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Componente Curricular: EDUCAÇÃO RELIGIOSA
Série: 2ª – ENSINO MÉDIO
Conteúdos – Exame Final
1. Campanha da fraternidade;
2. A história de vida de cada um;
3. Minha família: qual a importância que dou a ela;
4. Que valor estou dando a minha vida?
5. O que significa a morte? Como as pessoas enfrentam a morte?
6. O uso de drogas é uma forma de morte?
7. Conhecendo as religiões;
8. O que é fé?;
9. Minha rotina;
10. Os textos sagrados. 11. A influência das religiões nos jovens;
12. Projeto de vida;
13. Realidade social;
Exercícios – Exame Final
1. Campanha da Fraternidade 2016: “Casa comum, nossa responsabilidade”
“Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Amós 5,24).
A CF deste ano é ecumênica, ou seja, não está voltada só para os católicos e sim aberto
aos que tem fé cristã. E, durante os 40 dias de quaresma foram debatidos os problemas ligados
ao lema da campanha. Neste período e ao longo do ano, a igreja quer chamar a atenção das
pessoas e das autoridades para as violações à natureza, a falta de saneamento básico que tem
gerado muitos problemas, como a poluição dos rios, a contaminação do solo, etc.
Essa casa comum que está sendo ameaçada, é o nosso planta e, em meio a essa
situação, a população sofre com a falta de água potável, falta de saneamento e coleta de lixo e
assim a população fica a exposição de doenças.
Mas o que é saneamento básico? É um conjunto de cuidados que se tem com a água, o
esgoto e o lixo... cuidados fundamentais na manutenção da saúde e do bem-estar da população.
A falta de saneamento básico leva a contaminação de várias doenças e também vai
matando a natureza, por isso devemos cuidar e lutar para que haja uma mudança. Vivendo em
um ambiente saudável, nos desenvolvemos e aprendemos mais e temos uma qualidade de vida
bem melhor. Afinal, Deus criou tudo perfeito para que pudéssemos ter uma vida abundante.
a) Qual é o tema da C.F.?
b) Qual é o lema da C.F.?
c) Por que dizemos que a C.F. é ecumênica?
d) O que compõe o saneamento básico de uma cidade?
e) Cite 3 (três) ações que você pode fazer para contribuir com o meio ambiente?
f) Crie um cartaz que sensibilize a todos sobre a necessidade de um planeta melhor.
2. Leia as frases abaixo e marque C (correto) e E (errado) pensando no que vimos nos trabalhos
apresentados pelos colegas (Campanha da Fraternidade) e no que devemos fazer para viver
bem em grupo:
( ) Estudar em um local sujo e não fazer nada em relação a isso. ( ) Você está passando em frente a uma quadra de futebol e uma bola foi arremessada por cima do muro em sua direção, você pega a bola e a arremessa de volta à quadra. ( ) Estar no terminal de ônibus, ver alguém precisando de uma informação e não oferecer ajuda. ( ) Rir do meu colega que caiu no chão e não fazer nada para ajudar. ( ) Viver discutindo, brigando, não respeitando os semelhantes. ( ) Agir de maneira integra, correta, respeitando a todos. ( ) Praticar atos violentos, ofender idosos. ( ) Respeitar meus colegas enquanto apresentam seus trabalhos.
3. Você já imaginou como seria a vida em uma cidade sem regras? Para conseguirmos viver em grupo e em sociedade, precisamos de algumas regras que garantam o bem–estar de todos. Elas são referências para sabermos como agir nos diferentes contextos.
a) Cite 2 regras que você considera mais importantes na sua casa?
b) Cite 2 regras que você considera importantes na sua escola?
c) Cite 2 regras que você considera importantes entre seus amigos e colegas?
d) Estas regras que você considera importantes tem sido respeitada por você e pelos demais?
Justifique sua resposta.
4. (ENEM 2004. Questão 25 – Amarela) Nesta tirinha, a personagem faz referência a uma das
mais conhecidas figuras de linguagem para
(a) condenar a prática de exercícios físicos.
(b) valorizar aspectos da vida moderna.
(c) desestimular o uso de bicicletas.
(d) caracterizar o diálogo entre gerações.
(e) criticar a falta de perspectiva do pai.
