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Controle do recebimento e aceitação do concreto. Aplicação da NBR 12655 Julho/2016
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016
Controle do recebimento e aceitação do concreto. Aplicação da
NBR 12655
Victor Gomes dos Santos Mello – victor.gsm@gmail.com
MBA em Projeto, Execução e Controle de Estruturas e Fundações
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Florianópolis, SC, 24 de setembro de 2015
Resumo
O controle da qualidade do concreto, mais especificamente o controle estatístico do seu
recebimento é um tema que envolve grande preocupação dos construtores, visto que a
qualidade do concreto interfere diretamente na segurança e durabilidade da estrutura. Para
se verificar a qualidade do concreto podem ser realizados vários tipos de ensaios, sendo o
mais utilizado o estudo da resistência à compressão axial. Construtoras, em geral, realizam o
controle de qualidade do concreto de forma simplificada e equivocada, apenas moldando
corpos-de-prova e recolhendo os resultados da resistência à compressão. Este trabalho teve
como objetivo geral aplicar e avaliar os resultados do controle estatístico da qualidade do
concreto preconizado pela NBR – 12655/15 em uma obra. O estudo buscou verificar a
conformidade do concreto empregado na obra analisada com o requisitado em projeto. Os
resultados dos ensaios realizados nas amostras coletadas foram submetidos a tratamento
estatístico. Após a análise dos lotes de concreto foi constatado que todos foram aceitos. Caso
não tivessem sido aceitos, também foram citadas as medidas cabíveis para confirmar a
rejeição ou aceitar definitivamente os lotes de concreto.
Palavras-chave: Controle de qualidade. Concreto. NBR 12655.
1. Introdução
Hoje em dia pode-se observar uma preocupação maior, tanto das concreteiras, quanto das
construtoras e projetistas das estruturas com relação à qualidade do concreto. Esta
preocupação ocorre porque a qualidade do concreto interfere diretamente na segurança e
durabilidade da estrutura.
Com as estruturas cada vez maiores e mais solicitadas, cresceu também a necessidade de
regulamentar a orientação, tanto para o preparo do concreto quanto para a realização do
controle e aceitação do mesmo. Para este controle, a NBR 12655/2015 estabelece os critérios
de produção, controle e aceitação do concreto.
Com a importância que o concreto desempenha hoje em dia na construção civil como um
produto que desempenha função diretamente relacionada com a estabilidade das estruturas, é
necessário um intenso controle de sua qualidade. Segundo Bauer (1979, p.277), “Como
existem muitas variáveis relacionadas à qualidade do concreto, é possível dizer que, além de
uma rígida seleção dos materiais e estudo de dosagem, é indispensável, como para qualquer
produto industrial, o controle da execução e das características do produto final”.
Para se verificar a qualidade do concreto podem ser realizados vários tipos de ensaios, sendo
o mais utilizado o estudo da resistência à compressão axial. Em parte, isto ocorre por ter um
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custo relativamente baixo, contudo, além disso, porque várias das características desejáveis do
concreto estão diretamente relacionadas com a sua resistência.
Portanto, este trabalho teve como finalidade averiguar se a qualidade do concreto entregue nas
obras está sendo compatível com a qualidade requisitada em projeto, como salienta Mehta
(1994, p. 371) “o objetivo de um programa deste tipo é garantir que o elemento acabado de
concreto seja estruturalmente adequado à finalidade para a qual foi projetado”. Assim, foi
realizado o controle estatístico do recebimento do concreto, que consistiu na moldagem de
corpos-de-prova de concreto para verificação da resistência à compressão aos 7 e aos 28 dias,
e posterior tratamento estatístico, sendo que todo este procedimento seguiu os requisitos da
NBR 12655/2015: Concreto – Preparo, controle, recebimento e aceitação.
2. Durabilidade e Controle de Qualidade do Concreto
É imprescindível que as estruturas de concreto realizem as funções para as quais foram
projetadas, e que conservem a resistência e a utilidade que se é esperada durante um
determinado período de tempo. Assim, o concreto deve ser capaz de suportar os efeitos de sua
deterioração aos quais se subentende que ele venha a ser submetido. Se ele é capaz de tolerar
essa deterioração, considera-se que o concreto é, então, durável (NEVILLE, 1997).
