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Conhecimento cristão - L VRO

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Edwards, Jonathan – 1703-1758 Conhecimento cristão / Jonathan Edwards / Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 34p; 14,8 x 21cm Título original: Christian knowledge: or, the Importance and advantage of a thorough knowledge of divine truth 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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“Porque, devendo já ser mestres pelo tempo,

ainda necessitais de que se vos torne a ensinar

quais sejam os primeiros rudimentos dos

oráculos de Deus; e vos haveis feito tais que

necessitais de leite, e não de sólido

mantimento.” (Hebreus 5.12)

Estas palavras são uma queixa que o apóstolo faz

contra os cristãos hebreus, por sua falta de

progresso no conhecimento da doutrina e

mistérios da religião.

O apóstolo se queixa de que eles não tinham

feito progresso na sua familiaridade com as

coisas ensinadas nos oráculos de Deus. Ele os

reprova, não apenas por sua deficiência em

espiritualidade e conhecimento experimental

das coisas divinas, mas pela sua deficiência em

um conhecimento doutrinal com os princípios

da religião e as verdades da divindade cristã;

como é evidente pela maneira na qual o apóstolo

introduz esta repreensão. A ocasião da sua

introdução no verso seguinte é esta, mas numa

anterior, ele menciona Cristo como sendo

"Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a

ordem de Melquisedeque." (Heb 5. 10).

4

Quanto aos oráculos de Deus, Melquisedeque

havia sido no Antigo Testamento, um tipo

eminente de Cristo, e seu sacerdócio continha

muitos mistérios do evangelho. Esses mistérios,

o apóstolo estava disposto a apontar aos cristãos

hebreus, mas ele concluiu que em razão da

fraqueza deles em conhecimento, não o

compreenderiam; portanto decidiu

interromper o discurso sobre ele, como se vê no

verso 11, "Sobre isso temos muito que dizer, mas

de difícil interpretação, porquanto vos tornastes

tardios em ouvir." Ou seja, há muitas coisas a

respeito de Melquisedeque que contêm

maravilhosos mistérios sobre o evangelho, e

que gostaria de dar conhecimento a vocês, se

não fosse o temor que tenho de que em razão de

sua fraqueza e atraso na compreensão dessas

coisas, vocês somente ficariam intrigados e

confundidos por meu discurso, e assim não

receberiam qualquer benefício, sendo muito

difícil para vocês, assim como é para um bebê se

alimentar com o alimento sólido.

Em seguida, vêm as palavras do texto: “Porque,

devendo já ser mestres pelo tempo, ainda

necessitais de que se vos torne a ensinar quais

sejam os primeiros rudimentos dos oráculos de

5

Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de

leite, e não de sólido mantimento.” (Hebreus

5.12)

O fato de que muito se poderia esperar de vocês,

significa que deveriam saber o suficiente da

Sagrada Escritura para serem capazes de

entender e digerir tais mistérios, mas não é

assim com vocês. O apóstolo fala de seu

progresso em conhecimento, como é

transmitido pelo ensino humano, como se

depreende da expressão "Quanto ao tempo

decorrido deveriam ser mestres"; que inclui não

só a prática experimental, mas também uma

doutrinária, o conhecimento das verdades e

mistérios da religião.

Mais uma vez, o apóstolo fala de tal

conhecimento, em que os cristãos são capazes

de compreender essas coisas da divindade, que

são mais difíceis de serem compreendidas, e

exigem grande habilidade nas coisas dessa

natureza. Isto é mais amplamente expressado

nos dois próximos versos: "Ora, qualquer que se

alimenta de leite é inexperiente na palavra da

justiça, pois é criança; mas o alimento sólido é

para os adultos, os quais têm, pela prática, as

6

faculdades exercitadas para discernir tanto o

bem como o mal." (Heb 5. 13-14). É nesse

conhecimento, que consiste o progresso que

devem fazer os cristãos além dos primeiros

rudimentos da religião, como aqui; "Tendes

necessidade de que alguém vos ensine

novamente os princípios elementares dos

oráculos de Deus." Portanto, no início do

próximo capítulo, o apóstolo aconselha-os: "Pelo

que deixando os rudimentos da doutrina de

Cristo, prossigamos até a perfeição." (Heb. 6: 1)

Podemos observar que a culpa desse defeito

aparece, na medida em que não tinham feito

progresso de acordo com o tempo decorrido.

