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ENSINO DE MATEMÁTICA NA ESCOLA DO CAMPO: UM
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DA
HORTA GEOMÉTRICA
Eldiamir Salete Trentin – eldiutfpr@gmail.com
UTFPR – Câmpus DoisVizinhos
Dois Vizinhos - Paraná
Luciana Boemer Cesar Pereira – lucianapereira@utfpr.edu.br
UTFPR – Câmpus Dois Vizinhos
Dois Vizinhos – Paraná
Resumo: Este artigo apresenta a descrição de uma pesquisa de trabalho de conclusão
do curso de Licenciatura em Educação do Campo – UTFPR – Câmpus Dois Vizinhos.
O trabalho teve como objetivo elencar as contribuições que a Etnomatemática pode
trazer para o ensino de Matemática ao ser contextualizada na horta geométrica. O
desenvolvimento do trabalho se deu na Escola Municipal do Campo Juscelino
Kubitschek, localizado na comunidade Rio Tuna, interior do município de Francisco
Beltrão, Paraná. A pesquisa é classificada como qualitativa aplicada e de cunho
interpretativo, foi realizada com alunos de um 6º ano dos anos finais do Ensino
Fundamental durante seis meses e contou com três etapas: 1ª etapa: Organização das
medidas dos canteiros; 2ª etapa: Preparação métrica; 3ª etapa: Plantio. Ao elencar as
atividades realizadas, conclui-se que a proposta de ensino contribuiu para promover o
interesse maior dos educandos durante as aulas de Matemática relacionando teoria e
prática, despertou o interesse dos educandos pela Matemática e ainda desenvolveu
capacidades de pensar e raciocinar utilizando conceitos da geometria. Ressalta- se que
é necessário que outras práticas educativas sejam realizadas na perspectiva das
escolas do campo, para que se promova o ensino e aprendizagem adaptados aos
contextos.
Palavras-chave: Horta escolar, Ensino de Matemática, Educação do Campo,
Etnomatemática.
1 INTRODUÇÃO
A Educação do Campo é também identificada como uma reflexão pedagógica do
contexto do campo, desse contexto, o campo não é apenas lugar de produção de
alimentos e grãos, mas, lugar também, de diálogo com a teoria que busca conhecer a
realidade e traçar projetos de educação para os sujeitos.
Na Educação Matemática, há uma tendência que prioriza o trabalho com a
cultura e a identidade e pode trazer essas reflexões pedagógicas do contexto do campo
para a sala de aula. Essa tendência é conhecida como Etnomatemática.
A Etnomatemática é uma das ferramentas importantes para o ensino e
aprendizagem do educando, pois valoriza o saber matemático intuitivo/cultural
aproximando o mesmo no universo em que está inserido. Esse Mérito da
Etnomatemática traz uma nova visão de Matemática e Educação Matemática, que passa
a ser vista como atividade humana determinada socioculturalmente pelo contexto que
são realizadas. (D’AMBRÓSIO, 1995)
Diante disso, para melhorar a construção do conhecimento matemático do
educando, pensou-se como uma das alternativas de ensino, inserir uma horta no
ambiente escolar com suporte da Etnomatemática, a fim de relacionar os conhecimentos
ensinados em sala de aula com os conhecimentos práticos dos alunos.
A horta inserida no ambiente escolar torna-se um laboratório vivo de
possibilidades no desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas, unindo a teoria e
a prática. Para Irala e Ferandez (2001), as atividades que podem ser desenvolvidas com
o auxílio da horta escolar, podem proporcionar ao professor uma maneira de relacionar
os diversos conteúdos colocando-os em prática de modo interdisciplinar.
Desta maneira, acredita-se que o trabalho com situações problemas que
relacionem o cotidiano do aluno leva-os a repensar as suas práticas no campo,
associando-as à Matemática, e assim construindo uma aprendizagem mais dinâmica,
incentivando a participação, interesse e motivação do aluno.
Mostrou-se a toda comunidade escolar e circundante como é possível obter uma
prática de ensino diferenciada, sem substituir a Matemática acadêmica. Para tanto,
utilizou-se para nortear à pesquisa a seguinte problemática: Quais as contribuições que a
Etnomatemática poderá trazer para o ensino de Matemática ao ser contextualizada na
horta geométrica?
