56
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA AGR 99003 ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO VALDENIR BASSOTTO 150916 Farroupilha/RS PORTO ALEGRE, Abril 2011.

VALDENIR BASSOTTO

  • Upload
    lethu

  • View
    223

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: VALDENIR BASSOTTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

VALDENIR BASSOTTO 150916

Farroupilha/RS

PORTO ALEGRE, Abril 2011.

Page 2: VALDENIR BASSOTTO

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

VALDENIR BASSOTTO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Orientador do Estágio: Engo. Agro. Alfredo Gallina

Tutor do Estágio: Engo. Agro. Profº Paulo Vitor Dutra de Souza

COMISSÃO DE ESTÁGIO: Prof. Elemar Antonino Cassol – Depto. de Solos (Coordenador)

Prof. Fábio de Lima Beck – Núcleo de Apoio Pedagógico

Prof. José Fernandes Barbosa Neto – Depto. de Plantas de Lavoura

Prof. Josué Sant’Ana – Depto. de Fitossanidade

Prof. Lair Angelo Baum Ferreira – Depto. de Horticultura e Silvicultura

Profa. Mari Lourdes Bernardi – Depto. de Zootecnia

Prof. Renato Borges de Medeiros – Depto. de Plantas Forrageiras e

Agrometeorologia

PORTO ALEGRE, Abril 2011.

Page 3: VALDENIR BASSOTTO

iii

Agradecimentos

À equipe do escritório municipal da EMATER/RS-ASCAR de

Farroupilha-RS pelo apoio e pela ótima convivência durante o estágio.

Aos produtores, das visitas técnicas, pela receptividade em suas

propriedades e por colaborarem sempre que possível com as informações

requeridas por mim.

Aos professores da Faculdade de Agronomia da UFRGS pelos

ensinamentos passados durante o curso que permitiram a realização deste

estágio.

Page 4: VALDENIR BASSOTTO

iv

Apresentação

Este relatório descreve as atividades realizadas durante o estágio, sendo

abordados o funcionamento do Sistema de Crédito Rural e as principais

culturas acompanhadas nesse período. O relatório descreve a viticultura e a

produção de kiwi, como culturas principais. A produção de ameixa, pêssego,

caqui e moranguinho são descritas como outras culturas (secundárias), devido

ao menor acompanhamento dessas durante o estágio.

A região da Serra Gaúcha foi o local escolhido para realização do

estágio, devido a sua grande diversidade de culturas, principalmente frutíferas

e olerícolas, sendo que a fruticultura é a área de meu maior interesse, e

posterior expectativa de trabalho como Engenheiro Agrônomo. A EMATER/RS-

ASCAR foi a entidade selecionada porque possibilita vivenciar várias culturas e

interagir diretamente com produtores.

Page 5: VALDENIR BASSOTTO

v

Sumário

Página 1. Introdução ..................................................................................................... 1

2. Caracterização do Município de Farroupilha-RS ....................................... 2

2.1. Clima e Vegetação .................................................................................. 2

2.2. Relevo e Solo .......................................................................................... 3

2.3. Aspectos socioeconômicos ...................................................................... 3

3. Caracterização da empresa ......................................................................... 5

4. Estado da Arte .............................................................................................. 6

5. Atividades principais realizadas durante o estágio .................................. 8

5.1. Acompanhamento no atendimento aos produtores ........................... 8

5.2. Acompanhamento do funcionamento do sistema de Crédito Rural . 9

5.2.1. Modalidades do Crédito ..................................................... 9

5.2.2. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –

PRONAF ............................................................................. 10

5.2.3. Declaração de Aptidão ao Pronaf - DAP ............................... 10

5.2.4. PRONAF Mais Alimento ................................................... 11

5.2.5. PRONAF Agroindústria .................................................... 11

5.3. Elaboração de projetos técnicos ........................................................ 12

5.4. Acompanhamento das culturas do município .................................. 13

5.4.1. Cultura da videira ......................................................... 13

5.4.1.1. Variedades ................................................................ 13

5.4.1.2. Poda verde ................................................................ 15

5.4.1.3. Cobertura vegetal ........................................................ 16

5.4.1.4. Análise de solo ........................................................... 16

5.4.1.5. Comercialização .......................................................... 17

5.4.1.6. Produção de uvas em sistema coberto ............................... 19

5.4.1.7. Problemas Fitossanitários .............................................. 20

5.4.2. Cultura do kiwizeiro ...................................................... 28

5.4.2.1. Variedades ................................................................ 28

5.4.2.2. Sistema de Condução ................................................... 29

Page 6: VALDENIR BASSOTTO

vi

5.4.2.3. Sistema de Irrigação ..................................................... 29

5.4.2.4. Poda verde ................................................................ 30

5.4.2.5. Raleio ...................................................................... 30

5.4.2.6. Problemas Fitossanitários .............................................. 31

5.4.2.7. Ponto de Colheita ........................................................ 32

5.4.2.8. Adubação e cobertura do solo ......................................... 33

5.5. Acompanhamento de outras culturas - secundárias ........................ 33

5.5.1. Culturas do Pessegueiro e Ameixeira ............................... 33

5.5.1.1. Variedades ................................................................ 34

5.5.1.2. Poda verde ................................................................ 34

5.5.1.3. Comercialização .......................................................... 35

5.5.1.4. Tratamento pós-colheita ................................................ 36

5.5.1.5. Problemas Fitossanitários .............................................. 36

5.5.2. Cultura do caquizeiro .................................................... 39

5.5.2.1. Variedades ................................................................ 39

5.5.2.2. Poda verde ................................................................ 40

5.5.2.3. Problemas Fitossanitários .............................................. 40

5.5.3. Cultura do Moranguinho ................................................ 42

5.6. Outras atividades ................................................................................. 43

6. Conclusão ................................................................................................... 44

7. Análise Crítica ............................................................................................ 45

8. Referência Bibliográfica ............................................................................ 46

Page 7: VALDENIR BASSOTTO

vii

Lista de Tabelas

Página

Tabela 1. Produção agropecuária estimada, de Farroupilha, na safra

2010/2011. ......................................................................................................... 4

Tabela 2. Produção e área estimadas da safra 2010/2011. .............................. 5

Tabela 3. Projetos Técnicos realizados durante o período de estágio na

Emater/RS – Ascar, Farroupilha-RS. ............................................................... 12

Page 8: VALDENIR BASSOTTO

viii

Lista de Figuras

Página

Figura 1. Localização do Município de Farroupilha-RS. .................................... 2

Figura 2. Panorama do relevo no Município de Farroupilha-RS, 2011. ............. 3

Figura 3. Oídio em videira (A); Murcha de Fusarium em Tomateiro (B); Dano

por adubação em tomateiro (C); Dano por deficiência de cálcio e boro em

maçã (D); Podridão em kiwi (E); Dano por aplicação de herbicida videira (F). .. 9

Figura 4. Agroindústrias: Pães (A), Geléias (B) e Massas (C). Farroupilha,

2011. ................................................................................................................ 11

Figura 5. Uva da Variedade: Isabel (A); Niágara branca (B) e Niágara rosa

(C). ................................................................................................................... 14

Figura 6. Área realizada poda verde (direita) e área sem realização da poda

verde (esquerda). Farroupilha, 2011. ............................................................... 15

Figura 7. Cooperativa Vinícola Linha Jacinto LTDA. Farroupilha, 2011. ......... 17

Figura 8. Caixas para comercialização da uva in natura e caminhão com

refrigeração para transporte da uva para outros Estados. ............................... 18

Figura 9. Vinhedo em sistema latada com cobertura plástica. Farroupilha,

2011. ................................................................................................................ 19

Figura 10. Sintomas de Míldio em bagas da variedade Moscato. ................... 21

Figura 11. Massa de esporos em bagas atacadas por botritis. ....................... 23

Figura 12. Sintomas de Fusariose (A); Escurecimento da Casca (B) e Pé-

preto (C). .......................................................................................................... 25

Figura 13. Sintomas de ataque de ácaros em ramos novos da videira. .......... 26

Figura 14. Bagas pouco desenvolvidas e em diferentes estágios de

maturação devido à deficiência de boro. .......................................................... 27

Figura 15. Variedade ELMWOOD (piloso) e GOLDEN KING (glabro). ........... 29

Figura 16. Ramo de kiwizeiro com enrolamento característico de perda de

vigor. Farroupilha, 2011. .................................................................................. 30

Page 9: VALDENIR BASSOTTO

ix

Figura 17. Ramo de kiwizeiro sem raleio (A) e com raleio (B). Farroupilha,

2011. ................................................................................................................ 31

Figura 18. Planta de kiwizeiro morta em meio ao pomar. Farroupilha, 2011. .. 32

Figura 19. Ameixa da variedade Fortune......................................................... 34

Figura 20. Máquina classificadora de frutos. SILVESTRIN FRUTAS.

Farroupilha, 2011. ............................................................................................ 36

Figura 21. Sintomas da Mancha Bacteriana em ameixeira. ............................ 38

Figura 22. Ramo de caquizeiro sem poda verde (à esquerda) e com a poda

verde realizada (à direita). Farroupilha, 2011. .................................................. 40

Figura 23. Queda do fruto de caqui com permanência do cálice na planta.

Farroupilha, 2011. ............................................................................................ 41

Figura 24. Cultivo de moranguinho sobre bancada suspensa coberta com

túnel baixo. Farroupilha, 2011. ......................................................................... 43

Figura 25. Participação da organização das variedades de uvas para a 6ª

Vindima em Monte Belo do Sul-RS, 2011. ....................................................... 44

Figura 26. Participação em programas da EMATER/RS-ASCAR na Rádio

Míriam. Farroupilha, 2011. ............................................................................... 44

Page 10: VALDENIR BASSOTTO

1

1. Introdução

O serviço de assistência técnica e extensão rural é o meio através do

qual, os profissionais da área agrícola transmitem conhecimento e auxilio aos

agricultores. As orientações técnicas e trabalhos sociais realizados com os

produtores tornam o manejo mais eficiente e sustentável das atividades

agrícolas nas unidades de produção.

A possibilidade de poder compartilhar conhecimentos, interagir com

profissionais da área agrícola e produtores, sabendo das necessidades e

dificuldades destes, devido à vivência e origem do estagiário na região, são

motivadores para escolha da extensão rural, na área da fruticultura como tema

de estágio.

O estágio foi realizado no período de 3 de janeiro a 28 de fevereiro de

2011, na EMATER/RS-ASCAR do Município de Farroupilha-RS, totalizando

328 horas.

O objetivo do estágio foi vivenciar a atuação do extensionista no seu dia-

a-dia, familiarizando-se com a principal atividade agrícola do Município que é a

fruticultura, podendo vivenciar espécies, variedades, manejos, pragas que

ocorrem com maior freqüência no estádio de desenvolvimento das plantas

durante o período estagiado, e também acompanhar o funcionamento do

Sistema de Crédito Rural.

Page 11: VALDENIR BASSOTTO

2

2. Caracterização do Município de Farroupilha-RS

O Município de Farroupilha (Figura1) está situado a 110 km de Porto

Alegre, na região serrana do Estado, conhecido como Serra do Nordeste do

Rio Grande do Sul, nas Bacias Hidrográficas dos rios Caí e Taquari-Antas.

