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Universidade Anhanguera - UNIDERP Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional SELMA ROCHA DOS SANTOS Favela "Cidade de Deus" e os catadores de materiais reciclávei s do aterro controlado em Campo Grande, MSCAMPO GRANDE, MS 2012

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Universidade Anhanguera - UNIDERP

Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional

SELMA ROCHA DOS SANTOS

“Favela "Cidade de Deus" e os catadores de materiais recicláveis

do aterro controlado em Campo Grande, MS”

CAMPO GRANDE, MS

2012

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SELMA ROCHA DOS SANTOS

“Favela “Cidade de Deus” e os catadores de materiais recicláveis

em Campo Grande, MS”

Dissertação apresentada ao programa de Pós

Graduação, nível de Mestrado Acadêmico em Meio

Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade

Anhanguera - Uniderp, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Orientação:

Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves

CAMPO GRANDE, MS

2012

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera – Uniderp

Desenvolvimento regional 2. Favelas 3. Lixo I. Título.

CDD 21.ed. 303.32

Santos, Selma Rocha dos.

“Favela “Cidade de Deus” e os catadores de materiais recicláveis

em Campo Grande, MS”. / Selma Rocha dos Santos. -- Campo Grande,

2012.

80f.

Dissertação (mestrado) – Universidade Anhanguera - Uniderp,

2012.

“Orientação: Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves.”

S238f

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Dedico

À minha mãe Vilma (in memóriam), pelo amor, pela preparação e

encorajamento para a vida, a minha admiração, o meu respeito e

gratidão para sempre.

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-

AGRADECIMENTOS

A Deus, fonte criadora de todas as coisas, pelas oportunidades que são concedidas em

minha vida.

À minha avó Hermínia, pessoa maravilhosa, pelo exemplo de alegria, de resignação, de

compreensão da vida.

Ao Gilson, meu marido, companheiro em todos os momentos na caminhada da vida. E aos

meus filhos Gustavo e João Pedro, pelo incentivo, apoio, compreensão e torcida.

Ao meu irmão Arivaldo pelo encorajamento e pelo exemplo de vontade de viver e construir

sempre.

A todos os meus familiares, que sempre me ofereceram apoio e estímulo e com os quais,

por vezes eu faltei com a atenção e convívio, em busca da conclusão desse trabalho.

Ao Professor Dr. Gilberto Luiz Alves, que me oportunizou o aprendizado acreditando em

meu potencial. Pelo exemplo de dedicação na busca do conhecimento.

À Professora M.Sc. Enilda de Fátima Lemos, a primeira incentivadora para que esse

Mestrado se materializasse, meu reconhecimento e agradecimento especial.

Em especial a Professora Hellen e a Professora Vânia, minhas amigas e irmãs, pela

amizade e carinho.

Aos colegas de turma do Mestrado que nos momentos difíceis me incentivaram, facilitando o

meu seguir, em especial Carol, Luan, Fernando e Iza.

Aos amigos de trabalho, que sempre tiveram uma palavra de incentivo, em especial

Professor Leonardo e Professora Ivonete.

Às amigas Célia, Deila, Amirtes e Cíntia pela torcida e pelo carinho verdadeiro.

A todos os Professores do Mestrado, que contribuíram nesse processo de enriquecimento

intelectual e à Universidade Anhanguera-Uniderp, pelo investimento no meu crescimento

pessoal e profissional.

Registro, ainda, minha gratidão à Professora Maria de Fátima Rubira de Assis, por acreditar

no meu potencial quando proposto o desafio da Coordenação do Curso de Serviço Social

dessa Universidade. A ela devo o sucesso profissional e as oportunidades que com ele

vieram.

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Pergunta-se frequentemente: qual é a real necessidade dos excluídos?

Aos pobres basta o alimento? Aos discriminados basta a lei? Às crianças

basta o acesso à escola? É evidente que não. Essas são medidas

fundamentais, mas não são suficientes. Os excluídos, como todos os

homens, têm fome de dignidade.

Bader B. Sawaia

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... vi

LISTA DE QUADROS ....................................................................................................... vii

LISTA DE MAPAS ............................................................................................................ viii

LISTA DE GRÁFICOS ...................................................................................................... . ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................ . x

RESUMO .......................................................................................................................... xi

ABSTRACT ...................................................................................................................... xii

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. ... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 16

2.1 A URBANIZAÇÃO NO BRASIL E O SURGIMENTO DAS FAVELAS ........................ 16

2.2 FAVELAS EM CAMPO GRANDE ............................................................................. 26

2.3 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITUAÇÃO, GERAÇÃO, DESTINAÇÃO.................... 28

2.4 RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS E ATIVIDADE DE CATADORES ............. 31

2.5 O MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE ........................................................................ 36

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................. 39

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 41

4.1. A FAVELA “CIDADE DE DEUS” ............................................................................... 41

4.1.1 Fatores Determinantes e estratégia de sobrevivência dos moradores ............ 43

4.1.2 Moradores da Favela na condição de Catadores de Material Reciclável.. ... .....50

4.1.3 Acesso à Políticas Públicas e Equipamentos Sociais.... ............................. .....52

4.1.4 Estratégia de Trabalho no Cotidiano do Aterro ............................................... 55

4.1.5 Cadeia Produtiva da Reciclagem em Campo Grande .................................... 62

4.1.6 Os Processos de comercialização no Aterro ................................................... 64

4.1.7 Potencialidades Locais ................................................................................... 67

5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................................. 75

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Área antes da ocupação 43

Figura 2 Área depois da ocupação 44

Figura 3 Disposição dos barracos na área 46

Figura 4 Disposição dos barracos na área 46

Figura 5 Ligação clandestina de energia elétrica 47

Figura 6 Ligação clandestina de energia elétrica e água 47

Figura 7 Rua principal da favela 49

Figura 8 Catadores em meio aos resíduos do vazadouro de Campo Grande 56

Figura 9 Artefato de trabalho no lixão: gancho 57

Figura 10 Artefato de trabalho no lixão: bag (saco maior) 58

Figura 11 Crianças frequentam o lixão 60

Figura 12 Trabalhadores na coleta de material reciclável no Aterro 61

Figura 13 Fase inicial da obra 69

Figura 14 Fase II da obra 70

vi

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Material Reciclável 32

Quadro 2 Cadeia Produtiva da Reciclagem em Campo Grande 63

Quadro 3 Preço do RSU por Kg 65

Quadro 4 Ranking das Regiões Urbanas de Campo Grande com base no IQVU –

Índice de Qualidade de Vida Urbana – 2000

68

vii

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 Divisão Política de MS 36

Mapa 2 Mapa da Cidade de Campo Grande - Divisão das Regiões Urbanas 41

viii

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Distribuição da População Estudada quanto ao Gênero

50

Gráfico 2 Distribuição da População Estudada quanto ao Estado Civil 50

Gráfico 3 Grau de Escolaridade dos Entrevistados 51

Gráfico 4 Renda atual 51

Gráfico 5 Beneficiários de Programas Sociais 52

Gráfico 6 Tempo de Trabalho 62

Gráfico 7 Coleta de Recicláveis 64

ix

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LISTA DE SIGLAS

BNH – Banco Nacional da Habitação

BPC - Benefício da Prestação Continuada

CEF – Caixa Econômica Federal

CEINF - Centro de Educação Infantil

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CRAS – Centro de Referência da Assistência Social

IAPS – Institutos de Aposentadorias e Pensões

FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LDB – Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

OGU – Orçamento Geral da União

ONGs – Organizações Não Governamentais

OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesses Públicos

PASEP – Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

PEA – População Economicamente Ativa

PIS – Programa de Integração Social

SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos

SINE – Sistema Nacional de Emprego

SM – Salário Mínimo

SPETR – Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda

SUS - Sistema Único de Saúde.

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PSF – Programa Saúde da Família

x

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-

RESUMO

Este estudo teve como objeto a formação da Favela “Cidade de Deus” e a sua relação com

os catadores de material reciclável no Aterro Controlado de Campo Grande - MS. A principal

meta foi revelar a relação entre a formação dessa favela e as necessidades de

sobrevivência dos moradores que, premidos por condições sociais, tornaram-se catadores

de materiais recicláveis. Sobre o fenômeno favela na sociedade capitalista foi realizada

revisão de literatura produzida, tendo sido básicos os estudos de Jesus (1995), Brito e

Rennó (2007), Conde e Magalhães (2004), Costa (1986) e Gonçalves (2005). Para obtenção

de dados empíricos para pesquisa, foram exploradas fontes secundárias, a exemplo de

Correa (2002), Santos (2000), Sartori (2002) e Sydow (2006); foram realizadas, também,

observações in loco por meio de visitas sistemáticas e entrevistas com algumas lideranças

da Favela “Cidade de Deus” e funcionários de órgãos públicos municipais da área social. A

abordagem teórica respaldou-se nos estudos de Alves (2003), Mészáros (2003), Sweezy e

Baran (1966), Valadares (2005) e Santos (1988). Entre as constatações ficou demonstrado

que a produção da favela decorreu da própria localização, próxima ao Aterro Controlado de

Campo Grande e que a exploração da mercadoria lixo não garante os mínimos padrões

sociais aos catadores.

Palavras-Chave: Desenvolvimento Regional; Favela; Lixo.

xi

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ABSTRACT

This studies had as its object the formation of the Slum "City of God" and its relation with the

recyclable material scavengers at Controlled Goaf in Campo Grande-MS. The main goal was

to reveal the relation between the formation of this slum and survival needs of the residents

who, pressed by social conditions, have become recyclable materials scavengers. About the

slum phenomenon in capitalist society, it was done on produced literature review, having

basic studies of Jesus (1995), Brito and Renno (2007), Conde and Magalhães (2004), Costa

(1986) and Gonçalves (2005). Secondary sources were explored to obtain empirical data for

research, like Correa (2002), Santos (2000), Sartori (2002) and Sydow (2006); observations

in loco were made as well, through systematic visits and interviews with some leaders from

the Slum "City of God" and employees from municipal public agencies of social area. The

theoretical approach backed up in studies by Alves (2003), Mészáros (2003), Sweezy and

Baran (1966) (1966), Valadares (2005) and Santos (1988). Among the findings, it was

demonstrated that the production of the slum ran from its own location next to the Controlled

Goaf in Campo Grande and the exploitation of the goods: trash that it does not guarantee

minimum social standards to scavengers.

Keywords: Regional Development; Slum; Trash.

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1 INTRODUÇÃO

A formação da favela “Cidade de Deus” em Campo Grande - MS e a sua

relação com a atividade de catadores de resíduos sólidos recicláveis, no aterro

municipal da cidade, foi o objeto desse estudo.

Escolheu-se o presente tema por que é intrínseco à trajetória profissional

da autora, iniciada em 1992 como assistente social, atuando frente às questões

sociais, cujos impactos são refletidos, principalmente, na população em situação de

vulnerabilidade social.

O interesse de aprofundamento em questões socioambientais pela sua

interdependência no bojo da sociedade capitalista, formalizou-se em 2009, com o

ingresso no Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional,

na Universidade Anhanguera – Uniderp.

Localizada à margem esquerda do anel viário BR060 sentido Sidrolândia -

São Paulo, acerca de 12 km do centro comercial, a favela, objeto do estudo, tem

como limítrofes os bairros, Dom Antônio Barbosa, Parque do Sol, Lageado, Colorado

e Vespasiano Martins. O acesso para a favela se faz pela BR ou pela Avenida

Guaicurus, chegando na Rua Evelina Selingardi ou pela Rua Leopoldina de Queiróz,

no Bairro Dom Antonio Barbosa.

No mundo capitalista, tornou-se inevitável o chamamento ao consumo,

mesmo para aqueles sem condições de adquirir produtos desejáveis, de forma que

as fábricas não param de produzir, a sociedade não para de crescer e os produtos

são cada vez mais descartáveis, para um público cada vez mais exigente e

consumista.

O que for considerado sem valor é descartado, gerando os resíduos sólidos

que vão para os lixões e para os aterros. O aumento do consumo gera o acúmulo

dos resíduos sólidos e a disposição inadequada no meio ambiente, causando a

contaminação de lençóis freáticos, rios, córregos, lagos, assoreamento, enchentes,

proliferação de vetores transmissores de doenças, poluição visual e mau cheiro.

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Paralelamente, surge o impacto social associado às pessoas vivendo do lixo.

Os lixões e os aterros são os ambientes de trabalho dos catadores que vão fixando

moradia em seu entorno, refletindo a imagem de favelas.

Foram fundamentais os estudos de Alves (2005), Mézaros (2003), Valadares

(2005), Santos (1979) e (1988) e Garcia e Garavello (2007), bem como as

contribuições específicas de vários outros autores referenciados no decorrer do

trabalho, que dão sustentação para a discussão das categorias de análise como:

favela, resíduos sólidos urbanos e catadores de materiais recicláveis, no contexto da

sociedade contemporânea.

A revisão literária sobre breves aspectos da urbanização e o surgimento de

favelas no Brasil, expõe os elementos históricos e conceituais de favela e o aumento

da população humana, o processo migratório e os novos padrões de produção da

sociedade capitalista, que aceleraram o processo de urbanização das cidades

brasileiras e desencadearam, sobremaneira, a produção de resíduos sólidos, a

formação de favelas e a sobrevivência de pessoas a partir da coleta de matérias

recicláveis. (Jesus, 1995), (Costa, 1986) e (Santos 2000).

Também foi prioritário fazer uma revisão literária sobre conceito,

classificação, geração, destinação de resíduos sólidos urbanos e reciclagem de

material reciclável.

Os aspectos urbanos de Campo Grande, auxiliaram na compreensão da sua

história de expansão, marcada pelo intenso fluxo migratório, avanço tecnológico e

aumento do consumo,.que ganhou força após 1977,quando o município.tornou-se

Capital do Estado.

As reflexões contidas nesse estudo procuraram responder à seguinte

hipótese: a sobrevivência de catadores de material reciclável determinou a formação

da favela “Cidade de Deus” no entorno do Aterro, em Campo Grande – MS.

Para atingir esse objetivo, foi preciso compreender os fatos que

dimensionam o tema, as articulações formadoras dessa favela e a relação do

trabalho dos catadores no aterro com esse fenômeno social e os moradores da

favela; revelar as condições sociais determinantes na formação desse bairro;

identificar o processo de organização da comunidade em estudo; discutir as

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condições de existências dos trabalhadores que sobrevivem da coleta de material

reciclável no Aterro.

A pesquisa identificou a forma de organização desses moradores para

sobreviver na favela e trabalhar no Aterro, por meio da cata e posterior venda de

material reciclável recolhidos.

Outro aspecto também exposto, é a maneira com se dá o acesso dos

moradores às ações de políticas sociais, bem como, as potencialidades que

possam servir de instrumentos para desencadear mudanças políticas, sociais,

ambientais e de desenvolvimento da região onde a favela está localizada.

