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1 Trabalho de Conclusão de Curso
A CONCEPÇÃO DE POBREZA A PARTIR DE UMA ANÁLISE
FENOMENOLÓGICA
Eroni Paula Paim Sánchez Marques1
Guilherme Afonso Monteiro de Barros Marins2
Resumo
O presente artigo reflete sobre a experiência de percepção dos elementos constitutivos da
pobreza a partir de analises de mapas mentais, elaborados por dois grupos de sujeitos
relacionados com o Programa Bolsa Família, beneficiários e não beneficiários. As discussões
apoiam-se na metodologia de Salete Kozel e no aporte fenomenológico de Edmund Husserl. A
pesquisa de percepção e concepção dos indivíduos em questão buscou averiguar a existência
de diferença entre o conceito de pobreza dos grupos que recebem o benefício e os que não
recebem e ao mesmo tempo estabelecer uma relação entre diferentes abordagens explicativas
de concepção de pobreza.
Palavras-chave: Concepção de Pobreza, Mapa Mental, Fenomenologia, bolsa família.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo buscou, através da aplicação de mapas mentais – perspectiva
metodológica que está inserida em uma concepção fenomenológica, analisar as concepções de
pobreza dos alunos beneficiários e não beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF) em uma
escola municipal na cidade de Ponta Porã -MS. O artigo foi construído a partir de um estudo
que se propôs a desvendar as concepções de pobreza de 32 crianças matriculadas no 5° ano do
Ensino Fundamental.
A problemática pobreza, instigam muitos estudiosos e o desenvolvimento de propostas
interventivas não cessam. Levando em consideração que as concepções de pobreza
fundamentam os Programas de Transferência de Renda como o Programa Bolsa Família (PBF)
o estudo torna-se relevante por apresentar uma comparação entre os relatos das vivências de
1 Graduada em Ciências Biológicas (FACULDADES MAGSUL), Especialista em Educação pelo programa
Educação, Pobreza e Desigualdade Social (UFMS). Professor da educação básica no estado de Mato Grosso do
Sul - e-mail: eronypaula@gmail.com. 2 Graduado em Educação Física (UFPR) e Administração Pública (UFPR), Mestre em Educação (UFMS).
Professor da educação básica no estado de Mato Grosso do Sul - e-mail: guilherme.afonso.marins@gmail.com
2 Trabalho de Conclusão de Curso
pobreza de sujeitos assistidos e não assistidos pelo PBF. Segundo Araújo (2007) abordar os
sujeitos em sua realidade relacionando-as com as instituições e programas sociais é aprofundar-
se no conhecimento da realidade sócio histórica da pobreza destes indivíduos.
O trabalho abrange, primeiramente, a abordagem fenomenológica na percepção da
pobreza e a utilização de Mapas Mentais na percepção da pobreza. Na sequência estão descritos
os procedimentos metodológicos com os quais foram possíveis chegar as discussões dos
resultados. Para finalizar segue as considerações finais.
2 A ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA NA PERCEPÇÃO DA POBREZA
A concepção de pobreza é um tema bastante debatido e de complexa interpretação.
Segundo Burlandy e Azevedo (2010) pobreza é um fenômeno complexo, podendo ser definido
de várias formas de acordo com as necessidades e adequações no contexto sociocultural,
econômico e político. Desta forma, pode-se dizer que não existe uma única definição de
pobreza, e que este termo possui significado dinâmico.