5. (ENEM 2002. Questão 63 – Amarela) Leia e observe a tirinha:
De acordo com a história em quadrinhos protagonizada por Hagar e seu filho Hamlet, pode-se
afirmar que a postura de Hagar:
(a) Valoriza a existência da diversidade social e de culturas, e as várias representações e explicações desse universo.
(b) Desvaloriza a existência da diversidade social e as várias culturas, e determina uma única explicação para esse universo.
(c) Valoriza a possibilidade de explicar as sociedades e as culturas a partir de varias visões de mundo.
(d) Valoriza a pluralidade cultural e social ao aproximar a visão de mundo de navegantes e não-navegantes. Desvaloriza a pluralidade cultural e social, ao considerar o mundo habitado apenas pelos navegantes.
VENDO COM O CORAÇÃO
Além das descobertas científicas, invenções tecnológicas
e habilidades artísticas, o homem precisa desenvolver a
potencialidade das emoções, dos sentimentos, dos afetos,
da ternura. Os antigos localizavam no coração a fonte
dessas qualidades. A palavra “coração” vem do
latim cor ou cordis. Dela deriva as palavras cordial e cordialidade. Cordialidade é a qualidade de
quem é cordial: amoroso, afetuoso, compreensivo e sensível às necessidades dos outros.
O ser humano deve ver e interpretar a natureza, o mundo, pela inteligência e pelo coração.
É importante aprender matemática, informática, ciências e tecnologia, mas isso não basta. Quem
não desenvolve as qualidades do coração é uma pessoa humanamente deficiente. E, com
certeza, não é feliz. A cordialidade é uma maneira de ser, de viver com e para os outros. Ela é a
base, o fundamento do relacionamento humano.
Jesus diz que pelos frutos se conhece a qualidade de uma árvore. Toda árvore boa dá
bons frutos e a árvore má dá maus frutos. (Mateus 7,17-18)
Quais são os frutos da nossa sociedade?
Tecnologia, ciência, informática, grande produção, pesquisas, mas... e a cordialidade? E as
qualidades do coração? Apesar do fantástico desenvolvimento tecnológico e de produção de
riquezas, dois terços da humanidade não tem alimento, moradia, cultura e a qualidade de vida de
que toda pessoa precisa para se realizar, ser feliz. Esse é o fruto ruim da humanidade, que ainda
não descobriu o valor do coração.
6. Com base no texto lido, em nossas conversas em sala, e em seus conhecimentos, responda:
a) O que é cordialidade?
b) Explique a frase: “O ser humano deve ver e interpretar a natureza, o mundo, pela inteligência
e pelo coração.”
c) Quais as potencialidades humanas mais importantes? Por quê?
d) Como se explica o fato de que dois terços da humanidade não têm o alimento, a moradia, a
cultura e a qualidade de vida, necessários para ser feliz?
7. Marque a alternativa que explica o significado da expressão “É preciso saber viver”:
(a) Saber viver com responsabilidade, não respeitando os outros.
(b) Saber viver a vida com responsabilidade cuidando da própria vida, excluindo tudo o que possa
danifica-la.
(c) Viver em paz, alegria, tranquilidade e sem respeito com a própria vida e a dos outros.
(d) Todas as afirmativas acima estão corretas.
8. Leia as frases e escreva o que você entende por cada uma delas:
a) “O autocontrole é para a liberdade das pessoas o que o semáforo é para o trânsito urbano.”
b) “Não se iluda: em matéria de saúde e qualidade de vida, nada se ganha de presente. Você as
obterá à custa de seu esforço.”
9. Leia a frase abaixo, após, produza um pequeno texto (de 10 a 15 linhas) fazendo comparações
de coisas e situações que nos obrigam a agir com autocontrole em nosso dia a dia.
“Os prazeres são para o homem o que o sal e o vinagre são para a salada. Não se come sal aos
punhados e não se toma vinagre aos copos.” (Rousseau)
10. Leias as frases de Ban Ki-moon, secretário geral da ONU, e após, responda o que se pede:
“O vício das drogas é uma doença, não um crime.”
“Os toxicodependentes não devem ser tratados com discriminação, mas por peritos médicos e
conselheiros."
