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Marx e o Marxismo 2017
De O capital à Revolução de Outubro (1867 – 1917)
___________________________________________________________________________________
Minicurso O Soviete de Petrogrado em 1917 Kevin Murphy
-Seção 1: A formação dos sovietes e o período da ‘lua de mel’ com o
Governo Provisório
1.1 2 de março, Izvestiia (jornal do Soviete de Petrogrado); decreto de colaboração soviética
para com o Governo Provisório
Os partidos burgueses que atualmente juntaram-se ao Comitê Temporário da Duma do Estado
não possuem o desejo de consumir a revolução e colocar em prática o triunfo completo da
democracia. O resultado mais atraente para eles seria um compromisso para com o Antigo Regime,
com o retorno ao poder de Nicolau II no papel de “monarca constitucional”. Contudo, a vitalidade e a
solidariedade da democracia revolucionária já compeliram a burguesia a ter que recuar em direção
aos limites dessa posição que as elites não desejavam abandonar. O Comitê Temporário acabou se
tornando um Governo Provisório, procurando sancionar a prisão de ministros e outros agentes do
Antigo Regime e tentando estabelecer um novo poder por meios revolucionários. Mas para conseguir
prevenir a transformação da revolução em uma contrarrevolução, as forças democráticas devem
participar com uma energia sem fim para a reorganização do país; eles devem tornar-se uma parte
orgânica do Governo Provisório, prevenindo que ele interrompa suas tarefas no meio, aprofundando-
as mais e mais até que a Assembleia Constituinte, eleita com base em um sufrágio universal,
igualitário, direto e secreto, consolide a nova república sob bases firmes e sólidas. A realização desse
objetivo exige, é claro, não apenas a colaboração com os setores da burguesia dentro do Governo
Provisório, mas também a existência de uma organização poderosa e independente das forças
democráticas, tais como o Soviete dos Delegados Operários e Soldados, pois é somente pela
acumulação de forças deste que os membros democráticos do Governo Provisório serão capazes de
ganhar o respeito de seus colegas burgueses. Mas enquanto o verdadeiro poder das forças
democráticas emergir exclusivamente de sua própria solidariedade na luta revolucionária, seria um
erro grave chegar à conclusão de que a participação no Governo Provisório não possui qualquer
relevância para os representantes dos operários, camponeses e soldados, ou mesmo que os objetivos
da democracia possam ser realizados apenas a partir dos esforços de uma união de forças
exclusivamente democráticas.
Caso os delegados dos Sovietes operários cortem todas suas conexões com o Governo
Provisório, a burguesia inevitavelmente verá eles tanto como a força propulsora da democracia como
também verá nisso um golpe de Estado socialista. O medo desse “fantasma vermelho”, é claro, irá
reforçar e intensificar as tendências [contrarrevolucionárias?] da burguesia e, dessa forma, ao invés
de impulsionar a burguesia para frente, nós a jogaremos de volta à necessidade de implementar a
força a restauração da autocracia como a única forma de combater o socialismo. Essa desastrosa
2
posição das elites não acontecerá se as forças democráticas conseguirem conquistar o aparato do
Estado, confiando exclusivamente em suas próprias forças e procurando organizar-se a partir delas.
Mas camaradas, não importa quão grandiosas sejam as capacidades, a energia e a coragem
dos elementos revolucionários da democracia russa, deve se admitir que as forças democráticas, por
si só, engajadas na luta contra uma coalizão de todos os elementos burgueses, ainda não são capazes
de cumprir uma tarefa de complexidade tão grandiosa quanto o estabelecimento de um novo sistema
estatal.
...
As táticas de isolacionismo total não nos garantem nada, exceto um rápido e certo colapso da
revolução nacional. A adoção de tais táticas seria um erro fatal, no limite do suicídio.
1.2 1º de março de 1917, Ordem Nº 1 do Soviete de Petrogrado
A ser imediata e completamente executada por todos os homens nas guardas, Exército,
artilharia e marinha e para conhecimento dos operários de Petrogrado.
O Soviete dos Delegados Operários e Soldados decide:
1. Que todas as companhias, batalhões, regimentos, baterias, esquadrões e serviços anexos dos
vários departamentos militares e a bordo dos navios das comitivas navais, devem ser
imediatamente eleitos a partir dos representantes daqueles que fazem parte das citadas
unidades.
2. Que em todas unidades que ainda não tiverem eleito seus representantes para o Soviete dos
Delegados Operários, um representante de cada companhia será eleito. Todos os
representantes, portando um cartão de identidade apropriado, devem dirigir-se ao prédio da
Duma do Estado às 10 horas da manhã no dia 2 de março de 1917.
3. Em todas as suas ações políticas, as unidades estarão subordinadas ao Soviete dos Delegados
Operários e Soldados e aos seus respectivos comitês.
4. Todas as ordens dadas pela Comissão Militar da Duma do Estado deverão ser executadas, com
exceção daquelas que contrariem as ordens e os decretos emitidos pelo Soviete dos Delegados
Operários e Soldados.
5. Todas as armas, a dizer, rifles, metralhadoras, carros blindados, entre outros, deverão ser
colocados à disposição e sob o controle dos comitês das companhias e batalhões e não devem,
de forma alguma, ficar sob o controle dos oficiais, nem mesmo se eles insistirem.
6. Quando em formação e em serviço, os soldados deverão observar a estrita disciplina militar;
contudo, fora de serviço e de formação, em sua vida política, cívica e privada, os soldados
deverão usufruir dos direitos garantidos a todos os cidadãos. Em particular, o cumprimento e
as saudações obrigatórias feitas fora de serviço estão, portanto, canceladas.
7. Da mesma forma, os oficiais devem ser tratados com pronomes como sr. General, sr. Coronel,
etc, ao invés de Vossa Excelência, Vossa Graça, etc. Ser grosseiro para com os soldados
qualquer que seja a hierarquia e, em particular, dirigir-se a eles por “tu” é, portanto, proibido.
Qualquer violação dessa regra e todos os casos de mal-entendidos entre oficiais e soldados
deverão ser reportados por estes aos comitês das companhias.
Essa ordem deverá ser lida em todas as companhias, batalhões, regimentos, tripulações, baterias
e outros anexos combatentes e não-combatentes.
3
Soviete dos Delegados Operários e Soldados
1.3 Memórias de Alexander Shlyapnikov, Semnadtsatyi god (O ano de 1917) Vol.2, p.185
"15 de março, o dia da aparição do primeiro número do ‘Pravda reformado’, foi um dia de triunfo
para os ‘defensistas’. Todos, no Palácio Tauride, dos membros do Comitê da Duma ao Comitê
Executivo, o próprio coração da democracia revolucionária, regozijavam sobre essa notícia – a vitória
dos bolcheviques moderados e razoáveis contra os extremistas. No próprio Comitê Executivo, nós
encontramos vários sorrisos traiçoeiros. Foi a primeira e única vez que o Pravda ganhou elogios de
‘defensistas’ do pior tipo. Nas fábricas, essa edição do Pravda gerou estupefação entre os aderentes e
simpatizantes de nosso partido, mas também a maldosa satisfação de nossos inimigos. No Comitê de
Petrogrado, no Escritório do Comitê Central e na equipe editorial do Pravda, muitas questões
surgiram. O que estava acontecendo? Por que nosso jornal abandonou a política bolchevique para
seguir os ‘defensistas’? Mas o Comitê de Petrogrado foi pego de surpresa, como toda a organização,
pelo golpe dado e ficou profundamente insatisfeito, acusando o Comitê Central. A indignação nos
subúrbios operários era muito forte e, quando os proletários souberam que três dos antigos editores
do jornal recém egressos da Sibéria tinham tomado conta do Pravda, eles exigiram sua imediata
expulsão do partido”.
1.4 26 de março, Editorial do Izvestiia sobre a Questão Agrária
O Governo Provisório começou a preprar materiais para a resolução da questão agrária.
Esse trabalho foi confiado ao Ministério da Agricultura. Um comitê especial está sendo
estabelecido sob sua tutela e designado para coletar os dados necessários para uma discussão final
sobre essa questão na Assembleia Constituinte.
Não há dúvidas que o crescimento da anarquia é, no atual momento, uma ameaça muito
perigosa para a revolução. Se os camponeses começarem a botar fogo nas mansões rurais dos
grandes proprietários de terra, se os operários seguirem quebrando as suas máquinas, se os soldados
voltarem suas armas contra os oficiais, se ações dessa natureza começarem a ocorrer por todos os
lados, então a liberdade russa, que ainda não é muito forte, será afogada em sangue.
Assim, para consumar a revolução, é necessário empregar todas nossas forças na preservação
de um curso regulado para a vida econômica.
A democracia está destruindo as velhas formas de vida política e estatal. Esse é o primeiro
estágio da revolução.
Ao sujeitar o poder do Estado ao seu controle, a democracia está sistematicamente criando as
mudanças necessárias no campo das relações econômicas. E esse é o segundo estágio da revolução.
Não será por meio de violência, incêndios ou assassinatos, de medidas arbitrárias, que o povo
livre atingirá o que deseja, mas [ao contrário], por meio de uma voz prenhe de autoridade que será
ouvida para além dos muros da Assembleia Constituinte, eleita por todo o povo. E, dessa forma, a
questão agrária será resolvida.
A propriedade de terra dos latifundiários é carne e sangue do czarismo. Por trezentos anos,
os Romanov doaram direitos fundiários para seus sicofantas. Essas terras foram transferidas e
herdadas, subdivididas e concentradas em grandes propriedades. E por todo esse tempo, a terra foi
fertilizada pelo suor dos camponeses e por todo esse tempo, a nobreza colheu fortunas às suas custas.