Com o aparecimento de problemas de degradação precoce nas estruturas, de novas
necessidades competitivas e de exigências de sustentabilidade no setor da Construção Civil,
passou-se a observar, nas últimas décadas, uma tendência mundial no sentido de privilegiar os
aspectos de projeto voltados à durabilidade e à extensão da vida útil das estruturas de concreto
armado e protendido (CLIFTON, 1993 apud ISAIA, 2011). Mehta e Monteiro (2008) salientam que, por inúmeras razões, os projetistas devem avaliar as
características da durabilidade dos materiais com tanta atenção quanto outros aspectos. Deve-
se ter melhor compreensão das consequências geradas por uma estrutura não durável. Entre
elas estão o custo de reparos e a substituição de estrutura por falhas nos materiais. Os mesmos
autores declaram que existe uma estimativa de que, em países industrialmente desenvolvidos,
40% do total de recursos da construção estão sendo utilizados em reparo e manutenção de
estruturas existentes.
Portanto, para controlar a durabilidade e a vida útil da estrutura é importante que se faça o
controle da qualidade do concreto. Para Helene (1992), a finalidade do controle de um
produto é garantir um padrão de qualidade estabelecido anteriormente em projeto. Este padrão
não deverá modificar-se, majorar ou minorar, mas somente manter o nível de qualidade que
foi predeterminado em projeto.
Realizar este controle corretamente traz aos engenheiros, projetistas e construtores certa
segurança. Mehta (1994, p. 371) salienta que “o objetivo de um programa deste tipo é garantir
que o elemento acabado de concreto seja estruturalmente adequado à finalidade para a qual
foi projetado”.
Uma maneira de fazer este controle é através do ensaio de resistência à compressão do
concreto. Sobre sua importância, Helene (2013) escreve que o controle da resistência à
compressão do concreto das estruturas faz parte da segurança no projeto estrutural, sendo
indispensável a sua constante comprovação, sendo também conhecido por controle de
recebimento ou de aceitação do concreto. Avaliar se o concreto que está sendo entregue
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corresponde ao que foi adotado na fase de dimensionamento da estrutura faz parte da própria
concepção do processo construtivo como um todo.
Construtoras geralmente realizam o controle de qualidade do concreto de forma simplificada e
equivocada, apenas moldando corpos-de-prova e recolhendo os resultados da resistência à
compressão. Porém, acerca da interpretação, Neville (1997, p.573) explica: “Os ensaios não
são um fim em si mesmo, em muitos casos práticos, eles não levam a uma interpretação clara
e concisa, de modo que, para terem um valor efetivo, devem sempre ser usados com o apoio
de boa experiência no assunto”. Muitas pessoas não dão o valor merecido a este controle de qualidade, entretanto, como
lembra Helene (1992, p.102), Controle de qualidade de um determinado produto deve ser entendido como uma
técnica que, geralmente apoiada em recursos matemáticos da estatística, tenha por
objetivo fornecer as informações essenciais para a manutenção do produto numa
qualidade especificada, ao mínimo custo possível. Se aplicado a aceitação de um
produto, terá por objetivo simplesmente fornecer a informação da conformidade ou
não do produto a uma determinada qualidade. Consequentemente pode-se manter,
aceitar ou rejeitar qualquer qualidade – baixa, normal, alta – sem que
necessariamente o controle da qualidade acarrete somente produtos de alta
qualidade. É simplesmente uma técnica que ajuda a manter, aceitar ou rejeitar uma
qualidade preestabelecida. Ressalta-se, aqui, a diferença de existe entre o controle da produção do concreto e o controle
da aceitação/recebimento do mesmo. A NBR 12655/2015 traz que o controle da produção do
concreto consiste na verificação das operações de execução do concreto, desde o
armazenamento dos materiais, sua medida e mistura, bem como na verificação das
quantidades utilizadas desses matérias. Esta verificação tem por finalidade comprovar que a
proporção da mistura atende ao traço especificado e deve ser feita uma vez ao dia, ou quando
houver alteração do traço.
