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    segunda flecha no dorso de Horta. Logo depois Kulonga saltoupara uma rvore prxima.

    Horta voltou-se para atacar de novo, deu talvez uma dziade passos e caiu bruscamente. Por instantes o seu corpo

    agitou-se, convulsivo. Depois ficou imvel. Kulonga desceu darvore.Com uma faca que lhe pendia da ilharga, cortou vrias

    largas fatias do corpo do javali. Ento, acendendo uma fogueirano meio da trilha, assou a carne e comeu quanto quis. Deixou oresto onde tinha cado.

    Tarzan era um espectador interessado. O seu desejo dematar no se atenuara, mas o desejo de prender era talvezmaior. Seguiria aquele negro durante algum tempo, at saber

    de onde ele viera, Podia mat-lo depois, vontade, quando oarco e as setas mortais tivessem sido postos de lado.Quando Kulonga acabou de comer e desapareceu na

    prxima curva da trilha, Tarzan saltou silenciosamente para ocho. Com a sua faca, cortou pedaos de carne da carcaa deHorta, mas no os cozinhou. Tinha visto fogo, mas apenasquando Ara, o raio, destrura alguma grande rvore. O fato dealguma criatura da selva poder produzir as garras vermelhas eamarelas que consumiam os troncos deixando-os reduzidos auma poeira fina, surpreendeu Tarzan - incapaz de compreender,tambm, por que razo o guerreiro negro estragara a deliciosacomida metendo-a no calor das chamas.

    Talvez Ara fosse um amigo, com quem o Arqueiropartilhava os alimentos.

    Fosse como fosse, Tarzan no estragaria boa carne demaneira to tola. Assim, comeu a grandes dentadas umaporo de carne crua, enterrando o resto da carcaa ao lado datrilha, onde pudesse encontr-lo ao regressar.

    Ento Lord Greystoke, limpando os dedos engordurados,nas coxas nuas, retomou a pista de Kulonga, filho de Mbonga, orei. Entretanto, na distante Londres, outro Lord Greystoke, oirmo mais novo do pai do verdadeiro lord, mandava devolverao cozinheiro do seu clube umas costeletas que no estavamsuficientemente bem passadas, e quando acabou de almoarmergulhou as pontas dos dedos num recipiente de prata cheiode gua perfumada, limpando-os depois a um retngulo de finodamasco branco.

    Durante todo o dia Tarzan seguiu Kulonga, pairando sobreele, nas rvores, como um esprito maligno. Duas vezes mais

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    ele o viu disparar as suas setas mortais - uma vez sobre Dango,a hiena, e outra vez sobre Manu, o macaco. De ambas as vezeso animal morreu quase instantaneamente, porque o veneno deKulonga era fresco e mortal.

    Tarzan pensou muito sobre aquela excelente maneira dematar, enquanto voava silenciosamente, de cip em cip, atrsda sua presa. Compreendia que no era apenas a leve picadada seta que podia to rapidamente matar os animais selvagensda floresta - que muitas vezes, nas suas lutas, eramterrivelmente feridos mas em grande parte dos casos serecompunham.

    No. Havia qualquer coisa misteriosa ligada s pequenassetas de madeira, que podia provocar a morte com um simples

    arranho. Teria de estudar bem aquilo.Nessa noite Kulonga dormiu sobre uma bifurcao deramos, numa rvore alta - e acima dele postou-se Tarzan dosMacacos. Quando Kulonga acordou, viu que o seu arco e assuas flechas haviam desaparecido. O guerreiro negro ficoufurioso e assustado, mas mais assustado que furioso. Procurouno cho, sob a rvore, e procurou na rvore; mas noencontrou vestgios do arco ou das flechas, nem do ladronoturno.

    Kulonga sentiu-se tomado de pnico. Tinha atirado a sualana contra Kala, e no a havia recuperado. E agora, que oarco e as flechas tinham desaparecido, a sua nica arma erauma simples faca. A esperana que lhe restava era apenas a deregressar aldeia de Mbonga - to depressa quanto as pernaspudessem lev-lo. Sabia que no estava muito longe, e lanou-se a correr ao longo da trilha.

    De um macio de folhagem, a alguns metros de distncia,emergiu Tarzan dos Macacos, que retomou a sua perseguiosilenciosa. O arco e as setas de Kulonga estavam bem.Amarrados no alto de uma rvore gigantesca, na base de cujotronco uma faca afiada arrancara um pedao de casca. Umramo havia sido cortado, igualmente, a uns quinze metros dealtura.

    Assim Tarzan marcava as suas pistas na floresta, eassinalava os seus esconderijos.

    Quando Kulonga comeou a correr, Tarzan aproximou-sede forma a seguir quase diretamente acima da cabea donegro. Levava a corda enrolada na sua mo direita, agoraestava preparando-se para matar.

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    O momento apenas fora retardado porque Tarzan queriasaber qual o destino do guerreiro, e chegou a ocasio de saberquando avistou na sua frente uma grande clareira, numaextremidade da qual se erguiam pequenas barracas estranhas.

    Nesse instante Tarzan estava exatamente acima deKulonga. A floresta terminava bruscamente, ali, e para almviam-se uns duzentos metros de terrenos plantados, entre aselva e a aldeia. Tarzan tinha de agir rapidamente, ou a presaescaparia. Mas, na vida e no treino de Tarzan, pensamento eao seguiam-se to rpidos que no havia espao para asombra de uma hesitao, entre ambos.

    Foi assim que, quando Kulonga emergiu da sombra dasrvores, uma corda delgada voou sobre ele, ondulante no

    espao, vinda dos ramos baixos de um forte tronco que seerguia nos limites exatos dos campos de Mbonga. O filho do reitinha dado meia dzia de passos na clareira quando o ncorredio lhe apertou o pescoo. To rapidamente Tarzan dosMacacos puxou para trs a sua presa, que o grito de Kulonga foiabafado na garganta. Debatendo-se, o guerreiro negro foiprontamente arrastado at ficar suspenso de um ramo, pelopescoo, a meia altura.

    Ento Tarzan trepou mais, para uma ramada mais forte,iando a vtima, ainda a estrebuchar, para o abrigo da folhagemda rvore. A, amarrou solidamente a corda e, descendo, cravoua sua faca de caa no corao de Kulonga.

    Kala estava vingada. Tarzan examinou o negro, atentamente, porque nunca

    tinha visto, antes, uma criatura humana. A faca do guerreiro,com a bainha, atraiu a sua ateno. Apropriou-se delas. Umaargola de cobre, que rodeava um dos tornozelos de Kulonga,tambm lhe agradou. Transferiu-a para o seu prprio tornozelo.

    Depois examinou e admirou as tatuagens, na testa e nopeito. Investigou o toucado de penas e tirou-o tambm.Observou os dentes aguados. Mas ento disps-se a cuidar decoisas srias, porque tinha fome e ali estava carne - carne deuma presa abatida, que as leis da selva lhe permitiam comer.

    Como poderemos julgar, por qual cdigo, o homem-macaco, com o corao... e a cabea... e o corpo de um jovemingls mas treinado como um animal selvagem?

    Matara Tublat, a quem odiava e que o odiava numa lutaleal - e todavia nem sequer lhe passara pela cabea a idia decomer a carne de Tublat. Teria sido to repugnante, para ele,

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    como o canibalismo para ns. Mas... quem era Kulonga paraque ele no pudesse devor-lo to livremente como a Horta, o

    javali, ou a Bara o gamo?No Era apenas mais um dos incontveis animais

    selvagens da floresta, que se devoravam uns aos outros parasatisfazer a fome. Mas, de repente, uma estranha dvida seapoderou de Tarzan. Os livros no lhe haviam dito que ele eraum homem?

    E o Arqueiro no era igualmente um homem.Seria natural que os homens se comessem uns aos outros?

    No sabia. Por que razo hesitava, ento? Tentou cortar umpedao de carne, mas uma nusea profunda invadiu-o. Nocompreendia. Sabia apenas que no podia comer a carne

    daquele homem negro - e assim um instinto hereditrio, vindodo fundo das eras, veio substituir s funes da sua menteprimitiva e salvou-o da culpa de violar uma lei humana, de cujaexistncia no tinha qualquer idia.

    Rpido, baixou at ao cho o corpo de Kulonga, soltou acorda que lhe apertava o pescoo e voltou novamente para asrvores.

    CAPTULO 10O fantasma do medo

    De uma alta ramada, Tarzan observou a aldeia depequenas e estranhas barracas, e de campos curiosamenterevolvidos. Viu que, num ponto, a floresta tocava na aldeia - epara l se dirigiu, possudo por uma febre de curiosidade, nodesejo de observar animais da sua prpria espcie, aprendermais sobre a sua maneira de viver e examinar mais de perto asbarracas de estranho feitio onde viviam.

    A sua existncia selvagem, entre os ferozes animais dafloresta, no deixava lugar para considerar os negros senocomo inimigos. A semelhana de aspecto, com ele prprio, noo conduzia a qualquer idia errada de ser bem recebido poreles.

    Tarzan dos Macacos no era um sentimental, e nadaconhecia da fraternidade humana. Tudo o que vivia fora da suatribo era-lhe forosamente hostil com poucas excees entre asquais Tantor, o elefante, era um exemplo marcante. Sentia tudo

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    isto sem maldade e sem dio. Matar era a lei do mundoselvagem que ele conhecia. Poucos eram os seus prazeresprimitivos, mas o maior de todos era seguramente caar ematar. Assim, concedia aos outros o direito de sentir os

    mesmos desejos que ele - ainda que ele prprio pudesse ser oobjeto da caa.A sua estranha vida no o deixara azedo ou sanguinrio. O

    seu prazer de matar, ou o fato de matar alegremente, com umsorriso nos lbios bem desenhados, no denunciavam umacrueldade nata. Na maior parte das vezes matava para comer,mas porque era um homem, era freqente matar por prazer,coisa que nenhum outro animal faz. Na verdade o homem ,entre todas as criaturas, a nica capaz de matar

    insensatamente e indiscriminadamente, pelo simples prazerde causar sofrimento e destruio.Quando matava por vingana, ou em defesa prpria, fazia-

    o sem histricos impulsos, porque se tratava de uma coisa sriaque no admitia leviandades.

    Assim, agora que se aproximava cautelosamente da aldeiade Mbonga, estava perfeitamente preparado para matar oupara morrer, se fosse descoberto. Movia-se em silncio e alerta- porque Kulonga o ensinara a grandemente respeitar asaguadas setas de madeira, que davam a morte de forma torpida e certeira. Chegou finalmente a uma grande rvore.Densamente coberta de folhagem e da qual pendiam fortescips, em profuso. Daquele abrigo quase impenetrvel, acimada aldeia, curvado, observou o espetculo que tinha na suafrente, maravilhando-se com cada aspecto daquela vidaestranha e nova para ele.