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-

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A URBANIZAÇÃO NO BRASIL E O SURGIMENTO FAVELAS

Para objetivar conceituações Garcia e Garavello (2007, p. 15) definem:

Urbanização: como o processo que ocorre quando, num dado momento histórico, a população residente nas cidades cresce num ritmo mais acelerado do que a população total do país – isto é, quando a taxa de crescimento da população urbana é maior do que a taxa de crescimento da população rural. Cidade: como aglomerado humano concentrado, com atividades não-agrícolas, que se apresenta mais ou menos organizado em ruas, com serviço de transportes, limpeza pública, luz, água, esgoto, saúde, educação lazer [...].

A favela é caracterizada por áreas povoadas, carentes de serviços de

saneamento básico e cuja propriedade do lote não é legalizada. Concentra

habitações precárias, distribuídas desordenadamente, em áreas públicas ou

privadas e podem ser classificadas de acordo com a localização (núcleo

metropolitano ou periferia) e a forma de obtenção, (compra, locação e ocupação).

Cada forma de provisão de moradia implica em diferentes formas de arranjo desses

elementos (GONÇALVES, 2010).

Cabe explicar que para fins deste estudo a será cidade entendida como a

“cidade legal” e as favelas, distintas no formato estrutural, como a “cidade informal”,

de acordo com Gonçalves (2010, p.14):

A compreensão do processo de produção do espaço urbano pela população de baixa renda relaciona-se diretamente a alguns conceitos atrelados às questões legais e à intencionalidade da ocupação. Faz-se necessária a conceituação dos seguintes opostos: legal/ilegal, formal/informal, regular/irregular e espontânea/planejada. Tais termos, combinados em diferentes arranjos, permitem a classificação das mais diversas formas de assentamentos humanos. (grifo da fonte)

A cidade legal ou formal e regular é aquela com normas sociais e jurídicas

produzida por agentes formais (mercado imobiliário formal ou o poder público). É

dotada de urbanização e dos itens de consumo coletivo (moradia, escolas, áreas de

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lazer, hospitais, comércios, ruas definidas, lotes, logradouros). No Brasil a

propriedade é titulada com base no disposto na Lei nº. 6.766/1979 (Lei de

Parcelamento do Solo)1.

A cidade ilegal ou informal e irregular é caracterizada pela falta de titulação

da propriedade, mesmo que o morador tenha pagado por ela. Não possui

urbanização e as edificações são precárias, em construção permanente e

desassistida de infraestrutura e de equipamentos urbanos, sujeitas a situações de

risco e altíssimas densidades. A população adquire os lotes por invasão espontânea

ou planejada, pagando ou não por eles.

Nas diversas áreas do conhecimento encontram inúmeros estudos voltados

para temas envolvendo o espaço urbano, a cidade e a favela. Alguns trabalhos

enfatizam o processo de urbanização decorrente do modelo capitalista, compondo

um conjunto reflexivo fundamental, para a análise das favelas no Brasil.

Essas reflexões encontram base no pensamento de Alves (2003), que

analisa as relações da sociedade com base nas categorias singular e universal.

Para o autor, o universal só existe por causa do singular. Assim, afirma que

a investigação científica conduzida nessa perspectiva, tende a desempenhar um

papel relevante, não somente no processo de entender as particularidades e as

singularidades de uma realidade, mas para entendê-las numa permanente relação

com o contexto universal.

[...] O que se postula, se se considera a questão nas suas consequências práticas, é que não há realidade sul-mato-grossense, ou realidade brasileira, ou realidade latino-americana, ou realidade do negro, ou realidade do índio etc. Essas formulações, ao darem autonomia a aspectos isolados da realidade humana, elidem tanto a sua unidade quanto a sua complexidade. (ALVES, 2003, p.17)

1 A lei federal de parcelamento do solo no âmbito da ordem jurídica urbana tem a mesma relevância que o

Estatuto da Cidade, por dispor das diretrizes, critérios, procedimentos e instrumentos sobre o parcelamento do solo urbano para a implantação de núcleos, vilas, conjuntos habitacionais e bairros nas cidades. Essa legislação contém normas fundamentais para o desempenho das funções das cidades. Disponível em: www.poli.org.br. Acesso em 10/janeiro/2012.

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-

Um importante aspecto dessa linha de pensamento serve para observar que

as conexões de uma cidade permitem entender as particularidades e as

singularidades únicas de um lugar, interconectado à totalidade.

O processo de urbanização do Brasil decorreu do modelo de sociedade

capitalista.

O próprio processo de colonização das Américas serve como expressivo argumento em favor da tese à unidade da formação histórica do Novo Mundo. Esse processo, financiado pelo capital mercantil de origem europeia, submeteu a terra aos reclamos da produção capitalista. Isto é, o capital plasmou a produção, nas Américas, à sua imagem e semelhança (ALVES, 2003, p.15).

As cidades foram produzidas historicamente pela influência do modo de

governo dos colonizadores.

Essa consideração a respeito da ocupação do Brasil é destacada por

Maricato (2000 p.25) quando afirma:

A tragédia urbana brasileira, não é produto das décadas perdidas. Tem suas raízes em cinco séculos de formação da sociedade brasileira, em especial a partir da privatização da terra (1850) e da emergência do trabalho livre (1888).

Os escravos libertos e os imigrantes pobres ficaram fora dessa legalização

porque não possuíam recursos financeiros para o pagamento, assim permaneciam

nas fazendas como trabalhadores assalariados. Muitos deles foram trabalhar na

área rural do interior paulista, nas diversas lavouras de café e outras áreas da

agricultura, que era um dos principais meios de abastecimento das cidades que

estavam em processo de crescimento, em diferentes cultivos e produtos.

Gonçalves (2010, p.09) registra que:

[...] o país já apresentava alerta quanto às precárias condições de moradia de um enorme contingente de migrantes e escravos libertos que, impossibilitados de comprar ou locar um terreno ou uma casa, se viam obrigadas a morar à margem da legislação em vigor, ou seja, na ilegalidade, dando início ao processo de favelização no País.

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-

Valladares (2005) também concorda com essa idéia, quando explica que o

ocupação do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, mais tarde denominado

Morro da Favella, pelos combatentes egressos de Canudos, em 1896.

No entanto, somente em 1930, esse processo é reconhecido pelo Código de

Obras2, para identificar os aglomerados de casebres sem traçado, arruamento,

construídos em terrenos públicos ou de terceiros, que começavam a se multiplicar.

A favela era uma questão social urbana tratada como caso de polícia. Vista

como sinônimo do caos na cidade, mas ao contrário do que supõe a grande maioria,

“[..] as favelas representavam um microcosmo onde se espelha a pobreza, o

inadequado, fora dos “padrões” para a sociedade da época” (KOWARIK, 1979,

p,10).

A definição da categoria “Favela” aparece no primeiro recenseamento geral

em 19503 usado numa alusão à ocupação do Morro da Favela.

Longe de esgotar as possibilidades de caracterização dos “aglomerados

subnormais”, esse recenseamento representou o inicio de um processo de produção

de informações sobre essa questão no Brasil.

Ao mesmo tempo que o movimento de ocupação do Morro da Providência

influenciou para a construção do imaginário social, também representou o

tratamento dado aos pobres e à população favelada.

No território brasileiro a reprodução ideológica do significado das “favelas” está historicamente construída por discursos que (re)criam a função social destes espaços dentro de determinados contextos históricos e socioeconômicos (BRITO; RENNÓ, 2007, p.8). (grifo da fonte).

2 O respectivo código, vigente até 1970, elaborado por um a comissão técnica de engenheiros que desejavam

uma “organização racional” da cidade, defendendo a extinção das habitações anti-higiênicas, representou uma organização jurídica para uma espécie de administração do “problema”.

3Esse documento definiu favela como aqueles aglomerados urbanos formados com unidades de número

geralmente superiores a cinquenta; com predominância no agrupamento de casebres ou barracões de aspecto rústico típico, construídos com folhas de chapas zincadas, tabuas ou materiais semelhantes; sem licenciamento e fiscalização, em terrenos de terceiros ou de propriedades desconhecidas e ausência, no todo ou em parte, de rede sanitária, água encanada e arruamento.

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-

O Brasil, até a década de 1930, era um país agrário, com população

predominantemente rural. Após esse período, teve início o processo de

industrialização.

O surgimento das indústrias no final do século XIX influenciou, sobretudo, o

crescimento das cidades, uma vez que atraiu pessoas do campo para as regiões

urbanas.

Santos (1979), destaca que o processo de migração, denominado êxodo

rural4, empurrou a população rural de um lugar para outro, pois a perda de trabalho

no setor rural e a estrutura fundiária concentrada nas mãos de poucos, resultaram

numa carência de terras para a maioria das pessoas.

Essa rápida urbanização gerou situações e problemas novos. A população urbana, que era de aproximadamente 12,8 milhões de habitantes em 1940, cresceu rápido com a expansão industrial, ligada à implantação das empresas. A partir da década de 1950, a urbanização no Brasil tornou-se cada vez mais acelerada, ultrapassou 18,7 milhões de habitantes e em 1960, superou a marca dos 31,5 milhões (FRANÇA, 1997, p.15).

A autora destaca que esse processo se deu em função da "política

desenvolvimentista" do Governo Juscelino Kubitschek, no período de 1956 a 1961,

que tinha por objetivo, além da integração nacional, a modernização do território e o

desenvolvimento da economia capitalist, com a expansão da indústria e,

consequentemente, de uma sociedade urbana e de consumo.

As indústrias difundiam-se nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro,

exigindo grande quantidade de mão de obra para trabalhar nas unidades fabris, na

construção civil, no comércio ou nos serviços, principalmente nas regiões sudeste

(onde a industrialização era muito ativa) e região Centro-Oeste.

Valladares (2005) afirma que nos anos 1960 o processo da modernização do

país foi acompanhado pelo surgimento descontrolado das favelas que se expandiam

principalmente nas regiões Sul, Sudeste e para outras regiões.

4Movimento migratório cuja ocorrência e importância variam no tempo e no espaço geográfico. No Brasil, o ritmo

das migrações do campo para as cidades foi maior entre as décadas de 1950 e 1980.

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-

Essas oportunidades levaram a um processo de deslocamento interno de

muitas pessoas, atraídas pela ideia de oportunidades de vida melhor. Assim o

processo de industrialização favoreceu a evolução do crescimento da população

urbana, entretanto, consequentemente também favoreceu o surgimento dos

problemas sociais, ocasionados por tal crescimento populacional.

Nesse contexto, a forma de acesso à moradia pelos pobres se dava por

meio da ocupação de loteamentos irregulares e ou clandestinos, em áreas

periféricas não urbanizadas e de assentamentos informais.

Santos.(1988,p,15), afirma que esse processo “refletia as consequências de

um processo histórico de divisão desigual de terras e propriedades”.

As favelas foram surgindo no Brasil conforme foi evoluindo a crise

habitacional, desencadeada na década de 1940.

Com um Estado incapaz de atender demandas sociais e diante das

dificuldades sociais e econômicas, os próprios moradores adquiriam seus terrenos

por meio da compra ou da ocupação informal e construíam suas moradias.

Estas construções sem apoio técnico provocaram o aparecimento de tipos

precários de habitação, com padrões deficientes de higiene e construção e, na

maioria dos casos, com organização territorial aleatória, ditada ao acaso.

“Estas seriam mais tarde as favelas. Independente da denominação popular

de cada região; malocas, invasões, mocambos, tinham como constante a evidência

da precariedade e da miséria” (REIS FILHO, 2004, p. 17).

Durante diferentes períodos e no decorrer do processo de favelização no

Brasil, utilizando-se das mais variadas ferramentas de comunicação, os grupos

dominantes e os gestores da economia e da política lançaram mão de variadas

formas de abordar a questão das favelas (BRITO; RENNÓ, 2007, p.5)

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-

Essa afirmação encontra referência no estudo de Jesus (1995, p. 40)5,

quando a autora relata:

Chegou a Radio Patrulha, que veio trazer dois negrinhos que estavam vagando na Estação da Luz, 4 e 6 anos. É fácil perceber que eles são da favela. São os mais maltrapilhos da cidade [...]. O que vão encontrando pelas ruas vão comendo.

A partir do relato sobre o cotidiano na favela do bairro Canindé - SP, na

década de 1950 e 1960, a autora possibilita uma reflexão sobre o momento histórico

do país, marcado pela busca de oportunidades de trabalho, abandono do poder

publico e pela extrema precariedade da vida humana.

Na vigência do governo militar, a urbanização se acelerou, impulsionada por

fatores como desemprego no meio rural, a grande expansão econômico-industrial e

a imensa mecanização em algumas áreas do centro-sul do país.

Segundo Garcia e Garavello (2007, p. 87), “em 1970, pela primeira vez na

história brasileira, a população urbana ultrapassou numericamente a rural, chegando

a mais de 52 milhões de habitantes (55,9% da população total)”.

Nesse contexto, o governo criou, em 1964, o Banco Nacional de Habitação

(BNH) e o Sistema Federal de Habitação (SEFHAU), na tentativa de atender à

demanda de habitação existente no país.

A esse respeito Gomes et al. (2003 p. 2) aponta:

[...] ela (a urbanização) não somente se desencadeou em decorrência do

déficit habitacional existente no Brasil naquele momento, mas se

constituiu também numa resposta do Estado ao capital, no sentido da

reprodução deste aos interesses externos - além de ter servido como

instrumento de controle econômico e político, auxiliando, em certos

momentos, a amenização dos conflitos pela posse do solo urbano.

A crise desencadeada nos países desenvolvidos propiciou a liberação de

créditos para os países em desenvolvimento investirem em infraestrutura,

modernização e indústria, tendo em vista a necessidade de expansão dos mercados

e procura por insumos de mão-de-obra barata.

5 Carolina Maria de Jesus foi catadora de papel, viveu na favela Canindé/SP e escreveu a história da favela na

década de1950 a 1960.

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-

Assim sendo, o consumo em massa constituiu um dos vetores básicos

para a reprodução do capital, apoiando-se principalmente no

desenvolvimento do Estado de Welfare State, que passou a proteger o

salário mínimo, o desemprego, o sistema previdenciário, o sistema de

saúde, o sistema habitacional, além de outros serviços (GOMES et

al.,2003,p.2).

Com a injeção de crédito no Brasil na década de 1980, o Banco Nacional de

Habitação (BNH) e agências de serviço público passaram a financiar a construção

dos grandes conjuntos habitacionais, como à exemplo do Projeto “Favela Bairro”,

afastados da centralidade urbana como modelo de urbanização pelas políticas

municipais.

Esses órgãos tinham por pressupostos dar conta da política habitacional,

financiando a aquisição da casa própria, eliminando as favelas e aumentando o

investimento da indústria de construção Civil, além de estimular a poupança privada

e o investimento.

