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  • A descrio do vocalismo tono quinhentista: linhas e entrelinhas

    nos textos metalingusticos coevos

    Maria Helena [email protected] .pt

    Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal)

    RESUMO . Com base no tratamento informtico dos textos de gramticos e ortgrafos quinhentistas, analisam-se as descries de fones e as relaes entre estas e factos sincrnicos e diacrnicos igualmente descritos; as ocorrncias das palavras seleccionadas como objecto de descrio, ou ilustrao dos factos descritos so comparadas com as ocorrncias no metalingusticas no mesmo autor e em diferentes autores. Sendo a elevao de tono, o nico ponto que incontroverso na matria, dada a clareza da descrio do primeiro gramtico, Ferno dOliveira, a informao permite testar a fiabilidade dos outros testemunhos. A elevao do restante vocalismo tono continua a ser um tema em debate que apresenta uma vasta rea de questes comuns, comeando pela cronologia . Tendo em conta que o contributo mais importante o de Ferno dOliveira, analisaram-se os conceitos bsicos (letra, [vogal] grande e pequena), definiu-se a perspectiva dominante como sendo a da escrita, constatou-se a maior incidncia das descries nos fones representados por e , e , em consonncia com as afirmaes da proximidade entre eles, e observaram-se contrastes entre a doutrina expressa e a informao contida nas palavras-testemunho, bem como entre as grafias preconizadas e as grafias genunas do Autor. A carncia de uma terminologia adequada, evidente ainda em Soares Barbosa (1822), projecta-se em dificuldades de conceitualizao, tambm patentes nos restantes metalinguistas, cuja informao complementar sintetizada . A variao ~ e ~ origina um nmero elevado de referncias; as interpretaes e relacionaes nem sempre adequadas, no deixam por isso de ser elucidativas, quando comparadas com mudanas por assimilao, dissimilao e analogia, quer ocorridas no passado quer em curso na poca em estudo . No conjunto, a explorao das descries conduz parcialmente caracterizao, no plano do vocalismo tono, do estado de lngua sobre que vir a desenvolver-se o movimento de relatinizao .

    PALAVRAS-CHAVE . Vocalismo tono quinhentista . Fontica histrica . Tra-tamento informtico . Histria do Portugus . Histria da Gramtica .

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    ABSTRACT . Based on the computer processing of the 16th century grammarians, we have analyzed the definitions of phones and the relationships between these and synchronic and diachronic facts, which are also defined; the forms of the words that have been selected as the object to bee described or as the illustration of the described facts are compared with the forms of the same words employed in non metalinguistic uses. The raising of atonic being the only point that is undisputed in this matter (this is due to the clearness of the description of the first grammarian, Ferno dOliveira), this information enables us to test the reliability of the other testimonies .The raising of the remaining atonic vowels continues to be a subject of debate, and it presents us with a vast area of common questions, starting with the chronology. The contribution of Ferno dOliveira being the most important, we have analysed the basic concepts (letter, [vowel] pequena = small, grande = big); we have defined the dominant perspective as being that of writing; we have revealed a larger incidence of descriptions in the phones represented by and , and , in accordance with the affirmations of proximity between them, and we have observed contrasts between the expressed doctrine and information conveyed by testimony-words, as well as between the praised writings and the genuine writings of the Author. The lack of an adjusted terminology, which is still evident in Soares Barbosa (1822) is reflected in the difficulties in conceptualization, also clear in the other Authors, whose complementary information we have synthesised. The variation ~ and ~ give rise to a large number of references; the interpretations and connections are not always appropriate, but this does not make them less informative, at least when they are compared with changes by assimilation, dissimilation and analogy, whether theses changes occurred in the past or are still in progress at that time. As a whole, the exploration of the descriptions leads partly to the characterization, in the plane of the atonic vowels, of the state of the language on which the movement of relatinisation will spread.

    KEY-WORDS. 16th century atonic vowels. Historical Phonetics. Computer processing . History of Portuguese . History of Grammar .

    1. introduo

    O portugus sem dvida uma das lnguas romnicas em que maior o contraste entre um vocalismo tnico extremamente con-servador e claramente delineado na sua quase totalidade desde os primeiros textos graficamente consistentes, e um vocalismo tono no s de difcil apreenso, mas em evoluo ininterrupta at um presente caracterizado pela crescente consonantizao, ou seja pela

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    no articulao, em contextos determinados, de determinadas vogais tonas . No percurso traado, trs momentos merecem particular ateno: o perodo inicial, porque constitui a matriz donde todo o resto deriva; o sculo XVI, porque desse perodo datam a fixao do padro lingustico e os primeiros testemunhos de gramticos e ortgrafos; e finalmente o sculo XVIII, por surgirem ento afirmaes peremptrias sobre a elevao de [e] e [o] tonos. No admira por isso que o assunto seja um tema obrigatrio nas obras sobre histria da lngua portuguesa e tenha suscitado uma ampla reflexo expressa numa vasta bibliografia.

    Duas coordenadas configuram este estudo: primeiro, a anlise das descries lingusticas includas nos textos; segundo, o tratamento informtico do corpus metalingustico quinhentista (a partir de agora, CMQ, descrito no anexo) que, reunindo obras situadas entre 1536 e 1606, permite quantificar a variao grfica nas suas relaes com a mudana .

    2. tono

    A elevao de tono constitui o nico ponto sobre que existe unanimidade .

    O primeiro testemunho o de Ferno dOliveira, inequvoco, e por isso frequentemente citado: Temos a grde como almad & pequeno como lemnh (GR 12 23-24)1 . Ao preconizar o uso da

    1 Trancrevo todas as citaes das obras constantes do CMQ, de acordo com as pr-edies, aligeirando os critrios ento retidos (Paiva, 2002, I, p . 70-79) . As principais alteraes so as seguintes: 1) uso de e , e de acordo com as convenes grficas actuais; 2) substituio de por antes de e ; 3) substituio de s longo por s de dupla curva, mas conservao da sua funo de demarcao da palavra; 4) introduo de acentos grficos apenas quanto estes so indispensveis inteligibilidade do texto, casos em que a vogal alterada aparece em itlico; 5) A abreviatura que pode ser desdobrada como pera ou para, variantes que alternam em Oliveira, representada como p . De entre os traos originrios conservados, destaco: 1) o uso do til, generalizadamente considerado explicitamente pelos vrios gramticos-ortgrafos como smbolo da nasalidade das vogais, mais adequado do que e , letras que representam propriamente consoantes; 2) a geral conservao da palavra grfica, sendo a alterao das delimitaes originrias assinalada pelas convenes seguintes: [] reunio de formas separadas: a[]proveito;