Pelo tempo de cristãos, eles deveriam ser

mestres. Como eram cristãos, seu negócio era

aprender e adquirir conhecimento sobre a vida

cristã. Eram estudiosos na escola de Cristo, e se

tivessem melhorado no uso do seu tempo na

aprendizagem, eles poderiam, pelo tempo em

que o apóstolo escreveu, terem sido aptos a

serem professores nesta escola. Os cristãos não

devem permanecer bebês para sempre, mas

crescer no conhecimento cristão, e deixando a

comida dos bebês, eles devem aprender a

digerir o alimento sólido.

7

Assim, todo cristão deve fazer um esforço para

crescer no conhecimento das coisas divinas.

De fato, isto é estimado como sendo o negócio

de teólogos e ministros, e comumente pensado

ser o seu trabalho pelo estudo das Escrituras, e

outros livros instrutivos para ganhar

conhecimento, mas não se pode pensar que isto

deve ser deixado para eles, como que não

pertencendo ao interesse de outros. Mas, se o

apóstolo tivesse entretido esta noção, ele nunca

teria culpado os hebreus cristãos por não terem

adquirido conhecimento suficiente para serem

professores.

Ao lidar com este assunto, vou mostrar porque

o conhecimento na divindade é necessário.

E por que todos os cristãos devem se esforçar

para crescer nesse conhecimento.

Parte I

O que se entende por divindade, como o objeto

do conhecimento cristão.

Várias definições foram dadas sobre este

assunto por aqueles que têm tratado do mesmo.

8

Podemos dizer resumidamente, que é a ciência

ou doutrina que compreende todas as verdades,

e as regras que dizem respeito ao grande

assunto da religião cristã.

Existem vários tipos de artes e ciências

ensinadas e aprendidas nas escolas, que são

versados sobre vários objetos; sobre as obras da

natureza em geral, como a filosofia; ou o céu

visível, como a astronomia; ou no mar, como a

navegação; ou a terra, como a geografia; ou o

corpo do homem, como a física e anatomia; ou a

alma do homem, no que respeita às suas

competências e qualidades naturais, como a

lógica e pneumatologia; ou acerca do governo

humano, como política e jurisprudência. Mas,

uma ciência ou tipo de conhecimento e

doutrina é acima de tudo o mais, como

concerne a Deus e ao grande assunto da religião.

Teologia não se aprende como outras ciências,

pela simples melhoria da razão natural do

homem, mas é ensinado pelo próprio Deus em

um livro cheio de instrução, que nos tem dado

para esse fim. Esta é a regra que Deus deu ao

mundo, para ser seu guia na busca desse tipo de

conhecimento, e é um resumo de todas as coisas

9

desta natureza, necessário para nós

conhecermos. Esta teologia é chamada de

doutrina, de arte ou ciência.

Na verdade, existe o que se chama de religião

natural. Há muitas verdades a respeito de Deus,

e nosso dever para com Ele, que são evidentes à

luz da natureza. Mas a teologia cristã

propriamente dita, não é evidente pela luz da

natureza; isso depende de revelação. Tais são as

nossas circunstâncias agora, em nosso estado

caído, que nada que é necessário para sabermos

a respeito de Deus, manifesta-se pela luz da

natureza, na forma em que é necessário para

que possamos conhecê-lo. Porque o

conhecimento de qualquer verdade na

divindade é de grande importância para nós, e

pertence ao evangelho.

Mas a luz da natureza não nos ensina qualquer

verdade nesta matéria, portanto não pode ser

dito, que se chega ao conhecimento de qualquer

parte da verdade cristã à luz da natureza. É

somente a palavra de Deus, contida no Antigo e

Novo Testamento, que nos ensina a teologia

cristã.

10

Esta compreende tudo o que é ensinado nas

Escrituras, e assim, tudo o que precisamos

saber, ou que deve ser conhecido a respeito de

Deus e de Jesus Cristo acerca de nosso dever

para com Deus, e nossa felicidade em Deus.

Teologia é comumente definida, como a

doutrina de viver para Deus, ou a doutrina da

vida de Deus por Cristo. Abrange todas as

doutrinas cristãs como elas são em Jesus, e

todas as regras cristãs nos orientando a viver

para Deus, por Cristo. Não há uma doutrina,

nenhuma promessa, nenhuma regra, mas o que

de alguma forma ou de outra, se relaciona com

a vida cristã e divina, ou a nossa vida para Deus,

por Cristo. Todos eles se relacionam com isso

em dois aspectos, como tendem a promover a

nossa vida para Deus, aqui neste mundo, em

uma vida de fé e santidade, e também como eles

tendem a levar-nos a uma vida de perfeita

santidade e felicidade, em pleno gozo de Deus.

