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SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE BACHAREL EM TEOLOGIA A Doutrina Bíblica do Pecado Alberto Simonton Albuquerque Pereira RECIFE 2006

A doutrina bíblica do pecado

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Page 1: A doutrina bíblica do pecado

SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE

BACHAREL EM TEOLOGIA

A Doutrina Bíblica do Pecado

Alberto Simonton Albuquerque Pereira

RECIFE

2006

Page 2: A doutrina bíblica do pecado

2

SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE

BACHAREL EM TEOLOGIA

A Doutrina Bíblica do Pecado

Alberto Simonton Albuquerque Pereira

RECIFE

2006

Monografia apresentada sob orientação do Rev.

Stéfano Alves dos Santos, objetivando cumprir

as exigências do Presbitério do Agreste de

Pernambuco (PAPE), de acordo com as

disposições contidas no Art. 120 alínea “b” da

CI/IPB, que trata de licenciatura e ordenação de

candidatos ao Sagrado Ministério.

Page 3: A doutrina bíblica do pecado

3

FOLHA DE APROVAÇÃO

___________________________________________

Orientador Rev. Stéfano Alves dos Santos

Data de aprovação:____/_____/_____

i

Page 4: A doutrina bíblica do pecado

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, meu Mestre, Capacitador, e Salvador da minha vida. O qual tem me abençoado em

todo o tempo, e me vocacionou para este ministério.

À minha esposa pelo apoio dado a mim em todos os momentos difíceis me incentivando

nesta jornada custosa, sendo também um constante auxílio na vida.

À minha família que sempre esteve lado a lado comigo quando precisei.

À Igreja Presbiteriana de Lajedo pelo apoio concedido durante todo o período do curso.

Ao Presbitério do Agreste de Pernambuco que depositou sua confiança em mim

reconhecendo meu chamado ao sagrado ministério.

Aos professores do Seminário Presbiteriano do Norte que colaboraram em meu crescimento

intelectual, preparando-me mais para o ministério.

ii

Page 5: A doutrina bíblica do pecado

5

DEDICATÓRIA

À minha esposa, que é uma dádiva de Deus para minha vida.

À minha família, a quem desejo todas as bênçãos da parte de Deus.

iii

Page 6: A doutrina bíblica do pecado

6

BASE CONFESSIONAL

Confissão de Fé de Westminster

Capítulo VI Seção I

“Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram ao comerem

do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este

pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória.”

iv

Page 7: A doutrina bíblica do pecado

7

SUMÁRIO

Folha de aprovação...................................................................................................... i

Agradecimentos........................................................................................................... ii

Dedicatória.................................................................................................................. iii

Base Confessional....................................................................................................... iv

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 08

Capítulo 1

AS CONCEPÇÕES HUMANAS DO PECADO NA HISTÓRIA

1.1 A concepção de pecado da Igreja Católica Romana............................................. 13

1.2 O conceito de pecado dos reformadores............................................................... 21

1.3 Os puritanos e a concepção de pecado.................................................................. 22

1.4 O conceito de pecado após o Iluminismo.............................................................. 23

Capítulo 2

A EXISTÊNCIA DO PECADO NA VIDA HUMANA

2.1 O pecado e sua relação com Deus......................................................................... 30

2.2 Definição de pecado.............................................................................................. 35

2.3 As conseqüências do pecado................................................................................. 37

2.4 Cristo e sua vitória sobre o pecado........................................................................ 41

Capítulo 3

A NECESSIDADE DE VIDA HUMANA SEM PECADO

3.1 Justificação: Vitória sobre a condenação do pecado............................................. 44

3.2 Santificação: Vitória sobre o domínio do pecado................................................. 48

3.3 Glorificação: Vitória sobre a presença do pecado................................................. 52

CONCLUSÃO............................................................................................................. 57

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 60

Page 8: A doutrina bíblica do pecado

8

INTRODUÇÃO

O homem tem se mostrado um ser altamente progressivo. Desenvolve tudo que

utiliza a cada ano que passa. Novidades vão surgindo rapidamente em todos os aspectos

que possamos pensar. Dia a dia o homem modifica seu ambiente para melhor. Porém, o

mais intrigante não é sua capacidade de criar, mas a sua capacidade de destruir. A maldade

presente no coração humano é tão real quanto sua capacidade intelectual para invenções. E

assim como podemos receber tantas dádivas provindas de suas mãos, também podemos ver

a perversidade e a maldade surgindo cada vez mais de seu coração.

O mal que brota do coração do homem - denominado de pecado pela Bíblia – é

uma realidade presente em todo o mundo. Mesmo entre aqueles que não crêem na Bíblia,

há uma distinção entre aquilo que o homem faz de „bom‟ e aquilo que ele faz de „mal‟. E

ainda que não recorramos à Bíblia para demonstrar a irrefutável verdade da existência do

pecado entre os homens, mesmo assim podemos provar por outros meios. Como mesmo

fala o teólogo Donaldo D. Turner:

“A reconhecida necessidade de que deve existir um governo com autoridade, os cárceres e

as penitenciárias, os advogados, os juízes e os tribunais de justiça, muitos policiais,

exércitos e navios de guerra pertencentes às nações do mundo, provam a existência do

pecado em toda parte”.1

Desde os tempos mais antigos vemos a manifestação do pecado na raça humana.

Tão arraigado está entre os povos que chega a fazer parte dos seus provérbios populares. A

China, um povo existente desde há muito tempo, possui um provérbio que assim diz:

1 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação. São Paulo, Imprensa Batista Regular,

1985, p 24.

Page 9: A doutrina bíblica do pecado

9

“Existem dois homens bons: um é aquele que está morto e o outro é o que ainda não

nasceu”.2

Por mais que se queira negar sua presença, ou por mais que se deseje a sua ausência,

a verdade é que “o pecado é o fator inevitável em nossa história”.3 Está inserido nela, de tal

forma que não é possível negá-lo. Como diz o Dr. Jorge P. Pardington: “O conhecimento

ou sentido não dá um testemunho vacilante com referência à realidade do pecado. Todo

indivíduo sabe que é pecador. Nenhuma pessoa em idade responsável vive livre de um

sentimento de culpabilidade ou contaminação moral”4.

Já que não pôde extirpá-lo da humanidade, o homem correu em direção às

explicações do que seria o pecado e o mal. A antropologia deu sua parcela de contribuição,

mas não foi satisfatória. Como bem observou Bruce Milne:

“As antropologias seculares, porém não dão a ajuda necessária. Apesar da diversidade, elas

não têm uma resposta às questões finais: De onde veio a humanidade? Qual sua importância

final? Para onde vamos? Além disso, estão cheias de tensões não resolvidas em sua

compreensão da humanidade.”5

Sendo imperfeita em suas declarações, a antropologia deve então ceder lugar a

quem possa dar respostas convincentes ao homem. Com respeito a isto, temos que

considerar que, com certeza, “o conceito que qualquer pessoa, ou qualquer povo, tenha do

pecado é determinado por seu entendimento do caráter de Deus e da natureza do homem”.6

Por esta razão, a fonte de onde o homem vai tirar suas conclusões a respeito do pecado é de

suma importância. O cristianismo, por possuir em suas mãos a revelação vinda do próprio

Deus, não deveria jamais negligenciar o que dela se pode aprender sobre o tema pecado.

2 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 25.

3 William Fitch, Deus e o Mal. São Paulo, PES, 1984, p 71.

4 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 25.

5 Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia. São Paulo, ABU Editora S/C, 1996, p 12.

6 Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro, JUERP, 1977, p 149.

Page 10: A doutrina bíblica do pecado

10

Ela é a fonte mais segura de que o homem possa dispor! Contudo, infelizmente, não é

assim que acontece, e nem sempre aconteceu. Hoje em nossos dias podemos encontrar

muitos cristãos que não sabem distinguir, em meio aos conceitos errados do mundo, o que

realmente é pecado.

Para complicar mais ainda a situação, há divergências nas interpretações sobre este

assunto de pecado. E não somente isto, mas há também desvios doutrinários em relação ao

mesmo. Sob pelo menos dois aspectos percebemos desvios da verdadeira doutrina bíblica a

cerca do pecado. O primeiro desvio foi com relação ao próprio conceito de pecado; o

segundo desvio se deu pela maneira como os cristãos devem se comportar em relação a ele.

Acontece desta forma porque a mente humana pecaminosa tem dado as mais

possíveis saídas para se desculpar dos seus pecados. O homem não quer assumir suas faltas

diante do Criador. Como se não bastasse, o diabo também não pretende deixar que o

homem concorde com Deus a respeito da maldade que o pecado faz na vida da

humanidade. Donaldo D. Turner em seu livro A Doutrina do Pecado e da Salvação

expressa de maneira clara este fato:

“O diabo sabe que, enquanto a consciência do homem estiver mais ou menos tranqüila,

deixando-se enganar por um conceito errado da natureza do pecado e suas conseqüências,

não há muito medo de que tal alma chegue um dia a interessar-se pela sua salvação”.7

A humanidade tem fugido da verdade acerca do pecado e entrado em um caminho

mentiroso. Camuflando suas responsabilidades perante seu Deus, insiste em realizar „atos

religiosamente mais necessários e bondosos‟. Troca-se a obediência pela falsa religiosidade

entre os homens. Dietrich Bonhoeffer bem percebeu este falso caminho de adoração

analisando a situação já presente em sua época:

7 Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 62.

Page 11: A doutrina bíblica do pecado

11

“Diz-se por aí que é uma brutalidade da Igreja não querer compreender que sua primeva

tarefa hoje é servir às necessidades físicas. Se ela achar que, mesmo em nossos dias, ainda

devia falar, sempre e primeiramente de Deus, deixando o problema do pão para depois, é

crime”.8

Diante deste quadro triste de anormalidade do comportamento de muitos cristãos em

relação ao pecado, a Igreja não deve permanecer inerte. Considerando as necessidades pelas

quais a Igreja passa nesta época, este trabalho se propõe a conseguir respostas sobre o

assunto, a fim de conhecê-lo de modo mais claro e profundo. Em seguida, demonstrar o

imperativo bíblico de se viver uma vida santa. O tema será explorado na seguinte ordem:

No primeiro capítulo está apresentado As Concepções Humanas do Pecado na História. O

modo como o tema foi considerado por diversos teólogos e filósofos durante a história da

Igreja, revelando que nem sempre o pecado foi definido de uma forma única e objetiva. Em

seguida, no segundo capítulo, está exposto A Existência do Pecado na Vida Humana.

Abordando como se deu a entrada do pecado no mundo, sua relação com Deus e Seu pacto,

e as suas conseqüências visíveis e invisíveis. Para finalizar, o último capítulo fala sobre A

Necessidade de Vida Humana sem Pecado. Este capítulo apresenta verdades que devem

levar o cristão a pelejar contra o pecado.

Concluído o trabalho, o objetivo é podermos contemplar e esperar o futuro, que será

bem diferente da realidade percebida aqui nesta terra. É bem certo que o Catecismo Maior

de Westminster ensina que o episódio da Queda atingiu todo ser humano. Nele

encontramos o seguinte: “O pacto, sendo feito com Adão, como um representante legal,

não para si somente, mas para toda a sua posteridade, todo o gênero humano,

descendendo dele por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele naquela primeira

8 Dietrich Bonhoeffer, Tentação. São Leopoldo, Editora Sinodal, 1991, p 20.

Page 12: A doutrina bíblica do pecado

12

transgressão.”9 E é verdade igualmente, que a presença do pecado incomoda nossa

perspectiva de vida como vemos nos pequenos versos de Francis Thompson:

“Nada há que se inicie e se consume

que não venha a ser pago com queixume,

pois com alheia dor todos nascemos

e com a nossa própria perecemos”10

Porém, não devemos nos desanimar, visto que Deus tem um propósito em tudo que

faz. Ele é todo Sábio, e intrinsecamente Santo. Nós não podemos conhecer ou entender

tudo que Ele faz. Bem verdade que vemos desgraças acontecendo no mundo a todo

instante. Mesmo assim, “em última análise, embora ainda não enxerguemos o esquema do

Seu método, o mal será transformado num meio de glorificar a Deus”.11

9 Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior. São Paulo, Editora Cultura Cristã,

1999, p 16. 10

William Fitch, Deus e o Mal, p 7. 11

Ibid, p 17.