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Chegou o momento das pessoas recuperaram o que é delas por direito. No momento em que a coroa
caiu da cabeça do último Romanov – nessa hora, o último badalar de sino ressoou para toda a nobreza
fundiária russa.
Não apenas os interesses do campesinato, mas os interesses de toda a democracia russa
exigem que as propriedades da nobreza sejam confiscadas e transferidas para o Estado democrático.
Dessa forma, a liberdade russa poderá ser garantida e a oportunidade para reagir, a oportunidade
para que a Rússia retorne à forma monárquica de governo, irá acabar. A vida russa será reconstruída
em grande velocidade, diante de nossos olhos. A um mês atrás, a demanda “toda a terra para o povo”
parecia um distante.
Mas alguns meses passarão e esse sonho, também, irá tornar-se realidade.
O povo receberá toda a terra.
Mas isso deverá ser feito de tal forma que a transferência de terras para o povo seja feita de
forma completamente ordeira, para que os interesses da Rússia livre não sejam atingidos. E, mesmo
assim, seguimos com pouco pão. E se formos resolver a questão agrária sem a devida ordem, quando
chegar o outono, faltará pão em todas as cidades...
1.5 27 de março, Chamada do Soviete de Petrogrado aos Povos do Mundo (Izvestiia, 28 de
março)
Camaradas proletários e trabalhadores de todos os países:
Nós, os trabalhadores e soldados russos, reunidos no Soviete dos Delegados Operários e
Soldados de Petrogrado, mandamos a vocês nossas calorosas saudações e anunciamos um grande
evento.
A democracia russa hoje se concretiza sob as cinzas do duradouro despotismo do Czar e entra
nessa família de nações como uma igual, e como uma poderosa força na luta por nossa libertação
comum. Nossa vitória é uma grande vitória pela liberdade e democracia no mundo. O grande pilar da
reação, o “Gendarme da Europa”, não mais existe. Que a terra lhe seja dura! Vida longa à liberdade!
Vida longa à solidariedade internacional do proletariado e sua luta rumo à vitória final!
A nossa tarefa, contudo, ainda não terminou: as sombras da velha ordem ainda não foram
dispersadas e muitos inimigos estão consolidando suas forças contra a Revolução Russa. Ainda assim,
nossa conquista até agora tem sido tremenda. O povo da Rússia irá expressar sua vontade na
Assembleia Constituinte, que será convidada tão logo for possível e com base no voto universal,
igualitário, direto e secreto. E já pode ser dito, sem qualquer dúvida, que uma República Democrática
irá triunfar na Rússia. O povo russo agora possui total liberdade política. Eles podem agora afirmar
seu imenso poder perante o governo de seu país em assuntos internos e externos. E, apelando a todos
os povos que estão sendo destruídos e arruinados por essa guerra monstruosa, nós anunciamos que
chegou a hora para começarmos uma luta decisiva contra as terríveis ambições dos governos de
todos os países; chegou a hora para que o povo tome em suas próprias mãos a decisão acerca da
guerra e da paz.
Consciente de seu poder revolucionário, a democracia russa anuncia que irá, por todos os
meios possíveis, resistir à conquista das classes dominantes e clama aos povos da Europa por uma
ação direcionada e decisiva a favor da paz.
Nós estamos apelando aos nossos irmãos-proletários da coalizão Austo-Alemã e,
principalmente, ao proletariado alemão. Desde os primeiros dias de guerra, asseguraram a vocês que
ao pegarem em armas contra a autocrática Rússia, vocês estavam defendendo a cultura da Europa
5
contra o despotismo asiático. E muitos de vocês viram nisso uma justificativa para o apoio que era
dado à guerra. Mas agora, essa justificativa não mais existe: a Rússia democrática não pode mais ser
uma ameaça à liberdade e à civilização.
Nós iremos firmemente defender nossa própria liberdade de todas as iniciativas reacionárias,
sejam elas internas ou externas. A Revolução Russa não irá se acovardar diante das baionetas dos
conquistadores e não se permitirá ser esmagada pela força militar estrangeira. Mas nós apelamos à
vocês: arrebentem com as correntes semi-autocráticas que lhes prendem assim como o povo russo
libertou-se da autocracia czarista; recusem-se a servir como instrumento de conquista e violência
nas mãos de reis, latifundiários e banqueiros e, então, por nossos esforços unificados, iremos acabar
com essa terrível matança, que tanto desgraça a humanidade e que macula os grandes dias do
nascimento da liberdade russa. Trabalhadores de todos os países: nós estendemos a vocês a mão da
fraternidade por sobre as montanhas dos cadáveres de nossos irmãos, passando pelos rios de sangue
e lágrimas de inocentes, por sobre as ruínas fumegantes de cidades e aldeias, sobre os escombros dos
tesouros da civilização; nós apelamos a vocês pelo restabelecimento e fortalecimento da unidade
internacional. Nisso tudo reside o nosso apelo para vitórias futuras e para a completa libertação da
humanidade. Proletários de todo o mundo: uni-vos!
SOVIETE DOS DELEGADOS OPERÁRIOS E SOLDADOS
Seção 2: A ‘nota de Miliukov e a crise de abril
2.1 21 de abril, Rabochaia Gazeta (jornal Menchevique) sobre a nota de Miliukov
No dia 18 de abril, no dia que a democracia russa proclamou a fraternidade internacional dos
povos e chamou as democracias do mundo para unirem-se numa luta pela paz, nesse mesmo dia, ela
foi apunhalada nas costas pelo Governo Provisório. Nesse mesmo dia, o Ministro do Exterior emitiu
uma nota para os governos dos Aliados por meio de seus embaixadores. E nessa nota ele
inequivocadamente afirmava que era inválida declaração do Governo Provisório aos cidadãos russos
no dia 27 de março, repudiando todos os atos de agressão.
...
Nós estávamos enfaticamente contra o tipo de guerra civil que defendiam os seguidores de
Lenin. Mas agora, o sinal para o início da guerra civil não veio dos que aderem à Lenin; ele vem do
Governo Provisório, por meio de um ato público que é um verdadeiro deboche sobre as aspirações
da democracia. Esse é verdadeiramente um ato de loucura e que imediatamente exige ações firmes
por parte do Soviete dos Delegados Operários e Soldados para que se possa prevenir suas terríveis
consequências.
2.2 21 de abril, Aceitação Executiva do Soviete acerca da nota suplementar do Governo
O Comitê Executivo procedeu à discussão sobre as declarações do camarada Tsereteli sobre
os esclarecimentos expedidos pelo Governo Provisório acerca de sua nota no dia 18 de abril.
Por uma maioria de 34 votos contra 19, o Comitê Executivo passou uma resolução na qual
considera que, após os esclarecimentos do Governo, o incidente associado à nota de 18 de abril está
encerrado. Os seguintes princípios foram adotados para orientação: 1) o Comitê Executivo considera
que é necessário adotar medidas resolutas de uma vez por todas para aumentar seu controle sobre
as atividades do Governo Provisório e, principalmente, sobre as atividades do Ministro do Exterior;
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2) nenhuma grande ação política deve ser publicada sem antes notificar o Comitê Executivo; 3) o
contingente dos corpos diplomáticos russos no exterior devem passar por uma mudança radical.
2.3 22 de abril: CONVOCATÓRIA DO COMITÊ EXECUTIVO DO SOVIETE DOS DELEGADOS
OPERÁRIOS E SOLDADOS A TODOS OS CIDADÃOS (Izvestiia, 23 de abril)
CIDADÃOS!
No momento em que o destino de nosso país está sendo decidido, cada passo precipitado é
perigoso. A manifestação contra a infame nota do ministério das relações exteriores do Governo
acabou gerando confrontos nas ruas. Há mortos e feridos. Em nome da luta para proteger a revolução
dos perigos que lhe ameaçam, nós apelamos e imploramos a vocês que Fiquem Calmos, Mantenham
a Ordem e Observem a Disciplina.
O Soviete dos Delegados Operários e Soldados está deliberando sobre essa situação. Nós
acreditamos que o Soviete irá encontrar uma forma de comum resolução a vocês. E nesse meio
tempo, não deixem que ninguém perturbe a vida pacífica na Rússia livre.
CAMARADAS SOLDADOS!
Nesses dias de excitação, não deixem que ninguém saia às ruas armado, a menos que tenha
ordem expressa do Comitê Executivo. Apenas o Comitê Executivo tem o direito de lhes dar ordens.
Cada ordem dada para que o Exército aja (exceto em termos rotineiros), deve vir acompanhada de
uma página do Comitê Executivo, carimbada e assinada por pelo menos dois nomes dos sete aqui
citados: Chkheidze, Skobelev, Binasik, Filipovski, Skalov, Goldman e Bogdanov. Confirmem cada
ordem recebida ligada para o telefone 104-06.
CAMARADAS, TRABALHADORES E MILÍCIAS!
Suas armas são a proteção da revolução. Vocês não precisam delas para as manifestações ou
comícios. Em tais ocasiões, elas são perigosas à causa da liberdade. Quando vocês forem em
manifestações ou demonstrações, não levem suas armas.
O Comitê Executivo pede a todas organizações para que lhe auxiliem na manutenção da paz e
da ordem.
Nenhum tipo de força de um cidadão contra outro será permitida na Rússia livre.
As perturbações ajudam apenas os inimigos da revolução e aqueles que a cometerem, serão
então um inimigo do povo.
COMITÊ EXECUTIVO DO SOVIETE DOS DELEGADOS OPERÁRIOS E SOLDADOS
2.4 22 de abril, o Izvestiia escreve sobre as manifestações
No dia 21 de abril, infindáveis manifestações ocorreram nas ruas de Petrogrado, resultado do
conflito entre o Soviete dos Delegados Operários e Soldados e o Governo Provisório.
As inscrições nos cartazes e nas bandeiras testemunham o fato de que os manifestantes
tinham diferentes interpretações sobre o momento atual.
