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  • Museu de Astronomia e Cincias Afins 2006

    COORDENAO DO MAST COLLOQUIAMarcus Granato e Cludia Penha dos Santos

    ORGANIZAO DA EDIOMarcus Granato e Cludia Penha dos Santos

    CAPA E DIAGRAMAOLuci Meri Guimares e Mrcia Cristina Alves

    TRANSCRIO DAS FITASIzis Escssia Moreira de Oliveira

    REVISO DAS TRANSCRIESMarcus Granato, Cludia Penha dos Santos e Janana Lacerda

    As opinies e conceitos emitidos nesta publicao so de inteira responsabilidade de seusautores no refletindo necessariamente o pensamento do Museu de Astronomia e CinciasAfins. permitida a reproduo, desde que citada a fonte e para fins no comerciais.

    FICHA CATALOGRFICA

    Museu de Astronomia e Cincias Afins MASTM986 Discutindo Exposies: conceito, construo e

    avaliao / Museu de Astronomia e Cincias Afins (MAST)- Organizao de: Marcus Granato e Claudia Penha dos Santos. Rio de Janeiro : MAST, 2006. 120p. (MAST Colloquia: 8)

    Inclui bibliografia e notas.

    1.Exposio em museu. I. MAST. II. Ttulo. III. Srie.

    CDU 069.53

  • Sumrio

    APRESENTAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07CRIANDO REALIDADES ATRAVS DE EXPOSIES Tereza Scheiner

    EXPOSIES EM ESTUDO DE CASO: MUSEU HISTRICO NACIONAL 39Ruth Beatriz S. Caldeira de Andrada

    EXPOSIES COMO DISCURSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61Roberto Conduru

    ESTUDO DE CASO: MUSEU DA VIDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69Carla Grusman e Paula Bonatto

    ARTE, MUSEUS, EXPOSIES: O PROBLEMA DA CULTURALIZAODA ARTE MODERNA E CONTEMPORNEA . . . . . . . . . . . . . . . . .Vera Beatriz Siqueira

    MUSEOGRAFIA E PBLICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99Denise Coelho Studart e Maria Esther Valente

    3.

    89

  • Apresentao

    As exposies constituem-se no principal instrumento de comunicao do museu

    com seus pblicos, sendo um fenmeno cada vez mais estudado. A partir do sculo XX, os

    museus comeam a abandonar a prtica de expor a totalidade de suas colees, surgindo

    espaos diferenciados para a guarda das colees e para as exposies1. Atualmente, a

    ex po si o pode ser en ten di da como um pro ces so que, na ma i o ria das ve zes, ini cia-se a par tir

    de ques ti o na men tos so ci a is.Contudo, a maior parte do pblico que visita os museus acredita

    que as exposies so o museu, pois atravs delas entram em contato com o universo

    museolgico, com os acervos e com as questes a eles associadas. Para os profissionais de

    museu, no entanto, as exposies so muito mais do que um simples exerccio de composio

    esttica.

    As exposies so o meio de contato mais direto dos museus com o pblico

    e so, nos museus tradicionais, os intermedirios entre os acervos e os visitantes. Exercem,

    portanto, uma das funes fundamentais dos museus. Um museu sem exposio no um

    museu no sentido pleno. Em relao s exposies com temas relacionados cincia e

    tecnologia temos uma particularidade que a relativa complexidade do contedo a ser

    transmitido. No nos damos conta da presena da cincia e da tecnologia no nosso

    cotidiano.Despertar o pblico para esses contedos uma tarefa rdua.

    Para chegarmos a um resultado satisfatrio precisamos fundamentar o

    tema conceitualmente, definir o pblico alvo da exposio e os seus objetivos. Em seguida,

    preciso transpor o tema para uma linguagem museolgica, ponto fundamental para a

    caracterizao de uma exposio como museolgica. Posteriormente, torna-se

    4.

    1 DAIFUKU, Hiroshi. Le collection: entretien et mise em reserve, UNESCO, 1959). Citado por Mrcia Portela na dissertao de mestrado O que os olhos no vem. Reservas tcnicas museolgicasna cidade do Rio de Janeiro defendida no Programa de Ps-Graduaa em Memria Social eDocumento em 1998.

  • imprescindvel avaliar os resultados obtidos atravs de uma pesquisa de pblico.

    Acreditamos que o processo de construo de qualquer exposio deve ser sempre

    coletivo. Assim, a equipe que ir elaborar e desenvolver o projeto da exposio deve ser

    multidisciplinar: muselogos, conservadores, arquitetos, programadores visuais,

    educadores, etc.. A preparao e a montagem de uma exposio pode ser um processo muito

    prazeroso e enriquecedor, mas pode trazer muitas situaes de conflito.

    Entre as atribuies da Coordenao de Museologia do MAST, uma refere-se

    especificamente concepo, desenvolvimento e montagem de exposies.Freqentemente, somos

    procurados por instituies museolgicas e no museolgicas para o estabelecimento de parcerias

    objetivando a montagem de museus, contudo, ao iniciarmos o processo de negociao percebemos que

    trata-se no da montagem de um museu, mas da realizao de uma exposio temporria e/ou

    itinerante. O desconhecimento sobre o tema entre os no profissionais de museus bem geral.

    A importncia da temtica para o meio museolgico pode ser percebida

    pelo nmero crescente de seminrios e eventos dedicados ao tema, alm do aumento do

    nmero de publicaes. Dando continuidade ao ciclo de palestras MAST Colloquia, voltado

    para temas relacionados Museologia, a Coordenao de Museologia do MAST escolheu

    Discutindo Exposies: Conceito, Construo e Avaliao2 como o tema central para o

    programa de seminrios mensais, entre abril e dezembro de 2004. Procurou-se abrir um

    espao para questionar aspectos importantes como a relao das exposies com o pblico, a

    diferenciao entre as propostas para exposies de curta e longa durao, alm de permitir a

    apresentao de estudos de casos, mostrando os percalos e os avanos realizados pelas

    equipes que desenvolveram esses projetos.

    O primeiro seminrio, Criando realidades atravs de exposies, foi proferido por

    Tereza M. Scheiner, professora da Faculdade de Museologia da UNIRIO e atualmente

    5

    2 Nesta edio s foram publicados os textos revisados pelos autores.

  • coordenadora do Programa de ps-graduao em Museologia e Patrimnio

    (UNIRIO/MAST). Nessa oportunidade, foram apresentados os conceitos e as premissas que

    norteiam os trabalhos relacionados s exposies sendo possvel discutir a teoria

    museolgica que fundamenta essa rea.

    Roberto Conduru, Professor do Instituto de Artes e Coordenador do Departamento

    Cultural da UERJ, apresentou uma reflexo interessante, com o tema Exposio como

    discurso enfocando as exposies de arte como paradigmas para as exposies dos demais

    museus.

    As palestras do segundo semestre de 2004 foram quase todas voltadas para estudos

    de caso. Assim, Ruth Beatriz S. Caldeira de Andrada apresentou alguns exemplos de

    exposies realizadas no Museu Histrico Nacional. Carla Gruzman e Paula Bonatto

    apre sen ta ram suas ex pe rin ci as no Mu seu da Vida (FIOCRUZ) re la ci o na das,

    res pec ti va men te, s ex po si es Espa o da Bi o des co ber ta e Par que da Cincia.Vera B.

    Siqueira, Pro fes so ra de His t ria da Arte do Insti tu to de Artes da UERJ, in tro du ziu o tema de

    ex po si es na rea das ar tes. Fi nal men te, De ni se Stu dart da FIOCRUZ e Ma ria Esther

    Va len te do MAST apre sen ta ram um am plo pa i nel sobre Museografia e pblico.

    O MAST, com essa iniciativa, procurou abrir mais um espao para a troca de

    experincias entre profissionais das reas relacionadas, alm de permitir que os interessados

    no tema, pudessem usufruir desse contato. A publicao dos textos produzidos a partir da

    transcrio e edio dos discursos dos palestrantes, pretende ampliar o alcance do evento e

    disponibilizar material para possveis interessados nessa discusso.

    Marcus Granato Coordenador de Museologia MAST/MCT

    6

  • CRIANDO REALIDADES ATRAVS DE EXPOSIES:Tereza Cristina Scheiner

    7.

  • 8.

    Nota Biogrfica

    Palestrante

    Nascida no Rio de Janeiro, Tereza Scheiner formada em museologia pelo MuseuHistrico Nacional (MHN/1970) e em Geografia pela Universidade do Estado do Rio deJaneiro (UERJ/1977). Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Antropologia pela George Washington University(G.W.U/ Washington), tambm mestre (1998) e doutora (2004) em Comunicao pelaUFRJ. Com vasta experincia profissional, membro atuante do International Council OfMuseums - ICOM, no qual j ocupou cargos diversos inclusive Vice-Presidente doICOFOM, publicou e organizou vrios livros, alm de inmeros trabalhos. Atualmente, professora adjunto da Escola de Museologia da UNIRIO.

  • H uma dificuldade inerente apresentao de qualquer palestra sobreexposies para especialistas de museus, porque preciso ser muito conciso pelo curtoespao de tempo. Procurei, ento, mais do que fazer uma abordagem acadmica, trazeralguns aspectos que levem a uma reflexo sobre o tema, articulando um conjunto de questescom o apoio de imagens caractersticas; questes que, aparentemente, so facilmenteresolvidas por todos aqueles que trabalham com exposies, mas que, na prtica, constituemproblemas recorrentes em qualquer museu do mundo. Muitas destas questes no seencontram nos textos acadmicos, pois envolvem uma srie de componentes internos eexternos s instituies inclusive componentes afetivos, comportamentais, relacionados sequipes dos museus, ou s relaes interinstitucionais. E a partir da percepo que temos da instituio como processo que iremos identificar tais questes, tanto no que se refere srealidades cotidianas de nosso trabalho como em relao ao que poderamos reconhecer

    como os mitos da Museologia.

    Esse trabalho refere-se aos modos e formas pelos quais os museus criam realidades,atravs das exposies. Lembro que, do ponto de vista da Teoria e da Metodologia daMuseologia, o processo de uma exposio envolve no apenas o planejamento, odesenvolvimento de um projeto, a montagem e a organizao, mas estende-se a todas asetapas de produo antes, durante e depois da criao da exposio. Este processo se iniciamuitos meses (s vezes, alguns anos) antes da realizao da exposio, com uma fase a que

    denominamos pr-montagem e que tem as seguintes etapas: 1) concepo; 2)planejamento; 3) programao; 4) produo (fig 01).

    A etapa inicial, que a da concepo, vai gerar uma proposta de exposio, sem aqual no se consegue dimensionar que tipo de exposio deseja-se fazer - ou quando, paraquem e onde deve ser feita. O momento essencial desta etapa a elaborao do conceito daexposio, ou seja, da idia matriz, a partir da qual todo o trabalho vai ser realizado. No hexposio sem conceito, e definir este conceito implica num processo duplo de elaboraomental: a sntese lgica e o processo criativo. um processo integrado, que pressupe umconhecimento (ou reconhecimento) razovel do tema a ser tratado e um profundo domniodas metodologias expositivas: nesta etapa, aplicam-se ao mesmo tempo conhecimentos deTeoria da Museologia e de Museografia. A elaborao do conceito tambm importante para

    9.