Page 13: A doutrina bíblica do pecado

13

CAPÍTULO 1

AS CONCEPÇÕES HUMANAS DO PECADO NA HISTÓRIA

1.1 - A concepção de pecado da Igreja Católica Romana

Embora tendo uma quantidade enorme de adeptos, a Igreja Católica está muito

afastada da revelação divina encontrada nas Escrituras. De certo não foi assim desde o

princípio, visto que a Igreja Primitiva perseverava na doutrina dos Apóstolos (At

2:42).12

E ainda que ela carregue o título de „católica‟, não obstante tem se afastado da

Palavra de Deus. O intrigante é que a designação católica foi dada a Igreja com sentidos

bem diferentes daquilo que ela crê e pratica nos dias atuais. O escritor Justo L. Gonzalez,

em um de seus livros, nos informa o seguinte sobre o surgimento do termo „católica‟

utilizado em relação à igreja: “Essa igreja era também „católica‟ porquanto pregava e

ensinava o evangelho „segundo o todo‟... em lugar de basear sua autoridade sobre tal ou

qual apóstolo, a igreja „segundo o todo‟ a basearia sobre „todos‟ os „apóstolos‟.”13

A história da Igreja, acoplado ao nosso conhecimento das doutrinas da Igreja

Católica Romana hoje em dia, não nos deixa dúvidas de que “juntamente com o

desenvolvimento da doutrina teológica, desenvolviam-se também as seitas, ou como lhes

chamavam, as heresias na igreja cristã”.14

O que foi acontecendo é que “os cristãos do

12

A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, p 128. 13

Justo L. Gonzalez, E Até os Confins da Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo. A Era dos Mártires. Vol I. São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1980, pp 107-108. 14

Jesse Lyman Hurlbut, História da Igreja Cristã. Flórida, Editora Vida, 1990, p 61.

Page 14: A doutrina bíblica do pecado

14

segundo e terceiro séculos lutaram não só contra as perseguições do mundo pagão, mas

também contra as heresias e doutrinas corrompidas, dentro do próprio rebanho.”15

Visto a Igreja Católica ter se desviado das Escrituras, sua doutrina acerca do pecado

também se afastou consideravelmente. Portanto, é digno de nota explicar as suas

concepções sobre o tema.

1.1.1 - Conceito de pecado

O conceito de pecado que a Igreja Católica professa tem haver somente com as

atitudes exteriores da natureza pecaminosa, e não com a corrupção da própria natureza16

passada a nós por meio de Adão. Segundo o teólogo Louis Berkhof esse é o conceito da

Igreja Católica:“O verdadeiro pecado sempre consiste num ato consciente da vontade. É certo que

as disposições e os hábitos que não estão de acordo com a vontade de Deus são de caráter

pecaminoso; contudo, não se lhes pode chamar pecados, no sentido estrito da palavra”.17

1.1.2 - Concepção do pecado original

Como foi exibido acima, a Igreja Católica Romana possui um conceito errado sobre

o pecado. Portanto, podemos esperar uma deturpação dos demais aspectos relacionados a

ele como uma conseqüência natural e provável. E é exatamente o que acontece. Ou seja, a

Igreja Católica falhou não unicamente em seu conceito sobre a essência do pecado em si,

mas também falhou com relação a sua idéia de „pecado original‟. Que, diga-se de

passagem, é totalmente deturpada e carente do testemunho bíblico. O teólogo David Clark,

15

Jesse Lyman Hurlbut, História da Igreja Cristã, p 61. 16

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17. 17

Louis Berkhof, Teologia Sistemática. Campinas, Luz Para o Caminho, 1990, p 237.

Page 15: A doutrina bíblica do pecado

15

expondo a doutrina do pecado original da Igreja Católica Romana, nos relata com precisão

o pensamento dela por meio das seguintes proposições:

1-O homem foi criado corpo e alma, mas estes eram antagônicos entre si;

2-A justiça ou retidão original foi um dom adicional, a fim de harmonizar os elementos

antagônicos da matéria e do espírito na constituição do homem;

3-Na queda o homem perdeu sua justiça original e ficou no estado de desarmonia em que

fora criado;

4-O pecado original é a perda da justiça original com a conseqüente desarmonia;

5- Todos, portanto, nasceram em pecado, mas o batismo remove esse pecado original e não

deixa nada na alma que seja propriamente de natureza pecaminosa. Entretanto, todos

podem pecar de novo por causa da concupiscência que ainda permanece (fomes –

combustível), mas esta concupiscência não é de natureza pecaminosa. 18

1.1.3 - Pecados veniais e mortais

Na doutrina da Igreja Católica Romana nos deparamos com uma „classificação de

pecados‟ formulada com o passar dos anos de sua história. Esta classificação consiste em

dois tipos de pecados: Os pecados veniais e os pecados mortais. Onde o pecado mortal

significa que “torna o pecador passível de castigo eterno”.19

A presente distinção está baseada no texto encontrado em (Gl 5:21)20

: “ invejas,

bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro,

18

David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática. Recife, Casa Editora Presbiteriana, s/d, pp 217, 218. 19

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 254. 20

Ibid, p 253.

Page 16: A doutrina bíblica do pecado

16

como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas

praticam”.21

A despeito de encontrarmos a declaração de que não herdarão o reino de Deus

os praticantes daqueles pecados, não implica que exista esta classificação de pecados no

texto. A classificação de pecados capitais (ou mortais) não é apoiada pela Bíblia, mas é

oriunda da teologia do período medieval da Igreja. “Alguns teólogos monásticos

provavelmente a princípio estabeleceram esse grupo de pecados, ao tentar sistematizar e

identificar todos os pecados essenciais, não necessariamente os mais sérios”.22

Esta opinião não ocorreu entre os teólogos de forma isolada na história da Igreja.

“Clemente de Alexandria e Orígenes admitiam que se podia traçar uma linha entre pecados

perdoáveis e não perdoáveis, mas recusaram classificá-los.”23

Entretanto, nem todos foram

como eles. “Tertuliano foi um estágio adiante e arrolou os pecados mais repulsivos

(incluindo homicídio, adultério, blasfêmia e idolatria ) como além de perdão, enquanto que

ofensas menos importantes podiam ser perdoadas.”24

A partir daí, o desenvolvimento

ocorre com o tempo até a conhecida diferenciação entre pecados „mortais‟ e pecados

„veniais‟. E surgindo também os „sete pecados mortais‟: Soberba, gula, luxúria, avareza,

inveja, ira, e a preguiça.

É inevitável que aprovando esta classificação, se abra uma porta para os

insubordinados cometerem „livremente‟ os pecados perdoáveis – veniais. Em razão disto,

21

A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada

no Brasil, p 204. 22

John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 158. 23

John R. W. Stott, I, II e III João – Introdução e Comentário. São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão, 1982, p 161. 24

Ibid, p 161.

Page 17: A doutrina bíblica do pecado

17

está presente em seu corpo de doutrina o próprio freio para esta possibilidade. O teólogo F.

R. Harm nos apresenta nitidamente o ensino da Igreja Católica a este respeito:

“para que ninguém se torne complacente, é indicado que o pecado venial pode levar ao

pecado mortal. Quando a pessoa se torna absorvida por seu pecado, a ponto de este se tornar

uma obsessão que finalmente a leva a desviar-se de Deus, a fonte de sua vida, ela entrou no

domínio do pecado mortal – e da morte eterna.”25

1.1.4 - Perdão de pecados

Tendo em vista que a Igreja Católica concebe a doutrina do pecado como algo que

afasta o homem de Deus, e também acredita na vida após a morte, é compreensível que ela

tenha um conceito de perdão de pecados. A doutrina Católica do perdão dos pecados

abrange pelo menos quatro aspectos: Penitência, batismo, Cristo e a missa.

Consideremos primeiramente a penitência. A palavra penitência, no Pequeno

Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, vem com a significação que se segue: “...

pena imposta pelo confessor para remissão dos pecados; sacrifícios para expiação dos

pecados”.26

Esta definição da palavra „penitência‟ encontrada neste dicionário é apropriada,

uma vez que está de acordo com a visão Católico-Romana do termo. Só é necessário

acrescentar que o pecado venial, segundo a Igreja Católica, “é perdoado com maior

facilidade, e até mesmo sem confissão. O perdão pelos pecados mortais só pode ser obtido

pelo sacramento da penitência”.27

Observemos o que o Concílio de Trento (1545-1563) fala sobre a penitência em suas

declarações da Sessão XIV (novembro de 1551). Rejeitando veementemente a posição

25

F. R. Harm, pecado mortal. In Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III. Walter A. Elwell, editor, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, p 118. 26

Hildebrando de Lima, organizador, Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira S.A., s/d. 27

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 254.

Page 18: A doutrina bíblica do pecado

18

protestante com respeito ao perdão dos pecados, a Igreja Católica Romana considera

anatematizadas as seguintes proposições:

“Que para a inteira e perfeita remissão dos pecados não são requeridos três atos num

penitente, como se fossem a matéria do sacramento, a saber, contrição, confissão e

satisfação... que as palavras de Nosso Senhor e Salvador: “A quem perdoardes os pecados”

etc[Jo 20.23] não devem ser entendidas como o poder de perdoar ou reter pecados no

sacramento da penitência...que a confissão sacramental não foi instituída pela autoridade

divina, nem é necessária para a salvação pela autoridade divina”28

Estas proposições anatematizadas demonstram como a Igreja do Senhor,

anteriormente „pura‟, com o passar do tempo chegou a rejeitar a verdade encontrada nas

Escrituras. Esta rejeição da Revelação não durou muito para acontecer. Já no tempo do

século VI, havia manuais que descreviam o modo das penitências.29

Num destes manuais

dizia que: “fazer penitência podia incluir jejum e orações, dar esmolas, viver em

abstinência, e assim por diante”.30

Com o passar dos anos foi acrescentada a confissão a um

sacerdote como meio também de absolvição de pecados.31

Como está patente, a heresia do

perdão de pecados por meio de penitências existe há muito tempo.

Voltemo-nos agora para a doutrina do batismo em relação ao pecado. O batismo na

doutrina da Igreja Católica Romana também exerce um papel importante com respeito ao

perdão de pecados. Para o catolicismo, o batismo é “eficaz para a salvação. Uma condição

sine qua non”.32

Segundo a compreensão da Igreja Católica Romana, o batismo “livra da

culpa do pecado original e de todos os pecados atuais cometidos até à hora do batismo,

28

Henry Bettenson, editor, Documentos da Igreja Cristã. São Paulo, ASTE, 1998, p 368. 29

Bengt Hägglund, História da Teologia. Porto Alegre, Concórdia, 1981, p 135. 30

Ibid, p 135. 31

Ibid, p 136. 32

David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 337.

Page 19: A doutrina bíblica do pecado

19

remove a corrupção do pecado, embora permaneça a concupiscência, e liberta o homem da

punição eterna e de todas as punições temporais positivas”.33

Como se não fosse satisfatória esta doutrina do batismo relacionado ao livramento

da corrupção e culpa do pecado, eles dizem que as boas obras servem igualmente para a

salvação do ser humano. Sintetizando, “a teoria católico-romana realmente importa em

duas justificações: uma por causa da graça infundida no batismo e a outra por causa do

mérito das boas obras praticadas pelo próprio homem”.34

“Embora a fé leve ao batismo com

sua graça infundida ou comunicada, fundamento final da justificação são as boas obras”.35

Quanto a Cristo e Sua obra contra o pecado, por mais absurdo que se apresente aos

olhos dos protestantes, a verdade é que na doutrina da salvação ensinada pela Igreja

Católica, o papel da obra de Cristo é um tanto limitado e inseguro. Cristo não é o salvador

eficaz dos eleitos de Deus. Ele é somente aquele que abriu a “porteira da salvação” para

quantos quiserem nela entrar. Ele a tornou possível, mas não real. Notemos a posição da

Igreja Católica explicada pelo teólogo Louis Berkhof:

“A expiação não somente tornou a salvação possível para o homem, mas de fato a garantiu.

Sobre este ponto os calvinistas contestam os católicos romanos, os luteranos, os arminianos

e todos quantos ensinam uma expiação universal. Estes afirmam que a expiação de Cristo

apenas tornou a salvação possível, e incerta, para aqueles a quem é oferecida.”36

O outro aspecto aceito e defendido pelos católicos que colabora no perdão dos

pecados é a missa. Dentre as finalidades da Santa Missa enumeradas por eles está: “Aplacar

a sua justiça e obter misericórdia (sacrifício propiciatório).”37

Do ponto de vista do

33

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pp 631, 632. 34

David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 319. 35

Ibid, p 321. 36

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 394. 37

A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de

mai/2006.

