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UNAR (ISSN 1982-4920), Araras, SP, v.2, n.2, p.1-12, 2008.
ACÚSTICA INDUSTRIAL E SAÚDE DO TRABALHADOR: propostas de melhorias
Renata FACCIN * Cláudia Giglio de Oliveira GONÇALVES **
Rodolfo Andrade de Gouveia VILELA *** Tatiani de Moraes BOLOGNESI ****
RESUMO
Atualmente, preocupações voltadas às soluções de problemas relacionados ao conforto
ambiental de edifícios industriais têm sido cada vez mais crescentes no Brasil. Nesse
sentido, as normas nacionais, tanto com relação à saúde do trabalhador, quanto ao
ambiente construído, subsidiam e impulsionam pesquisadores e profissionais a buscarem
aperfeiçoamento e adequação dessas questões. O ruído é, entre os diversos riscos no
ambiente industrial, um dos que mais prejudicam a saúde do trabalhador, e o Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA − estabelecido pela norma regulamentadora foi,
neste trabalho, um ponto de partida na avaliação de uma metalúrgica na região de
Piracicaba, SP. Para tanto, integraram-se o conhecimento e as atividades de três áreas:
fonoaudiologia, engenharia de produção e arquitetura. Essa interdisciplinaridade seguiu
uma metodologia diversificada que permitiu a identificação dos principais problemas
acústicos existentes na linha de produção. Assim, propôs-se solução técnica em três
instâncias básicas: na do trabalhador, no maquinário e no ambiente. A melhoria da
qualidade ambiental e de vida do trabalhador é favorecida na medida em que se
requalificam as ações coletivas.
PALAVRAS-CHAVE: Conforto ambiental. Ruído. Saúde do trabalhador. Perda
auditiva.
1. Introdução
O ambiente industrial é foco de diversos problemas relacionados ao ambiente construído.
Com relação aos aspectos referentes ao conforto, observa-se que os projetos arquitetônicos
muitas vezes consideram os aspectos térmicos, ergonômicos e de iluminação, muito mais do
que os aspectos voltados ao tratamento acústico. Isso pode ser atribuído ao fato de que a
avaliação do nível de som, pelo ouvido humano, é diferente de como nossos olhos avaliam
uma distância ou de como o nosso braço avalia um peso. Dessa forma, as interferências
acústicas negativas do ambiente, nem sempre são facilmente percebidas pelo usuário. Daí a
necessidade de avaliações e acompanhamento por equipes de profissionais envolvidos, tanto
na área da saúde como nas áreas da construção civil e da engenharia de produção no sentido
de alcançarem, juntos, soluções eficazes.
Na legislação nacional, a Norma Regulamentadora N.º 09, denominada Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, estabelece ao empregador obrigações de agir na
fonte do ruído, de modo a prevenir e eliminar a existência de riscos à saúde do trabalhador.
* Doutora em Engenharia Civil (UNICAMP, 2001). Docente do Centro Universitário de Araras "Dr. Edmundo
Ulson" - UNAR. **
Doutora em Saúde Coletiva (UNICAMP, 2003). Docente da Universidade Tuiuti do Paraná. ***
Doutor em Saúde Coletiva (UNICAMP, 2002). Docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo - USP. ****
Mestre em Engenharia de Produção (UNIMEP, 2008).
FACCIN, R.; GONÇALVES, C.G.O.; VILELA, R.A.G.; BOLOGNESI, T.M. Acústica industrial e saúde do trabalhador: propostas de
melhorias.
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As condições determinadas por alguns processos de produção industrial aos quais
trabalhadores estão submetidos, geram doenças relacionadas com o trabalho. A saúde dos
trabalhadores é foco de preocupações em todo o mundo, mobilizando diversas entidades
nacionais e internacionais, uma vez que ainda é grande o número de trabalhadores que
adoecem ou morrem devido a suas atividades profissionais.