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    letra grega para representar a pequeno, Oliveira considera a distino suficientemente importante para ser indicada por um sinal grfico que facilite a sua identificao; e embora, no exemplo que d, de lemnh, a letra grega assinale tambm a vogal tnica fechada antes de nasal, este o nico caso em que proposto um smbolo para identificar uma vogal tona, visto que o recurso s letras gregas visa distinguir vogais tnicas: para e grande como em fsta, diferente de festo, < > para o grande, como em fermsos, distinto de fermoso (12 24-26) . Exceptuando a vogal tnica de lemnh, e a vogal inicial de almad, o que a seleco de exemplos acusa a elevao da vogal tona inicial e final; outros testemunhos corro-boram estes: ilustrando o facto de vogaes [que] se troco: maro [pretrito perfeito] & amro [futuro] (25 24-26) e, enumerando os casos dos artigos: . d . [] .s . ds . (62 2-3) .

    Na esteira de Oliveira, Barros distingue a grande, que representa por , como em ms e , contraco da preposio com o artigo feminino, e a pequeno como em mas, conjuno, a artigo feminino e pronome (nesse caso representado por ) e ainda vogal tona final, como em ba conciencia (43r 24 44r 1) .

    Em 1576, na Ortografia, a relao entre [a] tnico aberto e [ a] tono fechado integra-se j numa regra de derivao, incidentalmente apresentada por Leo como argumento rejeitado contra a sua tese de que no h mais que hum .a . (2v 11):

    nas vogaes nenhua differena teemos dos Latinos, de quem teem origem a nossa lingoa. E a razo que faz parecer que so dous .aa. hum grande, & um pequeno, he a pronunciao varia, que se causa dos accentos, ou das letras, a que se ajunta esta vogal . Porque quando teem o accento agudo, parece grande, como em prato, & quando graue, parece pequeno, como em prateleiro . (2v 21 3r 4) .

    Esclarea-se que acento agudo equivale em Leo a acento tnico e acento grave a atonicidade . (2v 20-21) . Mas o que merece principalmente destaque o contraste entre a doutrina, que falsa, e o exemplo, que verdadeiro .

    Do conjunto de informaes depreende-se que a elevao de tono no portugus padro do sculo XVI tem carcter geral e

    ][ separao de formas reunidas: o][qual; separao de formas reunidas quando h eliso ou crase: dagua; 3) a geral no interveno em matria de pontuao .

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    est consolidada em posio pretnica em inicial absoluto de palavra (lemanha, maro [pretrito perfeito] ou no (amro [futuro] ), como postnica final (alemanh, almad, ba conciencia) e nas enclticas ( e s, artigo, d e ds, contraco da preposio com os artigos, mas, conjuno). No h referncia vogal postnica no final.

    A informao veiculada pela aplicao do cdigo grfico adop-tado por Barros permitir avaliar a extenso do fenmeno .

    O exame no exaustivo, mas bastante amplo, da obra de Bar-ros, efectuado a partir do ndice de Vocbulos (Paiva, 2002), revela falhas de sistematicidade na aplicao do cdigo, decorrentes de uma insuficiente capacidade de reconhecimento do trao a repre-sentar e da dificuldade de integrao do particular no geral: assim, Barros escreve slvam, mas, em contraste com o exemplo dado por Oliveira, almad, o sinal de abertura completamente omitido nos vocbulos iniciados por al- , como alcanar, algum, almirante, alteza. O mesmo nos vocbulos em que a vogal inicial se manteve aberta, como em acerca, alm, avante .

    A muito larga maioria das notaes comprova que a reduo da vogal tona um fenmeno que se tornou regular, como o atesta a derivao: fcil facilidade, grve gravidade, liberl liberalidade, particulr particularidade, prtica praticar, trablho trabalh-sos.

    A conservao da vogal tona aberta regista-se em duas situaes: a primeira, como no portugus padro contemporneo, quando a vogal resulta da crase de dois em hiato devido queda de consoante intervoclica como em sdios (10v 8) (Teyssier 1966: 144); a segunda, em latinismos recentes, cuja origem se mantm desse modo patente: o que acontece nos derivados de brbaro < lat . BARBA RUS < gr ., vocbulo atestado desde os sculos XIV-XV (Machado, 1990 s .v ., Cunha 1996, s .v .), que so provavelmente neologismos criados por Barros brbarismo (3 ocs) e brbarizar (1 oc .) .

    Pode assim concluir-se que a elevao de tono no por-tugus padro do sc . XVI tem carcter geral e est consolidada, na medida em que no se registam factos de variao, o que retira consistncia aos argumentos que, com base no portugus do Brasil, onde o fenmeno no se d, so aduzidos para a reconstituio do vocalismo tono quinhentista .

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    3. O restante vocalismo tono.

    3.1. A rea comum da problemtica.

    3.1.1. O teor dos argumentos. Antes de mais, no plano metodolgico, e seleccionando ape-

    nas a informao mais frequentemente utilizada, no reterei, como argumentos susceptveis de caracterizarem o portugus quinhentista, identidades que tm sido apontadas entre o trao a reconstituir e traos do portugus do Brasil ou dos crioulos por quatro razes: pri-meiro, porque a no coincidncia entre o portugus quinhentista e o portugus do Brasil ficou claramente comprovada relativamente reduo de tono e, relativamente s outras vogais, os resultados no Brasil no so uniformes; segundo, porque a identificao de um fonema por um aloglota sempre condicionada pelo sistema da sua lngua nativa, e por isso, mediante a aplicao de testes especficos a estrangeiros, M. R. Delgado Martins obteve a confirmao de que a percepo dum trao [se faz] em funo da sua pertinncia na lngua falada pelo sujeito (1986: 150, traduzido); terceiro, porque no tido em conta o conceito de comunidade lingustica, definida como grupo que partilha o mesmo conjunto de normas (Labov, 1984: 158, traduzido), o que conduz superao da variao por expanso de determinadas variantes em detrimento de outras; quarto, porque de um determinado estado do sistema numa variedade lingustica em sentido estrito, ou seja, a partir de germes de mudana, para adoptar a expresso de Herculano de Carvalho, que a usa no sentido de condies de desenvolvimentos futuros (1969 a): 45, traduzido), podem decorrer evolues simtricas ou assimtricas noutras varie-dades lingusticas .

    Pelo contrrio, consideram-se da maior relevncia as informaes que se apoiam sobre textos portugueses anteriores ou coevos .