Page 20: A doutrina bíblica do pecado

20

catolicismo, “o Santo sacrifício da Missa é oferecido para adorar e glorificar a Deus, para

obter o perdão dos pecados, para pedir graças e favores pessoais e também pelas almas do

Purgatório.”38

A missa é tão poderosa que é capaz de beneficiar até os mortos „no

purgatório‟! Para uma melhor compreensão do papel que a missa exerce com referência ao

perdão dos pecados, vejamos a visão que eles demonstram ter sobre ela:

“É uma prolongação perene e incruenta (sem derramamento de sangue) do mesmo

Sacrifício do Calvário. Ambos os sacrifícios, o da Cruz no Calvário, e o da Missa em

nossos altares, constituem um único e idêntico sacrifício, pois que a Vítima e o Oferente

destes sacrifícios é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. O Sacerdote, como "Mediador

entre Deus e os Homens" (1 Tim. 2, 5) oferece o Santo Sacrifício da Missa em nome de

Jesus Cristo e da sua Igreja, pela salvação do mundo.”39

A idéia católica do poder da missa sobre os pecados está bem expressa nas palavras

de Leonardo de Porto Maurício: “Deus vos perdoa todos os pecados veniais que estais

determinados a evitar. Ele vos perdoa todos os vossos pecados desconhecidos que jamais

confessáreis. O poder de Satanás sobre vós é diminuído”.40

“ Por cada Missa tendes

diminuída a punição temporal devida a vossos pecados, mais ou menos, de acordo com

vosso fervor”.41

Os fiéis não estão realizando a missa sem esperança. Pelo contrário, a

promessa oferecida implicitamente na missa para os fiéis é causa suficiente para

perseverança em participar dela: “Cada Missa irá convosco ao Julgamento e implorará por

perdão para vós”.42

38

A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de

mai/2006. 39

A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de

mai/2006. 40

Leonardo de Porto Maurício, O Tremendo Valor da Santa Missa. Disponível em rosariopermanente.leiame.net/catequese/missa.php acessado em 25 de mai/2006. 41

Ibid. 42

Ibid.

Page 21: A doutrina bíblica do pecado

21

Por possuir um papel de enorme valor dentro da matéria de pecado, os fiéis devem

participar dela constantemente. No entender de teólogos durante a história da Igreja, a

missa é de valor altíssimo e deve ser considerada pelos fiéis. Nas palavras de Santo

Agostinho:

"Na hora da morte, as Missas, às quais tiveres assistido, serão a tua maior consolação. Um

dos fins da Santa Missa é alcançar para ti o perdão dos teus pecados. Em cada Missa, pois,

podes diminuir a pena temporal devida aos teus pecados, pena essa que será diminuída na

proporção do teu fervor. Será ratificada no céu a bênção, que do sacerdote receberes na

Santa Missa. Assistindo-a com devoção, prestas a maior das honras à Santa Humanidade de

Jesus Cristo" 43

Já na visão de São Jerônimo: "Cada Missa à que assistires, alcançar-te-á no céu

maior grau de glória. Serás abençoado em teus negócios pessoais e obterás as graças, que

te são necessárias".44

1.2 - O conceito de pecado dos reformadores

A reforma também contribuiu para uma definição de pecado. Desta feita, a

concepção de pecado não estava apoiada no que os reformadores achavam, nem ancorados

pela tradição, pois não havia nenhuma tradição reformada ainda. Mas certamente os

reformadores ao conceituar pecado procuraram uma regra maior e mais confiável para sua

concepção – Sola Scriptura. Porém, apesar de haver mais de um reformador na história da

igreja, iremos nos deter ao pensamento de Calvino, por ser ele base para nossa teologia

reformada.

43

A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de mai/2006. 44

A Santa Missa. Disponível em www.paginaoriente.com/catecismo/missa.htm acessado em 25 de mai/2006.

Page 22: A doutrina bíblica do pecado

22

Na concepção de Calvino, o pecado é uma questão de desobediência a Deus.

Vejamos nas suas palavras:

“A proibição contra o comer da árvore do conhecimento do bem e do mal era um teste de

obediência, de modo que Adão, ao obedecer, pudesse demonstrar que estava disposto a

sujeitar-se à autoridade de Deus... Visto que a mulher foi levada pelo engano da serpente a

descrer da Palavra de Deus e a desobedecê-la, fica evidente que o próprio início da queda

era a desobediência”.45

Como percebemos, a concepção dele era que o pecado consistia em não obedecer a

Palavra de Deus. Esta forma de ver o assunto é altamente bíblica e fundamentada em

profundo estudo das Escrituras. Diferentemente da concepção Católica. Sua concepção foi

tão acertada que é seguida mais tarde pelo movimento puritano da Inglaterra.

1.3 - Os puritanos e a concepção de pecado

1.3.1 - Quem foram os puritanos?

Antes de entender qual a concepção de pecado que os Puritanos abraçaram, é mister

conhecer quem eles foram e o que queriam. Logo de início esclarecemos que a designação

„puritano‟, não reflete admiração para com aqueles que seguiam determinada linha de

pensamento. Ao contrário disto, a expressão não era para elogiar, mas para denegrir.

“Sempre foi uma palavra satírica e ofensiva, subentendendo mal-humor, censura,

presunção, e certa medida de hipocrisia”.46

A expressão „Puritano‟ fazia referência a um corpo de pessoas dentro da Igreja da

Inglaterra. O teólogo J. I. Packer pode nos auxiliar com sua breve explicação a cerca do

surgimento do Puritanismo e do contexto em que estavam inseridos:

45

Joseph Pitts Wiles, Ensino Sobre o Cristianismo. São Paulo, PES, p 106,107. 46

J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus. São José dos Campos, Editora FIEL, 1996, p 17.

Page 23: A doutrina bíblica do pecado

23

“Defino o puritanismo como o movimento dos séculos XVI e XVII, na Inglaterra, que

procurava reformar e renovar profundamente a igreja da Inglaterra, além do que era

permitido pelo Acordo Elisabetano”.47

“Em resumo, os puritanos queriam excluir do culto

anglicano qualquer coisa que não fosse ordenada pelas Escrituras”.48

A importância deles para nosso estudo não é a coragem de enfrentar todos para

conseguir reformar a igreja de seu país. “Eles desejavam “purificar” a igreja livrando-se dos

“papistas” que ainda restavam”,49

isto é muito positivo. Mas o que eles eram como cristãos

é que nos é respeitável. Pode-se até perguntar: “O que estes zelotes nos poderiam dar do

que precisamos? A resposta é, em uma palavra, maturidade”.50

Não simples cristãos que

estiveram de passagem na terra da Inglaterra. Eram mais do que somente isto. Novamente

utilizando as palavras de J. I. Packer:

“Os Puritanos típicos não eram homens selvagens, ferozes e monstruosos fanáticos

religiosos, e extremistas sociais, mas sóbrios, conscienciosos, e cidadãos de cultura, pessoas

de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas virtudes domésticas, e sem grandes

defeitos... eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus”.51

1.3.2 - O conceito de pecado dos puritanos

Não poderia haver lugar mais claro para se obter o ensino dos Puritanos sobre a

doutrina do pecado do que na Confissão de Fé de Westminster e no Catecismo Maior.

Nelas podemos enxergar nitidamente a posição deles a respeito do tema. Para conhecermos

o conceito de pecado expresso por eles vamos nos valer do Catecismo Maior de

Westminster em sua resposta à pergunta „o que é pecado?‟: “Pecado é qualquer falta de

47

J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus. São José dos Campos, Editora FIEL, 1996, p 33. 48

Robert E. Clouse; Richard V. Pierard; Edwin M. Yamauchi; Dois Reinos – A Igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003, p 326. 49

Ibid, p 326. 50

J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus, p 18. 51

J. I. Packer, Entre os Gigantes de Deus, p 18.

Page 24: A doutrina bíblica do pecado

24

conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como

regra à criatura racional”.52

Ou seja, os puritanos conseguiram entender que mais do que cumprir a Lei divina

exteriormente, Deus requer uma atitude do coração que seja idêntica ao que exige a Sua

Lei. Qualquer ponto em discordância com ela, seja além, seja aquém, é digno de se chamar

pecado.

1.4 - O Conceito de Pecado após o Iluminismo

1.4.1 - O que foi o Racionalismo (Iluminismo)?

“A era do iluminismo (alemão, Die Aufklärung) abrange, a grosso modo, o século

XVIII.”53

Esta época é marcada pela presença do racionalismo. “A causa principal dessa

tendência para o racionalismo foi o desenvolvimento extraordinário do conhecimento que

começara na Renascença”.54

Na realidade o racionalismo não surgiu somente nesta época,

porém muitos anos antes com os gregos. Entretanto, o racionalismo apesar de estar presente

na filosofia grega, “é mais freqüentemente associado com os filósofos do iluminismo tais

como Descartes, Spinoza e Leibniz”.55

“Embora o Iluminismo tenha tido algumas das suas

raízes no Racionalismo do século XVII, as idéias que o caracterizam foram muito além do

Racionalismo de Descartes, Spinoza e os demais pensadores contemporâneos deles.” 56

52

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17. 53

C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II. Walter A. Elwell, editor, São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1990, p 306. 54

Robert Hastings Nichols, História da Igreja Cristã, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1992, p 223. 39

G. R. Habermas, Racionalismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 225. 56

C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 306.

Page 25: A doutrina bíblica do pecado

25

Foi uma época de grandes progressos na ciência e no conhecimento humano. Um

valor enorme foi dado aos poderes da razão. Caminhando desta forma “o espírito da era

moveu homens a submeterem todas as idéias e instituições a uma prova racional, para então

decidirem se tais idéias e instituições eram dignas de aceitação.”57

Esta maneira de pensar atingiu todas as áreas do pensar existentes no mundo. E

como não poderia deixar de ser, as crenças religiosas também foram atingidas. O

racionalismo substituiu a revelação pela razão e os sentidos, sendo estes últimos

considerados os caminhos naturais para o saber.58

O desvio foi tão grande, que o modo de

olhar as Escrituras foram os mais variados possíveis. A tal ponto de aparecerem no

desenrolar da história pessoas como Gottlieb E. Lessing (1729-1781) que negava “qualquer

distinção entre cristianismo e religiões não-cristãs”.59

O Racionalismo penetrou fortemente nos conceitos de vários cristãos. Sua invasão

destruidora não foi irrelevante. O Iluminismo do século XVIII, é marcado por

características distintas:

“Acentua-se o impulso racionalista que assaltara a teologia no período escolástico: agora,

não se contenta mais em provar a racionalidade da fé demonstrando que as verdades

reveladas se harmonizam com os cânones da razão, mas também submete a Revelação ao

tribunal da razão, dando a esta o dever de purificá-la de todos os elementos

sobrenaturais.”60

O Iluminismo não chegou sem deixar sua marca degradante na teologia da Igreja.

Por causa de sua “nova maneira de pensar”, muitos perverteram a revelação das Escrituras.

A Bíblia já não era o fator sobrenatural que calava todas as outras vozes, mas sim, era

57

Robert Hastings Nichols, História da Igreja Cristã, p 223. 58

Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo, Vida Nova, 1995, p 322. 59

Batista Mondin, Os Grandes Teólogos do Século Vinte. São Paulo, Editora Teológica, 2003, p 23. 60

Batista Mondin, Os Grandes Teólogos do Século Vinte, p 21, 22.

Page 26: A doutrina bíblica do pecado

26

apenas mais um dos diversos livros a serem “dissecados” cientificamente por estudiosos

sem nenhum compromisso com Deus. E, além do mais, todos os conceitos bíblicos teriam

que passar pela peneira da razão.

1.4.2 - A influência do racionalismo sobre a concepção de pecado

O período do Iluminismo passou, mas apesar disto ele “deixou a sua marca na

mente moderna. Muitas das idéias que são tomadas por certas na sociedade ocidental têm

sua origem na Era do Iluminismo.”61

Na teologia também vemos suas conseqüências.

Chegando “no século XIX, os teólogos que estavam fascinados pela nova cosmovisão

associada com o iluminismo e o romantismo começaram a reinterpretar o pecado”.62

E em

meio a estas reinterpretações, nós percebemos visivelmente a fuga do homem para não

assumir a perversidade que é o pecado.