Entre os diversos riscos que ameaçam a saúde dos trabalhadores, a exposição ao ruído,
proveniente de via aérea ou sólida, vem sendo apontada como um dos mais comuns no
ambiente de trabalho e como um dos que acarretam consequências drásticas. Além da
audição, o ruído acarreta efeitos extra-auditivos, devido à interferência de diversos fatores
ambientais ou patogênicos concomitantes. Podem-se citar alguns elementos de vedações
impróprios, acabamento de piso inadequado, equipamentos de ventilação ruidosos, o tráfego
de veículos e, principalmente, o ruído gerado pelo maquinário existente na linha de produção.
Assim, efeitos de ressonância e reverberação agravam o alto do nível de pressão sonora do
ambiente usualmente identificado no ambiente industrial.
Neste trabalho, apresenta-se uma iniciativa das áreas de Fonoaudiologia, Engenharia de
Produção e Arquitetura e Urbanismo, no sentido de promover uma melhor qualidade do
ambiente industrial visando à saúde e ao bem estar do trabalhador. Medidas foram adotadas,
conforme as soluções propostas de intervenções sobre a fonte emissora de ruído, intervenção
sobre a propagação do som e intervenção junto ao trabalhador. Dessa forma, o estudo de caso
aqui apresentado utilizou-se do setor de produção de uma indústria metalúrgica na cidade de
Piracicaba-SP, devido aos altos índices de Perda Auditiva Irreversível por Ruído − PAIR −
identificados em projetos provenientes da área da saúde.
Localizada na Zona Industrial de Piracicaba-SP, a indústria metalúrgica, denominada
UNILESTE, é ligada à Rodovia Luiz de Queiroz, com proximidade às rodovias Bandeirantes
e Anhanguera. Possui área de terreno de 8500m2, sendo que a área total construída é de
5500m2 e o setor da linha de produção é instalado em uma área de 3000m
2.
2. Métodos e materiais
Os métodos adotados para o desenvolvimento deste trabalho basearam-se nas diretrizes
apontadas pelas três áreas de conhecimento e nas recomendações propostas para a estrutura do
Programa de Preservação da Audição, apresentados conforme o que segue:
2.1) Estudo do perfil auditivo dos trabalhadores: identificação dos trabalhadores com
alterações auditivas através de audiometrias em clínica especializada e monitoramento
auditivo para acompanhamento da evolução dos grupos de risco para a identificação de
alterações auditivas, através da análise dos prontuários e audiogramas dos dois últimos anos;
2.2) Aplicação de questionário individual: sobre a utilização de protetores auriculares pelos
trabalhadores (46 questionários nos trabalhadores), com a intenção de determinar um
parâmetro de utilização correta dos Equipamentos de Proteção Individual - EPI, a manutenção
e o período de troca por um novo EPI;
2.3) Avaliação do protetor auricular em situação real: na orelha do trabalhador, por
microfone sonda e por audiometria em campo livre em que compareceram 13 trabalhadores;
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2.4) Análise de normas: PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - Norma
Regulamentadora n. 9), PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - NR
n. 7) e Mapa de Risco (NR n. 5);
2.5) Dosimetria: análise do NPS do ruído gerado nos postos de trabalho para a avaliação da
condição de exposição do trabalhador, com o dosímetro do modelo DOS-500, com gravador
de ruído e interface para PC;
2.6) Levantamento do nível de pressão sonora – NPS: das máquinas existentes dentro da
linha de produção, utilizando-se a metodologia de Gerges (2000), o decibelímetro LUTRON
SL 4001, calibrado pelo aparelho LUTRON SC940, por leitura instantânea, tendo sido
realizada a medição nos quatro lados de cada maquinário, formando-se uma malha regular de
valores em dB na área total de 3.000m2 da linha de produção, conforme Figura 01;
2.7) Cálculo do tempo de reverberação: levantamento dos aspectos físicos da linha de
produção, tais como projeto do prédio, características construtivas, registro fotográfico,
representações gráficas da configuração do prédio, aplicação da fórmula de Sabine para as
frequências de 125 Hz, 500 Hz e 2000 Hz;
2.8) Proposta de intervenção: para minimizar danos, garantir a proteção da saúde dos
trabalhadores, e buscar as alternativas de mudanças nos processos de trabalho ou nas
condições de trabalho que contribuam com a qualidade do ambiente industrial. 3. Estudo do perfil auditivo dos trabalhadores e avaliação dos EPIs
No sentido de contribuir com a melhoria acústica do ambiente industrial do ponto de vista dos
usuários da linha de produção da indústria objeto deste estudo, avaliou-se o perfil auditivo de
uma amostra dos trabalhadores, bem como as condições de uso dos equipamentos de proteção
e as vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de EPIs, visando a produtividade frente às
atividades exercidas. Dessa forma, apresentam-se a seguir os resultados obtidos a partir dos
estudos fonoaudiológicos.