A fim de responder esse questionamento, foi realizado uma pesquisa de
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Licenciatura em Educação do
Campo da UTFPR – Câmpus Dois Vizinhos. O desenvolvimento do trabalho se deu na
Escola Municipal do Campo Juscelino Kubitschek, localizado na comunidade Rio Tuna,
interior do município de Francisco Beltrão, Paraná.
2 CAMINHOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa é classificada como qualitativa aplicada e de cunho
interpretativo. Os sujeitos da pesquisa foram alunos de um 6º ano dos anos finais do
Ensino Fundamental da Escola Municipal Juscelino Kubitschek, localizado na
comunidade Rio Tuna, interior do município de Francisco Beltrão, Paraná.
Num primeiro momento foi realizada uma conversa com a educadora de
Matemática da escola, convidando-a para participar da pesquisa, e orientar a
pesquisadora em quais conteúdos/conceitos e qual turma será mais interessante estar
aplicando a ação, conforme as seguintes etapas:
1ª etapa: Organização das medidas dos canteiros;
2ª etapa: Preparação métrica;
3ª etapa: Plantio;
Durante 06 meses os educando da turma junto com o professor regente e a
pesquisadora estiveram realizando atividades que viessem a contribuir/somar no ensino
e aprendizado dos mesmos.
A aplicação teórica e prática dos conceitos matemáticos, confrontados com os
conhecimentos empíricos dos educandos, estabeleceram algumas estratégias e
sequências de trabalhos pedagógicos que auxiliaram os educadores responsáveis pelo
aprendizado dos mesmos, de forma a apresentar um melhor resultado.
3 EDUCAÇÃO DO CAMPO, ETNOMATEMÁTICA, HORTA ESCOLAR E
GEOMETRIA: TECENDO APROXIMAÇÕES
3.1 Educação do Campo X Etnomatemática
O ensino, de um modo geral, não proporciona uma educação contextualizada,
que possibilita uma formação adequada ao modo de viver, pensar e produzir dos
sujeitos do campo (DUARTE E TASCHETTO, 2013).
Frente a isso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº
9394/96), proporciona à Educação do Campo, o direito de um sistema de ensino que
“respeite a diversidade do campo em todos seus aspectos sociais, culturais, ambientais,
políticos, econômicos, de gênero, de raça e etnia” (BRASIL, 2010).
Neto (2009, p. 34), aponta que “[...] os trabalhadores do campo sempre
produziram, pela prática, os seus conhecimentos e, esses, não podem, simplesmente, ser
desprezados [...].” Sendo assim, busca-se uma escola que esteja “no” e “do” campo,
“no: o povo tem direito de ser educado no lugar onde vive; do: o povo tem direito a uma
educação pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada à suas
necessidades humanas e sociais (CALDART, 2002, p. 26) por que:
Não basta que a escola ali esteja, mas é necessário que ela dialogue lentamente
com a realidade do meio onde se encontra. Isso significa dizer que é uma
escola inserida verdadeiramente na realidade desses sujeitos, pronta a colher e
procurar atender às demandas específicas desses homens e mulheres e seus
filhos, população que trabalha com a terra e detêm conhecimentos específicos e
realidades profundamente diferentes daquela dos sujeitos inseridos no meio
urbano. (FARIA, 2009, p. 93).
Desse modo, a diversidade se concretiza na sociedade onde os padrões pré-
estabelecidos, exigem um esforço pessoal e coletivo, a partir dos princípios de
integração com o diálogo, a valorização e o respeito mútuo.
Por sua vez, esses conhecimentos presentes na atual Educação do Campo,
potencializam um elo para a Etnomatemática, que procura apreender o ciclo da geração,
organização intelectual e social e, a difusão desse conhecimento desenvolvido através
de uma dinâmica cultural. Pois, os princípios que a norteiam pautam-se, entre aspectos
como, o diálogo, a interlocução entre os saberes das práticas cotidianas e o
conhecimento científico. Além desses, outro vetor que potencializa as experiências da
Etnomatemática, é a organização dos tempos e espaços escolares.
Ao buscar aproximar os conteúdos da realidade dos educandos, no intuito de
ensinar e compreender a importância da cultura, dos saberes e da identidade de um
povo, a Etnomatemática torna-se uma fonte de investigação de grande relevância no
contexto da Educação do Campo, valorizando os conhecimentos e as raízes culturais.
