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Luís Portela no Expresso

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ILUMINARMENTES

“FUI PARA MEDICINAPORQUEMEPARECEU QUE ERA AÁREA QUEMELHORCONTRIBUÍA PARAO ESCLARECIMENTOESPIRITUALDA HUMANIDADE”,REVELA

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Conquistou reputação como médico, empresário e homem da ciência à frente

da farmacêutica Bial. Agora publica um livro em que fala de temas existen-

ciais como a alma, a telepatia, o sexto sentido, a transcomunicação instrumen-

tal, a vida além da morte ou a reencarnação, citando estudos científicos. Mais

do que dar respostas, dá que pensar. ENTREVISTA DEMAFALDA ANJOS FOTOGRAFIAS DE TIAGOMIRANDA

entrevista

“Acredito queexistimos antese continuamosa existir depois”

LuísPORTELA

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Primeiro, vamos aos pergaminhos. Não queLuís Portela precise de puxar pelos galões. É so-bejamente conhecido e admirado como empre-sário farmacêutico visionário, que tomou contada empresa de família Bial e apostou tudo nainvestigação. Uma aposta que deu frutos em2008, quando viu o antiepilético que a empresadesenvolveu licenciado para os Estados Unidose Canadá, o primeiro medicamento 100 por cen-to português a consegui-lo. Um homem da ciên-cia, portanto. Mas agora, aos 62 anos, afastadoda presidência-executiva da empresa que pas-sou ao filho, o médico que acima de tudo se dizum livre pensador pôde finalmente dedicar-seinteiramente àquilo que sempre o moveu: a pro-cura das respostas para algumas questões exis-tenciais. Afinal, o que somos? Para onde va-mos? Somos apenas pó e cinza? No início daadolescência, Luís Portela já fazia estudos com-parados das Bíblias católica e protestante, aosvinte e tal anos lia Lao-Tsé, que o marcou pelasabedoria tremenda por trás da simplicidade.Foi essa mesma paixão pela vida que o fez estu-dar medicina, e que o inspirou, através da Fun-dação Bial, a apoiar financeiramente investiga-ções na área da parapsicologia. No livro “Ser Es-piritual — da Evidência à Ciência” (editora Gra-diva, à venda no próximo dia 24), a que o Expres-so teve acesso em primeira mão , partilha final-mente as suas convicções sobre a espiritualida-de e fala de conceitos como a alma, vida alémda morte, reencarnação, telepatia ou sexto sen-tido, citando investigações científicas. O livro se-rá apresentado por conceituados cientistas, co-mo João Lobo Antunes e Manuel Sobrinho Si-mões. E os lucros provenientes da venda daobra serão entregues a uma instituição de soli-dariedade social.

Ponderou muito antes de decidir partilhar assuas opiniões sobre estes temas? É precisocoragem para entrar em áreas que tantasvezes andam associadas a esoterismo, charla-tanice e a muito desconhecimento.Este é um tema que me apaixona desde a mi-nha juventude. Eu tinha 13 ou 14 anos e já lia