A maioria dos trabalhadores analisados expõe-se a mais de 84dBA de ruído, chegando a
valores próximos de 90dBA. Os questionários apontaram que 93,6% usam o protetor auricular
e 6,4% somente às vezes. Em relação ao tipo de protetor utilizado, 31,9% usam o plug de
silicone (3 flanges). O tipo de protetor preferido pelos funcionários oferece atenuação média
de 23 a 25dB. Quanto ao tempo de uso do protetor auricular, 37,8% usam de 5 a 10 anos.
Constata-se que a maioria dos funcionários da empresa faz uso dos protetores há menos de 10
anos. Somente 6,3% acreditam que o uso é indispensável e essencial, 2,1% alegam irritação
com o plug (EPI) e a sensação de aperto com o concha (EPI).
Na Tabela 01 encontram-se os valores de atenuação média (REIL em dBNPS) de cada
protetor no teste realizado por microfone sonda:
Tabela 01: Valores de atenuação média na medida com microfone sonda
Frequência (Hz) Tipo concha Plug de silicone Plug de espuma Plug tipo oliva 500 18,0 3,6 23,5 2
1000 32,6 7,4 24,0 3,5 2000 36,6 13,2 29,5 16,5 4000 27,3 16,2 35,0 13,5
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Analisando os dados acima, observa-se que os protetores do tipo concha e plug de espuma
apresentaram melhor desempenho nos dois testes. Os valores de atenuações foram mais altos,
compatíveis com os dados do fabricante, que prevê 29dB para os tipos concha e plug de
espuma. O protetor plug de silicone 3 flanges obteve melhor desempenho na pesquisa do
ganho funcional, em campo livre, e o protetor plug tipo oliva apresentou maiores valores de
atenuação nas medidas com o microfone sonda. Porém seus valores de atenuação,
considerando-se a média entre as frequências, ficaram abaixo dos estabelecidos pelo
fabricante, que prevê 23dB.
O monitoramento dos trabalhadores, desenvolvido pelo período de dois anos (2003 –2004),
aponta 20,3% com audiograma sugestivo de perda auditiva induzida por ruído, sendo que dois
trabalhadores pioraram sua audição em relação ao primeiro ano monitorado.
Dessa forma, torna-se fundamental a conscientização dos funcionários para com a
necessidade de uso do EPI e a colocação adequada de cada tipo para que os resultados
audiométricos possam ser positivos. Partindo dessa conceitualização, o ruído interno na linha
de produção pode ser minimizado pelo controle individual; no entanto, as condições do
ambiente de trabalho que causa doença também devem ser melhoradas, eliminando-se ou
controlando-se os riscos presentes. Na impossibilidade de eliminação total dos riscos, deve-se,
pelo menos, neutralizá-los através de medidas coletivas (na fonte emissora do agente
agressivo e sobre a sua propagação).