Nesse contexto, Espíndola e Zimmermann (2012) falam da fragilidade e insuficiência
do fator renda como única variável analítica para a mensuração da pobreza, argumentam ainda
que são muitos os estudos que foram direcionados com o intuito de subsidiar a formulação de
políticas públicas de combate à pobreza com vistas à diminuição do risco e da vulnerabilidade
a este problema social, sendo que nesses vários estudos conforme esses autores, sempre os
pesquisadores se deparam com inúmeras questões a respeito da definição e da mensuração da
pobreza, que cabe aqui ressaltar:
Afinal, o que é pobreza? Quais aspectos estão envolvidos? Quais as
características relevantes para qualificar um indivíduo como pobre ou não
pobre? Renda, necessidades básicas, mínimos sociais, padrões de vida? Qual
a melhor variável para classificar? Um indicador é suficiente para rotular um
indivíduo como pobre? Como mensurar a pobreza? (ESPÍNDOLA;
ZIMMERMANN, 2012, p. 3)
No entanto, a melhor forma de interpretar a pobreza é a partir do olhar do sujeito que a
vivencia, é nesse ponto que entra a fenomenologia. A fenomenologia, além de ser um método
de compreender o mundo e possibilitar as leituras das verdades, é uma possibilidade de
investigação que tem como objetivo chegar as essências dos fenômenos (mundo vivido do
3 Trabalho de Conclusão de Curso
indivíduo). Neste sentido a fenomenologia busca entender a vivência do sujeito no mundo em
que vivem e compreender como esses sujeitos percebem o mundo a sua volta. Os estudos
fenomenológicos estabelecem um veículo de comunicação que é utilizado para captar o sentido
que o mundo vivido tem para o sujeito em questão. (MANHÃES, et. al., 2011)
A fenomenologia surgiu com Edmund Husserl (1859-1938) como uma linha de
pensamento, um movimento na filosofia, sendo aplicada com o passar do tempo, as ciências
humanas. (CORREA, 1997)
Neste sentido Husserl compreende a fenomenologia como:
[...] uma ciência rigorosa, mas não exata, uma ciência eidética que procede
por descrição e não por dedução. Ela se ocupa de fenômenos, mas com uma
atitude diferente das ciências exatas e empíricas. Os seus fenômenos são os
vividos da consciência, os atos e os correlatos dessa consciência”
(CAPALBO, s.d, p. 14, apud CORREA, 1997, p.84).
O filósofo Husserl destaca que os fenômenos do mundo devem ser pensados a partir das
percepções mentais de cada ser humano. Partindo desta abordagem cabe ressaltar que o
fenômeno da pobreza, aqui foi estudado a partir das percepções mentais das crianças que são
as mais vulneráveis aos efeitos da pobreza. Segundo estudos de Sadala (2001), a metodologia
fenomenológica constitui um modo mais adequado de estudo para investigar o mundo vivido,
pois mostra-se mais adequado para as questões humanas. A fenomenologia consegue atingir
um ponto particular, ou seja, pode chegar a diferentes visões da pobreza e necessidades
priorizadas.
3 A UTILIZAÇÃO DE MAPAS MENTAIS NA PERCEPÇÃO DA POBREZA
O desenho como representação do espaço, é uma técnica que foi desenvolvida desde a
pré-história. Houve uma época em que o homem primitivo não utilizava a escrita para registrar
os acontecimentos do seu dia-a-dia e o desenho era a ferramenta de registros. Através dos
desenhos e símbolos deixados nas roxas e nas paredes das cavernas pelo homem pré-histórico,
o homem contemporâneo conseguiu deduzir os prováveis fatos que aconteceram na época.
Tornaram-se a par, também, do seu modo de vida, ideias, emoções, entre outros fatos do seu
cotidiano expressado nas gravuras. (SANTANA, 2005)
4 Trabalho de Conclusão de Curso
Conforme Horzel (2006) apud Lima e Kozel (2009) os mapas mentais são desenhos
realizados a partir das observações e experiências vivenciadas em um espaço.