Parte II

Que tipo de conhecimento da divindade,

destina-se na doutrina.

11

Existem dois tipos de conhecimento da verdade

divina: especulativo e prático, ou em outros

termos, natural e espiritual.

No primeiro, nenhuma outra faculdade, senão o

entendimento está em causa no mesmo. Ele

consiste em ter um conhecimento natural ou

racional das coisas da religião, ou de um

conhecimento, como é para ser obtido pelo

exercício natural de nossas próprias faculdades,

sem qualquer iluminação especial do Espírito

de Deus. Mas, o segundo (espiritual) não

repousa inteiramente na cabeça ou nas ideias

especulativas de coisas, mas o coração está nele

ocupado. Ele consiste principalmente, no

sentido do coração.

O mero intelecto, sem a vontade ou a inclinação,

não é a sede do mesmo. E isso não pode ser

chamado apenas de ver, mas sentir ou provar.

Assim, há uma diferença entre ter uma noção

especulativa correta das doutrinas contidas na

palavra de Deus, e ter o devido senso delas no

coração. O primeiro consiste no conhecimento

especulativo ou natural, mas o segundo consiste

no conhecimento espiritual ou prático das

doutrinas.

12

Nenhum deles se exclui na doutrina, mas

devemos procurar o primeiro (natural) com o

fim de atingir o segundo (espiritual). O

espiritual e prático é da maior importância,

porque um especulativo sem um conhecimento

espiritual é vaidade, e servirá ainda para fazer a

nossa condenação maior. No entanto, um

conhecimento especulativo também é de

importância capital, porque sem ele não

podemos ter conhecimento espiritual ou

prático.

Eu já mostrei, que o apóstolo fala não somente

de um conhecimento espiritual, mas de como

pode ser adquirido e comunicado de um para

outro. Ele desejava que os cristãos hebreus

buscassem a um, em ordem para o outro.

Portanto, o primeiro vem em primeiro lugar , e

com ele se pretende que os cristãos devem

através da leitura e de outros meios

apropriados, procurar um bom conhecimento

racional das coisas da divindade; enquanto o

segundo, se destina de forma mais indireta,

uma vez que deve ser procurado por intermédio

do outro.

Parte III

13

A utilidade e a necessidade do conhecimento

das verdades divinas.

Não há outro caminho, seja qual for, em que

quaisquer meios de graça possam ser de

qualquer benefício, senão pelo conhecimento.

Todo o ensino é em vão, sem aprender,

portanto, a pregação do evangelho seria

totalmente sem propósito, se ele não trouxesse

nenhum conhecimento para a mente. Há uma

ordem de homens que Cristo nomeou com o

propósito de serem mestres em sua igreja, mas

eles ensinam em vão, se nenhum conhecimento

nestas coisas é adquirido por seu ensino. É

impossível que seu ensino e pregação sejam um

meio de graça, ou de qualquer bem no coração

dos seus ouvintes, de qualquer outra forma que

não pelo conhecimento transmitido para o

entendimento. Caso contrário, seria um grande

benefício aos ouvintes, se o ministro pregasse

em uma língua desconhecida para eles.

Toda a diferença está em que a pregação em

uma língua conhecida transmite algo para o

entendimento, que a pregação em uma língua

desconhecida não o faz. Por conta disso, tal

pregação deve ser rentável. Em tais coisas que os

14

homens não recebem nada, quando nada

entendem, e não são de todo edificados, a

menos que algum conhecimento seja

transmitido à mente racional, conforme o

apóstolo se expressa em I Coríntios 14.2-6.

Nenhum discurso pode ser um meio de graça,

mas para transmitir conhecimento; caso

contrário, o discurso é tanto perdido como se

não tivesse havido ninguém lá, e se aquele que

falava, tinha falado apenas para o ar; uma vez

que segue na passagem que acabamos de citar,

onde lemos:

“6 E agora, irmãos, se eu for ter convosco

falando em línguas, de que vos aproveitarei, se

vos não falar ou por meio de revelação, ou de

ciência, ou de profecia, ou de doutrina?

7 Ora, até as coisas inanimadas, que emitem

som, seja flauta, seja cítara, se não formarem

sons distintos, como se conhecerá o que se toca

na flauta ou na cítara?