Havia faixas expressando completa confiança no Soviete, mas havia também faixas apoiando
completamente o Governo Provisório.
As inscrições que expressavam a atitude dos manifestantes acerca da guerra eram tão
divergentes quanto. Aqui, todo tipo de slogans eram gritados, desde “Guerra até a vitória final!” até
“Abaixo à guerra!”.
7
As manifestações variavam não apenas de acordo com suas palavras de ordem, mas também
em sua composição de classe. Havia um nítido contraste entre as manifestações de operários e as
manifestações das classes abastadas. Esse contraste entre as aspirações dos manifestantes revelou a
totalidade de quão grave é o conflito entre o Soviete dos Delegados Operários e Soldados com o
Governo Provisório.
Esse tema dividiu Petrogrado em dois campos opostos. Mas a maneira pela qual essa divisão
ocorreu revela o quanto os cidadãos russos estavam desacostumados com a liberdade na luta política.
Numa época quando, ciente de toda sua responsabilidade, o Comitê Executivo do Soviete
estava lidando com toda a gravidade do momento e tentando achar uma solução para essa situação,
muitos de seus apoiadores estavam nas manifestações defendendo bandeiras e palavras de ordem
que não correspondem aos objetivos do Soviete.
O Soviete estava tentando forçar o Governo a tomar certos passos definitivos no campo da
política externa. Mas ao lutar com o Governo nesse ponto, o Soviete não estava tentando tomar o
poder. E enquanto isso, muitas bandeiras dos apoiadores do Soviete levavam inscrições exigindo a
derrubada do Governo e a transferência de todo poder ao Soviete.
Da mesma forma, o Governo Provisório, ao perceber que a completa ruptura com o Soviete
iria afundar o país num abismo de anarquia, passou a tentar encontrar formas de satisfazer a
demanda dos representantes democráticos, ainda que considerasse que essas demandas eram
onerosas e difíceis. E nesse meio tempo, as bandeiras dos apoiadores dos Sovietes carregavam
dizeres que inflamavam as paixões e estimulavam a raiva dos trabalhadores.
O perigo aumentou graças a uma característica das manifestações do dia 21 de abril. Parte dos
manifestantes estava armada. E esses manifestantes armados estavam tanto do lado dos apoiadores
dos Sovietes quanto dos apoiadores do Governo. O resultado disso foi que o dia 21 de abril acabou
manchado por eventos lamentáveis e terríveis. Os conflitos ocorreram entre manifestantes operários
e manifestantes burgueses. Armas de fogo foram usadas e na confusão que decorreu, tiros foram
disparados contra a multidão.
...
Qualquer um que desobedeça às decisões do Soviete que aqui são publicadas é, hoje, um
inimigo da revolução e um inimigo do povo.
2.5 22 de abril, o Pravda, Lições da Crise (de Lenin)
… Petrogrado e toda a Rússia estão passando por uma série crise política, a primeira crise
política desde a revolução.
No dia 18 de abril, o Governo Provisório emitiu sua infeliz e infame nota, que claramente
confirmou seus objetivos predatórios belicosos o suficiente para aumentar a indignação das massas,
que honestamente acreditavam no desejo (e na habilidade) dos capitalistas em “renunciar à política
de anexações”. Nos dias 20 e 21 de abril, Petrogrado estava em caos. As ruas estavam cheias; dia e
noite, grupos de pessoas se levantaram e reuniões de vários tamanhos começaram a surgir por toda
a parte; grandes procissões nas ruas e manifestações seguiram ininterruptamente. Ontem à noite, no
dia 21 de abril, a crise (ou, de certa forma, a primeira etapa da crise) chegou ao seu fim com a ação
do Comitê Executivo do Soviete dos Delegados Operários e Soldados e, mais tarde, do próprio Soviete,
que se declarava satisfeito com as “explicações”, com as notas suplementares e com as “elucidações”
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feitas pelo governo (que, de fato, se resumem a frases vazias, dizendo absolutamente nada, mudando
nada e se comprometendo à nada). Eles consideram o “incidente encerrado”.
...
A burguesia tomou a Nevsky Prospekt – ou Miliukov Prospekt, como chamou um dos jornais –
e os quarteirões adjacentes da próspera Petrogrado, a Petrogrado dos capitalistas e dos burocratas
do governo. Oficiais, estudantes e as “classes médias” demonstraram seu apoio ao Governo
Provisório. Dentre as suas palavras de ordem, “Acabem com Lenin” frequentemente aparecia nas
bandeiras.
O proletariado organizou-se em seus próprios centros, nos subúrbios operários, a partir de
slogans e apelos do Comitê Central do Partido. Nos dias 20 e 21 de abril, o Comitê Central adotou
resoluções que imediatamente foram passadas ao proletariado por meio das organizações
partidárias. Os trabalhadores emergiram nos distritos menos centrais e, então, em grandes grupos
dirigiram-se à Nevsky. Pelo seu caráter de massa e de solidariedade, essas manifestações eram bem
diferentes daquelas feitas pela burguesia. Muitas bandeiras carregavam a inscrição “Todo poder ao
Soviete dos Delegados Operários e Soldados”.
Na Nevsky teve confrontos. As “hostis” manifestações atacaram uma às bandeiras das outras.
O Comitê Executivo recebeu notícias pelo telefone de que vários lugares estavam tendo tiroteios, de
que havia mortos e feridos; mas a informação era bastante contraditória e não fora confirmada.
A burguesia gritava sobre o “espectro da guerra civil”, expressando, portanto, o seu medo de
que as massas, a verdadeira maioria da nação, pudessem o poder. Os líderes pequeno-burgueses do
Soviete, os Mencheviques e os Narodniks – que desde a revolução e durante essa crise em particular,
não tiveram uma política partidária definitiva – acabaram se deixando ser intimidados. No Comitê
Executivo, quase metade dos votos foram dados contra o Governo Provisório na noite logo após a
crise, mas agora, 34 votos (com 19 contrários) foram dados para retomar a política de confiança e
acordo para com os capitalistas. E o incidente foi então considerado “encerrado”.
A lição está clara, camaradas trabalhadores! Não há tempo a perder. A primeira crise será
seguida por outras. Vocês devem devotar todos seus esforços para esclarecer os atrasos, para fazer
contato direto, extensivo e fraterno (não apenas nas reuniões) com cada regimento e cada grupo de
operários que ainda não abriram seus olhos! Todos os seus esforços devem ser devotados à
consolidação de nossas próprias fileiras, à organização dos trabalhadores de baixo para cima,
incluindo cada distrito, cada fábrica, cada bairro da capital e de seus subúrbios! Não sejam enganados
por aqueles da pequena-burguesia que se “comprometem” com os capitalistas, por defensistas e por
seus “apoiadores”, nem por indivíduos que apressadamente gritam “Abaixo o Governo Provisório!”
antes de conseguirmos unificar solidamente a maioria do povo. Essa crise não pode ser superada
através da violência praticada por indivíduos contra outros indivíduos, por ações locais de pequenos
bandos armados, por tentativas blanquistas de “tomar o poder”, de “prender” o Governo Provisório,
etc.
…
Seção 3: A ofensiva de Kerensky e as manifestações de junho
3.1 6 de maio, o ataque do Izvestiia ao apelo do Pravda por fraternização
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Desafiando o apelo decisório do Soviete dos Delegados Operários e Soldados para que os
soldados no front parem com a fraternização, o jornal Pravda está pedindo para que os soldados
continuem a fraternizar.
O jornal Pravda está tentando sabotar a confiança que os soldados possuem no Soviete. E para
isso, está atribuindo falsas palavras ao Soviete quando esse colocou-se contrário à “fraternização”.
O Soviete dos Delegados Operários e Soldados sabe perfeitamente bem que aqueles que vão
“fraternizar” não são traidores, mas sim pessoas cansadas, esgotadas de lidar com o sofrimento da
guerra. O Soviete sabe que a fraternização não é resultado da agitação dos leninistas, mas [ao invés
disso] o cansaço oriundo da guerra e as aspirações dos soldados por paz.
E o Pravda acaba errando quando ele avança nesses argumentos contra o Soviete, defendendo
a “fraternização”. O ponto não é o que causa essa “fraternização”, mas sim, para onde ela nos leva? E
ela leva ao colapso do Exército.
A “fraternização” é uma trégua unilateral feita por seções individuais do front. Com as
fraternizações, um Exército integrado poderoso rapidamente se desintegra em regimentos e
companhias individuais. Cada unidade militar começa a pensar somente em si mesma. O sangue
fraternal é derramado nas seções adjacentes no front; em meio às batalhas, um grupo sai das
trincheiras na esquerda, outro na direita e enquanto isso, negociações de paz estão sendo conduzidas.
Será esse o caminho para uma paz universal?
Não! Nós devemos agir enquanto um Exército unido, enquanto um povo unido! Nós não
podemos permitir que os operários e camponeses da França e da Inglaterra nos vejam como
traidores só porque alguns pequenos grupos em separado estão fraternizando com o inimigo.
O jornal Pravda propõe para que se façam “fraternizações organizadas”. Essa proposta é
obviamente contraditória. “Fraternizações organizadas” só podem ocorrer após ser concluída a paz
universal. E é por esse caminho que o Soviete dos Delegados Operários e Soldados está levando a
Rússia. Mas para conseguir atingir essa paz universal, o front deve ser defendido com armas em
punho. E os fraternizadores estão arruinando nossas defesas!
Camaradas soldados!
Um Exército em que cada soldado age como quer, vai onde quer e fraterniza com quem quer,
é um mau Exército. Se você acredita no seu Soviete, então jure atender ao seu apelo para que parem
de “fraternizar”!
