View
230
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
1/35
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAO
CARINA BANNWART
A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
CAMPINAS
2006
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
2/35
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAO
CARINA BANNWART
A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
"Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia -
Programa Especial de Formao de Professores
em Exerccio nos Municpios da Regio
Metropolitana de Campinas, da Faculdade de
Educao da Universidade Estadual de Campinas,
como um dos pr-requisitos para concluso da
Licenciatura em Pedagogia.
CAMPINAS
2006
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
3/35
by Carina Bannwart, 2006.
Ficha catalogrfica elaborada pela bibliotecada Faculdade de Educao/ UNICAMP
Bannwart, Carina
B228f A formao politica do educador : memorial de formao / Carina
Bannwart. -- Campinas, SP : [s.n.], 2006.
Trabalho de concluso de curso (graduao) Universidade Estadual
de Campinas, Faculdade de Educao, Programa Especial de Formao de
Professores em Exerccio da Regio Metropolitana de Campinas (PROESF).
1.Trabalho de concluso de curso. 2. Memorial. 3. Experincia de vida.4. Prtica docente. 5. Formao de professores. I. Universidade Estadual de
Campinas. Faculdade de Educao. III. Ttulo.
06-348-BFE
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
4/35
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
5/35
AGRADECIMENTOS
meus pais Edilza e Paulo, por todos os anos de esforo e de luta que passaram para
que eu chegasse at aqui; pelo apoio; pelo incentivo; e por todas as noites em que se
arriscaram para me encontrar na rodovia, chegando da faculdade,
minha irm amiga Bruna, por tantas leituras que ouviu e por ser minha crtica
particular que muito me auxiliou com sua sabedoria,
Ao meu esposo e companheiro Reginaldo, to atencioso e presente, que sempre me
apoiou, e tambm soube me entender quando precisei deix-lo sozinho nos finais de
semana para fazer meus trabalhos,
s minhas colegas da Turma A, que trouxeram contribuies e amizades,
professora Marta e professora Alexandra pela colaborao,
queles professores do municpio de Indaiatuba que conseguiram desvelar seu olhar ,
e no mais se omitem,
E a todos que comigo convivem e me entendem quando digo que as pessoas tm
pobrema!
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
6/35
A memria, onde cresce a histria, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para
servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma que a memria
coletiva sirva para a libertao e no para a
servido dos homens
Jacques Le Goff
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
7/35
SUMRIO
1. APRESENTAO 07
2. FOI ASSIM QUE ACONTECEU... 09
3. POLTICAS EDUCACIONAIS 12
4. GESTO ESCOLAR 15
5. ALIENAO 175.1. Alienao do Professor. 17
5.2. A influncia da Formao. 19
5.3. A Greve. 23
5.4. E agora? Alienao? 26
6. CONTINUIDADES E RUPTURAS. 296.1. Comisso de Estudos para Reestruturao do Estatuto e Plano
de Carreira do Magistrio Municipal de Indaiatuba. 30
7. CONSIDERAES FINAIS. 33
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 35
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
8/35
7
1. APRESENTAO.
O segredo de ir em frente comear.Sally Berger.
Memorial de Formao...
Aparentemente algo de fcil elaborao, por tratar de minha vivncia... No
entanto, to complexo, por referir-se a tantos erros e acertos da minha vida profissional,
que nem sempre so fceis de reconhecer e de aceitar...
Durante esses seis semestres em que tive a oportunidade de cursar o PROESF1,
grande foi meu amadurecimento intelectual.
Um desvelar de olhos me foi propiciado e hoje afirmo com segurana: sou porvezes mais feliz e por vezes mais receosa em relao profisso professor.
Mais feliz ao perceber quo importante nossa misso, e quo significativos
podemos ser na formao do indivduo...
Mas, por vezes sou mais receosa, quando percebo alienao por grande parte de
meus colegas, que usam o belo discurso do educar para a formao do cidado... ou
possibilitar a formao crtica dos alunos..., quando na verdade, eles (professores) no
o so cidados conscientes ou crticos! E seu comportamento verbal difere do no-
verbal parecendo tratar-se de pessoas diferentes (SKINNER, 1995, p.87). Falta
discernimento, conscincia e amadurecimento para muitos...
Para outros, porm, que, no coincidentemente, tiveram ou esto tendo uma
formao continuada, os pensamentos so diferentes, mais centrados e condizentes.
Ento, diante de tal realidade e com tantas indagaes, exclamaes e
afirmaes que me cercam, sem dvida alguma, meu Memorial de Formao tinha de
tratar a respeito da Formao Poltica do Educador.
um tema do qual sinto prazer em tratar e que tem tudo a ver com minha
formao.
Iniciarei, ento, meu Memorial com um breve histrico de minha vida at o
momento em que comecei a lecionar e, depois, quando j professora, quais as mudanas
que tenho vivenciado, seja na minha prtica educativa, seja na minha formao;
1
Programa Especial para Formao de Professores em Exerccio na Rede de Educao Infantil ePrimeiras Sries do Ensino Fundamental da Rede Municipal dos Municpios da Regio Metropolitana deCampinas.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
9/35
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
10/35
9
2. FOI ASSIM QUE ACONTECEU...
O importante e bonito do mundo isso:que as pessoas no esto sempre iguais,
ainda no foram terminadas, mas que elasvo sempre mudando.Afinam e desafinam.
(Guimares Rosa)
Ser professora nunca foi o meu sonho de criana. Pelo contrrio, essa era a
profisso da qual no desejava seguir!
Lembro-me de quando meu tio falava sobre me achar com jeito pra ser
professora e eu ficando muito brava com ele... Imaginava-me aeromoa, atriz,
reprter... Menos: professora.
Nem mesmo ao chegar na 8 srie (em 1994) tinha isso em mente. Porm, ao
final daquele ano, uma dvida surgiu-me: fazer o ento colegial, ou tentar o
magistrio??? Eis que, ento, acabei por iniciar minha carreira sem a menor inteno de
que isso ocorresse.
Na verdade, tive como formao inicial o magistrio, que fiz no por crer ter
habilidades pra isso, ter o dom, mas sim por acreditar ser o magistrio uma opo
melhor que um simples ensino mdio. Afinal, como ainda no tinha tido nenhuma
experincia profissional, uma possibilidade a mais no mercado de trabalho faria muita
diferena.
E assim, ao longo dos quatro anos do curso, busquei uma participao ativa no
mesmo, a fim de ter uma boa formao.
