Mapeando a negação sentencial pós-verbal: a região sul

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MAPEANDO A NEGAÇÃO

SENTENCIAL PÓS-VERBAL:

A REGIÃO SUL

Rerisson Cavalcante de Araújo (UFBA)

12º Workshop do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil

2 a 4 de dezembro de 2015 - UFBA

Objetivo geral

Descrever a distribuição das estruturas

de negação sentencial na região Sul do

Brasil e identificar as áreas de uso e de

ausência do marcador negativo pós-

verbal.

Três negativas sentenciais básicas

[não SV]

Eu não quero sair hoje.

[não SV não]

Eu não quero sair hoje não.

[SV não]

Quero sair hoje não.

Negativas sentenciais especial

Uso não-argumental do quantificador

“nada” como marcador negativo

enfático.

◦ A: Ele fez o trabalho que eu pedi?

◦ B: Fez (o trabalho) nada!

◦ A: Voce fala muito palavrão!

◦ B: Falo (palavrão) nada!

Três pressuposições sobre as

negativas pós-verbais

1) As negativas pós-verbais seriam

inovações/exclusivas do PB, ausentes do PE.

2) A negativa [não SV não] seria

necessariamente enfática.

3) A negativa [SV não] seria tipicamente

nordestina.

1) Exclusividade do PB?

Há autores que consideram o “não” pós-

verbal como inovação do PB em relação ao

PE;

E que seria resultado do contato lingüístico

(cf. Fonseca, 2010; Petter, 1994; Lucchesi,

2001).

Exclusividade do PB? Não.

Martins (2010, 2012) e Pinto (2010) dão

exemplos de [não SV não] e [SV não] no PE, o

que mostra que a negação pós-verbal não é

exclusiva do PB. O Pedro não disse que vendeu o carro não. (PE)

Não gosta de ninguém não. (PE)

A: A crianca comeu a sopa toda.

B: Comeu a sopa toda, não. Deixou metade no prato. (PE)

2) Necessariamente enfática?

Opinião “popular” de que [não SV não]

diferiria de [não SV] por ser enfática ou por

ser “mais forte”.

Na literatura sobre o tema, pelo menos

Cunha (1996, 2001) e Roncarati (1996)

defendem [não SV não] como enfática.

2) Necessariamente enfática? Não!

A ênfase é algo que pode ser acrescentado à negativa pré-verbal ou à dupla via prosódia:

(1) Eu NÃO QUERO!

(2) Eu já disse que NÃO VOU!

(3) NÃO SAIA dai!

E a negativa dupla é perfeitamente aceitável sem ênfase ou “maior força”.

(4) Não quero não, obrigado. (resposta)

(5) Num lembro não. (resposta)

(6) Num teve aula não? (interrogativa polar)

(7) (O, por favor,) num saia hoje não! (imperativo)

Enfática(s), não! Anafórica(s)

Negativas pós-verbais do PB ocorrem em

respostas, imperativos e interrogativas

polares.

Nos três tipos de contextos, são

motivadas/licenciadas por algo do contexto

lingüístico ou não-lingüístico. São “réplicas”.

Perguntas polares A: (Acho que) João num veio para festa.

B: E nem era pra ele vir.

A: (Num) convidou ele não? (Pensei que você tivesse

convidado...)

Imperativos A: Acho que vou convidar João para a festa...

B: Num convide ele não! / Convide ele não!

Enfática(s), não! Anafórica(s)

Se, no PB, a dupla negativa não é enfática e pode

ocorrer em declarativa (matrizes ou

completivas), interrogativas polares e

imperativos...

... por outro lado, no PE, esta tem a função

enfática (segundo Martins 2010, 2012), e só pode

ocorrer em declarativas matrizes, estando

excluída em interrogativas, imperativas e mesmo

em declarativas subordinadas.

Mas no PE...

Tipicamente nordestina?

Afirmações sobre [SV não] ser tipicamente

nordestina (cf. Roncarati, 1996).

Intuições/relatos de ausência de [SV não]

nas regiões sulistas do país, especialmente

no Rio Grande do Sul.

... e de valor enfático para [não SV não] no

Sul.

Tipicamente nordestina? Não,

mas... Há trabalhos que analisam ou citam [SV

não] em regiões do Sudeste.

Relatos pessoais e intuição apontam existência de [SV não] no sudeste e em parte do sul (Paraná e parte de Santa Catarina).

Mas permanecem relatos da inexistência de [SV não] no Rio Grande do Sul.

Questões da pesquisa

1) Se o “não” pós-verbal está ausente em parte do Sul do país, em que localidades surge o seu uso, especialmente na estrutura [SV não]?

2) Que funções discursivas/pragmáticas [não SV não] e [SV não] exercem nos locais em que ocorrem no Sul?

3) As negativas finais no Sul ocorrem em interrogativas e imperativas ou apenas em declarativas?

Metodologia (I)

Audição de inquéritos da capital e interior do

RS e de SC. (1ª fase) – em andamento/iniciada

há um mês e meio.

Audição de todos os questionários de cada

inquérito.

