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Dinâmica Cognitiva da Memória, Externalismo sobre o Conteúdo Mental e Ceticismo na Epistemologia Contemporânea
Nome: Ricardo Rangel Guimarães, Orientador: Prof. Dr. Cláudio Gonçalves de
Almeida
Programa de Pós - Graduação em Filosofia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
PUCRS
Resumo
O trabalho a ser apresentado trata de tópicos fundamentais de epistemologia da
memória, do externalismo e do autoconhecimento no contexto da filosofia da mente
contemporânea. Num primeiro momento, são fornecidas as bases da epistemologia de
Tyler Burge para balizar a investigação subseqüente, bem como aspectos essenciais da
dinâmica cognitiva da memória. Num segundo momento, as teorias epistêmicas da
memória de Burge e Sven Bernecker são expostas e analisadas, bem como o argumento
da memória de Peter Ludlow, que é discutido com a intenção de fornecer explicações
alternativas para uma possível compatibilidade entre uma perspectiva externalista ou
anti-individualista sobre o conteúdo mental com o conhecimento dos próprios
pensamentos do sujeito cognoscente, em um horizonte de investigação epistemológico.
Ao final, será discutida perifericamente a questão do ceticismo neste contexto, em
particular nas questões referentes ao exemplo de Hilary Putnam dos cérebros numa
cuba, na clássica disputa externalismo versus internalismo, bem como a posição de
Donald Davidson sobre o tema. Na verdade, a intenção do trabalho é de apresentar um
quadro panorâmico e bastante geral sobre todos os aspectos citados, bem como tópicos
afins e relacionáveis, a fim de se fornecerem fundamentos mínimos para uma análise e
discussão mais aprofundada numa perspectiva de dissertação de mestrado: este material
pretende ser o substrato teórico e básico para um corte mais específico como o tema da
dissertação, que orbitará em torno da epistemologia da memória e da filosofia da mente,
e todo o material de discussão presente aqui é relevante para este fim.
1
Introdução: A Epistemologia de Tyler Burge como ponto de partida para análise
Na filosofia da mente do século XX e na epistemologia analítica contemporânea,
duas abordagens distintas podem ser feitas sobre o externalismo e o conhecimento de si
em Tyler Burge: o externalismo ( ou externismo ) sobre a autorização epistêmica, e o
anti-individualismo sobre o conteúdo mental. Embora ambas as teorias sejam distintas,
elas mantém uma relação entre si, e apesar de Burge não chamar de externalista
explicitamente a sua teoria do conteúdo mental, ele denomina a sua epistemologia de
externalista. Estas duas teses, de fundamental importância tanto para a teoria do
conhecimento quanto para a filosofia da mente, serão expostas minimamente neste
ensaio, e um estudo específico sobre a epistemologia e a dinâmica cognitiva da memória
faz-se necessário para a exposição e análise do tema e dos tópicos em questão. O
aspecto do externalismo sobre o conteúdo mental irá requerer maior atenção no presente
trabalho, haja vista sua conexão com a epistemologia e a questão da justificação
epistêmica em todo este contexto. O argumento da memória, que será abordado e
discutido posteriormente, tem uma razoável influência e destaque no debate acerca do
problema da conciliação entre o externalismo e o autoconhecimento ( ou conhecimento
de si ). Antes de adentrarmos nestas questões, contudo, é prudente expormos breve e
rasamente alguns tópicos básicos introdutórios da epistemologia de Burge, a fim de
balizar as discussões subseqüentes.
Na epistemologia externalista burgeana, o sujeito conhecedor, ou crente, está
legitimado (“entitled “) a crer caso não hajam boas razões positivas para se duvidar. Há
duas variedades de autorização epistêmica para Burge, a justificação e a legitimação
(“entitlement“ ). Na primeira, o sujeito está autorizado a crer que P de uma maneira
consciente e articulada dentro do seu sistema de crenças, e na segunda está legitimado
ao crer que P quando não há a existência de razões plausíveis e positivas para se duvidar
que P ( algo como um “ direito “ epistêmico do sujeito cognoscente ). Em “Content
Preservation“, Burge desenvolve esta noção de legitimação afirmando o seguinte: Uma pessoa está legitimada a aceitar como verdadeiro algo que é apresentado como verdadeiro e
que é inteligível para ela, a menos que haja razões mais fortes para não fazer assim.1
A person is entitled to accept as true something that is presented as true and that is intelligible to him, unless there are stronger reasons not to do so. ( BURGE, T. Content Preservation, The Philosophical Review 102, n. 4, 1993, p. 467 ).
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Essa passagem pode ser interpretada como uma espécie de princípio de aceitação
na sua epistemologia, que tem como função básica legitimar a confiança do sujeito em
fontes racionais ( o testemunho verídico dos outros ), e nos recursos para a razão, como
a percepção e a memória, por exemplo. Também poderia ser função deste princípio
atestar em que condições epistêmicas uma crença é aceitável ou não, pode ser tomada
como verdadeira ou não, dando-se ao mesmo um estatuto evidencialista ( uma evidência
quanto ao princípio ) , até que se prove o contrário e se substituam as crenças antigas e
falsas por crenças novas e verdadeiras: pode-se dizer, em certo sentido, que há uma
espécie de conservadorismo epistêmico neste contexto. Há, por sua vez, um certo
coerentismo “negativo“ no ar ao se adotar esta postura de aceitabilidade das crenças,
pois como diz Alvin Goldman em “ Knowledge in a Social World “, p. 128,
[...] Uma segunda teoria é o coerentismo negativo, que afirma que crenças estão justificadas
enquanto o crente não tem razões para duvidá-las ( Harman, 1986 ). Em outras palavras, crenças são
epistemicamente “ inocentes “ até que sejam provadas “ culpadas “. Seu valor é condição para ser
justificada, condição esta que é perdida apenas quando há contra - evidência ( evidência contrária ).
Evidência positiva não é necessária para justificar uma crença.1
Também é levada em conta a possibilidade de tratar-se de um fundacionismo
moderado, em que as bases e os fundamentos da teoria estão ancorados no princípio de
aceitação, onde há dois níveis coexistindo, a saber, o princípio fundador das minhas
crenças, e um conjunto de crenças e opiniões baseadas nesse princípio ( conforme
William Alston, em “Foundationalism“, p. 144 ). Citando Goldman novamente, na
mesma obra e página referida há pouco,
O fundacionismo atribui justificação prima facie para as crenças definitivamente e
independentemente de um “ primeiro princípio “, em igualdade com os princípios de percepção e
memória. Ao contrário do reducionismo, o fundacionismo não requer que se tenha evidência para a
confiabilidade do testemunho. Mesmo na ausência de tal evidência, a crença está justificada, ao menos
A second theory is negative coherentism, which says that beliefs are justified as long as the believer has no reasons for doubting then ( Harman, 1986 ). In other words, beliefs are epistemically “ innocent “ until proven guilty. Their default condition is to be justified, a status they lose only when there is countervailing evidence. Positive evidence is not needed to justify a belief. ( GOLDMAN, A., Knowledge in a Social World, 1999, p.128 ).