Possui como coordenadas geográficas: latitude de 29° 14’ 30’’ Sul e longitude

de 51° 26’ 30’’ Oeste, possuindo uma área territorial de 361,8km² (FEE, 2010).

2.1. Clima e Vegetação

O clima é subtropical, segundo a classificação de Köppen sendo do tipo

Cfa. A precipitação pluviométrica média anual é de 1915 milímetros e umidade

relativa do ar entre 70 a 85%, conforme a normal climatológica da estação

meteorológica mais próxima, que é Caxias do Sul, UFFRJ (2009). Farroupilha

possui diversos microclimas, estando sujeito a ocorrência de geadas no

período de maio a setembro. Possui aproximadamente de 400 a 500 horas de

frio por ano. A temperatura média anual é de 17°C (EMATER/RS-ASCAR,

1994).

A vegetação original é a Floresta Subtropical com Araucária.

Figura 1. Localização do Município de Farroupilha-RS. Fonte: Wikipédia, 2011.

Page 12: VALDENIR BASSOTTO

3

2.2. Relevo e Solo

O Município apresenta relevo ondulado a fortemente ondulado (Figura

2), sendo recortado profundamente por rios que formam vales estreitos em “V”.

A altitude média é de 783 metros.

Figura 2. Panorama do relevo no Município de Farroupilha-RS, 2011. Foto: V. Bassotto.

Os solos do Município são considerados de boa fertilidade natural,

porém com limitações para certos cultivos devido ao relevo ondulado. No

Município estão presentes os solos dos tipos: Neossolos, Cambissolos e

Argissolos, sendo tecnicamente classificados nas classes de solos: Cambissolo

Húmico Alumínico, Neossolo Regolítico Distrófico e Argissolo Bruno-

acinzentado Alítico (STRECK et al, 2008).

2.3. Aspectos socioeconômicos

O Município de Farroupilha possui uma população total de 63.641

habitantes sendo 13,4% destes, vivendo no meio rural, segundo o censo do

IBGE (2010). O setor de serviços e da indústria são os responsáveis por 78%

do Produto Interno Bruto (PIB) do Município. A atividade agropecuária contribui

com apenas 4% do PIB do Município, e o PIB per capta é de R$ 20.392,38,

IBGE (2008). As propriedades agrícolas são predominantemente familiares,

Page 13: VALDENIR BASSOTTO

4

com média de 18 hectares. A organização social no meio rural está dividida em

40 comunidades nas quais estão distribuídas em quatro distritos, sendo suas

sedes localizadas da seguinte forma: 1° distrito - Sede, 2° distrito - Vila Jansen,

3° distrito - Nova Sardenha, 4° distrito - Nova Milano.

Farroupilha é considerado um dos municípios com maior diversidade de

cultivos na agricultura. A atividade agrícola é bem desenvolvida e baseada no

cultivo intensivo de frutas e olerícolas, possuindo também criadores de aves,

suínos e gado leiteiro, incluindo algumas agroindústrias familiares com

inspeção municipal e alguns produtores de flores.

A fruticultura é a principal atividade agrícola do Município, sendo a

produção de uvas, pêssegos, caqui, ameixa, kiwi e moranguinho os principais

cultivos respectivamente, como pode ser visto na tabela 1.

Para a safra 2010/2011, a estimativa de área plantada e produção total,

das principais atividades agrícolas do Município de Farroupilha, estão

apresentadas nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Produção agropecuária estimada, de Farroupilha, na safra 2010/2011.

Cultura Área (ha) Produção (T)

Uva 3.900 70.000

Pêssego de mesa 600 9.000

Caqui 215 2.150

Kiwi 120 2.000

Ameixa 175 2.275

Moranguinho 35 1.400

Tomate 70 3.500

Alho 100 1.000

Milho 1.600 7.680

Cebola 80 1.600

Repolho 35 525

Beterraba 30 900

Fonte: Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar, Farroupilha-RS.

Page 14: VALDENIR BASSOTTO

5

Tabela 2. Produção e área estimadas da safra 2010/2011.

Cultura Produção

Leite 9.000.000 litros

Ovos 7.665.000 dúzias

Frango de corte 9.500.000 cabeças

Mudas frutíferas 4.000.000 mudas

Mudas moranguinho 500.000 mudas

Fonte: Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar, Farroupilha-RS.

3. Caracterização da empresa

A Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural – ASCAR surgiu em

junho de 1955 para executar o serviço de assistência técnica e extensão rural

do Rio Grande do Sul, tendo como objetivo levar conhecimento e orientações à

família rural. A partir de 1977 a ASCAR passou a atuar juntamente com a

Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e

Extensão Rural – EMATER/RS. Assim, com denominação conjunta

EMATER/RS – ASCAR, as duas entidades executam as atividades de

Assistência Técnica e Extensão Rural no Rio Grande do Sul.

A EMATER/RS – ASCAR está presente em 485 Municípios, sendo

assim, atuando em mais de 97% do total do Estado, tendo como missão:

“PROMOVER AÇÕES DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E SOCIAL, DE

EXTENSÃO RURAL, CLASSIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO, COOPERANO NO

DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL” (EMATER/RS, 2011).

No Município de Farroupilha a EMATER/RS - ASCAR vem

desenvolvendo suas funções desde 14 de dezembro de 1963, quando foi

fundado o Escritório Municipal. Neste período, os principais objetivos do

trabalho junto às famílias rurais era a diversificação da matriz produtiva nas

áreas de fruticultura, olericultura, bovinocultura de leite, avicultura e

agroindústria, tendo como meta principal, tornar as propriedades rurais mais

diversificadas e estruturadas, para atingir um melhor retorno econômico.

O escritório Municipal da EMATER/RS – ASCAR de Farroupilha realiza

trabalhos de assistência técnica em visitas nas propriedades rurais ou em

atendimento no próprio escritório. Em algumas situações são realizados outros

Page 15: VALDENIR BASSOTTO

6

métodos de Extensão Rural, como cursos, seminários, dias de campo,

reuniões, demonstração de métodos, unidades demonstrativas, visando atingir

um maior número de famílias rurais. A empresa possui convênios com bancos,

a fim de formular projetos de investimentos, para que os agricultores obtenham

crédito em programas governamentais, como o PRONAF. Atua também em

outros programas governamentais que visam melhoria da qualidade de vida,

como por exemplo, o Crédito Fundiário. Mantém convênio com a Prefeitura

Municipal para viabilizar a presença da entidade no Município e em conjunto

elaborar projetos municipais de desenvolvimento rural.

Há também ações na área de bem–estar social, contribuindo para a

qualidade de vida e das famílias rurais. São realizados trabalhos visando a

promoção da cidadania, organização social, geração de renda, segurança

alimentar, educação e promoção da saúde.

A EMATER/RS – ASCAR de Farroupilha atua prestando serviços de

assistência técnica e extensão rural para aproximadamente 1600 famílias em

1400 propriedades rurais. A equipe que atua no escritório municipal é

composta por: Alfredo Galina (Engenheiro Agrônomo); Milton Antônio Grassiani

(Técnico Agrícola); Márcia Inês Berti Georg (Extensionista na área de bem–

estar-social) e Sílvia Rejane Grassiani (Auxiliar Administrativa).

4. Estado da Arte

A Política Agrícola do Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento

Agrário – MAPA envolve ações para o planejamento, financiamento e seguro

da produção agrícola. O crédito agrícola é o meio no qual há a liberação de

recursos destinados a custeio, investimento ou comercialização da atividade

agrícola. Entre as modalidades do crédito agrícola, as taxas de juros são

diferenciadas conforme enquadramento relativo à atividade agrícola e

rentabilidade do produtor. O Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar - PRONAF é o programa que beneficia diretamente o

pequeno e médio produtor. Para aquisição de crédito via PRONAF, os

produtores devem fazer a Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP). Este

documento tem a função de identificar o agricultor familiar, sendo fornecido

pelas entidades credenciadas como a EMATER/RS - ASCAR e as Secretarias

Page 16: VALDENIR BASSOTTO

7

da Agricultura. O Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 prevê um montante de

R$ 16 bilhões para financiamentos da agricultura familiar (MAPA, 2011).

As linhas de crédito do PRONAF são: PRONAF Agroindústria, PRONAF

Agroecologia, PRONAF Floresta, PRONAF Mulher, PRONAF Jovem, PRONAF

Eco, PRONAF Mais Alimento e outros (ESREG CAXIAS DO SUL, 2010) e

(MDA, 2011).

A videira (Vitis sp) tem origem em três centros: Europeu, Asiático e

Americano. As variedades cultivadas são classificadas em três grupos e com

suas aptidões para as diferentes finalidades de uso (GIOVANNINI, 2009).

O Estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional de uvas. A

produção da safra 2008-2009 foi de aproximadamente 527 mil toneladas da

fruta em 35.000 hectares plantados no Estado (IBRAVIN, 2011).

No sul do Brasil os sistemas de condução utilizados são o latada, o

espaldeira, o lira e o GDC. A escolha do sistema de condução leva em

consideração aspectos de relevo, produtividade, qualidade, mão de obra e

custo (EMBRAPA UVA E VINHO, 2010).

O cultivo sob sistema protegido reduz a incidência de doenças e a

necessidade de aplicação de agroquímicos, porém os períodos de carência e

índices de resíduos são diferentes comparativamente ao cultivo convencional

(CHAVARRIA et al Apud VIDA et al, 2007).

O manejo da cultura da videira envolve ações de identificação, através

dos sintomas do ataque, de pragas SONEGO et al (2003), aplicação de

produtos químicos registrados para a cultura conforme AGROFIT (2011),

manejo da cobertura do solo, com utilização de plantas de cobertura e

manutenção com utilização de roçadeira, aplicação de poda verde para

melhorar a qualidade e maturação da uva (GIOVANNINI, 2009).

O kiwi (Actinidia deliciosa) é uma planta de clima temperado, originário

da China. A Itália e Nova Zelândia são os maiores produtores mundiais do

fruto. O kiwi foi introduzido no Brasil em 1971. É uma planta que necessita de

polinização cruzada conforme WIKIPÉDIA (2011). As variedades mais

produzidas no mundo são a Hayward, Abbott, Allison e Elmwood. As

variedades Abbott, Allison e Bruno necessitam menos horas de frio, portanto

são mais recomendadas para cultivo em climas mais ameno como a Região

Sul do Brasil (SIMONETTO et al, 1998).

Page 17: VALDENIR BASSOTTO

8

Há kiwis pilosos e de polpa verde (os citados anteriormente), kiwis

glabros (sem pelo) e kiwis de polpa amarela. Estes estão sendo cultivados em

alguns países nos últimos anos, como no Brasil, por sua menor exigência em

frio.

O kiwizeiro necessita água disponível, solos bem drenados, ricos em

matéria orgânica e não tolera encharcamento, pois em solos com acúmulo de

umidade, a incidência das doenças relacionados com podridões de raízes e

consequente morte de plantas é alto. Phytophthora sp, Rosellinia sp, Botrytis

sp, Glomerella sp e Botryosphaeria sp são os principais causadores das

podridões de raízes encontrados nos Municípios de Farroupilha e Caxias

do Sul no RS conforme SAQUET,A.A.T & BRACKMANN Apud VALDEBENITO-

SANHUEZA (1995). O manejo da cultura do kiwi requer sistema de condução

do tipo latada, aplicação de poda verde visando reduzir incidência de quebra de

ramos, realização de raleio de frutos devido à alta produtividade e melhora de

qualidade do tamanho dos frutos (FEPAGRO, 2007).