8 Porque, se a trombeta der sonido incerto,

quem se preparará para a batalha?

15

9 Assim também vós, se com a língua não

pronunciardes palavras bem inteligíveis, como

se entenderá o que se diz? porque estareis como

que falando ao ar.” (I Cor 14.6-10).

Deus lida com o homem como uma criatura

racional (Daí o apóstolo apontar a necessidade

da renovação da mente para o culto racional a

Deus – Rom 12.1,2 - nota do tradutor); e quando a

fé está em exercício, não se trata de algo que ele

não possa saber. Portanto a audição racional é

absolutamente necessária para a fé, pois a

audição é necessária para a compreensão. Rom

10. 14 "Como crerão naquele de quem não

ouviram falar?"

Da mesma forma, não pode haver amor sem

conhecimento. Não é de acordo com a natureza

da alma humana, amar um objeto que é

totalmente desconhecido.

O coração não pode ser ajustado em cima de um

objeto do qual não há qualquer ideia na

compreensão. As razões que induzem a alma ao

amor, primeiro devem ser entendidas, antes

que possa ter uma influência razoável sobre o

coração.

16

Deus nos deu a Bíblia, que é um livro de

instruções. Mas este livro não pode ser fonte de

qualquer tipo de lucro para nós, de qualquer

outra forma que não seja por transmitir algum

conhecimento à mente. Ele não poderia nos

beneficiar, não mais do que se tivesse sido

escrito na língua chinesa, da qual não sabemos

uma palavra. Assim, os sacramentos do

evangelho não podem ter um bom efeito de

nenhuma outra maneira, do que por transmitir

algum conhecimento. Eles representam certas

coisas por sinais visíveis. E, o que é o fim de

sinais, senão transmitir algum conhecimento

das coisas significadas? Essa é a natureza do

homem, que nenhum objeto pode vir ao seu

coração, senão pela porta do entendimento,

portanto não pode haver conhecimento

espiritual daquilo em que não há primeiro um

conhecimento racional. É impossível que

qualquer um deva ver a verdade ou a excelência

de qualquer doutrina do evangelho, que não

saiba o que é a doutrina, a qual é aprendida pela

mente racional.

Um homem não pode ver a excelência

maravilhosa e o amor de Cristo em fazer tais

coisas para os pecadores, a menos que seu

17

entendimento seja informado pela primeira vez,

de como essas coisas foram feitas. Ele não pode

ter o gosto da doçura e excelência da verdade

divina, a menos que primeiro tenha uma noção

de que existe tal coisa, por receber informação

delas de forma escrita ou falada.

Sem conhecimento da teologia cristã, ninguém

seria diferente dos pagãos mais ignorantes e

bárbaros. Os pagãos permanecem nas trevas

porque não são instruídos, e não têm obtido o

conhecimento das verdades divinas.

Se os homens não têm conhecimento destas

coisas, a faculdade da razão seria totalmente em

vão. A faculdade da razão e compreensão foi

dada para o entendimento e conhecimento real.

Se um homem não tiver conhecimento real, a

faculdade ou a capacidade da razão é de

nenhum uso. E se ele tem conhecimento real,

mas for destituído do conhecimento das coisas

que são o fim último do seu ser, e da causa do

conhecimento de que tinha mais entendimento

dado a ele, do que aos animais; então, sua

faculdade da razão ainda é em vão; ele poderia

muito bem ter sido uma besta como um homem.

Mas, assuntos divinos são as coisas a serem

18

conhecidas, pelas quais recebemos a faculdade

da razão. São coisas que tocam até o fim do nosso

ser, e são o grande negócio para o qual somos

feitos, portanto um homem não pode ter sua

faculdade de entendimento para algum bom

propósito, mais do que ele tenha conhecimento

da verdade divina.

Assim, este tipo de conhecimento é

absolutamente necessário. Outros tipos de

conhecimento podem ser muito úteis. Algumas

outras ciências, como a astronomia, filosofia

natural, e geografia, podem ser muito

importantes em sua espécie, mas o

conhecimento desta ciência divina é

infinitamente mais útil e importante do que a de

todas as demais ciências.

Parte IV

Porque todos os cristãos devem fazer seu

negócio se esforçar para crescer no

conhecimento da divindade.