    3.1.2. A questo cronolgica.Uma acentuada disparidade de opinies marca o delineamento

    da mudana, quer no que se refere sincronia ou assincronia da elevao das vogais tonas representadas por ~ e por ~ , quer no que se refere localizao do facto no tempo.

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    Limitando a definio do estado da questo s Histrias da Lngua Portuguesa publicadas entre 1952 e 1991, sintetizamos no Quadro 1 as concepes assumidas; em vez de fonemas, foram representados fones, por se considerar que, s depois de se saber que um fone existe, se pode discutir se tem ou no funo distintiva .

    Segundo Teyssier (1982: 58-62), relativamente ao vocalismo tono final, [e] evolui de acordo com o seguinte esquema: [e] > [i] > [ i- ], que deve ter aparecido na segunda metade do sc. XVIII , datando a evoluo [o] > [u], aproximadamente da mesma poca. Os argumentos mais decisivos so colhidos em obras didcticas sobre o Portugus destinadas a estrangeiros, publicadas entre 1682 e 1788, a que se acrescenta em 1767, o Compendio de Orthografia de Lus do Monte Carmelo [que] traz listas de erros como cutovelo, murar (morar), purtagem, tucar, xuver .

    Quadro 1 . Vocalismo tono sc . XVI

    final pretnico

    ~ u] na primeira metade do sc. XVII e de uma paralela elevao [e > i- ] no mesmo sculo, concluindo estar-se diante de um pro-blema que merece mais estudo .

    3.1.3. A crtica da informao veiculada pelo CMQ .Dos metalinguistas quinhentistas, Ferno dOliveira aquele cuja

    informao tem sido justificadamente mais explorada; a sua concep-o de que tudo se encontra em perptuo movimento, quanto mais as falas que sempre se conformo c os conceitos ou entenderes, juyzos & tratos dos homens (50 4-5) suscita o interesse em captar

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    essa mobilidade, focando a variao, desenvolvendo a acuidade na observao, e elegendo o presente directamente observvel como rea privilegiada da descrio . Por isso, so as suas concepes que analisamos em primeiro lugar e predominantemente . No obstante, Oliveira no pode deixar de ser integrado no seu tempo, como os restantes gramticos e ortgrafos que, quando descrevem a lngua, tm de ser lidos com a conscincia da distncia temporal convertida em progresso no estudo da linguagem .

    3.1.3.1. O conceito de letra.Talvez nada ilustre melhor este tipo de questes do que o conte-

    do do termo letra ou concretamente de um dos grafemas, ou , enquanto signos da metalngua. A perspectiva pode ser grfica, quando visa a leitura ou a escrita, e especifica o respectivo sinal ou o seu uso: & se a tal penultima assi de vogaes puras no tever o acento no na escreveremos c .i . se no c .e. (25 9-10) . Tambm pode ser fontica ou fonolgica quando se integra em descrio articulatria ou envolve meno de trao articulatrio, quando ilustra facto de fontica combinatria ou sintctica, quando tem carcter distintivo implcito ou explcito, quando se insere em confronto com fone ou fonema prximo, a nvel do sistema: antre .i . que letra delgada aguda & viva & antre .. grande soa na nossa lingua hua outra voz mais escura: & no mais que hua: & a este chamamos .e . pequeno (32 24-27) . Finalmente, os dois planos ou no podem ser discriminados ou so simultaneamente activados, como quando a letra usada pelo fone de que constitui a representao: Verdade que despois de g qudo logo vem .e . ou .i . escrevemos no meio .u . (20 23-24) .

    3.1.3.1.1. A explorao da informao quantitativa.Explorando o ndice de Vocbulos (Paiva, 2002) a partir das refe-

    rncias s letras vogais na Gramtica, e tendo em conta que cada lema engloba as variantes grficas contabilizadas a partir dos grafemas utilizados, constata-se a assimetria do panorama de conjunto, assim delineado, por ordem crescente do nmero de ocorrncias : 22 ocs.; 25 ocs.; 31 ocs.; 32 ocs.; 42 ocs.

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    A anlise interna da informao relativa aos grafemas mais fre-quentemente referidos revela, quanto a , que a letra agrupa as seguintes especificaes, assim quantificadas: indiscriminadas 8; [] 12; [e] 20; [e] 1; [j] 1.

    O pico relativo a [e] suscitou a integrao em contexto e con-duziu constatao de que, nesse total de 20 ocorrncias, aparece associado a 9 vezes, quer se trate de distinguir quando deve ser usada uma das letras, quer haja referncia a particularidades que aproximam ou afastam os fonemas representados . Alm destas, distribuem-se por [] 2 ocs. que situam [e] entre [] e [i] e uma 3, correspondente a [j], em que a letra referida como alternando com , na representao de ditongos decrescentes.

    Quanto a , constatou-se que as 32 ocs. se distribuem assim: indiscriminadas 5; [ c] 11; [o] 15; [] 1. No total das 15 ocs. de [o], a letra associada a em 5 ocs., semelhantes quelas em que associado a .

    3.1.3.1.2. A explicitao dos problemas de identificaoAlm dos indcios que os paralelismos numricos veiculam, outro

    paralelismo no menos elucidativo a referncia problemtica coincidente, quer referida conjuntamente, quer em separado: No parea a alguem que ns confundimos .i . pequeno c .e . pequeno: nem .o . pequeno com .u. pequeno (32 21-22); .i. pequeno & .e . pequeno so muy vezinhos (69 18), das vogaes antre u & o pequeno h tanta vezinhena que quasi nos confundimos (25 1-2) .

    3.1.3.2. Grande e pequeno.A segunda questo prvia inevitvel a dos contedos dos termos

    grande e pequeno que adjectivam as vogais em Oliveira . Herculano de Carvalho (1969 c): 81-88) depreendeu oposies no plano da quantidade (vogal grande identificada com vogal longa e vogal pequena com vogal breve), no plano da abertura (vogal grande a vogal aberta e vogal pequena, a vogal fechada), e no plano do acento (vogal grande a tnica e vogal pequena, a tona) . A polissemia um factor permanente de dificuldade de interpretao dos numero-sos passos em que os vocbulos so usados; a meu ver, a diferena de quantidade, que Oliveira refere provavelmente por influncia da

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    descrio das lnguas clssicas, a menos relevante, quer porque nunca se reporta sobre o plano do contedo, quer porque sempre perspectivada como decorrente do contexto fontico, quer ainda por-que associada s diferenas de abertura e principalmente distino entre tnicas e tonas . Por outro lado, a oposio de abertura s pode ser validada para [a]:[ a], []:[e] e [ c]:[o], mas incompatvel com a afirmao de Oliveira de que e . sempre so grandes (32 8-9) De facto, relativamente a e a , a oposio essencial entre vogal tnica e vogal tona, sendo que as vogais tnicas tm maior durao que as tonas, e o grau de abertura pode estar relacio-nado com o acento tnico . A polissemia dos termos, um dos traos que justifica a caracterizao do saber lingustico quinhentista como pr-cientfico, tem como consequncia que os respectivos contedos s possam ser esclarecidos por integrao no contexto .