5. Atividades principais realizadas durante o estágio

Durante o período estagiado foram realizadas diversas atividades

relacionadas com o dia-a-dia da EMATER/RS – ASCAR de Farroupilha. Na

seqüência, são descritas as atividades realizadas juntamente com informações

gerais captadas em bibliografia, relatos e das visitas às propriedades rurais.

5.1. Acompanhamento no atendimento aos produtores

Durante o estágio diversos produtores buscaram o atendimento no

Escritório Municipal. Muitos trouxeram amostras de materiais para identificação

e assessoramento quanto ao manejo que poderia ser realizado. Foi

diagnosticado em amostras trazidas pelos produtores (Figura 3) os seguintes

problemas: oídio (Uncinula necator) e botritis (Botrytis cinerea) na videira,

deficiência de cálcio e boro em maçã, murcha de fusário em tomateiro

(Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici), queimadura por aplicação da

adubação muito próximo ao pé de tomateiro e dano por aplicação de herbicida,

ao invés de fungicida, na videira. Foi dado assessoramento quanto aos

métodos de coleta de amostras de solo, realização de questionário para

Page 18: VALDENIR BASSOTTO

9

enquadramento nos programas de crédito como o PRONAF, preenchimento de

relatório para realização de projetos técnicos entre outras atividades.

Figura 3. Oídio em videira (A); Murcha de Fusarium em Tomateiro (B); Dano por adubação em tomateiro(C); Dano por deficiência de cálcio e boro na maçã(D); Podridão em kiwi (E); Dano por aplicação de herbicida videira(F). Fotos: V. Bassotto, 2011.

5.2. Acompanhamento do funcionamento do sistema de

Crédito Rural

O Crédito Rural é um programa governamental que oferece recursos

financeiros, com taxas de juros diferenciadas (que variam de 1% a 6,75%a.a.),

para aplicações nas atividades agrícolas e pecuárias, com o objetivo de

estimular os investimentos, custeios e comercialização das atividades rurais.

5.2.1. Modalidades do Crédito

Durante o período estagiado, foi possível acompanhar a demanda pelos

produtores para aquisição de crédito, e o processo de enquadramento destes.

Dentre as modalidades do Crédito Rural, o PRONAF é o mais procurado

pelos agricultores do Município, comprovando a utilização desse recurso pelos

agricultores familiares.

Page 19: VALDENIR BASSOTTO

10

5.2.2. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar – PRONAF

Durante o estágio foram acompanhadas as etapas de enquadramento

de produtores no Pronaf e emissão da Declaração de Aptidão ao PRONAF

(DAP).

No escritório municipal da Emater/RS, os produtores respondiam um

questionamento verbal para ver se satisfaziam as condições primárias de

enquadramento ao Pronaf que são: ser produtor rural, possuir área de no

máximo 4 módulos fiscais (em Farroupilha consiste em 48 hectares), a renda

do ano anterior comprovada pelo talão de produtor ser no mínimo 70%

provinda da atividade agrícola, possuir no máximo 2 funcionários com carteira

assinada e a renda total não ultrapassando os limites estabelecidos para cada

atividade. Os produtores que atendiam a essas condições eram aptos a

fazerem o documento da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP).

5.2.3. Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP

É o documento que identifica os agricultores familiares. É fornecido

pelas instituições autorizadas, sem custo. Em Farroupilha é elaborada pelo

Sindicato dos Trabalhadores Rurais, para quem já é sócio, e pelo escritório

municipal da EMATER/RS, no caso de não ser sócio do sindicato.

Durante o período do estágio foram feitas três DAPs. O documento é

elaborado através do preenchimento do formulário em sistema de informática

chamado SISDAP vinculado ao Ministério da Agricultura. Os documentos

necessários para elaboração da DAP são: talões de produtor do ano anterior,

documentos pessoais ou do casal e escritura ou contrato da propriedade. Com

esse documento (DAP) os produtores eram encaminhados ao banco para fazer

o pedido de crédito conforme enquadramento na linha de crédito do PRONAF,

a qual pertence sua atividade.

O PRONAF Mais Alimentos, e PRONAF Agroindústria são as linhas de

crédito mais procuradas pelos produtores do Município de Farroupilha.

Page 20: VALDENIR BASSOTTO

11

5.2.4. PRONAF Mais Alimentos

O PRONAF Mais Alimentos é uma linha especial de crédito de

investimento para a produção de alimentos. A taxa de juros é de 2% ao ano

com prazo de carência de até 3 anos e até 10 anos para pagamento do

financiamento. Muitos produtores buscam esse recurso. Durante o estágio foi

acompanhado o enquadramento de 6 produtores, da atividade frutícola, no

PRONAF Mais Alimentos, para aquisição de tratores, câmara fria e

pulverizador.

O limite de crédito é de R$ 10.000,00 a R$130.000,00 por beneficiário. O

produtor respondia a perguntas, onde um dos critérios para enquadramento,

era possuir no mínimo 80% da renda total da atividade rural na produção de

alimentos. Para captar o recurso os produtores devem apresentar um projeto

técnico, ao banco, constatando a viabilidade do investimento.

5.2.5. PRONAF Agroindústria

O PRONAF Agroindústria é uma linha de crédito de investimento com a

finalidade de incentivar a implantação de pequenas e médias agroindústrias ou

ampliação, recuperação e modernização de unidades agroindustriais. Com

isso, possibilitando a agregação de valor aos produtos processados.

Durante o estágio foram visitadas três agroindústrias que processam

pães, massas e geléias, respectivamente (Figura 4). Nestas agroindústrias foi

possível ver a organização do processo produtivo, e as exigências quanto à

infraestrutura e equipamentos de cada atividade. Pôde-se observar a exigência

de se ter uma área para recepção da matéria prima e processamento inicial,

área de processamento propriamente dita e uma área de saída dos produtos

embalados.

Figura 4. Agroindústrias: Pães (A); Geléias (B) e Massas (C). Farroupilha, 2011. Fotos: V. Bassotto, 2011.

Page 21: VALDENIR BASSOTTO

12

5.3. Elaboração de projetos técnicos

Os produtores que buscam adquirir crédito na linha do PRONAF,

precisam da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), que é levada ao banco

(BANCO DO BRASIL, SICREDI OU BANRISUL). Estes analisam as condições

do beneficiário e emitem uma autorização para realização de um projeto

técnico. Com essa autorização, orçamento do equipamento, documentos da

propriedade e documentos pessoais, levam-se a uma entidade credenciada, no

caso a EMATER/RS ou Agrônomo particular para realização do projeto técnico.

Durante o estágio foi acompanhada a realização de 9 projetos técnicos

totalizando R$ 312.293,57 de crédito (Tabela 3). Os projetos são realizados

com a utilização de um programa computacional da EMATER/RS – ASCAR.

Neste projeto era feito um planejamento financeiro para comprovação da

capacidade de pagamento do financiamento pretendido. A EMATER/RS –

ASCAR faz os projetos técnicos e cobra do produtor a taxa de 0,5% do total

financiado. A cobrança é feita através da emissão de um Documento de Ordem

de Crédito (DOC) que é entregue junto com o projeto técnico. A cobrança é

feita somente após a liberação pelo banco do projeto técnico. Feito o

pagamento, o produtor traz o comprovante de pagamento até a EMATER/RS-

ASCAR, que libera seu cadastro para realização futura de outro projeto técnico.

Tabela 3. Projetos Técnicos realizados durante o período de estágio na Emater/RS – Ascar,

Farroupilha-RS.

Aquisição Linha de crédito Valor (R$) Prazo (Anos) Trator usado Poupança Rural 12.000,00 2

Trator PRONAF Mais Alimentos 56.369,92 10

Trator PRONAF Mais Alimentos 48.416,38 10

Trator PRONAF Mais Alimentos 56.369,92 10

Trator PRONAF Mais Alimentos 53.497,18 10

Pulverizador PRONAf Mais Alimentos 45.000,00 10

135 Novilhos Investimento Agropecuário 120.150,00 2

Câmara fria PRONAF Mais Alimentos 97.404,14 10

67 T de milho Outros 30.150,00 1

Total R$ 312.293,57

Fonte: Emater/RS – Ascar, Farroupilha 2011.

Page 22: VALDENIR BASSOTTO

13

5.4. Acompanhamento das culturas do Município

Durante o estágio foram feitas saídas a campo, para visitas a produtores

das diversas culturas. Neste relatório, as informações captadas sobre a

fruticultura são baseadas nestas saídas de campo e em materiais do acervo da

EMATER/RS - ASCAR de Farroupilha, juntamente com a visualização feita nas

propriedades e relatos feitos pelos produtores e técnicos do Escritório da

Emater/RS de Farroupilha.

A fruticultura será descrita por culturas, no entanto sem especificar por

propriedades visitadas, e sim uma visão geral da fruticultura do Município. O

acompanhamento da cultura da videira e do kivizeiro juntamente com o

acompanhamento do Sistema de Crédito Rural são as principais atividades

descritas neste relatório.

5.4.1. Cultura da videira

Farroupilha destaca-se na produção de uvas, sendo esta, a principal

atividade agrícola do Município. É o terceiro maior produtor de uvas do Estado,

perdendo apenas para os Municípios de Bento Gonçalves e Flores da Cunha.

A área plantada com videiras em Farroupilha é de 3.900 hectares, com uma

estimativa de produção em torno de 70 mil toneladas para a atual safra 2010-

2011, conforme FEE (2010), superando em aproximadamente 22% a produção

da safra anterior 2009-2010. Essa expectativa se dá devido ao inicio de

produção de vinhedos novos e também pelas condições climáticas favoráveis

ao desenvolvimento e maturação das uvas, ocorridos nesta safra. A

produtividade média no Município de Farroupilha é de 18 toneladas por

hectare.

5.4.1.1. Variedades

No Município são cultivadas as videiras classificadas dos três grupos:

As americanas (Vitis labrusca): também chamadas de comuns, são mais

rústicas e apresentam maior resistência às doenças. Por isso, estão bem

adaptadas a região, possuindo aproximadamente 60% da área cultivada com a

viticultura do Município.

Page 23: VALDENIR BASSOTTO

14

As variedades mais cultivadas, respectivamente no Município, são:

Isabel, Niágara Branca, Niágara Rosada (Figura 5), Bordô e Corcord. Essas

uvas são de menor qualidade para vinificação, no entanto, são bastante

utilizadas para produção de suco e para consumo in natura.

Figura 5. Uva da Variedade: Isabel (A); Niágara branca (B) e Niágara rosa (C). Fotos: V. Bassotto, 2011.

As européias (Vitis vinifera): são menos rústicas e exigentes quanto às

condições de clima e solos. São mais adaptadas em regiões com menor

precipitação pluviométrica, portanto são menos cultivadas no Município de

Farroupilha. As variedades mais cultivadas são: Moscato, Cabernet Sauvignon,

Merlot e Riesling, sendo todas com finalidade para vinificação. Também é

cultivada a variedade Rainha Itália destinada ao consumo in natura. Esta é

cultivada em sistema protegido com cobertura plástica.

A área com uvas européias é de 25% da área total dos vinhedos. Das

viníferas, a que possui área significativa é a variedade moscato, por ter boa

produtividade e por ser utilizada na produção de espumantes, cujo consumo

tem aumentado significativamente nos últimos anos, e com boas perspectivas

futuras de comercialização.