O Soviete recorre a vocês com esse apelo pelo bem de proteger o Exército, pelo bem de
proteger a revolução. Mostrem que nessa questão, como em todas as outras que surgiram até então,
vós ireis unanimemente, como um corpo só, seguir o seu Soviete!
3.2 10 de junho, Izvestiia: A proibição do Soviete à manifestação [de 10 de junho] e os apelos
aos operários e soldados para que não atendam ao chamado dos bolcheviques
O Partido Bolchevique chama vós a ir às ruas.
Esse apelo está sendo preparado sem o reconhecimento do Soviete dos Delegados Operários
e Soldados e sem o reconhecimento do Soviete dos Delegados Camponeses, bem como sem o
reconhecimento de todos os demais partidos socialistas. Ele foi expedido justamente nesse momento
alarmante, quando o Congresso de Toda a Rússia avisou aos camaradas trabalhadores do distrito de
Vyborg que qualquer manifestação, nos dias de hoje, causa muitos danos à causa da revolução [o caso
da dacha de Durnovo].
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Camaradas, em nome de milhões de trabalhadores, camponeses e soldados, tanto na
retagurda quanto no front, nós dizemos a vós:
NÃO FAÇAM AQUILO QUE PEDEM QUE VOCÊS FAÇAM.
Nesse momento alarmantes, vós sois chamados para as ruas para fazer demandas em prol da
derrubada do Governo Provisório, o pilar no qual o Congresso de Todas a Rússia recentemente
reconheceu ser essencial. Aqueles que os chamam, não podem saber que suas manifestações pacíficas
podem gerar desordens sangrentas. Sabendo de sua lealdade, nós lhes dizemos:
Vós estais sendo chamados para manifestar-se em prol da revolução.
Mas nós sabemos que contrarrevolucionários à espreita querem lucrar com sua manifestação.
…
Quando um perigo contrarrevolucionário ameaçar à liberdade russa, então nós os
chamaremos.
Manifestações desorganizadas, contudo, levam ao declínio da revolução.
CONSERVEM SUAS FORÇAS, PERMANEÇAM UNIDOS COM TODA A RÚSSIA
REVOLUCIONÁRIA.
3.3 18 de junho, no Izvestiia: O QUE TODO PARTICIPANTE NA MANIFESTAÇÃO DE HOJE
DEVE LEMBRAR-SE?
1. Que o objetivo da manifestação é mostrar a unidade das forças revolucionárias;
2. Que a manifestação deve ser um testemunho da aspiração da democracia revolucionária em
prol da paz universal;
3. Que sua palavra de ordem deve ser: pela Assembleia Constituinte e rumo a uma república
democrática;
4. Que a manifestação deve ser pacífica;
5. Que, portanto, é tarefa de cada cidadão nesse dia evitar todo tipo de desordem;
6. Que é tarefa de todos, sem exceção, vir à manifestação sem portar armas.
3.4 18 de junho, a manifestação de acordo com as memórias de Sukhanov, The Russian
Revolution, 1917. p. 417.
...Havia um clima metódico em toda a manifestação. Mas ela tinha um tamanho magnificente.
Todos operários e soldados de São Petersburgo estavam ali.
Mas qual foi o caráter político da manifestação? “Bolcheviques de novo”, eu registrei, olhando
para as inscrições nos cartazes e, atrás de mim, havia outra coluna de bolcheviques.
“Aparentemente o grupo da frente também é”, e fiquei calculando, olhando as faixas que
avançavam em minha direção em infindáveis colunas, em direção ao Castelo Mikhailovsky, rumo ao
hotel Sadovoy. “Todo poder aos sovietes!” “Abaixo o ministério dos dez capitalistas!” “Paz para nós,
guerra aos senhores!” E dessa forma taxativa, camponeses e operários em São Petersburgo, a
vanguarda da revolução russa e mundial, expressavam seus desejos. A situação era absolutamente
clara. Em toda a parte, grandes grupos com bandeiras e estandartes bolcheviques eram
interrompidos por alguma palavra de ordem dos SRs ou do Soviete. Mas eles logo eram engolidos
pela massa; eles pareciam ser exceções que inintencionalmente confirmavam a regra. De novo e de
novo, como a incessante evocação vinda da capital revolucionária, como o próprio destino, como a
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fatal floresta de Birnam – eles avançavam em nossa direção e gritavam “Todo poder aos sovietes!”
“Abaixo o ministério dos dez capitalistas!”.
… À luz do avanço combinado das colunas de lutadores daquele exército revolucionário,
parecia que a Coalizão já estava formalmente liquidada e que os governantes e ministros, diante da
desconfiança popular manifesta, iriam renunciar de seus postos naquele mesmo dia sem esperar que
meios mais violentos fossem usados. Eu lembrei do terrível fervor cego de Tsereteli na noite anterior.
Aqui estava o duelo em uma arena aberta! Aqui estava uma análise honesta e legal da correlação de
forças na manifestação oficial dos Soviete!
3.5 25 de junho, no Izvestiia: ATAQUE AOS MEMBROS DO EXECUTIVO DO SOVIETE
No dia 17 de junho, o Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado e o Congresso de Toda as
Rússia, receberam telegramas vindos do front ocidental, pedindo aos delegados para comparecerem
ao 10º Exército para conferência com certas unidades militares. De acordo com esse pedido, o Comitê
Executivo delegou essa tarefa a R. S. Verbo, A. A. Rosenberg, N. D. Sokolov e F. G. Iasaitis.
No dia 19 de junho, a delegação chegou ao seu destino e conversou com o Comitê do Front e
com o Comando. Foi registrado que certas unidades do Exército tinham se desligado dos órgãos
centrais da Rússia democrática... e haviam se recusado a obedecer ordens... Eles declararam que não
iriam participar de nenhuma ofensiva e nem mesmo obedecer as ordens que pudessem preparar
para tal ofensiva. Eles apresentaram como motivo o fato de que a ofensiva contradiz a ideia de uma
guerra defensiva, pelas quais a democracia russa defendia.
O Comitê do Front havia tomado medidas para explicar a essas pessoas o ponto de vista da
democracia russa. Durante as últimas semanas, membros do Comitê visitaram inúmeros regimentos.
E na maioria dos casos, as visitas foram coroadas com sucesso, mas em outros, os membros do Comitê
contaram que os soldados não reconheceram sua autoridade, nem a do Soviete de Petrogrado, ou
mesmo do Ministério da Guerra, e recusaram-se a participar da ofensiva. Eles não pretendiam morrer
enquanto havia liberdade na Rússia e a chance de enfim, ter alguma terra. Ao concluir seu relatório,
o Comitê enfatizara o fato de que a situação dos regimentos 703 e 704 parecia irremediável. ...
Também havia sido reportado que durante o período da “fraternização”, membros desses regimentos
costumavam visitar os alemães e eram visitados por eles, e que havia razões para acreditar que um
certo número de alemães estava agora nos regimentos 703 e 704, vestidos como soldados russos,
mas era difícil saber dos verdadeiros fatos, dada a falta de disciplina desses regimentos...
A delegação de Petrogrado decidiu ir... ao regimento 703... O regimento reuniu-se num campo
aberto... por volta das oito horas da noite [de 20 de junho], Sokolov falou por uma hora e Verbo, a
seguir, por quarenta minutos. ... Nenhum desses discursos foi bem recebido, mas havia ordem e eles
prestavam atenção. Depois do delegado Iasaitis ter feito algumas considerações, dois dos oradores
locais fizeram pequenas réplicas e foram aplaudidos. O último desses oradores, terminou sua fala
com estas palavras: “Nós já chegamos ao acordo entre nós de não participar da ofensiva e aqui vem
esses oradores exigir que obedeçamos às ordens de Kerensky. E daqui, eles irão para outras partes
do front. Nós não devemos permitir isso. Vamos prendê-los. E eu serei o primeiro a fazer isso. Ao
dizer isso, ele tirou seu capacete metálico e atingiu Verbo na cabeça... desmaindo-o... Ele então atacou
Sokolov. Os outros, seguindo o seu exemplo, atacaram Sokolov e o espancaram na cabeça até que ela
estivesse coberta de sangue... Disso surgiu a questão sobre o que fazer com os delegados.
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Alguns sugeriram que eles fossem afogados; outros, fuzilados; outros, enforcados. ... Nesse
meio tempo, os quatro delegados foram arrastados para um prédio do quartel general, onde a
questão do que fazer com eles novamente voltou a ser discutida. ... Foi então decidido que eles seriam
presos temporariamente. ... Essas discussões se arrastaram ainda até às duas da manhã.
Por volta das cinco da manhã, uma delegação vinda do regimento N, onde Sokolov era
conhecido, chegou ali. E tão logo eles chegaram e souberam o que aconteceu, eles convocaram uma
reunião e avisaram o 703º regimento que ou eles libertavam aqueles homens, ou então eles viriam
armados e libertariam eles mesmos. Enquanto o 703 estava deliberando, um ultimato semelhante
chegou de outro regimento e, logo em seguida, de toda a 7ª Divisão. Finalmente, uma comitiva de
delegados do 704º regimento chegou e expressou sua indignação para com o ocorrido e, diante disso,
os delegados do Soviete de Petrogrado foram soltos.
Seção 4: A semi-insurreição dos dias de julho
4.1 3 de julho, Resolução da Seção Operária do Soviete de Petrogrado
Em vista da crise do governo, a Seção Operária considera que é necessário insistir que
Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia dos Delegados Operários, Soldados e Camponeses tome o
poder. A Seção Operária se coloca à disposição para promover esse objetivo com toda a sua força e
espera obter o apoio a essa política da Seção dos Soldados. A Seção Operária seleciona uma comissão
a ser encarregada a agir em seu nome perante Petrogrado e o Comitê Executivo dos Sovietes de Toda
a Rússia. Todos outros participantes nessa reunião irão aos distritos informar os operários e
soldados da decisão e, permanecendo em contato constante com a comissão, irão tentar dar ao
movimento um caráter organizado e pacífico.