"A cada três minutos, alguém morre devido a esta doença possível de ser prevenida. Estes
números representam uma tragédia global."
a) Você concorda com a opinião de ban Ki-moon? Explique.
b) Se o vício das drogas é uma doença, pense, reflita, e cite 3 (três) medidas preventivas que
podemos tomar?
ESPAÇOS PÚBLICOS E ESPAÇOS PRIVADOS:
CONSTRUINDO REGRAS DE CONVIVÊNCIA E RESPEITO
Fernando Seffner
Um dos elementos mais importantes na constituição do espaço escolar é entender que ele
é um espaço público, e o professor ou a professora são servidores públicos. Isto pode parecer
óbvio, mas poucas vezes é lembrado e é pouco problematizado com os alunos. Em geral, este é
o primeiro espaço público em que a criança transita, e é nele que ela deve aprender um conjunto
de regras, disposições e valores que orientam a construção e manutenção dos espaços públicos.
A escola [...] brasileira cumpre papel muito importante nesta socialização das crianças e jovens
no ambiente público, que difere muito dos ambientes privados da casa, da família, das igrejas,
dos clubes fechados, dos grupos de amigos, das associações e de outras formas de organização
de caráter mais ou menos exclusivo. A construção das regras de gestão e convívio no espaço
público, os compromissos que ele mantém com a sociedade, sua importância para a
consolidação de regimes democráticos, sua importância para a formação cidadã, todas estas
características e muitas outras tornam a vivência escolar uma oportunidade de aprendizados que
vão muito além das disciplinas. Em geral, quando dizemos que a escola prepara para a
cidadania, ensina cidadania, estamos nos referindo muito mais ao aprendizado dessa dinâmica
do espaço público do que propriamente ao conteúdo ensinado nas disciplinas, embora existam
conexões entre estas duas instâncias.
Todos nós temos as nossas preferências e fomos educados para nos sentirmos mais à
vontade com esta ou aquela pessoa, neste ou naquele grupo, pertencendo a um ou outro partido
político, confessando determinada crença religiosa (ou não confessando nenhuma crença
religiosa), comparecendo a determinadas festas na cidade em tal ou qual local, e não em outras,
preferindo pessoas da nossa idade ou de idade diferente, e assim por diante. Podemos gostar
mais de um determinado shopping, porque ali vão pessoas que “têm mais a ver conosco”, e não
gostamos de outro, porque não encontramos ali pessoas que nos agradem. Preferimos bairros,
ruas, cores, filmes, músicas, estilos de roupa, atores, novelas, livros, comidas, esportes, times,
ídolos, e muito mais, e provavelmente não haverá acordo possível nisso em uma discussão, pois
a diversidade de gostos e opiniões é gigantesca e faz a riqueza do mundo. Mas será que tanta
diversidade não pode impedir o convívio? E se eu ficar sempre convivendo apenas com aqueles
que têm os mesmos gostos e preferências que eu, não estarei estreitando minha visão de
mundo? Mas por que motivo eu deveria conviver com pessoas que têm opiniões diferentes da
minha, apenas para me incomodar? Essas questões dizem muito respeito às noções de espaço
público e espaço privado.
Uma boa maneira para abordarmos a importância dos espaços públicos e privados na
sociedade brasileira é pensar na casa e na rua. O que é permitido fazer em casa, e o que não
podemos fazer na rua? E vice-versa? Que alegrias existem no convívio da casa, e que alegrias
existem no convívio da rua? De que modo nos comportamos em casa, e de que modo nos
comportamos na rua? Será que alguém é igual na casa e na rua? Você acha a casa melhor do
que a rua, ou a rua melhor do que a casa? Qual a importância que tem estes dois grandes
ambientes, casa e rua, para entender nossa discussão de espaço público, diversidade religiosa,
laicidade e escola [...] brasileira? Vale pensar no que significam para nós, brasileiros, casa e rua:
Quando digo então que “casa” e “rua” são categorias sociológicas para os brasileiros, estou
afirmando que, entre nós, estas palavras não designam simplesmente espaços geográficos
ou coisas físicas comensuráveis, mas acima de tudo entidades morais, esferas de ação
social, províncias éticas dotadas de possibilidade, domínios culturais institucionalizados e,
por causa disso, capazes de despertar emoções, reações, leis, orações, músicas e imagens
esteticamente emolduradas e inspiradas (Da Matta, 2000, p. 15).
