Transcript
Page 1: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM

MULHERES CONTINENTES NULIGESTAS E PRIMÍPARAS:

UM ESTUDO COMPARATIVO

SILVANA MARIA DE MACÊDO UCHÔA

RECIFE – 2011

Page 2: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

SILVANA MARIA DE MACÊDO UCHÔA

SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM

MULHERES CONTINENTES NULIGESTAS E PRIMÍPARAS:

UM ESTUDO COMPARATIVO

RECIFE – 2011

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação do Departamento de Fisioterapia da

Universidade Federal de Pernambuco, como

requisito parcial à obtenção do título de Mestre

em Fisioterapia.

Linha de pesquisa:

Avaliação do desempenho físico-funcional e

qualidade de vida.

Orientadora:

Profª. Dra. Glória Elizabeth Carneiro Laurentino.

Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Co-orientador:

Profº. Drº. Alberto Galvão de Moura Filho.

Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Page 3: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

1.1 Uchôa, Silvana Maria de Macêdo

Sinergia muscular abdomino-pélvica em mulheres continentes nuligestas e primíparas: um estudo comparativo / Silvana Maria de Macêdo Uchôa. – Recife: O Autor, 2011.

xiv + 89 folhas: il., fig.; 30 cm.

Orientador: Glória Elizabeth Carneiro Laurentino Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco. CCS. Fisioterapia, 2011.

Inclui bibliografia, anexos e apêndices.

1. Eletromiografia. 2. Gestação. 3. Sinergia. 4. Músculos abdominais. 5. Mulheres. I. Laurentino, Glória Elizabeth Carneiro. II.Título.

UFPE

615.85 CDD (20.ed.) CCS2011-211

Page 4: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

ii

“ESTUDO DA SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES CONTINENTES”.

SILVANA MARIA DE MACÊDO UCHÔA

APROVADA EM: 02/09/2011 ORIENTADOR: PROFª. DRª. GLÓRIA ELIZABETH CARNEIRO LAURENTINO COORIENTADOR: PROFº. DRº. ALBERTO GALVÃO DE MOURA FILHO COMISSÃO EXAMINADORA:

PROFª DRª ARMÈLE DE FÁTIMA DORNELAS DE ANDRADE – FISIOTERAPIA/UFPE

PROFª DRª ANDREA LEMOS BEZERRA DE OLIVEIRA – FISIOTERAPIA/UFPE

PROFº DRº ADRIANO ALMEIDA CALADO – UPE

Visto e permitida à impressão

_________________________________________________ COORDENADOR DO PPGFISIOTERAPIA/DEFISIO/UFPE

Page 5: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:

A Deus, que sempre iluminou o meu caminho.

Aos meus pais, exemplo de amor e meu porto seguro

A Carlos Alberto Gomes Uchôa, meu amado marido e companheiro de todas

as horas

Page 6: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

iv

AGRADECIMENTOS

Gostaria de manifestar meus agradecimentos primeiramente a Deus que sempre me fez

sentir sua presença e amor de pai celestial ao longo da minha jornada, sempre me

amparando e dando forças para prosseguir.

Em especial agradeço:

Aos meus orientadores, Profª. Drª. Glória Elizabeth Carneiro Laurentino e Prof. Dr.

Alberto Galvão de Moura Filho, por toda atenção, pelas críticas sempre construtivas, por

todo apoio dado e por algo de valor inestimável: carinho e compreensão.

Aos colegas e amigos da primeira turma do Mestrado em Fisioterapia – UFPE (2009),

pela convivência salutar e enriquecedora.

À Niége Maria de Paiva Melo, Secretária do Programa de Pós-Graduação em

Fisioterapia – UFPE, pela atenção, profissionalismo e disponibilidade.

A todas as voluntárias que participaram da pesquisa, sem as quais nada seria possível.

Às amigas Divaneti Valentim Barbosa, Thalita Santana de Farias, Palmira Daniela Lôbo,

Neyla Súcie Siqueira e Dinalva Lacerda pela colaboração e apoio.

Muito obrigada!

Page 7: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

v

A vitória mais bela que se pode alcançar

É vencer a si mesmo.

(Santo Ignácio de Loyola)

Page 8: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

vi

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AEVM Atividade Elétrica Voluntária Máxima

AP Assoalho Pélvico

CVM Contração Voluntária Máxima

DAP Disfunção do Assoalho Pélvico

DCabd Dobra cutânea abdominal

EAE Esfíncter Anal externo

EMG Eletromiografia

EMGs Eletromiografia de superfície

GM Glúteo máximo

IMC Índice de massa corpórea

IPAQ International Physical Activity Questionnaire

IUE Incontinência urinária de esforço

LA Levantador do ânus

MAP Músculos do Assoalho Pélvico

μV Microvolt

OE Oblíquo externo

OI Oblíquo interno

OI/TrA Oblíquo interno e Transverso abdominal

PIA Pressão Intra-abdominal

RMS Root Mean Square

r Coeficiente de correlação de Spearman

SENIAM Surface EMG for a Non-Invasive Assessment of Muscle

SPSS Statistical Package for Social Sciences

TrA Transverso Abdominal

TCLE Termo de consentimento livre e esclarecido

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

Page 9: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

vii

LISTA DE TABELAS

Artigo Original 1 Página

Tabela 1. Caracterização da amostra segundo as variáveis: idade,

massa corporal, estatura, Índice de Massa Corporal

(IMC) e dobra cutânea abdominal (DCabd).................

47

Tabela 2. Análise intra-grupo da atividade EMGRMS de repouso nas

posturas supina e ortostática dos músculos esfíncter anal

externo (EAE); oblíquo interno e transverso abdominal

(OI/TrA); oblíquo externo (OE) e glúteo máximo (GM)

em mulheres nuligestas e primíparas..........................

48

Tabela 3. Atividade EMGRMS dos músculos esfíncter anal externo

(EAE), oblíquo interno e transverso abdominal (OI/TrA);

oblíquo externo (OE) e glúteo máximo (GM) durante a

CVM do glúteo máximo em mulheres nuligestas e

primíparas..........................

49

Artigo Original 2 Página

Tabela 1. Caracterização da amostra segundo as variáveis: idade,

massa corporal, estatura, Índice de Massa Corporal

(IMC) e dobra cutânea abdominal (DCabd)....... 63

Tabela 2. Distribuição das mulheres primíparas e nuligestas,

segundo o nível de atividade física................................ 63

Tabela 3. Atividade EMGRMS dos músculos esfíncter anal externo

EAE; oblíquo interno e transverso abdominal (OI/TrA);

oblíquo externo (OE) e glúteo máximo (GM) durante o

repouso supino, tosse neutra (N) supino, tosse rotação

externa (RE) supino, repouso ortostático, tosse neutra (N)

ortostática e tosse rotação externa (RE) ortostática em

mulheres continentes nuligestas e primíparas ................... 64

Page 10: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

viii

LISTA DE FIGURAS

Artigo Original 1 Página

Figura 1. Atividade EMGRMS no repouso supino e nas CVMs em

mulheres continentes nuligestas e primíparas, segundo

cada atividade estudada..................................................

50

Figura 2. Atividade EMGRMS no repouso ortostático e nas

manobras umbigo costa em mulheres continentes

nuligestas e primíparas............................................

51

Artigo Original 2 Página

Figura 1. Fluxograma de seleção da amostra estudada................. 62

Figura 2. Atividade EMGRMS (µV) dos músculos esfíncter anal

externo (EAE), oblíquo interno e transverso abdominal

(OI/TrA), oblíquo externo (OE) e glúteo máximo

(GM) em mulheres continentes, nuligestas e

primíparas, durante o repouso supino e o esforço de

tosse, com membros inferiores em posição neutra e

com rotação externa da articulação

coxofemoral................................

65

Figura 3. Atividade EMGRMS (µV) dos músculos esfíncter anal

externo (EAE), oblíquo interno e transverso abdominal

(OI/TrA), oblíquo externo (OE) e glúteo máximo

(GM) em mulheres continentes, nuligestas e

primíparas, durante o repouso e o esforço de tosse na

postura ortostática, com os membros inferiores em

posição neutra e em rotação externa da articulação

coxofemoral..................................................................

66

Page 11: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

ix

RESUMO

Introdução: O estudo da sinergia entre os músculos do assoalho pélvico, da parede

abdominal e o glúteo máximo, por meio de eletromiografia de superfície, apresenta

aspectos importantes e que necessitam ser melhor estudados e compreendidos, a fim de

poderem ser utilizados e inseridos dentro de um programa de reabilitação preventiva

ou curativa do assoalho pélvico, pois ainda existem controvérsias se essa sinergia sofre

alterações em mulheres que apresentam disfunções do assoalho pélvico. Objetivos:

Verificar se existe alteração na sinergia entre os músculos esfíncter anal externo (EAE),

oblíquo interno do abdome (OI),transverso do abdome (TrA), oblíquo externo do

abdome (OE) e glúteo máximo (GM) em mulheres continentes nuligestas e primíparas

de parto cesáreo. Avaliar a sinergia desses músculos durante uma contração voluntária

máxima (CVM) esforço de tosse nas posturas supina e ortostática, o tônus basal na

posição de repouso e ortostática, se o processo gestacional ocasionou alguma alteração

nos músculos das primíparas quando comparadas às nuligestas, e se o nível de atividade

física interfere na aquisição eletromiográfica. Sujeitos e Métodos: O estudo foi

transversal envolvendo 34 mulheres com faixa etária de 21 a 40 nos, distribuídas em

dois grupos: um com 17 nuligestas (26.5±5.11 anos) e o outro com 17 primíparas

(29,44±5.07), menacmes, que apresentassem o Índice de Massa Corporal (IMC) entre

18,5 e 27,5 Kg/m2, hígidas, sem disfunção do assoalho pélvico e com dobra cutânea

abdominal ≤ 30 mm. Foi utilizado um eletromiógrafo de superfície de quatro canais,

para as aquisições da atividade mioelétrica dos músculos supracitados, nas posturas

supina, prona e ortostática. Os registros eletromiográficos foram obtidos durante a fase

de repouso para observar atividade basal, e durante atividades de contração tônica e

fásica desses músculos. A comparação entre os grupos foi realizada através do teste t

Student quando a distribuição era normal e do teste Mann-Whitney para as não normal.

Na verificação da existência de associação adotou-se o teste exato de Fisher para as

variáveis categóricas e o Coeficiente de Correlação de Spearman (r) para as medidas

não normais. Resultados: Houve diferença significativa no grupo de nuligestas, nos

músculos EAE e GM durante a contração voluntária máxima do glúteo máximo. As

nuligestas apresentaram uma maior amplitude eletromiográfica para o EAE (p = 0,009), e

para o GM, (p= 0,006). Já na tosse, as primíparas exibiram uma atividade

eletromiográfica do EAE maior nas posturas supino e ortostática, porém

Page 12: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

x

estatisticamente significante apenas em supino tanto com rotação neutra quanto com

rotação externa dos membros inferiores (p=0,023 e p=0,025, respectivamente). Todos os

testes foram aplicados com 95% de confiança. Conclusão: Os achados do presente

estudo sugerem que existem diferenças na sinergia em relação à amplitude da atividade

mioelétrica de mulheres nuligestas e primíparas de parto cesáreo. Porém, apenas para os

músculos GM e o EAE.

Palavras-chave: eletromiografia; gestação, sinergia, músculos abdominais, mulheres.

Page 13: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

xi

ABSTRACT

Introduction: The study of synergy between the pelvic floor muscles, abdominal wall

and the gluteus maximus muscles, using surface electromyography, represents

important aspects that need to be better studied and understood, so that they can be used

and inserted into a rehabilitation program for preventive or curative pelvic floor, there

are still controversies whether this synergy is altered in women who have pelvic floor

dysfunction. Objectives: To verify whether there is change in the synergy among the

external anal sphincter (EAS), internal oblique abdominal (IO), transversus abdominis

(TrA), external oblique abdominal (EO) and gluteus maximus (GM) muscles in

continent nulliparous and primiparous, only by cesarean section, women. To assess the

synergy of these muscles during a maximal voluntary contraction (MVC), effort of

coughing in supine and standing postures, the basal tone in the rest and standing

postures, whether the gestational process caused a change in the muscles of primiparous

compared to nulliparous and if the level of physical activity interferes with the

electromyographic acquisition. Subjects and Methods: Cross-sectional study involving

34 women aged 21 to 40 years old, divided into two groups: one with 17 nulliparous

and the other with 17 primiparous, in reproductive age, who presented the Body Mass

Index (BMI) between 18.5 and 27,5 kg/m2, healthy, without pelvic floor dysfunction

and abdominal skinfold ≤ 30 mm. Through surface electromyography, four channels,

were acquired myoelectric activity of the muscles above, in the supine and standing

positions, at rest to observe basal activity, as well as activities during tonic and phasic

contraction of those muscles. The comparison between groups was performed using the

Student t test when distribution was normal and Mann-Whitney test for non-normal. In

finding of association adopted the Fisher exact test for categorical variables and

Spearman’s correlation coefficient (r) for the measurements not normal. Results: There

was a statistically significant difference in EAS and GM muscles during gluteus

maximus maximal voluntary contraction (MVC) in the group of nulliparous women.

The nulliparous presenting for EAS (p= 0.009), and for GM (p=0.006), respectively.

However, during cough, primiparous showed a higher activity of EAS in the supine and

standing postures, but statistically significant only in supine position with both legs in

neutral rotation (p=0.023) and external rotation (p=0.025), respectively. Conclusion:

The findings of this study suggest that there are differences in respect to synergy

Page 14: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

xii

mioelectric activity between primiparous by cesarean section and nulliparous women.

But only for GM and EAS muscles.

Key-words: Electromyography; pregnancy; synergia; abdominal muscles; women.

Page 15: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

xiii

SUMÁRIO

1. Capítulo I.

2. 1 INTRODUÇÃO............................................................................... 1

3. 2 Revisão da literatura........................................................................... 3

4. 2.1 Considerações anátomo-fisiológicas do Assoalho Pélvico................ 3

5. 2.2 Sinergia Abdomino-pélvica................................................................ 6

6. 3 Hipóteses e objetivos.......................................................................... 11

Capítulo II.

7. 2 SUJEITOS E MÉTODOS .............................................................. 13

8. 2.1. Tipo do Estudo................................................................................... 13

9. 2.2. Local e Período do Estudo................................................................. 13

2.3. População Alvo/Amostra................................................................... 13

2.4. Critérios de Elegibilidade ................................................................... 13

2.5. Procedimentos para Seleção dos Participantes.................................... 14

2.6. Procedimentos para Coleta de Dados.................................................. 14

2.6.1 Avaliação Antropométrica .................................................................. 14

2.6.2. Questionário Internacional de Atividade Física -IPAQ ...................... 15

2.7. Avaliação da sinergia muscular .......................................................... 16

2.7.1. Equipamento........................................................................................ 16

2.7.2. Preparação da Pele e Colocação dos Eletrodos .................................. 16

2.7.3. Registro Eletromiográfico ................................................................... 17

2.8. Análise dos Registros Eletromiográficos ............................................ 19

2.9. Análise estatística ................................................................................ 19

Capítulo III.

3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................... 20

Capítulo IV.

4. ARTIGOS CIENTÍFICOS................................................................... 27

4.1 Artigo Original 1..................................................................................... 28

4.2 Artigo Original 2 .................................................................................... 54

Capítulo V.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 74

APÊNDICES.................................................................................................................

76

Page 16: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

xiv

APÊNDICE I - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................... 77

APÊNDICE II - Check List ......................................................................................... 79

APÊNDICE III - Tabelas complementares ………………………………………....... 80

ANEXOS....................................................................................................................... 86

ANEXO I - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres

Humanos do Hospital da Restauração...........................................................................

87

ANEXO II - Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ.......................... 88

Page 17: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

1

CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

Durante a reabilitação do assoalho pélvico (AP), a co-ativação de qualquer outro

grupo muscular durante a contração dos músculos do assoalho pélvico (MAP) era

considerada inapropriada (LAYCOCK, 1994). Contudo, alguns autores em estudos com

amostras pequenas, identificaram um aumento da atividade eletromiográfica nos

músculos abdominais durante a contração do AP, sem que fosse observado algum

movimento abdominal visível. Da mesma maneira, observaram também a contração dos

MAP, durante a realização de alguns tipos de exercícios abdominais (BO; STIEN, 1994;

SAPSFORD et al, 2001).

Segundo alguns autores, a contração da cinta abdominal gera um aumento da

pressão intra-abdominal (PIA), que causa repercussão na cavidade pélvica e promove

uma resposta de contração dos MAP (SAPSFORD et al; 2001; HODGES; SAPSFORD;

PENGEL, 2007; JUNGINGER et al, 2010). Essa atividade de co-ativação pode ser

definida como sinergia abdomino-pélvica (BO; STIEN, 1994; MOREIRA et al. 2002;

NAGIB et al., 2005).

A literatura atual sobre o treinamento da musculatura do AP ainda não apresenta

consenso se os MAP deveriam ser trabalhados de forma isolada ou em associação com

os músculos da cavidade abdomino-pélvica, que atuam de forma sinérgica com eles

(SAPSFORD et al, 2001; NEUMANN, GILL, 2002; MADILL; MCLEAN, 2006), com

vários autores defendo que a contração sincrônica desses músculos desempenha um

papel importante na estabilidade lombo-pélvica (HODGES; RICHARDSON, 1999;

HODGES; GANDEVIA,2000; HODGES, PW; SAPSFORD, R; PENGEL, 2007).

Diversos estudos discutem a sinergia abdomino-pélvica (SAPSFORD et al,

2001; BO et al, 2003; SAPSFORD, 2004; NEUMANN, GILL, 2002; HODGES, PW;

SAPSFORD, R; PENGEL, 2007; MADILL; MCLEAN, 2008; MADILL; MCLEAN,

2010; BO, MORKVED, FRAWLEY, 2009). Alguns sugerem a estimulação e utilização

dessa sinergia (SAPSFORD et al, 2001; NEUMANN, GILL, 2002; NAGIB et al., 2005)

no tratamento de mulheres com incontinência urinária, e, ainda, afirmam que as

continentes apresentariam essa sinergia de forma mais evidente. Enquanto outros (BO et

al, 2003; BO, MORKVED, FRAWLEY, 2009; THOMPSON., O’SULLIVAN,

Page 18: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

2

BRIFFA, 2006) defendem uma abordagem terapêutica do assoalho pélvico com o foco,

principalmente, na consciência perineal e no recrutamento de forma isolada dos MAP.

Entretanto, quanto à participação do músculo glúteo máximo (GM) no

sinergismo com os músculos do AP e abdominais, é consensual que sua participação no

processo de reeducação do AP não deve ser estimulada, sendo considerada inapropriada

(SAPSFORD et al, 2001; BO et al, 2003; SAPSFORD, 2004; NEUMANN, GILL,

2002; HODGES, PW; SAPSFORD, R; PENGEL, 2007; MADILL; MCLEAN, 2008;

MADILL; MCLEAN, 2010; BO, MORKVED, FRAWLEY, 2009).

Outro aspecto relevante descrito por vários autores (THAKAR, STANTON,

2000; SULTAN et al., 1993; VASANTH et al., 2006; EKSTRON et al, 2009) é o

trauma causado nos MAP, especialmente, no esfíncter anal externo (EAE), quando a via

de parto utilizada é a vaginal. Porém, alguns estudos (BARBOSA, 2005; BOTELHO,

2008), relataram que não só a via de parto, como também, a gestação são fatores de

risco para alteração da força muscular desses músculos, com um estudo mostrando que

mulheres em fase gestacional e puerperal remota não apresentaram co-ativação do

transverso do abdome/oblíquo interno e dos músculos do assoalho pélvico,

independentemente do tipo de parto e do exercício solicitado (PEREIRA, 2010). No entanto, BO et al (2009), a partir de uma revisão sistemática concluíram não

haver evidências suficientes para sustentar a manutenção das sinergias desses músculos

supracitados, especialmente do EAE com o transverso do abdome (TrA), no protocolo

de tratamento das incontinências. Em relação à participação do glúteo máximo (GM) de

forma sinérgica com o EAE e os músculos abdominais, até o fechamento deste trabalho,

foi encontrado apenas o estudo de Shafik et al (2007) abordando o assunto.

Dessa forma, considerando a escassez de estudos e a falta de concordância sobre

a sinergia abdomino-pélvica e suas alterações decorrentes do processo gestacional, fica

clara a necessidade de mais investigações para sua melhor compreensão. Neste sentido,

o presente estudo teve por objetivo verificar se a sinergia abdomino-pélvica é

semelhante em mulheres continentes nuligestas e primíparas, exclusivamente de parto

cesáreo, contribuindo assim, para um maior embasamento clínico e direcionamento das

ações a serem implementadas, como forma de prevenção de disfunções ou distopias que

possam ocorrer quando esses músculos ficam fragilizados na reabilitação dos MAP.

Page 19: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

3

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Considerações Anátomo-fisiológicas do Assoalho Pélvico Feminino

Durante o seu desenvolvimento, o homem, ao assumir a postura bípede, teve sua

pelve submetida a adaptações ao estresse promovido pelos aumentos da pressão intra-

abdominal e pela força da gravidade que passaram a incidir sobre o seu eixo vertical.