    3.1.4. O texto enquanto confluncia de nexos. o que pode ser ilustrado pelo passo transcrito a seguir, que

    justificadamente um dos mais frequentemente citados, em que Oliveira combina o plano da durao com o da intensidade, transitando do tempo da articulao, dependente dos fonemas com que as vogais se combinam, para a identificao de i grande e u grande como tnicos e de i pequeno e u pequeno como tonos .

    .i. & .u. letras vogaes tambe segundo mais ou menos consoantes de que viere acpanhadas assi gastaro mais ou menos tempo: mas ellas em .si . sempre so de hua mesma quantidade & a mi me parece que sempre so grandes como ouvido . escudo . & em lugar de .i. pequeno serve .e. pequeno como memorea, hostea, necessareo reverecea: nas penultimas : das quaes partes & outras semelhantes eu nuca escreveria .i. se no .e. porque eu tenho que a penultima pura ou ultima qual-quer que se escreve c .i . sempre tem o acento da dio como Maria . Ouvir. & as que nam te esse acento da dio escrevense com .e. pequeno como j dissemos . Outro tanto dizemos de .u . vogal como dissemos do .i . o qual .u . vogal sempre grde: como gorgulho . arguyo: e em lugar de .u . pequeno escrevemos .o . pequeno: como argoyr continoar . Onde se estevera .u . posramos o acento na penultima como concluyo . (32 5-20)

    A determinao da perspectiva adoptada pelo gramtico con-diciona a interpretao do passo: tendo em conta que a gramtica tradicionalmente a arte de bem escrever, o objectivo antes ou

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    tambm a definio de um critrio depreensvel atravs da observa-o, mediante a qual a escrita possa ser a correcta .

    Que a perspectiva predominantemente grfica, esclarecem-no as formulaes em lugar de .i. pequeno serve .e. pequeno, eu nuca escreveria .i., ou ultima qualquer que se escreve c .i., escrevense com .e. pequeno, em lugar de .u. pequeno escrevemos .o . pequeno . Os parmetros em que a escrita assenta so explicitados: quando a vogal tnica, ela no pode ser seno representada pelas letras e , que por isso sempre so grandes como ouvido . escudo; na penltima, como em Maria ou na ltima como em ouvir sempre tem o acento da dio; outro tanto [u]: quando tnica, a vogal s pode ser representada pela letra como gorgulho, arguyo; como tona, a vogal representada por : argoyr, continoar . O nico caso em que a perspectiva de reconhecimento de uma forma grfica, portanto a da leitura, a que se projecta na ltima frase: Onde se estevera .u. posramos o acento na penultima como concluyo .

    3.1.5. Vogal em hiato versus semivogal.Toda a exemplificao que, no passo anteriormente comentado,

    d apoio ao critrio grfico, ope, para a seleco de , palavras cuja forma preconizada termina em ou e, para a selec-o de , palavras em que a vogal se encontra em hiato argoyr, continoar que contrastam com formas em que [u] tnico figura num tritongo: arguyo, concluyo .

    A incidncia da pesquisa sobre as palavras-testemunho, ou seja um determinado tipo de ocorrncias metalingusticas, permite obter as primeiras concluses .

    Nas ocorrncias metalingusticas insertas neste passo relativas a ~ , hostea e reverecea so ocorrncias nicas, mas memorea e necessareo, a que acrescentamos gloria ~ glorea, que associado doutrina e a memoria em 3 ocs . (25 5 : 2 ocs, 25 11) apresentam variao interpretvel .

    Das 13 ocorrncias do lema memria, 10 terminam em -; destas, 8 so metalingusticas, incluindo as 3 que so preconizadas ou consideradas preferveis . S h portanto 2 formas no metalin-gusticas em - : dom Joho da boa memorea (49 8); & ns dos nossos faremos memorea a seu tepo (73 16). Das restantes

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    3 ocs., em , 1 metalingustica e, quanto s 2 restantes, nada as distingue das ocs em -, a no ser o facto de surgirem antes da primeira formulao da doutrina, no flio 25: & os socessores deste edificaro em memoria & honra de seu capito (5 25-26); & ficar com mayor eternidade a memoria delle (10 5-6) .

    Das 10 ocs . do lema glria, 6 so metalingusticas e destas, 3 ilus-tram a relao entre e postnicos, de acordo com a doutrina expressa; 1 das restantes, grorea, irrelevante para o problema em anlise, visto que constitui uma referncia forma antiga da palavra; as duas outras, exemplos de consoantes lquidas, so grafadas com (21 7 e 21 26) . As 4 ocs . restantes, no metalingusticas, apresentam todas , o que prova que s na zona estrita em que a doutrina formulada, Oliveira usou a grafia que preconizou.

    Finalmente, o lema necessrio, com 19 ocs ., apresenta apenas 2 ocs. metalingusticas (32 10 e 33 23), ambas grafadas com , declarando-se, na segunda, essa grafia como prefervel. Representmos no Quadro 2 a quantificao da variao, criando trs zonas: a primeira corresponde aos totais das terminaes e na Gramtica , a segunda e a terceira incluem, respectivamente, o nmero de ocs . antes e depois do flio 25, onde pela primeira vez a doutrina formulada, embora s no flio 32 a palavra figure como exemplo.

    O quadro torna claro o sentido da variao: no total da Gram-tica, a grafia com predomina sobre a grafia com na relao de 63, 15 % para 36,84 %. Mas antes da formulao da doutrina, a percentagem de ocorrncias com de 80 % e depois desce para 44,44 %, enquanto a grafia com apresentava antes a per-centagem de 20 % e depois sobe para 55,55 %. No pode deixar de concluir-se que a forma espontnea ou pelo menos dominante em Oliveira a forma com , e que a preocupao de coerncia entre a norma preconizada e a escrita posta em prtica que inverte a tendncia, sem contudo a eliminar completamente .

