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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP ALEX SANDRO RICHTER WON MÜHLEN SUSTENTABILIDADE DO SETOR SUCROENERGÉTICO EM MATO GROSSO DO SUL: GESTÃO DAS EMPRESAS E PERCEPÇÃO DA SOCIEDADE CAMPO GRANDE MS 2016

UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP filepelas preciosas orientações no decorrer de todas as fases do trabalho, demonstrando sabedoria e humildade; e Rosemary Matias pelos ensinamentos

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

ALEX SANDRO RICHTER WON MÜHLEN

SUSTENTABILIDADE DO SETOR SUCROENERGÉTICO EM MATO

GROSSO DO SUL: GESTÃO DAS EMPRESAS E PERCEPÇÃO DA

SOCIEDADE

CAMPO GRANDE – MS

2016

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ALEX SANDRO RICHTER WON MÜHLEN

SUSTENTABILIDADE DO SETOR SUCROENERGÉTICO EM MATO

GROSSO DO SUL: GESTÃO DAS EMPRESAS E PERCEPÇÃO DA

SOCIEDADE

Tese apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Doutor em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Orientação:

Prof. Dr. Celso Correia de Souza

CAMPO GRANDE – MS

2016

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera-Uniderp

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Candidato: Alex Sandro Richter Won Mühlen

Tese defendida e aprovada em 28 de julho de 2016 pela Banca Examinadora:

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Supremo Deus por iluminar meu caminho durante esse

importante período de minha vida.

À minha esposa Bruna e minhas filhas Isabelle, Caroline e Camilla pela

paciência, amor e compreensão que têm demonstrado, especialmente nos

últimos anos.

Ao meu orientador, professor Celso Correia de Souza, pela dedicação

incondicional à realização deste trabalho.

À Universidade Anhanguera-Uniderp por oferecer o programa de

doutorado em Meio Ambiente de Desenvolvimento Regional.

A todos os professores do programa de pós-graduação stricto sensu

que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a minha formação e

conclusão deste trabalho.

Agradecimento especial aos professores José Francisco dos Reis Neto

pelas preciosas orientações no decorrer de todas as fases do trabalho,

demonstrando sabedoria e humildade; e Rosemary Matias pelos ensinamentos

e prestatividade em todas as etapas.

Estendo meus agradecimentos aos funcionários da Universidade

Anhanguera-Uniderp, em especial à Alinne Freitas Signorelli que conduz a

secretaria do curso como ninguém.

Aos meus colegas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

(UEMS) pelo especial apoio durante esse período.

Agradeço também, às seguintes instituições, que muito contribuíram

para a conclusão deste trabalho: Associação dos Produtores de Bioenergia do

Mato Grosso do Sul (BIOSUL), Federação da Agricultura e Pecuária de Mato

Grosso do Sul (FAMASUL) e Prefeitura Municipal de Maracaju.

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SUMÁRIO

1. Resumo Geral ............................................................................................... 7

2. General Summary ......................................................................................... 8

3. Introdução Geral ........................................................................................... 9

4. Revisão de Literatura ................................................................................. 12

4.1 O setor sucroenergético no Brasil ..................................................... 12

4.2 O Programa Nacional do Álcool - Proálcool ...................................... 14

4.3 Contextualizando Desenvolvimento Sustentável .............................. 20

4.4 Indicadores de sustentabilidade para a atividade sucroenergética 23

5. Referências Bibliográficas ........................................................................ 40

6. Artigos ......................................................................................................... 44

Artigo I ............................................................................................................. 44

Gestão da Sustentabilidade do Segmento Sucroenergético do Mato

Grosso do Sul: análise das ações socioeconômicas e ambientais das

empresas......................................................................................................... 44

Resumo ........................................................................................................... 44

Abstract ........................................................................................................... 45

Introdução ....................................................................................................... 46

Material e Métodos ......................................................................................... 47

Área geográfica de estudo ........................................................................ 47

População e Amostragem da Pesquisa ................................................... 50

Fonte e Coleta de Dados ........................................................................... 51

Tratamento dos dados ............................................................................... 55

Resultados e Discussão ................................................................................ 57

Caracterização da População ................................................................... 57

Gestão da Sustentabilidade: Grupo Socioeconômico ............................ 63

Gestão da Sustentabilidade: Grupo Ambiental ....................................... 73

Análise Fatorial Exploratória ..................................................................... 84

Conclusão ....................................................................................................... 89

Referências Bibliográficas ............................................................................ 89

Artigo II ............................................................................................................ 95

Percepção da Sociedade sobre as Ações Socioeconômicas e Ambientais

do Segmento Sucroenergético no Mato Grosso do Sul ............................. 95

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Resumo ........................................................................................................... 95

Abstract ........................................................................................................... 95

Introdução ....................................................................................................... 96

Material e Métodos ......................................................................................... 97

Área geográfica de estudo ........................................................................ 97

População e Amostragem da Pesquisa ................................................... 98

Fonte e Coleta de Dados ........................................................................... 98

Tratamento dos dados ............................................................................. 102

Resultados e Discussão .............................................................................. 103

Caracterização da População ................................................................. 103

Gestão da Sustentabilidade: Grupo Socioeconômico .......................... 107

Gestão da Sustentabilidade: Grupo Ambiental ..................................... 111

Análise Fatorial Exploratória ................................................................... 116

Conclusão ..................................................................................................... 120

Referências Bibliográficas .......................................................................... 121

7. Conclusão Geral ....................................................................................... 126

APÊNDICE “A” – Formulário aplicado às Empresas

Sucroenergéticas...........................................................................................128

APÊNDICE “B” – Formulário aplicado aos Representantes da

Sociedade.......................................................................................................132

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1. Resumo Geral

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a sustentabilidade do setor

sucroenergético no Mato Grosso do Sul, desenvolvido na linha de pesquisa

Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Como

objetivos específicos, pretendeu-se avaliar as ações das empresas do setor

quanto à gestão da sustentabilidade e verificar a percepção da sociedade

quanto às ações de sustentabilidade promovidas pelas empresas. Para tanto,

foram realizadas duas pesquisas exploratórias descritivas, combinando

informações quantitativas e qualitativas, colhidas por meio de formulários

aplicados a uma amostra das usinas do Estado, localizadas na microrregião de

Dourados, as quais respondem por 75% do processamento de cana-de-açúcar

do Mato Grosso do Sul, bem como os representantes da sociedade

selecionadas por meio da metodologia de amostragem bola de neve. Os dados

foram processados e analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e

SPSS 22. Quanto às ações de gestão da sustentabilidade, os resultados

mostraram que as usinas amostradas desenvolvem ações de gestão de

sustentabilidade, dentro das dimensões socioeconômica e ambiental, em maior

ou menor grau, considerando indicadores de sustentabilidade reconhecidos e

utilizados internacionalmente para o setor. Quanto à percepção da sociedade,

no grupo socioeconômico, os indicadores mais percebidos foram: geração de

emprego e geração de renda. No grupo ambiental, o indicador mais percebido

foi a colheita mecanizada. A percepção da sociedade sobre a oferta de projetos

por parte das usinas é baixa. Conclui-se que, apesar das empresas afirmarem

desenvolver ações de gestão da sustentabilidade dentro das dimensões

socioeconômica e ambiental, a sociedade tem pouca percepção sobre tais

ações.

Palavras-chave: Indicadores de sustentabilidade, gestão da sustentabilidade,

percepção da sociedade.

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2. General Summary

This work aimed to evaluate the sustainability of the sugarcane industry in Mato

Grosso do Sul, being developed in the line Society research, Environment and

Sustainable Regional Development. As specific objectives, it aims to: evaluate

the actions of companies in the sector and the management of sustainability;

and check the perception of society and the sustainability of actions promoted

by companies. Therefore, there were two descriptive exploratory research

combining quantitative and qualitative information collected through forms

applied to a sample of companies, located in the micro region of Dourados,

which accounts for 75% of processing of sugarcane in Mato Grosso South, as

well as society representatives selected through the sampling snowball

methodology. Data were processed and analyzed using the Sphinx Lexica 5.0

and SPSS 22. As for sustainability management actions, the results showed

that the sampled companies develop sustainability management actions within

the social, economic and environmental dimensions, to a greater or lesser

degree considering sustainability indicators recognized and used internationally

for the sector. As for the perception of society, the socio-economic group, the

most perceived indicators were: job creation and income generation. In the

environmental group, the more perceived indicator was mechanized harvesting.

The perception of society on the supply of projects by the power plants is low.

We conclude that, although companies claiming develop management actions

of sustainability within the socio-economic and environmental dimensions,

society has little perception of such actions.

Keywords: Sustainability indicators, Sustainability management, Community

perception.

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3. Introdução Geral

O momento atual tem sido marcado pela retomada do desenvolvimento

baseado na sustentabilidade econômica, com a melhoria do bem-estar social e

preservação das condições ambientais. Nesse contexto, torna-se relevante a

discussão sobre temas afins que priorizem a resolução dos problemas

existentes, bem como se destinem a propor soluções viáveis e coerentes à

realidade local, priorizando a sustentabilidade.

A agroindústria constitui um componente importante para o

desenvolvimento sustentável da economia e, no Brasil, ela destaca-se entre os

países em desenvolvimento. No cenário mundial, alguns setores têm

apresentado maior dinamismo em função do aspecto estratégico de seus

produtos ou processos, tal como o setor energético a partir da oferta de fontes

de energia renovável. Entre os segmentos desse setor, o biocombustível

derivado da cana-de-açúcar tem recebido grande destaque, tendo em vista as

perspectivas de ampliação da demanda por produtos ecologicamente

sustentáveis e economicamente viáveis.

Com tecnologia comparável ou superior à maioria dos países

produtores, e, com polos instalados em diferentes regiões, o Brasil tem

potencial para ser exportador de energia renovável em curto prazo.

Segundo RODRIGUES e ORTIZ (2006), o Brasil possui capacidade para

liderar o mercado internacional de energia renovável, não só devido ao

intensivo e acelerado grau de desenvolvimento tecnológico e da

competitividade industrial existente, mas porque, no país, existe matéria-prima

em abundância para fabricar o biocombustível, além da cana-de-açúcar, a

presença de outras fontes como óleos vegetais e da madeira, derivados de

leite, gordura animal, entre outros.

O etanol, considerado um subproduto do açúcar, passou a desempenhar

um importante papel na economia brasileira e, diante do sucesso da iniciativa,

deixou de ser encarado apenas como resposta a uma crise temporária, como

ocorreu na década de 1970, mas sim uma solução permanente.

Segundo CRUZ (2010), a queima do bagaço de cana gera o calor que a

usina utiliza em seus processos produtivos. Com frequência o bagaço tem sido

matéria-prima para geração de eletricidade que é comercializada junto às

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concessionárias de energia. A energia total gerada a partir da cana no Brasil

atingiu, em 2007, 15,9% da energia produzida no País; o número faz da cana a

segunda mais importante fonte de energia (CRUZ, 2010). Dados da ANEEL

(2013) mostram uma alteração no ranking de produção de energia, com as

hidroelétricas responsáveis por 64,37% da produção de energia elétrica,

seguidas do gás natural com 9% e o bagaço de cana (biomassa), produzindo

6,81% da matriz elétrica brasileira. Mesmo assim, a cana mantém uma posição

de destaque entre as fontes de energia brasileiras.

De acordo com RODRIGUES e ORTIZ (2006), a região Centro-Oeste

tem despontado nas últimas safras como nova área de expansão do cultivo da

cana-de-açúcar. O Leste do estado de Mato Grosso do Sul e o Oeste do

estado de Minas Gerais acompanham esta tendência de expansão de novas

áreas.

Dessa forma, observa-se uma pressão sobre o ecossistema de Cerrado,

representante do bioma predominante nessa região brasileira. Essa tendência

de expansão ocorre em virtude da disponibilidade de mão-de-obra e da

declividade das terras, que, por estarem em um planalto, são propícias à

mecanização do processo produtivo.

Assim sendo, Mato Grosso do Sul, juntamente com Goiás, Minas Gerais

e São Paulo, compõe a região que corresponde às áreas de maior

produtividade e de expansão da cana-de-açúcar. Por isso, o estudo dos

aspectos de sustentabilidade da produção no setor sucroenergético torna-se

relevante.

Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a

sustentabilidade do setor sucroenergético no Mato Grosso do Sul. Como

objetivos específicos, pretendeu-se:

Analisar as ações das empresas do setor quanto à gestão da

sustentabilidade;

Verificar a percepção da sociedade quanto às ações de

sustentabilidade promovidas pelas empresas.

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No capítulo seguinte será apresentada a Revisão de Literatura com a

sustentação teórica utilizada para seleção dos indicadores de sustentabilidade

utilizados neste estudo.

A seguir, conforme normas do Programa de Pós-Graduação em Meio

Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp,

serão apresentados dois artigos, um para cada objetivo específico deste

trabalho.

O primeiro artigo trata-se de uma pesquisa desenvolvida com as usinas

sucroenergéticas do Mato Grosso do Sul para identificar as ações destas

quanto à gestão da sustentabilidade.

O segundo artigo é uma pesquisa realizada com representantes da

sociedade, no Mato Grosso do Sul, para verificar a percepção da sociedade

quanto às ações de sustentabilidade promovidas pelas usinas.

Posteriormente, será apresentada uma Conclusão Geral para o

fechamento dos dois artigos.

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4. Revisão de Literatura

4.1 O setor sucroenergético no Brasil

O setor sucroenergético é um dos setores mais antigos e um dos mais

tradicionais no Brasil presentes na economia, pois, desde a colonização

brasileira, teve e tem grande importância no cenário econômico nacional.

SILVA (2008) afirma que os brasileiros conheciam e cultivavam a cana-

de-açúcar e seus derivados desde 1515, quando os colonizadores portugueses

a trouxeram para o país. Aqui, encontraram a terra e o clima ideais e, daí em

diante, foi sempre cultivada, gerando vários produtos de consumo e nas mais

variadas formas, sobretudo na produção de álcool. Dessa forma, passou a ser

objeto de pesquisas continuadas, buscando sua eficiência genética e maior

produtividade.

Até o início do século XVIII, esta atividade tinha absoluta preponderância

dentre todas as atividades econômicas desenvolvidas pela colônia. Diversos

fatores, contudo, alteraram esta situação, trazendo uma persistente decadência

neste setor produtivo desde então. A estagnação do setor açucareiro nacional

perduraria durante o século XIX quando, como fator agravante da crise, foi

viabilizada a produção de açúcar de beterraba pelos países europeus.

Durante grande parte do século XX, mesmo com a modernização da

agroindústria açucareira através da transformação dos antigos engenhos e

banguês em usinas de açúcar, o Brasil se manteria periférico em termos da

participação global no mercado internacional deste produto. Assim, a

capacidade de sobrevivência deste setor baseou-se no mercado interno, sendo

que as exportações eram feitas com o objetivo de escoar a produção

doméstica excedente.

Segundo NATALE NETTO (2007), posteriormente à crise de 1929 e a

Revolução de 1930, a intervenção do Estado na agroindústria canavieira foi

consolidada a partir do Decreto n° 22.789, de 1 de julho de 1933, tornando o

Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) como uma entidade autárquica, com

atribuições de planejamento e de intervenções na economia do setor. Sendo

assim, por causa da ameaça de ruína dessa economia devido à superprodução

e à queda do preço interno e das exportações, os representantes dos usineiros,

dos proprietários de engenhos e dos fornecedores de cana a procuraram o

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Estado em prol da intervenção. Consequentemente, essa intervenção foi

instaurada sob forte apelo dos produtores do setor.

Ainda, segundo NATALE NETTO (2007), o Decreto de criação do IAA

era claro sobre os principais pressupostos que culminaram na sua criação: a)

assegurar o equilíbrio do mercado interno entre as safras anuais de cana e o

consumo de açúcar, mediante a aplicação obrigatória de matéria-prima na

fabricação de álcool etílico; b) fomentar a fabricação de etanol anidro mediante

a instalação de destilarias centrais nos pontos mais aconselháveis, ou

auxiliando as cooperativas e sindicatos de usineiros que para tal fim se

organizassem, ou os usineiros individualmente, a instalar destilarias ou

melhorar suas instalações atuais.

Para SILVA (2008) o IAA adotou o regime de cotas que atribuía, a cada

usina, uma quantidade de cana a ser moída, a produção de açúcar e também

do álcool, para uso doméstico e para aguardente. Por ocasião da Segunda

Guerra Mundial, as usinas paulistas reivindicaram o aumento da produção para

que não ocorresse o desabastecimento dos estados do Sul, uma vez que o

transporte do produto das usinas nordestinas era feito por mar. Sendo assim, a

solicitação foi aceita, e, nos dez anos subsequentes, os paulistas multiplicaram

por quase seis vezes sua produção. No início da década de 1950, São Paulo

ultrapassou a produção do Nordeste, quebrando uma hegemonia de 400 anos.

Ainda, sob a concepção de SILVA (2008), a busca por novas variedades

de cana mais produtivas e mais resistentes às pragas e doenças foi iniciada em

1926, por ocasião da infestação dos canaviais pela praga do mosaico. Foi

também intensificada pelos centros de pesquisa e teve início o controle

biológico de pragas. Surgiram entidades como a Copersucar, o Instituto

Agronômico de Campinas (IAC) e o Programa Nacional de Melhoramento da

Cana-de-açúcar (Planalçucar), as quais responderam por esses avanços.

Neste contexto, seguiu-se um período de renovação concomitante com a

elevação dos preços do açúcar no mercado internacional, atingindo a marca

histórica de mais de U$ 1.000,00 a tonelada.

Devido ao bom preço estabelecido para o açúcar e os decorrentes

recursos obtidos, foi criado, pelo IAA, o Funproçucar, fundo que financiou a

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modernização das indústrias e, assim, grande parte das usinas foram

modernizadas.

Dentro de uma concepção que previa uma forte presença do Estado na

economia e na sociedade, o Decreto Lei nº 3.855 de 21 de novembro de 1941

cria o Estatuto da Lavoura Canavieira, regulamentando as relações entre as

usinas e os fornecedores de cana-de-açúcar, e entre estes e os trabalhadores

canavieiros.

SILVA (2008) ainda explica que o açúcar permaneceu como um produto

bastante apreciado pelo mercado internacional durante a década de 1960 e

começo dos anos 1970. Entretanto, devido às características de commodity, é

prudente esperar que, após um dado período de altas de preços, estes venham

a cair mediante as ditas “instabilidades” do mercado. Tais “instabilidades” se

manifestariam de forma mais veemente em 1975, quando ocorreu uma forte

queda do preço do açúcar no mercado internacional. Esta queda, por outro

lado, também se associou à própria crise da economia mundial na segunda

metade dos anos 1970, quando ocorreu o primeiro choque do petróleo.

O Brasil imediatamente sofreu os efeitos deste novo contexto, pois a

balança comercial acusou um déficit elevado, basicamente devido ao alto nível

de dependência externa em relação ao petróleo, que, inevitavelmente, afetou,

de forma negativa, o mercado mundial de açúcar. Frente a esses problemas

macroeconômicos, o cenário era bastante complexo, configurado por reduzidas

reservas cambiais, exportações em declínio e falta de crédito internacional.

SILVA (2008) explica que a importação do petróleo e dos seus derivados

representavam, em 1973, respectivamente 9% e 11% do valor total das

importações brasileiras. Já em 1975, os índices aumentaram para,

respectivamente, 22% e 23%. Em 1975, o Brasil registrava 76,9% de

dependência externa em relação ao petróleo, sendo que o mesmo era

responsável por 42,8% da composição da matriz energética brasileira.

4.2 O Programa Nacional do Álcool (Proálcool)

O Programa Nacional do Álcool, ou Proálcool, foi criado em 14 de

novembro de 1975 pelo decreto n° 76.593, com o objetivo de estimular a

produção do álcool, visando ao atendimento das necessidades do mercado

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interno e externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo com o

decreto, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de

qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta

de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da

modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas

unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades

armazenadoras (SILVA, 2008).

De acordo com SILVA (2008), o programa foi fortemente subsidiado.

Para sustentá-lo, o governo liberou de 1975 a 1989, cerca de sete bilhões de

dólares. A cargo da Petrobras ficaram o transporte e a mistura do álcool à

gasolina, o armazenamento e a distribuição. Ao mesmo tempo, o Proálcool

estimulou as pesquisas tecnológicas para utilização do álcool como insumo

industrial, em substituição aos derivados de petróleo, como a nafta. Um acordo

entre usineiros e governo estipulou que a Petrobras deveria comprar toda a

produção.

Segundo NATALE NETTO (2007), a criação do Proálcool foi, sob todos

os títulos, a resposta brasileira à crise mundial do petróleo em 1973. Misturar

álcool anidro à gasolina, entretanto, não se configurava, de maneira alguma,

como uma nova e oportuna experiência nacional. Por muitos anos, o álcool foi

apenas encarado como simples regulador do mercado de açúcar. Entretanto,

com o novo programa posto em marcha, o qual determinava, através de lei,

que se misturasse álcool anidro à gasolina, o País deu um passo efetivo para

economizar valiosas divisas e redirecioná-las na recomposição das finanças.

No programa Brasileiro do Álcool, Proálcool, segundo SILVA (2008),

destacam-se cinco fases distintas, que serão tratadas nos subitens seguintes.

4.2.1 A primeira fase do Proálcool (1975 a 1979)

No início desse período, era fabricado apenas o álcool anidro, para ser

adicionado à gasolina, em proporções ainda não padronizadas. SILVA (2008)

afirma que, de acordo com cada região, adicionava-se 10%, 15%, até que se

estabilizou em 20%. Vale destacar que algumas frotas de empresas estatais,

testavam o álcool hidratado nos motores como único combustível.

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SILVA (2008) explica que nesse período o petróleo já dava claros sinais

de elevação e a importação do produto correspondia a aproximadamente 50%

das exportações nacionais. Especialistas trabalhavam com intensidade para

chegar ao motor projetado para o álcool e não adaptado. Enquanto isso

desenvolvia-se um projeto de conversão de carros com motor à gasolina para

funcionar com o etanol. O auge das conversões, mais de 20.000 automóveis

por dia, trouxe de imediato um benefício extra e muito importante para o futuro,

ou seja, a disseminação da tecnologia do etanol, entre milhares de oficinas em

todo o país.

4.2.2 A segunda fase do Proálcool (1980 a 1986): uma campanha publicitária

bem-sucedida

Em 1979, ocasionado pela paralisação da produção Iraniana, o segundo

choque do petróleo (1979-80) fez que o preço do barril de petróleo triplicasse e

as compras do produto passassem a representar 46% da pauta de importações

brasileiras em 1980, com tendência de aumento progressivo do consumo.

Diante disso, SILVA (2008) explica que o governo resolve adotar medidas para

plena implementação do Proálcool. São criados organismos como o Conselho

Nacional do Álcool (CNAL) e a Comissão Executiva Nacional do Álcool

(CENAL) para agilizar o programa. A produção alcooleira atingiu um pico de

12,3 bilhões de litros em 1986-87, superando em 15% a meta inicial do governo

de 10,7 bilhões de l/ano para o fim do período.

A proporção de carros a álcool no total de automóveis para passageiros

e de uso misto produzidos no país aumentou de 0,46% em 1979 para 26,8%

em 1980, atingindo um teto de 76,1% em 1986. O Brasil lançou a segunda fase

do programa a partir da implantação de destilarias autônomas. Os

financiamentos chegavam a cobrir até 80% do investimento fixo para destilarias

e os primeiros veículos a álcool eram comercializados no mercado nacional.

4.2.3 A terceira fase do Proálcool (1986 a 1995): surgem problemas na

trajetória

A partir de 1986 o cenário internacional do mercado petrolífero é

alterado. Os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a

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40 para um nível de US$ 12 a 20. Esse novo período, SILVA (2008) denomina

de “contrachoque do petróleo”, que colocou em xeque os programas de

substituição de hidrocarbonetos fósseis e de uso eficiente da energia em todo o

mundo. Na política energética brasileira, seus efeitos foram sentidos a partir de

1988, coincidindo com um período de escassez de recursos públicos para

subsidiar os programas de estímulo aos energéticos alternativos, resultando

num sensível decréscimo no volume de investimentos nos projetos de

produção interna de energia.

A oferta de álcool não pôde acompanhar o crescimento descompassado

da demanda com as vendas de carro a álcool atingindo níveis superiores a

95,8% das vendas totais de veículos para passageiros e de uso misto para o

mercado interno em 1985.

Os baixos preços pagos aos produtores de álcool a partir da abrupta

queda dos preços internacionais do petróleo impediram a elevação da

produção interna do produto. Por outro lado, a demanda pelo etanol, por parte

dos consumidores, continuou sendo estimulada por meio da manutenção de

preço relativamente atrativo ao da gasolina e da manutenção de menores

impostos nos veículos a álcool comparados aos à gasolina. Essa combinação

de desestímulo à produção de álcool e de estímulo à sua demanda, pelos

fatores de mercado e intervenção governamental assinalados, gerou a crise de

abastecimento da entressafra 1989-90. SILVA (2008) ressalta que, no período

anterior à crise de abastecimento, houve desestímulo tanto à produção de

álcool, conforme citado, quanto à produção e exportação de açúcar, que àquela

época tinham seus preços fixados pelo governo.