O pecado já não tem o „peso‟ que deveria ser reconhecido pelo pecador, mas é

suavizado o mais que possível. “Hoje a verdade acerca do pecado é disfarçada por

eufemismos, e os nossos pecados se tornam meros „pecadilhos, „fraquezas temperamentais‟

ou „problemas de personalidade‟.”63

Este é um mal que foi se espalhando entre os teólogos

e infelizmente fez surgir os mais variados modos de se conceituar ou explicar o pecado.

É de grande importância averiguar os conceitos que se desenvolveram depois do

impacto do racionalismo para que tenhamos uma visão geral de como muitos teólogos

viram e vêem hoje em dia o tema do pecado.

61

C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 308. 62

D. G. Bloesch. Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã.Vol III, p 112. 63

John R. W. Stott, I, II e III João – Introdução e Comentário, p 105.

Page 27: A doutrina bíblica do pecado

27

Primeiramente coloquemos a visão „deísta‟, que surgiu em meio ao contexto

Racionalista. O teólogo C. Brown nos descreve a posição deísta da seguinte forma:

“Os deístas alegavam que a religião verdadeira era a religião da razão e da natureza, e que o

cristianismo devia ser conformado a este ponto de vista. Criticavam altamente o apelo

tradicional feito pelos apologistas cristãos às profecias cumpridas e aos milagres como

provas da confirmação divina do cristianismo”.64

Outro ramo da teologia foi o de Frederico Schleiermacher, que se educou entre os

moravianos, mas aos dezenove anos separou-se da fé destes.65

Em sua teologia rejeitava o

conceito de que pecado é a transgressão da lei de Deus, e o conceito de pecado original foi

repudiado por ele.66

Segundo o seu ponto de vista:

“O pecado é relacionado com o sentimento de desconforto mental sempre presente quando

se está devotamente consciente de Deus...o pecado pode, pois ser descrito como a carne em

oposição ao espírito; é este conflito que dificulta a consciência de Deus”67

Outro teólogo que se afastou totalmente do conceito bíblico de pecado foi Paul

Tillich. Foi alguém que se utilizou não da Bíblia para seus postulados teológicos, mas de

outros recursos. Senão, vejamos:

“Paul Tillich entendia que o pecado humano consistia na alienação do seu eu verdadeiro e

do fundamento da sua existência pessoal... fazia uso generoso das categorias psicológicas e

sociológicas (tais como “alienação” e “separação”) para iluminar o mistério do pecado.”68

Não somente estes , porém outros mais deram sua posição sobre o assunto. Kant,

por exemplo, não sabia explicá-lo; Leibnitz, dizia provir da limitação do universo69

e

64

C. Brown, Iluminismo. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol II, p 307. 65

Bengt Hägglund, História da Teologia, p 307. 66

Ibid, p 309. 67

Ibid, p 309. 68

D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã.Vol III, p 113. 69

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 221.

Page 28: A doutrina bíblica do pecado

28

Ritschl, dizia proceder na ignorância humana.70

Charles Finney “reconhece que o pecado é

um fato indiscutível, mas não uma necessidade. Sua explicação é que nós somos todos

nascidos com depravação física - com uma tendência para auto-gratificação.”71

E “os

evolucionistas (entre os quais há até teólogos) acreditam que o pecado é um resquício

natural da anterior natureza animalesca do homem.”72

Não só teólogos, mas linhas teológicas têm revelado suas posições as respeito do

pecado. Dentre estas linhas modernas da teologia abordaremos a teologia da libertação e

teologia feminina. “Na teologia da libertação, o pecado é redefinido em termos de opressão

social, exploração e aquiescência à injustiça”.73

Não se fala mais em Deus, ou Sua lei. É

relacionado com os homens e seus erros contra os homens. O pecado é a “ganância por

ganhos financeiros às custas dos pobres... o pecado é aquilo que desumaniza e oprime as

pessoas”.74

Na teologia feminista temos um conceito um pouco diferente. A teologia feminista

“entende que a essência do pecado está na passividade diante do mal, na timidez e na

covardia diante da intimidação. O pecado não consiste tanto na auto-afirmação, mas no

desprezo de si mesmo.75

O conceito de pecado sofreu alteração também nas religiões mais „populares‟. Entre

aqueles que não são eruditos e estudiosos. É que vamos encontrar em muitas igrejas

espalhadas pelo Brasil afora. É o que analisa D. G. Bloesch:

70

Louiz Berkhof, Teologia Sistemática, p 221. 71

Tony Lane, Pensamento Cristão. Vol II. São Paulo, Abba Press Editora e Divulgadora Cultural Ltda, 1999 p 92. 72

Russell Norman Champlin, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol V. São Paulo, 2001.Vol V, p 151. 73

D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113. 74

Ibid, p 113. 75

Ibid, p 113.

Page 29: A doutrina bíblica do pecado

29

“O conceito de pecado também tem passado por uma transformação profunda na religião

entre as culturas populares, onde a psicologia tem mais relevância do que a teologia. Sob a

influência do “novo pensamento” e outros movimentos neotranscendentalistas, a religião

dos veículos de comunicação reinterpreta o pecado como pensamento negativo ou

derrotismo. Em alguns outros segmentos da religião de cultura popular... o pecado é

equiparado à doença ou à instabilidade. A cura encontra-se na terapia individual ou grupal,

e não num sacrifício pelo pecado.”76

Como podemos notar, a teologia se diversificou sobre o assunto de maneira vasta.

Mas o conceito de pecado não está presente só na teologia. Está presente também no campo

da filosofia. No campo da filosofia, o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-78) pode nos

dar uma visão filosófica do tema. Sobre este assunto ele tinha uma outra posição. Ele

afirmava o seguinte: “Os indivíduos em um estado natural são basicamente bons, tendo em

vista que a natureza caracteriza-se pelo calor de sentimentos e de amor por outros. Porém, o

progresso e o crescimento da civilização corromperam as pessoas.”77

Como é fácil de concluir, a Igreja caminha, e com ela caminham os pecados e

deturpações dos homens. Por esta causa, tanto o seu comportamento, quanto a sua doutrina,

têm sido atingida. Conseqüentemente, o homem moderno não discerne mais com tanta

precisão o que é pecado. Mas de onde veio o pecado, que causa tantos malefícios ao ser

humano? Será ele um mal da própria natureza humana? Ou um agente inesperado na

história! Estas questões, e outras, serão tratadas no capítulo seguinte.

76

D. G. Bloesch, Pecado. Enciclopédia Histórico -Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113. 77

Robert E. Clouse; Richard V. Pierard; Edwin M. Yamauchi; Dois Reinos – A Igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos, p 367.

Page 30: A doutrina bíblica do pecado

30

CAPÍTULO 2

A EXISTÊNCIA DO PECADO NA VIDA HUMANA

2.1 - O pecado e sua relação com Deus

Antes de tudo, devemos entender que mesmo o pecado estando presente na vida

humana e não na vida divina, ainda assim, o pecado tem a ver com Deus. É claro que se

fala em „pecar contra seres humanos‟. Porém, em última análise, todo pecado cometido

constitui em ofensa contra a divindade.78

2.1.1 – A origem do pecado

Sem sombra de dúvidas quando alguém fala a respeito de pecado tem na mente a

concepção de que ele é mal. Entretanto, apesar deste senso comum em relação à natureza do

pecado, muitos não sabem diferenciar entre mal moral e o mal natural. Não sabem de onde

veio o mal moral, e muito menos qual o seu propósito. Contudo, as Escrituras não nos deixa

totalmente desinformados com respeito a este tema.

Na Palavra de Deus nós percebemos que existe dois tipos de males no mundo: O

mal moral e o mal natural. O mal moral tem a ver com a ética, com a justiça; o mal natural

tem a ver com as conseqüências do mal moral praticado pelos agentes livres criados

(homens e anjos).

O mal natural existe como conseqüência do mal moral (ou pecado). Por isto nos

deteremos ao problema da origem do mal moral. E mesmo que alguns “inocentemente”

possam achar fácil a resposta a esta questão, na verdade ela não é tão simples de ser dada.

78

Antônio Neves de Mesquita, Estudo no Livro de Levítico. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1971, p 75.

Page 31: A doutrina bíblica do pecado

31

Para esclarecer o problema da origem do mal apresentaremos os axiomas demonstrados

pelo escritor Donaldo D. Turner: 1- Deus é absolutamente soberano sobre tudo; 2- Deus é

Amor, Santidade, e Pureza, não se agradando da iniqüidade; 3- Existe indubitavelmente a

iniqüidade neste mundo de Deus”.79

Tendo em vista que as Escrituras assume os três

axiomas sem negar qualquer deles, o problema se torna um tanto complexo.”80

A fim de darmos uma solução adequada a questão é apropriado conhecer o que a

Confissão de Heidelberg e a Confissão de Westminster declaram sobre o assunto. A

Confissão de Fé de Heidelberg em seu Artigo 13 declara: “... Deus não é o autor, nem tem

culpa do pecado que se comete”.81

A Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo III

Seção I declara:

“... Deus ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem

Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura ...”82

Em seu Capítulo V Seção IV declara:

“A onipotência, a sabedoria inescrutável e a bondade infinita de Deus, de tal maneira se

manifestam na sua providência, que esta se estende até à primeira queda e a todos os outros

pecados dos anjos e dos homens, e isto não por mera permissão ...”83

Neste trabalho nos deteremos apenas nas declarações presentes na Confissão de Fé

de Westminster. Nesta Confissão, não somente encontramos a asseveração de que Deus não

é o autor do mal, mas também que Ele ordenou o primeiro pecado, bem como todos os

outros pecados cometidos posteriormente.

79

Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 35. 80

Ibid, p 38. 81

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1999, p 13. 82

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo, Cultura Cristã, 1994, p 17. 83

Ibid, p 31.

Page 32: A doutrina bíblica do pecado

32

O teólogo Héber Carlos de Campos fala com propriedade sobre o problema

da origem do mal, apresentando-nos informações valiosas que nos ajudam a entender o

problema:

1. Deus decretou a existência do pecado, mas não cometeu o pecado;

2. O decreto da entrada do pecado no mundo não significa que Deus aprova o pecado;

3. A preordenação dos pecados dos homens não significa que foram forçados a pecar.

O decreto divino torna a entrada do pecado um fato certo de acontecer, mas não

implica que Deus seja culpado do mesmo.84

Não é lícito a nós ultrapassar o que as Escrituras nos revelam. É revelado a nós que

Deus decretou todas as coisas incluindo o mal. Se nós desprezarmos esta verdade por não

compreendê-la, estaremos reagindo semelhante aos racionalistas – crendo somente no que

entendemos pela razão. Quando é afirmado que Deus não é o autor do pecado não se quer

dizer com isto que Ele não o decretou. O que se quer dizer é que Deus não pecou.

Na verdade Deus é a causa do mal (autor do pecado). Contudo, é preciso explicar

que Deus faz o mal existir por meio de suas criaturas. Deus é a causa do mal, mas Ele

mesmo não peca. Esta afirmação não contradiz a Confissão de Westminster. Apenas diz

que Deus não é o autor no sentido de que ele peca. Só as „causas secundárias‟ podem

cometer o pecado.85

“A Escritura é clara nesse ponto. Deus é a causa primária de todas as

coisas, incluindo o pecado (Isaías 45:7; Amós 3:6).”86

84

Héber Carlos de Campos, A Providência e a sua Realização Histórica. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2001, pp 369, 370. 85

W. Gary Crampton, Deus é a Causa do Pecado? Disponível em www. monergismo.com acessado em 22 de abr/2006. 86

Ibid.

Page 33: A doutrina bíblica do pecado

33

Em síntese, nunca poderemos dizer que Deus peca porque ser o „autor‟ e „aquele

que decreta a existência do pecado‟. Pois nem ele é quem peca (as causas secundárias é que

o fazem), nem Ele está submisso a Lei moral (pois esta serve aos homens não a Ele). E se

dissermos que Deus sendo o sumo Bem, não poderia ser a causa do mal, então caímos num

erro a fim de evitar “outro”. Pois se Deus não for a causa do pecado, outro o foi. E se o

pecado não for causado, logo ele é uma realidade eterna! E com toda certeza nenhuma

destas duas possibilidades é correta.

2.1.2 – Deus Satanás e a origem do pecado

A entrada do pecado decretada por Deus realizou-se primeiramente entre os anjos.

