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China Ilumina Portugal Zhang Beisan Entrevista exclusiva
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1 • Diplomática - Junho/Julho 2008
´Diplomaticabusiness & Diplomacy
With English & French Texts
Textos dos Embaixadores:Alemanha, Bélgica, Chipre, França, Itália, Kuwait, Malta, Reino Unido, Rússia e Turquia
Nº13Abril/Junho 2012€4 (Cont.)
Dip
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ho
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China Ilumina Portugal
Zhang BeisanEntrevista exclusiva
Dossier África
Memória 25 Abril
Em Destaque:Paul SchmitLuxemburgo
Bernarda GradišnikEslovénia
Bouza SerranoPortugal
4 • Diplomática - abril/junho 2012
DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. av. Engº Duarte pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 lisboa.
MARkETINg & PUblICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: madeira & madeira, S.a. DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45
iSSn 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação Social com o nº 125395
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AssuntosSummary
Espaço Diplomático – convidados, os embaixadores da alemanha, bélgica, chipre, França, itália, malta, reino unido, russia, turquia e Kuwait fizeram questão de evidenciar, através dos seus textos, a importância da evolução da política mundial.Diplomatic area – invited, the ambassadors of Germany, belgium, cyprus, France, italy, malta, uK, russia, turkey and Kuwait made a point of showing, through their texts, the importance of the evolution of world politics
presidente da república na Finlândia – construindo novas pontespresident of portugal in Finland – building new bridges
Embaixador da china em portugal – china pode ser o portal privilegiado da expansão de portugal na ásiaambassador of china in portugal – china may be the privileged site of the expansion of portugal in asia
Durão barroso – Doutor honoris causa pela utlDurão barroso – Doctor honoris causa by utl
Economia -patrick Siegler-lathrop – inverno ou primavera?Economy -patrick Siegler-lathrop – Winter or spring?
mariano rajoy e pedro passos coelho – portugal e Espanha analisam combate à crisemariano rajoy, and pedro passos coelho – portugal and Spain analyze combat to the crisis
Embaixador josé de bouza Serrano – o guardião dos embaixadores acreditados em portugalambassador josé bouza Serrano – the guardian of the ambassadors accredited in portugal
Embaixadores de portugal apresentam cumprimentos ao presidente da repúblicaambassadors of portugal presented greetings to the president of portugal
Embaixador do luxemburgo – representante de um país com uma história muito rica e antigaambassador of luxembourg – representative of a country with a rich and ancient history
Embaixadora da Eslovénia – Fala-nos de si, do mundo e de maribor, capital Europeia da culturaambassador of Slovenia – Speaks abaut herself, the world and maribor
presidente cavaco recebe credenciais de novos embaixadorescavaco president receives credentials of new ambassadors
nelson mandela, aos 93 anos, continua a irradiar uma surprendente vitalidadenelson mandela, age 93, continues to irradiate a surprising vitality
a sede permanente da cplp – uma aposta para o futurothe permanent headquarters of the cplp – a bet for the future
passos coelho em moçambique – Em foco cahora bassapassos coelho in moçambique – Focus cahora bassa
lusofonia – palmira tjipilica - um resgate afirmativo da mundialização das identidadeslusofonia – palmira tjipilica - a positive rescue of the globalization of identities
ipDal comemora Vi aniversárioipDal celebrates Vi anniversary
le palais de Santos na embaixada de Françale palais de Santos in the french embassy
made in portugal -tapeçarias Ferreira de Sámade in portugal -tapestries Ferreira de Sá
Dia nacional -Emiratos árabes unidos – 40 anos a caminho da uniãonational day -united arab Emirates – 40 years on the road to union
Gastronomia -carlos medeiros – os segredos do auraGastronomy -carlos medeiros – the secrets of aura
os portugueses na orquestra de jovens da união Europeia the portuguese in the Youth orchestra of the European union
memória: a arte do 25 de abrilmemory: the art at the 25th of april
traduçõestranslation
5abril/junho 2012 - Diplomática •
Russia
Reino Unido
Alemanhã
Itália
Malta
Turquia
Kuwait
França
Bélgica
Chipre
Invited to comment on the events of 2011 and possible forecasts for the current year, the
ambassadors of Germany, belgium, cyprus, France, italy, malta, uK, russia,turkey and
Kuwait explained through their statements the important policy developments of the year.
the texts are undoubtedly essential reading in order to understand clearly the social and
economic policy of their respective countries. ➤
Convidados a pronunciarem-se sobre os acontecimentos de 2011 e possíveis
previsões para o corrente ano, os Embaixadores da Alemanha, bélgica, Chipre,
França, Itália, Malta, Reino Unido, Russia, Turquia e kuwait fizeram questão de
evidenciar, através dos seus depoimentos, a importância da evolução da política,
em textos que são, indubitavelmente, de leitura indispensável, para entendermos,
de modo claro, a politica social e económica dos seus respectivos países. ➤
2011 Odisseia no Mundo
6 • Diplomática - abril/junho 2012
Mesmo para os tempos atribulados que vive-
mos, 2011 foi um ano invulgar, que exigiu muito
da política externa e definiu algumas direções
novas na política interna. Foi um ano de altera-
ções profundas também para nós na Europa.
crises agudas e situações de risco em diversas
regiões do mundo colocaram a diplomacia pe-
rante missões particulares. um acontecimento
que, para além disso, também teve consequên-
cias políticas no meu país – a república Fede-
ral da alemanha – foi o terrível acidente com o
reator de Fukushima. na sua sequência, o go-
verno federal anunciou o fim da energia atómi-
ca na alemanha até ao ano 2022. a alemanha
pretende, assim, abandonar a energia nuclear
mais rapidamente do que estava planeado.
a revolta no mundo árabe - e, assim, na nos-
sa vizinhança imediata - constitui uma enorme
oportunidade, mas também um enorme desafio.
Os acontecimentos mais marcantes 2011
Helmut Elfenkämper - Embaixador da Alemanha
o desfecho deste processo histórico ainda está
em aberto. a Europa procura dar o seu con-
tributo, de forma a que as oportunidades que
advêm deste levantamento sejam positivamente
aproveitadas. temos um interesse próprio e
elementar em que existam sociedades abertas
e prósperas a Sul do mediterrâneo. o governo
federal fez ofertas atraentes para apoiar estas
sociedades, através de parcerias de transfor-
mação abrangentes. para o nosso empenho
nestes países, necessitaremos de muita persis-
tência. ➤
Espaço Diplomático
7abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ Desde o início do ano 2011 que a alemanha
tem, em conjunto com portugal, responsabili-
dades particulares, na qualidade de membro
não-permanente do conselho de Segurança
das nações unidas, nomeadamente em ques-
tões tão importantes como a independência do
Sul do Sudão, nos esforços para a obtenção
de estabilidade e segurança no novo Estado e
na região, ou no âmbito do desarmamento e da
não-proliferação, temas que a alemanha tem
acompanhado de forma particularmente ativa.
atualmente concentramos todas as nossas for-
ças, juntamente com portugal, para demover o
regime sírio de persistir na impiedosa opressão
do seu próprio povo.
contudo, especialmente marcante para um
Embaixador alemão em lisboa em 2011 foram
os desenvolvimentos no âmbito da crise da
dívida na Europa. o governo federal contribuiu
significativamente, durante todo o ano, não
apenas para superar a crise aguda, como ainda
para elaborar uma perspetiva para a Europa do
futuro, um caminho para uma união de estabili-
dade. Este será um trabalho para continuar. o
trabalho que se faz de uma cimeira para a outra
constitui um esforço contínuo, de perseverança,
com vista a construir as novas bases para uma
Europa da competitividade, da solidez e da so-
lidariedade. para a alemanha, na qualidade de
maior economia da Europa, isto significa uma
responsabilidade particular, que o país assume.
para mim, como Embaixador alemão em lisboa,
isto também significa uma comunicação contí-
nua e uma mediação ininterrupta das nossas
posições, face a uma opinião pública, em parte,
também crítica. não existem soluções simples
e rápidas para problemas que foram criados ao
longo de muitos anos, apesar de estas serem
frequentemente exigidas. a alemanha também
se tem mostrado solidária para com a Europa –
só para o programa de apoio a portugal, con-
tribui com 17,4 mil milhões de euros – e assim
continuará no futuro. contudo, a solidariedade,
por um lado, tem de ser acompanhada pelos
esforços de consolidação pelo outro.
o governo português partilha das nossas opi-
niões de base e deu passos corajosos, no
sentido de tornar portugal mais competitivo
e solucionar a sua crise da dívida. temos um
grande respeito pelos esforços envidados. isto
tem sido constantemente sublinhado por políti-
cos alemães nas suas visitas a portugal no ano
passado, contribuindo para encorajar o país
a prosseguir este caminho. não pretendemos
com isto exigir aos nossos parceiros condições
demasiado rigorosas para aumentar a discipli-
na orçamental, nem negligenciar a questão do
crescimento. a nossa estratégia não se esgota
na austeridade, mas aposta em impulsos inteli-
gentes para um crescimento sustentado, o que
inclui, em primeira linha, o alargamento do mer-
cado interno a novos campos, a criação de um
fundo de crescimento europeu e a celebração
de mais acordos de comércio livre.
a mensagem que, na minha opinião, mais im-
portou transmitir no ano 2011, assim como nos
próximos anos, é que não poderá haver um bom
futuro para o meu país sem a integração euro-
peia. não queremos uma Europa alemã, mas
sim uma alemanha europeia. a Europa tem de
continuar a consolidar-se na crise, e continuará,
e no fim sairá desta crise fortalecida. n
A nossa estratégia não se esgota na
austeridade, mas aposta em impulsos
inteligentes para um crescimento susten-
tado, o que inclui, em primeira linha, o
alargamento do mercado interno a novos
campos, a criação de um fundo de cres-
cimento europeu e a celebração de mais
acordos de comércio livre
8 • Diplomática - abril/junho 2012
Ali Kaya Savut - Embaixador da Turquia
Há certos momentos em que as pessoas decidem
tomar as rédeas do destino nas suas próprias
mãos e deixar a sua marca na história. 2011, um
ano já por si agitado, pode ser facilmente rotula-
do como um ano assinalável, simplesmente pela
perceção do quanto foram profundas as ondas de
mudança que afetaram o médio oriente e o norte
de áfrica. ainda que os protestos do povo, nas
ruas e praças das cidades, já tenha redesenhado
o mapa político da região, a transformação arabe
continua a ser um trabalho em progresso em prol
da democracia e espera-se que dê os seus frutos
a longo prazo, independentemente do quanto a
situação pareça ser caótica neste momento.
neste momento de conjuntura crítica da história,
a turquia, situada numa geografia peculiar, onde
a brisa das ondas de mudança também foi real-
mente sentida, esforçou-se para fazer eco da
voz do povo nas ruas, e manter a mensagem de
esperança para a democracia na região. inspirada
pelo lema de Kemal atatürk "paz em casa, paz
no mundo", a turquia acredita que, para servir de
fonte de inspiração ás pessoas da região, tem de
manter, dentro das suas fronteiras, uma democra-
cia estável, um estado de direito forte, o respeito
pelos direitos humanos e uma economia de mer-
cado que funcione bem.
nesse sentido, em 2011, a turquia organizou elei-
ções legislativas, nas quais votaram mais de 43
milhões de pessoas. as reformas continuaram a
ser implementadas num vasto espectro de áreas,
incluindo o sistema judicial, direitos das minorias
e direitos humanos.
a turquia também mostrou uma performance eco-
nómica muito forte em 2011. após um ➤
A União Europeia e a Turquia: Um futuro comum
Espaço Diplomático
9abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ crescimento de 8,9% em 2010, estima-se que
a economia turca apresente de novo um cresci-
mento significativo de 7,5%, en 2011. Este cres-
cimento também reduziu a taxa de desemprego
de 11,4% para 9,2%, criando mais de 1 milhão de
novos empregos. as exportações da turquia atin-
giram o seu nível mais alto, 134 mil milhões de
euros, apesar da retração do principal mercado de
destino de exportação da turquia, nomeadamente
a Europa. toda esta expansão foi atingida com
uma rigorosa disciplina fiscal, mantendo um défice
orçamental de 1,5% e uma dívida pública de 40%.
apesar de todos estes desenvolvimentos positi-
vos, existe uma área na qual a turquia não con-
seguiu fazer qualquer progresso significativo em
2011, foi no seu processo de adesão à uE. até
2011, a turquia conseguiu abrir 14 capítulos de
negociação e só fechou um único capítulo. no ano
passado, nenhum novo capítulo foi acrescentado
a essa lista durante as presidências húngara e
polaca da uE.
a questão não resolvida de chipre, continuou
a ser usada como pretexto para bloquear vários
capítulos, apesar do forte estímulo e apoio da
turquia para que as negociações em curso pu-
dessem alcançar uma solução justa e duradoura
na ilha. mais importante ainda, derivado às preo-
cupações políticas de curto prazo, alguns grandes
Estados-membros continuaram a sua resistência
ao processo de adesão da turquia. a Europa,
confusa face ao agravamento da sua própria crise
financeira, não tem sido capaz de mostrar uma
visão política suficiente, nem vontade para lidar
com a adesão da turquia.
na verdade, se o problema fosse tratado com uma
perspetiva de visão de longo prazo, a situação
seria diferente. ter-se-ia percebido que o grande
e crescente mercado doméstico da turquia, a
maturidade e a dinâmica do setor privado, o am-
biente de investimento liberal e seguro, a oferta
de alta qualidade e o custo efetivo da força de
trabalho, assim como a infraestrutura desenvol-
vida, negam todas as preocupações de que uma
eventual adesão turca, seria um fardo para a uE.
também ajudaria a uE a alcançar uma vantagem
competitiva, em relação a mercados emergentes
na ásia e américa, que seria benéfica para ali-
viar a crise económica actual.
para além disso, a adesão da turquia à uE, seria
uma resposta significativa para o aumento preo-
cupante da xenofobia, do racismo, dos preconcei-
tos contra outras culturas e religiões na Europa.
como membro, a turquia, com o seu valioso pa-
trimónio histórico e cultural, aproximaria a união
Europeia do cáucaso, da ásia central e do médio
oriente e seria um importante contributo para
a promoção dos valores da uE nessas regiões,
onde presenciamos uma grande transformação
neste momento.
Em 2012, esperamos que, uma atmosfera cres-
cente de confiança prevaleça entre os dois lados
e que novos passos visionários serão feitos para
tornar a integração uma realidade. n
Neste momento de conjuntura crítica da
história, a Turquia, situada numa geogra-
fia peculiar, onde a brisa das ondas de
mudança também foi realmente sentida,
esforçou-se para fazer eco da voz do
povo nas ruas, e manter a mensagem de
esperança para a democracia na região.
10 • Diplomática - abril/junho 2012
On 23rd january 2012, the maltese prime minister,
the hon. lawrence Gonzi, in a short but significant
ceremony, formally returned two libyan air Force
mirage jets to the chief of the libyan armed Forces,
brigadier Sager adam al Giroshi. Eleven months
earlier, on 21st February 2011, just four days after
the start of the revolution, the pilots of these jets had
defied orders by the regime to bomb protestors and
instead flew low to avoid radar detection and defected
to malta. this incident made world news because it
confirmed, beyond any doubt, that the Gaddafi regime
was targeting innocent civilians indiscriminately. Even
though at that time the un sanctions had not yet been
approved and the international community had not yet
intervened, malta felt morally bound by its traditional
friendship to the libyan people and resisted persistent
pressure from the libyan regime to return the planes.
this incident, which fortified the aspirations of the
libyan people, encapsulates the position taken by
malta from the very start of the crisis. the maltese
Malta and the new Libya
authorities denounced the atrocities committed by the
Gaddafi regime, made it clear that Gaddafi’s departu-
re was inevitable and were among the first to recog-
nise the ntc as the sole and legitimate interlocutor
of the libyan people and eventually as the ad hoc
government of libya.
in the same spirit, malta took all necessary action to
ensure the effective application of the no-fly zone on
libya as imposed by the united nations Security cou-
ncil without joining in the military operations and parti-
cipated actively in the international contact Group on
libya, which was set up to provide leadership and an
overall political direction to international efforts to find
lasting solutions to the then-evolving crisis in libya.
undoubtedly, the biggest impact of the libyan uprising
was on the humanitarian side. it started with a mass
exodus of the terrified migrant population and conti-
nued with a protracted armed struggle with substantial
casualties. the maltese Government acted swiftly and
effectively by providing humanitarian aid and assis-
Simon Pullicino – Embaixador de Malta
Espaço Diplomático
11abril/junho 2012 - Diplomática •
tance. With the crisis at its very early stages, malta
assisted 100 of the 193 un countries evacuating over
21,000 foreigners from libya through malta. it also
authorised a semi-military operation in transporting li-
byan refugees and injured from tunisia to misrata and
benghazi. as the struggle intensified, malta transfor-
med itself into a hub of humanitarian activity, evacua-
ting the wounded, providing urgent medical assistan-
ce, ferrying people and critical supplies and serving as
a base for several international humanitarian agencies
to deliver aid to the libyan people.
in spite of its limited resources, but living up to its re-
putation of being a truly hospitable nation at the cross
roads of the mediterranean, malta treated numerable
cases of wounded people but some cases stand out,
such as the case of Shwejga mullah, an Ethiopian
nanny, who was discovered weak and alone in the
home abandoned by muammar Gaddafi’s son han-
nibal. many newspapers claimed that hannibal’s wife
threw boiling water on her, causing horrific scalds and
burns, when she did not manage to stop hannibal’s
daughter from crying and eventually refused to beat
the child. the maltese Government brought her to
malta, gave her all the treatment and attention she
required at hospital and also offered her asylum.
malta’s stance earned the appreciation of the most
prominent ntc representatives who visited malta on a
number of occasions. besides providing medical and
humanitarian assistance, the maltese authorities also
offered an assistance package to the new libyan ad-
ministration consisting mainly of a number of scholar-
ships. malta was also one of the very first countries to
have a fully operational Embassy in tripoli, apart from
the office in beghazi, as a further gesture of support
to a free libya. in november, prime minister lawren-
ce Gonzi became the first prime minister to hold talks
with the then-newly appointed interim prime minister
El Keib during which it was agreed the maltese-libyan
joint commission will be reconvened soon to tackle a
number of priority areas including stability and secu-
rity in libya, the setting up of democratic institutions,
economic affairs and illegal immigration.
With this crisis, malta’s reputation as the nurse of
the mediterranean, (earned at the height of the First
World War, when it was transformed into a hospital to
treat some 80,000 wounded soldiers from the Gallipoli
campaign) was reaffirmed and many foreign gover-
nments, whose nationals were evacuated through
malta, expressed their appreciation.
the uS Secretary of State, hilary clinton, in a letter
to malta’s Foreign minister acknowledged malta’s
“significant and generous contribution” and continued
that “malta’s steadfast commitment to the protection
of human rights, the libyan people, and the mediter-
ranean region is laudable”.
maltese attitude to the crisis is best summed up by
remarks made by the Deputy prime minister and mi-
nister of Foreign affairs, the hon. tonio borg: our atti-
tude to our neighbouring country at the dawn of a new
era should not be inward-looking, searching for what
advantages can be gleaned from this situation, but
must be directed by a genuine attempt at assisting our
neighbours with the necessary tool-kit for constructing
a democratic state; as the nearest Eu member state,
this should be our natural vocation and mission not
in any condescending or patronising way, but our of
sincere wish to help libya to help itself.
2011 will remain forever linked with the arab Spring.
the prevailing vulnerability to the long-standing dic-
tatorships in tunisia, Egypt and libya was abruptly
and unexpectedly overpowered by the unwavering
determination of the masses to defend their legitimate
ambitions for a better future. the same countries are
now faced with new realities and enormous challen-
ges as they begin to address the complex and sensi-
tive task of rebuilding their countries. no stone should
be left unturned to ensure that in 2012 their genuine
aspirations of peace, democracy and prosperity beco-
me reality.
The Maltese Government acted swiftly and
effectively by providing humanitarian aid and
assistance. With the crisis at its very ear-
ly stages, Malta assisted 100 of the 193 UN
countries evacuating over 21,000 foreigners
from Libya through Malta. It also authorised a
semi-military operation in transporting Libyan
refugees and injured from Tunisia to Misrata
and Benghazi
12 • Diplomática - abril/junho 2012
No plano internacional o ano de 2011 foi rico em
acontecimentos, incluindo os de carácter ambí-
guo, e em alguns casos mesmo dramáticos. basta
mencionar o aprofundamento da crise económico-
-financeira global, queda de regime de muammar
Kaddafi, agravamento da situação em torno da
Síria e irão, avaria na central atómica japonês
“Fukushima”. todavia, na minha opinião, em
geral o ano de 2011 não foi mal. o nosso país vai
lembrá-lo por causa duma série de êxitos na esfe-
ra da política externa. Venho enumerar só alguns
deles.
Foi muito significante a adesão da rússia à orga-
nização mundial de comércio. Estamos convenci-
Resultados da política externa da Rússia em 2011
dos que estamos no início duma etapa qualitativa-
mente nova da integração da rússia no sistema
económico mundial.
um êxito muito importante para a rússia foi o
avanço dos processos de integração no espa-
ço da comunidade dos Estados independentes
(cEi). Em particular, na base da união aduaneira
formou-se o Espaço Económico uno (EEu) de
rússia, bielorrússia e cazaquistão.
É de destacar positivamente a consolidação das ➤
Pavel Petrovskiy – Embaixador da Rússia
Espaço Diplomático
13abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ posições dos países do grupo bricS (brasil,
rússia, Índia, china, áfrica do Sul). uma asso-
ciação, que no início teve um carácter informal
observando somente os assuntos económicos e
financeiros, agora bricS está a adquirir um cará-
ter muito mais diversificado passando a discutir
as questões da política atual.
no campo das relações russo-americanas conse-
guimos fazer bastante: entraram em vigor o tra-
tado sobre a redução das armas estratégicas e o
acordo sobre a cooperação na esfera da energia
atómica. a comissão presidencial bilateral rus-
so-americana, o papel importante de coordenação
da qual desempenham Serguey lavrov e hillary
clinton, tem trabalhado intensamente.
Devemos destacar o progresso na matéria de
transição gradual ao regime sem vistos entre
a rússia e a união Europeia. Durante a cimei-
ra rússia-uE realizada 14-15 de Dezembro de
2011 em bruxelas foi dada a luz verde para a
realização duma série dos passos conjuntos, a
implementação dos quais dará a possibilidade de
começar a elaboração do acordo sobre o regime
sem vistos.
lamentamos o facto que uma séria de problemas
internacionais, nos quais a rússia está diretamen-
te envolvida, foram deixados para o ano 2012.
antes de mais nada é o tema da defesa antimíssil
na Europa. não conseguiremos nos livrar deste
problema caso não chegarmos ao acordo com os
Eua (para já é a situação de impasse por cau-
sa da falta da vontade de Washington tomar em
consideração os nossos interesses nacionais),
ou realizarmos um conjunto de meios de carácter
técnico-militar anunciados pelo presidente Dmitriy
medvedev no dia 23 de novembro de 2011.
Estamos preocupados cada vez mais com o que
está a acontecer em torno do programa nuclear
iraniano. achamos que tanto teerão como a aiEa
precisam de envidar esforços conjuntos para e
muito mais para livrar-se de todos os problemas
não resolvidos. no entanto, o caminho de pressão
dura e sanções ao irão, na nossa opinião, leva ao
impasse.
Quanto à “primavera árabe”, olhamos com a
compreensão a expressão de vontade dos povos
árabes, queremos ver os Estados da região está-
veis, independentes e prósperos. infelizmente, os
acontecimentos na região de médio oriente, em
particular, na Síria e no Egito, adquirem o caráter
cada vez mais imprevisível e perigoso.
Deixe-me sugerir com uma certa parte de otimis-
mo que no 2012 vai aumentar significativamente
o número de acontecimentos positivos e animado-
res tanto para a rússia como para a comunidade
mundial em geral. n
É de destacar positivamente a consolidação
das posições dos países do grupo BRICS
(Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul).
Uma associação, que no início teve um
carácter informal observando somente os
assuntos económicos e financeiros, agora
BRICS está a adquirir um caráter muito mais
diversificado passando a discutir as ques-
tões da política atual.
14 • Diplomática - abril/junho 2012
A revista Diplomática propôs-me escolher um tema
que marcou o ano de 2011. a meu ver, no plano
mundial, o ano transato foi marcado pelas revoluções
no mundo árabe, a queda de vários tiranos ou presi-
dentes autoritários, que esperemos, tenha continuida-
de no decorrer do ano de 2012, no sentido de serem
substituídos por democracias eleitas e tolerantes para
com as minorias religiosas e outras.
mas como já existem muitos comentários acerca
deste assunto, permitam-me pronunciar sobre o meu
país. Formações de novos governos verificam-se no
mundo quase todas as semanas mas, no caso da
bélgica, tem sido um pouco diferente. muitos amigos
têm-me colocado a mesma questão: como é que um
país ocidental pode funcionar, durante esta interminá-
vel crise, 544 dias sem governo? E sem violência...
É do conhecimento de todos que a bélgica é com-
posta por duas comunidades linguísticas de tamanho
2011, Ano da Formação de um novo Governo na Bélgica
quase igual: os Flamengos que representam cerca de
60% da população e os Valões 40%. Existe também
uma pequena comunidade de língua alemã. os Fla-
mengos, que vivem no norte do país, falam a mesma
língua (o neerlandês) que os holandeses, embora
com um sotaque diferente (como os portugueses e
os brasileiros) e os Valões, do sul, o françês, a língua
valã tendo praticamente desaparecido. as duas
grandes comunidades opõem-se por razões económi-
cas, culturais e históricas quase desde que a bélgica
conquistou a sua independência dos holandeses, em
1830. portanto, a independência da bélgica apenas
consagrou um estado de fato: os belgas, já desde a
idade média, viviam juntos, dependentes de reis ou
imperadores longínquos: espanhóis, austríacos, fran-
ceses ou holandeses.
a bélgica foi o único país da Europa a ser ocupado
duas vezes pela alemanha durante as duas Guerras ➤
Jean-Michel Veranneman de Watervliet – Embaixador de Bélgica
Espaço Diplomático
15abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ mundiais, o que contribuiu ainda mais para o agra-
vamento das relações entre as duas comunidades
dado que a perceção em relação a estes trágicos
acontecimentos foi diferente.
o Estado belga, criado em 1830, era unitário e cen-
tralizador, tendo como único idioma oficial o francês.
no entanto, a partir do final do Século XiX, o neerlan-
dês fez um impressionante come back na Flandres,
tendo-se tornado a língua oficial nessa região. Desde
os anos 70 do Século XX, a Flandres e a Valónia
conquistaram paulatinamente uma autonomia políti-
ca e económica. É possível estabelecer um grau de
comparação entre esta autonomia e a dos Estados
americanos relativamente ao governo federal. ou
seja, abrange quase todos os aspetos da vida em
comum, como a educação (inclusive a universitária),
a cultura, os transportes, a promoção das exporta-
ções e determinados poderes fiscais e económicos.
a competência do governo federal belga é limitada
às finanças, à justiça, à defesa, às relações exterio-
res e a uma parte das competências económicas. as
restantes pastas são da competência das regiões da
Flandres, da Valónia ou de bruxelas. como a capital
tem uma grande maioria de francófonos, existe uma
autoridade competente para a educação e para a cul-
tura de toda a população francófona da bélgica, seja
de bruxelas ou da Valónia.
a crise política que estalou após as eleições de ju-
nho de 2010 e que se alastrou até aos últimos dias de
2011 foi, de fato, um record, mesmo para a bélgica,
país que assistiu, no passado, a outras crises demo-
radas na formação do governo (federal). no entanto,
o fato de ser limitado ao governo central, não se
estendendo, por isso, às comunidades flamenga ou
valã, as quais têm os seus próprios governos, parla-
mentos, orçamentos e eleições - que não coincidem
com as eleições federais – explica, em parte, a razão
da bélgica ter continuado a funcionar relativamente
bem.
Do meu ponto de vista, funcionou muito bem, na ver-
dade, tendo em conta que na ausência de um orça-
mento, as despesas eram limitadas às do orçamento
de 2010, não sendo possível, por isso, fazer ajustes
inflacionários, o que obrigou a limitar as despesas
públicas.
outro fator de estabilidade, mesmo na ausência de
um governo formalmente instalado com plenos pode-
res, foi o fato do novo parlamento, eleito em 2010, ter
prestado juramento, assumindo, de imediato, o con-
trolo democrático dos assuntos correntes do governo
federal. Este, sob pressão dos acontecimentos, teve
que asumir a presidência rotativa da uE, que foi um
sucesso, e foi levado a tomar determinadas decisões
importantes, tais como o envio de aviões de combate
F16, os quais contribuíram para o bloqueio das forças
aéreas de Kadafi em conformidade com a resolução
relevante do conselho de Segurança da onu.
o governo federal que se instalou (finalmente) em
novembro tem duas tarefas: cumprir as medidas
drásticas impostas a todos pela crise do Euro e
alargar ainda mais o leque de competências a se-
rem exercidas pelas regiões, tais como, os assuntos
sociais.