Isto resultou em mudança significativa do arco pélvico ósseo, com aumento da

resistência dos ossos ilíacos e púbico. Ocorrendo, concomitantemente, o espessamento

dos ligamentos que servem de suporte à inserção dos músculos mais desenvolvidos

(RODRIGUES, 2001; NAGIB et al, 2005).

A pelve é a parte do tronco infero-posterior ao abdome e área de transição entre

o tronco e os membros inferiores. Ela é envolvida por paredes musculares, ligamentosas

e ósseas. A cavidade pélvica é angulada posteriormente e contínua com a cavidade

abdominal. Essa cavidade contém a bexiga urinária, partes terminais dos ureteres,

órgãos genitais pélvicos, reto, vasos sanguíneos, linfáticos e nervos (MOORE; AGUR,

2002).

A pelve óssea é formada pelo ílio, ísquio, púbis, sacro e cóccix. O limite

superior da cavidade pélvica é dado pelo diafragma torácico, o anterior e lateral, pelas

costelas, pelo músculo transverso do abdome e pela sínfise púbica, o posterior pela

coluna dorso-lombar e pelo cóccix e o limite inferior é dado pelo diafragma pélvico

(MOORE; DALLEY, 2001)

Dentro da bacia pélvica estão inseridos os músculos do assoalho pélvico (MAP)

que formam um verdadeiro diafragma inferior com função de fechamento uretral, anal,

e de sustentação. Nesse diafragma existe um sistema de esfíncteres, entre eles o

esfíncter anal externo (EAE), que se abrem, quando necessário, donde se conclui que

esses músculos devem ter, predominantemente, uma função estática (ASHTON

MILLER; HOWARD; DELANCEY, 2001).

Os MAP fazem parte da cápsula que circunda os músculos abdominais e órgãos

pélvicos, contribuindo para a continência urinária e fecal. Entre as suas principais

funções, destacam-se: a sustentação das vísceras abdominais e pélvicas, na posição

anatômica, o suporte durante a geração de pressão intra-abdominal (PIA), a prevenção

do prolapso dos órgãos pélvicos, apoio contra gravidade e na estabilidade lombo-

pélvica (HODGES et al, 2007; MESSELINK et al 2005). Os MAP têm, ainda, uma

Page 20: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

4

importante função no controle voluntário da micção e na defecação, sendo responsáveis

por manter a continência urinária e fecal.

O Assoalho Pélvico (AP) é definido como o conjunto de estruturas que fornece

suporte as vísceras pélvicas e abdominais, fechando a pelve óssea inferiormente

(MOORE; DALLEY, 2001; MESSELINK et al, 2005). Na mulher, conforme já foi

descrito,tem importante função na micção, evacuação, continência, resposta ao aumento

da pressão intra-abdominal (PIA), estabilização lombo-pélvica e do tronco (HODGES;

RICHARDSON, 1999; HODGES et al, 2001), além de importante papel na função

sexual (SAPSFORD, 2004; SHAFIK, 2003).

O AP é constituído por três camadas musculares (figura 1). A camada superficial

é composta pelos músculos bulboesponjoso, isquiocavernoso, transverso superficial do

períneo e esfíncter anal externo. A intermediária é composta pelo transverso profundo

do períneo, compressor da uretra e esfíncter uretrovaginal. Essas duas camadas

compõem o diafragma urogenital. A camada profunda, conhecida como diafragma

pélvico, é formada pelos músculos levantadores ou elevadores do ânus: pubococcígeo

ou pubovisceral, que compreende o pubovaginal, o puboperineal e o puboanal;

puborretal e ileococcígeo. Além destes, compondo ainda a camada profunda, existe o

isquiococcígeo ou coccígeo (MOORE; AGUR, 2002; CORTON, 2009).

Figura 1. Músculos que compõem o AP, numa vista inferior. (Fonte: Corton, MM

2009).

Os músculos pélvicos são compostos por fibras tônicas (tipo I) e fásicas (tipo II),

com uma maior proporção de tônicas. O tipo de fibra muscular é determinado pela fibra

nervosa responsável por sua inervação. As fibras tipo I, de oxidação lenta, exercem a

Page 21: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

5

atividade muscular sustentada, enquanto que as fásicas, glicolíticas, estão envolvidas em

atividades de disparo rápido. Numa mulher assintomática, os MAP são constituídos

aproximadamente de 33% de fibras rápidas e 67% de fibras tônicas (LAYCOCK, 1994).

Os MAP podem ser considerados como uma unidade músculo-esquelética,

devido à associação anatômica entre estruturas neurais, musculares e fasciais. As fáscias

constituem um sistema passivo de movimento, suporte e dispersão de tensão pelo AP

(SAPSFORD, 2004). Porém, a contração do AP normalmente ocorre em conjunto,

fechando os esfíncteres de forma voluntária ou reflexa (SHAFIK; DOSS; ASAAD

2003).

A função do AP depende do tipo de fibra que é prioritariamente recrutada. Nos

esfíncteres, uretral e anal externos, há o predomínio de fibras tipo II, e então, são mais

ativados durante eventos que aumentem a PIA (LAYCOCK, 2001; VODUSEK, 2004).

O EAE, ainda, contribui na pressão anal de repouso, com percentuais que variam de

20% a 50%. A contração voluntária do AP ocorre pela ação do EAE e do puborretal

(SAPSFORD, 2001, 2004; LIU et al, 2006).

Aumentos repentinos na PIA, via de regra, levam a uma rápida atividade reflexa

dos MAP, tal fato tem sido denominado de "reflexo guardião", e é organizado à nível da

coluna vertebral. Deve-se considerar, no entanto, que "o aumento repentino da PIA”, se

causada por uma manobra intrínseca (tosse, por exemplo) incluem a ativação via

retroalimentação da musculatura do assoalho pélvico como parte de um complexo

padrão de ativação muscular. A ativação observada nos MAP de mulheres continentes,

durante a tosse é, portanto, um composto de retroalimentação positiva e "reflexo" de

ativação muscular (VODUSEK, 2004).

Acredita-se que a tosse e o espirro são gerados por padrão individual dentro do

tronco cerebral, e, assim, a ativação dos MAP é uma co-ativação prévia, e não

primariamente uma reação "reflexa" ao aumento da PIA. Porém, além disso, pode haver

uma resposta reflexa adicional dos MAP em relação ao aumento da pressão abdominal

devido à distensão dos fusos musculares dentro dessa musculatura (VODUSEK, 2004).

Outros autores também afirmaram que o aumento da pressão de fechamento da

uretra e do ânus ocorre imediatamente antes do aumento da PIA. Nos eventos de tossir e

espirrar, o diafragma, os músculos abdominais e os MAP são ativados de forma pré-

programada pelo sistema nervoso central, como pode ser observado na figura 2

(SAPSFORD et al., 2001, SAPSFORD, 2004).

Page 22: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

6

Figura 2. (A) Demonstra esforço inspiratório antes da tosse, envolvendo descida rápida

do diafragma e movimento para fora da parede abdominal. (B) Na tosse, os músculos

abdominais e os MAP contraem-se fortemente, em sinergia, e o diafragma é forçado

para cima (Fonte: Sapsford, R., 2004).

2.2. Sinergia Abdomino-Pélvica

A atividade sinérgica entre os MAP e os abdominais possibilita o

desenvolvimento de uma pressão de fechamento adequada e importante para manter a

continência urinária e fecal. Alguns estudos demonstram que, durante a contração

voluntária dos MAP, ocorre uma co-ativação dos músculos transversos abdominal,

oblíquo interno, oblíquo externo e reto abdominal, ocasionando um aumento da pressão

esfincteriana (SAPSFORD et al, 2001; NEUMANN, GILL, 2002; MADILL;

MCLEAN, 2006). Porém, segundo Neumann e Gill (2002), se a contração fosse apenas

dos MAP, não recrutando os músculos abdominais, ocasionaria uma ativação em menor

proporção dos músculos perineais.

Não parece possível a realização de uma contração máxima dos MAP sem co-

contração dos músculos abdominais (BO et al, 2003), especialmente os músculos

transversos abdominais e oblíquos internos. Esta contração abdominal pode ser

observada como um pequeno movimento em direção interior do abdome inferior

(THOMPSON et al, 2006).

Page 23: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

7

Alguns estudos relataram que a co-ativação ou sinergia entre os abdominais e os

MAP era consistente com o modelo que prevê que os músculos que circundam a

cavidade abdominal, trabalham juntos e de forma coordenada para aumentar a pressão

no abdome e fornecer suporte aos órgãos pélvicos (SAPSFORD et al, 2001., HODGES.,

GANDEVIA, 2000). Essa co-ativação foi observada durante levantamento de peso,

tosse, esforço expiratório forçado e contração isométrica dos abdominais. Há evidência

também, que o diafragma, outro maior componente muscular da cavidade abdominal,

contrai-se em sinergismo com os músculos abdominais durante tarefas que desafiem a

estabilidade postural da coluna (SAPSFORD et al, 2001., HODGES., GANDEVIA,

2000).

Foi observado em um estudo que quando a mulher adota a postura ortostática, os

músculos que fazem parte dos levantadores do ânus (LA), e compõem a camada

profunda dos MAP têm seus feixes posicionados paralelamente e resistem à força

gravitacional, tendo sua atividade aumentada reflexamente em resposta a manobras que

aumentam a PIA (OLSEN; RAO, 2001).

Esse fato também foi analisado por Shafik, Doss e Asaad (2003), após a

realização de um estudo com EMG de agulha nos músculos levantadores do ânus, na

posição ereta, que é a postura mais associada a variações da PIA. Os autores verificaram

que o incremento ou diminuição da atividade elétrica nos músculos LA, estava

relacionado ao aumento ou redução da PIA. Tal resultado demonstrou que a

musculatura do AP responde de forma tônica aos acréscimos da PIA e tem função de

sustentação das vísceras pélvicas, especialmente na posição ortostática.

Estudo realizado por Madill e McLean (2008) sugeriu que as mulheres eram

capazes de executar contrações igualmente fortes nas posturas supina, sentada e de pé,

entretanto as autoras demonstraram que o padrão de ativação dos músculos abdominais

e dos MAP variava de acordo com a posição. Observando, igualmente, que ocorria um

aumento da atividade dos abdominais, e o mesmo estava relacionado com a postura

ortostática, que é descrita na literatura, como a posição em que ocorre o maior número

de episódios de perda urinária em mulheres com incontinência urinária de esforço.

Hodges e Gandevia (2000) demonstraram que a ativação dos MAP é essencial

para manter a continência quando a PIA aumenta devido à contração dos músculos

abdominais, relatando que os MAP contribuem para continência urinária, através do

incremento da pressão de fechamento uretral e da manutenção da posição do colo

vesical, fornecidos pela sua contração. Essa atividade, segundo os autores, e

Page 24: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

8

corroborando com outros estudos previamente citados, devia ser pré-programada pelo

SNC em preparação para o aumento da PIA, e não apenas uma atividade puramente

reflexa.

Gudmundsson et al (2002) ressaltaram que aumentos na PIA afetam de forma

indireta a pressão exercida sobre a bexiga urinária. E este aumento é uma condição

favorável para que ocorra perda involuntária de urina, especialmente em situações onde

as respostas do AP se encontrarem alteradas, como por exemplo, nas mulheres que

apresentam queixa de incontinência urinária de esforço (IUE).

Sapsford et al (2001) relataram que a atividade sinérgica da musculatura

abdominal era uma resposta normal ao exercício do AP em mulheres sem sintomas de

disfunção desse assoalho e acrescentaram que esse fato fornecia, preliminarmente,

evidência que exercícios abdominais específicos, ativavam os MAP. Para demonstração

de tal fato, foram analisados três exercícios abdominais: o primeiro, considerado um

exercício suave, foi contração isométrica. O segundo, realizar atividade abdominal

usando os membros superiores como alavanca, considerado um exercício moderado e o

terceiro, o mesmo exercício com a respiração bloqueada, considerado como vigoroso,

não sendo solicitada em nenhum momento, a contração do AP. Nesse estudo ainda foi

observado que sempre havia recrutamento dos músculos abdominais quando se

realizava uma contração dos MAP. Todas as contrações foram feitas sem nenhum

movimento da coluna lombar, pelves, ou caixa torácica.

Em outro estudo, Sapsford e Hodges (2001) observaram, através de

eletromiografia de superfície (EMGs), a atividade mioelétrica gerada durante uma

contração voluntária máxima do AP, monitorada por palpação vaginal digital do

músculo pubococcígeo, e a gerada por uma contração muscular abdominal máxima

associada à contração do AP. Foi demonstrado que a ativação dos MAP na contração

associada era no mesmo nível que o da sua própria contração voluntária máxima (CVM)

isolada. De forma semelhante, Neumann e Gill (2002), acharam que não era possível

para mulheres continentes contraírem integralmente seus MAP sem também contraírem

os músculos TrA e oblíquo interno (OI). Sugerindo que aconselhar as mulheres a

manterem sua parede abdominal relaxada, quando realizarem exercícios para os MAP,

seria inapropriado e poderia afetar a performance de tais exercícios.

Madill e McLean (2006) mostraram níveis relativos de alta ativação dos

músculos TrA e OI, sugerindo que esses dois músculos apresentam sinergia mais forte

com os MAP do que com os músculos retos abdominais (RA) e oblíquo externo (OE).

Page 25: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

9

Isso também foi confirmado por Thompson et al (2006) que acharam que o OI se

contraía numa proporção elevada, em relação ao seu máximo, durante uma contração

voluntária máxima dos MAP, quando comparado ao RA e OE.

Madill, Harvey e McLean (2010) compararam por meio de EMGs, os padrões de

ativação dos músculos abdominais (RA, OE, OI) e dos MAP usando um sensor vaginal

de pressão, entre mulheres com IUE e continentes, durante esforço de tosse, na postura

supina e ortostática. Para avaliar o esforço de tosse utilizaram, um peak flow. As

voluntárias realizavam três esforços de tosse e tinham que atingir 250 l/min.

Observaram que a resposta sincrônica dos MAP e dos músculos abdominais não foi

notada em mulheres com IUE, o que poderia explicar o porquê das perdas urinárias

durante a tosse, concluindo que os achados apoiavam a teoria que exercício terapêutico

para os MAP atuavam primariamente melhorando os padrões de controle motor e o

treinamento para aprender a contraí-los mais rapidamente.

Vários artigos abordaram sobre o comportamento dos MAP num esforço de

tosse, tanto em mulheres continentes quanto em mulheres incontinentes, sugerindo que

nas incontinentes o padrão de recrutamento sinérgico se processava de forma diferente

em relação à intensidade de ativação dos músculos (AMARENCO et al., 2005,

DEFFIEUX, et al ,2007, 2008, MADILL; HARVEY; MCLEAN., 2009, 2010).

Juntos, esses estudos sugerem que os MAP e os músculos abdominais contraem-

se sinergicamente em mulheres continentes. Ocorrendo, no entanto, padrões variáveis

de co-ativação dos músculos abdominais durante a contração dos MAP. Essas variações

podiam estar relacionadas às diferenças na intensidade das contrações (alterando, por

exemplo, de suave à contração maximal), à forma de instrução fornecida e aos métodos

utilizados para aquisição dos dados, se foi por meio de EMG de agulha ou de superfície.

Baseando-se nisso, Junginger et al (2010) sugeriram que talvez fosse contraproducente

ensinar às mulheres a contrair seus MAP de forma isolada, durante a fisioterapia para

fortalecimento do AP, e que tentativas para normalizar a coordenação existente entre

esses músculos seria um importante passo na reabilitação.

A literatura refere, com freqüência, que as disfunções miccionais estejam

relacionadas com o trauma perineal resultante do parto vaginal mal conduzido,

considerando-se esse tipo de parto como fator de risco, tanto para o desencadeamento da

incontinência urinária quanto para os prolapsos de órgãos pélvicos, embora essas

condições também possam existir em mulheres nuligestas (VAN BRUMMEN et al,

2007; EKSTROM et al, 2008). No entanto, alguns autores (PATEL et al, 2006;

Page 26: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

10

BORGES et al., 2010) acreditam que o parto cesáreo seria um fator protetor contra

danos e disfunções do assoalho pélvico.

Page 27: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

11

3. HIPÓTESES E OBJETIVOS

3.1. HIPÓTESES

o Existe diferença na sinergia dos músculos esfíncter anal externo, obliquo

abdominal externo, oblíquo abdominal interno, transverso abdominal e glúteo

máximo durante a contração voluntária máxima destes músculos em mulheres

continentes nuligestas e primíparas de parto cesariana;

o A gestação produz alterações na atividade eletromiográfica do esfíncter anal

externo;

o Existe diferença na atividade eletromiográfica dos músculos esfíncter anal

externo, obliquo abdominal externo, oblíquo abdominal interno, transverso

abdominal e glúteo máximo em mulheres continentes nuligestas e primíparas;

o Existe diferença na sinergia dos músculos esfíncter anal externo com o oblíquo

interno/transverso do abdome, oblíquo externo e glúteo máximo durante o

esforço de tossir, em mulheres continentes nuligestas e primíparas;

3.2 . OBJETIVOS

3.2.1. Objetivo geral

o Verificar se existe diferença na sinergia entre os músculos esfíncter anal externo,

obliquo abdominal externo, oblíquo abdominal interno, transverso abdominal e

glúteo máximo em mulheres continentes nuligestas e primíparas de parto

cesariana.

3.2.2. Objetivos específicos

Artigo 1

Avaliar e comparar nos grupos de mulheres continentes nuligestas e primíparas de parto

cesariana:

Page 28: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

12

o A sinergia entre o esfíncter anal externo com os músculos oblíquo

interno/transverso do abdome durante a contração voluntária máxima destes

músculos;

o A atividade eletromiográfica dos músculos esfíncter anal externo, oblíquo

interno/transverso do abdome, oblíquo externo e glúteo máximo durante o

repouso nas posições supina e ortostática;

o A atividade eletromiográfica do esfíncter anal externo.

Artigo 2

Avaliar e comparar a sinergia da muscular abdomino- pélvica durante a tosse em

mulheres continentes nuligestas e primíparas de parto cesariana:

o A sinergia entre os músculos esfíncter anal externo, oblíquo abdominal

interno, transverso abdominal, oblíquo abdominal externo e glúteo máximo

durante o esforço de tossir;

o Alterações na atividade eletromiográfica reflexa do esfíncter anal externo.

Page 29: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

13

CAPÍTULO II

SUJEITOS E MÉTODOS

2.1. Tipo de Estudo: Transversal

2.2. Local e período do Estudo

O estudo foi desenvolvido na Clínica Fisiomax LTDA e no Laboratório de

Cinesiologia e Avaliação Funcional da Universidade Federal de Pernambuco, na cidade

do Recife – Pernambuco. A coleta dos dados ocorreu no período de dezembro de 2010 a

abril de 2011.

2.3. População-alvo/Amostra

Este estudo constitui um piloto cuja amostra, seqüencial por conveniência, foi

constituída de 34 mulheres continentes, nuligestas e primíparas, exclusivamente de

parto cesariana, recrutadas em instituições de ensino superior e clínicas-escola da cidade

do Recife/PE, através de avisos em salas de aula, contato telefônico e palestras.

2.4. Critérios de Elegibilidade

2.4.1. Critérios de Inclusão

Foram incluídas mulheres nuligestas e primíparas de parto cesariana, com mais

de 12 meses de pós-parto, na faixa etária de 21 a 40 anos, hígidas, continentes,

menacmes, que apresentassem o índice de massa corporal – IMC entre 18,5 e 27,5

Kg/m2, dobra cutânea abdominal ≤ 30 mm, e sem disfunção do assoalho pélvico.

2.4.2. Critérios de Exclusão

Foram adotados como critérios de exclusão os seguintes parâmetros: diagnóstico

de diabetes, distúrbios neurológicos, constipação intestinal crônica, doenças do tecido

conjuntivo, presença de incontinência urinária ou fecal atual ou pregressa, doença

Page 30: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

14

hemorroidária em fase aguda, fissura anal, prolapso retal, dor lombo-pélvica, alterações

respiratórias.

2.5. Procedimentos para Seleção das participantes

Inicialmente todas as voluntárias foram informadas sobre os objetivos e

procedimentos do estudo. Após lerem, compreenderem e assinarem o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice I) foram avaliadas para averiguar

a adequação aos critérios de elegibilidade.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres

humanos, do Hospital da Restauração sob o protocolo CAAE n.ο 0085.0.102.172-09, de

acordo com a Resolução n.ο 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

2.6. Procedimentos para Coleta de Dados

Num primeiro momento foi feita uma entrevista para caracterização de cada

voluntária, quanto aos dados sociodemográficos. Em seguida, foi realizada avaliação

antropométrica (aferição da massa corporal, da estatura e medida da dobra cutânea

abdominal) e, posteriormente, foi solicitado que respondessem ao Questionário

Internacional de Atividade Física – IPAQ, versão curta. Após essa fase, foi realizado o

estudo da sinergia entre os músculos esfíncter anal externo (EAE), oblíquo

interno/transverso abdominal (OI/TrA), oblíquo externo e glúteo máximo (GM), nas

posições supina, prona e ortostática, através de eletromiografia de superfície (EMGs).