Para Gomes et al.,(2003 p. 05),

O Sistema Financeiro de habitação - SFH, gerenciado pelo BNH, foi de fato um instrumento oficial através do qual se estabeleceram as condições para a capitalização das empresas ligadas e de uma rede de agentes financeiros privados, realizando assim financiamento da produção do capital.

Porém, esse sistema entrou em crise por volta de 1980, tendo em vista a

inadimplência dos mutuários já contemplados, mediante o aumento do desemprego

e a retirada dos fundos de garantia por tempo de serviço - FGTS. O BNH foi extinto

em 1986 e a Caixa Econômica Federal passou a desenvolver a política habitacional

do país.

A Constituição Federal de 1988 propiciou autonomia financeira aos

municípios e a responsabilidade pela organização do espaço urbano, principalmente

por meio dos artigos 182 e 183, que garantem a gestão da politica habitacional

brasileira.

Nesse sentido, Gomes et al., (2003 p. 05), afirmam que:

A política habitacional tem que ser vista como uma forma encontrada pelo capital, sob a égide do estado, de imprimir ao espaço urbano uma valorização. A ocorrência dessa política traz consigo o aumento em demasia do preço da terra e dos impostos.

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-

Inserido nesse mesmo processo, observa-se a oficialização dos bairros da

cidade com nova delimitação das fronteiras e incorporação formal das áreas de

“favelas” aos bairros, o que não significou uma absorção social desses espaços.

Esse nome, favela, representou uma generalização pejorativa a todas as

ocupações irregulares para aqueles que ocupavam estas áreas, vez que eram tidos

como bandidos, mulheres sem família e toda sorte de gente desocupada.

A imagem dos pobres como classes perigosas passou a dominar como

“dogma” no país, reforçado pela grande mídia sensacionalista, e pelas camadas

medias e altas da sociedade brasileira.

Conforme Eiras (2011, p.15):

No Brasil, ao longo do século XX, grande número de cidades nasceram, cresceram e se desenvolveram. Foi neste século que o país mais se urbanizou. A evolução do crescimento da população urbana, considerando-se este período, é bastante ilustrativa. [...] Em 50 anos nos transformamos de um país rural em um país eminentemente urbano, onde 82% da população moram em cidades. Este processo de transformação do habitat e da sociedade brasileira produziu uma urbanização predatória, desigual e, sobretudo, iníqua.

O capitalismo foi responsável por grandes conquistas para a humanidade,

mas sempre que o interesse do capital financeiro é ameaçado, ele é reinventado,

ora por meio do domínio armado, ora pelo controle sociocultural, com a hegemonia

da moeda, do idioma, da produção do conhecimento (MÉZAROS, 2003).

Esses efeitos representaram, por um lado, o desenvolvimento da tecnologia

e da ciência e a formação de grandes conglomerados financeiros e industriais. Por

outro, maior dependência dos países pobres, aumento do endividamento externo,

grande presença de capital especulativo.

Na história do país, a urbanização sempre esteve ligada aos interesses de uma urbanidade excludente e segregacionista, produto ora dos interesses imobiliários das classes dominantes, ora dos boicotes impostos pelos governantes, intensificadas pelos efeitos do capitalismo monopolista no contexto social brasileiro. (EIRAS, 2011, p.10).

Assim, no Brasil, as novas cidades foram sendo redesenhadas pela

expansão urbana e pelas configurações de pobreza e precariedade urbana.

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Gomes et al., (2003 p. 05), enfatizam:

Desse modo, parte daqueles que lutaram por essa transformação, pela impossibilidade de pagar essas taxas, é empurrada para longe, para recomeçar a produção social da cidade em outros lugares, mais uma vez, vai propiciar a expropriação de renda que é feita por uma pequena parcela da sociedade. [...] parte da população, que fora excluída não apenas de moradia, mas de diversos outros processos, produz a cidade de maneira clandestina [...], onde predominam as favelas, os cortiços e as vilas, que não oferecem condições dignas de moradia a uma boa parcela da população.

A Constituição Federal de 1988 reconheceu e incorporou as favelas à cidade

legal, mas não resolveu a questão social. As grandes cidades brasileiras enfrentam

diversos problemas sociais e ambientais, agravados pela condição de

vulnerabilidade social na qual esses moradores se encontram.

Vulnerabilidade entendida como o “resultado negativo da relação entre a

disponibilidade de recursos, materiais, sociais, econômicos, culturais ou simbólicos,

a indivíduos ou grupos [...] e o pouco ou nenhum acesso a esses” (KOGA, 2003,

p.34).

Para Davis (2006, p. 29):

As favelas são a expressão mais clara desse novo modelo de desenvolvimento urbano.[...] nas cidades pós-modernas do século XXI, verifica-se que: [...] as cidades, em vez de feitas de vidro e aço, como fora previsto por gerações anteriores de urbanistas, serão construídas em grande parte de tijolo aparente, palha, plástico reciclado, blocos de cimento e restos de madeira, onde se instala [...] a miséria, cercado de poluição, excremento e deterioração.

Esse pouco acesso resulta em debilidades ou desvantagens para o

desempenho e mobilidade social dos indivíduos na sociedade capitalista.

O autor chama a atenção para os reflexos do desenvolvimento moldado

pelas consequências das diferenças e desigualdades sociais. Ou seja, existe um elo

entre a produção e aqueles que produzem, com vistas a atender aos interesses do

capital, não importando as consequências advindas desse elo.

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2.2 FAVELAS EM CAMPO GRANDE

Estudos de Taschner (2008) e Telles (2006) demonstraram que o IBGE ao

incluir as favelas na contagem de população geral as categorizou como:

a) os aglomerados ou agrupamentos prediais ou residenciais formados com número geralmente superior a cinquenta; b) predominância de casebres ou barracões de aspecto rústico, construídos principalmente com folha de flandres, chapas, zincadas ou materiais similares; c) construções sem licenciamento e sem fiscalização, em terrenos de terceiros ou propriedade desconhecida; d) ausência, no todo ou parte, de rede sanitária, luz, telefone e água encanada; e) área não urbanizada, com falta de arruamento, numeração ou emplacamento.

Assim, o uso dos termos aglomerado, assentamento precário ou

agrupamento irregular se generalizou no Brasil, os quais foram padronizados por

órgãos públicos, privados, organizações não governamentais, prefeituras, agências

de habitação e usados como sinônimo de favela.

De acordo com a agência das Nações Unidas UH-HABITAT6, entre 1991 e

2000, no Brasil, o crescimento de domicílios em favelas foi de 22,5% e, em 2005, de

26,4%.

O Censo/IBGE/2010 registrou que o Brasil, com 5.565 municípios chegou a

uma população formada por 190.732.694 pessoas e revelou também a situação de

favelas identificando que 11,4 milhões de brasileiros moram em favelas, o que representa

um total de 6,0% da população.

A maior concentração é no Pará, com 17,4% dos domicílios em favelas.

(BRASIL, 2010). Mato Grosso do Sul (MS), tem a segunda menor proporção de

favelas do país, com 0,25% de domicílios que tem 0,13%.

Em relação à distribuição dos serviços essenciais7 nas favelas em MS 6,7%

das residências tem esgoto e 68,9% tem fossa séptica e ainda, 98,6% dos domicílios

atendidos nas favelas tem fornecimento de energia elétrica e água por rede geral.

6Informações disponíveis na página eletrônica da Agência UN-HABITAT, disponível

em<http://www.unabitat.org>, acesso em10/dezembro/2011. 7Considerados na pesquisa do IBGE como qualquer forma de acesso: distribuição por empresa concessionária,

ligações clandestinas de energia e água, poços, cisternas e outros.

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O levantamento também classifica 879 domicílios do Estado como

irregulares, para o total de 763.696 residências, os quais estão distribuídos em oito

aglomerados subnormais, sendo cinco em Corumbá (Havaí, Jatobá, Loteamento

Pantanal, Tiradentes e Vulcano) e três em Campo Grande. Do total moradores em

favelas, campo Grande possui 1.482 moradores.

De acordo com esse levantamento do IBGE, as favelas na Capital mudaram

e estão distribuídas nos bairros da Vila Nasser (Vila Nossa Senhora Aparecida),

Dom Antônio Barbosa (Cidade de Deus) e Moreninhas (Alta Tensão).

A constante mudança de local e população é uma das características

destacadas pelo Instituto sobre os aglomerados.

Gonçalves (2010, p.10), ao analisar a trajetória das alterações ocorridas no

espaço urbano de Campo Grande, com a transformação de áreas ocupadas

irregularmente por favelas constatou que:

Muito embora a cidade de Campo Grande seja conhecida como uma capital que não tem favelas, esse modelo de ocupação informal existe. Não da forma típica que se conhece, com inúmeros barracos em encostas situadas muitas vezes em áreas centrais das grandes cidades (como Rio de Janeiro e São Paulo), mas são moradias construídas ilegalmente e muitas vezes em áreas de risco e no caso de Campo Grande, a maioria em fundo de vale ou áreas de domínio público municipal, algumas vezes até vinculadas aos aterros sanitários (lixão), como o caso da favela

8 no loteamento Dom Antônio Barbosa.

Segundo a autora, a falta de moradia popular e de lotes a preços acessíveis

levou a população a ocupar espaços, em busca de mínimas condições para garantir

sua sobrevivência, muitas vezes em áreas impróprias para assentamentos como,

por exemplo, nas imediações de aterros sanitários municipais, os denominados

“lixões”, destinados ao assento de todo o lixo produzido na cidade.

Outros estudos também identificaram a relação do lixo com aspectos

urbanos.

Santos (2000) identificou que sempre existiu uma relação direta entre a

questão da destinação dos resíduos sólidos e o surgimento de bairros adjacentes

aos locais de deposição de resíduos sólidos na cidade de Campo Grande - MS e

ainda, que até o ano de 1978, o destino dos resíduos sólidos na Capital era o

depósito in natura, em áreas inabitadas, geralmente em distantes, que se

transformavam nos conhecidos lixões.

8 A autora se refere à Favela “Cidade de Deus”

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A autora afirma que a questão dos resíduos sólidos acompanhou o processo

urbanístico de Campo Grande, uma vez que o Poder Público se servia desse

material para reorganizar o relevo de áreas alagadas e ou com erosões e

depressões, favorecendo o nivelamento topográfico com vistas ao para

reaproveitamento da área para fins urbanísticos.

Campo Grande, com cerca de 750 mil habitantes, produz uma quantidade de

RSU de 180 mil toneladas por ano, cerca de 500 toneladas diárias (BRASIL, 2008).

Cabe, então, a partir deste momento, apresentar alguns elementos

contextuais sobre a questão de resíduos sólidos urbanos.

2.3 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITO, GERAÇÃO E DESTINAÇÃO

A geração de RSU tem crescido muito em consequência do modelo atual de

sociedade que massifica o ser humano pelo excesso de consumo, impulsionado

pelos avanços tecnológicos e produção em larga escala.

A industrialização incorporou ao cotidiano das pessoas uma série de novos produtos [...]. O impulso industrial também contribuiu para o surgimento das metrópoles – e, quanto mais gente confinada mais detritos se acumulam. (Revista Veja, 2011, p. 20)

O crescimento exponencial da população, principalmente a urbana,

juntamente com o desenvolvimento industrial e novos padrões de consumo, tem

ocasionado o aumento da geração de resíduos. A população mundial cresce assim

como a produção de resíduos.

Pereira Neto (1999) define resíduos sólidos como aqueles nos estados

sólidos e semissólidos que resultam de atividades humanas, sendo que os mesmos

podem ser reciclados e parcialmente utilizados.

A Lei 12.305, de 2 de Agosto de 2010, que institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS), diferencia resíduos sólidos de rejeitos:

a) Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado, resultante de atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, os estados sólido ou semissólidos, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem o seu lançamento inviável, na rede pública de

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esgotos ou em corpos d’água, ou exijam soluções técnica ou economicamente viáveis para isso. b) Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.

Pereira Neto (1999) acrescenta que os resíduos sólidos são classificados de

acordo com o local de geração, conforme a seguinte descrição:

a) Urbanos: provenientes de residências, atividades comerciais, varrição e ruas, podas de árvores e similares; b) Industriais: gerados pelos processos de transformação; c) Agrícolas: decorrentes da atividade produtiva do setor primário; d) Resíduo de fontes especiais: é todo resíduo sólido que, em função de determinadas características peculiares que apresenta, passa a merecer cuidados especiais em seu acondicionamento e manipulação até a sua disposição final.

E, de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR

8419/1984, considerados materiais inertes os vidros, metais, terras e cinzas e restos

inertes e como materiais combustíveis, os papéis, cartões, plásticos, madeira,

gomas, couro, alimentos e outros.

Esses resíduos sem receberem um gerenciamento adequado causam

impacto ambiental9 negativo nas cidades e ao meio ambiente.

Segundo Philippi (2004), a produção de resíduos sólidos faz parte do

cotidiano do ser humano.

Além de explorar intensivamente os recursos naturais, o que já cria sérios

problemas ambientais, o homem ainda devolve para o meio ambiente, sem

tratamento, todos os resíduos oriundos dessa exploração, do transporte, do

beneficiamento e da fabricação de produtos para consumo (WELLS 1993 apud

SYDOW 2006, p. 32).

A alta taxa de resíduos que vai para os aterros só ocorre em sociedades que

ainda não colocaram em prática ações eficazes para a melhoria da qualidade de

vida e a conservação do meio ambiente.

A gestão dos resíduos sólidos municipais é de responsabilidade das

prefeituras, que devem organizar e implementar as políticas de gerenciamento.

9 Impacto ambiental compreendido como alteração nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causado por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam as atividades sociais e econômicas, a saúde, a segurança e o bem estar da população; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais (Instituto de Pesquisa e Educação Ambiental, 2005).

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A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu prazo ou limites

temporais para algumas ações, entre elas o Plano Nacional de Resíduos Sólidos

como condição para que os municípios tenham acesso a recursos da União para

gestão de resíduos sólidos.

Outra meta dessa Política é a eliminação de lixões e aterros controlados até

2014 e a disposição final ambientalmente adequada dos resíduos.

De acordo com a 2ª Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada

pelo IBGE, no ano 2000, eram coletadas no Brasil, diariamente, em torno de 125,2

mil toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU), correspondendo a 80% do total

gerado (ABAL, 2012). Dados da Pesquisa apontaram para uma melhoria

significativa, sendo que apenas 30,5% dos municípios depositavam seus resíduos

em lixões, 22,3% em aterros controlados e 47,1% em aterros sanitários.

Tenório e Espinosa (2004) descrevem lixões como a disposição de RSU “a

céu aberto”, sem nenhum tratamento e aterro controlado, como a técnica que utiliza

princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos cobrindo-os com uma

camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores

se for necessário.

