View
214
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
1/94
AmsicaemRibeiroPretoManifestaes do comeo do sculo XX
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
2/94
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
3/94
Fundao Instituto do Livro de Ribeiro Preto - 2011
.
AmsicaemRibeiroPretoManifestaes do comeo do sculo XX
Thaty Mariana Fernandes
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
4/94
Prefeita MunicipalDrcy VeraSecretria da Cultura
Adriana SilvaPresidente da Fundao Instituto do LivroEdwaldo ArantesDiretora de Patrimnio CulturalLilian Rodrigues de Oliveira RosaConselho EditorialAdriana Silvarica Amndola
Lilian Rodrigues de Oliveira RosaMichelle Cartolano de Castro SilvaTnia Cristina RegistroRevisorica Amndola
I195b - A msica em Ribeiro Preto - manifestaes do comeo dosculo XX. Thathy Mariana Fernandes (pesquisa e texto) RibeiroPreto: Fundao Instituto do Livro, 2011.
94 pg.; (Coleo Identidades Culturais, n.6)ISBN - 978-85-62852-13-8
1. Histria de Ribeiro Preto 2. Histria da MsicaCDD: 981.612 rpb
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
5/94
Sobre a pesquisadora
Thaty Mariana Fernandes
Graduada em Histria na Universidade Federal de
Ouro Preto e mestre em Histria e Cultura Socialpela UNESP. Trabalhou como professora de Hist-ria na Rede Municipal de Ensino de Ribeiro Pretode 2003 a 2008, alm de escolas estaduais e parti-culares. Atua como pesquisadora na FormArteProjetos, Produo e Assessoria (So Paulo-SP),empresa que elabora e administra projetos culturaisna rea de patrimnio histrico.
Capa - Orquestra do cinema Bilac. Da esquerda para
direita, em p: Antenor Ribeiro, Amadeu[Mugnahaia], Joaquim Rangel, Joaquim [Cunha],Pacoal. Da esquerda para direita, sentados: RaphaelLeite, Barilari, Helena, Eduh Rangel, Luiz Span,Sebastio Soma, Caetano (?). Data: 1924. Fotgra-fo: Photographia Artstica CM ou MC. (APHRP, F568).
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
6/94
6
Grupo de msicos (adultos e crianas) portando instrumentos musicais.Com o trombone nas mos Sebastio Soma. Data: 1930. Fotgrafo: Noidentificado. (APHRP. Foto n. 576)
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
7/94
7
Apresentao
A msica uma expresso artstica presentena histria cultural de Ribeiro Preto desdesua fundao. Bandas, grupos, maestros,comprositores, instrumentistas e cantores,homens e mulheres, brancos e negros, aolongo do tempo, garantiram a representativi-dade da msica como uma atividadefrequente nas praas, festas e datas espe-
ciais.Thaty Mariana Fenandes pesquisou estahistria, com foco nas manifestaes docomeo do sculo XX e este livro, o sextovolume da Coleo Identidades Culturais,relata como a msica seguiu intrnseca a
histria de Ribeiro Preto.Tendo como fonte o arquivo do Jornal ACidade, estudos anteriores (dissertaes eteses), documentos do Arquivo Pblico eHistrico de Ribeiro Preto, esta obra
presenteia a todos com referncias quepermitem um melhor reconhecimento dacultura imaterial do municpio.Viva Homero Barreto, Max Barth, PousaGodinho e tantos outros.
Adriana Silva
Secretria da Cultura
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
8/94
8
Sumrio
Introduo
Captulo 1: A modernizao na msica e nos entretenimentos
Captulo 2: Msica e entretenimento como negcio
2.1 Teatros e empresas de entretenimento
2.2 Frequncia dos espetculos e controle social
2.3. CircosCaptulo 3: Profissionais da msica
3.1. Bandas e msicos locais
Captulo 4: Comrcio de instrumentos, partituras, discos e gramofones
4.1. Comrcio de pianos
Captulo 5: Msica e entretenimento como meios de culto e educao5.1. A msica nas escolas
5.2. Comemoraes cvicas
5.3. Comemoraes religiosas
Captulo 6. O carnaval
Captulo 7: Outras formas de socializao pela msica: bailes e saraus, festas
e serenatas
Consideraes Finais
Apndice
Referncias Bibliogrficas
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
9/94
9
Este livro resultante da reviso e edio da pesquisa desenvolvida no
mestrado em Histria e Cultura Social. O trabalho original teve como obje-
tivo abordar o universo do entretenimento e das atividades musicais, no
propriamente como uma histria da msica, mas como uma sondagem
dos ambientes pelos quais a msica circulava, como era produzida e consu-mida pela sociedade da poca. A pujana econmica derivada do caf
permitiu investimentos expressivos no ramo do entretenimento, estimu-
lando o surgimento de empresrios do setor, capitalizando o lazer e os
circuitos que envolviam a msica.
A urbanizao e a consequente tentativa de construo da Ribeiro Pretohiginica, organizada e bela, foi um processo que se iniciou na segunda
metade do sculo XIX e at a dcada de 1920 j havia criado servios e
obras essenciais como a rede de gua e esgoto, o calamento das ruas, o
ajardinamento do antigo Largo da Matriz, regras para o embelezamento
arquitetnico, instalao da linha ferroviria, construo de prdios pbli-
cos como os da Cmara e Cadeia e o Pao Municipal. A ideologia do urba-
nismo sanitarista, legitimado pelo discurso das autoridades polticas e
cientficas da cidade, e o desejo das camadas mais abastadas de construir a
sua Belle poque local moveram a modernizao da cidade e transforma-
Introduo
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
10/94
10
ram o povoado rural em Capital dOeste.
Dentre a produo historiogrfica a respeito de Ribeiro Preto focada nas
primeiras dcadas do sculo XX predominam trabalhos sobre economia,
poltica, questes urbansticas e arquitetnicas. Os trabalhos que se dedica-ram histria local ajudam a conhecer o espao urbano e a realidade scio-
econmica da poca. Auxiliam, ainda, na compreenso da penetrao da
ideologia do moderno no municpio e como ela se manifestou no circuito do
entretenimento e de outras atividades ligadas msica. As obras dos memo-
rialistas locais tambm so teis ao fornecerem informaes adicionais que,
embora muitas vezes no sejam embasadas em fontes documentais, nos
indicam como certos fatos foram tratados pela memria coletiva, da qual
representam um testemunho, ou so teis no dilogo com as fontes aqui
utilizadas.Entre as obras de memorialistas utilizadas neste trabalho destacam-se as
de Jos Pedro Miranda (1971), Prisco da Cruz Prates (1956) e Rubem
Cione (1985). Esse ltimo o mais conhecido e o seu trabalho se constitui
como a mais popular referncia para o estudo da histria da cidade. Esta
obra foi, em parte, baseada na obra de Plnio Travassos dos Santos (1923).A esta pesquisa interessa tambm o trabalho indito da professora Myriam
Strambi, sobre o msico Belmcio Pousa Godinho (1983), os seus manus-
critos e o livro 50 anos da Orquestra Sinfnica em Ribeiro Preto (1938-
1988), publicado em 1989 .1
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
11/94
11
Rodrigo S. Faria (2003) analisa o desenvolvimento da cidade nas trs
primeiras dcadas do sculo XX, demonstrando quais eram as prioridades,
embates e opinies das autoridades polticas e cientficas e dos muncipes
sobre as obras de infraestrutura necessrias, utilizando-se das Atas daCmara Municipal e as correspondncias enviadas aos jornais locais. O autor
revela as direes da expanso da cidade, o anseio pelo belo e o moderno, e
quais medidas foram tomadas atravs do tempo para sanar os diversos
problemas e deficincias inclusive estticas do municpio, desde a sua
emancipao. As medidas ordenadas pela Cmara Municipal revelam que as
obras consideradas urgentes, tais como os servios de coleta de esgoto e a
canalizao da gua, entre outros, muitas vezes eram discutidos com morosi-
dade e falta de objetividade. As obras pblicas ou particulares de interesse
pblico no priorizavam o saneamento bsico e a higienizao, haja vista ainaugurao do Theatro Carlos Gomes, em 1897, quando ainda faltavam
servios essenciais. A Cmara sofria com a falta de verbas para a realizao
de todas as obras necessrias, tendo que recorrer constantemente a empreen-
dedores particulares e emprstimos, tal como no caso do Theatro Carlos
Gomes, construdo por um consrcio de empreendedores particulares. Issoevidencia um esforo considervel para a constituio de um ambiente prop-
cio para as atividades culturais. Essa informao muito interessante porque
vai ao encontro do trabalho de Veruschka de Sales Azevedo (2001), no qual
a autora acompanha a metamorfose dos espetculos e, ao mesmo tempo, da
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
12/94
12
cidade, comparando-a a um grande palco onde a elite representa os atores e o
restante da populao, a plateia. Nesse cenrio, onde a modernidade era o
espetculo, era preciso que os seus signos estivessem presentes. Era necess-
rio formar uma imagem de cidade "moderna", higinica" e "civilizada", e,para isso, a presena de um teatro era fundamental - no caso, o Theatro Santa
Clara, fundado em 1874, e construdo pelo Coronel e Baro de Franca, Jos
Garcia Duarte. Um teatro suntuoso era o lugar apropriado para as maiores e
as mais prestigiadas companhias teatrais e espetculos. Era tambm o cenrio
onde a elite podia desfilar os seus figurinos e trejeitos para a assistncia da
"plateia", ou seja, aqueles que estavam excludos desses lugares. Essa segre-
gao espacial dos pobres se repetia constantemente, com reas destinadas
moradia e frequncia de uns e de outros.
Adriana Capretz B. Silva (2006) analisou a criao e o desenvolvimento doNcleo Colonial Antnio Prado, sua ocupao e posterior incorporao
malha urbana, tornando-se o bairro conhecido como Barraco. O Barraco,
que deu nome ao bairro, consistia no galpo que abrigava provisoriamente os
imigrantes vindos de trem em busca de trabalho, e ao seu lado havia uma
estao de mesmo nome, a exemplo da Hospedaria do Imigrante, em SoPaulo. Ali os imigrantes eram registrados e aguardavam por trabalho. Os que
tinham algum peclio podiam comprar um lote no Ncleo Colonial. Esse
estudo propiciou uma referncia sobre quem eram e como viviam as pessoas
fora do centro, concentrando-se no eixo de expanso sul, e que no perten-
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
13/94
13
ciam elite.
