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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃO DO PANTANAL - UNIDERP ELISA CONCEIÇÃO PAES Análise da Logística de Transporte da Produção Agropecuária e Agroindustrial do Estado de Mato Grosso do Sul Campo Grande - MS 2005

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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO EDA REGIÃO DO PANTANAL - UNIDERP

ELISA CONCEIÇÃO PAES

Análise da Logística de Transporte da Produção Agropecuária eAgroindustrial do Estado de Mato Grosso do Sul

Campo Grande - MS 2005

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ELISA CONCEIÇÃO PAES

Análise da Logística de Transporte da Produção Agropecuária eAgroindustrial do Estado de Mato Grosso do Sul

Dissertação apresentada ao Programa dePós-graduação em nível de MestradoProfissionalizante em Produção e GestãoAgroindustrial da Universidade para oDesenvolvimento do Estado e da Regiãodo Pantanal, como parte dos requisitospara a obtenção do título de Mestre emProdução e Gestão Agroindustrial.

Comitê de Orientação:

Prof. Dr. Celso Correia de SouzaProf. Dr. Fernando Paim CostaProf. Dr. Francisco Assis Rolim Pereira

Campo Grande - MS2005

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UNIDERP

Paes, Elisa Conceição. Análise da logística de transporte da produção agropecuária eagroindustrial do Estado de Mato Grosso do Sul / Elisa Conceição Paes.-- Campo Grande, 2005.

86 f. : il. color.

Dissertação (mestrado)- Universidade para o Desenvolvimento doEstado e da Região do Pantanal, 2005.

“Orientação: Prof. Dr. Celso Correia de Souza”.

1. Transporte de mercadorias 2. Logística empresarial 3. Modais de transporte 4. Produção agroindustrial 5. Agronegócio I. Título.

CDD 21.ed. 338.0688 658.788

P126a

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Candidata: Elisa Conceição Paes

Dissertação defendida e aprovada em 13 de dezembro de 2005 pela BancaExaminadora:

__________________________________________________________Prof. Doutor Celso Correia de Souza (Orientador)

__________________________________________________________Prof. Doutor Sebastião Ailton da Rosa Cerqueira (UNAES)

__________________________________________________________Prof. Doutor Francisco de Assis Rolim Pereira (UNIDERP)

_________________________________________________Prof. Doutor Francisco de Assis Rolim PereiraCoordenador do Programa de Pós-Graduação

em Produção e Gestão Agroindustrial

________________________________________________Profa. Doutora Lúcia Salsa Corrêa

Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIDERP

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Dedico este trabalho a minha Ana,luz da minha vida que Deus bondosamente

deu-me a responsabilidade de criar, educar, amar, masque na verdade eu recebi um novo sentido para minha vida

e uma força incalculável para viver, acreditar e continuar.

À minha filha Ana Guilhermina

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS......................................................................... v

LISTA DE TABELAS......................................................................... vi

LISTA DE QUADROS....................................................................... vii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................ viii

RESUMO.......................................................................................... ix

ABSTRACT....................................................................................... x

1. INTRODUÇÃO............................................................................ 11

2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................... 172.1. Agropecuária................................................................. 172.2. Agroindústria................................................................. 182.3. Agronegócio.................................................................. 212.4. Logística........................................................................ 222.5. Transporte..................................................................... 24

2.5.1. Rodoviário.......................................................... 242.5.2. Ferroviário.......................................................... 252.5.3. Dutoviário........................................................... 262.5.4. Marítimo............................................................. 272.5.5. Fluvial................................................................. 292.5.6. Lacustre.............................................................. 322.5.7. Modal aéreo........................................................ 32

2.6. Processo de decisão do modal para o transporte dacarga.............................................................................. 33

2.7. Terminais de transbordo ou transferência..................... 352.7.1. Terminais ferroviários.......................................... 362.7.2. Terminais rodoviários.......................................... 372.7.3. Terminais aéreos................................................ 372.7.4. Terminais aquaviários......................................... 37

2.8. Equipamentos de movimentação de cargas.................. 392.9. Meios de transporte....................................................... 412.10. Tipos de cargas............................................................. 422.11. Modais de transporte de acordo com o tipo de carga... 442.12. Intermodalidade............................................................. 462.13. Multimodalidade............................................................. 472.14. Sistemas informatizados dos processos logísticos........ 47

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3. MÉTODO.................................................................................... 51

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................. 55

4.1. Situação atual da Infra-estrutura dos transportesem Mato Grosso do Sul................................................. 554.1.1. Transporte rodoviário................................... 554.1.2. Transporte ferroviário................................... 594.1.3. Transporte hidroviário.................................. 624.1.4. Transporte aéreo.......................................... 65

4.2. Identificação das principais ineficiências da matriz detransporte de Mato Grosso do Sul ................................. 654.2.1. Análise da Matriz de Transporte de MS

em 1999/2000............................................... 664.2.2. Análise da Matriz de Transporte de MS

em 2003....................................................... 68

5. CONCLUSÕES............................................................................ 80

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................... 82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................. 83

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Evolução das principais culturas de Mato Grosso do Sul 12

Figura 2 – Comparação das matrizes de transporte do Brasil, Estados

Unidos e Argentina 14

Figura 3 – Sistema logístico 23

Figura 4 – Estrada rodoviária 25

Figura 5 – Trem da FERRONORTE 26

Figura 6 – Obras do Gasoduto 27

Figura 7 – Navio Porta Container 28

Figura 8 – Comboio de barcaça com cana-de-açúcar 30

Figura 9 – Comparativo da capacidade de transporte de carga por modal 31

Figura 10 – Embarque em avião cargueiro 33

Figura 11 – Terminal intermodal de cargas 36

Figura 12 – Terminal Hidroviário Interior de Porto Murtinho – MS 38

Figura 13 – Porto de Tubarão (Vitória – ES) 38

Figura 14 – Empilhadeiras 39

Figura 15 – Guindastes 40

Figura 16 – Terminal hidroviários de Porto Velho-RO – detalhe correria

Transportadora 40

Figura 17 – Tipos de cargas e modais de transporte indicado 45

Figura 18 – Distribuição da malha ferroviária de MS 56

Figura 19 – Principais corredores de Mato Grosso do Sul 58

Figura 20 – Malha ferroviária de Mato Grosso do Sul 60

Figura 21 – Matriz de transporte dos produtos selecionados em 1999 67

Figura 22 – Matriz de transporte dos produtos selecionados em 2003 68

Figura 23 – Matriz de transporte da área de influência da ferrovia

FERRONORTE 70

Figura 24 – Mapa da área de influência da FERRONORTE 71

Figura 25 – Matriz de transporte da área de influência da NOVOESTE 74

Figura 26 – Mapa da área de influência da NOVOESTE 75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Produção por Município da Área de Influência da

FERRONORTE 69

Tabela 2 – Volume da Produção das Principais Granéis Agrícolas e

Agroindustriais da Área de Influência da NOVOESTE –

Trecho Três Lagoas (MS) a Corumbá (MS). 72

Tabela 3 – Volume da Produção das Principais Granéis Agrícolas

e Agroindustriais da Área de Influência da NOVOESTE

– Trecho Campo Grande (MS) a Ponta Porã (MS) 73

Tabela 4 – Volume Transportado por Modal de Transporte da Produção

dos Principais Granéis e Agroindustriais da Área de Influência

da NOVOESTE 74

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LISTA DE QUADROS

Tabela 1 – Posição da Produção Brasileira de Produtos Agropecuários e

Agroindustriais 19

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

ABAG – Associação Brasileira de Agribusiness

AGEPAN – Agência Estadual de Regulação e Fiscalização dos Serviços

Públicos de Mato Grosso do Sul

AGESUL – Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos de Mato

Grosso do Sul

AGITRAMS – Agência Estadual de Gestão e Integração dos Transportes de

Mato Grosso do Sul

AHIPAR – Administração da Hidrovia Paraguai

ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários

ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres

CODESUL – Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul

DNIT – Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes

FUNDESUL – Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário do Estado

de Mato Grosso do Sul

GEIPOT – Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes

IPLAN – Instituto de Planejamento de Mato Grosso do Sul

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

MS – Mato Grosso do Sul

PPA – Plano Plurianual

RFFSA – Rede Ferroviária Federal S/A

SEINFRA – Secretaria Estadual de Infra-estrutura e Habitação de Mato

Grosso do Sul

SEPLANCT – Secretaria Estadual de Planejamento, Ciência e Tecnologia

de Mato Grosso do Sul

SEPROTUR – Secretaria Estadual de Produção e Turismo de Mato Grosso

do Sul

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RESUMO

Esta pesquisa apresenta e discute a atual logística de transporte do Estado deMato Grosso do Sul, com ênfase no escoamento de sua produção agropecuária eagroindustrial. Inicialmente, são abordados os conceitos teóricos das principaisatividades relacionadas à logística, seguindo-se a apresentação dos dados sobrea atual situação da infra-estrutura de transportes do Estado, levantados atravésde uma pesquisa documental. Também é apresentada uma análise comparativada matriz de transportes do Estado de 2003 em relação a 1999, tendo sidoobservada uma redução na participação dos modais ferroviários e hidroviários eum aumento na participação do modal rodoviário, representando uma perda nacompetitividade para os produtos do Estado uma vez que o transporte rodoviárioé o que apresenta o valor de frete mais elevado. A partir de tais dados foi possívelidentificar as principais ineficiências da logística de transporte do Estado emrelação ao escoamento da produção agropecuária e agroindustrial. A falta deinvestimentos na Ferrovia NOVOESTE, o baixo volume de cargas, oriundas deMato Grosso do Sul, transportadas pela ferrovia FERRONORTE como também obaixo volume de cargas embarcadas pelo Terminal Hidroviário Interior de PortoMurtinho, a paralisação da concessão do Terminal Hidroviário de Bataguassu e ainexistência de terminais dotados de infra-estrutura para o transbordo de carga,possibilitando a conexão entre os modais de transportes disponíveis no Estado,estas foram algumas das ineficiências identificadas que subsidiaram a conclusãode que o Estado de Mato Grosso do Sul não possui uma logística de transporteideal que possa atender às necessidades do setor produtivo para o escoamentoda produção.

PALAVRAS-CHAVE: Modais de Transportes. Terminais de Transbordo.Agronegócio. Produção Agroindustrial. Logística.

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ABSTRACT

This research presents and it discusses the current logistics of transport of theState of Mato Grosso do Sul, with emphasis in the outlet of agricultural productionand agroindustrial. Initially, the theoretical concepts of the main activities related tothe logistics are approached, being followed the presentation of the data about thecurrent situation of the infrastructure of transports of the State, lifted up through adocument retrieval. Also is presented a comparative analysis of the head office oftransport of the State of 2003 in relation to 1999, having been observed areduction in the participation of the modal rail and hidroviarios and an increase inthe participation of the modal road, representing a loss in the competitiveness forthe products of the State once the road transport is what present the value ofhigher freight. Starting from such data it was possible to identify the maininefficiencies of the logistics of transport of the State in relation to the outlet of theagricultural production and agroindustrial. The lack of investments in the railroadNOVOESTE, the low volume of loads, coming of Mato Grosso do Sul, ittransported for railroad FERRONORTE as well as the low volume of loadsembarked for Porto Murtinho's Terminal Hidroviário, the paralyzation of theconcession of Terminal Hidroviário of Bataguassu and the end inexistenceendowed of infrastructure for load change, while if being possible the connectionamong the modal of available transports in the State, were identified someinefficiencies that subsidized the conclusion that the State of Mato Grosso do Suldoesn't possess a transport logistics that can assist the needs of the productivesection for the outlet of the production

KEY-WORDS: Modal of Transports. Terminals of Change. Agribusiness.Production Agroindustrial. Logistics.

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1. INTRODUÇÃO

A produção de grãos no Brasil vem batendo recordes a cada ano.

Isso se deve, principalmente, ao avanço tecnológico dos equipamentos e das

sementes, com variedades mais produtivas, além da aplicação correta de insumos,

fruto de investimentos em pesquisas. Outro fator positivo é a profissionalização dos

agentes envolvidos na gestão das diversas cadeias produtivas. Todos esses

fatores contribuem para tornar os produtos nacionais altamente competitivos no

mercado internacional, elevando a participação do agronegócio na pauta das

exportações brasileiras. Esse cenário positivo deve muito à soja, um dos produtos

responsável pelo equilíbrio e até superávit da balança comercial brasileira nos

últimos anos.

Paralelamente aos avanços no âmbito da fazenda, em um processo

natural de desenvolvimento da economia, um país fornecedor de produtos

primários precisa voltar-se à agregação de valor aos mesmos, impulsionando a

agroindustrialização.

No Brasil, mais especificamente nas regiões próximas aos locais

com forte produção agropecuária, a agroindustrialização vem adquirindo cada vez

mais importância. Este processo viabiliza um segundo ganho aos agricultores e

pecuaristas, por meio da implantação, modernização ou adequação de unidades

agroindustriais, gerando emprego e renda, e inserindo a família rural no mercado,

de forma profissional e competitiva. Todo esse desenvolvimento tem impactado

diretamente, de forma positiva e otimista, na economia brasileira.

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Mato Grosso do Sul (MS) tem uma participação de destaque na

produção agropecuária brasileira, pois a produção de grãos no Estado teve um

incremento de 31% entre 1996 e 2002. Salienta-se o desempenho notável da

soja, cuja produção cresceu de 2 milhões de toneladas em 1996 para 3,2 milhões

de toneladas em 2002 conforme dados do Plano Plurianual - PPA (2003) e para 4

milhões de toneladas em 2003 de acordo com dados da SEPROTUR (2003).

Nesse mesmo período, como mostra a Figura 1, outras culturas também tiveram

aumento de produção, como o milho, o algodão e a cana-de-açúcar. No setor da

pecuária, o aumento na produção foi de 15% entre 1996 e 2002 conforme PPA

(2003). Já em 2004 a produção de carne bovina foi de 1.122.403 t de acordo com

dados da SEPROTUR (2004). Porém, o maior crescimento verificado nesse

período foi nos setores da avicultura e suinocultura, que revelaram uma forte

vocação agroindustrial do Estado conforme dados PPA (2003).

Figura 1 – Evolução das principais culturas agrícolas de Mato Grosso do SulFonte: SEPROTUR-2004

Percebe-se que a agropecuária, a agroindustrialização e, por

conseqüência, o agronegócio, têm um papel crescente no desenvolvimento do

País e do Estado de Mato Grosso do Sul. Segundo Lovatelli (2003), presidente da

ABAG, esta participação do agronegócio na economia brasileira deve aumentar

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

9.000.000

10.000.000

1993 1995 1997 1999 2001 2003

Algodão

Arroz

Cana

Feijão

Mandioca

Milho

Soja

Trigo

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mais ainda, pois está previsto para 2010 um aumento na produção nacional de 40

milhões de toneladas de grãos e 5 milhões de toneladas de carnes.