4. Nível de pressão sonora do maquinário na linha de produção
Com o objetivo de identificar os pontos críticos no ambiente de trabalho frente às condições
de risco, levantou-se o NPS de cada máquina existente e em funcionamento na linha de
produção utilizando-se o decibelímetro no módulo SLOW, através da medição instantânea do
ruído e com o parâmetro entre 50 e 100 dB do decibelímetro. A posição do equipamento foi a
distância de um metro da fonte ruidosa, e o resultado foi a média aritmética dos quatro pontos
lidos, o que permitiu identificar as máquinas e os setores de maior produção de ruído.
Quanto à identificação dos pontos críticos de ruído, os resultados apontaram duas frentes de
análises, uma voltada para a avaliação das condições do maquinário nos postos de trabalho e
outra voltada para as condições da qualidade acústica do ambiente.
4.1 Nível de pressão sonora nos postos de trabalho
Observou-se de maneira geral que, por se tratar de uma indústria metalúrgica, a maioria dos
materiais e equipamentos que compõem as atividades da linha de produção, por serem
metálicos, são ruidosos; dessa forma, as atividades de trabalho, bem como a manipulação de
tais materiais, por si geravam ruídos, além do ruído gerado pelas própria máquinas em
funcionamento. Portanto, a metodologia adotada de levantamento por medições instantâneas e
a dosimetria apresentaram-se eficientes, uma vez que foi possível identificar o NPS
proveniente dos setores que compunham a totalidade da área estudada.
Os resultados obtidos foram comparados com os parâmetros estabelecidos pela NHO1 (2001),
sendo de 85dB para uma exposição de quatro horas. Os valores obtidos das medições
instantâneas apresentaram, em sua maioria, resultados do NPS de acordo com a norma. No
entanto, avaliações feitas através da dosimetria no entorno de algumas máquinas apresentaram
o NPS muito acima do parâmetro.
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As máquinas mais ruidosas foram a faceadora modelos Grob e FXLZDI60, com motor
elétrico acoplado diretamente no painel da máquina, promovendo vibração e
consequentemente emitindo ruído excessivo; as brunidoras, que, apesar de não terem uso
diário, quando ligadas geram alto NPS, devido principalmente ao ruído de impacto; os
carrinhos utilizados constantemente para o transporte de peças metálicas cuja caçamba e rodas
também são metálicas, o que gera ainda mais ruído na sua utilização e movimentação; os
bicos de ar comprimido usados para a limpeza dos resquícios de cavacos metálicos tanto nas
peças quanto nos próprios trabalhadores; nesse caso, com o maior NPS - 110dBA.
Observaram-se ainda problemas comuns em diversas máquinas dentro da linha de produção,
tais como motores acoplados ao corpo metálico de vedação da máquina, que, ao vibrar, causa
ressonância, agravando ainda mais o ruído gerado inicialmente pelo motor, conforme Figura
02.
Figura 02 – Vista parcial do motor e geral do corpo metálico da faceadora
Os resultados obtidos no levantamento do NPS, conforme metodologia, foram sistematizados
em planilha eletrônica e transpostos graficamente na planta do projeto da linha de produção,
criando-se um mapeamento acústico que permitiu uma visualização mais clara dos problemas
acústicos e pontos críticos da linha de produção, conforme se pode observar na Figura 03 a
seguir.
Figura 03 - Mapeamento do NPS da linha de produção
Painel de
comando
Motor
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As três áreas em vermelho, correspondentes a 7% da área total da linha de produção, foram
identificadas como sendo os pontos mais críticos, tendo alcançado até 105 dB. Tal problema é
provocado principalmente por duas máquinas, as brunidoras e as retíficas, as quais são
operadas por funcionários durante um turno de 8 horas. As onze áreas identificadas em
amarelo, correspondentes a 20% da área total, apresentaram até 85 dB. Nesse caso, o
problema acústico é proveniente do conjunto de máquinas que compõem cada setor. A maior
porcentagem da área investigada com 72,55% apresenta índices entre 70dB e 80dB, e apenas
0,45% se encontra com limite de até 70dB. Assim, diante desse quadro, conclui-se que a linha
de produção apresenta níveis elevados de NPS, sendo ainda alguns pontos bastante críticos,
além do tempo excedente de exposição dos trabalhadores em sua jornada de trabalho. Apesar
de a maior porcentagem da área possuir índices abaixo do valor máximo estabelecido pela
NHO1(2001), a exposição deveria ser em jornadas menores. Outro aspecto avaliado foi a
impossibilidade de isolamento das máquinas mais ruidosas devido à operacionalidade da
produção, o que agrava ainda mais as condições acústicas do ambiente como um todo.