Nesse sentido, Silva (2013) descreve que a Educação do Campo estabelece um
diálogo com a Etnomatemática e garante o modo dialógico e o respeito mútuo ao
construir um projeto de sociedade que edifica valores e sentimentos.
3.2 A relação entre a Etnomatemática e a horta escolar
Nos dias atuais as pesquisas na área da Educação Matemática, mostram que há
uma necessidade de se mudar o ensino e aprendizagem. O ensino da Matemática nas
escolas é de suma importância, mas os educandos vêm encontrando diversas
dificuldades de relacionar a Matemática acadêmica com a Matemática do dia a dia.
Para melhor construção desse conhecimento, a Etnomatemática surge como uma
alternativa para o ensino da Matemática, fazendo uma interligação entre o conhecimento
técnico relacionando com o que o educando já vem vivenciando, possibilitando uma
melhor compreensão do conhecimento acadêmico. Pois:
Indivíduos e povos têm, ao longo de suas existências e ao longo da história,
criado e desenvolvido instrumentos de reflexão, de observação, instrumentos
materiais e intelectuais [que chamo de ticas] para explicar, entender, conhecer,
aprender para saber fazer [que chamo de matema] como resposta a
necessidades de sobrevivência e de transcendência em diferentes ambientes
naturais, sociais e culturais [que chamo etnos]. (D ’AMBRÓSIO, 2005, p.50)
Assim, o educador deve buscar a interação entre a prática de ensino, trazendo os
conhecimentos adquiridos na escola para mais próximo da realidade dos educandos.
Cabe também ao professor, facilitar e organizar as experiências articulando os
conhecimentos populares e os acadêmicos dando oportunidades aos educandos
relacionar com sua própria cultura.
Nesse sentido, a implantação de uma horta no ambiente escolar, é possível
desenvolver, acompanhar, dinamizar e avaliar ações destinadas á educação, através da
oferta de subsídios para conteúdos pedagógicos que resultam no desenvolvimento de
atitudes dos alunos em relação aos hábitos alimentares saudáveis.
Morgado e Santos (2008) descreve que, além dos fatores ambientais e hábitos
saudáveis, o objetivo deve vir de encontro com o contexto social, onde os alunos
possam ter oportunidades de estar ocupando seu tempo com atividades que contribua
para seu crescimento como pessoa e cidadão. Pois a escola por ser um espaço social,
passa a ser um instrumento de socialização de culturas e democratizações o que incidem
para um melhor processo de socialização.
3.3 A horta escolar e o ensino de geometria
A Horta por ser um laboratório vivo, oportuniza o educador desenvolver
diferentes atividades didáticas a partir de sua construção. Além de proporcionar a
produção de alimentos para uma melhor promoção de saúde.
No contexto da disciplina de Matemática, Irala e Fernandez ao elencar o papel
da hora na escola relatam que:
A matemática pode ser um exemplo com o estudo das diferentes formas dos
alimentos cultivados, além disso, o estudo do crescimento e desenvolvimento
dos vegetais pode ser associado com o próprio desenvolvimento. Isto é, a
importância da terra ter todos os nutrientes para que a semente se desenvolva
em todo o seu potencial, livre de qualquer doença. Essas atividades também
asseguram que a criança e a escola resgatem a cultura alimentar brasileira e,
consequentemente, estilos de vida mais saudáveis.(IRALA E FERNANDEZ,
2001, p. 4)
Além disso, também podemos relacionar as formas geométricas apresentadas
pelos canteiros da horta, perfazendo um elo de ligação entre o conteúdo de geometria e
a horta escolar. Pois os conteúdos trabalhados em sala de aula devem partir de situações
que facilitam o entendimento. Segundo as Diretrizes da Educação Básica do Paraná
(PARANÁ, 2008, p.31) “para a geometria é importante partir de “objetos que tenham
relação com as formas geométricas usuais”.
Neste sentido, Duval (1995) compreende que a geometria, pode e deve ser um
campo de desenvolvimento do processo cognitivo. Processo esse que se dá de três
formas, sendo elas:
a) Visualização: observação e ou verificação subjetiva da realidade;
b) Construção: ações e resultados são ligados aos objetos representados
matematicamente;
c) Raciocínio: Discurso e explicação do que foi observado e construído.