livros sobre temas existencialistas, fazia leituracomparada da Bíblia católica com a Bíblia pro-testante, lia coisas orientais, obras do taoismo,do budismo... Sempre tive curiosidade por estesassuntos, é uma paixão de vida. E foi por issoque escolhi ir para Medicina. Achava que assimpodia esclarecer as dúvidas que me assaltavam.O que queria esclarecer?O que mais me impressionava era que o ho-mem, do ponto de vista da fé, aceitasse uma sé-rie de fenómenos de uma forma tão fácil, e amesma humanidade, sob o ponto de vista cientí-fico, recusasse absolutamente estes fenómenos.Isso era uma coisa que me intrigava! Eu partiado princípio que, provavelmente, algumas da-quelas coisas eram verdade, outras eram menti-ra e exploração da ignorância das pessoas, masparecia-me obrigação da ciência arregaçar asmangas e trabalhar para esclarecer a humani-dade. Fui para Medicina porque me pareceuque era a área que melhor contribuía para oesclarecimento espiritual da humanidade. Epor isso, quando acabei o curso, procurei fazeruma especialização em psicofisiologia. As duasáreas que me chamavam a atenção eram os mi-lhões de neurónios que existem e não se sabiapara que serviam e o que comandavam, e, alémda parte física, como é que o sistema nervosofuncionava com uma existência espiritual. Tra-balhei seis anos na Faculdade da Universidadedo Porto na área da psicofisiologia, até ganharuma bolsa para um doutoramento em Cambrid-ge. Queria, mais tarde, fazer uma passagem pa-ra a parapsicologia. Mas depois o meu pai, quepresidia à companhia da família, faleceu e tivede escolher.Optou por ficar à frente da empresa e nãoprosseguir o doutoramento.Como a vida me proporcionou fazer uma car-reira profissional, decidi ir por aí, mas mantive--me sempre ligado às temáticas da parapsicolo-gia e aos fenómenos existenciais. Decidi queum dia, quando me pudesse libertar da minhacarreira profissional, me dedicaria mais inten-samente à área, eventualmente até fazer algu-ma investigação. Em paralelo criámos a Funda-ção Bial. Quando eu deixei o doutoramento e aminha carreira académica, prometi a mim pró-prio que, se um dia tivesse possibilidades eco-nómicas, ajudaria quem estivesse a investigar,e a fazer aquilo que eu gostaria de ter feito, a irmais longe. E temos proporcionado apoios jácom algum significado: ao longo destes 18anos, apoiámos 460 projetos, envolvendo 1500investigadores de 27 países diferentes. Nem eutinha ideia de que as coisas podiam ser assim.E como era presidente da companhia, sempreachei que devia manter alguma distância emrelação aos temas e à seleção dos projetos, fei-ta por um conselho científico. Mas depois dos60 anos, e afastado da presidência, senti-mena posição de poder partilhar. O que procureifoi cruzar o conhecimento científico com o co-

nhecimento tradicional, e dar uma perspetivacientífica da vida espiritual.Grande parte da comunidade científica mains-

tream não aceita o estudo da espiritualidade.Porque isso rompe com os paradigmas dalógica com que estão habituados a trabalhar?Não sei, para mim isso não faz qualquer senti-do. Como é que se é capaz de tomar atitudes deadulação disto e emulação daquilo e ao mesmotempo negar uma série de coisas? Há inúmeroscientistas de grande valor que seguem determi-nadas doutrinas religiosas com fervor. As pes-soas são as mesmas! Percebo que a humanida-de evoluiu deixando-se envolver de uma formademasiado forte pela materialidade das coisas.O século XX terá sido um século de grande de-

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senvolvimento científico e tecnológico, mas aomesmo tempo de grande desenvolvimento dapaixão material. Para que o homem se comple-te, faz falta perspetivar-se espiritualmente. Épreciso perceber que somos este corpo físico[apalpa as pernas e os braços] e um ser espiri-tual aqui de passagem pela terra, que é gestordesse corpo.Já existem estudos verdadeiramente credí-

veis, aplicando o velho método científico, que

estudem com rigor os fenómenos da espiritua-

lidade?

Sim, sem dúvida. Hoje há muitas universidadeseuropeias e sobretudo norte-americanas ondesão desenvolvidos estudos sob o rigor do méto-do científico, por gente doutorada e com gran-

de capacidade. Só que, é preciso dizê-lo, namaioria dos casos os resultados destes estudosnão são ainda suficientemente fortes e sobretu-do, reprodutíveis, para serem aceites pela comu-nidade científica em geral como definitivos, co-mo dados absolutos. Parece-me que, pelo ladodos investigadores da área da parapsicologia,não tem havido um cuidado de fazerem as coi-sas de acordo com as regras.De forma irrepreensível e inquestionável?