Os cristãos não devem contentar-se com tais

graus de conhecimento da divindade como já

obtiveram. Não devem se satisfazer com o

19

quanto eles já sabem do que é absolutamente

necessário para a salvação, mas devem procurar

fazer progressos.

Este esforço de fazer progressos em tal

conhecimento não deveria ser atendido como

uma coisa ocasional, mas todos os cristãos

devem se empenhar nisto. Eles devem olhar

para isto como uma parte da sua atividade

diária, e deve ser atendido como uma parte

considerável do trabalho de sua elevada

chamada, porque:

1. Nosso negócio deve, sem dúvida, consistir

muito em empregar essas faculdades pelas

quais se distinguem dos animais. A razão pela

qual nós temos faculdades superiores às dos

animais, é que somos realmente concebidos

para um emprego superior. Isso que o Criador

planejou deve ser o nosso principal emprego,já

que nos deu poderes superiores. Portanto, sem

dúvida, deve ser uma parte considerável do

nosso negócio, melhorar as faculdades

superiores. Mas, a faculdade pela qual somos

principalmente distinguidos dos brutos, é a

faculdade da compreensão. Segue-se então, que

devemos fazer o nosso negócio principal

20

melhorar esta faculdade, porque é na verdade a

mais alta que temos.

Mas, não podemos fazer uma melhoria da nossa

capacidade intelectual, de outra forma, do que

fazendo um empenho para melhorar a nós

mesmos no conhecimento real.

Deus deu ao homem algumas coisas em comum

com os animais, como seus sentidos exteriores,

seus apetites do corpo, uma capacidade de

prazer corporal e dor, e outras faculdades

animais; porém algumas coisas que Ele lhes deu

são superiores às dos animais, e a principal

delas é a faculdade do entendimento e da razão.

Agora, Deus nunca deu ao homem essas

faculdades, para estarem sujeitas às que ele tem

em comum com os animais. Esta seria uma

grande confusão, equivalente a fazer do homem

um servo dos animais. Pelo contrário, Ele deu

esses poderes inferiores para serem

empregados na subserviência ao entendimento

do homem, portanto deve ser uma grande parte

do negócio principal do homem, melhorar sua

compreensão através da aquisição de

conhecimento, pois é com este que ele exerce

21

domínio sobre a criação, conforme lhe foi dado

pelo próprio Deus.

Os pagãos mais sábios foram os que entenderam

que o principal negócio do homem era a

melhoria e exercício de seu conhecimento, mas

eles não sabiam o objeto sobre o qual o

entendimento deve principalmente ser

empregado. A ciência que muitos deles

achavam que deveriam buscar pelo

entendimento, foi a filosofia; e,

consequentemente, fizeram dela o assunto

principal de seus estudos.

Mas nós, que apreciamos a luz do evangelho

somos mais felizes, porque não estamos neste

particular, nem errados nem no escuro. Deus

nos disse sobre as coisas que devemos

principalmente empregar nosso entendimento;

Ele nos tem dado um Livro cheio de instruções

divinas, retendo muitos objetos gloriosos sobre

o qual todas as criaturas racionais devem

principalmente empregar seu entendimento.

Estas instruções são acomodadas a pessoas de

todas as capacidades e condições, e adequadas

para serem estudadas, não só por homens

cultos, mas por pessoas de todos os tipos; cultos

22

e incultos, jovens e velhos, homens e mulheres.

Portanto, a aquisição de conhecimentos nestas

coisas deve ser um negócio principal de todos

aqueles que têm a vantagem de desfrutar das

Sagradas Escrituras.

2. As verdades da divindade são excelências

superlativas, e dignas de que todos devem se

esforçar para crescerem no conhecimento

delas. Elas são tão acima das coisas, que são

tratadas em outras ciências, como o céu está

acima da terra. (Nota do tradutor: nem tanto na

complexidade do conhecimento, mas na sua

essência e proveniência divina, celestial e

espiritual, e não natural). O próprio Deus, o

eterno Três em Um, é o principal objeto desta

ciência; e ao lado de Jesus Cristo, como Deus-

homem e Mediador, e a gloriosa obra da

redenção, a obra mais gloriosa que já foi feita,

seguida pelas grandes coisas do mundo

celestial, a herança gloriosa e eterna adquirida

por Cristo, e prometida no evangelho; a obra do

Espírito Santo de Deus nos corações dos

homens; o nosso dever para com Deus, e a

maneira em que nós mesmos podemos nos

tornar como anjos, e como o próprio Deus em

23

nossa medida; todos estes são objetos desta

ciência.