3
prima facie justificada. Esse tipo de visão era favorecido por Thomas Reid, e recentemente foi endossado
por Tyler Burge ( 1993 ).2
Diferentemente de um princípio fundacionista, o que Burge pretende na sua
epistemologia é fornecer uma espécie de direito prima facie pro tanto do sujeito que
crê, hipótese esta mais fraca que a adoção de crenças de fundo ( “ backgrounds “ )
fundamentais: esse caráter pro tanto significa que é assim que deve ser, até que se
apresentem boas razões contrárias para não se continuar crendo. Esse suposto direito
fornece uma satisfação parcial em relação a algum fundamento incontestável, e
legitima, de certa forma, os intercâmbios epistêmicos usuais entre as diferentes crenças
no interior do sistema, mantendo as crenças básicas e a coerência interna. O caráter
desse direito epistêmico é revogável, e na ausência de razões positivas para se
colocarem essas crenças em dúvida, o sujeito teria um direito prima facie a priori de
crer e tomar por verdadeiro aquilo que para si é inteligível. Esse direito, apesar da sua
natureza a priori, é suprimível empiricamente, havendo uma distinção entre a
originalidade do direito epistêmico de crer verdadeiramente em algo inteligível e
razoável e das considerações que o suprimem: a natureza do direito original a tomar por
verdadeiro o que parece inteligível é diferente destas considerações que o suprimem ( as
considerações supressoras são a posteriori, e o direito é a priori ).
Um exemplo que pode ser trazido à baila para ilustrar esse ponto é o de
desconfiar e colocar em dúvida um raciocínio dedutivo sabendo-se que existem
problemas de memória na cognição do agente epistêmico em questão: supondo-se que a
percepção é condição necessária para a compreensão do que os outros dizem, bem como
a memória também o é para a realização de uma prova dedutiva, se parece ao sujeito
que o mesmo ouviu uma frase qualquer no passado, então ele tem o direito prima facie a
priori de crer no conteúdo proposicional dessa frase, na ausência de considerações
supressoras. Analogamente, se o sujeito lembra de uma dedução realizada no passado,
ou dos passos anteriores de uma prova dedutiva em execução, então ele está legitimado
epistemicamente no prosseguimento da prova, ou a crer no teorema, respectivamente,
uma vez que não haja a presença de considerações supressoras. Entretanto, se esse
Testimonial foundationalism assigns prima facie justification to testimonial beliefs by positing and independent “ first principle “, on a par with principles for perception and memory. Unlike reductionism, foundationalism does not require a hearer to have nontestimonial evidence for the reliability of testimony. Even in the ausence of such evidence, testimonial belief is justified, at least prima facie justified. This kind of view was favored by Reid, and has recently been endorsed by Tyler Burge ( 1993 ). (GOLDMAN, A., Knowledge in a Social World, 199, p. 128 ).
4
mesmo sujeito, num tempo posterior, descobrir que num momento anterior não estava
cognitivamente funcionando bem ( por exemplo, que estava alucinando, ouvindo vozes,
ou que apresentava falhas de memória ), a informação que ele adquire posteriormente,
que tem uma origem empírica, suprime esse direito a priori original. No caso presente,
devido às condições supressoras, ele perde o direito de crer no conteúdo da frase que ele
adquiriu, uma vez pressupondo-se que a percepção é condição necessária para a
compreensão do que os outros dizem, do testemunho, assim como o bom
funcionamento cognitivo da memória também o é para a efetuação de uma prova
dedutiva: diante disso, a crença que o mesmo adquiriu de que a dedução feita no
passado era um teorema é perdida, pois o direito epistêmico a seguir provando tal
teorema foi perdido também3.
Em resumo, a partir destas considerações iniciais, pode-se afirmar que a
epistemologia burgeana, apesar de não fornecer crenças fundacionais stricto senso,
defende uma espécie de externalismo fundacionista a respeito do seu conceito de
autorização, dentro de uma teoria da justificação epistêmica, e utiliza o princípio de
aceitação como condição legitimadora das minhas crenças verdadeiras. O direito
epistêmico prima facie pro tanto de Burge fornece apenas uma satisfação parcial,
parcial esta em relação a algum suposto fundamento inabalável, mas plenamente
satisfatório no que diz respeito à legitimação das diversas trocas epistêmicas dentro do
meu sistema de crenças, sendo, portanto, revogável, podendo inclusive se mostrar
insuficiente caso se leve em consideração todas as crenças do meu sistema ( segundo
Peter Graham em “ Testimonial Justification “, p. 84 ).
Na seqüência, após esta brevíssima introdução, serão expostas as teorias
epistêmicas da memória de Tyler Burge e Sven Bernecker, e a tese do externalismo
sobre os conteúdos mentais, bem como o autoconhecimento e algumas questões
envolvendo o ceticismo na epistemologia contemporânea, no intuito de se fornecerem
elementos mínimos para uma compreensão razoável deste cenário todo; o objetivo, ao
final, será o de fornecer idéias bastante gerais deste cenário, a fim de suscitar a
discussão e pesquisa ulterior sobre tais tópicos. A gama de temas é bastante
diversificada, e o objetivo mais geral é apresentar uma espécie de quadro sinóptico e
esquemático sobre todas estas questões em debate e análise.
Metodologia Conforme Burge em Interluction, Perception and Memory, p. 27.
5
O que se pretendeu fazer no presente trabalho foi apresentar de forma
esquemática tópicos da dinâmica cognitiva da memória num contexto epistemológico,
rivalizando especialmente as teorias epistêmicas da memória de Tyler Burge e Sven
Bernecker nos seus diferentes aspectos e enfoques. À estes temas segue-se toda uma
discussão sobre o externalismo sobre o conteúdo mental, partindo duma discussão sobre
uma conciliação entre a compatibilização de uma hipótese sobre a existência de um
mundo exterior e independente do sujeito cognoscente com os seus estados mentais, e a
dependência ou não destes, em alguma medida, com os objetos do mundo exterior. O
problema do autoconhecimento e da autoridade da primeira pessoa emerge
necessariamente nesta discussão, e variedades de externalismo, como o externalismo
social de Burge, bem como outras variedades de externismo ( como os de Putnam e
Boghossian, por exemplo, ) são evocados a fim de balizar a discussão. O argumento da
memória de Peter Ludlow, na interpretação de Boghossian, é apresentado para ilustrar o
contraponto entre a compatibilidade ou não do externalismo com o conhecimento dos
próprios pensamentos e estados mentais do sujeito que julga pretender conhecer,
especialmente no que se refere ao conhecimento do passado. É nesse contexto que
procura-se confrontar as teses de Burge e de Bernecker da visão da memória como
retenção de conhecimentos e de representações, respectivamente, bem como das
questões céticas decorrentes deste cenário, e os exemplos putnamianos dos
experimentos mentais da Terra - Gêmea e dos cérebros numa cuba servem e são
utilizados para se procurar relacionar e “ amarrar “, de alguma forma encadeada, todos
os tópicos em questão. O procedimento metodológico a ser utilizado, na maior parte do
tempo, é o da análise expositiva e descritiva, procurando mostrar e tornar claro,
minimamente, os pontos e as problemáticas relevantes para a discussão sob uma
perspectiva de pesquisa investigativa.