Os autores explicam que esse tipo de aterro é também caracterizado como

“lixões controlados”, pois há a redução mínima da poluição visual, entretanto, não há

a redução da poluição do solo, da água e da atmosfera.

Segundo Tenório e Espinosa (2004), o aterro sanitário é uma técnica mais

eficiente. A disposição é feita em camadas, sendo depositado material inerte para

confinamento de cada porção. Existe o isolamento do solo, com uma

impermeabilização de base, seguindo os sistemas de drenagem superficial,

captação e tratamento de chorume, captação e tratamento de gases e

monitoramento e plano de encerramento do aterro. Outras soluções para o destino

final de RSU, segundo Tenório e Espinosa (2004), são: a estação de transbordo, a

compostagem e a incineração.

Uma estação de transbordo é o local onde os resíduos ficam armazenados

para posterior transferência para caminhões maiores, de forma que outras atividades

podem otimizar os custos, tais como operações de tratamento físico que reduzem o

tamanho e o volume dos resíduos coletados.

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Conforme relatam Tenório e Espinosa (2004), a compostagem é um

processo de reciclagem da parte orgânica do RSU.

Os incineradores são basicamente reatores com câmaras de alta

temperatura e atmosferas oxidantes. Os tipos mais comuns de incineradores são o

de forno rotativo, que é atualmente o equipamento mais popular para a incineração

de RSU.

A instalação de tratamento e disposição final de RSU no Brasil depende de

licenciamento ambiental, que é concedido, em concordância com segundo a

Resolução nº. 001/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que

institui a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de

Impacto Ambiental (Rima) para as atividades modificadoras do meio ambiente

(BRASIL, 1986).

2.4 RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E ATIVIDADE DE

CATADORES

Genericamente, denomina-se reciclagem o retorno da matéria-prima ao ciclo

de produção. É o vocábulo adequado para designar o reaproveitamento de materiais

beneficiados e já utilizados como matéria-prima para um novo produto. Do inglês

recycle (re = repetir e cycle = ciclo), a palavra reciclagem assume esse significado a

partir da década de 1970.

Naquele período os choques nos preços do petróleo, entre outras

consequências, catalisaram a pauta da agenda mundial do setor energético, nela

incluindo, definitivamente, as preocupações ambientais e, especialmente, as

relacionadas à conservação em especial da energia (Calderoni, 1999).

Modernamente, o termo ganhou um significado mais amplo e vem sendo

utilizado para designar todo um conjunto de operações e técnicas que tem por

finalidade aproveitar resíduos sólidos tidos como inservíveis e reutilizá-los como

matéria-prima na manufatura de novos produtos.

Conforme Wells (1995), Calderoni (1999) e Correa (2002) os RSU são

considerados reaproveitáveis quando têm potencial para serem novamente

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transformados em matéria prima pelas indústrias, reduzindo os custos do produto

final e o impacto ambiental produzido. Wells (1995) apresenta os RSU com potencial

para reaproveitamento e aqueles não recicláveis conforme se observa a os

exemplos a seguir (Quadro 1):

Material Reciclável Não Reciclável

Papel jornais e revistas folhas de caderno formulários de computador caixas em geral aparas de papel fotocópias envelopes provas rascunhos cartazes velhos papel de fax Embalagem Tetrapak

etiqueta adesiva papel carbono fita crepe papéis sanitários papéis metalizados papéis parafinados papéis plastificados papéis sujos guardanapos tocos de cigarro fotografias

Metal lata de folha de flandres (lata de óleo, salsicha, leite em pó) lata de alumínio (refrigerantes) outras sucatas de reformas

Clips grampos esponjas de aço

Vidro garrafas de vários formatos e tamanhos copos lâmpadas

Espelhos, vidros planos tubos de TV cerâmica, porcelana

Plástico

embalagem de refrigerante (PET) embalagem de material de limpeza copinho de café (PVC) embalagem de margarina, canos, tubos, sacos plásticos em geral

cabo de panela tomadas embalagem de biscoito

Quadro 1: Material reciclável Fonte: WELLS, 1995 apud SYDOW 2006

Muitos dos problemas relacionados com os RSU como os sociais,

ambientais e de saúde, além dos gastos envolvidos no tratamento e na destinação

final dos mesmos, são reduzidos quando se recicla e se reutiliza alguns dos

materiais descartados como lixo.

Os benefícios da reciclagem aparecem no campo ambiental a partir do uso

mais racional de fontes naturais de matéria-prima, muitas vezes não renováveis e da

redução das agressões ao solo, ao ar e à água que a exploração desses recursos

produz.

No campo econômico, a reciclagem gera economia dos recursos

energéticos e da quantidade de resíduos que necessitaria de tratamento final, como

aterramento ou incineração.

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Segundo Calderoni (1999, p.25) “o destino do lixo é a nova fronteira da

evolução humana De agora em diante o homem tem de transpor esse obstáculo

para progredir”.

Dados da Associação Brasileira de Alumínio (ABAL) revelam que o Brasil,

em 2006, reciclou 138,1 mil toneladas de sucata de latas, o que corresponde a 10,3

bilhões de unidades (ABAL, 2006).

Nesse mesmo ano, o país liderou a reciclagem de latas de alumínio para

bebidas, com índice de 94,4%, superior ao do Japão (90,9%), da Argentina (89,6%)

e de outros países. Ainda, 51,3% das embalagens PET pós-consumo foram

efetivamente recicladas no país, totalizando 194 mil toneladas. No entanto, segundo

Sydow (2006), a reciclagem de resíduos sólidos não é a solução de todos os

problemas, pois o conhecimento científico e tecnológico essa área é bastante

recente e ainda existe um longo caminho a ser percorrido.

No Brasil ainda são incipientes os programas de reciclagem de RSU e há

muito a se fazer para promover o desenvolvimento nessa área.

Para se fazer um comparativo, nos Estados Unidos, em 1991, já havia cerca de 4.000 programas de coleta seletiva, enquanto a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2000 apontou apenas cerca de 600 programas de reciclagem no Brasil, que estão localizados em 350 municípios (SYDOW, 2006, p.29).

Em Campo Grande – MS a Prefeitura implantou um Programa de Coleta

Seletiva em caráter experimental10 somente em 2011. Ainda assim, apenas uma

parte da Cidade é atendida com a coleta seletiva, uma vez por semana.

Pereira Neto (1999), destaca que no campo social e econômico, a coleta e a

reciclagem de RSU têm sido apontadas frequentemente como atividades geradoras

de emprego e renda, em especial para a população de renda mais baixa.

De acordo com a 2ª Pesquisa Nacional de Saneamento Básico/ IBGE, no

ano 2000 já havia 24.340 catadores distribuídos em 1.548 municípios de todo o país

e já eram coletadas, diariamente, algo em torno de 125,2 mil toneladas de resíduos

sólidos urbanos (RSU), correspondendo a 80% do total gerado (BRASIL, 2000).

10

O Programa foi implantado em 1º julho de 2011, nos bairros São Lourenço, Bela Vista, Vilas Boas, Carandá Bosque, Autonomista, Chácara Cachoeira, TV Morena, Santa Fé, Vila Carlota. Nessa primeira etapa participam 120 bairros com alcance de aproximadamente de 32 mil famílias.

33

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52

-

Diversos estudos abordam a temática sobre a relação da coleta e reciclagem

de RSU com a sobrevivência de pessoas no entorno dos “lixões” e aterros.

Esse tipo de ocupação não é novidade no Brasil. Vale destacar que Jesus

(1995), registrou a atividade de catadores de resíduo reciclável dos moradores da

Favela Canindé - SP, já no ano de 1955. Em sua obra a autora retratou o dia-a-dia

da vida dos favelados, apresentando uma crítica sobre a postura dos políticos,

poderes e sociedade e sobre as condições das mazelas sociais que os pobres

viviam à época.

Outro estudo que merece destaque foi o realizado por Juncá e Azevedo

(1995), sobre as condições de vida dos trabalhadores no depósito de lixo da cidade

de Campos, RJ. Os resultados da pesquisa revelaram o cotidiano de vulnerabilidade

dos trabalhadores expostos aos riscos de toda sorte; a sobrevivência por meio da

coleta e comercialização de RSU; e o precário acesso a bens e políticas públicas

necessárias para a garantia dos direitos sociais.

A pesquisa de Costa (1986), que teve como objeto a Favela Cidade Nova,

Natal - RN, próximo a um lixão, em seu estudo também procurou entender as

estratégias de sobrevivência elaboradas pelos moradores da favela. Os resultados

comprovaram a ocupação do espaço urbano no entorno da área do aterro

controlado da cidade, na década de 1970, por pessoas que sobreviviam da cata de

materiais recicláveis no local.

A autora afirma que “um microssistema reproduz as caraterísticas

essenciais do macrossistema em que se insere, constatando assim, a prevalência

do modelo capitalista” (COSTA, 1986, p.75).

Sartori (2000), em seu estudo identificou homens, mulheres e crianças

trabalhando no aterro municipal controlado, em Campo Grande - MS, catando RSU

de algum valor comercial para comercialização. Porém, a autora não aprofundou

nesse aspecto, visto que o objeto de estudo delimitou-se à situação da gestão dos

resíduos sólidos urbanos na cidade, mas os resultados mostram que em Campo

Grande os resíduos sólidos são comercializados por atravessadores ou sucateiros.

Já Correa (2002), também realizou estudo com 300 catadores de RSU, em

Campo Grande, MS e traçou o perfil desses catadores. Os resultados revelaram

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-

diferentes categorias de catadores11 na região urbana do município e sua

contribuição para o ecossistema na redução do impacto gerado pela produção de

RSU.

O autor categorizou os catadores urbanos em Campo Grande, entretanto

para definir o perfil não considerou os catadores do aterro, uma vez que esses,

conforme ele mesmo revelou, não foram incluídos na amostra trabalhada em sua

pesquisa.

Nessa mesma ótica, o documentário “Ilha das Flores”, produzido por José

Furtado em 1989, retratou a vida dos moradores da Ilha localizada à distância de 2

km de Porto Alegre, RS. Esse local recebe resíduos sólidos do perímetro urbano do

entorno da ilha. O documentário abrange todas as facetas das relações sociais na

sociedade capitalista, como a busca de meios para sobrevivência, a desigualdade

na divisão de renda e lucro, a concentração de riqueza e poder e a vulnerabilidade

social das pessoas pobres.

Em toda parte, pessoas sobrevivem da coleta de RSU. Vale destacar alguns

exemplos, identificados nas reportagens de Civita (2011), publicadas na Revista

Veja:

a) No Lixão de Gramacho, em Duque de Caxias do Rio de janeiro, que inclusive foi tema de documentário em 2010, catadores recolhem produtos reaproveitáveis no lixão a céu aberto (CIVITA, 2011, p. 45). b) Na lagoa submersa de Thilafushi, nas Ilhas Maldivas, cujas margens o governo decidiu aterrar com detritos vindos de toda parte [...] e com eles vieram cerca de 150 catadores migrantes, que se instalam em meio à sujeira e à fumaça (CIVITA, 2011, p. 59). c) No Bairro de Sher Shah, no Paquistão, mais de 20.000 pessoas vivem da reciclagem do lixo eletrônico recolhido nos Estados unidos, Japão, Austrália, Inglaterra, Kuwait, Arábia Saudita, Singapura e Emirados Árabes, que é feita sem cuidados com o meio ambiente ou com saúde (CIVITA, 201, p. 75). d) Em Gana, na África, o aterro Acra é talvez o maior do mundo, onde gangues fazem pente-fino em drives de computadores, e em diversos outros eletrônicos, em busca não só de material a ser vendido, mas também de informações sigilosas dos antigos proprietários que são usados em golpes pela internet (CIVITA, 2011, p.79).

11

Catador de Cooperativa: organizado em cooperativa, recebe pagamento mensal; b) Catador do Aterro: possui organização e regras próprias de trabalho [...] estão distribuídos em grupos. A venda é realizada no local para intermediários e o pagamento é a vista. No Aterro, esta atividade funciona 24 horas; d) Catador autônomo: aquele que está nas ruas e recolhe e separa resíduos de sua preferência, vendendo diretamente na empresa que fica mais perto do seu trajeto ou de sua residência (CORREA, 2002, p.50).

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-

Os exemplos servem para compreender que um estudo sobre essa questão

deve considerá-la como uma questão urbana regida pelas categorias de

universalidade e totalidade, segundo Alves (1995).

Assim, a cidade é o lugar onde a reprodução do capital acontece, mas com

reflexos em todas as relações estabelecidas na sociedade capitalista.

2.5 MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE

Localizado no centro do Estado de Mato Grosso do Sul, na região Centro

Oeste do Brasil, o município de Campo Grande limita-se geograficamente próximo

da fronteira do Brasil com o Paraguai e a Bolívia, situa-se na latitude de 20°26’34’’

Sul e longitude de 54°38’47” Oeste do meridiano de Greenwinch .

Está equidistante dos extremos Norte, Sul, Leste e Oeste do país, a

1.134 Km de Brasília e se encontra sobre o divisor de águas das bacias dos rios

Paraná e Paraguai, ocupando uma superfície total de 8.096,051 Km² (2,26% da área

total do Estado). A área urbana totaliza 154,45 km² (Mapa1).

Mapa 1: Cidade de Campo Grande,

Fonte:IPLAN/MS, 2012

Mapa 1: Divisão política de MS

Fonte:IPLAN/MS, 2012

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-

A consolidação de Campo Grande como capital do Estado de Mato Grosso

do Sul, em 1977, propiciou um afluxo migratório, uma expansão econômica e

territorial da cidade e, consequentemente, um crescimento populacional que

provocou alterações significativas em seu perímetro urbano.

Em 1988, a implantação da Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do

Solo, em Campo Grande, MS deu responsabilidade de fiscalização do espaço

urbano à administração municipal, que estabeleceu critérios para instalação de

empreendimentos públicos e privados e normas que regulamentaram a apropriação

dos recursos naturais.

Considerando que houve expansão do território da cidade com a

implantação de novos loteamentos, e, portanto, visando à ocupação das áreas

localizada na periferia, a administração pública promoveu a cedência de áreas, por

meio do comodato.12

Essa ação tinha como objetivo [...] tornar essas áreas produtivas, combatendo as invasões e oferecendo à população de baixa renda um meio dessa população possuir uma atividade produtiva para sua subsistência [...]. Observa-se que, no final da década de 1990, cerca de 830 ha de áreas de reserva públicas encontravam-se cedidas em comodato (GONÇALVES, 2010, p.40).

Ainda, segundo a autora, apesar da transitoriedade dessas concessões de

uso das áreas públicas, o sentido de propriedade desenvolvido pelo comodatário

caracterizou-se como um impedimento para o poder público na retomada da área

para reorientação de sua destinação. Houve também o aumento da pressão para

expansão das áreas em comodato, fomentado pelo agravamento da crise

socioeconômica e o respectivo crescimento do contingente populacional das classes

de baixa renda.