Já o controle do recebimento ou aceitação do concreto consiste simplesmente na comprovação
da conformidade ou não de certa quantidade de concreto em relação ao estabelecido em
projeto. Não importa, portanto, analisar as variações do processo de produção (HELENE,
1992).
Segundo a NBR 12655/2015, o controle da aceitação consiste em duas etapas: aceitação do
concreto fresco e aceitação definitiva do concreto. As duas são efetuadas através de ensaios.
O ensaio para o concreto fresco é a medição do abatimento do tronco de cone, conhecido
também como Slump; porém, esta aceitação é provisória. Este ensaio é regulamentado pela
NBR NM 67/98. A aceitação final é feita através da verificação do atendimento da resistência
à compressão a todos os requisitos de projeto, o que consiste no rompimento de corpos-de-
prova em certa idade. Os ensaios da resistência à compressão devem, então, servir para a
aceitação ou rejeição dos lotes de concreto.
Os procedimentos para moldagem dos corpos-de-prova devem seguir as diretrizes da NBR
5738/2015, que vão desde a preparação dos moldes até a retificação para rompimento na
prensa.
Neville (1997) relata que o ensaio de resistência à compressão de corpos-de-prova, tratados de
acordo com as normas, o que vai desde a forma correta de adensamento até a cura úmida, tem
como resultado uma representação da qualidade potencial do concreto. A resistência à compressão dos concretos tem sido tradicionalmente utilizada como
parâmetro principal de dosagem e controle de qualidade dos concretos destinados a
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obras correntes. Isso se deve, por um lado, à relativa simplicidade do procedimento
de moldagem dos corpos-de-prova e do ensaio de compressão axial, e, por outro, ao
fato de a resistência à compressão ser um parâmetro sensível às alterações de
composição da mistura permitindo inferir modificações em outras propriedades do
concreto. (HELENE, 1992, p.21)
A resistência à compressão do concreto é a característica que mais se emprega no momento
do dimensionamento da estrutura. Isto posto, está intimamente ligada à segurança estrutural.
A obra deve ser construída com um concreto de resistência à compressão maior ou igual ao
que foi optado no projeto (HELENE, 1992).
Mehta e Monteiro (2008) também destacam que, no projeto e no controle, a resistência é uma
propriedade comumente utilizada, já que, comparado com outras propriedades, o ensaio de
resistência é relativamente acessível. Além do mais, considera-se que muitas das outras
características do concreto podem ser deduzidas a partir dos valores da resistência à
compressão axial. Embora, na realidade, a maior parte das estruturas de concreto esteja
submetida a uma combinação de tensões em diferentes direções, o ensaio de compressão
uniaxial é mais fácil de ser executado, e a resistência à compressão aos 28 dias é aceita
universalmente como índice geral da resistência do concreto.
Sobre a resistência à compressão do concreto, Helene (1992) também concorda que a
característica que melhor qualifica o concreto é a resistência à compressão axial. Mas alerta
que, desde que tenham sido considerados na sua dosagem e preparação, aspectos como
durabilidade, tipo e classe de cimento, além da relação água/cimento. Qualquer alteração
destes aspectos poderá indicar uma variação na resistência. O mesmo autor destaca, também,
que a resistência à compressão é um atributo muito suscetível, capaz de apontar com
prontidão as variações da qualidade do concreto. Caso o concreto não seja aceito após a realização do ensaio de resistência e posterior
tratamento estatístico, a NBR 7680-1/2015 estabelece os procedimentos para aceitação
definitiva do concreto e também para a avaliação da segurança estrutural de obras em
andamento através da extração de testemunhos da estrutura. No entanto, é sugerido que antes
da realização da extração, para evitar danos desnecessários à estrutura, seja solicitado ao
projetista estrutural que verifique a segurança estrutural baseado no valor da resistência
característica à compressão estimada, obtida através dos ensaios dos corpos de prova
moldados conforme o previsto na NBR 12655. Feita esta análise, existem duas possibilidades:
considera-se que a estrutura está segura ou planeja-se a extração de testemunhos para uma
análise mais profunda, seguindo os critérios da NBR 7680-1.