Desta feita, o maior fator de estabilidade é o prag-
matismo e o espírito pacífico dos belgas que, apesar
de conflitos eternos entre francófonos e flamengos,
sempre resolveram os seus problemas sem violência,
com soluções políticas e “creatividade constitucional”,
soluções que causam, eventualmente, estranheza
nos observadores estrangeiros. no entanto, ao con-
trário do que se verificou, infelizmente, no país basco,
na irlanda do norte ou na ex-Yugoslávia – limitando
os casos apenas ao espaço europeu –, a bélgica
nunca assistiu a atos de terrorismo, assassinatos ou
violência política.
apesar de ter sido um país que foi palco de eternas e
sangrentas guerras entre os seus vizinhos europeus
(sendo possível ainda hoje visitar campos de batalha
como Waterloo, Ypres e bastogne), é, para o povo
belga, um motivo de orgulho viver num país pacífico
e tolerante que acolhe a sede das principais insti-
tuições europeias, fruto da integração europeia, a
grande realização da segunda metade do século XX,
para a qual os belgas contribuiram muito. n
Outro fator de estabilidade, mesmo na
ausência de um governo formalmente
instalado com plenos poderes, foi o fato
do novo Parlamento, eleito em 2010, ter
prestado juramento, assumindo, de ime-
diato, o controlo democrático dos assun-
tos correntes do governo federal.
16 • Diplomática - abril/junho 2012
Como Embaixadora britânica em portugal agradeço
a oportunidade que a revista Diplomática me dá para
através deste artigo falar aos portugueses sobre o
que faz do reino unido um ótimo lugar para se viver,
trabalhar, estudar ou simplesmente para visitar duran-
te o ano de 2012.
Este é um ano marcado por acontecimentos excecio-
nais que são verdadeiramente históricos para o reino
unido. Em primeiro lugar porque comemoramos os 60
anos do reinado de Sua majestade a rainha isabel
ii. o jubileu de Diamante da rainha será uma opor-
tunidade para expressarmos a nossa gratidão pelo
extraordinário serviço que a rainha tem prestado ao
nosso país durante o seu longo reinado, tendo sido
um fator de estabilidade em tempos de verdadeira
mudança. o seu reinado já abrangeu 12 primeiros
ministros diferentes – incluindo Winston churchill -,
sendo o segundo mais longo a seguir à rainha Vitória
(que reinou durante 63 anos). muitas pessoas aqui
Um ano de oportunidades e desafios para o Reino Unido
em portugal guardarão certamente as suas memórias
pessoais das duas visitas que a rainha realizou a
portugal em 1957 e em 1985.
Depois a cidade de londres irá acolher os jogos
olímpicos e paralímpicos de 2012, a 27 de julho e a
29 de agosto. É um orgulho para nós que esta seja a
terceira vez que londres acolhe as olimpíadas (de-
pois de 1908 e 1948), um espetáculo maravilhoso que
ajuda a promover a proximidade entre os povos numa
altura em que esta se torna cada vez mais necessária
para que consigamos ultrapassar os conflitos que nos
dividem. os jogos de londres 2012 serão os mais
ecológicos de sempre (por ex: novos métodos de re-
ciclagem e construção que reduzem a pegada de car-
bono), e deixarão um legado importante em termos
de regeneração urbana (por ex: o parque olímpico
será transformado num dos maiores parques urbanos
da Europa). a construção está a decorrer dentro dos
prazos e orçamento previstos. a minha Embaixada ➤
Jill Gallard – Embaixadora do Reino Unido
Espaço Diplomático
17abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ tem mantido um estreito contato com os comités
olímpico e paralímpico de portugal no âmbito dos
seus esforços para garantir uma boa representação
portuguesa nas olimpíadas de londres e assegurar a
maxima visibilidade possível para londres 2012 entre
a população portuguesa.
Será também uma ocasião para festejar a riqueza e a
diversidade da nossa cultura no contexto do “london
Festival 2012” que irá assinalar o final das olimpía-
das culturais; e para prestar homenagem a duas das
nossas maiores figuras literárias, William Shakespe-
are e charles Dickens, cujas obras têm estabelecido
laços entre as pessoas por esse mundo fora e têm
sido amplamente traduzidas para português.
penso que estes são motivos suficientes para que os
portugueses aproveitem esta oportunidade para co-
nhecer melhor o reino unido e os aspectos que têm
contribuido para que o nosso país tenha hoje-em-dia
centros de pesquisa de excelência que nos ajudaram
a ganhar mais de 80 prémios nobel; grandes atletas
que têm ganho medalhas de ouro; uma cultura, músi-
ca e televisão que são famosas no mundo inteiro; um
ambiente propício aos negócios que é considerado o
mais favorável na Europa; e ainda algumas das me-
lhores universidades do mundo que foram frequenta-
das por 2.745 estudantes portugueses durante o ano
de 2009-2010.
porém, não posso deixar de reconhecer que muitos
dos nossos leitores se sentirão apreensivos pelas ad-
versidades que também teremos de enfrentar ao lon-
go deste ano. tenho plena consciência de que este
será um ano muito difícil para todos nós, não só em
portugal, mas também no reino unido. o custo de
vida está a aumentar; o desemprego também; e esta-
mos a chegar à conclusão de que muitas das regalias
a que nos habituámos não são sustentáveis. Senti-
mos na pele o impacto das medidas de austeridade
que os nossos Governos têm tido que implementar
para consolidar as suas finanças públicas e encetar
as reformas estruturais com vista a criar as condições
necessárias para que as nossas economias voltem
a crescer. o mundo mudou muito e nós na Europa
temos que nos esforçar cada vez mais para enfrentar
os desafios da globalização. É uma tarefa dificil mas
estou convencida de que com o esforço e empenha-
mento de todos conseguiremos alcançar os nossos
objetivos, voltando a criar oportunidades profissionais
e bem estar para um numero de pessoas cada vez
maior.
ouvimos muito falar da velha aliança que há séculos
tem constituído um elo de ligação entre portugal e
o reino unido. porém, considero que mais impor-
tante do que o passado será projetarmos no futuro
uma colaboração melhor adaptada aos desafios dos
tempos atuais – não apenas unindo esforços em prol
do crescimento económico na união Europeia, mas
também estabelecendo parcerias em outras zonas
do mundo para além da Europa, nomeadamente em
áfrica e na américa latina. Entre janeiro de 2011 e
Dezembro de 2012 o reino unido e portugal mantêm
um relacionamento particularmente próximo no âm-
bito do conselho de Segurança das nações unidas,
onde portugal cumpre um mandato de 2 anos como
membro não permanente.
Entre os nossos dois países existe efetivamente
um bom entendimento a todos os níveis. a prová-
-lo estão as cerca de 400 empresas britânicas com
atividade em portugal e 100 investidores portugueses
no reino unido; aproximadamente 1,6 milhões de
britânicos que visitam portugal todos os anos – uma
tendência que se prevê que volte a aumentar este
ano; e os cerca de 80.000 britânicos que aqui re-
sidem. pode dizer-se que portugal é tão popular
entre os diplomatas britânicos que aqui procuram ser
colocados, como entre os turistas e as famílias que
procuram portugal para um estilo de vida mais calmo
e com mais sol.
tudo isto me leva a concluir que este período de
grandes acontecimentos e desafios serão para o
reino unido um enorme incentivo para olharmos
em frente com coragem e determinação decididos a
retomar um bom ritmo de crescimento económico e a
continuar a desempenhar um papel efetivo na procura
de um mundo melhor, mais justo e mais próspero. n
Considero que mais importante do que o pas-
sado será projetarmos no futuro uma colabora-
ção melhor adaptada aos desafios dos tempos
atuais – não apenas unindo esforços em prol
do crescimento económico na União Europeia,
mas também estabelecendo parcerias em ou-
tras zonas do mundo para além da Europa,
18 • Diplomática - abril/junho 2012
Fiquei muito honrado com o vosso convite e com a
iniciativa da vossa revista Diplomática de me dar a
oportunidade de me dirigir diretamente aos vossos
estimados leitores, sem rodeios e com muita es-
pontaneidade, longe da linguagem da diplomacia,
considerada como língua de cortesia e até de meias
verdades!
assim, e antes de mais, quero agradecer e manifestar
a minha consideração e estima à revista Diplomá-
tica e aos seus colaboradores pelo fato de nela me
concederem um espaço neste mês de festividades
e celebração do Estado do Kuwait, por ocasião dos
cinquenta e um anos da sua independência e do
vigésimo primeiro aniversário da sua libertação, que
tiveram lugar nos dias 25 e 26 do mês de Fevereiro.
E por falar em grandes acontecimentos, comecemos
pelos ocorridos na região árabe durante o passa-
do ano de 2011. a denominada “primavera árabe”
permitiu a muitos países árabes inaugurarem uma
nova etapa de transição no seu percurso evolutivo em
Cinco décadas de vida Constitucional
termos políticos, sociais e económicos. isto aplica-se
às manifestações e revoluções que nasceram na tu-
nísia e que se propagaram ao Egito, líbia e iémen, e
às manifestações contínuas levadas a cabo pelo povo
sírio. São revoluções que estabeleceram um novo
lema de liberdade, justiça e de participação ativa na
governação através da mudança.
na verdade, as revoluções árabes tiveram e têm uma
caraterística que assenta na perseverança, conse-
guindo surpreender muitos observadores atentos ao
mundo árabe, incluindo os serviços de informação.
Só que, no meu entender, era inevitável que elas
viessem a acontecer, porque esses regimes árabes
não se aperceberam nem assimilaram que o mundo
de hoje vive uma mudança profunda influenciada pe-
los meios de comunicação social, e que nós fazemos
parte deste tecido homogéneo do mundo que partilha
o mesmo pensamento e ambição, assente em mais
liberdade, mais justiça e numa vida digna.
Gostaria muito que esses regimes tivessem tido uma ➤
Sulaiman Ibrahim Sulaiman Almurjan – Embaixador Estado do Kuwait
Espaço Diplomático
19abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ visão proativa ou antecipadora dos acontecimentos,
e tivessem tomado a iniciativa de reformar as suas
respetivas constituições, permitindo assim a partici-
pação dos cidadãos de uma forma ordeira e pacífica,
sem recorrer à violência e ao confronto armado, que
custou a vida a milhares de pessoas no caso da lí-
bia. ou, pelo menos, que os responsáveis por esses
regimes se tivessem retirado da cena política, como
aconteceu na tunísia.
contudo, apesar da magnitude dos sacrifícios e das
perdas, vemos hoje nesses países uma nova era da
vida política, assente em constituições que protegem
as liberdades e garantem a justiça, e permitem aos
povos manifestarem as suas vontades e elegerem os
seus representantes com mais liberdade, longe de
pressões. Quero frisar aqui que, independentemen-
te dos resultados das eleições nos países árabes,
devemos aceitar a vontade dos povos, desde que o
processo seja livre e transparente e que as liberdades
estejam protegidas, e a alternância no poder também
assegurada pelos mecanismos democráticos. Sabe-
mos que o modelo democrático que estudamos é o
modelo menos mau de todos os sistemas políticos,
por isso, para poder resolver os problemas da demo-
cracia é preciso mais democracia.
Sei que muitos se questionam sobre o meu país,
o Kuwait, e onde se situa nesta “primavera árabe”.
responderei com objetividade que o Kuwait vive uma
“primavera Kuwaitiana” permanente desde há cinco
décadas, quando foi eleito o conselho para redigir a
constituição em 1961 e estabelecida a constituição
em 1962, que alterou o regime político, adotando dois
sistemas: o presidencial e o parlamentar. Esse novo
sistema permitiu organizar as primeiras eleições em
1963, as quais deram ao parlamento amplos poderes
legislativos, e permite a existência de uma oposição
responsável.
Desde então, o parlamento do Kuwait, a “assembleia
nacional”, tem conseguido exercer os seus poderes
constitucionais, convocando os ministros para os ple-
nários, e também o primeiro-ministro para o debate
político, de forma muito exigente. o parlamento do
Kuwait é considerado único no médio oriente, devido
aos poderes que lhe estão atribuídos, sobretudo a
nível legislativo.
realizaram-se eleições parlamentares no passado
dia 2 de Fevereiro, depois de o anterior governo ter
sido obrigado a apresentar a sua demissão por não
conseguir colaborar com o parlamento. Sua alte-
za, o príncipe, exerceu o seu poder constitucional,
dissolvendo o governo e convocando novas eleições
antecipadas. neste momento, foi nomeado o novo
primeiro-ministro que formou um novo governo que
irá interagir com o parlamento recém-eleito.
podemos dizer que, desde a elaboração da cons-
tituição em 1962, que salvaguardou as liberdades,
a vida política no Kuwait vive uma dinâmica política
permanente entre o parlamento e o governo. a co-
municação social tem sido também um protagonista
de primeira linha, desempenhando ao longo de todos
estes anos o seu papel de criticar construtivamente a
vida política. além disso, foram criados vários meios
de informação que, por sua vez, permitem enriquecer
o diálogo político.
por várias vezes no passado, o sistema político do
Estado do Kuwait foi alvo de duras críticas de alguns
regimes políticos árabes, devido ao espaço dado às
liberdades e ao papel de destaque que a assembleia
Geral tem na vida política.
no entanto, a “primavera árabe” vivida por alguns
países árabes no ano passado fez com que esses
países e outros entendessem melhor a visão dos
líderes do Kuwait ao optarem pela concretização da
vida parlamentar e ao insistirem nessa via logo após
a independência, isto apesar das dificuldades e das
crises que o país atravessou.
por último, quero mencionar que o Kuwait teve duas
experiências parlamentares, ainda antes da sua in-
dependência. a primeira aconteceu em 1921, quando
foi constituído o conselho consultivo, e a segunda
em 1938, quando foram realizadas eleições para a
constituição do conselho legislativo, a fim de ajudar o
governador do Kuwait a gerir os assuntos do país. no
entanto, este último conselho durou apenas 6 meses,
devido às pressões exercidas pelo protetorado.
por esta razão, digo que foi natural, depois de acabar
com o acordo do protetorado em 1899, e após o país
ter conseguido a independência em 1961, o Estado
do Kuwait ter-se dotado de uma constituição e ter
inaugurado uma nova vida parlamentar baseada na
constituição de 1962. Esta lei fundamental é consi-
derada das mais avançadas da região, na medida em
que confere ao povo amplo espaço para participar na
gestão dos assuntos do país. n
Na verdade, as revoluções árabes tiveram
e têm uma caraterística que assenta na
perseverança, conseguindo surpreender
muitos observadores atentos ao mundo
árabe, incluindo os serviços de informação.
20 • Diplomática - abril/junho 2012
O ano de 2011 ficou marcado por dois proces-
sos de uma grande importância: a continuação
da crise das dívidas soberanas na zona euro e
as “primaveras árabes”. Eles não estão de modo
algum relacionadas mas tanto um como o outro,
irão modificar profundamente o futuro – o que é
especialmente o caso dos países do sul da Euro-
pa, como a França e portugal, membros da uE e
da zona euro, geograficamente e historicamente
próximos do mundo árabe.
a crise das dívidas soberanas na zona euro é
uma consequência indirecta da crise financeira
que eclodiu em 2007-2008 nos Estados unidos.
Foi pelo facto de os nossos Estados terem de
intervir em massa para salvar os bancos (como
na irlanda) ou para limitar a recessão injetando
dinheiro público na economia, que os déficit e as
dívidas públicas desapareceram. mas este mesmo
choque incidiu de maneira diferente sobre os paí-
ses e foi revelador de um duplo problema: a nível
O ano de 2011
nacional, os países cuja situação financeira (do
Estado, das empresas e das famílias) e económi-
ca (em termos de crescimento, de produtividade,
de competitividade e de contas externas) era mais
frágil resistiram menos bem e, por vezes, tiveram
de pagar caro – três dos quais foram obrigados a
recorrer à ajuda europeia e internacional; a nível
europeu, esta crise mostrou a insuficiência do
pilar económico da união económica e monetária
(o que aumentou as divergências no seio da zona
euro) e a inexistência de mecanismos de gestão
de crise.
Face a esta tormenta, foi necessário agir a dois
níveis: tratar dos casos especiais e dos proble-
mas sistémicos; intervir em situação de urgência
e criar instituições, mecanismos e meios para o
futuro. Em 2011, portugal foi o terceiro país da
zona euro a beneficiar de um plano de ajuda que
tem como contrapartida um ajustamento orçamen-
tal e reformas estruturais. no plano geral, a zona ➤
Pascal Teixeira da Silva – Embaixador de França
Espaço Diplomático
21abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ euro foi consolidada e assenta desde então em
quatro pilares: solidariedade (com a criação do
mecanismo europeu de estabilidade que pereniza
o Fundo europeu de estabilidade financeira), dis-
ciplina (com o “semestre europeu”, o “six-pack”,
e o tratado sobre a estabilidade, a coordenação
e a governança adotado em janeiro passado
mas cujas bases foram lançadas em Dezembro
de 2011), governança (com a realização de uma
cimeira regular da zona euro) e crescimento ( com
o pacto euro mais e a declaração do conselho
europeu sobre o crescimento e o emprego). os
fundamentos estão, portanto, ao dispor para refor-
çar a convergência das nossas economias e as
tornar mais fortes num mundo globalizado e com-
petitivo, marcado pelo desenvolvimento rápido de
potências emergentes.
a Europa pode ter parecido hesitante, lenta e
dividida. mas trata-se de 27 Estados nações (17
na zona euro) soberanos. cada Estado-membro
tem a sua história, as suas caraterísticas e é uma
democracia com as suas tradições e as suas
dificuldades. contrariamente ao que se diz, muito
foi feito, e muito mais do que se podia imaginar
quando a crise rebentou. Se se comparar com o
processo de decisão no caso de outras entidades
políticas, a união Europeia, que é uma constru-
ção sui generis, menos do que uma federação
mas bem mais do que uma organização regional,
conseguiu agir e inovar.
nem tudo está resolvido porque, para além da
ação em caso de urgência, os nossos países
devem adaptar a sua economia à nova partilha
mundial e os seus sistemas sociais a esta última
assim como às evoluções demográficas. o exem-
plo de portugal mostra que é necessário agir em
várias frentes, com determinação e espírito de
sacrifício, para o bem das gerações futuras.
na margem sul do mediterrâneo, 2011 foi um ano
de transformações formidáveis. as revoluções
árabes mostraram ao mesmo tempo a universali-
dade das aspirações à liberdade, à dignidade, à
justiça e à democracia e o poder espantoso das
redes sociais e dos meios de comunicação que
foram os seus vectores. certas revoluções foram
rápidas e relativamente pouco violentas e outras,
pelo contrário, provocaram – e ainda provocam,
como na Síria – repressões ferozes e confrontos
mortíferos. tem de se prestar homenagem à cora-
gem desses povos que defendem e reclamam os
seus direitos, muitas vezes, com o risco da pró-
pria vida. a intervenção na líbia, de apoio a uma
população entregue à pior sorte, foi a ocasião
para que a coligação que uniu Europeus, árabes
e americanos pusesse em prática o princípio da
“responsabilidade de proteger”. Quem poderá di-
zer que esta ação, limitada quanto ao seu propó-
sito e ao tempo, não salvou vidas e não esteve ao
serviço do povo líbio?
logo que os regimes opressores sejam derrota-
dos, é necessário construir a democracia. os Eu-
ropeus estão bem colocados para saber o que é
um processo exigente e longo. os povos recupe-
raram o seu direito a decidir sobre o seu destino,
não serão os outros a dizer em seu nome o que
lhes convém ou não. os povos árabes não se in-
surgiram para substituir uma opressão por outra.
tenhamos confiança neles para que o pluralismo,
a tolerância, os direitos das minorias e os direitos
fundamentais do indivíduo sejam respeitados.
no que diz respeito às relações entre as duas
margens do mediterrâneo, abre-se um novo
capítulo de cooperação cuja parceria proposta
em Deauville, na primavera de 2011, lançou as
suas bases. os campos de ação são numerosos:
comércio, ambiente, mobilidade, educação. as jo-
vens democracias firmar-se-ão na medida em que
elas souberem responder às aspirações da popu-
lação, em especial da juventude. É da sua res-
ponsabilidade, mas também do nosso interesse.
2011 foi um ano tumultuoso e perigoso, que ter-
minou com perspetivas encorajantes que o ano de
2012 deverá prosseguir e aprofundar. n
A Europa pode ter parecido hesitante,
lenta e dividida. Mas trata-se de 27 Esta-
dos nações (17 na zona euro) soberanos.
Cada Estado-membro tem a sua história,
as suas caraterísticas e é uma democra-
cia com as suas tradições e as suas difi-
culdades. Contrariamente ao que se diz,
muito foi feito, e muito mais do que se
podia imaginar quando a crise rebentou.
22 • Diplomática - abril/junho 2012
2011 foi um ano que os italianos recordarão por muito
tempo. iniciou-se como o 150º aniversário da unidade
da itália. um ano de comemorações, debates e refle-
xões sobre o passado e sobre o futuro do país. Sobre
a sua histórica identidade nacional e sobre a sua nova
identidade europeia. ninguém teria imaginado que se
tornaria o ano da maior emergência económica expe-
rimentada pelo país na sua história recente bem como
do início do maior processo de reforma que a repúbli-
ca já viveu.
os primeiros sinais da chamada crise da dívida
tinham-se manifestado durante o Verão. o Governo
no poder, presidido por Silvio berlusconi e apoiado por
uma maioria de centro-direita, tinha começado a tomar
as primeiras medidas. Era preciso convencer os mer-
cados que, apesar do alto nível da sua dívida pública,
a itália tinha uma economia sólida e estava bem deter-
minada para pôr em ordem as suas finanças levando
também a cabo as necessárias reformas estruturais.
a crise porém tornou-se repentinamente mais aguda
e os acontecimentos aceleraram-se de tal forma que a
resposta do Governo foi insuficiente para reconquistar
a confiança dos mercados. começou a prospectar-se
o fantasma de um default financeiro italiano. um de-
sastre económico que, dadas as dimensões da nossa
economia, nenhum plano de salvação teria podido
evitar. além do mais, com o risco de que, num meca-
nismo em cadeia, a queda financeira italiana pudesse
arrastar consigo a Espanha e toda a zona euro. o
próprio processo de integração europeia parecia já
estar em risco.
os desenvolvimentos do quadro político sofreram por
sua vez uma viragem brusca. já não havia tempo para
enfrentar a crise com novas eleições, nem existiam
no parlamento os números para alcançar uma nova
maioria. a única solução era um “Governo técnico”
que, apoiado por uma coligação de união nacional,
lançasse imediatamente um pacote de reformas muito
vastas. E assim foi.
o presidente da república napolitano confiou a difícil
missão ao Senador mario monti, economista de longa
experiência e de grande prestígio na cena europeia.
já transcorreram alguns meses, a crise ainda não
passou e há ainda muito a fazer, mas a itália retomou
o controlo da sua situação. os italianos recomeçaram
a ter confiança em si próprios e acreditam que os seus
sacrifícios não só salvarão o seu país, mas darão um
contributo fundamental para o relançamento de toda a
economia europeia.
o que é que foi feito?
a ação do Governo italiano desenvolveu-se em três
pilares: a consolidação orçamental; o crescimento e a
equidade social.
o processo de consolidação fiscal, já levado a cabo
pelo Governo berlusconi, foi confirmado e mesmo
intensificado. Forte por um superavit primário de 5,5%
do pnb, a itália antecipará para 2013 o objectivo do
equilíbrio orçamental, inicialmente programado para
2015. a tal fim, a reforma do sistema pensionístico
revestiu-se de uma particular importância. a introdu-
ção imediata de um método de cálculo das pensões
baseado nos descontos que cada trabalhador fez ao
longo da sua vida laboral em vez do último ordenado
recebido, tornarão logo o sistema pensionístico italiano
mais sustentável. o mesmo sucedeu com a medida
paralela do aumento da idade de reforma. É agora
possível dizer que a itália tem um dos modelos pensio-
nísticos mais avançados da Europa.
Depois, existem as medidas decisivas para favorecer o
crescimento e a criação de postos de trabalho. a ideia
de fundo foi a de identificar e remover sem atrasos os ➤
Renato Varriale – Embaixador de Itália
Espaço Diplomático
23abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ nós e os obstáculos que por mais de dez anos atra-
saram o desenvolvimento do país e causaram a perda
de competitividade dos seus produtos. uma tarefa
difícil a realizar também porque se choca com os in-
teresses de determinados grupos sociais e categorias
profissionais.
trata-se portanto de medidas destinadas a melhorar
o clima produtivo, reforçar os investimentos em infra-
estruturas e garantir a protecção dos consumidores
através de processos de liberalização e desregula-
mentação dos mercados. a par disto, existem tam-
bém novas normas destinadas a simplificar de forma
radical os processos administrativos, a fim de que a
administração pública deixe de pesar na eficiência do
sistema produtivo. o próximo passo será a reforma do
mercado de trabalho com o objectivo de lhe reduzir a
segmentação e favorecer os que, sobretudo entre os
jovens e as mulheres, têm mais dificuldade a inserir-se
num mundo produtivo, onde são muitas as garantias
para quem já está empregado, mas bem menores são
as facilidades para quem procura o primeiro emprego.
por outras palavras, um sistema que saiba encontrar a
justa medida de equilíbrio entre a segurança do posto
de trabalho típica do modelo social democrata e a
mobilidade e flexibilidade típicas dos modelos liberal
democratas.
o terceiro pilar é o da equidade. os sacrifícios devem
ser distribuidos equitativamente entre a população. De
outro modo a credibilidade de todo o sistema reformis-
ta e as medidas de austeridade são recebidas como
injustas e desnecessárias. neste campo, o Governo
está cada vez mais empenhado numa dura luta contra
a evasão fiscal, uma praga que retira ao Estado enor-
mes recursos e que gera fortes desiquílibrios sociais.
todo este conjunto de medidas foi aprovado por dois
decretos, designados de forma emblemática “Decreto
Salva-itália” e “Decreto cresce-itália”. uma linguagem
simples e clara que quis explicitamente recordar aos
italianos que a salvação do país só podia assentar
em dois factores entre eles indissolúveis: o rigor e o
crescimento.
tal mensagem foi plenamente recebida pela opinião
pública e pode-se dizer que em itália já persiste larga-
mente a consciência da necessidade da totalidade do
dito “pacote” de reformas. a grande parte das forças
políticas presentes no parlamento acolheu por sua vez
este modo de sentir dos eleitores que aliás contribuiu
para que o Governo monti recebesse o indispensável
crisma democrático do apoio parlamentar. um apoio
feito através de um diálogo contínuo com o “Gover-
no técnico” e virado para uma procura contínua da
convergência sobre os temas substanciais da política,
numa visão mais estratégica e menos táctica do que
o que tinha acontecido nos últimos anos. a “gover-
nance” do sistema está a ser cada vez mais o centro
do debate, independentemente do problema de quem
virá a receber a herança do Governo-monti no final da
legislatura em 2013.
E como reagiu a Europa?
a Europa felizmente começou a sentir a itália já não
como “um problema, mas como parte da solução”. É
o que o primeiro ministro monti gosta justamente de
repetir. a itália demonstrou humildade e consciência
das próprias fraquezas. E não exitou em arregaçar
as mangas para finalmente remediar a situação. Se
a dívida pública é um problema e sê-lo-à ainda por
alguns anos, existem já todas as premissas para que
essa, finalmente refreada, deixe de crescer e antes
diminua. Entretanto, as reformas deverão reconquis-
tar a confiança dos mercados e voltar a dar compe-
titividade ao Sistema-itália. a nação pode de fato
contar com alguns pontos fortes que não o deixaram
de ser mesmo durante a crise: um defict baixo e já
com tendência para zero; uma dívida pública alta
mas que em mais de 52% está nas mãos dos bancos
e das famílias italianas; uma dívida privada entre as
mais baixas dos países industrializados; uma rique-
za acumulada (net wealth) per-capita segunda no
mundo; uma indústria em plena actividade e capaz
de inovar e exportar (se se excluirem as importações
energéticas, a balança comercial italiana está habitu-
almente em superavit).
Em conclusão, a crise que por ironia da história se
instalou precisamente no 150º aniversário da unidade
do país, foi o motor de arranque para dar início a uma
renovação radical, que será não só económica, mas
também política, social e cultural. a itália quer sair da
crise mais moderna, mais produtiva, mais justa e mais
europeia.