2.6.1. Avaliação antropométrica

A avaliação antropométrica foi composta da aferição e registro dos seguintes

itens:

1. Massa corporal. A massa corporal foi avaliada através de balança eletrônica

(Filizolla, modelo PL 150), com variação de ± 0,5 Kg).

2. Estatura. A medida da estatura foi feita com antropômetro de parede, escala

em centímetros, com variação inferior a 0,5 cm. A voluntária em posição de pé, com os

calcanhares e o dorso colocados contra a parede, com a cabeça no plano de Frankfurt e

realizando uma apnéia inspiratória. Neste momento, o avaliador deslizava o compasso

localizado no vertéx e fazia a leitura na escala. Foi adotada a média de três medidas.

3. Dobra cutânea. A medida da dobra cutânea foi realizada através de um

adipômetro da marca Sanny®, com uma tolerância de medição de ± 0,5 mm. A dobra

Page 31: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

15

cutânea utilizada foi a abdominal, a qual foi tomada verticalmente ao centro da cicatriz

umbilical e do lado direito do corpo. Foram realizadas três medidas e adotada a média

entre elas.

2.6.2. Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ (Versão Curta)

Para avaliar o nível de atividade física foi utilizado o Questionário Internacional

de Atividade Física – IPAQ - Versão Curta, traduzido e validado para a população

brasileira por Pardini et al (2001). Este instrumento consta de quatro perguntas,

subdivididas em dois itens, abordando sobre a realização de atividade física leve

(caminhada), moderada e vigorosa, em relação à frequência e duração da mesma

durante a última semana, classificando a atividade física em quatro categorias: 1) Muito

Ativo: aquele que cumpriu as recomendações de: a) Vigorosa: ≥ 5 dias/sem e ≥ 30

minutos por sessão; b) Vigorosa: ≥ 3 dias/sem e ≥ 20 minutos por sessão +

Moderada e/ou Caminhada: ≥ 5 dias/sem e ≥ 30 minutos por sessão; 2) Ativo: aquele

que cumpriu as recomendações de: a) Vigorosa: ≥ 3 dias/sem e ≥ 20 minutos por

sessão ou; b) Moderada ou Caminhada: ≥ 5 dias/sem e ≥ 30 minutos por sessão ou; c)

Qualquer atividade somada: ≥ 5 dias/sem e ≥ 150 minutos/sem (caminhada +

moderada + vigorosa); 3) Irregularmente Ativo: aquele que realiza atividade física

porém insuficiente para ser classificado como ativo pois não cumpre as

recomendações quanto à freqüência ou duração. Para realizar essa classificação soma-se

a freqüência e a duração dos diferentes tipos de atividades (caminhada + moderada +

vigorosa). Este grupo foi dividido em dois subgrupos de acordo com o cumprimento ou

não de alguns dos critérios de recomendação: Irregularmente Ativo A: aquele que

atinge pelo menos um dos critérios da recomendação quanto à freqüência ou

quanto à duração da atividade: a) Freqüência: 5 dias /semana ou b) Duração: 150 min /

semana e Irregularmente Ativo B: aquele que não atingiu nenhum dos critérios da

recomendação quanto à freqüência nem quanto à duração; 4) Sedentário: aquele que não

realizou nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos durante a

semana (CELAFISCS - Centro coordenador do IPAQ no Brasil –– Informações,

Análise, Classificação e Comparação de Resultados no Brasil).

Para melhor adequação dos dados essa classificação foi dicotomizada em: Ativa

(quando as participantes realizavam ao menos 150 minutos de atividade física semanal

por cinco ou mais dias da semana e; Sedentárias (quando as participantes realizavam

Page 32: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

16

menos de 10 minutos diários de atividade física), conforme Marshall e Baumann

(2001).

2.7. Avaliação da sinergia muscular

2.7.1. Equipamento

Para o estudo da sinergia foi utilizado um eletromiógrafo da marca Miotec®,

modelo 440, de quatro canais, que utiliza o software Miotool® (Porto Alegre, Brasil),

com ganho interno de 1000 vezes, freqüência de amostragem de 2000 Hz, filtro

analógico do tipo Butterworth de quarta ordem, CMRR 110 dB a 60 Hz, impedância de

entrada 1 GΩ, conversor analógico/digital (AD) de 14-bit, com banda de freqüência de

10Hz a 500Hz (figura 3). Os dados foram adquiridos a 2000 Hz e armazenados no

computador.

Figura 3. Eletromiógrafo de quatro canais. (Fonte: Arquivo pessoal)

2.7.2. Preparação da pele e colocação dos eletrodos.

A energia gerada pelos músculos é a fonte do sinal eletromiográfico (EMG) e

esse sinal é, primeiramente, detectado pelos eletrodos de superfície (SODERBERG;

KNUTSON, 2000). No presente estudo, utilizaram-se eletrodos de superfície por não

serem invasivos e não causarem desconforto. Esses eletrodos podem ser do tipo passivo

ou ativo. Se for feito utilização de eletrodos passivos, a pele constitui uma barreira entre

os potenciais de unidades motoras e os eletrodos. Dessa maneira, a impedância da pele,

ou seja, a resistência que ela impõe à passagem da corrente elétrica gerada pelo músculo

deve ser considerada.

Pode haver variação desta impedância em função da umidade, da oleosidade e

densidade da camada córnea da pele (CRAM; KASMAN, 1998). Para diminuir essa

impedância foi realizada a retirada dos pêlos e limpeza com água e sabão na região

Page 33: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

17

perianal e, nos demais músculos, utilizou-se álcool etílico hidratado a 70°

(BASMAJIAN; DELUCA, 1985; CRAM; KASMAN, 1998). No presente estudo, foram

utilizados eletrodos ativos de superfície que possuem um pré-amplificador para os sinais

mioelétricos a fim de que eles sejam amplificados assim que atingem o eletrodo,

minimizando interferências externas (BASMAJIAN; DE LUCA, 1985).

Foram usados eletrodos de superfície prata-cloreto de prata da marca

Meditrace™ 133, com 30 mm de distância centro a centro. No presente estudo, a

captação da atividade eletromiográfica dos músculos oblíquo interno e transverso foi

denominada OI/TrA tomando como base o estudo de Sapsford et al (2001), no qual os

autores afirmaram que quando se avalia o músculo OI, através de EMGs, provavelmente

estejam incluídos registros da atividade eletromiográfica provenientes do músculo TrA,

o qual também apresenta contração sinérgica com os MAP em condições fisiológicas.

A colocação dos eletrodos para registro da atividade do OI/TrA, tomou como

referência a metade da distância entre um ponto localizado dois centímetros acima do

púbis e a espinha ilíaca ântero-superior direita. Outro par de eletrodos foi colocado na

extremidade da oitava costela para registro da atividade do músculo OE. Para registro

da atividade do GM foi colocado outro par de eletrodos a meia distância entre o grande

trocânter do fêmur e a segunda vértebra sacra. Os eletrodos do esfíncter anal externo

foram colocados nas posições 3 e 9 horas do ponteiro do relógio, conforme López et al

(1999). O eletrodo de referência foi fixado sobre a espinha ilíaca ântero-superior direita.

2.7.3. Registro eletromiográfico

A abordagem foi realizada nas seguintes posturas corporais e condições

operacionais:

Inicialmente foi registrada a atividade de repouso, com os membros superiores e

inferiores relaxados e em posição anatômica após dois minutos de repouso em posição

supina. Em seguida, a voluntária adotava a posição de litotomia, que consta da posição

supina, com os membros superiores em extensão e relaxados, cabeça apoiada em um

travesseiro e os joelhos fletidos a 90ο, abdução de 15

ο e flexão do quadril de 35

ο,

solicitava-se, então, que a voluntária realizasse contração voluntária máxima (CVM) de

cada um dos músculos estudados.

Após repouso de dois minutos era solicitado que a voluntária realizasse a CVM

de cada um dos músculos supracitados, seguido de repouso por três segundos, de acordo

Page 34: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

18

com o projeto SENIAM (Surface EMG for a Non-Invasive Assessment of muscle)

(HERMES et al,1999).

Para CVM do EAE era pedido que a voluntária realizasse três contrações, o mais

forte que pudesse como se fosse evitar um flato. Com intervalos de 2 minutos foram

realizadas as demais manobras. A CVM para o OI, constava em fazer uma flexão com

rotação do tronco ipsilateral, para o TrA era solicitado que a voluntária levantasse a

cabeça o suficiente para afastar a cinta escapular da maca, com os membros superiores

fletidos e abduzidos e as mãos palmadas contra a nuca e membros inferiores em flexão

com os pés apoiados na maca, e na fase expiratória, tentar aproximar a sínfise púbica ao

umbigo. Para o OE, a voluntária realizava a flexão do tronco com rotação contra lateral

esquerda, pois o OE avaliado era o direito. Já para o GM a aquisição foi feita no

decúbito prono com os membros inferiores em extensão, durante elevação do membro

inferior direito (o suficiente para retirar o apoio do membro da cama).

Após dois minutos de repouso, solicitava-se uma inspiração e na fase expiratória

demandava-se que a voluntária contraísse o abdome inferior tentando mantendo o

umbigo em direção posterior. Foram realizados três movimentos com sustentação de

três segundos no ponto limite da elevação, retornando em seguida para a posição de

contato com a maca onde foi feito um repouso de três segundos como intervalo entre

cada repetição. Após novo repouso de dois minutos, mantendo o decúbito supino, mas

com os membros inferiores estendidos e em rotação neutra das articulações

coxofemorais, foi solicitado que a voluntária realizasse um esforço agudo de tossir num

peak flow (AIR ZONE®

) atingindo um valor entre 200 e 300 L/min. A manobra foi

realizada três vezes, e registrada. Em seguida, foi repetido o mesmo procedimento

adotando a posição de rotação externa espontânea das articulações coxofemorais, de

modo que os antepés afastem-se entre si. Posteriormente, a voluntária adotava a postura

ortostática com os pés em posição paralela e distância entre os maléolos internos de

aproximadamente dez centímetros e sempre com um descanso de dois minutos entre as

atividades. Registrava-se, inicialmente, o tônus de base nessa postura, e em seguida, era

solicitada nova contração do abdome inferior como supracitado, mantendo uma

distância de 10 cm entre os pés. Depois, solicitava-se o esforço de tosse como já

descrito para o decúbito supino.

Page 35: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

19

2.8. Análise dos registros eletromiográficos

Todos os registros eletromiográficos brutos (raw) foram submetidos à nova

filtragem (passa alta de 20 Hz e Notch de 60 Hz, com a finalidade de eliminar os

artefatos de movimentação dos cabos e da rede elétrica, respectivamente, sendo a Root

Mean Square (RMS), Raiz Média Quadrática na língua portuguesa, calculada utilizando

uma janela de 100 pontos. Os valores RMS pico, expressos em microvolts (µV), foram

usados para medir o nível de atividade muscular, sendo adotado o critério de aumento

de pelo menos dois desvios padrões em relação à atividade de repouso (supino ou

ortostático, conforme o caso) para considerar a variação significante (DEVREESE et

al., 2007).

Considerando a grande variabilidade das amplitudes eletromiográficas existente

entre os indivíduos foi feita a transformação e normalização pelo sistema de “Logaritmo

Neperiano”. Entretanto, como não houve, praticamente, nenhuma alteração, as análises

foram feitas utilizando os dados originais.

2.9. Análise Estatística

Para análise dos resultados, estatística descritiva (média e desvio-padrão) foi

utilizada para caracterizar a amostra e para representar as variáveis numéricas. Teste de

Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar a normalidade das variáveis. Para

comparação de médias entre os grupos utilizou-se o teste t de Student (distribuições

normais) e o teste de Mann-Whitney (distribuições não normais). Na análise intragrupo

foi utilizado o teste t pareado de Student (distribuições normais) e o de Wilcoxon

(distribuições não normais). Para verificar a sinergia entre os músculos estudados foi

usado o Coeficiente de Correlação de Spearman (r) que é baseado na ordenação de duas

variáveis sem qualquer restrição quanto à distribuição de valores. Esse coeficiente varia

de +1 a -1, onde um r = 0 corresponde à ausência de correlação e quanto maior o valor

de r maior a correlação (MILLER; MILLER, 1993). A verificação da existência de

associação foi realizada através do teste exato de Fisher para as variáveis categóricas.

Todas as análises foram realizadas através do programa Statistical Package for

Social Sciences – SPSS versão 13.0 para Windows e o Excel 2003, considerando 95%

de confiança em todos os cálculos.

Page 36: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

20

CAPÍTULO III

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARENCO, G., ISMAEL, SS., LAGAUCHE, D., et al. Cough Anal Reflex: Strict

Relationship Between Intravesical Pressure and pelvic Floor Muscle

Electromyographic Activity During Cough. Urodynamic and Electrophysiological

Study. The Journal of Urology, v. 173, p. 149-152, 2005.

ASHTON MILLER, JA., HOWARD D., DELANCEY, JOL.The Functional Anatomy

of the Female Pelvic Floor and Stress Continence Control System. Scand J Urol

Nephrol Suppl., (207): 1–125, 2001.

AUCHINCLOSS, CC., MCLEAN, L. The reliability of surface EMG recorded from the

pelvic floor muscles. Journal of Neuroscience Methods, v.182, p.85-96, 2009.

BARBOSA AMP, CARVALHO LR, MARTINS AMVC et al. Efeito da via de parto

sobre a força muscular do assoalho pélvico. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27(11):

677-82.

BASMAJIAN JV, DELUCA CJ. Muscles alive: Their function revealed by

electromyography. 5a ed. Baltimore: Willians & Wilkins, 1985.

BO, K., STIEN, R. Needle EMG registration of striated urethral wall and pelvic floor

muscle activity patterns during cough, valsalva, abdominal, hip adductor, and gluteal

muscle contractions in nulliparous healthy females. Neurourology and Urodynamics, v.

13, n. 1, p. 35-41, 1994.

BO, K., SHERBURN, M., ALLEN, T. Transabdominal Ultrasound Measurement of

Pelvic Floor Muscle Activity When Activated Directly or via a Transversus Abdominis

Muscle Contraction. Neurourology and Urodynamics, 22:582-588, 2003.

BO, K., BERGHMANS B., MORKVED, S., et al. Evidence-based Physical Therapy

for the Pelvic Floor. Ed. Elsevier, China; 2007.

BO, K., BRAEKKEN, IH., MAJIDA, M., et al. Constriction of the levator hiatus

during instruction of pelvic floor or transverses abdominis contraction: a 4D

ultrasound study. Int Urogynecol J, 2008.

Page 37: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

21

BO, K., MORKVED, S., FRAWLEY, H. Evidence for Benefit of Transversus

Abdominis Training Alone or in Combination With Pelvic Floor Muscle training

to Treat female Urinary Incontinence: A Systematic review. Neurourology

and Urodynamics, 28:368-373, 2009.

BORGES, JBR; GUARISI T; CAMARGO, ACM; et al. Incontinência urinária após

parto vaginal ou cesáreo. J Einsteisn; 8 (2Pt 1): 192-196, 2010.

BOTELHO, S P. Impacto do Parto na Atividade Eletromiográfica do Assoalho

Pélvico e nos Sintomas do trato Urinário Inferior: estudo prospectivo comparativo.

(Tese de Doutorado), Campinas: São Paulo, 2008.

CAYLET, N., FABBRO-PERAY, P., MARES, P et al. Prevalence and ocurrence of

stress urinary incontinence in elite women athletes. Can J Urol. V. 13,n. 4, p.

3174-3179, 2006.

CELAFISCS-Centro coordenador do IPAQ no Brasil –– Informações, Análise, Classificação

e Comparação de Resultados no Brasil; Home Page: www.celafiscs.com.br.

CHAN, CLH., PONSFORD S., SWASH M. The anal reflex elicited by cough and

sniff: validation of a neglect clinical sign. J Neurol Neurosurg Psychiatry;

75: 1449-1451, 2003.

CRAM JR., KASMAN GS. Instrumentation. In: Cram JR,Kasman GS, Holtz J.

Introduction to surface electromyography. 1a ed. Maryland: Aspen Publishers Inc; p.

43-80, 1998.

CHANCE-LARSEN, K., LITTLEWOOD, C., GARTH, A. Prone hip extension with

lower abdominal hollowing improves the relative timing of gluteus maximus activation

in relation to biceps femoris. Man Ther, 15: 61-65, 2010.

CORTON, MM. Anatomy of the Pelvic Floor Dysfunction. Obstet Gynecol Clin N

Am, 36: 401-419, 2009.

DELANCEY JOL. Structural anatomy of the posterior pelvic compartment as it relates

to rectocele. Am J Obstet Gynecol, 180:815-23, 1999.

Page 38: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

22

DEVREESE, A., STAES, F., WEERDT,WD., et al . Clinical Evaluation of Pelvic Floor

Muscle Function in Continent and Incontinent Women. Neurology and Urodynamics

23:190-197, 2004.

DEVREESE, A., STAES, F.,JANSSENS, L., et al. Incontinent Women have Altered

Pelvic Floor Muscle Contractions Patterns, The Journal of Urology, v. 178, p. 558-

562, 2007.

DEFFIEUX, X., HUBEAUX, K., PORCHER, R., et al. External intercostal muscles

and external anal sphincter electromyographic activity during coughing. Int

Urogynecol J, 19:521-524,2008.

EKSTRÖM ,A; ALTMAN D; WIKLUND I; et al. Planned cesarean section versus

planned vaginal delivery: comparison of lower urinary tract symptoms. Int Urogynecol

J 19:459-65, 2008.

ENCK, P; HINNINGHOFEN, H; MERLETTI, R et al. The external anal sphincter and

the role of surface electromyography. Neurogastroenterol Motil; 17 Suppl. 1, p.60-67,

2005.

ENCK, P; VODUSEK, DB. Electromyography of pelvic floor muscles. Journal of

Electromyography and Kinesiology, n. 16, p. 568-577, 2006.

GUDMUNDSSON FF., VISTE A., GISLASON H., et al. Comparison of different

methods for measuring intra-abdominal pressure. Intensive Care Med. 2002;28

(4):509-14.

HERMES, HJ., FRERIKS,B., MERLETTI R., et al. European Recommendations for

Surface ElectroMyoGraphy : SENIAM 8– Results of the SENIAM project. Roessingh

Research and Development, b.v., 1999.

Disponível em < htt//www.me.uni.jena.de/motorik/pdf/stegeman.pdf. acesso em: 10

nov 2010.

HODGES, PW; RICHARDSON, CA. Altered trunk muscle recruitment in people with

low back pain with upper limb movement at different speeds. Arch Phys Med Rehabil,

80 v. 9, p. 1005-12,1999.

HODGES, PW., GANDEVIA, SC. Changes in intra-abdominal pressure during postural

and respiratory activation of the human diaphragm. J Appl Physiol, 89: 967–976, 2000.

Page 39: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

23

HODGES, PW; SAPSFORD, R; PENGEL, LHM. Postural and Respiratory Functions

of the Pelvic floor Muscles. Neurourology and Urodynamics, v. 26, p. 362-371, 2007.

JUNGINGER, B., BAESSLER, K., SAPSFORD, R., et al. Effect of abdominal and

pelvic floor tasks on muscle activity, abdominal pressure and bladder neck. Int

urogynecol J, 21: 69-77, 2010.

LAYCOCK, J. Female pelvic floor assessment: the Laycock ring of continence. J Natl

Women Health Group Aust Physiother Assoc; p.40-51, 1994.

LAYCOCK, J., JERWOOD, D. Pelvic Floor Muscle Assessment: the perfect scheme.

Physiotherapy, v. 87, n. 12, 2001.

LIU, J., GUADERRAMA, N., NAGER, C W., et al. Functional correlates of anal canal

anatomy: puborectalis muscle and anal canal pressure. American Journal of

Gastroenterology, v. 101, n.5, p. 1092-1097, 2006.

LÓPEZ, A., NILSSON, BY., MELLGREN, A., et al. Electromyography of the External

Anal Sphincter: comparison Between Needle and Surface Electrodes. Dis Colon

Rectum, p. 482-485, 1999.

MADILL SJ, MCLEAN L. Relationship between abdominal and pelvic floor muscle

activation and intravaginal pressure during pelvic floor muscle contractions in healthy

continent women. Neurourology and Urodynamics.2006; 25(7):722-730.

MADILL, SJ; MCLEAN, L. Quantification of abdominal and pelvic floor muscle

synergies in response to voluntary pelvic floor muscle contractions. Journal of

Electromyography and Kinesiology 18: 955–964,2008.

MADILL, SJ; HARVEY, MA; MCLEAN, L. Women with SUI demonstrate motor

control differences during voluntary pelvic floor muscle contractions. Int Urogynecol

J, n. 20, p. 447-459, 2009.

MADILL, SJ; HARVEY, MA; MCLEAN, L. Women with stress urinary incontinence

demonstrate motor control differences during cough. Journal of Electromyography

and Kinesiology, 2010.