    Entre as cubatas, crianas nuas corriam e brincavam.Mulheres esmagavam palmitos secos em toscos vasos depedra, enquanto outras moldavam bolos, com a farinha. Noscampos, podia ver ainda mais mulheres que ceifavam, ousemeavam, ou colhiam plantas.

    Todas usavam amplas tangas de ervas secas, em voltadas ancas, e muitas exibiam argolas de bronze ou de cobre; nostornozelos, nos braos ou nos pulsos. Em volta dos pescoosnegros podia ver fios de arame curiosamente enrolados,enquanto alguns narizes estavam ornamentados com argolasdelgadas e grandes.

    Tarzan dos Macacos olhava, num espanto crescente, paraaquelas estranhas criaturas. Viu vrios homens que dormiam

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    apoderar das setas que cobiava. Rpido e silencioso, saltoupara o cho, ao lado da caldeira que continha o veneno. Porinstantes ficou imvel, os olhos rebrilhantes sondando o interiorda paliada. No se via quem quer que fosse. Notou a porta

    aberta de uma cubata. Pensou que gostaria de espreitar ointerior, e assim fez. Rpido, embora sempre alerta, deslizoupara a obscuridade da cubata.

    Havia armas encostadas s paredes - compridas lanas,facas de estranhos feitios, dois escudos estreitos. No meio docompartimento havia uma panela de barro, e ao fundo umacama de ervas secas, coberta por uma esteira entranada. Nocho viam-se crnios humanos. Tarzan mexeu em tudo,sopesou as lanas, cheirou-as -o sentido do olfato era

    extremamente agudo nele. Decidiu que teria uma das lanas,mas no podia lev-la daquela vez por causa das setas que ialevar e o interessavam mais. Ia empilhando, no centro dacubata, todas as coisas que tirava das paredes. Em cima delascolocou o vaso de barro, de boca para baixo, e sobre o vaso psuma das caveiras adornando-a com o toucado de penas quetirara a Kulonga.

    Ento recuou e observou o seu trabalho, sorrindo. Tarzandos Macacos apreciava um gracejo.

    Foi ento que ouviu, l fora, o rumor de muitas vozes,uivos lamentosos e fundos gemidos. Sobressaltou-se. Teriademorado demais? Rpido, saltou para a porta e olhou nadireo da nica entrada da paliada. Os negros ainda no seavistavam, mas deviam estar perto. Podia ouvi-los, que seaproximavam. Como um relmpago, correu para junto dassetas. Apanhou todas as que podia transportar sob um brao,derrubou a caldeira com um violento pontap e desapareceuentre a folhagem da rvore, justamente quando os primeirosindgenas entravam pela abertura da paliada, no outro lado daclareira.

    Logo a seguir, Tarzan voltou-se para espreitar, entre osramos, o que se passava embaixo. Curvado, lembrava uma averapina, pronta a lanar-se em vo ao primeiro sinal de perigo.

    Agora os indgenas enchiam a nica rua da aldeia e quatrodeles traziam o corpo morto de Kulonga. Atrs vinham asmulheres, soltando grandes brados e lamentaes. E todos seencaminhavam para a cubata de Kulonga - a mesma onde

    Tarzan deixara a marca da sua primitiva fantasia.

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    Mas, apenas alguns deles entraram na cubata, logobruscamente saram, numa excitada e apavorada confuso. Osoutros reuniram-se porta, em grupo. Havia muita agitao,muitos gestos, muito rudo de vozes. Ento alguns guerreiros,

    crispadas as mos nas armas que empunhavam, avanaram eolharam.Por fim um homem velho, com muitos ornamentos de

    metal em torno dos braos e das pernas, e trazendo ao pescooum colar feito de mos humanas, ressequidas, entrou nacubata. Era Mbonga, o rei, pai de Kulonga.

    Durante momentos tudo ficou silencioso. at que Mbongareapareceu com uma expresso onde se misturavam a raiva eum terror supersticioso. Disse algumas palavras aos guerreiros

    reunidos, e no mesmo instante os homens correram atravs daaldeia, observando minuciosamente cada cubata e cadarecanto no interior da paliada. Mal comeara a busca quandoviram a caldeira derrubada - e compreenderam que as setashaviam desaparecido. Nada mais encontraram, e foi um grupoassustado que se juntou em volta do rei, pouco depois.

    Mbonga nada podia explicar dos estranhosacontecimentos. A descoberta do corpo ainda quente deKulonga, exatamente nos confins da aldeia e ao alcance de seupai, era em si mesma suficientemente misteriosa. Mas as coisasacontecidas na aldeia, dentro da cubata de Kulonga, enchiamde apavorado espanto os coraes dos negros, e provocavam,nos seus crebros atrofiados, a formao de supersticiosasexplicaes.

    Dividiram-se em pequenos grupos, falando em voz baixa eolhando em volta com expresses de pavor. Tarzan dosMacacos observou-os durante algum tempo, do alto da grandervore. No procedimento dos negros havia muita coisa que eleno podia compreender, porque ignorava a superstio e tinhaapenas, do medo, uma concepo vaga. O sol ia alto, no cu.

    Tarzan nada comera nesse dia, e estava distncia de muitasmilhas do ponto onde escondera os restos da carcaa de Horta,o javali. Assim, voltou as costas aldeia de Mbonga edesapareceu na vastido da floresta densa.

    CAPTULO 11Rei dos macacos

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    Ainda no havia anoitecido quando se juntou tribo,embora tivesse parado para desenterrar e devorar os restos do

    javali que escondera no dia anterior, e tambm para recuperar

    o arco e as setas de Kulonga, que deixara numa rvore. Foi um Tarzan bem carregado que saltou de entre os ramos no meio datribo de Kerchak.

    Inchado o amplo peito, narrou as glrias da sua aventura emostrou os despojos que conquistara. Kerchak grunhiu eafastou-se, porque invejava aquele estranho membro da suatribo.

    No seu crebro pequeno e maldoso, procurava algumpretexto para manifestar o seu dio por Tarzan.

    No dia seguinte, Tarzan comeou a praticar com o arco eas setas, logo s primeiras luzes do dia. Ao princpio perdeuquase todas as setas que disparou, mas depois comeou asaber dirigi-las e a acertar com freqncia. Um ms depois jatirava bastante bem mas os seus treinos haviam-lhe custadoquase toda a proviso de setas.

    A tribo continuava a encontrar comida abundante nasvizinhanas da praia, e assim Tarzan dos Macacos alternava osseus treinos de arqueiro com novas investigaes nos objetos,escolhidos mas pouco numerosos, que existiam na barraca. Foidurante este perodo que ele encontrou, escondida no fundo deum dos armrios, a pequena caixa metlica. A chave estava nafechadura, e ao cabo de algumas experincias e tentativas

    Tarzan conseguiu abrir a caixa. A encontrou a velha fotografiade um homem novo, de cara lisa, um medalho de ouro,cravejado de diamantes e preso a uma corrente tambm deouro, algumas cartas e um pequeno livro.

    Tarzan examinou tudo, minuciosamente.Gostou sobretudo da fotografia, porque os olhos eram

    risonhos e a face aberta e franca. Era a fotografia de seu pai. Tambm gostou do medalho e colocou a corrente em

    volta do pescoo, imitando os adornos que vira serem tocomuns entre os negros que visitara. Os diamantes brilhavamestranhamente sobre a sua pele lisa e morena.

    Mal pde decifrar as cartas, porque pouco conhecia daletra manuscrita. De maneira que voltou a met-las na caixa,com a fotografia, e concentrou a sua ateno no pequeno livro.Este estava quase completamente cheio, numa escrita cerrada,mas embora reconhecesse muitos dos pequenos sinais, as

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    combinaes em que lhe surgiam eram estranhas eincompreensveis. Tarzan tinha, havia j bastante tempo,aprendido a utilizar o dicionrio, mas verificou, com pena eperplexidade, que o dicionrio no o podia ajudar naquela

    emergncia. No conseguiu encontrar uma s palavra das queestavam escritas no livro, e assim voltou a met-lo na caixa demetal - com a idia de sondar mais tarde aquele novo mistrio.

    No sabia que aquele livro continha, nas suas pginas, osegredo do seu nascimento, a resposta ao estranho enigma dasua vida estranha. Era o dirio de John Clayton, Lord Greystoke,escrito em francs como era costume dele.

    Tarzan reps a caixa no armrio, mas da por dianterecordou muitas vezes a fotografia que vira. Era como se a

    guardasse no seu corao - tal como mantinha, no crebro, aidia de decifrar os mistrios do livro.Mas naquele momento tinha coisas mais urgentes a tratar,

    porque esgotara a sua reserva de setas e precisava visitaroutra vez a aldeia dos negros, para renov-la. Partiu muitocedo, na manh seguinte, e viajando com grande rapidezchegou ao seu destino antes do meio-dia.

    Mais uma vez tomou posio na grande rvore e, comoanteriormente, viu as mulheres nos campos e a caldeira com oveneno diretamente abaixo dele.

    Durante horas ficou estendido sobre os troncos, esperandoa sua oportunidade para saltar, sem ser visto, e apanhar assetas que fora procurar. Mas agora nada acontecia que fizessecom que os negros sassem da aldeia. O dia chegou ao fim, e

    Tarzan dos Macacos continuava a espreitar a mulher quetrabalhava sem desconfiar de que estava sendo vigiada.

    Por fim, as mulheres que se ocupavam dos camposregressaram aldeia, e grupos de caadores emergiram dafloresta. Quando todos entraram, as portas da paliada foramfechadas e trancadas. Havia agora uma quantidade de panelasde barro por toda a aldeia. Em frente de cada cubata umamulher vigiava a comida que estava preparando, e em muitasmos viam-se bolos de farinha de palmito.

    De repente, porm, ouviram-se brados na extremidade daclareira. Tarzan olhou. Era um grupo de caadores quechegavam mais tarde, vindos do Norte, e que arrastavam entreeles o vulto de um animal que se debatia. Quando seaproximaram, as portas foram abertas para que elespassassem, e ento, quando os outros viram a vtima da

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    caada, um grito selvagem subiu - porque a presa era umhomem.

    Enquanto o infeliz era arrastado, sempre a debater-se, asmulheres e as crianas atacaram-no com pedras e paus.

    Tarzan dos Macacos, jovem e selvagem animal da selva,admirava a brutal crueldade da sua prpria espcie. Entre todasas feras Sheeta, a pantera, era a nica que torturava as suasvtimas. Todos os outros animais tinham como regra dar umarpida morte aos vencidos. Tarzan conhecia apenas, atravsdos seus livros, aspectos fragmentrios e dispersos da maneirade ser dos humanos.