Resultados e Discussão: Dinâmica Cognitiva da Memória, Externalismo sobre
o Conteúdo Mental e Ceticismo
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Quando se fala em memória, o que vem primeiramente à nossa mente é a idéia
de lembrança. As lembranças são reconstruídas, pelo sujeito cognoscente, a partir de
percepções atuais e de conceitos que são utilizáveis nesse contexto. Entretanto, a
adequada explicação cognitiva da memória é condicionada a uma explicação necessária
de como a mente retém informações ao longo do tempo. Segundo o filósofo norte
americano Norman Malcolm e o neurocientista Ivan Izquierdo, por exemplo, para haver
memória é preciso que as informações recuperadas ( ou disponíveis ) tenham sido
adquiridas num tempo passado, e estas devem ser armazenadas em algum sistema
biológico ou artificial. Todo e qualquer fenômeno que possa ser considerado como
“memória “ ou “ lembrança “ deve envolver algum tipo de retenção de conteúdo mental,
sendo esta retenção a condição cognitiva suficiente para tal fenômeno. Uma
característica básica da memória é a capacidade de reter informações na mente, e de ter
o seu conteúdo correspondente ao conteúdo de um estado informacional anterior do
sujeito adquirido no passado, ao contrário de outras fontes de conhecimento e recursos
da razão, como a percepção, o testemunho e o raciocínio, por exemplo, que
diferentemente da memória, são capacidades de adquirirem informações, e não de
reterem as mesmas ( segundo Gareth Evans, em “ The Varieties of Reference “, p.239 ).
Segundo Malcolm, quando o conteúdo da memória está estruturado
proposicionalmente, nós podemos nos lembrar de acontecimentos ocorridos no passado,
fatos que estejam ocorrendo no presente, os que acontecerão no futuro, e de objetos
atemporais. É importante salientar que a memória não é necessariamente sobre o
passado: o fundamental para haver memória é que o conteúdo mental tenha sido
adquirido no passado, e não que seja sobre o passado, diferentemente, por exemplo, do
que pensava Aristóteles no seu tratado sobre a memória segundo a qual a mesma, a
memória, é do passado, e a percepção é do presente, conforme pode ser constatado na
seguinte passagem do pensador estagirita:
Em primeiro lugar, pois, temos que entender a que classe de coisas são objetos da memória, pois
com freqüência engana-se a este respeito. É, com efeito, impossível recordar o futuro, que é objeto de
conjectura ou de espera - poderia inclusive haver uma ciência da “expectativa “, segundo alguns a mesma
seria a adivinhação – e tampouco há memória do presente, apenas percepção deste; é posto que, pela
percepção, não conhecemos aquilo que é passado ou futuro, mas apenas aquilo que está presente.
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Contudo, a memória tem por objeto o passado; ninguém poderia pretender recordar o presente enquanto
presente.4
O estudo da memória sob o aspecto da dinâmica cognitiva trata, basicamente, das
opiniões e atitudes proposicionais que envolvam elementos contextuais, bem como das
relações que são estabelecidas entre as informações sensoriais adquiridas pela via
perceptual e os correlatos retidos pela via da memória. Neste contexto, o que se busca é
mostrar que transformações o conteúdo mental retido através do expediente da memória
precisa sofrer para permanecer o mesmo: nesse sentido, o sujeito cognoscente precisa
realizar ajustes neste conteúdo para compensar a passagem do tempo, haja vista que a
memória cognitivamente depende do tempo, bem como deve haver uma
correspondência entre as transformações do mundo exterior e as mudanças cognitivas.
Tyler Burge distingue a memória em três variedades5, e a define dos seguintes
modos, a saber: memória experiencial, memória substantiva e memória preservativa. A
memória experiencial e a memória substantiva são bastante semelhantes, pois são
voltadas a objetos e à lembrança destes: a memória experiencial tem a ver com a
memória episódica, pois requer um lembrar de algo, que pode ser um objeto ou um
evento, e há a aquisição, em primeira mão, da informação adquirida no passado. Já a
memória substantiva envolve um lembrar que P, lembrar este que diz respeito a uma
crença adquirida no passado, assim como também na primeira variedade, e refere-se a
fatos gerais: tanto a memória experiencial quanto a episódica fornecem elementos para a
justificação epistêmica ( conforme Burge em “ Interlocution “, p. 37 ). O terceiro tipo de
memória é a chamada memória preservativa, que retém o conteúdo mental para outros
usos sem introduzir novos conteúdos no pensamento atual, e não requer uma nova
autorização epistêmica, podendo se fazer no presente caso uma certa analogia com o
recurso linguístico da anáfora e da referência anafórica, segundo o próprio Burge: por
exemplo, num tempo t1 eu penso que P, e num tempo t2 posterior eu penso que pensei
que P no passado. Para Burge, a memória remeteria anaforicamente a pensamentos
passados, onde ao pensar que pensei que P no presente remeteria ao pensamento Em primer lugar, pues, hemos de entender que clase de casos son objetos de la memória, ya que con frecuencia se yerra en este punto. Es, en efecto, impossible recordar el futuro, que es objeto de la conjetura o de la espera - podria incluso haber una ciencia de la expectación; según alguns dicen que ella es la adivinación - tampoco hay memoria del presente, sino tan sólo percepción de él; puesto que, por la percepción, no conocemos ni lo que es futuro ni lo que es pasado, sino solamente lo que es presente. Ahora bien, la memoria tiene por objeto el pasado; nadie podría pretender recordar el presente, mientras él es presente. ( ARISTÓTELES, Del Sentido y lo Sensible y De la Memoria y el Recuerdo - Trad. Francisco Saramanch, Aguilar Argentina S.A., Ed. Buenos Aires, 1973 ). Em Memory and Persons, p. 289.
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anterior penso que P. Esse suposto anaforismo da memória preservativa tem a ver com
as relações lógicas entre as cadeias de premissas e conclusões em um raciocínio
silogístico: leva um determinado tempo raciocinar, e os passos do raciocínio são
preservados à medida que o mesmo é feito, sucedido no pensamento. Ao pensar a
conclusão, não alteram-se as premissas, preservando-se com isso a força justificacional
do raciocínio ( em pensamentos e asserções em geral ). Uma das características
essenciais da memória preservativa é manter uma determinada ligação entre
pensamentos atuais e pensamentos passados, como se pode notar.
Os modos de reter informações das três variedades burgeanas de memória
envolvem, experiencialmente, a aquisição, em primeira mão, da informação obtida
cognitivamente ( seja pela via da percepção, da introspecção e do raciocínio), dos fatos
vividos pelo sujeito no passado e que sejam lembráveis por parte deste, e um
fornecimento de elementos para a justificação6. Substantivamente, podem-se reter
informações através de fatos gerais não circunscritos espaço - temporalmente ( por
exemplo, “Aviões tinham turbinas“ ), e preservativamente Burge faz referência ao uso
anafórico posterior por parte do sujeito, onde o raciocínio é apoiado nos passos lógicos
anteriores através da memória: a informação obtida é utilizada para um uso anafórico
futuro no tempo. Também pela memória preservativa são retidas informações onde os
pensamentos e seus modos assertivos não fornecem nem adicionam força
justificacional, sendo a mesma uma condição causal habilitante: por exemplo, numa
relação de implicação lógica “ Se P e Q, então R “, as premissas são “ P “ e “ Q “ e não
“Lembro que P ” e “ Lembro que Q “. Outro ponto importante e relevante na memória
preservativa como retentora de informação é que ela não fornece força epistêmica ao
argumento, apenas o preserva: o uso da memória não é parte da justificação para crer na
conclusão, sendo a justificação, nesse caso, o próprio argumento em questão ( por
exemplo, 4 não se segue da premissa “Lembro que 2 + 2 = 4“, segue-se de “2 + 2 = 4” ).