MARSHALL A. E BAUMANN A. The internacional physical activity questionnaire

summary report of the reliability and validity studies. Document of IPAQ. Excecutive

Commite, World Health Organization, 2001.

Page 40: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

24

MESSELINK B; BENSON T; Berghmans B; et al. Standardisation of terminology of

pelvic floor muscle function and dysfunction: report from the pelvic floor clinical

assessment group of the international continence society. Neurourol and

Urodynamics, New York.,24(4):374–80, 2005

MOORE K.L.;DALLEY A.F. Anatomia orientada para a clínica. Quarta Edição. Ed.

Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, p. 294-309 e 345-350, 2001.

MOORE K.L.;AGUR A.M.L.Fundamentos de Anatomia Clínica. Segunda edição.

Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,p. 170-173, 2002.

MOREIRA ECH., BRUNETTO AF., CASTANHO MMJ., et al. Estudo da ação

sinérgica dos músculos respiratórios e do assoalho pélvico. Rev Bras Fisioter.

2002;6(2):71-6.

MORIN,M., GRAVEL, D., BOURBONNAIS, D., et al. Application of a new

method in the study of pelvic floor muscle passive properties in continent women.

Journal of Electromyography and Kinesiology, 2010.

NAGIB, ABL; GUIRRO, ECO; PALAURO, VA; et al. Avaliação da sinergia da

musculatura abdomino-pélvica em nuligestas com eletromiografia e biofeedback

perineal. Rev Bras Ginecol Obstet.; 27(4):210-5,2005.

NEUMANN P, GILL V. Pelvic floor and abdominal muscle interaction: EMG activity

and intra-abdominal pressure. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct., 13;125–132,

2002.

OLSEN AL, RAO SS. Clinical neurophysiology and electrodiagnostic testing of the

pelvic floor. Gastroenterol Clin North Am; 30(1):33-54,2001.

NYGAARD, IE., THOMPSON, FL., SVENGALIS SL., et al. Urinary Incontinence

in elite nulliparous athletes. Obstet Gynecol, v. 84, n. 2, p. 183-187, 1994.

PARDINI, R. et al. Validação do questionário internacional de nível de atividade física

(IPAQ - versão 6): estudo piloto em adultos jovens brasileiros. Rev. Bras. Ciên. E

Mov. v. 9, n. 3, p. 45-51, 2001.

Page 41: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

25

PATEL DA, XU X, THOMASON AD, et al. Childbirth and pelvic floor dysfunction:

An epidemiologic approach to the assessment of prevention opportunities at delivery.

Am J Obstet Gynecol. 2006 ; 195(1): 23–28.

PEREIRA, LC. Impacto da gestação e do parto na sinergia entre os músculos

transverso do abdome/oblíquo interno e o assoalho pélvico: avaliação

eletromiográfica. (Tese de Mestrado), Campinas: São Paulo, 2010.

PESCHERS, UM., VODUSEK, DB., FANGER, G., et al. Pelvic Muscle Activity in

Nulliparous Volunteers. Neurourology and Urodynamics, 20:269-275, 2001.

PULLMAN, SL., GOODIN, DS., MARQUINEZ, AI., et al. Clinical Utility of surface

EMG. Neurology, 55:171-177, 2000.

RODRIGUES, P. Fisiologia do Assoalho Pélvico. In Irineu Rubinstein: Incontinência

Urinária na Mulher. Ed. Atheneu, v.1, p. 23-33, 2001.

SAPSFORD, R.,HODGES, P. Contraction of the pelvic floor muscles during abdominal

maneuvers. Arch Phys Med Rehabil, 82:1081-1088, 2001.

SAPSFORD, R., HODGES, PW., RICHARDSON, CA., et al. Co-activation of the

Abdominal and Pelvic Floor Muscles during Voluntary Exercises. Neurourology and

Urodynamics, 20:31-42, 2001.

SAPSFORD, R. Rehabilitation of pelvic floor muscles utilizing trunk stabilization. Man

Ther, n. 9, p 3-12, 2004.

SAPSFORD, R., RICHARDSON, CA., STANTON, WR. Sitting Posture affects pelvic

floor muscle activity in parous women: An observacional study. Australian Journal of

Physiotherapy, v. 52, p. 219-222, 2006.

SAPSFORD, R., RICHARDSON, CA., MAHER CF., et al. Pelvic Floor Muscle

Activity in Different Sitting Postures in Continent and Incontinent Women. Arch Phys

Med Rehabil, 89:1741-7, 2008.

SHAFIK, A; DOSS, S; ASAAD, S. Etiology of the resting myoelectric activity of the

levator ani muscle: physioanatomic study with a new theory. World J Surg; 27

(3):309-14, 2003.

Page 42: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

26

SHAFIK, A; SIBAI, OE; SHAFIK, AA. et al. Contraction of Gluteal Maximus

Muscle on Increase of Intra-Abdominal Pressure: Role in the Fecal Continence

Mechanism. Surgical Innovation, v.14, n. 4, p. 270-274, 2007.

SMITH, MD., COPPIETERS, M W., HODGES, PW. Postural Response of the Pelvic

Floor and Abdominal Muscles in Women With and Without Incontinence.

Neurourology and Urodynamics, 26:377-385, 2007.

SODERBERG GL,KNUTSON LM. A guide for use and interpretation of kinesiologic

electromyographic data. Phys Ther, v. 80, n. 5, p. 85-498, 2000.

SULTAN, AH;. KAMM, MA; HUDSON, CN; et al. Anal-Sphincter Disruption during

Vaginal Delivery. N Engl J Med. 329:1905-1911, 1993.

THAKAR, R., STANTON, SL.Weakness of the pelvic floor: urological consequences.

Hospital Medicine; 61(4):259-66, 2000.

THOMPSON, J A., O’SULLIVAN, PB., BRIFFA, N K. Altered Muscle Activation

Patterns in Symptomatic Women During Pelvic Floor Muscle Contraction and Valsalva

Manouevre. Neurourology and Urodynamics, 25: 268-276, 2006.

URQUHART, DM., HODGES, PW., ALLEN, TJ., et al. Abdominal muscle

recruitment during a range of voluntary exercises. Man Ther, n. 10, p. 144-153, 2005.

VAN BRUMMEN, HJ; BRUINSE, HW; VAN DE POL, G et al. The effect of vaginal

and cesarean delivery on lower urinary tract symptoms: what makes the difference? Int.

Urogynecol J, 18:133-9, 2007.

VASANTH A; SULTAN AH; TAKAR R; et al. Occult anal sphincter injuries – myth

or reality? BJOG ; 113:195-200, 2006.

VODUSEK, DB. Anatomy and Neurocontrol of the Pelvic Floor. Digestion, 69:87–92,

2004.

WHO - World Health Organization. “Preventing and managing the global epidemic of

obesity”.Report of the World Health Organization Consultation of Obesity. Geneva,

1997.

Page 43: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

27

CAPÍTULO IV

ARTIGOS CIENTÍFICOS

4.1 Artigo Original 1

SINERGIA DO MÚSCULO ESFÍNCTER ANAL EXTERNO COM OS

MÚSCULOS ABDOMINAIS E GLÚTEO MÁXIMO EM MULHERES

CONTINENTES NULIGESTAS E PRIMÍPARAS

Este artigo foi submetido à Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil.

Page 44: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

28

SINERGIA DO MÚSCULO ESFÍNCTER ANAL EXTERNO COM OS

MÚSCULOS ABDOMINAIS E GLÚTEO MÁXIMO EM MULHERES

CONTINENTES NULIGESTAS E PRIMÍPARAS

Synergy among external anal sphincter and abdominal and gluteus maximum

muscles in nulligravidae and primiparous continent women

Silvana Mª de Macêdo Uchôa1; Alberto Galvão de Moura Filho

2; Glória Elizabeth

Carneiro Laurentino3

1 Mestranda/Departamento de Fisioterapia/Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia/

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife (PE)

2 Professor Associado/Departamento de Fisioterapia/Universidade Federal de

Pernambuco – UFPE – Recife (PE)

3 Professora Adjunto/Departamento de Fisioterapia/Universidade Federal de

Pernambuco – UFPE – Recife (PE)

Endereço para correspondência:

Profº. Alberto Galvão de Moura Filho.

Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco

Avenida Jornalista Aníbal Fernandes s/n – Cidade Universitária

CEP 50740-560 Recife - PE

Fones: 21268811; 88921948

Declaramos não haver nenhum conflito de interesse

Page 45: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

29

RESUMO

Objetivos: Avaliar a sinergia do esfíncter anal externo (EAE) com os músculos

transverso abdominal/oblíquo interno (OI/TrA), oblíquo externo (OE) e glúteo máximo

(GM) em mulheres continentes nuligestas e primíparas, exclusivamente de parto

cesáreo, durante contração voluntária máxima (CVM) destes músculos. Métodos: Este

estudo de caráter transversal constitui um piloto cuja amostra, seqüencial por

conveniência, foi composta por 34 mulheres, com idades entre 21 e 40 anos e separadas

em dois grupos. Foi feito registro da atividade mioelétrica nas posturas supina e

ortostática, durante o repouso e atividade umbigo costa. Em litotomia foram feitas as

CVM dos músculos supracitados, exceto para o GM. Realizou-se comparação entre os

grupos através dos testes t de Student, para distribuição normal, e dos testes de Mann-

Whitney e Wilcoxon para as não normais. A associação entre as variáveis foi calculada

através do coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: Houve diferença

estatística, nas nuligestas, quando analisado o tônus basal intragrupo, nas posturas

supina e ortostática, em todos os músculos (p< 0, 001) exceto no GM. Na CVM do GM

a sinergia do EAE com o GM, mostrou-se expressiva nas nuligestas e teve significância

estatística (EAE p= 0,009 e GM p= 0,006). Conclusões: Os resultados do estudo

mostram sinergia entre os músculos EAE, abdominais e glúteo máximo, sendo essa

sinergia mais expressiva em mulheres nuligestas quando comparadas às primíparas.

Palavras-chave: Assoalho pélvico, eletromiografia; gestação, mulheres continentes.

Page 46: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

30

ABSTRACT

Aims: To evaluate the synergy of external anal sphincter (EAS), abdominals, and

gluteal maximum (GM) muscles in continent women nulliparous and primiparous, by

cesarean delivery, during Maximal Voluntary Contraction (MVC) of these muscles.

Methods: Cross seccional study. The sample composed by 34 continents women,

separated in two groups. For data acquisition, it was used an eletromyograph Miotec ®

of four channels. The myoelectric activity was collected and registered in resting and

umbilicus towards the back positionsin supine and orthostatic positions. But maximum

voluntary contraction (MVC) of all muscles was done just in lithotomy, supine position,

except for GM, it was in prone. The comparison between groups was carried out

through Student’s t test for normal distribution, and Mann-Whitney and Wilcoxon tests

for not normal. The association between the variables was calculated through

Spearman’s correlation coefficient. Results: There were statistically significant

difference intragroup when analyzed basal tone of the nulliparous women in supine and

standing postures in all muscles, except GM. In relation to the synergistic activity of

EAS between GM muscles, during MVC of the GM, this was more significant in

nulliparous and statistically significant (EAE p=0,009 e GM p=0,006). Conclusion: The

results of the present study suggest that exists synergy among the muscles EAE, the

abdominal and the gluteus maximum, the synergy being most expressive in nulliparous

women, when compared to primiparous.

Key-Words: Pelvic floor, electromyography; pregnancy, continent women.

Page 47: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

31

INTRODUÇÃO

As disfunções do assoalho pélvico (DAP) afetam um grande número de

mulheres e podem causar incontinência urinária, fecal, prolapso genital, disfunções

sexuais e evacuatórias1.

Os músculos do assoalho pélvico (MAP) têm importância na resposta da pressão

intra-abdominal (PIA), na estabilização lombo-pélvica e do tronco 2, sendo responsáveis

pela suspensão e suporte das vísceras pélvicas e abdominais, fechando a pelve óssea

inferiormente 3

.

De modo geral, o músculo esfíncter anal externo (EAE) encontra-se afetado em

mulheres com incontinência, estando frequentemente associado ao parto normal e a

episiotomia 4. Por esta razão, alguns autores referem que o parto cesariana poderia

reduzir o risco para as DAP 5,6

. Entretanto, ainda não existem evidências suficientes que

sustentem a adoção do parto cesariana como fator protetor (Lal, 2003)

Os estudos que tratam da reabilitação do assoalho pélvico (AP) mostram que

ainda não existe consenso com relação a um protocolo padrão para o tratamento de suas

disfunções. Alguns autores 7,8

preconizam um treinamento isolado da musculatura

desse assoalho, evitando as sinergias abdominais; enquanto outros, preconizam o seu

uso2,9-13

. No entanto, quanto à participação do músculo glúteo máximo (GM) no

sinergismo com os músculos do AP e abdominais, a mesma é considerada inapropriada

2,7-9,11,14-16.

Em estudo eletromiográfico (EMG) com mulheres nuligestas e primíparas,

Pereira19

observou que ocorrem alterações durante o processo gestacional na sinergia

entre os músculos obliquo abdominal interno e transverso abdominal (OI/TrA) e os

MAP, mostrando que a partir da vigésima quarta semana, a sinergia entre esses

músculos vai progressivamente sendo perdida. Outro estudo eletromiográfico 20

,

Page 48: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

32

realizado após quarenta e cinco dias do parto, verificou que o parto vaginal comparado

com o parto cesariana eletiva estava associado à diminuição da contratilidade muscular

do assoalho pélvico.

A maioria dos estudos sobre a musculatura do AP compararam mulheres

continentes com portadoras de incontinência urinária8,12,13,21

, sendo poucos os que

estudaram mulheres continentes entre si 7,9, 10

. Além disso, os princípios de co-ativação

muscular ou sinergia ainda não estão totalmente esclarecidos necessitando mais estudos

que possibilitem melhor compreensão para utilização na prática clínica durante a

reabilitação dos MAP 9,10

. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo avaliar a

sinergia entre os músculos esfíncter anal externo, músculos abdominais (transverso

abdominal/oblíquo interno, oblíquo externo) e glúteo máximo, em mulheres continentes

nuligestas e primíparas, exclusivamente de parto cesariana eletiva.

MÉTODOS

Este estudo de caráter transversal constitui um piloto cuja amostra, seqüencial

por conveniência, foi composta por 34 mulheres recrutadas através de avisos em

instituições de ensino superior e distribuídas em dois grupos. Os critérios de inclusão

foram ter idade entre 21 e 40 anos, serem hígidas, continentes, menacmes, com índice

de massa corporal (IMC) entre 18,5 e 27,5 Kg/m2, dobra cutânea abdominal ≤ 30 mm, e,

no caso das primíparas, com mais de doze meses do parto cesariana. Os critérios de

exclusão foram: constipação intestinal crônica, diabetes, doenças do tecido conjuntivo,

distúrbios neurológicos, história de escape involuntário de urina, flatos ou fezes, fissura

anal e hemorróidas ativas.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do

Hospital da Restauração sob o número de protocolo CAAE n.ο

0085.0.102.172-09.

Page 49: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

33

Todas as voluntárias foram informadas sobre os objetivos e procedimentos do estudo e

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Avaliação antropométrica: A massa corporal foi avaliada através de balança

eletrônica (Filizolla, modelo PL 150, variação de ± 0,5 Kg). A medida da estatura foi

feita com antropômetro de parede (variação inferior a 0,5 cm) em posição ortostática,

durante uma apnéia inspiratória, sendo adotada a média de três medidas. A dobra

cutânea abdominal (DCabd), vertical, foi aferida quatro centímetros a direita da cicatriz

umbilical por adipômetro (Sanny, com pressão de 10 Kg.mm2).

Avaliação da sinergia: Foi utilizado um eletromiógrafo da marca Miotec®,

modelo 440, de quatro canais, software miotool® (Porto Alegre, Brasil), com ganho

interno de 1000 vezes, freqüência de amostragem de 2000 Hz, filtro analógico do tipo

Butterworth de quarta ordem, CMRR 110 dB a 60 Hz, impedância de entrada 1 GΩ,

conversor analógico/digital (AD) de 14-bit, com banda de freqüência de 10Hz a 500Hz.

Foram usados eletrodos de superfície, autocolantes, pré-gelificados e

descartáveis, prata-cloreto de prata (Meditrace™ 133). Para diminuir a impedância da

pele foi realizada a retirada dos pêlos e limpeza com água e sabão na região perianal e,

nos demais músculos, utilizou-se álcool etílico hidratado a 70°. Na região perianal

foram colocados dois eletrodos, um em cada lado, nas posições 3 e 9 horas do relógio,

para aquisição da atividade do EAE17

. Os demais eletrodos foram posicionados no lado

direito do corpo, com distancia centro a centro de 30 mm, da seguinte forma: a) um par

de eletrodos localizados a meia distância entre a sínfise púbica e a espinha ilíaca ântero-

superior sobre os músculos OI/TrA17

; b) outro par na extremidade da oitava costela24

sobre o músculo OE e; c) um último par, situado a meia distância entre o grande

trocânter do fêmur e a segunda vértebra sacra22

, sobre o GM. O eletrodo de referência

foi fixado sobre a espinha ilíaca ântero-superior direita22

. No presente estudo, a captação

Page 50: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

34

da atividade eletromiográfica dos músculos oblíquo interno e transverso foi denominada

OI/TrA tomando como base o estudo de Sapsford et al 14

, no qual os autores afirmaram

que quando se avalia o músculo OI, através de EMG, provavelmente estejam incluídos

registros da atividade eletromiográfica provenientes do músculo TrA, o qual também

apresenta contração sinérgica com os MAP em condições fisiológicas.

Os eletrodos na região perianal fizeram aquisição primariamente do EAE, e das

fibras distais dos músculos levantadores do ânus 21

, e foram escolhidos por captarem um

maior número de potenciais de unidades motoras permitindo uma melhor análise da

atividade muscular 21

.

A aquisição dos sinais eletromiográficos foi feita nas posturas supina, prono e,

ortostática, após o ciclo menstrual (8 a 10 dias) para minimizar o viés hormonal.

Inicialmente foi registrada a atividade de repouso, com os membros superiores e

inferiores relaxados e em posição anatômica após dois minutos de repouso em supino.

Em seguida, em posição supina, com os membros superiores em extensão e

relaxados, cabeça apoiada em um travesseiro e os joelhos fletidos a 90ο, abdução de 15

ο

e flexão do quadril de 35ο (posição de litotomia), solicitava-se que a voluntária

realizasse contração voluntária máxima (CVM) de cada um dos músculos estudados.

Essa CVM constava de três contrações sustentadas por cinco segundos, seguidas por um

repouso de três segundos, de acordo com o projeto SENIAM (Surface EMG for a Non-

Invasive Assessment of muscle)23

.

Para CVM do EAE era pedido que a voluntária realizasse a contração mais forte

que pudesse como se fosse evitar um flato. Com intervalos de 2 minutos foram

realizadas as demais manobras. A CVM para o OI constava em fazer uma flexão com

rotação ipsilateral (direita) do tronco. Para CVM do TrA era solicitado fazer uma flexão

neutra do tronco, o suficiente para retirar a cabeça da maca e, em fase expiratória,

Page 51: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

35

contrair o abdome inferior tentando deslocar o umbigo em direção posterior. Para a

CVM do OE a voluntária realizava a flexão do tronco com rotação contralateral. Para a

CVM do GM a aquisição era feita no decúbito prono com os membros inferiores em

extensão e durante discreta elevação do membro inferior direito, apenas o suficiente

para retirar o contato do membro com a maca. Para a manobra umbigo costa, solicitava-

se uma inspiração e na fase expiratória solicitava-se contração do abdome inferior

tentando deslocar o umbigo em direção posterior. Foram realizados três movimentos

com sustentação de três segundos respeitando-se três segundos de intervalo entre cada

repetição. Depois, a voluntária adotava a postura ortostática e após dois minutos

registrava-se o tônus de base nessa postura e em seguida era solicitada nova contração

do abdome inferior como supracitado, mantendo uma distância de 10 cm entre os pés.

Processamento dos sinais eletromiográficos: Todos os registros

eletromiográficos foram submetidos à nova filtragem (passa alta de 20 Hz e notch de 60

Hz) sendo a Root Mean Square (RMS) calculada utilizando uma janela de 100 pontos.

Os valores RMS pico, expressos em microvolts (µV), foram usados para medir o nível

de atividade muscular, sendo adotado o critério de aumento de pelo menos dois desvios

padrões em relação à atividade de repouso (supino ou ortostático, conforme o caso) para

considerar a variação significante.

Análise estatística: Estatística descritiva (média e desvio-padrão) foi utilizada

pata caracterizar a amostra e para as variáveis quantitativas. Teste de Kolmogorov-

Smirnov foi utilizado para verificar a normalidade dos dados. Considerando a grande

variabilidade das amplitudes eletromiográficas existente entre os indivíduos foi feita a

transformação e normalização pelo sistema de “Logaritmo Neperiano”. Entretanto,

como não houve, praticamente, nenhuma alteração, as análises foram feitas utilizando

os dados originais. Para comparação das médias entre os grupos utilizou-se o teste t de

Page 52: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

36

Student (distribuições normais) e o teste de Mann-Whitney (distribuições não normais).