Nesse contexto, na década de 1990, Campo Grande já vivenciava os

problemas decorrentes do processo de urbanização, entre outros, a falta moradia,

desemprego, mendicância e vulnerabilidade social.

12

Comodato tem previsão no Código Civil Brasileiro (Lei n.º 10.406 de 10 de janeiro de 2002) em seus artigos 579 a 585. É um contrato unilateral, gratuito, pelo qual alguém (comodante) entrega a outrem (comodatário) coisa infungível, para ser usada temporariamente e depois restituída.

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-

Ocorreram, no mesmo período e pelas mesmas razões, o aumento dos assentamentos informais, das sub-habitações (favelas) e da degradação dos recursos naturais, reflexo das desigualdades existentes na estrutura socioeconômica e na falta de valorização das questões do meio ambiente na ocupação do espaço urbano. E durante as décadas seguintes o reflexo do déficit habitacional tornou a permanência desses assentamentos um problema constante para a capital do estado (GONÇALVES, 2010, p.38).

Paralelamente aos problemas sociais decorrentes da expansão, Campo

Grande registrou crescimento razoavelmente constante.

Segundo dados do Censo/IBGE/2010, com uma população de 787.204 mil

habitantes, o município é o terceiro maior e mais desenvolvido centro urbano da

Região Centro-Oeste e a 24ª maior cidade do país.

Atualmente, a cidade possui dimensões e características próximas as de

uma metrópole. É o mais importante centro impulsionador de toda a atividade

econômica e social do Estado.

A população economicamente ativa do município totaliza 333.597 pessoas

(Brasil, 2010). De um modo geral, a maior parte da mão de obra ativa do município é

absorvida pelo setor terciário (comércio de mercadorias e prestação de serviços).

A cidade registrou em 2007 um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)13

de 8.944.688.000,00 e PIB per capita de (R$) 12.346. (Brasil, 2010).

O número de imóveis em Campo Grande totaliza 283.334 unidades, sendo

283.017 particulares e 317 públicos, segundo dados do Censo de 2010.

De acordo com o Plano Diretor, instituído pela Lei Complementar Nº.96, de 6

Novembro de 2006, estabeleceu a divisão a cidade de Campo Grande em sete

regiões que recebem sua denominação de acordo com os córregos que

influenciaram sua origem e ocupação: Lagoa, Prosa, Centro, Imbirussú, Segredo,

Bandeira e Anhanduizinho.

13

O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um período determinado. O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região.

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-

3 MATERIAL E MÉTODOS

A Pesquisa explorou fontes secundárias como livros, periódicos, artigos

publicados em congressos e legislação, que serviram de base para o estudo sobre a

urbanização no Brasil e o surgimento de favelas e, sobretudo, sobre a questão do

lixo na sociedade e a existência do catador de material reciclável.

Realizou-se, ainda, coleta de dados junto à Prefeitura Municipal de Campo

Grande, precisamente na Agência Municipal de Habitação de Campo Grande -

EMHA, em dezembro de 2010. Foram consultados os cadastros voltados às

questões da urbanização de Campo Grande, a legislação pertinente ao tema e

documentos referentes à Favela “Cidade de Deus”. Foram realizadas, igualmente,

entrevistas com os funcionários desse órgão.

A pesquisa de campo se deu por meio de visitas à Favela “Cidade de Deus”,

para observação do cotidiano e realização de entrevistas com os moradores, em

outubro de 2010. Também foram feitas visitas ao Centro de Referência “Rosa Adri”

(CRAS) e ao Centro de Capacitação Profissional (CECAPRO) localizados na região,

com o objetivo de coletar maiores informações sobre a favela e os catadores de

material reciclável.

Foram feitos registros de imagens no local estudado com o intuito de

complementar as informações obtidas por meio de observações e entrevistas.

Para registrar as observações, foi utilizado um diário de campo, no qual

foram anotadas impressões, ocorrências e características do ambiente.

A partir do “Relatório Final de Cadastramento Dom Antônio Barbosa (2009)”,

foi constatado o cadastramento de 549 pessoas, que compunham 204 grupos

familiares e, desses, em torno de 100 pessoas afirmaram possuir como ocupação

laboral a cata de material reciclável. Com base nessa informação foram

selecionadas setenta catadores para compor a amostra da pesquisa com objetivo de

aferir o perfil social dos catadores e, destacados desses, seis para serem

informantes-chaves.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, definidas por Triviños (1990,

p.146) como:

aquela(s) que parte(m) de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferece(m) amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas dos informantes.

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-

Para obter parâmetro de comparação das potencialidades locais da região

onde está situada a favela, objeto de estudo da pesquisa, utilizou-se o Índice de

Qualidade de Vida Urbana (IQVU) da Região Anhanduizinho. Esse índice foi

elaborado pelo Instituto Municipal de Planejamento Urbano (PLANURB), que

apresenta um ranking dos bairros do município de Campo Grande. As dimensões

abordadas nesse Índice são Educação, Renda e Pobreza, Sustentabilidade

Ambiental e Moradia, as quais tem como base os respectivos indicadores

disponibilizados pelo Censo Demográfico 2000 do IBGE (FIGUEIREDO, 2008).

As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora quando acompanhou

trabalhos acadêmicos em Iniciação Científica, orientados pelo Professor Dr. Gilberto

Luiz Alves, por meio do Programa de Iniciação Científica da Universidade

Anhanguera-Uniderp.

Após essas etapas, procedeu-se tabulação dos dados em programa

Microsoft Excel e, posteriormente, a seleção, organização e análise do material, com

o agrupamento dos dados de natureza quantitativa e qualitativa. A Formatação do

Trabalho seguiu as Normas para Dissertação de Mestrado da Universidade

Anhanguera-Uniderp (BRASIL, 2005).

40

0

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-

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 A FAVELA “CIDADE DE DEUS”

A Favela “Cidade de Deus” está localizada na região urbana do

Anhanduizinho (Mapa 1), denominada pelo governo municipal como Assentamento

Precário Dom Antônio Barbosa II, seguindo terminologia adotada pelo IBGE,

conforme o Programa de Urbanização, Regularização e Integração de

Assentamento Precário da Agência Municipal de Habitação (EHMA).

Mapa 2 : Mapa da cidade com a divisão das Regiões Urbanas.

Com traçado vermelho a região onde se localiza a favela Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Grande, 2006.

Pelos levantamentos de fontes documentais da Agência Municipal de

Habitação (EMHA) constatou-se que Região Urbana do Anhanduizinho é formada

pelo polígono a partir do cruzamento da Avenida Bandeirantes com a Avenida

Salgado Filho. Seguindo por está até a Avenida Costa e Silva, percorre-se essa

Avenida e chega-se à Avenida Gury Marques (BR 163), que vai ao limite da linha do

perímetro urbano. Por fim, seguindo esta linha em direção aos marcos 25, 26 e 27

até a Avenida Günter Hans (BR 060), continua-se por esta, retornando ao ponto de

partida.

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-

Com uma área de 5.403 hectares, agrega quatorze bairros. Tem as

características ambientais permeadas por cursos d’água, destacando-se o Córrego

Anhanduizinho que lhe dá o nome, cuja bacia hidrográfica está localizada na maior

parte dessa área e são encontradas também, áreas pertencentes às Bacias dos

Córregos Bandeira, Lageado e Bálsamo. Inexistem reservas especiais ou de

preservação visível, a vegetação natural é muito pouco preservada. Alguns

conjuntos e bairros habitacionais foram instalados próximo às margens dos

córregos.

A área institucional existente nessa região é formada pela Universidade

Federal de Mato Grosso do Sul, que inclui, além de diversas edificações de ensino e

de pesquisa, o estádio de futebol Morenão, o Lago do Amor e a Reserva Biológica

(BRASIL, 2009).

Segundo dados do Perfil Socioeconômico 2011, da Secretaria Municipal de

Planejamento e Controladoria Geral (SEPLAC), mesmo com essas características a

região é a segunda mais extensa de Campo Grande e possui uma população de

152.202 habitantes sendo, portanto, a região mais populosa da cidade.

A dinâmica demográfica revela um crescimento no sentido sul, que

compreende os bairros Los Angeles, Centro Oeste e Lageado, já que os bairros de

urbanização antiga e localizados mais ao centro da cidade estão com o seu

crescimento estagnado.

Com muitos vazios urbanos intercalados de loteamentos e conjuntos

habitacionais é comum a falta de sequência viária, existindo poucas vias que

interligam o eixo periférico.

De acordo o Relatório Final de Cadastramento Dom Antônio Barbosa (2009,

p.3):

Outra característica observada é a predominância do uso do solo de forma residencial, sobretudo o de média e baixa renda [...]. Nos bairros mais populosos, encontramos concentração de comércios e serviços de atendimento de vizinhança. [...]. As áreas que não foram parceladas possuem quase sempre uso do solo de forma rural [...] com fazendas e chácaras ao longo dos córregos Bálsamo e Lageado, entremeados por bairros de baixíssima densidade, que possuem habitações precárias e bastante desassistidas em infra-estrutura de serviços.

Nessa região, a Favela “Cidade de Deus”, ocupa uma área de 76.000 m², de

acordo com dados da Agência Municipal de Habitação (EHMA).

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-

4.1.1 Fatores determinantes e estratégia de sobrevivência dos moradores

Alguns fatores que foram determinantes para a ocupação da área podem ser

destacados.

Movimento migratório - Campo Grande, após a criação do Estado de MS

(1977) e ao se tornar capital, sofreu um processo migratório intenso de pessoas em

busca de melhores condições de vida melhor.

Espaço vazio entre bairros - a área vazia exatamente aos fundos do Bairro D.

Antônio Barbosa favoreceu condições para a ocupação na congruência da Rua

Evelina Selingardi e a Rua Leopoldina de Queirós.

A imagem (Figura 1) em 2005 mostra da ocupação a área vazia inclusive

com cobertura vegetal preservada (com círculo amarelo) e aos fundos o Bairro Dom

Antônio Barbosa (com seta vermelha).

Figura 1. Área antes da ocupação. Fonte: Paiva, 2009

A pré-existência de um bairro no local – próximo da área da favela já havia o

Loteamento urbano do Bairro Dom Antônio Barbosa, com infraestrutura, então não

foi difícil para essas pessoas fixarem moradias.

Na imagem (Figura 2), já em 2009, pode-se notar ocupação da área e

inclusive os impactos ambientais após a ocupação, pois a área já apresentava

instalações dos barracos e perda da cobertura vegetal (com círculo amarelo), e aos

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fundos o Bairro Dom Antônio Barbosa (com seta vermelha) e o loteamento em

construção (com seta azul).

Figura 2. Área depois da ocupação. Fonte: Paiva, 2009

Falta de trabalho – as pessoas, visto que estavam em busca de meios de

sobrevivência, encontraram ali uma opção de suprimento imediato para suas

necessidades básicas.

Aterro Controlado próximo a área da favela - as pessoas que se fixaram

próximas ao aterro possuíam uma condição de vida precária. Assim, passaram a

retirar do lixo retiram artefatos que pudessem ser vendidos, trocados ou

reaproveitados.

[...] optando por trabalhar nas áreas dos lixões onde há maior concentração de resíduos sólidos recicláveis, o indivíduo, sem qualquer qualificação, e de baixa renda, acaba se fixando, montando sua moradia nessas imediações, dando origem às favelas (GONÇALVES, 2010, p. 37).

Cada vez mais trabalhadores não conseguem atingir um nível de renda

suficiente para adquirir ou construir um imóvel e tem sido crescente o número de

pessoas desempregadas ou inseridas no chamado mercado informal, ocasionando,

com isso, a também crescente demanda por habitação.

Segundo informações da Assistente Social da EHMA, essa localidade é

constituída por famílias em situação de pobreza.

“‘Cabe destacar que, em 2006, o número de famílias era cerca de 200. O atual Prefeito fez uma reunião com os moradores do local e anunciou a construção das casas, após isso, de um dia para outro acontecia novas invasões. Foram tantas que nós chegamos a contabilizar, cerca de 400 barracos no local” (Entrevista realizada em 5 de dezembro de 2010).

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Parte desse total de famílias já foi removida para outros loteamentos.

Conforme a própria Assistente Social informou, ali só ficaram aquelas que foram

cadastradas no primeiro levantamento no início de 2006:

“Fizemos um cadastramento das famílias em 2006 no Programa de Habitação da EHMA e essas foram sendo remanejadas conforme os

residenciais ficavam prontos, porque o residencial “Jose Teruel Filho”14

não atenderia a todos, com cerca de 230 casas. Em outubro de 2009, realizamos novo cadastramento das famílias estavam no local. Os barracos receberam um selo colorido para evitar novas invasões na área, porque como anúncio da construção do residencial, todo dia tinha novas famílias, inclusive de outras cidades” (Entrevista realizada em 5 de dezembro de 2010).

Um fator de destaque que contribui para o agravamento das questões

sociais na cidade de Campo Grande é o processo migratório constante, dada a sua

localização geográfica, que facilita o trânsito de pessoas de várias regiões, as quais

acabam fixando moradia na cidade.

Aliados a esse contexto estão outros fatores como o desemprego, alta

concentração de renda, precarização do trabalho, pouco acesso de todos os

cidadãos à infraestrutura, aos bens e aos serviços sociais disponíveis em uma

comunidade, assim como a falta de moradia. A esse respeito Gohn (1999, p. 25),

afirma que:

Dentre os movimentos populares urbanos, a luta pela moradia continuou a ter a centralidade como luta popular mais organizada. Uma parte dela tornou-se bastante institucionalizada, atuando no plano jurídico [...], obtendo conquistas importantes, como Estatuto da Cidade. Outra parte inovou suas práticas seguindo o modelo do movimento popular rural: realizando ocupações, não mais de áreas vazias, cada vez mais escassas e distantes dos centros urbanos, mas ocupando áreas das grandes cidades.

Pela segunda afirmativa apresentada por Gohn, a respeito da ocupação das

áreas vazias, justifica-se o surgimento da Favela “Cidade de Deus”. Destacamos,

para deduzir essa conclusão, o relato do Informante A, morador do local, como

segue:

“Eu cheguei aqui por volta de 2005. Já rodei esse Brasil e outros países. Aqui não tinha nenhum barraco, eu precisava de um local pra morar. Depois ia aparecendo uma e outra pessoa ou famílias que vinham trabalhar no “lixão” em busca de um local para morar e, eu fui indicando o local para as pessoas erguerem seu barraco” (Entrevista realizada em 10 de outubro de 2010).

14

Por ocasião da pesquisa, a Prefeitura Municipal já havia iniciado a implantação do residencial para atender as famílias moradoras da favela. As casas estão sendo construídas em área contígua a favela, registrado na imagem da Figura 5.