Ainda de acordo com Lovatelli (2003), o produtor brasileiro vem

alcançando, ao longo dos últimos anos, excelentes ganhos em termos de

produtividade, resultando em custos mais baixos que são reconhecidos não

apenas no Brasil, mas também no mercado externo. Porém, também de acordo

com o autor, esse diferencial só será transformado em vantagem competitiva se

houver uma maior eficiência nas atividades além das porteiras das fazendas.

Assim, para assegurar a evolução crescente do agronegócio, os ganhos de

produtividade proporcionados pelas atividades das várias cadeias produtivas não

podem ser dissipados por ineficiências na logística de armazenagem, transporte e

portos do País.

Segundo Caixeta-Filho e Martins (2001), a orientação dos processos

produtivos, buscando atender os requisitos dos mercados consumidores quanto à

qualidade dos insumos e produtos, prazos de entrega, assistência técnica e

inovações, tem feito com que o sistema logístico de transporte torne-se uma

condição básica para a competitividade de todos os setores da economia.

Ainda de acordo com os autores acima, se os sistemas de infra-

estrutura no Brasil não funcionam adequadamente, há um comprometimento das

atividades econômicas, com adicional elevação nos custos. Como conseqüência,

concluem esses autores, há uma redução de competitividade dos produtos de

exportação no mercado internacional, bem como preços mais altos no mercado

doméstico.

Esse é um ponto crítico para o setor produtivo brasileiro, o

transporte. Ao comparar-se a matriz de transporte brasileira com a de outros

países, como a Argentina e os Estados Unidos, percebe-se que a matriz de

transporte do País está implantada de forma onerosa para o produtor,

privilegiando o modal rodoviário que é, entre os seus pares (o hidroviário e

ferroviário), o de frete mais elevado.

Conforme Rodrigues (2000), até o início da década de 50, as

rodovias existentes no Brasil eram precaríssimas. O governo Juscelino criou o

slogan 50 anos em 5. Construiu Brasília, trouxe a indústria automobilística para o

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País e implantou estradas ao longo do território nacional, fomentando a demanda

pelo transporte rodoviário. A partir de então, a rodovia passou a ser encarada

como fator de modernidade, enquanto a ferrovia virou símbolo do passado.

Ainda segundo o autor, no início dos anos 70, época da conclusão

da conexão rodoviária entre as regiões brasileiras, os interesses rodoviaristas

robusteceram-se de tal forma que, contrariando os postulados clássicos do

transporte de cargas, vieram ocupar toda a malha viária com o transporte pesado,

em detrimento de uma matriz de transporte mais racional.

Na Figura 2 tem-se a matriz de transporte da Argentina, que apesar

de fortemente amparada no modal rodoviário, tem suas áreas de plantio

localizadas num raio de 300 a 500 km dos portos. No Brasil, as cargas chegam a

percorrer até 2.000 km. Já nos Estados Unidos, a utilização do modal hidroviário é

intensa, tendo uma participação de mais de 60% na matriz de transportes daquele

país. De acordo com Rodrigues (2000), a integração nacional do território norte-

americano se deveu em grande parte à utilização intensiva do sistema fluvial

Mississipi/Missouri (eixo Norte-sul) e da ferrovia Tanspacific Union (eixo Leste-

oeste). Estas alternativas foram ampliadas, consolidando os diversos modais para

a integração econômica das diversas regiões.

Figura 2 - Comparação das matrizes de transporte do Brasil, Argentina e Estados Unidos

Fonte: Abag – Associação Brasileira de Agribusiness-2003

216

82

7

33

60

61

23

16

0

20

40

60

80

100

Argentina Brasil EUA

RodoviaFerroviaHidrovia

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A partir desses fatos, verifica-se que, por mais que se desenvolvam

a produtividade e o processamento, se não existir um planejamento da logística

de transporte, os ganhos obtidos serão rapidamente anulados, pois o produto não

terá preço competitivo em outros mercados.

Esta realidade torna-se mais complexa em regiões produtivas

distantes dos mercados consumidores, exigindo uma atenção especial quanto ao

item transporte dentro da cadeia produtiva de qualquer produto. Mato Grosso do

Sul está inserido nesta realidade, uma vez que não possui consumidores locais

devido a sua baixa densidade demográfica e está distante dos grandes mercados

consumidores.

Caracterizado como um Estado agroindustrial, suas políticas de

desenvolvimento públicas ou privadas têm-se focado na agroindustrialização.

Portanto, mais do nunca se faz necessário analisar todo o conjunto de atividades

que envolvem os processos agropecuário e agroindustrial, incluindo ai não só

atividades de produção, mas, as atividades que dão suporte ao processo

produtivo.

Neste contexto, o presente estudo pretende responder a seguinte

questão de pesquisa: Quais são as principais ineficiências na logística de

transporte para o escoamento da produção agropecuária e agroindustrial do

Estado de Mato Grosso do Sul?

Devido a abrangência dos benefícios proporcionados à sociedade

com o desenvolvimento da agropecuária e da agroindustrialização, torna-se

necessário pesquisar não somente a produção, mas todo o conjunto de atividades

que envolvem a agropecuária e a agroindustrialização, compreendendo a

aquisição de insumos e equipamentos, o processo produtivo e a entrega do

produto ou subproduto industrializado ao consumidor final. Ou seja, os estudos

devem ser direcionados também às diversas atividades que viabilizam os fluxos

de matérias-primas e produtos acabados dentro das cadeias produtivas. Esse

conjunto de atividades paralelas que ocorrem antes, durante e depois da geração

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de um produto, quer seja in natura, semi-industrializado ou já industrializado, a ser

comercializado, é definido como “logística”.

O objetivo principal da presente pesquisa foi realizar um estudo

visando identificar as principais ineficiências na atual logística de transporte do

Estado de Mato Grosso do Sul, como subsidio a futuros estudos sobre sistemas

logísticos ideais.

Para atingir o objetivo geral, foram estabelecidos os seguintes

objetivos específicos:

a) identificar o volume da produção dos principais produtos

agropecuários e agroindustriais de MS;

b) identificar a atual situação da infra-estrutura de transportes de

MS;

c) analisar a evolução da Matriz de Transportes de MS;

d) identificar as principais ineficiências na logística de transportes de

MS.

No Capítulo 2 apresenta-se a Revisão de Literatura que dará

sustentação ao trabalho.

No Capítulo 3 é apresentado o Material e Métodos utilizados na

presente pesquisa.

No Capítulo 4 têm-se os Resultados e Discussão dos dados

levantados nas pesquisas bibliográficas e documentais.

Por fim, no Capítulo 5 são apresentadas as Conclusões e no

Capítulo 6 as Considerações Finais.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Ao propor um estudo sobre a atual logística de transporte da

produção agroindustrial do Estado de Mato Grosso do Sul, percebe-se que o

conceito de logística, assim como o de agroindustrialização e o de agronegócio,

por trazerem uma nova realidade para o setor produtivo e o comercial, encontra-

se em constante mutação ou redefinição. Por isso, verifica-se às vezes a

aplicação equivocada de tais conceitos por parte de alguns agentes do setor.

Esta constatação aponta a necessidade de iniciar a revisão bibliográfica a partir

da definição destes conceitos para então aprofundar nos conceitos relacionados à

logística de transporte.

Após apresentar alguns dos principais conceitos sobre agropecuária,

agroindústria e agronegócio são abordados os conceitos de logística e seu

conjunto de atividades, com um aprofundamento na logística de transporte. Nos

tópicos posteriores são apresentados os conceitos de transporte e suas

modalidades; tipos de cargas; terminais de transbordo e tipos de equipamentos

utilizados no manuseio das cargas; e, por fim, os sistemas informatizados nos

processos logísticos.

2.1 AGROPECUÁRIA

Em Ferreira (1986), agricultura é arte de cultivar os campos; cultivo

da terra; lavoura; cultura; conjunto de operações que transformam o solo natural

para produção de vegetais úteis ao homem, pecuária é arte e indústria do

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tratamento e criação do gado, a agropecuária é a teoria e a prática da agricultura

e da pecuária, nas suas relações mútuas.

Em um artigo publicado em outubro de 2004, na edição especial da

revista os autores Prates e Edward (2004) apresentaram com alguns dados

representativos o real e atual significado da agropecuária para o Brasil:

“Desde que a ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945) criouo jargão ufanista que tratava o Brasil como “celeiro domundo”, nunca o país esteve de fato tão próximo dacondição de principal fornecedor de alimentos. O Brasil élíder mundial na exportação de açúcar, café, suco delaranja concentrado e do complexo soja (grão e óleo).Assumiu também a dianteira nos segmentos de carnebovina e de frango, depois de ultrapassar tradicionaisconcorrentes como os Estados Unidos e Austrália, e...”.Revista Veja, Edição Especial (2004).

No QUADRO 1, a seguir, são apresentados alguns dados citados

pelos autores.

Na análise do QUADRO 1 verifica-se, não somente o crescimento da

agropecuária, como também o da agroindústria, pois alguns produtos já se

encontram em fase de semi-industrializado e outros já prontos para consumo.

Percebe-se que a agropecuária e agroindústria deram um salto muito grande,

passando a ter um papel importante dentro do cenário econômico País.

2.2 AGROINDÚSTRIA

De acordo com Ferreira (1986) trata-se da indústria nas suas

relações com a agricultura ou dependência desta, ou a indústria que beneficia a

matéria-prima oriunda da agricultura.

Já de acordo com o PRONAF – Programa Nacional da Agricultura

Familiar da Secretaria da Agricultura Familiar do Governo Federal, o conceito de

agroindústria é “o beneficiamento e/ou transformação de produtos aqüicolas

agrosilvopastoris, e extrativista, abrangendo desde processos agroindustriais mais

simples até os mais complexos, incluindo o artesanato no meio rural”.

Page 22: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

19

QUADRO 1 - Posição da Produção Brasileira de Produtos Agropecuários eAgroindustriais

Açúcar Café

Milhões de toneladas Milhões de sacas 60 kg

1º Brasil 14,5 1º Brasil 23,82º Tailândia 5,2 2º Vietnã 11,63º União Européia* 4,7 3º Colômbia 11,3*sem países Leste Europeu

Fonte: USDA (2003/2004)

Fonte: USDA (2003/2004)

Frango Carne bovina*

Em mil toneladas* Em mil toneladas**

1º Brasil 2249 1º Brasil 16002º EUA 2248 2º Austrália 13003º Canadá 780 3º Canadá 560* Estimativa 2004

* Estimativa 2004

Fonte: USDA /Abef

** Estimativa carcaça Fonte: CNA

Soja (grão, farelo e óleo) Suco de Laranja Concentrado

Em bilhões de dólares Em mil toneladas

1º Brasil 10,6 1º Brasil 10,62º Argentina 9,2 2º Argentina 9,23º EUA 8 3º EUA 8* Estimativa 2004

* Estimativa 2004

Fonte: CNA/ Estimativa 2004 Fonte: CNA/ Estimativa 2004

Fonte: Veja Especial outubro 2004. pg.36 e 37

Em um artigo jurídico sobre os “Aspectos Específicos de

Custeio da Previdência Social: das Contribuições da Agroindústria”, Jorge (2004)

apresenta o seguinte conceito sobre a Agroindústria:

“O conceito de agroindústria esta no meio caminho entre oprodutor rural pessoa física e um conceito puro deindústria. Nessa senda é que lhe apõe Wladimir NovaesMartinez o seguinte conceito: No aspecto linear ehorizontal das atividades industriais, a agroindústria situa-se entre a empresa rural e a indústria, como o próprio

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nome indica, um misto de agricultura com industrialização.Não se confunde com o artesanato rural nem com aindústria rural, cada empreendimento com suasespecificidades mais simplificadas.“ Jorge (2004)

Diante desses vários conceitos que, em suma, definem a

agroindústria como uma atividade que beneficia os produtos oriundos da

produção agrícola, pecuária, extrativista, entre outras, o mais importante é

percebermos que a agroindústria é, atualmente, um dos mais importantes vetores

da economia nacional, tanto para o mercado interno como para o mercado

externo.

No Estado de Mato Grosso do Sul a agroindústria vem se

desenvolvendo de forma mais acelerada nas últimas décadas, sendo atualmente

uma das principais atividades econômicas do Estado.

Oliveira (2003) relata que:

“Diferentemente do que ocorre nos Estados do Sudeste e do Sul,

onde – a grosso modo – a indústria de produtos finais coloca-se na vanguarda do

processo de industrialização; no Mato Grosso do Sul, o – carro chefe – da

indústria é a agroindústria. Dentre estas, as esmagadoras assumem o papel de

comando. E não poderia ser diferente pois, na divisão espacial do trabalho Mato

Grosso do Sul ainda está no estágio de consolidação de região produtora de

matéria-prima semi-faturada, contra a posição anterior de região

agroexportadora.”

Em um artigo sobre a Agroindústria Silveira (2004), definiu

muito bem a amplitude da atividade agroindustrial:

A agroindústria se articula para frente com a indústria de

embalagens e com o processamento agroindustrial (cada vez mais sofisticado) e,

para trás, com a indústria de insumos (pesticidas, fertilizantes, rações, insumos

veterinários) e de equipamentos para a agricultura. Numa perspectiva mais

ampla, inclui desde setores de processamento básico (adicionando valor na

secagem, no beneficiamento e na embalagem) até segmentos que envolvem o

processamento da matéria-prima agrícola, mas que são costumeiramente

identificados como tipicamente industriais: setor têxtil, de calçados e de papel e

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21

celulose. Estes possuem características estruturais dos demais, devendo ser

tratados, cada um, como cadeias próprias e com considerável grau de autonomia.

A agroindústria inclui ainda a produção de energia a partir da biomassa, área em

que o Brasil é líder mundial. Estima-se que na conceituação ampliada, a

agroindústria representa mais de 30% da economia brasileira. E, certamente, esta

nela a maior parte dos setores econômicos em que o Brasil detém

competitividade internacional (SILVERIA, 2004).

2.3 AGRONEGÓCIO

Em um artigo da revista Futuros Agronegócios da BBMF –

Bolsa Brasileira de Mercado Futuro, publicado em Janeiro de 2003, Furtado

(2003) relata: “O Houaiss, o mais novo dicionário da língua portuguesa, contém o

verbete agronegócio. A palavra, também criação recente, é derivada do inglês

agribusiness, e significa – conjunto de operações da cadeia produtiva, do trabalho

agropecuário até a comercialização (FURTADO,2003).