    I PR-MONTAGEM

    Concepo Proposta

    Planejamento Ante-projeto

    Programao Projeto completo

    Fig. 01

  • viabilizar a exposio: no h instituio que aprove uma proposta, no h possibilidade de se conseguir financiamento para uma proposta que no esteja baseada num conjunto mais oumenos definido de reflexes.

    Aprovada a proposta, passa-se etapa 2, planejamento, que vai gerar como produtoum anteprojeto da exposio. Aqui, somam-se aos aspectos j definidos anteriormente (tipo

    de exposio, local, poca, tema, conceito) aspectos mais definidos, tais como:

    a) caractersticas do local onde a exposio ser realizada (espao arquitetnico,espao geogrfico, espao virtual);

    b) desdobramento do tema aprovado em sub-temas, ou ncleos expositivos (nasexposies temticas, este o incio do processo de roteirizao da exposio);

    c) desenvolvimento do conceito da exposio (a etapa inicial, a proposta, traz oconceito de forma muito genrica; aqui, vai-se analisar a aplicabilidade deste conceito iniciale fazer as correes de rumo que sejam necessrias). Cabe lembrar que, em qualquer fase, em qualquer momento do desenvolvimento de um projeto, h a possibilidade de fazer-secorreo de rumos mesmo quando j temos uma etapa aprovada.

    d) relao geral entre o tema e os acervos a serem utilizados (se for o caso);

    e) pesquisa.

    Abro um parntese para lembrar, mais uma vez, que toda instituio denominadamuseu deve permanentemente trabalhar com pesquisa. Aqui no MAST vocs sabem bemdisto, esta uma instituio de pesquisa, mas a importncia da pesquisa ainda no est clarapara todos os museus, principalmente no caso brasileiro. Insisto na necessidade visceral,fundamental, da pesquisa - pois sem pesquisa no h museu. Mas, neste momento, no merefiro pesquisa institucional, que obrigatria, permanente, que no pode deixar de existir mas pesquisa ligada exposio, a pesquisa que se faz relacionada ao tema da exposio eaos seus sub-temas; a pesquisa que permite ao museu elaborar melhor as relaes entre o tema da exposio e os acervos disponveis. Pois na etapa de planejamento que vai se fazer aconstruo da exposio como objeto simblico, e no em fase de programaco. Este umerro que pode acontecer at com profissionais muito qualificados e muito experimentados,mas que no sejam especialistas em exposies. E um erro comum no mundo todo: imaginar que fundamental chegar-se etapa de detalhamento de projeto para constituir a exposiocomo objeto simblico. No possvel esperar chegar at o detalhamento de projeto, porqueessa etapa vai estar ligada constituio, fabricao e elaborao do objeto exposio,que foi concebido no planejamento. Se no temos clareza do que, exatamente, estamosquerendo constituir, no possvel detalhar. Este um erro freqente, e que pode gerar, em

    termos de relaes intrainstitucionais, frices bastante complicadas.

    10.

  • Quando o museu define em planejamento o que quer fazer, qual o objetosimblico que est criando, ele cria um produto - um produto cultural que se chamaexposio. Este novo objeto deve ser cercado de todas as certezas tcnicas e de todos osapuros estticos e perceptuais, como qualquer outro objeto que venha ser criado pelatecnologia ou pela arte. Qualquer deslize implica em repetio. E este um risco que sempre dizemos que no vamos correr, mas se fizermos uma anlise geral de contedo, mapeando asexposies que se realizam no pas, veremos que muito poucas apresentam abordagens

    inovadoras, que as constituam como objetos simblicos dignos de nota.

    Criar exposices como objetos simblicos eficazes no um privilgio dos museustradicionais ortodoxos: este objetivo tambm precisa estar presente nas exposiesexploratrias de carter cientfico, ou naquelas a que denominamos exposices de difusocientfica. Em alguns casos, ser necessrio criar alguns elementos da exposio ainda nafase da programao, para funcionarem como prottipos. Isto o que faz, por exemplo, oExploratrio de So Francisco: a experincia pioneira deles nos ensina que determinadosimplementos exploratrios precisam ser criados a longo prazo, a partir de pesquisas eexperimentos que podem durar anos. So anos de pesquisa para se criar algo que parecesimples como isso, mas que na verdade extremamente complexo, pois resume problemascomplexos da fsica ou da biologia. Vocs tm esse exemplo, aqui no Museu: vocsvivenciam essa questo. Muitas vezes necessrio gerar um prottipo, coloc-lo em usodentro do espao da exposio por um tempo X, anterior criao da exposio, para ver opotencial de durabilidade, para testar a eficcia daquele prottipo, para conhecer a relao dopblico com aquele tipo de implemento - e isto tem que ser feito nessa fase.

    Quem trabalha com exposies sabe que h uma grande diferena entre a etapa deplanejamento e a etapa 3, programao, onde se desenvolve um projeto detalhado fase quepode durar, no Brasil, de algumas semanas a vrios meses e que em alguns pases do exteriorpode chegar a durar dez, ou at quinze anos, se considerarmos as especificidades queacabamos de descrever. Aqui no Brasil ainda temos a fantasia de que possvel fazer tudoem seis meses, ou at em perodos menores de tempo. No devemos concordar jamais emdesenvolver o detalhamento de um projeto a curto prazo, sob o risco de prejudicarmos aqualidade de nosso trabalho. E no me refiro apenas confeco de prottipos: lembremosque na etapa de programao que iremos desenvolver, em detalhe, o roteiro da exposio,elaborando a estrutura narrativa de forma a compabitilizar os diferentes elementos fsicos econceituais do projeto. nesta etapa que os elementos da exposio (espao, forma, luz, cor,objeto, suportes, som, movimento, recursos de multimidia, recursos digitais) devero serarticulados de forma a representar, do modo mais claro possvel, e dentro de tempos

    especficos, os contedos informativos definidos em projeto.

    Vale a pena ressaltar que esta metodologia de desenvolvimento de exposiesaplica-se a qualquer tipo de museu, a qualquer modelo conceitual de museu, em qualquerlugar do mundo: no existem processos distintos para museus diferentes. Quem trabalha com

    11.

  • museu virtual (por exemplo, o Museu da Pessoa) passa por esse processo cada vez que estpreparando uma exposio; apenas no se est trabalhando com a tridimensionalidade.

    A etapa 4, produo da exposio, vai incluir a adaptao dos espaos, apreparao do acervo, a confeco dos implementos exploratrios e dos materiais accessios, as instalaes e finalizao de todo o conjunto. uma etapa que pode tambm levar algunsmeses. Segue-se a Fase II - montagem da exposio, que j conhecemos bem com todos osseus percalos (fig. 02).

    III- EXPOSIO

    inaugurao Exposio aberta

    Matrias nas mdias

    Manuteno da expsio e do acervo

    Controle de Visitao Estatsticas de visitao

    Atividades Complementares e de apoio

    Atividades culturais,

    eventos,gincanas, visitas

    guiadas, etc

    Fig.03

    A fase a seguir (Fig. 03) a da exposio propriamente dita. Essa terceira grandefase do processo de exposio muitas vezes negligenciada pelas equipes de alguns museus,colocada em segundo plano, e at compreendemos o porqu: porque as duas fase anterioresso to desgastantes, to complexas, que a abertura da exposio gera uma sensao decompletude, de que o nosso filho nasceu... e pensamos ento que o filho pode andarsozinho. Na verdade, no assim: se o museu no tiver um programa de manuteno daexposio, enquanto ela estiver em cartaz, podem-se gerar vrios problemas, inclusive de

    relacionamento com a sociedade, colocando em risco todo o trabalho realizado.

    12.

    II -MONTAGEM

    Montagem da exposio Exposio pronta

    Fig.02

  • H uma srie de questes que muitas vezes, no af de apresentar um produto bemfeito, o museu relega a segundo plano. Isso muito comum no Brasil, porque nossas equipesso pequenas e realizam vrios projetos ao mesmo tempo. muito comum, no dia seguinte inaugurao de uma exposio, comearmos a fazer um outro projeto - seja de exposio,seja de pesquisa - e no haver pessoal para planejar e executar as aes aqui descritas: a)manuteno da divulgao; b) manuteno da exposio; c) manuteno do acervo... (s estequesito j um mundo parte, como sabemos); d) controle de visitao; e e) as atividadescomplementares, de apoio, ou seja - a programao, planejamento e desenvolvimento dessasatividades. Necessariamente, elas incluiro projetos especficos para o evento deinaugurao, para manuteno da exposio por todo o tempo em que estiver aberta aopblico, para a manuteno da divulgao. Porque no basta divulgar que a exposio vaiinaugurar, tem que haver uma equipe (ou pelo menos uma pessoa) trabalhando na divulgaco

    durante todo o tempo em que a exposio estiver em cartaz.

    fundamental dar um feedback constante para as mdias. As mdias no viro nosaplaudir na porta, se ns no as chamarmos. Sabemos que chamar a mdia envolve umconjunto de comportamentos de longo e mdio prazo. Uma relao de constncia, umanegociao quase diria: se o museu no freqenta a mesa dessas pessoas, no podemosesperar que coloquem em pauta as nossas notcias. E cada mdia tem o seu modo de ser. Ateleviso, por exemplo, evasiva por natureza. E tambm invasiva: para gravar cincominutos de entrevista ou um pequeno documentrio, chegam s 8 horas da manh, comdezenas de equipamentos e enchem o museu de fios e pessoas estranhas. Toda a equipe domuseu precisa ficar praticamente disposio. Temos que ter pessoas preparadas, inclusiveemocionalmente, para os dias em que entra a televiso, pois um dia complicado dentro dequalquer instituio. Dentro da exposio, ento, pode ser um problema.

    Outro tem o controle da visitao no Brasil, um dos itens menos atendidos.Houve um crescimento dos museus nessa rea, um amadurecimento muito grande, nosltimos quinze anos, quanto ao controle dos visitantes. Mas podemos dizer que ainda nochegamos a apresentar uma prtica de controle institucional de visitao como seriarealmente desejada. Todo museu precisaria ter uma pessoa para esse estudo e as escolasoferecem voluntrios. possvel trabalhar com voluntrios, com estudantes no s deMuseologia, mas de Matemtica, Estatstica, Pedagogia, de outras reas de Cincias SociaisAplicadas, Sociologia, Histria, Histria da Cincia e outros campos, para montar umaequipe de controle de visitao. O museu que no consegue trabalhar com estatsticasconstantes de visitao, na verdade no conhece o seu pblico e, no conhecendo o seupblico, o reflexo imediato, a curtssimo prazo, uma dificuldade grande de fazer a mediao com a sociedade em geral porque estar falando com um pblico imaginrio. O pblico queest dentro do museu ou que potencialmente poder vir ao museu um outro, completamentediferente, com outro perfil, com outros interesses, com outra faixa etria, vem de um outro

    lugar ento, temos que tomar muito cuidado com a visitao.

    13.

  • s vezes uma exposio d timos resultados e no foi feito o controle de visitao,no foi feita uma avaliao de todo o processo; ento a tendncia o trabalho seguinteapresentar problemas de linguagem, no conseguirmos chegar ao pblico. A questo no oproduto que estamos criando: s vezes criamos um produto bonito, sofisticado,museologicamente correto, cientificamente correto, s que no aquele produto que opblico queria, ento as pessoas no acolhem bem. No adianta eu oferecer um vinho raro auma pessoa que prefere chope, ou, ao contrrio, no adianta eu oferecer chope se o meupblico quer um vinho raro. Ento, eu preciso, sim, saber com quem estou lidando, para noter que usar novamente aquele eufemismo horroroso - pblico geral. Isso muito comum,em projetos de exposio: dizer que o projeto ser dedicado ao pblico geral. Num pas decento e sessenta milhes de habitantes e dimenses continentais, com diferenas regionaisprofundas, um pas multicultural, com as questes sociais e educacionais que ns temos, o

    que vem a ser pblico geral?