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-

Daí a emergência do movimento dos trabalhadores urbanos, sem condições

de prover moradia e meios de sobrevivência, que opera a ocupação de áreas

urbanas, públicas ou privadas e desencadeia um processo de aglomerações

urbanas irregulares e informais, consequência da má distribuição de renda e do

déficit habitacional no país que o Poder Público não consegue acompanhar.

A necessidade de moradia as pessoas fez com elas fossem se instalado no

local, montando seus barracos com lona, madeira, papelão, folha zinco, distribuídos

ao longo da área, pois a única preocupação era de se instalar. (Figura 3 e Figura 4).

Figura 3: Disposição dos barracos na área.

Fonte: Selma Rocha, 2010.

Figura 4: Disposição dos barracos na

Fonte: Selma Rocha, 2010.

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Para a necessidade de energia e água nos barracos, os moradores efetuaram

ligações clandestinas diretamente dos postes da rede elétrica (Figura 5) da mesma

forma com a rede de água (Figuras 5 e 6), e, por se tratar de uma atividade ilegal,

isso ocasionou conflitos com as concessionárias de energia elétrica e de água e

esgoto.

Figura 5: Ligação Clandestina de energia elétrica.

Fonte: Selma Rocha, 2010.

Figura 6: Ligação Clandestina de energia e água.

Fonte: Selma Rocha, 2010.

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Durante as entrevistas, os entrevistados relembraram esses movimentos

como momento de embate, em que tiveram de resistir a pressões para conseguirem

se manter no local, posto que ocorriam os cortes das redes clandestinas, por meio

das empresas concessionárias e até por determinação judicial. Porém, os morados

organizados e enfrentavam tais situações, muitas vezes armados com paus, ferro,

pedras. Para ilustrar, expõe-se a referência do fato no depoimento do Informante A:

“Nós fomos puxando fio elétrico de luz dos postes de ruas e água, lá da estação lá para baixo. A Enersul vinha aqui desligava, à noite nós ligava tudo de novo. Ate que um dia enfrentamos, subimos num caminhão e ligamos a energia na frente dos funcionários e ficamos em frente ao poste, se eles viessem, teria briga armada. Foi assim o tempo todo, enfrentamos Enersul e água de Guariroba” (Entrevista realizada em 10 de outubro de 2010).

Diferentemente de ambientes estruturados nas áreas urbanas mais centrais,

privilegiados pelo acesso a bens, serviços e infraestrutura, o ambiente da favela

tende a reproduzir e a expor toda a comunidade a riscos cada vez maiores.

A Vulnerabilidade a que estavam expostos esses moradores os mobilizou na

busca dos meios para sua sobrevivência, conforme relato do Informante A e B,

respectivamente:

“No início da ocupação do bairro, não tinha nada, só tinha barraca de lona e mais algumas casinhas.” (Entrevista realizada em 10 de outubro de 2010)

“O loteamento nasceu assim, com gente muito pobre vinda de invasões da beira de córregos, mas que eram trabalhadores, que queriam pela casa própria e para sobreviver iam para o lixão catar latinha, papelão para vender” (Entrevista realizada em 15 de outubro de 2010).

A favela tem uma rua principal, sem pavimentação asfáltica, sem guias, sem

rede de coleta de esgoto, sem coletores de águas pluviais e/ou desvios de águas

para evitar a erosão do solo e sem sinalização, como também sem pontos de

ônibus, pois os coletivos não faziam trajeto na área da favela, mas em ruas

próximas.

Nesse contexto, surge ainda a questão ambiental e os impactos causados

pela insalubridade do local.

A favela fica próxima ao aterro (em frente) então é comum encontrar

resíduos sólidos trazidos do Aterro para os seus quintais.

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Esse procedimento causa a contaminação do solo e dos recursos naturais,

conforme ilustrado na Figura 7:

Figura 7: Rua principal da favela

Fonte: Selma Rocha, 2010

Levando em conta que o Brasil sustenta uma imensa desigualdade social, é

crescente o número de pessoas em situação vulnerabilidade de toda natureza.

A condição alimentar dos moradores também é prejudicada pela conforme

relatou o Informante B, ressaltando que sobrevivem com o pouco que ganham na

venda dos materiais recicláveis ou com doações de terceiros:

“A gente come às vezes melhor, às vezes pior, depende do dia, da venda dos materiais recicláveis. Também recebemos muita doação de pessoas, igrejas que vem aqui.” (Entrevista realizada em 15 de outubro de 2010)

No contexto da favela se juntou a possibilidade de moradia e de trabalho, não

importando a condição em que essas duas necessidades humanas seriam

satisfeitas. Ratificam essa realidade, as opiniões dos informantes C e D,

respectivamente:

“sempre tem o que comer, nem que for só pão, mas saio pro “lixão” cato

e vendo e volto pra compra comida” (Entrevista realizada em 15 de

outubro de 2010).

“eu como o que dá, feijão e arroz, porque isso não falta, recebo cesta

básica da igreja, dá até pelo meio do mês. Às vezes carne, fruta, leite,

doce, quando é doado ou encontro no lixo” ( Entrevista realizada em 16

outubro de 2010).

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É comum trazerem restos de comida que encontram no aterro, por acharem

em condições de aproveitamento. Esse depoimento traduz a condição dos catadores

no Aterro, que não conseguem atingir um nível de renda suficiente para prover de

sobrevivência.

4.1.2 Moradores da favela na condição de catadores de material reciclável

Para aferir o perfil dos catadores foram entrevistas setenta trabalhadores,

57% são do sexo feminino e 43% do sexo masculino ( gráfico 1).

Gráfico 1. Distribuição da população estudada quanto ao gênero.

Fonte: Selma Rocha, 2010

Em relação ao estado civil, 56% são casados, 25% são solteiros e 8%

considerados os amasiados, conviventes, juntados e todas as relações estáveis. Do

percentual de casado e outros, 84% possuem ter filhos, registrados no gráfico 2:

Gráfico 2: Distribuição da população

Fonte: Fonte: Selma Rocha, 2010

A escolaridade dos moradores adultos é considerada baixa, pois que 74%

têm Ensino Fundamental Incompleto, seguidos de 19% analfabetos e apenas 7%

com Fundamental completo (Gráfico 3).

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Gráfico 3: Grau de escolaridade dos entrevistados.

Fonte: Selma Rocha, 2010

O acesso das crianças e jovens às ações de Educação ocorre nas escolas

públicas da região e no Centro de Educação Infantil (CEINF).

Essas instituições estão localizadas no Bairro Parque do Sol, no Bairro Dom

Antônio Barbosa, no Bairro Parque do Lageado, no Jardim Pênfigo e no Jardim das

Hortênsias.

Quanto aos adultos, os números mostram uma baixa escolaridade apontando

para a necessidade de se promover a inserção desses trabalhadores em ações de

Educação de Jovens e Adultos, melhorando seu nível escolar para tenham reais

oportunidades na cadeia produtiva.

Sobre a renda das famílias, 89% das famílias possuem como única renda a

catação e venda de material reciclável. Para a maioria dos catadores a renda não

ultrapassa um salário mínimo/mês. 36% recebem até um salário mínimo mês e 44%,

menos que um salário mínimo/mês.

De acordo com os percentuais a renda é muito baixa, sendo insuficiente

para garantir o atendimento das necessidades básicas de qualquer família (Gráfico

4).

Gráfico 4: Renda atual.

Fonte: Selma Rocha, 2010

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É o que Mézaros (2003 p. 20), define como uma das contradições entre o

capital e o trabalho. Ao mesmo tempo em que o capital provoca a expansão do

emprego, gera o subemprego.

Assim, renda de algumas famílias (33%) de catadores é complementada por

programas sociais do Poder Público como: Bolsa Família Vale Renda e Benefício da

Prestação Continuada (BPC), conforme mostra o gráfico 5, um percentual muito

baixo frente à condição de vulnerabilidade desses moradores, sendo que 67% não

estão incluídos em programas sociais (Gráfico 5) de transferência de renda.

Gráfico 5: Beneficiário de Programa Social.

Fonte: Selma Rocha, 2010

“Os programas de transferência de renda são uma forma de compensar as

desigualdades sociais [...] muitas vezes só prepara o trabalhador para atendimento

das necessidades do mercado de trabalho” (SPOSATI et.al. 1986, p.20).

4.1.3 Acesso a Politicas Públicas e equipamentos sociais

Nesse contexto, a população apresenta todas as condicionalidades para

acesso à benefícios sociais e outros serviços sociais. Coube então à pesquisa

identificar os mecanismos de acesso às formas de atendimento social.

O poder público, enquanto detentor da responsabilidade da gestão das

políticas sociais não consegue respostas efetivas para retirar famílias da linha da

pobreza da linha da pobreza (aquelas que vivem com até R$ 70,00/IBGE).

Na favela “Cidade de Deus” atuam organizações não governamentais e

governamentais, por meio de serviços oferecidos em equipamentos de Educação,

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Saúde, Assistência Social e Geração de Renda, bem como de Representação

Comunitária e Parcerias.

No Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do Bairro Dom

Antônio Barbosa são ofertados serviços e ações da Política de Assistência Social,

como fortalecimento de vínculos familiares, cadastramento e acompanhamento da

família no Programa Bolsa Família (PBF), no Programa de Atenção Integral à

Família (PAIF) e ações socioeducativas para crianças e adolescentes.

As crianças e adolescentes e, bem como, seus responsáveis diretos tem

frequência mais assídua aos projetos do CRAS, tendo em vista os critérios para

permanência nos Programa de Transferência de Renda dos Governos Federal e

Estadual.

Já no Centro de Capacitação e Formação Profissional (CECAPRO), no Parque

do Sol ocorrem ações de capacitação profissional, e de geração de renda, Projeto 1º

Empego para Jovens e diversos cursos para a família. Porém a procura e

participação das famílias nos projetos sociais oferecidos é um processo que sofre

fragilizações porque o próprio morador não demonstra muito interesse e a

participação não mantém regularidade, conforme informou a Coordenadora do

CECAPRO:

“O adulto, o catador do aterro, não demonstra muito interesse por curso ou outras atividades de geração de renda, sob alegação de que conseguem tirar muito mais do lixo“ (Entrevista realizada em 20 de outubro de 2010).

A Assistência Social, enquanto política pública já avançou muito, mas

constata-se que está subordinada aos interesses do modelo econômico proposto

pelos setores dominantes da sociedade, vez que ainda não consegue atender ao

critério de universalidade, com a prestação de serviços diretamente aos indivíduos

com critérios e condicionalidades mais excludentes ainda devido à alta seletividade

e elegibilidade de suas ações. (SPOSATI et al, 1986).

Quanto à representação comunitária é divida e já foi motivo de muita disputa,

segundo informou a Assistente Social do CRAS, assim também em relações às

parcerias.

[...]é possível observar a dúvida com relação a uma cooperativa. “É só promessa, já ouvimos essa conversa outras vezes”, diz Carlos Roberto, 22 anos. Segundo os catadores, uma cooperativa pode nivelar o ganho de muitos abaixo dos valores obtidos atualmente (Jornal Eletrônico

MIDIAMAXNEWS, na reportagem de 01 Abril 2010).

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No processo de articulação com a comunidade no inicio do cadastramento

da EHMA, os moradores formaram grupo representativo com algumas pessoas do

local para interlocução com os órgãos públicos.

Destaca-se, ainda, que o apoio das organizações não governamentais

(ONGS) instalados nos bairros próximos, tais como: Núcleos do SESI, Sesc

Lageado, Instituo de Desenvolvimento Evangélico Batista, Postos de Assistência

Centro Espírita Francisco Thiesen, e a Associação Espírita Anália Franco, e demais

ações de voluntários têm servido de alternativas para o fomento de ações de

geração de trabalho e renda, visando retirar as famílias do aterro e ao fortalecimento

das lideranças locais.

A esse respeito, Garcia (2007, p.56) afirma que:

[...] projetos governamentais e não-governamentais são desenvolvidos, buscando melhorar a qualidade de vida da população e reverter o quadro de extrema pobreza em que se encontram. Entretanto, formas solidárias de relacionamento entre pobres e ricos são ações paliativas que não solucionam o problema. Importante se faz permitir que essa população empobrecida tenha acesso a bens, serviços, conhecimento, arte, cultura, bem como, ofereça suas produções, passando a ser dignamente reconhecida por seu patrimônio cultural, elevando-lhe a autoestima.

Nessa direção, o governo municipal desenvolveu um trabalho social com as

famílias, com operacionalização das ações por técnicos da área de Serviço Social

da EHMA, para sensibilização sobre a importância de se estabelecer redes de

representatividade e organização comunitária pelo grupo trabalhadores do aterro.

Essa ação é por meio de ação socioeducativa sobre os seus direitos e deveres;

incentivo à participação da comunidade em todas as etapas do trabalho social e

acompanhamento da execução dos projetos e da construção do novo Residencial,

bem com para posterior criação de uma associação dos catadores, observando

meta da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

As políticas sociais públicas devem, no processo de seu desenvolvimento,

reconhecer e respeitar as parcerias como potencialidade endógena de cada região,

como forma de promover o desenvolvimento humano e social a que se destinam.

Os atendimentos de saúde são realizados no Centro Regional de

Saúde do Bairro Aero Rancho e do Lageado. Também, os moradores recebem

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visitas mensais de um Agente Comunitário de Saúde (ACS), pelo Programa da

Saúde da Família.

Conforme diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) é papel desse

Agente é intervir por uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBS) no bairro vizinho

Parque sobre os diversos fatores de riscos aos quais a comunidade está exposta;

prestar assistência integral, permanente e de qualidade; realizar atividades de

educação e promoção da saúde.

Segundo as Leis 8080, de 19 de setembro de 1990, Lei Orgânica de Saúde

e Norma Operacional Básica/NOB/96, a saúde deve ser entendida como estado de

não doença e passa a ser relacionada com qualidade de vida da população.

As ações do SUS têm por objetivo prestar assistência às pessoas por

intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação de saúde, com a

realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.

Porém, a pesquisa revelou o verdadeiro descaso do poder público com a

condição de vida daquelas pessoas que estão expostas a todo tipo de risco de

doenças, de contaminação por metais pesados (cobre, chumbo), por fumaça e gás

metano expelido do Aterro, diariamente.

Os moradores relataram que é comum as pessoas apresentarem doenças

de pele (coceira, sarna), dores lombares, anemias e quadros alérgicos e outras

doenças, muitas em consequência do contato direto com o lixo.

O cenário do Aterro de Campo Grande é deplorável. Essas pessoas não têm

onde se lavar e comem o que acham ali mesmo. A única agua existente é a do

chorume15. O cenário é a prova concreta do sistema socioeconômico excludente,

celetista e explorador.

4.1.4 Estratégia de trabalho no cotidiano do Aterro

É no cotidiano que se traduz a realização habitual de todas as atividades

relativas à vida, é a expressão da própria existência humana, pois se trata da

15

Líquido fétido produzido pelo lixo em decomposição.

