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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS - -CAMPUS I
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDO DE LINGUAGENS
EDNA MARIA VIANA SOARES
UMA CIDADE DIA SIM, DIA NÃO
SALVADOR NAS CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA - 1958 /1964
SALVADOR-BA
2010
EDNA MARIA VIANA SOARES
UMA CIDADE DIA SIM, DIA NÃO
SALVADOR NAS CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA - 1958 /1964
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Estudo de Linguagens
da Universidade do Estado da Bahia
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre por Edna Maria Viana
Soares sob a orientação da Profª Drª
Maria do Socorro Silva Carvalho .
SALVADOR – BA
2010
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial de ste trabalho, por
qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,
desde que citada a fonte.
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaboração: Biblioteca Central da UNEB
Bibliotecária: Helena Andrade Pitangueiras– CRB: 5/536
Soares, Edna Maria Viana.
Uma cidade dia sim, dia não: Salvador nas crônicas de Vasconcelos Maia – 1958 / 1964. /
Edna Maria Viana Soares. / Salvador , 2010.
162 f.
Orientadora: Profª Drª Maria do Socorro Silva Carvalho.
Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências
Humanas I. 2010
Contém referências, apêndices e anexos
1. Cronistas baianos. 2. Crônicas. 3. Literatura – história e crítica. 4. Maia, Vasconcelos –
1923 - 1988. 5.Jornal da Bahia – 1958-1964. I. Carvalho, Maria do Socorro Silva. II.
Universidade do Estado da Bahia, Programa de Pós-graduação em Estudo de Linguagens. III.
Titulo.
CDD: 869.810342
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens
EDNA MARIA VIANA SOARES
UMA CIDADE DIA SIM, DIA NÃO
SALVADOR NAS CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA - 1958 /1964
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Estudo de Linguagens
da Universidade do Estado da Bahia como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre.
Salvador, de de 2010.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Drª. Ivia Iracema Duarte Alves - UFBA
Julgamento: ______________________________________
Assinatura: _______________________________________
Prof. Dr. Carlos Augusto Magalhães – UNEB
Julgamento: ________________________________________
Assinatura: _______________________________________
Orientadora Profª. Drª. Maria do Socorro Silva Carvalho – UNEB
Julgamento: ________________________________________
Assinatura: _______________________________________
SALVADOR – BA
2010
Este trabalho é dedicado, in memoriam, a meu pai. Seu amor pelo jornal me levou a amar a cidade do Salvador.
AGRADECIMENTOS
À minha dileta orientadora, pela paciência e dedicação no acompanhamento
da construção deste texto.
Aos professores do programa, pelos ensinamentos.
Aos colegas do mestrado, ouvintes de nossos escritos ensaísticos e
companheiros nesta aventura, pelo estímulo.
A Lobão, funcionário da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, pela presteza
em atender às urgências da pesquisa.
À minha família, pelo apoio em todos os momentos.
A Lustosa e Pedro, pela compreensão durante as longas horas de ausência.
À SEC, pela licença para realização deste curso.
E a todos aqueles que de alguma forma se sintam contribuintes deste trabalho.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo o estudo das crônicas jornal ísticas de
Vasconcelos Maia, publicadas no Jornal da Bahia na coluna Dia Sim, Dia
Não, no período de 21 de setembro de 1958 a janeiro de 1964. Contista
consagrado, com obras editadas inclusive no exterior, o escritor baiano, no
momento em que a cidade do Salvador vivia uma expressiva efervescência
cultural, como testemunha privilegiada de seu processo de modernização,
aproxima-se dos meios de comunicação de mass a, tornando-se um cronista
incansável. Ao lado dessa fecunda atividade jornalística, Vasconcelos Maia
responsabiliza-se pela gestão do órgão municipal de turismo, posição que será
determinante no enfoque de suas crônicas sobre a cidade que então definia su a
“vocação turística”. Embora escrevesse sobre os mais variados temas, o
cronista Vasconcelos Maia prioriza a cultura popular, em especial os
elementos oriundos da cultura negra e suas manifestações, imprimindo um
traço de autenticidade e originalidade à cultura local, o que ensejará a
construção de uma “moderna tradição soteropolitana”. Neste estudo, a cultura
emerge como elemento tradutor da modernização cultural da cidade. Num
enfoque triplo, o texto analisa o intelectual e sua trajetória profissional, a s
crônicas e sua temática bem como a visão de cidade por ele concebida.
Intentando colaborar com a pesquisa acadêmica acerca de Vasconcelos Maia,
ao final da dissertação, apresentam-se a relação das crônicas publicadas no
matutino pelo cronista baiano e su a bibliografia completa, além de fac -símiles
de algumas dessas crônicas que foram objeto desta investigação.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Baiana. Vasconcelos Maia. Crônicas
jornalísticas. Modernização Cultural . Cidade do Salvador.
ABSTRACT
The objective of this work is to study Vasconcelos Maia‟s journalistic
chronicles published in Dia Sim, Dia Não column of Jornal da Bahia, from
September 21, 1958 to January, 1964. Established story teller with texts
edited abroad, the writer from Bahia is a privileged witness of the city
modernization process, who approximates of the mass media and becomes a
tireless chronicler in the moment when Salvador lived an expressive cultural
excitement. Beside this fecund journalistic activity, Vasconcelos Maia
becomes responsible by management of Municipal Tourism Bureau, posit ion
which will be decisive in the focus of his chronicles about the city in a
moment when Salvador was defining its “touristic vocation”. Although he
wrote about many themes, the chronicler Vasconcelos Maia gives priority to
popular culture, especially the elements related to Black Culture and its
manifestations, imprinting a trace of authenticity and originality to the local
culture, what will follow the construction of Salvador “modern tradition ”. In
this study, culture comes out as a translator element of the city cultural
modernization. In a triple focus, the text analyses the intellectual and his
professional trajectory, the chronicles and its themes, as well as the vision of
the city that the writer conceives. Attempting to collaborate with the
academic research about Vasconcelos Maia, we present , at the end of the
dissertation, the relation of the chronicles published in matutino by the
chronicler from Bahia and his complete bibliography , and facsimiles of some
of these chronicles which were object of this investigation.
KEY WORDS: Literature of Bahia. Vasconcelos Maia. Journalistic
Chronicles. Cultural Modernization. Salvador City.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
09
2 ZIGUEZAGUEANDO SOBRE A CRÔNICA
2.1 O CRONISTA E SEU TEMPO
2.2 A BOSSA PARA A CRÔNICA
2.3 MANJANDO UMA CRÔNICA
16
21
25
29
2.4 UMA CRÔNICA D IA S IM , D IA NÃO
3 O LEQUE DAS CRÔNICAS
3.1 NAS RUAS , UMA CONFUSÃO DOS PECADOS
3.2 NA BAHIA , É FESTA O ANO INTEIRO
3.3 SE NÃO FOR GENTE BOA , É COISA
3.4 INTERESSES E ORGULHO DOS BAIANOS
4 A CIDADE DAS CRÔNICAS
4.1 UM JEITO DE SER MODERNO
4.2 ENTRE PAISAGENS NATURAIS E URBANAS
4.3 NOS CAMINHOS DE FÉ E FESTAS
4.4 COISAS DA V IDA E DA L IDA
4.5 NAS MALHAS DA CULTURA
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
APÊNDICE A
APÊNDICE B
ANEXO
35
43
51
60
67
75
84
89
92
96
104
110
114
118
133
147
150
1 INTRODUÇÃO
A cidade do Salvador, assim denominada desde antes de sua
fundação, era referida como Bahia ou Cidade da Bahia até meados de 1960.
Seu surgimento, distanciado de qualquer movimento de levas de gentes e
técnicos ou de longínquos embriões urbanos, remonta a um decreto
expressando a vontade criadora da coroa portuguesa que intencionava criar,
nas terras da Colônia, uma nova Lisboa.
Resultante da ação dos “semeadores” – metáfora usada por Sérgio
Buarque de Holanda (1991) ao se referir aos colonizadores portugueses
fundadores de cidades nas baías de regiões litorâneas, nas desembocaduras
dos rios, acompanhando as linhas sinuosas das penínsulas, sem nenhuma
intenção de domar a natureza - a implantação da cidade do Salvador,
acontecida 49 anos depois do descobrimento do Brasil, foi, segundo Cid
Teixeira (2005), determinante para a presença lusa no Atlântico Sul.
Fiel à sua origem, esta cidade vem confirmando ao longo do tempo a
sua vocação para objeto de gestos intelectuais. Foi, e continua sendo,
inspiração para viajantes, poetas, escri tores, historiadores, geógrafos,
arquitetos, compositores e cronistas que almejam com seu discurso d ar-lhe
sentido, contando o seu passado ou seu presente, ensejando -lhe a formação de
um futuro.
Tendo sido uma cidade-fortaleza, cidade-portuária, a cidade do
Salvador viveu, no começo do século XX, sua “euforia progressista” , fase de
transformações em sua geografia urbana, que conformou a cidade atual . Ao
contrário do Rio de Janeiro , vítima do “bota-fora” do prefeito haussmaniano
Pereira Passos, a velha Bahia escapou de um processo acentuado de
demolições de seu passado arquitetônico , lutando por aceitar em sua estrutura
apenas as mudanças indispensáveis aos ditames da modernidade.
Apesar das intervenções em sua trama urbana, indício de
modernidade em curso, a cidade viveu , segundo Heliodório Sampaio (1992),
até meados do século vinte, aquilo que se conven cionou denominar de
“enigma baiano”, um longo período de marasmo, certo atraso social e
12
econômico, em decorrência de ter abortado seu projeto de industrialização e
da decadência da economia açucareira do Recôncavo.
A partir de 1950, sob o manto da ideolog ia nacional
desenvolvimentista existente no país, a Cidade da Bahia viveu momentos
decisivos. Estes culminaram com a sua inserção no processo do capitalismo
industrial brasileiro através da instalação da Petrobrás, da criação do Centro
Industrial de Aratu e dos incentivos fiscais da SUDENE, marcos fundamentais
para a incipiente marcha da industrialização. As transformações na economia
se alongaram pelos anos seguintes, refletindo -se noutras esferas da sociedade,
especialmente no campo cultural .
A renovação cultural da Bahia consolidou-se em decorrência da
presença da Universidade da Bahia, sob o reitorado do Professor Edgar
Santos, e da ampliação dos meios de comunicação de massa materializados na
modernização do rádio e do jornal e na chegada da televisão . A
implementação do jornalismo impresso, o surgimento dos cadernos culturais,
o aumento do alcance dos programas de rádio, a instalação da primeira
emissora de televisão, além da existência de movimentos em torno do cinema
e das revistas culturais constituíram fatores decisivos para o ímpeto
renovador da cultura baiana.
Vivendo uma época marcante de sua história, a cidade é obrigada a
se pensar, a debruçar -se sobre si mesma, o que ela faz com curiosidade,
perplexidade e imaginação. O debate acerca das questões urbanas ocupava a
elite intelectual da época, que se acreditava com a missão de superá -lo,
promovendo a sua “divulgação”. Vasconcelos Maia, escritor urbano, objeto
desta dissertação, não se furtou a este intento. Em suas crônicas, propõe -se
dar conta do processo de modernização da cidade do S alvador que, segundo
Ívia Alves, “não se restringia mais a uma larga avenida e várias alamedas de
bairros nobres, mas abrangia agora, uma complexidade socioeconômica”
(ALVES, 1999).
No papel privilegiado de espectador da urbe, como cronista ,
Vasconcelos Maia lançou o olhar sobre a cidade do Salvador , escrevendo
regularmente em jornais locais. Em dias alternados, assinava a coluna
intitulada Dia Sim, Dia Não , no Jornal da Bahia , matutino, segundo Maria do
Socorro Carvalho, dotado de “orientação nacionalista” e “aspecto moderno” ,
13
tido como uma consequência recente daquela fase em que surgiam “novas
condições de desenvolvimento no estado e que naquele momento buscava o
caminho do moderno jornalismo” (CARVALHO, 1999 , p.115).
Nesta perspectiva, o escritor baiano optou pela crônica, gênero
situado no limiar entre Literatura e Jornalismo, para retratar a cidade do
Salvador em seu processo de modernização.
Se fronteiriço foi o gênero escolhido por Vasconcelos Maia em s eu
propósito divulgador da cidade, situação similar era aquela ocupada pela
cidade do Salvador que se via às voltas com a necessidade de ressignificação
e de maior abertura para o mundo industrializado que se prenunciava.
Lugar de fronteira foi, também, aq uele no qual se si tuou o próprio
cronista em seus posicionamentos frente aos desdobramentos do processo de
modernização da cidade: filho dileto, amante e defensor da integridade da
cultura e do patrimônio da cidade , como se declarava, dividia-se, naquele
momento, entre o papel de jornalista e o de responsável pela gestão de um
órgão público de turismo.
Um escritor em busca de seu leitor, um campo jornalíst ico em
expansão e uma cidade tentando traduzir -se são fios que irão formar a teia,
urdida pelo acaso e pela necessidade, na qual se ligam a Cidade e a
Literatura.
Tendo em vista estes cruzamentos , o propósito deste estudo são as
crônicas jornalísticas de Vasconcelos Maia publicadas no Jornal da Bahia , no
período de 1958 a 1964.
E o que ora se intenciona é identificar as representações da cidade
do Salvador em seus embates frente ao processo de modernização que se
instaura, considerando-se que, na ânsia de modernizar -se, o espaço urbano
passa a ser objeto de um novo e veemente discurso, mostrando que “a
modernização da cidade inspira e força a modernização da alma de seus
cidadãos” (BERMAN, 1987 p.143).
Este é o resultado de uma pesquisa bibliográfica na qual se intentou
uma leitura com a dimensão sócio -histórico-cultural, tendo como abordagem
teórica o caminho orientado por uma reflexão sobre a crônica e sua relação
com a modernidade, a cidade e a cultura, em seus desdobramentos no Brasil .
14
A crônica, se olhada como criação cultural e intelectual, possibilita
estudos do seu conteúdo, das suas condições de pro dução e circulação e do
papel do intelectual que a idealiza, o que permite a realização de análises sob
diferentes referenciais. Dotada de amplo espectro, ela se ocupa com aspectos
de uma realidade que poderão se perpetuar ou se modificar. Seu surgimento s e
atrela ao da cidade, o cenário, por excelência, da modernidade e da vida
moderna.
A modernidade é aqui entendida, seguindo o proposto por Marshall
Berman (1987), como um conjunto de experiências de tempo e espaço, de si
mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida, sem fronteiras
geográficas, raciais, de classe, de nacionalidade, de religião ou de ideologia,
compartilhadas por homens e mulheres em todo o mundo. O desejo de
transformação de si próprio e do mundo em redor, juntamente com o terr or da
desorientação e da desintegração da vida, seriam algumas das preocupações
especificamente modernas, as quais pre veem necessariamente a convivência
com o paradoxo e com a contradição.
A cidade, a “mais preciosa invenção coletiva da civilização [.. .]
superada apenas pela linguagem, na transmissão da cultura” (MUNFORD,
2004, p.63), tem sido um dos temas recorrentes na literatura e em vários
outros campos do conhecimento. Definida por Milton Santos (1959) como um
fato eminentemente geográfico, a cidade é uma forma particular de
organização do espaço, uma paisagem, presidindo relações com um espaço
maior, em seu derredor, sua zona de influência.
O termo paisagem é aqui util izado na concepção de Santos (1988),
que assim nomeia uma combinação de elemento s situados no domínio do
visível, cuja dosagem supõe certo ritmo de evolução e dinamismo, podendo
ser formada tanto por volumes quanto por cores, odores, movimentos, sons
etc.
É sabido que outros olhares foram lançados sobre a obra de
Vasconcelos Maia, mas suas crônicas jornalísticas ainda não mereceram da
academia um olhar mais demorado. Embora não se pretenda averiguar as
causas e subjetividades existentes no campo das instâncias que legitimam
textos, produções e análises literárias, instigou -nos o desejo de um olhar
diferenciado sobre esta produção do escri tor.
15
Este estudo mostra-se duplamente relevante. Inicialmente, sua
importância está em aproximar, do meio acadêmico -científico, os escritos de
redação contínua de Vasconcelos Maia, e assim tornar visív el uma modalidade
de sua obra, bastante significativa para a apropriação da representação de um
tempo pretérito da cultura na Bahia, que, por sua riqueza e variedade de
movimentos, faz -se aberto a novas pesquisas e reflexões. Sua relevância está
ainda em contribuir para a ampliação do campo de pesquisa da literatura
baiana, nordestina e brasileira.
O corpus da pesquisa foi constituído por quinhentas e noventa e sete
crônicas jornalísticas publicadas na Coluna Dia Sim, Dia Não , no Jornal da
Bahia , no período compreendido entre 21 de setembro de 1958, data da
fundação do matutino, até janeiro de 1964, quando ainda foi possível se
encontrar a coluna no periódico .
As fontes de pesquisa foram sistematizadas com o recolhimento das
crônicas por meio da reprodução xerográfica ou fotográfica dos jornais, cujo
acervo pertence à Biblioteca Pública do Estado. Como procedimentos
metodológicos iniciais recorreu-se à ordenação cronológica, leitura preliminar
e classificação temática das crônicas. Em seguida, seleção e agru pamento
daquelas a serem efetivamente util izadas na construção do texto.
Considerando a multiplicidade de assuntos abordados por Vasconcelos Maia,
foram estabelecidos grupos temáticos a fim de viabilizar seu estudo.
Finalizando, procedeu-se a análise dos textos dos grupos temáticos e a
configuração das diversas representações da cidade deles decorrentes.
Em consonância com o tríplice enfoque desta pesquisa, ou seja, o
papel do intelectual Vasconcelos Maia, suas crônicas jornalísticas e sua
representação da cidade, o trabalho está estruturado em três seções. A
primeira, Ziguezagueando sobre a Crônica , discorre sobre o papel do escritor
como intelectual, aborda o momento histórico peculiar vivido pela Bahia e a
forma como o cronista nele se insere, sua trajetória profissional , a escolha do
seu campo de atuação, o jornal, e a opção pela crônica, sua cartada
extraordinária. Tece considerações sobre o seu processo criativo num ofício
nem sempre considerado fácil, o de cronista que se vê na obrigação de
conciliar atividades de naturezas diversas e escrever uma crônica,
16
necessitando às vezes lançar mão de estratégias para dar conta da tarefa
rotineira.
A segunda seção proposta, O Leque das Crônicas , t raz uma visão do
conjunto das crônicas de Vasconcelos Maia, a riqu eza e a amplitude temática
de um cronista que, no afã de ser moderno, na luta travada entre o existente e
o possível passa a se ocupar com a variedade de assuntos do cotidiano da
cidade que se modificava. Devido à vastidão de seu universo narrado, as
crônicas foram classificadas por temas, constituindo-se em grupos: Rua,
Gente, Cotidiano, Festas, Teatro, Cinema, Literatura, Sítios, Turismo,
Paisagem e Outros. Diferentes visões da cidade podem ser esboçadas a cada
movimento de fechamento e abertura do leque temático.
A terceira seção, A Cidade das Crônicas , esboça a representação da
cidade extraída das linhas ou entrelinhas das crônicas. A visão da cidade
delineada por Vasconcelos Maia é pensada como uma paisagem e se desdobra
em cidade paisagem-natural e cidade paisagem-urbana consoante com os
elementos por ele retratados.
A cidade paisagem-natural é aqui entendida como a visão da cidade
delineada sob os aspectos físicos, retratando -lhe a configuração geográfica e
a natureza idealizada e paradisíaca. Em se tratando da cidade de Salvador,
este modo de olhar remonta a um tempo que antecede àquele do processo da
urbanização a todo custo, resultante do advento da industrialização.
Por sua vez, a cidade paisagem-urbana diz respeito à representação
de urbe concretizada por meio de elementos retirados dos aspectos humanos,
sociais e políticos. Representando o domínio do homem sobre a natureza, esta
visão concebe a cidade como espaço de cultura, memória e tradição. A cidade
paisagem-urbana , dual, é composta pela cidade-ordinária e cidade-cultura ,
sendo repleta de elementos que traduzem o processo de modernização, a
riqueza e a diversidade cultural da cidade do Salvador concebida pelo
cronista.
Nesta seção, analisa-se a forma como a modernidade se concretiza
naquela cidade, o papel e a relevância da cultura e da tradição como
tradutoras de modernidade, as seleções e os apagamentos realizados por
Vasconcelos Maia ao esboçar aquilo que aqui se pensa, inspirada em Renato
Ortiz (2006), como a “moderna tradição” soteropolitana.
17
Nas Considerações Finais , retoma-se o fio condutor deste trabalho
destacando o papel de Vasconcelos Maia como intelectual atuante, consciente
do seu ambiente e dos problemas à sua volta, um autor que faz escolhas
acertadas como sua aproximação com o ambiente jornalíst ico, um escritor
transitando entre dois mundos, o povo e os intelectuais, usando sua crônica
como ponte que os liga. Vasconcelos Maia , como historiador de cultura,
retratava uma cidade cujo princípio fundador era ser espaço de cultura e
tradição. Uma cidade que, embora ancorada num tempo pretéri to, voltava -se
para um futuro possível .
A escrita jornalíst ica de Vasconcelos Maia apresentava uma lógica
interna tradutora das contradições do processo de modernização da cidade e
seus múltiplos determinismos. Dotada da força desmistificadora da influência
europeia na formação da cultura baiana, sua crônica marcava como autêntico
tudo aquilo que se reportasse à origem africana, o que se apresenta na ideia
de uma “moderna tradição” da cidade do Salvador.
Finalizando, ressalta -se o caráter não conclusivo deste estudo que
toma para si a responsabilidade de apontar as inúmeras possibilidades de
leitura do importante registro, feito por Vasconcelos Maia, do momento
singular vivido pela Bahia, e que ambos, momento e registro, requerem novos
esforços investigativos.
2 ZIGUEZAGUEANDO SOBRE A CRÔNICA
[ . . .] Sou o cronista atento aos pequenos fenômenos da vida, ao
espetáculo do cotidiano que eu próprio participo, ao
aproveitamento de tudo quanto se passa em redor, e que possa
se transformar em notícia ou emoção. Já à frente de uma
Repartição pública, faço parte de outra engrenagem, com
outros problemas e outra orientação. (MAIA, 30/9/1960)
Foi em Santa Inês, cidade do sudoeste da Bahia, a qual se referi a
como “minha Mesopotâmia”, que nasceu Carlos Vasconcelos Maia, em 20 de
março de 1923. E a Ladeira dos Aflitos onde se fixou quando seus pais
emigraram para Salvador, em 1924, foi seu primeiro lugar de pertencimento e
palco para suas aventuras de menino. Era lá que se encontrava a morada da
família, descri ta na crônica Minha Casa dos Aflitos, “frente para a ladeira,
muro correndo ao longo do caminho para a praia do Unhão e as veredas do
Gamboa”. Era uma casa térrea, vasta, com “telhado em duas águas e sótã o
enorme, perto do céu, sobre a baía azul”, tinha “sala de visitas com móveis
em jacarandá e espelhos venezianos, louça limonge nos armários e quadros
nas paredes”. Segundo o cronista, quando sobreveio uma crise financeira, a
família desfez-se da casa e de todos os seus “pequenos tesouros” (13.
7.1960).
Era dessa Casa dos Afli tos – lugar que “embora tão próximo à Av.
Sete, ao Centro, era como uma vila do sertão, isolado por completo do
movimento e do progresso, tendo o grande mar pelas costas e grandes roç as
pela frente” – que, ainda menino, saía em passeios com o pai, adquirindo o
“gosto pela Bahia”. Guiado pela mão paterna, ia à ponta de Mont Serrat, à
Igreja do Bonfim, à Boca do Rio. Sem lembrar -se se havia ônibus, recordava-
se com muita saudade dos “encantados passeios de bonde” pelo Cabula,
Retiro e Rio Vermelho.
Nitidamente, na memória do menino Carlito, como era conhecido,
ficara o passeio “nem sempre mais constante, entretanto o mais festivo ao
Farol da Barra” (22.2.1961), para ver o mar que povoou sua mente juvenil de
sonhos e fantasias, inclusive “aquela de ser marinheiro” (19.12.1958). Carlos
fez o curso primário no Colégio Ipiranga e o secundário nos ginásios Carneiro
Ribeiro e Colégio da Bahia (o Central).
19
Vasconcelos Maia atribuiu sua opção pe la literatura “à vida
aventurosa de garoto misturada à vida caótica das leituras” . A sua trajetória
de escritor iniciou-se aos 18 anos, vindo a ser “um ficcionista”1. Estreou na
literatura, em 1946, com o livro Fora da Vida, que trazia alguns contos
lançados em periódicos, no intervalo entre os anos 1942 e 1945. Fora da Vida
era o título de um dos contos no qual o autor projetava o seu drama de
enfermo, vez que, no final da adolescência, fora acometido de uma pleurite
(na época tratada como tuberculose), qu e o obrigou a interromper os estudos e
a ficar enclausurado no sótão de sua casa, passando a maior parte do tempo
sozinho. A clausura forçada pela doença levou -o a mergulhar na leitura e a
compensar a imobilidade física com a franca mobilidade imaginativa. Leu
muito e de tudo, como ele próprio afirmou em vários de seus depoimentos.
Gostava “imensamente de ler; livros para crianças, livros para adolescentes,
livros para adultos, além de livros proibidos”2.
O papel de intelectual – termo aqui entendido segundo o exposto
por Pierre Bourdieu em seu diálogo com Roger Chartier (CHARTIER, 2001,
p. 242), como aquele que pode agir à distância ao transformar as visões de
mundo e as práticas cotidianas – foi cedo assumido por Vasconcelos Maia,
marcando a sua trajetóri a profissional ao longo da vida e promovendo sua
inscrição no campo3 art ístico e intelectual da Bahia. O escri tor estabeleceu
uma ampla rede de relações com pessoas das mais diversas áreas, muitas delas
1 Em material datilografado com o título Sobre o Leque de Oxum, gentilmente cedido pelo falecido
professor Pedro Moacyr Maia, irmão do escritor, Vasconcelos Maia informa que não sabe bem quando
se manifestou a sua vocação para a literatura. Era um garoto que vivia intensamente a infância,
gostava de ler, e lia muito. Suas aventuras de garoto somavam-se àquelas das leituras caóticas, o que
resultava numa intensa produção mental. Criava todas as fantasias que lia, sendo ora o autor, ora o
personagem. Nesta entrevista, afirma: “Sou ficcionista. Não quero ser mais do que isso”. 2 Informação constante do material datilografado com o título Sobre o Leque de Oxum mencionado na
nota anterior. 3 De forma sintética, campo é definido por Pierre Bourdieu (2007) como “espaço social de relações
objetivas”. Esta noção permite identificar em distintos domínios ou universos da vida social, tais como
cultura, economia, religião, literatura etc., não só traços invariantes, como também propriedades
específicas de cada um deles. Os traços invariantes seriam comuns a quaisquer deles, e as
propriedades específicas, as relações objetivas, reportam-se a regras, normas e crenças que lhes dão
sustentação, jogos de linguagem, relações de poder e estoque de bens materiais e simbólicos que neles
são produzidos. Na teoria dos campos, a história ganha um papel de destaque. Bourdieu dá um relevo
às condições históricas, à gênese social de cada campo que é constituído através de lutas.
(BOURDIEU, 2007, p. 64)
20
oriundas dos tempos do Colégio Central, “ou da Rua De mocrata” (8.7.1959),
locais que marcaram significativamente o trajeto – não apenas do cronista,
mas de uma geração de jovens intelectuais – tanto na vida social quanto na
cultural.
O Colégio da Bahia, seção Central, era dotado de um quadro
discente “heterogêneo”, constituído, em sua maioria, por alunos provenientes
da classe média. Contava com professores capacitados, administração
competente e dedicada, fomentava ideais inovadores em seu interior e era
respeitado por ocupar lugar de destaque nos desfiles c ívicos, pela qualidade
de sua banda marcial . Por ser uma referência cultural comum a vários artistas
e escri tores, o Colégio Central pode constituir -se numa “cartela de
identidade” (ORTIZ, 1985, p. 129) partilhada por toda uma geração de
intelectuais da Bahia.
Integrante dessa geração de intelectuais, prenunciando a renovação
cultural da Bahia, em 1948, Vasconcelos Maia fundou e dirigiu, com os mais
novos e expressivos nomes da cena cultural de Salvador, a revista de cunho
modernista, cujo objetivo era implementar a vida intelectual de Salvador
dentro do clima de pós -guerra e dar uma ressignificação identitária para a
Bahia. Caderno da Bahia: revista de cultura e divulgação , como se intitulava,
foi publicada, pela primeira vez, em agosto de 1948, por um gru po de
escri tores locais para que tivessem um canal próprio de expressão.
De cunho social, a revista divulgava a cultura popular, tratava da
questão do negro, o caldo cultural de uma Salvador que, então, buscava sua
identidade. O periódico não pretendia ro mper com o passado, preocupava-se
em viver o presente, fugir do academicismo sem investir diretamente contra
os acadêmicos. Era uma revista simples, com o formato tabloide, visando
ampliar o leque de leitores, atingindo não só intelectuais ou pessoas
diretamente ligadas às artes.
Idealizada por Vasconcelos Maia e Cláudio Tuiuti Tavares, poeta e
jornalista, a revista Caderno da Bahia contou com a adesão de Darwin
Brandão, jornalista, e Wilson Rocha, poeta e crítico de arte. Outros
colaboradores vieram reuni r-se aos primeiros. Foram Heron de Alencar,
Adalmir da Cunha Miranda, Pedro Moacir Maia, além de ilustradores e
art istas plásticos iniciantes: Ladislau Bartk, Genaro de Carvalho, Hélio Vaz,
21
Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Jenner Augusto, Lygia Sampaio, Rubem
Valentim; músicos como Paulo Jatobá e críticos de cinema como Walter da
Silveira. A revista foi publicada até 1952 e contou com seis números e um
suplemento.
Anos mais tarde, em artigo publicado na Revista da Academia de
Letras da Bahia , Vasconcelos Maia (1983) tratou do Caderno da Bahia como
um veículo necessário à geração baiana de então para “desafogar” o seu
talento num ambiente no qual predominava o academicismo. Denunciou
também a inexistência de simultaneidade entre os acontecimentos literário s do
Sul e os da Bahia, afirmando que a ressonância retardatária do Modernismo
por aqui pode ser atribuída a esse fato. Defensor de posturas vanguardistas, o
cronista trouxe à tona a insignificância da vida li terária local , especialmente
para os ficcionistas que sequer gozavam de estímulos financeiros como
prêmios. Sendo raros os concursos, neles não se honravam os compromissos.
Tendo constituído família ainda jovem, para sobreviver,
Vasconcelos Maia foi obrigado a trabalhar no comércio. Foi balconista,
gerente e, mais tarde, com a morte paterna, proprietário de loja de miudezas.
A rotina das duplicatas, contas a pagar e a receber não o encantou, e logo
passou a exercer outras atividades. Tornou -se vendedor de apólices de sorteio
de imóveis, vindo a conhecer todo o interior da Bahia.
O dinamismo de sua personalidade e as vicissitudes econômicas
levaram o jovem escritor a ampliar sua área de atuação. Voltou -se para o
turismo. Como agente de viagens, na tentativa de despertar o interesse dos
leitores para o turismo na Bahia, conseguiu publicar em revistas de âmbito
nacional várias reportagens sobre o Recôncavo baiano. Em 1958, foi
convidado pelo prefeito da cidade do Salvador , Gustavo Fonseca, para dirigir
um recém-criado órgão oficial de turismo, permanecendo no cargo até o início
de 1964. Retornou para cargo público em 1967, como Assessor de Turismo da
Companhia de Navegação Baiana. Paralelamente, Vasconcelos Maia exerceu
as atividades de colaborador e repórter da Revista Quatro Rodas .
A produção literária de Vasconcelos Maia, que se tornou membro da
Academia de Letras da Bahia em 1976, ocupando a cadeira de número 14, é
constituída de contos e novelas, uma grande quantidade de art igos dispersos
22
sobre turismo, candomblé, roteiros de cinema e a crônica jornalíst ica à qual
se dedicou por longo tempo.
No ano de 1951, o escritor baiano publicou Contos da Bahia e
também Feira de Água de Meninos , livros de crônicas; em 1955, o livro de
contos intitulado O Cavalo e a Rosa. Neste livro, Vasconcelos Maia já revela
o seu gosto pela narrativa curta e linguagem elaborada, nele aparecendo o seu
conto mais conhecido, “Sol”, texto que foi traduzido em várias línguas. Em
1957, publicou Diante da Baía Azul , fazendo jus ao prêmio Câmara Municipal
de Salvador. O Primeiro Mistério , um livro de crônicas, foi publicado em
1960. Em 1961, veio a público O Leque de Oxum, volume de novelas
abordando especificamente a temática afro -brasileira. Em 1963, reuniu
algumas crônicas escri tas para periódicos locais em Lembranças da Bahia .
Em 1964, apareceu Histórias da Gente Baiana, uma seleção de contos de
vários livros anteriores, editada pela Cultrix de São Paulo. Em 1977, publicou
crônicas e contos sob o título de Romance de Natal , e, finalmente, em 1986, o
livro de contos Cação de Areia .
Seus contos integraram várias antologias. “Caxinguelê” participou
da Antologia de Escritores Novos do Brasil , editora da Revista Branca, em
1949. Em 1958, Vasconcelos Maia participou de nova antologia da mesma
editora, Contistas Brasileiros , escrita em quatro idiomas – italiano, inglês,
francês e castelhano –, desta vez com “Largo da Palma”. Integrou também
uma antologia editada pela Cultrix , Maravilhas do Conto Moderno Brasileiro ,
com o conto “Sol”. “A Grande Safra” foi publicado na antologia O Conto do
Norte, editada pela Civilização Brasileira, em 1959.
Na Bahia, organizou com Nelson Araújo uma antologia pioneira,
Panorama do Conto Baiano, na qual inseriu o seu conto “Morte”. Em 1963, a
editora GRD lançou a coletânea Histórias da Bahia , da qual fazia parte o
conto “Preto e Branca”. “Romance de Natal” foi publicado na Antologia do
Novo Conto Brasileiro , da Editora Júpiter, no Rio de Janeiro, em 1964.
No exterior, em 1964, o seu conto “Sol” integrou uma antologia
editada pela Universidade de Leningrado, na Rússia , intitulada Antologia da
Literatura Brasileira e Português . Em 1967, o referido conto foi inserido na
antologia Modern Brasilian Short Stories , editada pela University of
Califórnia (USA) e Cambridge University Press (England) em língua inglesa.
23
No mesmo ano, esse conto foi publicado em alemão na antologia Die Reiher
Und Andere Brasilianische Erzahler , editada por Horst Erdmam Verlag, na
Alemanha. E, em 1972, “Sol” voltou a ser publicado em outra antologia
editada na Alemanha, Die Admiralsnacht, de Aufbau Verlag , Berlim und
Weimar. Traduzido para o japonês, “Sol” apareceu pela editora Hakusuisha,
em Kioto, no Japão, na Antologia de Contos Contemporâneos da América
Latina.
Outro conto foi publicado em língua alemã, o “Romance de Natal”,
em 1968, na Moderne Brasilianische Erzahler, editada na Suíça e Alemanha.
No idioma búlgaro, editado em Sófia, o conto “Um Clarão dentro da Noite”
apareceu na Antologia de Contos do Mar (SOARES, 2000).
Em 14 de julho de 1988, Carlos Vasconcelos Maia morreu vit imado
por um ataque cardíaco.
2.1 O CRONISTA E SEU TEMPO
Vasconcelos Maia dedicou-se à crônica jornalística num período em
que a Bahia vivia um processo cultural peculiar . Orquestrava-se uma tentativa
deliberada de devolver à Cidade da Bahia, como era chamada então a cid ade
do Salvador, se não o lugar equivalente àquele que gozara na história, como a
mais importante cidade do hemisfério sul nos séculos XVII e XVIII, pelo
menos, uma posição de destaque no cenário sociocultural do Brasil.
Tendo perdido a condição de primei ra capital do país (1549-1763), a
cidade do Salvador configurava-se na segunda metade do século passado, com
mais de 400 anos de existência e diversos problemas urbanos, como uma
cidade bucólica e pacata. Conservava liames com o passado colonial ,
ostentando sua mancha urbana orientada pelo seu antigo centro.
Uma cidade que, segundo Ana Fernandes e Marco Aurélio Gomes
(1992), passou da condição de cidade escravista à civilizada, colocando lado a
lado o velho e o novo, sustentando diversas projeções urbanas, num processo
que durara um “tempo longo”, “ações múltiplas” e “esferas variadas de
intervenções”. A modernização da cidade ocorreu de forma “segmentada,
excludente e ancorada numa combinação de velhos e novos elementos”
(FERNANDES E GOMES, 1992, p. 53 -65). Salubridade, fluidez e estética
24
foram os elementos que pesaram na construção da moderna cidade do
Salvador, fato que se deu de forma híbrida, colocando no mesmo patamar
mudança e permanência.
Discutindo o processo de modernização da cidade do Salvador,
Heliodório Sampaio (1992) afirma que o desenho inicial de uma Salvador
moderna e progressista remonta à Semana do Urbanismo realizada em 1935, à
força modernizadora assumida pelo planejamento e pelo urbanismo como
disciplinas modernizadoras no pós -guerra, nos países da Europa e nos Estados
Unidos, e também às necessidades espaciais da “Grande Salvador”,
resultantes da vontade político-ideológica de superar-se à estagnação
econômica que ficou conhecida como o “enigma baiano”.
O “enigma baiano”, momento histórico-econômico, correspondia a
não-industrialização, responsável pelo atraso social e econômico em que se
viam mergulhados a Bahia e o seu Recôncavo com a decadência da economia
açucareira, período que corresponde à primeira metade do século XX
(SAMPAIO, 1992). O debate em torno desse enigma ocupava a elite
intelectual da época, que se acreditava com a missão de desvendá -lo, no
intuito de superá-lo a todo o custo, buscando a concretização do processo de
industrialização.
Somente nos idos de 1950, o processo de transformação da cidade
teve seu momento decisivo, de início, com a implantação da Petrobras,
depois, nos anos 1960, com a execução do parque industrial moderno, o
Centro Industrial de Aratu. Nesse tempo, a capital do Estado sofria
modificações intensas em sua configuração urbana e social, enquanto sonhava
com a sua redenção. Foi nesse período que o estado rompeu o isolamento no
qual se situara, sendo alcançado pelo avanço econômico, desenvolvimento
tecnológico e modernização cultural que se espalh avam no sul do país.
Esses avanços deram um impacto no campo cultural da cidade que
tentava desesperadamente voltar a ocupar um lugar de destaque no cenário
nacional. Ganha nitidez, nesse momento, a existência de um campo artístico e
intelectual que envolvia conjuntamente a esfera erudita e a popular, existindo
uma convivência pacífica entre a Universidade e a indústria cultural que se
anunciava. A cidade contava com grupos de jovens intelectuais
25
comprometidos com a renovação da cultura e das artes, que se organizavam
em torno dos jornais e das revistas que surgiam.
A “divulgação da cidade do Salvador” era então a missão do “grupo
de artistas e escri tores que empunhava a bandeira da renovação baiana”, e
nesse grupo se inseria, conforme sua afirmação, o cron ista Vasconcelos Maia.
Num mercado cultural quase inexistente, como era o da Bahia naquele
momento, o jornal representava o campo de exercício i ntelectual da maior
importância. A atividade jornalística proporcionava o exercício paralelo da
criação e da divulgação da cultura aos artistas e escritores, e os jornais, no
final dos anos 1950 e início dos anos 1960 do século passado, constituíam
espaços de produção e divulgação cultural na Bahia, sendo corriqueira a
atuação de intelectuais no campo jornalíst ico.
Vasconcelos Maia rendeu-se à mídia impressa e falada, aderindo à
crônica como gênero, ainda em 1948, quando passou a publicar ,
semanalmente, contos e crônicas, no jornal A Tarde, na coluna Café da
Manhã . Dez anos depois, apresentava crônica radiofônica na Rádio Cultura da
Bahia, num programa diário denominado Bahia de Todas as Coisas , referido
pelo cronista em sua página no jornal com o lembrete: “P .S.: Todas as noites,
às dezenove horas, através da Rádio Cultura, vai ao ar uma crônica de minha
autoria”.
A partir de setembro de 1958, passou a publicar no Jornal da Bahia ,
a coluna Dia Sim, Dia Não , por ele denominada em suas crônicas como “canto
de página” (3-4.02.1963), “minha coluna” (10 -11.02.1963) e “meu canto Dia
Sim, Dia Não”(14.08.1963). O periódico de orientação nacionalista e aspecto
moderno era um dos “signos da modernidade” recebidos pela Bahia, conforme
menciona Carvalho (1999, p. 114), cujo surgimento atrelava -se à ideia de
renovação do jornalismo baiano, reunindo em sua redação velhos jornalist as
militantes comunistas e intelectuais da nova geração baiana.