Os trabalhos sobre a cidade de So Paulo sugerem um modelo de estrutura
formal e analtica, alm de informaes sobre como era o universo musical
na capital, no mesmo perodo. A obra de Jos Geraldo Vinci de Moraes(1995) refletiu sobre as tenses e as dinmicas scio-culturais na formao
das sonoridades paulistanas. Nesse perodo, So Paulo passava por transfor-
maes decisivas, de um centro rural, agropastoril e provinciano para uma
cidade industrial e cosmopolita, habitada por pessoas vindas de diversas
partes do mundo e do pas, trazendo cada grupo os seus costumes e a sua
musicalidade. O trabalho utilizou depoimentos de artistas e de outras pessoas
que traziam recordaes dessa poca, e relatos de memorialistas. Dentro
dessa diversidade, sobressairam-se os intermedirios culturais, aqueles agen-
tes que contriburam para a fuso e a difuso das culturas dos diversosgrupos, comunicando-se com vrios deles: os chores paulistanos. Ribeiro
Preto, na fase estudada, tambm passava por mudanas decisivas no sentido
da urbanizao e modernizao, da diversificao social e cultural, com a
introduo dos imigrantes em grande escala, principalmente aps a criao
do Ncleo Colonial Antnio Prado. Sua trajetria de mudanas e desenvolvi-mento se assemelhou em muitos aspectos com a cidade de So Paulo do
incio do sculo XX. O autor Vicente de Paula Arajo (1981) evidenciou,
atravs das notcias de jornais e anncios da poca (1897 a 1914), o cotidiano
da nascente indstria do lazer de salo: empresas, espaos, filmes e artistas
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
14/94
14
que circulavam pela capital paulista. O seu livro (ARAJO, 1981), nas suas
muitas transcries textuais e reprodues de imagens, exps a esttica e a
linguagem dos anncios e notcias, alm de ter demonstrado os fatos e a din-
mica das diverses na cidade durante o perodo.A pesquisa que resultou neste livro, delimitou-se entre os anos 1893 e 1917
desde o jornal mais antigo encontrado at o ano da falncia da Empreza
Cassoulet. Esta empresa foi a primeira a surgir no ramo de entretenimentos
da cidade. Ela era a maior promotora de eventos no perodo, criando uma
moderna dinmica comercial dos entretenimentos urbanos locais, adminis-
trando teatros, trazendo espetculos do Rio de Janeiro, de So Paulo, de
Buenos Aires e de Montevidu, enfim, de centros urbanos que gozavam de
um status de modernidade e sofisticao. A empresa de Cassoulet difundiu
padres estticos, fornecendo por meio dos seus artistas e de filmes, modelosde comportamento, modas de vesturio, um repertrio musical, etc. Seus
espetculos serviram de referncia para as empresas concorrentes, que surgi-
ram anos depois, e para a criao de um senso esttico identificado com o
moderno na populao em geral. Embora esta pesquisa leve em considerao
outros aspectos do chamado "universo musical", a capitalizao do lazer porintermdio destas empresas o que mais chama a ateno, constituindo-se na
transformao mais marcante, e capaz de influenciar no ensino de msica, na
sua comercializao atravs de partituras, instrumentos, discos, na sua
execuo, etc.
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
15/94
15
Os jornais davam destaque aos eventos mais glamorosos e identificados
com as elites, cujo local era o centro da cidade. Encontramos, tambm,
formas mais tradicionais e populares de usos da msica, mas sem o mesmo
destaque e o mesmo tratamento nos noticirios. Quase diariamente erampublicadas notcias de eventos significativos para o estudo do universo
musical e do entretenimento, tais como a programao dos teatros, festas
comunitrias, comemoraes cvicas, o repertrio a ser executado pelas
bandas nas retretas do Jardim Pblico (atual Praa XV), carnaval, anncios
de professores e outros. Os comentrios sobre tais eventos, a forma como
eram noticiados, anunciados ou omitidos, so reveladoras de como a socie-
dade os acolhia, qual era a sua finalidade, o seu pblico preferencial, o seu
repertrio, o status e a origem de tais eventos e dos artistas. Os primeiros
jornais do final do sculo XIX, so uma fonte de informao sobre os espe-tculos e demais atividades relacionadas msica. Havia uma grande quan-
tidade de jornais publicados, a maioria de curta durao (TUON, 1997, p.
99). Os jornais mais influentes e de circulao constante eram o Dirio da
Manh (1899) e A Cidade (1905). Na Biblioteca Nacional do Rio de Janei-
ro foram pesquisadas as colees do jornal A Cidade. No Arquivo Pblicodo Estado de So Paulo foram consultados os exemplares avulsos de jornais
diversos, a partir de 1893. Em Ribeiro Preto foi possvel localizar na
Biblioteca Padre Euclides algumas colees, entre essas duas datas, dos
jornais A Cidade e Dirio da Manh. Os dois ltimos, considerados os
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
16/94
16
principais jornais, apresentavam divergncias polticas, mas, nos assuntos
ligados cultura e ao entretenimento, costumavam apoiar os eventos
locais. Poucas vezes os espetculos, festejos ou outras atividades estuda-
das eram alvo de crticas. Havia sesses dirias que davam notcias sobre
os entretenimentos na cidade, e esse assunto ocupava uma parte conside-
rvel das quatro pginas dos jornais da poca. Os jornalistas tinham entra-
da franca nos eventos e espetculos, por isso, nunca faltavam notciasdesse tipo. Havia tambm os anncios de casas comerciais de partituras,
instrumentos, professores e outros profissionais ligados msica.
Os Cdigos de Posturas Municipais, de 1889 e 1902, vigentes no pero-
do delimitado para a pesquisa, demonstram as tentativas do poder pblico
de disciplinar os espetculos e demais diverses e eventos pblicos, crian-do regras para o seu bom andamento. Os Cdigos so uma importante
fonte para se avaliar o que era julgado prprio ou imprprio no universo
estudado.
1. Material cedido pela filha da autora, Luciane Strambi.
Ao lado, recorte do Jornal A Cidade, edio de 04/03/1913
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
17/94
17
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
18/94
18
Theatro Carlos Gomes visto a partir da Praa XV de Novembro. Data:1930-1935 aprox. Fotgrafo: Antnio Zerbetto Photo Studio
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
19/94
19
Captulo 1: A modernizao na msica enos entretenimentos
A modernidade na msica e nos entretenimentos musicais era representada
pelas novidades em voga na virada do sculo XIX para o XX: os cafs-
concertos, teatros de revista e a msica gravada. O cinema, embora no fossepropriamente um entretenimento musical, fazia uso da msica em suas
sesses, ou nos intervalos entre elas, mesclando a exibio de pelculas com
apresentaes ao vivo. Em termos de gneros musicais, destacavam-se os
ritmos importados atravs de Paris, a emergente msica americana e a
assimilao de ritmos brasileiros mais populares pela classe mdia.Desde o perodo Imperial a cultura francesa predominava no Brasil, desde
o vocabulrio at as roupas, comportamentos, a msica e seus ambientes. No
repertrio, predominavam valsas, polcas, schottishes, mazurkas, divulgados
via Paris. A partir da Primeira Repblica, medida que cresce a influncia
norte-americana no mundo, especialmente no Brasil e Amrica Latina,
cresce tambm a sua influncia cultural e a importao dos gneros musicais
ragtime, cake-walk, one step, two step e blackbottom. Desde a 1 Guerra
Mundial, vieram o Fox-trot e o Charleston (TINHORO, 1998, P. 207) . A
importao de produtos culturais estrangeiros era destinada, via de regra, s
2
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
20/94
20
classes altas e mdias, que as utilizavam como modo de distino diante
das camadas mais baixas. Estas, porm, sua maneira tambm se apropria-
vam de tais produtos.
Nas metrpoles europias, em meados do sculo XIX, quando o processode industrializao e a dinmica capitalista j estavam bastante avanados,
o seu rpido crescimento levou criao espontnea de locais pblicos de
diverso para a massa urbana. Tais lugares eram chamados de tavern-music
halls na Inglaterra e cafs-cantantes na Frana. Eram frequentados por
pessoas da classe mdia ou das classes mais baixas e contavam com artistas
para o entretenimento do pblico, que cantavam, danavam e faziam
outros tipos de exibies. Dessa forma, muitos amadores foram incorpora-
dos ao profissionalismo, alguns deles eram apenas frequentadores dos
estabelecimentos, ou seus prprios donos. Devido s dimenses doambiente, as canes dirigiam versos ao pblico, em sua prpria lingua-
gem, num tom informal e intimista. Havia diversos gneros de cano
compostos para tais ambientes, mas o mais comum era a chansonette (ou,
em portugus, canonetas), cujas letras se referiam a temas atuais, de
forma coloquial, para serem cantadas apenas por uma temporada.No Brasil, os cafs-cantantes e as canonetas foram trazidos a partir da
segunda metade do sculo XIX, ao Rio de Janeiro, So Paulo e outras
cidades. A moda logo se espalhou pelo pas, nos primeiros anos do sculo
XX. Aqui, a canoneta no chegou a constituir gnero musical determina-
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
21/94
21
do, mas tornou-se um rtulo para cantigas engraadas ou maliciosas, com
duplo sentido. Dos cafs-cantantes, as canonetas chegaram aos circos e aos
estabelecimentos de mesmo gnero, s casas de chope, dirigidos a um pblico
mais modesto. Tais estabelecimentos tenderam a se popularizar para baixo,ao contrrio do que ocorreu em outros pases, como na Frana, onde os
cafs-cantantes eram mais requintados.
Os ritmos nacionais (lundus, maxixes, modinhas, tangos) foram se incorpo-
rando s canonetas, conforme elas se difundiam, principalmente entre as
camadas mais baixas, herdeiras de tradies rurais, alimentadas pelos
migrantes do campo procura de trabalho nas cidades, para quem a cultura
importada era menos acessvel. Ritmos de diversas nacionalidades tambm se
incorporavam s canonetas. Nos cafs-cantantes costumava haver um
pianista ou um pequeno conjunto de msicos a servio da casa, para acompa-nhar os artistas. A evoluo dos cafs-cantantes mais elegantes foram os
cabarets, que se dirigiam a uma clientela mais seleta, onde havia apresenta-
es de artistas estrangeiros, e de gneros considerados mais refinados, como
o canto lrico e operetas.
Segundo Tinhoro (1998, p. 226):
A msica popular encarada como artigo criado com a finalidadeexpressa de atender s expectativas do pblico consumidor de produ-es culturais destinadas ao lazer urbano, e com isso possvel detransformar-se em objeto de comrcio atravs de venda sob a forma de
partituras para piano e, depois, de discos de gramofone e rolos de
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
22/94
22
pianola, surgiu de fato com o chamado teatro de variedades, a partirda dcada de 1880.
O gnero teatral das revistas surgiu na mesma poca dos cafs-cantantes.