Resumindo esta breve incursão acerca dos diferentes tipos de memória, pode-se
constatar que a retenção de informações é uma característica geral de todas as
variedades de memória, e que a preservação do conteúdo mental própria da memória
preservativa é uma maneira de reter informações oposta e distinta a dos outros tipos de
memória, como a experencial e a substantiva. É possível reter informação adicionando
conteúdo e força justificacional ao curso de pensamento atual, como na memória
substantiva, ou não, no caso da memória preservativa, segundo Burge: a questão de Burge, Interlocution, p. 37.
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como a memória substantiva, de fato, forneceria esta justificação é matéria de mais
investigação, e não será tratada aqui.
Na teoria geral epistêmica da memória, existem duas teses concorrentes, a saber:
uma que considera a memória como retenção de conhecimentos ( estados mentais com
conteúdos proposicionais ), posição esta defendida por Burge, e outra que considera a
memória como retenção de representações na mente, e que seria uma teoria
representacional da memória: Sven Bernecker é o defensor desta interpretação. Uma
questão relevante e importante a se colocar neste contexto é se estas representações,
enquanto conteúdos mentais possuiriam um caráter proposicional, e não meramente
informacional, sendo passível dar a este conteúdo um estatuto e caráter epistêmico ( por
outro lado, podemos fazer aqui a seguinte digressão: como alguém poderia ter acesso
direto do passado, senão pela memória e pela representação? ). Independentemente do
que significam e da distinção que possam ter estas duas teses, e esta é matéria bastante
complexa para se discutir no detalhe presentemente, a teoria epistêmica da memória
sugere algumas questões para reflexão, como por exemplo, a possibilidade de
lembrarmos do que não temos justificação para crer: o exemplo da replicante Rachel no
filme “ Blade Runner “ pode servir para ilustrar este ponto, pois ela lembrava
ostensivamente de ter tido aulas de piano na infância, quando na verdade ela não tinha
justificação para ter a opinião, a crença de que estudou piano, pois descobriu
posteriormente que era uma replicante com memórias implantadas ( o sentido ostensivo
de lembrar, sob alegação de memória, tomando o relato da memória pelo seu valor de
face, é distinto da memória factiva, do tipo “ Se lembro que P, então P “ ). Bernecker,
em “Remembering without knowing“, também coloca o problema da lembrança sem
crença ao afirmar que “Lembro que P, mas não creio que P” seria pragmaticamente
incoerente, pois não se pode alegar lembrança que P sem alegar crença que P, mas faz
uma objeção importante para destacar o seu ponto em questão, a saber:
Prima facie, um proponente da teoria epistêmica da memória pode descartar a possibilidade de
memória sem crença do fato que “ Eu lembro que P, mas não creio que P “ seja igualmente incoerente
com o paradoxo de Moore “ Está chovendo, mas eu não creio que está chovendo “. A idéia da incoerência
de “ Eu lembro que P, mas não creio que P “ não pode ser explicada apenas supondo ou assumindo que
lembrar implica crer. É possível explicar a incoerência pragmática da afirmação “ Eu lembro que P, mas
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eu não creio que P “ sustentando ao mesmo tempo que memória não implica crença: quando alego
lembrar que P, eu estou convencido que P é o caso e, portanto, creio que P.7
Partindo desta citação, pode-se sustentar que as condições para a alegação de
uma lembrança não são as condições do lembrar: disto se pode dizer que da mera
incoerência da alegação de uma lembrança sem crença não se segue a impossibilidade
de lembrar sem crer. Bernecker lista uma série de situações em que seria possível
lembrar sem crer ( em “ Remembering without knowing “, p.13 ), para sustentar a
argumentação do seu ponto, e dá quatro exemplos de tipos de memórias distintas e
lembranças para defender tal concepção: memória impura ( ou elíptica ), lembrança
desatenta, memória negativa e lembrança ignorante. A memória impura é ter uma
lembrança prévia de algo ( que pode ser um evento ) sem poder opinar sobre esse algo
(por exemplo, alguém lembra de ter visto um eclipse na infância sem ter o conceito de
eclipse para depois opinar sobre ele: a lembrança foi anterior à aquisição do conceito,
sendo posteriormente “ encapsulada “ por este ): o sujeito pode lembrar de determinadas
informações do passado para as quais ele não tivesse à sua disposição os conceitos, e
por essa razão não podia emitir opinião. Na memória desatenta, o sujeito não prestou
atenção ao fato de P durante a aquisição da memória, e por isso não opinou sobre tal
fato ( por exemplo, “Agora lembro que ela vestia um vestido azul “ ); já na memória
negativa, pode lembrar do que não aconteceu ( “ Não trancou a porta “, no exemplo
dado pelo próprio Bernecker ), e na lembrança ignorante lembra, mas toma a sua
memória como resultado da sua imaginação, alucinação, sonho ou loucura: por
exemplo, alguém julga erroneamente estar sob efeito de alguma droga poderosa, vê
algo, toma a visão deste algo como falsa, e com isso não crê naquilo que viu.
Sobre a posição de Bernecker da possibilidade da lembrança sem crença, vem ao
caso perguntar pela justificação epistêmica desta: normalmente, a memória é
cognitivamente a retenção de um estado mental anteriormente adquirido por outra
faculdade ou fonte de informação, como a percepção, por exemplo. Ao se argumentar
de que podemos lembrar daquilo que não temos justificação para crer, pode-se Prima facie, a proponent of the epistemic theory of memory may dismiss the possibility of memory without belief on the grounds that “ I remember that P, but I don’t believe that P “ is equally incoherent as G.E. Moores famous paradoxical statement “ It is raining, but I don’t believe that is raining. The idea is that the incoherence of “ I remember that P, but I don’t belief that P “ cannot be explained unless one assumes that remembering implies believing. It is possible to explain the pragmatic incoherence of the statement “ I remember that P, but I don’t believe that P “ while maintaining that memory does not imply belief: When I claim to remember that P, I am convinced that P is the case and hence believe that P. (BERNECKER, S. Remembering without knowing, In Australasian Journal of Philosophy, Vol. 85, March 2007, p.11- 12 ).
11
contrapor a seguinte questão: normalmente, estamos prima facie legitimados a confiar
na memória como mecanismo cognitivo, ainda que falte justificação explícita, pois a
memória é um recurso para a razão, e estamos prima facie legitimados a tomar por
verdadeiro o que ela, memória, nos apresenta8 ( supondo um bom funcionamento
cognitivo e razoável da mesma ). O ponto é, no caso, se podemos atribuir um caráter de
conhecimento a uma lembrança que não está justificada em termos de uma crença,
mesmo com essa legitimação: a natureza desta não teria um estatuto epistêmico? Esta é,
dentre tantas outras, questão relevante para pesquisa e investigação.