Quanto à produção de álcool nesse período, NATALE NETTO (2007)

explica que se manteve em níveis praticamente constantes, atingindo 11,8

bilhões de litros na safra 1985-86; 10,5 bilhões em 1986-87; 11,5 bilhões em

1987-88; 11,7 bilhões em 1988-89 e 11,9 bilhões em 1989-90. As produções

brasileiras de açúcar no período foram de 7,8 milhões de toneladas na safra

1985-86; 8,2 milhões em 1986-87; 7,9 milhões em 1987-88; 8,1 milhões em

1988-89 e 7,3 milhões de toneladas em 1989-90. As exportações de açúcar,

por sua vez, reduziram-se nesse período, passando de 1,9 milhões de

toneladas na safra 1985-86 para 1,1 milhão de toneladas na safra 1989-90.

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SILVA (2008) afirma que a crise de abastecimento de álcool no fim dos

anos 1980 afetou a credibilidade do Proálcool, e, juntamente com a redução de

estímulos ao seu uso, provocou, nos anos seguintes, um significativo

decréscimo da demanda e, consequentemente, das vendas de automóveis

movidos por esse combustível.

NATALE NETTO (2007) acrescenta outros motivos determinantes, os

quais também contribuíram para a redução da produção dos veículos a álcool.

O autor afirma que, no final da década de 1980 e início da década de 1990, o

cenário internacional dos preços do petróleo sofreu fortes alterações, tendo o

preço do barril diminuído sensivelmente. Tal realidade, a qual se manteve

praticamente como a tônica dos dez anos seguintes, somou-se à tendência

cada vez mais forte da indústria automobilística de optar pela fabricação de

modelos e motores padronizados mundialmente. No início da década de 1990,

houve também a liberação, no Brasil, das importações de veículos automotivos

e, ainda, a introdução da política de incentivos para o “carro popular” – de até

1.000 cilindradas – desenvolvido para ser movido à gasolina.

4.2.4 A quarta fase do Proálcool (1995 a 2000): redefinição e afirmação

Os mercados de álcool combustível, tanto anidro quanto hidratado,

encontram-se liberados em todas as suas fases de produção, distribuição e

revenda, sendo os seus preços determinados pelas condições de oferta e

procura. SILVA (2008) expõe que, de cerca de 1,1 milhão de toneladas de

açúcar exportadas pelo país em 1990, passou-se à exportação de até 10

milhões de toneladas por ano. Questionou-se como o Brasil, sem a presença

da gestão governamental no setor, encontraria mecanismos de regulação para

os seus produtos, ou seja, para açúcar para o mercado interno, açúcar para o

mercado externo, etanol para o mercado interno e etanol para o mercado

externo. Dadas as externalidades positivas do álcool e com o intuito de

direcionar políticas para o setor sucroenergético, foi criado, por meio do decreto

de 21 de agosto de 1997, o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool

(CIMA).

Segundo os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos

Automotores (ANFAVEA), citada por SILVA (2008), de 1998 a 2000 a produção

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de veículos a álcool manteve-se em níveis de cerca de 1%. A constituição da

chamada “frota verde”, ou seja, o estímulo e a determinação do uso do álcool

hidratado em determinadas classes de veículos leves, como os carros oficiais e

táxis, tem provocado um debate entre especialistas da área econômica,

contrários aos incentivos, e os especialistas da área ambiental, favoráveis aos

incentivos ao etanol. Em 28 de maio de 1998, a medida provisória nº 1.662

dispôs que o Poder Executivo elevará o percentual de adição de álcool etílico

anidro combustível à gasolina obrigatório em 22% em todo o território nacional

até o limite de 24%.

Para a implementação do Proálcool foi estabelecido, em um primeiro

instante, um processo de transferência de recursos arrecadados a partir de

parcelas dos preços da gasolina, diesel e lubrificantes para compensar os

custos de produção do álcool, de modo a viabilizá-lo como combustível. Assim,

foi estabelecida uma relação de paridade de preços entre o álcool e o açúcar

para o produtor e incentivos de financiamento para as fases agrícola e

industrial de produção do combustível. Com o advento do veículo a álcool

hidratado, a partir de 1979, adotaram-se políticas de preços relativos entre o

álcool hidratado combustível e a gasolina nos postos de revenda, de forma a

estimular o uso do combustível renovável.

4.2.5 A quinta fase do Proálcool (2000 aos dias atuais)

A partir do ano 2000 o Brasil vive uma nova expansão dos canaviais

com o objetivo de oferecer, em grande escala, o combustível alternativo. Ainda

de acordo com SILVA (2008), o plantio avança além das áreas tradicionais, do

interior paulista e do Nordeste, e espalha-se pelos cerrados. A nova escalada

não é um movimento comandado pelo governo, como a ocorrida no final da

década de 1970, quando o Brasil encontrou no álcool a solução para enfrentar

o aumento abrupto dos preços do petróleo que importava. A corrida para

ampliar unidades e construir novas usinas é movida por decisões da iniciativa

privada, convicta de que o álcool terá, a partir de agora, um papel cada vez

mais importante como combustível, no Brasil e no mundo.

A tecnologia dos motores flexfuel veio dar novo fôlego ao consumo

interno de álcool. O carro que pode ser movido à gasolina, álcool ou uma

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mistura dos dois combustíveis foi introduzido no País em março de 2003 e

conquistou rapidamente o consumidor. Hoje, a opção já é oferecida para quase

todos os modelos das indústrias e os automóveis bicombustíveis

ultrapassaram, pela primeira vez, os movidos à gasolina na corrida do mercado

interno. Diante do nível elevado das cotações de petróleo no mercado

internacional, a expectativa da indústria é que essa participação se amplie

ainda mais. A relação atual de preços já faz com que o usuário dos modelos

bicombustíveis dê preferência ao álcool em alguns estados brasileiros.

Um dos fatos marcantes nessa fase do Proálcool foi a grande velocidade

de aceitação pelos consumidores dos carros bicombustíveis, ou flexfuel, que foi

muito mais rápida do que a indústria automobilística esperava. As vendas

desses veículos já superaram as dos automóveis movidos à gasolina. Hoje

praticamente todos os automóveis já saem de fábrica com motor bicombustível.

Considerando os fatores históricos elencados anteriormente e a

importância do etanol como fonte de energia renovável, somando-se a isto a

expansão de usinas, principalmente em áreas do cerrado, uma análise da

sustentabilidade da produção do etanol diante da implantação dessas novas

unidades produtoras torna-se necessária.

4.3 Contextualizando Desenvolvimento Sustentável

Os termos “desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade” têm sido

utilizados por diversos setores da indústria e do agronegócio, mas, nem

sempre, em atividades sustentáveis.

Analisando um pouco da história do conceito, vê-se que em meados da

década de 1960, com o surgimento das teorias da dependência, com o

crescimento econômico do pós-segunda guerra, fatores como persistência das

desigualdades sociais e regionais, crise de emprego, destruição progressiva do

meio ambiente, entre outros, levaram ao questionamento das distorções

estruturais e da própria concepção de desenvolvimento. Analogamente,

SACHS (2002) relata um novo paradigma de desenvolvimento foi proposto em

1972, denominado ecodesenvolvimento.

Em 1988 formalizou-se o termo “desenvolvimento sustentável”,

retomando os conceitos do ecodesenvolvimento, introduzindo a preocupação

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com as gerações futuras e a dimensão ecológica, além de incorporar as

dimensões econômica, social, tecnológica, cultural e política. A Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização

das Nações Unidas (ONU) publicou no relatório Nosso Futuro Comum, em

1987, o conceito clássico de “Desenvolvimento Sustentável”: é aquele que

atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as

gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.

Para VEIGA (2007), o “Desenvolvimento Sustentável” indica cada vez

mais a inserção dessa utopia em detrimento do sistema capitalista. KEINERT

(2007) afirma que, neste cenário, o fator consumo representa um importante

papel, pois ele define e é definido pelo fator produção. Neste sentido, pergunta-

se: quais seriam os perfis e percursos da sustentabilidade ambiental: o cenário

para uma sociedade sustentável; a política; o projeto e o papel que os vários

atores sociais (stakeholders) deveriam desempenhar na definição do que deve

ser produzido e, consequentemente, consumido? Em sua essencialidade, o

produto não é mais considerado como um bem de consumo, mas sim, do ponto

de vista do serviço que oferece.

SACHS (2002) ressalta que o desenvolvimento também depende da

cultura local, na medida em que ele implica na invenção de um projeto. Este

não pode se limitar unicamente aos aspectos sociais e sua base econômica,

ignorando as relações complexas entre o porvir das sociedades humanas e a

evolução da biosfera. Na realidade, observa-se uma coevolução entre dois

sistemas que se regem por escalas de tempo e escalas espaciais distintas.

Ainda segundo o autor, a sustentabilidade no tempo das civilizações humanas

vai depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência

ecológica e de fazer um bom uso da natureza.

O desenvolvimento sustentável apresenta-se como uma questão

imperativa para criar condições de sobrevivência para a espécie humana.

Embora o objetivo seja focado na preservação do ser humano, em condições

satisfatórias de vida, a interconexão dos sistemas exige uma regulação do

sistema humano na sua relação com o meio ambiente. As evidências deixam

claro que, para viabilizar a permanência da espécie humana no planeta,

garantindo qualidade de vida, é inviável manter a exploração acelerada e

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continuada dos recursos naturais e seu consequente esgotamento (PAULISTA

et al., 2008).

KEINERT (2007) propõe o conceito de “desmaterialização” da demanda

social de bem-estar como base de um critério correto de desenvolvimento

sustentável. De acordo com o autor, trata-se de uma drástica redução do

número e da intensidade material (quantidade de recursos ambientais

necessários para gerar uma unidade de produto ou serviço) dos produtos e dos

serviços requeridos para atingir um bem-estar socialmente aceitável. E,

consequentemente, uma radical mudança em toda a lógica operacional do

sistema produtivo.

Conforme KEINERT (2007), importantes inovações já foram introduzidas

no mundo corporativo a partir da emergência do conceito de sustentabilidade,

as quais derivam da definição de desenvolvimento sustentável proposta pela

CMMAD. Dentro desse contexto, o estabelecimento de critérios e indicadores

de sustentabilidade é necessário para mensurar o quanto o seu processo

produtivo se aproxima do ideal da sustentabilidade. Para, especificamente, o

caso da produção do setor sucroenergético, procurou-se ressaltar as diferentes

iniciativas que estão sendo desenvolvidas em favor da sua produção

sustentável, lembrando que a sustentabilidade agrícola é diferente da industrial

e é determinada por toda a sua cadeia produtiva e pelo uso do seu produto.

Porém, vale destacar que a discussão sobre sustentabilidade é distinta e muito

mais subjetiva do que simplesmente o desenvolvimento de critérios e

indicadores.

A ideia de desenvolver indicadores para avaliar a sustentabilidade surgiu

na Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente – Rio 92, conforme registrado

no capítulo 40 da Agenda 21 (SICHE et al., 2007).

Um dos desafios da construção do desenvolvimento sustentável é criar

instrumentos de mensuração capazes de prover informações que facilitem a

avaliação do grau de sustentabilidade das sociedades, monitorem as

tendências de seu desenvolvimento e auxiliem na definição de metas de

melhoria (ABREU e RODRIGUES, 2011).

VAN BELLEN (2004) afirma que existe uma série de ferramentas ou

sistemas que procuram avaliar o grau de sustentabilidade do desenvolvimento,

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23

porém, não se conhecem adequadamente as características teóricas e práticas

destas ferramentas.

Diante disso, procurou-se realizar um estudo mais aprofundado sobre os

indicadores mais utilizados, especificamente para o setor sucroenergético e,

com esses indicadores, foram definidos os constructos para analisar a

sustentabilidade do setor sucroenergético.

4.4 Indicadores de sustentabilidade para a atividade sucroenergética

Para MACEDO et al. (2007), apesar do setor contribuir com o

fornecimento de uma fonte de energia limpa e renovável, fazendo frente às

ameaças do aquecimento global, ainda existem problemas a serem

dimensionados e solucionados pela agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil.

A interação das atividades do setor com o meio ambiente, social e

econômico é complexa. MACEDO et al. (2007) agrupam tópicos pela natureza

dos impactos gerados no setor. Desta forma, consideraram os impactos no uso

de recursos materiais (principalmente energia e materiais), os impactos no

meio ambiente (qualidade do ar, clima global, suprimento de água, ocupação

do solo e biodiversidade, preservação de solos, uso de defensivos e

fertilizantes), a sustentabilidade da base de produção agrícola, com a

resistência a pragas e doenças, o impacto nas ações comerciais, tratando de

competitividade e subsídios, e, finalmente, alguns impactos socioeconômicos,

com ênfase na geração de emprego e renda.

RODRIGUES e ORTIZ (2006) contribuem na discussão do impacto

social, lembrando-se da questão do “uso da terra” no sentido de que práticas

agrícolas monoculturais em grandes extensões de terra têm sido apontadas por

movimentos sociais e ambientalistas como geradoras de desigualdades no

campo, bem como um entrave à reprodução social de populações tradicionais.

A ausência de um ordenamento jurídico eficaz da estrutura fundiária brasileira,

capaz de regular e limitar os usos das propriedades, associado à

disponibilidade de mão-de-obra barata, tem contribuído para a expansão das

monoculturas.

Os autores afirmam que os impactos sobre a agricultura familiar e as

“mudanças no padrão de produção agrícola” têm sido verificados em regiões

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do estado de São Paulo, as quais se especializaram na produção de cana-de-

açúcar.

Ainda discutindo os impactos sociais, RODRIGUES e ORTIZ (2006)

alertam para aspectos como “carga de trabalho”, “salários”, “saúde e segurança

no trabalho”, que devem ser avaliados dentro do tripé sustentabilidade.

Quanto aos impactos ambientais, RODRIGUES e ORTIZ (2006)

destacam as “mudanças no uso do solo”. Lembram que em 2003, no nordeste

paulista, a proporção de terras utilizadas para atividades agrosilvopastoris

permaneceu estável no período, de maneira que a expansão da cana-de-

açúcar se deu por meio da substituição de áreas antigamente ocupadas,

principalmente por culturas anuais que cederam neste período 5.964 km2 para

a cana-de-açúcar, por pastos que cederam 4.748 km2, e pela fruticultura que

cedeu 1.577 km2 de sua área para a cana-de-açúcar.

RODRIGUES e ORTIZ (2006) citam ainda que, em 2005, o governador

do Mato Grosso do Sul enviou à Assembleia Legislativa projeto propondo

mudança na Lei Estadual 328/82, para que fosse permitida a instalação de

usinas de álcool na Bacia do Alto Paraguai. Na época, o secretário de

Produção e Turismo do Estado justificou o projeto dizendo que as destilarias de

álcool seriam a única solução para o desenvolvimento econômico dos

municípios do entorno do Pantanal. O projeto teve forte resistência de

movimentos sociais e de organizações ambientais que se articularam na

campanha “Não às Usinas de Álcool no Pantanal”. A campanha, que foi

marcada pelo episódio trágico de autoimolação do ambientalista Francisco

Anselmo de Barros, foi vitoriosa e a Assembleia Legislativa do estado arquivou

o projeto.

Todos esses impactos são relevantes para se analisar a sustentabilidade

do setor sucroenergético no Mato Grosso do Sul.

Como base para a elaboração dos constructos que abordem a

sustentabilidade, especificamente para o setor sucroenergético, foi utilizado

também o Padrão BONSUCRO - BSI (Better Sugarcane Initiative), versão 4

(BSI, 2014).

A BSI é uma iniciativa global, sem fins lucrativos, dedicada a reduzir os

impactos ambientais e sociais na produção da cana-de-açúcar, com a missão

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de garantir que os atuais e novos modos de produção possam ser

considerados ambientalmente sustentáveis.

Conforme consta em UNICA (2010) e BSI (2014), a BONSUCRO é uma

mesa-redonda internacional de adesão voluntária, que visa estabelecer um

padrão de certificação de práticas responsáveis no setor de cana-de-açúcar.

Participam da iniciativa:

Produtores do Brasil, América Central, Sudão, Índia e Austrália;

Grandes consumidores e intermediários dos produtos da cana-de-

açúcar, como Coca-Cola, Shell, ED&F, British Sugar e Cargill;

Representantes da sociedade civil, como Ethical Sugar,

Solidaridade WWF e;

Instituições internacionais como International Finance Corporation

(IFC), do Banco Mundial.

De acordo com a BSI (2014), a iniciativa reconhece que a vasta gama de

questões relacionadas com o cultivo de cana incidirá sobre algumas

importantes questões sociais e ambientais, como a produtividade do solo, uso

racional da água, gestão de efluentes, manutenção da biodiversidade e

condições de trabalho equitativas.

Segundo a BSI (2014), a BONSUCRO desenvolve critérios e indicadores

ambientais, sociais e econômicos, aplicáveis a todo o processo produtivo de

açúcar e etanol, organizados em torno de cinco princípios:

1. Cumprimento da lei;

2. Respeito aos direitos humanos e trabalhistas;

3.Gerenciamento da eficiência dos insumos, da produção e do

processamento para incremento da sustentabilidade;

4. Gerenciamento ativo da biodiversidade e serviços do ecossistema e;

5. Comprometimento com melhoramento contínuo nas áreas-chave do

negócio.

De acordo com a UNICA (2010), no Brasil o padrão BSI ou “Padrão de

Produção BONSUCRO” tem sido adotado e apoiado pela UNICA desde a sua

primeira versão, publicada para consulta pública em 2008, seguida por diversos

encontros com partes interessadas em quatro continentes. A reunião realizada

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26

no Brasil contou com o apoio da UNICA e juntou mais 30 instituições entre

usinas, indústrias consumidoras, bancos e ONGs.

Quanto às dimensões da sustentabilidade a serem abordadas nesse

trabalho, LOVO (2012) apresenta as dimensões socioeconômica e ambiental

como foco das ações de gestão nas organizações.

A seguir serão apresentados os principais constructos a serem utilizados

na elaboração dessa pesquisa, dentro das dimensões Ambiental e

Socioeconômica.

4.4.1 Indicadores de sustentabilidade na dimensão ambiental

SILVA (2010) descreveu os fatores considerados críticos para a

sustentabilidade da cadeia produtiva do etanol de forma direta e efetiva. Na

dimensão ambiental destaca: biodiversidade, solos, disponibilidade dos

recursos hídricos, qualidade do ar local e clima global.

No aspecto poluição do ar, a queima da cana pode ser um indicador

de sustentabilidade.

Para ANDRADE e DINIZ (2007), dentre todos os impactos ambientais

gerados pela agroindústria da cana-de-açúcar, sem dúvida, o mais

emblemático, o mais discutido e controvertido ao longo dos anos tem sido a

prática da queima da palha como método facilitador da colheita.

De acordo com GLIESSMAN (2000), a cana-de-açúcar é uma planta de

regiões tropicais e de fotossíntese C4, designada assim por causa da molécula

com 4 átomos de carbono presente no primeiro produto da fixação do carbono.

É uma planta com uma das maiores taxas de conversão de energia. Ainda de

acordo com o autor, a queima da cana no campo aumenta as emissões de

gases de efeito estufa e causa chuvas ácidas.

Ainda, segundo GLIESSMAN (2000), o fogo pode ser usado para

preparar uma cultura para a colheita. Um exemplo comum é a queima da cana-

de-açúcar poucos dias antes da colheita. Os cortadores afirmam que o fogo é

importante para remover as folhas, facilitando o processo de corte quando feito

à mão, tornando o acesso à cana mais fácil, e deslocando animais inoportunos,

como ratos e cobras. Mas a facilidade de colheita num sistema desses tem de

ser medida em relação a impactos ecológicos, como a perda de matéria

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orgânica, a volatilização de certos nutrientes e sua lixiviação por chuvas fortes.

Para a cana-de-açúcar, em particular, outro impacto negativo possível do fogo

pode ser o de degradar a qualidade do açúcar extraído das canas aquecidas

demais.

Assim sendo, pode-se afirmar que quanto menor o uso da queima da

cana pelas usinas, mais ambientalmente sustentável é o seu processo

produtivo.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de

Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), o avanço da mecanização no

Estado é destaque nacional. Na safra 2013/2014, 94% das lavouras de cana do

Estado terão colheita mecanizada, contra 89% da safra 2012/2013. "A indústria

da cana já nasceu de forma correta em MS" (HOLLANDA, 2013). Ainda

segundo a BIOSUL (2013), Mato Grosso do Sul é o Estado do Brasil mais

avançado na eliminação da queimada. Segundo o presidente da BIOSUL, só

não é 100% mecanizada porque faltam máquinas, operadores, e ainda é

necessário um processo de capacitação dos empregados que atuam na

colheita manual para que possam trabalhar em outros setores.

Ainda no aspecto poluição do ar, o controle de emissões de gases do

efeito estufa (GEE) nas usinas também pode ser um indicador de

sustentabilidade da produção da cana.

De acordo com SOUZA (2013), as seguintes fontes de GEE devem ser

associadas ao manejo agrícola da cana-de-açúcar: Emissões de N2O do

manejo do solo associadas à aplicação de fertilizantes nitrogenados sintéticos,

compostos orgânicos (vinhaça e torta de filtro) e, resíduos da cana-de-açúcar

depositados na superfície do solo, Emissões de CH4 e N2O devido à queima da

palha na pré-colheita da cana-de-açúcar, Aplicação de calcário, Aplicação de

defensivos e Fontes móveis, representadas pelo consumo de óleo diesel

durante as operações agrícolas.

SILVA (2010) destaca ainda que, para que o etanol seja considerado um

combustível renovável, é essencial que a contribuição de combustíveis fósseis

usados na sua produção seja pequena, assim como as emissões de gases

precursores do efeito estufa não associadas diretamente ao uso de

combustíveis fósseis, em todo o seu ciclo de produção e utilização. No plantio,

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colheita, transporte e processamento da cana são consumidos combustíveis

fósseis que geram emissões de GEE. O autor afirma que é necessário fazer

um balanço energético e de GEE para se avaliar quais os resultados líquidos

no ciclo completo de produção do álcool de cana-de-açúcar e seu uso como

combustível no setor de transporte. Afirma ainda que este balanço do ciclo de

vida do etanol tem sido realizado no Brasil.

Assim, interpretando dados da UNICA (2010), pode-se afirmar que as

empresas que possuem um inventário de suas emissões de GEE estão mais

preocupadas com a gestão da sustentabilidade, e tendem a ter práticas mais

sustentáveis.

Quanto à poluição das águas, um indicador importante é o tratamento

dos efluentes líquidos produzidos pelas atividades da agroindústria.

Segundo ANDRADE e DINIZ (2007), no Estado de São Paulo é prática

corrente incorporar grande parte dos efluentes líquidos gerados nas usinas à

vinhaça, para disposição no solo por meio da técnica que se convencionou

chamar de fertirrigação. Isso é feito com as águas geradas no processo de

fabricação do açúcar, as resultantes da lavagem de pisos e equipamentos e as

das purgas dos lavadores de gases (limpeza de espaços confinados), entre

outras.

SILVA (2010) afirma que o uso da vinhaça na prática da fertirrigação,

apesar de antiga e bem disseminada, não pode ser excessiva ou

indiscriminada, uma vez que seu potencial poluidor compromete o meio

ambiente, desde as características físicas e químicas do solo até as águas

subterrâneas a partir da sua percolação (infiltração no solo).

ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam conhecer apenas uma grande Usina,

localizada em Ariranha-SP, que promove a segregação de todas as águas

residuárias (aproximadamente 250 m³/h), tratando-as separadamente da

vinhaça por meio da técnica de lodos ativados, e retornando os efluentes

líquidos ao corpo de água adjacente, dentro dos padrões legais de emissão e

qualidade vigentes no Estado de São Paulo.

Indicadores de sustentabilidade importantes estão relacionados ao

consumo de água. Nas usinas de cana-de-açúcar é importante desenvolver

práticas mais sustentáveis nos aspectos do uso racional dos recursos

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hídricos (águas superficiais e subterrâneas) e reuso da água nas atividades

empresariais.

De acordo com SILVA (2010), a eminente escassez de água e o

comprometimento de sua qualidade em algumas regiões do mundo chamam a

atenção para a importância do planejamento e gestão dos recursos hídricos.

Ainda, segundo o autor, é importante destacar o esforço que o setor

agroindustrial vem realizando para diminuir o consumo de água, procurando

otimizar seus processos, orientando esforços no sentido da reciclagem deste

bem.

No trabalho de ANDRADE e DINIZ (2007) é apresentado o balanço

hídrico de uma grande usina que conseguiu racionalizar, durante grande parte

da safra, o uso da água a um patamar de 0,85 m³/t de cana moída.

Os autores destacam que técnicas de reuso, retorno de condensáveis

(vapores transformados em líquidos), implementação de limpeza a seco da

cana, macromedição do consumo e desassoreamento das represas de

captação permitem que muitas usinas operem sem alterar a quantidade e a

qualidade dos corpos de água adjacentes. Advertem ainda que muitas usinas

ainda captam elevadas vazões e não operam com 100% de reuso das águas

de resfriamento. Nesta condição, a vazão de jusante dos corpos de água pode

ser afetada negativamente. Ademais, o lançamento de grandes vazões de

água a temperaturas em torno de 35ºC pode provocar a diminuição do teor de

oxigênio dissolvido no corpo receptor e causar comprometimento da vida

aquática.