As híbridas (Vitis spp): são cultivares provenientes de cruzamentos. A

área cultivada com híbridas é menor em relação às viníferas, pois são

utilizadas em cortes na produção de vinhos. No Município tem-se

aproximadamente 15% da área total com uvas híbridas. As mais cultivadas

são: Lorena, Couderc, Moscato Embrapa e BRS Rúbia.

A B C

Page 24: VALDENIR BASSOTTO

15

5.4.1.2. Poda verde

A poda verde é uma operação que é realizada durante o estágio

vegetativo da planta. Consiste em retirar o excesso de material vegetativo

desenvolvido durante a fase vegetativa da videira (Figura 6), propiciando uma

maior insolação no interior do vinhedo, maior ventilação, reduzindo a incidência

de moléstias fúngicas como as podridões e o míldio.

Figura 6. Área realizada poda verde (direita) e área sem realização da poda verde (esquerda). Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

Muitos produtores do Município de Farroupilha realizam a poda verde

fazendo o desponte deixando aproximadamente de 6 a 8 folhas após o último

cacho; a desrrama é realizada deixando de 2 a 3 brotações por ponto e os

mesmos são retirados quando tiverem de 10 a 20 cm de comprimento. O

desnetamento é bastante executado e consiste na retirada de ramos que

brotaram de gemas de ramos do ano. Estes são apenas vegetativos, e

considerados como ramos “ladrões”, pois somente utilizam a seiva elaborada

para crescimento vegetativo, causando sombreamento do dossel e desvio de

energia do cacho; e a desfolha que é a retirada das folhas do ramo abaixo do

cacho.

No entanto, durante o estágio foram visitados alguns produtores e

constatado a falta de poda verde, com conseqüente atraso na maturação de

suas uvas e sombreamento excessivo do vinhedo, conforme descrito em

GIOVANNINI (2009). A causa mais relatada pelos produtores para a pouca

Page 25: VALDENIR BASSOTTO

16

realização da poda verde, é a falta de mão-de-obra, pois são produtores

familiares e geralmente contam somente com a mão-de-obra da família.

Um problema constatado em algumas propriedades é o excesso de vigor

das plantas, pelas características do solo e pela adubação química em

excesso, gerando um sombreamento alto no vinhedo. Foi visto ramos atingindo

aproximadamente 5 metros de comprimento, necessitando maior atividade de

desponte. Com isso, foi dado assessoramento para estes produtores quanto

aos benefícios da aplicação controlada da adubação e manejo da poda verde

no vinhedo.

5.4.1.3. Cobertura vegetal

Os produtores utilizam a cobertura verde na maioria dos vinhedos

visitados. O cultivo da aveia preta é predominante entre os produtores para

formação da cobertura verde do solo. No entanto, a quantidade de palhada

sobre o solo, nos vinhedos, é bem diversa. Em algumas propriedades com

vinhedos mais sombreados, ou excesso de crescimento vegetativo, é

percebida a quase inexistência de cobertura do solo com plantas de cobertura

em fase vegetativa ou com palhada. Nestes casos, foi explicado dos benefícios

da utilização da cobertura verde na manutenção da umidade no solo, controle

da erosão, ciclagem de nutrientes e manutenção de abrigos naturais, para os

inimigos naturais de algumas pragas. A utilização da roçadeira como prática de

manejo da cobertura verde, principalmente de plantas espontâneas, tem sido

bem aceita pelos produtores e muitos estão relatando melhoras na qualidade

de seus vinhedos. Isso vai de encontro aos benefícios descritos pela

EMBRAPA UVA E VINHO (2010).

5.4.1.4. Análise de solo

Durante o período do estágio foram recebidos, no Escritório Municipal da

EMATER/RS - ASCAR, 6 amostras de solo para envio ao laboratório de análise

de solos da UFRGS. Na ocasião foi possível acompanhar a interpretação e

recomendação para os resultados de análise que chegaram ao escritório.

Cinco das seis amostras eram de áreas com vinhedos. Na média, as análises

Page 26: VALDENIR BASSOTTO

17

demonstram altos teores de fósforo, potássio e pouca necessidade de

aplicação de calcário para estas áreas.

5.4.1.5. Comercialização

A comercialização é parte fundamental do processo produtivo, pois é o

momento onde o produtor vai ter o retorno do trabalho realizado durante toda

safra.

Em Farroupilha, a maior parte da uva produzida é destinada a produção

de vinhos e sucos, e uma boa parte para consumo in natura. Para vinhos e

suco a comercialização se dá com as 40 cantinas que estão localizadas no

Município. Destas 40 cantinas, três são cooperativas vinícolas (Cooperativa

São João, Cooperativa da Linha Jacinto e Cooperativa Emboaba).

A uva também é comercializada com cantinas e outras cooperativas

existentes na região. Os produtores fazem a colheita e armazenam as uvas

em caixas de 20 kg. Estas são transportadas nos caminhões até o ponto de

industrialização (Figura 7). Alguns produtores transportam a uva a granel nos

caminhões, e quando chegam às cantinas, despejam a uva diretamente no

moedor.

Figura 7. Cooperativa Vinícola Linha Jacinto LTDA. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

Para consumo in natura, a uva é colhida cuidando de três requisitos:

coloração, textura e sabor. Estando de acordo com estes requisitos é feita a

colheita apenas dos cachos de tamanho médio a grande, com boa formação e

sem problemas de doenças ou danos. Estes cachos são acomodados em

Page 27: VALDENIR BASSOTTO

18

caixas de 5 ou 7 kg cada (Figura 8) e transportados para os centros

distribuidores, como a CEASA de Porto Alegre, CEASA de Caxias do Sul e no

comércio local. Também é transportado para outros Estados como Santa

Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do sul.

Figura 8. Caixas para comercialização da uva in natura e caminhão com refrigeração paratransporte da uva para outros Estados. Farroupilha, 2011. Fotos: V. Bassotto.

Nesta safra, devido às boas condições climáticas, a boa qualidade das

uvas produzidas e a diminuição dos estoques das cantinas, proporcionaram

boas perspectivas na comercialização e valorização da uva. A diminuição dos

estoques deve-se à maior comercialização dos espumantes, vinhos e sucos, da

safra passada. Com isso, muitos produtores conseguiram negociar sua

produção antes mesmo de completar o período de maturação da uva. Um

exemplo é a busca pela uva Moscato, que nesta safra foi muito procurada.

Houve negociação e a compra da produção até um mês antes do período de

colheita, com garantias de pagamento em até três dias após o recebimento da

uva. Isto agradou muito os produtores. Normalmente, as cantinas realizam o

pagamento parceladamente, e somente a partir do inverno posterior à colheita.

O preço pago aos produtores é estabelecido pela CONAB, a qual fixa

um preço mínimo, conforme classificação do grupo e graduação glucométrica

das viníferas. Para a safra 2010-2011 o preço mínimo básico fixado é de

R$ 0,52 para as uvas americanas e híbridas, sendo que para cada grau

glucométrico acima de 20º, é concedido ágio de 5% e para cada grau abaixo

de 13º, é aplicado deságio de 5%, CONAB (2010). No entanto, o preço da uva

também é influenciado pela lei da oferta e da procura e nesta safra ele poderá

Page 28: VALDENIR BASSOTTO

19

ter remuneração superior ao preço mínimo, como no caso da variedade

moscato.

5.4.1.6. Produção de uvas em sistema coberto

O Município de Farroupilha tem aproximadamente 20 hectares de

produção de uvas no sistema coberto com cobertura plástica. O sistema de

condução predominante é o latada com formação de túneis sobre cada fileira

de plantio (Figura 9). Foi visto que não há um consenso quanto ao

espaçamento a ser utilizado entre um túnel e outro. Existem vinhedos onde a

área de abertura entre os túneis é muito pequena, resultando na formação

inicial do processo de erosão do solo, sendo visto pelo inicio da formação de

sulco, ocasionado pelo deságüe da água da chuva no mesmo ponto entre os

dois túneis. No caso contrário, um espaçamento muito grande provoca um

umedecimento maior do dossel gerando aparecimento de doenças que

geralmente aparecem no cultivo convencional, sem cobertura plástica.

Figura 9. Vinhedo em sistema latada com cobertura plástica. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

A cobertura tem por objetivo evitar o molhamento foliar formando um

micro-clima desfavorável ao desenvolvimento de fungos, principalmente os

causadores do míldio e podridões, que são as doenças de maior ocorrência na

região.

Page 29: VALDENIR BASSOTTO

20

Foi possível visualizar a sanidade maior da parte vegetativa da planta

que se encontra sob o plástico, com maior incidência de doenças,

principalmente o míldio, em ramos que crescem para fora da cobertura plástica.

Isso comprova a maior sanidade e permanência da folha na parte coberta, e

menor necessidade de aplicação de produtos químicos, conforme descrito em

CHAVARRIA et al (2007). Os produtores relatam que fazem aproximadamente

5 aplicações de produtos químicos, para controle de ácaros e oídio, nesse

sistema. Foi explicado a esses produtores, os resultados obtidos em

experimento realizado na EEA da UFRGS, onde foram realizadas 2 aplicações

de produtos e consequentemente foram encontrados resíduos nessas uvas

após a colheita. No entanto, no sistema convencional (fora da cobertura), onde

foram realizados 18 tratamentos, não houve presença de resíduos.

Há a necessidade de esclarecer aos produtores quanto aos prazos de

carência dos produtos aplicados. Como não há molhamento foliar e não ocorre

incidência direta dos raios UV, não ocorre uma lavagem dos produtos pela

água da chuva e também não ocorre a degradação rápida das moléculas do

produto químico aplicado, pois o plástico apresenta aditivos anti-UV. Com isso,

deve-se ter um manejo fitossanitário diferenciado do manejo convencional e os

prazos de carência dos produtos não devem ser levados em conta, pois foram

feitos para o manejo convencional, neste caso ocorre degradação da molécula

pelos raios do sol e também lavagem do produto pela ação da água da chuva.

Portanto, no sistema coberto só deve-se aplicar produtos químicos, quando há

alguma doença instalada com possibilidade de danos, já que os produtos vão

permanecer mais tempo agindo no fruto, podendo ter resíduos na hora da

comercialização, causando risco ao consumidor final.

5.4.1.7. Problemas Fitossanitários

No Município de Farroupilha, as doenças são as maiores causas de

perdas de produtividade dos vinhedos, devido às características topográficas e

climáticas da região. Com isso, necessita um manejo fitossanitário e práticas

culturais que possibilitem uma condição menos favorável ao desenvolvimento

dos patógenos durante o ciclo da cultura.

Page 30: VALDENIR BASSOTTO

21

Os principais problemas visualizados durante o período do estágio e que

consequentemente são os de maior incidência e freqüência, no Município de

Farroupilha, são as doenças da parte aérea como o Míldio (agente causal:

Plasmopora viticola) e as Podridões, sendo a Podridão-cinzenta-da-uva

(agente causal: Botryotinia fuckeliana de forma conidial Botrytis cinerea) e a

Podridão-da-uva-madura (Glomerella cingulata de forma conidial Colletotrichum

gloesporioides) as principais. Nos problemas com mortandade de planta, tem-

se a Fusariose (agente causal: Fusarium oxysporum f. sp. Herbemontis), Pé-

preto (agente causal: Cilindrocarpon destructans) e o Escurecimento da casca.