Que me seja permitido escrever ainda mais algumas
linhas sobre a Europa. o Governo italiano está con-
vencido de que a fórmula vencedora para ultrapassar
a crise é composta por diversos factores: rigor finan-
ceiro, mas também crescimento; crescimento, mas
na equidade social; equidade social, mas de modo
sustentável. também são necessários solidariedade
e verdadeiro espírito de integração. reafirmação do
método comunitário, como único método de formação
de um consenso convicto, sólido e duradouro entre os
povos da Europa. E por último: não percamos o desejo
de sonhar de que no fim do caminho esteja uma Euro-
pa verdadeiramente unida. n
24 • Diplomática - abril/junho 2012
Dos inúmeros eventos que marcaram o ano passado
à escala mundial, o mais alarmante foi a catástrofe
nuclear no japão. no rescaldo do terramoto e do
tsunami ocorridos a 11 de março de 2011, o derreti-
mento que teve lugar na central nuclear Fukushima
Daiichi foi considerado o pior acidente nuclear desde
a explosão em chernobyl em 1986. Vinte e cinco
anos depois de chernobyl e dos seus efeitos trágicos
e devastadores, as consequências a longo prazo para
o ambiente e para a vida humana ainda se encontram
sob avaliação, numa altura em que o estudo do im-
pato de Fukushima Daiichi revela diariamente o lado
mais sinistro da energia nuclear.
juntamente à contínua incapacidade de aprender
com os erros e de reduzir significativamente a pos-
sibilidade de ocorrerem acidentes nucleares que
carateriza a comunidade industrial, o desastre de
Fukushima Daiichi constituiu um sério golpe para o
renascimento nuclear. (Esta expressão foi criada na
década de 90, quando o interesse na energia nucle-
ar ressurgiu na Europa e nos Eua, na sequência do
aumento das preocupações ambientais devidas à
Acontecimentos mais marcantes durante o ano 2011
utilização de combustíveis fósseis e às regras mais
rígidas impostas às centrais baseadas neste tipo de
energia). como W. j. nuttall referiu no seu genial livro
'nuclear renaissance' (2005), o percurso da energia
nuclear está repleto de histórias sobre custos descon-
trolados, atrasos de construção, riscos de segurança
e acidentes ocasionais.
há alguns anos atrás, visitei a central nuclear de
olkiluoto, na Finlândia, bem como o colossal local de
construção da fase três do projeto. ainda tenho uma
sensação avassaladora provocada pela paisagem
rural finlandesa, calma e serena, dominada por uma
beleza industrial silenciosa de dimensões surreais;
sem dúvida uma obra de arte surrealista. Foi-me en-
tão revelado o grande desafio de gerir o combustível
gasto e os outros resíduos radioativos. infelizmente,
como foi novamente comprovado pelo desastre no
japão, a energia nuclear está longe de ser segura ou
limpa.
porém, ao nível nacional e ainda no âmbito da ener-
gia, posso salientar uma evolução otimista ao longo
do ano passado. a preocupação com a segurança
energética e vários anos de planeamento cuidadoso
proporcionaram os primeiros resultados promisso-
res em Dezembro de 2011, quando uma unidade de
perfuração de exploração ao largo de chipre con-
firmou a descoberta de 7 triliões de pés cúbicos de
gás natural. a descoberta foi anunciada pela "noble
Energy", uma das maiores empresas norte-america-
nas de exploração de gás e petróleo, que realizou a
perfuração no bloco 12 na zona económica exclusiva
de chipre. É um resultado importante para o futuro
do nosso crescimento e desenvolvimento económico,
aliado aos nossos esforços redobrados no sentido de
expandirmos a utilização das fontes de energia reno-
váveis, sobretudo a energia solar.
para concluir a minha reflexão sobre as questões
energéticas e os eventos do ano passado, quero elo-
giar as conquistas portuguesas no uso das fontes de
energia renovável. o facto de 52% do total da eletri-
cidade é produzida por este tipo de energias, é sem
dúvida um exemplo a seguir. n
Thalia Petrides, Embaixadora de Chipre
Espaço Diplomático
26 • Diplomática - abril/junho 2012
Anibal cavaco Silva visitou a Finlândia, concretamente, a ci-
dade de helsínquia, onde teve uma agenda intensa, pois para
além de participar na reunião do Grupo de arraiolos (que reuniu
9 chefes de Estado da união Europeia sem funções executi-
vas), antecipou a viagem para uma visita bilateral, cujo objetivo
se centrou na nanotecnologia, na economia do mar, estabelecer
alianças e atrair investidores.
neste âmbito, cavaco Silva visitou uma série de empresas e
instituições, nomeadamente a nokia Siemens e a própria nokia,
que já emprega, em portugal, mais de 2000 pessoas, a Finpro,
a congénere finlandesa da aicEp, o laboratório micronova e a
universidade de aalto. cavaco Silva visitou também a empresa ➤
ViaGENs DE EstaDo
Presidente da República na FinlândiaConstruindo novas pontes
27abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ picosun, onde se fazem aplicações de nanotecnologia.
o presidente da república destacou “ser esta uma boa opor-
tunidade para mostrar a estas empresas que o nosso país é
um lugar de investimentos sofisticados”. cavaco Silva destacou
que as relações políticas entre os dois países são excelentes
e que há um potencial a preservar a aproveitar no campo da
cooperação.
Quanto à tradicional reunião anual do “Grupo de arraiolos”, foi
naturalmente debatida a situação na união Europeia, mas tam-
bém a tolerância e a luta contra a discriminação e a situação
nos países na margem sul do mediterrâneo. tema este apre-
sentado pelo próprio cavaco Silva. n
28 • Diplomática - abril/junho 2012
Zhang Beisan, Embaixador da china em portugal, por maria bragança e josé leite
China pode ser o portal privilegiado da expansão de Portugal na Ásia
O embaixador da China em Portugal, Zhang Beisan, um diplomata que fala
português e com uma carreira ligada a questões lusófonas, foi antigo
embaixador em Angola, esteve colocado em Cabo Verde e fez parte do grupo
de ligação – Conjunto Luso-Chinês – orgão que acompanhou o processo
de transição de Macau para a administração chinesa. ➤
Diplomacia Na 1ª pEssoa
29abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ Como se traduz a entrada de
capital da China Three gorges
Corporation na EDP, no que
respeita, ao desenvolvimento
das relações entre a China e
Portugal?
a china e portugal tiveram uma
relação diplomática de 33 anos
sem sobresaltos. Em 1999, os
dois países resolveram a ques-
tão de macau através de uma
negociação amistosa, o que
constituiu um sólido alicerce
para o avanço do nosso relacio-
namento no Século 21. Em 2005,
durante a visita do primeiro-mi-
nistro da china, Sr. Wen jiabao,
foi estabelecida uma parceria
Estratégica Global Sino-portu-
guesa, que marcou a entrada
duma nova fase da nossa coo-
peração amistosa. como uma
parte importante desta parceria,
a cooperação económico-co-
mercial tem demostrado um bom
crescimento nos últimos anos. o
comércio bilateral tem mantido
um rápido crescimento apesar
das dificuldades da crise das
dívidas soberanas na Europa,
em que a exportação de portugal
para a china cresceu 68% no
ano passado, um desempenho
de destaque tanto no comércio
entre a china e os países da
união Europeia, como na ex-
portação portuguesa em geral.
portanto, a cooperação entre a
ctG e a EDp, da mesma forma
como a cooperação entre a State
Grid e a rEn, são frutos naturais
do amadurecimento deste rela-
cionamento económico-comercial
e uma prova da parceria Estra-
tégica no domínio económico.
a china sempre atribui muita
importância às suas relações
com portugal e está contente
com os êxitos já alcançados na
cooperação económico-comer-
cial bilateral. Estamos dispostos
a apoiar a parte portuguesa para
a promoção da cooperação sino-
-portuguesa nas áreas política,
económico-comercial, científico-
-tecnológica e cultural.
Acha possível que mais com-
panhias chinesas possam
investir em Portugal? Em que
setores considera isso ser
possível e se esse facto pode-
rá ser benéfico, especialmente
nos mercados internacionais?
na época de globalização em
que vivemos, empresas de
diferentes países fazem investi-
mentos mútuos e se fundem uns
com os outros. acompanhando o
desenvolvimento económico da
china, e em especial com o for-
talecimento das suas empresas,
será cada vez mais frequente
e normal ver empresas chine-
sas com peso a ampliar o seu
investimento no exterior. para
todos os potenciais investidores,
incluindo os chineses, uma eco-
nomia avançada e um mercado
maduro como o de portugal são
naturalmente atraentes. tenho
confiança, de que desde que
portugal mantenha um desenvol-
vimento económico e uma aber-
tura do seu mercado, vai haver
cada vez mais empresas chine-
sas interessadas em investir em
portugal.
para falar dos benefícios das
cooperações sino-portuguesas
no mercado internacional, basta
olhar para o caso ctG-EDp. am-
bas as empresas têm importan-
tes influências no setor de ener-
gia limpa, mas cada uma possui
vantagens diferentes em pesqui-
sas tecnológicas, administração
interna e ocupação no mercado.
isso torna a sua cooperação
uma fórmula de “1+1>2”, que
é certamente benéfico para o
crescimento conjunto das duas
empresas, criando melhores
condições para estas se expan-
direm no mercado internacional.
Esperamos e encorajamos as
empresas dos dois países a rea-
lizarem mais cooperações desta
natureza.
Qual o ponto de situação da
balança comercial entre a Chi-
na e Portugal? Produtos que
são mais exportados e impor-
tados entre os dois países,
pode revelar-nos alguns núme-
ros?
há uma pequena diferença entre
os números chineses e os nú-
meros portugueses, mas ambos
demonstram um bom desenvol-
vimento do comércio bilateral,
e que a exportação portuguesa
para a china vem apresentando
um rápido crescimento apesar da
crise da dívida soberana euro-
peia. De acordo com os números
recentemente publicados pelo
inE, o comércio de produtos
entre a china e portugal chegou
a um valor de 1,99 mil milhões
de euros em 2011, obtendo um
crescimento de 4,6%. a expor-
tação chinesa para portugal foi
1.49 mil milhões, uma redução
de 4,9%, enquanto a exporta-
ção portuguesa para a china
foi 395 milhões de euros, um
impressionante crescimento de
67,9%. as primeiras categorias
de produtos chineses importados
por portugal são: maquinaria e
equipamento elétrico (22,94%),
maquinaria mecânica (10,13%)
e aço e ferro (7,05%), enquanto
na exportação para a china são
sal mineral e pedras (15,2%),
maquinaria e equipamento elé-
trico (13,31%) e pasta de papel
(13,09%). Fora destes produtos,
nota-se na exportação portugue-
sa um significativo crescimento
de produtos de cortiça, vinho tin-
to e azeite. Gostariamos de ver
cada vez mais empresários ➤
30 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ portugueses a exportarem e a
investirem no mercado chinês.
A entrada de capitais chineses
na banca será o próximo pas-
so, especialmente no banco
Comercial Português(bCP) e
no banco Espírito Santo(bES)?
nos últimos anos, com o apro-
fundamento das relações
económico-comerciais sino-por-
tuguesas em geral, e o estrei-
tamento de cooperações entre
as suas empresas, há cada vez
mais contactos e intercâmbios
na área financeira. Em alguns
casos já há projetos concretos.
Desde o início da
crise da dívida
soberana, alguns
bancos portugue-
ses apostaram
no investimento
estrangeiro como
forma de fortale-
cer a solidez do
capital e amenizar
a falta de liquidez.
neste contexto, alguns respon-
sáveis das instituições financei-
ras chinesas visitaram portugal a
convite de instituições e bancos
portugueses para conhecerem
melhor o mercado e fazerem
intercâmbios. com um melhor
conhecimento e intercâmbio
mútuo, especialmente conheci-
mentos sobre as condições do
mercado e das políticas e regu-
lamentos financeiros em cada
país, a potencialidade de coope-
ração financeira entre a china e
portugal será explorada.
Em contrapartida, este acordo
entre a China Three gorges
Corporation e o governo de
Passos Coelho pode poten-
ciar a internacionalização de
empresas portuguesas para
o mercado chinês, especial-
mente das Pequenas e Médias
Empresas? Há alguma forma
de apoio à internacionalização
para as empresas chinesas?
primeiro quero lembrar que, a
compra de ativos da EDp pela
china three Gorges foi uma
operação comercial como outras
operações normais. o Governo
português colocou as suas con-
dições para a venda dos respeti-
vos ativos de uma maneira trans-
parente e imparcial. a empresa
chinesa, bem como empresas de
outros países, participaram nes-
te concurso de forma transparen-
te e imparcial, e a empresa chi-
nesa acabou sendo a vencedora.
acho que não
devemos atribuir
a esta operação
um significado que
não lhe cabe. por
outro lado, tanto a
ctG e a EDp são
grandes empresas
com muita influ-
ência nos seus
respetivos países,
e têm empresas fornecedoras
de produtos e serviços, que são
sobretudo pequenas e médias
empresas. neste sentido, acredi-
to que a operação entre a ctG e
a EDp ajudará ao estreitamento
da cooperação entre pequenas e
médias empresas dos dois paí-
ses, criando oportunidades para
empresas portuguesas entrarem
no mercado chinês. além disso,
a futura cooperação entre a ctG
e a EDp servirá também como
exemplos e estímulos às pmEs.
a china é membro da omc. o
mercado chinês é aberto, mas
também é muito disputado. Es-
pero que as empresas portugue-
sas possam ganhar a sua parte
neste mercado com produtos e
serviços de excelente qualida-
de.
respondendo à segunda parte
da pergunta, a internacionaliza-
ção das empresas é uma exi-
gência e consequência natural
do processo da globalização
económica. o desenvolvimento
económico fez com que as liga-
ções entre a china e o mundo
ficassem cada vez mais estrei-
tas. com o Governo português, o
Governo chinês sempre encoraja
e apoia empresas chinesas com
potencialidade para investir no
exterior, explorando o mercado
internacional. na china, des-
crevemos a internacionalização
das empresas com a palavra
“saída”. mas questões como em
que forma sair, com quais em-
presas estrangeiras cooperar e
em que área investir são deci-
sões independentes e da total
responsabilidade das empresas,
como ditam as regras vigentes
no mercado internacional. o que
determina o sucesso ou fracasso
da estratégia de internacionali-
zação das empresas chinesas é
a sua própria decisão e imple-
mentação.
A China pode ser o portal pri-
vilegiado da expansão comer-
cial de Portugal na Ásia?
como eu acabei de dizer, o
mercado chinês tem estado
sempre aberto aos produtos
portugueses. Vemos com bons
olhos e apoiamos as empresas
portuguesas a virem competir
no mercado chinês ou até asiá-
tico com produtos e serviços de
excelente qualidade. nos últimos
dois anos, a exportação portu-
guesa para a china tem crescido
a um ritmo bastante acelerado, o
que para nós é motivo de satis-
fação. ainda há muito espaço
para este crescimento, mas isso
exige um esforço acrescido dos
empresários dos dois países,
especialmente dos empresários
portugueses.
O que levou a segunda maior ➤
Zhang Beisan
O comércio bilateral
tem mantio um rápide
crescimento, apesar das
dificuldades da crise das
dívidas soberanas na
Europa, em que a expor-
tação de Portugal para
a China cresceu 68% no
ano passado
31abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ economia do mundo, atual-
mente em grande expansão a
interessar-se por um pequeno
país com uma economia perifé-
rica e fragilizada localizada no
extremo da Europa? A possibi-
lidade de servir como platafor-
ma para outros mercados onde
Portugal tem tradição, como o
é, o caso dos mercados africa-
no e brasileiro?
as empresas chinesas não
são as únicas a interessar-se
por portugal. Sei que, grandes
empresas internacionais, como
Volkswagen, a Siemens da
alemanha, a pSa, Danone da
França, canon do japão, entre
outras, já têm investimentos em
portugal. não acho o investimen-
to chinês em portugal um fato a
estranhar, mas antes uma fato
natural. aliás, a existência de
tantos investimentos estrangei-
ros monstrou que estes inves-
tidores, incluindo os chineses,
acreditam no futuro do mercado
português a longo prazo. portu-
gal é um país com uma história
e cultura gloriosas, é membro da
união Europeia e da Zona Euro.
É um país que hoje conta com
uma população com um nível de
educação avançado. tudo isso
são uma base importante para
um desenvolvimento económico
próspero. Sempre acredito que,
as dificuldades que portugal
enfrenta são temporárias. Espe-
ro que portugal saia o mais cedo
possível da crise e que a sua
economia volte ao caminho do
desenvolvimento.
para responder à segunda
parte da pergunta, vou recor-
rer a alguns números. angola
hoje em dia é o segundo maior
parceiro comercial da china na
áfrica. Em 2010, o comércio
bilateral entre a china e angola
foi 24,8 mil milhões de dólares
americanos. os dois países
assinaram, ao longo dos anos,
28,4 mil milhões de dólares em
contratos de empreitadas. há
mais de 80 empresas chinesas
a operarem em angola, totali-
zando um investimento de 350
milhões de dólares. a china é
hoje o maior parceiro comercial
do brasil no mundo. Em 2010,
o comércio entre os dois países
chegou a 62,6 mil milhões de
dólares. Empresas chinesas in-
vestiram 860 milhões de dólares
no brasil, e empresas brasileiras
390 milhões na china. os dois
países ainda celebraram acor-
dos de cooperação financeira no
valor de cerca de 10 mil milhões
de dólares. É verdade que as
últimas cooperações entre a
ctG e EDp, entre a State Grid e
rEn contêm projetos de traba-
lhar em conjunto nos mercados
africano e sul-americano, que
considero decisões naturais que
vão favorecer os seus próprios
interesses. mas os números que
referi aqui já falaram por si, pois
antes destas últimas coopera-
ções entre empresas chinesas
e portuguesas, já havia canais
fluídos de investimento e uma
base bastante sólida de coopera-
ção entre empresas
da china e empre-
sas de angola, e do
brasil. conclusão: a
áfrica e o brasil não
foram os principais
motivos de investi-
mentos chineses em
portugal.
O Sr. Embaixador
esteve como di-
plomata em Macau e acompa-
nhou o processo de transição
do antigo território português
para a China. Na sua opinião,
a forma muito positiva como
esse processo evoluiu tornou
possível o estabelecimento
destas parcerias económicas
entre os dois países?
Queria corrigir um erro na sua
pergunta. macau sempre foi
território chinês durante toda a
história. Esteve sob administra-
ção do Governo português, mas
a sua soberania nunca foi trans-
ferida.
admito que a solução pacífica da
questão de macau foi, de fato,
um grande acontecimento na
história das relações sino-por-
tuguesas. ofereceu uma base
sólida não apenas para a suces-
so da transição e posteriormente
ao desenvolvimento de macau,
mas também para o avanço das
relações entre a china e portu-
gal no novo século. Depois da
transição, macau tem mantido
uma conjuntura política estável,
uma economia próspera, o povo
satisfeito com a sua vida, o que
comprovou que as políticas de
“um país, dois sistemas” e “ma-
cau administrado pelo povo de
macau” estão corretas. o gover-
no central da china e o próprio
governo da região administra-
tiva Especial de macau também
atribuiram atenção à exploração
da vantagem de macau ter liga-
ções estreitas com
os países lusófo-
nos. Em 2003, foi
fundada em macau
o Fórum de coope-
ração Económico-
-comercial entre a
china e os países
da língua portu-
guesa, uma plata-
forma importante
para as relações económico-
-comerciais entre a china e os
países lusófonos. Em 2011, o
comércio entre a china e os
países lusófonos já ultrapassou
100 mil ➤
Tenho confiança, de
que desde Portugal
mantenha um desen-
volvimento económico
e uma abertura do seu
mercado, vai haver
cada vez mais empre-
sas chinesas interes-
sadas em Portugal"
32 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ milhões de dólares americanos,
o investimento mútuo também
está em rápido crescimento. a
china vai continuar a aproveitar
as ligações linguístico-culturais
e legislativas entre macau e os
países lusófonos para promover
uma cooperação de maior esca-
la, maior abrangência e melhor
nível.
A propósito, o que pensa o
Sr. Embaixador da escolha do
antigo governador de Macau,
general Rocha Vieira, para o
Conselho de Supervisão da
EDP?
o General rocha Vieira é meu
amigo pessoal, mas julgo que
não é minha função nem a minha
vontade comentar uma nomea-
ção da EDp, uma empresa de
funcionamento independente.
A que se deve o “milagre eco-
nómico” chinês?
para mim nunca houve quais-
quer milagres . o êxito que a
china obteve nos últimos anos
deve-se ao trabalho duro da toda
a nação chinesa sob a liderança
correta do Governo. a china é
uma país em desenvolvimento
com uma grande população mas
uma base económica bastante
fragil, que tem que satisfazer a
crescente demanda material e
espiritual da sua população que ➤
Zhang Beisan
33abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ representa 20% da população
mundial com apenas 7,9% de
terra lavrável e 6,5% da água
doce da planeta. Este ambiente
deu ao povo chinês uma virtu-
de de trabalhar duro, poupar a
riqueza e depender antes de
tudo da sua própria força. a
história recente da china depois
da Guerra de Ópio entre a china
e a Grã-bretanha era uma histó-
ria repleta de guerra, derrota e
pobreza. por isso o povo chinês
sabe valorizar a estabilidade
conseguida depois da formação
da nova china, especialmen-
te durante as três décadas de
reforma e abertura. o que o
Governo precisa fazer é defen-
der esta estabilidade política
e harmonia social, criando um
ambiente favorável ao desen-
volvimento económico para que
o povo possa trabalhar em paz
e tranquilidade. actualmente, o
desenvolvimento da china ainda
enfrenta desafios como o dese-
quilíbio regional e urbano-rural,
fraca capacidade de inovação
tecnológica, um sistema de se-
gurança social imperfeito, etc..
a economia chinesa, que já é
considerada a segunda maior do
mundo, ainda tem um pib per
capita de 4400 dólares, muito
inferior aos países desenvolvi-
dos incluindo portugal. hoje, o
Governo e o povo chinês estão
a concentrar-se confiantemente
no caminho do desenvolvimento
sustentável que beneficie toda a
sua população, acelerando a for-
mação de uma economia amiga
do meio ambiente, fazendo uma
maior contribuição à paz e ao
desenvolvimento do mundo.
O que falta fazer em termos de
um relacionamento mais profí-
cuo no relacionamento cultural
entre Portugal e a China, onde
existem tradições seculares?
o intercâmbio cultural é uma par-
te importante do relacionamento
entre os países. como referi,
existem tradições seculares
de intercâmbio cultural entre a
china e portugal, o que desem-
penhou um papel de relevância
para promover o conhecimento
mútuo e aprofundar a amizade
entre os nossos povos. a Embai-
xada da china em portugal sem-
pre atribui muita importância aos
assuntos culturais, tem realizado
nos últimos anos exposições de
carácteres chineses, pintura,
instrumentos musicais, entre ou-
tras. a Embaixada também tem
organizado actividades culturais
centralizadas em festivais de
importância tradicional, como o
Festival da primavera, incluindo
o convite de grupos artísticos
chineses a visitarem portugal.
Estas atividades tiveram grandes
repercurssões no público por-
tuguês. como se sabe, hoje em
dia em portugal está na moda
aprender a língua chinesa, mas
poucas pessoas sabem que
aprender a língua portuguesa,
também está na moda na china.
mais de 20 universidades chine-
sas já oferecem cursos de por-
tuguês, e o público chinês está
cada vez mais interessado em
conhecer a cultura e a história de
portugal. São condições favo-
ráveis aos futuros intercâmbios
culturais. uma base importante
para qualquer intercâmbio cultu-
ral é o respeito mútuo, não impor
os valores de um lado ao outro.
a china tem uma cultura e tradi-
ção única, e um sistema de valo-
res milenar. analisar os assuntos
da china com visão ocidental
sem levar em consideração esta
tradição, pode causar muitos
preconceitos e maus-entendi-
mentos. hoje, com a reforma e
abertura na china a aprofundar-
-se, os chineses conhecem muito
melhor sobre o ocidente do que
os ocidentais sobre a china. cla-
ro, isso não impede que a china
melhore os seus esforços de
divulgar a sua imagem ao exte-
rior, para que o mundo conheça
melhor a realidade da china.
historicamente, portugal sempre
foi um pioneiro entre potências
marítimas ocidentais em enten-
der outras culturas e em integrar-
-se na sociedade local. Espero
que portugal possa explorar bem
esta tradição histórica, e tornar-
-se outra vez pioneiro na grande
integração cultural do mundo
neste novo século.
Uma pergunta de caráter mais
pessoal: qual a impressão que
o Sr. Embaixador tem de Por-
tugal e dos portugueses? O
que mais aprecia?
Estou em portugal há um ano e
meio. portugal é um país lindís-
simo e o povo português mos-
tra sempre muita hospitalidade,
o que tornou este período de
trabalho e vida muito agradá-
veis. tive oportunidade de viajar
para muitos lugares de portugal,
impressionaram-me a tradição e
a cultura de lisboa e do porto,
os traços históricos do minho, a
vinicultura do Douro, a beleza
natural de trás os montes, a
riqueza agrícola do alentejo, o
sol e as praias do algarve e a
paisagem insular da madeira e
dos açores. portugal é em geral
um país de clima agradável e
com excelentes condições para
agricultura e turismo. o povo
português foi o povo que iniciou
a Grande navegação e os Des-
cobrimentos, uma página impor-
tantíssima na história de toda a
humanidade. apesar das dificul-
dades temporárias, tenho plena
confiança no futuro do vosso
país. n
34 • Diplomática - abril/junho 2012
No âmbito da cerimónia solene de encerra-
mento das comemorações dos 80 anos da
utl, no instituto de ciências Sociais e po-
líticas, o presidente da comissão Europeia,
josé manuel Durão barroso, foi homenageado
com a atribuição do Grau de Doutor honoris
causa. o Doutoramento honoris causa foi,
na verdade, o reconhecimento da contribuição
dada por Durão barroso à investigação cientí-
fica no quadro europeu, que reforçou o papel
que este desempenha enquanto presidente da
uE.
josé manuel Durão barroso nasceu em lis-
boa, no dia 23 de março de 1956. Em termos
da sua formação académica, após a conclu-
são da licenciatura em Direito, na universida-
de de lisboa, continuou o seu percurso aca-
démico na Suíça. Foi diplomado com distinção
em Estudos Europeus, no instituto universitá-
rio de Estudos Europeus da universidade de
Genebra. na mesma instituição universitária
e, também com distinção, foi no Departamento
de ciência política da Faculdade de ciências
Económicas e Sociais da universidade de Ge-
nebra que obteve o grau de mestre em ciên-
cia politica, com o tema “le système politique
portugais face à l’intégration européenne”.
a sua carreira académica deixou marcas em
várias universidades do mundo. Em 1979,
fundou a associação universitária de Estudos
Europeus. Enriqueceu o seu curriculum aca-
démico com vários estudos e cursos realiza-
dos nas universidades americanas: na uni-
versidade de columbia, de nova iorque e na
universidade de Georgetown, em Washington.
já no continente europeu frequentou o institu-
to universitário internacional do luxemburgo e
o instituto universitário Europeu de Florença.
Em portugal, foi assistente na Faculdade de
Direito da universidade de lisboa, onde se li-
cenciou. para além das fronteiras académicas
nacionais, foi assistente assíduo no Depar-
tamento de ciência politica da universidade
de Genebra. Entre 1996 e 1998, foi professor
convidado no centro de Estudos Germânicos
e Europeus da universidade de Georgetown,
em Washington. Durante 4 anos, desempe-
nhou ainda o cargo de Diretor do Departamen-
to de relações internacionais da universidade
lusíada, em lisboa, para o qual foi nomeado
em 1995.
no início dos anos 1980, Durão barroso
começa a sua carreira política com a adesão
ao partido Social Democrata (pSD). Em 1999,
foi eleito presidente do partido, sendo ree-
leito nos três mandatos seguintes. Foi nesta
altura nomeado vice-presidente do partido
popular Europeu. na qualidade de Secretário
de Estado dos negócios Estrangeiros e da
cooperação distinguiu-se no papel de me-
diador dos acordos de paz para angola, que
foram assinados em bicesse (Estoril), no início
dos anos 90 (1991). já ministro dos negócios
Estrangeiros, entre 1992 e 1995, levou a cabo
o processo de autodeterminação de timor-
-leste.
a política de Durão barroso trouxe ao pSD a
vitória nas eleições legislativas e, em abril de
2002, foi nomeado primeiro-ministro de portu-
gal. Desempenhou o cargo durante dois anos,
até que, em 2004, foi nomeado e ➤
Durão BarrosoDoutor Honoris Causa pela UTL
HomENaGEm
35abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ assumiu as funções de presidente da comis-
são Europeia. por unanimidade, em Setembro
de 2009, ganhou o segundo mandato da presi-
dência europeia, o que lhe conferiu ainda mais
projeção na agenda política internacional e na
agenda do desenvolvimento científico.
Foram estes alguns dos pontos referidos no
dia da condecoração honoris causa, realiza-
da no instituto Superior de ciências Sociais e
politicas da universidade técnica de lisboa,
perante uma plateia que contou com a pre-
sença de várias personalidades, entre elas, o
professor adriano moreira, o primeiro-ministro
pedro passos coelho, paulo portas e outros
membros do Governo e do corpo diplomáti-
co. Entre os convidados, palavras de elogio
foram feitas por adriano moreira, que afirmou
que “é na conjuntura do presente que o saber
das relações internacionais e o saber fazer,
nos estadistas, se enquadra a intervenção
do presidente da cE, que chamou o apreço
desta universidade técnica pela sua reitoria,
através dos seus discursos que remetem para
um futuro solidário dos cidadãos europeus”.
na sua intervenção de agradecimento, Durão
barroso discursou sobre a situação atual da
união Europeia. Falou na crise económica
e na necessidade de partilhar a soberania.
concluiu que “quando se cede soberania,
pode ganhar-se também com a soberania dos
outros” e argumentou que a Europa precisa da
“Europa a trabalhar com determinação para
defender o euro e para defender a estabilida-
de financeira”.
relativamente à situação do Euro, o presi-
dente da união Europeia mostrou-se otimista.
como o próprio admitiu, “o euro não é apenas
uma forma de pagamento, como tem sido
dito por muitos - nomeadamente a chanceler
merkel que, ainda recentemente, o disse no
parlamento alemão. o euro é também um
símbolo da própria construção europeia, mas
um símbolo não apenas abstrato, um símbolo
concreto que tem a ver com a vida concreta
dos cidadãos em toda a nossa Europa, por
isso eu, contra o pessimismo dominante, que-
ro aqui hoje, mais uma vez reafirmar a minha
confiança de que, através de um caminho lon-
go e complexo, vamos conseguir ultrapassar
esta crise”. Durão barroso finalizou que para
a Europa sair mais forte da crise “ é neces-
sária a iniciativa política e a vontade política.
não basta as instituições, não basta a decisão
económica. É necessário que haja um com-
promisso político”- argumentou o presidente
da uE.
a crise é um tema que preocupa todos os
governos da zona euro. Em todos eles existe
a “consciência da dificuldade da situação e
a vontade de lhe dar uma resposta. Existe a
consciência da interdependência em que esta-
mos no quadro da união Europeia” – finalizou
Durão barroso. mas, para o caso português,
em particular, afirmou que um dos fatores
responsáveis pelo atraso da economia portu-
guesa se prende com os setores fechados e
os privilégios: “em alguns setores da econo-
mia há interesses instalados, há interesses
que resistem à mudança, que beneficiam de
um acesso especial ao Estado, de garantias
que lhes são dadas por uma legislação de
proteção. assim, quando há setores fechados,
quando há privilégios, quando há interesses
que vivem à sombra do Estado, isso impede
a inovação, impede uma concorrência mais
leal e uma modernização” – confessou Durão
barroso aos jornalistas, à margem da cerimó-
nia de condecoração.
com um curriculum académico e político
vastos, Durão barroso, além do presen-
te título, foram-lhe concedidos mais títulos
honoris causa. Entre estes destacam-se o da
universidade de Georgetown, Washington,
D.c. em 2006; o da universidade de Génova,
itália no mesmo ano; o da universidade de
Kobe (2006); o da universidade de Edimburgo
(2006); o da universidade Sapienza de roma
em 2007; o da universidade de Varsóvia
(2007); o da pontifícia universidade católica
de S. paulo em 2008; o da universidade de
nice Sophia antipolis (2008), o da universida-
de de chemnitz em 2009; o da universidade
de Genebra em 2010 e o da universidade de
Ghent em 2011. n ➤
reportagem: roman buzut
36 • Diplomática - abril/junho 2012
1 2 3
4
5
7
6
8
1. o presidente da comissão Europeia, Durão barroso e adriano moreira 2. reitora helena pereira a homenagear Durão barroso
3. professores e convidados a irem para a cerimónia 4. passos coelho a cumprimentar o secretário-geral antónio almeida ribeiro
5. Embaixador helmut Elfenkämper e antónio almeida ribeiro 6. heitor romana e antónio Sousa lara 7. antónio Santana carlos e
joão cruz 8. Francisco treichler Knopfli e joão pereira neto
Durão Barroso
37abril/junho 2012 - Diplomática •
Europe:Winter, or spring?
patrick Siegler-lathrop is a wealth manager and consultant living in
portugal, with a more than 35-year career as a Wall Street investment
banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at
inSEaD and paris university, Dauphine. he is a founding member of
the international nGo action contre la Faim. he can be contacted at
psieglerlathrop@gmail.com.