    No possvel generalizar desta maneira, dentro deste universo vastssimo em quens nos situamos, mesmo se quisssemos diminuir o universo: pblico geral do Rio deJaneiro. Somos uma cidade cosmopolita e turstica, com diferenas locais muito grandes, debairro para bairro. Aqui no Rio de Janeiro no saberamos dizer o que afinal, esse pblicogeral para quem estamos realizando o nosso trabalho. Isso uma questo que ns,museolgos, temos dificuldades de assumir. Temos que entregar o projeto daqui a 15 dias? to mais fcil colocar pblico geral... O projeto ser aprovado, ningum vai questionar umprojeto bem apresentado e que diga que est se dirigindo ao pblico geral. Mas quem estsentado na cadeira do administrador e acha que o projeto foi bem feito e deu-lhe o aval,liberou recursos, no quem vai vivenciar o problema no cotidiano. Esse equvoco nsmesmos nos criamos.

    As atividades complementares e de apoio. Para cada tipo de grupo, preciso umprojeto especifico. Vocs aqui no museu tm a rea educativa muito bem resolvida, um dosmuseus do Rio de Janeiro que conseguiram dar conta dessa parte educativa muito bem. Vocs fazem um trabalho muito bom de divulgao cientfica, mas no assim em todo museu. Essa uma questo que deve ser tratada com o maior carinho, de preferncia com equipesespecficas, projetos especficos, detalhados at a mincia. H casos em que o museu seprepara para as atividades complementares, mas no de maneira to completa como deveria;e a qualquer movimento maior de visitao gera-se o caos, com grupos das mais diversasfaixas etrias, vindos das escolas mais diversificadas, com os interesses mais diversificados,sucedendo-se no espao da exposio. Muitos museus se esquecem de que o segmentoestudantil no configurado por um conjunto de robs que se comportam da mesma maneira,

    com a mesma altura, a mesma idade, os mesmos ideais.

    14.

  • IV - DESMONTAGEM

    V - AVALIAO

    Relatrio de avaliao

    Prestao de contas

    Agradecimentos

    Fig.04

    A desmontagem (fig. 04) quase um projeto a parte. Quem trabalha com exposiessabe dos cuidados que se tem que tomar nesta fase. Problemas que no aconteceram namontagem, ou enquanto a exposio estava aberta, podem acontecer na fase dedesmontagem, se ela no foi planejada, programada, detalhada e se todo o processo no controlado.

    A fase a seguir - fase de avaliao - a menos sofisticada, a mais difcil para ns,porque no gera produtos de criao cultural; mas absolutamente necessria, e fundamentaldo ponto de vista institucional e administrativo. Nesta fase, alm de elaborar todos osrelatrios de avaliao necessrios, fundamental prestar contas de todos os gastos at oltimo centavo, fazer agradecimentos, devolver os materiais emprestados. E tudo isso com apresena das mdias, que tambm precisam estar sensveis a como que o museu avaliouaquele trabalho. Essa uma fase que muitos museus suprimem: fazem um relatrio rpido,porque a instituio tem que apresentar um relatrio, incluem uma prestao de contas rpida, mas no avaliam qualitativamente o trabalho realizado. E ficam com uma imagem distorcidados resultados, achando que o que deu certo ontem, pode ser repetido amanh. Todo museuque acha desnecessrio fazer um momento de avaliao, tende a errar mais. Esse momento de avaliao pode ser um seminrio interno, um workshop, um conjunto de reuniesadministrativas o mtodo no importa, o importante que a equipe do museu se rena etroque idias, avalie o que deu certo, o que no deu certo, de maneira muito aberta. Este no um momento fcil, principalmente no que se refere necessidade de autocrtica. Quandorecebemos uma crtica pelos jornais ainda podemos nos fazer de vtimas e dizer que aimprensa no trm idia das nossas dificuldades. Mas quando sentamos com os colegas etemos que admitir que exatamente o ponto do projeto que foi colaborao nossa que noesteve bem, que aquele momento da exposio no ficou bem resolvido, que aquele item de

    15.

  • segurana ou da conservao no foi bem cuidado como deveria ser, esse momento muito

    difcil.

    Quando os museus passam sempre, de maneira pausada e reflexiva, por essa fase deavaliao qualitativa, isso traz um amadurecimento fantstico para a equipe. assim que seconstituem as equipes interdisciplinares. Inter um casamento - ns somos e seremos sempremultidisciplinares em nossas instituies, enquanto no sentarmos para brigar sobre asdiferenas e negociar os caminhos a seguir. Podemos ter trs pessoas trabalhando numprojeto de exposio, se no temos a coragem de dizer aquilo que nos aflige, nos preocupa,nos di, no projeto seguinte continuamos a calar, e com o tempo j nem sequer conseguimosrespirar perto do colega - porque a coisa no dita vira sombra e nos ameaa. s vezes, no seconsegue trabalhar em conjunto por uma bobagem que foi dita h trs ou cinco anos atrs.Essas so questes delicadas, que podem influenciar de maneira negativa o desempenho da

    equipe.

    H uma outra questo delicada que ns, museolgos, costumamos detectar nosmuseus - em todos os museus, e mais particularmente, no Brasil, nos museus de cincias: arelao delicada e sutil que precisa acontecer entre o muselogo e o cientista. Quem trabalhaem museus de cincias conhece bem isto. No pode deixar de existir uma relao muitoestreita entre o muselogo e o cientista. E essa relao deve ser levada adiante com muitorespeito, com muito cuidado, um lado no pode atropelar o outro, tem que se encontrar ocaminho do meio, para que haja a compatibilizao da linguagem cientfica com a linguagemmuseolgica. Se esta no acontecer, o pblico, ao entrar na exposio, sente umestranhamento, ainda que no saiba definir bem o que seja. O visitante percebe que h naexposio alguma coisa que no se encaixa. Qualquer especialista em exposies, com umolhar j treinado, perceber que no h sintonia entre as linguagens que h uma ciso entre a linguagem cientfica e a linguagem museolgica. Isso no pode acontecer, porque aexposio tem que ter um contexto s, ela no pode segmentar as linguagens. E quando faloem linguagem, lembro que no estou falando s da linguagem escrita, estou falando dalinguagem de comunicao como um todo, desde o uso do espao, das cores, das formas, aouso dos objetos. Tudo - os elementos acessrios, o timing da exposio, o tempo que ela vaificar em cartaz, o horrio de abertura -, tudo isso configura aquilo que chamamos linguagemda exposio. E se no h sintonia na equipe, essa falta de sintonia aparece no produto final. Estou me referindo aos museus de cincias, mas isto acontece tambm entre historiadores emuselogos; ou entre arquitetos e muselogos; educadores e muselogos; antroplogos emuselogos; muselogos e muselogos. No um problema especfico da rea das cincias

    exatas, nem das cincias naturais.

    Gostaria agora de colocar algumas questes de carter geral, relacionadas a cadauma destas fases:

    16.

  • I OS ESPAOS DA EXPOSIO: MITO E REALIDADES

    A primeira delas a identificao dos espaos. Parece to fcil fazer uma

    exposio... o museu tem ali uma sala de exposio, ento vamos usar. No bem assim.

    I.I - Do ponto de vista geral, o primeiro espao a ser identificado em todo projeto deexposio o espao simblico. Que espao simblico esse produto vai ocupar? Todaexposio um produto simblico, que vai ocupar um espao cultural dentro do museu,espao este que nem sempre discutido. E as questes podem comear a - os problemas, asdificuldades podem comear exatamente a - quando isso no fica claro. Existe um mitobsico com relao constituio de exposies como espaos simblicos: o de que ovisitante compreender todas as intenes e abordagens do criador, por mais hermticas quesejam. No verdade: visitantes s apreendem os cdigos que lhes sejam familiares, ou comos quais podem identificar suas experincias de vida, suas leituras de mundo. Noesqueamos os estudos clssicos de Bourdieu sobre o tema. E portanto, o espao simblicoda exposio deve assemelhar-se ao universo simblico dos visitantes, e no apenas dos seus

    criadores.

    I.2 - A segunda questo a questo dos espaos geogrficos: nos museus de

    territrio, que partem dos espaos geogrficos, h uma srie de questes que so especficas.

    I.3 A terceira a identificao dos espaos arquitetnicos, que so comuns a

    todos os museus;

    I.4 A quarta, a resoluo dos espaos virtuais - nos museus virtuais e nos outros

    modelos de museus, que usam implementos virtuais e digitais.

    O ESPAO GEOGRFICO COMO EXPOSIO

    No Museu de Territrio, o espao geogrfico a exposio. Tudo isso leva a umconfronto muito especfico entre mito e realidade. Como esta no a realidade maior devocs no MAST, trouxe apenas alguns exemplos, como o stio de Ingapirca, no Equador

    que museu de stio e patrimnio mundial.

    O primeiro mito relaciona-se ao fato de pensarmos que, se o espao geogrfico aexposio, est tudo pronto, a exposio pr-dada. E, se existe um real pr-dado, aexposio est ali, e tudo o que temos a fazer controlar o horrio de abertura desses espaos:o pblico chega a ele espontaneamente, passeia, circula na exposio, v os objetos, tirafotografias... Isto o que afirmam alguns textos de teoria museolgica, sobre museus deterritrio. um dos grandes mitos mundiais no campo da Museologia: trabalhar os museus de territrio uma experincia complexa, que requer uma grande experincia terica e muitodomnio tcnico. Parte-se de um espao inicial, que uma exposio pr-dada, natural, mas

    17.

  • fundamental dotar esse espao com programas de adequao ao uso pblico, que implicamnas mesmas etapas j descritas anteriormente: elaborao de conceito, planejamento,programao, etc. A nica diferena que, s vezes, no haver a etapa de montagem. Digos vezes, porque dentro desse espao geogrfico pode-se criar um centro de visitao que, namaior parte dos casos, vai ser um museu tradicional ortodoxo, com vitrines, objetos e todos os demais quesitos de um museu tradicional.

    De todos os modos, devemos garantir as formas de acesso e a circulao do pbliconesse espao. O espao geogrfico ser um museu no significa que as pessoas possam andar a esmo em qualquer lugar: preciso haver um circuito de visitao, requisitos de segurana -para o prprio patrimnio, para o pblico, para a equipe que trabalha no local. So osmesmos cuidados que tomamos com o museu tradicional, s que num espao geogrfico. Deve-se ainda planejar e instalar as facilidades que devero ser oferecidas ao pblico -sanitrio, loja, bar, restaurante, centro de visitao (um pequeno museu dentro do museu muito comum nos dias de hoje), instrumental para interpretao. A interpretao umaatividade que precisa acontecer quase em todos os horrios em que o stio est aberto visitao. Estes so os requisitos bsicos para quem trabalha com parques nacionais, ou commuseus de stio em reas patrimoniais j definidas - como o caso de Ingapirca (fig. 05).