Ento, formei-me em 1998 com excelentes notas. E, em 1999 iniciei minha vida
profissional trabalhando como monitora num stio de Indaiatuba. Stio que recebiavisitas escolares.
L, explicava aos alunos sobre as plantas e frutas, ensinava os alunos a
semearem hortalias, explicava sobre o minhocrio, e, alm disso, eles passeavam de
trator e a cavalo. Porm, era um trabalho espordico, que no me dava condies nem
mesmo de arcar com o curso de informtica que tanto tinha interesse em fazer. Por isso,
ainda em 1999, quando da publicao do concurso pblico de Indaiatuba, arrisquei
prest-lo. No que ansiasse por lecionar, mas precisava, definitivamente de um trabalhoregular! E, enquanto isso, distribua meus currculos para outras reas de interesse.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
11/35
10
Fui aprovada...
Conseqentemente, no incio do ano de 2000, veio-me a oportunidade de
lecionar, e eu aceitei. No que tivesse mudado de idia e me interessado repentinamente
pela rea, mas porque, dentre as oportunidades profissionais que surgiram, essa foi a
que garantiu estabilidade.
Porm, sempre pensando em seguir futuramente uma outra carreira, prestei um
vestibular para Comrcio Exterior e passei!
Mas no tive condies de sozinha, arcar com as despesas. Era uma faculdade
particular e meus pais no poderiam me ajudar: minha me cuidava da casa e da famlia,
e meu pai, sendo agricultor, sempre teve uma renda baixa.
Ento, no me matriculei.
Fiquei muito triste com isso, mas tinha a inteno de tentar novamente numa
prxima oportunidade...
E assim as semanas e os meses foram passando...
E eu, lecionando e me atualizando na rea da educao, atravs de vrios cursos
oferecidos pela Prefeitura Municipal de Indaiatuba, tais como: Programa de Formao
de Professores Alfabetizadores (PROFA); Piaget para Professores (ministrado pelo
pessoal do laboratrio de Psicologia Gentica, da Unicamp); PCN2 em Ao, mdulos:
Matemtica na Educao Infantil; Artes na Educao Infantil; Matemtica na Educao
de Jovens e Adultos; Portugus na Educao de Jovens e Adultos; Histria no Ensino
Fundamental, entre outros.
Sei que, quanto mais experincia e formao fui adquirindo, mais me interessei e
me dediquei nessa rea (ainda no percebia nesta poca as polticas educacionais a
inseridas).
E quando em 2003 surgiu a possibilidade de graduar-me em Pedagogia pela
UNICAMP, toda e qualquer dvida que por ventura ainda sustentava, dissipou-se, e,para substitu-la, veio o desejo de estudar mais e mais.
Muito aprendi ao longo de minha Graduao: amadureci e apurei meu olhar
sobre as coisas que antes me faziam parecer serem certas e indiscutveis, imutveis.
Muitas leituras e discusses me fizeram perceber isso.
Hoje procuro um embasamento maior, uma explicao mais eloqente em tudo
que me passado, e tambm no que transmito a meus alunos, j que a educao nos
2 Parmetros Curriculares Nacionais.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
12/35
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
13/35
12
3. POLTICAS EDUCACIONAIS.
No mundo capitalista em que vivemos, as polticas educacionais so voltadas
preparao do indivduo para o mercado de trabalho, onde
absolutamente necessrio considerar o processo de reproduo em suaforma fundamental, livre de todas as interferncias perturbadoras, a fim dedesprender-nos de todos os ilusrios subterfgios que assumem a aparnciade explicao cientfica quando tomamos diretamente, como objeto deanlise, o processo social de reproduo em sua forma concretaembaraante4(MARX, 1983, p.487).
Ao analisarmos a LDB5
, os PCNs, o PNE6
, percebemos que as tendnciaspredominantes so reforadas e, os valores, as polticas educacionais e as concepes de
conhecimento, ditadas pelo Banco Mundial.
Vemos refletidas as desigualdades, e podemos perceber que, para a elite,
interessa numa certa medida, a ignorncia da populao, como meio de manuteno do
sistema. Alis, os pensamentos da classe dominante so tambm, em todas as
pocas, os pensamentos dominantes (MARX; ENGELS, 1998, p.48).
O governo impe reformas para tentar acompanhar a nova ordem mundial. Da a
criao de programas e parmetros a serem institudos na educao a fim de melhorar as
estatsticas educacionais, cumprindo assim as exigncias do Banco Mundial e
garantindo financiamentos.
Mas necessrio preocupar-se com o professor, que pode tornar-se um
obstculo desse processo.
Da a idia de que para a obteno de sucesso Seria desejvel que a admisso
profisso (docente) se fizesse a partir de testes sobre o conhecimento das matrias, para
logo depois fornecer uma formao inicial curta e capacitao em servio, a fim de
moldar o educador conforme a convenincia. (BM, 1998 apud TOMMASI; WARDE;
HADDAD, 1996, p.165).
Diante de tal fato, recordo-me dos cursos de PCNs que fiz pela Prefeitura
Municipal de Indaiatuba logo no incio de minha carreira.
4
Grifos meus.5 Lei n 9.394 / 96 - Diretrizes e Bases da educao Nacional.6 Lei n 10.172 / 01 Plano Nacional de Educao.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
14/35
13
Foram fornecidos vrios mdulos (Histria, Geografia, Matemtica,...). E
aqueles professores que se interessavam, deviam curs-los aos sbados, fora do horrio
de trabalho e sem receber nada a mais por isso, alm de mseros pontos, ou melhor,
dcimos de pontos, teis nas atribuies de aula.
Porm, esses pontos tinham a validade de dois anos. Terminado o prazo,
perdiam-se os mesmos...
Eu fiz quase todos os cursos, uma vez que, sendo recm-nomeada, no tinha
nenhuma pontuao, e no tinha tambm conhecimento da proposta educacional da rede
de ensino. Ainda no percebia nessa poca o esquema de manipulao existente,
tampouco sabia das exigncias do Banco Mundial...
Bem, muitos professores no puderam participar desses cursos, uma vez que
poucos podiam disponibilizar suas manhs inteiras de sbados para os mesmos, depois
de uma semana inteira dobrando perodos, em troca de dcimos de pontos com
validade! E, aqueles que o faziam, muitas vezes sentiam-se desestimulados em
continu-los, aps alguns encontros de repetio, ministrados por coordenadores de
unidade escolar a quem fora imposto serem os multiplicadores, e que nem sempre
tinham tais habilidades ou preparo.