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realização dos afazeres diários, da repetição das vitais, do desenvolvimento das

emoções.

A vida cotidiana é a vida de todo homem, pois todos estão mergulhados nela com todos os aspectos de seu ser, com toda sua individualidade contida na sua personalidade. É nela que entram em funcionamento “todos os seus sentidos, todas suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, idéias, ideologias”, que fazem parte da vida cotidiana junto com o trabalho, o descanso e o lazer (HELLER, 1992, p,17).

No cotidiano do trabalho os catadores de RSU se deslocam a pé para o

Aterro localizado do outro lado da BR.

Sartori (2002), classifica o aterro de RSU de Campo Grande, MS como

controlado, também conhecido como “lixão controlado” da Prefeitura Municipal,

pelas características descritas por Tenório e Espinosa (2004), evidenciadas nas

Figuras 8 a seguir:

O aterro está localizado de acordo com as coordenadas 20º34’01, 9”S e

54º20 20’26, 1”W , entre o entroncamento da BR 163 (São Paulo) e da BR 060

(Sidrolândia). Encontra-se a 12 km do centro, no km 350 do Anel Viário da Região

Sul de Campo Grande.

Figura 8. Catadores em meio aos resíduos do

vazadouro de Campo Grande. Fonte: SYDOW, 2006

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No processo de coleta, os trabalhadores utilizam instrumentos fabricados

artesanalmente por eles próprios, que são uma sacola que vai amarrada na cintura

denominada “maria loca”, um gancho fabricado pelo próprio trabalhador com ferro de

construção para esquadria (Figura 9), enxada, pás e grandes sacos.

Figura 9: Artefato de trabalho no lixão: gancho.

Fonte: Selma Rocha, 2010

Ao guinchar o saco em meio à montanha de lixo, o trabalhador rapidamente

o rasga, revira o que tem em seu interior e, com o próprio gancho, joga o material

selecionado para trás, a fim de depositá-lo na sacola que mantém amarrada em sua

cintura. A Informante confirma:

“ aqui tem que ter jeito para o manejo do gancho para não machucar você e nem o outro e ser “esperto” para conseguir fisgar o saco de lixo antes do outro. Mesmo no escuro sabem identificar qual saco contém latinha, metal ou ferro e onde esse saco caiu. (Entrevista realizada em 5 de outubro de 2010).

E segue nesse ritmo frenético até que essa sacola esteja completamente

cheia. O resultado de seu trabalho ou o saldo da coleta é depositado em outro tipo

de saco denominado bag (saco com maior capacidade de acondicionamento).

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O tamanho das bags varia de acordo com o tipo de material coletado no dia,

como demonstrado na Figura 10:

Figura 10: Artefato de trabalho: bag

Fonte: Selma Rocha, 2010.

Cada catador ou grupo, tem um espaço definido entre eles para deixar as

suas bags, sendo que um não pode mexer na produção do outro. Quando isso

ocorre resulta em brigas, ocasionado até mortes no local.

A região é caracterizada como uma região de periculosidade, em razão dos

vários episódios de violência e mortes no local, com frequência.

As atividades no aterro são monitoradas pela Guarda Municipal, mas isso

não impede a ocorrência de brigas no local. Confirma o depoimento do Informante

D:

“é bom chegar antes dos caminhões para pegar uma coisinha melhor. Leva vantagem que estiver mais atento. Já saiu muita briga e até morte ai. Lá é cada um por si e Deus por todos. Quando sai briga e um Deus nos acuda” (Entrevista realizada em 17 outubro de 2010)

Terminado o dia de trabalho, transferem o material coletado para os

containers das empresas ou dos Intermediários, que ficam na área do Aterro.

Os intermediários trabalham de forma independente ou em parceria com as

empresas de maior porte. São pessoas com poder aquisitivo maior que o dos

catadores.

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Possuem capacidade de gerir seus próprios negócios e também alguma

infraestrutura. Os materiais recicláveis que adquirem no Aterro ou mesmo

percorrendo os bairros, comercializam diretamente com as empresas.

Quanto a carga horária de trabalho é exaustiva. Informaram que chegam a

trabalha entre 8 a 12h por dia. Isso varia, segundo os catadores, de acordo com a

meta estabelecida para o dia ou para o período semanal e, também, pela quantidade

de material que chega ao Aterro. Às vezes chega muito material, mas pouco é

adequado para reciclagem.

Os trabalhadores conhecem todos os horários de descarrego dos caminhões

“kukas”, caminhões de coleta de lixo que, geralmente, chegam na madrugada, após

recolherem o lixo nos bairros da cidade. Porém, às vezes por se estender por o dia.

Em geral trabalham até cumprirem a meta combinada com o comprador.

Há os que defendem essa condição de trabalho alegando conseguir dinheiro

fácil e, ainda, não ter a obrigação de cumprir as normas existentes nos empregos

formais: carga horária fixa, conforme destacado nas afirmações dos Informantes A e

D, respectivamente:

“eu trabalho como quero e quanto quero. Se preciso de algum dinheirinho, vou lá, catar alguma coisa, faço meu dia e pronto. Todo mundo faz assim aqui” (Entrevista realizada em 10 de outubro de 2010) “depende de quanto eu quero tirar, de quanto eu preciso. Se falo hoje vou tirar R$10,00, vou tirar R$30,0, vou lá e cato até conseguir a quantidade.” (Entrevista realizada em 17 de outubro de 2010).

Outros, porém, entendem sua condição como degradante e desumana, e os

depoimentos dos Informantes E e F, respectivamente, refletem essa percepção:

“uma hora de trabalho no lixo, vale por três de um trabalho qualquer. A gente corre pra pegar algo melhor, abaixa, levanta, puxa saco pesado, limpa a peça, carrega a “maria loca”. É não é fácil” (Entrevista realizada em 25 outubro de 2010). “ no final do dia não tem coluna que aguenta . O cansaço é muito grande, ai vem doença e complica mais.” (Entrevista realizada em 25 de outubro de 2010).

Quase sempre, trabalham em grupo familiar, como forma de proteção da

carga coletada no dia, uma vez que existe concorrência entre os grupos de

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catadores na aventura pela coleta dos melhores produtos, conforme relatou um

Informante C:

“é bom chegar antes dos caminhões para pegar uma coisinha melhor. Leva vantagem que estiver mais atento. Por isso levo minha família, pois enquanto um cata o outro cuida o monte. Já saiu muita briga e até morte. Lá é cada um por si e Deus por todos. Quando da de sair briga e um Deus nos acuda.” (Entrevista realizada em 15 de outubro de 2010).

Também, nesses grupos familiares é comum encontrar crianças e

adolescentes no trabalho de catação. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA

é claro quanto à responsabilidade da família, do Estado e da sociedade quanto ao

dever de proteção das crianças e dos adolescentes dadas as necessidades de

atenção especial à vida desses e, ainda, prevê penalização daqueles que os tiver

submetido a quaisquer condição de violência, abandono e negligência. Porém, com

frequência, registram-se suas presenças no Aterro contrariando as disposições do

Estatuto ( Figura 11):

Figura 11: Crianças frequentando o local.

Fonte: Selma Rocha, 2010

Essa é uma questão social grave, que precisa de atenção do Poder Público,

pois essa proibição é descumprida, apesar do policiamento e controle dos agentes

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de políticas públicas esse direito é descumprido, vez que tanto as famílias

conseguem burlar essa determinação sondando e controlando a rotina desses

agentes.

A atividade no Aterro expõe esses trabalhadores às péssimas condições do

vida e de trabalho, tornando-os vulneráveis à doenças e contaminações, o que

reforça a precariedade do trabalho exercido.

Homens, mulheres e crianças, todos executam o mesmo trabalho, nas

mesmas condições. O caminhão “kuka” chega e eles correm em sua direção e antes

mesmo que pare a inclinação para derrubar o lixo da caçamba do caminhão ocorre

uma mistura de pessoas, vidros, latas, plásticos, papéis, restos de alimentos, de

produtos químicos, lixo hospitalar e diversos detritos.

Uma imagem em que o cenário e os atores se confundem. A Figura 12

ilustra essa realidade:

Figura 12: trabalhadores na coleta de material reciclável no Aterro

Fonte: Selma Rocha, 2010

Muitos relataram que estão nessas condições por necessidade, por não

terem qualificação para vagas em trabalho de outra natureza. Estão ali pela

necessidade se sobrevivência, o que fica comprovado no relato do informante E e F,

respectivamente:

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“O corpo da gente cheira mal, fica com feridas. O lixo é quente, solta muito calor lá e sobe aquele bafo podre, mas agente enfrenta. Tem que trabalhar. Eu se pudesse não estava aqui, isso não é trabalho pra ninguém, não.” (Entrevista realizada em 25 de outubro de 2010).

“Se tivesse outro jeito arranjava emprego em outro lugar. A fome não

deixa escolher trabalho, qualquer um serve, tá bom”. (Entrevista

realizada em 25 de outubro de 2010).

Em relação ao tempo de permanência na atividade de coleta de material

reciclável, 13% declaram que estão trabalhando acima de dez anos, 49%, entre

cinco a 10 anos e 38% de um a quatro anos.

Gráfico 6 : Tempo de trabalho

Fonte: Selma Rocha, 2010.

Destaca-se que apenas alguns entrevistados (25 pessoas) deram informação

sobre o último emprego formal exercido em empresas de construção civil, curtume,

usina de álcool, frigorífico, empresa de transporte e de venda de carros, extração de

areia, produção de tijolos e de serviços gerais de limpeza.

A condição do morador da favela “Cidade de Deus” os submetem às

precárias moradias e ainda têm que enfrentar, no dia a dia, os perigos e as

condições deploráveis do trabalho no Aterro. A dinâmica da atividade é operada em

padrões adversos de outros ambientes.

4.1.5 Cadeia produtiva da reciclagem em Campo Grande

Para compreender a organização da cadeia produtiva da reciclagem, em

Campo Grande, MS, foram realizadas entrevistas com seis pessoas, entre

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Catador de Rua e

Cooperado

funcionários ou donos de empresas de reciclagem na cidade e Intermediários, ou

também denominados atravessadores, que compram material dos catadores do

Aterro.

Com base nas informações, pode-se afirmar que essa cadeia começa com o

catador, passa pelo Intermediário, que com do catador no Aterro ou imediações,

entrega os materiais nas Empresas/Depósitos de Reciclagem e essas por sua vez,

vão acumulando esses materiais até conseguirem uma boa quantidade, geralmente

o suficiente para encher uma carreta. Após isso, enviam para as indústrias que

compram o material.

Apresentamos essa cadeia por meio do fluxograma (Quadro 2), elaborado

para ilustração desse processo em Campo Grande:

Quadro 2: Cadeia Produtiva da Reciclagem em Campo Grande

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2005)16

A cadeia da reciclagem se operacionaliza por um sistema de relação

hierarquizada entre os catadores, intermediários, empresas e indústrias.

16

Gonçalves (2005) apresenta um fluxograma da Cadeia Produtiva da Reciclagem adaptado de Bursztyn (2002),

considerando como intermediário qualquer pessoa ou empresa que compra material do catador. Na pesquisa

preferimos apresentar uma elaboração diferenciando o intermediário da empresa que compra.

Catador do

Aterro

Intermediário

Empresa que compra material reciclável

Indústrias

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Os catadores de rua e de cooperativa mantêm com o intermediário (seta

preta) e a empresa (seta amarela).

O intermediário compra o material reciclável dos catadores em geral e

revende para as empresas (seta verde), as quais revendem para as indústrias

(setas azuis).

O catador do Aterro se comunica com o Intermediário (seta vermelha) e, muito

raramente, com as empresas quando essas vão comprar o material no local (seta

vermelha tracejada) o que não é comum, pois encarece o processo para a empresa.

Dessa forma, o catador do Aterro tem posição mais vulnerável nas relações

de compra e venda do material reciclável, pois fica à mercê da negociação direta

com o Intermediário, que impõe seu preço conforme oscilação do mercado. Quanto

mais oferta, menor o valor do produto.

4.1.6 Os processos de comercialização no Aterro

Os Intermediários entrevistados explicaram que o maior interesse de

compra, no período da pesquisa recaia sobre os plásticos - principalmente garrafa

PET - as latinhas de alumínio e os materiais ferrosos, pois conseguem melhor preço

de venda. As indústrias não estavam comprando papéis em geral.

Assim, os materiais de alumínio e plástico são os preferidos coletados no

Aterro, na média representada por uma média de 37% seguidos de 19% para

papelão e 5% para outros materiais, conforme ilustrado no gráfico 7:

Gráfico7: Coleta de reciclaveis

Fonte: Selma Rocha, 2010

Em relação à quantidade de materiais comercializados, à respeito do valor

pago e o destino dos materiais adquiridos houve certa resistência por parte dos

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intermediários e dos empresários no repasse de informações, apenas informaram

que a carga segue para São Paulo e Paraná.

Essa informação pode ser facilmente localizada por meio da rede de

internet, mas na pesquisa foi indagada para verificar a relação entre os

trabalhadores e os empresários. Os primeiros, dada condição de menor acesso à

bens e serviços, muito provavelmente têm menores oportunidade de contato com

essa indústrias e os segundos, então se valem disso para reforçar a condição de

subordinação desses trabalhadores e do sistema socioeconômico excludente,

celetista e explorador.

Eles revelaram o valor pago por alguns materiais, em janeiro de 2011, aos

catadores (Quadro 3), mas não revelaram o valor final pago pela indústria a eles.

Quadro 3: Preço do RSU por Kg

Fonte: Selma Rocha, 2010

Esses entrevistados explicaram que não existe tabela que fixe o valor para

pagamento do material reciclável que ocorre muita flutuação no valor desses

materiais, quase diariamente. Sobre isso, todos justificaram que o lucro deles é

pouco, dizendo que no final sobra em torno de 0,40 a 0,50 de lucro/kg para o

empresário.

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (2010) apenas cita a necessidade de

uma Politica de Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos (PSAU), e menciona a

previsão de remuneração dos catadores, mas esse é um tema que está em debate

nacional, nos Encontros e Grupos de Trabalho no Ministério do Meio Ambiente.

TIPO DE MATERIAL PREÇO KG

LATINHA, FERRO, ALUMÍNIO DE 1,80 A 2,00

PET (SEPARADA POR COR) DE 0,70 A 0,50

PET (CORES MISTURADAS) 0,25

PAPEL BRANCO 0,10

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Enquanto isso não ocorre, no contexto do Aterro, esse valor sofre mais

especulação. Essa reclamação apareceu em várias falas dos catadores, entre as

quais destacamos do informante E:

“aqui no aterro é bom porque por um lado todo dia você cata alguma coisa, então você vende e tem um dinheirinho, por outro nós ficamos nas mãos do comprador que manipulam valor e até a balança”. (Entrevista realizada em: 25 de outubro de 2010).