Além das ações previstas pela NBR 7680-1, podem ser realizados alguns ensaios não
destrutivos que também servem para definir a resistência do concreto. Estes ensaios
apresentam algumas vantagens em relação aos ensaios destrutivos, como: proporcionam
pouco ou nenhum dano estrutural; são aplicados com a estrutura em uso; permitem que
problemas sejam detectados em fase inicial. Portanto, evidenciada a importância do controle de qualidade e sua relação com a
durabilidade acima citados, constata-se que o controle de qualidade do concreto deve ser
executado em todas as etapas da construção para, assim, certificar-se que todas as requisições
de projeto estão sendo atendidas e que determinada estrutura será durável.
Para Helene (1992), o controle da resistência à compressão visa a certificar o que está sendo
executado frente ao que foi adotado em projeto. Entretanto, ainda que seja considerada uma
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das verificações mais importantes, se não a mais importante, durante o período de execução
não deve ser confundida com o controle tecnológico das estruturas de concreto.
Salienta-se aqui, como cita Helene (1992), que o controle da qualidade do concreto
simplesmente oferece um auxílio na aceitação ou rejeição do mesmo, fornecendo a
informação da conformidade ou não. Desta forma, o controle da qualidade não serve para
aumentar a qualidade da obra: esta depende do controle tecnológico dos materiais e dos
serviços. Serve, pois, para fornecer dados que podem tornar a produção mais homogênea,
corrigir o traço e dosagem iniciais.
Ainda segundo Helene (1992), o maior objetivo do controle da resistência à compressão é
atingir o valor da resistência potencial do concreto, que é único e identifica somente o volume
de concreto analisado, para comparar com o valor que foi estabelecido para o
dimensionamento estrutural.
3. Controle Estatístico do Concreto
Helene (1992) ressalta que o controle de recepção ou aceitação do concreto se diferencia do
controle da produção em dois pontos primordiais. Primeiro, porque o objetivo da verificação é
somente analisar se o concreto que está sendo entregue em obras está de acordo com aquilo
que foi especificado em projeto. Não cabe, portanto, analisar as etapas do processo de
produção para saber como se chegou naquela qualidade, mas se esta qualidade atende aos
requisitos ou não. O segundo ponto é que não são envolvidos os fatores econômicos da
produção. Somente se deseja verificar a aceitação deste concreto, não importando como ele
foi feito e quanto foi utilizado para fazê-lo.
A primeira etapa deste controle é a limitação de certa quantidade de concreto a ser analisada,
que é definida como lote, de acordo com os critérios estabelecidos na NBR 12655/2015,
dentro da qual será feita uma amostragem aleatória. Também se faz necessário que sejam
identificados os elementos da estrutura que foram concretados com este lote para que, quando
se obtenha os resultados, seja possível rastrear o concreto aplicado e analisar a sua
conformidade (HELENE, 1992). A formação dos lotes é feita de modo que atenda a todos os limites da tabela 1 a
seguir.
Tabela 1 – Valores para formação de lotes de concreto a
Limites superiores
Solicitação dos principais elementos da estrutura
Compressão ou compressão e flexão Flexão simples b
Volume de concreto 50 m³ 100 m³
Número de andares 1 1
Tempo de concretagem 3 dias de concretagem c
a No caso de controle por amostragem total, cada betonada deve ser considerada um lote,
conforme 6.2.3.1 b No caso de complemento de pilar, o concreto faz parte do volume do lote de lajes e vigas
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c Este período deve estar compreendido no prazo total máximo de sete dias, que inclui eventuais
interrupções para tratamento de juntas.
Fonte: NBR 12655/15.
Para cada lote deve ser retirada uma amostra de concreto com o número de exemplares
correspondente ao tipo de controle. As amostras devem ser coletadas de forma aleatória
durante a concretagem, se a análise for realizada de forma parcial. Já se a análise for de forma
total, deverá ser coletado de todos os caminhões (betonadas).
Cada exemplar é composto por dois corpos-de-prova da mesma betonada, para cada idade,
moldados no mesmo ato. A norma permite que o resultado de menor valor, entre os pares,
seja excluído para que não se inclua no controle resultados que possam ter sido
comprometidos pela moldagem, transporte ou cura inadequada.
