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Educação Bilingue e Bicultural de Alunos Surdos Maria José Freire 8 Julho 2015 Escola Superior de Educação - Instituto Politécnico de Setúbal [email protected] [email protected] Seminário partilha de práticas nas NEE(s) Práticas, Experiências e Partilhas no trabalho com alunos com NEE Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro Auditório do CCC - Caldas da Rainha

Apresentação educação bilingue criança surda mjfreire_julho_2015

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Page 1: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

Educação Bilingue e

Bicultural de Alunos Surdos

Maria José Freire

8 Julho 2015

Escola Superior de Educação - Instituto Politécnico de Setúbal

[email protected]

[email protected]

Seminário partilha de práticas nas NEE(s)

Práticas, Experiências e Partilhas no trabalho

com alunos com NEE

Agrupamento de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro

Auditório do CCC - Caldas da Rainha

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Educar + comunicar

Respeitar + aceitar

Identidade cultural

Identidade linguística

Educação Comunicação e Identidade

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Criança surda bilingue, com duas culturas e

uma identidade segura, construída com

base no respeito pelas suas

características individuais

- não importa o grau de surdez ou o tipo de

tecnologia de suporte auditivo.

Leitura aconselhada:

Implants, signing let deaf kids be bilingual: experts

BY RANDI BELISOMO

http://uk.reuters.com/article/2015/06/16/us-deafness-signing-kids-

idUKKBN0OV2LD20150616

Educação Comunicação e Identidade

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Criança surda

Jovem surdo

Adulto surdo

Idoso surdo

As tecnologias mudam

A humanidade perdura pela

cultura e pela educação:

que opções?

Educação Comunicação e Identidade

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Educação bilingue e bicultural

das crianças e jovens surdos

Língua Gestual Portuguesa como primeira língua.

Língua Portuguesa como segunda língua.

Pressupostos teóricos

O papel da família

O papel da escola

Estudo contrastivo LGP/ PL2

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Educação bilingue e bicultural

LGP – Primeira Língua/Língua Materna

Aquisição precoce – ambiente natural

LP – Segunda Língua

Aprendizagem – ensino explícito

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Importância do input visual

Para adquirir uma primeira língua, a criança

necessita de aceder a exemplos variados e

inteligíveis dessa língua. (Krashen: 1988, Mahshie:

1997, Sim-Sim: 2005)

A criança surda não o pode fazer pela via da

audição, mas sim pelo que tem de melhor: a

visão - meio de acesso à língua gestual, para

ela natural. (Mahshie: 1997, Sim-Sim: 2005, Estanqueiro: 2006)

Page 8: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

Acesso à primeira língua

A linguagem oral não é a modalidade natural da

aquisição linguística das crianças surdas.

A surdez afecta a aquisição e desenvolvimento da

língua falada pela simples razão que o input

auditivo não é recebido convenientemente.

A grande diferença está na modalidade de

aquisição natural que, não sendo auditivo-

vocal, assenta num sistema simbólico visual,

isto é, uma língua gestual. (Sim-Sim, 1998: 277)

Page 9: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

Língua Gestual Portuguesa

– Primeira língua

Importância da língua gestual para o

desenvolvimento global da criança surda:

Linguístico

Cognitivo

Social e cultural

Conhecimento do mundo

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LGP – Primeira Língua

A Língua Gestual Portuguesa é a primeira

língua da criança surda – deve fazer parte do

seu ambiente natural, em casa, na escola e

no seio da comunidade surda.

O desenvolvimento cognitivo decorre da

interação linguagem/pensamento. A LGP

desempenha esse papel na criança surda. (Amaral:2002)

Page 11: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

LGP – Primeira Língua (L1)

A LGP deve estar sempre presente em todo o currículo escolar e constituir igualmente matéria de estudo.

A criança deve estar rodeada de falantes nativos da língua, bem como de professores ouvintes e surdos e de intérpretes que dominem a LGP.

Page 12: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

A criança surda não tem memória

auditiva

Ao contrário do que se passa com as crianças

ouvintes, a aprendizagem da leitura e da escrita

não pode partir da mobilização do conhecimento

da língua oral.