    Quadro 2. Necessrio

    Na Gramtica antes de fl. 25 depois de fl. 25

    T . % T . % T . %

    - 12 63,15 8 80 4 44,44

    - 7 36,84 2 20 5 55,55

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    A distribuio das variantes de memria e de glria, anteriormente referida, confirma este juzo. De facto, a reflexo metalingustica [] factor simultneo de homogeneidade e de heterogeneidade (Paiva, no prelo, 2 .2 .), mas as fracturas que deixa no texto so fortemente esclarecedoras, tanto de um pensamento que vai amadurecendo medida que se exerce, como da realidade lingustica que objecto de exame .

    Neste caso, a doutrina que, embora distinga i grande e i pequeno, restringe a letra representao da vogal tnica e torna i pequeno uma realidade virtual, tona, representada por nas terminaes , , contrasta com as grafias que podem reputar-se de genunas e por isso um factor de flutuao. Memria, glria, necessrio so formas sem dvida articuladas com [i], ou com [j], mas o facto de Oliveira no conceituar ditongo crescente no contribui para o esclarecimento da questo . Relativamente a estes vocbulos os restantes textos apresentam grafias constantes com .

    Reaproximando-nos do passo que tem vindo a ser comentado, para nos fixarmos na relao entre e , constata-se, antes de mais, a acentuada simetria no plano da doutrina, que maximamente clara quando o contraste se estabelece no mbito da flexo verbal: no mesmo verbo, as formas rizotnicas escrevem-se com como arguyo enquanto as formas arrizotnicas se escrevem com , como argoyr . A indagao sobre as restantes ocorrncias das palavras-testemunho na Gramtica pouco ou nada informativa (visto que argoyr e concluyo so ocorrncias nicas e de arguyo h s outra ocorrncia (29 24), tambm metalingustica, excepo de continuar: das 6 ocs . do verbo, 5 esto de acordo com a doutrina expressa, visto que, sendo arrizotnicas, so grafadas com continoar (2 ocs), continoando (2), continoadas (1) mas a restante, rizotnica, na 3 pessoa do indicativo presente no se continoa logo outra vogal (33 26), apresenta [u] tnico representado por , o que s possvel porque a letra tinha passado a representar o fone [u], quando [o] tono tinha evoludo para [u], embora se mantivesse na grafia como , como acontece ainda hoje; havia assim o hbito de fazer corresponder ao fone [u], quando tono, a letra , e esse hbito alastra representao da vogal quando esta tnica . de esperar contudo que casos como este sejam raros numa Gramtica,

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    visto que so verdadeiros erros de ortografia, e como tais no passam o filtro da autocrtica. Quando a vogal tona, a componente con-servadora da escrita mantm a letra , pelo menos no mbito de hbitos individuais, embora o fone representado seja, mais ou menos generalizadamente, [u]. Este juzo corroborado pela comparao das grafias de contnuo, adjectivo, em Oliveira e em Barros: num total de 5 ocs, Oliveira representa a vogal tona por (1 oc.), de acordo com a doutrina, enquanto Barros a representa por (4 ocs.), em simetria com a grafia que adopta para o verbo, no documentado no resto do CMQ, de que h 2 ocs . metalingusticas na Gramtica: continusse (20v 15), 1 pessoa do imperfeito do conjuntivo .

    3.1.6. A representao das semivogaes nos ditongos decres-centes.

    Dado que uma percentagem elevada de especificaes dos fones representados por ~ e por ~ situa as letras antes de outra vogal, podendo e representar uma vogal em hiato ou um ditongo crescente, importa indagar se as descries e as grafias adoptadas para os ditongos decrescentes, nicos conceituados como ditongos, pode esclarecer a questo .

    Oliveira inventaria 16 ditongos, orais ou nasais (26 22-24):

    /j/ representado por ~ em: ay [leia-se y] (my), ei (tomei), oi (caracois), oi (boi), ui (fui); por em: ae (tomae), e (pes), oe (soe [verbo soer]), e (pe) .

    /w/ representado por em: eu (meu), ou (dou); por em: ao (pao), o (po), eo (ceo), eo (deos), io (fugio) .

    Relativamente a ~ , no captulo sobre a formao do plu-ral, Oliveira informa-nos de que na representao do mesmo fonema intervm critrios de distino grfica baseados na morfologia: /j/ representado por ~ no plural dos nomes, mas por nos verbos: tendo estabelecido a regra de formao do plural dos nomes acabados em .ol., como caracol caracois (69 3-4), escreve a 2 pessoa do indicativo com : soyo . soes . por acostumar, e royo roes . por roer. (69 14-15). A dificuldade em dissociar o sinal acstico e o sinal visual manifesta-se no assumir de um eventual erro, que justifica pela proximidade entre os fones [i] e [e]:

  • Maria Helena Novais Paiva A descrio do vocalismo tono quinhentista 211

    Dey a estes nomes no plural estes ditongos .ay . e .oy . c .i. & no com .e. porque as minhas orelhas assi o julgo: & no muito enganarme pois .i. & .e. pequeno so muy vezinhos: mas com tudo os verbos se escrevero com .e. assi soes . roes . tomae . tomaes . andaes . (69 15-20)

    Passando representao de [w], notrio o predomnio de (5 ditongos), sobre (2 ditongos), o que no deixa dvidas de que neste contexto, representa um fone, [w], muito prximo de [u]: Oliveira ouve a semivogal como o pequeno, como ele prprio diz, falando das lquidas:

    Alguas letras se fazem liquidas. Quer dizer liquido aqui brando, ou diminuido de sua fora [;] das vogaes ns fazemos .u. liquido alguas vezes despoys de .g. & .q. como quando: & lingua mas se o meu sentir he acertado eu sinto nos taes lugares .o. pequeno & no j u & assi o escreveria se me atrevesse desta maneyra lingoa . qoando. porque assi me soa a mi nas minhas orelhas: & se outra cousa fazem por imitar a os latinos no nosso o que segue. (20 15-23)

    Foroso constatar que muito poucas vezes se atreveu Oliveira e escrever estas palavras como acha que deviam ser escritas, visto que, no total de 130 ocs . do vocbulo lngua, 126 so grafadas com , e 4 com , entre as quais a que consta do excerto transcrito e, no total de 63 ocs . de quando, todas so grafadas com , excepo da que foi citada acima, e de outra, tambm metalingustica: Bem pode escusar essa letra .q . como cadeira . coando . comeo (24 21-22) .