De acordo com Lima e Kozel (2009) o homem constrói o mapa mental do seu mundo:
Com a utilização dos sentidos que captam sensações, o homem constrói um
mapa mental do seu mundo. Isso o coloca em contato com a realidade: algo
aparece para a consciência, uma forma (aparência) que combinada com a
intencionalidade, o faz perceber - o fenômeno. (LIMA; KOZEL, 2009, p. 209)
Nogueira (2002) define mapa mental como “representações construídas inicialmente
tomando por base a percepção dos lugares vividos (experimentados), portanto partem de uma
dada realidade” (NOGUEIRA, 2002, p 01). Com base nesta definição observa-se que os mapas
mentais buscam retratar a compreensão do mundo a partir do olhar daqueles que nele vivem a
partir de desenhos concebidos pelo observador.
Nesse sentido contextualiza, Kozel (2009), que os mapas mentais integram todas as
funções mentais do ser humano, constituem a ótica da consciência, e são compostos por signos
que são elaborados socialmente ao longo da sua existência.
Os símbolos elaborados através dos mapas mentais formam representações, considerada aqui,
conforme Kozel (2009) uma forma de linguagem cheias de significados e valores sociais
demonstrando a realidade e a vivencia particular e social do indivíduo.
A linguagem aparece como uma semantização que os sujeitos fazem de seu espaço
vivido ou uma modalidade privilegiada de representação. Essa linguagem é referendada por
signos que são construções sociais. É nessa perspectiva que entendemos os mapas mentais: uma
forma de linguagem que reflete o espaço vivido representado em todas as suas nuances, cujos
signos são construções sociais. (KOZEL, 2007 apud KOZEL, 2010, p.2)
Os mapas mentais são amplamente utilizados em pesquisas nas áreas didático
pedagógica, conforme nos aponta Kozel e Galvão (2008), pois considera o aluno como agente
de representações. Neste sentido, a construção dos mapas mentais pode ser utilizada com
diferentes objetivos, sendo eles, de acordo com Kozel (2005) apud Kozel e Galvão (2008) com
a intenção de desvendar lugares, trajetos, ideias e conceitos.
Sendo assim, neste trabalho os mapas mentais serão aplicados com finalidade de
perceber, a partir da visão do aluno, seu contexto social e cultural de vivência na pobreza.
5 Trabalho de Conclusão de Curso
De acordo com Kozel (2007) apud Santos (2007) “os mapas mentais são uma forma de
linguagem que permite uma análise ampla do indivíduo", ou seja, permite uma análise do
contexto social e cultural do sujeito em questão.
4 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em uma Escola Estadual no município de Ponta Porã, os
sujeitos da pesquisa foram alunos matriculados no ano de 2016, no quinto ano do Ensino
Fundamental. A turma escolhida constituí uma amostra de 32 alunos. Na turma de aplicação da
pesquisa encontramos alunos assistidos e não assistidos pelo PBF na ordem de 14 beneficiários
e 18 não beneficiários. Para aplicação da ferramenta investigativa dos Mapas Mentais
trabalhamos com dois procedimentos, como aponta Kozel (2007 e 2009) em suas pesquisas, a
confecção dos Mapas Mentais e a conversa/entrevista com os participantes de maneira coletiva.
Primeiramente todos os 32 alunos da sala escolhida participantes e não participantes do
PBF realizaram os mapas mentais do parecer que eles têm da vivência da pobreza, durante uma
aula (50 min). Para a realização do desenho não foi utilizado nenhum roteiro preestabelecido,
apenas a seguinte questão norteadora: “Qual a sua experiência com a pobreza? Represente a
sua resposta por meio de desenhos. ’’ Os alunos foram orientados a representar elementos do
espaço vivido e ou do percurso de casa para a escola, foi oportunizado aos alunos lápis de cor,
giz de cera e tinta para que pudessem realizar os desenhos conforme desejassem.
Em seguida, na segunda parte de aplicação, foi formado um círculo de conversa, onde
os alunos puderam explicar os significados dos seus desenhos. Logo foram separados os mapas
mentais concebidos pelo grupo participante e não participantes do PBF e feita a comparação
entre os dois grupos.
Antes das entrevistas houve esclarecimento dos objetivos do trabalho, onde foi
solicitada a permissão e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE, para
o registro de fotos e obtenção de informações.