    Quando seguira Kulonga, ao longo da trilha da floresta,tinha imaginado chegar a uma cidade de estranhas casas sobre

    rodas, com grandes jorros de fumaa negra saindo de umtronco cravado no telhado de uma delas - ou a um mar cobertode casas flutuantes que, segundo lera, se chamavam de vriasmaneiras, navios e barcos, vapores e botes. Ficara desapontadoao ver a pobre aldeia dos negros, escondida na selva, sem umas casa que fosse to grande como a sua barraca na praiadistante.

    Vira que aquela gente tinha maior maldade que osmacacos, e era to cruel e selvagem como a prpria Sabor. Ecomeou a formar uma triste idia das criaturas da sua espcie.

    Agora tinham amarrado a vtima a um grande poste, nocentro da aldeia, diretamente em frente da cubata de Mbonga,e formara-se um crculo danante e gritante de guerreiros, emtorno, todos eles armados com rebrilhantes facas e lanasameaadoras. Num crculo mais largo sentavam-se asmulheres, gritando tambm e batendo em tambores.

    Tarzan recordou-se do Dum-Dum, e compreendeu o quedevia esperar. S no sabia se os negros se precipitariam sobrea carne da vtima ainda viva. Os macacos no faziam tal coisa.

    O crculo de guerreiros, em volta do cativo, foi-seestreitando cada vez mais, e os guerreiros danavamfreneticamente no ritmo enlouquecedor dos tambores. Derepente, uma lana estendeu-se e picou a vtima. Foi o sinalpara cinqenta outras lanas. Olhos, orelhas, braos e pernasforam varados. Cada polegada de corpo, sob a qual no haviaum rgo vital, tornou-se alvo das lanas cruis. As mulheres eas crianas gritavam de prazer, e os guerreiros lambiam osgrossos lbios na antecipao do prximo banquete. Cada um

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    tentava exceder o outro, na crueldade repugnante com quetorturava o prisioneiro ainda consciente.

    Foi ento que Tarzan dos Macacos viu a sua oportunidade. Todos os olhos se fitavam no espetculo do poste de tortura. A

    luz do dia dera lugar escurido de uma noite sem lua, e s asfogueiras, na vizinhana imediata da orgia de sangue, semantinham acesas para iluminarem a espantosa cena.

    Sem rudo, Tarzan saltou para o cho macio, naextremidade da aldeia. Rpido, apoderou-se das setas - todas,desta vez, porque trouxera longas fibras para amarr-las emmolho. Sem pressa, amarrou-as e, quando se dispunha a partir,uma tentao se apoderou dele. a tentao de se entregar aum dos seus caprichos. Olhou em volta, procurando uma idia

    para espalhar a confuso entre aquelas estranhas, grotescas ecruis criaturas, deixando-lhes uma prova mais de que tinhaestado ali.

    Pousou o feixe de setas sob a rvore e deslizou na sombraat chegar entrada da mesma cubata onde estivera quandoda sua primeira visita.

    Dentro a escurido era total, mas, tateando, Tarzan notardou a encontrar o que procurava - e sem mais demoravoltou-se para a porta. Tinha dado apenas um passo, todavia,quando o seu ouvido extremamente sensvel captou um rumorde movimento. Algum se aproximava. e no tardou que ovulto de uma mulher aparecesse entrada da cubata.

    Tarzan recuou, em total silncio, at parede maisafastada, e a sua mo tocou no punho da faca de caa. Amulher dirigiu-se rapidamente para o centro da cubata. Aliparou por um instante, estendendo as mos para encontrar oque procurava. Era evidente que o que ela queria no seencontrava no lugar habitual, porque se adiantou,aproximando-se da parede junto da qual estava Tarzan. toperto que ele pde sentir o calor animal do corpo nu. Tarzanlevantou o brao armado com a faca, mas ento a mulherdesviou-se para um lado e no tardou que uma exclamaogutural indicasse ter encontrado o que buscava. Voltou-seimediatamente e saiu da cubata. Quando passou pela porta,

    Tarzan viu que ela levava na mo uma panela de barro. Tarzandirigiu-se tambm para a porta, e na sombra viu que todas asmulheres da aldeia corriam, transportando vasos de barro queenchiam com gua e colocavam sobre umas quantas fogueiras,perto do poste onde o prisioneiro moribundo cessara de se

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    agitar e pendia, inerte, numa massa sanguinolenta esgotada desofrimento.

    Escolhendo o momento em que ningum estava perto, Tarzan correu para o ponto onde deixara as setas, sob a rvore,

    na extremidade da aldeia. Tal como fizera da primeira vez,derrubou a caldeira do veneno antes de saltar, gil como umgato, para os ramos mais baixos do gigante da floresta. Emsilncio, trepou at grande altura, at encontrar um pontoonde, entre a folhagem, podia ver a cena que decorria abaixo.As mulheres estavam agora preparando o morto para sercozido nos vasos de barro, enquanto os homens descansavamdepois da fadiga da dana feroz. Havia uma relativa calma naaldeia.

    Ento Tarzan ergueu na mo o que trouxera da cubata, ecom uma pontaria apurada por anos de atirar cocos e frutos,lanou o objeto na direo do grupo de selvagens. Caiuexatamente no meio deles, sobre a cabea de um a quemderrubou. Depois rolou na direo das mulheres e parou juntodo corpo morto, que ia ser devorado.

    Todos olharam, espantados, por um instante... mas logo,como num s impulso, correram para refugiar-se nas suascubatas. O que olhava para eles, do cho onde rolara, era umcrnio humano, um crnio que parecia ter cado diretamente docu escuro da noite. Um espantoso milagre, bem prprio paraincitar o supersticioso terror dos negros.

    Assim, Tarzan dos Macacos os deixava novamenteapavorados com aquela nova manifestao da presena de umpoder diablico e invisvel, que pairava na floresta em volta daaldeia.

    Mais tarde, quando os negros descobriram a caldeiraderrubada e o desaparecimento das setas, comearam acogitar que haviam ofendido algum poderoso esprito, aoinstalarem a aldeia naquele ponto da selva sem que, primeiro, opropiciassem com ddivas.

    A partir dessa noite, uma oferta de comida era colocadadiariamente junto da grande rvore, no ponto de onde as setastinham desaparecido -numa tentativa para conciliar o espritoirritado. Mas a semente do medo havia sido enterradaprofundamente e, sem que o soubesse, Tarzan dos Macacostinha lanado os fundamentos de muitas futuras desgraas,para ele prprio e para a sua tribo.

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    Nessa noite Tarzan dormiu na floresta, no longe daaldeia, e cedo, na manh seguinte, partiu sem pressa, deregresso, caando enquanto passava. Apenas alguns frutos einsetos recompensaram as suas buscas, e estava meio

    esfomeado quando, olhando por cima de um tronco cado, viuSabor, a leoa, no meio da trilha, a menos de vinte passos dedistncia. Os grandes olhos amarelos da fera fitavam-no comum brilho maldoso, e a lngua vermelha lambeu o focinhoalongado - quando a leoa se agachou e se adiantou devagar,quase rastejando, com o ventre roando o cho. Tarzan notentou fugir. Agradou-lhe a oportunidade que, de fato,procurava havia dias.

    Agora estava armado com qualquer coisa mais eficaz do

    que uma corda. Rpido, empunhou o arco e colocou nele umadas setas; quando Sabor saltou, a seta voou na direo dela,alcanando-a no ar. No mesmo instante Tarzan saltou de lado, equando a fera pousou no cho alm dele, outra seta untada demorte foi cravar-se profundamente num flanco. Com um furiosorugido, Sabor voltou-se e atacou de novo... para ser atingidapor uma terceira seta que lhe acertou num olho. Mas, destavez, estava demasiadamente perto de Tarzan para que elepudesse esquivar o corpo.

    Tarzan caiu sobre o grande corpo peludo, masempunhando a faca e ferindo. Por um instante ficaram imveis,mas o homem compreendeu que o corpo inerte, pesando sobreele, no voltaria a atacar ningum. Com dificuldade conseguiulibertar-se do enorme peso, mas ao levantar-se, ao olhar para oinimigo vencido pela sua destreza, invadiu-o uma onda dealegria. Enchendo de ar o vasto peito, ao mesmo tempo queerguia a bela cabea, Tarzan lanou o forte brado de desafiodos gorilas. A floresta repetiu, de eco em eco, o bradoselvagem. As aves imobilizaram-se nos ramos, e os animaismaiores afastaram-se silenciosamente, porque poucos de entreeles, em toda a selva, se atreviam a enfrentar os grandesantropides.

    Em Londres, outro Lord Greystoke falava aos da suaespcie, na Cmara Alta, mas ningum tremia ao ouvir a suavoz branda e suave.

    A carne de Sabor no era agradvel de comer, nemmesmo para Tarzan dos Macacos, mas a fome torna macia acarne dura, e disfara o mau gosto que possa ter. Assim, com oestmago cheio, Tarzan estava pronto para voltar a dormir.

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    Antes disso, porm, queria esfolar a fera - porque fora tambmpor essa razo que tinha desejado destruir Sabor.

    Habilmente, arrancou a grande pele, com uma prtica queadquirira com animais menores. Quando acabou a tarefa, levou

    o seu trofu para os ramos de uma rvore alta e, instalando-secom segurana sobre dois troncos bifurcados, mergulhou numsono profundo e sem sonhos.

    A falta de dormir, o exerccio rduo e a barriga cheia,fizeram com que Tarzan s acordasse perto do meio-dia, no diaseguinte. Dirigiu-se imediatamente para a carcaa de Sabor, eenfureceu-se ao ver que os ossos haviam sido limpos de carne,por outros esfomeados habitantes da selva. Meia hora de

    jornada, sem pressa, ao longo da floresta, f-lo encontrar um

    jovem gamo e antes que a pequena criatura soubesse que uminimigo se aproximava, uma seta cravara-se no seu pescoo. To rpida foi a ao do veneno, que ao cabo de dois ou trssaltos o gamo tombou morto. Mais uma vez Tarzan sebanqueteou, mas desta vez no dormiu.

    Em vez disso apressou-se na direo do ponto onde ficaraa tribo, e quando chegou exibiu orgulhosamente a pele deSabor, a leoa.

    - Olhem, macacos de Kerchak!... - bradou ele. - Vejam oque fez Tarzan, o poderoso! Qual entre vs matou alguma vezum animal da famlia de Numa? Tarzan o mais forte, Tarzanno um macaco, ... - mas aqui teve de parar, porque nalinguagem dos antropides no existe palavra que signifiquehomem, e Tarzan apenas podia escrever a palavra em ingls,mas no sabia pronunci-la.

    A tribo reunira-se em volta dele, para ver a prova da suamagnfica proeza e para escutar as suas palavras. ApenasKerchak no se havia aproximado, remoendo o seu dio e a suaraiva. E ento, de repente, alguma coisa estalou no pequenocrebro do antropide. Com um rugido terrvel, lanou-se sobreos outros. Mordendo, batendo com as suas grandes mos,matou e feriu meia dzia de gorilas, at que os restantesescaparam para as rvores. Espumando e gritando de fria,Kerchak olhou em volta, procurando o objeto do seu dio - eviu-

    o sentado num ramo prximo.- Desce da, poderoso Tarzan... - rugiu Kerchak: - Desce e

    sente a fora de um mais poderoso! Os grandes lutadoresfogem para as rvores, quando se aproxima o perigo?