EcoNomia & FiNaNças
(* the opinions expressed herein are those of the author, and do
not necessarily represent those of Diplomatica)
(* as opiniões expressas aqui são de responsabilidade do autor
e não representam necessariamente as da Diplomática.)
As we approach Easter, 2012, the euro-zone
still exists, with the same 17 members, and
although everyone agrees the euro-crisis has
not left us, newspapers are less filled every
day with gloom and doom predictions of the
demise of the euro.
What has happened to calm the storm?
First, a number of positive financial decisions
and measures have been taken at the
European level:
- the European central bank (“Ecb”)
offered more than €1 trillion in cheap three-
year loans to banks, averting a major credit
crunch and providing liquidity which the
banks can use to:
• purchase sovereign debt, lowering the
cost of borrowing for most European
Governments,
• continue to finance business, and
• generate profits to strengthen their
balance sheets,
- European union leaders and private lenders
agreed to restructure Greek debt and provide
Greece with new funding,
- European Governments agreed to put into
place the European Financial Safety Facility
(EFSF), with guarantees of €780 billion, not
quite the €1 trillion markets hoped for, but
nevertheless substantial resources to provide
for needy European Governments.
Secondly, most individual countries in Europe,
and much of the rest of the world, have come
to accept the German recipe: that austerity is
the answer to resolve the crisis. if we apply
enough austerity, rapidly and dramatically
reducing Government deficits, markets will
reward such action by offering lower interest
rates, confidence will return, and we will all
return to healthy equilibrium.
it was difficult to counter German insistence
that massive austerity was the only approach
- the vulnerable French didn’t have a choice, if
they disagreed, they risked market sanctions,
so the “merkozy” approach, imposing radical
fiscal adjustment, was promoted aggressively
by Germany, with France somewhat reluctantly
following.
countries across Southern Europe have
applied the recipe, become “good” students,
drastically increasing Government taxes and
reducing expenditures. For example, in its
agreement with the troika1 to provide €78 ➤
38 • Diplomática - abril/junho 2012
Europe:Winter, or spring?
➤ billion in financing in may, 2011, portugal
committed to reduce its Government fiscal
deficit from a rate of around 10% of GDp in
2009-2010, to 5.9% in 2011, 4.5% in 2012 and
3% in 2013.
Southern European countries have applied the
medicine rigorously, and are to be commended
for the steps they have taken to put their house
in order. portugal accomplished a structural
adjustment of 4% of GDp in its government
budget in 2011, a remarkable achievement in
a single year. but in spite of such encouraging
progress, markets remain very nervous, and
countries such as portugal, Spain and italy,
continue to be viewed as extremely vulnerable.
is the auterity recipe going to work? You
do not have to be a Keynesian to know that
increasing taxes and lowering government
expenditures, particularly in European
countries where the share of government
contribution to GDp is high, triggers a decline
in economic activity, which in turn leads to
lower government tax receipts, higher payouts
in unemployment benefits, and an increase in
government deficits. the nobel laureate and
professor at columbia university in new York
joseph E. Stiglitz states the case succinctly:
“it is clear that austerity alone is a recipe for
stagnation and decline. the likelihood that
things would work out well is extraordinarily
small.’’
in other words, “austerity alone” just doesn’t
work. We are witnessing this situation today
in Spain, and will see it repeated in other
countries, where deficit targets are unlikely to
be met.
but there is even greater risk. in my view
the cost of current policies outweighs the
advantages, and that cost has one name:
maSSiVE unEmploYmEnt.
already there are 16.9 million unemployed
in the 17-country euro-zone and 24.3 million
in the European union. Staggering figures,
bearing witness to enormous human suffering
and providing fertile ground for dangerous
political drift towards extremism.
the effect is particularly devastating for young
people. What answer can we provide to the
49.6% of people under 25 who are unemployed
in Spain, the 46.6% in Greece, or the 35.1%
in portugal? What hope do so many young
people have of ever being able to find fulfilling
work? how can we countenance a system
where even the prime minister of portugal is
led to encourage young, talented portuguese
to leave the country to seek employment in
healthier economies such as brazil or angola.
and what is the current German-inspired
answer to this situation? more of the same
medicine, more austerity, with calls for
another round of deficit reduction, under the
watchful eye of financial markets and austerity
watchdogs, prolonging recession and bringing
certain, even higher unemployment.
i am dismayed by the indifference of our
political leaders to the consequences of such
massive joblessness. it is easy to see how the
electorate in Greece, portugal, Spain, italy,
and others, could become attracted to radical
politicians, who will rightly claim that austerity
measures are unjust and unfair.
Why should the governments of portugal,
Spain or italy want to subject their citizens to
endless depression? and witness an ever-
widening difference between their struggling
Southern European nations and healthier
northern ones? i am afraid that continued
application of current policies has a high risk of
leading to such a depressing scenario.
is there an alternative? of course there is.
in fact, this is a moment of great opportunity,
for Europe, a moment when we can move
forward, following the path set out for us by
the founders of the European ideal. how? by
pushing for a change of priorities, by insisting
that our principal concern must shift to creating
jobs, particularly for the young, by putting
forward solidarity within Europe as a path back
to good health.
i am not suggesting that we should relinquish
measures to reduce excessive Government
debt, nor that we abandon basic structural
reforms. measures that are being implemented
in portugal, Greece, italy and Spain to
render labor market more open and flexible,
to improve legal systems, to privatize
Government-owned companies and open the
economy to more balanced competition, are
an essential part of the process, and are to
be encouraged. but structural reform plus
austerity will not be enough.
We need to launch a major investment ➤
39abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ program, to promote employment in Southern
European countries, perhaps financed by
the proposed financial transactions tax
in the euro-zone. Such a program should
focus on investing in research, promoting
entrepreneurship, boosting exports, and
investing in new technologies, for example
inspired by newly elaborated concepts of
sustainable development. the European
union, and such institutions as the European
investment bank and in the European bank
for reconstruction and Development, where
considerable know-how exists, should be
essential partners to define an investment
program to create employment and bridge the
difference between north and South. European
bureaucracy is viewed as complacent and
callous, unconcerned with the wellbeing of
people? let them promote creative ideas to
generate jobs, helping change our perception
of their contribution, bringing to bear their
expertise in this major new initiative, which
can be another important step in the gradual
political integration of Europe.
Such a major investment program will require
that Germany and other northern European
countries accept that we postpone deficit
reduction, permitting selective Government
job-creating stimulus programs in the most
vulnerable countries, accepting that deficit
reduction, which remains essential, is to be
reached gradually and over the medium term,
rather than immediately. Even the imF, the
flag-bearer of orthodoxy, has argued that
high public debt and high government deficits
should be reduced through a steady, gradual
process.
“look after the unemployment, and the budget
will look after itself”, stated john maynard
Keynes in 1933.
“it is time for European leaders to save the
historic European project by telling the truth:
that the European union and the euro are
as essential as ever to the well-being of
Europeans.”2 but the long-term sustainability
of the euro, and of the European project,
requires that the gap between north and South
be narrowed.
tim Geithner, the u.S. Secretary of treasury,
may have enraged European counterparts last
fall by telling them “you need stimulus”, but he
was right.
if positive momentum can be generated in
the economies of Southern Europe, that will
do more to re-establish confidence, providing
hope both to markets and to Europeans
suffering through the current downturn.
the key to such any such new investment
program lies with Germany, the current
uncontested leader of the European union and
the euro-zone. Germany has been the euro’s
greatest beneficiary, its exports to Eu partners
are up 9% per year since the euro was
introduced, as compared to 3% beforehand,
and its exports to the 10 countries that joined
the Eu after 2004 have increased by €80
billion. the Eu customs union has permitted
Germans to have the jobs less competitive
Southerners lack. a major new initiative in
Southern Europe will help promote growth
throughout Europe.
During this transition phase, Germany must
overcome its reticence to allow the Ecb to
become the “lender of last resort”, operating
in the same manner as the u.S. Federal
reserve and the bank of England, to maintain
the banking system and give time for fiscal
adjustments to be made.
angela merkel has clearly indicated that she
thinks the solution to the euro crisis will come
from “more Europe, not less”. if she is to be
“more European”, she will have to show that
her country embraces solidarity within the
union. hopefully, she will have the strength
and the foresight to overcome resistance in
her own party and her country, go against their
conventional thinking, to lead Europe on a
new, more optimistic path. n
1 the European union (Eu), the European central bank (Ecb) and the international monetary
Fund (imF)
2 this quote, and certain figures and concepts in this article, are inspired by an article in options
politiques, February 2012, by my good friend jeremy Kinsman, who served as canada’s ambas-
sador to the European union, russia, the uK, and 12 other countries or organizations.
40 • Diplomática - abril/junho 2012
Mariano rajoy esteve em lisboa, em visita oficial,
onde a situação económica e a preparação do próximo
conselho Europeu dominaram a agenda do encontro
entre os dois líderes, o primeiro-ministro português e o
presidente do Governo espanhol.
Esta visita surge na sequência da recente viagem a
madrid de passos coelho, em que os dois estadistas
analisaram a situação de ambos os países ibéricos, no-
meadamente na área económica, e nas formas de sair
da crise que assola a Europa e quais as possibilidades
de “concertar visões” para o futuro.o primeiro-ministro
português, no final do encontro, que durou cerca de
uma hora, fez questão de esclarecer que trocara im-
pressões alargadas com mariano rajoy sobre a situa-
ção que se vive, hoje em dia, tanto em portugal como
em Espanha. uma situação que, infelizmente ambos os
países partilham em muitos aspetos, como ambos os
estadistas concluíram.
passos coelho foi ainda mais assumido, ao referir que
portugal e Espanha estão a viver uma das mais graves
crises de que há memória. E foi neste contexto que
os dois responsáveis políticos analisaram os “aspe-
tos recessivos” que as medidas de combate ao défice
possam vir a ter, tendo trocando impressões quanto à
forma de sair da crise.
já em lisboa, e depois do encontro passos coelho/ra-
joy, durante a conferência conjunta, o primeiro-ministro
português reiterou que o país “não pedirá a renego-
ciação do programa que está a executar”, sublinhando
ainda que não será pedido nem “mais tempo, nem mais
dinheiro” à troika e que “o acordo está a ser cumprido
dentro das suas metas”.
apesar de admitir que os resultados destas políticas
de austeridade demorarão algum tempo a manifestar-
-se, o primeiro-ministro português considera que, sem
elas, não será possível voltar a ganhar a confiança dos
mercados e dos investidores. recordando os casos de
portugal e da irlanda (países ao abrigo de um pro-
grama de ajustamento), manifestou a sua confiança
de que, desde que as metas sejam cumpridas, “não
deixarão de ter o auxílio da Eu e do Fmi se, por razões
externas não conseguissem regressar aos mercados”.
adiantou ainda que “o nosso programa não pode falhar
por razões internas e, é isso que me interessa como ➤
Mariano Rajoy e Pedro Passos CoelhoPortugal e Espanha analisam combate à crise
Visitas DE EstaDo
41abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ chefe de Estado”.
no encontro com mariano rajoy ficou definido o re-
tomar dos encontros bilaterais entre os dois países,
devendo o próximo decorrer já na primavera. o objetivo
é que, tal como sucedeu nesta última reunião, portugal
e Espanha concertem posições para levar aos encon-
tros comunitários.
as estratégias, tanto políticas como económicas, entre
os dois países foram os pontos mais destacados pelos
dois políticos. mariano rajoy adiantou mesmo que,
em Espanha, será feito “algo parecido com o que tem
sido feito em portugal”. recordamos que a Espanha
se prepara para aprovar a nova lei laboral e a lei do fi-
nanciamento bancário e está disposta a fazer os cortes
necessários para cumprir o défice de 4,4% este ano.
o primeiro-ministro espanhol, falando aos jornalistas,
comentou as previsões do Fmi de que a Espanha irá
sofrer uma forte recessão este ano e que a sua econo-
mia irá continuar a contração em 2013, considerando
que essas projecções “são um estímulo para continuar
a trabalhar” e acrescentou que o país vai cumprir o
objetivo de défice de 4,4% para este ano.
recorde-se que, ainda em madrid, pedro passos
coelho afirmou que “portugal e Espanha têm muitas
afinidades e boas condições para concertar algumas
visões sobre o que pode ter interesse para os dois
países”. temas como o caso da operação de comparti-
cipação da pt na Vivo e os projetos de infraestruturas,
como o tGV, foram também debatidos. pedro passos
coelho e mariano rajoy já se tinham encontrado, uma
primeira vez, em bruxelas, dando indicações de grande
sintonia entre os dois. pedro passos coelho reafirmou
o interesse dos dois países em manter um contacto
próximo, sobretudo porque “há um nível de integra-
ção económica muito grande entre os dois países
ibéricos e a situação de fraco crescimento económico
coloca problemas para os empresários portugueses e
espanhóis”.a terminar, o primeiro-ministro português
sublinhou que “tudo o que possa ser feito em termos
de reformas estruturais nos dois países, para ajudar a
recuperação do emprego e ao crescimento económico,
é decisivo para os dois países, que têm, nesta altura,
entre outros problemas graves, uma taxa de desempre-
go muito elevada”. n
42 • Diplomática - abril/junho 2012
Embaixador José de Bouza Serrano, por maria da luz de bragança, fotos roman buzut
O Guardião dos Embaixadores acreditados em Portugal
Após uma carreira importante, a representar Portugal, o Embaixador José de
Bouza Serrano voltou há três anos ao seu país, como Chefe do Protocolo do
Estado, donde vai partir em breve para Embaixador na Holanda. ➤
Diplomacia Na 1ª pEssoa
43abril/junho 2012 - Diplomática •
Agraciado com o oficialato da
ordem do infante Dom henri-
que e a Grã-cruz da ordem de
mérito e dezenas de distin-
ções estrangeiras pelo mundo
fora, tais como a Grã cruz da
ordem de São Gregório mag-
no, da Santa Sé, a Grã-cruz da
real ordem do Dannenborg, da
Dinamarca, Grã-cruz de Graça
e Devoção da ordem Soberana
e militar de malta entre muitas
outras, apresentou recente-
mente um completíssimo livro
de ensinamentos sobre os
preceitos, práticas e rituais do
protocolo oficial de Estado e do
protocolo social.: “ O livro do
Protocolo”, de leitura e saber
imprescindível.
Senhor Embaixador, não vim
falar consigo só pelo livro, re-
centemente apresentado, mas
também pela estima e impor-
tância que tem junto de todas
as embaixadas.
Eu não, minha querida amiga,
quem tem importância é o ser-
viço do protocolo do Estado .
nós, no fundo, somos os “anjos
da Guarda” do corpo Diplomá-
tico acreditado em portugal.
É o chefe do protocolo que
recebe os novos Embaixadores
que chegam e vêm entregar
as cópias das cartas, antes de
fazerem a entrega solene dos
originais ao Senhor presidente
da república e sou eu que, nor-
malmente, explico a cada um
deles como será a cerimónia, o
traje e como tudo se vai passar.
temos uma pequena diferença
entre os Embaixadores resi-
dentes e os não residentes. os
Embaixadores residentes têm
uma guarda de honra a cavalo
da Gnr mas todos, ao serem
recebidos no pátio, escutam
os hinos de cada um dos paí-
ses. Só depois entram para o
palácio de belém e são acom-
panhados para a audiência com
o Senhor presidente, que os
recebe juntamente com outras
entidades, como por exemplo
o Senhor ministro de Estado
e dos negócios Estrangeiros,
o Secretário Geral do ministé-
rio, o assessor Diplomático do
Senhor presidente da repú-
blica e, eu próprio, o chefe do
protocolo.
após esta audiência, onde são
igualmente apresentados aos
chefes das casas civil e militar
e ao Secretário –Geral da pre-
sidência da república, os che-
fes de missão passam a estar
em funções e quando saíem do
palácio de belém, já ostentam
a bandeirinha do seu país no
automóvel.
Eu ia perguntar-lhe o que era
o Protocolo de Estado e quais
as suas funções…mas por
favor continue…
para além de servir o Senhor
presidente da república, o
Senhor primeiro-ministro, o
ministro dos negócios Estran-
geiros e os outros membros
do Governo e organizar as
cerimónias relativas à posse do
Senhor presidente e do Gover-
no, outras celebrações nacio-
nais, como por exemplo o 10 de
junho, são organizadas aqui no
protocolo de Estado.´
Também tratam da posse do
Senhor Presidente da Repú-
blica?
a posse é dada na assembleia
da república, pelo presidente
da assembleia, e nós tratamos
das cerimónias em conjunto.
para além disso, temos todo
o expediente relativo aos
membros de todas as missões
diplomáticas acreditadas em
portugal. os cartões de identi-
dade dos diplomatas estrangei-
ros, assim como os do pessoal
administrativo ou doméstico das
embaixadas passam por nós.
Somos nós que os emitimos,
juntamente com o Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras.
Por tudo isso pode ver-se
como todos os Embaixadores
o conhecem bem e a enorme
estima que têm por si…
o que acontece é isso…nós
somos as primeiras pessoas
que eles conhecem e a quem
recorrem. Depois, quando têm
dúvidas ou necessitam de au-
torizações para fazerem obras
nos edifícios das Embaixadas,
das matrículas dos carros, ou
das licenças de importação…
somos nós que agenciamos os
contactos ou as emitimos. tam-
bém assuntos de justiça, que
podem ocorrer, sejam assuntos
laborais, acidentes de viação
etc., quando há problemas com
a justiça eles não são direta-
mente interpelados pelo tribu-
nal, os expedientes vêm para
nós, que fazemos de mail-box
e de mediadores entre a imuni-
dade diplomática que têm e o
sistema judicial português.
temos também obrigação de
estar presentes (representan-
do o mnE)em todas as festas
nacionais, para as quais sou
normalmente convidado, o
que muitas vezes acaba por
ser trabalho, porque vêm falar
comigo com pequenos proble-
mas para resolver, enchendo
os meus bolsos com recados,
ou porque necessitam de uma
carta de condução que ainda
não foi enviada, ou há um erro
no nome de um dos filhos ou de
alguém, no cartão de identidade
ou precisam de um esclareci-
mento ou duma diligência espe-
cial…tudo isso somos nós ➤
44 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ que tratamos. nós fomos o pri-
meiro impacto e somos os anjos
tutelares do corpo Diplomático.
É tão simples quanto isso...
É a Chefia do Protocolo de
Estado…
É uma Direção Geral. Eu sou
equiparado a Diretor Geral; a
Sub-chefe de protocolo é Sub-
-Diretora Geral, temos também
uma Direção de Serviços de
cerimonial, que agora também
engloba a antiga Divisão dos
privilégios das imunidades.
tudo isso para os diplomatas
estrangeiros e para os diploma-
tas portugueses, para os mem-
bros do governo e para todos
os cidadãos nacionais que têm
direito a passaporte diplomá-
tico, somos nós que também
emitimos esse documento aqui
neste Serviço.
Quem e como se tem direito a
passaporte diplomático?
Vem na lei. o senhor presiden-
te da república, naturalmente,
tem direito, o presidente da
assembleia da republica, o
primeiro-ministro, os membros
do governo, os deputados…
Perdem direito se deixam de
ser membros do governo?
perdem sim. a não ser que
tenham sido presidentes da re-
pública, primeiros-ministros ou
presidentes da assembleia da
república. os outros perdem
o privilégio, mas para tudo há
uma burocracia. por exemplo:
os diplomatas podem importar
bens isentos de impostos, mas
têm que ter franquias que são
passadas pelo Serviço de pro-
tocolo de Estado. por vezes,
vêm centenas de produtos para
venda a favor de onGs por-
tuguesas, como para a venda
do “bazar dos Diplomatas”, ou
agora, no caso da princesa da
tailândia, que veio a portugal,
pela comemoração dos 500
anos das relações diplomáti-
cas, inaugurar o templo que
ofereceu e que foi construído
junto ao rio tejo. tratámos em
conjunto com a câmara mu-
nicipal de todas as licenças
para implantação do templo,
assim como com as Finanças
da importação dos materiais
para construção que, como
eram oferta, vieram sem passar
pela alfândega. Essa é uma das
principais funções do protoco-
lo; depois temos toda a parte
cerimonial da organização das
visitas de Estado do presidente
da república ao estrangeiro ou
do primeiro ministro, e também
organizamos e preparamos
todas as visitas dos chefes do
Estado e de Governo estrangei-
ros a portugal.
O que pensa das futuras gera-
ções e da prevalência das tra-
dições diplomáticas? Haverá
continuidade ou tendência
para se apagarem?
apesar das dificuldades econó-
micas que o nosso país atra-
vessa, e não são as primeiras
quando entrei na carreira há 32
anos também havia algumas
dificuldades e nós fomos su-
perando e, mais tarde, tivemos
um período de esplendor. pes-
soalmente estou convencido e
tenho esperança que o nosso
país possa voltar a ter uma voz
ativa e respeitada no mundo e
na união Europeia.
o protocolo tem uma vanta-
gem: pode encurtar ou expandir
os recursos disponíveis. Quer
dizer, podemos manter a dig-
nidade, que o que interessa é
manter a dignidade do Estado,
podemos reduzir as cerimónias,
mas sempre mantendo a sua
elevação e o seu brilho. corta-
mos um certo número de cele-
brações, como por exemplo: há
dois anos que, nos cumprimen-
tos ao senhor presidente da
republica, cancelámos o ban-
quete em honra do corpo Diplo-
mático no palácio da ajuda, e o
concerto. Este ano a recepção
fez-se igualmente em Queluz.
Foi servido um porto de honra
muito simples, mantendo-se a
cerimónia institucional com mui-
ta dignidade, em que o núncio
apostólico fez um discurso e o
senhor presidente respondeu-
-lhe em português. a seguir,
começando exactamente por
monsenhor Don rino passiga-
to, iniciámos os cumprimentos,
seguido do Embaixador de San
marino ( decano não residente)
e pelo Embaixador da argenti-
na, que é o Embaixador que há
mais tempo está aqui acredita-
do. Depois passaram todos os
chefes de missão e Encarrega-
dos de negócios e colaborado-
res a cumprimentar.
O Núncio Apostólico
está sempre presente?
nos cumprimentos ao corpo
Diplomático, e está nas prin-
cipais cerimónias do Estado e
em muitas visitas de chefes de
estado estrangeiros ao nosso
país.. Sendo nós um país tra-
dicionalmente católico, o nún-
cio assiste como o Decano do
corpo Diplomático e há sempre,
antes de entrarem, uma cerimó-
nia protocolar: Eu recebo o Se-
nhor núncio apostólico, levo-o
à Guarda de honra, ouvimos os
hinos da Santa Sé e de portu-
gal e depois passa revista ao
pelotão da Guarda nacional
republicana, acompanhado por
mim...
No mundo inteiro haverá paí-
ses onde não existe o Proto-
colo de Estado?
não. não porque é difícil ➤
José de Bouza Serrano
45abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ viver sem ele. pode é haver,
em certos países, quando têm
côrte, dois ou três protocolos.
normalmente, os monarcas têm
o seu próprio protocolo que
se distancia do protocolo do
governo. por exemplo, o meu
primeiro posto foi como Secre-
tário da Embaixada em madrid
e aí havia o protocolo do rei, o
protocolo do presidente do Go-
verno e o protocolo do ministé-
rio dos negócios Estrangeiros.
nós somos um país que co-
bre tudo através do protocolo
do Estado. É difícil um Esta-
do, uma nação, não ter um
protocolo, porque é a forma de
coagular, concentrar e manter
as tradições.
Todos então têm, de certo ➤
46 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ modo, mantido as tradi-
ções?
De uma maneira geral, sim.
Quando há golpes de estado
ou revoluções, a tendência é
para as pessoas prescindirem
de um certo cerimonial mas o
protocolo, pela sua caraterísti-
ca de organização e disciplina,
tem resistência própria e é o
último a desaparecer. recordo
um dos meus primeiros che-
fes: esta sala era o gabinete
dele, o Embaixador mendonça
e cunha. Depois da revolução,
conseguiu restabelecer, duran-
te a presidência do General
Eanes, que a entrega das cre-
denciais passasse a ser de tra-
je de cerimónia, já não usando
a casaca porque tinha havido
a revolução, mas o fraque. E
nós, desde o tempo dele, que
continuamos a usar o fraque
com colete preto, quando os
Embaixadores vão a belém
apresentar as credenciais ao
senhor presidente da repúbli-
ca. passou-se pelo fato escuro,
e por várias outras modalida-
des, mas ele conseguiu que o
“rio voltasse ao seu leito” de
tradição.
Quando eu entrei no ministério
não havia a lei das precedên-
cias, mas uma lista indicativa,
que se ia aplicando casuistica-
mente. mas agora, pela primeira
vez, temos uma lei das prece-
dências, feita na assembleia
da república, com valor de lei
e aplicável a todo o território
nacional e a todas as nossas
embaixadas no estrangeiro,
para que todos sejam ordenados
pela ordem protocolar que lhes
corresponde, sendo isso uma
grande vantagem de que nós
dispomos e que foi um dos mo-
tivos que me levou até a escre-
ver o livro sob essa perspectiva
nova.
Qual foi o país onde gostou
mais de estar?
Durante a minha carreira, estive
sempre na Europa e penso que
tive a sorte de estar nos países
certos na idade certa. Quando
tinha os filhos pequenos, está-
vamos em madrid e era óptimo.
Depois fui para bruxelas e foi
estupendo, se bem que esti-
vesse colocado legalmente na
embaixada bilateral, mas acre-
ditado e a trabalhar na união
Europeia. Em madrid estive
cinco anos e meio, em bruxelas
três anos e meio, alternando
com cargos aqui em portugal.
Depois cinco anos no Vaticano,
e adorei. Vinha dum problema
de saúde que já tinha supera-
do e foi uma fase importante e
um momento espiritual forte na
minha vida.
Quer falar-me do seu percur-
so? O que fazia quando ini-
ciou até chegar a Chefe do
Protocolo de Estado?
a nossa carreira é uma escada
onde vamos subindo os vários
degraus com a passagem do
tempo (e a ajuda de Deus!).
comecei como Secretário da
Embaixada em madrid, como ➤
um livro que reúne tudo o que se deve saber sobre os
preceitos, práticas e rituais do protocolo oficial de Estado
e do protocolo social
José de Bouza Serrano
47abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ disse; em bruxelas já era
conselheiro, em roma, no
Vaticano, fui conselheiro e
ministro conselheiro; quando
regressei fui Vice presidente do
instituto camões, que era o bra-
ço cultural do ministério, depois
fui como Embaixador para a Di-
namarca, onde estive três anos
e meio e donde voltei para ser
chefe do protocolo. agora, se
Deus quiser, parto como Embai-
xador para a holanda.
Está contente por ir para a
Holanda? Vamos ter todos
muitas saudades suas…
Estou contente por ir. Estou
muito satisfeito. Daqui a uns
três anos e tal (aos 65) estarei
já reformado e voltarei se Deus
quiser para o meu país, de que
gosto muito. tenho cá os meus
filhos, os meus netos e muitos
amigos.