Para Vasconcelos Maia, a opção pela crônica jornalística
representava dupla oportunidade. Uma delas, a concretização do sonho
modernista de aproximação com o leitor, uma vez que o jornal e a crônica –
de fácil leitura e amplo alcance do leitor – serviam perfeitamente ao seu
objetivo; a outra, resolver suas questões pecuniárias diante da dificuldade de
sobreviver apenas como escritor.
26
Nas mãos de Vasconcelos Maia, a crônica jornalística config urou-se
como uma “cartada extraordinária” (CHARTIER, 2001, p. 243). A cidade do
Salvador – sob o signo da modernidade, vivenciando transformações que iam
além de sua trama urbana, experimentando seu processo de modernização
cultural que suscitava uma variedade de experiências e tensões, dentre elas a
possibilidade de abrir -se para o turismo – passa a ser não apenas cenário, mas
presença incorporada nas crônicas de Vasconcelos Maia.
Segundo Carvalho (1999, p. 100), pelos idos de 1956, o então
prefeito Hélio Machado, mesmo demonstrando certo constrangimento, já
havia determinado a abertura da primeira temporada oficial de turismo na
cidade. Essa abertura – um fato que se tornaria irreversível devido aos
predicados físicos, belezas naturais e ao patrimônio his tórico-cultural da
cidade do Salvador – , atrelada às questões econômicas e à industrialização,
tornava-se uma das recentes tensões vividas pela cidade.
É sabido que a crônica guarda afinidade com a narrativa oral ,
conforme Walter Benjamin (1993), porque e la incorpora a experiência e
autoridade do narrador, e Vasconcelos Maia, em suas representações, detém
“a sabedoria” para dar conselhos, transmitir ensinamentos, o que fez em
muitas de suas crônicas. O cronista, tal qual o narrador benjaminiano, contou
histórias das tradições da Bahia, falou do passado e do presente da cidade do
Salvador, enaltecendo suas qualidades, mostrou o talento e engenho daqueles
que são seus filhos legítimos e dos que a adotaram como sua terra.
A coluna Dia Sim, Dia Não do Jornal da Bahia presenciava o
cotidiano de uma cidade que se modificava sem, contudo, romper com o
passado. Nela, o cronista representava a cidade que concretizava seu projeto
modernizador solidamente edificado numa base constituída por suas tradições,
enfatizando em suas crônicas os aspectos arquitetônico, histórico, social,
rel igioso e gastronômico da cidade. Destacava suas particularidades culturais,
mostrando a riqueza de sua tradição e de sua cultura ordinária, construindo,
desse modo, a imagem de uma cultura urbana singular, edificada por cada um
de seus moradores que eram, de forma subliminar, responsabilizados para a
tessitura dessa singularidade. Guiado pelo seu amor à Bahia, o cronista
divulgava a cidade, mostrando para as novas gerações os restos de uma B ahia
27
tradicional, enfatizando sempre, em suas descrições, os aspectos originalidade
e autenticidade.
2.2 A BOSSA PARA A CRÔNICA
A crônica classifica-se como expressão literária híbrida por
apresentar, de um lado, a natureza literária e , do outro, a ensaística, podendo
assumir a forma de alegoria, entrevista, apelo, resenha, monólogo, diálogo,
em torno de fatos ou personagens quer sejam reais quer imaginários. Ocupa o
entrelugar no eixo poesia (lírica) e conto. É a visão, carregada de
subjetivismo, de um fato cotidiano. Alimenta a veia poética do prosador e , ao
mesmo tempo, faculta-lhe revelar os dotes de contador de histórias, uma vez
que pode gerar um conto. Por seu traço híbrido, a crônica, para galgar foros
estéticos, necessita recriar a realidade em vez de fazer mera transcrição.
Muitos escritores no Brasil renderam-se à crônica, que teve o seu
ápice no Romantismo, prestando-se também a familiarizar o público leitor
com o estilo do escri tor , além de entreter o público feminino. A crônica social
iniciada por Paulo Barreto, popularizado sob o pseudônimo de João do Rio,
que a via como espelho com capacidade de conservar as imagens da cidade
para o historiador do futuro, ganha relevo no iníci o do século passado, mas é
somente a partir do modernismo que a crônica ganha novas feições. Coutinho
(1986) menciona o favorecimento desse gênero sob novos e múltiplos
aspectos e destaca autores como Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Peregrino
Júnior, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Marques Rebelo, Carlos
Drummond de Andrade, Aníbal Machado, Rubem Braga, Guilherme
Figueiredo, Sérgio Milliet, José Lins do Rego, Brito Broca, Raquel de
Queiroz, Eneida, Elsie Lessa, Lúcia Benedeti, Cecília Meirelles, Helena
Silveira, Dinah Silveira de Queiroz, [ . . . ] Fernando Sabino, Ledo Ivo, Paulo
Mendes Campos, José Conde, Almeida Fischer, Saldanha Coelho, Antônio
Olinto, José Carlos Silveira, Antonio Maria e Sérgio Porto.
Perguntado sobre os dez acontecimentos mais importantes da
história literária de ficção do Brasil, Vasconcelo s Maia, eximindo-se dos
papéis de crítico literário e de historiador de literatura, tomando para si o
status de escritor de ficção, para assim poder falar de modo impressionista,
28
segundo o próprio autor , cita nomes de vários escritores e obras , afirmando
que, se fosse historiador da li teratura no Brasil, faria duas grandes
classificações em sua manifestação, uma antes e outra depois da Semana de
Arte Moderna. Relacionando autores e obras, o décimo acontecimento para
Vasconcelos Maia foi por ele denominado como “Renovação e Valorização do
Conto Moderno Brasileiro” pela geração pós -II Guerra Mundial. Em sua
opinião, o gênero ganhou importância, atingiu o leitor com a força do
romance, “sucedendo -se uma verdadeira cachoeira de livros de um só autor ou
vários, colecionados em antologias cujas edições têm feito a fortuna dos
editores” (MAIA, 1959).
Segundo Vasconcelos Maia, l iberto das influências diretas das
linhas clássicas, o conto moderno brasileiro projetou -se no panorama
internacional, sendo comparado ao mod erno conto norte-americano. Embora
lhe tenha sido solicitado apenas dez acontecimentos mais importantes em
nossa literatura, o escri tor acrescentou o décimo primeiro: o da crônica
moderna, no Brasil , “esplendidamente representada pelo velho Braga, o
príncipe Rubem Braga, mestre do gênero” . Para o escritor baiano, Rubem
Braga teria dado “alta significação a um tipo de literatura aparentemente
fácil , enganosamente frágil, cuja colaboração nenhum jornal brasileiro
prescinde hoje” (MAIA, 1959).
Como Vasconcelos Maia tornou-se cronista é uma pergunta cuja
resposta buscou-se na lei tura da crônica Escravo de Assunto. Produzida por
um cronista-narrador, sem o emprego do pronome na primeira pessoa, a
crônica discorre sobre o problema do intelectual brasileiro e, por tanto, sobre
a opção feita pelo cronista Vasconcelos Maia , que assim escreve:
O Secretário do jornal vai em sua casa e o convida para escrever
diariamente. Lhe dará (sic) uma coluna e pagará a colaboração. Você tem
bossa por escrever e precisa aumentar a renda. (10.11.1959).
Eis aí o mote para aquele que – infere-se – seja o próprio escri tor,
atônito, indeciso quanto à resposta, não por outro motivo que não seja o medo
confesso de tornar-se aquilo que vai chamar de “escravo de assunto”. O
secretário do jornal, diante da indecisão do cronista -narrador, aumenta o valor
da proposta “um bocadinho” e argumenta que não precisa preocupar -se,
porque ele “tem fé no escritor” e “escrever crônica é bobagem”. Basta sentar
29
diante da máquina, colocar o papel no rolo e “malhar o teclado”, sem precisar
pensar, pois a crônica nasce por si mesma, a reflexão não se faz necessária.
Inventar assunto muito menos, pois a crônica “se cria por si mesma”. Sem
enfeites, sem pretensão, reduzida a apenas uma lauda de papel ofício, em
espaço dois, porquanto crônica curta é importante.
O discurso do secretário, na crônica, pode ser visto como síntese de
um pensamento dominante à época. A crônica moderna teve sua origem
relacionada ao surgimento da cidade e do jornal quando este tornou -se
cotidiano, com tiragem aumentada e teor acessível , fato que remonta a 180
anos4 (MOISÉS, 1985). É sabido que, mesmo para os próprios cronistas, a
crônica é tida como um “gênero menor” (CANDIDO, 1992), em relação aos
outros gêneros literários5. Uma provável razão para o descaso estaria no
aspecto pecuniário, ou financeiramente utilitário da crônica, uma vez que ela
possibilita aos escritores um salário fixo, uma vida financeira estável que não
seria possível apenas com os livros. No caso do cronista baiano , a questão
financeira foi a pá de cal. Dúvidas para trás, sentença assinada: “ Daí em
diante viver em função de assunto”. Vasconcelos Maia escreveu sobre os mais
diversos assuntos, em modalidades variadas de crônicas.
Uma tentativa de classificação das crônicas de Vasconcelos Maia
evoca o estudo proposto por Afrânio Coutinho (1986) para os cronistas
brasileiros. Lembrando que não se deve considerar como rígidas separações,
uma vez que há possibilidade de os diversos tipos comunicarem -se, o
estudioso sugere as seguintes categorias: crônica-narrativa, aquela cujo fato
central é uma história narrada com a estrutura característica do conto, ou seja,
a narração de uma estória dotada de começo, meio e fim ; crônica-metafísica ,
4 Preciso no tocante a datas, Massaud Moisés (1985) menciona o ano de 1799 como aquele do
aparecimento da crônica moderna nos feuilletons publicados no Jounal de Débats, em Paris.
5 Para Candido (1992), a crônica vem a ser um gênero menor por considerar que nenhuma literatura
ganha projeção e brilho universal por ser feita de grandes cronistas. Entretanto, “graças a Deus”, diz o
crítico, porquanto sendo gênero menor tem maior proximidade com os leitores. Candido adverte que o
gênero, por ser corriqueiro, rompe a ênfase e o monumental, sendo proveitoso para a visão das coisas
com a retidão indispensável à reflexão. Despretensiosa, insinuante e reveladora, a perspectiva da
crônica é a de quem escreve “do rés do chão”, transformando a linguagem em algo íntimo,
relacionando-a com a vida de cada um. Humanizada, desvestida de artifícios e buscando proximidade
com a linguagem oral, no tempo atual do crítico (1981), o gênero gozava de “grande prestígio”. Aqui
se acrescenta que o aumento constante do número de blogs na Internet, nos dias atuais, testemunha que
esse gênero, hábil em metamorfosear-se, continua forte e vigoroso.
30
constituída de reflexões de teor mais ou menos filosófico ou meditações
acerca de acontecimentos ou sobre os homens; a crônica poema-em-prosa,
carregada de lirismo, constitui -se num extravasamento da sensibilidade do
art ista perante o espetáculo da vida; a crônica-comentário é comumente usada
para discorrer sobre temas díspares; a crônica-informação, muito próxima do
seu sentido original , permite a divulgação de fatos com comentários ligeiros,
de modo impessoal.
Se seguirmos a classificação proposta por Coutinho (1986), as
crônicas de Vasconcelos Maia poderiam ser englobadas nas categorias:
crônica-narrativa, crônica-comentário , crônica-informação e também
crônica-metafísica . Na primeira categoria estão , por exemplo, A Mulher e o
Vestido , A Moça dos Cabelos de Sol , Uma Campeã de Bridge e Milagre . A
crônica-comentário é usada frequentemente pelo escritor que, lançando mão
de um estímulo factual, empreende a seleção dos dados mais importantes a ele
referentes e, assim, desveste a sua escrita do traço da acidentalidade,
chamando-a para a essencialidade. Esta categoria servirá a Vasconcelos Maia
como veículo para divulgar os elementos da cultura negra, acentuando o traço
híbrido da cultura baiana, bem como para alertar a cidade sobre a necessidade
de preservar seu patrimônio histórico e ainda sobre o s problemas que dizem
respeito à vida ordinária da cidade em processo de transformação. É o que se
dá na crônica Candomblé das Arábias , na qual Maia comenta um convite que
recebera para a inusitada inauguração de um clube de candomblé; Perfume da
Bahia serve para discorrer sobre os diversos aromas que enchiam de
encantamento as noites baianas, enquanto reclama do l ixo que tomava conta
da cidade; Carta de Protesto, uma declaração de apoio ao jornalista e colega
Darwin Brandão, que fora vítima de uma estúpida censura (sic) em sua
crônica sobre a construção de Brasília; Vivaldo Costa Lima, crônica na qual
tece elogios ao personagem que lhe dá t ítulo; O Pintor Rubem Valentim, que
serve ao cronista para enaltecer o trabalho do artista e denunciar
indiretamente o obscurantismo cultural da Bahia de então; Outra Fada
Cozinheira e muitas outras.
Eclético, o cronista não desprezará a categoria marcadamente
metafísica, como nas crônicas Chuva e Domingo. Nelas, Vasconcelos Maia
retrata o indivíduo em seu estranhamento na cidade moderna. Na primeira, o
31
homem sente saudades da vida na zona rural que deixara para trás, na
segunda, ele vive de forma solitária um domingo que, como o restante das
coisas na cidade que se moderniza, era desprovido de nexo.
A crônica pode ser útil para a vida, a quem ela serve de perto, ou
para a literatura, sustenta Candido (1992), tratando dos cronistas Carlos
Drummond de Andrade, Rubens Braga, Fernando Sabino ou Paulo Mendes
Campos. Em se tratando de Vasconcelos Maia, a isto se acrescentaria que suas
crônicas são indispensáveis para a leitura da cidade do Salvador em seu
processo de transformação nos anos 1950/1960 do século passado, não se
furtando a sê-lo para a compreensão dos modos de produção do cronista
baiano.
2.3 MANJANDO UMA CRÔNICA
O projeto estético traduzido nas crônicas de Vasconcelos Maia
deixa entrever a modernidade sendo traduzida até mesmo na consciência das
dificuldades com o novo gênero. Atividade absorvente, o fazer crônicas se
misturava aos afazeres diários do cronista, exi gindo tempo, inspiração,
paciência e até mesmo renúncia.
O romance está aberto sobre o sofá [...] prendendo a atenção. A vontade de
ler absorve e o fio da crônica se dissolve. A paisagem de Charentes, com
suas videiras, arma-se sobre os teclados da máquina, suplanta o ambiente.
[...] O jornal tem hora para sair, a crônica precisa ser feita. Como, porém, a
gente pode arrumar ideias para uma crônica besta e fútil, com este mundo
poderoso de Charles Morgan fervendo na cabeça? (30.11.1960)
Nos moldes dos modernistas das décadas de 1920 e 1930, conforme
menciona Davi Arrigucci Junior (1990) ao falar sobre a procura da poesia
empreendida pelos poetas de então, que a desentranham do mundo usando a
linguagem mais simples, Vasconcelos Maia, escrevendo em terceira p essoa,
revela certa “falta de jeito” para com o novo gênero, traduzindo assim uma
sinceridade que associada à simplicidade torna -se sua marca.
Escrever diariamente uma crônica? Será possível? Terá assunto?
Hesita se aceita ou não aceita e diante de sua indecisão o Secretário do jornal
fica julgando que o preço foi pouco: aumenta-o um bocadinho. Fica julgando
que é modéstia e insiste mais. O que você sente, porém é medo. Medo de
não corresponder à confiança. Como poderá escrever todo o santo dia um
assunto que seja leve, curioso, desperte a atenção do público, mantenha seu
32
público? Mas o secretário não desiste. Tem ou finge ter uma fé danada em
você e diz que escrever crônica é bobagem. É só sentar diante da máquina,
botar o papel no rolo, malhar o teclado. Nem precisa pensar. Nem precisa
refletir. Nem precisa inventar assunto. A crônica se cria por si mesma. E
quanto menos presunçosa for, melhor sairá. Tamanho? Basta uma lauda de
papel ofício, espaço dois. Crônica curta é importante. Crônica longa
ninguém lê. O Secretário tem forte poder de persuasão e você precisa de
mais alguns contos de réis. Acaba acreditando que tem mesmo talento para
escrever crônicas e topa a parada. Assina o contrato. E se torna escravo. [...]
Escravo do assunto.
[...] O Secretário do jornal foi em sua casa e o prendeu a um contrato
de crônica diária. Disse que você tinha bossa para a coisa, infundiu-lhe
confiança, acrescentou que escrever crônica é bobagem. Depois que você
começa a escrever acha que ele teve razão. Não verá, porém, jeito algum da
crônica se livrar. (10.11.1959).
O seu amor pela cidade e sua estreita relação com ela são
componentes decisivos na configuração de uma crônica que pode ser
percebida como a tradução de sua perplexidade, do seu espanto diante da
cidade que se coloca à sua frente. Com um olhar repleto de um entusiasmo
que não diminui mesmo diante do atraso que ela manifestava, ele redescobre a
cidade que, juntamente com a crônica e o jornal, irá constituir o seu achado
modernista para a elaboração de um projeto estético.
O uso da narrativa curta em sua trajetória intelectual representou
seu envolvimento com o momento histórico -social enquanto sua escolha
temática, sempre atrelada a sua ideologia, configura -se pertinente e válida
para representar a literatura ba iana. A cultura baiana era um tema de especial
relevância do ponto de vista dos intelectuais da época, pois as festas
populares, as tradições, os modos de viver da e na cidade, cheios de verdade e
originalidade, prestavam-se para a construção de uma ideia de Bahia como
cidade dona de uma cultura original que a distinguia das demais. Sua temática
atendia assim às propostas modernistas e seus objetivos, dentre os quais a
proximidade com a cultura popular.
Sua afinidade com o prosaico, com o cotidiano, pressup õe o uso de
uma linguagem que dele se aproxime. Vasconcelos Maia prezava pelo uso de
frases curtas, com estilo marcado pela oralidade qualquer que fosse o tema
tratado. Lançou mão da linguagem coloquial caracterizando -a com traços
singularizadores ou local istas que determinavam a fala popular daquele
momento. Com desenvoltura empregou termos como arenga em lugar de
33
conversa, brocotó referindo-se a lugar distante , calhambeque por carro usado ,
duque para roupa masculina, mandinga para idiossincrasias, plaquete
correspondendo a folheto, raso por soldado, zona por bairro, além de verbos e
expressões como bolar e manjar significando imaginar, bordejar em lugar de
passear, embiocar valendo como entrar, embirrar e inticar significando
implicar, gramar em lugar de andar, grenar por zangar, dar facada como
contrair empréstimo, queimar o serviço em lugar de faltar, ver o sol nascer
quadrado como ir preso, dentre outros.
As crônicas de Vasconcelos Maia fornecem pistas para que se teçam
algumas considerações a respeito do seu processo criativo. A primeira delas
diz respeito à identificação existente entre sua atuação como ficcionista e sua
produção jornalística. Algumas crônicas escritas para o Jornal da Bahia
deixam perceber que, para o cronista, e star preso ao circunstante não o
distancia do aspecto literário . O fato apresenta-se aos olhos de Maia, que com
ele se ocupa como exige o ofício, mas a subjetividade se faz presente. O
acontecimento é pretexto para exercitar a virtuosidade de seu estilo, sua
inventividade, sua graça. Quando descreve a sereia, a sua musa inspiradora,
que mora numa loca na Ponta de Humaitá, entoando suas doces cantigas ou
contando suaves histórias até ver o cronista “alegre e refeito”, exercita sua
subjetividade e sua imaginação criadora na constru ção de um lugar mágico.
Desse modo, o seu leitor do jornal não é privado da emoção estética.
Procuro escutar a sereia que eu sempre escuto antes de ir para o escritório –
nada. Ela também deve estar aborrecida. E a sereia? A musa que situei no
meu mundo de inspiração. (15.4.1959).
O mesmo se dá quando, para denunciar a existência de lixo nas ruas,
descreve os perfumes que emanavam nas noites da Bahia, despertando prazer
e encanto em seu leitor:
Aqueles que amam a Bahia noturna, gozando a sua fresca, o seu
perfume, sua atmosfera, seu romanticismo, sua cor e seu gosto já não podem
vivê-la. Digo noturna porque a noite é a hora do passeio, da caminhada, da
meditação, dos reparos, da boemia. Durante o dia estamos nos matando para
ganhar dinheiro, para ganhar a vida, passamos céleres e indiferentes pelas
ruas ao sol.
Até [..] das casas adquiriram tons novos. Em cada esquina enroladas
em seus panos engomados, alumiados por seus bibianos vermelhos,
“baianas” legítimas faziam serão. E com seus tabuleiros vendiam sarapatel,
caruru, vatapá, pamonhas de puba, mingau de carimã e tapioca.
Havia alguma coisa de mágico, nas claras e frescas noites baianas.
Alguma coisa de impalpável, invisível, mas tão presente que a sentíamos
34
fisicamente. Talvez pelos perfumes de que eram tão ricas. Perfumes que
deliciavam nossa sensibilidade, mesmo habituada e que perturbavam os
visitantes. Que perfumes misteriosos eram esses? Mar ou sereno? Flores ou
frutas? Folha ou incenso? Acarajé se fazendo? Azeite fritando? Eram vários
perfumes distintos, misturando-se, confundindo-se num só perfume rico e
aliciante, o perfume da Bahia. Entretanto e alguns anos para cá, ninguém
pode aventurar-se pelas noites baianas. A paisagem é quase a mesma. As
estrelas são iguais. Assim a luz, e a brisa. Semelhantes também são o
silêncio, os tipos, as cores e os costumes, qual a transformação?
O que sobretudo tornava incomparável, encantadora, a noite baiana
era seu mágico perfume. Perfumes de flores e frutas, de mar e sereno, folhas
e incenso, acarajé se fazendo, azeite fritando. O lixo matou esse perfume.
Lixo nas portas, nos passeios, nas ruas, nas esquinas. O lixo está afogando a
cidade. (30.12.1958).
Avesso ao improviso, tendo declarado “Sou uma nulidade completa
quando pegado de surpresa” (MAIA, 1960a), Vasconcelos Maia afirmava
existir “na crônica assinada”, o “compromisso poético”, o lirismo e a
subjetividade do autor. Essa preocupação com estes três aspectos, às vezes,
faz surgir em suas crônicas certa ambiguidade, que se traduz na dificuldade
em definir se aquele texto fora escrito para o jornal ou publicado no jornal .
Em alguns momentos, a identidade de ficcionista fala mais alto e suplanta a
voz do cronista do cotidiano . Na crônica Pelourinho e Casbah (2.2.1959), ao
descrever uma visita de técnicos norte-americanos de turismo ao centro
histórico de Salvador, comenta os fatos ocorridos, mas surpreende o leitor,
dando um tom misterioso ao desaparecimento de um dos técnicos norte-
americanos entre os corredores sombrios e as ladeiras tortuosas do centro da
cidade. Fica mais evidenciada a estreita identificação entre os textos
jornalísticos e ficcionais de Vasconcelos Maia quando recorre à publicação de
trechos de novelas ou contos de sua autoria em sua coluna do jornal.
O uso do humor, um dos meios para se desvestir a crônica do traço
de pura reportagem, também foi feito por Vasconcelos Maia . O emprego desse
recurso pelo cronista foi flagrado nas crônicas que tratam de questões éticas,
morais, políticas ou sociais com profundidade, porém com leveza. De forma
bem-humorada, por exemplo, ele narra o episódio de uma velhinha de 80 anos
que acordara dizendo haver engolido a dentadura, e que, tossindo
desesperada, mão na garganta, apontando para o peito , foi levada ao pronto-
socorro, no qual o médico de plantão não aparece, estrutura para exames não
havia, só restando apelar para uma clínica particular. De igual forma, narra
35
fatos acontecidos em uma zona eleitoral – o de uma mulher, amamentando, às
voltas com a senha perdida e as fi las enormes, e o de um analfabeto que, após
votar, confessa não saber escrever o seu nome (29.10.1958). É com esse
mesmo recurso que ele aborda a questão dos táxis, inexistentes na cidade nos
horários de pique, principalmente na Rua Chile, razão para o cronista dar com
a mão para um amigo que passa, pedindo carona, quando em “frente à
Livraria”, juntamente com o escritor Jorge Amado, tentava chegar a um
restaurante da cidade (27.1.1961).
Atento ao seu leitor, responde aos questionamentos deles, cita
nomes, faz referências. Apesar do tom leve e bem humorado das crônicas, sua
atitude perante o lei tor é a de um cronist a sério, sóbrio. Estando doente, em
repouso por ordens médicas , impossibili tado de trabalhar , escreve a Crônica
do Outro, na qual transcreve um trecho de um livro de Eneida – jornalista e
escri tora que publicava no Diário de Notícias , do Rio de Janeiro – antecedido
por uma minuciosa exposição de motivos a um “leitor que irá lucrar com isto”
(15.1.1960).
O diálogo virtual com um leitor implícito, buscando a cumplicidade
ou isenção ao tratar de temas que porventura lhe pareciam delicados, era um
recurso ao qual Vasconcelos Maia recorria lançando mão de expressões como:
resposta a uma pergunta do leitor , um leitor me pergunta ou recebo carta de
um leitor querendo saber sobre tal assunto . Ao falar sobre Pedro Moacir
Maia, seu irmão, que se encontrava em Dakar, a convite do governo,
lecionando as disciplinas Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, para
mostrar de forma detalhada o plano de ensino do professor, ele diz ter
recebido uma carta de um leitor que lhe perguntava sobre o parentesco e por
onde andava o mestre Moacir (16.5.1961). A sua amizade com Érico
Veríssimo, padrinho de um dos seus fi lhos, é comentada na rápida biografia
feita a pretexto de responder a um leitor que pergunta ra se conhecia o escritor
(27.1.1960).
O recurso “pergunta do leitor” é também usado por Vasconcelos
Maia para introduzir temas em que necessita exercer certa pedagogia.
“Angustiada” leitora solicita um roteiro para levar amigo, vindo de São
Paulo, para conhecer a cidade em vinte e quatro horas (17 e 18.4.1960).
Alguém quer saber a que horas deve chegar num terreiro de candomblé
36
(31.8.1960). Esposa de amigo, que não só lê muito, como pode discutir
assuntos literários, pergunta sobre a existência de tradução para o inglês das
obras de Jorge Amado à venda na Bahia, uma vez que o número de
estrangeiros aqui residentes era grande (21.6.1961). Cartas de leitores
mencionadas pelo cronista comprovam que suas crônicas têm repercussão no
sul do país, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Uma leitora de São Paulo quer
saber o significado da palavra “balangandã” (29.4.1960), outra escreve de lá
para indicar livros para jovens (27.5.1961).
Na obrigação de sempre estar informado, o cronista Vasconcelos
Maia, não distante de seus outros colegas, às vezes, recorre a ardis:
Sobre o bambolê muita gente falou. Quando surge um assunto assim,
pitoresco e popular, o cronista profissional fica obrigado a tratá-lo. Todo
mundo na rua lhe indaga: - Como é? Não vai escrever sobre o bambolê?
Confesso que desde o seu aparecimento, pus-me a manjar uma crônica. Dei
tratos à bola. A crônica não saía. Que é bambolê? Sinceramente eu não
atinava para a sua serventia. O poeta Paulo Gil foi quem me deu a receita:
[...](10.12.1958).
Passa então o cronista a discorrer sobre a receita dada pelo poeta e
amigo, que sugeria a compra do objeto, a forma de definir o tamanho, o local
em que se deveria treinar o uso. A provável conversa com o conselheiro se dá
em frente à Livraria Civilização e o escritor dis corre ainda acerca de seus
prováveis informantes a respeito do tema em questão, citando nomes de
jornalistas, intelectuais e políticos de então. Outras vezes, o próprio cronista
sugere a origem de seu universo temático, usando tom galhofeiro:
Um dia destes vou ter que dividir o que ganho com essas crônicas com
o poeta Paulo Gil mais o jornalista Ariovaldo Matos. O primeiro por me
assaltar continuamente com assuntos. O segundo, por vivê-los. Ontem
mesmo o Paulo Gil me falou o que se passou com Ariovaldo e com o
contínuo do JORNAL DA BAHIA.
Sentindo-se com terrível dor de cabeça e precisando mesmo assim
trabalhar, o autor de “Corta-braços” chamou o tal contínuo. E, - olhe aqui
seu Ari, Corifedrina não tem. Prá o senhor escolher trouxe dois envelopes:
um aéreo outro azul [...] (31.12.1958).
É sabido que são requisitos básicos da crônica a ambig uidade,
brevidade, subjetividade, presença do diálogo, efemeridade, e que no Brasil o
gênero foi se distanciando da função informar e comentar para aproximar -se
da diversão.
Travando uma luta entre o efêmero e o duradouro, a crônica de
Vasconcelos Maia expande suas fronteiras e dialoga com a história e a
37
cultura, ganhando assim um traço peculiar, marcante. Traço este que por si
justificaria a frequência dos leitores ou pe squisadores aos “blocos totêmicos”
– expressão de Massaud Moisés (1985) referindo -se aos velhos jornais nos
quais as crônicas repousariam, nas bibliotecas, buscando sua insólita
permanência.
Na esteira de Wanderley de Pinho, Pedro Calmon, Xavier Marques e
outros intelectuais que antes o fizeram, o cronista investe na defesa das
tradições e dos monumentos históricos, não contra as ameaças do progresso
demolidor sobre estes últimos, mas contra o descaso e abandono em que se
encontravam na cidade do Salvador e no seu Recôncavo, afirmando:
[...] amante que sou, até as últimas consequências, de minha cidade,
empregado remunerado seu, obrigado por atribuições e sentimentos a
respeitá-la, cultivá-la e fazer sua propaganda. (17.4.1963).
Ao empreender a defesa das tradições e da cultura e posicionar -se
como espectador de urbe que narra as transformações de sua cidade,
Vasconcelos Maia retira a efemeridade de suas crônicas e, em troca, atribui -
lhes o requisito da historicidade. Une, com traço firme, no jornal, a hist ória e
a literatura.
2.4 UMA CRÔNICA D IA S IM , D IA NÃO
O tempo, paradoxalmente, matéria e ameaça dos cronistas,
representou, algumas vezes, uma armadilha para o escritor baiano. Na cidade
moderna, escrever diariamente, sempre um assunto novo às voltas com
ocupações outras, não se constituiu em tarefa fácil para Vasconcelos Maia,
que se viu obrigado a recorrer a estratégias como repetição e reformulação de
algumas crônicas, além da transcrição de trechos de contos e novelas.
Atentando-se estritamente ao processo criativo, observou-se na
produção do cronista baiano a repetição de crônicas, com pequena ou
nenhuma alteração, no decorrer do período em que escreveu para o Jornal da
Bahia . Foram publicadas, reiteradamente, as crônicas Barracas Ciganas ,
Lavagem do Bonfim, A Procissão Marítima de Nossa Senhora , Bom Jesus dos
Navegantes, Segunda-feira da Ribeira, “Ternos” e “Ranchos”, O Forte de
38
Monte Serrat , Ciclo das Arraias, Estória de Cangaço, Chuva, O Homem
Emboscado, Escola Primária, Ladrão e Outra Fada Coz inheira e Força da
Cor, que aparece com texto inalterado, porém sob o título de Riqueza da Cor.
Constatou-se a repetição, em três anos não consecutivos, da crônica
As Barracas Ciganas , versando sobre o caráter móvel das barracas que
serviam as comidas típicas na cidade. Transportadas pelas carroças ciganas
puxadas por mulas, elas acompanhavam toda a jornada das festas populares.
Esta crônica foi publicada pela primeira vez em 19 de fevereiro de 1959.
Contava com uma ilustração na qual se via uma baiana debr uçada sobre algo
que lembrava um balcão, ao fundo, prateleiras com copos e garrafas e ao lado,
um jarro com flores.
São duas horas da madrugada, começo de um novo dia. Até há pouco, há
duas horas precisamente, era domingo. Domingo do Bonfim. (20.1.1963).
O título Lavagem do Bonfim foi usado sete vezes pelo cronista no
Jornal da Bahia , a part ir de 1961.
Amanhã, quinta-feira vai acontecer a famosa “lavagem” do Bonfim.
É uma das festas mais belas, mais puras, mais emocionantes que a Bahia
possui. Partem carroças, aguadeiros, cavaleiros, “baianas”, parte o povo da
Conceição da Praia rumo ao Bonfim. São carroças que fazem feriado nesse
dia, que se enfeitam de folhas e festões, que se engrinaldam de bandeirolas
coloridas de papel de seda. São aguadeiros levando seus burricos, seus potes
cheios da água de Oxalá. São cavaleiros montados e ajaezados que vieram de
longe para cumprir sua romaria. E são as lindíssimas “baianas”, todas de
branco, porque branca é a cor do Senhor do Bonfim, conduzindo seus potes
cheios de água e perfume, transbordantes de rosas. É o povo de todas as
classes, de todas as cores que, entre cânticos de alegrias sustenta com
autenticidade, mais outra de suas tradições invioláveis.
Vêm também bandas de música, ciclistas, os meninos de São Geraldo,
todos dando contribuição para a magnificência do desfile. Ao chegar ao
Adro do Bonfim, entre hinos e foguetório, processa-se a lavagem
“simbólica”. O presidente da lavagem, o folclorista Antônio Monteiro abre
as festividades, o Prefeito, naturalmente faz uma breve saudação e sem
política nem demagogia as “baianas” despejam o conteúdo dos potes: água,
perfumes e flores, nas pedras respeitáveis, na escadaria de mármore da
Basílica do Bonfim.
Entra ano, sai ano, a “lavagem” não morre, a “lavagem” se efetua, a
tradição se perpetua. Anos houve que enfraqueceu. Mas a fé do povo e o
entusiasmo de Antônio Monteiro têm persistido e os mais velhos acham que,
embora as portas da igreja não se abram, a festa ultimamente tem sido tão
grandiosa, tão eloquente, tão vibrante quanto antigamente.
Amanhã, quinta-feira, repetir-se-á a tradição. O povo com suas
“baianas” atravessará meia cidade entre cânticos, músicas e foguetório e irá
render graças ao Senhor. Ao Senhor do Bonfim, Que recebe de braços
abertos, pretos e brancos, ricos e pobres, pois todos são filhos iguais, todos
são filhos de Deus. (11.1.1961).
39
No dia 13 de janeiro de 1961, apareceu na coluna a crônica Bonfim ,
que se referia ao sucesso de uma festa que não havia morrido, trazendo de
forma reiterada a descr ição daqueles elementos que a compunham e
imprimiam a beleza plástica ao festejo. Por três anos consecutivos, de 1962 a
1964, o cronista repetiu, num ritmo de ladainha, uma crônica -roteiro
descrevendo a festa da Lavagem do Bonfim, que, por ser móvel, tem a penas as
datas alteradas.
As modificações podem não ter alcançado o festejo, mas a crônica
sofreu, ano a ano, um acréscimo significativo em seu sentido. Equânime, o
Senhor do Bonfim passou a acolher com seus braços abertos, além de todos
aqueles filhos, os “nacionais e estrangeiros, pois todos são filhos de Deus”.
[...] a cidade se verá enriquecida com a renovação de uma das
manifestações místicas mais puras e mais lindas de quantas o povo baiano é
capaz. Das escadarias da Igreja da Conceição partirão carroças, cavaleiros,
ciclistas, aguadeiros, bandas de música, fogueteiros, e dezenas de belas
baianas, com suas roupas mais luxuosas carregando potes cheios de flores,
transbordantes de água perfumada.
[...] e o povo de todas as classes, povo de todas as cores, sustentando
inviolável a tradição bem forte da terra antiga [...]
[...] o Senhor do Bom Jesus, que receberá mais uma vez, de braços abertos,
todos os seus filhos, pretos e brancos, pobres e ricos, nacionais e estrangeiros
– pois todos são iguais, filhos de Deus. (15.1.1964).
A crônica Segunda-Feira da Ribeira versa sobre a origem de uma
festa que, apesar de convertida no primeiro grito do carnaval baiano, teve
origem religiosa. Esta narrativa pôde ser lida no dia 28 de janeiro de 1959, e
14 e 15 de janeiro de 1962. Publicada em 11 de setembro de 1959 e 9 de
setembro de 1960, respectivamente, a crônica A Procissão Marítima de Nossa
Senhora descreve a beleza plástica do espetáculo da procissão na qual a “bela
morena, a imagem de Nossa Senhora dos Navega ntes, atravessa a Baía de
Todos os Santos e com a boca da noite encosta no caisinho da Praça Cairu”.
Bom Jesus dos Navegantes , crônica na qual narra as duas versões da história
de outra festa religiosa, foi publicada em 30 de janeiro de 1959, 30 e 31 de
dezembro de 1962 e 1º de janeiro de 1964. Outra festa religiosa que teve o
seu relato repetido foi a dos Santos Reis. Em 4 de janeiro de 1961, apareceu
“Ternos” e “Ranchos” , e três anos depois, em 5 e 6 de janeiro de 1964,
identificamos o mesmo texto sob o t ítulo “Ternos e Ranchos”: Hoje .
40
O Forte de Monte Serrat, em 10 de julho de 1959, deu tí tulo a uma
crônica narrando sua história, caracterizando -o como “o monumento mais
bonito de nossa arquitetura militar”. Em 1º de novembro de 1963, esta
narrativa voltou, com pequenas alterações e despida de alguns adjetivos, à
coluna Dia Sim, Dia Não. Descrevendo as belezas naturais da baía, a crônica
Força da Cor, publicada em 18 de março de 1963, reapareceu, inalterada, em
novembro desse mesmo ano, sob o título de Riqueza da Cor.
Se o cronista retirava das experiências da vida os assuntos a
comentar, sendo Vasconcelos Maia pai de filhos pequenos, a infância mereceu
seu destaque. Brincadeiras como arraias, bolas de gudes, carrinhos de rolimãs
foram cuidadosamente descritas por ele e uma delas recebeu tratamento
especial. O jogo das arraias, tema aprofundado ao longo dos anos, gera quase
um tratado sobre a brincadeira infantil, não tão restrita às crianças, e que
parece ter caído no gosto popular por aquela época. Iniciado em 1959, com a
Arraia Cortada, aprofundou a técnica de sua confecção na próxima crônica, a
pretexto de falar sobre o interesse dos filhos pelas arraias e periquitos,
descreveu algo que se aproximava de uma cultura das arraias, trazendo
vocabulário específico, nomenclaturas usadas nas diversas regiões, diferenças
de formatos que ostentava. Em outra crônica falou da “fome de arraia” de
alguns pequenos, mais tarde descreveu uma “pegada”, adiante, uma “peleja”,
e, finalmente, repetiu uma delas. A crônica Ciclo das Arraias , publicada pela
primeira vez em 30 de dezembro de 1959, vai reaparecer na íntegra em 26 e
27 de maio de 1963.
Um olhar mais demorado sobre a oficina literária de Vasconcelos
Maia capta a transcrição de trechos de novelas ou contos de s ua autoria. Foi o
que se deu com um fragmento do conto O Cavalo e a Rosa , transcrito sob o
título de Eliana e o Mar (14 e 15 de junho de 1959), com trechos da novela O
Leque de Oxum , publicada em 1961, sob os títulos Eguns (19.7.1961) e Início
de Festa (21.7.1961). Evidenciando a sinceridade, sua marca, nos dois
últimos, o leitor foi informado do processo de que lançou mão o autor.
Nos bastidores da produção literária do escri tor baiano flagra -se a
repetição de algumas crônicas dotadas de características de conto sugerindo a
hipótese de experimentações para ficções maiores ou não. Estória de
Cangaço, dona das característ icas de conto, mostra outra cultura singular
41
existente na Bahia. Foi publicada em 3 de maio de 1963 e repetida, sem
alterações em seu teor, em 28 e 29 de julho de 1963. Chuva, uma crônica
metafísica na qual um cronista-narrador denuncia as contradições do processo
de modernização da cidade, deixa perceber os hábitos burgueses como “comer
bobagens”, ler um “livro policial” ou fumar um “Suerdick” , bem como
aspectos que remetem à vida rural, tais como a existência das bananeiras no
quintal, os sapos alegres, a horta do sergipano, a cachoeirinha que
engrossava. Chuva foi publicada em 11 de março e 1960 e 29 de março de
1963. O Homem Emboscado , crônica datada de 14 de dezembro de 1958, que
descreve a baía vista pelo cronista, a partir de “uma cadeira do „Manhattan‟
solitário àquela hora de sol e beleza”, retorna à coluna em 18 de outubro de
1963.