Nos insetos tem-se a Pérola-da-terra (Eurhizococcus brasiliensis) e no sistema

protegido ocorre incidência do Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus), o

Ácaro rajado (tetranychus urticae) e Oídio (agente causal: Uncinula necator).

Míldio: também chamada de mufa ou mofo, é a principal doença que

ataca a parte aérea da videira. A doença é causada pelo pseudofungo

Plasmopora viticola, o qual pode infectar a planta desde a floração até a

maturação da uva. Os danos ocorrem nas folhas e diretamente nas bagas

causando um murchamento e seca destas (Figura 10). As condições favoráveis

ao desenvolvimento do pseudofungo são temperaturas amenas, em torno de

18 a 25ºc e alta umidade relativa, coincidindo com as condições climáticas no

Município no período de desenvolvimento da cultura.

Figura 10. Sintomas de Míldio em bagas da variedade Moscato. Foto: V. Bassotto, 2011.

Page 31: VALDENIR BASSOTTO

22

O controle dessa doença, no Município, é feito através de aplicações

preventivas de calda bordalesa e fungicidas registrados para a cultura. As

aplicações são realizadas conforme calendário de maior suscetibilidade de

ataque do patógeno, que consiste do inicio da brotação ao início da maturação.

Com isso, foi visto muito pouca incidência de danos causados por essa doença

nesta safra. Conforme relatos dos produtores e dos técnicos da EMATER/RS -

ASCAR, essa doença é a que mais utiliza defensivos para o controle, pois a

incidência da doença é alta nas condições climáticas do Município e o

tratamento curativo é menos eficaz.

Oídio: Causada pelo fungo Uncinula necator é a principal doença que

ataca a videira em sistema coberto, pois nesse sistema não há molhamento

foliar e conseqüentemente forma um ambiente seco e com temperaturas

amenas. Essas características combinam com a umidade e temperatura ótima

para o desenvolvimento do fungo, em torno de 25ºC, propiciando o

desenvolvimento da doença e ataque de ácaros.

Os sintomas se manifestam nas folhas através da produção de colônias

em ambos os lados da folha apresentando uma massa branca, que consiste no

micélio do fungo. Em ataques severos as folhas manifestam sintoma de

enrolamento para cima. Nas bagas infectadas, apresentam cicatrizes que

posteriormente podem rachar expondo as sementes (como foi visto em material

trazido por um produtor ao escritório municipal da EMATER/RS - ASCAR

(figura 3(A)) permitindo a entrada de organismos que causam podridões. O

controle dessa doença também é feito preventivamente com uso de produtos

registrados no AGROFIT.

Podridão-cinzenta-da-uva: também chamada de podridão-do-cacho, ou

botritis causada pelo fungo Botryotinia fuckeliana de forma conidial Botrytis

cinerea. É a doença mais importante das podridões do cacho. O fungo vive

como saprófita e não é específico da videira, atacando diversas plantas,

considerado um fungo polífago, conforme SONEGO et al (2003).

A infecção ocorre na floração onde o estilete floral é infectado e o fungo

invade as bagas permanecendo latente durante o desenvolvimento destas, só

aparecendo os sintomas no início da maturação. No início uma simples baga

infectada se torna marrom e apodrece produzindo visível massa de esporos

(Figura 11) e quando o teor de açúcar das bagas se eleva durante o

Page 32: VALDENIR BASSOTTO

23

amadurecimento dos frutos, o fungo reinicia o crescimento e se dissemina

rapidamente através das bagas. Devido às condições climáticas do Município

de Farroupilha no período de maturação da uva, torna-se um ambiente

extremamente favorável ao desenvolvimento da doença que está associada

com alta umidade relativa e temperaturas amenas durante esse estádio de

desenvolvimento da cultura.

Figura 11. Massa de esporos em bagas atacadas por botritis. Foto: V. Bassotto, 2011.

Os produtores fazem o controle preventivamente a partir do estádio da

floração ao início da maturação da uva. São feitas aplicações com produtos

registrados para a cultura. Os técnicos da EMATER/RS-ASCAR esclarecem

aos produtores a necessidade de aplicação de produtos com menor período de

carência possível, pois se mal calculado, poderão estar colhendo uva com

resíduo do fungicida. Os sintomas conferem com as ilustrações contidas na

literatura SONEGO et al (2003).

Podridão-da-uva-madura: causada pelo fungo Glomerella cingulata,

forma conidial Colletotrichum gloesporioides. Tem como sintomas primários o

apodrecimento dos frutos maduros, apresentando manchas marrom-

avermelhadas, as quais posteriormente atingem toda a baga causando a

mumificação. Em condições climáticas favoráveis, temperaturas altas e elevada

umidade relativa, aparecem pontuações cinza-escuras constituídas de

estruturas do fungo e posteriormente, essa pontuações abrem-se exibindo um

crescimento róseo do fungo, sendo então a doença facilmente diagnosticada.

Page 33: VALDENIR BASSOTTO

24

Outro dano ocorrido na atual safra é a ocorrência da mortandade das

plantas que tem preocupado os produtores. As doenças mais encontradas

causando esse dano são:

Fusariose: é uma doença que tem preocupado os produtores na atual

safra, foi diagnosticada uma maior incidência neste ano. É uma doença

vascular, cujo patógeno penetra através de ferimentos nas raízes, causando o

entupimento dos vasos de condução da seiva bruta (xilema). É causada pelo

fungo de solo Fusarium oxysporum f. sp. Herbemontis e os sintomas da doença

podem ser observados durante todo o ciclo de desenvolvimento da planta.

Os sintomas visualizados conferem com os descritos em EMBRAPA

UVA E VINHO (2003) onde na parte aérea, ocorre o retardamento da brotação

e redução de vigor, as folhas murcham subitamente, tornam-se amareladas,

secam e caem. Os frutos podem secar e permanecer aderidos ao ramo. A

doença foi facilmente diagnosticada em plantas doentes, através do corte do

tronco doente que mostra o escurecimento dos vasos do xilema.

Escurecimento da casca: é uma doença que vem aumentando em sua

incidência na região. Na atual safra 2010/2011 a doença tem causado a morte

de muitas plantas nos vinhedos. Os sintomas típicos são o escurecimento da

região do córtex da planta, murcha total da parte aérea com permanência dos

cachos e desenvolvimento reduzido da parte vegetativa da planta. Conforme

relatos do Eng. Agr. Alfredo Gallina, não se tem pesquisa sobre o agente

causal da doença. Podendo ser referida a condições abióticas.

Pé-preto: é uma doença relativamente nova no Município de

Farroupilha. Causada pelo fungo Cilindrocarpon destructans. Ataca

principalmente cultivares americanas, com idade inferior a 5 anos e mudas

proveniente de estacas (pé-franco). É considerado um fungo colonizador

pioneiro de raízes jovens, devido a sua grande habilidade competitiva. O

sintoma característico é o escurecimento e apodrecimento do colo da planta.

Os produtores seguem as recomendações dadas pelos técnicos da

EMATER/RS-ASCAR, visando diminuir a incidência dessas três doenças que

causam a morte de plantas (Figura12).

Page 34: VALDENIR BASSOTTO

25

Figura 12. Sintomas de Fusariose (A); Escurecimento da Casca (B) e Pé-preto (C). Fotos: V. Bassotto, 2011.

As medidas de controle utilizadas pelos produtores do Município são

baseadas conforme descrito em GIOVANNINI (1999). As principais práticas

são:

Controle através do manejo cultural preventivo, utilização de mudas sem a

presença de inóculo, utilização de cultivares mais resistentes como a

variedade Isabel, quando cultivada de pé-franco, utilização do porta-enxerto

pausen 1103 ou o R99 e Rupestris Du lot;

Não revolver o solo, evitando qualquer tipo de ferimento ao sistema

radicular e colo da planta, durante a manutenção das estradas dentro do

vinhedo e na roçada da cobertura verde, dificultando e diminuindo a entrada

e ocorrência destas doenças;

Em áreas que já possuem a doença, fazem a erradicação das plantas com

sintomas da doença e preparo da cova com cal para replantio. Essas

medidas possibilitam eliminar algum foco de disseminação do patógeno,

permitindo, que a muda nova, se desenvolva num ambiente com todos os

nutrientes necessários, tornando a planta mais resistente;

Aplicação de Trichoderma. Este é um fungo entomopatológico que atua no

controle de fungos patogênicos do solo. Os técnicos recomendam fazer 3

aplicações durante o ano. A aplicação deve ser realizada quando há

umidade no solo e, preferencialmente, na época da primavera até início do

outono. Muitos produtores relataram que fazem esse controle biológico.

Essas práticas são seguidas conforme disponibilidade de mão-de-obra,

de área disponível e recursos financeiros dos produtores.

Ácaros: o ataque de ácaros tem ocorrido principalmente na produção de

uvas coberta, devido ao ambiente seco que se forma sob o plástico, sendo

C B A

Page 35: VALDENIR BASSOTTO

26

favorável ao desenvolvimento desses insetos. O Ácaro branco

(Polyphagotarsonemus latus) e o Ácaro rajado (Tetranychus urticae) são os

principais. Os sintomas principais são a paralisação do crescimento e atrofia

das folhas e brotações novas causando um atraso na formação do vinhedo

(Figura13).

Figura 13. Sintomas do ataque de ácaros em ramos novos da videira. Foto: V. Bassotto, 2011.

Os produtores de farroupilha utilizam o controle químico para controlar

os ácaros. Utilizam de produtos registrados e com aplicações somente quando

o inseto está presente na área e causando danos ao desenvolvimento da

planta. A quantificação do momento de aplicação é feito visualmente e sem

referenciar um nível de dano econômico.

Pérola-da-terra: Eurhizococcus brasiliensis é uma cochonilha

subterrânea que ataca as raízes das plantas da videira e diversas plantas

silvestres. No Município de Farroupilha os técnicos da EMATER/RS-ASCAR

têm diagnosticado muitas áreas com incidência da praga.

O sintoma mais característico é o definhamento progressivo da planta,

causado pela sucção da seiva pela pérola-da-terra. Quando arrancada a planta

com sintomas, é relativamente fácil identificar as estruturas do inseto nas

raízes da planta.

A recomendação dada pelos técnicos da EMATER/RS-ASCAR, para o

controle da praga, tem sido: adoção de práticas culturais para que a

Page 36: VALDENIR BASSOTTO

27

convivência com a doença não se torne danosa, realizar o plantio de novos

vinhedos em áreas livres da praga, fazer análise de solo e adubação de

correção e manutenção, utilização de mudas de boa procedência (sem a

praga) e aplicação de produtos químicos registrados para a cultura. Durante a

visita a produtores, foi relatado por estes, e pelos técnicos da EMATER/RS-

ASCAR, a dificuldade de controle da praga. O principal entrave para utilização

do controle químico é a necessidade de aplicação dos produtos

individualmente em cada planta, com isso, necessitando muita mão-de-obra.

Os produtores reclamam da ineficiência dos produtos aplicados e reduzido

número de produtos registrados, conforme pode ser visto no AGROFIT, onde

constam somente dois produtos registrados para controle da praga. Porém

conforme relatado pelo Eng. Agr. Alfredo Gallina, isto ocorre devido à má

aplicação dos produtos.

