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A História Das Vogais Portuguesas - Do Latim Ao Português Brasileiro Atual, Com Especial Destaque Para o Português Arcaico
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A HISTRIA DAS VOGAIS PORTUGUESAS:DO LATIM AO PORTUGUS BRASILEIRO
ATUAL, COM ESPECIAL DESTAQUE PARA O PORTUGUS ARCAICOPORTUGUS ARCAICO
Juliana Simes Fonte
Curso de Mestrado
UNESP/FCL Araraquara
Orientadora: Profa. Dra. Gladis Massini-Cagliari
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho estudar asqualidades voclicas do Portugus Arcaico(sculo XIII), atravs da considerao dasrimas possveis nas Cantigas de Santa Mariarimas possveis nas Cantigas de Santa Maria(CSM) de Afonso X.
VOGAIS TNICASVOGAIS TNICAS
A HISTRIA DAS VOGAIS PORTUGUESASA HISTRIA DAS VOGAIS PORTUGUESAS
AS VOGAIS DO LATIM CLSSICO
/, , , , , , , , , /
(NUNES, 1960, p. 38)
AS TRANSFORMAES NO LATIM VULGAR
I # I ( E # E ( A # A ( O( O# U ( U #
/i/ /e/ /E/ /a/ // /o/ /u//i/ /e/ /E/ /a/ // /o/ /u/
Gonalves & Ramos (1985, p. 90)
AS VOGAIS DO PORTUGUS ARCAICO
Estas sete vogais do latim vulgar que assim seconservaram em galego-portugus podem ser,esquematicamente, representadas deste modo:
/i/ /u//i/ /u//e/ /o/
/E/ ///a/
Gonalves & Ramos (1985, p. 91)
AS VOGAIS DO PORTUGUS BRASILEIRO ATUAL
altas /u/ /i/
mdias /o/ /e/ (2 grau)
mdias // /E/ (1 grau)
baixa /a/baixa /a/
posteriores central anteriores
Cmara Jr. (2007[1970], p. 43)
DO LATIM VULGAR AO PB ATUAL
e ae reduziram-se a (aberto)
, oe e reduziram-se a (fechado)
reduziu-se a i
reduziu-se a (aberto) reduziu-se a (aberto)
e reduziram-se a (fechado)
reduziu-se a u
(NUNES, 1960, p. 40-41)
EXEMPLOSEXEMPLOS
VOGAL /a/
a ( > a a # > a
ama (ricu- > amargo affla #re > achar
a (qua- > gua bonita #te- > bondade
VOGAL /e/e # > e i ( > e oe > e
arbore #tu- > arvoredo capi(stru- > cabresto coena- > cea > ceia
be #stia- > besta i(lle > ele foedu- > feo > feio
VOGAL /E/
e ( > E ae > E
caste (llu- > castelo caecu- > cego
ce (rtu- > certo caelu- > cu
VOGAL /i/
cami#sia- > camisa
fi#cu- > figo
VOGAL /o/o # > o u ( > o
amo #re- > amor bu (cca- > boca
colo #re- > coor (arc.) > cor cu (b(i)tu- > coto
VOGAL //cho (rda- > corda
lo (cu- > logo
VOGAL /u/acu #me- > gume
acu #tu #- > agudo
EXCEES REGRA DE SUBSTITUIO NO PB ATUAL
VOGAIS MDIAS ANTERIORES
m/e(/u > m/e/u
de (us > D/e/us
Galilaeu > galil/e/uGalilaeu > galil/e/u
Pharisaeu > faris/e/u
invi(dia > inv/E/ja
VOGAIS MDIAS POSTERIORES
melio #re > melhor
peio #re > pior
mai/o #/re > mai//r
mino #re > menor mino #re > menor
formo #sa > form//sa
glorio #sa > glori//sa
jo (cu > j/o/go (substantivo)
As Gramticas Histricas e Manuais deFilologia do Portugus sugerem, para essescasos que representam uma exceo regrade substituio, ou explicaes fonticas denatureza assimilatria, como a metafonia, porexemplo, ou explicaes analgicas.exemplo, ou explicaes analgicas.
Desta forma, a vogal mdia fechada /e/ dopronome meu, por exemplo, seria explicadapela influncia (metafonia) da vogal tonafinal /u/, que a teria fechado.