A NBR 12655/15 recomenda que se aceite os lotes de concreto quando o valor estimado da
resistência característica satisfizer a relação:
𝑓𝑐𝑘𝑗,𝑒𝑠𝑡≥𝑓𝑐𝑘𝑗
De acordo com a NBR 12655/15, existem dois tipos de controle de resistência: o controle
estatístico do concreto por amostragem parcial e o controle do concreto por amostragem total.
Para cada um são indicadas as fórmulas ideais para o cálculo do valor estimado da resistência
característica (𝑓𝑐𝑘𝑒𝑠𝑡) dos lotes de concreto analisados.
Para o controle por amostragem parcial, onde são retirados exemplares de algumas betonadas,
as amostras devem ter, no mínimo, seis exemplares para os concretos até C50, e doze
exemplares para concretos acima de C50. Para lotes com número de exemplares ,
o valor estimado da resistência à compressão ( ), na idade especificada, é dado por:
(equação 1)
Onde:
valor estimado da resistência à compressão do concreto na idade especificada;
= valores da resistência dos exemplares em ordem crescente;
m = n/2, desprezando-se o valor mais alto de n, se for ímpar.
O valor de deve atender, também, à seguinte equação:
(equação 2)
O valor de pode ser encontrado na tabela 2, a seguir, de acordo com a condição de preparo
do concreto e do número de exemplares.
Tabela 2 – Valores de ψ6
Condição de
preparo
Número de exemplares (n)
2 3 4 5 6 7 8 ...
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A 0,82 0,86 0,89 0,91 0,92 0,94 0,95 ...
B ou C 0,75 0,8 0,84 0,87 0,89 0,91 0,93 ...
Fonte: Adaptada de NBR 12655/15.
A norma estabelece também um critério para casos excepcionais, onde a estrutura pode ser
dividida em lotes menores, de até 10 m³, e a amostra pode ser feita com número de
exemplares entre 2 e 5. Neste caso, o 𝑓𝑐𝑘𝑒𝑠𝑡 é calculado de acordo com a seguinte equação:
𝑓𝑐𝑘𝑒𝑠𝑡= 𝜓6.𝑓1 (equação 3)
Já o controle por amostragem total do concreto aplica-se a casos especiais, e fica a critério do
responsável técnico pela obra. Portanto, não há limitação para o número de exemplares do
lote, e o valor de deve atender a uma das seguintes equações:
a) para ; (equação 4)
b) para . (equação 5)
Onde:
i = 0,05n. Quando o valor de i for fracionário, adota-se o número inteiro
imediatamente superior.
Segundo Helene e Pacheco (2013), o principal objetivo do controle da resistência à
compressão é obter um valor potencial, único e característico de determinado volume de
concreto para, assim, compará-lo com o valor especificado em projeto.
Estes autores ainda afirmam que só a média dos resultados não seria suficiente para definir e
qualificar um lote de concreto. Faz-se necessário considerar, também, a dispersão dos
resultados, que pode ser identificada pelo desvio padrão ou pelo coeficiente de variação do
processo de produção.
Desta forma, para não ter que se trabalhar com duas variáveis, adotou-se o conceito de
resistência característica estimada do concreto à compressão, que é uma medida estatística
que compreende a média e a dispersão dos resultados, o que permite definir e qualificar um
lote de concreto a partir de apenas um valor característico.
4. Estudo de Caso e Análise dos Resultados
Com o intuito de contribuir para a discussão científica, foram analisados dados reais de
resistência à compressão do concreto em estudo de caso. Com estes dados foi realizado,
então, o controle da aceitação do concreto. Tal controle está descrito a seguir. Em sequência
serão apresentados a metodologia aplicada na realização do estudo de caso e os resultados,
juntamente com sua análise.
Para tanto, foi escolhida uma obra para a realização do estudo, onde foram coletados os dados
necessários. A obra em análise trata-se da Sobre-elevação do Vertedouro da Barragem Sul,
em Ituporanga/SC, onde o objetivo era elevar a crista do vertedouro em 2 metros, o que
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resultou num aumento de 17 milhões de m³ na capacidade de retenção da barragem. No total
foram utilizados 2183 m³ de concreto.