Sim, de fazerem as coisas com persistência e pa-ciência na procura da verdade de forma a conse-guirem dar provas inquestionáveis. Por vezesfacilitam, por vezes tomam atitudes de fé. Achoque a atitude verdadeiramente científica é nãose partir do princípio que algo é azul ou amare-

lo. É preciso levantar o véu da ignorância e vero que está lá por baixo, sem partir de pressupos-tos que diluam o rigor científico. Por outro lado,os cientistas clássicos têm uma atitude de supe-rioridade em relação à parapsicologia, que lhesexigem mais rigor do que a todas as outrasáreas. É preciso não esquecer que a verdadecientífica tem evoluído ao longo dos tempos.A verdade é afinal um conceito volátil.

Aquilo que no século XV se dizia que era a ver-dade científica última e definitiva, afinal no XVIe no XVII provou-se que não era bem assim.Veja a ciência médica que eu estudei há quaren-ta e tal anos... Hoje grande parte das coisas fo-ram postas em questão e estão ultrapassadas.Na parapsicologia, todos querem a verdade

CRÍTICO DIZ QUE OSINVESTIGADORES DAPARAPSICOLOGIANÃO TÊM TIDO OCUIDADO DE FAZERAS COISAS COMPERSISTÊNCIA EPACIÊNCIA DE FOR-MA A CONSEGUIREMPROVAS INQUESTIO-NÁVEIS. “POR VEZESFACILITAM, PORVEZES TOMAM ATITU-DES DE FÉ”, AFIRMA

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última e definitiva — há uma grande exigên-cia. A meu ver os investigadores destas áreasnão têm tido a paciência, a persistência e o ri-gor de fazerem as coisas como deve de ser. Etambém não tem existido um trabalho em re-de de conjugação de esforços — e neste campoque a Fundação Bial pode ter dado algum con-tributo com o seu apoio. Pôr a falar os cientis-tas mais conservadores, da psicofisiologia edas neurociências, e os mais atrevidos da pa-rapsicologia. O povo diz que da discussão nas-ce a luz, e eu penso que os conhecimentos naárea da espiritualidade não vão ser encontra-dos por este ramo da ciência ou aquele, prova-velmente vão ser encontrados pelo esforçoconjugado de gente da parapsicologia, das neu-

rociências, da medicina, da física, da filosofia— dos mais diversos ramos do saber que conju-guem esforços para levantar o véu da ignorân-cia. Neste livro, mais do que dar uma perspeti-va pessoal — que eu acabo por assumir —, que-ria sobretudo fazer um levantamento do que éque ao longo dos séculos as pessoas foram pen-sando, e o que é que se tem estado a investigar.É uma coisa que eu penso que em Portugal nãoestava feita, e não sei se estará feita em Ingla-terra ou nos Estados Unidos. Eu não conheço.As referências bibliográficas que dou no finalnão são referências de um ou dois anos, sãoconhecimentos adquiridos de uma vida.Teve uma educação católica? Como é que foi

moldado o seu percurso espiritual?

Sim, só que desde miúdo tive dúvidas existen-ciais. Recordo que estava na catequese, a prepa-rar a comunhão solene, e uma das minhas cate-quistas era uma freira muito fechada e conser-vadora. Ouvia aquelas coisas e aquilo fazia-megrande confusão. Uma vez ela disse que quemnão seguisse a verdade de Jesus ficaria condena-do às agruras do inferno. Havia uns miúdosmais vivaços, e um deles mais atrevido — quenão seria o meu caso, sempre fui muito recata-do — questionou-a: “Oh irmã, e então os chinesi-nhos, para onde é que eles vão se não conhe-cem Jesus?” E ela do alto da sua sabedoria, disseprontamente: “Serão todos condenados às agru-ras do inferno!” Aquilo era intragável paramim! A virgindade de Maria era outra coisa in-compreensível. Inventou-se isso para valorizara mãe de Jesus. Mas para ser uma mulher exce-cional, mãe de um ser excecional, não precisa-va nada de ser virgem. Foram pequenas coisasque eu fui anotando, e aos 12 anos pedi licença àminha mãe para deixar de ir à missa. E a minhamãe lá deixou. Não me considero religioso, por-que não estou filiado em nenhum agrupamen-to nem sigo uma doutrina. Tenho uma enormesatisfação em me sentir um livre pensador.Não sente necessidade de se aliar a um grupo

de pessoas e participar num culto?