Mas, segundo o mesmo autor tal significado merece alguns

acréscimos, ficando da seguinte forma: “agronegócio é o conjunto de operações

que envolvem as atividades no campo, a produção e a distribuição de insumos e

0novas tecnologias, assim como armazenamento, transporte, processamento e

distribuição dos produtos agropecuários e seus derivados”.

Conforme vão se apresentando os conceitos de agropecuária,

agroindústria e por fim agronegócio verifica-se que estas atividades estão

intrinsecamente relacionadas e está tomando proporções cada vez maiores, fato

é que os estudos dos produtos desses setores estão sendo desenvolvidos através

de cadeias produtivas ou complexos produtivos. Esses dados nos demonstram o

gigantismo destas atividades.

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22

2.4 LOGÍSTICA

O conceito de logística teve início no meio militar, usado na

definição das estratégias de guerras, principalmente no planejamento de

suprimento de pelotões em campo de batalha. Atualmente, a logística é uma das

matérias empresariais cujo conhecimento tem sido aprofundado em bases

acadêmicas, buscando um suporte nas cadeias produtivas, nos serviços e nas

informações, visando uma maior interface com o cliente.

De acordo com Pedroso (2003) a logística é entendida como um

conjunto de atividades, que trata do fluxo de materiais, desde a matéria-prima, até

o produto acabado, dentro de uma racionalidade econômica. Essas atividades

compreendem a aquisição de insumos e seu deslocamento até o local de

processamento, o fluxo de matérias no processo produtivo, a armazenagem e o

transporte. Tais atividades devem ter, também, o suporte de eficientes sistemas

de troca eletrônica de dados, roteirizadores que são ferramentas de gestão

usadas no transporte rodoviário de cargas que permitem definir previamente os

trajetos mais eficientes para os caminhões nas estradas e a rastreabilidade da

carga em curso. A Figura 3 ilustra esse conjunto de atividades que integram uma

cadeia produtiva.

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23

Distribuidor

Sistema Logístico

InsumosFornecedor Produção Atacadista Varejista

Transporte

Armazenagem

Embalagem

Equipamentos adequados

InformaçãoEDI

Roteirizador

Figura 3 – Sistema logístico do agronegócio

São estas as atividades que, em conjunto com os valores agregados

aos produtos durante seu processamento, irão garantir condições de

competitividade nos mercados.

Ballou (1993) observa que o transporte (deslocamento de pessoas,

mercadorias e produtos de um local para o outro) é a atividade logística mais

importante, pois ela absorve, em média, de um a dois terços dos custos logísticos.

Também César e Rocha (2001) relatam que, dentre as atividades primárias, o

transporte tem um papel fundamental na economia, formando as bases para o

comércio.

Em palestra proferida no 2º Congresso Brasileiro de Agribusiness,

Ariosto Riva Neto, Conselheiro da Associação Nacional dos Usuários de

Transporte de Carga, afirmou que “como a Logística se transformou num dos

principais assuntos do agronegócio brasileiro, cresce a responsabilidade em

abordar temas dessa natureza (RIVA NETO, 2003).

Lovatelli (2003) afirma que, para assegurar a evolução crescente do

agronegócio, os ganhos de produtividade proporcionados pelas atividades das

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várias cadeias produtivas não podem ser dissipados por ineficiências na logística

de armazenagem, transporte e portos.

2.5 TRANSPORTE

O transporte pode ser realizado nas formas Terrestre, Aquaviária e

Aéreo. As principais modalidades de transporte terrestre são: rodoviário,

ferroviário e dutoviário, definidos e analisados a seguir:

2.5.1. – Transporte rodoviário

O transporte rodoviário é aquele em que as cargas são

transportadas pelas rodovias, em caminhões, carretas, etc. O transporte

rodoviário é um dos mais simples e eficientes. Sua única exigência é existirem

rodovias. Porém, este modal apresenta um elevado consumo de combustível

(tonelada de óleo diesel por quilômetro transportado).

Segundo Rodrigues (2000), inúmeros estudos comprovam

matematicamente que, em distâncias superiores a 500 km, o transporte rodoviário

torna-se anti-econômico pelo elevado custo de consumo energético. Por sua

elevada flexibilidade, este modal é indicado para distribuição urbana, cujas

transferências são de pequenas distâncias, além das inevitáveis conexões com os

demais modais.

No Brasil, a distribuição física ainda é feita preferencialmente

durante o dia, congestionando as principais artérias das cidades, aumentando os

índices de poluição, produzindo um desempenho medíocre e acelerando o

desgaste das frotas.

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25

Figura 4.- Estrada rodoviáriaFonte: www.ipiranga.com.br/ 2005

2.5.2 – Transporte ferroviário

O transporte ferroviário, como o próprio termo indica, é aquele

realizado em estradas de ferro, não dividindo seus espaços de rodagem com

outros modais. Neste modal, a exemplo dos demais, pode-se transportar qualquer

produto. As cargas são transportadas nos mais diversos tipos de veículos

ferroviários.

Segundo Keedi e Mendonça (2002), o ferroviário é um modal de

transporte recomendado para mercadorias de baixo valor agregado e grandes

quantidades. É competitivo, por exemplo, para produtos agrícolas a granel,

minérios e produtos siderúrgicos, cujo valor é muito baixo, sendo preciso um

transporte barato para não encarecer o custo final.

Segundo Rodrigues (2000), as ferrovias apresentam um custo de

implantação e manutenção elevado. No entanto, apresentam grande eficiência

energética. Por suas características operacionais, porém, só oferecem vantagens

quando há grande quantidade de carga a ser transportada em longas distâncias.

Assim, a distância e a densidade do tráfego são fatores determinantes para a

viabilização das ferrovias. O parâmetro internacional usual é destinar à ferrovia

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lotes de mercadorias cuja distância de transporte exceda a 500 km. Portanto,

pode-se afirmar que este é o modal por excelência para grandes volumes de

carga.

Figura 5 – Trem da FERRONORTE Fonte: www.brasilferrovias.com.br/2005

2.5.3 – Transporte dutoviário

É o transporte de cargas a granel através de dutos, podendo ser por

gravidade ou pressão mecânica, de acordo com o tipo do produto.

De acordo com Rodrigues (2000), os principais tipos de dutos

existentes no Brasil são:

a) Oleodutos – implantados pela Petrobrás ou outros distribuidores

de petróleo, destinam-se ao transporte de petróleo bruto e seus derivados.

Funcionam através de sistemas de bombeamento.

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b) Gasodutos – destinam-se ao transporte de gases entre centros

produtores e centros consumidores. A maior obra desta natureza no País é o

gasoduto Bolívia-Brasil.

c) Minerodutos – destinam-se ao transporte de minérios entre as

regiões produtoras e as usinas siderúrgicas ou terminais portuários, aproveitando

as diferenças de altitude existentes. Funcionam impulsionados por um jato de

água contínuo, submetido a forte pressão.

Figura 6 - Obras gasodutoFonte: www.gaspetro.org.br/2005

As principais modalidades de transporte aquaviários são o marítimo,

o fluvial e o lacustre.

2.5.4. Transporte marítimo

O transporte marítimo é definido como aquele que é realizado por

navios em oceanos e mares, podendo ser de cabotagem ou longo curso. É um

modal que pode ser utilizado para todos os tipos de carga, e para qualquer parte

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do globo, sendo o único veículo de transporte que possibilita a remessa normal e

regular de milhares de toneladas ou de metros cúbicos de qualquer produto de

uma vez só.

Rodrigues (2000) relata que há 20 anos atrás os navios

desenvolviam velocidades médias de 10 nós1, os portos dispunham de

equipamentos com capacidades muito limitadas e as operações exigiam enormes

equipes, tanto a bordo como em terra. Atualmente, com até oito vezes mais

carga, os navios superam os 25 nós de velocidade; as operações são realizadas

com modernos equipamentos, capazes de gerar produtividade antes

insuspeitada, com bem menos trabalhadores.

O grande avanço do transporte marítimo foi sem dúvida a criação do

contêiner, agilizando a movimentação das cargas.

Figura 7 - Navio porta containerFonte: www.liberaassociazianeilpopolo.it/ 2005.

De acordo com Rodrigues (2000), com a irreversível tendência à

“conteinerização”, movimenta-se uma média de 30 contêineres por hora, sendo

1 Velocidade marítima - (1-3) nós = velocidade média de 5km/h, (4--11) nós = velocidade média de 6 a 20 km/h, (12-22)nós = velocidade média de 21 a 40 km/h, (23 a 38) nós = velocidade média de 41 a 70 km/h, (39-67) nós = velocidademédia de 71 a 120 km/h.

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29

que praticamente deixou de existir o transporte de carga solta fracionada nos

navios.

Pelas suas características, pode-se concluir que as principais

vantagens do transporte marítimo são: a elevada economia de escala para

grandes lotes, as longas distâncias atingidas e a altíssima eficiência energética.

No entanto, as suas principais desvantagens são a necessidade da existência de

portos equipados para embarque e desembarque, e a lentidão do serviço, dada a

baixa velocidade dos navios, apesar dos avanços.

2.5.5 – Transporte fluvial

O transporte fluvial ou hidroviário é a modalidade de transporte

realizada em rios, dando-se, portanto, no interior dos continentes. Pode ser

nacional, utilizando as vias aquáticas do País ou internacional, ligando países.

De acordo com Rodrigues (2000), o transporte hidroviário foi

descoberto, com algumas décadas de atraso, como a grande alternativa para o

transporte de carga no País. Atualmente, essa modalidade vem ganhando status

como fator de integração nacional.

Segundo o mesmo autor, em países de grande dimensão territorial

como o Brasil, a utilização das hidrovias é fator fundamental para o processo de

interiorização e posterior fixação da população, alargando as fronteiras agrícola e

mineral.

O transporte hidroviário é largamente utilizado em países com

dimensões territoriais semelhantes às do Brasil, como os Estados Unidos.

No que se refere à mão-de-obra empregada, para movimentar

10.000 toneladas, tem-se os seguintes dados: no transporte rodoviário são

necessários 556 homens para operar uma frota de 278 caminhões de 36 t de

capacidade cada, considerando motorista e ajudante. Já um comboio fluvial com

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capacidade para transportar 10.000 toneladas, necessita de apenas 12 homens

em sua tripulação.

Figura 8 – Comboio de barcaça com cana-de-açúcarFonte: www.mre.gov.br/2005

Em relação ao consumo energético, Keedi e Mendonça (2000),

relatam que o consumo de combustível necessário para o transporte de uma

tonelada de carga por 1.000 quilômetros, no modal hidroviário, é estimado em

menos de 4 litros de diesel, enquanto no ferroviário consome 9 litros e o

rodoviário 18 litros. Além disso, o modal hidroviário é considerado mais seguro do

que os modais de transporte terrestre.

Ainda de acordo com os autores, estudos desenvolvidos pelo

GEIPOT – Empresa Brasileira de Planejamento em Transportes do Mistério dos

Transportes comprovam uma redução de custos na ordem de 35% no custo do

transporte hidroviário sobre o rodoviário.

Assim como o marítimo e o ferroviário, essa modalidade de

transporte possui elevada capacidade de transporte de carga e baixo custo

energético, o que lhe possibilita custos reduzidos e conseqüentemente a

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31

cobrança de fretes bem mais baratos, principalmente em relação ao modal

rodoviário.

Na Figura 9, temos um comparativo da capacidade de transporte de

carga entre os modais de transporte. Na análise dos dados comparativos, verifica-

se a superioridade do modal hidroviário em termos de volume de carga

transportado por viagem, pois para se transportar o mesmo volume de uma

barcaça são necessários 22 vagões graneleiros ou 39 caminhões, daí o seu baixo

consumo energético impactando diretamente na redução do valor do frete.

Figura 9: Comparativo da capacidade de transporte de carga por modal Fonte: Ministério dos Transportes – 2000

Porém, assim como o marítimo, sua velocidade é baixa, e está

condicionado ao nível das águas para uma perfeita navegabilidade. Outro fator é

que suas rotas são fixas, de acordo com o curso dos rios e exige infra-estrutura

portuária para o embarque e desembarque de mercadorias.

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32

2.5.6 – Lacustre

O transporte lacustre é aquele realizado em lagos, portanto, da

mesma forma que o fluvial, é também uma navegação interior. Pode ser nacional,

se realizado em lagos internos do país ou internacional, ligando países.

Normalmente, os lagos são utilizados para o transporte de mercadorias nas

regiões circunvizinhas. É um modal bastante incipiente, não tendo importância

relativa no transporte de cargas. As suas rotas são determinadas por vias

adequadas, providas pela própria natureza e estabelecidas pelo homem.

De acordo com Keedi e Mendonça (2000), o consumo de

combustível no transporte lacustre é muito baixo, tornando seu frete mais

atraente, apresentando as mesmas vantagens dos modais hidroviário e marítimo

em relação à segurança e baixo nível de poluição.

2.5.7 – Modal Aéreo

O transporte aéreo, mais utilizado para o transporte de mercadorias

com alto valor agregado é o realizado por empresas de navegação aérea, através

de aeronaves de vários tipos e tamanhos. Suas principais vantagens são a

rapidez e poder de chegar a qualquer ponto do planeta. Porém, essas facilidades

lhe facultam um custo mais elevado em relação aos demais modos.

Segundo Rodrigues (2000), os custos elevados são devidos à

utilização de equipamentos muito caros e instalações sofisticadas (aeroportos),

além de terem uma eficiência energética muito reduzida.

Ainda, de acordo com Rodrigues (2000), as restrições impostas

pelos custos mais elevados e pelas limitações no tamanho das unidades de carga

e no peso, além de outras peculiaridades, fazem com que o modal aéreo

apresente uma tipicidade própria quanto às cargas que a ele devem ser

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direcionadas. Assim, gêneros alimentícios e outros bens perecíveis, animais e

plantas vivas, equipamentos eletrônicos de alto valor, jóias e artigos da moda, são

itens adequados ao transporte aéreo. Ou seja, nos casos em que a velocidade da

entrega (ou a segurança) é o ponto mais importante a ser considerado, o modal

aéreo pode ser a alternativa mais interessante, superando qualquer comparativo

de custos. A figura 10 apresenta o embarque de mercadorias em um avião

cargueiro.

Figura 10 – Embarque em avião cargueiro Fonte: Ministério dos Transportes/2000

2.6 – PROCESSO DE DECISÃO DO MODAL DE TRANSPORTE DE CARGA

Caixeta-Filho e Martins (2001) indicam que o processo de escolha

do modal para o transporte de carga envolve diversos aspectos como:

características de mercado, tomadores de decisão e das cargas, legislação, infra-

estrutura de transportes e tecnologias disponíveis.