    Clarinda Maia (1986: 426), menciona vrios casos de represen-tao de [w] por em documentos dos sculos XIV-XVI, como agoa, agoardar, mengoa o que comprova a antiguidade da tradio grfica, e a equivalncia, em contexto com , entre e a semivogal posterior. Mas a afirmao de Oliveira inequvoca: para ele, o fone que, em lngua e quando, identifica como u liquido, sentido como o pequeno.

    3.1.7. Ainda a terminologia. Tambm a vogal final de Marcos e Domingos identificada como

    o pequeno, como diz no captulo sobre as relaes entre terminao e gnero: em os . c .o . pequeno: & em s com . . grande so

  • Revista de Estudos Lingusticos da Universidade do Porto - Vol. 3 - 2008212

    masculinos como marcos domingos, cs, retrs (65 9-11) . O artigo masculino, quer no singular, quer no plural, referido, na decli-nao do artigo, como tendo a forma de o pequeno: os artigos masculinos acabo e .o. pequeno no singular (62 15-16), tambe nesse [genitivo] acabo em vogais pequenas os artigos, o mascu-lino e .o. & o feminino e .a. (62 17-20), & no derradeiro [caso] a que os latinos chamo accusativo []: acabo em .o. pequeno: os masculinos (62 22-24), no plural todos estes acabo nesta letra .s. acrecetada sobre o seu singular (62 24-26).

    A formulao de Oliveira pode ser esclarecida por comparao com grafias ocorrentes no Testamento de Afonso II, manuscrito de Toledo, em que a forma u do artigo definido e do pronome demons-trativo, no interpretvel como latinismo grfico, bem como ou e ous (provenientes da contraco com a preposio a- ), alm de susu, preposio < SU RSU , conduziram A. M. Martins (1985: 10-15; 20), a concluir que susu e u tero de ser tomadas como testemunho de uma realizao [u] para a vogal tona final, quando esta tem na sua base um U latino; em ou e ous do ms de Toledo, temos a representao de um ditongo em que a primeira vogal foi velarizada por assimilao semivogal (1985: 120). Estes juzos adensam a hiptese de ter tambm carcter fontico a grafia us, que foi ante-riormente considerada como podendo interpretar-se como um caso de inrcia ao nvel do processo de seleco grafemtica, visto que em contexto com u, ou e ous. (1985 : 20).

    Na descodificao do termo o pequeno, e tambm no de e pequeno, no pode deixar de ter-se em conta o contedo dessas desig-naes ainda em Jernimo Soares Barbosa (1737-1816): numa poca em que no pode pr-se em dvida que a vogal tona representada na escrita por seja [u] e que grfico tono corresponda a [i- ], Barbosa teve em conta o facto quando, na Gramtica Filosfica da Lngua Portuguesa, publicada postumamente em 1822, enumerou vinte vozes (entenda-se vogais); mas isso no o impediu de se lhes referir deste modo: E Pequeno, como Se, Conjunco, O Pequeno, como O, artigo masculino. Da a necessidade de adoptar para [o] e [e], tnicos, respectivamente as designaes de Grande Fechado, como S, verbo e Grande Fechado, como no Substantivo Av, masculino (Barbosa 1822: 3).

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    Muito mais que a persistncia dos termos, o contedo do passo seguinte, escrito quase dois sculos depois da Gramtica de Oliveira, acusa a sobrevalorizao do escrito em detrimento do oral, e a con-sequente impossibilidade de perspectivar a escrita como secundria, relativamente oralidade:

    A lingua Portugueza porm toca mais dois pontos ou vozes na sua corda vocal; huma entre o E Pequeno2 e o I Commum; e outra entre o O Pequeno e o U Commum, as quaes, por serem surdas e pouco distinctas, se podem chamar Ambiguas, e por isso no tem signal Litteral proprio, e se noto na escriptura, a primeira ja com e ja com i, e a segunda ja com o ja com u . Taes so as que mal se percebem, quando estas mesmas vogaes se acho em qualquer palavra, ou antes de alguma voz grande immediata, ou depois da mesma nos Diphthongos, e no fim das palavras. Assim e parece ter o mesmo som que i nas palavras Cear, e Ciar (ter zelos) e nos diphthongos destas Paes, Pai; e pelo mesmo modo o tem o mesmo som confuso que u nas finaes de Paulo, Justo, Amo, e nas palavras Soar, e Suar, e nos Diphthongos, como em Pao Paulo, Seo Seu. (Barbosa 1822/ 2005, p. 4/ 60)

    O facto de a realidade fontica a descrever nos ser conhecida torna patente a sobreposio da grafia sobre a fonia, de que resulta a inverso da relao entre os dois planos: de facto, no so as vozes que so pouco audveis e que por isso so consideradas surdas, pouco distinctas, motivo por que se podem chamar Ambiguas, mas a escrita que no dispe de um grafema que as identifique claramente; no por serem ambiguas, que no tem signal Litteral proprio, como no por serem as que mal se percebem que tal acontece, como o ilustram de resto os exemplos apresentados, mas porque a realidade fontica evoluiu sem que a escrita tivesse acom-panhado a evoluo .

    O que a interpretao do passo quer dizer, no evidentemente que o pequeno, quando tono, equivale em Oliveira a [u], mas sim que no equivale necessariamente a [o] e que, semelhana da letra que continua a ser a mesma quer o fonema seja tnico ou tono, h passos em que o pequeno, tono, designa [u] ou [w], no porque, parafraseando-o, entre [o] e [u] haja tanta semelhana que quase nos confundimos (25 1-2), mas porque est em curso a elevao da vogal tona .

    2 Todos os sublinhados do excerto so do Autor .

  • Revista de Estudos Lingusticos da Universidade do Porto - Vol. 3 - 2008214

    Por maioria de razo, quando os restantes metalinguistas qui-nhentistas, menos vocacionados para a descrio da lngua oral, falam de e pequeno e o pequeno, isso no quer dizer que estejam a referir-se a [e] e a [o] tonos.

    3.1.8. As restantes descries gerais.Joo de Barros mantm as designaes de grande e pequeno

    para e .Um dos oficios de e pequeno servir de conjuno

    copulativa, como ilustrado a seguir: tu e eu e os amigos da ptria louvamos a nssa lingugem . (44r 9-11) . Como observou Jacinto do Prado Coelho (1946: 221), que cita o exemplo apresentado por Barros, antes de vogais, j no Cancioneiro Geral surge y em vez de e: y elas sem mays ouvir (11, 17, 19) . Tratando-se de uma procltica, o facto, no mbito da fontica sintctica, deve ser relacionado com a evoluo da terminao tona , , que comentmos a partir das palavras-testemunho usadas por Oliveira, tendo ento concludo pela genuinidade das formas oliveirianas com [i] ou [j] (Ver 3.1.5).