Contextos: i) respostas e réplicas; ii)

imperativos; iii) perguntas polares

Colaboração de: Luma Maria Ribeiro

Gomes da Silva (Iniciação científica)

Metodologia (II)

Levantamento apenas em fase inicial.:

Inquéritos examinados:

dois de Florianópolis: Inf-1 e Inf-2;

um de Porto Alegre: Inf-1;

um de Uruguaiana-RS (parcial): Inf-1

um de Bagé-RS (parcial): Inf-1.

um de Itajaí-SC (parcial): Inf-1.

Estudo anterior para

comparação: Salvador

Cavalcante (2004): estudo da negação em

inquéritos experimentais de Salvador.

Fonte: Cavalcante, 2004, adaptado

Resultados iniciais (II)

Florianópolis:

INF 1: Apenas [não SV]. INQ: Aquilo que se faz da nata do leite. Que vem no

potinho assim... (pausa) que é amarela, né... (...)

INF: Não sei. (INF. 230/1; 5 min)

INF 2: [não SV] e [não SV não]. INF: A minhoca? Não, a minhoca dá em qualquer lugar.

Não é isso não. (230/2; 1h09min)

Resultados iniciais (III)

Porto Alegre:

Inf.1: apenas [não SV]. Inq: Tu tem algum apelido?

Inf: Apelido?

Inq: É.

Inf: Não, não tenho. [Inf. 243-1;]

Inq: Se o menino está mexendo em alguma coisa

e alguém quer falar pra que ele não mexa?

Inf: (...) não mexe aí, que isso aí não... não... não

é teu... e não pode mexer.

Resultados iniciais (IV)

Uruguaiana (RS):

Inf. 245/1: [não SV] e [não SV não]. Inq: Uma coisa parecida com essa aqui, ó. Aí o lombo

do cavalo fica aqui. Põe no lombo do cavalo e pendura

cestos. Isso aqui, que nome tem?

Inf: Bah, nunca ouvi falar não. [59 min]

Resultados iniciais (V)

Itajaí (SC):

Inf-228/1: [não SV] e [não SV não]

Inq: É... aqui em Itajaí tem muitos desses animais?

Inf: Não tem muito não. [8 min]

Inf: Aí não sei o nome não... [1h 13 min]

Resultados iniciais (VI)

Bagé (RS):

INF-1: levantamento em andamento;

não houve uso de negação sentencial

pelo informante.

Em resumo...

Localidade [não SV não] [SV não]

Florianópolis sim não

Itajaí sim não

Bagé ??? ???

Uruguaiana sim não

Porto Alegre não não

Em resumo...

1) [SV não] ainda não foi documentada.

2) [não SV não] se mostrou ausente apenas

em Porto Alegre.

3) os casos de [não SV não] não são enfáticos

(= PB nordestino, ≠ PE).

4) [não SV não] até agora apenas em

declarativas (≠ PB nordestino, = PE).

Para a continuação da pesquisa

Prosseguir no levantamento dos dados

nas localidades já iniciadas e nas demais

localidades do RS e de SC.

Em uma segunda fase, ampliar o

levantamento para o estado do Paraná.

Referências

CAVALCANTE, Rerisson. (2012). Negação anafórica no português

brasileiro: negação sentencial, negação enfática e negação de

constituinte. Universidade de São Paulo.

CAVALCANTE, Rerisson. (2004). Construções negativas no

português falado em Salvador. Hyperion, n. 7, Salvador. Disponível

em: http://www.hyperion.ufba.br/revista_7_04.htm

CUNHA, M. A. Furtado da. (1996). Gramaticalização dos mecanismos

de negação em Natal. In: MARTELOTTA, Mario Eduardo; VOTRE,

Sebastiao Josue; CEZARIO, Maria Maura. (Orgs.). Gramaticalizacao no

portugues do Brasil. 1 ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, v. , p. 167- 189.

CUNHA, M. A. Furtado da. (2001). O modelo das motivacoes competidoras

no dominio funcional da negacao. DELTA: Documentacao de Estudos em

Linguistica Teorica e Aplicada, Sao Paulo, v. 17, n. 1, p. 1-30.

FONSECA, Hely Dutra Cabral da. (2009). A nocao default e a sintaxe da

negacao. Estudos da Lingua(gem), v. 7, n. 2, dezembro de 2009, p. 109-132.

Referências

FONSECA, Hely Dutra Cabral da. (2011). Linguas africanas e a estrutura

V+NEG no portugues do Brasil e d’Angola. In: Papia 21, v. 2, p. 195-208.

LUCCHESI, Dante. (2001). As duas grandes vertente da história

sociolingüística do Brasil. DELTA. Documentação de Estudos em

Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 17, n.1, p. 97-132.

MARTINS, Ana Maria. (2010b). Negação metalingüística (la, ca e

agora). In: BRITO, Ana Maria. (ed.). Actas do XXV Encontro da Associacao

Portuguesa de Linguistica. Lisboa. APL. p. 567-587.

RONCARATI, Claudia. (1996). A negacao no portugues falado. IN:

MACEDO, Alzira Tavares de; RONCARATI, Claudia; MOLLICA, Maria

Cecilia. (orgs). Variacao e discurso. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, p.

97-112.

PETTER, Margarida. Observação sobre o uso da estrutura negativa.

Papia, Brasília, v. 3, p. 98-108, 1994.

PINTO, Clara. (2010). Negação Metalinguistica e Estruturas com nada

no Português Europeu. Universidade de Lisboa. Dissertação de

Mestrado.