Por isso, durante nossas reunies na escola e durante os HTPC7s, a direo
escolar tinha a postura de tentar convencer a todos sobre a necessidade de realizarem
tais cursos. Havia tambm certa discriminao com aqueles professores que no
participavam dos mesmos. Mas essa discriminao no vinha apenas da parte da direo
escolar: muitos professores os julgavam tambm.
Ainda assim, muitos no participavam dos cursos. Ento, desde dezembro de
2003, a Secretaria Municipal da Educao, instituiu o misterioso GPAP8 no fim do
ano, destinados queles professores que no atingissem certo nmero de faltas/aula e
faltas/HTPCs, alm de terem cumprido n carga horria de cursos que tivessem sidooferecidos pela administrao naquele ano. A partir disso, era calculado o percentual
que cada um teria para receber (100%, 50% ou 25% do salrio base), sendo que a
grande maioria dos professores nem mesmo tinham direito aos 25%. No ano de sua
instituio, por exemplo, muitos no o receberam por no terem feito o PROFA daquele
ano, e, mesmo j o tendo feito em ano anterior, no se pde contar com o mesmo na
contagem de pontos para alcanar o direito a tal benefcio.
7 Hora Trabalhada Pedaggico Coletiva.8 Gratificao de Produo e Aperfeioamento Profissional.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
15/35
14
O fato de muitos no obterem o direito a gratificao foi divulgado pela
Secretaria da Educao nos meios de comunicao local, a fim de desmoralizar o grupo
de professores que comeava a incomodar a mesma com seus descontentamentos e suas
queixas...
Vale ressaltar que alm da Licena-Sade, a Licena Gala9 e a Licena Nojo10
tambm impediam o direito gratificao. O que tambm prejudicou a muitos...
Utilizei anteriormente do termo misterioso bnus, devido ao fato de no
sabermos se a verba para o mesmo proveniente do FUNDEF (o que daria direito a
todos os professores!), ou se a verba proveniente de outros recursos da Prefeitura (o
que daria o direito reivindicao a todos os demais funcionrios!).
Alm disso, no decorrer desses 3 anos, nunca se soube logo no incio do ano se
haveria o mesmo ou no. O GPAP sempre foi uma surpresa. Com exceo deste ano
(2006) em que se leu as regras do ano anterior na suposio de que continuaro as
mesmas - com a contagem de pontos a serem atingidos pelo professor e sua conseqente
porcentagem no mesmo (que pode ser 0%, no havendo um mnimo a ser recebido por
todos, mas um mnimo a ser pago de 25%).
Enfim, essa gratificao de produo e aperfeioamento incentivou muitos
educadores, mas indignou uma outra parte, devido ao seu mistrio, suas regras
excludentes e a incerteza a cada ano.
Mas o que vale que, de certa forma, a imagem da Prefeitura atravs da
Secretaria da Educao, a de quem incentiva seus professores a se aperfeioarem e a
no faltarem no trabalho, oferecendo assim uma educao de qualidade aos filhos da
populao...
9 Licena para Matrimnio.10 Licena por Falecimento de parentes.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
16/35
15
4. GESTO ESCOLAR.
A gesto baseada na escola
Uma estrutura e processo que permite maior poder de tomada de deciso comrelao s reas de ensino, oramento, polticas, normas e regulamentos,corpo docente e todo assunto de governo, um processo que envolve umavariedade de agentes nas decises relacionadas a uma escola concreta eindividual (HERMAM, 1990 apud SANTOS FILHO, 1998, p. 2).
Por isso, a importncia de revermos certas situaes ocorridas no mbito escolar.
O professor deve ter maior participao nas decises escolares, ter maior
responsabilidade pelo processo escolar, e autonomia respeitada, e, como conseqncia,
maior interesse e responsabilidade pelos acontecimentos escolares.Porm, das muitas leituras e das muitas discusses que participei em sala durante
o PROESF, pude perceber e lamentar no vivenciar uma gesto realmente participativa.
No municpio em que trabalhei, recebemos muitas coisas prontas e apesar de
sermos consultados em HTPCs geralmente as decises j foram tomadas, restando-nos
apenas decidir sobre o dia a entregar o planejamento de aula, as sondagens dos alunos...
A Gesto autoritria e qualquer descontentamento por parte do professor no
levado em considerao e, s vezes, sua reivindicao nem sai da Unidade Escolar.Isso possivelmente deve-se ao fato de o municpio adotar a indicao para os
cargos de Coordenador de Unidade Escolar e para Diretor de Unidade Escolar.
Assim, o professor que aps o perodo de estgio probatrio (3 anos) demonstrar
comprometimento com a rede de ensino (e em alguns casos, certas amizades lucrativas)
indicado ao cargo. Mas, at algum tempo atrs, ao assumir esse novo cargo por
indicao o profissional devia assinar sua exonerao do cargo de professor (o que
legalmente prejudicial, uma vez que um cargo pblico deve ser decorrente de umconcurso pblico - salvo os cargos de comisso - e se o professor exonerar-se, fica sem
a estabilidade, sem a garantia de acesso ao cargo pblico pelo concurso) para poder
assumir a funo de Coordenador ou Diretor.
Aqueles que no correspondessem ao esperado teriam de voltar sala de aula.
Mas, e quanto exonerao que tiveram de assinar? Qual a funo da mesma?
Pressionar o profissional? Mant-lo moldado conforme a convenincia?
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
17/35
16
Bem, por essas e outras a gesto escolar no em nada democrtica: a direo
escolar faz cumprir s exigncias e modismos da Secretaria da Educao, uma vez que
se assim no o fizerem sero advertidos e pressionados.
J os professores que parecem ter uma postura mais crtica11, dificilmente tm
seus questionamentos esclarecidos.
Outros, que temem pela presso exercida de cima pra baixo com tantas
advertncias e relatrios, preferem no questionar.
Havia ainda at o ano de 2005 um terceiro grupo, que alimentava a esperana de
uma indicao e que adotava a postura do bom exemplo. Esse grupo perdeu sua fora
devido a Reestruturao do Estatuto, que teoricamente extinguir as indicaes...12
Sabemos que
Na medida em que se conseguir a participao de todos os setores da escola educadores, alunos, funcionrios e pais nas decises sobre seus objetivos eseu funcionamento, haver melhores condies para pressionar os escalessuperiores a dotar a escola de autonomia e recursos. (PARO, 2001, p.12).