A memória puramente preservativa de Burge distingue-se dos outros dois tipos de
memória ( a experencial e a substantiva ) no seguinte aspecto, basicamente: ao não
introduzir novos conteúdos no pensamento atual, corrente, ela não dá nem requer nova
justificação epistêmica. A memória preservativa meramente retém o conteúdo
representacional para um uso subseqüente e posterior. Uma explicação alternativa do
funcionamento da memória preservativa pode ser fornecida segundo o externalismo
social, que é, em certa medida, o externalismo que Burge sugere e defende, embora
hajam restrições quanto ao uso da referência anafórica já citado: para isto, uma breve
análise sobre a teoria do anti-individualismo sobre os conteúdos mentais deve ser feita
para algum entendimento sobre a questão. É uma visão corrente que os externalistas
estão de acordo de que as crenças de que os conteúdos dos nossos estados mentais
intencionais são determinados, em parte, pela nossa relação com o mundo e o ambiente
externo; porém, há um desacordo se isso é compatível com a crença de que temos um
conhecimento direto, autorizado e a priori sobre os nossos próprios estados mentais.
Para tanto, é preciso garantir esse autoconhecimento básico ( conhecimento de si ), uma
vez que um cartesianismo mínimo é necessário para podermos dizer, em alguma
medida, que sabemos o que pensamos, e preservar a autoridade da primeira pessoa
(capacidade auto - reflexiva da mente ) em relação aos nossos pensamentos: Burge
parece admitir esse cartesianismo. Já Paul Boghossian toma a falta de autoridade da
primeira pessoa do sujeito que descobre ter sofrido mudança lenta no passado como o
ponto de partida para uma posição sua contrária à conciliação entre o externalismo e o
conhecimento de si ao invocar o argumento da memória. Esse argumento, a ser
apresentado a seguir segundo a formulação proposta por Peter Ludlow, se estiver
correto, parece refutar a tese do externalismo acerca dos conteúdos mentais, ou anti-
Conforme posição de Burge em Content Preservation.
12
individualismo, e está estruturado do seguinte modo, segundo uma interpretação
alternativa de Boghossian:
(i) Premissa 1: Se S não esquece nada, então tudo que ele sabe em t1 ele sabe em t2.
(Lugar Comum)
(ii) Premissa 2: S não esquece nada. ( Estipulação )
( iii )Premissa 3 : Após S ter sido informado que em algum momento não determinado
do passado ele sofreu uma troca não informada de ambiente, tendo adquirido o conceito
de água - gêmea, por exemplo, conceito este que ele não distingue do conceito de água,
em t2 S não sabe que pensou “ penso que a água é um líquido “ em t1. ( S não sabe que
P em t2, após a informação sobre a mudança lenta )
(iv ) Conclusão: Logo, S não sabe em t1 que pensou “ penso que a água é um líquido “
em t1. ( S não sabe que P em t1 ) 9
O que poderia haver de errado com este argumento? Bem, uma objeção a se
levantar aqui é em relação à segunda premissa: se S adquire o conceito de água - gêmea
e pode usá-lo julgando estar utilizando um conceito distinto de água, então se pode dizer
que, em alguma medida, parece que S esquece de algo. Mas supondo que S não esqueça
nada, em conformidade com ( ii ), a Premissa 2, ele mantém a crença que adquiriu sobre
o conceito de água, mesmo após ter adquirido o conceito de água - gêmea próprio da
Terra - Gêmea, um mundo possível exatamente idêntico à Terra, mas apenas com a
diferença específica de que a água lá não é a mesma água da Terra: não haveria
problema algum de ambos os conceitos existirem mutuamente na mente de S, sem haver
a troca de um por outro. Suponha-se que S seja informado da troca de ambiente em
algum instante do passado não determinado, e encontra-se epistemicamente autorizado a
tanto crer que em t1 pensou que água é um líquido quanto que no mesmo tempo t1
pensou que água - gêmea é um líquido também: isso significa que em t2, num tempo
posterior, S não é capaz de discriminar o que pensou em t1, pois há nesse caso a
presença de alternativas relevantes. Bem, se esse for o caso, então a Premissa 1 é falsa,
pois considerando que conhecimento é crença verdadeira justificada, então em t2 S não
No original: ( 1 ) If S forgets nothing, then what S knows at t1, S knows at t2, ( 2 ) S forgot nothing, ( 3 ) S does not Know that P at t2, ( 4 ) therefore, S does did not know that P at t1 (and Social Externalism, Self - Knowledge, and Memory, Peter Ludlow, 1998 )
13
discrimina epistemicamente o que pensou em t1. Isso implicaria que alguém pode
deixar de saber algo mesmo não tendo esquecido nada, pois o que autorizaria isso seria
a perda da justificação a crer no que outrora acreditava. Tal absurdo aparente parece ser
possível no externalismo, que diz que o conteúdo mental é individuado relativamente ao
ambiente, e com isso mudanças externas levam á mudanças no pensamento, ainda que o
indivíduo não tome conhecimento das mesmas.
Podemos, então, perguntar: como lembrar e discriminar o que pensamos
anteriormente, haja vista que não distinguimos os conceitos originais dos conceitos
gêmeos? Se os conceitos gêmeos são alternativas relevantes aos conceitos originais,
então a memória não é condição suficiente para discriminar os conteúdos mentais,
embora seja necessária: entretanto, a memória preservativa de Burge garantiria essa
suficiência, uma vez que ela mantém uma perspectiva anterior sem discriminar o
conteúdo que foi anteriormente pensado. Anthony Brueckner10, por sua vez, refuta o
argumento da memória ao dizer que ou S não lembra, ou S não sabe, e com isso defende
o autoconhecimento: mas este, sozinho, não é suficiente para tratar do conhecimento das
próprias lembranças, e é aí que entra Burge com a sua teoria da preservação do
conteúdo mental.
Supondo que algum indivíduo S utilize a memória preservativamente, e que há na
variedade do externalismo social tanto uma identidade de pensamentos presentes quanto
de pensamentos passados, caberia perguntar o seguinte: os conceitos de água adquiridos
pelo mesmo devem ser deferidos ao tempo t1, passado, quando estes foram adquiridos,
ou no tempo t2, presente, quando os mesmos são evocados através deste expediente da
memória? Em geral, os conceitos empregados podem sofrer alterações por mudanças
sócio - ambientais, o que significa que após algum tempo do indivíduo S na Terra -
Gêmea, o mesmo deixa de deferir no ambiente original, nesse mundo possível, e passa a
deferir no novo ambiente a explicação de determinado termo, que é tomado, numa
mudança não informada de ambiente, no sentido homófono, que foi adquirido e
empregado onde encontrava-se anteriormente; Peter Ludlow, por exemplo, pensa assim:
basta a mudança de ambiente para a mudança conceitual, num sentido radical: para ele,
a metáfora da Terra - Gêmea sempre vale, até mesmo em situações corriqueiras
cotidianas. Na variedade de externismo social de Ludlow, uma mudança não informada
de ambiente já seria suficiente para deferir segundo o ambiente novo, sempre podemos
10 Em Externalism and Memory. In Extrnalism and Self - Knowledge. Standard, CSLI Publications, 1998.
14
mudar com o tempo aquilo que lembramos evocando a lembrança atual, e não a
aquisição originária do conteúdo mental da memória: a conseqüência disso é que não se
poderia pensar e lembrar duas vezes a mesma coisa, resultando tal concepção em uma
espécie de heraclitianismo sobre a memória, pois todas as nossas lembranças estariam
em permanente fluxo mental ( nesse sentido, não seria possível, metaforicamente
falando, resgatar e ir em busca do tempo perdido proustiano, por exemplo, onde a
memória é entendida como origem, numa lembrança passiva do passado e não
interagindo com o presente: para o escritor francês, parece ser possível ter novamente as
experiências vividas na infância, como tomar chá com bolinho com sua avó ou passear
pelos campos elísios parisienses ).