Outro indicador de sustentabilidade importante que afeta a poluição do

solo é a destinação adequada dos resíduos sólidos produzidos pelas

atividades da agroindústria. Nesse contexto, ANDRADE e DINIZ (2007)

afirmam que nas usinas mais antigas e localizadas distantes das áreas

urbanas, foi prática comum o uso de valas para aterro de resíduos sólidos

domiciliares, de escritório, entulhos de construção civil, podas de árvores,

restos de estopas, graxas e embalagens de óleos lubrificantes.

Os autores explicam que tais áreas também foram empregadas como

locais de retirada indiscriminada de solo e deposição temporária de material

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orgânico (cinzas, fuligens, lodos gerados pela lavagem de cana, material de

limpeza dos tanques de vinhaça, etc.).

A destinação correta dos resíduos sólidos, segundo ANDRADE e DINIZ

(2007), cessa o processo de degradação ambiental e os locais afetados

passam a ser empregados para armazenamento temporário e compostagem

orgânica das cinzas, fuligens e torta de filtro.

BUENO e SALVADOR (2012) apresentam o exemplo de uma empresa

que estudaram. A empresa realiza coleta seletiva de resíduo. Estão instalados

conjuntos de lixeiras específicas e tambores de 200 litros foram adaptados para

a coleta. Os resíduos são destinados às empresas especializadas em

reciclagem. A usina gera por mês 1,6 t de papel, 109 t de ferro e outros

resíduos que são dispostos de forma ambientalmente correta.

Os autores afirmam que, para o sucesso do projeto ambiental da usina,

todos os colaboradores foram conscientizados sobre a importância da

preservação do meio ambiente a partir de treinamentos específicos, que juntos,

somaram cerca de 3.000 horas. A intenção era manter a consciência ambiental

nos colaboradores não apenas em ocasiões necessárias como a busca pela

certificação, mas torná-la um hábito diário, no exercício das atividades

desenvolvidas dentro e fora da empresa.

O uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) na área

agrícola das usinas é um importante indicador a ser analisado, pois pode

acarretar contaminação ambiental.

LIECHOSCKI e MAINIER (2003) explicam que os produtos

agroquímicos, também denominados agrotóxicos ou defensivos agrícolas,

podem ser definidos como produtos de natureza química ou bioquímica cujo

objetivo principal era exterminar as pragas ou doenças que atacam as culturas

agrícolas, podendo ser classificados em: pesticidas (combate aos insetos em

geral), fungicidas (produtos que atingem os fungos) e herbicidas (produtos que

matam ou impedem o crescimento de plantas invasoras ou daninhas).

Quanto à utilização de agrotóxico, ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam

que a cana-de-açúcar requer poucas aplicações em relação a outras culturas

de produção extensiva, em razão de sua robustez e adaptação às condições

edafoclimáticas em que são cultivadas no Brasil. Os herbicidas são o grupo

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31

mais utilizado. O consumo de inseticidas é relativamente baixo, sendo quase

nulo o de fungicidas. Além disso, muitos produtores já utilizam controle

biológico em escala comercial. A produção orgânica também tem aumentado,

em virtude do crescimento do mercado de açúcar orgânico, tanto no Brasil

quanto no exterior.

O controle biológico, apesar de ter seu uso em escala comercial

intensificado recentemente, não é novo. SILVA (2008) explica que já em 1926,

na busca por novas variedades de cana mais produtivas e mais resistentes às

pragas e doenças, por ocasião da infestação dos canaviais pela praga do

mosaico, estudos foram intensificados pelos centros de pesquisa, principiando,

conforme já citado, o controle biológico de pragas.

Segundo LIECHOSCKI e MAINIER (2003), os relatórios governamentais

mostram que mais de 50% dos pesticidas são classificados como herbicidas,

os quais são bastante tóxicos e utilizados nas plantações de cana-de-açúcar,

soja, abacaxi, café, etc.

Conforme MACEDO et al. (2007), a preocupação com o impacto do uso

de defensivos agrícolas está presente em várias instâncias da Agenda 21, que

prevê ações específicas de controle.

No que se refere à biodiversidade, outros indicadores importantes estão

relacionados à manutenção e ampliação das matas nativas (reserva legal e

área de preservação permanente), ações de preservação da fauna e a

realização de monitoramento contínuo ou pontual do índice de biodiversidade

(biomonitoramento) dentro das áreas exploradas pelas empresas, são

apontadas pela UNICA (2010) como muito importantes.

De acordo com SILVA (2010), se a expansão da cana-de-açúcar seguir

as tendências atuais, ela ocorrerá em locais onde o setor agropecuário e,

principalmente o sucroalcooleiro, é bem consolidado, dificilmente ocorrerá

substituição de matas nativas por cana. No entanto, os deslocamentos de

culturas, como a pecuária e as lavouras, poderão ocorrer para outras regiões,

principalmente no Centro-oeste, aumentando, assim, o desmatamento. Muitas

usinas estão desenvolvendo ações de recomposição de suas áreas de

preservação permanentes (APP) e reservas legais, em cumprimento à lei do

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Estado, por exigências de instituições financeiras ou de segmentos do

mercado.

Ainda segundo SILVA (2010), de um lado, algumas usinas e produtores

já se mobilizaram para a criação de viveiros de espécies florestais, de forma

autônoma ou em parcerias com órgãos públicos, e tem realizado o

repovoamento de suas APP’s. Mas, por outro lado, há usinas e produtores

“adeptos” da tese da “regeneração natural”, que consiste, na grande maioria

dos casos, no simples abandono da área para que esta se regenere

naturalmente, o que também é permitido segundo algumas interpretações da

Lei n. 4.771 de 1965 e da Lei n. 9.866 de 1997.

Reconhece-se que as APP’s têm inquestionável importância para a

conservação da biodiversidade, das características climáticas e dos recursos

edáficos, hídricos, florísticos e faunísticos. Diversas usinas estão em fase de

elaboração/implementação de projetos de recuperação das APP’s, dos cursos

d’água, das nascentes e dos rios, afirmam ANDRADE e DINIZ (2007).

De acordo com a UNICA (2010), uma das diretrizes do Protocolo

Agroambiental do Estado de São Paulo está relacionada à proteção das matas

ciliares nas áreas administradas pelas usinas. O levantamento topográfico das

áreas e seu georreferenciamento tornaram-se, então, prioritários para as

associadas à UNICA.

Segundo experiência da UNICA (2010), tais ações levam a um

incremento da diversidade de fauna e flora. “Até agora, mais de 10 milhões de

mudas de árvores nativas foram plantadas na recuperação de mais de 6 mil

hectares de matas, com investimentos que ultrapassam R$ 46 milhões”

(UNICA, 2010, p. 84).

Na experiência acima, foram envolvidos cerca de oito mil colaboradores

nas atividades de catação de sementes, tratos nos viveiros, plantio e cuidados

na manutenção dessas áreas reflorestadas.

A UNICA (2010) ainda afirma que o setor tem investido continuamente

na ampliação do monitoramento de bioindicadores nas áreas protegidas. Em

2007, eram quase 20 mil hectares monitorados, área que passou para 35 mil

hectares em 2009. Através desses monitoramentos é possível identificar se as

matas protegidas servirão de abrigo a mamíferos e aves. Até o momento, os

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projetos de biodiversidade monitoram 12 espécies de mamíferos, cinco delas

ameaçadas de extinção e sete consideradas vulneráveis. Para as espécies

identificadas como vulneráveis, houve abundância de 31 exemplares avistados.

4.4.2 Indicadores de sustentabilidade na dimensão socioeconômica

Segundo MACEDO et al. (2007), considerando os impactos

socioeconômicos do setor sucroenergético, a maior importância vem da

geração de empregos e renda, capacitando a mão-de-obra, com flexibilidade

e usando tecnologias diversas para acomodar características locais.

Para SILVA (2010), fatores que podem ser considerados críticos para a

sustentabilidade da cadeia produtiva do etanol, na dimensão socioeconômica

são: geração de emprego e condições de trabalho.

De acordo com a BIOSUL (2013), dados da safra 2012/2013, no Mato

Grosso do Sul, mostram que o setor contribuiu com 30.500 empregos diretos

e 90.000 empregos indiretos. Quanto à remuneração recebida, o salário pago

aos trabalhadores do setor é o maior salário médio da agricultura, o terceiro

maior salário médio da indústria e a segunda maior massa salarial. Destaca

ainda que nesse período foram qualificadas 2.000 pessoas.

Dados da RAIS-MTE (2015) mostram que o setor no Mato Grosso do

Sul, em 31/12/2012, possuía 29.054 vínculos ativos de trabalhadores em

estabelecimentos cadastrados nas classes: Cultivo de Cana-de-Açúcar,

Fabricação de Açúcar Bruto, Fabricação de Açúcar Refinado e Fabricação de

Álcool, na Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE).

Corroborando com a BIOSUL (2013), dados da RAIS-MTE (2015)

comprovam que em 2013 os salários médios dos trabalhadores em

estabelecimentos cadastrados na classe Cultivo de Cana-de-Açúcar foram de

R$ 2.351,54, sendo o maior salário da agricultura que, como um todo, teve um

salário médio de R$ 1.263,01.

FREIRE (2010) concorda com MACEDO et al. (2007) ao destacar como

impactos socioeconômicos positivos a geração de emprego e geração

consequente de atividade econômica na base da pirâmide, bem como de

atividade econômica secundária causada pela produção agrícola e industrial da

cana-de-açúcar. Afirma também que, em geral, a atividade sucroenergética é

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vista de forma positiva pelas comunidades e traz relativo progresso a essas

populações.

SILVA (2010) reforça as afirmações de FREIRE (2010) e complementam

que melhorias foram alcançadas nas condições de trabalho e da renda, como

pode ser vista na expansão do trabalho formal e outros direitos dos

trabalhadores, incluindo acesso a serviços de saúde e programas de

qualificação do trabalhador. SILVA (2010) também diz que quando comparado

com o grau de formalidade da economia brasileira, a agricultura da cana-de-

açúcar mostra um grau bem maior de formalização: com 72,9% em média

quando comparado aos 40% não formalizados.

Nesse sentido, para a sustentabilidade do empreendimento, torna-se

necessário analisar indicadores relacionados à geração de emprego e

geração de renda pelas empresas do setor e a percepção destes indicadores

pela sociedade.

Para SILVEIRA (2008), a empresa socialmente responsável não se

limita a respeitar os direitos dos trabalhadores consolidados na legislação

trabalhista e nos padrões da Organização Internacional do Trabalho (OIT),

ainda que esse seja um pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e

investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem

como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas

relações com os empregados. Segundo a autora, a empresa também deve

estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um

relacionamento ético e responsável com as minorias e instituições que

representam seus interesses.

Um ponto importante no que diz respeito à sustentabilidade

socioeconômica é identificar se, nas empresas, existem compromissos

explícitos que tratam do tema ética organizacional.

CRUZ e SOUZA (2012) afirmam que a responsabilidade social

empresarial implica em práticas de gestão que vão além de ações

socioambientais, configurando-se, inclusive, pelo contínuo diálogo e

engajamento de todos os stakeholders nas relações e decisões estratégicas

das empresas, suportado por comportamento ético e transparente que se

operacionaliza por meio de políticas de gestão.

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Segundo CRUZ e SOUZA (2012), os argumentos éticos derivam dos

princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes, considerando que as

empresas e as pessoas que nelas trabalham deveriam se comportar de

maneira socialmente responsável (conduta moralmente correta), mesmo que

envolva despesas improdutivas para a empresa. Os autores defendem que a

formulação de políticas, diretrizes, procedimentos, regulamentos e códigos de

ética são exemplos do tratamento dado pelas empresas a essas questões de

ética organizacional.

Ainda, dentro dos indicadores socioeconômicos, tem-se na dimensão

relações de trabalho o critério acidente de trabalho.

De acordo com o padrão BSI (2014), assegurar um ambiente de trabalho

seguro e saudável em operações de trabalho é fundamental para uma

organização sustentável. Esse indicador procura identificar a frequência de

acidentes com afastamento.

Para a BSI (2014), um acidente com afastamento é definido como sendo

um incidente que envolve um empregado e que o impossibilita de continuar

com suas tarefas normais no próximo dia ou turno, devido à lesão recebida.

No aspecto relações trabalhistas, a UNICA (2010) apresenta uma série

de iniciativas sustentáveis que constam no “Compromisso Nacional para

Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar”, fruto de uma

experiência pioneira no Brasil de diálogo e negociação nacional tripartite entre

empresários, trabalhadores e governo federal. Trata-se de um conjunto de

cerca de trinta práticas trabalhistas que vão além do que determina a lei.

A UNICA (2010) explica que o ponto central do “Compromisso Nacional”

é a valorização das melhores práticas trabalhistas, através da criação de

instrumentos de mercado que as reconheçam como exemplos a serem

adotados por um número crescente de empresas.

Em relação ao contrato de trabalho, por exemplo, o Compromisso

Nacional prevê a contratação direta de trabalhadores nas atividades manuais

do plantio e corte da cana-de-açúcar, eliminando totalmente a utilização dos

intermediários, os chamados “gatos” (UNICA, 2010).

Segundo a UNICA (2010), o “compromisso” defende também outros

pontos: a eliminação de remuneração vinculada aos ganhos dos trabalhadores

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para os serviços de transporte, administração e fiscalização, o aumento da

transparência na aferição e no pagamento do trabalho por produção, um amplo

conjunto de melhores práticas de gestão em saúde e segurança, como

ginástica laboral, pausas, reidratação e atendimento de emergência; o

transporte de trabalhadores, a divulgação e orientação das melhores práticas

junto aos fornecedores de cana, o atendimento a migrantes contratados em

outras localidades, o fortalecimento das organizações sindicais e das

negociações coletivas, bem como, a valorização das ações de

responsabilidade corporativa das empresas nas comunidades canavieiras.

Alguns exemplos dessas ações podem ser vistas no trabalho de

BRAGATO et al. (2008), onde afirmam que na organização do trabalho, usinas

mais modernas têm objetivado a elaboração de programas de envolvimento de

seus empregados por meio do trabalho de psicólogos, assistentes sociais,

programas assistenciais e políticas de treinamento, visando à elevação da

produtividade e à redução do absenteísmo.

Outro grupo de indicadores importante para a sustentabilidade

socioeconômica é aquele relacionado à responsabilidade social das

empresas sucroenergéticas.

Segundo BRAGATO et al. (2008), a discussão de responsabilidade

social é uma tentativa de restabelecer uma tradição milenar, quando os

negócios estavam intimamente relacionados com a comunidade.

GOES (2013) aponta Howard Bowen que, em 1957, foi o responsável

por caracterizar e transformar a discussão sobre a filantropia na doutrina da

responsabilidade social das empresas ao afirmar que as empresas não devem

somente ser responsáveis pelas externalidades que causam, mas devem servir

como um elemento motriz do desenvolvimento da própria sociedade.

GOES (2013) diz que, paralelamente ao conceito de responsabilidade

social, foi desenvolvido o conceito dos stakeholders da empresa. O autor

conceitua stakeholders como os demais agentes que possuem relações diretas

e indiretas com a empresa. Em um primeiro momento, estes agentes eram: os

clientes, os fornecedores, os acionistas, os funcionários e a comunidade.

MACEDO et al. (2007) afirmam que a evolução das unidades de negócio

do setor sucroenergético, como de resto nos vários setores da economia, está

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levando as empresas a assumirem cada vez mais o que se convencionou

chamar “responsabilidade social” no contexto de seus negócios.

Segundo MACEDO et al. (2007), “responsabilidade social” é um termo

usado para descrever ações na área de negócios ligadas a valores éticos:

conformidade legal, respeito às pessoas, comunidades e meio ambiente.

Mais especificamente, é o entendimento dos negócios como uma parte

integrada da sociedade, contribuindo diretamente para o seu bem-estar,

preocupando-se com os impactos sociais das políticas e práticas dos negócios,

do negócio específico nos níveis abaixo e acima na cadeia de valores e com os

impactos das contribuições voluntárias dos negócios nas comunidades que

afetam.

No trabalho de BRAGATO et al. (2008) são apresentadas algumas

ações sociais de 55 usinas paulistas associadas à UNICA. O trabalho evidencia

o desenvolvimento de 359 projetos de ação social pelas usinas de açúcar e

álcool do Estado de São Paulo associadas à UNICA. Destaca que essas

iniciativas se concentram principalmente na área educacional (40%) e

ambiental (25%).

BRAGATO et al. (2008) ainda correlacionam as externalidades negativas

com exemplos de ações sociais realizadas pelas usinas, o que ajuda a

entender o foco das ações (Quadro 1).

A UNICA (2010) ainda cita algumas ações sociais, em seu Relatório de

Sustentabilidade, que podem servir de incentivo para usinas de todo o país.

Segundo a UNICA (2010), o Programa de Requalificação de

Trabalhadores da Cana-de-Açúcar (RenovAção) é o maior programa de

requalificação do agronegócio brasileiro. De acordo com a Instituição, trata-se

de um compromisso assumido pelo setor de antecipar-se ao marco legal e

reduzir os prazos para o fim das queimas controladas. Com a mecanização da

colheita, vem trazendo como consequência inevitável a redução no número de

trabalhadores que atuam no corte manual da cana.

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Quadro 1. Externalidades negativas vs. ações sociais

Externalidades negativas Exemplos de ações sociais

Baixa qualificação dos funcionários - alfabetização para adultos;

- projeto de qualificação;

- educação para cidadania;

- projeto escrever é vida; e

- teles salas.

Degradação do solo e dos rios - projeto preservação dos rios e

nascentes;

- projeto adequação das áreas;

- projeto reflorestamento; e

- projeto preservação ambiental

Problemas de saúde - projeto saúde do trabalhador e

comunidade;

- projeto ginástica laboral.

Fonte: BRAGATO et al. (2008).

De acordo com avaliações da UNICA (2010), cada máquina substitui o

trabalho de oitenta homens e, assim, 70 mil trabalhadores no Estado de São

Paulo terão que migrar para outras atividades, num processo que também

impactará as comunidades próximas às lavouras, as quais, muitas vezes, têm

na atividade canavieira sua principal fonte de emprego e renda. A

requalificação desses trabalhadores desponta como uma alternativa para sua

reinserção em outros postos de trabalho.

Para finalizar, são elencadas algumas iniciativas de sustentabilidade,

também constantes em UNICA (2010), referentes à interação com as

comunidades, considerando um universo de 93 associadas:

61 usinas participam de Fóruns Locais;

41 usinas atuam em parceria com a comunidade na construção

de redes para a solução de problemas locais, oferecendo suporte

técnico, e/ou espaço físico, ou outros tipos de apoio;

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83 usinas contribuem com melhorias na infraestrutura ou no

ambiente local que possam ser usufruídas pela comunidade

(habitações, estradas, pontes, escolas, hospitais, etc.);

89 usinas têm programa para empregar, na medida do possível, o

maior número de moradores do local em que está inserida,

dando-lhes formação com o objetivo de aumentar os níveis de

qualificação daquela comunidade em cooperação com sindicatos,

ONGs, representantes da comunidade ou autoridades públicas.

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44

6. Artigos

Artigo I

Gestão da Sustentabilidade do Segmento Sucroenergético do Mato

Grosso do Sul: análise das ações socioeconômicas e ambientais das

empresas

Alex Sandro Richter Won Mühlen

Resumo

O presente trabalho foi desenvolvido na linha de pesquisa Sociedade,

Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Como objetivo, pretendeu-

se analisar a gestão da sustentabilidade nas empresas do segmento

sucroenergético do Mato Grosso do Sul. Para tanto, foi realizada uma pesquisa

exploratória descritiva, combinando informações quantitativas e qualitativas,

colhidas por meio de formulários aplicados a uma amostra das usinas do

Estado de Mato Grosso do Sul (MS), localizadas na microrregião de Dourados,

que responde por 75% do processamento de cana-de-açúcar de MS. Os dados

foram processados e analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0,

SPSS 22.0 e SmartPLS. Quanto às ações de gestão da sustentabilidade no

grupo socioeconômico, 55% dos indicadores se destacaram acima da média do

grupo: geração de emprego, geração de renda, ética organizacional, saúde e

segurança na empresa, saúde e segurança para fornecedores, reação dos

mercados às ações socioambientais. No grupo ambiental 80% dos indicadores

se destacaram acima da média do grupo: colheita mecanizada, destinação dos

resíduos sólidos, controle biológico, tratamento de efluentes, inventário de

emissões, preservação matas nativas, biomonitoramento e reuso da água. O

modelo foi considerado válido, obtendo-se uma correlação de 0,8 entre os

grupos de variáveis socioeconômico (GSE) e ambiental (GA), pelo método

PLS. Os resultados mostraram que as usinas da microrregião de Dourados

desenvolvem ações de gestão da sustentabilidade dentro das dimensões

socioeconômica (média de 6,32 na escala de 1 a 7) e ambiental (média de 6,46

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na escala de 1 a 7), em maior ou menor grau, considerando indicadores de

sustentabilidade reconhecidos e utilizados internacionalmente para o setor.

Palavras-chave: Desenvolvimento regional sustentável, empresas

sucroenergéticas, microrregião de Dourados, reuso da água.

Abstract

This work was developed in the line of Society research, Environment and

Sustainable Regional Development. The objective was intended to analyze the

management of sustainability in the companies of sugarcane segment of Mato

Grosso do Sul. Therefore, a descriptive exploratory research combining

quantitative and qualitative information, collected through forms applied to a

sample of companies was held located in the micro region of Dourados, which

accounts for 75% of the processing of sugarcane in Mato Grosso do Sul. the

data were processed and analyzed using the software Sphinx Lexica 5.0, SPSS

22 and SmartPLS. As for sustainability management actions, the socio-

economic group 55% of the indicators stood above the group average: job

creation, income generation, organizational ethics, health and safety in the

workplace, health and safety for suppliers, the market reaction to environmental

actions. In the environmental group, 80% of the indicators stood above the

group average: mechanical harvesting, disposal of solid waste, biological

control, wastewater treatment, emissions inventory, preserve native forests,

biomonitoring and water reuse. The model was considered valid obtaining a

correlation between 0.8 socioeconomic groups of variables (GSE) and

environmental (GA) by the PLS method. The results showed that the companies

of Dourados micro region develop sustainability management actions within the

socioeconomic dimensions (average of 6.32 on a scale of 1 to 7) and

environmental (average of 6.46 on a scale of 1 to 7), a greater or lesser degree,

considering sustainability indicators recognized and used internationally for the

sector.

Keywords: Society, Environment, Sustainable regional development.

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Introdução

No final do século XX ocorreram, no Brasil, muitas mudanças no

ambiente em que as empresas operam. Empresas que antes eram vistas

apenas como instituições econômicas têm presenciado o surgimento de novos

papéis, principalmente no âmbito das responsabilidades socioambientais e, por

pressão da própria sociedade e das autoridades, surgem cobranças por ações

cada vez mais sustentáveis e ecologicamente corretas (DONAIRE, 1999;

RODRIGUES e ORTIZ, 2006; SILVEIRA, 2008).

Dessa forma, torna-se relevante a discussão sobre temas afins que

priorizem a resolução dos problemas existentes, bem como se destine a propor

soluções viáveis e coerentes à realidade local, priorizando a sustentabilidade.

No cenário mundial, alguns setores têm apresentado maior dinamismo

em função do aspecto estratégico de seus produtos ou processos tal como, o

setor energético a partir da oferta de fontes de energia renovável. Entre os

segmentos desse setor, o biocombustível derivado da cana-de-açúcar tem

recebido grande destaque, tendo em vista as perspectivas de ampliação da

demanda por produtos ecologicamente sustentáveis e economicamente

viáveis.

O Brasil possui capacidade para liderar o mercado internacional de

energia renovável, não só devido ao intensivo e acelerado grau de

desenvolvimento tecnológico e da competitividade industrial, mas também,

porque no país existe um potencial de matéria-prima em abundância para

fabricar o biocombustível. Além da cana-de-açúcar, há a presença de outras

fontes de energia renováveis como óleos vegetais e de madeira, derivados de

leite, gordura animal, entre outros (RODRIGUES e ORTIZ, 2006).

Com frequência o bagaço da cana tem sido matéria-prima para geração

de eletricidade, comercializada junto às concessionárias de energia elétrica. A

energia total gerada a partir da cana no Brasil atingiu em 2007 15,9% da

energia produzida no país, de modo que, o número faz da cana-de-açúcar a

segunda mais importante fonte de energia do Brasil (CRUZ, 2010). Dados mais

recentes da ANEEL (2013) mostram uma pequena alteração no ranking de

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produção de energia elétrica, com as hidroelétricas responsáveis por 64,37%

da produção, seguidas do gás natural com 9%, e do bagaço de cana

(biomassa), representando 6,81% da matriz elétrica brasileira. Mesmo com

esse baixo índice, a cana mantém uma posição de destaque entre as fontes de

energia brasileiras devido ao seu potencial de crescimento.

A região Centro-oeste tem despontado nas últimas safras como nova

área de expansão do cultivo da cana-de-açúcar. O Leste do estado de Mato

Grosso do Sul e o Oeste do estado de Minas Gerais acompanham esta

tendência de expansão de novas áreas de cultivo da cana (RODRIGUES e

ORTIZ, 2006).

O estado de Mato Grosso do Sul, juntamente com Goiás, Minas Gerais e

São Paulo compõem a região que corresponde às áreas de maior

produtividade e de expansão da cana-de-açúcar (CANASAT/INPE, 2013). Daí,

a importância de se analisar as práticas adotadas pelas empresas do setor

sucroenergéticas na busca da sustentabilidade.

Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo evidenciar a

gestão da sustentabilidade nas empresas do segmento sucroenergético do

estado de Mato Grosso do Sul. Como objetivos específicos, pretendeu-se:

descrever o perfil das empresas sucroenergéticas de MS, e avaliar as ações

socioeconômica e ambiental dessas empresas.

Material e Métodos

Área geográfica de estudo

O presente trabalho foi desenvolvido no estado de Mato Grosso do Sul

que, de acordo com a BIOSUL (2013), possui vinte e duas usinas

sucroenergéticas em operação.

De acordo com a CANASAT/INPE (2013), a cana-de-açúcar está

presente em 39 municípios de Mato Grosso do Sul, com 755.294 hectares de

área cultivada na safra 2013/2014. Quase metade da área cultivada (49%)

desses municípios está concentrada na microrregião de Dourados (Tabela 1).

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Tabela 1. Área cultivada de cana-de-açúcar na microrregião de Dourados, MS -

Ano safra 2013/2014

Código IBGE Município Microrregião Área Cultivada

(ha)

5007208 Rio Brilhante Dourados 96.491

5006002 Nova Alvorada do Sul Dourados 84.601

5003702 Dourados Dourados 44.796

5005400 Maracaju Dourados 42.149

5006606 Ponta Porã Dourados 39.883

5002407 Caarapó Dourados 24.420

5005152 Juti Dourados 14.779

5005251 Laguna Carapã Dourados 11.942

5004502 Itaporã Dourados 7.866

5008404 Vicentina Dourados 4.071

5003801 Fátima do Sul Dourados 960

5003504 Douradina Dourados 157

Total 372.115

Fonte: Adaptado de CANASAT/INPE (2013).

A microrregião de Dourados é composta por 15 municípios: Amambai,

Antônio João, Aral Moreira, Caarapó, Douradina, Dourados, Fátima do Sul,

Itaporã, Juti, Laguna Carapã, Maracaju, Nova Alvorada do Sul, Ponta Porã, Rio

Brilhante e Vicentina. A Figura 1 apresenta, em destaque, a microrregião de

Dourados.

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Figura 1. Mapa do estado de Mato Grosso do Sul, com destaque para a

microrregião de Dourados. Fonte: Adaptado de ABREU (2014).

Na figura 2 pode-se observar a expansão da cultura da cana-de-açúcar

entre os anos de 2003 e 2012. Percebe-se a concentração das lavouras na

microrregião Dourados, região esta caracterizada por área planas, de solos

férteis e agricultáveis.

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Figura 2. Mapa de cultivo cana-de-açúcar na região Centro-sul de Mato

Grosso do Sul nos anos de 2003 (A) e 2012 (B). Município de Campo

Grande em destaque. Fonte: CANASAT/INPE (2013).

População e amostragem da pesquisa

De acordo com a BIOSUL (2013), há 22 empresas sucroenergéticas em

operação no estado de Mato Grosso do Sul. Destaca-se a microrregião de

Dourados como sendo o local que, além de concentrar quase metade da área

cultivada de cana (49%), concentra também o maior número de usinas (11),

seguida da microrregião Iguatemi (4), Nova Andradina (3) e Cassilândia (2). As

demais microrregiões possuem apenas uma usina cada.

Também foi a microrregião de Dourados que mais expandiu o cultivo da

cana no Estado (Figura 2). Diante do exposto, foi escolhida a microrregião de

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Dourados como amostra para o presente estudo, considerando a relevância da

mesma nos aspectos área cultivada, expansão da cultura da cana,

concentração das lavouras, participação na produção de cana no Estado e

concentração de empresas sucroenergéticas. A amostra inicial foi composta

com pelo menos três indivíduos de cada uma das empresas envolvidas,

representados pelos seus gerentes ou dirigentes ligados à área de

sustentabilidade (responsabilidade socioambiental, responsabilidade social ou

desenvolvimento sustentável), das onze usinas instaladas na microrregião de

Dourados (Tabela 2).

Tabela 2. Relação das empresas sucroenergéticas instaladas na microrregião

de Dourados no Mato Grosso do Sul, em 2013

Empresa Município Microrregião

Raízen Caarapó Caarapó Dourados

Bunge – Monteverde Dourados Dourados

São Fernando Açúcar e Álcool Dourados Dourados

Fátima do Sul Agro-energética Fátima do Sul Dourados

Biosev– Maracaju Maracaju Dourados

Tonon Bioenergia Maracaju Dourados

Odebrecht Agroindustrial-Santa Luzia I Nova Alvorada do Sul Dourados

Biosev - Passa Tempo Rio Brilhante Dourados

Biosev - Rio Brilhante Rio Brilhante Dourados

Odebrecht Agroindustrial - Eldorado Rio Brilhante Dourados

Energética Vicentina Vicentina Dourados

Fonte: Elaborado com dados da BIOSUL (2013).

Fonte e coleta de dados

A coleta de dados para a pesquisa envolveu duas etapas de trabalho.

Primeira etapa:

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Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema com a finalidade

de conhecer melhor o setor sucroenergético no Brasil, com destaque para Mato

Grosso do Sul, e os elementos teóricos relacionados à sustentabilidade.

Nesta etapa foram analisadas diversas fontes de dados, como artigos

acadêmicos, relatórios de pesquisas, websites das empresas, notícias de

jornal, informações governamentais, relatórios de sustentabilidade das

empresas, entre outras. Tais informações consistiram de base para elaboração

de um formulário estruturado a ser utilizado na etapa seguinte da pesquisa,

bem como para a discussão dos resultados (Quadro 2).

Segunda etapa:

Para atender o objetivo de avaliar as ações das empresas do setor

quanto à gestão da sustentabilidade, foi aplicado um formulário estruturado

(Apêndice A) aos gestores das usinas instaladas na microrregião de Dourados

(Tabela 2).

Da amostra inicial, de onze empresas, foram visitadas efetivamente dez

delas e um total de 63 indivíduos foram entrevistados, obtendo-se uma taxa de

retorno de 90,9%.

Instrumento de coleta de dados:

O formulário aplicado (Apêndice A) era composto de questões

predominantemente fechadas.

Nas medições das variáveis das dimensões socioeconômica e ambiental

empregou-se a escala de Likert de 7 pontos, variando de 1 = discordo

totalmente até 7 = concordo totalmente.

Questões abertas também foram utilizadas de forma limitada para

complementar as questões fechadas. As declarações dos entrevistados foram

anotadas pelo pesquisador.

Os dados provenientes das questões abertas foram categorizados e

analisados segundo a sua natureza, através do método de análise de conteúdo

(CAMARA, 2013).

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Foi notificado e assegurado a todos os respondentes a confidencialidade

e o sigilo das suas respostas, e que os dados seriam agregados e processados

como um todo, utilizando-os em trabalhos científicos.

No quadro 2 são apresentadas as variáveis constituintes do formulário,

as suas dimensões, bem como, as fontes que deram sustentação teórica.

Quadro 2. Variáveis, dimensões e referência bibliográfica de sustentação

teórica dos constructos do formulário.

Variável Dimensão Fonte

Geração de empregos

Geração de renda

Socioeconômica:

Econômica

MACEDO et al. (2007);

SILVA (2010); FREIRE

(2010); BIOSUL (2013)

Ética organizacional

Acidente de trabalho

Contratos de trabalho

Qualificação profissional

Assistência a migrantes

Melhores práticas de

gestão em saúde e

segurança

Respeito às organizações

sindicais

Socioeconômica:

Condições de

trabalho

CRUZ e SOUZA (2012)

SILVEIRA (2008)

BSI (2014)

UNICA (2010)

RODRIGUES e ORTIZ

(2006)

Empregabilidade de

moradores

Participação em entidades

Projetos na comunidade

Socioeconômica:

Responsabilidade

social

BRAGATO et al. (2008)

GOES (2013); MACEDO et

al. (2007)

UNICA (2010)

Continua...

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Continuação....

Variável Dimensão Fonte

Queima de cana-de-

açúcar

Inventário de emissões de

GEE

Ambiental:

qualidade do ar

MACEDO et al. (2007);

SILVA (2010); ANDRADE e

DINIZ (2007); GLIESSMAN

(2000); SOUZA (2013)

Tratamento dos efluentes

líquidos

Uso dos recursos hídricos

Ambiental:

Poluição da água

ANDRADE e DINIZ (2007)

SILVA (2010)

MACEDO et al. (2007)

Destinação dos resíduos

sólidos

Uso de agroquímicos

Controle biológico

Ambiental:

Poluição do solo

BUENO e SALVADOR

(2012); MACEDO et al.

(2007); ANDRADE e DINIZ

(2007); LIECHOSCKI e

MAINIER (2003)

Preservação das matas

nativas

Preservação da fauna

Biomonitoramento

Ambiental:

biodiversidade

BSI (2014)

SILVA (2010)

ANDRADE e DINIZ (2007)

UNICA (2010)

Para a aplicação dos formulários, primeiramente foi contatada a

Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), à

qual todas as empresas sucroenergéticas do Estado são associadas. Com

apoio da BIOSUL foram contatadas pessoalmente as usinas convidando-as a

fazerem parte da pesquisa, explicando a natureza da mesma, sua importância

e a necessidade de obter respostas, tentando despertar o interesse do

recebedor para o tema.

As entrevistas e a aplicação dos formulários foram conduzidas

pessoalmente pelo pesquisador mediante agendamento prévio com os

entrevistados.

Para aprimorar o formulário elaborado, o mesmo foi submetido a um

conjunto de professores do mestrado e doutorado da Universidade Anhanguera

- Uniderp para suas críticas e sugestões quanto à redação e escalas. O

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formulário foi submetido ao Comitê de Ética para Seres Humanos, para análise

e deferimento antes de sua aplicação (aprovado conforme parecer nº 990.953

de 08/12/2014).

Antes da aplicação do formulário foi feito um pré-teste aplicando o

instrumento a dois representantes das usinas, no município de Maracaju-MS,

com a finalidade de avaliar fatores críticos como clareza, abrangência e

aceitabilidade do instrumento. Como não houve discrepâncias significativas no

instrumento, tais entrevistas foram incorporadas ao trabalho.

Tratamento dos dados

Após a aplicação do formulário a campo, os dados foram processados e

analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e SPSS 22. Foram

realizadas análises estatísticas descritivas para descrever o perfil das

empresas sucroenergéticas e avaliar as ações na gestão socioeconômica e

ambiental.

A confiabilidade do instrumento foi feita por meio do coeficiente alfa de

Cronbach e a caracterização da população de estudo, por análise descritiva

(médias, desvios padrão, valores mínimos, valores máximos e proporções).

Valores de alfa iguais ou maiores que 0,700 são consistentes e aceitáveis

neste estudo (HAIR et al., 2009).

Também, foi realizada a Análise Fatorial Exploratória (AFE) com o

objetivo de identificar quantos e quais fatores latentes podem ser extraídos do

conjunto das variáveis por meio das associações entre elas. Os ajustes na

análise fatorial foram feitos com base no quadro 3.

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Quadro 3. Valores de Referência na Comprovação do Ajuste do Modelo, pela

Análise Fatorial Exploratória

Propósito Valores de Referência

Ajuste dos constructos

latentes e seus respectivos

itens.

Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) > 0,50

Esfericidade de Bartlett, p < 0,05

Alfa de Cronbach, α > 0,70

Medida de adequação da amostra (MSA) > 0,50

Comunalidade > 0,50

Variância explicada (ve) > 0,50

Fonte: Adaptado de HAIR et al. (2009).

Na figura 3 é apresentado um modelo de correlação entre ações de

sustentabilidade socioeconômica e ambiental.

Figura 3. Modelo de correlação entre ações de sustentabilidade

socioeconômica e ambiental.

Fonte: o autor

Para a avaliação e validação do modelo utilizou-se a modelagem de

equações estruturais por meio do método PLS (Partial Least Squares)

incorporado no programa estatístico SmartPLS.

Segundo MORAES et al. (2011), a técnica PLS é capaz de calcular as

correlações entre os indicadores e as variáveis latentes e estimar a sua

significância por meio do procedimento de reamostragens (bootstrapping).

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Resultados e Discussão

Caracterização da População

Segundo a classificação de BRAGATO et al. (2008), 38,1% das

empresas sucroenergéticas do estudo são usinas de grande porte, com

capacidade de moagem de cana acima 3,5 milhões de toneladas/ano. Em

seguida tem-se usinas de médio porte (30,2%) com capacidade de moagem

entre 2 e 3,5 milhões de toneladas/ano, e usinas de pequeno porte (31,7%)

com capacidade de moagem de até 2 milhões de toneladas/ano.

De acordo com as informações levantadas na pesquisa, as usinas estão

trabalhando com 94% de sua capacidade instalada de moagem (Tabela 3).

Considerando a capacidade de moagem e a capacidade instalada

utilizada, as usinas processam cerca de 75% da cana do Mato Grosso do Sul

que, segundo a BIOSUL (2013), para a safra 2013/2014 era de cerca de 41,5

milhões de toneladas.

Tabela 3. Capacidade de moagem e área plantada de cana pelas usinas,

microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Usina Capacidade de Moagem

(toneladas)

Área Plantada

(hectares)

Empresa A 1.700.000 26.000

Empresa B 3.200.000 42.000

Empresa C 5.000.000 40.000

Empresa D 1.400.000 20.000

Empresa E 1.300.000 15.500

Empresa F 6.000.000 54.500

Empresa G 6.000.000 50.000

Empresa H 2.500.000 33.000

Empresa I 4.500.000 60.000

Empresa J 2.000.000 36.000

Total 33.600.000 377.000

Fonte: Dados da pesquisa.

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Quanto ao “mix de produtos” das empresas, evidenciou-se que todas

produzem etanol, 90% produzem bioeletricidade e 70% produzem açúcar.

NEVES (2014) explica que a diversificação tem sido encarada pelas

agroindústrias como uma forma de neutralizar riscos específicos associados a

determinados mercados.

A maioria das empresas (90,5%) faz contratos com fornecedores de

cana. O fornecedor de cana é um produtor rural, que pode ser independente ou

integrado, que planta a cana-de-açúcar de maneira exclusiva (especializado)

ou como estratégia de diversificação do seu negócio (juntamente com

produção de grãos), e que fornece (vende) cana às usinas.

NEVES (2014) afirma que, no Brasil, cerca de dois terços da cana é

produzida ou gerenciada pelas próprias usinas e, o resto, por fornecedores. O

autor afirma que esse cenário deve mudar com a entrada de empresas vindas

do setor de petróleo, tradings e outros, no setor sucroenergético, empresas

estas que terão menos incentivo para gerir as áreas agrícolas.

Os dados de NEVES (2014) divergem um pouco da realidade estudada,

uma vez que a participação da cana produzida pelos fornecedores no Mato

Grosso do Sul ainda é pequena, pois para 41% das empresas o fornecimento

de cana por fornecedores representa menos de 10% do total processado pelas

mesmas (Tabela 4).

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Tabela 4. Representatividade dos contratos com fornecedores de cana no total

de cana processada pelas usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do

Sul, 2015

Fornecedores de cana autônomos % de usinas

Não possui fornecedores de cana 28,6

Menos de 10 41,3

De 10 a 20 9,5

De 20 a 30 -

De 30 a 40 -

De 40 a 50 11,1

De 50 a 60 -

60 e mais 9,5

Total 100

Obs: A questão é de resposta aberta numérica. As observações são

reagrupadas em 7 categorias de igual amplitude. Mínimo = 1, Máximo = 100.

Soma = 1056. Média = 23,47% e Desvio-padrão = 32,94%.

Das empresas pesquisadas apenas uma relatou que tem 100% de seu

fornecimento de cana garantido por terceiros. Cerca de oitentas por cento das

empresas possuem unidades em outros estados do Brasil. A concentração de

outras unidades das usinas ocorre majoritariamente na região Sudeste (38,1%)

e Centro-Oeste (33,3%). Já 19% das empresas possuem unidades também na

região Nordeste (Tabela 5).

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Tabela 5. Presença de unidades das usinas, microrregião de Dourados, Mato

Grosso do Sul, 2015, em outras regiões do Brasil

Regiões Frequência %

Não possui filial 12 9,0

Sudeste 51 38,3

Nordeste 26 19,6

Sul - -

Centro-Oeste 44 33,1

Norte - -

Total 133 100,0

OBS: A tabela foi construída sobre 133 observações. Os percentuais foram

calculados em relação ao número de citações.

Quanto à experiência das empresas no setor sucroenergético, verificou-

se que 50% dos grupos atuam há mais de 10 anos, 40% entre 6 e 10 anos e

10% há menos de 6 anos. Em Mato Grosso do Sul 60% das plantas industriais

sucroenergéticas possuem menos de 8 anos de funcionamento, constituindo

áreas que as empresas denominam de greenfields ou áreas de expansão

(usinas novas). Destacam-se algumas plantas mais antigas, com mais de 25

anos, nos municípios de Rio Brilhante e Maracaju que foram adquiridas por

novos grupos.

Ao serem questionadas se as empresas estariam passando por

dificuldades diante do atual cenário econômico, todas foram unânimes em

responder positivamente, dizendo que a crise do setor é a maior já enfrentada.

As afirmações dos dirigentes das usinas são suportadas por MEGIDO

(2015), ao expor que o setor de cana-de-açúcar, hoje, está na pior condição

dentre todas as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro. O setor deve,

simplesmente, 110% da própria safra. Ou seja, deve mais do que arrecada em

um ano. Diante de tal cenário, quase todas as usinas tiveram seus

investimentos para expansão de negócios suspensos ou preteridos.

Entre as principais causas da crise elencadas pelas empresas, em uma

relação de múltipla resposta, com questão aberta, aparecem três causas

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principais: política do governo para o setor (64,5%), problemas climáticos

(21,5%) e reflexos da crise econômica mundial (12,9%) (Tabela 6).

Tabela 6. Principais causas da crise econômica do setor segundo as usinas,

microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Fatores Frequência %

Política do Governo 60 64,5

Clima 20 21,5

Crise Econômica Mundial 12 12,9

Outros 1 1,1

Total 93 100,0

OBS: A tabela foi construída sobre 63 observações. Os percentuais foram

calculados em relação ao número de citações.

Para MEGIDO (2015) a dificuldade do segmento está no aspecto

econômico, com a dimensão da dívida, e com a margem do etanol, em função

dos preços da gasolina. Adicionando a isso uma oferta mundial maior de

açúcar, sendo o Brasil o maior produtor, ocorre um problema de desequilíbrio.

Dentro do fator “política do governo para o setor”, em menor escala

aparecem declarações como: mudança de foco de incentivo do etanol para o

pré-sal, desincentivo à produção de energias limpas, política para matriz

energética desfavorável ao etanol, falta de políticas claras, preço teto dos

leilões de energia não favorece a bioeletricidade e o problema do controle de

preços da gasolina e do etanol pela Petrobrás (manutenção de preços artificiais

inviabilizaram economicamente várias usinas).

De acordo com SCARAMUZZO (2014), a crise do setor começou a se

agravar a partir de 2009, o que gerou uma onda de consolidação, com forte

entrada de grupos estrangeiros, como exemplos, a francesa Louis Dreyfus,

dona da Biosev e a indiana Shree Runuka. Segundo a autora, as causas

passaram da má gestão por parte de algumas empresas ao não reajuste dos

preços da gasolina por parte do governo, o que tirou a competitividade do

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etanol, afetando grande parte das usinas. Em 2014, a queda dos preços do

açúcar também piorou a situação das empresas.

Quanto aos “problemas climáticos”, destacam em Mato Grosso do Sul as

geadas que castigaram os canaviais no inverno de 2013, fazendo com que as

lavouras retornassem ao estágio inicial. Nas unidades no estado de São Paulo,

onde estão instaladas outras unidades pertencentes aos mesmos grupos que

operam no MS, foi a seca que prejudicou as lavouras, resultando na

paralização das usinas meses antes do final da safra por falta de cana para

processar.

BATISTA (2013) explica que, no caso sul-mato-grossense, as

baixíssimas temperaturas afetaram a chamada "Grande Dourados", onde

operam grupos como Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus

Commodities, Odebrecht Agroindustrial (antiga ETH Bioenergia), Raízen

Energia (Cosan / Shell) e o Grupo Tonon.

BATISTA (2013) ainda afirma que cerca de 100 mil hectares de cana

foram submetidos à onda de frio, o equivalente a 15% da área de corte de Mato

Grosso do Sul, fazendo com que as usinas deixassem de moer 4 milhões de

toneladas de cana e tivesse uma perda de açúcar na cana, o chamado ATR

(Açúcar Total Recuperável), equivalente a mais 3,5 milhões de toneladas de

cana.

O impacto da seca na cana pode ser verificado em SCARAMUZZO

(2014) que apresenta um levantamento da ÚNICA, mostrando que a colheita

no Centro-Sul, na safra 2014/15, deve ser 40 milhões de toneladas menor que

o previsto inicialmente por causa da seca, sobretudo nos estados de São Paulo

e Minas Gerais.

Ao citarem os “reflexos da crise econômica mundial”, em menor escala,

aparecem declarações como: falta de crédito para o setor e da

descapitalização das usinas (o crédito diminuiu e o mercado dificultou as

operações de financiamento para o setor).

A FIESP (2013) dá sustentação às afirmações dos dirigentes das usinas

em seu estudo “Outlook Fiesp 2023”, explanando que após a crise financeira

global de 2008, os investimentos no setor cessaram e a expansão dos

canaviais foi comprometida, em especial, pela redução abrupta do crédito, que

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63

era abundante até então. Como resultado, grande parte das empresas

encontrava-se altamente endividada, cenário que foi potencializado pelo

aumento da oferta mundial de açúcar.

Ainda, de acordo com a FIESP (2013), a situação financeira

desfavorável da maioria das empresas estava longe de ser equacionada. O

setor passou a experimentar um forte movimento de fusões e aquisições, ao

mesmo tempo em que parte da capacidade de moagem passou para empresas

multinacionais, fatores que modificaram de forma importante o seu perfil.

Gestão da sustentabilidade: Grupo socioeconômico

A tabela 7 apresenta resultados de declarações dos dirigentes das

usinas, na qual se verifica o grau de concordância relacionado às ações de

sustentabilidade socioeconômica, com foco nas relações trabalhistas e na

responsabilidade social dentro das empresas.

Tabela 7. Resultados das variáveis de gestão da sustentabilidade do grupo

socioeconômico das usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul,

2015

Variável Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão

Q11 - Geração de empregos 5 7 6,90 0,346

Q12 - Geração de renda 5 7 6,90 0,346

Q13 - Ética organizacional 5 7 6,73 0,515

Q14 - Acidente de trabalho(*) 1 4 2,27 0,865

Q15 - Qualificação profissional 4 7 6,14 0,820

Q16 - Saúde e segurança Empresa 5 7 6,78 0,522

Q17 - Saúde e segurança Fornecedores 5 7 6,54 0,737

Q18 - Empregabilidade de moradores 3 7 6,11 0,918

Q19 - Participação em entidades 2 7 4,97 1,191

Q20 - Valorização de ações RS(**) 3 7 6,02 1,008

Q21 - Reação mercados ações RS(**) 4 7 6,65 0,699

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OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1 (Discordo

totalmente) a 7 (Concordo totalmente). (*). Os parâmetros para esta variável

são estabelecidos sob uma notação de 1 (Pouco) a 7 (Muito). (**) RS =

Responsabilidade Social.

O conjunto de variáveis de sustentabilidade socioeconômica apresentou

alfa de Cronbach igual a 0,731. Esse resultado demonstra a consistência do

instrumento, significando que houve concordância entre o instrumento e a

população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.

Na afirmação “contribuímos para a geração de empregos na região”,

92,1% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,9 na escala

para esta variável (com desvio padrão de 0,346).

Segundo MACEDO et al. (2007), considerando os impactos

socioeconômicos do setor sucroenergético, o de maior importância vem da

geração de empregos e renda, capacitando a mão-de-obra.

FREIRE (2010) concorda com MACEDO et al. (2007) ao destacar como

impactos socioeconômicos positivos a geração de emprego e geração

consequente de atividade econômica na base da pirâmide, bem como de

atividade econômica secundária causada pela produção agrícola e industrial da

cana-de-açúcar. Afirma também que, em geral, a atividade sucroenergética é

vista de forma positiva pelas comunidades e traz relativo progresso a essas

populações.

SILVA (2010) reforça as afirmações de FREIRE (2010) e complementa

que melhorias foram alcançadas nas condições de trabalho e da renda, como

pode ser vista na expansão do trabalho formal e outros direitos dos

trabalhadores, incluindo acesso a serviços de saúde e programas de

qualificação do trabalhador.

Na afirmação “contribuímos para a geração de renda na região”,

também, 92,1% concordaram totalmente (7) ou concordaram (6), o que gerou

uma média de 6,9 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,346).

OLIVEIRA (2014) mostra o reflexo negativo da retração do setor no

município de Sertãozinho (SP), famoso nacionalmente pela presença do setor

sucroenergético (usinas, indústria de bens de capital para o setor, etc.). O

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65

município está abalado pela pior crise da história do setor e se esforça para

sair dessa situação.