Que recado poderá deixar a
quem inicía a careira diplo-
mática?
recados…É difícil dar recados.
conselhos serão, sem preten-
são, os seguintes: Se entrarem,
interessa muito que criem um
amor especial a esta carreira,
porque ela é diferente de tudo
o resto que existe na Função
pública e nas saídas profissio-
nais. mas, que para quem gos-
ta, está cheia de oportunidades
e é fascinante. Fascinante, não
só para quem gosta de viajar,
apreciar a cultura de outros
países e aprender facilmente
outras línguas, mas sobretudo
para representar bem o nosso
país podendo intervir, dum cer-
to modo, no desenvolvimento
das relações de portugal com
outros Estados e poder ajudar
quem nos governa, com a in-
formação que recolhemos , nos
documentos que elaboramos,
no preparar duma série de
apontamentos e dossiers, para
quando os nossos governan-
tes vão participar em reuniões
internacionais ou recebem os
seus homólogos em portugal.
também tem que saber se
gostará mais de diplomacia
multilateral, em que pode estar
na onu em nova Yorque, ou
em Genebra, no conselho da
Europa, em Estrasburgo, ou na
união Europeia, em bruxelas,
ou se prefere a Diplomacia tra-
dicional bilateral, em que está
num país e desenvolve prefe-
rencialmente as relações com
esse país e não com todos os
países que fazem parte da or-
ganização onde são colocados.
Eu, ao fim de 32 anos, acho
que não saberia fazer outra
coisa. Fiz o concurso ao minis-
tério quando já tinha 28 anos, o
que não me impediu de chegar
a Embaixador e ter tido postos
ótimos e realmente uma vida
muito interessante, ao serviço
do meu país, em que aprendi
muito sobre as pessoas e os
países onde estive colocado
e vivi grande parte da minha
existência. até no protocolo
pude aprofundar os meus co-
nhecimentos, porque vivendo e
trabalhando em monarquias o
protocolo é diferente e apren-
de-se imenso. o protocolo do
Vaticano é uma perfeição, eles
têm uma diplomacia extraor-
dinária devido à sua forma de
informação; desde o padre
no burundi, a um na austrá-
lia, toda essa informação, das
dioceses e das paróquias, vai
para roma e é sintetizada por
um pequeno grupo de pessoas.
É das carreiras diplomáticas
mais bem informadas do que
se passa internacionalmente,
porque têm essas antenas da
igreja católica espalhadas por
todo mundo. a forma como tra-
balham essa informação é mes-
mo uma escola de diplomacia.
Eu gostei muito do Vaticano
também por isso mesmo. por-
que é uma escola de diploma-
cia em que a síntese é feita na
perfeição e com relativamente
poucos meios.
E também as cerimónias que
envolvem o Santo padre, se
bem que, hoje em dia, diga-
mos que o protocolo está muito
simplificado, são sempre mag-
níficas. os espaços históricos
deslumbrantes, todos aqueles
palácios esplendorosos, as
igrejas, as basílicas onde se
desenrolam as cerimónias e
a forma como se organizam e
recebem o corpo Diplomático,
são notáveis. o Vaticano foi ex-
traordinário. aprende-se muito,
como referi.
mais conselhos… será desfrutar
o mais possível desta profissão
que é tão original e gratificante.
um desfrute do mundo, mas
sempre com a convição de que
somos portugueses, que temos
um país muito antigo com uma
grande história e uma grande
tradição e que, apesar destes
avatares da economia e das
dificuldades que temos quoti-
dianamente, algumas que po-
dem ser estruturais, devemos
ter sempre presente este peso
da cultura, da história e duma
língua que é falada por mais de
duzentos milhões de pessoas,
o que é um grande trunfo na
vida de uma nação e no seu
futuro.
Senhor Embaixador, dese-
ja acrescentar mais alguma
coisa?
posso unicamente concluir que
estou muito satisfeito e realiza-
do por ter escolhido esta profis-
são. n
48 • Diplomática - abril/junho 2012
No âmbito do Seminário Diplomá-
tico, que decorreu, recentemente
em lisboa, os Embaixadores de
portugal acreditados junto de
vários Estados e organizações
internacionais, estiveram no palá-
cio de belém, onde apresentaram
cumprimentos ao presidente da
república.
Durante a recepção, em que esti-
veram também presentes o minis-
tro de Estado e dos ➤
Embaixadores de Portugal apresentam cumprimentos ao Presidente da República
mala Diplomática
49abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ negócios Estrangeiros, paulo
portas, os Secretários de Es-
tado dos assuntos Europeus,
dos negócios Estrangeiros e da
cooperação e das comunidades
portugueses, bem como o Secre-
tário-Geral do mnE.
o ministro paulo portas apresen-
tou os desejos de um bom ano
novo ao presidente, que encerrou
a cerimónia com uma breve inter-
venção de agradecimento. n
50 • Diplomática - abril/junho 2012
Embaixador Paul Schmit por maria de bragança, fotos de roman buzut
Na Rua das Janelas Verdes, onde habitou Eça de Queiroz, encontra-se o
acolhedor palacete da Embaixada do Grão Ducado do Luxemburgo, com
salões e jardim debruçados sobre o Tejo, onde fomos recebidos pelo
Embaixador Paul Schmit, que sublinhou durante a entrevista a importância
que tem para o Grão Ducado as relações com Portugal. ➤
Diplomacia Na 1ª pEssoa
51abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ Paul Schmit, 45 anos, casado com
nadine Schmit-Konsbruck e pai de
três filhos, licenciou-se em Direito pela
universidade robert Schuman de Es-
trasburgo e posteriormente em ciências
políticas pela universidade de paris ii.
chegou a portugal em Setembro de
2010, tendo apresentado as cartas
credênciais ao presidente da república
portuguesa em 15 de outubro do mesmo
ano. Da sua carreira podemos ainda as-
sinalar que, entre 1991 e 1992, foi adido
do seu Governo no ministério da “Force
publique” no luxemburgo; em 1995,
foi Secretário de legação nos Serviços
do Secretário Geral do ministério dos
negócios Estrangeiros; de 1995 a 2000
foi representante permanente adjunto
na representação do luxemburgo junto
da nato, em bruxelas; de março 2000
a Dezembro 2001, “détaché” na repre-
sentação permanente do luxemburgo
junto da união Europeia, encarregue dos
dossiers de política estrangeira da u.E.;
de 2002 a 2007 foi chefe de missão ad-
junto da Embaixada do luxemburgo nos
Estados unidos, com co-acreditações
para o canadá e para o méxico e, de
Setembro de 2007 a 2010 foi Diretor
dos assuntos jurídicos e culturais no
ministério dos negócios Estrangeiros do
luxemburgo.
Senhor Embaixador, estando o lu-
xemburgo no ponto de encontro
entre a Europa Românica e a Europa
germânica, e integrando ambas tra-
dições, gostaria que nos falasse um
pouco da história do luxemburgo…
obrigado pela ocasião de poder apre-
sentar o meu país, que tem uma história
muito rica e muito antiga.
a Fundação da cidade do luxembur-
go remonta a 963, com a conquista de
lucilinburhuc (hoje castelo do luxem-
burgo) por Siegfried , conde de ardenas
.Em torno desta fortaleza, foi crescendo
um Estado de grande importância, valor
estratégico e influência na Europa, uma
vez que 4 membros da dinastia da casa
do luxemburgo reinaram, tendo sido
imperadores do Sacro-império-romano.
a partir dai, o luxemburgo viveu suces-
sivamente sob soberania borgonha, fran-
cesa, espanhola, austriaca e holandesa.
após a derrota de napoleão, no con-
gresso de Viena de 1815, o luxemburgo
foi aceite e ratificado como Grão Duca-
do. mas só no 1º tratado de londres, em
1839,foi reduzido o território e ficaram
definidas as fronteiras tal como são até
aos dias de hoje, tendo sido festejado o
centenário em 1939 e tendo-se feito a
comemoração solene do 150º aniversá-
rio da sua independência, em 1989.
o luxemburgo é realmente um país an-
tigo pela sua influência na Europa, mas
também é um país jovem na configura-
ção actual de 1839.
aconselho a leitura do livro do histo-
riador Gilbert trausch - “a história do
luxemburgo”- já traduzido em português
para a comunidade lusófona que repre-
senta hoje quase 20% da população do
luxemburgo.
um dos marcos a assinalar na história
do luxemburgo, e que também marca
a sua ligação com portugal, é a relação
entre as suas casas reais. até 1890,
o rei dos paises baixos era também
Grão-Duque do luxemburgo, mas a lei
sálica obrigou à mudança da dinastia
dos orange-nassau para a dos nassau-
-Weilbourg, que levou mais tarde ao ➤
52 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ trono o Grão-Duque herdeiro
Guilherme iV. Este foi casado
com maria ana de portugal, a
filha de D.miguel i, princesa de
bragança e infanta de portugal
que, após a morte do Grão-
-Duque foi regente do Grão-
-Ducado, até entregar o trono a
sua filha maria adelaide, que em
1919 o entregou a sua irmã, a
Grã-Duquesa carlota. Em 1940,
a Grã-Duquesa e a sua família
foram acolhidos em portugal, jun-
tamente com vários membros do
seu governo, após o luxemburgo
ter sido invadido e ocupado pela
alemanha nazi. o luxemburgo,
abandonando de facto a sua po-
lítica de neutralidade, juntou-se
aos aliados na luta contra a ale-
manha e o seu governo, exilado
em portugal e em londres, criou
um pequeno grupo de voluntários
que participaram na invasão da
normandia. De notar que após
a guerra e a resistência contra
a ocupação nazi, o luxemburgo
foi, em 1945, membro fundador
da organização das nações
unidas; tornou-se membro da
nato em 1949 e, em 1957, um
dos 6 países fundadores da cEE,
mais tarde união Europeia, tendo
adoptado o Euro em 1999.
Sendo o luxemburgo um dos
países com um dos maiores
PIb per capita do mundo e ten-
do o senhor Embaixador dito
que a comunidade lusófona
representa 20% da população
local, gostaria muito que me
falasse do fenómeno da emi-
gração para o seu país.
o fenómeno da emigração teve
início na década de 60, o que
quer dizer que os portugueses
já estarão na 3ª e 4ª gerações.
Vieram ajudar a construir o país
e, principalmente, trabalhar na
contrução e na siderurgia. Entre
1960/70 tivemos necessidade ➤
Embaixador Paul Schmit
53abril/junho 2012 - Diplomática •
54 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ de mão de obra, ao ponto de acolher-
mos 85.000 portugueses!
hoje, a população do luxemburgo conta
com 43% de estrangeiros, sendo 20%
lusófonos e 17% portugueses.
o luxemburgo tem recebido muitos
emigrantes do montenegro, da Sérvia,
da bosnia-herzegovina e do Kosovo.
anualmente, milhares de novos emigran-
tes chegam ao luxemburgo.
no entanto, é necessário dizer que o
luxemburgo não é hoje um “El Dorado”.
muitos pensam que o luxemburgo está
fora da crise, o que não é o caso. So-
mos um país solidário, convencidos do
ideal comunitário e pela ideia europeia,
mas somos também um país que conhe-
ce o aumento do desemprego, onde o
rendimento por habitante é muito eleva-
do, mas é necessário não esquecer os
140.000 "frontaliers" franceses, belgas
e alemães que vêm todos os dias traba-
lhar no luxemburgo, mas que não estão
refletidos nas estatísticas do rendimento
"per capita".
É necessário fazer compreender a situa-
ção real do nosso país a portugal e aos
portugueses que hoje, em consequência
da crise que se vive no país, desejam
emigrar para o luxemburgo.
Existe no luxemburgo um ministério
que se ocupa da emigração?
temos um ministério do trabalho, cujo
ministro se ocupa do desemprego e da
administração para o emprego. relati-
vamente à imigração, a sua tutela cabe
ao ministério dos negócios Estrangeiros
luxemburguês. com a ideia de que o
luxemburgo é muito próspero, estamos
a ter agora muitos emigrantes vindos
nomeadamente de portugal, havendo
também muitos desempregados na co-
munidade portuguesa no luxemburgo.
Tendo em consideração a enorme
quantidade de emigrantes portugue-
ses, há alguma escola portuguesa no
luxemburgo?
não, não existe uma escola só portu-
guesa. o luxemburgo é sede de várias
instituições e organismos da união
Europeia, tal como o tribunal Europeu
de justiça, o banco Europeu de inves-
timento ou o tribunal Europeu de con-
tas. temos também a Escola Europeia
e, nessa escola europeia, existe uma
secção portuguesa onde muitos jovens
portugueses são escolarizados, temos
igualmente uma escola internacional e
uma escola francesa, mas a maior parte
dos filhos dos emigrantes portugueses
adotam o sistema escolar luxemburguês
que é, provavelmente, a melhor maneira
de se integrarem no nosso país, apren-
dendo desde jovens os 3 idiomas admi-
nistrativos do luxemburgo: o luxembur-
guês, o alemão, o francês e mais tarde
o inglês; caso desejem podem sempre
estudar o português nos cursos parale-
los ou integrados. Em alternativa, alguns
podem estudar na secção portuguesa da
Escola Europeia.
Falando de Escola Europeia…Como é
que o senhor Embaixador vê o papel
de Portugal nas relações económi-
cas, no âmbito do contexto europeu?
portugal é um país muito rico sob o
ponto de vista histórico, cultural e eco-
nómico. É um país que hoje conhece
algumas dificuldades, mas que já de-
monstrou, na sua história, que sabe
ultrapassar os desafios, como o fez
quando o brasil se tornou independente
e, em várias outras ocasiões, tendo sido
sempre capaz de se levantar, vencen-
do problemas e desafios. portugal é
um país com um enorme potencial, se
pensarmos na sua abertura ao mundo,
em especial na sua ligação aos países
lusófonos como o brasil, angola, mo-
çambique ou mesmo cabo Verde, este
último onde tenho a honra de ser tam-
bém Embaixador acreditado.
acreditando na sua capacidade e na
solidariedade europeia, estou certo que
portugal irá cumprir e ultrapassar as difi-
culdades que se lhe estão a apresentar
Portugal virado para o Atlântico? Ou
virado para a Europa?
Esse problema não se poderá colocar.
não se deve escolher. a Europa é impor-
tante para portugal e portugal é importan-
te para a Europa e para o mundo. ➤
Embaixador Paul Schmit
55abril/junho 2012 - Diplomática •
A senhora Embaixatriz, Nadine Schmit, está em Por-
tugal há pouco mais de um ano. Se tivesse que nos
deixar amanhã, que recordações levaria consigo?
levaria comigo a recordação da gentileza dos portugue-
ses, muito abertos, expansivos e calorosos…a beleza e a
luminosidade de lisboa… um país onde é bom viver, de
fácil adaptação, onde há oportunidade de conhecer pes-
soas muito simpáticas e interessantes em todos os meios,
um país com uma história e uma cultura muito ricas e
extremamente interessantes.
os meus filhos de 10, 14 e 16 anos, que estão no liceu
charles lepierre em lisboa, estão muito felizes e adoram
portugal…Se fosse amanhã, creio que teria mesmo sauda-
des deste país!
Pensou alguma vez que casaria com um Diplomata?
antes de casar, sabia que ele iria lançar-se na carreira
diplomática, portanto... algumas de nós, mulheres de
diplomatas, renunciamos às nossas carreiras quando os
acompanhamos. ocupamo-nos entre outras coisas da
organização da residência e do seu pessoal, de modo a
que todas as atividades que aí têm lugar corram da melhor
forma possível. também podemos apoiar obras caritativas,
bazares por boas causas e Fundações. Estudamos idio-
mas, recebemos convidados, etc…
muitas vezes deixamos a nossa profissão mas, por outro
lado, é enriquecedor. não estou nada arrependida, porque
é uma experiência formidável.
E o senhor Embaixador, o que mais gosta particular-
mente em Portugal?
portugal é um país que nos é muito próximo, com o qual
temos laços muito fortes, sejam históricos, sejam laços
via emigração, havendo todos os dias qualquer coisa de
muito concreto no domínio consular, do domínio social ao
económico. Gosto mesmo da franqueza e do contato direto
com os portugueses. no luxemburgo, temos muitos por-
tugueses, mas nem sempre temos lá os laços que poderí-
amos ter (talvez seja recíproco), talvez não nos conheça-
mos suficientemente bem. aqui descobri um portugal que
não é aquele que tinha descoberto através dos portugue-
ses que vivem no luxemburgo. aqui descobri um portugal
muito diversificado e muito mais rico do que eu imaginava,
histórica, económica e culturalmente falando. tenho um
enorme interesse pela história e acho que a cultura de
portugal é muito rica. a cultura, os monumentos, os pa-
lácios… gosto de ir descobrindo diversos locais extrema-
mente interessantes. n
Nadine e PaulEncantados com Portugal
➤ Como é que o senhor Embaixador
definiria o luxemburgo?
o luxemburgo é um país que teve muita
sorte. um país que foi ocupado e sofreu
as consequências das guerras entre os
seus vizinhos europeus em quase todas
as gerações, mas que tirou um enorme
partido da construção europeia, tendo
beneficiado muitíssimo dessa constru-
ção. conheceu a sua prosperidade com
o setor siderúrgico e mais tarde o sector
bancário, mas também graças a empre-
sas igualmente prósperas, tais como a
cargolux e a luxair ou ainda a Société
Européenne des Satélites. na união
Europeia conseguimos trabalhar em paz,
prosperar em paz, fazer mercado no
quadro da união Europeia e não só, ten-
do conseguido construir uma economia
diversificada, que vai desde o comércio
eletrónico ao ramo químico e da borra-
cha. o crescimento no setor financeiro
corresponde aproximadamente a 22% do
pib.
Quanto à balança comercial entre o lu-
xemburgo e portugal, ela não reflete as
estreitas relações entre os dois países,
sendo portugal o 24º parceiro em termos
de exportação e o 19º, em termos de
importação. Depois de 2009, a balança
comercial está ligeiramente a favor de
portugal, mas na realidade deveremos
melhorar a balança de trocas comer-
ciais, que apenas constituiu 0,27% das
importações em 2010.
Entre Portugal e o luxemburgo ,
quais os aspetos que julga fundamen-
tais de desenvolver?
por um lado, melhorar as relações
económicas, cujas trocas comerciais
poderão ser realmente mais elevadas;
por outro lado (que levo muito a peito) é
dar a conhecer uma imagem mais rea-
lísta do luxemburgo, que não é um "El
Dorado", e onde o desemprego também
aumentou. neste momento, a taxa de
desemprego dos imigrantes portugueses
é bastante mais elevada em percenta-
gem do que a sua presença em termos
reais. n
56 • Diplomática - abril/junho 2012
Bernarda Gradišnik, Embaixadora da EslovéniaFala-nos de si, do mundo e de Maribor, Capital Europeia da Culturapor maria Dulce Varela, fotos roman buzut
Vive em Portugal há pouco mais de um ano e tem uma carreira política
notória. Nascida em Liubliana, casada e mãe de gémeos, tem conseguido
conciliar, de forma exemplar, estas três funções. Registamos a conversa
que manteve com a Diplomática. ➤
Diplomacia Na 1ª pEssoa
57abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ Embaixadora gradišnik, é um
prazer tê-la aqui em Portugal. É a
primeira vez que veio a Portugal,
desde que iniciou a sua carreira
política?
muito obrigada, o prazer é todo
meu. comecei a minha carreira no
ministério dos negócios Estrangei-
ros em 1991, durante o período em
que a Eslovénia estava a conquistar
a sua independência. Gostaria de
sublinhar que não sou uma nomea-
da política, nem tão pouco membro
de qualquer partido político. cheguei
aqui em novembro de 2010. tinha
visitado portugal antes, em agosto
de 2010, tentando obter uma perce-
ção do país.
Sabemos que nasceu em liublia-
na, é casada e mãe de gémeos.
É difícil conciliar estas três ativi-
dades – ser esposa, mãe e profis-
sional?
onde está o coração, é onde fica
a nossa casa. Somos muito unidos
enquanto família. Sou também muito
devota ao meu trabalho. Felizmente,
tenho um marido que ajuda imenso.
Ele é um escritor e tradutor free-lan-
cer, por isso pode decidir quando
trabalhar. ainda assim, de vez em
quando, o meu marido e os géme-
os ficam zangados comigo, porque
assim que chego a casa, recomeço
a trabalhar de novo – especialmente
os papéis para os quais não exis-
te tempo suficiente durante o dia.
Existem ainda os eventos ao fim do
dia que me impedem de estar mais
com a minha família. mas os géme-
os têm agora 15 anos, por isso creio
que serei progressivamente menos
necessária.
Tem uma longa experiência em di-
ferentes setores. Desde 1990 até
hoje: uma editora literária, depois
o Ministério dos Negócios Estran-
geiros, trabalhar num grupo para
Política Externa e de Segurança
Comum, Relações Económicas,
Embaixadora Adjunta em Zagreb,
e agora – Embaixadora em Portu-
gal. Consegue descrever-nos as
diferenças e pontos em comum
entre todos estes sectores?
apenas o primeiro é verdadeira-
mente diferente. todos os outros
se desenvolveram sob os auspícios
do ministério dos negócios Estran-
geiros, onde estava gradualmente a
construir a minha carreira profissio-
nal. ao longo de todos estes anos,
e já estamos a falar de vinte anos,
tenho estado a adquirir conhecimen-
to e experiência, a par e passo, até
me tornar finalmente embaixadora.
E devo dizer que estou muito feliz
pelo meu primeiro posto como em-
baixadora ser aqui, no seu país.
Teve tempo suficiente para formar
uma opinião sobre o nosso país,
o nosso povo, a nossa forma de
vida?
Estou aqui há 14 meses, por isso
diria que é tempo suficiente para
formar uma opinião geral. claro
que não levei assim tanto tempo
para compreender como portugal é
bonito em termos de natureza, as
suas brisas oceânicas e surf, o seu
clima generoso, os seus deliciosos
produtos alimentares, a sua exce-
lente cozinha e os seus cidadãos
delicados e prestáveis. E eu sou
uma juíza implacável, tendo vindo
eu própria de um belo país.
a única coisa que me perturba en-
quanto recém-chegada é a abun-
dância, na minha opinião, de muitas
e desnecessárias estradas. após
um ano ainda me posso encontrar
completamente perdida em lisboa,
e o meu GpS (nüvi) perde-se com
igual rapidez.
E, para se poder virar à esquerda
praticamente em todo o lado em
lisboa, tem que se contornar uma
rotunda ou virar três vezes à direi-
ta. É por isto que cada carro anda
às voltas e permanece muito mais
tempo em circulação. o tráfego fica
congestionado por causa disto. E
para prevenir virar à esquerda, têm
que se construir ainda mais saídas
desnecessárias à direita, e ramos de
ligação, e autoestradas com porta-
gens e túneis.
mas, mesmo perdendo-me algu-
mas vezes, existem portugueses de
quem posso depender. as pessoas
são extremamente amáveis e estão
sempre prontas a ajudar. E ficam
muito felizes (e orgulhosas) quando
ouvem um estrangeiro falar, ou ao
menos, tentar falar português. É
por isso que tenho feito um enorme
esforço de aprendizagem. Gosto
imenso da língua, mas é difícil de
aprender. Vocês falam tão rápido e
“comem” metade de cada palavra. E
o meu marido está a tentar encon-
trar um editor na Eslovénia interes-
sado em publicar os lusíadas. Ele
é um tradutor de renome em poesia
em rima, entre outras coisas. Espe-
remos que alguém se interesse.
Como Embaixadora, como está a
enfrentar esta terrível crise na
Europa?
a minha prioridade como Embaixa-
dora é agir positivamente no campo
da diplomacia económica. Esta tem
sido a nossa (eslovena) prioridade
já há algum tempo. tento encora-
jar empresas eslovenas a virem a
portugal – tarefa nada fácil. nas
mentes dos eslovenos, portugal fica
muito distante, para além de não
conhecerem a língua e a situação
em que portugal se encontra neste
momento, também não ajuda. ao
mesmo tempo promovo a Eslovénia,
o mercado esloveno, procurando
aumentar o interesse em empre-
sas portuguesas. Vejo futuro para
os nossos países, trabalhando em
conjunto, conseguindo assim pene-
trar em países terceiros, onde cada
um de nós tem melhores relações.
posto isto, devo dizer que a cultura,
e outras áreas de promoção, são
também importantes para nós. a
Eslovénia ainda não é ➤
58 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ suficientemente reconhecida, as
pessoas aqui tendem a confundi-la
com a Eslováquia e mesmo a Estó-
nia. maribor, a nossa segunda maior
cidade, é este ano, em conjunto com
Guimarães, capital Europeia da cul-
tura. Espero que isto ajude.
Sim, falemos um pouco sobre Ma-
ribor, escolhida para ser Capital
Europeia da Cultura. Porquê esta
escolha? Porquê Maribor e não
outra cidade eslovena? Pensa
que é importante para redefinir a
imagem da cidade, uma vez que
era industrial e não tanto o centro
cultural da Eslovénia?
maribor é a segunda maior cida-
de da Eslovénia. a sua economia
baseia-se na indústria pesada, uma
herança da jugoslávia, a perda dos
anteriores mercados jugoslavos,
tornou muito tensa a economia da
cidade, resultando em níveis record
de desemprego. a situação me-
lhorou desde meados dos 90 com
o desenvolvimento de pequenas e
médias empresas e indústria, mas
ultimamente tem vindo novamente a
piorar devido à recessão.
maribor enfrenta uma crise, tensão
social a aumentar, e as pessoas têm
menos visão. o projeto de capital
Europeia da cultura pode ajudar
a ganhar um novo amor-próprio e
uma nova identidade aos olhos dos
outros. maribor 2012 tem todo o
potencial para se posicionar como
uma capital Europeia da cultura
reconhecida, com a imposição de
elevados padrões, com ambição, ao
mesmo tempo que abrange toda a
sociedade através da criatividade.
não é que maribor fosse isenta de
cultura, sabe? Existem vários pro-
jetos válidos, como o lent Festival
(lent é a parte antiga da cidade e
o festival realiza-se em finais de
junho), e o mais conhecido escri-
tor esloveno, Drago jan€ar, é um
nativo de maribor. tal como Zlatko
Zahovic, quem todos sem dúvida
conhecem e recordam como jogador
de futebol do porto e do benfica! E,
sabem que mais?! Ele iniciou a sua
carreira em Guimarães!
Poderia descrever Maribor? Ou-
vimos dizer que possui lindos edi-
fícios históricos, sinagogas, etc.,
perto do rio Drava. Por detrás da
torre da catedral, pode-se ver o
que resta do castelo que deu o
nome antigo a Maribor – Marburg
no drau…
Eu gosto muito de maribor, se não
pelo resto, por razões pessoais. a
família alargada original do meu ma-
rido ainda hoje vive em maribor, de
onde o seu pai veio para liubliana
após a Segunda Guerra mundial.
É uma cidade muito verde e eu diria
que é isso que, predominantemen-
te, a torna tão bela. rodeada de
colinas e vinhedos sobretudo para
norte e flanqueada pelas magnificas
montanhas ondulantes pohorje (com
cerca de mil metros de altitude, com
florestas verdes muito densas), tem
também um rio, Drava, que é sem-
pre bom uma cidade possuir, com
muitos espaços recreativos. por
isso, eu enquanto visitante, não iria
tanto pela arquitetura e artes – mas
quem é que vai mesmo? – preferiria
aproveitar um passeio dentro dos
eventos culturais especiais des-
te ano. Quanto aos monumentos
históricos, temos que recordar que
os aliados bombardearam a cidade
durante a Segunda Guerra mundial,
por isso mais de metade dos edifí-
cios foram arrasados. Do que so-
brou, os comunistas apropriaram-se,
arruinando à sua maneira, através
da negligência dos tesouros burgue-
ses. mas temos a sinagoga que é
uma das mais antigas da Europa e
que merece a pena mencionar como
memória dos brandos costumes
eslovenos. apesar dos judeus terem
sido expulsos por maximiliano (o pri-
meiro dos habsburgos) através de
um edital em finais do século XV e
não lhes ter sido permitido regressar
até 1861, ninguém tocou na sinago-
ga durante aquele tempo.
um pouco mais de história: maribor
recebeu privilégios de cidade em
meados do século Xiii, por isso é
considerada uma velha cidade de
acordo, pelo menos, com os pa-
drões eslovenos. até 1918 conti-
nuou sob a monarquia dos habsbur-
gos. Em 1918, 80% da população
declarava-se austríaca, mas como
toda a envolvente era de eslovenos,
foi mais tarde atribuída à Eslovénia,
naquela época parte do reino dos
Sérvios, croatas e Eslovenos. após
a Segunda Grande Guerra encon-
trávamo-nos sob tito e os seus
seguidores “tito após tito” até 1991
quando nos erguemos, agarrando o
muro de berlim aproveitando a opor-
tunidade para sair da jugoslávia e
da era comunista.
Pensa que após duas décadas de
Independência, e a meio de uma
crise, a escolha de Maribor como
Capital Europeia da Cultura che-
gou no momento certo?
certamente! a resposta para a
crise não é um fecho total, mas um
esforço para relançar as empresas
da cidade. a capital Europeia da
cultura tem que ser vista como
uma oportunidade para restaurar
e manter uma identidade comum.
Só com a revitalização da cidade,
como um organismo com diversas
funções, poderá haver crescimento
económico. os benefícios diretos do
turismo e outras indústrias de servi-
ços, postos de trabalho expectáveis,
novos investimentos são todos as-
petos muito importantes da capital
Europeia da cultura, especialmente
nestes tempos difíceis. uma das
mais influentes páginas de turismo
na internet, tripadvisor, já declarou
maribor como uma vencedora na
captação da atenção dos turistas –
existem agora 6 vezes mais turistas
a visitar que há um ano. ➤
Bernarda Gradišnik
59abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ para este ano especial, sabemos
que maribor tem programados mais
de 500 eventos, entre eles, óperas,
a criação de novos edifícios e jar-
dins para os mais idosos…
bem, de acordo com o programa da
capital Europeia da cultura – ma-
ribor 2012, existem 412 projetos e
muitos mais eventos e processos.
tudo se desenrola à volta de 4 pila-
res programáticos:
terminal 12 que nos traz arte de
qualidade de topo, com especial
ênfase nas novas abordagens e na
criatividade local. the Keys of the
city que mantém o diálogo entre o
dialogo entre a cidade e a arte. the
urban crases que trabalham nas
margens da sociedade, através de
uma busca activa de tópicos sociais
e ecológicos que estabelecem a
importância da coexistência e res-
saltam formas práticas de conseguir
uma sociedade criativa e tolerante.
lifetouch que representa um lugar
multimédia de reflexão, através de
eventos da capital Europeia da
cultura na cidade e região até se
estender a um contexto europeu
mais alargado.