Deficiência de Boro: é um dos micronutrientes que interfere

diretamente na produtividade dos vinhedos. Os sintomas são facilmente

diagnosticados, pois se manifestam pela presença de bagas menores e em

vários estágios de desenvolvimento no cacho, ocorrendo também uma

maturação desuniforme das bagas (Figura 14). A recomendação para controle

dessa deficiência é a aplicação foliar, de produtos a base de boro, no estágio

de desenvolvimento vegetativo até a florada e aplicação de boro via fertilizante

no solo, em casos de alta deficiência.

Figura 14. Bagas pouco desenvolvidas e em diferentes estágios de maturação devido à deficiência de boro. Foto: V. Bassotto, 2011.

Page 37: VALDENIR BASSOTTO

28

5.4.2. Cultura do kiwizeiro

O cultivo do kiwi em Farroupilha é importante, pois é o fruto que

identifica o Município, através da Festa Nacional do Kiwi (Fenakiwi), que ocorre

a cada dois anos. A produção do Município, para a atual safra é estimada em

2.000 toneladas da fruta. A média de produtividade é de 17 T/ha.

O kiwi é originário da China e seu cultivo, em Farroupilha, iniciou em

1985. A planta necessita de solos bem drenados, porém com boa umidade,

solos ricos em matéria orgânica e pH levemente ácido. As plantas possuem

crescimento vigoroso e necessitam de plantas polinizadoras.

5.4.2.1. Variedades

A principal variedade cultivada no mundo é a Hayward, sendo

caracterizada por apresentar maior período de conservação em câmaras frias,

possuir melhor padrão, qualidade de fruto e aceitação pelo mercado

consumidor.

No Município de Farroupilha a variedade Hayward não é muito

produzida, devido à falta de frio para quebra de dormência, que causa a

brotação desuniforme, pois somente as gemas da extremidade do ramo

brotam. Com isso, é necessária aplicação de Dormex, para quebra de

dormência. No entanto, mesmo com aplicação de produtos para quebra de

dormência, em muitos anos não se mostra eficaz.

As variedades mais produzidas no Município são o Elmwood, Bruno e

Monty (todos com pêlos) e recentemente esta crescendo a área plantada com

as variedades Actinidia chenensis: Golden king, Yellow Queen, MG-06 e

Farroupilha, que são variedades sem pêlos (Figura 15).

Page 38: VALDENIR BASSOTTO

29

Figura 15. Variedade ELMWOOD (piloso) e GOLDEN KING (glabro). Foto: V. Bassotto, 2011.

As variedades do grupo sem pelo são mais precoces, mas se conservam

menos pós-colheita. Por isso são mais indicadas para mercados consumidores

próximos. Outro aspecto negativo, destas variedades, é a ocorrência de ataque

da Mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus), devido à ausência

da proteção dada pelos pêlos.

5.4.2.2. Sistema de Condução

No Município de Farroupilha os pomares de kiwi são conduzidos no

sistema latada. A condução da planta é feita com dois ramos principais de

aproximadamente 2 metros de comprimento cada, nos quais se desenvolvem

os ramos produtivos e esporões para próxima safra.

O espaçamento utilizado é 4m entre plantas por 4 a 5m entre fileiras,

totalizando 500 a 625 plantas por hectare. No entanto, foi visto durante visitas a

produtores que o espaçamento de plantio tem reduzido para aproximadamente

3,5m entre plantas e 4m entre fileiras. A poda de inverno é realizada deixando-

se aproximadamente 20 varas com 10 a 12 gemas cada e um esporão para

cada vara, caso tenha galhos suficientes, para cada planta.

5.4.2.3. Sistema de Irrigação

A irrigação é essencial para o desenvolvimento do kiwizeiro. O

parâmetro utilizado é de 6 mm de água por dia de necessidade hídrica. No

entanto não tolera encharcamento. O sistema de irrigação utilizado é o micro-

Page 39: VALDENIR BASSOTTO

30

aspersão. Os aspersores são instalados entre as filas e abaixo do dossel da

planta, para que não haja molhamento dos frutos e folhas, durante o período de

fornecimento de água.

5.4.2.4. Poda verde

A poda verde é uma prática de manejo fundamental na cultura do

quivizeiro, pois possibilita a redução de danos causados pela quebra de ramos,

através do vento. Nesta poda, realizada durante o período vegetativo, são

retirados os ramos ladrões e com desenvolvimento vegetativo excessivo.

Também é feito o desponte de ramos que crescem muito, e que começam a

perder vigor, mostrando sintoma de enrolamento (Figura 16), neste caso tem

por objetivo fortalecer o ramo para a próxima safra. O desenvolvimento

vegetativo vigoroso foi visto nos pomares, confirmando necessidade de

realização do desponte conforme dados da (FEPAGRO, 1998).

Figura 16. Ramo de kiwizeiro com enrolamento característico de perda de vigor. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

5.4.2.5. Raleio

O raleio consiste na retirada do excesso de frutos num mesmo ramo,

possibilitando gerar frutos com maior diâmetro e melhor apresentação para

comercialização. Os produtores realizam o raleio quando os frutos apresentam

Page 40: VALDENIR BASSOTTO

31

diâmetro de 2 a 3 cm, retirando-se os frutos menores, mal formados. Em

muitos casos é comum uma penca com 3 frutos sendo normalmente o central

de maior tamanho. Neste caso, se o numero de frutos é elevado, retiram-se os

dois frutos laterais de menor tamanho.

Em visita a um pomar de kiwi, foi possível ver que durante a poda de

inverno foi feito a condução com aproximadamente 10 varas com 10 a 12

gemas cada, destas, cada gema brotou e produziu entorno de 5 frutos por

ramo do ano. Com isso se fez necessário fazer o raleio para que cada ramo

ficasse com aproximadamente 2 ou 3 frutos de bom calibre. (Figura 17)

Figura 17. Ramo de kiwizeiro sem raleio (A) e com raleio (B). Farroupilha, 2011. Fotos: V. Bassotto.

Outro parâmetro de raleio que consta na literatura é deixar em torno de

20 a 25 frutos por m², perfazendo um total de 200.000 a 250.000 mil frutos por

hectare. No entanto os produtores não utilizam esse critério, pois visualmente

reconhecem os frutos que devem ser retirados.

5.4.2.6. Problemas Fitossanitários

O quiwizeiro é uma planta muito rústica e resistente a doenças. O maior

problema encontrado no cultivo do kiwi é a morte de plantas (Figura18),

ocasionada pelo excesso de água em solos mal drenados, causando asfixia

das raízes e proporcionando o aparecimento de doenças fúngicas do solo. As

principais doenças que estão sendo diagnosticadas nos pomares são causadas

por Phytophthora, Roselinia e Fusarium. Os técnicos da EMATER/RS - ASCAR

recomendam medidas de controle preventivas, evitando-se o plantio em áreas

encharcadas e recém desmatadas. Ultimamente começa-se a preconizar o

A B

Page 41: VALDENIR BASSOTTO

32

plantio de novas áreas em camalhões com sistema de drenagem entre os

camalhões.

Uma doença que tem aparecido nos pomares de kiwi do Município, é a

presença do fungo Ceratocystis finbriata que ataca o sistema radicular da

planta levando-a à morte. Esta doença é comum de ser diagnosticada

atacando eucalipto e mangueira. Os técnicos da EMATER/RS - ASCAR

relataram que está sendo investigada a ocorrência da doença na Região da

Serra, através de um trabalho de Pós-graduação, por um profissional da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cujo trabalho está sendo

realizado na Universidade Federal de Viçosa (UFV) de Minas Gerais.

Figura 18. Planta de kiwizeiro morta em meio ao pomar. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

5.4.2.7. Ponto de Colheita

A colheita é realizada a partir da primeira quinzena de março para as

variedades mais precoces e se estende até final de maio. Portanto, não foi

possível acompanhar a colheita, porém foi relatado pelos produtores e pelo

técnico da Emater, que o ponto de colheita é feito através de amostragem e

análise do teor de açúcar no fruto através do refratômetro. A colheita ocorre

quando os frutos atingem no mínimo 6,2º Brix e são armazenados em câmaras

frias. A comercialização destes, só é realizada quando os frutos armazenados

atingem no mínimo 12ºBrix.

Page 42: VALDENIR BASSOTTO

33

5.4.2.8. Adubação e cobertura do solo

A manutenção da cobertura do solo é feita com o manejo através da

semeadura de inverno de plantas de cobertura como a aveia, sendo realizada a

rolagem ou roçada no inicio do período de floração destas.

A adubação química é baseada em análise de solo, e nos últimos anos a

tendência de recomendação é conforme a extração de nutrientes do solo:

Extração por tonelada de frutos produzidos: N= 5,09kg; P=1,45kg; K=7,88kg.

Essa tabela é utilizada nos pomares da Itália, portanto falta pesquisa para as

nossas condições. Parte do Nitrogênio e do potássio é utilizado em cobertura,

na fase de pós raleio e 45 dias antes do inicio da colheita.

5.5. Acompanhamento de outras culturas - secundárias

As culturas do pessegueiro, ameixeira, caquizeiro e moranguinho são

importantes no Município de Farroupilha. Essas culturas foram menos

visualizadas durante o estágio, por isso serão consideradas como secundárias.

5.5.1. Culturas do Pessegueiro e Ameixeira

O pessegueiro (Prunus pérsica) é a segunda cultura mais plantada no

Município de Farroupilha. A área plantada é de 600 hectares com produtividade

média de 15 toneladas por hectare. As cultivares comerciais são plantas de

porte médio, e que necessitam solos bem drenados e de boa fertilidade para

plena produção.

Farroupilha possui aproximadamente 175 hectares de ameixa em

produção com produtividade média de 13 toneladas por hectare. As principais

cultivares plantadas no Município provém da espécie Prunus salicina lindl,

conhecida como ameixa japonesa. Essa espécie, geralmente requer menor

acúmulo de frio, para quebra de dormência, do que as ameixeiras da espécie

Prunus domestica L. (ameixeira européia).

Em visitas a produtores, foi visualizado que o sistema de condução nas

duas culturas é do tipo taça que permite um bom desenvolvimento e insolação

da planta. São deixados entorno de 4 a 5 pernadas por planta e o espaçamento

Page 43: VALDENIR BASSOTTO

34

mais utilizado pelos produtores do Município é de 3,0 a 3,5 x 4,5 metros entre

filas.

5.5.1.1. Variedades

As variedades de pessegueiro Chimarrita 57%, Chiripá 20%, Marli 10%,

Eragil 5% e Premier 4% são as mais cultivadas no Município. A variedade

Chimarrita é a mais cultivada devido ao fruto ser arredondado e com maturação

no período de alta demanda que é entre o Natal e Ano Novo. A variedade

Premier é mais precoce, com maturação na primeira quinzena de novembro

porém possui baixos teores de sólidos solúveis e polpa pouco firme, isso torna

o fruto pouco apreciado pelos consumidores.

As variedades de ameixeira Fortune, Letícia e Pluma Sete são as mais

cultivadas. A variedade Fortune (Figura 19) é a mais cultivada, pois é bem

adaptada a região e considerada de excelente qualidade pelos produtores e

consumidores, devido ao sabor e coloração do fruto. Foi relatado pelos

produtores e pelo Eng. Agrônomo da EMATER/RS-ASCAR que a ameixeira é

fortemente influenciada pelo clima e polinizadores, sendo que cada variedade

necessita uma variedade polinizadora que coincida a florada, isso para

ocorrência da efetiva polinização cruzada.