4.2 4 de julho, das memórias de N. N. Sukhanov, The Russian Revolution, 1917, p. 444-446.
Por volta das 4 horas da tarde, de acordo com os boatos, o número de pessoas feridas ou
mortas já chegava às centenas. Cavalos mortos estavam em toda a parte...
Por volta das 7 horas, …de repente, uma notícia bombástica chegava à reunião: os homens da
fábrica Putilov tinham chegado, 30.000 deles, comportando-se de maneira extremamente agressiva;
alguns deles tinham invadido o palácio procurando Tsereteli, que naquele momento não estava no
salão. Dizia-se que eles tinham buscado todo o palácio e não haviam o encontrado. O salão estava
cheio de excitação, burburinhos e frenéticos gritos. Foi aí que um grupo de cerca de quarenta
operários, muitos deles armados, irrompeu tempestuosamente. Os deputados saíram de seus
assentos. Alguns não conseguiram demonstrar a coragem adequada e autocontrole.
Um dos operários, um clássico sans-culotte, de boné e uma curta blusa azul sem cinto,
portando um rifle em sua mão, subiu no púlpito. Ele estava tremendo de excitação e raiva, gritando
estridentemente palavras incoerentes e sacudindo o seu rifle:
“Camaradas! Até quando nós operários vamos aguentar essa traição? Vocês todos estão aqui
debatendo e fazendo acordos com a burguesia, com os senhores... Vocês estão ocupados traindo a
classe trabalhadora. Pois bem, entendam que a classe trabalhadora não irá mais tolerar isso! Há aqui
entre nós 30.000 operários da fábrica Putilov. Nós vamos fazer do nosso jeito. Todo poder aos
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Sovietes! Pegaremos firmemente em armas com nossos rifles! Os seus Kerenskys e Tseretelis não vão
mais nos enganar!”.
Chkeidze, que estava na linha de tiro desses rifles, demonstrou completo autocontrole. Em
resposta às histerias daquele sans-culotte, que derramava sua famélica alma proletária, o secretário
tranquilamente desceu e entregou na trêmula mão do operário um manifesto, impresso na noite
anterior:
“Aqui, por favor pegue, camarada, leia. Diz aqui o que você e seus camaradas da Putilov devem
fazer. Por favor leia e não interrompa nossos assuntos. Tudo que é necessário está dito aqui”.
4.3 4 de julho, das memórias de F. Raskolnikov (líder bolchevique em Kronstadt) Kronstadt
and Petrograd 1917, p. 163-166
Durante a primeira fase, até os primeiros traiçoeiros disparos, a marcha dos Kronstadters
vermelhos era ordeira e poderia ser descrita como exemplar. Mas depois que as misteriosas balas
caíram sobre nossas cabeças, como se fosse um alarme a todos nós, a ordem então foi quebrada.
Nos aproximamos do Palácio Tauride seguindo algum tipo de ordem, mas era apenas relativa.
Essa circunstância permitiu que surgissem as lendas dos burgueses e dos mencheviques e SRs que
falavam que a aproximação ao prédio do Soviete de Petrogrado tinha sido coisa de bandos
indisciplinados, compostos por uma ralé confusa. Isso, é claro, era uma mentira conscientemente
inventada e monstruosa.
… alguns dos mencheviques vieram até nós, muito agitados e disseram: “Os Kronstadters
prenderam Chernov, botaram ele num carro e o levaram para algum lugar”.
Trotsky e eu fomos ao local do incidente, falando sobre como deveríamos prevenir esse tipo
de prisão arbitrária e, a qualquer custo, conseguir soltar Chernov. Não havia diferença entre nós
nesse ponto. Quando nós chegamos à entrada, passamos por uma multidão de Kronstadters, que se
abriu perante nós e fomos direto para o carro onde Victor Chernov estava sentado, sem chapéu e
preso. O líder do partido Social-Revolucionário não conseguia esconder o medo que ele sentiu diante
da multidão, suas mãos temiam, uma coloração mórbida cobria sua face distorcida e seu cabelo
grisalho estava todo desalinhado.
… Nós podíamos sentir o imenso ódio que aqueles camponeses em uniformes de soldados e
marinheiros sentiam pelo “ministro das estatísticas”, que por todo tipo de métodos e por uma
variedade infindável de pretextos absurdos, havia atrasado e deixado de lado, na ‘Assembleia
Constituinte’, a resolução da questão agrária, que naquela época era compreendida de forma
simplista como a transferência de toda a terra para os camponeses.
…O camarada Trotsky fez um pequeno discurso mais ou menos nessa linha: “Camaradas
Kronstadters”, ele começou, “orgulho e ornamento da Revolução Russa! Eu não me permito supor
que a decisão de prender o ministro socialista Chernov foi deliberadamente sua. Tenho certeza que
nenhum de vocês é a favor dessa prisão, que nenhuma única mão será levantada para prejudicar
nossa manifestação hoje, nosso festival, nossa solene revista sobre as forças da revolução, que pede
que não haja prisões. Que é a favor da violência, por favor levante a mão”. O camarada Trotsky parou
de falar e ficou fitando os olhos da multidão ao mesmo tempo em que desafiava seus oponentes. A
multidão, ouvindo com extrema atenção àquele discurso, permaneceu paralisada em um silêncio
mortificador. Ninguém abriu a sua boca e sequer sussurraram uma palavra de objeção.
“Cidadão Chernov, você está livre”, disse Trotsky solenemente...
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4.4 6 de julho, no Izvestiia, sobre as “conquistas” do levante de julho
O órgão central da organização bolchevique, o Pravda, finalmente reagiu perante os eventos
sangrentos dos dias 3 e 4 de julho. A edição do dia 5 do Pravda, continha nela um apelo assinado pelo
Comitê Central, pelo Comitê de Petrogrado e pela Organização Militar dos Bolcheviques. Pedindo por
um fim às manifestações e para a retomada do trabalho, os bolcheviques falaram isso em seu apelo:
“a manifestação dos dias 3 e 4 atingiu seu objetivo”.
O que, então, os manifestantes dos dias 3 e 4 e seus líderes – bolcheviques – conseguiram?
Eles conseguiram a morte de 400 operários, soldados, marinheiros, mulheres e crianças.
Eles conseguiram a destruição e o saque de apartamentos e lojas privadas...
Eles conseguiram enfraquecer o nosso front…
Eles tentaram tomar o departamento de contra-inteligência, onde toda a informação acerca
da espionagem alemã está mantida – tentativa essa que, afortunadamente, não foi bem-sucedida.
Eles conseguiram que uma multidão frenética insultasse o reconhecido líder do Partido
Socialista Revolucionário, V. M. Chernov, na sua impulsiva ação de prendê-lo.
Eles conseguiram criar dissenso, uma animosidade mútua entre partes individuais de nossa
democracia...
Até agora, esses foram os resultados das manifestações dos dias 3 e 4 de julho. E se eles
constituíram o objetivo das manifestações, então os bolcheviques estão mil vezes corretos quando
dizem que as manifestações atingiram suas metas.
Mas se por um acaso, a manifestação tinha outros objetivos, se ela fora baseada no desejo de
apressar a conclusão da paz, de dar pão ao povo e de esmagar os primórdios da contrarrevolução,
então alguém teria a coragem de dizer que os dias de 3 e 4 de julho trouxeram, afinal, pão, paz e
liberdade ao povo? Os dias de 3 e 4 de julho foram um terrível golpe contra a revolução, enquanto os
contrarrevolucionários conseguiram um poderoso apoio a sua causa.
A honra e a glória de preservar [a causa da] a revolução irá, agora e sempre, pertencer a
maioria da democracia revolucionária e seus órgãos plenários, o Soviete dos Delegados Operários,
Soldados e Camponeses.
4.5 5 de outubro de 1917, testemunho no tribunal do líder do Soviete, Bogdanov
(menchevique) acerca do papel dos bolcheviques no levante de julho
O papel dos bolcheviques nas manifestações dos dias 3, 4 e 5 de julho foi, sem dúvida, negativo.
Eles deram um [sentido] ideológico, por assim dizer, a um movimento que apresentava todos os
sinais aparentes de ser suspeito, pois, a julgar pelo seu começo, ele não foi provocado por nenhum
partido político da democracia. Poderia se imaginar que o motim dos soldados armados de
metralhadoras foi provocado e organizado por agentes inimigos; poderia também se acreditar que
ele foi causado pelas intrigas dos contrarrevolucionários que se camuflaram e se disfarçaram à guisa
dos amigos do povo; apenas nos melhores casos, esse movimento dos metralhadores poderia ser
descrevido como motim, ou um levante primitivo, feito por irresponsáveis. Os bolcheviques
interviram nesse movimento. Eles lhes deram palavras de ordem e deram inclusive a benção para o
movimento. Eles esperavam atrair a simpatia da grande massa da classe trabalhadora a ele. E mais
tarde, tentaram organizá-lo. Quando o movimento se formou, rapidamente eles aderiram à palavra
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de ordem: “Todo poder aos Sovietes”; era um movimento dirigido contra o Governo Provisório e, em
primeiro lugar, contra o Comitê Executivo Central. Eu direi de forma ainda mais direta: o movimento
foi contra o Comitê Executivo Central para poder infringir um golpe indireto contra o Governo
Provisório. Isso provavelmente explica o porquê de toda ação ter acontecido no Tauride e não no
Palácio Mariinsky. Em segundo lugar, politicamente a questão central era forçar o Comitê Executivo
Central dos Delegados Operários e Soldados a reconhecer a necessidade de tomar o poder. Nesse
caso, o primeiro objetivo seria a derrubada do Governo Provisório, que seria consequência imediata.