    Dos trs oficios de o pequeno artigo masculino, rela-tivo masculino e composim das dies (45r 1-5), o terceiro no chega a ser esclarecedor porque faltam exemplos ilustrativos, o segundo, de pronome este livro sempre andar limpo se guardrem bm (45r 4-5) no se distingue no plano fnico do primeiro que, referente ao artigo, coincide com a informao dada por Oliveira e anteriormente comentada (Ver 3 .1 .7 .) .

    Como Gndavo no se refere ao vocalismo, restam as descries de Duarte Nunes de Leo, que enfermam das mesmas caractersticas que assinalmos a propsito da negao da existncia de [ a] (Cf . 2 .) .

    O preconceito etimolgico, o predomnio do visual sobre o acstico e o articulatrio, o pendor conservador, prejudicam as descries de Leo que se esfora por comprovar industriosamente a existncia no s de um nico , mas tambm de nicos , , quer tnicos, quer tonos:

  • Maria Helena Novais Paiva A descrio do vocalismo tono quinhentista 215

    E h letra vogal simplez, & no de duas maneiras, como algus cuido, que fazem .e. pequeno como em besta por animal, & .e. grande como em bsta per arma, & instrumeto de tirar: o que no h. Porque na pronunciao dessa letra nenhua differea teemos dos latinos . E a differena, que vai desse .e . que aos vulgares parece lgo, ao outro, a que erradamete chamo breve, notamos com acceto agudo ou circumflexo, ou grave . (LRT 6r 15-23)

    Muitos homees mui doctos, & curiosos da lingoa Hespanhol cuidaro, que acerca de ns havia duas maneiras de .o. hum grande, & outro pequeno, como acerca dos Gregos. Mas, como teemos dicto do .a. assi como no teem mais que hua figura, assi no teem mais que hua natureza: que ser longo, ou breve, he accidente, como nas outras vogaes. (LRT 14r 12-18).

    Como os acentos grficos so raramente usados por Leo, a questo no fica esclarecida. Por vezes, a insuficincia informativa das descries e das prticas escriturais suprida pelo que nas entrelinhas se apreende, como acontece no passo seguinte, em que, contrariamente s afirmaes constantes acima documentadas, caracteriza a semivogal posterior do ditongo o, como tendo um sabor de .o ., inexistente na slaba inicial de campo, o que no deixa dvidas quanto equivalncia entre - e o fone mais semelhante a [w], ou seja, [u]:

    O IIII diphthongo he .o. [] sobre que h mais opinies, & duvida, em que lugares se h de usar. Porque huus indistinctamente o uso, & o confundem com esta terminao .am. no fazendo de hum a outro differena algua. O que h erro manifesto. Porque no fim das palavras, que acabamos com esta pronunciao, acha-mos um sabor de .o. que no achamos no fim da primeira syllaba desta palavra, campo. (LRT 27v 22 28r 7)

    3.1.9. Variao fontica versus analogia.Numa poca em que esto em curso importantes fenmenos de

    analogia no mbito do verbo, importa distinguir os casos em que a variao dos grafemas ~ e ~ uma consequncia dessa dinmica e aqueles em que pode estar relacionada com a reduo das vogais tonas .

    Assim, quando Oliveira afirma das vogaes antre u e o pequeno h tanta vezinhena que quasi nos confundimos dizendo hus somir e outros sumir: & dormir ou durmir, & bolir ou bulir & outras muitas partes semelhantes. (25 1-4), nos pares de infinitivos que seleccionou so contrapostas formas de dois tipos: primeiro, aquelas em que

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    ou etimolgico (dormir some (Williams, 1975: 218) ; segundo, as formas em que, a partir da 1 pessoa do indicativo durmo < DORMO e bulo < BLLO, cujo resultado fontico regular inclui [u] , por inflexo voclica, criado analogicamente um infinitivo com [u].

    Portanto, a no uniformidade de usos a que Oliveira faz refern-cia no , como diz, consequncia da semelhana dos fones, o no to fechado que quase se confunde com u, mas a variao que inerente expanso de qualquer mudana; a sua interpretao, no sendo adequada, porque o fenmeno de analogia em causa est fora da sua rea de conhecimento (embora haja na Gramtica a projeco do conceito enquanto princpio de regularidade), no deixa por isso de comprovar a existncia de um fenmeno de variao entre [o] e [u] tonos, do mesmo tipo do que referido a seguir : E outro tanto antre .i. & .e. pequeno como memoria e memorea, gloria: ou glorea . (OGR 25 4-6) .

    Tambm Barros, ao falar da formao do indicativo a partir do infinitivo, estabelece relaes em que uma das formas sempre analgica: Os vrbos da terceira cjuga, termin o infinitivo, , ir, e frmam o seu preste [] podo lugar de , ir, esta letera , o , e fica formdo firo, de firir , durmo de durmir, sento de stir , cubro, de cubrir . (27v 15- 19) .

    excepo de sento de sentir, a relao postulada inverte a relao histrica, do mesmo tipo da que foi referida para durmir, como o caso de firir (FRO > feiro, substitudo por firo, por integrao no esquema SERUO > sirvo (Williams, 1975: 218) e de cubrir, constru-do a partir de cubro < COOPERO . Sento igualmente uma forma analgica, mas construda com base em sentir < SENTRE, uma vez que SENTO evoluiu regularmente para seno, e para sinto, segundo o esquema SRUO > sirvo, acima referido (Williams, 1975: 219) .

    A procura de simetria, que uma das caractersticas da atitude metalingustica de Barros, pode ter influenciado algum tanto a seleco de formas, visto que Barros usa ferir o oficio de ferir nas outras voges (45r 20), em consonncia com Oliveira (ferir: 1 oc .), dormir Os que acbam em , ir , sam da terceira: como ouvir, ir, dormir

  • Maria Helena Novais Paiva A descrio do vocalismo tono quinhentista 217

    (21r 24-25); mas o significado da existncia de em cubrir cor-roborado por 2 ocs . de cuberto (26v 15 e 55r 20), grafia amplamente documentada no perodo medieval . Quanto relao sento sentir, a forma de 1 pessoa do indicativo uma ocorrncia nica, em Barros, mas h 2 ocs . de sinto em Oliveira (20 19, 23 18).

    Afectando as vogais representadas por ~ e ~ , estes fenmenos de analogia, de natureza diferente da dos fenmenos fonticos, contribuiram contudo para gerar a impresso de terreno movedio que reflectem as descries de Oliveira e de Leo.