No início dos anos 90, quando a abertura da economia brasileira

constituiu-se numa opção fundamental para a “estabilidade monetária”, a questão

da infra-estrutura dos transportes explicitou-se como um eixo fundamental para a

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modernização e inserção do Brasil nos mercados globais. Foi principalmente a

partir dessas mudanças que o estudo do transporte de cargas tomou o cunho

sistêmico de especialização cientifica, buscando-se analisar todas as variáveis

envolvidas para melhor entender as complexas necessidades decorrentes das

transações comerciais locais, regionais e internacionais.

Segundo Rodrigues (2000), as variáveis de decisão quanto à

seleção dos modais de transporte são:

• disponibilidade e freqüência do transporte;

• confiabilidade do tempo de trânsito;

• valor do frete;

• índice de faltas e/ou avarias;

• nível de serviços prestados.

Ainda segundo Rodrigues (2000), o tempo de trânsito afeta

diretamente o prazo de ressuprimento, abrangendo o tempo despendido pelo

embarcador na consolidação e manuseio, o tempo de viagem propriamente dito,

os tempos de transbordos e o tempo necessário à liberação da carga por ocasião

do recebimento. Qualquer atraso imprevisto pode paralisar uma linha de produção

caso o estoque de reserva seja muito baixo. Colocar o produto certo, na hora

certa, pelo menor preço é a grande meta a ser alcançada pelas empresas.

Portanto, para que uma região, estado ou município seja inserido no

mundo globalizado, torna-se imprescindível dispor de meios de transportes com

baixo custo, utilizando de forma racional os modais de maior capacidade e

dispondo de estruturas de transferências das cargas para esses meios mais

econômicos.

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35

2.7 – TERMINAIS DE TRANSFERÊNCIA OU TRANSBORDO

Antes das cargas serem transportadas, conforme suas

características, elas precisam ser embaladas e embarcadas adequadamente,

visando à preservação de suas qualidades e a integridade física. Para tanto se faz

necessária a existência de locais dotadas de toda a infra-estrutura para a

movimentação dessas cargas.

Estes locais são denominados terminais de transferência ou de

transbordo. A movimentação da carga pode ocorrer diretamente, de um modal de

transporte para outro, ou de armazéns para um modal de transporte. Os

equipamentos adequados para movimentação, de acordo com o tipo da carga,

que vão desde uma simples empilhadeira até pesados guindastes para

contêineres, será objeto de estudo mais adiante. As principais funções dos

terminais e os tipos existentes são descritos a seguir.

De acordo com Handabaka (1994), a infra-estrutura de um terminal

de transbordo varia em tamanho, de acordo com o fluxo de comércio em

determinado país ou região e, consequentemente, em razão do volume de carga

manipulada.

Os terminais têm um papel fundamental para que a logística de

transporte seja realizada com sucesso, desempenhando importantes funções que,

segundo esse mesmo autor são:

• manuseio das cargas para o embarque e desembarque;

• interfase entre os modos de transporte;

• consolidação e distribuição das cargas ; e

• armazenagem das cargas.

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2.7.1 – Terminais ferroviários

Segundo Handabaka (1994) o projeto de terminais ferroviários não

leva em conta somente as necessidades de operação da estrada de ferro, mas,

principalmente, a transferência das mercadorias de ou para outros modos de

transporte.

Figura 11 - Terminal intermodal de cargasFonte:www.it/media/foto/2002

As principais cargas movimentadas nesses terminais são cargas a

granel, como grãos, minérios, cimento, petróleo etc.

O mesmo autor aponta, ainda, que o pátio de triagem desempenha

um papel essencial no processo de consolidação de carga, porque a operação do

tráfego ferroviário está constituída por uma série de remessas provenientes de

diferentes consignantes, transportadas para o terminal ferroviário em caminhões

de carga individuais. O agrupamento de todas elas constitui a carga do trem.

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37

2.7.2 – Terminais rodoviários

De acordo com Handabaka (1994), assim como no caso dos

terminais ferroviários, o tipo de operação, o manuseio da carga e a variedade das

mercadorias determinam o tipo de terminal rodoviário. Algumas instalações

básicas são necessárias na maioria dos terminais de carga, dentre elas o banco

de carga/descarga (por meio de plataformas), o equipamento para a manipulação

da carga, e a infra-estrutura para o estacionamento. Na medida em que o

congestionamento torna-se problema, são necessárias grandes áreas de

circulação para uma operação eficiente do terminal.

2.7.3 – Terminais aéreos

Os terminais de transporte aéreo são denominados aeroportos e

podem ser de três tipos: de passageiros e carga conjuntos; somente de carga em

ala separada; e com instalações especiais de carga para frete aéreo, com infra-

estrutura exclusivamente projetada para o manuseio de carga aérea. Em geral os

aeroportos são propriedades públicas.

De acordo com Handabaka (1994), os terminais de transporte

aéreos são adaptados ao fluxo de carga aérea de cada aeroporto, portanto eles

variam consideravelmente em termos de tamanho, equipamentos de manuseio,

edificações e serviços administrativos.

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38

2.7.4 – Terminais aquaviários

Os terminais de transporte aquaviários são os portos, que podem

ser marítimos, fluviais e lacustres. Estes são capazes de receber desde

embarcações com algumas centenas de toneladas de peso até grandes navios,

como os petroleiros VLCC – Very large crude carriers, petroleiros muito grandes.

Figura 12 - Terminal hidroviário interior de Porto Murtinho/MSFonte: Agitrams/2000

Figura 13 - Porto de Tubarão/Vitória - ESFonte: Ministério dos Transportes/1999

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Ainda, de acordo com Handabaka (1994), as principais estruturas de

um porto incluem: arranjo do ancoradouro, instalações e equipamentos de

manuseio, rede de distribuição (equipamento de transporte rodoviário e

ferroviário) e instalações da autoridade portuária.

2.8 – EQUIPAMENTOS DE MOVIMENTAÇÃO DE CARGAS

Para um funcionamento eficiente de um terminal ou armazém são

necessários equipamentos modernos e robustos, que normalmente necessitam

apenas de um manobrista para movimentar grandes volumes de carga de uma só

vez, agilizando os processos e principalmente diminuindo custos com a redução

da mão-de-obra empregada e avarias no manuseio das cargas.

Os principais equipamentos são descritos a seguir:

a) empilhadeiras – equipamentos para empilhar e mover carga em

armazéns, pátios e portos. Existem as mais simples para movimentar caixotes,

peças e pallets, como as mais robustas que chegam a movimentar contêineres.

Figura 14 : Empilhadeiras Fonte: www:equipamentoslogisticos.com.br/2005

b) guindastes – equipamentos utilizados para elevação de materiaise transferência de pesados. São utilizados no embarque em portos paramovimentação de sacarias amarradas, peças, contêineres, unidades de carga empallets.

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40

c) correia transportadora – equipamentos utilizados na transferênciade cargas, normalmente de um armazém para um meio de transporte.

Figura 15: Guindastes Fonte: wwww.canallogistico.com.br/2005

Figura 16: Terminal hidroviário de Porto Velho-RO – detalhecorreia/esteira transportadora

Fonte: www:kleper.com.br/2005

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41

2.9 – MEIOS DE TRANSPORTE

Também chamados de unidades de transporte, de acordo com

Handabaka (1994), os meios de transporte desenvolveram-se em decorrência das

exigências de cada via em particular (terrestre, marítima ou aérea), da unidade de

força motriz (motores a gasolina, diesel, de pistão etc.) ou do tipo de tráfego

(regular ou fretado), sendo que cada modal se adaptou a um modo de transporte

em particular.

Assim, têm-se os seguintes meios de transporte de acordo com o

modal de transporte:

1 – Vagões Ferroviários

• Vagões-tanque

• Vagões de carga/descarga lateral

• Vagões isotérmicos e refrigerados

• Vagões inclináveis

• Vagões de plataforma plana

2 – Caminhões

• Caminhões abertos

• Caminhões cobertos

• Caminhões isotérmicos e refrigerados

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• Caminhões tremonha

• Caminhões-tanque

• Caminhões de plataforma ou estrado

3 – Navios

• Navios de carga geral

• Navios de carga a granel

• Navios tanque

• Navios refrigerados

2.10 TIPOS DE CARGAS

A carga, do ponto de vista do transporte, consiste em bens ou

mercadorias protegidos por embalagem apropriada, a fim de torná-los livres e

prontos para serem transportados.

Handabaka (1994), divide a carga em dois tipos principais: geral e a

granel.

a) Carga Geral

A carga geral é composta por uma variedade de produtos que são

transportados pelos diferentes modos de transporte em volume menores que a

carga a granel.

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43

Ainda segundo o autor, a carga geral constitui itens individualizados

que são preparados (embalados ou unitizada2) para o transporte. De acordo com

essa preparação, ela é geralmente dividida em dois tipos: solta (não unitizada) e

unitizada.

a.1) Carga solta (não unitizada)

Esta carga consiste tanto em itens avulsos como individuais,

embalados, manuseados e embarcados como embrulhos separados, fardos,

pacotes, sacos, caixas, tambores, peças amarradas, etc.

a.2) Carga unitizada

A carga unitizada é composta de itens individuais, tais como caixas,

pacotes ou outras cargas avulsas ou soltas, agrupadas em unidades únicas como

pallets3 e contêineres4, e estão prontas para serem transportadas.

A carga unitizada resulta em um aumento de produtividade e

velocidade em operações de manuseio, em parte por causa do uso de

dispositivos mecânicos com um alta taxa operacional. Essa economia de escala

influencia o custo das operações de manuseio e, portanto, as empresas de

transporte cobram tarifas de frete especiais para o transporte de carga unitizada.

A carga unitizada é transportada por qualquer um dos modos de transporte, cujos

2 Unitização - O conceito de carga unitária significa agrupamento de um ou mais itens da carga geral, a serem movidoscomo uma unidade única indivisível. Portanto, se algumas latas de azeitona forem colocadas numa caixa de papelão, estaé uma unidade de carga pequena. Se umas vinte dessas caixas de papelão forem colocadas num pallet, esta será umaunidade de carga.3 Pallets – De acordo com a publicação da ISO “Recomendações da ISO. Vocabulários de termos relativos a pallets. REF.NºISO/R 445:1965 (EFR)”, um pallet é uma: “Plataforma de carga que consiste basicamente em duas bases separadas porvigas ou uma base única sustentada por pés, cuja altura é reduzida ao mínimo compatível com o manuseio por meio deempilhadeira e caminhões de pallets”.4 Contêiner -De acordo com a publicação da ISO “ Freifht containers. Terminology. Ref. Nº ISO 830:1981 (E/F/R)”, umcontêiner é: artigo de equipamento de transporte, de caráter permanente e resistente o suficiente para adequar-se a usosrepetidos; especialmente projetado para facilitar o transporte de mercadorias por mais de um modal de transporte, semrecarregamento intermediário; tendo um volume interno de 1 m³ (35,3 pés cúbicos) ou mais.

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44

meios ou veículos de transporte têm características especiais para acomodar os

diferentes tipos de carga.

b) Carga a Granel (líquidos e sólido-secos)

De acordo com Handabaka (1994), mercadorias a granel líquidas ou

sólidas são geralmente armazenadas em tanques e silos, e transportadas por

tubulações e correias transportadoras, respectivamente. Ambas são transferidas

por meio de bombeamento ou sucção, garras, como caçambas articuladas, e

outros dispositivos mecânicos. Elas geralmente não precisam nem de embalagem

nem de unitização.

Uma característica importante no transporte de carga a granel é a

obtenção de economia de escala, que deriva do grande porte dos meios de

transporte (trens, caminhões e embarcações).

Segundo Lima Junior (1998), transportar uma carga implica em

movimentar uma definida quantidade, cumprindo prazos e custos estipulados, de

forma segura e racional. As dificuldades em executar esta tarefa podem ser

maiores ou menores em função das características das cargas. Ainda de acordo

com este autor, uma carga é caracterizada pelo seu tipo, origem, quantidade e

forma de armazenagem, e pela movimentação que admite.

2.11 MODAIS DE TRANSPORTE DE ACORDO COM O TIPO DE CARGA

Como afirmado anteriormente, as cargas possuem diferentes

características. Podem ter diferentes volumes, ser perecíveis ou não perecíveis,

apresentar-se in natura ou industrializada, ter diversos índices de valor agregado,

etc. Naturalmente o transporte deve adequar-se a estas características. Uma

escolha inadequada do modal de transporte pode acarretar em um atraso no

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prazo de entrega como também na paralisação de toda uma linha de produção.

Na Figura 17 tem-se uma indicação dos modais de transporte indicados para os

vários tipos de cargas.

Figura 17 - Tipos de cargas e modais de transporte indicadosFonte: Handabaka, A. R. Gestão logística da distribuição física internacional.

Maltese, 1994, pág. 36

Para o Estado de Mato Grosso do Sul, onde a maioria das cargas

consiste em produtos agropecuários comercialmente denominados commodities

(produtos comercializados em grandes volumes, com baixo valor agregado), o

ideal é a utilização dos modais de maior capacidade e de valor de frete mais

reduzido.

CARGAGERAL

CARGA AGRANEL

Não UnitizadaUnitizada

Solta PalletsContêiner

Todos os modais

Modais de Transporte

Modais

Liquida Sólida

Rodoviário

Aquaviário

Ferroviário

Dutoviário

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46

2. 12 INTERMODALIDADE

Segundo Keedi e Mendonça (2000) a intermodalidade acorre

quando uma carga utiliza mais de um modal de transporte para ser enviada de

sua origem até seu destino. Isto ocorre em virtude da impossibilidade de

determinada carga ser transportada por todo o trajeto por apenas um modal

existente.

Ainda segundo o autor acima citado, sua principal característica é a

total independência entre os modais de transporte, bem como dos documentos de

transporte que representam a carga.

Neste caso, cabe ao dono da carga a responsabilidade de contratar

cada transportador individualmente. Cada transportador assumirá a

responsabilidade pelo seu trajeto.

2. 13 MULTIMODALIDADE

A multimodalidade tem a mesma definição da intermodalidade, ou

seja, utiliza mais de um modal de transporte para levar uma carga até o seu posto

de destino. Porém, ao contrário do intermodal, neste caso o dono da carga

contrata apenas um operador, que se responsabilizará pelo transporte da carga

até o seu ponto de destino, cabendo ao mesmo a decisão de contratar ou não

outros modais de transporte.

Segundo Keedi e Mendonça (2000), o transporte multimodal

apresenta maior segurança ao dono da carga, permitindo-lhe negociar com

apenas um agente, podendo inclusive conseguir uma redução de custos em

relação ao transportador convencional de carga.

Vale ressaltar que, para ocorrer tanto o transporte intermodal como o

multimodal, é necessário que os modais de transportes estejam conectados, ou

seja, interligados através dos terminais de transbordo. Desta forma, a

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47

transferência da carga de um modal para outro pode ocorrer de forma ágil e

segura, obtendo-se a redução dos custos logísticos.