Não, nenhuma. Mas tenho a maior admiraçãopor grandes figuras da humanidade. Tenhouma enorme admiração por Jesus, que não te-nho dúvidas que foi um ser absolutamente fan-tástico, mas também por Buda ou Lao Tsé.Foram sobretudo grandes mestres?

Sim. Não me importo nada se me disserem quesou cristão. Mas também não me importo se dis-serem que sou budista. O que não sinto é neces-sidade de seguir práticas e rituais, ritos e tabusque na minha opinião não fazem falta nem fo-ram implantados pelos mestres. O que admironos mestres é as mensagens radiosas de esclare-cimento que deixaram.Por duas ou três vezes no livro faz uma

crítica ao materialismo dos seguidores e das

igrejas, que se aplicam na perfeição à Igreja

Católica.

Respeito profundamente todas as religiões.Mas choca-me que esses mestres, que foram deuma simplicidade fantástica, tenham seguido-res que se preocupem em acumular riqueza emtorno dessas agregações religiosas. Jesus ensina-va ao ar livre. E os seus seguidores foram criartemplos e embelezá-los, puseram ouro no tem-plo. O que Jesus parecia abominar, os seus segui-dores foram fazer. Não é só a Igreja Católica,mas as dezenas que se dizem seguidoras de Cris-to. Tenho pena que não assumam a mensagemdo mestre, e se entretenham com coisas late-rais e que afastam as pessoas do essencial.O Papa Francisco no seu pouco tempo de

papado já fez mais pela Igreja Católica do

que anos dos papados anteriores, com a sua

mensagem e exemplo de simplicidade.

DICOTOMIA CIÊNCIAE ESPIRITUALIDADENÃO TÊM DE ANDARAFASTADAS.“HÁ INÚMEROSCIENTISTAS DEVALOR QUE SEGUEMDOUTRINAS RELIGIO-SAS COM FERVOR.AS PESSOAS SÃOAS MESMAS!”

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Não o conheço, não sei do que ele vai ser capaz.Mas fiquei muito satisfeito quando nos primei-ros dias do seu papado vi os seus velhos ténispretos por baixo das vestes. É essencial regres-sar à simplicidade. E se todas as religiões se con-centrassem no caminho da verdade, provavel-mente iam encontrar-se todas num ponto co-mum. Nessa altura não seria preciso haver reli-giões, haveria uma só. A verdade total e definiti-va existe, é o absoluto.Mas na essência das várias religiões, é muitomais o que as une do que as separa.Exatamente. É pena que se entretenham com oque as afasta e não com o que as une.Diz-se um livre pensador, um espiritualista.Mas é também um crente. Em que é queacredita verdadeiramente?Não, não me considero um crente. Eu acreditona verdade científica, no rigor do método cientí-fico. Não me sinto um homem de fé, mas umhomem de convicções. O homem de fé é aqueleque ajoelha a pedir favores a uma entidade divi-na, e eu entendo que isso não faz falta. Entendoque nos devemos concentrar num caminho deaperfeiçoamento, com grande esforço pessoal ecoletivo, criando condições para que as coisasaconteçam. Ao longo da minha vida tive conhe-cimento de uma série de fenómenos. Negá-losseria muito pouco inteligente. Tive oportunida-de de conversar com padres, professores univer-sitários, ministros, presidentes da República —as mais diversas pessoas — que me contaramhistórias incríveis. “Comigo também aconteceuisto e aquilo, mas você não diga nada!”Mas, qual é a sua convicção?Tenho uma convicção muito forte da existênciada alma, do espírito, e que a nossa passagempela terra é uma mera passagem. Acredito queexistimos antes e continuamos a existir depois.E gostaria muito que essa convicção pudesseser confirmada por um estudo científico.Ainda não foi até agora.A ciência oficial ainda não aceitou. A parapsico-logia neste momento não é considerada aindauma ciência, mas uma disciplina científica. To-da esta temática encontra-se num ponto de vi-ragem.O pós-título do seu livro é “Da Evidência àCiência”. Que evidências há em relação àexistência da alma e do espírito?Acho que a maior evidência está em cada umde nós. Se cada pessoa conseguir desprender--se na materialidade das coisas, relaxar e medi-tar, encontra-se a si própria. Percebe que é algoque existia antes e que vai existir depois. Tam-bém existe a metodologia científica que procu-ra evidenciar as coisas e neste campo há umconjunto de trabalhos feitos ao longo das últi-mas décadas que o evidenciam. Estudos feitosaté com animais que evidenciam uma determi-nada força que não se percebe nem está estuda-da dentro da ciência tradicional. Como é queum coelho esfomeado colocado num quadrado