O termo“ Água “ falado no português, e “ Água “ na língua falada na Terra -
Gêmea são expressões homófonas, e não homólogas: embora conceitualmente ambas
tenham o mesmo significado, não designam e referem o mesmo objeto ( o termo
“água”, nesse sentido, não seria um designador rígido), uma vez que a constituição
química da água - gêmea é distinta de H2O ( XYZ, por exemplo ). Em vista desta
distinção, pode-se expressar o ponto de vista de Burge sobre a questão, que defende que
um sujeito S na Terra que pensa “ A água está fria “, e um sujeito S terráqueo gêmeo da
Terra - Gêmea (que é idêntico a S ) que também pensa homofonamente “ A água está
fria “ tem pensamentos diferentes, devido isto ao fato de que seus pensamentos são
individuados em relação ao ambiente / mundo em que se encontram. Já em Hilary
Putnam, o idealizador do experimento da Terra - Gêmea, há uma diferença conceitual
em relação à posição de Burge : existe mudança de referência com o contexto, onde
“Água” na Terra e “ Água “ na Terra - Gêmea tem significados diferentes, o
pensamento “Água é um líquido“ é equivalente tanto na Terra quanto na Terra - Gêmea:
em mundos possíveis distintos, pode haver o mesmo pensamento com atribuições
distintas de significação ao conteúdo do estado mental em questão ( o externalismo de
Putnam, nesse sentido, é denominado de externalismo semântico ). O externalismo
burgeano sobre o conteúdo mental, neste caso, rivaliza com o de Putnam, que alega que
dois sujeitos, um na Terra e outro na Terra - Gêmea, podem ter o mesmo pensamento;
mas conforme Burge, os pensamentos possuem significados distintos em relação ao
ambiente em que estão relacionados, sendo, por esta perspectiva, incompreensível que
pessoas em ambientes diferentes possam ter o mesmo modo de significação para coisas
distintas.
15
Ao utilizar a memória para discriminar os conteúdos mentais em casos de
mudança não informada de ambiente, poderia haver dúvida a respeito de qual ambiente
e quais indivíduos a deferência seria feita: se a memória for utilizada preservativamente,
essa dúvida não existiria, mantendo-se o ponto de vista do que foi apreendido no
passado, segundo uma tese onde o conteúdo mental é individuado de acordo com o
ambiente que foi adquirido: esta seria a perspectiva da variedade do externalismo social.
Entretanto, para Burge, a memória preservativa requereria uma espécie de pensamento
anafórico, talvez semelhante ao que propõe Krista Lawlor11, para resguardar a hipótese
da deferência ser equivalente semanticamente tanto no ambiente passado quanto no
presente. Esta alternativa requereria uma complexa análise sobre a estrutura da
linguagem do pensamento, inviável de ser especulada aqui; uma alternativa a princípio
provisória seria a de compatibilizar os pensamentos presentes com os pensamentos
passados através do externismo social, e nesse sentido o externalismo sobre a memória
de Peter Ludlow pode ser trazido à baila, onde o conteúdo mental é identificado sempre
no ambiente atual do sujeito, mesmo quando ele está lembrando de algo. Nesse caso, o
conteúdo da memória é fixado no momento em que a mesma é evocada, e não no
momento da sua aquisição: isto novamente trás dificuldades de uma compreensão plena
do conceito de memória preservativa. Paul Boghossian atenta para a produção de
irracionalidade que as diversas formas de externismo podem levar, a não ser que se
considerem elementos anafóricos na análise: neste ponto, ele endossa e está em
conformidade com a visão de Burge. Entretanto, ao fazer a sua interpretação do
argumento da memória de Ludlow, Boghossian rejeita a tese do autoconhecimento
básico de Burge12, rejeição esta que será comentada logo a seguir.
O grande problema em todo o contexto desta discussão gira em torno do acesso
que temos da própria mente ( autoconhecimento ), e se posso discriminar os meus
próprios pensamentos, conhecer o que penso, na autoridade da primeira pessoa: se há
racionalidade, consistência e clareza no meu pensamento, estou autorizado
epistemicamente a achar que tenho uma crença que não tenho, ou achar que não tenho
uma crença que, de fato, possuo? Como uma perspectiva externalista pode ser
compatível com a autoridade da primeira pessoa? Além do problema da autoridade da
primeira pessoa, há no externalismo ou anti-individualismo, considerado como uma
rejeição do internismo ou individualismo, que caracteriza-se basicamente pela
11 Em Memory, Anaphora, and Content Preservation. 12 Em Boghossian, P.: Content and Self Knowledge, parágrafo 19.
16
independência dos estados mentais entre os indivíduos, o problema da memória e da
justificação epistêmica. Um externismo mínimo defende a dependência desses estados
com outros indivíduos: num certo sentido, parece que é preciso encontrar aquilo de que
meu estado intencional depende para saber em que estado estou, e necessito investigar o
ambiente em que me encontro imerso para saber o que penso; nessa perspectiva, as
minhas crenças são adquiridas a posteriori, através da experiência, e de minha relação
com o mundo exterior, enquanto que o conhecimento de meus pensamentos, o saber o
que eu penso, é algo a priori e não empírico.
Burge, com a sua teoria do autoconhecimento básico, pretende compatibilizar o
externalismo com o conhecimento de si ao tratar os pensamentos ordinários como
pensamentos de primeira ordem, e os juízos de autoconhecimento como pensamentos de
segunda ordem, que herdariam ou subsumiriam os primeiros: o que fosse pensado
ordinariamente seria subsumido como um juízo de autoconhecimento. Por exemplo, se
um sujeito S pensa “A água está fria“, seu juízo de autoconhecimento é “ Penso que a
água está fria “; tal juízo sempre pode ser proferido pelo sujeito, mesmo que o seu
conteúdo mental, o conteúdo do seu pensamento seja determinado por propriedades
externas a si: nesse caso, o sujeito poderia saber o que pensa ( ter a autoridade da
primeira pessoa ) mesmo com a possibilidade da existência de um mundo exterior
independente da sua mente, poderia saber que P apesar da hipótese externalista. Já
Boghossian, na sua rejeição do autoconhecimento burgeano, quer salvar o externismo
sobre o conteúdo mental e também a autoridade da primeira pessoa argumentando que,
na verdade, autoconhecimento não é conhecimento: com isso, rejeita categoricamente o
argumento da memória apresentado anteriormente, e afirma que esse juízo de
autoconhecimento de Burge não é auto- verificante, onde, por exemplo, um sujeito na
Terra que pensa “Penso que a água é um líquido “, e um sujeito na Terra - Gêmea que
afere “ Penso que a água - gêmea é um líquido “ tem pensamentos distintos, e há
mudança conceitual e referencial de “ água” para “ água - gêmea “ numa troca não
informada de ambiente ( slow - switch) para o sujeito judicante S.