2.14 SISTEMAS INFORMATIZADOS DOS PROCESSOS LOGÍSTICOS

Para que a logística possa ocorrer de forma eficiente e eficaz, é

necessária à utilização de algumas ferramentas na área da informatização. Com

as inovações que têm sido constantemente disponibilizadas aos agentes

produtores, transportadores e comerciantes (atacadistas e varejistas), tem havido

um significativo progresso com melhorias em temos de tempo de entrega e

segurança. As principais ferramentas atualmente disponíveis são:

a) EDI – Intercâmbio Eletrônico de Dados

Segundo Rodrigues (2000), o EDI é uma técnica de transmissão

eletrônica de dados de computador a computador (indústria, transportador e

atacadista) cuja principal característica é integrar sistemas aplicados a transações

entre as diferentes organizações. Isto harmoniza as práticas comerciais e

padroniza os dados entre os usuários, mantendo a independência e o sigilo.

b) WMS – Warehouse Management System – Sistema de

Gerenciamento da Armazenagem

Este sistema de gerenciamento eletrônico da armazenagem

administra as seguintes atividades organizacionais, entre outras:

• determinação do agendamento de doca para a descarga de

caminhões;

• geração de lotes pelo conteúdo de cada caminhão;

• estabelecimento de critérios de seleção por transportadora,

cliente, pedido ou rota;

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48

• controle da descarga e contagem física das mercadorias,

procedendo à conciliação com as notas fiscais.

c) Código de Barras e Leitura Ótica

De acordo com Rodrigues (2000), esta tecnologia, aliada ao

planejamento logístico, têm mostrado o caminho para a obtenção de resultados

como armazéns organizados, níveis de estoque atualizados, bom fluxo de

expedição e recebimento, informações precisas, otimização de espaços e

aumento na produtividade.

Com a popularização da identificação de mercadorias através de

sistemas de código de barras, este tipo de equipamento vem desempenhando

importantes funções, trazendo consigo ganhos de tempo e melhoria na eficiência.

Ainda segundo este autor, o código de barras e a leitura ótica são

processos de alta confiabilidade para identificar, coletar, rastrear, controlar e

transmitir dados eletronicamente, através de freqüência modulada.

d) GPS – Global Positioning Systems – Sistemas de Posição Global

São sistemas de localização através de computadores de bordo ou

portáteis conectados a satélites em diferentes órbitas terrestres. Pode ser

utilizado para identificar a posição de um navio em alto-mar, ou em uma versão

mais sofisticada como as caixas-pretas dos aviões, ou ainda estarem ligados a

sistemas de alarme para a detecção de roubos de cargas rodoviárias.

e) ECR – Efficient Consumers Response – Resposta Eficiente do

Consumidor

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Rodrigues (2000) assim define ECR:

“Trata-se de um novo conceito, nascido em 1993 nos EUA,direcionado à uniformização da logística de distribuição,desde a indústria até as gôndolas dos supermercados,através da padronização dos sistemas de transportes;difusão da utilização de EDI; desenvolvimento de normasaduaneiras; aperfeiçoamento dos sistemas de leitura ótica,e criação de um cadastro geral de dados sobre os produtoscomercializados. Sua meta é reduzir custos causados pordesperdícios, retrabalho e ineficiência em cada uma dasetapas da cadeia de abastecimento.”

Entre as suas principais ferramentas tem-se:

montagem da loja e localização dos produtos a partir da

percepção do consumidor;

agilização da troca de informações relativas aos movimentos de

mercadorias, via EDI;

estabelecimento de mecanismos que indiquem automaticamente

a necessidade de reposição de estoque;

normalização dos procedimentos aduaneiros.

Este capítulo procurou mostrar os conceitos de agropecuária,

agroindústria e agronegócio tendo em vista que esses conceitos significam uma

nova realidade nas relações de produção e comercialização, fato é que no

decorrer da revisão bibliográfica verificou-se que para alguns pesquisadores

esses conceitos estão em constante mutação e redefinição.

Foram abordados os conceitos de logística e o seu conjunto de

atividades, aprofundando nas atividades relacionadas à logística de transporte por

ser um dos principais pontos de análise desse trabalho, pois, com a base teórica

sobre o conjunto das atividades da logística, a infra-estrutura, os equipamentos,

os modais e meios de transportes, os tipos de cargas e os sistemas

informatizados é que foi possível após a verificação da atual infra-estrutura de

transportes do Estado de Mato Grosso do Sul, capítulo 6 desse trabalho, ter

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50

subsídios para analisar e discutir bem como apresentar as conclusões sobre as

ineficiências da atual logística de transportes do Estado de Mato Grosso do Sul.

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3 . MÉTODO

Neste capítulo é apresentada a metodologia empregada nesta

pesquisa, compreendendo os procedimentos, métodos e regras utilizadas para se

chegar ao resultado esperado, qual seja: identificar as principais ineficiências na

logística de transporte para o escoamento da produção agropecuária e

agroindustrial do Estado de Mato Grosso do Sul.

De acordo com Hegenberg (apud RICHARDSON, 1999, p.21)

método “é o caminho pelo qual se chega a determinado resultado...”. E a

metodologia são os procedimentos e regras utilizadas por um determinado

método. O método científico é o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicas

para se atingir o conhecimento.

Segundo Mazoro (2005) o conhecimento científico gerado, irá

caracterizar-se pela presença da aceitação metódica e sistemática dos fatos. Pela

classificação, comparação, aplicação de métodos, da análise e síntese, o

pesquisador extrai do contexto social, princípios e leis que estruturam um

conhecimento rigorosamente válido e universal.

No presente trabalho científico foi utilizado o modelo estruturalista,

que visa estudar as relações entre os fenômenos que ocorrem simultaneamente

para entender a estrutura como um todo.

De acordo com o autor acima citado, no modelo estruturalista os

fatos devem ser observados e descritos, estudados em si mesmos e em relação

ao seu conjunto. A visão do estruturalista é a de conjunto, ou seja, o problema

tratado nunca é examinado de modo parcial, mas sempre sob a perspectiva de

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conjunto, relacionando cada aspecto com os outros do contexto em que está

inserido.

Para Jean Pouillon (apud RICHARDSON, 1999, p. 38), o conceito de

estruturalismo consiste em:

[...] procurar as relações que outorgam aos

termos que elas unem um valor de posição em

conjunto organizado [...], portanto, o

estruturalismo implica duas idéias: a de totalidade

e de interdependência.

A presente pesquisa se trata de uma pesquisa descritiva, tendo

como principal finalidade o entendimento, o esclarecimento e a modificação de

conceitos e idéias para a formulação de problemas mais precisos que possam ser

aprofundados em estudos posteriores.

Segundo Malhotra (2001) a pesquisa descritiva é um tipo de

pesquisa conclusiva que tem como principal objetivo a descrição de algo.

Na consecução dos objetivos da pesquisa, foi envolvido

levantamento bibliográfico, documental e estudos localizados.

De acordo com Roesch (1999) a revisão da literatura é uma das

seções mais longas e trabalhosas do projeto. Na prática, implica seleção, leitura e

análise de textos relevantes ao tema do projeto. A pesquisa bibliográfica tem

como objetivo encontrar respostas aos problemas formulados e o recurso é a

consulta dos documentos bibliográficos. Foram visitadas bibliotecas de

Universidades, a saber: UNIDERP, UNAES, UFMS, dentre outras.

Já a investigação documental abrange os documentos conservados

e disponibilizados por órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou

mesmo com pessoas, sendo que conforme Vergara (2003) podem ser registros,

anais, regulamentos, circulares, ofícios, memorandos, balancetes, filmes,

fotografias, cartas pessoais e outros.

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53

Para encontrar o material que interessasse a essa pesquisa foi

necessário fazer visitas sistemáticas aos seguintes locais: AGESUL – Agência de

Gestão de Empreendimento de Mato Grosso do Sul, a AGITRAMS – Agência de

Gestão e Integração dos Transportes de Mato Grosso do Sul, autarquias

vinculadas a Secretaria de Estado de Infra-estrutura e Habitação e DNIT –

Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes. Também, foram obtidas

informações em consultas aos sites dos seguintes órgãos púbicos: ANTT –

Agência Nacional de Transportes Terrestres, a ANTAQ – Agência Nacional de

Transportes Aquaviários, a AHIPAR – Administração da Hidrovia do Paraguai,

autarquias vinculadas ao Ministério dos Transportes, outra importante fonte de

informações foi a Brasil Ferrovias.

Na presente pesquisa também foi utilizada a pesquisa exploratória,

pois de acordo com Gil (2002) ela tem a finalidade de se criar maior familiaridade

com o problema em questão, com vistas a torná-lo mais explicito, visando o

aprimoramento de idéias.

O material coletado para a investigação procedeu de fonte

secundária, cujos instrumentos estão disponíveis em trabalhos já existentes sobre

o tema proposto e em documentos de órgãos públicos ou privados.

No decorrer da pesquisa, algumas limitações foram verificadas,

principalmente, com a escassez de bibliografia existente sobre a logística de

transporte no Estado de Mato Grosso do Sul.

No delineamento da pesquisa, que é momento de confrontar a visão

teórica do problema com os dados da realidade, considerando o ambiente em que

são coletados, buscou-se a interpretação e análise dos dados coletados na

pesquisa bibliográfica, documental e exploratória.

A pesquisa abrangeu aspectos gerais e amplos de um contexto,

analisando e identificando as diferentes formas dos fenômenos, sua ordenação e

classificação, as relações de causas e efeitos. No final, foi possível propiciar

resultados e discussões, que serviram de base para se chegar às conclusões

apresentadas.

Como se trata de uma primeira etapa de uma investigação, os

resultados poderão servir de base para investigações mais amplas, sendo que

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54

com a presente pesquisa foi possível tornar a problema da logística de transporte

em Mato Grosso do Sul um pouco mais esclarecido.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes de iniciar a análise da logística de transportes do Estado de

Mato Grosso do Sul se fez necessário conhecer a atual situação da infra-estrutura

dos modais de transportes disponíveis. Ou seja, como estão estruturados as

rodoviárias, ferroviárias, hidroviárias e os aeroportos, bem como suas

características. Outro fator importante verificado foi a existência de terminais de

transbordo, suas capacidades de embarque e armazenagem. Os dados

levantados são descritos a seguir.

4.1. SITUAÇÃO ATUAL DA INFRA-ESTRUTURA DOS TRANSPORTES EMMATO GROSSO DO SUL

Apresenta-se a seguir uma descrição dos modais detransportes do Estado de Mato Grosso do Sul bem como dos terminais detransbordo existentes.

4 . 1. 1 - Transporte rodoviário

A malha rodoviária ou o conjunto de estradas de um Estado é

formado pelas estradas vicinais, também denominadas estradas municipais,

estradas estaduais e estradas federais, sendo que a responsabilidade da

manutenção e recuperação, bem como a implantação e pavimentação de novos

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trechos, são das esferas municipais, estadual e federal respectivamente. É

importante citar a quem cabe a responsabilidade sobre a malha rodoviária porque

é comum o usuário achar que a responsabilidade pela manutenção e implantação

das estradas seja somente de uma das esferas, normalmente a estadual.

A malha rodoviária do Estado de Mato Grosso do Sul apresenta um

total de 67.422 km e está distribuída conforme a Figura 18 abaixo.

Estadual22%

Transitória0%

Federal6%

Municipal72%

Figura 18 – Distribuição da malha rodoviária de MS Fonte: AGESUL/2004

Desse total de 67.422 km de estradas, apenas 6.918 km são

pavimentados, 678 km estão em obras de pavimentação e 2.974 km são estradas apenas

planejadas.

De acordo com o Plano Diretor de Transportes do CODESUL5, os

principais corredores rodoviários do Estado de Mato Grosso do Sul são

5 Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa Mato Grosso do Sul, elaborado pela Secretaria de Estado de Infra-estrutura e Habitação nos anos de 1999/2000

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57

compostos por três eixos: um no sentido Norte – Sul e dois no sentido Leste –

Oeste.

Um dos eixos Leste - Oeste é formado pela rodovia federal BR 262,

que liga as cidades de Corumbá e Ladário, na fronteira oeste do Estado, com a

cidade de Três Lagoas, a Leste , e daí com o interior do Estado de São Paulo.

Outro eixo, neste mesmo sentido, é dado pela rodovia BR 267, que

corta o Sul do Estado, estabelecendo a ligação entre a cidade de Porto Murtinho,

também na fronteira Oeste, com a cidade de Bataguassu, a Leste.

No sentido Norte – Sul tem-se a BR 163, cortando o Estado desde a

cidade de Sonora, na divisa com o Estado de Mato Grosso até a cidade de Mundo

Novo, ao Sul, já na divisa com o Estado do Paraná. É uma importante rodovia, por

articular o Norte do Paraná à região Sul de Mato Grosso do Sul, em especial a

micro-região de Dourados. Também liga Campo Grande ao norte do Estado e à

Cuiabá, capital do Estado do Mato Grosso.

Outra ligação, também estrutural, é a rodovia radial BR 060, que foi

recentemente estadualizada. Esta tem em uma de suas extremidades o município

de Bela Vista, na divisa com o Paraguai, passando pelas cidades de Jardim,

Nioaque, Sidrolândia e Campo Grande e conectando-se à BR 163. Próximo à

cidade de Bandeirantes, inicia novamente seu traçado seguindo para a região

Nordeste do Estado, passando pelas cidades de Chapadão do Sul, Cassilândia,

Paranaíba e Aparecida do Taboado. Trata-se de uma ligação que teve um

incremento no fluxo de carga com o início de operação da FERRONORTE, que

conta com um terminal de grãos em Chapadão do Sul.

O maior volume de tráfego de veículos do Estado é verificado na

época da colheita agrícola, principalmente na BR 163, pois esta rodovia que já é

denominada como um grande corredor de escoamento da produção absorve as

cargas oriundas do norte e nordeste do Estado e também uma grande parcela da

produção do Estado do Mato Grosso. Essas cargas têm como destino, em sua

grande maioria, o Porto de Santos no Estado de São Paulo e o Porto de

Paranaguá no Estado do Paraná. As cargas com destino ao Porto de Santos

percorrem a BR 163 até o entroncamento na cidade de Nova Alvorada do Sul, a

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58

partir daí seguem pela BR 267 até a divisa do Estado, na cidade de Bataguassu,

e continuam pela rede rodoviária do Estado de São Paulo até o Porto de Santos.

Já as cargas com destino ao Porto de Paranaguá, percorrem toda a BR 163 até a

divisa do Estado, na cidade de Mundo Novo, e entram na rede rodoviária do

Estado do Paraná até o porto.