    Antes de se abrir um stio patrimonial visitao, preciso fazer um plano deinterpretao. Uma equipe multidisciplinar vai desenvolver esse plano, que propiciar ainterpretao da rea geogrfica como espao simblico, permitindo uma ampla interao dovisitante com os espaos visitados. Outra questo importante a abrangncia simblica decada stio como patrimnio local, regional, nacional ou mundial. Cada faixa deabrangncia implica num modo especfico de interpretar aquele patrimnio. Darei como

    18.

    Fig. 05 Ingapirca, Equador patrimnio mundial

  • exemplo o Po de Acar, patrimnio nacional, mas tambm um stio de interesse tursticomundial. A interpretao correta do Po de Acar deveria levar em conta as diferentesfaixas de interpretao que se fazem necessrias: para o carioca, para o turista brasileiro, parao turista norte-americano e/ou europeu. por isso que alguns pases da Europa, comoEspanha e Blgica, tm programas de governo dedicados interpretao de stios

    patrimoniais, bem como abertura e qualificao desses stios para visitao e uso turstico.

    As exposies em stios naturais sempre configuram uma realidade extremamentecomplexa: o pessoal que trabalha com stios naturais tem que constituir equipesmultidisciplinares, com muitos profissionais - uma diversidade maior de profissionais do ques vezes no museu tradicional. Estas equipes, no decorrer do processo, devem tornar-seinterdisciplinares.

    Fig. 06 Sandvig Museum, Noruega

    Este exemplo de um museu de territrio na Noruega (fig. 06). A imagemmostra claramente a complexidade do espao, onde cada casa um objeto de acervo,contendo, por sua vez, centenas de objetos. Por este espao transitam pessoas vestidas moda tradicional da regio. Tudo tem um valor simblico especfico - e todos esses valoressimblicos so um grande caleidoscpio; e o valor simblico de todos esses pequenos

    elementos tem que sintonizar pra formar um todo homogneo.

    Como o museu tinha manifestado interesse em exposies temporrias, trouxe umexemplo de exposio temporria em stio arqueolgico. (Lembro aqui que o termoexposio temporria o termo mais correto para definir este tipo de exposio. Curtadurao um eufemismo bonito em portugus, a partir da traduo literal da expresso

    inglesa short term exhibition que significa, exatamente, exposio temporria).

    19.

  • O exemplo que vou mostrar agora o de uma exposio que eu vi em 2001,organizada com patrocnio da Unesco, de vrios bancos espanhis e do Governo da Espanha,inclusive da Casa Real espanhola. Uma exposio temporria, ou de curta durao - sobre um museu de stio. Aqui, o espao existente um stio arqueolgico a velha Medina deCrdoba (fig. 07 e 08). Medina cidade, em rabe. Esta a velha Crdoba, do tempo daocupao rabe. Um monumento no centro/sul da Espanha, testemunho de um momento nahistria em que judeus, rabes e cristos conviveram em relativa paz, criando uma culturafascinante, uma arquitetura deslumbrante, uma arte de primeira, msica de primeira, umafilosofia fantstica e uma literatura que poucos de ns conhecemos: a literatura rabe. umsegmento da cultura mundial que, talvez, seja razoavelmente conhecido pelos espanhis oupor alguns europeus da Europa Central, mas absolutamente desconhecido para ns,latino-americanos. Um universo inexplorado.

    20.

    Fig. 07 Velha Medina, Crdoba - Espanha

    Fig. 08 Velha Medina, Crdoba - Espanha exposio temporria

  • Sobre este stio arqueolgico, que um museu a cu aberto, criou-se este espao,aproveitando algumas paredes da velha Medina. Um espao configurado arquitetonicamente com finura, competncia e capricho, um espao sutil e delicado, de extremo bom gosto emuito bem realizado do ponto de vista museogrfico (fig. 09 e 10).

    Num espao aberto, com excesso de luz, foram colocados anteparos feitos com telasde nilon - material barato, de fcil substituio, leve, bonito, resistente contra insetos,resistente contra o tempo e que coa a luz, fazendo com que esse espao, que tem mais de 5000lux na parte externa, tenha a luminosidade controlada e apresente do lado interno, ndices deluminncia adequados para exposies 250 a 400 e poucos lux (fig. 11). O capricho naorganizao inclui uma sintonia elegante entre o que original e o que no original,deixando claras as diferenas, do ponto de vista tcnico - mas criando um contexto visualuniforme: quem v de longe o conjunto, v um elemento s - como no caso dessa portada (fig. 12).

    21.

    Figs. 09 e 10 exposio temporria Velha Medina, Crdoba Espanha

    Fig. 11 anteparos para controle da luz natural

  • Aqui h uma outra soluo bem sucedida: a sintonia entre o objeto de coleo e oobjeto museogrfico. O capitel o objeto, tendo como sustentao uma barra de aoimitando a coluna; um contexto elegante, onde a coluna (esse equipamento, como diriam osarquitetos) aparece, mas no a ponto de fazer oposio ao objeto (fig. 13). Notem que h umpiso falso. E que o equipamento arquitetnico no est, em nenhum momento, preso a nadaque seja original - est sempre preso em alguma coisa aposta original; equipamento sobreequipamento, criando um contexto harmonioso, onde o visitante pode apreciar semproblemas todo o conjunto.

    22.

    Fig. 12 composio de portada

    Fig. 13 capitel sustentado por barra de ao

  • Outros momentos felizes da exposio: associao entre espao e imagem, entreelementos arquitetonicos e objetos de exposio, criando um espao evocativo de extremabeleza (fig. 14 e 15). No difcil transformar essa relao (espao existente x espao criado,equipamento arquitetnico x objetos de exposio) num poderoso signo. Basta que se useaquilo que ns, museolgos, chamamos de museografia. por isso que insistimos napresena do muselogo nos projetos de exposio. Todo projeto de exposio poder terarquiteto, designer, iluminador, educador, cientista, mas o muselogo que vai fazer essealinhavo a que denominamos Museologia. o muselogo que ir definir a exposio comoum objeto simblico de carter museolgico.

    23.

    Figs. 14 e 15 associao entre objetos e elementos arquitetnicos

    Fig. 16 recriao de mosaico

  • Nesta imagem (fig. 16), vemos a iluso dada pela recriao de um mosaico original,feita por meio de uma fotografia, projetada e impressa sobre um tapete de material plstico. Asensao que temos de estar andando sobre o mosaico. um elemento absolutamentecnico. Essa conjugao entre acervo, equipamento arquitetnico e elemento cnico muitofeliz nesse projeto. Outra soluo feliz a destes espaos de circulao, fechados compranchas feitas de tela de nailon, apenas encaixadas em espaos que originalmenteconfigurariam portas (fig. 17 e 18). No h pregos nem furos, nenhuma interferncia noacervo: um processo totalmente seguro e muito sutil.

    O que essa imagem nos diz que provavelmente houve um arquiteto, umconservador e um muselogo que trabalharam juntos neste problema e que chegaram juntos a uma soluo muito feliz do ponto de vista da conservao, do design e da museologia. Posso acrescentar que sob o ponto de vista da segurana do acervo a soluo boa tambm:interceptou-se a passagem do visitante sem que ele perceba que est sendo desviado,

    criando-se um espao onde o pblico pode circular perfeitamente.

    Outro mito imaginar que ecomuseus e museus comunitrios noutilizam a museologia tradicional, ou a museografia tradicional. H uma fantasia de quea comunidade discutir as suas questes... mas a comunidade somos ns. Poderamos criarum ecomuseu aqui e passaramos o resto de nossos dias olhando um para o outro, nosachando patrimnio. No assim. Existe, sim, um componente muito complexo de trabalhotcnico em todos os ecomuseus. um trabalho que precisa ser feito por equipesespecializadas, de preferncia com a presena de um muselogo. A nica diferena queexiste do ponto de vista tcnico profissional entre o museu tradicional ortodoxo e o museu deterritrio a participao comunitria, como instncia de deciso. O termo museu tradicional

    24.

    Figs. 17 e 18 pranchas de tela de nailon

  • ortodoxo no um termo pejorativo - refere-se ao modelo terico do museu, como no casoaqui do MAST; ou museu de territrio, como o caso do ecomuseu de Santa Cruz. Otrabalho nos dois museus igual, a necessidade de equipe especializada a mesma. Qual adiferena ? Aqui, o especialista decide, no sai rua para perguntar o que deve ser feito. Aequipe decide e tem a responsabilidade e o nus completo pelo trabalho realizado. L emSanta Cruz tem uma equipe que decide tambm, no vamos fazer a fantasia de que noexiste no ecomuseu uma instancia tcnica decisria. Este um outro mito do ecomuseu.Apenas, antes de decidir, fazem-se algumas assemblias com os lderes comunitrios, commuito choque de lideranas o que normal e faz parte do processo. Nesta fase do processo que os especialistas so mediadores: eles esto ali porque tm uma bagagem deconhecimentos que vai sustentar o ecomuseu. E eles no decidem naquele momento, mas seo que a comunidade decide uma coisa que vai colocar em risco o patrimnio local, eleschamam os lderes e renegociam. No impem, mas renegociam muitas vezes o trato e agesto dos patrimnios. Quem diz isso so as pessoas que criaram o Creusot - o grandeparadigma dos ecomuseus. No uma fantasia brasileira, assim nos ecomuseus de todo o

    mundo.

    Trouxe alguns exemplos de ecomuseus. O Creusot (fig. 19) tem como sedeuma casa senhorial, assim como o Museu de la Bresse (fig. 20). Ambos tm umamuseografia interna agradvel, bonita, bem resolvida, mas em nada diferente aqualquer museu municipal, de qualquer lugar da Europa, ou mesmo do Brasil. Anica caracterstica especfica que poderamos apontar a presena do homem,como sujeito e objeto das exposies. O ponto de partida para as exposies sempre o homem. Esta uma caracterstica especifica dos ecomuseus. Mas as exposiesque esto dentro dos ecomuseus poderiam estar dentro de qualquer museutradicional ortodoxo: no h uma museografia especfica dos ecomuseus isso somitos, so fantasias.

    25.

    Fig. 19 Ecomuseu do Creusot Fig. 20 Ecomuseu de la Bresse

  • Mais uma imagem - ecomuseu de Seixal, do outro lado do Rio Tejo. um distrito deLisboa, Portugal (fig. 21).

    Uma das antenas do ecomuseu de Seixal o moinho de mar de Corroios, uma casahistrica, patrimnio nacional (figs. 22 a 25). Essa exposio poderia estar em qualquermuseu tradicional ortodoxo. A nica caracterstica que no especfica de ecomuseus, especfica dos espaos culturais musealizados: este equipamento que est aqui original domoinho. O moinho trabalhava com o movimento das mars - como alguns moinhos, emoutros lugares, com o movimentos de rios e quedas dgua. A esto algumas demonstraesda moagem e da peneiragem de gros.

    26.

    Fig. 21 Ecomuseu do Seixal - Portugal

    Fig. 22 Moinho de Mar de Corroios Seixal, Portugal

  • Espao arquitetnico e acervo: problemas e possibilidades

    Um problema vai ser otimizar a relao entre o espao existente e o espao criado. Num museu mais tradicional, que se baseia sobretudo no espao arquitetnico, a soluobsica seria criar contextos nos quais o espaos envolvem os objetos: o espao parte daexposio. Os museus que tm espaos arquitetnicos definidos partem da arquitetura paradefinir a exposio, no foram um exposio dentro da arquitetura. Vamos ver o exemplo da

    East Wing, da National Gallery, de Washington.