O autor explica que a cidade, que há dez anos figurava na lista dos 100

maiores PIB do país e ocupava a quarta colocação no ranking nacional em

qualidade de emprego, renda, saúde e educação, segundo o índice FIRJAN de

desenvolvimento municipal, hoje amarga um dos piores resultados na geração

de empregos do Estado e já sente as consequências do fechamento de

indústrias: nos últimos dois anos, o município deixou de arrecadar cerca de R$

30 milhões em tributos.

Outro exemplo, agora positivo, é citado por NEVES (2014) que faz uma

comparação do crescimento de alguns indicadores nos municípios de Caarapó

(MS) e Quirinópolis (GO), antes e depois da implantação de usinas. Segundo

ele, são exemplos do Brasil que dão certo, do país que interioriza o

desenvolvimento, que gera emprego, inserção e oportunidades.

NEVES (2014) aponta que em Quirinópolis, existiam antes de duas

usinas chegarem em 2005, 1.000 empresas. Seis anos após, eram 3.300

empresas, ou seja, empreendedorismo puro. Existiam 5 mil empregos formais,

hoje são mais de 11 mil, com o salário médio saltando de R$ 700 para R$

1.500. A arrecadação de ISS multiplicou por 10 neste período e a de ICMS

pulou de R$ 8 milhões para 25 milhões.

Em Caarapó existiam, antes de uma usina chegar em 2006, 606

empresas. Seis anos após a instalação da usina eram 1.486 empresas, ou

seja, crescimento de 145%. A população estimada era de 22.723 habitantes.

Em 2006, em seis anos aumentou 17%, chegando a 26.532 habitantes. A frota

de veículos aumentou 140%, saltando de 3.947 para 9.482 veículos. A

arrecadação de ISS aumentou 631%, saindo de um patamar de R$ 328 mil

para R$ 2,4 milhões. O ICMS pulou de R$ 7,3 milhões para R$ 15,5 milhões,

aumento de 111% e a receita do município aumentou 164%, de R$ 21 milhões

em 2006 foi para R$ 55,6 milhões em 2012. NEVES (2014) afirma que basta

visitar estes municípios e conhecer o que ele chama de “Brasil chinês”.

SHIKIDA et al. (2008) cita o caso do município de Cidade Gaúcha-PR,

ressaltando a contribuição da Usina Usaciga. Como resultado, 1.739 pessoas

compõem o setor básico do município, enquanto 1.176 pessoas fazem parte do

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setor não-básico. A Usina Usaciga é responsável por 39,7% do emprego

básico de Cidade Gaúcha, cuja dinâmica do crescimento populacional se

modificou a partir da década de 1980, período de início das atividades da

Usaciga. Concomitante, houve evolução favorável, no que concerne ao Índice

de Desenvolvimento Humano (IDH), neste município.

Na afirmação “existem compromissos explícitos da empresa que tratam

do tema ética organizacional”, 76,2% concordaram totalmente (7), o que gerou

uma média de 6,73 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,515).

HUMBERG (2008) explica que ética organizacional pode ser definida como um

conjunto de formas de proceder das empresas em relação aos seus públicos

(stakeholders).

Para SILVEIRA (2008), a empresa socialmente responsável não se

limita a respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação

trabalhista e nos padrões da OIT (Organização Internacional do Trabalho),

ainda que esse seja um pressuposto indispensável. A empresa deve ir além e

investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem

como na melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de suas

relações com os empregados. Segundo a autora, a empresa também deve

estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um relacionamento

ético e responsável com as minorias e instituições que representam seus

interesses.

Um ponto importante no que diz respeito à sustentabilidade

socioeconômica é identificar se, nas empresas, existem compromissos

explícitos que tratam do tema ética organizacional.

CRUZ e SOUZA (2012) afirmam que a responsabilidade social

empresarial implica em práticas de gestão que vão além de ações

socioambientais, configurando-se, inclusive, pelo contínuo diálogo e

engajamento de todos os stakeholders nas relações e decisões estratégicas

das empresas, suportado por comportamento ético e transparente que se

operacionaliza por meio de políticas de gestão.

Segundo CRUZ e SOUZA (2012), os argumentos éticos derivam dos

princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes, considerando que as

empresas e as pessoas que nelas trabalham deveriam se comportar de

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maneira socialmente responsável (conduta moralmente correta), mesmo que

envolva despesas improdutivas para a empresa. Os autores defendem que a

formulação de políticas, diretrizes, procedimentos, regulamentos e códigos de

ética são exemplos do tratamento dado pelas empresas a essas questões de

ética organizacional.

Nesse sentido, todos os indivíduos pesquisados afirmaram que as

empresas sucroenergéticas têm essas diretrizes, procedimentos, regulamentos

e códigos de ética bem definidos e que esse conjunto de normas encontra-se

institucionalizado nas organizações, além de ser repassado periodicamente a

todos os funcionários da empresa bem como a seus fornecedores e

terceirizados, num esforço de garantir amplo conhecimento do seu público de

tais normas.

Nas empresas de grande porte ficou evidente, pelas declarações, que

elas possuem um comitê de ética responsável por receber denúncias e dirimir

questões relacionadas ao tema, envolvendo todas as partes interessadas da

organização.

Na afirmação “ocorre acidente de trabalho com afastamento”, procurou-

se evidenciar a percepção dos entrevistados sobre o tema, deixando-se de

analisar a intensidade e a frequência com que ocorrem esses eventos. Para

tanto utilizou-se uma escala de 1 a 7 onde 1 significa “pouco” e 7 “muito”. A

maioria (65,1%) afirmou que tais eventos são pouco frequentes (1 e 2). Tais

escolhas geraram uma média de 2,27 na escala para esta variável (com desvio

padrão de 0,865).

De acordo com o padrão BSI (2014), assegurar um ambiente de trabalho

seguro e saudável em operações de trabalho é fundamental para uma

organização sustentável. Esse indicador procura identificar a frequência de

acidentes com afastamento. Quanto mais próximo de 1, na escala, mais

sustentáveis são as ações de segurança no trabalho na empresa.

Para a BSI (2014), um acidente com afastamento é definido como sendo

um incidente que envolve um empregado e que o impossibilita de continuar

com suas tarefas normais no próximo dia ou turno, devido à lesão recebida. O

desvio padrão é maior nesta variável (0,961) do que nas anteriores. Tal fato

poderia ser explicado, uma vez que as empresas realizam as mensurações de

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acidentes em diferentes áreas (agrícola, indústria, etc.) e, conforme a área de

atuação do indivíduo, sua resposta pode variar um pouco em relação aos

demais.

Ficou evidente nas entrevistas que todas as empresas possuem

programas para prevenção de acidentes de trabalho, com siglas diferentes,

mas com objetivos semelhantes: prevenir e eliminar as possibilidades de novas

ocorrências. Para tanto, treinamentos são realizados periodicamente com todos

os funcionários da empresa bem como com seus fornecedores, terceirizados e

até mesmo visitantes.

Observou-se nas visitações às empresas que a maioria possuía

números altos de “dias sem acidentes”, divulgados pelas suas respectivas

Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA). Como exemplo, pode-

se citar uma das empresas visitadas que já estava há 948 dias sem acidentes.

Na afirmação “oferecemos programas de requalificação profissional

como alternativa para a reinserção de funcionários em outros postos de

trabalho”, 46% concordaram (6), o que gerou uma média de 6,14 na escala

para esta variável (com desvio padrão de 0,820).

Na afirmação “utilizamos melhores práticas de gestão em saúde e

segurança no trabalho”, 82,5% concordaram totalmente (7), o que gerou uma

média de 6,78 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,522).

Na afirmação “divulgamos e orientamos aos nossos fornecedores de

cana e terceirizados sobre as melhores práticas de gestão em saúde e

segurança no trabalho”, 68,3% concordaram totalmente (7), o que gerou uma

média de 6,54 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,737).

Observou-se que uma minoria (14,3%) concordou parcialmente (5) com

a afirmação. Justificou tal afirmação porque, apesar da empresa utilizar as

melhores práticas junto aos seus colaboradores, a divulgação de tais práticas

de gestão em saúde e segurança junto aos terceirizados poderia ser

melhorada.

Na afirmação “possuímos uma política de empregabilidade de

moradores da comunidade onde o empreendimento está instalado (capacitação

e treinamento)”, 39,7% concordam totalmente (7). As respostas geraram uma

média de 6,11 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,918).

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No geral, os entrevistados concordaram (média 6,11) que as empresas

possuíam uma política de empregabilidade de moradores da comunidade bem

como realizam capacitação e treinamento destes.

Normalmente, as empresas têm a prática de contratar moradores da

região para os mais diversos cargos e funções nas usinas e, para tanto,

adotam critérios relacionados à logística, oferta, demanda, qualificação, etc. da

mão de obra local. O desvio padrão de 0,918 poderia ser explicado uma vez

que tal “política de empregabilidade de moradores” não é formal e explícita nas

empresas, mas ocorre de fato.

Quando afirmado: “a empresa participa em entidades de classe e de

desenvolvimento regional nas comunidades onde está instalada”, a maioria

(36,5%) foi neutra (4). As respostas geraram uma média de 4,97 na escala

para esta variável (com desvio padrão de 1,191).

No geral, os entrevistados concordaram parcialmente (média 4,97) que

as empresas participavam de entidades de classe e de desenvolvimento

regional nas comunidades. Essa variável, da tabela 7, foi a que teve o maior

desvio padrão (1,191). O desvio padrão poderia ser explicado uma vez que a

participação das empresas em entidades da comunidade existe, mas é pontual

e eventual. Segundo os entrevistados, essa relação poderia melhorar bastante

com uma aproximação de representantes da empresa em fóruns municipais,

órgãos de desenvolvimento, representantes políticos, etc.

GOES (2013) explica que as empresas não devem somente ser

responsáveis pelas externalidades que causam, mas também devem servir

como um elemento motriz do desenvolvimento da própria sociedade. Daí, a

importância da participação efetiva destas empresas nas comunidades locais.

Na afirmação “valorizamos e divulgamos as ações de responsabilidade

corporativa da empresa nas comunidades canavieiras”, 38,1% concordaram

totalmente (7), o que gerou uma média de 6,02 na escala para esta variável

(com desvio padrão de 1,008). O desvio padrão de 1,008 poderia ser explicado

uma vez que mais de 10% afirmaram que discordavam parcialmente (3) ou

foram neutros (4).

Tal divergência ocorre porque, apesar da maioria das empresas realizar

um bom trabalho de divulgação de suas ações de responsabilidade social ou

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corporativa em suas publicações internas e em relatórios oficiais. Na percepção

dos entrevistados, a comunicação de tais ações nas comunidades onde estão

instaladas ainda é pequena e poderia ser ampliada, utilizando-se diversos

canais de comunicação.

Quando afirmado: “os mercados reagirão mais positivamente às ações

socioambientais promovidas pela empresa”, 74,6% concordaram totalmente

(7), o que gerou uma média de 6,65 na escala para esta variável (com desvio

padrão de 0,699).

BOTELHO (2006) afirma que, nos países em desenvolvimento, os

mercados do México, Chile, Argentina e Filipinas, por exemplo, reagem de

forma positiva às notícias de bom desempenho ambiental e que empresas

perdem valor com notícias de danos ambientais.

Um dirigente de uma das usinas declarou que as ações socioambientais

são avaliadas periodicamente por auditorias externas com foco na captação de

recursos financeiros internacionais, por exemplo, do Banco Holandês.

A diferenciação das variáveis do grupo socioeconômico quanto ao nível

de sustentabilidade foi feita através da determinação da média do grupo. As

variáveis com médias acima da média do grupo de variáveis foram

consideradas mais sustentáveis. Da mesma forma, as variáveis com médias

abaixo da média do grupo de variáveis foram consideradas menos

sustentáveis.

Para se calcular a média do grupo socioeconômico foi realizado um

procedimento no software SPSS para inverter a escala da variável Q14

(acidente de trabalho) que passou a ser chamada de Q14r (reversa) com a

finalidade de padronizar as escalas. A média do grupo foi de 6,32 e o desvio

padrão = 0,363.

Na figura 4 podem ser observadas as seis variáveis do grupo

socioeconômico que se destacaram: geração de emprego, geração de renda,

ética organizacional, saúde e segurança (empresa e fornecedores), reação dos

mercados às ações socioambientais, podendo estas práticas ser consideradas

mais sustentáveis na gestão das usinas.

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Legenda: Q11 - Geração de empregos, Q12 - Geração de renda, Q13 - Ética

organizacional, Q14r - Acidente de trabalho, Q15 - Qualificação profissional, Q16 -

Saúde e segurança EMP, Q17 - Saúde e segurança FOR, Q18 - Empregabilidade de

moradores, Q19 - Participação em entidades, Q20 - Valorizamos de ações resp., Q21 -

Reação mercados ações resp.

Figura 4. Médias das variáveis do grupo socioeconômico das usinas,

microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015.

Na figura 4, observa-se que cinco variáveis ficaram abaixo da média do

grupo: acidente de trabalho, qualificação profissional, empregabilidade de

moradores, participação em entidades, valorização de ações corporativas,

podendo estas práticas serem consideradas menos sustentáveis na gestão das

usinas, exigindo atenção das mesmas a essas questões.

Na tabela 8 são mostradas as principais áreas de atuação dos projetos

desenvolvidos pelas empresas nos municípios onde estão instaladas.

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Tabela 8. Áreas de atuação dos projetos desenvolvidos pelas usinas,

microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Variável Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão

Q22b - Educação Ambiental 4 7 6,65 0,652

Q22e - Educação 1 7 5,75 1,900

Q22d - Saúde e Higiene 1 7 3,46 2,235

Q22c - Esporte e Lazer 1 7 2,87 1,670

Q22a - Cultura 1 7 2,83 2,204

OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala. Os parâmetros

são estabelecidos sob uma notação de 1 (Discordo totalmente) a 7 (Concordo

totalmente).

Nota-se que os projetos mais executados pelas usinas nos municípios

são os de educação ambiental, pois 73% afirmaram que concordaram

totalmente (7) com a afirmação “Oferecemos projetos de educação ambiental

no município onde o empreendimento está instalado”, obtendo-se uma média

de 6,65 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,652).

Em segundo lugar, aparecem os projetos de educação, citados por

55,6%, concordando totalmente (7) com a afirmação “Oferecemos projetos de

educação no município onde o empreendimento está instalado”, obtendo-se

uma média de 5,75 na escala para esta variável (com desvio padrão de 1,900).

Parte do desvio padrão (1,900) pode ser explicado, uma vez que 7,9%

discordaram totalmente da afirmação.

Essa atitude dos dirigentes das usinas é semelhante às dos dirigentes

das usinas paulistas. No trabalho de BRAGATO et al. (2008) são apresentadas

algumas ações sociais de 55 usinas paulistas associadas à União da Indústria

de Cana-de-Açúcar (UNICA). O trabalho evidencia o desenvolvimento de 359

projetos de ação social pelas usinas de açúcar e álcool do Estado de São

Paulo associadas à UNICA. Destaca que essas iniciativas se concentram

principalmente na área educacional (40%) e ambiental (25%), as duas áreas

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que também concentraram as ações das empresas pesquisadas no Mato

Grosso do Sul.

Em seguida, aparecem os projetos de saúde e higiene, assinalados por

12,7% que concordaram totalmente (7) com a afirmação “oferecemos projetos

de saúde e higiene no município onde o empreendimento está instalado”,

obtendo-se uma média de 3,46 na escala para esta variável (com desvio

padrão de 2,235).

Nos projetos de esporte e lazer, apenas 4,8% afirmaram que

concordaram totalmente (7) com a afirmação “oferecemos projetos de esporte

e lazer no município onde o empreendimento está instalado”, obtendo-se uma

média de 2,87 na escala para esta variável (com desvio padrão de 1,670).

A categoria de projetos menos citada pelos dirigentes das empresas foi

cultura, que obteve uma média de 2,83 na escala para esta variável (com

desvio padrão de 2,204) na afirmação “oferecemos projetos de cultura no

município onde o empreendimento está instalado”.

Gestão da sustentabilidade: Grupo ambiental

A tabela 9 apresenta resultados de declarações nas quais se verifica o

grau de concordância dos dirigentes das usinas relacionado às ações de

sustentabilidade ambiental, com foco no meio ambiente: ar, água, solo,

biodiversidade.

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Tabela 9. Variáveis de gestão da sustentabilidade do grupo ambiental das

usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Variável Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão

Q23 - Queima de cana 1 1 1,00 0,000

Q24 - Inventário de emissões 3 7 6,86 0,564

Q25 - Tratamento de efluentes 6 7 6,89 0,317

Q27 - Uso racional dos recursos hídricos 3 7 6,43 0,911

Q28 - Reuso da água 4 7 6,48 0,759

Q26 - Destinação dos resíduos sólidos 6 7 6,95 0,215

Q29 - Uso de agroquímicos (*) 2 7 4,17 0,853

Q30 - Controle biológico 6 7 6,95 0,215

Q31 - Preservação matas nativas 5 7 6,60 0,555

Q32 – Biomonitoramento 4 7 6,65 0,786

OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala. Os parâmetros

são estabelecidos sob uma notação de 1 (Discordo totalmente) a 7 (Concordo

totalmente). (*) Os parâmetros para esta variável são estabelecidos sob uma

notação de 1 (Pouco) a 7 (Muito).

O conjunto de variáveis de sustentabilidade ambiental apresentou alfa

de Cronbach igual a 0,710. Esse resultado demonstra a consistência do

instrumento, significando que houve concordância entre o instrumento e a

população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.

Na afirmação “utilizamos a queima de cana-de-açúcar nas atividades da

empresa”, todas as empresas discordaram totalmente da afirmação (1), ou

seja, não utilizam mais a queima em seu processo de colheita ou nunca

utilizaram, no caso de plantas/usinas novas. Todo o processo de colheita é

mecanizado.

Esse é um indicador ambiental muito positivo, pois, segundo ANDRADE

e DINIZ (2007), dentre todos os impactos ambientais gerados pela

agroindústria da cana-de-açúcar, sem dúvida, o mais emblemático, o mais

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discutido e controvertido, ao longo dos anos, tem sido a prática da queima da

palha como método facilitador da colheita.

De acordo com GLIESSMAN (2000), a cana-de-açúcar é uma planta de

regiões tropicais e de fotossíntese C4, com uma das maiores taxas de

conversão de energia. Ainda, de acordo com o autor, a queima da cana no

campo aumenta as emissões de gases de efeito estufa e causa chuva ácida.

Segundo GLIESSMAN (2000), o fogo pode ser usado para preparar uma

cultura para a colheita. Um exemplo comum é a queima da cana-de-açúcar

poucos dias antes da colheita. Os cortadores afirmaram que o fogo é

importante para remover as folhas, facilitando o processo de corte quando feito

à mão, tornando o acesso às canas mais fácil, e deslocando animais

inoportunos, como ratos e cobras. Mas a facilidade de colheita num sistema

desses tem de ser medida em relação a impactos ecológicos, como a perda de

matéria orgânica, a volatilização de certos nutrientes e sua lixiviação por

chuvas fortes. Para a cana-de-açúcar, em particular, outro impacto negativo

possível do fogo pode ser degradar a qualidade do açúcar extraído das canas

aquecidas demais.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de

Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), o avanço da mecanização no

Estado é destaque nacional. Na safra 2013/2014, 94% das lavouras de cana do

Estado terão colheita mecanizada, contra 89% da safra 2012/2013. "A indústria

da cana já nasceu de forma correta em MS" (HOLLANDA, 2013). Ainda

segundo a BIOSUL (2013), Mato Grosso do Sul é o Estado do Brasil mais

avançado na eliminação da queimada. Segundo o presidente, só não é 100%

mecanizada porque faltam máquinas, operadores e ainda é necessário um

processo de capacitação dos empregados que atuam na colheita manual para

que possam trabalhar em outros setores.

Na afirmação “possuímos um inventário de Emissões de Gases do Efeito

Estufa (GEE) da empresa, gerados principalmente pela indústria”, 90,5%

concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,83 na escala para

esta variável (com desvio padrão de 0,564).

De acordo com SOUZA (2013), as seguintes fontes de GEE devem ser

associadas ao manejo agrícola da cana-de-açúcar: a) Emissões de N2O do

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76

manejo do solo associadas à aplicação de fertilizantes nitrogenados sintéticos,

compostos orgânicos (vinhaça e torta de filtro) e resíduos da cana-de-açúcar

depositados na superfície do solo; b) Emissões de CH4 e N2O devido à queima

da palha na pré-colheita da cana-de-açúcar; c) Aplicação de calcário; d)

Aplicação de defensivos; e) Fontes móveis, representadas pelo consumo de

óleo diesel durante as operações agrícolas.

SILVA (2010) destaca ainda que, para que o etanol seja considerado um

combustível renovável, é essencial que a contribuição de combustíveis fósseis

usados na sua produção seja pequena, assim como as emissões de gases

precursores do efeito estufa não associadas diretamente ao uso de

combustíveis fósseis, em todo o seu ciclo de produção e utilização. No plantio,

colheita, transporte e processamento da cana são consumidos combustíveis

fósseis que geram emissões de GEE. O autor afirma que é necessário fazer

um balanço energético e de GEE para se avaliar quais os resultados líquidos

no ciclo completo de produção do álcool de cana-de-açúcar e seu uso como

combustível no setor de transporte. Afirma ainda que este balanço do ciclo de

vida do etanol tem sido realizado no Brasil.

Assim, interpretando dados da UNICA (2010), pode-se afirmar que as

empresas que possuem um inventário de suas emissões de GEE estão mais

preocupadas com a gestão da sustentabilidade, e tendem a ter práticas mais

sustentáveis.

UDOP (2015) ressalta ainda a importância da cultura, uma vez que a

biomassa da cana-de-açúcar possui grande potencial para sequestrar carbono

da atmosfera. A instituição afirma que pesquisas brasileiras, aceitas pela

comunidade internacional, demonstraram que a ação do cultivo de cana-de-

açúcar chega a absorver quase um quinto da emissão total de carbono

resultante da queima de combustíveis fósseis do Brasil: uma redução de 39

milhões de toneladas de CO2 por ano.

As empresas pesquisadas declararam possuir relatórios de emissões

atmosféricas, gerados por monitoramento periódico, obedecendo a critérios do

Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL).

O monitoramento atmosférico que mede a qualidade do ar é realizado na

indústria, na agrovila (no caso de empresas que a possuem) e num ponto da

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cidade mais próxima do empreendimento, com a finalidade de comparar as

leituras.

Segundo as empresas, os parâmetros indicadores de qualidade das

emissões atmosféricas estão de acordo com o que estabelece a resolução

CONAMA n° 382/2006.

Na afirmação “tratamos os efluentes líquidos produzidos pelas atividades

da empresa”, 88,9% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de

6,89 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,317).

Segundo ANDRADE e DINIZ (2007), no Estado de São Paulo, é prática

corrente incorporar grande parte dos efluentes líquidos, gerados nas usinas, à

vinhaça, para disposição no solo por meio da técnica que se convencionou

chamar de fertirrigação. Isso é feito com as águas geradas no processo de

fabricação do açúcar, as resultantes da lavagem de pisos e equipamentos, e as

das purgas dos lavadores de gases, etc.

Para SILVA (2010), o uso da vinhaça na prática da fertirrigação, apesar

de antiga e bem disseminada, não pode ser excessiva ou indiscriminada, uma

vez que seu potencial poluidor compromete o meio ambiente, desde as

características físicas e químicas do solo até as águas subterrâneas a partir da

sua percolação.

ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam que conhecem apenas uma grande

usina, localizada em Ariranha, que promove a segregação de todas as águas

residuárias (aproximadamente 250 m³/h), trata-as separadamente da vinhaça

por meio da técnica de lodos ativados, e retorna os efluentes líquidos ao corpo

de água adjacente, dentro dos padrões legais de emissão e qualidade vigentes

no Estado de São Paulo (Artigos 12 e 18, do Decreto Estadual 8.478/76).

As empresas declararam realizar o tratamento dos esgotos antes de

devolver os efluentes ao meio ambiente e informaram reutilizar águas residuais

em outras operações da empresa como na lavagem dos postos de

combustíveis, irrigação dos jardins, etc. (o que pode ser observado nos

indicadores subsequentes).

Quanto ao uso da vinhaça, as unidades mais novas declararam já

possuir o sistema de fertirrigação pressurizado, ou seja, encanado, prática esta

considerada ambientalmente mais adequada.

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78

Indicadores de sustentabilidade importantes estão relacionados ao

consumo de água. Nas usinas de cana-de-açúcar, é importante desenvolver

práticas mais sustentáveis nos aspectos do uso racional dos recursos hídricos

(águas superficiais e subterrâneas) e no reuso da água nas atividades

empresariais.

Na afirmação “o uso dos recursos hídricos na agroindústria é racional”,

61,9% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,43 na escala

para esta variável (com desvio padrão de 0,911).

Na afirmação “Nos processos industriais fazemos o reuso da água”,

60,3% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,48 na escala

para esta variável (com desvio padrão de 0,759).

De acordo com SILVA (2010) a eminente escassez de água e o

comprometimento de sua qualidade em algumas regiões do mundo chamam a

atenção para a importância do planejamento e gestão dos recursos hídricos.

Ainda segundo o autor, é importante destacar o esforço que o setor

agroindustrial vem realizando para diminuir o consumo consultivo de água,

procurando otimizar seus processos, orientando esforços no sentido da

reciclagem deste bem.