É pela aprendizagem do vocabulário escrito e pelo

ensino explícito da estrutura gramatical da língua

oral que a criança surda acede ao conhecimento

dessa língua e, portanto, à compreensão do

significado do material escrito.

Page 13: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

LP Segunda Língua (L2)

Acesso visual

Ao dominarem a língua gestual, as crianças surdas adquirem um melhor sentido sobre o mundo que as rodeia e acedem a informação que tornará a emergência da literacia na segunda língua muito mais atrativa e acessível.

É fundamental estabelecer ligações e comparações entre a língua gestual e a língua escrita.

Page 14: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

LP Segunda Língua

Acesso visual

A relação entre a palavra ou expressão escrita

e o conceito tornam-se acessíveis à criança

surda através do gesto.

As dificuldades que a criança sente na parte

gramatical da língua devem ser ensinadas e

explicadas como se faz numa segunda língua

ou língua estrangeira. (Delgado-Martins, 1997 e Sim-Sim,

1998)

Page 15: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

LP Segunda Língua

Acesso visual

Segundo Erting & Pfau (1997) o contacto com

a literacia coincide com o processo de se

tornarem bilingues, pois a aprendizagem da

leitura e da escrita é feita na segunda língua.

Uma pessoa surda bilingue é uma

gestuante fluente e literata eficiente na

leitura e escrita da língua da comunidade

ouvinte.

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O papel da família

Aquisição precoce LGP - Comunicação em Língua Gestual no seio da família.

Os pais não devem ter receio de gestualizarpara os seus filhos bebés pois estão a contribuir para o seu desenvolvimento e a estimular uma capacidade de linguagem inata.

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Os pais surdos ou ouvintes devem ser

sensibilizados e informados para esta

condição essencial ao desenvolvimento

cognitivo, linguístico, emocional e social

dos seus filhos surdos.

O contacto com outras crianças surdas é

essencial para o seu crescimento natural

O contacto com a comunidade surda é

benéfico para pais e filhos

O papel da família

Page 18: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

O papel da família

Aprendizagem da Língua Portuguesa como

Segunda Língua – Leitura e escrita

O acesso à leitura e escrita deve começar

em casa: (Svartholm: 1998, Stewart & Clark:2003)

• pelo contacto com materiais escritos e

pela leitura de histórias infantis, traduzidas

em LGP;

• fazendo a ponte com a palavra escrita.

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A leitura de livros e revistas deve ser feita

com crianças em fase pré-escolar porque

diverte, estimula e satisfaz a curiosidade

da criança, e não por causa de objetivos

educacionais.

Através da leitura, a criança será bem

preparada para a aprendizagem da segunda

língua.

O papel da família

Page 20: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

Elevar as expetativas quanto ao futuro dos filhos surdos.

Uma posição positiva da família é encorajadora do desenvolvimento. (Mahshie, 1997)

Dar o seu tempo aos filhos e impor disciplina de estudo.

O papel da família

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A língua portuguesa deve ser ensinada à

criança surda na sua vertente escrita como

Língua Não Materna (LNM) ou Língua

Segunda (L2)

O seu ensino como L2 beneficia do princípio de

que a criança surda possui uma primeira língua

(LGP) cuja aquisição foi o mais natural possível,

tendo em conta que cerca de 5 a 10% de

crianças são filhas de pais ouvintes.

O papel da escola

Page 22: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

Deverá ser desenvolvido um método de

ensino de leitura “silenciosa” e de escrita

com base na relação grafia e gesto, para

fazer sentido. (Delgado-Martins:1997;

Svartholm:1998)

Aquilo que se faz com a criança surda tem

mais efeito no seu desenvolvimento

linguístico e cognitivo do que o facto de

não ouvir. (Stokoe:2001)

O papel da escola

Page 23: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

• Proporcionar um ambiente rico em LGP;

• estratégias adequadas no ensino do

Português L2;

• criar hábitos de trabalho;

• não reduzir currículos, o que dificulta

prosseguimento de estudos superiores aos

jovens surdos;

• realizar trabalho de equipa com os

professores de LGP e os intérpretes de LGP.