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    Tranqilamente, Tarzan saltou para o cho. Quase semrespirar, os outros gorilas espreitavam, dos seus refgios,quando Kerchak se lanou sobre o vulto comparativamentepequeno de Tarzan.

    Kerchak, de p, tinha uma altura de mais de dois metros;os enormes ombros pareciam redondos, cheios de poderososmsculos. O pescoo curto era tambm uma rija massamuscular, que excedia a largura da base do seu crnio, demaneira que a cabea parecia uma pequena bola emergindo deum monte de carne.

    Os grossos lbios crispados mostravam as grandes presas,e os olhos pequenos, muito juntos, raiados de sangue, refletiama sua furiosa loucura. Diante dele estava Tarzan, tambm um

    animal fortemente musculoso, mas o seu metro e oitenta dealtura e os msculos alongados - pareciam tristementeinadequados para a provao a que ia ser submetido.

    O arco e as setas estavam a alguma distncia, onde ele osdeixara para mostrar aos companheiros a pele de Sabor, demaneira que ia enfrentar Kerchak apenas com a sua faca decaa e a sua inteligncia, para opor espantosa fora do seuinimigo. Quando Kerchak se lanou sobre ele, Tarzan tirou dabainha a sua comprida faca e, lanando tambm o seu brado decombate, foi ao encontro do antagonista. Era demasiadamenteastuto para se deixar agarrar pelos grandes braos peludos, e,quando iam se chocar, Tarzan saltou de lado, agarrou um dosgrandes punhos de Kerchak e, ao mesmo tempo em queesquivava do ataque, cravou a faca, at ao punho, no peito doinimigo, sob o corao.

    Antes que Tarzan pudesse libertar a faca, o gorila saltou,estendendo os braos para agarr-lo e faz-lo largar a arma.Kerchak lanou um grande golpe, com a mo, dirigido cabeade Tarzan - e, se tivesse acertado, decerto lha teriaesmigalhado, Mas Tarzan era muito rpido, e ao mesmo tempoem que esquivava o golpe, bateu, com uma fora tambmterrvel, no estmago de Kerchak. O gorila cambaleou e, com aferida mortal que sofrera, esteve prestes a tombar -, mas numespantoso esforo pde ainda agarrar Tarzan entre os braos.

    Apertando Tarzan contra o peito, Kerchak procurava-lhe agarganta, com os grandes dentes, mas as fortes mos dohomem seguravam-lhe o pescoo, apertando e empurrando.Lutaram assim durante momentos, e a grande fora do gorila ialentamente prevalecendo. Os dentes dele estavam a

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    centmetros da garganta de Tarzan - quando, de repente, comum estremecimento convulsivo, o gigantesco animal caiu nocho onde no tardou a imobilizar-se.

    Kerchak estava morto.

    Recuperando a faca que j tantas vezes lhe permitiravencer inimigos consideravelmente mais fortes do que ele, Tarzan dos macacos pousou um dos ps sobre o pescoo doseu inimigo vencido e, mais uma vez, o seu brado de desafio ede vitria ecoou pela floresta.

    E assim o jovem Lord Greystoke se tornou rei dosmacacos...

    CAPTULO 12A razo do homem

    Havia um membro da tribo de Tarzan que discutia a suaautoridade. Era Terkoz, filho de Tublat, mas tal era o seu medoda faca e das setas mortais do seu novo senhor, que limitava asmanifestaes do seu desagrado a pequenas desobedincias eirritantes peculiaridades. Tarzan sabia, no entanto, que o gorilaapenas esperava a oportunidade de lhe arrancar a chefia datribo, de qualquer forma traioeira. Por isso estava sempre emguarda contra todas as surpresas.

    Durante meses, a vida da tribo continuou tal como antes,com a diferena de que a maior inteligncia de Tarzan, e a suahabilidade como caador, faziam com que todos vivessem emmaior abundncia de comida. Assim a maioria dos gorilasestava mais do que contente com a mudana de chefe. Tarzanconduziu-os, de noite, aos campos dos homens negros. A,avisados pela sabedoria superior do seu chefe, os gorilascomeram apenas aquilo que necessitavam, sem destrurem oque no podiam comer, ao contrrio do que fazia Manu, omacaco pequeno, e muitos outros. Desta maneira, conquantoos negros ficassem furiosos com as freqentes incurses nosseus campos, no se desencorajavam de continuar a cultiv-los,

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    como teriam feito se Tarzan permitisse sua tribo a destruioindiscriminada.

    No decorrer deste perodo Tarzan fez vrias visitasnoturnas aldeia, onde freqentemente renovava a sua

    proviso de setas. No tardou a notar que havia sempre comida junto do tronco da rvore que lhe servia de caminho, e ao cabode algumas hesitaes comeou a devorar o que os negrosdeixavam l. Quando os consternados selvagens verificaramque a comida desaparecia durante a noite, ficaram cheios dedesolao e de medo, porque uma coisa era propiciar, comalimentos, o esprito maligno -mas outra, e diferente, era queesse esprito realmente entrasse na aldeia e as comesse. Talfato nunca tivera precedentes, e encheu as suas mentes

    supersticiosas com todos os gneros de vagos temores.Mas isso no era tudo. A peridica desapario das setas,e as estranhas surpresas preparadas por mos invisveis,haviam-nos conduzido a um tal estado de desespero que a vidase tornara um insuportvel fardo, na nova aldeia. Foi ento queMbonga e os seus conselheiros comearam a falar emabandonar a aldeia e procurar lugar para construir outra, maislonge. Desta maneira os negros principiaram a internar-se cadavez mais pela selva, na direo do Sul, quando iam caar eprocurar local para se estabelecerem longe do esprito que osatormentava.

    Mais freqentemente, a tribo de Tarzan foi molestada poresses caadores errantes. Agora o silncio e o isolamento daselva primitiva era perturbado por novos e estranhos gritos.No mais haveria segurana para aves ou feras. Os homenstinham chegado.

    Outros animais percorriam a floresta, de dia e de noite -grandes animais cruis e ferozes - mas os mais fracos apenasfugiam da sua imediata vizinhana, para voltarem quandopassava o perigo. Com o homem era diferente. Quando ohomem chega, muitos dos animais de grande porte se afastamda regio -para raramente voltarem.

    Assim acontecera sempre com os grandes antropides,que fugiam do homem como o homem foge da peste. Durantealgum tempo a tribo de Tarzan ficou nas proximidades dapraia... porque o novo chefe recusava a idia de se afastardefinitivamente dos tesouros que, para ele, existiam nabarraca. Mas quando, um dia, um membro da tribo descobriuum numeroso bando de negros na margem do pequeno rio que

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    havia sido o seu abastecedor de gua ao longo de muitasgeraes e os viu ocupados a desbravar um largo espao dafloresta, e a erguer choas -os macacos no quiseram ficar alimais tempo. Assim, Tarzan conduziu-os, em muitos dias de

    marcha, para o interior, para um ponto da selva onde ascriaturas humanas nunca haviam penetrado.Uma vez, em cada lua, Tarzan percorria esse longo

    caminho, na sua rpida maneira de viajar saltando de ramo emramo, para passar um dia com os seus livros e para refazer asua proviso de setas. Esta ltima tarefa tornava-se cada vezmais difcil, porque os negros tinham tomado o hbito deesconder as setas, durante a noite, em celeiros ou em cubatashabitadas. Isto tornava necessrio que Tarzan espreitasse

    durante o dia, para ver onde eles escondiam as setas. Por duasvezes entrara nas cubatas, de noite, enquanto os respectivosocupantes dormiam nas suas esteiras, e se apoderara das setasque estavam junto deles. Mas compreendia que o processo eraperigoso, e comeou a apanhar caadores solitrios, com a sualonga corda, despojando-os de armas e ornamentos - edeixando cair os corpos do alto das rvores, para dentro daaldeia, nas horas silenciosas das viglias noturnas.

    Essas incurses de tal modo apavoravam os negros que,se no fossem os intervalos de quase um ms entre as visitasde Tarzan, intervalos que lhes davam a renovada esperana deque a visita anterior tivesse sido a ltima, em breve teriamabandonado tambm a nova aldeia.

    Os selvagens ainda no haviam feito a descoberta dabarraca de Tarzan, na praia distante, mas ele vivia no constantereceio de que, enquanto estava longe, com a tribo, adescobrissem e destrussem os seus tesouros. E assim passavacada vez mais tempo na vizinhana do ltimo lar de seu pai ecada vez menos tempo com a tribo. Os membros dacomunidade comearam a sofrer as conseqncias doafastamento de Tarzan, porque entre eles surgiamconstantemente discrdias e desordens que s o rei poderiaresolver pacificamente.

    Por fim, alguns dos macacos mais velhos falaram a Tarzan,sobre esse assunto, e durante todo um ms ele no abandonoua tribo. Os deveres do rei, entre os antropides, no erammuitos nem difceis. Acontecia, por exemplo, que uma tarde

    Thaka se apresentava, a queixar-se de que o velho Mungo lheroubara a sua nova companheira. Ento Tarzan chamava-os, a

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    todos, e se verificava que a fmea preferia o seu novo senhor,ordenava que as coisas ficassem como estavam, ou que Mungodesse a Thaka, em troca, uma das suas filhas. Fosse qual fossea sua deciso, os gorilas aceitavam-na como definitiva, e

    voltavam, satisfeitos, s suas ocupaes. De outras vezes era Tana que aparecia, gritando e apertando com as mos umflanco que sangrava. Gunto, o seu companheiro, havia-amordido cruelmente. Mas Gunto, chamado, queixava-se de que

    Tana era preguiosa e no lhe levava nozes nem insetos, nemlhe coava as costas. Tarzan repreendia ambos, severamente,ameaando Gunto com as setas mortais, se voltasse amaltratar Tana, e obrigando Tana a prometer que passaria acumprir melhor os seus deveres de fmea.

    Assim corriam as coisas. Na maioria tratava-se depequenas discrdias familiares, que no entanto, se notivessem sido resolvidas, acabariam por originar lutas degrupos e o final desmembramento da tribo. Mas Tarzan estavasentindo-se farto daquilo, considerando que os seus deveres dechefe cerceavam a sua prpria liberdade. Pensava a cadainstante na barraca e no mar que o sol beijava -no frescointerior da casa, e nas inesgotveis maravilhas dos livros.