A abordagem do estudo foi do tipo quali-quantitativa, pois segundo Maia (2011), os
dois tipos de técnicas são usados, considerando-se que, no mundo dos significados, das relações
humanas com o meio, no geral, nos estudos de fenômenos os dados quantitativos e as
informações qualitativas se complementam.
6 Trabalho de Conclusão de Curso
Para Richardson (1999) citado por Marconi e Lakatos (2008), a pesquisa qualitativa
pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e
características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas
quantitativas de características ou comportamentos. Enquanto que a metodologia quantitativa é
descrita por Sabino (1966) citado por Marconi e Lakatos (2008) como sendo toda informação
numérica resultante da investigação que pode ser apresentada como um conjunto de quadros,
tabelas e medidas.
Para a análise dos mapas mentais, utilizou-se como base a metodologia Kozel (2007)
citado por Lima e Kozel (2009), (adaptado), que visa decodificar a mensagem representadas
nos desenhos elaborados por aqueles que vivenciam experiências num determinado espaço, no
caso, o universo de 32 alunos do último ano do ensino fundamental I que presenciam a pobreza
no seu dia-a-dia.
Os mapas mentais foram analisados da seguinte forma segundo as orientações de
KOZEL, 2007, apud Lima e Kozel 2009:
1° Os mapas foram agrupados em duas categorias: beneficiários do PBF e
não beneficiários, logo foram subdivididos em sexo e idade, por último foram
separados conforme à forma de apresentação dos desenhos.
2° O conteúdo dos mapas foi analisado sob os seguintes quesitos:
a) interpretação quanto à forma de representação dos elementos na imagem;
b) interpretação quanto à distribuição dos elementos na imagem;
c) interpretação quanto à especificidade dos ícones: elementos móveis e
imóveis, elementos humanos, e por fim, analisá-se outros aspectos ou
particularidades.
3° Para complementar as analises observam-se ainda os seguintes aspectos: a) como as formas aparecem nas imagens? (letras, em forma de mapa,
linhas, figuras geométricas);
b) a distribuição dos elementos: (horizontalmente, isolados, forma dispersa,
em perspectiva, circular). Identificam-se assim, as formas, as expressões em
forma de letras ou palavras que complementam o desenho com uma
explicação na linguagem formal. (KOZEL, 2007, apud LIMA e KOZEL 2009,
adaptado, p. 212)
Os resultados forão analisados quantitativamente e qualitativamente com base no
método fenomenológico, proposto pelo filósofo Edmund Husserl citado por BATISTA et.al
(2015).
7 Trabalho de Conclusão de Curso
5 RESULTADOS
Com objetivo de elucidar questionamentos sobre como o sujeito pobre percebe a
pobreza, os resultados procuram compreender como ocorre o processo perceptivo do sujeito
sobre sua vivencia. Com base na metodologia de mapas mentais proposto por Kozel (2007)
obteve-se o processo perceptivo do fenômeno pobreza das crianças entrevistadas, conforme
segue adiante.
O presente artigo ao propor uma análise da percepção da pobreza através do olhar do
sujeito, onde o contexto em que ele vive irá influenciar na construção da imagem a ser
produzida, identificou-se dois grupos para a aplicação dos mapas mentais, o de alunos assistidos
pelo PBF e os dos alunos não assistidos. Visando compreender a existência de diferenças na
percepção de ambos grupos.
Percebeu-se durante a entrevista que a escola participante abrange em sua grande parte
alunos de baixa renda, entre esse número 41%٪ são beneficiados com o PBF. Esse fato pode
ser explicado devido à localização da escola, pois a instituição fica situada em um bairro na
periferia do município em questão.
Ao desenvolver a presente pesquisa, solicitou-se aos alunos que respondesse um
formulário com a seguinte expressão “Qual a sua experiência com a pobreza? Represente a sua
resposta por meio de desenhos’’, em seguida era realizado uma entrevista, procurando
interpretar o desenho do aluno. Após a entrevista os mapas construídos foram separados em
dois grupos conforme descrito na metodologia.