Enfim, são várias questões relevante a importantes que foram expostas e
analisadas minimamente, e em termos de resultados, o que mais importa são as
discussões que todos estes tópicos apresentados suscitam como reflexão. Na sequência
final do trabalho, que deveria ter um caráter conclusivo, na verdade é mais uma
tentativa de relacionar os temas tratados com a intencionalidade dos estados mentais e
17
representacionais, mais próprios da filosofia da mente, com questões epistemológicas a
respeito do ceticismo filosófico e algumas de suas conseqüências.
Conclusão Geral e algumas questões sobre o Ceticismo na Epistemologia
Contemporânea
Para concluir, algumas considerações muito breves e ilustrativas sobre a tese do
anti-individualismo na filosofia da mente contemporânea, especialmente na visão de
Burge. No individualismo, todos os estados representacionais de um indivíduo são
constitutivamente independentes de quaisquer relações com uma realidade mais ampla
para serem as espécies que são; o anti-individualismo, em contraposição, defende que as
relações do indivíduo com esta realidade são constitutivas de muitos estados mentais
representacionais. Esta é uma visão sobre a natureza dos estados e eventos mentais
representativos que especificam a identidade dos mesmos pelas suas condições
constitutivas, a saber, pelas condições que tornam um estado mental ser o que ele é.
Vários estados mentais representacionais possuem relações constitutivas entre o
indivíduo e o ambiente, como a relação de causalidade, por exemplo. Uma relação
causal entre o indivíduo e o ambiente exterior desempenha uma função na constituição
dos tipos de espécies mentais representacionais dos seus estados mentais
representacionais: a mente, enquanto algo que representa, é o que é por ter relações
constitutivas com o mundo exterior e seus objetos.
As representações mentais são individuadas na mente do sujeito num sentido bem
mais amplo do que meros estados neuroquímicos e psicobiológicos: por exemplo, a
crença de que se fazem folhas de alumínio seria uma instância de uma espécie de estado
mental representativo “fazem-se folhas de alumínio“. Essa espécie mental
representacional possui esta natureza por que o sujeito que representa e individua o
objeto na sua mente mantém uma relação constitutiva com o ambiente natural e social
no seu entorno. Esta relação representacional é de causalidade, no caso: por uma relação
de causa e efeito, um objeto do mundo exterior causa em minha mente a representação
deste objeto ( o efeito ). Uma questão a se levantar, novamente, é se esta representação
possuiria conteúdo proposicional ou não, sendo passível de ser tal conteúdo justificável
epistemicamente pelo sujeito cognoscente, e até que ponto a mera representação na
18
mente deste sujeito alcançaria, num nível mínimo do que significaria neste contexto
conhecer, algo próximo do objeto exterior ele mesmo. Estados mentais que possuam
conteúdo representacional são sobre coisas do mundo, e o debate atual é, ao menos em
parte, uma continuação da investigação sobre a natureza das idéias a partir do século
XVII, especialmente com os empiristas clássicos, e da intencionalidade na filosofia
analítica contemporânea de uma maneira geral.
Em torno de todo este debate, surge a questão do ceticismo na epistemologia
contemporânea, que vem desde a teoria do conhecimento e da metafísica de David
Hume na filosofia moderna ( não sem esquecer das origens do ceticismo na história da
filosofia, que remontam ao pirronismo e ao estoicismo de uma maneira geral ), e
permanece até hoje como fonte de muitos debates e controvérsias. A maioria dos
epistemólogos analíticos contemporâneos sustenta que a tese do ceticismo na
epistemologia tem a sua gênese no dualismo existente entre a posição internalista e a
externalista, ou seja, dentre aqueles que defendem apenas a existência de estados
mentais na mente do sujeito cognoscente e epistêmico, e que negam com isso a
existência de um mundo exterior independente do pensamento, e os externalistas, que
tomam como premissa básica que existe um mundo lá fora, com os seus objetos e coisas
que são cognoscíveis, e é este que percebemos, tomamos como verdadeiro e formamos
juízos acerca do mesmo. Uma das análises mais importantes sobre as relações entre o
internalismo, externalismo e o ceticismo pode ser ilustrada pela célebre hipótese de
Hilary Putnam sobre a possibilidade de sermos cérebros numa cuba: no exemplo de
Putnam, o cérebro é removido do corpo e é colocado numa cuba de nutrientes que o
mantém vivo. Os terminais nervosos do cérebro são ligados a um super computador que
faz com que a pessoa de quem é o cérebro em questão tenha a ilusão de que existe um
mundo exterior, e ela percebe as coisas como sendo reais, quando na verdade o que a
pessoa, o sujeito em questão está experenciando é o resultado de impulsos elétricos que
deslocam-se do computador para os terminais nervosos. O computador pode apagar,
inclusive, a memória segundo a qual o cérebro opera, fazendo com que o sujeito julgue
que sempre esteve neste estado. A pergunta cética relevante no contexto epistemológico
a ser feita a respeito da existência do mundo exterior, segundo o exemplo dos cérebros
numa cuba, seria a seguinte: como o sujeito sabe que está nesta situação? A situação
hipotética putnamiana pode ser estendida para todos os sujeitos sencientes e
cognoscentes existentes, ou simplesmente um aparato cognitivo mínimo, que
possuíssem seus cérebros imersos numa cuba: como eles julgariam a respeito da
19
existência das coisas e do mundo? Este exercício mental e intelectual levaria, se levado
ás suas últimas conseqüências, ao ceticismo sobre o mundo exterior, e Putnam supõe
que, se fosse verdadeiro que fôssemos, de fato, cérebros numa cuba, poderíamos, de
fato, dizer ou pensar ( ao fim e ao cabo, julgar ) que o éramos?
A resposta de Putnam é negativa, por que para ele este argumento é auto-
refutante, e o prova invocando o experimento mental da Terra - Gêmea, já discutido
anteriormente, em que os sujeitos habitantes deste mundo possível rigorosamente
idêntico ao nosso possuem as mesmas experiências que nós, e também os mesmos
pensamentos, ou seja, passariam pelas mentes dos habitantes de Terra - Gêmea as
mesmas palavras, imagens e formas de pensamento que somos cognitivamente capazes.