    Ao crescer, passado o cabo da adolescncia, sentia-semais afastado da tribo. Os interesses dos gorilas, e os seus,eram cada vez mais diferentes. Os animais no podiamacompanhar a sua evoluo, nem podiam compreenderestranhos e maravilhosos sonhos que passavam pela mente doseu chefe humano. To limitado era, na verdade, o vocabulriodeles, que Tarzan nem mesmo podia falar-lhes das inmerasnovas verdades que descobrira, nem dos grandes campos depensamento que as leituras haviam rasgado ante os seus olhosansiosos, nem das ambies que agitavam a sua alma.

    J no tinha amigos na tribo, como antigamente. Umacriana pode achar companhia em muitas criaturas estranhas esimples, mas para um homem preciso que exista algumasemelhana de inteligncia, como base para uma associaoagradvel. Se Kala vivesse, Tarzan teria sacrificado tudo o maispara ficar junto dela. Mas Kala morrera, e os amigos ecompanheiros da infncia de Tarzan tinham-se tornado animaissombrios e ferozes, to rudes que ele de longe preferia asolido e a paz da sua barraca, aos seus deveres como chefe deuma horda de feras.

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    O dio e a inveja de Terkoz, filho de Tublat, haviamcontribudo muito para contrariar os desejos de Tarzan quanto arenunciar chefia da tribo. Teimoso como um ingls que era,no podia convencer-se a se retirar em face de to malvolo

    inimigo. Que Terkoz seria escolhido como chefe, se ele seafastasse, Tarzan sabia-o bem, porque muitas vezes o ferozgorila demonstrara a razo da supremacia fsica de que seorgulhava, sobre os poucos machos que haviam ousado reagircontra as suas brutalidades.

    Tarzan teria gostado de vencer o feroz gorila sem utilizar afaca ou as setas. No perodo posterior adolescncia, a suafora e agilidade tinham-se desenvolvido de tal maneira que eleacreditava poder dominar Terkoz numa luta de mos nuas se

    no fosse a terrvel vantagem que os dentes enormes e agudosconcediam ao antropide, em relao a Tarzan. Mas o casoresolveu-se um dia, independentemente da deciso de Tarzan epela simples fora das circunstncias. O futuro, ficar ou partir,ficou aberto para ele.

    De qualquer modo no haveria uma nica mancha no seubraso selvagem. O caso aconteceu assim:

    A tribo andava tranqilamente em busca de comida,espalhada por uma rea considervel, quando um grande gritose fez ouvir, a distncia, para leste do ponto onde Tarzan seencontrava estendido ao comprido na margem de um lmpidoregato, tentando agarrar um esquivo peixe entre os seus dedosrpidos e morenos.

    Num mesmo impulso, a tribo lanou-se na direo de ondevinham os gritos, e a encontraram Terkoz que, segurando umavelha fmea, lhe batia impiedosamente com as suas grandesmos. Tarzan aproximou-se e levantou uma das mos, para que

    Terkoz desistisse de bater, pois a fmea no lhe pertencia - eraa companheira de um velho gorila cujos tempos de lutadortinham passado havia muito e, por isso mesmo, no podiaproteger a sua famlia.

    Terkoz sabia que estava fazendo uma coisa contrria sregras da tribo, que proibiam maltratar uma fmea alheia, masmau como era aproveitara-se da fraqueza do velho gorila paracastigar a fmea que se recusara a entregar-lhe um pequenoroedor apanhado por ela. Quando Terkoz viu que Tarzan sedirigia para ele sem as flechas, continuou a bater na pobremacaca, deliberadamente, para desafiar o chefe odiado.

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    Tarzan no repetiu o aviso, mas lanou-se imediatamentesobre Terkoz que se pusera em guarda.

    Nunca Tarzan travara uma luta to feroz, desde os temposem que, muitas luas antes, se batera contra Bolgani, o

    gigantesco chimpanz que to gravemente o ferira e a quemele tinha vencido com um golpe da faca encontrada momentosantes.

    Naquela luta, a faca de Tarzan mal contrabalanava osenormes dentes de Terkoz, mas qualquer vantagem que ogorila pudesse ter, em fora bruta, era equilibrada pela rapideze pela agilidade do homem.

    Na soma total de vantagens e desvantagens, no entanto, oantropide levava de certo modo a melhor, e se nenhuma

    caracterstica pessoal influenciasse a deciso final, Tarzan dosMacacos, o jovem Lord Greystoke, teria morrido ali,como haviavivido - uma criatura selvagem, desconhecida, na fricaequatorial, Mas essa caracterstica pessoal existia, era aquelaque o erguia muito acima dos seus companheiros na selva -essa pequena fasca que explica a espantosa diferena entre oshomens e os animais... a razo do homem. Foi isso o que salvou

    Tarzan de morrer sob os msculos de ferro de Terkoz.Mal haviam combatido uma dezena de segundos quando

    rolaram pelo cho, batendo, rasgando, despedaando - doisgrandes animais da selva numa luta de morte. Terkoz tinhauma dzia de golpes na cabea e no peito, e Tarzan sangravaem conseqncia de uma dentada na cabea. Mas at ento o

    jovem ingls conseguira manter as terrveis presas a distnciado seu pescoo.

    A certa altura a luta afrouxou, por um instante, para queambos os antagonistas pudessem respirar, e nesse instante,

    Tarzan formou um plano astuto.Se moveria de maneira a cavalgar o dorso de Terkoz, e

    ento, agarrando-se com unhas e dentes, vibraria golpes com afaca at que Terkoz morresse. A manobra foi executada muitomais facilmente do que Tarzan esperara, pois o estpido

    Terkoz, sem compreender, no fez qualquer esforo paraimpedi-la. S quando, finalmente, percebeu que o adversrio ohavia agarrado de maneira a no o deixar atac-lo com osdentes ou com os punhos, Terkoz viu o perigo.

    Rpido, atirou-se para o cho, to violentamente que Tarzan teve de fazer um desesperado esforo para no largar aposio. Para piorar as coisas, ao cravar a faca no dorso de

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    Terkoz, este rolou no terreno e a arma saltou da mo de Tarzan, que se viu sem defesa. Durante minutos giraram assim.

    Tarzan teve de largar o adversrio duas ou trs vezes,para no ser esmagado sob o seu peso, mas conseguiu sempre

    retomar a sua posio. At que, mais por acaso do que porinteno, o agarrou de tal maneira que no havia possibilidadede ser sacudido. O seu brao passou sob a axila de Terkoz, elogo a mo se fixou na nuca do gorila. Era o que em lutamoderna se chama meio-golpe-de-Nelson, e que Tarzanaplicara sem saber. Mas a sua razo de homem mostrou-lhe nomesmo instante a vantagem do golpe... que para ele poderiarepresentar a diferena entre a vida e a morte. Assim,diligenciou e conseguiu colocar o outro brao em posio

    semelhante, e um momento depois o pescoo de Terkozcomeou a estalar sob a ao do full-Nelson. No havia agorafuga para o gorila.

    Os dois adversrios pareceram ficar imveis, mas,lentamente, a cabea de Terkoz ia cedendo, vergando-se para opeito. Tarzan sabia qual seria o resultado. No tardaria que asvrtebras do pescoo do antropide se quebrassem. Entovaleu a Terkoz a mesma causa que o havia conduzido queleextremo - a razo do homem.

    - Se eu o matar... - pensou Tarzan... - que vantagem tereinisso, alm de privar a tribo de um bom lutador? Se o matar,

    Terkoz nada saber da minha supremacia, ao passo que, vivo,ser um exemplo para os outros...

    - Ka-goda?... - disse Tarzan, ao ouvido do adversrio. Nalinguagem dos antropides, a palavra significava: Rende-se?Por instantes no houve resposta, e Tarzan aumentou a pressodo golpe at que o gorila deixou escapar um agudo grito dedor.

    - Ka-goda?.. - repetiu Tarzan.- Ka-goda!... - bradou Terkoz.- Escutem... - disse ento Tarzan, em voz forte. - Eu sou

    Tarzan, rei dos macacos, poderoso caador, poderoso lutador!Em toda a selva no h outro to forte como eu... - falava semlargar o adversrio, embora aliviando ligeiramente a terrvelpresso do golpe. - Disse Ka-goda, toda a tribo ouviu. Novoltar a lutar contra o teu rei ou contra a tua tribo, porque se ofizer o matarei! Compreendeu?

    - Huh!... - confirmou Terkoz.- Reconhece-te vencido?

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    - Huh!... - rouquejou o gorila.Ento Tarzan largou-o, e minutos depois todos os grandes

    antropides tinham voltado s suas ocupaes, como se nadahouvesse passado que perturbasse a tranqilidade da floresta.

    Mas, nos crebros diminutos e rudes dos gorilas, tinha-segravado para sempre a convico de que Tarzan era umpoderoso lutador e uma estranha criatura - estranha porquetinha podido matar o seu inimigo e no entanto deixara-o viver.

    Ao fim da tarde a tribo reuniu-se, como fazia sempre antesque a escurido descesse sobre a selva. Tarzan, tendo lavadoas suas feridas com a gua do rio, chamou os velhos machospara junto dele.

    - Viram mais uma vez, hoje, que Tarzan o maior entre

    todos... - disse ele.- Huh!... - responderam em coro. - Tarzan o maior.- Mas Tarzan... -continuou ele - ... no um macaco. No

    como a sua tribo. Os seus caminhos no so os da tribo... e sim Tarzan vai voltar para o refgio dos da sua espcie, junto damargem do grande lago que no tem outro lado. Escolhamoutro chefe, porque Tarzan no voltar.

    E assim o jovem Lord Greystoke deu o primeiro passo nadireo da meta que marcara a si mesmo - a descoberta deoutros homens, brancos como ele.

    CAPTULO 13A sua prpria espcie

    Na manh seguinte, Tarzan, ainda ressentido das feridasque sofrera na luta com Terkoz, partiu para Oeste, na direodo mar.

    Viajou lentamente, dormindo na selva, nessa noite, echegou barraca na manh seguinte. Durante alguns diaspouco se moveu, apenas o bastante para apanhar frutos enozes com que matar a fome. Ao cabo de dez dias estavacompletamente restabelecido, conservando no entanto amarca, ainda no cicatrizada por completo, da dentada que

    Terkoz lhe dera na cabea. A marca comeava acima do olhoesquerdo e, dando a volta cabea, por cima, ia at orelhadireita. Toda a pele havia sido cortada.

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    Durante a sua convalescena tentou fazer uma coberturacom a pele fulva de Sabor, que havia deixado na barraca. Masnada sabia da arte de curtir, e assim a pele secara e tornara-sedura como uma tbua. Foi obrigado a abandonar a sua idia.

    Assim, decidiu usar os adornos tirados a um dos negros daaldeia de Mbonga. Tarzan resolvera marcar de todas as formasa sua evoluo, e nada lhe parecia to prprio da dignidadehumana como as roupas e os adornos.