No trabalho de ANDRADE e DINIZ (2007), eles apresentam o balanço

hídrico de uma grande usina, que conseguiu racionalizar, durante grande parte

da safra, o uso da água a um patamar de 0,85 m³/tonelada de cana moída. Os

autores destacam que técnicas de reuso, retorno de condensáveis,

implementação de limpeza a seco da cana, macromedição do consumo e

desassoreamento das represas de captação permitem que muitas usinas

operem sem alterar a quantidade e a qualidade dos corpos de água

adjacentes.

Advertem também que muitas usinas ainda captam elevadas vazões e

não operam com 100% de reuso das águas de resfriamento. Nesta condição, a

vazão de jusante dos corpos de água pode ser afetada negativamente.

Ademais, o lançamento de grandes vazões de água a temperaturas em torno

de 35ºC pode provocar a diminuição do teor de oxigênio dissolvido no corpo

receptor e causar comprometimento da vida aquática.

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79

Uma das empresas entrevistadas em MS afirmou que em média, as

usinas de cana brasileiras utilizam cerca de 1,3 m³ de água/tonelada de cana

moída. Após o emprego de diversos métodos de racionalização, o uso da água

nessa empresa está em torno de 0,6 a 0,7 m³/tonelada de cana moída. Um

resultado muito positivo.

Outro indicador de sustentabilidade importante que acarreta a poluição

do solo é a destinação adequada dos resíduos sólidos produzidos pelas

atividades da agroindústria.

Na afirmação “destinamos adequadamente os resíduos sólidos

produzidos pelas atividades da empresa”, 95,2% concordaram totalmente (7), o

que gerou uma média de 6,95 na escala para esta variável (com desvio padrão

de 0,215).

ANDRADE e DINIZ (2007) explicam que, nas usinas mais antigas e

localizadas distantes das áreas urbanas, foi prática comum o uso de valas para

aterro de resíduos sólidos domiciliares, de escritório, entulhos de construção

civil, podas de árvores, restos de estopas, graxas e embalagens de óleos

lubrificantes. Os autores explicam que tais áreas também foram empregadas

como locais de retirada indiscriminada de solo, deposição temporária de

material orgânico (cinzas, fuligens, lodos gerados pela lavagem de cana,

material de limpeza dos tanques de vinhaça, etc.).

A destinação correta dos resíduos sólidos, segundo ANDRADE e DINIZ

(2007), cessa o processo de degradação ambiental e os locais afetados

passam a ser empregados para armazenamento temporário e compostagem

orgânica das cinzas, fuligens e torta de filtro.

BUENO e SALVADOR (2012) apresentam o exemplo de uma empresa

que estudaram e que realiza coleta seletiva de resíduo. Estão instalados

conjuntos de lixeiras específicas e tambores de 200 litros foram adaptados para

a coleta. Os resíduos são destinados a empresas especializadas em

reciclagem. A Usina gera por mês 1,6 toneladas de papel, 109 toneladas de

ferro e outros resíduos que são dispostos de forma ambientalmente correta.

Os autores afirmam que, para o sucesso do projeto ambiental, todos os

colaboradores foram conscientizados sobre a importância da preservação do

meio ambiente, a partir de treinamentos específicos que juntos somaram cerca

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80

de 3.000 horas. A intenção é manter a consciência ambiental nos

colaboradores não apenas em ocasiões necessárias como a busca pela

certificação, mas torná-la um hábito diário, no exercício das atividades

desenvolvidas dentro e fora da empresa.

Como se pode observar nas respostas dos dirigentes das empresas

pesquisadas, todas declararam destinar adequadamente seus resíduos sólidos.

Notou-se, em praticamente todas as usinas, a presença de lixeiras específicas

para coleta seletiva (papel, plástico, vidro e metal). Os dirigentes das usinas

explicaram que possuem contratos com empresas terceirizadas, especializadas

no serviço de coleta de seus resíduos sólidos. Tais empresas são responsáveis

pela coleta e destinação adequada dos materiais coletados, de acordo com o

tipo de material (centros de reciclagem, centrais de recepção embalagens,

aterro sanitário, etc.) e, periodicamente, fornecem à usina os comprovantes da

destinação.

O uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e herbicidas) na área

agrícola das usinas é um importante indicador a ser analisado, pois pode

acarretar contaminação ambiental.

LIECHOSCKI e MAINIER (2003) explicam que os produtos

agroquímicos, também denominados agrotóxicos ou defensivos agrícolas,

podem ser definidos como produtos de natureza química ou bioquímica cujo

objetivo principal é exterminar as pragas ou doenças que atacam as culturas

agrícolas, podendo ser classificados em pesticidas (combate aos insetos em

geral), fungicidas (produtos que atingem os fungos) e herbicidas (produtos que

matam ou impedem o crescimento de plantas invasoras ou daninhas).

Na afirmação “fazemos uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e

herbicidas) na área agrícola da empresa”, procurou-se evidenciar a intensidade

com que são utilizados os produtos. Para tanto, utilizou-se uma escala de 1 a 7

onde 1 significa “pouco” e 7 “muito”. A maioria (47,6%) acredita que o uso de

agroquímicos é intermediário (4). A média foi de 4,17 na escala para esta

variável (com desvio padrão de 0,853).

Quanto à utilização de agrotóxico, ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam

que a cana-de-açúcar requer poucas aplicações em relação a outras culturas

de produção extensiva, em razão de sua robustez e adaptação às condições

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edafoclimáticas em que são cultivadas no Brasil. Os herbicidas são o grupo

mais utilizado. O consumo de inseticidas é relativamente baixo, sendo quase

nulo o de fungicidas. Além disso, muitos produtores já utilizam controle

biológico em escala comercial. A produção orgânica também tem aumentado,

em virtude do crescimento do mercado de açúcar orgânico, tanto no Brasil

quanto no exterior.

Segundo LIECHOSCKI e MAINIER (2003), os relatórios governamentais

mostram que mais de 50% dos pesticidas, classificados como herbicidas, são

bastante tóxicos e utilizados nas plantações de cana-de-açúcar, soja, abacaxi,

café, etc.

Conforme MACEDO et al. (2007), a preocupação com o impacto do uso

de defensivos agrícolas está presente em várias instâncias da Agenda 21, que

prevê ações específicas de controle.

Na afirmação “utilizamos controle biológico de pragas na área agrícola

da empresa”, 95,2% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de

6,95 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,215).

A UNICA (2010) já afirmava que uma parte significativa das pragas e

doenças que ameaçam a cana-de-açúcar é combatida por meio do controle

biológico e de programas avançados de melhoria genética que ajudam a

identificar as variedades resistentes às doenças.

No que se refere à biodiversidade, outros indicadores importantes estão

relacionados à manutenção e ampliação das matas nativas (reserva legal e

área de preservação permanente), ações de preservação da fauna e a

realização de monitoramento contínuo ou pontual do índice de biodiversidade

(biomonitoramento) dentro das áreas exploradas pelas empresas são

apontadas pela UNICA (2010) como muito importantes.

Na afirmação “Mantemos e procuramos ampliar as matas nativas

(reserva legal e área de preservação permanente), dentro das áreas

exploradas pela empresa”, 63,5% concordaram totalmente (7), o que gerou

uma média de 6,6 na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,555).

De acordo com SILVA (2010), se a expansão da cana-de-açúcar seguir

as tendências atuais, ela ocorrerá em locais onde o setor agropecuário e,

principalmente o sucroalcooleiro, é bem consolidado, dificilmente ocorrerá

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substituição de matas nativas por cana. No entanto, os deslocamentos de

culturas, como a pecuária e as lavouras, poderão ocorrer para outras regiões,

principalmente no Centro-oeste, aumentando, assim, o desmatamento. Muitas

usinas estão desenvolvendo ações de recomposição de suas áreas de

preservação permanentes (APP) e reservas legais (RL), em cumprimento à lei

do Estado, por exigências de instituições financeiras ou de segmentos do

mercado.

Ainda segundo SILVA (2010), de um lado, algumas usinas e produtores

já se mobilizaram para a criação de viveiros de espécies florestais, de forma

autônoma ou em parcerias com órgãos públicos, e tem realizado o

repovoamento de suas APP’s. Mas, do outro lado, há usinas e produtores

“adeptos” da tese da “regeneração natural”, que consiste, na grande maioria

dos casos, no simples abandono da área para que esta se regenere

naturalmente, o que também é permitido segundo algumas interpretações da

Lei n. 4.771 de 1965 e da Lei n. 9.866 de 1997.

Reconhece-se que as APP’s têm inquestionável importância para a

conservação da biodiversidade, das características climáticas e dos recursos

edáficos, hídricos, florísticos e faunísticos. Diversas usinas estão em fase de

elaboração/implementação de projetos de recuperação das APP’s, dos cursos

d’água, das nascentes e dos rios, afirmam ANDRADE e DINIZ (2007).

De acordo com a UNICA (2010), uma das diretrizes do Protocolo

Agroambiental do Estado de São Paulo está relacionada à proteção das matas

ciliares nas áreas administradas pelas usinas. O levantamento topográfico das

áreas e seu georreferenciamento tornaram-se, então, prioritários para as

associadas à UNICA.

Segundo experiência da UNICA (2010), tais ações levam a um

incremento da diversidade de fauna e flora. “Até agora, mais de 10 milhões de

mudas de árvores nativas foram plantadas na recuperação de mais de 6 mil

hectares de matas, com investimentos que ultrapassam R$ 46 milhões”. Nessa

experiência foram envolvidos cerca de oito mil colaboradores nas atividades de

catação de sementes, tratos nos viveiros, plantio e cuidados na manutenção

dessas áreas reflorestadas.

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A UNICA (2010) ainda afirma que o setor tem investido continuamente

na ampliação do monitoramento de bioindicadores nas áreas protegidas. Em

2007, eram quase 20 mil hectares monitorados, área que passou para 35 mil

hectares em 2009. Através desses monitoramentos, é possível identificar se as

matas protegidas servirão de abrigo a mamíferos e aves. Até o momento, os

projetos de biodiversidade monitoram 12 espécies de mamíferos, cinco delas

ameaçadas de extinção e sete consideradas vulneráveis. Para as espécies

identificadas como vulneráveis, houve abundância de 31 exemplares avistados.

Na afirmação “realizamos o monitoramento contínuo ou pontual do

índice de biodiversidade (biomonitoramento) dentro das áreas exploradas pela

empresa”, 79,4% concordaram totalmente (7), o que gerou uma média de 6,65

na escala para esta variável (com desvio padrão de 0,786).

As empresas informaram que possuem um programa de

automonitoramento, que realizam periodicamente o biomonitoramento, de duas

a três vezes por ano, por meio de empresas especializadas que coletam

amostras e realizam medições em pontos específicos das usinas (matas, lagos,

rios, etc.). Informaram ainda que o biomonitoramento é uma exigência do

IMASUL e que os relatórios dessas empresas especializadas são

encaminhados anualmente ao órgão ambiental estadual.

A diferenciação das variáveis do grupo ambiental quanto ao nível de

sustentabilidade foi através da determinação da média do grupo. As variáveis

com médias acima da média do grupo foram consideradas mais sustentáveis.

Da mesma forma, as variáveis com médias abaixo da média do grupo foram

consideradas menos sustentáveis.

Para se calcular a média do grupo ambiental foi realizado um

procedimento no software SPSS para inverter a escala das variáveis Q23

(queima de cana) que passou a ser chamada de Q23r (reversa = “colheita

mecanizada”) e Q29 (uso de agroquímicos) que passou a ser chamada de

Q29r (reversa), com a finalidade de padronizar as escalas. A média do grupo

foi de 6,46 e o desvio padrão = 0,280.

Na figura 5, podem ser observadas as oito variáveis do grupo ambiental

que se destacaram: queima de cana (nesse caso “colheita mecanizada”),

inventário de emissões, tratamento de efluentes, reuso da água, destinação

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dos resíduos sólidos, controle biológico, preservação matas nativas e

biomonitoramento, podendo estas práticas ser consideradas mais sustentáveis

na gestão das usinas.

Legenda: Q23r - Colheita Mecanizada, Q24 - Inventário de Emissões, Q25 -

Tratamento de efluentes, Q27 - Uso racional dos recursos hídricos, Q28 - Reuso da

água, Q26 - Destinação dos resíduos sólidos, Q29r - Uso de agroquímicos (reversa),

Q30 - Controle biológico, Q31 - Preservação matas nativas, Q32 - Biomonitoramento.

Figura 5. Média do grupo ambiental das usinas, microrregião de Dourados,

Mato Grosso do Sul, 2015.

Duas variáveis ficaram abaixo da média do grupo: uso racional dos

recursos hídricos e uso de agroquímicos, podendo estas práticas ser

consideradas menos sustentáveis na gestão das usinas, exigindo atenção das

mesmas a essas questões.

Análise Fatorial Exploratória

Para a consecução das inferências necessárias ao estudo, após a

análise descritiva dos dados, procurou-se mediante a técnica de Análise

Fatorial, verificar e resumir as informações contidas nas variáveis analisadas,

para um melhor entendimento dos dados encontrados pelo software estatístico

SPSS, versão 22.

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85

Para HAIR et al. (2009), a Análise Fatorial é uma técnica de

interdependência particularmente adequada para examinar as relações entre

variáveis e a criação de escalas múltiplas. Segundo os autores a "busca por

estrutura" com a análise fatorial pode revelar interrelações substanciais entre

variáveis e fornece uma base objetiva para o desenvolvimento do modelo

conceitual e uma melhor parcimônia entre as variáveis em uma análise

multivariada.

A Análise Fatorial, como já relatado, possui como pressuposto a

necessidade de correlação entre as variáveis. Assim, o primeiro passo consiste

em verificar a existência de valores significativos que justifiquem a utilização da

técnica. Tal constatação pode ocorrer por meio da aplicação do teste de

esfericidade de Bartlett, que é complementado com o teste de Kaiser-Meyer-

Olkin (KMO). Os valores de KMO iguais ou inferiores a 0,50 denotam que a

utilização da Análise Fatorial é inadequada e, por conseguinte, valores

superiores a 0,50 denotam a adequada utilização dessa técnica.

A análise fatorial é feita a partir das variáveis abordadas no presente

estudo, as quais envolvem dois grupos: Socioeconômico e Ambiental. Os

resultados dos testes de KMO e Bartlett para o grupo socioeconômico podem

ser visualizados na tabela 10.

Tabela 10. Teste de KMO e Bartlett para o grupo socioeconômico das usinas,

Microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,688

Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 131,172

df 28

Sig. 0,000

Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas foi

realizada a extração dos fatores da matriz de correlação, no intuito de

encontrar o conjunto de fatores que levassem a uma combinação linear das

variáveis da matriz de correlação. Na tabela 11 apresenta-se a matriz de

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86

componente rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam

o modelo, com suas respectivas cargas fatoriais.

Do grupo socioeconômico foram retiradas as variáveis Q11, Q18 e Q20,

com comunalidades < 0,50.

Tabela 11. Matriz de Componente Rotativaa para o grupo socioeconômico das

usinas, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Componente

1 2 3

Organiza

-ção

Desenvol-

vimento

Local

Comunida-

de

Q12 - Geração de renda 0,883

Q13 - Ética organizacional 0,795

Q14 - Acidente de trabalho 0,797

Q15 - Qualificação profissional 0,753

Q16 - Saúde e segurança EMP 0,741

Q17 - Saúde e segurança FOR 0,635

Q19 - Participação em entidades 0,789

Q21 - Reação mercados ações resp. 0,673

% da variância acumulada 25,701 50,547 67,087

Método de Extração: Análise de Componente Principal.

Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.

a. Rotação convergida em 5 iterações.

Esses três fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 67% das

variâncias das medidas originais. Os resultados dos testes de KMO e Bartlett

para o grupo ambiental podem ser visualizados na tabela 12.

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Tabela 12. Teste de KMO e Bartlett para o grupo ambiental das usinas,

Microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,622

Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 244,639

df 28

Sig. 0,000

Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas, foi

realizada a extração dos fatores da matriz de correlação no intuito de encontrar

o conjunto de fatores que levassem uma combinação linear das variáveis da

matriz de correlação. Na tabela 13, apresenta-se a matriz de componente

rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam o modelo,

com suas respectivas cargas fatoriais.

Do grupo ambiental foram retiradas as variáveis com comunalidades <

0,50 (Q23 e Q29).

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Tabela 13. Matriz de Componente rotativaa para o grupo ambiental das usinas,

Microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2015

Componente

1 2 3

Tratamento

dos

resíduos

Recursos

hídricos

Biodiversi-

dade

Q24 - Inventário de emissões 0,868

Q25 - Tratamento de efluentes 0,882

Q26 - Destinação dos resíduos

sólidos

0,651

Q27 - Uso racional dos recursos

hídricos

0,901

Q28 - Reuso da água 0,901

Q30 - Controle biológico 0,631

Q31 - Preservação matas nativas 0,820

Q32 - Biomonitoramento 0,853

% da variância acumulada 30,649 57,599 76,994

Método de Extração: Análise de Componente Principal.

Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.

a. Rotação convergida em 5 iterações.

Esses três fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 77% das

variâncias das medidas originais.

Para a avaliação e validação do modelo utilizou-se a modelagem de

equações estruturais por meio do método PLS (Partial Least Squares)

incorporado no programa estatístico SmartPLS. Segundo MORAES et al.

(2011), a técnica PLS é capaz de calcular as correlações entre os indicadores e

as variáveis latentes e estimar a sua significância por meio do procedimento de

re-amostragens (bootstrapping)

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O modelo utilizado foi validado uma vez que, com o uso do método PLS,

obteve-se uma correlação de 0,80 entre os grupos de variáveis

socioeconômico (GSE) e ambiental (GA).

Conclusão

O perfil das empresas sucroenergéticas do estudo mostra que elas são

um grupo heterogêneo, composto por usinas de grande, médio e pequeno

portes. Possuem uma capacidade de moagem de 33,6 milhões de toneladas e

utilizam, em média, 94% de sua capacidade instalada. Juntas produzem e

processam cerca de 75% da cana do Mato Grosso do Sul. Todas as usinas

produzem etanol, 90% produzem bioeletricidade e 70% açúcar.

Quanto à gestão da sustentabilidade no grupo socioeconômico, 55% dos

indicadores se destacaram acima da média do grupo: geração de emprego,

geração de renda, ética organizacional, saúde e segurança na empresa, saúde

e segurança para fornecedores, reação dos mercados às ações

socioambientais. No grupo ambiental 80% dos indicadores se destacaram

acima da média do grupo: colheita mecanizada, destinação dos resíduos

sólidos, controle biológico, tratamento de efluentes, inventário de emissões,

preservação matas nativas, biomonitoramento e reuso da água.

Com relação aos projetos desenvolvidos pelas empresas junto nos

municípios, identificou-se uma maior concentração de oferta nas áreas de

educação ambiental. Em menor número aparecem projetos nas áreas de saúde

e higiene, esporte e lazer e cultura.

Conclui-se que as usinas da microrregião de Dourados desenvolvem

ações de gestão da sustentabilidade dentro das dimensões socioeconômica

(média de 6,32 na escala de 1 a 7) e ambiental (média de 6,46 na escala de 1

a 7), em maior ou menor grau, considerando indicadores de sustentabilidade

reconhecidos e utilizados internacionalmente para o setor.

Referências Bibliográficas

ABREU, R. L. Maplocator of Mato Grosso do Sul's Dourados microregion.

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Artigo II

Percepção da Sociedade sobre as Ações Socioeconômicas e Ambientais

do Segmento Sucroenergético em Mato Grosso do Sul

Alex Sandro Richter Won Mühlen

Resumo

Este trabalho foi desenvolvido na linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e

Desenvolvimento Regional Sustentável. Teve como objetivo verificar a

percepção da sociedade quanto às ações de sustentabilidade promovidas

pelas empresas do segmento sucroenergético do Mato Grosso do Sul. Para

tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória descritiva, combinando

informações quantitativas e qualitativas colhidas por meio de formulários

aplicados a um grupo composto por representantes da sociedade nos

principais municípios em que as empresas sucroenergéticas estão instaladas,

utilizando-se a metodologia de amostragem Snowball Sampling ou

“Amostragem em Bola de Neve”. Os dados foram processados e analisados

utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e SPSS 22. Os resultados

demonstram que a sociedade tem pouca percepção sobre as ações de gestão

da sustentabilidade promovidas pelas usinas da região, dentro das dimensões

socioeconômica (média de 3,99 na escala de 1 a 7) e ambiental (média de 3,77

na escala de 1 a 7). Infere-se que, se as empresas sucroenergéticas

desenvolvem ações de sustentabilidade, estas são pouco percebidas pela

sociedade.

Palavras-chave: Amostragem bola de neve, Desenvolvimento regional

sustentável, Microrregião de Dourados, Segmento sucroenergético.

Abstract

This work was developed in the line of Society research, Environment and

Sustainable Regional Development. Aimed to verify the perception of society

and the sustainability of actions promoted by companies in the sugar and

ethanol segment of Mato Grosso do Sul. Therefore, a descriptive exploratory

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survey was conducted by combining quantitative and qualitative information

collected through forms applied to a group of society representatives in cities

where sucroenergéticas companies are located, using the methodology

Snowball Sampling. Data were processed and analyzed using the software

Sphinx Lexica 5.0 and SPSS 22. The results demonstrate that the society has

little insight into the sustainability management actions promoted by the

companies of the region, within the socioeconomic dimensions (average of 3.99

on the scale 1 to 7) and environmental (average 3.77 on a scale of 1 to 7). It is

inferred that if sucroenergéticas companies develop sustainability actions, these

are hardly perceived by society.

Keywords: Society, Environment, Sustainable regional development.

Introdução

A preocupação da sociedade com o desenvolvimento sustentável vem

ganhando cada vez mais visibilidade em países com diferentes níveis de

desenvolvimento. De acordo com CAVALCANTI (2006), não basta à empresa

apenas conseguir lucros; é preciso que ela seja social e ambientalmente

responsável. Nesse contexto, sistemas de qualidade, de responsabilidade

social e de gestão ambiental estão sendo crescentemente implantados nas

unidades sucroalcooleiras de todo o Brasil (PIACENTE, 2005).

Essa consciência social e ambiental decorre do aumento da fiscalização

para aplicação de leis trabalhistas, da pressão das instituições, dos estudiosos

e da população sobre os impactos negativos da produção sem sustentabilidade

socioeconômica e ambiental.

Para MACEDO et al. (2007), apesar do setor contribuir com o

fornecimento de uma fonte de energia limpa e renovável, fazendo frente às

ameaças do aquecimento global, ainda existem problemas a serem

dimensionados e solucionados pela agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil.

De acordo com RODRIGUES e ORTIZ (2006), a região Centro-oeste

tem despontado nas últimas safras como nova área de expansão do cultivo. O

Leste do estado de Mato Grosso do Sul e o Oeste do estado de Minas Gerais,

acompanham esta tendência de expansão de novas áreas.

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97

Dessa forma, observa-se uma pressão sobre o ecossistema do cerrado,

que representa o bioma predominante nessa região brasileira. Essa tendência

de expansão ocorre em virtude da disponibilidade de mão-de-obra e da

declividade das terras, que, por estarem em um planalto, são propicias à

mecanização do processo produtivo.

Houve forte expansão da cultura da cana-de-açúcar entre os anos de

2003 e 2012 no Mato Grosso do Sul com a concentração das lavouras na

microrregião Dourados (CANASAT/INPE, 2013), por se tratar de uma região

com áreas planas, solos férteis e agricultáveis, favorecendo a atividade.

A cana-de-açúcar está presente em 39 municípios do MS, com 755.294

hectares de área cultivada na safra 2013/2014. Destes municípios, quase

metade da área cultivada (49%) está concentrada na microrregião de Dourados

(CANASAT/INPE, 2013).

Um componente importante na nova fase de dinamização do setor

sucroenergético é a crescente compreensão de que os avanços na produção,

com sustentabilidade socioeconômica e ambiental, ajudam a elevar a

competitividade do etanol (SANTOS et al, 2016).

Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo verificar a

percepção da sociedade quanto às ações socioeconômicas e ambientais

promovidas pelas empresas sucroenergéticas do Mato Grosso do Sul.

Material e Métodos

Área geográfica de estudo

O trabalho foi desenvolvido no estado de Mato Grosso do Sul (MS), na

microrregião de Dourados, que é composta por 15 municípios: Amambai,

Antônio João, Aral Moreira, Caarapó, Douradina, Dourados, Fátima do Sul,

Itaporã, Juti, Laguna Carapã, Maracaju, Nova Alvorada do Sul, Ponta Porã, Rio

Brilhante e Vicentina.

A microrregião de Dourados, além de concentrar quase metade da área

cultivada de cana (49%), concentra também o maior número de usinas (11),

seguida da microrregião Iguatemi (4), Nova Andradina (3) e Cassilândia (2). As

demais microrregiões possuem apenas uma usina cada, totalizando 22 usinas

em operação no MS (BIOSUL, 2013).

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População e Amostragem da Pesquisa

Foi escolhida a microrregião de Dourados como amostra para o presente

estudo, considerando a relevância da mesma nos aspectos área cultivada,

expansão da cultura da cana, concentração das lavouras, participação na

produção de cana no Estado e concentração de empresas sucroenergéticas.