Ou, mais especificamente, com Satanás (Gn 3:1-6; 2Co 11:3; Jo 8:44; 1Jo 3:8). A maioria

dos estudiosos bíblicos e dos teólogos concordam que o mal surgiu com a rebelião de

Satanás”.87

A dificuldade maior é responder como surgiu o mal em um anjo bom. O teólogo

Gerard Van Groningen fala da queda angelical nos seguintes termos:

“Tudo que pode ser dito é que Satanás, criado como arcanjo principesco, recebeu muitos

dons quando foi criado. Satanás tinha a potencialidade e a liberdade como criatura de Deus

para se rebelar contra Deus, para se opor a ele em seu reinado, e para buscar para si o

controle do reino cósmico de Deus”.88

O teólogo Louis Berkhof, comentando o texto de (1Tm 3:6) diz: “Podemos concluir

que, com toda a probabilidade, foi o pecado do orgulho, de desejar ser como Deus em

poder e autoridade”.89

87

Gerard Van Groningen, Criação e Consumação. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 123. 88

Ibid, p 124. 89

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 222.

Page 34: A doutrina bíblica do pecado

34

2.1.3 – Deus, Adão e Eva, e a origem do pecado

A doutrina reformada entende que, com relação a humanidade, o mal entrou por

meio de Adão e Eva. E estritamente falando, por meio de Adão, visto ser ele o cabeça

federal da raça. Na passagem de (Rm 5:12-21) Paulo explica que o pecado entrou na raça

humana por meio da desobediência do representante da humanidade - Adão. E tanto o

pecado como seus resultados passaram aos descendentes dele.

Esta verdade é inegável biblicamente ainda que se levantem objeções como: “Se a

volição é determinada pelo desejo e pelo caráter, como pode um caráter santo ter uma

volição pecaminosa?”90

Para responder esta questão podemos dizer que “parece que o

pecado deve ser uma possibilidade, onde a livre-agência é um fato”.91

Na verdade não temos

subsídios suficientes para dizer como pôde vir pecado de seres santos.

O teólogo Francisco Jacinto, ao tratar do pecado de Adão diz: “Conhecer o bem e o

mal significa dominar o bem e o mal; assenhorear-se deles, implica então em ser como

Deus... o pecado do homem consistiu, pois, em ter pretendido igualar-se a Deus, único

privilégio que lhe faltava”.92

O pecado de Adão consistiu em objetivar ser igual a Deus. Visto nada na criação ser

digno de se tornar tentação ao coração puro de Adão e Eva, nada mais lógico do que tentá-

los a ser como o bem mais precioso que eles haviam conhecido: Deus.

Se por um lado não poderiam ser tentados a obter alguma coisa má (visto que na

criação tudo era muito bom - Gn 1:31), por outro lado poderiam ser tentados a alcançar um

90

David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 198. 91

Ibid, p 199. 92

Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável), p 23.

Page 35: A doutrina bíblica do pecado

35

bem (ser como Deus) através de uma atitude má (comendo do fruto proibido). O casal

edênico não percebeu que já tinham tudo de que precisavam. Eles “não experimentaram

privação por não participarem do fruto dessa árvore”.93

Mas seriam privados se

participassem da mesma.

2.2 – Definição de pecado

A Bíblia, antes de seu relato da entrada do pecado no mundo (Gn 3), nos mostra

uma relação entre Deus e suas criaturas Adão e Eva. Esta relação era constituída ao mesmo

tempo de privilégios para o homem (Gn 1:26-29; 2:8-9,16; 3:8) como também de

responsabilidades (Gn 2:17). “Todos os elementos de uma aliança estavam presentes

(estipulação clara das partes envolvidas, declaração das condições da aliança e uma

promessa de benção pela obediência e punição pela desobediência)”.94

Na realidade as

Escrituras em vários lugares falam de Pacto que Deus fez com o homem (Gn 6:18; 15:18;

17:19; Ex 24:8; Dt 4:23; Sl 89:3; 78:10; 105:10; Jr 31:31; 33:20, 21, 25, 26; 50:5; 32:40; Is

55:3; 56:4; Ez 16:60; Os 6:7; Lc 22:20; Rm 11:27; Hb 8:6, 9; At 3:25).

Portanto, podemos dizer que neste Pacto (ou Aliança) existiam estipulações

formuladas pelo próprio Deus, o autor do Pacto. As estipulações eram que, ele haveria de

dar vida eterna à humanidade por meio da obediência de seu representante Adão, ou

haveria de conceder morte eterna por resultado de sua desobediência.

93

William Fitch, Deus e o Mal, p 31. 94

Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1999,p 427.

Page 36: A doutrina bíblica do pecado

36

Todo relacionamento de Deus com a humanidade estava baseado neste Pacto.

Portanto, “pecado é a quebra de qualquer item do pacto”.95

“Do ponto de vista dos

escritores bíblicos, o pecado entre o povo escolhido é essencialmente a infidelidade dos

homens de Israel no cumprimento das suas responsabilidades perante Deus, de acordo com

o concerto entre Deus e o povo da sua escolha”96

(Is 24:5; Jr 11:10; 22:9; Ez 16:59; 17:15-

19; Os 6:7; Zc 11:10; 1Rs 19:10, 14; 2Rs 18:12; Js 7:15; 23:16).

Nas Escrituras há uma variedade enorme de palavras que são traduzidas por

„pecado‟ – que é a quebra do pacto. Tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, os

escritores não se prenderam ao uso de apenas uma palavra para expressar a idéia de pecado.

Contudo, “é notável que tanto no grego do Novo Testamento como no hebraico do Velho

Testamento, a palavra mais comum para pecado é: errar o alvo”.97

O alvo determinado por

Deus para o homem é a comunhão feliz com Ele. Ao desobedecer à vontade divina, ele

perde o alvo colocado a ele.98

“No pecado, pois, a alma é impedida de acertar no alvo, isto

é, de atingir o propósito para o qual foi criada”.99

Na Bíblia não encontramos nenhuma definição proposital da palavra pecado. E o mais perto

que chegamos disto são os seguintes textos: Tg 4:17; 1João 3:4; 5:17.

Apesar de não ter uma definição clara e direta sobre o pecado, não podemos ignorar

o fato de que, quando se fala de pecado, está se falando de um ato humano contra Deus. A

quebra de Sua lei por meio das ações do homem. Comumente os reformados citam a

95

Wilson C. Ferreira, Esboço de Teologia Bíblica do Novo e Velho Testamentos. Patrocínio, CEIBEL, 1997, p 58. 96

Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 157. 97

Donaldo D. Turner, A Doutrina do Pecado e da Salvação, p 67. 98

Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 164. 99

Russell Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado - versículo por versículo. Vol VI. São Paulo, Candeia, 1995, p 300.

Page 37: A doutrina bíblica do pecado

37

definição de pecado encontrada no Catecismo Maior de Westminster: “pecado é qualquer

falta de conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada

como regra à criatura racional”.100

O pecado em sua essência se mostra como rebeldia a Deus. O homem foi criado debaixo da

lei do Criador. Visto que o homem ao invés de procurar agradar a Deus e obedecê-lo,

preferiu seguir o próprio senhorio, de certa forma podemos falar de pecado como uma

tentativa de deificação do homem através das mãos do próprio homem.

Porém, o pecado não se limita às ações dos homens. O pecado está enraizado na sua

própria natureza desde a queda de Adão. Portanto, o estado pecaminoso é pecado (Pv 4:23;

Jr 17:9; Mt 15:19, 20; Lc 6:45; Hb 3:12), e não somente as atitudes decorrentes desta

natureza (Mt 15:19-20; Gl 5:19-21; 1Co 6:9-10; Ap 21:8).

2.3 - As conseqüências do pecado

O pecado como sendo o maior mal que existe na história humana, e como o mal que

supera todos os males, pois em essência é contra Deus101

, não poderia deixar de trazer

conseqüências graves para seus praticantes. Mas quais as conseqüências do pecado?

Primeiramente, temos que falar que o pecado traz separação inevitável entre a

criatura e o Criador. Esta separação é morte espiritual, a separação da alma humana de

Deus que é sua única vida.102

As conseqüências do pecado podem ser listadas apontando

vários aspectos: Aspecto espiritual (Morte espiritual); aspecto circunstancial (sofrimentos

da vida); aspecto corporal (morte física); aspecto temporal (morte eterna). E não somente

100

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, O Catecismo Maior, p 17. 101

Samuel Bolton, O Mal sem Par, in Os Puritanos e a Conversão, p 21. 102

John R. Stott, Cristianismo Básico. São Paulo, Edições Vida Nova, 1979, p 84.

Page 38: A doutrina bíblica do pecado

38

podemos enxergar nesta perspectiva. Podemos ainda ver dentro do interior do homem as

conseqüências surgidas: 1- Na volição (Jo 8:34; Rm 7:14-24; Ef 2:1-3; 2Pe 2:19); 2- No

intelecto (Gn 6:5; 1Co 1:21; Ef 4:17); 3- Nas emoções (Rm 1:24-27; 1Tm 6:10; 2Tm

3:4).103

Contudo, mesmo que o pecado tenha atingido todos os aspectos do ser humano, a

Bíblia não faz referência a uma perda total da imagem de Deus no homem caído (Gn 9:6;

1Co 11:7; Tg 3:9).

As conseqüências do pecado não se limitaram ao ser humano em sua natureza. “O

consenso geral entre os teólogos ortodoxos é que o mal moral (o pecado) monta o palco

para o mal físico (as desgraças naturais), mas o modo exato como aquele provoca este

provavelmente permanecerá sempre um assunto de especulação humana”.104

Uma coisa é

certa, o pecado maculou toda a criação, e não somente seus agentes livres.

Falando das conseqüências do pecado devemos esclarecer também que há

penalidades do pecado num sentido judicial (ou positivo), e igualmente penalidades num

sentido natural. “Há punições que são resultados naturais do pecado e das quais os homens

não podem escapar por serem as conseqüências inevitáveis do pecado”.105

(Jo 4:8; Sl 9:15;

94:23; Pv 5:22; 23:21;24:14; 31:3).

2.3.1 – Pecado original

Uma das conseqüências inevitáveis do pecado de Adão que não podemos deixar de

falar é que todos os seres humanos que nascem, já nascem pecadores. Adão como

representante da raça, não poderia separar seu ato errado das suas conseqüências futuras.

103

Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 107. 104

D. G. Bloesch, Pecado, in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 111. 105

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 257.

Page 39: A doutrina bíblica do pecado

39

Por isto as Escrituras nos relatam que o pecado é uma realidade universal entre os seres

humanos (Sl 14:3; 142:2; 143:2;1Rs 8:46; Pv 20:9; Ec 7:20; Rm 3:1-12,19,20,23; Gl 3:22;

Tg 3:2; 1Jo 1:8,10).

Como sabemos biblicamente, o pecado não está relacionado com o conhecimento da

Lei divina, pois alguém pode pecar mesmo que não conheça a Lei de Deus. O pecado tem

relação não com o conhecimento individual da Lei divina, mas com o desejo pelo mal. A

vontade de fazer o que é mal. A disposição para rebelar-se contra Deus. Evidentemente que

o pecado não começa na vontade, visto que a natureza depravada e pecaminosa é que a

torna má.

Portanto, ao falamos da universalidade do pecado, falamos de pecado original. Este

termo não se refere ao pecado que Adão cometeu lá no Éden. Não é uma designação ao

“primeiro pecado na história humana”. Antes, é uma referência ao resultado do pecado que

o primeiro homem cometeu. Teólogos desde os pais da igreja falavam sobre o assunto.

Porém, em Agostinho é que encontramos uma melhor conceituação do assunto em questão.

Diz ele: “Segundo ele, a natureza do homem, tanto física como moral, é totalmente

corrompida pelo pecado de Adão, de modo que ele não pode deixar de pecar. Essa

corrupção ou esse pecado original herdado é um castigo moral pelo pecado de Adão”.106

Com os reformadores o conceito não foi tão modificado. E Calvino faz um leve

acréscimo ao tema: “Em termos gerais os reformadores estavam de acordo com Agostinho,

embora Calvino diferisse dele, especialmente em dois pontos, acentuando o fato de que o

106

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 246.