    4. concluso

    A clareza da descrio de Oliveira, retomada por Barros, no deixa dvidas sobre a elevao do fonema tono representado por ; negado por Leo, o facto comprovado pelo prprio exemplo seleccionado para o contestar e pela prtica escritural de Barros, que atesta o facto como consumado .

    Relativamente ao restante vocalismo tono, no h descries inequvocas e torna-se necessrio ler nas entrelinhas .

    Uma finalidade prtica no estranha produo de gram-ticas e ortografias. Sendo assim, a perspectiva dominante no a da leitura, assente no reconhecimento do significante grfico como equivalente do significante acstico memorizado, mas a da escrita, inerente implicitamente actividade do gramtico, tal como ele perspectivado na poca, e explicitamente do ortgrafo . Mesmo o mais arguto observador da lngua oral, Ferno dOliveira, no escapa a prolongar, enquanto gramtico, a sua experincia de mestre de meninos nobres (Mendona, 1898: 4, 111). O reconhecimento da mudana [a] > [ a], mas a no explicitao das mudanas simtricas [o] > [u] e [e] > [-i ] no prova que estas no se tenham dado ou no se encontrem, pelo menos, em curso . No incio do sculo XIX, para Soares Barbosa, no perturbador que exista um fonema [ a], sempre representado por ; mas que um fonema [-i ] no tenha em caso algum uma representao grfica especfica, e que [u] possa ser representado por e por , suscita-lhe ainda a justificao da grafia, pelo carcter confuso ou ambguo dos prprios fones (1822: 4).

  • Revista de Estudos Lingusticos da Universidade do Porto - Vol. 3 - 2008218

    No por isso de admirar que a explicitude plena se encontre mais facilmente em obras didcticas que contrapem duas lnguas: Lus Caetano de Lima, em 1736, na Ortographia da Lingua Portuguesa, considera ainda que as vogais finais representadas pelos grafemas e so respectivamente /e/ e /o/ (Carvalho, 1969 c): 92); mas dois anos antes, em 1734, na Gramtica Italiana, tinha escrito que os portugueses mudam quasi o e final em i (p . 10) e que, quanto vogal o [] no final das palavras lhe do som [] fechado ou escuro [] equivocando-o com u (p . 15) .

    Assim sendo, e no podendo descurar-se a explorao da dimenso descritiva das obras metalingusticas, a via indirecta da informao permite colher, em primeiro lugar, indcios que se concentram em determinadas direces .

    O que inexplicvel torna-se claro, se se admitir que a vogal tona representada por no nem [e] nem [i], mas [-i ]: a exis-tncia dessa vogal prenunciada pelos picos quantitativos incidentes em e em [e], associado a [i]; ela objecto de preceitos grficos, assentes na oposio entre tnica e tona que reservam para a representao da tnica, e, por coerncia com o preceito, restringem representao de e pequeno, identificado com [i] ou [j], o que contrasta com a escrita genuna do Autor e com o quase indiferente uso de e em ditongos decrescentes. Dadas as restries de carcter heurstico acima referidas, ser necessrio corroborar por outros meios o que mais do que uma simples hiptese, a existncia desta outra vogal mais escura (OGR 32 26) .

    A problemtica da identificao da vogal tona representada por em grande parte comum que se refere a , mas a reduo de [o] tono transparece no uso de , em vez de , no uso de com clara correspondncia a [u] ou a [w], e em factos de variao .

    Assim, em Oliveira, a inequvoca representao de [u] tono por , nas formas arrizotnicas argoyr ou continoar, em contraste com as formas rizotnicas, grafadas necessariamente com , mas a conservao abusiva da equivalncia [u] = , quando a vogal tnica, em continoa, 3 pessoa do indicativo presente de continuar; a variao ~ nas formas arrizotnicas de continuar e em contnuo, adjectivo, sendo constantes as grafias com em Oliveira

  • Maria Helena Novais Paiva A descrio do vocalismo tono quinhentista 219

    e com em Barros; a identificao da semivogal posterior de ditongos crescentes com o fone que mais se lhe assemelha, [u], representado por nas grafias lingoa e qoando, preconizadas mas raramente adoptadas, e a notao indiferente de ditongos decres-centes enumerados como meu, dou mas tambm como pao (pau), po, ceo, deos, fugio. Em todos estes casos, o pequeno designa efectivamente [u] ou [w] e a primeira destas correspondncias que estabelecida relativamente ao final de Marcos e s formas masculinas do artigo definido, encontrando-se ainda em Leo a identificao entre o fone por que termina o ditongo o e aquele por que termina a palavra campo . Por outro lado, a variao entre dormir e durmir e outras formas anlogas, que Oliveira descreve como ilustrativas da proximidade entre u e o pequeno, podem resultar de se encontrar em expanso o processo de analogia em que todas se integram, ou de em posio tona representar j [u], como o comprova a relao estabelecida por Barros que, invertendo a relao histrica, por isso mesmo esclarecedora, no plano fnico: durmo, de dur-mir . Os factos referidos indicam que est em curso a elevao de [o] tono, movimento cuja amplitude s poder contudo ser avaliada por explorao de outros meios de informao .

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  • Maria Helena Novais Paiva A descrio do vocalismo tono quinhentista 221

    Descrio do corpus

    Primeira sincronia (tratada exaustivamente)1 . Ferno dOliveiraGrammatica da lingoagem portuguesa (1536) (OGR) . . . . . .23 538 oc . . . 35,7 % 2 . Joo de Barros Texto contnuo da Cartinha (1539) (BCA)Grammatica da lingua portuguesa (1540) (BGR) Dilogo em louvor da nossa linguagem (1540) (BDL) . . . . . . . . .24 549 oc . . . . 37,3 % Total da primeira sincronia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48 087 oc . . . . 73,1%

    Segunda sincronia (tratada por amostra aleatria de de cada texto)

    3 . Pro de Magalhes de Gndavo Regras que ensinam a maneira de escrever e Orthographia da lingua Portuguesa [...] (1574) (GRE)Dialogo em defensa da lingua Portuguesa (1574) (GDD) . .2 097 oc . . . . . . 3,1 % 4 . Duarte Nunes de LeoOrthographia da Lingoa Portuguesa (1576) (LRT) . . . . . . . . . . . . . .8 698 oc . . . . . 3,5 %

    5 . Duarte Nunes de LeoOrigem da Lingoa Portuguesa (1606) (LRI) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 684 oc . . . 10,1 % Total da segunda sincronia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 679 oc . . . . 26,8%Total do corpus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 766 oc