Ouvimos dizer que os eslovenos
são chamados “Uma nação de
poetas”?
bem, hoje em dia os jovens prefe-
rem as máquinas de jogos ou nave-
gar na internet, ou... para os seus 5
minutos de fama através de reality
shows ou Youtube ou redes sociais,
por isso penso que o velho ditado já
não é válido. mas uma vez que era
apenas a língua e as suas formas
culturais que nos mantinham como ➤
maribor, capital Europeia da cultura 2012
60 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ uma entidade étnica viva durante
os tempos de pressões nacionalis-
tas dos nossos vizinhos – nomina
sunt odiosa – ainda pensamos, de
forma enlevada, sobre a cultura e,
inclusivamente, temos um dia sem
trabalho, feriado nacional, da cultura.
Estranhamente, decidimos celebrá-lo
na data em que o nosso mais famo-
so poeta, France prešeren, morreu
em 1848. provavelmente porque
“nemo propheta in sua pátria” – ele
teve que morrer para ser devida-
mente reconhecido pelo génio que
efectivamente era. Deixe-me só citar
duas estrofes do seu famoso poema
“canção do brinde” que o meu país
transformou em hino nacional (mas
uma vez que o cantamos em eslove-
no, ninguém aprecia devidamente a
mensagem de prešeren). também
penso que mostra um prešeren, tal
como alguém que vocês conhecem,
que continha em si próprio “todos os
sonhos do mundo”.
My friends, this is the hour
(meu amigo esta é a hora)
of sweet new wine that once again
(de doce novo vinho uma vez mais)
Makes eyes bright, hearts recover,
(faz os olhos brilhantes, corações recuperar)
Puts fire into every vein,
(faz fervilhar cada veia)
And everywhere
(e por todo lado)
Drowns dull despair
(torna velado o desespero)
With hope where there was care.
(com esperança onde antes havia preocupação)
Let God bless every nation
(Que Deus abençoe cada nação)
Who strive to see the brightest day
(que luta para ver o dia mais brilhante)
When wars will all be ancient,
(quando todas as guerras forem anciãs)
long past and gone away;
(Há muito passadas e afastadas)
Who yearn to see
(que deseja ver)
Peoples all free,
(todos os povos em liberdade)
No foes, just neighbourly.
(Não inimigos, apenas vizinhos amigáveis)
Sim, a Eslovénia é também um ➤
Bernarda Gradišnik
61abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ reconhecido produtor de excelen-
tes vinhos. a beber uma gota oca-
sional do nosso pinot ou teran, nem
prešeren era adverso à ideia.
a mensagem de prešeren parece
espantosa, tendo em consideração
que foi escrita numa época em que,
historicamente, não existiam muito
boas relações de vizinhança. tal-
vez a relação Guimarães-maribor
seja uma herança dele, digamos de
orientação uE?
posso falar-vos de pelo menos dois
projetos que serão levados a cabo
nas duas cidades gémeas. jovens
de portugal irão visitar a Eslovénia
e vice-versa, de modo a familiari-
zarem-se com ambas as culturas,
trabalhando em conjunto em diferen-
tes projectos, bem como diferentes
workshops que serão organizados.
um dos projectos é chamado cartas
do mundo. a ideia é ligar jovens,
e até mesmo crianças, através da
expressão da sua criatividade na
escrita de cartas. as dez melhores
cartas serão premiadas e os seus
autores terão a oportunidade de
viajar e conhecer o mundo.
ouvimos também falar do musical
carmina Slovenica. pode falar-nos
mais sobre este espectáculo, com
jovens, tanto quanto sabemos…?
críticos muito respeitáveis têm este
coro em elevada consideração.
carmina Slovenica estão a intro-
duzir um teatro vocal coreografado
e estou com algumas dificuldades
em explicar o significado de “coreo-
grafado”, mas sei que consiste em
juntar num mesmo palco, música,
voz, movimento, actuação e outras
artes performativas. Eles estão à
frente na sua área.
Está à espera que muitos es-
lovenos vão a Maribor durante
este ano? Existe um fato que nos
deixa curiosos. É verdade que os
habitantes de liubliana ainda não
gostam dos de Maribor?
não sei quem vos disse isto – mas
parece-me que têm bons informado-
res. Sim, existe rivalidade entre as
duas cidades. Em tempos antigos,
os habitantes de maribor tinham
o direito de ressentir a falta de
compaixão em dirigir e explorar da
capital, sem que com isso recebes-
sem muito de volta. mas penso que
hoje em dia a situação está muito
melhor. Existem muitas instituições
governamentais em maribor. a cida-
de tem a sua própria universidade.
a rivalidade permanece claro, mas
é muito similar à rivalidade entre o
porto e lisboa, ou entre o porto e o
benfica. tudo o resto são “incorrec-
ções políticas”, que são muito mais
suaves do que por exemplo, nos
Estados unidos. na realidade, na
Eslovénia, ninguém se importa com
um comentário num jogo de futebol
ou numa anedota. Espero since-
ramente que não só os habitantes
de liubliana, mas também pessoas
do mundo inteiro visitem maribor
e participem e aproveitem os seus
eventos culturais. E obviamente,
muitos portugueses!
Suponho que a crise económica
europeia tenha afectado o orça-
mento para o programa cultural
em Maribor este ano…
a sua suposição está obviamente
correcta mas, independentemente,
maribor fará o seu melhor com os
recursos disponíveis, esta é uma
grande oportunidade. no entanto,
existe uma nuvem ameaçadora a
pairar sobre o próximo projecto de
maribor – a 16ª edição da univer-
síada de inverno, competição para
estudantes universitários de 2013.
Existem sérios entraves, porque a
cidade não pode “por dinheiro onde
a boca estava”. talvez esta seja a
altura ideal para provar que existe
solidariedade entre cidades eslo-
venas, uma vez que a organização
internacional aceitaria que o evento
fosse financiado e deslocalizado por
toda a Eslovénia se esta medida ob-
viasse o problema de financiamento.
tudo estará decidido até ao final de
Fevereiro.
Voltemos ao tema das relações
entre a Eslovénia e Portugal.
Disseram-me que existem alguns
projectos culturais em comum
a ser desenvolvidos, nomeada-
mente entre Maribor e guimarães.
Pode elucidar-nos?
Estou satisfeita com a oportunidade
que as duas cidades têm de ganhar
visibilidade. ambas vão cooperar em
diversos campos, nomeadamente
da arte, criatividade, participação do
público, “forma de pensar” e cultura
popular. para além dos dois projec-
tos antes mencionados, dedicados
à juventude, existem ainda projectos
comuns no campo musical, dança,
teatro e artes visuais. a ideia é tam-
bém apresentar o poder e criativida-
de da poesia (e trocar antologias) e
a riqueza da cultura popular. Será
ainda estabelecida cooperação en-
tre onG’s e as duas universidades.
As cidades de Maribor e guima-
rães estão ligadas através do
futebol e esta também será uma
área de cooperação. O Zlatko
Zahovic, que iniciou a sua carrei-
ra em guimarães, foi nomeado
pela Fundação Cidade de guima-
rães como Embaixador da Capital
Europeia da Cultura.
a nossa embaixada também está a
fazer a sua parte. no dia 8 de
Fevereiro organizou-se um evento,
o antes mencionado dia da cultura,
que ao mesmo tempo foi dedicado
às capitais Europeias da cultura.
nesta ocasião, representantes de
maribor e Guimarães foram convi-
dados para promover a sua progra-
mação, por isso terá oportunidade
de ouvir mais sobre este tema.
convido-os desde já – e não me re-
firo só à Diplomática, mas os leitores
também – a juntarem-se a nós nesta
ocasião. muito obrigada
muito obrigada nós, Excelência. n
62 • Diplomática - abril/junho 2012
No início do ano, o presidente da república recebeu, no palácio de belém,
as cartas credenciais dos novos embaixadores em portugal: o Embaixador
de moçambique, jacon jeremias nyambir, Embaixador do perú, nestor
Francisco popolizio barales, o Embaixador do Qatar, adel ali mohamed al
Khal, e da Embaixadora de cabo Verde, maria madalena brito neves.
na mesma cerimónia apresentaram as credencias ao presidente da repú-
blica os Embaixadores não-residentes: o Embaixador da tanzânia, begum
Karim-taj, Embaixador de S. Vicente e Grenadinas, celnio Elwin lewis, o
Embaixador das Seychelles claude morel, a Embaixadora maria ubach Font,
de andorra, Embaixador agron budjaku, da antiga república jugoslava da
macedónia e o embaixador do Vietname, Duong chi Dung. n
Presidente Cavaco Silva recebe credenciais de novos Embaixadores
Diplomacia
No rescaldo de golpes e conflitos, debaixo de fogo, a Guiné-bissau procura o
seu espaço, num continente africano marcado por feridas abertas…
a Guiné-bissau é a maior “dor de cabeça” da cplp. Vivendo permanente
instabilidade, com exceção do curto período de liderança de luís cabral, o
primeiro presidente da república, e uma “normalidade” forçada pelo punho
firme do primeiro consulado de nino Vieira, a pátria de amílcar cabral parece
marcada pelo selo de tragédia da morte violenta do seu inspirador e pai da
independência.
Golpe atrás de golpe, os militares guineenses têm marcado a agenda política
do país, transformando a sociedade civil em mera espetadora dos desmandos
de uma tropa prenhe de autoritarismo antidemocrático e das perigosas forças
do tráfico de estupefacientes.
a Guiné-bissau, aparentemente, parece ingovernável, a não ser que fosse
possível inventar uma nova instituição militar nos destroços desta e reinven-
tar-se um conceito de democracia que correspondesse com mais equidade à
multiplicidade étnica e cultural de que enforma o país: uma manta de retalhos
criada pela ocupação colonial e desenhada a régua e esquadro numa lógica
de partilha do continente africano pelas potências europeias.
os problemas da Guiné-bissau, para além das dores domésticas desse povo
sofrido, são feridas profundas gravadas a escopro na má consciência daque-
les que procuram receitas iguais para coisas diferentes. ou seja, o concerto
das nações só é possível se gizado sobre as diferenças que fazem deste
nosso mundo uma manta de multiculturalidades.
as receitas do ocidente “civilizado” e “democrático”, às tantas, não farão
muito sentido num continente que tem de reinventar novos conceitos e novas
formas de organização política e social. a “chapa 5” dos regimes democrá-
ticos da Europa e do continente americano já provou não servir nem ajudar
uma áfrica que, de tanto ser “ajudada”, só tem vindo a atrasar o seu desen-
volvimento e o progresso social dos seus povos. ➤
63abril/junho 2012 - Diplomática •
africa
DossiEr
´ +Africa64 • Diplomática - abril/junho 2012
A 21 de Fevereiro passaram 22 anos sobre a liberta-
ção de nelson mandela, sem dúvida a personalidade
ainda viva com mais prestígio internacional, tendo
até um dia mundial assinalado em sua homenagem,
o mandela Day, comemorado anualmente na data do
seu aniversário, a 18 de julho.
corria o ano de 1990 quando Frederik de Klerk, o
então presidente do regime do apartheid, pôs termo a
mais de 27 anos de prisão do líder sul-africano. a 11
de Fevereiro desse ano, de mão dada com Winnie, na
altura sua mulher, madiba – como é carinhosamente
tratado pelo seu povo – transpôs os portões do com-
plexo prisional de Victor Verster.
Estava traçado o fim da segregação racial e aberto o
caminho da liberdade. ao contrário do que seria su-
posto, pese embora os longos anos de cárcere, nelson
mandela, ao invés de querer vingança ou instigar ao
ódio, apelou à reconciliação, democracia e igualdade.
na tomada de posse como primeiro presidente negro
da áfrica do Sul, madiga enfatizou a mensagem que
norteou toda a sua vida: “justiça, paz, trabalho, pão,
água e sal, para todos”.
mandela uniu gente de todas as cores.
Este ano, a cidade do cabo foi escolhida para as ➤
Nelson Mandela, aos 93 anos continua a irradiar uma surpreendente vitalidade
“Se o mundo pudesse ter apenas um pai, nós escolheríamos Nelson Mandela”… disse um dia Peter Gabriel.
E tem razão: Madiba faz-nos acreditar no que de melhor a Humanidade transporta no seu seio
GraNDEs FiGuras
´ +Africa 65abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ comemorações nacionais que assinalaram o fim de
um cativeiro de 27 anos, imposto pelo regime racista
da minoria branca, com direito a um ato oficial na casa
parlamentar e com a presença de mandela que, aos
91 anos e apesar de se encontrar bastante debilitado,
pareceu readquirir um surpreendente vigor, ao ser
efusivamente aclamado pela esmagadora maioria dos
deputados.
o discurso oficial coube ao atual presidente, jacob
Zuma, defendendo que a áfrica do Sul continua a
inspirar-se na visão, na inteligência e na sensibilida-
de do seu primeiro líder negro, que cumpriu a maior
parte da sua pena na prisão de robben island, ao
largo da cidade do cabo e, posteriormente, na prisão
de pollsmor. no entanto, à data da sua libertação,
nelson mandela, estava detido numa casa de campo,
no complexo da prisão de Victor Verster, uma zona
rural a cerca de 50 quilómetros da cidade do cabo.
actualmente o complexo é conhecido como prisão
de Drakenstein, erguendo-se no local uma estátua
de homenagem ao líder africano, de punho erguido,
assinalando a luta de toda uma vida pela libertação do
povo sul-africano.
aliás, o local foi, nesse dia, palco de uma ➤
Mandela luta e ascenção
´ +Africa66 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ reconstituição da “marcha da libertação”, o dia em
que mandela transpôs os portões do complexo prisio-
nal, a 11 de Fevereiro de 1990, mas na qual o velho
líder, por razões de saúde, não participou. mas a sua
ausência não impediu que milhares de pessoas partici-
passem neste ato simbólico. poppy Shabalala, resi-
dente a poucos metros da prisão, disse aos jornalistas
que nelson mandela “fez o impensável, uniu negros e
brancos e terminou com o apartheid”, adiantando estar
ali para manifestar a sua gratidão.
no parlamento, o presidente Zuma referiu que se
celebrava ontem um “dia para assinalar um momento
divisor de águas” que mudou por completo a áfrica do
Sul e que mandela uniu o país na construção de um
Estado “não sexista e não racista”.
madiba recebeu mais de 250 prémios, entre eles o no-
bel da paz. a sua tenacidade, a sua força de vontade e,
fundamentalmente, a sua intrínseca bondade têm feito
mudar o mundo e transmitir uma mensagem de espe-
rança a toda a humanidade. como, certo dia, disse o
músico peter Gabriel: “se o mundo pudesse ter apenas
um pai, nós escolheríamos nelson mandela”… n
Na tomada de posse como primeiro presidente negro da África
do Sul, Madiba enfatizou a mensagem que norteou toda a sua
vida: “justiça, paz, trabalho, pão, água e sal, para todos”
Nelson Mandela
´ +Africa 67abril/junho 2012 - Diplomática •
Passaram poucos meses desde a assinatura
pública do protocolo de cedência e aceitação
do palácio do conde de penafiel, em Setem-
bro de 2011, para a instalação permanente da
sede da comunidade dos países de língua
portuguesa. institucionalizada em 1996, a
comunidade concluiu em 2011 o processo de
negociação que incentivou a sua fundação.
a primeira ideia de criação da cplp surgiu
no final dos anos 1980, com a primeira reu-
nião dos chefes de Estado e de Governo dos
países de língua portuguesa; angola, brasil,
cabo Verde, Guiné-bissau, moçambique,
portugal e São tomé e príncipe, em São luís
do maranhão a convite do então presidente
brasileiro: josé Sarney.
a 6 de Fevereiro de 2011 lisboa passou a
acolher a sede permanente da cplp situada
no palácio do conde de penafiel. lisboa é a
única capital onde existem Embaixadas de
todos os países que integram a comunidade
dos países de língua portuguesa. a defesa
da liberdade, da democracia, dos Direitos
humanos, do desenvolvimento económico e
social dos povos, os fatores que integram a
comunidade, o envolvimento da sociedade
civil de cada um dos países membros - foram
alguns dos objetivos da cplp realçados pelo
presidente português.
o evento de inauguração foi assinalado na
presença de várias personalidades dos 8
países membros da comunidade e outros
convidados especiais. Destacou-se a presen-
ça dos antigos presidentes: jorge Sampaio e
mário Soares (portugal), joaquim chissano
(moçambique), pedro pires e antónio masca-
renhas monteiro (cabo Verde); o atual presi-
dente da república portuguesa, aníbal ca-
vaco Silva e o Vice – presidente de angola,
Fernando da piedade Dias dos Santos - em
representação do chefe do Estado angolano;
o Secretário Executivo da cplp, Domingues ➤
A sede permanente da CPLPUma aposta partilhada e ambiciosa para o futuro
inauguração da cplp
lusoFoNia
´ +Africa68 • Diplomática - abril/junho 2012
CPLP
➤ Simões pereira; o primeiro-ministro de por-
tugal: pedro passos coelho; o ministro dos
negócios Estrangeiros, paulo portas e os mi-
nistros dos países membros da comunidade.
Em Fevereiro de 2012 o chefe do Estado por-
tuguês e o Vice - presidente de angola tiveram
a honra de cortar a fita e descerrar a placa
da inauguração que marcou a cerimónia de
abertura da nova casa da cplp. na cerimónia
foi destacado o percurso evolutivo que a cplp
fez nos seus 15 anos de vida. o presidente
da república portuguesa apreciou o empenho
e o contributo da presidência angolana que
atualmente preside a cplp. Fez referência ao
processo de cooperação que tornou possível
a escolha da capital portuguesa para albergar
a casa comum dos países de língua portu-
guesa. cavaco Silva afirmou que a despeito da
sua juventude a comunidade é hoje um eixo
central da política externa dos Estados que a
integram, o que permite a valorização do papel
de cada um dos seus membros no contexto
regional e internacional em que se inserem.
no seu discurso, na Sessão Solene de inaugu-
ração da Sede, o chefe do Estado português
destacou ainda a importância da lusofonia no
mundo. referiu-se à língua portuguesa como
a sexta mais falada do mundo, e como um dos
idiomas em maior expansão. na opinião de
cavaco Silva a lusofonia traz consigo uma re-
alidade que constitui um ativo estratégico, em
termos políticos e económicos, o que faz com
que seja indispensável apostar na educação e
na formação em língua portuguesa, apresen-
tando-se a cplp como uma aposta partilhada
e ambiciosa para o futuro.
no dia da inauguração da sede da comunida-
de, realizada na semana comemorativa dos ➤
presidente da republica portuguesa, aníbal cavaco Silva; Vice-presidente da república de angola, Fernando da piedade
dos Santos; e Secretário executivo da cplp, Domingos Simões pereira
´ +Africa 69abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ 15 anos de existência da cplp teve lugar
a Vii reunião Extraordinária do conselho de
ministros da cplp. os oito representantes dos
países membros reuniram-se para se pronun-
ciarem sobre a agenda a cumprir em 2012. na
reunião do conselho, presidido por S. Excelên-
cia o ministro das relações Exteriores de an-
gola, Dr. Georges chicoti, oito pontos importan-
tes foram referidos como temas de destaque: a
elaboração dos Vocabulários ortográficos na-
cionais e do Vocabulário ortográfico comum;
o reforço da cooperação Económica e Empre-
sarial na cplp; a apresentação da Estratégia
regional de Segurança alimentar e nutricional
da cplp; o apoio ao processo de estabiliza-
ção política da Guiné-bissau; realizar até maio
um conselho de ministros Extraordinário para
uma avaliação dos progressos alcançados e
elaboração de um relatório exaustivo no quadro
dos avanços registados na implementação do
programa de adesão da Guiné-Equatorial à
cplp; a proposta de orçamento de funciona-
mento do Secretariado Executivo para 2012;
a criação do conselho Económico e Social da
cplp; e a aceitação do centro internacional
de investigação climática e aplicações para os
países de língua portuguesa e áfrica (ciicla)
por cabo Verde como centro da cplp através
de um projecto de resolução para aprovação ad
referendum no conselho de ministros a realizar
em julho, em maputo.
o ministro Georges chicoti associou a nova
sede da cplp no palácio de penafiel à casa
da lusofonia com a sua vocação de fórum
multilateral para o aprofundamento da amiza-
de mútua, da concertação político-diplomática
e da cooperação entre os seus membros. n
1. Vice presidente da república de angola, Fernando da piedade dos Santos e primeiro-ministro pedro passos coelho 2. Vice-
-presidente da república de angola, Fernando da piedade dos Santos 3. Secretário executivo da cplp, Domingos Simões pereira
4. jorge Sampaio e o ministro de Estado e dos negócios Estrangeiros paulo portas. 5. Vice presidente da república de angola,
Fernando da piedade dos Santos; presidente da republica portuguesa, aníbal cavaco Silva; primeiro-ministro de portugal, pedro
passos coelho; e Secretário executivos da cplp, Domingos Simões pereira
2 3
4
5
1
reportagem: roman buzut
´ +Africa70 • Diplomática - abril/junho 2012
A hidroeletrica de cahora bassa
(hcb), o maior e o mais poderoso
produtor de eletricidade em mo-
çambique, voltou a destacar-se
no mapa político-económico inter-
nacional. acompanhado pelo mi-
nistro dos negócios Estrangeiros,
paulo portas e pelo ministro da
Economia, álvaro Santos pereira,
o primeiro–ministro português,
pedro passos coelho, deslocou-
-se à capital de moçambique,
maputo, para chegar a um acor-
do sobre a alienação do capital
português na hcb. nas palavras
do ministro dos negócios Estran-
geiros moçambicano, henrique
banze, no seguimento desta
visita espera-se um reforço das
“relações entre os dois países”
face a cahora bassa. as expeta-
tivas assentaram na transferência
do capital português da hidroe-
létrica de cahora bassa para as
mãos dos moçambicanos. até ao
fim de abril de 2012, o Estado
português detinha 15% na hidro-
elétrica de cahora bassa (hcb).
recorda-se, que, até 2006, na
posse de portugal estavam 82%
de ações, mas que a partir de
2007, após negociações entre os
dois governos, foram reduzidas
para 15%.
na sua visita de dois dias a mapu-
to, o primeiro-ministro português,
passos coelho, e o presidente de
moçambique, armando Guebuza, ➤
Passos Coelho em MoçambiqueAcordo sobre Cahora Bassa
ViaGENs DE EstaDo
´ +Africa 71abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ chegaram a um acordo. portu-
gal transferiu o capital que detinha
na hcb. a empresa portuguesa
parpública, detentora do empreen-
dimento, vendeu os 15% por cerca
de 97 milhões de dólares: 7,5%
foram para a empresa pública
moçambicana cEZa, cujo capital
é detido pela EDm, e 7,5% para a
empresa portuguesa rede Elétrica
nacional (rEn). com a assinatu-
ra deste acordo, a rEn reforçou
a sua política energética sobre o
mercado moçambicano. a empre-
sa portuguesa aposta no transpor-
te de energia no continente africa-
no. alcançou mesmo um conjunto
de garantias de participação em
vários projetos energéticos. Entre
os maiores, destaca-se o proje-
to de Desenvolvimento regional
de transporte de Energia entre
o centro e o Sul de moçambique
(cesul). num valor superior aos
2 milhões de dólares, o projeto,
constituído por duas redes de alta
tensão entre matola e tete, tem
como objetivo escoar energia na
região do vale do Zambeze.
após várias negociações, mo-
çambique passou a deter 92.5%
do capital da hcb. nas palavras
do primeiro-ministro português,
tratou-se da resolução de um pro-
blema do passado, que hoje abriu
caminho para “novas oportunida-
des no campo da energia”. n
roman buzut
´ +Africa72 • Diplomática - abril/junho 2012
A cultura excedeu as espetativas de uma repetição subjeti-
va e anacrónica cada vez mais comunicante e comunicativa.
o “atllântico” outrora berço dos navegantes europeus em
busca de outras paragens, é traçado pelo sociólogo paul
Gilroy, na sua perspetiva antiessencialista e afirmativa, que
nos leva ainda mais longe: diria mesmo, até à “casa Grande
e Senzala” de Gilberto Freire do séc. 20, tendo-se catapulta-
do para o que é atualmente uma cultura global e globalizante,
que deste lado do atltântico, se eleva do exótico e expressivo
batuque à instrumentos musicais mais sofisticados, dentro
da filosofia e dimensão africana. Da literatura, à dança e à
música, as fronteiras esbatem-se, a partir do momento em
que, as orquestras de música sinfónica entram em cena,
num diálogo apressado, cada vez mais conseguido, em que
os desaires de uns são a tristeza de outros e as vitórias são
celebradas como de uma só identidade se tratasse.
contudo, os povos distanciaram-se de acordo com suas
realidades geográficas e linguísticas, quer pela força da
diferença, quer pela força do que nos é comum como hu-
manos, na corrida de um mundo melhor e mais conseguido
em que a transfronteiricidade tem regras. tal como o Egito
se sagrou como uma sociedade da primeira civilização e a
Europa como o berço do iluminismo, chegados ao sec. XXi,
a tendência é esbater as diferenças e os ressentimentos
das emancipações e independências, pelas aproximações
culturais e económicas de outros paradigmas e propósitos,
consubstanciados no equilíbrio de forças: força política,
económica e cultural, o que pressupõe o desenvolvimento
acelerado do diálogo norte-Sul, que sem ambiguidades,
devem privilegiar a livre circulação de pessoas e bens das
populações baptizadas pela lusofonia.
nada mais pode ser tão brilhante, senão o avanço da intelec-
tualidade através da técnica e da ciência, através da criação
de mais universidades e institutos de formação profissio-
nal aprimorada, no sentido de melhor funcionamento das
LusofoniaUm resgate afirmativo da mundialização das identidades
palmira tjipilicaprofessora universitária - luanda, angola
cróNica
instituições de resgate, do que deveria ter sido melhor,nos
tempos que passaram à história, mas que enquadrados no
devido momento e época, não poderam ser diferentes, em
termos de mentalidades e práticas. milénios antes de cristo,
também houve distanciamentos entre o atlântico norte e
o atlântico sul, em termos do domínio técnico e científico,
favoráveis para os do norte, que encorajados pelo clima frio
e durezas invernais, avançaram para as etapas do desenvol-
vimento económico e industrial, hoje ameaçados de res-
sessão financeira. a lusofonia dos nossos dias, remete-nos
para a recuparação das vivências do tropicalismo africano
da diáspora da idade moderna e, da herança racializada
expalhada pelo “atlântico negro”, como conquista a partir das
experiências de diferentes formas de sentir e de saberes. Dir-
-se-ia que, de uma ou de outra maneira, a doutrina das idéias
platónicas, onde o objeto do conhecimento se distingue das
coisas naturais, colocam o humano de hoje, no patamar da
sabedoria que se traduz na filosofia das belíssimas obras de
arte, quer na arquitetura, quer noutros manifestações da vida
social, cultural e política em que, as boas obras inacabadas,
são eternizadas pela memória daqueles que a completam,
quer em termos materiais e imateriais em que o domínio da
escrita, é uma opção obrigatória. a partir das independências
dos países de língua oficial portuguesa, as experiências daí
decorrentes e as relações internacionais daí resultantes,
guidaram os novos países para o desenvolvimento humano,
mais maduro e as antigas potências coloniais, para uma
revisão das relações entre estados, com o objetivo de maior
coesão e sustentabilidade das nações e países que falam a
mesma língua.
chegados ao séc. 21, as práticas migratórias bem controla-
das, não só enriquecem as nações, como também colocam
os humanos num constante diálogo económico, técnico e
científico. E porque assim é, nos estados outrora subjuga-
dos, desenha-se um luso-tropicalismo que invoca o passado
numa perspetiva mais avançada de respeito pela história de
cada um à medida que as reaproximações ganham sentido.
nada mais permanece igual, numa corrida em que a com-
ponente a não perder é o constante resgaste das identidades
entre africanos e europeus, para os equilíbrios desejados,
com base na filosofia civilizacional. para que isso seja factível
ao longo das próximas gerações, precisamos de “utopias” ou
ideias avançadas contra os arrastamentos da estagnação e
estgmatização.
assim sendo, só os grupos humanos organizados, têm como
saber dar e apropriar-se do melhor dos outros, sem o esva-
siamento e a anulação de si mesmos. É assim que eu vejo o
luso-tropicalismo, ou seja a lusofonia deste século, em que a
comunicação social pode exercer um papel preponderante
inescedível. n
´ +Africa 73abril/junho 2012 - Diplomática •
A alma de um povo, para quem acredita que ela exis-
te, deve ser entendida como um conceito integrador,
sem o qual os seres se desunem da própria existência
humana.
Da mesma forma que um ramo arrancado brusca-
mente de um pé de eucalipto ou de uma outra árvore
qualquer está esconjurado a morrer aos poucos, por
ter perdido a ligação à sua fonte de sustento, um povo
que assassina a sua alma, sujeita-se a ser castigado
ao infortúnio e à desgraça imutável por ter abjurado a
sua fonte de (inspiração) alimentação.