    27.

    Figs. 23, 24 e 25 Moinho de Mar de Corroios interior do museu

  • Se prestarmos ateno veremos um imenso Calder e, ao fundo, uma tapearia (fig.26). O objeto est aqui plenamente integrado no espao arquitetnico - h uma sintoniavisual entre arquitetura, luz natural, luz artificial, espao de circulao, espaos de exposio, galerias. Cada porta deste hall d para uma galeria. Est exposto aqui o que pode ser expostosob luz natural; o que no pode, est nas galerias internas do museu. Esse um dos projetospremiados de museu do mundo: um projeto do Pei, o arquiteto que projetou a pirmide doLouvre.

    28.

    Fig. 26 East Wing National Gallery, Washington D. C. - EUA

    Fig. 27 Museu de Arte Asitica, Smithsonian Institution Wsahington, D. C. EUA

  • O Museu de Arte Asitica, da Fundao Smithsonian (fig. 27) outro exemplo desintonia entre espao, objeto, suporte, luz artificial. Esse museu uma caixa, um box: no hluz natural e todos os elementos de segurana luz geral, luz local, o espao de circulao so absolutamente controlados.

    Entre os mitos ligados ao espao arquitetnico, est o de que uma casa antiga nopode suportar exposies com design contemporneo. Quem afirmou isto? Tomemoscomo exemplo a exposio No Tempo dos Dinossauros, no Museu de Cincias da Terra (fig.28). Uma exposio bem desenhada e bem realizada no esconde a casa, no colocanenhuma ameaa para a arquitetura original do lugar.

    Outro mito: exposio bem sucedida tem que ser sempre grandiosa, luxuosa,carssima. Isto corresponderia a dizer que todos os museus de sucesso tm exposiescarssimas e que custaram milhes de dlares. Aqui, estamos confundindo qualidademuseolgica e museogrfica com sucesso de mdia. Um projeto de mdia grandioso faz comque as filas se sucedam na porta de um museu, mas muitas vezes as pessoas nem sabemporque esto indo l estaro provavelmente reagindo a um comando meditico. Nadatenho contra as mega-exposies, nem contra os projetos sofisticados de mdia, mas fao uma crtica contundente a esse mito que est se instalando na Museologia mundial, na esteira donovo Capitalismo e que ns, brasileiros, absorvemos sem analisar. Temos que tomarcuidado: nem toda exposio, para ser bem sucedida, precisa ser grandiosa; e nem todos osmuseus, para serem sucesso de pblico e crtica, precisam receber filas de visitantes na porta.Alis, alguns museus nem sequer comportam milhares de visitantes.O MAST um exemplode museu que no comporta fisicamente um grande contingente de pblico: um fato culturalque gere, aqui, a presena de milhares de pessoas, vai-se transformar num problemagravssimo de segurana. Portanto, a primeira coisa que se precisa ter a noo dos prprioslimites. Fila na porta para museus do porte do Metropolitan, do Smithsonian, que tm

    29.

    Fig. 28 Museu de Cincias da Terra, RJ

  • infraestrutura fsica, de pessoal e de servios, espaos de estacionamento, equipes deprimeiros socorros. O Museu Nacional de Belas Artes, por exemplo, um prdio grande, que tem feito grandes exposies. Se houver um problema dentro do museu, haver condies decontrolar 2 mil, 5 mil pessoas em pnico? No todo museu que pode ter pblico grande.

    muito mais fcil fazer sucesso com o segmento normal de pblico, ter um pblicoconstante. Um museu do tamanho do Museu de Astronomia, com uma visitao de cinquentapessoas por dia, j sucesso absoluto de pblico. O MAST pode receber uma turma de uns 15 a 20 alunos, ou at 40 alunos - isso mais ou menos o que esse edifcio comporta. No hespao para mais que isso, com segurana. Isso para no falarmos do aproveitamentosimblico da exposio, ou da questo pedaggica, formativa, do pblico quando ovisitante sabe o que est vindo ver e aproveita plenamente a visita. A realidade que quase

    sempre, e principalmente para ns, brasileiros, a simplicidade s vezes agrada muito mais.

    Aqui, o exemplo uma instalao simples e barata, na casa de cultura de Petrpolis(figs. 29 a 31). Pouqussimos implementos e um resultado simptico, com o uso da parede edo piso como suportes de texto. Uma soluo sem problemas - no um prdio tombado, uma casa de cultura, uma exposio temporria. Uma montagem muito interessante. Umoutro exemplo o Museu do Pontal, no Rio de Janeiro - uma das casas bem resolvidas damuseologia brasileira: simples, eficaz, bonito, seguro, moderno, com visual adequado aoacervo (fig. 32).

    30.

    Figs. 29 a 31 Casa de Cultura, Petrpolis, RJ

  • II - ERROS FREQUENTES COMETIDOS NAS EXPOSIES:

    1. Uso de materiais caros e inadequados ao clima, ao tipo de exposio e ao tipo de suporte, em nome de uma sofisticao museogrfica desnecessria como nesta mostra,realizada em Natal, no mbito do 2. Congresso de Museus Universitrios, onde se utilizoufotocomposio em papel fotogrfico brilhante, para painis colocados ao ar livre (fig. 33).

    31.

    Fig. 32 Museu do Pontal, RJ

    Fig. 33

  • 2. Relao inadequada objeto x fundo como neste painel no Museu deArte Sacra da Bahia, em Salvador (fig. 34). Este um exemplo de que s vezes at mesmo omuselgo exagera. Aqui, todos os elementos so adequados, se considerados isoladamente,mas confundem visualmente o observador, quando apresentados em conjunto: o painelfotogrfico impede a viso perfeita das magnficas imagens de santos.

    3. Exposies em locais com condies inadequadas de conservao, como nasacristia desta igreja em Cachoeira, no Recncavo baiano (fig. 35). Este erro ns conhecemos bem: o do objeto colocado num ambiente completamente inadequado, com paredes midas. Aqui, deve-se fechar o local para o pblico, colocar a imagem numa reserva tcnica eproceder a obras em carter de urgncia.

    32.

    Fig. 34

    Fig. 35

  • A EXPOSIO COMO ESPAO CNICO: EMOO EDRAMATICIDADE

    O recurso cnico uma das melhores possibilidades que se tem para usar nasexposies. O exemplo (fig. 36) mostra insetos encapsulados em mbar, dando efeito dequase transparncia - um recurso que no caro e que pode ser realizado por um bomcarpinteiro, com o uso de rels. A instalao em backlight uma instalao normal, com uma

    ou vrias caixas de luz montadas em madeira ou metal - e o resultado magnfico.

    A imagem a seguir mostra resultados mais sofisticados. um exemplo de como a luzcnica pode fazer da exposio um grande momento dramtico na vida do museu, da equipedo museu e do visitante (fig. 37).

    33.

    Fig. 36

    Fig. 37 - Museu da Civilizao - Canad

  • O nosso Museu Nacional de Belas Artes (fig. 38) tambm tem espaos ambientadosde maneira dramtica. fantstica essa galeria, ainda que muito tradicional. A soluo aqui utilizada ficou belssima, com a cor vermelha ao fundo, dando destaque ao branco dasesculturas.

    34.

    Fig. 38 Museu Nacional de Belas Artes, RJ

    Figs. 39 e 40 Salvador, Bahia

  • Este exemplo (fig. 39 e 40) mostra uma exposio sobre teatro baiano, feita no antigo Palcio do Governo, hoje uma casa de cultura em Salvador. Aqui nota-se o uso de uma luzcnica fantstica. Vejam as portas da casa. A luz azul em nada onera o projeto, o custo quase o mesmo da luz branca. s vezes deixamos de usar a luz cnica porque no lembramos de

    chamar um bom iluminador, ou no sabemos que podemos chamar um iluminador.

    III - A ESCOLHA DO ACERVO

    A grande questo da escolha do acervo que ns, profissionais,mitificamos o objeto: vivemos agarrados em nossos acervos, temos uma relao reificadacom os objetos. E nem sempre isso bom na hora de trabalhar os projetos, porque temos umatendncia a mitificar o objeto, achando que uma exposio s pode ter sucesso quando temobjetos tridimensionais; ou que s o objeto tradicionalmente reconhecido como objeto decoleo pode dar status a uma exposio. Muitas exposies no tm acervo sado dasreservas tcnicas, mas esto cheias de objetos musealizados para aquela situao especfica.Nelas, o acervo pode ser constitudo pela reproduo de objetos, como no caso dasexposies do Exploratorium, de S. Francisco (Califrnia, EUA) ou de muitas exposiesfotogrficas ou de arte contempornea. Esta uma situao que existe em todo o mundo.

    Existem especialistas do ICOM que ainda no admitem que museusexploratrios sejam museus, acham que para se fazer uma exposio o acervo deve sercomposto de originais sados de reservas tcnicas. Lembremos que cada implemento doExploratorium objeto de acervo, foi feito para ser acervo: no h objetos sados de reservas - todo o museu povoado por implementos construdos por fsicos, por mecnicos, pormatemticos, por bilogos, e disso que o museu se faz. Essa um discusso terica que novai ter fim na museologia nacional e nem internacional, mas que pode vir a prejudicar odesenvolvimento de projetos. Deixemos esta pendncia para a rea acadmica, para asgrandes discusses plenrias, para os trabalhos publicados, porque na poca dos projetos nose tem tempo para este tipo de preocupao. Que no tenhamos medo de tirar partido dosrecursos acessrios como objetos expositivos, permitindo que atuem como vozesautorizadas do discurso da exposio, seja de maneira explcita, seja de maneira metafrica.Naquele projeto especfico, que estamos desenvolvendo, tais recursos tero o valor de

    objetos.

    35.

  • Muitas vezes esquecemos que a fotografia tambm um objeto, no percebemos atcnica ou a arte de que se impregnaram a mo e o olho do fotgrafo, ao criar a imagem. muito fcil desconsiderar o trabalho do fotgrafo, quando a foto que temos no um originalassinado mas uma cpia feita para a exposio. Aqui, cruzam-se duas escalas de valor: ovalor intrnseco da foto enquanto documento e o seu valor museolgico, como objetooriginal. As fotos acima (figs. 41 a 43) mostram exemplos da exposio permanente noMuseu do Ar e do Espao, da Fundao Smithsonian, em Washington. As fotografias dohomem na Lua - a grande metfora do poder Norte Americano: a marca de um sapatoamericano no solo da Lua, a bandeira americana fincada em solo lunar. Imagensemblemticas sobre a relao entre museu e poder, que prescindem da presena de qualqueroutro tipo de objeto. As imagens j so a exposio, so objetos culturais, objetos histricos e de arte.

    36.

    Figs. 41 a 43 Air and Space Museum Washington, D. C. - EUA

    Figs. 44 e 45

  • Podemos tambm utilizar imagens fortogrficas que exemplifiquem processos depesquisa, processos educativos, culturais, processos de fabricao do objeto. As fotos acimaso do professor Digenes Campos, diretor do Museu Cincias da Terra, em trabalho decampo de Paleontologia. Essas so pegadas de dinossauro - e aqui ele deixou-se fotografar ao

    lado de seu achado, antes de trazer as evidncias para o museu (figs. 44 e 45).