Page 40: A doutrina bíblica do pecado

40

pecado não é uma coisa puramente negativa, e que não se limita à natureza sensorial e

emocional do homem.”107

Esta é uma das conseqüências que o pecado traz, que em sua essência podemos

dividir em dois aspectos. Primeiro aspecto é que, por conta do pecado original, todo homem

possui culpa original. E um segundo aspecto é que todo homem já nasce corrupto pelo

pecado. Estado este que é denominado popularmente como depravação total.

2.3.2 – Depravação total

Ao se utilizar deste termo depravação total, não se pretende dizer “que todo homem

é tão completamente depravado como poderia chegar a ser”.108

A depravação total diz

respeito não ao que o homem faz por meio de suas atitudes, mas diz respeito ao por quê

dele fazer o que faz. Diz respeito à origem dos seus pecados. “O pecado, em primeiro lugar,

é uma condição e, então, uma atitude; só então ele se torna uma ação ou uma série de

ações”.109

O homem está corrompido em todos os aspectos do seu ser interior. E sua

depravação não diz respeito somente às atitudes que percebemos, mas diz respeito ao seu

interior. Nas palavras do teólogo John L. Dagg:

“a depravação que lamentamos no gênero humano diz respeito aos princípios de ação como

seres morais... a depravação moral aparece em atos exteriores de transgressão; contudo, por

mais atrozes que sejam os atos exteriores, é a depravação do coração principalmente, que

Deus observa e abomina”.110

Temos que esclarecer que, a lei do Senhor não se dirige primordialmente aos atos

errados que os homens cometem. Diz respeito essencialmente ao coração do homem. “Toda

107

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 247. 108

Ibid, p 248. 109

Michael Horton, A Lei da Perfeita Liberdade. São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p 160. 110

John L. Dagg, Manual de Teologia. São José dos Campos, 1989, p 126.

Page 41: A doutrina bíblica do pecado

41

volição procede de algo que é mais profundo do que a própria volição, o que igualmente

sucede à volição pecaminosa. Um ato pecaminoso é a expressão de um coração depravado

(cf. Mc 7:20-23; Pv 4:23; 23:7)”.111

Na Confissão de Fé de Westminster encontramos explicitamente a declaração de

que o pecado não está restrito aos atos, mas também é considerado pecado a natureza

corrupta de onde os atos maus procedem. Observemos o que está registrado na Confissão

em seu Capítulo VI Seção V: “Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida,

naqueles que são regenerados; e embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo,

todavia tanto ela como os seus impulsos são real e propriamente pecado”.112

Como

percebemos, a depravação total corrompe o ser humano de tal maneira que nada do que ele

faça está livre da mancha do pecado. E até quando não fazemos algo, podemos estar

pecando, pois o pecado não é somente um mal manifestado quando agimos positivamente

contra o que é certo e justo, “o mal não consiste em fazer somente o que não é bom; existe,

também, o pecado da omissão, deixar de fazer o bem”.113

2.4 - Cristo e sua vitória sobre o pecado

O pecado manchou gravemente a criação de Deus deixando-a amaldiçoada. Só o

próprio Deus poderia dar uma solução para o problema do pecado. Por isto Deus envia seu

Filho para vencer de uma vez por todas o pecado a restaurar todas as coisas. Para que isto

fosse concretizado, o homem deveria ser legalmente justificado.

111

J. D. Douglas, editor, O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, Vida Nova, 1995, p 1237. 112

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, A Confissão de Fé de Westminster, p 39. 113

Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável), p 19.

Page 42: A doutrina bíblica do pecado

42

Neste caso, é mister compreender que a justificação depende da obediência ativa e

passiva de Cristo. A justificação “não somente significa a remissão dos pecados passados,

mas também um direito constitutivo a todas as coisas boas do porvir”.114

2.4.1 - A obediência de Cristo para obter a vitória

Ao falar da vitória de Cristo sobre o pecado, não podemos esquecer que tudo o que

era requerido a fim de garantir aos eleitos a vida eterna, Jesus teria que satisfazer. Ou seja,

para pagar o preço do pecado Jesus teria que morrer (Rm 6:23; 1Co 15:3), e para garantir a

justiça positiva da Lei, teria que cumpri-la completamente (Gl 4:4, 5, 7; Rm 10:3, 4; 8: 3, 4;

2Co 5:21).

Neste aspecto, a teologia reformada declara que a obra salvífica de Cristo, para ser

completa, deveria contar com Sua obediência à Lei divina - denominada “obediência

ativa”. “Por sua obediência Cristo cumpriu a lei expressa no concerto das obras, que Adão

deixou de cumprir”.115

Se Cristo não obedecesse a lei, os eleitos não estariam com a sua

salvação completa, mas deficiente. “A eficácia salvífica da expiação não estava limitada à

morte de Cristo. Ela se estendeu por “todo o curso de obediência”. Assim, o nascimento, a

vida, os ensinos e os milagres de Cristo, junto com seu sofrimento e morte, pertencem à sua

obra de expiação”.116

Por meio da obediência ativa “ele tornou disponível uma justiça

diante da Lei que é imputada àqueles que confiam nEle, ou é contada a favor deles”.117

114

George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção. São Paulo, PES, s/d, p 12. 115

David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, p 278. 116

Timothy George, Teologia dos Reformadores. São Paulo, Vida Nova,1994. p 221. 117

Robert L. Reymond, Obediência de Cristo, in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 39.

Page 43: A doutrina bíblica do pecado

43

Portanto, para conseguir vencer o pecado, Cristo teve que cumprir a lei divina, obtendo

assim a vida eterna aos eleitos.

2.4.2 – A morte de Cristo para obter a vitória

Como vimos anteriormente, para conquistar a vitória sobre o pecado, Jesus teria de

cumprir uma segunda etapa da obra salvífica – a morte. O pecado tem como sua

conseqüência primária a morte. Quando falamos de morte nos referimos a todos os aspectos

a ela relacionados, a saber: Morte espiritual, morte física e morte eterna. Sendo assim, o

representante do povo eleito teria que morrer no lugar deles. Ou, morrer a morte deles.

O ponto climático onde Jesus cumpriu estas conseqüências do pecado foi a cruz.

Aliás, “a mensagem da cruz é o mistério central do Evangelho bíblico.”118

Na ressurreição

ele proclama vitória sobre os três: pecado (Hb 9:28), poderes das trevas (Ef 1:20), e

aniquilou a morte (1Tm 1:10).119

As Escrituras nos dizem que “a expiação de Cristo

satisfez completamente as exigências da justiça divina, assim o perdão e a misericórdia

estão garantidos àqueles que receberam a Cristo com uma fé humilde e contrita”.120

Na verdade, “tão-somente o sangue derramado do filho eterno e amado de Deus em

si mesmo poderia ter expiado o pecado”.121

Enfim, só “a cruz de Cristo proporcionou o

caminho ao capacitar o único sacrifício perfeito a expiar o pecado humano de uma vez por

todas”.122

Ele conquistou a vitória!

118

Júlio Andrade Ferreira, Antologia Teológica. Apostila I.Campinas, 1980, p 202. 119

Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 167. 120

John MacArthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 39. 121

Ibid, p 108. 122

John MacArthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 109.

Page 44: A doutrina bíblica do pecado

44

CAPÍTULO 3

A NECESSIDADE DE VIDA HUMANA SEM PECADO

3.1 - Justificação: Vitória sobre a condenação do pecado

É bem certo que o pecado traz conseqüências terríveis contra o ser humano

juntamente com a toda a criação. Entretanto, Deus, em Sua infinita misericórdia, resolveu

salvar aqueles que elegeu dentre a humanidade decaída. Para isto, decidiu qual o método a

ser utilizado para retirar destes a condenação que o pecado infligia. Se o pecado gerou

condenação, a salvação teria que gerar justificação.

3.1.1 - Definição de justificação

Quando se fala em justificação, fala-se em declaração judicial, situação legal do

pecador diante de um Deus que é Justo e Juiz (Gn 18:25). Observando a definição de

justificação da Confissão de Fé de Westminster em seu Capítulo XI Seção I,

encontramos:“Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta

justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados

e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas”.123

Segundo esta definição, a

justificação não torna os eleitos aqui na terra justos moralmente. Mas sim, a justificação faz

Deus considerá-los justos legalmente já nesta vida. “Se estamos em Cristo, Deus nos

considera como se nunca houvéssemos pecado e, na verdade, como se já tivéssemos

123

Claudio Antônio Batista Marra, A Confissão de Fé de Westminster, p 64.

Page 45: A doutrina bíblica do pecado

45

obedecido perfeitamente à lei”.124

Este é o sentido da justificação. Quem fala sobre este

aspecto da justificação com clareza é o reformador Lutero:

“Lutero usou a famosa frase simul justus et peccator (ao mesmo tempo justo e pecador),

referindo-se à condição simultânea do pecador, onde ele é contado, ao mesmo tempo, como

justo judicialmente, em virtude da imputação da justiça de Cristo e, todavia, permanecendo

pecador em si e de si mesmo”.125

O reformador João Calvino ao falar deste tema também se pronuncia de forma

semelhante: “Destarte, interpretamos nós a justificação simplesmente [como] a aceitação

mercê da qual, recebidos à Sua graça, Deus nos tem por justos.”.126

De forma alguma a

justificação nos faz justos como Jesus era justo. É uma questão judicial, não espiritual.

Ocorre fora de nosso ser interior, no tribunal de Deus. Ou, dizendo de outra maneira, “pela

justiça de Cristo os crentes passam legalmente a ter vida”.127

O modo como ocorre esta justificação é a imputação. “A totalidade da justiça

pessoal de Cristo é imputada a eles e considerada como deles”.128

Do mesmo modo como o

pecado de Adão é imputado à humanidade (Rm 5:12), a justiça de Cristo é imputada aos

eleitos para a vida (Rm 5:18, 19).

3.1.2 - A base e o meio da justificação

Não é de admirar que Deus fale a respeito de justificação logo no Antigo

Testamento (Gn 15:16; Dt 25:1). Pois Ele é Justiça em sua forma mais elevada. Por isto

mesmo não poderíamos esperar outra coisa senão a justiça sendo aplicada sem hesitação

124

Michael Horton, A Lei da Perfeita Liberdade - Os Dez Mandamentos, p 226. 125

Héber Carlos de Campos, A Justificação pela Fé nas Tradições Luterana e Reformada: Um Ensaio em Teologia Comparativa, Fides Reformata. Vol I. Nº 02, jul-dez 1996, p 35. 126

João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. Vol III. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p 189. 127

George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, p 8. 128

George Whitefield, Cristo – Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, p 6.

Page 46: A doutrina bíblica do pecado

46

contra os pecadores. Por isto que, a justificação para ser realizada, não poderia jamais ferir

a justiça divina, mas teria que satisfazê-la completamente. E visto que o homem em seu

estado de pecado jamais poderia se salvar por si mesmo, Deus teria que salvá-lo.

Foi precisamente aqui o erro dos judeus da época do Novo Testamento. Concluíam

que pela obediência à lei de Deus poderiam ser justificados (Lc 18:11, 12; Rm 10:1-3;

9:31). Contudo, a lei “pode definir o pecado mas não pode curá-lo. É como um médico que

pode diagnosticar uma doença mas que é incapaz de erradicá-la ou até mesmo de estabilizá-

la.”129

Tudo provém de Deus. O objeto da justificação é o pecador, porém a base da

justificação é a obra do Mediador. “Nosso conforto com relação à justificação é que toda a

justiça de que necessitamos vem a nós através de Cristo Jesus”.130

A justificação

fundamenta-se em duas bases: O sangue de Cristo compreendendo o pagamento da pena do

pecado, e a Sua obediência compreendendo o cumprimento dos preceitos da lei que dá

vida131

(Rm 5:9; 5:19).

Mesmo as Escrituras comumente atrelarem a justificação à fé, isto não implica em

que a fé é que justifica o pecador. Pelo contrário, “a Escritura nunca diz que somos

justificados dia ten pistin (dia ten pistin), por causa da fé. Quer dizer que a fé nunca

é apresentada como a base da nossa justificação”.132

Ou seja, a fé “não é em si mesma a

causa meritória da justificação, seja no todo ou em parte”.133

129

William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, p 84. 130

Hermann Bavinck, Teologia Sistemática. Fundamentos Teológicos da Fé Cristã. Santa Bárbara D’Oeste, SOCEP, 1977, p 499. 131

John L. Dagg, Manual de Teologia, p 213. 132

Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 524. 133

John L. Dagg, Manual de Teologia, p 215.