A comercialização dos materiais recicláveis ocorre, em sua maior parte no

próprio local, e, algumas vezes, nas residências dos catadores. Os materiais são

comprados por dia ou semanalmente, e o acerto é feito dependendo do combinado

entre as partes.

Cada catador no Aterro vende diretamente para um Intermediário e existe

um acordo não formal de compra e venda, ou seja, o catador fica vinculado a um só

Intermediário e não pode comercializar com o outro.

Ilustra-se esse fato com o depoimento do Informante D:

“aqui é assim, se você começa a vender para um ter que ser só para ele senão você tem problemas com o atravessador e com os outros que vendem pra ele. É a regra do jogo. Se você quer vender para outro, vai fazer escondido, senão você é excluído e ninguém mais compre de você”(Entrevista realizada em 17 de outubro de 2010).

Em suma, os catadores utilizam materiais supostamente desprovidos de

qualquer valor e conforme afirma Grossdi (1999 apud GONÇALVES, 2005, p.104):

Descobre nele valor de uso e ainda o transforma em mercadoria, incorporando-lhe valor, mediante sua apropriação pelo trabalho. Recorrendo à conceituação marxista, a atividade de reciclagem e reaproveitamento do lixo poderia ser lida como aplicação de trabalho humano incorporado à matéria bruta (o lixo), desprovida de valor de troca, que manteria um valor material residual, o qual a capacitaria para se, assim, transformada em mercadoria, ou seja, aproveitada por seu valor de troca e, desta forma, retornar ao mercado, ou para ser aproveitada por seu valor de uso, sendo consumida.

A atividade dos catadores de materiais recicláveis, desprovida de

reconhecimento social, representa, de fato, um trabalho no ciclo da produção

capitalista, cuja liberdade o trabalhador de vender a força de trabalho para quem

quiser é o princípio fundamental das relações.

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Para discutir alguns aspectos acerca das condições de vida do trabalhador

do “lixão”, foi necessário considerar alguns fatores determinantes para que esses

trabalhadores morem e trabalhem ali, mesmo com todas as condições de

vulnerabilidade e de periculosidade para saúde, cujo risco é visível, como:

1) Morando na favela “Cidade de Deus” estão próximos do Aterro onde

encontram facilmente e em quantidade os materiais recicláveis.

2) Lá encontram objetos que podem atender às suas necessidades básicas

(vestuários e utensílios domésticos).

3) Do lixo retiram produtos com valor comercial.

4) Com a atividade de catação de materiais recicláveis o retorno financeiro é

diário, mesmo que irrisório, com o que conseguem garante sua

subsistência e de sua família, muitas vezes.

5) Trabalhando na informalidade o catador, embora vinculado esteja

vinculado a um intermediário, não tem obrigação contratual de vender só

para esse, o que possibilita executar outras pequenas vendas do produto

recolhido.

6) O trabalhador é uma força de trabalho excludente, então alguns se

sujeitam às condições de trabalho no Aterro.

Determina-se assim um perfil dos catadores de material reciclável do aterro

como descreve Mézaros (2002, p. 321-322), “[...] grandes massas de pessoas – em

praticamente todos os campos de atividade – que continuam a ser impiedosamente

expulsos dos processos de trabalho [...]” e assim, reinventam maneiras para

sobreviver.

Vale-se do pressuposto que o homem, por necessidade de sobrevivência

constrói mundos de acordo com as circunstâncias apresentadas, onde vale mais a

vontade de sobreviver, seja de qualquer forma, pelo esforço do trabalho.

4.1.7 Potencialidades Locais

Conforme o Perfil Socioeconômico de Campo Grande (2011), a região Urbana

do Anhanduizinho, onde se localiza a favela “Cidade de Deus” é uma das regiões da

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cidade que têm apresentado sinais visíveis de crescimento e de ocupação, tanto

pela sua localização como pelos equipamentos existentes e em construção. É a

região em que se encontra uma das principais entradas da capital, que é a BR-163,

rota para São Paulo.

Porém, isso ainda não foi suficiente para tirar a região do mais baixo ranking

de IQVU do Município de Campo Grande/MS, segundo dados PLANURB

(FIGUEIREDO, 2008).

O ranking do IQVU para as Regiões Urbanas e Bairros pode ser visualizado

no Quadro 4, que mostra a Região Urbana do Centro com o maior IQVU (0,815) e a

Região Urbana do Anhanduizinho em última posição com 0,572.

Quadro 4: Ranking das Regiões Urbanas de Campo Grande com base no IQVU

Fonte: PLANURB, 2000.

As dimensões abordadas são: Educação, Renda e Pobreza, Sustentabilidade

Ambiental e Moradia, as quais têm como base para definição do IQVU os

indicadores disponibilizados pelo Censo Demográfico 2000 do IBGE. (FIGUEIREDO,

2008).17

O IQVU do município de Campo Grande, MS, surgiu de uma necessidade de

normalização dos indicadores já existentes para comparação entre os bairros da

cidade e entre os bairros de cada Região Urbana a qual pertence, servindo como

instrumento para o planejamento urbano e para o uso dos demais gestores públicos

da Prefeitura Municipal de Campo Grande.

Destaca-se a existência de equipamentos sociais na região como a

Incubadora Municipal Mário Covas, que oferece apoio temporário a

empreendimentos e/ou empresas nascentes, com o princípio de estabelecer uma

17

Figueiredo (2008) destaca que em função das dificuldades de encontrar dados anuais dos indicadores, foram utilizados aqueles que têm como base o Censo/IBGE/2000 que utilizou a divisão de bairros anterior à Lei Complementar n. 74, de 6 de setembro de 2005.

Região IQVU Ranking

Região Urbana do Centro 0,815 1º

Região Urbana do Bandeira 0,656 2º

Região Urbana do Lagoa 0,626 3º

Região Urbana do Prosa 0,623 4º

Região Urbana do Imbirussu 0,586 5º

Região Urbana do Segredo 0,574 6º

Região Urbana do Anhanduizinho 0,572 7º

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cultura empreendedora. A área de atuação dessa incubadora, que possuí 960² de

área construída, é a de confecções têxteis e afins.

É também iniciativa do município, em fase de implantação, um Pólo

Empresarial de Pequenas Empresas Recicladoras em uma área com doze hectares

e 6.469m², adquirida pela Prefeitura Municipal, localizada na confluência da BR163

com anel viário, dividida em oito lotes, com finalidade de atender empreendimentos

industriais (Brasil, 2011).

Em uma área adjacente à área da favela o poder público municipal está

implantando um loteamento para atender os moradores da favela pelo Programa de

Interesse Social18.

Paralelamente à construção das unidades habitacionais, o governo local

está desenvolvendo ações para a implantação de coleta seletiva, construção de um

aterro sanitário e de uma usina de processamento de triagem de material reciclável

para desativação do aterro controlado e recuperação da área degradada.

Segundo dados da EHMA (2009), o empreendimento, dotado de mínima

infraestrutura, conta com 231 casas unifamiliares em construção horizontal, com

34,68m², composta por dois quartos, um banheiro e sala-cozinha, com reboco nas

paredes do banheiro e acima da pia da cozinha e todas as paredes externas, com

contra pisem toda a área interna, forro de pinus no banheiro e a cobertura em telhas

romanas (Figura13 e Figura 14).

Figura 13. Fase inicial da obra.

Fonte: EMHA, 2009.

18 O Programa Habitação de Interesse Social, por meio da Ação Apoio do Poder Público para Construção

Habitacional para Famílias de Baixa Renda, objetiva viabilizar o acesso à moradia adequada aos segmentos populacionais de renda familiar mensal de até 3 salários mínimos em localidades urbanas e rurais.

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Figura 14: Fase II da obra.

Fonte: EMHA, 2010.

Conforme informou Assistente Social da EHMA, esse processo é

acompanhando por técnicos da área social, que visa mostrar à comunidade a

importância destas ações como estratégias de participação cidadã dos beneficiários,

para a melhoria da qualidade de vida.

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5 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento exponencial da população, principalmente a urbana,

juntamente com o desenvolvimento industrial e a melhoria da qualidade de vida,

impõe novos padrões de consumo, o que tem ocasionado o aumento da geração de

resíduos. A população mundial cresce, assim como a produção total de lixo.

Em todo país, registra-se de a existência de locais como “lixões” e aterros

que recebem diariamente toneladas de resíduos sólidos dos mais diversos tipos,

dispostos nesses locais sem qualquer tipo de tratamento e sendo apenas uma

pequena parcela levada para locais com o tratamento adequado.

Em Campo Grande, MS o IBGE reconhece apenas um depósito como aterro

sanitário qual seja, o Aterro que foi objeto deste estudo. Porém, a realidade

encontrada nesse local contradiz as informações literárias de caracterização de

aterro, uma vez que o lixo ainda é depositado a “céu aberto”, onde se dá tratamento

parcial para confinamento dos resíduos sólidos ali despejados (o lixo é revirado,

compactado e recebe camada de terra) e para escoamento do chorume e sua

capacidade de funcionamento já se encontra no fim. Sendo, portanto, considerado

Aterro Controlado, conforme literatura revisada.

Além do impacto ambiental causado pelo lixo na sociedade contemporânea,

soma-se a isso o impacto social, trabalhadores sobrevivendo da coleta de material

reciclável nos “lixões” e Aterros e coabitando em seu entorno, situação que se torna

uma das causas da formação de favelas nas cidades, em toda parte do mundo.

Brito (2007, p.10) salienta que,

De maneira similar como o urbano emana sendo um estágio avançado da produção da cidade, a favela surge como uma representação do atraso dentro deste espaço. Mas e a favela? Ela também não é a cidade? E ela também não é produto da aplicação do pensamento urbanístico fragmentador do espaço urbano segundo funcionalidades e classes sociais?

Desse modo, deve-se entender o surgimento de favelas como produto das

relações e configurações sociais e ainda, do processo de urbanização da sociedade

capitalista, voltado a atender aos interesses do capital.

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O trabalho de seleção e catação de material para reciclagem é penoso,

realizado sob condições impróprias e sem nenhuma garantia social ao trabalhador.

Ainda, as pessoas envolvidas na categoria de catadores do Aterro são oriundas dos

estratos sociais de menor baixa renda.

O cotidiano da vida dos moradores da Favela “Cidade de Deus”, na condição

de catadores de materiais recicláveis no Aterro de Campo Grande, MS expos uma

realidade de vulnerabilidade social extrema, ou seja, de pessoas muito abaixo da

linha da pobreza. Se é que é possível, delimitar uma “linha” de pobreza, ou seja,

“[..]o mínimo necessário à subsistência varia historicamente, mas em qualquer

momento e lugar pode ser identificado e medido aproximadamente” (BARAN e

SWEEZY, 1966. p, 285). Acrescenta-se a ideia dos autores - mas nunca

comprovado de fato.

Tomando por base a Declaração Universal dos Direitos Humanos,

promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), 1948, surge seguinte o

questionamento: que direitos têm esses trabalhadores?

A resposta seria, ou deveria ser: todos os direitos. Mas a realidade, o dia a

dia no Aterro e na favela, suscita uma resposta diferente: nenhum direito.

O direito à moradia, esses trabalhadores foram buscar no lixo, onde

encontram lonas, zinco, tábuas e outros utensílios para erguerem de seus barracos.

O direito à alimentação, foram buscar na catação de comida estragada, encontrada

no lixo a qual constitui, sem nenhum receio por parte desses que se tornaram

catadores o alimento de garante a vida.

O direito ao trabalho, encontraram no lixo, pois mesmo exercendo uma

atividade que foge aos padrões predominantes, realizam uma ocupação que os faz

se sentirem trabalhadores, parte da sociedade.

A pesquisa revelou que a participação dos catadores de materiais recicláveis

é imprescindível para a gestão dos resíduos sólidos urbanos, seja na diminuição da

quantidade de resíduos, na redução dos impactos ambientais, ou para impulsionar a

cadeia produtiva da reciclagem. Entretanto, é também revelador, contraditoriamente,

que estão à margem do processo de trabalho, sendo reabsorvidos com menor valor,

sob a ótica do capital, que os considera como força de trabalho excedente.

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Nessa lógica estão os catadores do Aterro em Campo Grande, MS que

encontra na informalidade meios de sobrevivência.

Por necessidade de trabalhar no Aterro, esses catadores foram coabitando

seu entorno, o que resultou na formação da favela “Cidade de Deus”.

Essas estratégias provocaram o Poder Público, que está implantando um

residencial próximo ao local para atender esses trabalhadores com moradias em

melhores condições e, ainda, implantando ações de políticas públicas para organizar

as condições mínimas de trabalho com a reciclagem como a usina de triagem, em

fase de instalação.

Essa ação atende a proposta da Politica e do Plano Nacional de Resíduos

Sólidos no Brasil, que determinam prazos e metas para os governos Federal,

Estaduais e Municipais cumprirem. Entre outras estão metas, considera-se que

estas são prioritárias para os avanços necessários nessa área:

- debate de políticas públicas locais voltadas aos catadores de materiais

recicláveis;

- criação do pagamento por Serviços Ambientais Urbanos (PSAU), com a

previsão de remuneração aos catadores, com definição de piso de um

salário mínimo para esses trabalhadores;

- instituição de Programa Pró-Catador, com a finalidade de integrar e

articular a organização produtiva do catador;

- desenvolvimento de alternativas de emprego e renda aos catadores que

não puderem exercer a atividade, após extinção dos lixões até 2014;

O cumprimento do artigo 14 da Lei Estadual n. 2080, de 13 de janeiro de

2000, por meio do qual se determina a proibição em Mato Grosso do Sul do

lançamento de resíduos sólidos a céu aberto, e uma política séria de coleta seletiva

de resíduos, também poderá qualificar e melhorar as condições de trabalho e de

vida desses catadores, assim como contribuirá para a conservação do meio

ambiente das cidades.

Não será apenas o remanejamento dessas pessoas para um novo

residencial ou para outro local de trabalho que as farão incluídas na cidade legal,

mas, também, e, sobretudo, as garantias de seus direitos sociais.

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Entende-se que o sucesso de tais ações pressupõe um esforço conjunto.

Para tanto, cabe ao Estado cumprir seu papel de gestor, implementando ações

públicas que resgatem a cidadania desses trabalhadores, da participação dos

envolvido nessas questões, com uma representatividade ética e comprometida dos

catadores de materiais recicláveis.

Tendo em vista que o objeto de estudo suscita diversas possibilidades de

análise, a esta pesquisadora coube revelar a formação da favela “Cidade de Deus” e

sua relação com a atividade de catadores de materiais recicláveis no Aterro

Municipal de Campo Grande, MS, comprovada pelos resultados apresentados.

E aquilo que não foi revelado, surge como possibilidade de estudos futuros.

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