    Permitir maior interao do visitante com o acervo tambm uma boaalternativa. Devemos, sempre que possvel, deixar o visitante ficar mais prximo dos objetos(fig. 46). As pessoas lembram-se para sempre de momentos agradveis nos museus, eminterao com os objetos. Isso comprova que certas experincias, s vezes, no passamrealmente pelas grandes verbas, elos grandes projetos.

    Bem, isto era basicamente o que eu queria mostrar para vocs desta vez. Obrigada

    pela ateno e fico disposio para as perguntas.

    37.

    Fig. 46 - Jenniffer Thevenot, Diretora de Programas do ICOM, no Museu do Pontal

  • 38.

  • EXPOSIES EM ESTUDO DE CASO:

    MUSEU HISTRICO NACIONAL

    Ruth Beatriz S. Caldeira de Andrada

    39.

  • Nota Biogrfica

    Palestrante

    Ruth Beatriz Silva Caldeira de Andrada, formada em Histria pela PUC/RJ e emMuseologia pelo Curso de Museus do Museu Histrico Nacional, com Curso deEspecializao em Museus e Comunidade. Exerce atualmente o cargo de CoordenadoraTcnica do Museu Histrico Nacional, onde trabalha desde 1986.

    40.

  • O PROCESSO DE PRODUO DE EXPOSIES NO MHN

    Quando fui convidada a falar sobre o processo de construo de umaexposio no MHN, dos problemas e solues de qualquer ordem encontrados, resolviconversar com colegas de trabalho e comecei a perceber que , se no h como fazer umaexposio sozinha, o melhor seria tambm formatar esta fala a partir das conversas com meus parceiros, e at mesmo traz-los para que possamos debater o tema em equipe.

    Assim, a partir de conversa com a equipe do Departamento de Dinmica Cultural doMHN, de entrevista com alguns de nossos curadores, estruturei esta apresentao em 3blocos distintos para depois conversarmos a partir dos comentrios dos colegas do MuseuHistrico Nacional aqui presentes e de perguntas / dvidas /reflexes trazidas por todos .

    Assim, apresentaremos:

    1- A exposio na estrutura organizacional do MHN, funes dos setores e o trnsito das informaes

    2- Tipos de exposies, as equipes, atribuies e metodologia

    3- Resultados Exemplos de exposies

    A exposio na estrutura organizacional do MHN

    Para compreendermos e mesmo falarmos sobre o processo de produo deexposies no MHN, seria bom iniciarmos com a apresentao do organograma dainstituio para sentirmos como se processa o fluxo de informaes, como se articulam asdiversas aes e como chegamos ao momento de deciso.

    O Museu Histrico Nacional tem um organograma anterior dcada de 1980, que eu no diria que enxuto mas, poderamos dizer que objetivo - se assim se pode classificarum organograma.

    Reconhecemos que necessita ser modernizado, mas esta ainda a estrutura em vigore por ela que transitam nossas normas, procedimentos e decises.

    Como podemos observar, o Museu Histrico Nacional tem uma Direo com suasAssessorias e, basicamente, com relao parte que nos interessa, duas Coordenadorias,sendo uma Administrativa e uma Tcnica. justamente na Coordenadoria Tcnica queacontece todo o processamento tcnico, inclusive o que diz respeito a exposies. Como emqualquer empresa, a Coordenadoria Administrativa, com todas as suas divises, proporcionaos meios para que possamos trabalhar e viabilizar nossas decises tcnicas.

    41.

  • Voltando Coordenadoria Tcnica, onde se processa todo o fluxo de informaesque vai para a exposio, podemos observar que composta por trs Departamentos:

    Departamento de Acervo

    Departamento de Dinmica Cultural

    Departamento de Numismtica.Pode parecer estranho haver um Departamento somente para numismtica mas o

    MHN possue sob sua guarda a maior coleo de numismtica da Amrica Latina, compostapor mais de 200 mil itens, o que, por se tratar de assunto extremamente especfico, demandauma ateno especial. Continuando ....

    O Departamento de Acervo responsvel pelo tratamento tcnico de todo o acervomuseolgico, bibliogrfico e arquivstico do Museu, estando tambm sob suaresponsabilidade os Laboratrios de Conservao e Restaurao , com suas diversas oficinas, a saber - pintura, madeira, txteis, papel e materiais diversos. Uma diviso de Controle doAcervo se responsabiliza por todo o processo de entrada de uma pea no Museu e, maisespecificamente, no que diz respeito ao processo de planejamento e montagem de umaexposio, est a seu cargo a movimentao e o controle do acervo para ela selecionado , ouseja, a entrada e sada de objetos, sejam estes oriundos de outras instituies ou do prprioMuseu, selecionados para emprstimo a terceiros. Doaes - que acontecem com relativafreqencia.- ou mesmo peas que permaneam no Museu , temporriamente, tambm tmseu controle e processamento efetuados por este setor.

    do Departamento de Acervo que vm todos os subsdios necessrios ao nossotrabalho no Departamento de Dinmica Cultural, onde esto as Divises de Educao,Museografia e Pesquisa, sendo este o grupo que cuida das exposies e de todo seu processode criao e elaborao.

    Embora seja um museu grande, para uma equipe relativamente pequena, esta equipeconsegue desenvolver todo o processo de uma exposio , desde sua concepo,desenvolvimento da pesquisa, passando pelos projetos museolgico e museogrfico at amontagem da exposio.

    no Departamento de Dinmica Cultural onde se desenvolve a maioria das aesnecessrias para a concretizao do projeto, como tambm nele que se processa toda acoordenao e gerenciamento do projeto. A equipe deste Departamento conta hoje com seistcnicos, sendo dois arquitetos, um muselogo, uma estudante de museologia e dois outrosoutros tcnicos que atuam na rea de educao. Existe sempre a necessidade de buscar auxlio de prestadores de servio para o cumprimento das tarefas em funo do grande volume detrabalho - em mdia, uma exposio temporria a cada dois meses.

    42.

  • Com relao s tarefas necessrias para a elaborao de um Guin (Roteiro) para a exposio ressaltamos que os trabalhos so desenvolvidos com a cooperao e o auxlio devrios setores da casa, em um trabalho integrado e de equipe.

    Hoje, o Departamento de Dinmica Cultural tem todas as suas aes voltadas para aexposio. Na pesquisa so desenvolvidos trabalhos de investigao e levantamento de dados para as exposies. A rea educativa trata de sua dinamizao e divulgao junto ao pblico,principalmente junto s redes pblicas e particular de ensino . J a museografia , de todo seuplanejamento, sua concepo e montagem, em fim, sua realizao..

    Tipos de exposies, as equipes, atribuies e metodologia

    Como acontece o trabalho de proposta para uma exposio? Quem prope? De quem vem a idia? Como acontece seu desenvolvimento?

    A proposio de um tema pode vir da Direo, de um funcionrio de qualquer rea eat mesmo de fora do Museu

    Qualquer que seja a idia, ou o proponente, excluindo-se, claro, a direo, existe anecessidade de uma aprovao da equipe, sendo a palavra final da Coordenadoria Tcnica eda Diretora.

    A idia pode surgir tambm de determinadas situaes, como por exemplo,desdobramento de outros projetos no momento estamos em processo de criao de umaexposio que acontecer como atividade complementar a nosso Seminrio Internacionalanual.

    As aes, muitas vezes, dependem do tipo de proposta.

    Um exemplo:

    A exposio na qual estamos trabalhando, complementar ao Seminrio .

    Como estava sendo planejado o seminrio, a CT pediu que montssemos umavitrine com algum, ou alguns objetos de nosso acervo, que tivessem relao com o tema emquesto.

    43.

  • Fig.01

    Comeamos a fazer um primeiro levantamento, fizemos uma primeira listagem comtudo o que tnhamos sobre o assunto, resultado...surgiu a nossa frente uma rica coleo com aqual levantamos alguns temas, estabelecemos um roteiro, fizemos um projeto incluindomaquete, apresentamos direo, e tivemos a aprovao.

    Com relao a exposies solicitadas pela Direo , sabemos que o tema j estaprovado; desta forma, iniciamos um primeiro levantamento do acervo, apresentamos umaprimeira proposta museogrfica a partir de uma proposta conceitual e museolgica, podendoesta vir de diversos lugares.

    Proposta feita por um membro da equipe necessita de aprovao, assim elaboramosum ante projeto, fazemos levantamento de custos, apresentamos um esboo de projetomuseogrfico. A partir da aprovao, partimos para o detalhamento de todas as etapas.

    Propostas externas ou seja, projetos que muitas vezes s solicitam o espao, ou aparceria para um apoio tcnico, recebem um tratamento diferenciado. A partir de anliseconjunta, feita pelo corpo diretivo e pela equipe tcnica, o projeto aprovado e a partir da acompanhado pela equipe do Departamento . Este acompanhamento varia conforme oenvolvimento anteriormente acertado.Em alguns projetos funcionamos como parceiros, emoutros apenas hospedamos a exposio, em outros apoiamos em todas as etapas dedesenvoilvimento .

    A metodologia - a mesma de sempre:

    Levantamento de acervo;

    44.

    DivisoEducativa

    Divisode Museografia

    Divisode Pesquisa

    DepartamentoDe Dinmica Cultural

    Divisode Medalhstica

    Divisode Filatelia

    Divisode Moedas

    Departamentode Numismtica

    Divisode Controle

    Divisode Conservao

    Divisode Restaurao

    Divisode Arquivo Histrico

    Divisode Biblioteca

    Divisode Reserva Tcnica

    Departamentode Acervo

    CoordenadoriaTcnica

  • Elaborao da proposta museolgica;

    Seleo e Estudo do espao;

    Estudo e proposta museogrfica;

    Levantamento de Custos;

    Apresentao para aprovao.

    Aps aprovada, planejamento para execuo e montagem, desmontagem eavaliao.

    preciso salientar que na prtica, as aes no acontecem to linearmente nem topouco to rigidamente. Projetos sofrem pequenas ou grandes modificaes em seu caminhare muitas vezes, iniciam com uma idia e durante seu desenvolvimento, surge a necessidade de uma mudana. Para podermos conversar melhor sobre este item, vamos nos debruar sobrealguns exemplos .

    Exemplos de exposies

    Tipos de exposies apresentadas pelo Museu Histrico nacional

    Permanentes

    Temporrias : Internas e Externas sendo que as externas podem ser nacionais e/ouinternacionais

    Itinerantes : Internas e Externas ou seja, elaboradas e dinamizadas pelo Museu ouprovenientes de outras instituioes apresentadas no Museu Histrico Nacional.

    Exposies Permanentes

    Nos anos de 1986/1987 comeou a acontecer no Museu Histrico uma grandereestruturao no antigo circuito do perodo ps 1964. Nesse trabalho vamos apresentaralguns exemplos desse novo momento do Museu, cujos primeiros espaos expositivos foraminaugurados em dezembro de 1987, da primeira exposio de longa durao chamadaColonizao e Dependncia, at a ltima, que foi inaugurado em 2002. Em um perodo de 17anos temos um grupo de exposies que tm caractersticas bastante comuns, embora sejamcompletamente diferentes umas das outras.

    45.

  • A primeira coisa que penso ser singular no circuito de exposies do MuseuHistrico que se trata de um circuito de museu de histria que no cronolgico. No vaidireto do sculo XVI ao XX, ou XXI....