Para complementar os resultados obtidos aplicou-se, ainda, a dosimetria em três postos de
trabalho determinados a partir dos setores considerados críticos na medição instantânea,
denominados como E1, E2 e E3 na Tabela 02. Nesse caso, com o dosímetro preso junto ao
operador de máquinas, a dosimetria foi contínua e teve duração de três horas com
monitoramento constante.
Devido ao curto espaço de tempo viável para a medição, o parâmetro estabelecido no tempo
de coleta de dados buscou alcançar a maior quantidade de oscilações no período de três horas.
O valor obtido da dose nesse período de tempo é processado pelo equipamento que apresenta
o valor equivalente pela exposição em 8 horas de jornada de trabalho. O resultado da medição
foi sistematizado em programa computacional específico do equipamento, o qual gerou
gráficos e tabelas com o resumo das informações, conforme se pode observar na Tabela 02 e
no Gráfico 01 a seguir.
Tabela 02 – Síntese dos resultados da dosimetria em cada posto avaliado
E1 E2 E3 Nível de critério* 85 dB 85 dB 85 dB
Nível limiar de integração* 80dB 80dB 80dB Taxa de diferenciação dos níveis* 5dB 5dB 5dB
Tempo de coleta de dados Lentos Lentos Lentos Limite intermitente ou contínuo Sim Não Não
Nível de pico de impacto de 140dB Não Não Não Tempo de exposição da medição 03:00 03:00 03:00
Valor da dose (%) 79.92 66.62 42.83 Porcentagem dose em 8horas (%) 83.40 82.10 78.90
*Parâmetros extraídos da NHO1
O posto E1, localizado dentro do setor mais ruidoso, apresentou 105dB; apresenta limites
intermitentes acima do contínuo em até 115 dB; o posto E2, localizado a três metros do setor
mais ruidoso, apresentou um pico de 104,8dB devido à influência do ruído provocado pela
brunidora. A dosimetria efetuada no posto E3, localizado distante do ponto mais ruidoso
aproximadamente 10 metros, apresentou NPS pouco abaixo do limite superior da norma.
Embora a média dos resultados obtidos na medição da dosimetria esteja dentro do parâmetro
normativo, a representatividade percentual dentro do tempo total de exposição do trabalhador
ao ruído comprova a necessidade da redução da jornada de trabalho.
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Gráfico 01: Resultado da dosimetria nos pontos E1 e E2
4.2 Tempo de reverberação do som na linha de produção
Realizou-se o cálculo do tempo de reverberação − TR − para o ambiente da linha de produção
da empresa nas frequências 125Hz, 500Hz e 2000Hz; utilizaram-se os coeficientes de
absorção dos materiais existentes na configuração física do prédio a partir da NBR - 10152, e
efetuou-se a correção para a frequência de 125Hz também segundo recomendação da NBR -
12179.
Os materiais construtivos existentes no ambiente avaliados possuem características
predominantemente reflexivas ao som, sendo chapas metálicas, paredes de alvenaria, telhas de
zinco, estruturas metálicas, dentre outros. Todo o maquinário é metálico, e o volume do
ambiente de 18000m3
é significativo para a propagação sonora, como se pode observar nos
resultados demonstrados na Tabela 03.
Tabela 03 – Comparação entre o cálculo do TR encontrado e o tempo ótimo recomendado
125Hz 500Hz 2000Hz TR calculado (seg.) 5,77 5,72 7,61
Tempo ótimo de reverberação (seg.)