Outra estratégia da qual lança mão em seu fazer literário é a
alteração dos meios expressivos, fazendo existir uma oscilação entre o conto
e a crônica. A crônica Sortilégio , na qual seu personagem referido como o
homem , após ler as histórias sobre amores de Xangô, mergulha num torpor
misturando sonho e realidade, tem características de conto. Por outro lado,
Madrugada na Praia da Jaqueira , escrita por um cronista -narrador na terceira
pessoa, publicada pela primeira vez em 7 de março de 1959, narra, com
riqueza descritiva, um idílico jantar no Anjo Azul , protagonizado por uma
alemãzinha e um suposto habitante da cidade que a leva, na madrugada, a um
passeio inesquecível pelos becos e ladeiras da região até a praia da Jaqueira,
para ver Janaína e as estrelas. Em 24 e 25 de março de 1963, ela ressurge,
com algumas modificações que a enriquecem, com detalhes da cultura baiana
e das transformações sofridas pela cidade, convertida em conto, sob o título
Noturno.
O Homem e as Vitrines, crônica publicada em 16 de janeiro de 1959,
descreve com lirismo e subjetividade o deslumbramento de um homem diante
das vitrines iluminadas para o Natal . Ele sonha com presentes para seus
filhos, mas, acordando de seus devaneios, mete as mãos nos bolsos vazios e
afasta-se das vitrines, sumindo nas sombras das ruas. Esta crônica foi
selecionada pelo escritor para compor o livro O Primeiro Mistério (MAIA,
1960b). Sofrendo o processo de reescrita, ela se converte no conto É Natal! É
Natal! , publicado no livro Romance de Natal (MAIA, 1977), tendo sido objeto
42
de estudo de Sérgio Rivero Gomez (2000) . No capítulo intitulado Duas
histórias que contam uma mesma história , Rivero Gomez compara os contos
O Homem e as Vitrines , extraído do livro O Primeiro Mistério (MAIA,
1960b), e É Natal! É Natal! , do Romance de Natal (MAIA, 1977). O
pesquisador não mencionou a existência, no Jornal da Bahia, daquela que,
dezoito anos depois, sofrendo três transformações sucessivas, converter -se-ia
no conto é Natal! É Natal!
Tratando das obras produzidas pelos meios de comunicação de
massa às quais foram negados, em seu su rgimento, valores art ísticos, pelo
fato de serem repeti tivas e seguirem um modelo sempre igual, Umberto Eco
(1989) abordou a questão da repetição. Ela seria a reprodução de uma “réplica
do mesmo tipo abstrato”, de alguma coisa que tenha as mesmas proprieda des,
apresentando como sendo originais e diferentes, embora repita o já conhecido.
Para o autor, a repetição se resolve em série , serialidade, retomada, recalque,
saga e no dialogismo intertextual. Ressalta Eco (1989) que tais fenômenos
devem ser revistos sob o ponto de vista de uma nova concepção do valor
estético. Assim, a atual estética da repetição destaca duas características em
qualquer mensagem bem organizada: uma dialética entre ordem e novidade,
ou seja, entre esquema e inovação, e a percepção clar a dessa dialética pelo
destinatário.
No âmbito da Literatura, Gilberto Mendonça Teles (1976) realizou
estudo acerca da repetição na obra de Carlos Drummond de Andrade. Segundo
o crí tico, as preocupações estilísticas de 1945 poderiam ter concorrido para o
aumento do uso deste recurso na obra do poeta mineiro. A repetição vocabular
ou silábica consistia em um traço característico da linguagem modernista no
Brasil, t raduzindo a sua proximidade com a linguagem coloquial. Em
Drummond, esse traço assumiu aspecto expressivo especial, sendo a repetição
associada à lucidez de um poeta que busca a lição pelas coisas, sabendo que o
mundo se repete mesmo compreendendo que “não possa banhar -se duas vezes
no mesmo rio” (TELES, 1976, p. 62).
Não se pretende exaurir nesta abordagem uma questão que pode
suscitar estudos diversos, entretanto, o uso da repetição de crônicas, recurso
ao qual Vasconcelos Maia lançou mão, mais de uma dezena de vezes no
corpus estudado, pode ser pensado, à luz dos estudos mencionados. Se
43
tomarmos como base o pensamento de Gilberto Teles, tendo em vista a forma
como se desenvolve a relação de Vasconcelos Maia com a cidade da qual é
profundo conhecedor, pode-se supor que o cronista tinha consciência de que,
mesmo passando por profundas mudanças, moder nizando-se, na cidade do
Salvador alguns fatos se repetiam. Não de forma binária ou ternária como os
vocábulos na poesia, mas de forma cíclica sustentados na tradição das festas
que sucediam ano após ano, ou aleatórios, como o discurso da necessidade de
preservação do patrimônio histórico e aquele da continuidade de práticas não
necessariamente modernas, como o hábito de comer em barracas ou empinar
arraias nos terrenos baldios da cidade.
O uso da repetição, em seus escritos de redação contínua, produz
uma espécie de choque, de surpresa. O cronista narra a cidade recorrendo à
repetição não de palavras, mas de episódios. Ele seleciona e repete, talvez,
aqueles que se lhe afigurem como mais significativos para marcar o aspecto
que deseja realçar, seja ele a força da tradição, a singularidade da cultura, a
suntuosidade das belezas naturais. Demonstra, dessa forma, uma atitude bem
próxima à de fuga ao convencionalismo buscada pelos modernistas.
Pensada sob a ótica do meio de divulgação, o jornal e seu público
leitor, a repetição pode ser lida como uma estratégia para articular um
discurso orientador visando a construção de uma identidade pela reafirmação
de suas tradições e seus valores. É sabido que na construção de uma
identidade social os integrantes de grupo s utilizam o patrimônio composto por
suas lendas, histórias, imagens, canções que dizem respeito à cidade, com o
fim de construir uma visão compartilhada por todos . Repetir a crônica pode
ser ainda um recurso do cronista para revelar seu traço irônico. A m anutenção
dos antigos hábitos naquela cidade que se modernizava poderia ser o insólito
e a repetição dos seus relatos seria a expressão da perplexidade de um
cronista.
Quer seja lida como simples forma de lidar com o tempo ou com a
falta dele na cidade que se moderniza, como recurso de construção identitária,
ou como expressão da ironia do cronista, importa salientar que a repetição se
caracteriza aqui como uma atitude essencialmente estética que traduz a busca
deliberada da coerência com os princípios mod ernistas. O uso da repetição
não retira o valor estético da mensagem uma vez que o seu leitor percebe a
44
dialética entre o fato novo e o corriqueiro e não estranha a reiteração das
crônicas que narram os fatos que se sucedem regularmente.
Por sua vez, a publicação indistinta de contos, trechos de livros ou
crônicas na coluna, aponta para a existência de uma espécie de livre trânsito
entre os dois gêneros por parte do cronista, além de uma perfeita
identificação entre o escritor e sua coluna no jornal, por el e referida, de
forma carinhosa, como “meu canto de página”, “minha coluna”.
Tradutora de seu desgosto por “improvisos”, a ação de reformular
crônicas convertendo-as em contos, bem como aquela de publicar narrativas
curtas no matutino são estratégias do in telectual. Elas delineiam o fazer
literário de Vasconcelos Maia como o trabalho consciente de um escritor
artesão, que “malha” o teclado em busca da melhor forma para o seu texto,
enquanto deixam perceber a existência, por parte daquele que se dizia “apena s
ficcionista”, de uma perfeita identificação com o jornal como meio de
divulgação de sua obra, além da absoluta cumplicidade com o leitor que
testemunha seu fazer artístico.
45
3 O LEQUE DAS CRÔNICAS
Entre 21 de setembro de 1958 e 20 de janeiro de 1964,
correspondendo a seis anos de colaboração, três vezes por semana, ou seja,
Dia Sim, Dia Não, no alto superior esquerdo, da página 5, do primeiro
caderno do novo matutino baiano, o Jornal da Bahia , Vasconcelos Maia
publicava sob forma de crônicas sua visão de mundo, materializando a cidade.
Nos anos iniciais do jornal, algumas crônicas apresentavam -se
ilustradas6. Tais ilustrações não se mostravam assinadas, tampouco existiam
indicativos de sua autoria, entretanto, o próprio cronista fornece pist as de um
provável autor numa crônica inti tulada Lauzier , na qual presta uma
homenagem ao desenhista do Jornal da Bahia :
[...] Ele se chama Lauzier. Veio trazido por João Falcão diretamente
para a primeira página do Jornal da Bahia. E desde o primeiro exemplar foi a
principal vedete da primeira página, mesmo Kruschev e Eisenhower
apertando as mãos da paz, mesmo Juracy sorrindo ou Heitor comparecendo.
Ele desenhando todos sem ofender a nenhum, traçando com sua pena mágica
a caricatura de cada, interpretando com sua malícia jocosa, seu humor feliz,
os acontecimentos universais e regionais, diplomáticos, políticos, esportivos,
literários, sempre o seu burrinho, com sua rosa na boca, gozando o papel que
todos representam na vida (13 e 14.12.1959)7.
Segundo Vasconcelos Maia, as charges eram “o melhor aperitivo
para a digestão do querido matutino”, mas, infelizmente, o chargista não
ficaria na Bahia, rumaria para a África para servir na Legião Estrangeira.
Uma exposição com os desenhos do francês foi organizada pelos amigos a
título de festa de despedida (13 e 14.12.1959).
Nem todas as crônicas foram ilustradas, mas a última a apresentar
ilustração foi Milagre, publicada na edição datada de 10 e 11 de janeiro de
1960, período que coincidiu com a partida de Lauzi er.
No decurso do tempo de sua publicação, o jornal sofreu
modificações em sua forma de apresentação e essas mudanças manifestaram -
se, inclusive, na coluna assinada pelo cronista. Nos três últimos meses do ano
6 As crônicas Sortilégio (21 fev.1959), Madrugada na Praia da Jaqueira (7 mar.1959), Rosa
Vermelha do Beco do Mingau (18 mar.1959) e Ainda sobre o Turismo(25 mar.1959), integrantes do
Anexo aqui apresentado, exemplificam as ilustrações referidas. 7 Por não fazê-lo aos domingos, o Jornal da Bahia circulava na segunda-feira com data
correspondendo aos dois dias da semana.
46
de 1958 – época do surgimento do matutino – e nos dois anos seguintes, a
coluna Dia Sim, Dia Não apareceu em forma de retângulo, com um tamanho
regular – 8cm de largura e altura variando entre 15cm e 20cm conforme o
assunto – e a linha demarcatória em seu entorno bem acentuada. O título
trazia apenas a inicial da primeira palavra em maiúscula. No período de abril
de 1959 a setembro de 1960, o nome da coluna apresentou -se em caixa alta. A
partir dessa data, passou a ostentar apenas as iniciais dos quatro termos do
seu título, em letras maiúsculas, mantendo a forma retangular.
A linha demarcatória das bordas da coluna apresentou -se diferente
no ano de 1962 – não mais o traço contínuo, e, sim, meio espiralado. No final
desse ano, essa linha sofreu nova modificação e a coluna começou a perder
um pouco em largura, tornando-se mais alongada, chegando a apresentar -se
com 7cm. Em setembro de 1963, a coluna apareceu com 4cm de largura,
estendendo-se até quase a metade da página, bordas em linhas contínuas e
mais finas, título em duas linhas e sublinhado, nome do autor mantendo a
forma original. Assim se apresentou até janeiro 1964, sempre na página 5 do
primeiro caderno do Jornal da Bahia , Dia Sim, Dia Não8.
O estudo dos aspectos gráficos da crônica não é objeto do enfoque
proposto neste trabalho, mas as transformações sofridas pela coluna Dia Sim,
Dia Não , ao longo do período, bem poderiam ser explicadas à luz das
modificações percebidas no papel de Vasconcelos Maia como intelectual que
caminha, cada vez mais, em direção ao cronista, ao leitor de cidade,
distanciando-se do ficcionista. À medida que a temática de suas crônicas
afasta-se da ficção e aproxima-se dos fatos do cotidiano, ou seja, na
proporção em que a cidade se põe para Maia como algo que precisa ser
narrado, ser representado, o espaço da coluna, antes claramente delimitado,
vai sendo incorporado no e pelo jornal.
8 Escrevendo em máquina datilográfica, o cronista faz referência a “laudas” e menciona, na crônica
Escravo de Assunto (10 nov.1959), a necessidade de escrever apenas “uma lauda de papel ofício,
espaço dois”. Tendo cada linha cerca de 70 caracteres e suas crônicas variando entre 40 e 50 linhas,
tem-se que elas apresentavam 3100 caracteres, ainda que algumas exibissem em torno de 2400. A
crônica Segunda Feira Gorda, datada de 19 e 20 de janeiro de 1964, embora redigida com 2610
caracteres, apresentava-se com 87 linhas contendo 30 caracteres cada, traduzindo a modificação dos
aspectos gráficos da coluna Dia Sim, Dia Não.
47
Pode-se afirmar que nessas crônicas jornalísticas o ficcionista se
cala dando voz ao cronista do cotidiano, ao espectador de urbe imbuído da
missão de transformar a sua coluna num espaço para narrar o processo de
transformação da cidade, as mudanças nas sensibilidades e sociabilidades
daqueles que nela vivem e com suas ações a constroem.
Ao tratar das visões do urbano na li teratura, Sandra Pesavento
(2002) afirma que o trabalho do cronista é exercitar o “olhar l iterário”,
traduzido no pleno domínio sobre a sua sensibilidade para idealizar a cidade
em seu pensamento e depois convertê -la em palavras e imagens mentais e,
assim, narrá-la em seu processo de transformação. As crônicas de
Vasconcelos Maia podem ser entendidas como forma de compreender o
processo de transformação vivido pela cidade do Salvador , tendo em vista o
resgate do passado na modernidade que então se instaurava.
A crônica, este fato moderno que se submete ao consumo imediato,
à transformação e fugacidade da vida moderna, serviu a Vasconcelos Maia
para a construção da sua representação. Por seu caráter fragmentário,
diversificadas foram as visões nelas concebidas, porém como elementos que
facultam a visualização da cidade em pleno processo de modernização.
O cronista Vasconcelos Maia retratou o mundo vivido, o cotidiano
da cidade, humanizando-a sob a sua pena, elegendo um tema em detrimento de
outro como uma testemunha de seu tempo.
Dotado de sensibilidade, múltiplas e variadas fo ram as experiências
vividas por Vasconcelos Maia como leitor da cidade do Salvador , fato que
tornou vasto o seu universo representado e amplo o leque temático9 de cerca
de 600 crônicas publicadas na coluna Dia Sim, Dia Não em quase seis anos de
produção.
9 Definidos como fatores de contextualização por Ingedore Koch e Luis Carlos Travaglia (2001), os
títulos, elementos “perspectivos”, comumente avançam informações sobre o conteudo. Optando por
escrever, normalmente, sobre um único tema em cada dia, mesmo fazendo uso do humor, poucas
vezes Vasconcelos Maia lançou mão de títulos “despistadores”. Dando preferência aos “perspectivos”,
construiu indicativos seguros dos assuntos tratados em seus textos jornalísticos. Este fato converte o
Apêndice – A, constitutivo deste trabalho, contendo relação da totalidade das crônicas publicadas pelo
escritor no Jornal da Bahia, ordenadas cronologicamente, em objetiva fonte de consulta para
pesquisadores futuros.
48
A visão da rua e do cotidiano da cidade, concretizada em cerca de
100 crônicas, ensejou a presença de assuntos diversos, como os costumes e as
tradições em sua luta pela perpetuação e os hábitos simples dos moradores,
como o da compra de produtos nas barrac as da esquina, das serestas, dos
pregões, do passeio noturno, do namoro nos bancos de jardins.
Foi o olhar sobre a rua que levou o cronista a discorrer sobre a
agitação da vida moderna, a mulher, a moda, a beleza, os hábitos modernos,
como o do jogo de bridge e do passeio para olhar vitrines, os encontros
fortuitos, as conversas de esquina, os concursos de misses, o transporte
urbano, as marinetes, as lambretas, a barulheira, as crianças que brincavam
nas calçadas e os flagelados que dormiam sob as marquis es.
O arranjo espacial da cidade – com seu traçado no qual se
inscreviam o centro antigo, o Comércio, o Mercado Modelo, a rampa, os
bairros tradicionais, seus becos e ladeiras, suas igrejas e edificações, seu
valioso patrimônio histórico e a luta pela sua conservação – foi representado
em 98 crônicas.
Confessando gostar de “gente”, Vasconcelos Maia teve sob a sua
mira os habitantes da cidade – políticos, intelectuais, art istas, escritores,
boêmios, trovadores, estudantes, vendedores ambulantes, as “fadas
cozinheiras” que faziam comida baiana, as baianas de acarajé, os “tipos”
diversos que surgiam – , sobre os quais escreveu cerca de 78 crônicas.
O cronista dedicou 29 crônicas às questões da infância . Nelas, as
crianças são vistas trepadas nos pés de araçás na s ribanceiras dos quintais, no
alto dos muros empinando arraias, nas calçadas em seus carrinhos de rolimãs,
recitando trava-línguas e buscando respostas para suas adivinhações.
Com igual desenvoltura, comentou fatos relevantes que diziam
respeito à cidade e sua gente, ou qualquer assunto “pitoresco e popular” de
que todo “cronista profissional fica obrigado a falar”. Foi essa obrigação que
o levou a comentar o constrangimento passado por um intelectual baiano ao
ser flagrado subindo a Rua Chile, transport ando um indiscreto “bambolê”,
objeto que dissera ser para sua neta. O hulla hoop , como era conhecido no
resto do mundo, o fetiche do momento, fazia crianças, velhos e jovens
deixarem de temer o ridículo, contorcendo -se dentro de um aro de plástico .
49
Como bom cronista, Vasconcelos Maia falou sobre o bambolê, “antes que ele
caísse da moda” (10.12.1958).
As Festas, os festejos populares, religiosos e históricos da cidade do
Salvador marcaram presença nas crônicas de Vasconcelos Maia. Foram
identificadas 61 crônicas que versavam sobre festas em geral , apenas na
cidade, sem levar em conta aquelas do Recôncavo.
Próximo às festas populares, o Candomblé – elemento
intrinsecamente ligado à tradição, ao povo e à cultura afro -baiana, pleno de
relevância para a construção da identidade cultural da Bahia – foi tratado com
didatismo e autoridade por um cronista dotado de profundo conhecimento do
assunto em 16 crônicas. Intencionava menos ressaltar a prática religiosa de
origem africana que resgatar o passado histórico cul tural dos segmentos
populares da cidade, dando visibilidade a uma vertente cultural singular.
O Carnaval, tema de 13 crônicas, foi tratado inicialmente como
problema administrativo sem dotação das escassas verbas públicas que se
destinavam a outras prioridades. Entretanto, o caráter de forte manifestação
popular deste festejo levou o cronista a defender a necessidade do resgat e de
seu brilhantismo, bem como a vislumbrar seu potencial de converter-se em
poderoso veículo para a promoção turística da cidade .
A efervescência cultural vivida pela cidade do Salvador e a cultura
peculiar que nela se desenvolvia constituíram -se como situação-matriz da
qual emanava a riqueza da temática do cronista. Essa situação ensejou a
produção de 67 páginas jornalísticas do cro nista baiano sobre um campo que
lhe era muito caro – o da literatura. A crônica, suas dificuldades como
cronista, suas preferências literárias, seus hábitos como leitor, sua própria
formação l iterária e seu modo de ler foram seus temas. Vasconcelos Maia
aconselhou novos escri tores, fez crítica de rodapé, deu apoio àqueles
inseridos no mundo das letras, comentando os lançamentos de seus l ivros,
bem como as exposições, conferências, tardes de autógrafos, feiras de livros e
os concursos li terários que se reali zavam em Salvador.
No campo das letras são entrevistos os movimentos culturais que se
traduziram em revistas e suplementos li terários, como o Caderno da Bahia,
idealizado pelo cronista, por Cláudio Tavares, Darwin Brandão, Wilson Rocha
e tantos outros modernistas que a ele se congregaram, e sobre o qual já se
50
comentou neste trabalho. Ocupou-se, ainda que de forma rápida, com os
movimentos dos jovens secundaristas Glauber Rocha, Paulo Gil Soares,
Fernando da Rocha Peres, Sante Scaldaferri e outros que viriam compor a
geração Mapa , com a sua Jogralesca, que consistia na leitura teatralizada de
textos de poetas modernistas, fato que acontecia no Colégio da Bahia, seção
Central. A revista Ângulos, fruto do trabalho dos estudantes da Faculdade de
Direito da Universidade da Bahia, que se abria também para a literatura e a
cultura, também teve sua trajetória assinalada nas crônicas de Vasconcelos
Maia.
Vários locais de cultura foram mostrados na Coluna Dia Sim, Dia
Não . A Universidade da Bahia, sob o reitorado do Pr ofessor Edgar Santos,
desdobrava-se em outros, como o Laboratório de Fonética do Professor Rossi,
no Centro de Estudos Afro-Orientais – CEAO, que nascia no rés do chão da
reitoria sob o comando do professor português George Agostinho, e nas
escolas de Teat ro, Música e Dança. Locais de produção e divulgação de
cultura eram os clubes de cinema, os jornais e seus suplementos culturais que
se abriam aos debates dos intelectuais e dos jovens artistas que começavam a
surgir na Bahia, bem como as galerias que desp ontavam na cidade.
Sintetizadas no “Anjo Azul”, uma espécie de bar -boate onde José Pedreira
precariamente juntava pinturas, desenhos e esculturas de vários art istas para a
venda, as galerias eram lugares de destaque naquele momento, na cidade. A
Galeria Oxumaré, no Passeio Público, era espaço obrigatório não só para
exposições e vendas, como também para “bate -papos”. A Galeria Manuel
Quirino, inovando, iniciou um sistema mercantil de compra e venda apoiada
no Banco Irmãos Guimarães, que fazia empréstimos ao s adquirentes.
Segundo Walter Benjamin (1989), a assimilação do li terato à
sociedade em que se encontrava consumava -se no bulevar, local em que se
“desdobravam os ornamentos de suas relações com os colegas e boas-vidas”
(BENJAMIN, 1989, p. 25). Era lá que eles passavam suas horas ociosas,
antecipando a “hora do aperitivo”, como parte de seu horário de trabalho.
Também Vasconcelos Maia apresentava a porta da livraria Civilização
Brasileira, na Rua Chile, como local de encontro regular, às 11 da manhã e às
5 horas da tarde, dos intelectuais da cidade do Salvador . As descrições do
cronista sugerem que, inexistindo na cidade um ambiente conspirativo da
51
boemia, como havia na Paris do século XIX, aquele era um lugar de difusão
de uma nova cultura.
O Teatro mostrava-se fortalecido pela ação corajosa do “Reitor
Edgar Santos”, com a criação da Escola de Teatro da Universidade da Bahia,
tendo chegado a um estágio mais alto que o de muitos Estados do Brasil. Essa
modalidade artística vivia seu “belo e terrível” momento com o surgimento de
novos grupos de teatro popular, que se profissionalizavam, ou com o
ressurgimento de alguns mais antigos. “Belo e terrível momento” foi a
maneira como Vasconcelos Maia referiu -se à situação do campo artístico, que
foi mote para 11 de suas crônicas10
, várias delas reiterando o pedido da
construção de novas casas de espetáculo para aquela descrita como “terra do
já teve” ou uma “cidade desgraçadamente sem teatro”. O Teatro Castro Alves
era, naquele contexto, obra “demagógica”, um “vazio el efante branco”, ao
passo que o Teatro dos Novos, grupo teatral que surgia, já começava a
construção de sua casa de espetáculos , o futuro Teatro Vila Velha. Ligados à
questão da construção das casas teatrais estavam nomes como Adroaldo
Ribeiro Costa e Nair da Costa e Silva . Além de tornar patente a situação
vivida pelo movimento teatral , o cronista, que se declarava sem a autoridade
de crít ico, comentou peças, discorreu sobre realizações dos novos grupos
criadores de acontecimentos artíst icos “de primeira or dem” e sobre o
“silêncio” da imprensa quanto às realizações dos novos grupos teatrais.
O Cinema e a cultura cinematográfica eram questões relevantes para
a vida cultural da cidade do Salvador de então e Vasconcelos Maia, postulante
e defensor de posturas vanguardistas, não se furtou ao assunto. O cronista
teceu, em 21 crônicas11
, comentários sobre filmes exibidos nas salas da
10
As crônicas “Tourbillon” de mulheres lindas (31 mai.1959), Festival Nortista de Teatro Amador
(1 e 2 jan.1961), Teatro dos Novos ( 6 jan. 1961), História da Paixão ( 17 mar.1961), Teatro dos
Novos (9 jul.1961), Baianada ( 11 abr.1962), Evangelho de Couro (27 jul.1962), O Pagador de
Promessas ( 12 set.1962), Teatro Popular da Bahia ( 7 ago.1963), Revistas & Entrevista (13
set.1963), Teatro para a Bahia( 11 mai.1962) versam, especificamente, sobre a questão do teatro na
Bahia.
11
Rio, Zona Norte publicada em 28 e 29 de dezembro de 1958 foi a crônica com a qual Vasconcelos
Maia inaugurou sua incursão sobre o tema. Seguiram-se a ela Paulino e Glauber (11 mar.1959),
Impróprio até dez anos (10 jun.1959), Cinema (6 jan.1960), Cinema (18 mar.1960) Rifle de quinze
tiros (10 jun.1960), “Bahia de Todos os Santos” (18 e 19 set.1960), Barravento (18 e 19 dez 1960),
Lenços para “Ben-Hur” (28 abr.1961), Cinema Nacional (11 e 12 jun.1961), Adriano no Cinema (11
ago.1961), Milagre de Carlitos ( 6 out.1961), “A Grande Feira” (30 nov.1961), Filme, Regata,
52
cidade, acerca da produção cinematográfica na Bahia, das pessoas nela
envolvidas, do seu interesse pela arte cinematográfica, de sua a tuação nos
clubes de cinema e até sobre o fato de uma obra sua vir a ser usada como
roteiro de fi lme.
A paisagem, as belezas naturais da cidade do Salvador , a magia de
suas cores e odores, seu frescor, o encanto do mar azul e de suas belas praias,
sua verdejante paisagem, a exuberância das ilhas da Baía de Todos os Santos
e do seu Recôncavo foram temas que resultaram em cerca de 25 crônicas.
O incremento da indústria do turismo, visto como a salvação
econômica do Estado era, naquele momento, a ambição de vários segmentos
da intelectualidade da Bahia. Portanto, foi como um narrador, na acepção
benjaminiana do termo, que Vasconcelos Maia, gestor de órgão responsável
pela atividade turíst ica no município, discorreu, em cerca de 61 crônicas,
sobre as questões referentes à política de turismo e seus desdobramentos, a
saber, o desenvolvimento de uma mentalidade turíst ica e a criação de uma
infraestrutura composta por estradas, hotéis e restaurantes.
O Brasil, naquele período, vivia também sua efervescência. Est a
dizia respeito a propostas políticas, movimentos artíst icos e à reflexão sobre a
realidade nacional, além da viabilidade do florescimento de um modo próprio
e rico de expressão da sua diversidade cultural . Ampliando mais ainda a
extensão de seu leque temático, Vasconcelos Maia, intelectual que não se
preocupava apenas com os temas oferecidos por sua região, produziu 12
crônicas sobre variados assuntos nesta esfera.
A respeito da “invenção” de Brasília, da criação da estrada Belém -
Brasília e da intenção de se “inventar” o Bananal, idealizados pelo Presidente
Juscelino Kubitschek, dialogou com o cronista Rubem Braga, a quem
solicitou em crônica que transmitisse ao Presidente um apelo para que,
utilizando as “duas invenções” como chamariz, incluísse Rio de J aneiro, São
Paulo e Bahia num roteiro turístico. Aproveitando o potencial resultante dessa
união, ele tornaria o Brasil o centro turístico das Américas e esta seria uma
obra “autofinanciável”. Vasconcelos Maia escreveu sobre as eleições
Humbert ( 16 fev.1962), Sobre Cinema (31 mai.1962), Quando a vida é cruel ( 03 out.1962), Festival
de Cinema ( 02 nov.1962), Ídolo antigo ( 31 mar.1963), Vadim, Rescala etc. (7 e 8 abr.1963), Deus e
o Diabo na Terra do Sol (23 e 24 jun.1963), Sol sobre a lama ( 31 jul 1963), Bandido não existe ( 24
e 25 nov 1963), O Caipora ( 3 jan.1964).
53
presidenciais, a si tuação política do Brasil, problemas relacionados a cidades
como Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, dentre outros.
A variedade de assuntos abordados pelo cronista suscitou a
necessidade de um ordenamento das crônicas para o alcance do objetivo aqui
proposto, a saber, a visão da cidade em seu processo de modernização.
Inicialmente, a leitura das crônicas, distribuídas em ordem cronológica,
revelou uma visão fragmentada dos aspectos aqui perseguidos. A amplitude
do recorte temporal e a extensão do uni verso temático ocasionaram a
necessidade de um agrupamento tomando como base o tema, constituindo-se,
inicialmente, cerca de 22 blocos12
. Novamente agrupadas, configurou-se
aquilo aqui denominado de Leque das Crônicas, cujo eixo foi constituído
pelos seguintes grupos temáticos: Rua, Gente, Cotidiano, Festas, Teatro,
Cinema, Literatura, Sítios, Turismo, Paisagem e Outros/País.
Este leque temático de crônicas, em seu movimento de abertura e
fechamento, proporcionou diferentes perspectivas para se visualizar a cidade
do Salvador representada por Vasconcelos Maia, apontando para mudança e
permanência de elementos ou enfoques ocorridos no universo temático do
escri tor baiano.
A presença das crônicas, ou seja, a transcrição de trechos mais ou
menos longos, contr ibui para a identificação de elementos como a linguagem,
o ritmo, a ironia, a presença de vários assuntos numa mesma crônica, a
indicação de uma leitura particular num universo de possibilidades, além da
obtenção de dados que possibilitem a configuração da representação da cidade
das crônicas.
3.1 NAS RUAS , UMA CONFUSÃO DOS PECADOS
Longe de denunciar transformações na estrutura física da cidade, o
olhar que Vasconcelos Maia lançou sobre a Rua captou imagens qu e
traduziam desenvolvimento e progresso acelerados convivendo pacificamente
12
Inicialmente as crônicas foram reunidas nos seguintes grupos temáticos: Costumes, Tradição, Rua,
Infância, Carnaval, Festas de Largo, Festejos Históricos, Festejos Religiosos, Candomblé,
Personalidades e Talentos Baianos, Literatura, Crítica Literária, Artes, Cinema, Teatro, Sítios
Históricos, Políticas de Turismo, Hotéis e Restaurantes, Itinerários Turísticos, Paisagem Natural –
Mar, Paisagem-Natural – Cores e Odores, além de Outros/ País.
54
com a tradição. A sua visão deixa transparecer a existência de uma cidade que
se modificava rapidamente, mas ainda convivia com traços ou marcas de seu
passado.
O olhar inaugural de Vasconcelos Maia sobre a cidade, na condição
de cronista do moderno matutino Jornal da Bahia, recaiu sobre a rua como
palco, também, para a mulher, a beleza feminina, sua sensualidade, a moda,
os costumes da época. Traduziu sua admiração diante de uma mu lher que
subia a Rua Chile usando um vestido saco:
A mulher era jovem, alta, pernas longas, vinha dentro dum fantástico
vestido saco, bem caído, bem manjado. Uma obra de arte, a mulher e o
vestido. Era morena do tipo que fica a metade do dia na praia, deitada na
areia banhada de sol, de mar, da gula dos homens. Era tão bonita, tão
apetitosamente bonita de deixar a gente descontrolado. Cabeça de cabelos
pretos, de olhos castanhos, de boca vermelha e carnuda. Os tornozelos mais
que perfeitos, as pernas divinais. E o vestido impecável, maravilhosamente
saco, translúcido, velando a cintura fina e esbelta, mas deixando bem
delineadas as belas ancas flutuantes dentro do vestido que eram mais obra de
arte que o vestido e o resto do corpo.
Era jovem, alta, e morena. E tão suntuosamente bela que como uma
força da natureza requintada pela inteligência e pela coqueteria passou pela
Rua Chile; cada passo era um passo de dança. O andar um bailado inteiro.
Era jovem, virgem talvez, tamanho o fogo que exalava do seu corpo. Passou
deixando a gente terrivelmente nervoso (sic). A pele arrepiada, o desejo
irritado, o coração rugindo, o sangue fervendo.
Morena, alta, pernas longas. O rosto uma fruta irrecusável de tentação.
Passou dentro do fantástico vestido saco, as ancas soltas e flutuantes.
Mulher, ancas e vestido - legítima obra de arte! (21.9.1958).
A beleza feminina foi elemento caro à composição da visão da Rua
para Vasconcelos Maia, que se dizia “sensibilíssimo” aos atributos da mulher.
Talvez por isso não lhe tenha s ido indiferente a beleza de Maria Olivia, a
jovem que passava sob a sua janela, usando saia escura e blusa branca de
colegial , com um “andar suave e elegante, o rosto semi -velado pelos óculos
contra-sol”, que acabou tornando -se Miss Bahia, vindo a ser depo is, no
Maracanãzinho, eleita para representar o Brasil como Miss Universo
(19.6.1962).
De igual maneira, foi sensível à mulher madura da sociedade
moderna – “patrona da cultura social”, detentora de todas as artes dos “livros
do bom-tom”. Ela, brilhando nas rodas sociais, dobrava os homens e
encantava as mulheres com seus atributos, dentre os quais o de “jogar bridge”
como uma campeã, usar vestidos “Dior” e perfumar -se com “Fleur de
55
Rocalle” (26.9.1958). Foi atento à condição feminina na sociedade, lembrand o
que de há muito a mulher havia deixado de ser “objeto possuído ou mãe dos
filhos ou joia de salão”, passando a ter influência política, intelectual, moral
e doméstica tão grande quanto à dos homens (12.8.1960). O cronista não se
esqueceu das meninas “espertas” que iam aos escritórios “vender rifas” em
benefícios de instituições de caridade (12.11.1958).
Curiosa e objeto de curiosidade, a mulher de sardas – uma
mulherzinha pequena, delicada de formas e graciosa de gestos, uma turista
que, mal chegara por aqui, largara as malas no hotel e se pusera no “mundo da
Bahia”, conhecendo gente e perdendo -se nos lugares, um “labirinto de cores e
sol” – foi vista por Vasconcelos Maia nas ruas da cidade. Encantada, ela
contara ao cronista que tinha comprado bugigangas de um velho, mulato e
triste, de voz “doce como uma carícia”, num “beco lindo” cheio de arcos e
quitandas onde vendiam “a civil ização de milênios sintetizada em colares de
contas, molhos de raízes, artefatos de flandres e uma infinidade de objetos de
palha”. Descreveu seu encantamento convertido em surpresa diante da
gentileza do velho, que se recusara a receber o pagamento, dizendo: “Custa
nada não, dona! Não é todo dia que se vê por aqui uma mulher de sardas”
(4.11.1959).
Os namorados, os casais de adoles centes que respondiam às
perguntas em “cadernos de confidências” também compunham a visão da rua
do cronista humanista, bem-humorado, atento ao povo simples que andava na
cidade.
O cronista viu a Rua como um panorama e ateve -se ao indivíduo que
nela transitava. O olhar sobre a Rua Chile, a Praça Cairu, ou sobre as pacatas
ruas do bairro de Monte Serrat despertaram em Vasconcelos Maia certo
“fisiólogo”, levando -o a ocupar-se com alguns t ipos humanos nelas
existentes.
Havia um que entrava nos restaurantes na Rua Chile, portando “a
mais moderna máquina fotográfica a tiracolo”, vestindo um paletó “bem
cortado” e sentava-se à mesa. Enquanto aguardava a chegada da comida, o
homem fazia aparecer de seus “bolsos mágicos”, de seus “dedos de
feiticeiro”, objetos de natureza variada – pulseiras, broches, ouro, prata,
“relógios de virtudes incomparáveis”, lapiseiras “infensas a garrancho que
56
dão até inteligência ao comprador” – , sendo identificado, pelo cronista, como
um “elegante prestidigitador” (4 e 5.10.1959).
Outros, os boêmios, eram tipos que viviam nos bares da cidade
tomando conhaque ou fumando charuto, enquanto “faziam crônica à luz da
lua, empacotando sereno” (4.9.1963), ou, ainda, no bar Castro Alves, defronte
da Igreja da Barroquinha, em plena luz do dia, na s tardes de sábado, bebiam o
Lord Mayor : uísque nacional que “nem se compara ao melhor escocês”,
enquanto faziam versos para a Belle Maryon :
[...] ah! rumbeira de nome castelhano, originária de Jaguaribe, talvez, claro,
claro, és realmente de Buenos Aires, foste convidada para atriz de cinema,
mas adoras o Brasil só pelo Brasil danças em cassinos mambembes, para
bêbados poetas loucos! (21.1.1959).
Uma variante do último tipo era o “boêmio doméstico”, o “excelente
funcionário, melhor chefe de família duran te os dias da semana, ou melhor,
até as oito da noite de sábado”. Após esse horário, tendo feito a feira em
Água de Meninos, abastecido a despensa de casa, ele se tornava um boêmio
doméstico: sentava-se na varandinha de sua própria casa, que podia ser na
Pedra Furada, “deitando vistas para a enseada” e, como num ritual , bebia 24
garrafas de cerveja gelada, “de casco suado, que sua feira hebdomadária
incluía, sendo todas selecionadas – casco verde”. Essa prática não o impedia
de, segunda-feira, “voltar a ser o excelente funcionário e melhor pai de
família” (14.11.1959).
O “Delegado Rafael”, barbeiro de profissão, pai zeloso de filhas
mulheres, tipo saído das memórias de infância do cronista, era morador das
proximidades do Solar do Unhão. Impecável, em sua ro upa branca, dedicava
seu tempo a perseguir e ser perseguido pelos meninos que brincavam e faziam
“artes” nas proximidades de sua casa ou no velho solar, convertendo -se assim
no “delegado do Unhão” (6.4.1960).
Jonas Rojão tinha este nome porque sabia “botar banca” e era do
tipo “funcionário público federal”. Dono de um corpo franzino andava de
braços abertos, balançando como um “caubói” e de uma voz grossa e
autoritária, o que muito lhe orgulhava. Segundo Vasconcelos Maia, para Jonas
Rojão, vereador que tivesse sua voz logo seria deputado estadual, e este,
federal, senador etc., porque sua voz t inha um “rojão danado”. Quando o
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rádio já havia “transviado” a juventude da cidade e fazia os jovens “berrarem
no meio da noite” em suas barulhentas serestas, ele era o último remanescente
de uma nação de trovadores noturnos. Desafiando os vizinhos insones ou
avessos as suas cantigas melosas, ele ficava pelas esquinas, nas noites mornas
da Ponta de Humaitá na amurada perto da praia, com o violão bem afinado e
uma “purinha” no bolso, entoando “lúgubres lamentos, tristes cantigas e
ladainhas de amor” (19.10.1958).
A “Iemanjá dos cabelos verdes” foi um travesti cujo aparecimento
provocou rebuliço nas “ruas católicas” da Cidade Baixa. “A mulher de
cabelos verdes” cruzara as ruas em direção a uma loja de miudezas e
despertara curiosidade e ajuntamento de gente nas imediações da casa
comercial , cujo dono se vira obrigado a chamar “a ronda policial”, que não
encontrou nenhum fato que gerasse uma ocorrência. A presença do corpo d e
bombeiros se fez necessária para a construção de um cordão de isolamento
por onde desfilou:
Uma Iemanjá de duas pernas fortes, morenas, grossas saísse, com seu
vestido amarelo muito justo, levando na mão os objetos comprados, batom e
rouge nas cores da moda, um frasco de perfume e um pente dourado [...]
com um sorriso amarelo, sob as vaias da multidão (12.7.1963).
O Sabidório e o Ladrão , diferentes dos demais tipos que viviam nas
ruas da cidade, foram extraídos pelo cronista das páginas policiais dos jor nais
locais. O primeiro era um “molecote da redondeza” que vendia mercadoria ao
mesmo comerciante a quem roubara. Era um tipo que estava multiplicando -se
na pacata cidade, tendo sido o cronista vít ima de um deles:
Isto me fez lembrar que um tempo atrás fui ludibriado neste mesmo
conto. [...] Por causa da passarinhada cantando tinindo no quintal, deu para
me visitar toda a esperta quadrilha de molecotes da redondeza. [...] havia um,
sobretudo, um sarará de olho de gato, de gestos displicentes e fala macia que
conseguiu insinuar-se e se tornar meu maior fornecedor de passarinhos. [...]