Quem sabe!
na verdade, esvoaça no ar a sensação e o marasmo
de que o povo da Guiné-bissau vive o seu dia-a-dia
sob o signo da maldição e do pecado mortal, desde o
dia 20 de janeiro de 1973, data do desumano assassi-
nato daquele que foi a sua “alma, luz e guia”, ou seja,
o seu espírito luz de nome amílcar lopes cabral.
aquele que deixou tudo de material para se dedicar
única e exclusivamente à libertação do seu povo, o
povo da Guiné-bissau, do colonialismo e do obscuran-
tismo, como fez cristo em relação ao povo de israel.
Entretanto, assim como sucedeu a Este, desgraça-
damente, aquele que foi a “alma, luz e guia” do povo
da Guiné-bissau, ou seja, amílcar lopes cabral, foi
assassinado no solo pátrio guineense por aqueles a
favor dos quais tudo consentiu à nobre causa da sua
libertação e emancipação como homem.
É como que dizer: quando não somos os únicos res-
ponsáveis do nosso destino, cada ato que praticamos
é, por si só, uma punição ou compensação.
assim sendo, independentemente do método que se
utilizar para se apurar a verdade: ciência ou religião,
é inquestionável hoje que sem amilcar lopes cabral,
a Guiné-bissau “nada tem sido”, e com amilcar lopes
Guiné-Bissau e o signo da maldição e do pecado mortal
adriano pires
major (na reserva) das Forças
armadas de cabo Verde
Na verdade, esvoaça no ar a sensação e o
marasmo de que o povo da Guiné-Bissau
vive o seu dia-a-dia sob o signo da maldição
e do pecado mortal, desde o dia 20 de Janei-
ro de 1973, data do desumano assassinato
daquele que foi a sua “alma, luz e guia”,
ou seja, o seu espírito luz de nome Amílcar
Lopes Cabral
cabral certamente “seria tudo”.
Quem sabe!
ou seja, a impressão que fica é que no dia em que
os militares guineenses o assassinaram em plena
luta de libertação nacional, a própria alma da Guiné-
-bissau foi como que assassinada também. tal qual
sucedeu com a Grécia a partir do dia em que delibe-
rou envenenar Sócrates.
a partir dessa data, nunca mais a Guiné-bissau teve
paz, concórdia e felicidade. o seu dia-a-dia passou a
ser marcado por sangue, equívocos e mal-entendidos
entre os guineenses - militares - “discípulos” de amíl-
car lopes cabral, há data de hoje.
como se não bastasse, passados trinta e nove anos
sobre a data do seu assassinato, nenhum outro gui-
neense atingiu, na Guiné-bissau, a mesma honra, a
mesma luz, o mesmo entendimento, a mesma respon-
sabilidade e o mesmo sentido do dever para com a
Guiné-bissau.
isto é, o assassinato de amilcar lopes cabral foi
como que o azar da Guiné-bissau. aliás, verdade de
muito fácil confirmação. basta ver o semblante dos
guineenses face a cada ato de bestialidade perpetua-
do pelos militares guineenses contra a Guiné-bissau,
sua gente e suas instituições legitimamente constituí-
das.
ora bem, se os militares da Guiné-bissau tivessem
ouvido amilcar lopes cabral em vez de o matarem,
hoje a Guiné-bissau não estaria… seguramente na
situação difícil em que se encontra, ou seja, vivendo
sob o espectro da maldição e do pecado mortal que
pesam sobre os ombros dos membros da Direcção
das suas Farp.
Quem sabe!
paz ao povo da Guiné-bissau. ➤
74 • Diplomática - abril/junho 2012
O instituto para a promoção e De-
senvolvimento da américa latina
ofereceu uma recepção, no Grémio
literário de lisboa, por ocasião do
seu sexto aniversário. no passado
dia 27 de janeiro, cerca de 70 con-
vidados acederam ao convite do
ipDal, destacando-se a presença
do Secretário de Estado da agri-
cultura, josé Diogo albuquerque.
Estiveram presentes vários amigos
do ipDal e membros do protocolo
de Estado, deputados, empresá-
rios, académicos e políticos.
Durante a cerimónia, decorreu ain-
da a entrega dos prémios ipDal-
-Vista alegre. na terceira edição
desta homenagem, o instituto ➤
IPDAL Comemora VI Aniversário
1. maria da luz bragança e paulo neves 2. iwan e jeunesse brunner 3. jorge costa e miguel Guedes 4. José luis ma-
chado do Vale, paulo ramos, ribau Esteves, jorge costa, Filipe Domingues e alexandre barata 5. luis miguel henrique
a receber o prémio
1 2 3
4 5
Nossos parabéNs
75abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ distinguiu, o liDE-portugal e a
antiga embaixadora da república
Dominicana, ana Silvia reynoso. o
prémio ipDal-Vista alegre preten-
de homenagear personalidades e
instituições que se tenham desta-
cado na aproximação de portugal
e da américa latina, bem como
instituições que tenham colaborado
de forma estreita com o ipDal.
o instituto para a promoção e De-
senvolvimento da américa latina
(ipDal) é uma instituição privada,
pluralista e independente de gover-
nos e partidos políticos. Surgiu na
sequência de um projeto iniciado
pelo jornalista e professor universi-
tário paulo neves, em 2004. ➤
6. Embaixador do perú, paulo pisco, antónio Galamba, jorge abrantes e josé luis machado do Vale 7. maria da luz de
bragança, Embaixador da moldávia e ilona thykier 8. josé Diogo albuquerque, Secretario de Estado da agricultura; paulo
neves com o Embaixador da república Dominicana a receber o prémio 9. pedro machado, ribau Esteves e manuel correia
de Jesus 10. Gonçalo rebelo de almeida e jorge abrantes
6 7
8 9 10
76 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ com o apoio dos Embaixadores
do chile, do brasil, da argentina,
do panamá, de cuba, do peru, da
Venezuela e do Encarregado de
negócios do paraguai, o projeto
foi apresentado no final de 2004
e posto em prática. É um instituto
que inclui as representações diplo-
máticas latino-americanas em por-
tugal; universidades, empresas e
outras organizações cujo interesse
assenta na américa latina. Quando
se fala em diplomacia é importante
referir a importância da diplomacia
económica como fator essencial
nas trocas comerciais entre os dois
polos. o seu financiamento é ga-
rantido pelas iniciativas que ➤
11 12 13
14 15 16
17
11. Embaixadores da Venezuela com o Embaixador da república Dominicana 12. maria da luz de bragança e o Embaixador do
brasil 13. joão novais paula e josé honorato Ferreira 14. alexandre barata e carlos rito 15. luis Ferreira Santos e luis miguel
henrique 16. Filomena oliveira e nuno Fernandes tomás 17. carlos mamede e antonio monteiro
IPDAL - Comemora VI Aniversário
77abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ organiza e cujo objetivo é conso-
lidar as relações entre portugal e a
américa latina. Dois anos mais tar-
de, no dia 12 de janeiro de 2006,
foi efetuado o registo legal do insti-
tuto para a promoção e Desenvolvi-
mento da américa latina. trata-se
de objetivos possíveis mediante o
desenvolvimento de “atividades de
assessoria e lóbi, cursos, confe-
rências, viagens e mesas redondas
sobre a américa latina, a media-
ção de contatos e interesses latino-
-americanos entre todas as partes
envolventes, oferecendo serviços
de apoio e iniciativas em movimen-
tos de aproximação. n
18 19 20
21 22 23 24
25 26 27
18. Embaixadores da Venezuela, colombia e panamá com Embaixatriz do panama 19. paulo pisco, antónio Galamba e o Embaixador
do peru 20. Embaixadores do brasil 21. maria carlota machado mendes e caetano pestana 22. rosa canning clode e assis correia
23. Embaixatrizes do panamá e Venezuela 24. josé Diogo albuquerque, jeunesse brunner, Embaixador do peru e paulo pisco 25. mar-
zio tartini e sua mulher com maria renee Gomes 26. clotilde camara pestana, Elida paredes e berta ribeiro 27. Embaixador da argentina
Fotos: roman
78 • Diplomática - abril/junho 2012
Por ocasião do lançamento do livro “le
palais de Santos” e da inauguração
da nova iluminação da capela e da
sacristia do palácio de Santos, sede
da embaixada francesa, o Embaixador
de França organizou uma recepção
solene, em que estiveram presentes
representantes de várias instituições.
no seu discurso, o Embaixador pascal
teixeira da Silva reconheceu o contri-
buto dado pelas empresas portuguesas
e estrangeiras e pelas pessoas que
fizeram parte do projeto.
o Embaixador agradeceu ao autor,
jean pierre Samoyault – conservador
do património e ex-diretor do castelo
de Fontainebleau e ex-administrador do
mobiliário nacional, a Kenton tatcher
–responsável pelas fotografias; ao
editor alain Finet e à tradutora, patricia
roman. relativamente às empresas,
o embaixador de França destacou a
importância do banco Espírito Santo e
da caixa Geral de Depósitos e refe-
riu ainda as empresas francesas: air
France, alcatel, axa, citroën, Essilor,
GDF Suez, Gefco, macif, pernod-
-ricard, peugeot, Sanofi-aventis,
Saint-Gobain,thalès. por fim salientou
o contributo pessoal de Guérand-her-
mès.
o livro, da autoria de jean pierre Sa-
moyault, conta a história do palácio.
começa por fazer referência à época
romana, para depois contar a história
da ilustre família lencastre e a luta
pela posse do edifício. Faz referência
à realeza e à corte da classe mo-
nárquica portuguesa que habitou no
palácio. Entre as muitas curiosidades
relatadas no livro destaca-se, como
muitos a chamam, a última ceia de D.
Sebastião antes de partir para lagos,
de onde saiu para marrocos para
travar a batalha de alcácer Quibir. o
edifício que, há 142 anos atrás, em
1948, passou a ser a sede da embai-
Le Palais de Santos
1 2
3 4
1. mercedes balsemão, pascale teixeira da Silva, maria da luz de bragança
2. antónio Gaivão, Didier Gonzalez 3. nuno rogeiro e sua mulher, Daniela
bokor com Samuel richard 4. jean-pierre courtiat e sua mulher, cordula
courtiat com custódia Domingues
reportagem:roman buzut
cultura
xada de França, em portugal
foi comprado pelo estado fran-
cês em 1909. Veja algumas
das muitas personalidades
que estiveram presentes no
evento. n ➤
5 6 7
7 8
9
10 11 12
5. ricardo Salgado, Francisco balsemão e rui Vilar 6. ana Godinho e josé Gil 7. paul Schmit e nadine Schmit com custódia Domin-
gues e catherine astorg Gonzalez. 8. isabel cruz de almeida e rui Vilar 9. pierre Guibert e isabel Silveira Godinho. 10. ricardo Salgado
e maria da luz de bragança 11. Fernando Faria de oliveira e rui Vilar 12. os Embaixadores de França com alain Finet (Editor do livro)
80 • Diplomática - abril/junho 2012
Sendo uma das empresas portugue-
sas mais antigas a produzir tapeçarias
tradicionais de qualidade e de luxo, a
tapeçarias Ferreira de Sá, que de-
tém o espólio original de desenhos do
ponto português, beiriz, é a empresa
portuguesa de referência, em qualida-
de, inovação e recuperação de técni-
cas tradicionais.
após diversos projetos desenvolvidos ➤
Tapeçarias Ferreira de Sá
maDE iN portuGal
81abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ entre as tapeçarias Ferreira de Sá e
o arquiteto álvaro Siza, de referir, por
exemplo, o “pacific amore” na coreia
, e o teatro “auditorium revellin”, em
ceuta, eis que surgiu a tão aguardada
coleção de tapetes, lançada em tai-
pei, numa exposição de Siza Vieira, ,
intitulada “the beauty of Function”, que
estará patente, no Xue Xue institute,
até finais de abril deste ano. ➤
hotel Sheraton
álvaro Siza - colecção “hand-tufted”
82 • Diplomática - abril/junho 2012
➤ a coleção de álvaro Siza é composta
por nove tapetes em “hand-tufted” e
um em “portuguese hand-Knotted”,
que recriam, com expressão, o de-
senho e a intensidade de cada traço.
uma seleção que resulta na escolha de
duas pinturas (uma das quais tratando-
-se de um tríptico) e seis desenhos de
traço, recriadas em tapeçarias. hoje,
com quase 100 trablhadores, a pro-
dução em nó manual (hand-knotted),
tecelagem manual (hand-woven) e
tufado manual (hand-tuffed), conferem
à Ferreira de Sá um enorme prestígio
nacional e internacional.
lojas como Dior, louis Vuitton e
nespresso fazem parte da carteira de
clientes da Ferreira de Sá (cuja fábrica
e o showroom estão localizados em
Silvade, concelho de Espinho), no que
se refere a instalação em lojas. para
além da península ibérica (o Vidago
palace hotel, Grupo Sheraton, altis,
cS e intercontinental), as tapeçarias
Ferreira de Sá está também presente
o hotel alfonso Xiii, em Sevilha, as-
sim como também em hotéis de luxo
no Dubai, em moscovo como o Swis-
sôtel, edifícios empresariais, como a
Sonangol, em angola, e museus como
o amsterdam historisch museu, na ho-
landa, the mercedes-benz museum ou
o Vitra Design museu na alemanha.
Diversos decoradores, designers e
arquitetos, como álvaro Siza Vieira,
escolhem-na no momento de mobiliar
os seus interiores, desenvolver uma
colecão, desenhar um tapete original ➤
Tapeçarias Ferreira de Sá
Vidago palace hotel
83abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ ou substituir uma antiga tapeçaria.
a tapeçarias Ferreira de Sá esteve
presente, recentemente, no evento
internacional EXport homE 2012,
onde apresentou, pela primeira vez,
ao país, a conceituada álvaro Siza
collection, tendo vencido o prémio
Design Export home 2012, na cate-
goria dos têxteis-lar, com o aplauso
unânime do júri. De destacar o tapete
em “portuguese hand-Knotted, chama-
do “reine”, assim como o tapete em
3d “tufted”, chamado “braids!, ambos
da orbi collection. Foram também
apresentados ao júri diversas peças de
mobiliário, produzidas a partir de ta-
petes de “hand-woven” e “portuguese
hand-Knotted”. igualmente de destacar
o “bench”, um ergonómico banco com
tapeçaria Ferreira de Sá. tratando-
-se de um tapete em “hand-woven”
(tecelagem manual) em lã, que cobre
a estrutura ondulada, formando um
banco, já apresentado em janeiro, na
“maison&object, em paris.
a orbi collection é a mais recente co-
leção de tapetes datapeçarias Fereira
de Sá, lançada, em janeiro passado,
na “maison & object. E oferece uma
imensa diversidade de técnica, mate-
riais, desenhos, cores, dimensões, vo-
lumetria e e formas para o seu tapete,
uma proposta da conceituada designer
da Ferreira de Sá, carlota Verde. n
Vidago palace hotel Willet holthuysen museum - holanda
www.tfs-sa.com • info@tfs-sa.com
Rua Ferreira de Sá, 50 - Silvalde - Espinho
Telf.: 227 333 070
84 • Diplomática - abril/junho 2012
No dia 2 de Dezembro de 2011, os Emi-
rados árabes unidos celebram quatro
décadas desde a criação do Estado em
1971. não é por isso de surpreender que
a ocasião esteja a ser marcada por cele-
brações em todos os sete emirados, abu
Dhabi, Dubai, Sharjah, ras al Khaimah,
ajman, um al-Qaiwain e Fujairah. os sete
emirados foram conhecidos como “Esta-
dos da trégua”, tendo-se relacionado com
a Grã-bretanha através de uma série de
tratados durante mais de 150 anos. Em
1971, os governantes dos Emirados, lide-
rados pelo seu fundador, o Xeque Zayed
bin Sultan al nahyan, decidiram formar
uma federação para trabalharem juntos
no caminho da prosperidade e do desen-
volvimento para o seu povo. apoiados
pela visão de S. a. o Xeque Zayed, que
acreditava que as receitas provenientes
dos recursos de petróleo e do gás do seu
próprio emirado, abu Dhabi, deveriam ser
colocadas ao serviço dos habitantes de
todo o país, os Eau emergiram conse-
quentemente como um dos países mais
estáveis e com desenvolvimento mais
rápido da região.
os princípios-guia que distinguem o
êxito do Estado, originalmente iniciado
há quarenta anos, continuam a ser os
elementos fundamentais nas políticas
governamentais dos Eau. primeiro, os
recursos originados do petróleo e do gás
de abu Dhabi devem ser partilhados por
todo o país no desenvolvimento das suas
infra-estruturas. Segundo, tal como S.a.
o Xeque Zayed asseverou, “a verdadeira
riqueza do país está no seu povo” e, por
isso deve ser feito um esforço particular
para garantir que o povo possa beneficiar
do melhor acesso à educação, saúde e
serviços sociais, de forma a proporcionar,
tanto aos homens como às mulheres, a
possibilidade de fazerem parte do cresci-
mento do país.
um terceiro princípio, no reconhecimento
do fato dos Eau como país que iria atrair
muitas nacionalidades, é o dever ser um
país onde o espírito de tolerância entre as
pessoas de diferentes comunidades e cre-
dos deveria permanecer, princípio em que
a sua própria cultura e herança deveria
ser acarinhada e protegida.
há um esforço do Governo na melhoria
continuada dos serviços sociais e na
expansão desses serviços da economia
que representarão a maior contribuição
para a criação de emprego para os jovens
emiradenses, tanto homens como mulhe-
res. hoje, as mulheres representam cerca
de 70% de todas as licenciaturas universi-
tárias do país e ocupam cerca de dois ter-
ços das funções governamentais, sendo
4 membros do Gabinete, Embaixadoras e
até pilotos da força aérea, uma prova do
êxito do país em dar poder às mulheres.
o trabalho continuou a ser realizado em
planos para desenvolver o museu nacio-
nal do Xeque Zayed. Estão a ser planea-
dos vários dos museus mais importantes,
incluindo louvre e Guggenheim, de modo
a formar o centro de um novo complexo
cultural. também tem sido dada atenção
à proteção ao ambiente dos Eau, a par
do património cultural, que são conside-
radas as componentes importantes da
identidade nacional.
na linha com a sua política tradicional de
procurar, através de uma ação coletiva,
oferecer apoio aos povos de países que
sofrem com os conflitos, os Emirados de-
sempenharam um papel ativo na campa-
nha aérea aprovada pela onu no sentido
de proteger os civis na líbia do impacto
do conflito no país, bem como fornecer
assistência humanitária substancial aos
que foram afetados. Sempre fieis ao seu
empenho na paz, estabilidade e seguran-
ça da região, os Emirados árabes unidos
procuram resolver os conflitos por meios
pacíficos e através da mediação interna-
cional. n
Os Emirados Árabes Unidos40 anos a caminho da união
mala Diplomática
85abril/junho 2012 - Diplomática •
1. Saqer nasser alraisi, Embaixador dos Emirados árabes unidos com a Embaixadora de argélia 2. Saqer
nasser alraisi e allan Katz, Embaixador dos E.u.a. 3. Saqer nasser alraisi e monsenhor rino passigato
4. Saqer nasser alraisi com nuno crato, ministro da Educação e das ciências 5. Saqer nasser alraisi e
nuno rogeiro 6. Saqer nasser alraisi; Sultan al merjan, Embaixador do Kuwait e hisham alqahtani, Em-
baixador do reino da arabia Saudita 7 e 8. nuno crato, Embaixador dos Emirados árabes unidos e paulo
portas, ministro negócios Estrangeiros
1 2
3 4
5 6
7 8
86 • Diplomática - abril/junho 2012
“Em menos de um ano, o Aura já se tornou um espaço de referência da gastronomia lisboeta”
Carlos Medeiros revela alguns dos trunfos e segredos do restaurante Aura
Naquele que, durante muitos anos, foi um espaço cinzento dedicado apenas a Ministérios que, mais
ou menos discretamente, o utilizavam, existe agora uma vida renovada com restaurantes, belíssimas
esplanadas e a vista de um Tejo que encanta e fascina. Bem no centro de Lisboa, a magnífica Praça
do Comércio é agora um local, não apenas de passagem rápida, mas antes de eleição, tanto para
estrangeiros quanto para portugueses, e transformou-se, num curto espaço de tempo, num dos locais
mais apetecíveis da Europa.
Imbuídos da vontade de ajudar na mudança para esta nova realidade, Carlos Medeiros e os seus só-
cios tiveram a felicidade de ser os vencedores do concurso público que lhes atribuiu o local que viria
a ser, de há menos de um ano a esta parte, o multifacetado Aura – restaurante, esplanada e lounge. ➤
GastroNomia
87abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ Foi certamente um momento
muito especial saber que iria ser
um dos responsáveis por esta fan-
tástica criação gastronómica…
Foi muito especial, mas também o
constatar de uma grande responsa-
bilidade, pois não é em vão que se
é atribuída a transformação de um
espaço nobre numa praça, que é, por
certo, uma das mais emblemáticas
de toda a Europa, uma praça capaz
de fazer frente à de São marcos ou
qualquer outra por esse mundo fora.
claro está que, associado a este
privilégio, surgiram muitas questões
e, como é inerente, muito trabalho.
no entanto é muito bom saber que
em menos de um ano, o aura já se
tornou um espaço de referência da
gastronomia lisboeta.
Uma das coisas que mais vezes
é realçada quando se conhece o
Aura é o ecletismo originalidade
da decoração. Como surgiu esta
escolha?
ao contrário do que se possa pensar,
nada neste espaço foi deixado ao
acaso. tanto eu quanto o Fabrice
marescaux, um dos sócios e com
quem trabalho mais diretamente,
fomos à procura de cada peça,
dedicámo-nos a cada recanto, tendo
em mente algo de muito específico, a
saber, podermos apresentar ao públi-
co um espaço agradável, multifaceta-
do e capaz de ser utilizado de acordo
com as necessidades específicas de
cada dia. assim, para além de peças
únicas que tanto foram adquiridas
em feiras internacionais, quanto em
antiquários portugueses ou chegaram
dos nossos próprios acervos, conse-
guimos apresentar ao público um es-
paço de restauração em que podem
ser concebidos espaços para os mais
diversos eventos: de discretos almo-
ços de business a festas de apresen-
tação de produtos para 200 ou mais
pessoas, ou até mesmo festas de
aniversário com dancing pós-festa.
tudo isto, procurando ter em mente
que estamos situados num local de
excelência, numa ala do palácio de
D. josé, e sem desejarmos desvirtuar
essa realidade. Sem irmos diretos ao
barroco, mas também sem sentirmos
que estávamos num espaço excessi-
vamente despojado. E, verdade seja
dita, o melhor de tudo é que temos
clientes que já nos confessaram
que, para além de adorar a comida,
gostam de vir ao aura porque, graças
ao seu ambiente e sua decoração,
cada vez que cá chegam, se “sentem
de férias, quase como se estivessem
em paris, monte carlo ou miami”. ou
seja, antes de mais pretendíamos
requalificar este espaço e esta zona
nobre da cidade e creio que o conse-
guimos de uma forma bastante positi-
va tornando-o cosmopolita e possível
de agradar a qualquer cliente nacio-
nal ou internacional.
Foi fácil avançar com este negócio
em plena altura de crise no país e a
nível mundial?
Sempre que se decide montar um
negócio tem de se ter muita certeza
do que se vai fazer e planear, ao
mínimo pormenor, tudo o que se faz.
uma vez aberto o espaço, há que
ter em conta que um restaurante
não é uma loja como outra qual-
quer das 9 às 5. São muitas horas
diárias, sete dias por semana, e
temos de estar sempre presentes se
queremos ser bem sucedidos. claro
está que as experiências de traba-
lho anteriores, mormente os meus
quase 30 anos de restauração em
particular com a cateri, a minha em-
presa de catering e serviços, foram
primordiais para me dar a “estaleca”
necessária para um projeto deste
cariz. todavia, há que dizer que o
que está aqui em questão é uma
verba de um milhão de euros. para
sermos bem sucedidos é também
essencial que este espaço tenha al-
gum mediatismo, por forma a poder
recuperar este investimento.
E este espaço sofre de sazonalidade?
De todo. trabalhamos para mercados
diferentes e preparámo-nos para as
diversas áreas de negócio ao longo
do ano. Estamos a trabalhar para o
turismo profissional, depois para os
congressos, seguem-se os eventos
“corporate” das empresas e, depois,
as festas de natal. Entre janeiro e
Fevereiro é possível que o negócio
esteja um pouco mais calmo, mas
também é altura de arrumar a casa
e de repensar as cartas e tudo isto,
deve dizer-se, que acresce ao movi-
mento regular de todos os dias das
pessoas de lisboa e arredores que
vêm cá almoçar ou jantar. Estamos
a trabalhar de forma específica para
nunca sofrer do síndroma da época
baixa. por exemplo, enquanto es-
tiver bom tempo, a esplanada está
colocada na rua, mas assim que o
frio chegar será montada no claustro
interior do páteo da Galé, coberto e
com aquecedores e assim a espla-
nada continua cosy e apetecível no
inverno.
Por último gostaria de saber a sua
opinião relativamente ao abrir de
um novo negócio, na área da res-
tauração ou outra, neste momento.
acredito que o mais importante é
saber-se muito bem o que se está
fazer e decidir fazer tudo com muita
qualidade. tal como já referi, no
caso do aura, estamos a falar de
quase um milhão de euros, o que
implica disponibilidade financeira e
de tempo, pois não se recupera este
tipo de investimento de um dia para
o outro. a palavra-chave a reter é
profissionalismo: em tudo, em todas
as áreas de atuação e sempre – do
mínimo pormenor às questões mais
abrangentes. E, claro está, rodear-
mo-nos sempre dos melhores cola-
boradores, disponibilizarmos sempre
formação e jamais dormir à sombra
dos louros. um negócio é como um
organismo vivo e necessita de uma
atenção constante para sobreviver e
ser frutuoso. n
88 • Diplomática - abril/junho 2012
O número de músicos portugueses na
orquestra de jovens da união Europa
(ojuE), por onde já terá passado mais
de uma centena, desde 1986, nunca foi
tão elevado. À data em que este artigo
é redigido ainda não são conhecidos os
resultados [divulgados no final de abril]
das audições de seleção para integrar,
na temporada de 2012/2013, o elenco
da mais importante orquestra juvenil
europeia, que esteve recentemente em
digressão pelos Estados unidos, tocan-
do com alguns dos mais conceituados
solistas de música erudita da atualidade.
«a ojuE é considerada, pela crítica
internacional, uma das melhores do
mundo, pelo seu nível artístico, pelos
maestros e solistas com quem trabalha
e, evidentemente, pelos palcos que pisa.
Era e continua a ser o sonho de qual-
quer jovem músico poder um dia fazer
parte deste grupo», afirma abel ➤
Os portugueses na Orquestra de Jovens da União Europeia
cultura
À esquerda violoncelista
antónio novais
Foto: tomasz ogrodowczyk
Foto tiago Santos Euyo crop
89abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ pereira (n. 1978), que desde 2001 faz
parte do júri português das audições de
pré-seleção e que foi membro da or-
questra entre 94 e 2000.
abel pereira sublinha que «a participa-
ção dos jovens músicos portugueses
numa orquestra deste género é da maior
importância». E explica: «a estrutura
ojuE funciona ao mais alto nível, com
maestros e solistas que todos nós esta-
mos habituados a ver e ouvir somente
nos cds e dvds» e o contato com estas
individualidades, «para além da apren-
dizagem técnica/interpretativa e riqueza
cultural, pode ser uma grande mais-valia
na abertura de portas no futuro, tanto
a nível académico como profissional»,
uma vez que, «por razões geográficas e
culturais, portugal está bastante afas-
tado do centro da Europa», onde «a
convivência com os mais conceituados
músicos, maestros e orquestras é per-
manente». na orquestra «é dada a opor-
tunidade aos jovens de poderem usufruir
desse mundo durante algumas semanas
por ano».
num universo de 100/140 músicos,
portugal tem tido em média, nos últimos
anos, 5/6 participantes efetivos e mais
entre 8 e 13 como reservas na ojuE, ao
nível de países de maiores tradições mu-
sicais como áustria, holanda, hungria,
Dinamarca ou bélgica. E os candidatos
portugueses à ojuE, que no passado
se contavam pelos dedos da mão, são
agora «centenas», refere Dulce brito, da
Direção-geral das artes, entidade que,
juntamente com o instituto camões, con-
tribui para a orquestra com uma quota
anual.
o aumento das entradas «mostra que
realmente o nosso nível está a melhorar
bastante», acrescenta a técnica da DG
artes, que sublinha o nível de exigência
no acesso e na manutenção na orques-
tra. pese o fato de muitos dos jovens
selecionados tocarem na orquestra 4/5
anos, a posição tem de ser "defendida"
todos os anos. E os jovens músicos
portugueses, embora prestem provas a
nível nacional, concorrem de fato com
executantes de 26 outros países.
mais de metade dos jovens portugue-
ses que se candidatam à orquestra são
alunos de nível superior de escolas do
norte do país. mas há também jovens
oriundos da Escola Superior de artes
aplicadas (ESartE) de castelo branco
e de várias pequenas academias, conso-
ante os instrumentos tocados, diz Dulce
brito.
o que possibilitou o maior sucesso das
candidaturas portuguesas à ojuE nos
últimos anos foram alterações no perfil
dos candidatos, na explicação da técnica
da DG artes. a seleção para a orquestra
está muito condicionada pelo instrumen-
to que se toca. os instrumentistas de
cordas entram mais do que os outros.
ora, no passado, muitos dos jovens
músicos portugueses começavam a sua
aprendizagem pelas bandas e filarmó-
nicas, onde predominam os metais.
hoje em dia, para além de haver mais
jovens a aprender a tocar um instrumen-
to, muitos já começam a sua formação
em escolas de música, podendo optar
por outros instrumentos. Em paralelo,
o investimento feito na contratação de
professores de música do leste europeu,
nomeadamente russos e ucranianos, au-
mentou o nível técnico dos executantes.