Ao trabalhar a geometria contextualizada em uma escola do campo, o educador
deve ter claro que este vai muito além de uma simples medição de terra. Para que a
aprendizagem de fato ocorra, deve-se ter uma significação dos conceitos e formas
apresentadas no decorrer do processo.
Coelho (1996) apresenta a aprendizagem da geometria atual, como um processo
natural indutiva, onde os aspectos intuitivos de redescoberta e da posterior
generalização devem ser conhecidos para depois construir a prova dedutiva. Ou seja, ao
apresentar o ensino de geometria, cabe ao professor averiguar as necessidades dos
alunos em relação às propriedades geométricas presentes no seu dia a dia, tornando o
conhecimento “acadêmico” atrativo e prazeroso de se ensinar e aprender.
Sendo assim, fica evidenciada a importância da horta para o ambiente escolar, tanto
para o estímulo de alimentos saudáveis, como para um resgate da aparência lúdica do
ambiente, destacando sempre a participação dos educandos neste processo.
4 AÇÃO DIDÁTICA NO CONTEXTO DA HORTA GEOMÉTRICA
O objetivo geral desta pesquisa foi elencar as contribuições da Etnomatemática
para o ensino de Matemática no contexto de uma horta geométrica.
Para tanto, o trabalho foi realizado em 3 (três) etapas que serão descritas na
sequência dessa secção.
4.1 Primeira etapa: Organização das medidas dos canteiros
Duração: 2h/aula
Objetivos:
Medir as dimensões dos canteiros;
Trabalhar conceitos matemáticos relacionados ao espaço da horta;
Calcular a área e o perímetro das figuras geométricas representadas pelos
canteiros da horta.
Conteúdos trabalhados: grandezas e medida (área, perímetro, comprimento da
circunferência, figuras geométricas planas).
Eixo temático da Educação do Campo:
Organização dos saberes escolares
Trabalho divisão social e territorial
Materiais utilizados:
Fita métrica; Barbante; Tesoura; Tabela para anotar os dados;
Nessa primeira etapa foi realizada a organização dos canteiros. Os alunos junto à
pesquisadora foram a campo medir os canteiros e anotaram os resultados encontrados
em uma tabela (figura 1). Para medir os mesmos, foi utilizada a fita métrica como
instrumento de medida.
Figura 1: Tabela realizada pelos alunos
Fonte: Arquivos da Autora
Os alunos com um barbante contornavam os canteiros e em seguida ao colocá-lo
em linha reta realizavam a medição encontrando seu perímetro.
No caso dos canteiros que representavam: retângulo e losango, foi calculada a
medida do perímetro e, o comprimento da circunferência do canteiro circular. Nesta
etapa também foi realizada a medição das diagonais do retângulo, do losango e do
diâmetro da circunferência. A figura 2 mostra o momento das medições.
Figura 2: Alunos realizando as medições
Fonte: Arquivos da Autora
Neste sentido, (D’AMBROSIO, 2001, p.30-32) ao elencar a dimensão cognitiva
da Etnomatemática, destaca que “as ideias de comparar, classificar, quantificar, medir,
explicar, generalizar, inferir são características da espécie humana”. E ainda na
dimensão educacional da Etnomatemática espera-se que essas ideias favoreçam o
interesse dos educandos pela atividade.
Sendo assim, desenvolver aulas práticas para que o aluno melhor associe o
conteúdo ao conhecimento trabalhado em sala de aula, pode aumentar o interesse dos
educandos em relação aos conteúdos curriculares, por conseguirem traçar um elo entre o
conhecimento científico com o seu dia a dia.
Saber problematizar os aspectos da vida ao que é essencial aos povos do campo,
ou seja, o eixo trabalho e divisão social proposto pela DCE- Campo (PARANÁ, 2007)
oportuniza inúmeras possibilidades de seleção de conteúdos para cada ano escolar e
para as diversas modalidades de ensino.
Ao visualizar na prática os conteúdos apresentados em sala, os conceitos
tornam-se mais fáceis, pois na medida em que ele vai observando e correlacionando
com o seu dia a dia, constroem a história, que para Duval (1995), Fiorentini e Lorenzato
(1995) é de extrema importância, principalmente quando relacionados com a cultura
popular.
Conforme Sant' Anna et al (1995), para que o ensino seja desencadeado em sala
de aula, é preciso que o professor o desenvolva através do uso de certos procedimentos
didáticos, os quais se constituem pelas várias formas de atuação do professor e dos
alunos, para atingir os objetivos de ensino pretendidos.