A mais séria pressão foi organizada contra o Comitê Executivo Central. Durante esses eventos,
o Soviete dos Delegados Operários, Soldados e Camponeses estava constantemente em sessão.
Naquela hora, a Seção Operária dos delegados trabalhadores e soldados de Petrogrado estava
também em sessão. E naquela hora, muitos dos líderes do Comitê Executivo Central, ocupados com a
organização do fim dos distúrbios que estavam ocorrendo, não estavam presentes. Na Seção
Operária, os bolcheviques levantaram a questão da transferência do poder para as mãos do povo e
um comitê especial tinha sido eleito, com um propósito que não consigo entender até agora. Se isso
era um comitê para preparar a organização de um movimento que havia surgido espontaneamente,
ou se era algo criado com o propósito de exercer pressão sobre o Comitê Executivo Central do Soviete,
ou, por fim, se era uma ação da Seção Operária do Comitê Executivo para se organizar para caso a
transferência de poder recaísse sobre o Soviete dos Delegados Operários e Soldados, [eu não sei],
mas com certeza a decisão da Seção Operária na estimulada atmosfera dos dias 3 e 4 de julho
pretendia dar um significado político definitivo à rebelião dos metralhadores. Nos dias 3, 4 e 5 de
julho, outra forma de pressão sobre o Comitê Executivo Central do Soviete passou a ser organizar,
por assim dizer, vinda de “dentro”.
… Qual foi a natureza do movimento dos dias 3, 4 e 5 de julho? Eu tenho dificuldade em
apresentar uma resposta definitiva sobre isso. Eu ainda não sei se aquilo era uma rebelião armada
ou uma manifestação armada. Os sinais externos parecem indicar que aquilo era uma rebelião
armada. Para nós, que estávamos no Palácio Tauride na hora, parecia bastante óbvio. A situação então
era tal que a qualquer momento, turbas armadas poderiam irromper ali, destruir o palácio, nos
prender e nos matar se nós nos recusássemos a tomar o poder. Há muitas razões externas para tais
visões. Por outro lado, há razões para duvidar que esse movimento fosse, de fato, uma rebelião
armada. E a mais evidente delas é que essa multidão armada poderia ter nos derrubado durante esses
dias, poderia ter derrubado o Governo Provisório durante esses dias, mas eles não fizeram nada
disso, apesar de sua forte resolução e de suas fortes palavras e mesmo de ações isoladas, como no
caso da prisão de Chernov e nos tiroteios. Portanto, eu estou inclinado a caracterizar o movimento
de 3 a 5 de julho como uma manifestação armada, que tinha como propósito forçar a nós, o Comitê
Executivo Central do Soviete dos Delegados Operários e Soldados, a tomar o poder sob a pressão
direta das força física das massas e, pelo menos, garantir que o Governo Provisório fosse
desmantelado.
Apesar de todo o perigo nessa situação, nós nos recusamos a tomar o poder diante da ameaça
das baionetas e, no dia 5 de julho, à noite, nós tivemos à nossa disposição quase toda a guarnição “em
defesa do Comitê Executivo Central do Soviete dos Delegados Operários e Soldados” e “do Governo
Provisório”, os mesmos soldados que nos dias anteriores tinham se manifestado gritando a palavra
de ordem: “Todo poder aos sovietes!”.
Seção 5: A tentativa de golpe de Kornilov
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5.1 30 de agosto, no Rech’ (jornal dos Kadetes) sobre a tentativa de golpe de Kornilov.
MANDEL, David. The Petrograd Workers and the Soviet Seizure of Power. p. 244-245
No dia 30 de agosto, quando o fracasso de Kornilov já havia se tornado evidente, a primeira
página do órgão central dos Kadetes, o Rech’, tinha um espaço em branco. O editorial havia sido
apagado e fora revelado duas semanas depois: “Os objetivos de Kornilov são os mesmos que cremos
serem necessários para a salvação do país. Nós aderimos a sua formulação – nós a defendemos bem
antes de Kornilov. Sim, de fato há uma conspiração: mas ela não é contrarrevolucionária”.
5.2 31 de agosto, no Izvetsiia, sobre Kornilov
Primeiramente, é necessário conduzir a mais rigorosa, ainda que legal, investigação sobre
tramoia de Kornilov e punição exemplar deve ser aplicada a todos instigadores e participantes dela.
Os criminosos do supremo comando que não impediram [a implementação] das medidas repressivas
mais severas – incluindo a pena de morte – contra os soldados acusados de quebrar a disciplina não
devem esperar nenhum tipo de leniência.
... Se houve registros, no passado, de que todo o quadro de pânico e deserção entre nossas
forças foi, em grande medida, fabricado e exagerado, então é legítimo que agora façamos a seguinte
questão: não foi esse mesmo pânico e deserção que, em certa medida, levou às ordens criminosas do
general Kornilov e de seus auxiliares? Será que isso não entrou em seus cálculos e em suas
preparações diante da traição que planejavam já com antecedência? Um inquérito rigoroso e
desapaixonado deve ser feito para responder essa questão. Essas conclusões referem-se à liquidação
do passado. E a respeito do futuro, algo deve ser dito: é dever do Governo fazer tudo que for possível
para lotar os cargos do mais alto oficialato com pessoas que confiem na revolução, pessoas que não
se comprometeram ao participar ou mesmo flertar com a revolta. E deve fazer tudo que for possível
para que as atividades dessas pessoas excluam a possibilidade de que elas abusem da enorme
autoridade dada a eles para que defendam a terra nativa dos interesses obscuros dos
contrarrevolucionários.
Mas o que vale para o alto comando, vale também para o Governo. Ele deve absorver
representantes de todas as forças vitais do país, mas não deve haver lugar nele para representantes
de partidos que macularam sua presença diante de suas equivocadas atitudes em apoio à conspiração
contrarrevolucionária. Não há lugar no Governo para membros do Partido Kadete após eles terem
pavimentado o caminho político para o sucesso do plano de Kornilov, após terem agido como
defensores e representantes de Kornilov no momento mais perigoso para nossa terra natal e para a
revolução. Só o Governo que é clara e consistentemente revolucionário, tanto em seu programa
quanto em sua política, é capaz de instilar a necessária confiança nas massas democráticas. E nos
últimos eventos, o que tem se demonstrado é que mais uma vez as massas são capazes de proteger
os ganhos da revolução e defender nosso país contra inimigos externos.
5.3 31 de agosto, no Rech’ (Kadetes): PROVÁVEIS RESULTADOS DO CASO KORNILOV
Essa é a questão que todo mundo está se perguntando. É de comum acordo que “os
bolcheviques vão se aproveitar disso para seus próprios fins”. Eles já emitiram uma declaração de
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que a tentativa de Kornilov não foi apenas um ato seu, mas de toda a burguesia. Em sequência, os
bolcheviques chamaram os trabalhadores para declarar guerra contra os inimigos do proletariado e
da revolução. Nas ruas, pode ser vista uma multidão armada lutando contra seus pacíficos habitantes.
Nas reuniões do Soviete, os bolcheviques insistentemente exigem que seus “camaradas” sejam
libertados. Nessa conexão, geralmente se assume que tão logo o caso Kornilov for liquidado, os
bolcheviques (cuja maioria do Soviete não mais vê como traidores da revolução) irão esforçar-se ao
máximo para forçar o Soviete a aceitar ao menos uma parte de seu programa. Tanto Kokoshkin como
Nekrasov estão totalmente convencidos de que os bolcheviques farão de tudo para pressionar ainda
mais o Governo, mas o segundo crê que eles não conseguiram ter influência.
5.4 1º de setembro, discurso de Tsereteli à Assembleia Geral do Soviete de Petrogrado
O orador começou seu longo discurso sobre o qual ele falara no dia anterior, sobre as
esperanças do general Kornilov, ou seja, sobre a desintegração interna da democracia e o fraco apoio
ao governo por parte das massas. Mas a política principal do Governo Provisório, disse I. G. Tsereteli,
parece ter se mostrado absolutamente correta. Toda a democracia, o Exército inteiro e a maioria das
massas democráticas vieram em defesa desse governo.
… Não tenho dúvidas de que a conspiração liderada pelo general Kaledin será esmagada se as
massas do povo estiverem unidas como nós vimos nesses dias tão ameaçadores.
Perguntam-me, de todos os lados, por que o governo estava numa coalizão com os Kadetes.
Eu admito que essa questão me surpreende. Afinal, nós não devemos esquecer que se não todo o
Partido Kadete, ao menos suas figuras mais proeminentes apoiaram a revolução. ... Eu devo dizer que
a vitória sobre Kornilov só veio fácil porque uma grande parte da burguesia não voltou-se contra nós.
Nós, democracia, não estamos ainda tão fortes a ponto de confiarmos em nossas próprias forças. Não
subestimem essas forças e reduzam o valor das forças que tanto concordam com a gente em tantos
assuntos.
5.5 2 de setembro, no Rabochii: Apelo ao Comitê Central do Partido Operário Social Democrata
Russo, Comitê de São Petersburgo e à facção bolchevique do Soviete de Petrogrado
Camaradas, não caíam em provocações!
Na hora que os exércitos de Kornilov ainda estão longe de Petrogrado, Miliukov e Plachinsky
tentam fechar nosso jornal “Operário” e tentam barrar até mesmo o jornal “Nova Vida”.
Num momento em que Kornilov, Kaledin e outros conspiradores e contrarrevolucionários
continuam a afiar suas facas contra a revolução, o Governo Provisório solta Guchkov da prisão, um
dos principais líderes da conspiração.