2,45 1,69 1,69
O resultado demonstrado aponta uma diferença bastante acentuada entre o TR encontrado e o
recomendado pela norma, o que permite concluir que os materiais construtivos adotados não
contribuem para a absorção sonora do ruído e que também não existe qualquer tipo de
tratamento acústico nesse sentido. Isso se pode atribuir à ausência de preocupação com
relação à qualidade acústica do ambiente industrial, tanto no que se refere ao projeto
arquitetônico, quanto à própria escolha dos materiais que compõem os ambientes ruidosos.
Uma vez que o maquinário e o mobiliário existentes na linha de produção são
predominantemente metálicos e geram ruído, por condições que lhes são próprias, há a
necessidade de se minimizar o ruído e sua propagação através do ambiente.
Legenda:
E1
E2
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5. Análise e propostas de melhorias
Os problemas de ruído identificados estão localizados basicamente nos ruídos produzidos
pelo maquinário e pela manipulação e transporte dos produtos metálicos dentro da linha de
produção. Nenhum tipo de ruído externo foi identificado no sentido de prejudicar os
resultados avaliados.
De acordo com os resultados da avaliação do NPS e da dosimetria, os valores são altos em
relação às condições expostas como referência nas normas vigente, além do tempo de
exposição dos trabalhadores ao ruído ser excedente. Isso aponta a necessidade de intervenções
que proporcionem a minimização do problema.
Também se pode observar que, na configuração da disposição das máquinas, de acordo com
as necessidades da engenharia de produção, alguns pontos apresentaram-se mais críticos em
decorrência de máquinas muito ruidosas ou de conjuntos de máquinas que, juntas, geram
ruídos excessivos.
Apesar da medida tomada pela empresa para atender às especificações das normas em relação
à saúde do trabalhador, com a utilização dos EPIs, estas não se apresentam suficientes para
garantir a qualidade acústica da indústria metalúrgica, tendo-se em vista ainda que nenhum
tipo de tratamento, além desse, foi feito para solucionar o problema do ruído. Isso mostra que
poucas intervenções e algumas até bastante simples poderão repercutir de maneira muito
eficaz quanto ao controle do ruído industrial.
Dentro desse quadro, há três instâncias em que se pode, neste trabalho, propor intervenções
para alcançar melhorias acústicas na linha de produção, as quais estão ligadas ao trabalhador,
ao maquinário e ao comportamento do som no ambiente.
5.1 Proposta de melhoria na instância do trabalhador
Quanto aos protetores auriculares, observou-se que alguns trabalhadores ainda não os
colocam adequadamente, e, pela avaliação da atenuação real dos mesmos, observou-se que os
trabalhadores que colocavam de maneira correta o protetor apresentaram os valores de
atenuação de seus protetores maiores do que os que os colocavam inadequadamente,
evidenciando-se, assim, a necessidade de treinamentos constantes para a correta colocação
dos EPIs.
Desta forma, em posse das informações anteriores, é possível elaborar um conteúdo para se
discutir a questão da segurança frente aos riscos com os trabalhadores em encontros
periódicos por grupos de trabalhadores. Nos encontros podem-se discutir os riscos presentes
no local de trabalho; as informações de risco de cada setor; os efeitos nocivos do ruído sobre a
saúde geral e sobre a audição; as maneiras adequadas de proteção contra o ruído e a utilização
dos protetores auriculares pertinentes a cada situação, e, finalmente, um treinamento para a
sua colocação na orelha.
Cabe, ainda, considerando os altos valores do NPS identificados, estudo de viabilidade
relacionado à redução do tempo da exposição do trabalhador ao ruído como parte do
programa de preservação da audição.