    So exposies que trabalham com temas fechados, que defendem uma linha depensamento, com princpio, meio e fim e que cada uma destas exposies est contida em umgrupo independente de salas, com entrada e sadas prprias. Isso oferece uma srie de possibilidades.

    Para o professor que vai visit-lo com seus alunos possibilita uma escolha temticavariada e, conforme a faixa etria , a abordagem de temas nicos, de acordo com o currculoescolar. O professor pode escolher uma exposio, uma galeria ou apenas uma vitrine ou umnico objeto para desenvolver seu estudo.

    Para o turista. oferece a possibilidade de visitar apenas um desses mdulos, ter umanoo de nossa histria e ir embora sem precisar visitar todo o circuito e para o prprio

    Museu. e seus profissionais oferece a possibilidade de revitalizar seu circuito deexposies, renovando sistemticamente seus espaos expositivos e, mesmo arquitetnico,sem nunca ter fechado um dia sequer suas portas visitao.

    Este circuito de exposies de longa durao formado pelas seguintes exposies,ou seguintes mdulos (se ainda podemos usar este trmo)

    - Expanso Ordem e Defesa

    - Colonizao e Dependncia

    - Memria do Estado Imperial e ainda,

    - Meios de Transportes Terrestres que dever ser brevemente renovada.

    Existe tambm a previso para a concepo de mais um mdulo que apresente a PrHistria Brasileira e o ndio.

    A exposio de 1987 Expanso , Ordem e Defesa, tem uma caracterstica diferente. Foi um perodo de muitos recursos e o museu contava com uma equipe grande, alm de umaverba relativamente generosa . Para se ter uma idia, o projeto dessa exposio, da concepo montagem, durou cerca de 3 anos e exigiu uma pesquisa profunda.

    46.

  • 47.

    Fig.02

    Fig. 03

  • As vitrines foram produzidas fora do Rio de Janeiro, tiveram um tratamentosofisticadssimo, a pintura interna levou 2 meses. Foi contratado o arquiteto - Jacque Van deBeuque - que nos emprestou sua experincia atravs de uma consultoria, supervisionandosua produo e montagem. Foram encomendadas peas de acervo, como por exemplo oquadro do incio da exposio - que foi produzido para fazer uma sntese desta exposio ou o engenho, pea de autoria de um artista popular.. Em resumo, aps um cuidadoso projeto essaexposio, que est h 17 anos montada passou nesses anos por duas revitalizaes as quaisderam ateno forrao das vitrines e ao piso. A diagramao de suas vitrines, seumobilirio e sua programao visual continuam as originais. Alguns cuidados tomados emseu projeto, propiciaram este resultado .Dentre eles

    - A utilizao de tecidos sem a finalizao qumica,, que possibilitou a manutenode sua cor e auxiliou na conservao dos objetos em virtude da no criao de gases nointerior das vitrines;

    - o projeto das vitrines, sua fabricao e a qualidade das mesmas (que receberamrevestimentos tratados com fungicidas e produtos contra trmitas) .Foi pensado de forma apermitir que sua manuteno pudesse ser feita com facilidade e em poucas horas e que oacervo al exposto sofresse o menor dano possvel.

    Naquela poca foi montado apenas este mdulo, que ocupava 3 salas.

    Como j disse, o museu estava passando por uma reforma completa e a localizaodas galerias escolhidas para montagem deste mdulo possibilitava entrada e sadaindependentes das demais . Dessa forma foi possvel montar parte do circuito e continuartrabalhando no restante da obra.

    A medida em que o tempo foi passando, as direes foram se sucedendo, no seconseguiu mais fazer uma exposio com essa qualidade museogrfica mas conseguiu-semanter uma qualidade temtica e um cuidado tcnico

    O segundo mdulo, que foi feito em 1992, denominou-se Expanso, Ordem eDefesa, seguiu a linha mais da histria poltica, e teve uma equipe de pesquisadores e umaequipe de consultores.

    uma exposio que defende uma linha de pensamento dentro de uma histriaanaltica que permite fazer uma visita crtica e trabalhar bem a parte conceitual de histria,mas com uma qualidade museogrfica completamente diferente.

    48.

  • Fig.04

    Esta exposio pertence a um outro momento, o que facilmente percebido seanalisarmos seu material. As vitrines, por exemplo, so de wall , material no to nobrequanto a madeira, os vidros so bem mais finos, possuem dimenso bem menorproporcionando uma rea expositiva inferior exposio anterior. Se analisarmos comateno, percebemos que no uma exposio construda com materiais prprios para umamostra de longa durao.

    Como pontos em comum com o mdulo Colonizao e Dependncia podemosapontar a adoo de um conceito, a seleo de conjuntos de objetos que representam ousimbolizam o assunto tratado, a construo de uma circulao que privilegia a surpresa ouseja, no se consegue ver de imediato toda a exposio. Os assuntos vo sendo tratados um aum.

    Mais um aspecto desse circuito, em um terceiro momento, foi no ano 2000 - omdulo Memria do Estado Imperial.

    49.

  • Fig. 05

    Com um tratamento museogrfico completamente diferente das exposiesanteriores, esta exposio apresenta uma histria mais factual do que anlitica, no possuegrande quantidade de vitrines e deu prioridade apresentao de obras bidimensionais e aitens do acervo sistemticamente procuradas pelo pblico. Os Primeiros Sons daIndependncia, A Sesso do Conselho de Estado, O Juramento Constitucional da PrincesaIsabel, o sabre de D.Pedro I. Sente-se falta de uma grande obra que, infelizmente, nossosmusegrafos no tiveram como solucionar sua colocao O Baile da Ilha Fiscal, ltimobaile do Imprio, de Aurlio Figueiredo que, por suas dimenses, s pode ser exposto emoutra galeria do Museu .

    Apesar de apresentar grandes diferenas em relao a conceito e museografia, uma exposio com a qual os professores se identificam. Visualmente toda colorida e bastantediferente, mas tambm tem princpio, meio e fim. Ela inicia com a chegada de D. Joo VI noBrasil, em 1808, at o final do segundo reinado e aborda de forma ligeira a Repblica.. Comoas outras, tem entrada e sada separadas, possibilitando ao pblico uma visita independente.

    O mdulo que apresenta as carruagens possui uma unidade temtica de acervo, selocaliza no trreo, em uma galeria nica e tambm considerado exposio permanente.Finalizando, temos uma exposio permanente que fica em uma galeria de entrada, ochamado Hall dos Arcazes , e que tambm guarda uma unidade de acervo . A nossa coleode cusquenhos e o Ptio dos Canhes, Ptio Epitcio Pessoa que uma exposio que existedesde 1940, o nico espao do Museu que guarda a museografia dessa poca.

    50.

  • Possui tambm uma unidade de acervo que, por sua fora e dimenso, terminou pordar nome ao mesmo. o nico espao do Museu que ainda cor de rosa.

    Fig.06

    Analisando todo esse conjunto de exposies do museu possvel percebersemelhanas com relao ao conceitual ou a unidade de acervo ou at mesmo, uma unidademuseogrfica.

    A mais recente exposio de longa durao a de numismtica. Embora faa partedo circuito permanente do Museu Histrico Nacional, sendo um acervo diferenciado e umacoleo que possue itens representativos de todo o mundo e de um perodo histrico que vaida antiguidade aos dias de hoje, logicamente no poderia apresentar somente a histria doBrasil. Sua leitura global, associa a histria moeda e ao dinheiro de todas as formas. Ficaclaro para o pblico a presena de um especialista em sua curadoria.

    51.

  • Fig.07

    Resumindo tudo o que foi falado at o momento, esses espaos permanentes doMuseu Histrico foram elaborados seguindo uma proposta conceitual modular que, emboraconstrudos sob diferenciadas direes, com diferentes curadorias e , ao longo de vinte anos,guardam sempre uma unidade que pode ser conceitual ou relativa a seu acervo.

    Exposies Temporrias:

    Dentre nossas exposies temporrias, eu separei alguns exemplos. O primeiro quequero apresentar uma exposio temporria internacional, que recebemos de Portugal,tendo como aspecto interessante o fato de ter duas curadorias. Essa exposio, de um pintorportugus famoso - Jos Malhoa-1855-1933 - que inicialmente, nem conhecamos e, sobre oqual fomos aprendendo medida que o trabalho se desenvolvia., teve duas curadorias, umaportuguesa e uma brasileira, e uma mesma equipe de museografia trabalhando distncia.Isso inicialmente, se constituiu em certa dificuldade. O acervo era oriundo de diversosmuseus brasileiros e portugueses, alm de instituies particulares tambm de ambos ospaises. Foi uma exposio com uma dificuldade bastante grande porque a curadora principalestava em Portugal e pouco se comunicou conosco. Um parnteses gostaria de comentar ottulo que do em Portugal para curador - comissrio cientfico - e sempre o comissriocientfico um estudioso do assunto. Assim, nosso comissrio cientfico, escreveu umtratado sobre Malhoa, nos entregou textos, deu algumas orientaes sobre as cores com queMalhoa trabalhava, selecionou acervo, organizou um catlogo maravilhoso, e depoistrabalhamos aqui com uma curadora brasileira. Nossa curadora brasileira D. EcylaCastanheira Brando conhecia a obra de Malhoa e nos ajudou a unir os acervos comcoerncia, a fazer um roteiro a partir do catlogo, a determinar as cores. Fomos construindo

    52.

  • tudo com muito vagar, e quando finalizamos uma proposta de roteiro e uma planta enfim, umprojeto museogrfico, mandamos para Portugal e obtivemos a aprovao. Acabou sendouma exposio de mdio porte , porque ficou acomodada em uma galeria de 600 m2, com aspinturas e alguns objetos em cermica pertencentes a amigos de Malhoa. Inspirados em umadas obras mais famosos do artista, O fado, nossos musegrafos conceberam uma cenografia para abertura da exposio. O resultado foi excelente.

    Fig.08

    Fig.09

    53.

  • As caractersticas desta exposio foram: projetada no exterior, com duascuradorias sendo uma de cada pas, participao de diversos museus brasileiros eportugueses, colecionadores particulares tambm dos dois paises, coordenao eprogramao visual brasileiras e produo de catlogo no exterior.

    Completamente diferentes so outras duas exposies com acervo do MuseuHistrico Nacional, com uma mesma curadoria, mas dois temas diferentes e dois projetosmuseogrficos feitos por profissionais diferentes. Temos no Museu a prtica de anualmentefazer uma exposio com o acervo de nossa coleo e nesse ano escolhemos nossas colees de leques e de indumentria. A curadoria ficou a cargo da responsvel por nossa coleo deindumentria e pela coleo de acessrios de indumentria, onde se insere o leque - VeraLcia Lima. Na entrada construmos um nico painel mas como eram galerias separadas,foram colocados dois ttulos diferentes. A exposio de leques teve a produo museogrfica e concepo feita por uma das nossas arquitetas, Cristiane Vianna, e a de indumentria foi deLuiz Antonelli, junto com a museloga Teresa Pitanga.

    Com propostas e concepes museogrficas completamente diferentes, guardaramuma mesma coerncia com relao a conceito.

    Fig.10

    54.

  • Fig.11

    A dos leques ficou interessante. Em sala propositadamente escurecida, em funo desua conservao, os leques ficaram todos suspensos em caixas de acrlico iluminadas por fitaespecial. Resumindo, essa foi uma exposio com uma curadoria, de um funcionrio da casa,duas concepes museogrficas de tcnicos tambm do museu, o que importante - autoriadiferenciada de projetos museogrficos. Ressalta-se que a equipe de montagem, inclusive osresponsveis pelos projetos museogrficos, trabalhou igualmente nas duas exposies.