Tais coisas como estas têm sido o assunto

principal do estudo dos santos patriarcas,

profetas, apóstolos, e os mais excelentes

homens que já existiram; e elas também são

objeto de estudo para os anjos no céu; 1 Pedro 1.

10-12.

Elas são tão excelentes e dignas de serem

conhecidas, que o conhecimento delas vai

recompensar ricamente todas as dores e o

trabalho de uma busca sincera das mesmas. Se

houvesse um grande tesouro de ouro e pérolas

acidentalmente encontrado, e aberto em tais

circunstâncias que todos possam ter tanto dele

quanto pudessem pegar; cada um não poderia

pensar que valeria gastar seu tempo e esforço

neste propósito?

Mas esse tesouro do conhecimento divino, que

está contido nas Escrituras, e é fornecido para

cada um, para juntar para si mesmo o tanto

quanto ele possa, é muito mais rico do que

qualquer um de ouro e pérolas. Quão ocupados

todos os tipos de homens estão em todo o

24

mundo, no sentido de obter riquezas! Mas esse

conhecimento é um tipo de riqueza muito

melhor, do que a comumente perseguida.

3. Verdades divinas não são um assunto

exclusivo para ministros, mas de importância

infinita para todos os cristãos.

Elas são sobre aquelas coisas que se relacionam

com a salvação eterna, e felicidade de todos os

homens. As pessoas comuns não podem dizer:

“Vamos deixar esses assuntos para ministros e

teólogos; eles não nos dizem respeito, porque

são de importância infinita para cada homem.”

Aquelas doutrinas que se relacionam com a

essência, atributos e ordenanças de Deus, dizem

respeito a todos, pois são de importância infinita

para pessoas comuns, bem como para os

ministros, para saber que tipo de ser Deus é.

Porque ele é um ser "em quem vivemos, e nos

movemos, e existimos" (Atos 17:28), que é o

Senhor de todos; o ser diante de quem todos nós

somos responsáveis; é o fim último do nosso ser,

e a única fonte de nossa felicidade.

A doutrina também que se refere a Jesus Cristo

e Sua mediação, Sua encarnação, Sua vida e

25

morte, Sua ressurreição e ascensão, Sua

exaltação à direita do Pai. Sua satisfação e

intercessão interessa tanto às pessoas comuns,

bem como aos teólogos. O mesmo pode ser dito

da doutrina que se relaciona com a maneira de

justificação do pecador, ou a forma em que ele

se torna interessado na mediação de Cristo. Ela

também diz respeito a todos, porque têm igual

necessidade de justificação diante de Deus;

porque a condenação eterna, para a qual todos

somos naturalmente expostos, é igualmente

terrível. Assim, no que diz respeito às doutrina

que se relacionam com a obra do Espírito de

Deus no coração, na aplicação da redenção em

nossa regeneração eficaz e santificação, todos

são igualmente interessados nelas. Não há

qualquer doutrina da divindade que não seja de

alguma forma do eterno interesse de cada

cristão.

4. Podemos argumentar a favor da mesma

posição, desde as grandes coisas que Deus fez

para nos dar instruções acerca delas. Quanto a

outras ciências, Ele nos deixou à luz da nossa

própria razão, mas as coisas divinas sendo

infinitamente de maior importância para nós,

Ele não tem deixado para um guia incerto, mas

26

tem nos dado uma revelação da verdade nestes

assuntos, e tem feito grandes coisas para

transmiti-las e confirmá-las para nós;

levantando muitos profetas em diferentes

idades, inspirando-os imediatamente com o

Espírito Santo, e confirmando a Sua doutrina

com inúmeros milagres ou obras maravilhosas

fora do curso estabelecido da natureza. Sim, Ele

levantou uma sucessão de profetas, a quem

revelou a verdade por diversas eras.

Foi para este fim que Deus de forma

maravilhosa separou o povo de Israel de todas as

outras pessoas, e os manteve em separado; para

que Ele pudesse lhes entregar os Seus oráculos,

e a partir deles pudessem ser comunicados ao

mundo. Ele também, muitas vezes tem enviado

anjos para trazer instruções divinas aos

homens; e frequentemente aparecido em

símbolos milagrosos ou representações de Sua

presença. E, agora nestes últimos dias enviou

Seu próprio Filho para o mundo, para ser seu

grande profeta, e nos ensinar a verdade divina

(Heb 1. 1). Deus nos deu um livro de instruções

divinas, que contém a soma de divindade. Agora,

essas coisas que Deus fez assim, não é só para a

instrução dos ministros e homens cultos, mas

27

para a instrução de todos os homens, de todos os

tipos; cultos e incultos, homens, mulheres e

crianças.