Foram aplicadas, para realizar este estudo, as exigências da NBR 12655/15. A divisão dos
lotes foi realizada de acordo com o tipo de elemento estrutural e volume (metragem cúbica)
das concretagens. Foi escolhido realizar a análise por amostragem parcial, considerando
sempre o número mínimo de exemplares recomendados. Foram moldados 4 corpos de prova
por caminhão, 2 para cada idade, 7 e 28 dias. Sempre respeitando o número mínimo de 6
amostras (caminhões) a cada 100 m³ de concreto.
Com os lotes previamente definidos para cada dia de concretagem, foi necessário o
acompanhamento no local para aceitação do concreto fresco e moldagem dos exemplares. A
aceitação inicial e imediata se dava através de conferência da nota fiscal para verificar a
correção dos dados e ensaio de abatimento. Este ensaio, visando conferir o Slump requerido,
era realizado conforme a NBR NM 67/98.
Os corpos-de-prova moldados tinham formato cilíndrico com 100mm de diâmetro e 200mm
de altura. Tais espécimes eram moldados conforme a NBR 5738 (Concreto – Procedimento
para moldagem e cura de corpos-de-prova), sendo escolhido e preparado o local onde seria
realizada a moldagem para que não ficasse inclinado ou em lugar de passagem, e para que não
fossem movimentados antes da desmoldagem. Em seguida era acompanhada a concretagem
até por volta de meio caminhão, de onde era retirado o material para confecção dos corpos-de-
prova.
Simultaneamente com a moldagem dos corpos-de-prova e ao longo da concretagem foi
realizado o mapeamento de aplicação do concreto de cada caminhão na estrutura. O objetivo
deste mapeamento era servir de referência para rastreamento de concreto com possíveis
problemas (vide figura 1)
Figura 1 – Rastreamento da aplicação do concreto na estrutura
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Fonte: Elaboração própria
Os corpos-de-prova permaneciam por 24 horas no local de moldagem, o que é o determinado
pela NBR 5738/15, protegidos do sol e de impactos para, então, serem desformados e
transferidos para o laboratório, onde permaneciam em cura úmida até o dia do rompimento.
Com os corpos de prova moldados, acompanhou-se os ensaios de ruptura à compressão em
laboratório, visando verificar se estavam sendo cumpridos os requisitos da NBR 5739/07 –
Concreto – Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos.
Depois de obtidos os resultados dos ensaios, pode-se então dar início ao controle estatísco,
para, por fim, avaliar a condição de aceitação do concreto utilizado.
4.1 Apresentação do Controle
Ao todo foram analisadas 16 concretagens. A seguir serão demonstrados os resultados
juntamentemente com a análise estatística.
Serão análisados somente os resultados dos rompimentos aos 28 dias, já que com eles é
definido se os lotes de concreto devem ou não ser aceitos. Os resultados aos 7 dias também
são relevantes para se ter um controle da evolução da resistência do concreto, porém para este
caso específico, os resultados aos 28 dias são mais importantes.
Salientando que o tipo de produção do concreto era usinado e o fck de projeto era 25 MPa.
Segue então, os resultados obtidos aos 28 dias da primeira concretagem analisada, que
ocorreu nos dias 01 e 02/07/2014:
Tabela 3 – Valores da resistência à compressão dos CPs aos 28 dias (Concretagem 01 e
02/07/2014)
Planilha de resultados das amostras aos 28 dias. Concretagem dias 01 e 02/07/14
Amostra 1 2 3 4 5 6
CP 1 Resistencia (MPa) 24,18 21,71 30,43 22,92 22,99 23,76
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CP 2 Resistencia (MPa) 27,17 26,83 30,94 25,99 27,97 25,63
Fonte: MELLO (set/2015)
Obs.: Os valores destacados em cinza são os mais altos de cada exemplar.