Ele aparecia com um risinho que eu pensava fosse de amizade, de gratidão,
de simpatia. [...] é que vim a descobrir: o moleque, domingo de noite,
entrava no meu quintal, com seu jeito manso apanhava os passarinhos que
queria, dentro do viveiro, e no dia seguinte, vendia-os a quem roubava
(27.11.1959).
Já o Ladrão, segundo Maia, existia em decorrência do desleixo dos
moradores da cidade quanto ao uso de fechaduras nas portas. Este
comportamento facil itava a vida desse novo personagem. Não um larápio
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qualquer, mas um “ladrão fino” que invadia as casas para roubar joias,
dinheiro, relógios e pratarias (29.7.1960).
Para Benjamin (1989), a fisiologia – uma visão do próximo
distanciada da experiência – era uma forma de resolver a “inquietação”
originária da preponderância da atividade visual, típica das relações
estabelecidas nas ruas das grandes metrópoles. Para o cronista, talvez, dupla
função tivesse sua descrição desses personagens: um recurso para atenuar, em
seus lei tores, a inquietude, diante das novas formas de viver e, ao mesmo
tempo, um elemento para representar uma cidade que se modernizava.
Em sua visão de Rua, Vasconcelos Maia traduziu também certo
“choque” ao mostrar a coex istência de padrões modernos e tradicionais nos
diversos modos de viver. Tornou visível o homem comum, seus hábitos, seus
costumes, seu apego às origens. Ele foi visto comprando peixe na esquina na
volta do trabalho, saboreando a moqueca cozida na frigidei ra de barro,
tomando o vinho nacional, o café forte moído em casa, o licor de maracujá.
Gozando o frescor dos jasmineiros na varanda, o perfume das noites baianas.
O cronista agrupou a ruína dos hábitos e dos costumes da antiga
vida, as reminiscências dos seus pregões tradicionais, dos vendedores de rua,
ainda não de todo sucumbidos pela sociedade de consumo.
Em minha rua ainda há pregões. Tem um velho curvo e seco, o corpo
parecendo um nervo só. Seu pregão é como seu corpo: seco. Sempre que eu
ouço tenho a impressão de um disco arranhado:
- Ovos, ovos. Tenho ovos freguês!
O Outro, toda a Bahia o conhece. Só vende abricó. E nem sei como sustenta
a si e ao animal vendendo abricó. Montado no jegue, talvez tão velho quanto
ele, merca com sua voz grossa:
- Abricó! Olha o abricó!
Em tudo quanto é rua que passa, e também na minha, os moleques o
provocam:
- Este jegue não é homem não!! O pobre velho se grena, continua seu
caminho, mas todos os nomes feios do mundo, em português e nagô,
borbotoam de sua boca.
E ainda havia o doce gostoso e dengoso feito de gengibre com ardores
de pimenta, que era vendido pela velha baiana que fazia ponto no Cinema
Itapagipe, chamando os passantes, num convite que lembrava uma prece:
- À moda, olha à moda, vem benzer! (24.12.1958).
A visão dos padrões tradicionais que insistiam em permanecer não
toldava a do processo de modernização da cidade que se dava por meio da rua,
pela avenida, pelo seu tráfego intenso. O crescimento da indústria
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automobilística no Brasil, segundo Carvalho (1999), denunciava a ideia da
industrialização acelerada, então proposta, sendo o automóvel um indicativo
forte da presença da ideologia do desenvolvimento. Assim sendo, os
automóveis e seus nomes não poderiam deixar de constar na temática de Maia:
O melhor automóvel que tive foi um Kaiser 1949. Era forte, possante,
brilhante. Era carro para passeio no asfalto e na estrada. Servia para
distração e para trabalho e quase todas as tardinhas quando eu fechava nossa
loja de miudezas carregava-o de embrulhos, levava-o a tudo quanto é
brocotó desta Cidade [...]
Tive também um Vanguard tipo camioneta, carro trêfego e manejável
do qual me recordo pouco, por pouco tempo ter ficado em minhas mãos, foi
para uma terra onde não havia estrada de rodagem subindo barranco e caindo
em buraco, vencendo pasto, atravessando riacho. [...]
Carro folclórico também tive. E foi o primeiro. E talvez por nele ter
aprendido a dirigir, por ter nele cometido barbeiragens de praxe [...] quem
sabe lá as turras de automóveis?
[...] o pequeno Studebacker [...]
Desde o dia em que entrei nele, não se cansou de me armar patota.
Mas se ele tinha mandinga, meu santo era mais forte. (6.3.1963).
A cidade, a esta altura, já passara por “urgentes medidas” que
buscavam soluções para amenizar os engarrafamentos diários vividos pelos
moradores nos horários de pico. Tinha sido implantado o sistema de “mão
única” na Avenida Sete, assim como a retirada dos bondes da área central ,
proibição do estacionamento na Rua Chile, alteração em itinerários de ônibus,
bem como a sinalização das ruas centrais, fato que se deu em 1958, conforme
relata Carvalho (1999). Por isso, Vasconcelos Maia retratou a rua com um
trânsito caótico e problemas como os engarrafamentos, a inexistência de
táxis, o péssimo estado de conservação dos carros e dos ônibus que
circulavam em determinados bairros, ou que corriam demasiado, pondo em
risco a segurança das pessoas:
Na esquina do Armazém Peri, tomamos um desses lotações a jato,
Ribeira 18, e nos atiramos na aventura do pintacudíssimo chofer que, tanto
nos levaria ao Elevador Lacerda, como para o céu. (10.6.1959).
A marinete vinha cheia, mas mesmo assim consegui me infiltrar entre
a massa suada, vestida, que barrava a porta. Depois de alguma luta, me
firmei, no único centímetro vago e aí heroicamente me mantive, apesar de
todas as tentativas de outros aventureiros que queriam lançar pés nele. Era
depois de meio-dia, todo mundo ansiando chegar em casa. (28.10.1959).
Eu vinha angustiadamente dentro do “lotação”, rezando para chegar
são e salvo ao almoço programado. A angústia não era pelo possível atraso a
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encontro: nunca fui pontual. Nem pela perspectiva de pratos saborosos:
nunca fui guloso. Mas pela antevisão da morte ou do desastre em cada
contra-mão, nos “finos” nas curvas. Felizmente vencemos a primeira etapa.
E o congestionamento do tráfego fez com que o chofer diminuísse a marcha.
(14.10.1960).
Vinha o caminhão subindo a pequena ladeira, acesso da Avenida
Centenário-Bom Gosto do Canela. Vinha o caminhão carregado de areia. O
caminhão era velho demais, estava bom unicamente, para ser jogado no lixo.
Mas continuava pelo meio das ruas, carregando areia em tempo de estourar.
E estourou. [...] precipitou-se sobre a minha casa, rebentou parte da minha
parede e foi esbarrar no outro lado da rua (13.6.1962).
A sujeira das ruas, resultante do “abandono” pela gestão anterior
àquela do momento em que escrevia, causou indignação levando o cronista a
lembrar que a higiene era o primeiro sinal de civilização que uma cidade
podia oferecer. Ele comentou o ingrato trabalho do setor da l impeza pública,
no qual as pessoas lutavam arduamente para devolver “à Cidade do Salvador a
fama de „mais limpa‟ do Brasil”(6.9.1963).
Os problemas da cidade não se limitavam às questões do trânsito ou
limpeza urbana, havia ainda o barulho que incomodava. Modernizando -se, ela
apresentava os sons característicos e surgiam as reclamações sobre o
incômodo provocado pelos ônibus que passavam buzinando e rangendo pneus,
o rádio em seu volume ensurdecedor , alto-falantes que “berravam”, as buzinas
“estridulantes‟, os bondes que “matraqueavam”. A cidade era invadida por
“golfadas de barulho” que entravam pela janela do local de trabalho do
cronista, dificultando a concentração necessária ao exercício de sua lida
diária (8.5.1963).
Indicativo da existência de uma incipiente indústria cultural
(ORTIZ, 2006), uma das “provas concretas de que a mentalidade do
desenvolvimento atingia a Bahia” (CARVALHO, 1999, p. 99), o rádio, que já
se havia incorporado aos hábitos dos moradores da cidade, foi visto por ele
como algo que não apenas “transviava a juventude” por meio do rock , mas
podia oferecer “coisas interessantes”. Referia -se o cronista aos programas de
reportagens com a participação dos ouvintes, que foram idealiza dos por
Darwin Brandão e Polito, dois jornalistas que:
Acompanharam os tempos: seriam repórteres de rádio e televisão.
Fariam suas reportagens para rádio-ouvintes e telespectadores. [...] Numa
rádio local irradiavam o encontro com perguntas à queima-roupa, sem
ensaio. Foi sucesso. Aprovado pelo público e pela Real, o programa
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estendeu-se até Porto Alegre. Sucesso idêntico. Passou a Belo Horizonte.
Chegou a São Paulo. Hoje está também na Bahia. (18.9.1959).
Por seu turno, a televisão, aspiração de consumo, chegava à cidade,
provocando reações diversas, mudanças nos hábitos e rebuliço na vida das
pessoas:
Para desespero de meus filhos, não tenho televisão. Ficam indóceis, as
terças e sábados só vão dormir depois de assistirem os patrulheiros Toddy e
Roy Rogers, no aparelho de algum vizinho. Quanto a mim, ocupo minhas
noites em viver um pouco mais ou ainda, lendo ou escrevendo! (16.6.1961).
Não sendo ainda possuidor do moderno aparato, o cronista bancava
o “televizinho”, convertendo -se, rapidamente, à novidade. O motivo era a
programação “com função educativa”, “para adultos”, apresentada pela TV
Itapuã. Eram dois programas de debates, um com Thales de Azevedo e outro,
denominado “Bahia. .. t radição e mistério”, destinado a “divulgar para os
baianos as histórias e as belezas de sua terra” (16.6.1961).
Atitude “moderna”, os novos hábitos urbanos foram vistos por
Vasconcelos Maia, que mencionou, dentre outros, o banho de mar, ou de bar,
aos domingos. Segundo ele, mesmo o “católico praticante”, morador à beira -
mar, reunia os amigos para um “vibrante banho”, cuja programação começava
com “missa na capelinha” e depois prosseguia, “nada católico embora muito
respeitoso e doméstico”, com as famílias deliciando -se na praia, as mulheres
fofocando na areia e os meninos t raquinando em torno. Voltando para casa,
almoçavam os meninos e as senhoras, enquanto os homens pegavam o “ Drurys
amigo” e prosseguiam o “banho de bar” (29.3.1962).
Ainda com respeito aos novos hábitos dos moradores da cidade,
Vasconcelos Maia demonstrou p reocupação com as programações noturnas
nela oferecidas. Elas variavam entre leitura, cinema (costume já arraigado do
baiano), concertos na Reitoria da Universidade da Bahia, passeios a pé para
desfrutar o frescor do clima e os perfumes da cidade, uma volt a de canoa na
lagoa do Dique ou na Ribeira, televisão, visita ao Museu de Arte Moderna, ou
uma ida ao teatro (16.06.1961).
Dentre os hábitos cosmopolitas, o cronista comentou ainda o
costume de sair à noite para dançar, o uso de bebida alcoólica, de origem
nacional, nas rodas sociais, além da frequência a boates. O “Anjo Azul”, a
mais original do Brasil, a “Clock”, na Gamboa, com sua bela paisagem, a do
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Hotel da Bahia, além da “Rosa Vermelha” no Beco do Mingau, segundo ele,
eram frequentadas sobretudo por jornalistas e intelectuais da época (24 e
25.04.1960).
Essa visão das Ruas apresentadas por Vasconcelos Maia denunciava
as mudanças e permanências que se processavam na pacata cidade do
Salvador, enquanto anunciava um novo estilo de vida que se impunha em
decorrência de uma onda de modernização social e cultural .
3.2 NA BAHIA , É FESTA O ANO INTEIRO
É riquíssimo o calendário de festas populares da Bahia. O ano todo,
essas festas se desenvolvem, tornando o ano inteiro uma festa só. Uma só
festa que exclusivamente na Bahia pode haver e unicamente a Bahia pode
oferecer. Em qualquer mês, em quase todas as semanas, às vezes numa
semana corrida de fio a pavio, ocorrem festas populares na Bahia. Festa de
branco, festa de negro, festas de ricos e pobres, festas de católicos e nagôs,
festas oficiais ou não. [...] O ano inteiro em festas, o ano inteiro na Bahia é
uma grande festa. (10 e 11.11.1963).
Oriundas de simples promessas a um santo protetor, repletas de
misticismo, ou provenientes de mera brincadeira, as festas ocorriam
frequentemente. Democráticas, segundo o cronista, genuínos festejos
populares, nelas não havia distinção de raça, credo ou condição social . Tendo
como palco as igrejas, os terreiros, o mar o u terra firme, sua origem
remontava à tradição longínqua. Às vezes, depois de tantos séculos, eram
fidelíssimas às suas raízes, outras, eram festas novíssimas, de improviso, mas
que cedo alcançavam o gosto popular, ganhando foros de permanência. Festas
de esbaldar, sacrílegas ou religiosas atestavam o gosto baiano por essa
manifestação lúdico-religiosa e aconteciam nos bairros tradicionais da cidade.
O calendário festivo da Bahia, retratado nas crônicas de Maia, era aberto, no
mês de janeiro com a Procissão do Senhor dos Navegantes.
A mais bela procissão que se pode ter notícia, procissão com todas as velas
dos saveiros do Recôncavo - quando, de braços abertos o Senhor dos
Navegantes passeia, abençoando as águas azuis da baia. (10 e 11.11.1963).
Segundo o cronista, a história da origem dessa festa possuía várias
versões, uma delas talvez tenha sido uma promessa feita ainda nos tempos dos
navios negreiros por um comandante que, surpreendido por uma tempestade
que lançara no mar seu mastro e partira seu leme, desesperado, prometera ao
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Senhor dos Oceanos, caso viesse a ser salvo, realizar uma procissão. A outra
versão, o cronista buscara no livro de Silva Campos, Procissões Tradicionais
da Bahia , que acrescentava, apenas, o fato de que seus instituidores foram o s
capitães e devotos dos navios que faziam o tráfego entre o Brasil e a Costa da
África (30.1.1959). Com roteiro variando ao longo do tempo, a procissão que
termina em Boa Viagem permanece na agenda festiva baiana, no tempo do
cronista, sem perder seu brilho e beleza.
[...] se perdeu o furor da devoção, permaneceu em beleza plástica, no
colorido das velas brancas contra o verde do mar e o azul do céu. (1º.
1.1964)
Na sequência vinha o festejo dos “Ternos” de Reis para abrilhantar
as ruas da cidade. Ao esboçar o roteiro da festa de cunho religioso, que se
desenrolava do Terreiro à Lapinha, passando pelas Portas do Carmo, Largo do
Pelourinho, Taboão, Ladeira do Carmo, Cruz do Pascoal, Ladeira do
Boqueirão, Adobes, Quitandinha do Capim, Perdões, São José de Cima, Largo
da Soledade, Corredor da Lapinha e finalmente Largo da Lapinha,
Vasconcelos Maia vai delineando a configuração da cidade com seus bairros
tradicionais. Esse festejo teve sua história narrada pelo cronista que falava
em estandartes, lanternas, guirlandas, charangas, coretos, roupas coloridas,
vidrilhos e lantejoulas, e conclamava a população a contribuir para o seu
brilhantismo:
Desde 1949, ano das comemorações do quarto centenário da Cidade
do Salvador, que os ternos e ranchos de Reis não saem às ruas da Bahia para
adorar, no Largo da Lapinha, o nascimento do Menino Jesus. Dois ou três
teimosos, mais ciosos de sua responsabilidade na tradição local, depois de
muito esforço, não deixaram de cumprir sua tarefa [...] estão todos
contribuindo no sentido da noite do dia 5 e dia 6 sejam inesquecíveis para o
povo baiano e para os que atraídos pela beleza de nossas tradições, procuram
nossa terra. (3 e 4.1.1960). Aproxima-se o dia dos Santos Reis. E a cidade já está preparada para
comemorá-lo. Com os festejos da véspera de Reis voltarão os “ternos” e os
“ranchos” a abrilhantar as ruas da cidade. Já tiveram dias gloriosos, já
atingiram raro esplendor esses “ternos”, esses “ranchos” [...] Como no ano
passado esses grupos voltarão às ruas da Bahia. Enternecerão os baianos das
gerações mais velhas, comoverão as gerações mais novas [...]. (4.1.1961)
Viveu a Bahia memorável véspera de Reis neste ano de 1961. (8 e
9.1.1961).
Os ternos de Reis vão de novo voltar às velhas e novas ruas da cidade
do Salvador da Bahia. Os ternos de Reis que os saudosistas severos acham
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que nunca estão como nos tempos antigos, vão novamente desfilar no asfalto
da Rua Chile, nas pedras cabeça-de-negro do Pelourinho, nos
paralelepípedos da Lapinha, nos barrancos de seus bairros. Há dez anos se
dizia que os ternos e ranchos tinham morrido. Que o progresso, cinema,
rádio, luz elétrica, a trepidação da vida moderna, aliados à carestia, ao
desinteresse dos “poderes públicos” e outros lugares comuns tinham
liquidado estes ternos e ranchos que antigamente enchiam de encanto, de
música, de danças e lanternas a Praça do Palácio, o Largo da Lapinha, o
Adro do Bonfim, a Ponta da Penha. (5.1.1962).
Como nos últimos anos, alguns desses grupos voltarão hoje às ruas da
Bahia. Enternecerão os baianos das gerações mais velhas, comoverão as
gerações mais novas [...]. (5 e 6.1.1964).
De acordo com o calendário festivo, em seguida era a vez de todas
as iaôs dos candomblés e as fi lhas -de-Maria, vestidas de branco, curvarem -se
diante do Senhor do Bonfim. Era a famosa lavagem do Bonfim, festa que,
segundo o cronista, naquela época, não tinha fenecido, mantinha -se viva
dentro do espíri to e da alma do povo, embora tivesse sofrido, ao longo do
tempo, algumas modificações. Com suas carroças, aguadeiros, cavaleir os,
baianas, a procissão partia da Conceição indo até o Bonfim, com o povo
entoando cânticos, clarins retinindo nos ares, foguetório pipocando e
belíssimas baianas de branco, sinal de “puro luxo”, levando flores e perfumes
para render graças ao Senhor do Bonfim, que recebia de braços abertos pretos
e brancos, ricos e pobres, pois todos são iguais, são filhos de Deus.
Depois da Lavagem do Bonfim, era a vez da festa sacrílega, festa de
se esbaldar, a Segunda-feira da Ribeira, da qual, segundo Maia, todos os
cronistas que se ocupam das tradições da Bahia devem conhecer a origem.
Segunda-feira da Ribeira! Uns chamam-na também Segunda-feira
Gorda. Mas antigamente era conhecida como Segunda-feira do Bonfim.
Qual a sua origem? Todos os cronistas que se ocupam das tradições da Bahia
sabem como a “Segunda-feira da Ribeira” começou. E apesar de ter hoje um
cunho eminentemente carnavalesco, foi um ato religioso quem a deflagrou.
A guerra do Paraguai tinha terminado. Muito macho morrera, muito sangue
se derramara. Dos que conseguiram escapar, estava o cabo dum Corpo de
Voluntários. Chamava-se Pero Luciano das Virgens e era homem de religião
e fé. Inscrevera-se por vontade própria, fora para a guerra, mas não queria
morrer. Entregou a alma e o corpo ao seu santo. Senhor do Bonfim o ouviu.
E graças aos seus milagres o cabo Pero Luciano conseguiu enganar a morte,
nas sortidas sangrentas, nas emboscadas quase fatais, nos combates de
centenas de perdas para as forças brasileiras.
Retornando à Bahia, mais que depressa, o bravo cabo quis pagar sua
promessa. Botou seu equipamento nas costas e marchou para o Bonfim.
Chegando ao Largo do Papagaio acampou. Armou sua barraca de campanha
e ajoelhando-se rezou, de frente para a igreja do Bonfim. Com os anos,
outros devotos atingidos pelos milagres do Santo bondoso, imitaram o cabo
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Pero Luciano. E depois das orações, os folguedos começaram. Desde então o
número dos que vão render graças ao Senhor do Bonfim tem aumentado de
ano para ano. Cresceu tanto que se foi estendendo para a Madragôa, daí para
os Tainheiros e para a Ribeira. Com o correr dos tempos as barracas dos
crentes foram substituídas pelas tendas de comidas e bebidas. E beatos
viraram foliões.
A Segunda-feira da Ribeira é o primeiro grito de Carnaval na Cidade
do Salvador. Mas um grito de carnaval bem baiano, bem popular, bem
colorido. Muito mais regional do que os carnavais de clubes, de rua Chile, de
Avenida Sete. Junto ao mar, alimentado por azeite e dendê, o Carnaval da
Segunda-feira da Ribeira vive de animação do verdadeiro homem do povo
que, com suas cabrochas ardentes, dança e canta legítimas peças locais, nos
gostosos sambas de rodas, nos cordões frenéticos, nas batucadas angustiosas,
na capoeira de Angola. Com chapelões de palha sobre os olhos, roupas
coloridas, flechas nas mãos, e muita energia no corpo, o baiano de verdade,
filho legítimo do Senhor do Bonfim, mantém firme, embora
carnavalescamente a fé católica do cabo Pero Luciano, que nunca supôs na
vida iniciar uma tradição. (28.1.1959).
O mês de fevereiro foi ass im descrito por Vasconcelos Maia:
[...] um mês com rosas, perfumes, joias à mãe d‟água. E bandos de festas no
Rio Vermelho, e logo após um carnaval extraordinário que leva setecentos
mil habitantes às ruas sentadinhos nas cadeiras de beira de calçada ou
pulando, gritando, cantando ao som de tamborins, cuícas e baterias. (10 e
11.11.1963).
Durante o mês do “presente -à-Mãe-d‟Água”, do “dois-de-
fevereiro”, várias manifestações do festejo das oferendas àquela que habitava
no fundo do mar aconteciam na cidade . As mais famosas eram a do Rio
Vermelho e a de Itapuã, no entanto, segundo o cronista, a festa do Dique do
Tororó ressurgia com beleza e brilhantismo. Era a manifestação daquilo
nomeado por Vasconcelos Maia como “surpreendente avareza do povo baiano,
em guardar suas tradições”. Ela fazia ressuscitar festejos asfixiados pelo
tempo “com a pureza de nascença, imbuídos da influência natural do tempo”,
mas sempre com a „autenticidade comovente e força espantosa‟. Era neste
clima que ressurgiam os festejos de No ssa Senhora da Luz, na Pituba, com
direito a lavagem do Adro da Ermida, no dia 8 de fevereiro, procissão
terrestre com “banda de música, foguete, incenso e padre distribuindo
bênçãos”, no dia 11, e, no dia 12, a “força e beleza” da procissão das
jangadas. (27.1.1962).
Em março, o povo baiano ia às ruas ajoelhar -se à passagem do
Senhor Morto, part icipando das festas religiosas da Semana Santa. Nessa
ocasião, o “Senhor dos Passos e a Senhora das Dores encontravam -se no
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Terreiro de Jesus, antecipando a paixão de Cristo”. Depois desse evento, a
população, “de luto”, refletia. Segundo o cronista, “até no grande sacrifício
expande-se o gosto do povo baiano pelas festas”, pois se abstendo da carne o
baiano “banqueteia-se nos pratos dourados de dendê” e depois, est ourando em
aleluias, queimava o Judas .
Sucediam-se outras festas católicas como a do padroeiro da cidade,
São Francisco Xavier. Na Quaresma, o Espíri to Santo era celebrado no Santo
Antônio do Além Carmo, coroando um rei menino e soltando sentenciados,
depois a Ajuda e a Sé cobriam-se de pétalas de flores para a festa de Corpus
Christi .
Em junho, precisamente no dia 29, os atabaques ressoavam abrindo
o ciclo dos “mais puros candomblés” baianos. Antes disso, porém, as
mocinhas casadoiras louvavam Santo Antônio e a cidade envolvia -se na
“cortina de fumaça” dos “já proibidos” fogos de artifícios e fogueiras de São
João, aguardando as festas de São Pedro que coincidiam com as de Xangô.
Chegando julho, era a hora de festejar os heróis da Independência
da Bahia e de louvar São Cristovão. O cronista anunciava que, identificada
com Nossa Senhora de Santana, Nanã era festejada “sempre no primeiro
domingo depois do dia 26 de agosto”.
A partir de setembro, os bons católicos tinham os olhos “voltados
para a lírica Erm ida da Ponta de Monte Serrat”, pois Nossa Senhora de Monte
Serrat visitava sua “irmã da Conceição”, a Casa Branca do Engenho Velho
festejava Oxalá e Cosme e Damião comiam caruru fazendo pândegas. Exu era
festejado com azeite e os Oguns rodopiavam em combat es. Omolu fazia festa
de saúde e pipoca, Oxum, de “mãos dadas com Iansã”, dava festa de luxo e
beleza.
Chegando dezembro, na igreja, nos terreiros e “em seu mercado da
Baixa dos Sapateiros”, Santa Bárbara festejava sua data. Em seguida, diante
do mar e da Igreja da Conceição da Praia, acontecia a festa das frutas e das
comidas baianas que se seguiam àquelas “do incenso”. Santa Luzia do Pilar
pedia olhos agradecidos, enquanto a cidade preparava -se para um Natal que,
enfeitado com “tantos presépios, tantas m issas de galo, tantas igrejas e tantos
sinos tocando” tornava -se sem igual no mundo.
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Sustentando que o “ano inteiro na Bahia é uma grande festa”,
sucediam-se as descrições das festas e dos festejos com as quais Vasconcelos
Maia compunha um mosaico colorido e brilhante.
Ganhando destaque especial , próximo às festas populares, o
Candomblé teve suas celebrações descritas enquanto o calendário dos ciclos
das festas religiosas africanas na Bahia era mostrado aos leitores :
O dia 29 de junho marca entre nós a abertura oficial dos grandes
candomblés baianos. É o início de seus calendários, dos ciclos anuais que
vão até outubro. E até outubro raríssima é a semana que não ocorrem duas
ou três festas nos candomblés espalhados pelos morros e pelos vales da
cidade “que tem um cinturão de atabaques a rodeá-la”. O dia 29 de junho
abre para o público, para seus adeptos e visitantes, os terreiros dos grandes
candomblés kêtos, quase todos homenageando Xangô, o violento, o
voluntarioso e varonil orixá das tempestades. E os espaços se enchem do
batuque dos atabaques, da melodia de cantos iorubanos, da doçura das rezas
em nagô.
[...] Três domingos são dedicados a Xangô e o primeiro é embelezado
pela “fogueira de Airá”. Airá é o digno príncipe, filho querido de Xangô, e
seu amigo mais fiel. [...] Nas festas que os candomblés ortodoxos permitem
ao público, a dança da fogueira de Airá é dos mais lindos, dos mais
dramáticos, dos mais emocionantes. Ao chamado frenético dos toques da
alujá, o orixá acorre veloz como o raio e como o raio precipita-se e toma
suas filhas que daí por diante, passam a ser o próprio Xangô [...] (1º.
7.1959).
O cronista descreveu detalhadamente a coreografia, as roupas, os sons
das festas dedicadas aos diversos orixás, bem como as “casas” existentes na
cidade, sua localização e seus responsáveis.
[...] Quatro filhas-de-santo eleitas de Omolu, Oxum e Nanã fizeram
anos de consagradas aos orixás; e os atabaques de São Gonçalo do Retiro
elevaram seus toques às estrelas festejando o acontecimento. [...]
Hoje, ainda fora do calendário, de novo, bichos de dois pés serão
imolados na alvorada, padê se rezará para Exu antes que o sol se esconda, e,
na noite misteriosa e alegre, outro Obá se confirmará no nobre posto da
hierarquia real dos servidores de Xangô. É o poeta e ensaísta Antonio Olinto,
[...] do Rio, de muitos estudos sobre a religião dos negros baianos, que veio à
terra-mãe beber a seiva da certeza, que veio à terra-mística tocar a testa no
chão. Nos altos de São Gonçalo do Retiro os atabaques repicarão alujás e
ijexás, os orixás acorrerão para dançar diante de Senhora e o novo Ossi Obá
Aré, digno braço esquerdo de um dos doze ministros de Xangô, patrono da
casa Aché do Opó do Afonjá. (29.07.1959)
Nos altos do Bogum, no topo de uma ladeira quase inexpugnável,
protegida pelos difíceis caminhos, do engenho Velho de São Gonçalo, fica a
“casa” do candomblé de dona Valentina. [...] da nação gege, cujas raízes se
perdem no passado nobre e longínquo. Apareci por lá nestes dias de chuva e
frio, levado pela curiosidade das possíveis diferenças de liturgia africana e
68
pela perspectiva de festa bonita. Três “iaôs” iam sair, iam dizer seus nomes.
(24 e 25.07.1960).
15 de agosto foi um dia de gala no calendário das destas africanas na
Bahia. Pois, Olga, filha de santo de finada Dionísia, fez aniversário. Não
simplesmente aniversário natalício. [...] Olga de Alaketo completou 25 anos
de consagrada “iaô”. De “feita” filha de santo. [...]
Do coração de todos surgiu uma só saudação:
EPARREI! Iansã! (17.8.1960).
Uma das melhores “casas” de candomblés existentes na Bahia é a de
dona Maria Escolástica da Conceição Nazaré, ou como é mais conhecida,
Menininha. Fica no fim de linha de ônibus do bairro da Federação, num
lugar chamado Gantois. O candomblé de Menininha do Gantois, de nação
keto, é bem fundamentado. Suas festas sempre são notáveis pelos preceitos a
que obedecem, pela disciplina que reina, pela alegria que dali se expande,
pela beleza das músicas, das danças, dos cantos, das roupas. E também pela
hospitalidade com que se é recebido e tratado. Uma das festas mais bonitas e
grandiosas do calendário de Menininha do Gantois é a dedicada a Nanã,
sempre no primeiro domingo depois do dia 26 de agosto. Nanã forma com
Iemanjá e Oxum, a trindade dos orixás das águas. (19.8.1960).
O PRESENTE-À-MÃE-D‟ÁGUA mais conhecido, mais famosos de
quantos se fazem na Bahia, é o de dois-de-fevereiro, no Rio Vermelho, e em
Itapuã. No entanto, igualmente belo, embora menos divulgado, é o presente-
à-mãe-d‟água do Dique. Estou escrevendo esta crônica uma hora antes de ir
ao candomblé de Olga, no Alaketo, para assistir à sua festa de Oxalá. Estou
chegando agora do Dique, onde, no saveiro Vitória, acompanhei o
movimento e a execução do presente à mãe d‟água do povo daquelas bandas.
Foi um dia primeiro repleto de excelentes emoções [...] Oraieieô!(3.1.1962).
O assunto candomblé despertava o interesse dos leitores, cujas
“oportunas perguntas” eram respondidas por um cronista que o conhecia
profundamente. Aflitos, queriam saber como se portar naquele novo ambiente:
Várias cartas me chegam pedindo informações sobre o candomblé. E
se vou nos [sic] candomblés, se gosto deles, se entendo seu ritual. Se
distingo os toques, as danças, os “orixás”. Eu vou muito aos candomblés.
Não só agora, por ocupar um cargo no qual são importantes as relações com
os candomblés baianos. No começo não conseguia entender o seu ritual. Mas
desde cedo gostei de tudo o que via. O seu colorido, a sua coreografia, a sua
música, impressionaram-me logo. E só com o tempo, a convivência dos
entendidos, mantendo conversas com os babalaôs e ialorixás, é que vim a
notar as diferenças dos toques, dos cânticos, das danças e dos gestos.
[...] É sem conta o número de “casa” de candomblé na Bahia. E em
crônicas futuras contarei outras coisas sobre esta religião que hoje não é só
dos pretos africanos, mas de muito branco também (12 e 13.6.1960).
Nas crônicas Como proceder num Candomblé (31.8.1960), Como
proceder num Candomblé II (1.9.1960) e Uma Festa de Candomblé
(5.10.1960), a promessa do cronista foi cumprida e seu leitor pode contar com
69
um verdadeiro manual de instruções para frequentar as “casas” de candomblé
na Bahia.
Com títulos modificados, ampliadas ou não, essas crônicas foram,
posteriormente, publicadas no livro ABC do Can domblé, no qual, referindo-se
à época em que “escrevia para as gazetas”, o cronista apresenta essa prática
religiosa como um “assunto constante” e de grande interesse para o leitor de
então. Frequentador das “Casas de culto” desde os 22 anos, tendo o “pai
Cosme” como seu primeiro mestre, confessa ter sido levado mais tarde, pelo
amigo José Pedreira, ao Axé Opô Afonjá. Neste local , soube que Oxalá era o
“dono de sua cabeça” e que também tinha parte com Xangô. Aqui, recebeu de
Senhora, a ialorixá de quem se t ornou amigo, o tí tulo de “Otum Oju Obá”,
que se traduzia como “braço direito de um dos 12 ministros de Xangô, Oju
Obá”. No caso, tratava -se de “Pierre Verger, um tipo notável [ .. .]”. O cronista
explica que a posse desse título conferiu -lhe a competência para divulgar o
calendário das festas públicas do Axé Opô Afonjá, “abstendo -se de fazer o
mesmo com o das outras Casas” (MAIA, 1985, p. 16 -18).
Vasconcelos Maia, ao descrever as festas e a disponibilidade do
habitante da cidade para os festejos em sua crônic a jornalíst ica, promove a
difusão de uma experiência mediada por um meio de comunicação de massa,
alimenta a imaginação dos seus leitores que se abrem para as possibilidades
por ele sugeridas e, dessa forma, reordena a tradição existente na cidade,
oxigenando-a, dando-lhe novo vigor. Por meio de seus relatos, o cronista
baiano proporciona novas formas de pertencimento e identidade.
3.3 SE NÃO FOR GENTE BOA , É COISA
Outro dia um leitor, muito leitor, me pegou na rua para se queixar que
eu estava escrevendo demais sobre gente e menos sobre coisas. Este leitor
possivelmente é dos que apreciam anedotas. Não é sempre que a gente está
disposta a contar anedotas. Lhe expliquei isto, acrescentando que, por outro
lado, escrevo muito sobre gente porque gosto de gente. A melhor coisa do
mundo é gente. Gente boa. Mesmo porque gente ruim pra mim é coisa (13 e
14.08.1961).
Intelectual de seu tempo e apaixonado por “sua terrinha”,
Vasconcelos Maia pôde se ocupar, de igual maneira, com o homem do povo
que vendia peixe nas bancas próximo ao Forte de São Pedro, com D. Bertolina
70
e seo Colatino, zeladores da Igreja de Monte Serrat , com a professora
aposentada da escola pública, com a boa negra Maria de São Pedro e com a
dona da barraca Santo Antônio – Arlinda, a cozinheira que tornava a “vida
rica para os pobres”, seus fregueses habituais. O contínuo atrapalhado que
atuava no jornal, os políticos das várias esferas do governo, os jornalistas, os
estudantes, os artistas e intelectuais, todos estiveram igualmente presentes em
seu “canto de página”.
Vasconcelos Maia mostrou, rigorosa e atentamente, os elementos
que traduziam a ideia de uma cidade vivendo um momento descrito por Maria
do Socorro Carvalho como:
[...] os anos dourados da Bahia, foi um período em que a smart society
esteve na Krista da onda. Ou seja, um determinado segmento da população,
uma classe média alta, próxima à elite econômica baiana, composta por
profissionais liberais, políticos, intelectuais, professores e estudantes
universitários destacou-se por suas preocupações em inteirar-se do mundo e,
principalmente, integrar-se ao mundo civilizado. Eram esses os
frequentadores de duas colunas sociais – Smart Society, do vespertino
Estado da Bahia, e Krista, do matutino Diário de Notícia, ambos os jornais
pertencentes aos Diários Associados de Assis Chateaubriand – e principais
responsáveis pelas discussões que iriam orientar e refletir as transformações
que ocorriam em Salvador. (CARVALHO, 1999, p. 96).
Também a coluna jornalíst ica de Vasconcelos Maia era
compartilhada por este segmento da população que seria o elemento
constitutivo da representação da cidade moderna, afeita às questões culturais,
que definia sua vocação turíst ica e o sonho de tornar -se a capital cultural do
Brasil.
É como testemunha que Vasconcelos Maia narra a aurora da
renovação modernista das artes plásticas, das letras, do teatro e do cinema
baianos. O mundo das artes se delineia nas crônicas de Vasconcelos Maia com
um dinamismo bem peculiar. Desvendando suas cortinas, no contato estreito
com as pessoas que dele faziam parte, sustentando que a pintura era uma das
“poucas vocações artísticas aqui bem realizadas” por contar com nomes
expressivos, o cronista deixa perceber vestígios de um passado com o qual
este mundo não conseguia romper. As relaçõ es de favoritismos, preferências,
preconceitos, apesar da existência da roupagem moderna que tentava
escamotear sua presença, insistiam em aparecer no campo das artes, das
letras, do teatro e do cinema. O campo art ístico mostrava -se pouco receptivo
71
à entrada das mulheres e apresentava ambivalência em seu ordenamento. Ao
tempo em que se abria, acolhendo em seu seio art istas dos mais diversos
lugares, este campo virava as costas para alguns dos seus talentos, obrigando -
os à migração para o Sul em busca do rec onhecimento.
Na tentativa de configurar o desenvolvimento de uma indústria
cultural e artística na Bahia, Vasconcelos Maia se ocupou com uma elite
composta por artistas e intelectuais, part ícipes ativos do seu processo de
transformação social e cultural po r meio das obras que realizavam cada um
em seu campo de atuação. Com muitos deles, compartilhava, além do hábito
de frequentar a porta da Livraria Civil ização Brasileira, na Rua Chile, no
intervalo do almoço e no final da tarde, a experiência da atuação em
movimentos culturais diversos desde a participação no “Caderno da Bahia”.
Esta elite intelectual marcou presença na coluna Dia Sim, Dia Não,
mobilizando o olhar, a inspiração e os mais diversos sentimentos do cronista,
que transformou seu espaço no jornal em verdadeira galeria de artistas e
intelectuais.
A crônica inaugural dessa galeria composta por Maia já era em si um
elemento tradutor daquele momento cultural vivido pela cidade que recebia
visitantes ilustres. O primeiro intelectual a passar pela pena do cronista, fato
que se deu logo após a sua estreia no matutino, foi Aldous Huxley, por ele
referido como o gênio . Tendo ido recepcioná-lo no aeroporto, escreveu a
respeito:
Profundamente emocionado, gaguejando palavras digo-lhe algumas
besteiras à guisa de boas vindas. Velho, mas nem por isso alquebrado, a
cabeleira quase branca, alto e descarnado me parece, não tenho vergonha de
confessar, um ente superior, um ser mais que humano. Tão acima de mim
que possivelmente não me ouve, não me vê, nem me entende. (24.9.1958).
Na sequência das crônicas pesquisadas, essa galeria foi se
configurando com personalidades do mundo das artes ou das letras baianas,
cujos talentos despertaram admiração do cronista, que delineou as
particularidades do campo artíst ico da Bah ia de então – o obscurantismo, o
protecionismo, a sua configuração. Dentre os nomes de artistas das tintas e
pincéis, e ainda dos cinzéis, que desfi laram pela galeria de Maia estão:
Rubem Valentin, Hélio Basto, Sante Scaldaferri , Jenner Augusto, Carlos
Bastos, Carybé, Mário Cravo Júnior, além das mulheres pintoras – Lygia
72
Milton, Maria Célia. O trabalho, a evolução artística e as qualidades pessoais
de cada um foram comentadas com admiração, respeito, carinho e orgulho:
Rubem Valentim [...] Eis outro caso singular no panorama das artes
baianas. Originário de família humilde, excelente estudante em todos os
cursos por onde passou. [...] A sua pintura era única na Bahia. Abstrata e por
isto mesmo incompreendida e difícil de aceitar-se. Fugia dos cânones da
pintura habitual, paisagística, figurativa. Combatido por muitos, sabotado
por outros, até mesmo ridicularizado por despeitados, ignorantes ou pobres
de espírito, que não sabiam, não podiam ou se recusavam a aceitar seu
vigoroso temperamento artístico.
[...] quando a Bahia se lhe insuportável pela ausência de oportunidade
de ganhar o seu próprio sustento com algum trabalho correlato à sua
vocação, ele não se dobrou e nem quis se adaptar aviltando seu ideal.
Emigrou. Jogou-se para o Rio de Janeiro [...]. (10.10.1958).
Hélio Basto é um pintor muito jovem, mas de uma maturidade
artística que surpreende. Mora na Ladeira de São Roque, num velho sobrado
de janelas com guilhotinas, onde tem seu atelier aberto para os telhados
marrons da Barroquinha. [...] Com Hélio Basto moram seus quadros – que se
amontoam pelo chão, sobem os móveis, trepam as paredes, moram também
seus gatos, dez a quinze gatos [...]. (6.5.1959)
Há muitos anos, no tempo em que os comunistas faziam comícios,
assisti uma cena que jamais esquecerei. Era nas escadarias d‟A Tarde [...]