Vemos em Jeremias 7.25 a afirmação de Deus de

que desde os dias de Moisés vinha levantando

profetas para ensinarem Sua vontade ao Seu

povo: “Desde o dia em que vossos pais saíram da

terra do Egito, até hoje, tenho-vos enviado

insistentemente todos os meus servos, os

profetas, dia após dia”. E vemos no verso 13: "Eu

vos falei, madrugando, e falando." Esta é uma

figura de linguagem, que significa, que Deus é

quem fez isso como um negócio de grande

importância, em que tomou muito cuidado, e no

qual tinha o coração muito envolvido.

Se Deus tem sido tão envolvido no ensino,

certamente não devemos ser negligentes na

aprendizagem, mas fazer do crescer no

conhecimento uma grande parte dos negócios

de nossas vidas.

5. Pode-se argumentar a partir da abundância

das instruções que Deus nos deu, e da grandeza

daquele Livro, que nos deu para nos ensinar

sobre a divindade, com a grande variedade de

28

assuntos que nele está contido. Muito foi

ensinado através da revelação que Ele fez a

Moisés no passado, e que foi transmitido até

nós; depois disso, outros livros foram de vez em

quando adicionados, e muitas e excelente são as

instruções comunicadas pelos profetas, porém

Deus não achou que tudo isso fosse suficiente,

porém após Cristo enviou seus apóstolos, por

quem é adicionado um grande e excelente

tesouro ao livro sagrado, que é para ser nosso

governo no estudo deste importante assunto.

Este livro (a Bíblia) foi escrito para o uso de

todos, e assim são direcionados para examinar

as Escrituras (João 5.v 39 - "Examinai as

Escrituras, porque julgais ter nelas a vida

eterna, e são elas que testificam de mim"; e Isa.

34. 16 - "Buscai no livro do Senhor, e leia.").

Àqueles que lerem e compreenderem são

pronunciadas bênçãos, (Apo 1. 3 - "Bem-

aventurado aquele que lê, e os que entendem as

palavras desta profecia."). Se isso for verdade em

relação a esse livro particular do Apocalipse,

muito mais é verdade em relação à Bíblia em

geral.

29

Deve ser considerado, que todas essas

instruções abundantes que estão contidas nas

Escrituras foram escritas para que pudessem

ser entendidas; caso contrário, não seriam

instruções. Aquilo que é dado e o aluno não pode

compreender, não é dado para a instrução do

aluno, a menos que nos esforcemos para

crescer no conhecimento da divindade, pois

uma grande parte dessas instruções será para

nós em vão, quando não podemos receber o

benefício na leitura das Escrituras, pois é

necessário que compreendamos o que lemos.

Temos razões para louvar a Deus por nos ter

dado tão variada e abundante instrução na Sua

Palavra; mas seremos hipócritas ao fazê-lo, se

depois de tudo, nos contentarmos com pouco

desta instrução.

Quando Deus abriu um grande tesouro diante

de nós para o atendimento de nossos desejos, e

Lhe agradecemos por nos ter dado tanto; mas ao

mesmo tempo, estamos dispostos a permanecer

na miséria, enquanto o temos ao nosso alcance,

porque somos preguiçosos demais para

recolhê-lo, isso não vai mostrar a sinceridade de

nossa gratidão.

30

Estamos agora sob muito maiores vantagens de

adquirir conhecimento da divindade, do que o

povo de Deus no passado, mas se somos

negligentes com as nossas vantagens, nunca

poderemos ser melhorados por elas.

6. No entanto, por mais diligentes que sejamos

em nossa aplicação ao estudo, há espaço

suficiente para aumentar nosso conhecimento

da verdade divina. Ninguém tem essa desculpa

para dar, por não se aplicar diligentemente para

adquirir conhecimento da divindade, com o

falso sentimento de já saber muito; nem podem

dar essa desculpa, por pensar que não há

necessidade de se aplicar diligentemente, a fim

de saber tudo o que há para ser conhecido.