Esse tipo de espetculo era voltado para as famlias de classe mdia, pois,
os cafs-cantantes e similares eram frequentados apenas por homens ou
mulheres de m vida. A partir da primeira dcada do sculo XX, as revis-
tas se tornaram muito populares. A sua produo tomou grande dinamicida-
de comercial, e os seus autores e msicos tiveram que produzir numa escalabem maior, a fim de atender a demanda. Havia entre elas e a msica uma
relao de duplo sentido: s vezes as revistas lanavam as msicas para o
sucesso nacional, mas, inversamente, msicas de sucesso tambm eram
aproveitadas para atrair o pblico para o teatro. Tais msicas, inclusive, s
vezes eram adaptadas para o carnaval. A ampliao do pblico e dos artistasenvolvidos no teatro de revista teve como consequncia a nacionalizao
dos tipos representados (matuto, coronel, mulata, funcionrio pblico, etc.)
e dos seus ritmos. Os msicos de teatro dessa fase tentaram adaptar-se ao
gosto das camadas mais amplas (como Chiquinha Gonzaga, Costa Jnior e
outros), assimilando formas musicais populares.
As operetas tambm representavam grande sucesso como A Viva
Alegre, de Franz Lehar, entre outras. Suas msicas chegavam a ser aprovei-
tadas com outras letras, e se tornavam at mesmo temas carnavalescos.
O advento do cilindro e do disco, no final do sculo XIX, permitiu que
3
3
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
23/94
23
alguns gneros musicais, j em extino naquele perodo, pudessem ser
registrados e mantidos. Assim tambm aconteceu com os gneros de danas
de salo europeus, como as valsas, mazurcas, schottiches, polcas e quadri-
lhas. No Brasil, esse novo invento permitiu a coleta de gneros musicaisligados cultura afro-brasileira, como o lundu e os batuques, entre outros,
transmitidos apenas oralmente at ento (TINHORO, 1981, p. 14). Alm
destes, puderam ser gravados tambm as modinhas seresteiras, as canonetas
de teatro de revista e cafs-cantantes, marchas e ranchos carnavalescos,
chulas, cantigas sertanejas. As novidades como a emergente moda damsica americana (ragtime, cake-walk, one step, two step, blackbottom)
tambm passaram a chegar com mais rapidez a vrias partes do mundo.
No Brasil, os pioneiros a explorar comercialmente o novo invento foram
ambulantes que ofereciam a audio de fongrafos . O mais bem-sucedidoentre esses pioneiros foi Frederico Figner que, ainda no sculo XIX, come-
ou a comercializar fongrafos e cilindros no Rio de Janeiro, depois se
expandindo numa rede de revendedores e distribuidores em vrias partes do
pas, inclusive produzindo suas prprias gravaes (Casa Edison). At o
incio do sculo XX, utilizavam-se cilindros de celulide como base para asgravaes, logo suplantados pelos flat-discs, ou chapas discos de 78
rotaes por minuto , reproduzidos pelos gramofones, que facilitaram a
difuso da msica gravada, transformando-a em produto industrial massifi-
cado. Alguns podiam compr-los e t-los em casa, mas a msica gravada
4
4
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
24/94
24
estava presente em locais pblicos, como bares e salas de espera de cinemas.
Nos captulos XI e XII do livro Pequena Histria da Msica, de Mrio de
Andrade (s.d.), o autor definiu e fez algumas consideraes sobre o que
classificou como msica popular e erudita no Brasil. Sobre a msica noperodo republicano, Mrio de Andrade afirmou que houve uma decadncia
do interesse, por parte do pblico, pela msica classificada como erudita,
cujas platias se esvaziavam cada vez mais. Isso teria acontecido, de acordo
com o autor, por causa da falta de educao artstica do povo, entre outros
fatores. Andrade (s.d.) colocou Buenos Aires como um centro de desenvol-vimento social homogneo, e esse progresso uniformizado teria levado ao
sucesso do comrcio musical, e das temporadas de virtuoses musicais e
teatrais.
De acordo com Ikeda (1988), naquele perodo Buenos Aires era a maiorcidade da Amrica do Sul, tinha grande intensidade de programaes cultu-
rais e era considerada a capital cultural do hemisfrio ocidental sul
(IKEDA, 1988, p. 36). Nessa cidade a criatividade artstica e as obras mais
sofisticadas tinham espao, enquanto no Brasil s havia espao para obras
mais tradicionais e com sucesso garantido, repetitivas e que no apresenta-vam novidade esttica. Como afirmou Andrade (1962, p. 159):
No h luta, no h ideal, no h interesse artstico. O pblico no seeduca; a elite artstica do pas no se interessa; a outra elite vai svezes ao teatro por obrigao de moda ou para escutar um virtuose
di i M b li d i l b j di d
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
25/94
25
prodigioso. Mas abalizadamente inculta e boceja diante da arte.
A msica classificada como popular, segundo o autor, tomara corpo a partir
do sculo XIX (ANDRADE, 1962). Andrade (1962) afirmou que as mani-
festaes popularescas de maior desenvolvimento desde o sculo anterior
foram as modinhas, os maxixes e sambas urbanos, comercializados impres-
sos em grande quantidade. Como j foi observado nas consideraes de
Tinhoro (1981), esses gneros se popularizaram, no incio do sculo XX,
tambm por meio das canonetas de teatros de revista, dos cafs-cantantese das gravaes.
Wisnik, em O Coro Dos Contrrios (1977), ao tratar da msica na Semana
de Arte Moderna, afirmou que, durante o Imprio, o governo ofereceu
muitas bolsas para os artistas se aperfeioarem na Europa. Na Primeira
Repblica essas bolsas diminuram e os msicos perderam o contato com asvanguardas europias. Isso explicaria o conservadorismo tanto dos msicos
como da plateia, muito ligados ainda ao romantismo, sinfonia e pera.
Para Alberto T. Ikeda (1988, p. 18), a grande presena de estrangeiros e a
cultura europeizada da elite local incentivavam as atividades musicais como
a pera e a msica de concerto em geral. Entre a elite, desde o sculo
anterior, j era comum a formao de agremiaes culturais, que promoviam
concertos, saraus musicais, literrios e danantes. A msica instrumental se
ligava a uma corrente mais progressista esteticamente, enquanto a pera era
preferida pelos mais conservadores.
O d S P l i h i d
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
26/94
26
Os teatros de So Paulo no tinham uma estrutura apropriada para
abrigar espetculos mais refinados de grande porte, no incio do sculo
XX, at a construo do Theatro Municipal, em 1912. Os teatros existen-
tes at ento eram menores, mais rsticos, e abrigavam uma diversidadede espetculos, como as revistas, gneros circenses, msica, dana e
tudo o que agradasse ao pblico de classe mdia (IKEDA, 1988, p. 26).
Em mdia, apresentavam-se em So Paulo duas companhias por ano. As
companhias lricas procuravam atrair um pblico mais amplo por inter-
mdio de rcitas populares, com ingressos mais baratos, realizados aps atemporada oficial e que naturalmente j no primavam pela mesma
qualidade da temporada oficial (IKEDA, 1988, p. 27). A identificao
nacional do grande nmero de imigrantes italianos com a pera os atraa
para esse tipo de espetculo, contribuindo para a massificao do gnero.
2. As informaes sobre a msica urbana foram, em sua maioria, extradas destaobra.3. Gnero de teatro musicado caracterizado por passar em revista os principaisacontecimentos do ano, encenando-os numa sucesso de quadros em que os fatosso revividos com inteno de humor, em meio a danas, canes e outros nme-ros musicais. (Enciclopdia da Msica Brasileira, p. 767)4.Aparelhos que reproduziam sons gravados em cilindros de celulose e cera.
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
27/94
27
Interior do Theatro Carlos Gomes. Data: dcada de 1930. Fotgrafo: J. Gulla-ci (APHRP, F308).
Captulo 2: Msica e entretenimentocomo negcio
A di i i li d id d di
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
28/94
28
A dinamizao capitalista da cidade estava diretamente
ligada criao de empresas de entretenimento, que
exploravam o teatro, os espetculos de variedades e o
cinema. Ao mesmo tempo, foram-se criando espaos eespetculos destinados aos diversos segmentos da socie-
dade. A cultura, tendo se tornado uma mercadoria, era
vendida a preos mais altos conforme o status que carre-
gava. Outras formas de mercantilizao da msica, como
os circos itinerantes, em constantes passagens pelacidade, o comrcio de instrumentos, de modinhas
(canes populares em partituras), as atividades de
professores de msica, consertadores/afinadores de
instrumentos e das corporaes musicais dinamizaram-se conforme a cidade crescia e tomava forma. O comr-
cio de discos e gramofones representava uma grande
novidade para a poca, embora acolhido sem muito
alarde pelo noticirio dos jornais, onde s se faziam
presentes pelos anncios dos prprios vendedores. Ocomrcio de pianos, embora fosse um produto existente
h mais tempo, ganha grande fora nesse momento, pois
passava a ter representantes locais de grandes vendedo-
res estabelecidos na capital, em Campinas ou no Rio de
Janeiro.
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
29/94
29
2.1 Teatros e empresas de entretenimento
A partir do final do sculo XIX j havia se configurado uma estrutura
comercial permanente de entretenimento na cidade. No se tratava de espe-tculos ou diverses promovidos esporadicamente por iniciativa de um ou
outro cidado, e sim da formao de empresas especializadas nesse ramo
de prestao de servio. Esse perodo foi marcado pela fase de predomnio
e da decadncia da Empreza Cassoulet. Alm desta, outras empresas surgi-
ram, demonstrando que outros tambm tentaram investir nesse ramo de
atividade, que se tornava lucrativo e atraente.
O primeiro grande teatro construdo na cidade foi o Carlos Gomes, por
iniciativa do poder pblico municipal e de um consrcio de particulares, no
qual se destacou o cafeicultor Francisco Schmidt. Foi inaugurado em 1897,numa poca em que a rea central da cidade ainda no tinha alguns equipa-
mentos bsicos de infra-estrutura. O fato de ter sido construdo por particu-
lares, especialmente por um cafeicultor, torna-se significativo para esta
anlise, pois demonstra simbolicamente que o entretenimento como neg-
cio surgiu a partir da diversificao do capital investido primeiramente nalavoura, e o desejo das elites locais pela modernidade com padres euro-
peus.