E sem receio de receber a sobra gritava:
- Por que vocês só batem neles?... Por que não surram também os
filhos dos deputados, o filho do milionário, o filho de família?
Era Sante [Scaldaferri] já meio careca, [...], magro e frágil no meio
dos milicos, Quixote inútil contra os moinhos de vento.
- É louco! Pensei comigo mesmo. Mas era um romântico. Romântico
que continua até agora.
[...] Romântico nos desenhos e na pintura [...] Romântico nas centenas
de amores de todas as cores que já teve. Romântico na lenta, mas segura
evolução pictórica que seu talento lhe levava. [..] Sua atual fase madura e
excelente que vai expor no dia 23, no Museu de Arte Moderna da Bahia.
(20.5.1961).
Hipocondríaco até a raiz dos cabelos, os olhos azuis bem fundos nas
órbitas cavadas, contador de zebrumes que nem Carybé, [...] é assim Jenner
Augusto, um dos mais legítimos “cabras da peste” que conheço. Pintor de
grandes recursos expõe no momento, belíssimos guaches na Galeria Manuel
Quirino. [...] É um autêntico profissional da pintura, uma das poucas
vocações artísticas bem realizadas na Bahia. [...] Depois de vários títulos
invejáveis e honrosas “Medalhas de Ouro” [...] com trabalhos espalhados
pelos quatro cantos do mundo, o reaparecimento de Jenner Augusto, em
plena fase de amadurecimento, é dos acontecimentos artísticos mais
importantes deste ano, dos mais brilhantes para as artes da Bahia.
(13.3.1963).
[..] dei com os costados no esplêndido palácio da Jaqueira que o pintor
baiano restaurou e lhe conferiu nobre e digna serventia. Ainda se
restabelecendo do acidente sofrido no rio de Janeiro, no qual se salvou por
milagre [...] O traço fundamental da personalidade de Carlos Bastos sempre
73
foi uma integridade intelectual a toda a prova e, como consequência desta, o
esforço pela pesquisa, o interesse pelo estudo, a constância no trabalho.
[...] Juntando mais esta exposição à sua série, vasta de legítimos
triunfos artísticos, confirma Carlos Bastos também a sua reintegração na
vida e participação de suas lições. (19.7.1963).
É um grande prazer que a gente sente quando assiste um amigo
ascender em qualquer digna profissão que abraça. Que abraça só, não. Que a
vocação lhe ordena seguir. É o caso de Lygia Milton.
[...] a primeira exposição de Lygia Milton era a de uma senhora
inteligente e habilidosa, com algum pendor artístico, a mostrar seus dotes
razoáveis a um grupo limitado de amigos. Hoje, porém o meu pensamento se
modificou. O que encontrei na Galeria foi uma pintora. Uma pintora ainda
não plenamente realizada. Mas, absolutamente pintora. (10.e 11.3.1963).
Os jornais trazem a notícia de que a pintora Maria Célia voltará a
expor na Bahia, sua terra natal. É uma notícia agradável para aqueles que,
como eu, admiram a excelente artista e vem acompanhando com vivo
interesse o seu trabalho. (4.9.1959).
[...] Gente boa, por exemplo, sobre a qual sinto prazer em me referir,
em escrever, em dar notícia é Maria Célia. A que soube querer, a que tinha
querer, a que estudou, a que se tornou uma das melhores pintoras da Bahia...
(13 e 14.8.1961).
Venho de uma excursão pela Baía de Todos os Santos, depois de
visitar pelo mar, diversas ilhas, eu encontro em casa duas agradáveis
surpresas: um bilhete de Dona Lina Bo Bardi e por ele as notícias da
chegada e da exposição de Maria Célia. Da chegada não diz precisamente o
dia. Quanto à exposição, foi inaugurada ontem, no Museu de Arte Moderna.
(17.7.1963).
[...] Mas há a considerar também a sua contribuição fora daqui, fora da
Bahia e do Brasil, para o conhecimento e a compreensão, a curiosidade e a
paixão, de nossas coisas, nossos costumes, nossa razão de ser. Através de
seu desenho, excepcionalmente expressivo, sugestivo, impressivo, Carybé
transmitiu a pureza, a força, a alma do povo baiano. De tal maneira que
muitas vezes ficamos na dúvida se realmente foi um modelos de carne e osso
quem inspirou seu traço ou se a figura que vemos nas ruas saiu de seus
croquis.(26.7.1963).
Não vou falar do valor artístico das esculturas que Mário Cravo
apresentará ao mundo como contribuição brasileira. Seriam comentários
impressionistas [...] Quero recordar um momento do começo da carreira de
Mário Cravo Júnior. Isto foi antes de ele ir aos Estados Unidos onde
estudaria com Mestrovich. Quando então era uma temeridade se fazer arte
sincera na Bahia, quando os artistas tinham que ser carneirinhos acadêmicos,
quando eram obrigados a ignorar as conquistas da arte no mundo e sua
natural evolução. [...] A importância de se seu nome e o valor de sua obra
estão merecendo agora o pronunciamento da crítica mundial. (20.4.1960).
Vasconcelos Maia apoiou diversas ideias que poderiam traduzir-se
em modernização cultural , defendendo ardorosamente em suas crônicas
74
aquelas nas quais identificava a possibil idade de comunhão com o ideal da
transformação cultural da cidade do Salvador. Esse apoio fez com que em sua
galeria surgissem nomes de atuantes nas várias áreas de atividades, tais como
antropólogos, professores, poetas, jornalistas, escritores como Vivaldo Costa
Lima, Nelson Rossi , Jair Gramacho , Nelson Araújo. Luiz Henrique Dias
Tavares, Odorico Tavares:
É um talento enorme, uma inteligência terrível, fonte permanente de
informações culturais. Leitor de Kierkegaard e de Cuíca de Santo Amaro,
cirurgião dentista na esquina do Corta-braço com a Estrada da Liberdade,
ogã ortodoxo do Aché do Opó Afonjá, filho de Ogum e afilhado de Xangô,
íntimo de Rainer Maria Rilke e Fernando Pessoa. É - “o que é um exagero” -
crítico dos mais severos, dos mais conscientes das valorações literárias.
Sua conversa é rutilante, e um “espargir de pedras preciosas” - como
certo acadêmico poderia dizer dessa vez com propriedade. [...]. Mas Vivaldo
Costa Lima não escreve. Compreendo porque não possa escrever. Não é
possível transformar-se um rio caudaloso, encachoeirado, sempre correndo
para o vasto oceano, numa lagoa parada. (2.11.1958).
Estávamos no Hotel da Bahia. Éramos cinco: Jorge Amado e senhora,
a líder cultural da Polônia no Brasil, D. Monika Miradel, Pascoal Carlos
Magno e eu. Conversa, conversa vem, Pascoal, grande causeur, falava mais
do que todos. E falava sobre um assunto muito caro para mim: o Professor
Rossi. E de outra coisa muito cara, caríssima, para o professor Rossi, seu
laboratório de fonética. ...
- Este Rossi – continuou Pascoal Carlos Magno – é um dos indivíduos
mais fortes, mais dignos e de mais caráter que tenho conhecido. Gosto
muitíssimo dele. Somos muitíssimo amigos. (23.11.1958).
[...]
O silêncio e a tristeza são seus camaradas permanentes. Por isto pouca
gente entende o poeta. Aliás, é bom que se diga em honra a sua
independência: pouco se lhe dá que alguém, até mesmo os amigos, o
entenda. [...]
Faz ponto na porta da Livraria onde participa [...]das animadas
conversas[...] todo santo dia, chova ou faça sol [...] depois das onze e depois
das dezessete horas, quando sai do jornal: a mesma roupa, bate e torce,
canário de uma muda só. O mesmo cabelo grande e gazo, o mesmo ar de
tristeza e alheamento.
[...] Fiquei alegre com a notícia; o poeta Gramacho, instado pelos
raros amigos que mantém, vai editar dois livros, um de suas belas traduções;
outro de seus belíssimos sonetos que o elegeram como dos melhores poetas
do Brasil. (3.06.1959).
Vem desde o tempo quando eu morava num velho sobrado da Rua
Democrata – ali se reunia, sem toque de chamada, espontaneamente, quase
todos os então jovens da cidade que tentavam fazer artes e letras.
[...] Poucos sujeitos conheço da altura intelectual de Nelson Araújo,
que tanta dureza tenha comido na vida...
[...] Embora tenha escrito muito, na redação dos jornais onde é
disputado ou em seu gabinete cheio de edições de várias línguas, Nelson de
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Araújo publicara apenas um livro “Um Acidente na Estrada” [...] como um
dos melhores contistas de sua geração. [..] Agora lança uma peça de teatro
“A Companhia das Índias”. (8.7.1959).
Hoje às 17h30 horas na Civilização Brasileira, vão ser entregues ao
público dois livros. São as últimas edições da Imprensa Oficial, atualmente
sob a orientação do professor Milton Santos. São dois volumes da Coleção
Tule [...] Estes livros são “A Noite do Homem” e o “Primeiro Mistério”. “A
Noite do Homem” é de autoria do escritor Luiz Henrique [Dias Tavares] [...]
Luis Henrique ocupa uma coluna do Jornal da Bahia, intitulado “Cidade,
Homens e Bichos”. O outro livro [...] é de minha autoria. (17.2.1961).
Eu tinha chegado de viagem, vi na porta da Livraria Civilização a
faixa anunciando o lançamento do novo livro de Luiz Henrique. “Moça
Sozinha na Sala”. (3.10.1961).
Coincidindo com a abertura do ano letivo foi lançada no Rio de
Janeiro e já está sendo distribuída neste Estado, a segunda edição da
“História da Bahia” [...]. (3.04.1963).
Ao chegar à Bahia, há já muito tempo, Odorico [Tavares] vinha como
diretor de jornal e como repórter de “O Cruzeiro”. Assim iniciou nas páginas
da revista de maior tiragem do Brasil, uma das melhores divulgações
turísticas de nossa terra – não era coadjuvado pelas belas fotos de Pierre
Verger. Não passavam então aquelas reportagens, de simples divulgação de
aspectos de nossa civilização. E o próprio repórter, deslumbrado pela cidade
que o acolhia, não tinha outra intenção senão a de um trabalho de rotina.
Mas o diabo do homem era também literato, era poeta. E o assunto
rico demais para ficar apenasmente na superfície. Terminada a série Odorico
por ela apaixonou-se, recomeçou a trabalhá-la e publicou em livro a que deu
o nome de “Bahia, imagens da terra e do povo”. A primeira edição esgotou-
se, saiu a segunda, que Odorico passou a limpo, revisando-a, atualizando-a.
Essa segunda edição não chegou para quem quis.
Premida pela exigência dos leitores a Editora agora decidiu expedir a
terceira tiragem, justamente a que vai ser entregue dia 11 próximo [...]
(9.8.1961).
Jorge Amado, amigo dileto, de quem enalteceu as virtudes na
crônica Um Sujeito Bom (9.10.1959), presente em vários momentos vividos
pela cronista, juntamente com sua obra, ocupou lugar de destaque nesta
galeria. Foi quase uma dezena de crônicas dedicadas ao criador de Gabriela.
Elas teciam comentários não apenas sobre os livros, as ações do escritor, cuja
ousadia temática Vasconcelos Maia sugeria como modelo para os jovens
escri tores, como também sobre a atuação do escritor grapiúna, em prol do
projeto de divulgação da cidade do Salvador .
Ainda que versassem sobre uma extensão de matérias, suas crônicas
mostravam uma alta densidade autobiográfica. O cronista, o ficcionista, o pai,
o amigo, o esposo compareciam como tema, ao lado de questões sobre crônica
76
enquanto gênero, o jornal, as dificuldades de ser cronista, o seu papel como
empregado de turismo. Sua vida , suas amizades, suas habilidades, seus
interesses, seus medos estiveram sob a mira da sua pena. Assim sendo, o
escri tor Vasconcelos Maia integrou sua própria galeria:
Quando vocês estiverem lendo-me, deverei estar no Rio. [...] O que
vou fazer no Rio? Passear? Não. Vou trabalhar em próprio proveito e no
proveito da Bahia [...] Vou fazer outra promoção: vou lançar um livro de
muitos baianos, editado na Bahia, que está despertando um interesse danado.
Chama-se PANORAMA DO CONTO BAIANO. (23.9.1959)
De novo estou me preparando para viajar. Vou trancar o medo de
avião e subir os espaços em busca do Rio de Janeiro. Esperava a
oportunidade há muito tempo: um livro meu publicado em grande editora e
lançado à venda. O Lóide Aéreo me ofereceu passagem, o Hotel Glória me
ofereceu hospedagem, Jorge Amado me ofereceu cobertura, a Livraria
Eldorado ofereceu a casa. E eu ofereço o meu convite a quem quer que
deseje participar de minha festa. Escrito há uns quatro anos vai sair
finalmente a minha novela “O Leque de Oxum‟, no dia 24, incluída por
Herberto Sales nas Edições de “O Cruzeiro”. [...] (22.3.1961).
Adoram me pregar peças:
- Papai, „tão batendo na porta. Vou ver quem é. Brisa... Eles estouram
na risada, pulando, cantando: “Enganei meu burrinho com sela e tudo. Tirei
a sela ficou barrigudo.” Primeiro de Abril então, é um caso sério. Eles me
acordam dizendo que o fogão a gás está pegando fogo. Me jogam quarto a
fora, cozinha adentro.
- Primeiro de Abril! Berram eufóricos:
- Levem este burrinho onde ele quiser ir! (9.11.1958).
Em matéria de cinema sou eclético. Não tanto quanto Vivaldo Costa
Lima, pois não me atrevo a ir ver Zé Trindade ou Libertad Lamarque. Mas
sei apreciar tanto um filme cômico quanto um dramático, tragédia, ou sátira,
documentário, desenho animado, policial ou faroeste. Fui um dos 5 ou 6
fundadores do Clube do Cinema. Tentei com Edio Gantois a fundação do
Clube Experimental de Cinema. A cidade teve o privilégio de ver a obra-
prima de Einsenstein, “Encouraçado Potenkin”, velha comédia de Charles
Chapplin do princípio de sua carreira e alguns experimentos do canadense
Mc Laren.
Daí o meu apoio desde às primeiras conversas ao Clube Westerm de
Cinema. É um dos meus fracos confessáveis e, pelo grande número de sócios
que o novo clube vem recebendo, é um fraco generalizado: o gosto pelos
filmes de caubói. Quando minha mulher me chama para ir ao cinema,
pergunto que tipo de filme está em mira. Como gosto de ir na certa, procuro
ver o diretor, ou pelo menos, os atores. Mas se é fita de caubói, vou na raça,
vou às cegas.(18.3.1960).
A galeria de personalidades edificada nas crônicas de Maia foi
composta também por Alfredo Villa Flor dos Santos, relações públicas da
Petrobras, que tinha como companheiro mais estimado o repórter Darwin
77
Brandão (5.8.1959), Milton Santos, que nessa época tornava-se diretor da
Imprensa Oficial da Bahia (15.6.1960), Pinto de Aguiar (8.6.1960), Lia Mara,
que lançava a primeira agência de publicidade (14, 15, e 16.8.1960), Roschild
Moreira, jornalista de A Tarde (11 e 12.9.1960) , o Prefeito Heitor Dias, dono
da amizade e admiração do cronista, bem como o secretário Virgildásio Sena
(27 e 28.11.1960), Margarida Maria Silva Costa, advogada e professora
escolhida por Milton Santos para dirigir a “Revista da Bahia”, publicação da
Imprensa Oficial (11 e 12.12.1960), o já falecido professor do Ginásio da
Bahia – Sílvio Valente (5.5.1961), Pedro Moacyr Maia, irmão do cronista,
professor que se encontrava em Dakar numa missão diplomática (16.5.1961),
Adalmir da Cunha Miranda, amigo, um do s “crânios” do “Caderno da Bahia” e
um dos diretores da revista “Ângulos”, que estava publicando seu l ivro e, por
morar em São Paulo, pedia notícias do mundo cultural da Bahia (18.5.1961), o
poeta Sadala Maron, então de partida para Hong Kong (18.8.1961), Manuel
Carvalheira, gerente de banco, “patrimônio nosso”, sendo transferido da
cidade (3 e 4.9.1961), Rosalvo Barbosa Romeu, homem das finanças do
município, depois vereador (29.1.1962), e Antônio Rebouças, arquiteto e
desenhista de casas (11 e 12.8.1963).
A afirmação de Vasconcelos Maia como intelectual moderno e como
ator no processo de transformação social não se limitou às obras realizadas
em seus campos de ação cultural. O escritor sentiu necessidade de uma
intervenção mais efetiva e de maior abrangência, vendo na divulgação dos
trabalhos dos demais integrantes da elite intelectual da Bahia um dos meios
de concretização da modernização social e cultural por eles ansiada . Por isso,
imerso naquele turbilhão de dizeres e modos de expressar a mudança cultu ral
da cidade, fez de sua crônica um ícone de modernidade de que se serviu, não
apenas para a criação de uma mentalidade voltada para o consumo de produtos
culturais, como também para divulgar art istas e obras partícipes daquele
projeto.
3.4 INTERESSES E ORGULHO DOS BAIANOS
Para Walter Benjamin, “de todas as relações estabelecidas pela
modernidade, a mais notável é a que tem com a antiguidade” (BENJAMIN,
78
1989, p. 80). Esta modalidade de relação foi cara ao cronista Vasconcelos
Maia, que representou uma cidade na qual a modernidade atava-se fortemente
à antiguidade. A sua cidade não foi “débil” nem “quebradiça como o vidro
transparente”, como a Paris do poeta Charles Baudelaire representada em seu
poema O Cisne . A cidade do Salvador nas crônicas de Vasconcelos Maia é
apegada aos seus monumentos e símbolos históricos. Nela surgem os fortes,
os faróis, as igrejas, os sobrados, o casario antigo, o Pelourinho. Dotado de
uma visão moderna, o cronista pratica certa pedagogia para o olhar da cidade
como espaço de memória e tradição postulando a preservação daquilo que
resta da cidade histórica.
Baiano cioso, como se declarava, como os grandes modernistas do
século XIX, também criticava a modernização exacerbada, vendo -a como
ameaça à estrutura da cidade, cujo aspec to original lutava por preservar, não
aceitando sacrificá-lo em nome de outros valores modernos, como a higiene e
a fluidez, por exemplo. Ao olhar a cidade, Vasconcelos Maia relembrou a
fome de destruição que estragava todas as administrações ao derrubar m uita
preciosidade, muitas relíquias históricas, citando o caso do bairro da Sé,
considerado por ele como “um caso de arrepiar, que até hoje choca muita
gente” (17.2.1959).
Interessado pelo tema, o cronista demonstrava acompanhar o que se
fazia e se escrevia a respeito no Brasil . Em Assassinemos a Cidade, afirma ter
se inspirado nos escritos da diretora do Museu de Sabará, que discorria sobre
a forma como os americanos l idavam com suas velhas cidades, e comparava
com o descaso brasileiro. Fez coro às lament ações da diretora do museu
mineiro dizendo que
[...] os brasileiros, e com especialidade, os baianos depois que assassinarem
suas velhas cidades em nome dum suposto e falso „progresso‟ haveriam de
querer reconstruir com matéria plástica ou concreto aquilo que possuíam em
pedra, cal e madeira de lei (1º. 7.1960).
Sustentou Vasconcelos Maia que “nossa Bahia” ainda contava com
conjuntos inteiros de fachadas antigas, os quais “o baiano rico despreza, o
pobre não dá valor e pouquíssimas autoridades respeitam de fato” (1.7.1960).
Para solucionar os problemas de trânsito e buscar a fluidez, o
recurso utilizado nas diversas cidades que se modernizavam no Brasil ainda
era a demolição, a destruição dos sít ios sem levar em conta seu valor
79
histórico. Naquele momento , na cidade do Salvador, ainda se falava em
demolições de igrejas e, na mira das picaretas, estava a capela de Santana, no
Rio Vermelho. Vasconcelos Maia manifestou o seu descontentamento
bradando: “a Bahia precisa de soluções inteligentes para seus proble mas
urbanos” (17.2.1959). Denunciou aquilo que chamou de “crime lesa
município”. Otimista, o cronista lembrou que naquelas alturas, as condições
eram outras, “as vozes dos intelectuais, dos artistas e dos homens civilizados”
iriam levantar-se contra tais barbáries. Estava, assim, desfraldando a bandeira
que defenderia com garra e tenacidade – a defesa da riqueza arquitetônica,
dos monumentos e do aspecto original da cidade do Salvador.
Outra relíquia da terra desfilou sob a pena do cronista. O prédio da
Associação Comercial, situado na Praça Conde dos Arcos, uma raridade
arquitetônica do Brasil, foi exemplo para a resistência à sede de destruição
resultante dos processos de modernização:
Esta história muito triste me foi contada por José Valadares - o que
muito contribuiu para a salvação de outras relíquias da terra. E foi verdade.
A Cidade Baixa crescia. O tráfego aumentava. Como sempre acontecia aos
governantes sem imaginação, os da época só achavam um jeito simplista de
dar condições “modernas” ao “comércio”: destruir seus belos casarões e
sobre as cinzas plantar avenidas. Da Praça Cairu à Praça Conde dos Arcos,
assim foi feito. No corte estava também o Palácio da Associação Comercial,
que se tornava assim a pedra no caminho das picaretas.
Contra a derrubada de tantos monumentos, de insubstituível
arquitetura tinha-se erguido a voz dos intelectuais, dos eruditos, dos artistas.
Quando viram a iminência da queda do Palácio levantou-se outro clamor. O
governo de então, suspendeu por algum tempo a execução da sentença,
esperando que a onda contrária arrefecesse (16 e 17.7.1961).
Vasconcelos Maia prosseguiu contando que, por estes tempos,
chegara à Bahia um desses notáveis e cultos excursionistas, o rei da Bélgica,
tendo o Estado se preparado “com honras e glór ias para receber a majestade”.
Entrando pela baía de Todos os Santos, já os olhos de monarca se
deslumbravam com a cidade. Saltando no porto, ao deparar com o
esplêndido palácio construído pelo Conde dos Arcos, parou toda a comitiva
para admirá-lo demoradamente. E enquanto durou sua visita entre nós,
continuava a citar o seu encanto pelo palácio da linha Adams (16 e
17.7.1961).
Assim, o “pobre condenado à morte” fora salvo, não pela voz dos
mais esclarecidos da terra, mas pela de um turista importante, pr ovidencial.
Visitada por “um desses reis europeus que, por desfastio, viajam por países
exóticos”, a cidade teve preservada uma de suas riquezas arquitetônicas, o
80
Palácio da Associação Comercial, hoje apontado como o único em seu estilo
existente nas Américas (19.1.1962).
A Casa Régia, situada no Viaduto, à direita de quem se dirige à
Praça da Sé, chegara a ser “triste tapera a dizer aos estrangeiros um pouco de
nossa burrice” (07.6.1961), mas estava passando por uma restauração levada a
termo pelo empenho do provedor da Santa Casa de Misericórdia, apoiado por
Godofredo Filho, então diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, seção da Bahia.
Vasconcelos Maia escreveu sobre fortes e solares da Bahia. Além
dos mestres do assunto, Valdemar Matos, Cid Teixeira, Fernando Fonseca,
Godofredo Filho ou Jair Brandão (15.11.1963), ele afirmava que “um time de
primeira água”, constituído por Lina Bo Bardi, Martin Gonçalves, Mário
Cravo, Caribé, também se interessava pelo tema, especialmente pelo Forte da
Gamboa. Em Viva o Forte da Gamboa comentou a entrevista do advogado
Benedito Pati, encarregado dos interesses de Ciccilo Matarazzo, que
idealizava restaurar o Forte de São Paulo da Gamboa para fazer um centro de
estudos de arte e cultura. A ideia interessou ao prefeito e a Godofredo Filho.
Vasconcelos Maia ressaltou que a importância “da visão de que o melhor e
mais digno de seu [da Bahia] excesso de capital é o da permanência
revitalizada e divinizada da cultura baiana”, que evitaria a “destruição de
seus monumentos, a dilapidação de seus tesouros e muito pior do que tudo – a
migração de grande número de seus filhos” (14 e 15.4.1963).
Em se tratando da luta pela conservação e manutenção dos
monumentos históricos da cidade, o cronista contava com a vigilância de seus
leitores. Uma leitora escreveu para denunciar o estado de abandono em que se
encontrava o Forte Monte Serrat, lembrando que a loca das sereias, tão falada
pelo cronista em “Lembrança da Bahia”13
, “o recanto mais belo da Cidade do
Salvador” (09.08.1963), tornou -se inacessível devido ao descaso público.
Igualmente empenhados nesta luta estavam os órgãos competentes. Maia
afirmou ter recebido como “encomenda” de um representante do governo:
[...] uma lista preferencial dos pontos não só de interesse turístico, mas,
sobretudo do orgulho e do patrimônio baianos, a fim de aprimorar com
urgência os seus melhoramentos (9.8.1963).
13
Trata-se de guia turístico de Salvador, com fotografias, mapas e estatísticas, publicado pela Editora
Globo, em 1963.
81
A preservação do Pelourinho esteve sob a mira da pena do cronista.
Ele descreveu uma visita realizada em companhia de d ois técnicos americanos
de turismo, que sugeriram a criação, para o lugar, de uma “mística de amor,
de terror, de assombração que o tornasse irresist ível, excitante, incitante”,
comparando-o a Casbah . Segundo Vasconcelos Maia, os técnicos acharam o
Pelourinho “muito quieto, muito pacato, muito doméstico” (2.2.1959). O local
histórico foi mencionado quando o cronista, retornando de uma curta viagem
de oito dias, disse ter encontrado mudanças na cidade: “já não há o barulho
danado na Praça Municipal e, no bai rro do Pelourinho, processa -se
esperançosa renovação”. Passou então a discorrer sobre o “desalojamento do
meretrício do bairro do Pelourinho”, uma medida tomada “sem violência, sem
perseguição, mas, também, sem fraqueza”. A administração municipal
encontrou, “com inteligência e compreensão, o caminho para apagar o
meretrício do centro da cidade” (25.4.1959).
São duas crônicas dedicadas ao Pelourinho para falar do “deslavado
cinismo” compactuado por todos de se exibir, ostensivamente, essa “miséria
da sociedade”, e que, após a mudança do meretrício da “zona mais bela, mais
nobre de Salvador, para a beira do porto, forçosamente, o Pelourinho tornar -
se-á o que já foi”. O local iria tomar um “banho completo”. Fez o cronista um
apelo ao prefeito Heitor Dias para não atender à sugestão de “um vereador”
de asfaltar as suas ladeiras. Lembrou Vasconcelos Maia que muitas
“modernices inqualificáveis, impróprias já se fizeram nesta Bahia”, e que o
passar do tempo trazia consigo o arrependimento para o qual não havia
remédio. O cronista investiu contra a descaracterização do bairro “mais
original e mais invejado do Brasil” dizendo:
[...] basta que se virem suas pedras centenárias, pedras bonitas, pedras tão
plásticas, pedras moleques, que serviram às carruagens de rodas de ferro, por
que não servir também às rodas de borracha? Internamente, as casas também
devem sofrer os melhoramentos a fim de poderem voltar a sua função
familiar. Que se introduza em seu interior o conforto das conquistas
modernas. Mas pelo [menos] que, restauradas e limpas, frescas e pintadas,
permaneçam suas fachadas no belo estilo que lhes deram fama e glória
(29.4.1959).
O assunto “limpeza” (grifo do próprio cronista) de sítios, tão caro
em processos de modernização de cidades, voltou a aparecer nas crônicas.
Desta vez era a Rampa do Mercado Modelo que sofreria a transformação,
82
deixando de ser “chaga”, “ferida”. Voltariam os tempos em que ela fora uma
“paisagem viva e luminosa”, um lugar que não “envergonhava a cidade”. A
Rampa voltaria a ser
[...] Aquela que fora cantada por Pablo Neruda, endeusada por Jorge Amado,
filmada por Rosselini, fotografada por Verger, cenário poético do idílio de
Guma e Lívia, citada nos roteiros turísticos (24 e 25.9.1961).
A prefeitura solucionaria “sua problemática hum ana e social”, os
barraqueiros teriam “seus interesses respeitados sem prejuízos de qualquer
ordem” e o lugar deixaria de ser a “babel de panos rotos e madeira podre, de
lixo e de lama”. Decorridos seis meses dessa crônica denunciadora da
imundície da Rampa, deu-se a “limpeza” vivamente apoiada pelo cronista.
Isso porque, descrita por Vasconcelos Maia como “um dos pontos
mais belos da cidade, um dos portos que, por sua própria razão de ser, deveria
permanecer sempre l ivre, sempre limpo” (17.4.1962), a Ramp a, tal como os
passeios do Mercado, vinha sendo palco de uma “indústria”, e acabara
transformando-se em “hospedaria vagabunda, antro de ladrões, prostíbulo e
refúgio de maconheiros”. De “ambiente de trabalho vigoroso e forte poesia,
devido à poli tiquice se degradara”, mas, naquele momento, o capitão dos
portos, “fazendo uso de sua autoridade, sem matar, nem ferir, mas também
sem fraqueza”, mandou proceder a “limpeza” da Rampa (17.4.1962).
O Parque do Unhão foi descri to por Vasconcelos Maia como “um
cenário de lendas e paisagem de beleza” (26.8.1959). O cronista contou a
história do solar, que teria pertencido também ao Ouvidor -Desembargador
Unhão Castelo Branco. Naquele momento, nos idos de 1959, descreveu seu
interior, a beleza do seu entorno e lamentou o e stado de abandono em que se
encontrava. Em agosto de 1961, Vasconcelos Maia lembrou que o Solar,
convertido num depósito de inflamáveis, e sua igreja, numa serraria, estariam
“fadados a desaparecer num incêndio”, desfalcando a cidade do Salvador de
uma das “mais esplêndidas marcas de sua arquitetura colonial e um dos
melhores momentos de sua história”, destino que seria revertido por um
decreto, uma mensagem “poderosa em sua transcendência” assinada pelo
governador Juracy Magalhães, que declara:
[...]
83
de utilidade pública para fins de desapropriação total o antigo Solar do
Unhão, para que restaurado, venha a ter a finalidade adequada a sua
importância, a sua beleza, a sua história (23.8.1961).
Seguindo a trajetória do tema Solar do Unhão nas crônicas de
Vasconcelos Maia, vamos encontrá-lo ressurreto em 20 de fevereiro de 1963,
dessa vez noticiando a destinação dada ao antigo sítio, pelo governador
Juracy Magalhães. Seria o Museu de Arte Popular da Bahia. O sítio fora
entregue a Lina Bo Bardi , “importação das mais importantes que a Bahia já
lucrou e a quem já deve a organização e continuidade do Museu de Arte
Moderna”. Na próxima crônica, dois dias depois, o cronista convidaria o
baiano, “pobre e rico, preto e branco, inteligente e burro, ignorante ou culto”,
a dar “um pulo até o Solar do Unhão” (22.2.1963).
Espaço caro ao cronista, o Dique do Tororó, em 1959, era descrito
como um dos mais l indos, mais pitorescos e mais fascinantes logradouros de
Salvador, mas encontrava-se também ameaçado de desaparecimento, tragado
pela desídia dos administradores que nunca tiveram sensibilidade de perceber
seu drama . Segundo Vasconcelos Maia, um “salvador” surgira para exterminar
o “mal”. Esse patrimônio de beleza, o próprio espelho da beleza natural,
pictórica e muito humana de nossa terra seria devolvido ao povo por meio do
trabalho do engenheiro Fernando Carneiro, responsável por devolver o “Dique
redivivo” à cidade “que tanto merece o nosso amor”. Lembrou que, enquanto
cidades como Belo Horizonte e Brasíl ia gastam fortuna s para dar-se ao luxo
de terem lagos artificiais, a Bahia, de modo impune, deixava aterrar o “mais
lindo e colorido lago natural , citadino, do Brasil” (12.5.1959).
Há indícios de que o Dique não fora redivivo. Novamente em 1962,
a pretexto de falar sobre uma regata lá realizada, o cronista voltou a reclamar
do seu lento, constante e implacável aterro e das invasões indébitas de suas
margens (26.9.1962). Esperançoso, declarava que conseguira reunir pessoas
em torno do assunto Dique naquele momento em que se estava ampliando a
pista da Avenida Vasco da Gama.
Não foi encontrada “a lista preferencial” (9.8.1963), com pontos de
interesse turístico, do orgulho e do patrimônio baianos solicitada pelo
secretário de governo ao nosso cronista enquanto ocupava a chefia do
Departamento de Turismo do Município, contudo a bandeira da preservação
84
do patrimônio histórico da cidade foi, tenazmente, defendida por Vasconcelos
Maia, que não se furtou em empunhá -la em prol do turismo baiano.
Essa defesa do patrimônio histór ico estava fortemente ligada ao
projeto da incipiente indústria do turismo encampada pessoalmente pelo
cronista. Projeto que, para ele, era então a esperança e o orgulho dos baianos,
fato que por si só justificaria a adoção da temática por qualquer cronist a
imbuído do compromisso de retratar o cotidiano. E Vasconcelos Maia, diante
de máquina de escrever, em sua escrivaninha, ou numa carteira de jornal,
assumia-se como tal .
Buscando o envolvimento dos leitores de sua coluna, informava -os
sobre as visitas i lustres que acorriam à cidade. Elas vinham atraídas pelas
belezas e pelo potencial da cidade do Salvador e não se cansavam em
demonstrar seu encantamento.
A paisagem original da Bahia, o conjunto de cores e formas, de gente
e de costumes, as praias, a cor do céu e do mar, o clima ameno, as ruas
vetustas, os velhos solares, as belas igrejas, as magníficas fortalezas, a força
e o colorido do candomblé, a coreografia viva da capoeira, a riqueza das
peças de arte religiosa, de mobiliário colonial, de antiguidades outras,
igualmente preciosas, deixaram-na em exaltação (31.7.1959).
Por outro lado, segundo o cronista, os visitantes aqui chegando não
encontravam a estrutura necessária ao turismo. Os turistas mostravam -se
desconcertados com a falta de aproveitamento de todo esse potencial, de toda
essa riqueza, chegando a comentar:
- Se São Paulo tivesse sido conservado como a Bahia, se possuísse
este conjunto maravilhosos de coisas seria o maior parque turístico da
América do Sul. Não sei como vocês ainda não compreenderam que o
turismo é renda, é dinheiro vivo e poderia redimir a Bahia. É preciso
organizar turisticamente sua terra e fazer hotéis, melhorar as ruas, urbanizar
a cidade, sem prejuízo de suas características. [...] (31.7.1959).
O desejo de se criar uma mentalidade turística na Bahia e a
necessidade de uma infraestrutura adequada foram fatos comentados por um
cronista que defendia o projeto de industrialização do turismo, uma vez que
acreditava ser impossível “trancar as portas à corrente turística”. Dia nte da
oposição de alguns intelectuais, que também contribuíram para a divulgação
de sua “riqueza histórica, artística, religiosa, folclórica, etnográfica,
paisagística e culinária”, Vasconcelos Maia garantia que a cidade, em sua
gestão, não corria o risco de transformar-se “numa cortesã ainda formosa e
85
exótica, mas vulgar e sórdida”. Segundo o cronista, a cidade do Salvador
encontrava-se amadurecida para o crescimento,
[...] “sem precisar aviltar-se, sem fazer concessões”, apenas, como noiva,
necessita se preparar para um “casamento do qual não sairá virgem, mas
donde frutos saudáveis poderão nascer. (11.10.1963).
Assim, os intelectuais, inclusive o próprio Vasconcelos Maia e seu
projeto de industrial ização do turismo – que seria feito “sem prejudicar sua
aparência, sem ultrajar seu pudor, sem distorcer sua natureza, sem forçar sua
espontaneidade” – , atuariam como guardiões daquela que deixara de ser a
austera “rainha viúva” e se transformara numa distinta senhora, pronta a se
mostrar para os turistas sem o risco de converter-se numa “cidade -rameira”,
porquanto seus “amantes em pânico”, vigilantes, estariam a defendê -la do
“turismo acanalhante”, preservando a sua imagem de “cidade -donzela”.
A crônica de Vasconcelos Maia delineia as rupturas e fragmentaçõe s
que caracterizavam as sociedades na modernidade tardia. Relata as
contradições pelas quais passava a cidade em seu processo de modernização
(transformação de uma cidade/sociedade, reflexo de uma cultura agrária, para
uma sociedade capitalista ancorada na industrialização e na urbanização).
Ilumina a convivência entre o moderno e o tradicional, o urbano e o rural, o
erudito e o popular, além de retratar os diferentes comportamentos e modos
de pensar da sociedade baiana.
A partir da construção do Leque das Crônicas, que se oferece a
múltiplas aberturas, pode-se afirmar que Vasconcelos Maia, profundo
conhecedor de sua cidade, lançou sobre ela um olhar dotado de “pulsão
escópica” , projetando em suas crônicas a imagem da cidade do Salvador vista
em sua totalidade. Representou-a em seus aspectos físicos e sócio-culturais
configurada numa visão dual: a Cidade paisagem-natural e Cidade paisagem-
urbana .
4 A CIDADE DAS CRÔNICAS
Fechado o leque das crônicas, sem desprezar os adjetivos e epítetos
empregados por Vasconcelos Maia em sua descrição, enseja -se, inicialmente,
apresentar um esboço da concepção da cidade do Salvador construída por um
cronista entusiasta. Em seguida, intenta -se ampliar a visão do escritor -
cronista esboçando a Cidade das Crônicas que tão cl aramente se delineia para
o leitor que sobre elas se debruça.
Original, bela e consciente de sua força , apesar de viver sob a
constante ameaça da destruição de seu patrimônio histórico e a rt ístico, a
cidade do Salvador de Vasconcelos Maia configurava -se em uma mancha
urbana inscrita numa circularidade. Não se divorciando de seu passado, ela
marcava o próprio início e fim no seu centro histórico. Delineavam-se a Rua
Chile, a Avenida Sete, o Largo dos Aflitos, o Campo Grande, o Passei o
Público, o Forte de São Pedro, a Piedade, a Mouraria, o Largo da Palma , a
Praça da Sé, o Terreiro de Jesus, o Largo do Carmo, o Pelourinho, o Taboão,
a Cruz do Pascoal, o Boqueirão, o Adobes, a Quitandinha do Capim, os
Perdões, São José de Cima, a Soledade até a Lapinha. Passando pelos becos e
ladeiras centrais, alcançava a Cidade Baixa, o Cais, o Mercado Modelo, a
Calçada, a Ribeira, Monte Serrat , indo até o Bonfim. A cidade ampliando-se,
modernizando-se, seguia pelo Canela em direção à Federação, ou pelo
Corredor da Vitória , ponto pelo qual se chegava ao Largo da Graça ou à
Ladeira da Barra , ao Farol, e aos bairros mais distantes como Rio Vermelho,
Amaralina e Pituba.
Mencionada pelos viajantes que por aqui passavam, conforme
Fernandes e Gomes (1992), a reiterada oposição atraso versus
desenvolvimento, embutida no caráter cosmopolita da Cidade Alta em
contraste com a imagem de “desordem”, “sujeira” e “feiúra” da Cidade Baixa,
em particular de seu bair ro Comercial, não se explicitava na urbe
representada nas crônicas de Vasconcelos Maia. Diluída pela existência do
Elevador Lacerda em sua função plena, pelas ladeiras em profusão, a referida
dualidade se resolvia numa relação de aparente complementaridade .
87
O conjunto arquitetônico soteropolitano foi descrito por
Vasconcelos Maia como uma massa compacta, uma fortaleza única formada
por becos, sobradões, casarões sombrios e escurecidos pelo tempo agarrados,
uns aos outros, para não rolarem rua abaixo, lajes eternas, muros quebrados,
mas insubstituíveis, ruínas invadidas por samambaia s e musgos, túneis e
pontes. Viam-se palácios e solares, muralhas de pedras e fortes, casario
subindo nas escarpas, torres majestosas contra o céu, igrejinhas mu ito claras
nas enseadas líricas, trapiches avançando para o mar e muitas ladeiras.
Ladeiras subindo e descendo, com nomes gostosos e suaves, indo ao
Céu ou descendo ao Inferno. Da Água Brusca, do Canto da Cruz, da Preguiça
ou da Aflição. Ladeira da Montanha , cavada na rocha, da Conceição ,
descambando pela Gameleira, que sobe ao Sodré ou desce ao ma r. Ladeira da
Jaqueira, tortuosa e caprichosa, a da Gamboa, a Peça Vovó. Segundo o
cronista, tantas são as ladeiras existentes que, sem elas, a cidade do Salvador
seria como mulher bonita sem redondezas.