«tem sido realmente enriquecedor poder
admirar de uma forma geral a evolução
artística dos participantes e o súbito
acréscimo de novos estudantes de mú-
sica que se fez sentir nos últimos anos»,
afirma abel pereira. mas estas mudan-
ças não bastariam, provavelmente, se
não fosse o empenho direto de muitos
professores e, obviamente dos próprios
jovens. n
i.c. i.p.
90 • Diplomática - abril/junho 2012
Trinta e oito anos passaram sobre o 25 de abril de
1974. tantos, que muitos esqueceram pormenores im-
portantes, tais como os partidos concorrentes às primei-
ras eleições, a seguir à revolução e queda do Governo
de marcelo caetano.
Foram eles: a aliança operária camponesa (aoc), o
centro Democrático Social (cDS), a Frente Socialis-
ta popular (FSp), a liga comunista internacionalista
(lci), o movimento de Esquerda Socialista (mES), o
movimento reorganizativo do partido do proletariado ➤
mEmória
A arte do 25 de Abril
91abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ (mrpp), o partido comunista português (pcp), o par-
tido comunista de português (marxista-leninista, pcp
(m-l), o partido da Democracia cristã (pDc), o partido
popular Democrático (ppD), que viria a ser o ppD-pSD,
o partido popular monárquico (ppm), o partido revolu-
cionário dos trabalhadores (prt), o partido Socialista
(pS) e, finalmente a união Democrática popular (uDp).
imagens revolucionárias enchiam os muros e as casas
de portugal.
E portugal mudou! n
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93abril/junho 2012 - Diplomática •
6. Elfenkämpfer Helmut - German ambassadorEven in the troubled times we have ived in 2011 this was an unusual year, which required a focus on foreign policy and which
set some new directions in domestic policy. it was a year of major changes for us in Europe.
acute crises put diplomacy before special missions. .an event that had political consequences in my country was the terrible
accident with the reactor of kushima. Following this, the federal government announced the end of atomic energy in Germany
until 2022. the revolt in the arab world is a challenge, whose outcome is still open. Since 2011 Germany has, together with
portugal, particular responsibilities, acting as non-permanent member of the Security council of the united nations on such
important issues as the independence of South Sudan. actually, we concentrate all our forces together with portugal, to
dissuade the Syrian regime to persist in the ruthless oppression of his own people.
however, especially remarkable for a German ambassador in lisbon in 2011 were the developments in the debt crisis in
Europe. the federal government contributed throughout the year, not only to overcome the acute crisis but also to developp a
vision for the future Europe, a union of a path to stability. For Germany, as Europe’s biggest economy, this means a particular
responsibility, which the country takes.
the portuguese government shares our basic opinions and has made bold steps to make portugal more competitive. our stra-
tegy is not limited to austerity, but to sustained growth, which includes widening the internal market to new fields, the creation
of a European growth fund and the signing of more free trade, agreements. the message for 2011, and in the coming years, is
that there cannot be a good future for my country without European integration. Europe must continue to consolidate during the
crisis and this will continue. and in the end, will come out strengthened from this crisis. n
6. Elfenkämpfer Helmut - Ambassadeur d’AllemagneMême pour les périodes troublées que nous vivons,2011 était une année inhabituelle, qui a exigé beaucoup de la politique
étrangère et a defini de nouvelles orientations à cE qui concerne à politique intérieure. c’était une année de changements
majeurs pour nous en Europe. les crises aiguës mettre la diplomatie avant les missions spéciales. un événement qui a eu des
conséquences politiques dans mon pays était un terrible accident avec le réacteur de Fukushima.Suite à cela, le gouvernement
fédéral a annoncé la fin de l'énergie atomique en allemagne jusqu'en 2022. la révolte dans le monde arabe est une énorme
opportunité, mais aussi un défi dont l'issue est encore ouverte. Depuis 2011 que l'allemagne a, avec le portugal, des
responsabilités particulières, agissant comme membre non permanent du conseil de Sécurité de l'organisation des nations
unies sur les questions importantes telles que l'indépendance du Sud-Soudan.
cependant, d'autant plus remarquable pour un ambassadeur d'allemagne à lisbonne en 2011 étaient l'évolution de la crise de
la dette en Europe.le gouvernement fédéral a contribué, tout au long de l'année, non seulement pour surmonter la crise aiguë,
mais aussi de développer une vision pour l'avenir de l'Europe, l'union d'un chemin vers la stabilité. pour l'allemagne, comme la
plus grande économie d'Europe, cela signifie une responsabilité particulière, dont le pays prend.
le gouvenement portugais est d’accord avec nos opinions basiques et a donné des mesures audacieuses pour faire le
portugal plus compétitif. notre stratégie ne se limite pas à l'austérité, mais dans inteligents impulsions vers une croissance
soutenue, ce qui comprend l'élargissement du marché intérieur à de nouveaux domaines, la création d'un fond de croissance
européenne et la signature de plusieurs accords commerciaux libres.le message qui a importé, plus en avant, en 2011, et
dans les années futures, c'est qu'il ne peut pas avoirun bon avenir pour mon pays, sans l'intégration européenne. l'Europe doit
continuer à se consolider dans la crise et va poursuivre. Et, à la fin, sortira en force de cette crise. n
8. Ambassador of Turkey - The European Union and TurkeyDespite all the positive developments, particularly in the field of democracy, there is still an area where turkey has failed to
make any meaningful progress. that is the process of Eu accession. the cyprus issue has continued to be used as a pretext
to block several chapters. Despite the strong encouragement of turkey to move forward on the negotiations they could achieve
a just and lasting settlement on the island. n
8. Ambassadeur de la Turquie - L’Union européenne et la TurquieMalgré tous les développements positifs, notamment dans le domaine de la démocratie, il est encore un domaine où la turquie
n’a pas réussi à faire des progrès significatifs, qui était dans le processus d’adhésion de l’uE. la question de chypre a continué
à être utilisé comme un prétexte pour bloquer plusieurs chapitres, en dépit de la forte incitation de la turquie à guérir les
négociations pour arriver à un règlement juste et durable sur l’île. n
10. Simon Pullicino - Ambassadeur de Malte – Malte et la Libye nouvelleSans aucune doute, le plus grand impact de l’insurrection libyenne a eu lieu dans le domaine humanitaire. tout a commencé
avec un exode massif de la population migrante, complète de la peur, et s’est poursuivie avec une lutte prolongée armé avec
des conséquences importantes. le gouvernement maltais a agi rapide et efficacement, en fournissant l’aide humanitaire et
d’assistance. avec la crise dans un stade initiel, malte a soutenu 100 des 139 membres de l’onu, en évacuant plus de 21.000
étrangers de la libye via malte. n
English & French texts
94 • Diplomática - abril/junho 2012
English & French texts
12. Pavel Petrovskiy - Russian Ambassador - Results of Russia’s foreign policy in 2011He regretted the fact that a number of international problems, in which russia is directly involved, were left for 2012. First and
foremost is the issue of missile defense in Europe. We cannot resolve this problem, if we do not reach agreement with the u.S.
or accomplish a set of technical means of military announced by president medvedev at the end of last year. as for the “arab
Spring”, we understand the expression of the will of the arab people. We want to see a stable, independent and prosperous
region. n
12. Petrovskiy Pavel - Ambassadeur de RussieRésultats de la politique étrangère de la Russie en 2011Désolé, le fait qu›un certain nombre de problèmes internationaux, dans lequel la russie est directement impliqué, ont été
laissés pour cette année. D’abord et avant tout, c’est la question de la défense antimissile en Europe. nous ne pouvons pas
nous délivrer de ce problème, si on arrivent pas a un accord avec les États-unis, ou de faire remplir un ensemble de moyens
techniques militaires, annoncées par le président medvedev à la fin de l’année dernière. Quant à la «arab printemps», nous
regardons avec compréhension l’expression de la volonté des peuples arabes, que nous voulons voir stables, indépendants et
prospères. n
14. Ambassador of Belgium - 2011, the year of formation of a new government in BelgiumAt the global level, the year 2011 was marked by revolutions in the arab world, the downfall of many tyrants or authoritarian
presidents. this is something we hope to have continued this year with their replacement by elected democracies tolerant of
religious minorities. nationally, the federal government, which finally took office in belgium in november last year, after much
instability, has two tasks: to fulfill. it hasto deal with the drastic measures imposed by the crisis of the Euro and further extend
the range of powers to be exercised by the regions, especially in social affairs. n
14. Ambassadeur de Belgique 2011, l’année de la formation d’un nouveau gouvernement en BelgiquePartout dans le monde, l’année 2011 a été marquée par les révolutions dans le monde arábe, la chute des tyrans et de
nombreux présidents autoritaires, quelque chose que nous espérons voir continué cette année, pour être remplacé par
les démocraties élus et tolérant des minorités religieuses et d’autres . À l’échelle nationale, je dois mentionner le fact du
gouvernement fédéral, qui se a installé définitivement en belgique en novembre l’année dernière, après beaucoup d’instabilité,
et que a deux missions: répondre à toutes les mesures draconiennes imposées par la crise de l’euro et élargir encore plus la
gamme de compétences a être exercé par les régions, tels que les affaires sociales. n
16. Jill Gallard - Ambassador of the United Kingdom - A year of opportunities and challengesThis is a year marked by natural events, that are truly historic for the united Kingdom. Firstly, because we celebrate 60 years
of the reign of her majesty Elizabeth ii. the city of london will host the olympic and paralympic Games, which will be more
ecological than ever and which will help to promote closeness between peoples, in a time when it is increasingly necessary to
overcome the conflicts that opposes us. n
16. Jill Gallard - Ambassadeur du Royaume-Uni - Une année de défis et opportunitésIl s’agit d’une année marquée par des événements naturels, qui sont véritablement historique pour le royaume-uni. tout
d’abord, parce que nous célébrons 60 ans de règne de Sa majesté Elizabeth ii. puis la ville de londres accueillera les jeux
olympiques et les jeux paralympiques, qui seront plus vert que jamais et qui aideront à promouvoir un rapprochement entre
les peuples, dans un moment où il est, de plus en plus, nécessaire pour surmonter les conflits qui nous opposent. n
18. Suliaman Ibrahim Almurjan - Ambassador of the State of KuwaitFive decades of constitutional lifeHonored by the invitation, the ambassador of Kuwait spoke about the “arab spring”, which enabled many arab countries to start
a new transition in its evolutionary path in political, social and economic development. in fact, the arab revolutions had, and
have, one characteristic, which is based on perseverance, which surprised many observers aware of what is happening in the
arab world. the “arab Spring”, experienced by some arab countries has made these countries and others understand better the
vision of the leaders of Kuwait that opt for a parliamentary system, despite the difficulties the country went through. n
18. Suliaman Ibrahim Almurjan - Ambassadeur de l’Etat du KoweïtCinq décennies de la vie constitutionnelleHonoré par l’invitation, l’ambassadeur du Koweït a commencé à parler de certains “printemps arabe, qui a permis à de
nombreux pays arabes inaugurer une étape de transition dans sa nouvelle voie d’évolution dans les domaines politique,
social et économique. En fait, les révolutions arabes ont eu une caractéristique, qui est basé sur la persévérance, e a surpris
nombreux observateurs au courant de ce qui se passe dans le monde arabe. le «printemps arabe», vécue par certains pays ➤
95abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ arabes, a fait ces pays et d’autres, de mieux comprendre la vision des dirigeants du Koweït à opter pour la vie parlementaire,
malgré les difficultés qui se sont passés au pays. n
20. Ambassador of France - Pascal Teixeira da Silva The year 2011The year 2011 was marked by two processes of great importance: the pursuit of sovereign debt crisis in the euro area and
the “arab spring”. they are in no way related and yet they will, the one as the other, profoundly change the future - and
this is particularly true for countries of southern Europe such as France and portugal, members Eu and the Euro area and
geographically and historically close to the arab world. the sovereign debt crisis in the Euro area is an indirect consequence of
the financial crisis that erupted in 2007-2008 in the united States. this is because our governments have intervened massively
to save the banks (as in ireland) or to limit the recession by injecting public money into the economy and deficits and public
debts have soared. but that same shock hit countries differently and it was the developer of a dual problem: at the national level,
countries whose financial situation (state, enterprises and households) and economic situation (in terms of growth, productivity,
competitiveness and external accounts) were the most fragile are less resilient and sometimes had to pay a high price - three
of them having to resort to European and international aid; at European level, this crisis has shown the inadequacy of the
economic pillar of the economic and monetary union (which was allowed to increase the divergences within the Euro area) and
the lack of mechanisms for crisis management. n
22. Ambassador of Italy, Renato Varriale“The debt crisis in Italy: a difficult moment, but also an opportunity for major reforms”2011 was a year that the italians will remember for a long time. it began as the 150th anniversary of the unity of italy. a year
of celebrations, debates and reflections about the past and the future of the country. nobody would have imagined what would
become the year of greatest economic emergency experienced by the country in recent history and the onset of major reform
process that the republic has ever lived. the first signs of so-called debt crisis had manifested itself during the summer, it was
urgent to convince the markets that, despite the high level of public debt, italy had a strong economy and was very determined
to put their finances in order taking also the necessary structural reforms. but suddenly, the crisis became more acute and
events speeded up so that the Government’s response was insufficient to regain market confidence. the very process of
European integration seemed to be already in risk. the only solution was a “technical government” which, supported by a
coalition of national unity, immediately launch a far-reaching package of reforms. and so it happens.
the president napolitano entrusted the difficult mission to Senator mario monti, an economist with long experience and high
prestige in the European scene, and italy begins to regain control of the situation and accept the need for structural reform plans
and the fight against tax evasion. n
22. Ambassadeur de l’Italie, Renato Varriale“La crise de la dette en Italie: un moment difficile, mais aussi une opportunité pour des réformes majeures”2011 était une année que les italiens se souviendront pendant longtemps. il a commencé avec le 150e anniversaire de l’unité
d’italie. l’ année de célébrations, de débats et de réflexions sur le passé et l’avenir du pays. personne n’aurait jamais imaginé
ce qui allait devenir l’année plus urgent en ce qui concerne l’économie que le pays a connu dans l’histoire récente, bien comme
l’apparition de processus de réforme majeure que la république ait jamais vécu. les premiers signes de crise de la dette se
sont manifestée au cours de l’été. il faut convaincre les marchés que, malgré le niveau élevé de la dette publique, l’italie avait
une économie forte et a été très déterminés à mettre leurs finances en ordre, en prenant également les réformes structurelles
nécessaires. mais, soudainement, la crise devenu plus aigu et a accéléré les événements de telle sorte que la réponse du
gouvernement était insuffisante pour regagner la confiance du marché. même le processus d’intégration européenne semble
déjà être en risque. la seule solution était un “gouvernement technique” qui, soutenu par une coalition d’unité nationale, a
lancer immédiatement une ensemble de mesures ambitieuses de réformes. Et, ainsi, de suite.
le president napolitano a confié la difficile mission au sénateur mario monti, un économiste ayant une longue expérience et
d’un grand prestige sur la scène européenne. l’italie commence déjà à reprendre le contrôle de la situation et a accepter la
nécessité de plans de réformes structurelles et la lutte contre l’évasion fiscale. n
24. Thalia Petrides, Ambassador of CyprusOf the various events that marked the past year on a global scale, the most alarming was the nuclear disaster in japan. twenty-
five years after chernobyl and its tragic and devastating effects, the consequences in the long run on the environment and
human life are still being evaluated. however, nationally and in the field of energy, one can point out optimistic trends over the
last year. concerns about energy security and several years of careful planning have provided the first promising results in late
2011, when 7 trillion cubic feet of natural gas was discovered off the coast of cyprus. n
96 • Diplomática - abril/junho 2012
English & French texts
24. Thalia Petrides, Ambassadeur de ChypreParmi les différents événements qui ont marqué le dernier année à l’échelle mondiale, la plus alarmante a été la catastrophe
nucléaire au japon. Vingt-cinq ans après tchernobyl et ses effets tragiques et dévastateurs, les conséquences, à long terme,
pour l’environnement et la vie humaine , sont encore en cours d’évaluation. cependant, à l’échelle nationale et dans l’énergie,
on peut souligner les tendances optimistes au cours de l’année dernière. les préoccupations concernant la sécurité énergétique
et de plusieurs années de planification minutieuses ont fourni des premiers résultats prometteurs à la fin 2011, lorsqu’il aura été
confirmé, au large des côtes de chypre, la découverte de 7 billions de cf du gaz naturel. n
28. Beisan Zhang, China’s ambassador to Portugal, debated the new framework of rela-tions between the two countries: “China has always given great importance to its relations with PortugalZhang beisan, has been for a year and a half head of the diplomatic mission of china to portugal. he believes that for potential
investors, including chinese, an advanced economy and a mature market like ours, are naturally attractive,. he emphasized
his conviction that, if our country is able to maintain economic development and the opening of its market, there will be
more and more chinese companies interested in investing in portugal. recently, we have noted the importance of china’s
investments in portugal, specifically in companies related to electricity, such as EDp, among others. n
28. Zhang Beisan, l’ambassadeur de Chine au Portugal, débate le nouveau cadre des re-lations entre les deux pays:"La Chine a toujours donnée beaucoup d’importance à ses relations avec PORTUGAL"Un an et demi en tant que chef de la mission diplomatique au portugal, Zhang beisan estime que pour les investisseurs
potentiels, y compris les chinois, une économie avancée et un marché mature comme le notre, sont naturellement attractif,
mettant l’accent sur sa conviction qui se notre pays reussi à mantenir une développement économique et l’ouverture de son
marché, il y aura de plus en plus d’entreprises chinoises intéressées à investir au portugal. récemment, nous avons noté
l’importance des investissements de la chine au portugal, plus précisément, les entreprises liées à l’électricité, entre autres. n
34. Durão Barroso, Doctor Honoris Causa by UTLDuring the solemn closing ceremony of the celebration of 80 Years of utl (universidade técnica de lisboa ), at the institute
of Social and political Sciences, the president of the European commission, josé manuel barroso, was honored with the
award of the Degree of Doctor honoris causa. the honorary Doctorate was in fact the recognition of his contribution to the
scientific research in the European framework, which strengthened the role he plays as Eu president. With a full academic and
political curriculum, in his speech of thanks, barroso refered to the actual situation of the European union. he spoke on the
economic crisis and the need to share sovereignty. he concluded that “when a country is sharing its sovereignty, can also win
with the sovereignty of others” and argued that Europe needs “to work with determination to defend the Euro and to advocate its
financial stability”. although the crisis is an issue that concerns many governments, he was optimistic towards the subject. on
the sidelines of the conference, the president of the European commission was making a particular reference about portugal.
he said that one of the factors responsible for the delay of the portuguese economy is related to the closed sectors and
privileges that resist changes. n
34. Barroso: Docteur Honoris Causa par l’UTL (Université Technique de Lisbonne)En vertu de la cérémonie de clôture solennelle de la célébration de 80 ans de l’utl (institut des sciences sociales et
politiques), le président de la commission Européenne, jose manuel barroso, a été honoré avec le prix du degré de Docteur
honoris causa, que fut, en fait, la reconnaissance de la contribution apportée par m. barroso pour la recherche scientifique
dans le cadre européen, qui a renforcé le rôle qu’il joue en tant que président de l’uE. avec un fond académique et politiqye
exceptonnel, m. barroso, dans son discours de remerciement, a parlé de la situation actuelle de l’union européenne. il a parlé
de la crise économique et la nécessité de partager la souveraineté. il a conclu que «quand il donne la souveraineté, peut aussi
gagner avec la souveraineté des autres” et a fait valoir que «l’Europe doit travailler avec détermination pour défendre l’euro et
pour defendre la stabilité financière» et s’avait dit optimiste sur la situation, même si la crise est une question qui concerne de
nombreux gouvernements. En marge de la conférence, il a appelé au portugal, en particulier, indiquant que l’un des facteurs
responsables du retard de l’économie portugaise est liée à des secteurs fermés et les privilèges dans certains secteurs
d’intérêts acquis de l’économie et car il ya des intérêts qui résistent au changement qui bénéficient d’un accès privilégié à l’État
et des les garanties qui sont données par la législation de protection. n
40. Mariano Rajoy, and Pedro Passos CoelhoPortugal and Spain analyzes combat the crisisMariano rajoy who was in lisbon, on an official visit, where the economic situation and preparations for the forthcoming
European council dominated the agenda of the meeting between the two leaders, rajoy and passos coelho. the visit tokk ➤
97abril/junho 2012 - Diplomática •
➤ place after the recent visit to madrid of passos coelho. the two statesmen discussed the situation of both iberian countries,
particularly the economic situation, the ways out of crisis in Europe and the possibilities of forming a vision for the future. passos
coelho said that even though portugal and Spain are experiencing one of the most serious crises one can remember, it was in
this context that the two politicians discussed the political aspects that the measures to combat the deficit may have in lisbon.
in the joint press conference with rajoy, passos coelho said the agreements with the troika were being implemented within
their targets. n
40. Mariano Rajoy et Pedro Passos CoelhoPortugal et l’Espagne analyse la crise de combatmariano rajoy a été à lisbonne, en visite officielle, où la situation économique et les préparatifs pour le prochain
conseil européen ont dominé l’ordre du jour de la réunion entre les deux dirigeants, mariano rajoy e passos coelho.
une visite dans lla suite de la récente visite à madrid de passos coelho, dans lequel les deux politiques ont examiné
la situation des deux pays ibériques, en particulier dans le domaine économique, les moyens de sortir de la crise en
Europe et les possibilités de fixer des visions pour le future. passos coelho a dit même que le portugal et l’Espagne
connaissent une des crises les plus graves qu’on se souvient et fut dans ce contexte que les deux ont discuté des
aspects politiques que ses mesures récessives pour lutter contre le déficit peut avoir. a lisbonne, et à la conférence
conjointe avec rajoy, passos coelho dit que l’accord avec la troïka est respectée au sein de leurs objectifs. n
42. Ambassador José Bouza SerranoGuardian of Ambassadors accredited in PortugalAfter a distinguished career, representing portugal, ambassador josé bouza Serrano returned to portugal three years
ago, as chief of protocol. he will soon be posted as ambassador to the netherlands. having recently published , the
very complete “book of protocol,” in an interview with Diplomatic, he said that what matters is the State protocol, since
he believes that the members of the State protocol are the “Guardian angels” of the Diplomatic corps accreditions to
portugal. he explains that is the chief of protocol that receives the letters from the new ambassadors, before making
the formal delivery to the president. ambassador bouza Serrano says his close relationship with all the ambassadors
is because they are the first persons they know and who help them to assist any questions or help in dealing with
problems, for instances, with the law. josé bouza Serrano believes that, despite the economic difficulties we are
experiencing, he is hopeful that our country may return to an active and respected voice in the world and the European
union. n
42. Ambassadeur José Serrano BouzaGardien de ambassadeurs accrédités au PortugalAprès une grande carrière, représentant le portugal, l’ambassadeur josé Serrano bouza, retourné, il ya trois ans,
à son pays, en tant que chef du protocole, mais ill sera, bientôt, l’ambassadeur du portugal aux pays-bas. ayant
publié, récemment, le très complet “livre du protocole,” dans une interview avec diplomatique, il dit que ce qui importe
est le protocole d’État, car il estime que, en définitive, sont le «Guardian angels» du corps Diplomatique accrédité
au portugal. il explique que c’est le chef du protocole qui reçoit les nouveaux ambassadeurs, reçois les lettres de
creditation, ayant d’être presenté officiellement au président. ambassadeur bouza Serrano parle de sa relation étroite
avec tous les ambassadeurs parce que « nous sommes les premières personnes qu’ils connaissent et qui utilisent
quand ils ont des questions ou besoin d’aide pour faire face aux problèmes avec la loi. josé Serrano bouza estime qui,
malgré les difficultés économiques que nous connaissons, a l´espoir que notre pays peut recupere une voix active et
respectée dans le monde et l’union Européenne. n
50. Ambassador Paul SchmitThe diplomatic representative of the Grand Duke of luxembourg, in an interview to the Diplomatica, talked about the
importance of luxembourg relations with portugal. ambassador paul Schmit indicated which aspects he judges are
fundamental to develop between portugal and luxembourg; first of all, to improve economic relations whose trade may
actually be higher and, moreover, is to present a true picture of luxembourg, which is no longer the El Dorado of other
times, with a negative unemployment negative. currently, the unemployment rate of portuguese immigrants is much
higher as a percentage of their presence in real terms. n
50. Ambassadeur Paul Schmitle représentant diplomatique du Grand-Duché du luxembourg, dans l’interview pour la Diplomatique, a souligné
l’importance des les relations du luxembourg avec le portugal. ambassadeur paul Schmit a indiqué quels sont les aspects
jugés comme essentiels a développer entre le portugal et le luxembourg, D’une part, améliorer les relations économiques,
dont le commerce pourrait être plus élevé et, par ailleurs, donner à connaisser une image fidèle du luxembourg, qui n’est ➤
98 • Diplomática - abril/junho 2012
English & French texts
➤ plus l’El Dorado d’autres temps, en atteindre un taux de chômage très inconfortable. actuellement, le taux de chômage
des immigrants portugais est beaucoup plus élevé en pourcentage de leur présence en termes réels. n
56. Bernarda Gradisnik, Ambassador of SloveniaBernarda Gradisnik, ambassador of Slovenia, has lived in portugal for 14 months. She began her political career in the
ministry of Foreign affairs in 1991, when Slovenia gained its independence, it was not not a political appointment and she
said that she does not belong to any political party.
She said that she is very happy that her first post is as ambassador is in portugal, where people are extremely friendly and
ready to help. She sees her priority as ambassador,is to act positively in the field of economic diplomacy and she has tried to
encourage Slovenian. n
56. Bernarda Gradisnik, ambassadeur de la SlovénieBernarda Gradisnik, ambassadeur de la Slovénie, est au portugal il ya 14 mois et a commencé sa carrière politique au
sein du ministère des affaires étrangères en 1991, lorsque la Slovénie a été indepente en 1991, mais ce n’est pas une
nomination politique car elle assure qui ne fait part d’un parti politique . Elle s’afirme très heureux que son premier poste
en tant qu’ambassadeur être ici au portugal, où les gens sont extrêmement chaleureux et prêt à aider. Voit sa priorité en
tant qu’ambassadeur, agissant positivement dans le domaine de la diplomatie économique et a essayé d’encourager les
entreprises slovènes à venir au portugal. l’ambassadeur est optimiste et voit un avenir pour nos pays, de travailler ensemble.
cette année, maribor, deuxième plus grande ville de la Slovénie, a été choisie pour être capitale européenne de la culture.
un choix qui est venu au bon moment, parce que ce doit être vu comme une occasion de rétablir et de maintenir une identité
commune. n
67. The permanent headquarters of the CPLPIt was this year that lisbon hosted the permanent seat of the cplp, located in the palace of the count of penafiel. lisbon is
the only capital where there are embassies of all countries belonging to the community of portuguese language countries.
the president of portugal and the vice-president of angola had the honor to inaugurate the headquarters and unveil the
commemorative plaque.
president cavaco Silva emphasized the importance of the lusophone language in the world and it brings a reality that
constitutes a strategic asset in political and economic terms, which makes it essential to invest in education and training in the
portuguese language, presenting the cplp as a shared commitment and ambition for the future. n
67. Le siège permanent de la CPLPIl a été cette année que lisbonne a accuuelli le siège permanent de la cplp, situé dans le palais du comte de penafiel.
lisbonne est la seule capitale où il ya des ambassades de tous les pays appartenant à la communauté des pays de langue
portugaise. le président cavaco Silva et le vice-président de l’angola ont eu l’honneur d’inaugurer le siège et desserer
une plaque commémorative. cavaco Silva a souligné l’importance du monde lusophone et qu’elle apporte une réalité qui
constitue une connexion stratégique en termes politiques et économiques, ce qui fait essentiel d’investir dans l’éducation et la
formation dans la langue portugaise, en présentant la cplp comme engagement commun et ambitieux pour l’avenir. n
86. Carlos Medeiros presented AURACarlos medeiros, owner of the restaurant aura, believes that, in less than a year, the site is already a point of reference
for the gastronomy of lisbon. he confesses that this was a risk of great responsibility, as the restaurant is located in one of
the most emblematic squares in Europe. nothing was left to chance in this space, whose objective is to provide a pleasant,
multifaceted restaurant, where the cuisine is exquisite and frankly original. the result of previous experiences, such as cateri,
says medeiros, were vital for giving him the strength needed for a project of this magnitude. in this new season, medeiros and
his partners will present innovative gastronomic dishes. n
86 Carlos Medeiros a présenté son projet AURACarlos medeiros, propriétaire de l’aura restaurant, estime que, autant d’un an, le place est déjà une zone de référence
de la gastronomie de lisbonne. il avoue que ce fut un act de courage de grande responsabilité, car le restaurant est situé
dans l’une des places les plus emblématiques de l’Europe. rien n’a été laissé au hasard dans cet espace, dont l’objectif
est de fournir au public un cadre agréable, à multiples facettes, où la cuisine est franchement raffinée et originale. le
résultat des expériences précédentes, telles que cateri, étaient vitales pour lui donner la force nécessaire pour un projet
de cette amplitude. Dans cette nouvelle saison, medeiros et ses partenaires présenteront des propositions gastronomiques
diversifées. n
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