A construo do Theatro Carlos Gomes obedecia estrutura clssica de
um teatro de pera, com platia (400 poltronas), galeria (200 poltronas),
camarotes, frisas e foyer. Seu interior era suntuoso, feito com materiais
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
30/94
30
camarotes, frisas e foyer. Seu interior era suntuoso, feito com materiais
nobres. O Theatro localizava-se no corao da cidade, em frente ao Jardim
Pblico. Sua inaugurao aconteceu em 7 de dezembro, com a apresentao
da prestigiada companhia lrica italiana De Matta, que apresentou O Guara-ni, de Carlos Gomes (CIONE, 1997, p. 52). Construdo com o propsito de
abrigar espetculos considerados de alto nvel, como grandes companhias
lricas e dramticas estrangeiras, nem sempre cumpriu esse intuito, apresen-
tando tambm espetculos mais populares, como cinema, revistas, canone-
tistas e variedades (classificao genrica que inclua prestidigitadores,acrobatas, lutadores, etc.). Mesmo quando os espetculos populares ocupa-
vam este espao, sua prpria estrutura suntuosa o diferenciava e o tornava o
local prprio para ser frequentado pelas elites.
Franois (ou Francisco) Cassoulet foi o mais notrio empresrio dos entre-
tenimentos na cidade. Sua trajetria nesse ramo de atividade j foi estudada
por Benedita Luiza da Silva, na dissertao O Rei da Noite na Eldorado
Paulista (2000). Cassoulet abriu seu caf-cantante, o Eldorado Paulista,
ainda no sculo XIX, na Rua So Sebastio, entre as ruas Amador Bueno e
lvares Cabral (SILVA, 2000, p. 61). Silva (2000), em sua dissertao,afirmou que esse estabelecimento foi instalado no final da dcada de 1890,
como um rstico barraco, que foi gradativamente ampliado e estruturado.
O Eldorado Paulista contava com diversos tipos de atraes, inclusive
exibio de filmes, mas predominavam os espetculos ao vivo. Costumava
ter sempre a seu servio uma trupe, contratada para as apresentaes por
longas temporadas que chegavam a durar meses. Funcionava quase diaria-
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
31/94
31
g p q g q
mente, inclusive com bailes no final das sesses. Os espetculos musicais
mais frequentes eram de canonetistas (solo ou em duplas duettistas,
copias) e cantores classificados como lricos. Os primeiros interpretavam
canes populares, que divertiam o pblico;os segundos interpretavam
trechos de peras famosas, por isso seus espetculos eram mais prestigiados.
Havia uma orquestra a servio do teatro, regida por Domingos Baccaro.
Este teatro deve ter passado por uma reinaugurao em 1906. O nmero
expressivo e a qualificao dos espetculos demonstram o quanto era presti-giado e ativo: [...] 3525 espetculos nos quaes trabalharam 574 artistas de
ambos os sexos, sendo alguns de verdadeiro mrito e que depois de terem
feito furor aqui, foram recebidos com frenticos applausos pelas platias
da Europa e da America (A CIDADE, 10 out. 1908, p. 1).
Em 2 de agosto de 1914 foi inaugurado o Casino Antarctica, construdopela empresa de mesmo nome, [...] passando a funcionar alli o Eldorado, da
Empreza Cassoulet (A CIDADE, 2 ago. 1914, p. 1). Ao seu lado funcionava
a Rotserrie Sportsman, que por vezes tambm apresentava algum tipo de
espetculo musical ou filme, e funcionava como restaurante e buffet. A
orquestra do Casino Antarctica ficou a cargo do maestro Giovanni Gemme.
A partir de julho de 1916, o antigo Eldorado se encontrava em funcionamen-
to novamente, sob a direo da Empreza Baccaro (do maestro da banda que
se apresentava nesse estabelecimento) e a gerncia de A. Potenza, com o
mesmo perfil de espetculos. Em 21 de abril de 1917, o Eldorado era geren-
ciado por Hyppolito Costa.
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
32/94
32
Os anos que se seguiram a partir de 1908, foram de grande atividade no
ramo do entretenimento. Em agosto de 1908, estava em atividade no Thea-
tro Carlos Gomes o cinematgrafo Richebourg, fornecido pela Empreza
Cassoulet, sendo esta a primeira notcia localizada sobre a atividade dos
cinemas, e a primeira evidncia de que o Carlos Gomes era gerenciado por
essa empresa, como seria por vrios anos. Existem informaes retiradas de
outras fontes, de que as primeiras exibies cinematogrficas teriam sido
anteriores, no entanto, no tinham ainda o propsito comercial e massifica-do. Em 1908, surgiu a empresa L. Junqueira, que inaugurou o Paris Theatre,
em 19 de dezembro de 1908, e a empresa J. Penteado & Cia. que inaugurou
o Bijou Theatre, em 24 de abril de 1909. As primeiras concorrentes
dedicaram-se ao cinematgrafo, forma de divertimento barata e atraente a
abertura desses novos espaos atraiu muitos espectadores. Em 15 de agostode 1912 a Empreza Cassoulet inaugurou um novo cinema, o Rio Branco, na
Rua Duque de Caxias Situado em lugar commodo para os moradores da
Villa Tiberio e Barraco (DIARIO DA MANH, 5 jul. 1913, p. 2), ou seja,
o estabelecimento era voltado para o pblico desses bairros.
Durante o ano de 1911 acirrou-se a concorrncia entre as empresas cinema-
togrficas. Alm de exibir os filmes, estas empresas tambm atuavam como
distribuidoras de fitas para outros cinemas, em outras cidades.
A partir de 1911, passou a haver mais inauguraes de estabelecimentos de
diverso, e uma rotatividade maior entre as empresas administradoras. Em
29 de agosto de 1911, o Bijou Theatre j havia se tornado propriedade da
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
33/94
33
empresa L. Junqueira e, em 16 de novembro de 1911, a mesma se desfez do
cinema, que foi transformado em confeitaria. Em 24 de novembro de 1911,
o Paris Theatre, (na Rua lvares Cabral, onde funcionou a matriz provis-
ria), construdo pela empresa L. Junqueira, tornou-se propriedade de Paladi-
no Aguiar. Em 2 de dezembro de 1911, o Bijou estava sob a administrao
da empresa F. Santos. Nesse ano, as empresas passaram a publicar grandes
anncios nos jornais, informando as atraes dos teatros e cinemas, os
preos dos ingressos e quem os administrava. Estes sales Bijou Theatre eParis Theatre , em 1911, so descritos pelos jornais como freqentados
pela elite e com numerosa orquestra (A CIDADE, 29 ago. 1914, p. 1).
Em 1. de maro de 1912, Manoel Teixeira aparece nos jornais como admi-
nistrador do Bijou. Em 4 de maro de 1913, Paladino Aguiar vendeu sua
empresa firma Castro & Comp., de Jos Magalhes de Castro. Em junhode 1914, o Paris Theatre pertencia Empreza Cassoulet e, em agosto,
inaugurou-se o palco cnico para as apresentaes ao vivo.
Em 12 de julho de 1914, foi inaugurado por Aristides Motta o Cinema
Odeon, cinema de luxo e grande conforto (A CIDADE, 22 mar. 1914, p.
1), na Rua Amador Bueno, 49A, com 400 lugares na platia mais galerias,
salo de espera com cascata, bar, sala de entrada, e funcionamento dirio.
Em setembro do mesmo ano foi inaugurado o palco cnico para os espetcu-
los de variedades. No entanto, em novembro, os boatos circulantes sobre a
venda ou fechamento do cinema se confirmaram, e foi comunicada publica-
mente a falncia do Odeon (A CIDADE, 14 nov. 1914, p. 2). Depois de um
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
34/94
34
breve perodo funcionando pela Empreza Cassoulet, em maro de 1915,
reabriu definitivamente, em 9 de abril de 1915, sob o nome de Cinema Fami-
liar, cujo novo proprietrio era Antonio dos Santos. Apesar dessa primeira
empreitada malsucedida, a Empreza Aristides Motta dirigiu a reforma do
Theatro Carlos Gomes, autorizada por Francisco Schmidt e executada em
1916 pintura externa e interna, pintura de um pano de boca, renovao do
mobilirio, ampliao. A partir de ento, esta empresa passou a administrar
o Theatro Carlos Gomes.A partir de 3 de maro de 1912, apareceram as primeiras notcias sobre os
rinks de patinao. Havia o Pavilho Rink (Empreza Costa & Silva, depois
Empreza Evaristo Silva & Comp., na Rua Amador Bueno, em frente ao
palcio dos Correios), o Ribeiro Preto Rink (a partir de 1 de maio de 1912,
propriedade da empresa Machado & Silveira, na Rua Amrico Brasiliense,33) e o Ideal Rink (1a notcia em 21 de junho de 1913, em atividade na Rua
So Sebastio, 52A). Nesses estabelecimentos, alm do sport da moda,
havia exibies de filmes e msica. Essa moda foi passageira,, e logo os
rinks foram se extinguindo. Em 7 de julho de 1912 inaugurou-se o teatro
Polytheama, no lugar do Pavilho Rink, cuja capacidade era de 800 lugares
na platia, 33 camarotes e 500 lugares nas gerais. A partir de maio de 1913,
foram retomadas por pouco tempo as sesses de patinao. O Ideal Rink
reapareceu como restaurante em novembro de 1914, ainda com sesses de
patinao. Enquanto isso, os anncios dos demais rinks desapareceram em
dezembro de 1914. Nesse ano, a partir de janeiro, o teatro Polytheama
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
35/94
35
passou a ser administrado pela empresa R. de Seabra. Em maro de 1915,
apareceu sob a administrao do ator Hyppolito Costa.
A Empreza Cassoulet era a que mais contratava artistas para espetculos
dramticos (companhias teatrais), lricos (companhias de peras e operetas)
e de variedades (canonetistas, acrobatas, lutadores, cmicos, etc.). As com-
panhias lricas e dramticas eram as mais prestigiadas, a ponto de, em 1910
receber da Cmara Municipal uma subveno para a vinda de uma boa
companhia (A CIDADE, 14 jan. 1910, p. 2). Porm, os espetculos devariedades eram os que mais chamavam a ateno do pblico, vido por
espetculos humorsticos, curiosidades espantosas, disputas de bilhar ou luta
romana. As grandes companhias costumavam fazer temporadas mais breves,
com cerca de 4 apresentaes. Os artistas menos prestigiados costumavam
permanecer na cidade por longas temporadas, apresentando-se junto aosoutros, em vrios estabelecimentos, s vezes de empresas diferentes.
Em 6 de maro de 1917, Arthur Tescaro surgiu como administrador dos
teatros da Empreza Cassoulet. Em 17 de junho de 1917, foi realizado, no
Polytheama, um festival em benefcio das orquestras dos teatros da empresa.
Estes so indcios de que o antigo administrador j tinha se afastado de suas
atividades e, talvez, o referido festival fora organizado para cobrir dvidas
com os msicos. Em 20 de junho do mesmo ano, a empresa se desfez do
Polytheama, que passou a ser administrado por Evaristo Silva. Em 21 de
junho de 1917, o Casino Antarctica passou a ser chamado Cinema Casino,
dedicando-se exibio de filmes, alm dos costumeiros espetculos de
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
36/94
36
variedades.