A partir destes dados, os valores foram submetidos ao tratamento estatístico por amostragem
parcial, de acordo com a NBR 12655/15. Portanto, foram excluídos os resultados mais baixos
de cada exemplar, conforme preconiza a norma, em seguida os resultados mais altos de cada
exemplar foram colocados em ordem crescente:
25,63 < 25,99 < 26,83 < 27,17 < 27,97 < 30,94
Com isso foi aplicada a equação 1, que resultou em:
fck,est = 24,79 MPa
Foi realizada também a verificação estabelecida pela equação 2, onde fck,est ≥ .f1. Os valores
de são encontrados na tabela 2, desta forma:
≥ 0,92 . 25,63 ≥ 23,57 MPa (Ok)
Desta forma, o para este lote de concreto é 24,79 MPa. Ou seja, abaixo do requisitado
em projeto.
Os resultados das outras concretagens passaram pelo mesmo processo, a seguir estão os
resultados obtidos aos 28 dias e também os resultados do controle estatístico.
Concretagem 2: 25,70 < 25,84 < 26,65 < 26,72 < 28,20 < 28,63;
fck,est = 24,89 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,70 ≥ 23,64 MPa (Ok).
Concretagem 3: 25,23 < 25,85 < 25,86 < 26,30 < 26,39 < 26,46 < 26,91;
fck,est = 25,22 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,94 . 25,23 ≥ 23,71 MPa (Ok)
Concretagem 4: 25,79 < 26,81 < 26,96 < 27,31 < 28,02 < 28,43;
fck,est = 25,64 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,79 ≥ 23,72 MPa (Ok).
Concretagem 5: 26,09 < 26,20 < 26,26 < 27,09 < 27,51 < 27,61 < 27,99 < 28,08;
fck,est = 25,28 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,95 . 26,09 ≥ 24,78 MPa (Ok).
Concretagem 6: 25,60 < 25,63 < 26,10 < 26,18 < 26,23 < 26,74 < 26,88;
fck,est = 25,13 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,94 . 25,13 ≥ 23,62 MPa (Ok).
Controle do recebimento e aceitação do concreto. Aplicação da NBR 12655 Julho/2016
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Concretagem 7: 25,75 < 25,93 < 26,76 < 26,86 < 27,70 < 29,11;
fck,est = 24,92 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,75 ≥ 23,69 MPa (Ok).
Concretagem 8: 25,32 < 25,34 < 26,01 < 26,79 < 26,83 < 27,79;
fck,est = 24,65 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,32 ≥ 23,29 MPa (Ok).
Concretagem 9: 25,34 < 26,53 < 26,81 < 27,22 < 27,31 < 28,42;
fck,est = 25,06 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,34 ≥ 23,21 MPa (Ok).
Concretagem 10: 25,21 < 25,96 < 26,45 < 26,74 < 26,80 < 27,28;
fck,est = 24,72 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,21 ≥ 23,19 MPa (Ok).
Concretagem 11: 25,83 < 25,85 < 26,60 < 26,75 < 26,83 < 26,97;
fck,est = 25,08 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,83 ≥ 23,76 MPa (Ok).
Concretagem 12: 25,83 < 26,56 < 26,78 < 26,78 < 26,80 < 27,27;
fck,est = 25,61 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,83 ≥ 23,76 MPa (Ok).
Concretagem 13: 24,74 < 25,16 < 25,18 < 25,70 < 26,93 < 27,01;
fck,est = 24,72 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 24,74 ≥ 22,76 MPa (Ok).
Concretagem 14: 25,89 < 26,16 < 26,18 < 26,37 < 26,91 < 27,18;
fck,est = 25,87 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,89 ≥ 23,81 MPa (Ok).
Concretagem 15: 25,14 < 26,32 < 26,41 < 26,48 < 27,70 < 27,70;
fck,est = 25,05 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,14 ≥ 23,12 MPa (Ok).
Concretagem 16: 25,00 < 26,95 < 27,80 < 28,34 < 29,24 < 29,84;
fck,est = 24,15 MPa;
Verificação da equação 2: fck,est ≥ 0,92 . 25,00 ≥ 23,00 MPa (Ok).
4.2 Análise dos Resultados
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Feita a análise estatística, partimos agora para a análise dos resultados. Observamos que 7 dos
16 lotes analisados não atingiram o resultado esperado, visto que, não alcançaram o valor da
resistência estipulado em projeto, que era de 25 MPa.