Por isso, lamentvel verificar que uma Gesto Escolar participativa no existe
no Municpio de Indaiatuba. E eu tenho bem claro que a Secretaria Municipal de
Educao teme que isto ocorra.
No indicado para a manuteno das tendncias que haja tanta autonomia na
escola... Ento, melhor manter como est: as normas so ditadas e cabe direo escolar
repassar aos professores, que devem segu-las, preferencialmente sem muito questionar.
11 Ver A Influncia da Formao, p.13.12 Ver Continuidades e Rupturas, p.23.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
18/35
17
5. ALIENAO.
Ao analisar o comportamento do professorado, to distante do discurso dos
mesmos, e da sua capacidade de discernimento, cheguei a nica explicao possvel
para tal destoamento: a Alienao.
Mas afinal, o que Alienao?
O verbo alienar vem do latim alienare, afastar, distanciar, separar. Alienus
significa que pertence a outro, alheio, estranho. Alienar, portanto, tornar alheio,
transferir para outrem o que seu13 (ARANHA, 1996, p.22).
Ainda sobre seu conceito: Alienao: 1. Ato ou efeito de alienar (-se). 2.
Cesso de bens. 3. Enlevo, arrebatamento. 4. Falta de conscincia dos problemas
polticos e sociais14 [...] (FERREIRA, 2000, p.32).
5.1. Alienao do Professor.
Chego, ento, ao ponto que muito me aflige no professorado: sua alienao.
Por diversas vezes testemunhei colegas descontentes questionarem modismos da
Secretaria da Educao, que nada mais so que reflexos das recomendaes do Banco
Mundial para preservao de financiamento ao pas, inclusive na rea da educao.
Pois bem, os mesmos que, fervorosamente, debatiam em intervalos de suas aulas
a respeito de certas atitudes da Secretaria, rarssimas vezes expunham tal
descontentamento direo escolar, ou a escales maiores.
como se fossem outras pessoas participando das reunies, onde de repente
tudo est correto, sem muitos questionamentos.
Eu, enquanto cidad consciente, (no tanto como o sou hoje aps o PROESF)
sempre questionei certas atitudes. Sempre fui das que mais falavam, a ponto de meuscolegas confiarem a mim suas inquietaes na inteno que eu os representasse em
minha fala...
Sempre conversei com os mesmos a respeito da importncia de reivindicarmos
sobre nossos direitos, reivindicarmos sobre nossas condies de trabalho e condies
salariais. Mas, at ento, pouco havia mudado no comportamento do professor.
13 Grifos meus.14 Grifos meus.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
19/35
18
Os riscos de alienao que ameaam os profissionais em geral do mundocontemporneo atingem tambm os professores, profissionais quedesenvolvem um tipo de trabalho intelectual, ou trabalho no-material, muitopeculiar, [...] j que seu trabalho se desenvolve durante o ato mesmo de seproduzir (ARANHA, 1996, p. 25).
Seja l qual a profisso, j se lamenta quando h alienao, porm, quando se
trata do professor isso tem uma agravncia ainda maior por serem estes, intelectuais que
lidam com a transmisso de conhecimentos e de valores.
Alm disso, ao se compreender os professores como intelectuais, possvel aelaborao de uma severa crtica quelas ideologias que legitimam as prticassociais que separam, de um lado, conceitualizao, projeto e planejamento e,de outro, os processos de implementao e execuo. importante enfatizarque os professores devem responsabilizar-se ativamente por levantar questes
srias sobre o que ensinam, como devem ensinar e quais os objetivos maisamplos por que lutam. Isto significa que devem desempenhar papelimportante na definio dos propsitos e das condies da escolarizao(GIROUX, 1987 apud ARANHA, 1996, p. 27).
Ento, diante de tal situao, fica muito claro a desconformidade discurso x
atitude e, tambm, a discordncia entre a funo formadora do educador e sua alienao,
alm da urgente necessidade de mudana de atitude.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
20/35
19
5.2. A Influncia da Formao.
Em 2002, inicia-se o programa de formao continuada do professor. E como j
mencionado anteriormente, as polticas educacionais sofrem srias influncias do Banco
Mundial, da a possvel explicao para a implantao desse programa:
O BM chegou a um ponto crtico em que se v forado a revisar posies:no possvel continuar sustentando que a capacitao em servio maisefetiva quando, ao mesmo tempo, se reconhece que essa apenas umaestratgia paliativa com relao a um mau sistema escolar e uma m (ouinexistente) formao inicial, sendo ela quem garante o domnio decontedos, varivel fundamental no desempenho docente; no possvelcontinuar defendendo a formao docente em termos da oposio entreformao inicial e capacitao em servio, quando se reconhece que o
prprio sistema escolar (e a sua melhoria) a fonte mais segura de umaeducao geral slida dos professores; no possvel propor novosparmetros de recrutamento docente os melhores, os mais competentes esquivando-se das questes salariais e profissionais associadas a esse perfildocente. No possvel continuar afirmando, em definitivo, que se podemelhorar a qualidade da educao sem melhorar substancialmente aqualidade dos docentes, o que por sua vez leva a reconhecer o quanto inseparvel a qualidade profissional da qualidade de vida (TOMMASI;WARDE; HADDAD, 1996, p.166).
E apesar dessa influncia externa, essa foi uma excelente oportunidade para que
pudssemos aprimorar nossa formao. Afinal, nem sempre se cuidou adequadamenteda importante questo da formao do professor. H uma idia corrente de que vocao
e desprendimento generoso bastam para que a pessoa se encaminhe para esta profisso
o que significa a viso de muitos que ainda ignoram a importncia da formao do
professor (ARANHA, 1996, p.152).
Por isso, todos ns, professores da Rede Municipal de Ensino de Indaiatuba,
ficamos ansiosos em relao a tal projeto.
Ento, um grupo de professores concorreu ao curso Pedagogia Cidad,ministrado pela UNESP, apostilado e realizado em Indaiatuba mesmo, utilizando o
recurso de videoconferncias. Para essa turma 50 vagas foram oferecidas...
Outro grupo de professores concorreu ao curso de Pedagogia (PROESF) da
UNICAMP, a ser realizado em Valinhos. Nesse, 20 vagas foram oferecidas...