As fontes e a bibliografia consultadas pouco revelaram sobre a origem
dos empresrios citados acima. Franois, de acordo com Silva (2000), no
possua nenhum familiar na cidade, e em sua pesquisa localizou apenas
um documento pessoal pertencente a ele, o seu registro de bito que
afirmava apenas que era vivo e tinha 60 anos, em 1919 (SILVA, 2000, p.
49).
Roiz e Santos (2006) apresentaram muitas informaes sobre a suabiografia, extradas do documento Massa Falida de Francisco Cassoulet.
Seu nome verdadeiro era Franois Cassoulet, mas ficou conhecido por
Francisco. Nascera em 1864, em Farbe, na Frana, onde estudou durante
alguns anos e trabalhou com o pai. Desembarcou em Santos, no incio de
1896, acompanhado de Marie Cassoulet, companheira com quem viviasem ser casado oficialmente. Depois de uma curta estada em So Paulo,
foi para Ribeiro Preto, onde abriu, ainda em 1896, um caf-cantante, no
qual aplicou seus poucos recursos. Prximo ao seu negcio estava instala-
do um cabar dirigido por Fanny Blumenfeldt, austraca, residente h
alguns anos em Ribeiro Preto e que havia acumulado pequeno capital
como dama da noite. Ela teria se tornado amante de Cassoulet (Marie
teria voltado para a Frana em 1898), e juntos administraram casas
teatrais. Teriam vivido juntos at o falecimento de Fanny, em 1918. No
entanto, as notcias de jornal e outras fontes no do conta dela, nem de
Marie.
20 d b d 191 f i d d f l i d C
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
37/94
37
Em 20 de novembro de 1917, foi decretada a falncia da Empreza Cassou-
let. A morte do seu proprietrio, em 1919, causou grande comoo. O artigo
transcrito a seguir demonstra a importncia atribuda a ele, alm de citar
algumas companhias renomadas trazidas por sua empresa. Apesar de todo o
seu prestgio e da sua marcante atividade, Francisco Cassoulet morreu
pobre, talvez por causa da penosa enfermidade que o perseguiu durante
longo tempo, como diz o texto a seguir, que no teria permitido que ele
continuasse trabalhando com o mesmo vigor nos ltimos anos.Francisco Cassoulet
Depois de penosa enfermidade que o perseguiu tenazmentedurante longo tempo, falleceu hontem, s 4 horas da madrugada,no hospital da Beneficencia Portugueza, o antigo e popularissi-
mo empresario theatral Francisco Cassoulet, que residia ha cercade 30 annos nesta cidade.O finado, pela sua tenacidade e pelo seu extraordinario arrojo,conseguiu contractar para o seu centro de diverses as maioresnotabilidades artisticas, taes como Clara Della Guardia, GastoneMonaldi, Ermete Novelli, Zacconi, Nina Sanzi, Fatima Miris,etc.Aqui vieram trabalhar por sua conta importantes companhias
lyricas italianas e hespanholas, afamados artistas de variedadesinglezes, francezes, italianos, norte-americanos, hespahoes e deoutras nacionalidades, alm de numeros excentricos de valor quevisitavam So Paulo e que o grande empresario, no olhandopara prejuizos, no hesitava em contractar para delicia do nossopublico.O arrojo de Francisco Cassoulet, contractando grandes compa-
nhias para esta cidade era verdadeiramente extraordinrio.
Numa curta epocha, Francisco Cassoulet, devido ao seu esforoe sua dedicao pela arte, conseguiu ser o empresario de todos
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
38/94
38
e sua dedicao pela arte, conseguiu ser o empresario de todosos theatros locaes, dando grande impulso aos mesmos.A arte theatral em Ribeiro Preto, muito deve a esse empresarioque sempre dedicou mesma toda a sua actividade, vencendo,s vezes, innumeros obstaculos.Francisco Cassoulet, no obstante a sua tenacidade e o seu devo-tamento aos negocios theatraes, morreu pobre.O seu sepultamento teve logar hontem, s 5 horas, com o acom-panhamento de numerosos amigos, que assim lhe tributaramessa ultima homenagem (A CIDADE, 18 fev. 1919, p. 2).
Outros casos de investimento na rea de entreterimento podem ser citados. o caso de Aristides Motta que era fotgrafo e operador do cinematgrafo
do Paris Theatre. Em 1910, ele montou o Laboratorio Brasileiro de Cinema-
tographia, que produzia fitas sobre temas locais, para serem exibidas nos
cinemas da cidade. Tornar-se empresrio de entretenimentos foi, de certa
forma, uma expanso das atividades que j exercia anteriormente. Assimocorreu tambm com Domingos Baccaro, que de maestro da orquestra do
Eldorado Paulista tornou-se seu gerente/proprietrio. Evaristo Silva era
comerciante de gneros alimentcios, proprietrio da Casa Mineira, na Rua
So Sebastio (A CIDADE, 11 mai. 1911, p. 2). Jos Magalhes de Castro,
que provvel que tivesse algum parentesco com Jos da Silva Castro,
proprietrio da Charutaria Castro, inaugurada em 9 de fevereiro de 1909,
entre as ruas General Osrio e lvares Cabral (A CIDADE, 14 fev. 1909, p.
1). Esse estabelecimento vendia assinaturas para os espetculos mais
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
39/94
39
Cassino Antarctica, frente para a Rua Amrico Brasiliense, e RotizzerieSportman, com frente para a rua Amador Bueno. O Cassino Antarctica foi
inaugurado em 14 de novembro de 1914, este talvez tenha sido o empreen-dimento mais extravagante de Fraois Cassoulet, que o administrou entre1914 e 1917. No Cassino ocorriam espetculos, festas, bailes, jogatinas e aprostituio de mulheres estrangeiras. O ambiente era freqentado pelosgrandes coronis e polticos importantes, alm de estrangeiros e bomios.Data: 1920. Fotgrafo: no identificado (Carto Postal Casa Beschizza.
requintados.
C i l d d i di
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
40/94
40
Como mais um exemplo da destinao direta
do capital acumulado pelo caf para o ramo dos
entretenimentos, alm do caso da construo doTheatro Carlos Gomes, possvel citar Luiz
Junqueira, proprietrio da Empreza L. Junquei-
ra, que provavelmente pertencia famlia
Junqueira, vinda do sul de Minas Gerais no
sculo XIX, e uma das pioneiras da cafeiculturana cidade.
2.2 Frequncia dos espetculos e controle
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
41/94
41
q psocial
Os espetculos de alto nvel eram mais caros e tinham um pblico maisrestrito. Dentro do prprio teatro havia uma diviso entre as reas mais
nobres e a mais pobres, onde os ingressos eram mais baratos: a galeria
(ou galinheiro, como havia sido apelidada). O comportamento dos seus
ocupantes, menos adequado imagem que se queria criar para aquele
ambiente, por vezes causava protestos e indignao.
Os teatros mantidos por essas empresas necessitavam de licenas especiais
da polcia, que eram concedidas mensalmente para o seu funcionamento. A
partir de 1909 foi criada uma regulamentao geral para os divertimentos
pblicos, que vinham crescendo desde ento, com a criao de novosestabelecimentos:
Os divertimentos publicos e a policia[...]
Capitulo VIIDos espectadoresArt 45 os espectaores devero:Paragrapho 1 - Occupar as localidades indicadas pelos numeros dosseus bilhetes.Paragrapho 2 - Conservar-se descobertos, excepto nas representa-es de caf concerto, durante os espetaculos; [...].
Paragrapho 4 - permanecer em attitude correcta, durante o especta-culo ou divertimento publico de qualquer natureza
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
42/94
42
culo ou divertimento publico de qualquer natureza.Paragrapho 5 - No praticar actos que incommodem aos outros.Paragrapho 6 - Abster-se de fumar nos logares onde isso for prohi-
bido.Paragrapho 7 - No pedir a execuso de pea extrehida ao especta-culo que estiverem assistindo.Paragrapho 8 - No perturbar os artistas, durante a representao,salvo o direito de applaudir ou de reprovar, fasendo-o porem emtermos commedidos.Paragrapho 9 - No distribuir no recinto manuscriptos, impressosou gravuras, sem licena da autoridade que estiver presidindo aoespectaculo.Paragrapho 10 No recitar discursos nem fazer declaraes queperturbem a ordem e o socego publico.Paragrapho 11 No fazer motim ou assuada, nem praticar outrosquaesquer actos que interrompam a ordem e a segurana publica (A
CIDADE, 23 mar. 1909, p. 1).
Em maio de 1910 houve um desentendimento entre policiais que deseja-
vam entrar no Paris Theatre a fim de vigiar o seu interior, e o seu empres-
rio, Luiz Junqueira. Este assunto causou uma discusso entre os colunistas
dos dois principais jornais da cidade sobre a real necessidade de tal medida,
considerada at ofensiva contra os cidados de bem. O policiamento dos
teatros era constante, com policiais destacados especialmente para essa
funo.
A censura aos cinemas foi outro assunto polmico numa poca em que o
cinematgrafo se tornava a mais popular forma de diverso pblica. Havia
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
43/94
43
uma preocupao das autoridades e da sociedade em separar o joio do
trigo, destinando s famlias os filmes que combinem com a sua moral e os
seus costumes, e a preocupao em fazer do cinema um meio de educar apopulao, ao invs de servir degradao da sociedade".
Publicao do Jornal A Cidade, 07/03/1905
2.3. Circos A cidade era constantemente visitada por circos ehi i i T i
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
44/94
44
companhias equestres itinerantes. Tais empresas
anunciavam suas atraes nos jornais, e consistiam
basicamente em espetculos de variedades comcanonetistas, pantomimas com clowns, cantores e
atores, animais adestrados, prestidigitadores, acroba-
tas, etc. Tambm contavam com bandas prprias para
acompanhar os espetculos. Estas companhias costu-
mavam se instalar no Largo 13 de Maio, prximo aolocal onde a nova Catedral estava sendo construda.
Apesar dos anncios por vezes serem grandes e suntu-
osos, as atraes circenses no mereciam maiores
comentrios nas pginas dos jornais. Os que visita-
vam a cidade com maior frequncia eram o Circo
Guarany, o Circo Chileno, o Circo Adelino, o Circo
Americano e o Circo Clementino. No foi possvel
confirmar atravs das fontes utilizadas as nacionalida-
des indicadas pelos nomes ou, de modo geral, aorigem de tais circos. O mesmo se pode dizer em
relao aos seus itinerrios apenas que, depois de
passar por Ribeiro Preto, eles costumavam se dirigir
a cidades menores da regio.