    Para tal fim, reuniu os ornamentos de braos e pernas quetirara dos guerreiros negros vencidos pelo rpido e silenciosolao de corda, e colocou-os em si mesmo, da maneira como viraos negros us-los. Em volta do pescoo a corrente de ouro, daqual pendia o medalho que fora de sua me - e onde

    rebrilhavam diamantes. s costas a aljava com as setasenvenenadas, presa por uma tira de cabedal que passava sobreo ombro direito. Em volta da cintura o cinto feito com tiras depele de gamo, de onde pendia, numa bainha que ele prpriofizera, a faca de seu pai, No ombro esquerdo suspendeu o longoarco que pertencera a Kulonga.

    Era na realidade uma estranha figura de guerreiro, com oscabelos negros cados sobre os ombros, atrs, e cortados frente com uma faca, para no lhe taparem os olhos. O seuvulto forte, esbelto, musculoso como teria talvez sido o maisforte dos gladiadores romanos - e todavia com a graa leve deum deus grego - denunciava ao primeiro olhar a espantosacombinao de enorme fora e de prodigiosa agilidade. Erauma perfeita personificao do homem da natureza, caador eguerreiro.

    A bela e nobre cabea, sobre os largos ombros, e o brilhode viva inteligncia nos olhos cinzentos, davam-lhe o aspectode um personagem mitolgico, ou de um heri de um povo deguerreiros.

    Mas Tarzan no pensava nessas coisas. Preocupava-o aidia de no ter roupas que claramente indicassem, a todos oshabitantes da floresta, que era um homem e no um macaco e por vezes tinha dvidas sobre se no viria a tornar-serealmente um macaco.

    No comeava a ter plos na cara? Todos os gorilas ostinham, mas os negros eram completamente desprovidosdesses plos, salvo raras excees... Na verdade vira, noslivros, figuras de homens brancos com cabelos em volta doslbios, nas faces e no queixo - mas assim mesmo tinha medo.

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    sua aventura. Explicavam que Mirando, seguindo algunsmetros, adiante deles, lhes surgira subitamente, aos gritos,dizendo que um terrvel guerreiro, branco e nu, o perseguia.

    Ento todos os trs haviam corrido na direo da aldeia,

    to depressa quanto podiam. Mais uma vez tinham escutado osgritos de Mirando, e ao olharem para trs tinham visto a coisamais horrvel - o corpo do companheiro que subia no ar, nadireo das rvores, agitando as pernas e os braos, e tendo alngua pendente para fora da boca aberta. No tinham ouvidomais rudos, nem tinham visto quem quer que fosse.

    Os outros negros comearam a sentir-se possudos por ummedo que no tardaria em se transformar em pnico, mas ovelho Mbonga, prudente e sbio, aparentou grande

    incredulidade em relao histria, atribuindo-a a umainveno do receio dos dois homens em face de um perigo real.- Contam-nos uma grande histria... - disse ele - ... porque

    no se atrevem a dizer a verdade. No querem confessar quefugiram quando o leo saltou sobre Mirando e o levou. Socovardes!

    Mbonga mal tinha acabado de falar quando todos ouviramum violento quebrar de ramos, nas rvores acima deles. Osnegros olharam para cima, e o que viram fez com que o prprioMbonga estremecesse de pavor. Rodopiando no ar vinha ocorpo morto de Mirando, que caiu com um baque surdo juntodeles. Num mesmo movimento os negros fugiram... e nopararam at que o ltimo entre eles desapareceu nas sombrasda selva prxima.

    Ento Tarzan saltou para o cho, renovou a sua provisode setas e comeu os alimentos com que os negros continuavamtentando propiciar o esprito maligno, e apaziguar a suaclera. Antes de partir, Tarzan levou o corpo de Mirando at entrada da paliada, e colocou-o de maneira que a face mortaparecia espreitar a pista que conduzia selva.

    Tarzan voltou, sempre caando, na direo da barraca dapraia.

    S ao cabo de muitas tentativas os apavorados negrosconseguiram entrar na aldeia, passando diante da cara docompanheiro morto, que parecia sorrir para eles. Quando viramque a comida e as setas haviam desaparecido, ficaram com acerteza daquilo que j suspeitavam - de que Mirando tinhaencontrado o esprito maligno da selva. Essa parecia-lhes anica explicao lgica. Todos os que viam o esprito...morriam.

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    - Notvel... Muito notvel!- Eh, velho fssil!.. - gritou o marinheiro que o havia

    chamado. - Voc pensa que o chamei para voc ler para si?Venha c e leia em voz alta, velho lagostim! O sujeito idoso

    parou e logo voltou para trs, dizendo:- Oh! Claro, com certeza, meu caro... Mil desculpas. Foiuma distrao minha, evidentemente. Notvel... Muito notvel!Voltou a ler, e sem dvida teria se afastado novamente se omarinheiro o no agarrasse pela gola, berrando:

    - Leia em voz alta, velho idiota de uma figa!- Oh! Claro, claro... com certeza... - balbuciou o professor,

    ajeitando outra vez os culos antes de ler em voz alta:ESTA A CASA DE TARZAN, VENCEDOR DE FERAS E DE

    MUITOSNEGROS. NO ESTRAGUEM AS COISAS QUE PERTENCEMA TARZAN, TARZAN VIGIA. Tarzan dos Macacos!- Mas quem raio Tarzan?... - grunhiu o marinheiro que

    at ento tinha falado.- evidente que fala ingls... -comentou o jovem vestido

    de branco.- Mas que quer dizer Tarzan dos Macacos?... - quase

    chorou a moa.- No sei, miss Porter... - respondeu o jovem... - a no ser

    que tenhamos encontrado um macaco fugido do Zo deLondres... que trouxesse uma educao inglesa para o seu larna selva. Que lhe parece, professor Porter?... - acrescentou,voltando-se para o homem idoso.

    O professor Arquimedes Q. Porter voltou a endireitar osculos.

    - Oh, claro... realmente... Sim, claro... Muito notvel! Masnada mais posso acrescentar ao que j disse para elucidar estecaso momentoso... - e o professor voltou-se lentamente nadireo da selva.

    - Mas, pai... - exclamou a moa. - voc ainda no dissenada!

    - Tut, tut, criana... tut, tut... - respondeu o professor numtom bondoso e indulgente. - No preocupe a sua lindacabecinha com complicados e absurdos problemas... -e de novose afastou, devagar mas agora em outra direo, os olhos fitosno terreno a seus ps, as mos cruzadas sob as abas do fraque.

    - Eu penso que o velho imbecil no sabe mais do que ns...-declarou o marinheiro que tinha cara de rato.

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    - Fale delicadamente! - bradou o jovem, empalidecendo declera ao ouvir as palavras insultantes do marinheiro. Vocsassassinaram os nossos oficiais e roubaram-nos! Ns estamosem vosso poder... Mas voc vai tratar o professor Porter e miss

    Porter com o devido respeito, ou o mato com as minhas mos,quer esteja armado quer no!...-E o jovem aproximou-se tantodo cara-de-rato que este, embora armado com dois revlverese uma faca, recuou. No passa de um miservel covarde, eno se atreveria a disparar sobre algum a no ser pelascostas. No se atreve a disparar contra mim, mesmo nessascondies... - concluiu o rapaz, voltando as costas aomarinheiro e afastando-se tranqilamente, para oexperimentar.

    A mo do marinheiro deslizou, sorrateira, para a coronhade um dos seus revlveres. Os olhos malvolos fitavam comraiva as costas do jovem ingls. Os seus companheiros fitavam-no, mas ele hesitava ainda. No fundo, era ainda mais covardedo que William Cecil Clayton julgara.

    Dois olhos atentos vigiavam todos os movimentos dogrupo, por entre a folhagem de uma rvore prxima. Tarzanvira a surpresa causada pelo seu aviso, e embora no pudesseentender a linguagem falada daquela estranha gente, os gestose as expresses diziam-lhe muito. O ato do cara-de-rato, aomatar pelas costas um dos seus companheiros, provocara umaforte hostilidade em Tarzan, E agora, que o vira discutir comaquele jovem de to bom aspecto, a sua animosidadeacentuava-se ainda mais.

    Tarzan nunca vira, antes, os efeitos de uma arma de fogo,embora os seus livros lhe tivessem ensinado alguma coisasobre elas, mas quando viu o cara-de-rato pousar a mo nacoronha do revlver, pensou na cena que presenciara poucotempo antes e naturalmente compreendeu que o jovem iamorrer como tinha morrido o corpulento marinheiro.

    Assim, colocou uma seta no arco e apontou para oassassino, mas a folhagem era to densa que a seta seriadecerto desviada por algum pequeno ramo. Pousou o arco,agarrou uma das compridas lanas e arremessou-a.

    Clayton tinha dado meia dzia de passos; o cara-de-ratoempunhara o seu revlver; os outros olhavam. O professorPorter j desaparecera na selva, seguido pelo agitado Samuel T.Philander, seu secretrio e assistente. Esmeralda, a negra,estava ocupada escolhendo, de entre as pilhas de pacotes e

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    caixas junto da barraca, as bagagens da sua senhora, e missPorter voltara-se para seguir Clayton quando qualquer coisa afez olhar para trs, na direo do marinheiro. E ento trscoisas aconteceram quase simultaneamente.

    O marinheiro levantou a arma e apontou-a para as costasde Clayton, miss Porter soltou um grito - e uma comprida lana,com uma ponta metlica, surgiu como um raio, vinda de cima,e atravessou de lado a lado o ombro direito do cara-de-rato.

    O revlver detonou inofensivamente, para o ar, e omarinheiro caiu com um brado de dor e de apavorada surpresa.Clayton voltou-se e correu. Os outros marinheiros, de armas empunho, tinham-se agrupado, aterrorizados, e olhavam para aselva. O ferido gemia e retorcia-se, no cho. Clayton, sem que o

    vissem, apanhou o revlver cado e meteu-o sob a camisa.Depois fez como os marinheiros e olhou, espantado, nadireo da floresta.

    - Quem poderia ter sido?...- sussurrou Jane Porter, de olhosmuito abertos, ao lado de William Clayton.

    - Suponho que Tarzan dos Macacos est realmentealerta... - respondeu ele, num tom de dvida. - Mas na verdadeno sei para quem seria apontada aquela lana. Se foi paraSnipes, ento o homem da selva de fato um amigo. Mas... porDeus! Onde esto o seu pai e o sr. Philander? H alguma coisaou algum, na selva, e seja quem for est armado... Eh!Professor! Sr. Philander!... - bradou Clayton. No obtendoresposta, olhou preocupado para a moa e acrescentou: -Quepodemos fazer, miss Porter? No possvel deix-la aqui,sozinha com estes bandidos... e por outro lado no podeaventurar-se na selva, comigo. No entanto preciso quealgum v procurar seu pai. mais do que capaz de vaguearsem rumo, indiferente ao perigo e ao caminho, e o sr. Philander apenas ligeiramente menos prtico do que ele. Desculpe aminha franqueza, mas as nossas vidas esto em grande risco, equando conseguirmos encontrar seu pai preciso fazer algumacoisa que lhe d a entender os perigos a que se expe, e aexpe tambm, em conseqncia da sua distraopermanente...