Obteve-se as seguintes concepções a partir das análises dos mapas mentais de ambos os
grupos, sendo o relacionamento do “não poder comprar “ atribuído ao significado da pobreza
pelos 80% dos alunos não participantes do PBF, 12% atribuíram a vulnerabilidade social e 8%
dos mapas demostraram dificuldades enfrentadas no dia-a-dia. Entre os depoimentos dos
participantes do PBF se destaca em 52% as questões de desemprego dos pais, os depoimentos
restantes ficaram distribuídos em 28% atribuídos ao serviço domésticos e ajuda no sustento
familiar, 9% relaciona a pobreza ao baixo poder aquisitivo, 9% revelaram tristeza em ser pobre
e 2% atribuíram a falta de segurança e medo. Estas são as certezas das crianças, que muito
contribuiu para definir a pobreza a partir de seu ponto de vista.
8 Trabalho de Conclusão de Curso
Segue alguns exemplos de mapas mentais obtidos na pesquisa com o grupo de crianças
assistidas pelo PBF:
O mapa 1 e o mapa 2 (Figura 1 e 2), apresentam ícones gráficos de forma dispersa e
elementos do cotidiano, a imagem foi construída com elemento humano. Para análise do mesmo
foi necessário fazer referência a alguns dados obtidos no discurso da entrevistada durante a
aplicação do mapa mental. No depoimento a criança entrevistada, fez questão de argumentar
que a imagem 1 representa o seu pai na tentativa de buscar emprego, fez questão de explicar as
razões da utilização dos ícones de sua representação, as lagrimas representam o fracasso na
tentativa. A árvore, que seria um elemento da paisagem natural, na verdade nessa ocasião,
representa um lugar de meditação, o lugar de pensar, pois segundo a criança debaixo da sombra
é o melhor lugar para descansar. O depoimento da autora do mapa 2, também revelou que o pai
não consegue emprego, argumentou também que o pai fica muito triste por esse motivo, assim
se pronuncia a autora afirmando que:
Minha mãe trabalha muito, ela sai de manhã para fazer faxina na casa da tia
Zi, também está ajudando nossa vizinha porque ela está com bebe recém-
nascido, eu não gosto muito porque a vizinha nem tem dinheiro pra pagar a
minha mãe. Já meu pai cuida de mim e meus irmão porque ele não consegue
emprego. Eu o desenhei porque gosto muito dele ele me ajuda no dever de
casa, fico muito triste quando ele se entristece por não ter um emprego e deixar
minha mãe trabalhar muito.
Figura 1. Mapa mental 1. Autor R.G.Q- 10 anos / Figura 2. Mapa mental 2. Autora M.C.F- 11 anos
9 Trabalho de Conclusão de Curso
O mapa 1 deixa a entender que a simples análise dos ícones pode não apresentar a
expressão do sujeito, mostrando a importância de aliar os mapas mentais ao discurso da pessoa
que desenhou.
Figura 3: Mapa mental 3 – autor J.F.S 10 anos
Figura 4: Mapa mental 4- Autor P.H.O.P 10 anos
10 Trabalho de Conclusão de Curso
O mapa mental 3 e 4 (figura 3 e 4) exibe ícones como letras de formas dispersas, com a
presença de bastantes elemento humano, na figura 4 alguns elementos da paisagem natural e
vários elementos da paisagem construída. É importante destacar a que no depoimento, as duas
crianças disseram representar como elas ajudam os pais no sustento da família. No mapa 3 o
autor diz estar ajudando o pai a vender salgados na rua, e no mapa 4 o autor afirmou que sempre
acompanha o pai em seus serviços de pedreiro. Por meio de ambos mapas, pode-se inferir que
de alguma forma em situações de pobreza a criança trabalha com os pais, representa o que ela
busca, nas palavras e nos ícones apresentados, demonstrar o motivo de ajudar na rotina da
família.