A rua nos desperta certas emoções e possibilidades, e a casa, outras. Existe uma moral
das ruas, e uma moral das casas. Dentro de nossa casa, há certas leis de comportamento, na rua
há outra legislação. Muitas vezes, gostaríamos que a rua fosse tão bem organizada quanto a
nossa casa. Outras vezes, gostaríamos que a nossa casa tivesse um pouco do brilho e da
liberdade das ruas. Quando digo a palavra “rua”, você pensa num conjunto de imagens. Quando
digo a palavra “casa”, lhe aparece outro conjunto de imagens, bem como de recordações. Em
nossa abordagem, como recurso de análise, vamos aproximar o espaço da rua ao espaço
público, e o espaço da casa ao espaço privado, reconhecendo que a situação é mais complexa
do que isso, mas entendendo que essa é uma metáfora produtiva para trabalhar em sala de aula.
Quando a criança vai para escola, ela está bastante acostumada com as regras e normas
da família, e muitos afirmam que a escola é como uma família, que a escola é uma segunda
família, e que a professora é como se fosse uma tia, ou até mesmo uma segunda mãe. Nada
mais equivocado! A escola é uma instituição pública, e não uma família, e a professora é uma
educadora, em geral uma servidora pública, e não a mãe da criança ou sua tia1. Em certo sentido,
e em grande número de casos, as famílias gostariam que seus filhos fossem tratados na escola
como seres especiais, tal como são tratados na família. Dessa forma, uma mãe gostaria que a
professora tratasse sua filhinha de modo especial, com todas as atenções. Mas a professora tem
que tratar a todos por igual, portanto, a atenção que ela vai dar a uma criança deve ser igual
àquela que dará a outra, na medida do possível, mesmo reconhecendo que alguns precisam de
mais atenção. [...] Sei que esta é uma frase forte, mas penso que devemos refletir bem sobre ela:
na família, a criança é UMA criança; na escola, a criança é MAIS UMA criança. Não digo isso
para “desfazer” ou “maltratar” esta criança, mas esta é uma marca do espaço público: estamos
nele como um indivíduo dotado dos mesmos direitos e obrigações que os outros. As instituições
públicas (a escola pública brasileira, o posto de saúde do SUS, o aparelho judiciário, o hospital
público, o serviço de previdência do INSS, o posto policial, a barreira policial na estrada, o fiscal
que organiza o trânsito da cidade, o serviço bancário público etc.) devem tratar a todos por igual,
sem discriminação. Dessa forma, não podem cobrir alguns de privilégios e atenções, e a outros
reservar apenas alguns momentos de atenção.
Esta marca do espaço público está consagrada no princípio da igualdade, expresso na
Constituição Brasileira de 1988. Não temos como imaginar um país democrático, um estado de
direito, um país com justiça, sem lutar contra a discriminação de sexo, raça, cor, origem, crença
religiosa, idade e outros atributos. Mas podemos pensar que, em nossa casa, não gostamos de
receber pessoas de certa religião, de certa origem ou, até mesmo, de certa cor ou orientação
sexual. Temos esse direito, em nossa casa. Mas, no espaço público, a regra é a da tolerância, e
vale lembrar que toleramos os outros para também sermos tolerados. Ou seja, todos nós temos
alguns atributos que podem desagradar a outros. Posso não gostar de evangélicos, mas, se sou
gordo, haverá pessoas que não gostam de gordos. Posso não gostar de quem escuta música de
forró, porque só gosto de hip hop. Mas, certamente, há muita gente que não gosta de hip hop, e
1 A predominância de mulheres no magistério explica a narrativa feita aqui no gênero feminino. Dados sobre a maioria de mulheres no magistério podem ser encontrados nos resultados dos Censos Educacionais, como em http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/noticias/13784/mulheres-sao-815-do-magisterio-da-educacao-basica-no-brasil/ e também em artigos analíticos, como em http://www.scielo.br/pdf/cpa/n17-18/n17a03.pdf (último acesso em 3 de outubro de 2012)
gosta de forró. Nunca agradamos a todos. Nunca encontramos alguém que nos agrade em tudo.