Na análise intragrupo foi utilizado o teste t pareado de Student (distribuições normais) e

o de Wilcoxon (distribuições não normais). Para verificar a sinergia entre os vários

músculos estudados foi utilizado o Coeficiente de Correlação de Spearman (r). Todos

os testes foram aplicados considerando 95% de confiança utilizando-se os programas

Statistical Package for the Social Sciences – SPSS versão 13.0 para Windows e o Excel

2003.

RESULTADOS

Inicialmente foram recrutadas 38 voluntárias, das quais três foram excluídas

(duas por apresentaram o IMC inadequado e uma apresentou a dobra cutânea abdominal

30mm). Das 35 voluntárias potencialmente elegíveis, uma não conseguiu realizar as

manobras solicitadas. Assim, a amostra final foi constituída por 34 mulheres

distribuídas em dois grupos: a) nuligestas, n=17 e b) primíparas, n=17.

A tabela 1 mostra que os grupos não apresentaram diferenças em relação às

variáveis antropométricas.

Tabela 1.

A atividade EMGRMS em repouso supino e em repouso ortostático foi estudada

através de análise intra e intergrupos. A análise intra-grupo mostrou que a mudança de

postura corporal acarreta diferença na atividade elétrica, com aumento na posição

ortostática, nos músculos EAE, OI/TrA e OE, nas nuligestas. Nas primíparas o mesmo

efeito foi observado no EAE e OE. Não foi observada diferença no GM nos dois grupos.

A análise intergrupos não apresentou diferenças significativas (Tabela 2)

Page 53: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

37

Tabela 2.

Das cinco manobras de CVM utilizadas neste estudo, apenas se observou

diferença entre as médias dos músculos EAE e GM durante a contração voluntária do

glúteo máximo, com o grupo de nuligestas apresentando maiores valores de atividade

RMS EMG, conforme mostrado na tabela 3.

Tabela 3

As figuras 1 e 2 mostram a sinergia existente entre os músculos, em cada atividade

estudada.

Figura 1.

Figura 2.

A Correlação de Spearman evidenciou a existência de associação entre a atividade

EMGRMS dos músculos OI/TrA e OE, em nuligestas e primíparas, mostrando,

respectivamente, os seguintes valores durante a CVM do EAE (r= 0,512; r= 0,545;

p≤0,05), na CVM do TrA (r= 0,674; r= 0.799; p≤0,05) e na CVM do OE (r = 0,799; r =

0.618; p≤0,05). Correlação entre OI/TrA e OE também foi encontrada na manobra umbigo

costa supino nas primíparas (r = 0,629; p≤0,05).

Durante sua CVM, o músculo GM mostrou correlação com o músculo EAE tanto

nas nuligestas, quanto nas primíparas (r = 0,711; r =0,758; p≤0,05), respectivamente. Nas

nuligestas esta correlação também foi observada no repouso ortostático (r = 0,629) e, nas

primíparas durante a manobra umbigo costa na postura ortostática (r = 0,766; p≤0,05).

Page 54: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

38

Associação entre EAE e OE foi observada na CVM do OI nas nuligestas ( =

0,667; p≤0,05). Nas primíparas, esta associação foi encontrada na CVM do TrA ( =

0,502; p≤0,05) e durante a manobra umbigo costa supino ( = 0,544; p≤0,05).

DISCUSSÃO

Durante a elaboração deste trabalho verificou-se que a maioria das investigações

sobre a sinergia abdomino-pélvica comparou mulheres continentes com incontinentes,

não sendo identificado nenhum estudo comparando mulheres continentes nuligestas

com primíparas exclusivamente de parto cesariana. Neste sentido, os resultados aqui

apresentados mostram uma situação ainda não descrita na literatura.

No presente estudo, observou-se que o grupo de nuligestas e primíparas

apresentou sinergia do EAE com os músculos abdominais avaliados. De maneira

similar, Bo e Stien 24

, estudando eletromiograficamente mulheres nuligestas saudáveis

também demonstraram que a contração da musculatura abdominal ocorria

sinergicamente à contração do MAP. Neste trabalho também foi observada participação

sinérgica do GM na maioria das manobras utilizadas. Outra constatação, aqui

evidenciada, foi a participação sinérgica do músculo GM na maioria das manobras

utilizadas. Embora pouco descrita, essa sinergia também foi evidenciada por Shafik et

al25

utilizando eletromiografia de agulha nos músculos GM, EAE e abdominais.

Até recentemente a co-ativação de qualquer outro grupo muscular durante a

contração dos MAP era considerada inapropriada26

. Entretanto, alguns autores2,14

identificaram um aumento da atividade EMG nos músculos abdominais durante a

contração dos MAP, sem que fosse observado movimento abdominal visível. Outros

estudos7, 9-14,18

confirmaram esses achados, demonstrando que durante a realização de

exercícios abdominais, ocorria co-ativação simultânea dos MAP.

Page 55: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

39

No entanto, Bo et al,7 embora concordem com a existência da sinergia entre os

músculos abdominais e o AP, ao realizarem uma revisão sistemática em 20098

, acerca

dos benefícios do treinamento utilizando exclusivamente o TrA ou fazendo o

treinamento do AP associado a este músculo em mulheres incontinentes, relataram não

haver evidências científicas suficientes para que esse treinamento do TrA fosse usado de

forma indireta para o tratamento da incontinência urinária e acrescentaram que se faz

necessário mais pesquisas a fim de se ter um consenso sobre esse fato.

Durante todas as manobras de CVM observou-se, principalmente no grupo de

nuligestas, que os músculos OE e OI/TrA apresentaram maiores amplitudes

eletromiográficas, em concordância com os achados de Madill et al,12

e Neumann e

Gill9. O fato de as primíparas terem apresentado menores amplitudes eletromiográficas

do que as nuligestas podem sugerir a presença de alteração na estática lombo-pélvica

em mulheres que já passaram por um processo de gestação podendo ser um fator de

risco para o desenvolvimento de outras disfunções do assoalho pélvico 27,28

. Mesmo

que, do ponto de vista estatístico, este achado não tenha sido significativo, certamente

tem importância para a prática clínica, pois demonstra a necessidade de um trabalho

preventivo.

A correlação observada entre os músculos OE e OI/TrA, nos dois grupos, durante

as manobras de CVM para o EAE, para o TrA e para o OE, traduz uma situação também

encontrada em vários estudos9-13,19

que observaram a existência de um comportamento

sinérgico entre esses músculos, com alguns estudos mostrando que os músculos

abdominais inferiores podem ficar mais fracos devido ao processo gestacional e não

recuperarem totalmente seu tônus posteriormente, devido, provavelmente, ao estiramento

da fáscia endopélvica, do arco tendíneo da fáscia pélvica, dos ligamentos e das alterações

nas fibras colágenas19,20,28

.

Page 56: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

40

Durante a CVM do GM, observou-se elevação da atividade eletromiográfica

concomitante em todos os músculos estudados, caracterizando a existência de sinergia

entre eles. Considerando que os músculos OI/TrA e EAE fazem parte da cadeia

muscular da estática lombo-pélvica 2,15

, pode-se supor, que seu recrutamento tenha

ocorrido como forma de manter a estabilização do tronco durante a elevação do membro

inferior. Foi também constatado, ao se comparar os grupos, que a atividade

eletromiográfica do EAE e do GM mostrou diferença significativa, com as nuligestas

apresentando valores mais elevados. Considerando o tempo de contração de cinco

segundos, utilizado durante a manobra de CVM, os valores mais baixos apresentados

pelas primíparas podem significar uma diminuição do nível de recrutamento de

unidades motoras, provavelmente, em adaptação ao processo gestacional.

No único trabalho encontrado abordando a relação entre os músculos

abdominais, EAE e o GM foi realizado por Shafik et al25

. Neste estudo os autores

mostraram que durante a contração dos músculos abdominais, os níveis de PIA e de

atividade eletromiográfica do EAE e GM aumentavam de acordo com a intensidade do

esforço. Este achado sugere a existência de um reflexo, por eles denominado de

“Reflexo Glúteo ao Esforço”, sendo especulado que a extensão e rotação externa do

quadril, induzida pela contração voluntária do glúteo máximo, poderia auxiliar o

fechamento anal.

Em relação à atividade eletromiográfica basal, observou-se, em ambos os

grupos, valores mais elevados durante o repouso ortostático quando comparado ao

repouso supino. Este achado confirma que nessa postura a ação da gravidade e a

necessidade de suporte do peso das vísceras da cavidade pélvica requerem um maior

recrutamento de unidades motoras com aumento dos potenciais eletromiográficos.

Page 57: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

41

Tal constatação é comprovada por vários estudos eletromiográficos 2,10,11,14,18,19

,

mostrando que a atividade dos músculos levantadores do ânus (LA), EAE e abdominais

também está relacionada ao suporte visceral e ao aumento da pressão intra-abdominal

(PIA) e têm relação proporcional. Esse fato parece sugerir que o aumento do peso,

ocorrido durante a fase gestacional, pode acarretar tanto um aumento da PIA por um

período longo (em torno de 40 semanas), como também, uma sobrecarga visceral sobre

os músculos LA e EAE, que poderia afetar a integridade e função dessa musculatura

causando, posteriormente, diminuição na sua força 28,30

.

De acordo com Patel29

, na gestação a parede abdominal se torna flácida devido

ao estiramento e ao afastamento do músculo reto abdominal, evidenciado pela diástase

desses músculos. A recuperação da tonicidade da musculatura da parede abdominal

ocorre de forma lenta e, às vezes, imperfeitamente. Segundo Barbosa et al.28

, isto deve

ocorrer também com a musculatura do AP, o que poderia justificar essa menor atividade

voluntária demonstrada pelas primíparas, no presente estudo, em todas as CVM

realizadas.

A correlação do OE com o EAE e OI/TrA encontrada nas primíparas, durante a

manobra umbigo costa, na postura supina, sugere que durante a gestação ocorre o

recrutamento desses músculos de maneira sinérgica. Nesta mesma manobra, em posição

ortostática, observou-se uma forte sinergia entre o GM e o EAE somente nas primíparas,

reforçando o pensamento de estabilização pélvica por meio dos MAP2.

A avaliação com eletromiografia de superfície, apesar de suas limitações

relacionadas ao cross-talk, artefatos, e os cuidados com limpeza da pele, é sem dúvida um

recurso que permite fazer uma abordagem mais objetiva e reprodutível dos músculos

examinados22

, especialmente no que se refere à co-ativação muscular9. Deffieux et al,

21,

afirmaram que a eletromiografia com eletrodos de superfície pode obter medidas

Page 58: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

42

quantitativas de toda a atividade muscular do assoalho pélvico, pois estes eletrodos podem

registrar um volume de sinais mioelétricos mais elevado do que o eletrodo de agulha, o

qual avaliaria apenas um pequeno número de fibras musculares.

CONCLUSÕES

Os resultados do presente estudo confirmam a existência de sinergia na atividade

eletromiográfica dos músculos abdominais e do EAE durante as manobras utilizadas

neste estudo. O músculo GM também participou desta sinergia, embora apresentando

nível de atividade eletromiográfica mais discreta.

Durante a manobra de contração voluntária máxima do GM, evidenciou-se

importante co-ativação do EAE. O fato desta contração do GM ter sido invariavelmente

acompanhada da contração sinérgica do EAE em todas as mulheres avaliadas pode

indicar sua participação na dinâmica pélvica. Este achado tem importância clínica, pois

reforça a idéia de utilizar a sinergia muscular nos programas de prevenção e

recuperação da musculatura do assoalho pélvico.

Sem pretender esgotar o assunto, nem, tão pouco, considerar esses resultados

conclusivos, os achados aqui encontrados, fornecem informações importantes sobre o

processo de sinergia abomino-pélvica, ao possibilitar a identificação de algumas

situações que vão implicar diretamente na prática clínica. A existência de sinergia do

músculo EAE com os músculos abdominais, bem como, a participação sinérgica do

músculo GM na maioria das manobras utilizadas, além de contribuir para uma melhor

compreensão dessa sinergia, fornece subsídios para um reordenamento dos protocolos e

condutas terapêuticas dos profissionais que trabalham com reabilitação do assoalho

pélvico.

Page 59: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

43

Ressalta-se, entretanto, que por se tratar de um estudo piloto de corte transversal,

sugere-se a realização de mais estudos, preferencialmente longitudinais, envolvendo um

número maior de mulheres que possam ser acompanhadas durante um período maior de

tempo para um melhor conhecimento dessa sinergia.

Page 60: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

44

Referências

1. Sung, VW; Hampton,BS. Epidemiology of Pelvic Floor Dysfunction. Obstetrics and

Gynecology Clinics of North America. 2009; 36: 3421-443.

2. Sapsford, R. Rehabilitation of pelvic floor muscles utilizing trunk stabilization. Man

Ther. 2004; 9: 3-12.

3. Messelink B, Benson T, Berghmans B, Bo K, Corcos J, Fowler C, Laycock J, Lim

PH, Van-lausen R, Nijeholt GL, Pemberton J, Wang A, Watier A, Van-kerrebroeck P.

Standardisation of terminology of pelvic floor muscle function and dysfunction: report

from the pelvic floor clinical assessment group of the international continence society.

Neurourol and Urodynamics, New York. 2005; 24: 374–80.

4. Sultan A H, Kamm MA, Hudson CN, Thomas JM, Bartran C. Anal-Sphincter

Disruption during Vaginal Delivery. The New England Journal of Medicine.1993; 329:

1905-1911.

5. Van Brummen H, Bruinse H, Pol G, Heintz A, Vaart C. The effect of vaginal and

cesarean delivery on lower urinary tract symptoms: what makes the difference? Int

Urogynecol J. 2007; 18: 133-9.

6. Ekström ,A; Altman D; Wiklund I; et al. Planned cesarean section versus planned

vaginal delivery: comparison of lower urinary tract symptoms. Int Urogynecol J.

2008;19: 459-65.

7. Bo K, Sherburn M, Allen T. Transabdominal Ultrasound Measurement of Pelvic

Floor Muscle Activity When Activated Directly or via a Transversus Abdominis Muscle

Contraction. Neurourology and Urodynamics. 2003; 22: 582-88.

8. Bo K, Morkved S, Frawley H. Evidence for Benefit of Transversus Abdominis

Training Alone or in Combination With Pelvic Floor Muscle training to Treat female

Urinary Incontinence: A Systematic review. Neurourology and Urodynamics. 2009; 28:

368-73.

9. Neumann P, Gill V. Pelvic floor and abdominal muscle interaction: EMG activity

and intra-abdominal pressure. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2002; 13:125–

32.

10. Madill SJ, McLean L. Relationship between abdominal and pelvic floor muscle

activation and intravaginal pressure during pelvic floor muscle contractions in healthy

continent women. Neurourology and Urodynamics.2006; 25: 722-730.

11. Madill SJ, McLean L. Quantification of abdominal and pelvic floor muscle

synergies in response to voluntary pelvic floor muscle contractions. Journal of

Electromyography and Kinesiology 2008; 18: 955-964.

12. Madill SJ, Harvey MA, McLean L. Women with SUI demonstrate motor control

differences during voluntary pelvic floor muscle contractions.Int Urogynecol J. 2009; 20:

447-459.

Page 61: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

45

13. Sapsford, R, Richardson CA, Maher CF, Hodges PW. Pelvic floor muscle activity

in different sitting postures in continent and incontinent women. Arch Phys Med

Rehabil. 2008; 89: 1741-1747.

14. Sapsford RR, Hodges PW, Richardson CA, Cooper DH, Markwell SJ, Jull GA. Co-

activation of the abdominal and pelvic floor muscles during voluntary exercises.

Neurourol Urodyn. 2001;20: 31-42.

15. Hodges, P W; Sapsford, R; pengel, LHM. Postural and respiratory finctions of the

pelvic Floor Muscles. Neurourol and Urodyn. 2007; 26: 362-371.

16. Madill SJ, Harvey MA, McLean L. Women with SUI demonstrate motor control

differences during coughing. J of electromyography and kinesiol. 2010; 5:804-812.

17. Urquhart DM, Hodges WP, Allen TJ, Story IH. Abdominal muscle recruitment

during a range of voluntary exercises. Man Ther. 2005; 10: 144-53.

18. Nagib ABL, Guirro ECO, Palauro VA, Guirro RRJ. Avaliação da sinergia da musculatura

abdomino-pélvica em nuligestas com eletromiografia e biofeedback perineal. Rev Bras

Ginecol Obstet. 2005; 27: 210-5.

19. Pereira, LC. Impacto da gestação e do parto na sinergia entre os músculos transverso

do abdome/oblíquo interno e o assoalho pélvico: avaliação eletromiográfica

[dissertação]. Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2010.

20. Botelho, S P. Impacto do Parto na Atividade Eletromiográfica do Assoalho Pélvico

e nos Sintomas do trato Urinário Inferior: estudo prospectivo comparativo [tese].

Campinas: Universidade Estadual de Campinas; 2008.

21. Deffieux X, Hubeaux K, Porcher R, Ismael SS, Raibaut P, Amarenco G. Abnormal

Pelvic Response to Cough in Women with Stress Urinary Incontinence. Neurology and

Urodynamics. 2008; 27: 291-96.

22. Cram JR, Kasman GS. Instrumentation. In: Cram JR, Kasman GS, Holtz J.

Introduction to surface electromyography. 1a ed. Maryland: Aspen Publishers Inc.;

1998.

23. SENIAM:European Recommendations for Surface Electromyography. 2010

[Acesso em: 13 fev 2010]. Disponivel em: http://www.seniam.org.

24. Bo K, Stien R. Needle EMG registration of striated urethral wall and pelvic floor

muscle activity patterns during cough, valsalva, abdominal, hip adductor, and gluteal

muscle contractions in nulliparous healthy females. Neurourol Urodyn.1994; 13: 35-41.

25. Shafik, A; Sibai, OE; Shafik, AA; Shafik IA. Contraction of Gluteal Maximus Muscle on

Increase of Intra-Abdominal Pressure: Role in the Fecal Continence Mechanism. Surgical

Innovation. 2007; 14: 270-274.

Page 62: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

46

26. Laycock, J., Jerwood, D. Pelvic Floor Muscle Assessment: the perfect scheme.

Physiotherapy. 2001; 87: 361-642.

27. Hunskaar, S; Burgio, K;Diokno, AC; Herzog , AR; Hjalmas, K; Lapitan, MC.

Epidemiology and natural history of urinary incontinence. In: Abrams, P; Cardozo, L;

Khoury, S; Wein, A;editors. Incontinence.Plymouth, UK: Plymbridge Distributors Ltd., 2002;

165-201.

28. . Barbosa AMP, Carvalho LR, Martins AMVC, Calderon IMP, Rudge MVC. Efeito da

via de parto sobre a força muscular do assoalho pélvico. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005; 27:

677-82.

29. Patel DA, Xu X, Thomason AD, Scott BR, Ivy JS, DeLancey JOL. Childbirth and

pelvic floor dysfunction: An epidemiologic approach to the assessment of prevention

opportunities at delivery. Am J Obstet Gynecol. 2006; 195: 23–28.

30. Rett MT, Simões AJ, Herrmann V, Marques AA, Moraes SS. Existe diferença na

contratilidade da musculatura do assoalho pélvico feminino em diversas posições? Rev Bras

Ginecol Obstet. 2005; 27: 20-23.

Page 63: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

47

Tabela 1.

Nuligestas (n=17) Primíparas (n=17)

Variáveis Média ± DP Média ± DP p-valor* Idade (anos) 27,1(±5,49) 29,9 (±5,07) 0,129

Massa corporal (Kg) 58,49 (±6,91) 61,89 (±7,48) 0,23

Estatura (m) 1,63 (±0,05) 1,64 (±0,05) 0,57

IMC (Kg/m2) 22,1 (±2,35) 23,1 (±2,57) 0,256

DCabd (mm) 20,49 (±6,51) 22,4 (±6,54) 0,408

*Teste t de Student.

Page 64: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

48

Tabela 2.

Posturas

Repouso Supino Repouso Ortostático

Nuligestas

(n=17)

Músculos EMGRMS (µV) EMGRMS (µV) p-valor EAE ¹ 5,65 ± 2,16 10,0 ± 5,22 <0,001

OI/TrA ¹ 5,4 ± 2,69 11,9 ± 6,58 <0,001

OE ² 7,9 (6,30; 9,75) 11,6 (8,45; 15,725) <0,001

GM ¹ 4,7± 1,67 6,1 ± 2,55 =0,073

Primíparas

(n=17)

EAE ¹ 5,57 ± 2,919 7,7 ± 2,44 =0,007

OI/TrA ¹ 6,1 ± 2,58 8,9 ± 5,69 =0,086

OE 2 6,50 (4,775; 9,175) 11,0 (6,95; 12,5) =0,013

GM 2 4,20 (3,675; 5,575) 4,10 (3,50; 6,225) =0,890

¹ Teste t de Student pareado: Média ± Desvio Padrão; ² Teste de Wilcoxon: Mediana (1º Quartil; 3º

Quartil).