com um robô com uma cenoura em cima conse-gue que aquele robô que anda aleatoriamentenão ande do outro lado do quadrado, mas ape-nas no sítio onde está o coelho? Que força éesta? Como é que as pessoas que fazem transco-municação instrumental [comunicação com osmortos] fazem gravação de vozes que não sãoemitidas por seres humanos? Quem é que asemite? Estão gravadas fidedignamente, esses es-tudos estão feitos e publicados. Claro que algu-mas pessoas dirão que isso não foi feito comtodo o rigor, mas alguns destes estudos já sãofeitos com o mesmo rigor que são feitas as gra-vações de vozes pelo FBI e pelas polícias de in-vestigação europeias que são apresentadas co-mo prova em tribunal. Se esse é o rigor que seaceita em tribunal, porque não aceitá-lo tam-bém em termos de investigação nesta área?O homem não é apenas cinza, pó e nada?As pessoas devem fazer o seu caminho e pre-senciar-se perante o universo. Não estou a suge-rir que o façam de forma mística — mas hones-ta, simples e rigorosa. Aprender honestamente,mas não no sentido místico — ir para aqui epara acolá ser enganado por pessoas que se di-zem portadores da verdade em troco de dinhei-ros. Nunca foi o meu caminho, e sempre tive omaior cuidado em não me misturar com essasaventuras.Mas vamos à essência dos vários conceitosque aborda. No princípio está o quê? Queentidade criadora é essa em que acredita,

que não é o tal Deus de barbas brancas como filho preferido sentado à sua direita?Nisso não acredito de todo, já aos 9 ou 10 anosme custava a entrar! (risos) Se Jesus é muitobom, é pelo seu valor intrínseco, porque conse-guia controlar o seu pensamento, palavras eatos e dirigi-los em seu benefício e em benefíciode todos os outros. Acredito profundamente noJesus histórico, mas não no Jesus religioso. Acre-dito profundamente na existência de uma enti-dade criadora de todas as coisas. Uns chamamDeus e outros chamam outras coisas — eu nãoutilizo a palavra Deus porque acho que estámuito conspurcada, prefiro referir-me ao Todo,ao Absoluto. Se o universo existe, alguém ocriou, acredito na existência dessa entidade uni-versal. E acredito que essa entidade universaltem características espelhadas em cada um denós. O macro está espelhado no micro.E vice-versa?Sim, acho que cada um de nós tem característi-cas para abraçar o Todo. Andamos todos a cor-rer para ver um jogo de futebol, para fazer di-nheiro, para as empresas se valorizarem na bol-sa... Se um dia pararmos e nos perguntarmospara que é que isso serve, se calhar temos umadesilusão muito grande.É evidente que é uma perspetiva utópicatodos pararmos e fazermos isso, mas é boni-to. Seria ideal.Se pelo menos alguns começarem a parar...(risos).Um dos conceitos que fala é a vida além damorte. Vai sair agora em português um best-

