem conhece os processos por que passamos para criar um novo programa é que dão o devido valor. Já a maioria das pessoas vê apenas o resultado final”.

Tiago Fabre fez parte da equipe do LTIA na competi-ção Imagine Cup do Egito, em 2009, e resume a situação do profissional da área de tecno-logias: “hoje, que todos preci-sam de informação a qualquer hora e lugar, o profissional de computação é, sim, valoriza-do. Quanto a ser reconhecido, é muito complicado, só quem é da área entende do assunto e vai reconhecer que aquilo realmente deu trabalho pra fazer”, comenta TIago sobre a situação dos tecnólogos.

Expediente:

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” -

UNESP

ReitorHerman Jacobus Cornelis Voorwald

Diretor da FAACRoberto Deganutti

Coordenação do Curso de JornalismoJuarez Tadeu de Paula Xavier

Chefe do Departamento de Comunicação SocialÂngelo Sottovia Aranha

Professores OrientadoresÂngelo Sottovia AranhaRenata Barreto Malta

EndereçoDepartamento de Comunicação SocialFAAC/UnespAv. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube,14-01Vargem Limpa, Bauru-SP

Telefone:(14) 3103-6000 Ramal: 6066

Suplemento produzido pelos alunos do 4º termo do Curso de Comunicação Social - Jornalismo do período diurno da UNESP.

Ana Beatrice LesurBárbara BelanBeatriz HagaDaniela ChibaLívias NevesLuciana ArraesMariana DuréMariana NazárioMayra ArellanoRegiane Folter

“São poucos os que realmentesabem o que estamos fazendo aqui”