A amostra foi composta por atores da sociedade dos municípios em que

as empresas sucroenergéticas estão instaladas, como por exemplo:

representantes das Prefeituras, Câmaras de Vereadores; Sindicatos Rurais;

Sindicatos dos Trabalhadores, entre outros. Os atores aqui denominados

“representantes da sociedade” foram selecionados em seus respectivos

municípios utilizando-se a metodologia de amostragem conhecida como

Snowball Sampling ou “Amostragem em Bola de Neve”, descrita a seguir.

Fonte e Coleta de Dados

A coleta de dados para a pesquisa envolveu duas etapas de trabalho.

Primeira etapa:

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema com a finalidade

de conhecer melhor o setor sucroenergético no Brasil, com destaque para Mato

Grosso do Sul, e os elementos teóricos relacionados à sustentabilidade.

Portanto, quanto aos objetivos esta pesquisa pode ser classificada como

descritiva exploratória e quanto à natureza ela pode ser qualificada como

quanti-qualitativa.

Nas etapas iniciais, foram analisadas diversas fontes de dados, como

artigos acadêmicos, relatórios de pesquisas, websites das empresas, notícias

de jornal, informações governamentais, relatórios de sustentabilidade das

empresas, entre outras. Tais informações consistiram de base para elaboração

de um formulário estruturado, a ser utilizado na etapa seguinte da pesquisa,

bem como para a discussão dos resultados. No quadro 4, são apresentadas

as variáveis constituintes do formulário, as suas dimensões, bem como, as

fontes que deram sustentação teórica.

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99

Quadro 4. Variáveis, dimensões e referência bibliográfica de sustentação

teórica dos constructos do formulário.

Variável Dimensão Fonte

Geração de empregos

Geração de renda

Socioeconômica:

Econômica

MACEDO et al. (2007);

SILVA (2010); FREIRE

(2010); BIOSUL (2013)

Ética organizacional

Acidente de trabalho

Contratos de trabalho

Qualificação profissional

Assistência a migrantes

Melhores práticas de

gestão em saúde e

segurança

Respeito às organizações

sindicais

Socioeconômica:

Condições de

trabalho

CRUZ e SOUZA (2012)

SILVEIRA (2008)

BSI (2014)

UNICA (2010)

RODRIGUES e ORTIZ

(2006)

Empregabilidade de

moradores

Participação em entidades

Projetos na comunidade

Socioeconômica:

Responsabilidade

social

BRAGATO et al. (2008)

GOES (2013); MACEDO et

al. (2007)

UNICA (2010)

Queima de cana-de-

açúcar

Inventário de emissões de

GEE

Ambiental:

qualidade do ar

MACEDO et al. (2007);

SILVA (2010); ANDRADE e

DINIZ (2007); GLIESSMAN

(2000); SOUZA (2013)

Tratamento dos efluentes

líquidos

Uso dos recursos hídricos

Ambiental:

Poluição da água

ANDRADE e DINIZ (2007)

SILVA (2010)

MACEDO et al. (2007)

Destinação dos resíduos

sólidos

Uso de agroquímicos

Controle biológico

Ambiental:

Poluição do solo

BUENO e SALVADOR

(2012); MACEDO et al.

(2007); ANDRADE e DINIZ

(2007); LIECHOSCKI e

MAINIER (2003)

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100

Continuação....

Variável Dimensão Fonte

Preservação das matas

nativas

Preservação da fauna

Biomonitoramento

Ambiental:

biodiversidade

BSI (2014)

SILVA (2010)

ANDRADE e DINIZ (2007)

UNICA (2010)

Segunda etapa:

Para atender o objetivo de verificar a percepção da sociedade quanto às

ações de sustentabilidade promovidas pelas empresas sucroenergéticas, foi

aplicado um formulário estruturado (Apêndice “B”) a um grupo composto por

atores da comunidade aqui denominados “representantes da sociedade”,

selecionados em seus respectivos municípios, utilizando-se a metodologia de

amostragem Snowball Sampling ou “Amostragem em Bola de Neve”, por serem

considerados neste trabalho verdadeiros atores sociais, reconhecidos por seus

pares em decorrência de seu papel de lideranças nos municípios estudados.

De acordo com DEWES (2013), a amostragem em bola de neve é um

método que não se utiliza de um sistema de referências, mas sim de uma rede

de amizades dos membros existentes na amostra. Este tipo de método

baseado na indicação de um ou mais outros indivíduos é também conhecido

como método de “cadeia de referências” ou ainda “cadeia de informantes”.

Para BALDIN e MUNHOZ (2011), essa técnica é uma forma de amostra

não probabilística utilizada em pesquisas sociais onde os participantes iniciais

de um estudo indicam novos participantes que, por sua vez indicam novos

participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo

proposto (o “ponto de saturação”).

ALBUQUERQUE (2009) explica que esse procedimento é repetido

algumas vezes, até que o tamanho pré-definido da amostra seja alcançado ou

até que a população fique saturada (ou seja, se esgotem os membros

acessíveis da mesma). Portanto, a snowball “Bola de Neve” é uma técnica de

amostragem que utiliza cadeias de referência, uma espécie de rede.

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101

De acordo com BALDIN e MUNHOZ (2011), os primeiros participantes

contatados na aplicação da pesquisa são as “sementes”, que devem ter

conhecimento da sua localidade, do fato acontecido ou das pessoas que vivem

na comunidade. Esse mesmo indivíduo (a “semente”) indicará outra(s)

pessoa(s) de seu relacionamento (ou de seu conhecimento) para que também

participe(m) da amostra, esses são os “filhos” ou “frutos” das “sementes”. Para

que se tenha uma amostra considerável, deve-se selecionar um número inicial

de pessoas (de “sementes”), que, preferencialmente, devem exercer certa

liderança no espaço a ser estudado, conhecer muitos membros da localidade e

que esses sejam de diversificados ramos de formação e atuação.

Nessa pesquisa, iniciou-se a aplicação do questionário no município de

Maracaju, utilizando-se como sementes: o prefeito municipal, os secretários

municipais indicados pelo mesmo, seguido do presidente da Câmara de

Vereadores, presidente do Sindicato Rural, presidente da Associação

Comercial, presidente do Sindicato dos Trabalhadores, empresários locais,

diretores de escolas, entre outros.

Ao final, a amostra dos representantes da sociedade foi composta por

158 pessoas dos municípios de Maracaju, Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante,

Fátima do Sul e Caarapó, pertencentes a 30 profissões ou ocupações.

Instrumento de coleta de dados:

O formulário aplicado (Apêndice B) é composto de questões

predominantemente fechadas. Nas medições das variáveis das dimensões

socioeconômica e ambiental empregou-se uma escala de Likert de 7 pontos,

variando de 1 = discordo totalmente até 7 = concordo totalmente.

Questões abertas também foram utilizadas de forma limitada para

complementar as questões fechadas. As declarações dos entrevistados foram

anotadas pelo pesquisador. Os dados provenientes das questões abertas

foram categorizados e analisados segundo a sua natureza, através do método

de análise de conteúdo (CAMARA, 2013).

Foi notificado e assegurado a todos os respondentes a confidencialidade

e o sigilo das suas respostas, e que os dados seriam agregados e processados

como um todo, utilizando-os em trabalho científico.

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102

Para aprimorar o formulário elaborado, o mesmo foi submetido a um

conjunto de professores do mestrado e doutorado da Universidade

Anhanguera-Uniderp para suas críticas e sugestões quanto à redação e

escalas.

O formulário foi submetido ao Comitê de Ética para Seres Humanos para

análise e deferimento antes de sua aplicação (aprovado conforme parecer nº

990.953 de 08/12/2014).

Antes da aplicação do formulário foi feito um pré-teste aplicando o

instrumento a cinco representantes da sociedade no município de Maracaju-

MS, com a finalidade de avaliar fatores críticos como clareza, abrangência e

aceitabilidade do instrumento. Como não houve discrepâncias significativas no

instrumento, as entrevistas foram incorporadas ao trabalho.

Para a aplicação dos formulários primeiramente foram contatados atores

dos municípios envolvidos, convidando-os a fazerem parte da pesquisa,

explicando a natureza da mesma, sua importância e a necessidade de obter

respostas, tentando despertar o interesse do recebedor para o tema.

Inicialmente, as entrevistas foram conduzidas pessoalmente pelo

pesquisador para a aplicação dos formulários, mediante agendamento prévio

com os entrevistados.

Posteriormente, os formulários foram disponibilizados aos demais atores

por meio eletrônico, utilizando-se a ferramenta Google Form, de forma a

simplificar o processo de indicação de novos respondentes proposto pela

metodologia de amostragem bola de neve.

Tratamento dos dados

Após a aplicação do formulário a campo, os dados foram processados e

analisados utilizando os softwares Sphinx Léxica 5.0 e SPSS 22. Foram

realizadas análises estatísticas descritivas para descrever o perfil dos

representantes da sociedade e verificar sua percepção sobre as ações

socioeconômicas e ambientais das empresas.

A confiabilidade do instrumento foi feita por meio do coeficiente alfa de

Cronbach e a caracterização da população de estudo, por análise descritiva

(médias, desvios padrão, valores mínimos, valores máximos e proporções).

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Valores de alfa iguais ou maiores que 0,700 são consistentes e aceitáveis

neste estudo (HAIR et al., 2009).

Também, foi realizada a Análise Fatorial Exploratória (AFE) com o

objetivo de identificar quantos e quais fatores latentes podem ser extraídos do

conjunto das variáveis por meio das associações entre elas. Os ajustes na

análise fatorial foram feitos com base no quadro 5.

Quadro 5. Valores de referência na comprovação do ajuste do modelo, pela

Análise Fatorial Exploratória.

Propósito Valores de Referência

Ajuste dos constructos

latentes e seus respectivos

itens.

Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) > 0,50

Esfericidade de Bartlett, p < 0,05

Alfa de Cronbach, α > 0,70

Medida de adequação da amostra (MSA) > 0,50

Comunalidade > 0,50

Variância explicada (ve) > 0,50

Fonte: Adaptado de HAIR et al. (2009).

Resultados e Discussão

Caracterização da População

A amostra dos representantes da sociedade foi composta por 158

pessoas, conforme metodologia bola de neve, de diversas profissões ou

ocupações (Tabela 14) distribuídas nos municípios de Maracaju, Dourados,

Ponta Porã, Rio Brilhante, Fátima do Sul e Caarapó, todas da microrregião de

Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul.

Tabela 14. Profissão ou ocupação dos representantes da sociedade,

microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.

Profissão ou Ocupação Frequência %

Administrador 15 9,50

Advogado 3 1,90

Agricultor 5 3,20

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104

Continuação....

Profissão ou Ocupação Frequência %

Arquiteto 2 1,30

Assistente Administrativo 8 5,10

Biólogo 1 0,60

Comerciante 8 5,10

Comerciário 4 2,50

Contador 4 2,50

Dentista 1 0,60

Economista 2 1,30

Empresário 6 3,80

Engenheiro 2 1,30

Engenheiro Agrônomo 6 3,80

Fisioterapeuta 1 0,60

Gerente 9 5,70

Geólogo 1 0,60

Industriário 10 6,30

Jornalista 2 1,30

Motorista 1 0,60

Médico 1 0,60

Médico Veterinário 2 1,30

Nutricionista 1 0,60

Pedagogo 4 2,50

Policial civil 1 0,60

Professor 36 22,80

Psicólogo 1 0,60

Servidor Público 17 10,80

Técnico em Agropecuária 1 0,60

Vendedor 3 1,90

Total 158 100,00

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105

Os entrevistados estão entre 25 e 44 anos (67%), com alto grau de

escolaridade e, quando questionados sobre as atividades desenvolvidas pelas

usinas de cana-de-açúcar na região, declararam possuir um conhecimento

intermediário (Média=3,58; Mediana=4) (Tabelas 15 e 16).

Tabela 15. Faixa etária dos representantes da sociedade, microrregião de

Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.

Idade Frequência %

até 24 anos 6 3,80

de 25 a 34 anos 53 33,50

de 35 a 44 anos 53 33,50

de 45 a 54 anos 36 22,80

55 anos ou mais 10 6,30

Total 158 100,00

Infere-se que o alto nível de escolaridade (Tabela 16) sustenta a

qualidade das respostas dos demais itens da pesquisa.

Tabela 16. Grau de escolaridade dos representantes da sociedade,

microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.

Escolaridade Frequência %

Fundamental e Médio 16 10,1

Superior 64 40,5

Pós-Graduado 78 49,4

Total 158 100,00

Ao serem questionados sobre o grau de conhecimento que os

representantes da sociedade possuíam sobre as atividades das usinas na

região, percebe-se que a maioria das respostas (43,1%) situa-se entre 4 e 5,

em uma escala de 1 a 7 (Tabela 17), denotando um conhecimento

intermediário.

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106

Tabela 17. Grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas

usinas de cana-de-açúcar, representantes da sociedade, microrregião de

Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.

Conhecimento sobre usinas Frequência %

1 26 16,50

2 24 15,20

3 21 13,30

4 32 20,30

5 36 22,80

6 13 8,20

7 6 3,80

Total 158 100,00

OBS: Média = 3,58; Desvio-padrão = 1,72; Mediana = 4; Moda = 5. A questão é

de resposta única sobre uma escala. Os parâmetros são estabelecidos sob

uma notação de 1 (Pouco conhecimento) a 7 (Muito conhecimento).

Verificou-se não existir dependências significativas nas relações entre

escolaridade e grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas

usinas de cana-de-açúcar (Tabela 18)

Tabela 18. Cruzamento de escolaridade com grau de conhecimento usinas,

representantes da sociedade, microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul,

2016.

Escolaridade Grau de conhecimento usinas TOTAL

1 2 3 4 5 6 7

Fundamental

e Médio

25,00 25,00 18,80 6,30 25,00 0,00 0,00 100,00

Superior 15,40 15,40 9,00 23,10 23,10 7,70 6,40 100,00

Pós-Graduado 15,60 12,50 17,20 20,30 21,90 10,90 1,60 100,00

Total 16,50 15,20 13,30 20,30 22,80 8,20 3,80 100,00

OBS: A dependência não é significativa. = 10,98, gl = 12, 1-p = 46,92%.

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107

Pressupõe-se que a escolaridade não influi no grau de conhecimento

grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas usinas, pois

tanto os de baixa escolaridade como alta escolaridade tem percepção igual.

Gestão da Sustentabilidade: Segmento Socioeconômico

A Tabela 19 apresenta resultados de declarações dos representantes da

sociedade, na qual se verifica o grau de concordância relacionado às ações de

sustentabilidade socioeconômica, com foco na geração de emprego e renda,

nas relações trabalhistas e responsabilidade social, promovidas pelas usinas

instaladas na região estudada.

O conjunto de variáveis de sustentabilidade socioeconômica apresentou

alfa de Cronbach igual a 0,875. Esse resultado demonstra a consistência do

instrumento, significa que houve concordância entre o instrumento e a

população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.

Tabela 19. Variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do grupo

socioeconômico, dos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados,

Mato Grosso do Sul, 2016

Variável Min Máx Média Desvio

Padrão

Q1 - Geração de empregos 1 7 5,27 1,679

Q2 - Geração de renda 1 7 4,82 1,606

Q3 - Acidentes de trabalho (*) 1 7 3,11 1,471

Q4 - Qualificação profissional 1 7 3,59 1,628

Q5 - Saúde e segurança na empresa 1 7 3,84 1,741

Q6 - Saúde e segurança para fornecedores 1 7 3,80 1,658

Q7 - Empregabilidade de moradores 1 7 3,61 1,643

Q8 - Participação em entidades 1 7 3,12 1,598

Q9 - Valorização de ações de resp. social 1 7 3,04 1,612

OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1

(Discordo totalmente) a 7 (Concordo totalmente). (*) Os parâmetros para esta

variável são estabelecidos sob uma notação de 1 (Baixa) a 7 (Alta).

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108

Ao observar as médias e desvios-padrão das variáveis, verificam-se

desvios padrão altos, com coeficientes de variação entre 32% e 53%, podendo-

se concluir que a percepção da sociedade sobre o tema não é homogênea.

Para evidenciar o nível de sustentabilidade das usinas, percebido pela

sociedade, foi calculada a média do grupo de indicadores socioeconômicos. As

variáveis com médias acima da média do grupo foram consideradas mais

sustentáveis, de acordo com a percepção da sociedade. Da mesma forma, as

variáveis com médias abaixo da média do grupo foram consideradas menos

sustentáveis.

Para se calcular a média do grupo socioeconômico, foi realizado um

procedimento no software SPSS para inverter a escala da variável Q3

(acidente de trabalho) que passou a ser chamada de Q3r (reversa) com a

finalidade de padronizar as escalas. A média do grupo foi de 3,9965 e o desvio

padrão = 1,134.

Na figura 6 podem ser observadas as três variáveis do grupo

socioeconômico que se destacaram: geração de emprego, geração de renda e

acidente de trabalho, podendo estas práticas ser consideradas mais

sustentáveis na gestão das usinas de acordo com a percepção da sociedade.

Seis variáveis ficaram abaixo da média do grupo: qualificação

profissional, saúde e segurança (empresa e fornecedores), empregabilidade de

moradores, participação em entidades, valorização de ações corporativas,

podendo estas práticas ser consideradas menos sustentáveis na gestão das

usinas, conforme a percepção da sociedade, exigindo atenção das mesmas a

essas questões.

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Legenda: Q1 - Geração de empregos, Q2 - Geração de renda, Q3r - Acidente de

trabalho, Q4 - Qualificação profissional, Q5 - Saúde e segurança EMPRESA, Q6 -

Saúde e segurança FORNECEDORES, Q7 - Empregabilidade de moradores, Q8 -

Participação em entidades, Q9 – Valorização de ações resp. social.

Figura 6. Média das variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do

grupo socioeconômico, representantes da sociedade, microrregião de

Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.

Os indicadores de sustentabilidade positivos no grupo socioeconômico,

percebidos pela sociedade foram os indicadores de geração de emprego,

geração de renda e acidente de trabalho. MACEDO et al. (2007) afirmam que

entre indicadores socioeconômicos do setor sucroenergético a maior

importância vem da geração de empregos e renda, capacitando a mão-de-

obra, com flexibilidade para, usando tecnologias diversas, acomodar

características locais.

FREIRE (2010) destaca como impactos socioeconômicos positivos a

geração de emprego e geração consequente de atividade econômica na base

da pirâmide, bem como de atividade econômica secundária causada pela

produção agrícola e industrial da cana-de-açúcar. Afirma também que, em

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110

geral, a atividade sucroenergética é vista de forma positiva pela sociedade e

traz relativo progresso a essas populações.

NEVES (2014) explicita em seu trabalho dois casos de geração de

renda, fazendo uma comparação do crescimento de alguns indicadores nos

municípios de Caarapó (MS) e Quirinópolis (GO), antes e depois da

implantação de usinas. Segundo ele, são exemplos do Brasil que dá certo, do

país que interioriza o desenvolvimento, que gera emprego, inserção e

oportunidades. Afirma que basta visitar os municípios acima para se conhecer

o que ele chama de “Brasil chinês”.

SHIKIDA et al. (2008) cita um caso semelhante de crescimento de

indicadores no município de Cidade Gaúcha-PR, ressaltando a contribuição da

Usina Usaciga. Afirma que, concomitante com o crescimento econômico, houve

evolução favorável, no que concerne ao Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH), neste município.

Quanto ao indicador “acidente de trabalho”, de acordo com o padrão BSI

(2014), assegurar um ambiente de trabalho seguro e saudável em operações

de trabalho é fundamental para uma organização sustentável. Esse indicador

procurou identificar a percepção sobre a frequência de acidentes com

afastamento.

Ficou evidente, pelas respostas, que a sociedade percebe um cuidado e

preocupação das usinas com o quesito segurança do trabalhador, sendo essa

variável avaliada positivamente pela sociedade.

Na tabela 20 apresenta-se a percepção da sociedade sobre a oferta de

projetos desenvolvidos pelas empresas onde estão instaladas, conforme áreas

de atuação dos projetos.

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111

Tabela 20. Percepção da sociedade sobre oferta de projetos pelas usinas,

microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016

Variável Min Máx Média Desvio

Padrão

Q10b - Projetos de educação ambiental 1 7 2,58 1,656

Q10e - Projetos de educação 1 7 2,53 1,646

Q10d - Projetos de saúde e higiene 1 7 2,30 1,444

Q10c - Projetos de esporte e lazer 1 7 2,30 1,452

Q10a - Projetos culturais 1 7 2,27 1,431

OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1 (Discordo

totalmente) a 7 (Concordo totalmente). Média do grupo projetos = 2,3962 e

desvio-padrão = 1,42256.

Verifica-se que a percepção da sociedade sobre a oferta de projetos por

parte das usinas instaladas na região é baixa para praticamente todas as

modalidades (média do grupo projetos = 2,3962). Ou seja, a sociedade não

percebe ações das empresas sucroenergéticas nestas áreas. Analisando a

frequência das respostas, tem-se que mais de 60% das pessoas responderam

que discordam ou discordam totalmente que projetos são ofertados.

Gestão da Sustentabilidade: Segmento Ambiental

A tabela 21 apresenta resultados das declarações dos representantes da

sociedade onde se verifica o grau de concordância destes relacionado às

ações de sustentabilidade ambiental, promovidas pelas usinas, com foco no

meio ambiente: ar, água, solo, biodiversidade.

O conjunto de variáveis de sustentabilidade ambiental apresentou alfa

de Cronbach igual a 0,888. Esse resultado demonstra a consistência do

instrumento. Significa que houve concordância entre o instrumento e a

população estudada, ou seja, existe correlação dentro das variáveis.

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112

Tabela 21. Variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do grupo

ambiental, representantes da sociedade, microrregião de Dourados, Mato

Grosso do Sul, 2016.

Variável N Min Máx Média Desvio

Padrão

Q11 - Queima de cana 158 1 7 2,52 1,718

Q12 - Inventário de emissões 158 1 7 3,42 1,778

Q13 - Tratamento de efluentes 158 1 7 3,85 1,782

Q14 - Destinação dos resíduos sólidos 158 1 7 4,11 1,754

Q15 - Uso racional dos recursos hídricos 158 1 7 3,91 1,654

Q16 - Reuso da água 158 1 7 4,06 1,652

Q17 - Uso de agroquímicos (*) 158 1 7 4,73 1,557

Q18 - Controle biológico 158 1 7 3,84 1,844

Q19 - Preservação matas nativas 158 1 7 3,47 1,993

Q20 - Preservação fauna 158 1 7 3,04 1,771

Q21 – Biomonitoramento 158 1 7 3,11 1,639

OBS: As questões são de resposta única sobre uma escala de 1 (Discordo

totalmente) a 7 (Concordo totalmente). (*) Os parâmetros para esta variável

são estabelecidos sob uma notação de 1 (Baixa) a 7 (Alta).

Para evidenciar o nível de sustentabilidade das usinas, percebido pela

sociedade, foi calculada a média do grupo de indicadores ambientais. As

variáveis com médias acima da média do grupo foram consideradas mais

sustentáveis, de acordo com a percepção da sociedade. Da mesma forma, as

variáveis com médias abaixo da média do grupo foram consideradas menos

sustentáveis.

Para se calcular a média do grupo ambiental foi realizado um

procedimento no software SPSS para inverter a escala das variáveis Q11

(queima de cana) e Q17 (uso de agroquímicos) que passaram a ser chamadas

de Q11r (reversa = “colheita mecanizada”) e Q17r (reversa) com a finalidade de

padronizar as escalas. A média do grupo foi de 3,7768 e o desvio padrão =

1,237.

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113

Na figura 7 podem ser observadas as seis variáveis do grupo ambiental

que se destacaram: colheita mecanizada, tratamento de efluentes, destinação

de resíduos sólidos, uso racional dos recursos hídricos, reuso da água e

controle biológico, podendo estas práticas serem consideradas mais

sustentáveis na gestão das usinas de acordo com a percepção da sociedade.

Cinco variáveis ficaram abaixo da média do grupo: inventário de

emissões, uso agroquímicos, controle biológico, preservação matas nativas,

preservação fauna e biomonitoramento, podendo estas práticas serem

consideradas menos sustentáveis na gestão das usinas, conforme a percepção

da sociedade, exigindo atenção das mesmas a essas questões.

Legenda: Q11r - Colheita mecanizada, Q12 - Inventário de emissões, Q13 -

Tratamento de efluentes, Q14 - Destinação dos resíduos sólidos, Q15 - Uso

racional dos recursos hídricos, Q16 - Reuso da água, Q17r - Uso agroquímicos,

Q18 - Controle biológico, Q19 - Preservação matas nativas, Q20 - Preservação

fauna, Q21 - Biomonitoramento.

Figura 7. Média das variáveis de percepção da gestão da sustentabilidade, do

grupo ambiental, dos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados,

Mato Grosso do Sul, 2016.

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114

O indicador de sustentabilidade, no grupo ambiental, percebido de forma

mais positiva, pela sociedade foi a colheita mecanizada e não utilização da

queimada para a colheita da cana.

Esse é um indicador ambiental muito positivo, pois, segundo ANDRADE

e DINIZ (2007), dentre todos os impactos ambientais gerados pela

agroindústria da cana-de-açúcar, sem dúvida, o mais emblemático, o mais

discutido e controvertido, ao longo dos anos, tem sido a prática da queima da

palha como método facilitador da colheita.

A queima da cana no campo aumenta as emissões de gases de efeito

estufa e causa chuva ácida (GLIESSMAN, 2000).