seller nesta matéria: “Uma Prova do Céu”(editora Lua de Papel), de Eben Alexander.Ele era um neurocirurgião agnóstico, umprofessor universitário, investigador concei-tuado, e que teve uma experiência de quasemorte que lhe mudou a vida. Acredita queesteve ‘do outro lado’ e voltou.Conheço a história, é um relato impressionante.É mais uma! Mais cedo ou mais tarde acreditoque as pessoas começarão a ter algum respeitopor estas histórias. A primeira reação é sempre“Ah, e tal, fantasias! Lá está mais um que so-nhou aquilo...” Na bibliografia que eu apresentofalo de uma série de casos desses, de pessoasque tiveram os seus momentos.No final ele acrescenta um apêndice comnove hipóteses neurocientíficas para tentarexplicar o que lhe sucedeu. Afastou-as atodas, para concluir que foi algo não tratadopela ciência tradicional.Há muita gente que na sua vida passou por si-tuações espetaculares, mas que não são conhe-cidas. O cantor Charles Aznavour foi uma dasprimeiras pessoas conhecidas a contar com por-menor o que se passou com ele. Teve um aci-dente e foi dado como morto umas horas. E con-tou como viu tudo fora do corpo.Uma das teses que aborda é a reencarnação.Defende que vivemos num mundo escola.

TENHO UMA CONVICÇÃOMUITO FORTE DA

EXISTÊNCIA DA ALMA,DO ESPÍRITO, E QUEA NOSSA PASSAGEMPELA TERRA É UMAMERA PASSAGEM

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O nosso caminho é uma trajetória de aperfei-çoamento. Acredito que possamos vir a ummundo que nos proporciona experiências mui-to diversas onde vimos para aprender. Para es-tarmos em contacto com pessoas que sabemmuito e aprendermos com elas, mas tambémcom outras que são ainda muito ‘brutinhas’,com quem estamos em confronto. E assimaprendermos a tolerá-las e aprendermos, con-tornando estas situações mais difíceis, a seguir-mos o nosso caminho e a ensinar-lhes com onosso exemplo. Seria muito limitativo virmos àterra uma vez só, e virmos uns ricos e outrospobres, uns bonitos e outros feios... Faz muitomais sentido cada um de nós poder escolhercomo vem e aprender com a experiência.Na essência dessa tese está um conceito debondade, justiça e equilíbrio que o mundonão espelha.Parto do princípio que estamos a fazer uma tra-jetória ascendente, que parte do mau até ao infi-nitamente bom.E que se aplica a toda a humanidade? Vamossendo melhores?Não se aplica a toda a humanidade, mas sim atodo o Universo... Não sabemos o que vem a se-guir. São conjeturas.São conceitos difíceis de apreender. Maisfácil é perceber fenómenos como a telepatia.Que evidências há acerca deste conceito?Muita coisa. Estar a pensar em alguém e ela apa-recer, tocar o telefone e ser aquela pessoa…acontece com a generalidade das pessoas. Masmais do que isso, há experiência dos testes fei-tos. Há hoje saciedade de provas da existênciada transmissão de pensamento. São experiên-cias feitas em ambiente de laboratório da formamais rigorosa. Pessoas que focam o seu pensa-mento noutras e elas são capazes de dizer o quea outra está a fazer ou a pensar... Ou que coloca-das a fazer uma redação sobre um tema ou aver imagens em sítios completamente separa-dos, escolhem o mesmo tema ou referem asmesmas imagens. O número de vezes que issoacontece é estatisticamente muito significativo.Está demonstrado em literatura variada.E o sexto sentido, a intuição?Se há alguma transmissão, é natural que cadaum de nós seja simultaneamente um emissore um recetor de pensamentos. Se calhar unscom mais capacidade para emitir ou para rece-ber. Se temos capacidade para receber, é natu-ral que possamos ser intuídos, positiva e nega-tivamente. É preciso aprender a jogar com is-so. E é preciso que cada um desenvolva o seupróprio esforço para pensar e falar de formapositiva, e assim criar condições positivas noseu pensamento por forma a atrair as coisasque são positivas. Quem pensar negativamen-te e atuar negativamente, criará condições pa-ra atrair aquilo que é negativo. Na espirituali-dade, a regra é essa: os sinais iguais atraem-se,os diferentes repelem-se.