Sofrida, temerosa do “progresso demolidor” que a pr ivara de muita
preciosidade artística e muita relíquia histórica, a velha cidade se ressentia da
falta de um plano de expansão urbanística e, por extensão, da preservação de
seus monumentos enquanto experimentava um estrangulamento no trânsito em
suas ruas principais, além do crescimento da ocupação imobiliária nos bairros
distanciados do centro.
Tradicional e orgulhosa de si mesma, descobrira em sua beleza um
potencial que, racionalmente explorado, daria mais lucro qu e o petróleo ou
outra indústria, e lutava contra o processo de destruição que afetava sua
feição estética e sua economia futura. Empreendia árdua batalha contra a
descaracterização urbanística, a estandardização arquitetônica, a destruição
de seu patrimônio histórico, a “copacabanização” de suas praias e a
adulteração de seus costumes populares.
Caprichosa, acolhedora e amigável , abrigava em seu seio os filhos
naturais além de muitos estrangeiros. Na cidade das crônicas viviam
escritores, jornalistas, poetas, professores, escultores, pintores, d esenhistas,
políticos, gerentes de bancos e estudantes . Em suas calçadas seculares
trilhavam ainda homens e mulheres do povo, baianas com seus turbantes,
88
mães-de-santo, mercadores ambulantes, barraqueiros, boêmios, todos
traduzindo a alegria de viver na cidade do Salvador.
Evidenciava-se o esboço de uma incipiente classe média formada
por profissionais liberais, pequenos comerciantes, funcionários públicos e a
existência de uma ampla classe pobre constituída por empregados do
comércio, caixeiros ou gente sem ocupação definida. O problema da exclusão
social era vagamente sinalizado pelo cronista em seus comentários sobre a
“limpeza” da rampa do Mercado Modelo, da retirada das prostitutas do
Pelourinho ou dos flagelados que dormiam sob as marquises dos prédio s.
Sonhadora, era uma cidade que queria ser mais conhecida e amada
pelos próprios baianos, que deveriam evitar a distorção de sua topografia, a
ruína de sua arquitetura, a devassa de seus templos e a venda de seus
tesouros, para não viver em desacordo com seu espírito. A Bahia tinha, nesta
empreitada, aliados “poderosos” como a Faculdade de Arquitetura da
Universidade da Bahia , que numa “profissão de fé” distribuía folhetos à
população reunindo signatários na luta contra os vândalos promo tores de
deformações arquitetônicas, ou contra atitudes de ignorância, desídia,
omissão e passividade do povo ou dos governantes.
O mercado ambulante, o transporte realizado pelo escravo, bem
como o comércio português foram outrora indispensáveis ao funcionamento
da cidade. Naquele momento, entretanto, já tinham sido substituídos pelas
relações capitalistas de trabalho, inscrevendo -a na modernidade.
Desconstruía-se assim um mundo impregnado de característ icas e tradições
seculares. As atividades econômicas urbanas traduziam mudanças que se
faziam notar. Rareavam-se os vendedores ambulantes, os mercadores de rua,
enquanto surgiam os balconistas, os caixeiros, os lojistas, os motoristas de
táxi e de ônibus e os garçons. Nas lojas da Avenida Sete, as vitrines eram um
apelo irresistível . Na cidade do Salvador das crônicas de Vasconcelos Maia
existia um comércio em franco crescimento, organizado em federação,
sindicatos e clubes, destacadas casas comerciais como a loja Duas Américas,
a famosa livraria Civilização Brasileira da Rua Chile, além de bancos que
faziam empréstimos populares. Com uma pequena rede hoteleira, centrada no
moderno Hotel da Bahia, contava com alguns restaurantes e barracas
populares que vendiam refeições.
89
As atividades comerciais concentravam-se nas imediações da Rua
Chile e Avenida Sete, além da Baixa dos Sapateiros , com seus pequenos
comerciantes. A publicidade feita por meio de anúncios em jornais, rádios,
alto-falantes e nas vitrines atingia as crianças que esperavam ardorosamente a
chegada de Papai Noel para lhes atender aos pedidos, levando alguns pais
angustiados a recorrerem às “periquitas” em bancos amigos, e outros a
fugirem das vitrines para esconder sua miséria. Jornais, cinemas, clubes,
boates eram elementos constitutivos daquela cidade rica em mov imentos
teatrais, mas desgraçadamente sem teatro.
Pacata e ordeira, a cidade que ainda não havia explodido
demograficamente, mantendo sob controle suas relações de exclusão social , só
via rompida a tranquilidade de suas ruas pelos bêbados que faziam arruaç as
em seus bairros centrais, os seresteiros com seus violões nas amu radas ou nas
calçadas, os “tipos”14
como o travesti da Praça Cairu, ou pelos sabidórios de
plantão, que tentavam enganar os incautos. Raríssima vez aparecia um ladrão
fino que invadia as casas, de portas fechadas com displicência, para roubar
joias e objetos de arte.
Barulhenta, a cidade apresentava os sons característicos da
modernização, sobre os quais se ouviam reclamações : dos ônibus que
passavam buzinando e rangendo pneus ao rádio ouvido em volume
ensurdecedor. Estes ruídos ressoavam em uníssono com os desafios dos
meninos que empinavam arraias, com o chiado dos carrinhos de rolimãs, com
os latidos de cachorros, o canto dos galos, e com o som do vento no bambuzal
vindo dos vales ainda desabitados.
14
A presença dos “tipos” nas ruas da cidade do Salvador sinaliza a “sensibilidade etnográfica” de
Vasconcelos Maia. Esta expressão foi usada por Júlia O‟Donnel (2008) referindo-se a João do Rio, o
“pesquisador do mundo urbano” que narrou a cidade do Rio de Janeiro que se transformava. O escritor
baiano, na crônica Perfume da Bahia (30 dez.1958), retratou uma cidade na qual, pelo menos à noite,
ainda era possível aos moradores deixar de lado o “caráter intelectualista” da vida na cidade grande, e
assumir uma postura baseada “no ânimo e nas relações pautadas pelo sentimento” (SIMMEL, 1903,
p.578). O cronista fazia referência à existência da prática costumeira do passeio noturno pelas ruas,
para apreciar as claras noites baianas, sentir seu perfume, olhar as estrelas, a paisagem, os costumes e
os “tipos”. Também em Jonas Rojão (19 out.1958), Boemia Doméstica (14 nov. 1958), Sombra e
Água Fresca (18 nov.1959), O Empacotador de Sereno (4 set.1963) Maia mencionou a existência dos
“tipos”, sugerindo uma cidade que foi submetida a sucessivas perdas, remontando de forma nostálgica
a um tempo anterior no qual existia maior sociabilidade entre os indivíduos.
90
Altiva, madura, dona de uma miséria já colorida pelas cores de sua
invenção, a cidade do Salvador buscava restaurar o gosto popular por suas
antigas tradições. Mostrava-se vivamente interessada em abrir-se para o
turismo a fim de resolver seus complexos problemas econômicos. Confessava -
se disposta a lidar com as questões daí resultantes, tais como os reflexos na
vida da população e a ameaça de um progresso material indisciplinado.
Emoldurada por um mar com tons de verdes e azuis, com um céu
luminoso e nuvens brancas, um sol que em tudo punha o seu calor, sua
quentura e sua beleza, uma vegetação luxuriante que atapetava os morros da
baia, saveiros flutuando, praias sem mácula de civilização, contando com
igrejas em profusão, a cidade do Salvador referida na coluna Dia Sim, Dia
Não , com setecentos mil habitantes em 1963, tinha ainda a rodeá -la um
cinturão de atabaques.
Com uma visão humanista, Vasconcelos Maia retrata a cidade do
Salvador em seu processo de modernização, vivenciando transformações
profundas e marcantes que lhe modificam o perfil , atingindo de roldão a vida
de seus habitantes, o que resultará na construção daquela aqui referida como
cidade das crônicas .
O olhar sobre a produção jornalística de Vasconcelos Maia intuiu a
utilização, pelo cronista baiano, de um processo indutivo e sensível para com
os fenômenos da vida cotidiana, buscando captar a realidade complexa em que
se via mergulhada a concreta cidade do Salvador. Para apreender a visão de
mundo entrevista nas crônicas, identificar os diversos modos e práticas
cotidianas delineados em suas entrelinhas ou objetivamente expostos, modos
estes que podem se configurar como “astúcias” ou “resistências” dos usuários
da cidade moderna buscou-se procedimento idêntico àquele supost amente
usado pelo cronista. As crônicas foram tomadas como janelas abertas para a
cidade, intentando-se uma leitura benjaminiana , tendo em vista que a cidade
moderna, não se constituindo num todo uno e harmônico passível de ser
compreendido em sua uniformidade, dá-se a perceber por partes, fragmentos.
E o cronista, ao dizer a cidade, tratou da paisagem, das ruas, dos costumes e
dos habitantes que a povoam e lhe dão existência.
91
4.1 UM JEITO DE SER MODERNO
Resultado de um projeto maior que simples intento divulgador , a
cidade referida nas crônicas é associada à ideia de modernidade e concebida
como um espaço de tensão por refletir, numa relação dialética, sobre o seu
próprio processo de modernização.
A cidade do Salvador não foi pensada por Vasconcelos Maia como
uma metrópole moderna tal como o foram Paris, Buenos Aires ou o Rio de
Janeiro em suas diversas representações na literatura . Afigura-se a hipótese
de que isto se deve, menos ao fato de estas cidades ostentarem a
materialização de fenômenos sociais que davam margem a este conceito , do
que ao próprio momento histórico -social no qual estava inserido o cronista,
por conseguinte, ao caráter específico das questões com as quais se debatia a
antiga Cidade da Bahia. Esta cidade ingressou nos anos cinq uenta do século
passado ostentando a forma adquirida após sucessivas intervenções em sua
estrutura urbana e, lidando com uma modernização econômica precipitada
pela instalação da Petrobrás, cuja implantação foi decisiva para a
transformação econômica da Bahia.
É sabido que a modernidade, dotada de contornos imprecisos e
múltiplas definições, possui características e temporalidades que variam de
um lugar para outro. Tida como um conjunto de experiências de tempo e
espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e peri gos da vida, sem
fronteiras de qualquer natureza, compartilhada por homens e mulheres em
todo o mundo, a modernidade elegeu a cidade como seu lugar privilegiado
para estabelecer-se. Esta seria a configuração espacial na qual se
concretizariam as instalações dos equipamentos modernos tais como a
indústria, a ferrovia, a iluminação pública, o maquinário, os edifícios, as
largas avenidas. De acordo com o pensamento de Marshall Berman (1987), a
modernidade se deu em três fases. Na primeira, do início do século XVI ao
fim do século XVIII, sem dela se aperceber, as pessoas viviam uma nova
realidade. Na segunda, denominada de momento de transição, o tradicional e
o moderno caminhavam lado a lado. Iniciada com a grande onda
revolucionária de 1790, esta fase se este ndeu até o início do século XIX com
uma mudança radical nos níveis social , polí tico e econômico a partir da
92
Revolução Francesa. E por fim, na terceira fase, já no século XX, o mundo foi
alcançado por inteiro pelo processo de modernização, gerando uma
diversificação e uma perda da sua capacidade de dar sentido à vida.
A modernização, um fenômeno complexo, amplo, palpável, passível
de ser determinado cronológica e geograficamente, define -se como o conjunto
de processos e mudanças operadas nas esferas política , econômica e social,
que tem caracterizado os séculos mais recentes, originando o turbilhão da
vida moderna. A modernização urbana, em sua acepção mais simples,
significa a conversão da cidade tradicional, medieval ou colonial, em
moderna, por via de profundas alterações em seu espaço territorial e social.
Tendo ocorrido em tempos históricos diversos, este processo gerou
paradigmas a serem seguidos, tais como as cidades de Londres, Paris e
Buenos Aires para a América Latina.
No Brasil , a cidade do Rio de Janeiro, seduzida por Paris, se
constitui no paradigma da modernidade desejada, na possibilidade de um
padrão identitário a ser seguido por Salvador, embora ambas evidenciem
caráter diferenciado da manifestação da experiência da modernidade. O Rio
de Janeiro, sob os auspícios do prefeito Pereira Passos (1902 -1906), e
Salvador, na fase seabrista (1912 -1916), passaram por significativo processo
de modernização, tendo perseguido os ideais de higiene, estética e fluidez
instaurados inicialmente em Londres e Paris e, posteriormente, propagados
para o mundo como basilares da cidade moderna .
Na cidade do Salvador das crônicas de Vasconcelos Maia , ao
contrário do acontecido no Rio de Janeiro do prefeito dotado de inspiração
haussmaniana, retratado na literatura po r romancistas, poetas e cronistas
diversos a exemplo do cronista João do Rio, a sanha demolidora não teve
destaque como indício de modernização, já que mudanças significativas em
sua estrutura aconteceram em épocas anteriores, como apontam estudos
realizados por Fernandes e Gomes (1992), Heliodório Sampaio (1992) e
Fernando da Rocha Peres (1974/2010).
A Cidade Maravilhosa, que se configurava como modelo, já passara,
no começo do século passado, por importantes reformas em sua estrutura
urbana com o objetivo de tornar-se uma cidade moderna e viável para atrair
investimentos e visi tantes de todo o mundo, para tornar -se, no Brasil, um
93
cartão postal , como Paris, a mais autêntica referência de cidade moderna e de
progresso no cenário mundial . A necessidade de se espelhar no Rio de
Janeiro, onde se apegavam “à cultura brasileira como elemento vitalizador de
seus negócios”, na expressão do próprio Vasconcelos Maia, irá surgir e se
acentuar, porquanto o elemento cultura se configurará como índice de
modernidade, consti tuinte do produto que a Bahia oferecerá ao turista,
convertendo-se, para o cronista, em recurso gerador da emancipação
econômica da Bahia.
A cidade das crônicas de Vasconcelos Maia delineia-se como em
busca de seu próprio modo de ser moderno. Ainda que sua transformação não
se tenha concretizado por meio de avenidas abertas à custa de demolições,
tampouco da construção de suntuosos edifícios, ou até mesmo por um
vertiginoso crescimento da indústria, o espaço dessa cidade representada seria
construído, ordenado e transformado a fim de suscitar a percepção e sensação
de modernidade com outros padrões de referência, evidenciando uma
aderência e ao mesmo tempo certa recusa ao novo modo de ser.
Medidas de saneamento urbano, qualificadas como “limpeza”, foram
fatos aos quais nenhuma cidade se furtou em seu processo de modernização
urbana, inclusive Salvador, que teve vendedores ambulantes, desocupados,
vadios e prostitutas retirados da rampa do Mercado Modelo e do Pelourinho.
Vivendo sua “dicotomia”, a cidade mudava rapidamente, mas nela o mundo
não chegava a “ser moderno por inteiro” (BERMAN, 1987, p.16). Suas ruas
eram mostradas como palco para práticas consideradas não de todo modernas,
nelas convivendo pacificamente vendedores ambulantes, baianas com seus
tabuleiros, transeuntes de toda natureza, crianças e “tipos” diversos que se
vinculam ou não, ao pré-moderno, à sociedade escravista.
Ao contrário dos escritores modernistas do século XX, como lembra
Marshall Berman (1987), que não souberam usar o modernism o por terem
perdido ou rompido a conexão entre a cultura e a vida, não se reconhecendo
como participantes e protagonistas da arte e do pensamento da época,
Vasconcelos Maia, escovando a história a contrapelo, leu, indistintamente, a
cidade das manifestações populares de cultura, especialmente aquelas da
cultura negra, suas festas, seus cultos religiosos, as ações prosaicas dos seus
moradores, até mesmo acontecimentos singulares como batismos de
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caminhões ou escolha de nomes de saveiros. Mesmo tendo mostrado o povo
dançando e rezando nas ruas, o cronista baiano privilegiou o indivíduo em
detrimento da multidão, tema que “se impôs de forma marcante no século
XIX” (BENJAMIN, 1989, p.114), e que foi tão caro a Baudelaire ao descrever
a moderna cidade de Paris. Vasconcelos Maia mostrou becos e ladeiras da
cidade, o colorido de sua miséria, bem como seus bairros populares, sendo
assim essencialmente moderno. Seu ideal pode ser definido como fazer com
que a cidade do Salvador se abrisse às possibilidades que aquele mundo
oferecia.
4.2 ENTRE PAISAGENS NATURAIS E URBANAS
O olhar aprofundado sobre as crônicas vislumbrou uma
representação de cidade do Salvador construída sob uma perspectiva estética.
Numa relação amorosa, “a única considerada válida e fecunda entre o artista
culto e a vida popular” (BOSI, 1992, p. 331), sem a cegueira do demagógico
populismo, Vasconcelos Maia, um apaixonado pela cidade, como confessara
várias vezes em sua coluna, praticou dois distintos modos de olhar
representando-a em seus aspectos físicos e sócio-culturais. Configurou duas
visões distintas de urbe: a cidade paisagem-natural e cidade paisagem-
urbana, nas quais coexistem a tradição e a modernidade. O cronista concebe
uma cidade rica em aspectos até estão transparentes à percepção e ao
reconhecimento, não só do restante do país como também de seus próprios
habitantes.
Elegendo como local de contemplação ora o Forte de Monte Serrat ,
onde, ao acordar, buscava a sereia, sua musa inspiradora, ora o Passeio
Público, sentado na cadeira do Manhatann, ora as amuradas do Belvedere da
Sé, seu olhar mergulhava na cidade paisagem-natural, retratando-a em seu
aspecto físico, numa perspectiva idealizada e paradisíaca de uma visão
edênica da natureza passivamente à espera do explorador. O mar, seu c aráter
selvagem, era a moldura sobre a qual a cidade se debruçava buscando seu
limite e sua complementação.
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Inspirado nos tons de verdes, azuis, brancos e amarelos, como na
crônica “Força da Cor”, Vasconcelos Maia esboça uma paisagem, um quadro
luminoso composto por essas cores, em que quase se via o verde do mar,
“reino de Iemanjá, o azul do céu luminoso, cujas tintas pareciam renovadas na
véspera; o branco das nuvens; o amarelo do sol, que em tudo punha o seu
calor, sua quentura, sua beleza”. Mas havia “mais verdes”, aqueles da costa
da baia, das i lhas com sua “vegetação luxuriante que atapetava os morros da
baia”; outros azuis se espalhavam na superfície do mar; outros brancos nas
praias que “se entregavam às ondas”. E num aprofundamento da perspectiva,
outros brancos podiam ser vistos “nas igrejinhas que surgiam muito claras,
nas enseadas líricas, nas grandes asas dos saveiros que flutuavam velozes ao
impulso dos ventos”. Tons de ouro apareciam nos reflexos de sol no mar, no
dorso dos cações, nos peixes voadores que saltavam.
Havia, portanto, um esbanjamento de cores na cidade, e mesmo as
ilhas, nuvens, igrejas, areia, mulheres - seus corpos e suas vestes - sol,
peixes, saveiros que se vislumbravam, eram formas que compunham um
segundo plano daquele espectro luminoso, já que, para o cronista, eram
“simples elementos decorativos que entravam também na concepção da
paisagem sem espectador”. Isto é, em Salvador, todos se sujeitavam às
exigências da cor, “da liberdade, da força, da riqueza da cor” . (12 e
13.3.1963). Nesta cidade, o mar foi tema presente e determinante. Elemento
marcante na ação e na produção diária de um cronista que a ele se dirigia
buscando a sereia, sua musa, cuja ausência trazia prenúncios sombrios: “Hoje
será meu dia ruim!” (15.4.1959).
Entretanto, num testemunho inconteste de que a crônica e o cronista
informam e são, a um só tempo, conformados pela cidade, o olhar de
Vasconcelos Maia deixa-se descolar da paisagem natural, das exigências das
cores e dos mistérios do mar para aderir aos apelos da cidade que crescia e se
transformava. Levantando-se da cadeira do Manhattan, abdicando de uma
postura contemplativa, o cronista foi atraído pela atitude do homem seduzido
pelo brilho das vitrines da Avenida Sete, pelo movimento ruidoso das ruas,
pela animação das rodas de conversa da Rua Chile, pelo entusiasmo das festas
populares, pela autenticidade dos festejos religiosos, pelos movimentos
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art ísticos e culturais, cingindo o seu olhar, de forma mais estreita, à cidade
paisagem-urbana que então passava a dominar.
Angel Rama (1985), ao discorrer sobre a constituição das cidades
americanas, enfatiza o papel relevante do grupo letrado, detentor do poder,
que ocupa lugar de destaque na estrutura administrativa. Afirma que no
centro dessas cidades sempre houve uma “cidade letrada” configurando um
elo protetor do poder e o executor de suas ordens. Aqueles que detinham o
poder de manejar a pena ligavam-se, de um modo ou outro, às funções de
poder sejam elas religiosas, administrativas ou educativas.
Idealizada por um cronista integrante de um grupo de intelectuais
que naquele momento sonhava com a redenção econômica daquela que já fora
“uma metrópole de âmbito mundial , um dos grandes centros de comércio ”
(SENNA, 2005, p.114), mas que vivia então o “enigma” do seu
empobrecimento, a cidade paisagem-urbana caracterizava-se como uma
“cidade letrada” . Para Angel Rama (1985), assim eram as cidades pensadas
por aqueles detentores do domínio da escri ta, ocupantes de lugar de destaque
em sua estrutura administ rativa, conhecedores de seus mecanismos que
acabavam se tornando desenhistas de modelos culturais ou forjadores de
ideologias.
Resultante de um olhar repleto de encantamento e paixão,
integrando um conjunto rico e harmônico, a cidade paisagem-urbana se
apresenta numa configuração dual: a cidade-ordinária e a cidade-cultura . O
cronista baiano não se ocupou em descrever as melhorias e transformações
ocorridas na estrutura da cidade, e sim tudo que dizia respeito ao homem, às
ações recíprocas que nela se davam. O traçado da cidade-ordinária , em sua
circularidade, delimitava-se pelas relações sociais na dinâmica peculiar de
uma cidade real , já modificada para a circulação da população que se
adensava, oferecendo-se para ser vista com seus costumes e sua gente.
A cidade-cultura pensada pelo cronista mostrava -se glamourosa e
bem configurada. Seus filhos talentosos – não apenas os legít imos como
aqueles por ela adotados – dedicavam-se a retratá-la, fazendo sua propaganda.
Seu povo era elemento partícipe em todas as formas de representação da
cidade. Ele via a cidade e seus moradores, perpassando seu discurso pela
preocupação em converter cada um deles num construtor consciente. O apego
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àquilo que fosse verdadeira manifestação popular, a vida do dia -a-dia, ao
prosaico - uma preocupação modernista – levou Vasconcelos Maia a se
aproximar do substrato de uma cultura que pretendia ser genuinamente baiana.
Olhando para o prosaico, o cronista explicitou aspectos da realidade da cidade
escamoteados no decorrer de um processo histórico gerador do seu atraso
econômico-social.
Na cidade-cultura , os componentes da cultura negra, outrora
subtraídos das descrições e relatos da “cidade letrada”, ganham destaque.
Seus costumes, história , religião passam a ser mostrados profusament e. O
candomblé, ocupando lugar de destaque, tinha suas diversas casas descritas de
forma minuciosa, bem como indicadas normas de procedimentos para
conhecimento de todos aqueles que quisessem visitar um “barracão”,
presenciar uma festa litúrgica. Também os festejos religiosos católicos, como
as procissões e as festas dos seus santos, da cidade e de seu Recôncavo, eram
destacados. As festas populares de todas as ordens, assim como grande parte
dos fatos que consistiam em temas para as suas crônicas, implicav am
fenômenos sociais carregados de características relacionais, denotando uma
cidade aberta a uma relacionalidade interna e, mais tarde, externa, por meio
do turismo. A cultura se destaca como um traço capaz de dar especificidade e
identidade à cidade representada em suas crônicas, pois a individualiza,
dando-lhe aspecto singular. O uso da cultura pode ser apontado como uma
estratégia da qual lança mão o cronista para construir a representação de uma
cidade que se revitaliza, que se reinventa.
A cidade das crônicas, edificada em perspectiva estética, não
fomentava a existência de diferenças no grau da beleza das coisas, pois que
tudo contribuía para torná-la bela, até mesmo a sua miséria, que se mostrava
colorida pelas cores da criatividade de seus filhos. S e dual foi o modo de
olhar a cidade, una foi a perspectiva usada pelo cronista Vasconcelos Maia,
que procurou a sua totalidade retratando o homem, a paisagem e os diversos
sentimentos que animam suas relações.
98
4.3 NOS CAMINHOS DE FÉ E FESTAS
Para Michel de Certeau (2007), os relatos, dotados de valor de
sintaxe espacial, sejam cotidianos ou literários, são o transporte,
methaphorai, para se andar na cidade. Eles realizam o incessante trabalho de
converter lugares em espaços ou vice -versa, pondo em destaque os jogos
relacionais mantidos uns com os outros, que se modificam constantemente. O
historiador menciona procedimentos detentores do poder de traduzir uma
prática de cidade, qualificando-os de multiformes, resistentes, astuciosos e
teimosos. Ser lugar ou ser espaço da cidade é uma condição que se atém à
experiência. Assim, o lugar é “uma configuração instantânea de posições”,
implicando certa estabilidade, enquanto o espaço se caracteriza por ser “um
lugar praticado” (CERTEAU, 2007, p.202).
O exercício de acompanhamento dos procedimentos que podem ser
lidos como práticas de cidade pelo povo, nas crônicas de Vasconcelos Maia -
vistas aqui como relatos -, dentre os quais se prioriza aqueles tradutores de
movimento, mostra um modo de fazer a cidade, toman do-a como espaço
praticado. A “retórica ambulatória”, ou os atos de caminhar descrevem os
deslocamentos, organizam os trajetos e convertem a rua, e por vezes o mar,
em espaços, além de delinearem o mapa de uma cidade que cresce e se
transforma, modernizando-se, ao tempo em que, narrando as práticas
culturais, oxigenam a tradição.
Uma cidade cujo povo, num passado não distante, andava em
procissões marítimas ou terrestres, sendo praticante de gestos e ações como
jogar f lores, trazer água em potes ou barris, soltar foguetes, cantar hinos,
desejar vivas, carregar andores, suar, ajoelhar, tirar o chapéu, por a mão no
peito, dobrar a cabeça, atravessar meia cidade, embarcar em saveiros ou
barcos e singrar a baia no encalço de alguma igreja , ou ainda, engrossar
procissões cheios de fé, andar em carroças ou a pé ou empunhando velas
acesas como a crença em seus corações.
Entretanto, no tempo narrado pelo cronista, este mesmo povo tinha
a fé enfraquecida, revelando certo descaso pelos festejos religiosos. Neste
tempo, as procissões católicas, consideradas uma das mais belas formas de
expressão popular, “gabadas, ci tadas e comentadas” em outros estados,
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manifestações nas quais o povo, movido pela força da fé, prestigiava
entusiasticamente a movimentação dos santos pela s ruas da cidade, vinham
decaindo, passando de cortejos definidos como “ardentes, vibrantes e
apoteóticos”, a um desfile frio, monótono e arrastado. Neles, o “descaso e
frouxidão dos adeptos” bem poderiam causar vergonha aos santos. Vê -se que
Vasconcelos Maia narra uma cidade cuja “tradicional e genuína fé católica”
se debilita, cedendo lugar a outras práticas religiosas.
O enfraquecimento da fé católica, e a conseq uente redução do
entusiasmo do povo, demonstrado em ações cujo brilhantismo decaía ano a
ano, como apontava o cronista , era compensado pelo vigor dos festejos
populares, ou festas religiosas com caráter profano e pelas práticas
tradicionais do candomblé, uma manifestação de caráter religioso, que, pelos
relatos do cronista, ocupando o lugar das austeras procissões católicas,
ganhava seu espaço na moderna Cidade do Salvador.
Culturalmente associada ao povo, restrita ao rés do chão, de caráter
espontâneo e de notável beleza plástica, a prática do candomblé, dona de
“rica e pura” tradição, segundo o cronista, tinha como espaço, inicialmente,
“o meio do mato”, lugares distantes, a partir dos quais se vislumbrava a
cidade “como se fosse um país estrangeiro”. Freq uentadas por “adeptos e
visitantes”, as festas do candomblé passam dos morros e vales para o s bairros
populares da cidade: Engenho Velho, Avenida Vasco da Gama, Gantois ,
Federação, alto de São Gonçalo do Retiro. É fácil supor que esta prática
religiosa teria espaço numa cidade interessada em se mostrar possuidora de
caráter singular, detentora de uma cultura eminentemente popular.
Enquanto faz estas trocas simbólicas, o cronista vai desenhando o
mapa de uma cidade em crescimento, conformando a cultura baiana, o seu
caráter híbrido substituindo antigas por novas tradições. O esforço em
realizar essa troca de tradições apenas confirma o compromisso e o
envolvimento de Vasconcelos Maia em um projeto cultural maior. Por outro
lado, ao narrar o enfraquecimento da fé católica, os festejos profanos e o
crescimento do gosto baiano, especialmente das camad as médias da
população, pela prática do candomblé, Vasconcelos Maia consegue oxigenar a
tradição existente e promover o seu reordenamento, confirmando a ideia de
100
uma cidade que se modernizava ressaltando seu traço acentuadamente
marcado pela presença da cultura popular.
A mudança do caráter religioso para profano das festas tradicionais
católicas fica evidenciada nos relatos da Segunda-feira da Ribeira , também
conhecida por Segunda-feira Gorda . Revestido de historicidade, feito no
alvorecer do ano de 1959, é o primeiro relato do cronista sobre festas e
festejos, excetuando-se o candomblé, sobre o qual já falara antes. O cronista
narra a origem da festa, enquanto deixa entrever a cidade da Bahia,
antecessora da Cidade do Salvador . Genuinamente católica, a Ci dade da
Bahia fora dona de um lugar específico para pagar promessas e cumprir
sacrifícios, o Bonfim do santo bondoso, com sua igreja e seu entorno
constituído pelo Largo do Papagaio. Segundo o cronista, transcorrido algum
tempo, a manifestação religiosa “c resceu tanto” que se estendeu para a
Madragoa, Tainheiros e para a Ribeira, junto ao mar, passando a ser
“alimentada por azeite e dendê”.
Essa metáfora do sustento das festas católicas na cidade do Salvador
sugere um gesto peculiar de aculturação enquanto trai o olhar pós-colonial do
cronista. Transplantada pelo colonizador para as terras baianas, a festa não
teria cá seu alimento natural, a fé austera e sisuda do colonizador português
que, com o decorrer do tempo, enfraqueceu -se. Os alimentos oferecidos pelo
novo berço - o dendê e o azeite - conferem ao festejo católico natureza
diversa daquela de sua origem, fazendo nascer, ao lado da antiga tradição,
uma moderna tradição na cidade.
No relato do cronista baiano, identifica -se o momento da mudança
do caráter da tradicional festa católica, desenhada nos moldes dos europeus,
para um festejo de caráter profano, ricamente alimentado pelos componentes
da cultura da população descendente do povo africano. Na avaliação de
Vasconcelos Maia, a Festa da Ribeira, que a esta altura padecia de inanição,
ressurge e se mostra forte e vigorosa. A Ribeira foi o espaço no qual a
barraca dos crentes que seguiam o exemplo do soldado Pero Luciano das
Virgens, sobrevivente da guerra do Paraguai, que ali viera render homenagem
ao Senhor do Bonfim, jamais tendo imaginado estar iniciando uma tradição,
foi substi tuída pelas tendas das comidas e bebidas e os “beatos viraram
foliões”. Neste lugar, a festa religiosa se converte num “grito de carnaval” e
101
uma nova cidade começa a ser ges tada. Nomeada na crônica com iniciais
maiúsculas, a “Cidade do Salvador”, não mais a Bahia, ou Cidade da Bahia,
surge como continente de um espaço democrático e festivo.
A Ribeira foi escolhida para cenário de um grito de carnaval “bem
baiano, bem popular , bem colorido”, muito mais “regional” do que os
carnavais de clube que ocorriam na Rua Chile e na Avenida Sete, sendo o
marco inaugural desta cidade festeira que se constitui em espaço do “homem
do povo”, do baiano de verdade, descrito como o “legítimo fi lho do Senhor do
Bonfim”, portando chapelões de palha, roupas coloridas, flechas nas mãos,
além de enorme energia no corpo. Cabia ainda neste espaço a mulher, referida
como “cabrocha ardente”, capaz de juntamente com o homem dançar e cantar,
pois era na Ribeira que se praticavam as legítimas “peças locais” – os sambas
de rodas, os cordões, as batucadas e a capoeira de Angola.
A tradicional festa de Bom Jesus dos Navegantes, de cunho popular
e religioso, aqui tomada como outro elemento ilustrativo, foi narra da sob um
enfoque que, tal como na festa da Ribeira, sugeria uma cidade em processo de
mudança. Expressões como a princípio , depois e hoje denotam a existência de
diferentes instâncias temporais e traem em seu conteúdo a troca do caráter do
festejo, de devocional para popular. Seu espaço, que também tinha o mar em
sua composição, faz referência à Barra, ao Cais da Alfândega, ao de Santa
Bárbara, naquele momento já Praça da Inglaterra, ao Cais Dourado,
correspondente à Praça Deodoro no momento em que escrevi a o cronista.
Refere-se à Ladeira da Lapinha e a Feira de Água de Meninos, mencionando,
por fim, Boa Viagem, conformando uma amplitude espacial. E sua
permanência sinaliza, para o cronista, um genuíno apego às tradições -
elemento constituinte da “gênese” do baiano - a existência da fé, não
necessariamente a católica, além do gosto pelas festas do povo da Cidade do
Salvador.
Vale dizer que a reiterada referência à tradição feita pelo escri tor
não significava a simples permanência da antiga e austera tradi ção herdada do
colonizador europeu. Naquele contexto, com a força do intelectual, ele
tentava explicitamente contribuir para a construção de uma tradição na qual o
povo se visse representado e que bem traduzisse a moderna cidade do
Salvador. Valeu-se para isto, inclusive, da repetição destes relatos em sua
102
coluna, fato que denota a intenção deliberada da construção de uma tradição
com a cor local, ou seja, uma tradição alimentada com “azeite e dendê”.
Mas não foi apenas esse o alimento para a “moderna tradi ção” da
cidade do Salvador narrada por Vasconcelos Maia. O relato de uma prática
singular, o das festas juninas, naquele contexto , resistência ou teimosia de
seus moradores, enseja a construção de um mapa da cidade, traduz a
existência de uma estratificação das práticas ordinárias, enquanto mostra uma
prática cultural de cunho diferente, atestando a riqueza e a diversidade da
cultura popular da Bahia. Estas festas tinham sua falta lamentada, não pelo
povo, mas por “infelizes moradores de apartamentos, no c entro da cidade ou
em bairro grã fino”, expressão sugestiva da existência de uma cidade que
crescia e se modernizava seguindo novos rumos, afastando -se do velho centro
e dos bairros populares, como Monte Serrat que se enfeitava todo para os
festejos juninos. Todo era traduzido como do Largo da Boa Viagem à Ponta
de Humaitá e da Imperatriz ao Adro do Bonfim, lugares nos quais, na noite de
São João, a luz elétrica era substituída pelo vermelho intenso da claridade das
fogueiras.
Os relatos das festas juninas, mais especificamente, denunciam
novos lugares eleitos para morada da eli te que pensava a cidade. É fato que
noutros momentos o cronista deixou perceber que o crescimento da cidade
acontecia de forma a sugerir certa estratificação que não se resolvia apena s
com extensão da mancha urbana da cidade nos planos alto e baixo. Ele fez
referência a reuniões para discutir questões da cidade com membros do Rotary
Club, num “palacete” situado na Rua Rio São Pedro, na Graça, descrevendo -a
como dotada de “bom gosto res idencial moderno”, sugerindo ser aquele o
lugar preferido pelos ricos da cidade que escolhiam ainda a Avenida Sete,
Nazaré, o Campo Grande, o Canela para moradia, buscando distanciar -se dos
pobres da cidade que residiam na Liberdade, Largo do Tanque, Godin ho, Pau
Miúdo, Cabula, São Gonçalo do Retiro, Baixa dos Sapateiros, Federação, na
parte baixa do Rio Vermelho, que corresponde à Avenida Vasco da Gama,
enquanto a classe média estava em bairros como Rio Vermelho, Amaralina,
Tororó, Santo Antônio, Saúde, Lapinha, Brotas, Barbalho, Quintas, Soledade,
Calçada, Roma, Monte Serrat, Bonfim, Itapagipe.
103
O mapa da cidade que se movimentava conforme o calendário dos
festejos populares apresentava marcas que evidenciavam os lugares
transformados em espaços. Nos idos de 1959, o ciclo das festas baianas era
mostrado com a deambulação das barracas ciganas que trafegavam pelas
calçadas de pedra na madrugada, com as patas das mulas quebrando o silêncio
da cidade repousada. As barracas andavam pela Conceição da Praia, Pil ar,
Boa Viagem, chegavam ao Bonfim, de onde iam para o Rio Vermelho. Eram
elas que, sem luxo, com decoração ingênua, nomes de batismo dotados de
pureza e poesia, guardavam “valores permanentes”. Segundo o cronista, elas
vendiam a comida baiana não encontrada em nenhum hotel de luxo: “saboroso
vatapá, efó mais fino, caruru mais quiabado, onde o ouro do azeite vale tanto
como as joias”.
O Carnaval, um festejo popular cujo relato é marcadamente
assinalado pela “retórica deambulatória”, ainda que não tenha sid o um dos
temas recorrentes do cronista, que confessava não ser nele especialista, serve
de mote para relatos que ilustram o estudo aqui desenvolvido. Este festejo,
considerado pelos “sisudos e práticos senhores” como desnecessário para uma
Bahia que “precisava de água, energia, abastecimento, transporte, ruas,
limpeza pública etc.”, não vivia seu momento de brilhantismo, resumindo a
manifestação carnavalesca em um constante passear de gente pelas ruas e
espectadores passivos sentados nas calçadas. Mereceu, todavia, a defesa do
cronista que o integrou, por seu caráter de “forte manifestação de arte e
cultura populares”, aos interesses a serem defendidos pela cidade por
considerá-lo um “excelente veículo de propaganda turística”, um negócio
rentável, que dependia apenas da viabilização de uma estrutura hoteleira para
atrair brasileiros e estrangeiros à cidade. Deveria o carnaval ser somado às
tradições que a cidade precisava fazer reviver. Em seu relato, Vasconcelos
Maia lança mão de expressões como eu me lembro , antes, depois, olhando o
futuro e futuro bem próximo para falar de espaços e lugares do carnaval
baiano, apontando as mudanças que ocorriam na cidade, ao lado de outras que
ainda deveriam ocorrer.
A Baixa dos Sapateiros, descrita como “a rua mais canta da da
Bahia”, aparece associada ao antigo carnaval, assim como a Barroquinha, a
Ladeira da Praça e a Ladeira do Ferrão, vistos como espaços por onde
104
“escorriam” o rastilho aceso da alegria e da animação do carnaval da Avenida
Sete e da Rua Chile até alcançar a “velha e boa” Baixa dos Sapateiros. Por
seu turno, a Avenida Sete, a Rua Chile e a Praça da Sé atam -se ao hoje, no
tempo do cronista, como o “nervo central da cidade”.
Para Michel de Certeau, “Caminhar é ter falta de lugar. É o
processo indefinido de estar ausente e à procura de um próprio” (CERTEAU,
2007, p.183). Sustenta o historiador que a “errância” pela cidade, experiência
social de privação de lugar, cria um tecido urbano. De fato, na cidade
retratada nas crônicas, as festas não possuíam um luga r definido, mudavam-se
sucessivamente, buscando ganhar novos espaços, criando novas práticas e
experiências de uma cidade que se ampliava e ganhava nova feição. O Campo
Grande se configurou, como o foram outrora, a Ribeira, Praça da Sé e o Largo
da Lapinha, como espaço de confluência, ponto de partida ou chegada de
cordões, batucadas e afoxés que ali desfi lavam participando de concursos. De
lá, a cidade, palco das festas, seguia em direção à Avenida Sete e à Rua
Chile, até alcançar a Praça da Sé e seu entor no já delineado em suas crônicas.
Nos relatos carnavalescos de um cronista -observador “burguês” e tranquilo,
além dos agogôs, tidos como reis dos ritmos baianos, dos tambores,
tamborins, cornetas, cuícas, pandeiros, alto -falantes, que animavam blocos,
cordões e batucadas, a multidão vibrava, fremia, cantava e dançava, não mais
assistindo ao carnaval, e sim vivendo o festejo por três dias ininterruptos,
num espetáculo descrito como capaz de “encher os olhos”. A massa humana
agitava-se, ondeava-se em explosões de alegria, com a passagem do trio
elétrico na avenida.