Apesar disso, para Putnam, nós não podemos ser cérebros numa cuba, e nem os
habitantes do mundo possível da Terra - Gêmea, cópia e simulacro do nosso, e a razão
para isso é que embora as pessoas da Terra - Gêmea possam pensar e dizer quaisquer
das palavras que nós podemos pensar e dizer, não podem, segundo Putnam, referirem-se
à aquilo a que nós podemos nos referir, pois a referência do pensamento de um mundo
possível está na própria Terra - Gêmea, enquanto a outra está na Terra. Particularmente,
segundo a conclusão de Putnam, os sujeitos da Terra - Gêmea não poderiam pensar ou
dizer que são cérebros numa cuba, mesmo que eles pensem “ somos cérebros numa
cuba “. O externalista aceita que vivemos num mundo e com ele interagimos
causalmente, e para compreendermos o mesmo, lançamos hipóteses explicativas
complexas de como, a partir de entradas sensórias ( como os estímulos nervosos, por
exemplo, responsáveis pela nossa sensibilidade e cognição ), formamos um complexo
conjunto de explicações sobre este mundo. Para o cético, nada pareceria excluir a
possibilidade de que possamos ser, de fato, cérebros numa cuba, onde se não podemos
excluir essa crença de sermos cérebros numa cuba, então disso deveríamos concluir que
não conhecemos nada a respeito do mundo ( o chamado “ ceticismo global “ ). Todas as
nossas crenças poderiam ser falsas ao mesmo tempo, e a questão cética relevante aqui
seria: por que não poderiam todas as minhas crenças serem coerentes e, contudo, serem
todas elas falsas sobre o mundo real? ( essa hipótese do argumento cético lembra
deveras a hipótese do Deus enganador e do Gênio maligno das “ Meditações
Metafísicas “ de Descartes ).
A hipótese de Putnam sobre cérebros numa cuba, que é uma hipótese cética,
pois não estaríamos em contato com o mundo exterior, e é refutada pelo próprio, é
relevante para os que aceitam uma visão naturalista do homem, como é o caso de
20
Davidson, por exemplo: para este filósofo de fundamental importância para a filosofia
da mente e a epistemologia contemporânea, se alguém quiser defender uma tese de que
sabemos, temos conhecimento de como o mundo é, e ao mesmo tempo ter uma visão
naturalista, então este alguém deve abandonar o argumento cético de Putnam. Para
Davidson, o internalismo conduz necessariamente ao ceticismo: dentro desta
perspectiva epistemológica, há que se adotar o externalismo para fugir deste ceticismo
para este filósofo, que consiste basicamente em uma abordagem dos três tipos de
conhecimento possíveis ( do mundo, das outras mentes e da própria mente ) a partir da
comunicação entre duas ou mais pessoas, sujeitos judicantes e cognitivos, que
interagem e entre si e com o mundo à sua volta, supondo este exterior à mente destes
sujeitos e tendo uma existência real ). Haveria muito mais coisas a se dizer aqui ao tratar
destes temas, e que resultariam um artigo específico especializado; como a idéia é expor
mínima e perifericamente algumas teses epistemológicas centrais também sobre estes
pontos, encaminho a conclusão desse trabalho comentando um pouco a posição de
Davidson sobre o externalismo e o ceticismo na epistemologia contemporânea,
especialmente uma vertente do externalismo no âmbito da filosofia da linguagem
denominada externalismo semântico: neste, a idéia central é a de que o significado de
uma palavra ou frase ( com conteúdo proposicional ) depende de fatores externos à
mente. Hilary Putnam e Saul Kripke foram os epistemólogos que mais contribuíram
para o desenvolvimento e a difusão do externalismo semântico, que também admite
teorias causais da referência, como já foi dito anteriormente: os objetos e coisas do
mundo, por terem uma existência independente da mente do sujeito cognoscente,
causam na mente as sensações, e há um referente para a coisa pensada no mundo ( há
uma teoria causal da percepção nessa interface entre as filosofias da mente, da
linguagem e a epistemologia, de Strawson, e uma crítica à mesma procedida por
algumas correntes da filosofia da mente, especialmente; contudo, esse tópico não será
discutido aqui, pois igualmente renderia um texto específico versando sobre o mesmo ).
Embora Davidson seja externalista e refute o ceticismo na sua epistemologia,
ele tem algumas objeções ao externalismo semântico, que pretende aperfeiçoar no seu
sistema, especialmente no sentido de fornecer argumentos contra o internalismo.
Davidson propõe uma forma modesta de externalismo que vai contra o ceticismo:
pretende ele mostrar não apenas que as teses céticas são falsas, mas também que os
problemas céticos não devem nos preocupar, uma vez que, sob a égide do externalismo,
eles sequer podem ser formulados. Para Davidson, se o externalismo é a tese correta
21
acerca do conhecimento do mundo pelo sujeito, então as dúvidas céticas sobre o mundo
exterior, principalmente em relação à sua existência de fato, sequer podem ser
formuladas. Na sua obra “ The Myth of the Subjective “, p. 45, Davidson coloca que o
ceticismo não pode ser formulado “ se os conteúdos da mente dependem da relação
causal, quaisquer que sejam, entre as atitudes e o mundo “. A simples hipótese da
veracidade epistêmica do externalismo, em especial o externalismo semântico, refuta a
pergunta fundamental acerca de como é possível o conhecimento do mundo exterior,
precisamente esta a questão central do ceticismo. Também o problema das outras
mentes, do conhecimento dos conteúdos mentais das outras mentes, é rechaçado por
Davidson: a tese cética da qual não sabemos nada a respeito da mente dos outros é falsa.
Nós sabemos o que os outros pensam e crêem, mas isso não deve ser visto como uma
resposta à questão cética, mas como uma perspectiva sobre as outras mentes que impede
o aparecimento da própria questão cética. Wittgenstein trata desta questão nas suas “
Investigações Filosóficas “, colocando o problema das outras mentes como um
problema da linguagem ser necessariamente um assunto social na comunicação entre os
sujeitos cognoscentes. Também, nesta perspectiva, deve-se eliminar o ceticismo a
respeito da minha própria mente e dos seus conteúdos mentais: o cético coloca em
dúvida esse conhecimento supondo uma certa tensão entre a autoridade da primeira
pessoa e a tese externalista que apregoa que os nossos conteúdos mentais dependem do
mundo exterior, de fatores externos à mente causados por uma realidade externa e
independente da mente do sujeito. Para Davidson, no lugar das questões céticas
tradicionais, novas questões surgem, como por exemplo, em vez do epistemólogo tentar
explicar o conhecimento do mundo exterior, buscar a natureza do erro, de por que este é
epistemicamente possível, uma vez que a maioria das nossas crenças é forçosamente
verdadeira. Citando o autor em “ The Myth of the Subjective“, p. 47, “ surgem novos
problemas, que giram em torno da natureza do erro, pois o erro é difícil de identificar e
explicar se o holismo que acompanha uma abordagem não fundacionista não é de
alguma maneira limitado “. Por outro lado, em “Knowing One´s Own Mind “, p. 47,
Davidson coloca que “ não é problemático se o conhecimento do mundo e de outras
mentes é possível, mas permanece uma questão como alcançamos tal conhecimento e as
condições que a crença deve satisfazer para contar como conhecimento “.
Em resumo, foram expostas aqui, brevemente, algumas das principais teses da
epistemologia contemporânea e da filosofia da mente do século XX. Cada tópico requer
atenção e tratamento especial, e não foi o objetivo analisar detalhadamente cada um; a
22
idéia foi de fornecer um panorama geral e sinóptico de algumas áreas efervescentes de
pesquisa na epistemologia analítica contemporânea e na filosofia da mente, áreas estas
que estão em ampla atividade, com muito trabalho de investigação para os filósofos da
mente e epistemólogos atuais.
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