No entanto, os valores obtidos foram considerados aceitos pelo fato de que apresentaram um
valor muito próximo do desejado, não necessitando que fossem tomadas as medidas indicadas
para quando os lotes não são considerados aceitos.
Ressalta-se aqui, contudo, que a NBR 7680-1/2015 estabelece os procedimentos para extração
de testemunhos de concreto, a serem seguidos caso os valores dos lotes de concreto
analisados não sejam aceitos após o controle estatístico. Primeiramente, para evitar danos à
estrutura, deve-se solicitar ao projetista estrutural que verifique a segurança estrutural baseado
no valor da resistência característica estimada (fck,est), obtido através do controle estatístico
realizado conforme orienta a NBR 12655/15. Caso o projetista considere que a estrutura não
está segura, após refeitos os cálculos, orienta-se então, que seja feita a extração de
testemunhos de concreto, como preconiza a NBR 7680-1.
5. Conclusão
O tema deste trabalho envolveu o controle da qualidade do concreto, visando à realização de
um controle estatístico de seu recebimento para, assim, verificar sua conformidade com a
resistência à compressão requisitada em projeto.
O objetivo do trabalho era aplicar a metodologia do controle estatístico em um estudo de caso.
Ao realizar a pesquisa bibliográfica, foram obtidos os critérios para realização do Estudo de
Caso na obra escolhida. Desta forma, acompanhou-se a execução da obra por determinado
período para retirada de amostras do concreto aplicado, que foram submetidas a tratamento
estatístico para constatar a aceitação ou não dos lotes estudados.
Foi concluído então, que todos os lotes analisados foram considerados aceitos após a análise
estatística realizada.
Foi possível observar a importância de um controle efetivo do recebimento do concreto,
realizado de forma apropriada, seguindo os requisitos da norma, NBR 12655.
Com a realização deste Estudo de Caso foi possível concluir que o tema é de grande
importância para o cotidiano da Construção Civil, tendo em vista que os resultados
alcançados nos ensaios definem se o concreto está em conformidade com o que foi projetado.
A não conformidade de um lote de concreto pode acarretar em problemas estruturais, que
podem ser prevenidos com o controle do recebimento do concreto. Ressalta-se aqui então que o controle do recebimento do concreto, com posterior tratamento
estatístico, deve ser realizado em qualquer tipo de obra, para que se tenha a garantia da
segurança estrutural, que o concreto contratado está atendendo aquilo que foi solicitado.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto –
Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro, 2015.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto – Ensaio
de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7680-1: Concreto -
Extração, preparo, ensaio e análise de testemunhos de estruturas de concreto
Parte 1: Resistência à compressão axial. Rio de Janeiro, 2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: Concreto – Preparo,
controle e recebimento. Rio de Janeiro, 2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 67: Concreto –
Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone. Rio de Janeiro, 1998.
BAUER, L. A. Falcão. Materiais de Construção. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1979.
HELENE, Paulo R. L; TERZIAN, Paulo. Manual de dosagem e controle do Concreto. São
Paulo: Pini, 1992.
HELENE, Paulo R. L; PACHECO, Jéssica. Controle da Resistência do Concreto – 1ª parte.
Concreto e Construções, São Paulo, n. 69, jan./mar. 2013.
ISAIA, Geraldo C. et al. Concreto: Ciência e Tecnologia. 1 ed. São Paulo: IBRACON,
2011. 2v.
MEHTA, Povindar Kumar; MONTEIRO, Paulo J. M. Concreto: estrutura, propriedades e
materiais. São Paulo: Pini, 1994.
MEHTA, Povindar Kumar; MONTEIRO, Paulo J. M. Concreto: Microestrutura,
Propriedades e Materiais. São Paulo: IBRACON, 2008.
MELLO, Victor G. S; BACK, Murilo C. Controle da Qualidade do Concreto: Aplicação
da NBR 12655 no Controle do Recebimento. 2013. 54 p. Monografia, Universidade do Sul
de Santa Catarina. Curso de Engenharia Civil. Tubarão, SC.
NEVILLE, Alam Matthew. Propriedades do Concreto. 2ª ed. rev. atual. São Paulo: Pini,
1997.
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