Page 65: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

49

Tabela 3.

Nuligestas (n=17) Primíparas (n=17)

Músculos EMGRMS (µV) EMGRMS (µV) p-valor

EAE¹ 93,4 ± 57,06 50,5 ± 24,80 0,009

OI/TrA¹ 17,8 ± 9,17 12,5 ± 8,38 0,092

OE 2

15,1 (11,5; 38,7) 15,1 (10,6; 26,3) 0,558

GM 2

51,4 (38,7; 131,9) 31,0 (16,3; 41,8) 0,006

¹ Teste t de Student pareado: Média ± Desvio Padrão; ² Teste de Mann-Whitney: Mediana (1º Quartil; 3º

Quartil).

Page 66: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

50

EMGRMS

REPOUSO SUPINO

5,7± 2.2 5,4 ± 2.78,3 ± 2.3

4,7 ±1.75,6 ±2.9 6,1 ± 2.6 7,6 ± 3.8

5,1 ± 2.5

0,0

5,0

10,0

EAE OI/TrA OE GM

CVM EAE SUPINO90,2 ± 71.9

22,9 ± 19.6 18,8 ± 15.4 12,4 ± 22.6

76,6 ± 44.8

14,1 ± 10.9 16,0 ± 18.7 15,3 ± 21.6

0,0

50,0

100,0

EAE OI/TrA OE GM

CVM OI SUPINO

40,4 ± 23.4

100,3 ± 57.5 74,1 ± 36.5

18,4 ±31.430,8 ± 19.885,8 ± 44.4 66,3 ± 38.6

10,4 ± 6.1

0,0

100,0

200,0

EAE OI/TrA OE GM

CVM TrA SUPINO

50,2 ± 32.180,5 ± 58.6

51,7 ± 26.9

8,7 ± 5.434,0 ± 18.2

54,4 ± 29.1 45,6 ± 25.9

6,1 ± 1.7

0,0

50,0

100,0

EAE OI/TrA OE GM

CVM OE SUPINO

41,3 ± 24.4

102,1 ± 80.1 95,5 ± 86.3

35,5 ± 69.630,3 ± 13.3

81,7 ± 44.5 65,5 ± 31.4

9,5 ± 6.9

0,050,0

100,0150,0

EAE OI/TrA OE GM

CVM GM PRONO93,4 ± 57.1

17,8 ± 9.2 26,6 ± 23.3

90,4 ± 87.8

50,5 ± 24.8

12,5 ± 8.4 19,1 ± 12.336,9 ± 27.6

0,0

50,0

100,0

EAE OI/TrA OE GM

NULIGESTAS PRIMÍPARAS

*

*

* Mostra inexistência de sinergia

Figura 1.

Page 67: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

51

EMGRMS

REPOUSO ORTO

10,0 ± 5.212,0 ± 6.8 13,3 ± 7

6,1 ± 2.57,7 ± 2.4 8,9 ± 5.7 11,7 ± 6.54,8 ± 1.8

0,0

10,0

20,0

EAE OI/TrA OE GM

UMBIGO COSTA SUPINO

35,9 ± 23.2 40,9 ± 33.9 30,9 ± 26.1

10,7 ± 13.227,4 ± 19.5 27,4 ± 19.5 25,1 ± 11.1

6,6 ± 3.3

0,0

50,0

EAE OI/TrA OE GM

UMBIGO COSTA ORTO

39,5 ± 30.360,7 ± 54

39,2 ± 37.8

12,8 ± 16.2

39,5 ± 27.4 36,3 ± 26.1 34,3 ± 20

14,9 ± 17.5

0,020,040,060,080,0

EAE OI/TrA OE GM

NULIGESTAS PRIMÍPARAS

* *

* Mostra inexistência de sinergia

Figura 2.

Page 68: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

52

LEGENDAS DAS FIGURAS E TABELAS

Tabela 1. Caracterização da amostra segundo as variáveis antropométricas.

Tabela 2. Análise intra-grupo da atividade EMGRMS de repouso nas posturas supina e

ortostática dos músculos esfíncter anal externo (EAE); oblíquo interno e transverso

abdominal (OI/TrA); oblíquo externo (OE) e glúteo máximo (GM) em mulheres

nuligestas e primíparas.

Tabela 3. Atividade EMGRMS dos músculos esfíncter anal externo (EAE), oblíquo

interno e transverso abdominal (OI/TrA), oblíquo externo (OE) e glúteo máximo (GM)

durante a CVM do glúteo máximo em mulheres nuligestas e primíparas.

Figura 1. Atividade EMGRMS no repouso supino e nas CVM em mulheres continentes

nuligestas e primíparas, segundo cada atividade estudada.

Figura 2. Atividade EMGRMS no repouso ortostático e nas manobras umbigo-costa em

mulheres continentes nuligestas e primíparas.

Page 69: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

53

4.2 Artigo Original 2

ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA DA SINERGIA DOS

MÚSCULOS ABDOMINO-PÉLVICOS DURANTE A TOSSE EM

MULHERES CONTINENTES NULIGESTAS E PRIMÍPARAS

Este artigo será submetido à Revista Brasileira de Fisioterapia, após as considerações da

Banca.

Page 70: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

54

ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA DA SINERGIA DOS MÚSCULOS ABDOMINO-

PÉLVICOS DURANTE A TOSSE EM MULHERES CONTINENTES NULIGESTAS

E PRIMÍPARAS.

Electromyographic analysis of the abdominopelvic muscle synergy during cough in

nulligravidae and primiparous continent women.

Silvana Mª de Macêdo Uchôa1; Alberto Galvão de Moura Filho

2; Glória

Elizabeth Carneiro Laurentino3

1 Mestranda/Departamento de Fisioterapia/Programa de Pós-Graduação em

Fisioterapia/ Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife (PE)

2 Professor Associado/Departamento de Fisioterapia/Universidade Federal de

Pernambuco – UFPE – Recife (PE)

3 Professora Adjunto/Departamento de Fisioterapia/Universidade Federal de

Pernambuco – UFPE – Recife (PE)

Endereço para correspondência: Rua Padre Anchieta, 578/401, Madalena. CEP: 50.710-

430. Recife – PE

Universidade Federal de Pernambuco

Avenida Jornalista Aníbal Fernandes s/n – Cidade Universitária

CEP 50740-560 Recife - PE

Page 71: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

55

RESUMO

OBJETIVO: Avaliar a sinergia muscular abdomino-pélvica durante a tosse em

postura supina e ortostática em mulheres continentes nuligestas e primíparas.

MÉTODOS: O estudo do tipo transversal analisou mulheres hígidas, na faixa etária

de 21 a 39 anos, menacmes, continentes, distribuídas em dois grupos: Nuligestas

(n=17) e Primíparas (n=17). A massa corporal, estatura e dobra cutânea abdominal

foram aferidas e, calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) e o nível da atividade

física pelo Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ - versão curta.

Eletromiografia de superfície foi usada para registrar atividade dos músculos esfíncter

anal externo, obliquo abdominal externo, obliquo abdominal interno, transverso

abdominal e glúteo máximo durante o repouso e a manobra de tosse nas posturas

supina e ortostática. Os dados eletromiográficos foram apresentados em RMS. Os

dados foram analisados pelo pacote SPSS, versão 13.0, sendo aplicados os testes: t de

Student, Mann Whitney e Exato de Fischer, admitindo-se o nível de significância de

p<0,05. RESULTADOS: Foi evidenciada sinergia entre os músculos estudados

durante a execução dos esforços de tosse, sendo a diferença estatística entre os grupos

nas posições supino neutra e com rotação externa, com as primíparas mostrando

maiores valores eletromiográficos. CONCLUSÃO: Durante a tosse, as primíparas

apresentaram maior nível de atividade eletromiográfica no esfíncter anal externo

(EAE) nas posições supino neutra e com rotação externa. Essas alterações na atividade

eletromiográfica do esfíncter anal parecem decorrer do processo gestacional em si, em

resposta as elevações na pressão intra-abdominal durante o processo.

Palavras-Chave: Músculos abdominais; Tosse; Sinergia muscular; Eletromiografia;

Assoalho pélvico.

Page 72: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

56

ABSTRACT

PURPOSE: to verify the abdomino-pelvic muscles synergy during cough in supine and

orthostatic posture in continent nulligravidae and primiparous women. METHODS: The

cross-sectional study analysed healthy women, aged 21 to 39 years, normal periods,

continents, divided into two groups: nulligravidae (n = 17) and primiparous (n = 17).

Body mass, height and abdominal skinfold were measured and calculated the Body

Mass Index (BMI) and for the level of physical activity were used the International

Physical Activity Questionnaire - IPAQ - short version. Surface electromyography was

used to record the activity of external anal sphincter muscle, external abdominal

oblique, internal abdominal oblique, transverse abdominal and gluteus maximus during

rest and coughing maneuver in supine and standing positions. The EMG data were

presented in Root Mean Square (RMS). The data were analyzed by SPSS package,

version 13.0, being applied the tests : Student's t, Mann Whitney and Fisher's exact, and

admitted the significance level of p <0,05. RESULTS: Synergy was observed between

the muscles studied during the execution of coughing efforts, being the difference

statistical between the groups in supine either with lower limbs in neutral and external

rotation, with primiparous showing higher activity of the external anal sphincter (EAS)

in supine position either with lower limbs in neutral and externally rotated.

CONCLUSION: During cough, primiparous had higher electromyographic (EMG)

activity in the EAS during supine position with lower limbs in neutral and external

rotation. These changes in EMG activity of the anal sphincter appear to arise from

pregnancy process itself, in response to changes in intra-abdominal pressure.

Keywords: Abdominal muscles; Muscular synergia; Cough; Electromyography; Pelvic

Floor.

Page 73: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

57

INTRODUÇÃO

A cada ano um número expressivo de mulheres é acometido por disfunções do

assoalho pélvico (DAP)1. Essas condições clínicas têm uma alta prevalência, promove

efeito deletério sobre a qualidade de vida e causam um grande impacto nos sistemas de

saúde pública, tendo como conseqüência a incontinência urinária e fecal, distopias

genitais, anormalidades do trato urinário inferior, disfunções sexuais, miccionais e

anorretais1,2,3

.

A evolução científica, no campo da prevenção e/ou correção de disfunções

uroginecológicas e proctológicas, evidencia a necessidade de uma melhor compreensão

do funcionamento das sinergias dos músculos do assoalho pélvico (MAP) com os outros

músculos da cavidade abdomino-pélvica. Essa necessidade torna-se ainda mais evidente

nas situações em que ocorre aumento da pressão intra-abdominal (PIA) como, por

exemplo, na tosse, que é um dos fatores que gera a queixa de perda involuntária de

urina, de flatos e de fezes3.

A eletromiografia de superfície (EMGs) do assoalho pélvico (AP) vem sendo

considerada uma avaliação reprodutível e que pode predizer de forma consistente,

determinadas variáveis clínicas relacionadas ao funcionamento desses músculos4.

Estudos atuais sugerem a padronização e normatização da coleta de dados, de maneira a

facilitar a análise e minimizar as discrepâncias dos resultados 5,6,7

.

Alguns estudos relatam que a co-ativação entre os músculos abdominais e MAP

é consistente com o modelo que prevê que os músculos que circundam a cavidade

abdominal trabalham juntos e de forma coordenada para aumentar a pressão no abdome

e fornecer suporte aos órgãos pélvicos. Essa co-ativação tem sido observada durante

levantamento de peso, tosse, esforço expiratório forçado e contração isométrica dos

abdominais 8,9

.

Page 74: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

58

É importante mencionar que durante uma contração involuntária, como por

exemplo, um esforço de tosse, os MAP (esfíncter uretral externo, levantador do ânus e

esfíncter anal externo) comportam-se como um só músculo, determinando uma

contração global, ou seja, uma contração sincrônica e sinérgica 4,8,10

. A tosse é,

possivelmente, uma atividade neural coordenada e pré-programada pelo sistema nervoso

central (SNC) 11,12

, sendo uma boa forma de avaliar a função clínica e neurológica dos

indivíduos para detectar se os músculos do AP são recrutados de forma rápida

(atividade de fibras fásicas) ou se ocorre um “atraso” durante esse evento, o que

ocasionaria, conseqüentemente, escapes involuntários 12

.

Poucos estudos focaram na quantificação da contração dos MAP durante a tosse

e, dentre os estudos analisados, nenhum abordou se haveria diferença na ativação desses

músculos entre mulheres continentes, nuligestas e primíparas, exclusivamente de parto

cesáreo. O objetivo deste trabalho foi analisar, através de eletromiografia de superfície e

durante manobras de tosse, a ação sinérgica entre a músculos oblíquo abdominal

externo (OE), oblíquo abdominal interno e transverso abdominal (OI/TrA), esfíncter

anal externo (EAE) e glúteo máximo (GM) nessas mulheres.

SUJEITOS E MÉTODOS

O estudo foi de caráter transversal e a amostra, por adesão, foi composta por 34

mulheres, recrutadas em instituições de ensino superior e clínicas-escola da cidade do

Recife/PE, através de avisos em salas de aula, contato telefônico e palestras. Os critérios

de inclusão foram: ter entre 21 e 40 anos, serem hígidas, continentes, menacmes, índice

de massa corporal (IMC) entre 18,5 e 27,5 Kg/m2, dobra cutânea abdominal ≤ 30 mm, e,

no caso das primíparas, com mais de doze meses do parto cesáreo. Os critérios de

exclusão foram: constipação intestinal crônica, diabetes, doenças do tecido conjuntivo,

Page 75: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

59

distúrbios neurológicos, história de escape involuntário de urina, flatos ou fezes, fissura

anal e hemorróidas ativas.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do

Hospital da Restauração sob o protocolo CAAE n.ο 0085.0.102.172-09.

Inicialmente foi feita uma entrevista para caracterização de cada voluntária, onde

eram informados os objetivos e procedimentos do estudo. As que aceitaram em

participar, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e foram

distribuídas em dois grupos: a) nuligestas, n=17 e b) primíparas, n=17. Em seguida, as

voluntárias foram submetidas à avaliação antropométrica (aferição da massa corporal,

da estatura e medida da dobra cutânea abdominal) e responderam ao Questionário

Internacional de Atividade Física – IPAQ, versão curta. Posteriormente foi realizado o

estudo da sinergia, através de eletromiografia de superfície, entre os músculos EAE,

OI/TrA, OE e GM.

Avaliação Antropométrica: A massa corporal foi avaliada através de balança

eletrônica (Filizolla, modelo PL 150, variação de ± 0,5 Kg). A medida da estatura foi

feita com antropômetro de parede (variação inferior a 0,5 cm) em posição ortostática,

durante uma apnéia inspiratória, sendo adotada a média de três medidas. A dobra

cutânea abdominal (DCabd), vertical, foi aferida quatro centímetros a direita da cicatriz

umbilical por adipômetro (Sanny, com pressão de 10 Kg.mm2 ).

O Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ versão curta foi

utilizado para homogeneizar a amostra segundo o nível de atividade física. Esse

questionário, traduzido e validado para a população brasileira por Pardini et al; 13

,

consta de quatro perguntas, subdivididas em dois itens, abordando sobre a realização de

atividade física, tempo, freqüência, intensidade e duração da mesma, com finalidade de

categorizar o nível de atividade física. Embora o IPAQ originalmente classifique em

Page 76: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

60

quatro classes distintas os níveis de atividade física, neste trabalho foram consideradas

duas categorias: sedentárias e ativas (irregularmente ativa, ativa e muito ativa).

Para o estudo da sinergia foi utilizado um eletromiógrafo da marca Miotec®,

modelo 440, de quatro canais, software miotool® (Porto Alegre, Brasil), com ganho

interno de 1000 vezes, freqüência de amostragem de 2000 Hz, filtro analógico do tipo

Butterworth de quarta ordem, CMRR 110 dB a 60 Hz, impedância de entrada 1 GΩ,

conversor analógico/digital (AD) de 14-bit, com banda de freqüência de 10Hz a 500Hz.

Foram usados eletrodos de superfície, prata-cloreto de prata, autocolantes, pré-

gelificados e descartáveis (Meditrace™ 133). Para diminuir a impedância da pele foi

realizada a retirada dos pêlos e limpeza com água e sabão na região perianal e, nos

demais músculos, utilizou-se álcool etílico hidratado a 70°. Na região perianal foram

colocados dois eletrodos, um em cada lado, nas posições 3 e 9 horas do relógio, para

aquisição da atividade do EAE 14,15

. Os demais eletrodos foram posicionados no lado

direito do corpo, com distancia centro a centro de 30 mm, da seguinte forma: a) um par

de eletrodos localizados a meia distância entre a sínfise púbica e a espinha ilíaca ântero-

superior sobre os músculos OI/TrA16

; b) outro par na extremidade da oitava costela16

sobre o músculo OE e; c) um último par, situado a meia distância entre o grande

trocânter do fêmur e a segunda vértebra sacra17

, sobre o GM. O eletrodo de referência

foi fixado sobre a espinha ilíaca ântero-superior direita.

No presente estudo, a captação da atividade eletromiográfica dos músculos

oblíquo interno e transverso foi denominada OI/TrA tomando como base o estudo de

Sapsford et al 8 , no qual os autores afirmaram que quando se avalia o músculo OI,

através de EMG, provavelmente estejam incluídos registros da atividade

eletromiográfica provenientes do músculo TrA, o qual também apresenta contração

sinérgica com os MAP em condições fisiológicas.

Page 77: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

61

Os eletrodos na região perianal fizeram aquisição primariamente do EAE, e das

fibras distais dos músculos levantadores do ânus, e foram escolhidos porque não causam

desconforto nem são alterados pelo movimento15

. Além disso, por captar um maior

número de potenciais de unidades motoras permite uma melhor análise da atividade

muscular 5,18,19,20,21

.

A aquisição dos sinais eletromiográficos foi feita nas posturas supina, prono e,

ortostática, após o ciclo menstrual (8 a 10 dias) para minimizar o viés hormonal.

Inicialmente foi registrada a atividade de repouso em supino, com os membros

superiores e inferiores relaxados e em posição anatômica. Após dois minutos, com os

membros inferiores estendidos e em rotação neutra das articulações coxofemorais, foi

solicitado que a voluntária realizasse um esforço agudo de tossir num peak flow (AIR

ZONE®

) atingindo um valor entre 200 e 300 L/min. Em seguida, na mesma posição,

mas com rotação externa (RE) das articulações coxo-femurais, era repetido o

procedimento. Estas manobras eram realizadas três vezes.

Posteriormente, após dois minutos de repouso em posição ortostática, mantendo

os pés em posição paralela e com distância inter-maleolar de aproximadamente dez

centímetros, foram realizadas as manobras de tosse como já descrito para o decúbito

supino, em posição neutra e com RE das articulações coxofemorais. Os dados

adquiridos foram armazenados no computador.

Processamento dos sinais eletromiográficos: Todos os registros

eletromiográficos foram submetidos à nova filtragem (passa alta de 20 Hz e notch de 60

Hz) sendo a RMS (Root Mean Square) calculada utilizando uma janela de 100 pontos.

Os valores RMS pico, expressos em microvolts (µV), foram usados para medir o nível

de atividade muscular, sendo adotado o critério de aumento de pelo menos dois desvios

padrões em relação à atividade de repouso (supino ou ortostático, conforme o caso) para

Page 78: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

62

considerar a variação significante. Considerando a grande variabilidade das amplitudes

eletromiográficas existentes entre os indivíduos foi feita a transformação e normalização

pelo sistema de “Logaritmo Neperiano”. Entretanto, como não houve, praticamente,

nenhuma alteração, as análises foram feitas utilizando os dados originais.

Análise dos dados: A análise estatística dos resultados foi feita através do

programa Statistical Package for the Social Sciences – SPSS versão 13.0 para Windows

e o Excel 2003. As variáveis numéricas estão representadas pelas medidas de tendência

central e medidas de dispersão. O Teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para

verificar a normalidade das variáveis. Para comparação com dois grupos quando a

distribuição era normal utilizou-se o teste t Student e o de Mann-Whitney para não

normais. Na verificação da existência de associação adotou-se o teste exato de Fisher

para as variáveis categóricas. Foi admitido um nível de significância de 5% (p< 0,05).

RESULTADOS

Inicialmente foram recrutadas 38 voluntárias, das quais três foram excluídas e

uma não conseguiu realizar a manobras solicitadas, conforme mostra a figura 1.

Recrutadas para avaliação EMG: n= 35

Perda amostral (n=1)

Inabilidade em realizar a contração do EAE

Amostra final: n=34

Excluídas (n=3)

IMC inadequado (n=2)

Dobra cutânea abdominal 30mm (n=1)

Voluntárias potencialmente elegíveis: n= 38

IMC= índice de massa corporal; EMG= eletromiografia; EAE= Esfíncter anal externo.

Figura 1. Fluxograma de seleção da amostra estudada, Brasil, 2011.

Page 79: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

63

Conforme mostrado na tabela 1, os grupos não apresentaram diferenças

estatísticas em relação às variáveis, idade, massa corporal, estatura, IMC e DCabd.