Captulo 3: Profissionais da msicad i l i
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
45/94
45
3.1. Bandas e msicos locais
Filhos de Euterpe, corporao musical. Maestro Jos nomes Delphino, naesquerda, em p. Componentes da corporao musical Filhos de Euterpeuniformizados, no centro, estandarte da corporao. Data: 1899. Fotgrafo:
Mattos. (APHRP. Foto n. 153)
Num perodo em que as gravaes sonoras eram uma novidade pouco
difundida no meio estudado os msicos tinham uma importncia funda-
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
46/94
46
difundida no meio estudado, os msicos tinham uma importncia funda
mental na difuso da msica. Estavam presentes em muitas atividades
festivas, como bailes, comemoraes cvicas, festas escolares, retretasdomingueiras, espetculos teatrais, exibies de filmes, recepes de
autoridades, etc. Eram trabalhadores praticamente onipresentes. Havia
um frtil campo de trabalho para eles, embora a profissionalizao ainda
fosse incipiente. A abundncia de msica ao vivo, consequentemente,
deve ter levado a um grande consumo de instrumentos musicais e partitu-ras, embora esse comrcio no merecesse muito espao nos jornais, nem
por parte de seus vendedores, que publicavam apenas anncios modestos.
As corporaes musicais se constituam em associaes de msicos que
formavam uma banda, com estatuto e uniforme prprios. Tais formaes
musicais tiveram seu incio a partir de instituies militares, em meadosdo sculo XIX, e se expandiram pelo meio civil, que, a exemplo dos
militares, utilizavam uniformes semelhantes (TINHORO, 1998, p.
177-180).
Eram contratadas para as mais diversas ocasies, principalmente bailes,comemoraes cvicas, festas religiosas e a costumeira retreta dominical
no Jardim Pblico. Sem dvida, constituam a forma mais comum de
acesso audio musical, e procuravam compor repertrios com trechos
de peras e sinfonias, hinos cvicos, msica danante europia (valsas,
mazurkas, schottishes), marchas, dobrados, tangos, habaneras. As msi-
cas que saam desse padro eram consideradas exticas, e eram executa-
das eventualmente
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
47/94
47
das eventualmente.
A primeira banda de msica, a Banda So Sebastio, teria surgido em 1887,
organizada pelo negro alfaiate Pedro Xavier de Paula. Em 1893, em notciasobre a Festa do Divino realizada nesta cidade, A iluminao e a musica,
quer sacra, quer profana, esto a cargo do sr. Pedro Xavier de Paula (O
SETIMO DISTRICTO, 19 abr. 1893, p. 1). Essa banda, no entanto, no
apareceu mais nos noticirios.
Segundo Rubem Cione (1987, p. 127), a banda Filhos de Euterpe tocou nainaugurao do Jardim Pblico, em 14 de julho de 1901, executando o Hino
Nacional e a Marselhesa. Essa banda foi citada pela primeira vez em um
anncio de 1903. Em 1905, a banda apareceu nas retretas domingueiras do
Jardim Pblico, atividade que se tornaria assdua, tocando todos os anos do
perodo estudado, menos em 1908 e 1909. Esta era a banda mais prestigiada
e presente nos eventos noticiados. Num concurso promovido pelo jornal A
Cidade, em agosto de 1909, para eleger a melhor banda, a Filhos de Euterpe
ficou em 2 lugar, com 372 votos, perdendo para a Giacomo Puccini, ento
responsvel pelas retretas dominicais, com 590 votos. Em terceiro lugarficou a Progressista Mogiana, com 53 votos (A CIDADE, 1909).
Em 5 de julho de 1910, foi fundada a Sociedade Danante Familiar Maestro
Jos Delfino, a fim de promover bailes recreativos. Em 14 de agosto do
mesmo ano foi realizado o sarau de inaugurao, no Theatro Carlos Gomes.
A escolha do nome foi uma homenagem ao maestro, j muito querido entre
os ribeiropretanos.
Jos Delfino Machado comps vrias msicas, frequentemente executadas
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
48/94
48
Jos Delfino Machado comps vrias msicas, frequentemente executadas
pela banda, desde os seus primeiros anos de atividade. Em 1916, classificou
duas composies no concurso da revista carioca O Malho: O americano(one step, 1 lugar) e A tua trancinha (scottisch, 3 lugar). Suas msicas eram
comercializadas em partituras. No h notcias se Jos Delfino chegou a
gravar msicas em disco.
A Banda Bersaglieri teria surgido em 1894, organizada por Jos Munhai e
composta por membros da colnia italiana. At 1910, quatro bandas seconsolidado na cidade: Filhos de Euterpe, Bersaglieri, Banda Progressista
(Unio Progressista da Companhia Mogyana), Giacomo Puccini e talo-
Brasileira (TUON, 1997, p. 93).
A banda Giacomo Puccini apareceu no jornal A Cidade a partir de 1908,
ano em que esteve presente nas apresentaes do Jardim Pblico, at dezem-
bro de 1909, quando seu representante, o maestro Domingos Baccaro dirigiu
ao prefeito um ofcio pedindo exonerao desta atividade, dizendo:
[...] devido s e exclusivamente o accordo reciproco e contracto verbal,
tem continuado at a presente data com o servio do Jardim Publico, oqual s tem dado muito pouco resultado pecuniario at a presente data.[...] sendo ella actualmente composta em quasi na sua totalidade denegociantes estabelecidos, os quaes quasi sempre no fim do annoconcorrem com impostos aos cofres municipaes; os exforos emprega-dos so o sacrificio e o fructo do mesmo trabalho; [...] (A CIDADE, 15
dez. 1909, p. 2).
Seus componentes, portanto, eram msicos amadores, que tinham como
principal meio de vida outras atividades, pelo menos nesse momento. O
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
49/94
49
principal meio de vida outras atividades, pelo menos nesse momento. O
maestro Domingos Baccaro, mais tarde, alm de maestro da orquestra do
Eldorado Paulista, tornar-se-ia empresrio de entretenimentos. GiovanniGemme e Cunegundes Rangel, outros regentes da banda Giacomo Puccini,
tambm eram compositores.
Outra corporao de atividade destacada foi a Progressista Mogiana,
formada por funcionrios da E.F. Mogiana, em 1910. Sua estria pblica
aconteceu nas comemoraes de 1o de maio daquele ano nos anos seguin-tes a banda tambm tocaria durante as comemoraes do Dia do Trabalho.
O mesmo concurso promovido pelo jornal A Cidade, que elegeu a melhor
banda pelos leitores, elegeu tambm os melhores valsistas da cidade pelo
voto popular. No est claro se o valsista seria o compositor ou intrprete
de valsas, ou se a palavra se referia a msico em geral, ou danarino. de se
supor que, se tais valsistas fossem mesmo msicos, eram participantes de
alguma orquestra de teatro ou banda, ou professores de msica.
Teatros e outros estabelecimentos de lazer e diverso, como circos, rinks de
patinao, confeitarias e outros, costumavam manter bandas prprias paraanimar as suas funces acompanhar filmes e espetculos, ou simples-
mente alegrar o ambiente. No h praticamente nenhuma informao sobre
os componentes dessas bandas, apenas sobre os seus regentes. A msica era
fundamental nesse tipo de ambiente, e mesmo os estabelecimentos que no
dispunham de banda prpria contratavam msicos temporariamente. Em
ocasies especiais as corporaes musicais tambm prestavam servios para
os teatros e outros locais de diverso.
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
50/94
50
O Eldorado Paulista, enquanto pertenceu Empreza Cassoulet, possua
uma orquestra, dirigida pelo maestro Domingos Baccaro, que mais tarde setornaria seu diretor, ao mesmo tempo continuando a exercer a funo de
maestro. Em 1916, o Eldorado foi reaberto, e Domingos Baccaro passou a
trabalhar ali na dupla funo.
Em 1915, Giovane Gemme, que fora regente da banda Giacomo Puccini,
voltou a Ribeiro Preto para dirigir a orquestra do Casino Antarctica, e foirecebido festivamente.
A banda do Paris Theatre era regida por Sebastio Pimentel, logo aps a sua
inaugurao. Em fevereiro de 1912, divulgou-se a notcia de que a sua
orquestra era regida pela exma. sra. D. Lilia Mello (DIRIO da Manh,
1. mar. 1912, p. 2). Em abril de 1914, noticiou-se que Guaycur Rangel era
o diretor dessa orquestra.
A regncia da orquestra do Bijou Theatre ficou por conta de Ormeno
Gomes, sobrinho de Carlos Gomes . No Polytheama o maestro era Carlos
Nardelli. O diretor da orquestra do Cine Odeon, em sua breve existncia, foiJos Delfino, que comps a marcha Odeon em sua homenagem.
Os professores particulares de msica se ofereciam atravs de anncios
modestos, mas frequentes, repetidos s vezes por meses, de forma idntica,
ou renovados ano a ano. As aulas eram, principalmente, de piano, canto,
solfejo e teoria, e instrumentos de cordas. Havia muitos estrangeiros ou
5
5
descendentes, pois se apresentavam como tal ou tinham sobrenomes que
indicavam a sua origem, principalmente italianos. Alguns trabalhavam em
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
51/94
51
Corporao Musicalregida pelo MaestroPedro Xavier de Paula,conhecido como PedroTudo - sentado, quarto daesquerda para a direita, debarba. Esta bandaparticipou de Ato Cvicoocorrido em 16/11/1889,em frente a CmaraMunicipal, comemorandoa Proclamao da
Repblica. Data: 1890.Fotgrafo: PhotoAristides. (APHRP. Foton. 283)
5.Componentes da orquestra: Maestro Travet, Jos Cicala, C. Pagnotti e Fioretti (quatroprimeiros violinos); Victor Collo (primeira flauta); Antonio Monteiro da Costa e Cassio Nardi
(contrabaixos); J. Gugliotti (clarineta). THEATROS E... (A CIDADE, 1909, p. 1).
bandas de teatros ou nas escolas da cidade.
Em 1911, alguns msicos tomaram a iniciativa de buscar apoio para a
fundao de um conservatrio musical na cidade, a fim de profissionalizar a
educao musical, mas essa idia no chegou a ser concretizada no perodo
estudado. frente dessa empreitada estavam dois maestros de destaque na
cidade, Provesi e Jos Delfino, sendo que o primeiro j tinha uma experin-
cia na direo de um conservatrio em Buenos Aires.