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de

Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), o avanço da mecanização no

Estado é destaque nacional. Na safra 2013/2014, 94% das lavouras de cana do

Estado terão colheita mecanizada, contra 89% da safra 2012/2013. "A indústria

da cana já nasceu de forma correta em MS" (HOLLANDA, 2013). Ainda

segundo a BIOSUL (2013), Mato Grosso do Sul é o Estado do Brasil mais

avançado na eliminação da queimada. Segundo o presidente, só não é 100%

mecanizada porque faltam máquinas, operadores e ainda é necessário um

processo de capacitação dos empregados que atuam na colheita manual para

poderem trabalhar em outros setores.

Outros indicadores ambientais também foram percebidos pela sociedade

de forma superficial, obtendo médias em torno de 4 (numa escala de 1 a 7),

indicando que a sociedade nem concorda nem discorda que as usinas

desenvolvem ações nesse sentido. São eles: tratamento de efluentes,

destinação de resíduos sólidos, uso racional dos recursos hídricos, reuso da

água e controle biológico.

Quanto ao indicador “tratamento de efluentes”, ANDRADE e DINIZ

(2007) afirmam que no Estado de São Paulo, é prática corrente incorporar

grande parte dos efluentes líquidos, gerados nas usinas, à vinhaça, para

disposição no solo por meio da técnica que se convencionou chamar de

fertirrigação. Isso é feito com as águas geradas no processo de fabricação do

açúcar, as resultantes da lavagem de pisos e equipamentos, e as das purgas

dos lavadores de gases, etc.

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115

O uso da vinhaça na prática da fertirrigação, apesar de antiga e bem

disseminada, não pode ser excessiva ou indiscriminada, uma vez que seu

potencial poluidor compromete o meio ambiente, desde as características

físicas e químicas do solo até as águas subterrâneas a partir da sua percolação

(SILVA, 2010).

ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam conhecer apenas uma grande usina,

localizada em Ariranha-SP, que promove a segregação de todas as águas

residuárias (aproximadamente 250 m³/h), trata-as separadamente da vinhaça

por meio da técnica de lodos ativados, e retorna os efluentes líquidos ao corpo

de água adjacente, dentro dos padrões legais de emissão e qualidade vigentes

no Estado de São Paulo.

Outro indicador de sustentabilidade importante que acarreta a poluição

do solo é a destinação adequada dos resíduos sólidos produzidos pelas

atividades da agroindústria.

ANDRADE e DINIZ (2007) explicam que nas usinas mais antigas e

localizadas distantes das áreas urbanas, foi prática comum o uso de valas para

aterro de resíduos sólidos domiciliares, de escritório, entulhos de construção

civil, podas de árvores, restos de estopas, graxas e embalagens de óleos

lubrificantes.

A destinação correta dos resíduos sólidos, segundo ANDRADE e DINIZ

(2007) cessa o processo de degradação ambiental e os locais afetados passam

a ser empregados para armazenamento temporário e compostagem orgânica

das cinzas, fuligens e torta de filtro.

Atualmente, as usinas contratam empresas terceirizadas, especializadas

no serviço de coleta e destinação de seus resíduos sólidos (BUENO e

SALVADOR, 2012).

Indicadores de sustentabilidade importantes estão relacionados ao

consumo de água. Nas usinas de cana-de-açúcar é importante desenvolver

práticas mais sustentáveis, nos aspectos do uso racional dos recursos hídricos

(águas superficiais e subterrâneas), e do reuso da água nas atividades

empresariais.

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116

De acordo com SILVA (2010), a eminente escassez de água e o

comprometimento de sua qualidade em algumas regiões do mundo chamam a

atenção para a importância do planejamento e gestão dos recursos hídricos.

Ainda segundo o autor, é importante destacar o esforço que o setor

agroindustrial vem realizando para diminuir o consumo consultivo de água,

procurando otimizar seus processos, orientando esforços no sentido da

reciclagem deste bem.

Um último indicador percebido pela sociedade foi o “controle biológico”.

Conforme MACEDO et al. (2007), a preocupação com o impacto do uso de

defensivos agrícolas está presente em várias instâncias da Agenda 21, que

prevê ações específicas de controle. Assim, quanto menor o uso de

agroquímicos pelas empresas, mais sustentável ambientalmente será o seu

sistema de produção.

A UNICA (2010) já afirmava que uma parte significativa das pragas e

doenças que ameaçam a cana-de-açúcar é combatida por meio do controle

biológico e de programas avançados de melhoria genética que ajudam a

identificar as variedades resistentes às doenças.

ANDRADE e DINIZ (2007) afirmam que a cana-de-açúcar requer poucas

aplicações em relação a outras culturas de produção extensiva, em razão de

sua robustez e adaptação às condições edafoclimáticas em que são cultivadas

no Brasil. Os herbicidas são o grupo mais utilizado. O consumo de inseticidas é

relativamente baixo, devido ao uso do controle biológico (inimigos naturais),

sendo quase nulo o de fungicidas. A produção orgânica também tem

aumentado, em virtude do crescimento do mercado de açúcar orgânico, tanto

no Brasil quanto no exterior.

Análise Fatorial Exploratória

Para a consecução das inferências necessárias ao estudo, após a

análise descritiva dos dados, procurou-se mediante a técnica de Análise

Fatorial, verificar e resumir as informações contidas nas variáveis analisadas,

para um melhor entendimento dos dados encontrados pelo software estatístico

SPSS, versão 22.

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117

Para HAIR et al. (2009), a Análise Fatorial é uma técnica de

interdependência particularmente adequada para examinar as relações entre

variáveis e a criação de escalas múltiplas. Segundo os autores a "busca por

estrutura" com a análise fatorial pode revelar inter-relações substanciais entre

variáveis e fornece uma base objetiva para o desenvolvimento do modelo

conceitual e uma melhor parcimônia entre as variáveis em uma análise

multivariada.

A Análise Fatorial, como já relatado, possui como pressuposto a

necessidade de correlação entre as variáveis. Assim, o primeiro passo consiste

em verificar a existência de valores significativos que justifiquem a utilização da

técnica, tal constatação pode ocorrer por meio da aplicação do teste de

esfericidade de Bartlett, que é complementado com o teste de Kaiser-Meyer-

Olkin (KMO). Os valores de KMO iguais ou inferiores a 0,50 denotam que a

utilização da Análise Fatorial é inadequada e, por conseguinte, valores

superiores a 0,50 denotam a adequada utilização dessa técnica.

A análise fatorial é feita a partir das variáveis abordadas no presente

estudo, as quais envolvem dois grupos: Socioeconômico e Ambiental.

Os resultados dos testes de KMO e Bartlett para o grupo

socioeconômico podem ser visualizados na tabela 22.

Tabela 22. Teste de KMO e Bartlett para o grupo socioeconômico das usinas,

percebido pelos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados, Mato

Grosso do Sul, 2016.

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,847

Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 846,196

df 28

Sig. 0,000

Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas, foi

realizada a extração dos fatores da matriz de correlação, no intuito de

encontrar o conjunto de fatores que levassem a uma combinação linear das

variáveis da matriz de correlação. Na Tabela 23, apresenta-se a matriz de

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118

componente rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam

o modelo, com suas respectivas cargas fatoriais.

Do grupo socioeconômico foi retirada uma variável com comunalidades

< 0,50 (Q3r).

Tabela 23. Matriz de Componente Rotativaa para o grupo socioeconômico das

usinas, percebido pos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados,

Mato Grosso do Sul, 2016

Componente

1 2

Organização Desenvol-

vimento

Local

Q1 - Geração de empregos 0,911

Q2 - Geração de renda 0,881

Q4 - Qualificação profissional 0,727

Q5 - Saúde e segurança EMPRESA 0,741

Q6 - Saúde e segurança FORNECEDORES 0,802

Q7 - Empregabilidade de moradores 0,773

Q8 - Participação em entidades 0,861

Q9 - Valorização de ações de resp. social 0,825

Método de Extração: Análise de Componente Principal.

Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.

a. Rotação convergida em 3 iterações.

Esses dois fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 74% das

variâncias das medidas originais. Os resultados dos testes de KMO e Bartlett

para o grupo ambiental podem ser visualizados na tabela 24.

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119

Tabela 24. Teste de KMO e Bartlett para o grupo ambiental das usinas,

percebido pelos representantes da sociedade, Microrregião de Dourados, Mato

Grosso do Sul, 2016.

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem 0,912

Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 1249,589

df 45

Sig. 0,000

Após o cálculo das correlações entre as variáveis analisadas, foi

realizada a extração dos fatores da matriz de correlação, no intuito de

encontrar o conjunto de fatores que levassem uma combinação linear das

variáveis da matriz de correlação. Na tabela 25, apresenta-se a matriz de

componente rotativa, evidenciando-se apenas os fatores que melhor explicam

o modelo, com suas respectivas cargas fatoriais.

Do grupo ambiental foi retirada uma variável com comunalidades < 0,50

(Q17r).

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120

Tabela 25. Matriz de Componente Rotativaa para o grupo ambiental das

usinas, percebido pelos representantes da sociedade, Microrregião de

Dourados, Mato Grosso do Sul, 2016.

Componente

1 2

Preservação Produção

Q11r - Colheita mecanizada 0,860

Q12 - Inventário de emissões 0,782

Q13 - Tratamento de efluentes 0,852

Q14 - Destinação dos resíduos sólidos 0,843

Q15 - Uso racional dos recursos hídricos 0,813

Q16 - Reuso da água 0,731

Q18 - Controle biológico 0,785

Q19 - Preservação matas nativas 0,890

Q20 - Preservação fauna 0,883

Q21 - Biomonitoramento 0,826

Método de Extração: Análise de Componente Principal.

Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser.

a. Rotação convergida em 3 iterações.

Esses dois fatores conseguem explicar, em conjunto, cerca de 73% das

variâncias das medidas originais.

Conclusão

O perfil dos representantes da sociedade é formado por pessoas entre

25 e 44 anos de idade, com alto grau de escolaridade, pertencentes a

diferentes profissões ou ocupações, distribuídas nos municípios de Maracaju,

Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante, Fátima do Sul e Caarapó (microrregião de

Dourados-MS). Estas afirmaram possuir um conhecimento mediano sobre as

atividades desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar na região.

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121

Quanto à percepção da sociedade sobre a gestão da sustentabilidade

das usinas, no segmento socioeconômico, os indicadores menos percebidos

foram: qualificação profissional, saúde e segurança na empresa e

fornecedores, empregabilidade de moradores, participação em entidades e

valorização de ações de responsabilidade social. Indicadores mais percebidos

foram: geração de emprego, geração de renda. No segmento ambiental, os

indicadores menos percebidos foram: inventário de emissões, uso

agroquímicos, preservação matas nativas e fauna, biomonitoramento. O

indicador mais percebido foi a colheita mecanizada.

A percepção da sociedade sobre a oferta de projetos por parte das

usinas instaladas na região é baixa para praticamente todas as modalidades de

projetos. Conclui-se que a sociedade tem pouca percepção sobre as ações de

gestão da sustentabilidade promovidas pelas usinas, dentro das dimensões

socioeconômica e ambiental. Infere-se que, se as empresas sucroenergéticas

desenvolvem ações de sustentabilidade, estas não são percebidas pela

sociedade.

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Page 127: UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP filepelas preciosas orientações no decorrer de todas as fases do trabalho, demonstrando sabedoria e humildade; e Rosemary Matias pelos ensinamentos

126

7. Conclusão Geral

As empresas sucroenergéticas do estudo são um grupo heterogêneo,

composto por usinas de grande, médio e pequeno portes. Possuem uma

capacidade de moagem de 33,6 milhões de toneladas e utilizam, em média,

94% de sua capacidade instalada. Juntas produzem e processam cerca de

75% da cana de Mato Grosso do Sul. Todas as usinas produzem etanol, 90%

produzem bioeletricidade e 70% açúcar.

Quanto à gestão da sustentabilidade no grupo socioeconômico, 55% dos

indicadores se destacaram acima da média do grupo: geração de emprego,

geração de renda, ética organizacional, saúde e segurança na empresa, saúde

e segurança para fornecedores, reação dos mercados às ações

socioambientais. No grupo ambiental 80% dos indicadores se destacaram

acima da média do grupo: colheita mecanizada, destinação dos resíduos

sólidos, controle biológico, tratamento de efluentes, inventário de emissões,

preservação matas nativas, biomonitoramento e reuso da água.

Com relação aos projetos desenvolvidos pelas empresas nos

municípios, identificou-se uma maior concentração de oferta nas áreas de

educação ambiental. Em menor número aparecem projetos nas áreas de saúde

e higiene, esporte e lazer e cultura.

As usinas da microrregião de Dourados afirmaram desenvolver ações de

gestão da sustentabilidade, dentro das dimensões socioeconômica e

ambiental, em maior ou menor grau, considerando indicadores de

sustentabilidade reconhecidos e utilizados internacionalmente para o setor. Na

pesquisa desenvolvida com a sociedade, identificou-se uma situação diferente,

quanto à percepção das ações citadas acima pelas empresas.

O perfil dos representantes da sociedade é formado por pessoas entre

25 e 44 anos de idade, com alto grau de escolaridade, pertencentes a

diferentes profissões ou ocupações, distribuídas nos municípios de Maracaju,

Dourados, Ponta Porã, Rio Brilhante, Fátima do Sul e Caarapó (microrregião de

Dourados-MS). Estas afirmaram possuir um conhecimento mediano sobre as

atividades desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar na região.

Quanto à percepção da sociedade sobre a gestão da sustentabilidade

das usinas, no grupo socioeconômico, os indicadores menos percebidos foram:

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127

qualificação profissional, saúde e segurança na empresa e fornecedores,

empregabilidade de moradores, participação em entidades e valorização de

ações de responsabilidade social. Indicadores mais percebidos foram: geração

de emprego, geração de renda. No grupo ambiental, os indicadores menos

percebidos foram: inventário de emissões, uso agroquímicos, preservação

matas nativas e fauna, biomonitoramento. O indicador mais percebido foi a

colheita mecanizada.

A percepção da sociedade sobre a oferta de projetos por parte das

usinas instaladas na região é baixa para praticamente todas as modalidades de

projetos.

Conclui-se que, apesar das empresas afirmarem desenvolver ações de

gestão da sustentabilidade dentro das dimensões socioeconômica e ambiental,

a sociedade tem pouca percepção sobre tais. Logo, infere-se que, se as

empresas sucroenergéticas desenvolvem ações de sustentabilidade, estas não

são percebidas pela sociedade.

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128

APÊNDICE “A” – Formulário aplicado às Empresas Sucroenergéticas

UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE

E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Este formulário é parte de um trabalho do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente

e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera/Uniderp, intitulado “Sustentabilidade do

Setor Sucroenergético em Mato Grosso do Sul”.

Sua colaboração é muito importante, pois ajudará a entender a percepção das empresas e

colaboradores do setor quanto à gestão da sustentabilidade e suas ações. Ressaltamos que o

respondente e a empresa não serão identificados em nenhuma das questões, garantindo o seu

total anonimato.

Muito Obrigado!

Alex Sandro Richter Won Mühlen

(67) 9973-1312 – [email protected]

I. DADOS DE CONTROLE DO FORMULÁRIO

Essas informações não serão divulgadas na pesquisa, sendo utilizadas apenas pelo pesquisador para

controle da aplicação dos formulários.

a) Número de controle: (será preenchido posteriormente)

b) Nome da empresa: ____________________________________________________________

c) Município: ___________________________

d) Nome do Respondente: _______________________________________________________

e) Telefone:_________________ f) e-mail:_______________________________________

g) Idade:____ anos h) Tempo de empresa: ____ anos

i) Cargo/Função: ______________________________________________

j) Escolaridade: ( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior ( ) Pós-Graduado

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129

II. DIMENSÃO SOCIOECONÔMICA E GESTÃO

Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância relacionado às ações de

sustentabilidade socioeconômica, com foco na produção, gestão, nas relações trabalhistas e na

responsabilidade social.

1) Quais os produtos gerados pela empresa?

( ) Etanol ( ) Açúcar ( ) Bioeletricidade ( ) Outro(s). Qual(is)? _________________

2) Qual é a capacidade instalada de moagem total da usina? _________ ton.

3) Qual é a % da capacidade de moagem utilizada atualmente? _____%.

4) Qual é a área total plantada da usina?________________hectares

5) A empresa faz contratos de compra de cana com plantadores de cana? ( ) Sim ( ) Não

6) Caso faça contrato, qual a representatividade destes no total produzido? ______% (estimado)

7) A empresa possui unidades em outras regiões do Brasil?

( ) Sim ( ) Não

7a) Caso positivo, em qual(is)? ( )Sudeste ( )Nordeste ( )Sul ( )Centro-Oeste ( )Norte

8) Há quanto tempo o grupo atua no setor sucroenergético? ____anos. E essa planta? ___anos.

9) Você acha que a empresa está passando por dificuldades diante do atual cenário econômico brasileiro

e mundial?

( ) Sim ( ) Não

10) A empresa atribuiria a quais fatores as dificuldades enfrentadas pelo setor no momento?

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

Assinale com um (x), na escala de 1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião

11) Contribuímos para a geração de empregos na

região

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

12) Contribuímos para a geração de renda na

região

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

13) Existem compromissos explícitos da empresa

que tratam do tema ética organizacional (conjunto

de formas de proceder em relação ao seu público)

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

14) Ocorre acidente de trabalho com afastamento Pouco 1 2 3 4 5 6 7 Muito

15) Oferecemos programas de requalificação

profissional como alternativa para a reinserção de

funcionários em outros postos de trabalho

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

16) Utilizamos melhores práticas de gestão em

saúde e segurança, como ginástica laboral,

pausas, reidratação e atendimento de emergência

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

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130

17) Divulgamos e orientamos aos nossos

fornecedores de cana e terceirizados sobre as

melhores práticas de gestão em saúde e

segurança

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

18) Possuímos uma política de empregabilidade

de moradores da comunidade onde o

empreendimento está instalado (capacitação e

treinamento)

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

19) A empresa participa em entidades de classe e

de desenvolvimento regional nas comunidades

onde está instalada

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

20) Valorizamos e divulgamos as ações de

responsabilidade corporativa da empresa nas

comunidades canavieiras

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

21) Os mercados reagirão mais positivamente às

ações socioambientais promovidas pela empresa

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

22) Oferecemos os seguintes projetos no município onde o empreendimento está instalado:

Projetos culturais Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

Projetos de educação ambiental Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

Projetos de esporte e lazer Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

Projetos de saúde e higiene Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

Projetos de educação Discordo totalmente 1 2 3 4 5 6 7 Concordo totalmente

III. DIMENSÃO AMBIENTAL

Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância relacionado às ações de

sustentabilidade ambiental com foco nas mudanças climáticas, meio ambiente: ar, água, solo,

biodiversidade e certificações.

Assinale com um (x), na escala de 1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião

23) Utilizamos a queima de cana-de-açúcar

nas atividades da empresa

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

24) Possuímos um inventário de Emissões de

Gases do Efeito Estufa (GEE) da empresa,

gerados principalmente pela indústria

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

25) Tratamos os efluentes líquidos produzidos

pelas atividades da empresa

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

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131

26) Destinamos adequadamente os resíduos

sólidos produzidos pelas atividades da

empresa

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

27) O uso dos recursos hídricos na

agroindústria é racional

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

28) Nos processos industriais fazemos o

reuso da água

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

29) Fazemos uso de agroquímicos

(inseticidas, fungicidas e herbicidas) na área

agrícola da empresa

Pouco 1 2 3 4 5 6 7 Muito

30) Utilizamos controle biológico de pragas na

área agrícola da empresa

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

31) Mantemos e procuramos ampliar as matas

nativas (reserva legal e área de preservação

permanente), dentro das áreas exploradas

pela empresa

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

32) Realizamos o monitoramento contínuo ou

pontual do índice de biodiversidade

(biomonitoramento) dentro das áreas

exploradas pela empresa

Discordo

totalmente

1 2 3 4 5 6 7 Concordo

totalmente

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132

APÊNDICE “B” – Formulário aplicado aos Representantes da Sociedade

Disponibilizado em:

https://docs.google.com/forms/d/1Irq32dQkKpfDHxikR2UihuAFjSyjww_XPzwksVmytSA/formResponse

Pesquisa sobre as Ações de Sustentabilidade do Setor Sucroenergético no Mato Grosso do Sul

Este questionário faz parte de uma pesquisa intitulada “Sustentabilidade do Setor Sucroenergético em

Mato Grosso do Sul: gestão das empresas e percepção da sociedade”.

Sua colaboração é muito importante, pois ajudará a verificar a percepção da sociedade quanto às ações

de sustentabilidade promovidas pelas empresas. Não existe resposta certa ou errada, pretendemos

apenas mensurar a sua percepção sobre o assunto. Ressaltamos que o respondente não será identificado

em nenhuma das questões, garantindo o seu total anonimato.

Muito Obrigado!

Alex Sandro Richter Won Mühlen

(67) 3931-1000 – [email protected]

*Obrigatório

I. DADOS DE CONTROLE DO QUESTIONÁRIO

Essas informações não serão divulgadas na pesquisa, sendo utilizadas apenas pelo pesquisador para

controle da aplicação dos questionários

a) Nome do Respondente

b) Município *

c) Telefone

d) Idade *

o até 24 anos

o de 25 a 34 anos

o de 35 a 44 anos

Page 134: UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP filepelas preciosas orientações no decorrer de todas as fases do trabalho, demonstrando sabedoria e humildade; e Rosemary Matias pelos ensinamentos

133

o de 45 a 54 anos

o 55 anos ou mais

e) Profissão *

f) Escolaridade *

o Fundamental

o Médio

o Superior

o Pós-Graduado

g) Qual o seu grau de conhecimento sobre as atividades desenvolvidas pelas usinas de cana-de-açúcar

em sua região? *

1 2 3 4 5 6 7

Pouco Conhecimento Muito Conhecimento

II. DIMENSÃO SOCIOECONÔMICA

Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância/conhecimento relacionado às ações

de sustentabilidade socioeconômica, com foco na geração de emprego e renda, relações trabalhistas e

responsabilidade social, promovidas pelas usinas sucroenergéticas da sua região. Escolha numa escala de

1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião. As usinas sucroenergéticas instaladas na minha

região:

1) Têm contribuído para a geração de empregos na região *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

2) Têm contribuído para a geração de renda na região (atraindo novos empreendimentos) *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

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134

3) Pelo que conheço, a frequência com que ocorrem acidentes de trabalho com afastamento é: *

1 2 3 4 5 6 7

Baixa Alta

4) Oferecem programas de qualificação profissional como alternativa para a reinserção de funcionários em

outros postos de trabalho *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

5) Utilizam melhores práticas de gestão em saúde e segurança do trabalho, como ginástica laboral,

pausas, reidratação e atendimento de emergência *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

6) Divulgam e orientam os fornecedores de cana e terceirizados sobre as melhores práticas de gestão em

saúde e segurança *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

7) Possuem política para empregar prioritariamente moradores da minha comunidade, oferecendo

capacitação e treinamento *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

8) Participam em entidades de classe e de desenvolvimento regional na minha comunidade (conselhos,

comitês, etc.) *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

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135

9) Valorizam e divulgam as ações de responsabilidade corporativa promovidas pelas usinas na minha

comunidade *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

10a) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS CULTURAIS na minha comunidade *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

10b) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL na minha

comunidade *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

10c) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE ESPORTE E LAZER na minha comunidade *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

10d) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE SAÚDE E HIGIENE na minha comunidade *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

10e) As usinas sucroenergéticas oferecem PROJETOS DE EDUCAÇÃO na minha comunidade *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

III. DIMENSÃO AMBIENTAL

Nesse bloco de declarações verificaremos o seu grau de concordância/conhecimento relacionado às ações

de sustentabilidade ambiental, promovidas pelas usinas sucroenergéticas da sua região. Escolha numa

escala de 1 a 7, a coluna que melhor representa a sua opinião. As usinas sucroenergéticas instaladas na

minha região:

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11) Ainda utilizam, com regularidade, a queima de cana-de-açúcar para colheita *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

12) Realizam o controle da qualidade do ar (inventário de emissões geradas pela indústria) *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

13) Tratam os efluentes líquidos produzidos pelas atividades da empresa *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

14) Destinam adequadamente os resíduos sólidos (lixo) produzidos pelas atividades da empresa *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

15) Fazem uso os recursos hídricos (água) na agroindústria de forma racional (econômica) *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

16) Nos processos industriais fazem o reuso da água *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

17) Pelo que conheço, a frequência com que fazem uso de agroquímicos (inseticidas, fungicidas e

herbicidas) na área agrícola da empresa é: *

1 2 3 4 5 6 7

Baixa Alta

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18) Utilizam controle biológico (inimigos naturais) de pragas na área agrícola da empresa *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

19) Mantêm e procuram ampliar as matas nativas (reserva legal e área de preservação permanente),

dentro das áreas exploradas pela empresa *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

20) Mantêm e procuram ampliar a fauna, dentro das áreas exploradas pela empresa *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

21) Realizam o monitoramento contínuo ou pontual do índice de biodiversidade (biomonitoramento) dentro

das áreas exploradas pela empresa *

1 2 3 4 5 6 7

Discordo totalmente Concordo totalmente

Espaço para suas observações sobre o tema (opcional)

Você poderia indicar um contato seu que tenha conhecimento sobre o assunto para contribuir respondendo

este questionário?

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