Tabela 1. Caracterização da amostra segundo as variáveis: idade, massa

corporal, estatura, Índice de Massa Corporal (IMC) e dobra cutânea abdominal

(DCabd).

Nuligestas (n=17) Primíparas (n=17)

Variáveis Média ± DP Média ± DP p-valor* Idade (anos) 27,1(±5,49) 29,9 (±5,07) 0,129

Massa corporal (Kg) 58,49 (±6,91) 61,89 (±7,48) 0,23

Estatura (m) 1,63 (±0,05) 1,64 (±0,05) 0,57

IMC (Kg/m2) 22,1 (±2,35) 23,1 (±2,57) 0,256

DCabd (mm) 20,49 (±6,51) 22,4 (±6,54) 0,408

* Teste t de Student.

Ao serem comparados os níveis de atividade física entre os grupos, aferidos

pelo IPAQ, também não foi observada diferença estatística, conforme se mostra na

tabela 2.

Tabela 2. Distribuição das mulheres continentes nuligestas e primíparas,

segundo o nível de atividade física.

IPAQ Grupo

Nuligestas Primíparas p-valor

n (%) n (%)

Ativa 12 (70,6%) 16 (94,1%) 0,175 *

Sedentária 5 (29,4%) 1 (5,9%) (*) Teste Exato de Fisher

A atividade EMGRMS em repouso supino, tosse neutra (N) supino, tosse (RE)

supino, repouso ortostático, tosse (N) ortostática e tosse (RE) ortostática em mulheres

continentes nuligestas e primíparas, foi estudada através de análise intergrupos. As

primíparas mostraram valores RMS mais elevados para o EAE durante o esforço de

tosse, em posição neutra e rotação externa da articulação coxofemoral, como mostrado

na tabela 3.

Tabela 3. Atividade EMGRMS dos músculos esfíncter anal externo (EAE),

oblíquo interno e transverso abdominal (OI/TrA), oblíquo externo (OE) e glúteo

Page 80: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

64

máximo (GM) durante o repouso supino, tosse neutra (N) supino, tosse rotação externa

(RE) supino, repouso ortostático, tosse neutra (N) ortostática e tosse rotação externa

(RE) ortostática em mulheres continentes nuligestas e primíparas.

Posturas

Grupo

Nuligestas

(n=17)

Primíparas (n=17)

REPOUSO SUPINO EMGRMS (µV) EMGRMS (µV) p-valor EAE

1 5,7 ± 2,16 5,6 ± 2,92 0,926

OI/TrA 1 5,4 ± 2,69 6,1 ± 2,58 0,418

OE 1 8,3 ± 2,62 7,6 ± 3,78 0,535

GM 1 4,7 ± 1,67 5,1 ± 2,45 0,582

TOSSE N SUPINO

EAE 1 43,1 ± 22,54 65,5 ± 31,29 0,023

OITrA 1 83,6 ± 47,77 59,3 ± 34,88 0,100

OE 1 95,0 ± 63,57 79,8 ± 42,72 0,419

GM 2 6,8 (4,6; 9,9) 6,8 (5,9; 10,7) 0,418

TOSSE RE SUPINO

EAE 1 42,9 ± 19,77 61,4 ± 25,64 0,025

OITrA 1 71,1 ± 46,92 62,5 ± 45,31 0,589

OE 1 82,9 ± 51,53 76,3 ± 36,86 0,673

GM 2 6,7 (5,4; 11,9) 6,8 (6,1; 10,5) 0,836

REPOUSO ORTO

EAE 1 10,0 ± 5,22 7,7 ± 2,44 0,105

OITrA 1 11,9 ± 6,58 8,9 ± 5,69 0,162

OE 1 13,3 ± 7,03 11,7 ± 6,53 0,506

GM 1 6,1 ± 2,55 4,8 ± 1,82 0,099

TOSSE N ORTO

EAE 1 41,8 ± 25,11 53,9 ± 32,57 0,234

OITrA 1 82,1 ± 55,41 58,8 ± 40,42 0,171

OE 1 98,1 ± 72,62 83,3 ± 46,59 0,484

GM 2 8,3 (5,1; 11,8) 6,8 (5,4; 11,5) 0,904

TOSSE RE ORTO

EAE 1 38,8 ± 21,53 48,8 ± 26,63 0,237

OITrA 1 87,0 ± 63,01 53,3 ± 32,49 0,061

OE 1 101,9 ± 75,15 86,4 ± 45,82 0,473

GM 2 7,8 (5,8; 12,5) 6,5 (5,4; 13,4) 0,617

¹ Teste t de Student: Média ± Desvio Padrão; ² Teste de Mann-Whitney: Mediana (1º Quartil; 3º Quartil).

A sinergia existente entre os músculos, em cada atividade estudada, foi verificada

utilizando o critério do aumento nas médias da atividade EMGRMS, representada nas Figuras

2 e 3.

Page 81: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

65

EMGRMS

REPOUSO SUPINO

5,7± 2.2 5,4 ± 2.78,3 ± 2.3

4,7 ±1.75,6 ±2.9 6,1 ± 2.6 7,6 ± 3.8

5,1 ± 2.5

0,0

5,0

10,0

EAE OI/TrA OE GM

TOSSE NEUTRA SUPINO

43,1 ± 22.5

83,6 ± 47.8 95,0 ± 63.6

8,3 ± 5.2

65,5 ± 31.3 59,3 ± 34.979,8 ± 42.7

11,7 ± 15.1

0,0

50,0

100,0

EAE OI/TrA OE GM

TOSSE ROT EXT SUPINO

42,9 ± 19.871,1 ± 46.9 82,9 ± 51.5

12,1 ± 15.6

61,4 ± 25.6 62,5 ± 45.376,3 ± 36.9

8,9 ± 5.4

0,0

50,0

100,0

EAE OI/TrA OE GM

NULIGESTAS PRIMÍPARAS

*

* Mostra inexistência de sinergia

Figura 2. Atividade EMGRMS (µV) dos músculos esfíncter anal externo (EAE),

oblíquo interno e transverso abdominal (OI/TrA), oblíquo externo (OE) e glúteo

máximo (GM) em mulheres continentes, nuligestas e primíparas, durante o repouso e

o esforço de tosse na postura supina, com os membros inferiores em posição neutra e

em rotação externa da articulação coxofemoral.

Page 82: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

66

EMGRMS

REPOUSO ORTO

10,0 ± 5.212,0 ± 6.8 13,3 ± 7

6,1 ± 2.57,7 ± 2.4 8,9 ± 5.7 11,7 ± 6.54,8 ± 1.8

0,0

10,0

20,0

EAE OI/TrA OE GM

TOSSE NEUTRA ORTO

41,8 ± 25.1

82,1 ± 55.498,1 ± 72.6

12,3 ± 13

53,9 ± 32.6 58,8 ± 40.483,3 ± 46.6

10,7 ± 10.2

0,0

50,0

100,0

150,0

EAE OI/TrA OE GM

TOSSE ROT EXT ORTO

38,8 ± 21.5

87,0 ± 63 101,9 ± 75.1

11,5 ± 9.348,8 ± 26.6 53,3 ± 32.5

86,4 ± 45.8

10,9 ± 9.9

0,050,0

100,0150,0

EAE OI/TrA OE GM

NULIGESTAS PRIMÍPARAS

Figura 3. Atividade EMGRMS (µV) dos músculos esfíncter anal externo (EAE),

oblíquo interno e transverso abdominal (OI/TrA), oblíquo externo (OE) e glúteo

máximo (GM) em mulheres continentes, nuligestas e primíparas, durante o repouso e

o esforço de tosse na postura ortostática, com os membros inferiores em posição

neutra e em rotação externa da articulação coxofemoral.

Discussão

Apenas alguns estudos12,15,21

fizeram referência sobre a diferença do

recrutamento muscular durante a tosse em mulheres continentes e incontinentes e

nenhum deles observou se haveria diferenças entre mulheres continentes nuligestas e

primíparas de parto cesariana.

Neste estudo inferiu-se que a contração dos músculos do assoalho pélvico

poderia ser observada através da atividade eletromiográfica do EAE. Abordagem essa,

Page 83: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

67

também utilizada por outros autores que afirmaram que a contração do assoalho pélvico

ocorre pela ação do EAE e do músculo puborretal 8,18 .

Os resultados do presente estudo mostraram que as nuligestas, em todas as

manobras de tosse, apresentaram uma amplitude de ativação mais elevada nos

músculos OE e OI/TrA do que as primíparas. Entretanto, essas diferenças não foram

estatisticamente significantes. Situação semelhante foi descrita por Madill, Harvey e

McLean 22

, ao observarem que mulheres nuligestas continentes também apresentaram

uma amplitude eletromiográfica mais elevada nos músculos OE e OI durante contração

dos MAP, quando comparadas com mulheres com incontinência urinária moderada e

severa.

Durante o esforço de tosse foi observado, nos dois grupos, que o OE apresentou

níveis de atividade mais elevados do que os demais músculos estudados, o que poderia

representar um fator de risco para incontinência, se os músculos do assoalho pélvico não

funcionarem em sinergia de forma eficaz, imediata e reflexa. Essa hipótese é respaldada

pelos estudos de Smith, Coppieters e Hodges, 23

que verificaram um aumento da

atividade do OE em mulheres incontinentes, quando comparadas as continentes.

Evidenciou-se ainda que, as mulheres primíparas continentes, quando

comparadas às mulheres continentes nuligestas, exibiram uma maior atividade

eletromiográfica do EAE durante o esforço de tosse nas posições supinas. Embora o

resultado da manobra de tosse na posição ortostática não tenha sido estatisticamente

significante, esta mesma tendência foi observada. Esse achado pode ser justificado pela

existência de uma sobrecarga de pressão instantânea no assoalho pélvico durante a

tosse, com conseqüente aumento do recrutamento de unidades motoras expressas pela

atividade eletromiográfica.

Page 84: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

68

Essa observação foi corroborada por diversos estudos 12,15,21

que afirmaram ser

essa co-ativação importante durante levantamento de peso ou tosse a fim de se

contrapor ao aumento da pressão abdominal. A esse respeito, Devreese et al, 24

,

acrescentaram que essa adaptação dos músculos do assoalho pélvico às mudanças na

pressão abdominal, como sucedem na tosse, é feita através da contração por reflexo de

estiramento, chamada pelos autores de “teoria do trampolim pélvico”.

Outro aspecto a considerar é a possibilidade de que as mulheres primíparas

teriam menor força, nos músculos abdominais inferiores, devido ao processo

gestacional, que resulta na distensão excessiva dos abdominais25

, levando a uma

diminuição da contração desses músculos, alterando, conseqüentemente, a sinergia entre

eles.

Essa assertiva que a gestação possa ter sido o fator causal da fraqueza dos

abdominais inferiores, está apoiada pelos estudos de Chaliha,26

e Barbosa et al,27

que

evidenciaram que o processo gestacional levaria ao aumento da região abdominal pelo

crescimento fetal, tornando a parede abdominal flácida em decorrência a esse

estiramento e ao afastamento dos músculos retos abdominais. A recuperação da

tonicidade dessa musculatura se desenvolve lenta e, às vezes, imperfeitamente, devendo

ocorrer de forma semelhante com os músculos do assoalho pélvico, prejudicando a

sinergia entre estes músculos28

.

Devreese et al,29

afirmaram que mulheres continentes apresentam uma melhor

coordenação entre os músculos do assoalho pélvico e os abdominais inferiores durante a

tosse realizada nas posições supina, sentada e ortostática. As autoras evidenciaram,

ainda, que essas mulheres apresentaram uma melhor sensibilidade e realizavam o

movimento de contração de forma mais correta.

Page 85: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

69

Em consonância com essa afirmação, o estudo de Sapsford,30

demonstrou que

uma incoordenação entre os músculos do assoalho pélvico com os abdominais

acarretaria numa força excessiva no abdome superior, o que resultaria numa sobrecarga

das vísceras contra o assoalho pélvico. Deste modo, a insuficiência dos músculos do

assoalho pélvico, somada ao acréscimo de ativação da parede abdominal superior e na

vigência do aumento da pressão intra-abdominal, poderia se constituir em um fator

predisponente às disfunções do assoalho pélvico, tais como incontinência urinária e

prolapso genital.

No estudo em tela, a atividade eletromiográfica do EAE e dos abdominais

apresentou uma resposta sinérgica entre esses grupos musculares estando de acordo com

os resultados de Sapsford e Hodges8, cujos achados experimentais e clínicos sugeriram

haver contração abdominal em resposta à função do assoalho pélvico normal.

No entanto, ainda não está completamente esclarecido se a resposta ou reflexo

anal à tosse é um componente programado e decorrente da própria tosse ou de uma

atividade neural coordenada pelo tronco cerebral “centro da tosse”. Acredita-se que o

tronco cerebral seja responsável pela contração dos músculos intercostais, diafragma e

abdominais durante a tosse, ou um reflexo medular semelhante ao reflexo anal clássico

que ocorre em resposta ao deslocamento do assoalho pélvico pela elevação transitória

da PIA, causada pela própria tosse11,12

. Esse reflexo tem importância na prática clínica,

na verificação da integridade de raízes nervosas sacrais.

Embora não seja difícil a captação dos sinais na eletromiografia de superfície, a

interpretação das suas características para compreender os mecanismos fisiológicos é

uma tarefa complexa e, embora os resultados obtidos tenham apresentado significância

estatística, talvez, uma amostra maior poderia tornar mais consistente e dar uma maior

Page 86: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

70

validade externa ao estudo. Salienta-se, entretanto, que a natureza do estudo e a região

anatômica abordada foi um fator que contribuiu para o número amostral encontrado.

A avaliação com eletromiografia de superfície, apesar de suas limitações

relacionadas ao cross-talk, artefatos, e os cuidados com limpeza da pele, é sem dúvida

um recurso que permite fazer uma abordagem mais objetiva e reprodutível dos

músculos examinados, especialmente no que se refere à co-ativação muscular23

.

Outra consideração a ser feita é com relação ao desenho de estudo adotado.

Estudos transversais não estabelecem relações causais ou temporais, indicando apenas

uma relação de associação. Por esta razão, a análise dos seus resultados deve ser

cautelosa.

Conclusão

Durante a manobra de tosse em posição supina, as mulheres continentes

primíparas de parto cesariana, mostraram maior nível de atividade eletromiográfica dos

músculos do assoalho pélvico do que as nuligestas, sugerindo que a gestação em si,

independente do tipo de parto, pode alterar o comportamento destes músculos e dos

músculos abdominais. Do ponto de vista clínico, esses resultados indicam a necessidade

de um trabalho preventivo direcionado para o período pós parto. Ou seja, durante o

puerpério, independente do tipo de parto, ao qual a mulher foi submetida, deveria ser

introduzido, como prática regular, um programa de fisioterapia direcionado para esses

músculos, como forma de prevenção das DAP e reabilitação desses músculos.

Page 87: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

71

Referências

1. Sung, VW; Hampton,BS. Epidemiology of Pelvic Floor Dysfunction. Obstetrics and

Gynecology Clinics of North America, 2009; 36(3):421-443.

2. Mostwin J, Bourcier A, Haab F, et al. Pathophysiology of urinary incontinence, fecal

incontinence and pelvic organ prolapse. In: Abrams P, Cardozo L, Khoury S, Wein A,

editors. Incontinence – Basics & evaluation. 3rd

International Consultation on

Incontinence. June. 26-29, 2004. International Continence Society and Societe

Internationale d’Urologie; Edition 2005; 432-35.

3. Glazer HI, Romanzi L, Polaneczky M. Pelvic floor muscle surface electromyography:

reliability and clinical predictive validity. J Reprod Med. 1999;44(9):779-82.

4. Shafik A, Doss S, Asaad S. Etiology of the resting myoelectric activity of the levator

ani muscle: physioanatomic study with a new theory. World J Surg. 2003;27(3):309-14.

5. Siroky MB. Electromyography of the perineal floor. Urol Clin North Am.

1996;23(2):299-307.

6. Olsen AL, Rao SS. Clinical neurophysiology and electrodiagnostic testing of the

pelvic floor. Gastroenterol Clin North Am. 2001;30(1):33-54.

7. Merletti R, Bottin A, Cescon C, Farina D, Gazzoni M, Martina S, et al. Multichannel

Surface EMG for the Non-Invasive Assessment of the Anal Sphincter Muscle.

Digestion. 2004; 69(2): 112-122.

8. Sapsford RR, Hodges PW, Richardson CA, Cooper DH, Markwell SJ, Jull GA. Co-

activation of the abdominal and pelvic floor muscles during voluntary exercises.

Neurourol Urodyn. 2001;20(1):31-42.

9. Hodges PW, Heijnen I, Gandevia SC. Postural activity of the diaphragm is reduced in

humans when respiratory demand increases. J Physiol. 2001;537(3):999-1008.

10. Neumann P, Gill V. Pelvic floor and abdominal muscle interaction: EMG activity

and intra-abdominal pressure. Int Urogynecol J Pelvic Floor Dysfunct. 2002; 13(2):125–

32.

11. Chan CHI, Ponsford S, Swash M. The anal reflex elicited by cough and sniff:

validation of a neglected clinical sign. J Neeurol Neurosurg Psychiatry. 2004; 75 (10):

1449-1451.

Page 88: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

72

12. Amarenco G, Ismael SS, Lagauche D, Raibaut P, Rene-Corail P, Wolff N et al.

Cough anal Reflex: Strict Relationship Between Intravesical Pressure And Pelvic Floor

Muscle Electromyographic Activity during Cough. Urodynamic And

Electrophysiological study. J Urol. 2005; 173(1):149-152.

13. Pardini R, Matsudo S, Araújo T, Matsudo V, Andrade E, Braggion G, et al.

Validação do questionário internacional de nível de atividade física (IPAQ - versão 6):

estudo piloto em adultos jovens brasileiros. Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília. 2001

julho; 9(3): 45-51.

14. López A, Nilsson BY, Mellgren A, Zetterström J, Holmström B. Electromyography

of the External Anal Sphincter: comparison Between Needle and Surface Electrodes.

Dis Colon Rectum. 1999; 42(4): 482-85.

15. Deffieux X, Hubeaux K, Porcher R, Ismael SS, Raibaut P, Amarenco G. Abnormal

Pelvic Response to Cough in Women with Stress Urinary Incontinence. Neurology and

Urodynamics. 2008; 27(4):291-96.

16. Urquhart DM, Hodges WP, Allen TJ, Story IH. Abdominal muscle recruitment

during a range of voluntary exercises. Man Ther. 2005; (10):144-53.

17. Cram JR, Kasman GS. Instrumentation. In: Cram JR, Kasman GS, Holtz J.

Introduction to surface electromyography. 1a ed. Maryland: Aspen Publishers Inc.

1998; 43-80.

18. Enck P, Hinninghofen H, Merletti R, Azpiroz F. The external anal sphincter and the

role of surface electromyography. Neurogastroenterology and motility the official

journal of the European Gastrointestinal Motility Society.2005; 17(1): 60-67.

19. Hermes JH, Freiks B, Merletti R et al. European Recomendatios for Surface

ElectroMyography. SENIAM project, published by Roessingh Research and

Development b.v.ISBN 90-75452-15-2. 1999.

20.Enck P, Vodusek DB. Electromyography of the pelvic floor muscles. J of

electromyography and kinesiol. 2006;(16): 568-577.

21. Deffieux X, Hubeaux K, Porcher R, Ismael SS, Raibaut P, Amarenco G. Pelvic

Floor Muscle Activity During Coughing: Altered Pattern in Women With Stress

Urinary Incontinence. Urology. 2007; 70(3):443-47.

Page 89: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

73

22. Madill SJ, Harvey MA, McLean L. Women with SUI demonstrate motor control

differences during voluntary pelvic floor muscle contractions.Int Urogynecol J.2010; 20

(4): 447-459.

23. Smith MD, Coppieters MW, Hodges PW. Postural Response of Pelvic Floor and

Abdominal Muscles in Women With and Without Incontinence. Neurourol Urodyn.

2007, (26): 377-385.

24. Devreese A, Staes F, Janssens L, Pennincks F, Vereecken R, De Weerdt W.

Incontinent women have altered pelvic floor muscle contractions patterns. J Urol. 2004;

178 (2): 558-562.

25. Hunskaar S, Burgio K, Diokno AC, Herzog AR, Hjalmas k, Lapitan MC.

Epidemiology and natural history of urinary incontinence. In: Abrams P, Cardozo

L,Khoury S, Wein A, editors. Incontinence. Plymouth,UK: Plymbridge Distributors

Ltd.,2002;165-201.

26. Chaliha C, Stanton SL. Urological problems in pregnancy. BJU Int. 2002; 89 (5):

469-76.

27. Barbosa AMP, Carvalho LR, Martins AMVC, Calderon IMP, Rudge MVC. Efeito

da via de parto sobre a força muscular do assoalho pélvico. Rev Bras Ginecol Obstet.

2005; 27(11): 677-82.

28. Madill SJ, McLean L. Quantification of abdominal and pelvic floor synergies in

response to voluntary pelvic floor contractions. J of electromyography and kinesiol.

2008, (18):955-964.