A vida em sociedade comporta certo grau de tolerância e respeito pela diversidade, e essa é uma
das grandes marcas dos espaços públicos. E a escola, vale lembrar, é uma das principais
experiências de espaço público, normalmente a primeira na vida das crianças. Sentamos numa
sala de aula, e de imediato verificamos que ali estão presentes muitos gostos musicais, muitos
estilos de vida, muitas opiniões políticas, muitas religiões e muitos modos de professar a mesma
religião. E com este grupo vamos viver o ano letivo todo, e aprender a conviver é uma das marcas
da socialização.
No Brasil, o espaço público sofre em função de muitos problemas. Em geral, costumamos
pensar o espaço público como lugar da desorganização, da sujeira, do perigo. Muitas vezes, nós
mesmos colaboramos para isso. Em casa, não cuspimos no chão nem jogamos lixo pelos cantos.
Na rua muitas vezes fazemos isto. Há pessoas muito calmas e sensatas em casa, mas, quando
saem à rua para dirigir seu carro, se transformam em quase guerreiros. Para muitos de nós, a
cordialidade é algo que acontece entre iguais, no mundo da casa; não na rua, onde temos que
mostrar cara feia, pois não conhecemos as pessoas. A casa é limpeza, organização, atenções. A
rua é sujeira, desorganização e bagunça, serviços impessoais e anônimos. Mas, temos muitas
experiências exitosas de boa conservação do espaço público e das instituições públicas, e vale
lembrar que, sem um grande espaço público, não conseguimos assegurar um país justo e
democrático para todos. Um país não é a simples soma das casas e das famílias. Ele é a
existência de grandes espaços e sistemas públicos. Podemos aumentar a lista dos serviços
públicos (mesmo quando são concedidos à exploração de terceiros): distribuição de água tratada;
recolhimento de esgotos; coleta de lixo; conservação das vias públicas; geração e distribuição de
energia elétrica etc. O espaço público é local de acordos coletivos. Alguns deles já estão de tal
forma naturalizados que nem pensamos mais no assunto. Por exemplo, para organizar a
circulação nas grandes cidades, foi necessário estabelecer que nos cruzamentos, se o sinal
vermelho aparece para nós, temos que parar, e aguardar o verde para avançar. Isto parece tão
simples, mas por décadas carruagens, cavalos e carros colidiram nas esquinas, pela falta deste
acordo, cada um ia avançando e forçando passagem, causando mortes e acidentes. Mesmo
depois de estabelecidos os semáforos, ainda se passou um tempo até que efetivamente as
pessoas obedecessem àquela luz colorida, que lhes mandava parar ou avançar ou ter atenção.
São tantos os acordos que fazemos para viver no espaço público que, por vezes, nem lembramos
mais.
Um segundo problema que sofre o espaço público no Brasil é que gostamos de achar que
ele deve funcionar como uma família, uma grande família. Isso é muito frequente na escola.
Repito o que já disse acima: a escola é um espaço público, que deve acolher a diversidade
cultural dos alunos e fazer respeitar a todos e a cada um. Logicamente, aceitar a diversidade não
significa que cada um possa fazer o que deseja na escola. A escola tem um projeto político-
pedagógico e um regimento. Como todo espaço público, ela tem regras de funcionamento, não se
trata de achar que o espaço, porque é público, corresponde a “uma terra de ninguém, sem lei”.
Dessa forma, não deve causar espanto a ninguém que a escola tenha, em seu regimento,
algumas disposições com as quais muitas famílias não concordam. A escola não é um local que
possa se regrar do mesmo modo que uma família se regra. Certamente, algumas das regras
escolares não serão do agrado de algumas famílias, mas estas devem entender que aquelas
regras são necessárias para que todas as crianças possam viver com respeito no espaço público.
Estas famílias devem lembrar que, na escola, estudam crianças muito diversas, filhas de famílias
muito diferentes, e que todas devem aprender a conviver e a se respeitar.