    - Estou de acordo consigo e no me ofendeu... - retorquiua moa. - Meu pai sacrificaria a vida por mim, sem a menorhesitao... sob condio de poder pensar em to insignificanteassunto durante um momento. H apenas uma forma de t-lo

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    em segurana... e amarr-lo a um tronco. No tem o menorsentido prtico...

    - Tenho uma idia... - disse Clayton. - Sabe utilizar umrevlver, no?

    - Sim... Porqu?- Tenho um... Com a arma, voc e Esmeralda estaro emrelativa segurana, na barraca, enquanto eu procuro seu pai e osr. Philander. Chame essa mulher, para que eu possa afastar-me. Eles no devem estar longe.

    Jane recebeu o revlver, fez o que Clayton lhe dizia..., equando este ltimo viu a porta fechar-se atrs delas, voltou-separa a selva. Alguns dos marinheiros estavam arrancando alana do ombro do ferido. Clayton aproximou-se e perguntou se

    podiam emprestar um revlver para ir procurar o professor.O cara-de-rato, ao verificar que no estava morto, tinharecuperado a sua ferocidade covarde, e com uma srie defuriosas pragas dirigidas a Clayton, recusou, em nome dosoutros, ceder qualquer arma.

    Snipes, assim se chamava, tomara o lugar de chefe depoisde ter assassinado o gigante, e to pouco tempo decorrera,desde ento, que nenhum dos outros havia ainda discutido asua autoridade.

    A nica resposta de Clayton foi um encolher de ombros,mas antes de partir apanhou a lana que ferira Snipes e,armado dessa maneira primitiva, o filho do ento LordGreystoke internou-se pela selva densa. Repetidas vezeschamou em voz alta pelos desaparecidos. As duas mulheres, nabarraca da praia, ouviram a sua voz afastar-se gradualmente,at ser abafada pelos mil rudos da floresta primitiva.

    Quando o professor Porter e o seu assistente Philander,depois de muita insistncia por parte do segundo, retomaramfinalmente o caminho que supunham conduzir praia, estavamcompletamente perdidos no labirinto selvagem da florestadensa, to perdidos quanto era possvel a qualquer criaturahumana - embora ambos o ignorassem. Foi por simples acasoda sorte que tomaram a direo da costa ocidental, em vez dese encaminharem para Zanzibar, no outro lado do continentenegro.

    Quando, algum tempo depois, chegaram a uma praia no conseguiram avistar qualquer barraca, nem sinais de vida.

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    pensou nos trs homens, dos quais elas dependiam para defesae proteo, e que vagueavam nas profundidades da selva.Pouco depois, a jovem verificou que a porta estava munida deuma pesada tranca de madeira, no lado de dentro, e ao cabo de

    esforos conjugados as duas mulheres conseguiram colocar atranca no seu lugar - pela primeira vez nos ltimos vinte anos.Ento sentaram-se num banco, nos braos uma da outra eesperaram.

    CAPTULO 14 merc da selva

    Depois de Clayton ter desaparecido na floresta, osmarinheiros, amotinados do Arrow, puseram-se a discutir sobreo que fariam a seguir. Numa coisa estavam de acordo, todoseles, e era em voltarem imediatamente para bordo do Arrow,onde ao menos estariam ao abrigo de inimigos invisveis queatiravam lanas. E assim, enquanto Jane Porter e Esmeralda setrancavam na casa de madeira, os covardes rufies remavamapressadamente para o Arrow, nos dois botes que os haviamlevado para terra.

    Tarzan tinha visto, em curto espao de tempo, tanta coisanova... que a sua cabea era um turbilho de maravilhadoespanto.

    Mas a coisa mais maravilhosa de todas, para ele, era aface da linda moa branca. Ali estava algum, pelo menos, queera da sua prpria espcie. Disso tinha certeza; e o homemnovo, e tambm os dois homens idosos. Esses correspondiamigualmente idia que ele fizera da sua gente.

    Mas sem dvida eram to ferozes e cruis como os outroshomens que ele tinha visto. O fato de serem os nicos que notinham armas, podia explicar que os no visse matar algum dosoutros. Seriam seguramente diferentes se tivessem armas.

    Tarzan vira que o homem novo havia apanhado o revlvercado da mo do cara-de-rato, e o escondera junto da pele. Etambm o vira entregar a arma moa, quando ela tinhaentrado na barraca.

    Nada compreendia quanto s causas do que tinha visto;mas, fosse como fosse, gostava do rapaz e dos dois velhos, equanto jovem sentia uma impresso estranha, que no podia

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    definir. A negra gorda devia ter qualquer ligao com a moa, eassim Tarzan tambm gostava dela.

    Pelos marinheiros, e em especial por Snipes, sentia umprofundo dio. Compreendera, pelos gestos de ameaa e pelas

    expresses de maldade, que eram inimigos dos outros - e assimresolveu vigiar de perto. Tarzan no sabia por que razo oshomens se haviam internado na selva, mas nunca pensou quealgum pudesse se perder na espessura do mato, que para eleera to sem segredos como, para ns, a rua que conduz nossa casa.

    Quando viu os marinheiros afastarem-se na direo donavio, e se convenceu de que a jovem e a sua companheiraestavam em segurana na barraca, Tarzan seguiu o rapaz que

    desaparecera na selva, com a idia de ver o que ele iria fazer.Saltou de ramo em ramo, na direo que Clayton tomara, e notardou a ouvir, a distncia, os brados com que ele chamava osseus companheiros. Pouco depois Tarzan alcanou o homembranco, sem se mostrar, e viu-o apoiado a um tronco, limpandoo suor da testa, ofegante e esgotado.

    Escondido atrs da folhagem densa, o filho da selvaobservou atentamente aquele exemplar da sua raa. Dequando em quando, Clayton chamava os seus companheiros, e

    Tarzan compreendeu que ele andava em busca dos maisvelhos. Preparava-se para ir tambm em procura deles, quandodistinguiu o movimento furtivo de um corpo delgado e peludo,que atravessava a selva na direo de Clayton. Era Sheeta, apantera.

    Tarzan podia ouvir o leve dobrar das ervas sob as patas deSheeta, e espantou-se ao ver que o rapaz branco no captava oaviso. Seria possvel que no o ouvisse? Nunca, antes, o filho daselva vira Sheeta avanar to despreocupadamente sobre umapresa.

    No, o homem branco no ouvia. Sheeta curvava-se parasaltar... quando, poderoso e terrvel, o grande brado de desafiodos macacos, rasgou o silncio da floresta. Sheeta deu meiavolta, rpida, e desapareceu no mato. Clayton endireitou-se,sentindo o sangue gelar nas veias.

    Em toda a sua vida, nunca ouvira um som to estranho eaterrador. No era um covarde, mas, se algum homem sentiuos dedos frios do medo apertarem-lhe o corao, William CecilClayton, filho mais velho do ento Lord Greystoke, foi essehomem, nesse dia, na obscuridade da selva africana.

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    O rudo de um corpo aparentemente grande, atravessandoo mato, to perto dele, e o ressoar daquele espantoso bradoque vinha da espessura das rvores, puseram prova acoragem de Clayton. Mas ele no podia saber que devia a vida

    a essa voz poderosa, nem que a criatura que soltara o bradoera seu primo - o verdadeiro Lord Greystoke.A tarde findava, e Clayton, cansado e desanimado, sentia-

    se dilacerado pela dvida, quanto ao que poderia ou deveriafazer... se continuar em busca do professor Porter, com acerteza de perder a vida na selva, durante a noite... ou se voltar barraca onde, ao menos, serviria para proteger Jane contra osperigos que a ameaavam por todos os lados. No queria voltarsem ter encontrado o pai da jovem... mas apavorava-o a idia

    de deix-la indefesa, entregue aos amotinados do Arrow e aosperigos desconhecidos da selva.Era tambm possvel que o professor e Philander tivessem

    voltado. Sim, isso era o mais provvel. Pelo menos devia irverificar a possibilidade, antes de continuar o que parecia seruma busca intil. Comeou a caminhar atravs da selva, nadireo em que supunha estar a barraca.

    Com grande surpresa, Tarzan viu-o avanar numa direoque provavelmente o levaria, quase a direito, aldeia deMbonga.

    Compreendeu no mesmo instante que o rapaz estavadesorientado, perdido. Para Tarzan, era quase incompreensvel.O seu raciocnio dizia-lhe que nenhum homem caminharia paraa aldeia dos cruis negros, armado apenas com uma lana, quea julgar pela forma desajeitada como a empunhava, devia seruma arma a que no estava habituado. Tambm no iaseguindo a pista dos dois outros homens. Tinha-a atravessadobastante antes e afastara-se dela, embora para Tarzan essapista fosse claramente visvel.

    O filho da selva sentia-se perplexo. A selva destruiria empouco tempo aquele homem, se no fosse guiado na direo dapraia. Sim, ali estava Numa, o leo, que o espreitava a umadistncia no maior que doze passos. Clayton, desta vez, ouviua fera que avanava por um caminho paralelo ao seu... e ouviuo poderoso rugido. Parou, erguendo a lana e voltando-se parao mato, na direo de onde o rugido viera.

    As sombras tornavam-se mais densas, a noite descia.Deus! Ia morrer ali, sozinho, entre as garras de uma fera,dilacerado e rasgado, sentindo o hlito quente do animal

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    sobressaltara Clayton. O ingls no conseguia dominar o seuespanto.

    Tinha a sua frente um homem muito novo, tendo apenasuma curta tanga de pele de gamo a velar-lhe a nudez, e alguns

    adornos brbaros em volta das pernas e dos braos. Sobre opeito, um medalho cravejado de diamantes reluzia na pelemorena. A faca de caa voltara para a bainha, e o desconhecidoapanhava agora o arco e as setas, que atirara para o choantes de atacar a fera.

    Clayton falou-lhe, em ingls, agradecendo-lhe a corajosainterveno e cumprimentando-o pela destreza, e espantosafora, que demonstrara... mas a nica resposta foi um olharfirme e um vago encolher dos poderosos ombros - o que podia

    significar descaso pelo servio prestado, ou simplesmenteignorncia da lngua. Tendo colocado ao ombro o arco e a aljava, o filho da selva

    - Clayton no sabia como classific-lo -, voltou a empunhar afaca e, habilmente, cortou vrias tiras de carne da carcaa doleo. Ento, sentando-se sobre os calcanhares, comeou acomer, depois de indicar por gestos, a Clayton, que comessetambm. Os fortes dentes muito brancos cravavam-se na carnecrua, com aparente prazer, mas Clayton no conseguiu imit-lo.Observava-o agora, e a certa altura teve a idia de que oestranho jovem poderia ser Tarzan dos Macacos, cujo aviso elevira na porta da barraca, nessa mesma manh. Se fosse, entodevia falar ingls.