29. Devreese, A., Staes F., Janssens, L., et al. Incontinent Women have altered Pelvic

Floor Muscle Contractions Patterns, The Journal of Urology. 2007;178 (2):558-562.

30. Sapsford, R. Rehabilitation of pelvic floor muscles utilizing trunk stabilization. Man

Ther. 2004; (9): 3-12.

Page 90: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

74

CAPÍTULO V

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do presente estudo confirmam a existência de sinergia na atividade

eletromiográfica dos músculos abdominais e do EAE durante as manobras utilizadas

neste estudo. O músculo glúteo máximo também participou desta sinergia, embora

apresentando nível de atividade eletromiográfica mais discreta.

Durante a manobra de contração voluntária do GM, evidenciou-se importante

co-ativação do EAE, tendo este, inclusive, apresentado maior nível de atividade

eletromiográfica do que o GM. Este achado tem importância clínica, pois reforça a idéia

de utilizar a sinergia muscular como estratégia terapêutica.

A mudança da postura supina para a ortostática promoveu elevação da atividade

eletromiográfica de base, com as nuligestas mostrando diferença estatística em todos os

músculos, com exceção do GM. Enquanto que, nas primíparas esta diferença somente

foi observada no EAE e OE, porém, a ausência de diferença no OI/TrA deve ser

interpretada com cautela. Em conjunto estas respostas intra-grupo confirmam que a

mudança postural eleva a atividade eletromiográfica de base, de característica tônica,

não tendo sido detectado diferença na comparação intergrupos.

Já nas manobras de tosse realizadas em posição supina, as primíparas mostraram

valores mais elevados na atividade eletromiográfica do EAE. Esta maior atividade do

EAE nas primíparas parece estar diretamente relacionada com o processo gestacional,

onde o aumento progressivo da pressão intra-abdominal impõe respostas tônicas e

fásicas mais enérgicas para manter a continência.

Considerando que as primíparas avaliadas realizaram parto cesariano, as

mudanças impostas pela gestação em si parecem determinar adaptações nos músculos

do assoalho pélvico, neste caso monitorizado pelo EAE, que persistem após mais de

doze meses do parto.

A literatura cita que mulheres que realizaram parto vaginal apresentam, durante

o repouso, menor atividade eletromiográfica. Por esta razão, seria interessante verificar

se a diminuição desta atividade tônica teria repercussões na resposta da manobra

voluntária de tosse, de característica predominantemente fásica, em mulheres

continentes submetidas ao parto vaginal.

Page 91: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

75

Os resultados deste estudo sugerem que o processo gestacional promove

alterações nos MAP e nos músculos abdominais, portanto, seria importante como

medida de prevenção de disfunções do assoalho pélvico, a realização de um tratamento

fisioterapêutico no pré e no pós-parto, a fim de manter ou restaurar força, coordenação,

propriocepção e resistência desses músculos.

Sugere-se ainda a realização de novos estudos com um número amostral maior e

a inclusão de primíparas submetidas a parto vaginal instrumental e não instrumental.

Page 92: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

76

APÊNDICES

Page 93: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

77

APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título: Estudo comparativo da sinergia entre os músculos esfíncter anal externo,

transverso profundo oblíquo externo e glúteo máximo em mulheres continentes.

Coordenador: Profª.Glória Elizabeth Carneiro Laurentino

Endereço do local de Pesquisa: Rua Aníbal falcão, 77; Graças.

Endereço profissional da pesquisadora: Clínica FISIOMAX –

Rua:Aníbal Falcão,77; Graças. Recife-PE-Brasil. CEP: 50670-901. Telefone: (81)

32223488.

Justificativa do trabalho: A execução deste trabalho se justifica pelo fato de ter como

objetivo verificar a existência de sinergia entre o esfíncter anal externo que faz parte dos

músculos do assoalho pélvico, e os músculos abdominais, especialmente o transverso do

abdome e oblíquo interno através de avaliações objetivas com eletromiografia, visando à

abordagem de uma forma eficaz para prevenção ou o tratamento da incontinência

esfincteriana.

Este trabalho tem como objetivo geral: Avaliar a existência de sinergia entre os

músculos esfíncter anal externo, transverso profundo e glúteo máximo com

eletromiografia em mulheres continentes.

Benefícios do estudo: As informações coletadas nesse estudo servirão para montar um

novo protocolo de tratamento que seja eficaz na prevenção e tratamento de mulheres

com incontinência esfincteriana.

Possíveis riscos: O estudo oferece risco mínimo à saúde das mulheres, podendo os

eletrodos de superfície auto-adesivos causarem algum tipo de alergia nas mulheres, que

não é comum.

Caso não compreenda o conteúdo ou qualquer palavra que há neste termo de

consentimento, pergunte ao investigador, para melhor esclarecimento. Ambas as partes

receberão uma cópia deste termo de consentimento para o seu registro.

A Senhora está sendo convidada a participar de um estudo sobre: Estudo da sinergia

entre os músculos esfíncter anal externo, transverso profundo e glúteo máximo em

mulheres continentes.

Page 94: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

78

Esse estudo não requer nenhum tipo de ônus para a paciente, sendo todos os

custos de total responsabilidade da pesquisadora.

Eu,______________________________________________________________,

RG ________________,Idade________,declaro que entendi as informações contidas

neste termo de esclarecimento, e todas as minhas dúvidas em relação ao estudo e a

minha participação nele foram respondidas satisfatoriamente. Dou livre o meu

consentimento em participar do estudo até que decida pelo contrário.

Os resultados deste estudo poderão ser aproveitados para fins de ensino e

pesquisa, desde que minha identidade não seja revelada. Reservo-me o direito de

interromper a minha participação no estudo se julgar conveniente, a qualquer momento,

sem nenhuma penalidade.

__________________________ ____________________________

Voluntária Testemunha 1

_________________________ ____________________________

Pesquisadora Testemunha 2

Page 95: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

79

APÊNDICE II

CHECK LIST

Nome:

Idade:

Peso:

Estatura:

Dobra Cutânea abdominal:

Profissão:

Data da última menstruação:

Duração do ciclo menstrual:

Gestação Sim ( ) Não ( )

Tipo de parto normal ( ) cesáreo ( )

Tempo de parto:

Já teve algum episódio de perda de urina? Sim ( ) Não ( )

Tem constipação intestinal? Sim ( ) Não ( )

Faz esforço para evacuatório? Sim ( ) Não ( )

Tem sensação de evacuação incompleta? Sim ( ) Não ( )

Fezes caprinas? Sim ( ) Não ( )

Page 96: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

80

APÊNDICE III

Comparação intergrupo segundo as posições de repouso supino e repouso ortostático.

Grupos

Variáveis

Nuligestas Primíparas p-valor

Idade N (anos) 1 27,1 ± 5,49 29,9 ± 5,07 0,129 *

IMC N (Kg/m2) 1 22,1 ± 2,35 23,1 ± 2,57 0,256 *

Dab N (mm) 1 20,5 ± 6,51 22,4 ± 6,54 0,408 *

REPOUSO SUPINO

EAE 1 5,7 ± 2,16 5,6 ± 2,92 0,926 *

OI/TrA 1 5,4 ± 2,69 6,1 ± 2,58 0,418 *

OE 1 8,3 ± 2,62 7,6 ± 3,78 0,535 *

GM 1 4,7 ± 1,67 5,1 ± 2,45 0,582 *

REPOUSO ORTO

EAE 1 10,0 ± 5,22 7,7 ± 2,44 0,105 *

OITrA 1 11,9 ± 6,58 8,9 ± 5,69 0,162 *

OE 1 13,3 ± 7,03 11,7 ± 6,53 0,506 *

GM 1 6,1 ± 2,55 4,8 ± 1,82 0,099 *

(*) Teste t Student; (1) Média ± Desvio-Padrão

Page 97: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

81

APÊNDICE IV

Atividade EMGRMS durante a contração voluntária máxima (CVM) dos músculos

esfíncter anal externo (EAE), oblíquo interno e transverso do abdome (OI/TrA), oblíquo

externo (OE) e glúteo máximo (GM) em mulheres continentes nuligestas e primíparas.

Grupos

Variáveis

Nuligestas Primíparas p-valor

CVM EAE SUPINO

EAE 1 90,2 ± 71,92 76,6 ± 44,79 0,515 *

OI/TrA 1 22,9 ± 19,59 14,1 ± 10,94 0,115 *

OE 2 11,5 (9,1; 26,2) 9,3 (5,6; 17,5) 0,143 **

CVM OI SUPINO

EAE 1 40,4 ± 23,36 30,8 ± 19,77 0,208 *

OI/TrA 1 100,3 ± 57,48 85,8 ± 44,40 0,416 *

OE 1 74,1 ± 36,52 66,3 ± 38,56 0,548 *

GM 2 8,1 (5,8; 13,2) 7,2 (6,5; 13,2) 0,667 **

CVM TrA SUPINO

EAE 1 50,2 ± 32,06 34,0 ± 18,21 0,079 *

OITrA 1 80,5 ± 58,60 54,4 ± 29,12 0,110 *

OE 1 51,7 ± 26,90 45,6 ± 25,87 0,506 *

GM 2 5,9 (5,1; 12,4) 5,7 (5,2; 6,4) 0,558 **

CVM OE SUPINO

EAE 1 41,3 ± 24,41 30,3 ± 13,28 0,110 *

OITrA 1 102,1 ± 80,11 81,7 ± 44,50 0,367 *

OE 1 95,5 ± 86,28 65,5 ± 31,41 0,187 *

GM 2 8,1 (6,4; 20,8) 8,0 (6,1; 9,7) 0,428 **

CVM GM PRONO

EAE 1 93,4 ± 57,06 50,5 ± 24,80 0,009 *

OITrA 1 17,8 ± 9,17 12,5 ± 8,38 0,092 *

OE 2 15,1 (11,5; 38,7) 15,1 (10,6; 26,3) 0,558 **

GM 2 51,4 (38,7; 131,9) 31,0 (16,3; 41,8) 0,006 **

(*) Teste t Student; (1) Média ± Desvio-Padrão. (**) Teste de Mann-Whitney; (2) Mediana (1º Quartil;

3º Quartil).

Page 98: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

82

APÊNDICE V

Registro da atividade EMGRMS durante a contração do transverso abdominal em direção

posterior (umbigo costa) e durante o esforço de tosse com os membros inferiores em

posição neutra e em rotação externa (tosse N e tosse RE) nas posturas supino e

ortostática

Variáveis

Grupo

Nulípara Primípara p-valor

UMBIGO COSTA SUPINO

EAE 1 35,9 ± 23,20 27,4 ± 19,51 0,258 *

OITrA 2 29,2 (12,8; 57,5) 24,1 (16,0; 30,6) 0,408 **

OE 1 30,9 ± 26,07 25,1 ± 11,08 0,413 *

GM 2 6,2 (5,1; 11,3) 5,7 (4,5; 7,9) 0,293 **

TOSSE N SUPINO

EAE 1 43,1 ± 22,54 65,5 ± 31,29 0,023 *

OITrA 1 83,6 ± 47,77 59,3 ± 34,88 0,100 *

OE 1 95,0 ± 63,57 79,8 ± 42,72 0,419 *

GM 2 6,8 (4,6; 9,9) 6,8 (5,9; 10,7) 0,418 **

TOSSE RE SUPINO

EAE 1 42,9 ± 19,77 61,4 ± 25,64 0,025 *

OITrA 1 71,1 ± 46,92 62,5 ± 45,31 0,589 *

OE 1 82,9 ± 51,53 76,3 ± 36,86 0,673 *

GM 2 6,7 (5,4; 11,9) 6,8 (6,1; 10,5) 0,836 **

UMBIGO COSTA ORTO

EAE 2 25,3 (18,0; 62,4) 29,3 (19,9; 60,4) 0,667 **

OITrA 2 44,3 (19,6; 89,3) 30,6 (19,0; 39,1) 0,143 **

OE 2 25,7 (16,7; 35,8) 30,1 (18,6; 38,8) 0,605 **

GM 2 6,3 (5,1; 10,3) 6,9 (5,0; 15,3) 0,890 **

TOSSE N ORTO

EAE 1 41,8 ± 25,11 53,9 ± 32,57 0,234 *

OITrA 1 82,1 ± 55,41 58,8 ± 40,42 0,171 *

OE 1 98,1 ± 72,62 83,3 ± 46,59 0,484 *

GM 2 8,3 (5,1; 11,8) 6,8 (5,4; 11,5) 0,904 **

TOSSE RE ORTO

EAE 1 38,8 ± 21,53 48,8 ± 26,63 0,237 *

OITrA 1 87,0 ± 63,01 53,3 ± 32,49 0,061 *

OE 1 101,9 ± 75,15 86,4 ± 45,82 0,473 *

GM 2 7,8 (5,8; 12,5) 6,5 (5,4; 13,4) 0,617 **

(*) Teste t Student; (1) Média ± Desvio-Padrão. (**) Teste de Mann-Whitney; (2) Mediana

(1º Quartil; 3º Quartil). EAE- esfíncter anal externo; OI/TrA- oblíquo interno e transverso do abdome;

OE- oblíquo externo; GM- glúteo máximo.

Page 99: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

83

APÊNDICE VI

Correlação da atividade EMGRMS durante o repouso supino e repouso ortostático

Variáveis Nulípara Primípara

EAE OI/TrA OE GM EAE OI/TrA OE GM

REPOUSO

SUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,36 1 - - 0,349 1 - -

OE -0,065 0,2 1 - -0,246 0,377 1 -

GM 0,258 0,35 0,157 1 -0,063 0,169 0,129 1

REPOUSO ORTO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,217 1 - - 0,253 1 - -

OE 0,276 0,065 1 - 0,321 0,364 1 -

GM 0,629* -0,01 0,412 1 0,426 0,455 0,581* 1

Correlação de Spearman ( r)

(*) Correlação Significativa (p-valor 0,05)

Page 100: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

84

APÊNDICE VII

Correlação da atividade EMGRMS entre mulheres continentes nuligestas e primíparas

durante a contração do músculo transverso abdominal/obliquo interno na manobra

umbigo costa e na manobra de tosse com membros inferiores em rotação neutra (N) e

em rotação externa (RE) nas posturas supino e ortostática.

Grupo

Variáveis Nuligestas Primíparas

EAE OI/TrA OE GM EAE OI/TrA OE GM

UMBIGO COSTA

SUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA -0,329 1 - - 0,379 1 - -

OE -0,005 0,47 1 - 0,544* 0,629* 1 -

GM 0,378 -0,118 0,178 1 0,217 0,216 0,215 1

TOSSE N SUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,238 1 - - 0,172 1 - -

OE 0,521* 0,367 1 - 0,311 0,445 1 -

GM 0,383 0,204 0,605 1 0,134 0,204 -0,15 1

TOSSE RE SUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA -0,056 1 - - -0,186 1 - -

OE 0,497* 0,424 1 - 0,015 0,632* 1 -

GM 0,129 0,009 0,135 1 -0,049 0,402 0,3 1

UMBIGO COSTA

ORTO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA -0,164 1 - - 0,14 1 - -

OE -0,245 0,245 1 - 0,136 0,269 1 -

GM 0,42 -0,274 -0,222 1 0,766* 0,309 0,027 1

TOSSE N ORTO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,598* 1 - - -0,385 1 - -

OE 0,613* 0,475 1 - 0,21 0,336 1 -

GM 0,510* 0,314 0,674* 1 0,417 0,085 0,058 1

TOSSE RE ORTO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,027 1 - - -0,468 1 - -

OE 0,458 0,368 1 - 0,086 0,23 1 -

GM -0,088 0,324 0,061 1 0,187 0,202 0,229 1

Correlação de Spearman (r)

(*) Correlação Significativa (p-valor 0,05)

Page 101: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

85

APÊNDICE VIII

Correlação da atividade EMGRMS entre mulheres continentes nuligestas e primíparas

durante as atividades de contração voluntária máxima (CVM) dos músculos esfíncter

anal externo (EAE), oblíquo interno e transverso abdominal (OI/TrA), oblíquo externo

(OE) e glúteo máximo (GM) na posição de supino em litotomia.

Grupo

Variáveis Nuligestas Primíparas

EAE OI/TrA OE GM EAE OI/TrA OE GM

CVM EAE

SUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,081 1 - - 0,279 1 - -

OE -0,15 0,512* 1 0,11 0,545* 1 -

GM 0,356 0,037 -0,148 1 0,263 0,327 0,253 1

CVM OI SUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,02 1 - - -0,319 1 - -

OE 0,667* 0,392 1 - 0,098 0,468 1 -

GM 0,26 0,183 0,177 1 0,481 -0,245 -0,161 1

CVMTrASUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA -0,052 1 - - 0,471 1 - -

OE 0,283 0,674* 1 - 0,502* 0,799* 1 -

GM 0,265 0,067 0,025 1 0,034 0,447 0,396 1

CVMOESUPINO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,275 1 - - -0,112 1 - -

OE 0,397 0,799* 1 - 0,342 0,618* 1 -

GM -0,042 0,502* 0,245 1 0,226 0,431 0,286 1

CVMGMPRONO

EAE 1 - - - 1 - - -

OI/TrA 0,169 1 - - 0,054 1 - -

OE 0,265 0,386 1 - 0,313 0,224 1 -

GM 0,711* 0,13 -0,036 1 0,758* 0,226 0,569* 1

Correlação de Spearman (r)

(*) Correlação Significativa (p-valor 0,05)

Page 102: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

86

ANEXOS

Page 103: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

87

ANEXO 1

Aprovação do Comitê de Ética

Page 104: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

88

ANEXO 2

QUESTIONÁRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FÍSICA – IPAQ

- VERSÃO CURTA –

Nome:_______________________________________________________

Data: ______/ _______ / ______ Idade : ______ Sexo: F ( ) M ( )

Nós estamos interessados em saber que tipos de atividade física as pessoas fazem como

parte do seu dia a dia. Este projeto faz parte de um grande estudo que está sendo feito

em diferentes países ao redor do mundo. Suas respostas nos ajudarão a entender que tão

ativos nós somos em relação às pessoas de outros países. As perguntas estão

relacionadas ao tempo que você gasta fazendo atividade física na ÚLTIMA semana. As

perguntas incluem as atividades que você faz no trabalho, para ir de um lugar a outro,

por lazer, por esporte, por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no

jardim. Suas respostas são MUITO importantes. Por favor, responda cada questão

mesmo que considere que não seja ativo. Obrigado pela sua participação !

Para responder as questões lembre que:

Atividades físicas VIGOROSAS são aquelas que precisam de um grande

esforço físico e que fazem respirar MUITO mais forte que o normal.

Atividades físicas MODERADAS são aquelas que precisam de algum esforço

físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal

Para responder as perguntas pense somente nas atividades que você realiza por pelo

menos 10 minutos contínuos de cada vez.

1a Em quantos dias da última semana você CAMINHOU por pelo menos 10 minutos

contínuos em casa ou no trabalho, como forma de transporte para ir de um lugar para

outro, por lazer, por prazer ou como forma de exercício?

dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum

1b Nos dias em que você caminhou por pelo menos 10 minutos contínuos quanto tempo

no total você gastou caminhando por dia?

horas: ______ Minutos: _____

Page 105: SINERGIA MUSCULAR ABDOMINO-PÉLVICA EM MULHERES …€¦ · LA Levantador do ânus MAP Músculos do Assoalho Pélvico μV Microvolt OE Oblíquo externo OI Oblíquo interno OI/TrA

89

2a. Em quantos dias da última semana, você realizou atividades MODERADAS por

pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo pedalar leve na bicicleta, nadar,

dançar, fazer ginástica aeróbica leve, jogar vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer

serviços domésticos na casa, no quintal ou no jardim como varrer, aspirar, cuidar do

jardim, ou qualquer atividade que fez aumentar moderadamente sua respiração ou

batimentos do coração (POR FAVOR NÃO INCLUA CAMINHADA)

dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum

2b. Nos dias em que você fez essas atividades moderadas por pelo menos 10 minutos

contínuos, quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia?

horas: ______ Minutos: _____

3a Em quantos dias da última semana, você realizou atividades VIGOROSAS por pelo

menos 10 minutos contínuos, como por exemplo: correr, fazer ginástica aeróbica, jogar

futebol, pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados

em casa, no quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos elevados ou qualquer

atividade que fez aumentar MUITO sua respiração ou batimentos do coração.

dias _____ por SEMANA ( ) Nenhum

3b Nos dias em que você fez essas atividades vigorosas por pelo menos 10 minutos

contínuos quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia?

horas: ______ Minutos: _____

Estas últimas questões são sobre o tempo que você permanece sentado todo dia, no

trabalho, na escola ou faculdade, em casa e durante seu tempo livre. Isto inclui o tempo

sentado estudando, sentado enquanto descansa, fazendo lição de casa visitando um

amigo, lendo, sentado ou deitado assistindo TV. Não inclua o tempo gasto sentando

durante o transporte em ônibus, trem, metrô ou carro.

4a. Quanto tempo no total você gasta sentado durante um dia de semana?

______horas ____minutos

4b. Quanto tempo no total você gasta sentado durante em um dia de final de semana?

______horas ____minutos.


Recommended