O que tem isso tudo a ver com o tema da diversidade religiosa e do estado laico? Na casa
e nas associações religiosas, nos reunimos com outras pessoas por conta desta afinidade das
crenças. Buscamos um templo católico, um terreiro afro, um centro espírita, uma igreja
protestante, um templo evangélico, um local para prática do budismo, uma sinagoga judaica, o
salão do reino das testemunhas de Jeová, um templo mórmon, uma casa de adoração da Fé
Bahá’i, uma mesquita muçulmana, um santuário, um mosteiro, uma casa de oração, ou qualquer
outro lugar consagrado ao serviço de uma fé religiosa. Ali estamos entre pessoas que têm a
mesma crença, acreditam nas mesmas verdades e usam os mesmos símbolos religiosos. Alguns
de nós somos mais frequentes aos templos religiosos, outros se limitam a comparecer em
algumas cerimônias, em datas festivas, outros nunca comparecem a associações religiosas, e
outros sequer sentem necessidade da crença em um deus.
A escola pública não está a serviço de uma determinada religião. Ela acolhe alunos e
alunas, professores, professoras e funcionários, que têm mais de uma crença religiosa e, por
vezes, modos muito diferentes de pertencer à mesma crença religiosa. Basta ver que
costumamos dividir os católicos em católicos praticantes e não praticantes. Na atualidade, não
apenas temos grande número de opções de pertencimento religioso, como temos diferentes
modos de pertencer a uma religião. Alguns seguem as regras religiosas de modo mais estrito,
outros de modo mais frouxo. Temos muitas pessoas que, ao longo da vida, mudam de
pertencimento religioso – um fenômeno cada vez mais frequente, e temos também pessoas que
pertencem a mais de uma religião ao mesmo tempo, pois sentem que, deste modo, estão mais
amparadas nos momentos difíceis. E temos, além disso, um contingente de pessoas que não
sente necessidade de pertencimento religioso numa certa fase da vida ou por toda vida.
Todas estas diferenças estão presentes na escola pública brasileira. E ela tem o dever de
acolher e promover o respeito entre indivíduos tão diferentes em termos de crenças, o que não é
tarefa nada fácil. De acordo com o que está afirmado na Constituição Brasileira de 1988, o estado
brasileiro é laico. Ou seja, ele não professa nenhuma religião e deve assegurar que todos possam
ter liberdade de professar a sua religião. A escola pública brasileira, como parte do estado
brasileiro, e como legítimo espaço público, tem também este dever – o de assegurar que alunos e
professores tenham as mais amplas liberdades de consciência, de crença e de associação e
manifestação religiosa. Vale dizer que uma das possibilidades de manifestação religiosa é o
indivíduo declarar-se ateu, demonstrando, com isso, que tem uma posição válida a qual deve ser
respeitada no tema das religiões. Por todos estes motivos, a escola pública brasileira não deve
privilegiar uma religião em detrimento das outras, pois o Brasil é um país que não tem religião
oficial. Dizer que uma escola pública é laica significa dizer que, nela, temos um regime social de
convivência harmônica das diferenças de crença e de consciência, e uma das modalidades mais
frequentes desta convivência é a tolerância religiosa.
Mas, vale também lembrar que a liberdade de consciência envolve muitos outros aspectos.
Por exemplo, a escola deve assegurar que alunos e alunas e professores e professoras de
diferentes opiniões em política partidária convivam em regime de respeito. Dessa forma, a escola,
como tal, não pode apoiar um determinado partido político numa eleição, e muito menos um
candidato. Mesmo que tenhamos uma situação em que todos os alunos e professores gostem do
mesmo candidato, a escola como instituição não pode apoiar este candidato, mas cada um pode
fazer isso, pois é da sua liberdade de crença e de consciência.
O estado laico e a escola laica surgem para defender a liberdade de consciência e de
crença. Estas liberdades têm uma conexão direta com a democracia, com o estado de direito e os
regimes de justiça. E isto se torna cada vez mais importante no mundo por conta da proliferação
dos contextos multiculturais e da globalização, que coloca distintas culturas em contato. Vinte
anos atrás não conhecíamos de perto nenhuma mesquita no Brasil, hoje temos mesquitas árabes
em todas as capitais e, em muitas cidades brasileiras, os muçulmanos alugaram uma sala e ali
realizam suas práticas religiosas, mesmo sem a construção da mesquita. O estado laico é um
grande instrumento de proteção das minorias. E todos nós, por vezes, nos encontramos na
situação de ser minoria. O estado laico se liga ao pluralismo cultural.