E eu, juntamente com outros colegas, no pude concorrer a nenhuma dessas
vagas, por estar ainda em estgio probatrio, sendo essa uma das condies exigidas
pela Secretaria da Educao para concorrer s vagas: ter terminado o estgio probatrio,
que tem a durao de 3 anos.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
21/35
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
22/35
21
Havia tambm aqueles que preferiam ignorar nossas conversas por nos considerarem
insurgentes.
Lembro-me de que estando ainda no 1 semestre do PROESF nos foi proposto
um trabalho a respeito das polticas educacionais, e nosso grupo teve de explanar sala
a respeito do FUNDEF15.
Nessa ocasio, eu pouco sabia do mesmo. Ento, aps pesquisas, informei-me
sobre o repasse do Fundo, do qual 60% devem ser aplicados em salrios e capacitao
do professor que atue nesse nvel de ensino.
Art. 7 Os recursos do Fundo, includa a complementao da Unio,quando for o caso, sero utilizados pelos Estados, Distrito Federal eMunicpios, assegurados, pelo menos 60% (sessenta por cento) para a
remunerao dos profissionais do magistrio, em efetivo exerccio de suasatividades no ensino fundamental pblico.
Pargrafo nico - Nos primeiros cinco anos, a contar da publicaodesta Lei, ser permitida a aplicao de parte dos recursos da parcela de 60%(sessenta por cento), prevista neste artigo, na capacitao de professoresleigos, na forma prevista no art. 9, 1 (LEI n 9.424, 1996).
Ao comentar sobre isso na escola em que trabalhava, muitos professores
demonstraram surpresa em relao a essa informao. Eles (assim como eu) no tinham
idia sobre.Da, que, sendo o FUNDEF calculado por aluno, e tendo um valor nico fixado
no Estado, comeamos a comparar nossos salrios em relao Regio Metropolitana
de Campinas (RMC), da qual Indaiatuba faz parte.
Percebemos que em nosso municpio paga-se um dos menores salrios da regio.
Comeamos a questionar se estaramos recebendo ou no o repasse dos 60% do
FUNDEF, j que os salrios eram to discrepantes e no recebamos reajuste h anos,
com a justificativa de falta de verbas...Os questionamentos comearam a incomodar a Secretaria, pois estavam
tornando-se uma constante. Tentaram nos convencer de que no havia nada de errado
com os clculos de repasse do Fundo, e que, se houvesse algum problema, o Conselho
que fiscaliza a distribuio desse recurso com toda a certeza impediria aes
desonestas...
15 Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorizao do Magistrio, Lei n9.424, de 24 de Dezembro de 1996.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
23/35
22
Art. 4 O acompanhamento e o controle social sobre a repartio,a transferncia e a aplicao dos recursos do Fundo sero exercidos, junto aos respectivos governos, no mbito da Unio, dos Estados, doDistrito Federal e dos Municpios, por Conselhos a serem institudos emcada esfera no prazo de cento e oitenta dias a contar da vigncia destaLei.
1 Os Conselhos sero constitudos, de acordo com norma decada esfera editada para esse fim:
[...]IV - nos Municpios, por no mnimo quatro membros
representando respectivamente:a) a Secretaria Municipal de Educao ou rgo equivalente;b) os professores e os diretores das escolas pblicas do ensino
fundamental;c) os pais de alunos;d) os servidores das escolas pblicas do ensino fundamental;
(LEI n 9.424, 1996).
Porm, quanto mais informaes obtamos, e quanto mais discutamos em nosso
curso, maior nosso desapontamento.
Verificamos, por exemplo, via on-line, o valor do FUNDEF a ser repassado ao
Municpio, e percebemos que o valor do nosso salrio era muito menor do que o
previsto dentro dos seus 60%; Alm disso, como as contas do Municpio foram por 3
anos seguidos rejeitadas pelo Tribunal de Contas da Unio fomos ficando cada vez mais
descrditos com a Secretaria da Educao.
E o que deu incio a um clima ainda maior de descontentamento foram as
presses hierrquicas ditatoriais e injustas. E, no coincidentemente, os professores que
estavam na Graduao foram os mais questionadores e provocadores de uma certa
desordem na ento ordem existente. Desordem essa referente s reclamaes antes
no existentes.
Tambm no coincidentemente, somente a partir dessa formao dos
professores, surgiram as queixas com embasamento, as crticas sobre a at ento a
aparente administrao perfeita - que conseguiu por durante 8 anos no reajustar os
salrios dos funcionrios pblicos e ainda manter-se vista como uma das melhores
administraes da cidade (conseguindo inclusive, eleger um sucessor aliado).
Porm, a conscientizao e tomada de atitude por parte do funcionalismo
municipal de Indaiatuba, no foram iniciadas pelos professores, que apesar de
apresentarem uma mudana de pensamentos, com relao s atitudes demonstraram
poucas mudanas. E o progresso com relao aos atos comeou a surgir aps a juno
entre a formao que esto vivenciando e o movimento de greve do qual poucosparticiparam.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
24/35
23
5.3. A Greve.
O ano de 2004 foi um ano de considervel ganho poltico na cidade de
Indaiatuba. Final do 2 mandato do ento prefeito, a ser, conforme pesquisas, sucedido
por seu candidato.
Funcionrios pblicos em geral descontentes com o salrio (que durante os 8
anos de mandato da mesma administrao, no teve nenhum reajuste), resolveram unir-
se para debaterem suas reivindicaes.
Atitude ento iniciada por monitoras de creche, (profissionais com menor
formao que os professores, mas com maior conscincia poltica) que em parceria com
o Sindicato dos Metalrgicos - que cedeu espao para reunies e uma advogada para
esclarecimentos legais - elaboraram boletins informativos a todos os funcionrios
pblicos municipais, cujo tema central era a defasagem salarial, alm das divergentes
condies de trabalho que tnhamos quando comparadas Regio Metropolitana de
Campinas; o autoritarismo; o desrespeito com o funcionrio,... Enfim, muitos aspectos
negativos e a necessidade de um posicionamento crtico de nossa parte.
Nesses boletins os funcionrios eram convocados a participar de reunies para
estudar as leis, analisar e definir as reivindicaes a serem encaminhadas ao prefeito,
em nome de todo o funcionalismo.
Porm, durante as muitas e muitas reunies, sempre houve um nmero irrisrio
de participantes, sendo o professorado o menos interessado aparentemente, por ser o
menos participativo (mesmo aqueles que modificaram seu discurso nas escolas e
estavam em meio formao demonstraram medo em participar das reunies!).