Captulo 4: Comrcio de instrumentos,parturas, discos e gramofones
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
52/94
52
p , g
Nos jornais era comum encontraranncios de venda e manuteno
de instrumentos, partituras, gramo-
fones e discos. Como j foi men-
cionado, pelo fato de a msica aovivo ser a sua forma de difuso
mais comum, a venda de instru-
mentos e partituras, possivelmente,
deve ter sido bastante expressiva,
bem mais que a modesta presenados anncios dos vendedores nos
jornais, e a quase completa ausn-
cia de comentrios a esse respeito.
Quanto aos gramofones e discos,
os anncios eram fartos e detalha-dos. Os vendedores facilitavam a
compra de gramofones dividindo
em parcelas e formando clubes
(consrcios).
O que mais se destacava era o comrcio de pianos. Tais anncios eram
repetidos diariamente por longos perodos que chegavam a meses, sem
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
53/94
53
reformulao, ou anos, de forma alternada e com algumas modificaes.
Isso indica que o comrcio de pianos deveria ser bastante expressivo, e essesinstrumentos tinham a sua venda facilitada em diversas prestaes ou
clubes. Tambm eram vendidas pianolas que tocavam sozinhas. Tantos
pianos demandavam manuteno, que era realizada pelos afinadores e
consertadores que passavam temporadas pela cidade, at se fixarem devido
frequncia dos servios. Essa foi a maior evidncia encontrada sobre apianolatria detestvel mania por pianos que imperava no pas desde o
sculo XIX, to criticada por Mrio de Andrade (s.d., p. 157). Ter um piano
em casa representava status, e mesmo quem no sabia tocar poderia ter uma
pianola em casa para animar as reunies e decorar a sala de estar. Algumas
livrarias comercializavam partituras de modinhas (canes populares),
como a Verissimo dos Santos, a Salles e a Internacional.
Quanto ao comrcio de instrumentos na cidade, quase no havia anncios,
mas, devido grande presena da msica ao vivo, a venda de instrumentos
deveria ser numerosa. O primeiro anncio encontrado era de 1910, de umparticular vendendo um violino novo com caixa (A CIDADE, 21 abr.
1910, p. 1). Depois desse, foram localizados outros anncios de particulares
a fim de comercializar instrumentos usados (rgos, violinos, instrumentos
para bandas, entre outros). O primeiro anncio de loja de instrumentos
localizado foi publicado em 1911.
A Casa Baruffi foi o nico estabelecimento comercial anunciante de instru-
mentos. No Almanach Illustrado de Ribeiro Preto (1913-1914) apareceram
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
54/94
54
como fabricantes de instrumentos musicais Santiago G. Soares e Antonio
Berlim.A Casa Bacarato, principal comerciante de discos e gramofones da cidade,
tambm comercializava roupas, armarinhos e produtos de higiene pessoal.
A partir de 1908 frequentemente anunciava seus produtos nos jornais as
grandes novidades vindas de So Paulo e Rio de Janeiro, e os seus respec-
tivos preos. Seus anncios traziam imagens de gramofones e tambmcostumavam ocupar uma grande parte das pginas (metade ou ). Alm
destes, a partir de 1911, havia os anncios do Bazar Modelo, que tambm
comercializava gramofones e discos, a Casa Brancato e a livraria Verissimo
dos Santos. Os gramofones comercializados eram da Columbia, e sobre os
discos h poucas informaes. Em um anncio de 1912 h o seguinte texto:
Casa Bacarato
Acaba de receber 50 gramophones e 5.000 discos: Columbia, Jumbo
Record, Odeon e Victor cantados pelos artistas mais celebres do mundo.
Escolhido repertorio para bailes, slos e rondolas, slos de accordeonexecutados pelos afamados Guido Doiro.
Tendo de dar logar a outra remessa de discos, pedimos ao publico de apro-
veitar o bello e grande sortimento (A CIDADE, 15 mai. 1912, p. 4).
Apesar de relativamente recente, esse comrcio tornara-se bastante expres-
sivo, como sugerem os nmeros desse e outros anncios semelhantes.
4.1. Comrcio de pianos
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
55/94
55
Casas de So Paulo e Campinas anunciavam compra e venda de pianos,
dando a entender que em Ribeiro Preto havia demanda para esse comrcio,mas no havia fornecimento local, ou este no era suficiente, abrindo uma
brecha para a atividade dessas casas, que tambm trabalhavam com outros
produtos. Os anncios tm o aspecto visual bem cuidado e ocupam um
espao significativo na pgina do jornal. O primeiro anunciante foi a Casa
Azul, de Campinas, em abril de 1905.A partir de outubro de 1908, surgiram os anncios da Casa Standard
(atuava no Rio de Janeiro e em So Paulo, mas mantinha representantes na
cidade) que se repetem por todo o perodo pesquisado, comercializando
tambm armas e mquinas de escrever. Seus anncios se repetiam quase
diariamente, at 1916. A partir de 1911 a Domingos Innechi & Filho, fabri-
cante de mveis, tambm anunciva a venda e o aluguel de pianos novos e
usados.
Em 1913, aumentou a quantidade de vendedores de pianos, como a casa
Abilio Murce & Cia., do Rio de Janeiro, com representante na cidade e aCasa Allem de Pianos, de So Paulo. J. Gonalves Lagosta, antes represen-
tante da Casa Standard, esse ano revendia pianos direto da fbrica. Em
novembro, anunciou-se a casa Pianos Bernardo Klauning. Em 1916, abriu-se
uma nova casa, a primeira filial da fbrica nacional de pianos Isidoro
Nardelli, de So Paulo. Seu gerente era o maestro Nardelli, que, devido
coincidncia do sobrenome, possivelmente teria algum
parentesco com o fundador da fbrica. Como era de costu-
b di h d fi i
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
56/94
56
me, a casa tambm dispunha de uma oficina para conser-
tos e reformas, e tambm comercializava partituras. Alm
desses grandes vendedores, era comum que os particula-
res anunciassem a venda de pianos usados, como tambm
era comum a realizao de leiles, nos quais os pianos
eram includos entre os bens.
Anncios de consertadores e afinadores de pianos erammuito frequentes. Esses profissionais, na maioria das
vezes, no residiam na cidade, apenas permaneciam por,
no mximo, alguns meses. Os pianos necessitavam de
apenas uma afinao por ano, por isso, os afinadores
precisavam viajar de cidade em cidade em busca de traba-lho. Alguns desses profissionais tambm se diziam msi-
cos e at maestros. Em 1915, j existia uma casa especiali-
zada em conserto e afinao de pianos e outros instrumen-
tos fixa na cidade: Afinadores e concertadores de pianos,
pianolas, auto-pianos, violinos, orgams, etc. 112, Rua
Duque de Caxias Telephone 239 Ribeiro Preto.
Attendem a chamados para o interior e fazendas (A
CIDADE, 15 ago. 1915, p. 2).
Captulo 5: Msica e entretenimento comomeios de culto e educao
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
57/94
Muitos eventos cvicos e religiosos envolviam a msica. Tais eventostinham um papel edificante na vida dos cidados, de solidificar valores e
prestar homenagens aos santos, aos heris da ptria e s instituies. As
suas regras disciplinares j estavam implcitas no carter ritualstico desses
eventos, embora quase sempre houvesse um certo carter profano ou de
simples lazer.
Capela Santo Antonio de Pdua ou Santo Antonio Po dos Pobres, localizada no incio da RuaSaldanha Marinho - atual Avenida da Saudade. Grupo de pessoas frente da capela, algumas
com instrumentos musicais. Data: 1903. Fotgrafo:Joo Passig (APHRP. Foto n. 041)
5.1. A msica nas escolas
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
58/94
58
A educao musical constitua parte importante da formao geral dos
educandos. Disciplinas de msica e atividades musicais faziam parte doscurrculos, como matrias obrigatrias ou facultativas, da maioria das esco-
las identificadas nas notcias e anncios.
As escolas se mobilizavam para fazer festas em homenagem s datas
cvicas e nos finais de ano letivo. Os eventos escolares, tanto as festas
como outros mais corriqueiros como listas de alunos aprovados e reprova-
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
59/94
59
como outros mais corriqueiros, como listas de alunos aprovados e reprova
dos, mudanas de professores, abertura de matrcula, mudana no horrio
das aulas, etc., eram fartamente noticiados. Anncios de escolas particula-
res tambm eram muito presentes.
No Grupo Escolar as festas de encerramento do ano letivo eram suntuosas
e mobilizavam empresas de entretenimento na sua organizao. Contavam
com a presena da imprensa e de autoridades municipais. Os alunos apre-sentavam diversos nmeros como teatro, declamao de poemas, msica e
dana, e um dia dedicado apenas aos esportes (festa gymnastica).
Nos estabelecimentos particulares, o ano letivo tambm costumava ser
encerrado com suntuosas festas e um longo programa de apresentaes de
alunos e professores, alm da exposio de trabalhos manuais ali executa-dos, e outras atividades.
Havia outras festas realizadas nas escolas, como a Festa das Aves (em
abril, no Grupo Escolar) e a Festa das rvores (em setembro, no Grupo
Escolar), e as comemoraes cvicas do calendrio. Tais festas cumpriam
um ritual solene, com a participao dos diretores e do corpo docente,
cantavam-se hinos ptrios e, em alguns casos, havia tambm oraes.
5.2. Comemoraes cvicas
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
60/94
60
As comemoraes cvicas aconteciam nas ruas, principalmente no Jardim
Pblico, nas escolas ou com a participao das mesmas, nas associaes,estabelecimentos pblicos e nos teatros. Havia, nesses locais, desfiles e
carreatas, com a presena das corporaes musicais, sesses solenes com
conferncias e discursos sobre a importncia de tais datas, espetculos,
bailes, etc. As datas comemoradas anualmente eram os dias 21 de abril
(feriado institudo em 1911), 3 de maio (antiga data estabelecida para achegada dos portugueses ao Brasil), 14 de julho (Revoluo Francesa), 7 de
setembro (Independncia), 15 de novembro (Proclamao da Repblica) e
19 de novembro (Dia da Bandeira).
O Dia do Trabalho era comemorado de forma festiva pelas associaes de
trabalhadores, que lideravam passeatas, promoviam solenidades, alvoradas,
retretas e bailes. A banda Unio Progressista, dos operrios da Companhia
Mogiana fez sua primeira apresentao no Jardim Pblico, em 1 de maio de
1909. Por vezes tambm eram promovidos nos teatros espetculos de gala e
sesses especiais de cinema em homenagem aos trabalhadores.A comemorao do dia 3 de maio era mais sbria e modesta, com o hastea-
mento da Bandeira Nacional nos estabelecimentos e solenidades formais. A
abolio da escravido, no dia 13 de maio, era comemorada de forma mais
festiva. Havia bailes e espetculos nos teatros. Os ex-escravos e seus
descendentes faziam suas prprias comemoraes, que por vezes apareciam
nos jornais.