Termino este texto básico, enfatizando que a escola cumpre um papel muito importante na
formação de cidadania das novas gerações, ensinando-as como se constitui e se mantém o
regime de diversidade, tolerância e respeito que caracteriza o espaço público, fundamental para a
democracia. Esta tarefa da escola é, certamente, muito difícil e enfrenta as pressões das famílias.
Se uma família é fortemente católica, vai querer, no fundo, que sua filha estude numa sala de
aula apenas com colegas católicos, e não vai ver com bons olhos a presença de gente afro-
religiosa, de pentecostais, de espíritas etc. Mas é dever da escola ensinar a estas crianças, e a
estas famílias, que, no espaço público, todos têm o direito de expressar suas crenças, sendo esta
uma das salvaguardas da vida em sociedade.
Os temas da diversidade religiosa, da tolerância, do estado laico, das liberdades laicas, da
liberdade de consciência e de crença, são questões que exigem reflexão e posição pessoal. Em
função de tudo isto lhe convidamos a pensar e tomar algumas notas acerca das questões abaixo.
Pense e responda cada uma das perguntas.
11. Responda:
a) Você tem um pertencimento religioso? Explique.
b) Que importância ele tem em sua vida?
c) Você sabe qual é o pertencimento religioso de seus colegas? Em algum momento, vocês já
conversaram sobre o tema? Explique.
d) Analise a frase de Jonathan Sacks: “Nenhuma religião que persegue outras é digna de
respeito, e nenhuma religião que condena outras merece admiração”. Agora, com base na
frase e na leitura do texto, nos seus conhecimento e vivências, escreva um pequeno texto (de
10 a 15 linhas) que explique como poderíamos criar espaços públicos (exemplo: escola) e
privados (exemplo: nossa casa) onde as regras de respeito e convivência fossem respeitadas
e seguidas por todos.
12. Leiam o textinho abaixo e responda as questões:
ADOLESCENTE OU “ABORRECENTE”?
A adolescência é uma etapa da vida recheada de transformações físicas e psicológicas,
decorrentes da puberdade.
Um turbilhão de hormônios começa a atuar sobre o corpo, e a maneira de agir do
adolescente diante do novo origina uma série de novas atitudes.
O adolescente, por não poder mais comportar-se como criança e ainda não responder
como adulto, passa por momentos conflitantes em busca de respostas às suas dúvidas. A cabeça
fervilha de perguntas a respeito de como lidar com as novas mudanças.
Os pais, tidos durante toda a infância como super-heróis, passam de uma hora para outra
a ser encarados como ultrapassados. Os pensamentos, opiniões, ideias e atitudes deles são
vistos pelos filhos como fora de uso, o que leva a divergências familiares, sendo o adolescente
taxado de aborrecente.
A paciência e o diálogo constituem maneira encontradas pelos pais e filhos para superar os
momentos difíceis enfrentados pelo jovem nessa fase, tornando-a mais amena.
Adolescer é estar diante de situações que antes podiam facilmente ser resolvidas pelos
pais, mas que agora é necessário que ele próprio tome conhecimento.
A responsabilidade passa a fazer parte da sua realidade, o que leva ao crescimento e ao
amadurecimento para poder encontrar e desempenhar o seu papel na sociedade.
a) “A infância é uma etapa da vida recheada de boas lembranças”. Pense, e elabore um pequeno
texto (10 a 15 linhas) sobre o que mais lhe dá saudade ao recordar dessa fase?
b) Durante o período da sua adolescência, quais foram as principais divergências com seus
pais? Elas já foram superadas? Comente.
c) Com quem ou o que (diário, blog, etc.) você “desabafa” quando está com um problema para
solucionar? Por que você a (o) escolheu?
d) Elabore com seu colega uma lista com os 10 (dez) principais “grilos” que surgiram durante a
adolescência de vocês.
e) Para você, qual é o papel dos pais nessa nova fase de vida?
Bons estudos! Confio em você e em seu potencial!
Profª Paula Schaedler
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