Da mesma forma seriam explicadas as vogaismdias abertas em inveja e formosa, queteriam sofrido influncia da vogal tona final/a/.
J a presena da vogal mdia aberta (//), em
maior, seria explicada por meio de umaanalogia com o termo mor, resultado daanalogia com o termo mor, resultado dacontrao de oo: maor > moor > mor.
O PORTUGUS ARCAICOO PORTUGUS ARCAICO
Dado o fato de os quatro fonemas voclicos/e/, /E/, /o/ e // serem representados, no PA,assim como no PB atual, por apenas doisgrafemas, e , o recurso a textospoticos torna-se indispensvel, uma vez que,poticos torna-se indispensvel, uma vez que,somente a partir de suas rimas, possvelidentificar com que timbre voclico erampronunciadas certas palavras, em ummomento passado da lngua, do qual no setm registros orais.
ANLISE DAS RIMAS DAS CSMANLISE DAS RIMAS DAS CSM
Betti (1997) fez um levantamento de todas asrimas possveis nas 420 Cantigas de Santa Maria,de Afonso X. Desta forma, esta pesquisa partiudas informaes contidas no Lessico in Rimaproposto por essa autora, mapeando todas asvogais possveis nas posies tnica e tona.vogais possveis nas posies tnica e tona.Levou-se em considerao o fato de que precisoanalisar as possibilidades e impossibilidades derima de vogais representadas por uma mesmaletra para se chegar ao sistema voclico da lngua,uma vez que nem sempre vogais representadaspelo mesmo grafema referem-se ao mesmo som.
VOGAIS MDIAS ANTERIORESVOGAIS MDIAS ANTERIORES
CSM 17 (3 ESTROFE)
A dona mui bon marido perdeu,
e con pesar del per poucas morreu;
mas mal conorto dun fillo prendeu
que del avia, que a fez prennada.que del avia, que a fez prennada.
Sempre seja beita e loada
Santa Maria, a noss' avogada.
(METTMANN, 1986, p. 102)
CSM 311(11 estrofe)
Que me livrou de sas mos | u era en poder seu;
e porend', enquant' eu viva, | sempre no coraon meu
a terrei pera servi-la, | e nunca me ser greu
de ren que por ela faa, | ca mui ben enpregad' .de ren que por ela faa, | ca mui ben enpregad' .
O que diz que servir ome | aa Virgen ren non ,
aquest' de mal recado | e ome de maa fe.
(METTMANN, 1989, p. 120)
CSM 401(2 estrofe)
Pois a ti, Virgen, prougue | que dos miragres teusfezess' ende cantares, | rogo-te que a Deus,
teu Fillo, por mi rogues | que os pecados meusme perdon e me queira | reebir ontr' os seus
no santo parayso, | u ste San Matheus,no santo parayso, | u ste San Matheus,San Pedr' e Santi[a]go, | a que van os romeus,e que en este mundo | queira que os encreus
mouros destruyr possa, | que son dos Filisteus,com' a seus e )emigos | destruyu Machabeus
Judas, que foi gran tenpo | cabdelo dos judeus.
(METTMANN, 1989, p. 303)
CSM 241(7 estrofe)
Ao demo non pro[u]gue | dest, e con grand enveja
revolveu a pousada | o que maldito seja;
el que toda maldade | ama sempr e deseja
fez o prazer em doo | tornar, Ca lle prazia.
Parade mentes ora
como Santa Maria
d acorrer non demora
a quen por ela fia.
(METTMANN, 1988, p. 331)
VOGAIS MDIAS POSTERIORES
CSM 4 (2 estrofe)
O meny )o o mellorleeu que leer podia
e d'aprender gran saborouve de quanto oya;e por esto tal amor
con esses moos collia,con que era leedor,con que era leedor,
que ya en seu tropel.A Madre do que livrou
dos lees Daniel,
essa do fogo guardou
un meny )o d'Irrael.
(METTMANN, 1986, p. 63)
CSM 359(3 ESTROFE)
Este dous fillos avia, | e Domingo o mayor
chamavam, e ao outro | Pedro, que era me )or.
Estes ambos o servian | muito, [de] que gran sabor
avia o ome bo )o, | e fazia gran razon.avia o ome bo )o, | e fazia gran razon.
As mos da Santa Virgem | que tangeron acaron
Jhesu-Christo, muy ben poden | sacar presos de prijon.