Ainda assim, apesar da pouca participao do funcionalismo, formou-se uma
Comisso para representar os funcionrios e encaminhar prefeitura nossas
reivindicaes que foram construdas nas reunies.Infelizmente, no houve nenhum retorno por parte da administrao que fingia
ignorar o modesto, porm indito comportamento.
Enquanto isso, na escola, os professores sabendo que eu participava das
reunies, perguntavam-me sobre o andamento das mesmas; e alegavam no terem ido
por n motivos que os impossibilitavam.
Ainda na expectativa da participao dos mesmos, esclarecia suas dvidas e
insistia para que fossem s prximas reunies... E os professores apoiavam nossa atitudee davam sugestes.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
25/35
24
O mesmo ocorria nas outras escolas em que haviam professores envolvidos no
movimento.
Mas a participao de professores nas reunies em pouco crescia... Para ser
alguma coisa, para ser si mesmo e sempre uno, preciso agir como se fala; preciso
estar sempre decidido a respeito do partido a se tomar, tom-lo abertamente e continuar
sempre com ele (ROUSSEAU, 1999, p.12).
Quanto ao andamento de nossas reivindicaes, divulgamos em jornal e rdio
local nosso descontentamento, a perda salarial do perodo daquela administrao que
chegou a 50% comparado inflao. Mas tambm no tivemos nenhum retorno.
Diante disso, a Comisso elaborou uma Carta Aberta Populao onde
expunha nossa realidade, com as reivindicaes e informando a todos que se a
administrao continuasse a ignorar nossa fala, faramos uma paralisao como forma
de protesto.
Novamente no houve retorno. Por isso, combinamos que iramos realizar a
paralisao.
E o dia 21 de junho de 2004 foi o primeiro dos 4 dias que entraram na histria
do Municpio por acontecer uma paralisao dos funcionrios.
Naquela manh, acreditando em todo o apoio e conscientizao dos
professores, fomos s escolas buscar adeses para a paralisao, que tnhamos certeza,
se tivesse considervel representatividade, seria eficaz.
Enquanto isso, outras categorias do funcionalismo faziam o mesmo: pessoais da
sade, das obras, das creches, tambm foram aos seus locais de trabalho em busca de
adeses.
Contudo, segundo o argumento da apatia das massas, muitas pessoas so
politicamente apticas e ficam felizes que uma minoria que ambiciona a liderana tome
decises em nome delas (SANTOS FILHO, 1998, p.10).Por isso, ao conversar com meus colegas no porto da escola, os mesmos
disseram concordar e estarem dispostos a paralisar naquele dia! Porm, quando a
diretora chegou, uma professora preferiu entrar sem nem sequer me olhar, outra se
aproveitou da situao e entrou tambm,... Logo, todos haviam entrado sob a
justificativa que se no parassem todos de nada adiantaria.
E eu fiquei sozinha com as monitoras que me acompanhavam do lado de fora da
escola, enquanto a diretora e os coordenadores olhavam-nos com ar de satisfao dolado de dentro...
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
26/35
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
27/35
26
A populao ficou dividida: alguns nos criticaram por considerarem uma tima
administrao que tantas praas construiu, outros porque sofreram sem o atendimento
integral das creches; Mas muitos nos apoiaram. E por ser essa a primeira manifestao
da histria do municpio e apesar de ter havido pouca adeso do professorado, foi um
acontecimento notvel e marcante.
E sendo eu uma das pouqussimas representantes do professorado descontente,
muito me orgulho de ter participado dos quatro dias de paralisao ocorridos.
E esses quatro dias significaram pra mim experincia e aprendizado de uma
vida!
5.4. E agora? Alienao?O passado torna-se passado quando opresente estabelece com ele relaes demudanas inaugurando um novo tempoLana Mara de Castro Siman
Como registrado anteriormente, encerramos a paralisao por desunio dos
funcionrios. Ento, ao retornar ao trabalho (vale ressaltar que trabalhei muito mais na
greve do que em sala de aula!) fui recebida como a corajosa, recebendo o
cumprimento de todos... E com um belo relatrio da diretora a respeito e quaseperdendo a licena prmio, uma vez que nossa justificativa de falta foi indeferida, por
ter sido uma greve ilegal, conforme verso oficial.
Porm, a partir deste movimento, muita coisa mudou: os professores passaram a
reivindicar mais seus direitos, expondo direo e superviso seus descontentamentos.
E ainda hoje alguns se declaram arrependidos por no terem participado do movimento,
afirmando no mais se omitirem caso haja uma outra paralisao...
Isso, aliado ao fato de um grupo de professores da rede municipal de Indaiatubaestar cursando sua graduao, tm resultado num vagaroso progresso em relao
participao dos mesmos em algumas decises. Porm, como dito, realmente vagaroso
progresso...
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
28/35
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
29/35
28
no foi em vo. Alis, as iniciativas coletivas so fundamentais para desencadear
rupturas no quadro de individualismo, isolamento e corporativismo de todos os
segmentos que se envolvem na formao de professores (LAROCA, 1999, p.31).
E a iniciativa j foi tomada!
S no podemos nos esquecer de que a mais longa caminhada s possvel
passo a passo...
6. CONTINUIDADES E RUPTURAS.
Os acontecimentos ltimos com o funcionalismo municipal, inclusive com os
profissionais da rea de educao do municpio de Indaiatuba (greve / formao do
professor / incio da desalienao) provocaram uma certa mudana de atitude por parte
da administrao.
Logo no primeiro semestre de mandato (2005), o atual prefeito deu ao
funcionalismo um reajuste salarial que variou entre 5% a 20%, dependendo do salrio.
Acontecimento raro de se observar logo no incio de uma administrao onde comum
o governante alegar precisar estudar o oramento para planejar as alteraes no ano
seguinte...
Tambm surpreendeu a atitude da Secretaria Municipal de Educao, que
parecendo ter uma postura mais acessvel, talvez fazendo valer o discurso de sua
proposta onde Como todos os Educadores so tambm aprendizes, de fundamental
importncia que possam, sempre, estudar, debater e compartilhar as diferentes aes e
conhecimentos pedaggicos criou uma Comisso (tendo os professores seus
representantes!) para reestruturar o Estatuto e instituir um Plano de Carreira
(INDAIATUBA, 2004, p.36).