Configurando mudanças e permanências, ocorridas ao longo do
período em que escreveu no matutino baiano, na crônica Pré-carnavalesca do
ano de 1962, o cronista anunciava que, na Rua Chile, iria acont ecer “uma
farra , talvez, o primeiro carnaval-de-rua do Brasil”. Nela, cerca de sessenta
clubes, entre blocos, cordões, afoxés, etc. , sem importar o tamanho ou o
porte, encheriam a cidade com seu ritmo forte, a cor de suas fantasias, a graça
de suas evoluções, numa demonstração daquilo que o cronista chamou de
“arte autêntica, vibrante e magnífica”. No mesmo relato, mostrava um novo
lugar, a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, como palco para entrega de
prêmios aos vencedores de concursos de música carna valesca e coroação da
105
rainha do Carnaval, e ainda comentava a realização do baile do Ziriguidum,
no Hotel da Bahia, a festa do Zé Pereira, na Praça da Sé, além do baile da
Associação Atlética.
Nas descrições das festas de natureza religiosa ou profana, as ações
do povo são traduzidas pelo cronista através de expressões como comparecer
em massa, formar blocos, engrossar fileiras, desfilar pelas ruas, demonstrar
não ter perdido a ligação com seu nobre passado, participar integralmente
dos festejos, integrar-se no espírito da festa, ou ainda como, pular, dançar,
gritar, cantar, desfi lar, exibir, e também rezar e render graças. O caráter do
povo que habita a cidade também vai sendo definido por expressões como f iel
às tradições e avaro em guardá-las, alegre, brincalhão, expansivo, festeiro,
entusiasta e ingênuo.
O cronista, nos relatos de cunho histórico, faz menção a um passado
no qual, em entusiastas e calorosas provas de fé, andava o povo, organizado
em procissões, verdadeiros cortejos ardentes pelas ruas da antiga cidade da
Bahia. Entretanto, esta referência ao passado vem tão -somente ilustrar a
origem do apego às tradições, bem como da fé, como traços constituintes do
caráter do povo baiano que, já no tempo narrado pelo cronista, convertido em
multidão, ainda acompanha cortejos, mas agora transformados em genuínos
festejos populares, edificando com seus passos outra cidade, um novo mapa e,
ao mesmo tempo, construindo uma nova tradição em ritmo de dança e de fé.
Percebe-se que, na cidade das crônicas , na condição de povo,
elemento dotado da capacidade de construir uma cultura, mesmo morando
distante dos ricos, os pobres da cidade do Salvador tinham acesso, pela fé e
pelos passos da dança, aos diversos novos espaços então criados na moderna
cidade do Salvador. Como num ritual , este povo passava emprestando seu
ritmo, seu jeito, suas cores, sua alegria aos lugares, conformando um espaço
de cultura e tradição. Uma tradição criada pela força do seu relato, pois neles,
sem arrefecimento, ano a ano, os festejos popu lares aconteciam e tinham sua
força aumentada. É possível se imaginar uma relação simbiótica, na qual o
povo e a cidade vão conformando um complexo cultural singular ao aproximar
os lugares das festas com aqueles da vida cotidiana.
Os relatos do cronista, atos culturalmente criadores, mapeando o
movimento festivo do povo baiano, “autorizam” um campo, delimitam uma
106
cidade, traçam-lhe um mapa e criam-lhe um “teatro de ações” que se repetem.
Dotada de autoridade, a ação narrativa de Vasconcelos Maia não apenas
realiza a operação demarcatória de espaço. Legitimada pela repetição e
fundada na força do movimento festivo de um povo, ela tem como função
primeira a construção de uma “moderna tradição soteropolitana”.
4.4 COISAS DA V IDA E DA L IDA
Vivendo numa cidade cujo esboço de modernidade se distanciava do
seu centro histórico em direção ao Campo Grande, onde se encontravam as
obras sínteses da moderna arquitetura baiana, a saber, o teatro Castro Alves, o
Hotel da Bahia e o prédio da Reitoria da Universidade da B ahia, Vasconcelos
Maia, em seus relatos jornalísticos, explicita mais e mais uma estreita relação
com a cidade do Salvador.
O próprio ato de morar do cronista, pertencente à classe média,
como o intelectual brasileiro da época, dono de uma mentalidade peq ueno-
burguesa contra a qual sempre luta, como o fazem seus pares, conforme o diz
Walter Benjamim, traduz os novos rumos da cidade, metaforizando sua
transformação. Vasconcelos Maia, na infância, no berço da pequena
burguesia, condição traduzida pela descri ção da mobília de jacarandá, louça
“limonge” e dos pequenos tesouros que compunham sua sala de visita, morou
em uma ampla casa térrea, dona de quintal e jardim com fonte e carranca, no
Largo dos Aflitos, próximo ao centro de uma cidade que descobria, de pr onto,
novos lugares para ser moderna. Uma casa que, já em 1960, o olhar de um
cronista saudoso viu “assombrada, irreconhecível, com pretensões a bangalô”.
Jovem adulto, já casado, fixou suas raízes em Monte Serrat , próximo ao forte,
numa ruazinha bucólica de onde se avistava o mar e a sereia - sua musa. Uma
região dona de uma vizinhança amigável, ainda servida por lotações que
tinham nomes como a “Infantil” de Pelé - seu jovem e sorridente motorista
negro, serviço de ônibus elétrico, ruas calçadas com pedra s, enormes terrenos
baldios e uma zona de casebres na Pedra Furada. O caráter amistoso do bairro
se revelava, por ocasião dos festejos juninos, na abertura confiante e pródiga
das portas das casas aos amigos e visitantes, além daqueles que se esqueciam
de homenagear os “santos pagodeiros”. Em suas mesas exibiam licor de
107
jenipapo, canjica de milho verde, milho assado e cozido, bolo de São João,
amendoim cozido, batata assada e ainda realizavam os “assustados”, pequenos
bailes caseiros que não competiam com o grande baile do Iate Clube
Itapagipe.
Naquela cidade que crescia e se modernizava, a especulação
imobiliária empurra o preço dos aluguéis para o alto e alcança o cronista que
se vê às voltas com a necessidade de “dobrar o trabalho” e mudar de
residência, indo para uma “casa menor” e com aluguel “três vezes mais caro”,
longe do azul do mar, do forte, da capela e das asas dos saveiros. Trata -se de
uma mudança que sintetiza o processo no qual estão imersos o cronista e a
cidade frente às contradições da modernidade. Apaixonado pelo mar da
Cidade Baixa, ele passa a morar nas cercanias dos vales da Cidade Alta,
lugares que representam as possibil idades de modernização da cidade.
Na nova casa, num jogo de mais e menos, ele deixa ver que a
distância do mar e da se reia, paisagem conhecida e amada, é compensada pela
proximidade da nova e moderna cidade, pelo afastamento do calor, da
constante falta de água, das muriçocas e maruins da Cidade Baixa, pois a
residência atual, além de prometer um silêncio noturno inexiste nte na
anterior, “embiocada” por um vento, que não era “racionado nem triste”,
estava situada numa “paisagem nova”, na definição do cronista, na ladeira que
liga Federação e Canela. Um lugar de onde se avistavam ícones da moderna
cidade como o Campo Santo, descrito por Vasconcelos Maia como dono de
torres presunçosas e de muito mau gosto, o Hospital das Clínicas, como um
monstro que “vomitava cinzas toda manhã”, além dos telhados amarelados dos
bangalôs brancos dos novos bairros dos ricos. A casa tinha, ao fundo, a partir
do quintal , riacho, cascata, grilos, sapos, além da imensidão do vale que dava
acesso, através de trilhas ladeadas de heras, cansanção, mamona, orelha -de-
elefante, carrapicho, flores de bonina ao Garcia ou ao Rio Vermelho de Cima.
Outros atos do cronista também conformam e são conformados pela
nova cidade do Salvador. Um deles, destacado neste enfoque, o ato de
contemplar. No início de 1959, encantado pela paisagem natural, era da janela
de sua casa em Monte Serrat que, pela manhã, num ritua l, buscava contemplar
o mar, não apenas presente na paisagem como “pegado” em sua alma, e a
sereia, sua musa inspiradora. Para a gruta, morada da sereia, localizada na
108
Ponta do Humaitá, ao lado da Ermida de Nossa Senhora de Monte Serrat, ele
se dirigia quando “chateado e cansado” por certo dos problemas da vida na
cidade moderna. Outro lugar de destino do cronista, em busca do mar com
suas velas e saveiros, era o Passeio Público, no Campo Grande. Mas, neste
mesmo ano, na nova casa, ele conquistou a possibil idade de escolha, podendo
ver ora o vale, ora os ônibus que desciam velozes a ladeira da Federação, ou
seja, a natureza e a urbanidade.
Tece-se aqui um antes e um depois, no tocante ao olhar do cronista
sobre a cidade vista como paisagem -natural ou paisagem-urbana, sem um
rigoroso critério temporal. Na verdade, é impossível precisar o momento em
que ocorre a guinada do olhar do cronista que, a partir do Belvedere da Sé,
em seu escritório, da porta da Livraria Civilização Brasileira, na Rua Chile,
dos bairros populares, ao acompanhar suas manifestações diversas, ou ainda
dos novos bairros, passou a ver a cidade, em processo flagrante de
modificação, numa perspectiva diversa, ocupando -se com a sua cultura.
Outras práticas vistas nas crônicas de Vasconcelos Ma ia mostram-se
significativas para a representação da cidade, apontando as “astúcias” do
cronista. Dentre estas, atenta -se para os modos de comer vistos na cidade das
crônicas. Traduzindo uma perspectiva sinestésica, as comidas são descritas
com ênfase em seus perfumes, cores e sabores. Antecipada por uma
“cachacinha de Santo Amaro”, a moqueca “que enternecia a alma”, prato
predileto do cronista, resultava da mistura feita com peixe, pimenta, limão e
azeite. O restante do cardápio era constituído por vinho nacional, seco e
branco, da “Granja União”, seguido de um “doce de pitanga, rubro e
delicioso”, de um “café forte, feito na hora, moído em casa sem misturas de
espanhol” e por um “generoso” licor de maracujá que confortava o sangue
enquanto se revelava tão valioso quanto o Beneditinni . A presença da toalha
branca cobrindo a mesa, associada à higiene e l impeza, trai valores modernos
enquanto a necessidade de ensinar aos filhos “como saber comer” sem
precisar de “artigos de importação” indica a postura do inte lectual frente às
questões do seu momento histórico-social.
Na cidade retratada por Vasconcelos Maia, os padrões de interação
entre seus habitantes são marcadamente acentuados pela relacionalidade,
inexistindo ideias como separação, distância ou solidão. A ssim, o ato de
109
comer na cidade das crônicas não se concretizava, apenas, ao redor de mesas
cobertas por alvas toalhas no interior das residências. É certo que a Rua
Chile, a Avenida Sete, o Campo Grande eram dotados de restaurantes
modernos, destacando-se o restaurante do Hotel da Bahia, local onde vez ou
outra o cronista se deixa ver acompanhando intelectuais, visitantes ou figuras
da sociedade. Entretanto, ser de luxo ou zelar pela higiene eram atributos que
não atestavam a boa qualidade da comida servida nos restaurantes, em sua
maioria, segundo o cronista, explorados por estrangeiros que não primavam
pelo “apuro do tempero”, nem tinham a consciência da tradição da comida
baiana. Diferente, singular, esta era servida em barracas espalhadas pela
cidade, por verdadeiras “fadas cozinheiras”. No interior do Mercado Modelo
havia o restaurante Maria de São Pedro , para os ricos, talvez, e na Rampa
ficava a barraca “Santo Antônio”, de Arlinda, uma “fada cozinheira” que
tornava a “vida rica” para os saveiristas e o s caixeiros do Mercado, seus
fregueses, além do cronista. Situada de frente para a Igreja de Nossa Senhora
da Conceição, foi descri ta como pobre e tosca, sem soalho, com mesas e
cadeiras da Feira de Água de Meninos, sem artifícios modernos como
fogareiro a gás, panelas de barro, cozinhando em trempes de ferro sob o calor
do carvão vegetal . Para o cronista, dos “antiquados”, porém “milagrosos”
pilões, colheres de pau e panelas de barro de Arlinda saiam “delícias e
surpresas culinárias” como moqueca de peixe , galinha ao molho pardo e
fígado com caldo de ferrugem.
Com o crescimento desordenado da cidade das crônicas,
aumentavam os problemas urbanos. Para o cronista, a volta da escola com as
crianças transcorria de forma muito mais segura se fosse feita saltan do pelas
pedras do riacho que havia nas proximidades, já que atravessar as ruas era
uma façanha perigosa devido à velocidade dos ônibus que desciam a ladeira ,
vindos da Federação. O transporte urbano - seus ônibus velhos e motoristas
despreparados - era objeto de preocupações dos moradores d aquela cidade na
qual achar um táxi consist ia “num verdadeiro milagre”. Os lotações (dito no
masculino) corriam muito, t iravam “finos” nas curvas fechadas, convertendo a
viagem numa “aventura”, na qual seus passageiros t emerosos rezavam até
chegar ao destino. Somente o congestionamento do tráfego obrigava o chofer
a diminuir a marcha.
110
Esta cidade se organizava e se desenvolvia tendo como base a
singularidade particular de cada indivíduo. Nela , o acento da vida e do
desenvolvimento era direcionado ao absolutamente peculiar e menos ao igual,
sendo alguns de seus personagens pensados como tipos. A descrição dos
tipos, de forma pueril e amistosa , era feita na li teratura em voga em Paris , no
século XIX, com o objetivo de fami liarizar os cidadãos, dissolvendo os
elementos estranhos criados pela própria metrópole, na tentativa de atenuar
seus medos e inquietações e assim amenizar os conflitos decorrentes da sua
existência. Na cidade das crônicas conviviam tipos curiosos e in teressantes
com origens, por certo, atreladas à questão da própria configuração da cidade ,
integrando-a de forma alegre e bem humorada. Havia o seresteiro, o trovador
noturno, o trovador da Praça Cairu, o barbeiro que se entendia delegado do
Solar do Unhão, o travesti que apareceu nas ruas do Comércio, as prostitutas
que ocupavam as ruas próximas ao centro da cidade.
O “elegante prestidigitador” , singularmente marcado pelo modo de
vida na cidade moderna foi descri to pelo cronista como uma espécie de
contrabandista que fazia aparecer, dos bolsos de seu paletó bem cortado ,
objetos de natureza variada. Estes eram verdadeiros “sonhos cintilantes”
distanciados da realidade do cronista pela barreira dos “contos de réis”. A
presença do tipo na cidade das crônicas traduz a ruptura, o estranhamento do
cronista diante da lógica da modernidade tardia que se mostra va uma
experiência insólita para seus habitantes. O processo de crescimento
tumultuado e irregular daquela cidade perturbava e transtornava o homem
comum, e as descrições dos personagens auxiliavam a sua assimilação.
A cidade convivia de modo pacífico com situações de contrastes e
paradoxos. Contando com uma atividade comercial em crescimento, dotada de
lojas modernas com vitrines brilhantes, ainda apresenta prátic as com liames
que as prendem ao passado, como os velhos “curvos” e “centenários” que
vendiam doces às portas da casa gritando seus pregões, as “velhas baianas”
com seus tabuleiros nas esquinas das ruas, as barracas e feiras livres
espalhadas pela cidade, sendo a mais famosa a de Água de Meninos.
A cidade das crônicas foi descrita como lugar agradável à infância,
especialmente para os meninos, que eram vistos através de práticas que se
configuram como “resistências”. Eram os banhos de mar no Porto da Barra ou
111
na Praia do Unhão, as brincadeiras com carrinhos de rolimãs nas calçadas, o
jogo de gudes, as “pegadas” das arraias empinadas em profusão, o retorno da
escola saltando riachos e chutando pedrinhas, nos barrancos dos vales
trepados nas árvores colhendo frutos, nas brincadeiras domésticas pregando
sustos nos adultos, fazendo questionamentos. Meninas, na cidade das
crônicas, foram poucas e já apresentavam atitudes mais “adultas”: espertas,
elas vendiam rifas nos escritórios para ajudar instituições. Indicativo de
mudança foi o quarto de criança - não mais compartilhado com adultos, o
quarto “dos meninos” foi descrito contendo duas caminhas, flâmulas nas
paredes, livros de Zorro e Tarzan, bola de couro, caderno de deveres. Práticas
aprendidas de pronto eram ainda a leitura do Tesouro da Juventude , a ida
dominical ao cinema, o gosto pelas viagens de avião e o ato de escrever cartas
a Papai Noel.
Vasconcelos Maia, a exemplo do poeta francês Charles Baudelaire
em seu ensaio O pintor da vida moderna, mencionado por Benjamim (1989),
discorreu sobre os costumes, a representação da vida burguesa , os espetáculos
da moda e os novos modos de viver na cidade que se modernizava de forma
clara e ágil, atento aos mínimos detalhes. A passarela da moda desfilou diante
do leitor que percorreu com os olhos as primeiras l inhas da crônica A Mulher
e o Vestido, fruto do olhar inaugural do cronista sobre a cidade, no dia de
estreia do Jornal da Bahia. Como o Baudelaire de As Flores do Mal, no
frenético movimento das ruas da moderna Pa ris do século XIX, Vasconcelos
Maia quedou-se perplexo diante de sua “Passante”, e rendeu-se àquela que
“era jovem, alta, pernas longas, vinha dentro dum fantástico vestido saco” ,
constituindo “Uma obra de arte a mulher e o vestido”. Como o poeta, o
cronista não conseguiu separar a mulher de suas vestes e fez delas, mulher e
vestido, uma imagem inseparável de beleza, uma “totalidade indivisível”.
Longe iam os dias em que a mulher soteropolitana vivia ao abrigo do
aposento escurecido do sobrado colonial, vez que a rua não consistia em
espaço para senhoras. Na cidade das crônicas, livrando-se das cortinas e dos
reposteiros, a mulher precisou se liberar do vestido longo e de cintura
apertada por esparti lhos, das inúmeras anáguas de cambr aia e assim poder
viver a e na moderna cidade do Salvador. E seu vestido, “maravilhosamente
saco e translúcido, velando a cintura fina e esbelta”, mostrava, “à gula dos
112
homens” , um corpo moreno, queimado de sol , “belas ancas flutuantes” num
passo de dança, além de sua inteligência e coqueteria. A moda foi mostrada
não na vitrine, sem vida, amorfa, mas vivificada por uma bela mulher que ,
com um “vestido saco”, encobria a sua beleza e jovialidade.
A cidade das crônicas tem em sua vida ordinária elementos
estratégicos para a tradução de sua modernidade.
4.5 NAS MALHAS DA CULTURA
Sandra Pesavento (1995) , analisando a construção da história
cultural do urbano, cita a distinção feita por Marcel Roncayolo entre
produtores e consumidores de espaço, afirmando a existência de um sistema
de ideias daqueles que “fazem a cidade” , projetando-a, discutindo-a ou
executando-a. Estando no interior das classes dominantes ou das elites
dirigentes, os profissionais da cidade concebem uma maneira d e construir
e/ou transformar o artefato moderno através de práticas definidas, construindo
também um modo de pensar, viver ou sonhar o espaço urbano. Estes
espectadores de urbe apresentam uma variação de sensibilidade e educação do
olhar, um modo próprio de ler a cidade.
Por seu turno, discutindo sobre as formas de “se orientar e estudar
as cidades modernas”, Stela Bresciani (1992) menciona “não sete, mas cinco
portas de entradas conceituais” que seriam “problemas a serem solucionados
pontualmente”. A primeira delas, a questão técnica, impondo a necessidade de
avaliação da materialidade da teia urbana; a segunda, a dimensão social , que
diz respeito ao homem e sua forma de convivência na cidade, a seus projetos
políticos; a terceira, a da formação de novas identidades sociais, pensadas a
partir do surgimento da classe burguesa; a quarta, a da educação dos sentidos,
que mostra a cidade como lugar de formação de nova sensibilidade; a quinta
porta seria a de acesso à cidade conceitual, a do lugar na história. A
historiadora introduz uma “porta mais estreita” que permitiria vislumbrar a
cultura popular que foi “abafada sob o pesado manto dos valores burgueses,
destinada ao silêncio e a desaparecer” (BRESCIANI, 1992, p.13).
Esta últ ima pode ser pensada como a porta que o leitor de cidade
Vasconcelos Maia escolheu para se orientar. Elegeu uma porta de entrada
113
conceitual , constituída pela cultura e pela identidade, estruturando com estes
dois pilares o problema da cidade do Salvador a ser resolvido naquele
contexto. Da leitura de suas crônicas depreende -se o surgimento de um campo
intelectual e artístico, tradutor da modernidade da cidade que até então
vivera, após a perda da condição de capital colonial para o Rio de Janeiro, um
longo período de isolamento e solidão no qual desenvolveu a trama
psicossocial de uma nova cultura, oriunda “das experiências da gente lusa, da
gente banto e da gente iorubana”, que iria resultar “num complexo cultural ,
historicamente datável”, conforme sustenta Antonio Risério (1995, p. 158).
A cultura da cidade emerge como um ser que se narra pela pena do
cronista, não sendo mais um discurso sobre a cidade, e sim um discurso
identitário, dotado de característ icas próprias. Pelos relatos de um cronista
que escreve a partir do “olho do vulcão”, a cidade do Salvador que foi, desde
os tempos coloniais, objeto do discurso do Outro, passa a ser um sujeito, cujo
discurso é constituído por sua própria história.
Vasconcelos Maia consegue perceber ou lançar sobre a cidade do
Salvador o olhar de estranhamento, ver em sua identidade pontos de
similaridade e, ao mesmo tempo, aspectos de acentuada diferença com relação
à pretensa identidade nacional. De forma explícita, comparava a cidade com
outras do Sul e Sudeste do país, processo no qual o Rio de Janeiro seria o
espelho da modernidade no qual Salvador pr ecisava se mirar; São Paulo, de
modo racional, dava lições de como aproveitar sua riqueza e potencial
turístico; e Porto Alegre, “a amiga” da cidade do Salvador, era a mais
parecida por seu modo de ser amistoso. Sendo a construção de uma
identidade cultural um processo que se dá pela falta, pela ausência e, segundo
Stuart Hall (2003), não uma essencialidade, mas proveniente de alguma parte,
processo sujeito ao jogo da história, da cultura e do poder, em constante
transformação, cada uma dessas três cidades brasileiras oferecia meios para
construção de uma identidade baiana.
Ao criar uma nova ordem simbólica, um princípio ordenador, no
campo da representação, o cronista faz uma reversão, pondo o mundo
soteropolitano às avessas. Desse modo, novas unidades cu lturais passam a
representar o reencontro com as origens, modificando uma ordem social
existente. Propõe uma reversão dos valores de avaliação do Outro, usando
114
como lei maior mostrar como positivo aquilo que outrora fora negativo.
Alguns discursos si lenciados são ditos num tom de exaltação. É o que faz com
os elementos da cultura negra, como o candomblé, as festas populares, a
comida, a própria cultura da cidade. O escritor baiano constrói em sua
representação da cidade do Salvador aquilo que bem pode ser c onsiderada
uma história da cultura baiana.
O povo, segundo Antonio Candido (2004), surge na representação
literária dos modernistas para dar “sentido humano‟ àquele programa estético,
não como assunto, mas como realidade criadora. E Vasconcelos Maia, no
momento em que o país vivia uma fase desenvolvimentista e entrava
definit ivamente na modernidade, mostrava uma cidade moderna, mas nem
tanto, apresentando contradições, e um povo desassistido pelas melhorias
proporcionadas pela modernização, tendo ainda com o principal atividade
social a vida lúdico-religiosa, que ia além do ambiente familiar, estendendo -
se aos bairros.
Sua representação de uma cidade moderna pelas ações de um povo
pobre, dançando ou rezando pelas ruas, à medida que aproxima modernidade e
povo, mostrando o atraso da cidade, revela não somente uma ideologia, como
também, o olhar antropológico do cronista, calcado nas leituras inteligentes
dos aspectos da cultura da cidade. Ao retirar este povo da condição de fiéis
tristes e passivos, enfileirados em procissões católicas soturnas e austeras,
Vasconcelos Maia sugere a busca por um processo de construção de uma
identidade cultural baiana, repudiando influências externas, notadamente
aquelas que remetam à herança colonial.
Vasconcelos Maia foi um cronista dotado de plena consciência dos
problemas reais vividos pela cidade e com total inserção em seu campo
cultural, atributos que justificam os recortes de sua narrativa. O cronista faz
alusão a descrições diversas veiculadas em jornais locais, ainda que a elas
não se refira diretamente, nas quais o povo era retratado como aprisionado em
valores e comportamentos que não o caracterizavam, e no agora das crônicas
jornalísticas, este mesmo povo se vê representado como uma multidão
ondeando em explosões de alegria pelas ruas da cidade. Esta forma de
representar, consti tuindo uma realidade criadora, delineia a busca por uma
identidade cultural marcada pela redução do brilho da influência portuguesa,
115
mostrando-a sobrepujada pelo alegre e festeiro caráter bai ano. Na análise de
suas crônicas nota-se que houve claramente o apagamento de uma certa
presença do Outro, visto como o colonizador europeu.
Os relatos de Vasconcelos Maia têm a força de realizar uma
operação de desmistificação da influência europeia na formação da cultura
baiana, marcando-a, naquele momento, como desprovida de força
determinante da cultura daquela que fora pensada como um bairro de Lisboa.
Naquele contexto, na Bahia, a busca do original , surpreendentemente, não
remontava à ordem colonial, a Portugal, ou Lisboa. A cultura que se queria
autêntica surgia dando as costas a tudo que fosse europeu e com a face
voltada para o Atlântico de onde a África se fazia ouvir.
Diante disso, ainda que práticas culturais distintas tenham aparecido
em suas crônicas, a seleção feita pelo cronista para determinar o caráter
original e genuíno da cultura baiana, que deveria refletir tudo aquilo dotado
do caráter de autêntico e ligado ao povo, foi resolvida mais enfaticamente,
por meio das manifestações e práticas religiosas afro-descendentes.
Afigura-se a hipótese de que, na cidade do Salvador, o surgimento
de uma “moderna tradição” não se dá simplesmente pela chegada dos meios
de comunicação de massa, mas pela possibilidade por eles criada, como
defende Renato Ortiz (2006). O candomblé, prática religiosa associada ao
“autêntico”, ao “primitivo”, com capacidade de imprimir caráter singular a
uma cultura, teria tido no jornal, especialmente nas crônicas de Vasconcelos
Maia, um aliado para se consolidar, a partir das camadas médias da
população, como um dos mais fortes tradutores da modernização da cidade.
Foi com o povo cantando e dançando, transformando lugares em
espaços, com o ressoar dos passos das mulas que transportavam as barracas
ciganas levando a comida bai ana pelos becos e ladeiras da cidade em festa e
com o som dos atabaques nos terreiros de candomblé, falando com as razões
do coração, numa busca apaixonada, denunciando a existência de elementos
de uma cultura silenciada ao longo do tempo pelo discurso dom inante,
colocando-se aberto ao progresso e à cultura, especialmente à cultura popular,
às experiências negras sujeitadas ao apagamento que Vasconcelos Maia
traduziu o processo de modernização da cidade do Salvador.
116
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As seleções temáticas feitas por Vasconcelos Maia traduzem o
processo de modernização da cidade do Salvador e refletem as diversas visões
da sua vida cultural, suscitando discussões pertinentes ainda em nossos dias.
Algumas delas dizem respeito às atitudes do intelectual e sua forma de
representar a si mesmo, ao espaço urbano e, mais especificamente, à cultura
baiana.
Vasconcelos Maia foi percebido como um intelectual dotado da
capacidade de representar, influenciar, promover mudanças no modo de
pensar, e ainda ser porta-voz das preocupações e aspirações de seus leitores.
Seu discurso, desprovido de inocência, e sua atuação, ultrapassando a de mero
observador, propõem um sentimento mais íntimo com a cidade , não sendo
portanto mera descrição ufanística. Sua ação denotava um historiador de
cultura dotado de visão anti -imperialista e nacionalista, que valorizava, de
forma irrestrita, o povo e suas diversas manifestações culturais, apoiando as
variadas expressões da arte moderna. Ainda que não explicitamente, em
consonância com a “ideologia desenvolvimentista” do Governo de Juscelino
Kubitscheck, seu pensamento exprimia o anseio por uma modernização
nacionalizada, identificando como inimigo a ser combatido os aspectos
arcaicos da sociedade baiana. Estes se revelavam na dificulda de em acertar o
passo com os movimentos da esfera econômica do Sul do país e no
apagamento do traço marcadamente híbrido da cultura local.
Intelectual atuante, presente naquele contexto histórico -social como
escri tor de contos, o cronista, por certo, padec ia dos mesmos problemas que
afl igiam seus pares no tocante ao alcance do leitor. Possivelmente, via -se às
voltas com questões referentes a pu blicação, mercado e outras mais relativas
à instituição literária. Infere -se que a escolha pela escri ta jornalístic a, feita
por Vasconcelos Maia, aqui nunca pensada como gratuita, aproximava -se de
uma seleção historicamente determinada, já que a cidade parecia clamar por
um cronista e pela crônica para explicar aquele seu momento histórico -social.
As crônicas de Vasconcelos Maia não apenas indicam acuidade de
leitura dos fenômenos sociais à sua volta, mas lidas em seu conjunto,
permitem ver certa intencionalidade na narrativa de aspectos da história da
117
cultura da cidade do Salvador de então, fato que lhes dá uma config uração de
unidade. O conteúdo quase pré -determinado não lhes rouba o mérito da
criação, da inventividade, porquanto a lei tura e a representação consistem por
si em atos criadores. Alguns aspectos formais por ele empregados, como a
ironia, o diálogo implíci to com o leitor, o recurso da repetição exigem, para
sua clara compreensão, uma leitura atenta, não somente ao gênero, como
também ao momento em que escreve o cronista .
Vasconcelos Maia, em sua prática jornalística, dialoga com o
contexto local que vivia sua efervescência cultural, fazendo o mesmo com os
meios de comunicação de massa e com a l iteratura. Sua relação com os media,
ainda incipientes na cultura baiana, não ficou restrita ao jornal, uma vez que
o cronista alcançou o rádio, publicando crônicas ra diofônicas. Quanto à
literatura, estabeleceu diálogo especialmente com os escri tores modernistas,
seus pares, aos quais confessou sua dívida literária, além de fazê -lo com o
movimento modernista em seu conjunto.
O ato criador do cronista baiano é sincroni camente ligado às
mudanças vividas por Salvador. Sensível, sem reducionismo, ele não se põe
alheio às contradições ou mesmo aos disparates vistos no processo da
modernização urbana. A sua escri ta diária é a ponte que liga os diversos
mundos pelos quais transita, a saber, o povo e os intelectuais, as massas e os
movimentos culturais eruditos, a cidade tradicional e a moderna. Afeita a
hibridismos, na cidade dos relatos do escri tor, a cultura erudita, representada
pela Universidade da Bahia, um poderoso difus or de cultura, não se
distanciava de forma significativa da cultura popular.
O intelectual Vasconcelos Maia revelou -se fiel à história
soteropolitana, narrando acontecimentos grandes ou pequenos de forma
indistinta. Traduziu-lhe a cultura com seu nascimento distanciado do capital,
pois, representando a relação dialética cidade e povo, retratou -a moderna e
pobre, com habitantes que não conheciam a modernidade tal qual era mostrada
no Rio de Janeiro, modelo no qual Salvador espe lhava-se, evidenciando dessa
forma a existência de um abismo entre as duas.
Demonstrando profundo conhecimento daquele espaço urbano, e
completa consciência das peculiaridades de suas relações sociais,
Vasconcelos Maia apresentava uma maneira própria de nele inserir -se,
118
emitindo dele sua visão diferenciada. Tendo examinado a gente, a casa, a rua,
o bairro, o mar e a baía em seu entorno, personifica a urbe, tratando -a com a
um ser natural. A cidade do Salvador é referida como uma mulher dotada de
atributos como maturidade, beleza, integ ridade e força íntima. Às vezes, ela é
a mãe devotada de fi lhos zelosos, ou a dama que tem amantes sinceros, leais e
eternos. Outras, converte-se em uma virgem dotada de pureza, espontaneidade
e ingenuidade, preparando-se para o casamento, mas vivendo a constante
ameaça de se aviltar, de se tornar uma cortesã formosa, exótica, vulgar e
sórdida. Indefesa, ela requer ora guardiães zelosos, ora amantes devotados.
Os escritos jornalísticos de Maia trazem ainda uma explicação da cidade
através do caráter do povo baiano, representado como puro, desprendido,
alegre e festeiro.
Fruto de um olhar sensível e do perfeito engajamento nos campos
cultural e intelectual , que lhe possibilitavam o exercício da reflexão sobre a
modernização urbana, a escrita jornalística de Vasconcelos Maia tinha o traço
de uma literatura empenhada, aspecto que foi determ inante no modernismo
brasileiro. Sua crônica, rica em aspectos cotidianos das transformações
vividas pela urbe naquele período, identificava -se fortemente com um projeto
divulgador. Ela narrava uma cidade vivenciando intensas modificações em sua
esfera social, cultural e econômica, lidando com a necessidade de abrir-se ou
concretizar sua abertura para o turismo. Dava ênfase em retratar a
metamorfose daquela que, não sendo mais um próspero e movimentado porto
ou uma extensão de Lisboa, sem realizar seus anseios de progresso por outras
vias, enxergava no turismo a sua possibil idade de redenção econômica.
Ao confessar gostar primordialmente de gente, difundir a
importância da defesa do patrimônio histórico e cultural da Bahia, chamar a
atenção dos habitantes para a luta pela preservação de suas riquezas
arquitetônicas, dar significado às práticas culturais afro-descendentes,
atribuir relevância ao caráter de festejo popular manifes tado pelo carnaval
baiano de então, descrever as diversas festas de seu entorno e traçar roteiros
turísticos para o Recôncavo ou para as ilhas da Baía de Todos os Santos,
numa visão proativa, Vasconcelos Maia levava a cidade a tomar consciência
de si mesma, enquanto alicerçava as bases daquela que viria a ser a turística
Salvador dos dias atuais.
119
Um dos resultados mais relevantes desta pesquisa pode ser a
constatação de que os escritos jornalísticos de Vasconcelos Maia, iluminados
pela luz da história da urbe soteropolitana, de estudos literários outros ou da
sociologia, caracterizam-se como uma forma diversa, mas importante, de
expressão de um escritor já consagrado como contista. Tal fato converte
Vasconcelos Maia em um desafio a ser enfrentado pela histor iografia literária
ou cultural da Bahia considerando que, ainda que ele tenha selecionado e
dado forma livresca a algumas de suas crônicas, parte significativa de sua
obra encontra-se dispersa nos periódicos para os quais contribuiu
regularmente ao longo de sua trajetória. Seus escritos jornalísticos
apresentam uma lógica interna tradutora dos paradoxos do processo de
modernização ou das contradições sociais do capitalismo na cidade do
Salvador, sem buscar harmonizá -los, forçando uma unidade ou coesão
inexistentes. O conjunto de sua produção contínua para os jornais resulta
numa visão da cidade permeada por múltiplos determinismos, não apenas o
econômico, como poderia sugerir uma leitura mais ligeira, sobretudo aquelas
ligadas às suas estreitas relações com o projeto de sua industrialização pela
via do turismo.
Esta abordagem, voltada exclusivamente para as crônicas publicadas
no Jornal da Bahia - embora o cronista também escrevesse, no Jornal A
Tarde , a coluna semanal Café da Manhã -, buscou trazer a lume uma vertente
pouco conhecida da produção de Vasconcelos Maia, aproximá -la dos meios
acadêmicos, salientando a riqueza e a variedade temática dos escritos
jornalísticos deste escritor baiano que, sendo um contista renomado, com
publicações no exterior, conver teu-se em um cronista incansável, narrando
detidamente a cidade do Salvador em seu processo de modernização. Este, que
não pretende ser um estudo conclusivo, uma vez que suas questões não se
esgotam neste enfoque, tomou para si a responsabilidade de aponta r as
múltiplas possibilidades de leitura daquilo que se configura como um
importante registro de um momento singular vivido pela Bahia, reclamando,
ambos, momento e registro, por maior esforço de investigação.
120
REFERÊNCIAS
1 CRÔNICAS DO AUTOR NO JORNAL DA BAHIA
MAIA, Vasconcelos. A mulher e o vestido. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia
Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 21 set. 1958.
______. Um gênio diante de mim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 24 set. 1958.
______. A campeã de bridge. Jornal da Bahia , Dia Sim, Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 26 set . 1958.
______. A lotação de Pelé. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 28 set . 1958.
______. Santa Clara clareou. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 01 out. 1958.
______. A rosa e a sereia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 3 out. 1958.
______. Carta de protesto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 5 out. 1958.
______. O pintor Rubem Valentim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 10 out. 1958.
______. Serenatas de hoje. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 17 out. 1958.
______. Jonas “rojão”. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 19 out. 1958.
______. Eleitoreiras. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 29 out. 1958.
______. Vivaldo Costa Lima. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 2 nov. 1958.
______. Algumas de criança. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 9 nov. 1958.
______. Caridade e esperteza. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 12 nov. 1958.
______. O professor Rossi. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 23 nov. 1958.
______. A moça dos cabelos de sol. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 28 nov. 1958.
121
______. Para sempre. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 3 dez. 1958.
______. Gente bamboleai! Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 10 dez. 1958.
______. O homem emboscado. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 14 dez. 1958.
______. Da frustração de não ser marinheiro. Jornal da Bahia , Caderno 1,
Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 19 dez. 1958.
______. Pregões que ainda não morreram. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia
Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 24 dez.1958.
______. Perfume da Bahia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 30 dez. 1958.
______. Paulo e Ari. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 31 dez. 1958.
______. Flagelados sob as marquises. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 4-5 jan. 1959.
______. Arraia cortada. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 9 jan.1959.
______. Candomblé das arábias. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 11-12 jan. 1959.
______. O homem e as vitrines. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador , p.5, 16 jan.1959.
______. La Belle Marion banhada em Lord Mayor. Jornal da Bahia , Caderno
1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 21 jan. 1959.
______. Segunda-feira da Ribeira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 28 jan. 1959.
______. Bom Jesus dos Navegantes. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 30 jan. 1959.
______. O Pelourinho e Casbah. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 1 -2 fev. 1959.
______. A Bahia precisa de soluções inteligen tes para seus problemas
urbanos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 17
fev. 1959.
______. As barracas ciganas. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 19 fev. 1959.
122
______. Sortilégio. Jornal da Bahia , Dia Sim, Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 21 fev. 1959.
______. Ladeiras. Jornal da Bahia , Dia Sim, Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 27 fev. 1959.
______. Madrugada na praia da Jaqueira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia
Sim, Dia Não, Salvador , p.5, 7 mar. 1959.
______. Outra fada cozinheira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 15-16 mar. 1959.
______. Fiapo de nuvem. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 1º abr. 1959.
______. (Sem título). Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 15 abr. 1959.
______. Viagem. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 24 abr. 1959.
______. Meretrício e Pelourinho - I. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5 , 25 abr. 1959.
______. Meretrício e Pelourinho II. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 29 abr. 1959.
______. Hélio Basto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 6 maio 1959.
______. O dique. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
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______. Encontro com o governador. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 14 maio 1959.
______. O poeta Jair Gramacho. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p .5, 3 jun. 1959.
______. Impróprio até dez anos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 10 jun. 1959.
______. Eliana e o mar. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 14-15 jun. 1959.
______. Fogueira de Airá. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 1º jul. 1959.
______. Nelson de Araújo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 8 jul. 1959.
123
______. Duas festas litúrgicas. Jornal da Bahia Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador , p.5, 29 jul . 1959.
______. Uma senhora de São Paulo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
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______. Alfredo Santos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 5 ago. 1959.
______. Cenário de lendas, paisagem de beleza. Jornal da Bahia , Caderno 1,
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______. Maria Célia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. A procissão marítima de Nossa Senhora. Jornal da Bahia , Caderno
1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 11 set. 1959.
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Sim, Dia Não, Salvador, p.5, 16 set. 1959.
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Salvador, p.5, 18 set . 1959.
_____. Cangaço. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
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______. O prestidigitador. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 4-5 out. 1959.
______. Agripino Grieco. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 7 out. 1959.
______. Miséria colorida. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 14 out. 1959.
______. Jânio e a Imprensa. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 21 out. 1959.
______. Mudança. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
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______. Casa nova. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 25-26 out. 1959.
______. Gesto misterioso. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 28 out. 1959.
124
______. Sarda. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador, p.5,
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______. Escravo de assunto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 10 nov. 1959.
______. Boêmia doméstica. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 14 nov. 1959.
______. “Conto” do passarinho. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 27 nov. 1959.
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______. Lauzier. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 13-14 dez. 1959.