Há espaço suficiente para empregar-nos para

sempre nesta ciência divina, com a maior

aplicação possível. Aqueles que se aplicaram

mais e têm estudado por muito tempo, e fizeram

as maiores realizações neste conhecimento

sabem, senão pouco do que há para ser

conhecido. O assunto é inesgotável.

O Ser divino, que é o tema principal desta

ciência, é infinito, e não há fim para a glória de

31

Suas perfeições. Suas obras ao mesmo tempo

são maravilhosas, e não podem ser levadas até a

perfeição de conhecimento, especialmente a

obra da redenção, sobre a qual a ciência da

divindade é principalmente focada, e cheia de

maravilhas insondáveis.

A Palavra de Deus, que é dada para a nossa

instrução na divindade, contém o suficiente

para dela nos ocuparmos até o fim de nossas

vidas.

7. É, sem dúvida, que diz respeito a cada um se

esforçar para se destacar no conhecimento de

coisas que pertencem à sua profissão ou

vocação principal. Se, se trata de homens para se

destacarem em qualquer coisa, ou em qualquer

sabedoria, ou o conhecimento, certamente lhes

diz respeito se destacarem nos assuntos de sua

profissão principal e trabalho. Mas a vocação e

trabalho de cada cristão é viver para Deus; isto é

dito ser sua vocação, Filipenses 3. 14. Este é o

negócio, e, se assim posso dizer, o comércio de

um cristão, seu trabalho principal, e na verdade

deveria ser o seu único trabalho, portanto

certamente o cristão deve se esforçar para ser

32

bem familiarizado com as coisas que pertencem

a este trabalho, para que possa cumpri-lo.

8. Pode-se argumentar, portanto, que Deus

determinou uma ordem de homens para este

fim, para ajudar pessoas em adquirir

conhecimento nestas coisas. Ele tem

determinado que eles sejam mestres, 1 Cor 12.

28 – “E a uns pôs Deus na igreja; primeiro

apóstolos, em segundo profetas, em terceiro

mestres.” Efésios 4. 11, 12 - "Ele deu uns para

apóstolos, outros para profetas, outros para

evangelistas, alguns para pastores e mestres,

para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra

do ministério, para a edificação do corpo de

Cristo". Se Deus os chamou para serem mestres,

então o negócio deles é o de transmitir

conhecimento. Mas que tipo de conhecimento?

Não o conhecimento da filosofia, ou das leis

humanas, ou das artes mecânicas, mas da

divindade.

Se Deus tornou o negócio de alguns serem

mestres, segue-se, portanto que fez o negócio

dos outros serem aprendizes.

33

O nome pelo qual os cristãos são comumente

chamados no Novo Testamento é discípulos,

cujo significado é “estudiosos ou alunos”. Todos

os cristãos são colocados na escola de Cristo,

onde seu negócio é aprender, ou receber o

conhecimento de Cristo, seu mestre e professor

comum, bem como a partir desses professores

inferiores nomeados por Ele para instruir em

Seu nome.

9. Deus nos tem revelado claramente nas

Escrituras, qual é a Sua vontade; que todos os

cristãos devem diligentemente se esforçar para

se sobressaírem no conhecimento das coisas

divinas. É a vontade revelada de Deus, que os

cristãos não só devem ter algum conhecimento

das coisas desta natureza, mas que devem ser

enriquecidos com todo o conhecimento: 1 Cor 1.

4, 5. "Dou graças a Deus sempre em seu nome,

pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus

Cristo, porque em tudo fostes enriquecidos

nele, em toda palavra e em todo conhecimento."

Então, o apóstolo orou fervorosamente, que os

cristãos filipenses abundassem mais e mais, não

só no amor, mas no conhecimento cristão;

Filipenses 1. 9. "E peço isto: que o vosso amor

34

aumente mais e mais no pleno conhecimento e

em todo o discernimento."

Assim, o apóstolo Pedro aconselha a "dar toda a

diligência para adicionar à fé a virtude, e à

virtude o conhecimento", 2 Pedro 1. 5.

O apóstolo Paulo, no próximo capítulo a esse em

que está o texto que estamos comentando,

aconselha os cristãos hebreus, a deixarem os

primeiros rudimentos da doutrina de Cristo,

para prosseguirem até a perfeição.

Ele não desejaria de modo algum, que eles

sempre descansassem apenas nas doutrinas

fundamentais do arrependimento e fé, da

ressurreição dentre os mortos, e o julgamento

eterno, em que foram instruídos quando foram

batizados, em sua primeira iniciação no

cristianismo.