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5.2 Proposta de melhorias nas fontes de ruído - Máquinas
De todo o maquinário investigado alguns são mais ruidosos; uma vez que não foi identificado
nenhum tipo de intervenção nesses para minimizar o ruído por eles gerado, qualquer ação
nesse sentido fará melhorias significativas. Assim, modificações efetuadas nas fontes com
maiores NPS poderão tornar o ambiente mais qualificado.
Com relação aos bicos de ar comprimido que liberam um ruído alto e que são muito utilizados
durante todo o período de trabalho para a limpeza da própria máquina e de peças, eles podem
ser substituídos por modelos de bocais menos ruidosos, como, por exemplo, o de múltiplos
orifícios, pois, além de ser qualificado tanto para ejeção quanto para limpeza de peças,
apresenta maior vazão mássica dentre os outros bocais e possui um baixo nível de pressão
sonora. Esse é um equipamento que acompanha algumas máquinas como centro de usinagem,
tornos, faceadoras, fresadoras, furadeiras.
As faceadoras modelo FXLZDI60 e Grob também são máquinas que apresentaram NPS
elevado. O problema apresentado pela de modelo Grob é que o motor da sua bomba
hidráulica da mesa fica acoplado junto ao seu painel de comando e vibra quando está ligado, o
que faz também com que toda a máquina vibre, ressoando um ruído para o ambiente. Assim,
separar o motor da bomba hidráulica da bancada metálica, isolando-o do painel de comando, e
instalar Vibra Stop, que é um isolante de vibrações, nos pontos vulneráveis da peça, pode
amortizar o problema.
Nos carrinhos de transporte, recomenda-se instalar mantas de borracha na caçamba para
diminuir o ruído de impactos na colocação dos metais e substituir as suas rodas metálicas por
emborrachadas.
A brunidora, por ser uma máquina antiga, requer uma modernização geral; o conjunto vertical
vibra e transmite essa vibração para o piso e equipamentos adjacentes; assim, segregar o piso
metálico das brunidoras e instalar também Vibra Stop, além de se enclausurar o motor, poderá
solucionar em parte o seu ruído.
5.3 Proposta de melhoria no ambiente
Tendo-se em vista que as características físicas do ambiente construído da linha de produção
da metalúrgica não contribuem para a absorção sonora do ruído por se tratar de materiais
predominantemente metálicos e, portanto, reflexivos ao som, percebe-se a necessidade de
reestruturação nas superfícies internas do prédio com a utilização de materiais cujas
propriedades absorventes permitem a diminuição da reverberação do som e,
consequentemente, reduzem o tempo de permanência do ruído no ambiente.
Essa solução não resolve totalmente o problema acústico identificado por dois motivos
básicos. Primeiro, porque, apesar de reduzir o TR, os materiais absorventes não reduzem o
NPS gerado pelo maquinário. Em segundo lugar, porque para se alcançar o tempo ótimo de
reverberação calculado, haveria necessidade de se revestir uma quantidade de área de
superfícies internas à linha de produção, que, pela configuração física presente no prédio, não
se disponibiliza para esse fim, devido à iluminação zenital na cobertura, à presença de
aberturas como portas e janelas nos vedos e devido ao piso, necessariamente, ter que ser
eficaz para a circulação pesada e compatível com as condições operacionais da metalúrgica.
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Dessa forma, propõe-se que as áreas de superfícies existentes e disponíveis para o tratamento
acústico sejam revestidas com material que apresente propriedade de absorção acústica,
superfícies esculpidas de forma compatível com a limpeza e/ou substituição, devido às
impurezas do local poderem alterar suas características acústicas, além do tratamento através
de aditivos de retardância às chamas por questões de segurança.
Ainda, a instalação de banners na cobertura do prédio, conforme esquema apresentado na
Figura 05 abaixo, permite a ampliação das áreas de superfícies desejadas para a instalação de
materiais acústicos em quantidade suficiente para se atingir o TR ótimo. De acordo com o
cálculo específico para o tratamento acústico, esses banners podem ser revestidos com
material absorvente ou podem ser, ainda, painéis ressoadores.