Page 47: A doutrina bíblica do pecado

47

Assim, tanto o Luteranismo quanto o Calvinismo concordam que este seja o meio

estabelecido por Deus. “Para ambas as tradições portanto, a fé não é a base para a

justificação, mas simplesmente o meio, o órgão de apropriação”.134

Portanto, temos que

levar em consideração não somente a base da justificação (a obra de Cristo), mas

igualmente o meio (a fé). Como disse D. G. Bloesch:

“A humanidade é objetivamente liberta por meio de Cristo que, na cruz e na ressurreição,

venceu os poderes do pecado, da morte e do diabo; mas essa libertação não tem contato

com o pecador até que seja dado o dom do Espírito Santo no despertar para a fé.”135

A Confissão de Fé de Heidelberg ao falar da necessidade da fé em seu Artigo nº 22

ela afirma: “Entretanto, não entendemos isso como se a própria fé nos justificasse, mas ela

é somente o instrumento com que abraçamos Cristo, nossa justiça”.136

Sendo assim, a fé é

necessária para a obtenção da justiça que vem de Cristo, mas ela mesma não é a base da

justificação.

3.1.3 - O momento da justificação

Aceitando que a fé é o instrumento apropriador da justificação, deve-se concluir

assim que enquanto o pecador não exercer a fé em Cristo, ele não está justificado. Cristo

morreu pelos eleitos há muitos anos atrás, mas a justificação pessoal ocorre no momento da

fé. Recordemos que “a doutrina claramente ensinada nas Escrituras é: Quando os homens

crêem em Cristo, então é que passam de um estado de condenação para um estado de

134

Héber Carlos de Campos, A Justificação pela Fé nas Tradições Luterana e Reformada: Um Ensaio em Teologia Comparativa,Fides Reformata, p 38. 135

D. G. Bloesch, autor, pecado,in Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Vol III, p 113. 136

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg, p 21.

Page 48: A doutrina bíblica do pecado

48

justificação”.137

Nas palavras de João Calvino: “Enquanto Cristo permanece fora de nós, e

nós estamos separados dEle, tudo o que Ele sofreu e fez pela salvação da raça humana

permanece sem utilidade e sem valor para nós”.138

Então, no momento da fé, são perdoados

todos os pecados. Sejam eles do passado, do presente ou do futuro.139

Depois da

justificação, o pecador tem como alvo, a partir de então, a santificação.

3.2 - Santificação: Vitória sobre o domínio do pecado

Levando em consideração que a condenação do pecado foi destruída pela

justificação, agora se deve considerar o fato de que o pecado não tem domínio sobre os

cristãos. Aqueles que são justificados também são objeto da santificação. Deus concedeu

aos pecadores eleitos o direito à vida através da justificação, mas também concedeu a eles a

capacidade de viverem esta vida a qual obtiveram.

3.2.1 - Santificação posicional e santificação moral

Antes de tudo é mister esclarecer que quando a Bíblia fala de santidade, ou

santificação, ou santos, ela usa estes termos em mais de um sentido. O primeiro sentido de

santificação relacionado ao cristão é a santificação posicional, que diz respeito a pertencer

ele a Deus. O segundo sentido de santificação diz respeito ao fato de ser o cristão cada vez

mais semelhante a Deus. É a santificação moral. Apesar de que resumidamente falando, o

termo “santo, tanto no hebraico, como no grego, significa separado, consagrado e recriado

137

Cláudio Antônio Batista Marra, editor, Confissão de Fé e Catecismo de Heidelberg, p 219. 138

Anthony A. Hoekema, Salvos pela Graça. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1997, p 202. 139

Charles Hodge, Teologia Sistemática. São Paulo, Hagnos, 2001, p 1146.

Page 49: A doutrina bíblica do pecado

49

para Deus”,140

nós podemos encontrar outro sentido para ele. É o que nos apresenta O Novo

Dicionário da Bíblia:

“O sentido básico da raiz hebraica vAdßq' (qdsh) é variadamente dada como (i)

„separar‟; (i) „brilho‟. A primeira pode sublinhar a santidade ou santificação em termos de

posição, estado, relação, onde as palavras são traduzidas como „cortar‟, „separar‟,

„consagrar para uso exclusivo‟, „dedicar‟, ou „consagração‟, „considerado como sagrado em

contraste com o comum, profano ou secular‟. A última pode sublinhar aqueles empregos

que dizem respeito à condição, estado ou processo, o que no Novo Testamento prossegue

com o pensamento de uma transformação interna que gradualmente tem lugar, e que resulta

em pureza, retidão moral e pensamentos santos e espirituais que se expressam por meio de

uma vida externa de bondade e piedade”.141

Quando falamos de santidade posicional, isto “diz respeito a um estado de ter sido

separado, desligado do ordinário ou mundano e dedicado a um propósito ou uso

particular.”142

Este é o estado de todos os salvos (1Co 6:11; At 20:32; 26:18; Rm 6:2). No

texto de 1Co 6:11, O apóstolo estava declarando a posição que os cristãos gozavam perante

Deus. Eles haviam sido tornados santos, estavam separados das práticas pecaminosas de

outrora que caracterizavam suas vidas.143

A santificação moral é um pouco diferente. “O cristão agora é exortado a ser santo,

em sua experiência diária. Seu anelo deve ser conformar sua condição, ou estado atual no

mundo, com sua posição, diante de Deus, pela imputação”.144

Com toda certeza a Bíblia

ensina que é Deus quem nos santifica (Ts 5:23; Tt 2:14; Hb 13: 20,21; Fp 1:6; Gl 5: 16, 22,

23, 25; Rm 8:13; Jo 17:17; Ef 5:25-27; Fp 2:13), mas também com toda certeza ela afirma

que nós nos santificamos (2Co 7:1; Hb 12:14; Rm 12:1, 2; Fl 2:12). Em síntese, “Deus

toma parte no ato de iniciar a santificação mas, daí, em diante, o homem tem de empregar

140

J. I. Packer, A Redescoberta da Santidade. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p 16. 141

J. D. Douglas, editor, O Novo Dicionário da Bíblia, pp 1484, 1485. 142

Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 1997, p 418. 143

J. Dwight Pentecost, A Sã Doutrina. São Paulo, Mundo Cristão, 1981, p 102. 144

Ibid, p 279.

Page 50: A doutrina bíblica do pecado

50

os recursos que Deus lhe oferece”.145

“É quinhão do cristão experimentar constante vitória

sobre o mal”.146

O cristão deve fazer tudo que puder para obter a santidade.147

O fato é que “embora o pecado não reine em nós, ele todavia ainda permanece em

nós. Ele está destronado mas não destruído”.148

“O pecado no nosso íntimo, embora seja

um „inimigo conquistado‟ ainda deve ser vigorosamente resistido ao longo de nossa

vida”.149

O cristão foi regenerado recebendo uma nova vida que está preparada para realizar

a vontade de Deus. Mas ainda que o cristão já possua esta nova vida, ela precisa ser

fortificada, desenvolvida, amadurecida.

3.2.2 - Meios para a santificação moral

Ao ordenar que o homem fosse responsável também por sua santificação, Deus

entregou a ele tudo o que era necessário para que ele atingisse tal alvo. Deus estabeleceu o

objetivo, e ensinou os meios. Os meios que Deus deixou para que cresçamos em

santificação é denominado na teologia como meio de graça.

Evidentemente que muitas coisas podem nos ensinar em nossa vida, ou nos levam a

ter mais comunhão com Deus. Porém, o termo meio de graça é geralmente utilizado com

um sentido mais limitado, referindo-se aos sacramentos e à Palavra de Deus. De modo

restrito, só estes são considerados os meios de graça.150

145

J. Dwight Pentecost, A Sã Doutrina. São Paulo, Mundo Cristão, 1981, p 278. 146

William Fitch, Deus e o Mal, p 132. 147

Simon Kistemaker, Comentário do Novo Testamento, Exposição de Hebreus. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003, p 541. 148

John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 129. 149

John Macarthur, Jr, Sociedade sem Pecado, p 131. 150

Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, Campinas, Luz Para o Caminho, 1985, p 275.

Page 51: A doutrina bíblica do pecado

51

A Santa Ceia “para a igreja militante, é um meio de graça fundamental que alimenta

os eleitos em vários aspectos da vida cristã”.151

Lembremos que ela não foi instituída por

homens, mas por Cristo (Mt 26:26-30). Portanto, deve ser celebrada até a sua volta (1Co

11:26) e para o bem da Igreja (1Co 1:17).

Porém, apesar de a Santa Ceia ser um meio de graça que nos ajuda na santificação,

o outro meio de graça, que é a Palavra de Deus, é o mais importante.152

“Uma vida que se

alimenta da Palavra de Deus, que se alegra em fazer a vontade de Deus, é sempre frutífera,

produzindo boas obras”.153

Não há como alguém crescer em santificação sem conhecimento

da Palavra de Deus. É uma contradição de termos quere ter comunhão com Deus ser

conhecê-lo. Portanto, todo o que quer praticar a justiça deve se interessar por aquilo que

Deus revelou.154

3.2.3 – Resultados da negligência na santificação

É dever da Igreja não negligenciar a santificação.A Igreja que não se empenha

constantemente na santificação, acaba por cair num mal muito conhecido pelos cristãos: A

secularização.Vejamos o que o Pacto de Lausanne diz sobre o homem secularizado:

“um membro de igreja secularizado é aquele que fez profissão de fé em Cristo e mantém,

normalmente, alguma relação normal com a igreja. Em seu modo de viver, entretanto, ele

ignora consciente ou inconscientemente os imperativos bíblicos, ou faz pouco caso deles. O

resultado prático é um modo de vida em que Deus aparece essencialmente ausente na

151

Arley Preto Gomes, Uma Perspectiva Escriturística sobre a indignidade de participação na Ceia do Senhor, Fides Reformata, pp 45,46. 152

Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p 275. 153

Kyle M. Yates, Estudos no Livro dos Salmos. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1959, p 13. 154

Ibid, p 12.

Page 52: A doutrina bíblica do pecado

52

tomada de decisões de porte. Ele não obedece a Deus e Cristo não é Senhor de toda a sua

vida. O resultado é um modo de vida indiferente daquele ditado pela cultura dominante.”155

Infelizmente existem cristãos que não aprenderam o que é santificação como o

desenvolvimento da nova vida em Cristo; como amadurecimento do seu caráter para a

forma do caráter de Cristo. Ao contrário disto, existem cristãos que pecam constantemente

e não dão importância alguma a isto. Este é o típico cristão secularizado. Ele pode até estar

ciente que cometeu um pecado, mas não possui sentimento de culpa, ou reconhecimento de

que é passível de punição.156

O perigo da secularização pode estar presente em qualquer igreja. Não há nenhuma

barreira que possa impedir sua entrada a não ser a verdadeira santificação nos moldes

bíblicos. O teólogo Juan Carlos Hortiz, fazendo uma análise do comportamento da igreja

em nossos dias, diz que o problema da Igreja é a eterna falta de maturidade dos cristãos

que a compõe.157

Ao falar de secularização, não estamos declarando que os cristãos ficam

secularizados repentinamente. Este é um processo que provém de tempos e tempos de uma

prática errônea de cristianismo. Como bem disse Simonton Araújo:

“crentes então ativos, pregavam até “ficar roxos”, depois começam a faltar aos programas

semanais da Igreja. Acham que não fazem falta. Não dão tanto valor à vida de oração e à

Bíblia. Depois começam a negligenciar a Escola Dominical. Para tais, tanto faz tomar como

não tomar a Ceia do Senhor. Afastam-se de todas as fontes da Graça de Deus”.158

Este é o caminho natural de quem não tem preocupação alguma com o Divino. No

entanto, não é este o plano de Deus para a Igreja. E a santificação nunca deixou de ser parte

155

Série Lausanne, O Evangelho e o Homem Secularizado. São Paulo, ABU Editora s/c e Visão Mundial, 1985, p 8. 156

Asa Routh Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p 171. 157

Simonton Araújo, Persiga a Santificação. Niterói, 1995, p 28. 158

Simonton Araújo, Persiga a Santificação, p 16.

Page 53: A doutrina bíblica do pecado

53

do plano divino, ainda que muitos a negligenciem, e pensem que O agradam mesmo assim.

Pelo contrário, a santificação está seguindo para o seu clímax: a glorificação.