______. O ciclo das arraias. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 30 dez. 1959.
______. “Ternos” de reis. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Milagre. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 10-11 jan. 1960.
______. Crônica de outro. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 15 jan. 1960.
______. Érico Veríssimo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 27 jan. 1960.
______. Domingo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 31 jan./1º fev. 1960.
______. Chuva. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
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______. Chicharro. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 13-14 mar. 1960.
______. Cinema. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
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______. O “Delegado” Rafael . Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
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______. Roteiro para um d ia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Mário Cravo Júnior. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Televisão. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 16 jun. 1961.
______. Com vistas aos editores. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 21 jun. 1961.
______. Um rei salvou o palácio. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 16-17 jul. 1961.
______. Eguns. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 19 jul . 1961.
______. Início de festa. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 21 jul. 1961.
______. Maria Célia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 13-14 ago. 1961.
______. O poeta em Hong-Kong. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 18 ago. 1961.
______. Unhão. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 23 ago. 1961.
______. Um gerente de banco. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 3 -4 set . 1961.
______. Rampa do mercado. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 24-25 set. 1961.
______. Moça sozinha na sala. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 3 out. 1961.
______. Presente à Mãe d‟Água. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 3 jan. 1962.
______. Os guardiões dos ternos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 5 jan. 1962.
128
______. Lavagem do Bonfim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 10 jan. 1962.
______. Lavagem do Bonfim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 13 jan. 1962.
______. Segunda-feira da Ribeira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 14-15 jan. 1962.
______. Um palácio em leilão. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 19 jan. 1962.
______. Calendário. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 27 jan. 1962.
______. Seco sentimental Romeu. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 29 jan. 1962.
______. Pré-carnavalesca. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 25-26 fev. 1962.
______. Pré carnavalesca. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 28 fev. 1962.
______. Coquetéis de cores. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 29 mar. 1962.
______. Quantos? Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 13 jun. 1962.
______. Misse Brasil . Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 19 jun. 1962.
______. Outra fada cozinheira. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 2 -3 dez. 1962.
______. Bom Jesus dos Navegantes. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 30 -31 dez. 1962.
______. Lavagem do Bonfim. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 11 jan. 1963.
______. Lavagem do Bonfim I. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 16 jan. 1963.
______. Lavagem do Bonfim - II. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 18 jan. 1963.
______. As barracas ciganas. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 8 fev. 1963.
129
______. Unhão ressurreto. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 20 fev. 1963.
______. Ainda o Solar do Unhão-II. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
Dia Não, Salvador, p.5, 22 fev. 1963.
______. Automóveis. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 6 mar. 1963.
______. Lygia Milton. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 10-11 mar. 1963.
______. O Pintor de olhos fundos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 13 mar. 1963.
______. Ângulos. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
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______. Força da cor. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. “Ângulos”. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Noturno. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
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______. Chuva. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não, Salvador,
p.5, 29 mar. 1963.
______. História da Bahia. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 3 abr.1963.
______. Viva o Forte da Gamboa. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
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______. Indústria de barracas e invasões. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia
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______. Estória de cangaço. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Casal na chuva. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Ciclo das arraias. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. A mulher de cabelos verdes. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
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130
______. Maria Célia novamente. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 17 jul . 1963.
______. Carlos Bastos redivivo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 19 jul . 1963.
______. Carybé baianíssimo. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
Salvador, p.5, 26 jul. 1963.
______. Estória de cangaço. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Resposta a uma carta. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 9 ago. 1963.
______. Rebouças, o Antonio. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
Não, Salvador, p.5, 11-12 ago. 1963.
______. Vou embora pra Brasília. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
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______. Turismo com dignidade (I). Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
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______. O Homem emboscado. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
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______. O Forte de Monte Serrat. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
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______. Riqueza da cor. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia Não,
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______. Festas populares: calendário. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim,
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______. Palácios e solares - I. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
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______. “Ternos e ranchos” hoje. Jornal da Bahia , Caderno 1, Dia Sim, Dia
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136
APÊNDICE - A
RELAÇÃO DE CRÔNICAS DE VASCONCELOS MAIA
PUBLICADAS NO JORNAL DA BAHIA, DIA SIM, DIA NÃO, CADERNO 1, PÁGINA 5
1. 21 set .1958 - A Mulher e o vestido
2. 24 set .1958 - Um gênio diante de mim
3. 26 set .1958 - A Campeã de bridge
4. 28 set .1958 - A lotação de Pelé
5. 01 out.1958 - Santa Clara clareou
6. 03 out.1958 - A rosa e a sereia
7. 05 out.1958 - Carta de protesto
8. 08 out.1958 - Domingo, pé de cachimbo
9. 10 out.1958 - O pintor Rubem Valentim
10. 12 out.1958 - Nacib e Gabriela
11. 15 out.1958 - SS – Brasil, coquetel
12. 17 out.1958 - Serenatas de hoje
13. 19 out.1958 - Jonas “Rojão”
14. 22 out.1958 – “Show” do fiscal eleitoral
15. 24 out.1958 – Conversa de Criança
16. 27 out.1958 – O escritor e o estudante
17. 29 out.1958 - Eleitoreiras
18. 02 nov.1958 - Vivaldo Costa Lima
19. 05 nov.1958 - Livro de aventura
20. 07 nov.1958 - Conversa de criança II
21. 09 nov.1958 - Algumas de criança
22. 12 nov.1958 - Caridade e esperteza
23. 14 nov.1958 - Uma lenda de Oxalá em teatro
24. 19 nov.1958 - Bola de gude
25. 21 nov.1958 - Revista Brasileira e concursos brasileiros
26. 23 nov.1958 - O professor Rossi
27. 26 nov.1958 - “Não receiem chorar: o público aguenta”
28. 28 nov.1958 - A moça dos cabelos de sol
29. 03 dez.1958 - Para Sempre
30. 05 dez.1958 - Conversa de crianças III
31. 07 dez.1958 - O menino e o incêndio
32. 10 dez.1958 – Gente, bamboleai!
33. 12 dez.1958 - A Bahia ganha outro defensor
34. 14 dez.1958 - O homem emboscado
35. 17 dez.1958 - O Instituto Pestalozzi
36. 19 dez.1958 - Da frustração de não ser marinheiro
37. 24 dez.1958 - Pregões que ainda não morreram
38. 29 dez.1958 - Rio, Zona Norte
39. 30 dez.1958 - Perfume da Bahia
40. 31 dez.1958 - Paulo e Ari
41. 04 - 05 jan.1959 - Flagelados sob as marquises
42. 09 jan.1959 - Arraia cortada
43. 11 - 12 jan.1959 - Candomblé das Arábias
44. 14 jan.1959 - O trovador da Praça Cairu
45. 16 jan.1959 - O homem e as vitrines
137
46. 18 - 19 jan.1959 - Ter juízo
47. 21 jan.1959 - La Belle Marion banhada em Lord Mayor
48. 28 jan.1959 - Segunda-feira da Ribeira
49. 30 jan.1959 - Bom Jesus dos Navegantes
50. 01 - 02 fev.1959 - O Pelourinho e Casbah
51. 04 fev.1959 - A Velhinha e sua dentadura
52. 06 fev.1959 - Carnaval e turismo
53. 08 - 09 fev.1959 - Concurso de cordões, afoxés e batucadas
54. 13 fev.1959 - Suíte na Ponta do Humaitá
55. 15 - 16 fev.1959 - A terra do fotógrafo Lessa
56. 17 fev.1959 - A Bahia precisa de soluções inteligentes para seus
problemas urbanos
57. 19 fev.1959 - As barracas ciganas
58. 21 fev.1959 - Sortilégio
59. 25 fev.1959 - Depois do Carnaval
60. 27 fev.1959 - Ladeiras
61. 07 mar.1959 - Madrugada na Praia da Jaqueira
62. 11 mar.1959 - Paulino e Glauber
63. 13 mar.1959 - Museu de Arte e História
64. 15 - 16 mar.1959 - Outra fada cozinheira
65. 18 mar.1959 - Rosa Vermelha do Beco do Mingau
66. 21 mar.1959 - A felicidade do casamento
67. 25 mar.1959 - Ainda sobre o turismo
68. 27 mar.1959 - Sexta-feira da Paixão na cidadezinha morta
69. 1ºabr.1959 - Fiapo de Nuvem
70. 02 abr.1959 - Rainha das mulatas
71. 03 abr.1959 - Comidas e restaurantes
72. 08 abr.1959 - Batismo de caminhões
73. 12 - 13 abr.1959 - Tempero de arraias
74. 15 abr.1959 - (Sem título)
75. 24 abr.1959 - Viagem
76. 25 abr.1959 - Meretrício e Pelourinho - I
77. 29 abr.1959 - Meretrício e Pelourinho II
78. 1º mai.1959 - Pedaço de céu
79. 03 - 04 mai.1959 - Humilhados e ofendidos
80. 06 mai.1959 - Hélio Basto
81. 09 mai.1959 - Hotel Janaína, Palácio Iemanjá
82. 12 mai.1959 - O Dique
83. 14 mai.1959 - Encontro com o Governador
84. 16 mai.1959 - O Artista
85. 20 mai.1959 - O “Barão”
86. 22 mai.1959 - Aé e Vadinho
87. 24 - 25 mai.1959 - Pernada
88. 27 mai.1959 - Axexê
89. 31 mai.1959 - “Tourbillon” de mulheres lindas
90. 03 jun.1959 - O poeta Jair Gramacho
91. 07 - 08 jun.1959 - Conferência
92. 10 jun.1959 - Impróprio até dez anos
93. 12 jun.1959 - Dia dos Namorados
94. 14 - 15 jun.1959 - Eliana e o mar
138
95. 17 jun.1959 - Carro de rolimã
96. 19 jun.1959 - (Sem título)
97. 21 - 22 jun.1959 - Propaganda de livros e “Sayonara”
98. 24 jun.1959 - A comissão dos festejos ao 2 de Julho
99. 26 jun.1959 - Fazedor de balões
100. 28 - 29 jun.1959 - Bando Anunciador
101. 1º jul.1959 - Fogueira de Airá
102. 05 - 6 jul .1959 - São João e São Pedro
103. 08 jul.1959 - Nelson de Araújo
104. 10 jul.1959 - O Forte de Monte Serrat
105. 12 e 13 jul.1959 - Duas que parecem piadas
106. 17 jul.1959 - Perigo de vida
107. 19 e 20 jul.1959 - Conto policial
108. 22 jul.1959 - Hotel Restaurante “Yemanjá”
109. 24 jul.1959 - Campinas de Brotas
110. 29 jul.1959 - Duas festas litúrgicas
111. 31 jul.1959 - Uma senhora de São Paulo
112. 05 ago.1959 - Alfredo Santos
113. 07 ago.1959 - No rés do chão da Reitoria
114. 09 - 10 ago.1959 - Janela da Rua do Alecrim
115. 12 ago.1959 - Gripe
116. 14 ago.1959 - Poesia concreta
117. 19 ago.1959 - Procissão bi-centenário da Penha
118. 21 ago.1959 - Volta de Nosso Senhor do Bonfim
119. 26 ago.1959 - Cenário de lendas, paisagem de beleza
120. 30 - 31 ago.1959 - Falta de assunto
121. 04 set.1959 - Maria Célia
122. 09 set.1959 - A vaca de nome Tereza
123. 11 set.1959 - A procissão marítima de Nossa Senhora
124. 16 set.1959 - Nossa Senhora do Monte Serrat
125. 18 set.1959 - Encontro marcado
126. 23 set. 1959- Viagem para o Rio
127. 25 set.1959 - Vitória de baianos
128. 30 set.1959 - Cangaço
129. 02 out.1959 - Gíria de soldado
130. 04 - 05 out.1959 - O prestidigitador
131. 07 out.1959 - Agripino Grieco
132. 09 out.1959 - Um sujeito bom
133. 14 out.1959 - Miséria colorida
134. 21 out.1959 - Jânio e a Imprensa
135. 23 out.1959 - Mudança
136. 25 - 26 out.1959 - Casa nova
137. 28 out.1959 - Gesto misterioso
138. 04 nov. 1959 - Sarda
139. 07 nov. 1959 - Telefone para enterro
140. 10 nov. 1959 - Escravo de assunto
141. 14 nov. 1959 - Boêmia doméstica
142. 18 nov. 1959 - Sombra e água fresca
143. 20 nov. 1959 - Comunhão
144. 22 - 23 nov. 1959 - Pirão de água e farinha
139
145. 25 nov. 1959 - Sinfonia
146. 27 nov. 1959 - “Conto” do passarinho
147. 29 - 30 nov. 1959 - Turismo para Candeias
148. 02 dez.1959 - “Nordeste”
149. 04 dez.1959 - O menino e o cemitério
150. 11 dez.1959 - Santinesense
151. 13 - 14 dez. 1959 - Lauzier
152. 16 dez.1959 - Natal
153. 18 dez.1959 - Abstração
154. 25 dez.1959 - Cartas a Papai Noel
155. 27 - 28 dez.1959 - Escola primária
156. 30 dez.1959 - O Ciclo das arraias
157. 1º jan.1960 - Bailes pastoris
158. 03 - 04 jan.1960 - “Ternos” de Reis
159. 06 jan.1960 - Cinema
160. 08 jan.1960 - Compunctio
161. 10 - 11 jan.1960 - Milagre
162. 13 jan.1960 - Os que ajudam o turismo
163. 15 jan.1960 - Crônica de outro
164. 27 jan.1960 - Érico Veríssimo
165. 31 jan - 1º fev.1960 - Domingo
166. 03 mar.1960 - Burguês no carnaval
167. 06 e 07 mar.1960 - A batucada não falou
168. 09 mar.1960 - O tempo perdido
169. 11 mar.1960 - Chuva
170. 13 - 14 mar.1960 - Chicharro
171. 16 mar.1960 - A sombra da tarde
172. 18 mar.1960 - Cinema
173. 20 - 21 mar.1960 - A arte de receber
174. 23 mar.1960 - Os botos
175. 25 mar.1960 - Stella Maris
176. 27 - 28 mar.1960 - Turismo para Feira
177. 30 mar.1960 - Araçá
178. 1º abr.1960 - Primeiro de abril
179. 03 - 04 abr.1960 - Bahia campeão brasileiro
180. 06 abr.1960 - O “delegado” Rafael
181. 08 abr.1960 - Gestão Heitor Dias
182. 10 - 11 abr.1960 - Presente de aniversário
183. 13 abr.1960 - Passeios de automóvel
184. 15 abr.1960 - O Senhor Morto
185. 17 - 18 abr.1960 - Roteiro para um dia
186. 20 abr.1960 - Mário Cravo Júnior
187. 24 - 25 abr.1960 - Boate do Hotel da Bahia
188. 29 abr.1960 - Barangandan
189. 1º jun.1960 - Ao prefeito de Santa Inês
190. 03 jun.1960 - Outra de São Cristovão
191. 05 - 6 jun.1960 - Bronze para Heitor
192. 08 jun.1960 - Uma ideia ao presidente
193. 10 jun.1960 - Rifle de quinze tiros
194. 12 - 13 jun.1960 - Candomblé e suas “Nações”
140
195. 15 jun.1960 - I.O.B
196. 18 jun.1960 - Ferrari , Faixa Própria
197. 22 jun.1960 - Prêmio Anacleto Alves
198. 26 - 27 jun.1960 - Pescarias
199. 29 jun.1960 - Bando anunciador
200. 1º jul.1960 - Assassinemos a cidade
201. 06 jul.1960 - Três homens, três gestos
202. 08 jul.1960 - Pinto de Aguiar
203. 10 - 11 jul.1960 - Ao Sr. Rafael Cincurá
204. 13 jul.1960 - Minha casa dos Afli tos
205. 15 jul.1960 - Almoço à beira da estrada
206. 17 - 18 jul.1960 - Comerciante
207. 20 jul.1960 - Barragem do rio do Cobre
208. 24 - 25 jul.1960 - Loko
209. 27 jul.1960 - Sonho
210. 29 jul.1960 - O Ladrão
211. 31 jul. e 1º ago.1960 - Ladrão-II
212. 03 ago.1960 - A Virgildásio Sena
213. 05 ago.1960 - Ladrão-III
214. 07 - 8 ago.1960 - O Povo e suas estátuas
215. 09 ago.1960 - A Favor da Bahia
216. 12 ago.1960 - Para senhoras baianas
217. 14-16 ago.1960 - Bilhete à Lia Mara
218. 17 ago.1960 - Eparrêi!, Iansã!
219. 19 ago.1960 - Banquete para Nanã
220. 21 - 22 ago.1960 - Refinaria Landulfo Alves
221. 24 ago.1960 - Igreja da Graça
222. 25 ago.1960 - Roteiro turístico da Igreja da Graça
223. 29 ago.1960 - Terminal de Madre Deus
224. 31 ago.1960 - Como proceder num Candomblé
225. 02 set.1960 - Como proceder num candomblé-II
226. 04 - 5 set.1960 - Fototeca
227. 09 set.1960 - A procissão marítima de Nossa Senhora
228. 11 - 12 set.1960 -Roschild, o bom
229. 18 - 19 set.1960 - “Bahia de Todos os Santos”
230. 21 set.1960 - “Ternos da Terra”
231. 25 - 26 set.1960 - Um nobre chofer
232. 28 set.1960 - Fototeca
233. 30 set.1960 - Atitude diante da crítica
234. 05 out.1960 - Uma festa de candomblé - I
235. 07 out.1960 - Eleições
236. 09 - 10 out.1960 - Empregadas
237. 12 out.1960 - Arredores da cidade
238. 14 out.1960 - Momento
239. 16 - 17 out.1960 - Ao Dr. Valdomiro Farias
240. 19 out.1960 - Conversa de santamarense
241. 21 out.1960 - Frases dos outros
242. 23 - 24 out.1960 - Tarde de autógrafos
243. 26 out.1960 - Beija-Flor
244. 28 out.1960 - “The Limbo Dance”
141
245. 30 - 31 out.1960 - Domingo mar azul
246. 02 nov.1960 - Baía de Todos os Santos
247. 04 nov.1960 - Europa, Ásia, J iquiriçá
248. 06 - 7 nov.1960 - Flamboiant X Pau Brasil
249. 09 nov.1960 - “Tesouro da Juventude”
250. 11 nov.1960 - A Derrota das histórias de quadrinhos
251. 18 - 19 nov.1960 - Barravento
252. 23 nov.1960 - Etiqueta
253. 25 nov.1960 - Três notícias (que a greve atrasou)
254. 27 nov.1960 - Heitor e Virgildásio
255. 30 nov.1960 - “A Viagem”
256. 02 dez.1960 - Mangabeira
257. 04 - 5 dez.1960 - Reunião
258. 07 dez.1960 - Comandante Albano
259. 11 - 12 dez.1960 - Margarida e sua revista
260. 14 dez.1960 - Verbas para o turismo
261. 16 dez.1960 - Bodas de Ouro
262. 18 - 19 dez.1960 - Barravento
263. 21 dez.1960 - A galinha
264. 23 dez.1960 - Natal, 24 e 25
265. 25 - 26 dez.1960 - Cartas para Papai Noel
266. 28 dez.1960 - Caso (verídico) de Natal
267. 30 dez.1960 - “Festas Tradicionais”
268. 01- 2 jan.1961 - Festival Nortista de Teatro Amador
269. 04 jan.1961 - “Ternos” e “Ranchos”
270. 06 jan.1961 - Teatro dos Novos
271. 08 - 9 jan.1961 - “Ternos” brilharam
272. 11 jan.1961 - Lavagem do Bonfim
273. 13 jan.1961 - Bonfim
274. 15 - 16 jan.1961 - O poeta e a caixeirinha
275. 18 jan.1961 - Composição infantil
276. 20 jan.1961 - As barracas ciganas
277. 22 - 23 jan.1961 - Miss Prenda
278. 27 jan.1961 - Coqueijo e seus passageiros
279. 29 - 30 jan.1961 - Não eram de briga
280. 1º fev.1961 - Sambas e marchas para o Carnaval
281. 03 fev.1961 - Três notícias de Carnaval
282. 05 - 6 fev.1961 - Carnaval na Baixa dos Sapateiros
283. 08 fev.1961 - Rei Momo vai chegar
284. 17 fev.1961 - Convite
285. 19 - 20 fev.1961 - Odorico é testemunha
286. 22 fev.1961 - Mergulho
287. 24 fev.1961 - Pronto Socorro
288. 26 - 27 fev.1961 - A santa sem cabeça
289. 03 mar.1961 - História do transporte
290. 08 mar.1961 - História do transporte - II
291. 10 mar.1961 - Jiquiriçá paralisada
292. 15 mar.1961 - Reunião
293. 17 mar.1961 - História da Paixão
294. 19 - 20 mar.1961 - Garçons
142
295. 22 mar.1961- Leque de Oxum
296. 24 mar.1961 - Museu do Estado
297. 26 - 27 mar.1961 - Um escritor do Tietê
298. 02 - 3 abr.1961 - Volta
299. 05 abr.1961- Angústia do espaço
300. 07 abr.1961- Estrangeiros
301. 14 abr.1961- Turismo inter-municipal
302. 18 abr.1961- Proteção ao Museu Sacro
303. 23 - 24 abr.1961- Vinho brasileiro
304. 26 abr.1961- Deputados e vereadores
305. 28 abr.1961- Lenços para “BEN -HUR
306. 30 abr. e 1º mai. 1961- Coronel, telefone e coco
307. 03 mai.1961- Três anos e meio
308. 05 mai.1961- Sílvio Valente
309. 07 - 8 mai.1961- Balzaqueano da literatura
310. 10 mai.1961- “O capitão Vasco Moscoso de Aragão”
311. 14 - 15 mai.1961- Concurso de contos
312. 16 mai.1961- Professor em Dakar
313. 18 mai.1961- O amigo Adalmir
314. 20 mai.1961- Sante, o último romântico
315. 21- 22 mai.1961- Inquérito
316. 23 mai.1961- Frases de espírito
317. 25 mai.1961- Escritores brasileiros contemporâneos
318. 27 mai.1961- Jovens do mundo
319. 31 mai.1961- O Anjo do espaço
320. 04 - 5 jun.1961- Folclore gaúcho
321. 07 jun.1961- Casa Régia
322. 09 jun.1961- II Curso de Tradição e História
323. 11 - 12 jun.1961- Cinema Nacional
324. 14 jun.1961- Exemplo do “Albatroz
325. 16 jun.1961- Televisão
326. 18 - 19 jun.1961- Carta de Jorge Amado
327. 21 jun.1961- Com vistas aos editores
328. 26 jun.1961- São João em Jiquiriçá - I
329. 28 jun.1961- São João em Jiquiriçá - II
330. 05 jul.1961- Auto dos Caboclinhos
331. 07 jul.1961- “Flashes”
332. 09 - 10 jul.1961- Teatro dos Novos
333. 12 jul.1961- Pixangó
334. 15 jul.1961- Ubaldo Osório
335. 16 - 17 jul.1961- Um rei salvou o palácio
336. 19 jul.1961- Eguns
337. 21 jul.1961- Início de festa
338. 23 - 24 jul.1961- Festa do povo
339. 26 jul.1961- Anti-fanático
340. 28 jul.1961- Alina Paim
341. 02 ago.1961- Tabaréu no Rio
342. 04 ago.1961- Rio de Janeiro
343. 06 - 7 ago.1961- Lição do festival
344. 09 ago.1961- Bahia, imagens da terra e do povo
143
345. 11 ago.1961- Adriano no cinema
346. 13 -14 ago.1961- Maria Célia
347. 18 ago.1961- O Poeta em Hong-Kong
348. 20 - 21 ago.1961- Estudo sobre turismo
349. 23 ago.1961 - Unhão
350. 25 ago.1961 - Auto dos Caboclinhos
351. 27 - 28 ago.1961 - Vitrinismo
352. 31 ago.1961 - Administração
353. 03 - 4 set.1961 - Um gerente de banco
354. 10 - 11 set.1961- Constituição
355. 13 set.1961 - Feira, sob luz e azul
356. 15 set.1961 - Nomes antigos
357. 20 set.1961 - Critério dos velhos nomes das ruas
358. 24 - 25 set.1961 - Rampa do Mercado
359. 27 set.1961 - Noite
360. 03 out.1961 - Moça Sozinha na Sala
361. 06 out.1961 - Milagre de Carlitos
362. 10 out.1961 - Um colunista e a Bahia
363. 12 out.1961 - Ausência da Bahia
364. 15 - 16 out.1961 - Sindicato dos motoristas
365. 19 out.1961 - Fraternidade
366. 22 - 23 out.1961- “Lambreta”
367. 27 out.1961- Nomes de caminhões
368. 05 - nov.1961 - Turismo e charutos
369. 10 nov.1961 - Jaguaripe
370. 12 - 13 nov.1961 - Jaguaripe - III
371. 17 nov.1961 - Vemag e o turismo
372. 19 - 20 nov.1961- Por que “dos Frades”?
373. 29 nov.1961 - Onde o Senhor escolheu o seu abrigo
374. 30 nov.1961 - “A Grande Feira”
375. 05 dez.1961 - Governo e cultura
376. 07 dez.1961 - Livros para presente
377. 15 dez.1961 - A glória
378. 17 - 18 dez.1961 - Catavento
379. 29 dez.1961 - Vício de arraia
380. 31 dez.1961 - Passagem de ano
381. 03 jan. 1962 - Presente à Mãe D‟Água
382. 05 jan. 1962 - Os guardiões dos ternos
383. 10 jan. 1962 - Lavagem do Bonfim
384. 13 jan. 1962 - Lavagem do Bonfim
385. 14 - 15 jan. 1962 - Segunda-Feira da Ribeira
386. 17 jan. 1962 - Corta-Braço
387. 19 jan. 1962 - Um palácio em leilão
388. 21 - 22 jan. 1962 - Festival das bandeiras
389. 24 jan. 1962 - Guia dos telefones - 1962
390. 27 jan. 1962 - Calendário
391. 29 jan. 1962 - Seco sentimental Romeu
392. 31 jan. 1962 - Corrida de canoas
393. 04 - 5 fev.1962 - Coisas de ilha e de mar
394. 09 fev.1962 - Procissão em Santo Amaro - I
144
395. 11 - 12 fev.1962 - Nossa Senhora da Purificação
396. 14 fev.1962 - Procissão das jangadas
397. 16 fev.1962 - Filme, Regata, Humbert
398. 18 - 19 fev.1962 - Casa das Sete Mortes
399. 20 fev.1962 - Só para você
400. 23 fev.1962 - Porque trabalho para carnaval
401. 25 - 26 fev.1962 - Pré-carnavalesca
402. 28 fev.1962 - Pré carnavalesca
403. 09 mar.1962 - Alberto Vita
404. 14 mar.1962 - Associação Atlética
405. 16 mar.1962 - “Não queria deixar sua igreja”
406. 20 mar.1962 - Domingo pacato - I
407. 22 mar.1962 - Domingo pacato - II
408. 28 mar.1962 - Motorista
409. 29 mar.1962 - Coquetéis de cores
410. 11 abr.1962 - Baianada
411. 15 - 16 abr.1962 - Programa para Semana Santa
412. 20 abr.1962 - Paulinho e o mar
413. 26 abr.1962 - Lançamento de l ivros
414. 28 abr.1962 - Umas e outras
415. 11 mai.1962 - Teatro para a Bahia
416. 13 mai.1962 - Sem tí tulo
417. 16 mai. 1962 - Brasil iense
418. 24 mai. 1962 - Galinha à jardineira
419. 27 - 28 mai. 1962 - Para Maria Olívia
420. 31 mai. 1962 - Sobre cinema
421. 06 jun. 1962 - Fatos, fotos. ..e turismo
422. 10 - 11 jun. 1962 - Novas de Feira
423. 13 jun. 1962 - Quantos?
424. 15 jun. 1962 - Guias das igrejas
425. 19 jun. 1962 - Miss Brasil
426. 28 jun. 1962 - O Brasil está com tudo
427. 02 jul. 1962 - 2 de Julho e o “caboclo”
428. 04 jul. 1962 - São João do turismo
429. 06 - 7 jul . 1962 - Prêmios a baianos
430. 17 jul. 1962 - Arte é negócio
431. 20 jul. 1962 - Romancistas também personagens
432. 26 jul. 1962 - Evangelho de Couro
433. 29 - 30 jul. 1962 - A nova Itaparica
434. 1º ago. 1962 - Maragojipe - I
435. 03 ago. 1962 - Maragojipe - II
436. 08 ago. 1962 - Reforma agrária às avessas
437. 10 ago. 1962 - Esquartejamento do município
438. 14 ago. 1962 - Igreja de Mataripe
439. 18 ago. 1962 - Centro de estudos do Recôncavo
440. 22 ago. 1962 - Procissão em Cachoeira
441. 24 ago. 1962 - De Cachoeira a Valença
442. 26 - 27 ago. 1962 - Sobrados e igrejas de Valença
443. 29 ago. 1962 - Um fantasma no meio do mato
444. 31 ago. 1962 - Cairu
145
445. 04 set.1962 - Um dia na vida de Brasilino
446. 06 set.1962 - Carta ao prefeito de Jaguaripe - I
447. 09 - 10 set.1962 - Carta ao prefeito de Jaguaripe - II
448. 12 set.1962 - O Pagador de Promessas
449. 16 - 17 set.1962 - Meu voto para prefeito
450. 23 - 24 set.1962 - Amanhã será tarde demais
451. 26 set.1962 - O Dique e os candidatos
452. 28 set.1962 - Prefeitos para o interior
453. 30 set.1962 - Vou a Porto Santo
454. 03 out.1962 - Quando a vida é cruel
455. 05 out.1962 - Dois amigos do turismo
456. 07 - 08 out.1962 - Resposta
457. 10 out.1962 - Viagem inaugural
458. 12 out.1962 - Uma arte francesa
459. 28 - 29 out.1962 - Menino
460. 02 nov.1962 - Festival de cinema
461. 04 - 5 nov.1962 - O grande Ari
462. 07 nov.1962 - Mentira do barulho
463. 11 - 12 nov.1962 - Saturnia serve patrimônio
464. 18 - 19 nov.1962 - “Electra”
465. 21 nov.1962 - Mentira e verdade
466. 28 nov.1962 - Pedaços de paisagem
467. 30 nov.1962 - Turismo ferroviário
468. 02 e 3 dez.1962 - Outra fada cozinheira
469. 05 dez.1962 - Humanização da Rio - Bahia
470. 07 dez.1962 - Administração fecunda
471. 12 dez.1962 - Pescador
472. 19 dez.1962 - Colaboradora do turismo
473. 21 dez.1962 - Bailes pastoris
474. 30 - 31 dez.1962- Bom Jesus dos Navegantes
475. 04 jan. 1963 - Jaguaripe tombada
476. 08 jan. 1963 - Votos de Boas Festas
477. 09 jan. 1963 - Nomes de caminhões
478. 11 jan. 1963 - Lavagem do Bonfim
479. 16 jan. 1963 - Lavagem do Bonfim I
480. 18 jan. 1963 - Lavagem do Bonfim II
481. 23 jan. 1963 - Biblioteca infantil
482. 25 jan. 1963 - Bahiano de fato e lei
483. 03 - 4 fev. 1963 - Edições de Ouro
484. 08 fev. 1963 - As barracas ciganas
485. 10 - 11 fev. 1963 - Um homem e sua sombra
486. 13 fev. 1963 - Notícia sobre Clóvis Moura
487. 15 fev. 1963 - Lanchas de aluguel
488. 17 - 18 fev. 1963 - Dr. Rômulo Serrano cidadão baiano
489. 20 fev. 1963 - Unhão ressurreto
490. 22 fev. 1963 - Ainda o Solar do Unhão-II
491. 24 - 25 fev. 1963 - Desafio a Vênus
492. 06 mar. 1963 - Automóveis
493. 08 mar. 1963 - 2 meninos e um banco
494. 10 - 11 mar. 1963 - Lygia Milton
146
495. 13 mar. 1963 - O pintor de olhos fundos
496. 15 mar. 1963 - Ângulos
497. 17 - 18 mar. 1963 - Força da cor
498. 20 mar. 1963 - Pegada de arraia
499. 22 mar. 1963 - “Ângulos”
500. 24 - 25 mar. 1963 - Noturno
501. 27 mar.1963 - Um roteiro pela Baia de Todos os Santos
502. 29 mar.1963 - Chuva
503. 31 mar. e 1º abr. 1963 - Ídolo antigo
504. 03 abr.1963 - História da Bahia
505. 05 abr.1963 - Histórias (ou estórias) da Bahia
506. 07 - 8 abr.1963 - Vadim, Rescala, etc.
507. 10 abr.1963 - Prestação de contas
508. 12 abr.1963 - Programa da Semana Santa
509. 14 - 15 abr.1963 - Viva o Forte da Gamboa
510. 17 abr.1963 - Indústria de barracas e invasões
511. 19 abr.1963 - Nome de saveiro
512. 21 -22 abr.1963 - Aventura
513. 24 abr.1963 - Peixe de riacho
514. 26 abr.1963 - O velório
515. 28 - 29 abr.1963 - “Desintegração da Morte”
516. 1º mai.1963 - Para gaúcho ver
517. 3 mai.1963 - Estória de cangaço
518. 05 - 6 mai.1963 - Assombração
519. 08 mai.1963 - Casal na chuva
520. 10 mai.1963 - Filhas de Dona Menininha em Port o Alegre
521. 12 - 13 mai.1963 - Noite em Porto Alegre
522. 15 mai.1963 - Epitáfio para Antoninho Onofre
523. 17 mai.1963 - Hotel Embú
524. 22 mai.1963 - Campeão de arraia
525. 26 - 27 mai.1963 - Ciclo das arraias
526. 29 mai.1963 - Saída da escola
527. 05 jun.1963 - Estrada Rio-Bahia
528. 07 jun.1963 - Estrada Rio-Bahia II
529. 09 - 10 jun.1963 - A convite do Sr. Gouveia
530. 12 jun.1963 - Negócio & Cultura
531. 16 - 17 jun.1963 - Uma pessoal e duas de turismo
532. 19 jun.1963 - Dona Magu, a do Largo do Boticário
533. 21 jun.1963 - O Rio de noite
534. 23 - 24 jun.1963 - Deus e o Diabo na Terra do Sol
535. 26 jun.1963 - Obra e milagre do Padre Francisco de Paula
536. 28 jun.1963 - Turismo para Monte Santo
537. 03 jul.1963 - Calvário de Pedra, o Monte Santo
538. 05 jul.1963 - De Cipó a Monte Santo
539. 10 jul.1963 - Ex-votos de Monte Santo
540. 12 jul.1963 - A Mulher de cabelos verdes
541. 14 - 15 jul.1963 - 4 Rodas tem 3
542. 17 jul.1963 - Maria Célia novamente
543. 19 jul.1963 - Carlos Bastos redivivo
544. 26 jul.1963 - Carybé baianíssimo
147
545. 28 - 29 jul.1963 - Estória de cangaço
546. 31 jul.1963 - Sol sobre a lama
547. 02 ago.1963 - Abel
548. 04 - 5 ago.1963 - Erato centenária
549. 07 ago.1963 - Teatro popular da Bahia
550. 09 ago.1963 - Resposta a uma carta
551. 11 - 12 ago.1963 - Rebouças, o Antonio
552. 14 ago.1963 - Vou embora pra Brasíl ia
553. 18 - 19 ago.1963 - Ainda as grutas de Ituaçu
554. 23 ago.1963 - Frei Agostinho da Piedade
555. 25 - 26 ago.1963 - Brasília, cidade
556. 28 ago.1963 - A Sumoc e o Turismo
557. 1º - 2 set.1963 - Simpósio Nacional de Turismo
558. 04 set.1963 - Empacotador de sereno
559. 06 set.1963 - Limpeza pública
560. 11 set.1963 - O ladrão
561. 13 set.1963 - Revistas & Entrevistas
562. 15 - 16 set.1963 - Turismo para Aracaju
563. 18 set.1963 - Cachoeira: exemplos de arquitetura colonial
564. 21 set.1963 - Ainda Cachoeira
565. 27 set.1963 - Laranjeiras, morta, colorida, bela
566. 29 - 30 set.1963 - Aracaju e adjacências
567. 02 out.1963 - Corrida de canoa
568. 09 out.1963 - Eu e o Governador
569. 11 out.1963 - Turismo com dignidade (I)
570. 13 - 14 out.1963 - Turismo com dignidade (II
571. 16 out.1963 - Vela da pureza
572. 18 out.1963 - O homem emboscado
573. 20 - 21 out.1963 - Chuva
574. 25 out.1963 - Roteiro arquipélago Baía de Todos os Santos
575. 27 - 28 out.1963 - Do Recôncavo exemplo às cidades
576. 30 out.1963 - Escola primária
577. 1º nov.1963 - O Forte de Monte Serrat
578. 06 nov.1963 - Riqueza da cor
579. 10 - 11 nov.1963 - Festas populares: calendário
580. 15 nov.1963 - Palácios e solares - I
581. 17 - 18 nov.1963 - Palácios e solares - II
582. 20 nov.1963 - Prêmios Nobel da Literatura
583. 22 nov.1963 - Altar de Santa Rosa de Viterbo
584. 24 - 25 nov.1963 - Bandido não existe
585. 29 nov.1963 - Estrada da Rainha
586. 1º - 2 dez.1963 - Na sombra
587. 04 dez.1963. O assalto - I
588. 06 dez.1963. O assalto - II
589. 08 - 9 dez.1963 - Ladainha para N. S. da Conceição da Praia
590. 20 dez.1963 - Para Odorico ler na rede
591. 25 dez.1963 - O Impossível acontece
592. 1º jan.1964- Bom Jesus dos Navegantes
593. 03 jan.1964 - O Caipora
594. 05 - 6 jan.1964 - “Ternos e Ranchos” hoje
148
595. 09 jan.1964 - Os frutos da terra
596. 15 jan.1964 - Lavagem do Bonfim
597. 19 - 20 jan.1964 - Segunda-feira Gorda
150
APÊNDICE - B
VASCONCELOS MAIA: BIBLIOGRAFIA
1. L IVROS PUBLICADOS
MAIA, Vasconcelos. Fora da Vida . Salvador: Elo, 1946 .
MAIA, Vasconcelos. Contos da Bahia . Salvador: Caderno da Bahia, 1951.
MAIA, Vasconcelos. Feira de Água de Meninos: Desenhos de Carybé. Bahia:
Coleção Recôncavo, 1951.
MAIA, Vasconcelos. O Cavalo e a Rosa: contos. Bahia: Livraria Progresso,
1955.
MAIA, Vasconcelos; ARAÚJO, Nelson de (Org.). Panorama do Conto
Baiano. Salvador: Livraria Progresso, 1959.
MAIA, Vasconcelos. O Primeiro Mistério . Salvador: Imprensa Ofic ial da
Bahia, 1960. (Crônicas).
MAIA, Vasconcelos. O Leque de Oxum . Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro,
1961. (Contos).
MAIA, Vasconcelos. Histórias da Gente Baiana . São Paulo: Cultrix, 1964.
(Contos).
MAIA, Vasconcelos. ABC do Candomblé. São Paulo: Edições Grd, 1985.
MAIA, Vasconcelos. Cação de Areia: uma estória de sexo e violência nos
mares da Bahia. São Paulo: Edições Grd, 1986.
2. ANTOLOGIAS DAS QUAIS PARTICIPA
Antologia de Escritores Novos do Brasil . Rio de Janeiro: Revis ta Branca,
1949.
Contistas Brasileiros . Rio de Janeiro: Revista Branca, 1958.
Maravilhas do Conto Moderno Brasileiro . São Paulo: Cultrix, 1958.
O Conto do Norte . Rio de Janeiro: Civil ização Brasileira, 1959.
Panorama do Conto Baiano. Salvador: Livraria Progresso, 1959.
Histórias da Bahia. Rio de Janeiro: Edições GRD, 1963.
151
Antologia da Literatura Portuguesa e Brasileira, séc. XIX – XX .
Leningrado, Rússia: Ed. Universidade de Leningrado, 1964.
Antologia do Novo Conto Brasileiro . Rio de Janeiro: Júpiter, 1964.
Modern Brasilian Short Stories . Califórnia.USA: University of California,
1967.
Die Reiher und Andere Brasil ianische Erzalungen . Alemanha, Horst
Erdmann Verlag, 1967.
Latin American Writing Today . Londres: Penguin Books, 1967.
Moderne Brasilianische Erzahler . Alemanha e Suiça: Walter, 1968.
Textos de Autores Baianos . Bahia: Edições GRD, 1969.
Die Admirals Nach . Aufbau –: Verlag, Berlin & Weimar, 1972.
Antologia de Contos Contemporâneos da América Latina . Japão:
Hakusuisha, Kyoto, 1973.
Antologia de Contos do Mar . Sofia, Bulgária, 1975.
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