A seguir estão elencados alguns exemplos de mapas mentais obtidos na pesquisa com o
grupo de crianças não assistidas pelo PBF:
Figura 5: Mapa mental 5- Autora: A.C.F.L / 12 anos
O mapa mental 5 (figura 5) apresenta diversos ícones, em perspectiva com elementos
da paisagem construída e elemento humano. A autora em questão expõe de maneira evidente o
baixo poder aquisitivo, com detalhes como a loja onde deseja comprar e o pouco dinheiro nas
mãos. Observa-se a diferença na visão do aluno que são mais pobres, pois estes não
11 Trabalho de Conclusão de Curso
demonstraram almejar compras de roupas e brinquedos e sim expressaram suas principais
necessidades.
Figura 6: mapa mental 6- Autora I.R.M / Figura 7: mapa mental 7- autor
O mapa mental 6 e 7 (figura 6 e 7) apresenta ícones e letras, disposto em perspectiva,
com elementos humanos e elementos da paisagem construída. Na observação do mapa, somado
à análise do discurso dos autores, percebe-se que os mesmo fazem uma marginalização do ser
pobre. Os mesmos afirmaram não passar por necessidades e que para eles ser pobre é viver a
margem da sociedade. Os elementos textuais destacam um “cantinho dos pobres” e “lixo”, onde
os alunos atribuíram ao pobre o papel de “catador de lixo” e o “ser pedinte”.
Apesar de existirem semelhanças na percepção da pobreza entre alunos assistidos pelo
PBF e os não assistidos, a construção da percepção da pobreza é diferenciada ao analisar a
vivencia na pobreza de cada sujeito. Demostrou-se evidente fatores psicológicos e
socioculturais que influenciaram na percepção da existência da pobreza.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A averiguação do conceito de pobreza desses sujeitos, conforme citado, foi
desenvolvida através da elaboração de mapa mental, onde as crianças retrataram a sua vivencia
12 Trabalho de Conclusão de Curso
através de desenhos. Os resultados obtidos foram analisados de acordo com a fenomenologia
de Husserl.
Através da realização deste estudo foi possível registrar a percepção da pobreza que os
alunos participantes e não participantes do Programa Bolsa Família constituem a partir de suas
vivências por meio de mapas mentais.
Os resultados obtidos foram relacionados com estudos que apresentam diferentes
abordagens da vivência da pobreza. Buscou-se definir a pobreza sob um novo ponto de vista a
partir do olhar das crianças que a vivência.
A compreensão de pobreza expressa nos mapas mentais e nos depoimentos das crianças
participantes ou não do PBF, demonstram elementos que são relacionados com a pobreza, as
questões do baixo poder aquisitivo se destaca entre os depoimentos nos dois grupo, houve
também mapas que revelaram questão de segurança, tristeza, desemprego, vulnerabilidade e
outras dificuldades enfrentadas durante o dia-a-dia como a falta de locomoção no percurso de
casa para a escola e até mesmo trabalhos domésticos infantis.
Houve uma perceptiva na análise dos mapas mentais de ambos os grupos, sendo o
relacionamento do “não poder comprar “ atribuído ao significado da pobreza pelos 80% dos
alunos não participantes do PBF, 12% atribuíram a vulnerabilidade social e 8% dos mapas
demostraram dificuldades enfrentadas no dia-a-dia. Entre os depoimentos dos participantes do
PBF se destaca em 52% as questões de desemprego dos pais, os depoimentos restantes ficaram
distribuídos em 28% atribuídos ao serviço domésticos e ajuda no sustento familiar, 9%
relaciona a pobreza ao baixo poder aquisitivo, 9% revelaram tristeza em ser pobre e 2%
atribuíram a falta de segurança e medo. Estas são as certezas das crianças que muito contribuiu
para definir a pobreza a partir de seu ponto de vista.
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