O papel da escola

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Ter em conta que:

• os alunos surdos não possuem memória

auditiva;

• que deve ser feito um ensino explícito da

gramática;

• que devem ser utilizadas estratégias

visuais;

• o professor de português deve conhecer

as estruturas da LGP .

O papel da escola

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• O ensino da gramática do PL2 deve ser explícito e ilustrado com exemplos seguindo as estratégias de L2 ou LE

– Existe um programa de PL2 para alunos surdos e o professor pode recorrer a materiais existentes de ensino do PL2, adequando-os ao nível de ensino e ao seu público alvo.

PROGRAMA PL2 PARA ALUNOS SURDOS

http://www.redesolidaria.org.pt/artigos/programa_pl2_versao_final.pdf

• Deve-se recorrer ao estudo contrastivo entre o PL2 e a LGP

– Numa L2 é mais fácil aprender a regra, a exceçãoé ensinada por comparação com a regra.

Português L2

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Propriedades específicas da LGP

Forma diferente de ver e representar o

mundo

Semelhanças com as propriedades de todas as

línguas naturais

Propriedades específicas das línguas gestuais

• Produção motora e expressão facial;

• Perceção/receção visual e tátil;

• Uso do espaço gestual.

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Estudo contrastivo LP-LGP

Entre outros…

• Espaço gestual / Mudança de personagem

• Sintaxe – SOV ordem natural - “menina livro ler”

• Marcas de género (masculino/feminino)

• Sistema pronominal – “apontar”

• Verbos

o Flexão aspetual – andar, correr, trabalhar

o Marcadores de tempo verbal

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Bibliografia

ALMEIDA, M.J.FREIRE (2007): A criança surda e o desenvolvimento da literacia,

Diss.Mest. da Universidade de Aveiro, https://ria.ua.pt/handle/10773/1312

AMARAL, M.A. (2002): Língua Gestual e Leitura em Crianças Surdas – Estudo

Experimental de Aplicação de um Modelo Bilingue, Diss.Dout., Lisboa, FL – UL

DELGADO-MARTINS, M.R. (1997b): “Como aprendem as crianças surdas a ler e a

escrever”, NOESIS, Outubro/Dezembro 1997

ERTING, L. e PFAU, J. (1997): Becoming Bilingual: Facilitating English Literacy

Development Using ASL in PreSchool, no sítio

http://clerccenter.gallaudet.edu/Products/Sharing-Ideas/planning/SI-Planning.pdf,

ESTANQUEIRO, P. (2006): “Língua Gestual Portuguesa – uma opção ou um direito?

– O meio menos restritivo na educação de Surdos” in BISPO, M., COUTO, A.,

CLARA, M.C. e CLARA, L. (2006): o Gesto e a Palavra I, Lisboa, Caminho

FREIRE, M. J. (2011): A criança surda e o desenvolvimento da literacia, Coleção

Informar, nº 7, Lisboa, INR – Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P.

Page 29: Apresentação educação bilingue criança  surda mjfreire_julho_2015

KRASHEN, S. D. (1988): Second Language Acquisition and Second Language

Learning, Englewood Cliffs, Prentice Hall Inc.

MAHSHIE, S. N. (1997): “A First Language : Whose Choice Is It” in

http://clerccenter.gallaudet.edu/Products/Sharing-Ideas/afirst/smahshie.html

SIM-SIM, I. (1998): Desenvolvimento da Linguagem, Lisboa: Universidade Aberta

SIM-SIM, I. (org.) (2005): A Criança Surda – Contributos para a sua Educação,

Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian

STEWART, D. A. e CLARKE, B. R. (2003): Literacy and Your Deaf Child, Washington,

D.C., Gallaudet University Press

STOKOE, W. (2001): “Deafness, Cognition, and Language” in CLARK, M.D.,

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Washington, Gallaudet University Press

SVARTHOLM, K. (1998): “Aquisição de segunda língua por surdos”, Espaço, nº. 9,

Janeiro – Junho 1998, Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Educação de Surdos, pp.

38-45

Bibliografia