As comemoraes da Revoluo Francesa eram feitas com retretas, soleni-
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
61/94
61
,
dades em vrias instituies (escolas, associaes, etc.) e bailes. O maior
entusiasta das comemoraes dessa data era FranoisEm 20 de setembro era comemorada a unificao da Itlia pela numerosa
populao de italianos e descendentes. As associaes de imigrantes, como
a Patria i Lavoro, tomavam a frente na organizao dos festejos, que se
constituam de quermesses, retretas, alvoradas, passeatas, solenidades,bailes. Os cinemas tambm exibiam fitas especiais em comemorao data.
Em 1914, as comemoraes foram suspensas devido conflagrao da
Primeira Guerra Mundial. A partir de ento no h mais registro da come-
morao de 20 de setembro at 1917.
Nas comemoraes da Proclamao da Repblica e do Dia da Bandeirahavia os rituais de costume: alvorada, execuo dos hinos ptrios, retreta,
sesses solenes, hasteamento da bandeira nacional, passeatas e bailes. As
escolas, por vezes, organizavam festas de maiores propores, com discur-
sos, declamao de poemas, msica e dana por parte dos alunos e professo-
res.
5.3. Comemoraes religiosas
Os festejos religiosos consistiam de missas e procisses, que algumas
d h d b d Al d i i
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
62/94
62
vezes eram cantadas ou acompanhadas por bandas. Alm dos rituais
propriamente religiosos, havia a parte profana, constituda por quermesses,retretas, bailes, leiles de prendas para arrecadar fundos para as igrejas, e
outros divertimentos. As principais datas comemoradas anualmente eram as
festas de So Sebastio, de So Jos, a Semana Santa, as festas juninas e da
Consolao.
As festas dedicadas a So Sebastio aconteciam no dia 20 de janeiro, oupor volta dessa data, e as suas comemoraes envolviam sermo, missa,
procisso e leilo de prendas. Em Villa Bonfim (atual Bonfim Paulista)
aconteciam as maiores festas dedicadas ao santo.
Na Semana Santa no havia festejos profanos, ou eram muito reduzidos. As
solenidades religiosas eram promovidas pela igreja de So Jos, dos padres
agostinianos, ou pela Catedral. Havia cerimnia de lava-ps, ofcio de trevas
cantado, missa e procisso. Os teatros apresentavam programao diferen-
ciada, com filmes inspirados em temas bblicos.
A Festa da Consolao era comemorada entre agosto e setembro, comnovenas, solenidades e missa cantada, na Igreja So Jos. As ladainhas
sero acompanhadas com canticos, ficando a parte musical confiada a
orchestra daquelle templo (A CIDADE, 19 ago. 1911, p. 1).
Na primeira pgina do jornal O setimo districto, de 19 de abril de 1893,
temos a notcia de uma Festa do Divino, a nica
encontrada nas fontes estudadas.
O ms de maio era dedicado Virgem Maria, e
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
63/94
63
esse perodo era chamado de Ms Mariano,
durante o qual havia vrios cultos, algumas vezesacompanhados por msica. Havia o coroamento
da Virgem, missas e outros rituais sacros.
As festas juninas, dedicadas a So Joo, So
Pedro e Santo Antnio, constituem uma das mais
fortes tradies religiosas nacionais, e costumam
ser comemoradas com quermesses e divertimen-
tos profanos, alm da parte religiosa. As festas
juninas de maior destaque aconteciam na Villa
Bonfim. interessante notar como a Villa Bonfim, um
povoado menor e certamente mais ligado as
tradies rurais, concentrava as festas mais
expressivas de carter religioso. Ali, pelo que se
pode notar pelas notcias e anncios dos jornais,a presena de espetculos e cinematgrafos itine-
rantes era eventual, e a ausncia do lazer mercan-
tilizado pode ser uma explicao para a impor-
tncia das festas religiosas.
Capitulo 6. O carnaval
De acordo com a Enciclopdia da Msica Brasileira:
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
64/94
64
De acordo com a Enciclopdia da Msica Brasileira:
[O Carnaval] Foi introduzido no Brasil pelos portugueses, com onome de entrudo (de introitus, comeo, entrada, nome com que aIgreja catlica designava as solenidades litrgicas da Quaresma,quando se exige retirada da carne, base mrfica admitida para carna-val e formas afins de vrias lnguas modernas). Brincadeira de ruasuja e violenta, muito praticada pelos negros escravos desde o sc.
XVIII, o entrudo passou a coexistir com o Carnaval moderno, inspi-rado em modelo europeu, a partir dos bailes de mscaras, principal-mente em teatros (o primeiro foi realizado no Rio de Janeiro RJ em1840), e dos desfiles de carros alegricos, iniciados em 1854, aindano Rio de Janeiro, sob o patrocnio do escritor Jos de Alencar.Durante o entrudo dos negros e das camadas populares, e assim no
Carnaval das novas camadas da classe mdia da segunda metade dosculo XIX, folies danavam cantavam nas ruas quadrinhas deautores annimos, ao ritmo de percusso, danando nos sales aosom geralmente de bandas, que tocavam os gneros europeus dapoca, principalmente a polca, o xtis [schottish], a valsa e a mazur-ca (ENCICLOPDIA da Msica Brasileira, 1998, p. 162).
De acordo com a mesma Enciclopdia, msicas brasileiras compostas
especialmente para o Carnaval surgiram a partir da dcada de 1880.
As notcias colocam os comerciantes do centro da cidade como os maiores
entusiastas na organizao do carnaval. Muitas lojas anunciavam nos
jornais produtos de poca como fantasias, confetes, serpentinas e lana-
perfume.
Antes do carnaval, ainda no ms de janeiro, havia o desfile de Zs-Pereira
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
65/94
65
abrindo os festejos. Bandas percorriam as ruas tocando e acompanhando os
desfiles e os corsos ao redor do Jardim Pblico, onde tambm aconteciam asbatalhas de confete e o entrudo brincadeira criminalizada pelos Cdigos
de Posturas de 1889 e 1902, considerada ofensiva e de mau gosto. Nos
teatros havia bailes, e os festejos costumavam ser promovidos por iniciativa
de clubs carnavalescos, constitudos para essa finalidade, que muitas vezes
tinham durao efmera.
Os jornais reservavam um amplo espao para o carnaval. Alm da progra-
mao e dos editais da polcia que saam por vrios dias, tambm eram
publicados comentrios e crnicas sobre os festejos. A polcia publicava nos
jornais e afixava em cartazes pela cidade uma srie de regras a fim demanter a ordem e evitar abusos.
Em 1909, uma grande quermesse promovida pela Sociedade Unio dos
Viajantes tomou o Jardim Pblico e o seu entorno, lugar onde habitualmente
ocorria o carnaval de rua. Por esse motivo, e possivelmente devido aos
excessos do entrudo em anos anteriores, o carnaval de rua suspenso, causan-do frustrao aos folies. Os bailes continuaram acontecendo. Em 1910, o
carnaval de rua estava de volta, com a devida organizao.
Ainda no ms de janeiro de 1910, o Club dos Lords (organizado e mantido
principalmente por comerciantes da cidade) j saia pelas ruas em seu Z
Pereira (A CIDADE, 15 jan. 1910, p. 2). Alm deste, o Club do 7o Ceu
tambm desfilou seu Z Pereira em janeiro. Deste carnaval participou
tambm o Club dos Criticos Luso-Brasileiros, fundado no final de janeiro
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
66/94
66
desse ano, formado tambm por comerciantes. Do cortejo carnavalesco
fizeram parte 12 carros do Club dos Lords, mais 15 do Club dos Criticos.Em 1911, o Z Pereira do Club das Sapas abriu os festejos carnavalescos
em 22 de janeiro. Nesse ano no houve a publicao de uma programao
do carnaval, mas possvel saber que houve carnaval de rua, com batalha
de confetes no Jardim Pblico. Nenhum clube se destacou na organizao
do carnaval, como o Club dos Lords, no anterior.
Em 1913, o Club dos Democraticos Carnavalescos organizou e abriu os
festejos com bailes no teatro Polytheama, em 25 e 26 de janeiro. As
notcias daquele ano relatavam os festejos dos dias de carnaval como nos
anos anteriores, com prstitos, cortejos e bailes, centralizados no JardimPblico.
No ano de 1915, houve os mesmos festejos dos anos anteriores, com
prstitos, cortejos e bailes. Embora as notcias afirmem o contrrio, pelas
informaes trazidas pelas mesmas podemos constatar que ano a ano os
carnavais tm sido mais modestos. Neste, citado o Club Vae ou Racha,do bairro Santa Cruz de Jos Jacques, porm mais uma vez nenhum se
destacou. Em 1916, houve bailes organizados pelo Club dos Casacas
Vermelhas no teatro Carlos Gomes, cortejo e batalha de confetes no
Jardim. Em 1917, as notcias sobre o carnaval foram ainda mais escassas,
dando a entender que a data se passou sem grande destaque e com poucos
festejos. Houve bailes no Polytheama, no Casino Antarctica e cortejo pelas
ruas.
d b d i d d i
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
67/94
67
Como pudemos observar, apesar das tentativas de ordenao, os carnavais
eram comemorados com alguma extravagncia devido s transgresses proibio do entrudo. O Carnaval comeava praticamente em janeiro, com
a sada dos Zs-Pereira, e era comemorado com bastante entusiasmo, que
com o passar dos anos foi se arrefecendo. Era uma oportunidade para as
classes mais abastadas exibirem carros enfeitados, fantasias suntuosas e
frequentar bailes que o povo certamente no tinha acesso mais uma vez
vemos a dinmica palco-platia se manifestar, em que uns se exibem fazen-
do o papel de atores do teatro urbano e outros fazendo o papel de
platia, servindo de assistncia para tais exibies. Percebemos tambm
que as referncias s msicas executadas no carnaval so escassas. Pelasfontes podemos saber apenas que a presena de bandas animando os bailes,
prstitos e corsos era constante, e repertrio foi pouco mencionado, mas
pelas poucas referncias pareciam repetir os gneros musicais de costume.
Captulo 7: Outras formas de socializao pelamsica: bailes e saraus, festas e serenatas
7/30/2019 A Msica em Ribeiro Preto - Coleo Identidades Culturais
68/94
Sociedade Musical Carlos Gomes, membros fundadores. No centro, sentado, de bigode, o
maestro Joaquim Rangel.Data: 1938. Fotgrafo: Photo Aristides. (APHRP. Foto n.118)
Os bailes (festas danantes realizadas em sales) eram uma forma de
entretenimento muito comum entre toda a populao. Existiam associaes
constitudas com a finalidade exclusiva de promove
Recommended