Sem dvida, um ganho para a categoria. Porm isso ainda no basta, afinal
reforma uma palavra cujo significado varia conforme a posio que elaocupa, se dentro das transformaes que tm ocorrido no ensino, na formaode professores, nas cincias da educao ou na teoria do currculo a partir dofinal do sculo XIX. No possui um significado ou definio essencial. Nemtampouco significa progresso, em qualquer sentido absoluto, mas implica,sim, uma considerao das relaes sociais e de poder (POPKEWITZ,1997 apud CANDAU, 1999, p.30).
E ainda no se tem o produto final, ou seja, o Novo Estatuto. O que muitopreocupa e incomoda.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
30/35
29
6.1. Comisso de Estudos para Reestruturao do Estatuto e Plano de Carreira doMagistrio Municipal de Indaiatuba.
Eis que em agosto de 2005chega s escolas a informao de que seria criada
uma Comisso para reestruturar o ento ultrapassado estatuto do Magistrio vigente,
datado de 1990, e instituir o Plano de Carreira, dado s queixas cada vez mais
constantes do professorado.
Para tanto, aqueles que tivessem interesse em representar sua categoria deveriam
manifestar-se e a direo escolar enviaria o nome Secretaria.
Cada escola podia indicar um professor por categoria. Havendo mais de um
interessado, seria feita uma votao entre o corpo docente da UE17. Seriam indicados:
um professor do ensino fundamental; um professor substituto do ensino fundamental;
um professor especialista18; um professor de educao infantil; um professor substituto
da educao infantil; e um suplente para cada um.
Ento, aps todas as UEs terem enviado os nomes dos indicados, marcou-se uma
reunio com os mesmos. Eu fui como indicada da escola em que trabalhava para
representar os professores substitutos do ensino fundamental. Na reunio ns votamos
em quem seriam os membros da Comisso, pois somente um professor de cada
categoria poderia participar (juntamente com seu suplente).
Ento se formou a Comisso composta pelos representantes dos professores, e
toda a hierarquia da Secretaria de Educao (Secretria da Educao, Secretria
Adjunta, Coordenadora do Ensino Fundamental, Coordenadora da Educao Infantil,
Supervisora do Ensino Fundamental, Supervisora da Educao Infantil, Orientadora
Pedaggica, Diretora de Escola Fundamental, Diretora de Escola de Educao Infantil,
Coordenadora de escola do Ensino Fundamental e Coordenadora de Escola de Educao
Infantil). No foi uma Comisso paritria, mas ao menos houve algumarepresentatividade. E eu fui eleita por meus pares, professores substitutos, para
represent-los.
Essa Comisso est sendo assessorada por uma empresa que, de acordo com o
Departamento Jurdico da prefeitura foi contratada atravs de carta convite, pelo valor
de R$207.000,00 pagos com recursos da Educao... E conforme acordo firmado, o
prazo para encaminhamento do documento Cmara para votao era de 90 dias a
17 Unidade Escolar.18 Professor de Educao Especial; Filosofia; Educao Fsica; Artes.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
31/35
30
contar da assinatura do contrato e 150 dias para estar tudo finalizado (elaborado, votado
e aprovado)...
Ento iniciamos nossas reunies - a princpio quinzenais com 4 horas de durao
- para num primeiro momento estudarmos as leis Federais, Estaduais e Municipais
voltadas ao funcionalismo e magistrio e, esclarecidas as dvidas sobre esses pontos,
elaborarmos as sugestes de modificaes permitidas por lei.
Tudo o que discutamos nas reunies, transmitamos aos professores nos HTPCs,
alm das leituras das atas das reunies, que eram enviadas a todas as escolas!
Logo de incio o que mais preocupava eram os cargos por indicao de
Coordenador de UE e de Diretor de UE. A maioria dos professores prefere a instituio
de concursos para todos os cargos. J os profissionais envolvidos e a Secretaria da
Educao preferem e sugerem que continuem as indicaes, ou pelo menos que no se
mude quem j est, e alteraes sejam feitas a partir de novas vagas.
E ficou imposto na reunio que vamos modificar daqui pra frente e o que j foi
feito est sacramentado e no iremos fazer um documento retroativo...
Quanto instituio ou no de Concurso Pblico, foi acertado de que ser
decidido em Assemblia Geral com os professores essa e outras modificaes. Mas
antes da Assemblia, fez-se necessrio um levantamento em todas as escolas sobre
quais reivindicaes tinham os professores. E os mesmos tinham de nos encaminh-las
por escrito dentro do prazo estipulado pela Comisso.
Recebemos centenas de reivindicaes: umas muito pertinentes; outras
totalmente distantes das atribuies do Estatuto.
Ento, durante 4 reunies socializamos e tabulamos todas as reivindicaes,
inclusive as no pertinentes, para que, apoiados pela lei, pudssemos avaliar a
viabilidade e legalidade das mesmas e, assim que terminssemos a organizao das
possveis modificaes, a empresa de assessoria elaboraria uma prvia do documento enuma Assemblia os professores iriam decidir sobre alguns pontos principais como os
cargos de Diretores e Coordenadores serem por Concurso Pblico ou continuarem as
indicaes.
Mas, a essa altura do processo, tanto o advogado da empresa de assessoria como
a Secretria de Educao, quiseram inviabilizar a Assemblia. Protestamos e, como j
havia sido acordado a respeito disso no incio de nossas reunies, manteve-se o
compromisso.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
32/35
31
Fato que surpreendeu a todos os professores que estavam acostumados a ver as
imposies de at ento, e sabendo que
no se far uma reforma educativa autntica se no se colocar no centro de
suas preocupaes as questes relativas identidade, s condies detrabalho, ao status econmico e social e profissionalizao dos professores.O centro de toda ao educativa tem no docente seu principal ator. Unindoforas nessa perspectiva, construiremos a outra reforma (CANDAU,1999, p.41).
Mas, infelizmente, em dezembro de 2005 aconteceu nossa ltima reunio. E
desde ento, no houve progressos. Nem aps minha sada da prefeitura, no aconteceu
mais nenhuma reunio, tenho me informado sobre e at pedi Secretaria Adjunta, antes
de exonerar, que permitisse que eu continuasse participando da Comisso, uma vez quegostaria de terminar o trabalho que comecei, sendo a indicada por meus pares para
represent-los. Porm, como passei no concurso para PEB I do Estado e assumi uma 1.
srie no perodo da manh, tive de exonerar do cargo de professora substituta no
municpio - que tambm era de manh - e no permitiram que trocasse meu horrio.