Numa época em que todos os operários e soldados estão cheios de indignação contra o Partido
Kadete – amigos de Kaledin e seu grande mentor, Kerensky, eles negociam com os Kadetes e chamam
esses conspiradores para tornarem-se ministros, dando a eles os postos mais importantes nos quais
a vida e a morte de milhões de operários dependem.
Isso é um desafio direto para nós, camaradas!
Alguém por trás de Kerensky – seu velho amigo, Miliukov – quer nos levar a luta hoje, agora
mesmo, para aproveitar-se da proximidade dos exércitos de Kornilov, para derramar o sangue dos
operários de São Petersburgo e dos marinheiros de Kronstadt e Vyborg.
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Agora ficou claro a todos que o plano de Kornilov era fazer com que os trabalhadores fossem
chamados às ruas no último domingo. Esse plano fracassou. Agora eles querem tentar novamente
sob novas circunstâncias.
Não vai acontecer, camaradas! Esses provocadores ficaram desapontados ao ver seus planos
frustrados. A conspiração de Kornilov ainda não foi liquidada. Os conspiradores bateram em retirada
para que amanhã, com a ajuda da burguesia, eles possam novamente atacar a revolução. Os
conspiradores deliberadamente fingem que estão rendidos. Nós devemos ficar vigilantes, alerta, mas
nós não cederemos à provocação, nós não lutaremos contra eles, como querem nossos inimigos.
A política do apaziguamento com a burguesia entrou em colapso. O fracasso de Kornilov será
também o fracasso dessa política. Os kornilovistas explícitos, ou não, agora sabem e eles ousam não
dispersar os comitês militares. Depois dos dias de Kornilov, muitos dos soldados passarão para o
nosso lado. A pena de morte fracassou. E é por isso que eles precisam nos chamar para a luta de novo,
para novamente criar alguma base para o seu conto de fadas sobre “conspirações bolcheviques”...
Seção 6: A Revolução de Outubro
6.1 9 de setembro, no Soviete de Petrogrado. TROTSKY, Leon. História da Revolução Russa. p.
577 a 587 (edição inglesa)
A predominância do Partido Bolchevique no Soviete de Petrogrado foi dramaticamente
confirmada na histórica sessão de 9 de setembro. Todas as facções tinham organizado diligentemente
seus membros: “é sobre a questão do destino dos Sovietes”. Cerca de mil delegados soldados e
operários se reuniram. O voto no dia 1 de setembro tinha sido um mero episódio causado pela
constituição acidental daquela sessão, ou será que ele significa uma mudança completa na política do
Soviete? Essa era a questão que estava dada. Temendo não conseguir formar uma maioria contra a
mesa, na qual dominavam os líderes conciliadores – Chkeidze, Tsereteli, Chernov, Gotz, Dan, Skobelev
–, a facção bolchevique fez uma moção para que a mesa fosse eleita com base na proporcionalidade.
Essa proposta, que iria tornar relativamente opaca a tensão do conflito acerca dos princípios (e, nesse
sentido, era abertamente condenada por Lenin), tinha uma vantagem tática que era justamente o de
ganhar o apoio de elementos hesitantes. Mas Tsereteli rejeitou a proposta. A mesa quer saber, ele
disse, se o Soviete realmente mudou sua direção: “Nós não podemos aplicar a tática dos
bolcheviques”. A resolução introduzida pela direita, então, declarou que o voto de 1º de setembro
não correspondia à linha política do Soviete e que ele tinha confiança, como sempre, na mesa. Não
havia nada que os bolcheviques pudessem fazer, exceto aceitar o desafio e eles o fizeram com
prontidão. Trotsky, aparecendo pela primeira vez após sua libertação da prisão e calorosamente
saudado por uma parte considerável da assembleia – ambos os lados estavam inadvertidamente
medindo os aplausos: será que é uma maioria, ou não? – passou a exigir uma explicação antes do
voto: Por acaso Kerensky continuava sendo um membro da mesa? A mesa, após hesitar por um
momento, respondeu afirmativamente – e, logo, ainda que já suficientemente pesada por conta de
seus pecados, ela seguia reforçando a corda em seu pescoço. “Nós acreditamos firmemente”, disse
Trotsky, “...que a Kerensky não seria permitido que sentasse junto à mesa. Nós estávamos enganados.
O fantasma de Kerensky agora senta-se entre Dan e Cheidze... Quando eles propõem que sancionemos
a linha política da mesa, não esqueçam que vocês estarão sancionando as políticas de Kerensky”. A
reunião seguiu na mais inimaginável das tensões. A ordem foi preservada pelo simples desejo
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individual de cada pessoa em não deixar que acontecesse ali uma explosão. Eles todos queriam contar
o mais rápido possível o número de seus amigos e inimigos. Todos entenderam que eles estavam
decidindo ali a questão do poder – da guerra – do destino da revolução. Foi então decidido um sistema
de voto no qual as pessoas saíam da sala. Aqueles que queriam a resignação da mesa, deveriam sair:
é mais fácil sair a minoria do que a minoria. Em cada canto do salão, havia uma agitação impassível,
ainda que as vozes estivessem baixas. A velha mesa ou uma nova? A Coalizão, ou o poder dos
Sovietes? Uma grande multidão de pessoas parecia estar saindo em direção a porta – um número
muito grande na opinião da mesa. Os líderes bolcheviques, por sua vez, estimaram que a eles
faltariam 100 votos para conseguir a maioria. “E isso, por si só, seria excelente”, eles já se consolavam
antecipadamente. Mas os soldados e os operários continuaram saindo, cada vez mais, pela porta.
Havia um intenso cochicho de vozes – breves explosões de discussões em vozes mais altas. De um
dos lados, uma das vozes gritou: “Kornilovistas!”. Do outro: “Heróis de julho!”. O procedimento durou
cerca de uma hora. Os pratos daquela balança invisível estavam oscilando. A mesa, numa emoção
dificilmente contida, permaneceu sob o púlpito durante todo o tempo. Por fim, o resultado foi
contabilizado e anunciado: A favor da mesa e da Coalizão, 414 votos; contra eles, 519; abstenções,
67! A nova maioria aplaudiu numa verdadeira torrente, entusiasticamente, furiosamente. E ela tinha
o direito de fazê-lo. A vitória custou caro. Uma boa parte da Estrada havia sido percorrida.
Ainda chocada com o golpe, com caras de espanto, os líderes derrubados da mesa retiram-se
do púlpito. Tsereteli não pode deixar de escapar mais uma tenebrosa profecia. “Nós nos retiramos
dessa tribuna”, disse ele em lágrimas, virando-se para a multidão enquanto caminhava, “consciente
de que durante meio ano, nós guardamos solenemente a bandeira da revolução. Essa bandeira agora
passa para suas mãos. Nós apenas podemos expressar o desejo de que vocês possam segurá-la pelo
menos metade desse tempo!”. Tsereteli estava cruelmente enganado sobre essas datas, assim como
em praticamente tudo.
O Soviete de Petrogrado, o pai de todos os outros sovietes, dali para frente ficou sob a
liderança dos bolcheviques, que até ontem eram apenas “um insignificante grupinho de demagogos”.
Trotsky, da tribuna, lembrou a mesa de que a acusação contra os bolcheviques, de que eles estavam
à serviço do Estado-maior da Alemanha, não havia sido retirada. “Deixem os Miliukovs e Guchkovs
contarem essa história para o resto de suas vidas. Eles não ousaram. Mas nós estamos prontos, a
qualquer dia, para dar conta de nossas atividades. Nós não temos nada a esconder do povo russo...”.
O Soviete de Petrogrado então lançou uma resolução especial, “conferindo desprezo aos autores,
distribuidores e promotores dessa calúnia”.
6.2 12 de outubro, Resolução do Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado:
Um Comitê Militar Revolucionário está sendo formado pelo Comitê Executivo de São
Petersburgo e seus órgãos. Ele é composto pela mesa do plenário da Sessão dos Soldados do Soviete,
representantes do Comitê Central dos Marinheiros, dos Sindicatos dos Ferroviários, do Sindicato dos
Empregados dos Correios e dos Telégrafos, dos comitês de fábrica, dos demais sindicatos, dos
representantes das organizações militares dos partidos, da seção militar do Comitê Executivo
Central, das milícias dos trabalhadores, bem como de indivíduos cuja presença se faz necessária. As
primeiras tarefas do Comitê Militar Revolucionário são a alocação de forças auxiliares e de combate,
necessárias para a defesa da capital e que não estão sujeitas à evacuação; posteriormente, o registro
de toda composição pessoal da guarnição de São Petersburgo e de seus subúrbios, assim como o
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registro de todos os suprimentos; a elaboração de um plano funcional para a defesa da cidade;
medidas de proteção contra pogroms e deserções; a manutenção da disciplina revolucionária entre a
classe trabalhadora e os soldados.
6.3 19 de outubro, no Izvestiia sobre o encontro no Soviete de Petrogrado no dia anterior
A reunião abriu às 7 da noite, com Trotsky no comando. No início, havia relatos de
representantes vindos do front. A maioria deles disse que o front desejava apenas uma coisa e que
era o fim da guerra a todo o custo. A próxima questão era o Congresso [dos Sovietes]. Karakhan
registrou que... ele foi postergado para dia 25 de outubro – e diante dos rumores de um levante
bolchevique, Trotsky disse:
“Camaradas, durante os últimos dias a imprensa está cheia de rumores e artigos sobre um
suposto levante, que por vezes é creditado aos bolcheviques e por vezes é creditado ao Soviete de
Petrogrado. Eu gostaria de fazer uma declaração sobre esse assunto, em nome do Soviete de
Petrogrado.
As decisões do Soviete de Petrogrado são publicadas para a informação de todos. O Soviete é
um corpo eletivo; cada delegado é responsável por sua constituição. Esse parlamento revolucionário
não pode decidir sem que todos trabalhadores e soldados o saibam.