    Trataremos agora de uma outra exposio, Comunicao Escrita no Encontro dosSculos, dentro do mesmo programa, ou seja, apresentao de uma coleo de nosso acervo, com curadoria de um tcnico da casa, Jorge Cordeiro. Como neste momento nossos recursoseram menores, preferimos apresentar o acervo em detrimento a uma concepo museogrfica mais elaborada. Assim, optamos por manter o mesmo tablado onde foram colocados osmanequins da exposio anterior (a de induentria), para apresentar o mobilirio deescritrio, as vitrines permaneceram no mesmo local, onde mudamos apenas a forrao .

    Em vitrines com minuteria, foi possvel trabalhar com materiais frgeis comopapel e tecido.

    Uma outra exposio sobre a qual gostaria de falar, Memria CompartilhadaRetratos da Coleo no Museu Histrico Nacional . O processo de criao est todopublicado em catlogo e esta foi concebida a partir de uma curadoria coletiva, resultando emuma experincia bastante interessante. A idia desta exposio surgiu a partir do comentrio

    55.

  • da nossa diretora sobre a grande quantidade de retratos que temos em nosso acervo, guardadoem reserva tcnica, e que merecia ser exposto. medida que ns comeamos a separar esteacervo e a fazer uma listagem, os colegas da reserva tcnica comearam a enviar retratosno s pintados em telas ou madeira. Os retratos apareciam em superfcies e objetos dediversas naturezas . Comeamos a perceber que tnhamos todo tipo de retrato: retratos emleque, em copo, em caixinhas de porcelana, retratos at em maaneta. Decidimos que nopoderia ser uma exposio s de retratos em leo e tela, tnhamos de ampliar. Durante aelaborao do projeto, em nossa primeira conversa, o espao escolhido era apenas umagaleria com cerca de 200 m2, mas terminamos fazendo uma exposio que ocupou trsgalerias com um total de aproximadamente 1000m2 . Foi um projeto coletivo, na verdade deuma equipe curatorial, que deu um bom resultado e acabamos depois conseguindofinanciamento para publicar um catlogo.

    56.

    Figs.12 e 13

  • A exposio que se segue, conseqncia de uma exposio internacional. H doisanos foi realizado um grande seminrio internacional sobre arquitetura, momento em quevrios museus e espaos culturais apresentaram exposies relacionadas ao tema. Nestamesma poca ns recebemos cartazes do Consulado Geral do Japo que apresentavam, emuma exposio itinerante, a arquitetura japonesa contempornea. Assim, aproveitamos omomento, o assunto, e fizemos uma exposio. A proposta foi selecionar em nossa coleode plantas, que bastante interessante, e grande, e que tirando esta oportunidade.... quandonos teramos outra possibilidade de exp-las ? Plantas delicadas e to detalhadas, para umpblico interessado...Momento mais propcio, impossvel! E assim fizemos. Por no termosrecursos disponveis, nossos musegrafos programaram a exposio com madeiras e vidrosreaproveitados, conseguindo com criatividade fazer uma exposio que teve um resultadosensvel e delicado. A nica compra efetuada foram 20 suportes tipo cavaletes que custaramem um oportunidade do momento R$19,00 cada um. importante frisar que a propostaconceitual, a pesquisa deste material, j existia. Sem isso, a museografia no pode atuar.

    Um outro exemplo bem recente foi resultado de um trabalho de pesquisa de uma denossas historiadoras. Esta mostra, que tambm no estava no programa, foi um projetooriundo de parcerias. So coisas que simplesmente acontecem, so s vezes exposies queno esto na nossa grade mas que surgem da oportunidade. Normalmente, temos umaprogramao feita com bastante antecedncia. No momento, temos exposies programadase j em andamento para 2006, entretanto, s vezes conseguimos aproveitar umaoportunidade, um espao ou uma sala vazia ou um trabalho realizado por um colega, e issoresulta em um bom trabalho.

    57.

    Fig.14

  • Agora passemos aos projetos de exposies itinerantes.

    Exposies Itinerantes

    Exposies itinerantes j produzimos h anos. No momento, temos cinco, quepasseiam pelo Brasil. Muitas dessas exposies so o resultado do trabalho de outrasempresas, So um projeto importante pois alm de levarem algum conhecimento ouprograma cultural a lugares distantes, onde pouca coisa chega, fazem com que o Museucumpra com sua misso no s de divulgar o patrimnio cultural do pas como tambm deampliar seu carter de nacional .

    Atualmente estamos trabalhando em uma nova exposio que vai ser produzida para2005. Uma das mais interessantes o resultado de um trabalho conjunto com a CompanhiaVale do Rio Doce, que nos pediu uma exposio que pudessem levar no trem, atravs da rotado escoamento do minrio no Nordeste, indo at Carajs, local de sua extrao. Naquelemomento, comemorvamos 200 anos da proclamao da Repblica, escolhemos ento comotema O Imprio e a Repblica uma comparao. Com uma seleo cuidadosa de imagense uma seleo especial de acervo, preparamos umas caixas, que abrem e mostram nas portasas imagens e os textos impressos e dentro, o acervo, tcnicamente preparado para viajar.Estas caixas viajaram com a Vale do Rio Doce por mais de um ano e, aps o trmino de suaitinerncia, foram doadas ao Museu Histrico . Hoje em dia, continuam viajando e servindo aprofessores e alunos de todo o Brasil . Existem outras quatro exposies itinerantes queforam trabalhos que fizemos para o SESC. O SESC, que tem muitos espaos culturais peloBrasil, nos procurou e props um trabalho que consistia na reproduo de imagens decolees do nosso arquivo histrico para apresentao em suas unidades. Preparamos asexposies com as quais o SESC trabalhou durante dois anos quando, ao final, tambmdoou-as ao Museu. Com elas trabalhamos h mais de quinze anos. Para o ano de 2005estamos desenvolvendo um novo projeto, uma exposio que fala sobre a histria do Brasilcomo um todo, do descobrimento repblica e que dever iniciar sua itinerncia pelo nortedo Brasil, provvelmente Amazonia.

    Bem, esperando no ter cansado demais , aqui est o trabalho desenvolvido peloMuseu Histrico Nacional no que diz respeito a suas exposies.

    Na verdade, e no somente para este trabalho, o que se precisa para a criao de umaexposio, independente de seu tema, tipo ou categoria, harmonia, entendimento,compreenso e esprito de equipe. Exposio resultado de um conjunto. No adianta emuma exposio privilegiar apenas o acervo, voc s v o acervo e o pblico no se mexe, ficase acotovelando. Se a ateno maior para o assunto, o acervo no aparece, voc s temtexto e imagem e aquele objeto, que no caso do museu a nossa fonte, o nosso documento, no aparece. E se, por um outro lado, voc d um peso maior museografia fica tudomaravilhoso, mas daqui a dois meses voc no tem o papel nem o tecido. O acervo pode ficarperdido num mundo de luz. Em resumo, acredito que o segredo est no equilbrio .

    58.

  • Equilbrio de formas, de assuntos, de cores, de acervo, de informao, para se conseguir umbom resultado.

    Eu queria, para finalizar, tocar na questo da curadoria. O que ser curador, umaprofisso? Duas exposies que apresentei tiveram curadoria de dois colegas que, pelaprimeira vez realizaram esse tipo de trabalho. O que entendo por curadoria? Aqui , em nossocaso especfico na exposio de Arquitetura, nosso curador o professor Carlos Kessel, que arquiteto . Desenvolveu um assunto que conhece , a partir e atravs do acervo do MuseuHistrico. Para a concretizao da exposio trabalhou em conjunto com a equipe de tcnicos da museografia que interpretou seu trabalho concreta e tridimensionalmente, para poderoferecer ao pblico uma nova forma de comunicao para aquele mesmo tema desenvolvidona pesquisa. Na exposio sobre a Inspetoria de Monumentos, nossa colega AlineMontenegro, que historiadora, estudou o assunto, escreveu uma monografia, e nos entregou o assunto para trabalhar. Roterizamos, escolhemos as cenas, em conjunto com nossacuradora, discutimos sobre o acervo e finalmente, concretizamos um pensamento.

    O curador importante mas temos que ter uma equipe de profissionais com umconjunto de saberes para poder transformar um contedo, em exposio.

    Na verdade, para mim, exposio um pouco de espetculo, um pouco de arte, mas ainda comunicao e contedo. Se no tiver todos esses aspectos, no funciona.

    Enfim, o nosso trabalho o resultado de dezesseis anos, uma equipe que luta e brigajunto. No pensem que tudo maravilhoso que todos se entendem. s vezes nosdesentendemos, s vezes queremos expor alguma coisa que no pode, que no tem espao, mas, no fim, realizamos.

    Volto a frisar que o importante harmonia.

    Deixo aqui meu carinho e agradecimento a todos os colegas do Museu HistricoNacional e principalmente a toda a equipe do Departamento de Dinmica Cultural no qualtrabalho h vinte anos. Agradeo aos que produziram todo este trabalho que nos possibilitoufazer esta palestra.

    59.

  • 60.

  • EXPOSIES COMO DISCURSO

    Roberto Conduru

    61.

  • Nota Biogrfica

    Palestrante

    Graduado em Arquitetura e Urbanismo (UFRJ, 1986), especialista em Histria daArte e Arquitetura no Brasil (PUC-Rio, 1988), mestre em Histria Social da Cultura(PUC-Rio, 1994) e doutor em Histria (UFF, 2000).

    Professor adjunto de Histria e Teoria da Arte na Universidade do Estado do Rio deJaneiro UERJ, desde 1995, atua nos Programas de Ps-graduao em Artes PPGARTES e em Educao ProPEd, e nos cursos de graduao em Artes. Tambm colabora comoprofessor de Histria da Arte e Histria da Arquitetura no Curso de Especializao emHistria da Arte e Arquitetura no Brasil da Pontifcia Universidade Catlica do Rio deJaneiro PUC-Rio, desde 1992.

    Autor de Willys de Castro (Cosac Naify, 2005) e Vital Brazil (Cosac Naify, 2000),co-autor de Brazils Modern Architecture / Arquitetura Moderna Brasileira (Phaidon, 2004)e A Misso Francesa (Sextante, 2003), co-organizador de Um Modo de Ser Moderno LucioCosta e a Crtica Contempornea (Cosac Naify, 2004) e Polticas Pblicas de Cultura doEstado do Rio de Janeiro (Rede Sirius, 2003), alm de ensaios sobre arte (Abraham Palatnik,Amador Perez, Ana Holck, Antonio Dias, Cezar Bartholomeu, Cristina Salgado, EduardoSued, Bienal Internacional de So Paulo, arte afro-brasileira) e arquitetura (Affonso EduardoReidy, Francisco Bolonha, Jorge Machado Moreira, Lucio Costa, Oscar Niemeyer,Neoclassicismo, arquitetura militar luso-brasileira) publicados em livros, jornais, revistas ecatlogos, no Brasil e no exterior.

    Curador de Awon Olod Os Senhores da Caa (Galeria Mestre Vitalino MFEC/IPHAN, 2003/2004), Exu O Senhor das Portas (Galeria Gustavo Schnoor UERJ, 2003) e Ident


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