Ento, por no mais fazer parte do corpo docente, no posso mais participar, ficando
minha suplente no lugar. Esse foi a nica coisa que lamento ter perdido ao sair da
prefeitura: deixar um trabalho inacabado.Fico triste em ouvir os comentrios de que no haver mais Assemblia, de que
o Estatuto j est pronto...
No quero acreditar em boatos, mas interessante registrar que, 250 dias aps a
assinatura do contrato (lembram-se do prazo estipulado?), o documento ainda no foi
finalizado, nem foi marcada a Assemblia Geral com os professores, muito menos
encaminhado Cmara para votao.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
33/35
32
7. CONSIDERAES FINAIS.
A graduao em minha vida significou um amadurecimento intelectual sem
igual.
No h alienao em minha viso e tive a oportunidade de participar de
momentos marcantes para toda a histria da educao do municpio de Indaiatuba.
Bem, j fui considerada pela Secretria da Educao de Indaiatuba, como
pertencente esquerda festiva, mas hoje, acredito terem uma viso mais coerente a
respeito.
Tambm, graas ao curso, tive a oportunidade e a preparao para prestar o
Concurso do Estado, passar e assumir minha sala, depois de 6 anos de substituio.
Enfim, muito aprendi e me surpreendi.
Tambm me entristeci ao ver que pensamentos, atitudes e palavras que
(re)produzimos so tantas vezes o reflexo do sistema capitalista que nos corrompe e
manipula, tornando-nos fantoches e reprodutores de seus ideais...
A partir dessa reflexo, reforo a afirmao de que
Se queremos uma escola transformadora, precisamos transformar a escolaque temos a. E a transformao dessa escola passa necessariamente por sua
apropriao por parte das camadas trabalhadoras. nesse sentido queprecisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuio doprprio trabalho no interior da escola (PARO, 2001, p.10).
E essa transformao depende nica e exclusivamente de ns, participantes do
processo.
triste tambm observar que caractersticas que deveriam ser hoje a muito
ultrapassadas, na verdade permanecem presentes em muitos lugares... Como a atitude
autoritria e ditadora que vivenciei no municpio de Indaiatuba: exonerei sob a ameaade ter de pagar uma multa para arcar com todos os gastos que a prefeitura teve comigo
durante meu curso do PROESF (!) correndo o risco, segundo a Secretaria da Educao,
de perder minha vaga no curso, uma vez tendo assinado o termo de compromisso no
incio do mesmo para poder receber a declarao de professora em exerccio e efetuar
minha matrcula.
Disseram-me tambm que seria possvel que, ao invs de pagar multa, j que a
UNICAMP pblica, teria de prestar servios voluntrios cidade...
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
34/35
33
Obviamente que nada disso ocorreu, por tratar-se de alegaes infundadas. Mas,
na entrevista de desligamento, fui informada que tenho uma dvida moral com o
municpio dado o acordo quebrado... (Deixo os comentrios para os Senhores, caros
leitores...).
Bem, a escola continua repressora mesmo quando se diz libertadora, porque no
adianta mudar somente as tcnicas de aprendizagem se o educador no mudar sua
postura.
Acredito que esteja finalmente se iniciando essa mudana no municpio. E se
assim o for, no ser apenas um belo discurso a idia de formao para a cidadania,
mas, ser sim, o reflexo do que o educador vivencia.
Espero que a Formao Poltica do Educador so seja utpica. E espero, de
alguma forma ou de outra, ter contribudo um resqucio que seja, na mudana do
comportamento do professorado em questo.
E quanto ao Memorial
No sobre as idias de outrem que escrevo, mas sobre as minhas. No vejoas coisas como os outros homens; faz muito tempo que me chamaram aateno para isto. Mas depender de mim dar-me outros olhos e exibir outrasidias? No. Depende de mim no confiar excessivamente em mim mesmo,no acreditar ser sozinho mais sbio do que todo o mundo; depende de mim
no mudar de sentimento, mas desconfiar do meu; isto tudo o que possofazer, e o que fao. Se s vezes assumo o tom afirmativo, no para imp-lo ao leitor, mas para fazer tal como penso. Por que proporia em forma dedvida aquilo sobre que, no que me diz respeito, no tenho dvidas? Digoexatamente o que se passa em meu esprito (ROUSSEAU, 1999, p.4).
Fao minhas essas palavras que traduzem todo o meu sentimento.
8/8/2019 A FORMAO POLTICA DO EDUCADOR
35/35
8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofia da Educao. So Paulo: Moderna,1996.
BRASIL. Ministrio da Educao. Fundo de Manuteno e Desenvolvimento doEnsino Fundamental e Valorizao do Magistrio (Lei n 9.424). Braslia, 1996.
CANDAU, Vera Maria. Reformas Educacionais Hoje na Amrica Latina. In:MOREIRA, Antnio Flvio (Org.) Currculo: Polticas e Prticas. Campinas:Papirus, 1999.
FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda.Miniaurlio Sculo XXI Escolar: Ominidicionrio da Lngua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
INDAIATUBA. Prefeitura Municipal de Indaiatuba. Secretaria Municipal deEducao. Proposta Pedaggica Global da Rede Municipal de Ensino. Indaiatuba:Grfica Caravela: 2004.
LAROCCA, Priscila. Psicologia e Formao Docente: Desafios e Conversas.Campinas: So Paulo: Faculdade de Educao: UNICAMP. Dissertao deMestrado, 1999.
LE GOFF, Jacques.Histria e memria. Campinas: Editora da UNICAMP, 1994.
MARX, Karl. O Capital. Crtica da Economia Poltica. So Paulo: Difel, 1983.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alem. So Paulo: Martins Fontes,1998.
PARO, Vitor Henrique. Gesto democrtica da escola pblica. So Paulo: tica,2001.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emlio, ou, Da Educao. So Paulo: Martins Fontes,1999.
SANTOS FILHO, Jos Camilo dos.Democracia Institucional na Escola: discussoterica. Ver. De Administrao Educacional, vol. 1, n 2. Jan/Jun/98, UniversidadeFederal de Pernambuco. Recife, 1998.
SKINNER, Burrhus Frederic. Questes recentes na anlise comportamental.Campinas: Papirus, 1995.
TOMMASI, Lvia de; WARDE, Mirian Jorge; HADDAD, Srgio. O BancoMundial e as Polticas educacionais. So Paulo: Cortez, 1996.
Recommended