E aqueles da burguesia que pensam que têm algum direito de nos questionar sobre nossos
planos políticos, nós nos referimos a nossas decisões políticas e que são de conhecimento de todos.
Se o Soviete de Petrogrado considerar necessária uma data para um levante, ele o fará. Mas eu não
sei quando e onde tal levante será decidido. A imprensa burguesa diz que ele está marcado para o dia
22 de outubro. Esse será ‘o dia do Soviete de Petrogrado’, decidido pelo Comitê Executivo com o
propósito de fazer propaganda e tirar dinheiro.
Também foi apontado que eu, como líder do Soviete, já havia assinado por 5.000 rifles. E, de
acordo com a decisão do comitê para lutar contra os reacionários, na época de Kornilov, também para
organizar e equipar uma milícia operária, eu seria o responsável pela ordem dos 5.000 rifles...
A respeito de outra questão sobre o Congresso. Atualmente, há um desejo de separar
Petrogrado da guarnição. E isso está bastante claro, pois se entende que o Congresso certamente irá
passar uma resolução para que o poder seja ele entregue ao Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia
e para um imediato armistício em todos os fronts e a transferência de terra aos camponeses. A
burguesia sabe disso e, portanto, desejo se armar contra nós”.
6.4 23 de outubro, o Encontro Geral do Soviete de Petrogrado (segundo o Rabochii i Soldat de
25 de outubro)
O registro do representante do Soviete de Moscou, camarada Lomov, sobre a dispersão do
Soviete de Kaluga. Após os dias de julho, nos diz o camarada Lomov, que as relações entre os partidos
em Kaluga pioraram. O Soviete de Kaluga orgulhava-se, nessa época e tentara expelir os bolcheviques
do soviete. A liberdade de imprensa para nossos camaradas foi abolida, suspendendo panfletos e
proclamações. Não havia mais via legal em Kaluga.
Havia um grande obstáculo em termos de propaganda. E apesar disso, a influência dos
bolcheviques crescia a cada dia. E finalmente, eles conseguiram a maioria no soviete, a guarnição
estava no seu lado. E isso não podia ser tolerado pelos mencheviques e pelos socialistas-
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revolucionários. Sua força estava na Duma da cidade, de onde eles começaram a minar o soviete e
chegaram ao ponto de reprimir o soviete bolchevique. Eles então convocaram uma força militar de
cavalaria, cossacos e artilharia. A razão formal para declarar guerra ao soviete era a libertação de
quatro anarquistas. Essa foi uma inadmissível violação da lei... Os sovietes então tinham de ser
punidos. Assim, uma unidade punitiva foi convocada para Kaluga, que acabou dispersando o Soviete
e infringindo ultrajante violência contra os seus membros. Aconteceu que o destacamento “punitivo”
contra o Soviete fora convocado pela Duma da cidade, ou seja, pelos nossos próprios “camaradas” da
direita. Eles fizeram um pedido para que se mandassem tropas dos quartéis para o distrito de
Moscou. E quando eles se recusaram a serví-los, eles então apelaram para o distrito de Minsk e de lá,
significativas forças foram mandadas para Kaluga. O destacamento ameaçou fazer o mesmo com
outros sovietes, inclusive o de Moscou... Não esperem que eles atirem em nós um por um, de forma
firme e resoluta, declarem no Congresso de Toda a Rússia: nós não vamos permitir violência contra
os sovietes e tais tentativas serão reprimidas, de nossa parte, com um contra-ataque sem
misericórdia. (aplausos efusivos)
Declarações dos delegados do front. Camarada Kasperovich, delegado da Primeira Divisão,
declara que o Exército não tem mais condições de lutar e que toda a esperança reside no Soviete de
Petrogrado.
O camarada Kovacs, do Segundo Exército, declara que antes da aparição de Kornilov, o
Exército seguia os mencheviques e os socialistas-revolucionários, mas que agora amaldiçoa seus
antigos líderes e corre para a esquerda. A situação é desesperadora. A única coisa que resta agora é
transferir todo o poder aos Sovietes. Chega de zombar da revolução.
O camarada Kachanovich, do Quarto Batalhão do Exército, afirma que quando ele era membro
do Comitê Executivo Central, ele destacou a verdadeira situação do front e apontou para as
inevitáveis consequências, no que eles lhe responderam: “Nós não acreditamos nisso!” Os delegados
camponeses estavam se lamentando no Soviete. Mas na verdade agora, será que é necessário chorar?
Agora temos de agir. O dia depois de amanhã é do Congresso dos Sovietes. Sem hesitação, ele precisa
tomar o poder. Nós precisamos agir, seja para vencer, ou morrer!
…
Registro das atividades do Comitê Militar Revolucionário. Orador Antonov...
Agora, com a formação do Comitê Militar Revolucionário, nós começamos a receber pedidos
sobre a necessidade de monitoramento e outras medidas para o interesse de defender a revolução.
Logo, os operários de uma das casas tipográficas trouxeram à atenção do Comitê que receberam
ordens para imprimir para a Organização dos Centenas Negras. De acordo com esse sindicato, eles
imediatamente ordenaram que, de acordo com as sanções do Comitê Militar Revolucionário, eles não
cumpririam ordens suspeitas.
A fortaleza de Pedro e Paulo levantou o problema da necessidade de controle sobre a
distribuição de armas. E no atual momento, nem um simples rifle vindo do arsenal de Kronversky,
será liberado sem o nosso consentimento. Graças à nossa intervenção, uma ordem de 10.000 rifles a
serem expedidos para junkers em Novocherkassk foi suspensa…
O Comitê Militar Revolucionário decidiu mandar representantes para um encontro no Quartel
General. Os representantes foram recebidos com extrema hostilidade. ‘Nós reconhecemos apenas o
Comitê Executivo Central, nós não reconhecemos seus comissários. Se vocês violarem a lei, nós os
prenderemos’, disse o Quartel General para nossos representantes. Depois que nossos camaradas
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foram embora, eles afirmaram a posição do Comitê Militar Revolucionário. Após as ameaças do
Quartel General, nós aumentamos o número de comissários.
6.5 25 de outubro, reunião de emergência no Soviete de Petrogrado
Declaração do camarada Trotsky. Em nome do Comitê Militar Revolucionário.
Em nome do Comitê Militar Revolucionário, eu declaro que o Governo Provisório não mais
existe (aplausos entusiásticos e gritos de “longa vida ao Comitê Militar Revolucionário”)
O pré-parlamento foi dispersado, ministros individuais do governo foram presos, estações de
trem, os correios, o telégrafo central, a agência de telégrafo de Petrogrado e o Estado foram ocupados
pelo Comitê Militar Revolucionário. (aplausos entusiásticos) O Palácio de Inverno não foi tomado,
mas o seu destino será decidido em breve. Na história do movimento revolucionário, eu não conheço
outros exemplos nos quais tamanha massa esteve envolvida e tampouco um que tenha ocorrido com
tão pouco derramamento de sangue. O poder do Governo Provisório liderado por Kerensky estava
moribundo e esperava por um golpe da vassoura da história que o varreria completamente... A
população dormia pacificamente e não sabia que nessa hora, um poder estava sendo substituído por
outro.
…
É necessário estabelecer o controle sobre a produção. Camponeses, operários e soldados
devem sentir que a economia nacional é a sua economia. Esse é o princípio básico da construção do
poder. A introdução de um serviço de trabalho universal é uma das tarefas imediatas do poder
revolucionário. O camarada Trotsky segue em frente e ainda afirma que na ordem do dia está o papel
do Comitê Militar Revolucionário e um registro sobre as tarefas do poder dos sovietes. O segundo
relato será feito pelo camarada Lenin. (intermitentes aplausos)
...
Discurso de Lenin.
Camaradas, a revolução dos operários e camponeses, cuja necessidade nós bolcheviques
sempre defendemos, foi cumprida.
E o que significa a revolução dos operários e camponeses? Seu significado é, acima de tudo,
que nós teremos um governo dos Sovietes, nosso próprio órgão de poder, no qual a burguesia não
terá qualquer participação. As massas oprimidas irão elas mesmas criar o poder. O velho aparato do
Estado será completamente destruído e um novo aparato administrativo irá se formar a partir das
organizações dos Sovietes.
De agora em diante, começa uma nova fase na História da Rússia e isso, a terceira revolução
russa, terminará com a vitória do socialismo.
Uma de nossas mais urgentes tarefas é dar um fim imediato à guerra. Está claro para todos
que, para terminar a guerra, que está diretamente ligada ao atual sistema capitalista, o próprio capital
deverá ser enfrentado.
Nós devemos ser auxiliados pelo movimento operário mundial, que já está começando a se
levantar na Itália, na Grã-Bretanha e na Alemanha.
A proposta que nós fazemos é criar uma democracia internacional para uma paz justa e
imediata que irá despertar uma ardente resposta dentre as massas internacionais proletárias. Todos
os tratados secretos devem ser imediatamente publicados para fortalecer a confiança do
proletariado.
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Dentro da Rússia, uma grande parte do campesinato diz que viveu tempo demais nas mãos
dos capitalistas e agora marcharão com os operários. Um simples decreto pondo fim à propriedade
de terra irá ganhar a confiança dos camponeses. Eles entenderão que a salvação do campesinato
reside apenas numa aliança para com os operários. Nós iremos instituir um controle genuíno dos
trabalhadores sobre a produção.
Nós agora sabemos como fazer um esforço concentrado. A revolução que acabamos de fazer é
uma prova disso.
Nós possuímos a força da organização das massas, as quais irão superar todos os obstáculos
e liderar o proletariado na revolução mundial.
Nós devemos agora nos preparar para construir um Estado socialista proletário na Rússia.
Vida longa à revolução socialista mundial!
(aplausos efusivos)
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