Nesse sentido:
A natureza do conhecimento que o professor deverá ensinar vai
indicar uma forma de se relacionar com os alunos, de como organizar
o espaço de aprendizagem, de como eleger os instrumentos que
poderão propiciar melhor aprendizagem dos conteúdos a serem
ensinados (CASTRO E CARVALHO, 2001, p.56.).
Diante do exposto, percebe-se que ao realizar a prática com os educandos,
conforme Paulo Freire (1987), a teoria sem a prática vira “verbalismo”, assim como a
prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-
se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade.
4.2 Segunda etapa: Preparação métrica
Duração: 2h/aula
Objetivos:
Reconhecer a inscrição e circunscrição de polígonos regulares em outros
polígonos;
Dividir uma figura geométrica na forma de outras figuras geométricas.
Conteúdos trabalhados: grandezas e medida (área, perímetro, comprimento da
circunferência, figuras geométricas planas, figuras inscritas e circunscritas).
Eixo temático da Educação do Campo:
Organização dos saberes escolares.
Trabalho divisão social e territorial
Materiais utilizados:
Fita métrica; Barbante; Tesoura; Palito de churrasco; Tabela para anotar os
dados.
Na segunda etapa foi realizada a preparação métrica dos canteiros. Em um
primeiro momento os educandos do 6º ano, junto com a pesquisadora, retomaram a
tabela feita (figura 1) com as medidas dos canteiros.
Com as medidas em mãos, o primeiro traçado da figura geométrica plana inscrita
foi no canteiro de forma retangular. Para a construção, os alunos utilizaram a medida
dos lados do retângulo dividido por dois, demarcaram o ponto com palito de churrasco e
com o barbante inscreveram um losango, como mostra a figura 3.
Figura 3: Alunos realizando a inscrição
do losango no retângulo
Fonte: Arquivos da autora
Figura 4: Hexágono inscrito no
canteiro circular.
Fonte: Arquivos da autora.
Em seguida, foi realizada a inscrição do hexágono no canteiro circular. Para isso,
utilizou-se a medida do comprimento da circunferência divida por 6 (seis), tendo em
vista que o hexágono possui seis lados de medidas iguais.
Demarcaram os pontos com palito de churrasco e, com o barbante traçaram o
hexágono, as diagonais e marcaram o centro. Na figura 4 está a foto do canteiro depois
de realizada as demarcações.
E por fim, foi realizada a inscrição do quadrado no canteiro em forma de
losango. Com as medidas de comprimento dos lados do losango, foi calculado o ponto
médio de cada e assim, com palitos de churrasco e barbante demarcado o quadrado.
Dessa forma, ensinar Matemática vai muito mais além do que um simples
repasso de conteúdos didáticos. Caldart (2002) descreve que a Educação do Campo
exige do professor um esforço de busca da realidade do educando para através dela e
com ela a fim de programar seus conteúdos e problematiza-los, levando em conta as
diretrizes curriculares da educação e a realidade em que ambos estão inseridos.
Neste âmbito a Etnomatemática é uma ferramenta que auxilia na restauração da
dignidade cultural e do exercício da cidadania (FANTINATO, 2004). Pois, ao enxergar
a Matemática como uma produção cultural, contextualizada; analisa e desmistifica o
caráter universal no contexto da vida cotidiana
Nesta etapa podemos citar também, Duval (1995), quando apresenta a segunda
forma de aprendizagem cognitiva. Onde após observar e conhecer a realidade constrói
ações, com resultados futuros, interligados a Matemática contextualizada, minimizando
as dificuldades encontradas pelos alunos, no que se refere à interpretação de figuras
geométricas, bem como a interpretação destas.
4.3 Terceira etapa: Plantio
Duração: 3h/aula
Objetivos:
Comparar as dimensões dos espaçamentos entre uma muda e outra;
Trabalhar conceitos matemáticos relacionados ao espaço da horta como
quantidade de mudas;
Estimular a capacidade motora dos alunos, com o plantio da horta;
Conteúdos trabalhados: grandezas e medida (área, perímetro, espaçamento,
profundidade, comprimento da circunferência, figuras geométricas planas, figuras
inscritas e circunscritas).