(METTMANN, 1989, p. 229)
CSM 340(REFRO)
Virgen Madre groriosa,
de Deus filla e esposa,
santa, nobre, preciosa,
quen te loar saberiaquen te loar saberia
ou podia?
(METTMANN, 1989, p. 187)
CSM 79(4 ESTROFE)
Quisera-se Musa ir con elas logo. Mas Santa Maria lle diss': Eu te rogo
que, sse mig' ir queres, leixes ris' e jogo, orgull' e desden. Ay, Santa Maria,Ay, Santa Maria,
quen se per vos guya
quit' de folia
e senpre faz ben.
(METTMANN, 1986, p. 256)
RESULTADOS
VOGAIS MDIAS ANTERIORES
Latim Portugus Arcaico Portugus Brasileiro
e(go (clssico) *e(o (vulgar) /E/u /e/u
me(u m/E/u m/e/u
iudaeu jud/E/u jud/e/uiudaeu jud/E/u jud/e/u
de(us D/E/us D/e/us
Galilaeu, Pharisaeu Galil/E/us, Faris/E/us Galil/e/us, Faris/e/us
invi(dia env/e/ja inv/E/ja
VOGAIS MDIAS POSTERIORES
Latim Portugus Arcaico Portugus Brasileiro
melio#re mell/o/r melh//r
peio#re pe/o/r pi//r
maio#re mai/o/r mai//rmaio#re mai/o/r mai//r
formo#sa frem/o/sa form//sa
glorio#sa glori/o/sa glori//sa
jo(cu j//go (substantivo) j/o/go (substantivo)
CONCLUSESCONCLUSES
A partir do que foi apresentado, nestetrabalho, pode-se concluir que algumaspalavras do Portugus atual, apontadaspelas Gramticas Histricas e Manuaisde Filologia como exemplos de casosde Filologia como exemplos de casosque representam uma exceo regrade substituio das vogais latinas pelasportuguesas, apresentavam, no PA, umtimbre voclico diferente daquele queapresentam no PB atual.
Desta forma, foi possvel constatar que,naquele momento da lngua, as regras desubstituio das vogais latinas pelas vogaismdias portuguesas foram respeitadas. Nessemdias portuguesas foram respeitadas. Nessesentido, tambm fica comprovado que ofenmeno fontico de natureza assimilatria,a harmonia voclica, que alterou o timbrevoclico dessas palavras, atuou recentementena lngua.
Apenas em um perodo mais recente da lnguaportuguesa, houve uma mudana no timbrevoclico dessas palavras (que pode serexplicada a partir do fenmeno da metafoniaou da analogia com outros termos), que asou da analogia com outros termos), que asdistanciou de suas formas etimolgicas, nonos permitindo identificar, em suas vogaistnicas, um timbre voclico correspondente quantidade que possuam em sua origemlatina.
Nestas alternncias de timbre, como em tudoo mais que diz respeito lngua, os fatos nose apresentam com a viso simplista da rigidezmatemtica. A norma vai aos poucosmatemtica. A norma vai aos poucosselecionando umas formas em detrimentodoutras, ou vai estabilizando o que at poucoeram vacilaes.
(SILVA NETO, 1952, p. 195)
BIBLIOGRAFIA
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METTMANN, W. (Ed.). Cantigas de Santa Mara (cantigas 1 a 100): Alfonso X, el Sabio. Madrid: Castalia, 1986.
METTMANN, W. (ed.) Alfonso X, el Sabio. Cantigas de Santa Maria (cantigas 101 a 260). Madrid: Castalia, 1988.
METTMANN, W. (Ed.). Cantigas de Santa Mara (cantigas 261 a 427): Alfonso X, el Sabio. Madrid: Castalia, 1989.
MICHALIS DE VASCONCELOS, C. Lies de filologia portuguesa (segundo as prelees feitas aos cursos de 1911/12 e de 1912/13) seguidas das lies prticas de portugus arcaico. Rio de Janeiro: Martins Fontes, [19--]. Referido como 1912-1913.1912/13) seguidas das lies prticas de portugus arcaico. Rio de Janeiro: Martins Fontes, [19--]. Referido como 1912-1913.
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VASCONCELLOS, J. L. de. Lies de filologia portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1959.
WILLIAMS, E. B. Do latim ao portugus: fonologia e morfologia histrica da lngua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1975.
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