Figura 19 - Principais corredores de Mato Grosso do SulFonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa MS/2003

A maior densidade de vias pavimentadas esta na região Sul, em

especial na região da grande Dourados. A região central também é bem atendida

com vias pavimentadas, muito em função da posição estratégica no Estado e à

localização da capital. As regiões Leste, Norte e parte da Oeste apresentam uma

boa densidade de vias, porém a maior parte em terra. As vias pavimentadas

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59

restringem-se às rodovias federais e algumas estaduais. A menor parcela da

malha rodoviária está na região do Baixo Pantanal

4 . 1.2 - Transporte ferroviário

De acordo com o Plano Diretor de Transportes do CODESUL

(1999/2000), a malha ferroviária do estado é composta por 1.922 km de linhas

férreas, distribuídas em duas linhas: a NOVOESTE com 1.512 km e a

FERRONORTE com 410 km. Estas duas estradas de ferro são administradas

pela holding BRASIL FERROVIAS que administra também a FERROPAN, que faz

parte da malha ferroviária do Estado de São Paulo.

a) Novoeste

A Ferrovia NOVOESTE, antiga malha oeste da RFFSA (linha SR-

10), privatizada em 1995, possuí em seu tramo principal 1208 km que cortam o

Estado na direção Leste – Oeste, ligando Três Lagoas a Corumbá, em bitola de

um metro de largura ou métrica. No extremo Leste estende-se até Bauru, onde se

conecta ao restante da malha ferroviária do Estado de São Paulo, atingindo o

Porto de Santos. Já no extremo Oeste, conecta-se a Ente Nacional de

Ferrocarriles – ENFE, boliviana, que se prolonga até Santa Cruz de La Sierra.

Possuí também um ramal com 304 km ligando a cidade de Campo Grande à

cidade de Ponta Porã na divisa do Estado com o Paraguai. A linha principal conta

ainda com ramais da cidade de Porto Esperança a cidade de Ladário.

Ainda de acordo com o Plano Diretor de Transportes do CODESUL

– Etapa MS/2003, os principais produtos transportados são combustíveis e

derivados de petróleo, soja, minérios de ferro, cimento, manganês e produtos

siderúrgicos.

Esta ferrovia vem enfrentando vários problemas desde a sua

privatização, pela falta de investimentos na manutenção das vias e dos

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60

equipamentos. Devido ao seu estado de sucateamento, vem perdendo cargas

para os outros modais de transportes, principalmente o rodoviário.

Figura 20 - Malha ferroviária de Mato Grosso do SulFonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL – 1999/2000

b) Ferronorte

A Ferrovia FERRONORTE iniciou suas operações em 1999. É um

sistema ferroviário que em sua concepção original conta com 5.228 km de linhas

férreas, interligando os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas

Gerais, Rondônia e Pará. Na primeira etapa foram implantados 410 km de linhas,

em bitola larga de 1,45 m, entre a divisa de Mato Grosso do Sul e São Paulo, a

partir da ponte rodo-ferroviária construída em Rubinéia (SP) sobre o Rio Paraná,

até Alto Taquari, já em Mato Grosso. Na segunda etapa, já em fase de conclusão

REDE FERROVIÁRIA

MINASGERAIS

Ponte p/ Santa Fé do Sul (SP)

NOVOESTE

FERRONORTE

LEGENDA

p/ SP ( Porto de Santos)

MATO GROSSO

GOIÁS

SONORA

PEDRO GOMESALCINÓPOLIS

COSTA RICACOXIM

CORUMBÁ

LADÁRIO

BOLÍVIA

RIO VERDE DEMATO GROSSO

SÃO GABRIELDO OESTE

CAMAPUÃRIO NEGRO

CHAPADÃO DO SUL

CASSILÂNDIA

PARANAÍBA

INOCÊNCIA

SÃO PAULO

SELVÍRIA

BANDEIRANTES

JARAGUARI

RIBAS DO RIO PARDO

ÁGUA CLARA

SP4-2SP4-2

SP4-

2

TERENOS

CAMPO GRANDE

CORGUINHO

ROCHEDO

AQUIDAUANA

TRÊS LAGOAS

BRASILÂNDIASANTA RITADO PARDO

BATAGUASSU

NOVAALVORADADO SUL

RIOBRILHANTE

MARACAJÚ

SIDROLÂNDIA

DOIS IRMÃOSDO BURITI

PARANÁ

NOVA ANDRADINAANAURILÂNDIAANGÉLICA

DEODÁPOLIS

BATAIPORÃIVINHEMATAGUARUSSU

ANASTÁCIO

NIOAQUEBONITO GUIA LOPES

DA LAGUNA

JARDIM

BODOQUENA

PORTO MURTINHO

CARACOLBELA VISTA ANTÔNIO

JOÃO

DOURADINA

LAGUNACARAPÃ

CAARAPÓ

ARAL MOREIRAAMAMBAI

CORONELSAPUCAIA

TUCURU

ITAQUIRAÍNAVIRAÍ

MUNDONOVO

PARANHOS SETE QUEDAS

IGUATEMI

JAPORÃ ELDORADO

NOVOHORIZONTEDO SUL

JUTÍ

VICENTINA

GLÓRIA DEDOURADOS

FÁTIMADO SUL

JATEÍ

PARAGUAI

MIRANDA

p/ Alto Araguaia (MT) até Porto Velho

Terminal de Transbordo FERRONORTE

APARECIDADO TABOADO

P/ Bolívia

PONTA PORÃ

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61

das obras, a FERRONORTE chegará aos municípios de Rondonópolis e em

seguida ao município de Cuiabá, ambas no Estado de Mato Grosso.

A ferrovia tem no transporte de grãos para exportação seu principal

produto. Foi instalado um terminal destinado à concentração de carga, em

Chapadão do Sul, com capacidade de 10.000 toneladas.

Apesar de ser considerada uma das ferrovias mais modernas do

País, esta ferrovia também vem acumulando prejuízos ao longo de sua

implantação, tendo inclusive suas obras sido paralisadas em alguns momentos.

De acordo com reportagem publicada pela Campo Grande News

(2005), a Brasil Ferrovias acumula hoje uma divida de R$1,6 bilhão, sendo 90%

com o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Porém, nessa mesma reportagem estava sendo noticiado um possível acordo de

investimentos com entrada do próprio BNDES na holding, com o propósito de

injetar capital para quitação de dividas e investimentos.

A concretização deste acordo de investimentos foi divulgada em

06.05.2005 pelo próprio BNDES em sua página da internet. O acordo foi firmado

nesta data pelo presidente do BNDES e pelos representantes dos demais

acionistas da Brasil Ferrovias. O modelo do acordo consiste na cisão da holding

do grupo Brasil Ferrovias – que administra três concessões ferroviárias, a

FERRONORTE, a FERROBAN e a NOVOESTE – em duas novas companhias, a

Nova Brasil Ferrovias e a Novoeste Brasil. A primeira, na qual o BNDES

participará, controlará o corredor de bitola larga, que inclui a FERRONORTE E A

FERROBAN. A segunda controlará a NOVOESTE, que operará o corredor de

bitola estreita.

O BNDES será sócio, apenas, no corredor bitola larga. Os

investimentos no corredor de bitola estreita, agora denominado Novoeste Brasil, e

que possuí um novo traçado – Corumbá/MS a Mairinque/SP – deverão ser

realizados pelos próprios acionistas. Para tanto, foi elaborado um Plano de

Investimentos, que já se encontra com o BNDES.

Page 65: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

62

Tal Plano de Investimento deverá ser objeto de análise e sua

execução acompanhada pelos agentes públicos e privados do Estado de Mato

Grosso do Sul, pois caso tais investimentos não se inicie em curto prazo o setor

produtivo do Estado terá que continuar a escoar a produção pelo modal de valor

de frete mais elevado entre os demais e de menor capacidade de carga por

viagem, no caso o rodoviário.

4.1.3 – Transporte hidroviário

Em relação ao transporte hidroviário, segundo dados da

AGITRAMS6, o Estado de Mato Grosso do Sul é privilegiado, estando inserido em

duas bacias hidrográficas, a do Paraná e a do Paraguai, que formam um

complexo hidroviário que é o terceiro em importância no mundo.

a) Hidrovia Paraguai-Paraná

Do lado Oeste do Estado temos a hidrovia do Rio Paraguai, na

fronteira do País com a Bolívia e Paraguai. Trata-se de uma hidrovia que articula

o Estado e os países limítrofes com o Uruguai, no Porto de Nova Palmira,

totalizando 3.442 km de extensão, a partir do Porto de Cáceres, em Mato Grosso,

constituindo-se em um importante corredor de comércio exterior com os países do

MERCOSUL.

No Brasil, a hidrovia possui 1.298 km, de Cáceres até a foz do Rio

Apa, em Mato Grosso do Sul. No Estado, a extensão é de 858 km, sendo que os

603 km a partir de Corumbá apresentam as melhores condições de

navegabilidade.

6 Agência de Gestão e Integração de Transportes, empresa vinculada a Secretaria de Estado de Infra-estrutura eHabitação de Mato Grosso do Sul.

Page 66: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

63

No Estado, operam, já há algum tempo, os portos de Corumbá e

Ladário, sob administração da AHIPAR – Administração da Hidrovia do Paraguai,

vinculada à ANTAQ7. O porto de Ladário possui dois atracadouros, sendo um

para sacarias e outro para granéis sólidos; um armazém com 1.500 m² e

capacidade de 1.000 toneladas, e pátio externo, descoberto, com 20.000 m², além

de armazéns privados. Constitui-se em um importante ponto de conexão,

considerando os acessos através da rodovia BR – 262 e da ferrovia Novoeste

Brasil (antiga Novoeste). O porto de Corumbá é de menor expressão. Possui cais

com 200 m, armazém para carga geral de 1.400 m² e pátio com 4.000 m².

De acordo com dados da AGITRAMS, foi implantado, em 1999, o

Terminal Hidroviário Interior (THI) de Porto Murtinho, que fica no sudoeste de

Mato Grosso do Sul, às margens do Rio Paraguai. Trata-se de um terminal

público cuja operação foi concedida à Agência Portuária de Porto Murtinho.

O THI de Porto Murtinho possui uma capacidade de movimentação

de 400 t/h e uma capacidade de armazenagem de 24.800 t, e sua área edificada

é de 3.600 m². O terminal conta também com um pátio de movimentação de

13.600m², uma balança rodoviária e um cais de 950 m. Devido às condições de

navegabilidade do Rio Paraguai, o terminal possui uma profundidade de 24 pés, o

que possibilita a formação de comboios 4x4 de 16 barcaças com capacidade de

1.500 t por barcaça. Além disso, ainda segundo a AGITRAMS, o terminal está

dotado de equipamentos para a carga e descarga de mercadoria.

Conforme o Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa MS

- 1999/2000, a hidrovia é plenamente navegável a partir de Porto Murtinho em

qualquer época do ano, permitindo a navegação com calado mínimo de quase

dois metros, sendo possível à utilização de comboios de até 18.000 toneladas.

Os principais produtos transportados em 2003, segundo dados do

Ministério dos Transportes, foram: açúcar bruto (38.147 t), açúcar refinado

(16.453 t), soja em grão (57.177 t) e milho em grão (11.709 t).

7 Agência Nacional de Transportes Aquaviários vinculada ao Ministério dos Transportes

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64

b) Hidrovia Tietê-Paraná

De acordo com o Plano Diretor de Transportes do CODESUL

(1999/2000), a hidrovia do Paraná desenvolve-se no lado Leste do Estado, de

Paranaíba até Guaíra (PR), com aproximadamente 600 km de vias navegáveis,

servindo a 17 municípios ribeirinhos. A conexão com o rio Tietê, formando a

hidrovia Tietê – Paraná permite alcançar o interior do Estado de São Paulo, até

Conchas e Santa Maria da Serra, em Piracicaba, em uma área de influência que

concentra várias cidades com elevado potencial de negócios. Através dos portos

de Guaíra, Presidente Epitácio e Panorama são efetuados escoamentos de

produtos agrícolas, principalmente de soja.

A limitação da navegação em todo o seu percurso devido à

transposição da Hidrelétrica de Itaipu, aliada a menor capacidade de transporte

dos comboios, que é de 2.000 a 2.500 toneladas, contra 15.000 a 20.000 t na

hidrovia do Paraguai, são indicadores de que a vocação da hidrovia é de

integradora regional, envolvendo as regiões Leste e Sul do Estado de Mato

Grosso do Sul, com o interior do Estado de São Paulo. As principais cargas

potenciais a serem transportadas são produtos industrializados, produtos

agrícolas e derivados de petróleo e álcool.

Conforme dados da AGITRAMS, foi construído recentemente o

Terminal Hidroviário de Bataguassu. Porém, esse terminal não se encontra ainda

em operação, apesar de já estar com o edital de concessão finalizado, pois o

processo de licitação está paralisado devido a entraves burocráticos junto ao

Ministério Público do Estado. O mesmo está dotado da seguinte infra-estrutura:

um atracadouro, um armazém com capacidade para 13.800 t para granéis

sólidos, um pátio externo de aproximadamente 1.600 m² e um pátio rodoviário de

4.000 m². O terminal possui ainda correia transportadora para embarque de 200

t/h, moega rodoviária para 200 t/h e balança rodoviária de 80 t.

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65

4.1.4 – Transporte aeroviário

De acordo com informações da AGITRAMS, o Estado conta com

107 aeródromos e três aeroportos de padrão internacional administrados pela

INFRAERO8: Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã.

No entanto, de acordo com o Plano Diretor de Transportes do

CODESUL – Etapa MS - 1999/2000, o uso destes aeroportos no transporte de

carga é incipiente, tendo alcançado em 1997, segundo dados da Empresa

Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT – 1999, o volume de

apenas 4.466 toneladas, sendo 1.336 t de embarques e 3.130 t de

desembarques. Vale ressaltar que uma importante vocação desses aeroportos é

dar suporte à movimentação de pessoas, em especial no apoio ao turismo.

Ainda conforme dados da AGITRAMS, os municípios de Paranaíba,

Navirai, Dourados, Jardim, Bonito, Aquidauana e Porto Murtinho possuem

aeroportos com boa infra-estrutura, incluindo sinalizações noturnas e receptivos.

Além disso, encontra-se em fase de construção o aeroporto de Chapadão do Sul.

4.2 . IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS INEFICIÊNCIAS DA MATRIZ DE

TRANSPORTES DE MATO GROSSO DO SUL

Após apresentar a atual situação da infra-estrutura de transportes do

Estado, conhecendo suas características e condições de uso, iniciou-se a análise

dos dados levantados. Nesta etapa, tomou-se também como base, dados do

Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa MS realizado em 1999/2000

e em 2003. Nos referidos planos, tanto de 1999/2000 como no de 2003, foi

demonstrado como esta a participação por modal no uso de transporte de carga,

8 Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária

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66

ou seja, quais os volumes de cargas transportadas por rodovias, ferrovias e

hidrovias.