    Clayton tentou novamente falar com o seu salvador. Masas respostas, embora orais, eram dadas numa estranhalinguagem que lembrava o tagarelar dos macacos, de misturacom o grunhir das feras.

    No, aquele homem no podia ser Tarzan dos Macacos,porque era evidente o seu desconhecimento do ingls.

    Quando Tarzan acabou a sua refeio, levantou-se e,apontando numa direo muito diferente da que Claytonseguira at ali, ps-se a caminho. Clayton, espantado econfuso, hesitou em segui-lo, pensando que o seu estranhocompanheiro o queria conduzir mais para o interior da floresta.Mas o jovem selvagem - assim parecia claramente ao ingls,agora notando a hesitao, voltou atrs e agarrou-o pelocasaco, puxando-o at se convencer de que Claytoncompreendera que devia segui-lo. Ento deixou-o, para que eleo seguisse voluntariamente.

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    O ingls julgou compreender que estava prisioneiro e queno tinha outra soluo que no fosse seguir o seu captor.

    Assim, caminharam lentamente atravs da selva,enquanto a escurido se tornava cada vez mais densa. Os

    passos leves das feras, na espessura, misturavam-se com osgritos dos animais noturnos, que Clayton sentia rodearem-no natreva. De repente, o ingls ouviu a detonao distante de umaarma de fogo - e depois o silncio.

    Na barraca da praia, duas mulheres apavoradasagarravam-se uma outra, encolhidas, enquanto a noite asenvolvia. A negra soluava histericamente, amaldioando o diaem que partira da sua distante Maryland, enquanto a jovembranca, de olhos enxutos e dominando os nervos tanto quanto

    podia, se sentia invadida pelo medo e por sombriospressentimentos. No receava mais por ela, todavia, do quepelos trs homens que sabia vaguearem nas insondveisprofundezas da selva - de onde chegavam at ela, quaseincessantemente, ecos de gritos e de rugidos dos animaisferozes que caavam na noite.

    Foi ento que ouviram o som surdo de uma forte pancadacontra um dos lados da barraca. Jane pde distinguir o rumorde grandes patas, no terreno l fora. Por instantes fez-sesilncio, e a prpria selva parecia ter-se aquietado. Depoisouviu distintamente a fera a farejar a porta, a dois passos doponto onde ela e Esmeralda se encontravam. Estremeceu eaproximou-se mais da mulher.

    - Cale-se... -sussurrou. - Cale-se, Esmeralda. Parecia-lheque os soluos e os gemidos da negra haviam atrado a atenodo animal que andava na noite, e do qual apenas a parede asseparava.

    Som de garras que arranhavam a porta. A fera tentavaforar a entrada. Mas o som interrompeu-se, e novamentedistinguiram o rumor de passos. O rumor deteve-se em frenteda janela, onde os olhos de Jane se fixaram angustiosamente.

    - Meu Deus!... -murmurou, ao ver o vulto que sedesenhava atravs dos rijos ramos fortemente entranados,sobre o fundo claro do luar que iluminava o mar e a praia. Era acabea de uma enorme leoa, cujos olhos amarelos efosforescentes espreitavam.

    - Esmeralda, olhe! Pelo amor de Deus... que vamos fazer?Olhe..., a janela!

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    Esmeralda fitou o retngulo enluarado - no momentoexato em que a leoa rugia. Murmurou, apavorada:

    - Oh, So Gabriel!... - e caiu no cho, sem sentidos.Durante o que pareceu a Jane uma eternidade, a fera ficou

    imvel, as patas pousadas na base da janela, olhando. Depoisexperimentou o entranado, com as garras. Jane quase tinhadeixado de respirar... quando a leoa deixou a janela. Mas notardou que voltasse a arranhar a porta, desta vez com maisfora, parecendo enfurecida ao encontrar resistncia. Jane noconhecia a tremenda resistncia daquela porta, laboriosamenteconstruda. Se a conhecesse, teria menos medo de que a feraconseguisse entrar por ali. John Clayton, ao construir tal porta,tambm no teria podido imaginar que, vinte anos mais tarde,

    uma linda moa americana, ainda por nascer, nessa altura, viriaum dia a ser protegida das garras de uma fera, emconseqncia do seu trabalho. Durante quase meia hora a leoafarejou e arranhou a porta, alternadamente. Por fim desistiu e

    Jane ouviu que se aproximava novamente da janela, sob a qualse imobilizou por um instante antes de saltar, com todo o seupeso, contra o engradado. Jane ouviu que os ramos rangiamsob o choque. No entanto, embora talvez enfraquecidos pelotempo, resistiram, e a leoa caiu no cho. Mas uma vez mais, eoutra, a fera repetiu o seu ataque at que, finalmente, Jane,apavorada, viu que uma parte do engradado cedia. No instanteseguinte, o focinho e uma das enormes patas da leoa surgiramna abertura. Devagar, o poderoso pescoo foi empurrando,quebrando os fortes ramos. O corpo enorme no tardaria apassar. Como que em transe, hipnotizada, a jovem erguera-se efitava os olhos da leoa. Por fim gritou, sacudindo a negra:

    - Esmeralda! Ajude-me, ou estamos perdidas!A negra abriu os olhos... e a primeira coisa que viu foi o

    focinho da fera. Bradou, num tom agudo:- Oh, meu So Gabriel!A pobre mulher pesava uns bons cento e quarenta quilos...

    e sem foras nem coragem para se pr de p, engatinhoupesadamente na direo de um armrio, onde, antes dedesmaiar novamente, no conseguiu introduzir seno a cara.No entanto, o grito e a grotesca fuga tinham surpreendido aleoa, que por instantes se imobilizou. Com o novo desmaio deEsmeralda, porm, a fera retomou os seus esforos para passarpela abertura. Plida, encostada parede ao fundo da casa,

    Jane via o buraco alargar-se, lenta mas inexoravelmente.

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    Num gesto de angstia levou as mos ao peito... e foiento que sentiu os contornos da arma que Clayton lheentregara e ela havia escondido sob a blusa. Rpida, empunhouo revlver e, apontando-o para a cabea da leoa, apertou o

    gatilho. Houve um jato de fogo, o estrondo da detonao e umrugido de dor soltado pela leoa. Jane Porter viu a cabea da feradesaparecer da abertura... e ento deixou cair o revlver, edesmaiou tambm.

    Mas a leoa no estava morta. A bala apenas lhe abrirauma dolorosa ferida na espdua. Fora a surpresa, juntamentecom o claro sbito do tiro e a ressoante detonao, que atinham feito recuar momentaneamente. No instante seguinteestava de novo tentando forar a passagem, com redobrada

    fria mas com menor poder, pois o membro ferido ficara quaseinutilizado.Via a sua presa, as duas mulheres imveis, estendidas no

    cho. No havia mais resistncia a vencer... a carne que eladesejava estava ao seu alcance. Era s preciso passar...

    Passou a cabea, passou uma das enormes patas.Cautelosamente, adiantou a outra pata, do lado em que foraferida. Um instante mais e a fera estaria dentro da barraca. Foiisso o que Jane viu, logo que reabriu os olhos...

    CAPTULO 15O deus da floresta

    Quando Clayton ouviu o eco de um tiro distante, sentiu-seinvadido pela angstia. Sabia que podia ter sido disparado porum dos marinheiros... mas o fato de haver dado o revlver a

    Jane, juntamente com a tenso dos seus prprios nervos, deu-lhe a certeza de que a jovem corria grande perigo. Talveznaquele exato momento estivesse tentando defender-se contrahomem ou fera. Clayton apenas podia fazer conjecturas sobre oque estaria pensando o seu captor. Mas tinha ouvido tambm adetonao e, de algum modo, parecia impressionado por isso,porque apressou o passo de tal forma que Clayton, sem ver ocaminho, caiu duas dezenas de vezes numa dezena deminutos... Incapaz de acompanhar o passo do filho da selva foificando cada vez mais para trs. Receando ficarirremediavelmente perdido, chamou em voz alta e teve a

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    satisfao de ver o seu guia saltar para o cho, levemente, aseu lado, vindo dos ramos das rvores.

    Por momentos, Tarzan olhou-o atentamente, como quehesitando sobre a melhor coisa a fazer. Mas logo, curvando-se

    diante de Clayton, indicou-lhe por gestos que se agarrasse aoseu pescoo. Um momento depois, levando s costaso jovem ingls, Tarzan saltou para as rvores.Clayton nunca mais esqueceria aqueles minutos que se

    seguiram. A uma altura que lhe pareceu vertiginosa, foitransportado com espantosa rapidez pelo homem da selva, quesaltava de ramo em ramo com fantstica velocidade, passandode uma rvore para a outra, suspenso por cips ou de ramosque balanavam e que Tarzan agarrava sempre, embora o luar

    mal conseguisse passar atravs do espesso dossel de folhas.Depois da primeira sensao de medo, Clayton passou para umsentimento de pasmada admirao, e de inveja por aquelesformidveis msculos - e pelo instinto ou conhecimento queparecia guiar o deus da floresta atravs da escurido quasetotal, to fcil e seguramente como ele encontraria o seucaminho numa bem iluminada rua de Londres.

    S aqui e alm o luar penetrava na selva, iluminando, aosolhos espantados de Clayton, a estranha pista que seguiam. Emtais alturas, o jovem ingls sentia a respirao faltar-lhe aoolhar para o que lhe parecia um abismo, embaixo. Tarzanavanava pelo caminho mais fcil para ele, entre a folhagemmenos espessa -e isso significava, por vezes, mais de trintametros acima do cho.

    Todavia, apesar de Clayton julgar que avanavam maisdepressa do que o vento, Tarzan ia relativamente devagar,escolhendo a passagem ao longo de ramos que pudessemsuportar o duplo peso. Alcanaram finalmente a clareira antesda praia.

    O apurado ouvido de Tarzan reconheceu prontamente orudo feito pelas patas de Sabor ao arranhar o engradado da

    janela, com as suas grandes garras. Clayton, nesse momento,teve a impresso de que o filho da selva mergulhava, levando-o, de uma altura de vrias dezenas de metros, to rpida foi adescida de Tarzan. No entanto mal sentiu algum abalo quandotocaram no terreno. E, quando o ingls se desprendeu dele,

    Tarzan correu como um gamo para o outro lado da barraca. Oingls seguiu-o, a tempo de ver o corpo de uma fera que se

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    introduzia atravs da janela e s tinha do lado de fora as patastraseiras e a longa cauda.

    Quando Jane abriu os olhos e compreendeu o perigo que aameaava, o seu corajoso corao perdeu os ltimos restos de

    esperana. Mas foi ento que, com maravilhado espanto, viuque a leoa era lentamente puxada para trs - e distinguiu lfora, ao luar, as cabeas e os ombros de dois