Ao contrário do que acontece na física, nomagnetismo?É o que alguns investigadores têm procuradodemonstrar. Mas acho que o cidadão comum,se quiser, consegue perceber isso na sua vida.Essa ideia do otimismo e do pessimismo, daatitude positiva ou negativa, serem condicio-nantes para o futuro de cada um de nós nãoé um conceito novo. Mas é novo ver ummédico a falar sobre isso. E como é que ummédico e homem da ciência, que esteve todaa vida ligado às farmacêuticas, vê as terapiase curas alternativas? Imposição das mãos,canalização de energias, reiki?Admito que há determinado tipo de energiasque ainda não são conhecidas pelo ser humano.E admito que à medida que forem conhecidasvamos aprender a lidar melhor com elas. Nãoposso negar que o reiki existe. Já assisti a situa-ções em que houve determinada evolução pro-vocada pela colocação das mãos. Não posso é, apartir daí, dizer que acredito em todas as medi-cinas alternativas. Admito que existam algu-mas coisas boas que vale a pena cultivar, desbra-var e perceber o que são, mas admito que hátambém muita fantasia e muita coisa que sim-plesmente não presta. Mais uma vez digo que aciência oficial deveria arregaçar as mangas edemonstrar o que é verdade e o que é mentira,estudar e tentar perceber.Mas a ciência oficial está ligada aos interes-ses económicos, é patrocinada por eles. E

muitas destas curas alternativas são simples,baratas, acessíveis. Não interessaria quefossem conhecidas.A ciência oficial está distraída com a materiali-dade das coisas... De facto algumas destas coisassão muito simples, e na simplicidade está umcaminho melhor do que na complexidade.É muito irreverente um dono de uma farma-cêutica dizer uma coisa dessas.Eu fiz o meu caminho como empresário, procu-rando servir os interesses de saúde das pessoaso melhor que aquele conjunto de técnicos eaquela instituição onde eu trabalho há 40 anosconseguissem. A humanidade no último séculocriou condições para viver muito mais e muitomelhor graças, sobretudo, ao trabalho da inves-tigação médica e da investigação farmacológi-ca. Hoje em dia, a esperança média de vida naEuropa é o dobro do que era há 100 anos. É umaárea do saber que proporcionou à humanidadeuma evolução fantástica. Tenho o maior respei-to por isso. O que não quer dizer que não tenharespeito por outros caminhos. Acho que seriatolice não o ter.E quem parte dos seus pressupostos tambémacredita que existe vida noutros planetas.Percebermos que o planeta Terra é um grão deareia ínfimo no universo e termos a petulânciade imaginar que somos os únicos seres vivosnesse universo todo... acho que é uma coisa dis-paratada! Admito que haja outros locais ondeexistem seres espirituais em evolução. Agora setêm um corpo físico como nós temos e uma civi-lização organizada como temos na Terra, prova-velmente não. Ou se calhar há...O que é para si a sua maior conquista? Comogostaria de ser lembrado?Acho que não tenho grandes conquistas. Gosta-ria de poder ser capaz de manter o meu pensa-mento permanentemente positivo, ligado aoque há de mais superior e por via disso, as mi-nhas palavras e os meus atos serem o mais po-sitivo, construtivo possível. Mas esse é um ca-minho de aprendizagem que eu estou a fazer,não o consegui ainda. Gostaria de ser lembra-do pelos meus familiares e amigos, como umtipo que honestamente procurou fazer esse ca-minho. Procurou aprender.A Bial, as conquistas da empresa e o facto deter sido um marco histórico na indústriafarmacológica em Portugal não interessamnada no seu percurso?São momentos que a história apaga, mais cedoou mais tarde.E não teme a morte, imagino.Mas porquê temer? É um mudar de capítulo.Ou quanto muito, de livro.“Tenho de estar disposto de abdicar do quesou para me tornar no que serei”, já dizia ocientista Einstein.Einstein era genial. Não sei sequer se é abdicar.As coisas são mesmo nossas? O que é nosso? R

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HÁ HOJE SACIEDADE DE

PROVAS DA EXISTÊNCIA

DA TELEPATIA. SÃO

EXPERIÊNCIAS FEITAS

EM AMBIENTE

DE LABORATÓRIO DA

FORMA MAIS RIGOROSA

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