Esta representação do uso dos modais de transporte denomina-se

matriz de transporte, cuja análise é apresentada a seguir, primeiramente da matriz

de transportes de 1999/2000 e em seguida de 2003, concluindo-se com análises

comparativas e identificação das ineficiências.

4.2.1 Análise da matriz de transportes de Mato Grosso do Sul –

1999/2000

A matriz de transportes de Mato Grosso do Sul de 1999,

apresentada pelo Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa -

MS/1999/2000 e ilustrada na Figura 21 que segue, teve uma distribuição no

transporte de cargas por modal na seguinte proporção: 69% por rodovia, 16% por

ferrovia e 15% por hidrovia.

Esta matriz era inadequada, sendo pior que a própria matriz de

transportes do País, já apresentada na introdução deste trabalho, que tinha a

seguinte distribuição: 60% por rodovia, 33 % por ferrovia e 7% por hidrovia.

Se a matriz de transporte do País já significava sérios prejuízos ao

agricultor, a matriz de Mato Grosso do Sul agravava ainda mais esta situação,

pois de acordo com Rodrigues (2000), inúmeros estudos comprovam

matematicamente que, em distâncias superiores a um raio máximo de 500 km, o

transporte rodoviário torna-se anti-econômico pelo elevado custo de consumo

energético.

Mato Grosso do Sul, encontra-se a mais de 1000 km dos principais

portos exportadores do País, o de Santos e Paranaguá e de acordo com os dados

acima, em 1999/2000 69% da produção do Estado foi transportado por rodovias.

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67

16%

15%

69%

RodoviárioFerroviárioHidroviário

Figura 21- Matriz de transportes dos produtos selecionados em 1999 Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL/MS - 1999/2000

A análise da matriz de transportes do Estado em 1999 leva àsseguintes reflexões:

1. Conforme já citado no Capítulo 2, a Ferrovia NOVOESTE vem

enfrentando vários problemas desde a sua privatização, pela falta de

investimentos na manutenção das vias e dos equipamentos. Nos últimos anos,

este importante corredor ferroviário vem perdendo cargas para os outros modais

de transportes, principalmente o rodoviário, e acumulando prejuízos devido ao

seu estado de sucateamento.

2. Apesar do Terminal Hidroviário Interior de Porto Murtinho ter sido

inaugurado em 1999, os investimentos até então no modal hidroviário foram

inexpressivos, não oferecendo aos produtores, alternativas para o transporte de

suas cargas. Daí a baixa participação do modal hidroviário na matriz de

transportes do Estado.

3. O mesmo caso verificou-se com a Ferrovia FERRONORTE, que

também iniciou as operações do primeiro trecho entre Aparecida do Taboado

(MS) e Alto Taquari (MT) em 1999, não se configurando até então como

alternativa para o escoamento da produção da região norte e nordeste do Estado.

4. Pela oferta de vias distribuídas pelo Estado e pelo seu acesso

direto até os grandes centros consumidores e portos exportadores, o modal

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68

rodoviário continuou a ser a melhor opção para os produtores, mesmo cobrando

fretes mais altos com maior índice de perdas e avarias das cargas e demoras no

desembarque nos terminais portuários, prejudicando os cumprimentos dos

contratos com importadores.

4.2.2 Análise da matriz de transportes de Mato Grosso do Sul – 2003

A Matriz de Transportes – 2003 do Estado de Mato Grosso do Sul,

apresentada na atualização do Plano Diretor de Transportes do CODESUL –

Etapa MS – 2003 está representada na Figura 22 a seguir. Após sua análise,

pode-se fazer as seguintes observações:

9%

10%

81%

RodoviárioFerroviárioHidroviário

Figura22 - Matriz de transportes dos produtos selecionados em 2003 Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL/MS/2003

1 . A matriz atual, se comparada com a matriz apresentada no Plano

Diretor de Transportes do CODESUL/MS de 1999, permite verificar um

agravamento nos custos para o escoamento da produção do Estado, uma vez

que em 1999 a participação do modal rodoviário era de 69%, passando para 81%

na matriz atual.

Page 72: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

69

De fato, o Estado andou na contramão, já que enquanto as políticas

do País e de outros Estados se voltaram para a otimização no uso dos demais

modais de transportes de maior capacidade, principalmente o hidroviário e o

ferroviário, Mato Grosso do Sul mesmo tendo buscado meios para mudar essa

realidade não conseguiu evitar esta atual matriz de transportes.

As principais medidas tomadas ao longo deste período foram:

negociações com investidores para a recuperação da Ferrovia NOVOESTE,

construção do Terminal Hidroviário de Bataguassu, mas que devido a entraves

jurídicos não se encontra ainda em operação, aquisição de área para a

construção e concessão de um Terminal Hidroviário em Porto Esperança, entre

outras.

2 . Mesmo com o início das operações da Ferrovia FERRONORTE a

partir de 1999, houve uma redução de 16% para 10% na participação do modal

ferroviário na matriz de transporte do Estado. De acordo com dados do Plano

Diretor de Transportes do CODESUL/MS/2003, apenas 10,46% dos principais

produtos agroindústrias e granéis agrícolas da área de influência da Ferrovia

FERRONORTE, que totalizaram aproximadamente 1,3 milhões de toneladas,

foram escoados pela Ferrovia FERRONORTE, conforme a TABELA 1 que segue.

TABELA 1 - Produção por município da área de influência da FERRONORTE

Soja Milho Algodão Trigo Arroz Açucar Alcool TotalChapadão do Sul 240.000 158.000 48.750 xx 180 xx xx 447.330Costa Rica 203.040 133.860 71.400 1.560 6.450 xx xx 416.310Sonora 166.400 14.500 xx xx xx 32.230 38.930 252.060Aparecida do Taboado 856 600 xx xx xx xx 33.019 34.475Coxim 27.000 3.720 xx xx xx xx xx 30.720Camapuã 25.000 5.480 xx xx 200 xx xx 30.680Alcinopolis 17.766 6.480 2.352 xx 210 xx xx 26.808Pedro Gomes 16.500 1.275 1.260 xx 225 xx xx 19.260Cassilândia 8.100 6.600 xx xx xx xx 14.700Inocência xx 6.750 xx xx 300 xx xx 7.050Paranaiba xx 2.880 xx xx xx xx xx 2.880Selviria 475 1.600 xx xx xx xx xx 2.075

705.137 342.145 123.762 1.560 7.565 32.230 71.949 1.284.348

Modal de TransporteVolume

Transportad %Ferrovia - Ferronorte 134.389 Soja 10.46Rodovia 1.149.959 89.54

Fonte:Plano Diretor de Transportes do CODESUL/MS/2003

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70

As razões pelas quais os produtores não utilizam esta ferrovia para o

escoamento da produção, uma vez que ela é um dos principais corredores de

exportação com desembarque no Porto de Santos, deverá ser objeto de futura

pesquisa, de preferência em loco, a fim de que se possa responder a tais

questionamentos. A Figura 23 ilustra a matriz de transportes da área de influência

da Ferrovia FERRONORTE, apresentada pelo Plano Diretor de Transportes do

CODESUL/MS – 2003.

Ferroviário

Ferronorte

10,46%

Rodoviário

89,54%

Figura 23 - Matriz de transporte da área de influência da FerroviaFERRONORTE

Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL/MS/2003

Na Figura 24 é possível visualizar a área de influência da Ferrovia

FERRONORTE no Estado de Mato Grosso do Sul.

3 . A administração da Ferrovia NOVOESTE não realizou os

investimentos necessários na reestruturação da malha viária, como manutenção e

aquisição de novos equipamentos, piorando ainda mais a situação desde 1999,

desestimulando o uso deste modal por parte dos produtores. As inadimplências

da NOVOESTE, em relação ao cumprimento do contrato de concessão tomaram

proporções tão grandes que em 28/04/2005 foi assinado um Termo de Ajuste de

Conduta, firmado entre a ANTT9 e o presidente da Brasil Ferrovias, onde estão

previstas as medidas a serem adotadas pela Ferrovia NOVOESTE com os

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71

respectivos prazos de execução e as possíveis penalidades. Esse Termo de

Ajuste de Conduta deverá ser constantemente acompanhado pelas autoridades

públicas e empresas privadas, a fim de que de fato a Ferrovia NOVOESTE

cumpra a sua parte.

AQUIDAUANA

RIO VERDE DE MATO GROSSO

COXIM

PEDRO GOMES

SONORA

ALCINÓPOLIS

COSTA RICA

CAMAPUÃ

CHAPADÃODO SUL

CASSILÂNDIA

ÁGUA CLARA

INOCÊNCIA PARANAÍBA

APARECIDADOTABOADO

SELVÍRIA

TRÊS LAGOAS

BRASILÂNDIASANTARITADOPARDO

RIBAS DO RIO PARDO

SÃOGABRIELDOOESTE

RIONEGRO

CORGUINHOBANDEIRANTES

JARAGUARI

ANASTÁCIO DOISIRMÃOSDOBURITI

TERENOS

CAMPOGRANDE

SIDROLÂNDIANIOAQUE

MARACAJU RIOBRILHANTE

NOVAALVORADA

DOSUL

NOVAANDRADINA

GUIALOPES DA LAGUNA

JARDIM

BONITO

MIRANDA

BODOQUENA

PORTO MURTINHO

CARACOL

BELA VISTA

ANTONIOJOÃO

PONTA PORÃ

ARALMOREIRA

LAGUNACARAPÃ

CAARAPÓ

JUTI

AMAMBAI

ITAPORÃ

DOURADOS IVINHEMA

NAVIRAÍ

BATAIPORÃ

ANAURILÂNDIA

BATAGUASSU

CORONELSAPUCAIA

IGUATEMI

ITAQUIRAÍ

TACURU ELDORADOPARANHOS

SETEQUEDAS

MUNDONOVO

ROCHEDO

ANGÉLICA

AREA DE INFLUENCIA

BOLÍVIA

MATO GROSSO

GOIÁS

MINASGERAIS

SÃO PAULO

PARANÁ

PARAGUAI

CORUMBÁ

LADÁRIO

FÁTIMADO SUL

VICENTINA

TAQUARUSSUNOVO HORIZONTEDO SUL

DEODÁPOLIS

JATEÍ

DOURADINA

GLÓRIADE DOURADOS

JAPORÃ

FERRONORTE

Figura 24 – Mapa área de influência da FERRONORTE Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL - Etapa MS/2003

A TABELA 2, a seguir, também apresentada pelo Plano Diretor de

Transportes do CODESUL – Etapa MS/2003 apresenta o volume de produção de

alguns produtos agroindustriais e graneis agrícolas dos municípios da área de

influência da NOVOESTE, no trecho de Três Lagoas (MS) à Corumbá (MS), que é

de aproximadamente 500.000 mil toneladas.

9 Agência Nacional de Transportes Terrestres vinculada ao Ministério dos Transportes

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72

TABELA 2 – Volume da Produção dos Principais Granéis Agrícolas eAgroindústrias da Área de Influência da NOVOESTE – TrechoTrês Lagoas (MS) à Corumbá (MS)

Municipio/Produto Soja Milho Algodão Trigo Arroz Açucar Alcool Total

Corumbá xx xx xx xx xx xx xx xx

Ladario xx xx xx xx xx xx xx xx

Miranda xx 1.200 xx xx 32.340 xx xx 33.540

Bodoquena xx 1.500 xx xx xx xx xx 1.500

Bonito 21.060 13.000 xx xx xx xx xx 34.060

Nioaque xx 2.475 1.500 xx 450 xx xx 4.425

Anastacio xx xx xx xx xx xx xx xx

Aquidauana xx xx xx xx xx xx xx xx

Dois Irmãos do Buriti 2.880 900 xx xx xx xx xx 3.780

Terenos 13.200 6.355 xx xx xx xx xx 19.555

Rochedo xx xx xx xx xx xx xx xx

Corguinho xx xx xx xx xx xx xx xx

Bandeirantes 39.000 8.400 xx 640 xx xx xx 48.050

Jaraguari 14.850 1.740 xx xx xx xx xx 16.590

Campo Grande 10.605 6.616 xx xx 1.386 xx xx 18.607Nova Alvorada doSul 63.000 44.080 xx 3.660 10.560 xx 47.915 169.215

Ribas do Rio Pardo 22.566 405 xx xx xx xx xx 22.971

Agua Clara 54.000 8.400 xx xx xx xx xx 62.400

Três Lagoas 504 xx xx xx xx xx xx 504

Brasilândia xx xx xx xx xx xx 60.623 60.623

Sub-Total 1º 241.665 95.071 1.500 4.300 44.736 xx 108.538 495.810

Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa MS/2003

Na TABELA 3, temos o volume de produção dos mesmos produtos

dos municípios da área de influência da NOVOESTE no trecho Campo Grande

(MS) à Ponta Porã (MS), que é de 4.292 milhões de toneladas, totalizado nos dois

trechos uma produção de 4.788 milhões de toneladas.

Um dos pontos que mais chama a atenção na TABELA 3 é o volume

de produção dos municípios da área de influência do ramal Campo Grande-Ponta

Porã, que é de 4,2 milhões de toneladas. Este fato mostra com muita clareza a

importância deste ramal para o escoamento da produção desta região, pois de

acordo com Rodrigues (2000), Capítulo 2, o modal ferroviário por suas

características operacionais só oferecem vantagens quando há grande

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73

quantidade de carga a ser transportada em longas distâncias, ainda segundo este

autor, o parâmetro internacional usual é destinar à ferrovia lotes de mercadorias

cuja distância de transporte exceda a 500 km. A situação apresentada na área de

influência da NOVOESTE, em especial na área do ramal de Campo Grande até

Ponta Porã vem de encontro aos conceitos apresentados pelo autor. Ou seja,

grande volume de produção, principalmente de granéis agrícolas, e uma ferrovia

passando por esta região. Porém, como foi verificado a ferrovia esta sendo

subutilizada.