3.3 - Glorificação: Vitória sobre a presença do pecado

Deus em seu plano poderoso de salvação não poderia deixar de destruir por fim, o

pecado. A justificação anula a condenação do pecado, a santificação anula seu domínio

sobre o cristão, e a glorificação é a destruição total da presença do pecado no cristão. Se

não houvesse glorificação, o plano salvífico estaria incompleto.

3.3.1 - Definição do termo glorificação

A doutrina da glorificação dos salvos é amplamente encontrada nas Escrituras (Jo

5:28,29; 6:39,40,44,54; 11:23,24; Rm 8:11; 8:19-23; 2Pe 3:7, 12,13; Ap 2:7; 22:11; Rm

8:30) A doutrina da glorificação foi indiretamente anunciada em (Gn 3:15), ainda que foi

claramente exposta somente depois com os profetas. Seguindo o ensinamento Bíblico

podemos definir a glorificação deste modo:

“Glorificação é o passo final da aplicação da redenção. Ocorrerá quando Cristo voltar e

levantar dentre os mortos o corpo de todos os cristãos que morreram, de todas as épocas,

reunindo-o com a alma de cada um, e mudar o corpo de todos os cristãos que estiverem

vivos, dando assim, ao mesmo tempo, a todos os cristãos um corpo ressurreto como o

seu”.159

A glorificação é o último estágio da ordo salutis. Neste estágio do plano da salvação

irá definitivamente cumprir a promessa central da aliança da graça: Ele habitará com eles, e

eles serão seu povo (cp. Gn 17:7; Ex 19:5, 6; Jr 31:33; Ez 34:30; 2Co 6:16; Hb 8:10; 1Pe

159

Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 695.

Page 54: A doutrina bíblica do pecado

54

2:9, 10)”.160

Um novo planeta virá, agora sem a presença do mal (Ap 21:27). Com a

glorificação, Ele removerá o pecado, as maldições do pecado, e as ações e presença do

Tentador maligno.

3.3.2 – Resultados da glorificação

Como é perceptível por toda a Bíblia, “a meta da redenção divina é coesamente

definida como uma meta em que o pecado será derrotado e removido para todo o

sempre”.161

“Tudo que é do pecado será queimado pelo fogo do juízo divino, e tudo que o

pecado produziu será banido para sempre”.162

Neste tempo em que o mal será banido para

sempre, e os salvos terão um novo modo de viver. Será uma vida relações perfeitas tanto

Com Deus (Ap 21:3;22:4), quanto com o próximo (Ef 4:13; Ap 21:10), consigo mesmo (Ap

21:4), com o ambiente (Rm 8:21-23; Ap 22:1ss) e com o tempo ( 1Pe 1:3ss; Ap 21:4).163

A

glorificação ocorrerá em duas dimensões: no indivíduo salvo e no mundo no qual habita.

Com respeito aos corpos dos salvos, as Escrituras falam que eles serão

transformados (Fp 3:20,21; 1Co 5:1-5; 15: 20,23, 38-50). Esta transformação não será

paulatinamente, mas repentinamente. Como disse Bernard Ramm: “Essa glorificação não é

um processo, não se trata de crescimento, mas ocorre de repente, de modo dramático, no

final dos tempos.”164

E mesmo que ocorra uma chamada „transformação do corpo‟, não

implica em total diferença entre o corpo atual com o que teremos no porvir. “Haverá uma

continuidade definida entre o nosso corpo atual e o corpo que teremos na

160

Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p 381. 161

Ibid, p 15. 162

Ibid, p 112. 163

Bruce Milne, Estudando as Doutrinas da Bíblia, p 123. 164

Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, p 433.

Page 55: A doutrina bíblica do pecado

55

ressurreição”.165

Não seremos modificados para sermos “outros seres”. Sempre seremos

humanos. A esta altura é instrutiva as palavras de William Hendriksen:

“gostaríamos de advertir ao leitor contra a posição, aparentemente sustentada por alguns,

que a vida porvir (seja no estado intermediário, seja no final) será tão completamente

diferente que não haverá nenhuma conexão entre o nosso presente estado. Assim,

erroneamente, a preservação da identidade pessoal é negada, seja implícita ou

explicitamente”.166

O fato que há uma continuidade dos corpos não tira a verdade de que eles serão

corpos glorificados. O corpo será o mesmo, e não outro. Paulo fala que Deus

“transformará” (Fp 3:21) os corpos, e não, que ganharemos outro. Verdadeiramente o

corpo da ressurreição terá continuidade e relação com o corpo atual, pois dele se deriva.

Porém não implica em simples revitalização do presente corpo.167

Na abordagem que o

apóstolo Paulo faz da ressurreição final em (1Co 15:42-44, 49), ele nos esclarece que o

corpo ressurreto obterá mudanças. E lista-nos pelo menos quatro aspectos do modo como

ele será: Será incorruptível, será glorioso, será poderoso, será espiritual. Mas apesar de

receber estas mudanças seremos os mesmos. É claro que não somente os corpos terão

vitória completa sobre os resultados e presença do pecado. “Na glorificação também haverá

um aperfeiçoamento moral e espiritual do indivíduo”168

(Jd 24). A alma do salvo nunca

mais pecará.

A glorificação não implica em melhoria e benefício somente dos seres humanos.

Toda a criação será amplamente abençoada pela glorificação. Aliás, na missão de Cristo,

ele resgata o universo em sua totalidade. Como afirma Anthony A. Hoekema: “A obra de

165

Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 701. 166

William Hendriksen, A Vida Futura Segundo a Bíblia. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1988, p 247. 167

Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, p 505. 168

Ibid, p 431.

Page 56: A doutrina bíblica do pecado

56

Cristo, portanto, não é apenas salvar certos indivíduos, nem mesmo salvar uma incontável

multidão de pessoas compradas por sangue. A obra total de Cristo não é nada menos do que

redimir toda esta criação dos efeitos do pecado”.169

Mesmo que seja verdade que a criação foi amaldiçoada juntamente com o homem, e

que a redenção dela também está ligada com a redenção dele (Rm 8:19-22), entretanto, as

Escrituras não são muito claras com respeito a como será este novo céu e esta nova terra.

Por isto, “dentro do mundo protestante, há divergência sobre a questão se a terra será

destruída por completo e substituída ou apenas mudada e renovada”.170

A interpretação luterana professa que haverá uma criação nova. Já os reformados

são tendentes a enfatizar os versículos que falam de uma renovação da presente criação.171

Observemos o que diz o teólogo Wayne A. Grudem sobre o referido tema:

“A posição reformada parece preferível aqui, pois é difícil imaginar que Deus aniquilaria

totalmente sua criação original, causando assim a impressão de ceder ao diabo a última

palavra e desfazendo-se da criação que originariamente era muito boa (Gn 1:31)”.172

Assim, a Bíblia parece favorecer que a terra será renovada e transformada assim

como aconteceu um dia com os cristãos (2Co 5:17). É bem certo que o pecado trouxe

maldição sobre toda a criação, porém o poder salvífico e restaurador de Deus supera tais

conseqüências. Deus fará um mundo glorificado.

169

Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p 369. 170

Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 990. 171

Ibid, p 990. 172

Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p 990.

Page 57: A doutrina bíblica do pecado

57

3.3.3 – O início da glorificação

Como é de se esperar, a história humana terá um fim. Não se quer dizer com isto

que todos serão aniquilados. Deus dará um fim a todo o mal. Apesar de existir visões

divergentes sobre o caminhar da história, “a Bíblia tem a sua própria filosofia da história.

Toda a história, afirma ela, começa com Deus, está sob Deus, e terminará segundo a

vontade de Deus”.173

A glorificação é o estágio último da redenção. E este estágio não tem data marcada

nas Escrituras. É um acontecimento que se dará no tempo de Deus, e não compete a

ninguém saber (Mc 13:32; At 1:6,7). A Bíblia só dá duas afirmações sobre este o tempo

deste acontecimento: Primeiro, a glorificação se dará no Dia do Senhor. Sabe-se portanto

que “o dia do Senhor virá e que, nesse dia, a total derrota do mal se consumará”174

(1Co 15;

Ap 21); Segundo, a outra informação é que será juntamente com a volta de Cristo, a qual

será repentina (2Pe 3:10; 1Ts 5:2,3).

173

William Fitch, Deus e o Mal, p 69. 174

Ibid, p 111.

Page 58: A doutrina bíblica do pecado

58

CONCLUSÃO

Não há como escapar da verdade que o pecado está presente na vida do ser humano

em todos os aspectos. Como ficou demonstrado aqui, o mal teve seu início, propagou-se

neste meio termo onde a salvação estava sendo providenciada, porém fatalmente terá um

fim.

O homem natural jamais compreenderá estas coisas, e continuará a buscar respostas

as mais absurdas possíveis para explicar a angústia do seu coração causada pelo pecado.

Irão percorrer longos caminhos a procura de resolução para os problemas da alma advindos

do pecado, todavia sem sucesso. Eles nunca conseguirão satisfazer tais necessidades. Como

bem declarou Francisco Jacinto Pereira Filho:

“A Filosofia, a Ciência, os conhecimentos humanos jamais poderiam dar aos homens uma

orientação segura na resolução de seus problemas. Então, as Escrituras com sua Luz

meridiana, Revelação e Inspiração Divinas, conduzem os homens ao verdadeiro Caminho, à

Luz Celestial, ao Sol da Justiça”.175

Realmente as Escrituras podem nos dar respostas a respeito do mal e da causa de

todo o sofrimento humano. Como está demonstrado neste trabalho em seu capítulo 1, os

homens tiveram as mais diferentes explicações em relação ao seu pecado. E o conceito de

pecado varia enormemente entre eles. Isto não só durante uma época, mais durante toda a

história.

Vemos também no capítulo 2 deste trabalho que o mal não é um acidente para

Aquele que tem toda a história nas mãos. Observa-se a natureza essencial do pecado e suas

conseqüências para o homem, tanto coletivamente, como individualmente. É abordado

175

Francisco Jacinto Pereira Filho, A Blasfêmia Contra o Espírito Santo (ou o pecado imperdoável), p 18.

Page 59: A doutrina bíblica do pecado

59

também que a única solução para todo este mal do pecado e suas conseqüências foi a obra

de Cristo. O qual venceu de uma vez para sempre as hostes malignas com suas obras (1Jo

3:8; Cl 2:15).

O capítulo 3 fala acerca das conseqüências desta obra vitoriosa do Messias. As

quais são a justificação dos eleitos de Deus, a santificação de suas vidas tornando-os cada

vez mais semelhantes a Ele mesmo, e a final glorificação de suas vidas levando-os para o

novo céu e a nova terra.

Apesar de conhecer tais verdades a Igreja não tem sido sensível ao pecado como

antes. A realidade de uma vida secularizada e negligente está presente em muitas igrejas

protestantes. A Igreja deveria reagir bem diferente em meio a este mundo pervertido e

corrupto, e nunca agir semelhante aos ímpios desesperados deste mundo. Ao olhar para fim

futuro do mal, é dever do cristão ter uma reação totalmente oposta ao que se tem visto em

muitas igrejas. Como bem falou o teólogo Anthony A. Hoekema: “a doutrina da nova terra

deveria nos dar esperança, coragem e otimismo em tempos de desespero difundido. Embora

o mal seja excessivo neste mundo, é confortante saber que Cristo conquistou a vitória

final”.176

O plano de Deus foi revelado nas Escrituras progressivamente, e hoje o cristão pode

conhecê-lo plenamente. Nela pode-se ver o desenvolvimento temporal da redenção

claramente. É o que nos mostra J. I. Packer:

“A salvação no Novo Testamento tem três tempos: passado, presente e futuro. É a

salvação: da culpa do pecado (o aspecto passado: já não estamos mais debaixo das

penalidades do pecado); do poder do pecado (o aspecto presente: o pecado não mais nos

176

Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro, pp 382, 383.

Page 60: A doutrina bíblica do pecado

60

domina) e da presença do pecado (o aspecto futuro: o pecado, um dia, não passará de uma

má recordação)”.177

Ora, uma Igreja que não somente conhece estas verdades, mas também as entende

espiritualmente. Não somente entende, mas também crê nelas. Esta Igreja deveria ser

impactante no mundo, não permitindo que o mal se alastre nele como se houvera vencido o

bem. Pelo contrário, demonstrar com a própria vida que o Bem, longe de ser vencido pelo

mau, é o próprio autor e controlador e destruidor do mesmo.

177

J. I. Packer, A Redescoberta da Santidade, p 41.

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