Figura 19. Ameixa da variedade Fortune. Foto: V. Bassotto, 2011.

5.5.1.2. Poda verde

A poda verde é realizada durante o período vegetativo da planta, sendo

mais frequentemente realizado juntamente com o raleio, 30 dias antes da

Page 44: VALDENIR BASSOTTO

35

maturação e após a colheita. São retirados ramos muito vigorosos (ladrões) e

ramos mal posicionados, mantendo-se a planta bem arejada e com a formação

conduzida. Os produtores não retiram totalmente os ramos ladrões para evitar

que ocorra a exposição excessiva da radiação solar nos ramos principais,

causando queimadura e levando a morte destes.

5.5.1.3. Comercialização

A produção do Município é toda destinada para o consumo in natura.

Aproximadamente 35% dos produtores, representando em torno de 40% da

produção total do Município, possuem sistema de classificação e embalagem

de seus frutos para comercialização direta com atacadistas. Estes produtores

comercializam frutos com atacadistas de SC, PR, SP, RJ e também na CEASA

de Porto Alegre e Caxias do Sul. Os outros 65% dos produtores comercializam

os outros 60% da produção total do Município com os 4 maiores atacadistas

intermediários de Farroupilha e também com outros comerciantes do Município

de Pinto Bandeira e região.

Os atacadistas de Farroupilha são: Silvestrin Frutas, Fruticultura Polar,

Dalvino Girelli e Irmãos Belaver. Os produtores transportam os frutos até o

atacadista que realiza a classificação. Com isso, muitas vezes o produtor

entrega seu produto sem previsão de preço e com recebimento somente após

a venda de seus produtos.

No pêssego a classificação é feita com máquinas classificadoras que

separam os frutos por tamanho ou peso (Figura 20), dependendo do

equipamento. Existe um parâmetro que classifica os frutos em calibre

possibilitando relacionar o numero de frutos que se necessita para completar

as duas bandejas por caixa, totalizando 7 quilos. Os frutos são classificados

nos calibres: 18, 20, 22, 24, 28, 30, 36 ou 40. Por exemplo: os frutos

classificados como de calibre 24, significa que cada bandeja conterá 24 frutos.

Cada caixa contém duas bandejas, então teremos 48 frutos por caixa que

corresponderão aos 7 Kg padrão da embalagem.

Page 45: VALDENIR BASSOTTO

36

Figura 20. Máquina classificadora de frutos. SILVESTRIN FRUTAS. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

A comercialização da ameixa é toda para consumo in natura, os frutos

são colhidos e acomodados em caixas de 7 kg cada ou vendidas em caixas de

20 kg cada para os atacadistas.

Muitos produtores possuem câmara fria e armazenam sua produção

para venda escalonada, conseguindo receber um valor maior na hora da

comercialização. O período médio de armazenamento está em torno de 1 a 2

meses.

A classificação das ameixas geralmente é feita visualmente

selecionando os frutos em três tamanhos (pequeno, médio e grande).

5.5.1.4. Tratamento pós-colheita

Uma prática utilizada pelos produtores de ameixa após a colheita é a

aplicação foliar do micronutriente boro. São feitas de 2 a 3 aplicações para que

a planta reserve esse nutriente, que é essencial no processo de

desenvolvimento das estruturas reprodutivas da planta. Com isso, aumenta a

eficácia da polinização. O tratamento é feito após a queda natural das folhas e,

em pleno inverno se faz a aplicação de calda bordalesa 1,5%, ou produtos a

base de cobre para diminuir o inócuo da bactéria Xanthomonas campestris.

5.5.1.5. Problemas Fitossanitários

As principais pragas que atacam o pessegueiro no estádio de maturação

e colheita são a mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus) e a

Page 46: VALDENIR BASSOTTO

37

mariposa oriental (Grapholita molesta), sendo imprescindível o controle destes

insetos. Na ameixeira, as principais pragas são a mosca-das-frutas sul-

americana, mancha bacteriana (Xanthomonas campestris) e a podridão-parda

(Monilinia fructicola) que ataca também o pessegueiro.

Mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus) é a principal

espécie que ocorre na Região Sul do Brasil. É identificada pelas manchas

escuras que possui nas asas em forma de “s” e “v” invertido. O dano ocorre

somente no fruto causando um apodrecimento com característica mais úmida,

inviabilizando a comercialização.

Foi visualizado que os produtores do Município de Farroupilha

praticamente não utilizam o sistema de monitoramento, com as armadilhas de

suco, recomendado na literatura. O principal motivo pela não utilização do

monitoramento é a falta de tempo para troca do suco destas, falta de mão-de-

obra e dificuldades para separar e identificar a mosca das frutas, pois muitos

outros insetos são atraídos.

No Município de Farroupilha os produtores utilizam a aplicação de isca

tóxica a partir da fase pré-inicial da maturação (30 dias antes). São feitas

aproximadamente 3 aplicações sem a realização de um monitoramento para

comprovar a presença do inseto na área. Essa isca é feita com proteína

hidrolisada, ou melaço, ou açúcar (na proporção de 5%) mais inseticida

(conforme dosagem estabelecida para o produto) e água. A aplicação é feita

com pulverização na beirada de matos junto ao pomar, na periferia do pomar e

em 20% das fileiras dentro do pomar. O objetivo das aplicações é controlar e

reduzir a população do inseto na área.

Mariposa oriental (Grapholita molesta): os adultos são pequenas

mariposas de cor cinza-escura, com manchas distintas e escuras nas asas. Os

danos ocorrem no fruto e nos ponteiros (brotações novas).

Para controle da Grapholita molesta os produtores fazem o

monitoramento da mariposa através da utilização de armadilhas, tipo delta com

feromônio. A vistoria das armadilhas é feita duas vezes por semana. Na

literatura o parâmetro para entrar com o controle (aplicação de inseticida na

área total) é quando a média semanal atingir o número de 20

mariposas/armadilha/semana. Porém os técnicos da EMATER/RS - ASCAR de

Farroupilha aconselham os produtores a iniciar o controle quando a incidência

Page 47: VALDENIR BASSOTTO

38

for de 12 grapholitas/armadilha/semana, principalmente quando há evidencias

de que há um aumento significativo entre uma contagem e outra. Devido às

condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da praga, está se reproduz

muito rapidamente e, consequentemente, quando houver a presença de 20

grapholitas já atingiu dano econômico. Os produtores colocam as armadilhas e

fazem o monitoramento no período de agosto a setembro.

Bacteriose ou Mancha Bacteriana: é causada pela bactéria

Xanthomonas campestris. A identificação se dá pelos sintomas nas folhas que

aparecem inicialmente pequenas manchas angulares, tornando-se pardas e

perfurando a folha (Figura 21). Nos frutos, causa manchas escuras em

qualquer parte deste. Nos ramos ocorrem cancros. Alta umidade e temperatura

amena são os fatores favoráveis ao desenvolvimento da doença, por isso essa

doença é bem comum nos pomares de ameixa do Município de Farroupilha. É

uma doença passível de convivência.

Figura 21. Sintomas da Mancha Bacteriana em ameixeira. Foto: V. Bassotto, 2011.

O controle é feito com medidas preventivas como: instalação de quebra

ventos nos pomares para reduzir a disseminação da bactéria pelo vento e

eliminação e queima de ramos com cancros. Os tratamentos fitossanitários são

realizados com produtos à base de cobre durante o outono, após a queda

natural dos frutos, e no período de repouso vegetativo da planta.

Podridão parda: é causada pelo fungo Monilinia fructicola wint. Ataca o

pessegueiro e a ameixeira, com sintomas semelhantes para ambas as culturas.

O ataque pode ocorrer na floração, principalmente em períodos com alta

umidade e precipitação, e também no estádio inicial de maturação até a

colheita. O ataque é favorecido em ferimentos causados pelo ataque da

Page 48: VALDENIR BASSOTTO

39

mosca-das-frutas, sendo, portanto o monitoramento e controle da mosca-das-

frutas a prática de manejo adotada para reduzir a incidência da doença.

5.5.2. Cultura do caquizeiro

O caquizeiro – Diospyrus kaki L.F. é uma planta que necessita solos

bem drenados, profundos, com alto teor de matéria orgânica e com teores

médios de argila para seu desenvolvimento pleno.

A área de produção com caquizeiro é de 215 hectares com produção de

2150 toneladas da fruta. O sistema de condução utilizado é em forma de taça,

sendo conduzido com três ou quatro pernadas, deixando-se em torno de 80

carregadores por planta. O espaçamento é de 4x5 metros totalizando 500

plantas por hectare. Com esses dados pode-se ter uma noção de

planejamento. Cada carregador, após o raleio, permanece com três frutos e

multiplicando-se por oitenta carregadores temos 240 frutos. Com uma média de

150g/fruto/planta, tem-se 36 kg/planta, que multiplicado por 500 plantas, dá

uma produção média esperada de 18.000 kg por hectare.

5.5.2.1. Variedades

Durante o estágio foi possível visualizar as características morfológicas

das diferentes variedades cultivadas, sendo possível fazer o reconhecimento

destas. O porta-enxerto utilizado é o Diospyrus kaki, que é a espécie a que

pertencem as variedades cultivadas.

As variedades são classificadas em dois tipos: chocolate branco (Fuyu)

e chocolate preto (Kyoto). No Município a variedade Fuyu representa 70% e a

variedade Kyoto 30% da área plantada respectivamente.

A variedade Fuyu possui frutos grandes com peso médio de 200g cada

com características de um fruto redondo e achatado, a planta possui porte

médio a alto e apresenta apenas flores femininas. Portanto, não possui

sementes caso não ocorra a polinização cruzada com polinizadores.

A variedade Kyoto é a segunda variedade mais plantada no Município e

no Sul do Brasil, o fruto apresenta características de ser grande, comprido e

arredondado. A planta apresenta flores masculinas e femininas, não

Page 49: VALDENIR BASSOTTO

40

necessitando de variedade polinizadora. O período de colheita se dá em maio,

na região.

5.5.2.2. Poda verde

Os produtores fazem a retirada do excesso de ramos vegetativos e de

ramos ladrões para uma melhor ventilação da planta. São retirados ramos que

saem do mesmo ponto (Figura 22) deixando-se em média 2 a 3 brotações e

evitando aquelas que estão abaixo do ramo principal ou com tendência de

crescimento para o interior da planta. Neste momento também é feito desponte

de ramos mais vigorosos para forçar brotações laterais conduzindo a uma

melhor formação da planta e emitir ramos produtivos para a próxima safra. Foi

visto que se deve ter cautela nesse manejo, pois apenas as gemas da ponta,

ou seja, até aproximadamente a 5ª gema são produtivas, e se for realizado um

desponte justamente essas gemas são retiradas.