Eixo temático da Educação do Campo:
Organização dos saberes escolares
Trabalho divisão social e territorial
Materiais utilizados:
Ferramentas de trabalho agrícola; Mangueira para a irrigação; Mudas de alface
crespa, roxa e lisa; Mudas de cebolinha; Mudas de almeirão; Mudas de salsinha; Mudas
de beterraba; Sementes de cenoura;
Nesta etapa, os educandos junto com a pesquisadora e educadores da escola,
realizaram o plantio das mudas de hortaliças.
Inicialmente a pesquisadora realizou os cálculos de quantas mudas seria
necessário para o plantio conforme as áreas dos canteiros.
Na sequência, já com as medidas de área calculadas, foi definido o que iria ser
plantado em cada canteiro geométrico e, assim, realizar o plantio, junto com os
educandos, mostrando como foram realizados os cálculos e como as diversas mudas
devem ser plantadas e cuidadas.
Figura 5: Alunos realizando o plantio das hortaliças
Fonte: Arquivos da autora.
Enquanto era realizado o plantio das mudas (figura 5), pode-se perceber que ao
realizar esta atividade a terceira etapa do processo elaborado por Duval (1995) se
concluiu, pois exigiu de cada educando um raciocínio além do que já está vindo
realizando.
Assim, todo educador que esta em constante busca para melhorar sua práxis de
ensino, proporciona ao educando oportunidades de relacionar-se com sua própria
cultura, ou seja, a Matemática deixa de ser mecânica e fria, pois os conteúdos
aprendidos tornam-se palpáveis e visíveis aos olhos do aprendiz.
De acordo com a DCE – Campo (PARANÁ, 2007) a cultura é entendida como
produção humana que se constrói a partir das relações do ser humano com a natureza,
com o outro e consigo mesmo.
D’Ambrosio (2001), aponta que a construção do conhecimento só acontece
quando o ensino da Matemática faz uma interligação entre o conhecimento técnico com
o vivenciado no dia a dia.
Corroborando com esse paradigma, a educação, em especial dos povos do
campo, só se concretiza quando a ciência e a etnomatemática se correlacionam dando
significado ao ensino curricular.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente proposta de ensino buscou relacionar a Etnomatemática e a horta
geométrica com situações vivenciadas pelos alunos, apresentando experiências e
envolvendo os conceitos matemáticos.
A proposta objetivou também, incentivar os educandos a participarem e
conseguirem observar na prática o contexto da Matemática, dando significado e
condições satisfatórias para que compreendam e se apropriarem dos objetos de
conceitos.
Ao elencar as atividades realizadas, conclui-se que a proposta de ensino
contribuiu para promover o interesse maior dos educandos durante as aulas de
Matemática relacionando teoria e prática despertar o interesse dos educandos pela
Matemática, desenvolvendo capacidades de pensar e raciocinar utilizando conceitos da
geometria.
Ressalta- se que é necessário que outras práticas educativas sejam realizadas na
perspectiva das escolas do campo, para que se promova o ensino e aprendizagem
adaptados aos contextos.
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em 18 de dezembro de 2013.
TEACHING OF MATHEMATICS IN COUNTRY SCHOOL: A
PROCESS OF IMPLEMENTING TEACHING IN THE CONTEXT
OF GEOMETRIC HORTA
Abstract: This article presents a description of a research work on the completion of the
Bachelor's Degree in Education from the Field - UTFPR - Campus Two Neighbors. The
study aimed to list the contributions that the Ethnomatematics can bring to the teaching
of Mathematics to be contextualized in the geometric horta. The development work took
place at the Municipal School of Juscelino Kubitschek Field, located in the community
Tuna River, within the municipality of Francisco Beltran, Parana. Research is
classified as applied qualitative and interpretive nature, was carried out with a 6th
grade students of the final year of elementary school for six months and included three
steps: Step 1: Organization of the measures of the beds; Step 2: Preparation metric;
Step 3: Planting. To list the activities, it is concluded that the proposed teaching
contributed to promoting greater interest of the students during mathematics lessons
relating theory and practice, aroused the interest of students in mathematics and further
developed capacities to think and reason using concepts of geometry. It is noteworthy
that it is necessary that other educational practices are carried out in the context of
coutry schools so that they promote the teaching and learning adapted to the contexts.
Key-words: School Horta; Teaching Mathematics; Country Education;
Ethnomathematics.
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