TABELA 3 – Volume da Produção dos Principais Granéis Agrícolas eAgroindústrias da Área de Influência da NOVOESTE – TrechoCampo Grande (MS) à Ponta Porã (MS)

Sidrolândia 205.200 133.200 2.642 3.645 3.545 37.269 24.625 410.135Maracaju 414.720 382.680 4.518 3.150 3.015 83.630 1.377 908.483Antonio João 30.192 14.873 xx 8.781 xx xx xx 53.849Ponta Porã 355.500 155.478 xx 33.600 11.400 xx xx 555.978Laguna Caarapã 195.000 103.813 xx 12.090 1.854 xx xx 312.757Dourados 407.247 471.000 xx 28.500 22.080 xx xx 928.827Itaporã 148.500 165.120 xx 14.400 32.600 xx xx 360.620Douradina 25.730 36.300 xx xx 11.355 xx xx 73.385Rio Brilhante 225.000 251.550 525 12.000 74.400 105.750 18.856 688.081Sub-Total 2º 2.007.089 1.714.014 7.685 116.178 163.249 226.649 57.251 4.292.115Total Geral 2.249.330 1.809.085 9.158 120.478 207.985 226.649 165.789 4.787.925

Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa MS/2003

A TABELA 4 a seguir, apresenta a matriz de transporte da região da

área de influência da NOVOESTE, onde verifica-se a baixa participação do modal

ferroviário no escoamento da produção, apenas 500.341 toneladas do total de

4.788 milhões de toneladas.

Page 77: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

74

TABELA 4 – Volume Transportado por Modal de Transporte da Produção dosPrincipais Granéis Agrícolas e Agroindústrias da Área de Influência daNOVOESTE

Modal de Transporte ProdutoVolume

Transp. em t %

Ferrovia - Novoeste Soja/Trigo 500.341 10.45Hidrovia Paraguai Soja/Milho 244.083 5.10

Rodovia 4.043.501 84.45

Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL – Etapa MS/2003

A representação da matriz de transporte da área de influência da

NOVOESTE é apresentada no Figura 25 a seguir.

Rodovia84.45%

Hidrovia-Paraguai

Paraná5.10%

- FerroviaNovoeste

10.45%

Figura 25 – Matriz de transportes da área de influência daNOVOESTE

Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL/MS/2003

Na Figura 26, a seguir, expõe-se a área de influência da Ferrovia NOVOESTE noEstado de Mato Grosso do Sul.

Page 78: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

75

AQUIDAUANA

RIO VERDE DE MATO GROSSO

COXIM

PEDRO GOMES

SONORA

ALCINÓPOLIS

COSTA RICA

CAMAPUÃ

CHAPADÃODO SUL

CASSILÂNDIA

ÁGUA CLARA

INOCÊNCIA PARANAÍBA

APARECIDADOTABOADO

SELVÍRIA

TRÊS LAGOAS

BRASILÂNDIASANTARITADOPARDO

RIBAS DO RIO PARDO

SÃOGABRIELDOOESTE

RIONEGRO

CORGUINHOBANDEIRANTES

JARAGUARI

ANASTÁCIODOISIRMÃOSDOBURITI

TERENOS

CAMPOGRANDE

SIDROLÂNDIA

NIOAQUE

MARACAJU

RIOBRILHANTE

NOVAALVORADA

DOSUL

NOVAANDRADINA

GUIALOPES DA LAGUNA

JARDIM

BONITO

MIRANDA

BODOQUENA

PORTO MURTINHO

CARACOL

BELA VISTA

ANTONIOJOÃO

PONTA PORÃ

ARALMOREIRA

LAGUNACARAPÃ

CAARAPÓ

JUTI

AMAMBAI

ITAPORÃ

DOURADOSIVINHEMA

NAVIRAÍ

BATAIPORÃ

ANAURILÂNDIA

BATAGUASSU

CORONELSAPUCAIA

IGUATEMI

ITAQUIRAÍ

TACURU ELDORADOPARANHOS

SETEQUEDAS

MUNDONOVO

ROCHEDO

ANGÉLICA

AREA DE INFLUENCIA

BOLÍVIA

MATO GROSSO

GOIÁS

MINASGERAIS

SÃO PAULO

PARANÁ

PARAGUAI

CORUMBÁ

LADÁRIO

FÁTIMADO SUL

VICENTINA

TAQUARUSSUNOVO HORIZONTEDO SUL

DEODÁPOLIS

JATEÍ

DOURADINA

GLÓRIADE DOURADOS

JAPORÃ

NOVOESTE

Figura 26 - Mapa área de influência da NOVOESTE Fonte: Plano Diretor de Transportes do CODESUL - Etapa MS/2003

4. Por sua vez, o Terminal Hidroviário Interior de Porto Murtinho

também não atraiu um volume de carga significativo que pudesse alterar a matriz

de transportes do Estado. Pelo contrário houve uma redução na participação

deste importante modal de transportes. Este é mais um ponto que contraria as

indicações dos autores, pois de acordo com Keedi e Mendonça (2000), Capítulo 2

deste trabalho, assim como o marítimo e o ferroviário o modal hidroviário possuí

elevada capacidade de transporte de carga e baixo custo energético, o que lhe

possibilita custos reduzidos e consequentemente a cobrança de fretes baratos

principalmente em relação ao modal rodoviário.

Após o término das obras, o Terminal Hidroviário Interior de Porto

Murtinho foi concedido à iniciativa privada que por sua vez deveria ter realizado

novos investimentos em curto prazo. O cumprimento de tais obrigações deve ser

fiscalizado pelo poder concedente, no caso de Mato Grosso do Sul, o órgão

público estadual responsável pela fiscalização dos serviços públicos concedidos é

a AGEPAN – Agência Estadual de Regulação e Fiscalização dos Serviços

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76

Públicos de Mato Grosso do Sul, porém em consulta recente a este órgão obteve-

se a informação de que a Agência ainda não realizou as fiscalizações, apesar do

terminal já estar sendo operado pela iniciativa privada desde junho de 2000, data

da privatização.

Os motivos da não fiscalização devem ser identificados, uma vez

que foram investidos recursos públicos em suas obras no ano de 1994, ficando a

empresa vencedora no certame de concessão responsável pelo término das

mesmas e implantação de novas obras para o aumento da capacidade de

embarque do terminal.

5 . Os investimentos realizados na malha rodoviária estadual com os

recursos do FUNDERSUL – Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário

do Estado de Mato Grosso do Sul, permitiram a absorção das cargas excedentes.

6. Os investimentos no setor de infra-estrutura de transporte não

acompanharam o aumento excepcional da produção agropecuária e agroindustrial

do Estado, impactando na distorção do uso dos modais de transportes, sobretudo

no modal rodoviário que absorveu este acréscimo.

Mato Grosso do Sul é um Estado caracterizado pela produção

agropecuária. A produção de grãos vem aumentando de forma acentuada nos

últimos anos e o rebanho bovino é o segundo maior do país.

Existe um esforço por parte do governo estadual e da iniciativa

privada para que o Estado alavanque a sua produção agroindustrial. Porém, um

dos principais gargalos, não somente para a produção agropecuária, mas para a

produção agroindustrial, é o escoamento da produção. A distância dos grandes

centros consumidores e a baixa densidade demográfica, ao que se associa a um

pequeno mercado consumidor regional, tornam a logística de transporte

fundamental para Mato Grosso do Sul.

Em mercados cada vez mais competitivos, seja qual for o bem a ser

negociado, qualquer item na composição dos custos tem que ser cuidadosamente

analisado. Os custos dos transportes têm uma participação bastante elevada no

preço final dos bens comercializados.

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Essa realidade se deve ao fato de que o setor de transporte de

cargas enfrenta graves problemas estruturais devido a uma dependência

exagerada do modal rodoviário, acarretando um crescente número de acidentes,

envelhecimento da frota e uma participação cada vez maior de autônomos. Outro

fator é a morosidade no desenvolvimento dos outros modais de transporte.

O cenário não é diferente em nosso Estado, pois a maioria da

produção de grãos e carne é escoada pelo modal rodoviário, modal este que

apresenta preços de frete mais elevado em relação ao ferroviário e hidroviário.

Essa realidade sacrifica a produção local e consequentemente os

produtores que têm que trabalhar com margens mínimas para poder competir

com produtos de outras regiões mais próximas dos centros consumidores.

Mas se o Estado possui uma ampla disponibilidade de modalidades

de transporte sendo ladeado por duas grandes hidrovias, a Tietê-Paraná a leste, e

a oeste a Hidrovia Paraguai-Paraná e de possuir também duas ferrovias, uma ao

norte a FERRONORTE e no centro a NOVOESTE, porque a maior parte da

produção é transportada pelo modal rodoviário que também vem enfrentado

graves problemas na sua infra-estrutura por falta de conservação e manutenção

das vias quer sejam municipais, estaduais ou federais?

Uma possível causa é de que esses modais não estão em sua

grande maioria interligados, ou seja, não existem terminais de transbordo que

permitam a conexão dos modais para a transferência das cargas e de acordo com

Handabaka (1994), Capítulo 2 deste trabalho, os terminais têm papel fundamental

para a logística de transporte seja realizada com sucesso, desempenhando

importantes funções entre elas a interfase entre os modais de transportes.

O Estado tem a ferrovia NOVOESTE com um traçado paralelo a

rodovia BR 262, mas a maioria dos terminais ao longo de seu percurso ou estão

em péssimas condições de conservação ou estão desativados. Tem as rodovias

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BR 262 e 267 que cruzam a hidrovia Tietê-Paraná, mas também não existem

terminais de transbordo10.

Na ausência de terminais de transbordo e sendo o rodoviário o

único modal que pega a carga dentro da fazenda, frigorífico, indústria etc., e

entrega diretamente ao consumidor, não exigindo a existência de terminais de

transbordo, ele acaba absorvendo a maioria das cargas e fazendo todo o

percurso no transporte das cargas.

Outra causa está na falta de investimentos na manutenção e

recuperação da malha da NOVOESTE, atualmente em péssimas condições, o

que torna inseguro seu uso. Esta subutilização da ferrovia se opõe ao que indica

os autores, pois de acordo com Keedi e Mendonça (2002), Capítulo 2 deste

trabalho, o ferroviário é um modal de transporte recomendado para mercadorias

de baixo valor agregado e em grandes quantidades como produtos agrícolas a

granel, minérios e produtos siderúrgicos e, de acordo com dados apresentados na

introdução deste trabalho, o Estado de Mato Grosso do Sul é um grande produtor

destes produtos.

Já no setor hidroviário, tem-se somente o Porto de Ladário, que

necessita de obras de ampliação e recuperação, e o Terminal Hidroviário Interior

de Porto Murtinho, que de acordo com dados apresentados neste trabalho, vem

atraindo um baixo volume de cargas. As barreiras impostas por ambientalistas,

por sua vez, têm atrasado e dificultado o uso das hidrovias dentro da sua real

capacidade. Novamente temos uma subutilização do setor hidroviário, pois, de

acordo com Keedi e Mendonça (2000), Capítulo 2 deste trabalho, [...] o modal

hidroviário é considerado mais seguro que os demais modais de transporte

terrestre. Essa modalidade de transporte possui elevada capacidade de

transporte de carga e baixo custo energético, o que lhe possibilita custos

reduzidos e consequentemente a cobrança de fretes bem mais baratos,

principalmente em relação ao modal rodoviário.

10 Em 2004 foram finalizadas as obras do Terminal Hidroviário de Bataguassu, as margens do Rio Pardo no município deBataguassu a 30 km da hidrovia Tietê-Paraná. Porém este terminal ainda não se encontra em operação estando com seuprocesso de licitação paralisado.

Page 82: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

79

Para que o Estado cresça dentro do cenário nacional, saindo da

situação de simples produtor primário e possa atraindo novos investidores para o

setor da agroindustrialização, faz-se necessário investir na infra-estrutura de

transporte, pois, somente assim conseguirá entregar sua produção nos mercados

nacionais e internacionais a preços competitivos.

Isso só será possível se conseguir reduzir os custos dentro das

cadeias produtivas, principalmente o custo de transporte, através do uso dos

modais de maior capacidade e de menor preço de frete o hidroviário e o

ferroviário.

Page 83: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

80

5 . CONCLUSÕES

Meios de transportes adequados às cargas, equipamentos para

movimentação das cargas, sistemas informatizados interligando os agentes dos

mercados produtores aos dos mercados consumidores, sistemas de segurança e

terminais para transbordo conectando os diversos modais de transportes,

viabilizando a prática da intermodalidade ou multimodalidade, são algumas das

atividades e infra-estrutura necessária para que se possa ter uma logística de

transporte ideal.

Ao verificarmos a atual situação da logística de transporte do Estado

de Mato Grosso do Sul, concluímos que o Estado não possui uma logística de

transporte satisfatória que possa atender as necessidades do setor produtivo do

Estado para o escoamento da produção.

As principais ineficiências identificadas foram:

1. A matriz de transportes do Estado, identificada em 2003,

apresenta o modal rodoviário como principal meio de escoamento da produção

com uma participação em mais de 80%;

2. O atual estado de sucateamento e a falta de investimentos na

Ferrovia NOVOESTE, uma ferrovia de extrema importância para o escoamento da

produção da região da Grande-Dourados detentora do maior volume de produção

de granéis agrícolas do Estado;

3. A Ferrovia FERRONORTE por sua vez, não atraiu cargas

oriundas da sua área de influência, transportando em 2003 aproximadamente

Page 84: UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO  · PDF fileProf. Dr. Celso Correia de Souza ... Unidos e Argentina 14 Figura 3 – Sistema logístico 23 ... Transportadora 40 Figura 17

81

10% da produção dos principais granéis agrícolas da região Norte e Nordeste do

Estado;

4. As Hidrovias tanto Paraguai-Paraná como a Tietê-Paraná,

também ficaram aquém das expectativas como corredores de escoamento da

produção tanto para o mercado interno, hidrovia Tietê-Paraná, como para o

mercado externo, hidrovia Paraguai-Paraná;

5. A falta de terminais de transbordo conectando os modais de

transporte disponíveis no Estado.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como contribuição para pesquisas futuras sobre a logística de

transporte do Estado, que visem a intermodalidade dos transportes no

escoamento da produção, apresenta-se a seguir as seguintes sugestões:

1. Pesquisa em loco, junto aos agentes produtores e representantes da

FERRONORTE, para identificar quais os motivos pela baixa utilização da

ferrovia no escoamento da produção da região Norte e Nordeste do

Estado;

2. Pesquisa em loco, junto aos agentes produtores da região da Grande

Dourados e concessionários do Terminal Hidroviário Interior de Porto

Murtinho, para identificar quais os motivos pela baixa utilização do terminal

no escoamento da produção;

3. Acompanhamento e fiscalização por parte do poder público estadual e

iniciativa privada, quanto ao cumprimento do Termo de Ajuste de Conduta

acordado entre a Novoeste Brasil (antiga Novoeste) e o BNDES, onde

estão previstas obras de recuperação da via, incluindo o ramal até Ponta

Porã e melhorias no equipamento rodante;

4. Ações do governo Estadual com vistas a implantação de Terminais

Intermodais em pontos estratégicos, inclusive alfandegados, com o objetivo

de viabilizar a conexão entre os modais de transportes disponíveis no

Estado.

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