Figura 22. Ramo de caquizeiro sem poda verde (à esquerda) e com a poda verde realizada (à direita). Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

5.5.2.3. Problemas Fitossanitários

O caquizeiro é uma planta que não necessita de cuidados extremos no

tocante à incidência de doenças, pois é uma planta bem rústica e adaptada ao

clima da região. No entanto, o aumento da área plantada e a necessidade do

mercado consumidor em adquirir produtos isentos de qualquer defeito ou dano,

têm acarretado uma maior incidência de manejo fitossanitário nos pomares. As

principais pragas que atacam a cultura na fase de desenvolvimento vegetativo

visto durante o estágio foram:

Page 50: VALDENIR BASSOTTO

41

Mancha-das-folhas ou Cercosporiose: É causada pelo fungo

Cercospora kaki sendo agente patogênico específico do caquizeiro. É a

principal doença que incide sobre as folhas resultando na queda precoce das

folhas, enfraquecimento da planta e o adiantamento da maturação dos frutos. A

identificação se faz pelos sintomas que se apresentam em ambas as faces das

folhas, principalmente na fase inferior. Aparecem manchas marrom-

avermelhadas com bordos pretos bem definidos, delimitadas pelas nervuras da

folha com aspecto angular. Na propriedade visitada foi relatado pelo produtor e

pelo Agrônomo da EMATER/RS - ASCAR que o controle fitossanitário é feito

através do controle químico, sendo realizada aplicação de caldas fungicidas

(calda sulfocálcica a 4º Bé), no tratamento de inverno, e após o início da

frutificação, fazendo 3-4 pulverizações.

“Doença desconhecida”: Nesta safra foi constatada a ocorrência de

queda dos frutos após o raleio, no qual, estes se desprendem do ramo e em

muitas vezes cai somente o fruto permanecendo o cálice (Figura 23). Foram

coletadas amostras de frutos e encaminhado para análise na EMBRAPA UVA

E VINHO de Bento Gonçalves. Como resultado, foi constatado ataque por

Botrytis e Alternaria.

Figura 23. Queda do fruto de caqui com permanência do cálice na planta. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

Um problema que tem sido constatado é a pequena quantidade de

produtos registrados para a cultura. Os produtores têm feito aplicações

preventivas para o controle da doença. Para essa doença causada por Botrytis

e Alternaria não existem produtos registrados, porém o produtor aplicou dois

Page 51: VALDENIR BASSOTTO

42

produtos não registrados Sumilex e Rovral, sendo feitos duas aplicações que

controlaram o problema da queda dos frutos.

Mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) Os procedimentos de

monitoramento e controle são baseados na cultura do pessegueiro relatados

anteriormente.

Lagarta (Argyrotaenia sphaleropa) quando adulta, é uma pequena

mariposa com hábito noturno. Esta lagarta não foi vista nos pomares, porém foi

relatado pela Eng. Agro. Alfredo Galina que essa lagarta é comum existir nos

pomares no período de janeiro e fevereiro. No entanto, os produtores têm feito

aplicações de inseticidas, para eliminação das lagartas, não deixando que

completem o ciclo de vida.

5.5.3. Cultura do Moranguinho

O cultivo do moranguinho, principalmente em sistema convencional

(diretamente no solo) vem perdendo espaço para outras culturas no Município

de Farroupilha. Isso se deve ao alto custo, dificuldades de acesso a mão-de-

obra e alto custo de implantação da cultura.

Nota-se uma maior profissionalização dos produtores que

permaneceram na atividade. Os produtores estão optando pela produção sob

cobertura plástica em forma de túneis baixos, sobre bancadas suspensas

utilizando o sistema semi-hidropônico com utilização de substrato a base de

casca de arroz carbonizada (Figura 24). A utilização da fertirrigação é

predominante no cultivo do moranguinho. As vantagens deste sistema é a

menor incidência de doenças, maior número de plantas por área, maior

facilidade no manejo, pois o produtor não precisa trabalhar agachado e melhor

qualidade da produção.

Page 52: VALDENIR BASSOTTO

43

Figura 24. Cultivo de moranguinho sobre bancada suspensa coberta com túnel baixo. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.

5.6. Outras atividades

Durante o período estagiado foram realizadas outras atividades, as quais

não constavam no cronograma proposto. Porém de grande importância no dia-

a-dia dos técnicos da EMATER/RS - ASCAR. Essas atividades foram:

Participação da organização da exposição de uvas da 6ª Vindima

ocorrida em Monte Belo do Sul; (Figura 25)

Participação de programas de rádio da EMATER/RS – ASCAR na

rádio local (Rádio Miriam); (Figura 26)

Participação de tarde de campo sobre uva orgânica em Faria

Lemos-RS;

Acompanhamento em visita de produtores vindos de Passo

Fundo-RS a uma agroindústria de produção de suco de uva

orgânico;

Leituras de materiais do acervo da EMATER/RS - ASCAR sobre

aspectos sócio-econômicos do Município e das principais culturas

cultivadas em Farroupilha-RS;

Visita a FEPAGRO de Veranópolis-RS para visualização das

variedades de kiwi.

Page 53: VALDENIR BASSOTTO

44

Figura 25. Participação da organização das variedades de uvas para a 6ª Vindima em Monte Belo do Sul-RS, 2011.

Figura 26. Participação em programas da EMATER/RS-ASCAR na Rádio Míriam. Farroupilha, 2011.

6. Conclusão

O estágio é uma atividade de fundamental importância no sistema de

aprendizado, pois neste, tem-se o contato direto com as atividades

relacionadas com a profissão. Com isso, possibilita uma fixação e agregação

dos conteúdos assimilados durante a graduação. Muitas dúvidas foram

esclarecidas, mostrando a diversidade de aplicações dos conhecimentos

técnicos adquiridos.

O objetivo do estágio foi atingido com sucesso. Tornou possível ter

contato com a diversidade de culturas e aplicação de conhecimentos

adquiridos durante a faculdade.

O estágio possibilitou ter mais confiança em mim mesmo, fazendo

transparecer o meu potencial como técnico da área agrícola, consolidando a

vontade de atuação na profissão de Engenheiro Agrônomo.

Page 54: VALDENIR BASSOTTO

45

7. Análise Crítica

O estágio possibilitou interagir com os produtores e conhecer a

diversidade de costumes existentes. Portanto, mostrou-me a necessidade da

aplicação diferenciada do conhecimento técnico aos diferentes produtores. Isso

possibilitou ver o distanciamento, em muitas vezes, do teórico e do prático.

Um ponto positivo é a existência da Emater/RS – Ascar que presta

assistência aos produtores, podendo ser comprovado pela procura dos

produtores no escritório municipal.

A falta de mão-de-obra, relatada pelos produtores, para as atividades de

poda e colheita tem sido preocupante e isso pode tornar a fruticultura do

Município sem maiores possibilidades de aumento de produção. Por outro lado,

esse problema levará os produtores a aumentar a diversidade de cultivos

dentro da propriedade, para um maior escalonamento das atividades de

manejo dos pomares.

Um ponto negativo é a falta de infraestrutura da Emater/RS de

Farroupilha. São somente dois técnicos para atuação em 1400 propriedades, o

que torna inviável atender essa demanda.

O curto período de estágio também é um ponto negativo, pois não

possibilita vivenciar todo o ciclo de desenvolvimento das culturas, assim

perdemos etapas e manejos importantes do sistema de produção.

Page 55: VALDENIR BASSOTTO

46

8. Referência Bibliográfica

SÔNEGO,R.O.; GARRIDO,R.L.; JÚNIOR,G.A. Principais doenças fúngicas da videira no Sul do Brasil. Bento Gonçalves: EMBRAPA, 2005. 32p. (Circular Técnica 56). FEPAGRO - CENTRO DE TREINAMENTO DE AGRICULTORES DE NOVA PETRÓPOLIS. Curso básico de fruticultura. Porto Alegre: EMATER/RS - ASCAR, 2007. Vol.1. e vol.2. SONEGO et al. Uva para processamento. Fitossanidade / editor técnico Thor Vinícius Martins Fojardo. Bento Gonçalves, RS. Embrapa Uva e Vinho, Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 131p.; (Frutas do Brasil; 35). GIOVANNINI.E. Produção de uvas para vinho, suco e mesa. Porto Alegre: Ed. Renascença, 1999. 364p. ESREG CAXIAS DO SUL, 2010. Manual de Crédito Rural. Crédito Rural – Plano de safra 2010-2011. Caxias do Sul, RS. Julho,2010. EMATER/RS-ASCAR; SECRETARIA MUNICIPAL DA AGRICULTURA. Informações técnicas e econômicas sobre a economia e a agricultura do Município de Farroupilha-RS. – Secretaria Municipal da Agricultura / Emater/RS – Ascar, 1994. SIMONETTO, P.R.; FIORAVANÇO, J.C.; RASEIRA, M.C.B.; GRELLMANN, E.O. Fenologia e Características agronômicas de cultivares de ameixa (Prunus salícina LindL.) recomendadas para a região serrana do RS. Porto Alegre: Fepagro; Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. Circular Técnica, 22.p. SIMONETTO, P.R.; GRELLMANN, E.O. Cultivares de kiwi com potencial de produção na região da serra do nordeste do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fepagro, 1998. 19p. (Boletim Fepagro, 7). STRECK, E.V.; KAMPF, N.; DALMOLIN, R.S.D.; KLANT, E.; NASCIMENTO, P.C. & SCHNEIDER, P. – Solos do Rio Grande do Sul. Editora da UFRGS, Porto Alegre: Emater/RS; UFRGS. 2008. MAPA, 2011. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Crédito Rural. Disponível

em:http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/politica-agricola/credito-rural. Acesso em 21 de fevereiro de 2011. MDA, Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programas. Disponível em:

http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/pronaf. Acesso em 8 de fevereiro de 2011.

Page 56: VALDENIR BASSOTTO

47

UFRRJ,2009. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro: Institutos. Disponível em:www.ufrrj.br/institutos/it/deng/daniel/Downloads/.../Pos.../NORMAIS.xxl, Novembro de 2009. acesso em 02 de março de 2011. EMBRAPA UVA E VINHO: Sistemas de Produção. Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Uva/UvasViniferasRegioesClimaTemperado/pragas.htm, acesso em 12 de janeiro de 2011. FEE-FEE/Resumo Estatístico/Municípios/Farroupilha. Disponível em: http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg_municipios_detalhe.php?municipio=Farroupilha. Acesso 26 fevereiro de 2011. IBGE – IBGE CIDADES – FARROUPILHA. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?. Acesso 26 fevereiro de 2011. EMATER/RS – SOBRE A EMATER – Disponível em: http://www.emater.tche.br/site/sobre/missao.php. Acesso 18 janeiro de 2011. IBRAVIN – IBRAVIN-PRODUÇÃO DE UVAS. Disponível em: http://www.ibravin.org.br/admin/UPLarquivos/220220111851472.pdf. Acesso 21 janeiro de 2011. CHAVARRIA.G et al. Incidência de doenças e necessidade de controle em cultivo protegido de videira. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-29452007000300014. SCIELO, 2007. AGROFIT – AGROFIT-CONSULTA DE PRODUTOS FORMULADOS. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso 220 fevereiro de 2011. WIKIPEDIA – QUIUÍ. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quiu%C3%AD. Acesso 20 fevereiro de 2011. SAQUET,A.A.; BRACKMANN.A Apud VALDEBENITO-SANHUEZA, 1995. Disponível em: http://consultaweb.conab.gov.br/consultas/consultaPgpm.do?method=acaoCarregarConsulta. Acesso 07 fevereiro de 2011. CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento – PGPM - TÍTULO 63 – NORMAS ESPECÍFICAS DE UVA INDUSTRIAL – SAFRA 2010/2011. Disponível em: http://www.conab.gov.br/conabweb/download/moc/titulos/T63s2010-2011.pdf. Acesso 15 janeiro de 2011.