Figura 05 – Representação gráfica do posicionamento dos banners
Dispondo os painéis na cobertura e em formato de favo-de-mel, no sentido perpendicular ou
em paralelo, em alternância de fileiras, e criando-se nichos entre eles, a propagação do ruído é
dificultada, e grande parte dele pode ser minimizado, contribuindo-se com a redução do NPS
decorrente da somatória de sons refletidos pelas superfícies atualmente existentes.
A disposição desses painéis deve ser projetada de tal forma que não interfira nos aspectos de
conforto térmico e luminoso do ambiente, uma vez que as aberturas zenitais, a iluminação
artificial e os ventiladores existentes na cobertura do edifício são significativamente
importantes para a função do ambiente.
Além da função acústica, um outro aspecto do conforto pode ainda ser explorado com a
colocação desses banners, no sentido de melhorar o conforto visual com a sinalização,
programação visual e quebra da monotonia do ambiente, uma vez que a linha de produção
atualmente se encontra desprovida de orientação espacial.
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6. Conclusão
O ambiente industrial aqui investigado apresentou-se com problemas relacionados ao conforto
acústico, do ponto de vista da saúde do trabalhador, das condições dos maquinários dispostos
na linha de produção e também do ponto de vista dos aspectos construtivos do prédio. Os
métodos adotados permitiram o dimensionamento desses problemas e apontaram resultados
significativos, os quais puderam ser analisados e comparados aos parâmetros normativos, o
que permitiu algumas propostas iniciais de intervenção para melhorar as condições de
conforto na linha de produção.
A adequação das condições de conforto no ambiente industrial deve ser constante, e a atuação
interdisciplinar enriquece os resultados e potencializa as melhorias no ambiente, além de
impulsionar o aperfeiçoamento a partir de cada intervenção. Esse ambiente requer cuidados
específicos e avaliações constantes no sentido de identificar os problemas relacionados ao
conforto ambiental, até porque a solução de problemas identificados em um dos aspectos de
conforto poderá interferir no outro. Portanto, ações de intervenção devem ser organizadas a
curto, médio e longo prazo de execução, por envolver investimentos construtivos e/ou a
reestruturação administrativa da operacionalidade.
O processo de produção industrial apresenta condições que lhe são peculiares, o que exige
estudos específicos dos problemas ambientais de forma contínua para que o gerenciamento
das soluções possa contar com diretrizes técnicas que se aprofundem nas questões do conforto
ambiental para garantir a qualidade de vida dos trabalhadores.
ABSTRACT
Nowadays the concern about solutions to problems of ambient comfort in industrial
buildings has increased more and more in Brazil. Therein, the national norms either
related to the worker's health, as to the constructed environment, subsidize and push
searchers and professionals to look for improvement and adjustment of these questions.
Noise is, among the several risks in the industrial environment, one of the most harmful
to the worker's health. In this work, the Program on Prevention of Environment Risks –
PPRA – established by regulating norm was a starting-point in the valuation of a
metallurgic plant in the area of Piracicaba, SP. For that, the knowledge and activities of
three disciplines were aggregated: audiology, production engineering, and architecture.
This inter-disciplinary project followed a diversified methodology which allowed an
identification of the main acoustic problems in the production line. Thus, technical
solutions were proposed in three basic instances: the worker, the machinery and the
environment. The improvement of environment quality as well as worker's life quality is
supported once collective actions are re-qualified.
KEYWORDS: Ambient comfort. Noise. Worker's health. Hearing loss.
FACCIN, R.; GONÇALVES, C.G.O.; VILELA, R.A.G.; BOLOGNESI, T.M. Acústica industrial e saúde do trabalhador: propostas de
melhorias.
UNAR (ISSN 1982-4920), Araras, SP, v.2, n.2, p.1-12, 2008.
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REFERÊNCIAS
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133p.
SANTOS, Ubiratan de Paula et al. Ruído: riscos e prevenção. São Paulo: HUCITEC, 1994.
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